Passa parte da infância em Brasília. Ingressa no curso de engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) em 1981, mas o abandona no ano seguinte. A partir de 1983, estuda nos cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, e aluga ateliê no bairro do Horto com outros estudantes. Viaja para Nova York, em 1985, e tem contato com a pintura do alemão Anselm Kiefer (1945) e do americano Philip Guston (1913-1980). Em 1986, recebe o Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte/RJ).
Ao visitar a cidade mineira de Ouro Preto, entra em contato com a arte barroca, que se torna referência para seu trabalho. Em Escrito sobre un Cuerpo, do escritor cubano Severo Sarduy (1937-1993), conhece os ensaios sobre esse movimento artístico. Neste período, aspectos do barroco cubano e da filosofia chinesa passam a influenciar sua pintura. Participa da mostra Brasil Já no Museu Morsbroich, Leverkusen, Alemanha, em 1988. No mesmo ano, realiza sua primeira exposição individual na Galeria Thomas Cohn, Rio de Janeiro, e integra a coletiva U-ABC, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, Holanda. Em 1992, passa três meses na China. As experiências da viagem integram a exposição Terra Incógnita na Galeria Luisa Strina, São Paulo. Produz a exposição Proposta para uma Catequese (1993) depois de ler as obras do historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), do ensaísta Gilberto Freyre (1900-1987) e do crítico literário Alfredo Bosi (1936).
Em 1993, participa da residência artística promovida pelo Instituto Goethe em Maceió. Em seguida, viaja pelo nordeste brasileiro pesquisando sobre arte sacra e artesanato popular, especialmente ex-votos e azulejaria. Integra a mostra Mapping no Museu de Arte moderna (MoMA), em Nova York e, também, a 22ª, 24ª e 30ª edições da Bienal Internacional de São Paulo.
O arquiteto paulista Rodrigo Cerviño Lopez (1972) realiza um projeto para abrigar algumas de suas obras no Centro Inhotim de Arte Contemporânea, em Inhotim, Minas Gerais, em 2008. Possui obras em coleções internacionais de museus, como o Tate Modern, Londres, o Guggenheim, Nova York, e o Tokyo’s Hara Museum.
Análise
A obra de Adriana Varejão toma impulso com a pintura figurativa e gestual dos anos 1980, na qual lhe interessa a permanência das marcas do processo. A pintura constitui o campo maior de sua produção, incorporando elementos de outras linguagens, como a escultura.
Ao conhecer a cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, o repertório barroco passa a marcar suas criações. A narrativa, a mescla de linguagens bi e tridimensionais e a exuberância material das obras dialogam com a visualidade barroca, em busca de uma experiência estética totalizante. Em pinturas como Altar I (1987), as pinceladas espessas remetem aos ornamentos das igrejas. Em Abóbada (1987), tais alusões e a materialidade vigorosa confrontam figuração e abstração. A intensidade barroca é expressa pela lógica compositiva de preenchimento total do espaço e pela cenografia das telas.
Em suas obras, os materiais estão ligados simbolicamente à história cultural brasileira. Na década de 1990, o desenho toma maior importância, dialogando com a iconografia colonial e, por vezes, estabelecendo uma relação narrativa. Em Proposta para uma Catequese – Parte I Díptico: Morte e Esquartejamento (1993), cenas de antropofagia retiradas de gravuras do século XVI incorporam a visualidade da azulejaria portuguesa. No lugar das cenas cristãs, os índios ensinam a antropofagia, invertendo as posições da colonização. Com uma imagem de Cristo e uma inscrição do Evangelho1, Varejão aproxima simbologias distintas, como a antropofagia e a transubstanciação. A superfície azulejada, simulada por meio da pintura a óleo sobre tela, revela um interior visceral em pequenas incisões. No início da década de 1990, fissuras invadem os trabalhos em imagens apropriadas do holandês Franz Post (1612-1680), do francês Nicolas Taunay (1755-1803) e de temas tradicionais da azulejaria. Pedaços das imagens são extraídos e expostos sobre pratos fixados à parede ao redor das telas cortadas. O uso de camadas espessas de tinta a óleo conserva um interior úmido e a artista explora essa condição de forma semântica: opõe a camada superficial da pintura, a pele, a seu interior, a carne. Este procedimento é enfatizado em pinturas e esculturas que mimetizam partes do corpo. Em seus intercâmbios simbólicos, a carne, além da antropofagia, remete aos estigmas católicos, como as chagas dos mártires.
Varejão apropria-se de imagens como signos de acesso, fornecendo-lhes um significado amplo. Paisagens (1995) apresenta-se como ligação entre universos visuais: uma imagem com rasgos que revelam outras paisagens como citações sobrepostas. Já a instalação Azulejões (2000), composta por pinturas de fragmentos de ornamentos, produz um aspecto vertiginoso pelo excesso de curvas em diferentes direções, que se agigantam no espaço sem chegar a uma completude.
Da série Saunas e Banhos (2001-2009) também emergem transposições culturais. Constrói, com a geometria do azulejo, espaços labirínticos que dialogam com a cultura muçulmana e com a influência portuguesa na arquitetura de Macau e dos botequins e mercados de carne do Rio de Janeiro.
Para a série Polvo (2013-2014), Varejão produz uma caixa de tintas, em parceria com a fábrica Águia, com 33 cores mencionadas como tons de pele em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As pinturas produzidas com as tintas estudam combinações cromáticas sobre o retrato da artista que revelam novas analogias entre tinta, pele e mestiçagem.
A obra de Adriana Varejão expõe a violência nos processos de assimilação cultural. Questiona ainda a superfície pictórica, o papel simbólico da imagem e a maleabilidade de seus signos. Tal como as incisões em sua pintura, a iconografia colonial surge como irrupção anacrônica. Mas a escolha dos signos é sempre permeada pelas relações que estabelecem com a contemporaneidade.
Críticas
"O espaço de representação pictórica proposto por Adriana Varejão visa a angariar o olhar plurívoco do espectador, que o teatro e o cinema costumeiramente exigem dele, a fim de que presencie imagens em movimento que correm à cata, num palco ou tela, duma performance discursiva. No entanto, no caso de Adriana, o processo de encenação torna de tal modo excessivo o peso simultâneo da imagem compósita, que leva esta a deslegitimar a exigência propriamente discursiva das encenações conduzidas pela sucessão temporal de imagens. Há narrativa nas telas de Adriana, embora nelas não haja discurso, no sentido linguístico da palavra.
Sua narrativa é a de “um rio sem discurso”; para retomar a imagem de João Cabral de Melo Neto. (...) A forma do azulejo – íntegro ou lascado, pouco importa − está sempre a “quebrar em pedaços” (JCMN) as intenções caudalosas de qualquer esforço discursivo. Por isso, em cada minuto e por todo o tempo da contemplação, nenhum ponto de vista assumido pelo espectador é o final, a exigir soberania sobre os demais. Numa peça de teatro ou filme, as imagens em movimento conduzem os assistentes de fio a pavio até − como acontece nos filmes de Hollywood − o happy ending. Não é o caso da mise-en-scène multiprogramada por efeitos de sobreposição e de simultaneidade, proposta pelas peças de Adriana. (...)"
Silviano Santiago (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
Os trabalhos de Adriana Varejão exploram as histórias implícitas e não contadas, criando um tipo de historiografia crítica (...) em que o pastiche dos retratos acadêmicos iluminam o que ficou oculto da experiência violenta do universo feminino no Brasil colonial. A violência obliterada retorna na relação encenada entre os quadros — as imagens exteriores e oficiais — e os olhos de vidro cujos interiores vêm estampados de outras imagens — interiores e privadas — menos idílicas por trás da censura do visível. (...) As carnes que saem das paredes de Adriana Varejão não são as “carnes” tranquilas (viande) de Merleau-Ponty que fundavam o encontro entre o corpo do sujeito e o corpo do mundo e que se tocavam na pincelada de Cézanne sobre a tela; aqui se trata de carnes do desejo (chair) em movimento cruel (cru, sangrento e implacável) que se projetam no espaço com força sensual e invasiva, como em Azulejaria verde em carne viva (2000), sem revelar nada além da ferida em textura informe."
Karl Erik Schøllhammer (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares)
"É possível dizer que os azulejos pavimentam, ladrilham e preenchem a obra de Adriana Varejão. Pavimento no percurso; pavimento que dá liga a esses tecidos de histórias que vão se desnovelando a cada nova fase, a cada desafio. Adriana, tal qual um bricoleur, coleta fragmentos de histórias e os traduz em outros. Como os antigos relojoeiros, a artista parte do que encontra e por aí desenvolve seu projeto. (...) Adriana parte do que tem: espalha, remonta e cria, tendo por base narrativas que, pacientemente, coleta, relê, refaz. Sabemos que todo tradutor é um traidor, e Adriana age à moda das caixinhas chinesas. Abre uma caixa dentro de outra, e faz de sua obra um mar de histórias."
Lilia Moritz Schwartz (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"A série Saunas e Banhos de Adriana Varejão remete, de imediato, à própria gênese do espaço da pintura na tradição ocidental, isto é, à construção de um espaço pictórico através da representação da perspectiva de estruturas arquitetônicas.
Em Saunas e Banhos a luz é a metáfora do tempo durante o qual o homem é no mundo. Ela é acontecimento, fenômeno, duração. Como fenômeno, a luz preexiste e subsiste ao homem. Ela representa a Natureza como o Absolutamente Grande, atemporal e infinita, e, como metáfora, é indiferente a sua constituição e procedência. A presença da luz contraposta à ausência humana nas pinturas de Adriana faz aludir àquela Natureza sublime manifesta na sua permanência e que abriga o homem no seu estado de impermanência. (...) Os espaços-abrigos das pinturas de Adriana estão fundados em ausências essencialmente reveladoras do embate entre o fora (o mundo, a Natureza, o Absolutamente Grande) e o dentro (o sujeito, o abrigo, o Absolutamente Pequeno).
Nos vazios dessas telas recentes de Varejão, nas cores que se insinuam pelas frestas de luz dos ladrilhos, o espectador é convidado a suspender suas expectativas, a deixar-se capturar pelas nuances do que não tem nome e, acima de tudo, a perder tempo olhando."
Zalinda Cartaxo (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"Trazendo o Barroco para a cena contemporânea, Varejão repõe na ordem do dia uma pintura que não teme o artifício, a ilusão, o jogo delirante e sensual com a aparência."
Luiz Camillo Osório (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"Os grandes Pratos retomam a convulsão marítima do barroco de Adriana, agora não mais como malha, nem como movimento, mas como o espaço fértil de criação-recri(e)ação-nascimento. O mar convulso – das figuras derretidas ou deformadas dos Barrocos, em sombras e transparências que se afogavam em ondas de cores, manchas e mofos aquosos – está também em Celacanto, nos Azulejões, mas de modo violento, abstrato, decomposto. Um grande mar em que o canto (das sereias?) provoca maremoto. O maremoto dos azulejos de Adriana esconde sereias que nos Pratos surgem em explícitas figuras; loucas, bêbadas, lindas, retorcidas. (...) Adriana explora a materialidade da tinta e da superfície de telas e outros suportes, construindo narrativas que se cruzam ao longo de sua trajetória, principalmente, através de dois elementos: as carnes e os mares. Misturando um e outro, uma qualidade barroca, na profusão de cores (ou tons de azul, no caso dos Azulejões) e a carnalidade-viceralidade do gesto. Os mares de Adriana são carnais, e suas carnes estouram em ondas de arrebentação."
Isabel Diegues (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
Entrevista à Revista Personalité
nº2, março de 2008, ano I
"Artes Plásticas não é questão de talento. Não é preciso ser um prodígio técnico, como Nelson Freire ou Mozart. É uma linguagem adulta, que depende do conhecimento. da bagagem cultural, da sensibilidade. Está ligada ao pensamento, à criatividade".
“Tento não construir nenhum discurso, dou pistas narrativas para a pessoa introduzir sua própria narrativa.Tem obras da série Ruínas de charque (abaixo, Ruína de charque Caruaru, 2000, óleo sobre madeira e poliuretano), com simulações de pedaços de parede com essa alusão à carne por dentro, destruída, com rasgos na tela. Os cortes aparecerem porque eu costumava trabalhar com muita materialidade, muita tinta sobre a tela. Tomei contato com o Barraco mineiro, um estilo muito visceral, cujo emblema é o sagrado coração sangrando, as chagas, tudo muito teatralizado. Quando pinto a carne me refiro um pouco ao Barroco, à própria história da pintura, pois Goya pintava a carne, Rembrandt também – tem O boi esquartejado, Aula de anatomia –, Gericault, Francis Bacon. Então falo da história da pintura, e não da carne diretamente, mas da pintura do Goya, do Caravaggio, aquele dedo na ferida, que sempre foi uma imagem muito forte na minha cabeça. E a interpretação disso às vezes é mais erótica, às vezes mais dolorida.”.
O começo
"Quando entrei para um curso de pintura, nem sabia que alguém poderia viver pintando, que isso poderia ser uma profissão. Lembro-me que entrei na casa do meu professor de pintura e pensei: “Nossa, ele é um pintor, ele vive de pintura”. E foi uma surpresa para mim, não tinha familiaridade com esse ambiente, muito menos o ambiente de arte contemporânea. As coisas foram acontecendo naturalmente, nunca planejei muito, nunca coloquei minha vontade, meus planos na frente do que estava acontecendo, tipo “vou ser uma artista profissional”. Nunca teve esse momento.
Fui fazendo cursos de pintura, por certa curiosidade sobre o assunto. Nessa época fazia faculdade de engenharia e aí a pintura foi me tomando, tomando espaço, fui me dedicando cada vez mais a isso e, naturalmente, comecei a expor numa galeria – muito cedo até, em 1988, quando tinha acabado de completar 24 anos."
O trabalho, o cotidiano, as fases
"Tento me prender dentro do ateliê, mesmo que eu vá para lá para não fazer nada. Na pintura, assim como na arte de maneira em geral, você tem que ter uma predisposição para a coisa começar a acontecer, tem que se desocupar do mundo, e você só consegue fazer isso depois de um determinado número de horas. Chego ao ateliê, fica fazendo uma porção de coisas, fico olhando para o quadro e aí começo a mergulhar dentro da coisa, da pintura, depois de três, quatro horas ali. Aí a pintura começa a funcionar, a acontecer, as coisas começam a fluir, o mundo vai ficando cada vez mais distante, a cabeça vai parando e então começo a entrar ali naquele barato. O tempo aqui não é só o da execução, mas é esse tempo necessário para a cabeça se desligar um pouco dos acontecimentos do mundo, você ficar num estado mental mais ou menos livre para poder olhar simplesmente."
As interrupções, os compromissos
"Quando uma filha te interrompe no meio de um processo como este, tem que parar. Aí volta para cá no dia seguinte. Às vezes atraso meus compromissos quando estou num pique muito bom de pintura, vou noite adentro. Mas tem dias que entro no ateliê e dá tudo errado, a mão, o olho, está tudo errado. Tem dias que faço uma porção de coisa e acho que foi genial, “nossa, hoje eu resolvi todos os problemas”. No dia seguinte, entro e vejo que era tudo uma porcaria. Varia, agora quando estou num pique bom, estou sentindo que as coisas estão funcionando, aí tento estender o máximo de horas possível pintando. Teve vários momentos da minha vida que esqueci que era sábado, domingo, Natal, Carnaval, Copa do Mundo.
É um projeto de vida mesmo, de dedicação, todos os dias. A rotina de vir para o ateliê é uma constante na minha vida. E também o trabalho não se resume em só vir para o ateliê executar a obra. Quem trabalha com criação está o tempo todo percebendo o mundo também. Lembro-me que quando comecei a ser artista, descobri o que era arte, a realidade se transformou completamente, as coisas se transformaram, tinham um frescor em tudo o que eu lia, os filmes que via, de estar ali, diante do mar, na praia, de estar ouvindo uma música. Tudo é matéria para a pintura, para a arte. O artista nunca descansa, está de férias, vai para casa e se desliga do trabalho. Não tem essa dinâmica. Você trabalha o tempo todo, vivendo, sentindo, olhando, ouvindo, cheirando. Está trabalhando o tempo todo."
As séries
"Quando começo uma nova série, é um acontecimento sensacional. Tem um pouco desse frescor do início, quando comecei a ser artista, o frescor de descobrir novos lugares, novos assuntos. Saunas e banhos (2001-2009) (acima a obra The guest, 2004, óleo sobre tela) foram um pouco assim, comecei essa série completamente por acaso. Abri um livro de arquitetura de Macau [ex-colônia portuguesa, a península asiática tornou-se região administrativa da China em 20 de dezembro de 1999] em Portugal. Estava numa livraria, comecei a ver um livro e vi umas fotos de um cantinho azulejado, uma arquitetura completamente gambiarra, sem a menor importância, o livro era sobre isso. Macau parecia completamente o Rio de Janeiro. E eu sempre trabalhei em cima dessas ideias de transposições culturais.
Muito tempo atrás, fiz uma exposição chamada Terra incógnita (1991-2003), que falava sobre uma China brasileira, sempre com essa relação entre China e Brasil acontecendo em minha obra. E essa era uma ideia mais contemporânea. Aí calhou de eu estar em Paris e comecei a visitar as saunas nos bairros muçulmanos, aquelas saunas só de mulheres. Fui parar numa sauna subterrânea incrível, toda azulejada. Ao mesmo tempo associei isso com os botequins do Rio de Janeiro, também com os mercados de carne. Tudo era um pouco essa mesma arquitetura funcional do azulejo vulgar, contemporâneo. Esse tipo de ambiente começou a me seduzir muito. Fui para Budapeste, buscar também em filmes, como Banhos [de Yang Zhang, 1999], um filme chinês incrível, trouxe-me a presença das piscinas. É mais ou menos assim que acontece.
Agora tomei contato com a obra de um ceramista português que viveu no final do século XIX, [Rafael] Bordalo Pinheiro [também caricaturista e jornalista, que morou no Brasil entre 1875 e 1879]. Ele dirigiu durante 20 anos uma fábrica de cerâmicas em Caldas da Rainha, em Portugal. Há dois anos estou namorando essa obra e agora fui conhecer de perto, em Lisboa, coleções particulares destes pratos. Fui a Caldas da Rainha, à casa onde Bordalo viveu, comprei biografias dele. Eu sou tomada, mas não por uma pesquisa – não chamaria de pesquisa, mas de paixão. Fico apaixonada por um assunto, um universo, uma sensação e procuro construir histórias em torno disso e viver um pouco essas coisas. As séries acontecem um pouco assim."
Música
"Quando estava desenvolvendo Azulejões (acima a pintura Celacanto provoca maremoto, 2004, óleo e gesso sobre tela), foi uma época que estava ouvindo muito samba e choro, vivendo isso muito intensamente. O Paulo Herkenhoff olhou para aquilo e disse que tinha uma ordem sincopada. Eu conhecia a obra do Baden Powell – aliás, conheci o Baden, fui numa roda vê-lo tocar. E no “Choro para metrônomo” eu tinha a tradução musical do que era aquela obra, do que eu esperava visualmente construir com aquela obra. Não que ouvi a música e quis fazer a obra, mas é quando as coisas se encontram, as coincidências acontecem. Achava muito coerente a forma do ritmo sempre regular da azulejaria, quadrado, com o metrônomo, que impõe esse ritmo, aquele solo em cima dessa monotonia rítmica [imita com a boca o solo do choro]. Eu via isso dentro da minha composição, que ao mesmo tempo não era contínua, existia a ideia dessa ordem sincopada, feita de quebras, mas construída em um fluxo melódico, dominado pelo azul. Visualizei e me identifiquei muito com aquela música. "
Desaprendendo com as crianças
Acho toda criança incrível, pois elas sofrem um processo de desaprendizagem, porque, artisticamente, são muito boas, capazes de fazer associações incríveis, verdadeiras instalações, com nenhum preconceito, muito ligadas no processo. Vejo minha filha muito mais interessada em misturar tintas na palheta do que no papel. Tem uma espontaneidade na aproximação com a arte, é tudo tão direto."
Adriana Varejão em entrevista exclusiva ao SaraivaConteúdo
Fonte: ADRIANA Varejão. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa17507/adriana-varejao>. Acesso em: 12 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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É uma artista plástica brasileira contemporânea. Suas obras encontram-se em coleções de instituições como Metropolitan Museum of Art, Nova York; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York; Tate Modern, Londres; Fondation Cartier pour l’art Contemporain, Paris; Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro;Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro , Rio de janeiro ; Fundación “la Caixa,” Barcelona; Stedelijk Museum, Amsterdã; e Hara Museum, Tóquio. Entre suas principais exposições institucionais incluem-se “Azulejões,” Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro e Brasília, Brasil (2001); “Chambre d’échos / Câmara de ecos,” Fondation Cartier pour l´art Contemporain, Paris (2005, itinerância para o Centro Cultural de Belém, Lisboa; e DA2, Salamanca, Espanha); Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio (2007); “Adriana Varejão - Histórias às Margens,” Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil (2012, itinerância para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; e o Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Argentina em 2013); “Adriana Varejão,” The Institute of Contemporary Art, Boston (2014); “Adriana Varejão: Kindred Spirits,” Dallas Contemporary (2015), “Adriana Varejão – por uma retórica canibal,” Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil (2019, itinerância para o Museu de Arte Moderna Aloízio Magalhães (MAMAM), Recife, Brasil) e “Otros cuerpos detrás. Adriana Varejão,” Museo Tamayo, México (2019). A artista participou da V Bienal de Havana, Cuba (1994); Johannesburg, South Africa Bienalle (1995); Bienal de São Paulo (1994, 1998); 12th Biennale of Sydney (2000); International Biennial Exhibition, SITE Santa Fe (2004); Liverpool Biennial (1999, 2006); Bucharest Biennale (2008); Istambul Biennial (2011); “30x Bienal,” Fundação Bienal de São Paulo (2013); Bienal do Mercosul, Brasil (1997, 2005, 2015); e da primeira Bienal de Arte de Contemporânea de Coimbra, Portugal (2015).
Em 2008, um pavilhão permanente dedicado a obra de Varejão foi inaugurado em Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, Minas Gerais.
Adriana Varejão recebeu o Prêmio Mario Pedrosa (artista de linguagem contemporânea), da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e o Grande Prêmio da Crítica, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), pela exposição “Histórias às margens”, realizada em 2012/13 no MAM SP, MAM Rio e MALBA. Fonte: www.adrianavarejao.net
Participou de diversas exposições nacionais e internacionais, entre elas, na Bienal de São Paulo, Tate Modern em Londres e MoMa em Nova Iorque. Trabalha bastante com azulejos e está entre as mais bem-sucedidas do circuito mundial.
Vida
Nascida no Rio de Janeiro, Varejão passou parte da infância em Brasília. Em 1981, ingressou no curso de engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, abandonando-o no ano seguinte. A partir de 1983, estuda nos cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, e aluga ateliê no bairro do Horto com outros estudantes. Em 1985, viaja para Nova York e tem contato com a pintura do alemão Anselm Kiefer e do americano Philip Guston. Em 1986, recebe o Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Artes.
Realizou sua primeira exposição individual em 1989, na U-ABC, Stedelijk Museum, Amsterdam, Netherlands; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.
Através da releitura de elementos visuais incorporados à cultura brasileira pela colonização, como a pintura de azulejos portugueses, ou a referência à crueza e agressividade da matéria nos trabalhos com “carne”, a artista discute relações paradoxais entre sensualidade e dor (fetiches), violência e exuberância. Seus trabalhos mais recentes trazem referências voltadas para a arquitetura, inspirada em espaços como açougues, botequins, saunas, piscinas etc, e abordam questões tradicionais da pintura, como cor, textura e perspectiva.
Obra controversa
Em setembro de 2017, a obra Cena de interior II, de 1994, foi uma dos principais alvos da crítica popular que teria motivado o encerramento precoce da exposição "Queermuseu" organizada pela Fundação Santander Cultural, na cidade de Porto Alegre.
A obra foi acusada de apologia à zoofilia ao retratar duas figuras masculinas indistintas com uma cabra; Adriana Varejão, ressalta que "busca jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas" e que Cenas do Interior II é "uma obra adulta feita para adultos".
"Esta é uma obra adulta feita para adultos. A pintura é uma compilação de práticas sexuais existentes, algumas históricas (como as shungas, clássicas imagens eróticas da arte popular japonesa) e outras baseadas em narrativas literárias ou coletadas em viagens pelo Brasil. O trabalho não visa julgar essas práticas. Como artista, apenas busco jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas. É um aspecto do meu trabalho, a reflexão adulta." — Adriana Varejão
Exposições Individuais
2012 – Adriana Varejão, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil
2011 – Victoria Miro Gallery, London, UK
2009 – Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
2008 – Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Minas Gerais, Brasil
Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil
2007 – Hara Museum, Tokyo, Japan
2006 – Fotografia como Pintura, Sesc Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil
2005 – Chambre d"échos/Câmara de Ecos, Fondation Cartier Pour L´Art Contemporain, Paris, France
Centro Cultural de Belém, Lisboa, Portugal DA2 – Domus Artium 2002 Salamanca, Spain Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
2004 – Saunas, Victoria Miro Gallery, London, UK
2003 – Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
2002 – Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
Galeria Soledad Lorenzo, Madrid, Spain Victoria Miro Gallery, London, UK
2001 – Azulejões, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro , Brasil
Azulejões, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil Galeria Pedro Oliveira, Porto, Portugal
2000 – Azulejões e Charques, Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
Bildmuseet, Umea, Sweden Borås Konstmuseum, Borås, Sweden Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
1999 – Alegria, Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
1998 – Trading Images, Pavilhão Branco, Instituto de Arte Contemporânea, Lisboa, Portugal
Galeria Soledad Lorenzo, Madrid, Spain
1997 – Galeria Ghislaine Hussenot, Paris, France
1996 – Galeria Barbara Farber, Amsterdam, Netherlands
Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
1995 – Annina Nosei Gallery, New York, USA
1993 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
1992 – Galeria Barbara Farber, Amsterdam, Netherlands
Galeria Luisa Strina, São Paulo, Brasil
1991 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
1988 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
Prêmios
2013, Prêmio Mario Pedrosa, Associação Brasileira de Críticos de Arte[6] e Grande Prêmio da Crítica, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA)
1986, Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas
Fonte: https://www.wikiwand.com/pt/Adriana_Varej%C3%A3o consultado em 12 de março de 2020.
Crédito fotográfico: https://atarde.uol.com.br/cultura/exposicao/noticias/2052180-mam-recebe-exposicao-da-artista-carioca-adriana-varejao
Videos
https://www.youtube.com/watch?v=svJ3whzVqTo&feature=emb_title
Entrevista com Adriana Varejão
https://www.youtube.com/watch?v=8c-5bXV7u8g&feature=emb_title
Adriana Varejão- Catálogo, de Marcos Ribeiro
Passa parte da infância em Brasília. Ingressa no curso de engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) em 1981, mas o abandona no ano seguinte. A partir de 1983, estuda nos cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, e aluga ateliê no bairro do Horto com outros estudantes. Viaja para Nova York, em 1985, e tem contato com a pintura do alemão Anselm Kiefer (1945) e do americano Philip Guston (1913-1980). Em 1986, recebe o Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte/RJ).
Ao visitar a cidade mineira de Ouro Preto, entra em contato com a arte barroca, que se torna referência para seu trabalho. Em Escrito sobre un Cuerpo, do escritor cubano Severo Sarduy (1937-1993), conhece os ensaios sobre esse movimento artístico. Neste período, aspectos do barroco cubano e da filosofia chinesa passam a influenciar sua pintura. Participa da mostra Brasil Já no Museu Morsbroich, Leverkusen, Alemanha, em 1988. No mesmo ano, realiza sua primeira exposição individual na Galeria Thomas Cohn, Rio de Janeiro, e integra a coletiva U-ABC, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, Holanda. Em 1992, passa três meses na China. As experiências da viagem integram a exposição Terra Incógnita na Galeria Luisa Strina, São Paulo. Produz a exposição Proposta para uma Catequese (1993) depois de ler as obras do historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), do ensaísta Gilberto Freyre (1900-1987) e do crítico literário Alfredo Bosi (1936).
Em 1993, participa da residência artística promovida pelo Instituto Goethe em Maceió. Em seguida, viaja pelo nordeste brasileiro pesquisando sobre arte sacra e artesanato popular, especialmente ex-votos e azulejaria. Integra a mostra Mapping no Museu de Arte moderna (MoMA), em Nova York e, também, a 22ª, 24ª e 30ª edições da Bienal Internacional de São Paulo.
O arquiteto paulista Rodrigo Cerviño Lopez (1972) realiza um projeto para abrigar algumas de suas obras no Centro Inhotim de Arte Contemporânea, em Inhotim, Minas Gerais, em 2008. Possui obras em coleções internacionais de museus, como o Tate Modern, Londres, o Guggenheim, Nova York, e o Tokyo’s Hara Museum.
Análise
A obra de Adriana Varejão toma impulso com a pintura figurativa e gestual dos anos 1980, na qual lhe interessa a permanência das marcas do processo. A pintura constitui o campo maior de sua produção, incorporando elementos de outras linguagens, como a escultura.
Ao conhecer a cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, o repertório barroco passa a marcar suas criações. A narrativa, a mescla de linguagens bi e tridimensionais e a exuberância material das obras dialogam com a visualidade barroca, em busca de uma experiência estética totalizante. Em pinturas como Altar I (1987), as pinceladas espessas remetem aos ornamentos das igrejas. Em Abóbada (1987), tais alusões e a materialidade vigorosa confrontam figuração e abstração. A intensidade barroca é expressa pela lógica compositiva de preenchimento total do espaço e pela cenografia das telas.
Em suas obras, os materiais estão ligados simbolicamente à história cultural brasileira. Na década de 1990, o desenho toma maior importância, dialogando com a iconografia colonial e, por vezes, estabelecendo uma relação narrativa. Em Proposta para uma Catequese – Parte I Díptico: Morte e Esquartejamento (1993), cenas de antropofagia retiradas de gravuras do século XVI incorporam a visualidade da azulejaria portuguesa. No lugar das cenas cristãs, os índios ensinam a antropofagia, invertendo as posições da colonização. Com uma imagem de Cristo e uma inscrição do Evangelho1, Varejão aproxima simbologias distintas, como a antropofagia e a transubstanciação. A superfície azulejada, simulada por meio da pintura a óleo sobre tela, revela um interior visceral em pequenas incisões. No início da década de 1990, fissuras invadem os trabalhos em imagens apropriadas do holandês Franz Post (1612-1680), do francês Nicolas Taunay (1755-1803) e de temas tradicionais da azulejaria. Pedaços das imagens são extraídos e expostos sobre pratos fixados à parede ao redor das telas cortadas. O uso de camadas espessas de tinta a óleo conserva um interior úmido e a artista explora essa condição de forma semântica: opõe a camada superficial da pintura, a pele, a seu interior, a carne. Este procedimento é enfatizado em pinturas e esculturas que mimetizam partes do corpo. Em seus intercâmbios simbólicos, a carne, além da antropofagia, remete aos estigmas católicos, como as chagas dos mártires.
Varejão apropria-se de imagens como signos de acesso, fornecendo-lhes um significado amplo. Paisagens (1995) apresenta-se como ligação entre universos visuais: uma imagem com rasgos que revelam outras paisagens como citações sobrepostas. Já a instalação Azulejões (2000), composta por pinturas de fragmentos de ornamentos, produz um aspecto vertiginoso pelo excesso de curvas em diferentes direções, que se agigantam no espaço sem chegar a uma completude.
Da série Saunas e Banhos (2001-2009) também emergem transposições culturais. Constrói, com a geometria do azulejo, espaços labirínticos que dialogam com a cultura muçulmana e com a influência portuguesa na arquitetura de Macau e dos botequins e mercados de carne do Rio de Janeiro.
Para a série Polvo (2013-2014), Varejão produz uma caixa de tintas, em parceria com a fábrica Águia, com 33 cores mencionadas como tons de pele em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As pinturas produzidas com as tintas estudam combinações cromáticas sobre o retrato da artista que revelam novas analogias entre tinta, pele e mestiçagem.
A obra de Adriana Varejão expõe a violência nos processos de assimilação cultural. Questiona ainda a superfície pictórica, o papel simbólico da imagem e a maleabilidade de seus signos. Tal como as incisões em sua pintura, a iconografia colonial surge como irrupção anacrônica. Mas a escolha dos signos é sempre permeada pelas relações que estabelecem com a contemporaneidade.
Críticas
"O espaço de representação pictórica proposto por Adriana Varejão visa a angariar o olhar plurívoco do espectador, que o teatro e o cinema costumeiramente exigem dele, a fim de que presencie imagens em movimento que correm à cata, num palco ou tela, duma performance discursiva. No entanto, no caso de Adriana, o processo de encenação torna de tal modo excessivo o peso simultâneo da imagem compósita, que leva esta a deslegitimar a exigência propriamente discursiva das encenações conduzidas pela sucessão temporal de imagens. Há narrativa nas telas de Adriana, embora nelas não haja discurso, no sentido linguístico da palavra.
Sua narrativa é a de “um rio sem discurso”; para retomar a imagem de João Cabral de Melo Neto. (...) A forma do azulejo – íntegro ou lascado, pouco importa − está sempre a “quebrar em pedaços” (JCMN) as intenções caudalosas de qualquer esforço discursivo. Por isso, em cada minuto e por todo o tempo da contemplação, nenhum ponto de vista assumido pelo espectador é o final, a exigir soberania sobre os demais. Numa peça de teatro ou filme, as imagens em movimento conduzem os assistentes de fio a pavio até − como acontece nos filmes de Hollywood − o happy ending. Não é o caso da mise-en-scène multiprogramada por efeitos de sobreposição e de simultaneidade, proposta pelas peças de Adriana. (...)"
Silviano Santiago (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
Os trabalhos de Adriana Varejão exploram as histórias implícitas e não contadas, criando um tipo de historiografia crítica (...) em que o pastiche dos retratos acadêmicos iluminam o que ficou oculto da experiência violenta do universo feminino no Brasil colonial. A violência obliterada retorna na relação encenada entre os quadros — as imagens exteriores e oficiais — e os olhos de vidro cujos interiores vêm estampados de outras imagens — interiores e privadas — menos idílicas por trás da censura do visível. (...) As carnes que saem das paredes de Adriana Varejão não são as “carnes” tranquilas (viande) de Merleau-Ponty que fundavam o encontro entre o corpo do sujeito e o corpo do mundo e que se tocavam na pincelada de Cézanne sobre a tela; aqui se trata de carnes do desejo (chair) em movimento cruel (cru, sangrento e implacável) que se projetam no espaço com força sensual e invasiva, como em Azulejaria verde em carne viva (2000), sem revelar nada além da ferida em textura informe."
Karl Erik Schøllhammer (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares)
"É possível dizer que os azulejos pavimentam, ladrilham e preenchem a obra de Adriana Varejão. Pavimento no percurso; pavimento que dá liga a esses tecidos de histórias que vão se desnovelando a cada nova fase, a cada desafio. Adriana, tal qual um bricoleur, coleta fragmentos de histórias e os traduz em outros. Como os antigos relojoeiros, a artista parte do que encontra e por aí desenvolve seu projeto. (...) Adriana parte do que tem: espalha, remonta e cria, tendo por base narrativas que, pacientemente, coleta, relê, refaz. Sabemos que todo tradutor é um traidor, e Adriana age à moda das caixinhas chinesas. Abre uma caixa dentro de outra, e faz de sua obra um mar de histórias."
Lilia Moritz Schwartz (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"A série Saunas e Banhos de Adriana Varejão remete, de imediato, à própria gênese do espaço da pintura na tradição ocidental, isto é, à construção de um espaço pictórico através da representação da perspectiva de estruturas arquitetônicas.
Em Saunas e Banhos a luz é a metáfora do tempo durante o qual o homem é no mundo. Ela é acontecimento, fenômeno, duração. Como fenômeno, a luz preexiste e subsiste ao homem. Ela representa a Natureza como o Absolutamente Grande, atemporal e infinita, e, como metáfora, é indiferente a sua constituição e procedência. A presença da luz contraposta à ausência humana nas pinturas de Adriana faz aludir àquela Natureza sublime manifesta na sua permanência e que abriga o homem no seu estado de impermanência. (...) Os espaços-abrigos das pinturas de Adriana estão fundados em ausências essencialmente reveladoras do embate entre o fora (o mundo, a Natureza, o Absolutamente Grande) e o dentro (o sujeito, o abrigo, o Absolutamente Pequeno).
Nos vazios dessas telas recentes de Varejão, nas cores que se insinuam pelas frestas de luz dos ladrilhos, o espectador é convidado a suspender suas expectativas, a deixar-se capturar pelas nuances do que não tem nome e, acima de tudo, a perder tempo olhando."
Zalinda Cartaxo (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"Trazendo o Barroco para a cena contemporânea, Varejão repõe na ordem do dia uma pintura que não teme o artifício, a ilusão, o jogo delirante e sensual com a aparência."
Luiz Camillo Osório (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"Os grandes Pratos retomam a convulsão marítima do barroco de Adriana, agora não mais como malha, nem como movimento, mas como o espaço fértil de criação-recri(e)ação-nascimento. O mar convulso – das figuras derretidas ou deformadas dos Barrocos, em sombras e transparências que se afogavam em ondas de cores, manchas e mofos aquosos – está também em Celacanto, nos Azulejões, mas de modo violento, abstrato, decomposto. Um grande mar em que o canto (das sereias?) provoca maremoto. O maremoto dos azulejos de Adriana esconde sereias que nos Pratos surgem em explícitas figuras; loucas, bêbadas, lindas, retorcidas. (...) Adriana explora a materialidade da tinta e da superfície de telas e outros suportes, construindo narrativas que se cruzam ao longo de sua trajetória, principalmente, através de dois elementos: as carnes e os mares. Misturando um e outro, uma qualidade barroca, na profusão de cores (ou tons de azul, no caso dos Azulejões) e a carnalidade-viceralidade do gesto. Os mares de Adriana são carnais, e suas carnes estouram em ondas de arrebentação."
Isabel Diegues (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
Entrevista à Revista Personalité
nº2, março de 2008, ano I
"Artes Plásticas não é questão de talento. Não é preciso ser um prodígio técnico, como Nelson Freire ou Mozart. É uma linguagem adulta, que depende do conhecimento. da bagagem cultural, da sensibilidade. Está ligada ao pensamento, à criatividade".
“Tento não construir nenhum discurso, dou pistas narrativas para a pessoa introduzir sua própria narrativa.Tem obras da série Ruínas de charque (abaixo, Ruína de charque Caruaru, 2000, óleo sobre madeira e poliuretano), com simulações de pedaços de parede com essa alusão à carne por dentro, destruída, com rasgos na tela. Os cortes aparecerem porque eu costumava trabalhar com muita materialidade, muita tinta sobre a tela. Tomei contato com o Barraco mineiro, um estilo muito visceral, cujo emblema é o sagrado coração sangrando, as chagas, tudo muito teatralizado. Quando pinto a carne me refiro um pouco ao Barroco, à própria história da pintura, pois Goya pintava a carne, Rembrandt também – tem O boi esquartejado, Aula de anatomia –, Gericault, Francis Bacon. Então falo da história da pintura, e não da carne diretamente, mas da pintura do Goya, do Caravaggio, aquele dedo na ferida, que sempre foi uma imagem muito forte na minha cabeça. E a interpretação disso às vezes é mais erótica, às vezes mais dolorida.”.
O começo
"Quando entrei para um curso de pintura, nem sabia que alguém poderia viver pintando, que isso poderia ser uma profissão. Lembro-me que entrei na casa do meu professor de pintura e pensei: “Nossa, ele é um pintor, ele vive de pintura”. E foi uma surpresa para mim, não tinha familiaridade com esse ambiente, muito menos o ambiente de arte contemporânea. As coisas foram acontecendo naturalmente, nunca planejei muito, nunca coloquei minha vontade, meus planos na frente do que estava acontecendo, tipo “vou ser uma artista profissional”. Nunca teve esse momento.
Fui fazendo cursos de pintura, por certa curiosidade sobre o assunto. Nessa época fazia faculdade de engenharia e aí a pintura foi me tomando, tomando espaço, fui me dedicando cada vez mais a isso e, naturalmente, comecei a expor numa galeria – muito cedo até, em 1988, quando tinha acabado de completar 24 anos."
O trabalho, o cotidiano, as fases
"Tento me prender dentro do ateliê, mesmo que eu vá para lá para não fazer nada. Na pintura, assim como na arte de maneira em geral, você tem que ter uma predisposição para a coisa começar a acontecer, tem que se desocupar do mundo, e você só consegue fazer isso depois de um determinado número de horas. Chego ao ateliê, fica fazendo uma porção de coisas, fico olhando para o quadro e aí começo a mergulhar dentro da coisa, da pintura, depois de três, quatro horas ali. Aí a pintura começa a funcionar, a acontecer, as coisas começam a fluir, o mundo vai ficando cada vez mais distante, a cabeça vai parando e então começo a entrar ali naquele barato. O tempo aqui não é só o da execução, mas é esse tempo necessário para a cabeça se desligar um pouco dos acontecimentos do mundo, você ficar num estado mental mais ou menos livre para poder olhar simplesmente."
As interrupções, os compromissos
"Quando uma filha te interrompe no meio de um processo como este, tem que parar. Aí volta para cá no dia seguinte. Às vezes atraso meus compromissos quando estou num pique muito bom de pintura, vou noite adentro. Mas tem dias que entro no ateliê e dá tudo errado, a mão, o olho, está tudo errado. Tem dias que faço uma porção de coisa e acho que foi genial, “nossa, hoje eu resolvi todos os problemas”. No dia seguinte, entro e vejo que era tudo uma porcaria. Varia, agora quando estou num pique bom, estou sentindo que as coisas estão funcionando, aí tento estender o máximo de horas possível pintando. Teve vários momentos da minha vida que esqueci que era sábado, domingo, Natal, Carnaval, Copa do Mundo.
É um projeto de vida mesmo, de dedicação, todos os dias. A rotina de vir para o ateliê é uma constante na minha vida. E também o trabalho não se resume em só vir para o ateliê executar a obra. Quem trabalha com criação está o tempo todo percebendo o mundo também. Lembro-me que quando comecei a ser artista, descobri o que era arte, a realidade se transformou completamente, as coisas se transformaram, tinham um frescor em tudo o que eu lia, os filmes que via, de estar ali, diante do mar, na praia, de estar ouvindo uma música. Tudo é matéria para a pintura, para a arte. O artista nunca descansa, está de férias, vai para casa e se desliga do trabalho. Não tem essa dinâmica. Você trabalha o tempo todo, vivendo, sentindo, olhando, ouvindo, cheirando. Está trabalhando o tempo todo."
As séries
"Quando começo uma nova série, é um acontecimento sensacional. Tem um pouco desse frescor do início, quando comecei a ser artista, o frescor de descobrir novos lugares, novos assuntos. Saunas e banhos (2001-2009) (acima a obra The guest, 2004, óleo sobre tela) foram um pouco assim, comecei essa série completamente por acaso. Abri um livro de arquitetura de Macau [ex-colônia portuguesa, a península asiática tornou-se região administrativa da China em 20 de dezembro de 1999] em Portugal. Estava numa livraria, comecei a ver um livro e vi umas fotos de um cantinho azulejado, uma arquitetura completamente gambiarra, sem a menor importância, o livro era sobre isso. Macau parecia completamente o Rio de Janeiro. E eu sempre trabalhei em cima dessas ideias de transposições culturais.
Muito tempo atrás, fiz uma exposição chamada Terra incógnita (1991-2003), que falava sobre uma China brasileira, sempre com essa relação entre China e Brasil acontecendo em minha obra. E essa era uma ideia mais contemporânea. Aí calhou de eu estar em Paris e comecei a visitar as saunas nos bairros muçulmanos, aquelas saunas só de mulheres. Fui parar numa sauna subterrânea incrível, toda azulejada. Ao mesmo tempo associei isso com os botequins do Rio de Janeiro, também com os mercados de carne. Tudo era um pouco essa mesma arquitetura funcional do azulejo vulgar, contemporâneo. Esse tipo de ambiente começou a me seduzir muito. Fui para Budapeste, buscar também em filmes, como Banhos [de Yang Zhang, 1999], um filme chinês incrível, trouxe-me a presença das piscinas. É mais ou menos assim que acontece.
Agora tomei contato com a obra de um ceramista português que viveu no final do século XIX, [Rafael] Bordalo Pinheiro [também caricaturista e jornalista, que morou no Brasil entre 1875 e 1879]. Ele dirigiu durante 20 anos uma fábrica de cerâmicas em Caldas da Rainha, em Portugal. Há dois anos estou namorando essa obra e agora fui conhecer de perto, em Lisboa, coleções particulares destes pratos. Fui a Caldas da Rainha, à casa onde Bordalo viveu, comprei biografias dele. Eu sou tomada, mas não por uma pesquisa – não chamaria de pesquisa, mas de paixão. Fico apaixonada por um assunto, um universo, uma sensação e procuro construir histórias em torno disso e viver um pouco essas coisas. As séries acontecem um pouco assim."
Música
"Quando estava desenvolvendo Azulejões (acima a pintura Celacanto provoca maremoto, 2004, óleo e gesso sobre tela), foi uma época que estava ouvindo muito samba e choro, vivendo isso muito intensamente. O Paulo Herkenhoff olhou para aquilo e disse que tinha uma ordem sincopada. Eu conhecia a obra do Baden Powell – aliás, conheci o Baden, fui numa roda vê-lo tocar. E no “Choro para metrônomo” eu tinha a tradução musical do que era aquela obra, do que eu esperava visualmente construir com aquela obra. Não que ouvi a música e quis fazer a obra, mas é quando as coisas se encontram, as coincidências acontecem. Achava muito coerente a forma do ritmo sempre regular da azulejaria, quadrado, com o metrônomo, que impõe esse ritmo, aquele solo em cima dessa monotonia rítmica [imita com a boca o solo do choro]. Eu via isso dentro da minha composição, que ao mesmo tempo não era contínua, existia a ideia dessa ordem sincopada, feita de quebras, mas construída em um fluxo melódico, dominado pelo azul. Visualizei e me identifiquei muito com aquela música. "
Desaprendendo com as crianças
Acho toda criança incrível, pois elas sofrem um processo de desaprendizagem, porque, artisticamente, são muito boas, capazes de fazer associações incríveis, verdadeiras instalações, com nenhum preconceito, muito ligadas no processo. Vejo minha filha muito mais interessada em misturar tintas na palheta do que no papel. Tem uma espontaneidade na aproximação com a arte, é tudo tão direto."
Adriana Varejão em entrevista exclusiva ao SaraivaConteúdo
Fonte: ADRIANA Varejão. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa17507/adriana-varejao>. Acesso em: 12 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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É uma artista plástica brasileira contemporânea. Suas obras encontram-se em coleções de instituições como Metropolitan Museum of Art, Nova York; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York; Tate Modern, Londres; Fondation Cartier pour l’art Contemporain, Paris; Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro;Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro , Rio de janeiro ; Fundación “la Caixa,” Barcelona; Stedelijk Museum, Amsterdã; e Hara Museum, Tóquio. Entre suas principais exposições institucionais incluem-se “Azulejões,” Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro e Brasília, Brasil (2001); “Chambre d’échos / Câmara de ecos,” Fondation Cartier pour l´art Contemporain, Paris (2005, itinerância para o Centro Cultural de Belém, Lisboa; e DA2, Salamanca, Espanha); Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio (2007); “Adriana Varejão - Histórias às Margens,” Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil (2012, itinerância para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; e o Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Argentina em 2013); “Adriana Varejão,” The Institute of Contemporary Art, Boston (2014); “Adriana Varejão: Kindred Spirits,” Dallas Contemporary (2015), “Adriana Varejão – por uma retórica canibal,” Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil (2019, itinerância para o Museu de Arte Moderna Aloízio Magalhães (MAMAM), Recife, Brasil) e “Otros cuerpos detrás. Adriana Varejão,” Museo Tamayo, México (2019). A artista participou da V Bienal de Havana, Cuba (1994); Johannesburg, South Africa Bienalle (1995); Bienal de São Paulo (1994, 1998); 12th Biennale of Sydney (2000); International Biennial Exhibition, SITE Santa Fe (2004); Liverpool Biennial (1999, 2006); Bucharest Biennale (2008); Istambul Biennial (2011); “30x Bienal,” Fundação Bienal de São Paulo (2013); Bienal do Mercosul, Brasil (1997, 2005, 2015); e da primeira Bienal de Arte de Contemporânea de Coimbra, Portugal (2015).
Em 2008, um pavilhão permanente dedicado a obra de Varejão foi inaugurado em Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, Minas Gerais.
Adriana Varejão recebeu o Prêmio Mario Pedrosa (artista de linguagem contemporânea), da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e o Grande Prêmio da Crítica, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), pela exposição “Histórias às margens”, realizada em 2012/13 no MAM SP, MAM Rio e MALBA. Fonte: www.adrianavarejao.net
Participou de diversas exposições nacionais e internacionais, entre elas, na Bienal de São Paulo, Tate Modern em Londres e MoMa em Nova Iorque. Trabalha bastante com azulejos e está entre as mais bem-sucedidas do circuito mundial.
Vida
Nascida no Rio de Janeiro, Varejão passou parte da infância em Brasília. Em 1981, ingressou no curso de engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, abandonando-o no ano seguinte. A partir de 1983, estuda nos cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, e aluga ateliê no bairro do Horto com outros estudantes. Em 1985, viaja para Nova York e tem contato com a pintura do alemão Anselm Kiefer e do americano Philip Guston. Em 1986, recebe o Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Artes.
Realizou sua primeira exposição individual em 1989, na U-ABC, Stedelijk Museum, Amsterdam, Netherlands; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.
Através da releitura de elementos visuais incorporados à cultura brasileira pela colonização, como a pintura de azulejos portugueses, ou a referência à crueza e agressividade da matéria nos trabalhos com “carne”, a artista discute relações paradoxais entre sensualidade e dor (fetiches), violência e exuberância. Seus trabalhos mais recentes trazem referências voltadas para a arquitetura, inspirada em espaços como açougues, botequins, saunas, piscinas etc, e abordam questões tradicionais da pintura, como cor, textura e perspectiva.
Obra controversa
Em setembro de 2017, a obra Cena de interior II, de 1994, foi uma dos principais alvos da crítica popular que teria motivado o encerramento precoce da exposição "Queermuseu" organizada pela Fundação Santander Cultural, na cidade de Porto Alegre.
A obra foi acusada de apologia à zoofilia ao retratar duas figuras masculinas indistintas com uma cabra; Adriana Varejão, ressalta que "busca jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas" e que Cenas do Interior II é "uma obra adulta feita para adultos".
"Esta é uma obra adulta feita para adultos. A pintura é uma compilação de práticas sexuais existentes, algumas históricas (como as shungas, clássicas imagens eróticas da arte popular japonesa) e outras baseadas em narrativas literárias ou coletadas em viagens pelo Brasil. O trabalho não visa julgar essas práticas. Como artista, apenas busco jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas. É um aspecto do meu trabalho, a reflexão adulta." — Adriana Varejão
Exposições Individuais
2012 – Adriana Varejão, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil
2011 – Victoria Miro Gallery, London, UK
2009 – Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
2008 – Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Minas Gerais, Brasil
Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil
2007 – Hara Museum, Tokyo, Japan
2006 – Fotografia como Pintura, Sesc Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil
2005 – Chambre d"échos/Câmara de Ecos, Fondation Cartier Pour L´Art Contemporain, Paris, France
Centro Cultural de Belém, Lisboa, Portugal DA2 – Domus Artium 2002 Salamanca, Spain Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
2004 – Saunas, Victoria Miro Gallery, London, UK
2003 – Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
2002 – Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
Galeria Soledad Lorenzo, Madrid, Spain Victoria Miro Gallery, London, UK
2001 – Azulejões, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro , Brasil
Azulejões, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil Galeria Pedro Oliveira, Porto, Portugal
2000 – Azulejões e Charques, Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
Bildmuseet, Umea, Sweden Borås Konstmuseum, Borås, Sweden Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
1999 – Alegria, Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
1998 – Trading Images, Pavilhão Branco, Instituto de Arte Contemporânea, Lisboa, Portugal
Galeria Soledad Lorenzo, Madrid, Spain
1997 – Galeria Ghislaine Hussenot, Paris, France
1996 – Galeria Barbara Farber, Amsterdam, Netherlands
Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
1995 – Annina Nosei Gallery, New York, USA
1993 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
1992 – Galeria Barbara Farber, Amsterdam, Netherlands
Galeria Luisa Strina, São Paulo, Brasil
1991 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
1988 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
Prêmios
2013, Prêmio Mario Pedrosa, Associação Brasileira de Críticos de Arte[6] e Grande Prêmio da Crítica, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA)
1986, Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas
Fonte: https://www.wikiwand.com/pt/Adriana_Varej%C3%A3o consultado em 12 de março de 2020.
Crédito fotográfico: https://atarde.uol.com.br/cultura/exposicao/noticias/2052180-mam-recebe-exposicao-da-artista-carioca-adriana-varejao
Videos
https://www.youtube.com/watch?v=svJ3whzVqTo&feature=emb_title
Entrevista com Adriana Varejão
https://www.youtube.com/watch?v=8c-5bXV7u8g&feature=emb_title
Adriana Varejão- Catálogo, de Marcos Ribeiro
Passa parte da infância em Brasília. Ingressa no curso de engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) em 1981, mas o abandona no ano seguinte. A partir de 1983, estuda nos cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, e aluga ateliê no bairro do Horto com outros estudantes. Viaja para Nova York, em 1985, e tem contato com a pintura do alemão Anselm Kiefer (1945) e do americano Philip Guston (1913-1980). Em 1986, recebe o Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte/RJ).
Ao visitar a cidade mineira de Ouro Preto, entra em contato com a arte barroca, que se torna referência para seu trabalho. Em Escrito sobre un Cuerpo, do escritor cubano Severo Sarduy (1937-1993), conhece os ensaios sobre esse movimento artístico. Neste período, aspectos do barroco cubano e da filosofia chinesa passam a influenciar sua pintura. Participa da mostra Brasil Já no Museu Morsbroich, Leverkusen, Alemanha, em 1988. No mesmo ano, realiza sua primeira exposição individual na Galeria Thomas Cohn, Rio de Janeiro, e integra a coletiva U-ABC, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, Holanda. Em 1992, passa três meses na China. As experiências da viagem integram a exposição Terra Incógnita na Galeria Luisa Strina, São Paulo. Produz a exposição Proposta para uma Catequese (1993) depois de ler as obras do historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), do ensaísta Gilberto Freyre (1900-1987) e do crítico literário Alfredo Bosi (1936).
Em 1993, participa da residência artística promovida pelo Instituto Goethe em Maceió. Em seguida, viaja pelo nordeste brasileiro pesquisando sobre arte sacra e artesanato popular, especialmente ex-votos e azulejaria. Integra a mostra Mapping no Museu de Arte moderna (MoMA), em Nova York e, também, a 22ª, 24ª e 30ª edições da Bienal Internacional de São Paulo.
O arquiteto paulista Rodrigo Cerviño Lopez (1972) realiza um projeto para abrigar algumas de suas obras no Centro Inhotim de Arte Contemporânea, em Inhotim, Minas Gerais, em 2008. Possui obras em coleções internacionais de museus, como o Tate Modern, Londres, o Guggenheim, Nova York, e o Tokyo’s Hara Museum.
Análise
A obra de Adriana Varejão toma impulso com a pintura figurativa e gestual dos anos 1980, na qual lhe interessa a permanência das marcas do processo. A pintura constitui o campo maior de sua produção, incorporando elementos de outras linguagens, como a escultura.
Ao conhecer a cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, o repertório barroco passa a marcar suas criações. A narrativa, a mescla de linguagens bi e tridimensionais e a exuberância material das obras dialogam com a visualidade barroca, em busca de uma experiência estética totalizante. Em pinturas como Altar I (1987), as pinceladas espessas remetem aos ornamentos das igrejas. Em Abóbada (1987), tais alusões e a materialidade vigorosa confrontam figuração e abstração. A intensidade barroca é expressa pela lógica compositiva de preenchimento total do espaço e pela cenografia das telas.
Em suas obras, os materiais estão ligados simbolicamente à história cultural brasileira. Na década de 1990, o desenho toma maior importância, dialogando com a iconografia colonial e, por vezes, estabelecendo uma relação narrativa. Em Proposta para uma Catequese – Parte I Díptico: Morte e Esquartejamento (1993), cenas de antropofagia retiradas de gravuras do século XVI incorporam a visualidade da azulejaria portuguesa. No lugar das cenas cristãs, os índios ensinam a antropofagia, invertendo as posições da colonização. Com uma imagem de Cristo e uma inscrição do Evangelho1, Varejão aproxima simbologias distintas, como a antropofagia e a transubstanciação. A superfície azulejada, simulada por meio da pintura a óleo sobre tela, revela um interior visceral em pequenas incisões. No início da década de 1990, fissuras invadem os trabalhos em imagens apropriadas do holandês Franz Post (1612-1680), do francês Nicolas Taunay (1755-1803) e de temas tradicionais da azulejaria. Pedaços das imagens são extraídos e expostos sobre pratos fixados à parede ao redor das telas cortadas. O uso de camadas espessas de tinta a óleo conserva um interior úmido e a artista explora essa condição de forma semântica: opõe a camada superficial da pintura, a pele, a seu interior, a carne. Este procedimento é enfatizado em pinturas e esculturas que mimetizam partes do corpo. Em seus intercâmbios simbólicos, a carne, além da antropofagia, remete aos estigmas católicos, como as chagas dos mártires.
Varejão apropria-se de imagens como signos de acesso, fornecendo-lhes um significado amplo. Paisagens (1995) apresenta-se como ligação entre universos visuais: uma imagem com rasgos que revelam outras paisagens como citações sobrepostas. Já a instalação Azulejões (2000), composta por pinturas de fragmentos de ornamentos, produz um aspecto vertiginoso pelo excesso de curvas em diferentes direções, que se agigantam no espaço sem chegar a uma completude.
Da série Saunas e Banhos (2001-2009) também emergem transposições culturais. Constrói, com a geometria do azulejo, espaços labirínticos que dialogam com a cultura muçulmana e com a influência portuguesa na arquitetura de Macau e dos botequins e mercados de carne do Rio de Janeiro.
Para a série Polvo (2013-2014), Varejão produz uma caixa de tintas, em parceria com a fábrica Águia, com 33 cores mencionadas como tons de pele em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As pinturas produzidas com as tintas estudam combinações cromáticas sobre o retrato da artista que revelam novas analogias entre tinta, pele e mestiçagem.
A obra de Adriana Varejão expõe a violência nos processos de assimilação cultural. Questiona ainda a superfície pictórica, o papel simbólico da imagem e a maleabilidade de seus signos. Tal como as incisões em sua pintura, a iconografia colonial surge como irrupção anacrônica. Mas a escolha dos signos é sempre permeada pelas relações que estabelecem com a contemporaneidade.
Críticas
"O espaço de representação pictórica proposto por Adriana Varejão visa a angariar o olhar plurívoco do espectador, que o teatro e o cinema costumeiramente exigem dele, a fim de que presencie imagens em movimento que correm à cata, num palco ou tela, duma performance discursiva. No entanto, no caso de Adriana, o processo de encenação torna de tal modo excessivo o peso simultâneo da imagem compósita, que leva esta a deslegitimar a exigência propriamente discursiva das encenações conduzidas pela sucessão temporal de imagens. Há narrativa nas telas de Adriana, embora nelas não haja discurso, no sentido linguístico da palavra.
Sua narrativa é a de “um rio sem discurso”; para retomar a imagem de João Cabral de Melo Neto. (...) A forma do azulejo – íntegro ou lascado, pouco importa − está sempre a “quebrar em pedaços” (JCMN) as intenções caudalosas de qualquer esforço discursivo. Por isso, em cada minuto e por todo o tempo da contemplação, nenhum ponto de vista assumido pelo espectador é o final, a exigir soberania sobre os demais. Numa peça de teatro ou filme, as imagens em movimento conduzem os assistentes de fio a pavio até − como acontece nos filmes de Hollywood − o happy ending. Não é o caso da mise-en-scène multiprogramada por efeitos de sobreposição e de simultaneidade, proposta pelas peças de Adriana. (...)"
Silviano Santiago (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
Os trabalhos de Adriana Varejão exploram as histórias implícitas e não contadas, criando um tipo de historiografia crítica (...) em que o pastiche dos retratos acadêmicos iluminam o que ficou oculto da experiência violenta do universo feminino no Brasil colonial. A violência obliterada retorna na relação encenada entre os quadros — as imagens exteriores e oficiais — e os olhos de vidro cujos interiores vêm estampados de outras imagens — interiores e privadas — menos idílicas por trás da censura do visível. (...) As carnes que saem das paredes de Adriana Varejão não são as “carnes” tranquilas (viande) de Merleau-Ponty que fundavam o encontro entre o corpo do sujeito e o corpo do mundo e que se tocavam na pincelada de Cézanne sobre a tela; aqui se trata de carnes do desejo (chair) em movimento cruel (cru, sangrento e implacável) que se projetam no espaço com força sensual e invasiva, como em Azulejaria verde em carne viva (2000), sem revelar nada além da ferida em textura informe."
Karl Erik Schøllhammer (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares)
"É possível dizer que os azulejos pavimentam, ladrilham e preenchem a obra de Adriana Varejão. Pavimento no percurso; pavimento que dá liga a esses tecidos de histórias que vão se desnovelando a cada nova fase, a cada desafio. Adriana, tal qual um bricoleur, coleta fragmentos de histórias e os traduz em outros. Como os antigos relojoeiros, a artista parte do que encontra e por aí desenvolve seu projeto. (...) Adriana parte do que tem: espalha, remonta e cria, tendo por base narrativas que, pacientemente, coleta, relê, refaz. Sabemos que todo tradutor é um traidor, e Adriana age à moda das caixinhas chinesas. Abre uma caixa dentro de outra, e faz de sua obra um mar de histórias."
Lilia Moritz Schwartz (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"A série Saunas e Banhos de Adriana Varejão remete, de imediato, à própria gênese do espaço da pintura na tradição ocidental, isto é, à construção de um espaço pictórico através da representação da perspectiva de estruturas arquitetônicas.
Em Saunas e Banhos a luz é a metáfora do tempo durante o qual o homem é no mundo. Ela é acontecimento, fenômeno, duração. Como fenômeno, a luz preexiste e subsiste ao homem. Ela representa a Natureza como o Absolutamente Grande, atemporal e infinita, e, como metáfora, é indiferente a sua constituição e procedência. A presença da luz contraposta à ausência humana nas pinturas de Adriana faz aludir àquela Natureza sublime manifesta na sua permanência e que abriga o homem no seu estado de impermanência. (...) Os espaços-abrigos das pinturas de Adriana estão fundados em ausências essencialmente reveladoras do embate entre o fora (o mundo, a Natureza, o Absolutamente Grande) e o dentro (o sujeito, o abrigo, o Absolutamente Pequeno).
Nos vazios dessas telas recentes de Varejão, nas cores que se insinuam pelas frestas de luz dos ladrilhos, o espectador é convidado a suspender suas expectativas, a deixar-se capturar pelas nuances do que não tem nome e, acima de tudo, a perder tempo olhando."
Zalinda Cartaxo (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"Trazendo o Barroco para a cena contemporânea, Varejão repõe na ordem do dia uma pintura que não teme o artifício, a ilusão, o jogo delirante e sensual com a aparência."
Luiz Camillo Osório (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"Os grandes Pratos retomam a convulsão marítima do barroco de Adriana, agora não mais como malha, nem como movimento, mas como o espaço fértil de criação-recri(e)ação-nascimento. O mar convulso – das figuras derretidas ou deformadas dos Barrocos, em sombras e transparências que se afogavam em ondas de cores, manchas e mofos aquosos – está também em Celacanto, nos Azulejões, mas de modo violento, abstrato, decomposto. Um grande mar em que o canto (das sereias?) provoca maremoto. O maremoto dos azulejos de Adriana esconde sereias que nos Pratos surgem em explícitas figuras; loucas, bêbadas, lindas, retorcidas. (...) Adriana explora a materialidade da tinta e da superfície de telas e outros suportes, construindo narrativas que se cruzam ao longo de sua trajetória, principalmente, através de dois elementos: as carnes e os mares. Misturando um e outro, uma qualidade barroca, na profusão de cores (ou tons de azul, no caso dos Azulejões) e a carnalidade-viceralidade do gesto. Os mares de Adriana são carnais, e suas carnes estouram em ondas de arrebentação."
Isabel Diegues (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
Entrevista à Revista Personalité
nº2, março de 2008, ano I
"Artes Plásticas não é questão de talento. Não é preciso ser um prodígio técnico, como Nelson Freire ou Mozart. É uma linguagem adulta, que depende do conhecimento. da bagagem cultural, da sensibilidade. Está ligada ao pensamento, à criatividade".
“Tento não construir nenhum discurso, dou pistas narrativas para a pessoa introduzir sua própria narrativa.Tem obras da série Ruínas de charque (abaixo, Ruína de charque Caruaru, 2000, óleo sobre madeira e poliuretano), com simulações de pedaços de parede com essa alusão à carne por dentro, destruída, com rasgos na tela. Os cortes aparecerem porque eu costumava trabalhar com muita materialidade, muita tinta sobre a tela. Tomei contato com o Barraco mineiro, um estilo muito visceral, cujo emblema é o sagrado coração sangrando, as chagas, tudo muito teatralizado. Quando pinto a carne me refiro um pouco ao Barroco, à própria história da pintura, pois Goya pintava a carne, Rembrandt também – tem O boi esquartejado, Aula de anatomia –, Gericault, Francis Bacon. Então falo da história da pintura, e não da carne diretamente, mas da pintura do Goya, do Caravaggio, aquele dedo na ferida, que sempre foi uma imagem muito forte na minha cabeça. E a interpretação disso às vezes é mais erótica, às vezes mais dolorida.”.
O começo
"Quando entrei para um curso de pintura, nem sabia que alguém poderia viver pintando, que isso poderia ser uma profissão. Lembro-me que entrei na casa do meu professor de pintura e pensei: “Nossa, ele é um pintor, ele vive de pintura”. E foi uma surpresa para mim, não tinha familiaridade com esse ambiente, muito menos o ambiente de arte contemporânea. As coisas foram acontecendo naturalmente, nunca planejei muito, nunca coloquei minha vontade, meus planos na frente do que estava acontecendo, tipo “vou ser uma artista profissional”. Nunca teve esse momento.
Fui fazendo cursos de pintura, por certa curiosidade sobre o assunto. Nessa época fazia faculdade de engenharia e aí a pintura foi me tomando, tomando espaço, fui me dedicando cada vez mais a isso e, naturalmente, comecei a expor numa galeria – muito cedo até, em 1988, quando tinha acabado de completar 24 anos."
O trabalho, o cotidiano, as fases
"Tento me prender dentro do ateliê, mesmo que eu vá para lá para não fazer nada. Na pintura, assim como na arte de maneira em geral, você tem que ter uma predisposição para a coisa começar a acontecer, tem que se desocupar do mundo, e você só consegue fazer isso depois de um determinado número de horas. Chego ao ateliê, fica fazendo uma porção de coisas, fico olhando para o quadro e aí começo a mergulhar dentro da coisa, da pintura, depois de três, quatro horas ali. Aí a pintura começa a funcionar, a acontecer, as coisas começam a fluir, o mundo vai ficando cada vez mais distante, a cabeça vai parando e então começo a entrar ali naquele barato. O tempo aqui não é só o da execução, mas é esse tempo necessário para a cabeça se desligar um pouco dos acontecimentos do mundo, você ficar num estado mental mais ou menos livre para poder olhar simplesmente."
As interrupções, os compromissos
"Quando uma filha te interrompe no meio de um processo como este, tem que parar. Aí volta para cá no dia seguinte. Às vezes atraso meus compromissos quando estou num pique muito bom de pintura, vou noite adentro. Mas tem dias que entro no ateliê e dá tudo errado, a mão, o olho, está tudo errado. Tem dias que faço uma porção de coisa e acho que foi genial, “nossa, hoje eu resolvi todos os problemas”. No dia seguinte, entro e vejo que era tudo uma porcaria. Varia, agora quando estou num pique bom, estou sentindo que as coisas estão funcionando, aí tento estender o máximo de horas possível pintando. Teve vários momentos da minha vida que esqueci que era sábado, domingo, Natal, Carnaval, Copa do Mundo.
É um projeto de vida mesmo, de dedicação, todos os dias. A rotina de vir para o ateliê é uma constante na minha vida. E também o trabalho não se resume em só vir para o ateliê executar a obra. Quem trabalha com criação está o tempo todo percebendo o mundo também. Lembro-me que quando comecei a ser artista, descobri o que era arte, a realidade se transformou completamente, as coisas se transformaram, tinham um frescor em tudo o que eu lia, os filmes que via, de estar ali, diante do mar, na praia, de estar ouvindo uma música. Tudo é matéria para a pintura, para a arte. O artista nunca descansa, está de férias, vai para casa e se desliga do trabalho. Não tem essa dinâmica. Você trabalha o tempo todo, vivendo, sentindo, olhando, ouvindo, cheirando. Está trabalhando o tempo todo."
As séries
"Quando começo uma nova série, é um acontecimento sensacional. Tem um pouco desse frescor do início, quando comecei a ser artista, o frescor de descobrir novos lugares, novos assuntos. Saunas e banhos (2001-2009) (acima a obra The guest, 2004, óleo sobre tela) foram um pouco assim, comecei essa série completamente por acaso. Abri um livro de arquitetura de Macau [ex-colônia portuguesa, a península asiática tornou-se região administrativa da China em 20 de dezembro de 1999] em Portugal. Estava numa livraria, comecei a ver um livro e vi umas fotos de um cantinho azulejado, uma arquitetura completamente gambiarra, sem a menor importância, o livro era sobre isso. Macau parecia completamente o Rio de Janeiro. E eu sempre trabalhei em cima dessas ideias de transposições culturais.
Muito tempo atrás, fiz uma exposição chamada Terra incógnita (1991-2003), que falava sobre uma China brasileira, sempre com essa relação entre China e Brasil acontecendo em minha obra. E essa era uma ideia mais contemporânea. Aí calhou de eu estar em Paris e comecei a visitar as saunas nos bairros muçulmanos, aquelas saunas só de mulheres. Fui parar numa sauna subterrânea incrível, toda azulejada. Ao mesmo tempo associei isso com os botequins do Rio de Janeiro, também com os mercados de carne. Tudo era um pouco essa mesma arquitetura funcional do azulejo vulgar, contemporâneo. Esse tipo de ambiente começou a me seduzir muito. Fui para Budapeste, buscar também em filmes, como Banhos [de Yang Zhang, 1999], um filme chinês incrível, trouxe-me a presença das piscinas. É mais ou menos assim que acontece.
Agora tomei contato com a obra de um ceramista português que viveu no final do século XIX, [Rafael] Bordalo Pinheiro [também caricaturista e jornalista, que morou no Brasil entre 1875 e 1879]. Ele dirigiu durante 20 anos uma fábrica de cerâmicas em Caldas da Rainha, em Portugal. Há dois anos estou namorando essa obra e agora fui conhecer de perto, em Lisboa, coleções particulares destes pratos. Fui a Caldas da Rainha, à casa onde Bordalo viveu, comprei biografias dele. Eu sou tomada, mas não por uma pesquisa – não chamaria de pesquisa, mas de paixão. Fico apaixonada por um assunto, um universo, uma sensação e procuro construir histórias em torno disso e viver um pouco essas coisas. As séries acontecem um pouco assim."
Música
"Quando estava desenvolvendo Azulejões (acima a pintura Celacanto provoca maremoto, 2004, óleo e gesso sobre tela), foi uma época que estava ouvindo muito samba e choro, vivendo isso muito intensamente. O Paulo Herkenhoff olhou para aquilo e disse que tinha uma ordem sincopada. Eu conhecia a obra do Baden Powell – aliás, conheci o Baden, fui numa roda vê-lo tocar. E no “Choro para metrônomo” eu tinha a tradução musical do que era aquela obra, do que eu esperava visualmente construir com aquela obra. Não que ouvi a música e quis fazer a obra, mas é quando as coisas se encontram, as coincidências acontecem. Achava muito coerente a forma do ritmo sempre regular da azulejaria, quadrado, com o metrônomo, que impõe esse ritmo, aquele solo em cima dessa monotonia rítmica [imita com a boca o solo do choro]. Eu via isso dentro da minha composição, que ao mesmo tempo não era contínua, existia a ideia dessa ordem sincopada, feita de quebras, mas construída em um fluxo melódico, dominado pelo azul. Visualizei e me identifiquei muito com aquela música. "
Desaprendendo com as crianças
Acho toda criança incrível, pois elas sofrem um processo de desaprendizagem, porque, artisticamente, são muito boas, capazes de fazer associações incríveis, verdadeiras instalações, com nenhum preconceito, muito ligadas no processo. Vejo minha filha muito mais interessada em misturar tintas na palheta do que no papel. Tem uma espontaneidade na aproximação com a arte, é tudo tão direto."
Adriana Varejão em entrevista exclusiva ao SaraivaConteúdo
Fonte: ADRIANA Varejão. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa17507/adriana-varejao>. Acesso em: 12 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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É uma artista plástica brasileira contemporânea. Suas obras encontram-se em coleções de instituições como Metropolitan Museum of Art, Nova York; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York; Tate Modern, Londres; Fondation Cartier pour l’art Contemporain, Paris; Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro;Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro , Rio de janeiro ; Fundación “la Caixa,” Barcelona; Stedelijk Museum, Amsterdã; e Hara Museum, Tóquio. Entre suas principais exposições institucionais incluem-se “Azulejões,” Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro e Brasília, Brasil (2001); “Chambre d’échos / Câmara de ecos,” Fondation Cartier pour l´art Contemporain, Paris (2005, itinerância para o Centro Cultural de Belém, Lisboa; e DA2, Salamanca, Espanha); Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio (2007); “Adriana Varejão - Histórias às Margens,” Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil (2012, itinerância para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; e o Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Argentina em 2013); “Adriana Varejão,” The Institute of Contemporary Art, Boston (2014); “Adriana Varejão: Kindred Spirits,” Dallas Contemporary (2015), “Adriana Varejão – por uma retórica canibal,” Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil (2019, itinerância para o Museu de Arte Moderna Aloízio Magalhães (MAMAM), Recife, Brasil) e “Otros cuerpos detrás. Adriana Varejão,” Museo Tamayo, México (2019). A artista participou da V Bienal de Havana, Cuba (1994); Johannesburg, South Africa Bienalle (1995); Bienal de São Paulo (1994, 1998); 12th Biennale of Sydney (2000); International Biennial Exhibition, SITE Santa Fe (2004); Liverpool Biennial (1999, 2006); Bucharest Biennale (2008); Istambul Biennial (2011); “30x Bienal,” Fundação Bienal de São Paulo (2013); Bienal do Mercosul, Brasil (1997, 2005, 2015); e da primeira Bienal de Arte de Contemporânea de Coimbra, Portugal (2015).
Em 2008, um pavilhão permanente dedicado a obra de Varejão foi inaugurado em Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, Minas Gerais.
Adriana Varejão recebeu o Prêmio Mario Pedrosa (artista de linguagem contemporânea), da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e o Grande Prêmio da Crítica, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), pela exposição “Histórias às margens”, realizada em 2012/13 no MAM SP, MAM Rio e MALBA. Fonte: www.adrianavarejao.net
Participou de diversas exposições nacionais e internacionais, entre elas, na Bienal de São Paulo, Tate Modern em Londres e MoMa em Nova Iorque. Trabalha bastante com azulejos e está entre as mais bem-sucedidas do circuito mundial.
Vida
Nascida no Rio de Janeiro, Varejão passou parte da infância em Brasília. Em 1981, ingressou no curso de engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, abandonando-o no ano seguinte. A partir de 1983, estuda nos cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, e aluga ateliê no bairro do Horto com outros estudantes. Em 1985, viaja para Nova York e tem contato com a pintura do alemão Anselm Kiefer e do americano Philip Guston. Em 1986, recebe o Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Artes.
Realizou sua primeira exposição individual em 1989, na U-ABC, Stedelijk Museum, Amsterdam, Netherlands; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.
Através da releitura de elementos visuais incorporados à cultura brasileira pela colonização, como a pintura de azulejos portugueses, ou a referência à crueza e agressividade da matéria nos trabalhos com “carne”, a artista discute relações paradoxais entre sensualidade e dor (fetiches), violência e exuberância. Seus trabalhos mais recentes trazem referências voltadas para a arquitetura, inspirada em espaços como açougues, botequins, saunas, piscinas etc, e abordam questões tradicionais da pintura, como cor, textura e perspectiva.
Obra controversa
Em setembro de 2017, a obra Cena de interior II, de 1994, foi uma dos principais alvos da crítica popular que teria motivado o encerramento precoce da exposição "Queermuseu" organizada pela Fundação Santander Cultural, na cidade de Porto Alegre.
A obra foi acusada de apologia à zoofilia ao retratar duas figuras masculinas indistintas com uma cabra; Adriana Varejão, ressalta que "busca jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas" e que Cenas do Interior II é "uma obra adulta feita para adultos".
"Esta é uma obra adulta feita para adultos. A pintura é uma compilação de práticas sexuais existentes, algumas históricas (como as shungas, clássicas imagens eróticas da arte popular japonesa) e outras baseadas em narrativas literárias ou coletadas em viagens pelo Brasil. O trabalho não visa julgar essas práticas. Como artista, apenas busco jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas. É um aspecto do meu trabalho, a reflexão adulta." — Adriana Varejão
Exposições Individuais
2012 – Adriana Varejão, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil
2011 – Victoria Miro Gallery, London, UK
2009 – Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
2008 – Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Minas Gerais, Brasil
Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil
2007 – Hara Museum, Tokyo, Japan
2006 – Fotografia como Pintura, Sesc Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil
2005 – Chambre d"échos/Câmara de Ecos, Fondation Cartier Pour L´Art Contemporain, Paris, France
Centro Cultural de Belém, Lisboa, Portugal DA2 – Domus Artium 2002 Salamanca, Spain Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
2004 – Saunas, Victoria Miro Gallery, London, UK
2003 – Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
2002 – Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
Galeria Soledad Lorenzo, Madrid, Spain Victoria Miro Gallery, London, UK
2001 – Azulejões, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro , Brasil
Azulejões, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil Galeria Pedro Oliveira, Porto, Portugal
2000 – Azulejões e Charques, Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
Bildmuseet, Umea, Sweden Borås Konstmuseum, Borås, Sweden Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
1999 – Alegria, Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
1998 – Trading Images, Pavilhão Branco, Instituto de Arte Contemporânea, Lisboa, Portugal
Galeria Soledad Lorenzo, Madrid, Spain
1997 – Galeria Ghislaine Hussenot, Paris, France
1996 – Galeria Barbara Farber, Amsterdam, Netherlands
Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
1995 – Annina Nosei Gallery, New York, USA
1993 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
1992 – Galeria Barbara Farber, Amsterdam, Netherlands
Galeria Luisa Strina, São Paulo, Brasil
1991 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
1988 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
Prêmios
2013, Prêmio Mario Pedrosa, Associação Brasileira de Críticos de Arte[6] e Grande Prêmio da Crítica, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA)
1986, Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas
Fonte: https://www.wikiwand.com/pt/Adriana_Varej%C3%A3o consultado em 12 de março de 2020.
Crédito fotográfico: https://atarde.uol.com.br/cultura/exposicao/noticias/2052180-mam-recebe-exposicao-da-artista-carioca-adriana-varejao
Videos
https://www.youtube.com/watch?v=svJ3whzVqTo&feature=emb_title
Entrevista com Adriana Varejão
https://www.youtube.com/watch?v=8c-5bXV7u8g&feature=emb_title
Adriana Varejão- Catálogo, de Marcos Ribeiro
Passa parte da infância em Brasília. Ingressa no curso de engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) em 1981, mas o abandona no ano seguinte. A partir de 1983, estuda nos cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, e aluga ateliê no bairro do Horto com outros estudantes. Viaja para Nova York, em 1985, e tem contato com a pintura do alemão Anselm Kiefer (1945) e do americano Philip Guston (1913-1980). Em 1986, recebe o Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte/RJ).
Ao visitar a cidade mineira de Ouro Preto, entra em contato com a arte barroca, que se torna referência para seu trabalho. Em Escrito sobre un Cuerpo, do escritor cubano Severo Sarduy (1937-1993), conhece os ensaios sobre esse movimento artístico. Neste período, aspectos do barroco cubano e da filosofia chinesa passam a influenciar sua pintura. Participa da mostra Brasil Já no Museu Morsbroich, Leverkusen, Alemanha, em 1988. No mesmo ano, realiza sua primeira exposição individual na Galeria Thomas Cohn, Rio de Janeiro, e integra a coletiva U-ABC, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, Holanda. Em 1992, passa três meses na China. As experiências da viagem integram a exposição Terra Incógnita na Galeria Luisa Strina, São Paulo. Produz a exposição Proposta para uma Catequese (1993) depois de ler as obras do historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), do ensaísta Gilberto Freyre (1900-1987) e do crítico literário Alfredo Bosi (1936).
Em 1993, participa da residência artística promovida pelo Instituto Goethe em Maceió. Em seguida, viaja pelo nordeste brasileiro pesquisando sobre arte sacra e artesanato popular, especialmente ex-votos e azulejaria. Integra a mostra Mapping no Museu de Arte moderna (MoMA), em Nova York e, também, a 22ª, 24ª e 30ª edições da Bienal Internacional de São Paulo.
O arquiteto paulista Rodrigo Cerviño Lopez (1972) realiza um projeto para abrigar algumas de suas obras no Centro Inhotim de Arte Contemporânea, em Inhotim, Minas Gerais, em 2008. Possui obras em coleções internacionais de museus, como o Tate Modern, Londres, o Guggenheim, Nova York, e o Tokyo’s Hara Museum.
Análise
A obra de Adriana Varejão toma impulso com a pintura figurativa e gestual dos anos 1980, na qual lhe interessa a permanência das marcas do processo. A pintura constitui o campo maior de sua produção, incorporando elementos de outras linguagens, como a escultura.
Ao conhecer a cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, o repertório barroco passa a marcar suas criações. A narrativa, a mescla de linguagens bi e tridimensionais e a exuberância material das obras dialogam com a visualidade barroca, em busca de uma experiência estética totalizante. Em pinturas como Altar I (1987), as pinceladas espessas remetem aos ornamentos das igrejas. Em Abóbada (1987), tais alusões e a materialidade vigorosa confrontam figuração e abstração. A intensidade barroca é expressa pela lógica compositiva de preenchimento total do espaço e pela cenografia das telas.
Em suas obras, os materiais estão ligados simbolicamente à história cultural brasileira. Na década de 1990, o desenho toma maior importância, dialogando com a iconografia colonial e, por vezes, estabelecendo uma relação narrativa. Em Proposta para uma Catequese – Parte I Díptico: Morte e Esquartejamento (1993), cenas de antropofagia retiradas de gravuras do século XVI incorporam a visualidade da azulejaria portuguesa. No lugar das cenas cristãs, os índios ensinam a antropofagia, invertendo as posições da colonização. Com uma imagem de Cristo e uma inscrição do Evangelho1, Varejão aproxima simbologias distintas, como a antropofagia e a transubstanciação. A superfície azulejada, simulada por meio da pintura a óleo sobre tela, revela um interior visceral em pequenas incisões. No início da década de 1990, fissuras invadem os trabalhos em imagens apropriadas do holandês Franz Post (1612-1680), do francês Nicolas Taunay (1755-1803) e de temas tradicionais da azulejaria. Pedaços das imagens são extraídos e expostos sobre pratos fixados à parede ao redor das telas cortadas. O uso de camadas espessas de tinta a óleo conserva um interior úmido e a artista explora essa condição de forma semântica: opõe a camada superficial da pintura, a pele, a seu interior, a carne. Este procedimento é enfatizado em pinturas e esculturas que mimetizam partes do corpo. Em seus intercâmbios simbólicos, a carne, além da antropofagia, remete aos estigmas católicos, como as chagas dos mártires.
Varejão apropria-se de imagens como signos de acesso, fornecendo-lhes um significado amplo. Paisagens (1995) apresenta-se como ligação entre universos visuais: uma imagem com rasgos que revelam outras paisagens como citações sobrepostas. Já a instalação Azulejões (2000), composta por pinturas de fragmentos de ornamentos, produz um aspecto vertiginoso pelo excesso de curvas em diferentes direções, que se agigantam no espaço sem chegar a uma completude.
Da série Saunas e Banhos (2001-2009) também emergem transposições culturais. Constrói, com a geometria do azulejo, espaços labirínticos que dialogam com a cultura muçulmana e com a influência portuguesa na arquitetura de Macau e dos botequins e mercados de carne do Rio de Janeiro.
Para a série Polvo (2013-2014), Varejão produz uma caixa de tintas, em parceria com a fábrica Águia, com 33 cores mencionadas como tons de pele em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As pinturas produzidas com as tintas estudam combinações cromáticas sobre o retrato da artista que revelam novas analogias entre tinta, pele e mestiçagem.
A obra de Adriana Varejão expõe a violência nos processos de assimilação cultural. Questiona ainda a superfície pictórica, o papel simbólico da imagem e a maleabilidade de seus signos. Tal como as incisões em sua pintura, a iconografia colonial surge como irrupção anacrônica. Mas a escolha dos signos é sempre permeada pelas relações que estabelecem com a contemporaneidade.
Críticas
"O espaço de representação pictórica proposto por Adriana Varejão visa a angariar o olhar plurívoco do espectador, que o teatro e o cinema costumeiramente exigem dele, a fim de que presencie imagens em movimento que correm à cata, num palco ou tela, duma performance discursiva. No entanto, no caso de Adriana, o processo de encenação torna de tal modo excessivo o peso simultâneo da imagem compósita, que leva esta a deslegitimar a exigência propriamente discursiva das encenações conduzidas pela sucessão temporal de imagens. Há narrativa nas telas de Adriana, embora nelas não haja discurso, no sentido linguístico da palavra.
Sua narrativa é a de “um rio sem discurso”; para retomar a imagem de João Cabral de Melo Neto. (...) A forma do azulejo – íntegro ou lascado, pouco importa − está sempre a “quebrar em pedaços” (JCMN) as intenções caudalosas de qualquer esforço discursivo. Por isso, em cada minuto e por todo o tempo da contemplação, nenhum ponto de vista assumido pelo espectador é o final, a exigir soberania sobre os demais. Numa peça de teatro ou filme, as imagens em movimento conduzem os assistentes de fio a pavio até − como acontece nos filmes de Hollywood − o happy ending. Não é o caso da mise-en-scène multiprogramada por efeitos de sobreposição e de simultaneidade, proposta pelas peças de Adriana. (...)"
Silviano Santiago (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
Os trabalhos de Adriana Varejão exploram as histórias implícitas e não contadas, criando um tipo de historiografia crítica (...) em que o pastiche dos retratos acadêmicos iluminam o que ficou oculto da experiência violenta do universo feminino no Brasil colonial. A violência obliterada retorna na relação encenada entre os quadros — as imagens exteriores e oficiais — e os olhos de vidro cujos interiores vêm estampados de outras imagens — interiores e privadas — menos idílicas por trás da censura do visível. (...) As carnes que saem das paredes de Adriana Varejão não são as “carnes” tranquilas (viande) de Merleau-Ponty que fundavam o encontro entre o corpo do sujeito e o corpo do mundo e que se tocavam na pincelada de Cézanne sobre a tela; aqui se trata de carnes do desejo (chair) em movimento cruel (cru, sangrento e implacável) que se projetam no espaço com força sensual e invasiva, como em Azulejaria verde em carne viva (2000), sem revelar nada além da ferida em textura informe."
Karl Erik Schøllhammer (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares)
"É possível dizer que os azulejos pavimentam, ladrilham e preenchem a obra de Adriana Varejão. Pavimento no percurso; pavimento que dá liga a esses tecidos de histórias que vão se desnovelando a cada nova fase, a cada desafio. Adriana, tal qual um bricoleur, coleta fragmentos de histórias e os traduz em outros. Como os antigos relojoeiros, a artista parte do que encontra e por aí desenvolve seu projeto. (...) Adriana parte do que tem: espalha, remonta e cria, tendo por base narrativas que, pacientemente, coleta, relê, refaz. Sabemos que todo tradutor é um traidor, e Adriana age à moda das caixinhas chinesas. Abre uma caixa dentro de outra, e faz de sua obra um mar de histórias."
Lilia Moritz Schwartz (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"A série Saunas e Banhos de Adriana Varejão remete, de imediato, à própria gênese do espaço da pintura na tradição ocidental, isto é, à construção de um espaço pictórico através da representação da perspectiva de estruturas arquitetônicas.
Em Saunas e Banhos a luz é a metáfora do tempo durante o qual o homem é no mundo. Ela é acontecimento, fenômeno, duração. Como fenômeno, a luz preexiste e subsiste ao homem. Ela representa a Natureza como o Absolutamente Grande, atemporal e infinita, e, como metáfora, é indiferente a sua constituição e procedência. A presença da luz contraposta à ausência humana nas pinturas de Adriana faz aludir àquela Natureza sublime manifesta na sua permanência e que abriga o homem no seu estado de impermanência. (...) Os espaços-abrigos das pinturas de Adriana estão fundados em ausências essencialmente reveladoras do embate entre o fora (o mundo, a Natureza, o Absolutamente Grande) e o dentro (o sujeito, o abrigo, o Absolutamente Pequeno).
Nos vazios dessas telas recentes de Varejão, nas cores que se insinuam pelas frestas de luz dos ladrilhos, o espectador é convidado a suspender suas expectativas, a deixar-se capturar pelas nuances do que não tem nome e, acima de tudo, a perder tempo olhando."
Zalinda Cartaxo (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"Trazendo o Barroco para a cena contemporânea, Varejão repõe na ordem do dia uma pintura que não teme o artifício, a ilusão, o jogo delirante e sensual com a aparência."
Luiz Camillo Osório (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
"Os grandes Pratos retomam a convulsão marítima do barroco de Adriana, agora não mais como malha, nem como movimento, mas como o espaço fértil de criação-recri(e)ação-nascimento. O mar convulso – das figuras derretidas ou deformadas dos Barrocos, em sombras e transparências que se afogavam em ondas de cores, manchas e mofos aquosos – está também em Celacanto, nos Azulejões, mas de modo violento, abstrato, decomposto. Um grande mar em que o canto (das sereias?) provoca maremoto. O maremoto dos azulejos de Adriana esconde sereias que nos Pratos surgem em explícitas figuras; loucas, bêbadas, lindas, retorcidas. (...) Adriana explora a materialidade da tinta e da superfície de telas e outros suportes, construindo narrativas que se cruzam ao longo de sua trajetória, principalmente, através de dois elementos: as carnes e os mares. Misturando um e outro, uma qualidade barroca, na profusão de cores (ou tons de azul, no caso dos Azulejões) e a carnalidade-viceralidade do gesto. Os mares de Adriana são carnais, e suas carnes estouram em ondas de arrebentação."
Isabel Diegues (Trecho do livro "Entre Carnes e Mares")
Entrevista à Revista Personalité
nº2, março de 2008, ano I
"Artes Plásticas não é questão de talento. Não é preciso ser um prodígio técnico, como Nelson Freire ou Mozart. É uma linguagem adulta, que depende do conhecimento. da bagagem cultural, da sensibilidade. Está ligada ao pensamento, à criatividade".
“Tento não construir nenhum discurso, dou pistas narrativas para a pessoa introduzir sua própria narrativa.Tem obras da série Ruínas de charque (abaixo, Ruína de charque Caruaru, 2000, óleo sobre madeira e poliuretano), com simulações de pedaços de parede com essa alusão à carne por dentro, destruída, com rasgos na tela. Os cortes aparecerem porque eu costumava trabalhar com muita materialidade, muita tinta sobre a tela. Tomei contato com o Barraco mineiro, um estilo muito visceral, cujo emblema é o sagrado coração sangrando, as chagas, tudo muito teatralizado. Quando pinto a carne me refiro um pouco ao Barroco, à própria história da pintura, pois Goya pintava a carne, Rembrandt também – tem O boi esquartejado, Aula de anatomia –, Gericault, Francis Bacon. Então falo da história da pintura, e não da carne diretamente, mas da pintura do Goya, do Caravaggio, aquele dedo na ferida, que sempre foi uma imagem muito forte na minha cabeça. E a interpretação disso às vezes é mais erótica, às vezes mais dolorida.”.
O começo
"Quando entrei para um curso de pintura, nem sabia que alguém poderia viver pintando, que isso poderia ser uma profissão. Lembro-me que entrei na casa do meu professor de pintura e pensei: “Nossa, ele é um pintor, ele vive de pintura”. E foi uma surpresa para mim, não tinha familiaridade com esse ambiente, muito menos o ambiente de arte contemporânea. As coisas foram acontecendo naturalmente, nunca planejei muito, nunca coloquei minha vontade, meus planos na frente do que estava acontecendo, tipo “vou ser uma artista profissional”. Nunca teve esse momento.
Fui fazendo cursos de pintura, por certa curiosidade sobre o assunto. Nessa época fazia faculdade de engenharia e aí a pintura foi me tomando, tomando espaço, fui me dedicando cada vez mais a isso e, naturalmente, comecei a expor numa galeria – muito cedo até, em 1988, quando tinha acabado de completar 24 anos."
O trabalho, o cotidiano, as fases
"Tento me prender dentro do ateliê, mesmo que eu vá para lá para não fazer nada. Na pintura, assim como na arte de maneira em geral, você tem que ter uma predisposição para a coisa começar a acontecer, tem que se desocupar do mundo, e você só consegue fazer isso depois de um determinado número de horas. Chego ao ateliê, fica fazendo uma porção de coisas, fico olhando para o quadro e aí começo a mergulhar dentro da coisa, da pintura, depois de três, quatro horas ali. Aí a pintura começa a funcionar, a acontecer, as coisas começam a fluir, o mundo vai ficando cada vez mais distante, a cabeça vai parando e então começo a entrar ali naquele barato. O tempo aqui não é só o da execução, mas é esse tempo necessário para a cabeça se desligar um pouco dos acontecimentos do mundo, você ficar num estado mental mais ou menos livre para poder olhar simplesmente."
As interrupções, os compromissos
"Quando uma filha te interrompe no meio de um processo como este, tem que parar. Aí volta para cá no dia seguinte. Às vezes atraso meus compromissos quando estou num pique muito bom de pintura, vou noite adentro. Mas tem dias que entro no ateliê e dá tudo errado, a mão, o olho, está tudo errado. Tem dias que faço uma porção de coisa e acho que foi genial, “nossa, hoje eu resolvi todos os problemas”. No dia seguinte, entro e vejo que era tudo uma porcaria. Varia, agora quando estou num pique bom, estou sentindo que as coisas estão funcionando, aí tento estender o máximo de horas possível pintando. Teve vários momentos da minha vida que esqueci que era sábado, domingo, Natal, Carnaval, Copa do Mundo.
É um projeto de vida mesmo, de dedicação, todos os dias. A rotina de vir para o ateliê é uma constante na minha vida. E também o trabalho não se resume em só vir para o ateliê executar a obra. Quem trabalha com criação está o tempo todo percebendo o mundo também. Lembro-me que quando comecei a ser artista, descobri o que era arte, a realidade se transformou completamente, as coisas se transformaram, tinham um frescor em tudo o que eu lia, os filmes que via, de estar ali, diante do mar, na praia, de estar ouvindo uma música. Tudo é matéria para a pintura, para a arte. O artista nunca descansa, está de férias, vai para casa e se desliga do trabalho. Não tem essa dinâmica. Você trabalha o tempo todo, vivendo, sentindo, olhando, ouvindo, cheirando. Está trabalhando o tempo todo."
As séries
"Quando começo uma nova série, é um acontecimento sensacional. Tem um pouco desse frescor do início, quando comecei a ser artista, o frescor de descobrir novos lugares, novos assuntos. Saunas e banhos (2001-2009) (acima a obra The guest, 2004, óleo sobre tela) foram um pouco assim, comecei essa série completamente por acaso. Abri um livro de arquitetura de Macau [ex-colônia portuguesa, a península asiática tornou-se região administrativa da China em 20 de dezembro de 1999] em Portugal. Estava numa livraria, comecei a ver um livro e vi umas fotos de um cantinho azulejado, uma arquitetura completamente gambiarra, sem a menor importância, o livro era sobre isso. Macau parecia completamente o Rio de Janeiro. E eu sempre trabalhei em cima dessas ideias de transposições culturais.
Muito tempo atrás, fiz uma exposição chamada Terra incógnita (1991-2003), que falava sobre uma China brasileira, sempre com essa relação entre China e Brasil acontecendo em minha obra. E essa era uma ideia mais contemporânea. Aí calhou de eu estar em Paris e comecei a visitar as saunas nos bairros muçulmanos, aquelas saunas só de mulheres. Fui parar numa sauna subterrânea incrível, toda azulejada. Ao mesmo tempo associei isso com os botequins do Rio de Janeiro, também com os mercados de carne. Tudo era um pouco essa mesma arquitetura funcional do azulejo vulgar, contemporâneo. Esse tipo de ambiente começou a me seduzir muito. Fui para Budapeste, buscar também em filmes, como Banhos [de Yang Zhang, 1999], um filme chinês incrível, trouxe-me a presença das piscinas. É mais ou menos assim que acontece.
Agora tomei contato com a obra de um ceramista português que viveu no final do século XIX, [Rafael] Bordalo Pinheiro [também caricaturista e jornalista, que morou no Brasil entre 1875 e 1879]. Ele dirigiu durante 20 anos uma fábrica de cerâmicas em Caldas da Rainha, em Portugal. Há dois anos estou namorando essa obra e agora fui conhecer de perto, em Lisboa, coleções particulares destes pratos. Fui a Caldas da Rainha, à casa onde Bordalo viveu, comprei biografias dele. Eu sou tomada, mas não por uma pesquisa – não chamaria de pesquisa, mas de paixão. Fico apaixonada por um assunto, um universo, uma sensação e procuro construir histórias em torno disso e viver um pouco essas coisas. As séries acontecem um pouco assim."
Música
"Quando estava desenvolvendo Azulejões (acima a pintura Celacanto provoca maremoto, 2004, óleo e gesso sobre tela), foi uma época que estava ouvindo muito samba e choro, vivendo isso muito intensamente. O Paulo Herkenhoff olhou para aquilo e disse que tinha uma ordem sincopada. Eu conhecia a obra do Baden Powell – aliás, conheci o Baden, fui numa roda vê-lo tocar. E no “Choro para metrônomo” eu tinha a tradução musical do que era aquela obra, do que eu esperava visualmente construir com aquela obra. Não que ouvi a música e quis fazer a obra, mas é quando as coisas se encontram, as coincidências acontecem. Achava muito coerente a forma do ritmo sempre regular da azulejaria, quadrado, com o metrônomo, que impõe esse ritmo, aquele solo em cima dessa monotonia rítmica [imita com a boca o solo do choro]. Eu via isso dentro da minha composição, que ao mesmo tempo não era contínua, existia a ideia dessa ordem sincopada, feita de quebras, mas construída em um fluxo melódico, dominado pelo azul. Visualizei e me identifiquei muito com aquela música. "
Desaprendendo com as crianças
Acho toda criança incrível, pois elas sofrem um processo de desaprendizagem, porque, artisticamente, são muito boas, capazes de fazer associações incríveis, verdadeiras instalações, com nenhum preconceito, muito ligadas no processo. Vejo minha filha muito mais interessada em misturar tintas na palheta do que no papel. Tem uma espontaneidade na aproximação com a arte, é tudo tão direto."
Adriana Varejão em entrevista exclusiva ao SaraivaConteúdo
Fonte: ADRIANA Varejão. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa17507/adriana-varejao>. Acesso em: 12 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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É uma artista plástica brasileira contemporânea. Suas obras encontram-se em coleções de instituições como Metropolitan Museum of Art, Nova York; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York; Tate Modern, Londres; Fondation Cartier pour l’art Contemporain, Paris; Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro;Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro , Rio de janeiro ; Fundación “la Caixa,” Barcelona; Stedelijk Museum, Amsterdã; e Hara Museum, Tóquio. Entre suas principais exposições institucionais incluem-se “Azulejões,” Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro e Brasília, Brasil (2001); “Chambre d’échos / Câmara de ecos,” Fondation Cartier pour l´art Contemporain, Paris (2005, itinerância para o Centro Cultural de Belém, Lisboa; e DA2, Salamanca, Espanha); Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio (2007); “Adriana Varejão - Histórias às Margens,” Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil (2012, itinerância para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; e o Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Argentina em 2013); “Adriana Varejão,” The Institute of Contemporary Art, Boston (2014); “Adriana Varejão: Kindred Spirits,” Dallas Contemporary (2015), “Adriana Varejão – por uma retórica canibal,” Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil (2019, itinerância para o Museu de Arte Moderna Aloízio Magalhães (MAMAM), Recife, Brasil) e “Otros cuerpos detrás. Adriana Varejão,” Museo Tamayo, México (2019). A artista participou da V Bienal de Havana, Cuba (1994); Johannesburg, South Africa Bienalle (1995); Bienal de São Paulo (1994, 1998); 12th Biennale of Sydney (2000); International Biennial Exhibition, SITE Santa Fe (2004); Liverpool Biennial (1999, 2006); Bucharest Biennale (2008); Istambul Biennial (2011); “30x Bienal,” Fundação Bienal de São Paulo (2013); Bienal do Mercosul, Brasil (1997, 2005, 2015); e da primeira Bienal de Arte de Contemporânea de Coimbra, Portugal (2015).
Em 2008, um pavilhão permanente dedicado a obra de Varejão foi inaugurado em Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, Minas Gerais.
Adriana Varejão recebeu o Prêmio Mario Pedrosa (artista de linguagem contemporânea), da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e o Grande Prêmio da Crítica, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), pela exposição “Histórias às margens”, realizada em 2012/13 no MAM SP, MAM Rio e MALBA. Fonte: www.adrianavarejao.net
Participou de diversas exposições nacionais e internacionais, entre elas, na Bienal de São Paulo, Tate Modern em Londres e MoMa em Nova Iorque. Trabalha bastante com azulejos e está entre as mais bem-sucedidas do circuito mundial.
Vida
Nascida no Rio de Janeiro, Varejão passou parte da infância em Brasília. Em 1981, ingressou no curso de engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, abandonando-o no ano seguinte. A partir de 1983, estuda nos cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, e aluga ateliê no bairro do Horto com outros estudantes. Em 1985, viaja para Nova York e tem contato com a pintura do alemão Anselm Kiefer e do americano Philip Guston. Em 1986, recebe o Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Artes.
Realizou sua primeira exposição individual em 1989, na U-ABC, Stedelijk Museum, Amsterdam, Netherlands; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.
Através da releitura de elementos visuais incorporados à cultura brasileira pela colonização, como a pintura de azulejos portugueses, ou a referência à crueza e agressividade da matéria nos trabalhos com “carne”, a artista discute relações paradoxais entre sensualidade e dor (fetiches), violência e exuberância. Seus trabalhos mais recentes trazem referências voltadas para a arquitetura, inspirada em espaços como açougues, botequins, saunas, piscinas etc, e abordam questões tradicionais da pintura, como cor, textura e perspectiva.
Obra controversa
Em setembro de 2017, a obra Cena de interior II, de 1994, foi uma dos principais alvos da crítica popular que teria motivado o encerramento precoce da exposição "Queermuseu" organizada pela Fundação Santander Cultural, na cidade de Porto Alegre.
A obra foi acusada de apologia à zoofilia ao retratar duas figuras masculinas indistintas com uma cabra; Adriana Varejão, ressalta que "busca jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas" e que Cenas do Interior II é "uma obra adulta feita para adultos".
"Esta é uma obra adulta feita para adultos. A pintura é uma compilação de práticas sexuais existentes, algumas históricas (como as shungas, clássicas imagens eróticas da arte popular japonesa) e outras baseadas em narrativas literárias ou coletadas em viagens pelo Brasil. O trabalho não visa julgar essas práticas. Como artista, apenas busco jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas. É um aspecto do meu trabalho, a reflexão adulta." — Adriana Varejão
Exposições Individuais
2012 – Adriana Varejão, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil
2011 – Victoria Miro Gallery, London, UK
2009 – Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
2008 – Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Minas Gerais, Brasil
Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil
2007 – Hara Museum, Tokyo, Japan
2006 – Fotografia como Pintura, Sesc Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil
2005 – Chambre d"échos/Câmara de Ecos, Fondation Cartier Pour L´Art Contemporain, Paris, France
Centro Cultural de Belém, Lisboa, Portugal DA2 – Domus Artium 2002 Salamanca, Spain Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
2004 – Saunas, Victoria Miro Gallery, London, UK
2003 – Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
2002 – Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil
Galeria Soledad Lorenzo, Madrid, Spain Victoria Miro Gallery, London, UK
2001 – Azulejões, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro , Brasil
Azulejões, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil Galeria Pedro Oliveira, Porto, Portugal
2000 – Azulejões e Charques, Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
Bildmuseet, Umea, Sweden Borås Konstmuseum, Borås, Sweden Lehmann Maupin Gallery, New York, USA
1999 – Alegria, Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
1998 – Trading Images, Pavilhão Branco, Instituto de Arte Contemporânea, Lisboa, Portugal
Galeria Soledad Lorenzo, Madrid, Spain
1997 – Galeria Ghislaine Hussenot, Paris, France
1996 – Galeria Barbara Farber, Amsterdam, Netherlands
Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil
1995 – Annina Nosei Gallery, New York, USA
1993 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
1992 – Galeria Barbara Farber, Amsterdam, Netherlands
Galeria Luisa Strina, São Paulo, Brasil
1991 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
1988 – Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
Prêmios
2013, Prêmio Mario Pedrosa, Associação Brasileira de Críticos de Arte[6] e Grande Prêmio da Crítica, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA)
1986, Prêmio Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas
Fonte: https://www.wikiwand.com/pt/Adriana_Varej%C3%A3o consultado em 12 de março de 2020.
Crédito fotográfico: https://atarde.uol.com.br/cultura/exposicao/noticias/2052180-mam-recebe-exposicao-da-artista-carioca-adriana-varejao
Videos
https://www.youtube.com/watch?v=svJ3whzVqTo&feature=emb_title
Entrevista com Adriana Varejão
https://www.youtube.com/watch?v=8c-5bXV7u8g&feature=emb_title
Adriana Varejão- Catálogo, de Marcos Ribeiro