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Beatriz Milhazes

Pintora, gravadora e ilustradora. Sua obra se caracteriza pelo uso da ornamentação, constituída, sobretudo, por arabescos e motivos ornamentais.

Milhazes ingressa no curso de comunicação social da Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, na década de 1970. Gradua-se em 1981 e, em paralelo, realiza sua formação em artes plásticas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage), no período de 1980 a 1983. Além da pintura, dedica-se também à gravura e à ilustração. Suas obras da década de 1980 revelam uma tensão entre figura e fundo, entre representação e ornamentalismo. Posteriormente, faz opção por uma pintura de caráter decididamente bidimensional.

De 1995 a 1996, estuda gravura em metal e linóleo no Atelier 78, com Solange Oliveira e Valério Rodrigues (1953). Atua como professora de pintura até 1996 no Parque Lage. A artista revela sensibilidade no uso da cor, como nas obras O Príncipe Real (1996) ou As Quatro Estações (1997). Em 1997, ilustra o livro As Mil e Uma Noites à Luz do Dia: Sherazade Conta Histórias Árabes, de Katia Canton (1962). Participa das exposições que caracterizam a Geração 80 – grupo de artistas que buscam retomar a pintura em contraposição à vertente conceitual dos anos de 1970, e tem por característica a pesquisa de novas técnicas e materiais. Sua obra faz referências ao barroco, à obra de Tarsila do Amaral (1886-1973) e Burle Marx (1909-1994), a padrões ornamentais e à art déco.

Na opinião do crítico Frederico Morais (1936), Beatriz Milhazes revela, desde o início da carreira, a vontade de enfrentar a pintura como fato decorativo, aproximando-se da obra de artistas como Henri Matisse (1869-1954). Interessa-se pela profusão da ornamentação barroca, sobretudo pelo ritmo dos arabescos e pelos motivos ornamentais presentes na obra de Guignard (1896-1962).

Desde os anos 1990, Milhazes se destaca em mostras internacionais nos Estados Unidos e na Europa e integra acervos de museus como o Museum of Modern Art (MoMa), Solomon R. Guggenheim Museum e The Metropolitan Musem of Art (Met), em Nova York, do Museo Reina Sofia, em Madrid, entre outros.

Milhazes trabalha frequentemente com formas circulares, sugerindo deslocamentos ora concêntricos ora expansivos. Na maioria dos trabalhos, prepara imagens sobre plástico transparente, que são descoladas, como películas, e aplicadas na tela por decalque. Aglomera as imagens, preenchendo o fundo e retocando a imagem final. Os motivos e as cores são transportados para a tela por meio de colagens sucessivas, realizadas com precisão.

A transferência das imagens da superfície lisa para a tela faz com que a gestualidade seja quase anulada. A matéria pictórica obtida por numerosas sobreposições não apresenta, entretanto, nenhuma espessura: os motivos de ornamentação e arabescos são colocados em primeiro plano. O olhar do espectador é levado a percorrer todas as imagens, acompanhando a exuberância gráfica e cromática presente em seus quadros.

Na tela Mares do Sul (2001), Milhazes estabelece um jogo com o gênero da paisagem. Em trabalhos mais recentes, utiliza constantemente formas como estrelas e espirais, e as cores tornam-se mais luminosas, como em Nazaré das Farinhas (2002). Em 2013, realiza a mostra panorâmica Meu Bem, em comemoração aos 30 anos de carreira, no Paço Imperial, Rio de Janeiro.

Comentário crítico

Beatriz Milhazes, entre 1981 e 1982, estuda pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, na qual, mais tarde, leciona. Participa, em 1984, da exposição “Como Vai Você, Geração 80?”

Na opinião do crítico Frederico Morais, a artista revela, desde o início da carreira, a vontade de enfrentar a pintura como fato decorativo, aproximando-se da obra de artistas como Henri Matisse (1869-1954). Interessa-se pela profusão da ornamentação barroca, sobretudo pelo ritmo dos arabescos e pelos motivos ornamentais presentes na obra de Guignard (1896-1962).

Suas obras da década de 1980 revelam uma tensão entre figura e fundo, entre representação e ornamentalismo. Posteriormente, faz opção por uma pintura de caráter decididamente bidimensional. Beatriz Milhazes revela sensibilidade no uso da cor, como nas obras O Príncipe Real (1996) ou As Quatro Estações (1997). Na tela Mares do Sul (2001) estabelece um jogo com o gênero da paisagem. Em trabalhos mais recentes, utiliza constantemente formas como estrelas e espirais e as cores tornam-se mais luminosas, como em Nazaré das Farinhas (2002).

A artista trabalha freqüentemente com formas circulares, sugerindo deslocamentos ora concêntricos ora expansivos. Na maioria dos trabalhos, prepara imagens sobre plástico transparente, que são descoladas, como películas, e aplicadas na tela por decalque. Aglomera as imagens, preenchendo o fundo e retocando a imagem final.

Os motivos e as cores são transportados para a tela por meio de colagens sucessivas, realizadas com precisão. A transferência das imagens da superfície lisa para a tela faz com que a gestualidade seja quase anulada. A matéria pictórica obtida por numerosas sobreposições não apresenta, entretanto, nenhuma espessura: os motivos de ornamentação e arabescos são colocados em primeiro plano. O olhar do espectador é levado a percorrer todas as imagens, acompanhando a exuberância gráfica e cromática presente em seus quadros.

"Trabalhando com um método de monotipia onde as imagens são preparadas sobre plástico transparente na medida inversa em que serão impressas na tela, a artista controla a espessura reduzida da matéria pictórica, esconde o gesto da pintura e congela a imagem decalcada. Nesse assentamento da fina película de tinta sobre a tela, pele sobre pele, derme sobre derme, o embate das formas circulares com o princípio geométrico cria uma pintura de sensibilidade hiperbólica, que nasce da luta desvairada entre figuração abarrocada e construção rigorosa - não da luta de um elemento contra outro, de uma vertente contra outra, mas da exaltação mútua que governa a sensualidade barroca revestida de cor matissiana e libera a emoção construtiva embrionária da obra.

As formas circulares reforçam núcleos ao mesmo tempo que geram deslocamentos ora concêntricos ora expansivos, e perturbam qualquer desejo de hierarquia que a construção racional insiste em reinventar. Por isso são pinturas que não se oferecem ao primeiro olhar.

Impossível determinar planos ou privilegiar uma ou outra forma, pois são pinturas que se dão por inteiro e obrigam o olhar a percorrê-las de maneira escorregadia, sem conseguir singularizar qualquer instância.

Para Beatriz, o barroco se mantém como dado cultural, mas apenas como memória arquetípica . Como emoção, está deslocado e engana motivações saudosistas. Foi sem dúvida extraído por ela de raízes profundas garimpadas do nosso tempo histórico, porém transformou-se em imagem espelhada, em simulacro que adentra e reforça o redemoinho das estruturas construtivas da obra. (...)

É uma pintura onde a reflexão rastreia plasticamente as tensões que se assentam numa aparente solidez da história, mas que se dá como uma nova percepção dos fenômenos e dos significados da criação e da expressão da arte".

Stella Teixeira de Barros (In: BEATRIZ Milhazes. São Paulo: Galeria Camargo Vilaça; Caracas: Sala Alternativa Artes Visuales, 1993. p. [5-6].)

"(...) As pinturas de Milhazes tem também um caráter social autoconsciente. Com seus motivos de flores, contas e laços, falam da feminilidade como um constructo histórico e também como um modo de vida - do trabalho que as mulheres fizeram e de prazeres que desfrutaram. Mesmo sem aqueles fragmentos reconhecíveis de imagética que tecem seus caminhos pela abstração de Milhazes, nós observadores poderíamos ainda inalar o aroma desta reminiscência, destilada pela própria padronização à qual aquelas imagens recorrem.

Mas essa padronização, não importa o quão magnífica, não tem maior relevância nas pinturas de Milhazes do que aqueles fragmentos de imagética ornamental.

Aqui tanto o padrão como as imagens estão a serviço da cor - mas a cor funciona de uma maneira tal que sua mera nomeação (que poderia dar a ilusão de que um pouco de cor é uma entidade com auto-identidade, independente cujos atributos ignoram sua interação com o entorno) é um contra-senso. Uma pintura como Milhazes nos mostra, é uma sociedade de cores, e como tal cria e caracteriza os indivíduos que a constituem. Portanto é a pintura como um todo que confere caráter a cada cor nela contida, tanto quanto ou mais ainda do que cada cor empresta certo caráter à pintura".

Barry Schwabsky (In: MILHAZES, Beatriz. Mares do sul. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002. p. 109 -110)

"Como a pintura de Gauguin, a de Milhazes é também, a seu modo, enganosa: parece sugerir um paraíso repleto de flores e frutos exóticos de uma natureza abundante pintado em cores alegres e jubilosas, na expressão de Barry Schwabsky em texto publicado nesse livro.

No entanto, são pinturas produzidas numa cidade estereotipada pela imagem da abundância da natureza, da beleza e de um variado espectro de prazeres: o Rio de Janeiro. Mais ainda, nos últimos anos as pinturas de Milhazes também vêm sendo exportadas para importantes coleções na Europa e nos Estados Unidos. Nesse aspecto, é fundamental compreender que a pintura de Milhazes recupera para os nativos não apenas a produção de suas próprias imagens, mas sobretudo o eixo de exportação e disseminação delas entre o Sul e o Norte.

Tal operação não é construída de maneira tão calculada pela artista, e o elemento crítico de suas pinturas parece fundar-se justamente na ambivalência. Um segundo olhar detecta mais do que flora e fauna tropicais: do símbolo da paz à joalheria de Miriam Haskell, dos padrões de tecido de Emilio Pucci ao design paisagístico de Burle Marx, do chitão às alegorias de carnaval, dos ornamentos arquitetônicos art déco às geometrias de Bridget Riley. Não se trata tanto de apropriação ou citacionismo, mas de um “melting pot” em que os elementos utilizados são submetidos a processos mediadores de adaptação, tradução e derivação. A antropofagia é uma forte referência. Se as cores são alegres e jubilosas, a técnica particular de colagem das formas que Milhazes aplica a suas telas confere um aspecto precário e fragmentado ao conjunto. A pintora tropical é uma surfista, e seus Mares do Sul, um vasto junkyard hiperfigurativo, pleno de elementos nativos, estrangeiros, exóticos, genéricos derivativos e bastardos".

Adriano Pedrosa (In: MILHAZES, Beatriz. Mares do sul. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002. p. 81)

Depoimento Beatriz Milhazes

“(…) Pela primeira vez, estou pensando em voz alta que, no trabalho com a cor, faço uma ligação entre vida e pintura.

O carnaval – uma festa popular brasileira frenética – sempre me estimulou com seu visual, atmosfera, loucura, beleza etc. Os desfiles, com suas combinações de cores e conceitos, são muito malucos, mas por outro lado todas essas coisas estão muito longe da pintura, do meu ateliê, do meu cotidiano.

Ao contrário de Hélio Oiticica, que também trouxe referências do carnaval para o seu trabalho, eu jamais, em nenhum momento, fiz parte do mundo do samba ou do carnaval. E nunca quis fazer parte. Sou uma carnavalesca conceitual. O mesmo acontece com a cultura psicidélica e a religião, ainda que eu acredite em Deus. Acho que uma caminhada na praia é a melhor maneira de conectar geometria séria e carnaval”. – Beatriz Milhazes

Entrevista

Publicada na Folha de São Paulo-Ilustrada, Gabriela Longman, 05 de março de 2007.

Em entrevista à Folha, por telefone, Milhazes contou sobre estes últimos projetos e sobre os planos que tem para o futuro próximo -inaugura no dia 9 uma exposição de gravuras na James Cohan Gallery, também em Nova York e, em novembro e expõe na Estação Pinacoteca com a curadoria de Ivo Mesquita.

“Por incrível que pareça, vai ser minha primeira exposição em instituição em São Paulo. Já fiz Bienal (participou da 24ª, em 1998, e da 26ª, em 2004, quando foi tema de sala especial) e galeria sempre, mas instituição não. Estou animada”, diz Milhazes. Segundo ela, a exposição será “uma espécie de panorama”, cobrindo várias épocas de seu trabalho e deverá incluir obras de fora do Brasil – pelo menos uma inédita, produzida especialmente para a mostra. “Acabo de voltar a pintar depois de um longo tempo tocando outros projetos. Trabalhei feito uma moura, mas a pintura propriamente dita estou retomando só agora.” A baixa produtividade – pinta uma média de dez telas por ano – é um dos motivos apontados pela galeria para explicar a famosa “fila” paulistana.

Sobre os outros projetos a que se refere, o ano passado assistiu a pelo menos três deles: a decoração do restaurante da Tate Modern, em Londres, um projeto para a estação de metrô de Gloucester Road, também na capital inglesa, e seis painéis de grandes dimensões para a nova loja da Taschen, em Nova York.

O que os três trabalhos parecem ter em comum é a busca pela simplificação formal, de uma pintora acostumada ao excesso, ao barroco!

“Todos esses projetos, por questões ligadas ao tamanho e também ao suporte – a técnica final não é pintura, mas sim impressão sobre um tipo de vinil (Taschen) ou vinil adesivo recortado (Tate e Metrô) – trouxeram novas possibilidades para o meu desenho. Eu tive que simplificar. Meu trabalho é cheio de detalhes, mas esses detalhes não têm como existir numa dimensão destas”, explica.

Paralelamente, a artista também trabalha junto à irmã, a coreógrafa Márcia Milhazes – Beatriz é a cenógrafa oficial da companhia, que estréia hoje à noite a turnê americana do espetáculo “Tempo de Verão”, no Dance Theater Workshop, em Nova York.

Videos

https://www.youtube.com/watch?v=sxdjUwkhrCw
Beatriz Milhazes - Programa Andante

https://www.youtube.com/watch?v=ILbRy5Kt78A
Beatriz Milhazes - Enciclopédia Itaú Cultural

Cores e formas abstratas estão na base do trabalho da artista carioca Beatriz Milhazes. Em suas pinturas, usa técnicas de colagens com materiais diversos, como papéis (de bala, coloridos) e tecidos. A monotipia surge como um recurso para que a criadora possa produzir, ela mesma, as imagens a serem usadas nas composições. O caráter decorativo da arte tem papel importante em seu trabalho: “Uma das coisas que me atrai na arte decorativa e no universo do colorido é o lado do ser humano que vai além dessa questão da matéria que você precisa para sobreviver. Uma necessidade de construir alguma coisa do belo”, afirma. Entre suas principais influências estão ícones do modernismo, como a brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973), o holandês Piet Mondrian (1872-1944) e o francês Henri Matisse (1869-1954). Com este último, ela se identifica especialmente por suas experiências com colagens.

(Produção: Documenta Vídeo Brasil; Captação, edição e legendagem: Sacisamba; Intérprete: Carolina Fomin; Locução: Júlio de Paula.)

Fonte: BEATRIZ Milhazes. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9441/beatriz-milhazes>. Acesso em: 12 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

Crédito fotográfico: https://www.wikiart.org/pt/beatriz-milhazes

Beatriz Milhazes

Pintora, gravadora e ilustradora. Sua obra se caracteriza pelo uso da ornamentação, constituída, sobretudo, por arabescos e motivos ornamentais.

Milhazes ingressa no curso de comunicação social da Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, na década de 1970. Gradua-se em 1981 e, em paralelo, realiza sua formação em artes plásticas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage), no período de 1980 a 1983. Além da pintura, dedica-se também à gravura e à ilustração. Suas obras da década de 1980 revelam uma tensão entre figura e fundo, entre representação e ornamentalismo. Posteriormente, faz opção por uma pintura de caráter decididamente bidimensional.

De 1995 a 1996, estuda gravura em metal e linóleo no Atelier 78, com Solange Oliveira e Valério Rodrigues (1953). Atua como professora de pintura até 1996 no Parque Lage. A artista revela sensibilidade no uso da cor, como nas obras O Príncipe Real (1996) ou As Quatro Estações (1997). Em 1997, ilustra o livro As Mil e Uma Noites à Luz do Dia: Sherazade Conta Histórias Árabes, de Katia Canton (1962). Participa das exposições que caracterizam a Geração 80 – grupo de artistas que buscam retomar a pintura em contraposição à vertente conceitual dos anos de 1970, e tem por característica a pesquisa de novas técnicas e materiais. Sua obra faz referências ao barroco, à obra de Tarsila do Amaral (1886-1973) e Burle Marx (1909-1994), a padrões ornamentais e à art déco.

Na opinião do crítico Frederico Morais (1936), Beatriz Milhazes revela, desde o início da carreira, a vontade de enfrentar a pintura como fato decorativo, aproximando-se da obra de artistas como Henri Matisse (1869-1954). Interessa-se pela profusão da ornamentação barroca, sobretudo pelo ritmo dos arabescos e pelos motivos ornamentais presentes na obra de Guignard (1896-1962).

Desde os anos 1990, Milhazes se destaca em mostras internacionais nos Estados Unidos e na Europa e integra acervos de museus como o Museum of Modern Art (MoMa), Solomon R. Guggenheim Museum e The Metropolitan Musem of Art (Met), em Nova York, do Museo Reina Sofia, em Madrid, entre outros.

Milhazes trabalha frequentemente com formas circulares, sugerindo deslocamentos ora concêntricos ora expansivos. Na maioria dos trabalhos, prepara imagens sobre plástico transparente, que são descoladas, como películas, e aplicadas na tela por decalque. Aglomera as imagens, preenchendo o fundo e retocando a imagem final. Os motivos e as cores são transportados para a tela por meio de colagens sucessivas, realizadas com precisão.

A transferência das imagens da superfície lisa para a tela faz com que a gestualidade seja quase anulada. A matéria pictórica obtida por numerosas sobreposições não apresenta, entretanto, nenhuma espessura: os motivos de ornamentação e arabescos são colocados em primeiro plano. O olhar do espectador é levado a percorrer todas as imagens, acompanhando a exuberância gráfica e cromática presente em seus quadros.

Na tela Mares do Sul (2001), Milhazes estabelece um jogo com o gênero da paisagem. Em trabalhos mais recentes, utiliza constantemente formas como estrelas e espirais, e as cores tornam-se mais luminosas, como em Nazaré das Farinhas (2002). Em 2013, realiza a mostra panorâmica Meu Bem, em comemoração aos 30 anos de carreira, no Paço Imperial, Rio de Janeiro.

Comentário crítico

Beatriz Milhazes, entre 1981 e 1982, estuda pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, na qual, mais tarde, leciona. Participa, em 1984, da exposição “Como Vai Você, Geração 80?”

Na opinião do crítico Frederico Morais, a artista revela, desde o início da carreira, a vontade de enfrentar a pintura como fato decorativo, aproximando-se da obra de artistas como Henri Matisse (1869-1954). Interessa-se pela profusão da ornamentação barroca, sobretudo pelo ritmo dos arabescos e pelos motivos ornamentais presentes na obra de Guignard (1896-1962).

Suas obras da década de 1980 revelam uma tensão entre figura e fundo, entre representação e ornamentalismo. Posteriormente, faz opção por uma pintura de caráter decididamente bidimensional. Beatriz Milhazes revela sensibilidade no uso da cor, como nas obras O Príncipe Real (1996) ou As Quatro Estações (1997). Na tela Mares do Sul (2001) estabelece um jogo com o gênero da paisagem. Em trabalhos mais recentes, utiliza constantemente formas como estrelas e espirais e as cores tornam-se mais luminosas, como em Nazaré das Farinhas (2002).

A artista trabalha freqüentemente com formas circulares, sugerindo deslocamentos ora concêntricos ora expansivos. Na maioria dos trabalhos, prepara imagens sobre plástico transparente, que são descoladas, como películas, e aplicadas na tela por decalque. Aglomera as imagens, preenchendo o fundo e retocando a imagem final.

Os motivos e as cores são transportados para a tela por meio de colagens sucessivas, realizadas com precisão. A transferência das imagens da superfície lisa para a tela faz com que a gestualidade seja quase anulada. A matéria pictórica obtida por numerosas sobreposições não apresenta, entretanto, nenhuma espessura: os motivos de ornamentação e arabescos são colocados em primeiro plano. O olhar do espectador é levado a percorrer todas as imagens, acompanhando a exuberância gráfica e cromática presente em seus quadros.

"Trabalhando com um método de monotipia onde as imagens são preparadas sobre plástico transparente na medida inversa em que serão impressas na tela, a artista controla a espessura reduzida da matéria pictórica, esconde o gesto da pintura e congela a imagem decalcada. Nesse assentamento da fina película de tinta sobre a tela, pele sobre pele, derme sobre derme, o embate das formas circulares com o princípio geométrico cria uma pintura de sensibilidade hiperbólica, que nasce da luta desvairada entre figuração abarrocada e construção rigorosa - não da luta de um elemento contra outro, de uma vertente contra outra, mas da exaltação mútua que governa a sensualidade barroca revestida de cor matissiana e libera a emoção construtiva embrionária da obra.

As formas circulares reforçam núcleos ao mesmo tempo que geram deslocamentos ora concêntricos ora expansivos, e perturbam qualquer desejo de hierarquia que a construção racional insiste em reinventar. Por isso são pinturas que não se oferecem ao primeiro olhar.

Impossível determinar planos ou privilegiar uma ou outra forma, pois são pinturas que se dão por inteiro e obrigam o olhar a percorrê-las de maneira escorregadia, sem conseguir singularizar qualquer instância.

Para Beatriz, o barroco se mantém como dado cultural, mas apenas como memória arquetípica . Como emoção, está deslocado e engana motivações saudosistas. Foi sem dúvida extraído por ela de raízes profundas garimpadas do nosso tempo histórico, porém transformou-se em imagem espelhada, em simulacro que adentra e reforça o redemoinho das estruturas construtivas da obra. (...)

É uma pintura onde a reflexão rastreia plasticamente as tensões que se assentam numa aparente solidez da história, mas que se dá como uma nova percepção dos fenômenos e dos significados da criação e da expressão da arte".

Stella Teixeira de Barros (In: BEATRIZ Milhazes. São Paulo: Galeria Camargo Vilaça; Caracas: Sala Alternativa Artes Visuales, 1993. p. [5-6].)

"(...) As pinturas de Milhazes tem também um caráter social autoconsciente. Com seus motivos de flores, contas e laços, falam da feminilidade como um constructo histórico e também como um modo de vida - do trabalho que as mulheres fizeram e de prazeres que desfrutaram. Mesmo sem aqueles fragmentos reconhecíveis de imagética que tecem seus caminhos pela abstração de Milhazes, nós observadores poderíamos ainda inalar o aroma desta reminiscência, destilada pela própria padronização à qual aquelas imagens recorrem.

Mas essa padronização, não importa o quão magnífica, não tem maior relevância nas pinturas de Milhazes do que aqueles fragmentos de imagética ornamental.

Aqui tanto o padrão como as imagens estão a serviço da cor - mas a cor funciona de uma maneira tal que sua mera nomeação (que poderia dar a ilusão de que um pouco de cor é uma entidade com auto-identidade, independente cujos atributos ignoram sua interação com o entorno) é um contra-senso. Uma pintura como Milhazes nos mostra, é uma sociedade de cores, e como tal cria e caracteriza os indivíduos que a constituem. Portanto é a pintura como um todo que confere caráter a cada cor nela contida, tanto quanto ou mais ainda do que cada cor empresta certo caráter à pintura".

Barry Schwabsky (In: MILHAZES, Beatriz. Mares do sul. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002. p. 109 -110)

"Como a pintura de Gauguin, a de Milhazes é também, a seu modo, enganosa: parece sugerir um paraíso repleto de flores e frutos exóticos de uma natureza abundante pintado em cores alegres e jubilosas, na expressão de Barry Schwabsky em texto publicado nesse livro.

No entanto, são pinturas produzidas numa cidade estereotipada pela imagem da abundância da natureza, da beleza e de um variado espectro de prazeres: o Rio de Janeiro. Mais ainda, nos últimos anos as pinturas de Milhazes também vêm sendo exportadas para importantes coleções na Europa e nos Estados Unidos. Nesse aspecto, é fundamental compreender que a pintura de Milhazes recupera para os nativos não apenas a produção de suas próprias imagens, mas sobretudo o eixo de exportação e disseminação delas entre o Sul e o Norte.

Tal operação não é construída de maneira tão calculada pela artista, e o elemento crítico de suas pinturas parece fundar-se justamente na ambivalência. Um segundo olhar detecta mais do que flora e fauna tropicais: do símbolo da paz à joalheria de Miriam Haskell, dos padrões de tecido de Emilio Pucci ao design paisagístico de Burle Marx, do chitão às alegorias de carnaval, dos ornamentos arquitetônicos art déco às geometrias de Bridget Riley. Não se trata tanto de apropriação ou citacionismo, mas de um “melting pot” em que os elementos utilizados são submetidos a processos mediadores de adaptação, tradução e derivação. A antropofagia é uma forte referência. Se as cores são alegres e jubilosas, a técnica particular de colagem das formas que Milhazes aplica a suas telas confere um aspecto precário e fragmentado ao conjunto. A pintora tropical é uma surfista, e seus Mares do Sul, um vasto junkyard hiperfigurativo, pleno de elementos nativos, estrangeiros, exóticos, genéricos derivativos e bastardos".

Adriano Pedrosa (In: MILHAZES, Beatriz. Mares do sul. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002. p. 81)

Depoimento Beatriz Milhazes

“(…) Pela primeira vez, estou pensando em voz alta que, no trabalho com a cor, faço uma ligação entre vida e pintura.

O carnaval – uma festa popular brasileira frenética – sempre me estimulou com seu visual, atmosfera, loucura, beleza etc. Os desfiles, com suas combinações de cores e conceitos, são muito malucos, mas por outro lado todas essas coisas estão muito longe da pintura, do meu ateliê, do meu cotidiano.

Ao contrário de Hélio Oiticica, que também trouxe referências do carnaval para o seu trabalho, eu jamais, em nenhum momento, fiz parte do mundo do samba ou do carnaval. E nunca quis fazer parte. Sou uma carnavalesca conceitual. O mesmo acontece com a cultura psicidélica e a religião, ainda que eu acredite em Deus. Acho que uma caminhada na praia é a melhor maneira de conectar geometria séria e carnaval”. – Beatriz Milhazes

Entrevista

Publicada na Folha de São Paulo-Ilustrada, Gabriela Longman, 05 de março de 2007.

Em entrevista à Folha, por telefone, Milhazes contou sobre estes últimos projetos e sobre os planos que tem para o futuro próximo -inaugura no dia 9 uma exposição de gravuras na James Cohan Gallery, também em Nova York e, em novembro e expõe na Estação Pinacoteca com a curadoria de Ivo Mesquita.

“Por incrível que pareça, vai ser minha primeira exposição em instituição em São Paulo. Já fiz Bienal (participou da 24ª, em 1998, e da 26ª, em 2004, quando foi tema de sala especial) e galeria sempre, mas instituição não. Estou animada”, diz Milhazes. Segundo ela, a exposição será “uma espécie de panorama”, cobrindo várias épocas de seu trabalho e deverá incluir obras de fora do Brasil – pelo menos uma inédita, produzida especialmente para a mostra. “Acabo de voltar a pintar depois de um longo tempo tocando outros projetos. Trabalhei feito uma moura, mas a pintura propriamente dita estou retomando só agora.” A baixa produtividade – pinta uma média de dez telas por ano – é um dos motivos apontados pela galeria para explicar a famosa “fila” paulistana.

Sobre os outros projetos a que se refere, o ano passado assistiu a pelo menos três deles: a decoração do restaurante da Tate Modern, em Londres, um projeto para a estação de metrô de Gloucester Road, também na capital inglesa, e seis painéis de grandes dimensões para a nova loja da Taschen, em Nova York.

O que os três trabalhos parecem ter em comum é a busca pela simplificação formal, de uma pintora acostumada ao excesso, ao barroco!

“Todos esses projetos, por questões ligadas ao tamanho e também ao suporte – a técnica final não é pintura, mas sim impressão sobre um tipo de vinil (Taschen) ou vinil adesivo recortado (Tate e Metrô) – trouxeram novas possibilidades para o meu desenho. Eu tive que simplificar. Meu trabalho é cheio de detalhes, mas esses detalhes não têm como existir numa dimensão destas”, explica.

Paralelamente, a artista também trabalha junto à irmã, a coreógrafa Márcia Milhazes – Beatriz é a cenógrafa oficial da companhia, que estréia hoje à noite a turnê americana do espetáculo “Tempo de Verão”, no Dance Theater Workshop, em Nova York.

Videos

https://www.youtube.com/watch?v=sxdjUwkhrCw
Beatriz Milhazes - Programa Andante

https://www.youtube.com/watch?v=ILbRy5Kt78A
Beatriz Milhazes - Enciclopédia Itaú Cultural

Cores e formas abstratas estão na base do trabalho da artista carioca Beatriz Milhazes. Em suas pinturas, usa técnicas de colagens com materiais diversos, como papéis (de bala, coloridos) e tecidos. A monotipia surge como um recurso para que a criadora possa produzir, ela mesma, as imagens a serem usadas nas composições. O caráter decorativo da arte tem papel importante em seu trabalho: “Uma das coisas que me atrai na arte decorativa e no universo do colorido é o lado do ser humano que vai além dessa questão da matéria que você precisa para sobreviver. Uma necessidade de construir alguma coisa do belo”, afirma. Entre suas principais influências estão ícones do modernismo, como a brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973), o holandês Piet Mondrian (1872-1944) e o francês Henri Matisse (1869-1954). Com este último, ela se identifica especialmente por suas experiências com colagens.

(Produção: Documenta Vídeo Brasil; Captação, edição e legendagem: Sacisamba; Intérprete: Carolina Fomin; Locução: Júlio de Paula.)

Fonte: BEATRIZ Milhazes. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9441/beatriz-milhazes>. Acesso em: 12 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

Crédito fotográfico: https://www.wikiart.org/pt/beatriz-milhazes

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