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Cândido Portinari

Cândido Portinari (Brodowski, SP, 29 de dezembro de 1903 — Rio de Janeiro, RJ, 6 de fevereiro de 1962), também conhecido como Candinho e o Mestre de Brodósqui, foi um pintor, muralista, ilustrador, gravador e professor de artes plásticas brasileiro. É considerado um dos mais importantes pintores brasileiros de todos os tempos, sendo o que alcançou maior projeção internacional.

Biografia

Nasceu numa fazenda de café, filho de imigrantes italianos de origem humilde: Cândido Portinari, o segundo de 12 filhos. Matriculado na Escola Nacinal de Belas Artes, no Rio de Janeiro, aos 15 anos, vendeu seu primeiro quadro aos 18: Um baile no campo. Ganhou vários prêmios no Salão de Belas Artes, o primeiro sendo uma medalha de bronze em 1922.

No início, suas obras eram clássicas, mas com o passar do tempo, se encantou com o modernismo. Em 29, ganhou uma viagem para a Europa, fixando-se em Paris. A efervescência das artes plásticas no Velho Continente definiria a sua pintura, rompendo com o classicismo. Ali também conheceria a mulher com quem passaria o resto de sua vida, a uruguaia Maria Martinelli.

Na volta ao Brasil, pintaria seu primeiro mural, ficando conhecido por abordar a temática nacional - sobretudo a luta das classes trabalhadoras. Portinari tinha aguçada sensibilidade social. Outra característica marcante em seu trabalho são as cores, embora elas não sejam tão chamativas.

Ainda desenhou murais para vários edifícios no Brasil, trabalhando com Oscar Niemayer e Burle Marx.

Foi o primeiro brasileiro a ter exposição individual no Museu de Arte Moderna de Nova York.

Morreu por intoxicação com o chumbo das tintas com as quais trabalhava, enquanto preparava uma grande exposição com aproximadamente 200 obras, a convite da Prefeitura de Milão.

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Biografia Itaú Cultural

Inicia-se na pintura em meados da década de 1910, auxiliando na decoração da Igreja Matriz de Brodósqui. Em 1918, muda-se para o Rio de Janeiro e, no ano seguinte, ingressa no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), na qual cursa desenho figurativo com Lucílio de Albuquerque (1885-1962) e pintura com Rodolfo Amoedo (1857-1941), Baptista da Costa (1865-1926) e Rodolfo Chambelland (1879-1967). Em 1929, viaja para a Europa com o prêmio de viagem ao exterior, e percorre vários países durante dois anos. Em 1935, recebe prêmio do Carnegie Institute de Pittsburgh pela pintura Café, tornando-se o primeiro modernista brasileiro premiado no exterior. No mesmo ano, é convidado a lecionar pintura mural e de cavalete no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal, quando tem como alunos Burle Marx (1909-1994) e Edith Behring (1916-1996), entre outros. Em 1936, realiza seu primeiro mural, que integra o Monumento Rodoviário da Estrada Rio-São Paulo. Em seguida, convidado pelo ministro Gustavo Capanema (1902-1998) pinta vários painéis para o novo prédio do Ministério da Educação e Cultura (MEC) (1936-1938), com temas dos ciclos econômicos do Brasil, propostos pelo ministro. Em 1940, após exposição itinerante pelos Estados Unidos, a Universidade de Chicago publica o primeiro livro a seu respeito, Portinari: His Life and Art, com introdução de Rockwell Kent. Em 1941, pinta os painéis para a Biblioteca do Congresso em Washington D.C. com temas da história do Brasil, Descobrimento, Desbravamento da mata, Catequese e Descoberta do Ouro. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), candidata-se a deputado, em 1945, e a senador, em 1947, mas não se elege. Em 1946, recebe a Legião de Honra do governo francês. Em 1956, com a inauguração dos painéis Guerra e Paz na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, recebe o prêmio Guggenheim. Ilustra vários livros, como Memórias Póstumas de Brás Cubas e O Alienista, de Machado de Assis (1839-1908), entre outros. Em 1958, inicia um livro de poemas - editado por José Olympio em 1964 -, com textos introdutórios de Antônio Callado (1917-1997) e Manuel Bandeira (1886-1968). Em 1979, seu filho João Candido Portinari implanta o Projeto Portinari que reúne um vasto acervo documental sobre a obra, a vida e a época do artista, no campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ).

Análise

Candido Portinari inicia sua formação artística na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), em 1919, onde estuda com Lucílio de Albuquerque, Rodolfo Amoedo, Baptista da Costa e Rodolfo Chambelland. Obtém o prêmio de viagem ao exterior em 1928 e segue para a Europa no ano seguinte. Conhece as obras dos mestres italianos Giotto (ca.1266-1337) e Piero della Francesca (ca.1415-1492) e da cena européia: Henri Matisse (1869-1954), Amedeo Modigliani (1884-1920), Giorgio de Chirico (1888-1978) e Pablo Picasso (1881-1973).

Retorna ao Brasil no início de 1931. Trabalha com intensidade, pintando principalmente retratos, sua maior fonte de renda. O artista, em sintonia com a tendência do Retorno à Ordem na pintura internacional, explora poéticas diversas na retratística. Retrato de Maria (1932), em sua linearidade, indica uma aproximação com a obra de Modigliani e dos maneiristas. Já o Retrato de Sofia Cantalupe (1933) revela a influência do imaginário metafísico, em um clima mágico que também é encontrado, por exemplo, no Retrato de Mário de Andrade (1935). A produção de Portinari é variada em seus temas e em algumas telas apresenta lembranças de Brodósqui, jogos infantis e cenas de circo. As figuras são diminutas, sem rostos, contrastando com a imensidão da paisagem, na qual predominam os tons de marrom, como em Futebol (1935). Revela forte preocupação social, procurando captar tipos populares e enfatizar o papel dos trabalhadores.

Como relata o historiador Tadeu Chiarelli, Portinari, no início da carreira, declara a intenção de criar uma pintura caracteristicamente nacional, baseada em tipos brasileiros, manifestando admiração pela obra do pintor ituano Almeida Júnior (1850-1899). O ideal de Portinari encontra apoio nas idéias do escritor e crítico Mário de Andrade (1893-1945), que defende a necessidade da criação no Brasil de uma arte nacional e moderna. Como nota Chiarelli, para Mário de Andrade, em grande parte de suas pinturas, Portinari não está preocupado em retratar um brasileiro determinado (como faz Almeida Júnior no fim do século XIX), mas o brasileiro. Ao superar a pintura regionalista de Almeida Júnior, que antecede o modernismo, Portinari produz uma obra que possui esse caráter nacional e moderno, não apenas pelos temas tratados mas também por suas grandes qualidades plásticas.

Nos quadros O Mestiço e Lavrador de Café (ambos de 1934) os personagens são pintados em composições monumentais e predominam os tons de marrom da paisagem, na qual se destacam os campos cultivados ao fundo. Também em Café (1934), a figura humana adquire formas escultóricas robustas, com o agigantamento das mãos e pés, recurso que reforça a ligação dos personagens com o mundo do trabalho e da terra. Portinari realiza um conjunto de afrescos para o Ministério da Educação e Cultura - MEC, com tema ligado aos ciclos econômicos do país. Neles utiliza recursos derivados da poética do Renascimento italiano. Sua admiração pela obra de Piero della Francesca pode ser observada nos gestos imobilizados dos personagens e no desdobramento da figura em vários momentos do trabalho.

Portinari revela, desde o início da carreira, admiração pela obra de Picasso, que é renovada na década de 1940, após a visão de Guernica. Seu trabalho passa a apresentar mais dramaticidade, expressando a tragédia e o sofrimento humano e adquire caráter de denúncia em relação a questões sociais brasileiras, reveladas em obras como as da Série Bíblica e Os Retirantes. Na Série Bíblica, em telas como O Último Baluarte (1942) e O Massacre dos Inocentes (1943), a presença de Picasso pode ser percebida no uso dos tons de cinza, na teatralidade dos gestos, na criação de um espaço abstrato, na deformação pronunciada e no choque constante entre figura e fundo. Já na Série Retirantes apresenta um tema recorrente em sua produção, utiliza elementos expressionistas, derivados também da Série Bíblica, embora com uma dramaticidade mais controlada. As telas são construídas com pinceladas largas e em composições piramidais, apresentando uma paleta dominada por tons terrosos e cinza, que realçam o caráter da representação. O artista expressa a tragédia dos retirantes por meio dos gestos crispados das mãos e das lágrimas de pedra. Há uma desarticulação das figuras, realizadas em um ritmo definido pelas linhas negras, com um fundo que tende à abstração em algumas obras.

Pinta, em 1941, os painéis para a Library of Congress [Biblioteca do Congresso] em Washington D.C. (Estados Unidos), com temas da história do Brasil. Realizados em têmpera, com grande luminosidade, os painéis têm como protagonistas, mais uma vez, os trabalhadores, como em Descobrimento. Na década de 1950, as cores voltam à paleta de Portinari, que se torna mais clara. Os temas permanecem - as lembranças da infância, o drama do homem do povo e as paisagens. O artista pinta telas nas quais dialoga com a abstração geométrica, nem sempre de maneira positiva. Entre 1953 e 1956, realiza os murais Guerra e Paz (1953-1956) para a sede da ONU, em Nova York, obras de grandes dimensões, em que trabalha com uma sobreposição de planos. Esses murais apresentam um resumo da trajetória do artista, em termos de iconografia: neles estão presentes a mãe com o filho morto, os retirantes e os meninos de Brodósqui. Portinari falece consagrado como o artista brasileiro mais importante, posição que deixará de ser unânime nas décadas seguintes.

Críticas

"Portinari marcou, com seus Retirantes, seus Meninos de Brodowski, seus quadros de lavradores o abismo que ainda existe entre a natureza brasileira, entre o País brutalmente grandioso que nos surge à mente quando dizemos, como se disséssemos palavra mágica, “Obrasil”, e a vidinha que montou no Brasil o homem imitador da Europa e dos Estados Unidos. Sua pintura daqueles tempos é um protesto contra essa falta de intimidade que existe entre nós e aquilo que se chama realidade brasileira. É um clamor contra o fato de ainda estarmos tão superpostos à paisagem e não vitoriosamente fincados nela, como estão os pés dos pretos, dos caboclos, dos tapuias, dos cafusos, dos curibocas e dos imigrantes."

Antonio Callado - Escritor (In: Callado, Antonio. Retrato de Portinari. MAM-RJ, 1956.)

"Da última vez que vi Portinari, seus olhos estavam rasos d'água. Se não me engano, foi no Castelo; eu ia em busca de uma condução e ele vinha com sua Maria. Foi muito pouco o que dissemos. Estava magro; abraçou-me profundamente e disse: Imagine, não posso pintar mais, estou proibido pelo médico. Era a hora da tarde em que as coisas são iluminadas de través e os olhos azuis de Portinari com as lágrimas que não queriam descer me apareceram como se contassem também sobre sua obra imortal. Maria não deixou muito tempo para conversa; ele não deveria comover-se. Tive vontade de sair atrás dele e dizer: Você já nos deu tanto. Você já nos deu a obra mais grandiosa que um pintor pode oferecer à sua terra, já nos acumulou de uma riqueza que vai varar os tempos, por isso, pode descansar sem preocupação por não estar mais pintando. Eles já estavam longe e as palavras morreram no meu pensamento.

Só depois da morte de Portinari que eu estive na ONU e vi, no deslumbramento do apogeu de sua arte, o painel Guerra e Paz. Cada figura me apareceu facetada: astro ou pedra preciosa, com luz própria e eu tive vontade de dizer àquela gente toda que passeava pelo saguão, homens e mulheres vindos de todas as partes do mundo: Vejam vocês aí está nossa glória, aí está o painel de nosso maior pintor. Eu também nasci no Brasil como ele, Portinari…"

Dinah Silveira de Queiroz (In: Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, RJ); Museu de Arte de São Paulo (São Paulo, SP). Portinari Desenhista. RJ, 1977.)

"Candido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros — camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem — são a matéria com que trabalhou e construiu sua obra imorredoura."

Jorge Amado - Escritor (In: Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, RJ); Museu de Arte de São Paulo (São Paulo, SP). Portinari Desenhista. RJ, 1977.)

"Nestes dias de desorientação, de funambulismos e de anemia, o exemplo da arte poderosa de Candido Portinari, tão rica de significado, de matéria e de sólida técnica, chega a nós como um bom vento vivificante, a demonstrar-nos que a grande veia latina não se exauriu, mas, ao contrário, enriquecida de novos temas, continua viva, também pelo mérito de um filho de emigrantes que ainda acredita que a pintura seja um ofício sério, árduo e útil aos homens."

Eugenio Luraghi (Poeta, Escritor e Crítico de Arte. In: Palazzo Reale (Milão, ITA). Mostra di Candido Portinari. Eugenio Luraghi et al. Milão, Itália, 1963.)

"Diante destes choros, destes cavalos-marinhos, que falam ao mais profundo de minh'alma, me sinto em estado de absoluta inibição crítica. Tudo que posso fazer é admirar..."

Manuel Bandeira - Escritor (In: A inaugurção das telas de Portinari na nova sede da Rádio Tupi. A Manhã, Rio de Janeiro, RJ, 1942.)

"A partir de Café, o humano, compreendido em termos sociais e históricos, torna-se a tônica da arte de Portinari, voltada para a captação da realidade natural e psicológica, para uma expressividade, ora serena e grave, ora desesperada e excessiva. A nova problemática encaminha-o, a exemplo dos mexicanos, para o muralismo, em que procura magnificar sua busca duma imagística nacional, alicerçada no trabalho e em suas raízes rurais. (...) Após 1947, a arte de Portinari conhece uma nova modificação. São postas de lado, ao mesmo tempo, a dramaticidade expressiva e a preocupação social. (...) Os novos temas de Portinari são sobretudo históricos - A Primeira Missa no Brasil, Tiradentes (...). A viagem a Israel parece conferir uma nova dimensão à arte de Portinari. (...) Ao mesmo tempo em que se deixa seduzir pela cor, Portinari começa a fazer experiências com a abstração geométrica, influenciado pelo cubismo cristalino do francês Jacques Villon, pintor que admirava há algum tempo. (...) A busca dum rigor geométrico aliado a uma paleta clara e sonora não mascara, entretanto, o esvaziamento que a pintura de Portinari vem sofrendo nos últimos anos de sua atividade artística".

Annateresa Fabris (Portinari, pintor social. Dissertação (Mestrado em Artes Plásticas) ECA/USP, São Paulo, 1977.)

"(...) Quando começou a abordar esta temática (retirantes) não havia ainda preocupações sociais marcantes na obra de Portinari. Aparecem apenas famílias acampadas nos arredores de seu povoado. (...) Também não tinham a designação de retirantes. Algumas dessas composições possuem inegável beleza plástica (...) Começaram a ser produzidos a partir de 1935. (...) Somente mais tarde a série dos retirantes assumiria uma feição acentuadamente social na carreira do mestre brasileiro. Não apenas em virtude da Grande Guerra iniciada em 1939, como em face do apelo aos recursos de expressão que caracterizariam em seguida a parte mais notável de sua obra. Esta fase social culmina com a grande tela Retirantes e com a composição O Morto na Rede, pertencentes ao acervo do Masp. (...) Os retirantes pintados nos últimos anos da vida do artista já não eram apenas quadros sociais. Tornaram-se igualmente soluções de problemas formais. (...) De qualquer modo, em suas três fases distintas, Os Retirantes de Portinari permanecerão como alguns dos trabalhos mais significativos e pungentes da arte brasileira de todos os tempos".

Antônio Bento (Portinari. Rio de Janeiro: Leo Christiano, 1980. p.169.)

"O mundo de Portinari: à medida que, atraídos por ele, nós nos movemos nele através do pensamento, cheios de assombro - de medo talvez - mas aceitando seus elementos macabros com a mesma naturalidade com que nosso inconsciente acolhe os mais fantásticos sonhos que nos perturbam na hora do sono, vamos chegando, aos poucos, à percepção de que não estamos diante de um mundo apenas imaginário e sim diante da recriação intensificada e fantástica do mundo que Portinari conhece, o de sua terra natal, o Brasil. Disto seus quadros são a prova. Neles vemos a paisagem, pisamos o chão; vemos seus trabalhadores e sua pobreza - não descritos com aflição, descritos. E descritos com amor. Não amor pela miséria e o trabalho incessante e sim amor por mulher, homem, criança - que, ricos ou pobres, são para ele objeto de amor. Ele os pinta com plena aceitação. 'Bem-aventurados os humildes' é o que parece dizer, do fundo do coração. E sem as condições em que vivem em sua terra brasileira nada tem, pelo que vemos, de invejável herança, a vida que levam, pela bondade que deles se exala, vale a pena ser vivida. Trabalham; casam-se e sustentam família; seus filhos brincam. E não existem, no tesouro das artes, quadros mais eloquentes do que esses, que pintam a felicidade de crianças que brincam".

Rockwell Kent (CALLADO, Antonio. Candido Portinari. In: CANDIDO Portinari. São Paulo: Finambrás, 1997. P. 11-19.)

"(...) Não se pode dizer, no entanto, que tenha havido uma estética oficial, se compreendermos por tal um estilo que o Poder adota como seu e o impõe. Não se pode, portanto, afirmar que Portinari tenha sido um pintor oficial (...). Houve foi uma recuperação por parte do Poder da tática adotada pelo movimento modernista, onde o governo utilizará o apoio a Portinari como exemplo do seu mecenato. Mas se não houve uma arte oficial, não significa que o estilo de Portinari não pudesse também ser assimilado pela ideologia do Poder. No que se refere ao aspecto temático, se a orientação de Portinari não correspondia a um patriotismo evidente e épico, como talvez fosse o desejo do governo, não significa que não pudesse ser recuperado. A dignidade que o artista confere ao trabalhador, o destaque que dá ao personagem popular, enfim, todos aqueles assuntos que ele abordou não podiam ser negados por um poder para quem a questão social (mesmo que dentro de uma ótica populista) constituía uma das bases de sua política. Mas se a pintura de Portinari pôde ser recuperada, foi principalmente porque a sua concepção formal era conciliável com a estratificação simbólica de uma ideologia conservadora. (...)"

Carlos Zilio (In, A querela do Brasil: a questão da identidade da arte brasileira: a obra de Tarsila, Di Cavalcanti e Portinari/1922-1945. 2ª. edição, Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1997. p.112.)

"Candido Portinari começa a ganhar ressonância na cena artística carioca entre 1928 e 1931, período que sucede a eclosão mais violenta do modernismo no Brasil, período que começa a perceber as vanguardas históricas como parte do legado da história da arte ocidental, e não mais como paradigma absoluto para os novos artistas. Iniciada após o refluxo das vanguardas, a obra de Portinari dialogou com inúmeras tradições visuais da arte europeia, desde aquelas do Primeiro Renascimento, até a obra de seu contemporâneo Pablo Picasso. Através de sua espantosa capacidade em absorver as mais diversas maneiras, Portinari trafegou com indisfarçável facilidade por esquemas formais criados por Botticelli, Picasso, Pisanello, De Chirico, Holbein, Paul Delvaux... Portinari produziu suas obras experimentando procedimentos pictóricos de artistas antigos e contemporâneos, sempre acrescentando a cada um desses 'experimentos' soluções de forte cunho pessoal, que ainda aguardam um entendimento mais profundo.

(...) De volta ao Brasil, já sem os traços acadêmicos, mas também sem o radicalismo dos artistas vanguardistas, Portinari acabou sendo eleito pelos protagonistas do movimento modernista local (Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e outros); como principal motor para a constituição de uma arte moderna no Brasil: uma arte que tentava distanciar-se das convenções da Academia, mas atenta para não se 'perder' na abstração ou em outros 'excessos' vanguardistas".

Tadeu Chiarelli (In: Arte internacional brasileira. São Paulo: Lemos, 1999. p. 175-181.)

Depoimentos Portinari

"Arte brasileira só haverá quando os nossos artistas abandonarem completamente as tradições inúteis e se entregarem com toda alma, à interpretação sincera do nosso meio"

Candido Portinari (Entrevista publicada originalmente no jornal A Manhã em junho de 1926. In BALBI, Marilia. Portinari: o pintor do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2003. p. 26.)

"Não pretendo entender de política. Minhas convicções, que são fundas, cheguei a elas por força da minha infância pobre, de minha vida de trabalho e luta, e porque sou um artista. Tenho pena dos que sofrem, e gostaria de ajudar a remediar a injustiça social existente. Qualquer artista consciente sente o mesmo".

Candido Portinari (Depoimento feito ao Poeta Vinícius de Moraes e publicado postumamente, em março de 1962. In BALBI, Marilia. Portinari: o pintor do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2003. p.12.)

"Vim conhecer aqui o Palaninho, depois de ter visitado tantos museus, tantos castelos e tanta gente civilizada. Aí no Brasil, eu nunca pensei no Palaninho. Daqui fiquei vendo melhor a minha terra - fiquei vendo Brodósqui como ela é. Aqui não tenho vontade de fazer nada. Vou pintar o Palaninho, vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor. Quando voltar vou ver se consigo fazer a minha terra. Eu uso sapato de verniz, calça larga e colarinho, mas no fundo eu ando vestido como o Palaninho".

Candido Portinari (Trecho de carta enviada de sua viagem a Paris para Rosalita Candido Mendes. In BALBI, Marilia. Portinari: o pintor do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2003. p. 28.)

Fonte: CANDIDO Portinari. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 30 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Biografia Wikipédia

O Projeto Portinari possui em seu acervo documental, os principais documentos de identidade pessoais do pintor. Em nenhum deles figura o sobrenome “Torquato”. Certidão de Nascimento, Atestado de Óbito, Certidão de Casamento, Registro de Identidade, todos os passaportes, etc., registram o seu nome completo como apenas “Candido Portinari”.

Portinari pintou mais de cinco mil obras, de pequenos esboços e pinturas de proporções padrão, como O Lavrador de Café, até gigantescos murais, como os painéis Guerra e Paz, presenteados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956, e que, em dezembro de 2010, graças aos esforços de seu filho, retornaram para exibição no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Portinari é considerado um dos mais importantes pintores brasileiros de todos os tempos, sendo o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.

Filho dos imigrantes italianos Giovan Battista Portinari e Domenica Torquato, originários de Chiampo (Vêneto), Candido Portinari nasceu no dia 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café nas proximidades de Brodowski, interior de São Paulo. Com a vocação artística logo na infância, Portinari teve pouco estudo não completando sequer o ensino primário. Aos 14 anos de idade, uma trupe de pintores e escultores italianos que atuavam na restauração de igrejas, passa pela região de Brodowski e recruta Portinari como ajudante. Seria o primeiro grande indício do talento do pintor brasileiro.

Aos 16 anos, já decidido a aprimorar seus dons, Portinari deixa São Paulo e parte para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Durante seus estudos na ENBA, Portinari começa a se destacar e chamar a atenção tanto de professores quanto da própria imprensa. Tanto que aos 20 anos já participa de diversas exposições, ganhando elogios em artigos de vários jornais. Mesmo com toda essa badalação, começa a despertar no artista o interesse por um movimento artístico até então considerado marginal: o modernismo.

Um dos principais prêmios almejados por Portinari era a medalha de ouro do Salão da ENBA. Nos anos de 1926 e 1927, o pintor conseguiu destaque, mas não venceu. Anos depois, Portinari chegou a afirmar que suas telas com elementos modernistas escandalizaram os juízes do concurso. Em 1928 Portinari deliberadamente prepara uma tela com elementos acadêmicos tradicionais e finalmente ganha a medalha de ouro e uma viagem para a Europa.

Os dois anos que passou vivendo em Paris foram decisivos no estilo que consagraria Portinari. Lá ele teve contato com outros artistas como Van Dongen e Othon Friesz, além de conhecer Maria Martinelli (1912-2006), uma uruguaia de 19 anos com quem o artista passaria o resto de sua vida. A distância de Portinari de suas raízes acabou aproximando o artista do Brasil, e despertou nele um interesse social muito mais profundo.

Em 1931, Portinari volta ao Brasil renovado. Muda completamente a estética de sua obra, valorizando mais cores e a ideia das pinturas. Ele quebra o compromisso volumétrico e abandona a tridimensionalidade de suas obras. Aos poucos o artista deixa de lado as telas pintadas a óleo e começa a se dedicar a murais e afrescos. Ganhando nova notoriedade entre a imprensa, Portinari expõe três telas no Pavilhão Brasil da Feira Mundial em Nova Iorque de 1939. Os quadros chamam a atenção de Alfred Barr, diretor geral do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA).

A década de 1940 começa muito bem para Portinari. Alfred Barr compra a tela "Morro do Rio" e imediatamente a expõe no MoMA, ao lado de artistas consagrados mundialmente. O interesse geral pelo trabalho do artista brasileiro faz Barr preparar uma exposição individual para Portinari em plena Nova Iorque. Nessa época, Portinari faz dois murais para a Biblioteca do Congresso em Washington. Ao visitar o MoMA, Portinari se impressiona com uma obra que mudaria seu estilo novamente: "Guernica" de Pablo Picasso.

Participação política

Portinari foi ativo no movimento político-partidário, inclusive, candidatando-se a deputado federal em 1945 pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a senador, em 1947, pleito em que aparecia em todas as sondagens como vencedor, mas perdendo com uma pequena margem de votos, fato que levantou suspeitas de fraude para derrotá-lo devido o cerco aos membros do PCB.

Morte

Em 1952, uma anistia geral faz com que Portinari voltasse ao Brasil. No mesmo ano, a 1° Bienal de São Paulo expõe obras de Portinari com destaque em uma sala particular. Mas a década de 50 seria marcada por diversos problemas de saúde. Em 1954, Portinari apresentou uma grave intoxicação pelo chumbo (conhecida clinicamente como saturnismo) presente nas tintas que usava.

Desobedecendo as ordens médicas, Portinari continuava pintando e viajando com frequência para exposições nos Estados Unidos, Europa e Israel. No começo de 1962, a prefeitura de Barcelona convida Portinari para uma grande exposição com 200 telas. No dia 6 de fevereiro do mesmo ano, Candido Portinari morre de intoxicação pelas tintas que utilizava nas telas. Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.

Obras

“...Nenhum pintor pintou mais um País do que Portinari pintou o seu...” (Israel Pedrosa). Seus temas sociais, históricos, religiosos, o trabalho no campo e na cidade, os tipos populares, a festa popular, a infância, o folclore, os retratos dos grandes brasileiros de sua geração, a fauna, a flora e a paisagem, demonstram com eloquência a reflexão de Israel Pedrosa. Inúmeras foram as suas influências. Suas pinturas se aproximam do renascimento italiano, do cubismo, surrealismo e dos pintores muralistas mexicanos. Foi um dos mais importantes representantes do Neo-Realismo, tendo influenciado inúmeros artistas deste movimento. Para compreender mais a fundo a importância de Portinari para a arte mundial, recomenda-se a leitura do texto magistral de Pedrosa, intitulado “Portinari, o Pintor do Novo Mundo”.

Entre suas obras mais prestigiadas e famosas, destacam-se os painéis Guerra e Paz (1953-1956), que foram presenteados em 1956 à sede da ONU de Nova Iorque. Na época, as autoridades dos Estados Unidos não permitiram a ida de Portinari para a inauguração dos murais, devido às ligações do artista com o Partido Comunista Brasileiro. Antes de seguirem aos EUA, o empresário e mecenas ítalo-brasileiro Ciccillo Matarazzo tentou trazer os painéis para São Paulo, terra natal de Portinari, para apresentá-las ao público. Porém, isto não foi possível. Porém, em fevereiro de 1956, os painéis foram exibidos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com a presença do pintor. Em novembro de 2010, depois de 53 anos, os painéis voltaram ao Brasil, onde foram exibidos, em dezembro do mesmo ano, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (Para saber mais, ver Guerra e Paz) e, em 2012, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

As telas Meninos e piões e Favela são parte do acervo permanente da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano. Seu maior acervo sacro, entre pinturas e afrescos, está exposto na Igreja Bom Jesus da Cana Verde, centro da cidade de Batatais, interior de São Paulo, situada a 16 quilômetros de sua cidade natal, Brodowski. São 23 obras, incluindo 2 retratos:

Uma das obras mais importantes de Portinari, O lavrador de café, foi furtada do segundo andar do Museu de Arte de São Paulo na madrugada do dia 20 de dezembro de 2007, em uma ação de três minutos, juntamente com o quadro Retrato de Suzanne Bloch, de Pablo Picasso. Estas obras foram resgatadas e restituídas ao museu dia 8 de janeiro de 2008, sem sofrer avarias.

No ramo de ilustrações literárias, Portinari, através da Sociedade dos Cem Bibliofilos do Brasil, realizou ilustrações para as obras Memórias Póstumas de Brás Cubas em 1943 e O Alienista em 1948.

Homenagens, títulos e prêmios

Portinari e suas obras representados na cédula de 5000 Cruzados, que circulou no Brasil entre 1986 e 1989

1940 – Chicago (Estados Unidos) – A Universidade de Chicago publica o primeiro livro sobre o pintor, Portinari: His Life and Art, com introdução do artista Rockwell Kent

1946 – Paris (França) – Legião de Honra, concedida pelo governo francês

1955 – Nova Iorque (Estados Unidos) – Medalha de Ouro, pelo painel Tiradentes (1949), concedida pelo júri do Prêmio Internacional da Paz

1950 – Varsóvia (Polônia) – Medalha de Ouro, como melhor pintor do ano, concedida pelo International Fine Arts Council

1956 – Nova Iorque (Estados Unidos) – Prêmio Guggenheim de Pintura, por ocasião da inauguração dos painéis Guerra e Paz na sede da ONU de Nova York.

2012 - Rio de Janeiro (RJ) - Tema Enredo da Escola Mocidade Independente de Padre Miguel - "Por ti , Portinari, Rompendo a tela, A realidade"

Fonte: Wikipédia, última consulta em 25 de fevereiro de 2017.

Cândido Portinari (Brodowski, SP, 29 de dezembro de 1903 — Rio de Janeiro, RJ, 6 de fevereiro de 1962), também conhecido como Candinho e o Mestre de Brodósqui, foi um pintor, muralista, ilustrador, gravador e professor de artes plásticas brasileiro. É considerado um dos mais importantes pintores brasileiros de todos os tempos, sendo o que alcançou maior projeção internacional.

Cândido Portinari

Cândido Portinari (Brodowski, SP, 29 de dezembro de 1903 — Rio de Janeiro, RJ, 6 de fevereiro de 1962), também conhecido como Candinho e o Mestre de Brodósqui, foi um pintor, muralista, ilustrador, gravador e professor de artes plásticas brasileiro. É considerado um dos mais importantes pintores brasileiros de todos os tempos, sendo o que alcançou maior projeção internacional.

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História de Portinari

Pq Portinari é tão importante?

Portinari do Brasil

Portinari - Vida & Obra

Traçando Arte - Portinari

A Id. Brasileira no Modernismo

Portinari - De Lá Pra Cá

Biografia

Nasceu numa fazenda de café, filho de imigrantes italianos de origem humilde: Cândido Portinari, o segundo de 12 filhos. Matriculado na Escola Nacinal de Belas Artes, no Rio de Janeiro, aos 15 anos, vendeu seu primeiro quadro aos 18: Um baile no campo. Ganhou vários prêmios no Salão de Belas Artes, o primeiro sendo uma medalha de bronze em 1922.

No início, suas obras eram clássicas, mas com o passar do tempo, se encantou com o modernismo. Em 29, ganhou uma viagem para a Europa, fixando-se em Paris. A efervescência das artes plásticas no Velho Continente definiria a sua pintura, rompendo com o classicismo. Ali também conheceria a mulher com quem passaria o resto de sua vida, a uruguaia Maria Martinelli.

Na volta ao Brasil, pintaria seu primeiro mural, ficando conhecido por abordar a temática nacional - sobretudo a luta das classes trabalhadoras. Portinari tinha aguçada sensibilidade social. Outra característica marcante em seu trabalho são as cores, embora elas não sejam tão chamativas.

Ainda desenhou murais para vários edifícios no Brasil, trabalhando com Oscar Niemayer e Burle Marx.

Foi o primeiro brasileiro a ter exposição individual no Museu de Arte Moderna de Nova York.

Morreu por intoxicação com o chumbo das tintas com as quais trabalhava, enquanto preparava uma grande exposição com aproximadamente 200 obras, a convite da Prefeitura de Milão.

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Biografia Itaú Cultural

Inicia-se na pintura em meados da década de 1910, auxiliando na decoração da Igreja Matriz de Brodósqui. Em 1918, muda-se para o Rio de Janeiro e, no ano seguinte, ingressa no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), na qual cursa desenho figurativo com Lucílio de Albuquerque (1885-1962) e pintura com Rodolfo Amoedo (1857-1941), Baptista da Costa (1865-1926) e Rodolfo Chambelland (1879-1967). Em 1929, viaja para a Europa com o prêmio de viagem ao exterior, e percorre vários países durante dois anos. Em 1935, recebe prêmio do Carnegie Institute de Pittsburgh pela pintura Café, tornando-se o primeiro modernista brasileiro premiado no exterior. No mesmo ano, é convidado a lecionar pintura mural e de cavalete no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal, quando tem como alunos Burle Marx (1909-1994) e Edith Behring (1916-1996), entre outros. Em 1936, realiza seu primeiro mural, que integra o Monumento Rodoviário da Estrada Rio-São Paulo. Em seguida, convidado pelo ministro Gustavo Capanema (1902-1998) pinta vários painéis para o novo prédio do Ministério da Educação e Cultura (MEC) (1936-1938), com temas dos ciclos econômicos do Brasil, propostos pelo ministro. Em 1940, após exposição itinerante pelos Estados Unidos, a Universidade de Chicago publica o primeiro livro a seu respeito, Portinari: His Life and Art, com introdução de Rockwell Kent. Em 1941, pinta os painéis para a Biblioteca do Congresso em Washington D.C. com temas da história do Brasil, Descobrimento, Desbravamento da mata, Catequese e Descoberta do Ouro. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), candidata-se a deputado, em 1945, e a senador, em 1947, mas não se elege. Em 1946, recebe a Legião de Honra do governo francês. Em 1956, com a inauguração dos painéis Guerra e Paz na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, recebe o prêmio Guggenheim. Ilustra vários livros, como Memórias Póstumas de Brás Cubas e O Alienista, de Machado de Assis (1839-1908), entre outros. Em 1958, inicia um livro de poemas - editado por José Olympio em 1964 -, com textos introdutórios de Antônio Callado (1917-1997) e Manuel Bandeira (1886-1968). Em 1979, seu filho João Candido Portinari implanta o Projeto Portinari que reúne um vasto acervo documental sobre a obra, a vida e a época do artista, no campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ).

Análise

Candido Portinari inicia sua formação artística na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), em 1919, onde estuda com Lucílio de Albuquerque, Rodolfo Amoedo, Baptista da Costa e Rodolfo Chambelland. Obtém o prêmio de viagem ao exterior em 1928 e segue para a Europa no ano seguinte. Conhece as obras dos mestres italianos Giotto (ca.1266-1337) e Piero della Francesca (ca.1415-1492) e da cena européia: Henri Matisse (1869-1954), Amedeo Modigliani (1884-1920), Giorgio de Chirico (1888-1978) e Pablo Picasso (1881-1973).

Retorna ao Brasil no início de 1931. Trabalha com intensidade, pintando principalmente retratos, sua maior fonte de renda. O artista, em sintonia com a tendência do Retorno à Ordem na pintura internacional, explora poéticas diversas na retratística. Retrato de Maria (1932), em sua linearidade, indica uma aproximação com a obra de Modigliani e dos maneiristas. Já o Retrato de Sofia Cantalupe (1933) revela a influência do imaginário metafísico, em um clima mágico que também é encontrado, por exemplo, no Retrato de Mário de Andrade (1935). A produção de Portinari é variada em seus temas e em algumas telas apresenta lembranças de Brodósqui, jogos infantis e cenas de circo. As figuras são diminutas, sem rostos, contrastando com a imensidão da paisagem, na qual predominam os tons de marrom, como em Futebol (1935). Revela forte preocupação social, procurando captar tipos populares e enfatizar o papel dos trabalhadores.

Como relata o historiador Tadeu Chiarelli, Portinari, no início da carreira, declara a intenção de criar uma pintura caracteristicamente nacional, baseada em tipos brasileiros, manifestando admiração pela obra do pintor ituano Almeida Júnior (1850-1899). O ideal de Portinari encontra apoio nas idéias do escritor e crítico Mário de Andrade (1893-1945), que defende a necessidade da criação no Brasil de uma arte nacional e moderna. Como nota Chiarelli, para Mário de Andrade, em grande parte de suas pinturas, Portinari não está preocupado em retratar um brasileiro determinado (como faz Almeida Júnior no fim do século XIX), mas o brasileiro. Ao superar a pintura regionalista de Almeida Júnior, que antecede o modernismo, Portinari produz uma obra que possui esse caráter nacional e moderno, não apenas pelos temas tratados mas também por suas grandes qualidades plásticas.

Nos quadros O Mestiço e Lavrador de Café (ambos de 1934) os personagens são pintados em composições monumentais e predominam os tons de marrom da paisagem, na qual se destacam os campos cultivados ao fundo. Também em Café (1934), a figura humana adquire formas escultóricas robustas, com o agigantamento das mãos e pés, recurso que reforça a ligação dos personagens com o mundo do trabalho e da terra. Portinari realiza um conjunto de afrescos para o Ministério da Educação e Cultura - MEC, com tema ligado aos ciclos econômicos do país. Neles utiliza recursos derivados da poética do Renascimento italiano. Sua admiração pela obra de Piero della Francesca pode ser observada nos gestos imobilizados dos personagens e no desdobramento da figura em vários momentos do trabalho.

Portinari revela, desde o início da carreira, admiração pela obra de Picasso, que é renovada na década de 1940, após a visão de Guernica. Seu trabalho passa a apresentar mais dramaticidade, expressando a tragédia e o sofrimento humano e adquire caráter de denúncia em relação a questões sociais brasileiras, reveladas em obras como as da Série Bíblica e Os Retirantes. Na Série Bíblica, em telas como O Último Baluarte (1942) e O Massacre dos Inocentes (1943), a presença de Picasso pode ser percebida no uso dos tons de cinza, na teatralidade dos gestos, na criação de um espaço abstrato, na deformação pronunciada e no choque constante entre figura e fundo. Já na Série Retirantes apresenta um tema recorrente em sua produção, utiliza elementos expressionistas, derivados também da Série Bíblica, embora com uma dramaticidade mais controlada. As telas são construídas com pinceladas largas e em composições piramidais, apresentando uma paleta dominada por tons terrosos e cinza, que realçam o caráter da representação. O artista expressa a tragédia dos retirantes por meio dos gestos crispados das mãos e das lágrimas de pedra. Há uma desarticulação das figuras, realizadas em um ritmo definido pelas linhas negras, com um fundo que tende à abstração em algumas obras.

Pinta, em 1941, os painéis para a Library of Congress [Biblioteca do Congresso] em Washington D.C. (Estados Unidos), com temas da história do Brasil. Realizados em têmpera, com grande luminosidade, os painéis têm como protagonistas, mais uma vez, os trabalhadores, como em Descobrimento. Na década de 1950, as cores voltam à paleta de Portinari, que se torna mais clara. Os temas permanecem - as lembranças da infância, o drama do homem do povo e as paisagens. O artista pinta telas nas quais dialoga com a abstração geométrica, nem sempre de maneira positiva. Entre 1953 e 1956, realiza os murais Guerra e Paz (1953-1956) para a sede da ONU, em Nova York, obras de grandes dimensões, em que trabalha com uma sobreposição de planos. Esses murais apresentam um resumo da trajetória do artista, em termos de iconografia: neles estão presentes a mãe com o filho morto, os retirantes e os meninos de Brodósqui. Portinari falece consagrado como o artista brasileiro mais importante, posição que deixará de ser unânime nas décadas seguintes.

Críticas

"Portinari marcou, com seus Retirantes, seus Meninos de Brodowski, seus quadros de lavradores o abismo que ainda existe entre a natureza brasileira, entre o País brutalmente grandioso que nos surge à mente quando dizemos, como se disséssemos palavra mágica, “Obrasil”, e a vidinha que montou no Brasil o homem imitador da Europa e dos Estados Unidos. Sua pintura daqueles tempos é um protesto contra essa falta de intimidade que existe entre nós e aquilo que se chama realidade brasileira. É um clamor contra o fato de ainda estarmos tão superpostos à paisagem e não vitoriosamente fincados nela, como estão os pés dos pretos, dos caboclos, dos tapuias, dos cafusos, dos curibocas e dos imigrantes."

Antonio Callado - Escritor (In: Callado, Antonio. Retrato de Portinari. MAM-RJ, 1956.)

"Da última vez que vi Portinari, seus olhos estavam rasos d'água. Se não me engano, foi no Castelo; eu ia em busca de uma condução e ele vinha com sua Maria. Foi muito pouco o que dissemos. Estava magro; abraçou-me profundamente e disse: Imagine, não posso pintar mais, estou proibido pelo médico. Era a hora da tarde em que as coisas são iluminadas de través e os olhos azuis de Portinari com as lágrimas que não queriam descer me apareceram como se contassem também sobre sua obra imortal. Maria não deixou muito tempo para conversa; ele não deveria comover-se. Tive vontade de sair atrás dele e dizer: Você já nos deu tanto. Você já nos deu a obra mais grandiosa que um pintor pode oferecer à sua terra, já nos acumulou de uma riqueza que vai varar os tempos, por isso, pode descansar sem preocupação por não estar mais pintando. Eles já estavam longe e as palavras morreram no meu pensamento.

Só depois da morte de Portinari que eu estive na ONU e vi, no deslumbramento do apogeu de sua arte, o painel Guerra e Paz. Cada figura me apareceu facetada: astro ou pedra preciosa, com luz própria e eu tive vontade de dizer àquela gente toda que passeava pelo saguão, homens e mulheres vindos de todas as partes do mundo: Vejam vocês aí está nossa glória, aí está o painel de nosso maior pintor. Eu também nasci no Brasil como ele, Portinari…"

Dinah Silveira de Queiroz (In: Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, RJ); Museu de Arte de São Paulo (São Paulo, SP). Portinari Desenhista. RJ, 1977.)

"Candido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros — camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem — são a matéria com que trabalhou e construiu sua obra imorredoura."

Jorge Amado - Escritor (In: Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, RJ); Museu de Arte de São Paulo (São Paulo, SP). Portinari Desenhista. RJ, 1977.)

"Nestes dias de desorientação, de funambulismos e de anemia, o exemplo da arte poderosa de Candido Portinari, tão rica de significado, de matéria e de sólida técnica, chega a nós como um bom vento vivificante, a demonstrar-nos que a grande veia latina não se exauriu, mas, ao contrário, enriquecida de novos temas, continua viva, também pelo mérito de um filho de emigrantes que ainda acredita que a pintura seja um ofício sério, árduo e útil aos homens."

Eugenio Luraghi (Poeta, Escritor e Crítico de Arte. In: Palazzo Reale (Milão, ITA). Mostra di Candido Portinari. Eugenio Luraghi et al. Milão, Itália, 1963.)

"Diante destes choros, destes cavalos-marinhos, que falam ao mais profundo de minh'alma, me sinto em estado de absoluta inibição crítica. Tudo que posso fazer é admirar..."

Manuel Bandeira - Escritor (In: A inaugurção das telas de Portinari na nova sede da Rádio Tupi. A Manhã, Rio de Janeiro, RJ, 1942.)

"A partir de Café, o humano, compreendido em termos sociais e históricos, torna-se a tônica da arte de Portinari, voltada para a captação da realidade natural e psicológica, para uma expressividade, ora serena e grave, ora desesperada e excessiva. A nova problemática encaminha-o, a exemplo dos mexicanos, para o muralismo, em que procura magnificar sua busca duma imagística nacional, alicerçada no trabalho e em suas raízes rurais. (...) Após 1947, a arte de Portinari conhece uma nova modificação. São postas de lado, ao mesmo tempo, a dramaticidade expressiva e a preocupação social. (...) Os novos temas de Portinari são sobretudo históricos - A Primeira Missa no Brasil, Tiradentes (...). A viagem a Israel parece conferir uma nova dimensão à arte de Portinari. (...) Ao mesmo tempo em que se deixa seduzir pela cor, Portinari começa a fazer experiências com a abstração geométrica, influenciado pelo cubismo cristalino do francês Jacques Villon, pintor que admirava há algum tempo. (...) A busca dum rigor geométrico aliado a uma paleta clara e sonora não mascara, entretanto, o esvaziamento que a pintura de Portinari vem sofrendo nos últimos anos de sua atividade artística".

Annateresa Fabris (Portinari, pintor social. Dissertação (Mestrado em Artes Plásticas) ECA/USP, São Paulo, 1977.)

"(...) Quando começou a abordar esta temática (retirantes) não havia ainda preocupações sociais marcantes na obra de Portinari. Aparecem apenas famílias acampadas nos arredores de seu povoado. (...) Também não tinham a designação de retirantes. Algumas dessas composições possuem inegável beleza plástica (...) Começaram a ser produzidos a partir de 1935. (...) Somente mais tarde a série dos retirantes assumiria uma feição acentuadamente social na carreira do mestre brasileiro. Não apenas em virtude da Grande Guerra iniciada em 1939, como em face do apelo aos recursos de expressão que caracterizariam em seguida a parte mais notável de sua obra. Esta fase social culmina com a grande tela Retirantes e com a composição O Morto na Rede, pertencentes ao acervo do Masp. (...) Os retirantes pintados nos últimos anos da vida do artista já não eram apenas quadros sociais. Tornaram-se igualmente soluções de problemas formais. (...) De qualquer modo, em suas três fases distintas, Os Retirantes de Portinari permanecerão como alguns dos trabalhos mais significativos e pungentes da arte brasileira de todos os tempos".

Antônio Bento (Portinari. Rio de Janeiro: Leo Christiano, 1980. p.169.)

"O mundo de Portinari: à medida que, atraídos por ele, nós nos movemos nele através do pensamento, cheios de assombro - de medo talvez - mas aceitando seus elementos macabros com a mesma naturalidade com que nosso inconsciente acolhe os mais fantásticos sonhos que nos perturbam na hora do sono, vamos chegando, aos poucos, à percepção de que não estamos diante de um mundo apenas imaginário e sim diante da recriação intensificada e fantástica do mundo que Portinari conhece, o de sua terra natal, o Brasil. Disto seus quadros são a prova. Neles vemos a paisagem, pisamos o chão; vemos seus trabalhadores e sua pobreza - não descritos com aflição, descritos. E descritos com amor. Não amor pela miséria e o trabalho incessante e sim amor por mulher, homem, criança - que, ricos ou pobres, são para ele objeto de amor. Ele os pinta com plena aceitação. 'Bem-aventurados os humildes' é o que parece dizer, do fundo do coração. E sem as condições em que vivem em sua terra brasileira nada tem, pelo que vemos, de invejável herança, a vida que levam, pela bondade que deles se exala, vale a pena ser vivida. Trabalham; casam-se e sustentam família; seus filhos brincam. E não existem, no tesouro das artes, quadros mais eloquentes do que esses, que pintam a felicidade de crianças que brincam".

Rockwell Kent (CALLADO, Antonio. Candido Portinari. In: CANDIDO Portinari. São Paulo: Finambrás, 1997. P. 11-19.)

"(...) Não se pode dizer, no entanto, que tenha havido uma estética oficial, se compreendermos por tal um estilo que o Poder adota como seu e o impõe. Não se pode, portanto, afirmar que Portinari tenha sido um pintor oficial (...). Houve foi uma recuperação por parte do Poder da tática adotada pelo movimento modernista, onde o governo utilizará o apoio a Portinari como exemplo do seu mecenato. Mas se não houve uma arte oficial, não significa que o estilo de Portinari não pudesse também ser assimilado pela ideologia do Poder. No que se refere ao aspecto temático, se a orientação de Portinari não correspondia a um patriotismo evidente e épico, como talvez fosse o desejo do governo, não significa que não pudesse ser recuperado. A dignidade que o artista confere ao trabalhador, o destaque que dá ao personagem popular, enfim, todos aqueles assuntos que ele abordou não podiam ser negados por um poder para quem a questão social (mesmo que dentro de uma ótica populista) constituía uma das bases de sua política. Mas se a pintura de Portinari pôde ser recuperada, foi principalmente porque a sua concepção formal era conciliável com a estratificação simbólica de uma ideologia conservadora. (...)"

Carlos Zilio (In, A querela do Brasil: a questão da identidade da arte brasileira: a obra de Tarsila, Di Cavalcanti e Portinari/1922-1945. 2ª. edição, Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1997. p.112.)

"Candido Portinari começa a ganhar ressonância na cena artística carioca entre 1928 e 1931, período que sucede a eclosão mais violenta do modernismo no Brasil, período que começa a perceber as vanguardas históricas como parte do legado da história da arte ocidental, e não mais como paradigma absoluto para os novos artistas. Iniciada após o refluxo das vanguardas, a obra de Portinari dialogou com inúmeras tradições visuais da arte europeia, desde aquelas do Primeiro Renascimento, até a obra de seu contemporâneo Pablo Picasso. Através de sua espantosa capacidade em absorver as mais diversas maneiras, Portinari trafegou com indisfarçável facilidade por esquemas formais criados por Botticelli, Picasso, Pisanello, De Chirico, Holbein, Paul Delvaux... Portinari produziu suas obras experimentando procedimentos pictóricos de artistas antigos e contemporâneos, sempre acrescentando a cada um desses 'experimentos' soluções de forte cunho pessoal, que ainda aguardam um entendimento mais profundo.

(...) De volta ao Brasil, já sem os traços acadêmicos, mas também sem o radicalismo dos artistas vanguardistas, Portinari acabou sendo eleito pelos protagonistas do movimento modernista local (Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e outros); como principal motor para a constituição de uma arte moderna no Brasil: uma arte que tentava distanciar-se das convenções da Academia, mas atenta para não se 'perder' na abstração ou em outros 'excessos' vanguardistas".

Tadeu Chiarelli (In: Arte internacional brasileira. São Paulo: Lemos, 1999. p. 175-181.)

Depoimentos Portinari

"Arte brasileira só haverá quando os nossos artistas abandonarem completamente as tradições inúteis e se entregarem com toda alma, à interpretação sincera do nosso meio"

Candido Portinari (Entrevista publicada originalmente no jornal A Manhã em junho de 1926. In BALBI, Marilia. Portinari: o pintor do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2003. p. 26.)

"Não pretendo entender de política. Minhas convicções, que são fundas, cheguei a elas por força da minha infância pobre, de minha vida de trabalho e luta, e porque sou um artista. Tenho pena dos que sofrem, e gostaria de ajudar a remediar a injustiça social existente. Qualquer artista consciente sente o mesmo".

Candido Portinari (Depoimento feito ao Poeta Vinícius de Moraes e publicado postumamente, em março de 1962. In BALBI, Marilia. Portinari: o pintor do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2003. p.12.)

"Vim conhecer aqui o Palaninho, depois de ter visitado tantos museus, tantos castelos e tanta gente civilizada. Aí no Brasil, eu nunca pensei no Palaninho. Daqui fiquei vendo melhor a minha terra - fiquei vendo Brodósqui como ela é. Aqui não tenho vontade de fazer nada. Vou pintar o Palaninho, vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor. Quando voltar vou ver se consigo fazer a minha terra. Eu uso sapato de verniz, calça larga e colarinho, mas no fundo eu ando vestido como o Palaninho".

Candido Portinari (Trecho de carta enviada de sua viagem a Paris para Rosalita Candido Mendes. In BALBI, Marilia. Portinari: o pintor do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2003. p. 28.)

Fonte: CANDIDO Portinari. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 30 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Biografia Wikipédia

O Projeto Portinari possui em seu acervo documental, os principais documentos de identidade pessoais do pintor. Em nenhum deles figura o sobrenome “Torquato”. Certidão de Nascimento, Atestado de Óbito, Certidão de Casamento, Registro de Identidade, todos os passaportes, etc., registram o seu nome completo como apenas “Candido Portinari”.

Portinari pintou mais de cinco mil obras, de pequenos esboços e pinturas de proporções padrão, como O Lavrador de Café, até gigantescos murais, como os painéis Guerra e Paz, presenteados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956, e que, em dezembro de 2010, graças aos esforços de seu filho, retornaram para exibição no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Portinari é considerado um dos mais importantes pintores brasileiros de todos os tempos, sendo o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.

Filho dos imigrantes italianos Giovan Battista Portinari e Domenica Torquato, originários de Chiampo (Vêneto), Candido Portinari nasceu no dia 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café nas proximidades de Brodowski, interior de São Paulo. Com a vocação artística logo na infância, Portinari teve pouco estudo não completando sequer o ensino primário. Aos 14 anos de idade, uma trupe de pintores e escultores italianos que atuavam na restauração de igrejas, passa pela região de Brodowski e recruta Portinari como ajudante. Seria o primeiro grande indício do talento do pintor brasileiro.

Aos 16 anos, já decidido a aprimorar seus dons, Portinari deixa São Paulo e parte para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Durante seus estudos na ENBA, Portinari começa a se destacar e chamar a atenção tanto de professores quanto da própria imprensa. Tanto que aos 20 anos já participa de diversas exposições, ganhando elogios em artigos de vários jornais. Mesmo com toda essa badalação, começa a despertar no artista o interesse por um movimento artístico até então considerado marginal: o modernismo.

Um dos principais prêmios almejados por Portinari era a medalha de ouro do Salão da ENBA. Nos anos de 1926 e 1927, o pintor conseguiu destaque, mas não venceu. Anos depois, Portinari chegou a afirmar que suas telas com elementos modernistas escandalizaram os juízes do concurso. Em 1928 Portinari deliberadamente prepara uma tela com elementos acadêmicos tradicionais e finalmente ganha a medalha de ouro e uma viagem para a Europa.

Os dois anos que passou vivendo em Paris foram decisivos no estilo que consagraria Portinari. Lá ele teve contato com outros artistas como Van Dongen e Othon Friesz, além de conhecer Maria Martinelli (1912-2006), uma uruguaia de 19 anos com quem o artista passaria o resto de sua vida. A distância de Portinari de suas raízes acabou aproximando o artista do Brasil, e despertou nele um interesse social muito mais profundo.

Em 1931, Portinari volta ao Brasil renovado. Muda completamente a estética de sua obra, valorizando mais cores e a ideia das pinturas. Ele quebra o compromisso volumétrico e abandona a tridimensionalidade de suas obras. Aos poucos o artista deixa de lado as telas pintadas a óleo e começa a se dedicar a murais e afrescos. Ganhando nova notoriedade entre a imprensa, Portinari expõe três telas no Pavilhão Brasil da Feira Mundial em Nova Iorque de 1939. Os quadros chamam a atenção de Alfred Barr, diretor geral do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA).

A década de 1940 começa muito bem para Portinari. Alfred Barr compra a tela "Morro do Rio" e imediatamente a expõe no MoMA, ao lado de artistas consagrados mundialmente. O interesse geral pelo trabalho do artista brasileiro faz Barr preparar uma exposição individual para Portinari em plena Nova Iorque. Nessa época, Portinari faz dois murais para a Biblioteca do Congresso em Washington. Ao visitar o MoMA, Portinari se impressiona com uma obra que mudaria seu estilo novamente: "Guernica" de Pablo Picasso.

Participação política

Portinari foi ativo no movimento político-partidário, inclusive, candidatando-se a deputado federal em 1945 pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a senador, em 1947, pleito em que aparecia em todas as sondagens como vencedor, mas perdendo com uma pequena margem de votos, fato que levantou suspeitas de fraude para derrotá-lo devido o cerco aos membros do PCB.

Morte

Em 1952, uma anistia geral faz com que Portinari voltasse ao Brasil. No mesmo ano, a 1° Bienal de São Paulo expõe obras de Portinari com destaque em uma sala particular. Mas a década de 50 seria marcada por diversos problemas de saúde. Em 1954, Portinari apresentou uma grave intoxicação pelo chumbo (conhecida clinicamente como saturnismo) presente nas tintas que usava.

Desobedecendo as ordens médicas, Portinari continuava pintando e viajando com frequência para exposições nos Estados Unidos, Europa e Israel. No começo de 1962, a prefeitura de Barcelona convida Portinari para uma grande exposição com 200 telas. No dia 6 de fevereiro do mesmo ano, Candido Portinari morre de intoxicação pelas tintas que utilizava nas telas. Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.

Obras

“...Nenhum pintor pintou mais um País do que Portinari pintou o seu...” (Israel Pedrosa). Seus temas sociais, históricos, religiosos, o trabalho no campo e na cidade, os tipos populares, a festa popular, a infância, o folclore, os retratos dos grandes brasileiros de sua geração, a fauna, a flora e a paisagem, demonstram com eloquência a reflexão de Israel Pedrosa. Inúmeras foram as suas influências. Suas pinturas se aproximam do renascimento italiano, do cubismo, surrealismo e dos pintores muralistas mexicanos. Foi um dos mais importantes representantes do Neo-Realismo, tendo influenciado inúmeros artistas deste movimento. Para compreender mais a fundo a importância de Portinari para a arte mundial, recomenda-se a leitura do texto magistral de Pedrosa, intitulado “Portinari, o Pintor do Novo Mundo”.

Entre suas obras mais prestigiadas e famosas, destacam-se os painéis Guerra e Paz (1953-1956), que foram presenteados em 1956 à sede da ONU de Nova Iorque. Na época, as autoridades dos Estados Unidos não permitiram a ida de Portinari para a inauguração dos murais, devido às ligações do artista com o Partido Comunista Brasileiro. Antes de seguirem aos EUA, o empresário e mecenas ítalo-brasileiro Ciccillo Matarazzo tentou trazer os painéis para São Paulo, terra natal de Portinari, para apresentá-las ao público. Porém, isto não foi possível. Porém, em fevereiro de 1956, os painéis foram exibidos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com a presença do pintor. Em novembro de 2010, depois de 53 anos, os painéis voltaram ao Brasil, onde foram exibidos, em dezembro do mesmo ano, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (Para saber mais, ver Guerra e Paz) e, em 2012, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

As telas Meninos e piões e Favela são parte do acervo permanente da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano. Seu maior acervo sacro, entre pinturas e afrescos, está exposto na Igreja Bom Jesus da Cana Verde, centro da cidade de Batatais, interior de São Paulo, situada a 16 quilômetros de sua cidade natal, Brodowski. São 23 obras, incluindo 2 retratos:

Uma das obras mais importantes de Portinari, O lavrador de café, foi furtada do segundo andar do Museu de Arte de São Paulo na madrugada do dia 20 de dezembro de 2007, em uma ação de três minutos, juntamente com o quadro Retrato de Suzanne Bloch, de Pablo Picasso. Estas obras foram resgatadas e restituídas ao museu dia 8 de janeiro de 2008, sem sofrer avarias.

No ramo de ilustrações literárias, Portinari, através da Sociedade dos Cem Bibliofilos do Brasil, realizou ilustrações para as obras Memórias Póstumas de Brás Cubas em 1943 e O Alienista em 1948.

Homenagens, títulos e prêmios

Portinari e suas obras representados na cédula de 5000 Cruzados, que circulou no Brasil entre 1986 e 1989

1940 – Chicago (Estados Unidos) – A Universidade de Chicago publica o primeiro livro sobre o pintor, Portinari: His Life and Art, com introdução do artista Rockwell Kent

1946 – Paris (França) – Legião de Honra, concedida pelo governo francês

1955 – Nova Iorque (Estados Unidos) – Medalha de Ouro, pelo painel Tiradentes (1949), concedida pelo júri do Prêmio Internacional da Paz

1950 – Varsóvia (Polônia) – Medalha de Ouro, como melhor pintor do ano, concedida pelo International Fine Arts Council

1956 – Nova Iorque (Estados Unidos) – Prêmio Guggenheim de Pintura, por ocasião da inauguração dos painéis Guerra e Paz na sede da ONU de Nova York.

2012 - Rio de Janeiro (RJ) - Tema Enredo da Escola Mocidade Independente de Padre Miguel - "Por ti , Portinari, Rompendo a tela, A realidade"

Fonte: Wikipédia, última consulta em 25 de fevereiro de 2017.

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