Giovanni Battista Felice Castagneto (Gênova, Ligúria, Itália, 27 de novembro de 1851 — Rio de Janeiro, RJ, 29 de dezembro de 1900), conhecido como Castagneto, foi um pintor, desenhista, restaurador, professor e marinheiro italiano radicado no Brasil, que contribuiu imensamente com os trabalhos relacionados a paisagística brasileira, principalmente da questão marinha, do final do Século XIX.
Biografia Itaú Cultural
Exerce a profissão de marinheiro em Gênova. Acompanhado de seu pai, vem para o Rio de Janeiro em 1874. Em 1878, matricula-se nos cursos de desenho figurado, desenho geométrico e matemática na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), onde estuda até 1884, tendo como professores Zeferino da Costa (1840 - 1915) e Victor Meirelles (1832 - 1903), entre outros. De 1882 a 1884 é orientado por Georg Grimm (1846 - 1887) e, quando este rompe com a Academia, acompanha-o na instalação do seu ateliê ao ar livre na Praia de Boa Viagem, em Niterói, e integra o Grupo Grimm. Leciona desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e no Liceu de Niterói. Expõe individualmente pela primeira vez no Rio de Janeiro, na Casa Vieitas, em 1886. Viaja para a França em 1890, onde conhece o pintor Frédéric Montenard (1849 - 1926), que o aconselha a estudar com o marinhista François Nardi (1861 - 1936). Volta ao Brasil em 1893 e, no ano seguinte, inaugura exposição individual na Escola Nacional de Belas Artes - Enba com obras produzidas em Toulon, França. Considerado um importante pintor de marinhas e paisagens litorâneas, o artista continua aperfeiçoando-se nesta temática até a maturidade de sua produção, alcançada com as experiências no litoral da França. As marinhas produzidas nos últimos dez anos de vida revelam o completo domínio técnico sugerido pelas composições equilibradas, pela depuração cromática e pelo tratamento pessoal conferido à superfície pictórica.
Análise
Giovanni Battista Castagneto nasce em Gênova e vai para o Rio de Janeiro em 1874. Ingressa na Aiba, em 1878, onde estuda, entre outras disciplinas, paisagem com Georg Grimm, entre 1882 e 1884, ano em que Grimm deixa a Aiba. Desde o início volta-se para a representação da natureza, em especial a pintura de marinhas. Seus primeiros trabalhos já revelam as características essenciais de sua produção: as pinceladas livres, o forte gestualismo e tendência ao monocromatismo, como vemos, por exemplo, em Trapiche na Baía do Rio de Janeiro (1883).
Em 1884, acompanha Grimm quando ele rompe com a Aiba e cria um ateliê ao ar livre, na Praia de Boa Viagem em Niterói. A admiração pela obra de Georg Grimm está na percepção da paisagem, escolha de motivos, sintetização dos elementos e restrição da paleta, como no quadro Porto do Rio de Janeiro (1884). Castagneto tem uma atividade intensa na pintura, caracterizada pela elaboração de diversas séries de obras, que permitem avaliar o estudo que o artista faz da natureza e das mutações da atmosfera marinha. Desloca-se com freqüência para Niterói, onde os alunos de Grimm se reúnem, fixando aspectos do litoral. Representa muitas vezes a praia de Santa Luzia: os efeitos da luz no mar e as reformas da igreja. Realiza uma série de marinhas de Angra dos Reis, de pincelada larga e agressiva, pintadas do natural, em que predominam os verdes e o cinzas.
O artista revela uma sensibilidade romântica, por meio da qual interpreta a natureza. Assim, suas representações do mar ou dos botes a seco, são carregadas de sentimento. O tratamento pictórico é impulsivo e quase violento, percebe-se a pincelada cortante e o empastamento farto. Representa embarcações de pesca, simples canoas, que adquirem dignidade e imponência, como em Canoa a Seco na Praia em Angra dos Reis (1886).
Em 1887, pinta o quadro Uma Salva de Grande Gala na Baía do Rio de Janeiro, concebido nos modelos da Academia, para concorrer ao prêmio de viagem. A recusa do quadro pela Aiba e as críticas publicadas nos jornais, causaram profunda amargura no artista, cuja produção, nos anos seguintes, torna-se irregular. Viaja para a França em 1890, com o auxílio de amigos. Lá tem contato com Frédéric Montenard (1849 - 1926), pintor francês viajante, que possui especial afeição por temas marinhos. Por intermédio dele conhece o francês François Nardi (1861 - 1936), também pintor de marinhas, com quem reside por um tempo em Toulon. Concentra-se nas cenas de pesca e no estudo da atmosfera marinha. Seus temas são os botes a vela, muito coloridos, que ocupam enseadas próximas à cidade, como em Barco de Pesca Ancorado em Toulon (1892) ou os efeitos de luz na água, como em Vista de Mourillon (1892). Durante a estada em Toulon a paleta de Castagneto se diversifica, trabalha as cores com mais liberdade e o desenho se estrutura. Em relação à produção anterior, o período francês representa certo enfraquecimento da potência romântica, pela adaptação aos cânones e busca de maior controle dos valores pictóricos.
De volta ao Brasil, seu fazer artístico consolida-se. Observa-se em suas obras o retorno à gestualidade no manejo dos pincéis, as cores tornam-se mais sutis e muito suaves, em relação às paisagens pintadas em Toulon. O desenho rigoroso, que marca os contornos das formas, se desestrutura, como pode ser visto em Trecho da Praia de São Roque em Paquetá (ca.1898). Predominam em seus quadros as cores claras, tons límpidos e transparentes, o uso de azuis-cinza, nuances de amarelo e verde-água. Destacam-se a fatura original dos trabalhos e o tratamento personalíssimo da superfície pictórica: os empastamentos muitas vezes são trabalhados com a espátula, em certos pontos, até com o polegar. A paisagem da ilha de Paquetá torna-se, desde 1896, o ambiente preferencial de suas pinturas.
Castagneto é descrito por seus contemporâneos como um homem à margem da sociedade, boêmio, inconformado com as convenções. O crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911), descreve o pintor como manso e irascível, afirmando que "Como o mar o seu temperamento é rebelde" e "Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todo os enlevos, toda a poesia das vagas".1 Sua pintura apresenta suavidade e violência, alia a execução rápida e angustiada a um grande lirismo.
Críticas
"Despreocupado com o desenho, como os impressionistas franceses, o pintor preocupa-se em captar a luz através da pintura, fixar o fugidio, com uma preferência temática: a luz sobre a água, à beira-mar, quase sempre. Nesta obra, as formas se desfazem através da bruma-luz à distância, e, em primeiro plano, os diversos elementos são compostos como manchas de cor, que ele aplica sobre a superfície da tela. Em geral seus quadros são de pequenas dimensões e dão a impressão, vistos de perto, de serem manchados com a cor, ora aplicada sobre a tela obedecendo a um certo ritmo, ora apresentando uma grafia desordenada e mesmo nervosa, denunciando uma execução rápida. (...) Talvez por influência do fascínio pelo mar, seu ateliê era um barco que se deslocava na Baía de Guanabara, que ele fixou em vários de seus aspectos".
Equipe da Pinacoteca do Estado (Rio de Janeiro: Funarte, 1982.)
"Foi em tarefa na qual muitos vagaram no marasmo da mesmice que Castagneto avultou e revelou o máximo do seu poder criador, o pleno domínio da técnica. Mas, para tanto alcançar, serviu-se de larga e funda experiência de vida, conhecedor que era do mar, em seu conjunto e suas nuanças. Entretanto, Castagneto não deixa de construir uma unidade conflituosa entre o mar e o homem e daí a variedade de cenários com os quais travamos conhecimento, à medida que repontam as ocorrências de seu cotidiano. E é nesse sentido que vamos encontrar toda uma extraordinária riqueza espiritual, sempre presente nas diversas obras que compõem o conjunto de sua produção".
Alcídio Mafra de Souza (LEVY, Carlos Roberto Maciel. Giovanni Battista Castagneto:1851-1900: o pintor do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
"Ao longo de 1896 consolidam-se os elementos que projetariam de modo progressivo e radical a vida e a obra de Giovanni Battista Castagneto em direção a um processo estrutural de simplificação. No plano da existência, até então, sua vida fora uma persistente sucessão de lutas caracterizadas pelo inconformismo e pelo temperamento libertário (...). Foi ele um homem à margem da sociedade, insatisfeito com os protocolos que ela exigia e revoltado contra as convenções que impunha. Mas, antes que pudesse, em seu universo intelectual ingênuo e inculto, estabelecer os paradigmas contra os quais desejaria se opor e combater, viu-se adulado, querido e 'compreendido' pelas camadas dominantes dessa sociedade, que sobre ele projetaram, discretamente, os seus próprios anseios de independência. (...) Findara o século XIX e abria-se, com o século XX, uma era de progresso, revoluções e transformações radicais no comportamento, nas idéias e nas possibilidades da humanidade. Castagneto morreu com o único período que, na história, poderia comportar sua arte romântica e aberta; mais cedo, teria sido podada como manifestação de loucura; mais tarde, interpretada como um simplismo piegas e reacionário (...)".
Carlos Roberto Maciel Levy (Giovanni Battista Castagneto:1851-1900: o pintor do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
"Castagneto (João Batista) é original. Filho de um lobo-do-mar, de um velho nauta embalado pelas vagas do Mediterrâneo e do Iônio, João Batista Castagneto nasceu artista e nasceu marinheiro. Herdou de seu pai o amor pela misteriosa inconstância do mar, recebeu da sua querida Itália o bafo quente da impressionalidade artística. Como o mar o seu temperamento é rebelde. Ama e odeia. É manso e é irascível. Um dia pensou que o estudo acadêmico, em vez de fazê-lo progredir, vinha impedir-lhe os passos; e rasgou, de um momento para outro, os motivos que o prendiam à Academia. Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todos os enlevos, toda a poesia das vagas. A voz tormentosa das águas, o doudo soluçar das ondas, as ciclópicas lutas do oceano vibram dentro dele estranhas cordas sonoras de um sentimentalismo que a mais ninguém a natureza deu. E, como o mar, a sua pintura é forte e é doce, é rápida e é vagarosa, tem asperezas e tem carícias, parece transparente e parece compacta, brilha e se entenebrece. (...)
Quando lhe falta tempo para mudar pincéis, maneja um só, mergulhando-o em diversas tintas, ou pinta com os dedos, com as unhas, com a espátula, com o primeiro objeto que tiver à mão: um seixo resistente, um pedaço de pau, um pedaço de corda, um palito, o cano do cachimbo, a ponta do cigarro.
(...) Ora, é uma marinha de uma tonalidade suave e leve, com um pequeno barco ao centro dando ao conjunto um encanto todo sereno e feliz. Ora, é o rancho da praia coberto de leprosas telhas desmanteladas pelo vento. Aqui é um assunto tomado ao cair da tarde. O sol desaparece, lentamente, do céu; nuvens caliginosas, formadas em massas largas e caprichosas, vagueiam pelo ar; o horizonte tinge-se de uma cor alaranjada, intensa, vívida; ao longe montes azulados, perdidos no silêncio do espaço, como muralhas enormes de uma cidadela invencível. No mar, ao quente reflexo dos últimos raios do sol, de velas abertas às virações repentinas, correm faluas bojudas. Ali é uma vista do arsenal de guerra, apanhada da praia de Santa Luzia. Ao fundo, além, muito além, rola o mar as vagas e vem tumultuoso, irrequieto, espojar-se à praia em um dolente e bruto espreguiçar. O sol banha a natureza. Os telhados e as paredes caiadas das oficinas do arsenal, iluminadas pela luz risonha, parecem dilatar no quadro um longo riso de força diante do mar que geme na areia".
Gonzaga Duque (A arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p. 198-200.)
"A fusão entre arte e vida, todavia, ele a encontrou na pintura de marinhas. Esse gênero desfrutava de certa fortuna no Brasil: D. Pedro II amava as marinhas e os navios de guerra. Antes de Castagneto, contudo, a história da pintura de marinhas no Brasil já contava com o minucioso modelismo naval de Eduardo De Martino, presente nas coleções imperiais, e com as marinhas 'elétricas' de Émile Rouède, assim denominadas porque pintadas de pronto e não raro de memória. Estas certamente influenciaram a técnica do jovem Castagneto. Daí ele extraiu o amor pela técnica rápida e sintética e pelo suporte improvisado - cartão, fundo de caixas de charuto, pratos, palhetas e até mesmo, num caso, uma pele de bacalhau seco. Também a lembrança de De Martino está presente na única tentativa ambiciosa de uma grande marinha histórica produzida pelo pintor, Salva na Baía de Guanabara em Homenagem a Dom Pedro II, hoje no Museu de Arte de São Paulo, Masp, pintada para obter uma viagem-prêmio da Academia, em 1887.
Foi a maior decepção do artista, nada talhado para esse tipo de celebração. A pintura de Castagneto necessitava de outros temas: 'Toda a atenção do artista convergiu para a vida humilde dos pescadores, para os míseros recantos de beira-mar, onde a paisagem, se não houvesse colmo de gente da pesca, que traduzisse a poesia de sua existência obscura, pudesse lembrá-la pela proximidade da terra'.
Para Castagneto, o pintor do mar, o mar era um estado de alma e a pintura, uma forma de vida. Vivia na praia de Santa Luzia, numa casa que parecia um barco. Qualquer objeto lhe servia para fixar a lembrança de um trecho de praia ou para copiar um tema. Apoderava-se, então, do tema com o traço febril da mão e com grande economia de meios, até transfigurá-lo numa imagem simplificada e rápida, a fim de não perder a força da sensação.
Em certos pontos, percebem-se a violência do gesto, o uso de instrumentos improvisados e até mesmo do polegar, à maneira dos escultores. Os botes a seco de Castagneto ultrapassam os limites de gênero, atingido, não raro, o domínio da expressão lírica, como nos cascos-hieróglifos de De Fiori, Volpi, ou nas areias deslumbrantes de Pancetti.
Por fim, conseguiu viajar para o sul da França, onde foi estudar com um marinhista então famoso, François Nardi. Retornou ébrio de luz. Capturou-a em quadros como O Forte de Gragoatá, no MNBA, mas, confuso e doente, a morte precoce veio içá-lo para fora da ressaca".
Luciano Migliaccio (MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 129-130.)
Acervos
Acervo Instituto Itaú Cultural (São Paulo SP)
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (São Paulo SP)
Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro RJ)
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA (Rio de Janeiro RJ)
Exposições Individuais
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vieitas;
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vieitas;
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1889 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1890 - Juiz de Fora MG - Individual, na redação do jornal O Farol;
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no salão do jornal O Paiz;
1894 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba;
1895 - São Paulo SP - Individual, no Salão de Concertos da Paulicéia;
1895 - São Paulo SP - Individual, no Banco União;
1896 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Papelaria Gomes;
1897 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Papelaria Gomes.
Exposições Coletivas
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de ouro;
1885 - Rio de Janeiro RJ - Loja Laurent de Wilde: mostra inaugural, na Loja de Laurent de Wilde;
1885 - Rio de Janeiro RJ - Castagneto e França Júnior, na Casa Vieitas (Rio de Janeiro, RJ);
1887 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras, Castagento e Henrique Bernardelli, no Grêmio de Letras e Artes;
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1894 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1895 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1898 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Retrospectiva, no Centro Artístico.
Exposições Póstumas
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no Museu Nacional Belas Artes;
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século de Pintura Brasileira: 1850-1950, no Museu Nacional Belas Artes;
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados;
1961 - Rio de Janeiro RJ - O Rio na Pintura Brasileira, na Biblioteca Estadual da Guanabara;
1963 - Assunção (Paraguai) - La Pintura en el Brasil;
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970, na Pinacoteca do Estado;
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana;
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no Museu Nacional Belas Artes;
1978 - São Paulo SP - Individual, na Sociarte;
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Ochenta Años de Arte Brasileño, no Banco Itaú;
1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte;
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes;
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1982 - Rio de Janeiro RJ - Giovanni Battista Castagneto 1851-1900: o pintor do mar, na Acervo Galeria de Arte;
1982 - Rio de Janeiro RJ - Pintores Fluminenses, no MAM/RJ;
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap;
1982 - São Paulo, SP - Pintores Italianos no Brasil, no MAM/SP;
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes;
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC;
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR;
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André;
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal;
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp;
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado;
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII - XX, no Masp;
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado;
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor;
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis,, no CCBB;
1989 - São Paulo SP - Pintura Brasil Século XIX e XX: obras do acervo Banco Itaú, na Itaugaleria;
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB;
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil, 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA;
1993 - Santos SP - Seis Grandes Pintores, na Pinacoteca Benedito Calixto;
1994 - Rio de Janeiro RJ - Iconografia da Paisagem;
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado;
1995 - Campinas SP - Da Marinha à Natureza Morta;
1997 - Rio de Janeiro RJ - Giovanni Battista Castagneto: 1851-1900, na Pinakotheke;
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Espaço Cultural da Marinha;
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs;
2000 - São Paulo SP - 51º Salão Paulista de Belas Artes, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - homenageado;
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal;
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp;
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado;
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap;
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural;
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty;
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro;
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB;
2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB;
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos;
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB.
Fonte: CASTAGNETO . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 12 de jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Retrato do Pintor Castagneto , 1880 , Estêvão Silva, Reprodução Fotográfica Lamberto Scipioni
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Biografia Wikipédia
Primeiros passos
Na Itália, em sua cidade natal, Gênova, Giovanni Battista Castagneto era um marinheiro. Exercia a profissão com o pai, Lorenzo Di Gregorio Castagneto. Em 1874, junto ao seu pai, o futuro pintor chegou ao Rio de Janeiro. Sem muitas informações sobre sua aptidão para arte e afazeres na Itália, ao chegar, seu pai o matriculou na Academia Brasileira de Belas Artes. Como tinha uma idade avançada, falsificou seus documentos e conseguiu ingressar o aspirante nas aulas de desenho geométrico, desenho figurativo e matemática, no começo do curso.
Muitos estudiosos e contemporâneos do artista já declaravam seu talento e proatividade em melhorar e incrementar sua produção. Sua produção em relação às marinhas, ao mar, o barco e as pessoas foi objeto de estudo do pintor desde seus tempos. Deixando claro seu amor e sua admiração pelo movimento e pelo ato de navegar, como indicado por Donato Mello Júnior, ao dizer que o pintor “produziu grande parte de sua obra embarcando numa canoa, pintando em fundo de caixas de charutos, sinal de sua pobreza”, que fora criado com isso junto ao seu pai, Lorenzo. Em A Arte Brasileira, livro produzido pelo crítico Gonzaga Duque, em 1888, o autor escreveu:
"Ele aprendeu consigo próprio. Arranjou uma caixa de tintas, comprou cartões e telas, alugou um bote e partiu para uma viagem à volta das nossas praias. Não quis saber de leis nem de regras. Precisava unicamente da natureza, da natureza vigorosa, para seus estudos de visu. Passava uma falua de velas enfunadas; e, febril, o punho ligeiro, a vista firme, esboçava-a num cartão, em três, quatro segundos. Uma onda corcoveava, contorcia-se, levantava-se rugindo, vinha abater-se às bordas da sua embarcação; pois bem, durante esse tempo os seus pincéis acompanhavam na tela o seu movimento, e quando ela abatia-se, os pincéis cessavam de trabalhar. A onda morria, no mar, fundindo-se com o grosso da água; mas, na tela, ficava viva, tumultuosa, arqueando o dorso, bramindo. Uma rajada de vento soprava de sudoeste: nuvens rolavam no céu; o mar cuspia. E quando à rajada sucedia a quietude, o artista tinha mais uma tela pronta."
Nas aulas, Castagneto se destacava e chamava atenção de seus professores. Alguns deles como Victor Meirelles e João Zeferino da Costa. Zeferino, em 1883, o chamou para trabalhar nas obras de reforma da Igreja da Candelária. Como assistente, Castagneto passou a melhorar suas aptidões e logo em seguida, em julho daquele ano, passou a dar aula de desenho em algumas escolas locais.
Primeira exposição
De 1882 a 1884, Castagneto foi instruído por Georg Grimm. Trabalho junto ao pintor e, após a quebra de Grimm com a Academia Brasileira, Giovanni ajudou-o a estabelecer o estúdio do Grupo Grimm na praia de Boa Viagem, em Niterói, se tornando o primeiro membro do grupo, que depois contaria com Antônio Parreiras e Hipólito Boaventura Carón.
A prova que Castagneto já se destacava em entre os alunos da Academia veio em 1884, quando, junto ao pintor Georg Grimm, conquistou medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes. Causou espanto, a surpresa foi grande e consagrou-se definitivamente como pintor após esta conquista.
Com isso, alguns afazeres vieram. Castagneto passou a lecionar também no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro e no Liceu de Niterói. Com seu desempenho e constante melhoria, após três exposições produzidas, em 1886 conquistou seu lugar no Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, e conseguiu expor suas obras individualmente pela primeira vez em sua vida, na Casa Vietas, onde já avia exposto junto com outros pintores. Nesta exposição algumas obras, como Praia de Santa Luzia, Porto do Rio de Janeiro, Praia e Igreja de Santa Luzia, Santa Casa de Misericórdia e Praia de Santa Luzia no Rio de Janeiro, Faluas Ancoradas na Ponta do Caju no Rio de Janeiro, Embarcações atracadas a um cais na Baía do Rio de Janeiro, Praia e Igreja de Santa Luzia (2), Marinha com Barco, Canoa a seco na Praia em Angra dos Reis, Rua de Santa Luzia, Rio de Janeiro, Embarcações ancoradas no Porto do Rio de Janeiro, Pedras à Beira Mar na Praia de Icaraí, Estação de Bondes e Cocheiras da Linha de Carris Vila Guarani na Antiga Praia Formosa, Navio Ancorado, Praia de Santa Luzia a Noite, No Varadouro – Rio de Janeiro, no Varadouro – Angra dos Reis, Niterói, marinha com barco e Marinha já estavam prontas para exposição.
No ano seguinte, Castagneto deixou de lecionar no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro e expôs na Glace Élégante. Ainda sim, após algumas recusas pela Academia de Belas Artes, as frustações do artista cresceram. As críticas que os jornais promoveram “causaram profunda amargura no artista” segundo Gonzaga Duque, o que fez com que a produção tornou-se irregular e o artista parasse certo período de produzir suas obras. Mesmo com esses empecilhos e uma vida desregrada já neste início, em 1890, o artista expõe seu trabalho na redação do jornal O Faro, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Após este feito, parte rumo à França, com ajuda dos amigos que o incentivam a viajar em virtude de maior aprendizado mediante sua obra já produzida.
A retomada de Castagneto
Na França, Castagneto tem suas primeiras experiências em Paris. Logo nos primeiros contatos na Academia de Belas Artes de Paris, o artista italiano conheceu o administrador na época, Frédéric Montenard (1849 – 1926), que também é um artista que pinta barcos e marinhas. Montenard, como já havia fundado um ateliê em Toulon (sua localização está no mapa a direita) tem muito conhecimento deste tipo de arte marinha. Com seus contatos e alguns artistas que frequentavam seu ateliê, indica a Castagneto o marinhista François Nardi (1861 – 1936).
Nardi era um artista, segundo Montenard, com muito talento e foi convencido de ir a Paris estudar com ele na Sociedade de Belas Artes. Por uma contribuição, François aceitou ensinar Castagneto. Nardi era conhecido por uso de cores mais vivas, que davam diferentes aspectos de luz e sombra somados aos formalismos das peças. Certos aspectos que diferenciariam de sua pintura produzida no Brasil. O pintor francês tinha aspectos envolvidos com os efeitos de luz na água, sua atmosfera junto aos barcos e a praia. Com a desistência de Frédéric Montenard em sua empreitada às águas do atlântico, junto com Giovanni, retorna ao seu ateliê e volta a lecionar na Academia de Belas Artes de Toulon. Presidido e orientado por Nardi, Castagneto aprende diferentes tonalidades e efeitos de luz diante das cores, composições que mudam sua obra e retomam o trabalho do artista, empolgado com os novos aspectos.
Ao voltar para o Brasil, em 1893, o manejo volta. A regularidade torna-se orgulhosa aos olhos do artista e da crítica. Giovanni Castagneto então produz suas peças mais conhecidas, como a Marinha do Barco (1895) e Trecho da Praia de São Roque em Paquetá (1898). O primeiro em viagens pelo Brasil, especificamente em São Paulo, onde percorre os rios que pertencem a cidade em algumas de suas exposições e produções. A vinda de Castagneto a São Paulo foi motivada pelas exposições de Antonio Parreiras e Francisco Aurélio de Figueiredo e Mello, pois ambas obtiveram sucesso de vendas. Como em Paris, João Battista não tinha predileção pela modernidade. A área urbana foi ignorada pelo autor, que passou o ano de 1895 praticamente entre São Paulo e Santos, onde realizou duas exposições individuais: no salão nobre do Banco União de São Paulo, de junho a aproximadamente agosto e no Salão de Concertos da Paulicéia, em outubro. Nesta época o artista teve grande sucesso de vendas com os colecionadores locais. De São Paulo a Santos, Castagneto passou a pintar trechos de sua viagem em busca das paisagens e da natureza, principalmente pela esfera aquática.
Já na segunda obra, mostra o quase fim de sua vida. De 1897 a 1898 a Ilha de Paquetá foi sua casa, comprada com o dinheiro que ganhou no Estado de São Paulo até sua saúde tornar-se precária. Gonzaga conta que Giovanni Battista Castagneto sempre teve um comportamento rebelde, “parecido com o mar”, que não atendia convenções e era bem boêmio. Sua condição precária e física muito fraca, a falta de cuidado culminou em uma série de doenças. Todavia, sem muitos cuidados e muita embriaguez, o artista faleceu na Casa de Saúde Ferreia Leal, no Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro.
Características de sua obra
Algo que permitiu que Castagneto possui-se certa fama e eclodisse no mundo das artes no Rio de Janeiro é o aspecto marinho que se consistia na época. Sua tradição paisagística e amor pela marinha combinavam com os anseios de Dom Pedro II. O artista não pintava quadros enormes como Eduardo De Martino e Gustave James, porém, tinha essa característica específica do mar, diferente dos outros artistas que foram convidados a pintar barcos enormes e paisagens confrontadas com a batalha do Paraguai, por exemplo.
Castagneto possui uma tela com barco enorme, salvo no MASP, intitulado A Grande Gala na Baía do Rio de Janeiro (1887), todavia, é um quadro abruptamente atípico diante de sua obra. Sua autoria sempre remeteu a pequenas embarcações, recantos da praia, baía e a própria marinha, como mostra Gonzaga Duque:
“Toda a atenção do artista convergiu para a vida humilde dos pescadores, para os míseros recantos de beira-mar, onde a paisagem, se não houvesse colmo de gente da pesca, que traduzisse a poesia de sua existência obscura, pudesse lembrá-la pela proximidade da terra”.
No começo de sua história com a arte, Castagneto produz pinturas de acordo com a natureza e principalmente a marinha. O aspecto canônico e arquetípico do navegante pobre na canoa em direção nenhuma apenas com seus materiais para pintura é vivido por Giovanni. Sua experiência no mar e na experiência de vida que teve junto ao seu pai Lorenzo foram aspectos importantes em sua pintura. Principalmente se colocando em certos aspectos dentro de sua obra.
Filho de um lobo-mar, de um velho nauta do Mediterrâneo, deixa claro a preferência pela inconstância do mar. Há um aspecto do impressionismo colocado nessa agressividade das águas marinhas que se debruçam sobre os rochedos, areia e marinha. Todavia, diferente dos aspectos megalomaníacos e medievais, Castagneto tem um aspectos sintético e rápido em sua obra. O suporte improvisado em suas andanças sem rumo estão presentes nesta técnica que era natural, devido a necessidade.
Após o prêmio em 1887 sua obra passou a ter um aspecto mais pessoal diante dos pescadores. Passou a retratar a vida humilde de alguns pescadores que se encontravam no recanto das baías. Os barcos colocados a seco, com maltrapilhos e cangas brancas esticadas, manchadas, em contra partida a navegações grande ao fundo da tela, são aspectos que Castagneto passou a tomar como forma em sua obra. Tudo isso movido a cores padecidas e proximidade com a terra, deixando claro que os recantos eram produzidos para gente da pesca, traduzindo até uma poesia obscura diante do mar já possessivo pelas grandes embarcações.
Depois das constantes frustrações e viagem pela França, o traçado de Castagneto volta a tomar forma e simplicidade, todavia, agora conta com novos aspectos pictóricos, cores e também movimentações da água e da praia. Há uma gestualidade maior dentro de seus pincéis, desenhos rigorosos que marca formas e desestruturam-se entre si nesta simplicidade dos acontecimentos nas pinturas:
(...) Ora, é uma marinha de uma tonalidade suave e leve, com um pequeno barco ao centro dando ao conjunto um encanto todo sereno e feliz. Ora, é o rancho da praia coberto de leprosas telhas desmanteladas pelo vento. Aqui é um assunto tomado ao cair da tarde. O sol desaparece, lentamente, do céu; nuvens caliginosas, formadas em massas largas e caprichosas, vagueiam pelo ar; o horizonte tinge-se de uma cor alaranjada, intensa, vívida; ao longe montes azulados, perdidos no silêncio do espaço, como muralhas enormes de uma cidadela invencível. No mar, ao quente reflexo dos últimos raios do sol, de velas abertas às virações repentinas, correm faluas bojudas. Ali é uma vista do arsenal de guerra, apanhada da praia de Santa Luzia. Ao fundo, além, muito além, rola o mar as vagas e vem tumultuoso, irrequieto, espojar-se à praia em um dolente e bruto espreguiçar. O sol banha a natureza. Os telhados e as paredes caiadas das oficinas do arsenal, iluminadas pela luz risonha, parecem dilatar no quadro um longo riso de força diante do mar que geme na areia".
Sempre com formas um tanto quanto pessoais, as pinturas de Castagneto tomaram forma de acordo com o sentido de sua vida. Ao fim de 1896, já com aspectos ébrios e tomados pelo boêmia, o autor possuía pinceladas forte e agressivas, de modo progressivo, que Carlos Maciel Levy indicou como a volta da simplicidade, mas muito mais representativa. Ainda sim, deixa claro o importante momento em que viveu, que, de acordo com o autor, “Castagneto morreu com o único período que, na história, poderia comportar sua arte romântica e aberta; mais cedo, teria sido podada como manifestação de loucura; mais tarde, interpretada como um simplismo piegas e reacionário (...)"
Fases pictóricas
Em primeiro ponto é claro destacar que Giovanni Castagneto tem um traçado gestual livre, com tendências ao monocromatismo. Seu amor pela navegação provém de seu pai, porém, a natureza e seus aspectos em movimento tem forte tendência de Georg Grimm.
Em sua segunda fase, após sair da Acadêmia de Belas Artes, muitos o destacam como impressionista, porém, neste sentido histórico e positivista, a tentativa de demarcar o autor em escolas é um tanto quanto complicada. Sua sensibilidade, segundo Gonzaga e Maciel deve-se muito ao romantismo, pois interpreta a natureza de acordo com seus sentimentos mais pessoais, como por exemplo a escolha dos barcos e dos pescadores, onde tomam pinceladas impulsivas e violentas para deixar claro o espaçamento farto e o corte de figuras desenhadas. Começam-se a desenhar seus aspectos consolidados após Toulon, onde aprendeu com François Nardi.
Com o francês as tonalidades mudam, os sentimentos de revoltam aumentam, as paletas de cores mudam e os traçados são violentos. Um lirismo que, segundo Gonzaga Duque, aliado a execução rápida entregam o pintor manso e irascível: "Como o mar o seu temperamento é rebelde" e "Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todo os enlevos, toda a poesia das vagas".
Questão das séries
Um fato curioso na obra de Castagneto é a que ao longo de sua produção artística, Castagneto realizou uma grande quantidade de obras que repetem um mesmo motivo. Por vezes os elementos são os mesmos e as alterações consistiam no enquadramento do artista, seu tratamento técnico e o suporte no qual utilizava para produzir as telas, assim, muitas vezes mudando o material. O método que o artista utiliza sugere uma questão de pintura em série, principalmente por representar certos locais mais de uma vez, como Paquetá e Niterói, com diferentes pontos de vista. Todavia, não pode ser afirmada, apenas seu objeto de desejo.
A vida bucólica, os pescadores e principalmente a atmosfera marinha são objetos que João Batista não deixa passar. Podemos assim, destacar a modernidade de Castagneto na técnica, já a capacidade de produzir diferentes elementos de uma mesma realidade são ações pela qual não são tão comuns para a época. O ambiente francês parece ter favorecido essa criação e a inovação do artista.
Curiosidades
Segundo o biógrafo do pintor, Carlos Roberto Maciel Levy, Castagneto, ao pretender ingressar na Academia, em 1877, já tinha 23 anos. Como contado acima, o pai, ao querer a admissão do filho na Belas Artes, falseou informações ao declarar que residia na Brasil desde 1862 e que Giovanni Battista completara 16 anos de idade. Portanto, Castagneto nasceu em 1862. Desta maneira, ao falecer em 1900, já contava com quase cinquenta anos e não apenas trinta e oito como anteriormente se acreditava.
Tinha um grau de instrução muito precário, beirando o analfabetismo, como provam os exames que realizou na Academia. Apesar disso, foi aceito como ouvinte.
Ao total de suas telas, que beiram quase 30 obras cadastradas oficialmente, apenas duas foram encomendadas.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 12 de janeiro de 2018.
Giovanni Battista Felice Castagneto (Gênova, Ligúria, Itália, 27 de novembro de 1851 — Rio de Janeiro, RJ, 29 de dezembro de 1900), conhecido como Castagneto, foi um pintor, desenhista, restaurador, professor e marinheiro italiano radicado no Brasil, que contribuiu imensamente com os trabalhos relacionados a paisagística brasileira, principalmente da questão marinha, do final do Século XIX.
Biografia Itaú Cultural
Exerce a profissão de marinheiro em Gênova. Acompanhado de seu pai, vem para o Rio de Janeiro em 1874. Em 1878, matricula-se nos cursos de desenho figurado, desenho geométrico e matemática na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), onde estuda até 1884, tendo como professores Zeferino da Costa (1840 - 1915) e Victor Meirelles (1832 - 1903), entre outros. De 1882 a 1884 é orientado por Georg Grimm (1846 - 1887) e, quando este rompe com a Academia, acompanha-o na instalação do seu ateliê ao ar livre na Praia de Boa Viagem, em Niterói, e integra o Grupo Grimm. Leciona desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e no Liceu de Niterói. Expõe individualmente pela primeira vez no Rio de Janeiro, na Casa Vieitas, em 1886. Viaja para a França em 1890, onde conhece o pintor Frédéric Montenard (1849 - 1926), que o aconselha a estudar com o marinhista François Nardi (1861 - 1936). Volta ao Brasil em 1893 e, no ano seguinte, inaugura exposição individual na Escola Nacional de Belas Artes - Enba com obras produzidas em Toulon, França. Considerado um importante pintor de marinhas e paisagens litorâneas, o artista continua aperfeiçoando-se nesta temática até a maturidade de sua produção, alcançada com as experiências no litoral da França. As marinhas produzidas nos últimos dez anos de vida revelam o completo domínio técnico sugerido pelas composições equilibradas, pela depuração cromática e pelo tratamento pessoal conferido à superfície pictórica.
Análise
Giovanni Battista Castagneto nasce em Gênova e vai para o Rio de Janeiro em 1874. Ingressa na Aiba, em 1878, onde estuda, entre outras disciplinas, paisagem com Georg Grimm, entre 1882 e 1884, ano em que Grimm deixa a Aiba. Desde o início volta-se para a representação da natureza, em especial a pintura de marinhas. Seus primeiros trabalhos já revelam as características essenciais de sua produção: as pinceladas livres, o forte gestualismo e tendência ao monocromatismo, como vemos, por exemplo, em Trapiche na Baía do Rio de Janeiro (1883).
Em 1884, acompanha Grimm quando ele rompe com a Aiba e cria um ateliê ao ar livre, na Praia de Boa Viagem em Niterói. A admiração pela obra de Georg Grimm está na percepção da paisagem, escolha de motivos, sintetização dos elementos e restrição da paleta, como no quadro Porto do Rio de Janeiro (1884). Castagneto tem uma atividade intensa na pintura, caracterizada pela elaboração de diversas séries de obras, que permitem avaliar o estudo que o artista faz da natureza e das mutações da atmosfera marinha. Desloca-se com freqüência para Niterói, onde os alunos de Grimm se reúnem, fixando aspectos do litoral. Representa muitas vezes a praia de Santa Luzia: os efeitos da luz no mar e as reformas da igreja. Realiza uma série de marinhas de Angra dos Reis, de pincelada larga e agressiva, pintadas do natural, em que predominam os verdes e o cinzas.
O artista revela uma sensibilidade romântica, por meio da qual interpreta a natureza. Assim, suas representações do mar ou dos botes a seco, são carregadas de sentimento. O tratamento pictórico é impulsivo e quase violento, percebe-se a pincelada cortante e o empastamento farto. Representa embarcações de pesca, simples canoas, que adquirem dignidade e imponência, como em Canoa a Seco na Praia em Angra dos Reis (1886).
Em 1887, pinta o quadro Uma Salva de Grande Gala na Baía do Rio de Janeiro, concebido nos modelos da Academia, para concorrer ao prêmio de viagem. A recusa do quadro pela Aiba e as críticas publicadas nos jornais, causaram profunda amargura no artista, cuja produção, nos anos seguintes, torna-se irregular. Viaja para a França em 1890, com o auxílio de amigos. Lá tem contato com Frédéric Montenard (1849 - 1926), pintor francês viajante, que possui especial afeição por temas marinhos. Por intermédio dele conhece o francês François Nardi (1861 - 1936), também pintor de marinhas, com quem reside por um tempo em Toulon. Concentra-se nas cenas de pesca e no estudo da atmosfera marinha. Seus temas são os botes a vela, muito coloridos, que ocupam enseadas próximas à cidade, como em Barco de Pesca Ancorado em Toulon (1892) ou os efeitos de luz na água, como em Vista de Mourillon (1892). Durante a estada em Toulon a paleta de Castagneto se diversifica, trabalha as cores com mais liberdade e o desenho se estrutura. Em relação à produção anterior, o período francês representa certo enfraquecimento da potência romântica, pela adaptação aos cânones e busca de maior controle dos valores pictóricos.
De volta ao Brasil, seu fazer artístico consolida-se. Observa-se em suas obras o retorno à gestualidade no manejo dos pincéis, as cores tornam-se mais sutis e muito suaves, em relação às paisagens pintadas em Toulon. O desenho rigoroso, que marca os contornos das formas, se desestrutura, como pode ser visto em Trecho da Praia de São Roque em Paquetá (ca.1898). Predominam em seus quadros as cores claras, tons límpidos e transparentes, o uso de azuis-cinza, nuances de amarelo e verde-água. Destacam-se a fatura original dos trabalhos e o tratamento personalíssimo da superfície pictórica: os empastamentos muitas vezes são trabalhados com a espátula, em certos pontos, até com o polegar. A paisagem da ilha de Paquetá torna-se, desde 1896, o ambiente preferencial de suas pinturas.
Castagneto é descrito por seus contemporâneos como um homem à margem da sociedade, boêmio, inconformado com as convenções. O crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911), descreve o pintor como manso e irascível, afirmando que "Como o mar o seu temperamento é rebelde" e "Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todo os enlevos, toda a poesia das vagas".1 Sua pintura apresenta suavidade e violência, alia a execução rápida e angustiada a um grande lirismo.
Críticas
"Despreocupado com o desenho, como os impressionistas franceses, o pintor preocupa-se em captar a luz através da pintura, fixar o fugidio, com uma preferência temática: a luz sobre a água, à beira-mar, quase sempre. Nesta obra, as formas se desfazem através da bruma-luz à distância, e, em primeiro plano, os diversos elementos são compostos como manchas de cor, que ele aplica sobre a superfície da tela. Em geral seus quadros são de pequenas dimensões e dão a impressão, vistos de perto, de serem manchados com a cor, ora aplicada sobre a tela obedecendo a um certo ritmo, ora apresentando uma grafia desordenada e mesmo nervosa, denunciando uma execução rápida. (...) Talvez por influência do fascínio pelo mar, seu ateliê era um barco que se deslocava na Baía de Guanabara, que ele fixou em vários de seus aspectos".
Equipe da Pinacoteca do Estado (Rio de Janeiro: Funarte, 1982.)
"Foi em tarefa na qual muitos vagaram no marasmo da mesmice que Castagneto avultou e revelou o máximo do seu poder criador, o pleno domínio da técnica. Mas, para tanto alcançar, serviu-se de larga e funda experiência de vida, conhecedor que era do mar, em seu conjunto e suas nuanças. Entretanto, Castagneto não deixa de construir uma unidade conflituosa entre o mar e o homem e daí a variedade de cenários com os quais travamos conhecimento, à medida que repontam as ocorrências de seu cotidiano. E é nesse sentido que vamos encontrar toda uma extraordinária riqueza espiritual, sempre presente nas diversas obras que compõem o conjunto de sua produção".
Alcídio Mafra de Souza (LEVY, Carlos Roberto Maciel. Giovanni Battista Castagneto:1851-1900: o pintor do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
"Ao longo de 1896 consolidam-se os elementos que projetariam de modo progressivo e radical a vida e a obra de Giovanni Battista Castagneto em direção a um processo estrutural de simplificação. No plano da existência, até então, sua vida fora uma persistente sucessão de lutas caracterizadas pelo inconformismo e pelo temperamento libertário (...). Foi ele um homem à margem da sociedade, insatisfeito com os protocolos que ela exigia e revoltado contra as convenções que impunha. Mas, antes que pudesse, em seu universo intelectual ingênuo e inculto, estabelecer os paradigmas contra os quais desejaria se opor e combater, viu-se adulado, querido e 'compreendido' pelas camadas dominantes dessa sociedade, que sobre ele projetaram, discretamente, os seus próprios anseios de independência. (...) Findara o século XIX e abria-se, com o século XX, uma era de progresso, revoluções e transformações radicais no comportamento, nas idéias e nas possibilidades da humanidade. Castagneto morreu com o único período que, na história, poderia comportar sua arte romântica e aberta; mais cedo, teria sido podada como manifestação de loucura; mais tarde, interpretada como um simplismo piegas e reacionário (...)".
Carlos Roberto Maciel Levy (Giovanni Battista Castagneto:1851-1900: o pintor do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
"Castagneto (João Batista) é original. Filho de um lobo-do-mar, de um velho nauta embalado pelas vagas do Mediterrâneo e do Iônio, João Batista Castagneto nasceu artista e nasceu marinheiro. Herdou de seu pai o amor pela misteriosa inconstância do mar, recebeu da sua querida Itália o bafo quente da impressionalidade artística. Como o mar o seu temperamento é rebelde. Ama e odeia. É manso e é irascível. Um dia pensou que o estudo acadêmico, em vez de fazê-lo progredir, vinha impedir-lhe os passos; e rasgou, de um momento para outro, os motivos que o prendiam à Academia. Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todos os enlevos, toda a poesia das vagas. A voz tormentosa das águas, o doudo soluçar das ondas, as ciclópicas lutas do oceano vibram dentro dele estranhas cordas sonoras de um sentimentalismo que a mais ninguém a natureza deu. E, como o mar, a sua pintura é forte e é doce, é rápida e é vagarosa, tem asperezas e tem carícias, parece transparente e parece compacta, brilha e se entenebrece. (...)
Quando lhe falta tempo para mudar pincéis, maneja um só, mergulhando-o em diversas tintas, ou pinta com os dedos, com as unhas, com a espátula, com o primeiro objeto que tiver à mão: um seixo resistente, um pedaço de pau, um pedaço de corda, um palito, o cano do cachimbo, a ponta do cigarro.
(...) Ora, é uma marinha de uma tonalidade suave e leve, com um pequeno barco ao centro dando ao conjunto um encanto todo sereno e feliz. Ora, é o rancho da praia coberto de leprosas telhas desmanteladas pelo vento. Aqui é um assunto tomado ao cair da tarde. O sol desaparece, lentamente, do céu; nuvens caliginosas, formadas em massas largas e caprichosas, vagueiam pelo ar; o horizonte tinge-se de uma cor alaranjada, intensa, vívida; ao longe montes azulados, perdidos no silêncio do espaço, como muralhas enormes de uma cidadela invencível. No mar, ao quente reflexo dos últimos raios do sol, de velas abertas às virações repentinas, correm faluas bojudas. Ali é uma vista do arsenal de guerra, apanhada da praia de Santa Luzia. Ao fundo, além, muito além, rola o mar as vagas e vem tumultuoso, irrequieto, espojar-se à praia em um dolente e bruto espreguiçar. O sol banha a natureza. Os telhados e as paredes caiadas das oficinas do arsenal, iluminadas pela luz risonha, parecem dilatar no quadro um longo riso de força diante do mar que geme na areia".
Gonzaga Duque (A arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p. 198-200.)
"A fusão entre arte e vida, todavia, ele a encontrou na pintura de marinhas. Esse gênero desfrutava de certa fortuna no Brasil: D. Pedro II amava as marinhas e os navios de guerra. Antes de Castagneto, contudo, a história da pintura de marinhas no Brasil já contava com o minucioso modelismo naval de Eduardo De Martino, presente nas coleções imperiais, e com as marinhas 'elétricas' de Émile Rouède, assim denominadas porque pintadas de pronto e não raro de memória. Estas certamente influenciaram a técnica do jovem Castagneto. Daí ele extraiu o amor pela técnica rápida e sintética e pelo suporte improvisado - cartão, fundo de caixas de charuto, pratos, palhetas e até mesmo, num caso, uma pele de bacalhau seco. Também a lembrança de De Martino está presente na única tentativa ambiciosa de uma grande marinha histórica produzida pelo pintor, Salva na Baía de Guanabara em Homenagem a Dom Pedro II, hoje no Museu de Arte de São Paulo, Masp, pintada para obter uma viagem-prêmio da Academia, em 1887.
Foi a maior decepção do artista, nada talhado para esse tipo de celebração. A pintura de Castagneto necessitava de outros temas: 'Toda a atenção do artista convergiu para a vida humilde dos pescadores, para os míseros recantos de beira-mar, onde a paisagem, se não houvesse colmo de gente da pesca, que traduzisse a poesia de sua existência obscura, pudesse lembrá-la pela proximidade da terra'.
Para Castagneto, o pintor do mar, o mar era um estado de alma e a pintura, uma forma de vida. Vivia na praia de Santa Luzia, numa casa que parecia um barco. Qualquer objeto lhe servia para fixar a lembrança de um trecho de praia ou para copiar um tema. Apoderava-se, então, do tema com o traço febril da mão e com grande economia de meios, até transfigurá-lo numa imagem simplificada e rápida, a fim de não perder a força da sensação.
Em certos pontos, percebem-se a violência do gesto, o uso de instrumentos improvisados e até mesmo do polegar, à maneira dos escultores. Os botes a seco de Castagneto ultrapassam os limites de gênero, atingido, não raro, o domínio da expressão lírica, como nos cascos-hieróglifos de De Fiori, Volpi, ou nas areias deslumbrantes de Pancetti.
Por fim, conseguiu viajar para o sul da França, onde foi estudar com um marinhista então famoso, François Nardi. Retornou ébrio de luz. Capturou-a em quadros como O Forte de Gragoatá, no MNBA, mas, confuso e doente, a morte precoce veio içá-lo para fora da ressaca".
Luciano Migliaccio (MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 129-130.)
Acervos
Acervo Instituto Itaú Cultural (São Paulo SP)
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (São Paulo SP)
Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro RJ)
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA (Rio de Janeiro RJ)
Exposições Individuais
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vieitas;
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vieitas;
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1889 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1890 - Juiz de Fora MG - Individual, na redação do jornal O Farol;
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no salão do jornal O Paiz;
1894 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba;
1895 - São Paulo SP - Individual, no Salão de Concertos da Paulicéia;
1895 - São Paulo SP - Individual, no Banco União;
1896 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Papelaria Gomes;
1897 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Papelaria Gomes.
Exposições Coletivas
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de ouro;
1885 - Rio de Janeiro RJ - Loja Laurent de Wilde: mostra inaugural, na Loja de Laurent de Wilde;
1885 - Rio de Janeiro RJ - Castagneto e França Júnior, na Casa Vieitas (Rio de Janeiro, RJ);
1887 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras, Castagento e Henrique Bernardelli, no Grêmio de Letras e Artes;
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1894 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1895 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1898 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Retrospectiva, no Centro Artístico.
Exposições Póstumas
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no Museu Nacional Belas Artes;
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século de Pintura Brasileira: 1850-1950, no Museu Nacional Belas Artes;
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados;
1961 - Rio de Janeiro RJ - O Rio na Pintura Brasileira, na Biblioteca Estadual da Guanabara;
1963 - Assunção (Paraguai) - La Pintura en el Brasil;
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970, na Pinacoteca do Estado;
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana;
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no Museu Nacional Belas Artes;
1978 - São Paulo SP - Individual, na Sociarte;
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Ochenta Años de Arte Brasileño, no Banco Itaú;
1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte;
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes;
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1982 - Rio de Janeiro RJ - Giovanni Battista Castagneto 1851-1900: o pintor do mar, na Acervo Galeria de Arte;
1982 - Rio de Janeiro RJ - Pintores Fluminenses, no MAM/RJ;
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap;
1982 - São Paulo, SP - Pintores Italianos no Brasil, no MAM/SP;
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes;
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC;
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR;
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André;
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal;
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp;
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado;
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII - XX, no Masp;
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado;
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor;
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis,, no CCBB;
1989 - São Paulo SP - Pintura Brasil Século XIX e XX: obras do acervo Banco Itaú, na Itaugaleria;
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB;
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil, 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA;
1993 - Santos SP - Seis Grandes Pintores, na Pinacoteca Benedito Calixto;
1994 - Rio de Janeiro RJ - Iconografia da Paisagem;
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado;
1995 - Campinas SP - Da Marinha à Natureza Morta;
1997 - Rio de Janeiro RJ - Giovanni Battista Castagneto: 1851-1900, na Pinakotheke;
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Espaço Cultural da Marinha;
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs;
2000 - São Paulo SP - 51º Salão Paulista de Belas Artes, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - homenageado;
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal;
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp;
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado;
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap;
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural;
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty;
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro;
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB;
2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB;
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos;
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB.
Fonte: CASTAGNETO . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 12 de jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Retrato do Pintor Castagneto , 1880 , Estêvão Silva, Reprodução Fotográfica Lamberto Scipioni
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Biografia Wikipédia
Primeiros passos
Na Itália, em sua cidade natal, Gênova, Giovanni Battista Castagneto era um marinheiro. Exercia a profissão com o pai, Lorenzo Di Gregorio Castagneto. Em 1874, junto ao seu pai, o futuro pintor chegou ao Rio de Janeiro. Sem muitas informações sobre sua aptidão para arte e afazeres na Itália, ao chegar, seu pai o matriculou na Academia Brasileira de Belas Artes. Como tinha uma idade avançada, falsificou seus documentos e conseguiu ingressar o aspirante nas aulas de desenho geométrico, desenho figurativo e matemática, no começo do curso.
Muitos estudiosos e contemporâneos do artista já declaravam seu talento e proatividade em melhorar e incrementar sua produção. Sua produção em relação às marinhas, ao mar, o barco e as pessoas foi objeto de estudo do pintor desde seus tempos. Deixando claro seu amor e sua admiração pelo movimento e pelo ato de navegar, como indicado por Donato Mello Júnior, ao dizer que o pintor “produziu grande parte de sua obra embarcando numa canoa, pintando em fundo de caixas de charutos, sinal de sua pobreza”, que fora criado com isso junto ao seu pai, Lorenzo. Em A Arte Brasileira, livro produzido pelo crítico Gonzaga Duque, em 1888, o autor escreveu:
"Ele aprendeu consigo próprio. Arranjou uma caixa de tintas, comprou cartões e telas, alugou um bote e partiu para uma viagem à volta das nossas praias. Não quis saber de leis nem de regras. Precisava unicamente da natureza, da natureza vigorosa, para seus estudos de visu. Passava uma falua de velas enfunadas; e, febril, o punho ligeiro, a vista firme, esboçava-a num cartão, em três, quatro segundos. Uma onda corcoveava, contorcia-se, levantava-se rugindo, vinha abater-se às bordas da sua embarcação; pois bem, durante esse tempo os seus pincéis acompanhavam na tela o seu movimento, e quando ela abatia-se, os pincéis cessavam de trabalhar. A onda morria, no mar, fundindo-se com o grosso da água; mas, na tela, ficava viva, tumultuosa, arqueando o dorso, bramindo. Uma rajada de vento soprava de sudoeste: nuvens rolavam no céu; o mar cuspia. E quando à rajada sucedia a quietude, o artista tinha mais uma tela pronta."
Nas aulas, Castagneto se destacava e chamava atenção de seus professores. Alguns deles como Victor Meirelles e João Zeferino da Costa. Zeferino, em 1883, o chamou para trabalhar nas obras de reforma da Igreja da Candelária. Como assistente, Castagneto passou a melhorar suas aptidões e logo em seguida, em julho daquele ano, passou a dar aula de desenho em algumas escolas locais.
Primeira exposição
De 1882 a 1884, Castagneto foi instruído por Georg Grimm. Trabalho junto ao pintor e, após a quebra de Grimm com a Academia Brasileira, Giovanni ajudou-o a estabelecer o estúdio do Grupo Grimm na praia de Boa Viagem, em Niterói, se tornando o primeiro membro do grupo, que depois contaria com Antônio Parreiras e Hipólito Boaventura Carón.
A prova que Castagneto já se destacava em entre os alunos da Academia veio em 1884, quando, junto ao pintor Georg Grimm, conquistou medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes. Causou espanto, a surpresa foi grande e consagrou-se definitivamente como pintor após esta conquista.
Com isso, alguns afazeres vieram. Castagneto passou a lecionar também no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro e no Liceu de Niterói. Com seu desempenho e constante melhoria, após três exposições produzidas, em 1886 conquistou seu lugar no Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, e conseguiu expor suas obras individualmente pela primeira vez em sua vida, na Casa Vietas, onde já avia exposto junto com outros pintores. Nesta exposição algumas obras, como Praia de Santa Luzia, Porto do Rio de Janeiro, Praia e Igreja de Santa Luzia, Santa Casa de Misericórdia e Praia de Santa Luzia no Rio de Janeiro, Faluas Ancoradas na Ponta do Caju no Rio de Janeiro, Embarcações atracadas a um cais na Baía do Rio de Janeiro, Praia e Igreja de Santa Luzia (2), Marinha com Barco, Canoa a seco na Praia em Angra dos Reis, Rua de Santa Luzia, Rio de Janeiro, Embarcações ancoradas no Porto do Rio de Janeiro, Pedras à Beira Mar na Praia de Icaraí, Estação de Bondes e Cocheiras da Linha de Carris Vila Guarani na Antiga Praia Formosa, Navio Ancorado, Praia de Santa Luzia a Noite, No Varadouro – Rio de Janeiro, no Varadouro – Angra dos Reis, Niterói, marinha com barco e Marinha já estavam prontas para exposição.
No ano seguinte, Castagneto deixou de lecionar no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro e expôs na Glace Élégante. Ainda sim, após algumas recusas pela Academia de Belas Artes, as frustações do artista cresceram. As críticas que os jornais promoveram “causaram profunda amargura no artista” segundo Gonzaga Duque, o que fez com que a produção tornou-se irregular e o artista parasse certo período de produzir suas obras. Mesmo com esses empecilhos e uma vida desregrada já neste início, em 1890, o artista expõe seu trabalho na redação do jornal O Faro, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Após este feito, parte rumo à França, com ajuda dos amigos que o incentivam a viajar em virtude de maior aprendizado mediante sua obra já produzida.
A retomada de Castagneto
Na França, Castagneto tem suas primeiras experiências em Paris. Logo nos primeiros contatos na Academia de Belas Artes de Paris, o artista italiano conheceu o administrador na época, Frédéric Montenard (1849 – 1926), que também é um artista que pinta barcos e marinhas. Montenard, como já havia fundado um ateliê em Toulon (sua localização está no mapa a direita) tem muito conhecimento deste tipo de arte marinha. Com seus contatos e alguns artistas que frequentavam seu ateliê, indica a Castagneto o marinhista François Nardi (1861 – 1936).
Nardi era um artista, segundo Montenard, com muito talento e foi convencido de ir a Paris estudar com ele na Sociedade de Belas Artes. Por uma contribuição, François aceitou ensinar Castagneto. Nardi era conhecido por uso de cores mais vivas, que davam diferentes aspectos de luz e sombra somados aos formalismos das peças. Certos aspectos que diferenciariam de sua pintura produzida no Brasil. O pintor francês tinha aspectos envolvidos com os efeitos de luz na água, sua atmosfera junto aos barcos e a praia. Com a desistência de Frédéric Montenard em sua empreitada às águas do atlântico, junto com Giovanni, retorna ao seu ateliê e volta a lecionar na Academia de Belas Artes de Toulon. Presidido e orientado por Nardi, Castagneto aprende diferentes tonalidades e efeitos de luz diante das cores, composições que mudam sua obra e retomam o trabalho do artista, empolgado com os novos aspectos.
Ao voltar para o Brasil, em 1893, o manejo volta. A regularidade torna-se orgulhosa aos olhos do artista e da crítica. Giovanni Castagneto então produz suas peças mais conhecidas, como a Marinha do Barco (1895) e Trecho da Praia de São Roque em Paquetá (1898). O primeiro em viagens pelo Brasil, especificamente em São Paulo, onde percorre os rios que pertencem a cidade em algumas de suas exposições e produções. A vinda de Castagneto a São Paulo foi motivada pelas exposições de Antonio Parreiras e Francisco Aurélio de Figueiredo e Mello, pois ambas obtiveram sucesso de vendas. Como em Paris, João Battista não tinha predileção pela modernidade. A área urbana foi ignorada pelo autor, que passou o ano de 1895 praticamente entre São Paulo e Santos, onde realizou duas exposições individuais: no salão nobre do Banco União de São Paulo, de junho a aproximadamente agosto e no Salão de Concertos da Paulicéia, em outubro. Nesta época o artista teve grande sucesso de vendas com os colecionadores locais. De São Paulo a Santos, Castagneto passou a pintar trechos de sua viagem em busca das paisagens e da natureza, principalmente pela esfera aquática.
Já na segunda obra, mostra o quase fim de sua vida. De 1897 a 1898 a Ilha de Paquetá foi sua casa, comprada com o dinheiro que ganhou no Estado de São Paulo até sua saúde tornar-se precária. Gonzaga conta que Giovanni Battista Castagneto sempre teve um comportamento rebelde, “parecido com o mar”, que não atendia convenções e era bem boêmio. Sua condição precária e física muito fraca, a falta de cuidado culminou em uma série de doenças. Todavia, sem muitos cuidados e muita embriaguez, o artista faleceu na Casa de Saúde Ferreia Leal, no Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro.
Características de sua obra
Algo que permitiu que Castagneto possui-se certa fama e eclodisse no mundo das artes no Rio de Janeiro é o aspecto marinho que se consistia na época. Sua tradição paisagística e amor pela marinha combinavam com os anseios de Dom Pedro II. O artista não pintava quadros enormes como Eduardo De Martino e Gustave James, porém, tinha essa característica específica do mar, diferente dos outros artistas que foram convidados a pintar barcos enormes e paisagens confrontadas com a batalha do Paraguai, por exemplo.
Castagneto possui uma tela com barco enorme, salvo no MASP, intitulado A Grande Gala na Baía do Rio de Janeiro (1887), todavia, é um quadro abruptamente atípico diante de sua obra. Sua autoria sempre remeteu a pequenas embarcações, recantos da praia, baía e a própria marinha, como mostra Gonzaga Duque:
“Toda a atenção do artista convergiu para a vida humilde dos pescadores, para os míseros recantos de beira-mar, onde a paisagem, se não houvesse colmo de gente da pesca, que traduzisse a poesia de sua existência obscura, pudesse lembrá-la pela proximidade da terra”.
No começo de sua história com a arte, Castagneto produz pinturas de acordo com a natureza e principalmente a marinha. O aspecto canônico e arquetípico do navegante pobre na canoa em direção nenhuma apenas com seus materiais para pintura é vivido por Giovanni. Sua experiência no mar e na experiência de vida que teve junto ao seu pai Lorenzo foram aspectos importantes em sua pintura. Principalmente se colocando em certos aspectos dentro de sua obra.
Filho de um lobo-mar, de um velho nauta do Mediterrâneo, deixa claro a preferência pela inconstância do mar. Há um aspecto do impressionismo colocado nessa agressividade das águas marinhas que se debruçam sobre os rochedos, areia e marinha. Todavia, diferente dos aspectos megalomaníacos e medievais, Castagneto tem um aspectos sintético e rápido em sua obra. O suporte improvisado em suas andanças sem rumo estão presentes nesta técnica que era natural, devido a necessidade.
Após o prêmio em 1887 sua obra passou a ter um aspecto mais pessoal diante dos pescadores. Passou a retratar a vida humilde de alguns pescadores que se encontravam no recanto das baías. Os barcos colocados a seco, com maltrapilhos e cangas brancas esticadas, manchadas, em contra partida a navegações grande ao fundo da tela, são aspectos que Castagneto passou a tomar como forma em sua obra. Tudo isso movido a cores padecidas e proximidade com a terra, deixando claro que os recantos eram produzidos para gente da pesca, traduzindo até uma poesia obscura diante do mar já possessivo pelas grandes embarcações.
Depois das constantes frustrações e viagem pela França, o traçado de Castagneto volta a tomar forma e simplicidade, todavia, agora conta com novos aspectos pictóricos, cores e também movimentações da água e da praia. Há uma gestualidade maior dentro de seus pincéis, desenhos rigorosos que marca formas e desestruturam-se entre si nesta simplicidade dos acontecimentos nas pinturas:
(...) Ora, é uma marinha de uma tonalidade suave e leve, com um pequeno barco ao centro dando ao conjunto um encanto todo sereno e feliz. Ora, é o rancho da praia coberto de leprosas telhas desmanteladas pelo vento. Aqui é um assunto tomado ao cair da tarde. O sol desaparece, lentamente, do céu; nuvens caliginosas, formadas em massas largas e caprichosas, vagueiam pelo ar; o horizonte tinge-se de uma cor alaranjada, intensa, vívida; ao longe montes azulados, perdidos no silêncio do espaço, como muralhas enormes de uma cidadela invencível. No mar, ao quente reflexo dos últimos raios do sol, de velas abertas às virações repentinas, correm faluas bojudas. Ali é uma vista do arsenal de guerra, apanhada da praia de Santa Luzia. Ao fundo, além, muito além, rola o mar as vagas e vem tumultuoso, irrequieto, espojar-se à praia em um dolente e bruto espreguiçar. O sol banha a natureza. Os telhados e as paredes caiadas das oficinas do arsenal, iluminadas pela luz risonha, parecem dilatar no quadro um longo riso de força diante do mar que geme na areia".
Sempre com formas um tanto quanto pessoais, as pinturas de Castagneto tomaram forma de acordo com o sentido de sua vida. Ao fim de 1896, já com aspectos ébrios e tomados pelo boêmia, o autor possuía pinceladas forte e agressivas, de modo progressivo, que Carlos Maciel Levy indicou como a volta da simplicidade, mas muito mais representativa. Ainda sim, deixa claro o importante momento em que viveu, que, de acordo com o autor, “Castagneto morreu com o único período que, na história, poderia comportar sua arte romântica e aberta; mais cedo, teria sido podada como manifestação de loucura; mais tarde, interpretada como um simplismo piegas e reacionário (...)"
Fases pictóricas
Em primeiro ponto é claro destacar que Giovanni Castagneto tem um traçado gestual livre, com tendências ao monocromatismo. Seu amor pela navegação provém de seu pai, porém, a natureza e seus aspectos em movimento tem forte tendência de Georg Grimm.
Em sua segunda fase, após sair da Acadêmia de Belas Artes, muitos o destacam como impressionista, porém, neste sentido histórico e positivista, a tentativa de demarcar o autor em escolas é um tanto quanto complicada. Sua sensibilidade, segundo Gonzaga e Maciel deve-se muito ao romantismo, pois interpreta a natureza de acordo com seus sentimentos mais pessoais, como por exemplo a escolha dos barcos e dos pescadores, onde tomam pinceladas impulsivas e violentas para deixar claro o espaçamento farto e o corte de figuras desenhadas. Começam-se a desenhar seus aspectos consolidados após Toulon, onde aprendeu com François Nardi.
Com o francês as tonalidades mudam, os sentimentos de revoltam aumentam, as paletas de cores mudam e os traçados são violentos. Um lirismo que, segundo Gonzaga Duque, aliado a execução rápida entregam o pintor manso e irascível: "Como o mar o seu temperamento é rebelde" e "Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todo os enlevos, toda a poesia das vagas".
Questão das séries
Um fato curioso na obra de Castagneto é a que ao longo de sua produção artística, Castagneto realizou uma grande quantidade de obras que repetem um mesmo motivo. Por vezes os elementos são os mesmos e as alterações consistiam no enquadramento do artista, seu tratamento técnico e o suporte no qual utilizava para produzir as telas, assim, muitas vezes mudando o material. O método que o artista utiliza sugere uma questão de pintura em série, principalmente por representar certos locais mais de uma vez, como Paquetá e Niterói, com diferentes pontos de vista. Todavia, não pode ser afirmada, apenas seu objeto de desejo.
A vida bucólica, os pescadores e principalmente a atmosfera marinha são objetos que João Batista não deixa passar. Podemos assim, destacar a modernidade de Castagneto na técnica, já a capacidade de produzir diferentes elementos de uma mesma realidade são ações pela qual não são tão comuns para a época. O ambiente francês parece ter favorecido essa criação e a inovação do artista.
Curiosidades
Segundo o biógrafo do pintor, Carlos Roberto Maciel Levy, Castagneto, ao pretender ingressar na Academia, em 1877, já tinha 23 anos. Como contado acima, o pai, ao querer a admissão do filho na Belas Artes, falseou informações ao declarar que residia na Brasil desde 1862 e que Giovanni Battista completara 16 anos de idade. Portanto, Castagneto nasceu em 1862. Desta maneira, ao falecer em 1900, já contava com quase cinquenta anos e não apenas trinta e oito como anteriormente se acreditava.
Tinha um grau de instrução muito precário, beirando o analfabetismo, como provam os exames que realizou na Academia. Apesar disso, foi aceito como ouvinte.
Ao total de suas telas, que beiram quase 30 obras cadastradas oficialmente, apenas duas foram encomendadas.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 12 de janeiro de 2018.
Giovanni Battista Felice Castagneto (Gênova, Ligúria, Itália, 27 de novembro de 1851 — Rio de Janeiro, RJ, 29 de dezembro de 1900), conhecido como Castagneto, foi um pintor, desenhista, restaurador, professor e marinheiro italiano radicado no Brasil, que contribuiu imensamente com os trabalhos relacionados a paisagística brasileira, principalmente da questão marinha, do final do Século XIX.
Biografia Itaú Cultural
Exerce a profissão de marinheiro em Gênova. Acompanhado de seu pai, vem para o Rio de Janeiro em 1874. Em 1878, matricula-se nos cursos de desenho figurado, desenho geométrico e matemática na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), onde estuda até 1884, tendo como professores Zeferino da Costa (1840 - 1915) e Victor Meirelles (1832 - 1903), entre outros. De 1882 a 1884 é orientado por Georg Grimm (1846 - 1887) e, quando este rompe com a Academia, acompanha-o na instalação do seu ateliê ao ar livre na Praia de Boa Viagem, em Niterói, e integra o Grupo Grimm. Leciona desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e no Liceu de Niterói. Expõe individualmente pela primeira vez no Rio de Janeiro, na Casa Vieitas, em 1886. Viaja para a França em 1890, onde conhece o pintor Frédéric Montenard (1849 - 1926), que o aconselha a estudar com o marinhista François Nardi (1861 - 1936). Volta ao Brasil em 1893 e, no ano seguinte, inaugura exposição individual na Escola Nacional de Belas Artes - Enba com obras produzidas em Toulon, França. Considerado um importante pintor de marinhas e paisagens litorâneas, o artista continua aperfeiçoando-se nesta temática até a maturidade de sua produção, alcançada com as experiências no litoral da França. As marinhas produzidas nos últimos dez anos de vida revelam o completo domínio técnico sugerido pelas composições equilibradas, pela depuração cromática e pelo tratamento pessoal conferido à superfície pictórica.
Análise
Giovanni Battista Castagneto nasce em Gênova e vai para o Rio de Janeiro em 1874. Ingressa na Aiba, em 1878, onde estuda, entre outras disciplinas, paisagem com Georg Grimm, entre 1882 e 1884, ano em que Grimm deixa a Aiba. Desde o início volta-se para a representação da natureza, em especial a pintura de marinhas. Seus primeiros trabalhos já revelam as características essenciais de sua produção: as pinceladas livres, o forte gestualismo e tendência ao monocromatismo, como vemos, por exemplo, em Trapiche na Baía do Rio de Janeiro (1883).
Em 1884, acompanha Grimm quando ele rompe com a Aiba e cria um ateliê ao ar livre, na Praia de Boa Viagem em Niterói. A admiração pela obra de Georg Grimm está na percepção da paisagem, escolha de motivos, sintetização dos elementos e restrição da paleta, como no quadro Porto do Rio de Janeiro (1884). Castagneto tem uma atividade intensa na pintura, caracterizada pela elaboração de diversas séries de obras, que permitem avaliar o estudo que o artista faz da natureza e das mutações da atmosfera marinha. Desloca-se com freqüência para Niterói, onde os alunos de Grimm se reúnem, fixando aspectos do litoral. Representa muitas vezes a praia de Santa Luzia: os efeitos da luz no mar e as reformas da igreja. Realiza uma série de marinhas de Angra dos Reis, de pincelada larga e agressiva, pintadas do natural, em que predominam os verdes e o cinzas.
O artista revela uma sensibilidade romântica, por meio da qual interpreta a natureza. Assim, suas representações do mar ou dos botes a seco, são carregadas de sentimento. O tratamento pictórico é impulsivo e quase violento, percebe-se a pincelada cortante e o empastamento farto. Representa embarcações de pesca, simples canoas, que adquirem dignidade e imponência, como em Canoa a Seco na Praia em Angra dos Reis (1886).
Em 1887, pinta o quadro Uma Salva de Grande Gala na Baía do Rio de Janeiro, concebido nos modelos da Academia, para concorrer ao prêmio de viagem. A recusa do quadro pela Aiba e as críticas publicadas nos jornais, causaram profunda amargura no artista, cuja produção, nos anos seguintes, torna-se irregular. Viaja para a França em 1890, com o auxílio de amigos. Lá tem contato com Frédéric Montenard (1849 - 1926), pintor francês viajante, que possui especial afeição por temas marinhos. Por intermédio dele conhece o francês François Nardi (1861 - 1936), também pintor de marinhas, com quem reside por um tempo em Toulon. Concentra-se nas cenas de pesca e no estudo da atmosfera marinha. Seus temas são os botes a vela, muito coloridos, que ocupam enseadas próximas à cidade, como em Barco de Pesca Ancorado em Toulon (1892) ou os efeitos de luz na água, como em Vista de Mourillon (1892). Durante a estada em Toulon a paleta de Castagneto se diversifica, trabalha as cores com mais liberdade e o desenho se estrutura. Em relação à produção anterior, o período francês representa certo enfraquecimento da potência romântica, pela adaptação aos cânones e busca de maior controle dos valores pictóricos.
De volta ao Brasil, seu fazer artístico consolida-se. Observa-se em suas obras o retorno à gestualidade no manejo dos pincéis, as cores tornam-se mais sutis e muito suaves, em relação às paisagens pintadas em Toulon. O desenho rigoroso, que marca os contornos das formas, se desestrutura, como pode ser visto em Trecho da Praia de São Roque em Paquetá (ca.1898). Predominam em seus quadros as cores claras, tons límpidos e transparentes, o uso de azuis-cinza, nuances de amarelo e verde-água. Destacam-se a fatura original dos trabalhos e o tratamento personalíssimo da superfície pictórica: os empastamentos muitas vezes são trabalhados com a espátula, em certos pontos, até com o polegar. A paisagem da ilha de Paquetá torna-se, desde 1896, o ambiente preferencial de suas pinturas.
Castagneto é descrito por seus contemporâneos como um homem à margem da sociedade, boêmio, inconformado com as convenções. O crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911), descreve o pintor como manso e irascível, afirmando que "Como o mar o seu temperamento é rebelde" e "Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todo os enlevos, toda a poesia das vagas".1 Sua pintura apresenta suavidade e violência, alia a execução rápida e angustiada a um grande lirismo.
Críticas
"Despreocupado com o desenho, como os impressionistas franceses, o pintor preocupa-se em captar a luz através da pintura, fixar o fugidio, com uma preferência temática: a luz sobre a água, à beira-mar, quase sempre. Nesta obra, as formas se desfazem através da bruma-luz à distância, e, em primeiro plano, os diversos elementos são compostos como manchas de cor, que ele aplica sobre a superfície da tela. Em geral seus quadros são de pequenas dimensões e dão a impressão, vistos de perto, de serem manchados com a cor, ora aplicada sobre a tela obedecendo a um certo ritmo, ora apresentando uma grafia desordenada e mesmo nervosa, denunciando uma execução rápida. (...) Talvez por influência do fascínio pelo mar, seu ateliê era um barco que se deslocava na Baía de Guanabara, que ele fixou em vários de seus aspectos".
Equipe da Pinacoteca do Estado (Rio de Janeiro: Funarte, 1982.)
"Foi em tarefa na qual muitos vagaram no marasmo da mesmice que Castagneto avultou e revelou o máximo do seu poder criador, o pleno domínio da técnica. Mas, para tanto alcançar, serviu-se de larga e funda experiência de vida, conhecedor que era do mar, em seu conjunto e suas nuanças. Entretanto, Castagneto não deixa de construir uma unidade conflituosa entre o mar e o homem e daí a variedade de cenários com os quais travamos conhecimento, à medida que repontam as ocorrências de seu cotidiano. E é nesse sentido que vamos encontrar toda uma extraordinária riqueza espiritual, sempre presente nas diversas obras que compõem o conjunto de sua produção".
Alcídio Mafra de Souza (LEVY, Carlos Roberto Maciel. Giovanni Battista Castagneto:1851-1900: o pintor do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
"Ao longo de 1896 consolidam-se os elementos que projetariam de modo progressivo e radical a vida e a obra de Giovanni Battista Castagneto em direção a um processo estrutural de simplificação. No plano da existência, até então, sua vida fora uma persistente sucessão de lutas caracterizadas pelo inconformismo e pelo temperamento libertário (...). Foi ele um homem à margem da sociedade, insatisfeito com os protocolos que ela exigia e revoltado contra as convenções que impunha. Mas, antes que pudesse, em seu universo intelectual ingênuo e inculto, estabelecer os paradigmas contra os quais desejaria se opor e combater, viu-se adulado, querido e 'compreendido' pelas camadas dominantes dessa sociedade, que sobre ele projetaram, discretamente, os seus próprios anseios de independência. (...) Findara o século XIX e abria-se, com o século XX, uma era de progresso, revoluções e transformações radicais no comportamento, nas idéias e nas possibilidades da humanidade. Castagneto morreu com o único período que, na história, poderia comportar sua arte romântica e aberta; mais cedo, teria sido podada como manifestação de loucura; mais tarde, interpretada como um simplismo piegas e reacionário (...)".
Carlos Roberto Maciel Levy (Giovanni Battista Castagneto:1851-1900: o pintor do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
"Castagneto (João Batista) é original. Filho de um lobo-do-mar, de um velho nauta embalado pelas vagas do Mediterrâneo e do Iônio, João Batista Castagneto nasceu artista e nasceu marinheiro. Herdou de seu pai o amor pela misteriosa inconstância do mar, recebeu da sua querida Itália o bafo quente da impressionalidade artística. Como o mar o seu temperamento é rebelde. Ama e odeia. É manso e é irascível. Um dia pensou que o estudo acadêmico, em vez de fazê-lo progredir, vinha impedir-lhe os passos; e rasgou, de um momento para outro, os motivos que o prendiam à Academia. Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todos os enlevos, toda a poesia das vagas. A voz tormentosa das águas, o doudo soluçar das ondas, as ciclópicas lutas do oceano vibram dentro dele estranhas cordas sonoras de um sentimentalismo que a mais ninguém a natureza deu. E, como o mar, a sua pintura é forte e é doce, é rápida e é vagarosa, tem asperezas e tem carícias, parece transparente e parece compacta, brilha e se entenebrece. (...)
Quando lhe falta tempo para mudar pincéis, maneja um só, mergulhando-o em diversas tintas, ou pinta com os dedos, com as unhas, com a espátula, com o primeiro objeto que tiver à mão: um seixo resistente, um pedaço de pau, um pedaço de corda, um palito, o cano do cachimbo, a ponta do cigarro.
(...) Ora, é uma marinha de uma tonalidade suave e leve, com um pequeno barco ao centro dando ao conjunto um encanto todo sereno e feliz. Ora, é o rancho da praia coberto de leprosas telhas desmanteladas pelo vento. Aqui é um assunto tomado ao cair da tarde. O sol desaparece, lentamente, do céu; nuvens caliginosas, formadas em massas largas e caprichosas, vagueiam pelo ar; o horizonte tinge-se de uma cor alaranjada, intensa, vívida; ao longe montes azulados, perdidos no silêncio do espaço, como muralhas enormes de uma cidadela invencível. No mar, ao quente reflexo dos últimos raios do sol, de velas abertas às virações repentinas, correm faluas bojudas. Ali é uma vista do arsenal de guerra, apanhada da praia de Santa Luzia. Ao fundo, além, muito além, rola o mar as vagas e vem tumultuoso, irrequieto, espojar-se à praia em um dolente e bruto espreguiçar. O sol banha a natureza. Os telhados e as paredes caiadas das oficinas do arsenal, iluminadas pela luz risonha, parecem dilatar no quadro um longo riso de força diante do mar que geme na areia".
Gonzaga Duque (A arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p. 198-200.)
"A fusão entre arte e vida, todavia, ele a encontrou na pintura de marinhas. Esse gênero desfrutava de certa fortuna no Brasil: D. Pedro II amava as marinhas e os navios de guerra. Antes de Castagneto, contudo, a história da pintura de marinhas no Brasil já contava com o minucioso modelismo naval de Eduardo De Martino, presente nas coleções imperiais, e com as marinhas 'elétricas' de Émile Rouède, assim denominadas porque pintadas de pronto e não raro de memória. Estas certamente influenciaram a técnica do jovem Castagneto. Daí ele extraiu o amor pela técnica rápida e sintética e pelo suporte improvisado - cartão, fundo de caixas de charuto, pratos, palhetas e até mesmo, num caso, uma pele de bacalhau seco. Também a lembrança de De Martino está presente na única tentativa ambiciosa de uma grande marinha histórica produzida pelo pintor, Salva na Baía de Guanabara em Homenagem a Dom Pedro II, hoje no Museu de Arte de São Paulo, Masp, pintada para obter uma viagem-prêmio da Academia, em 1887.
Foi a maior decepção do artista, nada talhado para esse tipo de celebração. A pintura de Castagneto necessitava de outros temas: 'Toda a atenção do artista convergiu para a vida humilde dos pescadores, para os míseros recantos de beira-mar, onde a paisagem, se não houvesse colmo de gente da pesca, que traduzisse a poesia de sua existência obscura, pudesse lembrá-la pela proximidade da terra'.
Para Castagneto, o pintor do mar, o mar era um estado de alma e a pintura, uma forma de vida. Vivia na praia de Santa Luzia, numa casa que parecia um barco. Qualquer objeto lhe servia para fixar a lembrança de um trecho de praia ou para copiar um tema. Apoderava-se, então, do tema com o traço febril da mão e com grande economia de meios, até transfigurá-lo numa imagem simplificada e rápida, a fim de não perder a força da sensação.
Em certos pontos, percebem-se a violência do gesto, o uso de instrumentos improvisados e até mesmo do polegar, à maneira dos escultores. Os botes a seco de Castagneto ultrapassam os limites de gênero, atingido, não raro, o domínio da expressão lírica, como nos cascos-hieróglifos de De Fiori, Volpi, ou nas areias deslumbrantes de Pancetti.
Por fim, conseguiu viajar para o sul da França, onde foi estudar com um marinhista então famoso, François Nardi. Retornou ébrio de luz. Capturou-a em quadros como O Forte de Gragoatá, no MNBA, mas, confuso e doente, a morte precoce veio içá-lo para fora da ressaca".
Luciano Migliaccio (MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 129-130.)
Acervos
Acervo Instituto Itaú Cultural (São Paulo SP)
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (São Paulo SP)
Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro RJ)
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA (Rio de Janeiro RJ)
Exposições Individuais
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vieitas;
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vieitas;
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1889 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1890 - Juiz de Fora MG - Individual, na redação do jornal O Farol;
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no salão do jornal O Paiz;
1894 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba;
1895 - São Paulo SP - Individual, no Salão de Concertos da Paulicéia;
1895 - São Paulo SP - Individual, no Banco União;
1896 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Papelaria Gomes;
1897 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Papelaria Gomes.
Exposições Coletivas
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de ouro;
1885 - Rio de Janeiro RJ - Loja Laurent de Wilde: mostra inaugural, na Loja de Laurent de Wilde;
1885 - Rio de Janeiro RJ - Castagneto e França Júnior, na Casa Vieitas (Rio de Janeiro, RJ);
1887 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras, Castagento e Henrique Bernardelli, no Grêmio de Letras e Artes;
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1894 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1895 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1898 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Retrospectiva, no Centro Artístico.
Exposições Póstumas
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no Museu Nacional Belas Artes;
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século de Pintura Brasileira: 1850-1950, no Museu Nacional Belas Artes;
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados;
1961 - Rio de Janeiro RJ - O Rio na Pintura Brasileira, na Biblioteca Estadual da Guanabara;
1963 - Assunção (Paraguai) - La Pintura en el Brasil;
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970, na Pinacoteca do Estado;
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana;
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no Museu Nacional Belas Artes;
1978 - São Paulo SP - Individual, na Sociarte;
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Ochenta Años de Arte Brasileño, no Banco Itaú;
1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte;
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes;
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1982 - Rio de Janeiro RJ - Giovanni Battista Castagneto 1851-1900: o pintor do mar, na Acervo Galeria de Arte;
1982 - Rio de Janeiro RJ - Pintores Fluminenses, no MAM/RJ;
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap;
1982 - São Paulo, SP - Pintores Italianos no Brasil, no MAM/SP;
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes;
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC;
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR;
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André;
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal;
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp;
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado;
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII - XX, no Masp;
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado;
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor;
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis,, no CCBB;
1989 - São Paulo SP - Pintura Brasil Século XIX e XX: obras do acervo Banco Itaú, na Itaugaleria;
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB;
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil, 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA;
1993 - Santos SP - Seis Grandes Pintores, na Pinacoteca Benedito Calixto;
1994 - Rio de Janeiro RJ - Iconografia da Paisagem;
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado;
1995 - Campinas SP - Da Marinha à Natureza Morta;
1997 - Rio de Janeiro RJ - Giovanni Battista Castagneto: 1851-1900, na Pinakotheke;
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Espaço Cultural da Marinha;
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs;
2000 - São Paulo SP - 51º Salão Paulista de Belas Artes, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - homenageado;
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal;
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp;
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado;
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap;
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural;
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty;
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro;
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB;
2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB;
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos;
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB.
Fonte: CASTAGNETO . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 12 de jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Retrato do Pintor Castagneto , 1880 , Estêvão Silva, Reprodução Fotográfica Lamberto Scipioni
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Biografia Wikipédia
Primeiros passos
Na Itália, em sua cidade natal, Gênova, Giovanni Battista Castagneto era um marinheiro. Exercia a profissão com o pai, Lorenzo Di Gregorio Castagneto. Em 1874, junto ao seu pai, o futuro pintor chegou ao Rio de Janeiro. Sem muitas informações sobre sua aptidão para arte e afazeres na Itália, ao chegar, seu pai o matriculou na Academia Brasileira de Belas Artes. Como tinha uma idade avançada, falsificou seus documentos e conseguiu ingressar o aspirante nas aulas de desenho geométrico, desenho figurativo e matemática, no começo do curso.
Muitos estudiosos e contemporâneos do artista já declaravam seu talento e proatividade em melhorar e incrementar sua produção. Sua produção em relação às marinhas, ao mar, o barco e as pessoas foi objeto de estudo do pintor desde seus tempos. Deixando claro seu amor e sua admiração pelo movimento e pelo ato de navegar, como indicado por Donato Mello Júnior, ao dizer que o pintor “produziu grande parte de sua obra embarcando numa canoa, pintando em fundo de caixas de charutos, sinal de sua pobreza”, que fora criado com isso junto ao seu pai, Lorenzo. Em A Arte Brasileira, livro produzido pelo crítico Gonzaga Duque, em 1888, o autor escreveu:
"Ele aprendeu consigo próprio. Arranjou uma caixa de tintas, comprou cartões e telas, alugou um bote e partiu para uma viagem à volta das nossas praias. Não quis saber de leis nem de regras. Precisava unicamente da natureza, da natureza vigorosa, para seus estudos de visu. Passava uma falua de velas enfunadas; e, febril, o punho ligeiro, a vista firme, esboçava-a num cartão, em três, quatro segundos. Uma onda corcoveava, contorcia-se, levantava-se rugindo, vinha abater-se às bordas da sua embarcação; pois bem, durante esse tempo os seus pincéis acompanhavam na tela o seu movimento, e quando ela abatia-se, os pincéis cessavam de trabalhar. A onda morria, no mar, fundindo-se com o grosso da água; mas, na tela, ficava viva, tumultuosa, arqueando o dorso, bramindo. Uma rajada de vento soprava de sudoeste: nuvens rolavam no céu; o mar cuspia. E quando à rajada sucedia a quietude, o artista tinha mais uma tela pronta."
Nas aulas, Castagneto se destacava e chamava atenção de seus professores. Alguns deles como Victor Meirelles e João Zeferino da Costa. Zeferino, em 1883, o chamou para trabalhar nas obras de reforma da Igreja da Candelária. Como assistente, Castagneto passou a melhorar suas aptidões e logo em seguida, em julho daquele ano, passou a dar aula de desenho em algumas escolas locais.
Primeira exposição
De 1882 a 1884, Castagneto foi instruído por Georg Grimm. Trabalho junto ao pintor e, após a quebra de Grimm com a Academia Brasileira, Giovanni ajudou-o a estabelecer o estúdio do Grupo Grimm na praia de Boa Viagem, em Niterói, se tornando o primeiro membro do grupo, que depois contaria com Antônio Parreiras e Hipólito Boaventura Carón.
A prova que Castagneto já se destacava em entre os alunos da Academia veio em 1884, quando, junto ao pintor Georg Grimm, conquistou medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes. Causou espanto, a surpresa foi grande e consagrou-se definitivamente como pintor após esta conquista.
Com isso, alguns afazeres vieram. Castagneto passou a lecionar também no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro e no Liceu de Niterói. Com seu desempenho e constante melhoria, após três exposições produzidas, em 1886 conquistou seu lugar no Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, e conseguiu expor suas obras individualmente pela primeira vez em sua vida, na Casa Vietas, onde já avia exposto junto com outros pintores. Nesta exposição algumas obras, como Praia de Santa Luzia, Porto do Rio de Janeiro, Praia e Igreja de Santa Luzia, Santa Casa de Misericórdia e Praia de Santa Luzia no Rio de Janeiro, Faluas Ancoradas na Ponta do Caju no Rio de Janeiro, Embarcações atracadas a um cais na Baía do Rio de Janeiro, Praia e Igreja de Santa Luzia (2), Marinha com Barco, Canoa a seco na Praia em Angra dos Reis, Rua de Santa Luzia, Rio de Janeiro, Embarcações ancoradas no Porto do Rio de Janeiro, Pedras à Beira Mar na Praia de Icaraí, Estação de Bondes e Cocheiras da Linha de Carris Vila Guarani na Antiga Praia Formosa, Navio Ancorado, Praia de Santa Luzia a Noite, No Varadouro – Rio de Janeiro, no Varadouro – Angra dos Reis, Niterói, marinha com barco e Marinha já estavam prontas para exposição.
No ano seguinte, Castagneto deixou de lecionar no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro e expôs na Glace Élégante. Ainda sim, após algumas recusas pela Academia de Belas Artes, as frustações do artista cresceram. As críticas que os jornais promoveram “causaram profunda amargura no artista” segundo Gonzaga Duque, o que fez com que a produção tornou-se irregular e o artista parasse certo período de produzir suas obras. Mesmo com esses empecilhos e uma vida desregrada já neste início, em 1890, o artista expõe seu trabalho na redação do jornal O Faro, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Após este feito, parte rumo à França, com ajuda dos amigos que o incentivam a viajar em virtude de maior aprendizado mediante sua obra já produzida.
A retomada de Castagneto
Na França, Castagneto tem suas primeiras experiências em Paris. Logo nos primeiros contatos na Academia de Belas Artes de Paris, o artista italiano conheceu o administrador na época, Frédéric Montenard (1849 – 1926), que também é um artista que pinta barcos e marinhas. Montenard, como já havia fundado um ateliê em Toulon (sua localização está no mapa a direita) tem muito conhecimento deste tipo de arte marinha. Com seus contatos e alguns artistas que frequentavam seu ateliê, indica a Castagneto o marinhista François Nardi (1861 – 1936).
Nardi era um artista, segundo Montenard, com muito talento e foi convencido de ir a Paris estudar com ele na Sociedade de Belas Artes. Por uma contribuição, François aceitou ensinar Castagneto. Nardi era conhecido por uso de cores mais vivas, que davam diferentes aspectos de luz e sombra somados aos formalismos das peças. Certos aspectos que diferenciariam de sua pintura produzida no Brasil. O pintor francês tinha aspectos envolvidos com os efeitos de luz na água, sua atmosfera junto aos barcos e a praia. Com a desistência de Frédéric Montenard em sua empreitada às águas do atlântico, junto com Giovanni, retorna ao seu ateliê e volta a lecionar na Academia de Belas Artes de Toulon. Presidido e orientado por Nardi, Castagneto aprende diferentes tonalidades e efeitos de luz diante das cores, composições que mudam sua obra e retomam o trabalho do artista, empolgado com os novos aspectos.
Ao voltar para o Brasil, em 1893, o manejo volta. A regularidade torna-se orgulhosa aos olhos do artista e da crítica. Giovanni Castagneto então produz suas peças mais conhecidas, como a Marinha do Barco (1895) e Trecho da Praia de São Roque em Paquetá (1898). O primeiro em viagens pelo Brasil, especificamente em São Paulo, onde percorre os rios que pertencem a cidade em algumas de suas exposições e produções. A vinda de Castagneto a São Paulo foi motivada pelas exposições de Antonio Parreiras e Francisco Aurélio de Figueiredo e Mello, pois ambas obtiveram sucesso de vendas. Como em Paris, João Battista não tinha predileção pela modernidade. A área urbana foi ignorada pelo autor, que passou o ano de 1895 praticamente entre São Paulo e Santos, onde realizou duas exposições individuais: no salão nobre do Banco União de São Paulo, de junho a aproximadamente agosto e no Salão de Concertos da Paulicéia, em outubro. Nesta época o artista teve grande sucesso de vendas com os colecionadores locais. De São Paulo a Santos, Castagneto passou a pintar trechos de sua viagem em busca das paisagens e da natureza, principalmente pela esfera aquática.
Já na segunda obra, mostra o quase fim de sua vida. De 1897 a 1898 a Ilha de Paquetá foi sua casa, comprada com o dinheiro que ganhou no Estado de São Paulo até sua saúde tornar-se precária. Gonzaga conta que Giovanni Battista Castagneto sempre teve um comportamento rebelde, “parecido com o mar”, que não atendia convenções e era bem boêmio. Sua condição precária e física muito fraca, a falta de cuidado culminou em uma série de doenças. Todavia, sem muitos cuidados e muita embriaguez, o artista faleceu na Casa de Saúde Ferreia Leal, no Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro.
Características de sua obra
Algo que permitiu que Castagneto possui-se certa fama e eclodisse no mundo das artes no Rio de Janeiro é o aspecto marinho que se consistia na época. Sua tradição paisagística e amor pela marinha combinavam com os anseios de Dom Pedro II. O artista não pintava quadros enormes como Eduardo De Martino e Gustave James, porém, tinha essa característica específica do mar, diferente dos outros artistas que foram convidados a pintar barcos enormes e paisagens confrontadas com a batalha do Paraguai, por exemplo.
Castagneto possui uma tela com barco enorme, salvo no MASP, intitulado A Grande Gala na Baía do Rio de Janeiro (1887), todavia, é um quadro abruptamente atípico diante de sua obra. Sua autoria sempre remeteu a pequenas embarcações, recantos da praia, baía e a própria marinha, como mostra Gonzaga Duque:
“Toda a atenção do artista convergiu para a vida humilde dos pescadores, para os míseros recantos de beira-mar, onde a paisagem, se não houvesse colmo de gente da pesca, que traduzisse a poesia de sua existência obscura, pudesse lembrá-la pela proximidade da terra”.
No começo de sua história com a arte, Castagneto produz pinturas de acordo com a natureza e principalmente a marinha. O aspecto canônico e arquetípico do navegante pobre na canoa em direção nenhuma apenas com seus materiais para pintura é vivido por Giovanni. Sua experiência no mar e na experiência de vida que teve junto ao seu pai Lorenzo foram aspectos importantes em sua pintura. Principalmente se colocando em certos aspectos dentro de sua obra.
Filho de um lobo-mar, de um velho nauta do Mediterrâneo, deixa claro a preferência pela inconstância do mar. Há um aspecto do impressionismo colocado nessa agressividade das águas marinhas que se debruçam sobre os rochedos, areia e marinha. Todavia, diferente dos aspectos megalomaníacos e medievais, Castagneto tem um aspectos sintético e rápido em sua obra. O suporte improvisado em suas andanças sem rumo estão presentes nesta técnica que era natural, devido a necessidade.
Após o prêmio em 1887 sua obra passou a ter um aspecto mais pessoal diante dos pescadores. Passou a retratar a vida humilde de alguns pescadores que se encontravam no recanto das baías. Os barcos colocados a seco, com maltrapilhos e cangas brancas esticadas, manchadas, em contra partida a navegações grande ao fundo da tela, são aspectos que Castagneto passou a tomar como forma em sua obra. Tudo isso movido a cores padecidas e proximidade com a terra, deixando claro que os recantos eram produzidos para gente da pesca, traduzindo até uma poesia obscura diante do mar já possessivo pelas grandes embarcações.
Depois das constantes frustrações e viagem pela França, o traçado de Castagneto volta a tomar forma e simplicidade, todavia, agora conta com novos aspectos pictóricos, cores e também movimentações da água e da praia. Há uma gestualidade maior dentro de seus pincéis, desenhos rigorosos que marca formas e desestruturam-se entre si nesta simplicidade dos acontecimentos nas pinturas:
(...) Ora, é uma marinha de uma tonalidade suave e leve, com um pequeno barco ao centro dando ao conjunto um encanto todo sereno e feliz. Ora, é o rancho da praia coberto de leprosas telhas desmanteladas pelo vento. Aqui é um assunto tomado ao cair da tarde. O sol desaparece, lentamente, do céu; nuvens caliginosas, formadas em massas largas e caprichosas, vagueiam pelo ar; o horizonte tinge-se de uma cor alaranjada, intensa, vívida; ao longe montes azulados, perdidos no silêncio do espaço, como muralhas enormes de uma cidadela invencível. No mar, ao quente reflexo dos últimos raios do sol, de velas abertas às virações repentinas, correm faluas bojudas. Ali é uma vista do arsenal de guerra, apanhada da praia de Santa Luzia. Ao fundo, além, muito além, rola o mar as vagas e vem tumultuoso, irrequieto, espojar-se à praia em um dolente e bruto espreguiçar. O sol banha a natureza. Os telhados e as paredes caiadas das oficinas do arsenal, iluminadas pela luz risonha, parecem dilatar no quadro um longo riso de força diante do mar que geme na areia".
Sempre com formas um tanto quanto pessoais, as pinturas de Castagneto tomaram forma de acordo com o sentido de sua vida. Ao fim de 1896, já com aspectos ébrios e tomados pelo boêmia, o autor possuía pinceladas forte e agressivas, de modo progressivo, que Carlos Maciel Levy indicou como a volta da simplicidade, mas muito mais representativa. Ainda sim, deixa claro o importante momento em que viveu, que, de acordo com o autor, “Castagneto morreu com o único período que, na história, poderia comportar sua arte romântica e aberta; mais cedo, teria sido podada como manifestação de loucura; mais tarde, interpretada como um simplismo piegas e reacionário (...)"
Fases pictóricas
Em primeiro ponto é claro destacar que Giovanni Castagneto tem um traçado gestual livre, com tendências ao monocromatismo. Seu amor pela navegação provém de seu pai, porém, a natureza e seus aspectos em movimento tem forte tendência de Georg Grimm.
Em sua segunda fase, após sair da Acadêmia de Belas Artes, muitos o destacam como impressionista, porém, neste sentido histórico e positivista, a tentativa de demarcar o autor em escolas é um tanto quanto complicada. Sua sensibilidade, segundo Gonzaga e Maciel deve-se muito ao romantismo, pois interpreta a natureza de acordo com seus sentimentos mais pessoais, como por exemplo a escolha dos barcos e dos pescadores, onde tomam pinceladas impulsivas e violentas para deixar claro o espaçamento farto e o corte de figuras desenhadas. Começam-se a desenhar seus aspectos consolidados após Toulon, onde aprendeu com François Nardi.
Com o francês as tonalidades mudam, os sentimentos de revoltam aumentam, as paletas de cores mudam e os traçados são violentos. Um lirismo que, segundo Gonzaga Duque, aliado a execução rápida entregam o pintor manso e irascível: "Como o mar o seu temperamento é rebelde" e "Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todo os enlevos, toda a poesia das vagas".
Questão das séries
Um fato curioso na obra de Castagneto é a que ao longo de sua produção artística, Castagneto realizou uma grande quantidade de obras que repetem um mesmo motivo. Por vezes os elementos são os mesmos e as alterações consistiam no enquadramento do artista, seu tratamento técnico e o suporte no qual utilizava para produzir as telas, assim, muitas vezes mudando o material. O método que o artista utiliza sugere uma questão de pintura em série, principalmente por representar certos locais mais de uma vez, como Paquetá e Niterói, com diferentes pontos de vista. Todavia, não pode ser afirmada, apenas seu objeto de desejo.
A vida bucólica, os pescadores e principalmente a atmosfera marinha são objetos que João Batista não deixa passar. Podemos assim, destacar a modernidade de Castagneto na técnica, já a capacidade de produzir diferentes elementos de uma mesma realidade são ações pela qual não são tão comuns para a época. O ambiente francês parece ter favorecido essa criação e a inovação do artista.
Curiosidades
Segundo o biógrafo do pintor, Carlos Roberto Maciel Levy, Castagneto, ao pretender ingressar na Academia, em 1877, já tinha 23 anos. Como contado acima, o pai, ao querer a admissão do filho na Belas Artes, falseou informações ao declarar que residia na Brasil desde 1862 e que Giovanni Battista completara 16 anos de idade. Portanto, Castagneto nasceu em 1862. Desta maneira, ao falecer em 1900, já contava com quase cinquenta anos e não apenas trinta e oito como anteriormente se acreditava.
Tinha um grau de instrução muito precário, beirando o analfabetismo, como provam os exames que realizou na Academia. Apesar disso, foi aceito como ouvinte.
Ao total de suas telas, que beiram quase 30 obras cadastradas oficialmente, apenas duas foram encomendadas.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 12 de janeiro de 2018.
Giovanni Battista Felice Castagneto (Gênova, Ligúria, Itália, 27 de novembro de 1851 — Rio de Janeiro, RJ, 29 de dezembro de 1900), conhecido como Castagneto, foi um pintor, desenhista, restaurador, professor e marinheiro italiano radicado no Brasil, que contribuiu imensamente com os trabalhos relacionados a paisagística brasileira, principalmente da questão marinha, do final do Século XIX.
Biografia Itaú Cultural
Exerce a profissão de marinheiro em Gênova. Acompanhado de seu pai, vem para o Rio de Janeiro em 1874. Em 1878, matricula-se nos cursos de desenho figurado, desenho geométrico e matemática na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), onde estuda até 1884, tendo como professores Zeferino da Costa (1840 - 1915) e Victor Meirelles (1832 - 1903), entre outros. De 1882 a 1884 é orientado por Georg Grimm (1846 - 1887) e, quando este rompe com a Academia, acompanha-o na instalação do seu ateliê ao ar livre na Praia de Boa Viagem, em Niterói, e integra o Grupo Grimm. Leciona desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e no Liceu de Niterói. Expõe individualmente pela primeira vez no Rio de Janeiro, na Casa Vieitas, em 1886. Viaja para a França em 1890, onde conhece o pintor Frédéric Montenard (1849 - 1926), que o aconselha a estudar com o marinhista François Nardi (1861 - 1936). Volta ao Brasil em 1893 e, no ano seguinte, inaugura exposição individual na Escola Nacional de Belas Artes - Enba com obras produzidas em Toulon, França. Considerado um importante pintor de marinhas e paisagens litorâneas, o artista continua aperfeiçoando-se nesta temática até a maturidade de sua produção, alcançada com as experiências no litoral da França. As marinhas produzidas nos últimos dez anos de vida revelam o completo domínio técnico sugerido pelas composições equilibradas, pela depuração cromática e pelo tratamento pessoal conferido à superfície pictórica.
Análise
Giovanni Battista Castagneto nasce em Gênova e vai para o Rio de Janeiro em 1874. Ingressa na Aiba, em 1878, onde estuda, entre outras disciplinas, paisagem com Georg Grimm, entre 1882 e 1884, ano em que Grimm deixa a Aiba. Desde o início volta-se para a representação da natureza, em especial a pintura de marinhas. Seus primeiros trabalhos já revelam as características essenciais de sua produção: as pinceladas livres, o forte gestualismo e tendência ao monocromatismo, como vemos, por exemplo, em Trapiche na Baía do Rio de Janeiro (1883).
Em 1884, acompanha Grimm quando ele rompe com a Aiba e cria um ateliê ao ar livre, na Praia de Boa Viagem em Niterói. A admiração pela obra de Georg Grimm está na percepção da paisagem, escolha de motivos, sintetização dos elementos e restrição da paleta, como no quadro Porto do Rio de Janeiro (1884). Castagneto tem uma atividade intensa na pintura, caracterizada pela elaboração de diversas séries de obras, que permitem avaliar o estudo que o artista faz da natureza e das mutações da atmosfera marinha. Desloca-se com freqüência para Niterói, onde os alunos de Grimm se reúnem, fixando aspectos do litoral. Representa muitas vezes a praia de Santa Luzia: os efeitos da luz no mar e as reformas da igreja. Realiza uma série de marinhas de Angra dos Reis, de pincelada larga e agressiva, pintadas do natural, em que predominam os verdes e o cinzas.
O artista revela uma sensibilidade romântica, por meio da qual interpreta a natureza. Assim, suas representações do mar ou dos botes a seco, são carregadas de sentimento. O tratamento pictórico é impulsivo e quase violento, percebe-se a pincelada cortante e o empastamento farto. Representa embarcações de pesca, simples canoas, que adquirem dignidade e imponência, como em Canoa a Seco na Praia em Angra dos Reis (1886).
Em 1887, pinta o quadro Uma Salva de Grande Gala na Baía do Rio de Janeiro, concebido nos modelos da Academia, para concorrer ao prêmio de viagem. A recusa do quadro pela Aiba e as críticas publicadas nos jornais, causaram profunda amargura no artista, cuja produção, nos anos seguintes, torna-se irregular. Viaja para a França em 1890, com o auxílio de amigos. Lá tem contato com Frédéric Montenard (1849 - 1926), pintor francês viajante, que possui especial afeição por temas marinhos. Por intermédio dele conhece o francês François Nardi (1861 - 1936), também pintor de marinhas, com quem reside por um tempo em Toulon. Concentra-se nas cenas de pesca e no estudo da atmosfera marinha. Seus temas são os botes a vela, muito coloridos, que ocupam enseadas próximas à cidade, como em Barco de Pesca Ancorado em Toulon (1892) ou os efeitos de luz na água, como em Vista de Mourillon (1892). Durante a estada em Toulon a paleta de Castagneto se diversifica, trabalha as cores com mais liberdade e o desenho se estrutura. Em relação à produção anterior, o período francês representa certo enfraquecimento da potência romântica, pela adaptação aos cânones e busca de maior controle dos valores pictóricos.
De volta ao Brasil, seu fazer artístico consolida-se. Observa-se em suas obras o retorno à gestualidade no manejo dos pincéis, as cores tornam-se mais sutis e muito suaves, em relação às paisagens pintadas em Toulon. O desenho rigoroso, que marca os contornos das formas, se desestrutura, como pode ser visto em Trecho da Praia de São Roque em Paquetá (ca.1898). Predominam em seus quadros as cores claras, tons límpidos e transparentes, o uso de azuis-cinza, nuances de amarelo e verde-água. Destacam-se a fatura original dos trabalhos e o tratamento personalíssimo da superfície pictórica: os empastamentos muitas vezes são trabalhados com a espátula, em certos pontos, até com o polegar. A paisagem da ilha de Paquetá torna-se, desde 1896, o ambiente preferencial de suas pinturas.
Castagneto é descrito por seus contemporâneos como um homem à margem da sociedade, boêmio, inconformado com as convenções. O crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911), descreve o pintor como manso e irascível, afirmando que "Como o mar o seu temperamento é rebelde" e "Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todo os enlevos, toda a poesia das vagas".1 Sua pintura apresenta suavidade e violência, alia a execução rápida e angustiada a um grande lirismo.
Críticas
"Despreocupado com o desenho, como os impressionistas franceses, o pintor preocupa-se em captar a luz através da pintura, fixar o fugidio, com uma preferência temática: a luz sobre a água, à beira-mar, quase sempre. Nesta obra, as formas se desfazem através da bruma-luz à distância, e, em primeiro plano, os diversos elementos são compostos como manchas de cor, que ele aplica sobre a superfície da tela. Em geral seus quadros são de pequenas dimensões e dão a impressão, vistos de perto, de serem manchados com a cor, ora aplicada sobre a tela obedecendo a um certo ritmo, ora apresentando uma grafia desordenada e mesmo nervosa, denunciando uma execução rápida. (...) Talvez por influência do fascínio pelo mar, seu ateliê era um barco que se deslocava na Baía de Guanabara, que ele fixou em vários de seus aspectos".
Equipe da Pinacoteca do Estado (Rio de Janeiro: Funarte, 1982.)
"Foi em tarefa na qual muitos vagaram no marasmo da mesmice que Castagneto avultou e revelou o máximo do seu poder criador, o pleno domínio da técnica. Mas, para tanto alcançar, serviu-se de larga e funda experiência de vida, conhecedor que era do mar, em seu conjunto e suas nuanças. Entretanto, Castagneto não deixa de construir uma unidade conflituosa entre o mar e o homem e daí a variedade de cenários com os quais travamos conhecimento, à medida que repontam as ocorrências de seu cotidiano. E é nesse sentido que vamos encontrar toda uma extraordinária riqueza espiritual, sempre presente nas diversas obras que compõem o conjunto de sua produção".
Alcídio Mafra de Souza (LEVY, Carlos Roberto Maciel. Giovanni Battista Castagneto:1851-1900: o pintor do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
"Ao longo de 1896 consolidam-se os elementos que projetariam de modo progressivo e radical a vida e a obra de Giovanni Battista Castagneto em direção a um processo estrutural de simplificação. No plano da existência, até então, sua vida fora uma persistente sucessão de lutas caracterizadas pelo inconformismo e pelo temperamento libertário (...). Foi ele um homem à margem da sociedade, insatisfeito com os protocolos que ela exigia e revoltado contra as convenções que impunha. Mas, antes que pudesse, em seu universo intelectual ingênuo e inculto, estabelecer os paradigmas contra os quais desejaria se opor e combater, viu-se adulado, querido e 'compreendido' pelas camadas dominantes dessa sociedade, que sobre ele projetaram, discretamente, os seus próprios anseios de independência. (...) Findara o século XIX e abria-se, com o século XX, uma era de progresso, revoluções e transformações radicais no comportamento, nas idéias e nas possibilidades da humanidade. Castagneto morreu com o único período que, na história, poderia comportar sua arte romântica e aberta; mais cedo, teria sido podada como manifestação de loucura; mais tarde, interpretada como um simplismo piegas e reacionário (...)".
Carlos Roberto Maciel Levy (Giovanni Battista Castagneto:1851-1900: o pintor do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
"Castagneto (João Batista) é original. Filho de um lobo-do-mar, de um velho nauta embalado pelas vagas do Mediterrâneo e do Iônio, João Batista Castagneto nasceu artista e nasceu marinheiro. Herdou de seu pai o amor pela misteriosa inconstância do mar, recebeu da sua querida Itália o bafo quente da impressionalidade artística. Como o mar o seu temperamento é rebelde. Ama e odeia. É manso e é irascível. Um dia pensou que o estudo acadêmico, em vez de fazê-lo progredir, vinha impedir-lhe os passos; e rasgou, de um momento para outro, os motivos que o prendiam à Academia. Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todos os enlevos, toda a poesia das vagas. A voz tormentosa das águas, o doudo soluçar das ondas, as ciclópicas lutas do oceano vibram dentro dele estranhas cordas sonoras de um sentimentalismo que a mais ninguém a natureza deu. E, como o mar, a sua pintura é forte e é doce, é rápida e é vagarosa, tem asperezas e tem carícias, parece transparente e parece compacta, brilha e se entenebrece. (...)
Quando lhe falta tempo para mudar pincéis, maneja um só, mergulhando-o em diversas tintas, ou pinta com os dedos, com as unhas, com a espátula, com o primeiro objeto que tiver à mão: um seixo resistente, um pedaço de pau, um pedaço de corda, um palito, o cano do cachimbo, a ponta do cigarro.
(...) Ora, é uma marinha de uma tonalidade suave e leve, com um pequeno barco ao centro dando ao conjunto um encanto todo sereno e feliz. Ora, é o rancho da praia coberto de leprosas telhas desmanteladas pelo vento. Aqui é um assunto tomado ao cair da tarde. O sol desaparece, lentamente, do céu; nuvens caliginosas, formadas em massas largas e caprichosas, vagueiam pelo ar; o horizonte tinge-se de uma cor alaranjada, intensa, vívida; ao longe montes azulados, perdidos no silêncio do espaço, como muralhas enormes de uma cidadela invencível. No mar, ao quente reflexo dos últimos raios do sol, de velas abertas às virações repentinas, correm faluas bojudas. Ali é uma vista do arsenal de guerra, apanhada da praia de Santa Luzia. Ao fundo, além, muito além, rola o mar as vagas e vem tumultuoso, irrequieto, espojar-se à praia em um dolente e bruto espreguiçar. O sol banha a natureza. Os telhados e as paredes caiadas das oficinas do arsenal, iluminadas pela luz risonha, parecem dilatar no quadro um longo riso de força diante do mar que geme na areia".
Gonzaga Duque (A arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p. 198-200.)
"A fusão entre arte e vida, todavia, ele a encontrou na pintura de marinhas. Esse gênero desfrutava de certa fortuna no Brasil: D. Pedro II amava as marinhas e os navios de guerra. Antes de Castagneto, contudo, a história da pintura de marinhas no Brasil já contava com o minucioso modelismo naval de Eduardo De Martino, presente nas coleções imperiais, e com as marinhas 'elétricas' de Émile Rouède, assim denominadas porque pintadas de pronto e não raro de memória. Estas certamente influenciaram a técnica do jovem Castagneto. Daí ele extraiu o amor pela técnica rápida e sintética e pelo suporte improvisado - cartão, fundo de caixas de charuto, pratos, palhetas e até mesmo, num caso, uma pele de bacalhau seco. Também a lembrança de De Martino está presente na única tentativa ambiciosa de uma grande marinha histórica produzida pelo pintor, Salva na Baía de Guanabara em Homenagem a Dom Pedro II, hoje no Museu de Arte de São Paulo, Masp, pintada para obter uma viagem-prêmio da Academia, em 1887.
Foi a maior decepção do artista, nada talhado para esse tipo de celebração. A pintura de Castagneto necessitava de outros temas: 'Toda a atenção do artista convergiu para a vida humilde dos pescadores, para os míseros recantos de beira-mar, onde a paisagem, se não houvesse colmo de gente da pesca, que traduzisse a poesia de sua existência obscura, pudesse lembrá-la pela proximidade da terra'.
Para Castagneto, o pintor do mar, o mar era um estado de alma e a pintura, uma forma de vida. Vivia na praia de Santa Luzia, numa casa que parecia um barco. Qualquer objeto lhe servia para fixar a lembrança de um trecho de praia ou para copiar um tema. Apoderava-se, então, do tema com o traço febril da mão e com grande economia de meios, até transfigurá-lo numa imagem simplificada e rápida, a fim de não perder a força da sensação.
Em certos pontos, percebem-se a violência do gesto, o uso de instrumentos improvisados e até mesmo do polegar, à maneira dos escultores. Os botes a seco de Castagneto ultrapassam os limites de gênero, atingido, não raro, o domínio da expressão lírica, como nos cascos-hieróglifos de De Fiori, Volpi, ou nas areias deslumbrantes de Pancetti.
Por fim, conseguiu viajar para o sul da França, onde foi estudar com um marinhista então famoso, François Nardi. Retornou ébrio de luz. Capturou-a em quadros como O Forte de Gragoatá, no MNBA, mas, confuso e doente, a morte precoce veio içá-lo para fora da ressaca".
Luciano Migliaccio (MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 129-130.)
Acervos
Acervo Instituto Itaú Cultural (São Paulo SP)
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (São Paulo SP)
Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro RJ)
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA (Rio de Janeiro RJ)
Exposições Individuais
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vieitas;
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vieitas;
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1889 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégante;
1890 - Juiz de Fora MG - Individual, na redação do jornal O Farol;
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no salão do jornal O Paiz;
1894 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba;
1895 - São Paulo SP - Individual, no Salão de Concertos da Paulicéia;
1895 - São Paulo SP - Individual, no Banco União;
1896 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Papelaria Gomes;
1897 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Papelaria Gomes.
Exposições Coletivas
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de ouro;
1885 - Rio de Janeiro RJ - Loja Laurent de Wilde: mostra inaugural, na Loja de Laurent de Wilde;
1885 - Rio de Janeiro RJ - Castagneto e França Júnior, na Casa Vieitas (Rio de Janeiro, RJ);
1887 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras, Castagento e Henrique Bernardelli, no Grêmio de Letras e Artes;
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1894 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1895 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes;
1898 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Retrospectiva, no Centro Artístico.
Exposições Póstumas
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no Museu Nacional Belas Artes;
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século de Pintura Brasileira: 1850-1950, no Museu Nacional Belas Artes;
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados;
1961 - Rio de Janeiro RJ - O Rio na Pintura Brasileira, na Biblioteca Estadual da Guanabara;
1963 - Assunção (Paraguai) - La Pintura en el Brasil;
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970, na Pinacoteca do Estado;
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana;
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no Museu Nacional Belas Artes;
1978 - São Paulo SP - Individual, na Sociarte;
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Ochenta Años de Arte Brasileño, no Banco Itaú;
1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte;
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes;
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1982 - Rio de Janeiro RJ - Giovanni Battista Castagneto 1851-1900: o pintor do mar, na Acervo Galeria de Arte;
1982 - Rio de Janeiro RJ - Pintores Fluminenses, no MAM/RJ;
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap;
1982 - São Paulo, SP - Pintores Italianos no Brasil, no MAM/SP;
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes;
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC;
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR;
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira;
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André;
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal;
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp;
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado;
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII - XX, no Masp;
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado;
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor;
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis,, no CCBB;
1989 - São Paulo SP - Pintura Brasil Século XIX e XX: obras do acervo Banco Itaú, na Itaugaleria;
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB;
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil, 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA;
1993 - Santos SP - Seis Grandes Pintores, na Pinacoteca Benedito Calixto;
1994 - Rio de Janeiro RJ - Iconografia da Paisagem;
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado;
1995 - Campinas SP - Da Marinha à Natureza Morta;
1997 - Rio de Janeiro RJ - Giovanni Battista Castagneto: 1851-1900, na Pinakotheke;
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Espaço Cultural da Marinha;
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs;
2000 - São Paulo SP - 51º Salão Paulista de Belas Artes, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - homenageado;
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal;
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp;
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado;
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap;
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural;
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty;
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro;
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB;
2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB;
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos;
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB.
Fonte: CASTAGNETO . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 12 de jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Retrato do Pintor Castagneto , 1880 , Estêvão Silva, Reprodução Fotográfica Lamberto Scipioni
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Biografia Wikipédia
Primeiros passos
Na Itália, em sua cidade natal, Gênova, Giovanni Battista Castagneto era um marinheiro. Exercia a profissão com o pai, Lorenzo Di Gregorio Castagneto. Em 1874, junto ao seu pai, o futuro pintor chegou ao Rio de Janeiro. Sem muitas informações sobre sua aptidão para arte e afazeres na Itália, ao chegar, seu pai o matriculou na Academia Brasileira de Belas Artes. Como tinha uma idade avançada, falsificou seus documentos e conseguiu ingressar o aspirante nas aulas de desenho geométrico, desenho figurativo e matemática, no começo do curso.
Muitos estudiosos e contemporâneos do artista já declaravam seu talento e proatividade em melhorar e incrementar sua produção. Sua produção em relação às marinhas, ao mar, o barco e as pessoas foi objeto de estudo do pintor desde seus tempos. Deixando claro seu amor e sua admiração pelo movimento e pelo ato de navegar, como indicado por Donato Mello Júnior, ao dizer que o pintor “produziu grande parte de sua obra embarcando numa canoa, pintando em fundo de caixas de charutos, sinal de sua pobreza”, que fora criado com isso junto ao seu pai, Lorenzo. Em A Arte Brasileira, livro produzido pelo crítico Gonzaga Duque, em 1888, o autor escreveu:
"Ele aprendeu consigo próprio. Arranjou uma caixa de tintas, comprou cartões e telas, alugou um bote e partiu para uma viagem à volta das nossas praias. Não quis saber de leis nem de regras. Precisava unicamente da natureza, da natureza vigorosa, para seus estudos de visu. Passava uma falua de velas enfunadas; e, febril, o punho ligeiro, a vista firme, esboçava-a num cartão, em três, quatro segundos. Uma onda corcoveava, contorcia-se, levantava-se rugindo, vinha abater-se às bordas da sua embarcação; pois bem, durante esse tempo os seus pincéis acompanhavam na tela o seu movimento, e quando ela abatia-se, os pincéis cessavam de trabalhar. A onda morria, no mar, fundindo-se com o grosso da água; mas, na tela, ficava viva, tumultuosa, arqueando o dorso, bramindo. Uma rajada de vento soprava de sudoeste: nuvens rolavam no céu; o mar cuspia. E quando à rajada sucedia a quietude, o artista tinha mais uma tela pronta."
Nas aulas, Castagneto se destacava e chamava atenção de seus professores. Alguns deles como Victor Meirelles e João Zeferino da Costa. Zeferino, em 1883, o chamou para trabalhar nas obras de reforma da Igreja da Candelária. Como assistente, Castagneto passou a melhorar suas aptidões e logo em seguida, em julho daquele ano, passou a dar aula de desenho em algumas escolas locais.
Primeira exposição
De 1882 a 1884, Castagneto foi instruído por Georg Grimm. Trabalho junto ao pintor e, após a quebra de Grimm com a Academia Brasileira, Giovanni ajudou-o a estabelecer o estúdio do Grupo Grimm na praia de Boa Viagem, em Niterói, se tornando o primeiro membro do grupo, que depois contaria com Antônio Parreiras e Hipólito Boaventura Carón.
A prova que Castagneto já se destacava em entre os alunos da Academia veio em 1884, quando, junto ao pintor Georg Grimm, conquistou medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes. Causou espanto, a surpresa foi grande e consagrou-se definitivamente como pintor após esta conquista.
Com isso, alguns afazeres vieram. Castagneto passou a lecionar também no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro e no Liceu de Niterói. Com seu desempenho e constante melhoria, após três exposições produzidas, em 1886 conquistou seu lugar no Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, e conseguiu expor suas obras individualmente pela primeira vez em sua vida, na Casa Vietas, onde já avia exposto junto com outros pintores. Nesta exposição algumas obras, como Praia de Santa Luzia, Porto do Rio de Janeiro, Praia e Igreja de Santa Luzia, Santa Casa de Misericórdia e Praia de Santa Luzia no Rio de Janeiro, Faluas Ancoradas na Ponta do Caju no Rio de Janeiro, Embarcações atracadas a um cais na Baía do Rio de Janeiro, Praia e Igreja de Santa Luzia (2), Marinha com Barco, Canoa a seco na Praia em Angra dos Reis, Rua de Santa Luzia, Rio de Janeiro, Embarcações ancoradas no Porto do Rio de Janeiro, Pedras à Beira Mar na Praia de Icaraí, Estação de Bondes e Cocheiras da Linha de Carris Vila Guarani na Antiga Praia Formosa, Navio Ancorado, Praia de Santa Luzia a Noite, No Varadouro – Rio de Janeiro, no Varadouro – Angra dos Reis, Niterói, marinha com barco e Marinha já estavam prontas para exposição.
No ano seguinte, Castagneto deixou de lecionar no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro e expôs na Glace Élégante. Ainda sim, após algumas recusas pela Academia de Belas Artes, as frustações do artista cresceram. As críticas que os jornais promoveram “causaram profunda amargura no artista” segundo Gonzaga Duque, o que fez com que a produção tornou-se irregular e o artista parasse certo período de produzir suas obras. Mesmo com esses empecilhos e uma vida desregrada já neste início, em 1890, o artista expõe seu trabalho na redação do jornal O Faro, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Após este feito, parte rumo à França, com ajuda dos amigos que o incentivam a viajar em virtude de maior aprendizado mediante sua obra já produzida.
A retomada de Castagneto
Na França, Castagneto tem suas primeiras experiências em Paris. Logo nos primeiros contatos na Academia de Belas Artes de Paris, o artista italiano conheceu o administrador na época, Frédéric Montenard (1849 – 1926), que também é um artista que pinta barcos e marinhas. Montenard, como já havia fundado um ateliê em Toulon (sua localização está no mapa a direita) tem muito conhecimento deste tipo de arte marinha. Com seus contatos e alguns artistas que frequentavam seu ateliê, indica a Castagneto o marinhista François Nardi (1861 – 1936).
Nardi era um artista, segundo Montenard, com muito talento e foi convencido de ir a Paris estudar com ele na Sociedade de Belas Artes. Por uma contribuição, François aceitou ensinar Castagneto. Nardi era conhecido por uso de cores mais vivas, que davam diferentes aspectos de luz e sombra somados aos formalismos das peças. Certos aspectos que diferenciariam de sua pintura produzida no Brasil. O pintor francês tinha aspectos envolvidos com os efeitos de luz na água, sua atmosfera junto aos barcos e a praia. Com a desistência de Frédéric Montenard em sua empreitada às águas do atlântico, junto com Giovanni, retorna ao seu ateliê e volta a lecionar na Academia de Belas Artes de Toulon. Presidido e orientado por Nardi, Castagneto aprende diferentes tonalidades e efeitos de luz diante das cores, composições que mudam sua obra e retomam o trabalho do artista, empolgado com os novos aspectos.
Ao voltar para o Brasil, em 1893, o manejo volta. A regularidade torna-se orgulhosa aos olhos do artista e da crítica. Giovanni Castagneto então produz suas peças mais conhecidas, como a Marinha do Barco (1895) e Trecho da Praia de São Roque em Paquetá (1898). O primeiro em viagens pelo Brasil, especificamente em São Paulo, onde percorre os rios que pertencem a cidade em algumas de suas exposições e produções. A vinda de Castagneto a São Paulo foi motivada pelas exposições de Antonio Parreiras e Francisco Aurélio de Figueiredo e Mello, pois ambas obtiveram sucesso de vendas. Como em Paris, João Battista não tinha predileção pela modernidade. A área urbana foi ignorada pelo autor, que passou o ano de 1895 praticamente entre São Paulo e Santos, onde realizou duas exposições individuais: no salão nobre do Banco União de São Paulo, de junho a aproximadamente agosto e no Salão de Concertos da Paulicéia, em outubro. Nesta época o artista teve grande sucesso de vendas com os colecionadores locais. De São Paulo a Santos, Castagneto passou a pintar trechos de sua viagem em busca das paisagens e da natureza, principalmente pela esfera aquática.
Já na segunda obra, mostra o quase fim de sua vida. De 1897 a 1898 a Ilha de Paquetá foi sua casa, comprada com o dinheiro que ganhou no Estado de São Paulo até sua saúde tornar-se precária. Gonzaga conta que Giovanni Battista Castagneto sempre teve um comportamento rebelde, “parecido com o mar”, que não atendia convenções e era bem boêmio. Sua condição precária e física muito fraca, a falta de cuidado culminou em uma série de doenças. Todavia, sem muitos cuidados e muita embriaguez, o artista faleceu na Casa de Saúde Ferreia Leal, no Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro.
Características de sua obra
Algo que permitiu que Castagneto possui-se certa fama e eclodisse no mundo das artes no Rio de Janeiro é o aspecto marinho que se consistia na época. Sua tradição paisagística e amor pela marinha combinavam com os anseios de Dom Pedro II. O artista não pintava quadros enormes como Eduardo De Martino e Gustave James, porém, tinha essa característica específica do mar, diferente dos outros artistas que foram convidados a pintar barcos enormes e paisagens confrontadas com a batalha do Paraguai, por exemplo.
Castagneto possui uma tela com barco enorme, salvo no MASP, intitulado A Grande Gala na Baía do Rio de Janeiro (1887), todavia, é um quadro abruptamente atípico diante de sua obra. Sua autoria sempre remeteu a pequenas embarcações, recantos da praia, baía e a própria marinha, como mostra Gonzaga Duque:
“Toda a atenção do artista convergiu para a vida humilde dos pescadores, para os míseros recantos de beira-mar, onde a paisagem, se não houvesse colmo de gente da pesca, que traduzisse a poesia de sua existência obscura, pudesse lembrá-la pela proximidade da terra”.
No começo de sua história com a arte, Castagneto produz pinturas de acordo com a natureza e principalmente a marinha. O aspecto canônico e arquetípico do navegante pobre na canoa em direção nenhuma apenas com seus materiais para pintura é vivido por Giovanni. Sua experiência no mar e na experiência de vida que teve junto ao seu pai Lorenzo foram aspectos importantes em sua pintura. Principalmente se colocando em certos aspectos dentro de sua obra.
Filho de um lobo-mar, de um velho nauta do Mediterrâneo, deixa claro a preferência pela inconstância do mar. Há um aspecto do impressionismo colocado nessa agressividade das águas marinhas que se debruçam sobre os rochedos, areia e marinha. Todavia, diferente dos aspectos megalomaníacos e medievais, Castagneto tem um aspectos sintético e rápido em sua obra. O suporte improvisado em suas andanças sem rumo estão presentes nesta técnica que era natural, devido a necessidade.
Após o prêmio em 1887 sua obra passou a ter um aspecto mais pessoal diante dos pescadores. Passou a retratar a vida humilde de alguns pescadores que se encontravam no recanto das baías. Os barcos colocados a seco, com maltrapilhos e cangas brancas esticadas, manchadas, em contra partida a navegações grande ao fundo da tela, são aspectos que Castagneto passou a tomar como forma em sua obra. Tudo isso movido a cores padecidas e proximidade com a terra, deixando claro que os recantos eram produzidos para gente da pesca, traduzindo até uma poesia obscura diante do mar já possessivo pelas grandes embarcações.
Depois das constantes frustrações e viagem pela França, o traçado de Castagneto volta a tomar forma e simplicidade, todavia, agora conta com novos aspectos pictóricos, cores e também movimentações da água e da praia. Há uma gestualidade maior dentro de seus pincéis, desenhos rigorosos que marca formas e desestruturam-se entre si nesta simplicidade dos acontecimentos nas pinturas:
(...) Ora, é uma marinha de uma tonalidade suave e leve, com um pequeno barco ao centro dando ao conjunto um encanto todo sereno e feliz. Ora, é o rancho da praia coberto de leprosas telhas desmanteladas pelo vento. Aqui é um assunto tomado ao cair da tarde. O sol desaparece, lentamente, do céu; nuvens caliginosas, formadas em massas largas e caprichosas, vagueiam pelo ar; o horizonte tinge-se de uma cor alaranjada, intensa, vívida; ao longe montes azulados, perdidos no silêncio do espaço, como muralhas enormes de uma cidadela invencível. No mar, ao quente reflexo dos últimos raios do sol, de velas abertas às virações repentinas, correm faluas bojudas. Ali é uma vista do arsenal de guerra, apanhada da praia de Santa Luzia. Ao fundo, além, muito além, rola o mar as vagas e vem tumultuoso, irrequieto, espojar-se à praia em um dolente e bruto espreguiçar. O sol banha a natureza. Os telhados e as paredes caiadas das oficinas do arsenal, iluminadas pela luz risonha, parecem dilatar no quadro um longo riso de força diante do mar que geme na areia".
Sempre com formas um tanto quanto pessoais, as pinturas de Castagneto tomaram forma de acordo com o sentido de sua vida. Ao fim de 1896, já com aspectos ébrios e tomados pelo boêmia, o autor possuía pinceladas forte e agressivas, de modo progressivo, que Carlos Maciel Levy indicou como a volta da simplicidade, mas muito mais representativa. Ainda sim, deixa claro o importante momento em que viveu, que, de acordo com o autor, “Castagneto morreu com o único período que, na história, poderia comportar sua arte romântica e aberta; mais cedo, teria sido podada como manifestação de loucura; mais tarde, interpretada como um simplismo piegas e reacionário (...)"
Fases pictóricas
Em primeiro ponto é claro destacar que Giovanni Castagneto tem um traçado gestual livre, com tendências ao monocromatismo. Seu amor pela navegação provém de seu pai, porém, a natureza e seus aspectos em movimento tem forte tendência de Georg Grimm.
Em sua segunda fase, após sair da Acadêmia de Belas Artes, muitos o destacam como impressionista, porém, neste sentido histórico e positivista, a tentativa de demarcar o autor em escolas é um tanto quanto complicada. Sua sensibilidade, segundo Gonzaga e Maciel deve-se muito ao romantismo, pois interpreta a natureza de acordo com seus sentimentos mais pessoais, como por exemplo a escolha dos barcos e dos pescadores, onde tomam pinceladas impulsivas e violentas para deixar claro o espaçamento farto e o corte de figuras desenhadas. Começam-se a desenhar seus aspectos consolidados após Toulon, onde aprendeu com François Nardi.
Com o francês as tonalidades mudam, os sentimentos de revoltam aumentam, as paletas de cores mudam e os traçados são violentos. Um lirismo que, segundo Gonzaga Duque, aliado a execução rápida entregam o pintor manso e irascível: "Como o mar o seu temperamento é rebelde" e "Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todo os enlevos, toda a poesia das vagas".
Questão das séries
Um fato curioso na obra de Castagneto é a que ao longo de sua produção artística, Castagneto realizou uma grande quantidade de obras que repetem um mesmo motivo. Por vezes os elementos são os mesmos e as alterações consistiam no enquadramento do artista, seu tratamento técnico e o suporte no qual utilizava para produzir as telas, assim, muitas vezes mudando o material. O método que o artista utiliza sugere uma questão de pintura em série, principalmente por representar certos locais mais de uma vez, como Paquetá e Niterói, com diferentes pontos de vista. Todavia, não pode ser afirmada, apenas seu objeto de desejo.
A vida bucólica, os pescadores e principalmente a atmosfera marinha são objetos que João Batista não deixa passar. Podemos assim, destacar a modernidade de Castagneto na técnica, já a capacidade de produzir diferentes elementos de uma mesma realidade são ações pela qual não são tão comuns para a época. O ambiente francês parece ter favorecido essa criação e a inovação do artista.
Curiosidades
Segundo o biógrafo do pintor, Carlos Roberto Maciel Levy, Castagneto, ao pretender ingressar na Academia, em 1877, já tinha 23 anos. Como contado acima, o pai, ao querer a admissão do filho na Belas Artes, falseou informações ao declarar que residia na Brasil desde 1862 e que Giovanni Battista completara 16 anos de idade. Portanto, Castagneto nasceu em 1862. Desta maneira, ao falecer em 1900, já contava com quase cinquenta anos e não apenas trinta e oito como anteriormente se acreditava.
Tinha um grau de instrução muito precário, beirando o analfabetismo, como provam os exames que realizou na Academia. Apesar disso, foi aceito como ouvinte.
Ao total de suas telas, que beiram quase 30 obras cadastradas oficialmente, apenas duas foram encomendadas.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 12 de janeiro de 2018.