Porcelana da Companhia das Índias Ocidental ou simplesmente Companhia das Índias, foi o nome genérico pelo qual se tornou internacionalmente conhecida toda porcelana originária da China, considerada uma preciosidade. Empresas de navegação criadas em vários países da Europa com o objetivo de transportar mercadorias compradas no Oriente, foram denominadas "Companhia das Índias Ocidental". Não se tratava de produtos da Índia, mas principalmente da China, importados para satisfazer encomendas de clientes da Europa e das Américas. Os portugueses levavam porcelana para o Ocidente desde 1481, quando uma expedição comandada por Bartolomeu Dias chegou ao Oriente depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança. O comércio propriamente dito, também foi iniciado por eles, no início do século XVI, e, depois, franceses, holandeses e ingleses também entraram na parada com suas Companhias. A Inglaterra assumiu a liderança desse negócio por longos 250 anos, destacando-se a China Trade Porcelain e Chinese Export Porcelain. Para os ocidentais, a brancura e a translucidez eram as características que definiam uma boa porcelana. Para os chineses, entretanto, a característica mais importante era a ressonância, ou seja, além da brancura e translucidez, que a peça emitisse som.
Companhias das Índias
Empresas criadas em vários países da Europa, com o objetivo de transportar mercadorias compradas no Oriente. Não se tratava de produtos da Índia, mas principalmente da China, importados para satisfazer encomendas de clientes da Europa e das Américas. Por extensão, assim se chama a porcelana exportada da China e transportada nos navios das companhias das Índias, entre os séculos 16 e 19.
Os comerciantes portugueses foram os primeiros europeus a negociar com a China, desde o século 16. Entre 1580 e 1640, a península ibérica (Espanha e Portugal) foi governada por um único soberano espanhol, circunstância que modificou a situação. A Holanda também foi domínio da Espanha na época, declarando-se independente em 1579. Os holandeses insurgentes esqueceram Portugal como intermediário e criaram, em 1602, uma empresa para comerciar diretamente com o Oriente, a Vereenigde Oostindische Compagnie (Companhia Holandesa das Índias Orientais). O Brasil conheceu a influência desta corporação, já que ela estava em pleno funcionamento quando aconteceu a ocupação holandesa no Nordeste (séc. 17).
Quando a Corte portuguesa veio para o Brasil (1808), trouxe consigo serviços de porcelana desta origem, parte dos quais se encontra hoje no Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro. A nobreza local encomendou louça chinesa, sobretudo azul e branca, que ficou conhecida impropriamente como “Macau”. Os brasileiros mais ricos encomendaram as peças com adornos e brasões familiares.
Conforme a cor predominante na decoração, essa porcelana pode chamar-se família verde, família rosa, mandarim, etc. Outras companhias das Índias foram a inglesa (East Índia Company), a francesa (Compagnie des Indes)e além de outras na Áustria, Escócia, Suécia e Espanha.
Porcelana
“(...) No Ocidente, a palavra cerâmica tem suas raízes no grego kéramos (vaso de barro cozido, usado à mesa). Em português define artefatos de argila cozida, que podem ser porosos e não vitrificados (inglês earthenware; português terracota) ou esmaltados e vidrados (português faiança, do francês faïence)(...). A essa argila acrescentam-se sílica ou alumínio (sob a forma de areia, como quartzo pulverizado, ou sílex calcinado, para formar o que se chama de têmpera, que melhora a plasticidade da argila e reduz a contração excessiva. Fica assim relativamente “refratária” (resistente ao fogo)(...)além de outros elementos, que são necessários para que torne fundível. Quanto à palavra porcelana, ela passou a ser habitualmente usada pelos ocidentais no século 15, para descrever peças chinesas que chegavam à Europa como novidade.” (Ricardo Joppert, A porcelana chinesa, Artlivre, Rio de Janeiro, 1982).
A porcelana, criada há doze séculos pelos chineses, é a mistura de caulim (argila branca refratária, não fundível, livre de impurezas) com um material que se derrete e assim mantém coesas as moléculas do caulim. O resultado é uma pasta de brancura total, translúcida.
Família Rosa
Do francês famille rose. Decoração da porcelana chinesa, típica das importações das companhias das Índias (sécs. 17-19), muito apreciada em Portugal e no Brasil.
Quando o príncipe D. João VI veio para o Rio de Janeiro, vieram diversos exemplares de serviços de porcelana com esta coloração, que hoje podem ser admirados no Museu Histórico Nacional, na mesma cidade. A cor surgiu tardiamente na porcelana chinesa, só em meados do século 18, mediante a utilização de um esmalte (púrpura de Cassius)à base de ouro, importado da Europa.
Família Verde
Do francês famille verte. Decoração da porcelana chinesa (sécs. 17-19) muito apreciada no Ocidente, característica do reinado Kangsi (1662-1722) e continuada no Qianlong (1736-1795). É policromica, porém utiliza predominantemente o esmalte verde em vários tons, do qual chega a apresentar oito nuances. As outras cores mais comuns desta famíliasão: preto, cor-de-berinjela, amarelo e violeta.
Fonte: Raul Mendes Silva, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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Porcelana Companhia das Índias
"Companhia das Índias" é a denominação recebida pela antiga porcelana chinesa, considerada uma preciosidade, fabricada no Sul da China, comercializada e transportada do Oriente para o Ocidente através de empresas de navegação (Companhias de Comércio) denominadas Cia. das Índias Ocidentais. A porcelana só recebeu essa denominação no final do século XVI.
A verdadeira porcelana, produto cerâmico de massa muito fina, vitrificada, translucida comumente, recoberta de esmalte incolor e transparente, branco ou com as mais variadas pinturas e desenhos é originária da China.
Surgiu entre os anos 618/900 d.C., durante a Dinastia Tang. Foi a descoberta do caulim pelos chineses, que permitiu a criação de peças alvas e transparentes. Durante muitos séculos, eles esconderam o segredo dessa arte e só no século XVII, os japoneses, que através dos coreanos tomaram conhecimento desse mistério, passaram a fabricar objetos em porcelana.
Essa porcelana, usada na corte do Imperador chinês, nunca foi produzida em série, nem ao gosto do freguês, nem foi exportada. A especialidade que os chineses exportavam era a Porcelana Companhia das Índias.
Foi a partir da descoberta do Caminho das Índias, por Vasco da Gama, que a porcelana chegou ao mundo Ocidental: 170 milhões de peças (10 milhões delas, foram levadas para Lisboa).
Até o século XVIII, a China deteve a tecnologia da fabricação de porcelana, mas em 1709, um alquimista polonês, que tentava fabricar ouro, acabou por achar a fórmula.
Os portugueses levavam porcelana para o Ocidente desde 1481, quando uma expedição comandada por Bartolomeu Dias chegou ao Oriente depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança. A primeira peça a chegar, foi um gomil, supostamente presenteado ao Rei D. Manuel. O comércio propriamente dito, também foi iniciado por eles, no início do século XVI, e tudo o que traziam era facilmente vendido.
Em 1515, instalaram-se em Macau, onde era fabricada a porcelana azul e branca, conhecida como “borrão”, e os negócios prosperam ainda mais, mas eles não conseguiram manter o monopólio desse comércio. Franceses, holandeses e ingleses entraram na parada com suas Companhias. Em 1600, a Inglaterra passou a competir com todos e acabou por assumir a liderança desse negócio por longos 250 anos, destacando-se a China Trade Porcelain e Chinese Export Porcelain.
Sendo a decoração chinesa representada por símbolos, tradições e mensagens, nem sempre compreensíveis aos ocidentais, a influência europeia na arte chinesa da porcelana era dada pelos agentes comerciais das Companhias, que levavam modelos, formas, brasões e iniciais do Ocidente, sendo que as encomendas em letras ocidentais nem sempre eram reproduzidas com muita fidelidade. E mesmo os brasões e monogramas tinham colorido diverso dos originais. Mas os temas utilizados na decoração da antiga porcelana chinesa foram variados: flores de pessegueiros, cerejeira e ameixeira, galhos de salgueiros, lagos, garças, cisnes, carpas, cenas de guerra, agressivos cães de Fô, animais nascido do imaginário, conquistas amorosas, deuses e crianças a brincar.
Daí encontrarmos, em nossos dias, sopeiras magníficas, grandes travessas, molheiras, legumeiras e corvilhetes, com decorações e formas ocidentais, feitos da mais pura pasta chinesa.
Desde o começo do século passado, o interesse pela porcelana Companhia da Índias tem crescido e importantes coleções podem, então, ser vistas em vários renomados Museus, como o Guimet, de Paris, e o Topkapi, de Istambul.
Cia. das Índias no Brasil
Para o Brasil foram fabricadas várias porcelanas Cia. das Índias sob encomenda. A que ficou mais famosa foi o serviço comemorativo da Independência do Brasil, uma louça constituída de peças para chá. Nos pratos encontravam-se, no centro, as Armas do Brasil e a inscrição em ouro: "Viva a Independência do Brasil". O Brasão se apresentava heraldicamente errado, e na borda quatro motivos - o fumo, o café, duas esferas armilares e duas estrelas - completam a decoração. Existem duas versões sobre essa louça: uma delas diz que o serviço foi encomendado por um grupo de patriotas que o presentearam ao Imperador D. Pedro I; a outra afirma que foi um negociante que presenteou ao Imperador um dos serviços e comercializou os outros.
Bem antes disso foi encomendado o serviço do Reino Unido, que foi usado na Corte e apresenta o brasão do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Nos pratos, esse brasão aparece no centro envolvido por uma série de caracteres chineses. As cores são o vermelho, que traduz a alegria e felicidade, e o dourado, que representa o rio Yang-tsê-Kiang, o maior da China.
O serviço do Príncipe Regente, que foi encomendado quando D. João assumiu a regência do Reino, apresenta-se no estilo Luiz XVI, com seus característicos festões, laçadas rosas e grinaldas, entre medalhões com a efígie de D. João VI, Príncipe Regente e D. Carlota Joaquina, Princesa do Brasil. Medalhões com archotes e trombetas entrelaçados também fazem parte da decoração.
O serviço dos galos é considerado o mais valioso por causa da qualidade de sua porcelana, comparável aos melhores que a China já produziu. Pertence à família rosa, com folhas e flores montadas sobre ramos de bambu, que fazem a cercadura do prato. Cogumelos, borboletas e peônias e dois galos fazem a decoração central desse serviço. Com oito facetas, cada uma delas lembra um imortal da China.
Conhecida como serviço dos pavões, essa louça é considerada a mais comum dos serviços da Companhia das Índias, tendo sido usada no Paço de São Cristóvão. Do tipo exportação e de gosto francês, misto de família rosa e verde, tem como motivo central um casal de pavões sobre um rochedo e uma peônia, planta com flores rosadas ou brancas.
O serviço dos pastores é muito curioso por causa da influência ocidental na decoração. Apresenta um pastor em trajes ocidentais, cercado por dois carneiros. Pertencia à antiga Fazenda Imperial de Santa Cruz. Também proveniente da mesma fazenda é o serviço das corças, que possui as bordas em verde com oito dragões representando os oito imortais. O motivo central da decoração é Si-Wang-Um no bosque, junto ao lendário Lago das Gemas, tendo uma corsa ao lado, e sobre ela um potiche simbolizando o budismo. Sendo um dos maiores aparelhos, nele encontramos vasos, ânforas e peças de ornamentação. Outro serviço que também pertenceu à Fazenda Imperial de Santa Cruz foi o serviço vista grande. Ele é todo em sépia e possui alguns frisos em ouro e algumas rosas. É o único que apresenta figuras geométricas. Numa grande travessa existe uma paisagem com características ocidentais.
O serviço das rosas possui uma característica rara nas porcelanas Cia. das Índias: no verso de alguns pratos há uma inscrição em caracteres chineses que diz "feito com sabedoria por Kong-Wei-Dim". Esse serviço tem uma rica cercadura onde o ouro guarnece rosas de vivo colorido e sobre um fundo rouge-de-fer dá um imenso destaque à borda e no centro um pequeno ramo rosa e ouro completa a decoração.
Outro serviço dessa preciosa porcelana chinesa é o chamado vista pequena. Ele vem guarnecido de um filete azul, onde estrelas estão arrumadas simetricamente e no centro uma reserva redonda com uma paisagem ocidental é cercada de uma elipse, onde sete estrelas guarnecem cada lado.
Estes foram os serviços da Companhia das Índias de uso real. A eles pode-se acrescentar o serviço do Conde da Ribeira Grande. Essa louça ostenta ao centro o brasão de armas do titular, com uma cercadura de folhas, flores e borboletas. Outros serviços de porcelanas das Índias foram adquiridos por nobres e famílias abastadas no Brasil, a exemplo dos nobres e da burguesia rica na Europa da época, pois dava o maior status possuir aparelhos de jantar e de chá. Outros serviços e peças da Companhia das Índias foram trazidos por colecionadores e em contrapartida muitas peças foram levadas do Brasil.
No Brasil, são notáveis as coleções:
Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, composta de peças de oito serviços adquiridos por D. João VI e do serviço completo do Barão de Massarambá (172 peças);
Museu de Arte da Bahia de Salvador, composta por peças do acervo Góes Calmon;
Museu Costa Pinto de Salvador/BA;
Fundação Oscar Americano, em São Paulo.
Fonte: Leticia Muzetti, postado por Leticia Telles em 22 de maio de 2011.
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Cronologia da Porcelana no Brasil
Século VII - A porcelana já é fabricada na China pelo menos desde a Dinastia Tang (618-907).
1295 - Marco Polo traz para a Itália, na volta de sua viagem, o primeiro exemplar de porcelana conhecido na Europa, um pequeno vaso branco.
Séc. XVI - Desde o início do século a porcelana é considerada um objeto de luxo valioso e altamente desejado pela nobreza e os mais ricos na Europa. Era comercializada pelos mercadores de Gênova, Pisa, Veneza e de Portugal. Seu prestígio era também devido ao mistério associado à sua fabricação, um segredo que que permaneceu oculto até meados do século XVIII.
Séc. XVI - Os portugueses iniciam a exportação em larga escala de porcelana oriental para a Europa.
Séc XVII - Chegam ao Brasil, transportadas para a Europa pela Companhia das Índias Orientais holandesa, a porcelana e faiança japonesas.
Entre 1575 e 1597 - Pela primeira vez se consegue fabricar na Europa objetos com aspecto similar à porcelana chinesa (mas ainda não com a dureza e resistência da porcelana autêntica) na Florença, durante o período de governo do Duque Francesco de Medici, por isso mesmo conhecida como "porcelana Medici". Para tal, foi usada uma fornalha projetada por Bountalenti e Fontana.
1583 - Alguns pesquisadores apontam este o ano da chegada da porcelana chinesa aqui no Brasil denominada por Fernão Cardim como "Porcelana da India".
Fonte: Porcelana Brasil, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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Serviços dos Pavões
Serviço dos Pavões (também conhecido como Serviço dos Dois Pavões, ou, em inglês, Double Peacock Service) é um serviço de jantar real, confeccionado em porcelana de pasta dura, de finíssima qualidade, que foi produzido na China do Imperador Qianlong, sob encomenda, para a Europa, trazido e comercializado pela Companhia das Índias Ocidentais. Estima-se que cerca de vinte mil peças do hoje chamado Serviço dos Pavões tenham sido produzidas entre 1750 e 1795, restando hoje cerca de cinco mil distribuídas por todo o mundo. É considerado um dos mais belos serviços de jantar de exportação.
Em formato oitavado, recortado ou redondo, o prato é de louça (porcelana) branca, encaroçada, decorada com esmaltes nas cores habituais da chamada "família rosa". Na sua borda conta figuram quatro ramos postos em cruz e a orla rouge de fer, alternada com chamativas estilizações de ramos na cor azul. No campo, observa-se um casal de pavões (pavo muticus linnaeus) sobre rochas e um ramo com grandes peônias, separados da borda da peça por um friso flordelisado. Além de pratos de vários tamanhos, foram confeccionadas sopeiras de vários tipos, terrinas, molheiras, travessas de vários formatos, manteigueiras, meleiras, wine-coolers e tigelas.
Segundo Edino da Fonseca Brancante, "o pavão em que sobressai a crista e a plumagem verde é originário de Burma e representa nobreza e projeção social. A peônia, em esplêndidos tons vermelhos, é o emblema da beleza feminina, do amor e do afeto (...)", escreveu em seu livro sobre o assunto.
A denominação "Serviço dos Pavões" se dá pelo fato de que as louças são decoradas com esses animais como elemento principal, o que é considerado pelos especialistas uma influência francesa.
História
Foi utilizado pela Família Real Portuguesa e pela Família Imperial Brasileira tanto no Paço de São Cristóvão como também na Fazenda Imperial de Santa Cruz. É um serviço conhecido como “viajante”, pois foi levado da China a Portugal, e de Portugal para o Brasil, quando D. João VI, ainda príncipe, temendo as guerras napoleônicas, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, com sua mãe, D. Maria I.
Os serviços de porcelana chinesa de uso imperial, trazidos para o Brasil por D. João VI, foram dispersos após a proclamação da República, sendo atualmente peças raras, procuradas por colecionadores de todo o mundo. Em 1890, foram realizados diversos leilões pelo leiloeiro Joaquim Dias dos Santos, no Rio de Janeiro, mas seus registros foram logo depois perdidos num incêndio ocorrido pouco depois na loja do leiloeiro.
Hoje em dia
Essas peças são comumente negociadas na Christie's, Sotheby’s, e em várias casas de leilão do mundo. As peças costumam ter valorização máxima no Brasil, em Portugal ou na Inglaterra, onde estão a maioria dos colecionadores.
Há peças do serviço no Museu do Estado da Bahia, no Museu Histórico Nacional, no Museu Simões da Silva, e em algumas das maiores coleções particulares do mundo.
O especialista Almeida Santos, escreve em seu "Manual do Colecionador Brasileiro": "Dentre os aparelhos de uso imperial, no Brasil, contam-se o dos "Galos" , dos "Pastores", da "Corsa" e dos "Pavões". O Serviço dos Pavões é o que há de mais fino em "Família Rosa" e foi feito, sem discussão, de encomenda para a Europa. Os "Pavões" são muito bem trabalhados. Aliás, a louça é por assim dizer, um misto da "Família Verde" e "Família Rosa". Possui grandes rosas pintadas com grande destaque, o que força a classificação na "Família Rosa", mas a decoração, em geral, é da "Família Verde", paisagens e aves".
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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A Louça Brasonada
Apresentando brasões ou armas-de-família, monogramas coroados ou não, algumas com belíssimas composições de flores e frutos, as louças brasonadas estiveram presentes nas mesas de nossos titulares, nobres fazendeiros, militares e membros da corte. Dentro de cada peça desses serviços, testemunha de festas alegres e acontecimentos importantes, existe um pedaço de nossa história, presa aos brasões e iniciais coloridas, que vale a pena conhecer.
Em todos os exemplares dessa louça existe, segundo Victorino Chermont de Miranda, "a mesma sensibilidade para o valor estético e histórico que, mais do que qualquer outro sinal exterior de decoro social vale como um testemunho da vida elegante do Brasil de ontem". Classificada como louça histórica, louça brasonada, louça da aristocracia, significa que pertenceu a condes, barões, viscondes, marqueses e fidalgos de cota d'armas, por oposição à chamada louça real, imperial ou bragantina, restrita aos Paços e seus habitantes.
Uma classificação mais apurada, de acordo com os detentores dos serviços, divide a louça brasonada em três segmentos:
1) A louça dos vice-reis do Brasil e dos titulares e fidalgos portugueses que aqui serviram;
2) A louça dos titulares brasileiros (marqueses, barões, etc., com ou sem honra de grandeza e;
3) A louça de cota d'armas e as dos cidadãos brasileiros ou portugueses, que receberam títulos nobiliárquicos do Rei de Portugal, e os usaram no Brasil, assim como dos condes romanos e dos eclesiásticos em geral.
Outra classificação feita a partir do padrão de decoração, determina quatro categorias:
1) Louça propriamente brasonada, com brasões de armas dos titulares;
2) Louça coroada, que apresenta uma coroa ou símbolo sobre as iniciais ou título do proprietário;
3) Louça monogramada, que possui, como o nome diz, as iniciais de seu titular e raramente as de seu título, e;
4) A louça muda, não personalizada, mas comprovadamente atribuída a algumas das pessoas já mencionadas.
O gosto da louça brasonada remonta à transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, quando foi apurado o modo simples de viver da Colônia, ajustando-o aos hábitos fidalgos da metrópole. Geralmente de origem francesa, essas porcelanas também eram encomendadas em outros países, como por exemplo, a que pertenceu ao Marquês de Abrantes, que veio da fábrica alemã de Saxe; o serviço do Barão de Penedo, que foi feito na tradicional fábrica inglesa de Coppeland & Garret e algumas vieram da China, as conhecidas "Companhia das Índias", como são os serviços do Barão de Nova Friburgo, do Visconde de Itamarati, etc.
Em todo o Brasil são conhecidos 226 serviços personalizados. A seguir, uma relação de louças brasonadas com as informações sobre seus primeiros donos ou titulares.
Visconde de Meriti
Manoel Lopes Pereira Bahia, filho de Domingos Lopes Pereira Bahia e D. Ana Margarida da Silva, foi casado em primeiras núpcias com Dona Maria Margarida da Rocha, filha do primeiro Barão de Itamarati. Foi agraciado com o título de Barão em 23 de dezembro 1853. Barão com honras de grandeza de Meriti em 2 de dezembro de 1854 e finalmente Visconde em 2 de dezembro de 1958. Sua louça, uma das mais belas, apresenta-se em dois serviços que variam apenas no colorido. O primeiro possui uma borda preta com pequenas decorações em ouro, onde, dentro de reservas, estão flores pintadas à mão e composições com frutas e ainda as iniciais P.B. (Pereira Bahia).
Esse titular possuiu outro serviço idêntico variando apenas o colorido da borda que era rosa e a sua decoração central que era flores. Essa porcelana sempre esteve presente nos tradicionais bailes que os Pereira Bahia ofereciam a Suas Majestades, os Imperadores do Brasil, no dia 15 de agosto, após as cerimônias religiosas realizadas na Capela Imperial de Nossa Senhora da Glória do Outeiro.
O palacete Bahia ficava situado no local do atual Palácio São Joaquim, na Rua do Catete. Durante vários anos essa louça foi atribuída a D. Pedro I, pois entenderam que as iniciais P.B. significavam "Príncipe do Brasil". Com o desaparecimento de uma das herdeiras do titular, esta louça foi localizada e a atribuição desfeita. A porcelana não possui marca de fabricação.
Barão de Paty de Alferes
Francisco Peixoto de Lacerda Werneck foi agraciado com o título de Barão em 15 de dezembro de 1832 e Barão com Grandeza em 2 de julho de 1853. Nasceu na Fazenda da Piedade em 6 de fevereiro de 1795 e faleceu na Freguesia de Paty de Alferes em 22 de novembro de 1861. A louça do Barão de Paty de Alferes têm as seguintes característica: uma faixa azul-ferrête na borda, frisada de ouro; na chamada quebra do prato, outro filete dourado e ao centro, encimadas por uma coroa de Visconde, vemos pendentes de uma fita entrelaçada as Ordens de Cristo e a Imperial Ordem da Rosa. Em função das duas comendas, este serviço é conhecido como "serviço das comendinhas".
Visconde de Itamarati
Francisco José da Rocha, nasceu em Miragaia, Portugal, em 1806 e faleceu no Rio, em 1883. Coronel-Comandante da Guarda Nacional e negociante da Corte. Cada peça do seu serviço, Cia das Índias, apresenta uma decoração central diferente, sendo dos mais ricos que se conhece. Entre pássaros e borboletas, vemos ao centro suas iniciais F.J.R. A borda, em ouro intenso, dá-lhe um aspecto suntuoso. Este titular possuiu outro serviço levado por sua esposa, Maria Roma Bernardes, por seu casamento. Este pertencia a seu pai, Pedro José Bernardes, que se apresenta não só com suas iniciais P.J.B., como com paisagens chinesas pintadas em azul, verde e amarelo onde vemos montanhas sagradas da China e, na borda, cenas do folclore chinês.
Visconde de Ouro Preto
Afonso Celso de Assis Figueiredo, Conselheiro de Estado e Senador do Império, foi agraciado com o título de Visconde com as honras de grandeza em 13 de julho de 1888. Nasceu em 1837 e faleceu em 1912. Sua louça é porcelana Limoges, J.P., L. encomendada através de seu depósito J. Klotz. Rue de Paradis, 22, France. Porcelana branca, com frisos e rendilhados de ouro e monograma O.P. encimado pela coroa de Visconde.
Marquês de Itu
Antônio de Aguiar Barros, Visconde de Itu por decreto de 19 de setembro de 1880. Recebera o título de Conde em 7 de março de 1885 e Marquês em 7 de maio de 1887. Filho dos Barões de Itu, nasceu em Itu - São Paulo, em 1823 e faleceu na mesma cidade em 1889. Agricultor e capitalista, foi casado com Antonia de Aguiar Barros, filha dos primeiros Barões de Piracicaba e chegou a ser Vice-presidente da província de São Paulo. Sua louça é porcelana de Vierzon, da manufatura de Hache e Jullien, pasta dura do século XIX, marca nº 68. A borda em creme com extremidade delineada por friso dourado circundando renda em azul e douração fosca. Abaixo, renda dourada e entre a borda e o centro, filete e renda dourada. Ao centro, monograma MY entrelaçado sob coroa de marquês em dourado e azul.
Barão de São Fidelis
Capitão Antônio Joaquim da Silva Pinto, filho de Manuel Joaquim da Silva e de Dona Luíza Maria de Mello, nasceu em Campos, Estado do Rio, em 13 de fevereiro de 1826, onde foi importante agricultor. Morreu também em Campos, a 21 de setembro de 1884. Foi Comendador da Imperial Ordem da Rosa e da Ordem de Cristo de Portugal. Sua louça é de porcelana francesa. O prato possui uma borda rendilhada de ouro e uma barra em azul-pompadour, ao centro, o brasão de armas, encimado pela coroa de Barão. Dentro de reservas de fundo rosa, flores e pássaros pintados a mão. Paquifes ornamentais guarnecem o brasão.
Barão de Avelar e Almeida
Laurindo de Avelar e Almeida era um rico fazendeiro de café na província do Rio de Janeiro. Nasceu em 5 de dezembro de 1849 e faleceu em 25 de novembro de 1902. Foi agraciado com o título de Barão em 28 de julho de 1877. Sua porcelana é francesa com a marca H.C. (Limoges) que aparece no fundo das peças. A decoração é inspirada no gosto japonês, apresentando o monograma de seu titular A.A. encimada por uma coroa de Barão.
Visconde do Rio Branco
José Maria da Silva Paranhos foi agraciado com o título em 20 de outubro de 1870. Foi Conselheiro do Estado Extraordinário e pai do Barão do Rio Branco. De sua louça, deixou dois serviços: o conhecido como "Lei do Ventre Livre", que ostenta na borda do prato uma faixa verde e o monograma R. B., encimado pela coroa de Visconde, terminada por um listel com a inscrição "28 de Setembro de 1871". Porcelana francesa Pillivuyt, de 1872. O outro serviço tem as iniciais R.B. encimadas por uma coroa de Conde e possui uma borda verde com frisos em ouro. É também da França, fabricado na Haviland & Cia. - Limoges.
Barão de Nova Friburgo
Antônio Clemente Pinto era português de nascimento mas com título brasileiro, e foi pai do Conde São Clemente e do segundo Barão de Nova Friburgo. Construtor do atual Palácio do Catete, ali fazia sua morada quando estava no Rio. Sua louça Cia. das Índias com borda em esmalte verde e azul tem reservas com pinturas em sépia, num círculo dourado com as iniciais A.C.P.
Barão da Fonseca
João Figueiredo Pereira de Barros. Seu serviço, Cia. das Índias, possui características que lembram a porcelana inglesa de Derby. Sua decoração obedece aos rigores do século XVIII, tendo ao centro, dentro de um círculo, as iniciais do titular J.F.P.B.
Visconde de Pelotas
José Antônio Correia da Câmara. Brigadeiro, prestou relevantes serviços na Guerra do Paraguai. Recebeu o título de Visconde, com honras de grandeza em 17 de março de 1870. Sua porcelana não tem marca, apresentando na borda decorações em verde-escuro e ouro, encimando o prato um P, coroado com coroa de visconde.
Barão de Tefé
Antonio Luís Von Hoonholtz, foi oficial da marinha. Agraciado com o título de Barão em 11 de junho de 1873, e Barão com grandeza em 10 de março de 1883. Faleceu em 6 de fevereiro de 1921. Os Barões de Tefé foram os pais da senhora Nair de Tefé, que casou com o Marechal Hermes da Fonseca, então Presidente da República. Sua louça apresenta no prato, uma borda azul-escuro, frisada a ouro, tendo à esquerda as letras BT entrelaçadas, coroadas com a coroa de barão. Trata-se de uma porcelana francesa proveniente de "Grand Depot de Porcelaines & Faïences", 21, Rue Drouot, Paris - Succursale 33, Rue Saint-Ferreol, Marseille.
Barão de Santa Helena
Tenente-Coronel José Joaquim Monteiro da Silva foi agraciado com o título de Barão em 13 de dezembro de 1867. Casado em primeiras núpcias com Dona Francisca Monteiro de Barros e em segunda com D. Maria Teresa Monteiro de Castro. Sua porcelana foi feita na França pela Havilland $ Cie, sendo branca, guarnecida de um ramo de rosas na borda, pegando o centro, frisos azuis guarnecem a louça, dando-lhe realce aos relevos.
Barão de Sorocaba
Boaventura Delfim Pereira foi casado com a irmã da Marquesa de Santos. Seu serviço Cia. da Índias possui uma reserva onde constam as iniciais B.D.P., tendo na borda folhas e cachos de uva em verde e roxo.
Conde do Pinhal
Antônio Carlos de Arruda Botelho foi agraciado com o título de Barão em 19 de julho de 1879, com o de Visconde em 5 de maio de 1883, Visconde com grandeza em 28 de fevereiro de 1885 e Conde do Pinhal em 7 de julho de 1887. Era fazendeiro de café no Estado de São Paulo. Nasceu em 1827 e faleceu em 1901. Sua porcelana era francesa sem marca. Apresenta uma faixa vermelha na borda onde se vê grãos de café abotoado. Na borda do prato as iniciais C.P. entrelaçadas, encimadas por uma coroa de Conde.
Conde de São Clemente
Antônio Clemente Pinto nasceu em 1830 e faleceu em 1898. Agraciado com o título de Barão em 3 de julho de 1863, Visconde em 11 de abril de 1888 e Conde, por decreto de 1888. Sua louça é porcelana francesa com borda azul e ouro, ao centro o seu brasão de armas guarnecido com paquifes decorativos encimados de coroa. No verso do prato está escrito "Manufacture de Porcelaine J. Gauvain, Rue de D'Hauteville, 59, Paris".
Conde de São Mamede
Rodrigo Pereira Felício nasceu em Portugal em 1820 e faleceu no Rio de Janeiro em 1872. Foi comerciante e um dos fundadores do "Brazilian and Portuguese Banck, Limited". Visconde de São Mamede, por Portugal, decreto de 12 de setembro de 1866 e Conde por decreto de 2 de março de 1869. Sua porcelana (Veja foto na capa) é européia, pasta dura, sem marca, com os dizeres "Lausanne Suisse" referente à vista pintada no centro do prato. Na borda com folhas douradas o seu brasão.
Barão de Jequiá
Manuel Duarte Ferreira Ferro foi agraciado com o título de Barão com grandeza em 14 de março de 1860. Sua louça era de porcelana francesa, com borda verde e friso de ouro, guarnecida com flores pintadas a mão e encimando o prato, dentro de uma reserva em branco, a inscrição: B. de Jequiá, coroada. No verso do prato: Ch. Pilliyuyt (1867).
Barão de São José D'El Rey
Gabriel Antônio de Barros, Barão por decreto de 7 de fevereiro de 1885, nasceu em Minas Gerais em 1826 e morreu em São José do Rio Preto em 1909. Agricultor e negociante da província de Minas Gerais, era filho de Antônio Barnardino de Barros. Seu serviço de porcelana francesa apresenta a marca de Jullien Fils Ainé. Borda com faixa verde jade ladeada por doisfrisos de tonalidade mais acentuada. Na borda, ainda, monograma "GAB" entrelaçado em verde.
Visconde de São Lourenço
Francisco Gonçalves Martins, Barão com grandeza por decreto de 14 de março de 1860 e Visconde em 15 de novembro de 1871. Nasceu em Santo Amaro -Bahia, em 1807 e faleceu no mesmo estado em 1872. Era filho do coronel Raimundo Gonçalves Martins e de Maria Joaquina do Amor Divino e foi casado com Maria da Conceição Peçanha. Foram pais da Viscondessa do Passe.
O Visconde, Bacharel em direito pela faculdade de Coimbra, foi chefe de polícia, deputado, senador e Presidente da província da Bahia. Foi também Desembargador e Ministro do Supremo Tribunal de Justiça. Seu serviço é de porcelana de Paris, pasta dura do século XIX, da manufatura dos irmãos Honoré, no Boulevard Poissonniere. O prato possui uma borda rendilhada de ouro composição de flores. Separando a borda do centro um círculo rendilhado de ouro entremeado de pérolas e no centro o monograma coroado.
Fonte: Antiguidades Brasileiras, de Paulo Affonso de Carvalho Machado, Louça Histórica, do Museu de Arte de Bahia e A Coleção de Louça Brasonada, da Academia de Letras, por meio da Porcelana Brasil.
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História da Porcelana
Atualmente, a louça branca na qual servimos nossas refeições do dia a dia nem de longe nos remete à maravilhosa história da porcelana. Tipo específico de louça que enlouqueceu as cortes europeias a partir do século XVI.
Origem da Porcelana
A palavra porcelana passou a ser usada na Europa a partir do século XV. Em analogia a uma concha chamada “porcellana”, branca e translúcida.
Usada para revestir taças e cálices, os europeus assim denominaram as delicadas peças que chegavam da China e que se tornaram objetos de prestígio, poder e bom gosto para a realeza do Velho Mundo.
Parece que as primeiras porcelanas que chegaram ao continente vieram nas naus de Vasco da Gama, fruto de uma grande compra feita em Calicut, na Índia.
Com o enorme interesse dos portugueses pelas peças, um segundo carregamento chegaria pouco depois à Lisboa, nas embarcações de Pedro Álvares Cabral.
Mas foram os alemães os primeiros a conseguir descobrir o segredo da fabricação da porcelana na Europa, no século XVIII.
Segundo Ricardo Joppert, em seu livro Curso de História da Porcelana Chinesa, para os ocidentais, a brancura e a translucidez eram as características que definiam uma boa porcelana.
“Lustrosa como as sedas coloridas com que os navios chegavam abarrotados, de um branco tão impecável quanto a espuma batendo nas proas das embarcações, esta substância mágica era tão fina, como uma casca de ovo, que ao erguê-la contra o sol podia-se ver a luz passar”, descreve Janet Gleeson na obra O Arcano – a Extraordinária História da Invenção da Porcelana Europeia.
Para os chineses, entretanto, a característica mais importante era a ressonância, ou seja, que a peça emitisse som.
“Na ressonância está realmente a fronteira que separa cerâmica de porcelana, na China”, ensina Joppert.
Pois as primeiras porcelanas que tanto deslumbraram os europeus eram as porcelanas azul e branca, das dinastias Yuan (1280-1368) e Ming (1368-1644), que tiveram seu apogeu no século XIII.
Depois que os portugueses estabeleceram um caminho marítimo para a China e o Japão, no século XVI, o comércio de porcelana cresceu.
No final do século XVII, após a Companhia das Índias Ocidentais holandesa juntarem-se ao lucrativo comércio, porcelanas dos mais diversos padrões foram importadas para a Europa em grandes quantidades, e a Inglaterra aderiu à moda da porcelana, conhecida popularmente no país como “china”.
Mas esta porcelana azul e branca representa apenas um tipo dentro da variedade encontrada na produção chinesa.
Se as peças de porcelana, dentro do conceito chinês, podiam também ser opacas e de pasta escura, as de porcelana branca eram conseguidas através da combinação de duas matérias-primas aquecidas a temperaturas muito altas (outra diferença fundamental entre a porcelana e outras cerâmicas):
O caulim (ou gaoling), uma argila branca refratária (que permanece branca após a queima a altas temperaturas porque é livre de ferro)
E o petuncê (petuntse), material feldspático derivado de rochas de granito, considerado a argamassa da estrutura da porcelana.
Em altas temperaturas, “o feldspato (petuntse) derrete e vitrifica, impregnando os poros da argila e criando estruturas cristalinas microscopicamente finas, que são exclusivas da porcelana”, ensina Gleeson.
Joppert afirma que a porcelana branca chinesa associou-se estreitamente à pintura. E tinha como motivos as múltiplas manifestações do mundo. Animais, flores, plantas e personagens.
Mas haviam outros gêneros de porcelana, como as chamadas cerâmicas duras, por exemplo, recobertas por verniz verde-azul.
Durante muito tempo, os ocidentais, sem conhecer os segredos da porcelana, tentaram fabricá-la. Acrescentaram vidro moído a diversas variedades de argila.
Na tentativa de conseguir a translucidez, além de areia, osso, conchas e até pó de talco. Na tentativa de se obter o branco puro. Até que o alquimista Johann Frederick Böttger, em Meissen, na Saxônia (Alemanha), descobriu como fazê-la em 1709.
E fez nascer, ali, a primeira fábrica de porcelana da Europa.
Uma segunda fábrica seria instalada em Viena anos depois. Foi ali que se divulgou a moda de combinar a louça inteira de um serviço de jantar, na década de 1730. O primeiro serviço de jantar feito em porcelana europeia surgiu em 1731.
A partir de 1740, outras fábricas pipocaram pela Europa, várias delas na França (Vincennes, Sèvres) na Itália (Capodimonte, Doccia) e na Bélgica. Nestas, estabeleceram-se novos padrões de luxo, com louças de porcelana com pinturas delicadas de paisagens e aves, finalizadas em ouro.
A demanda por xícaras e pires de porcelana aumentou quando bebidas como o chá, o café e o chocolate quente tornaram-se sucesso na Europa. No século XVII. Pois cada bebida exigia seu próprio tipo de bule, xícara e acessórios. Às xícaras, inclusive, associava-se, no século XVI, ideias mágicas sobre a porcelana.
Acreditava-se que, bebendo numa xícara de porcelana, as pessoas estariam protegidas de venenos como arsênico.
O primeiro serviço completo para chá e café foi feito entre 1697 e 1701. Em Dresden, na Saxônia. Mas seu artífice, o ourives Dinglinger, não conseguiu oferecer ao seu rei Augusto, o Forte. Xícaras feitas de porcelana verdadeira para que ele tomasse seu chá.
As presenteadas foram feitas em ouro puro esmaltado, imitando a porcelana oriental. Naquela época, no Extremo Oriente, o chá era feito numa chaleira e servido resfriado em pequenas xícaras de porcelana sem alças.
Mas as frágeis xícaras de chá, com pires delicados e pratos ricamente modelados de porcelana branca produzida na Europa seriam vistos, pela primeira vez, na Feira de Páscoa, em Leipzig.
Na primavera de 1713. E, assim como as pinturas, a modelagem em porcelana alcançaria níveis sofisticados, expressos. Por exemplo, no imenso aparelho de jantar com mais de 12 mil peças chamado “aparelho do cisne”.
Feito na fábrica de Meissen na década de 1720, para o conde de Brühl. Pratos com nervuras de conchas de vieiras, sopeiras coroadas com ninfas, golfinhos e sereias, pranchas para cobrir carnes que lembram praias recheadas de conchas e corais.
Com o passar do tempo, as porcelanas ganharam novos e variados padrões. Passaram a ser fabricadas em todas as partes do mundo. Mas o início de sua produção na Europa é uma história empolgante.
E algumas dessas peças, embora nunca mais apareçam numa mesa de jantar, podem ser apreciadas em museus dedicados a ela. Na Inglaterra, na França e na Alemanha.
Fonte: Revista Sociedade da Mesa, publicado por Ana Caldeira em 11 de maio de 2016.
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Processo de fabricação da Porcelana
Composição da massa
Argila – 10%
Caulino – 40%
Feldspato – 25%
Quartzo – 25%
Existem dois tipos de “massa”: a pastosa e a líquida.
Massa Pastosa
A massa pastosa é utilizada em peças modeladas em tornos. Depois de misturada, a massa é peneirada, em seguida é colocada em filtroprensas (equipamento de filtragem da água sob pressão), que tem por finalidade retirar o excesso de água deixando aproximadamente 25% de umidade.
A massa prensada é retirada e acondicionada em depósitos de envelhecimento, para sua conservação até à etapa subsequente, a de vácuo, que transforma a massa em uma mistura homogênea e sem ar. Neste momento, essa massa atinge maior grau de plasticidade, podendo ser torneada.
Massa Líquida
Trata-se da mesma massa, porém diluída. Contém aproximadamente 30% de água. Também é chamada de “barbotina” e é usada na fabricação das peças para as quais se usa um molde. O molde é preenchido com a massa líquida, e depois de um breve tempo de secagem parcial, esse molde é aberto para a retirada, de seu interior, da peça já moldada.
Peças moldadas a líquido
Este processo também é chamado de “colagem”. Consiste em encher formas de gesso com a massa líquida. Após decorrido o tempo necessário para formação das paredes na espessura desejada (absorção da água pelo gesso), o excesso de massa é despejado. Os cabos e alças passam pelo mesmo processo e são colados manualmente.
As peças obtidas por colagem são: bules, leiteiras, cafeteiras, sopeiras, manteigueiras, açucareiros, travessas, etc. Após a secagem todas as peças são esponjadas para corrigir eventuais imperfeições.
Queima e Verniz
Depois de secas as peças sofrem a primeira “queima”, denominada “biscoito”, a 900°C, com o objetivo de dar às peças resistência e porosidade para a perfeita absorção do verniz. Nesta etapa as peças adquirem um tom rosado.
O verniz é composto pelos mesmos materiais da massa, em quantidades diferentes. Através de um processo manual de imersão, o verniz adere à superfície da peça, formando uma película de cobertura. Após a aplicação do verniz ocorre uma segunda queima, que é realizada a uma temperatura que varia entre 1.300 °C a 1.350 °C.
Nesta fase a massa torna-se completamente compacta, totalmente sem porosidade, adquirindo cor branca e vitrificada (fusão do verniz sobre a massa). Esta segunda queima dura em média 31 horas, podendo chegar até 89 horas, dependendo do forno utilizado. As peças já prontas são encaminhadas para o setor de classificação, que controla a qualidade do produto. Então este é lixado e fica pronto para ser decorado.
Fonte: História Catarina, publicado em 27 de novembro de 2017.
Crédito fotográfico: Wikipédia
Porcelana da Companhia das Índias Ocidental ou simplesmente Companhia das Índias, foi o nome genérico pelo qual se tornou internacionalmente conhecida toda porcelana originária da China, considerada uma preciosidade. Empresas de navegação criadas em vários países da Europa com o objetivo de transportar mercadorias compradas no Oriente, foram denominadas "Companhia das Índias Ocidental". Não se tratava de produtos da Índia, mas principalmente da China, importados para satisfazer encomendas de clientes da Europa e das Américas. Os portugueses levavam porcelana para o Ocidente desde 1481, quando uma expedição comandada por Bartolomeu Dias chegou ao Oriente depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança. O comércio propriamente dito, também foi iniciado por eles, no início do século XVI, e, depois, franceses, holandeses e ingleses também entraram na parada com suas Companhias. A Inglaterra assumiu a liderança desse negócio por longos 250 anos, destacando-se a China Trade Porcelain e Chinese Export Porcelain. Para os ocidentais, a brancura e a translucidez eram as características que definiam uma boa porcelana. Para os chineses, entretanto, a característica mais importante era a ressonância, ou seja, além da brancura e translucidez, que a peça emitisse som.
Companhias das Índias
Empresas criadas em vários países da Europa, com o objetivo de transportar mercadorias compradas no Oriente. Não se tratava de produtos da Índia, mas principalmente da China, importados para satisfazer encomendas de clientes da Europa e das Américas. Por extensão, assim se chama a porcelana exportada da China e transportada nos navios das companhias das Índias, entre os séculos 16 e 19.
Os comerciantes portugueses foram os primeiros europeus a negociar com a China, desde o século 16. Entre 1580 e 1640, a península ibérica (Espanha e Portugal) foi governada por um único soberano espanhol, circunstância que modificou a situação. A Holanda também foi domínio da Espanha na época, declarando-se independente em 1579. Os holandeses insurgentes esqueceram Portugal como intermediário e criaram, em 1602, uma empresa para comerciar diretamente com o Oriente, a Vereenigde Oostindische Compagnie (Companhia Holandesa das Índias Orientais). O Brasil conheceu a influência desta corporação, já que ela estava em pleno funcionamento quando aconteceu a ocupação holandesa no Nordeste (séc. 17).
Quando a Corte portuguesa veio para o Brasil (1808), trouxe consigo serviços de porcelana desta origem, parte dos quais se encontra hoje no Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro. A nobreza local encomendou louça chinesa, sobretudo azul e branca, que ficou conhecida impropriamente como “Macau”. Os brasileiros mais ricos encomendaram as peças com adornos e brasões familiares.
Conforme a cor predominante na decoração, essa porcelana pode chamar-se família verde, família rosa, mandarim, etc. Outras companhias das Índias foram a inglesa (East Índia Company), a francesa (Compagnie des Indes)e além de outras na Áustria, Escócia, Suécia e Espanha.
Porcelana
“(...) No Ocidente, a palavra cerâmica tem suas raízes no grego kéramos (vaso de barro cozido, usado à mesa). Em português define artefatos de argila cozida, que podem ser porosos e não vitrificados (inglês earthenware; português terracota) ou esmaltados e vidrados (português faiança, do francês faïence)(...). A essa argila acrescentam-se sílica ou alumínio (sob a forma de areia, como quartzo pulverizado, ou sílex calcinado, para formar o que se chama de têmpera, que melhora a plasticidade da argila e reduz a contração excessiva. Fica assim relativamente “refratária” (resistente ao fogo)(...)além de outros elementos, que são necessários para que torne fundível. Quanto à palavra porcelana, ela passou a ser habitualmente usada pelos ocidentais no século 15, para descrever peças chinesas que chegavam à Europa como novidade.” (Ricardo Joppert, A porcelana chinesa, Artlivre, Rio de Janeiro, 1982).
A porcelana, criada há doze séculos pelos chineses, é a mistura de caulim (argila branca refratária, não fundível, livre de impurezas) com um material que se derrete e assim mantém coesas as moléculas do caulim. O resultado é uma pasta de brancura total, translúcida.
Família Rosa
Do francês famille rose. Decoração da porcelana chinesa, típica das importações das companhias das Índias (sécs. 17-19), muito apreciada em Portugal e no Brasil.
Quando o príncipe D. João VI veio para o Rio de Janeiro, vieram diversos exemplares de serviços de porcelana com esta coloração, que hoje podem ser admirados no Museu Histórico Nacional, na mesma cidade. A cor surgiu tardiamente na porcelana chinesa, só em meados do século 18, mediante a utilização de um esmalte (púrpura de Cassius)à base de ouro, importado da Europa.
Família Verde
Do francês famille verte. Decoração da porcelana chinesa (sécs. 17-19) muito apreciada no Ocidente, característica do reinado Kangsi (1662-1722) e continuada no Qianlong (1736-1795). É policromica, porém utiliza predominantemente o esmalte verde em vários tons, do qual chega a apresentar oito nuances. As outras cores mais comuns desta famíliasão: preto, cor-de-berinjela, amarelo e violeta.
Fonte: Raul Mendes Silva, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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Porcelana Companhia das Índias
"Companhia das Índias" é a denominação recebida pela antiga porcelana chinesa, considerada uma preciosidade, fabricada no Sul da China, comercializada e transportada do Oriente para o Ocidente através de empresas de navegação (Companhias de Comércio) denominadas Cia. das Índias Ocidentais. A porcelana só recebeu essa denominação no final do século XVI.
A verdadeira porcelana, produto cerâmico de massa muito fina, vitrificada, translucida comumente, recoberta de esmalte incolor e transparente, branco ou com as mais variadas pinturas e desenhos é originária da China.
Surgiu entre os anos 618/900 d.C., durante a Dinastia Tang. Foi a descoberta do caulim pelos chineses, que permitiu a criação de peças alvas e transparentes. Durante muitos séculos, eles esconderam o segredo dessa arte e só no século XVII, os japoneses, que através dos coreanos tomaram conhecimento desse mistério, passaram a fabricar objetos em porcelana.
Essa porcelana, usada na corte do Imperador chinês, nunca foi produzida em série, nem ao gosto do freguês, nem foi exportada. A especialidade que os chineses exportavam era a Porcelana Companhia das Índias.
Foi a partir da descoberta do Caminho das Índias, por Vasco da Gama, que a porcelana chegou ao mundo Ocidental: 170 milhões de peças (10 milhões delas, foram levadas para Lisboa).
Até o século XVIII, a China deteve a tecnologia da fabricação de porcelana, mas em 1709, um alquimista polonês, que tentava fabricar ouro, acabou por achar a fórmula.
Os portugueses levavam porcelana para o Ocidente desde 1481, quando uma expedição comandada por Bartolomeu Dias chegou ao Oriente depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança. A primeira peça a chegar, foi um gomil, supostamente presenteado ao Rei D. Manuel. O comércio propriamente dito, também foi iniciado por eles, no início do século XVI, e tudo o que traziam era facilmente vendido.
Em 1515, instalaram-se em Macau, onde era fabricada a porcelana azul e branca, conhecida como “borrão”, e os negócios prosperam ainda mais, mas eles não conseguiram manter o monopólio desse comércio. Franceses, holandeses e ingleses entraram na parada com suas Companhias. Em 1600, a Inglaterra passou a competir com todos e acabou por assumir a liderança desse negócio por longos 250 anos, destacando-se a China Trade Porcelain e Chinese Export Porcelain.
Sendo a decoração chinesa representada por símbolos, tradições e mensagens, nem sempre compreensíveis aos ocidentais, a influência europeia na arte chinesa da porcelana era dada pelos agentes comerciais das Companhias, que levavam modelos, formas, brasões e iniciais do Ocidente, sendo que as encomendas em letras ocidentais nem sempre eram reproduzidas com muita fidelidade. E mesmo os brasões e monogramas tinham colorido diverso dos originais. Mas os temas utilizados na decoração da antiga porcelana chinesa foram variados: flores de pessegueiros, cerejeira e ameixeira, galhos de salgueiros, lagos, garças, cisnes, carpas, cenas de guerra, agressivos cães de Fô, animais nascido do imaginário, conquistas amorosas, deuses e crianças a brincar.
Daí encontrarmos, em nossos dias, sopeiras magníficas, grandes travessas, molheiras, legumeiras e corvilhetes, com decorações e formas ocidentais, feitos da mais pura pasta chinesa.
Desde o começo do século passado, o interesse pela porcelana Companhia da Índias tem crescido e importantes coleções podem, então, ser vistas em vários renomados Museus, como o Guimet, de Paris, e o Topkapi, de Istambul.
Cia. das Índias no Brasil
Para o Brasil foram fabricadas várias porcelanas Cia. das Índias sob encomenda. A que ficou mais famosa foi o serviço comemorativo da Independência do Brasil, uma louça constituída de peças para chá. Nos pratos encontravam-se, no centro, as Armas do Brasil e a inscrição em ouro: "Viva a Independência do Brasil". O Brasão se apresentava heraldicamente errado, e na borda quatro motivos - o fumo, o café, duas esferas armilares e duas estrelas - completam a decoração. Existem duas versões sobre essa louça: uma delas diz que o serviço foi encomendado por um grupo de patriotas que o presentearam ao Imperador D. Pedro I; a outra afirma que foi um negociante que presenteou ao Imperador um dos serviços e comercializou os outros.
Bem antes disso foi encomendado o serviço do Reino Unido, que foi usado na Corte e apresenta o brasão do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Nos pratos, esse brasão aparece no centro envolvido por uma série de caracteres chineses. As cores são o vermelho, que traduz a alegria e felicidade, e o dourado, que representa o rio Yang-tsê-Kiang, o maior da China.
O serviço do Príncipe Regente, que foi encomendado quando D. João assumiu a regência do Reino, apresenta-se no estilo Luiz XVI, com seus característicos festões, laçadas rosas e grinaldas, entre medalhões com a efígie de D. João VI, Príncipe Regente e D. Carlota Joaquina, Princesa do Brasil. Medalhões com archotes e trombetas entrelaçados também fazem parte da decoração.
O serviço dos galos é considerado o mais valioso por causa da qualidade de sua porcelana, comparável aos melhores que a China já produziu. Pertence à família rosa, com folhas e flores montadas sobre ramos de bambu, que fazem a cercadura do prato. Cogumelos, borboletas e peônias e dois galos fazem a decoração central desse serviço. Com oito facetas, cada uma delas lembra um imortal da China.
Conhecida como serviço dos pavões, essa louça é considerada a mais comum dos serviços da Companhia das Índias, tendo sido usada no Paço de São Cristóvão. Do tipo exportação e de gosto francês, misto de família rosa e verde, tem como motivo central um casal de pavões sobre um rochedo e uma peônia, planta com flores rosadas ou brancas.
O serviço dos pastores é muito curioso por causa da influência ocidental na decoração. Apresenta um pastor em trajes ocidentais, cercado por dois carneiros. Pertencia à antiga Fazenda Imperial de Santa Cruz. Também proveniente da mesma fazenda é o serviço das corças, que possui as bordas em verde com oito dragões representando os oito imortais. O motivo central da decoração é Si-Wang-Um no bosque, junto ao lendário Lago das Gemas, tendo uma corsa ao lado, e sobre ela um potiche simbolizando o budismo. Sendo um dos maiores aparelhos, nele encontramos vasos, ânforas e peças de ornamentação. Outro serviço que também pertenceu à Fazenda Imperial de Santa Cruz foi o serviço vista grande. Ele é todo em sépia e possui alguns frisos em ouro e algumas rosas. É o único que apresenta figuras geométricas. Numa grande travessa existe uma paisagem com características ocidentais.
O serviço das rosas possui uma característica rara nas porcelanas Cia. das Índias: no verso de alguns pratos há uma inscrição em caracteres chineses que diz "feito com sabedoria por Kong-Wei-Dim". Esse serviço tem uma rica cercadura onde o ouro guarnece rosas de vivo colorido e sobre um fundo rouge-de-fer dá um imenso destaque à borda e no centro um pequeno ramo rosa e ouro completa a decoração.
Outro serviço dessa preciosa porcelana chinesa é o chamado vista pequena. Ele vem guarnecido de um filete azul, onde estrelas estão arrumadas simetricamente e no centro uma reserva redonda com uma paisagem ocidental é cercada de uma elipse, onde sete estrelas guarnecem cada lado.
Estes foram os serviços da Companhia das Índias de uso real. A eles pode-se acrescentar o serviço do Conde da Ribeira Grande. Essa louça ostenta ao centro o brasão de armas do titular, com uma cercadura de folhas, flores e borboletas. Outros serviços de porcelanas das Índias foram adquiridos por nobres e famílias abastadas no Brasil, a exemplo dos nobres e da burguesia rica na Europa da época, pois dava o maior status possuir aparelhos de jantar e de chá. Outros serviços e peças da Companhia das Índias foram trazidos por colecionadores e em contrapartida muitas peças foram levadas do Brasil.
No Brasil, são notáveis as coleções:
Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, composta de peças de oito serviços adquiridos por D. João VI e do serviço completo do Barão de Massarambá (172 peças);
Museu de Arte da Bahia de Salvador, composta por peças do acervo Góes Calmon;
Museu Costa Pinto de Salvador/BA;
Fundação Oscar Americano, em São Paulo.
Fonte: Leticia Muzetti, postado por Leticia Telles em 22 de maio de 2011.
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Cronologia da Porcelana no Brasil
Século VII - A porcelana já é fabricada na China pelo menos desde a Dinastia Tang (618-907).
1295 - Marco Polo traz para a Itália, na volta de sua viagem, o primeiro exemplar de porcelana conhecido na Europa, um pequeno vaso branco.
Séc. XVI - Desde o início do século a porcelana é considerada um objeto de luxo valioso e altamente desejado pela nobreza e os mais ricos na Europa. Era comercializada pelos mercadores de Gênova, Pisa, Veneza e de Portugal. Seu prestígio era também devido ao mistério associado à sua fabricação, um segredo que que permaneceu oculto até meados do século XVIII.
Séc. XVI - Os portugueses iniciam a exportação em larga escala de porcelana oriental para a Europa.
Séc XVII - Chegam ao Brasil, transportadas para a Europa pela Companhia das Índias Orientais holandesa, a porcelana e faiança japonesas.
Entre 1575 e 1597 - Pela primeira vez se consegue fabricar na Europa objetos com aspecto similar à porcelana chinesa (mas ainda não com a dureza e resistência da porcelana autêntica) na Florença, durante o período de governo do Duque Francesco de Medici, por isso mesmo conhecida como "porcelana Medici". Para tal, foi usada uma fornalha projetada por Bountalenti e Fontana.
1583 - Alguns pesquisadores apontam este o ano da chegada da porcelana chinesa aqui no Brasil denominada por Fernão Cardim como "Porcelana da India".
Fonte: Porcelana Brasil, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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Serviços dos Pavões
Serviço dos Pavões (também conhecido como Serviço dos Dois Pavões, ou, em inglês, Double Peacock Service) é um serviço de jantar real, confeccionado em porcelana de pasta dura, de finíssima qualidade, que foi produzido na China do Imperador Qianlong, sob encomenda, para a Europa, trazido e comercializado pela Companhia das Índias Ocidentais. Estima-se que cerca de vinte mil peças do hoje chamado Serviço dos Pavões tenham sido produzidas entre 1750 e 1795, restando hoje cerca de cinco mil distribuídas por todo o mundo. É considerado um dos mais belos serviços de jantar de exportação.
Em formato oitavado, recortado ou redondo, o prato é de louça (porcelana) branca, encaroçada, decorada com esmaltes nas cores habituais da chamada "família rosa". Na sua borda conta figuram quatro ramos postos em cruz e a orla rouge de fer, alternada com chamativas estilizações de ramos na cor azul. No campo, observa-se um casal de pavões (pavo muticus linnaeus) sobre rochas e um ramo com grandes peônias, separados da borda da peça por um friso flordelisado. Além de pratos de vários tamanhos, foram confeccionadas sopeiras de vários tipos, terrinas, molheiras, travessas de vários formatos, manteigueiras, meleiras, wine-coolers e tigelas.
Segundo Edino da Fonseca Brancante, "o pavão em que sobressai a crista e a plumagem verde é originário de Burma e representa nobreza e projeção social. A peônia, em esplêndidos tons vermelhos, é o emblema da beleza feminina, do amor e do afeto (...)", escreveu em seu livro sobre o assunto.
A denominação "Serviço dos Pavões" se dá pelo fato de que as louças são decoradas com esses animais como elemento principal, o que é considerado pelos especialistas uma influência francesa.
História
Foi utilizado pela Família Real Portuguesa e pela Família Imperial Brasileira tanto no Paço de São Cristóvão como também na Fazenda Imperial de Santa Cruz. É um serviço conhecido como “viajante”, pois foi levado da China a Portugal, e de Portugal para o Brasil, quando D. João VI, ainda príncipe, temendo as guerras napoleônicas, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, com sua mãe, D. Maria I.
Os serviços de porcelana chinesa de uso imperial, trazidos para o Brasil por D. João VI, foram dispersos após a proclamação da República, sendo atualmente peças raras, procuradas por colecionadores de todo o mundo. Em 1890, foram realizados diversos leilões pelo leiloeiro Joaquim Dias dos Santos, no Rio de Janeiro, mas seus registros foram logo depois perdidos num incêndio ocorrido pouco depois na loja do leiloeiro.
Hoje em dia
Essas peças são comumente negociadas na Christie's, Sotheby’s, e em várias casas de leilão do mundo. As peças costumam ter valorização máxima no Brasil, em Portugal ou na Inglaterra, onde estão a maioria dos colecionadores.
Há peças do serviço no Museu do Estado da Bahia, no Museu Histórico Nacional, no Museu Simões da Silva, e em algumas das maiores coleções particulares do mundo.
O especialista Almeida Santos, escreve em seu "Manual do Colecionador Brasileiro": "Dentre os aparelhos de uso imperial, no Brasil, contam-se o dos "Galos" , dos "Pastores", da "Corsa" e dos "Pavões". O Serviço dos Pavões é o que há de mais fino em "Família Rosa" e foi feito, sem discussão, de encomenda para a Europa. Os "Pavões" são muito bem trabalhados. Aliás, a louça é por assim dizer, um misto da "Família Verde" e "Família Rosa". Possui grandes rosas pintadas com grande destaque, o que força a classificação na "Família Rosa", mas a decoração, em geral, é da "Família Verde", paisagens e aves".
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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A Louça Brasonada
Apresentando brasões ou armas-de-família, monogramas coroados ou não, algumas com belíssimas composições de flores e frutos, as louças brasonadas estiveram presentes nas mesas de nossos titulares, nobres fazendeiros, militares e membros da corte. Dentro de cada peça desses serviços, testemunha de festas alegres e acontecimentos importantes, existe um pedaço de nossa história, presa aos brasões e iniciais coloridas, que vale a pena conhecer.
Em todos os exemplares dessa louça existe, segundo Victorino Chermont de Miranda, "a mesma sensibilidade para o valor estético e histórico que, mais do que qualquer outro sinal exterior de decoro social vale como um testemunho da vida elegante do Brasil de ontem". Classificada como louça histórica, louça brasonada, louça da aristocracia, significa que pertenceu a condes, barões, viscondes, marqueses e fidalgos de cota d'armas, por oposição à chamada louça real, imperial ou bragantina, restrita aos Paços e seus habitantes.
Uma classificação mais apurada, de acordo com os detentores dos serviços, divide a louça brasonada em três segmentos:
1) A louça dos vice-reis do Brasil e dos titulares e fidalgos portugueses que aqui serviram;
2) A louça dos titulares brasileiros (marqueses, barões, etc., com ou sem honra de grandeza e;
3) A louça de cota d'armas e as dos cidadãos brasileiros ou portugueses, que receberam títulos nobiliárquicos do Rei de Portugal, e os usaram no Brasil, assim como dos condes romanos e dos eclesiásticos em geral.
Outra classificação feita a partir do padrão de decoração, determina quatro categorias:
1) Louça propriamente brasonada, com brasões de armas dos titulares;
2) Louça coroada, que apresenta uma coroa ou símbolo sobre as iniciais ou título do proprietário;
3) Louça monogramada, que possui, como o nome diz, as iniciais de seu titular e raramente as de seu título, e;
4) A louça muda, não personalizada, mas comprovadamente atribuída a algumas das pessoas já mencionadas.
O gosto da louça brasonada remonta à transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, quando foi apurado o modo simples de viver da Colônia, ajustando-o aos hábitos fidalgos da metrópole. Geralmente de origem francesa, essas porcelanas também eram encomendadas em outros países, como por exemplo, a que pertenceu ao Marquês de Abrantes, que veio da fábrica alemã de Saxe; o serviço do Barão de Penedo, que foi feito na tradicional fábrica inglesa de Coppeland & Garret e algumas vieram da China, as conhecidas "Companhia das Índias", como são os serviços do Barão de Nova Friburgo, do Visconde de Itamarati, etc.
Em todo o Brasil são conhecidos 226 serviços personalizados. A seguir, uma relação de louças brasonadas com as informações sobre seus primeiros donos ou titulares.
Visconde de Meriti
Manoel Lopes Pereira Bahia, filho de Domingos Lopes Pereira Bahia e D. Ana Margarida da Silva, foi casado em primeiras núpcias com Dona Maria Margarida da Rocha, filha do primeiro Barão de Itamarati. Foi agraciado com o título de Barão em 23 de dezembro 1853. Barão com honras de grandeza de Meriti em 2 de dezembro de 1854 e finalmente Visconde em 2 de dezembro de 1958. Sua louça, uma das mais belas, apresenta-se em dois serviços que variam apenas no colorido. O primeiro possui uma borda preta com pequenas decorações em ouro, onde, dentro de reservas, estão flores pintadas à mão e composições com frutas e ainda as iniciais P.B. (Pereira Bahia).
Esse titular possuiu outro serviço idêntico variando apenas o colorido da borda que era rosa e a sua decoração central que era flores. Essa porcelana sempre esteve presente nos tradicionais bailes que os Pereira Bahia ofereciam a Suas Majestades, os Imperadores do Brasil, no dia 15 de agosto, após as cerimônias religiosas realizadas na Capela Imperial de Nossa Senhora da Glória do Outeiro.
O palacete Bahia ficava situado no local do atual Palácio São Joaquim, na Rua do Catete. Durante vários anos essa louça foi atribuída a D. Pedro I, pois entenderam que as iniciais P.B. significavam "Príncipe do Brasil". Com o desaparecimento de uma das herdeiras do titular, esta louça foi localizada e a atribuição desfeita. A porcelana não possui marca de fabricação.
Barão de Paty de Alferes
Francisco Peixoto de Lacerda Werneck foi agraciado com o título de Barão em 15 de dezembro de 1832 e Barão com Grandeza em 2 de julho de 1853. Nasceu na Fazenda da Piedade em 6 de fevereiro de 1795 e faleceu na Freguesia de Paty de Alferes em 22 de novembro de 1861. A louça do Barão de Paty de Alferes têm as seguintes característica: uma faixa azul-ferrête na borda, frisada de ouro; na chamada quebra do prato, outro filete dourado e ao centro, encimadas por uma coroa de Visconde, vemos pendentes de uma fita entrelaçada as Ordens de Cristo e a Imperial Ordem da Rosa. Em função das duas comendas, este serviço é conhecido como "serviço das comendinhas".
Visconde de Itamarati
Francisco José da Rocha, nasceu em Miragaia, Portugal, em 1806 e faleceu no Rio, em 1883. Coronel-Comandante da Guarda Nacional e negociante da Corte. Cada peça do seu serviço, Cia das Índias, apresenta uma decoração central diferente, sendo dos mais ricos que se conhece. Entre pássaros e borboletas, vemos ao centro suas iniciais F.J.R. A borda, em ouro intenso, dá-lhe um aspecto suntuoso. Este titular possuiu outro serviço levado por sua esposa, Maria Roma Bernardes, por seu casamento. Este pertencia a seu pai, Pedro José Bernardes, que se apresenta não só com suas iniciais P.J.B., como com paisagens chinesas pintadas em azul, verde e amarelo onde vemos montanhas sagradas da China e, na borda, cenas do folclore chinês.
Visconde de Ouro Preto
Afonso Celso de Assis Figueiredo, Conselheiro de Estado e Senador do Império, foi agraciado com o título de Visconde com as honras de grandeza em 13 de julho de 1888. Nasceu em 1837 e faleceu em 1912. Sua louça é porcelana Limoges, J.P., L. encomendada através de seu depósito J. Klotz. Rue de Paradis, 22, France. Porcelana branca, com frisos e rendilhados de ouro e monograma O.P. encimado pela coroa de Visconde.
Marquês de Itu
Antônio de Aguiar Barros, Visconde de Itu por decreto de 19 de setembro de 1880. Recebera o título de Conde em 7 de março de 1885 e Marquês em 7 de maio de 1887. Filho dos Barões de Itu, nasceu em Itu - São Paulo, em 1823 e faleceu na mesma cidade em 1889. Agricultor e capitalista, foi casado com Antonia de Aguiar Barros, filha dos primeiros Barões de Piracicaba e chegou a ser Vice-presidente da província de São Paulo. Sua louça é porcelana de Vierzon, da manufatura de Hache e Jullien, pasta dura do século XIX, marca nº 68. A borda em creme com extremidade delineada por friso dourado circundando renda em azul e douração fosca. Abaixo, renda dourada e entre a borda e o centro, filete e renda dourada. Ao centro, monograma MY entrelaçado sob coroa de marquês em dourado e azul.
Barão de São Fidelis
Capitão Antônio Joaquim da Silva Pinto, filho de Manuel Joaquim da Silva e de Dona Luíza Maria de Mello, nasceu em Campos, Estado do Rio, em 13 de fevereiro de 1826, onde foi importante agricultor. Morreu também em Campos, a 21 de setembro de 1884. Foi Comendador da Imperial Ordem da Rosa e da Ordem de Cristo de Portugal. Sua louça é de porcelana francesa. O prato possui uma borda rendilhada de ouro e uma barra em azul-pompadour, ao centro, o brasão de armas, encimado pela coroa de Barão. Dentro de reservas de fundo rosa, flores e pássaros pintados a mão. Paquifes ornamentais guarnecem o brasão.
Barão de Avelar e Almeida
Laurindo de Avelar e Almeida era um rico fazendeiro de café na província do Rio de Janeiro. Nasceu em 5 de dezembro de 1849 e faleceu em 25 de novembro de 1902. Foi agraciado com o título de Barão em 28 de julho de 1877. Sua porcelana é francesa com a marca H.C. (Limoges) que aparece no fundo das peças. A decoração é inspirada no gosto japonês, apresentando o monograma de seu titular A.A. encimada por uma coroa de Barão.
Visconde do Rio Branco
José Maria da Silva Paranhos foi agraciado com o título em 20 de outubro de 1870. Foi Conselheiro do Estado Extraordinário e pai do Barão do Rio Branco. De sua louça, deixou dois serviços: o conhecido como "Lei do Ventre Livre", que ostenta na borda do prato uma faixa verde e o monograma R. B., encimado pela coroa de Visconde, terminada por um listel com a inscrição "28 de Setembro de 1871". Porcelana francesa Pillivuyt, de 1872. O outro serviço tem as iniciais R.B. encimadas por uma coroa de Conde e possui uma borda verde com frisos em ouro. É também da França, fabricado na Haviland & Cia. - Limoges.
Barão de Nova Friburgo
Antônio Clemente Pinto era português de nascimento mas com título brasileiro, e foi pai do Conde São Clemente e do segundo Barão de Nova Friburgo. Construtor do atual Palácio do Catete, ali fazia sua morada quando estava no Rio. Sua louça Cia. das Índias com borda em esmalte verde e azul tem reservas com pinturas em sépia, num círculo dourado com as iniciais A.C.P.
Barão da Fonseca
João Figueiredo Pereira de Barros. Seu serviço, Cia. das Índias, possui características que lembram a porcelana inglesa de Derby. Sua decoração obedece aos rigores do século XVIII, tendo ao centro, dentro de um círculo, as iniciais do titular J.F.P.B.
Visconde de Pelotas
José Antônio Correia da Câmara. Brigadeiro, prestou relevantes serviços na Guerra do Paraguai. Recebeu o título de Visconde, com honras de grandeza em 17 de março de 1870. Sua porcelana não tem marca, apresentando na borda decorações em verde-escuro e ouro, encimando o prato um P, coroado com coroa de visconde.
Barão de Tefé
Antonio Luís Von Hoonholtz, foi oficial da marinha. Agraciado com o título de Barão em 11 de junho de 1873, e Barão com grandeza em 10 de março de 1883. Faleceu em 6 de fevereiro de 1921. Os Barões de Tefé foram os pais da senhora Nair de Tefé, que casou com o Marechal Hermes da Fonseca, então Presidente da República. Sua louça apresenta no prato, uma borda azul-escuro, frisada a ouro, tendo à esquerda as letras BT entrelaçadas, coroadas com a coroa de barão. Trata-se de uma porcelana francesa proveniente de "Grand Depot de Porcelaines & Faïences", 21, Rue Drouot, Paris - Succursale 33, Rue Saint-Ferreol, Marseille.
Barão de Santa Helena
Tenente-Coronel José Joaquim Monteiro da Silva foi agraciado com o título de Barão em 13 de dezembro de 1867. Casado em primeiras núpcias com Dona Francisca Monteiro de Barros e em segunda com D. Maria Teresa Monteiro de Castro. Sua porcelana foi feita na França pela Havilland $ Cie, sendo branca, guarnecida de um ramo de rosas na borda, pegando o centro, frisos azuis guarnecem a louça, dando-lhe realce aos relevos.
Barão de Sorocaba
Boaventura Delfim Pereira foi casado com a irmã da Marquesa de Santos. Seu serviço Cia. da Índias possui uma reserva onde constam as iniciais B.D.P., tendo na borda folhas e cachos de uva em verde e roxo.
Conde do Pinhal
Antônio Carlos de Arruda Botelho foi agraciado com o título de Barão em 19 de julho de 1879, com o de Visconde em 5 de maio de 1883, Visconde com grandeza em 28 de fevereiro de 1885 e Conde do Pinhal em 7 de julho de 1887. Era fazendeiro de café no Estado de São Paulo. Nasceu em 1827 e faleceu em 1901. Sua porcelana era francesa sem marca. Apresenta uma faixa vermelha na borda onde se vê grãos de café abotoado. Na borda do prato as iniciais C.P. entrelaçadas, encimadas por uma coroa de Conde.
Conde de São Clemente
Antônio Clemente Pinto nasceu em 1830 e faleceu em 1898. Agraciado com o título de Barão em 3 de julho de 1863, Visconde em 11 de abril de 1888 e Conde, por decreto de 1888. Sua louça é porcelana francesa com borda azul e ouro, ao centro o seu brasão de armas guarnecido com paquifes decorativos encimados de coroa. No verso do prato está escrito "Manufacture de Porcelaine J. Gauvain, Rue de D'Hauteville, 59, Paris".
Conde de São Mamede
Rodrigo Pereira Felício nasceu em Portugal em 1820 e faleceu no Rio de Janeiro em 1872. Foi comerciante e um dos fundadores do "Brazilian and Portuguese Banck, Limited". Visconde de São Mamede, por Portugal, decreto de 12 de setembro de 1866 e Conde por decreto de 2 de março de 1869. Sua porcelana (Veja foto na capa) é européia, pasta dura, sem marca, com os dizeres "Lausanne Suisse" referente à vista pintada no centro do prato. Na borda com folhas douradas o seu brasão.
Barão de Jequiá
Manuel Duarte Ferreira Ferro foi agraciado com o título de Barão com grandeza em 14 de março de 1860. Sua louça era de porcelana francesa, com borda verde e friso de ouro, guarnecida com flores pintadas a mão e encimando o prato, dentro de uma reserva em branco, a inscrição: B. de Jequiá, coroada. No verso do prato: Ch. Pilliyuyt (1867).
Barão de São José D'El Rey
Gabriel Antônio de Barros, Barão por decreto de 7 de fevereiro de 1885, nasceu em Minas Gerais em 1826 e morreu em São José do Rio Preto em 1909. Agricultor e negociante da província de Minas Gerais, era filho de Antônio Barnardino de Barros. Seu serviço de porcelana francesa apresenta a marca de Jullien Fils Ainé. Borda com faixa verde jade ladeada por doisfrisos de tonalidade mais acentuada. Na borda, ainda, monograma "GAB" entrelaçado em verde.
Visconde de São Lourenço
Francisco Gonçalves Martins, Barão com grandeza por decreto de 14 de março de 1860 e Visconde em 15 de novembro de 1871. Nasceu em Santo Amaro -Bahia, em 1807 e faleceu no mesmo estado em 1872. Era filho do coronel Raimundo Gonçalves Martins e de Maria Joaquina do Amor Divino e foi casado com Maria da Conceição Peçanha. Foram pais da Viscondessa do Passe.
O Visconde, Bacharel em direito pela faculdade de Coimbra, foi chefe de polícia, deputado, senador e Presidente da província da Bahia. Foi também Desembargador e Ministro do Supremo Tribunal de Justiça. Seu serviço é de porcelana de Paris, pasta dura do século XIX, da manufatura dos irmãos Honoré, no Boulevard Poissonniere. O prato possui uma borda rendilhada de ouro composição de flores. Separando a borda do centro um círculo rendilhado de ouro entremeado de pérolas e no centro o monograma coroado.
Fonte: Antiguidades Brasileiras, de Paulo Affonso de Carvalho Machado, Louça Histórica, do Museu de Arte de Bahia e A Coleção de Louça Brasonada, da Academia de Letras, por meio da Porcelana Brasil.
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História da Porcelana
Atualmente, a louça branca na qual servimos nossas refeições do dia a dia nem de longe nos remete à maravilhosa história da porcelana. Tipo específico de louça que enlouqueceu as cortes europeias a partir do século XVI.
Origem da Porcelana
A palavra porcelana passou a ser usada na Europa a partir do século XV. Em analogia a uma concha chamada “porcellana”, branca e translúcida.
Usada para revestir taças e cálices, os europeus assim denominaram as delicadas peças que chegavam da China e que se tornaram objetos de prestígio, poder e bom gosto para a realeza do Velho Mundo.
Parece que as primeiras porcelanas que chegaram ao continente vieram nas naus de Vasco da Gama, fruto de uma grande compra feita em Calicut, na Índia.
Com o enorme interesse dos portugueses pelas peças, um segundo carregamento chegaria pouco depois à Lisboa, nas embarcações de Pedro Álvares Cabral.
Mas foram os alemães os primeiros a conseguir descobrir o segredo da fabricação da porcelana na Europa, no século XVIII.
Segundo Ricardo Joppert, em seu livro Curso de História da Porcelana Chinesa, para os ocidentais, a brancura e a translucidez eram as características que definiam uma boa porcelana.
“Lustrosa como as sedas coloridas com que os navios chegavam abarrotados, de um branco tão impecável quanto a espuma batendo nas proas das embarcações, esta substância mágica era tão fina, como uma casca de ovo, que ao erguê-la contra o sol podia-se ver a luz passar”, descreve Janet Gleeson na obra O Arcano – a Extraordinária História da Invenção da Porcelana Europeia.
Para os chineses, entretanto, a característica mais importante era a ressonância, ou seja, que a peça emitisse som.
“Na ressonância está realmente a fronteira que separa cerâmica de porcelana, na China”, ensina Joppert.
Pois as primeiras porcelanas que tanto deslumbraram os europeus eram as porcelanas azul e branca, das dinastias Yuan (1280-1368) e Ming (1368-1644), que tiveram seu apogeu no século XIII.
Depois que os portugueses estabeleceram um caminho marítimo para a China e o Japão, no século XVI, o comércio de porcelana cresceu.
No final do século XVII, após a Companhia das Índias Ocidentais holandesa juntarem-se ao lucrativo comércio, porcelanas dos mais diversos padrões foram importadas para a Europa em grandes quantidades, e a Inglaterra aderiu à moda da porcelana, conhecida popularmente no país como “china”.
Mas esta porcelana azul e branca representa apenas um tipo dentro da variedade encontrada na produção chinesa.
Se as peças de porcelana, dentro do conceito chinês, podiam também ser opacas e de pasta escura, as de porcelana branca eram conseguidas através da combinação de duas matérias-primas aquecidas a temperaturas muito altas (outra diferença fundamental entre a porcelana e outras cerâmicas):
O caulim (ou gaoling), uma argila branca refratária (que permanece branca após a queima a altas temperaturas porque é livre de ferro)
E o petuncê (petuntse), material feldspático derivado de rochas de granito, considerado a argamassa da estrutura da porcelana.
Em altas temperaturas, “o feldspato (petuntse) derrete e vitrifica, impregnando os poros da argila e criando estruturas cristalinas microscopicamente finas, que são exclusivas da porcelana”, ensina Gleeson.
Joppert afirma que a porcelana branca chinesa associou-se estreitamente à pintura. E tinha como motivos as múltiplas manifestações do mundo. Animais, flores, plantas e personagens.
Mas haviam outros gêneros de porcelana, como as chamadas cerâmicas duras, por exemplo, recobertas por verniz verde-azul.
Durante muito tempo, os ocidentais, sem conhecer os segredos da porcelana, tentaram fabricá-la. Acrescentaram vidro moído a diversas variedades de argila.
Na tentativa de conseguir a translucidez, além de areia, osso, conchas e até pó de talco. Na tentativa de se obter o branco puro. Até que o alquimista Johann Frederick Böttger, em Meissen, na Saxônia (Alemanha), descobriu como fazê-la em 1709.
E fez nascer, ali, a primeira fábrica de porcelana da Europa.
Uma segunda fábrica seria instalada em Viena anos depois. Foi ali que se divulgou a moda de combinar a louça inteira de um serviço de jantar, na década de 1730. O primeiro serviço de jantar feito em porcelana europeia surgiu em 1731.
A partir de 1740, outras fábricas pipocaram pela Europa, várias delas na França (Vincennes, Sèvres) na Itália (Capodimonte, Doccia) e na Bélgica. Nestas, estabeleceram-se novos padrões de luxo, com louças de porcelana com pinturas delicadas de paisagens e aves, finalizadas em ouro.
A demanda por xícaras e pires de porcelana aumentou quando bebidas como o chá, o café e o chocolate quente tornaram-se sucesso na Europa. No século XVII. Pois cada bebida exigia seu próprio tipo de bule, xícara e acessórios. Às xícaras, inclusive, associava-se, no século XVI, ideias mágicas sobre a porcelana.
Acreditava-se que, bebendo numa xícara de porcelana, as pessoas estariam protegidas de venenos como arsênico.
O primeiro serviço completo para chá e café foi feito entre 1697 e 1701. Em Dresden, na Saxônia. Mas seu artífice, o ourives Dinglinger, não conseguiu oferecer ao seu rei Augusto, o Forte. Xícaras feitas de porcelana verdadeira para que ele tomasse seu chá.
As presenteadas foram feitas em ouro puro esmaltado, imitando a porcelana oriental. Naquela época, no Extremo Oriente, o chá era feito numa chaleira e servido resfriado em pequenas xícaras de porcelana sem alças.
Mas as frágeis xícaras de chá, com pires delicados e pratos ricamente modelados de porcelana branca produzida na Europa seriam vistos, pela primeira vez, na Feira de Páscoa, em Leipzig.
Na primavera de 1713. E, assim como as pinturas, a modelagem em porcelana alcançaria níveis sofisticados, expressos. Por exemplo, no imenso aparelho de jantar com mais de 12 mil peças chamado “aparelho do cisne”.
Feito na fábrica de Meissen na década de 1720, para o conde de Brühl. Pratos com nervuras de conchas de vieiras, sopeiras coroadas com ninfas, golfinhos e sereias, pranchas para cobrir carnes que lembram praias recheadas de conchas e corais.
Com o passar do tempo, as porcelanas ganharam novos e variados padrões. Passaram a ser fabricadas em todas as partes do mundo. Mas o início de sua produção na Europa é uma história empolgante.
E algumas dessas peças, embora nunca mais apareçam numa mesa de jantar, podem ser apreciadas em museus dedicados a ela. Na Inglaterra, na França e na Alemanha.
Fonte: Revista Sociedade da Mesa, publicado por Ana Caldeira em 11 de maio de 2016.
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Processo de fabricação da Porcelana
Composição da massa
Argila – 10%
Caulino – 40%
Feldspato – 25%
Quartzo – 25%
Existem dois tipos de “massa”: a pastosa e a líquida.
Massa Pastosa
A massa pastosa é utilizada em peças modeladas em tornos. Depois de misturada, a massa é peneirada, em seguida é colocada em filtroprensas (equipamento de filtragem da água sob pressão), que tem por finalidade retirar o excesso de água deixando aproximadamente 25% de umidade.
A massa prensada é retirada e acondicionada em depósitos de envelhecimento, para sua conservação até à etapa subsequente, a de vácuo, que transforma a massa em uma mistura homogênea e sem ar. Neste momento, essa massa atinge maior grau de plasticidade, podendo ser torneada.
Massa Líquida
Trata-se da mesma massa, porém diluída. Contém aproximadamente 30% de água. Também é chamada de “barbotina” e é usada na fabricação das peças para as quais se usa um molde. O molde é preenchido com a massa líquida, e depois de um breve tempo de secagem parcial, esse molde é aberto para a retirada, de seu interior, da peça já moldada.
Peças moldadas a líquido
Este processo também é chamado de “colagem”. Consiste em encher formas de gesso com a massa líquida. Após decorrido o tempo necessário para formação das paredes na espessura desejada (absorção da água pelo gesso), o excesso de massa é despejado. Os cabos e alças passam pelo mesmo processo e são colados manualmente.
As peças obtidas por colagem são: bules, leiteiras, cafeteiras, sopeiras, manteigueiras, açucareiros, travessas, etc. Após a secagem todas as peças são esponjadas para corrigir eventuais imperfeições.
Queima e Verniz
Depois de secas as peças sofrem a primeira “queima”, denominada “biscoito”, a 900°C, com o objetivo de dar às peças resistência e porosidade para a perfeita absorção do verniz. Nesta etapa as peças adquirem um tom rosado.
O verniz é composto pelos mesmos materiais da massa, em quantidades diferentes. Através de um processo manual de imersão, o verniz adere à superfície da peça, formando uma película de cobertura. Após a aplicação do verniz ocorre uma segunda queima, que é realizada a uma temperatura que varia entre 1.300 °C a 1.350 °C.
Nesta fase a massa torna-se completamente compacta, totalmente sem porosidade, adquirindo cor branca e vitrificada (fusão do verniz sobre a massa). Esta segunda queima dura em média 31 horas, podendo chegar até 89 horas, dependendo do forno utilizado. As peças já prontas são encaminhadas para o setor de classificação, que controla a qualidade do produto. Então este é lixado e fica pronto para ser decorado.
Fonte: História Catarina, publicado em 27 de novembro de 2017.
Crédito fotográfico: Wikipédia
Porcelana da Companhia das Índias Ocidental ou simplesmente Companhia das Índias, foi o nome genérico pelo qual se tornou internacionalmente conhecida toda porcelana originária da China, considerada uma preciosidade. Empresas de navegação criadas em vários países da Europa com o objetivo de transportar mercadorias compradas no Oriente, foram denominadas "Companhia das Índias Ocidental". Não se tratava de produtos da Índia, mas principalmente da China, importados para satisfazer encomendas de clientes da Europa e das Américas. Os portugueses levavam porcelana para o Ocidente desde 1481, quando uma expedição comandada por Bartolomeu Dias chegou ao Oriente depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança. O comércio propriamente dito, também foi iniciado por eles, no início do século XVI, e, depois, franceses, holandeses e ingleses também entraram na parada com suas Companhias. A Inglaterra assumiu a liderança desse negócio por longos 250 anos, destacando-se a China Trade Porcelain e Chinese Export Porcelain. Para os ocidentais, a brancura e a translucidez eram as características que definiam uma boa porcelana. Para os chineses, entretanto, a característica mais importante era a ressonância, ou seja, além da brancura e translucidez, que a peça emitisse som.
Companhias das Índias
Empresas criadas em vários países da Europa, com o objetivo de transportar mercadorias compradas no Oriente. Não se tratava de produtos da Índia, mas principalmente da China, importados para satisfazer encomendas de clientes da Europa e das Américas. Por extensão, assim se chama a porcelana exportada da China e transportada nos navios das companhias das Índias, entre os séculos 16 e 19.
Os comerciantes portugueses foram os primeiros europeus a negociar com a China, desde o século 16. Entre 1580 e 1640, a península ibérica (Espanha e Portugal) foi governada por um único soberano espanhol, circunstância que modificou a situação. A Holanda também foi domínio da Espanha na época, declarando-se independente em 1579. Os holandeses insurgentes esqueceram Portugal como intermediário e criaram, em 1602, uma empresa para comerciar diretamente com o Oriente, a Vereenigde Oostindische Compagnie (Companhia Holandesa das Índias Orientais). O Brasil conheceu a influência desta corporação, já que ela estava em pleno funcionamento quando aconteceu a ocupação holandesa no Nordeste (séc. 17).
Quando a Corte portuguesa veio para o Brasil (1808), trouxe consigo serviços de porcelana desta origem, parte dos quais se encontra hoje no Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro. A nobreza local encomendou louça chinesa, sobretudo azul e branca, que ficou conhecida impropriamente como “Macau”. Os brasileiros mais ricos encomendaram as peças com adornos e brasões familiares.
Conforme a cor predominante na decoração, essa porcelana pode chamar-se família verde, família rosa, mandarim, etc. Outras companhias das Índias foram a inglesa (East Índia Company), a francesa (Compagnie des Indes)e além de outras na Áustria, Escócia, Suécia e Espanha.
Porcelana
“(...) No Ocidente, a palavra cerâmica tem suas raízes no grego kéramos (vaso de barro cozido, usado à mesa). Em português define artefatos de argila cozida, que podem ser porosos e não vitrificados (inglês earthenware; português terracota) ou esmaltados e vidrados (português faiança, do francês faïence)(...). A essa argila acrescentam-se sílica ou alumínio (sob a forma de areia, como quartzo pulverizado, ou sílex calcinado, para formar o que se chama de têmpera, que melhora a plasticidade da argila e reduz a contração excessiva. Fica assim relativamente “refratária” (resistente ao fogo)(...)além de outros elementos, que são necessários para que torne fundível. Quanto à palavra porcelana, ela passou a ser habitualmente usada pelos ocidentais no século 15, para descrever peças chinesas que chegavam à Europa como novidade.” (Ricardo Joppert, A porcelana chinesa, Artlivre, Rio de Janeiro, 1982).
A porcelana, criada há doze séculos pelos chineses, é a mistura de caulim (argila branca refratária, não fundível, livre de impurezas) com um material que se derrete e assim mantém coesas as moléculas do caulim. O resultado é uma pasta de brancura total, translúcida.
Família Rosa
Do francês famille rose. Decoração da porcelana chinesa, típica das importações das companhias das Índias (sécs. 17-19), muito apreciada em Portugal e no Brasil.
Quando o príncipe D. João VI veio para o Rio de Janeiro, vieram diversos exemplares de serviços de porcelana com esta coloração, que hoje podem ser admirados no Museu Histórico Nacional, na mesma cidade. A cor surgiu tardiamente na porcelana chinesa, só em meados do século 18, mediante a utilização de um esmalte (púrpura de Cassius)à base de ouro, importado da Europa.
Família Verde
Do francês famille verte. Decoração da porcelana chinesa (sécs. 17-19) muito apreciada no Ocidente, característica do reinado Kangsi (1662-1722) e continuada no Qianlong (1736-1795). É policromica, porém utiliza predominantemente o esmalte verde em vários tons, do qual chega a apresentar oito nuances. As outras cores mais comuns desta famíliasão: preto, cor-de-berinjela, amarelo e violeta.
Fonte: Raul Mendes Silva, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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Porcelana Companhia das Índias
"Companhia das Índias" é a denominação recebida pela antiga porcelana chinesa, considerada uma preciosidade, fabricada no Sul da China, comercializada e transportada do Oriente para o Ocidente através de empresas de navegação (Companhias de Comércio) denominadas Cia. das Índias Ocidentais. A porcelana só recebeu essa denominação no final do século XVI.
A verdadeira porcelana, produto cerâmico de massa muito fina, vitrificada, translucida comumente, recoberta de esmalte incolor e transparente, branco ou com as mais variadas pinturas e desenhos é originária da China.
Surgiu entre os anos 618/900 d.C., durante a Dinastia Tang. Foi a descoberta do caulim pelos chineses, que permitiu a criação de peças alvas e transparentes. Durante muitos séculos, eles esconderam o segredo dessa arte e só no século XVII, os japoneses, que através dos coreanos tomaram conhecimento desse mistério, passaram a fabricar objetos em porcelana.
Essa porcelana, usada na corte do Imperador chinês, nunca foi produzida em série, nem ao gosto do freguês, nem foi exportada. A especialidade que os chineses exportavam era a Porcelana Companhia das Índias.
Foi a partir da descoberta do Caminho das Índias, por Vasco da Gama, que a porcelana chegou ao mundo Ocidental: 170 milhões de peças (10 milhões delas, foram levadas para Lisboa).
Até o século XVIII, a China deteve a tecnologia da fabricação de porcelana, mas em 1709, um alquimista polonês, que tentava fabricar ouro, acabou por achar a fórmula.
Os portugueses levavam porcelana para o Ocidente desde 1481, quando uma expedição comandada por Bartolomeu Dias chegou ao Oriente depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança. A primeira peça a chegar, foi um gomil, supostamente presenteado ao Rei D. Manuel. O comércio propriamente dito, também foi iniciado por eles, no início do século XVI, e tudo o que traziam era facilmente vendido.
Em 1515, instalaram-se em Macau, onde era fabricada a porcelana azul e branca, conhecida como “borrão”, e os negócios prosperam ainda mais, mas eles não conseguiram manter o monopólio desse comércio. Franceses, holandeses e ingleses entraram na parada com suas Companhias. Em 1600, a Inglaterra passou a competir com todos e acabou por assumir a liderança desse negócio por longos 250 anos, destacando-se a China Trade Porcelain e Chinese Export Porcelain.
Sendo a decoração chinesa representada por símbolos, tradições e mensagens, nem sempre compreensíveis aos ocidentais, a influência europeia na arte chinesa da porcelana era dada pelos agentes comerciais das Companhias, que levavam modelos, formas, brasões e iniciais do Ocidente, sendo que as encomendas em letras ocidentais nem sempre eram reproduzidas com muita fidelidade. E mesmo os brasões e monogramas tinham colorido diverso dos originais. Mas os temas utilizados na decoração da antiga porcelana chinesa foram variados: flores de pessegueiros, cerejeira e ameixeira, galhos de salgueiros, lagos, garças, cisnes, carpas, cenas de guerra, agressivos cães de Fô, animais nascido do imaginário, conquistas amorosas, deuses e crianças a brincar.
Daí encontrarmos, em nossos dias, sopeiras magníficas, grandes travessas, molheiras, legumeiras e corvilhetes, com decorações e formas ocidentais, feitos da mais pura pasta chinesa.
Desde o começo do século passado, o interesse pela porcelana Companhia da Índias tem crescido e importantes coleções podem, então, ser vistas em vários renomados Museus, como o Guimet, de Paris, e o Topkapi, de Istambul.
Cia. das Índias no Brasil
Para o Brasil foram fabricadas várias porcelanas Cia. das Índias sob encomenda. A que ficou mais famosa foi o serviço comemorativo da Independência do Brasil, uma louça constituída de peças para chá. Nos pratos encontravam-se, no centro, as Armas do Brasil e a inscrição em ouro: "Viva a Independência do Brasil". O Brasão se apresentava heraldicamente errado, e na borda quatro motivos - o fumo, o café, duas esferas armilares e duas estrelas - completam a decoração. Existem duas versões sobre essa louça: uma delas diz que o serviço foi encomendado por um grupo de patriotas que o presentearam ao Imperador D. Pedro I; a outra afirma que foi um negociante que presenteou ao Imperador um dos serviços e comercializou os outros.
Bem antes disso foi encomendado o serviço do Reino Unido, que foi usado na Corte e apresenta o brasão do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Nos pratos, esse brasão aparece no centro envolvido por uma série de caracteres chineses. As cores são o vermelho, que traduz a alegria e felicidade, e o dourado, que representa o rio Yang-tsê-Kiang, o maior da China.
O serviço do Príncipe Regente, que foi encomendado quando D. João assumiu a regência do Reino, apresenta-se no estilo Luiz XVI, com seus característicos festões, laçadas rosas e grinaldas, entre medalhões com a efígie de D. João VI, Príncipe Regente e D. Carlota Joaquina, Princesa do Brasil. Medalhões com archotes e trombetas entrelaçados também fazem parte da decoração.
O serviço dos galos é considerado o mais valioso por causa da qualidade de sua porcelana, comparável aos melhores que a China já produziu. Pertence à família rosa, com folhas e flores montadas sobre ramos de bambu, que fazem a cercadura do prato. Cogumelos, borboletas e peônias e dois galos fazem a decoração central desse serviço. Com oito facetas, cada uma delas lembra um imortal da China.
Conhecida como serviço dos pavões, essa louça é considerada a mais comum dos serviços da Companhia das Índias, tendo sido usada no Paço de São Cristóvão. Do tipo exportação e de gosto francês, misto de família rosa e verde, tem como motivo central um casal de pavões sobre um rochedo e uma peônia, planta com flores rosadas ou brancas.
O serviço dos pastores é muito curioso por causa da influência ocidental na decoração. Apresenta um pastor em trajes ocidentais, cercado por dois carneiros. Pertencia à antiga Fazenda Imperial de Santa Cruz. Também proveniente da mesma fazenda é o serviço das corças, que possui as bordas em verde com oito dragões representando os oito imortais. O motivo central da decoração é Si-Wang-Um no bosque, junto ao lendário Lago das Gemas, tendo uma corsa ao lado, e sobre ela um potiche simbolizando o budismo. Sendo um dos maiores aparelhos, nele encontramos vasos, ânforas e peças de ornamentação. Outro serviço que também pertenceu à Fazenda Imperial de Santa Cruz foi o serviço vista grande. Ele é todo em sépia e possui alguns frisos em ouro e algumas rosas. É o único que apresenta figuras geométricas. Numa grande travessa existe uma paisagem com características ocidentais.
O serviço das rosas possui uma característica rara nas porcelanas Cia. das Índias: no verso de alguns pratos há uma inscrição em caracteres chineses que diz "feito com sabedoria por Kong-Wei-Dim". Esse serviço tem uma rica cercadura onde o ouro guarnece rosas de vivo colorido e sobre um fundo rouge-de-fer dá um imenso destaque à borda e no centro um pequeno ramo rosa e ouro completa a decoração.
Outro serviço dessa preciosa porcelana chinesa é o chamado vista pequena. Ele vem guarnecido de um filete azul, onde estrelas estão arrumadas simetricamente e no centro uma reserva redonda com uma paisagem ocidental é cercada de uma elipse, onde sete estrelas guarnecem cada lado.
Estes foram os serviços da Companhia das Índias de uso real. A eles pode-se acrescentar o serviço do Conde da Ribeira Grande. Essa louça ostenta ao centro o brasão de armas do titular, com uma cercadura de folhas, flores e borboletas. Outros serviços de porcelanas das Índias foram adquiridos por nobres e famílias abastadas no Brasil, a exemplo dos nobres e da burguesia rica na Europa da época, pois dava o maior status possuir aparelhos de jantar e de chá. Outros serviços e peças da Companhia das Índias foram trazidos por colecionadores e em contrapartida muitas peças foram levadas do Brasil.
No Brasil, são notáveis as coleções:
Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, composta de peças de oito serviços adquiridos por D. João VI e do serviço completo do Barão de Massarambá (172 peças);
Museu de Arte da Bahia de Salvador, composta por peças do acervo Góes Calmon;
Museu Costa Pinto de Salvador/BA;
Fundação Oscar Americano, em São Paulo.
Fonte: Leticia Muzetti, postado por Leticia Telles em 22 de maio de 2011.
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Cronologia da Porcelana no Brasil
Século VII - A porcelana já é fabricada na China pelo menos desde a Dinastia Tang (618-907).
1295 - Marco Polo traz para a Itália, na volta de sua viagem, o primeiro exemplar de porcelana conhecido na Europa, um pequeno vaso branco.
Séc. XVI - Desde o início do século a porcelana é considerada um objeto de luxo valioso e altamente desejado pela nobreza e os mais ricos na Europa. Era comercializada pelos mercadores de Gênova, Pisa, Veneza e de Portugal. Seu prestígio era também devido ao mistério associado à sua fabricação, um segredo que que permaneceu oculto até meados do século XVIII.
Séc. XVI - Os portugueses iniciam a exportação em larga escala de porcelana oriental para a Europa.
Séc XVII - Chegam ao Brasil, transportadas para a Europa pela Companhia das Índias Orientais holandesa, a porcelana e faiança japonesas.
Entre 1575 e 1597 - Pela primeira vez se consegue fabricar na Europa objetos com aspecto similar à porcelana chinesa (mas ainda não com a dureza e resistência da porcelana autêntica) na Florença, durante o período de governo do Duque Francesco de Medici, por isso mesmo conhecida como "porcelana Medici". Para tal, foi usada uma fornalha projetada por Bountalenti e Fontana.
1583 - Alguns pesquisadores apontam este o ano da chegada da porcelana chinesa aqui no Brasil denominada por Fernão Cardim como "Porcelana da India".
Fonte: Porcelana Brasil, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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Serviços dos Pavões
Serviço dos Pavões (também conhecido como Serviço dos Dois Pavões, ou, em inglês, Double Peacock Service) é um serviço de jantar real, confeccionado em porcelana de pasta dura, de finíssima qualidade, que foi produzido na China do Imperador Qianlong, sob encomenda, para a Europa, trazido e comercializado pela Companhia das Índias Ocidentais. Estima-se que cerca de vinte mil peças do hoje chamado Serviço dos Pavões tenham sido produzidas entre 1750 e 1795, restando hoje cerca de cinco mil distribuídas por todo o mundo. É considerado um dos mais belos serviços de jantar de exportação.
Em formato oitavado, recortado ou redondo, o prato é de louça (porcelana) branca, encaroçada, decorada com esmaltes nas cores habituais da chamada "família rosa". Na sua borda conta figuram quatro ramos postos em cruz e a orla rouge de fer, alternada com chamativas estilizações de ramos na cor azul. No campo, observa-se um casal de pavões (pavo muticus linnaeus) sobre rochas e um ramo com grandes peônias, separados da borda da peça por um friso flordelisado. Além de pratos de vários tamanhos, foram confeccionadas sopeiras de vários tipos, terrinas, molheiras, travessas de vários formatos, manteigueiras, meleiras, wine-coolers e tigelas.
Segundo Edino da Fonseca Brancante, "o pavão em que sobressai a crista e a plumagem verde é originário de Burma e representa nobreza e projeção social. A peônia, em esplêndidos tons vermelhos, é o emblema da beleza feminina, do amor e do afeto (...)", escreveu em seu livro sobre o assunto.
A denominação "Serviço dos Pavões" se dá pelo fato de que as louças são decoradas com esses animais como elemento principal, o que é considerado pelos especialistas uma influência francesa.
História
Foi utilizado pela Família Real Portuguesa e pela Família Imperial Brasileira tanto no Paço de São Cristóvão como também na Fazenda Imperial de Santa Cruz. É um serviço conhecido como “viajante”, pois foi levado da China a Portugal, e de Portugal para o Brasil, quando D. João VI, ainda príncipe, temendo as guerras napoleônicas, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, com sua mãe, D. Maria I.
Os serviços de porcelana chinesa de uso imperial, trazidos para o Brasil por D. João VI, foram dispersos após a proclamação da República, sendo atualmente peças raras, procuradas por colecionadores de todo o mundo. Em 1890, foram realizados diversos leilões pelo leiloeiro Joaquim Dias dos Santos, no Rio de Janeiro, mas seus registros foram logo depois perdidos num incêndio ocorrido pouco depois na loja do leiloeiro.
Hoje em dia
Essas peças são comumente negociadas na Christie's, Sotheby’s, e em várias casas de leilão do mundo. As peças costumam ter valorização máxima no Brasil, em Portugal ou na Inglaterra, onde estão a maioria dos colecionadores.
Há peças do serviço no Museu do Estado da Bahia, no Museu Histórico Nacional, no Museu Simões da Silva, e em algumas das maiores coleções particulares do mundo.
O especialista Almeida Santos, escreve em seu "Manual do Colecionador Brasileiro": "Dentre os aparelhos de uso imperial, no Brasil, contam-se o dos "Galos" , dos "Pastores", da "Corsa" e dos "Pavões". O Serviço dos Pavões é o que há de mais fino em "Família Rosa" e foi feito, sem discussão, de encomenda para a Europa. Os "Pavões" são muito bem trabalhados. Aliás, a louça é por assim dizer, um misto da "Família Verde" e "Família Rosa". Possui grandes rosas pintadas com grande destaque, o que força a classificação na "Família Rosa", mas a decoração, em geral, é da "Família Verde", paisagens e aves".
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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A Louça Brasonada
Apresentando brasões ou armas-de-família, monogramas coroados ou não, algumas com belíssimas composições de flores e frutos, as louças brasonadas estiveram presentes nas mesas de nossos titulares, nobres fazendeiros, militares e membros da corte. Dentro de cada peça desses serviços, testemunha de festas alegres e acontecimentos importantes, existe um pedaço de nossa história, presa aos brasões e iniciais coloridas, que vale a pena conhecer.
Em todos os exemplares dessa louça existe, segundo Victorino Chermont de Miranda, "a mesma sensibilidade para o valor estético e histórico que, mais do que qualquer outro sinal exterior de decoro social vale como um testemunho da vida elegante do Brasil de ontem". Classificada como louça histórica, louça brasonada, louça da aristocracia, significa que pertenceu a condes, barões, viscondes, marqueses e fidalgos de cota d'armas, por oposição à chamada louça real, imperial ou bragantina, restrita aos Paços e seus habitantes.
Uma classificação mais apurada, de acordo com os detentores dos serviços, divide a louça brasonada em três segmentos:
1) A louça dos vice-reis do Brasil e dos titulares e fidalgos portugueses que aqui serviram;
2) A louça dos titulares brasileiros (marqueses, barões, etc., com ou sem honra de grandeza e;
3) A louça de cota d'armas e as dos cidadãos brasileiros ou portugueses, que receberam títulos nobiliárquicos do Rei de Portugal, e os usaram no Brasil, assim como dos condes romanos e dos eclesiásticos em geral.
Outra classificação feita a partir do padrão de decoração, determina quatro categorias:
1) Louça propriamente brasonada, com brasões de armas dos titulares;
2) Louça coroada, que apresenta uma coroa ou símbolo sobre as iniciais ou título do proprietário;
3) Louça monogramada, que possui, como o nome diz, as iniciais de seu titular e raramente as de seu título, e;
4) A louça muda, não personalizada, mas comprovadamente atribuída a algumas das pessoas já mencionadas.
O gosto da louça brasonada remonta à transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, quando foi apurado o modo simples de viver da Colônia, ajustando-o aos hábitos fidalgos da metrópole. Geralmente de origem francesa, essas porcelanas também eram encomendadas em outros países, como por exemplo, a que pertenceu ao Marquês de Abrantes, que veio da fábrica alemã de Saxe; o serviço do Barão de Penedo, que foi feito na tradicional fábrica inglesa de Coppeland & Garret e algumas vieram da China, as conhecidas "Companhia das Índias", como são os serviços do Barão de Nova Friburgo, do Visconde de Itamarati, etc.
Em todo o Brasil são conhecidos 226 serviços personalizados. A seguir, uma relação de louças brasonadas com as informações sobre seus primeiros donos ou titulares.
Visconde de Meriti
Manoel Lopes Pereira Bahia, filho de Domingos Lopes Pereira Bahia e D. Ana Margarida da Silva, foi casado em primeiras núpcias com Dona Maria Margarida da Rocha, filha do primeiro Barão de Itamarati. Foi agraciado com o título de Barão em 23 de dezembro 1853. Barão com honras de grandeza de Meriti em 2 de dezembro de 1854 e finalmente Visconde em 2 de dezembro de 1958. Sua louça, uma das mais belas, apresenta-se em dois serviços que variam apenas no colorido. O primeiro possui uma borda preta com pequenas decorações em ouro, onde, dentro de reservas, estão flores pintadas à mão e composições com frutas e ainda as iniciais P.B. (Pereira Bahia).
Esse titular possuiu outro serviço idêntico variando apenas o colorido da borda que era rosa e a sua decoração central que era flores. Essa porcelana sempre esteve presente nos tradicionais bailes que os Pereira Bahia ofereciam a Suas Majestades, os Imperadores do Brasil, no dia 15 de agosto, após as cerimônias religiosas realizadas na Capela Imperial de Nossa Senhora da Glória do Outeiro.
O palacete Bahia ficava situado no local do atual Palácio São Joaquim, na Rua do Catete. Durante vários anos essa louça foi atribuída a D. Pedro I, pois entenderam que as iniciais P.B. significavam "Príncipe do Brasil". Com o desaparecimento de uma das herdeiras do titular, esta louça foi localizada e a atribuição desfeita. A porcelana não possui marca de fabricação.
Barão de Paty de Alferes
Francisco Peixoto de Lacerda Werneck foi agraciado com o título de Barão em 15 de dezembro de 1832 e Barão com Grandeza em 2 de julho de 1853. Nasceu na Fazenda da Piedade em 6 de fevereiro de 1795 e faleceu na Freguesia de Paty de Alferes em 22 de novembro de 1861. A louça do Barão de Paty de Alferes têm as seguintes característica: uma faixa azul-ferrête na borda, frisada de ouro; na chamada quebra do prato, outro filete dourado e ao centro, encimadas por uma coroa de Visconde, vemos pendentes de uma fita entrelaçada as Ordens de Cristo e a Imperial Ordem da Rosa. Em função das duas comendas, este serviço é conhecido como "serviço das comendinhas".
Visconde de Itamarati
Francisco José da Rocha, nasceu em Miragaia, Portugal, em 1806 e faleceu no Rio, em 1883. Coronel-Comandante da Guarda Nacional e negociante da Corte. Cada peça do seu serviço, Cia das Índias, apresenta uma decoração central diferente, sendo dos mais ricos que se conhece. Entre pássaros e borboletas, vemos ao centro suas iniciais F.J.R. A borda, em ouro intenso, dá-lhe um aspecto suntuoso. Este titular possuiu outro serviço levado por sua esposa, Maria Roma Bernardes, por seu casamento. Este pertencia a seu pai, Pedro José Bernardes, que se apresenta não só com suas iniciais P.J.B., como com paisagens chinesas pintadas em azul, verde e amarelo onde vemos montanhas sagradas da China e, na borda, cenas do folclore chinês.
Visconde de Ouro Preto
Afonso Celso de Assis Figueiredo, Conselheiro de Estado e Senador do Império, foi agraciado com o título de Visconde com as honras de grandeza em 13 de julho de 1888. Nasceu em 1837 e faleceu em 1912. Sua louça é porcelana Limoges, J.P., L. encomendada através de seu depósito J. Klotz. Rue de Paradis, 22, France. Porcelana branca, com frisos e rendilhados de ouro e monograma O.P. encimado pela coroa de Visconde.
Marquês de Itu
Antônio de Aguiar Barros, Visconde de Itu por decreto de 19 de setembro de 1880. Recebera o título de Conde em 7 de março de 1885 e Marquês em 7 de maio de 1887. Filho dos Barões de Itu, nasceu em Itu - São Paulo, em 1823 e faleceu na mesma cidade em 1889. Agricultor e capitalista, foi casado com Antonia de Aguiar Barros, filha dos primeiros Barões de Piracicaba e chegou a ser Vice-presidente da província de São Paulo. Sua louça é porcelana de Vierzon, da manufatura de Hache e Jullien, pasta dura do século XIX, marca nº 68. A borda em creme com extremidade delineada por friso dourado circundando renda em azul e douração fosca. Abaixo, renda dourada e entre a borda e o centro, filete e renda dourada. Ao centro, monograma MY entrelaçado sob coroa de marquês em dourado e azul.
Barão de São Fidelis
Capitão Antônio Joaquim da Silva Pinto, filho de Manuel Joaquim da Silva e de Dona Luíza Maria de Mello, nasceu em Campos, Estado do Rio, em 13 de fevereiro de 1826, onde foi importante agricultor. Morreu também em Campos, a 21 de setembro de 1884. Foi Comendador da Imperial Ordem da Rosa e da Ordem de Cristo de Portugal. Sua louça é de porcelana francesa. O prato possui uma borda rendilhada de ouro e uma barra em azul-pompadour, ao centro, o brasão de armas, encimado pela coroa de Barão. Dentro de reservas de fundo rosa, flores e pássaros pintados a mão. Paquifes ornamentais guarnecem o brasão.
Barão de Avelar e Almeida
Laurindo de Avelar e Almeida era um rico fazendeiro de café na província do Rio de Janeiro. Nasceu em 5 de dezembro de 1849 e faleceu em 25 de novembro de 1902. Foi agraciado com o título de Barão em 28 de julho de 1877. Sua porcelana é francesa com a marca H.C. (Limoges) que aparece no fundo das peças. A decoração é inspirada no gosto japonês, apresentando o monograma de seu titular A.A. encimada por uma coroa de Barão.
Visconde do Rio Branco
José Maria da Silva Paranhos foi agraciado com o título em 20 de outubro de 1870. Foi Conselheiro do Estado Extraordinário e pai do Barão do Rio Branco. De sua louça, deixou dois serviços: o conhecido como "Lei do Ventre Livre", que ostenta na borda do prato uma faixa verde e o monograma R. B., encimado pela coroa de Visconde, terminada por um listel com a inscrição "28 de Setembro de 1871". Porcelana francesa Pillivuyt, de 1872. O outro serviço tem as iniciais R.B. encimadas por uma coroa de Conde e possui uma borda verde com frisos em ouro. É também da França, fabricado na Haviland & Cia. - Limoges.
Barão de Nova Friburgo
Antônio Clemente Pinto era português de nascimento mas com título brasileiro, e foi pai do Conde São Clemente e do segundo Barão de Nova Friburgo. Construtor do atual Palácio do Catete, ali fazia sua morada quando estava no Rio. Sua louça Cia. das Índias com borda em esmalte verde e azul tem reservas com pinturas em sépia, num círculo dourado com as iniciais A.C.P.
Barão da Fonseca
João Figueiredo Pereira de Barros. Seu serviço, Cia. das Índias, possui características que lembram a porcelana inglesa de Derby. Sua decoração obedece aos rigores do século XVIII, tendo ao centro, dentro de um círculo, as iniciais do titular J.F.P.B.
Visconde de Pelotas
José Antônio Correia da Câmara. Brigadeiro, prestou relevantes serviços na Guerra do Paraguai. Recebeu o título de Visconde, com honras de grandeza em 17 de março de 1870. Sua porcelana não tem marca, apresentando na borda decorações em verde-escuro e ouro, encimando o prato um P, coroado com coroa de visconde.
Barão de Tefé
Antonio Luís Von Hoonholtz, foi oficial da marinha. Agraciado com o título de Barão em 11 de junho de 1873, e Barão com grandeza em 10 de março de 1883. Faleceu em 6 de fevereiro de 1921. Os Barões de Tefé foram os pais da senhora Nair de Tefé, que casou com o Marechal Hermes da Fonseca, então Presidente da República. Sua louça apresenta no prato, uma borda azul-escuro, frisada a ouro, tendo à esquerda as letras BT entrelaçadas, coroadas com a coroa de barão. Trata-se de uma porcelana francesa proveniente de "Grand Depot de Porcelaines & Faïences", 21, Rue Drouot, Paris - Succursale 33, Rue Saint-Ferreol, Marseille.
Barão de Santa Helena
Tenente-Coronel José Joaquim Monteiro da Silva foi agraciado com o título de Barão em 13 de dezembro de 1867. Casado em primeiras núpcias com Dona Francisca Monteiro de Barros e em segunda com D. Maria Teresa Monteiro de Castro. Sua porcelana foi feita na França pela Havilland $ Cie, sendo branca, guarnecida de um ramo de rosas na borda, pegando o centro, frisos azuis guarnecem a louça, dando-lhe realce aos relevos.
Barão de Sorocaba
Boaventura Delfim Pereira foi casado com a irmã da Marquesa de Santos. Seu serviço Cia. da Índias possui uma reserva onde constam as iniciais B.D.P., tendo na borda folhas e cachos de uva em verde e roxo.
Conde do Pinhal
Antônio Carlos de Arruda Botelho foi agraciado com o título de Barão em 19 de julho de 1879, com o de Visconde em 5 de maio de 1883, Visconde com grandeza em 28 de fevereiro de 1885 e Conde do Pinhal em 7 de julho de 1887. Era fazendeiro de café no Estado de São Paulo. Nasceu em 1827 e faleceu em 1901. Sua porcelana era francesa sem marca. Apresenta uma faixa vermelha na borda onde se vê grãos de café abotoado. Na borda do prato as iniciais C.P. entrelaçadas, encimadas por uma coroa de Conde.
Conde de São Clemente
Antônio Clemente Pinto nasceu em 1830 e faleceu em 1898. Agraciado com o título de Barão em 3 de julho de 1863, Visconde em 11 de abril de 1888 e Conde, por decreto de 1888. Sua louça é porcelana francesa com borda azul e ouro, ao centro o seu brasão de armas guarnecido com paquifes decorativos encimados de coroa. No verso do prato está escrito "Manufacture de Porcelaine J. Gauvain, Rue de D'Hauteville, 59, Paris".
Conde de São Mamede
Rodrigo Pereira Felício nasceu em Portugal em 1820 e faleceu no Rio de Janeiro em 1872. Foi comerciante e um dos fundadores do "Brazilian and Portuguese Banck, Limited". Visconde de São Mamede, por Portugal, decreto de 12 de setembro de 1866 e Conde por decreto de 2 de março de 1869. Sua porcelana (Veja foto na capa) é européia, pasta dura, sem marca, com os dizeres "Lausanne Suisse" referente à vista pintada no centro do prato. Na borda com folhas douradas o seu brasão.
Barão de Jequiá
Manuel Duarte Ferreira Ferro foi agraciado com o título de Barão com grandeza em 14 de março de 1860. Sua louça era de porcelana francesa, com borda verde e friso de ouro, guarnecida com flores pintadas a mão e encimando o prato, dentro de uma reserva em branco, a inscrição: B. de Jequiá, coroada. No verso do prato: Ch. Pilliyuyt (1867).
Barão de São José D'El Rey
Gabriel Antônio de Barros, Barão por decreto de 7 de fevereiro de 1885, nasceu em Minas Gerais em 1826 e morreu em São José do Rio Preto em 1909. Agricultor e negociante da província de Minas Gerais, era filho de Antônio Barnardino de Barros. Seu serviço de porcelana francesa apresenta a marca de Jullien Fils Ainé. Borda com faixa verde jade ladeada por doisfrisos de tonalidade mais acentuada. Na borda, ainda, monograma "GAB" entrelaçado em verde.
Visconde de São Lourenço
Francisco Gonçalves Martins, Barão com grandeza por decreto de 14 de março de 1860 e Visconde em 15 de novembro de 1871. Nasceu em Santo Amaro -Bahia, em 1807 e faleceu no mesmo estado em 1872. Era filho do coronel Raimundo Gonçalves Martins e de Maria Joaquina do Amor Divino e foi casado com Maria da Conceição Peçanha. Foram pais da Viscondessa do Passe.
O Visconde, Bacharel em direito pela faculdade de Coimbra, foi chefe de polícia, deputado, senador e Presidente da província da Bahia. Foi também Desembargador e Ministro do Supremo Tribunal de Justiça. Seu serviço é de porcelana de Paris, pasta dura do século XIX, da manufatura dos irmãos Honoré, no Boulevard Poissonniere. O prato possui uma borda rendilhada de ouro composição de flores. Separando a borda do centro um círculo rendilhado de ouro entremeado de pérolas e no centro o monograma coroado.
Fonte: Antiguidades Brasileiras, de Paulo Affonso de Carvalho Machado, Louça Histórica, do Museu de Arte de Bahia e A Coleção de Louça Brasonada, da Academia de Letras, por meio da Porcelana Brasil.
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História da Porcelana
Atualmente, a louça branca na qual servimos nossas refeições do dia a dia nem de longe nos remete à maravilhosa história da porcelana. Tipo específico de louça que enlouqueceu as cortes europeias a partir do século XVI.
Origem da Porcelana
A palavra porcelana passou a ser usada na Europa a partir do século XV. Em analogia a uma concha chamada “porcellana”, branca e translúcida.
Usada para revestir taças e cálices, os europeus assim denominaram as delicadas peças que chegavam da China e que se tornaram objetos de prestígio, poder e bom gosto para a realeza do Velho Mundo.
Parece que as primeiras porcelanas que chegaram ao continente vieram nas naus de Vasco da Gama, fruto de uma grande compra feita em Calicut, na Índia.
Com o enorme interesse dos portugueses pelas peças, um segundo carregamento chegaria pouco depois à Lisboa, nas embarcações de Pedro Álvares Cabral.
Mas foram os alemães os primeiros a conseguir descobrir o segredo da fabricação da porcelana na Europa, no século XVIII.
Segundo Ricardo Joppert, em seu livro Curso de História da Porcelana Chinesa, para os ocidentais, a brancura e a translucidez eram as características que definiam uma boa porcelana.
“Lustrosa como as sedas coloridas com que os navios chegavam abarrotados, de um branco tão impecável quanto a espuma batendo nas proas das embarcações, esta substância mágica era tão fina, como uma casca de ovo, que ao erguê-la contra o sol podia-se ver a luz passar”, descreve Janet Gleeson na obra O Arcano – a Extraordinária História da Invenção da Porcelana Europeia.
Para os chineses, entretanto, a característica mais importante era a ressonância, ou seja, que a peça emitisse som.
“Na ressonância está realmente a fronteira que separa cerâmica de porcelana, na China”, ensina Joppert.
Pois as primeiras porcelanas que tanto deslumbraram os europeus eram as porcelanas azul e branca, das dinastias Yuan (1280-1368) e Ming (1368-1644), que tiveram seu apogeu no século XIII.
Depois que os portugueses estabeleceram um caminho marítimo para a China e o Japão, no século XVI, o comércio de porcelana cresceu.
No final do século XVII, após a Companhia das Índias Ocidentais holandesa juntarem-se ao lucrativo comércio, porcelanas dos mais diversos padrões foram importadas para a Europa em grandes quantidades, e a Inglaterra aderiu à moda da porcelana, conhecida popularmente no país como “china”.
Mas esta porcelana azul e branca representa apenas um tipo dentro da variedade encontrada na produção chinesa.
Se as peças de porcelana, dentro do conceito chinês, podiam também ser opacas e de pasta escura, as de porcelana branca eram conseguidas através da combinação de duas matérias-primas aquecidas a temperaturas muito altas (outra diferença fundamental entre a porcelana e outras cerâmicas):
O caulim (ou gaoling), uma argila branca refratária (que permanece branca após a queima a altas temperaturas porque é livre de ferro)
E o petuncê (petuntse), material feldspático derivado de rochas de granito, considerado a argamassa da estrutura da porcelana.
Em altas temperaturas, “o feldspato (petuntse) derrete e vitrifica, impregnando os poros da argila e criando estruturas cristalinas microscopicamente finas, que são exclusivas da porcelana”, ensina Gleeson.
Joppert afirma que a porcelana branca chinesa associou-se estreitamente à pintura. E tinha como motivos as múltiplas manifestações do mundo. Animais, flores, plantas e personagens.
Mas haviam outros gêneros de porcelana, como as chamadas cerâmicas duras, por exemplo, recobertas por verniz verde-azul.
Durante muito tempo, os ocidentais, sem conhecer os segredos da porcelana, tentaram fabricá-la. Acrescentaram vidro moído a diversas variedades de argila.
Na tentativa de conseguir a translucidez, além de areia, osso, conchas e até pó de talco. Na tentativa de se obter o branco puro. Até que o alquimista Johann Frederick Böttger, em Meissen, na Saxônia (Alemanha), descobriu como fazê-la em 1709.
E fez nascer, ali, a primeira fábrica de porcelana da Europa.
Uma segunda fábrica seria instalada em Viena anos depois. Foi ali que se divulgou a moda de combinar a louça inteira de um serviço de jantar, na década de 1730. O primeiro serviço de jantar feito em porcelana europeia surgiu em 1731.
A partir de 1740, outras fábricas pipocaram pela Europa, várias delas na França (Vincennes, Sèvres) na Itália (Capodimonte, Doccia) e na Bélgica. Nestas, estabeleceram-se novos padrões de luxo, com louças de porcelana com pinturas delicadas de paisagens e aves, finalizadas em ouro.
A demanda por xícaras e pires de porcelana aumentou quando bebidas como o chá, o café e o chocolate quente tornaram-se sucesso na Europa. No século XVII. Pois cada bebida exigia seu próprio tipo de bule, xícara e acessórios. Às xícaras, inclusive, associava-se, no século XVI, ideias mágicas sobre a porcelana.
Acreditava-se que, bebendo numa xícara de porcelana, as pessoas estariam protegidas de venenos como arsênico.
O primeiro serviço completo para chá e café foi feito entre 1697 e 1701. Em Dresden, na Saxônia. Mas seu artífice, o ourives Dinglinger, não conseguiu oferecer ao seu rei Augusto, o Forte. Xícaras feitas de porcelana verdadeira para que ele tomasse seu chá.
As presenteadas foram feitas em ouro puro esmaltado, imitando a porcelana oriental. Naquela época, no Extremo Oriente, o chá era feito numa chaleira e servido resfriado em pequenas xícaras de porcelana sem alças.
Mas as frágeis xícaras de chá, com pires delicados e pratos ricamente modelados de porcelana branca produzida na Europa seriam vistos, pela primeira vez, na Feira de Páscoa, em Leipzig.
Na primavera de 1713. E, assim como as pinturas, a modelagem em porcelana alcançaria níveis sofisticados, expressos. Por exemplo, no imenso aparelho de jantar com mais de 12 mil peças chamado “aparelho do cisne”.
Feito na fábrica de Meissen na década de 1720, para o conde de Brühl. Pratos com nervuras de conchas de vieiras, sopeiras coroadas com ninfas, golfinhos e sereias, pranchas para cobrir carnes que lembram praias recheadas de conchas e corais.
Com o passar do tempo, as porcelanas ganharam novos e variados padrões. Passaram a ser fabricadas em todas as partes do mundo. Mas o início de sua produção na Europa é uma história empolgante.
E algumas dessas peças, embora nunca mais apareçam numa mesa de jantar, podem ser apreciadas em museus dedicados a ela. Na Inglaterra, na França e na Alemanha.
Fonte: Revista Sociedade da Mesa, publicado por Ana Caldeira em 11 de maio de 2016.
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Processo de fabricação da Porcelana
Composição da massa
Argila – 10%
Caulino – 40%
Feldspato – 25%
Quartzo – 25%
Existem dois tipos de “massa”: a pastosa e a líquida.
Massa Pastosa
A massa pastosa é utilizada em peças modeladas em tornos. Depois de misturada, a massa é peneirada, em seguida é colocada em filtroprensas (equipamento de filtragem da água sob pressão), que tem por finalidade retirar o excesso de água deixando aproximadamente 25% de umidade.
A massa prensada é retirada e acondicionada em depósitos de envelhecimento, para sua conservação até à etapa subsequente, a de vácuo, que transforma a massa em uma mistura homogênea e sem ar. Neste momento, essa massa atinge maior grau de plasticidade, podendo ser torneada.
Massa Líquida
Trata-se da mesma massa, porém diluída. Contém aproximadamente 30% de água. Também é chamada de “barbotina” e é usada na fabricação das peças para as quais se usa um molde. O molde é preenchido com a massa líquida, e depois de um breve tempo de secagem parcial, esse molde é aberto para a retirada, de seu interior, da peça já moldada.
Peças moldadas a líquido
Este processo também é chamado de “colagem”. Consiste em encher formas de gesso com a massa líquida. Após decorrido o tempo necessário para formação das paredes na espessura desejada (absorção da água pelo gesso), o excesso de massa é despejado. Os cabos e alças passam pelo mesmo processo e são colados manualmente.
As peças obtidas por colagem são: bules, leiteiras, cafeteiras, sopeiras, manteigueiras, açucareiros, travessas, etc. Após a secagem todas as peças são esponjadas para corrigir eventuais imperfeições.
Queima e Verniz
Depois de secas as peças sofrem a primeira “queima”, denominada “biscoito”, a 900°C, com o objetivo de dar às peças resistência e porosidade para a perfeita absorção do verniz. Nesta etapa as peças adquirem um tom rosado.
O verniz é composto pelos mesmos materiais da massa, em quantidades diferentes. Através de um processo manual de imersão, o verniz adere à superfície da peça, formando uma película de cobertura. Após a aplicação do verniz ocorre uma segunda queima, que é realizada a uma temperatura que varia entre 1.300 °C a 1.350 °C.
Nesta fase a massa torna-se completamente compacta, totalmente sem porosidade, adquirindo cor branca e vitrificada (fusão do verniz sobre a massa). Esta segunda queima dura em média 31 horas, podendo chegar até 89 horas, dependendo do forno utilizado. As peças já prontas são encaminhadas para o setor de classificação, que controla a qualidade do produto. Então este é lixado e fica pronto para ser decorado.
Fonte: História Catarina, publicado em 27 de novembro de 2017.
Crédito fotográfico: Wikipédia
Porcelana da Companhia das Índias Ocidental ou simplesmente Companhia das Índias, foi o nome genérico pelo qual se tornou internacionalmente conhecida toda porcelana originária da China, considerada uma preciosidade. Empresas de navegação criadas em vários países da Europa com o objetivo de transportar mercadorias compradas no Oriente, foram denominadas "Companhia das Índias Ocidental". Não se tratava de produtos da Índia, mas principalmente da China, importados para satisfazer encomendas de clientes da Europa e das Américas. Os portugueses levavam porcelana para o Ocidente desde 1481, quando uma expedição comandada por Bartolomeu Dias chegou ao Oriente depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança. O comércio propriamente dito, também foi iniciado por eles, no início do século XVI, e, depois, franceses, holandeses e ingleses também entraram na parada com suas Companhias. A Inglaterra assumiu a liderança desse negócio por longos 250 anos, destacando-se a China Trade Porcelain e Chinese Export Porcelain. Para os ocidentais, a brancura e a translucidez eram as características que definiam uma boa porcelana. Para os chineses, entretanto, a característica mais importante era a ressonância, ou seja, além da brancura e translucidez, que a peça emitisse som.
Companhias das Índias
Empresas criadas em vários países da Europa, com o objetivo de transportar mercadorias compradas no Oriente. Não se tratava de produtos da Índia, mas principalmente da China, importados para satisfazer encomendas de clientes da Europa e das Américas. Por extensão, assim se chama a porcelana exportada da China e transportada nos navios das companhias das Índias, entre os séculos 16 e 19.
Os comerciantes portugueses foram os primeiros europeus a negociar com a China, desde o século 16. Entre 1580 e 1640, a península ibérica (Espanha e Portugal) foi governada por um único soberano espanhol, circunstância que modificou a situação. A Holanda também foi domínio da Espanha na época, declarando-se independente em 1579. Os holandeses insurgentes esqueceram Portugal como intermediário e criaram, em 1602, uma empresa para comerciar diretamente com o Oriente, a Vereenigde Oostindische Compagnie (Companhia Holandesa das Índias Orientais). O Brasil conheceu a influência desta corporação, já que ela estava em pleno funcionamento quando aconteceu a ocupação holandesa no Nordeste (séc. 17).
Quando a Corte portuguesa veio para o Brasil (1808), trouxe consigo serviços de porcelana desta origem, parte dos quais se encontra hoje no Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro. A nobreza local encomendou louça chinesa, sobretudo azul e branca, que ficou conhecida impropriamente como “Macau”. Os brasileiros mais ricos encomendaram as peças com adornos e brasões familiares.
Conforme a cor predominante na decoração, essa porcelana pode chamar-se família verde, família rosa, mandarim, etc. Outras companhias das Índias foram a inglesa (East Índia Company), a francesa (Compagnie des Indes)e além de outras na Áustria, Escócia, Suécia e Espanha.
Porcelana
“(...) No Ocidente, a palavra cerâmica tem suas raízes no grego kéramos (vaso de barro cozido, usado à mesa). Em português define artefatos de argila cozida, que podem ser porosos e não vitrificados (inglês earthenware; português terracota) ou esmaltados e vidrados (português faiança, do francês faïence)(...). A essa argila acrescentam-se sílica ou alumínio (sob a forma de areia, como quartzo pulverizado, ou sílex calcinado, para formar o que se chama de têmpera, que melhora a plasticidade da argila e reduz a contração excessiva. Fica assim relativamente “refratária” (resistente ao fogo)(...)além de outros elementos, que são necessários para que torne fundível. Quanto à palavra porcelana, ela passou a ser habitualmente usada pelos ocidentais no século 15, para descrever peças chinesas que chegavam à Europa como novidade.” (Ricardo Joppert, A porcelana chinesa, Artlivre, Rio de Janeiro, 1982).
A porcelana, criada há doze séculos pelos chineses, é a mistura de caulim (argila branca refratária, não fundível, livre de impurezas) com um material que se derrete e assim mantém coesas as moléculas do caulim. O resultado é uma pasta de brancura total, translúcida.
Família Rosa
Do francês famille rose. Decoração da porcelana chinesa, típica das importações das companhias das Índias (sécs. 17-19), muito apreciada em Portugal e no Brasil.
Quando o príncipe D. João VI veio para o Rio de Janeiro, vieram diversos exemplares de serviços de porcelana com esta coloração, que hoje podem ser admirados no Museu Histórico Nacional, na mesma cidade. A cor surgiu tardiamente na porcelana chinesa, só em meados do século 18, mediante a utilização de um esmalte (púrpura de Cassius)à base de ouro, importado da Europa.
Família Verde
Do francês famille verte. Decoração da porcelana chinesa (sécs. 17-19) muito apreciada no Ocidente, característica do reinado Kangsi (1662-1722) e continuada no Qianlong (1736-1795). É policromica, porém utiliza predominantemente o esmalte verde em vários tons, do qual chega a apresentar oito nuances. As outras cores mais comuns desta famíliasão: preto, cor-de-berinjela, amarelo e violeta.
Fonte: Raul Mendes Silva, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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Porcelana Companhia das Índias
"Companhia das Índias" é a denominação recebida pela antiga porcelana chinesa, considerada uma preciosidade, fabricada no Sul da China, comercializada e transportada do Oriente para o Ocidente através de empresas de navegação (Companhias de Comércio) denominadas Cia. das Índias Ocidentais. A porcelana só recebeu essa denominação no final do século XVI.
A verdadeira porcelana, produto cerâmico de massa muito fina, vitrificada, translucida comumente, recoberta de esmalte incolor e transparente, branco ou com as mais variadas pinturas e desenhos é originária da China.
Surgiu entre os anos 618/900 d.C., durante a Dinastia Tang. Foi a descoberta do caulim pelos chineses, que permitiu a criação de peças alvas e transparentes. Durante muitos séculos, eles esconderam o segredo dessa arte e só no século XVII, os japoneses, que através dos coreanos tomaram conhecimento desse mistério, passaram a fabricar objetos em porcelana.
Essa porcelana, usada na corte do Imperador chinês, nunca foi produzida em série, nem ao gosto do freguês, nem foi exportada. A especialidade que os chineses exportavam era a Porcelana Companhia das Índias.
Foi a partir da descoberta do Caminho das Índias, por Vasco da Gama, que a porcelana chegou ao mundo Ocidental: 170 milhões de peças (10 milhões delas, foram levadas para Lisboa).
Até o século XVIII, a China deteve a tecnologia da fabricação de porcelana, mas em 1709, um alquimista polonês, que tentava fabricar ouro, acabou por achar a fórmula.
Os portugueses levavam porcelana para o Ocidente desde 1481, quando uma expedição comandada por Bartolomeu Dias chegou ao Oriente depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança. A primeira peça a chegar, foi um gomil, supostamente presenteado ao Rei D. Manuel. O comércio propriamente dito, também foi iniciado por eles, no início do século XVI, e tudo o que traziam era facilmente vendido.
Em 1515, instalaram-se em Macau, onde era fabricada a porcelana azul e branca, conhecida como “borrão”, e os negócios prosperam ainda mais, mas eles não conseguiram manter o monopólio desse comércio. Franceses, holandeses e ingleses entraram na parada com suas Companhias. Em 1600, a Inglaterra passou a competir com todos e acabou por assumir a liderança desse negócio por longos 250 anos, destacando-se a China Trade Porcelain e Chinese Export Porcelain.
Sendo a decoração chinesa representada por símbolos, tradições e mensagens, nem sempre compreensíveis aos ocidentais, a influência europeia na arte chinesa da porcelana era dada pelos agentes comerciais das Companhias, que levavam modelos, formas, brasões e iniciais do Ocidente, sendo que as encomendas em letras ocidentais nem sempre eram reproduzidas com muita fidelidade. E mesmo os brasões e monogramas tinham colorido diverso dos originais. Mas os temas utilizados na decoração da antiga porcelana chinesa foram variados: flores de pessegueiros, cerejeira e ameixeira, galhos de salgueiros, lagos, garças, cisnes, carpas, cenas de guerra, agressivos cães de Fô, animais nascido do imaginário, conquistas amorosas, deuses e crianças a brincar.
Daí encontrarmos, em nossos dias, sopeiras magníficas, grandes travessas, molheiras, legumeiras e corvilhetes, com decorações e formas ocidentais, feitos da mais pura pasta chinesa.
Desde o começo do século passado, o interesse pela porcelana Companhia da Índias tem crescido e importantes coleções podem, então, ser vistas em vários renomados Museus, como o Guimet, de Paris, e o Topkapi, de Istambul.
Cia. das Índias no Brasil
Para o Brasil foram fabricadas várias porcelanas Cia. das Índias sob encomenda. A que ficou mais famosa foi o serviço comemorativo da Independência do Brasil, uma louça constituída de peças para chá. Nos pratos encontravam-se, no centro, as Armas do Brasil e a inscrição em ouro: "Viva a Independência do Brasil". O Brasão se apresentava heraldicamente errado, e na borda quatro motivos - o fumo, o café, duas esferas armilares e duas estrelas - completam a decoração. Existem duas versões sobre essa louça: uma delas diz que o serviço foi encomendado por um grupo de patriotas que o presentearam ao Imperador D. Pedro I; a outra afirma que foi um negociante que presenteou ao Imperador um dos serviços e comercializou os outros.
Bem antes disso foi encomendado o serviço do Reino Unido, que foi usado na Corte e apresenta o brasão do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Nos pratos, esse brasão aparece no centro envolvido por uma série de caracteres chineses. As cores são o vermelho, que traduz a alegria e felicidade, e o dourado, que representa o rio Yang-tsê-Kiang, o maior da China.
O serviço do Príncipe Regente, que foi encomendado quando D. João assumiu a regência do Reino, apresenta-se no estilo Luiz XVI, com seus característicos festões, laçadas rosas e grinaldas, entre medalhões com a efígie de D. João VI, Príncipe Regente e D. Carlota Joaquina, Princesa do Brasil. Medalhões com archotes e trombetas entrelaçados também fazem parte da decoração.
O serviço dos galos é considerado o mais valioso por causa da qualidade de sua porcelana, comparável aos melhores que a China já produziu. Pertence à família rosa, com folhas e flores montadas sobre ramos de bambu, que fazem a cercadura do prato. Cogumelos, borboletas e peônias e dois galos fazem a decoração central desse serviço. Com oito facetas, cada uma delas lembra um imortal da China.
Conhecida como serviço dos pavões, essa louça é considerada a mais comum dos serviços da Companhia das Índias, tendo sido usada no Paço de São Cristóvão. Do tipo exportação e de gosto francês, misto de família rosa e verde, tem como motivo central um casal de pavões sobre um rochedo e uma peônia, planta com flores rosadas ou brancas.
O serviço dos pastores é muito curioso por causa da influência ocidental na decoração. Apresenta um pastor em trajes ocidentais, cercado por dois carneiros. Pertencia à antiga Fazenda Imperial de Santa Cruz. Também proveniente da mesma fazenda é o serviço das corças, que possui as bordas em verde com oito dragões representando os oito imortais. O motivo central da decoração é Si-Wang-Um no bosque, junto ao lendário Lago das Gemas, tendo uma corsa ao lado, e sobre ela um potiche simbolizando o budismo. Sendo um dos maiores aparelhos, nele encontramos vasos, ânforas e peças de ornamentação. Outro serviço que também pertenceu à Fazenda Imperial de Santa Cruz foi o serviço vista grande. Ele é todo em sépia e possui alguns frisos em ouro e algumas rosas. É o único que apresenta figuras geométricas. Numa grande travessa existe uma paisagem com características ocidentais.
O serviço das rosas possui uma característica rara nas porcelanas Cia. das Índias: no verso de alguns pratos há uma inscrição em caracteres chineses que diz "feito com sabedoria por Kong-Wei-Dim". Esse serviço tem uma rica cercadura onde o ouro guarnece rosas de vivo colorido e sobre um fundo rouge-de-fer dá um imenso destaque à borda e no centro um pequeno ramo rosa e ouro completa a decoração.
Outro serviço dessa preciosa porcelana chinesa é o chamado vista pequena. Ele vem guarnecido de um filete azul, onde estrelas estão arrumadas simetricamente e no centro uma reserva redonda com uma paisagem ocidental é cercada de uma elipse, onde sete estrelas guarnecem cada lado.
Estes foram os serviços da Companhia das Índias de uso real. A eles pode-se acrescentar o serviço do Conde da Ribeira Grande. Essa louça ostenta ao centro o brasão de armas do titular, com uma cercadura de folhas, flores e borboletas. Outros serviços de porcelanas das Índias foram adquiridos por nobres e famílias abastadas no Brasil, a exemplo dos nobres e da burguesia rica na Europa da época, pois dava o maior status possuir aparelhos de jantar e de chá. Outros serviços e peças da Companhia das Índias foram trazidos por colecionadores e em contrapartida muitas peças foram levadas do Brasil.
No Brasil, são notáveis as coleções:
Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, composta de peças de oito serviços adquiridos por D. João VI e do serviço completo do Barão de Massarambá (172 peças);
Museu de Arte da Bahia de Salvador, composta por peças do acervo Góes Calmon;
Museu Costa Pinto de Salvador/BA;
Fundação Oscar Americano, em São Paulo.
Fonte: Leticia Muzetti, postado por Leticia Telles em 22 de maio de 2011.
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Cronologia da Porcelana no Brasil
Século VII - A porcelana já é fabricada na China pelo menos desde a Dinastia Tang (618-907).
1295 - Marco Polo traz para a Itália, na volta de sua viagem, o primeiro exemplar de porcelana conhecido na Europa, um pequeno vaso branco.
Séc. XVI - Desde o início do século a porcelana é considerada um objeto de luxo valioso e altamente desejado pela nobreza e os mais ricos na Europa. Era comercializada pelos mercadores de Gênova, Pisa, Veneza e de Portugal. Seu prestígio era também devido ao mistério associado à sua fabricação, um segredo que que permaneceu oculto até meados do século XVIII.
Séc. XVI - Os portugueses iniciam a exportação em larga escala de porcelana oriental para a Europa.
Séc XVII - Chegam ao Brasil, transportadas para a Europa pela Companhia das Índias Orientais holandesa, a porcelana e faiança japonesas.
Entre 1575 e 1597 - Pela primeira vez se consegue fabricar na Europa objetos com aspecto similar à porcelana chinesa (mas ainda não com a dureza e resistência da porcelana autêntica) na Florença, durante o período de governo do Duque Francesco de Medici, por isso mesmo conhecida como "porcelana Medici". Para tal, foi usada uma fornalha projetada por Bountalenti e Fontana.
1583 - Alguns pesquisadores apontam este o ano da chegada da porcelana chinesa aqui no Brasil denominada por Fernão Cardim como "Porcelana da India".
Fonte: Porcelana Brasil, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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Serviços dos Pavões
Serviço dos Pavões (também conhecido como Serviço dos Dois Pavões, ou, em inglês, Double Peacock Service) é um serviço de jantar real, confeccionado em porcelana de pasta dura, de finíssima qualidade, que foi produzido na China do Imperador Qianlong, sob encomenda, para a Europa, trazido e comercializado pela Companhia das Índias Ocidentais. Estima-se que cerca de vinte mil peças do hoje chamado Serviço dos Pavões tenham sido produzidas entre 1750 e 1795, restando hoje cerca de cinco mil distribuídas por todo o mundo. É considerado um dos mais belos serviços de jantar de exportação.
Em formato oitavado, recortado ou redondo, o prato é de louça (porcelana) branca, encaroçada, decorada com esmaltes nas cores habituais da chamada "família rosa". Na sua borda conta figuram quatro ramos postos em cruz e a orla rouge de fer, alternada com chamativas estilizações de ramos na cor azul. No campo, observa-se um casal de pavões (pavo muticus linnaeus) sobre rochas e um ramo com grandes peônias, separados da borda da peça por um friso flordelisado. Além de pratos de vários tamanhos, foram confeccionadas sopeiras de vários tipos, terrinas, molheiras, travessas de vários formatos, manteigueiras, meleiras, wine-coolers e tigelas.
Segundo Edino da Fonseca Brancante, "o pavão em que sobressai a crista e a plumagem verde é originário de Burma e representa nobreza e projeção social. A peônia, em esplêndidos tons vermelhos, é o emblema da beleza feminina, do amor e do afeto (...)", escreveu em seu livro sobre o assunto.
A denominação "Serviço dos Pavões" se dá pelo fato de que as louças são decoradas com esses animais como elemento principal, o que é considerado pelos especialistas uma influência francesa.
História
Foi utilizado pela Família Real Portuguesa e pela Família Imperial Brasileira tanto no Paço de São Cristóvão como também na Fazenda Imperial de Santa Cruz. É um serviço conhecido como “viajante”, pois foi levado da China a Portugal, e de Portugal para o Brasil, quando D. João VI, ainda príncipe, temendo as guerras napoleônicas, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, com sua mãe, D. Maria I.
Os serviços de porcelana chinesa de uso imperial, trazidos para o Brasil por D. João VI, foram dispersos após a proclamação da República, sendo atualmente peças raras, procuradas por colecionadores de todo o mundo. Em 1890, foram realizados diversos leilões pelo leiloeiro Joaquim Dias dos Santos, no Rio de Janeiro, mas seus registros foram logo depois perdidos num incêndio ocorrido pouco depois na loja do leiloeiro.
Hoje em dia
Essas peças são comumente negociadas na Christie's, Sotheby’s, e em várias casas de leilão do mundo. As peças costumam ter valorização máxima no Brasil, em Portugal ou na Inglaterra, onde estão a maioria dos colecionadores.
Há peças do serviço no Museu do Estado da Bahia, no Museu Histórico Nacional, no Museu Simões da Silva, e em algumas das maiores coleções particulares do mundo.
O especialista Almeida Santos, escreve em seu "Manual do Colecionador Brasileiro": "Dentre os aparelhos de uso imperial, no Brasil, contam-se o dos "Galos" , dos "Pastores", da "Corsa" e dos "Pavões". O Serviço dos Pavões é o que há de mais fino em "Família Rosa" e foi feito, sem discussão, de encomenda para a Europa. Os "Pavões" são muito bem trabalhados. Aliás, a louça é por assim dizer, um misto da "Família Verde" e "Família Rosa". Possui grandes rosas pintadas com grande destaque, o que força a classificação na "Família Rosa", mas a decoração, em geral, é da "Família Verde", paisagens e aves".
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 4 de abril de 2021.
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A Louça Brasonada
Apresentando brasões ou armas-de-família, monogramas coroados ou não, algumas com belíssimas composições de flores e frutos, as louças brasonadas estiveram presentes nas mesas de nossos titulares, nobres fazendeiros, militares e membros da corte. Dentro de cada peça desses serviços, testemunha de festas alegres e acontecimentos importantes, existe um pedaço de nossa história, presa aos brasões e iniciais coloridas, que vale a pena conhecer.
Em todos os exemplares dessa louça existe, segundo Victorino Chermont de Miranda, "a mesma sensibilidade para o valor estético e histórico que, mais do que qualquer outro sinal exterior de decoro social vale como um testemunho da vida elegante do Brasil de ontem". Classificada como louça histórica, louça brasonada, louça da aristocracia, significa que pertenceu a condes, barões, viscondes, marqueses e fidalgos de cota d'armas, por oposição à chamada louça real, imperial ou bragantina, restrita aos Paços e seus habitantes.
Uma classificação mais apurada, de acordo com os detentores dos serviços, divide a louça brasonada em três segmentos:
1) A louça dos vice-reis do Brasil e dos titulares e fidalgos portugueses que aqui serviram;
2) A louça dos titulares brasileiros (marqueses, barões, etc., com ou sem honra de grandeza e;
3) A louça de cota d'armas e as dos cidadãos brasileiros ou portugueses, que receberam títulos nobiliárquicos do Rei de Portugal, e os usaram no Brasil, assim como dos condes romanos e dos eclesiásticos em geral.
Outra classificação feita a partir do padrão de decoração, determina quatro categorias:
1) Louça propriamente brasonada, com brasões de armas dos titulares;
2) Louça coroada, que apresenta uma coroa ou símbolo sobre as iniciais ou título do proprietário;
3) Louça monogramada, que possui, como o nome diz, as iniciais de seu titular e raramente as de seu título, e;
4) A louça muda, não personalizada, mas comprovadamente atribuída a algumas das pessoas já mencionadas.
O gosto da louça brasonada remonta à transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, quando foi apurado o modo simples de viver da Colônia, ajustando-o aos hábitos fidalgos da metrópole. Geralmente de origem francesa, essas porcelanas também eram encomendadas em outros países, como por exemplo, a que pertenceu ao Marquês de Abrantes, que veio da fábrica alemã de Saxe; o serviço do Barão de Penedo, que foi feito na tradicional fábrica inglesa de Coppeland & Garret e algumas vieram da China, as conhecidas "Companhia das Índias", como são os serviços do Barão de Nova Friburgo, do Visconde de Itamarati, etc.
Em todo o Brasil são conhecidos 226 serviços personalizados. A seguir, uma relação de louças brasonadas com as informações sobre seus primeiros donos ou titulares.
Visconde de Meriti
Manoel Lopes Pereira Bahia, filho de Domingos Lopes Pereira Bahia e D. Ana Margarida da Silva, foi casado em primeiras núpcias com Dona Maria Margarida da Rocha, filha do primeiro Barão de Itamarati. Foi agraciado com o título de Barão em 23 de dezembro 1853. Barão com honras de grandeza de Meriti em 2 de dezembro de 1854 e finalmente Visconde em 2 de dezembro de 1958. Sua louça, uma das mais belas, apresenta-se em dois serviços que variam apenas no colorido. O primeiro possui uma borda preta com pequenas decorações em ouro, onde, dentro de reservas, estão flores pintadas à mão e composições com frutas e ainda as iniciais P.B. (Pereira Bahia).
Esse titular possuiu outro serviço idêntico variando apenas o colorido da borda que era rosa e a sua decoração central que era flores. Essa porcelana sempre esteve presente nos tradicionais bailes que os Pereira Bahia ofereciam a Suas Majestades, os Imperadores do Brasil, no dia 15 de agosto, após as cerimônias religiosas realizadas na Capela Imperial de Nossa Senhora da Glória do Outeiro.
O palacete Bahia ficava situado no local do atual Palácio São Joaquim, na Rua do Catete. Durante vários anos essa louça foi atribuída a D. Pedro I, pois entenderam que as iniciais P.B. significavam "Príncipe do Brasil". Com o desaparecimento de uma das herdeiras do titular, esta louça foi localizada e a atribuição desfeita. A porcelana não possui marca de fabricação.
Barão de Paty de Alferes
Francisco Peixoto de Lacerda Werneck foi agraciado com o título de Barão em 15 de dezembro de 1832 e Barão com Grandeza em 2 de julho de 1853. Nasceu na Fazenda da Piedade em 6 de fevereiro de 1795 e faleceu na Freguesia de Paty de Alferes em 22 de novembro de 1861. A louça do Barão de Paty de Alferes têm as seguintes característica: uma faixa azul-ferrête na borda, frisada de ouro; na chamada quebra do prato, outro filete dourado e ao centro, encimadas por uma coroa de Visconde, vemos pendentes de uma fita entrelaçada as Ordens de Cristo e a Imperial Ordem da Rosa. Em função das duas comendas, este serviço é conhecido como "serviço das comendinhas".
Visconde de Itamarati
Francisco José da Rocha, nasceu em Miragaia, Portugal, em 1806 e faleceu no Rio, em 1883. Coronel-Comandante da Guarda Nacional e negociante da Corte. Cada peça do seu serviço, Cia das Índias, apresenta uma decoração central diferente, sendo dos mais ricos que se conhece. Entre pássaros e borboletas, vemos ao centro suas iniciais F.J.R. A borda, em ouro intenso, dá-lhe um aspecto suntuoso. Este titular possuiu outro serviço levado por sua esposa, Maria Roma Bernardes, por seu casamento. Este pertencia a seu pai, Pedro José Bernardes, que se apresenta não só com suas iniciais P.J.B., como com paisagens chinesas pintadas em azul, verde e amarelo onde vemos montanhas sagradas da China e, na borda, cenas do folclore chinês.
Visconde de Ouro Preto
Afonso Celso de Assis Figueiredo, Conselheiro de Estado e Senador do Império, foi agraciado com o título de Visconde com as honras de grandeza em 13 de julho de 1888. Nasceu em 1837 e faleceu em 1912. Sua louça é porcelana Limoges, J.P., L. encomendada através de seu depósito J. Klotz. Rue de Paradis, 22, France. Porcelana branca, com frisos e rendilhados de ouro e monograma O.P. encimado pela coroa de Visconde.
Marquês de Itu
Antônio de Aguiar Barros, Visconde de Itu por decreto de 19 de setembro de 1880. Recebera o título de Conde em 7 de março de 1885 e Marquês em 7 de maio de 1887. Filho dos Barões de Itu, nasceu em Itu - São Paulo, em 1823 e faleceu na mesma cidade em 1889. Agricultor e capitalista, foi casado com Antonia de Aguiar Barros, filha dos primeiros Barões de Piracicaba e chegou a ser Vice-presidente da província de São Paulo. Sua louça é porcelana de Vierzon, da manufatura de Hache e Jullien, pasta dura do século XIX, marca nº 68. A borda em creme com extremidade delineada por friso dourado circundando renda em azul e douração fosca. Abaixo, renda dourada e entre a borda e o centro, filete e renda dourada. Ao centro, monograma MY entrelaçado sob coroa de marquês em dourado e azul.
Barão de São Fidelis
Capitão Antônio Joaquim da Silva Pinto, filho de Manuel Joaquim da Silva e de Dona Luíza Maria de Mello, nasceu em Campos, Estado do Rio, em 13 de fevereiro de 1826, onde foi importante agricultor. Morreu também em Campos, a 21 de setembro de 1884. Foi Comendador da Imperial Ordem da Rosa e da Ordem de Cristo de Portugal. Sua louça é de porcelana francesa. O prato possui uma borda rendilhada de ouro e uma barra em azul-pompadour, ao centro, o brasão de armas, encimado pela coroa de Barão. Dentro de reservas de fundo rosa, flores e pássaros pintados a mão. Paquifes ornamentais guarnecem o brasão.
Barão de Avelar e Almeida
Laurindo de Avelar e Almeida era um rico fazendeiro de café na província do Rio de Janeiro. Nasceu em 5 de dezembro de 1849 e faleceu em 25 de novembro de 1902. Foi agraciado com o título de Barão em 28 de julho de 1877. Sua porcelana é francesa com a marca H.C. (Limoges) que aparece no fundo das peças. A decoração é inspirada no gosto japonês, apresentando o monograma de seu titular A.A. encimada por uma coroa de Barão.
Visconde do Rio Branco
José Maria da Silva Paranhos foi agraciado com o título em 20 de outubro de 1870. Foi Conselheiro do Estado Extraordinário e pai do Barão do Rio Branco. De sua louça, deixou dois serviços: o conhecido como "Lei do Ventre Livre", que ostenta na borda do prato uma faixa verde e o monograma R. B., encimado pela coroa de Visconde, terminada por um listel com a inscrição "28 de Setembro de 1871". Porcelana francesa Pillivuyt, de 1872. O outro serviço tem as iniciais R.B. encimadas por uma coroa de Conde e possui uma borda verde com frisos em ouro. É também da França, fabricado na Haviland & Cia. - Limoges.
Barão de Nova Friburgo
Antônio Clemente Pinto era português de nascimento mas com título brasileiro, e foi pai do Conde São Clemente e do segundo Barão de Nova Friburgo. Construtor do atual Palácio do Catete, ali fazia sua morada quando estava no Rio. Sua louça Cia. das Índias com borda em esmalte verde e azul tem reservas com pinturas em sépia, num círculo dourado com as iniciais A.C.P.
Barão da Fonseca
João Figueiredo Pereira de Barros. Seu serviço, Cia. das Índias, possui características que lembram a porcelana inglesa de Derby. Sua decoração obedece aos rigores do século XVIII, tendo ao centro, dentro de um círculo, as iniciais do titular J.F.P.B.
Visconde de Pelotas
José Antônio Correia da Câmara. Brigadeiro, prestou relevantes serviços na Guerra do Paraguai. Recebeu o título de Visconde, com honras de grandeza em 17 de março de 1870. Sua porcelana não tem marca, apresentando na borda decorações em verde-escuro e ouro, encimando o prato um P, coroado com coroa de visconde.
Barão de Tefé
Antonio Luís Von Hoonholtz, foi oficial da marinha. Agraciado com o título de Barão em 11 de junho de 1873, e Barão com grandeza em 10 de março de 1883. Faleceu em 6 de fevereiro de 1921. Os Barões de Tefé foram os pais da senhora Nair de Tefé, que casou com o Marechal Hermes da Fonseca, então Presidente da República. Sua louça apresenta no prato, uma borda azul-escuro, frisada a ouro, tendo à esquerda as letras BT entrelaçadas, coroadas com a coroa de barão. Trata-se de uma porcelana francesa proveniente de "Grand Depot de Porcelaines & Faïences", 21, Rue Drouot, Paris - Succursale 33, Rue Saint-Ferreol, Marseille.
Barão de Santa Helena
Tenente-Coronel José Joaquim Monteiro da Silva foi agraciado com o título de Barão em 13 de dezembro de 1867. Casado em primeiras núpcias com Dona Francisca Monteiro de Barros e em segunda com D. Maria Teresa Monteiro de Castro. Sua porcelana foi feita na França pela Havilland $ Cie, sendo branca, guarnecida de um ramo de rosas na borda, pegando o centro, frisos azuis guarnecem a louça, dando-lhe realce aos relevos.
Barão de Sorocaba
Boaventura Delfim Pereira foi casado com a irmã da Marquesa de Santos. Seu serviço Cia. da Índias possui uma reserva onde constam as iniciais B.D.P., tendo na borda folhas e cachos de uva em verde e roxo.
Conde do Pinhal
Antônio Carlos de Arruda Botelho foi agraciado com o título de Barão em 19 de julho de 1879, com o de Visconde em 5 de maio de 1883, Visconde com grandeza em 28 de fevereiro de 1885 e Conde do Pinhal em 7 de julho de 1887. Era fazendeiro de café no Estado de São Paulo. Nasceu em 1827 e faleceu em 1901. Sua porcelana era francesa sem marca. Apresenta uma faixa vermelha na borda onde se vê grãos de café abotoado. Na borda do prato as iniciais C.P. entrelaçadas, encimadas por uma coroa de Conde.
Conde de São Clemente
Antônio Clemente Pinto nasceu em 1830 e faleceu em 1898. Agraciado com o título de Barão em 3 de julho de 1863, Visconde em 11 de abril de 1888 e Conde, por decreto de 1888. Sua louça é porcelana francesa com borda azul e ouro, ao centro o seu brasão de armas guarnecido com paquifes decorativos encimados de coroa. No verso do prato está escrito "Manufacture de Porcelaine J. Gauvain, Rue de D'Hauteville, 59, Paris".
Conde de São Mamede
Rodrigo Pereira Felício nasceu em Portugal em 1820 e faleceu no Rio de Janeiro em 1872. Foi comerciante e um dos fundadores do "Brazilian and Portuguese Banck, Limited". Visconde de São Mamede, por Portugal, decreto de 12 de setembro de 1866 e Conde por decreto de 2 de março de 1869. Sua porcelana (Veja foto na capa) é européia, pasta dura, sem marca, com os dizeres "Lausanne Suisse" referente à vista pintada no centro do prato. Na borda com folhas douradas o seu brasão.
Barão de Jequiá
Manuel Duarte Ferreira Ferro foi agraciado com o título de Barão com grandeza em 14 de março de 1860. Sua louça era de porcelana francesa, com borda verde e friso de ouro, guarnecida com flores pintadas a mão e encimando o prato, dentro de uma reserva em branco, a inscrição: B. de Jequiá, coroada. No verso do prato: Ch. Pilliyuyt (1867).
Barão de São José D'El Rey
Gabriel Antônio de Barros, Barão por decreto de 7 de fevereiro de 1885, nasceu em Minas Gerais em 1826 e morreu em São José do Rio Preto em 1909. Agricultor e negociante da província de Minas Gerais, era filho de Antônio Barnardino de Barros. Seu serviço de porcelana francesa apresenta a marca de Jullien Fils Ainé. Borda com faixa verde jade ladeada por doisfrisos de tonalidade mais acentuada. Na borda, ainda, monograma "GAB" entrelaçado em verde.
Visconde de São Lourenço
Francisco Gonçalves Martins, Barão com grandeza por decreto de 14 de março de 1860 e Visconde em 15 de novembro de 1871. Nasceu em Santo Amaro -Bahia, em 1807 e faleceu no mesmo estado em 1872. Era filho do coronel Raimundo Gonçalves Martins e de Maria Joaquina do Amor Divino e foi casado com Maria da Conceição Peçanha. Foram pais da Viscondessa do Passe.
O Visconde, Bacharel em direito pela faculdade de Coimbra, foi chefe de polícia, deputado, senador e Presidente da província da Bahia. Foi também Desembargador e Ministro do Supremo Tribunal de Justiça. Seu serviço é de porcelana de Paris, pasta dura do século XIX, da manufatura dos irmãos Honoré, no Boulevard Poissonniere. O prato possui uma borda rendilhada de ouro composição de flores. Separando a borda do centro um círculo rendilhado de ouro entremeado de pérolas e no centro o monograma coroado.
Fonte: Antiguidades Brasileiras, de Paulo Affonso de Carvalho Machado, Louça Histórica, do Museu de Arte de Bahia e A Coleção de Louça Brasonada, da Academia de Letras, por meio da Porcelana Brasil.
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História da Porcelana
Atualmente, a louça branca na qual servimos nossas refeições do dia a dia nem de longe nos remete à maravilhosa história da porcelana. Tipo específico de louça que enlouqueceu as cortes europeias a partir do século XVI.
Origem da Porcelana
A palavra porcelana passou a ser usada na Europa a partir do século XV. Em analogia a uma concha chamada “porcellana”, branca e translúcida.
Usada para revestir taças e cálices, os europeus assim denominaram as delicadas peças que chegavam da China e que se tornaram objetos de prestígio, poder e bom gosto para a realeza do Velho Mundo.
Parece que as primeiras porcelanas que chegaram ao continente vieram nas naus de Vasco da Gama, fruto de uma grande compra feita em Calicut, na Índia.
Com o enorme interesse dos portugueses pelas peças, um segundo carregamento chegaria pouco depois à Lisboa, nas embarcações de Pedro Álvares Cabral.
Mas foram os alemães os primeiros a conseguir descobrir o segredo da fabricação da porcelana na Europa, no século XVIII.
Segundo Ricardo Joppert, em seu livro Curso de História da Porcelana Chinesa, para os ocidentais, a brancura e a translucidez eram as características que definiam uma boa porcelana.
“Lustrosa como as sedas coloridas com que os navios chegavam abarrotados, de um branco tão impecável quanto a espuma batendo nas proas das embarcações, esta substância mágica era tão fina, como uma casca de ovo, que ao erguê-la contra o sol podia-se ver a luz passar”, descreve Janet Gleeson na obra O Arcano – a Extraordinária História da Invenção da Porcelana Europeia.
Para os chineses, entretanto, a característica mais importante era a ressonância, ou seja, que a peça emitisse som.
“Na ressonância está realmente a fronteira que separa cerâmica de porcelana, na China”, ensina Joppert.
Pois as primeiras porcelanas que tanto deslumbraram os europeus eram as porcelanas azul e branca, das dinastias Yuan (1280-1368) e Ming (1368-1644), que tiveram seu apogeu no século XIII.
Depois que os portugueses estabeleceram um caminho marítimo para a China e o Japão, no século XVI, o comércio de porcelana cresceu.
No final do século XVII, após a Companhia das Índias Ocidentais holandesa juntarem-se ao lucrativo comércio, porcelanas dos mais diversos padrões foram importadas para a Europa em grandes quantidades, e a Inglaterra aderiu à moda da porcelana, conhecida popularmente no país como “china”.
Mas esta porcelana azul e branca representa apenas um tipo dentro da variedade encontrada na produção chinesa.
Se as peças de porcelana, dentro do conceito chinês, podiam também ser opacas e de pasta escura, as de porcelana branca eram conseguidas através da combinação de duas matérias-primas aquecidas a temperaturas muito altas (outra diferença fundamental entre a porcelana e outras cerâmicas):
O caulim (ou gaoling), uma argila branca refratária (que permanece branca após a queima a altas temperaturas porque é livre de ferro)
E o petuncê (petuntse), material feldspático derivado de rochas de granito, considerado a argamassa da estrutura da porcelana.
Em altas temperaturas, “o feldspato (petuntse) derrete e vitrifica, impregnando os poros da argila e criando estruturas cristalinas microscopicamente finas, que são exclusivas da porcelana”, ensina Gleeson.
Joppert afirma que a porcelana branca chinesa associou-se estreitamente à pintura. E tinha como motivos as múltiplas manifestações do mundo. Animais, flores, plantas e personagens.
Mas haviam outros gêneros de porcelana, como as chamadas cerâmicas duras, por exemplo, recobertas por verniz verde-azul.
Durante muito tempo, os ocidentais, sem conhecer os segredos da porcelana, tentaram fabricá-la. Acrescentaram vidro moído a diversas variedades de argila.
Na tentativa de conseguir a translucidez, além de areia, osso, conchas e até pó de talco. Na tentativa de se obter o branco puro. Até que o alquimista Johann Frederick Böttger, em Meissen, na Saxônia (Alemanha), descobriu como fazê-la em 1709.
E fez nascer, ali, a primeira fábrica de porcelana da Europa.
Uma segunda fábrica seria instalada em Viena anos depois. Foi ali que se divulgou a moda de combinar a louça inteira de um serviço de jantar, na década de 1730. O primeiro serviço de jantar feito em porcelana europeia surgiu em 1731.
A partir de 1740, outras fábricas pipocaram pela Europa, várias delas na França (Vincennes, Sèvres) na Itália (Capodimonte, Doccia) e na Bélgica. Nestas, estabeleceram-se novos padrões de luxo, com louças de porcelana com pinturas delicadas de paisagens e aves, finalizadas em ouro.
A demanda por xícaras e pires de porcelana aumentou quando bebidas como o chá, o café e o chocolate quente tornaram-se sucesso na Europa. No século XVII. Pois cada bebida exigia seu próprio tipo de bule, xícara e acessórios. Às xícaras, inclusive, associava-se, no século XVI, ideias mágicas sobre a porcelana.
Acreditava-se que, bebendo numa xícara de porcelana, as pessoas estariam protegidas de venenos como arsênico.
O primeiro serviço completo para chá e café foi feito entre 1697 e 1701. Em Dresden, na Saxônia. Mas seu artífice, o ourives Dinglinger, não conseguiu oferecer ao seu rei Augusto, o Forte. Xícaras feitas de porcelana verdadeira para que ele tomasse seu chá.
As presenteadas foram feitas em ouro puro esmaltado, imitando a porcelana oriental. Naquela época, no Extremo Oriente, o chá era feito numa chaleira e servido resfriado em pequenas xícaras de porcelana sem alças.
Mas as frágeis xícaras de chá, com pires delicados e pratos ricamente modelados de porcelana branca produzida na Europa seriam vistos, pela primeira vez, na Feira de Páscoa, em Leipzig.
Na primavera de 1713. E, assim como as pinturas, a modelagem em porcelana alcançaria níveis sofisticados, expressos. Por exemplo, no imenso aparelho de jantar com mais de 12 mil peças chamado “aparelho do cisne”.
Feito na fábrica de Meissen na década de 1720, para o conde de Brühl. Pratos com nervuras de conchas de vieiras, sopeiras coroadas com ninfas, golfinhos e sereias, pranchas para cobrir carnes que lembram praias recheadas de conchas e corais.
Com o passar do tempo, as porcelanas ganharam novos e variados padrões. Passaram a ser fabricadas em todas as partes do mundo. Mas o início de sua produção na Europa é uma história empolgante.
E algumas dessas peças, embora nunca mais apareçam numa mesa de jantar, podem ser apreciadas em museus dedicados a ela. Na Inglaterra, na França e na Alemanha.
Fonte: Revista Sociedade da Mesa, publicado por Ana Caldeira em 11 de maio de 2016.
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Processo de fabricação da Porcelana
Composição da massa
Argila – 10%
Caulino – 40%
Feldspato – 25%
Quartzo – 25%
Existem dois tipos de “massa”: a pastosa e a líquida.
Massa Pastosa
A massa pastosa é utilizada em peças modeladas em tornos. Depois de misturada, a massa é peneirada, em seguida é colocada em filtroprensas (equipamento de filtragem da água sob pressão), que tem por finalidade retirar o excesso de água deixando aproximadamente 25% de umidade.
A massa prensada é retirada e acondicionada em depósitos de envelhecimento, para sua conservação até à etapa subsequente, a de vácuo, que transforma a massa em uma mistura homogênea e sem ar. Neste momento, essa massa atinge maior grau de plasticidade, podendo ser torneada.
Massa Líquida
Trata-se da mesma massa, porém diluída. Contém aproximadamente 30% de água. Também é chamada de “barbotina” e é usada na fabricação das peças para as quais se usa um molde. O molde é preenchido com a massa líquida, e depois de um breve tempo de secagem parcial, esse molde é aberto para a retirada, de seu interior, da peça já moldada.
Peças moldadas a líquido
Este processo também é chamado de “colagem”. Consiste em encher formas de gesso com a massa líquida. Após decorrido o tempo necessário para formação das paredes na espessura desejada (absorção da água pelo gesso), o excesso de massa é despejado. Os cabos e alças passam pelo mesmo processo e são colados manualmente.
As peças obtidas por colagem são: bules, leiteiras, cafeteiras, sopeiras, manteigueiras, açucareiros, travessas, etc. Após a secagem todas as peças são esponjadas para corrigir eventuais imperfeições.
Queima e Verniz
Depois de secas as peças sofrem a primeira “queima”, denominada “biscoito”, a 900°C, com o objetivo de dar às peças resistência e porosidade para a perfeita absorção do verniz. Nesta etapa as peças adquirem um tom rosado.
O verniz é composto pelos mesmos materiais da massa, em quantidades diferentes. Através de um processo manual de imersão, o verniz adere à superfície da peça, formando uma película de cobertura. Após a aplicação do verniz ocorre uma segunda queima, que é realizada a uma temperatura que varia entre 1.300 °C a 1.350 °C.
Nesta fase a massa torna-se completamente compacta, totalmente sem porosidade, adquirindo cor branca e vitrificada (fusão do verniz sobre a massa). Esta segunda queima dura em média 31 horas, podendo chegar até 89 horas, dependendo do forno utilizado. As peças já prontas são encaminhadas para o setor de classificação, que controla a qualidade do produto. Então este é lixado e fica pronto para ser decorado.
Fonte: História Catarina, publicado em 27 de novembro de 2017.
Crédito fotográfico: Wikipédia