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Enrico Bianco

Errico Paolo Vittoria Romana Bianco (Lázio, Roma, Itália, 18 de julho de 1918 - Rio de Janeiro, RJ, 08 de março de 2013), conhecido como Enrico Bianco, foi um pintor, desenhista, gravador e ilustrador italiano radicado no Brasil desde 1937, onde permaneceu até a sua morte. Foi discípulo de Portinari.

Biografia Itaú Cultural

Enrico Bianco deixou a Itália aos 18 anos com a ajuda do próprio Mussolini. O cardiologista da mãe, que faleceu de câncer, era o mesmo do chefe do Partido Nacional Fascista. Quando a família resolveu embarcar para o Brasil, Enrico, aos 18 anos, estava em idade militar e deveria se alistar. Recebeu, então, um passaporte com contrato fictício de trabalhador de fazenda, o que lhe permitiria viajar. No fim dos anos 30, os Bianco estabeleceram morada no Rio de Janeiro, na Avenida Atlântica. Foi no Brasil que que se fez como artista, retratando em suas obras paisagens e costumes da terra que o acolheu.

Logo que chegaram a irmã fez amizade com a prima do pintor Rossi Osir, que lhe sugeriu visitar uma obra que Cândito Portinari, maior expoente da pintura brasileira, pintava em seu ateliê no Ministério da Educação.

Bianco chegou lá às 8h, mas só encontrou três ajudantes: Roberto Burle Marx, Maria Inês e Ruben Cassa. Nem falava português. Em francês, Burle Marx lhe informou que o mestre chegava apenas por volta do meio dia.

Vendo que os três estavam tendo dificuldade com a ampliação da mão de um garimpeiro no afresco, se ofereceu pra ajudar e pintou sozinho aquele pedaço. Tão logo chegou, Portinari perguntou quem tinha sido o responsável pela mão. E então chamou o jovem italiano para trabalhar com ele. O estilo e as técnicas que aprendeu com o mestre - nos 18 anos em que foi seu ajudante - acompanhariam Bianco ao longo de toda a sua vida.

Iniciou seus estudos com Maud Latour, em Roma, na década de 30. Participou da I Quadriennale Nazionale d'Arte (Roma), em 1935. Pintor e ilustrador, ele estudou com Portinari no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal, entre 1935 e 1937, no Rio de Janeiro. Discípulo de Portinari, trabalhou com o mestre em diversas obras, destacando-se os murais do MEC, os painéis do Banco da Bahia, o edifício da ONU, etc. Em 1940, realizou sua primeira exposição individual no Copacabana Palace Hotel. A edição especial de Caçada de Esmeraldas, de Olavo Bilac, organizada por bibliófilos brasileiros, e o álbum de gravação do poema sinfônico Anhanguera, de Hekel Tavares, foram ilustradas por Bianco em 1951.

Críticas

"O conhecimento imediato com Portinari, no ano seguinte à chegada ao Brasil, marcou definitivamente o desenho e a pintura de Enrico Bianco desde então. (...) Assim, vemos desenvolver-se, ao longo da obra de Bianco, a busca de fusão entre pólos aparentemente opostos, quais sejam a disciplina organizativa do espaço pictórico segundo esquemas de linearidades e jogos de planos sutilmente cubistas, e a propensão. Em verdade, mais abrangente, no sentido da veemência expressionista. Decorreu daí o predomínio da figura no trabalho de Bianco, tratada sob preocupação de registrar a dramaticidade de contingências típicas do mundo de hoje, acrescido de guerras globais, ou sob o estímulo de outras memórias do drama, na série de pinturas de fundamento religioso. As paisagens, por sua vez, acentuaram presença na obra atual, sem que nelas, no entanto - apesar da agilidade e idêntica veemência no tratamento do conjunto -, se possa experimentar aquela mesma densidade expressionista de abordagem dos outros temas; é possível inclusive sentir, nesses trabalhos, direcionamento para a simplificação abstratizante de cada elemento e de seu contexto, embora a paisagem continue ali, visível e reativada".

Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Arte/Brasil/hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973.)

"Bianco é um pintor de talento, dos que desde moço se aprende a respeitar. Não limita sua atividade a determinados setores. Tudo na vida o interessa; o que lhe permite manifestar-se na mais variada temática. Foge das fórmulas e dos modismos. Companheiro de Portinari, participou, nos tempos da construção do edifício do Ministério da Educação e Saúde, da ação do grupo dos modernistas que juntava Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Carlos Leão, os irmãos Roberto e Affonso Eduardo Reidy, Villa-Lobos e quantos outros aos quais se deve a renovação que teve seu ponto de partida na Semana de 22. Como artista emergente da tradição erroneamente denominada acadêmica, a Bianco interessa a figura, a paisagem, a natureza-morta e particularmente as cenas do campo. Cada tela mostra a maestria dos que se devotam à profissão de pintor-pintor, continuando a considerar e revelar casos e encontros".

Pietro Maria Bardi (LOUZADA, Júlio. Artes plásticas: seu mercado, seus leilões. São Paulo: J. Louzada, 1984-.)

"Enrico Bianco é este acontecimento raro, no Brasil, do artista que pinta a partir de uma tradição que tem mais de 10 anos. Esta é, aliás, a primeira coisa que impressiona o público ao contatar esta obra. De repente há algo de diferente neste trabalho e isto não está só no tema ou na visão do artista, mas na sua maneira de pintar. O que, vale dizer, esta diferença, este algo que chama a atenção, está na pincelada, no uso dos pigmentos, nas cores sobrepostas a outras cores, na composição e no desenho, na exaltação do modelo. O público tem a certeza de que estas pinturas levaram muito tempo para serem feitas e que o aprendizado do artista foi longo, dedicação de vida inteira. São obras que parecem ter eliminado o acaso, ainda que isto não seja verdadeiro. Há um propósito e o diálogo entre obra e público se dá a partir desta constatação. E, enfim, se ainda estivéssemos na época de refutar o burguês anedótico, desta feita, poderíamos afirmar que ele não diria: "isto o meu filho de 10 anos também faz". Certamente podemos chamar este fazer pictórico de Enrico Bianco de maestria. Este saber, construído pelo artista em tantos anos de culto labor, concretiza-se em alguns assuntos preferidos como a figura feminina, natureza morta, trigais, cenas da lida rural, paisagens, nos quais encontramos mais do que a transfiguração da realidade cotidiana, já que o que está presente é a pintura feita de delicadezas, lirismo, sons ocultos. Já não nos interessa exatamente o motivo do qual parte o artista ou o seu estímulo visual, mas a criação de um universo único e particular. Enrico Bianco não faz flores, mulheres ou boiadas, mas pintura".

Jacob Klintowitz (BIANCO. Bianco. Curadoria José Adolpho M. Ayres; apresentação Jacob Klintowitz; projeto gráfico Hélio Alves Neves. São Paulo : Galeria de Arte André, 1997. 25 p. il. color.)

Exposições Individuais

1940 - Rio de Janeiro RJ - Primeira individual no Brasil, no Copacabana Palace Hotel

1941 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ita

1942 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Casa e Jardim

1956 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Petite Galerie

1958 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Tenreiro

1963 - Europa - Exposición de América y España

1964 - Lisboa (Portugal) - Individual

1964 - Nova Orleans (Estados Unidos) - Individual

1966 - Rio de Janerio RJ - Individual, na Petite Galerie

1966 - Roma (Itália) - Individual, na Galeria da Casa do Brasil

1967 - Tel Aviv (Israel) - Individual

1967 - Roma (Itália) - Individual, na Galeria Piazza di Spagna

1968 - Recife - Individual, na Galeria Ranulpho

1970 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Ipanema

1971 - São Paulo SP - Individual, na The Chelsea Art Galleries Jardim

1972 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Copacabana Palace

1973 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Ipanema

1973 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte Ipanema

1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Graffiti

1976 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Ipanema

1978 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Mini Gallery

1980 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Renot

1981 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Dezon

1982 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva, no Masp

1982 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Retrospectiva, no MNBA

1996 - Brasília DF - Individual, no Palácio Itamaraty

1997 - Santos SP - Individual, na Fundação Benedito Calixto

1997 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte André

Exposições Coletivas

1935 - Roma (Itália) - 1º Quadriennale Nazionale d'Arte

1940 - Rio de Janeiro RJ - Seção Moderna do Salão Nacional de Belas Artes - medalha de prata

1951 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Naturezas Mortas, no Serviço de Alimentação e Previdência Social

1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon

1954 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas - sala especial

1954 - Rio de Janeiro RJ - Salão Preto e Branco, no Palácio da Cultura

1954 - São Paulo SP - Arte Contemporânea: exposição do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no MAM/SP

1960 - Cidade do México (México) - 2ª Bienal Interamericana do México - sala especial

1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio

1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana

1981 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts

1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ

1983 - Atami (Japão) - 6ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão

1983 - Kyoto (Japão) - 6ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão

1983 - Rio de Janeiro RJ - 6ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no MNBA

1983 - São Paulo SP - 6ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no Masp

1983 - Tóquio (Japão) - 6ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão

1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ

1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp

1986 - Rio de Janeiro RJ - Sete Décadas da Presença Italiana na Arte Brasileira, no Paço Imperial

1988 - São Paulo SP - 15 Anos de Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, na Fundação Mokiti Okada M.O.A.

1989 - São Paulo SP - Trinta e Três Maneiras de Ver o Mundo, na Ranulpho Galeria de Arte

1992 - Rio de Janeiro RJ - Eco Art, no MAM/RJ

1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP

1995 - Rio de Janeiro RJ - 1º Riocult, no Riocentro

1996 - Passo Fundo RS - Museu de Artes Visuais Ruth Schneider: exposição inaugural, no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider

1996 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio, no MAM/RJ

1998 - Rio de Janeiro RJ - Imagens Negociadas: retratos da elite brasileira, no CCBB

1998 - São Paulo SP - Futebol em Arte, na Galeria de Arte André

2000 - São Paulo SP - Coletiva, na Galeria Ricardo Camargo

2001 - São Paulo SP - 4 Décadas, na Nova André Galeria

2002 - São Paulo SP - Paisagens do Imaginário, na Nova André Galeria

2003 - Rio de Janeiro RJ - Tesouros da Caixa: arte moderna brasileira no acervo da Caixa, no Conjunto Cultural da Caixa

2003 - São Paulo SP - Entre Aberto, na Gravura Brasileira

Fonte: BIANCO . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8923/bianco>. Acesso em: 30 de jan. 2019. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Biografia Wikipédia

Filho da pianista Maria Bianco-Lanzi e do escritor e correspondente internacional do Jornal do Brasil, Francesco Bianco; Inicia seus estudos em Roma, na década de 1930.

Logo que chegou, conheceu Cândido Portinari de quem se tornou o principal ajudante, tendo participado da feitura dos grandes painéis e murais executados pelo mestre. Um desses painéis é Guerra e Paz, produzido de 1953 a 1956, e presenteado à sede da ONU de Nova York; é uma das obras mais prestigiadas de Portinari. Enrico Bianco auxiliou o artista pintando os painéis com a ajuda de Rosalina Leão.

No Rio de Janeiro, entre 1935 e 1937, colabora com Candido Portinari (1903 - 1962) no Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal - UDF. No ano seguinte, trabalha com Portinari em diversas obras, destacando-se os murais do Ministério da Educação e Cultura - MEC, os painéis do Banco da Bahia, além do edifício da ONU, e etc. Em 1940, realiza sua primeira individual no Copacabana Palace Hotel. Participou da I Bienal de São Paulo, em 1951. Ilustra edição especial de Caçador de Esmeraldas, de Olavo Bilac, organizada por bibliófilos brasileiros e o álbum de gravação do poema sinfônico Anhanguera, de Hekel Tavares, em 1951.

Realizou exposições em diversos países como: México, Portugal, Itália, Estados Unidos, Israel e França. Bianco pintou especialmente paisagens e cenas do campo, num trabalho que evoca a tradição do “saber fazer” dos grandes pintores, pelo esforço incessante e a elaboração técnica.

Lutou por 22 anos contra um câncer de próstata, morreu em 2013.

Fonte: Wikipédia, consultado em 20 de janeiro de 2020.

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Um intelectual e dois artistas

Roma, 1935. Na vasta sala do velho casarão, o som de um piano transmite ao ambiente os acordes de um noturno de Chopin.

Sentado à mesa, um adolescente, nos seus 17 anos, mantém espalhados lápis coloridos, tintas e folhas com esboços de desenhos. Algumas pinturas vão tomando forma sobre alguns deles, inacabadas ainda, mas encaminhadas para a resolução, com a segurança de quem sabe o que está fazendo.

Ao lado, um senhor de meia idade confere os rascunhos de um texto que terminara há pouco e que espera colocar no correio antes do fim do dia.

O homem é Francesco Bianco, escritor e correspondente internacional do «Jornal do Brasil», do Rio de Janeiro. A pianista, sua mulher, é Maria Bianco-Lanzi que, além da virtuosidade e familiaridade com o teclado, é dotada de uma cultura invulgar.

O moço envolvido com as tintas é o filho dos dois, Enrico Bianco que, desde os seis anos de idade, incentivado pelos pais, vinha estudando desenho e pintura, tendo arrolados entre seus mestres alguns nomes conhecidos da arte italiana, como Deoclécio Redig de Campos, que chegou a diretor do Museu do Vaticano.

Agora, recebia aulas de Dante Ricci, outrora professor da família real, não tão famoso, mas igualmente capaz e severo, passando ao aluno não só as técnicas mas sobretudo um conceito de rígida disciplina, necessária para quem deseje levar avante qualquer trabalho artístico.

O pai levanta-se e vai ao correio levar seu trabalho. O moço, que treinava pelo menos seis horas ao dia, fica imerso em seus afazeres. E o som do piano prossegue, iluminando o ambiente e inspirando o artista.

Adio, Italia mia

Então, certa vez, o piano se calou. Silenciou para sempre. A família Bianco vivia naquele momento seus piores dias. Além da tragédia que se abateu sobre eles, com a dolorosa perda da esposa e mãe, os problemas se acumulavam, sem perspectiva de solução.

Francesco Bianco fora outrora um deputado pela democracia cristã e, com a ascensão do fascismo na Itália, caiu em desgraça. O «Jornal do Brasil», vivendo a crise dos anos 30 e sentindo os efeitos do fechamento do regime também no Brasil, após a posse de Getúlio Vargas, demitiu-o da posição de seu correspondente na Itália.

Com toda sua erudição e bom relacionamento na Itália, Francesco bem que poderia arrumar novo emprego mas, para trabalhar na imprensa ou em qualquer órgão de comunicação, precisaria ter a carteira de fascista, que nem ele queria tirar, nem lhe seria dada, por seus antecedentes políticos.

Havia outra saída possível, que era viajar para o Brasil, onde já estivera em 1920. Ali, tinha até uma promessa de emprego na Italcable, um serviço telegráfico por cabos submarinos que concorria com a Western americana. Mas para isso eram necessários os passaportes e estes lhe foram negados, por ser considerado um inimigo do governo, indesejável quando perto e incontrolável quando longe.

Avanti tutti

Sentindo as dificuldades emergentes, o médico da família, que era também cardiologista de Mussolini, propôs-se a buscar uma solução e, durante uma consulta de rotina ao ditador, arriscou uma frase: «A mulher de Bianco morreu».

«Eu sei», respondeu o Duce. A resposta era fria, mas não inamistosa ou ostensiva. O médico arriscou outra investida: «Ele quer três passaportes, para ele e as duas crianças.»

Um novo e prolongado silêncio e, então, Mussolini responde, firmemente: «Pois que preencha os papéis, que eu autorizo a emissão.»

E foi assim que, no ano de 1937, conduzido pelas forças do destino, Enrico Bianco chegou ao Rio de Janeiro, acompanhado do pai e da irmã, estabelecendo-se para sempre no Brasil. Meses após a chegada, teve um encontro que marcou-o pelo resto da vida.

A mão do garimpeiro

Havia seis meses que Bianco estava no Brasil quando o pintor Paulo Rossi lhe sugeriu visitar uma obra que Portinari estava preparando na sede do Ministério da Educação. Ele foi, mas só encontrou lá três ajudantes: Burle Marx (1909-1994), Inês e Ruben Cassa (1905).

Percebendo as dificuldades que os três estavam tendo com a ampliação, em afresco, da mão de um garimpeiro, pediu que o deixassem tentar e, contando com o assentimento, pintou sozinho aquele detalhe.

Pouco depois chega Portinari e, com intuição de mestre, percebeu a interferência, perguntando com irritação: «Quem é que fez aquela mão ali?» Os discípulos apontaram para Bianco, encolhido a um canto, a quem o mestre, aparentemente, deu pouca ou nenhuma atenção.

Bianco, se soubesse, nem teria ido lá mas, já que estava, deixou-se ficar, apreciando o desenvolvimento da obra. Pela hora do almoço, decidiu voltar à casa, despedindo-se de Portinari, que lhe perguntou, com a energia de sempre: «Mas, aonde vai?» «Vou para casa», respondeu Bianco.

O mestre estendeu-lhe a mão, com a mesma cara de zangado e lhe perguntou: «Mas amanhã você volta, não volta?»

Foi assim que, aos poucos, o jovem pintor foi se integrando à equipe de Portinari, tornando-se, por muitos e muitos anos, um valoroso colaborador.

A «mão do garimpeiro», a primeira intervenção de Bianco na pintura do mestre, continua lá, onde foi pintada. E a influência de Portinari em Bianco é visível em muitos de seus quadros. O pintor cresceu, ganhou vida própria, mas nunca se afastou do estilo que assimilou e aprendeu a respeitar.

Barrado no baile

A aproximação entre Bianco e Portinari, se de um lado só lhe trouxe orgulho e admiração, de outro, também lhe causou problemas, notoriamente pela aversão de alguns políticos brasileiros a Portinari, principalmente por sua ideologia e posições políticas. Conquanto o mestre não fosse um ativista, o simples fato de demonstrar simpatias ao comunismo o colocava sob a mira macartista e, com ele, todos aqueles que o seguiam.

Em 1960, o México cuidava da organização de sua 2ª Bienal e, desejando incluir nela alguns artistas brasileiros, mandou para cá um representante, o qual, entre outros, convidou Enrico Bianco, encarregado de preparar três quadros especialmente para o evento.

Como o Itamarati prontificou-se a pagar as despesas de viagem, achou-se no direito de rever a lista de convidados, riscando dela Bianco, sob a alegação de que ele nasceu na Itália, não representando, pois, a arte brasileira.

Mal deu para esconder a aversão ao pintor. Bianco nasceu na Itália mas fez-se no Brasil à sombra de um dos maiores mestres brasileiros. Sua temática era toda ela voltada para nossa terra, nossa gente, nossos costumes. Rubem Braga saiu em sua defesa, em artigo publicado pela revista «Manchete»:

«Vi os quadros. São melhores do que eu esperava; são bons quadros de pintura moderna em qualquer parte do país e do mundo, e são os quadros de um pintor formado no Brasil e sensível às sugestões e ao sentimento da vida brasileira; são, portanto, quadros excelentemente representativos da pintura brasileira em qualquer mostra internacional. Eu vi; e os críticos não podem discutir comigo, porque os críticos não viram.»

Não adiantou. Quando o Estado interfere na arte, a arte sempre leva a pior. E o artista também.

O mais brasileiro dos italianos

Enrico Bianco nasceu em Roma em 18 de julho de 1918. Embora italiano, veio para o Brasil ainda na adolescência, desenvolvendo sua arte em meio à efervescência do modernismo brasileiro, ativado a partir do Movimento Modernista de 1921 no Rio de Janeiro e ganhando consistência a partir da Semana da Arte Moderna de 1922 em São Paulo.

Conviveu com grandes mestres brasileiros da pintura, como Cândido Portinari, de quem foi discípulo, privou da amizade de Burle Max e recebeu rasgados elogios de gente de proa no mundo artístico, como Antônio Bento e Pietro Maria Bardi.

Por ter escolhido o Brasil como sua segunda pátria, por ter-se fixado aqui para sempre, e por ter desenvolvido aqui praticamente toda sua obra, com influência inegável de artistas brasileiros, e tendo, como tema de trabalho, a vida, os costumes e a sociedade brasileira, Bianco pode ser incluído, com muita propriedade, entre os Pintores do Brasil.

Texto de Paulo Victorino

Fonte: Site oficial Enrico Bianco, consultado em 25 de março de 2020.

Errico Paolo Vittoria Romana Bianco (Lázio, Roma, Itália, 18 de julho de 1918 - Rio de Janeiro, RJ, 08 de março de 2013), conhecido como Enrico Bianco, foi um pintor, desenhista, gravador e ilustrador italiano radicado no Brasil desde 1937, onde permaneceu até a sua morte. Foi discípulo de Portinari.

Enrico Bianco

Errico Paolo Vittoria Romana Bianco (Lázio, Roma, Itália, 18 de julho de 1918 - Rio de Janeiro, RJ, 08 de março de 2013), conhecido como Enrico Bianco, foi um pintor, desenhista, gravador e ilustrador italiano radicado no Brasil desde 1937, onde permaneceu até a sua morte. Foi discípulo de Portinari.

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A história de Enrico Bianco, um dos principais assistentes de Portinari

Portinari e o pintor Enrico Bianco

Entrevista com Enrico Bianco

Biografia Itaú Cultural

Enrico Bianco deixou a Itália aos 18 anos com a ajuda do próprio Mussolini. O cardiologista da mãe, que faleceu de câncer, era o mesmo do chefe do Partido Nacional Fascista. Quando a família resolveu embarcar para o Brasil, Enrico, aos 18 anos, estava em idade militar e deveria se alistar. Recebeu, então, um passaporte com contrato fictício de trabalhador de fazenda, o que lhe permitiria viajar. No fim dos anos 30, os Bianco estabeleceram morada no Rio de Janeiro, na Avenida Atlântica. Foi no Brasil que que se fez como artista, retratando em suas obras paisagens e costumes da terra que o acolheu.

Logo que chegaram a irmã fez amizade com a prima do pintor Rossi Osir, que lhe sugeriu visitar uma obra que Cândito Portinari, maior expoente da pintura brasileira, pintava em seu ateliê no Ministério da Educação.

Bianco chegou lá às 8h, mas só encontrou três ajudantes: Roberto Burle Marx, Maria Inês e Ruben Cassa. Nem falava português. Em francês, Burle Marx lhe informou que o mestre chegava apenas por volta do meio dia.

Vendo que os três estavam tendo dificuldade com a ampliação da mão de um garimpeiro no afresco, se ofereceu pra ajudar e pintou sozinho aquele pedaço. Tão logo chegou, Portinari perguntou quem tinha sido o responsável pela mão. E então chamou o jovem italiano para trabalhar com ele. O estilo e as técnicas que aprendeu com o mestre - nos 18 anos em que foi seu ajudante - acompanhariam Bianco ao longo de toda a sua vida.

Iniciou seus estudos com Maud Latour, em Roma, na década de 30. Participou da I Quadriennale Nazionale d'Arte (Roma), em 1935. Pintor e ilustrador, ele estudou com Portinari no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal, entre 1935 e 1937, no Rio de Janeiro. Discípulo de Portinari, trabalhou com o mestre em diversas obras, destacando-se os murais do MEC, os painéis do Banco da Bahia, o edifício da ONU, etc. Em 1940, realizou sua primeira exposição individual no Copacabana Palace Hotel. A edição especial de Caçada de Esmeraldas, de Olavo Bilac, organizada por bibliófilos brasileiros, e o álbum de gravação do poema sinfônico Anhanguera, de Hekel Tavares, foram ilustradas por Bianco em 1951.

Críticas

"O conhecimento imediato com Portinari, no ano seguinte à chegada ao Brasil, marcou definitivamente o desenho e a pintura de Enrico Bianco desde então. (...) Assim, vemos desenvolver-se, ao longo da obra de Bianco, a busca de fusão entre pólos aparentemente opostos, quais sejam a disciplina organizativa do espaço pictórico segundo esquemas de linearidades e jogos de planos sutilmente cubistas, e a propensão. Em verdade, mais abrangente, no sentido da veemência expressionista. Decorreu daí o predomínio da figura no trabalho de Bianco, tratada sob preocupação de registrar a dramaticidade de contingências típicas do mundo de hoje, acrescido de guerras globais, ou sob o estímulo de outras memórias do drama, na série de pinturas de fundamento religioso. As paisagens, por sua vez, acentuaram presença na obra atual, sem que nelas, no entanto - apesar da agilidade e idêntica veemência no tratamento do conjunto -, se possa experimentar aquela mesma densidade expressionista de abordagem dos outros temas; é possível inclusive sentir, nesses trabalhos, direcionamento para a simplificação abstratizante de cada elemento e de seu contexto, embora a paisagem continue ali, visível e reativada".

Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Arte/Brasil/hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973.)

"Bianco é um pintor de talento, dos que desde moço se aprende a respeitar. Não limita sua atividade a determinados setores. Tudo na vida o interessa; o que lhe permite manifestar-se na mais variada temática. Foge das fórmulas e dos modismos. Companheiro de Portinari, participou, nos tempos da construção do edifício do Ministério da Educação e Saúde, da ação do grupo dos modernistas que juntava Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Carlos Leão, os irmãos Roberto e Affonso Eduardo Reidy, Villa-Lobos e quantos outros aos quais se deve a renovação que teve seu ponto de partida na Semana de 22. Como artista emergente da tradição erroneamente denominada acadêmica, a Bianco interessa a figura, a paisagem, a natureza-morta e particularmente as cenas do campo. Cada tela mostra a maestria dos que se devotam à profissão de pintor-pintor, continuando a considerar e revelar casos e encontros".

Pietro Maria Bardi (LOUZADA, Júlio. Artes plásticas: seu mercado, seus leilões. São Paulo: J. Louzada, 1984-.)

"Enrico Bianco é este acontecimento raro, no Brasil, do artista que pinta a partir de uma tradição que tem mais de 10 anos. Esta é, aliás, a primeira coisa que impressiona o público ao contatar esta obra. De repente há algo de diferente neste trabalho e isto não está só no tema ou na visão do artista, mas na sua maneira de pintar. O que, vale dizer, esta diferença, este algo que chama a atenção, está na pincelada, no uso dos pigmentos, nas cores sobrepostas a outras cores, na composição e no desenho, na exaltação do modelo. O público tem a certeza de que estas pinturas levaram muito tempo para serem feitas e que o aprendizado do artista foi longo, dedicação de vida inteira. São obras que parecem ter eliminado o acaso, ainda que isto não seja verdadeiro. Há um propósito e o diálogo entre obra e público se dá a partir desta constatação. E, enfim, se ainda estivéssemos na época de refutar o burguês anedótico, desta feita, poderíamos afirmar que ele não diria: "isto o meu filho de 10 anos também faz". Certamente podemos chamar este fazer pictórico de Enrico Bianco de maestria. Este saber, construído pelo artista em tantos anos de culto labor, concretiza-se em alguns assuntos preferidos como a figura feminina, natureza morta, trigais, cenas da lida rural, paisagens, nos quais encontramos mais do que a transfiguração da realidade cotidiana, já que o que está presente é a pintura feita de delicadezas, lirismo, sons ocultos. Já não nos interessa exatamente o motivo do qual parte o artista ou o seu estímulo visual, mas a criação de um universo único e particular. Enrico Bianco não faz flores, mulheres ou boiadas, mas pintura".

Jacob Klintowitz (BIANCO. Bianco. Curadoria José Adolpho M. Ayres; apresentação Jacob Klintowitz; projeto gráfico Hélio Alves Neves. São Paulo : Galeria de Arte André, 1997. 25 p. il. color.)

Exposições Individuais

1940 - Rio de Janeiro RJ - Primeira individual no Brasil, no Copacabana Palace Hotel

1941 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ita

1942 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Casa e Jardim

1956 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Petite Galerie

1958 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Tenreiro

1963 - Europa - Exposición de América y España

1964 - Lisboa (Portugal) - Individual

1964 - Nova Orleans (Estados Unidos) - Individual

1966 - Rio de Janerio RJ - Individual, na Petite Galerie

1966 - Roma (Itália) - Individual, na Galeria da Casa do Brasil

1967 - Tel Aviv (Israel) - Individual

1967 - Roma (Itália) - Individual, na Galeria Piazza di Spagna

1968 - Recife - Individual, na Galeria Ranulpho

1970 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Ipanema

1971 - São Paulo SP - Individual, na The Chelsea Art Galleries Jardim

1972 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Copacabana Palace

1973 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Ipanema

1973 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte Ipanema

1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Graffiti

1976 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Ipanema

1978 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Mini Gallery

1980 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Renot

1981 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Dezon

1982 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva, no Masp

1982 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Retrospectiva, no MNBA

1996 - Brasília DF - Individual, no Palácio Itamaraty

1997 - Santos SP - Individual, na Fundação Benedito Calixto

1997 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte André

Exposições Coletivas

1935 - Roma (Itália) - 1º Quadriennale Nazionale d'Arte

1940 - Rio de Janeiro RJ - Seção Moderna do Salão Nacional de Belas Artes - medalha de prata

1951 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Naturezas Mortas, no Serviço de Alimentação e Previdência Social

1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon

1954 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas - sala especial

1954 - Rio de Janeiro RJ - Salão Preto e Branco, no Palácio da Cultura

1954 - São Paulo SP - Arte Contemporânea: exposição do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no MAM/SP

1960 - Cidade do México (México) - 2ª Bienal Interamericana do México - sala especial

1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio

1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana

1981 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts

1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ

1983 - Atami (Japão) - 6ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão

1983 - Kyoto (Japão) - 6ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão

1983 - Rio de Janeiro RJ - 6ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no MNBA

1983 - São Paulo SP - 6ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no Masp

1983 - Tóquio (Japão) - 6ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão

1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ

1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp

1986 - Rio de Janeiro RJ - Sete Décadas da Presença Italiana na Arte Brasileira, no Paço Imperial

1988 - São Paulo SP - 15 Anos de Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, na Fundação Mokiti Okada M.O.A.

1989 - São Paulo SP - Trinta e Três Maneiras de Ver o Mundo, na Ranulpho Galeria de Arte

1992 - Rio de Janeiro RJ - Eco Art, no MAM/RJ

1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP

1995 - Rio de Janeiro RJ - 1º Riocult, no Riocentro

1996 - Passo Fundo RS - Museu de Artes Visuais Ruth Schneider: exposição inaugural, no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider

1996 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio, no MAM/RJ

1998 - Rio de Janeiro RJ - Imagens Negociadas: retratos da elite brasileira, no CCBB

1998 - São Paulo SP - Futebol em Arte, na Galeria de Arte André

2000 - São Paulo SP - Coletiva, na Galeria Ricardo Camargo

2001 - São Paulo SP - 4 Décadas, na Nova André Galeria

2002 - São Paulo SP - Paisagens do Imaginário, na Nova André Galeria

2003 - Rio de Janeiro RJ - Tesouros da Caixa: arte moderna brasileira no acervo da Caixa, no Conjunto Cultural da Caixa

2003 - São Paulo SP - Entre Aberto, na Gravura Brasileira

Fonte: BIANCO . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8923/bianco>. Acesso em: 30 de jan. 2019. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Biografia Wikipédia

Filho da pianista Maria Bianco-Lanzi e do escritor e correspondente internacional do Jornal do Brasil, Francesco Bianco; Inicia seus estudos em Roma, na década de 1930.

Logo que chegou, conheceu Cândido Portinari de quem se tornou o principal ajudante, tendo participado da feitura dos grandes painéis e murais executados pelo mestre. Um desses painéis é Guerra e Paz, produzido de 1953 a 1956, e presenteado à sede da ONU de Nova York; é uma das obras mais prestigiadas de Portinari. Enrico Bianco auxiliou o artista pintando os painéis com a ajuda de Rosalina Leão.

No Rio de Janeiro, entre 1935 e 1937, colabora com Candido Portinari (1903 - 1962) no Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal - UDF. No ano seguinte, trabalha com Portinari em diversas obras, destacando-se os murais do Ministério da Educação e Cultura - MEC, os painéis do Banco da Bahia, além do edifício da ONU, e etc. Em 1940, realiza sua primeira individual no Copacabana Palace Hotel. Participou da I Bienal de São Paulo, em 1951. Ilustra edição especial de Caçador de Esmeraldas, de Olavo Bilac, organizada por bibliófilos brasileiros e o álbum de gravação do poema sinfônico Anhanguera, de Hekel Tavares, em 1951.

Realizou exposições em diversos países como: México, Portugal, Itália, Estados Unidos, Israel e França. Bianco pintou especialmente paisagens e cenas do campo, num trabalho que evoca a tradição do “saber fazer” dos grandes pintores, pelo esforço incessante e a elaboração técnica.

Lutou por 22 anos contra um câncer de próstata, morreu em 2013.

Fonte: Wikipédia, consultado em 20 de janeiro de 2020.

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Um intelectual e dois artistas

Roma, 1935. Na vasta sala do velho casarão, o som de um piano transmite ao ambiente os acordes de um noturno de Chopin.

Sentado à mesa, um adolescente, nos seus 17 anos, mantém espalhados lápis coloridos, tintas e folhas com esboços de desenhos. Algumas pinturas vão tomando forma sobre alguns deles, inacabadas ainda, mas encaminhadas para a resolução, com a segurança de quem sabe o que está fazendo.

Ao lado, um senhor de meia idade confere os rascunhos de um texto que terminara há pouco e que espera colocar no correio antes do fim do dia.

O homem é Francesco Bianco, escritor e correspondente internacional do «Jornal do Brasil», do Rio de Janeiro. A pianista, sua mulher, é Maria Bianco-Lanzi que, além da virtuosidade e familiaridade com o teclado, é dotada de uma cultura invulgar.

O moço envolvido com as tintas é o filho dos dois, Enrico Bianco que, desde os seis anos de idade, incentivado pelos pais, vinha estudando desenho e pintura, tendo arrolados entre seus mestres alguns nomes conhecidos da arte italiana, como Deoclécio Redig de Campos, que chegou a diretor do Museu do Vaticano.

Agora, recebia aulas de Dante Ricci, outrora professor da família real, não tão famoso, mas igualmente capaz e severo, passando ao aluno não só as técnicas mas sobretudo um conceito de rígida disciplina, necessária para quem deseje levar avante qualquer trabalho artístico.

O pai levanta-se e vai ao correio levar seu trabalho. O moço, que treinava pelo menos seis horas ao dia, fica imerso em seus afazeres. E o som do piano prossegue, iluminando o ambiente e inspirando o artista.

Adio, Italia mia

Então, certa vez, o piano se calou. Silenciou para sempre. A família Bianco vivia naquele momento seus piores dias. Além da tragédia que se abateu sobre eles, com a dolorosa perda da esposa e mãe, os problemas se acumulavam, sem perspectiva de solução.

Francesco Bianco fora outrora um deputado pela democracia cristã e, com a ascensão do fascismo na Itália, caiu em desgraça. O «Jornal do Brasil», vivendo a crise dos anos 30 e sentindo os efeitos do fechamento do regime também no Brasil, após a posse de Getúlio Vargas, demitiu-o da posição de seu correspondente na Itália.

Com toda sua erudição e bom relacionamento na Itália, Francesco bem que poderia arrumar novo emprego mas, para trabalhar na imprensa ou em qualquer órgão de comunicação, precisaria ter a carteira de fascista, que nem ele queria tirar, nem lhe seria dada, por seus antecedentes políticos.

Havia outra saída possível, que era viajar para o Brasil, onde já estivera em 1920. Ali, tinha até uma promessa de emprego na Italcable, um serviço telegráfico por cabos submarinos que concorria com a Western americana. Mas para isso eram necessários os passaportes e estes lhe foram negados, por ser considerado um inimigo do governo, indesejável quando perto e incontrolável quando longe.

Avanti tutti

Sentindo as dificuldades emergentes, o médico da família, que era também cardiologista de Mussolini, propôs-se a buscar uma solução e, durante uma consulta de rotina ao ditador, arriscou uma frase: «A mulher de Bianco morreu».

«Eu sei», respondeu o Duce. A resposta era fria, mas não inamistosa ou ostensiva. O médico arriscou outra investida: «Ele quer três passaportes, para ele e as duas crianças.»

Um novo e prolongado silêncio e, então, Mussolini responde, firmemente: «Pois que preencha os papéis, que eu autorizo a emissão.»

E foi assim que, no ano de 1937, conduzido pelas forças do destino, Enrico Bianco chegou ao Rio de Janeiro, acompanhado do pai e da irmã, estabelecendo-se para sempre no Brasil. Meses após a chegada, teve um encontro que marcou-o pelo resto da vida.

A mão do garimpeiro

Havia seis meses que Bianco estava no Brasil quando o pintor Paulo Rossi lhe sugeriu visitar uma obra que Portinari estava preparando na sede do Ministério da Educação. Ele foi, mas só encontrou lá três ajudantes: Burle Marx (1909-1994), Inês e Ruben Cassa (1905).

Percebendo as dificuldades que os três estavam tendo com a ampliação, em afresco, da mão de um garimpeiro, pediu que o deixassem tentar e, contando com o assentimento, pintou sozinho aquele detalhe.

Pouco depois chega Portinari e, com intuição de mestre, percebeu a interferência, perguntando com irritação: «Quem é que fez aquela mão ali?» Os discípulos apontaram para Bianco, encolhido a um canto, a quem o mestre, aparentemente, deu pouca ou nenhuma atenção.

Bianco, se soubesse, nem teria ido lá mas, já que estava, deixou-se ficar, apreciando o desenvolvimento da obra. Pela hora do almoço, decidiu voltar à casa, despedindo-se de Portinari, que lhe perguntou, com a energia de sempre: «Mas, aonde vai?» «Vou para casa», respondeu Bianco.

O mestre estendeu-lhe a mão, com a mesma cara de zangado e lhe perguntou: «Mas amanhã você volta, não volta?»

Foi assim que, aos poucos, o jovem pintor foi se integrando à equipe de Portinari, tornando-se, por muitos e muitos anos, um valoroso colaborador.

A «mão do garimpeiro», a primeira intervenção de Bianco na pintura do mestre, continua lá, onde foi pintada. E a influência de Portinari em Bianco é visível em muitos de seus quadros. O pintor cresceu, ganhou vida própria, mas nunca se afastou do estilo que assimilou e aprendeu a respeitar.

Barrado no baile

A aproximação entre Bianco e Portinari, se de um lado só lhe trouxe orgulho e admiração, de outro, também lhe causou problemas, notoriamente pela aversão de alguns políticos brasileiros a Portinari, principalmente por sua ideologia e posições políticas. Conquanto o mestre não fosse um ativista, o simples fato de demonstrar simpatias ao comunismo o colocava sob a mira macartista e, com ele, todos aqueles que o seguiam.

Em 1960, o México cuidava da organização de sua 2ª Bienal e, desejando incluir nela alguns artistas brasileiros, mandou para cá um representante, o qual, entre outros, convidou Enrico Bianco, encarregado de preparar três quadros especialmente para o evento.

Como o Itamarati prontificou-se a pagar as despesas de viagem, achou-se no direito de rever a lista de convidados, riscando dela Bianco, sob a alegação de que ele nasceu na Itália, não representando, pois, a arte brasileira.

Mal deu para esconder a aversão ao pintor. Bianco nasceu na Itália mas fez-se no Brasil à sombra de um dos maiores mestres brasileiros. Sua temática era toda ela voltada para nossa terra, nossa gente, nossos costumes. Rubem Braga saiu em sua defesa, em artigo publicado pela revista «Manchete»:

«Vi os quadros. São melhores do que eu esperava; são bons quadros de pintura moderna em qualquer parte do país e do mundo, e são os quadros de um pintor formado no Brasil e sensível às sugestões e ao sentimento da vida brasileira; são, portanto, quadros excelentemente representativos da pintura brasileira em qualquer mostra internacional. Eu vi; e os críticos não podem discutir comigo, porque os críticos não viram.»

Não adiantou. Quando o Estado interfere na arte, a arte sempre leva a pior. E o artista também.

O mais brasileiro dos italianos

Enrico Bianco nasceu em Roma em 18 de julho de 1918. Embora italiano, veio para o Brasil ainda na adolescência, desenvolvendo sua arte em meio à efervescência do modernismo brasileiro, ativado a partir do Movimento Modernista de 1921 no Rio de Janeiro e ganhando consistência a partir da Semana da Arte Moderna de 1922 em São Paulo.

Conviveu com grandes mestres brasileiros da pintura, como Cândido Portinari, de quem foi discípulo, privou da amizade de Burle Max e recebeu rasgados elogios de gente de proa no mundo artístico, como Antônio Bento e Pietro Maria Bardi.

Por ter escolhido o Brasil como sua segunda pátria, por ter-se fixado aqui para sempre, e por ter desenvolvido aqui praticamente toda sua obra, com influência inegável de artistas brasileiros, e tendo, como tema de trabalho, a vida, os costumes e a sociedade brasileira, Bianco pode ser incluído, com muita propriedade, entre os Pintores do Brasil.

Texto de Paulo Victorino

Fonte: Site oficial Enrico Bianco, consultado em 25 de março de 2020.

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