Gustavo Speridião (1978, Rio de Janeiro, Brasil) é um artista visual brasileiro. Entre suas principais habilidades estão a pintura pintura, colagem, vídeo, escultura, fotografia e instalação. Formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui mestrado em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da mesma instituição. Sua produção é marcada pelo uso de textos, slogans, imagens e elementos gráficos que evocam a crítica política, a cultura urbana e a história da arte, frequentemente com ironia e contundência poética. Influenciado por vanguardas como o Kino-Glaz russo, além da arte conceitual e da estética do cotidiano. Participou de importantes exposições, como a Bienal de Lyon (França), e em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói), Museu de Arte do Rio (MAR) e Astrup Fearnley Museet (Noruega). Suas obras integram acervos públicos de referência e seguem sendo exibidas em mostras no Brasil e no exterior.
Gustavo Speridião | Arremate Arte
Gustavo Speridião nasceu em 1978 no Rio de Janeiro, cidade onde vive e desenvolve uma produção artística multifacetada e politicamente contundente. Mestre em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Speridião é um dos nomes mais provocativos da cena contemporânea brasileira, atuando com liberdade entre diferentes suportes — pintura, desenho, colagem, escultura, vídeo, fotografia e instalação.
Sua obra é marcada por uma linguagem visual híbrida e direta, que mistura referências da história da arte, da cultura urbana e da crítica social. Utilizando slogans, palavras de ordem, símbolos e imagens de forte carga semântica, Speridião constrói narrativas visuais de tensão poética, muitas vezes associadas a um humor ácido e à resistência política. Seu trabalho frequentemente dialoga com a tradição da arte conceitual, da vanguarda russa e dos discursos visuais do cotidiano, estabelecendo conexões entre o passado e o presente, entre o pessoal e o coletivo.
Uma de suas inspirações formais é o conceito de Kino-Glaz (cinema-olho), elaborado por Dziga Vertov, que propunha uma arte que se aproximasse da experiência da visão real, com potência documental e sensorial. Essa ideia está presente na maneira como Speridião constrói imagens fragmentadas, sobrepostas, ruidosas — sempre exigindo uma leitura ativa por parte do espectador.
Ao longo de sua trajetória, participou de exposições de relevância nacional e internacional, incluindo a Bienal de Lyon (França), o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói) e o Astrup Fearnley Museet, na Noruega. Suas obras integram acervos importantes dessas instituições, consolidando sua presença como um artista de voz crítica e imagética potente.
Entre suas exposições recentes estão “A Ausência” (Casa França-Brasil, 2024), “Manifestação contra a viagem no tempo” (Centro Cultural da Justiça Federal, 2022) e “Chronique du Trouble” (Les Filles du Calvaire, Paris, 2020), em que reafirma sua habilidade de tensionar política e estética de maneira visceral e poética. Com um discurso visual que se recusa ao conformismo, Speridião transforma arte em campo de embate, reflexão e permanência.
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Gustavo Speridião | Site Oficial
Rio de Janeiro, 1978. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Mestre em Linguagens visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ (PPGAV-UFRJ, 2007)
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS [SOLO EXHIBITIONS]
2024
"A Ausência". Curadoria: Alexandre Sá e Ana Tereza Prado Lopes. (participação Faixa Protesta). Casa França Brasil. Rio de Janeiro, Brasil.
2022
"Manifestação contra a viagem no tempo". Curadoria: Evandro Salles. (participação Faixa Protesta). Centro Cultural da Justiça Federal. Rio de Janeiro, Brasil.
"Sobre Poesia". Curadoria [Curated by]: Clarissa Diniz. Central Galeria. São Paulo, Brasil.
"O Inventário de Problemas". Curadoria [Curated by]: Fernanda Lopes. Galeria Cássia Bomeny. Rio de Janeiro, Brasil.
2021
“Time Color” e “Sobre Pintura”. Curadoria [Curated by]: Miguel Chaia. Galeria Sé. São Paulo, Brasil.
2020
“Chronique Du Trouble”. Curadoria [Curated by]: Thierry Raspail. Les Filles du Calvaire. Paris, França.
2017
Quilômetros. Curadoria [Curated by]: Maria Montero. Sé Galeria. São Paulo, Brasil.
A gente surge da sombra. Curadoria [Curated by]: Fernando Cocchiarale. Galeria Mercedes Viegas. Rio de Janeiro, Brasil.
2016
A lágrima é só o suor do cérebro. Curadoria [Curated by]: Izabela Pucu. Centro de Arte Hélio Oiticica. Rio de Janeiro, Brasil.
2015
Estudos Superficiais. Galeria Mario Schemberg-FUNARTE São Paulo. São Paulo, Brasil
Lona. Curadoria [Curated by]: Guilherme Bueno. Galeria Anita Schwartz. Rio de Janeiro, Brasil.
2014
Eu tenho um plano. Galeria Superfície, São Paulo, Brasil.
2013
Geometrie. Montage. Equilibrage. Photos e Videos. Curadoria [Curated by] Jean Luc Monterosso /Guilherme Bueno; Maison Europeene de La Photographie, Paris, France.
Sobre Fotografia e Filme [On Photography and Film].Curadoria [Curated by] Guilherme Bueno; Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2011
Fora do Plano Tudo é ilusão [Off-Plan, everything is an ilusion]. Curadoria [Curated by] Guilherme Bueno; Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2009
Uma Epopéia Fotografica [A photographic Journey]. Curadoria [Curated by] Beatriz Lemos; Galeria Kiosko, Santa Cruz de La Sierra, Bolivia.
2008
Sobre Desenho [About Drawing]. Curadoria [Curated by] Marisa Florido, Galeria Artur Fidalgo. Rio de Janeiro, Brasil.
2007
Gráfica Utópica: O Circo dos Sonhos [Utopic Graphic: The Dream Circus]. Galeria Fayga Ostrower, Premio Funarte Atos Visuais. Brasilia-DF, Brasil.
EXPOSIÇÕES COLETIVAS [GROUP EXHIBITIONS]
2024
Bloco do Prazer. Curadoria [Curated by]: Amanda Bonan, Bitu Cassundé e Marcelo Campos. Museu de Arte do Rio (MAR). Rio de Janeiro, Brasil.
Sol Fulgurante: arquivos de vida e resistência. Curadoria [Curated by]: Lorraine Mendes.
Pina Estação. São Paulo, Brasil.
Esqueleto: Algo de concreto. Curadoria [Curated by]: Alexandre Sá, Analu Cunha, Ana Tereza Prado Lopes, André Carvalho, Marisa Flórido e Maurício Barros de Castro.
Galeria Cândido Portinari e Galeria Gustavo Schnoor. Campus UERJ Maracanã. Rio de Janeiro, Brasil.
2022
Nunca foi sorte. Curadoria: Ludimila Fonseca. Central Galeria. São Paulo, Brasil.
Uma mão lava a outra. Curadoria: Antonio Lee. Olhão. São Paulo, Brasil.
Ver-Ão. Curadoria: Alexandre Sá. Galeria Oásis. Rio de Janeiro, Brasil.
Gamboa: Nossos caminhos não se cruzam por acaso. Curadoria: Lucas Albuquerque. Inclusartiz. Rio de Janeiro, Brasil.
Parada 7. Curadoria: Evandro Salles, César Oiticica Filho e Luiza Interlenghi. Rio de Janeiro, Brasil.
Segundo Salão Vermelho de Artes Degeneradas. Atelier Sanitário. Rio de Janeiro, Brasil.
2021
South South Veza. Evento on-line internacional (projeto idealizado por Liza Essers/Goodman Gallery)
Língua Solta. Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.
2020
Construção. Organizada por Renato Silva. Galeria Mendes Wood, São Paulo, Brasil.
2019
Literatura Exposta. Curadoria [Curated by] Julio Ludemir e Álvaro Figueiredo. Casa França Brasil. Rio de Janeiro, Brasil.
A vida não é só a praticidade das coisas. Curadoria Omar Salomão. Silvia Cintra+Box4. Rio de Janeiro, Brasil.
Esqueleto: Uma História do Rio. Curadoria: Fred Coelho e Maurício Barros de Castro. Jacarandá/Galeria Aymoré. Rio de Janeiro, Brasil.
2018
ARTE DEMOCRACIA UTOPIA - Quem não luta tá morto. Curadoria [Curated by] Moacir dos Anjos. Museu de Arte do Rio. Rio de Janeiro, Brasil.
Fugitive Designs. Curadoria [Curated by] Anna Tome. Biggercode Gallery. New York, USA.
Lugares do Delírio. Curadoria [Curated by] Tania Rivera. Sesc Pompéia. São Paulo, Brasil.
Junho de 2013, cinco anos depois. Curadoria [Curated by] Thiago Fernandes. CMAHO. Rio de Janeiro, Brasil.
O Rio do Samba. Curadoria [Curated by] Evandros Salles, Clarissa Diniz, Marcelo Campos e Nei Lopes). Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil.
2017
OSSO Exposição-apelo ao amplo direito de defesa de Rafael Braga.Curadoria Paulo Miyada. Instituto Tomie Ohtake. São Paulo, Brasil.
Frestas: Trienal de Artes – Entre Pós-Verdades e Acontecimentos. Curadoria [Curated by] Daniela Labra. Sesc Sorocaba, São Paulo, Brasil.
Coleção MAC Niterói: arte contemporânea no Brasil. Curadoria [Curated by] Pablo Leon de La Barra e Raphael Fonseca. Museu de Arte Contemporânea. Niterói, Brasil.
Travessias 5. Curadoria [Curated by] Moacir dos Anjos. Galpão Bela Maré. Rio de Janeiro, Brasil.
South-South: Let me begin again. Curadoria [Curated by] Renato Silva e Lara Kossef. Goodman Gallery, Cidade do Cabo, África do Sul.
Em Polvorosa: Um panorama das coleções MAM Rio. Curadoria [Curated by] Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Lugares do Delírio. Curadoria [Curated by] Tania Rivera. Museu de Arte do Rio de Janeiro, Brasil.
A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela. Curadoria [Curated by] Bruno Miguel. Centro Cultural da Caixa, Rio de Janeiro, Brasil.
2016
Exposição Prêmio Pipa 2016. Curadoria [Curated by] Luiz Camillo Osorio. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Dentro Fora. Curadoria [Curated by] Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Depois do Futuro. Curadoria [Curated by] Daniela Labra. EAV Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil.
Soft Power. Curadoria [Curated by] Robbert Roos, Kunsthal KAdE, Amersfoort, Holanda.
2015
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. DHC/ART, Montreal, Canadá.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/Hans Ulrich Obrist. Instituto Tomie Othake, São Paulo, Brasil.
Parasophia 2015. Festival Internacional de Cultura Contemporânea. Curadoria [Curated by] Shinji, Masako Tago. Museu de Arte Moderna de Kioto, Japão.
Novos talentos da fotografia contemporânea no Brasil. Curadoria [Curated by] Vanda Klabin. Caixa Cultural. Rio de Janeiro-RJ e Brasília DF, Brasil.
Pequenos formatos. Curadoria [Curated by] Ana Elisa Cohen. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
The boiling point. Curadoria [Curated by] Renato Silva. PSM Gallery, Berlim, Alemanha.
2014
Bandeiras na Praça Tiradentes. Curadoria [Curated by] Izabela Pucu. Centro Cultural Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Brasil.
Here There (Huna Hunak). Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Museum of Art Park. Doha, Qatar.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Lyon, França.
Novas Aquisições. Curadoria [Curated by] Luis Camilo Osorio. Museu de Arte Moderna. Rio de Janeiro, Brasil.
A pegada Pop. Curadoria [Curated by] Ligia Canongia. Galeria Carbono, São Paulo, Brasil.
Viva Maria. Curadoria [Curated by] Maria Montero. Galeria Luciana Brito, São Paulo, Brasil.
Matriz e Descontrução. Curadoria [Curated by] Luisa Duarte. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
Éter. Curadoria [Curated by] Ana Elisa Cohen. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2013
Meanwhile...suddenly and then. La Biennale de Lyon. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail, Lyon, França.
Ambiguações [ ], Curadoria [Curated by] Clarissa Diniz, Sala A Contemporânea, CCBB Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Oslo, Noruega.
2011
É necessário confrontar as imagens vagas com os gestos claros [It is necessary to confront vague images with clear gestures]. Curadoria [Curated by] Paulo Miyada, Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, Brasil.
2010
Se a Pintura Morreu o MAM é o Céu [If painting is dead, The Museum of Modern Art is heaven]. Curadoria [Curated by] Luiz Camilo Osório, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
2008
Nova Arte Nova – Panorama da Arte Contemporânea Brasileira [New Art Now – Na overwiew of Brasilian Contemporary Art]. Curadoria [Curated by] Paulo Venâncio, CCBB - Rio de Janeiro; CCBB São Paulo, Brasil.
PRÊMIOS [Awards]
2015
Estudos Superficiais. Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2014, Galeria Mario Schemberg, Funarte São Paulo, Brasil.
2013
Mergulhos Poéticos. Projeto: Breno Silva e Daniel Murgel. Funarte, Natal, Brasil.
2012
Illy Sustain Art Brasil – Feira SP Arte [SP Arte Fair]; São Paulo, Brasil.
2010
Marcantônio Villaça/FUNARTE – Aquisição para o acervo do Museu de Arte Contemporânea de Niterói [Acquisition prize to Museum of Contemporary Art of Niterói Collection]; Niteroi, Rio de Janeiro, Brazil.
2007
Atos Visuais – FUNARTE, Brasília, D.F., Brasil.
Projéteis Artes Visuais – FUNARTE, Rio de Janeiro, Brasil.
2004
SPA: Intervenção Urbana na Semana de Artes Visuais de Recife [Intervention in Visual Art Week in Recife], Pernambuco, Brasil.
Coleções Públicas [Public Collections]
MAM - Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
MNBA - Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil.
MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
MAR – Museu de Arte do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Coleção Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
Astrup Fearnley Museum, Oslo, Norway.
Residências Artísticas [Artistic Residence]:
2019 - Montreiul. Paris, França.
2018 - Residence Unlimited. NY, USA.
2013 - Mergulhos Poéticos. Funarte. Natal, Brasil.
2009 - Paris Summermadness. Atelier La Imprimerie. Paris, França.
Fonte: Site Gustavo Speridião. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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Gustavo Speridião, poético e político | O Globo
Há dez anos Gustavo Speridião vem colecionando cartazes, que foram sendo acumulados sob sua cama, na casa em que vive no Morro da Conceição, Zona Portuária do Rio. Vêm de todas as partes do mundo. “Vivos se los llevaron, con vida los queremos, ya!”, por exemplo, reivindica a volta dos 43 estudantes de Ayotzinapa, no México, desaparecidos; cartazes gregos criticam mudanças na lei da aposentadoria no país; há uma antiga cartilha católica contra o comunismo; um folheto do Sindicato dos Artistas Plásticos da Paraíba; um pôster da Bauhaus; um panfleto conclamando para um ato público em Madri contra a constituição europeia. Reunidos graficamente, eles compõem duas das telas da exposição “Lona”, que ocupa a galeria Anita Schwartz Arte Contemporânea, e impactam o visitante com seu tom francamente político.
Um tom que só surpreende quem não vem acompanhando a carreira do artista. Speridião é um mestre na arte de se apropriar de imagens do mundo, modificando-as ao apagar legendas, pintar sobre elas, dar-lhes um novo significado. Fez isso, por exemplo, com um livro da “Life” que compilava imagens emblemáticas do século XX, transformando-o, com argutas sacações, num volume singular sobre história da arte.
Na mostra na Anita Schwartz, além das colagens com cartazes e folhetos variados, ele exibe outras telas da mesma série, que chama de “Gráfica”: em “Gráfica 1”, de 7 m x 2,12m, as tintas escorrem (para realizá-la, o artista jogou tintas de cores variadas no teto do ateliê, deixando-as fluir sobre a tela). No térreo de pé-direito altíssimo da galeria, a pintura está disposta sobre uma colagem do mesmo tamanho, feita sobre lona crua, usada em caminhão. Todas as telas são do mesmo material, e pregadas diretamente sobre a parede, numa composição simples, que ressalta a comunicação direta de cores, imagens e palavras. Podem ser frases tiradas da sabedoria popular, como “Se fosse bom não chamava trabalho”, ou outras de sua lavra, como “Tu, tulipas, nós, foguetes”. Ou “o panfleto puro”, diz, referindo-a outra obra, onde se lê: “Maldita burguesia”. O conjunto é impactante.
— A questão política é um eixo, mas a maneira como os cartazes são colocados é poética. Há um jogo poético na apropriação, na tinta que escorre — diz ele, que, antes de ser pintor, coletor de imagens do mundo, se diz desenhista. — A linha é sempre a do desenho. Com vídeo, com cartazes, com palavras, não importa.
No segundo andar da galeria, há um outro trabalho de imagens “roubadas”: “Gráfica utópica imprime melancolicamente o pesadelo instaurado com a captura das nuvens”. A mãe de Speridião, Teresa, também artista (mas com um trabalho à margem do sistema da arte contemporânea) observou um dia caixas com documentos serem jogadas fora num estacionamento do Centro, onde muitos anos antes havia funcionado uma fundição. Alertado por ela, ele fuçou as caixas, onde encontrou dezenas de fichas, preenchidas a mão e com antigas fotos 3x4, dos funcionários que haviam passado pela empresa desde os anos 1930. Ele as recolheu, guardou-as por cerca de dez anos, e enfim resolveu usá-las, dispondo-as sobre uma dessas telas imensas de lona. Memória, labor, relações humanas saltam do trabalho, que só recebeu uma interferência do artista: o nome da obra, escrito em caneta hidrocor.
DE ALIENADO A REVOLTADO
Assim que começou a despontar no cenário, Speridião foi saudado como uma das promessas da arte contemporânea carioca. Aos 36 anos, o artista não desaponta. O estudante que decidiu cursar a Escola de Belas Artes da UFRJ “aos 45 do segundo tempo” — “porque não sobrou nada que eu quisesse fazer, depois de descartar Medicina e Biologia” — apaixonou-se pelo ofício. Quando, em 2007, finalizou o curso — ele é mestre em Linguagens Visuais — já descobrira o poder da palavra. Foi também na faculdade que saiu da condição de adolescente “bastante alienado” para a de jovem “revoltado”.
— Comecei a ter sentimentos de querer mudar o mundo — diz ele, que se define como anarco-trotskista e desde 2001 é filiado ao PSTU.
Speridião vai a manifestações, ajuda a editar jornais, é um militante à moda antiga. Gosta do trabalho de artista, que encara como um trabalho qualquer, com a ressalva de não ser alienado — “Você é responsável pela produção do início até o fim”.
Seu discurso contra o neoliberalismo não poupa o mercado de arte do qual ele, hoje, faz parte. É representado por galerias importantes, está em coleções de museus, expõe no exterior.
— A arte é uma mercadoria. Se tem valor, a burguesia adquire. Tudo, no fundo, é assimilado pelo capitalismo. Até mesmo a arte que fala de ocupação e greve, como a minha — diz.
Fonte: O Globo, “Gustavo Speridião, poético e político”, publicado por Nani Rubin, em 26 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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Gustavo Speridião abre, no Rio, a mostra 'Lona' | Estadão
Gustavo Speridião não isola seu trabalho artístico de seu engajamento político-partidário. “Não existe separação entre o eu-lírico e o ex-militante, seria como existir duas vezes. Não tenho chave de mudança”, explica o artista plástico carioca de 36 anos, entre duas colagens com cartazes de movimentos sociais brasileiros, latino-americanos e europeus, e uma obra em que se lê uma frase do capítulo Arte Revolucionária e Arte Socialista do livro Literatura e Revolução, do marxista russo Leon Trotski (1879-1940) – a qual, ele garante, sintetiza suas reflexões sobre o assunto.
Na exposição Lona, que Speridião abre neste sábado, 23, na Galeria Anita Schwartz, no Rio, estão 18 trabalhos inéditos, de grandes dimensões, em lonas de algodão afixadas diretamente nas paredes. Suas inquietações e críticas a questões relativas às relações de trabalho e aos antagonismos entre classes estão em pinturas e conjuntos de panfletos coletados pelo mundo, entre 2007 e 2014.
Quando expõe fora, coletiva ou individualmente – esteve na França, Bolívia, Inglaterra, no Japão –, olha também para o que está acontecendo a seu redor. Nessas andanças, recolheu material de divulgação de manifestos pró-Palestina, de trabalhadores da Grécia em crise e de protesto contra o assassinato de estudantes mexicanos e sobre a prisão de manifestantes anti-EUA durante a visita do presidente Barack Obama ao Rio, em 2011.
“Queria fazer um trabalho panfletário intencionalmente, que é visto pela academia de arte como algo ruim. Mostrar isso com o gesto pictórico. Até numa tela gráfica há uma carga política muito grande, porque para se chegar à arte abstrata houve muita luta política de vanguarda. Os artistas contemporâneos querem fugir disso, mas quero 32 mil anos de pintura”, considera, apontando as lonas pintadas de vermelho, branco e preto e aludindo à idade de achados pré-históricos em cavernas.
No segundo andar da galeria, está sua coleção de fichas cadastrais de funcionários de uma fundição já falida, abandonada numa rua degradada do centro do Rio, perto da casa em que morava com a mãe, artista, e o pai, médico. A parede exibe um mosaico de rostos e dados como nome, filiação, impressão digital, ocupação e salário. São registros de várias gerações de empregados, dos anos 1910 aos 1980. Ele guarda o material há dez anos. “Minha mãe achou no lugar onde ela guardava o carro e me falou: ‘Você vai adorar’. Gosto de lixo. Aqui, você vê a história de cada um. Quem constrói o mundo são os trabalhadores, não a burguesia”, acredita Speridião, que aderiu às manifestações de rua dos últimos anos. Chocou-se com o comportamento policial. “Foi um nível de violência tão intolerável que as pessoas desistiram de participar.”
Na mesma sala do segundo andar, o desabafo “Maldita burguesia!” grita em preto na lona branca. “Provavelmente, esse trabalho num espaço para a classe trabalhadora teria outro efeito. Aqui é de escárnio da burguesia, com ela própria rindo de seu caráter ridículo”, aponta o artista, que cursou belas-artes na UFRJ, trabalhou no Museu Nacional de Belas Artes e para a própria Anita Schwartz. “O melhor trabalho da vida”, no entanto, ele considera o que teve como “peão de obra”.
Artista em ascensão em sua geração, ele não vê contradição entre seu discurso e seu lugar na arte contemporânea. “Existem os que acreditam que a arte deve ser pública e outros que acham que é uma coqueluche diante da praia. Eu não sei para quem é o que eu faço, mas, como trabalhador, eu sei que, no capitalismo, todo mundo tem o seu patrão”, acrescenta Speridião, cuja mostra fica em cartaz até o dia 4 de junho.
Fonte: Estadão, "Gustavo Speridião abre, no Rio, a mostra 'Lona'”, publicado por Roberta Pennaforte, em 23 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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O artista Gustavo Speridião e seu atelier na Gamboa centro do Rio ou seria o centro do mundo | Ze Ronaldo
Alguns anos atrás eu fui a exposição do artista Gustavo Speridião, na galeria Mercedes Viegas. Foi um dia aleatório e fiquei sozinho na galeria e depois de um tempo a visão ficou incomodada com algo que naquele momento não consegui entender. Pedi um uber e fugi.
Tempo passou, covid 19 chegou e por fim no mês passado fui a abertura da nova exposição do artista “ O Inventário de Problemas” na galeria Cassia Bomeny, em Ipanema. Mais uma vez fiquei atônito com o preciosismo da sua estrutura e base que solidifica a sua pintura e ideias que cabem e percorrem suas telas.
Pensei, estou em Ipanema e porque essas pinturas quase todas em preto e branco com algumas palavras de ordem me emocionam. Percebi que o discurso, a proposta não estava ali. Ia além ia para outro lugar e ao mesmo tempo pertencia ali também. Então conheci o artista.
Conversamos e trocamos umas simpatias e mútua cordialidade. Gostei mais ainda do que vi e fez tudo um sentido equilibrado. Dei outra volta e como uma condensação de emoções me senti no mundo, no planeta como um todo. Não havia mais um espaço que não fosse global. A arte se conecta em tempo e espaço com questões estéticas e políticas, filosóficas com os todos os continentes.
Palavras, gestos e linhas. Um grafismo sofisticado quase uma música. Mas, que musica é essa? Jazz, samba, uma mistura de balalaika e tamborim.
Combinamos uma visita ao seu novo atelier/studio e essa semana rolou de eu ir até lá. Um galpão na Gamboa. Nada tão luso-carioquês. Carioca, Gustavo estava ouvindo David Bowie quando cheguei. Cerâmica industrial no chão e uma gigante parede de basculantes que deixa a luz natural tomar conta do ambiente de uma maneira arrebatadora. O céu azul, o vento domar. Trabalhos espalhados em uma forma ordenada. O pé direito eu não consegui calcular o tamanho.
– Aqui também entra uma nuvem.
Será que ouvi isso mesmo, eu pensei. E fiquei imaginando uma nuvem dentro daquele espaço se apropriando de cada centímetro. Uma nuvem branca de água condensada repleta de lembranças que viajou pelo mundo da Sibéria a Antártica, passando pelos povos das florestas e parou um tempo ali na Gamboa. Conversamos com a trilha de Bowie ao fundo. Andei pelo atelier explorando as pinturas. Era como se um mundo de ideias e imagens imprimisse em camadas até o resultado final da pintura com aquelas palavras que o artista tomou para si fosse o que bastasse. Viajei? Pode ser!
Nossa conversa foi de frases curtas e os assuntos foram trocando, saltando. Arte, política, nomes, estórias de civilizações e de familiares, quotes e viagens. Andarilho e dono de um carisma impar Gustavo Speridião é artista completo. Espero voltar sempre ao atelier e combinamos de lermos cada uma e com títulos diferentes as novelas de Ivan Turgueniev para assim entendermos melhor Nelson Rodrigues.
Fonte: Ze Ronaldo, “O artista Gustavo Speridião e seu atelier na Gamboa centro do Rio ou seria o centro do mundo”, publicado em 15 de maio de 2022. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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O artista Gustavo Speridião abre sua individual “O inventário de problemas” na Cassia Bomeny Galeria | Ze Ronaldo
A primeira individual do artista carioca Gustavo Speridião na Cassia Bomeny Galeria aconteceu na última quinta – feira (17/03) . Batizada de “O inventário de problemas”, a mostra tem curadoria de Fernanda Lopes e reúne cerca de dez trabalhos inéditos. Todos incríveis que podem estar em qualquer lugar do planeta. Tal a universalidade da obra e da pesquisa.
“Meu trabalho é engajado, da maneira mais poética e subjetiva que posso. Panfletário e lúdico. Tenho muito orgulho dessa posição. Não defendo um capitalismo humanitário nem socialismo via eleitoral. Acredito que somente uma revolução pode tirar a humanidade desse abismo”, explica o artista.
“A exposição é um reencontro de Gustavo Speridião com sua cidade natal, depois de cinco anos de sua última mostra individual no Rio de Janeiro. A exposição toma emprestado o nome da série que na Galeria Cassia Bomeny vemos em 10 pinturas e alguns objetos inéditos. Iniciada entre 2017 e 2018, O Inventário de Problemas é um estudo quase compulsivo do artista sobre o plano da pintura como arena de debates pictóricos e também políticos. Em toda a sua produção, Speridião não nos deixa esquecer que toda a discussão sobre arte (sua definição, sua história e questões aparentemente estéticas) é também uma discussão política”, explica a curadora.
Fonte: Ze Ronaldo, “O artista Gustavo Speridião abre sua individual “O inventário de problemas” na Cassia Bomeny Galeria”, publicado em 21 de março de 2022.
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Artista brasileiro Gustavo Speridião expõe instalação militante em Paris | RFI
O artista plástico carioca Gustavo Speridião expõe uma instalação militante em Paris. Em entrevista à RFI, ele conta como mistura arte e política e analisa a posição dos artistas no Brasil no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro.
Speridião ocupa um andar inteiro na galeria Filles du Calvaire, em Paris, com paineis, faixas e pinturas. A exposição "Chroniques du Trouble" (Crônicas da Desordem, em tradução livre) traz mensagens de ordem para a mobilização. Frases como "Não temer o mundo! Mudá-lo", podem ser lidas em uma das paredes.
"Meu objetivo com a produção era mostrar um pouco de poética política. São trabalhos panfletários mesmo, que falam sobre os problemas atuais, o caos e a desordem que a gente anda vivendo, principalmente no Brasil, com um governo de extrema direita", explica.
Seu trabalho, e não só nesta exposição, é politicamente engajado. De que maneira o momento atual da política brasileira te inspirou?
Na entrada da exposição, tem uma faixa que também é uma tela em que está pintado “Maldita burguesia”. Na frente tem um filme passando em uma tela, encostada em uma vitrine. O filme chama “Movimento” e [mostra] dez anos de manifestações que eu andei gravando em vários lugares do mundo. É uma questão bem direta que quase não passa pela poética, mas passa pela tinta. É identificar o inimigo e os meios clássicos de lutar contra ele: o povo na rua mesmo, paralisando e fazendo greve.
A pintura vai neste caminho de ser uma pintura deste momento cru da luta de classes, e, ao mesmo tempo, identificar a poética deste momento.
A exposição tem painéis, colagens e pinturas. Em um destes painéis é possível ler a frase “Nunca uma classe dominante abdicou voluntária e pacificamente do poder”. Você acha que dá para misturar política e poesia?
Acho que dá. O embate que a gente tem, e que é um conceito pronto, diz que a arte verdadeira não fala de política, e a poética verdadeira não aborda as questões políticas de maneira direta. Eu acho que temos que inverter isso e colocar slogans de luta de classes, como uma frase de León Trotsky que está em um cartaz de metrô da exposição do Da Vinci no [Museu do] Louvre, que eu peguei para passar essa mensagem de 500 anos. Ou seja, há muito tempo a luta de classes está aí e não é pela via pacífica que a gente vai conseguir nenhuma conquista.
Escrever um panfleto e determinar, como se faz no modernismo há mais de cem anos, que aquele panfleto pintado é uma pintura, é uma poesia, é um mecanismo muito interessante que a arte tem. A poética mora exatamente aí.
Como foi ser artista no Brasil em 2019?
Acho que foi a pior coisa que alguém que trabalha com arte poderia ter vivenciado nas últimas décadas. Só não se compara com a ditadura civil-militar.
O que começou com um ataque de verba, fechamento de Ministério [da Cultura], termina o ano com um atentado de coquetel molotov à sede de um grupo humorista [Porta dos Fundos].
O governo, mais do que outras categorias, está atacando os artistas e a arte, porque ela é muito importante para a libertação, para a emancipação da mente humana da escravização do capitalismo. Eles atacam diretamente a produção cultural como primeiro meio de tentar iniciar um projeto de dominação e de ditadura.
Foi um ano muito duro e a nossa resposta vai ter que ser à altura do que a gente sofreu de ataque em 2019. A gente vai ter que se organizar em diversas frentes de ataque a esse governo. Esse governo é o que teve de pior na história brasileira de destruição da cultura.
Quais são os projetos para 2020 ?
Vou fazer uma exposição em uma galeria chamada Mendes Wood. O nome da exposição é “Construção”, o curador é Renato Silva, que tem uma pegada bem política. É uma exposição coletiva ao lado de grandes artistas.
Mas o nosso projeto principal é lutar contra esse governo de todas as formas possíveis, através de poesia, de manifestação, de greve.
Fonte: RFI, “Artista brasileiro Gustavo Speridião expõe instalação militante em Paris”, publicado em 2 de janeiro de 2020. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
Crédito fotográfico: Coleção Calmon Stock. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
Gustavo Speridião (1978, Rio de Janeiro, Brasil) é um artista visual brasileiro. Entre suas principais habilidades estão a pintura pintura, colagem, vídeo, escultura, fotografia e instalação. Formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui mestrado em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da mesma instituição. Sua produção é marcada pelo uso de textos, slogans, imagens e elementos gráficos que evocam a crítica política, a cultura urbana e a história da arte, frequentemente com ironia e contundência poética. Influenciado por vanguardas como o Kino-Glaz russo, além da arte conceitual e da estética do cotidiano. Participou de importantes exposições, como a Bienal de Lyon (França), e em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói), Museu de Arte do Rio (MAR) e Astrup Fearnley Museet (Noruega). Suas obras integram acervos públicos de referência e seguem sendo exibidas em mostras no Brasil e no exterior.
Gustavo Speridião | Arremate Arte
Gustavo Speridião nasceu em 1978 no Rio de Janeiro, cidade onde vive e desenvolve uma produção artística multifacetada e politicamente contundente. Mestre em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Speridião é um dos nomes mais provocativos da cena contemporânea brasileira, atuando com liberdade entre diferentes suportes — pintura, desenho, colagem, escultura, vídeo, fotografia e instalação.
Sua obra é marcada por uma linguagem visual híbrida e direta, que mistura referências da história da arte, da cultura urbana e da crítica social. Utilizando slogans, palavras de ordem, símbolos e imagens de forte carga semântica, Speridião constrói narrativas visuais de tensão poética, muitas vezes associadas a um humor ácido e à resistência política. Seu trabalho frequentemente dialoga com a tradição da arte conceitual, da vanguarda russa e dos discursos visuais do cotidiano, estabelecendo conexões entre o passado e o presente, entre o pessoal e o coletivo.
Uma de suas inspirações formais é o conceito de Kino-Glaz (cinema-olho), elaborado por Dziga Vertov, que propunha uma arte que se aproximasse da experiência da visão real, com potência documental e sensorial. Essa ideia está presente na maneira como Speridião constrói imagens fragmentadas, sobrepostas, ruidosas — sempre exigindo uma leitura ativa por parte do espectador.
Ao longo de sua trajetória, participou de exposições de relevância nacional e internacional, incluindo a Bienal de Lyon (França), o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói) e o Astrup Fearnley Museet, na Noruega. Suas obras integram acervos importantes dessas instituições, consolidando sua presença como um artista de voz crítica e imagética potente.
Entre suas exposições recentes estão “A Ausência” (Casa França-Brasil, 2024), “Manifestação contra a viagem no tempo” (Centro Cultural da Justiça Federal, 2022) e “Chronique du Trouble” (Les Filles du Calvaire, Paris, 2020), em que reafirma sua habilidade de tensionar política e estética de maneira visceral e poética. Com um discurso visual que se recusa ao conformismo, Speridião transforma arte em campo de embate, reflexão e permanência.
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Gustavo Speridião | Site Oficial
Rio de Janeiro, 1978. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Mestre em Linguagens visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ (PPGAV-UFRJ, 2007)
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS [SOLO EXHIBITIONS]
2024
"A Ausência". Curadoria: Alexandre Sá e Ana Tereza Prado Lopes. (participação Faixa Protesta). Casa França Brasil. Rio de Janeiro, Brasil.
2022
"Manifestação contra a viagem no tempo". Curadoria: Evandro Salles. (participação Faixa Protesta). Centro Cultural da Justiça Federal. Rio de Janeiro, Brasil.
"Sobre Poesia". Curadoria [Curated by]: Clarissa Diniz. Central Galeria. São Paulo, Brasil.
"O Inventário de Problemas". Curadoria [Curated by]: Fernanda Lopes. Galeria Cássia Bomeny. Rio de Janeiro, Brasil.
2021
“Time Color” e “Sobre Pintura”. Curadoria [Curated by]: Miguel Chaia. Galeria Sé. São Paulo, Brasil.
2020
“Chronique Du Trouble”. Curadoria [Curated by]: Thierry Raspail. Les Filles du Calvaire. Paris, França.
2017
Quilômetros. Curadoria [Curated by]: Maria Montero. Sé Galeria. São Paulo, Brasil.
A gente surge da sombra. Curadoria [Curated by]: Fernando Cocchiarale. Galeria Mercedes Viegas. Rio de Janeiro, Brasil.
2016
A lágrima é só o suor do cérebro. Curadoria [Curated by]: Izabela Pucu. Centro de Arte Hélio Oiticica. Rio de Janeiro, Brasil.
2015
Estudos Superficiais. Galeria Mario Schemberg-FUNARTE São Paulo. São Paulo, Brasil
Lona. Curadoria [Curated by]: Guilherme Bueno. Galeria Anita Schwartz. Rio de Janeiro, Brasil.
2014
Eu tenho um plano. Galeria Superfície, São Paulo, Brasil.
2013
Geometrie. Montage. Equilibrage. Photos e Videos. Curadoria [Curated by] Jean Luc Monterosso /Guilherme Bueno; Maison Europeene de La Photographie, Paris, France.
Sobre Fotografia e Filme [On Photography and Film].Curadoria [Curated by] Guilherme Bueno; Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2011
Fora do Plano Tudo é ilusão [Off-Plan, everything is an ilusion]. Curadoria [Curated by] Guilherme Bueno; Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2009
Uma Epopéia Fotografica [A photographic Journey]. Curadoria [Curated by] Beatriz Lemos; Galeria Kiosko, Santa Cruz de La Sierra, Bolivia.
2008
Sobre Desenho [About Drawing]. Curadoria [Curated by] Marisa Florido, Galeria Artur Fidalgo. Rio de Janeiro, Brasil.
2007
Gráfica Utópica: O Circo dos Sonhos [Utopic Graphic: The Dream Circus]. Galeria Fayga Ostrower, Premio Funarte Atos Visuais. Brasilia-DF, Brasil.
EXPOSIÇÕES COLETIVAS [GROUP EXHIBITIONS]
2024
Bloco do Prazer. Curadoria [Curated by]: Amanda Bonan, Bitu Cassundé e Marcelo Campos. Museu de Arte do Rio (MAR). Rio de Janeiro, Brasil.
Sol Fulgurante: arquivos de vida e resistência. Curadoria [Curated by]: Lorraine Mendes.
Pina Estação. São Paulo, Brasil.
Esqueleto: Algo de concreto. Curadoria [Curated by]: Alexandre Sá, Analu Cunha, Ana Tereza Prado Lopes, André Carvalho, Marisa Flórido e Maurício Barros de Castro.
Galeria Cândido Portinari e Galeria Gustavo Schnoor. Campus UERJ Maracanã. Rio de Janeiro, Brasil.
2022
Nunca foi sorte. Curadoria: Ludimila Fonseca. Central Galeria. São Paulo, Brasil.
Uma mão lava a outra. Curadoria: Antonio Lee. Olhão. São Paulo, Brasil.
Ver-Ão. Curadoria: Alexandre Sá. Galeria Oásis. Rio de Janeiro, Brasil.
Gamboa: Nossos caminhos não se cruzam por acaso. Curadoria: Lucas Albuquerque. Inclusartiz. Rio de Janeiro, Brasil.
Parada 7. Curadoria: Evandro Salles, César Oiticica Filho e Luiza Interlenghi. Rio de Janeiro, Brasil.
Segundo Salão Vermelho de Artes Degeneradas. Atelier Sanitário. Rio de Janeiro, Brasil.
2021
South South Veza. Evento on-line internacional (projeto idealizado por Liza Essers/Goodman Gallery)
Língua Solta. Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.
2020
Construção. Organizada por Renato Silva. Galeria Mendes Wood, São Paulo, Brasil.
2019
Literatura Exposta. Curadoria [Curated by] Julio Ludemir e Álvaro Figueiredo. Casa França Brasil. Rio de Janeiro, Brasil.
A vida não é só a praticidade das coisas. Curadoria Omar Salomão. Silvia Cintra+Box4. Rio de Janeiro, Brasil.
Esqueleto: Uma História do Rio. Curadoria: Fred Coelho e Maurício Barros de Castro. Jacarandá/Galeria Aymoré. Rio de Janeiro, Brasil.
2018
ARTE DEMOCRACIA UTOPIA - Quem não luta tá morto. Curadoria [Curated by] Moacir dos Anjos. Museu de Arte do Rio. Rio de Janeiro, Brasil.
Fugitive Designs. Curadoria [Curated by] Anna Tome. Biggercode Gallery. New York, USA.
Lugares do Delírio. Curadoria [Curated by] Tania Rivera. Sesc Pompéia. São Paulo, Brasil.
Junho de 2013, cinco anos depois. Curadoria [Curated by] Thiago Fernandes. CMAHO. Rio de Janeiro, Brasil.
O Rio do Samba. Curadoria [Curated by] Evandros Salles, Clarissa Diniz, Marcelo Campos e Nei Lopes). Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil.
2017
OSSO Exposição-apelo ao amplo direito de defesa de Rafael Braga.Curadoria Paulo Miyada. Instituto Tomie Ohtake. São Paulo, Brasil.
Frestas: Trienal de Artes – Entre Pós-Verdades e Acontecimentos. Curadoria [Curated by] Daniela Labra. Sesc Sorocaba, São Paulo, Brasil.
Coleção MAC Niterói: arte contemporânea no Brasil. Curadoria [Curated by] Pablo Leon de La Barra e Raphael Fonseca. Museu de Arte Contemporânea. Niterói, Brasil.
Travessias 5. Curadoria [Curated by] Moacir dos Anjos. Galpão Bela Maré. Rio de Janeiro, Brasil.
South-South: Let me begin again. Curadoria [Curated by] Renato Silva e Lara Kossef. Goodman Gallery, Cidade do Cabo, África do Sul.
Em Polvorosa: Um panorama das coleções MAM Rio. Curadoria [Curated by] Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Lugares do Delírio. Curadoria [Curated by] Tania Rivera. Museu de Arte do Rio de Janeiro, Brasil.
A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela. Curadoria [Curated by] Bruno Miguel. Centro Cultural da Caixa, Rio de Janeiro, Brasil.
2016
Exposição Prêmio Pipa 2016. Curadoria [Curated by] Luiz Camillo Osorio. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Dentro Fora. Curadoria [Curated by] Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Depois do Futuro. Curadoria [Curated by] Daniela Labra. EAV Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil.
Soft Power. Curadoria [Curated by] Robbert Roos, Kunsthal KAdE, Amersfoort, Holanda.
2015
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. DHC/ART, Montreal, Canadá.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/Hans Ulrich Obrist. Instituto Tomie Othake, São Paulo, Brasil.
Parasophia 2015. Festival Internacional de Cultura Contemporânea. Curadoria [Curated by] Shinji, Masako Tago. Museu de Arte Moderna de Kioto, Japão.
Novos talentos da fotografia contemporânea no Brasil. Curadoria [Curated by] Vanda Klabin. Caixa Cultural. Rio de Janeiro-RJ e Brasília DF, Brasil.
Pequenos formatos. Curadoria [Curated by] Ana Elisa Cohen. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
The boiling point. Curadoria [Curated by] Renato Silva. PSM Gallery, Berlim, Alemanha.
2014
Bandeiras na Praça Tiradentes. Curadoria [Curated by] Izabela Pucu. Centro Cultural Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Brasil.
Here There (Huna Hunak). Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Museum of Art Park. Doha, Qatar.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Lyon, França.
Novas Aquisições. Curadoria [Curated by] Luis Camilo Osorio. Museu de Arte Moderna. Rio de Janeiro, Brasil.
A pegada Pop. Curadoria [Curated by] Ligia Canongia. Galeria Carbono, São Paulo, Brasil.
Viva Maria. Curadoria [Curated by] Maria Montero. Galeria Luciana Brito, São Paulo, Brasil.
Matriz e Descontrução. Curadoria [Curated by] Luisa Duarte. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
Éter. Curadoria [Curated by] Ana Elisa Cohen. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2013
Meanwhile...suddenly and then. La Biennale de Lyon. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail, Lyon, França.
Ambiguações [ ], Curadoria [Curated by] Clarissa Diniz, Sala A Contemporânea, CCBB Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Oslo, Noruega.
2011
É necessário confrontar as imagens vagas com os gestos claros [It is necessary to confront vague images with clear gestures]. Curadoria [Curated by] Paulo Miyada, Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, Brasil.
2010
Se a Pintura Morreu o MAM é o Céu [If painting is dead, The Museum of Modern Art is heaven]. Curadoria [Curated by] Luiz Camilo Osório, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
2008
Nova Arte Nova – Panorama da Arte Contemporânea Brasileira [New Art Now – Na overwiew of Brasilian Contemporary Art]. Curadoria [Curated by] Paulo Venâncio, CCBB - Rio de Janeiro; CCBB São Paulo, Brasil.
PRÊMIOS [Awards]
2015
Estudos Superficiais. Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2014, Galeria Mario Schemberg, Funarte São Paulo, Brasil.
2013
Mergulhos Poéticos. Projeto: Breno Silva e Daniel Murgel. Funarte, Natal, Brasil.
2012
Illy Sustain Art Brasil – Feira SP Arte [SP Arte Fair]; São Paulo, Brasil.
2010
Marcantônio Villaça/FUNARTE – Aquisição para o acervo do Museu de Arte Contemporânea de Niterói [Acquisition prize to Museum of Contemporary Art of Niterói Collection]; Niteroi, Rio de Janeiro, Brazil.
2007
Atos Visuais – FUNARTE, Brasília, D.F., Brasil.
Projéteis Artes Visuais – FUNARTE, Rio de Janeiro, Brasil.
2004
SPA: Intervenção Urbana na Semana de Artes Visuais de Recife [Intervention in Visual Art Week in Recife], Pernambuco, Brasil.
Coleções Públicas [Public Collections]
MAM - Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
MNBA - Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil.
MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
MAR – Museu de Arte do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Coleção Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
Astrup Fearnley Museum, Oslo, Norway.
Residências Artísticas [Artistic Residence]:
2019 - Montreiul. Paris, França.
2018 - Residence Unlimited. NY, USA.
2013 - Mergulhos Poéticos. Funarte. Natal, Brasil.
2009 - Paris Summermadness. Atelier La Imprimerie. Paris, França.
Fonte: Site Gustavo Speridião. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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Gustavo Speridião, poético e político | O Globo
Há dez anos Gustavo Speridião vem colecionando cartazes, que foram sendo acumulados sob sua cama, na casa em que vive no Morro da Conceição, Zona Portuária do Rio. Vêm de todas as partes do mundo. “Vivos se los llevaron, con vida los queremos, ya!”, por exemplo, reivindica a volta dos 43 estudantes de Ayotzinapa, no México, desaparecidos; cartazes gregos criticam mudanças na lei da aposentadoria no país; há uma antiga cartilha católica contra o comunismo; um folheto do Sindicato dos Artistas Plásticos da Paraíba; um pôster da Bauhaus; um panfleto conclamando para um ato público em Madri contra a constituição europeia. Reunidos graficamente, eles compõem duas das telas da exposição “Lona”, que ocupa a galeria Anita Schwartz Arte Contemporânea, e impactam o visitante com seu tom francamente político.
Um tom que só surpreende quem não vem acompanhando a carreira do artista. Speridião é um mestre na arte de se apropriar de imagens do mundo, modificando-as ao apagar legendas, pintar sobre elas, dar-lhes um novo significado. Fez isso, por exemplo, com um livro da “Life” que compilava imagens emblemáticas do século XX, transformando-o, com argutas sacações, num volume singular sobre história da arte.
Na mostra na Anita Schwartz, além das colagens com cartazes e folhetos variados, ele exibe outras telas da mesma série, que chama de “Gráfica”: em “Gráfica 1”, de 7 m x 2,12m, as tintas escorrem (para realizá-la, o artista jogou tintas de cores variadas no teto do ateliê, deixando-as fluir sobre a tela). No térreo de pé-direito altíssimo da galeria, a pintura está disposta sobre uma colagem do mesmo tamanho, feita sobre lona crua, usada em caminhão. Todas as telas são do mesmo material, e pregadas diretamente sobre a parede, numa composição simples, que ressalta a comunicação direta de cores, imagens e palavras. Podem ser frases tiradas da sabedoria popular, como “Se fosse bom não chamava trabalho”, ou outras de sua lavra, como “Tu, tulipas, nós, foguetes”. Ou “o panfleto puro”, diz, referindo-a outra obra, onde se lê: “Maldita burguesia”. O conjunto é impactante.
— A questão política é um eixo, mas a maneira como os cartazes são colocados é poética. Há um jogo poético na apropriação, na tinta que escorre — diz ele, que, antes de ser pintor, coletor de imagens do mundo, se diz desenhista. — A linha é sempre a do desenho. Com vídeo, com cartazes, com palavras, não importa.
No segundo andar da galeria, há um outro trabalho de imagens “roubadas”: “Gráfica utópica imprime melancolicamente o pesadelo instaurado com a captura das nuvens”. A mãe de Speridião, Teresa, também artista (mas com um trabalho à margem do sistema da arte contemporânea) observou um dia caixas com documentos serem jogadas fora num estacionamento do Centro, onde muitos anos antes havia funcionado uma fundição. Alertado por ela, ele fuçou as caixas, onde encontrou dezenas de fichas, preenchidas a mão e com antigas fotos 3x4, dos funcionários que haviam passado pela empresa desde os anos 1930. Ele as recolheu, guardou-as por cerca de dez anos, e enfim resolveu usá-las, dispondo-as sobre uma dessas telas imensas de lona. Memória, labor, relações humanas saltam do trabalho, que só recebeu uma interferência do artista: o nome da obra, escrito em caneta hidrocor.
DE ALIENADO A REVOLTADO
Assim que começou a despontar no cenário, Speridião foi saudado como uma das promessas da arte contemporânea carioca. Aos 36 anos, o artista não desaponta. O estudante que decidiu cursar a Escola de Belas Artes da UFRJ “aos 45 do segundo tempo” — “porque não sobrou nada que eu quisesse fazer, depois de descartar Medicina e Biologia” — apaixonou-se pelo ofício. Quando, em 2007, finalizou o curso — ele é mestre em Linguagens Visuais — já descobrira o poder da palavra. Foi também na faculdade que saiu da condição de adolescente “bastante alienado” para a de jovem “revoltado”.
— Comecei a ter sentimentos de querer mudar o mundo — diz ele, que se define como anarco-trotskista e desde 2001 é filiado ao PSTU.
Speridião vai a manifestações, ajuda a editar jornais, é um militante à moda antiga. Gosta do trabalho de artista, que encara como um trabalho qualquer, com a ressalva de não ser alienado — “Você é responsável pela produção do início até o fim”.
Seu discurso contra o neoliberalismo não poupa o mercado de arte do qual ele, hoje, faz parte. É representado por galerias importantes, está em coleções de museus, expõe no exterior.
— A arte é uma mercadoria. Se tem valor, a burguesia adquire. Tudo, no fundo, é assimilado pelo capitalismo. Até mesmo a arte que fala de ocupação e greve, como a minha — diz.
Fonte: O Globo, “Gustavo Speridião, poético e político”, publicado por Nani Rubin, em 26 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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Gustavo Speridião abre, no Rio, a mostra 'Lona' | Estadão
Gustavo Speridião não isola seu trabalho artístico de seu engajamento político-partidário. “Não existe separação entre o eu-lírico e o ex-militante, seria como existir duas vezes. Não tenho chave de mudança”, explica o artista plástico carioca de 36 anos, entre duas colagens com cartazes de movimentos sociais brasileiros, latino-americanos e europeus, e uma obra em que se lê uma frase do capítulo Arte Revolucionária e Arte Socialista do livro Literatura e Revolução, do marxista russo Leon Trotski (1879-1940) – a qual, ele garante, sintetiza suas reflexões sobre o assunto.
Na exposição Lona, que Speridião abre neste sábado, 23, na Galeria Anita Schwartz, no Rio, estão 18 trabalhos inéditos, de grandes dimensões, em lonas de algodão afixadas diretamente nas paredes. Suas inquietações e críticas a questões relativas às relações de trabalho e aos antagonismos entre classes estão em pinturas e conjuntos de panfletos coletados pelo mundo, entre 2007 e 2014.
Quando expõe fora, coletiva ou individualmente – esteve na França, Bolívia, Inglaterra, no Japão –, olha também para o que está acontecendo a seu redor. Nessas andanças, recolheu material de divulgação de manifestos pró-Palestina, de trabalhadores da Grécia em crise e de protesto contra o assassinato de estudantes mexicanos e sobre a prisão de manifestantes anti-EUA durante a visita do presidente Barack Obama ao Rio, em 2011.
“Queria fazer um trabalho panfletário intencionalmente, que é visto pela academia de arte como algo ruim. Mostrar isso com o gesto pictórico. Até numa tela gráfica há uma carga política muito grande, porque para se chegar à arte abstrata houve muita luta política de vanguarda. Os artistas contemporâneos querem fugir disso, mas quero 32 mil anos de pintura”, considera, apontando as lonas pintadas de vermelho, branco e preto e aludindo à idade de achados pré-históricos em cavernas.
No segundo andar da galeria, está sua coleção de fichas cadastrais de funcionários de uma fundição já falida, abandonada numa rua degradada do centro do Rio, perto da casa em que morava com a mãe, artista, e o pai, médico. A parede exibe um mosaico de rostos e dados como nome, filiação, impressão digital, ocupação e salário. São registros de várias gerações de empregados, dos anos 1910 aos 1980. Ele guarda o material há dez anos. “Minha mãe achou no lugar onde ela guardava o carro e me falou: ‘Você vai adorar’. Gosto de lixo. Aqui, você vê a história de cada um. Quem constrói o mundo são os trabalhadores, não a burguesia”, acredita Speridião, que aderiu às manifestações de rua dos últimos anos. Chocou-se com o comportamento policial. “Foi um nível de violência tão intolerável que as pessoas desistiram de participar.”
Na mesma sala do segundo andar, o desabafo “Maldita burguesia!” grita em preto na lona branca. “Provavelmente, esse trabalho num espaço para a classe trabalhadora teria outro efeito. Aqui é de escárnio da burguesia, com ela própria rindo de seu caráter ridículo”, aponta o artista, que cursou belas-artes na UFRJ, trabalhou no Museu Nacional de Belas Artes e para a própria Anita Schwartz. “O melhor trabalho da vida”, no entanto, ele considera o que teve como “peão de obra”.
Artista em ascensão em sua geração, ele não vê contradição entre seu discurso e seu lugar na arte contemporânea. “Existem os que acreditam que a arte deve ser pública e outros que acham que é uma coqueluche diante da praia. Eu não sei para quem é o que eu faço, mas, como trabalhador, eu sei que, no capitalismo, todo mundo tem o seu patrão”, acrescenta Speridião, cuja mostra fica em cartaz até o dia 4 de junho.
Fonte: Estadão, "Gustavo Speridião abre, no Rio, a mostra 'Lona'”, publicado por Roberta Pennaforte, em 23 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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O artista Gustavo Speridião e seu atelier na Gamboa centro do Rio ou seria o centro do mundo | Ze Ronaldo
Alguns anos atrás eu fui a exposição do artista Gustavo Speridião, na galeria Mercedes Viegas. Foi um dia aleatório e fiquei sozinho na galeria e depois de um tempo a visão ficou incomodada com algo que naquele momento não consegui entender. Pedi um uber e fugi.
Tempo passou, covid 19 chegou e por fim no mês passado fui a abertura da nova exposição do artista “ O Inventário de Problemas” na galeria Cassia Bomeny, em Ipanema. Mais uma vez fiquei atônito com o preciosismo da sua estrutura e base que solidifica a sua pintura e ideias que cabem e percorrem suas telas.
Pensei, estou em Ipanema e porque essas pinturas quase todas em preto e branco com algumas palavras de ordem me emocionam. Percebi que o discurso, a proposta não estava ali. Ia além ia para outro lugar e ao mesmo tempo pertencia ali também. Então conheci o artista.
Conversamos e trocamos umas simpatias e mútua cordialidade. Gostei mais ainda do que vi e fez tudo um sentido equilibrado. Dei outra volta e como uma condensação de emoções me senti no mundo, no planeta como um todo. Não havia mais um espaço que não fosse global. A arte se conecta em tempo e espaço com questões estéticas e políticas, filosóficas com os todos os continentes.
Palavras, gestos e linhas. Um grafismo sofisticado quase uma música. Mas, que musica é essa? Jazz, samba, uma mistura de balalaika e tamborim.
Combinamos uma visita ao seu novo atelier/studio e essa semana rolou de eu ir até lá. Um galpão na Gamboa. Nada tão luso-carioquês. Carioca, Gustavo estava ouvindo David Bowie quando cheguei. Cerâmica industrial no chão e uma gigante parede de basculantes que deixa a luz natural tomar conta do ambiente de uma maneira arrebatadora. O céu azul, o vento domar. Trabalhos espalhados em uma forma ordenada. O pé direito eu não consegui calcular o tamanho.
– Aqui também entra uma nuvem.
Será que ouvi isso mesmo, eu pensei. E fiquei imaginando uma nuvem dentro daquele espaço se apropriando de cada centímetro. Uma nuvem branca de água condensada repleta de lembranças que viajou pelo mundo da Sibéria a Antártica, passando pelos povos das florestas e parou um tempo ali na Gamboa. Conversamos com a trilha de Bowie ao fundo. Andei pelo atelier explorando as pinturas. Era como se um mundo de ideias e imagens imprimisse em camadas até o resultado final da pintura com aquelas palavras que o artista tomou para si fosse o que bastasse. Viajei? Pode ser!
Nossa conversa foi de frases curtas e os assuntos foram trocando, saltando. Arte, política, nomes, estórias de civilizações e de familiares, quotes e viagens. Andarilho e dono de um carisma impar Gustavo Speridião é artista completo. Espero voltar sempre ao atelier e combinamos de lermos cada uma e com títulos diferentes as novelas de Ivan Turgueniev para assim entendermos melhor Nelson Rodrigues.
Fonte: Ze Ronaldo, “O artista Gustavo Speridião e seu atelier na Gamboa centro do Rio ou seria o centro do mundo”, publicado em 15 de maio de 2022. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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O artista Gustavo Speridião abre sua individual “O inventário de problemas” na Cassia Bomeny Galeria | Ze Ronaldo
A primeira individual do artista carioca Gustavo Speridião na Cassia Bomeny Galeria aconteceu na última quinta – feira (17/03) . Batizada de “O inventário de problemas”, a mostra tem curadoria de Fernanda Lopes e reúne cerca de dez trabalhos inéditos. Todos incríveis que podem estar em qualquer lugar do planeta. Tal a universalidade da obra e da pesquisa.
“Meu trabalho é engajado, da maneira mais poética e subjetiva que posso. Panfletário e lúdico. Tenho muito orgulho dessa posição. Não defendo um capitalismo humanitário nem socialismo via eleitoral. Acredito que somente uma revolução pode tirar a humanidade desse abismo”, explica o artista.
“A exposição é um reencontro de Gustavo Speridião com sua cidade natal, depois de cinco anos de sua última mostra individual no Rio de Janeiro. A exposição toma emprestado o nome da série que na Galeria Cassia Bomeny vemos em 10 pinturas e alguns objetos inéditos. Iniciada entre 2017 e 2018, O Inventário de Problemas é um estudo quase compulsivo do artista sobre o plano da pintura como arena de debates pictóricos e também políticos. Em toda a sua produção, Speridião não nos deixa esquecer que toda a discussão sobre arte (sua definição, sua história e questões aparentemente estéticas) é também uma discussão política”, explica a curadora.
Fonte: Ze Ronaldo, “O artista Gustavo Speridião abre sua individual “O inventário de problemas” na Cassia Bomeny Galeria”, publicado em 21 de março de 2022.
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Artista brasileiro Gustavo Speridião expõe instalação militante em Paris | RFI
O artista plástico carioca Gustavo Speridião expõe uma instalação militante em Paris. Em entrevista à RFI, ele conta como mistura arte e política e analisa a posição dos artistas no Brasil no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro.
Speridião ocupa um andar inteiro na galeria Filles du Calvaire, em Paris, com paineis, faixas e pinturas. A exposição "Chroniques du Trouble" (Crônicas da Desordem, em tradução livre) traz mensagens de ordem para a mobilização. Frases como "Não temer o mundo! Mudá-lo", podem ser lidas em uma das paredes.
"Meu objetivo com a produção era mostrar um pouco de poética política. São trabalhos panfletários mesmo, que falam sobre os problemas atuais, o caos e a desordem que a gente anda vivendo, principalmente no Brasil, com um governo de extrema direita", explica.
Seu trabalho, e não só nesta exposição, é politicamente engajado. De que maneira o momento atual da política brasileira te inspirou?
Na entrada da exposição, tem uma faixa que também é uma tela em que está pintado “Maldita burguesia”. Na frente tem um filme passando em uma tela, encostada em uma vitrine. O filme chama “Movimento” e [mostra] dez anos de manifestações que eu andei gravando em vários lugares do mundo. É uma questão bem direta que quase não passa pela poética, mas passa pela tinta. É identificar o inimigo e os meios clássicos de lutar contra ele: o povo na rua mesmo, paralisando e fazendo greve.
A pintura vai neste caminho de ser uma pintura deste momento cru da luta de classes, e, ao mesmo tempo, identificar a poética deste momento.
A exposição tem painéis, colagens e pinturas. Em um destes painéis é possível ler a frase “Nunca uma classe dominante abdicou voluntária e pacificamente do poder”. Você acha que dá para misturar política e poesia?
Acho que dá. O embate que a gente tem, e que é um conceito pronto, diz que a arte verdadeira não fala de política, e a poética verdadeira não aborda as questões políticas de maneira direta. Eu acho que temos que inverter isso e colocar slogans de luta de classes, como uma frase de León Trotsky que está em um cartaz de metrô da exposição do Da Vinci no [Museu do] Louvre, que eu peguei para passar essa mensagem de 500 anos. Ou seja, há muito tempo a luta de classes está aí e não é pela via pacífica que a gente vai conseguir nenhuma conquista.
Escrever um panfleto e determinar, como se faz no modernismo há mais de cem anos, que aquele panfleto pintado é uma pintura, é uma poesia, é um mecanismo muito interessante que a arte tem. A poética mora exatamente aí.
Como foi ser artista no Brasil em 2019?
Acho que foi a pior coisa que alguém que trabalha com arte poderia ter vivenciado nas últimas décadas. Só não se compara com a ditadura civil-militar.
O que começou com um ataque de verba, fechamento de Ministério [da Cultura], termina o ano com um atentado de coquetel molotov à sede de um grupo humorista [Porta dos Fundos].
O governo, mais do que outras categorias, está atacando os artistas e a arte, porque ela é muito importante para a libertação, para a emancipação da mente humana da escravização do capitalismo. Eles atacam diretamente a produção cultural como primeiro meio de tentar iniciar um projeto de dominação e de ditadura.
Foi um ano muito duro e a nossa resposta vai ter que ser à altura do que a gente sofreu de ataque em 2019. A gente vai ter que se organizar em diversas frentes de ataque a esse governo. Esse governo é o que teve de pior na história brasileira de destruição da cultura.
Quais são os projetos para 2020 ?
Vou fazer uma exposição em uma galeria chamada Mendes Wood. O nome da exposição é “Construção”, o curador é Renato Silva, que tem uma pegada bem política. É uma exposição coletiva ao lado de grandes artistas.
Mas o nosso projeto principal é lutar contra esse governo de todas as formas possíveis, através de poesia, de manifestação, de greve.
Fonte: RFI, “Artista brasileiro Gustavo Speridião expõe instalação militante em Paris”, publicado em 2 de janeiro de 2020. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
Crédito fotográfico: Coleção Calmon Stock. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
Gustavo Speridião (1978, Rio de Janeiro, Brasil) é um artista visual brasileiro. Entre suas principais habilidades estão a pintura pintura, colagem, vídeo, escultura, fotografia e instalação. Formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui mestrado em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da mesma instituição. Sua produção é marcada pelo uso de textos, slogans, imagens e elementos gráficos que evocam a crítica política, a cultura urbana e a história da arte, frequentemente com ironia e contundência poética. Influenciado por vanguardas como o Kino-Glaz russo, além da arte conceitual e da estética do cotidiano. Participou de importantes exposições, como a Bienal de Lyon (França), e em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói), Museu de Arte do Rio (MAR) e Astrup Fearnley Museet (Noruega). Suas obras integram acervos públicos de referência e seguem sendo exibidas em mostras no Brasil e no exterior.
Gustavo Speridião | Arremate Arte
Gustavo Speridião nasceu em 1978 no Rio de Janeiro, cidade onde vive e desenvolve uma produção artística multifacetada e politicamente contundente. Mestre em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Speridião é um dos nomes mais provocativos da cena contemporânea brasileira, atuando com liberdade entre diferentes suportes — pintura, desenho, colagem, escultura, vídeo, fotografia e instalação.
Sua obra é marcada por uma linguagem visual híbrida e direta, que mistura referências da história da arte, da cultura urbana e da crítica social. Utilizando slogans, palavras de ordem, símbolos e imagens de forte carga semântica, Speridião constrói narrativas visuais de tensão poética, muitas vezes associadas a um humor ácido e à resistência política. Seu trabalho frequentemente dialoga com a tradição da arte conceitual, da vanguarda russa e dos discursos visuais do cotidiano, estabelecendo conexões entre o passado e o presente, entre o pessoal e o coletivo.
Uma de suas inspirações formais é o conceito de Kino-Glaz (cinema-olho), elaborado por Dziga Vertov, que propunha uma arte que se aproximasse da experiência da visão real, com potência documental e sensorial. Essa ideia está presente na maneira como Speridião constrói imagens fragmentadas, sobrepostas, ruidosas — sempre exigindo uma leitura ativa por parte do espectador.
Ao longo de sua trajetória, participou de exposições de relevância nacional e internacional, incluindo a Bienal de Lyon (França), o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói) e o Astrup Fearnley Museet, na Noruega. Suas obras integram acervos importantes dessas instituições, consolidando sua presença como um artista de voz crítica e imagética potente.
Entre suas exposições recentes estão “A Ausência” (Casa França-Brasil, 2024), “Manifestação contra a viagem no tempo” (Centro Cultural da Justiça Federal, 2022) e “Chronique du Trouble” (Les Filles du Calvaire, Paris, 2020), em que reafirma sua habilidade de tensionar política e estética de maneira visceral e poética. Com um discurso visual que se recusa ao conformismo, Speridião transforma arte em campo de embate, reflexão e permanência.
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Gustavo Speridião | Site Oficial
Rio de Janeiro, 1978. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Mestre em Linguagens visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ (PPGAV-UFRJ, 2007)
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS [SOLO EXHIBITIONS]
2024
"A Ausência". Curadoria: Alexandre Sá e Ana Tereza Prado Lopes. (participação Faixa Protesta). Casa França Brasil. Rio de Janeiro, Brasil.
2022
"Manifestação contra a viagem no tempo". Curadoria: Evandro Salles. (participação Faixa Protesta). Centro Cultural da Justiça Federal. Rio de Janeiro, Brasil.
"Sobre Poesia". Curadoria [Curated by]: Clarissa Diniz. Central Galeria. São Paulo, Brasil.
"O Inventário de Problemas". Curadoria [Curated by]: Fernanda Lopes. Galeria Cássia Bomeny. Rio de Janeiro, Brasil.
2021
“Time Color” e “Sobre Pintura”. Curadoria [Curated by]: Miguel Chaia. Galeria Sé. São Paulo, Brasil.
2020
“Chronique Du Trouble”. Curadoria [Curated by]: Thierry Raspail. Les Filles du Calvaire. Paris, França.
2017
Quilômetros. Curadoria [Curated by]: Maria Montero. Sé Galeria. São Paulo, Brasil.
A gente surge da sombra. Curadoria [Curated by]: Fernando Cocchiarale. Galeria Mercedes Viegas. Rio de Janeiro, Brasil.
2016
A lágrima é só o suor do cérebro. Curadoria [Curated by]: Izabela Pucu. Centro de Arte Hélio Oiticica. Rio de Janeiro, Brasil.
2015
Estudos Superficiais. Galeria Mario Schemberg-FUNARTE São Paulo. São Paulo, Brasil
Lona. Curadoria [Curated by]: Guilherme Bueno. Galeria Anita Schwartz. Rio de Janeiro, Brasil.
2014
Eu tenho um plano. Galeria Superfície, São Paulo, Brasil.
2013
Geometrie. Montage. Equilibrage. Photos e Videos. Curadoria [Curated by] Jean Luc Monterosso /Guilherme Bueno; Maison Europeene de La Photographie, Paris, France.
Sobre Fotografia e Filme [On Photography and Film].Curadoria [Curated by] Guilherme Bueno; Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2011
Fora do Plano Tudo é ilusão [Off-Plan, everything is an ilusion]. Curadoria [Curated by] Guilherme Bueno; Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2009
Uma Epopéia Fotografica [A photographic Journey]. Curadoria [Curated by] Beatriz Lemos; Galeria Kiosko, Santa Cruz de La Sierra, Bolivia.
2008
Sobre Desenho [About Drawing]. Curadoria [Curated by] Marisa Florido, Galeria Artur Fidalgo. Rio de Janeiro, Brasil.
2007
Gráfica Utópica: O Circo dos Sonhos [Utopic Graphic: The Dream Circus]. Galeria Fayga Ostrower, Premio Funarte Atos Visuais. Brasilia-DF, Brasil.
EXPOSIÇÕES COLETIVAS [GROUP EXHIBITIONS]
2024
Bloco do Prazer. Curadoria [Curated by]: Amanda Bonan, Bitu Cassundé e Marcelo Campos. Museu de Arte do Rio (MAR). Rio de Janeiro, Brasil.
Sol Fulgurante: arquivos de vida e resistência. Curadoria [Curated by]: Lorraine Mendes.
Pina Estação. São Paulo, Brasil.
Esqueleto: Algo de concreto. Curadoria [Curated by]: Alexandre Sá, Analu Cunha, Ana Tereza Prado Lopes, André Carvalho, Marisa Flórido e Maurício Barros de Castro.
Galeria Cândido Portinari e Galeria Gustavo Schnoor. Campus UERJ Maracanã. Rio de Janeiro, Brasil.
2022
Nunca foi sorte. Curadoria: Ludimila Fonseca. Central Galeria. São Paulo, Brasil.
Uma mão lava a outra. Curadoria: Antonio Lee. Olhão. São Paulo, Brasil.
Ver-Ão. Curadoria: Alexandre Sá. Galeria Oásis. Rio de Janeiro, Brasil.
Gamboa: Nossos caminhos não se cruzam por acaso. Curadoria: Lucas Albuquerque. Inclusartiz. Rio de Janeiro, Brasil.
Parada 7. Curadoria: Evandro Salles, César Oiticica Filho e Luiza Interlenghi. Rio de Janeiro, Brasil.
Segundo Salão Vermelho de Artes Degeneradas. Atelier Sanitário. Rio de Janeiro, Brasil.
2021
South South Veza. Evento on-line internacional (projeto idealizado por Liza Essers/Goodman Gallery)
Língua Solta. Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.
2020
Construção. Organizada por Renato Silva. Galeria Mendes Wood, São Paulo, Brasil.
2019
Literatura Exposta. Curadoria [Curated by] Julio Ludemir e Álvaro Figueiredo. Casa França Brasil. Rio de Janeiro, Brasil.
A vida não é só a praticidade das coisas. Curadoria Omar Salomão. Silvia Cintra+Box4. Rio de Janeiro, Brasil.
Esqueleto: Uma História do Rio. Curadoria: Fred Coelho e Maurício Barros de Castro. Jacarandá/Galeria Aymoré. Rio de Janeiro, Brasil.
2018
ARTE DEMOCRACIA UTOPIA - Quem não luta tá morto. Curadoria [Curated by] Moacir dos Anjos. Museu de Arte do Rio. Rio de Janeiro, Brasil.
Fugitive Designs. Curadoria [Curated by] Anna Tome. Biggercode Gallery. New York, USA.
Lugares do Delírio. Curadoria [Curated by] Tania Rivera. Sesc Pompéia. São Paulo, Brasil.
Junho de 2013, cinco anos depois. Curadoria [Curated by] Thiago Fernandes. CMAHO. Rio de Janeiro, Brasil.
O Rio do Samba. Curadoria [Curated by] Evandros Salles, Clarissa Diniz, Marcelo Campos e Nei Lopes). Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil.
2017
OSSO Exposição-apelo ao amplo direito de defesa de Rafael Braga.Curadoria Paulo Miyada. Instituto Tomie Ohtake. São Paulo, Brasil.
Frestas: Trienal de Artes – Entre Pós-Verdades e Acontecimentos. Curadoria [Curated by] Daniela Labra. Sesc Sorocaba, São Paulo, Brasil.
Coleção MAC Niterói: arte contemporânea no Brasil. Curadoria [Curated by] Pablo Leon de La Barra e Raphael Fonseca. Museu de Arte Contemporânea. Niterói, Brasil.
Travessias 5. Curadoria [Curated by] Moacir dos Anjos. Galpão Bela Maré. Rio de Janeiro, Brasil.
South-South: Let me begin again. Curadoria [Curated by] Renato Silva e Lara Kossef. Goodman Gallery, Cidade do Cabo, África do Sul.
Em Polvorosa: Um panorama das coleções MAM Rio. Curadoria [Curated by] Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Lugares do Delírio. Curadoria [Curated by] Tania Rivera. Museu de Arte do Rio de Janeiro, Brasil.
A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela. Curadoria [Curated by] Bruno Miguel. Centro Cultural da Caixa, Rio de Janeiro, Brasil.
2016
Exposição Prêmio Pipa 2016. Curadoria [Curated by] Luiz Camillo Osorio. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Dentro Fora. Curadoria [Curated by] Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Depois do Futuro. Curadoria [Curated by] Daniela Labra. EAV Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil.
Soft Power. Curadoria [Curated by] Robbert Roos, Kunsthal KAdE, Amersfoort, Holanda.
2015
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. DHC/ART, Montreal, Canadá.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/Hans Ulrich Obrist. Instituto Tomie Othake, São Paulo, Brasil.
Parasophia 2015. Festival Internacional de Cultura Contemporânea. Curadoria [Curated by] Shinji, Masako Tago. Museu de Arte Moderna de Kioto, Japão.
Novos talentos da fotografia contemporânea no Brasil. Curadoria [Curated by] Vanda Klabin. Caixa Cultural. Rio de Janeiro-RJ e Brasília DF, Brasil.
Pequenos formatos. Curadoria [Curated by] Ana Elisa Cohen. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
The boiling point. Curadoria [Curated by] Renato Silva. PSM Gallery, Berlim, Alemanha.
2014
Bandeiras na Praça Tiradentes. Curadoria [Curated by] Izabela Pucu. Centro Cultural Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Brasil.
Here There (Huna Hunak). Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Museum of Art Park. Doha, Qatar.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Lyon, França.
Novas Aquisições. Curadoria [Curated by] Luis Camilo Osorio. Museu de Arte Moderna. Rio de Janeiro, Brasil.
A pegada Pop. Curadoria [Curated by] Ligia Canongia. Galeria Carbono, São Paulo, Brasil.
Viva Maria. Curadoria [Curated by] Maria Montero. Galeria Luciana Brito, São Paulo, Brasil.
Matriz e Descontrução. Curadoria [Curated by] Luisa Duarte. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
Éter. Curadoria [Curated by] Ana Elisa Cohen. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2013
Meanwhile...suddenly and then. La Biennale de Lyon. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail, Lyon, França.
Ambiguações [ ], Curadoria [Curated by] Clarissa Diniz, Sala A Contemporânea, CCBB Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Oslo, Noruega.
2011
É necessário confrontar as imagens vagas com os gestos claros [It is necessary to confront vague images with clear gestures]. Curadoria [Curated by] Paulo Miyada, Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, Brasil.
2010
Se a Pintura Morreu o MAM é o Céu [If painting is dead, The Museum of Modern Art is heaven]. Curadoria [Curated by] Luiz Camilo Osório, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
2008
Nova Arte Nova – Panorama da Arte Contemporânea Brasileira [New Art Now – Na overwiew of Brasilian Contemporary Art]. Curadoria [Curated by] Paulo Venâncio, CCBB - Rio de Janeiro; CCBB São Paulo, Brasil.
PRÊMIOS [Awards]
2015
Estudos Superficiais. Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2014, Galeria Mario Schemberg, Funarte São Paulo, Brasil.
2013
Mergulhos Poéticos. Projeto: Breno Silva e Daniel Murgel. Funarte, Natal, Brasil.
2012
Illy Sustain Art Brasil – Feira SP Arte [SP Arte Fair]; São Paulo, Brasil.
2010
Marcantônio Villaça/FUNARTE – Aquisição para o acervo do Museu de Arte Contemporânea de Niterói [Acquisition prize to Museum of Contemporary Art of Niterói Collection]; Niteroi, Rio de Janeiro, Brazil.
2007
Atos Visuais – FUNARTE, Brasília, D.F., Brasil.
Projéteis Artes Visuais – FUNARTE, Rio de Janeiro, Brasil.
2004
SPA: Intervenção Urbana na Semana de Artes Visuais de Recife [Intervention in Visual Art Week in Recife], Pernambuco, Brasil.
Coleções Públicas [Public Collections]
MAM - Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
MNBA - Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil.
MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
MAR – Museu de Arte do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Coleção Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
Astrup Fearnley Museum, Oslo, Norway.
Residências Artísticas [Artistic Residence]:
2019 - Montreiul. Paris, França.
2018 - Residence Unlimited. NY, USA.
2013 - Mergulhos Poéticos. Funarte. Natal, Brasil.
2009 - Paris Summermadness. Atelier La Imprimerie. Paris, França.
Fonte: Site Gustavo Speridião. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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Gustavo Speridião, poético e político | O Globo
Há dez anos Gustavo Speridião vem colecionando cartazes, que foram sendo acumulados sob sua cama, na casa em que vive no Morro da Conceição, Zona Portuária do Rio. Vêm de todas as partes do mundo. “Vivos se los llevaron, con vida los queremos, ya!”, por exemplo, reivindica a volta dos 43 estudantes de Ayotzinapa, no México, desaparecidos; cartazes gregos criticam mudanças na lei da aposentadoria no país; há uma antiga cartilha católica contra o comunismo; um folheto do Sindicato dos Artistas Plásticos da Paraíba; um pôster da Bauhaus; um panfleto conclamando para um ato público em Madri contra a constituição europeia. Reunidos graficamente, eles compõem duas das telas da exposição “Lona”, que ocupa a galeria Anita Schwartz Arte Contemporânea, e impactam o visitante com seu tom francamente político.
Um tom que só surpreende quem não vem acompanhando a carreira do artista. Speridião é um mestre na arte de se apropriar de imagens do mundo, modificando-as ao apagar legendas, pintar sobre elas, dar-lhes um novo significado. Fez isso, por exemplo, com um livro da “Life” que compilava imagens emblemáticas do século XX, transformando-o, com argutas sacações, num volume singular sobre história da arte.
Na mostra na Anita Schwartz, além das colagens com cartazes e folhetos variados, ele exibe outras telas da mesma série, que chama de “Gráfica”: em “Gráfica 1”, de 7 m x 2,12m, as tintas escorrem (para realizá-la, o artista jogou tintas de cores variadas no teto do ateliê, deixando-as fluir sobre a tela). No térreo de pé-direito altíssimo da galeria, a pintura está disposta sobre uma colagem do mesmo tamanho, feita sobre lona crua, usada em caminhão. Todas as telas são do mesmo material, e pregadas diretamente sobre a parede, numa composição simples, que ressalta a comunicação direta de cores, imagens e palavras. Podem ser frases tiradas da sabedoria popular, como “Se fosse bom não chamava trabalho”, ou outras de sua lavra, como “Tu, tulipas, nós, foguetes”. Ou “o panfleto puro”, diz, referindo-a outra obra, onde se lê: “Maldita burguesia”. O conjunto é impactante.
— A questão política é um eixo, mas a maneira como os cartazes são colocados é poética. Há um jogo poético na apropriação, na tinta que escorre — diz ele, que, antes de ser pintor, coletor de imagens do mundo, se diz desenhista. — A linha é sempre a do desenho. Com vídeo, com cartazes, com palavras, não importa.
No segundo andar da galeria, há um outro trabalho de imagens “roubadas”: “Gráfica utópica imprime melancolicamente o pesadelo instaurado com a captura das nuvens”. A mãe de Speridião, Teresa, também artista (mas com um trabalho à margem do sistema da arte contemporânea) observou um dia caixas com documentos serem jogadas fora num estacionamento do Centro, onde muitos anos antes havia funcionado uma fundição. Alertado por ela, ele fuçou as caixas, onde encontrou dezenas de fichas, preenchidas a mão e com antigas fotos 3x4, dos funcionários que haviam passado pela empresa desde os anos 1930. Ele as recolheu, guardou-as por cerca de dez anos, e enfim resolveu usá-las, dispondo-as sobre uma dessas telas imensas de lona. Memória, labor, relações humanas saltam do trabalho, que só recebeu uma interferência do artista: o nome da obra, escrito em caneta hidrocor.
DE ALIENADO A REVOLTADO
Assim que começou a despontar no cenário, Speridião foi saudado como uma das promessas da arte contemporânea carioca. Aos 36 anos, o artista não desaponta. O estudante que decidiu cursar a Escola de Belas Artes da UFRJ “aos 45 do segundo tempo” — “porque não sobrou nada que eu quisesse fazer, depois de descartar Medicina e Biologia” — apaixonou-se pelo ofício. Quando, em 2007, finalizou o curso — ele é mestre em Linguagens Visuais — já descobrira o poder da palavra. Foi também na faculdade que saiu da condição de adolescente “bastante alienado” para a de jovem “revoltado”.
— Comecei a ter sentimentos de querer mudar o mundo — diz ele, que se define como anarco-trotskista e desde 2001 é filiado ao PSTU.
Speridião vai a manifestações, ajuda a editar jornais, é um militante à moda antiga. Gosta do trabalho de artista, que encara como um trabalho qualquer, com a ressalva de não ser alienado — “Você é responsável pela produção do início até o fim”.
Seu discurso contra o neoliberalismo não poupa o mercado de arte do qual ele, hoje, faz parte. É representado por galerias importantes, está em coleções de museus, expõe no exterior.
— A arte é uma mercadoria. Se tem valor, a burguesia adquire. Tudo, no fundo, é assimilado pelo capitalismo. Até mesmo a arte que fala de ocupação e greve, como a minha — diz.
Fonte: O Globo, “Gustavo Speridião, poético e político”, publicado por Nani Rubin, em 26 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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Gustavo Speridião abre, no Rio, a mostra 'Lona' | Estadão
Gustavo Speridião não isola seu trabalho artístico de seu engajamento político-partidário. “Não existe separação entre o eu-lírico e o ex-militante, seria como existir duas vezes. Não tenho chave de mudança”, explica o artista plástico carioca de 36 anos, entre duas colagens com cartazes de movimentos sociais brasileiros, latino-americanos e europeus, e uma obra em que se lê uma frase do capítulo Arte Revolucionária e Arte Socialista do livro Literatura e Revolução, do marxista russo Leon Trotski (1879-1940) – a qual, ele garante, sintetiza suas reflexões sobre o assunto.
Na exposição Lona, que Speridião abre neste sábado, 23, na Galeria Anita Schwartz, no Rio, estão 18 trabalhos inéditos, de grandes dimensões, em lonas de algodão afixadas diretamente nas paredes. Suas inquietações e críticas a questões relativas às relações de trabalho e aos antagonismos entre classes estão em pinturas e conjuntos de panfletos coletados pelo mundo, entre 2007 e 2014.
Quando expõe fora, coletiva ou individualmente – esteve na França, Bolívia, Inglaterra, no Japão –, olha também para o que está acontecendo a seu redor. Nessas andanças, recolheu material de divulgação de manifestos pró-Palestina, de trabalhadores da Grécia em crise e de protesto contra o assassinato de estudantes mexicanos e sobre a prisão de manifestantes anti-EUA durante a visita do presidente Barack Obama ao Rio, em 2011.
“Queria fazer um trabalho panfletário intencionalmente, que é visto pela academia de arte como algo ruim. Mostrar isso com o gesto pictórico. Até numa tela gráfica há uma carga política muito grande, porque para se chegar à arte abstrata houve muita luta política de vanguarda. Os artistas contemporâneos querem fugir disso, mas quero 32 mil anos de pintura”, considera, apontando as lonas pintadas de vermelho, branco e preto e aludindo à idade de achados pré-históricos em cavernas.
No segundo andar da galeria, está sua coleção de fichas cadastrais de funcionários de uma fundição já falida, abandonada numa rua degradada do centro do Rio, perto da casa em que morava com a mãe, artista, e o pai, médico. A parede exibe um mosaico de rostos e dados como nome, filiação, impressão digital, ocupação e salário. São registros de várias gerações de empregados, dos anos 1910 aos 1980. Ele guarda o material há dez anos. “Minha mãe achou no lugar onde ela guardava o carro e me falou: ‘Você vai adorar’. Gosto de lixo. Aqui, você vê a história de cada um. Quem constrói o mundo são os trabalhadores, não a burguesia”, acredita Speridião, que aderiu às manifestações de rua dos últimos anos. Chocou-se com o comportamento policial. “Foi um nível de violência tão intolerável que as pessoas desistiram de participar.”
Na mesma sala do segundo andar, o desabafo “Maldita burguesia!” grita em preto na lona branca. “Provavelmente, esse trabalho num espaço para a classe trabalhadora teria outro efeito. Aqui é de escárnio da burguesia, com ela própria rindo de seu caráter ridículo”, aponta o artista, que cursou belas-artes na UFRJ, trabalhou no Museu Nacional de Belas Artes e para a própria Anita Schwartz. “O melhor trabalho da vida”, no entanto, ele considera o que teve como “peão de obra”.
Artista em ascensão em sua geração, ele não vê contradição entre seu discurso e seu lugar na arte contemporânea. “Existem os que acreditam que a arte deve ser pública e outros que acham que é uma coqueluche diante da praia. Eu não sei para quem é o que eu faço, mas, como trabalhador, eu sei que, no capitalismo, todo mundo tem o seu patrão”, acrescenta Speridião, cuja mostra fica em cartaz até o dia 4 de junho.
Fonte: Estadão, "Gustavo Speridião abre, no Rio, a mostra 'Lona'”, publicado por Roberta Pennaforte, em 23 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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O artista Gustavo Speridião e seu atelier na Gamboa centro do Rio ou seria o centro do mundo | Ze Ronaldo
Alguns anos atrás eu fui a exposição do artista Gustavo Speridião, na galeria Mercedes Viegas. Foi um dia aleatório e fiquei sozinho na galeria e depois de um tempo a visão ficou incomodada com algo que naquele momento não consegui entender. Pedi um uber e fugi.
Tempo passou, covid 19 chegou e por fim no mês passado fui a abertura da nova exposição do artista “ O Inventário de Problemas” na galeria Cassia Bomeny, em Ipanema. Mais uma vez fiquei atônito com o preciosismo da sua estrutura e base que solidifica a sua pintura e ideias que cabem e percorrem suas telas.
Pensei, estou em Ipanema e porque essas pinturas quase todas em preto e branco com algumas palavras de ordem me emocionam. Percebi que o discurso, a proposta não estava ali. Ia além ia para outro lugar e ao mesmo tempo pertencia ali também. Então conheci o artista.
Conversamos e trocamos umas simpatias e mútua cordialidade. Gostei mais ainda do que vi e fez tudo um sentido equilibrado. Dei outra volta e como uma condensação de emoções me senti no mundo, no planeta como um todo. Não havia mais um espaço que não fosse global. A arte se conecta em tempo e espaço com questões estéticas e políticas, filosóficas com os todos os continentes.
Palavras, gestos e linhas. Um grafismo sofisticado quase uma música. Mas, que musica é essa? Jazz, samba, uma mistura de balalaika e tamborim.
Combinamos uma visita ao seu novo atelier/studio e essa semana rolou de eu ir até lá. Um galpão na Gamboa. Nada tão luso-carioquês. Carioca, Gustavo estava ouvindo David Bowie quando cheguei. Cerâmica industrial no chão e uma gigante parede de basculantes que deixa a luz natural tomar conta do ambiente de uma maneira arrebatadora. O céu azul, o vento domar. Trabalhos espalhados em uma forma ordenada. O pé direito eu não consegui calcular o tamanho.
– Aqui também entra uma nuvem.
Será que ouvi isso mesmo, eu pensei. E fiquei imaginando uma nuvem dentro daquele espaço se apropriando de cada centímetro. Uma nuvem branca de água condensada repleta de lembranças que viajou pelo mundo da Sibéria a Antártica, passando pelos povos das florestas e parou um tempo ali na Gamboa. Conversamos com a trilha de Bowie ao fundo. Andei pelo atelier explorando as pinturas. Era como se um mundo de ideias e imagens imprimisse em camadas até o resultado final da pintura com aquelas palavras que o artista tomou para si fosse o que bastasse. Viajei? Pode ser!
Nossa conversa foi de frases curtas e os assuntos foram trocando, saltando. Arte, política, nomes, estórias de civilizações e de familiares, quotes e viagens. Andarilho e dono de um carisma impar Gustavo Speridião é artista completo. Espero voltar sempre ao atelier e combinamos de lermos cada uma e com títulos diferentes as novelas de Ivan Turgueniev para assim entendermos melhor Nelson Rodrigues.
Fonte: Ze Ronaldo, “O artista Gustavo Speridião e seu atelier na Gamboa centro do Rio ou seria o centro do mundo”, publicado em 15 de maio de 2022. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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O artista Gustavo Speridião abre sua individual “O inventário de problemas” na Cassia Bomeny Galeria | Ze Ronaldo
A primeira individual do artista carioca Gustavo Speridião na Cassia Bomeny Galeria aconteceu na última quinta – feira (17/03) . Batizada de “O inventário de problemas”, a mostra tem curadoria de Fernanda Lopes e reúne cerca de dez trabalhos inéditos. Todos incríveis que podem estar em qualquer lugar do planeta. Tal a universalidade da obra e da pesquisa.
“Meu trabalho é engajado, da maneira mais poética e subjetiva que posso. Panfletário e lúdico. Tenho muito orgulho dessa posição. Não defendo um capitalismo humanitário nem socialismo via eleitoral. Acredito que somente uma revolução pode tirar a humanidade desse abismo”, explica o artista.
“A exposição é um reencontro de Gustavo Speridião com sua cidade natal, depois de cinco anos de sua última mostra individual no Rio de Janeiro. A exposição toma emprestado o nome da série que na Galeria Cassia Bomeny vemos em 10 pinturas e alguns objetos inéditos. Iniciada entre 2017 e 2018, O Inventário de Problemas é um estudo quase compulsivo do artista sobre o plano da pintura como arena de debates pictóricos e também políticos. Em toda a sua produção, Speridião não nos deixa esquecer que toda a discussão sobre arte (sua definição, sua história e questões aparentemente estéticas) é também uma discussão política”, explica a curadora.
Fonte: Ze Ronaldo, “O artista Gustavo Speridião abre sua individual “O inventário de problemas” na Cassia Bomeny Galeria”, publicado em 21 de março de 2022.
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Artista brasileiro Gustavo Speridião expõe instalação militante em Paris | RFI
O artista plástico carioca Gustavo Speridião expõe uma instalação militante em Paris. Em entrevista à RFI, ele conta como mistura arte e política e analisa a posição dos artistas no Brasil no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro.
Speridião ocupa um andar inteiro na galeria Filles du Calvaire, em Paris, com paineis, faixas e pinturas. A exposição "Chroniques du Trouble" (Crônicas da Desordem, em tradução livre) traz mensagens de ordem para a mobilização. Frases como "Não temer o mundo! Mudá-lo", podem ser lidas em uma das paredes.
"Meu objetivo com a produção era mostrar um pouco de poética política. São trabalhos panfletários mesmo, que falam sobre os problemas atuais, o caos e a desordem que a gente anda vivendo, principalmente no Brasil, com um governo de extrema direita", explica.
Seu trabalho, e não só nesta exposição, é politicamente engajado. De que maneira o momento atual da política brasileira te inspirou?
Na entrada da exposição, tem uma faixa que também é uma tela em que está pintado “Maldita burguesia”. Na frente tem um filme passando em uma tela, encostada em uma vitrine. O filme chama “Movimento” e [mostra] dez anos de manifestações que eu andei gravando em vários lugares do mundo. É uma questão bem direta que quase não passa pela poética, mas passa pela tinta. É identificar o inimigo e os meios clássicos de lutar contra ele: o povo na rua mesmo, paralisando e fazendo greve.
A pintura vai neste caminho de ser uma pintura deste momento cru da luta de classes, e, ao mesmo tempo, identificar a poética deste momento.
A exposição tem painéis, colagens e pinturas. Em um destes painéis é possível ler a frase “Nunca uma classe dominante abdicou voluntária e pacificamente do poder”. Você acha que dá para misturar política e poesia?
Acho que dá. O embate que a gente tem, e que é um conceito pronto, diz que a arte verdadeira não fala de política, e a poética verdadeira não aborda as questões políticas de maneira direta. Eu acho que temos que inverter isso e colocar slogans de luta de classes, como uma frase de León Trotsky que está em um cartaz de metrô da exposição do Da Vinci no [Museu do] Louvre, que eu peguei para passar essa mensagem de 500 anos. Ou seja, há muito tempo a luta de classes está aí e não é pela via pacífica que a gente vai conseguir nenhuma conquista.
Escrever um panfleto e determinar, como se faz no modernismo há mais de cem anos, que aquele panfleto pintado é uma pintura, é uma poesia, é um mecanismo muito interessante que a arte tem. A poética mora exatamente aí.
Como foi ser artista no Brasil em 2019?
Acho que foi a pior coisa que alguém que trabalha com arte poderia ter vivenciado nas últimas décadas. Só não se compara com a ditadura civil-militar.
O que começou com um ataque de verba, fechamento de Ministério [da Cultura], termina o ano com um atentado de coquetel molotov à sede de um grupo humorista [Porta dos Fundos].
O governo, mais do que outras categorias, está atacando os artistas e a arte, porque ela é muito importante para a libertação, para a emancipação da mente humana da escravização do capitalismo. Eles atacam diretamente a produção cultural como primeiro meio de tentar iniciar um projeto de dominação e de ditadura.
Foi um ano muito duro e a nossa resposta vai ter que ser à altura do que a gente sofreu de ataque em 2019. A gente vai ter que se organizar em diversas frentes de ataque a esse governo. Esse governo é o que teve de pior na história brasileira de destruição da cultura.
Quais são os projetos para 2020 ?
Vou fazer uma exposição em uma galeria chamada Mendes Wood. O nome da exposição é “Construção”, o curador é Renato Silva, que tem uma pegada bem política. É uma exposição coletiva ao lado de grandes artistas.
Mas o nosso projeto principal é lutar contra esse governo de todas as formas possíveis, através de poesia, de manifestação, de greve.
Fonte: RFI, “Artista brasileiro Gustavo Speridião expõe instalação militante em Paris”, publicado em 2 de janeiro de 2020. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
Crédito fotográfico: Coleção Calmon Stock. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
Gustavo Speridião (1978, Rio de Janeiro, Brasil) é um artista visual brasileiro. Entre suas principais habilidades estão a pintura pintura, colagem, vídeo, escultura, fotografia e instalação. Formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui mestrado em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da mesma instituição. Sua produção é marcada pelo uso de textos, slogans, imagens e elementos gráficos que evocam a crítica política, a cultura urbana e a história da arte, frequentemente com ironia e contundência poética. Influenciado por vanguardas como o Kino-Glaz russo, além da arte conceitual e da estética do cotidiano. Participou de importantes exposições, como a Bienal de Lyon (França), e em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói), Museu de Arte do Rio (MAR) e Astrup Fearnley Museet (Noruega). Suas obras integram acervos públicos de referência e seguem sendo exibidas em mostras no Brasil e no exterior.
Gustavo Speridião | Arremate Arte
Gustavo Speridião nasceu em 1978 no Rio de Janeiro, cidade onde vive e desenvolve uma produção artística multifacetada e politicamente contundente. Mestre em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Speridião é um dos nomes mais provocativos da cena contemporânea brasileira, atuando com liberdade entre diferentes suportes — pintura, desenho, colagem, escultura, vídeo, fotografia e instalação.
Sua obra é marcada por uma linguagem visual híbrida e direta, que mistura referências da história da arte, da cultura urbana e da crítica social. Utilizando slogans, palavras de ordem, símbolos e imagens de forte carga semântica, Speridião constrói narrativas visuais de tensão poética, muitas vezes associadas a um humor ácido e à resistência política. Seu trabalho frequentemente dialoga com a tradição da arte conceitual, da vanguarda russa e dos discursos visuais do cotidiano, estabelecendo conexões entre o passado e o presente, entre o pessoal e o coletivo.
Uma de suas inspirações formais é o conceito de Kino-Glaz (cinema-olho), elaborado por Dziga Vertov, que propunha uma arte que se aproximasse da experiência da visão real, com potência documental e sensorial. Essa ideia está presente na maneira como Speridião constrói imagens fragmentadas, sobrepostas, ruidosas — sempre exigindo uma leitura ativa por parte do espectador.
Ao longo de sua trajetória, participou de exposições de relevância nacional e internacional, incluindo a Bienal de Lyon (França), o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói) e o Astrup Fearnley Museet, na Noruega. Suas obras integram acervos importantes dessas instituições, consolidando sua presença como um artista de voz crítica e imagética potente.
Entre suas exposições recentes estão “A Ausência” (Casa França-Brasil, 2024), “Manifestação contra a viagem no tempo” (Centro Cultural da Justiça Federal, 2022) e “Chronique du Trouble” (Les Filles du Calvaire, Paris, 2020), em que reafirma sua habilidade de tensionar política e estética de maneira visceral e poética. Com um discurso visual que se recusa ao conformismo, Speridião transforma arte em campo de embate, reflexão e permanência.
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Gustavo Speridião | Site Oficial
Rio de Janeiro, 1978. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Mestre em Linguagens visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ (PPGAV-UFRJ, 2007)
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS [SOLO EXHIBITIONS]
2024
"A Ausência". Curadoria: Alexandre Sá e Ana Tereza Prado Lopes. (participação Faixa Protesta). Casa França Brasil. Rio de Janeiro, Brasil.
2022
"Manifestação contra a viagem no tempo". Curadoria: Evandro Salles. (participação Faixa Protesta). Centro Cultural da Justiça Federal. Rio de Janeiro, Brasil.
"Sobre Poesia". Curadoria [Curated by]: Clarissa Diniz. Central Galeria. São Paulo, Brasil.
"O Inventário de Problemas". Curadoria [Curated by]: Fernanda Lopes. Galeria Cássia Bomeny. Rio de Janeiro, Brasil.
2021
“Time Color” e “Sobre Pintura”. Curadoria [Curated by]: Miguel Chaia. Galeria Sé. São Paulo, Brasil.
2020
“Chronique Du Trouble”. Curadoria [Curated by]: Thierry Raspail. Les Filles du Calvaire. Paris, França.
2017
Quilômetros. Curadoria [Curated by]: Maria Montero. Sé Galeria. São Paulo, Brasil.
A gente surge da sombra. Curadoria [Curated by]: Fernando Cocchiarale. Galeria Mercedes Viegas. Rio de Janeiro, Brasil.
2016
A lágrima é só o suor do cérebro. Curadoria [Curated by]: Izabela Pucu. Centro de Arte Hélio Oiticica. Rio de Janeiro, Brasil.
2015
Estudos Superficiais. Galeria Mario Schemberg-FUNARTE São Paulo. São Paulo, Brasil
Lona. Curadoria [Curated by]: Guilherme Bueno. Galeria Anita Schwartz. Rio de Janeiro, Brasil.
2014
Eu tenho um plano. Galeria Superfície, São Paulo, Brasil.
2013
Geometrie. Montage. Equilibrage. Photos e Videos. Curadoria [Curated by] Jean Luc Monterosso /Guilherme Bueno; Maison Europeene de La Photographie, Paris, France.
Sobre Fotografia e Filme [On Photography and Film].Curadoria [Curated by] Guilherme Bueno; Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2011
Fora do Plano Tudo é ilusão [Off-Plan, everything is an ilusion]. Curadoria [Curated by] Guilherme Bueno; Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2009
Uma Epopéia Fotografica [A photographic Journey]. Curadoria [Curated by] Beatriz Lemos; Galeria Kiosko, Santa Cruz de La Sierra, Bolivia.
2008
Sobre Desenho [About Drawing]. Curadoria [Curated by] Marisa Florido, Galeria Artur Fidalgo. Rio de Janeiro, Brasil.
2007
Gráfica Utópica: O Circo dos Sonhos [Utopic Graphic: The Dream Circus]. Galeria Fayga Ostrower, Premio Funarte Atos Visuais. Brasilia-DF, Brasil.
EXPOSIÇÕES COLETIVAS [GROUP EXHIBITIONS]
2024
Bloco do Prazer. Curadoria [Curated by]: Amanda Bonan, Bitu Cassundé e Marcelo Campos. Museu de Arte do Rio (MAR). Rio de Janeiro, Brasil.
Sol Fulgurante: arquivos de vida e resistência. Curadoria [Curated by]: Lorraine Mendes.
Pina Estação. São Paulo, Brasil.
Esqueleto: Algo de concreto. Curadoria [Curated by]: Alexandre Sá, Analu Cunha, Ana Tereza Prado Lopes, André Carvalho, Marisa Flórido e Maurício Barros de Castro.
Galeria Cândido Portinari e Galeria Gustavo Schnoor. Campus UERJ Maracanã. Rio de Janeiro, Brasil.
2022
Nunca foi sorte. Curadoria: Ludimila Fonseca. Central Galeria. São Paulo, Brasil.
Uma mão lava a outra. Curadoria: Antonio Lee. Olhão. São Paulo, Brasil.
Ver-Ão. Curadoria: Alexandre Sá. Galeria Oásis. Rio de Janeiro, Brasil.
Gamboa: Nossos caminhos não se cruzam por acaso. Curadoria: Lucas Albuquerque. Inclusartiz. Rio de Janeiro, Brasil.
Parada 7. Curadoria: Evandro Salles, César Oiticica Filho e Luiza Interlenghi. Rio de Janeiro, Brasil.
Segundo Salão Vermelho de Artes Degeneradas. Atelier Sanitário. Rio de Janeiro, Brasil.
2021
South South Veza. Evento on-line internacional (projeto idealizado por Liza Essers/Goodman Gallery)
Língua Solta. Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil.
2020
Construção. Organizada por Renato Silva. Galeria Mendes Wood, São Paulo, Brasil.
2019
Literatura Exposta. Curadoria [Curated by] Julio Ludemir e Álvaro Figueiredo. Casa França Brasil. Rio de Janeiro, Brasil.
A vida não é só a praticidade das coisas. Curadoria Omar Salomão. Silvia Cintra+Box4. Rio de Janeiro, Brasil.
Esqueleto: Uma História do Rio. Curadoria: Fred Coelho e Maurício Barros de Castro. Jacarandá/Galeria Aymoré. Rio de Janeiro, Brasil.
2018
ARTE DEMOCRACIA UTOPIA - Quem não luta tá morto. Curadoria [Curated by] Moacir dos Anjos. Museu de Arte do Rio. Rio de Janeiro, Brasil.
Fugitive Designs. Curadoria [Curated by] Anna Tome. Biggercode Gallery. New York, USA.
Lugares do Delírio. Curadoria [Curated by] Tania Rivera. Sesc Pompéia. São Paulo, Brasil.
Junho de 2013, cinco anos depois. Curadoria [Curated by] Thiago Fernandes. CMAHO. Rio de Janeiro, Brasil.
O Rio do Samba. Curadoria [Curated by] Evandros Salles, Clarissa Diniz, Marcelo Campos e Nei Lopes). Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil.
2017
OSSO Exposição-apelo ao amplo direito de defesa de Rafael Braga.Curadoria Paulo Miyada. Instituto Tomie Ohtake. São Paulo, Brasil.
Frestas: Trienal de Artes – Entre Pós-Verdades e Acontecimentos. Curadoria [Curated by] Daniela Labra. Sesc Sorocaba, São Paulo, Brasil.
Coleção MAC Niterói: arte contemporânea no Brasil. Curadoria [Curated by] Pablo Leon de La Barra e Raphael Fonseca. Museu de Arte Contemporânea. Niterói, Brasil.
Travessias 5. Curadoria [Curated by] Moacir dos Anjos. Galpão Bela Maré. Rio de Janeiro, Brasil.
South-South: Let me begin again. Curadoria [Curated by] Renato Silva e Lara Kossef. Goodman Gallery, Cidade do Cabo, África do Sul.
Em Polvorosa: Um panorama das coleções MAM Rio. Curadoria [Curated by] Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Lugares do Delírio. Curadoria [Curated by] Tania Rivera. Museu de Arte do Rio de Janeiro, Brasil.
A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela. Curadoria [Curated by] Bruno Miguel. Centro Cultural da Caixa, Rio de Janeiro, Brasil.
2016
Exposição Prêmio Pipa 2016. Curadoria [Curated by] Luiz Camillo Osorio. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Dentro Fora. Curadoria [Curated by] Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil.
Depois do Futuro. Curadoria [Curated by] Daniela Labra. EAV Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil.
Soft Power. Curadoria [Curated by] Robbert Roos, Kunsthal KAdE, Amersfoort, Holanda.
2015
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. DHC/ART, Montreal, Canadá.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/Hans Ulrich Obrist. Instituto Tomie Othake, São Paulo, Brasil.
Parasophia 2015. Festival Internacional de Cultura Contemporânea. Curadoria [Curated by] Shinji, Masako Tago. Museu de Arte Moderna de Kioto, Japão.
Novos talentos da fotografia contemporânea no Brasil. Curadoria [Curated by] Vanda Klabin. Caixa Cultural. Rio de Janeiro-RJ e Brasília DF, Brasil.
Pequenos formatos. Curadoria [Curated by] Ana Elisa Cohen. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
The boiling point. Curadoria [Curated by] Renato Silva. PSM Gallery, Berlim, Alemanha.
2014
Bandeiras na Praça Tiradentes. Curadoria [Curated by] Izabela Pucu. Centro Cultural Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Brasil.
Here There (Huna Hunak). Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Museum of Art Park. Doha, Qatar.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Lyon, França.
Novas Aquisições. Curadoria [Curated by] Luis Camilo Osorio. Museu de Arte Moderna. Rio de Janeiro, Brasil.
A pegada Pop. Curadoria [Curated by] Ligia Canongia. Galeria Carbono, São Paulo, Brasil.
Viva Maria. Curadoria [Curated by] Maria Montero. Galeria Luciana Brito, São Paulo, Brasil.
Matriz e Descontrução. Curadoria [Curated by] Luisa Duarte. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
Éter. Curadoria [Curated by] Ana Elisa Cohen. Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, Brasil.
2013
Meanwhile...suddenly and then. La Biennale de Lyon. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail, Lyon, França.
Ambiguações [ ], Curadoria [Curated by] Clarissa Diniz, Sala A Contemporânea, CCBB Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Imagine Brazil. Curadoria [Curated by] Gunnar B. Kvaran/Thierry Raspail/ Hans Ulrich Obrist. Oslo, Noruega.
2011
É necessário confrontar as imagens vagas com os gestos claros [It is necessary to confront vague images with clear gestures]. Curadoria [Curated by] Paulo Miyada, Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, Brasil.
2010
Se a Pintura Morreu o MAM é o Céu [If painting is dead, The Museum of Modern Art is heaven]. Curadoria [Curated by] Luiz Camilo Osório, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
2008
Nova Arte Nova – Panorama da Arte Contemporânea Brasileira [New Art Now – Na overwiew of Brasilian Contemporary Art]. Curadoria [Curated by] Paulo Venâncio, CCBB - Rio de Janeiro; CCBB São Paulo, Brasil.
PRÊMIOS [Awards]
2015
Estudos Superficiais. Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2014, Galeria Mario Schemberg, Funarte São Paulo, Brasil.
2013
Mergulhos Poéticos. Projeto: Breno Silva e Daniel Murgel. Funarte, Natal, Brasil.
2012
Illy Sustain Art Brasil – Feira SP Arte [SP Arte Fair]; São Paulo, Brasil.
2010
Marcantônio Villaça/FUNARTE – Aquisição para o acervo do Museu de Arte Contemporânea de Niterói [Acquisition prize to Museum of Contemporary Art of Niterói Collection]; Niteroi, Rio de Janeiro, Brazil.
2007
Atos Visuais – FUNARTE, Brasília, D.F., Brasil.
Projéteis Artes Visuais – FUNARTE, Rio de Janeiro, Brasil.
2004
SPA: Intervenção Urbana na Semana de Artes Visuais de Recife [Intervention in Visual Art Week in Recife], Pernambuco, Brasil.
Coleções Públicas [Public Collections]
MAM - Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
MNBA - Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil.
MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
MAR – Museu de Arte do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Coleção Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
Astrup Fearnley Museum, Oslo, Norway.
Residências Artísticas [Artistic Residence]:
2019 - Montreiul. Paris, França.
2018 - Residence Unlimited. NY, USA.
2013 - Mergulhos Poéticos. Funarte. Natal, Brasil.
2009 - Paris Summermadness. Atelier La Imprimerie. Paris, França.
Fonte: Site Gustavo Speridião. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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Gustavo Speridião, poético e político | O Globo
Há dez anos Gustavo Speridião vem colecionando cartazes, que foram sendo acumulados sob sua cama, na casa em que vive no Morro da Conceição, Zona Portuária do Rio. Vêm de todas as partes do mundo. “Vivos se los llevaron, con vida los queremos, ya!”, por exemplo, reivindica a volta dos 43 estudantes de Ayotzinapa, no México, desaparecidos; cartazes gregos criticam mudanças na lei da aposentadoria no país; há uma antiga cartilha católica contra o comunismo; um folheto do Sindicato dos Artistas Plásticos da Paraíba; um pôster da Bauhaus; um panfleto conclamando para um ato público em Madri contra a constituição europeia. Reunidos graficamente, eles compõem duas das telas da exposição “Lona”, que ocupa a galeria Anita Schwartz Arte Contemporânea, e impactam o visitante com seu tom francamente político.
Um tom que só surpreende quem não vem acompanhando a carreira do artista. Speridião é um mestre na arte de se apropriar de imagens do mundo, modificando-as ao apagar legendas, pintar sobre elas, dar-lhes um novo significado. Fez isso, por exemplo, com um livro da “Life” que compilava imagens emblemáticas do século XX, transformando-o, com argutas sacações, num volume singular sobre história da arte.
Na mostra na Anita Schwartz, além das colagens com cartazes e folhetos variados, ele exibe outras telas da mesma série, que chama de “Gráfica”: em “Gráfica 1”, de 7 m x 2,12m, as tintas escorrem (para realizá-la, o artista jogou tintas de cores variadas no teto do ateliê, deixando-as fluir sobre a tela). No térreo de pé-direito altíssimo da galeria, a pintura está disposta sobre uma colagem do mesmo tamanho, feita sobre lona crua, usada em caminhão. Todas as telas são do mesmo material, e pregadas diretamente sobre a parede, numa composição simples, que ressalta a comunicação direta de cores, imagens e palavras. Podem ser frases tiradas da sabedoria popular, como “Se fosse bom não chamava trabalho”, ou outras de sua lavra, como “Tu, tulipas, nós, foguetes”. Ou “o panfleto puro”, diz, referindo-a outra obra, onde se lê: “Maldita burguesia”. O conjunto é impactante.
— A questão política é um eixo, mas a maneira como os cartazes são colocados é poética. Há um jogo poético na apropriação, na tinta que escorre — diz ele, que, antes de ser pintor, coletor de imagens do mundo, se diz desenhista. — A linha é sempre a do desenho. Com vídeo, com cartazes, com palavras, não importa.
No segundo andar da galeria, há um outro trabalho de imagens “roubadas”: “Gráfica utópica imprime melancolicamente o pesadelo instaurado com a captura das nuvens”. A mãe de Speridião, Teresa, também artista (mas com um trabalho à margem do sistema da arte contemporânea) observou um dia caixas com documentos serem jogadas fora num estacionamento do Centro, onde muitos anos antes havia funcionado uma fundição. Alertado por ela, ele fuçou as caixas, onde encontrou dezenas de fichas, preenchidas a mão e com antigas fotos 3x4, dos funcionários que haviam passado pela empresa desde os anos 1930. Ele as recolheu, guardou-as por cerca de dez anos, e enfim resolveu usá-las, dispondo-as sobre uma dessas telas imensas de lona. Memória, labor, relações humanas saltam do trabalho, que só recebeu uma interferência do artista: o nome da obra, escrito em caneta hidrocor.
DE ALIENADO A REVOLTADO
Assim que começou a despontar no cenário, Speridião foi saudado como uma das promessas da arte contemporânea carioca. Aos 36 anos, o artista não desaponta. O estudante que decidiu cursar a Escola de Belas Artes da UFRJ “aos 45 do segundo tempo” — “porque não sobrou nada que eu quisesse fazer, depois de descartar Medicina e Biologia” — apaixonou-se pelo ofício. Quando, em 2007, finalizou o curso — ele é mestre em Linguagens Visuais — já descobrira o poder da palavra. Foi também na faculdade que saiu da condição de adolescente “bastante alienado” para a de jovem “revoltado”.
— Comecei a ter sentimentos de querer mudar o mundo — diz ele, que se define como anarco-trotskista e desde 2001 é filiado ao PSTU.
Speridião vai a manifestações, ajuda a editar jornais, é um militante à moda antiga. Gosta do trabalho de artista, que encara como um trabalho qualquer, com a ressalva de não ser alienado — “Você é responsável pela produção do início até o fim”.
Seu discurso contra o neoliberalismo não poupa o mercado de arte do qual ele, hoje, faz parte. É representado por galerias importantes, está em coleções de museus, expõe no exterior.
— A arte é uma mercadoria. Se tem valor, a burguesia adquire. Tudo, no fundo, é assimilado pelo capitalismo. Até mesmo a arte que fala de ocupação e greve, como a minha — diz.
Fonte: O Globo, “Gustavo Speridião, poético e político”, publicado por Nani Rubin, em 26 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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Gustavo Speridião abre, no Rio, a mostra 'Lona' | Estadão
Gustavo Speridião não isola seu trabalho artístico de seu engajamento político-partidário. “Não existe separação entre o eu-lírico e o ex-militante, seria como existir duas vezes. Não tenho chave de mudança”, explica o artista plástico carioca de 36 anos, entre duas colagens com cartazes de movimentos sociais brasileiros, latino-americanos e europeus, e uma obra em que se lê uma frase do capítulo Arte Revolucionária e Arte Socialista do livro Literatura e Revolução, do marxista russo Leon Trotski (1879-1940) – a qual, ele garante, sintetiza suas reflexões sobre o assunto.
Na exposição Lona, que Speridião abre neste sábado, 23, na Galeria Anita Schwartz, no Rio, estão 18 trabalhos inéditos, de grandes dimensões, em lonas de algodão afixadas diretamente nas paredes. Suas inquietações e críticas a questões relativas às relações de trabalho e aos antagonismos entre classes estão em pinturas e conjuntos de panfletos coletados pelo mundo, entre 2007 e 2014.
Quando expõe fora, coletiva ou individualmente – esteve na França, Bolívia, Inglaterra, no Japão –, olha também para o que está acontecendo a seu redor. Nessas andanças, recolheu material de divulgação de manifestos pró-Palestina, de trabalhadores da Grécia em crise e de protesto contra o assassinato de estudantes mexicanos e sobre a prisão de manifestantes anti-EUA durante a visita do presidente Barack Obama ao Rio, em 2011.
“Queria fazer um trabalho panfletário intencionalmente, que é visto pela academia de arte como algo ruim. Mostrar isso com o gesto pictórico. Até numa tela gráfica há uma carga política muito grande, porque para se chegar à arte abstrata houve muita luta política de vanguarda. Os artistas contemporâneos querem fugir disso, mas quero 32 mil anos de pintura”, considera, apontando as lonas pintadas de vermelho, branco e preto e aludindo à idade de achados pré-históricos em cavernas.
No segundo andar da galeria, está sua coleção de fichas cadastrais de funcionários de uma fundição já falida, abandonada numa rua degradada do centro do Rio, perto da casa em que morava com a mãe, artista, e o pai, médico. A parede exibe um mosaico de rostos e dados como nome, filiação, impressão digital, ocupação e salário. São registros de várias gerações de empregados, dos anos 1910 aos 1980. Ele guarda o material há dez anos. “Minha mãe achou no lugar onde ela guardava o carro e me falou: ‘Você vai adorar’. Gosto de lixo. Aqui, você vê a história de cada um. Quem constrói o mundo são os trabalhadores, não a burguesia”, acredita Speridião, que aderiu às manifestações de rua dos últimos anos. Chocou-se com o comportamento policial. “Foi um nível de violência tão intolerável que as pessoas desistiram de participar.”
Na mesma sala do segundo andar, o desabafo “Maldita burguesia!” grita em preto na lona branca. “Provavelmente, esse trabalho num espaço para a classe trabalhadora teria outro efeito. Aqui é de escárnio da burguesia, com ela própria rindo de seu caráter ridículo”, aponta o artista, que cursou belas-artes na UFRJ, trabalhou no Museu Nacional de Belas Artes e para a própria Anita Schwartz. “O melhor trabalho da vida”, no entanto, ele considera o que teve como “peão de obra”.
Artista em ascensão em sua geração, ele não vê contradição entre seu discurso e seu lugar na arte contemporânea. “Existem os que acreditam que a arte deve ser pública e outros que acham que é uma coqueluche diante da praia. Eu não sei para quem é o que eu faço, mas, como trabalhador, eu sei que, no capitalismo, todo mundo tem o seu patrão”, acrescenta Speridião, cuja mostra fica em cartaz até o dia 4 de junho.
Fonte: Estadão, "Gustavo Speridião abre, no Rio, a mostra 'Lona'”, publicado por Roberta Pennaforte, em 23 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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O artista Gustavo Speridião e seu atelier na Gamboa centro do Rio ou seria o centro do mundo | Ze Ronaldo
Alguns anos atrás eu fui a exposição do artista Gustavo Speridião, na galeria Mercedes Viegas. Foi um dia aleatório e fiquei sozinho na galeria e depois de um tempo a visão ficou incomodada com algo que naquele momento não consegui entender. Pedi um uber e fugi.
Tempo passou, covid 19 chegou e por fim no mês passado fui a abertura da nova exposição do artista “ O Inventário de Problemas” na galeria Cassia Bomeny, em Ipanema. Mais uma vez fiquei atônito com o preciosismo da sua estrutura e base que solidifica a sua pintura e ideias que cabem e percorrem suas telas.
Pensei, estou em Ipanema e porque essas pinturas quase todas em preto e branco com algumas palavras de ordem me emocionam. Percebi que o discurso, a proposta não estava ali. Ia além ia para outro lugar e ao mesmo tempo pertencia ali também. Então conheci o artista.
Conversamos e trocamos umas simpatias e mútua cordialidade. Gostei mais ainda do que vi e fez tudo um sentido equilibrado. Dei outra volta e como uma condensação de emoções me senti no mundo, no planeta como um todo. Não havia mais um espaço que não fosse global. A arte se conecta em tempo e espaço com questões estéticas e políticas, filosóficas com os todos os continentes.
Palavras, gestos e linhas. Um grafismo sofisticado quase uma música. Mas, que musica é essa? Jazz, samba, uma mistura de balalaika e tamborim.
Combinamos uma visita ao seu novo atelier/studio e essa semana rolou de eu ir até lá. Um galpão na Gamboa. Nada tão luso-carioquês. Carioca, Gustavo estava ouvindo David Bowie quando cheguei. Cerâmica industrial no chão e uma gigante parede de basculantes que deixa a luz natural tomar conta do ambiente de uma maneira arrebatadora. O céu azul, o vento domar. Trabalhos espalhados em uma forma ordenada. O pé direito eu não consegui calcular o tamanho.
– Aqui também entra uma nuvem.
Será que ouvi isso mesmo, eu pensei. E fiquei imaginando uma nuvem dentro daquele espaço se apropriando de cada centímetro. Uma nuvem branca de água condensada repleta de lembranças que viajou pelo mundo da Sibéria a Antártica, passando pelos povos das florestas e parou um tempo ali na Gamboa. Conversamos com a trilha de Bowie ao fundo. Andei pelo atelier explorando as pinturas. Era como se um mundo de ideias e imagens imprimisse em camadas até o resultado final da pintura com aquelas palavras que o artista tomou para si fosse o que bastasse. Viajei? Pode ser!
Nossa conversa foi de frases curtas e os assuntos foram trocando, saltando. Arte, política, nomes, estórias de civilizações e de familiares, quotes e viagens. Andarilho e dono de um carisma impar Gustavo Speridião é artista completo. Espero voltar sempre ao atelier e combinamos de lermos cada uma e com títulos diferentes as novelas de Ivan Turgueniev para assim entendermos melhor Nelson Rodrigues.
Fonte: Ze Ronaldo, “O artista Gustavo Speridião e seu atelier na Gamboa centro do Rio ou seria o centro do mundo”, publicado em 15 de maio de 2022. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
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O artista Gustavo Speridião abre sua individual “O inventário de problemas” na Cassia Bomeny Galeria | Ze Ronaldo
A primeira individual do artista carioca Gustavo Speridião na Cassia Bomeny Galeria aconteceu na última quinta – feira (17/03) . Batizada de “O inventário de problemas”, a mostra tem curadoria de Fernanda Lopes e reúne cerca de dez trabalhos inéditos. Todos incríveis que podem estar em qualquer lugar do planeta. Tal a universalidade da obra e da pesquisa.
“Meu trabalho é engajado, da maneira mais poética e subjetiva que posso. Panfletário e lúdico. Tenho muito orgulho dessa posição. Não defendo um capitalismo humanitário nem socialismo via eleitoral. Acredito que somente uma revolução pode tirar a humanidade desse abismo”, explica o artista.
“A exposição é um reencontro de Gustavo Speridião com sua cidade natal, depois de cinco anos de sua última mostra individual no Rio de Janeiro. A exposição toma emprestado o nome da série que na Galeria Cassia Bomeny vemos em 10 pinturas e alguns objetos inéditos. Iniciada entre 2017 e 2018, O Inventário de Problemas é um estudo quase compulsivo do artista sobre o plano da pintura como arena de debates pictóricos e também políticos. Em toda a sua produção, Speridião não nos deixa esquecer que toda a discussão sobre arte (sua definição, sua história e questões aparentemente estéticas) é também uma discussão política”, explica a curadora.
Fonte: Ze Ronaldo, “O artista Gustavo Speridião abre sua individual “O inventário de problemas” na Cassia Bomeny Galeria”, publicado em 21 de março de 2022.
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Artista brasileiro Gustavo Speridião expõe instalação militante em Paris | RFI
O artista plástico carioca Gustavo Speridião expõe uma instalação militante em Paris. Em entrevista à RFI, ele conta como mistura arte e política e analisa a posição dos artistas no Brasil no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro.
Speridião ocupa um andar inteiro na galeria Filles du Calvaire, em Paris, com paineis, faixas e pinturas. A exposição "Chroniques du Trouble" (Crônicas da Desordem, em tradução livre) traz mensagens de ordem para a mobilização. Frases como "Não temer o mundo! Mudá-lo", podem ser lidas em uma das paredes.
"Meu objetivo com a produção era mostrar um pouco de poética política. São trabalhos panfletários mesmo, que falam sobre os problemas atuais, o caos e a desordem que a gente anda vivendo, principalmente no Brasil, com um governo de extrema direita", explica.
Seu trabalho, e não só nesta exposição, é politicamente engajado. De que maneira o momento atual da política brasileira te inspirou?
Na entrada da exposição, tem uma faixa que também é uma tela em que está pintado “Maldita burguesia”. Na frente tem um filme passando em uma tela, encostada em uma vitrine. O filme chama “Movimento” e [mostra] dez anos de manifestações que eu andei gravando em vários lugares do mundo. É uma questão bem direta que quase não passa pela poética, mas passa pela tinta. É identificar o inimigo e os meios clássicos de lutar contra ele: o povo na rua mesmo, paralisando e fazendo greve.
A pintura vai neste caminho de ser uma pintura deste momento cru da luta de classes, e, ao mesmo tempo, identificar a poética deste momento.
A exposição tem painéis, colagens e pinturas. Em um destes painéis é possível ler a frase “Nunca uma classe dominante abdicou voluntária e pacificamente do poder”. Você acha que dá para misturar política e poesia?
Acho que dá. O embate que a gente tem, e que é um conceito pronto, diz que a arte verdadeira não fala de política, e a poética verdadeira não aborda as questões políticas de maneira direta. Eu acho que temos que inverter isso e colocar slogans de luta de classes, como uma frase de León Trotsky que está em um cartaz de metrô da exposição do Da Vinci no [Museu do] Louvre, que eu peguei para passar essa mensagem de 500 anos. Ou seja, há muito tempo a luta de classes está aí e não é pela via pacífica que a gente vai conseguir nenhuma conquista.
Escrever um panfleto e determinar, como se faz no modernismo há mais de cem anos, que aquele panfleto pintado é uma pintura, é uma poesia, é um mecanismo muito interessante que a arte tem. A poética mora exatamente aí.
Como foi ser artista no Brasil em 2019?
Acho que foi a pior coisa que alguém que trabalha com arte poderia ter vivenciado nas últimas décadas. Só não se compara com a ditadura civil-militar.
O que começou com um ataque de verba, fechamento de Ministério [da Cultura], termina o ano com um atentado de coquetel molotov à sede de um grupo humorista [Porta dos Fundos].
O governo, mais do que outras categorias, está atacando os artistas e a arte, porque ela é muito importante para a libertação, para a emancipação da mente humana da escravização do capitalismo. Eles atacam diretamente a produção cultural como primeiro meio de tentar iniciar um projeto de dominação e de ditadura.
Foi um ano muito duro e a nossa resposta vai ter que ser à altura do que a gente sofreu de ataque em 2019. A gente vai ter que se organizar em diversas frentes de ataque a esse governo. Esse governo é o que teve de pior na história brasileira de destruição da cultura.
Quais são os projetos para 2020 ?
Vou fazer uma exposição em uma galeria chamada Mendes Wood. O nome da exposição é “Construção”, o curador é Renato Silva, que tem uma pegada bem política. É uma exposição coletiva ao lado de grandes artistas.
Mas o nosso projeto principal é lutar contra esse governo de todas as formas possíveis, através de poesia, de manifestação, de greve.
Fonte: RFI, “Artista brasileiro Gustavo Speridião expõe instalação militante em Paris”, publicado em 2 de janeiro de 2020. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.
Crédito fotográfico: Coleção Calmon Stock. Consultado pela última vez em 28 de maio de 2025.