Jean-Baptiste Debret ou De Bret (Ile de France, Paris, França, 8 de abril de 1768 — idem, 28 de junho de 1848), foi um pintor, desenhista e professor francês, integrante da Missão Artística Francesa no Brasil que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios e a Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou.
Biografia Itaú Cultural
Freqüenta a Academia de Belas Artes, em Paris, entre 1785 e 1789, aluno de Jacques-Louis David (1748 - 1825), seu primo e líder do neoclassicismo francês. Estuda fortificações na École de Ponts et Chaussée [Escola de Pontes e Rodovias, futura Escola Politécnica], onde se torna professor de desenho. Em 1798, auxilia os arquitetos Percier e Fontaine na decoração de edifícios. Por volta de 1806, trabalha como pintor na corte de Napoleão (1769 - 1821). Após a queda do imperador e com a morte de seu único filho, Debret decide integrar a Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816. Instala-se no Rio de Janeiro e, a partir de 1817, ministra aulas de pintura em seu ateliê, onde tem como aluno Simplício de Sá (1785 - 1839). Em 1818, colabora na decoração pública para a aclamação de D. João VI (1767 - 1826), no Rio de Janeiro. Por volta de 1825, realiza águas-fortes, que estão na Seção de Estampas da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. De 1826 a 1831, é professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, atividade que alterna com viagens para várias cidades do país, quando retrata tipos humanos, costumes e paisagens locais. Na Aiba tem como alunos Porto Alegre (1806 - 1879) e August Müller (1815 - ca.1883). Em 1829, organiza a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, primeira mostra pública de arte no Brasil. Deixa o país em 1831 e retorna a Paris com o discípulo Porto Alegre. Entre 1834 e 1839, edita, o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, em três volumes, ilustrado com litogravuras que têm como base as aquarelas realizadas com seus estudos e observações.
Análise
Jean Baptiste Debret estuda na Academia de Belas Artes, de Paris, entre 1785 e 1789. Aluno do pintor francês Jacques-Louis David (1748 - 1825), forma-se, portanto, dentro dos ideais neoclássicos. Pintor de história, trabalha com arquitetos conceituados na ornamentação de edifícios públicos e particulares. Em torno de 1806 é pintor na corte de Napoleão.
Integra a Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816, cujo primeiro objetivo é promover o ensino artístico no país. Em seu ateliê leciona pintura e tem como alunos, entre outros, Porto Alegre (1806 - 1879), August Müller (1815 - ca.1883) e Simplício de Sá (1785 - 1839). Realiza em 1818, com o arquiteto Grandjean de Montigny (1776 - 1850) a ornamentação das ruas da cidade do Rio de Janeiro, para a aclamação de D. João VI (1767 - 1826). Na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, a partir de 1826, ensina pintura histórica. Paralelamente, visita várias cidades do país, representando suas paisagens e costumes. Organiza, em 1829, a Exposição da Classe de Pintura de História da Academia, importante por ser a primeira mostra pública de arte no Brasil, dando origem às Exposições Gerais, com prêmios oficiais.
Trabalha como pintor da corte, representa acontecimentos ilustres e cenas oficiais; revela-se um desenhista atento às questões sociais brasileiras. Identifica-se com seu papel de ilustrador e documentarista dos acontecimentos contemporâneos. A maioria de suas telas parece ser destinada à gravura; Debret e a corte têm consciência da importância da circulação das gravuras para a divulgação da imagem do Estado. Segundo o historiador Luciano Migliaccio, por esse motivo a pintura de Debret é, em parte, descrição atenta do cerimonial da corte, em formato modesto e apropriado para fácil compreensão, como ocorre, por exemplo, com os quadros Aclamação de Dom João VI (ca.1822) e Chegada da Imperatriz Leopoldina (1818). No quadro Coroação de Dom Pedro I (1822), que tem por modelo a pintura de David, o artista confere à obra um caráter cívico e preocupa-se com a necessidade de criação de um imaginário político.
Debret retorna à França em 1831. Parte das aquarelas feitas no Brasil, litografadas, ilustra a obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, publicada entre 1834 e 1839. O livro, em três volumes, trata das florestas e dos selvagens, das atividades agrárias, do trabalho escravo e também dos acontecimentos políticos e culturais. Destaca-se a preocupação documental do artista, que representa cenas típicas de atividades e costumes do Rio de Janeiro, procurando traçar um painel social da cidade. Apresenta muitos aspectos relacionados ao trabalho escravo, ora acentuando o lado mais expansivo das relações sociais, ora expondo serviços extenuantes, como os de carregadores e trabalhadores das moendas. Mostra o trabalho dos negros de ganho que percorrem as ruas da cidade, prestando vários tipos de serviços.
O historiador Rodrigo Naves aponta a dificuldade do artista em transpor as idéias neoclássicas para o Brasil, por fatores como o caráter da monarquia instaurada e a questão da escravidão no país. Para o autor, os desenhos realizados para a Viagem Pitoresca revelam o esforço do artista para lidar com o dilema criado pelo conflito entre sua formação neoclássica e a realidade brasileira.
Nas aquarelas, feitas com agilidade, o artista parece sentir-se mais à vontade e revela seu domínio técnico: elas apresentam um colorido espontâneo, leve e harmonioso. Segundo Rodrigo Naves, em algumas aquarelas, a forma de representação dos trabalhadores faz com que seus corpos tenham um aspecto vulnerável. Também nas vestimentas ocorre forte ambiguidade: sobrepostas, soltas, meio esgarçadas e rudes, as roupas dos negros não mantêm vínculos com a tradição dos panejamentos. Na representação dos personagens de Debret, os tecidos transmitem aos corpos sua falta de consistência.
Nas gravuras, as situações dúbias da sociedade revelam-se pela aproximação entre as figuras e seu ambiente, os contornos são pouco marcados, um meio cinzento aproxima corpos e espaço, como ocorre em Lavadeiras a Beira-Rio (Viagem Pitoresca). Nas litografias, a sutileza do cinza cria uma espécie de liga que unifica as cenas. Nas ilustrações da Viagem Pitoresca, por meio da fragilidade das formas e da pressão que os personagens sofrem do espaço, o artista expressa a ambiguidade da sociedade brasileira. Após o retorno a Paris, o artista retoma o contato com companheiros neoclássicos, volta ao linearismo, às formas incisivas e à gestualidade acentuada.
Críticas
"Num casarão do Catumbi pousou seu cavalete e preparou tintas e pincéis para uma produtividade que não cessou enquanto permaneceu no Brasil, fosse como pintor, fosse como desenhista de aguda sensibilidade e observação que se revelou. Se como pintor deixou-se levar pelos faustos da Corte, enaltecendo seus acontecimentos, inclusive nos retratos de personagens identificadas pelos uniformes hierárquicos, como desenhista foi muito mais inspirado, sabendo ou podendo ver a vida longe do pedantismo dos ambientes oficiais. (...) Bem diferenciadas se mostraram em Debret as facetas do pintor e do desenhista. Se o pintor não conseguiu transpor os limites estreitos que os rigores da corte impunham, estimulando uma arte morna e insípida, calcada no mais esterilizante academismo, o desenhista foi brilhante e demonstrou-se observador arguto e inteligente, capaz de ver com olhos e julgar com uma consciência que devem ter parecido inconvenientes ao preconceituoso comportamento oficial".
Quirino Campofiorito (Os artistas da missão francesa. In: ___. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. p. 56-57.)
"A arte oficial de um Debret - parente de Jacques-Louis David (1748-1825), a quem teria acompanhado a Roma quando o grande artista pintara o quadro Juramento dos Horácios - tem o aspecto solene e um cromatismo às vezes forte, usando vermelhos, de um neoclassicismo peculiar a grupo de artistas da França napoleônica e também à retratística inglesa, no primeiro dos quais Gros (1771-1835) se havia tanto destacado. Os quadros de batalhas europeus feitos por Debret e conservados no Museu de Versalhes são todavia de fraca expressão pictórica. A Coroação, em cores mais claras, apresenta as figuras um pouco endurecidas. É nas aquarelas brasileiras de fixação de um mundo popular, etnográfico e exótico, que Debret revela a fase melhor de sua pintura, liberada do oficialismo e propensa a se exercer livremente em uma das vertentes do pré-romantismo e do romantismo: a de busca do exótico. Equilibrou então as cores claras e diluídas com um desenho solto e espontâneo, penetrando inteligentemente em certos valores do cotidiano, do antropológico e da natureza, mesmo quando tratados descritivamente, em superfície. É essa posição das contradições de Debret pintor que o coloca simbolicamente na abertura do pleno século XIX brasileiro".
Mário Barata (Século XIX transição e início do século XX. In: ZANINI, Walter (Org. ). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983. v. 1, p. 386.)
"A obra pictórica e gráfica de Debret, muito embora de primordial importância para a iconografia do Brasil colonial e imperial, não suscita maior interesse no domínio propriamente estilístico. As aproximadamente 150 pranchas dos três volumes do Voyage (1834-1839), bem como os não raros óleos que nos foram conservados do pintor, mostram uma arte desprovida de toda introspecção, uma curiosidade dispersiva pelo outro, que raramente escapa ao registro friíssimo da crônica. Da mesma maneira o receituário paisagístico do pintor acadêmico, a cascata prateada, os jogos de luz sobre as rochas de formatos convencionalmente pitorescos, o 'frescor' estudado do verde, etc. fazem pensar em reminiscências da arte, por exemplo, de um Jean Pillement (1728-1808) ou de um Jean-Baptiste Lallemand (1710-1803), já desaparecidas entretanto a graça, a cumplicidade entre cultura e natureza, a leveza que fazem todo o charme dos petits maîtres do século XVIII francês".
Pietro Maria Bardi (JEAN-Baptiste Debret. In: O BRASIL pintado por mestres nacionais e estrangeiros: séculos XVII-XX. São Paulo: MASP, 1987. p. 8.)
"Debret procura um ponto de vista impessoal, preceito de pintura histórica, na qual se havia formado com Jacques-Louis David. Relaciona-se com os temas que registra, colocando-se como narrador diante da realidade dos fatos. A presença in loco passa sempre um atestado de verdade. Não é por outra razão que Debret refere-se às suas próprias notas e desenhos como 'documentos históricos e cosmográficos'. A viagem pitoresca de Debret é proposta a partir do ponto de vista da Missão Artística Francesa no Brasil, tomada como correspondente da Academia de Belas Artes do Instituto da França. Traduz, portanto, um projeto civilizador de extensão cultural.
(...) A atenção de Debret não se dirige para a construção da idéia de natureza, nem para o reconhecimento das riquezas naturais, nem de uma humanidade em estado natural. Debret trata de centrar a atenção no estado geral da sociedade, buscando apreendê-la com base no entendimento da transformação da natureza em cultura, do natural em civilizado. A concepção procede da ilustração francesa, acrescida do interesse pelas particularidades dos povos".
Ana Maria de Moraes Belluzzo (A viagem pitoresca de Debret. In: _______. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994. v. 3, p. 82-83. Vol. 3: A construção da paisagem.)
"Jean-Baptiste Debret foi o primeiro pintor estrangeiro a se dar conta do que havia de postiço e enganoso em simplesmente aplicar um sistema formal preestabelecido - o neoclassicismo, por exemplo - à representação da realidade brasileira.
(...) Não resta dúvida de que Debret teve uma preocupação documental acentuada. Poucos aspectos da cidade do Rio de Janeiro fugiram à sua observação, sem falar de um bom número de desenhos relativos ao sul do Brasil e as cenas indígenas e paisagens, mais ou menos verídicas. O cotidiano de escravos e homens livres, de brancos pobres e aristocratas, as festas reais, pontos geográficos, monumentos, frutos, plantas e animais receberam dele uma atenção detida. No entanto, uma parcela significativa de seus desenhos - principalmente os que envolvem as atividades dos negros de ganho no Rio de Janeiro - tem, por assim dizer, uma dimensão a mais, que confere uma nova realidade às cenas e objetos representados. Nessas aquarelas Debret incorpora uma dinâmica social típica do Rio de Janeiro, e apenas um ponto de vista que vá além do aspecto puramente documental poderá revelar o quanto essa mudança formal do seu trabalho proporcionará não somente ganhos artísticos, como também uma melhor compreensão da vida da colônia".
Rodrigo Naves (Debret , o neoclassicismo e a escravidão. In: _______. A forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Ática, 1996. p. 44-45.)
"Qualificado para a função de cenógrafo da Corte por ser discípulo de David, grande organizador de cerimônias públicas, e por ter colaborado com Percier e Fontaine, Debret foi solicitado a documentar os primeiros acontecimentos da história do novo Estado. No Brasil, o pintor francês identificou-se totalmente com seu papel de ilustrador e documentarista dos acontecimentos contemporâneos. Desde sua chegada, ao que parece, começou a descrever com o lápis a realidade natural, social e etnográfica do país.
Como pintor histórico, retratou eventos contemporâneos, mas só depois da Independência fez uma tentativa de pintura monumental, ao passo que a maioria de suas telas, e mesmo os retratos que permaneceram, parece destinada à gravura. Tanto Debret quanto a Corte tinham consciência da importância da circulação das gravuras para a divulgação da imagem do novo Estado.
Por isso, a pintura do francês à época do pragmático D. João VI foi, em grande parte, descrição atenta e minuciosa do cerimonial e dos acontecimentos da Corte, em formato modesto e apropriado a uma fácil compreensão.
Basta pensar em Aclamação de D. João VI, Chegada da Grã-Duquesa Leopoldina ou Partida das Tropas para o Uruguay, que são também crônicas da vida da Corte. Após a Independência, Debret saberá igualmente se transformar no pintor comemorativo oficial do novo Estado, elaborando-lhe a iconografia e determinando o caráter da pintura histórica brasileira".
Luciano Migliaccio (O século XIX. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 51-52.)
Acervos
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC - Rio de Janeiro RJ
Exposições Coletivas
1798 - Paris (França) - Salão de Paris - 2º prêmio
1806 - Paris (França) - Salão, no Instituto da França - menção honrosa
1808 - Paris (França) - Salão de Paris, no Instituto da França
1814 - Paris (França) - Salão de Paris
1829 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, na Aiba
1830 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, na Aiba
Exposições Póstumas
1859 - Rio de Janeiro RJ - 13ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1860 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1981 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Carnaval: imagens e reflexões, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Recife PE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, na Fundação Joaquim Nabuco. Administração Central
1984 - Aracaju SE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Brasília DF - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Lisboa (Portugal) - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, no Museu Gulbenkian da Fundação Calouste Gulbenkian
1984 - Salvador BA - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - São Paulo SP - J. B. Debret: aquarelas, no Museu da Casa Brasileira
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1984 - Vitória ES - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1986 - Curitiba PR - Tradição/Contradição, no MAC/PR
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII - XX, no Masp
1989 - Estocolmo (Suécia) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, no Moderna Museet
1989 - Londres (Inglaterra) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, na Hayward Gallery
1989 - Paris (França) - La Révolution Française et l´Europe, no Grand Palais
1990 - Curitiba PR - 9ª A Litografia no Paraná, no Museu Guido Viaro
1990 - Madri (Espanha) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, no Palacio de Velázquez
1990 - Rio de Janeiro RJ - Missão Artística Francesa e Pintores Viajantes: França-Brasil no século XIX, na Fundação Casa França-Brasil
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1992 - Zurique (Suíça) - Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, no Kunsthaus Zürich
1994 - Lisboa (Portugal) - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no Museu Rafael Bordalo Pinheiro
1994 - Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no CCBB 1994 - São Paulo SP - Debret: aquarelas do Brasil, na Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - Debret: aquarelas do Brasil , na Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp
1995 - Lisboa (Portugal) - O Brasil dos Viajantes, no Centro Cultural de Belém
1996 - Londres (Inglaterra) - Brazil Through European Eyes, na Christie's
1998 - Brasília DF - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Ministério das Relações Exteriores
1998 - São Paulo SP - Iconografia Paulistana em Coleções Particulares, no Museu da Casa Brasileira
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
1999 - São Paulo SP - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no MAB/Faap. Salão Cultural
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs
2000 - Rio de Janeiro RJ - Viagens Tropicais, no Instituto Moreira Salles
2000 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio na Coleção Geyer, no CCBB
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Brasil Sobre Papel: matizes e vivências, no Espaço de Artes Unicid
2000 - São Paulo SP - Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real
2000 - São Paulo SP - Rio de Janeiro 1825-1826 e Outros Destaques do Highcliffe Álbum, no Instituto Moreira Salles
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2003 - São Paulo SP - Vistas do Brasil: Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2004 - Rio de Janeiro RJ - Missão Artística Francesa e as origens da coleção do Museu Nacional de Belas Artes, no MNBA
Fonte: JEAN-BAPTISTE Debret. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 10 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Integrou a Missão Artística Francesa (1817), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou.
De volta à França (1831) publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839), documentando aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira no início do século XIX.
Uma de suas obras serviu como base para definir as cores e formas geométricas da atual bandeira do Brasil, adotada em 19 de novembro de 1889. Exímio artista, demonstrou em suas telas não somente o cotidiano do Brasil da época que englobava tanto a aristocracia, da população em geral e a vida dos escravos, como também acontecimentos históricos do período anterior à independência do país e nos anos seguintes. A primeira bandeira da história do Brasil independente é uma de suas obras mais importantes.
Juventude e início de carreira
Filho de Jacques Debret, funcionário do parlamento francês e estudioso de História Natural e Arte, e irmão de François Debret (nascido em 1777), arquiteto, membro do Institut de France. Era parente (primo) de Jacques-Louis David (1748-1825), líder da escola neoclássica francesa. Estudou no Lycée Louis-le-Grand. Foi aluno da Escola de Belas Artes de Paris, na classe de Jacques-Louis David. Também chegaria, como seu irmão François, ao Institut de France. Obteve em 1791 o segundo prêmio de Roma, com a tela Régulus voltando a Cartago.
A Revolução Francesa necessitava de engenheiros que entendessem de fortificações; foram, então, selecionados alguns dos alunos mais brilhantes para o curso de Engenharia. Debret foi um dos escolhidos, tendo estudado engenharia por cinco anos, seguindo a tradição da família, na École Nationale des Ponts et Chaussées.
Depois de formado, em janeiro de 1795 foi contratado como desenhista de 3 classes na École centrale des Travaux Publics (futura École Polytechnique) que apenas começava suas atividades Em dezembro do mesmo ano passa a professor de desenho. Em abril de 1796, sua vaga foi extinta e ele deixa a École Polytechnique.
Apesar da carreira de engenheiro, Debret voltaria à pintura. Expôs no salon de 1798 um quadro com figuras de tamanho natural – Le général méssénien Aristomène delivré par une jeune fille, com o qual ganhou um segundo prêmio. Expõe em 1804, no salon, o quadro O médico Erasístrato descobrindo a causa da moléstia do jovem Antíoco.
Em 1805 muda a temática de suas pinturas, expondo Napoleão presta homenagem à coragem infeliz, que recebeu menção honrosa do Instituto de França. Debret finalmente encontrara-se com o que seria o tema principal de suas obras enquanto na França: Napoleão. Expôs no salon em 1808 o quadro Napoleão em Tilsitt condecorando com a Legião de Honra um soldado russo. Em 1810, um novo “tributo” à Napoleão fora criado – Napoleão falando às tropas; seguido por A primeira distribuição de cruzes da Legião de Honra na Igreja dos Inválidos, de 1812. Não por acaso, Napoleão era um verdadeiro mecenas para artistas como Debret e David, apoiando – inclusive financiando – a disseminação da arte neoclássica.
A Missão Artística
A derrota de Napoleão, em 1815, foi um golpe duro aos artistas neoclássicos, que perderam o principal pilar que sustentava – financeira e ideologicamente - a arte neoclássica. Isto, somado com a perda do filho único, de apenas dezenove anos, abalara muito Debret. No mesmo período, ele e o arquiteto Grandjean de Montigny foram convidados à participar de uma missão de artistas franceses que rumava para a Rússia a pedido do Czar Alexandre I da Rússia. Mas, paralelamente, se aprontava em Paris a missão ao Brasil, chefiada por Joachim Lebreton, por solicitação de Dom João VI. Debret - assim como Grandjean de Montigny - escolheu o Brasil. Embarcou em Le Havre a 22 de janeiro de 1816. Calpe, o veleiro norte-americano que trazia a missão, aportou em território brasileiro em 26 de março de 1816. A missão foi planejada por António de Araújo e Azevedo, o conde da Barca, que escrevera ao Marquês de Marialva, embaixador de Portugal em Paris, pedindo-lhe que cuidasse da vinda de uma missão artística, missão que, entre outros objetivos, idealizaria e organizaria a criação de uma Academia de Belas Artes.
Sua chegada, em 1816, ao Brasil coincide com a morte da então rainha de Portugal, D. Maria I, Debret é então incumbido de retratar o funeral da Rainha e a aclamação do novo monarca da Corte, o que lhe dá rápida penetração na corte. Instalou-se no Rio de Janeiro e, a partir de 1817 passa a ministrar aulas de pintura em seu ateliê, onde tem como aluno Simplício de Sá. Em 1818, colabora na decoração pública para a aclamação de D. João VI. Por volta de 1825, pinta águas-fortes, hoje confiadas à Seção de Estampas da Biblioteca Nacional.
De 1826 a 1831, é professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes alternadamente com viagens por várias cidades do país, onde retrata tipos humanos, costumes e paisagens locais. Versátil, desenhou desde uniformes e trajes de gala da corte, até iluminuras de diplomas, insígnias e cenografia de teatro. Teve como alunos Manuel de Araújo Porto-Alegre e Augusto Müller.
Em 1828, Debret passou a dirigir a Academia e em 1829, organiza a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, primeira mostra pública de arte no Brasil, com as pinturas de seus alunos. Em 1830, foi escolhido membro correspondente da Academia das Belas Artes do Instituto de França.
Deixa o Brasil em 1831, alegando problemas de saúde, e retorna a Paris com o discípulo Porto Alegre.
Viagem pitoresca e histórica ao Brasil
Em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Debret revela sua profunda relação pessoal e emocional com o país, adquirida nos 15 anos em que ali viveu.
Apesar de ter alegado motivos de saúde para retornar à França, há outras duas hipóteses para sua volta: deveria talvez querer o retorno para se reencontrar com familiares, além de organizar o primeiro volume de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Outra hipótese sugere que, como em 1831 tinha 63 anos, sua obra seria uma espécie de "trabalho para aposentadoria", visto que uma tal produção (almanaques de viajantes - livros com textos acompanhando imagens) fazia bastante sucesso no início do século XIX - quando Debret partiu para o Brasil - e poderia render uma boa aposentadoria (o que de qualquer forma não foi o que acabou acontecendo: quando da volta à França, esse tipo de publicação já não fazia o mesmo sucesso e a obra causou pouco impacto na França).
Debret tenta mostrar aos leitores - em especial europeus - um panorama que extrapolasse a simples visão de um país exótico e interessante apenas do ponto de vista da história natural. Mais do que isso, tentou criar uma obra histórica; mostrar com detalhes e minuciosos cuidados a formação - especialmente no sentido cultural - do povo e da nação brasileira; procurou resgatar particularidades do país e do povo, na tentativa de representar e preservar o passado do povo, não se limitando apenas a questões políticas, mas também a religião, cultura e costumes dos homens no Brasil.
Por estas razões, a obra de Debret é considerada grande contribuição para o Brasil, e é frequentemente analisada por historiadores como uma representação (um tanto quanto realista, apesar de não ser perfeita) do cotidiano e sociedade do Brasil – em especial, da vida no Rio de Janeiro – de meados do século XIX.
Publicada em Paris, entre 1834 e 1839, sob o título Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, ou séjour d´un artiste française au Brésil, depuis 1816 jusqu´en en 1831 inclusivement, a obra é composta de 153 pranchas, acompanhadas de textos que elucidam cada retrato.
Tal estilo de obra (textos descritivos acompanhando as imagens) não era muito comum entre os artistas que vinham ao Brasil para retratar o país, o que aumenta ainda mais o destaque e importância de Debret: a obra não é considerada tão importante apenas por aspectos artísticos, mas justamente pela combinação de interesse em retratar o cotidiano, com a presença de textos descrevendo as litografias. Preocupando-se com o sentido dos textos, Debret os compara com as ilustrações contidas em seus trabalhos, e é por isso que o aspecto historiográfico é colocado em primeiro plano em relação ao aspecto propriamente artístico.
O próprio título da obra de Debret apresenta este certo compromisso que ele tentou adquirir nas representações e descrições do Brasil. O uso da palavra “pitoresca” no título Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil denota uma certa precisão, habilidade e talento; características que buscou em suas representações. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil pode ser considerada uma obra em estilo europeu, feita para europeus, visto que o estilo de livro (almanaque) fazia um certo sucesso na Europa na época.
O livro é dividido em 3 tomos: no primeiro, de 1834, estão representados índios, aspectos da mata brasileira e da vegetação nativa em geral. O segundo tomo, de 1835, concentra-se na representação dos escravos negros, no pequeno trabalho urbano, nos trabalhadores e nas práticas agrícolas da época. Já o tomo terceiro, de 1839, trata de cenas do cotidiano, das manifestações culturais, como as festas e as tradições populares.
Neoclassicismo, Romantismo e a obra de Debret
Apesar de ser um artista de formação neoclássica – seu tutor foi o mestre do neoclassicismo, Jacques-Louis David – Debret (ao menos ao se analisar sua produção em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil), em alguns aspectos, pode ser considerado um artista de transição entre o neoclassicismo e o romantismo.
As representações dos índios – totalmente idealizados; fortes, com traços bem definidos e em cenas heróicas – são aspectos claros do neoclassicismo. Contudo, ao se analisar os textos que acompanham as imagens, são notados aspectos não neoclássicos, mas românticos. O romantismo tem como características a oposição ao racionalismo e ao rigor neoclássico. Caracteriza-se por defender a liberdade de criação e privilegiar a emoção. As obras românticas valorizam o individualismo, o sofrimento amoroso, a religiosidade cristã, a natureza, os temas nacionais e o passado. Além disso, uma característica essencial do romantismo – que o diferencia do neoclassicismo -, característica esta, notada nos textos de Debret, é a relação que o artista estabelece com as cenas que representa: o neoclássico é apenas um espelho do que observa, tentando fazer uma representação exata, daquilo que vê. Já o romântico, tenta "jogar uma luz" no que observa – o romântico faz uma interpretação daquilo que observa, e é justamente isto que Debret faz nos textos que acompanham as aquarelas: interpretações. Nas aquarelas, Debret era o “espelho” do que observava: este é o Debret com princípios neoclássicos. Nos textos, ele jogava uma luz e interpretava o que via: este é o Debret com princípios românticos.
Suas aquarelas pitorescas possuem o caráter típico das representações feitas por viajantes em busca de paisagens e de exotismo, mas sua arte oficial conserva o caráter solene do neoclassicismo próprio do grupo de artistas da França napoleônica.
Diz um crítico de arte francês: "L’importance majeure de l’oeuvre de Debret, outre la valeur d’un enseignement qui allait bientôt porter ses fruits, résida paradoxalement dans sa capacité d’enregistrer cela même qui était sur le point de disparaître. Ce qui n’a pas empêché le peintre d’histoire de mettre en scène deux couronnements et de représenter dans ses aquarelles la première cour d’une dynastie américaine."
Ou seja: "A maior importância de sua obra, além do valor de um ensino que logo daria frutos, residiu paradoxalmente em sua capacidade de registrar o que estava prestes a desaparecer. O que não impediu o pintor de História de pôr em cena duas coroações e de representar em suas aquarelas a primeira corte de uma dinastia americana."
Autor da primeira bandeira do Brasil
Pouco é conhecido ou divulgado, mas Debret também foi o responsável pelos esboços daquela que seria a primeira bandeira do Brasil independente, com a colaboração de José Bonifácio. Os primeiros desenhos foram sendo já testados em 1821, na mesma época em que as tensões entre Portugal e Brasil pela volta da corte para a metrópole portuguesa estavam acirradas, e caso ocorressem, o Brasil seria rebaixado ao status de Vice-Reinado. A bandeira do Império do Brasil era de certa forma semelhante à atual, com as seguintes diferenças:
A atual abóbada azul sob o losango amarelo com estrelas e faixa com a escrita de "ordem e progresso" dava lugar a um escudo inglês verde, e em seu interior uma faixa circular azul com estrelas que representavam as províncias, a cruz da ordem de cristo e a esfera armilar sobre a cruz. Acima do escudo inglês pairava a coroa imperial, símbolo do regime nacional, e circundando o escudo havia dois ramos dispostos como louro, de café frutificado e tabaco florido, símbolos das riquezas do país.
O tamanho do losango amarelo d'ouro era significativamente maior, e suas pontas faziam fronteira com as bordas do plano verde da bandeira.
Diferente das atuais crenças, a bandeira com suas cores e desenhos tinham significados próprios e históricos, sendo posteriormente ofuscados pela república. Estes são:
O verde representa a Casa de Bragança, família de Dom Pedro I;
O amarelo é referência à Casa de Habsburgo, família de Dona Leopoldina.
Debret, Diderot e o Iluminismo
Na obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, pode ser observada uma forte influência do iluminismo francês, principalmente da Enciclopédia de Denis Diderot, pois Debret não se prende apenas à representação de batalhas, cenas importantes e feitos grandiosos do país. Debret, como já dito anteriormente, representa cenas e características do cotidiano e da sociedade brasileira, como casas, ocas de índios, rostos de pessoas (para tentar mostrar as características do povo brasileiro). Ele procura representar o caráter do povo; seus costumes, festas populares (e da corte), relações de trabalho e utensílios e ferramentas utilizadas pelo povo.[1] Essa proposta de certa forma enciclopédica, de conseguir acumular em livros o máximo de informação e conhecimento acerca de determinado assunto, faz parte dos ideais de diversos iluministas da França do final do século XVIII e início do século XIX – entre eles, o caso mais famoso talvez seja o de Diderot e sua Enciclopédia (l'Encyclopédie, no original), obra que com certeza inspirou Debret acerca de suas representações do Brasil em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.
Acusações de plágio
No tomo I de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, dentre as inúmeras representações de indígenas, algumas chamam a atenção: eles são representados com pintura corporais muito semelhantes às de uma imagem de índios de uma tribo de índios norte-americanos, presente em uma publicação sob o título de Voyages and travels en various parts of the world: during the years 1803, 1804, 1805, 1806, and 1807, feita décadas antes de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, pelo naturalista da antiga Prússia, Georg Heinrich von Langsdorff.
A semelhança da pintura de Debret, intitulada Dança de Selvagens da Missão de São José, com a de Langsdorff, intitulada Uma Dança Indígena na Missão de São José em Nova Califórnia é tal que chega a levantar a dúvida entre alguns historiadores: Debret realmente viajou pelo Brasil, como é comumente afirmado, ou teria permanecido apenas nas imediações da cidade de Rio de Janeiro? alguns pesquisadores afirmam que tal hipótese seria verdadeira, e as representações de índios feitas por Debret – como supostamente a citada neste caso comparado com Langsdorff – seriam cópias de representações de outros europeus que participaram de expedições naturalistas. Para reforçar ainda mais esta hipótese, deve-se levar em consideração que muitos utensílios e ferramentas representadas por Debret, já se encontravam em museus de História Natural da época; locais que ele poderia ter visitado sem problema algum.
Apreciação
Segundo comenta a «Brasiliana da Biblioteca Nacional», página 87, sua obra não possui o sentido tipológico ou científico de Rugendas. Enquanto este se preocupa com a descrição dos tipos de escravos, identificando sua tribo de origem pela tatuagem, corte de cabelo, uso de jóias ou fisionomia, Debret gosta de mostrar os negros em situações particulares. É o caso em que representa um negro feiticeiro (1828): trajando uniforme militar, de casaca, laço no pescoço, chapéu e peruca, sabre, meias e sapatos, esse negro traça com o bastão que segura um círculo no chão. Mas o que chama a atenção nesse pequeno estudo´(...) é «a junção, a um só tempo estranha e natural, dessas situações, impedindo que este fosse apenas mais um dado no processo de classificação de pessoas e costumes brasileiros oitocentistas.»
Encontro em Paris
Diz um livro francês: "Après son abdication, D. Pedro 1er et Debret se rencontrèrent par hasard au coin d’une rue de Paris. L’ancien empereur et son peintre d’histoire, le protagoniste et le metteur en scène de l’Empire du Brésil, y auraient fait échange de politesses. Le premier aurait civilement offert sa maison de Paris à l’artiste qu’il avait naguère décoré de l’Ordre du Christ en le traitant d’homme vertueux"
O que se traduz - "Depois da abdicação, D. Pedro I e Debret se encontaram por acaso numa esquina em Paris. O antigo imperador e seu pintor de História, o protagonista e o ´decorador´ do Império do Brasil, trocaram gentilezas. O primeiro, civilmente, ofereceu sua casa em Paris ao artista que antigamente condecorara com a Ordem Militar de Cristo e a quem chamara homem virtuoso."
Fonte: Wikipédia, consultado em 10 de março de 2017.
Crédito fotográfico: Jean-Baptiste Debret: auto-retrato publicado em Voyage pittoresque et historique au Brésil (1834)
Jean-Baptiste Debret ou De Bret (Ile de France, Paris, França, 8 de abril de 1768 — idem, 28 de junho de 1848), foi um pintor, desenhista e professor francês, integrante da Missão Artística Francesa no Brasil que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios e a Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou.
Biografia Itaú Cultural
Freqüenta a Academia de Belas Artes, em Paris, entre 1785 e 1789, aluno de Jacques-Louis David (1748 - 1825), seu primo e líder do neoclassicismo francês. Estuda fortificações na École de Ponts et Chaussée [Escola de Pontes e Rodovias, futura Escola Politécnica], onde se torna professor de desenho. Em 1798, auxilia os arquitetos Percier e Fontaine na decoração de edifícios. Por volta de 1806, trabalha como pintor na corte de Napoleão (1769 - 1821). Após a queda do imperador e com a morte de seu único filho, Debret decide integrar a Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816. Instala-se no Rio de Janeiro e, a partir de 1817, ministra aulas de pintura em seu ateliê, onde tem como aluno Simplício de Sá (1785 - 1839). Em 1818, colabora na decoração pública para a aclamação de D. João VI (1767 - 1826), no Rio de Janeiro. Por volta de 1825, realiza águas-fortes, que estão na Seção de Estampas da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. De 1826 a 1831, é professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, atividade que alterna com viagens para várias cidades do país, quando retrata tipos humanos, costumes e paisagens locais. Na Aiba tem como alunos Porto Alegre (1806 - 1879) e August Müller (1815 - ca.1883). Em 1829, organiza a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, primeira mostra pública de arte no Brasil. Deixa o país em 1831 e retorna a Paris com o discípulo Porto Alegre. Entre 1834 e 1839, edita, o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, em três volumes, ilustrado com litogravuras que têm como base as aquarelas realizadas com seus estudos e observações.
Análise
Jean Baptiste Debret estuda na Academia de Belas Artes, de Paris, entre 1785 e 1789. Aluno do pintor francês Jacques-Louis David (1748 - 1825), forma-se, portanto, dentro dos ideais neoclássicos. Pintor de história, trabalha com arquitetos conceituados na ornamentação de edifícios públicos e particulares. Em torno de 1806 é pintor na corte de Napoleão.
Integra a Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816, cujo primeiro objetivo é promover o ensino artístico no país. Em seu ateliê leciona pintura e tem como alunos, entre outros, Porto Alegre (1806 - 1879), August Müller (1815 - ca.1883) e Simplício de Sá (1785 - 1839). Realiza em 1818, com o arquiteto Grandjean de Montigny (1776 - 1850) a ornamentação das ruas da cidade do Rio de Janeiro, para a aclamação de D. João VI (1767 - 1826). Na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, a partir de 1826, ensina pintura histórica. Paralelamente, visita várias cidades do país, representando suas paisagens e costumes. Organiza, em 1829, a Exposição da Classe de Pintura de História da Academia, importante por ser a primeira mostra pública de arte no Brasil, dando origem às Exposições Gerais, com prêmios oficiais.
Trabalha como pintor da corte, representa acontecimentos ilustres e cenas oficiais; revela-se um desenhista atento às questões sociais brasileiras. Identifica-se com seu papel de ilustrador e documentarista dos acontecimentos contemporâneos. A maioria de suas telas parece ser destinada à gravura; Debret e a corte têm consciência da importância da circulação das gravuras para a divulgação da imagem do Estado. Segundo o historiador Luciano Migliaccio, por esse motivo a pintura de Debret é, em parte, descrição atenta do cerimonial da corte, em formato modesto e apropriado para fácil compreensão, como ocorre, por exemplo, com os quadros Aclamação de Dom João VI (ca.1822) e Chegada da Imperatriz Leopoldina (1818). No quadro Coroação de Dom Pedro I (1822), que tem por modelo a pintura de David, o artista confere à obra um caráter cívico e preocupa-se com a necessidade de criação de um imaginário político.
Debret retorna à França em 1831. Parte das aquarelas feitas no Brasil, litografadas, ilustra a obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, publicada entre 1834 e 1839. O livro, em três volumes, trata das florestas e dos selvagens, das atividades agrárias, do trabalho escravo e também dos acontecimentos políticos e culturais. Destaca-se a preocupação documental do artista, que representa cenas típicas de atividades e costumes do Rio de Janeiro, procurando traçar um painel social da cidade. Apresenta muitos aspectos relacionados ao trabalho escravo, ora acentuando o lado mais expansivo das relações sociais, ora expondo serviços extenuantes, como os de carregadores e trabalhadores das moendas. Mostra o trabalho dos negros de ganho que percorrem as ruas da cidade, prestando vários tipos de serviços.
O historiador Rodrigo Naves aponta a dificuldade do artista em transpor as idéias neoclássicas para o Brasil, por fatores como o caráter da monarquia instaurada e a questão da escravidão no país. Para o autor, os desenhos realizados para a Viagem Pitoresca revelam o esforço do artista para lidar com o dilema criado pelo conflito entre sua formação neoclássica e a realidade brasileira.
Nas aquarelas, feitas com agilidade, o artista parece sentir-se mais à vontade e revela seu domínio técnico: elas apresentam um colorido espontâneo, leve e harmonioso. Segundo Rodrigo Naves, em algumas aquarelas, a forma de representação dos trabalhadores faz com que seus corpos tenham um aspecto vulnerável. Também nas vestimentas ocorre forte ambiguidade: sobrepostas, soltas, meio esgarçadas e rudes, as roupas dos negros não mantêm vínculos com a tradição dos panejamentos. Na representação dos personagens de Debret, os tecidos transmitem aos corpos sua falta de consistência.
Nas gravuras, as situações dúbias da sociedade revelam-se pela aproximação entre as figuras e seu ambiente, os contornos são pouco marcados, um meio cinzento aproxima corpos e espaço, como ocorre em Lavadeiras a Beira-Rio (Viagem Pitoresca). Nas litografias, a sutileza do cinza cria uma espécie de liga que unifica as cenas. Nas ilustrações da Viagem Pitoresca, por meio da fragilidade das formas e da pressão que os personagens sofrem do espaço, o artista expressa a ambiguidade da sociedade brasileira. Após o retorno a Paris, o artista retoma o contato com companheiros neoclássicos, volta ao linearismo, às formas incisivas e à gestualidade acentuada.
Críticas
"Num casarão do Catumbi pousou seu cavalete e preparou tintas e pincéis para uma produtividade que não cessou enquanto permaneceu no Brasil, fosse como pintor, fosse como desenhista de aguda sensibilidade e observação que se revelou. Se como pintor deixou-se levar pelos faustos da Corte, enaltecendo seus acontecimentos, inclusive nos retratos de personagens identificadas pelos uniformes hierárquicos, como desenhista foi muito mais inspirado, sabendo ou podendo ver a vida longe do pedantismo dos ambientes oficiais. (...) Bem diferenciadas se mostraram em Debret as facetas do pintor e do desenhista. Se o pintor não conseguiu transpor os limites estreitos que os rigores da corte impunham, estimulando uma arte morna e insípida, calcada no mais esterilizante academismo, o desenhista foi brilhante e demonstrou-se observador arguto e inteligente, capaz de ver com olhos e julgar com uma consciência que devem ter parecido inconvenientes ao preconceituoso comportamento oficial".
Quirino Campofiorito (Os artistas da missão francesa. In: ___. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. p. 56-57.)
"A arte oficial de um Debret - parente de Jacques-Louis David (1748-1825), a quem teria acompanhado a Roma quando o grande artista pintara o quadro Juramento dos Horácios - tem o aspecto solene e um cromatismo às vezes forte, usando vermelhos, de um neoclassicismo peculiar a grupo de artistas da França napoleônica e também à retratística inglesa, no primeiro dos quais Gros (1771-1835) se havia tanto destacado. Os quadros de batalhas europeus feitos por Debret e conservados no Museu de Versalhes são todavia de fraca expressão pictórica. A Coroação, em cores mais claras, apresenta as figuras um pouco endurecidas. É nas aquarelas brasileiras de fixação de um mundo popular, etnográfico e exótico, que Debret revela a fase melhor de sua pintura, liberada do oficialismo e propensa a se exercer livremente em uma das vertentes do pré-romantismo e do romantismo: a de busca do exótico. Equilibrou então as cores claras e diluídas com um desenho solto e espontâneo, penetrando inteligentemente em certos valores do cotidiano, do antropológico e da natureza, mesmo quando tratados descritivamente, em superfície. É essa posição das contradições de Debret pintor que o coloca simbolicamente na abertura do pleno século XIX brasileiro".
Mário Barata (Século XIX transição e início do século XX. In: ZANINI, Walter (Org. ). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983. v. 1, p. 386.)
"A obra pictórica e gráfica de Debret, muito embora de primordial importância para a iconografia do Brasil colonial e imperial, não suscita maior interesse no domínio propriamente estilístico. As aproximadamente 150 pranchas dos três volumes do Voyage (1834-1839), bem como os não raros óleos que nos foram conservados do pintor, mostram uma arte desprovida de toda introspecção, uma curiosidade dispersiva pelo outro, que raramente escapa ao registro friíssimo da crônica. Da mesma maneira o receituário paisagístico do pintor acadêmico, a cascata prateada, os jogos de luz sobre as rochas de formatos convencionalmente pitorescos, o 'frescor' estudado do verde, etc. fazem pensar em reminiscências da arte, por exemplo, de um Jean Pillement (1728-1808) ou de um Jean-Baptiste Lallemand (1710-1803), já desaparecidas entretanto a graça, a cumplicidade entre cultura e natureza, a leveza que fazem todo o charme dos petits maîtres do século XVIII francês".
Pietro Maria Bardi (JEAN-Baptiste Debret. In: O BRASIL pintado por mestres nacionais e estrangeiros: séculos XVII-XX. São Paulo: MASP, 1987. p. 8.)
"Debret procura um ponto de vista impessoal, preceito de pintura histórica, na qual se havia formado com Jacques-Louis David. Relaciona-se com os temas que registra, colocando-se como narrador diante da realidade dos fatos. A presença in loco passa sempre um atestado de verdade. Não é por outra razão que Debret refere-se às suas próprias notas e desenhos como 'documentos históricos e cosmográficos'. A viagem pitoresca de Debret é proposta a partir do ponto de vista da Missão Artística Francesa no Brasil, tomada como correspondente da Academia de Belas Artes do Instituto da França. Traduz, portanto, um projeto civilizador de extensão cultural.
(...) A atenção de Debret não se dirige para a construção da idéia de natureza, nem para o reconhecimento das riquezas naturais, nem de uma humanidade em estado natural. Debret trata de centrar a atenção no estado geral da sociedade, buscando apreendê-la com base no entendimento da transformação da natureza em cultura, do natural em civilizado. A concepção procede da ilustração francesa, acrescida do interesse pelas particularidades dos povos".
Ana Maria de Moraes Belluzzo (A viagem pitoresca de Debret. In: _______. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994. v. 3, p. 82-83. Vol. 3: A construção da paisagem.)
"Jean-Baptiste Debret foi o primeiro pintor estrangeiro a se dar conta do que havia de postiço e enganoso em simplesmente aplicar um sistema formal preestabelecido - o neoclassicismo, por exemplo - à representação da realidade brasileira.
(...) Não resta dúvida de que Debret teve uma preocupação documental acentuada. Poucos aspectos da cidade do Rio de Janeiro fugiram à sua observação, sem falar de um bom número de desenhos relativos ao sul do Brasil e as cenas indígenas e paisagens, mais ou menos verídicas. O cotidiano de escravos e homens livres, de brancos pobres e aristocratas, as festas reais, pontos geográficos, monumentos, frutos, plantas e animais receberam dele uma atenção detida. No entanto, uma parcela significativa de seus desenhos - principalmente os que envolvem as atividades dos negros de ganho no Rio de Janeiro - tem, por assim dizer, uma dimensão a mais, que confere uma nova realidade às cenas e objetos representados. Nessas aquarelas Debret incorpora uma dinâmica social típica do Rio de Janeiro, e apenas um ponto de vista que vá além do aspecto puramente documental poderá revelar o quanto essa mudança formal do seu trabalho proporcionará não somente ganhos artísticos, como também uma melhor compreensão da vida da colônia".
Rodrigo Naves (Debret , o neoclassicismo e a escravidão. In: _______. A forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Ática, 1996. p. 44-45.)
"Qualificado para a função de cenógrafo da Corte por ser discípulo de David, grande organizador de cerimônias públicas, e por ter colaborado com Percier e Fontaine, Debret foi solicitado a documentar os primeiros acontecimentos da história do novo Estado. No Brasil, o pintor francês identificou-se totalmente com seu papel de ilustrador e documentarista dos acontecimentos contemporâneos. Desde sua chegada, ao que parece, começou a descrever com o lápis a realidade natural, social e etnográfica do país.
Como pintor histórico, retratou eventos contemporâneos, mas só depois da Independência fez uma tentativa de pintura monumental, ao passo que a maioria de suas telas, e mesmo os retratos que permaneceram, parece destinada à gravura. Tanto Debret quanto a Corte tinham consciência da importância da circulação das gravuras para a divulgação da imagem do novo Estado.
Por isso, a pintura do francês à época do pragmático D. João VI foi, em grande parte, descrição atenta e minuciosa do cerimonial e dos acontecimentos da Corte, em formato modesto e apropriado a uma fácil compreensão.
Basta pensar em Aclamação de D. João VI, Chegada da Grã-Duquesa Leopoldina ou Partida das Tropas para o Uruguay, que são também crônicas da vida da Corte. Após a Independência, Debret saberá igualmente se transformar no pintor comemorativo oficial do novo Estado, elaborando-lhe a iconografia e determinando o caráter da pintura histórica brasileira".
Luciano Migliaccio (O século XIX. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 51-52.)
Acervos
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC - Rio de Janeiro RJ
Exposições Coletivas
1798 - Paris (França) - Salão de Paris - 2º prêmio
1806 - Paris (França) - Salão, no Instituto da França - menção honrosa
1808 - Paris (França) - Salão de Paris, no Instituto da França
1814 - Paris (França) - Salão de Paris
1829 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, na Aiba
1830 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, na Aiba
Exposições Póstumas
1859 - Rio de Janeiro RJ - 13ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1860 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1981 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Carnaval: imagens e reflexões, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Recife PE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, na Fundação Joaquim Nabuco. Administração Central
1984 - Aracaju SE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Brasília DF - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Lisboa (Portugal) - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, no Museu Gulbenkian da Fundação Calouste Gulbenkian
1984 - Salvador BA - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - São Paulo SP - J. B. Debret: aquarelas, no Museu da Casa Brasileira
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1984 - Vitória ES - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1986 - Curitiba PR - Tradição/Contradição, no MAC/PR
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII - XX, no Masp
1989 - Estocolmo (Suécia) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, no Moderna Museet
1989 - Londres (Inglaterra) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, na Hayward Gallery
1989 - Paris (França) - La Révolution Française et l´Europe, no Grand Palais
1990 - Curitiba PR - 9ª A Litografia no Paraná, no Museu Guido Viaro
1990 - Madri (Espanha) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, no Palacio de Velázquez
1990 - Rio de Janeiro RJ - Missão Artística Francesa e Pintores Viajantes: França-Brasil no século XIX, na Fundação Casa França-Brasil
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1992 - Zurique (Suíça) - Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, no Kunsthaus Zürich
1994 - Lisboa (Portugal) - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no Museu Rafael Bordalo Pinheiro
1994 - Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no CCBB 1994 - São Paulo SP - Debret: aquarelas do Brasil, na Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - Debret: aquarelas do Brasil , na Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp
1995 - Lisboa (Portugal) - O Brasil dos Viajantes, no Centro Cultural de Belém
1996 - Londres (Inglaterra) - Brazil Through European Eyes, na Christie's
1998 - Brasília DF - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Ministério das Relações Exteriores
1998 - São Paulo SP - Iconografia Paulistana em Coleções Particulares, no Museu da Casa Brasileira
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
1999 - São Paulo SP - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no MAB/Faap. Salão Cultural
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs
2000 - Rio de Janeiro RJ - Viagens Tropicais, no Instituto Moreira Salles
2000 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio na Coleção Geyer, no CCBB
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Brasil Sobre Papel: matizes e vivências, no Espaço de Artes Unicid
2000 - São Paulo SP - Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real
2000 - São Paulo SP - Rio de Janeiro 1825-1826 e Outros Destaques do Highcliffe Álbum, no Instituto Moreira Salles
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2003 - São Paulo SP - Vistas do Brasil: Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2004 - Rio de Janeiro RJ - Missão Artística Francesa e as origens da coleção do Museu Nacional de Belas Artes, no MNBA
Fonte: JEAN-BAPTISTE Debret. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 10 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Integrou a Missão Artística Francesa (1817), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou.
De volta à França (1831) publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839), documentando aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira no início do século XIX.
Uma de suas obras serviu como base para definir as cores e formas geométricas da atual bandeira do Brasil, adotada em 19 de novembro de 1889. Exímio artista, demonstrou em suas telas não somente o cotidiano do Brasil da época que englobava tanto a aristocracia, da população em geral e a vida dos escravos, como também acontecimentos históricos do período anterior à independência do país e nos anos seguintes. A primeira bandeira da história do Brasil independente é uma de suas obras mais importantes.
Juventude e início de carreira
Filho de Jacques Debret, funcionário do parlamento francês e estudioso de História Natural e Arte, e irmão de François Debret (nascido em 1777), arquiteto, membro do Institut de France. Era parente (primo) de Jacques-Louis David (1748-1825), líder da escola neoclássica francesa. Estudou no Lycée Louis-le-Grand. Foi aluno da Escola de Belas Artes de Paris, na classe de Jacques-Louis David. Também chegaria, como seu irmão François, ao Institut de France. Obteve em 1791 o segundo prêmio de Roma, com a tela Régulus voltando a Cartago.
A Revolução Francesa necessitava de engenheiros que entendessem de fortificações; foram, então, selecionados alguns dos alunos mais brilhantes para o curso de Engenharia. Debret foi um dos escolhidos, tendo estudado engenharia por cinco anos, seguindo a tradição da família, na École Nationale des Ponts et Chaussées.
Depois de formado, em janeiro de 1795 foi contratado como desenhista de 3 classes na École centrale des Travaux Publics (futura École Polytechnique) que apenas começava suas atividades Em dezembro do mesmo ano passa a professor de desenho. Em abril de 1796, sua vaga foi extinta e ele deixa a École Polytechnique.
Apesar da carreira de engenheiro, Debret voltaria à pintura. Expôs no salon de 1798 um quadro com figuras de tamanho natural – Le général méssénien Aristomène delivré par une jeune fille, com o qual ganhou um segundo prêmio. Expõe em 1804, no salon, o quadro O médico Erasístrato descobrindo a causa da moléstia do jovem Antíoco.
Em 1805 muda a temática de suas pinturas, expondo Napoleão presta homenagem à coragem infeliz, que recebeu menção honrosa do Instituto de França. Debret finalmente encontrara-se com o que seria o tema principal de suas obras enquanto na França: Napoleão. Expôs no salon em 1808 o quadro Napoleão em Tilsitt condecorando com a Legião de Honra um soldado russo. Em 1810, um novo “tributo” à Napoleão fora criado – Napoleão falando às tropas; seguido por A primeira distribuição de cruzes da Legião de Honra na Igreja dos Inválidos, de 1812. Não por acaso, Napoleão era um verdadeiro mecenas para artistas como Debret e David, apoiando – inclusive financiando – a disseminação da arte neoclássica.
A Missão Artística
A derrota de Napoleão, em 1815, foi um golpe duro aos artistas neoclássicos, que perderam o principal pilar que sustentava – financeira e ideologicamente - a arte neoclássica. Isto, somado com a perda do filho único, de apenas dezenove anos, abalara muito Debret. No mesmo período, ele e o arquiteto Grandjean de Montigny foram convidados à participar de uma missão de artistas franceses que rumava para a Rússia a pedido do Czar Alexandre I da Rússia. Mas, paralelamente, se aprontava em Paris a missão ao Brasil, chefiada por Joachim Lebreton, por solicitação de Dom João VI. Debret - assim como Grandjean de Montigny - escolheu o Brasil. Embarcou em Le Havre a 22 de janeiro de 1816. Calpe, o veleiro norte-americano que trazia a missão, aportou em território brasileiro em 26 de março de 1816. A missão foi planejada por António de Araújo e Azevedo, o conde da Barca, que escrevera ao Marquês de Marialva, embaixador de Portugal em Paris, pedindo-lhe que cuidasse da vinda de uma missão artística, missão que, entre outros objetivos, idealizaria e organizaria a criação de uma Academia de Belas Artes.
Sua chegada, em 1816, ao Brasil coincide com a morte da então rainha de Portugal, D. Maria I, Debret é então incumbido de retratar o funeral da Rainha e a aclamação do novo monarca da Corte, o que lhe dá rápida penetração na corte. Instalou-se no Rio de Janeiro e, a partir de 1817 passa a ministrar aulas de pintura em seu ateliê, onde tem como aluno Simplício de Sá. Em 1818, colabora na decoração pública para a aclamação de D. João VI. Por volta de 1825, pinta águas-fortes, hoje confiadas à Seção de Estampas da Biblioteca Nacional.
De 1826 a 1831, é professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes alternadamente com viagens por várias cidades do país, onde retrata tipos humanos, costumes e paisagens locais. Versátil, desenhou desde uniformes e trajes de gala da corte, até iluminuras de diplomas, insígnias e cenografia de teatro. Teve como alunos Manuel de Araújo Porto-Alegre e Augusto Müller.
Em 1828, Debret passou a dirigir a Academia e em 1829, organiza a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, primeira mostra pública de arte no Brasil, com as pinturas de seus alunos. Em 1830, foi escolhido membro correspondente da Academia das Belas Artes do Instituto de França.
Deixa o Brasil em 1831, alegando problemas de saúde, e retorna a Paris com o discípulo Porto Alegre.
Viagem pitoresca e histórica ao Brasil
Em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Debret revela sua profunda relação pessoal e emocional com o país, adquirida nos 15 anos em que ali viveu.
Apesar de ter alegado motivos de saúde para retornar à França, há outras duas hipóteses para sua volta: deveria talvez querer o retorno para se reencontrar com familiares, além de organizar o primeiro volume de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Outra hipótese sugere que, como em 1831 tinha 63 anos, sua obra seria uma espécie de "trabalho para aposentadoria", visto que uma tal produção (almanaques de viajantes - livros com textos acompanhando imagens) fazia bastante sucesso no início do século XIX - quando Debret partiu para o Brasil - e poderia render uma boa aposentadoria (o que de qualquer forma não foi o que acabou acontecendo: quando da volta à França, esse tipo de publicação já não fazia o mesmo sucesso e a obra causou pouco impacto na França).
Debret tenta mostrar aos leitores - em especial europeus - um panorama que extrapolasse a simples visão de um país exótico e interessante apenas do ponto de vista da história natural. Mais do que isso, tentou criar uma obra histórica; mostrar com detalhes e minuciosos cuidados a formação - especialmente no sentido cultural - do povo e da nação brasileira; procurou resgatar particularidades do país e do povo, na tentativa de representar e preservar o passado do povo, não se limitando apenas a questões políticas, mas também a religião, cultura e costumes dos homens no Brasil.
Por estas razões, a obra de Debret é considerada grande contribuição para o Brasil, e é frequentemente analisada por historiadores como uma representação (um tanto quanto realista, apesar de não ser perfeita) do cotidiano e sociedade do Brasil – em especial, da vida no Rio de Janeiro – de meados do século XIX.
Publicada em Paris, entre 1834 e 1839, sob o título Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, ou séjour d´un artiste française au Brésil, depuis 1816 jusqu´en en 1831 inclusivement, a obra é composta de 153 pranchas, acompanhadas de textos que elucidam cada retrato.
Tal estilo de obra (textos descritivos acompanhando as imagens) não era muito comum entre os artistas que vinham ao Brasil para retratar o país, o que aumenta ainda mais o destaque e importância de Debret: a obra não é considerada tão importante apenas por aspectos artísticos, mas justamente pela combinação de interesse em retratar o cotidiano, com a presença de textos descrevendo as litografias. Preocupando-se com o sentido dos textos, Debret os compara com as ilustrações contidas em seus trabalhos, e é por isso que o aspecto historiográfico é colocado em primeiro plano em relação ao aspecto propriamente artístico.
O próprio título da obra de Debret apresenta este certo compromisso que ele tentou adquirir nas representações e descrições do Brasil. O uso da palavra “pitoresca” no título Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil denota uma certa precisão, habilidade e talento; características que buscou em suas representações. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil pode ser considerada uma obra em estilo europeu, feita para europeus, visto que o estilo de livro (almanaque) fazia um certo sucesso na Europa na época.
O livro é dividido em 3 tomos: no primeiro, de 1834, estão representados índios, aspectos da mata brasileira e da vegetação nativa em geral. O segundo tomo, de 1835, concentra-se na representação dos escravos negros, no pequeno trabalho urbano, nos trabalhadores e nas práticas agrícolas da época. Já o tomo terceiro, de 1839, trata de cenas do cotidiano, das manifestações culturais, como as festas e as tradições populares.
Neoclassicismo, Romantismo e a obra de Debret
Apesar de ser um artista de formação neoclássica – seu tutor foi o mestre do neoclassicismo, Jacques-Louis David – Debret (ao menos ao se analisar sua produção em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil), em alguns aspectos, pode ser considerado um artista de transição entre o neoclassicismo e o romantismo.
As representações dos índios – totalmente idealizados; fortes, com traços bem definidos e em cenas heróicas – são aspectos claros do neoclassicismo. Contudo, ao se analisar os textos que acompanham as imagens, são notados aspectos não neoclássicos, mas românticos. O romantismo tem como características a oposição ao racionalismo e ao rigor neoclássico. Caracteriza-se por defender a liberdade de criação e privilegiar a emoção. As obras românticas valorizam o individualismo, o sofrimento amoroso, a religiosidade cristã, a natureza, os temas nacionais e o passado. Além disso, uma característica essencial do romantismo – que o diferencia do neoclassicismo -, característica esta, notada nos textos de Debret, é a relação que o artista estabelece com as cenas que representa: o neoclássico é apenas um espelho do que observa, tentando fazer uma representação exata, daquilo que vê. Já o romântico, tenta "jogar uma luz" no que observa – o romântico faz uma interpretação daquilo que observa, e é justamente isto que Debret faz nos textos que acompanham as aquarelas: interpretações. Nas aquarelas, Debret era o “espelho” do que observava: este é o Debret com princípios neoclássicos. Nos textos, ele jogava uma luz e interpretava o que via: este é o Debret com princípios românticos.
Suas aquarelas pitorescas possuem o caráter típico das representações feitas por viajantes em busca de paisagens e de exotismo, mas sua arte oficial conserva o caráter solene do neoclassicismo próprio do grupo de artistas da França napoleônica.
Diz um crítico de arte francês: "L’importance majeure de l’oeuvre de Debret, outre la valeur d’un enseignement qui allait bientôt porter ses fruits, résida paradoxalement dans sa capacité d’enregistrer cela même qui était sur le point de disparaître. Ce qui n’a pas empêché le peintre d’histoire de mettre en scène deux couronnements et de représenter dans ses aquarelles la première cour d’une dynastie américaine."
Ou seja: "A maior importância de sua obra, além do valor de um ensino que logo daria frutos, residiu paradoxalmente em sua capacidade de registrar o que estava prestes a desaparecer. O que não impediu o pintor de História de pôr em cena duas coroações e de representar em suas aquarelas a primeira corte de uma dinastia americana."
Autor da primeira bandeira do Brasil
Pouco é conhecido ou divulgado, mas Debret também foi o responsável pelos esboços daquela que seria a primeira bandeira do Brasil independente, com a colaboração de José Bonifácio. Os primeiros desenhos foram sendo já testados em 1821, na mesma época em que as tensões entre Portugal e Brasil pela volta da corte para a metrópole portuguesa estavam acirradas, e caso ocorressem, o Brasil seria rebaixado ao status de Vice-Reinado. A bandeira do Império do Brasil era de certa forma semelhante à atual, com as seguintes diferenças:
A atual abóbada azul sob o losango amarelo com estrelas e faixa com a escrita de "ordem e progresso" dava lugar a um escudo inglês verde, e em seu interior uma faixa circular azul com estrelas que representavam as províncias, a cruz da ordem de cristo e a esfera armilar sobre a cruz. Acima do escudo inglês pairava a coroa imperial, símbolo do regime nacional, e circundando o escudo havia dois ramos dispostos como louro, de café frutificado e tabaco florido, símbolos das riquezas do país.
O tamanho do losango amarelo d'ouro era significativamente maior, e suas pontas faziam fronteira com as bordas do plano verde da bandeira.
Diferente das atuais crenças, a bandeira com suas cores e desenhos tinham significados próprios e históricos, sendo posteriormente ofuscados pela república. Estes são:
O verde representa a Casa de Bragança, família de Dom Pedro I;
O amarelo é referência à Casa de Habsburgo, família de Dona Leopoldina.
Debret, Diderot e o Iluminismo
Na obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, pode ser observada uma forte influência do iluminismo francês, principalmente da Enciclopédia de Denis Diderot, pois Debret não se prende apenas à representação de batalhas, cenas importantes e feitos grandiosos do país. Debret, como já dito anteriormente, representa cenas e características do cotidiano e da sociedade brasileira, como casas, ocas de índios, rostos de pessoas (para tentar mostrar as características do povo brasileiro). Ele procura representar o caráter do povo; seus costumes, festas populares (e da corte), relações de trabalho e utensílios e ferramentas utilizadas pelo povo.[1] Essa proposta de certa forma enciclopédica, de conseguir acumular em livros o máximo de informação e conhecimento acerca de determinado assunto, faz parte dos ideais de diversos iluministas da França do final do século XVIII e início do século XIX – entre eles, o caso mais famoso talvez seja o de Diderot e sua Enciclopédia (l'Encyclopédie, no original), obra que com certeza inspirou Debret acerca de suas representações do Brasil em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.
Acusações de plágio
No tomo I de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, dentre as inúmeras representações de indígenas, algumas chamam a atenção: eles são representados com pintura corporais muito semelhantes às de uma imagem de índios de uma tribo de índios norte-americanos, presente em uma publicação sob o título de Voyages and travels en various parts of the world: during the years 1803, 1804, 1805, 1806, and 1807, feita décadas antes de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, pelo naturalista da antiga Prússia, Georg Heinrich von Langsdorff.
A semelhança da pintura de Debret, intitulada Dança de Selvagens da Missão de São José, com a de Langsdorff, intitulada Uma Dança Indígena na Missão de São José em Nova Califórnia é tal que chega a levantar a dúvida entre alguns historiadores: Debret realmente viajou pelo Brasil, como é comumente afirmado, ou teria permanecido apenas nas imediações da cidade de Rio de Janeiro? alguns pesquisadores afirmam que tal hipótese seria verdadeira, e as representações de índios feitas por Debret – como supostamente a citada neste caso comparado com Langsdorff – seriam cópias de representações de outros europeus que participaram de expedições naturalistas. Para reforçar ainda mais esta hipótese, deve-se levar em consideração que muitos utensílios e ferramentas representadas por Debret, já se encontravam em museus de História Natural da época; locais que ele poderia ter visitado sem problema algum.
Apreciação
Segundo comenta a «Brasiliana da Biblioteca Nacional», página 87, sua obra não possui o sentido tipológico ou científico de Rugendas. Enquanto este se preocupa com a descrição dos tipos de escravos, identificando sua tribo de origem pela tatuagem, corte de cabelo, uso de jóias ou fisionomia, Debret gosta de mostrar os negros em situações particulares. É o caso em que representa um negro feiticeiro (1828): trajando uniforme militar, de casaca, laço no pescoço, chapéu e peruca, sabre, meias e sapatos, esse negro traça com o bastão que segura um círculo no chão. Mas o que chama a atenção nesse pequeno estudo´(...) é «a junção, a um só tempo estranha e natural, dessas situações, impedindo que este fosse apenas mais um dado no processo de classificação de pessoas e costumes brasileiros oitocentistas.»
Encontro em Paris
Diz um livro francês: "Après son abdication, D. Pedro 1er et Debret se rencontrèrent par hasard au coin d’une rue de Paris. L’ancien empereur et son peintre d’histoire, le protagoniste et le metteur en scène de l’Empire du Brésil, y auraient fait échange de politesses. Le premier aurait civilement offert sa maison de Paris à l’artiste qu’il avait naguère décoré de l’Ordre du Christ en le traitant d’homme vertueux"
O que se traduz - "Depois da abdicação, D. Pedro I e Debret se encontaram por acaso numa esquina em Paris. O antigo imperador e seu pintor de História, o protagonista e o ´decorador´ do Império do Brasil, trocaram gentilezas. O primeiro, civilmente, ofereceu sua casa em Paris ao artista que antigamente condecorara com a Ordem Militar de Cristo e a quem chamara homem virtuoso."
Fonte: Wikipédia, consultado em 10 de março de 2017.
Crédito fotográfico: Jean-Baptiste Debret: auto-retrato publicado em Voyage pittoresque et historique au Brésil (1834)
Jean-Baptiste Debret ou De Bret (Ile de France, Paris, França, 8 de abril de 1768 — idem, 28 de junho de 1848), foi um pintor, desenhista e professor francês, integrante da Missão Artística Francesa no Brasil que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios e a Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou.
Biografia Itaú Cultural
Freqüenta a Academia de Belas Artes, em Paris, entre 1785 e 1789, aluno de Jacques-Louis David (1748 - 1825), seu primo e líder do neoclassicismo francês. Estuda fortificações na École de Ponts et Chaussée [Escola de Pontes e Rodovias, futura Escola Politécnica], onde se torna professor de desenho. Em 1798, auxilia os arquitetos Percier e Fontaine na decoração de edifícios. Por volta de 1806, trabalha como pintor na corte de Napoleão (1769 - 1821). Após a queda do imperador e com a morte de seu único filho, Debret decide integrar a Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816. Instala-se no Rio de Janeiro e, a partir de 1817, ministra aulas de pintura em seu ateliê, onde tem como aluno Simplício de Sá (1785 - 1839). Em 1818, colabora na decoração pública para a aclamação de D. João VI (1767 - 1826), no Rio de Janeiro. Por volta de 1825, realiza águas-fortes, que estão na Seção de Estampas da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. De 1826 a 1831, é professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, atividade que alterna com viagens para várias cidades do país, quando retrata tipos humanos, costumes e paisagens locais. Na Aiba tem como alunos Porto Alegre (1806 - 1879) e August Müller (1815 - ca.1883). Em 1829, organiza a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, primeira mostra pública de arte no Brasil. Deixa o país em 1831 e retorna a Paris com o discípulo Porto Alegre. Entre 1834 e 1839, edita, o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, em três volumes, ilustrado com litogravuras que têm como base as aquarelas realizadas com seus estudos e observações.
Análise
Jean Baptiste Debret estuda na Academia de Belas Artes, de Paris, entre 1785 e 1789. Aluno do pintor francês Jacques-Louis David (1748 - 1825), forma-se, portanto, dentro dos ideais neoclássicos. Pintor de história, trabalha com arquitetos conceituados na ornamentação de edifícios públicos e particulares. Em torno de 1806 é pintor na corte de Napoleão.
Integra a Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816, cujo primeiro objetivo é promover o ensino artístico no país. Em seu ateliê leciona pintura e tem como alunos, entre outros, Porto Alegre (1806 - 1879), August Müller (1815 - ca.1883) e Simplício de Sá (1785 - 1839). Realiza em 1818, com o arquiteto Grandjean de Montigny (1776 - 1850) a ornamentação das ruas da cidade do Rio de Janeiro, para a aclamação de D. João VI (1767 - 1826). Na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, a partir de 1826, ensina pintura histórica. Paralelamente, visita várias cidades do país, representando suas paisagens e costumes. Organiza, em 1829, a Exposição da Classe de Pintura de História da Academia, importante por ser a primeira mostra pública de arte no Brasil, dando origem às Exposições Gerais, com prêmios oficiais.
Trabalha como pintor da corte, representa acontecimentos ilustres e cenas oficiais; revela-se um desenhista atento às questões sociais brasileiras. Identifica-se com seu papel de ilustrador e documentarista dos acontecimentos contemporâneos. A maioria de suas telas parece ser destinada à gravura; Debret e a corte têm consciência da importância da circulação das gravuras para a divulgação da imagem do Estado. Segundo o historiador Luciano Migliaccio, por esse motivo a pintura de Debret é, em parte, descrição atenta do cerimonial da corte, em formato modesto e apropriado para fácil compreensão, como ocorre, por exemplo, com os quadros Aclamação de Dom João VI (ca.1822) e Chegada da Imperatriz Leopoldina (1818). No quadro Coroação de Dom Pedro I (1822), que tem por modelo a pintura de David, o artista confere à obra um caráter cívico e preocupa-se com a necessidade de criação de um imaginário político.
Debret retorna à França em 1831. Parte das aquarelas feitas no Brasil, litografadas, ilustra a obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, publicada entre 1834 e 1839. O livro, em três volumes, trata das florestas e dos selvagens, das atividades agrárias, do trabalho escravo e também dos acontecimentos políticos e culturais. Destaca-se a preocupação documental do artista, que representa cenas típicas de atividades e costumes do Rio de Janeiro, procurando traçar um painel social da cidade. Apresenta muitos aspectos relacionados ao trabalho escravo, ora acentuando o lado mais expansivo das relações sociais, ora expondo serviços extenuantes, como os de carregadores e trabalhadores das moendas. Mostra o trabalho dos negros de ganho que percorrem as ruas da cidade, prestando vários tipos de serviços.
O historiador Rodrigo Naves aponta a dificuldade do artista em transpor as idéias neoclássicas para o Brasil, por fatores como o caráter da monarquia instaurada e a questão da escravidão no país. Para o autor, os desenhos realizados para a Viagem Pitoresca revelam o esforço do artista para lidar com o dilema criado pelo conflito entre sua formação neoclássica e a realidade brasileira.
Nas aquarelas, feitas com agilidade, o artista parece sentir-se mais à vontade e revela seu domínio técnico: elas apresentam um colorido espontâneo, leve e harmonioso. Segundo Rodrigo Naves, em algumas aquarelas, a forma de representação dos trabalhadores faz com que seus corpos tenham um aspecto vulnerável. Também nas vestimentas ocorre forte ambiguidade: sobrepostas, soltas, meio esgarçadas e rudes, as roupas dos negros não mantêm vínculos com a tradição dos panejamentos. Na representação dos personagens de Debret, os tecidos transmitem aos corpos sua falta de consistência.
Nas gravuras, as situações dúbias da sociedade revelam-se pela aproximação entre as figuras e seu ambiente, os contornos são pouco marcados, um meio cinzento aproxima corpos e espaço, como ocorre em Lavadeiras a Beira-Rio (Viagem Pitoresca). Nas litografias, a sutileza do cinza cria uma espécie de liga que unifica as cenas. Nas ilustrações da Viagem Pitoresca, por meio da fragilidade das formas e da pressão que os personagens sofrem do espaço, o artista expressa a ambiguidade da sociedade brasileira. Após o retorno a Paris, o artista retoma o contato com companheiros neoclássicos, volta ao linearismo, às formas incisivas e à gestualidade acentuada.
Críticas
"Num casarão do Catumbi pousou seu cavalete e preparou tintas e pincéis para uma produtividade que não cessou enquanto permaneceu no Brasil, fosse como pintor, fosse como desenhista de aguda sensibilidade e observação que se revelou. Se como pintor deixou-se levar pelos faustos da Corte, enaltecendo seus acontecimentos, inclusive nos retratos de personagens identificadas pelos uniformes hierárquicos, como desenhista foi muito mais inspirado, sabendo ou podendo ver a vida longe do pedantismo dos ambientes oficiais. (...) Bem diferenciadas se mostraram em Debret as facetas do pintor e do desenhista. Se o pintor não conseguiu transpor os limites estreitos que os rigores da corte impunham, estimulando uma arte morna e insípida, calcada no mais esterilizante academismo, o desenhista foi brilhante e demonstrou-se observador arguto e inteligente, capaz de ver com olhos e julgar com uma consciência que devem ter parecido inconvenientes ao preconceituoso comportamento oficial".
Quirino Campofiorito (Os artistas da missão francesa. In: ___. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. p. 56-57.)
"A arte oficial de um Debret - parente de Jacques-Louis David (1748-1825), a quem teria acompanhado a Roma quando o grande artista pintara o quadro Juramento dos Horácios - tem o aspecto solene e um cromatismo às vezes forte, usando vermelhos, de um neoclassicismo peculiar a grupo de artistas da França napoleônica e também à retratística inglesa, no primeiro dos quais Gros (1771-1835) se havia tanto destacado. Os quadros de batalhas europeus feitos por Debret e conservados no Museu de Versalhes são todavia de fraca expressão pictórica. A Coroação, em cores mais claras, apresenta as figuras um pouco endurecidas. É nas aquarelas brasileiras de fixação de um mundo popular, etnográfico e exótico, que Debret revela a fase melhor de sua pintura, liberada do oficialismo e propensa a se exercer livremente em uma das vertentes do pré-romantismo e do romantismo: a de busca do exótico. Equilibrou então as cores claras e diluídas com um desenho solto e espontâneo, penetrando inteligentemente em certos valores do cotidiano, do antropológico e da natureza, mesmo quando tratados descritivamente, em superfície. É essa posição das contradições de Debret pintor que o coloca simbolicamente na abertura do pleno século XIX brasileiro".
Mário Barata (Século XIX transição e início do século XX. In: ZANINI, Walter (Org. ). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983. v. 1, p. 386.)
"A obra pictórica e gráfica de Debret, muito embora de primordial importância para a iconografia do Brasil colonial e imperial, não suscita maior interesse no domínio propriamente estilístico. As aproximadamente 150 pranchas dos três volumes do Voyage (1834-1839), bem como os não raros óleos que nos foram conservados do pintor, mostram uma arte desprovida de toda introspecção, uma curiosidade dispersiva pelo outro, que raramente escapa ao registro friíssimo da crônica. Da mesma maneira o receituário paisagístico do pintor acadêmico, a cascata prateada, os jogos de luz sobre as rochas de formatos convencionalmente pitorescos, o 'frescor' estudado do verde, etc. fazem pensar em reminiscências da arte, por exemplo, de um Jean Pillement (1728-1808) ou de um Jean-Baptiste Lallemand (1710-1803), já desaparecidas entretanto a graça, a cumplicidade entre cultura e natureza, a leveza que fazem todo o charme dos petits maîtres do século XVIII francês".
Pietro Maria Bardi (JEAN-Baptiste Debret. In: O BRASIL pintado por mestres nacionais e estrangeiros: séculos XVII-XX. São Paulo: MASP, 1987. p. 8.)
"Debret procura um ponto de vista impessoal, preceito de pintura histórica, na qual se havia formado com Jacques-Louis David. Relaciona-se com os temas que registra, colocando-se como narrador diante da realidade dos fatos. A presença in loco passa sempre um atestado de verdade. Não é por outra razão que Debret refere-se às suas próprias notas e desenhos como 'documentos históricos e cosmográficos'. A viagem pitoresca de Debret é proposta a partir do ponto de vista da Missão Artística Francesa no Brasil, tomada como correspondente da Academia de Belas Artes do Instituto da França. Traduz, portanto, um projeto civilizador de extensão cultural.
(...) A atenção de Debret não se dirige para a construção da idéia de natureza, nem para o reconhecimento das riquezas naturais, nem de uma humanidade em estado natural. Debret trata de centrar a atenção no estado geral da sociedade, buscando apreendê-la com base no entendimento da transformação da natureza em cultura, do natural em civilizado. A concepção procede da ilustração francesa, acrescida do interesse pelas particularidades dos povos".
Ana Maria de Moraes Belluzzo (A viagem pitoresca de Debret. In: _______. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994. v. 3, p. 82-83. Vol. 3: A construção da paisagem.)
"Jean-Baptiste Debret foi o primeiro pintor estrangeiro a se dar conta do que havia de postiço e enganoso em simplesmente aplicar um sistema formal preestabelecido - o neoclassicismo, por exemplo - à representação da realidade brasileira.
(...) Não resta dúvida de que Debret teve uma preocupação documental acentuada. Poucos aspectos da cidade do Rio de Janeiro fugiram à sua observação, sem falar de um bom número de desenhos relativos ao sul do Brasil e as cenas indígenas e paisagens, mais ou menos verídicas. O cotidiano de escravos e homens livres, de brancos pobres e aristocratas, as festas reais, pontos geográficos, monumentos, frutos, plantas e animais receberam dele uma atenção detida. No entanto, uma parcela significativa de seus desenhos - principalmente os que envolvem as atividades dos negros de ganho no Rio de Janeiro - tem, por assim dizer, uma dimensão a mais, que confere uma nova realidade às cenas e objetos representados. Nessas aquarelas Debret incorpora uma dinâmica social típica do Rio de Janeiro, e apenas um ponto de vista que vá além do aspecto puramente documental poderá revelar o quanto essa mudança formal do seu trabalho proporcionará não somente ganhos artísticos, como também uma melhor compreensão da vida da colônia".
Rodrigo Naves (Debret , o neoclassicismo e a escravidão. In: _______. A forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Ática, 1996. p. 44-45.)
"Qualificado para a função de cenógrafo da Corte por ser discípulo de David, grande organizador de cerimônias públicas, e por ter colaborado com Percier e Fontaine, Debret foi solicitado a documentar os primeiros acontecimentos da história do novo Estado. No Brasil, o pintor francês identificou-se totalmente com seu papel de ilustrador e documentarista dos acontecimentos contemporâneos. Desde sua chegada, ao que parece, começou a descrever com o lápis a realidade natural, social e etnográfica do país.
Como pintor histórico, retratou eventos contemporâneos, mas só depois da Independência fez uma tentativa de pintura monumental, ao passo que a maioria de suas telas, e mesmo os retratos que permaneceram, parece destinada à gravura. Tanto Debret quanto a Corte tinham consciência da importância da circulação das gravuras para a divulgação da imagem do novo Estado.
Por isso, a pintura do francês à época do pragmático D. João VI foi, em grande parte, descrição atenta e minuciosa do cerimonial e dos acontecimentos da Corte, em formato modesto e apropriado a uma fácil compreensão.
Basta pensar em Aclamação de D. João VI, Chegada da Grã-Duquesa Leopoldina ou Partida das Tropas para o Uruguay, que são também crônicas da vida da Corte. Após a Independência, Debret saberá igualmente se transformar no pintor comemorativo oficial do novo Estado, elaborando-lhe a iconografia e determinando o caráter da pintura histórica brasileira".
Luciano Migliaccio (O século XIX. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 51-52.)
Acervos
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC - Rio de Janeiro RJ
Exposições Coletivas
1798 - Paris (França) - Salão de Paris - 2º prêmio
1806 - Paris (França) - Salão, no Instituto da França - menção honrosa
1808 - Paris (França) - Salão de Paris, no Instituto da França
1814 - Paris (França) - Salão de Paris
1829 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, na Aiba
1830 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, na Aiba
Exposições Póstumas
1859 - Rio de Janeiro RJ - 13ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1860 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1981 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Carnaval: imagens e reflexões, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Recife PE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, na Fundação Joaquim Nabuco. Administração Central
1984 - Aracaju SE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Brasília DF - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Lisboa (Portugal) - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, no Museu Gulbenkian da Fundação Calouste Gulbenkian
1984 - Salvador BA - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - São Paulo SP - J. B. Debret: aquarelas, no Museu da Casa Brasileira
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1984 - Vitória ES - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1986 - Curitiba PR - Tradição/Contradição, no MAC/PR
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII - XX, no Masp
1989 - Estocolmo (Suécia) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, no Moderna Museet
1989 - Londres (Inglaterra) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, na Hayward Gallery
1989 - Paris (França) - La Révolution Française et l´Europe, no Grand Palais
1990 - Curitiba PR - 9ª A Litografia no Paraná, no Museu Guido Viaro
1990 - Madri (Espanha) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, no Palacio de Velázquez
1990 - Rio de Janeiro RJ - Missão Artística Francesa e Pintores Viajantes: França-Brasil no século XIX, na Fundação Casa França-Brasil
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1992 - Zurique (Suíça) - Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, no Kunsthaus Zürich
1994 - Lisboa (Portugal) - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no Museu Rafael Bordalo Pinheiro
1994 - Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no CCBB 1994 - São Paulo SP - Debret: aquarelas do Brasil, na Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - Debret: aquarelas do Brasil , na Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp
1995 - Lisboa (Portugal) - O Brasil dos Viajantes, no Centro Cultural de Belém
1996 - Londres (Inglaterra) - Brazil Through European Eyes, na Christie's
1998 - Brasília DF - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Ministério das Relações Exteriores
1998 - São Paulo SP - Iconografia Paulistana em Coleções Particulares, no Museu da Casa Brasileira
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
1999 - São Paulo SP - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no MAB/Faap. Salão Cultural
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs
2000 - Rio de Janeiro RJ - Viagens Tropicais, no Instituto Moreira Salles
2000 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio na Coleção Geyer, no CCBB
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Brasil Sobre Papel: matizes e vivências, no Espaço de Artes Unicid
2000 - São Paulo SP - Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real
2000 - São Paulo SP - Rio de Janeiro 1825-1826 e Outros Destaques do Highcliffe Álbum, no Instituto Moreira Salles
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2003 - São Paulo SP - Vistas do Brasil: Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2004 - Rio de Janeiro RJ - Missão Artística Francesa e as origens da coleção do Museu Nacional de Belas Artes, no MNBA
Fonte: JEAN-BAPTISTE Debret. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 10 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Integrou a Missão Artística Francesa (1817), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou.
De volta à França (1831) publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839), documentando aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira no início do século XIX.
Uma de suas obras serviu como base para definir as cores e formas geométricas da atual bandeira do Brasil, adotada em 19 de novembro de 1889. Exímio artista, demonstrou em suas telas não somente o cotidiano do Brasil da época que englobava tanto a aristocracia, da população em geral e a vida dos escravos, como também acontecimentos históricos do período anterior à independência do país e nos anos seguintes. A primeira bandeira da história do Brasil independente é uma de suas obras mais importantes.
Juventude e início de carreira
Filho de Jacques Debret, funcionário do parlamento francês e estudioso de História Natural e Arte, e irmão de François Debret (nascido em 1777), arquiteto, membro do Institut de France. Era parente (primo) de Jacques-Louis David (1748-1825), líder da escola neoclássica francesa. Estudou no Lycée Louis-le-Grand. Foi aluno da Escola de Belas Artes de Paris, na classe de Jacques-Louis David. Também chegaria, como seu irmão François, ao Institut de France. Obteve em 1791 o segundo prêmio de Roma, com a tela Régulus voltando a Cartago.
A Revolução Francesa necessitava de engenheiros que entendessem de fortificações; foram, então, selecionados alguns dos alunos mais brilhantes para o curso de Engenharia. Debret foi um dos escolhidos, tendo estudado engenharia por cinco anos, seguindo a tradição da família, na École Nationale des Ponts et Chaussées.
Depois de formado, em janeiro de 1795 foi contratado como desenhista de 3 classes na École centrale des Travaux Publics (futura École Polytechnique) que apenas começava suas atividades Em dezembro do mesmo ano passa a professor de desenho. Em abril de 1796, sua vaga foi extinta e ele deixa a École Polytechnique.
Apesar da carreira de engenheiro, Debret voltaria à pintura. Expôs no salon de 1798 um quadro com figuras de tamanho natural – Le général méssénien Aristomène delivré par une jeune fille, com o qual ganhou um segundo prêmio. Expõe em 1804, no salon, o quadro O médico Erasístrato descobrindo a causa da moléstia do jovem Antíoco.
Em 1805 muda a temática de suas pinturas, expondo Napoleão presta homenagem à coragem infeliz, que recebeu menção honrosa do Instituto de França. Debret finalmente encontrara-se com o que seria o tema principal de suas obras enquanto na França: Napoleão. Expôs no salon em 1808 o quadro Napoleão em Tilsitt condecorando com a Legião de Honra um soldado russo. Em 1810, um novo “tributo” à Napoleão fora criado – Napoleão falando às tropas; seguido por A primeira distribuição de cruzes da Legião de Honra na Igreja dos Inválidos, de 1812. Não por acaso, Napoleão era um verdadeiro mecenas para artistas como Debret e David, apoiando – inclusive financiando – a disseminação da arte neoclássica.
A Missão Artística
A derrota de Napoleão, em 1815, foi um golpe duro aos artistas neoclássicos, que perderam o principal pilar que sustentava – financeira e ideologicamente - a arte neoclássica. Isto, somado com a perda do filho único, de apenas dezenove anos, abalara muito Debret. No mesmo período, ele e o arquiteto Grandjean de Montigny foram convidados à participar de uma missão de artistas franceses que rumava para a Rússia a pedido do Czar Alexandre I da Rússia. Mas, paralelamente, se aprontava em Paris a missão ao Brasil, chefiada por Joachim Lebreton, por solicitação de Dom João VI. Debret - assim como Grandjean de Montigny - escolheu o Brasil. Embarcou em Le Havre a 22 de janeiro de 1816. Calpe, o veleiro norte-americano que trazia a missão, aportou em território brasileiro em 26 de março de 1816. A missão foi planejada por António de Araújo e Azevedo, o conde da Barca, que escrevera ao Marquês de Marialva, embaixador de Portugal em Paris, pedindo-lhe que cuidasse da vinda de uma missão artística, missão que, entre outros objetivos, idealizaria e organizaria a criação de uma Academia de Belas Artes.
Sua chegada, em 1816, ao Brasil coincide com a morte da então rainha de Portugal, D. Maria I, Debret é então incumbido de retratar o funeral da Rainha e a aclamação do novo monarca da Corte, o que lhe dá rápida penetração na corte. Instalou-se no Rio de Janeiro e, a partir de 1817 passa a ministrar aulas de pintura em seu ateliê, onde tem como aluno Simplício de Sá. Em 1818, colabora na decoração pública para a aclamação de D. João VI. Por volta de 1825, pinta águas-fortes, hoje confiadas à Seção de Estampas da Biblioteca Nacional.
De 1826 a 1831, é professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes alternadamente com viagens por várias cidades do país, onde retrata tipos humanos, costumes e paisagens locais. Versátil, desenhou desde uniformes e trajes de gala da corte, até iluminuras de diplomas, insígnias e cenografia de teatro. Teve como alunos Manuel de Araújo Porto-Alegre e Augusto Müller.
Em 1828, Debret passou a dirigir a Academia e em 1829, organiza a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, primeira mostra pública de arte no Brasil, com as pinturas de seus alunos. Em 1830, foi escolhido membro correspondente da Academia das Belas Artes do Instituto de França.
Deixa o Brasil em 1831, alegando problemas de saúde, e retorna a Paris com o discípulo Porto Alegre.
Viagem pitoresca e histórica ao Brasil
Em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Debret revela sua profunda relação pessoal e emocional com o país, adquirida nos 15 anos em que ali viveu.
Apesar de ter alegado motivos de saúde para retornar à França, há outras duas hipóteses para sua volta: deveria talvez querer o retorno para se reencontrar com familiares, além de organizar o primeiro volume de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Outra hipótese sugere que, como em 1831 tinha 63 anos, sua obra seria uma espécie de "trabalho para aposentadoria", visto que uma tal produção (almanaques de viajantes - livros com textos acompanhando imagens) fazia bastante sucesso no início do século XIX - quando Debret partiu para o Brasil - e poderia render uma boa aposentadoria (o que de qualquer forma não foi o que acabou acontecendo: quando da volta à França, esse tipo de publicação já não fazia o mesmo sucesso e a obra causou pouco impacto na França).
Debret tenta mostrar aos leitores - em especial europeus - um panorama que extrapolasse a simples visão de um país exótico e interessante apenas do ponto de vista da história natural. Mais do que isso, tentou criar uma obra histórica; mostrar com detalhes e minuciosos cuidados a formação - especialmente no sentido cultural - do povo e da nação brasileira; procurou resgatar particularidades do país e do povo, na tentativa de representar e preservar o passado do povo, não se limitando apenas a questões políticas, mas também a religião, cultura e costumes dos homens no Brasil.
Por estas razões, a obra de Debret é considerada grande contribuição para o Brasil, e é frequentemente analisada por historiadores como uma representação (um tanto quanto realista, apesar de não ser perfeita) do cotidiano e sociedade do Brasil – em especial, da vida no Rio de Janeiro – de meados do século XIX.
Publicada em Paris, entre 1834 e 1839, sob o título Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, ou séjour d´un artiste française au Brésil, depuis 1816 jusqu´en en 1831 inclusivement, a obra é composta de 153 pranchas, acompanhadas de textos que elucidam cada retrato.
Tal estilo de obra (textos descritivos acompanhando as imagens) não era muito comum entre os artistas que vinham ao Brasil para retratar o país, o que aumenta ainda mais o destaque e importância de Debret: a obra não é considerada tão importante apenas por aspectos artísticos, mas justamente pela combinação de interesse em retratar o cotidiano, com a presença de textos descrevendo as litografias. Preocupando-se com o sentido dos textos, Debret os compara com as ilustrações contidas em seus trabalhos, e é por isso que o aspecto historiográfico é colocado em primeiro plano em relação ao aspecto propriamente artístico.
O próprio título da obra de Debret apresenta este certo compromisso que ele tentou adquirir nas representações e descrições do Brasil. O uso da palavra “pitoresca” no título Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil denota uma certa precisão, habilidade e talento; características que buscou em suas representações. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil pode ser considerada uma obra em estilo europeu, feita para europeus, visto que o estilo de livro (almanaque) fazia um certo sucesso na Europa na época.
O livro é dividido em 3 tomos: no primeiro, de 1834, estão representados índios, aspectos da mata brasileira e da vegetação nativa em geral. O segundo tomo, de 1835, concentra-se na representação dos escravos negros, no pequeno trabalho urbano, nos trabalhadores e nas práticas agrícolas da época. Já o tomo terceiro, de 1839, trata de cenas do cotidiano, das manifestações culturais, como as festas e as tradições populares.
Neoclassicismo, Romantismo e a obra de Debret
Apesar de ser um artista de formação neoclássica – seu tutor foi o mestre do neoclassicismo, Jacques-Louis David – Debret (ao menos ao se analisar sua produção em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil), em alguns aspectos, pode ser considerado um artista de transição entre o neoclassicismo e o romantismo.
As representações dos índios – totalmente idealizados; fortes, com traços bem definidos e em cenas heróicas – são aspectos claros do neoclassicismo. Contudo, ao se analisar os textos que acompanham as imagens, são notados aspectos não neoclássicos, mas românticos. O romantismo tem como características a oposição ao racionalismo e ao rigor neoclássico. Caracteriza-se por defender a liberdade de criação e privilegiar a emoção. As obras românticas valorizam o individualismo, o sofrimento amoroso, a religiosidade cristã, a natureza, os temas nacionais e o passado. Além disso, uma característica essencial do romantismo – que o diferencia do neoclassicismo -, característica esta, notada nos textos de Debret, é a relação que o artista estabelece com as cenas que representa: o neoclássico é apenas um espelho do que observa, tentando fazer uma representação exata, daquilo que vê. Já o romântico, tenta "jogar uma luz" no que observa – o romântico faz uma interpretação daquilo que observa, e é justamente isto que Debret faz nos textos que acompanham as aquarelas: interpretações. Nas aquarelas, Debret era o “espelho” do que observava: este é o Debret com princípios neoclássicos. Nos textos, ele jogava uma luz e interpretava o que via: este é o Debret com princípios românticos.
Suas aquarelas pitorescas possuem o caráter típico das representações feitas por viajantes em busca de paisagens e de exotismo, mas sua arte oficial conserva o caráter solene do neoclassicismo próprio do grupo de artistas da França napoleônica.
Diz um crítico de arte francês: "L’importance majeure de l’oeuvre de Debret, outre la valeur d’un enseignement qui allait bientôt porter ses fruits, résida paradoxalement dans sa capacité d’enregistrer cela même qui était sur le point de disparaître. Ce qui n’a pas empêché le peintre d’histoire de mettre en scène deux couronnements et de représenter dans ses aquarelles la première cour d’une dynastie américaine."
Ou seja: "A maior importância de sua obra, além do valor de um ensino que logo daria frutos, residiu paradoxalmente em sua capacidade de registrar o que estava prestes a desaparecer. O que não impediu o pintor de História de pôr em cena duas coroações e de representar em suas aquarelas a primeira corte de uma dinastia americana."
Autor da primeira bandeira do Brasil
Pouco é conhecido ou divulgado, mas Debret também foi o responsável pelos esboços daquela que seria a primeira bandeira do Brasil independente, com a colaboração de José Bonifácio. Os primeiros desenhos foram sendo já testados em 1821, na mesma época em que as tensões entre Portugal e Brasil pela volta da corte para a metrópole portuguesa estavam acirradas, e caso ocorressem, o Brasil seria rebaixado ao status de Vice-Reinado. A bandeira do Império do Brasil era de certa forma semelhante à atual, com as seguintes diferenças:
A atual abóbada azul sob o losango amarelo com estrelas e faixa com a escrita de "ordem e progresso" dava lugar a um escudo inglês verde, e em seu interior uma faixa circular azul com estrelas que representavam as províncias, a cruz da ordem de cristo e a esfera armilar sobre a cruz. Acima do escudo inglês pairava a coroa imperial, símbolo do regime nacional, e circundando o escudo havia dois ramos dispostos como louro, de café frutificado e tabaco florido, símbolos das riquezas do país.
O tamanho do losango amarelo d'ouro era significativamente maior, e suas pontas faziam fronteira com as bordas do plano verde da bandeira.
Diferente das atuais crenças, a bandeira com suas cores e desenhos tinham significados próprios e históricos, sendo posteriormente ofuscados pela república. Estes são:
O verde representa a Casa de Bragança, família de Dom Pedro I;
O amarelo é referência à Casa de Habsburgo, família de Dona Leopoldina.
Debret, Diderot e o Iluminismo
Na obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, pode ser observada uma forte influência do iluminismo francês, principalmente da Enciclopédia de Denis Diderot, pois Debret não se prende apenas à representação de batalhas, cenas importantes e feitos grandiosos do país. Debret, como já dito anteriormente, representa cenas e características do cotidiano e da sociedade brasileira, como casas, ocas de índios, rostos de pessoas (para tentar mostrar as características do povo brasileiro). Ele procura representar o caráter do povo; seus costumes, festas populares (e da corte), relações de trabalho e utensílios e ferramentas utilizadas pelo povo.[1] Essa proposta de certa forma enciclopédica, de conseguir acumular em livros o máximo de informação e conhecimento acerca de determinado assunto, faz parte dos ideais de diversos iluministas da França do final do século XVIII e início do século XIX – entre eles, o caso mais famoso talvez seja o de Diderot e sua Enciclopédia (l'Encyclopédie, no original), obra que com certeza inspirou Debret acerca de suas representações do Brasil em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.
Acusações de plágio
No tomo I de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, dentre as inúmeras representações de indígenas, algumas chamam a atenção: eles são representados com pintura corporais muito semelhantes às de uma imagem de índios de uma tribo de índios norte-americanos, presente em uma publicação sob o título de Voyages and travels en various parts of the world: during the years 1803, 1804, 1805, 1806, and 1807, feita décadas antes de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, pelo naturalista da antiga Prússia, Georg Heinrich von Langsdorff.
A semelhança da pintura de Debret, intitulada Dança de Selvagens da Missão de São José, com a de Langsdorff, intitulada Uma Dança Indígena na Missão de São José em Nova Califórnia é tal que chega a levantar a dúvida entre alguns historiadores: Debret realmente viajou pelo Brasil, como é comumente afirmado, ou teria permanecido apenas nas imediações da cidade de Rio de Janeiro? alguns pesquisadores afirmam que tal hipótese seria verdadeira, e as representações de índios feitas por Debret – como supostamente a citada neste caso comparado com Langsdorff – seriam cópias de representações de outros europeus que participaram de expedições naturalistas. Para reforçar ainda mais esta hipótese, deve-se levar em consideração que muitos utensílios e ferramentas representadas por Debret, já se encontravam em museus de História Natural da época; locais que ele poderia ter visitado sem problema algum.
Apreciação
Segundo comenta a «Brasiliana da Biblioteca Nacional», página 87, sua obra não possui o sentido tipológico ou científico de Rugendas. Enquanto este se preocupa com a descrição dos tipos de escravos, identificando sua tribo de origem pela tatuagem, corte de cabelo, uso de jóias ou fisionomia, Debret gosta de mostrar os negros em situações particulares. É o caso em que representa um negro feiticeiro (1828): trajando uniforme militar, de casaca, laço no pescoço, chapéu e peruca, sabre, meias e sapatos, esse negro traça com o bastão que segura um círculo no chão. Mas o que chama a atenção nesse pequeno estudo´(...) é «a junção, a um só tempo estranha e natural, dessas situações, impedindo que este fosse apenas mais um dado no processo de classificação de pessoas e costumes brasileiros oitocentistas.»
Encontro em Paris
Diz um livro francês: "Après son abdication, D. Pedro 1er et Debret se rencontrèrent par hasard au coin d’une rue de Paris. L’ancien empereur et son peintre d’histoire, le protagoniste et le metteur en scène de l’Empire du Brésil, y auraient fait échange de politesses. Le premier aurait civilement offert sa maison de Paris à l’artiste qu’il avait naguère décoré de l’Ordre du Christ en le traitant d’homme vertueux"
O que se traduz - "Depois da abdicação, D. Pedro I e Debret se encontaram por acaso numa esquina em Paris. O antigo imperador e seu pintor de História, o protagonista e o ´decorador´ do Império do Brasil, trocaram gentilezas. O primeiro, civilmente, ofereceu sua casa em Paris ao artista que antigamente condecorara com a Ordem Militar de Cristo e a quem chamara homem virtuoso."
Fonte: Wikipédia, consultado em 10 de março de 2017.
Crédito fotográfico: Jean-Baptiste Debret: auto-retrato publicado em Voyage pittoresque et historique au Brésil (1834)
Jean-Baptiste Debret ou De Bret (Ile de France, Paris, França, 8 de abril de 1768 — idem, 28 de junho de 1848), foi um pintor, desenhista e professor francês, integrante da Missão Artística Francesa no Brasil que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios e a Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou.
Biografia Itaú Cultural
Freqüenta a Academia de Belas Artes, em Paris, entre 1785 e 1789, aluno de Jacques-Louis David (1748 - 1825), seu primo e líder do neoclassicismo francês. Estuda fortificações na École de Ponts et Chaussée [Escola de Pontes e Rodovias, futura Escola Politécnica], onde se torna professor de desenho. Em 1798, auxilia os arquitetos Percier e Fontaine na decoração de edifícios. Por volta de 1806, trabalha como pintor na corte de Napoleão (1769 - 1821). Após a queda do imperador e com a morte de seu único filho, Debret decide integrar a Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816. Instala-se no Rio de Janeiro e, a partir de 1817, ministra aulas de pintura em seu ateliê, onde tem como aluno Simplício de Sá (1785 - 1839). Em 1818, colabora na decoração pública para a aclamação de D. João VI (1767 - 1826), no Rio de Janeiro. Por volta de 1825, realiza águas-fortes, que estão na Seção de Estampas da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. De 1826 a 1831, é professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, atividade que alterna com viagens para várias cidades do país, quando retrata tipos humanos, costumes e paisagens locais. Na Aiba tem como alunos Porto Alegre (1806 - 1879) e August Müller (1815 - ca.1883). Em 1829, organiza a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, primeira mostra pública de arte no Brasil. Deixa o país em 1831 e retorna a Paris com o discípulo Porto Alegre. Entre 1834 e 1839, edita, o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, em três volumes, ilustrado com litogravuras que têm como base as aquarelas realizadas com seus estudos e observações.
Análise
Jean Baptiste Debret estuda na Academia de Belas Artes, de Paris, entre 1785 e 1789. Aluno do pintor francês Jacques-Louis David (1748 - 1825), forma-se, portanto, dentro dos ideais neoclássicos. Pintor de história, trabalha com arquitetos conceituados na ornamentação de edifícios públicos e particulares. Em torno de 1806 é pintor na corte de Napoleão.
Integra a Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816, cujo primeiro objetivo é promover o ensino artístico no país. Em seu ateliê leciona pintura e tem como alunos, entre outros, Porto Alegre (1806 - 1879), August Müller (1815 - ca.1883) e Simplício de Sá (1785 - 1839). Realiza em 1818, com o arquiteto Grandjean de Montigny (1776 - 1850) a ornamentação das ruas da cidade do Rio de Janeiro, para a aclamação de D. João VI (1767 - 1826). Na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, a partir de 1826, ensina pintura histórica. Paralelamente, visita várias cidades do país, representando suas paisagens e costumes. Organiza, em 1829, a Exposição da Classe de Pintura de História da Academia, importante por ser a primeira mostra pública de arte no Brasil, dando origem às Exposições Gerais, com prêmios oficiais.
Trabalha como pintor da corte, representa acontecimentos ilustres e cenas oficiais; revela-se um desenhista atento às questões sociais brasileiras. Identifica-se com seu papel de ilustrador e documentarista dos acontecimentos contemporâneos. A maioria de suas telas parece ser destinada à gravura; Debret e a corte têm consciência da importância da circulação das gravuras para a divulgação da imagem do Estado. Segundo o historiador Luciano Migliaccio, por esse motivo a pintura de Debret é, em parte, descrição atenta do cerimonial da corte, em formato modesto e apropriado para fácil compreensão, como ocorre, por exemplo, com os quadros Aclamação de Dom João VI (ca.1822) e Chegada da Imperatriz Leopoldina (1818). No quadro Coroação de Dom Pedro I (1822), que tem por modelo a pintura de David, o artista confere à obra um caráter cívico e preocupa-se com a necessidade de criação de um imaginário político.
Debret retorna à França em 1831. Parte das aquarelas feitas no Brasil, litografadas, ilustra a obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, publicada entre 1834 e 1839. O livro, em três volumes, trata das florestas e dos selvagens, das atividades agrárias, do trabalho escravo e também dos acontecimentos políticos e culturais. Destaca-se a preocupação documental do artista, que representa cenas típicas de atividades e costumes do Rio de Janeiro, procurando traçar um painel social da cidade. Apresenta muitos aspectos relacionados ao trabalho escravo, ora acentuando o lado mais expansivo das relações sociais, ora expondo serviços extenuantes, como os de carregadores e trabalhadores das moendas. Mostra o trabalho dos negros de ganho que percorrem as ruas da cidade, prestando vários tipos de serviços.
O historiador Rodrigo Naves aponta a dificuldade do artista em transpor as idéias neoclássicas para o Brasil, por fatores como o caráter da monarquia instaurada e a questão da escravidão no país. Para o autor, os desenhos realizados para a Viagem Pitoresca revelam o esforço do artista para lidar com o dilema criado pelo conflito entre sua formação neoclássica e a realidade brasileira.
Nas aquarelas, feitas com agilidade, o artista parece sentir-se mais à vontade e revela seu domínio técnico: elas apresentam um colorido espontâneo, leve e harmonioso. Segundo Rodrigo Naves, em algumas aquarelas, a forma de representação dos trabalhadores faz com que seus corpos tenham um aspecto vulnerável. Também nas vestimentas ocorre forte ambiguidade: sobrepostas, soltas, meio esgarçadas e rudes, as roupas dos negros não mantêm vínculos com a tradição dos panejamentos. Na representação dos personagens de Debret, os tecidos transmitem aos corpos sua falta de consistência.
Nas gravuras, as situações dúbias da sociedade revelam-se pela aproximação entre as figuras e seu ambiente, os contornos são pouco marcados, um meio cinzento aproxima corpos e espaço, como ocorre em Lavadeiras a Beira-Rio (Viagem Pitoresca). Nas litografias, a sutileza do cinza cria uma espécie de liga que unifica as cenas. Nas ilustrações da Viagem Pitoresca, por meio da fragilidade das formas e da pressão que os personagens sofrem do espaço, o artista expressa a ambiguidade da sociedade brasileira. Após o retorno a Paris, o artista retoma o contato com companheiros neoclássicos, volta ao linearismo, às formas incisivas e à gestualidade acentuada.
Críticas
"Num casarão do Catumbi pousou seu cavalete e preparou tintas e pincéis para uma produtividade que não cessou enquanto permaneceu no Brasil, fosse como pintor, fosse como desenhista de aguda sensibilidade e observação que se revelou. Se como pintor deixou-se levar pelos faustos da Corte, enaltecendo seus acontecimentos, inclusive nos retratos de personagens identificadas pelos uniformes hierárquicos, como desenhista foi muito mais inspirado, sabendo ou podendo ver a vida longe do pedantismo dos ambientes oficiais. (...) Bem diferenciadas se mostraram em Debret as facetas do pintor e do desenhista. Se o pintor não conseguiu transpor os limites estreitos que os rigores da corte impunham, estimulando uma arte morna e insípida, calcada no mais esterilizante academismo, o desenhista foi brilhante e demonstrou-se observador arguto e inteligente, capaz de ver com olhos e julgar com uma consciência que devem ter parecido inconvenientes ao preconceituoso comportamento oficial".
Quirino Campofiorito (Os artistas da missão francesa. In: ___. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. p. 56-57.)
"A arte oficial de um Debret - parente de Jacques-Louis David (1748-1825), a quem teria acompanhado a Roma quando o grande artista pintara o quadro Juramento dos Horácios - tem o aspecto solene e um cromatismo às vezes forte, usando vermelhos, de um neoclassicismo peculiar a grupo de artistas da França napoleônica e também à retratística inglesa, no primeiro dos quais Gros (1771-1835) se havia tanto destacado. Os quadros de batalhas europeus feitos por Debret e conservados no Museu de Versalhes são todavia de fraca expressão pictórica. A Coroação, em cores mais claras, apresenta as figuras um pouco endurecidas. É nas aquarelas brasileiras de fixação de um mundo popular, etnográfico e exótico, que Debret revela a fase melhor de sua pintura, liberada do oficialismo e propensa a se exercer livremente em uma das vertentes do pré-romantismo e do romantismo: a de busca do exótico. Equilibrou então as cores claras e diluídas com um desenho solto e espontâneo, penetrando inteligentemente em certos valores do cotidiano, do antropológico e da natureza, mesmo quando tratados descritivamente, em superfície. É essa posição das contradições de Debret pintor que o coloca simbolicamente na abertura do pleno século XIX brasileiro".
Mário Barata (Século XIX transição e início do século XX. In: ZANINI, Walter (Org. ). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983. v. 1, p. 386.)
"A obra pictórica e gráfica de Debret, muito embora de primordial importância para a iconografia do Brasil colonial e imperial, não suscita maior interesse no domínio propriamente estilístico. As aproximadamente 150 pranchas dos três volumes do Voyage (1834-1839), bem como os não raros óleos que nos foram conservados do pintor, mostram uma arte desprovida de toda introspecção, uma curiosidade dispersiva pelo outro, que raramente escapa ao registro friíssimo da crônica. Da mesma maneira o receituário paisagístico do pintor acadêmico, a cascata prateada, os jogos de luz sobre as rochas de formatos convencionalmente pitorescos, o 'frescor' estudado do verde, etc. fazem pensar em reminiscências da arte, por exemplo, de um Jean Pillement (1728-1808) ou de um Jean-Baptiste Lallemand (1710-1803), já desaparecidas entretanto a graça, a cumplicidade entre cultura e natureza, a leveza que fazem todo o charme dos petits maîtres do século XVIII francês".
Pietro Maria Bardi (JEAN-Baptiste Debret. In: O BRASIL pintado por mestres nacionais e estrangeiros: séculos XVII-XX. São Paulo: MASP, 1987. p. 8.)
"Debret procura um ponto de vista impessoal, preceito de pintura histórica, na qual se havia formado com Jacques-Louis David. Relaciona-se com os temas que registra, colocando-se como narrador diante da realidade dos fatos. A presença in loco passa sempre um atestado de verdade. Não é por outra razão que Debret refere-se às suas próprias notas e desenhos como 'documentos históricos e cosmográficos'. A viagem pitoresca de Debret é proposta a partir do ponto de vista da Missão Artística Francesa no Brasil, tomada como correspondente da Academia de Belas Artes do Instituto da França. Traduz, portanto, um projeto civilizador de extensão cultural.
(...) A atenção de Debret não se dirige para a construção da idéia de natureza, nem para o reconhecimento das riquezas naturais, nem de uma humanidade em estado natural. Debret trata de centrar a atenção no estado geral da sociedade, buscando apreendê-la com base no entendimento da transformação da natureza em cultura, do natural em civilizado. A concepção procede da ilustração francesa, acrescida do interesse pelas particularidades dos povos".
Ana Maria de Moraes Belluzzo (A viagem pitoresca de Debret. In: _______. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994. v. 3, p. 82-83. Vol. 3: A construção da paisagem.)
"Jean-Baptiste Debret foi o primeiro pintor estrangeiro a se dar conta do que havia de postiço e enganoso em simplesmente aplicar um sistema formal preestabelecido - o neoclassicismo, por exemplo - à representação da realidade brasileira.
(...) Não resta dúvida de que Debret teve uma preocupação documental acentuada. Poucos aspectos da cidade do Rio de Janeiro fugiram à sua observação, sem falar de um bom número de desenhos relativos ao sul do Brasil e as cenas indígenas e paisagens, mais ou menos verídicas. O cotidiano de escravos e homens livres, de brancos pobres e aristocratas, as festas reais, pontos geográficos, monumentos, frutos, plantas e animais receberam dele uma atenção detida. No entanto, uma parcela significativa de seus desenhos - principalmente os que envolvem as atividades dos negros de ganho no Rio de Janeiro - tem, por assim dizer, uma dimensão a mais, que confere uma nova realidade às cenas e objetos representados. Nessas aquarelas Debret incorpora uma dinâmica social típica do Rio de Janeiro, e apenas um ponto de vista que vá além do aspecto puramente documental poderá revelar o quanto essa mudança formal do seu trabalho proporcionará não somente ganhos artísticos, como também uma melhor compreensão da vida da colônia".
Rodrigo Naves (Debret , o neoclassicismo e a escravidão. In: _______. A forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Ática, 1996. p. 44-45.)
"Qualificado para a função de cenógrafo da Corte por ser discípulo de David, grande organizador de cerimônias públicas, e por ter colaborado com Percier e Fontaine, Debret foi solicitado a documentar os primeiros acontecimentos da história do novo Estado. No Brasil, o pintor francês identificou-se totalmente com seu papel de ilustrador e documentarista dos acontecimentos contemporâneos. Desde sua chegada, ao que parece, começou a descrever com o lápis a realidade natural, social e etnográfica do país.
Como pintor histórico, retratou eventos contemporâneos, mas só depois da Independência fez uma tentativa de pintura monumental, ao passo que a maioria de suas telas, e mesmo os retratos que permaneceram, parece destinada à gravura. Tanto Debret quanto a Corte tinham consciência da importância da circulação das gravuras para a divulgação da imagem do novo Estado.
Por isso, a pintura do francês à época do pragmático D. João VI foi, em grande parte, descrição atenta e minuciosa do cerimonial e dos acontecimentos da Corte, em formato modesto e apropriado a uma fácil compreensão.
Basta pensar em Aclamação de D. João VI, Chegada da Grã-Duquesa Leopoldina ou Partida das Tropas para o Uruguay, que são também crônicas da vida da Corte. Após a Independência, Debret saberá igualmente se transformar no pintor comemorativo oficial do novo Estado, elaborando-lhe a iconografia e determinando o caráter da pintura histórica brasileira".
Luciano Migliaccio (O século XIX. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 51-52.)
Acervos
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Museus Castro Maya - IPHAN/MinC - Rio de Janeiro RJ
Exposições Coletivas
1798 - Paris (França) - Salão de Paris - 2º prêmio
1806 - Paris (França) - Salão, no Instituto da França - menção honrosa
1808 - Paris (França) - Salão de Paris, no Instituto da França
1814 - Paris (França) - Salão de Paris
1829 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, na Aiba
1830 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, na Aiba
Exposições Póstumas
1859 - Rio de Janeiro RJ - 13ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1860 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1981 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Carnaval: imagens e reflexões, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Recife PE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, na Fundação Joaquim Nabuco. Administração Central
1984 - Aracaju SE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Brasília DF - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Lisboa (Portugal) - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, no Museu Gulbenkian da Fundação Calouste Gulbenkian
1984 - Salvador BA - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - São Paulo SP - J. B. Debret: aquarelas, no Museu da Casa Brasileira
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1984 - Vitória ES - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1986 - Curitiba PR - Tradição/Contradição, no MAC/PR
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII - XX, no Masp
1989 - Estocolmo (Suécia) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, no Moderna Museet
1989 - Londres (Inglaterra) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, na Hayward Gallery
1989 - Paris (França) - La Révolution Française et l´Europe, no Grand Palais
1990 - Curitiba PR - 9ª A Litografia no Paraná, no Museu Guido Viaro
1990 - Madri (Espanha) - Art in Latin America: the modern era 1820 - 1980, no Palacio de Velázquez
1990 - Rio de Janeiro RJ - Missão Artística Francesa e Pintores Viajantes: França-Brasil no século XIX, na Fundação Casa França-Brasil
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1992 - Zurique (Suíça) - Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, no Kunsthaus Zürich
1994 - Lisboa (Portugal) - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no Museu Rafael Bordalo Pinheiro
1994 - Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no CCBB 1994 - São Paulo SP - Debret: aquarelas do Brasil, na Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - Debret: aquarelas do Brasil , na Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp
1995 - Lisboa (Portugal) - O Brasil dos Viajantes, no Centro Cultural de Belém
1996 - Londres (Inglaterra) - Brazil Through European Eyes, na Christie's
1998 - Brasília DF - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Ministério das Relações Exteriores
1998 - São Paulo SP - Iconografia Paulistana em Coleções Particulares, no Museu da Casa Brasileira
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
1999 - São Paulo SP - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no MAB/Faap. Salão Cultural
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs
2000 - Rio de Janeiro RJ - Viagens Tropicais, no Instituto Moreira Salles
2000 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio na Coleção Geyer, no CCBB
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Brasil Sobre Papel: matizes e vivências, no Espaço de Artes Unicid
2000 - São Paulo SP - Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real
2000 - São Paulo SP - Rio de Janeiro 1825-1826 e Outros Destaques do Highcliffe Álbum, no Instituto Moreira Salles
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2003 - São Paulo SP - Vistas do Brasil: Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2004 - Rio de Janeiro RJ - Missão Artística Francesa e as origens da coleção do Museu Nacional de Belas Artes, no MNBA
Fonte: JEAN-BAPTISTE Debret. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 10 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Integrou a Missão Artística Francesa (1817), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou.
De volta à França (1831) publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839), documentando aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira no início do século XIX.
Uma de suas obras serviu como base para definir as cores e formas geométricas da atual bandeira do Brasil, adotada em 19 de novembro de 1889. Exímio artista, demonstrou em suas telas não somente o cotidiano do Brasil da época que englobava tanto a aristocracia, da população em geral e a vida dos escravos, como também acontecimentos históricos do período anterior à independência do país e nos anos seguintes. A primeira bandeira da história do Brasil independente é uma de suas obras mais importantes.
Juventude e início de carreira
Filho de Jacques Debret, funcionário do parlamento francês e estudioso de História Natural e Arte, e irmão de François Debret (nascido em 1777), arquiteto, membro do Institut de France. Era parente (primo) de Jacques-Louis David (1748-1825), líder da escola neoclássica francesa. Estudou no Lycée Louis-le-Grand. Foi aluno da Escola de Belas Artes de Paris, na classe de Jacques-Louis David. Também chegaria, como seu irmão François, ao Institut de France. Obteve em 1791 o segundo prêmio de Roma, com a tela Régulus voltando a Cartago.
A Revolução Francesa necessitava de engenheiros que entendessem de fortificações; foram, então, selecionados alguns dos alunos mais brilhantes para o curso de Engenharia. Debret foi um dos escolhidos, tendo estudado engenharia por cinco anos, seguindo a tradição da família, na École Nationale des Ponts et Chaussées.
Depois de formado, em janeiro de 1795 foi contratado como desenhista de 3 classes na École centrale des Travaux Publics (futura École Polytechnique) que apenas começava suas atividades Em dezembro do mesmo ano passa a professor de desenho. Em abril de 1796, sua vaga foi extinta e ele deixa a École Polytechnique.
Apesar da carreira de engenheiro, Debret voltaria à pintura. Expôs no salon de 1798 um quadro com figuras de tamanho natural – Le général méssénien Aristomène delivré par une jeune fille, com o qual ganhou um segundo prêmio. Expõe em 1804, no salon, o quadro O médico Erasístrato descobrindo a causa da moléstia do jovem Antíoco.
Em 1805 muda a temática de suas pinturas, expondo Napoleão presta homenagem à coragem infeliz, que recebeu menção honrosa do Instituto de França. Debret finalmente encontrara-se com o que seria o tema principal de suas obras enquanto na França: Napoleão. Expôs no salon em 1808 o quadro Napoleão em Tilsitt condecorando com a Legião de Honra um soldado russo. Em 1810, um novo “tributo” à Napoleão fora criado – Napoleão falando às tropas; seguido por A primeira distribuição de cruzes da Legião de Honra na Igreja dos Inválidos, de 1812. Não por acaso, Napoleão era um verdadeiro mecenas para artistas como Debret e David, apoiando – inclusive financiando – a disseminação da arte neoclássica.
A Missão Artística
A derrota de Napoleão, em 1815, foi um golpe duro aos artistas neoclássicos, que perderam o principal pilar que sustentava – financeira e ideologicamente - a arte neoclássica. Isto, somado com a perda do filho único, de apenas dezenove anos, abalara muito Debret. No mesmo período, ele e o arquiteto Grandjean de Montigny foram convidados à participar de uma missão de artistas franceses que rumava para a Rússia a pedido do Czar Alexandre I da Rússia. Mas, paralelamente, se aprontava em Paris a missão ao Brasil, chefiada por Joachim Lebreton, por solicitação de Dom João VI. Debret - assim como Grandjean de Montigny - escolheu o Brasil. Embarcou em Le Havre a 22 de janeiro de 1816. Calpe, o veleiro norte-americano que trazia a missão, aportou em território brasileiro em 26 de março de 1816. A missão foi planejada por António de Araújo e Azevedo, o conde da Barca, que escrevera ao Marquês de Marialva, embaixador de Portugal em Paris, pedindo-lhe que cuidasse da vinda de uma missão artística, missão que, entre outros objetivos, idealizaria e organizaria a criação de uma Academia de Belas Artes.
Sua chegada, em 1816, ao Brasil coincide com a morte da então rainha de Portugal, D. Maria I, Debret é então incumbido de retratar o funeral da Rainha e a aclamação do novo monarca da Corte, o que lhe dá rápida penetração na corte. Instalou-se no Rio de Janeiro e, a partir de 1817 passa a ministrar aulas de pintura em seu ateliê, onde tem como aluno Simplício de Sá. Em 1818, colabora na decoração pública para a aclamação de D. João VI. Por volta de 1825, pinta águas-fortes, hoje confiadas à Seção de Estampas da Biblioteca Nacional.
De 1826 a 1831, é professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes alternadamente com viagens por várias cidades do país, onde retrata tipos humanos, costumes e paisagens locais. Versátil, desenhou desde uniformes e trajes de gala da corte, até iluminuras de diplomas, insígnias e cenografia de teatro. Teve como alunos Manuel de Araújo Porto-Alegre e Augusto Müller.
Em 1828, Debret passou a dirigir a Academia e em 1829, organiza a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Bellas Artes, primeira mostra pública de arte no Brasil, com as pinturas de seus alunos. Em 1830, foi escolhido membro correspondente da Academia das Belas Artes do Instituto de França.
Deixa o Brasil em 1831, alegando problemas de saúde, e retorna a Paris com o discípulo Porto Alegre.
Viagem pitoresca e histórica ao Brasil
Em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Debret revela sua profunda relação pessoal e emocional com o país, adquirida nos 15 anos em que ali viveu.
Apesar de ter alegado motivos de saúde para retornar à França, há outras duas hipóteses para sua volta: deveria talvez querer o retorno para se reencontrar com familiares, além de organizar o primeiro volume de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Outra hipótese sugere que, como em 1831 tinha 63 anos, sua obra seria uma espécie de "trabalho para aposentadoria", visto que uma tal produção (almanaques de viajantes - livros com textos acompanhando imagens) fazia bastante sucesso no início do século XIX - quando Debret partiu para o Brasil - e poderia render uma boa aposentadoria (o que de qualquer forma não foi o que acabou acontecendo: quando da volta à França, esse tipo de publicação já não fazia o mesmo sucesso e a obra causou pouco impacto na França).
Debret tenta mostrar aos leitores - em especial europeus - um panorama que extrapolasse a simples visão de um país exótico e interessante apenas do ponto de vista da história natural. Mais do que isso, tentou criar uma obra histórica; mostrar com detalhes e minuciosos cuidados a formação - especialmente no sentido cultural - do povo e da nação brasileira; procurou resgatar particularidades do país e do povo, na tentativa de representar e preservar o passado do povo, não se limitando apenas a questões políticas, mas também a religião, cultura e costumes dos homens no Brasil.
Por estas razões, a obra de Debret é considerada grande contribuição para o Brasil, e é frequentemente analisada por historiadores como uma representação (um tanto quanto realista, apesar de não ser perfeita) do cotidiano e sociedade do Brasil – em especial, da vida no Rio de Janeiro – de meados do século XIX.
Publicada em Paris, entre 1834 e 1839, sob o título Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, ou séjour d´un artiste française au Brésil, depuis 1816 jusqu´en en 1831 inclusivement, a obra é composta de 153 pranchas, acompanhadas de textos que elucidam cada retrato.
Tal estilo de obra (textos descritivos acompanhando as imagens) não era muito comum entre os artistas que vinham ao Brasil para retratar o país, o que aumenta ainda mais o destaque e importância de Debret: a obra não é considerada tão importante apenas por aspectos artísticos, mas justamente pela combinação de interesse em retratar o cotidiano, com a presença de textos descrevendo as litografias. Preocupando-se com o sentido dos textos, Debret os compara com as ilustrações contidas em seus trabalhos, e é por isso que o aspecto historiográfico é colocado em primeiro plano em relação ao aspecto propriamente artístico.
O próprio título da obra de Debret apresenta este certo compromisso que ele tentou adquirir nas representações e descrições do Brasil. O uso da palavra “pitoresca” no título Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil denota uma certa precisão, habilidade e talento; características que buscou em suas representações. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil pode ser considerada uma obra em estilo europeu, feita para europeus, visto que o estilo de livro (almanaque) fazia um certo sucesso na Europa na época.
O livro é dividido em 3 tomos: no primeiro, de 1834, estão representados índios, aspectos da mata brasileira e da vegetação nativa em geral. O segundo tomo, de 1835, concentra-se na representação dos escravos negros, no pequeno trabalho urbano, nos trabalhadores e nas práticas agrícolas da época. Já o tomo terceiro, de 1839, trata de cenas do cotidiano, das manifestações culturais, como as festas e as tradições populares.
Neoclassicismo, Romantismo e a obra de Debret
Apesar de ser um artista de formação neoclássica – seu tutor foi o mestre do neoclassicismo, Jacques-Louis David – Debret (ao menos ao se analisar sua produção em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil), em alguns aspectos, pode ser considerado um artista de transição entre o neoclassicismo e o romantismo.
As representações dos índios – totalmente idealizados; fortes, com traços bem definidos e em cenas heróicas – são aspectos claros do neoclassicismo. Contudo, ao se analisar os textos que acompanham as imagens, são notados aspectos não neoclássicos, mas românticos. O romantismo tem como características a oposição ao racionalismo e ao rigor neoclássico. Caracteriza-se por defender a liberdade de criação e privilegiar a emoção. As obras românticas valorizam o individualismo, o sofrimento amoroso, a religiosidade cristã, a natureza, os temas nacionais e o passado. Além disso, uma característica essencial do romantismo – que o diferencia do neoclassicismo -, característica esta, notada nos textos de Debret, é a relação que o artista estabelece com as cenas que representa: o neoclássico é apenas um espelho do que observa, tentando fazer uma representação exata, daquilo que vê. Já o romântico, tenta "jogar uma luz" no que observa – o romântico faz uma interpretação daquilo que observa, e é justamente isto que Debret faz nos textos que acompanham as aquarelas: interpretações. Nas aquarelas, Debret era o “espelho” do que observava: este é o Debret com princípios neoclássicos. Nos textos, ele jogava uma luz e interpretava o que via: este é o Debret com princípios românticos.
Suas aquarelas pitorescas possuem o caráter típico das representações feitas por viajantes em busca de paisagens e de exotismo, mas sua arte oficial conserva o caráter solene do neoclassicismo próprio do grupo de artistas da França napoleônica.
Diz um crítico de arte francês: "L’importance majeure de l’oeuvre de Debret, outre la valeur d’un enseignement qui allait bientôt porter ses fruits, résida paradoxalement dans sa capacité d’enregistrer cela même qui était sur le point de disparaître. Ce qui n’a pas empêché le peintre d’histoire de mettre en scène deux couronnements et de représenter dans ses aquarelles la première cour d’une dynastie américaine."
Ou seja: "A maior importância de sua obra, além do valor de um ensino que logo daria frutos, residiu paradoxalmente em sua capacidade de registrar o que estava prestes a desaparecer. O que não impediu o pintor de História de pôr em cena duas coroações e de representar em suas aquarelas a primeira corte de uma dinastia americana."
Autor da primeira bandeira do Brasil
Pouco é conhecido ou divulgado, mas Debret também foi o responsável pelos esboços daquela que seria a primeira bandeira do Brasil independente, com a colaboração de José Bonifácio. Os primeiros desenhos foram sendo já testados em 1821, na mesma época em que as tensões entre Portugal e Brasil pela volta da corte para a metrópole portuguesa estavam acirradas, e caso ocorressem, o Brasil seria rebaixado ao status de Vice-Reinado. A bandeira do Império do Brasil era de certa forma semelhante à atual, com as seguintes diferenças:
A atual abóbada azul sob o losango amarelo com estrelas e faixa com a escrita de "ordem e progresso" dava lugar a um escudo inglês verde, e em seu interior uma faixa circular azul com estrelas que representavam as províncias, a cruz da ordem de cristo e a esfera armilar sobre a cruz. Acima do escudo inglês pairava a coroa imperial, símbolo do regime nacional, e circundando o escudo havia dois ramos dispostos como louro, de café frutificado e tabaco florido, símbolos das riquezas do país.
O tamanho do losango amarelo d'ouro era significativamente maior, e suas pontas faziam fronteira com as bordas do plano verde da bandeira.
Diferente das atuais crenças, a bandeira com suas cores e desenhos tinham significados próprios e históricos, sendo posteriormente ofuscados pela república. Estes são:
O verde representa a Casa de Bragança, família de Dom Pedro I;
O amarelo é referência à Casa de Habsburgo, família de Dona Leopoldina.
Debret, Diderot e o Iluminismo
Na obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, pode ser observada uma forte influência do iluminismo francês, principalmente da Enciclopédia de Denis Diderot, pois Debret não se prende apenas à representação de batalhas, cenas importantes e feitos grandiosos do país. Debret, como já dito anteriormente, representa cenas e características do cotidiano e da sociedade brasileira, como casas, ocas de índios, rostos de pessoas (para tentar mostrar as características do povo brasileiro). Ele procura representar o caráter do povo; seus costumes, festas populares (e da corte), relações de trabalho e utensílios e ferramentas utilizadas pelo povo.[1] Essa proposta de certa forma enciclopédica, de conseguir acumular em livros o máximo de informação e conhecimento acerca de determinado assunto, faz parte dos ideais de diversos iluministas da França do final do século XVIII e início do século XIX – entre eles, o caso mais famoso talvez seja o de Diderot e sua Enciclopédia (l'Encyclopédie, no original), obra que com certeza inspirou Debret acerca de suas representações do Brasil em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.
Acusações de plágio
No tomo I de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, dentre as inúmeras representações de indígenas, algumas chamam a atenção: eles são representados com pintura corporais muito semelhantes às de uma imagem de índios de uma tribo de índios norte-americanos, presente em uma publicação sob o título de Voyages and travels en various parts of the world: during the years 1803, 1804, 1805, 1806, and 1807, feita décadas antes de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, pelo naturalista da antiga Prússia, Georg Heinrich von Langsdorff.
A semelhança da pintura de Debret, intitulada Dança de Selvagens da Missão de São José, com a de Langsdorff, intitulada Uma Dança Indígena na Missão de São José em Nova Califórnia é tal que chega a levantar a dúvida entre alguns historiadores: Debret realmente viajou pelo Brasil, como é comumente afirmado, ou teria permanecido apenas nas imediações da cidade de Rio de Janeiro? alguns pesquisadores afirmam que tal hipótese seria verdadeira, e as representações de índios feitas por Debret – como supostamente a citada neste caso comparado com Langsdorff – seriam cópias de representações de outros europeus que participaram de expedições naturalistas. Para reforçar ainda mais esta hipótese, deve-se levar em consideração que muitos utensílios e ferramentas representadas por Debret, já se encontravam em museus de História Natural da época; locais que ele poderia ter visitado sem problema algum.
Apreciação
Segundo comenta a «Brasiliana da Biblioteca Nacional», página 87, sua obra não possui o sentido tipológico ou científico de Rugendas. Enquanto este se preocupa com a descrição dos tipos de escravos, identificando sua tribo de origem pela tatuagem, corte de cabelo, uso de jóias ou fisionomia, Debret gosta de mostrar os negros em situações particulares. É o caso em que representa um negro feiticeiro (1828): trajando uniforme militar, de casaca, laço no pescoço, chapéu e peruca, sabre, meias e sapatos, esse negro traça com o bastão que segura um círculo no chão. Mas o que chama a atenção nesse pequeno estudo´(...) é «a junção, a um só tempo estranha e natural, dessas situações, impedindo que este fosse apenas mais um dado no processo de classificação de pessoas e costumes brasileiros oitocentistas.»
Encontro em Paris
Diz um livro francês: "Après son abdication, D. Pedro 1er et Debret se rencontrèrent par hasard au coin d’une rue de Paris. L’ancien empereur et son peintre d’histoire, le protagoniste et le metteur en scène de l’Empire du Brésil, y auraient fait échange de politesses. Le premier aurait civilement offert sa maison de Paris à l’artiste qu’il avait naguère décoré de l’Ordre du Christ en le traitant d’homme vertueux"
O que se traduz - "Depois da abdicação, D. Pedro I e Debret se encontaram por acaso numa esquina em Paris. O antigo imperador e seu pintor de História, o protagonista e o ´decorador´ do Império do Brasil, trocaram gentilezas. O primeiro, civilmente, ofereceu sua casa em Paris ao artista que antigamente condecorara com a Ordem Militar de Cristo e a quem chamara homem virtuoso."
Fonte: Wikipédia, consultado em 10 de março de 2017.
Crédito fotográfico: Jean-Baptiste Debret: auto-retrato publicado em Voyage pittoresque et historique au Brésil (1834)