Charles-Edouard Jeanneret-Gris (Suíça, La Chaux-de-Fonds - Neuchâtel, 6 de outubro de 1887 — Suíça, Roquebrune-Cap-Martin, 27 de agosto de 1965), mais conhecido como Le Corbusier, foi um arquiteto, urbanista, designer, pintor e escritor suíço-francês. Conhecido por suas ideias inovadoras sobre arquitetura, urbanismo e design, Le Corbusier acreditava que a arquitetura deveria ser funcional, eficiente e atender às necessidades básicas dos seres humanos e defendia a ideia de que a arquitetura deveria ser adaptada aos tempos modernos e às novas tecnologias, ao invés de seguir os estilos arquitetônicos tradicionais. Entre suas obras mais famosas estão o Pavilhão Suíço na Exposição Internacional de 1929, em Barcelona, a Casa Curutchet em La Plata, Argentina, o Unité d'Habitation em Marselha, França, e a Capela de Notre-Dame-du-Haut em Ronchamp, França. Expôs extensamente na Suíça, mas também realizou exposições no Brasil, França, Alemanha, Índia, Rússia, Estados Unidos, entre outros. Le Corbusier também escreveu vários livros, incluindo "Vers une architecture" e "Le Modulor", que influenciaram profundamente a arquitetura moderna e o design. É considerado um dos pioneiros da arquitetura moderna e um dos arquitetos mais importantes do século XX.
Biografia – Wikipédia
Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido pelo pseudónimo de Le Corbusier (La Chaux-de-Fonds, 6 de outubro de 1887 – Roquebrune-Cap-Martin, 27 de agosto de 1965), foi um arquiteto, urbanista, escultor e pintor de origem suíça e naturalizado francês em 1930. É considerado, juntamente com Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto e Mies van der Rohe um dos mais importantes arquitectos do século XX. Conhecido por ter sido o criador da Unité d'Habitation, conceito sobre o qual começou a trabalhar na década de 1920.
Aos 29 anos mudou-se para Paris, onde adotou o seu pseudónimo, que foi buscar ao nome do seu avô materno, originário da região de Albi. A sua figura era marcada pelos seus óculos redondos de aros escuros. Morreu por afogamento, em 27 de agosto de 1965.
Formação
Villa Fallet de 1905.
A importância de Le Corbusier advém, em grande parte, do seu enorme poder de síntese.
Nas viagens que fez a várias partes do mundo, Le Corbusier contactou com estilos diversos, de épocas diversas. De todas estas influências, captou aquilo que considerava essencial e intemporal, reconhecendo em especial os valores da arquitetura clássica grega, como da Acrópole de Atenas.
Le Corbusier projetou a sua primeira casa com dezoito anos, em 1905, na sua cidade natal, La Chaux-de-Fonds, conhecida pela produção de relógios. Foi, aliás, essa a sua primeira atividade profissional. Nasceu numa família calvinista, onde recebeu uma formação moral que acentua os contrastes entre o Bem e o Mal. Kenneth Frampton defende que esta atitude mental tê-lo-ia influenciado no sentido da "dialética" presente na sua obra (o diálogo entre o sólido e o vazio, a luz e a sombra).
Viagem a Itália
Em 1907, ano em que também conheceu Tony Garnier, Le Corbusier faz uma viagem de dois meses e meio em Itália: Milão, Florença (em setembro), Siena, Bolonha, Pádua e Veneza (de outubro a inícios de novembro). Parte, de seguida, para Viena (onde fica 4 meses), via Budapeste.
Da visita a Itália, a influência mais marcante será, sem dúvida, a que realizou ao Mosteiro de Galluzzo em 1907 e que o inspirou para as sua construções, pelo que ao longo da sua vida muitas referências fez a esta sua visita. Na realidade ficou impressionado pela forma como a organização do espaço expressa as suas preocupações sócio-políticas (socialismo utópico): o local onde o silêncio e a solidão se conjugam com o contacto diário entre os indivíduos.
Em La Chaux-de-Fonds fará a aplicação prática das sua reflexões em relação a esta viagem, através de um projecto para uma escola de artes, onde, usando betão (concreto, no Brasil) armado, se dispunham três alas de ateliers (como as células do convento) em volta de um espaço comunitário coberto por uma pirâmide de vidro. Nota-se neste projecto (não construído) a razão por que Corbusier ficou tão impressionado com a Cartuxa de Ema, em Galluzo. As ideias socialistas já tinham, efectivamente, sido concretizadas arquitectonicamente por Jean-Baptiste André Godin, no seu Familistério. Esta foi a primeira vez que Le Corbusier sintetizava um modelo "clássico" de arquitetura segundo as suas ideias de funcionalidade. Mais tarde, a experiência da cartuxa de Ema estará presente, de forma disseminada e reformulada, em outros dos seus projectos, como as "cidades" que imaginou ou, de forma mais directa, no seu Immeuble-Villa de 1922.
Viagem a Alemanha e "voyage d'Orient"
Em 1910, a escola de artes de La Chaux-de-Fonds envia Corbu (diminutivo muito usado) para a Alemanha, onde deveria estudar os novos movimentos de artes aplicadas. Le Corbusier escreverá, em consequência, um livro, "Estudo sobre o movimento de arte decorativa na Alemanha", que será publicado na sua terra natal em 1912. Em Berlim entrou em contacto com Peter Behrens (com quem trabalhou durante cinco anos), Walter Gropius e Mies Van der Rohe (algumas das figuras principais do Deutsche Werkbund).
Em 1911, ainda na Alemanha, encontra-se com Heinrich Tessenow, autor da cidade jardim de Hellerau. Duas das obras de Le Corbusier na sua terra natal, a Villa Jeanneret Perret (1912) e o Cinema Scala (1916) manifestarão uma grande influência deste arquitecto e de Behrens.
Em maio desse ano dirige-se para Dresden, de onde parte para a sua famosa "voyage d'Orient": Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste, Veliko Tarnovo, Gabrovo, Kasanlik, Istambul, Monte Athos, Atenas e sul de Itália. Foi acompanhado pelo seu amigo Auguste Klipstein. Ao longo desta viagem, documentada por diversos artigos, esboços e fotografias, irá desenvolver a sua perspectiva pessoal sobre a arte arquitectónica. A viagem resultará num livro, intitulado Voyage d'Orient (Viagem ao Oriente). A arquitetura turca terá, também, a sua influência nas teorias que defenderá. A Villa Schwob, em La Chaux-de-Fonds, chamada popularmente de "Villa Turca" é o exemplo mais flagrante (chega a insinuar a existência de um harém).
Os seus célebres "cinco pontos para uma nova arquitetura" estão claramente influenciados pelas referência orientais. Mais tarde, em 1931, ao visitar Espanha e, posteriormente, a Argélia e Marrocos, a sua tendência oriental reafirma-se, tanto nos projectos como nos textos que legou.
O uso da fachada livre e da planta livre (resultado directo da aplicação das estruturas por ele defendidas), presentes nos "cinco pontos" advém também da arquitetura oriental que propõe um átrio central que marca e determina a circulação e a disposição dos espaços e fachadas. Os próprios terraços, como na Villa Savoye são reminiscências da arquitetura do norte da África.
As suas noções de clareza das superfícies e precisão na disposição dos volumes, que estarão presentes no purismo, são também já pressentidos por Corbusier neste género de arquitetura tradicional. As paredes brancas de Argel parecem-lhe uma manifestação da própria natureza. Os seus estudos sobre a posição estratégica dos monumentos islâmicos em relação à topografia são determinantes, também, para as suas concepções sobre a forma como a arquitetura se relaciona e encoraja essa relação com a natureza.
Viagem à América do Sul
Em 1929 e 1936 fará outras duas viagens — que o influenciarão, ao mesmo tempo que denotam a influência que ele próprio já tem — à América do Sul. Inserida na altura em que desenvolvia o projecto da sua Ville Radieuse, a primeira destas viagens proporcionou-lhe a experiência de ver o Rio de Janeiro a partir do ar, guiado pelos aviadores Antoine de Saint-Exupéry e Mermoz. A disposição da cidade, entalada entre o mar e o relevo escarpado de origem vulcânica sugeriu-lhe a ideia de uma cidade-viaduto (cidade linear). Pensou, mesmo, para o Rio de Janeiro, uma estrada a acompanhar a costa, a cerca de 100 metros de altura, abrigando, debaixo dela, quinze andares com possibilidade para criar habitações. Algo semelhante foi pensado para Argel (o projecto Obus — por formar uma curva que se assemelhava à trajectória de uma granada). Este género de cidade foi, depois, adoptado por arquitectos vanguardistas, defensores da anarquia, como Yona Friedman e Nicolaas Habraken.
Obra
Le Corbusier lançou, em seu livro Vers une architecture (Por uma arquitetura, na tradução em português), as bases do movimento moderno de características funcionalistas. A pesquisa que realizou envolvendo uma nova forma de enxergar a forma arquitetônica baseado nas necessidades humanas revolucionou (juntamente com a atuação da Bauhaus na Alemanha) a cultura arquitetônica do mundo inteiro.
Sua obra, ao negar características histórico-nacionalistas, abriu caminho para o que mais tarde seria chamado de international style ou estilo internacional, que teria representantes como Ludwig Mies van der Rohe, Walter Gropius, e Marcel Breuer. Foi um dos criadores dos CIAM (Congrès Internationaux d'Architecture Moderne).
A sua influência estendeu-se principalmente ao urbanismo. Foi um dos primeiros a compreender as transformações que o automóvel exigiria no planejamento urbano. A cidade do futuro, na sua perspectiva, deveria consistir em grandes blocos de apartamentos assentes em pilotis, deixando o terreno fluir debaixo da construção, o que formaria algo semelhante a parques de estacionamento. Grande parte das teorias arquitectónicas de Le Corbusier foram adaptados pelos construtores de apartamentos nos Estados Unidos.
Le Corbusier defendia, jocosamente, que, "por lei, todos os edifícios deviam ser brancos", criticando qualquer esforço artificial de ornamentação. As estruturas por ele idealizadas, de uma simplicidade e austeridade espartanas, nas cidades, foram largamente criticadas por serem monótonas e desagradáveis para os peões. A cidade de Brasília foi concebida segundo as suas teorias.
Depois da sua morte, os seus detractores têm aumentado o tom das críticas, apelidando-o de inimigo das cidades. É, no entanto, absolutamente, um nome de referência na história da arquitetura contemporânea.
Os cinco pontos da nova arquitetura
Entre as contribuições de Le Corbusier à formulação de uma nova linguagem arquitetônica para o século XX se encontram estes cinco pontos, formalizados no projeto da "Villa Savoye":
Construção sobre pilotis.
Ao tornar todas as construções suspensas, cria-se no ambiente urbano uma perspectiva nova. Uma inédita relação "interno-externo" criar-se-ía entre observador e morador.
Não mais os telhados do passado. Com o avanço técnico do betão-armado (concreto no Brasil), seria possível aproveitar a última laje da edificação como espaço de lazer.
Planta livre da estrutura
A definição dos espaços internos não mais estaria atrelada à concepção estrutural. O uso de sistemas viga-pilar em grelhas ortogonais geraria a flexibilidade necessária para a melhor definição espacial interna possível.
Fachada livre da estrutura
Consequência do tópico anterior. Os pilares devem ser projetados internamente às construções, criando recuos nas lajes de forma a tornar o projeto das aberturas o mais flexível. Deveriam ser abolidos quaisquer resquícios de ornamentação.
Janela em fita
Localizada a uma certa altura, de um ponto ao outro da fachada, de acordo com a melhor orientação solar.
Cronologia
1905 – Villa Fallet, La Chaux-de-Fonds, Suíça
1912 – Villa Jeanneret-Perret, idem.
1916 – Villa Schwob, idem.
1923 – Villa LaRoche/Villa Jeanneret, Paris, França
1924 – Pavillon de L'Esprit Nouveau, idem (demolido)
1924 – La maison du Lac Genebra, Suíça
1924 – Quartiers Modernes Frugès, Pessac, França
1926 – Villa Cook, Boulogne-sur-Seine, França
1927 – Weissenhof Siedlung, Stuttgart, Alemanha
1928 – Villa Savoye, Poissy-sur-Seine, França
1929 – Armée du Salut, Cité de Refuge, Paris, França
1930 – Pavillon Suisse, Cité Universitaire, idem
1932 – Edifício Le Corbusier, Genebra, Suíça
1933 – Tsentrosoyuz, Moscou, URSS
1947-1952 – Unité d'Habitation, Marseille, França
1949 – Usine Claude et Duval, Saint-Dié-des-Vosges, França
1950-1955 – Chapelle Notre-Dame-du-Haut, Ronchamp, França
1951 – Maisons Jaoul, Neuilly-sur-Seine, França
1952-1959 – Edifícios em Chandigarh, Índia
1952 – Haute Cour
1952 – Musée et Galerie d'Art
1953 – Secrétariat
1953 – Club de kk Nautique
1955 – Assemblée
1959 – Ecole d'Arto
1953 – Maison du Brésil, Cité Universitaire, Paris, França
1956 – Unité d'Habitation de Briey en Forêt, Briey en Forêt, França
1957-1960 – Convento Sainte-Marie de La Tourette, Lyon, França
1958 – Pavillon Philips, Bruxelas, Bélgica (demolida)
1960 – Unité d'Habitation de Firminy, Firminy, France
1961 – Carpenter Center for the Visual Arts, Universidade Harvard, Cambridge, Massachusetts
Entre seus projetos mais famosos se encontram:
Villa Savoye – uma das residências mais famosas do mundo. Le Corbusier aplicou aqui seus 5 pontos para uma nova arquitetura.
Unidades de Habitação – a primeira construída (em Marselha) abriu caminho para a realização de mais três na França e uma na Alemanha Oriental. Estabeleceu a prática da construção modularizada e possibilitou ao arquiteto estudar as proporções humanas aplicadas ao projeto de edificações, sintetizadas em seu modulor.
Conjunto de edifícios-sede da Organização das Nações Unidas – Nova Iorque, Estados Unidos, 1953. Embora não tenha chefiado a equipe que projetou o complexo, Corbusier exerceu um papel bastante ativo em seu projeto. O projeto é considerado um dos representantes máximos do International style.
Palácio da Assembleia em Chandigarh, 1953. Assim como os outros edifícios da cidade, representa uma mudança na trajetória do arquiteto. Le Corbusier passa a adotar um partido mais brutalista em seus projetos.
Chapelle Notre-Dame-du-Haut – capela em Ronchamp, França, 1955. Uma das capelas mais famosas do mundo, também representa uma virada na obra do arquiteto.
Controvérsia
Existe um amplo debate sobre a natureza aparentemente volátil ou contraditória das posições políticas de Le Corbusier. Nos anos 20, co-fundou e contribuiu com artigos sobre urbanismo para as revistas fascistas Plans, Prélude e L'Homme Réel. Também escreveu textos a favor do anti-semitismo Nazi para estas revistas, bem como "editoriais odiosos". Entre 1925 e 1928, Le Corbusier teve ligações ao Le Faisceau, um partido fascista francês de curta duração liderado por Georges Valois. Le Corbusier conhecia outro ex-membro do Faisceau, Hubert Lagardelle, um ex-dirigente sindical e trabalhista que se tinha distanciado da esquerda política. Em 1934, depois de Lagardelle ter obtido um cargo na embaixada francesa em Roma, arranjou para que Le Corbusier desse uma palestra sobre arquitectura em Itália. Lagardelle serviu mais tarde como ministro do trabalho na França de Vichy, o regime fantoche pró-Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, Le Corbusier procurava comissões do regime, particularmente a remodelação de Marselha depois da sua população judaica ter sido removida à força, sem sucesso, a única nomeação que recebeu foi a de membro de uma comissão que estudava urbanismo. Alexis Carrel, um cirurgião eugenista, nomeou Le Corbusier para o Departamento de Bio-Sociologia da Fondation française pour l'étude des problèmes humains, um instituto que promovia políticas eugénicas ao abrigo do regime de Vichy.
Le Corbusier tem sido acusado de anti-semitismo. Escreveu à sua mãe em Outubro de 1940, antes de um referendo realizado pelo governo de Vichy: "Os judeus estão a passar um mau bocado. Ocasionalmente, sinto pena. Mas parece que a sua ganância cega por dinheiro apodreceu o país". Foi também acusado de desprezar a população muçulmana da Argélia, na altura parte de França. Quando Le Corbusier propôs um plano para a reconstrução de Argel, condenou a habitação existente para os argelinos europeus, queixando-se de que era inferior à habitada pelos argelinos indígenas: "os civilizados vivem como ratos em buracos", enquanto "os bárbaros vivem na solitude, no bem-estar". O seu plano de reconstrução de Argel foi rejeitado, e desde então Le Corbusier afastou-se em geral da política.
Críticas
Poucos arquitectos do século XX foram tão elogiados, ou tão criticados, como Le Corbusier. No seu tributo a Le Corbusier na cerimónia fúnebre do arquitecto no átrio do Louvre, a 1 de Setembro de 1965, o Ministro da Cultura francês André Malraux declarou: "Le Corbusier tinha alguns notáveis rivais, mas nenhum deles teve a mesma importância na revolução da arquitectura, porque nenhum deles suportou insultos tão pacientemente e por tanto tempo".
Muitas das críticas posteriores a Le Corbusier foram dirigidas às suas ideias sobre urbanismo. Em 1998, o arquitecto historiador Witold Rybczynski escreveu na revista Time:
"Ele chamou-lhe a Ville Radieuse, a Cidade Radiante. Apesar do título poético, a sua visão urbana era autoritária, inflexível e simplista. Onde quer que tenha sido experimentada- em Chandigarh pelo próprio Le Corbusier ou em Brasília pelos seus seguidores -falhou. A padronização revelou-se desumana e desorientadora. Os espaços abertos revelaram-se hostis; o plano imposto burocraticamente, socialmente destrutivo. Nos EUA, a Cidade Radiante tomou a forma de vastos esquemas de revitalização urbana e projectos de habitação pública que prejudicaram o tecido urbano irreversivelmente. Hoje, estes mega-projectos estão a ser demolidos, à medida que os super-blocos dão lugar a fileiras de casas que fazem frente às ruas e passeios. Os centros urbanos descobriram que combinar, e não separar, diferentes atividades é a chave para o sucesso. Tal como é a presença de bairros residenciais dinâmicos, sejam eles antigos ou novos. As cidades aprenderam que preservar a história faz mais sentido do que começar do zero. Tem sido uma lição cara, e não uma que Le Corbusier pretendesse, mas faz também parte do seu legado".
O historiador da tecnologia e crítico arquitectónico Lewis Mumford escreveu no Yesterday's City of Tomorrow que as dimensões extravagantes dos arranha-céus de Le Corbusier não tinham qualquer razão de ser para além do facto de se terem tornado possibilidades tecnológicas. Os espaços abertos nas suas áreas centrais também não tinham razão de ser, escreveu Mumford, uma vez que na escala por ele imaginada não havia motivo para a circulação de peões no quarteirão de escritórios durante o dia de trabalho. Ao "acoplar a imagem utilitária e financeira da cidade arranha-céus à imagem romântica do ambiente orgânico, Le Corbusier produzira, de facto, um híbrido estéril".
Os projetos de habitação pública influenciados pelas suas ideias têm sido criticados por isolar comunidades pobres em arranha-céus monolíticos e quebrar os laços sociais essenciais ao desenvolvimento comunitário. Uma dos seus mais influentes detractores tem sido Jane Jacobs, que fez uma crítica devastadora às teorias de design urbano de Le Corbusier na sua obra emblemática Morte e Vida de Grandes Cidades.
Para alguns críticos, o urbanismo de Le Corbusier era um modelo para um estado fascista. Estes críticos citam o próprio Le Corbusier quando este escreve que "nem todos os cidadãos poderiam tornar-se líderes. A elite tecnocrática, os industriais, financeiros, engenheiros, e artistas deveriam ocupar o centro da cidade, enquanto os trabalhadores deveriam ser retirados para as periferias da cidade".
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
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Quem foi Le Corbusier e qual sua contribuição para a arquitetura? – Archtrends
As principais características do arquiteto e, ainda, fatos sobre a sua vida pessoal, obras mais importantes e influência na arquitetura atual.
Entre os arquitetos mais famosos e reconhecidos no mundo, o suíço Charles Edouard-Jeanneret-Gris destaca-se como pioneiro do movimento modernista e um dos principais influenciadores teóricos da arquitetura de todos os tempos.
Charles não ficou conhecido pelo nome, mas sim pelo pseudônimo, Le Corbusier. Polêmico, muitas vezes odiado e incompreendido, também foi idolatrado, sendo um dos primeiros arquitetos a se tornar celebridade — um starchitect, mescla de star (estrela) e architect (arquiteto).
Separamos as principais características do arquiteto e, ainda, fatos sobre a sua vida pessoal, obras mais importantes e influência na arquitetura atual. Quer conhecer mais sobre Le Corbusier? Não deixe de ler este artigo!
A influência de Le Corbusier na arquitetura
Le Corbusier foi muito mais do que arquiteto. Ele atuou também na área acadêmica e intelectual, aplicou seu conhecimento em diversas artes e deixou seus pensamentos registrados em publicações e artigos de revistas.
Para a arquitetura, deixou mais de 30 obras pelo mundo, importantes teorias e práticas avançadas, que até hoje guiam obras e projetos de urbanismo e paisagismo. O arquiteto é conhecido por elaborar processos de construção racionalistas e funcionais, além de desenvolver, por exemplo, táticas que possibilitam paredes mais leves por meio de técnicas modernas de concreto armado.
Le Corbusier utilizava referências estéticas e conceituais que ele reuniu em viagens por todo o mundo — principalmente Europa, América do Sul, África e Oriente Médio —, e as aplicava em suas obras, considerando o que ele acreditava ser mais apropriado e condizente com seus conceitos de arquitetura.
O planejamento urbano de muitas cidades europeias e africanas, como Argel, capital da Argélia, contou com a visão revolucionária de Corbu, que foi um dos primeiros a antecipar como o automóvel tomaria espaço nos centros urbanos e pensar a importância da orientação da engenharia e da arquitetura para aspectos naturais e para a integração com a natureza.
As características e vida pessoal do arquiteto
Charles Edouard-Jeanneret-Gris nasceu no dia 6 de Outubro de 1887, em uma pequena cidade suíça, chamada La Chaux-de-Fonds. O arquiteto viveu grande parte de sua vida na França, inclusive se tornou cidadão francês após o casamento, mas a sua cidade natal teve grande valor para o desenvolvimento de suas concepções arquitetônicas e da própria carreira.
La Chaux-de-Fonds está localizada a 10 km da fronteira da Suíça com a França e se tornou conhecida como a capital mundial dos relógios, uma vez que detinha cerca de metade da produção e exportação de todos os relógios produzidos no mundo, no início do século XX.
Le Corbusier teve muito contato com essa indústria durante a infância e adolescência. Foi justamente a produção industrial o primeiro fator que pode ter influenciado, ainda que indiretamente, sua percepção sobre a ação da arquitetura no cotidiano. Corbu definia uma residência como “uma máquina de morar”. Para ele, as máquinas apresentam uma função além da utilitária, passando a representar uma forma de expressão artística.
O segundo fator é que a cidade de La Chaux, anos antes de seu nascimento, tinha sido reconstruída após um incêndio devastar grande parte dos edifícios. O novo planejamento urbano propôs vias mais largas e uma disposição das ruas que privilegiasse a luz natural. Assim, as construções foram alinhadas para estarem mais expostas à radiação solar e continham grandes janelas, que facilitavam a entrada de luz.
Em contrapartida, anos depois, Corbu declara publicamente seu desprezo pela cidade natal.
O contato de Le Corbusier com a arte teve início quando o arquiteto completou 13 anos: ele entrou para uma escola de arte com o objetivo de se formar escultor e entalhador. Aos 15 anos, já demonstrava talento e recebeu um prêmio pelo desenho de um relógio.
Sua habilidade chamou a atenção de um de seus professores, que era formado pela Escola de Belas Artes de Paris. O professor, então, apresentou para Corbu a área de arquitetura.
O arquiteto franco-suíço se casou em 1930 com uma modelo francesa, Yvonne Gallis, passando a ser cidadão francês. Em 1940, quando Paris foi tomada pelos alemães, o arquiteto fechou seu escritório e se mudou para o sul da França. Os anos posteriores foram marcados por novos contatos no exterior, aumentando o prestígio mundial de Corbu e alavancando o movimento modernista.
Os projetos de reconstrução das cidades destruídas foram definitivos para a sua carreira, e de 1945 a 1949 ele atuou como consultor para tais assuntos. Seu reconhecimento como um dos arquitetos mais influentes aconteceu apenas na fase final de sua vida, entre 1950 e 1965, ano de seu falecimento.
O início da carreira profissional
O primeiro projeto registrado do arquiteto é a casa de um fabricante de relógio.
Após inaugurar essa nova jornada, escolhendo a arquitetura como profissão, Corbu inicia uma série de viagens para cidades europeias, começando pela região da Toscana e passando depois por Budapeste, Munique, Viena, Paris e outras. Em um dos relatos, Corbu comenta a “arquitetura humana” das celas dos monges em um monastério da Toscana. As viagens foram feitas em 1907 e, para o arquiteto, eram uma maneira de adquirir conhecimento.
Em 1908, o artista começa a estagiar em um escritório em Paris. Por dois anos, trabalha com os irmãos Perret, reconhecidos pelo pioneirismo e modernidade das construções de concreto armado, técnica muito utilizada em toda a sua carreira.
A partir de 1910, Corbu passa uma temporada na Alemanha, trabalhando como desenhista em um estúdio, tendo grande influência da construção moderna. Os próximos anos são de mais descobertas e aprendizados: o arquiteto viajou por grande parte da Europa Central e Oriental, com destaque à arquitetura clássica grega e às mesquitas de Istambul.
Entre 1912 e 1914, Le Corbusier participou de eventos da Escola de Chaux-de-Fonds como professor. Também projetou residências, uma cidade-jardim e a reconstrução de cidades francesas, que foram destruídas durante a Primeira Guerra Mundial.
No ano de 1917, o arquiteto se muda definitivamente para Paris e se arrisca na pintura e em novos ofícios. Corbu fez associações com importantes figuras da época, como o pintor Amédée Ozenfant, com quem publicou o artigo “Après le cubisme” — importante crítica ao movimento cubista, valorizando a forma rigorosa de cada objeto e fundamentando o início da corrente purista.
O nome Le Corbusier começou a ser usado nessa época, na assinatura de seus quadros. O pseudônimo é derivado do sobrenome de seu bisavô, Lecorbésier.
A parceria com Ozenfant acarretou no lançamento da revista “L’Esprit Nouveau”, a qual se tornou um dos principais meios de atuação do artista, uma vez que o mercado de arquitetura estava em baixa e quase não havia encomendas e projetos. Ficou conhecido, portanto, pela vanguarda parisiense, mesmo sem muitas obras construídas. Tal reconhecimento possibilitou alguns projetos, a maioria casas de campo, restritas à elite francesa.
Corbu ainda lançou um livro, publicado em 1923, “Vers une Architecture” (“Por uma arquitetura”), no qual aborda 5 pontos e fundamentos que são as bases do movimento modernista.
Aos 35 anos, se associa a seu primo, Pierre Jeanneret, e, juntos, montam um escritório de arquitetura, tendo oportunidade de explorar os conceitos e as ideias desenvolvidas por anos (principalmente o conceito de casa como “máquina de morar”). O trabalho desenvolvido no escritório, em meados dos anos 30, rendeu muitos projetos na Europa e fora, como na África e América do Sul, inclusive no Brasil.
Suas principais obras pelo mundo
O arquiteto deixou pouco mais de 30 obras construídas pelo mundo. Entre elas, cerca de 17 estão incluídas na lista da UNESCO de Patrimônios Mundiais da Humanidade. As mais importantes são:
1. Unités d’Habitation
Localizado em Marselha, na França, essa obra é um dos exemplares que formam um conjunto de edifícios modulares que fazia parte do projeto de reconstrução do país após a Segunda Guerra Mundial, acrescido de um exemplar em Berlim, na Alemanha Oriental.
O primeiro e mais famoso edifício é o de Marselha e foi construído entre 1947 e 1953. A importância do projeto é percebida pela inspiração em uma das obras mais famosas: Ville Radieuse (Cidade Radiante). O arquiteto refletiu seu sonho de construir espaços que conseguissem integrar o ser humano à natureza e ao meio, o que era considerado por muitos uma utopia.
A cidade foi pensada seguindo o padrão do corpo humano, formado por construções em blocos, com livre circulação no andar térreo e espaços verdes em volta. O desenho constituía linearmente o formato de um corpo humano: coluna, membros e cabeça — conceito proposto pelos estudos de Corbu acerca das proporções do corpo humano e do Modulor.
O Modulor, uma das contribuições de Le Corbusier, é um sistema que referencia as medidas modulares com base nas proporções de um indivíduo de 1,83 m — altura média observada em estudos da época por todo o mundo. O sistema visava fugir dos modelos de medidas comuns e era fundamentado em outras teorias, como a proporção áurea e a sequência de Fibonacci.
O cenário econômico e social como consequência da guerra exigiu que as construções fossem mais “brutas”, utilizando materiais mais simples, baratos e resistentes, como o concreto. O movimento deu início à arquitetura conhecida como brutalista, com traços simplistas, construções em bloco e com capacidade de suprir as necessidades sociais.
2. Villa Savoye
O desenho modernista e as janelas em formato de fita são características marcantes da casa, construída em 1929. Projetada nos moldes do conceito de casa como máquina de morar, não chegou a exercer essa função. Foi usada no período da guerra pelo exército alemão e, posteriormente, pelo americano, e foi deixada em ruínas até 1963, quando o governo francês a reconstruiu e a declarou como patrimônio arquitetônico.
As características arquitetônicas da construção seguem os 5 pontos propostos pelo arquiteto.
3. Pavillon Suisse
A obra, que em português significa Pavilhão Suíço, é um edifício da Cidade Universitária de Paris e foi construído para ser um alojamento de estudantes. Le Corbusier e Pierre Jeanneret enfrentaram uma série de desafios durante a construção, entre eles a dificuldade financeira da universidade, o terreno e as tensões entre a França e a Suíça.
O prédio surpreende pela modernidade e pelas características próprias, que também seguem os 5 pontos de Corbu. Com grande área aberta no espaço do térreo, em um efeito de flutuação, o edifício é cercado por jardins, concreto e estrutura com elementos pouco sofisticados.
4. Palácio da Assembleia
Uma das construções que mais se destacam fora do eixo europeu é o Palácio da Assembleia, localizado na Índia, em Chandigarh. A cidade foi redesenhada por Le Corbusier, contando com a ajuda de Jeanneret, e é o único projeto de urbanismo executado pelo arquiteto. O projeto começou em 1951 e foi até 1965, com sua morte.
A qualidade do projeto fascina, a arquitetura moderna é apresentada de diversas maneiras em jardins, avenidas largas e parques, incluindo características de outras artes, como a pintura e a escultura. Toda a cidade é subdividida em setores independentes, com infraestrutura própria. O acesso é facilitado e tudo está a 10 minutos a pé. E, ainda hoje, com mais de um milhão de habitantes, mantém infraestrutura capaz de atender às necessidades modernas.
Junto de outros edifícios simbólicos do governo, o Palácio da Assembleia compõe todo o paisagismo da cidade e é um edifício de concreto aparente com formas inusitadas. Grandes pilares integram a fachada e sustentam a calha em horizontal, o interior permite a adequação dos escritórios nas laterais do prédio para que o centro possa ser utilizado pelo público e a cobertura é acessível para todos, possibilitando contato com o exterior do prédio.
5. Capela Notre-Dame-du-Haut
A capela começou a ser construída em 1950 e foi terminada em 1955, em um sítio na França. Está localizada na colina de Bourlémont, em Ronchamp, sobre ruínas de um santuário medieval destruído em 1944.
O início da parceria entre o arquiteto e os fiéis que encomendaram a capela foi reportado como difícil. O motivo foram as divergências ideológicas, já que o arquiteto era ateu e tinha ideias modernistas, e o clero possuía convicções opostas ao proposto. O arquiteto, depois, é autorizado a compor a obra da maneira que desejasse.
A capela é formada por um salão principal e três câmaras mais reservadas e um altar no exterior, além de coletores de água, devido à escassez da região. As formas retas e circulares se completam em um exterior de concreto com tons escurecidos e em um interior naturalmente iluminado.
O portfólio de Corbu é composto por outras obras envolvendo edifícios religiosos, como o convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette e a igreja de Saint-Pierre de Firminy.
6. Villa Roche
A residência foi projetada para um banqueiro suíço, Raoul La Roche, e serviu como espaço de exposições e galeria em Paris. A estrutura apresenta um formato diferenciado, como se fosse um agrupamento de estruturas distintas unidas por rampas, escadarias e terraços.
O uso de muitas cores no interior é descrito por Corbu como “Corbusier color-space”: tons como azul, cinza, vermelho e turquesa em conjunto com o branco, presente em todo o espaço, interno e externo.
Corbu descreve a obra como “pitoresca, cheia de movimento, mas que requer uma clássica hierarquia para discipliná-la”.
O projeto com maior destaque
Ville Radieuse ou Cité Radieuse (Cidade Radiante) é o projeto que sumariza todos os elementos e ideais propostos por Le Corbusier, tendo em vista o contexto social da época em que foi apresentado. O projeto de paisagismo e urbanismo não chegou a ser concretizado, mas exerceu influência em outras obras e na atuação do arquiteto.
A proposta foi feita em 1924 e de forma ambiciosa, pois era o plano de uma cidade ideal para Le Corbusier. A cidade valoriza a livre circulação, espaços abertos integrados com a natureza, construções em blocos altos e o sistema modular.
O plano também foi publicado em um livro e não tinha como objetivo apenas a melhoria da qualidade de vida dos moradores, mas também o desenvolvimento de uma sociedade melhor. A cidade seria subdividida em áreas segregadas, com foco comercial, de negócios, de lazer e, por fim, residencial. Cada área foi projetada para conseguir receber certa quantidade de pessoas.
As residências, conhecidas como unités, seriam apartamentos pré-fabricados, distribuídos em edifícios nos bairros residenciais, funcionando como uma vila vertical. Espaços funcionais, como lavanderias, ficariam no piso térreo e áreas sociais, na cobertura. Os blocos seriam circundados por parques e áreas verdes, privilegiando a luz natural e o conforto.
Passagem pelo Brasil
A primeira passagem do arquiteto pelo Brasil foi em 1929, visitando as capitais, Rio de Janeiro e São Paulo. A viagem teve início em Buenos Aires, Argentina, e percorreu outras cidades da América do Sul.
O contato com o mercado e com profissionais estrangeiros se deu a partir da vontade do franco-suíço em focar projetos de paisagismo e urbanismo. Projetos residenciais, como a Villa Savoye, já o tornava reconhecido por arquitetos em todo o mundo e, para expandir os horizontes, o arquiteto se voltou para projetos de construção e reconstrução de cidades.
O mercado estrangeiro possibilitava maior contato com o que o arquiteto queria, assim ele participou de congressos e encontros internacionais e realizou projetos na Rússia e Suíça, por exemplo. O contato com a América do Sul foi uma grande oportunidade para impulsionar o salto na carreira.
Foi recepcionado por Victoria Ocampo, escritora argentina, e Paulo Prado, fazendeiro de café e escritor, influente na política brasileira. Poucos projetos residenciais foram discutidos ou propostos, não rendendo em oportunidades efetivas, devido às dificuldades pela distância e outros empecilhos. Corbu, então, teve grande participação em eventos e conferências da área, além de entrar em contato com arquitetos que já utilizavam referências modernas em suas obras.
Anos depois, com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (MES) durante o governo Vargas, em meio a tramas e apoio do ministro, Lúcio Costa assumiu o projeto de construção da sede do MES, um dos ministérios de maior importância para o governo da época. Le Corbusier foi escolhido como consultor.
Corbu também foi chamado para o projeto do campus de uma universidade que o MES pretendia fundar, que serviria de modelo para as demais do país. No meio de mais confusões e disputas, o arquiteto foi contratado somente como conferencista em 1936.
Os dois projetos foram rejeitados pelas comissões designadas — apenas o projeto da sede do ministério se manteve, mas foi adaptado pela equipe de Lúcio Costa. A equipe contava com arquitetos ex-alunos da ENBA, entre eles Carlos Leão, Ernani Vasconcellos, Jorge Moreira e Oscar Niemeyer. Niemeyer foi escolhido por Le Corbusier para preparar alguns desenhos que serviriam para as demonstrações visuais das conferências.
Em 1962, Corbusier veio pela última vez ao Brasil, para conhecer Brasília e o plano urbanístico de Lúcio Costa, junto de exemplares de Niemeyer.
Sua contribuição para a teoria artística
As diversas publicações do arquiteto tiveram contribuição imensa para o campo teórico e são peças notáveis até hoje.
Os 5 pontos da Nova Arquitetura são princípios fundamentais para compreender as obras do arquiteto. Em 1926, na revista L’Esprit Nouveau, Le Corbusier publicou a forma final da teoria, composta pelos pontos: planta livre, fachada livre, pilotis, terraço jardim e janelas em fita.
De maneira resumida, a planta livre diz respeito à livre movimentação e possibilidade das paredes, que seguindo as técnicas construtivas do arquiteto, deixam de exercer função estrutural. Seguindo, a fachada livre, também devido à independência da estrutura, é um espaço sem impedimentos que pode ser projetado com vários arranjos.
O pilotis é formado pelo sistema de pilares sem impedimentos que permite a livre circulação no espaço térreo das construções, melhor visibilidade e sensação de segurança. O terraço-jardim é uma das formas de utilizar a cobertura, muitas vezes pouco aproveitada nos edifícios, além de reintegrar o espaço verde que foi perdido pela construção.
As janelas em fita são, talvez, a característica mais marcante, possibilitadas pela variedade de arranjos da estrutura. Podem seguir a orientação solar para melhor iluminação e aproveitamento da vista e da paisagem.
O livro já citado, “Vers une Architecture” (“Por uma arquitetura”), conta com outras publicações de grande importância para o campo. Entre eles, ensaios escritos por Corbusier expondo teorias da ação da arquitetura, a visão do arquiteto sobre o modernismo e críticas à arquitetura da época, por exemplo.
O legado deixado para os profissionais da área
Os arquitetos atuais são muito influenciados pela participação e influência de Corbusier não só no campo prático da arquitetura, mas também em teorias e desenvolvimento de novas práticas.
Em suma, Le Corbusier pensava a arquitetura como elemento que auxilia a constituição social e que, por isso, deveria ter uma função prática e conjunta ao ambiente das cidades, envolvendo também o planejamento urbano e paisagístico do lugar. Acreditava que a arquitetura pode resolver problemas e melhorar questões sociais.
Além disso, ele desenvolveu uma série de técnicas construtivas com pilares de cimento armado, tirando a função estrutural das paredes e permitindo um interior adaptado para as necessidades. Criou também o sistema de medidas proporcionais, o Modulor, orientando obras e pinturas.
O resultado de todos os conceitos do arquiteto são obras que até hoje se fazem condizentes com o cenário, antecipando problemas como o grande número de automóveis, o crescimento das cidades e a integração com a natureza.
Fonte: ArchTrends, "Quem foi Le Corbusier?", publicado em 9 de março de 2017. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
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Biografia Le Corbusier – Itaú Cultural
Charles Edouard Jeanneret, conhecido como Le Corbusier, nasceu em 6 de outubro de 1887 em Chaux-de-Fonds, Suíça. Aos 13 anos entrou para a escola de arte. Aos 15 anos, recebeu um prêmio da Escola de Artes Decorativas de Turim pelo desenho de um relógio. Em 1906 realizou seu primeiro projeto: a casa de um fabricante de relógios. Em 1907 viajou pela Europa com o objetivo de aprimorar seus conhecimentos e no ano seguinte passou a trabalhar no escritório de Auguste Perret, pioneiro do concreto-armado, onde recebeu importante influência em sua formação profissional. Posteriormente fundou o Atelier das Artes Reunidas. Em 1910 viajou à Alemanha, onde trabalhou como desenhista no estúdio de Behrens, outro pioneiro da construção moderna. No ano seguinte, percorreu a Europa Central e a Grécia, produzindo desenhos que seriam depois reunidos no livro Viagens no Oriente.
Entre 1912 e 1914 participou, como professor, de uma nova seção da Escola de Chaux-de-Fonds, criada nos moldes da Bauhaus, projetando algumas casas para industriais da região. Em 1914 realizou o projeto de uma cidade-jardim para sua terra natal, assim como o de um sistema para a reconstrução das cidades francesas destruídas pela Primeira Guerra Mundial.
Em 1917 instalou-se em Paris e começou a trabalhar na Sociedade de Aplicação do Concreto Armado. No ano seguinte, junto com o pintor Amédé Ozenfant publicou Après le cubisme, em que faziam críticas ao movimento e propunham um retorno ao desenho rigoroso do objeto. Iniciou-se, então, na a pintura, já sob o pseudônimo de Le Corbusier, e fez exposições regulares até 1924.
Ozenfant e Le Corbusier fundaram a revista L’Esprit Nouveau, para a qual contaram com a cooperação de importantes intelectuais como Aragon e Jean Cocteau. A revista passou então a ser sua principal atividade e meio de ação: em suas páginas,Le Corbusier fazia uma arquitetura para a qual ainda não havia mercado. Tornou-se, assim, um arquiteto conhecido entre a vanguarda parisiense antes mesmo de ter um número significativo de obras construídas. Essa notoriedade lhe proporcionou as primeiras encomendas e a realização de seus primeiros projetos, sobretudo casas de campo nos arredores da capital francesa.
Seu objetivo de construir habitações populares em grande escala continuava em suspenso, pois a política de poderes públicos na França era ditada, desde meados do século XIX, pelos acadêmicos da École des Beaux-Arts, que estendiam sua influência em todas as direções, orientando as decisões até mesmo de concursos internacionais. Restou a Le Corbusier a clientela privada de franceses e estrangeiros amantes da arte moderna e de concepções inovadoras de habitar, que tinham em Paris seu centro social e cultural.
De 1927 a meados da década de 1930, a atividade de seu pequeno escritório esteve em pleno desenvolvimento. Le Corbusier ministrava conferências e elaborava projetos revolucionários de urbanismo para países europeus, da África do Norte e da América Latina, incluindo o Brasil, que visitou pela primeira vez em 1929. Nesse mesmo ano participou da organização do I Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (Ciam), cujas resoluções finais estabeleceram os princípios de atuação do movimento moderno na arquitetura.
Em 1930 casou-se com a parisiense Yvonne Gallis, tornando-se cidadão francês. Em 1936, retornou ao Brasil para orientar o projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde. Como um dos fundadores do grupo Ciam influenciou decisivamente, com suas idéias, a arquitetura moderna no Brasil. Em 1940, quando Paris foi ocupada pelos alemães, fechou seu escritório e refugiou-se no sul da França. Nos anos seguintes intensificou seus contatos internacionais, firmando seu prestígio como pensador da nova arquitetura e tentando demonstrar a exeqüibilidade dos novos métodos de construir.
De 1945 a 1949 atuou como consultor para a reconstrução de cidades destruídas, e viu dois de seus projetos serem realizados, entre os quais o da Unidade de Habitação de Marselha. Em 1946 e 1947, junto com Oscar Niemeyer, participou dos estudos para a edificação da sede da ONU, em Nova Iorque. Sua consagração como grande arquiteto internacional só aconteceu na fase final de sua carreira, entre 1950 e 1965. Em 1959, recebeu o título de doutor honoris-causa pela Universidade de Cambridge. Morreu em 1965.
Individual
2012 - São Paulo - São Paulo - Brasil - Le Corbusier - América do Sul - 1929 (2012 : São Paulo, SP) - Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, SP)
Coletiva
1998 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - O Rio Jamais Visto (1998 : Rio de Janeiro, RJ) - Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Valência - Valência - Espanha - De la Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950 (2000:Valência, Espanha) - IVAM. Centre Julio Gonzáles (Valência, Espanha)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - A Paisagem Carioca (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - A Paisagem Carioca (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960 (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Paço Imperial (Rio de Janeiro, RJ)
2002 - São Paulo - São Paulo - Brasil - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950 (2002 : São Paulo, SP) - Museu de Arte Brasileira (São Paulo, SP)
Fonte: LE Corbusier. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Acesso em: 29 de março de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
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Biografia e obras do arquiteto Le Corbusier
Celebrado como um dos grandes ícones do modernismo, Le Corbusier foi, junto com Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi, um dos arquitetos mais emblemáticos do século XX. Conhecido por seu olhar crítico e obras icônicas, ele alterou o curso da história das artes, arquitetura e urbanismo.Esse mestre da arquitetura brilhou também em outros segmentos. Atuando na área acadêmica e intelectual, aplicou o seu conhecimento em diversas artes. Assim, deixou seus pensamentos registrados em publicações, livros e artigos, fabulosos legados para quem o admira. Seu ótimo desempenho como pintor e escultor rendeu a ele prêmios e reconhecimento. Sua arte replicava o seu ideal de arquitetura e design, pois utilizava estruturas e formas claras e rejeitava os ornamentos e cores, um conceito que ficou conhecido internacionalmente.
Ele ficou bastante conhecido por elaborar processos de construção racionalistas e funcionais. Com uma visão futurista, esse gênio foi um dos primeiros a antecipar a influência do automóvel no desenvolvimento das cidades.
Outro marco importante em sua vida foi a criação das Unités d’Habitation (unidades de habitação). Por meio desse tipo de construção, o profissional estabeleceu a dinâmica da vida urbana em um edifício de proporções imensas e com grande número de unidades.
Le Corbusier revolucionou os conceitos de arquitetura e urbanismo com trabalhos que garantiam, além de funcionalidade, conforto. Além disso, seu estilo vanguardista e sua visão crítica sobre a sociedade renovaram as construções e projetos de todo o mundo.
Biografia
Charles-Edouard Jeanneret-Gris nasceu em 6 de outubro de 1887, na Suíça. Foi filho de um profissional que trabalhava em uma renomada indústria de relógios e de uma professora de piano.
Aos 13 anos, iniciou seus estudos na escola de artes decorativas de sua cidade com o objetivo de seguir a profissão do pai e, logo, recebeu prêmios por seus trabalhos. No entanto, seguiu os conselhos de um de seus professores para se dedicar à arquitetura e, aos 18 anos, projetou sua primeira casa.
A partir de 1907, com o objetivo de aperfeiçoar seu conhecimento, fez diversas viagens mundo afora. Começou pela Itália, onde ficou cerca de dois meses, um lugar que influenciaria bastante suas construções futuras. Foi lá também que muitas de suas inspirações surgiram. A visita ao Mosteiro de Galluzzo, por exemplo, o impressionou pelo fato do espaço ressaltar as suas preocupações sócio-políticas.
Já em Berlim, trabalhou no escritório de Peter Behrens até 1911, outro pioneiro da construção moderna. No ano seguinte, percorreu a Europa Central e a Grécia, produzindo desenhos que fariam parte do seu livro “Viagens do Oriente”.
Em 1917, mudou-se Paris e começou a trabalhar na Sociedade de Aplicação do Concreto Armado. Logo em seguida publicou o Après le cubisme, junto com o pintor Amédé
Ozenfant. Por meio desse manifesto purista, eles criticavam o movimento e propunham o retorno ao desenho rigoroso do objeto.
Já sob o pseudônimo de Le Corbusier, ele deu início ao seu trabalho de pintor, fazendo exposições regulares até 1924. No mesmo período, sua habilidade como arquiteto também chamou a atenção, atraindo olhares da vanguarda parisiense. Assim, graças à sua notoriedade, o brilhante profissional conseguiu diversas encomendas para construir casas de campo.
O sucesso foi tanto que, entre 1927 e 1930, o escritório do arquiteto Le Corbusier elaborou projetos revolucionários de urbanismo para vários países, incluindo para o Brasil. Foi também nessa época que ele se casou com a parisiense Yvonne Gallis, e assim, tornou-se cidadão francês.
Em 1936, viajou ao Brasil para orientar o projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde. Como um dos fundadores do grupo CIAM, influenciou fortemente a arquitetura moderna no Brasil, levando seu conceito de cinco pontos de arquitetura a novos níveis.
Além disso, o arquiteto Le Corbusier desenvolveu planos urbanos novos e fantásticos para o Rio de Janeiro e outras cidades sul-americanas. Os esboços sugeriam um prédio de concreto, com vários andares e muitos quilômetros de extensão ao longo das encostas.
Em 1940, fechou seu escritório e se refugiou no sul da França, pois Paris havia sido invadida pelos alemães. Nos anos seguintes, intensificou seus contatos internacionais, firmando-se como autoridade e pensador da nova arquitetura.
De 1945 a 1949, atuou como consultor para a reconstrução de cidades destruídas, e viu a execução de dois de seus projetos, sendo um deles o do Unités D’Habitation. Nos anos seguintes, junto com Oscar Niemeyer, participou de estudos relacionados à edificação da sede da ONU, em Nova York.
O seu reconhecimento merecido aconteceu, de forma mais intensa, ao fim de sua carreira, entre 1950 e 1965. Nesse meio tempo, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de Cambridge.
Sua morte, em 1965, não apagou nem as ideias e nem o legado desse célebre gênio moderno. Com declarações polêmicas, como “uma casa é uma máquina de morar” e pensamentos inovadores, ele foi uma das principais figuras do século XX.
Uma das mais nobres ideias desse mestre foi acreditar que a arquitetura poderia (e deveria) melhorar as questões sociais e, até mesmo, resolver problemas da sociedade que envolvessem planejamento urbano e paisagístico.
A jornada desse gênio foi marcada por intensa produção, como a criação de manifestos, publicação de livros, elaboração de projetos e construções incríveis, sem falar em suas pinturas. Não foi à toa que deixou diversos admiradores pelo mundo todo.
“A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz”
É fã de biografias e curte arquitetura? Então, confira também:
“O grande arquiteto Ruy Ohtake: biografia, obras e projetos”;
“Quem foi Antoni Gaudí: biografia, construções e legado do arquiteto”.
Obras de Le Corbusier
O arquiteto Le Corbusier deixou aproximadamente 30 obras pelo mundo. Entre elas, 17 foram consideradas como Patrimônios Mundiais da Humanidade pela UNESCO.
Entre as suas obras mais importantes, algumas se destacam, como:
1. Unités D'Habitation (Marselha, França)
Essa obra foi composta de grandes edifícios modulares construídos após a II Guerra Mundial, sendo o primeiro implantado em Marselha. Também ficou conhecida como Cité Radieuse (cidade radiosa), por tentar recuperar a dinâmica da vida urbana em um edifício monumental.
2. Pavillon Suisse (Cidade Universitária de Paris)
O pavilhão suíço, ou Pavillon Suisse, empregou os cinco pontos da arquitetura de Corbusier, apoiando-se neles durante todo o projeto. O edifício foi elevado sobre pilotis que estão próximos ao seu centro, acentuando um efeito “flutuante”.
3. Palácio da Assembléia (Índia)
Revelando um estilo mais brutalista, essa construção contou com planta livre e com uma cobertura que podia ser acessada. Assim a obra cumpriu seu papel, que era permitir o contato do homem com a natureza.
4. Capela de Notre-Dame-Du-Haut (França)
Essa capela foi projetada com paredes grossas e curvilíneas e com janelas que permitiam a luz entrar de maneira controlada.
5. Villa Sailla Savoye (Paris, França)
Villa Savoye representa um dos grandes ícones da arquitetura moderna, juntamente com a Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright e a residência Farnsworth (de Mies van der Rohe). Ela foi literalmente projetada como “uma máquina de morar” e apresenta os cinco pontos da nova arquitetura.
Fonte: LAART, "Biografia e obra de Le Corbusier", publicado em 4 de maio de 2020. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
Crédito fotográfico: Biography, Le Corbusier. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
Charles-Edouard Jeanneret-Gris (Suíça, La Chaux-de-Fonds - Neuchâtel, 6 de outubro de 1887 — Suíça, Roquebrune-Cap-Martin, 27 de agosto de 1965), mais conhecido como Le Corbusier, foi um arquiteto, urbanista, designer, pintor e escritor suíço-francês. Conhecido por suas ideias inovadoras sobre arquitetura, urbanismo e design, Le Corbusier acreditava que a arquitetura deveria ser funcional, eficiente e atender às necessidades básicas dos seres humanos e defendia a ideia de que a arquitetura deveria ser adaptada aos tempos modernos e às novas tecnologias, ao invés de seguir os estilos arquitetônicos tradicionais. Entre suas obras mais famosas estão o Pavilhão Suíço na Exposição Internacional de 1929, em Barcelona, a Casa Curutchet em La Plata, Argentina, o Unité d'Habitation em Marselha, França, e a Capela de Notre-Dame-du-Haut em Ronchamp, França. Expôs extensamente na Suíça, mas também realizou exposições no Brasil, França, Alemanha, Índia, Rússia, Estados Unidos, entre outros. Le Corbusier também escreveu vários livros, incluindo "Vers une architecture" e "Le Modulor", que influenciaram profundamente a arquitetura moderna e o design. É considerado um dos pioneiros da arquitetura moderna e um dos arquitetos mais importantes do século XX.
Biografia – Wikipédia
Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido pelo pseudónimo de Le Corbusier (La Chaux-de-Fonds, 6 de outubro de 1887 – Roquebrune-Cap-Martin, 27 de agosto de 1965), foi um arquiteto, urbanista, escultor e pintor de origem suíça e naturalizado francês em 1930. É considerado, juntamente com Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto e Mies van der Rohe um dos mais importantes arquitectos do século XX. Conhecido por ter sido o criador da Unité d'Habitation, conceito sobre o qual começou a trabalhar na década de 1920.
Aos 29 anos mudou-se para Paris, onde adotou o seu pseudónimo, que foi buscar ao nome do seu avô materno, originário da região de Albi. A sua figura era marcada pelos seus óculos redondos de aros escuros. Morreu por afogamento, em 27 de agosto de 1965.
Formação
Villa Fallet de 1905.
A importância de Le Corbusier advém, em grande parte, do seu enorme poder de síntese.
Nas viagens que fez a várias partes do mundo, Le Corbusier contactou com estilos diversos, de épocas diversas. De todas estas influências, captou aquilo que considerava essencial e intemporal, reconhecendo em especial os valores da arquitetura clássica grega, como da Acrópole de Atenas.
Le Corbusier projetou a sua primeira casa com dezoito anos, em 1905, na sua cidade natal, La Chaux-de-Fonds, conhecida pela produção de relógios. Foi, aliás, essa a sua primeira atividade profissional. Nasceu numa família calvinista, onde recebeu uma formação moral que acentua os contrastes entre o Bem e o Mal. Kenneth Frampton defende que esta atitude mental tê-lo-ia influenciado no sentido da "dialética" presente na sua obra (o diálogo entre o sólido e o vazio, a luz e a sombra).
Viagem a Itália
Em 1907, ano em que também conheceu Tony Garnier, Le Corbusier faz uma viagem de dois meses e meio em Itália: Milão, Florença (em setembro), Siena, Bolonha, Pádua e Veneza (de outubro a inícios de novembro). Parte, de seguida, para Viena (onde fica 4 meses), via Budapeste.
Da visita a Itália, a influência mais marcante será, sem dúvida, a que realizou ao Mosteiro de Galluzzo em 1907 e que o inspirou para as sua construções, pelo que ao longo da sua vida muitas referências fez a esta sua visita. Na realidade ficou impressionado pela forma como a organização do espaço expressa as suas preocupações sócio-políticas (socialismo utópico): o local onde o silêncio e a solidão se conjugam com o contacto diário entre os indivíduos.
Em La Chaux-de-Fonds fará a aplicação prática das sua reflexões em relação a esta viagem, através de um projecto para uma escola de artes, onde, usando betão (concreto, no Brasil) armado, se dispunham três alas de ateliers (como as células do convento) em volta de um espaço comunitário coberto por uma pirâmide de vidro. Nota-se neste projecto (não construído) a razão por que Corbusier ficou tão impressionado com a Cartuxa de Ema, em Galluzo. As ideias socialistas já tinham, efectivamente, sido concretizadas arquitectonicamente por Jean-Baptiste André Godin, no seu Familistério. Esta foi a primeira vez que Le Corbusier sintetizava um modelo "clássico" de arquitetura segundo as suas ideias de funcionalidade. Mais tarde, a experiência da cartuxa de Ema estará presente, de forma disseminada e reformulada, em outros dos seus projectos, como as "cidades" que imaginou ou, de forma mais directa, no seu Immeuble-Villa de 1922.
Viagem a Alemanha e "voyage d'Orient"
Em 1910, a escola de artes de La Chaux-de-Fonds envia Corbu (diminutivo muito usado) para a Alemanha, onde deveria estudar os novos movimentos de artes aplicadas. Le Corbusier escreverá, em consequência, um livro, "Estudo sobre o movimento de arte decorativa na Alemanha", que será publicado na sua terra natal em 1912. Em Berlim entrou em contacto com Peter Behrens (com quem trabalhou durante cinco anos), Walter Gropius e Mies Van der Rohe (algumas das figuras principais do Deutsche Werkbund).
Em 1911, ainda na Alemanha, encontra-se com Heinrich Tessenow, autor da cidade jardim de Hellerau. Duas das obras de Le Corbusier na sua terra natal, a Villa Jeanneret Perret (1912) e o Cinema Scala (1916) manifestarão uma grande influência deste arquitecto e de Behrens.
Em maio desse ano dirige-se para Dresden, de onde parte para a sua famosa "voyage d'Orient": Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste, Veliko Tarnovo, Gabrovo, Kasanlik, Istambul, Monte Athos, Atenas e sul de Itália. Foi acompanhado pelo seu amigo Auguste Klipstein. Ao longo desta viagem, documentada por diversos artigos, esboços e fotografias, irá desenvolver a sua perspectiva pessoal sobre a arte arquitectónica. A viagem resultará num livro, intitulado Voyage d'Orient (Viagem ao Oriente). A arquitetura turca terá, também, a sua influência nas teorias que defenderá. A Villa Schwob, em La Chaux-de-Fonds, chamada popularmente de "Villa Turca" é o exemplo mais flagrante (chega a insinuar a existência de um harém).
Os seus célebres "cinco pontos para uma nova arquitetura" estão claramente influenciados pelas referência orientais. Mais tarde, em 1931, ao visitar Espanha e, posteriormente, a Argélia e Marrocos, a sua tendência oriental reafirma-se, tanto nos projectos como nos textos que legou.
O uso da fachada livre e da planta livre (resultado directo da aplicação das estruturas por ele defendidas), presentes nos "cinco pontos" advém também da arquitetura oriental que propõe um átrio central que marca e determina a circulação e a disposição dos espaços e fachadas. Os próprios terraços, como na Villa Savoye são reminiscências da arquitetura do norte da África.
As suas noções de clareza das superfícies e precisão na disposição dos volumes, que estarão presentes no purismo, são também já pressentidos por Corbusier neste género de arquitetura tradicional. As paredes brancas de Argel parecem-lhe uma manifestação da própria natureza. Os seus estudos sobre a posição estratégica dos monumentos islâmicos em relação à topografia são determinantes, também, para as suas concepções sobre a forma como a arquitetura se relaciona e encoraja essa relação com a natureza.
Viagem à América do Sul
Em 1929 e 1936 fará outras duas viagens — que o influenciarão, ao mesmo tempo que denotam a influência que ele próprio já tem — à América do Sul. Inserida na altura em que desenvolvia o projecto da sua Ville Radieuse, a primeira destas viagens proporcionou-lhe a experiência de ver o Rio de Janeiro a partir do ar, guiado pelos aviadores Antoine de Saint-Exupéry e Mermoz. A disposição da cidade, entalada entre o mar e o relevo escarpado de origem vulcânica sugeriu-lhe a ideia de uma cidade-viaduto (cidade linear). Pensou, mesmo, para o Rio de Janeiro, uma estrada a acompanhar a costa, a cerca de 100 metros de altura, abrigando, debaixo dela, quinze andares com possibilidade para criar habitações. Algo semelhante foi pensado para Argel (o projecto Obus — por formar uma curva que se assemelhava à trajectória de uma granada). Este género de cidade foi, depois, adoptado por arquitectos vanguardistas, defensores da anarquia, como Yona Friedman e Nicolaas Habraken.
Obra
Le Corbusier lançou, em seu livro Vers une architecture (Por uma arquitetura, na tradução em português), as bases do movimento moderno de características funcionalistas. A pesquisa que realizou envolvendo uma nova forma de enxergar a forma arquitetônica baseado nas necessidades humanas revolucionou (juntamente com a atuação da Bauhaus na Alemanha) a cultura arquitetônica do mundo inteiro.
Sua obra, ao negar características histórico-nacionalistas, abriu caminho para o que mais tarde seria chamado de international style ou estilo internacional, que teria representantes como Ludwig Mies van der Rohe, Walter Gropius, e Marcel Breuer. Foi um dos criadores dos CIAM (Congrès Internationaux d'Architecture Moderne).
A sua influência estendeu-se principalmente ao urbanismo. Foi um dos primeiros a compreender as transformações que o automóvel exigiria no planejamento urbano. A cidade do futuro, na sua perspectiva, deveria consistir em grandes blocos de apartamentos assentes em pilotis, deixando o terreno fluir debaixo da construção, o que formaria algo semelhante a parques de estacionamento. Grande parte das teorias arquitectónicas de Le Corbusier foram adaptados pelos construtores de apartamentos nos Estados Unidos.
Le Corbusier defendia, jocosamente, que, "por lei, todos os edifícios deviam ser brancos", criticando qualquer esforço artificial de ornamentação. As estruturas por ele idealizadas, de uma simplicidade e austeridade espartanas, nas cidades, foram largamente criticadas por serem monótonas e desagradáveis para os peões. A cidade de Brasília foi concebida segundo as suas teorias.
Depois da sua morte, os seus detractores têm aumentado o tom das críticas, apelidando-o de inimigo das cidades. É, no entanto, absolutamente, um nome de referência na história da arquitetura contemporânea.
Os cinco pontos da nova arquitetura
Entre as contribuições de Le Corbusier à formulação de uma nova linguagem arquitetônica para o século XX se encontram estes cinco pontos, formalizados no projeto da "Villa Savoye":
Construção sobre pilotis.
Ao tornar todas as construções suspensas, cria-se no ambiente urbano uma perspectiva nova. Uma inédita relação "interno-externo" criar-se-ía entre observador e morador.
Não mais os telhados do passado. Com o avanço técnico do betão-armado (concreto no Brasil), seria possível aproveitar a última laje da edificação como espaço de lazer.
Planta livre da estrutura
A definição dos espaços internos não mais estaria atrelada à concepção estrutural. O uso de sistemas viga-pilar em grelhas ortogonais geraria a flexibilidade necessária para a melhor definição espacial interna possível.
Fachada livre da estrutura
Consequência do tópico anterior. Os pilares devem ser projetados internamente às construções, criando recuos nas lajes de forma a tornar o projeto das aberturas o mais flexível. Deveriam ser abolidos quaisquer resquícios de ornamentação.
Janela em fita
Localizada a uma certa altura, de um ponto ao outro da fachada, de acordo com a melhor orientação solar.
Cronologia
1905 – Villa Fallet, La Chaux-de-Fonds, Suíça
1912 – Villa Jeanneret-Perret, idem.
1916 – Villa Schwob, idem.
1923 – Villa LaRoche/Villa Jeanneret, Paris, França
1924 – Pavillon de L'Esprit Nouveau, idem (demolido)
1924 – La maison du Lac Genebra, Suíça
1924 – Quartiers Modernes Frugès, Pessac, França
1926 – Villa Cook, Boulogne-sur-Seine, França
1927 – Weissenhof Siedlung, Stuttgart, Alemanha
1928 – Villa Savoye, Poissy-sur-Seine, França
1929 – Armée du Salut, Cité de Refuge, Paris, França
1930 – Pavillon Suisse, Cité Universitaire, idem
1932 – Edifício Le Corbusier, Genebra, Suíça
1933 – Tsentrosoyuz, Moscou, URSS
1947-1952 – Unité d'Habitation, Marseille, França
1949 – Usine Claude et Duval, Saint-Dié-des-Vosges, França
1950-1955 – Chapelle Notre-Dame-du-Haut, Ronchamp, França
1951 – Maisons Jaoul, Neuilly-sur-Seine, França
1952-1959 – Edifícios em Chandigarh, Índia
1952 – Haute Cour
1952 – Musée et Galerie d'Art
1953 – Secrétariat
1953 – Club de kk Nautique
1955 – Assemblée
1959 – Ecole d'Arto
1953 – Maison du Brésil, Cité Universitaire, Paris, França
1956 – Unité d'Habitation de Briey en Forêt, Briey en Forêt, França
1957-1960 – Convento Sainte-Marie de La Tourette, Lyon, França
1958 – Pavillon Philips, Bruxelas, Bélgica (demolida)
1960 – Unité d'Habitation de Firminy, Firminy, France
1961 – Carpenter Center for the Visual Arts, Universidade Harvard, Cambridge, Massachusetts
Entre seus projetos mais famosos se encontram:
Villa Savoye – uma das residências mais famosas do mundo. Le Corbusier aplicou aqui seus 5 pontos para uma nova arquitetura.
Unidades de Habitação – a primeira construída (em Marselha) abriu caminho para a realização de mais três na França e uma na Alemanha Oriental. Estabeleceu a prática da construção modularizada e possibilitou ao arquiteto estudar as proporções humanas aplicadas ao projeto de edificações, sintetizadas em seu modulor.
Conjunto de edifícios-sede da Organização das Nações Unidas – Nova Iorque, Estados Unidos, 1953. Embora não tenha chefiado a equipe que projetou o complexo, Corbusier exerceu um papel bastante ativo em seu projeto. O projeto é considerado um dos representantes máximos do International style.
Palácio da Assembleia em Chandigarh, 1953. Assim como os outros edifícios da cidade, representa uma mudança na trajetória do arquiteto. Le Corbusier passa a adotar um partido mais brutalista em seus projetos.
Chapelle Notre-Dame-du-Haut – capela em Ronchamp, França, 1955. Uma das capelas mais famosas do mundo, também representa uma virada na obra do arquiteto.
Controvérsia
Existe um amplo debate sobre a natureza aparentemente volátil ou contraditória das posições políticas de Le Corbusier. Nos anos 20, co-fundou e contribuiu com artigos sobre urbanismo para as revistas fascistas Plans, Prélude e L'Homme Réel. Também escreveu textos a favor do anti-semitismo Nazi para estas revistas, bem como "editoriais odiosos". Entre 1925 e 1928, Le Corbusier teve ligações ao Le Faisceau, um partido fascista francês de curta duração liderado por Georges Valois. Le Corbusier conhecia outro ex-membro do Faisceau, Hubert Lagardelle, um ex-dirigente sindical e trabalhista que se tinha distanciado da esquerda política. Em 1934, depois de Lagardelle ter obtido um cargo na embaixada francesa em Roma, arranjou para que Le Corbusier desse uma palestra sobre arquitectura em Itália. Lagardelle serviu mais tarde como ministro do trabalho na França de Vichy, o regime fantoche pró-Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, Le Corbusier procurava comissões do regime, particularmente a remodelação de Marselha depois da sua população judaica ter sido removida à força, sem sucesso, a única nomeação que recebeu foi a de membro de uma comissão que estudava urbanismo. Alexis Carrel, um cirurgião eugenista, nomeou Le Corbusier para o Departamento de Bio-Sociologia da Fondation française pour l'étude des problèmes humains, um instituto que promovia políticas eugénicas ao abrigo do regime de Vichy.
Le Corbusier tem sido acusado de anti-semitismo. Escreveu à sua mãe em Outubro de 1940, antes de um referendo realizado pelo governo de Vichy: "Os judeus estão a passar um mau bocado. Ocasionalmente, sinto pena. Mas parece que a sua ganância cega por dinheiro apodreceu o país". Foi também acusado de desprezar a população muçulmana da Argélia, na altura parte de França. Quando Le Corbusier propôs um plano para a reconstrução de Argel, condenou a habitação existente para os argelinos europeus, queixando-se de que era inferior à habitada pelos argelinos indígenas: "os civilizados vivem como ratos em buracos", enquanto "os bárbaros vivem na solitude, no bem-estar". O seu plano de reconstrução de Argel foi rejeitado, e desde então Le Corbusier afastou-se em geral da política.
Críticas
Poucos arquitectos do século XX foram tão elogiados, ou tão criticados, como Le Corbusier. No seu tributo a Le Corbusier na cerimónia fúnebre do arquitecto no átrio do Louvre, a 1 de Setembro de 1965, o Ministro da Cultura francês André Malraux declarou: "Le Corbusier tinha alguns notáveis rivais, mas nenhum deles teve a mesma importância na revolução da arquitectura, porque nenhum deles suportou insultos tão pacientemente e por tanto tempo".
Muitas das críticas posteriores a Le Corbusier foram dirigidas às suas ideias sobre urbanismo. Em 1998, o arquitecto historiador Witold Rybczynski escreveu na revista Time:
"Ele chamou-lhe a Ville Radieuse, a Cidade Radiante. Apesar do título poético, a sua visão urbana era autoritária, inflexível e simplista. Onde quer que tenha sido experimentada- em Chandigarh pelo próprio Le Corbusier ou em Brasília pelos seus seguidores -falhou. A padronização revelou-se desumana e desorientadora. Os espaços abertos revelaram-se hostis; o plano imposto burocraticamente, socialmente destrutivo. Nos EUA, a Cidade Radiante tomou a forma de vastos esquemas de revitalização urbana e projectos de habitação pública que prejudicaram o tecido urbano irreversivelmente. Hoje, estes mega-projectos estão a ser demolidos, à medida que os super-blocos dão lugar a fileiras de casas que fazem frente às ruas e passeios. Os centros urbanos descobriram que combinar, e não separar, diferentes atividades é a chave para o sucesso. Tal como é a presença de bairros residenciais dinâmicos, sejam eles antigos ou novos. As cidades aprenderam que preservar a história faz mais sentido do que começar do zero. Tem sido uma lição cara, e não uma que Le Corbusier pretendesse, mas faz também parte do seu legado".
O historiador da tecnologia e crítico arquitectónico Lewis Mumford escreveu no Yesterday's City of Tomorrow que as dimensões extravagantes dos arranha-céus de Le Corbusier não tinham qualquer razão de ser para além do facto de se terem tornado possibilidades tecnológicas. Os espaços abertos nas suas áreas centrais também não tinham razão de ser, escreveu Mumford, uma vez que na escala por ele imaginada não havia motivo para a circulação de peões no quarteirão de escritórios durante o dia de trabalho. Ao "acoplar a imagem utilitária e financeira da cidade arranha-céus à imagem romântica do ambiente orgânico, Le Corbusier produzira, de facto, um híbrido estéril".
Os projetos de habitação pública influenciados pelas suas ideias têm sido criticados por isolar comunidades pobres em arranha-céus monolíticos e quebrar os laços sociais essenciais ao desenvolvimento comunitário. Uma dos seus mais influentes detractores tem sido Jane Jacobs, que fez uma crítica devastadora às teorias de design urbano de Le Corbusier na sua obra emblemática Morte e Vida de Grandes Cidades.
Para alguns críticos, o urbanismo de Le Corbusier era um modelo para um estado fascista. Estes críticos citam o próprio Le Corbusier quando este escreve que "nem todos os cidadãos poderiam tornar-se líderes. A elite tecnocrática, os industriais, financeiros, engenheiros, e artistas deveriam ocupar o centro da cidade, enquanto os trabalhadores deveriam ser retirados para as periferias da cidade".
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
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Quem foi Le Corbusier e qual sua contribuição para a arquitetura? – Archtrends
As principais características do arquiteto e, ainda, fatos sobre a sua vida pessoal, obras mais importantes e influência na arquitetura atual.
Entre os arquitetos mais famosos e reconhecidos no mundo, o suíço Charles Edouard-Jeanneret-Gris destaca-se como pioneiro do movimento modernista e um dos principais influenciadores teóricos da arquitetura de todos os tempos.
Charles não ficou conhecido pelo nome, mas sim pelo pseudônimo, Le Corbusier. Polêmico, muitas vezes odiado e incompreendido, também foi idolatrado, sendo um dos primeiros arquitetos a se tornar celebridade — um starchitect, mescla de star (estrela) e architect (arquiteto).
Separamos as principais características do arquiteto e, ainda, fatos sobre a sua vida pessoal, obras mais importantes e influência na arquitetura atual. Quer conhecer mais sobre Le Corbusier? Não deixe de ler este artigo!
A influência de Le Corbusier na arquitetura
Le Corbusier foi muito mais do que arquiteto. Ele atuou também na área acadêmica e intelectual, aplicou seu conhecimento em diversas artes e deixou seus pensamentos registrados em publicações e artigos de revistas.
Para a arquitetura, deixou mais de 30 obras pelo mundo, importantes teorias e práticas avançadas, que até hoje guiam obras e projetos de urbanismo e paisagismo. O arquiteto é conhecido por elaborar processos de construção racionalistas e funcionais, além de desenvolver, por exemplo, táticas que possibilitam paredes mais leves por meio de técnicas modernas de concreto armado.
Le Corbusier utilizava referências estéticas e conceituais que ele reuniu em viagens por todo o mundo — principalmente Europa, América do Sul, África e Oriente Médio —, e as aplicava em suas obras, considerando o que ele acreditava ser mais apropriado e condizente com seus conceitos de arquitetura.
O planejamento urbano de muitas cidades europeias e africanas, como Argel, capital da Argélia, contou com a visão revolucionária de Corbu, que foi um dos primeiros a antecipar como o automóvel tomaria espaço nos centros urbanos e pensar a importância da orientação da engenharia e da arquitetura para aspectos naturais e para a integração com a natureza.
As características e vida pessoal do arquiteto
Charles Edouard-Jeanneret-Gris nasceu no dia 6 de Outubro de 1887, em uma pequena cidade suíça, chamada La Chaux-de-Fonds. O arquiteto viveu grande parte de sua vida na França, inclusive se tornou cidadão francês após o casamento, mas a sua cidade natal teve grande valor para o desenvolvimento de suas concepções arquitetônicas e da própria carreira.
La Chaux-de-Fonds está localizada a 10 km da fronteira da Suíça com a França e se tornou conhecida como a capital mundial dos relógios, uma vez que detinha cerca de metade da produção e exportação de todos os relógios produzidos no mundo, no início do século XX.
Le Corbusier teve muito contato com essa indústria durante a infância e adolescência. Foi justamente a produção industrial o primeiro fator que pode ter influenciado, ainda que indiretamente, sua percepção sobre a ação da arquitetura no cotidiano. Corbu definia uma residência como “uma máquina de morar”. Para ele, as máquinas apresentam uma função além da utilitária, passando a representar uma forma de expressão artística.
O segundo fator é que a cidade de La Chaux, anos antes de seu nascimento, tinha sido reconstruída após um incêndio devastar grande parte dos edifícios. O novo planejamento urbano propôs vias mais largas e uma disposição das ruas que privilegiasse a luz natural. Assim, as construções foram alinhadas para estarem mais expostas à radiação solar e continham grandes janelas, que facilitavam a entrada de luz.
Em contrapartida, anos depois, Corbu declara publicamente seu desprezo pela cidade natal.
O contato de Le Corbusier com a arte teve início quando o arquiteto completou 13 anos: ele entrou para uma escola de arte com o objetivo de se formar escultor e entalhador. Aos 15 anos, já demonstrava talento e recebeu um prêmio pelo desenho de um relógio.
Sua habilidade chamou a atenção de um de seus professores, que era formado pela Escola de Belas Artes de Paris. O professor, então, apresentou para Corbu a área de arquitetura.
O arquiteto franco-suíço se casou em 1930 com uma modelo francesa, Yvonne Gallis, passando a ser cidadão francês. Em 1940, quando Paris foi tomada pelos alemães, o arquiteto fechou seu escritório e se mudou para o sul da França. Os anos posteriores foram marcados por novos contatos no exterior, aumentando o prestígio mundial de Corbu e alavancando o movimento modernista.
Os projetos de reconstrução das cidades destruídas foram definitivos para a sua carreira, e de 1945 a 1949 ele atuou como consultor para tais assuntos. Seu reconhecimento como um dos arquitetos mais influentes aconteceu apenas na fase final de sua vida, entre 1950 e 1965, ano de seu falecimento.
O início da carreira profissional
O primeiro projeto registrado do arquiteto é a casa de um fabricante de relógio.
Após inaugurar essa nova jornada, escolhendo a arquitetura como profissão, Corbu inicia uma série de viagens para cidades europeias, começando pela região da Toscana e passando depois por Budapeste, Munique, Viena, Paris e outras. Em um dos relatos, Corbu comenta a “arquitetura humana” das celas dos monges em um monastério da Toscana. As viagens foram feitas em 1907 e, para o arquiteto, eram uma maneira de adquirir conhecimento.
Em 1908, o artista começa a estagiar em um escritório em Paris. Por dois anos, trabalha com os irmãos Perret, reconhecidos pelo pioneirismo e modernidade das construções de concreto armado, técnica muito utilizada em toda a sua carreira.
A partir de 1910, Corbu passa uma temporada na Alemanha, trabalhando como desenhista em um estúdio, tendo grande influência da construção moderna. Os próximos anos são de mais descobertas e aprendizados: o arquiteto viajou por grande parte da Europa Central e Oriental, com destaque à arquitetura clássica grega e às mesquitas de Istambul.
Entre 1912 e 1914, Le Corbusier participou de eventos da Escola de Chaux-de-Fonds como professor. Também projetou residências, uma cidade-jardim e a reconstrução de cidades francesas, que foram destruídas durante a Primeira Guerra Mundial.
No ano de 1917, o arquiteto se muda definitivamente para Paris e se arrisca na pintura e em novos ofícios. Corbu fez associações com importantes figuras da época, como o pintor Amédée Ozenfant, com quem publicou o artigo “Après le cubisme” — importante crítica ao movimento cubista, valorizando a forma rigorosa de cada objeto e fundamentando o início da corrente purista.
O nome Le Corbusier começou a ser usado nessa época, na assinatura de seus quadros. O pseudônimo é derivado do sobrenome de seu bisavô, Lecorbésier.
A parceria com Ozenfant acarretou no lançamento da revista “L’Esprit Nouveau”, a qual se tornou um dos principais meios de atuação do artista, uma vez que o mercado de arquitetura estava em baixa e quase não havia encomendas e projetos. Ficou conhecido, portanto, pela vanguarda parisiense, mesmo sem muitas obras construídas. Tal reconhecimento possibilitou alguns projetos, a maioria casas de campo, restritas à elite francesa.
Corbu ainda lançou um livro, publicado em 1923, “Vers une Architecture” (“Por uma arquitetura”), no qual aborda 5 pontos e fundamentos que são as bases do movimento modernista.
Aos 35 anos, se associa a seu primo, Pierre Jeanneret, e, juntos, montam um escritório de arquitetura, tendo oportunidade de explorar os conceitos e as ideias desenvolvidas por anos (principalmente o conceito de casa como “máquina de morar”). O trabalho desenvolvido no escritório, em meados dos anos 30, rendeu muitos projetos na Europa e fora, como na África e América do Sul, inclusive no Brasil.
Suas principais obras pelo mundo
O arquiteto deixou pouco mais de 30 obras construídas pelo mundo. Entre elas, cerca de 17 estão incluídas na lista da UNESCO de Patrimônios Mundiais da Humanidade. As mais importantes são:
1. Unités d’Habitation
Localizado em Marselha, na França, essa obra é um dos exemplares que formam um conjunto de edifícios modulares que fazia parte do projeto de reconstrução do país após a Segunda Guerra Mundial, acrescido de um exemplar em Berlim, na Alemanha Oriental.
O primeiro e mais famoso edifício é o de Marselha e foi construído entre 1947 e 1953. A importância do projeto é percebida pela inspiração em uma das obras mais famosas: Ville Radieuse (Cidade Radiante). O arquiteto refletiu seu sonho de construir espaços que conseguissem integrar o ser humano à natureza e ao meio, o que era considerado por muitos uma utopia.
A cidade foi pensada seguindo o padrão do corpo humano, formado por construções em blocos, com livre circulação no andar térreo e espaços verdes em volta. O desenho constituía linearmente o formato de um corpo humano: coluna, membros e cabeça — conceito proposto pelos estudos de Corbu acerca das proporções do corpo humano e do Modulor.
O Modulor, uma das contribuições de Le Corbusier, é um sistema que referencia as medidas modulares com base nas proporções de um indivíduo de 1,83 m — altura média observada em estudos da época por todo o mundo. O sistema visava fugir dos modelos de medidas comuns e era fundamentado em outras teorias, como a proporção áurea e a sequência de Fibonacci.
O cenário econômico e social como consequência da guerra exigiu que as construções fossem mais “brutas”, utilizando materiais mais simples, baratos e resistentes, como o concreto. O movimento deu início à arquitetura conhecida como brutalista, com traços simplistas, construções em bloco e com capacidade de suprir as necessidades sociais.
2. Villa Savoye
O desenho modernista e as janelas em formato de fita são características marcantes da casa, construída em 1929. Projetada nos moldes do conceito de casa como máquina de morar, não chegou a exercer essa função. Foi usada no período da guerra pelo exército alemão e, posteriormente, pelo americano, e foi deixada em ruínas até 1963, quando o governo francês a reconstruiu e a declarou como patrimônio arquitetônico.
As características arquitetônicas da construção seguem os 5 pontos propostos pelo arquiteto.
3. Pavillon Suisse
A obra, que em português significa Pavilhão Suíço, é um edifício da Cidade Universitária de Paris e foi construído para ser um alojamento de estudantes. Le Corbusier e Pierre Jeanneret enfrentaram uma série de desafios durante a construção, entre eles a dificuldade financeira da universidade, o terreno e as tensões entre a França e a Suíça.
O prédio surpreende pela modernidade e pelas características próprias, que também seguem os 5 pontos de Corbu. Com grande área aberta no espaço do térreo, em um efeito de flutuação, o edifício é cercado por jardins, concreto e estrutura com elementos pouco sofisticados.
4. Palácio da Assembleia
Uma das construções que mais se destacam fora do eixo europeu é o Palácio da Assembleia, localizado na Índia, em Chandigarh. A cidade foi redesenhada por Le Corbusier, contando com a ajuda de Jeanneret, e é o único projeto de urbanismo executado pelo arquiteto. O projeto começou em 1951 e foi até 1965, com sua morte.
A qualidade do projeto fascina, a arquitetura moderna é apresentada de diversas maneiras em jardins, avenidas largas e parques, incluindo características de outras artes, como a pintura e a escultura. Toda a cidade é subdividida em setores independentes, com infraestrutura própria. O acesso é facilitado e tudo está a 10 minutos a pé. E, ainda hoje, com mais de um milhão de habitantes, mantém infraestrutura capaz de atender às necessidades modernas.
Junto de outros edifícios simbólicos do governo, o Palácio da Assembleia compõe todo o paisagismo da cidade e é um edifício de concreto aparente com formas inusitadas. Grandes pilares integram a fachada e sustentam a calha em horizontal, o interior permite a adequação dos escritórios nas laterais do prédio para que o centro possa ser utilizado pelo público e a cobertura é acessível para todos, possibilitando contato com o exterior do prédio.
5. Capela Notre-Dame-du-Haut
A capela começou a ser construída em 1950 e foi terminada em 1955, em um sítio na França. Está localizada na colina de Bourlémont, em Ronchamp, sobre ruínas de um santuário medieval destruído em 1944.
O início da parceria entre o arquiteto e os fiéis que encomendaram a capela foi reportado como difícil. O motivo foram as divergências ideológicas, já que o arquiteto era ateu e tinha ideias modernistas, e o clero possuía convicções opostas ao proposto. O arquiteto, depois, é autorizado a compor a obra da maneira que desejasse.
A capela é formada por um salão principal e três câmaras mais reservadas e um altar no exterior, além de coletores de água, devido à escassez da região. As formas retas e circulares se completam em um exterior de concreto com tons escurecidos e em um interior naturalmente iluminado.
O portfólio de Corbu é composto por outras obras envolvendo edifícios religiosos, como o convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette e a igreja de Saint-Pierre de Firminy.
6. Villa Roche
A residência foi projetada para um banqueiro suíço, Raoul La Roche, e serviu como espaço de exposições e galeria em Paris. A estrutura apresenta um formato diferenciado, como se fosse um agrupamento de estruturas distintas unidas por rampas, escadarias e terraços.
O uso de muitas cores no interior é descrito por Corbu como “Corbusier color-space”: tons como azul, cinza, vermelho e turquesa em conjunto com o branco, presente em todo o espaço, interno e externo.
Corbu descreve a obra como “pitoresca, cheia de movimento, mas que requer uma clássica hierarquia para discipliná-la”.
O projeto com maior destaque
Ville Radieuse ou Cité Radieuse (Cidade Radiante) é o projeto que sumariza todos os elementos e ideais propostos por Le Corbusier, tendo em vista o contexto social da época em que foi apresentado. O projeto de paisagismo e urbanismo não chegou a ser concretizado, mas exerceu influência em outras obras e na atuação do arquiteto.
A proposta foi feita em 1924 e de forma ambiciosa, pois era o plano de uma cidade ideal para Le Corbusier. A cidade valoriza a livre circulação, espaços abertos integrados com a natureza, construções em blocos altos e o sistema modular.
O plano também foi publicado em um livro e não tinha como objetivo apenas a melhoria da qualidade de vida dos moradores, mas também o desenvolvimento de uma sociedade melhor. A cidade seria subdividida em áreas segregadas, com foco comercial, de negócios, de lazer e, por fim, residencial. Cada área foi projetada para conseguir receber certa quantidade de pessoas.
As residências, conhecidas como unités, seriam apartamentos pré-fabricados, distribuídos em edifícios nos bairros residenciais, funcionando como uma vila vertical. Espaços funcionais, como lavanderias, ficariam no piso térreo e áreas sociais, na cobertura. Os blocos seriam circundados por parques e áreas verdes, privilegiando a luz natural e o conforto.
Passagem pelo Brasil
A primeira passagem do arquiteto pelo Brasil foi em 1929, visitando as capitais, Rio de Janeiro e São Paulo. A viagem teve início em Buenos Aires, Argentina, e percorreu outras cidades da América do Sul.
O contato com o mercado e com profissionais estrangeiros se deu a partir da vontade do franco-suíço em focar projetos de paisagismo e urbanismo. Projetos residenciais, como a Villa Savoye, já o tornava reconhecido por arquitetos em todo o mundo e, para expandir os horizontes, o arquiteto se voltou para projetos de construção e reconstrução de cidades.
O mercado estrangeiro possibilitava maior contato com o que o arquiteto queria, assim ele participou de congressos e encontros internacionais e realizou projetos na Rússia e Suíça, por exemplo. O contato com a América do Sul foi uma grande oportunidade para impulsionar o salto na carreira.
Foi recepcionado por Victoria Ocampo, escritora argentina, e Paulo Prado, fazendeiro de café e escritor, influente na política brasileira. Poucos projetos residenciais foram discutidos ou propostos, não rendendo em oportunidades efetivas, devido às dificuldades pela distância e outros empecilhos. Corbu, então, teve grande participação em eventos e conferências da área, além de entrar em contato com arquitetos que já utilizavam referências modernas em suas obras.
Anos depois, com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (MES) durante o governo Vargas, em meio a tramas e apoio do ministro, Lúcio Costa assumiu o projeto de construção da sede do MES, um dos ministérios de maior importância para o governo da época. Le Corbusier foi escolhido como consultor.
Corbu também foi chamado para o projeto do campus de uma universidade que o MES pretendia fundar, que serviria de modelo para as demais do país. No meio de mais confusões e disputas, o arquiteto foi contratado somente como conferencista em 1936.
Os dois projetos foram rejeitados pelas comissões designadas — apenas o projeto da sede do ministério se manteve, mas foi adaptado pela equipe de Lúcio Costa. A equipe contava com arquitetos ex-alunos da ENBA, entre eles Carlos Leão, Ernani Vasconcellos, Jorge Moreira e Oscar Niemeyer. Niemeyer foi escolhido por Le Corbusier para preparar alguns desenhos que serviriam para as demonstrações visuais das conferências.
Em 1962, Corbusier veio pela última vez ao Brasil, para conhecer Brasília e o plano urbanístico de Lúcio Costa, junto de exemplares de Niemeyer.
Sua contribuição para a teoria artística
As diversas publicações do arquiteto tiveram contribuição imensa para o campo teórico e são peças notáveis até hoje.
Os 5 pontos da Nova Arquitetura são princípios fundamentais para compreender as obras do arquiteto. Em 1926, na revista L’Esprit Nouveau, Le Corbusier publicou a forma final da teoria, composta pelos pontos: planta livre, fachada livre, pilotis, terraço jardim e janelas em fita.
De maneira resumida, a planta livre diz respeito à livre movimentação e possibilidade das paredes, que seguindo as técnicas construtivas do arquiteto, deixam de exercer função estrutural. Seguindo, a fachada livre, também devido à independência da estrutura, é um espaço sem impedimentos que pode ser projetado com vários arranjos.
O pilotis é formado pelo sistema de pilares sem impedimentos que permite a livre circulação no espaço térreo das construções, melhor visibilidade e sensação de segurança. O terraço-jardim é uma das formas de utilizar a cobertura, muitas vezes pouco aproveitada nos edifícios, além de reintegrar o espaço verde que foi perdido pela construção.
As janelas em fita são, talvez, a característica mais marcante, possibilitadas pela variedade de arranjos da estrutura. Podem seguir a orientação solar para melhor iluminação e aproveitamento da vista e da paisagem.
O livro já citado, “Vers une Architecture” (“Por uma arquitetura”), conta com outras publicações de grande importância para o campo. Entre eles, ensaios escritos por Corbusier expondo teorias da ação da arquitetura, a visão do arquiteto sobre o modernismo e críticas à arquitetura da época, por exemplo.
O legado deixado para os profissionais da área
Os arquitetos atuais são muito influenciados pela participação e influência de Corbusier não só no campo prático da arquitetura, mas também em teorias e desenvolvimento de novas práticas.
Em suma, Le Corbusier pensava a arquitetura como elemento que auxilia a constituição social e que, por isso, deveria ter uma função prática e conjunta ao ambiente das cidades, envolvendo também o planejamento urbano e paisagístico do lugar. Acreditava que a arquitetura pode resolver problemas e melhorar questões sociais.
Além disso, ele desenvolveu uma série de técnicas construtivas com pilares de cimento armado, tirando a função estrutural das paredes e permitindo um interior adaptado para as necessidades. Criou também o sistema de medidas proporcionais, o Modulor, orientando obras e pinturas.
O resultado de todos os conceitos do arquiteto são obras que até hoje se fazem condizentes com o cenário, antecipando problemas como o grande número de automóveis, o crescimento das cidades e a integração com a natureza.
Fonte: ArchTrends, "Quem foi Le Corbusier?", publicado em 9 de março de 2017. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
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Biografia Le Corbusier – Itaú Cultural
Charles Edouard Jeanneret, conhecido como Le Corbusier, nasceu em 6 de outubro de 1887 em Chaux-de-Fonds, Suíça. Aos 13 anos entrou para a escola de arte. Aos 15 anos, recebeu um prêmio da Escola de Artes Decorativas de Turim pelo desenho de um relógio. Em 1906 realizou seu primeiro projeto: a casa de um fabricante de relógios. Em 1907 viajou pela Europa com o objetivo de aprimorar seus conhecimentos e no ano seguinte passou a trabalhar no escritório de Auguste Perret, pioneiro do concreto-armado, onde recebeu importante influência em sua formação profissional. Posteriormente fundou o Atelier das Artes Reunidas. Em 1910 viajou à Alemanha, onde trabalhou como desenhista no estúdio de Behrens, outro pioneiro da construção moderna. No ano seguinte, percorreu a Europa Central e a Grécia, produzindo desenhos que seriam depois reunidos no livro Viagens no Oriente.
Entre 1912 e 1914 participou, como professor, de uma nova seção da Escola de Chaux-de-Fonds, criada nos moldes da Bauhaus, projetando algumas casas para industriais da região. Em 1914 realizou o projeto de uma cidade-jardim para sua terra natal, assim como o de um sistema para a reconstrução das cidades francesas destruídas pela Primeira Guerra Mundial.
Em 1917 instalou-se em Paris e começou a trabalhar na Sociedade de Aplicação do Concreto Armado. No ano seguinte, junto com o pintor Amédé Ozenfant publicou Après le cubisme, em que faziam críticas ao movimento e propunham um retorno ao desenho rigoroso do objeto. Iniciou-se, então, na a pintura, já sob o pseudônimo de Le Corbusier, e fez exposições regulares até 1924.
Ozenfant e Le Corbusier fundaram a revista L’Esprit Nouveau, para a qual contaram com a cooperação de importantes intelectuais como Aragon e Jean Cocteau. A revista passou então a ser sua principal atividade e meio de ação: em suas páginas,Le Corbusier fazia uma arquitetura para a qual ainda não havia mercado. Tornou-se, assim, um arquiteto conhecido entre a vanguarda parisiense antes mesmo de ter um número significativo de obras construídas. Essa notoriedade lhe proporcionou as primeiras encomendas e a realização de seus primeiros projetos, sobretudo casas de campo nos arredores da capital francesa.
Seu objetivo de construir habitações populares em grande escala continuava em suspenso, pois a política de poderes públicos na França era ditada, desde meados do século XIX, pelos acadêmicos da École des Beaux-Arts, que estendiam sua influência em todas as direções, orientando as decisões até mesmo de concursos internacionais. Restou a Le Corbusier a clientela privada de franceses e estrangeiros amantes da arte moderna e de concepções inovadoras de habitar, que tinham em Paris seu centro social e cultural.
De 1927 a meados da década de 1930, a atividade de seu pequeno escritório esteve em pleno desenvolvimento. Le Corbusier ministrava conferências e elaborava projetos revolucionários de urbanismo para países europeus, da África do Norte e da América Latina, incluindo o Brasil, que visitou pela primeira vez em 1929. Nesse mesmo ano participou da organização do I Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (Ciam), cujas resoluções finais estabeleceram os princípios de atuação do movimento moderno na arquitetura.
Em 1930 casou-se com a parisiense Yvonne Gallis, tornando-se cidadão francês. Em 1936, retornou ao Brasil para orientar o projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde. Como um dos fundadores do grupo Ciam influenciou decisivamente, com suas idéias, a arquitetura moderna no Brasil. Em 1940, quando Paris foi ocupada pelos alemães, fechou seu escritório e refugiou-se no sul da França. Nos anos seguintes intensificou seus contatos internacionais, firmando seu prestígio como pensador da nova arquitetura e tentando demonstrar a exeqüibilidade dos novos métodos de construir.
De 1945 a 1949 atuou como consultor para a reconstrução de cidades destruídas, e viu dois de seus projetos serem realizados, entre os quais o da Unidade de Habitação de Marselha. Em 1946 e 1947, junto com Oscar Niemeyer, participou dos estudos para a edificação da sede da ONU, em Nova Iorque. Sua consagração como grande arquiteto internacional só aconteceu na fase final de sua carreira, entre 1950 e 1965. Em 1959, recebeu o título de doutor honoris-causa pela Universidade de Cambridge. Morreu em 1965.
Individual
2012 - São Paulo - São Paulo - Brasil - Le Corbusier - América do Sul - 1929 (2012 : São Paulo, SP) - Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, SP)
Coletiva
1998 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - O Rio Jamais Visto (1998 : Rio de Janeiro, RJ) - Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Valência - Valência - Espanha - De la Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950 (2000:Valência, Espanha) - IVAM. Centre Julio Gonzáles (Valência, Espanha)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - A Paisagem Carioca (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - A Paisagem Carioca (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960 (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Paço Imperial (Rio de Janeiro, RJ)
2002 - São Paulo - São Paulo - Brasil - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950 (2002 : São Paulo, SP) - Museu de Arte Brasileira (São Paulo, SP)
Fonte: LE Corbusier. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Acesso em: 29 de março de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
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Biografia e obras do arquiteto Le Corbusier
Celebrado como um dos grandes ícones do modernismo, Le Corbusier foi, junto com Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi, um dos arquitetos mais emblemáticos do século XX. Conhecido por seu olhar crítico e obras icônicas, ele alterou o curso da história das artes, arquitetura e urbanismo.Esse mestre da arquitetura brilhou também em outros segmentos. Atuando na área acadêmica e intelectual, aplicou o seu conhecimento em diversas artes. Assim, deixou seus pensamentos registrados em publicações, livros e artigos, fabulosos legados para quem o admira. Seu ótimo desempenho como pintor e escultor rendeu a ele prêmios e reconhecimento. Sua arte replicava o seu ideal de arquitetura e design, pois utilizava estruturas e formas claras e rejeitava os ornamentos e cores, um conceito que ficou conhecido internacionalmente.
Ele ficou bastante conhecido por elaborar processos de construção racionalistas e funcionais. Com uma visão futurista, esse gênio foi um dos primeiros a antecipar a influência do automóvel no desenvolvimento das cidades.
Outro marco importante em sua vida foi a criação das Unités d’Habitation (unidades de habitação). Por meio desse tipo de construção, o profissional estabeleceu a dinâmica da vida urbana em um edifício de proporções imensas e com grande número de unidades.
Le Corbusier revolucionou os conceitos de arquitetura e urbanismo com trabalhos que garantiam, além de funcionalidade, conforto. Além disso, seu estilo vanguardista e sua visão crítica sobre a sociedade renovaram as construções e projetos de todo o mundo.
Biografia
Charles-Edouard Jeanneret-Gris nasceu em 6 de outubro de 1887, na Suíça. Foi filho de um profissional que trabalhava em uma renomada indústria de relógios e de uma professora de piano.
Aos 13 anos, iniciou seus estudos na escola de artes decorativas de sua cidade com o objetivo de seguir a profissão do pai e, logo, recebeu prêmios por seus trabalhos. No entanto, seguiu os conselhos de um de seus professores para se dedicar à arquitetura e, aos 18 anos, projetou sua primeira casa.
A partir de 1907, com o objetivo de aperfeiçoar seu conhecimento, fez diversas viagens mundo afora. Começou pela Itália, onde ficou cerca de dois meses, um lugar que influenciaria bastante suas construções futuras. Foi lá também que muitas de suas inspirações surgiram. A visita ao Mosteiro de Galluzzo, por exemplo, o impressionou pelo fato do espaço ressaltar as suas preocupações sócio-políticas.
Já em Berlim, trabalhou no escritório de Peter Behrens até 1911, outro pioneiro da construção moderna. No ano seguinte, percorreu a Europa Central e a Grécia, produzindo desenhos que fariam parte do seu livro “Viagens do Oriente”.
Em 1917, mudou-se Paris e começou a trabalhar na Sociedade de Aplicação do Concreto Armado. Logo em seguida publicou o Après le cubisme, junto com o pintor Amédé
Ozenfant. Por meio desse manifesto purista, eles criticavam o movimento e propunham o retorno ao desenho rigoroso do objeto.
Já sob o pseudônimo de Le Corbusier, ele deu início ao seu trabalho de pintor, fazendo exposições regulares até 1924. No mesmo período, sua habilidade como arquiteto também chamou a atenção, atraindo olhares da vanguarda parisiense. Assim, graças à sua notoriedade, o brilhante profissional conseguiu diversas encomendas para construir casas de campo.
O sucesso foi tanto que, entre 1927 e 1930, o escritório do arquiteto Le Corbusier elaborou projetos revolucionários de urbanismo para vários países, incluindo para o Brasil. Foi também nessa época que ele se casou com a parisiense Yvonne Gallis, e assim, tornou-se cidadão francês.
Em 1936, viajou ao Brasil para orientar o projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde. Como um dos fundadores do grupo CIAM, influenciou fortemente a arquitetura moderna no Brasil, levando seu conceito de cinco pontos de arquitetura a novos níveis.
Além disso, o arquiteto Le Corbusier desenvolveu planos urbanos novos e fantásticos para o Rio de Janeiro e outras cidades sul-americanas. Os esboços sugeriam um prédio de concreto, com vários andares e muitos quilômetros de extensão ao longo das encostas.
Em 1940, fechou seu escritório e se refugiou no sul da França, pois Paris havia sido invadida pelos alemães. Nos anos seguintes, intensificou seus contatos internacionais, firmando-se como autoridade e pensador da nova arquitetura.
De 1945 a 1949, atuou como consultor para a reconstrução de cidades destruídas, e viu a execução de dois de seus projetos, sendo um deles o do Unités D’Habitation. Nos anos seguintes, junto com Oscar Niemeyer, participou de estudos relacionados à edificação da sede da ONU, em Nova York.
O seu reconhecimento merecido aconteceu, de forma mais intensa, ao fim de sua carreira, entre 1950 e 1965. Nesse meio tempo, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de Cambridge.
Sua morte, em 1965, não apagou nem as ideias e nem o legado desse célebre gênio moderno. Com declarações polêmicas, como “uma casa é uma máquina de morar” e pensamentos inovadores, ele foi uma das principais figuras do século XX.
Uma das mais nobres ideias desse mestre foi acreditar que a arquitetura poderia (e deveria) melhorar as questões sociais e, até mesmo, resolver problemas da sociedade que envolvessem planejamento urbano e paisagístico.
A jornada desse gênio foi marcada por intensa produção, como a criação de manifestos, publicação de livros, elaboração de projetos e construções incríveis, sem falar em suas pinturas. Não foi à toa que deixou diversos admiradores pelo mundo todo.
“A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz”
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“O grande arquiteto Ruy Ohtake: biografia, obras e projetos”;
“Quem foi Antoni Gaudí: biografia, construções e legado do arquiteto”.
Obras de Le Corbusier
O arquiteto Le Corbusier deixou aproximadamente 30 obras pelo mundo. Entre elas, 17 foram consideradas como Patrimônios Mundiais da Humanidade pela UNESCO.
Entre as suas obras mais importantes, algumas se destacam, como:
1. Unités D'Habitation (Marselha, França)
Essa obra foi composta de grandes edifícios modulares construídos após a II Guerra Mundial, sendo o primeiro implantado em Marselha. Também ficou conhecida como Cité Radieuse (cidade radiosa), por tentar recuperar a dinâmica da vida urbana em um edifício monumental.
2. Pavillon Suisse (Cidade Universitária de Paris)
O pavilhão suíço, ou Pavillon Suisse, empregou os cinco pontos da arquitetura de Corbusier, apoiando-se neles durante todo o projeto. O edifício foi elevado sobre pilotis que estão próximos ao seu centro, acentuando um efeito “flutuante”.
3. Palácio da Assembléia (Índia)
Revelando um estilo mais brutalista, essa construção contou com planta livre e com uma cobertura que podia ser acessada. Assim a obra cumpriu seu papel, que era permitir o contato do homem com a natureza.
4. Capela de Notre-Dame-Du-Haut (França)
Essa capela foi projetada com paredes grossas e curvilíneas e com janelas que permitiam a luz entrar de maneira controlada.
5. Villa Sailla Savoye (Paris, França)
Villa Savoye representa um dos grandes ícones da arquitetura moderna, juntamente com a Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright e a residência Farnsworth (de Mies van der Rohe). Ela foi literalmente projetada como “uma máquina de morar” e apresenta os cinco pontos da nova arquitetura.
Fonte: LAART, "Biografia e obra de Le Corbusier", publicado em 4 de maio de 2020. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
Crédito fotográfico: Biography, Le Corbusier. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
Charles-Edouard Jeanneret-Gris (Suíça, La Chaux-de-Fonds - Neuchâtel, 6 de outubro de 1887 — Suíça, Roquebrune-Cap-Martin, 27 de agosto de 1965), mais conhecido como Le Corbusier, foi um arquiteto, urbanista, designer, pintor e escritor suíço-francês. Conhecido por suas ideias inovadoras sobre arquitetura, urbanismo e design, Le Corbusier acreditava que a arquitetura deveria ser funcional, eficiente e atender às necessidades básicas dos seres humanos e defendia a ideia de que a arquitetura deveria ser adaptada aos tempos modernos e às novas tecnologias, ao invés de seguir os estilos arquitetônicos tradicionais. Entre suas obras mais famosas estão o Pavilhão Suíço na Exposição Internacional de 1929, em Barcelona, a Casa Curutchet em La Plata, Argentina, o Unité d'Habitation em Marselha, França, e a Capela de Notre-Dame-du-Haut em Ronchamp, França. Expôs extensamente na Suíça, mas também realizou exposições no Brasil, França, Alemanha, Índia, Rússia, Estados Unidos, entre outros. Le Corbusier também escreveu vários livros, incluindo "Vers une architecture" e "Le Modulor", que influenciaram profundamente a arquitetura moderna e o design. É considerado um dos pioneiros da arquitetura moderna e um dos arquitetos mais importantes do século XX.
Biografia – Wikipédia
Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido pelo pseudónimo de Le Corbusier (La Chaux-de-Fonds, 6 de outubro de 1887 – Roquebrune-Cap-Martin, 27 de agosto de 1965), foi um arquiteto, urbanista, escultor e pintor de origem suíça e naturalizado francês em 1930. É considerado, juntamente com Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto e Mies van der Rohe um dos mais importantes arquitectos do século XX. Conhecido por ter sido o criador da Unité d'Habitation, conceito sobre o qual começou a trabalhar na década de 1920.
Aos 29 anos mudou-se para Paris, onde adotou o seu pseudónimo, que foi buscar ao nome do seu avô materno, originário da região de Albi. A sua figura era marcada pelos seus óculos redondos de aros escuros. Morreu por afogamento, em 27 de agosto de 1965.
Formação
Villa Fallet de 1905.
A importância de Le Corbusier advém, em grande parte, do seu enorme poder de síntese.
Nas viagens que fez a várias partes do mundo, Le Corbusier contactou com estilos diversos, de épocas diversas. De todas estas influências, captou aquilo que considerava essencial e intemporal, reconhecendo em especial os valores da arquitetura clássica grega, como da Acrópole de Atenas.
Le Corbusier projetou a sua primeira casa com dezoito anos, em 1905, na sua cidade natal, La Chaux-de-Fonds, conhecida pela produção de relógios. Foi, aliás, essa a sua primeira atividade profissional. Nasceu numa família calvinista, onde recebeu uma formação moral que acentua os contrastes entre o Bem e o Mal. Kenneth Frampton defende que esta atitude mental tê-lo-ia influenciado no sentido da "dialética" presente na sua obra (o diálogo entre o sólido e o vazio, a luz e a sombra).
Viagem a Itália
Em 1907, ano em que também conheceu Tony Garnier, Le Corbusier faz uma viagem de dois meses e meio em Itália: Milão, Florença (em setembro), Siena, Bolonha, Pádua e Veneza (de outubro a inícios de novembro). Parte, de seguida, para Viena (onde fica 4 meses), via Budapeste.
Da visita a Itália, a influência mais marcante será, sem dúvida, a que realizou ao Mosteiro de Galluzzo em 1907 e que o inspirou para as sua construções, pelo que ao longo da sua vida muitas referências fez a esta sua visita. Na realidade ficou impressionado pela forma como a organização do espaço expressa as suas preocupações sócio-políticas (socialismo utópico): o local onde o silêncio e a solidão se conjugam com o contacto diário entre os indivíduos.
Em La Chaux-de-Fonds fará a aplicação prática das sua reflexões em relação a esta viagem, através de um projecto para uma escola de artes, onde, usando betão (concreto, no Brasil) armado, se dispunham três alas de ateliers (como as células do convento) em volta de um espaço comunitário coberto por uma pirâmide de vidro. Nota-se neste projecto (não construído) a razão por que Corbusier ficou tão impressionado com a Cartuxa de Ema, em Galluzo. As ideias socialistas já tinham, efectivamente, sido concretizadas arquitectonicamente por Jean-Baptiste André Godin, no seu Familistério. Esta foi a primeira vez que Le Corbusier sintetizava um modelo "clássico" de arquitetura segundo as suas ideias de funcionalidade. Mais tarde, a experiência da cartuxa de Ema estará presente, de forma disseminada e reformulada, em outros dos seus projectos, como as "cidades" que imaginou ou, de forma mais directa, no seu Immeuble-Villa de 1922.
Viagem a Alemanha e "voyage d'Orient"
Em 1910, a escola de artes de La Chaux-de-Fonds envia Corbu (diminutivo muito usado) para a Alemanha, onde deveria estudar os novos movimentos de artes aplicadas. Le Corbusier escreverá, em consequência, um livro, "Estudo sobre o movimento de arte decorativa na Alemanha", que será publicado na sua terra natal em 1912. Em Berlim entrou em contacto com Peter Behrens (com quem trabalhou durante cinco anos), Walter Gropius e Mies Van der Rohe (algumas das figuras principais do Deutsche Werkbund).
Em 1911, ainda na Alemanha, encontra-se com Heinrich Tessenow, autor da cidade jardim de Hellerau. Duas das obras de Le Corbusier na sua terra natal, a Villa Jeanneret Perret (1912) e o Cinema Scala (1916) manifestarão uma grande influência deste arquitecto e de Behrens.
Em maio desse ano dirige-se para Dresden, de onde parte para a sua famosa "voyage d'Orient": Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste, Veliko Tarnovo, Gabrovo, Kasanlik, Istambul, Monte Athos, Atenas e sul de Itália. Foi acompanhado pelo seu amigo Auguste Klipstein. Ao longo desta viagem, documentada por diversos artigos, esboços e fotografias, irá desenvolver a sua perspectiva pessoal sobre a arte arquitectónica. A viagem resultará num livro, intitulado Voyage d'Orient (Viagem ao Oriente). A arquitetura turca terá, também, a sua influência nas teorias que defenderá. A Villa Schwob, em La Chaux-de-Fonds, chamada popularmente de "Villa Turca" é o exemplo mais flagrante (chega a insinuar a existência de um harém).
Os seus célebres "cinco pontos para uma nova arquitetura" estão claramente influenciados pelas referência orientais. Mais tarde, em 1931, ao visitar Espanha e, posteriormente, a Argélia e Marrocos, a sua tendência oriental reafirma-se, tanto nos projectos como nos textos que legou.
O uso da fachada livre e da planta livre (resultado directo da aplicação das estruturas por ele defendidas), presentes nos "cinco pontos" advém também da arquitetura oriental que propõe um átrio central que marca e determina a circulação e a disposição dos espaços e fachadas. Os próprios terraços, como na Villa Savoye são reminiscências da arquitetura do norte da África.
As suas noções de clareza das superfícies e precisão na disposição dos volumes, que estarão presentes no purismo, são também já pressentidos por Corbusier neste género de arquitetura tradicional. As paredes brancas de Argel parecem-lhe uma manifestação da própria natureza. Os seus estudos sobre a posição estratégica dos monumentos islâmicos em relação à topografia são determinantes, também, para as suas concepções sobre a forma como a arquitetura se relaciona e encoraja essa relação com a natureza.
Viagem à América do Sul
Em 1929 e 1936 fará outras duas viagens — que o influenciarão, ao mesmo tempo que denotam a influência que ele próprio já tem — à América do Sul. Inserida na altura em que desenvolvia o projecto da sua Ville Radieuse, a primeira destas viagens proporcionou-lhe a experiência de ver o Rio de Janeiro a partir do ar, guiado pelos aviadores Antoine de Saint-Exupéry e Mermoz. A disposição da cidade, entalada entre o mar e o relevo escarpado de origem vulcânica sugeriu-lhe a ideia de uma cidade-viaduto (cidade linear). Pensou, mesmo, para o Rio de Janeiro, uma estrada a acompanhar a costa, a cerca de 100 metros de altura, abrigando, debaixo dela, quinze andares com possibilidade para criar habitações. Algo semelhante foi pensado para Argel (o projecto Obus — por formar uma curva que se assemelhava à trajectória de uma granada). Este género de cidade foi, depois, adoptado por arquitectos vanguardistas, defensores da anarquia, como Yona Friedman e Nicolaas Habraken.
Obra
Le Corbusier lançou, em seu livro Vers une architecture (Por uma arquitetura, na tradução em português), as bases do movimento moderno de características funcionalistas. A pesquisa que realizou envolvendo uma nova forma de enxergar a forma arquitetônica baseado nas necessidades humanas revolucionou (juntamente com a atuação da Bauhaus na Alemanha) a cultura arquitetônica do mundo inteiro.
Sua obra, ao negar características histórico-nacionalistas, abriu caminho para o que mais tarde seria chamado de international style ou estilo internacional, que teria representantes como Ludwig Mies van der Rohe, Walter Gropius, e Marcel Breuer. Foi um dos criadores dos CIAM (Congrès Internationaux d'Architecture Moderne).
A sua influência estendeu-se principalmente ao urbanismo. Foi um dos primeiros a compreender as transformações que o automóvel exigiria no planejamento urbano. A cidade do futuro, na sua perspectiva, deveria consistir em grandes blocos de apartamentos assentes em pilotis, deixando o terreno fluir debaixo da construção, o que formaria algo semelhante a parques de estacionamento. Grande parte das teorias arquitectónicas de Le Corbusier foram adaptados pelos construtores de apartamentos nos Estados Unidos.
Le Corbusier defendia, jocosamente, que, "por lei, todos os edifícios deviam ser brancos", criticando qualquer esforço artificial de ornamentação. As estruturas por ele idealizadas, de uma simplicidade e austeridade espartanas, nas cidades, foram largamente criticadas por serem monótonas e desagradáveis para os peões. A cidade de Brasília foi concebida segundo as suas teorias.
Depois da sua morte, os seus detractores têm aumentado o tom das críticas, apelidando-o de inimigo das cidades. É, no entanto, absolutamente, um nome de referência na história da arquitetura contemporânea.
Os cinco pontos da nova arquitetura
Entre as contribuições de Le Corbusier à formulação de uma nova linguagem arquitetônica para o século XX se encontram estes cinco pontos, formalizados no projeto da "Villa Savoye":
Construção sobre pilotis.
Ao tornar todas as construções suspensas, cria-se no ambiente urbano uma perspectiva nova. Uma inédita relação "interno-externo" criar-se-ía entre observador e morador.
Não mais os telhados do passado. Com o avanço técnico do betão-armado (concreto no Brasil), seria possível aproveitar a última laje da edificação como espaço de lazer.
Planta livre da estrutura
A definição dos espaços internos não mais estaria atrelada à concepção estrutural. O uso de sistemas viga-pilar em grelhas ortogonais geraria a flexibilidade necessária para a melhor definição espacial interna possível.
Fachada livre da estrutura
Consequência do tópico anterior. Os pilares devem ser projetados internamente às construções, criando recuos nas lajes de forma a tornar o projeto das aberturas o mais flexível. Deveriam ser abolidos quaisquer resquícios de ornamentação.
Janela em fita
Localizada a uma certa altura, de um ponto ao outro da fachada, de acordo com a melhor orientação solar.
Cronologia
1905 – Villa Fallet, La Chaux-de-Fonds, Suíça
1912 – Villa Jeanneret-Perret, idem.
1916 – Villa Schwob, idem.
1923 – Villa LaRoche/Villa Jeanneret, Paris, França
1924 – Pavillon de L'Esprit Nouveau, idem (demolido)
1924 – La maison du Lac Genebra, Suíça
1924 – Quartiers Modernes Frugès, Pessac, França
1926 – Villa Cook, Boulogne-sur-Seine, França
1927 – Weissenhof Siedlung, Stuttgart, Alemanha
1928 – Villa Savoye, Poissy-sur-Seine, França
1929 – Armée du Salut, Cité de Refuge, Paris, França
1930 – Pavillon Suisse, Cité Universitaire, idem
1932 – Edifício Le Corbusier, Genebra, Suíça
1933 – Tsentrosoyuz, Moscou, URSS
1947-1952 – Unité d'Habitation, Marseille, França
1949 – Usine Claude et Duval, Saint-Dié-des-Vosges, França
1950-1955 – Chapelle Notre-Dame-du-Haut, Ronchamp, França
1951 – Maisons Jaoul, Neuilly-sur-Seine, França
1952-1959 – Edifícios em Chandigarh, Índia
1952 – Haute Cour
1952 – Musée et Galerie d'Art
1953 – Secrétariat
1953 – Club de kk Nautique
1955 – Assemblée
1959 – Ecole d'Arto
1953 – Maison du Brésil, Cité Universitaire, Paris, França
1956 – Unité d'Habitation de Briey en Forêt, Briey en Forêt, França
1957-1960 – Convento Sainte-Marie de La Tourette, Lyon, França
1958 – Pavillon Philips, Bruxelas, Bélgica (demolida)
1960 – Unité d'Habitation de Firminy, Firminy, France
1961 – Carpenter Center for the Visual Arts, Universidade Harvard, Cambridge, Massachusetts
Entre seus projetos mais famosos se encontram:
Villa Savoye – uma das residências mais famosas do mundo. Le Corbusier aplicou aqui seus 5 pontos para uma nova arquitetura.
Unidades de Habitação – a primeira construída (em Marselha) abriu caminho para a realização de mais três na França e uma na Alemanha Oriental. Estabeleceu a prática da construção modularizada e possibilitou ao arquiteto estudar as proporções humanas aplicadas ao projeto de edificações, sintetizadas em seu modulor.
Conjunto de edifícios-sede da Organização das Nações Unidas – Nova Iorque, Estados Unidos, 1953. Embora não tenha chefiado a equipe que projetou o complexo, Corbusier exerceu um papel bastante ativo em seu projeto. O projeto é considerado um dos representantes máximos do International style.
Palácio da Assembleia em Chandigarh, 1953. Assim como os outros edifícios da cidade, representa uma mudança na trajetória do arquiteto. Le Corbusier passa a adotar um partido mais brutalista em seus projetos.
Chapelle Notre-Dame-du-Haut – capela em Ronchamp, França, 1955. Uma das capelas mais famosas do mundo, também representa uma virada na obra do arquiteto.
Controvérsia
Existe um amplo debate sobre a natureza aparentemente volátil ou contraditória das posições políticas de Le Corbusier. Nos anos 20, co-fundou e contribuiu com artigos sobre urbanismo para as revistas fascistas Plans, Prélude e L'Homme Réel. Também escreveu textos a favor do anti-semitismo Nazi para estas revistas, bem como "editoriais odiosos". Entre 1925 e 1928, Le Corbusier teve ligações ao Le Faisceau, um partido fascista francês de curta duração liderado por Georges Valois. Le Corbusier conhecia outro ex-membro do Faisceau, Hubert Lagardelle, um ex-dirigente sindical e trabalhista que se tinha distanciado da esquerda política. Em 1934, depois de Lagardelle ter obtido um cargo na embaixada francesa em Roma, arranjou para que Le Corbusier desse uma palestra sobre arquitectura em Itália. Lagardelle serviu mais tarde como ministro do trabalho na França de Vichy, o regime fantoche pró-Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, Le Corbusier procurava comissões do regime, particularmente a remodelação de Marselha depois da sua população judaica ter sido removida à força, sem sucesso, a única nomeação que recebeu foi a de membro de uma comissão que estudava urbanismo. Alexis Carrel, um cirurgião eugenista, nomeou Le Corbusier para o Departamento de Bio-Sociologia da Fondation française pour l'étude des problèmes humains, um instituto que promovia políticas eugénicas ao abrigo do regime de Vichy.
Le Corbusier tem sido acusado de anti-semitismo. Escreveu à sua mãe em Outubro de 1940, antes de um referendo realizado pelo governo de Vichy: "Os judeus estão a passar um mau bocado. Ocasionalmente, sinto pena. Mas parece que a sua ganância cega por dinheiro apodreceu o país". Foi também acusado de desprezar a população muçulmana da Argélia, na altura parte de França. Quando Le Corbusier propôs um plano para a reconstrução de Argel, condenou a habitação existente para os argelinos europeus, queixando-se de que era inferior à habitada pelos argelinos indígenas: "os civilizados vivem como ratos em buracos", enquanto "os bárbaros vivem na solitude, no bem-estar". O seu plano de reconstrução de Argel foi rejeitado, e desde então Le Corbusier afastou-se em geral da política.
Críticas
Poucos arquitectos do século XX foram tão elogiados, ou tão criticados, como Le Corbusier. No seu tributo a Le Corbusier na cerimónia fúnebre do arquitecto no átrio do Louvre, a 1 de Setembro de 1965, o Ministro da Cultura francês André Malraux declarou: "Le Corbusier tinha alguns notáveis rivais, mas nenhum deles teve a mesma importância na revolução da arquitectura, porque nenhum deles suportou insultos tão pacientemente e por tanto tempo".
Muitas das críticas posteriores a Le Corbusier foram dirigidas às suas ideias sobre urbanismo. Em 1998, o arquitecto historiador Witold Rybczynski escreveu na revista Time:
"Ele chamou-lhe a Ville Radieuse, a Cidade Radiante. Apesar do título poético, a sua visão urbana era autoritária, inflexível e simplista. Onde quer que tenha sido experimentada- em Chandigarh pelo próprio Le Corbusier ou em Brasília pelos seus seguidores -falhou. A padronização revelou-se desumana e desorientadora. Os espaços abertos revelaram-se hostis; o plano imposto burocraticamente, socialmente destrutivo. Nos EUA, a Cidade Radiante tomou a forma de vastos esquemas de revitalização urbana e projectos de habitação pública que prejudicaram o tecido urbano irreversivelmente. Hoje, estes mega-projectos estão a ser demolidos, à medida que os super-blocos dão lugar a fileiras de casas que fazem frente às ruas e passeios. Os centros urbanos descobriram que combinar, e não separar, diferentes atividades é a chave para o sucesso. Tal como é a presença de bairros residenciais dinâmicos, sejam eles antigos ou novos. As cidades aprenderam que preservar a história faz mais sentido do que começar do zero. Tem sido uma lição cara, e não uma que Le Corbusier pretendesse, mas faz também parte do seu legado".
O historiador da tecnologia e crítico arquitectónico Lewis Mumford escreveu no Yesterday's City of Tomorrow que as dimensões extravagantes dos arranha-céus de Le Corbusier não tinham qualquer razão de ser para além do facto de se terem tornado possibilidades tecnológicas. Os espaços abertos nas suas áreas centrais também não tinham razão de ser, escreveu Mumford, uma vez que na escala por ele imaginada não havia motivo para a circulação de peões no quarteirão de escritórios durante o dia de trabalho. Ao "acoplar a imagem utilitária e financeira da cidade arranha-céus à imagem romântica do ambiente orgânico, Le Corbusier produzira, de facto, um híbrido estéril".
Os projetos de habitação pública influenciados pelas suas ideias têm sido criticados por isolar comunidades pobres em arranha-céus monolíticos e quebrar os laços sociais essenciais ao desenvolvimento comunitário. Uma dos seus mais influentes detractores tem sido Jane Jacobs, que fez uma crítica devastadora às teorias de design urbano de Le Corbusier na sua obra emblemática Morte e Vida de Grandes Cidades.
Para alguns críticos, o urbanismo de Le Corbusier era um modelo para um estado fascista. Estes críticos citam o próprio Le Corbusier quando este escreve que "nem todos os cidadãos poderiam tornar-se líderes. A elite tecnocrática, os industriais, financeiros, engenheiros, e artistas deveriam ocupar o centro da cidade, enquanto os trabalhadores deveriam ser retirados para as periferias da cidade".
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
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Quem foi Le Corbusier e qual sua contribuição para a arquitetura? – Archtrends
As principais características do arquiteto e, ainda, fatos sobre a sua vida pessoal, obras mais importantes e influência na arquitetura atual.
Entre os arquitetos mais famosos e reconhecidos no mundo, o suíço Charles Edouard-Jeanneret-Gris destaca-se como pioneiro do movimento modernista e um dos principais influenciadores teóricos da arquitetura de todos os tempos.
Charles não ficou conhecido pelo nome, mas sim pelo pseudônimo, Le Corbusier. Polêmico, muitas vezes odiado e incompreendido, também foi idolatrado, sendo um dos primeiros arquitetos a se tornar celebridade — um starchitect, mescla de star (estrela) e architect (arquiteto).
Separamos as principais características do arquiteto e, ainda, fatos sobre a sua vida pessoal, obras mais importantes e influência na arquitetura atual. Quer conhecer mais sobre Le Corbusier? Não deixe de ler este artigo!
A influência de Le Corbusier na arquitetura
Le Corbusier foi muito mais do que arquiteto. Ele atuou também na área acadêmica e intelectual, aplicou seu conhecimento em diversas artes e deixou seus pensamentos registrados em publicações e artigos de revistas.
Para a arquitetura, deixou mais de 30 obras pelo mundo, importantes teorias e práticas avançadas, que até hoje guiam obras e projetos de urbanismo e paisagismo. O arquiteto é conhecido por elaborar processos de construção racionalistas e funcionais, além de desenvolver, por exemplo, táticas que possibilitam paredes mais leves por meio de técnicas modernas de concreto armado.
Le Corbusier utilizava referências estéticas e conceituais que ele reuniu em viagens por todo o mundo — principalmente Europa, América do Sul, África e Oriente Médio —, e as aplicava em suas obras, considerando o que ele acreditava ser mais apropriado e condizente com seus conceitos de arquitetura.
O planejamento urbano de muitas cidades europeias e africanas, como Argel, capital da Argélia, contou com a visão revolucionária de Corbu, que foi um dos primeiros a antecipar como o automóvel tomaria espaço nos centros urbanos e pensar a importância da orientação da engenharia e da arquitetura para aspectos naturais e para a integração com a natureza.
As características e vida pessoal do arquiteto
Charles Edouard-Jeanneret-Gris nasceu no dia 6 de Outubro de 1887, em uma pequena cidade suíça, chamada La Chaux-de-Fonds. O arquiteto viveu grande parte de sua vida na França, inclusive se tornou cidadão francês após o casamento, mas a sua cidade natal teve grande valor para o desenvolvimento de suas concepções arquitetônicas e da própria carreira.
La Chaux-de-Fonds está localizada a 10 km da fronteira da Suíça com a França e se tornou conhecida como a capital mundial dos relógios, uma vez que detinha cerca de metade da produção e exportação de todos os relógios produzidos no mundo, no início do século XX.
Le Corbusier teve muito contato com essa indústria durante a infância e adolescência. Foi justamente a produção industrial o primeiro fator que pode ter influenciado, ainda que indiretamente, sua percepção sobre a ação da arquitetura no cotidiano. Corbu definia uma residência como “uma máquina de morar”. Para ele, as máquinas apresentam uma função além da utilitária, passando a representar uma forma de expressão artística.
O segundo fator é que a cidade de La Chaux, anos antes de seu nascimento, tinha sido reconstruída após um incêndio devastar grande parte dos edifícios. O novo planejamento urbano propôs vias mais largas e uma disposição das ruas que privilegiasse a luz natural. Assim, as construções foram alinhadas para estarem mais expostas à radiação solar e continham grandes janelas, que facilitavam a entrada de luz.
Em contrapartida, anos depois, Corbu declara publicamente seu desprezo pela cidade natal.
O contato de Le Corbusier com a arte teve início quando o arquiteto completou 13 anos: ele entrou para uma escola de arte com o objetivo de se formar escultor e entalhador. Aos 15 anos, já demonstrava talento e recebeu um prêmio pelo desenho de um relógio.
Sua habilidade chamou a atenção de um de seus professores, que era formado pela Escola de Belas Artes de Paris. O professor, então, apresentou para Corbu a área de arquitetura.
O arquiteto franco-suíço se casou em 1930 com uma modelo francesa, Yvonne Gallis, passando a ser cidadão francês. Em 1940, quando Paris foi tomada pelos alemães, o arquiteto fechou seu escritório e se mudou para o sul da França. Os anos posteriores foram marcados por novos contatos no exterior, aumentando o prestígio mundial de Corbu e alavancando o movimento modernista.
Os projetos de reconstrução das cidades destruídas foram definitivos para a sua carreira, e de 1945 a 1949 ele atuou como consultor para tais assuntos. Seu reconhecimento como um dos arquitetos mais influentes aconteceu apenas na fase final de sua vida, entre 1950 e 1965, ano de seu falecimento.
O início da carreira profissional
O primeiro projeto registrado do arquiteto é a casa de um fabricante de relógio.
Após inaugurar essa nova jornada, escolhendo a arquitetura como profissão, Corbu inicia uma série de viagens para cidades europeias, começando pela região da Toscana e passando depois por Budapeste, Munique, Viena, Paris e outras. Em um dos relatos, Corbu comenta a “arquitetura humana” das celas dos monges em um monastério da Toscana. As viagens foram feitas em 1907 e, para o arquiteto, eram uma maneira de adquirir conhecimento.
Em 1908, o artista começa a estagiar em um escritório em Paris. Por dois anos, trabalha com os irmãos Perret, reconhecidos pelo pioneirismo e modernidade das construções de concreto armado, técnica muito utilizada em toda a sua carreira.
A partir de 1910, Corbu passa uma temporada na Alemanha, trabalhando como desenhista em um estúdio, tendo grande influência da construção moderna. Os próximos anos são de mais descobertas e aprendizados: o arquiteto viajou por grande parte da Europa Central e Oriental, com destaque à arquitetura clássica grega e às mesquitas de Istambul.
Entre 1912 e 1914, Le Corbusier participou de eventos da Escola de Chaux-de-Fonds como professor. Também projetou residências, uma cidade-jardim e a reconstrução de cidades francesas, que foram destruídas durante a Primeira Guerra Mundial.
No ano de 1917, o arquiteto se muda definitivamente para Paris e se arrisca na pintura e em novos ofícios. Corbu fez associações com importantes figuras da época, como o pintor Amédée Ozenfant, com quem publicou o artigo “Après le cubisme” — importante crítica ao movimento cubista, valorizando a forma rigorosa de cada objeto e fundamentando o início da corrente purista.
O nome Le Corbusier começou a ser usado nessa época, na assinatura de seus quadros. O pseudônimo é derivado do sobrenome de seu bisavô, Lecorbésier.
A parceria com Ozenfant acarretou no lançamento da revista “L’Esprit Nouveau”, a qual se tornou um dos principais meios de atuação do artista, uma vez que o mercado de arquitetura estava em baixa e quase não havia encomendas e projetos. Ficou conhecido, portanto, pela vanguarda parisiense, mesmo sem muitas obras construídas. Tal reconhecimento possibilitou alguns projetos, a maioria casas de campo, restritas à elite francesa.
Corbu ainda lançou um livro, publicado em 1923, “Vers une Architecture” (“Por uma arquitetura”), no qual aborda 5 pontos e fundamentos que são as bases do movimento modernista.
Aos 35 anos, se associa a seu primo, Pierre Jeanneret, e, juntos, montam um escritório de arquitetura, tendo oportunidade de explorar os conceitos e as ideias desenvolvidas por anos (principalmente o conceito de casa como “máquina de morar”). O trabalho desenvolvido no escritório, em meados dos anos 30, rendeu muitos projetos na Europa e fora, como na África e América do Sul, inclusive no Brasil.
Suas principais obras pelo mundo
O arquiteto deixou pouco mais de 30 obras construídas pelo mundo. Entre elas, cerca de 17 estão incluídas na lista da UNESCO de Patrimônios Mundiais da Humanidade. As mais importantes são:
1. Unités d’Habitation
Localizado em Marselha, na França, essa obra é um dos exemplares que formam um conjunto de edifícios modulares que fazia parte do projeto de reconstrução do país após a Segunda Guerra Mundial, acrescido de um exemplar em Berlim, na Alemanha Oriental.
O primeiro e mais famoso edifício é o de Marselha e foi construído entre 1947 e 1953. A importância do projeto é percebida pela inspiração em uma das obras mais famosas: Ville Radieuse (Cidade Radiante). O arquiteto refletiu seu sonho de construir espaços que conseguissem integrar o ser humano à natureza e ao meio, o que era considerado por muitos uma utopia.
A cidade foi pensada seguindo o padrão do corpo humano, formado por construções em blocos, com livre circulação no andar térreo e espaços verdes em volta. O desenho constituía linearmente o formato de um corpo humano: coluna, membros e cabeça — conceito proposto pelos estudos de Corbu acerca das proporções do corpo humano e do Modulor.
O Modulor, uma das contribuições de Le Corbusier, é um sistema que referencia as medidas modulares com base nas proporções de um indivíduo de 1,83 m — altura média observada em estudos da época por todo o mundo. O sistema visava fugir dos modelos de medidas comuns e era fundamentado em outras teorias, como a proporção áurea e a sequência de Fibonacci.
O cenário econômico e social como consequência da guerra exigiu que as construções fossem mais “brutas”, utilizando materiais mais simples, baratos e resistentes, como o concreto. O movimento deu início à arquitetura conhecida como brutalista, com traços simplistas, construções em bloco e com capacidade de suprir as necessidades sociais.
2. Villa Savoye
O desenho modernista e as janelas em formato de fita são características marcantes da casa, construída em 1929. Projetada nos moldes do conceito de casa como máquina de morar, não chegou a exercer essa função. Foi usada no período da guerra pelo exército alemão e, posteriormente, pelo americano, e foi deixada em ruínas até 1963, quando o governo francês a reconstruiu e a declarou como patrimônio arquitetônico.
As características arquitetônicas da construção seguem os 5 pontos propostos pelo arquiteto.
3. Pavillon Suisse
A obra, que em português significa Pavilhão Suíço, é um edifício da Cidade Universitária de Paris e foi construído para ser um alojamento de estudantes. Le Corbusier e Pierre Jeanneret enfrentaram uma série de desafios durante a construção, entre eles a dificuldade financeira da universidade, o terreno e as tensões entre a França e a Suíça.
O prédio surpreende pela modernidade e pelas características próprias, que também seguem os 5 pontos de Corbu. Com grande área aberta no espaço do térreo, em um efeito de flutuação, o edifício é cercado por jardins, concreto e estrutura com elementos pouco sofisticados.
4. Palácio da Assembleia
Uma das construções que mais se destacam fora do eixo europeu é o Palácio da Assembleia, localizado na Índia, em Chandigarh. A cidade foi redesenhada por Le Corbusier, contando com a ajuda de Jeanneret, e é o único projeto de urbanismo executado pelo arquiteto. O projeto começou em 1951 e foi até 1965, com sua morte.
A qualidade do projeto fascina, a arquitetura moderna é apresentada de diversas maneiras em jardins, avenidas largas e parques, incluindo características de outras artes, como a pintura e a escultura. Toda a cidade é subdividida em setores independentes, com infraestrutura própria. O acesso é facilitado e tudo está a 10 minutos a pé. E, ainda hoje, com mais de um milhão de habitantes, mantém infraestrutura capaz de atender às necessidades modernas.
Junto de outros edifícios simbólicos do governo, o Palácio da Assembleia compõe todo o paisagismo da cidade e é um edifício de concreto aparente com formas inusitadas. Grandes pilares integram a fachada e sustentam a calha em horizontal, o interior permite a adequação dos escritórios nas laterais do prédio para que o centro possa ser utilizado pelo público e a cobertura é acessível para todos, possibilitando contato com o exterior do prédio.
5. Capela Notre-Dame-du-Haut
A capela começou a ser construída em 1950 e foi terminada em 1955, em um sítio na França. Está localizada na colina de Bourlémont, em Ronchamp, sobre ruínas de um santuário medieval destruído em 1944.
O início da parceria entre o arquiteto e os fiéis que encomendaram a capela foi reportado como difícil. O motivo foram as divergências ideológicas, já que o arquiteto era ateu e tinha ideias modernistas, e o clero possuía convicções opostas ao proposto. O arquiteto, depois, é autorizado a compor a obra da maneira que desejasse.
A capela é formada por um salão principal e três câmaras mais reservadas e um altar no exterior, além de coletores de água, devido à escassez da região. As formas retas e circulares se completam em um exterior de concreto com tons escurecidos e em um interior naturalmente iluminado.
O portfólio de Corbu é composto por outras obras envolvendo edifícios religiosos, como o convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette e a igreja de Saint-Pierre de Firminy.
6. Villa Roche
A residência foi projetada para um banqueiro suíço, Raoul La Roche, e serviu como espaço de exposições e galeria em Paris. A estrutura apresenta um formato diferenciado, como se fosse um agrupamento de estruturas distintas unidas por rampas, escadarias e terraços.
O uso de muitas cores no interior é descrito por Corbu como “Corbusier color-space”: tons como azul, cinza, vermelho e turquesa em conjunto com o branco, presente em todo o espaço, interno e externo.
Corbu descreve a obra como “pitoresca, cheia de movimento, mas que requer uma clássica hierarquia para discipliná-la”.
O projeto com maior destaque
Ville Radieuse ou Cité Radieuse (Cidade Radiante) é o projeto que sumariza todos os elementos e ideais propostos por Le Corbusier, tendo em vista o contexto social da época em que foi apresentado. O projeto de paisagismo e urbanismo não chegou a ser concretizado, mas exerceu influência em outras obras e na atuação do arquiteto.
A proposta foi feita em 1924 e de forma ambiciosa, pois era o plano de uma cidade ideal para Le Corbusier. A cidade valoriza a livre circulação, espaços abertos integrados com a natureza, construções em blocos altos e o sistema modular.
O plano também foi publicado em um livro e não tinha como objetivo apenas a melhoria da qualidade de vida dos moradores, mas também o desenvolvimento de uma sociedade melhor. A cidade seria subdividida em áreas segregadas, com foco comercial, de negócios, de lazer e, por fim, residencial. Cada área foi projetada para conseguir receber certa quantidade de pessoas.
As residências, conhecidas como unités, seriam apartamentos pré-fabricados, distribuídos em edifícios nos bairros residenciais, funcionando como uma vila vertical. Espaços funcionais, como lavanderias, ficariam no piso térreo e áreas sociais, na cobertura. Os blocos seriam circundados por parques e áreas verdes, privilegiando a luz natural e o conforto.
Passagem pelo Brasil
A primeira passagem do arquiteto pelo Brasil foi em 1929, visitando as capitais, Rio de Janeiro e São Paulo. A viagem teve início em Buenos Aires, Argentina, e percorreu outras cidades da América do Sul.
O contato com o mercado e com profissionais estrangeiros se deu a partir da vontade do franco-suíço em focar projetos de paisagismo e urbanismo. Projetos residenciais, como a Villa Savoye, já o tornava reconhecido por arquitetos em todo o mundo e, para expandir os horizontes, o arquiteto se voltou para projetos de construção e reconstrução de cidades.
O mercado estrangeiro possibilitava maior contato com o que o arquiteto queria, assim ele participou de congressos e encontros internacionais e realizou projetos na Rússia e Suíça, por exemplo. O contato com a América do Sul foi uma grande oportunidade para impulsionar o salto na carreira.
Foi recepcionado por Victoria Ocampo, escritora argentina, e Paulo Prado, fazendeiro de café e escritor, influente na política brasileira. Poucos projetos residenciais foram discutidos ou propostos, não rendendo em oportunidades efetivas, devido às dificuldades pela distância e outros empecilhos. Corbu, então, teve grande participação em eventos e conferências da área, além de entrar em contato com arquitetos que já utilizavam referências modernas em suas obras.
Anos depois, com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (MES) durante o governo Vargas, em meio a tramas e apoio do ministro, Lúcio Costa assumiu o projeto de construção da sede do MES, um dos ministérios de maior importância para o governo da época. Le Corbusier foi escolhido como consultor.
Corbu também foi chamado para o projeto do campus de uma universidade que o MES pretendia fundar, que serviria de modelo para as demais do país. No meio de mais confusões e disputas, o arquiteto foi contratado somente como conferencista em 1936.
Os dois projetos foram rejeitados pelas comissões designadas — apenas o projeto da sede do ministério se manteve, mas foi adaptado pela equipe de Lúcio Costa. A equipe contava com arquitetos ex-alunos da ENBA, entre eles Carlos Leão, Ernani Vasconcellos, Jorge Moreira e Oscar Niemeyer. Niemeyer foi escolhido por Le Corbusier para preparar alguns desenhos que serviriam para as demonstrações visuais das conferências.
Em 1962, Corbusier veio pela última vez ao Brasil, para conhecer Brasília e o plano urbanístico de Lúcio Costa, junto de exemplares de Niemeyer.
Sua contribuição para a teoria artística
As diversas publicações do arquiteto tiveram contribuição imensa para o campo teórico e são peças notáveis até hoje.
Os 5 pontos da Nova Arquitetura são princípios fundamentais para compreender as obras do arquiteto. Em 1926, na revista L’Esprit Nouveau, Le Corbusier publicou a forma final da teoria, composta pelos pontos: planta livre, fachada livre, pilotis, terraço jardim e janelas em fita.
De maneira resumida, a planta livre diz respeito à livre movimentação e possibilidade das paredes, que seguindo as técnicas construtivas do arquiteto, deixam de exercer função estrutural. Seguindo, a fachada livre, também devido à independência da estrutura, é um espaço sem impedimentos que pode ser projetado com vários arranjos.
O pilotis é formado pelo sistema de pilares sem impedimentos que permite a livre circulação no espaço térreo das construções, melhor visibilidade e sensação de segurança. O terraço-jardim é uma das formas de utilizar a cobertura, muitas vezes pouco aproveitada nos edifícios, além de reintegrar o espaço verde que foi perdido pela construção.
As janelas em fita são, talvez, a característica mais marcante, possibilitadas pela variedade de arranjos da estrutura. Podem seguir a orientação solar para melhor iluminação e aproveitamento da vista e da paisagem.
O livro já citado, “Vers une Architecture” (“Por uma arquitetura”), conta com outras publicações de grande importância para o campo. Entre eles, ensaios escritos por Corbusier expondo teorias da ação da arquitetura, a visão do arquiteto sobre o modernismo e críticas à arquitetura da época, por exemplo.
O legado deixado para os profissionais da área
Os arquitetos atuais são muito influenciados pela participação e influência de Corbusier não só no campo prático da arquitetura, mas também em teorias e desenvolvimento de novas práticas.
Em suma, Le Corbusier pensava a arquitetura como elemento que auxilia a constituição social e que, por isso, deveria ter uma função prática e conjunta ao ambiente das cidades, envolvendo também o planejamento urbano e paisagístico do lugar. Acreditava que a arquitetura pode resolver problemas e melhorar questões sociais.
Além disso, ele desenvolveu uma série de técnicas construtivas com pilares de cimento armado, tirando a função estrutural das paredes e permitindo um interior adaptado para as necessidades. Criou também o sistema de medidas proporcionais, o Modulor, orientando obras e pinturas.
O resultado de todos os conceitos do arquiteto são obras que até hoje se fazem condizentes com o cenário, antecipando problemas como o grande número de automóveis, o crescimento das cidades e a integração com a natureza.
Fonte: ArchTrends, "Quem foi Le Corbusier?", publicado em 9 de março de 2017. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
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Biografia Le Corbusier – Itaú Cultural
Charles Edouard Jeanneret, conhecido como Le Corbusier, nasceu em 6 de outubro de 1887 em Chaux-de-Fonds, Suíça. Aos 13 anos entrou para a escola de arte. Aos 15 anos, recebeu um prêmio da Escola de Artes Decorativas de Turim pelo desenho de um relógio. Em 1906 realizou seu primeiro projeto: a casa de um fabricante de relógios. Em 1907 viajou pela Europa com o objetivo de aprimorar seus conhecimentos e no ano seguinte passou a trabalhar no escritório de Auguste Perret, pioneiro do concreto-armado, onde recebeu importante influência em sua formação profissional. Posteriormente fundou o Atelier das Artes Reunidas. Em 1910 viajou à Alemanha, onde trabalhou como desenhista no estúdio de Behrens, outro pioneiro da construção moderna. No ano seguinte, percorreu a Europa Central e a Grécia, produzindo desenhos que seriam depois reunidos no livro Viagens no Oriente.
Entre 1912 e 1914 participou, como professor, de uma nova seção da Escola de Chaux-de-Fonds, criada nos moldes da Bauhaus, projetando algumas casas para industriais da região. Em 1914 realizou o projeto de uma cidade-jardim para sua terra natal, assim como o de um sistema para a reconstrução das cidades francesas destruídas pela Primeira Guerra Mundial.
Em 1917 instalou-se em Paris e começou a trabalhar na Sociedade de Aplicação do Concreto Armado. No ano seguinte, junto com o pintor Amédé Ozenfant publicou Après le cubisme, em que faziam críticas ao movimento e propunham um retorno ao desenho rigoroso do objeto. Iniciou-se, então, na a pintura, já sob o pseudônimo de Le Corbusier, e fez exposições regulares até 1924.
Ozenfant e Le Corbusier fundaram a revista L’Esprit Nouveau, para a qual contaram com a cooperação de importantes intelectuais como Aragon e Jean Cocteau. A revista passou então a ser sua principal atividade e meio de ação: em suas páginas,Le Corbusier fazia uma arquitetura para a qual ainda não havia mercado. Tornou-se, assim, um arquiteto conhecido entre a vanguarda parisiense antes mesmo de ter um número significativo de obras construídas. Essa notoriedade lhe proporcionou as primeiras encomendas e a realização de seus primeiros projetos, sobretudo casas de campo nos arredores da capital francesa.
Seu objetivo de construir habitações populares em grande escala continuava em suspenso, pois a política de poderes públicos na França era ditada, desde meados do século XIX, pelos acadêmicos da École des Beaux-Arts, que estendiam sua influência em todas as direções, orientando as decisões até mesmo de concursos internacionais. Restou a Le Corbusier a clientela privada de franceses e estrangeiros amantes da arte moderna e de concepções inovadoras de habitar, que tinham em Paris seu centro social e cultural.
De 1927 a meados da década de 1930, a atividade de seu pequeno escritório esteve em pleno desenvolvimento. Le Corbusier ministrava conferências e elaborava projetos revolucionários de urbanismo para países europeus, da África do Norte e da América Latina, incluindo o Brasil, que visitou pela primeira vez em 1929. Nesse mesmo ano participou da organização do I Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (Ciam), cujas resoluções finais estabeleceram os princípios de atuação do movimento moderno na arquitetura.
Em 1930 casou-se com a parisiense Yvonne Gallis, tornando-se cidadão francês. Em 1936, retornou ao Brasil para orientar o projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde. Como um dos fundadores do grupo Ciam influenciou decisivamente, com suas idéias, a arquitetura moderna no Brasil. Em 1940, quando Paris foi ocupada pelos alemães, fechou seu escritório e refugiou-se no sul da França. Nos anos seguintes intensificou seus contatos internacionais, firmando seu prestígio como pensador da nova arquitetura e tentando demonstrar a exeqüibilidade dos novos métodos de construir.
De 1945 a 1949 atuou como consultor para a reconstrução de cidades destruídas, e viu dois de seus projetos serem realizados, entre os quais o da Unidade de Habitação de Marselha. Em 1946 e 1947, junto com Oscar Niemeyer, participou dos estudos para a edificação da sede da ONU, em Nova Iorque. Sua consagração como grande arquiteto internacional só aconteceu na fase final de sua carreira, entre 1950 e 1965. Em 1959, recebeu o título de doutor honoris-causa pela Universidade de Cambridge. Morreu em 1965.
Individual
2012 - São Paulo - São Paulo - Brasil - Le Corbusier - América do Sul - 1929 (2012 : São Paulo, SP) - Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, SP)
Coletiva
1998 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - O Rio Jamais Visto (1998 : Rio de Janeiro, RJ) - Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Valência - Valência - Espanha - De la Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950 (2000:Valência, Espanha) - IVAM. Centre Julio Gonzáles (Valência, Espanha)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - A Paisagem Carioca (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - A Paisagem Carioca (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960 (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Paço Imperial (Rio de Janeiro, RJ)
2002 - São Paulo - São Paulo - Brasil - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950 (2002 : São Paulo, SP) - Museu de Arte Brasileira (São Paulo, SP)
Fonte: LE Corbusier. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Acesso em: 29 de março de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
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Biografia e obras do arquiteto Le Corbusier
Celebrado como um dos grandes ícones do modernismo, Le Corbusier foi, junto com Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi, um dos arquitetos mais emblemáticos do século XX. Conhecido por seu olhar crítico e obras icônicas, ele alterou o curso da história das artes, arquitetura e urbanismo.Esse mestre da arquitetura brilhou também em outros segmentos. Atuando na área acadêmica e intelectual, aplicou o seu conhecimento em diversas artes. Assim, deixou seus pensamentos registrados em publicações, livros e artigos, fabulosos legados para quem o admira. Seu ótimo desempenho como pintor e escultor rendeu a ele prêmios e reconhecimento. Sua arte replicava o seu ideal de arquitetura e design, pois utilizava estruturas e formas claras e rejeitava os ornamentos e cores, um conceito que ficou conhecido internacionalmente.
Ele ficou bastante conhecido por elaborar processos de construção racionalistas e funcionais. Com uma visão futurista, esse gênio foi um dos primeiros a antecipar a influência do automóvel no desenvolvimento das cidades.
Outro marco importante em sua vida foi a criação das Unités d’Habitation (unidades de habitação). Por meio desse tipo de construção, o profissional estabeleceu a dinâmica da vida urbana em um edifício de proporções imensas e com grande número de unidades.
Le Corbusier revolucionou os conceitos de arquitetura e urbanismo com trabalhos que garantiam, além de funcionalidade, conforto. Além disso, seu estilo vanguardista e sua visão crítica sobre a sociedade renovaram as construções e projetos de todo o mundo.
Biografia
Charles-Edouard Jeanneret-Gris nasceu em 6 de outubro de 1887, na Suíça. Foi filho de um profissional que trabalhava em uma renomada indústria de relógios e de uma professora de piano.
Aos 13 anos, iniciou seus estudos na escola de artes decorativas de sua cidade com o objetivo de seguir a profissão do pai e, logo, recebeu prêmios por seus trabalhos. No entanto, seguiu os conselhos de um de seus professores para se dedicar à arquitetura e, aos 18 anos, projetou sua primeira casa.
A partir de 1907, com o objetivo de aperfeiçoar seu conhecimento, fez diversas viagens mundo afora. Começou pela Itália, onde ficou cerca de dois meses, um lugar que influenciaria bastante suas construções futuras. Foi lá também que muitas de suas inspirações surgiram. A visita ao Mosteiro de Galluzzo, por exemplo, o impressionou pelo fato do espaço ressaltar as suas preocupações sócio-políticas.
Já em Berlim, trabalhou no escritório de Peter Behrens até 1911, outro pioneiro da construção moderna. No ano seguinte, percorreu a Europa Central e a Grécia, produzindo desenhos que fariam parte do seu livro “Viagens do Oriente”.
Em 1917, mudou-se Paris e começou a trabalhar na Sociedade de Aplicação do Concreto Armado. Logo em seguida publicou o Après le cubisme, junto com o pintor Amédé
Ozenfant. Por meio desse manifesto purista, eles criticavam o movimento e propunham o retorno ao desenho rigoroso do objeto.
Já sob o pseudônimo de Le Corbusier, ele deu início ao seu trabalho de pintor, fazendo exposições regulares até 1924. No mesmo período, sua habilidade como arquiteto também chamou a atenção, atraindo olhares da vanguarda parisiense. Assim, graças à sua notoriedade, o brilhante profissional conseguiu diversas encomendas para construir casas de campo.
O sucesso foi tanto que, entre 1927 e 1930, o escritório do arquiteto Le Corbusier elaborou projetos revolucionários de urbanismo para vários países, incluindo para o Brasil. Foi também nessa época que ele se casou com a parisiense Yvonne Gallis, e assim, tornou-se cidadão francês.
Em 1936, viajou ao Brasil para orientar o projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde. Como um dos fundadores do grupo CIAM, influenciou fortemente a arquitetura moderna no Brasil, levando seu conceito de cinco pontos de arquitetura a novos níveis.
Além disso, o arquiteto Le Corbusier desenvolveu planos urbanos novos e fantásticos para o Rio de Janeiro e outras cidades sul-americanas. Os esboços sugeriam um prédio de concreto, com vários andares e muitos quilômetros de extensão ao longo das encostas.
Em 1940, fechou seu escritório e se refugiou no sul da França, pois Paris havia sido invadida pelos alemães. Nos anos seguintes, intensificou seus contatos internacionais, firmando-se como autoridade e pensador da nova arquitetura.
De 1945 a 1949, atuou como consultor para a reconstrução de cidades destruídas, e viu a execução de dois de seus projetos, sendo um deles o do Unités D’Habitation. Nos anos seguintes, junto com Oscar Niemeyer, participou de estudos relacionados à edificação da sede da ONU, em Nova York.
O seu reconhecimento merecido aconteceu, de forma mais intensa, ao fim de sua carreira, entre 1950 e 1965. Nesse meio tempo, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de Cambridge.
Sua morte, em 1965, não apagou nem as ideias e nem o legado desse célebre gênio moderno. Com declarações polêmicas, como “uma casa é uma máquina de morar” e pensamentos inovadores, ele foi uma das principais figuras do século XX.
Uma das mais nobres ideias desse mestre foi acreditar que a arquitetura poderia (e deveria) melhorar as questões sociais e, até mesmo, resolver problemas da sociedade que envolvessem planejamento urbano e paisagístico.
A jornada desse gênio foi marcada por intensa produção, como a criação de manifestos, publicação de livros, elaboração de projetos e construções incríveis, sem falar em suas pinturas. Não foi à toa que deixou diversos admiradores pelo mundo todo.
“A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz”
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“O grande arquiteto Ruy Ohtake: biografia, obras e projetos”;
“Quem foi Antoni Gaudí: biografia, construções e legado do arquiteto”.
Obras de Le Corbusier
O arquiteto Le Corbusier deixou aproximadamente 30 obras pelo mundo. Entre elas, 17 foram consideradas como Patrimônios Mundiais da Humanidade pela UNESCO.
Entre as suas obras mais importantes, algumas se destacam, como:
1. Unités D'Habitation (Marselha, França)
Essa obra foi composta de grandes edifícios modulares construídos após a II Guerra Mundial, sendo o primeiro implantado em Marselha. Também ficou conhecida como Cité Radieuse (cidade radiosa), por tentar recuperar a dinâmica da vida urbana em um edifício monumental.
2. Pavillon Suisse (Cidade Universitária de Paris)
O pavilhão suíço, ou Pavillon Suisse, empregou os cinco pontos da arquitetura de Corbusier, apoiando-se neles durante todo o projeto. O edifício foi elevado sobre pilotis que estão próximos ao seu centro, acentuando um efeito “flutuante”.
3. Palácio da Assembléia (Índia)
Revelando um estilo mais brutalista, essa construção contou com planta livre e com uma cobertura que podia ser acessada. Assim a obra cumpriu seu papel, que era permitir o contato do homem com a natureza.
4. Capela de Notre-Dame-Du-Haut (França)
Essa capela foi projetada com paredes grossas e curvilíneas e com janelas que permitiam a luz entrar de maneira controlada.
5. Villa Sailla Savoye (Paris, França)
Villa Savoye representa um dos grandes ícones da arquitetura moderna, juntamente com a Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright e a residência Farnsworth (de Mies van der Rohe). Ela foi literalmente projetada como “uma máquina de morar” e apresenta os cinco pontos da nova arquitetura.
Fonte: LAART, "Biografia e obra de Le Corbusier", publicado em 4 de maio de 2020. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
Crédito fotográfico: Biography, Le Corbusier. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
Charles-Edouard Jeanneret-Gris (Suíça, La Chaux-de-Fonds - Neuchâtel, 6 de outubro de 1887 — Suíça, Roquebrune-Cap-Martin, 27 de agosto de 1965), mais conhecido como Le Corbusier, foi um arquiteto, urbanista, designer, pintor e escritor suíço-francês. Conhecido por suas ideias inovadoras sobre arquitetura, urbanismo e design, Le Corbusier acreditava que a arquitetura deveria ser funcional, eficiente e atender às necessidades básicas dos seres humanos e defendia a ideia de que a arquitetura deveria ser adaptada aos tempos modernos e às novas tecnologias, ao invés de seguir os estilos arquitetônicos tradicionais. Entre suas obras mais famosas estão o Pavilhão Suíço na Exposição Internacional de 1929, em Barcelona, a Casa Curutchet em La Plata, Argentina, o Unité d'Habitation em Marselha, França, e a Capela de Notre-Dame-du-Haut em Ronchamp, França. Expôs extensamente na Suíça, mas também realizou exposições no Brasil, França, Alemanha, Índia, Rússia, Estados Unidos, entre outros. Le Corbusier também escreveu vários livros, incluindo "Vers une architecture" e "Le Modulor", que influenciaram profundamente a arquitetura moderna e o design. É considerado um dos pioneiros da arquitetura moderna e um dos arquitetos mais importantes do século XX.
Biografia – Wikipédia
Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido pelo pseudónimo de Le Corbusier (La Chaux-de-Fonds, 6 de outubro de 1887 – Roquebrune-Cap-Martin, 27 de agosto de 1965), foi um arquiteto, urbanista, escultor e pintor de origem suíça e naturalizado francês em 1930. É considerado, juntamente com Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto e Mies van der Rohe um dos mais importantes arquitectos do século XX. Conhecido por ter sido o criador da Unité d'Habitation, conceito sobre o qual começou a trabalhar na década de 1920.
Aos 29 anos mudou-se para Paris, onde adotou o seu pseudónimo, que foi buscar ao nome do seu avô materno, originário da região de Albi. A sua figura era marcada pelos seus óculos redondos de aros escuros. Morreu por afogamento, em 27 de agosto de 1965.
Formação
Villa Fallet de 1905.
A importância de Le Corbusier advém, em grande parte, do seu enorme poder de síntese.
Nas viagens que fez a várias partes do mundo, Le Corbusier contactou com estilos diversos, de épocas diversas. De todas estas influências, captou aquilo que considerava essencial e intemporal, reconhecendo em especial os valores da arquitetura clássica grega, como da Acrópole de Atenas.
Le Corbusier projetou a sua primeira casa com dezoito anos, em 1905, na sua cidade natal, La Chaux-de-Fonds, conhecida pela produção de relógios. Foi, aliás, essa a sua primeira atividade profissional. Nasceu numa família calvinista, onde recebeu uma formação moral que acentua os contrastes entre o Bem e o Mal. Kenneth Frampton defende que esta atitude mental tê-lo-ia influenciado no sentido da "dialética" presente na sua obra (o diálogo entre o sólido e o vazio, a luz e a sombra).
Viagem a Itália
Em 1907, ano em que também conheceu Tony Garnier, Le Corbusier faz uma viagem de dois meses e meio em Itália: Milão, Florença (em setembro), Siena, Bolonha, Pádua e Veneza (de outubro a inícios de novembro). Parte, de seguida, para Viena (onde fica 4 meses), via Budapeste.
Da visita a Itália, a influência mais marcante será, sem dúvida, a que realizou ao Mosteiro de Galluzzo em 1907 e que o inspirou para as sua construções, pelo que ao longo da sua vida muitas referências fez a esta sua visita. Na realidade ficou impressionado pela forma como a organização do espaço expressa as suas preocupações sócio-políticas (socialismo utópico): o local onde o silêncio e a solidão se conjugam com o contacto diário entre os indivíduos.
Em La Chaux-de-Fonds fará a aplicação prática das sua reflexões em relação a esta viagem, através de um projecto para uma escola de artes, onde, usando betão (concreto, no Brasil) armado, se dispunham três alas de ateliers (como as células do convento) em volta de um espaço comunitário coberto por uma pirâmide de vidro. Nota-se neste projecto (não construído) a razão por que Corbusier ficou tão impressionado com a Cartuxa de Ema, em Galluzo. As ideias socialistas já tinham, efectivamente, sido concretizadas arquitectonicamente por Jean-Baptiste André Godin, no seu Familistério. Esta foi a primeira vez que Le Corbusier sintetizava um modelo "clássico" de arquitetura segundo as suas ideias de funcionalidade. Mais tarde, a experiência da cartuxa de Ema estará presente, de forma disseminada e reformulada, em outros dos seus projectos, como as "cidades" que imaginou ou, de forma mais directa, no seu Immeuble-Villa de 1922.
Viagem a Alemanha e "voyage d'Orient"
Em 1910, a escola de artes de La Chaux-de-Fonds envia Corbu (diminutivo muito usado) para a Alemanha, onde deveria estudar os novos movimentos de artes aplicadas. Le Corbusier escreverá, em consequência, um livro, "Estudo sobre o movimento de arte decorativa na Alemanha", que será publicado na sua terra natal em 1912. Em Berlim entrou em contacto com Peter Behrens (com quem trabalhou durante cinco anos), Walter Gropius e Mies Van der Rohe (algumas das figuras principais do Deutsche Werkbund).
Em 1911, ainda na Alemanha, encontra-se com Heinrich Tessenow, autor da cidade jardim de Hellerau. Duas das obras de Le Corbusier na sua terra natal, a Villa Jeanneret Perret (1912) e o Cinema Scala (1916) manifestarão uma grande influência deste arquitecto e de Behrens.
Em maio desse ano dirige-se para Dresden, de onde parte para a sua famosa "voyage d'Orient": Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste, Veliko Tarnovo, Gabrovo, Kasanlik, Istambul, Monte Athos, Atenas e sul de Itália. Foi acompanhado pelo seu amigo Auguste Klipstein. Ao longo desta viagem, documentada por diversos artigos, esboços e fotografias, irá desenvolver a sua perspectiva pessoal sobre a arte arquitectónica. A viagem resultará num livro, intitulado Voyage d'Orient (Viagem ao Oriente). A arquitetura turca terá, também, a sua influência nas teorias que defenderá. A Villa Schwob, em La Chaux-de-Fonds, chamada popularmente de "Villa Turca" é o exemplo mais flagrante (chega a insinuar a existência de um harém).
Os seus célebres "cinco pontos para uma nova arquitetura" estão claramente influenciados pelas referência orientais. Mais tarde, em 1931, ao visitar Espanha e, posteriormente, a Argélia e Marrocos, a sua tendência oriental reafirma-se, tanto nos projectos como nos textos que legou.
O uso da fachada livre e da planta livre (resultado directo da aplicação das estruturas por ele defendidas), presentes nos "cinco pontos" advém também da arquitetura oriental que propõe um átrio central que marca e determina a circulação e a disposição dos espaços e fachadas. Os próprios terraços, como na Villa Savoye são reminiscências da arquitetura do norte da África.
As suas noções de clareza das superfícies e precisão na disposição dos volumes, que estarão presentes no purismo, são também já pressentidos por Corbusier neste género de arquitetura tradicional. As paredes brancas de Argel parecem-lhe uma manifestação da própria natureza. Os seus estudos sobre a posição estratégica dos monumentos islâmicos em relação à topografia são determinantes, também, para as suas concepções sobre a forma como a arquitetura se relaciona e encoraja essa relação com a natureza.
Viagem à América do Sul
Em 1929 e 1936 fará outras duas viagens — que o influenciarão, ao mesmo tempo que denotam a influência que ele próprio já tem — à América do Sul. Inserida na altura em que desenvolvia o projecto da sua Ville Radieuse, a primeira destas viagens proporcionou-lhe a experiência de ver o Rio de Janeiro a partir do ar, guiado pelos aviadores Antoine de Saint-Exupéry e Mermoz. A disposição da cidade, entalada entre o mar e o relevo escarpado de origem vulcânica sugeriu-lhe a ideia de uma cidade-viaduto (cidade linear). Pensou, mesmo, para o Rio de Janeiro, uma estrada a acompanhar a costa, a cerca de 100 metros de altura, abrigando, debaixo dela, quinze andares com possibilidade para criar habitações. Algo semelhante foi pensado para Argel (o projecto Obus — por formar uma curva que se assemelhava à trajectória de uma granada). Este género de cidade foi, depois, adoptado por arquitectos vanguardistas, defensores da anarquia, como Yona Friedman e Nicolaas Habraken.
Obra
Le Corbusier lançou, em seu livro Vers une architecture (Por uma arquitetura, na tradução em português), as bases do movimento moderno de características funcionalistas. A pesquisa que realizou envolvendo uma nova forma de enxergar a forma arquitetônica baseado nas necessidades humanas revolucionou (juntamente com a atuação da Bauhaus na Alemanha) a cultura arquitetônica do mundo inteiro.
Sua obra, ao negar características histórico-nacionalistas, abriu caminho para o que mais tarde seria chamado de international style ou estilo internacional, que teria representantes como Ludwig Mies van der Rohe, Walter Gropius, e Marcel Breuer. Foi um dos criadores dos CIAM (Congrès Internationaux d'Architecture Moderne).
A sua influência estendeu-se principalmente ao urbanismo. Foi um dos primeiros a compreender as transformações que o automóvel exigiria no planejamento urbano. A cidade do futuro, na sua perspectiva, deveria consistir em grandes blocos de apartamentos assentes em pilotis, deixando o terreno fluir debaixo da construção, o que formaria algo semelhante a parques de estacionamento. Grande parte das teorias arquitectónicas de Le Corbusier foram adaptados pelos construtores de apartamentos nos Estados Unidos.
Le Corbusier defendia, jocosamente, que, "por lei, todos os edifícios deviam ser brancos", criticando qualquer esforço artificial de ornamentação. As estruturas por ele idealizadas, de uma simplicidade e austeridade espartanas, nas cidades, foram largamente criticadas por serem monótonas e desagradáveis para os peões. A cidade de Brasília foi concebida segundo as suas teorias.
Depois da sua morte, os seus detractores têm aumentado o tom das críticas, apelidando-o de inimigo das cidades. É, no entanto, absolutamente, um nome de referência na história da arquitetura contemporânea.
Os cinco pontos da nova arquitetura
Entre as contribuições de Le Corbusier à formulação de uma nova linguagem arquitetônica para o século XX se encontram estes cinco pontos, formalizados no projeto da "Villa Savoye":
Construção sobre pilotis.
Ao tornar todas as construções suspensas, cria-se no ambiente urbano uma perspectiva nova. Uma inédita relação "interno-externo" criar-se-ía entre observador e morador.
Não mais os telhados do passado. Com o avanço técnico do betão-armado (concreto no Brasil), seria possível aproveitar a última laje da edificação como espaço de lazer.
Planta livre da estrutura
A definição dos espaços internos não mais estaria atrelada à concepção estrutural. O uso de sistemas viga-pilar em grelhas ortogonais geraria a flexibilidade necessária para a melhor definição espacial interna possível.
Fachada livre da estrutura
Consequência do tópico anterior. Os pilares devem ser projetados internamente às construções, criando recuos nas lajes de forma a tornar o projeto das aberturas o mais flexível. Deveriam ser abolidos quaisquer resquícios de ornamentação.
Janela em fita
Localizada a uma certa altura, de um ponto ao outro da fachada, de acordo com a melhor orientação solar.
Cronologia
1905 – Villa Fallet, La Chaux-de-Fonds, Suíça
1912 – Villa Jeanneret-Perret, idem.
1916 – Villa Schwob, idem.
1923 – Villa LaRoche/Villa Jeanneret, Paris, França
1924 – Pavillon de L'Esprit Nouveau, idem (demolido)
1924 – La maison du Lac Genebra, Suíça
1924 – Quartiers Modernes Frugès, Pessac, França
1926 – Villa Cook, Boulogne-sur-Seine, França
1927 – Weissenhof Siedlung, Stuttgart, Alemanha
1928 – Villa Savoye, Poissy-sur-Seine, França
1929 – Armée du Salut, Cité de Refuge, Paris, França
1930 – Pavillon Suisse, Cité Universitaire, idem
1932 – Edifício Le Corbusier, Genebra, Suíça
1933 – Tsentrosoyuz, Moscou, URSS
1947-1952 – Unité d'Habitation, Marseille, França
1949 – Usine Claude et Duval, Saint-Dié-des-Vosges, França
1950-1955 – Chapelle Notre-Dame-du-Haut, Ronchamp, França
1951 – Maisons Jaoul, Neuilly-sur-Seine, França
1952-1959 – Edifícios em Chandigarh, Índia
1952 – Haute Cour
1952 – Musée et Galerie d'Art
1953 – Secrétariat
1953 – Club de kk Nautique
1955 – Assemblée
1959 – Ecole d'Arto
1953 – Maison du Brésil, Cité Universitaire, Paris, França
1956 – Unité d'Habitation de Briey en Forêt, Briey en Forêt, França
1957-1960 – Convento Sainte-Marie de La Tourette, Lyon, França
1958 – Pavillon Philips, Bruxelas, Bélgica (demolida)
1960 – Unité d'Habitation de Firminy, Firminy, France
1961 – Carpenter Center for the Visual Arts, Universidade Harvard, Cambridge, Massachusetts
Entre seus projetos mais famosos se encontram:
Villa Savoye – uma das residências mais famosas do mundo. Le Corbusier aplicou aqui seus 5 pontos para uma nova arquitetura.
Unidades de Habitação – a primeira construída (em Marselha) abriu caminho para a realização de mais três na França e uma na Alemanha Oriental. Estabeleceu a prática da construção modularizada e possibilitou ao arquiteto estudar as proporções humanas aplicadas ao projeto de edificações, sintetizadas em seu modulor.
Conjunto de edifícios-sede da Organização das Nações Unidas – Nova Iorque, Estados Unidos, 1953. Embora não tenha chefiado a equipe que projetou o complexo, Corbusier exerceu um papel bastante ativo em seu projeto. O projeto é considerado um dos representantes máximos do International style.
Palácio da Assembleia em Chandigarh, 1953. Assim como os outros edifícios da cidade, representa uma mudança na trajetória do arquiteto. Le Corbusier passa a adotar um partido mais brutalista em seus projetos.
Chapelle Notre-Dame-du-Haut – capela em Ronchamp, França, 1955. Uma das capelas mais famosas do mundo, também representa uma virada na obra do arquiteto.
Controvérsia
Existe um amplo debate sobre a natureza aparentemente volátil ou contraditória das posições políticas de Le Corbusier. Nos anos 20, co-fundou e contribuiu com artigos sobre urbanismo para as revistas fascistas Plans, Prélude e L'Homme Réel. Também escreveu textos a favor do anti-semitismo Nazi para estas revistas, bem como "editoriais odiosos". Entre 1925 e 1928, Le Corbusier teve ligações ao Le Faisceau, um partido fascista francês de curta duração liderado por Georges Valois. Le Corbusier conhecia outro ex-membro do Faisceau, Hubert Lagardelle, um ex-dirigente sindical e trabalhista que se tinha distanciado da esquerda política. Em 1934, depois de Lagardelle ter obtido um cargo na embaixada francesa em Roma, arranjou para que Le Corbusier desse uma palestra sobre arquitectura em Itália. Lagardelle serviu mais tarde como ministro do trabalho na França de Vichy, o regime fantoche pró-Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, Le Corbusier procurava comissões do regime, particularmente a remodelação de Marselha depois da sua população judaica ter sido removida à força, sem sucesso, a única nomeação que recebeu foi a de membro de uma comissão que estudava urbanismo. Alexis Carrel, um cirurgião eugenista, nomeou Le Corbusier para o Departamento de Bio-Sociologia da Fondation française pour l'étude des problèmes humains, um instituto que promovia políticas eugénicas ao abrigo do regime de Vichy.
Le Corbusier tem sido acusado de anti-semitismo. Escreveu à sua mãe em Outubro de 1940, antes de um referendo realizado pelo governo de Vichy: "Os judeus estão a passar um mau bocado. Ocasionalmente, sinto pena. Mas parece que a sua ganância cega por dinheiro apodreceu o país". Foi também acusado de desprezar a população muçulmana da Argélia, na altura parte de França. Quando Le Corbusier propôs um plano para a reconstrução de Argel, condenou a habitação existente para os argelinos europeus, queixando-se de que era inferior à habitada pelos argelinos indígenas: "os civilizados vivem como ratos em buracos", enquanto "os bárbaros vivem na solitude, no bem-estar". O seu plano de reconstrução de Argel foi rejeitado, e desde então Le Corbusier afastou-se em geral da política.
Críticas
Poucos arquitectos do século XX foram tão elogiados, ou tão criticados, como Le Corbusier. No seu tributo a Le Corbusier na cerimónia fúnebre do arquitecto no átrio do Louvre, a 1 de Setembro de 1965, o Ministro da Cultura francês André Malraux declarou: "Le Corbusier tinha alguns notáveis rivais, mas nenhum deles teve a mesma importância na revolução da arquitectura, porque nenhum deles suportou insultos tão pacientemente e por tanto tempo".
Muitas das críticas posteriores a Le Corbusier foram dirigidas às suas ideias sobre urbanismo. Em 1998, o arquitecto historiador Witold Rybczynski escreveu na revista Time:
"Ele chamou-lhe a Ville Radieuse, a Cidade Radiante. Apesar do título poético, a sua visão urbana era autoritária, inflexível e simplista. Onde quer que tenha sido experimentada- em Chandigarh pelo próprio Le Corbusier ou em Brasília pelos seus seguidores -falhou. A padronização revelou-se desumana e desorientadora. Os espaços abertos revelaram-se hostis; o plano imposto burocraticamente, socialmente destrutivo. Nos EUA, a Cidade Radiante tomou a forma de vastos esquemas de revitalização urbana e projectos de habitação pública que prejudicaram o tecido urbano irreversivelmente. Hoje, estes mega-projectos estão a ser demolidos, à medida que os super-blocos dão lugar a fileiras de casas que fazem frente às ruas e passeios. Os centros urbanos descobriram que combinar, e não separar, diferentes atividades é a chave para o sucesso. Tal como é a presença de bairros residenciais dinâmicos, sejam eles antigos ou novos. As cidades aprenderam que preservar a história faz mais sentido do que começar do zero. Tem sido uma lição cara, e não uma que Le Corbusier pretendesse, mas faz também parte do seu legado".
O historiador da tecnologia e crítico arquitectónico Lewis Mumford escreveu no Yesterday's City of Tomorrow que as dimensões extravagantes dos arranha-céus de Le Corbusier não tinham qualquer razão de ser para além do facto de se terem tornado possibilidades tecnológicas. Os espaços abertos nas suas áreas centrais também não tinham razão de ser, escreveu Mumford, uma vez que na escala por ele imaginada não havia motivo para a circulação de peões no quarteirão de escritórios durante o dia de trabalho. Ao "acoplar a imagem utilitária e financeira da cidade arranha-céus à imagem romântica do ambiente orgânico, Le Corbusier produzira, de facto, um híbrido estéril".
Os projetos de habitação pública influenciados pelas suas ideias têm sido criticados por isolar comunidades pobres em arranha-céus monolíticos e quebrar os laços sociais essenciais ao desenvolvimento comunitário. Uma dos seus mais influentes detractores tem sido Jane Jacobs, que fez uma crítica devastadora às teorias de design urbano de Le Corbusier na sua obra emblemática Morte e Vida de Grandes Cidades.
Para alguns críticos, o urbanismo de Le Corbusier era um modelo para um estado fascista. Estes críticos citam o próprio Le Corbusier quando este escreve que "nem todos os cidadãos poderiam tornar-se líderes. A elite tecnocrática, os industriais, financeiros, engenheiros, e artistas deveriam ocupar o centro da cidade, enquanto os trabalhadores deveriam ser retirados para as periferias da cidade".
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
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Quem foi Le Corbusier e qual sua contribuição para a arquitetura? – Archtrends
As principais características do arquiteto e, ainda, fatos sobre a sua vida pessoal, obras mais importantes e influência na arquitetura atual.
Entre os arquitetos mais famosos e reconhecidos no mundo, o suíço Charles Edouard-Jeanneret-Gris destaca-se como pioneiro do movimento modernista e um dos principais influenciadores teóricos da arquitetura de todos os tempos.
Charles não ficou conhecido pelo nome, mas sim pelo pseudônimo, Le Corbusier. Polêmico, muitas vezes odiado e incompreendido, também foi idolatrado, sendo um dos primeiros arquitetos a se tornar celebridade — um starchitect, mescla de star (estrela) e architect (arquiteto).
Separamos as principais características do arquiteto e, ainda, fatos sobre a sua vida pessoal, obras mais importantes e influência na arquitetura atual. Quer conhecer mais sobre Le Corbusier? Não deixe de ler este artigo!
A influência de Le Corbusier na arquitetura
Le Corbusier foi muito mais do que arquiteto. Ele atuou também na área acadêmica e intelectual, aplicou seu conhecimento em diversas artes e deixou seus pensamentos registrados em publicações e artigos de revistas.
Para a arquitetura, deixou mais de 30 obras pelo mundo, importantes teorias e práticas avançadas, que até hoje guiam obras e projetos de urbanismo e paisagismo. O arquiteto é conhecido por elaborar processos de construção racionalistas e funcionais, além de desenvolver, por exemplo, táticas que possibilitam paredes mais leves por meio de técnicas modernas de concreto armado.
Le Corbusier utilizava referências estéticas e conceituais que ele reuniu em viagens por todo o mundo — principalmente Europa, América do Sul, África e Oriente Médio —, e as aplicava em suas obras, considerando o que ele acreditava ser mais apropriado e condizente com seus conceitos de arquitetura.
O planejamento urbano de muitas cidades europeias e africanas, como Argel, capital da Argélia, contou com a visão revolucionária de Corbu, que foi um dos primeiros a antecipar como o automóvel tomaria espaço nos centros urbanos e pensar a importância da orientação da engenharia e da arquitetura para aspectos naturais e para a integração com a natureza.
As características e vida pessoal do arquiteto
Charles Edouard-Jeanneret-Gris nasceu no dia 6 de Outubro de 1887, em uma pequena cidade suíça, chamada La Chaux-de-Fonds. O arquiteto viveu grande parte de sua vida na França, inclusive se tornou cidadão francês após o casamento, mas a sua cidade natal teve grande valor para o desenvolvimento de suas concepções arquitetônicas e da própria carreira.
La Chaux-de-Fonds está localizada a 10 km da fronteira da Suíça com a França e se tornou conhecida como a capital mundial dos relógios, uma vez que detinha cerca de metade da produção e exportação de todos os relógios produzidos no mundo, no início do século XX.
Le Corbusier teve muito contato com essa indústria durante a infância e adolescência. Foi justamente a produção industrial o primeiro fator que pode ter influenciado, ainda que indiretamente, sua percepção sobre a ação da arquitetura no cotidiano. Corbu definia uma residência como “uma máquina de morar”. Para ele, as máquinas apresentam uma função além da utilitária, passando a representar uma forma de expressão artística.
O segundo fator é que a cidade de La Chaux, anos antes de seu nascimento, tinha sido reconstruída após um incêndio devastar grande parte dos edifícios. O novo planejamento urbano propôs vias mais largas e uma disposição das ruas que privilegiasse a luz natural. Assim, as construções foram alinhadas para estarem mais expostas à radiação solar e continham grandes janelas, que facilitavam a entrada de luz.
Em contrapartida, anos depois, Corbu declara publicamente seu desprezo pela cidade natal.
O contato de Le Corbusier com a arte teve início quando o arquiteto completou 13 anos: ele entrou para uma escola de arte com o objetivo de se formar escultor e entalhador. Aos 15 anos, já demonstrava talento e recebeu um prêmio pelo desenho de um relógio.
Sua habilidade chamou a atenção de um de seus professores, que era formado pela Escola de Belas Artes de Paris. O professor, então, apresentou para Corbu a área de arquitetura.
O arquiteto franco-suíço se casou em 1930 com uma modelo francesa, Yvonne Gallis, passando a ser cidadão francês. Em 1940, quando Paris foi tomada pelos alemães, o arquiteto fechou seu escritório e se mudou para o sul da França. Os anos posteriores foram marcados por novos contatos no exterior, aumentando o prestígio mundial de Corbu e alavancando o movimento modernista.
Os projetos de reconstrução das cidades destruídas foram definitivos para a sua carreira, e de 1945 a 1949 ele atuou como consultor para tais assuntos. Seu reconhecimento como um dos arquitetos mais influentes aconteceu apenas na fase final de sua vida, entre 1950 e 1965, ano de seu falecimento.
O início da carreira profissional
O primeiro projeto registrado do arquiteto é a casa de um fabricante de relógio.
Após inaugurar essa nova jornada, escolhendo a arquitetura como profissão, Corbu inicia uma série de viagens para cidades europeias, começando pela região da Toscana e passando depois por Budapeste, Munique, Viena, Paris e outras. Em um dos relatos, Corbu comenta a “arquitetura humana” das celas dos monges em um monastério da Toscana. As viagens foram feitas em 1907 e, para o arquiteto, eram uma maneira de adquirir conhecimento.
Em 1908, o artista começa a estagiar em um escritório em Paris. Por dois anos, trabalha com os irmãos Perret, reconhecidos pelo pioneirismo e modernidade das construções de concreto armado, técnica muito utilizada em toda a sua carreira.
A partir de 1910, Corbu passa uma temporada na Alemanha, trabalhando como desenhista em um estúdio, tendo grande influência da construção moderna. Os próximos anos são de mais descobertas e aprendizados: o arquiteto viajou por grande parte da Europa Central e Oriental, com destaque à arquitetura clássica grega e às mesquitas de Istambul.
Entre 1912 e 1914, Le Corbusier participou de eventos da Escola de Chaux-de-Fonds como professor. Também projetou residências, uma cidade-jardim e a reconstrução de cidades francesas, que foram destruídas durante a Primeira Guerra Mundial.
No ano de 1917, o arquiteto se muda definitivamente para Paris e se arrisca na pintura e em novos ofícios. Corbu fez associações com importantes figuras da época, como o pintor Amédée Ozenfant, com quem publicou o artigo “Après le cubisme” — importante crítica ao movimento cubista, valorizando a forma rigorosa de cada objeto e fundamentando o início da corrente purista.
O nome Le Corbusier começou a ser usado nessa época, na assinatura de seus quadros. O pseudônimo é derivado do sobrenome de seu bisavô, Lecorbésier.
A parceria com Ozenfant acarretou no lançamento da revista “L’Esprit Nouveau”, a qual se tornou um dos principais meios de atuação do artista, uma vez que o mercado de arquitetura estava em baixa e quase não havia encomendas e projetos. Ficou conhecido, portanto, pela vanguarda parisiense, mesmo sem muitas obras construídas. Tal reconhecimento possibilitou alguns projetos, a maioria casas de campo, restritas à elite francesa.
Corbu ainda lançou um livro, publicado em 1923, “Vers une Architecture” (“Por uma arquitetura”), no qual aborda 5 pontos e fundamentos que são as bases do movimento modernista.
Aos 35 anos, se associa a seu primo, Pierre Jeanneret, e, juntos, montam um escritório de arquitetura, tendo oportunidade de explorar os conceitos e as ideias desenvolvidas por anos (principalmente o conceito de casa como “máquina de morar”). O trabalho desenvolvido no escritório, em meados dos anos 30, rendeu muitos projetos na Europa e fora, como na África e América do Sul, inclusive no Brasil.
Suas principais obras pelo mundo
O arquiteto deixou pouco mais de 30 obras construídas pelo mundo. Entre elas, cerca de 17 estão incluídas na lista da UNESCO de Patrimônios Mundiais da Humanidade. As mais importantes são:
1. Unités d’Habitation
Localizado em Marselha, na França, essa obra é um dos exemplares que formam um conjunto de edifícios modulares que fazia parte do projeto de reconstrução do país após a Segunda Guerra Mundial, acrescido de um exemplar em Berlim, na Alemanha Oriental.
O primeiro e mais famoso edifício é o de Marselha e foi construído entre 1947 e 1953. A importância do projeto é percebida pela inspiração em uma das obras mais famosas: Ville Radieuse (Cidade Radiante). O arquiteto refletiu seu sonho de construir espaços que conseguissem integrar o ser humano à natureza e ao meio, o que era considerado por muitos uma utopia.
A cidade foi pensada seguindo o padrão do corpo humano, formado por construções em blocos, com livre circulação no andar térreo e espaços verdes em volta. O desenho constituía linearmente o formato de um corpo humano: coluna, membros e cabeça — conceito proposto pelos estudos de Corbu acerca das proporções do corpo humano e do Modulor.
O Modulor, uma das contribuições de Le Corbusier, é um sistema que referencia as medidas modulares com base nas proporções de um indivíduo de 1,83 m — altura média observada em estudos da época por todo o mundo. O sistema visava fugir dos modelos de medidas comuns e era fundamentado em outras teorias, como a proporção áurea e a sequência de Fibonacci.
O cenário econômico e social como consequência da guerra exigiu que as construções fossem mais “brutas”, utilizando materiais mais simples, baratos e resistentes, como o concreto. O movimento deu início à arquitetura conhecida como brutalista, com traços simplistas, construções em bloco e com capacidade de suprir as necessidades sociais.
2. Villa Savoye
O desenho modernista e as janelas em formato de fita são características marcantes da casa, construída em 1929. Projetada nos moldes do conceito de casa como máquina de morar, não chegou a exercer essa função. Foi usada no período da guerra pelo exército alemão e, posteriormente, pelo americano, e foi deixada em ruínas até 1963, quando o governo francês a reconstruiu e a declarou como patrimônio arquitetônico.
As características arquitetônicas da construção seguem os 5 pontos propostos pelo arquiteto.
3. Pavillon Suisse
A obra, que em português significa Pavilhão Suíço, é um edifício da Cidade Universitária de Paris e foi construído para ser um alojamento de estudantes. Le Corbusier e Pierre Jeanneret enfrentaram uma série de desafios durante a construção, entre eles a dificuldade financeira da universidade, o terreno e as tensões entre a França e a Suíça.
O prédio surpreende pela modernidade e pelas características próprias, que também seguem os 5 pontos de Corbu. Com grande área aberta no espaço do térreo, em um efeito de flutuação, o edifício é cercado por jardins, concreto e estrutura com elementos pouco sofisticados.
4. Palácio da Assembleia
Uma das construções que mais se destacam fora do eixo europeu é o Palácio da Assembleia, localizado na Índia, em Chandigarh. A cidade foi redesenhada por Le Corbusier, contando com a ajuda de Jeanneret, e é o único projeto de urbanismo executado pelo arquiteto. O projeto começou em 1951 e foi até 1965, com sua morte.
A qualidade do projeto fascina, a arquitetura moderna é apresentada de diversas maneiras em jardins, avenidas largas e parques, incluindo características de outras artes, como a pintura e a escultura. Toda a cidade é subdividida em setores independentes, com infraestrutura própria. O acesso é facilitado e tudo está a 10 minutos a pé. E, ainda hoje, com mais de um milhão de habitantes, mantém infraestrutura capaz de atender às necessidades modernas.
Junto de outros edifícios simbólicos do governo, o Palácio da Assembleia compõe todo o paisagismo da cidade e é um edifício de concreto aparente com formas inusitadas. Grandes pilares integram a fachada e sustentam a calha em horizontal, o interior permite a adequação dos escritórios nas laterais do prédio para que o centro possa ser utilizado pelo público e a cobertura é acessível para todos, possibilitando contato com o exterior do prédio.
5. Capela Notre-Dame-du-Haut
A capela começou a ser construída em 1950 e foi terminada em 1955, em um sítio na França. Está localizada na colina de Bourlémont, em Ronchamp, sobre ruínas de um santuário medieval destruído em 1944.
O início da parceria entre o arquiteto e os fiéis que encomendaram a capela foi reportado como difícil. O motivo foram as divergências ideológicas, já que o arquiteto era ateu e tinha ideias modernistas, e o clero possuía convicções opostas ao proposto. O arquiteto, depois, é autorizado a compor a obra da maneira que desejasse.
A capela é formada por um salão principal e três câmaras mais reservadas e um altar no exterior, além de coletores de água, devido à escassez da região. As formas retas e circulares se completam em um exterior de concreto com tons escurecidos e em um interior naturalmente iluminado.
O portfólio de Corbu é composto por outras obras envolvendo edifícios religiosos, como o convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette e a igreja de Saint-Pierre de Firminy.
6. Villa Roche
A residência foi projetada para um banqueiro suíço, Raoul La Roche, e serviu como espaço de exposições e galeria em Paris. A estrutura apresenta um formato diferenciado, como se fosse um agrupamento de estruturas distintas unidas por rampas, escadarias e terraços.
O uso de muitas cores no interior é descrito por Corbu como “Corbusier color-space”: tons como azul, cinza, vermelho e turquesa em conjunto com o branco, presente em todo o espaço, interno e externo.
Corbu descreve a obra como “pitoresca, cheia de movimento, mas que requer uma clássica hierarquia para discipliná-la”.
O projeto com maior destaque
Ville Radieuse ou Cité Radieuse (Cidade Radiante) é o projeto que sumariza todos os elementos e ideais propostos por Le Corbusier, tendo em vista o contexto social da época em que foi apresentado. O projeto de paisagismo e urbanismo não chegou a ser concretizado, mas exerceu influência em outras obras e na atuação do arquiteto.
A proposta foi feita em 1924 e de forma ambiciosa, pois era o plano de uma cidade ideal para Le Corbusier. A cidade valoriza a livre circulação, espaços abertos integrados com a natureza, construções em blocos altos e o sistema modular.
O plano também foi publicado em um livro e não tinha como objetivo apenas a melhoria da qualidade de vida dos moradores, mas também o desenvolvimento de uma sociedade melhor. A cidade seria subdividida em áreas segregadas, com foco comercial, de negócios, de lazer e, por fim, residencial. Cada área foi projetada para conseguir receber certa quantidade de pessoas.
As residências, conhecidas como unités, seriam apartamentos pré-fabricados, distribuídos em edifícios nos bairros residenciais, funcionando como uma vila vertical. Espaços funcionais, como lavanderias, ficariam no piso térreo e áreas sociais, na cobertura. Os blocos seriam circundados por parques e áreas verdes, privilegiando a luz natural e o conforto.
Passagem pelo Brasil
A primeira passagem do arquiteto pelo Brasil foi em 1929, visitando as capitais, Rio de Janeiro e São Paulo. A viagem teve início em Buenos Aires, Argentina, e percorreu outras cidades da América do Sul.
O contato com o mercado e com profissionais estrangeiros se deu a partir da vontade do franco-suíço em focar projetos de paisagismo e urbanismo. Projetos residenciais, como a Villa Savoye, já o tornava reconhecido por arquitetos em todo o mundo e, para expandir os horizontes, o arquiteto se voltou para projetos de construção e reconstrução de cidades.
O mercado estrangeiro possibilitava maior contato com o que o arquiteto queria, assim ele participou de congressos e encontros internacionais e realizou projetos na Rússia e Suíça, por exemplo. O contato com a América do Sul foi uma grande oportunidade para impulsionar o salto na carreira.
Foi recepcionado por Victoria Ocampo, escritora argentina, e Paulo Prado, fazendeiro de café e escritor, influente na política brasileira. Poucos projetos residenciais foram discutidos ou propostos, não rendendo em oportunidades efetivas, devido às dificuldades pela distância e outros empecilhos. Corbu, então, teve grande participação em eventos e conferências da área, além de entrar em contato com arquitetos que já utilizavam referências modernas em suas obras.
Anos depois, com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (MES) durante o governo Vargas, em meio a tramas e apoio do ministro, Lúcio Costa assumiu o projeto de construção da sede do MES, um dos ministérios de maior importância para o governo da época. Le Corbusier foi escolhido como consultor.
Corbu também foi chamado para o projeto do campus de uma universidade que o MES pretendia fundar, que serviria de modelo para as demais do país. No meio de mais confusões e disputas, o arquiteto foi contratado somente como conferencista em 1936.
Os dois projetos foram rejeitados pelas comissões designadas — apenas o projeto da sede do ministério se manteve, mas foi adaptado pela equipe de Lúcio Costa. A equipe contava com arquitetos ex-alunos da ENBA, entre eles Carlos Leão, Ernani Vasconcellos, Jorge Moreira e Oscar Niemeyer. Niemeyer foi escolhido por Le Corbusier para preparar alguns desenhos que serviriam para as demonstrações visuais das conferências.
Em 1962, Corbusier veio pela última vez ao Brasil, para conhecer Brasília e o plano urbanístico de Lúcio Costa, junto de exemplares de Niemeyer.
Sua contribuição para a teoria artística
As diversas publicações do arquiteto tiveram contribuição imensa para o campo teórico e são peças notáveis até hoje.
Os 5 pontos da Nova Arquitetura são princípios fundamentais para compreender as obras do arquiteto. Em 1926, na revista L’Esprit Nouveau, Le Corbusier publicou a forma final da teoria, composta pelos pontos: planta livre, fachada livre, pilotis, terraço jardim e janelas em fita.
De maneira resumida, a planta livre diz respeito à livre movimentação e possibilidade das paredes, que seguindo as técnicas construtivas do arquiteto, deixam de exercer função estrutural. Seguindo, a fachada livre, também devido à independência da estrutura, é um espaço sem impedimentos que pode ser projetado com vários arranjos.
O pilotis é formado pelo sistema de pilares sem impedimentos que permite a livre circulação no espaço térreo das construções, melhor visibilidade e sensação de segurança. O terraço-jardim é uma das formas de utilizar a cobertura, muitas vezes pouco aproveitada nos edifícios, além de reintegrar o espaço verde que foi perdido pela construção.
As janelas em fita são, talvez, a característica mais marcante, possibilitadas pela variedade de arranjos da estrutura. Podem seguir a orientação solar para melhor iluminação e aproveitamento da vista e da paisagem.
O livro já citado, “Vers une Architecture” (“Por uma arquitetura”), conta com outras publicações de grande importância para o campo. Entre eles, ensaios escritos por Corbusier expondo teorias da ação da arquitetura, a visão do arquiteto sobre o modernismo e críticas à arquitetura da época, por exemplo.
O legado deixado para os profissionais da área
Os arquitetos atuais são muito influenciados pela participação e influência de Corbusier não só no campo prático da arquitetura, mas também em teorias e desenvolvimento de novas práticas.
Em suma, Le Corbusier pensava a arquitetura como elemento que auxilia a constituição social e que, por isso, deveria ter uma função prática e conjunta ao ambiente das cidades, envolvendo também o planejamento urbano e paisagístico do lugar. Acreditava que a arquitetura pode resolver problemas e melhorar questões sociais.
Além disso, ele desenvolveu uma série de técnicas construtivas com pilares de cimento armado, tirando a função estrutural das paredes e permitindo um interior adaptado para as necessidades. Criou também o sistema de medidas proporcionais, o Modulor, orientando obras e pinturas.
O resultado de todos os conceitos do arquiteto são obras que até hoje se fazem condizentes com o cenário, antecipando problemas como o grande número de automóveis, o crescimento das cidades e a integração com a natureza.
Fonte: ArchTrends, "Quem foi Le Corbusier?", publicado em 9 de março de 2017. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
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Biografia Le Corbusier – Itaú Cultural
Charles Edouard Jeanneret, conhecido como Le Corbusier, nasceu em 6 de outubro de 1887 em Chaux-de-Fonds, Suíça. Aos 13 anos entrou para a escola de arte. Aos 15 anos, recebeu um prêmio da Escola de Artes Decorativas de Turim pelo desenho de um relógio. Em 1906 realizou seu primeiro projeto: a casa de um fabricante de relógios. Em 1907 viajou pela Europa com o objetivo de aprimorar seus conhecimentos e no ano seguinte passou a trabalhar no escritório de Auguste Perret, pioneiro do concreto-armado, onde recebeu importante influência em sua formação profissional. Posteriormente fundou o Atelier das Artes Reunidas. Em 1910 viajou à Alemanha, onde trabalhou como desenhista no estúdio de Behrens, outro pioneiro da construção moderna. No ano seguinte, percorreu a Europa Central e a Grécia, produzindo desenhos que seriam depois reunidos no livro Viagens no Oriente.
Entre 1912 e 1914 participou, como professor, de uma nova seção da Escola de Chaux-de-Fonds, criada nos moldes da Bauhaus, projetando algumas casas para industriais da região. Em 1914 realizou o projeto de uma cidade-jardim para sua terra natal, assim como o de um sistema para a reconstrução das cidades francesas destruídas pela Primeira Guerra Mundial.
Em 1917 instalou-se em Paris e começou a trabalhar na Sociedade de Aplicação do Concreto Armado. No ano seguinte, junto com o pintor Amédé Ozenfant publicou Après le cubisme, em que faziam críticas ao movimento e propunham um retorno ao desenho rigoroso do objeto. Iniciou-se, então, na a pintura, já sob o pseudônimo de Le Corbusier, e fez exposições regulares até 1924.
Ozenfant e Le Corbusier fundaram a revista L’Esprit Nouveau, para a qual contaram com a cooperação de importantes intelectuais como Aragon e Jean Cocteau. A revista passou então a ser sua principal atividade e meio de ação: em suas páginas,Le Corbusier fazia uma arquitetura para a qual ainda não havia mercado. Tornou-se, assim, um arquiteto conhecido entre a vanguarda parisiense antes mesmo de ter um número significativo de obras construídas. Essa notoriedade lhe proporcionou as primeiras encomendas e a realização de seus primeiros projetos, sobretudo casas de campo nos arredores da capital francesa.
Seu objetivo de construir habitações populares em grande escala continuava em suspenso, pois a política de poderes públicos na França era ditada, desde meados do século XIX, pelos acadêmicos da École des Beaux-Arts, que estendiam sua influência em todas as direções, orientando as decisões até mesmo de concursos internacionais. Restou a Le Corbusier a clientela privada de franceses e estrangeiros amantes da arte moderna e de concepções inovadoras de habitar, que tinham em Paris seu centro social e cultural.
De 1927 a meados da década de 1930, a atividade de seu pequeno escritório esteve em pleno desenvolvimento. Le Corbusier ministrava conferências e elaborava projetos revolucionários de urbanismo para países europeus, da África do Norte e da América Latina, incluindo o Brasil, que visitou pela primeira vez em 1929. Nesse mesmo ano participou da organização do I Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (Ciam), cujas resoluções finais estabeleceram os princípios de atuação do movimento moderno na arquitetura.
Em 1930 casou-se com a parisiense Yvonne Gallis, tornando-se cidadão francês. Em 1936, retornou ao Brasil para orientar o projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde. Como um dos fundadores do grupo Ciam influenciou decisivamente, com suas idéias, a arquitetura moderna no Brasil. Em 1940, quando Paris foi ocupada pelos alemães, fechou seu escritório e refugiou-se no sul da França. Nos anos seguintes intensificou seus contatos internacionais, firmando seu prestígio como pensador da nova arquitetura e tentando demonstrar a exeqüibilidade dos novos métodos de construir.
De 1945 a 1949 atuou como consultor para a reconstrução de cidades destruídas, e viu dois de seus projetos serem realizados, entre os quais o da Unidade de Habitação de Marselha. Em 1946 e 1947, junto com Oscar Niemeyer, participou dos estudos para a edificação da sede da ONU, em Nova Iorque. Sua consagração como grande arquiteto internacional só aconteceu na fase final de sua carreira, entre 1950 e 1965. Em 1959, recebeu o título de doutor honoris-causa pela Universidade de Cambridge. Morreu em 1965.
Individual
2012 - São Paulo - São Paulo - Brasil - Le Corbusier - América do Sul - 1929 (2012 : São Paulo, SP) - Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, SP)
Coletiva
1998 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - O Rio Jamais Visto (1998 : Rio de Janeiro, RJ) - Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Valência - Valência - Espanha - De la Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950 (2000:Valência, Espanha) - IVAM. Centre Julio Gonzáles (Valência, Espanha)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - A Paisagem Carioca (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - A Paisagem Carioca (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro, RJ)
2000 - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960 (2000 : Rio de Janeiro, RJ) - Paço Imperial (Rio de Janeiro, RJ)
2002 - São Paulo - São Paulo - Brasil - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950 (2002 : São Paulo, SP) - Museu de Arte Brasileira (São Paulo, SP)
Fonte: LE Corbusier. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Acesso em: 29 de março de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
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Biografia e obras do arquiteto Le Corbusier
Celebrado como um dos grandes ícones do modernismo, Le Corbusier foi, junto com Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi, um dos arquitetos mais emblemáticos do século XX. Conhecido por seu olhar crítico e obras icônicas, ele alterou o curso da história das artes, arquitetura e urbanismo.Esse mestre da arquitetura brilhou também em outros segmentos. Atuando na área acadêmica e intelectual, aplicou o seu conhecimento em diversas artes. Assim, deixou seus pensamentos registrados em publicações, livros e artigos, fabulosos legados para quem o admira. Seu ótimo desempenho como pintor e escultor rendeu a ele prêmios e reconhecimento. Sua arte replicava o seu ideal de arquitetura e design, pois utilizava estruturas e formas claras e rejeitava os ornamentos e cores, um conceito que ficou conhecido internacionalmente.
Ele ficou bastante conhecido por elaborar processos de construção racionalistas e funcionais. Com uma visão futurista, esse gênio foi um dos primeiros a antecipar a influência do automóvel no desenvolvimento das cidades.
Outro marco importante em sua vida foi a criação das Unités d’Habitation (unidades de habitação). Por meio desse tipo de construção, o profissional estabeleceu a dinâmica da vida urbana em um edifício de proporções imensas e com grande número de unidades.
Le Corbusier revolucionou os conceitos de arquitetura e urbanismo com trabalhos que garantiam, além de funcionalidade, conforto. Além disso, seu estilo vanguardista e sua visão crítica sobre a sociedade renovaram as construções e projetos de todo o mundo.
Biografia
Charles-Edouard Jeanneret-Gris nasceu em 6 de outubro de 1887, na Suíça. Foi filho de um profissional que trabalhava em uma renomada indústria de relógios e de uma professora de piano.
Aos 13 anos, iniciou seus estudos na escola de artes decorativas de sua cidade com o objetivo de seguir a profissão do pai e, logo, recebeu prêmios por seus trabalhos. No entanto, seguiu os conselhos de um de seus professores para se dedicar à arquitetura e, aos 18 anos, projetou sua primeira casa.
A partir de 1907, com o objetivo de aperfeiçoar seu conhecimento, fez diversas viagens mundo afora. Começou pela Itália, onde ficou cerca de dois meses, um lugar que influenciaria bastante suas construções futuras. Foi lá também que muitas de suas inspirações surgiram. A visita ao Mosteiro de Galluzzo, por exemplo, o impressionou pelo fato do espaço ressaltar as suas preocupações sócio-políticas.
Já em Berlim, trabalhou no escritório de Peter Behrens até 1911, outro pioneiro da construção moderna. No ano seguinte, percorreu a Europa Central e a Grécia, produzindo desenhos que fariam parte do seu livro “Viagens do Oriente”.
Em 1917, mudou-se Paris e começou a trabalhar na Sociedade de Aplicação do Concreto Armado. Logo em seguida publicou o Après le cubisme, junto com o pintor Amédé
Ozenfant. Por meio desse manifesto purista, eles criticavam o movimento e propunham o retorno ao desenho rigoroso do objeto.
Já sob o pseudônimo de Le Corbusier, ele deu início ao seu trabalho de pintor, fazendo exposições regulares até 1924. No mesmo período, sua habilidade como arquiteto também chamou a atenção, atraindo olhares da vanguarda parisiense. Assim, graças à sua notoriedade, o brilhante profissional conseguiu diversas encomendas para construir casas de campo.
O sucesso foi tanto que, entre 1927 e 1930, o escritório do arquiteto Le Corbusier elaborou projetos revolucionários de urbanismo para vários países, incluindo para o Brasil. Foi também nessa época que ele se casou com a parisiense Yvonne Gallis, e assim, tornou-se cidadão francês.
Em 1936, viajou ao Brasil para orientar o projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde. Como um dos fundadores do grupo CIAM, influenciou fortemente a arquitetura moderna no Brasil, levando seu conceito de cinco pontos de arquitetura a novos níveis.
Além disso, o arquiteto Le Corbusier desenvolveu planos urbanos novos e fantásticos para o Rio de Janeiro e outras cidades sul-americanas. Os esboços sugeriam um prédio de concreto, com vários andares e muitos quilômetros de extensão ao longo das encostas.
Em 1940, fechou seu escritório e se refugiou no sul da França, pois Paris havia sido invadida pelos alemães. Nos anos seguintes, intensificou seus contatos internacionais, firmando-se como autoridade e pensador da nova arquitetura.
De 1945 a 1949, atuou como consultor para a reconstrução de cidades destruídas, e viu a execução de dois de seus projetos, sendo um deles o do Unités D’Habitation. Nos anos seguintes, junto com Oscar Niemeyer, participou de estudos relacionados à edificação da sede da ONU, em Nova York.
O seu reconhecimento merecido aconteceu, de forma mais intensa, ao fim de sua carreira, entre 1950 e 1965. Nesse meio tempo, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de Cambridge.
Sua morte, em 1965, não apagou nem as ideias e nem o legado desse célebre gênio moderno. Com declarações polêmicas, como “uma casa é uma máquina de morar” e pensamentos inovadores, ele foi uma das principais figuras do século XX.
Uma das mais nobres ideias desse mestre foi acreditar que a arquitetura poderia (e deveria) melhorar as questões sociais e, até mesmo, resolver problemas da sociedade que envolvessem planejamento urbano e paisagístico.
A jornada desse gênio foi marcada por intensa produção, como a criação de manifestos, publicação de livros, elaboração de projetos e construções incríveis, sem falar em suas pinturas. Não foi à toa que deixou diversos admiradores pelo mundo todo.
“A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz”
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“O grande arquiteto Ruy Ohtake: biografia, obras e projetos”;
“Quem foi Antoni Gaudí: biografia, construções e legado do arquiteto”.
Obras de Le Corbusier
O arquiteto Le Corbusier deixou aproximadamente 30 obras pelo mundo. Entre elas, 17 foram consideradas como Patrimônios Mundiais da Humanidade pela UNESCO.
Entre as suas obras mais importantes, algumas se destacam, como:
1. Unités D'Habitation (Marselha, França)
Essa obra foi composta de grandes edifícios modulares construídos após a II Guerra Mundial, sendo o primeiro implantado em Marselha. Também ficou conhecida como Cité Radieuse (cidade radiosa), por tentar recuperar a dinâmica da vida urbana em um edifício monumental.
2. Pavillon Suisse (Cidade Universitária de Paris)
O pavilhão suíço, ou Pavillon Suisse, empregou os cinco pontos da arquitetura de Corbusier, apoiando-se neles durante todo o projeto. O edifício foi elevado sobre pilotis que estão próximos ao seu centro, acentuando um efeito “flutuante”.
3. Palácio da Assembléia (Índia)
Revelando um estilo mais brutalista, essa construção contou com planta livre e com uma cobertura que podia ser acessada. Assim a obra cumpriu seu papel, que era permitir o contato do homem com a natureza.
4. Capela de Notre-Dame-Du-Haut (França)
Essa capela foi projetada com paredes grossas e curvilíneas e com janelas que permitiam a luz entrar de maneira controlada.
5. Villa Sailla Savoye (Paris, França)
Villa Savoye representa um dos grandes ícones da arquitetura moderna, juntamente com a Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright e a residência Farnsworth (de Mies van der Rohe). Ela foi literalmente projetada como “uma máquina de morar” e apresenta os cinco pontos da nova arquitetura.
Fonte: LAART, "Biografia e obra de Le Corbusier", publicado em 4 de maio de 2020. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.
Crédito fotográfico: Biography, Le Corbusier. Consultado pela última vez em 29 de março de 2023.