Amadeo Luciano Lorenzato (Belo Horizonte, MG, 1 de janeiro de 1900 — Belo Horizonte, MG, 1995), artisticamente conhecido como Lorenzato, foi um pintor modernista brasileiro que retratava em suas obras a paisagem e o cotidiano do subúrbio de Belo Horizonte. Considerado um dos grandes nomes das artes visuais de Minas Gerais.
Biografia - Wikipédia
Filho de imigrantes italianos, foi educado na capital mineira, estudou na Escola Dante Alighieri, da Casa da Itália, um grêmio cultural dos imigrantes da capital, e no Grupo Escolar Silviano Brandão. Pintou paredes após instruções de Américo Grande e foi ajudante de Caminho Caminhas, o único empreiteiro atuante na área de pintura. Em 1920, a família Lorenzato retornou à Itália em fuga contra a gripe espanhola e começou a trabalhar em Arsiero como pintor de paredes na reconstrução da cidade.
Em 1925, já estava ligado à Real Academia de Arte em Vicenza. Em 1926, em Roma, foi influenciado pelo pintor e caricaturista holandês Cornelius Keesman, companheiro de pinturas de paisagens e visitas a igrejas e palácios. Lorenzato ainda esteve em diversas partes da Itália, tendo viajado de bicicleta pelo Leste Europeu, e passado por Paris.
Em 1948, durante a Segunda Guerra, voltou ao Brasil e se instalou no Rio de Janeiro, onde foi empregado do Hotel Quitandinha. As economias garantiram o retorno da esposa ao Brasil, Emma Casprini, e do filho do casal.
Em 1950, retornou a Belo Horizonte, onde passou a trabalhar na construção civil. O ofício continuou até 1956, quando teve uma perna fraturada. A partir daí, desenvolveu suas pinturas em tela, conhecidas apenas pelos familiares até 1964. Em 1967, aconteceu a primeira exposição individual do artista no Minas Tênis Clube, organizada por Palhano Júnior, crítico e jornalista.
O legado deixado pelo artista é formado por dezenas de quadros que retratam a paisagem de bairros populares. Lorenzato foi homenageado em diversas ocasiões, como ao emprestar nome a uma praça do Bairro Pilar, em Belo Horizonte.
Fonte: Wikipédia, Amadeo Luciano Lorenzato. Consultado pela última vez em 7 de fevereiro de 2022.
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Biografia - Itaú Cultural
Começa a trabalhar como ajudante de pintor em 1910, exercendo o ofício até 1920, quando se muda com a família para Arsiero (Itália), onde trabalha como pintor de paredes na reconstrução da cidade. Em 1925, matricula-se na Reale Accademia delle Arti, em Vicenza.
No ano seguinte, muda-se para Roma, onde permanece dois anos em companhia do pintor e cartazista holandês Cornelius Keesman, com quem desenha nos fins de semana.
Em 1928, ambos decidem viajar de bicicleta para o leste europeu, passando por Áustria, Eslováquia, Hungria, Bulgária e Turquia. Finda a viagem em 1930, o artista separa-se de Cornelius e muda para Paris, e trabalha na montagem dos pavilhões da Exposição Internacional Colonial.
Um ano depois, retorna à Itália onde fica até abril de 1948, data em que volta ao Brasil. Trabalha, em 1949, na montagem dos estandes para a Exposição de Indústria e Comércio, realizada no Hotel Quitandinha, de Petrópolis, depois, muda-se com a família para Belo Horizonte e exerce o ofício de pintor de paredes até 1956. Impedido de continuar na construção civil devido a um acidente, dedica-se integralmente à pintura.
Em meados da década de 1960, apresenta alguns trabalhos ao crítico Sérgio Maldonado, que, por sua vez, apresenta-o a Palhano Júnior, organizador da primeira exposição individual de seus trabalhos, realizada em 1967.
Comentário Crítico
Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, descendente de italianos, Lorenzato vive a infância no Brasil. Após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), sua família resolve retornar à Itália. Aos 20 anos, ele passa a exercer a atividade de pintor da construção civil. Em 1925, estudou na Reale Accademia delle Arti, na Galleria Olimpica di Vicenza (atual Accademia Olimpica Vicenza). Seus primeiros quadros são realizados em excursões que faz aos domingos pelos arredores da cidade.
Em 1926, em Roma, conheceu o pintor Cornelius Keissman. Por volta de 1928, acompanhado por Keissman, faz uma longa viagem de bicicleta por diversos países da Europa. Vive da venda de pequenos guaches e aquarelas e de cartões impressos com a foto dos dois artistas ao lado de suas bicicletas. Em Bruxelas e Paris, permanecem por mais tempo.
Em Paris, Lorenzato trava amizade com o pintor italiano Gino Severini (1883 - 1966) e aproveita para ampliar seu conhecimento sobre a obra dos impressionistas, pelos quais revela profunda admiração. Ele afirma ter também grande fascínio pelos trabalhos dos mestres renascentistas italianos.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), retorna ao Brasil em 1949 e se fixa com a família em Belo Horizonte. Sofreu um acidente em 1956, devido ao qual se aposenta. Passa então a dedicar-se inteiramente à pintura. Para a estudiosa Cláudia Giannetti Nölle, em sua pintura o artista prescinde dos detalhes e se concentra nas linhas e cores essenciais, procedimento frequente em pintores próximos ao primitivismo. Começa a utilizar um pente de metal comumente empregado na ornamentação de pintura de parede, com o qual funde as camadas de tinta na tela. O resultado é a apresentação de linhas tortuosas e leves reentrâncias dispersas por todo o quadro.
Lorenzato retira seus temas da realidade cotidiana tanto nas paisagens quanto nas naturezas-mortas e retratos. Utiliza frequentemente novos materiais como a tela de arame, madeira e papelão, assim como pratos, caixas e abajures que servem de suporte para sua pintura. Realiza também esculturas, trabalhando com argila e, nas obras maiores, com cimento. Na escultura apresenta tendência à redução a formas básicas e linhas essenciais, embora imprima as figuras com grande intensidade e força de expressão. Para Nölle, sua obra é sobretudo uma criação espontânea, na qual os elementos se fundem naturalmente.
Acervos
Fundação Clóvis Salgado - Belo Horizonte MG
Museu de Arte da Pampulha - MAP - Belo Horizonte MG
Críticas
"(...) A disposição de elementos e cores atende a um jogo de equilíbrio que dinamiza suas representações contemplativas e estáticas. Da mesma forma consegue imprimir vigor às abstrações frequentemente geometrizadas dos elementos que compõem o quadro através do emprego de um recurso técnico desenvolvido por ele. O resultado são ondas breves, de linhas tortuosas gravadas na tinta, eminências e depressões não muito salientes que se dispersam por todo o quadro, se tornando mais intensas sobretudo nos elementos que servem de fundo (paredes, céus, montanhas). Este pente, único exemplar adquirido em Paris, era utilizado anteriormente na ornamentação de lambris que imitavam mármore ou madeira, muito em moda até meados do século, principalmente no desenho das veias e nervuras. (...) Seus temas são tirados diretamente da realidade cotidiana. Buscando continuamente novos materiais, já trabalhou em tela de arame, madeira, papelão". — Cláudia Giannetti Nolle (LORENZATO. O pintor e escultor. Lorenzato: 90 anos. Belo Horizonte: Manoel Macedo Galeria de Arte, 1990).
"Por muito tempo a obra de Amadeu Luciano Lorenzato esteve associada à tradição popular. Contribuiu para isso a frequência com que a paisagem cotidiana, as favelas e os casarios aparecem em seus trabalhos, Porém, uma análise que se restringisse a essa primeira relação ignoraria aquilo que a pintura tem de mais importante.
Se o artista elege os temas populares é para deles retirar as formas, cores e luzes que sintetizam a própria essência do trabalho. Seu interesse está na reflexão sobre os próprios meios da pintura, na construção de uma linguagem que se relacione acima de tudo com ela mesma, e não com a representação de um tema específico. Seu objetivo é construir formas e imagens que permitam experimentar o mundo de uma maneira nova; diferente daquela que o cotidiano puro e simples oferece.
Nesse sentido, sua obra dialoga com a pintura moderna, ao reafirmar sua condição de construção de sentidos por meio da própria linguagem plástica e permitir a experiência estética para além da literalidade do tema.
Lorenzato sempre esteve despreocupado com normas ou tendências pré-estabelecidas que, aliás, ele conhecia bem em função do longo período que permaneceu na Europa, tendo contato com toda a produção artística do continente, desde o Renascimento até as primeiras vanguardas do século XX.
Como artista desejoso em investigar o próprio fazer, produzia sua tinta, experimentava suportes e materiais diversos, criando texturas com recursos herdados de sua antiga profissão; esculturas e desenhos em placas de cimento; estudos e croquis com papéis que estivessem ao alcance da mão - convites de exposições, caderno do filho, maços de cigarros". — Janaina Alves Melo (Lorenzato, o pintor e escultor. Apresentação. In: LORENZATO; SILVA, Fernando Pedro da (coord.); RIBEIRO, Marília Andrés (coord.). Lorenzato - Depoimento. Belo Horizonte: C/Arte, 2004. 96 p., il. p&b. color. (Circuito Atelier, 8). p. [3-4]).
Depoimento
Como surgiu a ideia de utilizar o pente para pintar?
Eu era pintor, especialista em decoração com estambres marmorizados, fingimento de mármore e madeira; se fazia o fundo de óleo, depois as veias em amarelo, vermelho, preto, e depois com o pente a gente arrematava. Para fazer as veias das madeiras eu comprei uma coleção de pentes para decorador em Paris. Depois voltei para Belo Horizonte e já não usava mais esse negócio. Um dia tive a ideia, forrei um papelão e depois com o pente comecei a mexer e deu um troço qualquer. Isso foi mais ou menos há uns dez anos atrás. Assim eu então comecei. Eu tinha seis pentes, mas perdi os outros e ficou só um, que é esse aqui, que eu dividi no meio, porque era muito largo. Primeiro eu pinto, espalho a tinta de diversas cores, e depois com o pente eu vou fundindo. Uso o pincel para espalhar a tinta e o pente para fundir as cores.
Quais são os motivos que o senhor mais gosta de pintar?
Gosto muito de céu, árvores e estradas. Percorri muitos quilômetros a pé pelas estradas, toda a Toscana, a Áustria; as estradas não estavam asfaltadas e havia muitas árvores de fruta: cerejeiras, pereiras e macieiras.
O que é a arte para o senhor?
Bem, a arte para mim é um passatempo, é uma terapia que me ajuda a viver. Quando estou pintando, esqueço tudo. Até aconteceu algo inusitado outro dia: estávamos fazendo um churrasco aqui, eu comprei um quilo e meio de linguiça e pus no fogo para fritar e fui fazer um trabalho lá em baixo, uma escultura, e esqueci de tudo. Quando senti o cheiro de queimado, corri e tinha virado carvão.
Qual é o estilo que o senhor pinta?
Eu nem sei que estilo que é. É pintura! Dizem que é primitivo, que é ingênua, que é surrealista, eu não sei... Eu pinto aquilo que vejo, que me interessa.
Fonte: Texto extraído do depoimento do artista, publicado no livro Lorenzato - Circuito Atelier, Editora C/Arte, Belo Horizonte, 2004. p. 31 a 34.
Exposições Individuais
1964 - Belo Horizonte MG - Individual, no Minas Tênis Clube
1967 - Belo Horizonte MG - Individual, no Minas Tênis Clube
1971 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Chez Bastião
1973 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Arte Livro
1976 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Guignard
1977 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Memória Cooperativa de Arte
1981 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Brasiliana
1984 - Belo Horizonte MG - Individual, na Casa dos Contos
1986 - Belo Horizonte MG - Individual, no Espaço Asal
1988 - Belo Horizonte MG - Individual, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1990 - Belo Horizonte MG - Individual, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1991 - Belo Horizonte MG - Individual, na Itaugaleria
1994 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria da Caixa
1995 - Belo Horizonte MG - Individual, no MAP
Exposições Coletivas
1965 - Belo Horizonte MG - Fim de Ano, no Minas Tênis Clube
1965 - Belo Horizonte MG - Salão Jovem, no Minas Tênis Clube
1970 - Belo Horizonte MG - Cinco Primitivos, na Galeria Guignard
1970 - Belo Horizonte MG - Coletiva, na Galeria Minart
1970 - Belo Horizonte MG - Semana do Folclore, na Galeria Minart
1973 - Bratislava (Eslováquia) - 3ª Trienal de Bratislava
1976 - Belo Horizonte MG - 1º Salão do Pequeno Quadro, na Galeria Guignard
1976 - Belo Horizonte MG - Artistas Populares na 4ª Festa do Folclore Brasileiro, na Galeria Otto Cirne
1980 - Belo Horizonte MG - Primitivos Mineiros, na Mandala Galeria de Arte
1981 - Belo Horizonte MG - 1ª Exposição de Arte Popular e Artesanato, no Shopping Center
1982 - Bauru SP - 1ª Mostra Nacional de Pintura Popular, na Galeria de Arte Sesc
1984 - Belo Horizonte MG - 1º Salão de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1985 - Belo Horizonte MG - Lorenzato e Valentim Rosa, na Galeria do Palácio das Artes
1988 - Roma (Itália) - Intercâmbio Cultural Itália-Brasil
1992 - Belo Horizonte MG - A. Poteiro, Lorenzato, Rodelnégio, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1994 - Belo Horizonte MG - 5ª Feira de Arte, na Galeria Guignard
1994 - Belo Horizonte MG - Grandes Artistas Brasileiros, na Galeria Guignard
1994 - Ouro Preto MG - A Indentidade Virtual, A Pedra Sabão, no Museu da Inconfidência
1994 - Rio de Janeiro RJ - Salão de Arte Popular do MEC, no MEC
1995 - Belo Horizonte MG - Exposição, no MAP
Exposições Póstumas
1996 - Belo Horizonte MG - Artistas Populares de Belo Horizonte, no Centro Cultural UFMG
2001 - Belo Horizonte MG - Individual, na Escola Guignard
2001 - Belo Horizonte MG - Lorenzatices, na Pace Galeria de Arte
Fonte: LORENZATO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 07 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Conversando sobre Arte com Augusto Herkenhoff
Augusto Herkemhoff tem uma produção de qualidade e de grande volume. A sensação é dele trabalhar dia e noite. Educado e simpático é uma figura agradável. Sua generosidade é conhecida. Desenho, gravura, pintura e mais raramente com escultura são seus meios de expressão. Augusto obrigado por sua participação e que o sucesso seja permanente. Abraço.
Fale algo sobre sua vida pessoal.
Augusto: "Nasci no Espírito Santo, em outubro de 1965. Meu pai estudou Economia e Direito. Foi advogado, diretor e um dos fundadores da Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim. Minha mãe é o que é: nunca trabalhou para fora. Teve muitos filhos. Tenho sete irmãos vivos. Minha mãe gosta de pintar porcelana, tem forno especial para isso. Motivos quase sempre florais em aparelhos de jantar, chá etc. Sou técnico em Contabilidade 1983 e Bacharel em Direito Faculdade Candido Mendes 1988."
Como foi sua formação artística?
Augusto: "Antes da artística, ou simultaneamente, estudei contabilidade na Escola de Comércio, que pertencia à minha família, e havia também na mesma escola o Ginásio São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim. Depois fiz Direito no Rio, na Cândido Mendes. Mas desde a infância sempre convivi muito com livros, literalmente alguns milhares, tanto na biblioteca de meu pai quando na da escola. Desde criança, curti álbuns de figurinhas, selos, cartões postais, fotografias. Colecionava e vendia. Nunca tive sentimento possessivo exagerado por esses conjuntos que valorizo. Na Faculdade de Direito um professor me disse claramente que eu não iria advogar, apesar de exemplos na família. Minha primeira formação portanto foi a partir de livros em família. No Rio, aprofundei os estudos, estudei Estudei no MAM-RJ, fui figura constante no Parque Lage antes e no auge da Geração 80. Pintei a quatro mãos algumas vezes com Jorginho Guinle. Num certo período, eu ia a vernissages toda semana. Fiz cerca de quinze viagens ao exterior nos últimos 17 anos e vi o que pude: os melhores museus e a melhor arquitetura de grandes capitais na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul. Sou técnico em Contabilidade 1983 e Bacharel em Direito Faculdade Candido Mendes 1988.Estudei no MAM -RJ e Parque Lage -EAV. Durante 10 semestres consecutivos estudei com Ronaldo do Rego Macedo e Katie Van Scherpenbeng.10 semestre com cada. As vezes me davam bolsa, as vezes eu não pagava. E outras vezes eu pagava. Não tinha dinheiro. Aprendi tudo com eles dois. Foi uma ajuda decisiva. Bons tempos. tinha 20 anos de idade. Bati o recorde"
Que artistas influenciam seu pensamento?
"As influência são muitas, mas eu destacaria Andy Warhol, como emblema do que atribuem ao meu trabalho, não sei se corretamente, mas veem em mim um pop pós expressionista. Destaco também como influência a sensualidade meio obtusa de Di Cavalcanti, seja nas pinturas , seja nos desenhos e nas gravuras. O velho Comunista modernista era um virtuose , sabia viver e ajudar as pessoas que dependiam dele. É na minha opinião o Maior artista brasileiro de todos os tempos. Sem menosprezar ninguém. Tem uma obra vasta. Mas por problemas judiciais poucas publicações em livros ou catálogos. Tem gente que se considera dono de Di Cavalcanti. E juridicamente falando faz o que quer..."
Como você descreve sua obra?
"Minha obra é a de impulso, eu tendo ao ímpeto.ao vamos que vamos. Não tenho medo de errar. Destruo e reconstruo muito do que faço. Meus desenhos têm extrema tensão, com poucos traços e marcas.. Meus trabalhos em tela, , são recorrentes, retornam ciclicamente. Sobrevivem das minhas obsessões. Sou apaixonado pelas cores, . Minhas obras tendem, na maioria, a exibir, uma generosidade do gesto, das camadas. Nunca fui econômico nas tinhas importadas. Mas já tive momentos de privilegiar quase uma monocromática, grandes telas amarelas. Gosto de experimentar e revisitar experimentações já feitas. Tenho um prazer visceral em pintar, para além das reflexões sobre movimentos artísticos, do tipo neoconcreto, conceitual e tantos outros. Já tive fases em que produzi obras tridimensionais, seja na tradicional escultura em bronze, seja mediante incrustações na pintura na tela, de botões de roupa a contas coloridas de colares baratos, e incrustações de peças maiores, como o violão que cravei na tela com homenagem ao design do LP Transa, de Caetano Veloso, aliás, Caetano excelente neste disco londrino. Este trabalho, a propósito, me valeu o prêmio do Salão Nacional de 1995. Não entro no mérito desse prêmio em si, , mas foi muito bom porque, com o primeiro lugar, ganhei do Estado uma boa viagem à Europa e ainda a edição de um livro-catálogo. Creio que me confundo com minha obra. Também pinto no meu próprio corpo, o rosto especialmente, e depois fotografo. Tenho centenas de imagens como se eu fosse personagem de teatro, o ator da pintura, como se eu fosse a tela cênica e viva da pintura, seja maquiagem ou tinta ou qualquer coisa que me mude enquanto visualização. Tenho uma fase ou uma tendência também a valorizar o rosto como emblema da tradição pictórica de Vanitas. E haja caveiras, não perdi a conta de quantas vanitas fiz, de grandes telas com livros, globo terrestre, caveira etc, a vanitas com o meu rosto vivo, pintado ora de vascaíno, ora de rubro-negro que sou, ora de nordestino, ora de fidalgo brasiliense. Minha obra tem humor ligado ao tempo e suas cores e linhas. Sei porque rio dessas cores e linhas e e pessoas que as veem e as compram gostam de rir também. São obras que reverenciam o tempo, seja este conceito ou vivência, mas sempre elemento vita , não importa se com emoção ou racionalidade, mas sempre presente em tudo o que fazemos. Toda a minha obra tem de ser vista como o meu tempo plástico. Mas gosto de ver também o que os outros fazem. Por isso não me sobra aquele outro “tempo” - Faço e respiro arte 24 horas por dia."
Que exposição sua você considera a mais importante?
"Do ponto de vista da emoção, da expectativa a exposição mais importante é sempre a próxima. Não tenho distanciamento suficiente para analisar as mostras passadas. Mas elas são as partes de um todo. Destaco algumas: a que fiz na Galeria Candido Mendes , desenhos de caveiras, , em papel 1991 . A mostra , com 27 telas em Ipanema, na Casa de Cultura Laura Alvim, todas retratando memorabilia capixaba 1993 . Gosto da fase amarela, grandes quadros naquele amplo espaço do Centro Cultural Light antigo do Rio 1996 .Os doutores de 2000 na Galeria Macunaíma... Sei lá ! A exposição mais importante não é comigo. Gosto de uma intitulada Papeis, eu fiz na Toulouse no Rio 2007 Quem pode dizer da importância de um trabalho é o tempo, que se encarrega de levar e trazer, depurar. E isso vale para a nossa critica especializada. Tempo , precioso tempo."
Como você faz para divulgar a sua obra?
"Divulgo minha obra no boca a boca, torço para que a instituição acolhedora de uma exposição faça um bom trabalho de comunicação junto à mídia, coloco imagens na internet, converso, ofereço e vou nesse" vale tudo" da vida, Existe um lado meu, sempre presente no meu dia a dia, que não é este de um artista das imagens. Para além da minha criação, eu compro e vendo obras de arte com a mesma desenvoltura que as produzo. Eu troco, eu dou, presenteio gente na rua, gente que nem conheço. Faço negócios, bons negócios para ambos ao lados. Minha presença é uma constante divulgação de meu trabalho. Eu, literalmente, vivo da minha obra. Quando surge alguém, ou uma galeria interessada em me vender, eu me vendo, negocio sempre. Costumo brincar dizendo que só tem uma coisa melhor do que vender: é comprar. Eu poderia ser professor de arte, poderia ser um mau advogado, eu poderia ser um razoável psicanalista, aliás, fiz análise por alguns anos. Mas eu não poderia deixar de ser uma única coisa, que é o que sou: artista que me divulgo produzindo, comprando e vendendo o tempo inteiro. Não sou um carreirista superficial comprometido com amigos. Não faço parte de clubes. Aprecio a ética."
Além dos estudos sobre arte que outros estímulos influenciam em seu trabalho?
"A convicção de que vale a pena viver, trabalhar, estudar, buscar o melhor de si o tempo todo. Um bom filme me estimula, um bom jogo de futebol me estimula. Meus dois filhos, Mathias e Germana, me estimulam. Minha família me estimula. As amizades. Os estímulos estão flutuando, e saber pressenti-los e reconhecê-los são uma garantia de que até na loucura deve prevalecer a saudável confraternização. Tenho grandes dúvidas, ainda. Mas essas certezas são as que me estimulam. Tenho enormes duvidas. Mas essas certezas me estimulam."
Você tem uma rotina de trabalho?
"Trabalho sempre. Seja fotografando a obra, ou fotografando meus devaneios. Sempre desenho. e seleciono os desenhos. Tenho rotinas diversas : na grande maioria dos meus dias, sou quase como passarinho: durmo cedo e acordo quando mal raia o dia em Petrópolis, onde vivo na minha casa acoplada ao ateliê. Trabalho de manhã e de tarde. À noite, só raramente. Só não durmo cedo quando estou no Rio de Janeiro ou viajando."
Qual sua opinião sobre as Bienais e Feiras de Arte?
"Gosto, mas, claro, algumas edições são boas, outras, não. Bienal não tem o compromisso pragmático das feiras, que visam a compra e venda de obras de arte. Gosto das duas oportunidades. Não tenho nenhum preconceito com o que é comercial. Tudo é comercial. Uma latinha de Piero Manzoni, qual lata de pasta de atum, com os dizeres “merde d’artiste”, vale hoje mais de 100 , 300, 600 mil dólares. As fezes secas do artista italiano já falecido estão se valorizando comercialmente? Ou a/ esteticamente? Feiras e bienais são oportunidades para se vender obras, ideias e vaidades. Diálogos. contemporâneos Gosto, sou da arte. Vou a Bienais desde 1985 Aliás, participei de um projeto periférico na Bienal do Mercosul . Já fui a feiras, incluindo uma enorme na Colômbia. Miami e Londres"
Quais são seus planos para o futuro?
"Torcer para o Flamengo fazer e acontecer, chorar pessoas queridas que se vão, jamais furar a fila nessa certeza de que todos iremos, ainda que não saibamos dos nossos prazos de validade. Continuar trabalhando e conservando minha obra."
O que você faz nas horas vagas?
"Eu as desconheço, ainda."
Fonte e crédito fotográfico: ArtArte, por Marcio Fonseca, publicado em 8 de novembro de 2011. Consultado pela última vez em 8 de fevereiro de 2022.
Amadeo Luciano Lorenzato (Belo Horizonte, MG, 1 de janeiro de 1900 — Belo Horizonte, MG, 1995), artisticamente conhecido como Lorenzato, foi um pintor modernista brasileiro que retratava em suas obras a paisagem e o cotidiano do subúrbio de Belo Horizonte. Considerado um dos grandes nomes das artes visuais de Minas Gerais.
Biografia - Wikipédia
Filho de imigrantes italianos, foi educado na capital mineira, estudou na Escola Dante Alighieri, da Casa da Itália, um grêmio cultural dos imigrantes da capital, e no Grupo Escolar Silviano Brandão. Pintou paredes após instruções de Américo Grande e foi ajudante de Caminho Caminhas, o único empreiteiro atuante na área de pintura. Em 1920, a família Lorenzato retornou à Itália em fuga contra a gripe espanhola e começou a trabalhar em Arsiero como pintor de paredes na reconstrução da cidade.
Em 1925, já estava ligado à Real Academia de Arte em Vicenza. Em 1926, em Roma, foi influenciado pelo pintor e caricaturista holandês Cornelius Keesman, companheiro de pinturas de paisagens e visitas a igrejas e palácios. Lorenzato ainda esteve em diversas partes da Itália, tendo viajado de bicicleta pelo Leste Europeu, e passado por Paris.
Em 1948, durante a Segunda Guerra, voltou ao Brasil e se instalou no Rio de Janeiro, onde foi empregado do Hotel Quitandinha. As economias garantiram o retorno da esposa ao Brasil, Emma Casprini, e do filho do casal.
Em 1950, retornou a Belo Horizonte, onde passou a trabalhar na construção civil. O ofício continuou até 1956, quando teve uma perna fraturada. A partir daí, desenvolveu suas pinturas em tela, conhecidas apenas pelos familiares até 1964. Em 1967, aconteceu a primeira exposição individual do artista no Minas Tênis Clube, organizada por Palhano Júnior, crítico e jornalista.
O legado deixado pelo artista é formado por dezenas de quadros que retratam a paisagem de bairros populares. Lorenzato foi homenageado em diversas ocasiões, como ao emprestar nome a uma praça do Bairro Pilar, em Belo Horizonte.
Fonte: Wikipédia, Amadeo Luciano Lorenzato. Consultado pela última vez em 7 de fevereiro de 2022.
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Biografia - Itaú Cultural
Começa a trabalhar como ajudante de pintor em 1910, exercendo o ofício até 1920, quando se muda com a família para Arsiero (Itália), onde trabalha como pintor de paredes na reconstrução da cidade. Em 1925, matricula-se na Reale Accademia delle Arti, em Vicenza.
No ano seguinte, muda-se para Roma, onde permanece dois anos em companhia do pintor e cartazista holandês Cornelius Keesman, com quem desenha nos fins de semana.
Em 1928, ambos decidem viajar de bicicleta para o leste europeu, passando por Áustria, Eslováquia, Hungria, Bulgária e Turquia. Finda a viagem em 1930, o artista separa-se de Cornelius e muda para Paris, e trabalha na montagem dos pavilhões da Exposição Internacional Colonial.
Um ano depois, retorna à Itália onde fica até abril de 1948, data em que volta ao Brasil. Trabalha, em 1949, na montagem dos estandes para a Exposição de Indústria e Comércio, realizada no Hotel Quitandinha, de Petrópolis, depois, muda-se com a família para Belo Horizonte e exerce o ofício de pintor de paredes até 1956. Impedido de continuar na construção civil devido a um acidente, dedica-se integralmente à pintura.
Em meados da década de 1960, apresenta alguns trabalhos ao crítico Sérgio Maldonado, que, por sua vez, apresenta-o a Palhano Júnior, organizador da primeira exposição individual de seus trabalhos, realizada em 1967.
Comentário Crítico
Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, descendente de italianos, Lorenzato vive a infância no Brasil. Após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), sua família resolve retornar à Itália. Aos 20 anos, ele passa a exercer a atividade de pintor da construção civil. Em 1925, estudou na Reale Accademia delle Arti, na Galleria Olimpica di Vicenza (atual Accademia Olimpica Vicenza). Seus primeiros quadros são realizados em excursões que faz aos domingos pelos arredores da cidade.
Em 1926, em Roma, conheceu o pintor Cornelius Keissman. Por volta de 1928, acompanhado por Keissman, faz uma longa viagem de bicicleta por diversos países da Europa. Vive da venda de pequenos guaches e aquarelas e de cartões impressos com a foto dos dois artistas ao lado de suas bicicletas. Em Bruxelas e Paris, permanecem por mais tempo.
Em Paris, Lorenzato trava amizade com o pintor italiano Gino Severini (1883 - 1966) e aproveita para ampliar seu conhecimento sobre a obra dos impressionistas, pelos quais revela profunda admiração. Ele afirma ter também grande fascínio pelos trabalhos dos mestres renascentistas italianos.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), retorna ao Brasil em 1949 e se fixa com a família em Belo Horizonte. Sofreu um acidente em 1956, devido ao qual se aposenta. Passa então a dedicar-se inteiramente à pintura. Para a estudiosa Cláudia Giannetti Nölle, em sua pintura o artista prescinde dos detalhes e se concentra nas linhas e cores essenciais, procedimento frequente em pintores próximos ao primitivismo. Começa a utilizar um pente de metal comumente empregado na ornamentação de pintura de parede, com o qual funde as camadas de tinta na tela. O resultado é a apresentação de linhas tortuosas e leves reentrâncias dispersas por todo o quadro.
Lorenzato retira seus temas da realidade cotidiana tanto nas paisagens quanto nas naturezas-mortas e retratos. Utiliza frequentemente novos materiais como a tela de arame, madeira e papelão, assim como pratos, caixas e abajures que servem de suporte para sua pintura. Realiza também esculturas, trabalhando com argila e, nas obras maiores, com cimento. Na escultura apresenta tendência à redução a formas básicas e linhas essenciais, embora imprima as figuras com grande intensidade e força de expressão. Para Nölle, sua obra é sobretudo uma criação espontânea, na qual os elementos se fundem naturalmente.
Acervos
Fundação Clóvis Salgado - Belo Horizonte MG
Museu de Arte da Pampulha - MAP - Belo Horizonte MG
Críticas
"(...) A disposição de elementos e cores atende a um jogo de equilíbrio que dinamiza suas representações contemplativas e estáticas. Da mesma forma consegue imprimir vigor às abstrações frequentemente geometrizadas dos elementos que compõem o quadro através do emprego de um recurso técnico desenvolvido por ele. O resultado são ondas breves, de linhas tortuosas gravadas na tinta, eminências e depressões não muito salientes que se dispersam por todo o quadro, se tornando mais intensas sobretudo nos elementos que servem de fundo (paredes, céus, montanhas). Este pente, único exemplar adquirido em Paris, era utilizado anteriormente na ornamentação de lambris que imitavam mármore ou madeira, muito em moda até meados do século, principalmente no desenho das veias e nervuras. (...) Seus temas são tirados diretamente da realidade cotidiana. Buscando continuamente novos materiais, já trabalhou em tela de arame, madeira, papelão". — Cláudia Giannetti Nolle (LORENZATO. O pintor e escultor. Lorenzato: 90 anos. Belo Horizonte: Manoel Macedo Galeria de Arte, 1990).
"Por muito tempo a obra de Amadeu Luciano Lorenzato esteve associada à tradição popular. Contribuiu para isso a frequência com que a paisagem cotidiana, as favelas e os casarios aparecem em seus trabalhos, Porém, uma análise que se restringisse a essa primeira relação ignoraria aquilo que a pintura tem de mais importante.
Se o artista elege os temas populares é para deles retirar as formas, cores e luzes que sintetizam a própria essência do trabalho. Seu interesse está na reflexão sobre os próprios meios da pintura, na construção de uma linguagem que se relacione acima de tudo com ela mesma, e não com a representação de um tema específico. Seu objetivo é construir formas e imagens que permitam experimentar o mundo de uma maneira nova; diferente daquela que o cotidiano puro e simples oferece.
Nesse sentido, sua obra dialoga com a pintura moderna, ao reafirmar sua condição de construção de sentidos por meio da própria linguagem plástica e permitir a experiência estética para além da literalidade do tema.
Lorenzato sempre esteve despreocupado com normas ou tendências pré-estabelecidas que, aliás, ele conhecia bem em função do longo período que permaneceu na Europa, tendo contato com toda a produção artística do continente, desde o Renascimento até as primeiras vanguardas do século XX.
Como artista desejoso em investigar o próprio fazer, produzia sua tinta, experimentava suportes e materiais diversos, criando texturas com recursos herdados de sua antiga profissão; esculturas e desenhos em placas de cimento; estudos e croquis com papéis que estivessem ao alcance da mão - convites de exposições, caderno do filho, maços de cigarros". — Janaina Alves Melo (Lorenzato, o pintor e escultor. Apresentação. In: LORENZATO; SILVA, Fernando Pedro da (coord.); RIBEIRO, Marília Andrés (coord.). Lorenzato - Depoimento. Belo Horizonte: C/Arte, 2004. 96 p., il. p&b. color. (Circuito Atelier, 8). p. [3-4]).
Depoimento
Como surgiu a ideia de utilizar o pente para pintar?
Eu era pintor, especialista em decoração com estambres marmorizados, fingimento de mármore e madeira; se fazia o fundo de óleo, depois as veias em amarelo, vermelho, preto, e depois com o pente a gente arrematava. Para fazer as veias das madeiras eu comprei uma coleção de pentes para decorador em Paris. Depois voltei para Belo Horizonte e já não usava mais esse negócio. Um dia tive a ideia, forrei um papelão e depois com o pente comecei a mexer e deu um troço qualquer. Isso foi mais ou menos há uns dez anos atrás. Assim eu então comecei. Eu tinha seis pentes, mas perdi os outros e ficou só um, que é esse aqui, que eu dividi no meio, porque era muito largo. Primeiro eu pinto, espalho a tinta de diversas cores, e depois com o pente eu vou fundindo. Uso o pincel para espalhar a tinta e o pente para fundir as cores.
Quais são os motivos que o senhor mais gosta de pintar?
Gosto muito de céu, árvores e estradas. Percorri muitos quilômetros a pé pelas estradas, toda a Toscana, a Áustria; as estradas não estavam asfaltadas e havia muitas árvores de fruta: cerejeiras, pereiras e macieiras.
O que é a arte para o senhor?
Bem, a arte para mim é um passatempo, é uma terapia que me ajuda a viver. Quando estou pintando, esqueço tudo. Até aconteceu algo inusitado outro dia: estávamos fazendo um churrasco aqui, eu comprei um quilo e meio de linguiça e pus no fogo para fritar e fui fazer um trabalho lá em baixo, uma escultura, e esqueci de tudo. Quando senti o cheiro de queimado, corri e tinha virado carvão.
Qual é o estilo que o senhor pinta?
Eu nem sei que estilo que é. É pintura! Dizem que é primitivo, que é ingênua, que é surrealista, eu não sei... Eu pinto aquilo que vejo, que me interessa.
Fonte: Texto extraído do depoimento do artista, publicado no livro Lorenzato - Circuito Atelier, Editora C/Arte, Belo Horizonte, 2004. p. 31 a 34.
Exposições Individuais
1964 - Belo Horizonte MG - Individual, no Minas Tênis Clube
1967 - Belo Horizonte MG - Individual, no Minas Tênis Clube
1971 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Chez Bastião
1973 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Arte Livro
1976 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Guignard
1977 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Memória Cooperativa de Arte
1981 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Brasiliana
1984 - Belo Horizonte MG - Individual, na Casa dos Contos
1986 - Belo Horizonte MG - Individual, no Espaço Asal
1988 - Belo Horizonte MG - Individual, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1990 - Belo Horizonte MG - Individual, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1991 - Belo Horizonte MG - Individual, na Itaugaleria
1994 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria da Caixa
1995 - Belo Horizonte MG - Individual, no MAP
Exposições Coletivas
1965 - Belo Horizonte MG - Fim de Ano, no Minas Tênis Clube
1965 - Belo Horizonte MG - Salão Jovem, no Minas Tênis Clube
1970 - Belo Horizonte MG - Cinco Primitivos, na Galeria Guignard
1970 - Belo Horizonte MG - Coletiva, na Galeria Minart
1970 - Belo Horizonte MG - Semana do Folclore, na Galeria Minart
1973 - Bratislava (Eslováquia) - 3ª Trienal de Bratislava
1976 - Belo Horizonte MG - 1º Salão do Pequeno Quadro, na Galeria Guignard
1976 - Belo Horizonte MG - Artistas Populares na 4ª Festa do Folclore Brasileiro, na Galeria Otto Cirne
1980 - Belo Horizonte MG - Primitivos Mineiros, na Mandala Galeria de Arte
1981 - Belo Horizonte MG - 1ª Exposição de Arte Popular e Artesanato, no Shopping Center
1982 - Bauru SP - 1ª Mostra Nacional de Pintura Popular, na Galeria de Arte Sesc
1984 - Belo Horizonte MG - 1º Salão de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1985 - Belo Horizonte MG - Lorenzato e Valentim Rosa, na Galeria do Palácio das Artes
1988 - Roma (Itália) - Intercâmbio Cultural Itália-Brasil
1992 - Belo Horizonte MG - A. Poteiro, Lorenzato, Rodelnégio, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1994 - Belo Horizonte MG - 5ª Feira de Arte, na Galeria Guignard
1994 - Belo Horizonte MG - Grandes Artistas Brasileiros, na Galeria Guignard
1994 - Ouro Preto MG - A Indentidade Virtual, A Pedra Sabão, no Museu da Inconfidência
1994 - Rio de Janeiro RJ - Salão de Arte Popular do MEC, no MEC
1995 - Belo Horizonte MG - Exposição, no MAP
Exposições Póstumas
1996 - Belo Horizonte MG - Artistas Populares de Belo Horizonte, no Centro Cultural UFMG
2001 - Belo Horizonte MG - Individual, na Escola Guignard
2001 - Belo Horizonte MG - Lorenzatices, na Pace Galeria de Arte
Fonte: LORENZATO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 07 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Conversando sobre Arte com Augusto Herkenhoff
Augusto Herkemhoff tem uma produção de qualidade e de grande volume. A sensação é dele trabalhar dia e noite. Educado e simpático é uma figura agradável. Sua generosidade é conhecida. Desenho, gravura, pintura e mais raramente com escultura são seus meios de expressão. Augusto obrigado por sua participação e que o sucesso seja permanente. Abraço.
Fale algo sobre sua vida pessoal.
Augusto: "Nasci no Espírito Santo, em outubro de 1965. Meu pai estudou Economia e Direito. Foi advogado, diretor e um dos fundadores da Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim. Minha mãe é o que é: nunca trabalhou para fora. Teve muitos filhos. Tenho sete irmãos vivos. Minha mãe gosta de pintar porcelana, tem forno especial para isso. Motivos quase sempre florais em aparelhos de jantar, chá etc. Sou técnico em Contabilidade 1983 e Bacharel em Direito Faculdade Candido Mendes 1988."
Como foi sua formação artística?
Augusto: "Antes da artística, ou simultaneamente, estudei contabilidade na Escola de Comércio, que pertencia à minha família, e havia também na mesma escola o Ginásio São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim. Depois fiz Direito no Rio, na Cândido Mendes. Mas desde a infância sempre convivi muito com livros, literalmente alguns milhares, tanto na biblioteca de meu pai quando na da escola. Desde criança, curti álbuns de figurinhas, selos, cartões postais, fotografias. Colecionava e vendia. Nunca tive sentimento possessivo exagerado por esses conjuntos que valorizo. Na Faculdade de Direito um professor me disse claramente que eu não iria advogar, apesar de exemplos na família. Minha primeira formação portanto foi a partir de livros em família. No Rio, aprofundei os estudos, estudei Estudei no MAM-RJ, fui figura constante no Parque Lage antes e no auge da Geração 80. Pintei a quatro mãos algumas vezes com Jorginho Guinle. Num certo período, eu ia a vernissages toda semana. Fiz cerca de quinze viagens ao exterior nos últimos 17 anos e vi o que pude: os melhores museus e a melhor arquitetura de grandes capitais na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul. Sou técnico em Contabilidade 1983 e Bacharel em Direito Faculdade Candido Mendes 1988.Estudei no MAM -RJ e Parque Lage -EAV. Durante 10 semestres consecutivos estudei com Ronaldo do Rego Macedo e Katie Van Scherpenbeng.10 semestre com cada. As vezes me davam bolsa, as vezes eu não pagava. E outras vezes eu pagava. Não tinha dinheiro. Aprendi tudo com eles dois. Foi uma ajuda decisiva. Bons tempos. tinha 20 anos de idade. Bati o recorde"
Que artistas influenciam seu pensamento?
"As influência são muitas, mas eu destacaria Andy Warhol, como emblema do que atribuem ao meu trabalho, não sei se corretamente, mas veem em mim um pop pós expressionista. Destaco também como influência a sensualidade meio obtusa de Di Cavalcanti, seja nas pinturas , seja nos desenhos e nas gravuras. O velho Comunista modernista era um virtuose , sabia viver e ajudar as pessoas que dependiam dele. É na minha opinião o Maior artista brasileiro de todos os tempos. Sem menosprezar ninguém. Tem uma obra vasta. Mas por problemas judiciais poucas publicações em livros ou catálogos. Tem gente que se considera dono de Di Cavalcanti. E juridicamente falando faz o que quer..."
Como você descreve sua obra?
"Minha obra é a de impulso, eu tendo ao ímpeto.ao vamos que vamos. Não tenho medo de errar. Destruo e reconstruo muito do que faço. Meus desenhos têm extrema tensão, com poucos traços e marcas.. Meus trabalhos em tela, , são recorrentes, retornam ciclicamente. Sobrevivem das minhas obsessões. Sou apaixonado pelas cores, . Minhas obras tendem, na maioria, a exibir, uma generosidade do gesto, das camadas. Nunca fui econômico nas tinhas importadas. Mas já tive momentos de privilegiar quase uma monocromática, grandes telas amarelas. Gosto de experimentar e revisitar experimentações já feitas. Tenho um prazer visceral em pintar, para além das reflexões sobre movimentos artísticos, do tipo neoconcreto, conceitual e tantos outros. Já tive fases em que produzi obras tridimensionais, seja na tradicional escultura em bronze, seja mediante incrustações na pintura na tela, de botões de roupa a contas coloridas de colares baratos, e incrustações de peças maiores, como o violão que cravei na tela com homenagem ao design do LP Transa, de Caetano Veloso, aliás, Caetano excelente neste disco londrino. Este trabalho, a propósito, me valeu o prêmio do Salão Nacional de 1995. Não entro no mérito desse prêmio em si, , mas foi muito bom porque, com o primeiro lugar, ganhei do Estado uma boa viagem à Europa e ainda a edição de um livro-catálogo. Creio que me confundo com minha obra. Também pinto no meu próprio corpo, o rosto especialmente, e depois fotografo. Tenho centenas de imagens como se eu fosse personagem de teatro, o ator da pintura, como se eu fosse a tela cênica e viva da pintura, seja maquiagem ou tinta ou qualquer coisa que me mude enquanto visualização. Tenho uma fase ou uma tendência também a valorizar o rosto como emblema da tradição pictórica de Vanitas. E haja caveiras, não perdi a conta de quantas vanitas fiz, de grandes telas com livros, globo terrestre, caveira etc, a vanitas com o meu rosto vivo, pintado ora de vascaíno, ora de rubro-negro que sou, ora de nordestino, ora de fidalgo brasiliense. Minha obra tem humor ligado ao tempo e suas cores e linhas. Sei porque rio dessas cores e linhas e e pessoas que as veem e as compram gostam de rir também. São obras que reverenciam o tempo, seja este conceito ou vivência, mas sempre elemento vita , não importa se com emoção ou racionalidade, mas sempre presente em tudo o que fazemos. Toda a minha obra tem de ser vista como o meu tempo plástico. Mas gosto de ver também o que os outros fazem. Por isso não me sobra aquele outro “tempo” - Faço e respiro arte 24 horas por dia."
Que exposição sua você considera a mais importante?
"Do ponto de vista da emoção, da expectativa a exposição mais importante é sempre a próxima. Não tenho distanciamento suficiente para analisar as mostras passadas. Mas elas são as partes de um todo. Destaco algumas: a que fiz na Galeria Candido Mendes , desenhos de caveiras, , em papel 1991 . A mostra , com 27 telas em Ipanema, na Casa de Cultura Laura Alvim, todas retratando memorabilia capixaba 1993 . Gosto da fase amarela, grandes quadros naquele amplo espaço do Centro Cultural Light antigo do Rio 1996 .Os doutores de 2000 na Galeria Macunaíma... Sei lá ! A exposição mais importante não é comigo. Gosto de uma intitulada Papeis, eu fiz na Toulouse no Rio 2007 Quem pode dizer da importância de um trabalho é o tempo, que se encarrega de levar e trazer, depurar. E isso vale para a nossa critica especializada. Tempo , precioso tempo."
Como você faz para divulgar a sua obra?
"Divulgo minha obra no boca a boca, torço para que a instituição acolhedora de uma exposição faça um bom trabalho de comunicação junto à mídia, coloco imagens na internet, converso, ofereço e vou nesse" vale tudo" da vida, Existe um lado meu, sempre presente no meu dia a dia, que não é este de um artista das imagens. Para além da minha criação, eu compro e vendo obras de arte com a mesma desenvoltura que as produzo. Eu troco, eu dou, presenteio gente na rua, gente que nem conheço. Faço negócios, bons negócios para ambos ao lados. Minha presença é uma constante divulgação de meu trabalho. Eu, literalmente, vivo da minha obra. Quando surge alguém, ou uma galeria interessada em me vender, eu me vendo, negocio sempre. Costumo brincar dizendo que só tem uma coisa melhor do que vender: é comprar. Eu poderia ser professor de arte, poderia ser um mau advogado, eu poderia ser um razoável psicanalista, aliás, fiz análise por alguns anos. Mas eu não poderia deixar de ser uma única coisa, que é o que sou: artista que me divulgo produzindo, comprando e vendendo o tempo inteiro. Não sou um carreirista superficial comprometido com amigos. Não faço parte de clubes. Aprecio a ética."
Além dos estudos sobre arte que outros estímulos influenciam em seu trabalho?
"A convicção de que vale a pena viver, trabalhar, estudar, buscar o melhor de si o tempo todo. Um bom filme me estimula, um bom jogo de futebol me estimula. Meus dois filhos, Mathias e Germana, me estimulam. Minha família me estimula. As amizades. Os estímulos estão flutuando, e saber pressenti-los e reconhecê-los são uma garantia de que até na loucura deve prevalecer a saudável confraternização. Tenho grandes dúvidas, ainda. Mas essas certezas são as que me estimulam. Tenho enormes duvidas. Mas essas certezas me estimulam."
Você tem uma rotina de trabalho?
"Trabalho sempre. Seja fotografando a obra, ou fotografando meus devaneios. Sempre desenho. e seleciono os desenhos. Tenho rotinas diversas : na grande maioria dos meus dias, sou quase como passarinho: durmo cedo e acordo quando mal raia o dia em Petrópolis, onde vivo na minha casa acoplada ao ateliê. Trabalho de manhã e de tarde. À noite, só raramente. Só não durmo cedo quando estou no Rio de Janeiro ou viajando."
Qual sua opinião sobre as Bienais e Feiras de Arte?
"Gosto, mas, claro, algumas edições são boas, outras, não. Bienal não tem o compromisso pragmático das feiras, que visam a compra e venda de obras de arte. Gosto das duas oportunidades. Não tenho nenhum preconceito com o que é comercial. Tudo é comercial. Uma latinha de Piero Manzoni, qual lata de pasta de atum, com os dizeres “merde d’artiste”, vale hoje mais de 100 , 300, 600 mil dólares. As fezes secas do artista italiano já falecido estão se valorizando comercialmente? Ou a/ esteticamente? Feiras e bienais são oportunidades para se vender obras, ideias e vaidades. Diálogos. contemporâneos Gosto, sou da arte. Vou a Bienais desde 1985 Aliás, participei de um projeto periférico na Bienal do Mercosul . Já fui a feiras, incluindo uma enorme na Colômbia. Miami e Londres"
Quais são seus planos para o futuro?
"Torcer para o Flamengo fazer e acontecer, chorar pessoas queridas que se vão, jamais furar a fila nessa certeza de que todos iremos, ainda que não saibamos dos nossos prazos de validade. Continuar trabalhando e conservando minha obra."
O que você faz nas horas vagas?
"Eu as desconheço, ainda."
Fonte e crédito fotográfico: ArtArte, por Marcio Fonseca, publicado em 8 de novembro de 2011. Consultado pela última vez em 8 de fevereiro de 2022.
Amadeo Luciano Lorenzato (Belo Horizonte, MG, 1 de janeiro de 1900 — Belo Horizonte, MG, 1995), artisticamente conhecido como Lorenzato, foi um pintor modernista brasileiro que retratava em suas obras a paisagem e o cotidiano do subúrbio de Belo Horizonte. Considerado um dos grandes nomes das artes visuais de Minas Gerais.
Biografia - Wikipédia
Filho de imigrantes italianos, foi educado na capital mineira, estudou na Escola Dante Alighieri, da Casa da Itália, um grêmio cultural dos imigrantes da capital, e no Grupo Escolar Silviano Brandão. Pintou paredes após instruções de Américo Grande e foi ajudante de Caminho Caminhas, o único empreiteiro atuante na área de pintura. Em 1920, a família Lorenzato retornou à Itália em fuga contra a gripe espanhola e começou a trabalhar em Arsiero como pintor de paredes na reconstrução da cidade.
Em 1925, já estava ligado à Real Academia de Arte em Vicenza. Em 1926, em Roma, foi influenciado pelo pintor e caricaturista holandês Cornelius Keesman, companheiro de pinturas de paisagens e visitas a igrejas e palácios. Lorenzato ainda esteve em diversas partes da Itália, tendo viajado de bicicleta pelo Leste Europeu, e passado por Paris.
Em 1948, durante a Segunda Guerra, voltou ao Brasil e se instalou no Rio de Janeiro, onde foi empregado do Hotel Quitandinha. As economias garantiram o retorno da esposa ao Brasil, Emma Casprini, e do filho do casal.
Em 1950, retornou a Belo Horizonte, onde passou a trabalhar na construção civil. O ofício continuou até 1956, quando teve uma perna fraturada. A partir daí, desenvolveu suas pinturas em tela, conhecidas apenas pelos familiares até 1964. Em 1967, aconteceu a primeira exposição individual do artista no Minas Tênis Clube, organizada por Palhano Júnior, crítico e jornalista.
O legado deixado pelo artista é formado por dezenas de quadros que retratam a paisagem de bairros populares. Lorenzato foi homenageado em diversas ocasiões, como ao emprestar nome a uma praça do Bairro Pilar, em Belo Horizonte.
Fonte: Wikipédia, Amadeo Luciano Lorenzato. Consultado pela última vez em 7 de fevereiro de 2022.
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Biografia - Itaú Cultural
Começa a trabalhar como ajudante de pintor em 1910, exercendo o ofício até 1920, quando se muda com a família para Arsiero (Itália), onde trabalha como pintor de paredes na reconstrução da cidade. Em 1925, matricula-se na Reale Accademia delle Arti, em Vicenza.
No ano seguinte, muda-se para Roma, onde permanece dois anos em companhia do pintor e cartazista holandês Cornelius Keesman, com quem desenha nos fins de semana.
Em 1928, ambos decidem viajar de bicicleta para o leste europeu, passando por Áustria, Eslováquia, Hungria, Bulgária e Turquia. Finda a viagem em 1930, o artista separa-se de Cornelius e muda para Paris, e trabalha na montagem dos pavilhões da Exposição Internacional Colonial.
Um ano depois, retorna à Itália onde fica até abril de 1948, data em que volta ao Brasil. Trabalha, em 1949, na montagem dos estandes para a Exposição de Indústria e Comércio, realizada no Hotel Quitandinha, de Petrópolis, depois, muda-se com a família para Belo Horizonte e exerce o ofício de pintor de paredes até 1956. Impedido de continuar na construção civil devido a um acidente, dedica-se integralmente à pintura.
Em meados da década de 1960, apresenta alguns trabalhos ao crítico Sérgio Maldonado, que, por sua vez, apresenta-o a Palhano Júnior, organizador da primeira exposição individual de seus trabalhos, realizada em 1967.
Comentário Crítico
Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, descendente de italianos, Lorenzato vive a infância no Brasil. Após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), sua família resolve retornar à Itália. Aos 20 anos, ele passa a exercer a atividade de pintor da construção civil. Em 1925, estudou na Reale Accademia delle Arti, na Galleria Olimpica di Vicenza (atual Accademia Olimpica Vicenza). Seus primeiros quadros são realizados em excursões que faz aos domingos pelos arredores da cidade.
Em 1926, em Roma, conheceu o pintor Cornelius Keissman. Por volta de 1928, acompanhado por Keissman, faz uma longa viagem de bicicleta por diversos países da Europa. Vive da venda de pequenos guaches e aquarelas e de cartões impressos com a foto dos dois artistas ao lado de suas bicicletas. Em Bruxelas e Paris, permanecem por mais tempo.
Em Paris, Lorenzato trava amizade com o pintor italiano Gino Severini (1883 - 1966) e aproveita para ampliar seu conhecimento sobre a obra dos impressionistas, pelos quais revela profunda admiração. Ele afirma ter também grande fascínio pelos trabalhos dos mestres renascentistas italianos.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), retorna ao Brasil em 1949 e se fixa com a família em Belo Horizonte. Sofreu um acidente em 1956, devido ao qual se aposenta. Passa então a dedicar-se inteiramente à pintura. Para a estudiosa Cláudia Giannetti Nölle, em sua pintura o artista prescinde dos detalhes e se concentra nas linhas e cores essenciais, procedimento frequente em pintores próximos ao primitivismo. Começa a utilizar um pente de metal comumente empregado na ornamentação de pintura de parede, com o qual funde as camadas de tinta na tela. O resultado é a apresentação de linhas tortuosas e leves reentrâncias dispersas por todo o quadro.
Lorenzato retira seus temas da realidade cotidiana tanto nas paisagens quanto nas naturezas-mortas e retratos. Utiliza frequentemente novos materiais como a tela de arame, madeira e papelão, assim como pratos, caixas e abajures que servem de suporte para sua pintura. Realiza também esculturas, trabalhando com argila e, nas obras maiores, com cimento. Na escultura apresenta tendência à redução a formas básicas e linhas essenciais, embora imprima as figuras com grande intensidade e força de expressão. Para Nölle, sua obra é sobretudo uma criação espontânea, na qual os elementos se fundem naturalmente.
Acervos
Fundação Clóvis Salgado - Belo Horizonte MG
Museu de Arte da Pampulha - MAP - Belo Horizonte MG
Críticas
"(...) A disposição de elementos e cores atende a um jogo de equilíbrio que dinamiza suas representações contemplativas e estáticas. Da mesma forma consegue imprimir vigor às abstrações frequentemente geometrizadas dos elementos que compõem o quadro através do emprego de um recurso técnico desenvolvido por ele. O resultado são ondas breves, de linhas tortuosas gravadas na tinta, eminências e depressões não muito salientes que se dispersam por todo o quadro, se tornando mais intensas sobretudo nos elementos que servem de fundo (paredes, céus, montanhas). Este pente, único exemplar adquirido em Paris, era utilizado anteriormente na ornamentação de lambris que imitavam mármore ou madeira, muito em moda até meados do século, principalmente no desenho das veias e nervuras. (...) Seus temas são tirados diretamente da realidade cotidiana. Buscando continuamente novos materiais, já trabalhou em tela de arame, madeira, papelão". — Cláudia Giannetti Nolle (LORENZATO. O pintor e escultor. Lorenzato: 90 anos. Belo Horizonte: Manoel Macedo Galeria de Arte, 1990).
"Por muito tempo a obra de Amadeu Luciano Lorenzato esteve associada à tradição popular. Contribuiu para isso a frequência com que a paisagem cotidiana, as favelas e os casarios aparecem em seus trabalhos, Porém, uma análise que se restringisse a essa primeira relação ignoraria aquilo que a pintura tem de mais importante.
Se o artista elege os temas populares é para deles retirar as formas, cores e luzes que sintetizam a própria essência do trabalho. Seu interesse está na reflexão sobre os próprios meios da pintura, na construção de uma linguagem que se relacione acima de tudo com ela mesma, e não com a representação de um tema específico. Seu objetivo é construir formas e imagens que permitam experimentar o mundo de uma maneira nova; diferente daquela que o cotidiano puro e simples oferece.
Nesse sentido, sua obra dialoga com a pintura moderna, ao reafirmar sua condição de construção de sentidos por meio da própria linguagem plástica e permitir a experiência estética para além da literalidade do tema.
Lorenzato sempre esteve despreocupado com normas ou tendências pré-estabelecidas que, aliás, ele conhecia bem em função do longo período que permaneceu na Europa, tendo contato com toda a produção artística do continente, desde o Renascimento até as primeiras vanguardas do século XX.
Como artista desejoso em investigar o próprio fazer, produzia sua tinta, experimentava suportes e materiais diversos, criando texturas com recursos herdados de sua antiga profissão; esculturas e desenhos em placas de cimento; estudos e croquis com papéis que estivessem ao alcance da mão - convites de exposições, caderno do filho, maços de cigarros". — Janaina Alves Melo (Lorenzato, o pintor e escultor. Apresentação. In: LORENZATO; SILVA, Fernando Pedro da (coord.); RIBEIRO, Marília Andrés (coord.). Lorenzato - Depoimento. Belo Horizonte: C/Arte, 2004. 96 p., il. p&b. color. (Circuito Atelier, 8). p. [3-4]).
Depoimento
Como surgiu a ideia de utilizar o pente para pintar?
Eu era pintor, especialista em decoração com estambres marmorizados, fingimento de mármore e madeira; se fazia o fundo de óleo, depois as veias em amarelo, vermelho, preto, e depois com o pente a gente arrematava. Para fazer as veias das madeiras eu comprei uma coleção de pentes para decorador em Paris. Depois voltei para Belo Horizonte e já não usava mais esse negócio. Um dia tive a ideia, forrei um papelão e depois com o pente comecei a mexer e deu um troço qualquer. Isso foi mais ou menos há uns dez anos atrás. Assim eu então comecei. Eu tinha seis pentes, mas perdi os outros e ficou só um, que é esse aqui, que eu dividi no meio, porque era muito largo. Primeiro eu pinto, espalho a tinta de diversas cores, e depois com o pente eu vou fundindo. Uso o pincel para espalhar a tinta e o pente para fundir as cores.
Quais são os motivos que o senhor mais gosta de pintar?
Gosto muito de céu, árvores e estradas. Percorri muitos quilômetros a pé pelas estradas, toda a Toscana, a Áustria; as estradas não estavam asfaltadas e havia muitas árvores de fruta: cerejeiras, pereiras e macieiras.
O que é a arte para o senhor?
Bem, a arte para mim é um passatempo, é uma terapia que me ajuda a viver. Quando estou pintando, esqueço tudo. Até aconteceu algo inusitado outro dia: estávamos fazendo um churrasco aqui, eu comprei um quilo e meio de linguiça e pus no fogo para fritar e fui fazer um trabalho lá em baixo, uma escultura, e esqueci de tudo. Quando senti o cheiro de queimado, corri e tinha virado carvão.
Qual é o estilo que o senhor pinta?
Eu nem sei que estilo que é. É pintura! Dizem que é primitivo, que é ingênua, que é surrealista, eu não sei... Eu pinto aquilo que vejo, que me interessa.
Fonte: Texto extraído do depoimento do artista, publicado no livro Lorenzato - Circuito Atelier, Editora C/Arte, Belo Horizonte, 2004. p. 31 a 34.
Exposições Individuais
1964 - Belo Horizonte MG - Individual, no Minas Tênis Clube
1967 - Belo Horizonte MG - Individual, no Minas Tênis Clube
1971 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Chez Bastião
1973 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Arte Livro
1976 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Guignard
1977 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Memória Cooperativa de Arte
1981 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Brasiliana
1984 - Belo Horizonte MG - Individual, na Casa dos Contos
1986 - Belo Horizonte MG - Individual, no Espaço Asal
1988 - Belo Horizonte MG - Individual, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1990 - Belo Horizonte MG - Individual, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1991 - Belo Horizonte MG - Individual, na Itaugaleria
1994 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria da Caixa
1995 - Belo Horizonte MG - Individual, no MAP
Exposições Coletivas
1965 - Belo Horizonte MG - Fim de Ano, no Minas Tênis Clube
1965 - Belo Horizonte MG - Salão Jovem, no Minas Tênis Clube
1970 - Belo Horizonte MG - Cinco Primitivos, na Galeria Guignard
1970 - Belo Horizonte MG - Coletiva, na Galeria Minart
1970 - Belo Horizonte MG - Semana do Folclore, na Galeria Minart
1973 - Bratislava (Eslováquia) - 3ª Trienal de Bratislava
1976 - Belo Horizonte MG - 1º Salão do Pequeno Quadro, na Galeria Guignard
1976 - Belo Horizonte MG - Artistas Populares na 4ª Festa do Folclore Brasileiro, na Galeria Otto Cirne
1980 - Belo Horizonte MG - Primitivos Mineiros, na Mandala Galeria de Arte
1981 - Belo Horizonte MG - 1ª Exposição de Arte Popular e Artesanato, no Shopping Center
1982 - Bauru SP - 1ª Mostra Nacional de Pintura Popular, na Galeria de Arte Sesc
1984 - Belo Horizonte MG - 1º Salão de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1985 - Belo Horizonte MG - Lorenzato e Valentim Rosa, na Galeria do Palácio das Artes
1988 - Roma (Itália) - Intercâmbio Cultural Itália-Brasil
1992 - Belo Horizonte MG - A. Poteiro, Lorenzato, Rodelnégio, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1994 - Belo Horizonte MG - 5ª Feira de Arte, na Galeria Guignard
1994 - Belo Horizonte MG - Grandes Artistas Brasileiros, na Galeria Guignard
1994 - Ouro Preto MG - A Indentidade Virtual, A Pedra Sabão, no Museu da Inconfidência
1994 - Rio de Janeiro RJ - Salão de Arte Popular do MEC, no MEC
1995 - Belo Horizonte MG - Exposição, no MAP
Exposições Póstumas
1996 - Belo Horizonte MG - Artistas Populares de Belo Horizonte, no Centro Cultural UFMG
2001 - Belo Horizonte MG - Individual, na Escola Guignard
2001 - Belo Horizonte MG - Lorenzatices, na Pace Galeria de Arte
Fonte: LORENZATO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 07 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Conversando sobre Arte com Augusto Herkenhoff
Augusto Herkemhoff tem uma produção de qualidade e de grande volume. A sensação é dele trabalhar dia e noite. Educado e simpático é uma figura agradável. Sua generosidade é conhecida. Desenho, gravura, pintura e mais raramente com escultura são seus meios de expressão. Augusto obrigado por sua participação e que o sucesso seja permanente. Abraço.
Fale algo sobre sua vida pessoal.
Augusto: "Nasci no Espírito Santo, em outubro de 1965. Meu pai estudou Economia e Direito. Foi advogado, diretor e um dos fundadores da Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim. Minha mãe é o que é: nunca trabalhou para fora. Teve muitos filhos. Tenho sete irmãos vivos. Minha mãe gosta de pintar porcelana, tem forno especial para isso. Motivos quase sempre florais em aparelhos de jantar, chá etc. Sou técnico em Contabilidade 1983 e Bacharel em Direito Faculdade Candido Mendes 1988."
Como foi sua formação artística?
Augusto: "Antes da artística, ou simultaneamente, estudei contabilidade na Escola de Comércio, que pertencia à minha família, e havia também na mesma escola o Ginásio São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim. Depois fiz Direito no Rio, na Cândido Mendes. Mas desde a infância sempre convivi muito com livros, literalmente alguns milhares, tanto na biblioteca de meu pai quando na da escola. Desde criança, curti álbuns de figurinhas, selos, cartões postais, fotografias. Colecionava e vendia. Nunca tive sentimento possessivo exagerado por esses conjuntos que valorizo. Na Faculdade de Direito um professor me disse claramente que eu não iria advogar, apesar de exemplos na família. Minha primeira formação portanto foi a partir de livros em família. No Rio, aprofundei os estudos, estudei Estudei no MAM-RJ, fui figura constante no Parque Lage antes e no auge da Geração 80. Pintei a quatro mãos algumas vezes com Jorginho Guinle. Num certo período, eu ia a vernissages toda semana. Fiz cerca de quinze viagens ao exterior nos últimos 17 anos e vi o que pude: os melhores museus e a melhor arquitetura de grandes capitais na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul. Sou técnico em Contabilidade 1983 e Bacharel em Direito Faculdade Candido Mendes 1988.Estudei no MAM -RJ e Parque Lage -EAV. Durante 10 semestres consecutivos estudei com Ronaldo do Rego Macedo e Katie Van Scherpenbeng.10 semestre com cada. As vezes me davam bolsa, as vezes eu não pagava. E outras vezes eu pagava. Não tinha dinheiro. Aprendi tudo com eles dois. Foi uma ajuda decisiva. Bons tempos. tinha 20 anos de idade. Bati o recorde"
Que artistas influenciam seu pensamento?
"As influência são muitas, mas eu destacaria Andy Warhol, como emblema do que atribuem ao meu trabalho, não sei se corretamente, mas veem em mim um pop pós expressionista. Destaco também como influência a sensualidade meio obtusa de Di Cavalcanti, seja nas pinturas , seja nos desenhos e nas gravuras. O velho Comunista modernista era um virtuose , sabia viver e ajudar as pessoas que dependiam dele. É na minha opinião o Maior artista brasileiro de todos os tempos. Sem menosprezar ninguém. Tem uma obra vasta. Mas por problemas judiciais poucas publicações em livros ou catálogos. Tem gente que se considera dono de Di Cavalcanti. E juridicamente falando faz o que quer..."
Como você descreve sua obra?
"Minha obra é a de impulso, eu tendo ao ímpeto.ao vamos que vamos. Não tenho medo de errar. Destruo e reconstruo muito do que faço. Meus desenhos têm extrema tensão, com poucos traços e marcas.. Meus trabalhos em tela, , são recorrentes, retornam ciclicamente. Sobrevivem das minhas obsessões. Sou apaixonado pelas cores, . Minhas obras tendem, na maioria, a exibir, uma generosidade do gesto, das camadas. Nunca fui econômico nas tinhas importadas. Mas já tive momentos de privilegiar quase uma monocromática, grandes telas amarelas. Gosto de experimentar e revisitar experimentações já feitas. Tenho um prazer visceral em pintar, para além das reflexões sobre movimentos artísticos, do tipo neoconcreto, conceitual e tantos outros. Já tive fases em que produzi obras tridimensionais, seja na tradicional escultura em bronze, seja mediante incrustações na pintura na tela, de botões de roupa a contas coloridas de colares baratos, e incrustações de peças maiores, como o violão que cravei na tela com homenagem ao design do LP Transa, de Caetano Veloso, aliás, Caetano excelente neste disco londrino. Este trabalho, a propósito, me valeu o prêmio do Salão Nacional de 1995. Não entro no mérito desse prêmio em si, , mas foi muito bom porque, com o primeiro lugar, ganhei do Estado uma boa viagem à Europa e ainda a edição de um livro-catálogo. Creio que me confundo com minha obra. Também pinto no meu próprio corpo, o rosto especialmente, e depois fotografo. Tenho centenas de imagens como se eu fosse personagem de teatro, o ator da pintura, como se eu fosse a tela cênica e viva da pintura, seja maquiagem ou tinta ou qualquer coisa que me mude enquanto visualização. Tenho uma fase ou uma tendência também a valorizar o rosto como emblema da tradição pictórica de Vanitas. E haja caveiras, não perdi a conta de quantas vanitas fiz, de grandes telas com livros, globo terrestre, caveira etc, a vanitas com o meu rosto vivo, pintado ora de vascaíno, ora de rubro-negro que sou, ora de nordestino, ora de fidalgo brasiliense. Minha obra tem humor ligado ao tempo e suas cores e linhas. Sei porque rio dessas cores e linhas e e pessoas que as veem e as compram gostam de rir também. São obras que reverenciam o tempo, seja este conceito ou vivência, mas sempre elemento vita , não importa se com emoção ou racionalidade, mas sempre presente em tudo o que fazemos. Toda a minha obra tem de ser vista como o meu tempo plástico. Mas gosto de ver também o que os outros fazem. Por isso não me sobra aquele outro “tempo” - Faço e respiro arte 24 horas por dia."
Que exposição sua você considera a mais importante?
"Do ponto de vista da emoção, da expectativa a exposição mais importante é sempre a próxima. Não tenho distanciamento suficiente para analisar as mostras passadas. Mas elas são as partes de um todo. Destaco algumas: a que fiz na Galeria Candido Mendes , desenhos de caveiras, , em papel 1991 . A mostra , com 27 telas em Ipanema, na Casa de Cultura Laura Alvim, todas retratando memorabilia capixaba 1993 . Gosto da fase amarela, grandes quadros naquele amplo espaço do Centro Cultural Light antigo do Rio 1996 .Os doutores de 2000 na Galeria Macunaíma... Sei lá ! A exposição mais importante não é comigo. Gosto de uma intitulada Papeis, eu fiz na Toulouse no Rio 2007 Quem pode dizer da importância de um trabalho é o tempo, que se encarrega de levar e trazer, depurar. E isso vale para a nossa critica especializada. Tempo , precioso tempo."
Como você faz para divulgar a sua obra?
"Divulgo minha obra no boca a boca, torço para que a instituição acolhedora de uma exposição faça um bom trabalho de comunicação junto à mídia, coloco imagens na internet, converso, ofereço e vou nesse" vale tudo" da vida, Existe um lado meu, sempre presente no meu dia a dia, que não é este de um artista das imagens. Para além da minha criação, eu compro e vendo obras de arte com a mesma desenvoltura que as produzo. Eu troco, eu dou, presenteio gente na rua, gente que nem conheço. Faço negócios, bons negócios para ambos ao lados. Minha presença é uma constante divulgação de meu trabalho. Eu, literalmente, vivo da minha obra. Quando surge alguém, ou uma galeria interessada em me vender, eu me vendo, negocio sempre. Costumo brincar dizendo que só tem uma coisa melhor do que vender: é comprar. Eu poderia ser professor de arte, poderia ser um mau advogado, eu poderia ser um razoável psicanalista, aliás, fiz análise por alguns anos. Mas eu não poderia deixar de ser uma única coisa, que é o que sou: artista que me divulgo produzindo, comprando e vendendo o tempo inteiro. Não sou um carreirista superficial comprometido com amigos. Não faço parte de clubes. Aprecio a ética."
Além dos estudos sobre arte que outros estímulos influenciam em seu trabalho?
"A convicção de que vale a pena viver, trabalhar, estudar, buscar o melhor de si o tempo todo. Um bom filme me estimula, um bom jogo de futebol me estimula. Meus dois filhos, Mathias e Germana, me estimulam. Minha família me estimula. As amizades. Os estímulos estão flutuando, e saber pressenti-los e reconhecê-los são uma garantia de que até na loucura deve prevalecer a saudável confraternização. Tenho grandes dúvidas, ainda. Mas essas certezas são as que me estimulam. Tenho enormes duvidas. Mas essas certezas me estimulam."
Você tem uma rotina de trabalho?
"Trabalho sempre. Seja fotografando a obra, ou fotografando meus devaneios. Sempre desenho. e seleciono os desenhos. Tenho rotinas diversas : na grande maioria dos meus dias, sou quase como passarinho: durmo cedo e acordo quando mal raia o dia em Petrópolis, onde vivo na minha casa acoplada ao ateliê. Trabalho de manhã e de tarde. À noite, só raramente. Só não durmo cedo quando estou no Rio de Janeiro ou viajando."
Qual sua opinião sobre as Bienais e Feiras de Arte?
"Gosto, mas, claro, algumas edições são boas, outras, não. Bienal não tem o compromisso pragmático das feiras, que visam a compra e venda de obras de arte. Gosto das duas oportunidades. Não tenho nenhum preconceito com o que é comercial. Tudo é comercial. Uma latinha de Piero Manzoni, qual lata de pasta de atum, com os dizeres “merde d’artiste”, vale hoje mais de 100 , 300, 600 mil dólares. As fezes secas do artista italiano já falecido estão se valorizando comercialmente? Ou a/ esteticamente? Feiras e bienais são oportunidades para se vender obras, ideias e vaidades. Diálogos. contemporâneos Gosto, sou da arte. Vou a Bienais desde 1985 Aliás, participei de um projeto periférico na Bienal do Mercosul . Já fui a feiras, incluindo uma enorme na Colômbia. Miami e Londres"
Quais são seus planos para o futuro?
"Torcer para o Flamengo fazer e acontecer, chorar pessoas queridas que se vão, jamais furar a fila nessa certeza de que todos iremos, ainda que não saibamos dos nossos prazos de validade. Continuar trabalhando e conservando minha obra."
O que você faz nas horas vagas?
"Eu as desconheço, ainda."
Fonte e crédito fotográfico: ArtArte, por Marcio Fonseca, publicado em 8 de novembro de 2011. Consultado pela última vez em 8 de fevereiro de 2022.
Amadeo Luciano Lorenzato (Belo Horizonte, MG, 1 de janeiro de 1900 — Belo Horizonte, MG, 1995), artisticamente conhecido como Lorenzato, foi um pintor modernista brasileiro que retratava em suas obras a paisagem e o cotidiano do subúrbio de Belo Horizonte. Considerado um dos grandes nomes das artes visuais de Minas Gerais.
Biografia - Wikipédia
Filho de imigrantes italianos, foi educado na capital mineira, estudou na Escola Dante Alighieri, da Casa da Itália, um grêmio cultural dos imigrantes da capital, e no Grupo Escolar Silviano Brandão. Pintou paredes após instruções de Américo Grande e foi ajudante de Caminho Caminhas, o único empreiteiro atuante na área de pintura. Em 1920, a família Lorenzato retornou à Itália em fuga contra a gripe espanhola e começou a trabalhar em Arsiero como pintor de paredes na reconstrução da cidade.
Em 1925, já estava ligado à Real Academia de Arte em Vicenza. Em 1926, em Roma, foi influenciado pelo pintor e caricaturista holandês Cornelius Keesman, companheiro de pinturas de paisagens e visitas a igrejas e palácios. Lorenzato ainda esteve em diversas partes da Itália, tendo viajado de bicicleta pelo Leste Europeu, e passado por Paris.
Em 1948, durante a Segunda Guerra, voltou ao Brasil e se instalou no Rio de Janeiro, onde foi empregado do Hotel Quitandinha. As economias garantiram o retorno da esposa ao Brasil, Emma Casprini, e do filho do casal.
Em 1950, retornou a Belo Horizonte, onde passou a trabalhar na construção civil. O ofício continuou até 1956, quando teve uma perna fraturada. A partir daí, desenvolveu suas pinturas em tela, conhecidas apenas pelos familiares até 1964. Em 1967, aconteceu a primeira exposição individual do artista no Minas Tênis Clube, organizada por Palhano Júnior, crítico e jornalista.
O legado deixado pelo artista é formado por dezenas de quadros que retratam a paisagem de bairros populares. Lorenzato foi homenageado em diversas ocasiões, como ao emprestar nome a uma praça do Bairro Pilar, em Belo Horizonte.
Fonte: Wikipédia, Amadeo Luciano Lorenzato. Consultado pela última vez em 7 de fevereiro de 2022.
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Biografia - Itaú Cultural
Começa a trabalhar como ajudante de pintor em 1910, exercendo o ofício até 1920, quando se muda com a família para Arsiero (Itália), onde trabalha como pintor de paredes na reconstrução da cidade. Em 1925, matricula-se na Reale Accademia delle Arti, em Vicenza.
No ano seguinte, muda-se para Roma, onde permanece dois anos em companhia do pintor e cartazista holandês Cornelius Keesman, com quem desenha nos fins de semana.
Em 1928, ambos decidem viajar de bicicleta para o leste europeu, passando por Áustria, Eslováquia, Hungria, Bulgária e Turquia. Finda a viagem em 1930, o artista separa-se de Cornelius e muda para Paris, e trabalha na montagem dos pavilhões da Exposição Internacional Colonial.
Um ano depois, retorna à Itália onde fica até abril de 1948, data em que volta ao Brasil. Trabalha, em 1949, na montagem dos estandes para a Exposição de Indústria e Comércio, realizada no Hotel Quitandinha, de Petrópolis, depois, muda-se com a família para Belo Horizonte e exerce o ofício de pintor de paredes até 1956. Impedido de continuar na construção civil devido a um acidente, dedica-se integralmente à pintura.
Em meados da década de 1960, apresenta alguns trabalhos ao crítico Sérgio Maldonado, que, por sua vez, apresenta-o a Palhano Júnior, organizador da primeira exposição individual de seus trabalhos, realizada em 1967.
Comentário Crítico
Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, descendente de italianos, Lorenzato vive a infância no Brasil. Após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), sua família resolve retornar à Itália. Aos 20 anos, ele passa a exercer a atividade de pintor da construção civil. Em 1925, estudou na Reale Accademia delle Arti, na Galleria Olimpica di Vicenza (atual Accademia Olimpica Vicenza). Seus primeiros quadros são realizados em excursões que faz aos domingos pelos arredores da cidade.
Em 1926, em Roma, conheceu o pintor Cornelius Keissman. Por volta de 1928, acompanhado por Keissman, faz uma longa viagem de bicicleta por diversos países da Europa. Vive da venda de pequenos guaches e aquarelas e de cartões impressos com a foto dos dois artistas ao lado de suas bicicletas. Em Bruxelas e Paris, permanecem por mais tempo.
Em Paris, Lorenzato trava amizade com o pintor italiano Gino Severini (1883 - 1966) e aproveita para ampliar seu conhecimento sobre a obra dos impressionistas, pelos quais revela profunda admiração. Ele afirma ter também grande fascínio pelos trabalhos dos mestres renascentistas italianos.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), retorna ao Brasil em 1949 e se fixa com a família em Belo Horizonte. Sofreu um acidente em 1956, devido ao qual se aposenta. Passa então a dedicar-se inteiramente à pintura. Para a estudiosa Cláudia Giannetti Nölle, em sua pintura o artista prescinde dos detalhes e se concentra nas linhas e cores essenciais, procedimento frequente em pintores próximos ao primitivismo. Começa a utilizar um pente de metal comumente empregado na ornamentação de pintura de parede, com o qual funde as camadas de tinta na tela. O resultado é a apresentação de linhas tortuosas e leves reentrâncias dispersas por todo o quadro.
Lorenzato retira seus temas da realidade cotidiana tanto nas paisagens quanto nas naturezas-mortas e retratos. Utiliza frequentemente novos materiais como a tela de arame, madeira e papelão, assim como pratos, caixas e abajures que servem de suporte para sua pintura. Realiza também esculturas, trabalhando com argila e, nas obras maiores, com cimento. Na escultura apresenta tendência à redução a formas básicas e linhas essenciais, embora imprima as figuras com grande intensidade e força de expressão. Para Nölle, sua obra é sobretudo uma criação espontânea, na qual os elementos se fundem naturalmente.
Acervos
Fundação Clóvis Salgado - Belo Horizonte MG
Museu de Arte da Pampulha - MAP - Belo Horizonte MG
Críticas
"(...) A disposição de elementos e cores atende a um jogo de equilíbrio que dinamiza suas representações contemplativas e estáticas. Da mesma forma consegue imprimir vigor às abstrações frequentemente geometrizadas dos elementos que compõem o quadro através do emprego de um recurso técnico desenvolvido por ele. O resultado são ondas breves, de linhas tortuosas gravadas na tinta, eminências e depressões não muito salientes que se dispersam por todo o quadro, se tornando mais intensas sobretudo nos elementos que servem de fundo (paredes, céus, montanhas). Este pente, único exemplar adquirido em Paris, era utilizado anteriormente na ornamentação de lambris que imitavam mármore ou madeira, muito em moda até meados do século, principalmente no desenho das veias e nervuras. (...) Seus temas são tirados diretamente da realidade cotidiana. Buscando continuamente novos materiais, já trabalhou em tela de arame, madeira, papelão". — Cláudia Giannetti Nolle (LORENZATO. O pintor e escultor. Lorenzato: 90 anos. Belo Horizonte: Manoel Macedo Galeria de Arte, 1990).
"Por muito tempo a obra de Amadeu Luciano Lorenzato esteve associada à tradição popular. Contribuiu para isso a frequência com que a paisagem cotidiana, as favelas e os casarios aparecem em seus trabalhos, Porém, uma análise que se restringisse a essa primeira relação ignoraria aquilo que a pintura tem de mais importante.
Se o artista elege os temas populares é para deles retirar as formas, cores e luzes que sintetizam a própria essência do trabalho. Seu interesse está na reflexão sobre os próprios meios da pintura, na construção de uma linguagem que se relacione acima de tudo com ela mesma, e não com a representação de um tema específico. Seu objetivo é construir formas e imagens que permitam experimentar o mundo de uma maneira nova; diferente daquela que o cotidiano puro e simples oferece.
Nesse sentido, sua obra dialoga com a pintura moderna, ao reafirmar sua condição de construção de sentidos por meio da própria linguagem plástica e permitir a experiência estética para além da literalidade do tema.
Lorenzato sempre esteve despreocupado com normas ou tendências pré-estabelecidas que, aliás, ele conhecia bem em função do longo período que permaneceu na Europa, tendo contato com toda a produção artística do continente, desde o Renascimento até as primeiras vanguardas do século XX.
Como artista desejoso em investigar o próprio fazer, produzia sua tinta, experimentava suportes e materiais diversos, criando texturas com recursos herdados de sua antiga profissão; esculturas e desenhos em placas de cimento; estudos e croquis com papéis que estivessem ao alcance da mão - convites de exposições, caderno do filho, maços de cigarros". — Janaina Alves Melo (Lorenzato, o pintor e escultor. Apresentação. In: LORENZATO; SILVA, Fernando Pedro da (coord.); RIBEIRO, Marília Andrés (coord.). Lorenzato - Depoimento. Belo Horizonte: C/Arte, 2004. 96 p., il. p&b. color. (Circuito Atelier, 8). p. [3-4]).
Depoimento
Como surgiu a ideia de utilizar o pente para pintar?
Eu era pintor, especialista em decoração com estambres marmorizados, fingimento de mármore e madeira; se fazia o fundo de óleo, depois as veias em amarelo, vermelho, preto, e depois com o pente a gente arrematava. Para fazer as veias das madeiras eu comprei uma coleção de pentes para decorador em Paris. Depois voltei para Belo Horizonte e já não usava mais esse negócio. Um dia tive a ideia, forrei um papelão e depois com o pente comecei a mexer e deu um troço qualquer. Isso foi mais ou menos há uns dez anos atrás. Assim eu então comecei. Eu tinha seis pentes, mas perdi os outros e ficou só um, que é esse aqui, que eu dividi no meio, porque era muito largo. Primeiro eu pinto, espalho a tinta de diversas cores, e depois com o pente eu vou fundindo. Uso o pincel para espalhar a tinta e o pente para fundir as cores.
Quais são os motivos que o senhor mais gosta de pintar?
Gosto muito de céu, árvores e estradas. Percorri muitos quilômetros a pé pelas estradas, toda a Toscana, a Áustria; as estradas não estavam asfaltadas e havia muitas árvores de fruta: cerejeiras, pereiras e macieiras.
O que é a arte para o senhor?
Bem, a arte para mim é um passatempo, é uma terapia que me ajuda a viver. Quando estou pintando, esqueço tudo. Até aconteceu algo inusitado outro dia: estávamos fazendo um churrasco aqui, eu comprei um quilo e meio de linguiça e pus no fogo para fritar e fui fazer um trabalho lá em baixo, uma escultura, e esqueci de tudo. Quando senti o cheiro de queimado, corri e tinha virado carvão.
Qual é o estilo que o senhor pinta?
Eu nem sei que estilo que é. É pintura! Dizem que é primitivo, que é ingênua, que é surrealista, eu não sei... Eu pinto aquilo que vejo, que me interessa.
Fonte: Texto extraído do depoimento do artista, publicado no livro Lorenzato - Circuito Atelier, Editora C/Arte, Belo Horizonte, 2004. p. 31 a 34.
Exposições Individuais
1964 - Belo Horizonte MG - Individual, no Minas Tênis Clube
1967 - Belo Horizonte MG - Individual, no Minas Tênis Clube
1971 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Chez Bastião
1973 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Arte Livro
1976 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Guignard
1977 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Memória Cooperativa de Arte
1981 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Brasiliana
1984 - Belo Horizonte MG - Individual, na Casa dos Contos
1986 - Belo Horizonte MG - Individual, no Espaço Asal
1988 - Belo Horizonte MG - Individual, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1990 - Belo Horizonte MG - Individual, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1991 - Belo Horizonte MG - Individual, na Itaugaleria
1994 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria da Caixa
1995 - Belo Horizonte MG - Individual, no MAP
Exposições Coletivas
1965 - Belo Horizonte MG - Fim de Ano, no Minas Tênis Clube
1965 - Belo Horizonte MG - Salão Jovem, no Minas Tênis Clube
1970 - Belo Horizonte MG - Cinco Primitivos, na Galeria Guignard
1970 - Belo Horizonte MG - Coletiva, na Galeria Minart
1970 - Belo Horizonte MG - Semana do Folclore, na Galeria Minart
1973 - Bratislava (Eslováquia) - 3ª Trienal de Bratislava
1976 - Belo Horizonte MG - 1º Salão do Pequeno Quadro, na Galeria Guignard
1976 - Belo Horizonte MG - Artistas Populares na 4ª Festa do Folclore Brasileiro, na Galeria Otto Cirne
1980 - Belo Horizonte MG - Primitivos Mineiros, na Mandala Galeria de Arte
1981 - Belo Horizonte MG - 1ª Exposição de Arte Popular e Artesanato, no Shopping Center
1982 - Bauru SP - 1ª Mostra Nacional de Pintura Popular, na Galeria de Arte Sesc
1984 - Belo Horizonte MG - 1º Salão de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1985 - Belo Horizonte MG - Lorenzato e Valentim Rosa, na Galeria do Palácio das Artes
1988 - Roma (Itália) - Intercâmbio Cultural Itália-Brasil
1992 - Belo Horizonte MG - A. Poteiro, Lorenzato, Rodelnégio, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1994 - Belo Horizonte MG - 5ª Feira de Arte, na Galeria Guignard
1994 - Belo Horizonte MG - Grandes Artistas Brasileiros, na Galeria Guignard
1994 - Ouro Preto MG - A Indentidade Virtual, A Pedra Sabão, no Museu da Inconfidência
1994 - Rio de Janeiro RJ - Salão de Arte Popular do MEC, no MEC
1995 - Belo Horizonte MG - Exposição, no MAP
Exposições Póstumas
1996 - Belo Horizonte MG - Artistas Populares de Belo Horizonte, no Centro Cultural UFMG
2001 - Belo Horizonte MG - Individual, na Escola Guignard
2001 - Belo Horizonte MG - Lorenzatices, na Pace Galeria de Arte
Fonte: LORENZATO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 07 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Conversando sobre Arte com Augusto Herkenhoff
Augusto Herkemhoff tem uma produção de qualidade e de grande volume. A sensação é dele trabalhar dia e noite. Educado e simpático é uma figura agradável. Sua generosidade é conhecida. Desenho, gravura, pintura e mais raramente com escultura são seus meios de expressão. Augusto obrigado por sua participação e que o sucesso seja permanente. Abraço.
Fale algo sobre sua vida pessoal.
Augusto: "Nasci no Espírito Santo, em outubro de 1965. Meu pai estudou Economia e Direito. Foi advogado, diretor e um dos fundadores da Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim. Minha mãe é o que é: nunca trabalhou para fora. Teve muitos filhos. Tenho sete irmãos vivos. Minha mãe gosta de pintar porcelana, tem forno especial para isso. Motivos quase sempre florais em aparelhos de jantar, chá etc. Sou técnico em Contabilidade 1983 e Bacharel em Direito Faculdade Candido Mendes 1988."
Como foi sua formação artística?
Augusto: "Antes da artística, ou simultaneamente, estudei contabilidade na Escola de Comércio, que pertencia à minha família, e havia também na mesma escola o Ginásio São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim. Depois fiz Direito no Rio, na Cândido Mendes. Mas desde a infância sempre convivi muito com livros, literalmente alguns milhares, tanto na biblioteca de meu pai quando na da escola. Desde criança, curti álbuns de figurinhas, selos, cartões postais, fotografias. Colecionava e vendia. Nunca tive sentimento possessivo exagerado por esses conjuntos que valorizo. Na Faculdade de Direito um professor me disse claramente que eu não iria advogar, apesar de exemplos na família. Minha primeira formação portanto foi a partir de livros em família. No Rio, aprofundei os estudos, estudei Estudei no MAM-RJ, fui figura constante no Parque Lage antes e no auge da Geração 80. Pintei a quatro mãos algumas vezes com Jorginho Guinle. Num certo período, eu ia a vernissages toda semana. Fiz cerca de quinze viagens ao exterior nos últimos 17 anos e vi o que pude: os melhores museus e a melhor arquitetura de grandes capitais na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul. Sou técnico em Contabilidade 1983 e Bacharel em Direito Faculdade Candido Mendes 1988.Estudei no MAM -RJ e Parque Lage -EAV. Durante 10 semestres consecutivos estudei com Ronaldo do Rego Macedo e Katie Van Scherpenbeng.10 semestre com cada. As vezes me davam bolsa, as vezes eu não pagava. E outras vezes eu pagava. Não tinha dinheiro. Aprendi tudo com eles dois. Foi uma ajuda decisiva. Bons tempos. tinha 20 anos de idade. Bati o recorde"
Que artistas influenciam seu pensamento?
"As influência são muitas, mas eu destacaria Andy Warhol, como emblema do que atribuem ao meu trabalho, não sei se corretamente, mas veem em mim um pop pós expressionista. Destaco também como influência a sensualidade meio obtusa de Di Cavalcanti, seja nas pinturas , seja nos desenhos e nas gravuras. O velho Comunista modernista era um virtuose , sabia viver e ajudar as pessoas que dependiam dele. É na minha opinião o Maior artista brasileiro de todos os tempos. Sem menosprezar ninguém. Tem uma obra vasta. Mas por problemas judiciais poucas publicações em livros ou catálogos. Tem gente que se considera dono de Di Cavalcanti. E juridicamente falando faz o que quer..."
Como você descreve sua obra?
"Minha obra é a de impulso, eu tendo ao ímpeto.ao vamos que vamos. Não tenho medo de errar. Destruo e reconstruo muito do que faço. Meus desenhos têm extrema tensão, com poucos traços e marcas.. Meus trabalhos em tela, , são recorrentes, retornam ciclicamente. Sobrevivem das minhas obsessões. Sou apaixonado pelas cores, . Minhas obras tendem, na maioria, a exibir, uma generosidade do gesto, das camadas. Nunca fui econômico nas tinhas importadas. Mas já tive momentos de privilegiar quase uma monocromática, grandes telas amarelas. Gosto de experimentar e revisitar experimentações já feitas. Tenho um prazer visceral em pintar, para além das reflexões sobre movimentos artísticos, do tipo neoconcreto, conceitual e tantos outros. Já tive fases em que produzi obras tridimensionais, seja na tradicional escultura em bronze, seja mediante incrustações na pintura na tela, de botões de roupa a contas coloridas de colares baratos, e incrustações de peças maiores, como o violão que cravei na tela com homenagem ao design do LP Transa, de Caetano Veloso, aliás, Caetano excelente neste disco londrino. Este trabalho, a propósito, me valeu o prêmio do Salão Nacional de 1995. Não entro no mérito desse prêmio em si, , mas foi muito bom porque, com o primeiro lugar, ganhei do Estado uma boa viagem à Europa e ainda a edição de um livro-catálogo. Creio que me confundo com minha obra. Também pinto no meu próprio corpo, o rosto especialmente, e depois fotografo. Tenho centenas de imagens como se eu fosse personagem de teatro, o ator da pintura, como se eu fosse a tela cênica e viva da pintura, seja maquiagem ou tinta ou qualquer coisa que me mude enquanto visualização. Tenho uma fase ou uma tendência também a valorizar o rosto como emblema da tradição pictórica de Vanitas. E haja caveiras, não perdi a conta de quantas vanitas fiz, de grandes telas com livros, globo terrestre, caveira etc, a vanitas com o meu rosto vivo, pintado ora de vascaíno, ora de rubro-negro que sou, ora de nordestino, ora de fidalgo brasiliense. Minha obra tem humor ligado ao tempo e suas cores e linhas. Sei porque rio dessas cores e linhas e e pessoas que as veem e as compram gostam de rir também. São obras que reverenciam o tempo, seja este conceito ou vivência, mas sempre elemento vita , não importa se com emoção ou racionalidade, mas sempre presente em tudo o que fazemos. Toda a minha obra tem de ser vista como o meu tempo plástico. Mas gosto de ver também o que os outros fazem. Por isso não me sobra aquele outro “tempo” - Faço e respiro arte 24 horas por dia."
Que exposição sua você considera a mais importante?
"Do ponto de vista da emoção, da expectativa a exposição mais importante é sempre a próxima. Não tenho distanciamento suficiente para analisar as mostras passadas. Mas elas são as partes de um todo. Destaco algumas: a que fiz na Galeria Candido Mendes , desenhos de caveiras, , em papel 1991 . A mostra , com 27 telas em Ipanema, na Casa de Cultura Laura Alvim, todas retratando memorabilia capixaba 1993 . Gosto da fase amarela, grandes quadros naquele amplo espaço do Centro Cultural Light antigo do Rio 1996 .Os doutores de 2000 na Galeria Macunaíma... Sei lá ! A exposição mais importante não é comigo. Gosto de uma intitulada Papeis, eu fiz na Toulouse no Rio 2007 Quem pode dizer da importância de um trabalho é o tempo, que se encarrega de levar e trazer, depurar. E isso vale para a nossa critica especializada. Tempo , precioso tempo."
Como você faz para divulgar a sua obra?
"Divulgo minha obra no boca a boca, torço para que a instituição acolhedora de uma exposição faça um bom trabalho de comunicação junto à mídia, coloco imagens na internet, converso, ofereço e vou nesse" vale tudo" da vida, Existe um lado meu, sempre presente no meu dia a dia, que não é este de um artista das imagens. Para além da minha criação, eu compro e vendo obras de arte com a mesma desenvoltura que as produzo. Eu troco, eu dou, presenteio gente na rua, gente que nem conheço. Faço negócios, bons negócios para ambos ao lados. Minha presença é uma constante divulgação de meu trabalho. Eu, literalmente, vivo da minha obra. Quando surge alguém, ou uma galeria interessada em me vender, eu me vendo, negocio sempre. Costumo brincar dizendo que só tem uma coisa melhor do que vender: é comprar. Eu poderia ser professor de arte, poderia ser um mau advogado, eu poderia ser um razoável psicanalista, aliás, fiz análise por alguns anos. Mas eu não poderia deixar de ser uma única coisa, que é o que sou: artista que me divulgo produzindo, comprando e vendendo o tempo inteiro. Não sou um carreirista superficial comprometido com amigos. Não faço parte de clubes. Aprecio a ética."
Além dos estudos sobre arte que outros estímulos influenciam em seu trabalho?
"A convicção de que vale a pena viver, trabalhar, estudar, buscar o melhor de si o tempo todo. Um bom filme me estimula, um bom jogo de futebol me estimula. Meus dois filhos, Mathias e Germana, me estimulam. Minha família me estimula. As amizades. Os estímulos estão flutuando, e saber pressenti-los e reconhecê-los são uma garantia de que até na loucura deve prevalecer a saudável confraternização. Tenho grandes dúvidas, ainda. Mas essas certezas são as que me estimulam. Tenho enormes duvidas. Mas essas certezas me estimulam."
Você tem uma rotina de trabalho?
"Trabalho sempre. Seja fotografando a obra, ou fotografando meus devaneios. Sempre desenho. e seleciono os desenhos. Tenho rotinas diversas : na grande maioria dos meus dias, sou quase como passarinho: durmo cedo e acordo quando mal raia o dia em Petrópolis, onde vivo na minha casa acoplada ao ateliê. Trabalho de manhã e de tarde. À noite, só raramente. Só não durmo cedo quando estou no Rio de Janeiro ou viajando."
Qual sua opinião sobre as Bienais e Feiras de Arte?
"Gosto, mas, claro, algumas edições são boas, outras, não. Bienal não tem o compromisso pragmático das feiras, que visam a compra e venda de obras de arte. Gosto das duas oportunidades. Não tenho nenhum preconceito com o que é comercial. Tudo é comercial. Uma latinha de Piero Manzoni, qual lata de pasta de atum, com os dizeres “merde d’artiste”, vale hoje mais de 100 , 300, 600 mil dólares. As fezes secas do artista italiano já falecido estão se valorizando comercialmente? Ou a/ esteticamente? Feiras e bienais são oportunidades para se vender obras, ideias e vaidades. Diálogos. contemporâneos Gosto, sou da arte. Vou a Bienais desde 1985 Aliás, participei de um projeto periférico na Bienal do Mercosul . Já fui a feiras, incluindo uma enorme na Colômbia. Miami e Londres"
Quais são seus planos para o futuro?
"Torcer para o Flamengo fazer e acontecer, chorar pessoas queridas que se vão, jamais furar a fila nessa certeza de que todos iremos, ainda que não saibamos dos nossos prazos de validade. Continuar trabalhando e conservando minha obra."
O que você faz nas horas vagas?
"Eu as desconheço, ainda."
Fonte e crédito fotográfico: ArtArte, por Marcio Fonseca, publicado em 8 de novembro de 2011. Consultado pela última vez em 8 de fevereiro de 2022.