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Mestre Jasson

Jasson Gonçalves da Silva (1954, Belo Monte, AL), mais conhecido como Mestre Jasson, é um escultor e artista popular brasileiro. Autodidata, trabalhou por anos na construção civil na Bahia, entre carpintaria e solda, experiência que ampliou seu domínio de materiais e encaixes; de volta a Alagoas, experimentou cerâmica e gesso e, a partir de 2012, consolidou-se na escultura em madeira. Dialoga com o universo da Ilha do Ferro e do Vale do São Francisco. Suas obras são talhadas em madeira reaproveitada (galhos e troncos secos), montadas com pinos de madeira, evitando pregos e parafusos, e finalizadas com paleta vibrante; criam cadeiras-escultura, carrancas, árvores e aves fantásticas que mesclam função e fantasia, com forte presença de fauna e flora da caatinga. Recebeu o Prêmio Gustavo Leite (Museu Théo Brandão/UFAL, 2021), e suas peças podem ser vistas em exposições como a MADE – Mercado.Arte.Design (São Paulo), a Semana de Design de Milão (2019) e a mostra Arte dos Mestres (SP, 2023), além de acervos e exibições do Museu Théo Brandão.

Jasson Gonçalves da Silva | Arremate Arte

Jasson Gonçalves da Silva, conhecido como Mestre Jasson, nasceu em 1954, em Belo Monte, no sertão de Alagoas, e cresceu trabalhando na roça, plantando milho, feijão, algodão e criando pequenos animais. A intimidade com a madeira veio da lida diária: cortar galhos caídos, consertar cercas, fabricar utensílios. Por volta dos vinte anos, migrou para Camaçari, na Bahia, onde passou cerca de quinze anos na construção civil como servente, carpinteiro e soldador; também trabalhou em fábrica cerâmica de pré-moldados, experiência que lhe deu domínio de materiais, moldes e acabamentos. De volta a Alagoas, tentou a cerâmica e o gesso, mas o barro local não ajudava. O rumo mudou em 2012, quando os galeristas Maria Amélia Vieira e Dalton Costa (Galeria Karandash) o visitaram e o estimularam a talhar madeira: do primeiro casal de bonecos à semelhança de imagens sacras, nasceu um percurso autoral. Em pouco tempo, Jasson mergulhou no universo da Ilha do Ferro, participou do Encontro de Mestres (2015) e do projeto Afluentes (2016), aproximando-se de designers e artistas populares e entendendo a potência de transformar galhos retorcidos da caatinga em obra.

Entre 2017 e 2019 sua obra ganhou circulação e fôlego: cadeiras, carrancas e árvores-esculpidas apareceram na MADE – Mercado.Arte.Design, em São Paulo, e na mostra “Criativos por Tradição”, do Festival Artesol, no Museu do Meio Ambiente (Jardim Botânico, Rio). O pesquisador Renan Quevedo (Novos para Nós) foi um aliado decisivo: ao documentar o ateliê e divulgar o trabalho, abriu pontes com lojistas, galeristas e colecionadores. Em abril de 2019, uma de suas cadeiras, apelidada de “O trono”, integrou uma mostra da Semana de Design de Milão sob curadoria ligada à Objeto Brasil/Apex-Brasil, gesto que projetou o artista internacionalmente. Essa obra multicolorida, composta por pássaros, frutos e carrancas é umas das assinaturas do artista.

Em 2021, o Museu Théo Brandão/UFAL concedeu a Jasson o Prêmio Gustavo Leite de Artista Popular e realizou sua primeira individual, “O sol nasce para todos”, instalada na estação ferroviária da CBTU, em Maceió, com curadoria de Renan Quevedo. A exposição reuniu cadeiras, carrancas, malas e garrafas com pássaros até fevereiro de 2022, consolidando sua trajetória como referência da arte popular alagoana.

Vivendo e trabalhando na zona rural de Belo Monte, Jasson talha sem esboços: “desenha com a ferramenta”. Usa madeira caída timbaúba, imburana e outras, evita parafusos e pregos, monta com pinos de madeira e, quando convém, incorpora cordas e cerâmica industrial. É um colorista de impulso, mas de precisão, que justapõe figuras humanas, animais e quimeras em móveis e esculturas que oscilam entre função e fantasia. A crítica vem chamando esse léxico de “fantástico sertanejo”. Suas cadeiras-escultura, carrancas e árvores povoam feiras de design, coletivas institucionais como “Arte dos Mestres” (SP, 2023) e o mercado especializado, sem perder a raiz de um fazer que se alimenta da paisagem, das festas e das histórias do São Francisco.


Jasson Gonçalves da Silva | Artesol

Lixas, martelos, cola, madeira, cortes e colagens são algumas das ferramentas utilizadas por Jasson. Seu trabalho demonstra sua conexão profunda com a cultura popular da região. O encontro com seu próprio universo imaginativo e criativo tem originado figuras e cadeiras que mesclam animais, seres míticos, pessoas e outros elementos simbólicos. Para a produção das peças, Jasson não se limita ao uso da madeira, trazendo também para o universo de sua arte, a cerâmica industrial, entre outros materiais descartados.

Sobre quem cria

Jasson Gonçalves da Silva tem despontado recentemente como artista, já com mais de 60 anos, por seu trabalho lúdico e cheio de originalidade. Inicialmente, Jasson trabalhava com gesso e cerâmica e mais tarde começou a inserir também a madeira, esculpindo santos e carrancas. Hoje, o objeto que mais chama atenção são as cadeiras que cria, a partir de diferentes materiais, todas marcadas pela presença de diferentes brasilidades.

O contato com a Galeria Karandash, foi importante para seu crescimento enquanto artista. Sua trajetória encontra-se ainda no começo, havendo muitas surpresas e possibilidades a serem experimentadas por Jasson.

Sobre o território

Belo Monte está situado no Sertão do Baixo Rio São Francisco, em Alagoas. O nome de Belo Monte foi dado, segundo contam, por D. Pedro II, quando passou pela região, navegando pelo Velho Chico.

As principais festas que acontecem na cidade são a de Bom Jesus dos Navegantes e da Padroeira Nossa Senhora do Bom Conselho, comemorada todos os anos dia 2 de fevereiro.

Fonte: Artesol, “Jasson Gonçalves da Silva”. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.


Jasson Gonçalves da Silva | iMaterial

Em Belo Monte, sertão de Alagoas, vive um homem humilde, sereno e curioso. Jasson Gonçalves da Silva, nascido em 1954, figura hoje entre os artesãos brasileiros cujas peças são cobiçadas por colecionadores, lojistas e galeristas de todo o país.

Intérprete, não procura imitar a realidade, nos ensina a ver ao fantasiá-la através de golpes na madeira. Inquieto, desperta antes de o sol nascer e põe-se fora da cama para laborar em formas o imaginário que se expressa em suas esculturas.

Jasson, desde criança, viveu e se criou na roça, junto com os seus pais e familiares dedicado ao trabalho braçal pesado sob o sol quente do sertão. Além do manejo da terra e da criação de animais, a rotina na roça exige o aprendizado de manufatura rudimentar, conhecimentos repassados de geração em geração.

“Eu nasci e me criei pelejando com a madeira. Na hora de partir para a obra de arte não teve mais tanto sacrifício”, afirma Jasson.

Em 2012 recebeu uma visita de um casal de galeristas de Maceió e o estimularam a produzir algumas peças, o que foi determinante para ser conhecido por pesquisadores e admiradores da arte popular. A partir de 2015 Jasson se inseriu no circuito da produção artesanal do sertão de Alagoas.

Nesse trânsito de influências, Jasson se empenhou no novo desafio de criar cadeiras ornamentadas, inventando um estilo próprio. A partir do encaixe de galhos retorcidos de árvores típicas da caatinga, reaproveitando restos de madeiras secas descartadas, ele procede a uma composição criativa e detalhada, justapondo figuras no corpo do móvel – humanos, animais, quimeras, carrancas, flores e frutas –, e aplicando uma pintura fortemente colorida e muitas vezes pontilhada, com contrastes que capturam os olhos mais distraídos.

Em alguns casos, nota-se a criação de formas por meio de vãos intencionalmente projetados; em outros, o preenchimento de espaços do encosto com cordas que enlaçam galhos e figuras.

“Eu me inspiro em mim mesmo. A realidade é que eu trabalho na cadeira toda ela diferente, mas pelo motivo da madeira, porque a madeira não se arruma por igual, porque isso aí é coisa da natureza, e pela madeira não ser igual, eu faço a montagem de cada uma diferente da outra”, diz Jasson.

As peças de Jasson começaram a conquistar espaço cada vez mais longe. Em 2017, ganharam destaque na MADE – Mercado Arte Design –, uma importante feira internacional de design colecionável sediada em São Paulo.

Em abril de 2019, durante a Semana de Design de Milão, reconhecida como a vitrine global mais importante do setor moveleiro e do design, no salão de entrada, a cadeira de Jasson, rodeada por suas garrafas suspensas, foi posta ao lado da cadeira Red & Blue de Rietveld,

“O artesão alagoano Jasson, antes de produzir, sonha”. Jasson suscita a curiosidade e subverte o óbvio.

Jasson confessa ser guiado, em sonho, por uma névoa onírica que o inspira a criar soluções criativas.

Fonte: iMaterial, “Jasson Gonçalves”. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.


O universo encantado do Mestre Jasson | Cada Minuto

Os povoados e cidades ribeirinhas do São Francisco, em Alagoas, costumam esconder tesouros da arte popular que, quando revelados, são reconhecidos rapidamente no resto do Brasil e do mundo. A exemplo da Ilha do Ferro, em Pão de Açúcar e Entremontes, em Piranhas, a pitoresca Belo Monte desponta como mais um polo de artistas do entalhe em madeira. 

O mais famoso deles é um mestre que, com seus tronos adornados e carrancas coloridas, tornou-se um dos nomes mais festejados do nosso artesanato. A trajetória de Jasson Gonçalves da Silva, antes de abraçar a arte, se confunde com a de muitos outros lavradores sertanejos. 

Nascido e criado na zona rural de Belo Monte, ele também precisou deixar a terra natal para ganhar a vida. “Comecei muito cedo, tirando lenha, fazendo cerca. Eu me guiava pela lua pra escolher a madeira que não ia rachar, que não ia dar bicho”, conta. Entre os 20 e os 35 anos, Jasson resolveu sair de Alagoas.

Ele lembra que, em Salvador, aprendeu a trabalhar com carpinteiro, cobrindo e “madeirando” casas. “Foi assim que fiz as primeiras peças, fazia um carro de boi com sua carga, aí dava de presente aos conhecidos. Mas não me via ainda como artesão. Quando voltei aqui pra Belo Monte, comecei a mexer com barro”, completa.

Jasson confessa que sempre foi apaixonado pela madeira, ainda na roça. “Eu via um galho e já tirava um bicho com o facão, um pássaro, por exemplo, que já tava desenhado na minha cabeça”, diz. A descoberta de que poderia viver da arte só veio quando ele conheceu os artistas plásticos Maria Amélia Vieira e Dalton Costa. 

“Ela chegou na cidade querendo saber quem trabalhava com artesanato e me achou. Fez uma encomenda de peças em madeira e eu disse que não sabia trabalhar com isso. Ela então pegou um pedaço de imburana e mandou eu cortar em dois, pra fazer um casal de bonecos, com meio metro cada um. Eu mesmo me admirei com o resultado, recorda.

Esse foi apenas o começo de uma carreira que despontou para o Brasil com as cadeiras que mais parecem tronos. “A primeira cadeira que eu fiz tinha até medo de sentar, porque não tinha nenhum prego, só pino. Daí pra cá não parei mais. Faço elas assim, depois pinto, coloco os adornos. Parece mesmo um trono”, diz.  

O artista conta que trata a madeira como se fosse um ser vivo. “Ela mesmo se explica como quer ficar. E isso é uma coisa incrível, difícil de explicar. Parece uma força que pega na minha mão e faz”, completa. 

Mestre Jasson encontra terreno fértil para sua arte na fantasia representada pela  exuberância imagética do sertão. As famosas cadeiras, as carrancas, os animais, os santos católicos e até os seres imaginários: tudo que a imaginação alcançar ganham vida a partir do entalhe da madeira e do uso das cores, vivas como a natureza que brota na caatinga. 

Apesar de trabalhar há décadas como carpinteiro, a arte de Jasson foi uma descoberta que veio com maturidade. Em 2016, depois de participar de uma imersão com artesãos da Ilha do Ferro, que reuniu designers e artistas plásticos no Projeto Afluentes. 

Foi quando o universo fantástico criado pelo mestre ganhou os salões de exposições, os eventos do setor e o interesse cada vez maior de curadores, galeristas e lojistas de todo país.

“Quando alguém me elogia, fico meio flutuando no ar. Caço a terra embaixo dos pés e não acho. Na verdade, acho que faço o que as pessoas gostam de ver. E eu aprendo com cada pessoa. Eu dou vida ao que já está dentro da madeira”, afirma sem esconder a emoção. 

Escolhendo as palavras, ele diz que talvez seja esse o segredo. “Parece uma coisa estranha e é. Porque eu mesmo não sei explicar. Quando dou fé, tá feito”, resume com timidez um dos mais respeitados artistas populares de Alagoas. 

Fonte: Cada Minuto, “O universo encantado do Mestre Jasson”, publicado por Guilherme Lamenha, em 13 de dezembro de . Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.


História de vida de Jasson | Artesol

Jasson Gonçalves da Silva (1954) vive na zona rural do município de Belo Monte, Alagoas. Trabalhou na roça desde criança, cultivou e ainda cultiva milho, feijão, algodão e cria pequenos animais. Por volta dos 20 anos, mudou-se para Camaçari – BA, onde ficou por cerca de 15 anos. Nesse período trabalhou na construção civil como servente de pedreiro, foi soldador, carpinteiro, entre outras atividades. Também trabalhou em uma fábrica cerâmica de pré-moldados, criando peças que seriam reproduzidas por meio de moldes de gesso. Como carpinteiro, produziu muitos móveis, como bancos, cadeiras, mesas, entre outras peças.

Ao retornar para Alagoas, tentou sem sucesso continuar a produção de peças de cerâmica, pois o barro disponível na região é apropriado. Voltou a trabalhar na roça, cultivando e produzindo leite, além de prestar serviço de mecânico para consertar arados e maquinários agrícolas para agricultores da região.

Em 2012, recebeu a visita de Maria Amélia Vieira e Dalton Costa, casal proprietário da Galeria Karandash em Maceió e que viajavam pela região do Baixo São Francisco em busca de artistas populares. O casal sugeriu que Jasson fizesse esculturas de madeira, e seguindo o conselho, Jasson esculpiu um casal de bonecos que saiu à semelhança de imagens religiosas. 

Por trabalhar na roça, Jasson tinha intimidade com a madeira, ainda que desconfiasse de sua capacidade de produzir arte em um primeiro momento. No trabalho diário no campo, é preciso cortar galhos caídos, confeccionar ferramentas, cercas e carros de boi. Jasson diz que já tinha o conhecimento para lidar com a madeira, mas a capacidade de produzir arte é inata, um dom recebido: “vim aprendido, graças a Deus”.

A partir do contato com os galeristas, Jasson foi se inserindo em um contexto artístico fortemente influenciado pela arte produzida na Ilha do Ferro, que fica a cerca de 40 km de Belo Monte. Em 2015 participou do projeto Encontro de Mestres, interagindo com Aberaldo Sandes, Petrônio Farias, Valmir Lessa, Zé de Tertulina e Chico Cigano. Em 2016, participou do projeto “Afluentes”, desenvolvido pelo Grupo Design Armorial apoiado pela Universidade Estadual de Alagoas. O projeto tinha como objetivo criar peças a partir do design participativo, unindo os artistas populares e designers. Nesse projeto, Jasson co-criou com Dalton Costa duas luminárias e a instalação “Pássaros do sertão”, que integraram uma exposição realizada em São Paulo e dedicada a apresentar os resultados do projeto.

A partir da interação e contato com a estética da arte popular da Ilha do Ferro, e entendendo o prestígio e o reconhecimento que as peças produzidas na região tinham no circuito de arte popular, Jasson sentiu a necessidade de se dedicar a criar sua própria linguagem. Nesse esforço criativo de encontrar sua própria voz artísticas, nasceram suas cadeiras ricamente ornamentadas, malas, carrancas, esculturas de árvores e outras esculturas.

O reconhecimento e a circulação do trabalho de Jasson tomaram novo fôlego com a visita de Renan Quevedo, pesquisador e comunicador do projeto Novos para Nós, em 2018. Renan abriu caminhos e facilitou o contato de Jasson com galeristas e outros consumidores. Suas peças participaram de exposições, como a do Festival Criativos por Tradição realizado pela Artesol entre 2018 e 2019 no Rio de Janeiro. E alcançou projeção internacional por meio da participação na Mostra Be Brasil, no Fuorisalone da Semana de Design de Milão (2019), produzida pela Marco500.

Em 2021 recebeu o Prêmio Gustavo Leite de Artista Popular do Museu Théo Brandão. No mesmo ano aconteceu a exposição O sol nasce para todos, realizada pelo Museu, pela Companhia Brasileira de trens Urbanos e pelo Projeto Novos para Nós, inteiramente dedicada ao artista.

Obra e processo criativo

Jasson é inquieto, acorda antes do sol nascer. Diz que quem dorme pouco vive melhor a vida. Cria peças únicas esculpidas em madeira, que podem ou não receber pintura. Por vezes agrega à madeira outros elementos, como cordas e cerâmica industrial. Algumas peças, como as carrancas e cajados, possuem entalhes espiralados que remetem à roda e fuso da casa de farinha, atualizando suas lembranças de infância, pois seu avô era mestre no entalhe dessas peças.

A partir das sugestões de pessoas do circuito da arte popular, Jasson cria suas obras justapondo elementos que não são imediatamente óbvios para gerar curiosidade em quem observa. Essa lógica inusitada de combinações de formas, temas e cores levaram o trabalho de Jasson a ser caracterizado pela crítica como “fantástico sertanejo”, dialogando com o imaginário popular nordestino, que também se manifesta na literatura, na música e no teatro.

Além de se inspirar na natureza que o cerca, como as flores coloridas e exuberantes da caatinga, Jasson costuma sonhar com as peças, ou imaginar o que quer criar durante a noite. Ele não faz esboços e não marca a madeira com lápis para iniciar os trabalhos. Imagina a peça e “desenha com a ferramenta”, por meio do entalhe. 

Não corta árvores para produzir suas peças, utilizando galhos e madeiras caídos coletados em sua região, muitas vezes trazidos pelos rios. E não utiliza parafusos nem pregos, apenas pinos de madeira para a montagem das peças.

Muitas vezes mobiliza a própria forma tortuosa da madeira para dar vida a novos seres e objetos. Os galhos retorcidos são característicos das árvores da caatinga, como timbaúba e imburana, carregando ainda mais suas peças de significado simbólico. 

Jasson, observador atento, diz que a madeira é viva, basta prestar atenção. Ela mesma explica como quer se transformar.

Fonte: Arte dos Mestres, “Jasson Gonçalves da Silva”. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.


Dos sonhos a realidade: Jasson transforma galhos em esculturas vibrantes | Follow the Colors

Jasson Gonçalves da Silva (1954), mais conhecido como Jasson Artesão, é uma figura emblemática do artesanato brasileiro. Autodidata, transforma madeiras e galhos em verdadeiras obras de arte. Cada criação é um convite ao encanto e à reflexão. Suas peças, ricas em detalhes, cores vibrantes e cheias de sobreposições, geram curiosidade, chamando a atenção de colecionadores, lojistas e galeristas de todo o país.

Nascido em Belo Monte, Alagoas, Jasson tem uma longa trajetória no campo e em diferentes ofícios. Desde criança, vive na roça, onde ainda hoje cria, cultiva milho, feijão, algodão e cria animais. Jovem, mudou para Camaçari-BA, e lá ficou por 15 anos, atuando na construção civil e em uma fábrica de cerâmica, além de desempenhar funções como carpinteiro.

Ao retornar para Alagoas, continuou no campo e prestou serviços como mecânico. Em 2012, foi descoberto por proprietários de uma galeria de arte, que o incentivaram a esculpir em madeira. Jasson, que já tinha habilidade, aceitou o desafio e criou bonecos que lembram imagens religiosas, revelando um talento inato para a arte.

A partir de 2015, inseriu-se no cenário artístico. Inspirado pela arte popular local e seu reconhecimento, decidiu criar uma linguagem própria. Neste processo, desenvolveu cadeiras ornadas, malas, carrancas e esculturas, estabelecendo sua identidade no mundo artístico. As obras, resultado de uma fusão entre tradição e inovação, destacam por sua originalidade e apelo cultural.

“Eu me inspiro em mim mesmo. A realidade é que eu trabalho na cadeira toda ela diferente, mas pelo motivo da madeira, porque a madeira não se arruma por igual, porque isso aí é coisa da natureza, e pela madeira não ser igual, eu faço a montagem de cada uma diferente da outra”. — Jasson Artesão

De Alagoas para o mundo

As criações de Jasson ganharam mais visibilidade e prestígio em 2017 quando foram destacadas na MADE – Mercado Arte Design, famosa feira de design que ocorre em São Paulo. O evento marcou um importante passo em sua carreira, expandindo sua influência no cenário artístico e de design. Logo, o artista alcançou reconhecimento internacional ao participar da Semana de Design de Milão em 2019.

“O artesão alagoano Jasson, antes de produzir, sonha”

Além de encontrar inspiração na natureza, nas flores e na caatinga, o mestre artesão tem um método único de criação. Não utiliza esboços nem marcações prévias na madeira. Em vez disso, diz que sonha com suas obras ou as concebe mentalmente durante a noite. Para dar forma às ideias, entalha diretamente na madeira, permitindo que sua imaginação o guie.

Jasson utiliza exclusivamente galhos e madeiras caídas, frequentemente transportados pelos rios perto de sua casa. Não usa parafusos ou pregos, optando por pinos, também em madeira. Aproveita a forma natural e torta dos galhos, típicos de árvores da caatinga como timbaúba e imburana, transformando-os em objetos cheios de simbolismo.

Fonte:  Follow The Colors, “Dos sonhos a realidade: Jasson transforma galhos em esculturas vibrantes”, publicado por Carol T. Moré, em 19 de julho de 2024. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.


Museu Théo Brandão entrega Prêmio Gustavo Leite ao artista Jasson | Universidade Federal de Alagoas

Do Sertão de Alagoas para o mundo. Assim tem sido a trajetória de Jasson, artista que alcançou espaços em importantes eventos de design no Brasil e fora do país. No dia 2 de dezembro, às 19h30, o Museu Théo Brandão (MTB) vai homenageá-lo com a entrega do Prêmio Gustavo Leite de Artista Popular de 2021, que chega a sua 14ª edição. No evento, que vai acontecer na Companhia Brasileira de trens Urbanos (CBTU), também haverá a abertura da mostra O sol nasce para todos, realizada pelo Museu, pela CBTU e pelo Projeto Novos para Nós.

Até o dia 2 de fevereiro, cadeiras, carrancas e esculturas são algumas das peças exibidas nesta primeira exposição individual de Jasson. Uma intervenção da artista visual Ser’tão vai compor a mostra, que tem a curadoria de Renan Quevedo.

O curador explica que o momento atual da pandemia foi uma influência para intitular a mostra O sol nasce para todos. “O nome da exposição traz esse sopro de esperança. A gente está passando pela pandemia. Se tudo der certo, caminhando para o final. Então, eu acredito que é um grande empurrão para as pessoas que trabalham muito com a resiliência, com o acreditar”, ressaltou Quevedo.

Antes de participar da mostra com uma intervenção que vai acontecer em um dos vagões antigos e no ponto de ônibus em frente à CBTU, a artista Ser’tão já vinha fazendo um trabalho em parceria com Jasson. “É uma honra imensa fazer parte com um pouco do meu trabalho. Estou muito feliz e lisonjeada. Estar no contexto em que esse artista vai ganhar um prêmio é emocionante. É supermerecido. Ele é um grande mestre, um ícone da cultura alagoana, com um trabalho que tem uma autenticidade absurda, tanto que está ganhando todo esse repertório, até mundial. Fui convidada pelo Museu e, ao mesmo tempo, eu e ele vínhamos executando um trabalho paralelo com a nossa arte. Foi uma congruência de coisas que deram certo”, contou.

O projeto expográfico da mostra foi realizado pela museóloga Hildênia Oliveira e pelas arquitetas Cynthia Fortes e Thaisa Sampaio. “Há quase um ano estamos planejando essa grande exposição. Foi um verdadeiro desafio fazê-la nesta pandemia, mas foi uma rica experiência para toda a equipe. O resultado é um projeto convidativo, colorido e vibrante, assim como a arte popular de Jasson. Carrancas, malas, as inigualáveis cadeiras e garrafas do mestre foram integradas às referências da paisagem sertaneja de onde foram criadas e traduzem a grandeza da obra deste nosso artista alagoano de renome internacional”, disse Cynthia Fortes.

O Sertão revelado em obra de arte

O artista, cujo nome de batismo é Jasson Gonçalves da Silva, nasceu em Belo Monte. Por volta dos 18 anos de idade, foi morar no interior da Bahia, onde viveu por 15 anos e trabalhou na construção civil. “Antes, eu trabalhei na roça e quando fui para a Bahia, aprendi a profissão de pedreiro e carpinteiro. Então, já comecei a trabalhar diretamente com madeira, levantava casa, rebocava, deixava pronta”, contou o artista, que voltou a trabalhar na roça quando retornou a Alagoas.

A entrada para o universo artístico aconteceu por volta de 2013. Antes de trabalhar com madeira na confecção da arte, Jasson fazia esculturas em gesso e cerâmica. A madeira transformada revelou o universo do Sertão em obra de arte e, aos poucos, a vida de Jasson foi mudando. “Uso madeira de diversas qualidades, não é um tipo só, o que eu vou encontrando pela frente, madeira morta, que não serve mais para o pessoal da região, eu busco e transformo em obra de arte. Até dois ou três anos atrás, vivia da agricultura e da arte, mas, hoje, passei a viver só da arte”, explicou.

No início do processo artístico, Jasson criava imagens religiosas nas esculturas em madeira. Com o tempo, a produção foi se diversificando e surgiram garrafas, carrancas, malas, cadeiras e esculturas da fauna e da flora sertanejas, com a marca e o colorido próprios do artista.

Outro momento decisivo nessa mudança de vida foi o encontro com o atual curador, o publicitário paulista Renan Quevedo. “Ele foi a minha luz no fim do túnel. Chegou aqui sem eu esperar, mas foi o início de tudo quando ele me lançou para o mundo e, hoje, eu não tenho palavras para descrever a emoção e a gratidão a Renan”, disse Jasson.

Em 2018, Renan estava em Alagoas, realizando um trabalho de pesquisa para o projeto Novos para nós – no qual ele percorre o Brasil contando as histórias de artistas populares – e ao passar por Batalha, soube que Jasson morava na região. “Eu tinha ouvido falar do trabalho dele com algumas galerias e colecionadores específicos. Conheci o ateliê e vi peças absolutamente incríveis. Embora ele tivesse toda uma capacidade e produzisse coisas sensacionais, na época, a parte mercadológica estava muito difícil. Nesse primeiro contato, eu já fiz questão de falar sobre o trabalho dele no ‘Novos para nós’. Escrevi a história e postei. Lojistas, galeristas, muitas pessoas me pediram o contato dele. Eu fiz questão de passar porque achava que ele deveria comercializar para mais pessoas do que estava vendendo na época e que pudesse ter um reconhecimento, uma valorização pelo trabalho. Em pouco mais de um ano, uma cadeira produzida por ele foi para a Semana de Design de Milão, ou seja, ele explodiu, ganhou o mundo. Muitas pessoas começaram a comprar dele. Ele passou a ter um retorno muito expressivo pelo trabalho”, contou o curador.

Pelo mundo

Foram várias participações em feiras e exposições de arte e design. Em 2017, peças de Jasson integraram a exposição Natureza: matéria e forma, uma das mostras do Mercado Arte Design (Made), uma feira internacional de design colecionável, que acontece na capital paulista. No ano seguinte, cadeiras do artista foram expostas na mostra Criativos por tradição, no Festival Artesol, sediado no Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico, do Rio de Janeiro.

Em 2019, Jasson estreou em feiras do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), participando de eventos em Pernambuco, São Paulo e Maceió. Uma de suas criações foi exposta na Design Weekend, a semana de design paulistana. O artista também foi destaque em jornais e portais de notícias de todo o país, com a notícia de que uma de suas obras esteve exposta no Salão Internacional do Móvel de Milão, evento considerado o maior do setor no mundo. Batizada de “O trono”, a peça de Jasson que foi exposta é uma cadeira multicolorida, com pássaros, carrancas e frutos da caatinga.

O prêmio

O curador considera a homenagem do MTB um enorme incentivo para o artista e outros artesãos locais. “Essa premiação do Museu para o Jasson é uma celebração. Fico muito feliz desse prêmio ser entregue. É um grande empurrão da economia local para que haja o despertar de outros na mesma produção, no entorno da cidade onde ele mora. Jasson me disse uma frase muito emocionante, que é a primeira exposição que ele vai na vida. Nada que consiga mostrar um grande reconhecimento da obra do que ele mesmo estando no centro dessa história”, disse Renan Quevedo.

A premiação realizada pelo MTB presta uma homenagem ao produtor cultural, iluminador e cenógrafo alagoano Gustavo Leite, que atuou junto aos artistas do interior do Estado, na divulgação e na comercialização de suas obras. Esta é a 14ª edição da entrega do prêmio.

Em 2019, foi instituída uma comissão para discutir e aprovar o nome a ser homenageado. Fizeram parte da comissão a museóloga Carmen Lúcia Dantas, os fotógrafos Celso Brandão e Jorge Vieira, o arquiteto Rodrigo Ambrosio, a galerista Maria Amélia, o diretor do MTB, Victor Sarmento, e a museóloga da instituição, Hildênia Oliveira. E o artista Jasson foi o escolhido para receber o Prêmio Gustavo Leite.

Artista revelado

Jasson conta que se surpreendeu após confeccionar as obras iniciais e que o resultado foi um aumento do incentivo. “Quando eu fiz as primeiras peças, aquilo me chamou muito a atenção e dali eu fui me inspirando em cada peça que eu fazia. Me incentivei em mim mesmo. A inspiração surge do dom que Deus deu. Quando, durmo eu sonho com uma peça e na manhã seguinte eu já coloco a mão na massa. Eu não aprendi ainda, estou aprendendo. Quanto mais a gente trabalha, mais a gente aprende porque o artista não sabe, o artista cria”, declarou.

Fonte: Universidade Federal de Alagoas, “Museu Théo Brandão entrega Prêmio Gustavo Leite ao artista Jasson", publicado por Jacqueline Batista, em 12 de novembro de 2021. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.

Crédito fotográfico: Universidade Federal de Alagoas, imagem do artista em seu ateliê. Publicado em 12 de novembro de 2021. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.

Jasson Gonçalves da Silva (1954, Belo Monte, AL), mais conhecido como Mestre Jasson, é um escultor e artista popular brasileiro. Autodidata, trabalhou por anos na construção civil na Bahia, entre carpintaria e solda, experiência que ampliou seu domínio de materiais e encaixes; de volta a Alagoas, experimentou cerâmica e gesso e, a partir de 2012, consolidou-se na escultura em madeira. Dialoga com o universo da Ilha do Ferro e do Vale do São Francisco. Suas obras são talhadas em madeira reaproveitada (galhos e troncos secos), montadas com pinos de madeira, evitando pregos e parafusos, e finalizadas com paleta vibrante; criam cadeiras-escultura, carrancas, árvores e aves fantásticas que mesclam função e fantasia, com forte presença de fauna e flora da caatinga. Recebeu o Prêmio Gustavo Leite (Museu Théo Brandão/UFAL, 2021), e suas peças podem ser vistas em exposições como a MADE – Mercado.Arte.Design (São Paulo), a Semana de Design de Milão (2019) e a mostra Arte dos Mestres (SP, 2023), além de acervos e exibições do Museu Théo Brandão.

Mestre Jasson

Jasson Gonçalves da Silva (1954, Belo Monte, AL), mais conhecido como Mestre Jasson, é um escultor e artista popular brasileiro. Autodidata, trabalhou por anos na construção civil na Bahia, entre carpintaria e solda, experiência que ampliou seu domínio de materiais e encaixes; de volta a Alagoas, experimentou cerâmica e gesso e, a partir de 2012, consolidou-se na escultura em madeira. Dialoga com o universo da Ilha do Ferro e do Vale do São Francisco. Suas obras são talhadas em madeira reaproveitada (galhos e troncos secos), montadas com pinos de madeira, evitando pregos e parafusos, e finalizadas com paleta vibrante; criam cadeiras-escultura, carrancas, árvores e aves fantásticas que mesclam função e fantasia, com forte presença de fauna e flora da caatinga. Recebeu o Prêmio Gustavo Leite (Museu Théo Brandão/UFAL, 2021), e suas peças podem ser vistas em exposições como a MADE – Mercado.Arte.Design (São Paulo), a Semana de Design de Milão (2019) e a mostra Arte dos Mestres (SP, 2023), além de acervos e exibições do Museu Théo Brandão.

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O sol nasce para todos | 2022

Jasson Gonçalves da Silva | Arremate Arte

Jasson Gonçalves da Silva, conhecido como Mestre Jasson, nasceu em 1954, em Belo Monte, no sertão de Alagoas, e cresceu trabalhando na roça, plantando milho, feijão, algodão e criando pequenos animais. A intimidade com a madeira veio da lida diária: cortar galhos caídos, consertar cercas, fabricar utensílios. Por volta dos vinte anos, migrou para Camaçari, na Bahia, onde passou cerca de quinze anos na construção civil como servente, carpinteiro e soldador; também trabalhou em fábrica cerâmica de pré-moldados, experiência que lhe deu domínio de materiais, moldes e acabamentos. De volta a Alagoas, tentou a cerâmica e o gesso, mas o barro local não ajudava. O rumo mudou em 2012, quando os galeristas Maria Amélia Vieira e Dalton Costa (Galeria Karandash) o visitaram e o estimularam a talhar madeira: do primeiro casal de bonecos à semelhança de imagens sacras, nasceu um percurso autoral. Em pouco tempo, Jasson mergulhou no universo da Ilha do Ferro, participou do Encontro de Mestres (2015) e do projeto Afluentes (2016), aproximando-se de designers e artistas populares e entendendo a potência de transformar galhos retorcidos da caatinga em obra.

Entre 2017 e 2019 sua obra ganhou circulação e fôlego: cadeiras, carrancas e árvores-esculpidas apareceram na MADE – Mercado.Arte.Design, em São Paulo, e na mostra “Criativos por Tradição”, do Festival Artesol, no Museu do Meio Ambiente (Jardim Botânico, Rio). O pesquisador Renan Quevedo (Novos para Nós) foi um aliado decisivo: ao documentar o ateliê e divulgar o trabalho, abriu pontes com lojistas, galeristas e colecionadores. Em abril de 2019, uma de suas cadeiras, apelidada de “O trono”, integrou uma mostra da Semana de Design de Milão sob curadoria ligada à Objeto Brasil/Apex-Brasil, gesto que projetou o artista internacionalmente. Essa obra multicolorida, composta por pássaros, frutos e carrancas é umas das assinaturas do artista.

Em 2021, o Museu Théo Brandão/UFAL concedeu a Jasson o Prêmio Gustavo Leite de Artista Popular e realizou sua primeira individual, “O sol nasce para todos”, instalada na estação ferroviária da CBTU, em Maceió, com curadoria de Renan Quevedo. A exposição reuniu cadeiras, carrancas, malas e garrafas com pássaros até fevereiro de 2022, consolidando sua trajetória como referência da arte popular alagoana.

Vivendo e trabalhando na zona rural de Belo Monte, Jasson talha sem esboços: “desenha com a ferramenta”. Usa madeira caída timbaúba, imburana e outras, evita parafusos e pregos, monta com pinos de madeira e, quando convém, incorpora cordas e cerâmica industrial. É um colorista de impulso, mas de precisão, que justapõe figuras humanas, animais e quimeras em móveis e esculturas que oscilam entre função e fantasia. A crítica vem chamando esse léxico de “fantástico sertanejo”. Suas cadeiras-escultura, carrancas e árvores povoam feiras de design, coletivas institucionais como “Arte dos Mestres” (SP, 2023) e o mercado especializado, sem perder a raiz de um fazer que se alimenta da paisagem, das festas e das histórias do São Francisco.


Jasson Gonçalves da Silva | Artesol

Lixas, martelos, cola, madeira, cortes e colagens são algumas das ferramentas utilizadas por Jasson. Seu trabalho demonstra sua conexão profunda com a cultura popular da região. O encontro com seu próprio universo imaginativo e criativo tem originado figuras e cadeiras que mesclam animais, seres míticos, pessoas e outros elementos simbólicos. Para a produção das peças, Jasson não se limita ao uso da madeira, trazendo também para o universo de sua arte, a cerâmica industrial, entre outros materiais descartados.

Sobre quem cria

Jasson Gonçalves da Silva tem despontado recentemente como artista, já com mais de 60 anos, por seu trabalho lúdico e cheio de originalidade. Inicialmente, Jasson trabalhava com gesso e cerâmica e mais tarde começou a inserir também a madeira, esculpindo santos e carrancas. Hoje, o objeto que mais chama atenção são as cadeiras que cria, a partir de diferentes materiais, todas marcadas pela presença de diferentes brasilidades.

O contato com a Galeria Karandash, foi importante para seu crescimento enquanto artista. Sua trajetória encontra-se ainda no começo, havendo muitas surpresas e possibilidades a serem experimentadas por Jasson.

Sobre o território

Belo Monte está situado no Sertão do Baixo Rio São Francisco, em Alagoas. O nome de Belo Monte foi dado, segundo contam, por D. Pedro II, quando passou pela região, navegando pelo Velho Chico.

As principais festas que acontecem na cidade são a de Bom Jesus dos Navegantes e da Padroeira Nossa Senhora do Bom Conselho, comemorada todos os anos dia 2 de fevereiro.

Fonte: Artesol, “Jasson Gonçalves da Silva”. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.


Jasson Gonçalves da Silva | iMaterial

Em Belo Monte, sertão de Alagoas, vive um homem humilde, sereno e curioso. Jasson Gonçalves da Silva, nascido em 1954, figura hoje entre os artesãos brasileiros cujas peças são cobiçadas por colecionadores, lojistas e galeristas de todo o país.

Intérprete, não procura imitar a realidade, nos ensina a ver ao fantasiá-la através de golpes na madeira. Inquieto, desperta antes de o sol nascer e põe-se fora da cama para laborar em formas o imaginário que se expressa em suas esculturas.

Jasson, desde criança, viveu e se criou na roça, junto com os seus pais e familiares dedicado ao trabalho braçal pesado sob o sol quente do sertão. Além do manejo da terra e da criação de animais, a rotina na roça exige o aprendizado de manufatura rudimentar, conhecimentos repassados de geração em geração.

“Eu nasci e me criei pelejando com a madeira. Na hora de partir para a obra de arte não teve mais tanto sacrifício”, afirma Jasson.

Em 2012 recebeu uma visita de um casal de galeristas de Maceió e o estimularam a produzir algumas peças, o que foi determinante para ser conhecido por pesquisadores e admiradores da arte popular. A partir de 2015 Jasson se inseriu no circuito da produção artesanal do sertão de Alagoas.

Nesse trânsito de influências, Jasson se empenhou no novo desafio de criar cadeiras ornamentadas, inventando um estilo próprio. A partir do encaixe de galhos retorcidos de árvores típicas da caatinga, reaproveitando restos de madeiras secas descartadas, ele procede a uma composição criativa e detalhada, justapondo figuras no corpo do móvel – humanos, animais, quimeras, carrancas, flores e frutas –, e aplicando uma pintura fortemente colorida e muitas vezes pontilhada, com contrastes que capturam os olhos mais distraídos.

Em alguns casos, nota-se a criação de formas por meio de vãos intencionalmente projetados; em outros, o preenchimento de espaços do encosto com cordas que enlaçam galhos e figuras.

“Eu me inspiro em mim mesmo. A realidade é que eu trabalho na cadeira toda ela diferente, mas pelo motivo da madeira, porque a madeira não se arruma por igual, porque isso aí é coisa da natureza, e pela madeira não ser igual, eu faço a montagem de cada uma diferente da outra”, diz Jasson.

As peças de Jasson começaram a conquistar espaço cada vez mais longe. Em 2017, ganharam destaque na MADE – Mercado Arte Design –, uma importante feira internacional de design colecionável sediada em São Paulo.

Em abril de 2019, durante a Semana de Design de Milão, reconhecida como a vitrine global mais importante do setor moveleiro e do design, no salão de entrada, a cadeira de Jasson, rodeada por suas garrafas suspensas, foi posta ao lado da cadeira Red & Blue de Rietveld,

“O artesão alagoano Jasson, antes de produzir, sonha”. Jasson suscita a curiosidade e subverte o óbvio.

Jasson confessa ser guiado, em sonho, por uma névoa onírica que o inspira a criar soluções criativas.

Fonte: iMaterial, “Jasson Gonçalves”. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.


O universo encantado do Mestre Jasson | Cada Minuto

Os povoados e cidades ribeirinhas do São Francisco, em Alagoas, costumam esconder tesouros da arte popular que, quando revelados, são reconhecidos rapidamente no resto do Brasil e do mundo. A exemplo da Ilha do Ferro, em Pão de Açúcar e Entremontes, em Piranhas, a pitoresca Belo Monte desponta como mais um polo de artistas do entalhe em madeira. 

O mais famoso deles é um mestre que, com seus tronos adornados e carrancas coloridas, tornou-se um dos nomes mais festejados do nosso artesanato. A trajetória de Jasson Gonçalves da Silva, antes de abraçar a arte, se confunde com a de muitos outros lavradores sertanejos. 

Nascido e criado na zona rural de Belo Monte, ele também precisou deixar a terra natal para ganhar a vida. “Comecei muito cedo, tirando lenha, fazendo cerca. Eu me guiava pela lua pra escolher a madeira que não ia rachar, que não ia dar bicho”, conta. Entre os 20 e os 35 anos, Jasson resolveu sair de Alagoas.

Ele lembra que, em Salvador, aprendeu a trabalhar com carpinteiro, cobrindo e “madeirando” casas. “Foi assim que fiz as primeiras peças, fazia um carro de boi com sua carga, aí dava de presente aos conhecidos. Mas não me via ainda como artesão. Quando voltei aqui pra Belo Monte, comecei a mexer com barro”, completa.

Jasson confessa que sempre foi apaixonado pela madeira, ainda na roça. “Eu via um galho e já tirava um bicho com o facão, um pássaro, por exemplo, que já tava desenhado na minha cabeça”, diz. A descoberta de que poderia viver da arte só veio quando ele conheceu os artistas plásticos Maria Amélia Vieira e Dalton Costa. 

“Ela chegou na cidade querendo saber quem trabalhava com artesanato e me achou. Fez uma encomenda de peças em madeira e eu disse que não sabia trabalhar com isso. Ela então pegou um pedaço de imburana e mandou eu cortar em dois, pra fazer um casal de bonecos, com meio metro cada um. Eu mesmo me admirei com o resultado, recorda.

Esse foi apenas o começo de uma carreira que despontou para o Brasil com as cadeiras que mais parecem tronos. “A primeira cadeira que eu fiz tinha até medo de sentar, porque não tinha nenhum prego, só pino. Daí pra cá não parei mais. Faço elas assim, depois pinto, coloco os adornos. Parece mesmo um trono”, diz.  

O artista conta que trata a madeira como se fosse um ser vivo. “Ela mesmo se explica como quer ficar. E isso é uma coisa incrível, difícil de explicar. Parece uma força que pega na minha mão e faz”, completa. 

Mestre Jasson encontra terreno fértil para sua arte na fantasia representada pela  exuberância imagética do sertão. As famosas cadeiras, as carrancas, os animais, os santos católicos e até os seres imaginários: tudo que a imaginação alcançar ganham vida a partir do entalhe da madeira e do uso das cores, vivas como a natureza que brota na caatinga. 

Apesar de trabalhar há décadas como carpinteiro, a arte de Jasson foi uma descoberta que veio com maturidade. Em 2016, depois de participar de uma imersão com artesãos da Ilha do Ferro, que reuniu designers e artistas plásticos no Projeto Afluentes. 

Foi quando o universo fantástico criado pelo mestre ganhou os salões de exposições, os eventos do setor e o interesse cada vez maior de curadores, galeristas e lojistas de todo país.

“Quando alguém me elogia, fico meio flutuando no ar. Caço a terra embaixo dos pés e não acho. Na verdade, acho que faço o que as pessoas gostam de ver. E eu aprendo com cada pessoa. Eu dou vida ao que já está dentro da madeira”, afirma sem esconder a emoção. 

Escolhendo as palavras, ele diz que talvez seja esse o segredo. “Parece uma coisa estranha e é. Porque eu mesmo não sei explicar. Quando dou fé, tá feito”, resume com timidez um dos mais respeitados artistas populares de Alagoas. 

Fonte: Cada Minuto, “O universo encantado do Mestre Jasson”, publicado por Guilherme Lamenha, em 13 de dezembro de . Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.


História de vida de Jasson | Artesol

Jasson Gonçalves da Silva (1954) vive na zona rural do município de Belo Monte, Alagoas. Trabalhou na roça desde criança, cultivou e ainda cultiva milho, feijão, algodão e cria pequenos animais. Por volta dos 20 anos, mudou-se para Camaçari – BA, onde ficou por cerca de 15 anos. Nesse período trabalhou na construção civil como servente de pedreiro, foi soldador, carpinteiro, entre outras atividades. Também trabalhou em uma fábrica cerâmica de pré-moldados, criando peças que seriam reproduzidas por meio de moldes de gesso. Como carpinteiro, produziu muitos móveis, como bancos, cadeiras, mesas, entre outras peças.

Ao retornar para Alagoas, tentou sem sucesso continuar a produção de peças de cerâmica, pois o barro disponível na região é apropriado. Voltou a trabalhar na roça, cultivando e produzindo leite, além de prestar serviço de mecânico para consertar arados e maquinários agrícolas para agricultores da região.

Em 2012, recebeu a visita de Maria Amélia Vieira e Dalton Costa, casal proprietário da Galeria Karandash em Maceió e que viajavam pela região do Baixo São Francisco em busca de artistas populares. O casal sugeriu que Jasson fizesse esculturas de madeira, e seguindo o conselho, Jasson esculpiu um casal de bonecos que saiu à semelhança de imagens religiosas. 

Por trabalhar na roça, Jasson tinha intimidade com a madeira, ainda que desconfiasse de sua capacidade de produzir arte em um primeiro momento. No trabalho diário no campo, é preciso cortar galhos caídos, confeccionar ferramentas, cercas e carros de boi. Jasson diz que já tinha o conhecimento para lidar com a madeira, mas a capacidade de produzir arte é inata, um dom recebido: “vim aprendido, graças a Deus”.

A partir do contato com os galeristas, Jasson foi se inserindo em um contexto artístico fortemente influenciado pela arte produzida na Ilha do Ferro, que fica a cerca de 40 km de Belo Monte. Em 2015 participou do projeto Encontro de Mestres, interagindo com Aberaldo Sandes, Petrônio Farias, Valmir Lessa, Zé de Tertulina e Chico Cigano. Em 2016, participou do projeto “Afluentes”, desenvolvido pelo Grupo Design Armorial apoiado pela Universidade Estadual de Alagoas. O projeto tinha como objetivo criar peças a partir do design participativo, unindo os artistas populares e designers. Nesse projeto, Jasson co-criou com Dalton Costa duas luminárias e a instalação “Pássaros do sertão”, que integraram uma exposição realizada em São Paulo e dedicada a apresentar os resultados do projeto.

A partir da interação e contato com a estética da arte popular da Ilha do Ferro, e entendendo o prestígio e o reconhecimento que as peças produzidas na região tinham no circuito de arte popular, Jasson sentiu a necessidade de se dedicar a criar sua própria linguagem. Nesse esforço criativo de encontrar sua própria voz artísticas, nasceram suas cadeiras ricamente ornamentadas, malas, carrancas, esculturas de árvores e outras esculturas.

O reconhecimento e a circulação do trabalho de Jasson tomaram novo fôlego com a visita de Renan Quevedo, pesquisador e comunicador do projeto Novos para Nós, em 2018. Renan abriu caminhos e facilitou o contato de Jasson com galeristas e outros consumidores. Suas peças participaram de exposições, como a do Festival Criativos por Tradição realizado pela Artesol entre 2018 e 2019 no Rio de Janeiro. E alcançou projeção internacional por meio da participação na Mostra Be Brasil, no Fuorisalone da Semana de Design de Milão (2019), produzida pela Marco500.

Em 2021 recebeu o Prêmio Gustavo Leite de Artista Popular do Museu Théo Brandão. No mesmo ano aconteceu a exposição O sol nasce para todos, realizada pelo Museu, pela Companhia Brasileira de trens Urbanos e pelo Projeto Novos para Nós, inteiramente dedicada ao artista.

Obra e processo criativo

Jasson é inquieto, acorda antes do sol nascer. Diz que quem dorme pouco vive melhor a vida. Cria peças únicas esculpidas em madeira, que podem ou não receber pintura. Por vezes agrega à madeira outros elementos, como cordas e cerâmica industrial. Algumas peças, como as carrancas e cajados, possuem entalhes espiralados que remetem à roda e fuso da casa de farinha, atualizando suas lembranças de infância, pois seu avô era mestre no entalhe dessas peças.

A partir das sugestões de pessoas do circuito da arte popular, Jasson cria suas obras justapondo elementos que não são imediatamente óbvios para gerar curiosidade em quem observa. Essa lógica inusitada de combinações de formas, temas e cores levaram o trabalho de Jasson a ser caracterizado pela crítica como “fantástico sertanejo”, dialogando com o imaginário popular nordestino, que também se manifesta na literatura, na música e no teatro.

Além de se inspirar na natureza que o cerca, como as flores coloridas e exuberantes da caatinga, Jasson costuma sonhar com as peças, ou imaginar o que quer criar durante a noite. Ele não faz esboços e não marca a madeira com lápis para iniciar os trabalhos. Imagina a peça e “desenha com a ferramenta”, por meio do entalhe. 

Não corta árvores para produzir suas peças, utilizando galhos e madeiras caídos coletados em sua região, muitas vezes trazidos pelos rios. E não utiliza parafusos nem pregos, apenas pinos de madeira para a montagem das peças.

Muitas vezes mobiliza a própria forma tortuosa da madeira para dar vida a novos seres e objetos. Os galhos retorcidos são característicos das árvores da caatinga, como timbaúba e imburana, carregando ainda mais suas peças de significado simbólico. 

Jasson, observador atento, diz que a madeira é viva, basta prestar atenção. Ela mesma explica como quer se transformar.

Fonte: Arte dos Mestres, “Jasson Gonçalves da Silva”. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.


Dos sonhos a realidade: Jasson transforma galhos em esculturas vibrantes | Follow the Colors

Jasson Gonçalves da Silva (1954), mais conhecido como Jasson Artesão, é uma figura emblemática do artesanato brasileiro. Autodidata, transforma madeiras e galhos em verdadeiras obras de arte. Cada criação é um convite ao encanto e à reflexão. Suas peças, ricas em detalhes, cores vibrantes e cheias de sobreposições, geram curiosidade, chamando a atenção de colecionadores, lojistas e galeristas de todo o país.

Nascido em Belo Monte, Alagoas, Jasson tem uma longa trajetória no campo e em diferentes ofícios. Desde criança, vive na roça, onde ainda hoje cria, cultiva milho, feijão, algodão e cria animais. Jovem, mudou para Camaçari-BA, e lá ficou por 15 anos, atuando na construção civil e em uma fábrica de cerâmica, além de desempenhar funções como carpinteiro.

Ao retornar para Alagoas, continuou no campo e prestou serviços como mecânico. Em 2012, foi descoberto por proprietários de uma galeria de arte, que o incentivaram a esculpir em madeira. Jasson, que já tinha habilidade, aceitou o desafio e criou bonecos que lembram imagens religiosas, revelando um talento inato para a arte.

A partir de 2015, inseriu-se no cenário artístico. Inspirado pela arte popular local e seu reconhecimento, decidiu criar uma linguagem própria. Neste processo, desenvolveu cadeiras ornadas, malas, carrancas e esculturas, estabelecendo sua identidade no mundo artístico. As obras, resultado de uma fusão entre tradição e inovação, destacam por sua originalidade e apelo cultural.

“Eu me inspiro em mim mesmo. A realidade é que eu trabalho na cadeira toda ela diferente, mas pelo motivo da madeira, porque a madeira não se arruma por igual, porque isso aí é coisa da natureza, e pela madeira não ser igual, eu faço a montagem de cada uma diferente da outra”. — Jasson Artesão

De Alagoas para o mundo

As criações de Jasson ganharam mais visibilidade e prestígio em 2017 quando foram destacadas na MADE – Mercado Arte Design, famosa feira de design que ocorre em São Paulo. O evento marcou um importante passo em sua carreira, expandindo sua influência no cenário artístico e de design. Logo, o artista alcançou reconhecimento internacional ao participar da Semana de Design de Milão em 2019.

“O artesão alagoano Jasson, antes de produzir, sonha”

Além de encontrar inspiração na natureza, nas flores e na caatinga, o mestre artesão tem um método único de criação. Não utiliza esboços nem marcações prévias na madeira. Em vez disso, diz que sonha com suas obras ou as concebe mentalmente durante a noite. Para dar forma às ideias, entalha diretamente na madeira, permitindo que sua imaginação o guie.

Jasson utiliza exclusivamente galhos e madeiras caídas, frequentemente transportados pelos rios perto de sua casa. Não usa parafusos ou pregos, optando por pinos, também em madeira. Aproveita a forma natural e torta dos galhos, típicos de árvores da caatinga como timbaúba e imburana, transformando-os em objetos cheios de simbolismo.

Fonte:  Follow The Colors, “Dos sonhos a realidade: Jasson transforma galhos em esculturas vibrantes”, publicado por Carol T. Moré, em 19 de julho de 2024. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.


Museu Théo Brandão entrega Prêmio Gustavo Leite ao artista Jasson | Universidade Federal de Alagoas

Do Sertão de Alagoas para o mundo. Assim tem sido a trajetória de Jasson, artista que alcançou espaços em importantes eventos de design no Brasil e fora do país. No dia 2 de dezembro, às 19h30, o Museu Théo Brandão (MTB) vai homenageá-lo com a entrega do Prêmio Gustavo Leite de Artista Popular de 2021, que chega a sua 14ª edição. No evento, que vai acontecer na Companhia Brasileira de trens Urbanos (CBTU), também haverá a abertura da mostra O sol nasce para todos, realizada pelo Museu, pela CBTU e pelo Projeto Novos para Nós.

Até o dia 2 de fevereiro, cadeiras, carrancas e esculturas são algumas das peças exibidas nesta primeira exposição individual de Jasson. Uma intervenção da artista visual Ser’tão vai compor a mostra, que tem a curadoria de Renan Quevedo.

O curador explica que o momento atual da pandemia foi uma influência para intitular a mostra O sol nasce para todos. “O nome da exposição traz esse sopro de esperança. A gente está passando pela pandemia. Se tudo der certo, caminhando para o final. Então, eu acredito que é um grande empurrão para as pessoas que trabalham muito com a resiliência, com o acreditar”, ressaltou Quevedo.

Antes de participar da mostra com uma intervenção que vai acontecer em um dos vagões antigos e no ponto de ônibus em frente à CBTU, a artista Ser’tão já vinha fazendo um trabalho em parceria com Jasson. “É uma honra imensa fazer parte com um pouco do meu trabalho. Estou muito feliz e lisonjeada. Estar no contexto em que esse artista vai ganhar um prêmio é emocionante. É supermerecido. Ele é um grande mestre, um ícone da cultura alagoana, com um trabalho que tem uma autenticidade absurda, tanto que está ganhando todo esse repertório, até mundial. Fui convidada pelo Museu e, ao mesmo tempo, eu e ele vínhamos executando um trabalho paralelo com a nossa arte. Foi uma congruência de coisas que deram certo”, contou.

O projeto expográfico da mostra foi realizado pela museóloga Hildênia Oliveira e pelas arquitetas Cynthia Fortes e Thaisa Sampaio. “Há quase um ano estamos planejando essa grande exposição. Foi um verdadeiro desafio fazê-la nesta pandemia, mas foi uma rica experiência para toda a equipe. O resultado é um projeto convidativo, colorido e vibrante, assim como a arte popular de Jasson. Carrancas, malas, as inigualáveis cadeiras e garrafas do mestre foram integradas às referências da paisagem sertaneja de onde foram criadas e traduzem a grandeza da obra deste nosso artista alagoano de renome internacional”, disse Cynthia Fortes.

O Sertão revelado em obra de arte

O artista, cujo nome de batismo é Jasson Gonçalves da Silva, nasceu em Belo Monte. Por volta dos 18 anos de idade, foi morar no interior da Bahia, onde viveu por 15 anos e trabalhou na construção civil. “Antes, eu trabalhei na roça e quando fui para a Bahia, aprendi a profissão de pedreiro e carpinteiro. Então, já comecei a trabalhar diretamente com madeira, levantava casa, rebocava, deixava pronta”, contou o artista, que voltou a trabalhar na roça quando retornou a Alagoas.

A entrada para o universo artístico aconteceu por volta de 2013. Antes de trabalhar com madeira na confecção da arte, Jasson fazia esculturas em gesso e cerâmica. A madeira transformada revelou o universo do Sertão em obra de arte e, aos poucos, a vida de Jasson foi mudando. “Uso madeira de diversas qualidades, não é um tipo só, o que eu vou encontrando pela frente, madeira morta, que não serve mais para o pessoal da região, eu busco e transformo em obra de arte. Até dois ou três anos atrás, vivia da agricultura e da arte, mas, hoje, passei a viver só da arte”, explicou.

No início do processo artístico, Jasson criava imagens religiosas nas esculturas em madeira. Com o tempo, a produção foi se diversificando e surgiram garrafas, carrancas, malas, cadeiras e esculturas da fauna e da flora sertanejas, com a marca e o colorido próprios do artista.

Outro momento decisivo nessa mudança de vida foi o encontro com o atual curador, o publicitário paulista Renan Quevedo. “Ele foi a minha luz no fim do túnel. Chegou aqui sem eu esperar, mas foi o início de tudo quando ele me lançou para o mundo e, hoje, eu não tenho palavras para descrever a emoção e a gratidão a Renan”, disse Jasson.

Em 2018, Renan estava em Alagoas, realizando um trabalho de pesquisa para o projeto Novos para nós – no qual ele percorre o Brasil contando as histórias de artistas populares – e ao passar por Batalha, soube que Jasson morava na região. “Eu tinha ouvido falar do trabalho dele com algumas galerias e colecionadores específicos. Conheci o ateliê e vi peças absolutamente incríveis. Embora ele tivesse toda uma capacidade e produzisse coisas sensacionais, na época, a parte mercadológica estava muito difícil. Nesse primeiro contato, eu já fiz questão de falar sobre o trabalho dele no ‘Novos para nós’. Escrevi a história e postei. Lojistas, galeristas, muitas pessoas me pediram o contato dele. Eu fiz questão de passar porque achava que ele deveria comercializar para mais pessoas do que estava vendendo na época e que pudesse ter um reconhecimento, uma valorização pelo trabalho. Em pouco mais de um ano, uma cadeira produzida por ele foi para a Semana de Design de Milão, ou seja, ele explodiu, ganhou o mundo. Muitas pessoas começaram a comprar dele. Ele passou a ter um retorno muito expressivo pelo trabalho”, contou o curador.

Pelo mundo

Foram várias participações em feiras e exposições de arte e design. Em 2017, peças de Jasson integraram a exposição Natureza: matéria e forma, uma das mostras do Mercado Arte Design (Made), uma feira internacional de design colecionável, que acontece na capital paulista. No ano seguinte, cadeiras do artista foram expostas na mostra Criativos por tradição, no Festival Artesol, sediado no Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico, do Rio de Janeiro.

Em 2019, Jasson estreou em feiras do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), participando de eventos em Pernambuco, São Paulo e Maceió. Uma de suas criações foi exposta na Design Weekend, a semana de design paulistana. O artista também foi destaque em jornais e portais de notícias de todo o país, com a notícia de que uma de suas obras esteve exposta no Salão Internacional do Móvel de Milão, evento considerado o maior do setor no mundo. Batizada de “O trono”, a peça de Jasson que foi exposta é uma cadeira multicolorida, com pássaros, carrancas e frutos da caatinga.

O prêmio

O curador considera a homenagem do MTB um enorme incentivo para o artista e outros artesãos locais. “Essa premiação do Museu para o Jasson é uma celebração. Fico muito feliz desse prêmio ser entregue. É um grande empurrão da economia local para que haja o despertar de outros na mesma produção, no entorno da cidade onde ele mora. Jasson me disse uma frase muito emocionante, que é a primeira exposição que ele vai na vida. Nada que consiga mostrar um grande reconhecimento da obra do que ele mesmo estando no centro dessa história”, disse Renan Quevedo.

A premiação realizada pelo MTB presta uma homenagem ao produtor cultural, iluminador e cenógrafo alagoano Gustavo Leite, que atuou junto aos artistas do interior do Estado, na divulgação e na comercialização de suas obras. Esta é a 14ª edição da entrega do prêmio.

Em 2019, foi instituída uma comissão para discutir e aprovar o nome a ser homenageado. Fizeram parte da comissão a museóloga Carmen Lúcia Dantas, os fotógrafos Celso Brandão e Jorge Vieira, o arquiteto Rodrigo Ambrosio, a galerista Maria Amélia, o diretor do MTB, Victor Sarmento, e a museóloga da instituição, Hildênia Oliveira. E o artista Jasson foi o escolhido para receber o Prêmio Gustavo Leite.

Artista revelado

Jasson conta que se surpreendeu após confeccionar as obras iniciais e que o resultado foi um aumento do incentivo. “Quando eu fiz as primeiras peças, aquilo me chamou muito a atenção e dali eu fui me inspirando em cada peça que eu fazia. Me incentivei em mim mesmo. A inspiração surge do dom que Deus deu. Quando, durmo eu sonho com uma peça e na manhã seguinte eu já coloco a mão na massa. Eu não aprendi ainda, estou aprendendo. Quanto mais a gente trabalha, mais a gente aprende porque o artista não sabe, o artista cria”, declarou.

Fonte: Universidade Federal de Alagoas, “Museu Théo Brandão entrega Prêmio Gustavo Leite ao artista Jasson", publicado por Jacqueline Batista, em 12 de novembro de 2021. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.

Crédito fotográfico: Universidade Federal de Alagoas, imagem do artista em seu ateliê. Publicado em 12 de novembro de 2021. Consultado pela última vez em 2 de setembro de 2025.

Arremate Arte
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