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Roberto Rodrigues

Apesar da breve carreira, é reconhecido pelo talento com a ilustração, técnica da maioria de seus trabalhos, publicados em diversos periódicos no começo do século 20.

Um dos 14 filhos do jornalista Mário Rodrigues (1885-1930) e de Maria Esther Falcão Rodrigues (1887-1973), Roberto muda-se pequeno do Recife para o Rio de Janeiro, onde o pai funda os jornais A Manhã (1925) e Crítica (1928). Com talento precoce, começa a desenhar aos cinco anos e, aos 13, publica desenhos em uma revista infantil. Em 1923, aos 17, inicia educação formal em artes visuais ao ingressar na Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Nela, torna-se colega de Candido Portinari (1903-1962) e conhece sua futura esposa, Elsa Fernanda Mendes de Almeida (1905-2005), que assiste aulas como aluna ouvinte. Roberto e Elsa casam-se em 1927 e dessa união nascem 3 filhos: Vera, Maria Teresa e o primogênito, Sergio Rodrigues (1927-2014).

Aos 21 anos, em 1927, lança a revista semanal Jazz. Dirigida por seu irmão Milton, tem como proposta comentar, com requinte visual, o ritmo da vida moderna. Apesar da curta existência – não chega a 10 edições –, a repercussão do periódico contribui para inserir Roberto nos círculos intelectuais do Rio de Janeiro. Suas ilustrações também são publicadas na revista de variedades Para Todos e acompanham as principais matérias do jornal de seu pai, Crítica, para o qual escreve eventualmente críticas de arte. Seus artigos refletem forte oposição aos pintores acadêmicos e ao modelo de gestão da Enba, o mais importante centro de efervescência cultural da época. Seu texto mira os jurados dos Salões de Arte organizados pela instituição que considera corruptos, obtusos e responsáveis pela ausência de nomes como os de Victor Bercheret (1894-1955) e Ismael Nery (1900-1934) nas mostras. Lamenta, ainda, a falta de opções que possibilitem mais visibilidade aos artistas. Apesar das críticas, a Enba premia suas obras com menções honrosas, em duas edições do Salão, em 1926 e 1928.

Uma das influências de Roberto é o ilustrador e autor britânico Aubrey Beardsley (1872-1898). Este, expoente do estilo Art Nouveau, é autor de trabalhos gráficos com temas eróticos, de expressão grotesca e decadente, famosos na Europa. Assim como Beardsley, Roberto desenha personagens obcecados por sexo, com tendência para o trágico e traço elegante, privilegiando o uso do nanquim preto e vermelho.

A verve crítica encontra-se em seus trabalhos, que, apesar de inseridos nas vanguardas estéticas da modernidade, apresenta tom moralista, correspondente com a visão de mundo da época. O universo urbano é o lugar para seus personagens em cenas de suicídios e assassinatos, na dualidade temática paixão-morte. Uma das críticas da época reconhece Roberto como talento promissor e aponta para o aspecto sintético de suas composições, no limite da abstração.

Roberto produz pouco em pintura. Destacam-se dois autorretratos realizados em óleo sobre tela: O Pintor Como Louco, de 1925, e outro inacabado, iniciado no ano seguinte.

O artista conhece o pintor Candido Portinari na universidade e a admiração entre eles é mútua. Dividem ateliê nas proximidades do Largo do Machado, e a família Rodrigues é retratada várias vezes nas telas de Portinari. Entre elas, destacam-se dois retratos de Roberto Rodrigues: um de 1924 (óleo sobre tela, assinada e datada na metade inferior à direita, 45,5 x 35 cm) e outro de 1927 (guache sobre papel, 37,5 x 37,5 cm). Portinari reforça que Roberto teria sido o maior artista de sua geração, se não tivesse morrido aos 23 anos.

Após sua morte, diversas exposições póstumas são realizadas. A primeira, em 1930, no Liceu de Artes e Ofícios, já estava sendo organizada antes de sua morte. A mostra reúne mais de 4 mil visitantes em apenas duas semanas.

Em 1974, a jornalista Neila Tavares (1948) compila grande parte de sua obra no artigo “Desenhos de Roberto Rodrigues” (1974), na revista Cordel Urbano. O documentário curta-metragem Roberto Rodrigues (1986), dirigido por Tunico Amâncio (1951), que aborda a morte de Roberto, é premiado no Festival de Cinema de Havana em 1987.

A Galeria A. S. Stúdio apresenta, em 1993, 47 obras do artista e, em 1999, a Casa de Cultura Arruda Alvim no Rio de Janeiro apresenta 5 ilustrações na mostra Folia do Traço. Em 2004, no Centro Cultural Banco do Brasil (em Brasília e no Rio de Janeiro), obras de Roberto são apresentadas junto a uma mostra sobre seu irmão, o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980). Em 2016, a Mostra Roberto, um Certo Rodrigues é realizada no Museu Nacional de Belas Artes por ocasião do recebimento de 70 obras doadas postumamente por Sergio Rodrigues, atendendo o desejo de manutenção e promoção dos documentos históricos e trabalhos de seu pai. O Itaú Cultural, na exposição – Sergio Rodrigues (2018), apresenta, em paralelo à exposição retrospectiva com as peças de mobiliário de Sergio, ilustrações e documentos históricos.

Roberto Rodrigues, em sintonia com as vanguardas do modernismo dos anos 1920, em suas ilustrações para a imprensa, pinturas e em seus desenhos, apresenta um traço inconfundível, com predileção ao trágico, retratando momentos de angústia em seus personagens.

Fonte: ROBERTO Rodrigues. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa286772/roberto-rodrigues>. Acesso em: 12 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

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Sergio Rodrigues - O Brasil na ponta do lápis
Texto e pesquisa: Regina Zappa

Uma tragédia de marcas profundas

A morte do pai foi durante muito tempo um mistério para Sergio

A lembrança mais remota que Sergio tinha da infância era a cena do pai e da mãe sentados no sofá que ele enxergava da sua caminha. Era das poucas imagens que guardava do pai, Roberto Rodrigues, assassinado nesta época, quando Sergio tinha 2 anos. Lembra-se também do pai andando a cavalo, vestido de vaqueiro, e a mãe também a cavalo, acompanhando o pai na fazenda de uns amigos da família em Cabo Frio, para onde Sergio foi levado para ganhar peso assim que nasceu.

Roberto Rodrigues nasceu em Recife e veio para o Rio de Janeiro ainda bem pequeno com a mãe Maria Esther Falcão Rodrigues e o pai Mário Rodrigues, avó e avô de Sergio. Patriarca pernambucano do clã dos Rodrigues e jornalista muito conhecido em Recife, Mário trabalhava no Diário de Pernambuco quando teve que se mudar definitivamente para o Rio de Janeiro, por problemas políticos, em 1912, com a mulher e os filhos Milton, Roberto, Mário Filho e Nelson. Mário foi considerado um dos mais combatentes e corajosos jornalistas brasileiros do começo do século XX.

Ao chegar ao Rio, a família foi morar na rua Alegre, em Aldeia Campista, bairro depois absorvido pelos vizinhos Andaraí, Maracanã, Tijuca e Vila Isabel. Já na capital, e depois de uma passagem tumultuada pelo jornal Correio da Manhã, com acusações políticas e uma pequena temporada na prisão, Mário fundou seu primeiro diário no Rio, A Manhã, em 1925, onde era cronista de retórica demolidora. Um dos mais temidos cronistas de sua época, com textos ferinos e brilhantes, Mário revolucionou o jornalismo, mas seu estilo corrosivo acabou por voltar-se contra ele e provocaria uma grande tragédia na família.

Segundo o portal Biblioteca Nacional Digital do Brasil, A Manhã era “um matutino versátil, com doze páginas em tamanho standard, bem montado, com bom uso de imagens (...). Crítico aguerrido, usava linguagem mordaz, panfletária, demagógica, além de bem-humorada e acessível. Confrontava o autoritarismo, as oligarquias e a estrutura política da República Velha, buscando comprometimento com causas populares.” Mário Rodrigues era, portanto, temido pelo jornalismo ousado que praticava e que desagradava a muita gente. No seu tempo, foi considerado um dos mais combatentes e corajosos jornalistas brasileiros do começo do século XX.

No Rio, Mário e Esther tiveram outros filhos e filhas (ao todo foram 14) e Roberto foi desde cedo trabalhar com o pai como ilustrador do jornal. Ele estudara na escola de Belas Artes e era considerado exímio desenhista. A família de Roberto era de artistas e intelectuais. Nelson Rodrigues, irmão mais novo que Roberto, foi do jornalismo à dramaturgia, tornando-se um dos mais importantes autores brasileiros. Mas essa fama não foi testemunhada por Roberto, que morreu tragicamente ainda muito jovem, quando o irmão Nelson tinha apenas 15 anos.

Entre pinceladas e desenhos na escola de Belas Artes, Roberto, homem sedutor, bonitão, bom escritor e ilustrador talentoso, um verdadeiro Rodolfo Valentino da época, apaixonou-se por Elsa Fernanda Mendes de Almeida, que também cursava a faculdade, como ouvinte. Só assim sua família permitiu que ela fosse à faculdade. Neta única de Fernando Mendes Almeida, membro de família católica da sociedade carioca, de intelectuais ligados à Igreja, entre os quais se destacou mais tarde Dom Luciano Mendes de Almeida, Elsa teve que enfrentar a oposição da família em seu namoro com Roberto. A família dela não queria que ela se casasse com o integrante de uma família tão mal vista. Mas a gravidez inesperada resultante da grande paixão selou o casamento dos dois jovens. Sergio não deixou de comentar com bom humor o acontecido: “Não sei dos detalhes, mas consta que eu já tinha sido feito antes do casamento. É uma coisa meio nebulosa.”

Depois de deixar A Manhã, Mário fundou A Crítica, em 1928. Foi nesse jornal que alguns de seus filhos estrearam na carreira jornalística. Quando era dono da Crítica ele foi preso novamente e condenado por uma matéria não assinada em que usineiros pernambucanos eram denunciados por presentearem a então primeira-dama, Mary Pessoa, com um colar de diamantes. Mário cumpriu pena e voltou para o jornal. Seu estilo agressivo permeava a linha editorial do jornal e ele próprio chegou a dizer, certa vez, que “um dia alguém da Crítica ainda levará um tiro”.

Dito e feito. Um dia, em 1929, o jornal publicou uma matéria sobre um rumoroso caso de desquite, num tempo em que as separações conjugais eram tabu. A Crítica noticiou com estardalhaço o divórcio entre Sylvia Serafim e João Thibau Jr. Sylvia não suportou o escândalo e entrou na redação do jornal com uma arma na mão, disposta a matar Mário Rodrigues. Como Mário não estava, ela foi atendida por Roberto, seu filho. Sylvia não vacilou: atirou em Roberto, que morreu três dias depois, aos 23 anos.

Como foi dito, Sergio tinha apenas 2 anos. Elsa não conseguiu ir ao enterro. O avô, Mário, não aguentou a dor da perda do filho provocada pelo tiro que era para ele, começou a beber muito e faleceu quatro meses depois.

A morte do pai foi durante muito tempo um mistério para Sergio. A família de sua mãe apressou-se em afastá-lo dos parentes do lado paterno e desconversava quando Sergio perguntava sobre o pai. A irmã de Sergio, Maria Tereza, tinha apenas 1 ano e a outra, Vera, não chegou a conhecer o pai porque Elsa estava grávida de três meses dela quando Roberto morreu.

Sergio não se conformava em nada saber sobre as circunstâncias da morte do pai. Isso o atormentava e foi o que o levou, aos 17 anos, à Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, em busca de informações. Pesquisou incansavelmente nos jornais da época. E conheceu a verdade. A Crítica havia feito inúmeras edições sobre o crime, que se tornou um escândalo em todos os jornais. Sergio ficou revoltado com o artigo que provocou toda a tragédia. Na nota sobre a mulher que se desquitava, havia um desenho que Roberto havia feito, a pedido de Mário, para ilustrar a notícia. Embora se lembre muito pouco do pai, ficou gravada na memória de Sergio uma cena que só veio à tona em uma sessão de psicanálise, muitos anos depois: Sergio foi levado ao velório do pai e colocado em cima do caixão.

Apesar da curtíssima convivência com Roberto, Sergio sempre admirou o traço do pai, firme e elegante, usado em suas pinturas e desenhos, nos telões cenográficos para teatro de revista ou nas ilustrações das matérias do jornal. Mas o que ficou gravado na memória afetiva de Sergio da obra do pai foi, segundo Maria Cecília Laschiavo, “a sensibilidade de flagrar, manusear e representar com o traço fluido aspectos do imaginário coletivo e do gosto pelas coisas da terra”. Sem dúvida, uma herança que deixou para Sergio.

Fonte e crédito fotográfico: Roberto Rodrigues (pai) com Sergio Rodrigues (1 ano de idade) em sua residência na rua Joaquim Nabuco – Copacabana, Rio de Janeiro, 1928, consultado em 12 de março de 2020 no site: http://www.institutosergiorodrigues.com.br/Biografia/4/Uma-tragedia-de-marcas-profundas .

Roberto Rodrigues

Apesar da breve carreira, é reconhecido pelo talento com a ilustração, técnica da maioria de seus trabalhos, publicados em diversos periódicos no começo do século 20.

Um dos 14 filhos do jornalista Mário Rodrigues (1885-1930) e de Maria Esther Falcão Rodrigues (1887-1973), Roberto muda-se pequeno do Recife para o Rio de Janeiro, onde o pai funda os jornais A Manhã (1925) e Crítica (1928). Com talento precoce, começa a desenhar aos cinco anos e, aos 13, publica desenhos em uma revista infantil. Em 1923, aos 17, inicia educação formal em artes visuais ao ingressar na Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Nela, torna-se colega de Candido Portinari (1903-1962) e conhece sua futura esposa, Elsa Fernanda Mendes de Almeida (1905-2005), que assiste aulas como aluna ouvinte. Roberto e Elsa casam-se em 1927 e dessa união nascem 3 filhos: Vera, Maria Teresa e o primogênito, Sergio Rodrigues (1927-2014).

Aos 21 anos, em 1927, lança a revista semanal Jazz. Dirigida por seu irmão Milton, tem como proposta comentar, com requinte visual, o ritmo da vida moderna. Apesar da curta existência – não chega a 10 edições –, a repercussão do periódico contribui para inserir Roberto nos círculos intelectuais do Rio de Janeiro. Suas ilustrações também são publicadas na revista de variedades Para Todos e acompanham as principais matérias do jornal de seu pai, Crítica, para o qual escreve eventualmente críticas de arte. Seus artigos refletem forte oposição aos pintores acadêmicos e ao modelo de gestão da Enba, o mais importante centro de efervescência cultural da época. Seu texto mira os jurados dos Salões de Arte organizados pela instituição que considera corruptos, obtusos e responsáveis pela ausência de nomes como os de Victor Bercheret (1894-1955) e Ismael Nery (1900-1934) nas mostras. Lamenta, ainda, a falta de opções que possibilitem mais visibilidade aos artistas. Apesar das críticas, a Enba premia suas obras com menções honrosas, em duas edições do Salão, em 1926 e 1928.

Uma das influências de Roberto é o ilustrador e autor britânico Aubrey Beardsley (1872-1898). Este, expoente do estilo Art Nouveau, é autor de trabalhos gráficos com temas eróticos, de expressão grotesca e decadente, famosos na Europa. Assim como Beardsley, Roberto desenha personagens obcecados por sexo, com tendência para o trágico e traço elegante, privilegiando o uso do nanquim preto e vermelho.

A verve crítica encontra-se em seus trabalhos, que, apesar de inseridos nas vanguardas estéticas da modernidade, apresenta tom moralista, correspondente com a visão de mundo da época. O universo urbano é o lugar para seus personagens em cenas de suicídios e assassinatos, na dualidade temática paixão-morte. Uma das críticas da época reconhece Roberto como talento promissor e aponta para o aspecto sintético de suas composições, no limite da abstração.

Roberto produz pouco em pintura. Destacam-se dois autorretratos realizados em óleo sobre tela: O Pintor Como Louco, de 1925, e outro inacabado, iniciado no ano seguinte.

O artista conhece o pintor Candido Portinari na universidade e a admiração entre eles é mútua. Dividem ateliê nas proximidades do Largo do Machado, e a família Rodrigues é retratada várias vezes nas telas de Portinari. Entre elas, destacam-se dois retratos de Roberto Rodrigues: um de 1924 (óleo sobre tela, assinada e datada na metade inferior à direita, 45,5 x 35 cm) e outro de 1927 (guache sobre papel, 37,5 x 37,5 cm). Portinari reforça que Roberto teria sido o maior artista de sua geração, se não tivesse morrido aos 23 anos.

Após sua morte, diversas exposições póstumas são realizadas. A primeira, em 1930, no Liceu de Artes e Ofícios, já estava sendo organizada antes de sua morte. A mostra reúne mais de 4 mil visitantes em apenas duas semanas.

Em 1974, a jornalista Neila Tavares (1948) compila grande parte de sua obra no artigo “Desenhos de Roberto Rodrigues” (1974), na revista Cordel Urbano. O documentário curta-metragem Roberto Rodrigues (1986), dirigido por Tunico Amâncio (1951), que aborda a morte de Roberto, é premiado no Festival de Cinema de Havana em 1987.

A Galeria A. S. Stúdio apresenta, em 1993, 47 obras do artista e, em 1999, a Casa de Cultura Arruda Alvim no Rio de Janeiro apresenta 5 ilustrações na mostra Folia do Traço. Em 2004, no Centro Cultural Banco do Brasil (em Brasília e no Rio de Janeiro), obras de Roberto são apresentadas junto a uma mostra sobre seu irmão, o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980). Em 2016, a Mostra Roberto, um Certo Rodrigues é realizada no Museu Nacional de Belas Artes por ocasião do recebimento de 70 obras doadas postumamente por Sergio Rodrigues, atendendo o desejo de manutenção e promoção dos documentos históricos e trabalhos de seu pai. O Itaú Cultural, na exposição – Sergio Rodrigues (2018), apresenta, em paralelo à exposição retrospectiva com as peças de mobiliário de Sergio, ilustrações e documentos históricos.

Roberto Rodrigues, em sintonia com as vanguardas do modernismo dos anos 1920, em suas ilustrações para a imprensa, pinturas e em seus desenhos, apresenta um traço inconfundível, com predileção ao trágico, retratando momentos de angústia em seus personagens.

Fonte: ROBERTO Rodrigues. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa286772/roberto-rodrigues>. Acesso em: 12 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

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Sergio Rodrigues - O Brasil na ponta do lápis
Texto e pesquisa: Regina Zappa

Uma tragédia de marcas profundas

A morte do pai foi durante muito tempo um mistério para Sergio

A lembrança mais remota que Sergio tinha da infância era a cena do pai e da mãe sentados no sofá que ele enxergava da sua caminha. Era das poucas imagens que guardava do pai, Roberto Rodrigues, assassinado nesta época, quando Sergio tinha 2 anos. Lembra-se também do pai andando a cavalo, vestido de vaqueiro, e a mãe também a cavalo, acompanhando o pai na fazenda de uns amigos da família em Cabo Frio, para onde Sergio foi levado para ganhar peso assim que nasceu.

Roberto Rodrigues nasceu em Recife e veio para o Rio de Janeiro ainda bem pequeno com a mãe Maria Esther Falcão Rodrigues e o pai Mário Rodrigues, avó e avô de Sergio. Patriarca pernambucano do clã dos Rodrigues e jornalista muito conhecido em Recife, Mário trabalhava no Diário de Pernambuco quando teve que se mudar definitivamente para o Rio de Janeiro, por problemas políticos, em 1912, com a mulher e os filhos Milton, Roberto, Mário Filho e Nelson. Mário foi considerado um dos mais combatentes e corajosos jornalistas brasileiros do começo do século XX.

Ao chegar ao Rio, a família foi morar na rua Alegre, em Aldeia Campista, bairro depois absorvido pelos vizinhos Andaraí, Maracanã, Tijuca e Vila Isabel. Já na capital, e depois de uma passagem tumultuada pelo jornal Correio da Manhã, com acusações políticas e uma pequena temporada na prisão, Mário fundou seu primeiro diário no Rio, A Manhã, em 1925, onde era cronista de retórica demolidora. Um dos mais temidos cronistas de sua época, com textos ferinos e brilhantes, Mário revolucionou o jornalismo, mas seu estilo corrosivo acabou por voltar-se contra ele e provocaria uma grande tragédia na família.

Segundo o portal Biblioteca Nacional Digital do Brasil, A Manhã era “um matutino versátil, com doze páginas em tamanho standard, bem montado, com bom uso de imagens (...). Crítico aguerrido, usava linguagem mordaz, panfletária, demagógica, além de bem-humorada e acessível. Confrontava o autoritarismo, as oligarquias e a estrutura política da República Velha, buscando comprometimento com causas populares.” Mário Rodrigues era, portanto, temido pelo jornalismo ousado que praticava e que desagradava a muita gente. No seu tempo, foi considerado um dos mais combatentes e corajosos jornalistas brasileiros do começo do século XX.

No Rio, Mário e Esther tiveram outros filhos e filhas (ao todo foram 14) e Roberto foi desde cedo trabalhar com o pai como ilustrador do jornal. Ele estudara na escola de Belas Artes e era considerado exímio desenhista. A família de Roberto era de artistas e intelectuais. Nelson Rodrigues, irmão mais novo que Roberto, foi do jornalismo à dramaturgia, tornando-se um dos mais importantes autores brasileiros. Mas essa fama não foi testemunhada por Roberto, que morreu tragicamente ainda muito jovem, quando o irmão Nelson tinha apenas 15 anos.

Entre pinceladas e desenhos na escola de Belas Artes, Roberto, homem sedutor, bonitão, bom escritor e ilustrador talentoso, um verdadeiro Rodolfo Valentino da época, apaixonou-se por Elsa Fernanda Mendes de Almeida, que também cursava a faculdade, como ouvinte. Só assim sua família permitiu que ela fosse à faculdade. Neta única de Fernando Mendes Almeida, membro de família católica da sociedade carioca, de intelectuais ligados à Igreja, entre os quais se destacou mais tarde Dom Luciano Mendes de Almeida, Elsa teve que enfrentar a oposição da família em seu namoro com Roberto. A família dela não queria que ela se casasse com o integrante de uma família tão mal vista. Mas a gravidez inesperada resultante da grande paixão selou o casamento dos dois jovens. Sergio não deixou de comentar com bom humor o acontecido: “Não sei dos detalhes, mas consta que eu já tinha sido feito antes do casamento. É uma coisa meio nebulosa.”

Depois de deixar A Manhã, Mário fundou A Crítica, em 1928. Foi nesse jornal que alguns de seus filhos estrearam na carreira jornalística. Quando era dono da Crítica ele foi preso novamente e condenado por uma matéria não assinada em que usineiros pernambucanos eram denunciados por presentearem a então primeira-dama, Mary Pessoa, com um colar de diamantes. Mário cumpriu pena e voltou para o jornal. Seu estilo agressivo permeava a linha editorial do jornal e ele próprio chegou a dizer, certa vez, que “um dia alguém da Crítica ainda levará um tiro”.

Dito e feito. Um dia, em 1929, o jornal publicou uma matéria sobre um rumoroso caso de desquite, num tempo em que as separações conjugais eram tabu. A Crítica noticiou com estardalhaço o divórcio entre Sylvia Serafim e João Thibau Jr. Sylvia não suportou o escândalo e entrou na redação do jornal com uma arma na mão, disposta a matar Mário Rodrigues. Como Mário não estava, ela foi atendida por Roberto, seu filho. Sylvia não vacilou: atirou em Roberto, que morreu três dias depois, aos 23 anos.

Como foi dito, Sergio tinha apenas 2 anos. Elsa não conseguiu ir ao enterro. O avô, Mário, não aguentou a dor da perda do filho provocada pelo tiro que era para ele, começou a beber muito e faleceu quatro meses depois.

A morte do pai foi durante muito tempo um mistério para Sergio. A família de sua mãe apressou-se em afastá-lo dos parentes do lado paterno e desconversava quando Sergio perguntava sobre o pai. A irmã de Sergio, Maria Tereza, tinha apenas 1 ano e a outra, Vera, não chegou a conhecer o pai porque Elsa estava grávida de três meses dela quando Roberto morreu.

Sergio não se conformava em nada saber sobre as circunstâncias da morte do pai. Isso o atormentava e foi o que o levou, aos 17 anos, à Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, em busca de informações. Pesquisou incansavelmente nos jornais da época. E conheceu a verdade. A Crítica havia feito inúmeras edições sobre o crime, que se tornou um escândalo em todos os jornais. Sergio ficou revoltado com o artigo que provocou toda a tragédia. Na nota sobre a mulher que se desquitava, havia um desenho que Roberto havia feito, a pedido de Mário, para ilustrar a notícia. Embora se lembre muito pouco do pai, ficou gravada na memória de Sergio uma cena que só veio à tona em uma sessão de psicanálise, muitos anos depois: Sergio foi levado ao velório do pai e colocado em cima do caixão.

Apesar da curtíssima convivência com Roberto, Sergio sempre admirou o traço do pai, firme e elegante, usado em suas pinturas e desenhos, nos telões cenográficos para teatro de revista ou nas ilustrações das matérias do jornal. Mas o que ficou gravado na memória afetiva de Sergio da obra do pai foi, segundo Maria Cecília Laschiavo, “a sensibilidade de flagrar, manusear e representar com o traço fluido aspectos do imaginário coletivo e do gosto pelas coisas da terra”. Sem dúvida, uma herança que deixou para Sergio.

Fonte e crédito fotográfico: Roberto Rodrigues (pai) com Sergio Rodrigues (1 ano de idade) em sua residência na rua Joaquim Nabuco – Copacabana, Rio de Janeiro, 1928, consultado em 12 de março de 2020 no site: http://www.institutosergiorodrigues.com.br/Biografia/4/Uma-tragedia-de-marcas-profundas .

Arremate Arte
Feito com no Rio de Janeiro

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