José Benedito Fonteles (Bragança, PA, 21 de março de 1953), mais conhecido como Bené Fonteles, é um artista visual, compositor, escritor, escultor, jornalista, curador de arte, xamã e poeta brasileiro. Iniciou sua carreira em 1971, expondo no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará e trabalhando como jornalista em Fortaleza. Ativista ambiental, as obras plásticas de Bené se baseiam na transformação de materiais simples em arte, utilizando elementos naturais ou pouco trabalhados pelo homem, como pedras, pedaços de troncos, cordas, tecidos rústicos e arame. Durante as décadas de 70 e 80, integra anualmente diversas exposições coletivas, nacionais e internacionais, ligadas à arte postal e a pesquisas de novos meios de expressão. Nesse período, participou de quatro edições da Bienal Internacional de São Paulo e envolveu-se em projetos e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Entre 1983 e 1986, dirigiu o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Em 1997, organiza a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim (1922-2001), no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA). Entre os livros que publicou, destacam-se O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Seu trabalho como compositor está reunido no CD Benditos, lançado em 2003, que agrupa três trabalhos anteriores, Bendito (1983), Silencioso (1989) e Aê (1991). Em 2003, recebeu da Presidência da República a comenda Ordem do Mérito Cultural. Bené realizou diversas mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior.
Biografia – Itaú Cultural
José Benedito Fonteles iniciou sua carreira em 1971, expondo no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará. Em Fortaleza, trabalha como jornalista. Durante as décadas de 1970 e 1980, integra anualmente diversas exposições coletivas, nacionais e internacionais, ligadas à arte postal e a pesquisas de novos meios de expressão. Nesse período, participou de quatro edições da Bienal Internacional de São Paulo (1973, 1975, 1977 e 1981). Realiza, ainda, a partir de 1974, diversas mostras individuais, no Brasil e no exterior.
Entre 1983 e 1986, dirige o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Na década de 1980, envolveu-se em projetos e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Em 1991, mudou-se para Brasília, onde mantém atuação como ativista ecológico e organizador de eventos artísticos. Em 1997, organiza a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA). Entre os livros que publicou, destacam-se O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Seu trabalho como compositor está reunido no CD Benditos, lançado em 2003, que agrupa três trabalhos anteriores, Bendito (1983), Silencioso (1989) e Aê (1991). Em 2003, recebe da Presidência da República a Comenda Ordem do Mérito Cultural.
Análise
O texto de Bené Fonteles para o catálogo de sua exposição Palavras e Obras inicia com a frase: "Eu gosto desta dúvida de transitar entre o que é arte e o que é artesanía"1. Ela diz muito sobre a obra plástica do artista, baseada sobretudo na transformação de materiais simples e muitas vezes frágeis, naturais ou pouco trabalhados pelo homem, tais como pedras, pedaços de troncos, cordas, tecidos rústicos e arame. Além desse tipo de suporte, Fonteles trabalha com a apropriação de objetos, sempre com o objetivo de transfigurá-los a partir da evocação de seu potencial poético, seja intervindo nesses objetos ou associando-os em instalações. Deve-se observar que grande parte dos materiais escolhidos pelo artista estão ligados à terra brasileira, uma opção que advém de sua postura política como ativista ambiental.
Fonteles procura recolocar o homem em contato com a energia poética contida na natureza, estimulando a imaginação do observador com vistas a escapar de conceitos e usos convencionais associados aos objetos que utiliza. Como o próprio artista reconhece, essa postura inspira-se em mais de uma geração de artistas atuantes no século XX, que procuram inspiração na relação entre homem, natureza e universo.
Críticas
"Para os trabalhos em xerox Bené se utiliza sobretudo do fotojornalismo, pois sua temática continua baseada na informação visual externa (como no caso das greves, Lula, séries de Lennon e Yoko Ono, etc.). Ao mesmo tempo, mantém seu artesanato no recorte das imagens, na composição e arranjo das mesmas, em sua justaposição e sobreposição - ou seja: a foto apropriada manipulada através do artesanato e a seguir submetida a máquina que lhe confere uma dignidade gráfica inexistente na simples colagem. E mais: uma vez xerocada essa imagem, com as distorções e efeitos que Bené já explora e sabe como conseguir, ele novamente retorna ao artesanal, amassando o papel impresso xerograficamente, ou recortando as imagens em xerox antes de reinserí-las em composição alternativa. Que por sua vez é submetida ao xerox como 'matrix' para uma imagem que ele possa considerar como definitiva. De uma tiragem que poderá repetir inúmeras vezes.
O resultado, em alguns trabalhos, como na série de Lula falando com o dedo em riste é, sem dúvida, o melhor, na utilização do xerox que temos visto entre nós" — Aracy Amaral (AMARAL, Aracy. Arte e meio artístico: entre a feijoada e o x-burguer: 1961 - 1981. Apresentação Ana Maria de Moraes Belluzzo. São Paulo: Nobel, 1983. 423 p).
"Bené Fonteles vem realizando uma obra, tendo sempre a natureza como fulcro e cerne. Poucos artistas nacionais seguem o processo indígena de sentir, como Fonteles. Para o índio não há diferença entre 'arte' e vida... A Arte de Bené é ecológica e é toda centrada em signos da natureza, ou seja, significantes que mudam de significados tão logo deixem as florestas e cerrados-, onde realmente existem em plenitude...
Como os índios, Bené faz arte como manifestação de alegria, pureza de viver, beleza de emocionar. Tendo como atelier a Chapada dos Guimarães, além de utilizar-se de material local com a nítida intenção de mostrar ao homo urbanus as delícias do viver natural, Bené nos indianiza, nos purifica e cria obra invulgar... Arte sem artificialismos, seja com a tecnologia urbana, seja com a tecnologia da selva" — Alberto Beuttenmüller, 1986
BEUTTENMÜLLER, Alberto. [Texto crítico]. In: FONTELES, Bené. Antes arte do que tarde: Bené Fonteles. Fortaleza: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, 1990.
Depoimentos
"É só pôr a tecnologia para o uso do artista: uma fotocopiadora, uma tesoura, letraset, cola, lápis, régua, ecoline, impressão offset papel/cor - usando-a para reinventar as paisagens e os fatos destruídos por ela, denunciar as atmosferas suspeitas. A arte é exercício da lucidez frente à realidade do homem oprimido em qualquer lugar do planeta. Que se crie através da amoralidade o princípio único da arte: uma democracia de concepções criativas múltiplas; que brote de cada ser na arte: alternativa - adormecida pelo entorpecimento da rotina; que de cada espírito nasçam seus desejos ancestrais...
A arte como experimento sendo veículo-meio de produção artística sem intenções de consumismo imediato, mas de ativismo das idéias para propor e decifrar enigmas contemporâneos; assim assume uma função verdadeira dentro do processo histórico: não ver o homem dentro de um processo vitrine, mas estar com ele dentro da vitrine e despertar-lhe, então o silêncio e o barulho, a sua consciência para quebrar o vidro que separa a vida da arte, e aí, a partir desta reação, perdermos a linguagem do medo, retornarmos à verdadeira função sensível - percepção biológica - filosófica - política de equilíbrio com o meio ambiente em que fomos reproduzidos, dentro da estrutura natureza-mente - evolução normal de onde fomos desencaminhados.
A arte experimental urbana é testemunha dos tempos trágicos; e usando os meios de expressão de grande tecnologia - avanços irrealistas frente à fome, eu disse 'à fome' geral que ainda nos ameaça - precisava-se resolver, através da ciência x arte, o problema espiritual e material da evolução humana. Semeando uma nova consciência na cabeça dos povos oprimidos, fazendo que, com o próprio exercício da reflexão crítica de sua condição, nasça o instinto da libertação. Antes arte do que tarde" — Bené Fonteles (FONTELES, Bené. Antes arte do que tarde: Bené Fonteles. Fortaleza: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, 1990).
Acervos
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil - São Paulo SP
Fundação Nacional de Arte - Funarte - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte Contemporânea de Porto Alegre - MAC - Curitiba PR
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP - São Paulo SP
Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará - Mauc - Fortaleza CE
Minimuseu Firmeza - Fortaleza CE
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris - Paris (França)
Museu da Universidade Federal do Pará - Museu da UFPA - Belém PA
Museu de Arte Contemporânea José Pancetti - MACC - Campinas SP
Museu de Arte e de Cultura Popular - Cuiabá MT
Museum of Modern Art - MoMA - Nova York (Estados Unidos)
Exposições Individuais
1974 - Fortaleza CE - Individual, na Galeria da Casa de Cultura Raimundo Cela
1974 - Fortaleza CE - Primeira individual, na Galeria Gauguin
1975 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1976 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1977 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1978 - Fortaleza CE - Investigações, na Sala Interarte
1979 - Fortaleza CE - Resultado, na Sala Interarte
1979 - São Paulo SP - Bené Fonteles: audiovisuais, no MAC/USP
1980 - Belém PA - Bené Fonteles: xerografias e colagens, na Galeria Um
1980 - Belém PA - Experimentos, na Universidade Federal do Pará
1980 - Belém PA - Gravuras Experimentais, na Galeria Theodoro Braga
1980 - Curitiba PR - Bené Fonteles: audiovisuais, no Museu Guido Viaro
1980 - Fortaleza CE - Exercícios Visuais, na Universidade Federal do Ceará
1980 - Rio de Janeiro RJ - Bené Fonteles: xerografias, na Galeria Gravura Brasileira
1980 - Rio de Janeiro RJ - Em Extermínio, na Funarte. Galeria Rodrigo Mello Franco de Andrade
1980 - San Salvador (El Salvador) - Ejercicios Visuales, na Sala Nacional de Exposiciones
1980 - São Paulo SP - Bené Fonteles: audiovisuais, na Pinacoteca do Estado
1981 - Cuiabá MT - Individual, na Galeria Laila Zahran
1981 - Porto Alegre RS - Yokos, no Espaço N.O.
1981 - São Paulo SP - Bené Fonteles: xerografias, colagens e outdoors, na Galeria Suzanna Sassoun
1981 - São Paulo SP - O Cartaz e a Obra, no Café Paris
1981 - São Paulo SP - Relações, no Gabinete Fotográfico da Pinacoteca do Estado
1982 - Cuiabá MT - Bené Fonteles: xerografias e colagens, na Estação Rodoviária de Cuiabá
1982 - São Paulo SP - Terra, na Pinacoteca do Estado
1983 - São Paulo SP - A Natureza do Artista, no CCSP
1984 - São Paulo SP - Individual, no Paço das Artes
1985 - Cuiabá MT - Mágicas, na Artegaleria
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na EAV/Parque Lage
1986 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, na Galeria Unidade Dois
1986 - São Paulo SP - Individual, no Paço das Artes
1987 - Porto Alegre RS - Antes Arte do que Tarde, no Cambona Centro de Artes
1987 - Rio de Janeiro RJ - Antes Arte do que Tarde, na Montesanti Galleria
1988 - Brasília DF - Antes Arte do que Tarde, na Galeria Espaço Capital
1988 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, na Paulo Figueiredo Galeria de Arte
1990 - Fortaleza CE - Antes Arte do que Tarde, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará
1990 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, no Masp
2001 - Brasília DF - Bené Fonteles: sudários, auto-retratos e obras de 1996 a 2001, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2001 - Brasília DF - Individual, na Referência Galeria de Arte
2004 - São Paulo SP - Ausência e Presença em Gameleira do Assuruá, no Sesc Pompéia
2004 - São Paulo SP - Palavras e Obras, na Estação Pinacoteca
Exposições Coletivas
1971 - Fortaleza CE - 1ª Expô Universiatária de Arte - prêmio especial
1971 - Fortaleza CE - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará
1971 - Fortaleza CE - Salão de Abril
1972 - Fortaleza CE - 22º Salão Municipal de Abril - sala especial
1972 - Fortaleza CE - 2ª Expô Universiatária de Arte
1973 - São Paulo SP - 12ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1974 - São Paulo SP - 8º Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP
1974 - São Paulo SP - Bienal Nacional 74, na Fundação Bienal
1975 - Rio de Janeiro RJ - 7º Salão de Verão, no MAM/RJ
1975 - São Paulo SP - 13ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1975 - São Paulo SP - 7º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - Lansing (Estados Unidos) - Modern Art in Brazil, no Kresge Art Museum
1976 - Rio de Janeiro RJ - 1º Arte Agora, no MAM/RJ
1977 - Amsterdã (Holanda) - Mail Art Exposition
1977 - São Paulo SP - 14ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1977 - São Paulo SP - Poéticas Visuais, no MAC/USP
1979 - Nova York (Estados Unidos) - Contemporary Brazilian Works on Paper: 49 artists, na Nobé Gallery
1980 - João Pessoa PB - Xerografias, no Núcleo de Arte Contemporânea
1980 - Lisboa (Portugal) - Mostra Internacional de Arte Postal, na Galeria Quadrum
1980 - Porto Alegre RS - Xerografias, no Espaço N.O.
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1980 - São Paulo SP - Destaque do Ano, no Masp
1980 - São Paulo SP - Fotografia como Suporte, na Foto Galeria
1980 - São Paulo SP - Poucos e Raros
1980 - São Paulo SP - Xerografias, na Pinacoteca do Estado
1981 - Boston (Estados Unidos) - Current Myths, no Art Institute of Boston
1981 - Cuiabá MT - Papel da Arte sobre Papel, na Galeria Laila Zahran
1981 - Curitiba PR - 38º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra - sala especial
1981 - Los Angeles (Estados Unidos) - International Mail-Art Show, no Otis Art Institute
1981 - Recife PE - 1ª Exposição Internacional de Poemas Visuais em Outdoor, no espaço urbano da cidade
1981 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1981 - Rio de Janeiro RJ - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1981 - São Paulo SP - 16ª Bienal Internacional de São Paulol, na Fundação Bienal
1981 - São Paulo SP - Mostra de Heliografia, na Pinacoteca do Estado
1981 - Vista (Estados Unidos) - Erotica-Exotica, na New Vistas Gallery
1982 - Caxias do Sul RS - Artemicro, na Universidade de Caxias do Sul
1982 - Coimbra (Portugal) - Microarte, no Círculo das Artes Plásticas
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Lisboa (Portugal) - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Fundação Calouste Gulbenkian
1982 - Lisboa (Portugal) - Microarte, na Cooperativa Diferença
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Rio de Janeiro RJ - Artemicro, no MAM/RJ
1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ
1982 - São Paulo SP - Artemicro, no MIS/SP
1982 - São Paulo SP - Intercomunicável/Intercomunicabile, no MAC/USP
1983 - Dallas (Estados Unidos) - Artemicro, no Bath House Cultural Center
1983 - Los Angeles (Estados Unidos) - Target Earget, na Double Rocking Gallery
1984 - São Paulo SP - 15º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Arte na Rua 2
1984 - São Paulo SP - Arte Xerox Brasil, na Pinacoteca do Estado
1985 - Amsterdã (Holanda) - Art on the Move, na The Art Exhibition Foundation
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 - Rio de Janeiro RJ - Caligrafias e Escrituras, na Funarte. Galeria Sérgio Milliet
1985 - São Paulo SP - Arte Novos Meios/Multimeios: Brasil 70/80, no MAB/Faap
1985 - São Paulo SP - Tendências do Livro de Artista no Brasil, no CCSP
1985 - Waregem (Bélgica) - Participate, no Museum of Museums
1986 - Edmonton (Canadá) - Images of Peace, na University of Alberta. Ring House Gallery
1986 - Rio de Janeiro RJ - Artistas da Bolsa Ivan Serpa, na Funarte
1986 - São Paulo SP - A Nova Dimensão do Objeto, no MAC/USP
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 18º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1987 - São Paulo SP - A Trama do Gosto: um outro olhar sobre o cotidiano, na Fundação Bienal
1987 - Washington (Estados Unidos) - Contemporary Artists from Brazil-Portugal, no Brazilian-American Cultural Institute
1988 - Campinas SP - 13º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Artistas Brasileiros, no Masp
1988 - São Paulo SP - Civilidades da Selva: mitos e iconografias indígenas, no MAC/USP
1988 - São Paulo SP - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Sesc Pompéia
1989 - Copenhague (Dinamarca) - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Museu Charlottenborg
1989 - Londres (Inglaterra) - No Boundaries on the Planet of Tupis-Toris, no London Ecology Centre
1989 - São Paulo SP - A Estética do Candomblé, no MAC/USP
1989 - São Paulo SP - Papel Artesanal na América Latina, na Pinacoteca do Estado
1990 - Rio de Janeiro RJ - Armadilhas Indígenas, na Funarte
1990 - São Paulo SP - Armadilhas Indígenas, no Masp
1990 - São Paulo SP - Gente de Fibra, no Sesc Pompéia
1991 - São Paulo SP - Nacional x Internacional na Arte Brasileira, no Paço das Artes
1992 - Rio de Janeiro RJ - Reciclo, na Funarte
1993 - Belém PA - 2º Salão Paraense de Arte Contemporânea, na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves
1993 - Brasília DF - Um Olhar sobre Joseph Beuys, na Fundação Athos Bulcão
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1997 - São Paulo SP - 3º United Artist: luz, na Casa das Rosas
1998 - Brasília DF - Cien Recuerdos para Garcia Lorca , Espaço Cultural 508 Sul
1999 - São Paulo SP - A Ressacralização da Arte, no Sec Pompéia
2000 - Brasília DF - Athos Criativos, no Conjunto Nacional Brasília
2000 - São Bento do Sapucaí SP - Athos Criativos, no O Casarão
2000 - São Paulo SP - Arte Conceitual e Conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC/USP, na Galeria de Arte do Sesi
2000 - São Paulo SP - O Papel da Arte, na Galeria de Arte do Sesi
2001 - Fortaleza CE - Retratos: Belchior visto por grandes nomes e por ele mesmo, no Centro Cultural Oboé
2002 - Austin (Estados Unidos) - Brazilian Visual Poetry, no Mexic-Arte Museum
2002 - Brasília DF - Fragmentos a Seu Imã, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2002 - Curitiba PR - São ou Não São Gravuras, Museu de Arte de Londrina
2002 - Fortaleza CE - Retratos: Belchior visto por grandes nomes e por ele mesmo, no Centro Cultural Oboé
2002 - Londrina PR - São ou Não São Gravuras?, no Museu de Arte de Londrina
2002 - São Paulo SP - Arte e Política, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - México Imaginário: o olhar do artista brasileiro, na Casa das Rosas
2003 - Brasília DF - Obranome, no Conjunto Cultural da Caixa
2003 - Rio de Janeiro RJ - Belchior: retratos e auto-retratos, no Centro Cultural da Justiça Federal
2003 - São Paulo SP - A Subversão dos Meios, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Lugar de Encontros: Amélia Toledo entre nós, na Unicid
2003 - São Paulo SP - MAC USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake
2004 - Rio de Janeiro RJ - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no MNBA
Fonte: BENÉ Fonteles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 31 de agosto de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia – Wikipédia
Com uma longa e consolidada trajetória artística nas artes plásticas, música e poesia, Bené tem álbuns e livros publicados e obras expostas em acervos dos museus de arte moderna de São Paulo, Rio, Nova Iorque, Paris e Bahia, além de ter participado de cinco Bienais Internacionais de São Paulo e diversas mostras individuais e coletivas ligadas à arte postal e a pesquisas de novas expressões artísticas. A militância ecológica é um traço marcante em sua obra, sendo criador do "Movimento Artista pela Natureza", que desde 1986 promove a consciência ecológica e da educação ambiental por meio da arte. Grande parte do seu trabalho dialoga com as estéticas e poéticas das culturas indígenas.
Biografia
Iniciou sua atuação artística nos anos 1970 em Fortaleza, onde morou até 1975 e atuou como artista plástico, compositor e ainda como jornalista e editor. Aos 18 anos, expôs no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará em 1971.
Em 1974, conheceu o compositor Gilberto Gil, com quem mantém uma consolidada amizade e parceria no ativismo ambiental e também na música. Entre 1983 e 1986, foi diretor do Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Nessa época, começou a unir suas criações artísticas a projetos e movimentos voltados à preservação ecológica. Em 1991 mudou-se para Brasília, onde manteve base por quase 30 anos, organizando eventos artísticos e produzindo suas obras.
Em 1997, ele organizou a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim (1922-2001), no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA).
Em 2003, Fonteles foi contemplado com a comenda Ordem do Mérito Cultural, que recebeu da Presidência da República.
Em 2016 apresentou-se na 32º Bienal de São Paulo com a obra de instalação “Conversas para adiar o fim do mundo”, com a colaboração do líder indígena Ailton Krenak.
A instalação “Oca Tapera Terreiro” montada como ágora dentro do Pavilhão da Bineal, recebeu artistas, ativistas, ecologistas, antropólogos, educadores e curadores para uma série de debates.
Álbuns
• Bendito (1983), com participação de Luiz Gonzaga, Tetê Espíndola, Belchior, Egberto Gismonti, Luli e Lucina.
• Silencioso (1989)
• Aê (1991). com participação de Egberto Gismonti, Tetê Espíndola, Duofel e Ney Matogrosso.
• Benditos (2003), que agrupa os três trabalhos anteriores.
• Canções para Pescar Almas (2019), lançado por Bené Fonteles e Lucina, o álbum traz canções compostas em parcerias com a compositora. Conta com participação DE Egberto Gismonti, Gilberto Gil, João Arruda, Ney Marques, Marco Bosco, Paulinho Oliveira, Décio Gioielli, Chica Brother, Saulo Battesini, Adriana Sanchez, Bosco Fonseca, Márcia Nascimento, Julia Borges e Regina Machado.
Livros Publicados
• O Livro do Ser (1994)
• Giluminoso - A Po.Ética do Ser (1999), livro sobre Gilberto Gil, que conta com ensaio fotográfico de Mário Cravo Neto, e fotos de Pierre Verger, textos de Caetano Veloso e ilustração de Arnaldo Antunes. A obra se divide em quatro partes: "Ao Compositor", um ensaio de Fonteles sobre a obra de Gil; "O Compositor Disse", antologia com 50 letras escolhidas por Fonteles e Gil; "O Compositor Me Disse", depoimento de Gil e "O Compositor Canta", com CD inédito homônimo com 15 canções cantadas e compostas por Gil. O livro e o CD foram lançados com shows no teatro do Sesc-Pompéia, em São Paulo.
• O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Para adiar o fim do mundo - Conexão Planeta
Deitar e olhar para um outro teto. Estar cercado por outras paredes. Entrar por uma porta diferente. Observar horizontes diferentes por meio de janelas desconhecidas. A oca que o paraense montou na 32ª Bienal de São Paulo tem o poder mágico de fazer com que nos permitamos. O espírito começa a voar livre por entre o teto de palha e as paredes de taipa em direção a outros saberes, na busca por outros símbolos e outros tempos.
Bené Fonteles é poeta, compositor e artista visual, mas não se diz artista. Considera-se um artivista. Desde 1970, trabalha com projetos transdisciplinares.
A instalação na Bienal funciona como uma ágora que recebe artistas, músicos, xamãs, educadores e o público, num movimento para entoar um canto de resistência.
Materiais usados em habitações indígenas e caboclas e mais restos orgânicos trazidos pelo mar, além de outros objetos coletados por Bené nas suas viagens pelo país, fundem-se na alquimia da troca durante os encontros que ele chamou de “Conversas para adiar o fim do mundo” na Ágora: Oca Tapera Terreiro, proposta que surgiu a partir de uma ideia do líder indígena Ailton Krenak.
Nesse caldeirão e nessa obra Cozinheiro do Tempo ferve mesmo o tempo, não tenha dúvida. Tempo cozido e temperado por Bené. Receita simples de seguir para quem tem alma amalgamada à natureza como ele. Ingredientes de profunda humanidade, preocupação e respeito à vida. A arte dele é mais do que objeto e estética. É a atitude. É o ser que vive para lutar pela preservação.
O nome de santo, Benedito, vem de uma promessa feita pela mãe, que precisou rezar fervorosamente para que o filho sobrevivesse. Ela morreu cedo, quando Bené tinha dois anos. A força católica da mãe, mais a lembrança de ver índios às margens do Rio Caetés, no lugar onde nasceu, como que dão o norte à sua caminhada. As tantas lutas – como as pela preservação do Rio São Francisco, da Chapada dos Guimarães – trazem essa marca. Bené expressa espiritualidade no que faz. Imprime o sublime nos pensamentos e ações.
Gosta de misturar índio com negro para falar de um caboclo brasileiro por circunstância, universal pelo unânime que há no humano. Cava em busca de resquícios e ancestralidade. Desenterra sabedoria telúrica e acorda os homens preocupados com as roupas que vão vestir no caixão. Como se as desenterrasse antes da desintegração para lembrar que não passarão de pó, mais dia, menos dia.
O misto de força católica e xamânica dá sentido visceral a cada passo. Planta sentimento pelo planeta. Acredita na caminhada que busca a raiz na magia oferecida pelo primitivo.
Primordial transmutante, tocando num lapso meditativo sob sol que quer evaporar rio, sempre no desaguar das emoções. E elas correm embaladas pela pausa que suspende o ar para acabar no mar. Que também é lar para os sobreviventes do duelo do lixo e do esgoto contra a vida à procura de descanso. Vem remanso até o refúgio da oca. Vem manso e nos toca. E nos mostra o caminho para adiar esse fim de mundo.
Fonte: Conexão Planeta, "Para adiar o fim do mundo", publicado por Karen Monteiro, em 28 de novembro de 2016. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Gravação do novo álbum do “artivista” paraense Bené Fonteles | Barulho d'água música
Artista plástico, jornalista, editor, escritor, poeta, cantor, compositor e xamã, entre outras formas de expressão que formam as várias facetas do incansável “artivista” que, conforme a própria definição, ele encarna, Bené Fonteles disparou campanha na internet para coletar contribuições entre amigos e tirar do papel o disco D’Alegria. Em formato físico e digital, D’Alegria será gravado no Sítio Arvoredo, em Pocinhos do Rio Verde, distrito de Caldas (MG) e onde fica o estúdio Venta Moinho “debaixo de um pé de jequitibá” do amigo, violeiro cantor e vizinho de porta João Arruda. O trabalho reforçará uma discografia que, fora a participação em outras gravações¹, inclui os autorais Benditos, coletânea de 2003 que mescla Benedito (1983), Silencioso (1987) e AÊ (1991); Silencioso tem apenas capa, já que sua proposta conceitual é a de que seja ouvido o silêncio.
Em 2019, em parceria com Lucina, Fonteles trouxe em Canções para Pescar Almas as sonoridades do diverso, que o fazem tão brasileiro quanto universal em meio a conversas fluidas de melodia e poesia sobre questões culturais, ecológicas, filosóficas e espirituais. A partir das bases de Lucina, os músicos convidados criaram verdadeiras arquiteturas sonoras: Egberto Gismonti, Gilberto Gil, João Arruda, Ney Marques, Marco Bosco, Paulinho Oliveira, Décio Gioielli, Chica Brother, Saulo Battesini, Adriana Sanchez, Bosco Fonseca, Márcia Nascimento, Julia Borges e Regina Machado. Embora digital, Canções… sugere sua apreciação à moda antiga, como um dos vinis “em que curtíamos o belo projeto gráfico, o encarte farto com as letras das canções onde a poesia realçava-se como num pequeno livro e que deu à chamada MPB o status poético merecido”.
Gismonti, Gil e Arruda estarão de volta em D’Alegria, cuja direção artística caberá a Lucina, cantora e compositora que formou a inesquecível dupla com Luhli (1945-2018). Neste novo rebento, há entre outras participações especiais divulgadas pelo próprio Fonteles, ainda, Bianca (filha de Egberto e que forma com Claudia Castelo Branco o Duo Gisbranco); Consuelo de Paula; Joésia Falavigna, Levi Ramiro, Tetê Espíndola e Luiz Bueno, parceiro de Fernando Melo no Duofel, e Webster Santos.
“Bené Fonteles é pura fonte de água límpida que jorra arte sobre todos nós!”, escreveu Consuelo de Paula. “Um eterno menino, pois a música dele o faz assim. Bené é a união da sabedoria, do amor e da arte. Participar desse disco é a união do prazer estético com o prazer da alma, é banhar-se em cachoeira mágica. Salve, Bené!”, concluiu a cantora, compositora e poetisa mineira, autora entre outros trabalhos de Maryákoré (2019).
Compositor, letrista, jornalista e escritor, Carlos Rennó também elogiou o projeto novo de Fonteles: “Merece o nosso apoio. Bené é mais conhecido como ‘artista plástico’, mas o termo não dá conta de seu trabalho – nem talvez a palavra ‘trabalho’ dê conta do que ele faz…; nem, talvez, ‘arte’…: talvez ‘artevida’ possa ser aplicada ao seu caso (…) É um artista de atividade plural que inclui a música e a poesia, e que já fez álbuns muito bonitos, cheios de participações bacanas, de nomes da música admiradores seus. Além disso, produziu um disco-livro antológico de Gil que é justamente aquilo que seu título diz: Gil Luminoso. O reconhecimento da grandeza da obra desse ‘artivista’ – que foi aliás quem usou pioneira e inventivamente a expressão ‘artevismo’, do que eu sou um seguidor, nos anos 1980 – é ainda maior, quanto mais nos damos conta da sua simplicidade.”
Criador de longa e consolidada trajetória artística nas artes plásticas, música e poesia, há várias páginas e vídeos que trazem dados e informações sobre a rica biografia de Bené Fonteles e os projetos transdisciplinares marcados pela esfera ritualística que ele vem protagonizando desde o começo dos anos 1970. São álbuns e livros publicados e obras expostas em acervos dos museus de arte moderna de cidades como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Nova Iorque (Estados Unidos da América), e Paris (França), além de, ao menos cinco Bienais Internacionais de São Paulo, somadas às diversas mostras individuais e coletivas ligadas à arte postal e a pesquisas de novas expressões artísticas.
A militância ecológica é um traço marcante da obra de Bené Fonteles, da qual deriva o Movimento Artista pela Natureza, que desde 1986 busca fomentar a consciência ecológica e valorizar a educação ambiental por meio da arte. Natural de Bragança (PA), grande parte desta produção dialoga com as estéticas e poéticas das culturas indígenas. “Eu gosto desta dúvida de transitar entre o que é arte e o que é artesanía”, enfatiza Fonteles a respeito de sua obra plástica, baseada na transformação de materiais simples, e muitas vezes frágeis, naturais ou pouco trabalhados pelo homem.
Fonteles se apropria de objetos para transfigurá-los a partir da evocação de seu potencial poético, seja intervindo nesses objetos ou associando-os em instalações. Grande parte dos materiais escolhidos pelo artista está ligada à terra brasileira, devido à sua postura política como ativista ambiental. Assim, Bené Fonteles tenta estimular a imaginação do observador a escapar dos usos convencionais dos objetos, tendência de uma geração de artistas do século XX que busca uma alternativa ao entorpecimento da rotina.
Em matéria disponível no portal Conexão Planeta-Inspiração para a ação, escrita por Karen Monteiro, em 28 de novembro de 2016 e intitulada Para adiar o fim o mundo, por ocasião da 32º Bienal de São Paulo, a jornalista, tradutora, e cronista escreveu que:
“Materiais usados em habitações indígenas e caboclas e mais restos orgânicos trazidos pelo mar, além de outros objetos coletados por Bené nas suas viagens pelo país, fundem-se na alquimia da troca durante os encontros que ele chamou de Conversas para adiar o fim do mundo na Ágora: Oca Tapera Terreiro, proposta que surgiu a partir de uma ideia do líder indígena Ailton Krenak.
Nesse caldeirão e nessa obra Cozinheiro do Tempo ferve mesmo o tempo, não tenha dúvida. Tempo cozido e temperado por Bené. Receita simples de seguir para quem tem alma amalgamada à natureza como ele. Ingredientes de profunda humanidade, preocupação e respeito à vida. A arte dele é mais do que objeto e estética. É a atitude. É o ser que vive para lutar pela preservação.”
Na matéria de Karen Monteiro para o portal Conexão Planeta-Inspiração, ela também redigiu uma biografia de Bené Fonteles apontando que o nome de santo, Benedito,
“Vem de uma promessa feita pela mãe, que precisou rezar fervorosamente para que o filho sobrevivesse. Ela morreu cedo, quando Bené tinha dois anos. A força católica da mãe, mais a lembrança de ver índios às margens do Rio Caetés, no lugar onde nasceu, como que dão o norte à sua caminhada. As tantas lutas – como as pela preservação do Rio São Francisco, da Chapada dos Guimarães – trazem essa marca. Bené expressa espiritualidade no que faz. Imprime o sublime nos pensamentos e ações.”
Karen prosseguiu sobre Fonteles:
“Gosta de misturar índio com negro para falar de um caboclo brasileiro por circunstância, universal pelo unânime que há no humano. Cava em busca de resquícios e ancestralidade. Desenterra sabedoria telúrica e acorda os homens preocupados com as roupas que vão vestir no caixão. Como se as desenterrasse antes da desintegração para lembrar que não passarão de pó, mais dia, menos dia.”
“O misto de força católica e xamânica dá sentido visceral a cada passo. Planta sentimento pelo planeta”, na visão de Karen Monteiro. “Acredita na caminhada que busca a raiz na magia oferecida pelo primitivo”.
“Primordial transmutante, tocando num lapso meditativo sob sol que quer evaporar rio, sempre no desaguar das emoções”, lê-se também na matéria para o portal Conexão Planeta, que assim flui: “E elas correm embaladas pela pausa que suspende o ar para acabar no mar. Que também é lar para os sobreviventes do duelo do lixo e do esgoto contra a vida à procura de descanso. Vem remanso até o refúgio da oca. Vem manso e nos toca. E nos mostra o caminho para adiar esse fim de mundo.”
Ordem do mérito cultural
O currículo de atividades e colaborações ao mundo artístico de Fonteles destaca ainda que entre 1983 e 1986 ele dirigiu o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP), da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Na década dos anos 1980, envolveu-se em programas e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Chegou em 1991 a mudar-se para Brasília, onde manteve atuação como ativista ecológico e organizador de eventos artísticos. Em 1997, organizou a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA).
Os livros que assina são aclamados no meio, tal qual O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Juntando todas as linhas e pontas, este tapete multicultural que ele tece rendeu a Bené Fonteles, em 2003, entregue na ocasião pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Ordem do Mérito Cultural, insígnia outorgada a personalidades e instituições culturais pelo Ministério da Cultura, a única no país voltada, exclusivamente, à valorização da Cultura (MinC).
A cerimônia de entrega da Ordem transcorreu em 19 de dezembro, com a presença de Gilberto Gil, então titular do MinC, e além de Fonteles também a receberam entre outros da seleta lista que tem 40 nomes Milton Santos (in memorian); Antônio Nóbrega; Chico Buarque de Holanda; Eduardo Bueno; Herbert Vianna, pelos Paralamas do Sucesso; Jorge Mautner; Luiz Costa Lima; Maestro Gilberto Mendes Marília Pêra; Mestre João Pequeno; Moacyr Scliar; Nelson Pereira dos Santos; Rita Lee; Roberto Farias; Rogério Sganzerla; Rubinho do Vale e a dupla Zezé Di Camargo e Luciano.
Em 2014, Bené Fonteles organizou o livro NicEstrigas: Arte e Afeto, projeto realizado com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.
Fonte: Barulho d'Água música. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Bené Fonteles lança livro sobre a obra do artista plástico Rubem Valentim | Correio Braziliense
Em 'Geometria do sagrado', Bené Fonteles se debruça sobre a obra de Rubem Valentim, um dos mais importantes artistas brasileiros modernos.
O artista plástico, curador e editor Bené Fonteles se encontrou, pela primeira vez, com Rubem Valentim, em uma exposição na Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1977. A conexão espiritual foi instantânea porque o paraense conhecia muito bem o universo do candomblé, uma das fontes da obra do baiano. Ficaram muito amigos e, pouco antes de morrer, Valentim designou Bené para ser o guardião de sua obra. O próprio Bené se autonomeou o "Ogan da obra de Valentim". O Ogan, em iorubá, quer dizer "senhor da minha casa".
E, agora, ele lança o primeiro livro alentado sobre Rubem Valentim: Sagrada geometria (Edições Pinakotheke), que oferece um amplo panorama sobre um dos mais importantes artistas brasileiros modernos. Ele nasceu em Salvador, Bahia, no ano da Semana de Arte Moderna, em 1922, e morreu em São Paulo, em 1991.
Tinha afinidades com o movimento concreto e com movimento neoconcreto. Mas a sua arte transcende essas vertentes, pois Valentim buscava a expressão do sagrado, com a signagem das pinturas e os totens e altares inspirados nas tradições afrobaiana e ameríndia, associadas a culturas ancestrais de outros países.
Valentim morou em Brasília, nas décadas de 1970 e 1980, sofreu o impacto da espacialidade, mas amargou a incompreensão e a frustração de não conseguir organizar um centro cultural, a partir de sua obra. Nesta entrevista, Bené Fonteles fala sobre a relevância, os embates e o legado precioso da obra de Rubem Valentim.
Como situa esse livro dentro da bibliografia de Rubem Valentim?
Apesar da importância dele para a arte brasileira, não havia, ainda, nenhum livro sobre Rubem Valentim. Só existia um livro-catálogo, com fortuna crítica muito boa, mas sem cronologia. Não conseguimos o financiamento completo, e tivemos de reduzir o livro para 300 páginas. O projeto original era de 500 páginas. A fortuna crítica é preciosa, reúne textos de Ferreira Gullar, Frederico Moraes, Paulo Herkenhoff, Emanoel Araújo, Giulio Argan, Roberto Pontual e Olívio Tavares, entre outros. Valentim é o único artista latino americano que teve um texto de Giulio Argan. Nos tempos em que ele era prefeito de Roma, comprou três obras de Valentim para o museu da cidade.
Como avalia a relevância de Rubem Valentim para a arte brasileira?
É uma importância capital, acho que ele é um dos cinco ou sete artistas mais importantes da arte brasileira, alguns críticos consideram. Não são só fundamentais, são raiz, estão no nível de Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Noel Rosa. É um marco, ele influenciou muitos artistas. Paulo Herkenhoff considera que ele não é só um artista negro ou mestiço relevante, é o mais importante artista das américas.
Quais são os traços de originalidade da obra de Rubem Valentim?
Primeiro, ter partido da raiz, dos símbolos afrobaianos e afroamericanos. Ele decodificou as ferramentas dos orixás e mostrou que algumas são cruzadas, têm essa coisa energética e bela tão original da Bahia. Transforma isso em uma obra construtiva, até de muita parecença com os artistas concretos. Aliás, havia essa afinidade também dos concretos com Volpi, mas eles não quiseram participar do movimento, tinham trajetórias muito singulares. Depois, Valentim realiza a transcriação desses objetos associada a outras culturas do mundo. Vai aos tempos da Grécia e da Mesopotânia. Ele tinha uma biblioteca de 2 mil volumes, bebia no I Ching, na cultura dos maias, na cultura dos astecas. Era um homem muito culto, produziu uma obra muito complexa.
A relação de Rubem Valentim com Brasília foi muito conturbada?
Foi importantíssima, a espacialidade da obra dele tem muita relação com Brasília. A cidade impactou sua obra. Queria fazer esculturas no meio do cerrado, chegou a fazer fotos dos seus trabalhos no meio do descampado, queria uma arte monumental para Brasília. Mas nunca conseguiu realizar seu ideal. Tentou criar a Casa Rubem Valentim em um terreno comprado no Lago Sul, com uma exposição inteira que havia vendido para essa finalidade. Montou um escritório na Asa Sul, tentando apoio do governo para a construção. Foi uma frustração muito grande, teve de devolver o terreno com a Terracap. Acho que levou essa mágoa. Os livros da biblioteca dele foram vendidos para um sebo. Montei 17 exposições de Rubem Valentim, os herdeiros foram muito generosos.
Ainda há algo a fazer para reparar o desinteresse de Brasília pela obra de Rubem Valentim?
Não, nada mais. Consegui que o atelier dele inteiro fosse para o Museu de Arte em Brasília, quando o Wagner Barja era diretor. É precioso o que o MAB tem. Ele falava com todos, conversava com ministros, com autoridades, mas ninguém se sensibilizava. O reconhecimento da crítica veio, principalmente, depois que montei uma grande exposição na Pinacoteca de São Paulo com o acervo que deixou com a mulher e com os colecionadores. A geração mais nova não entendia.
Havia afinidades com o movimento concreto. Mas o que separava Valentim dos concretistas?
Os trabalhos de Valentim poderiam estar em uma exposição de arte concreta ou neoconcreta. Mas a liberdade dele era imensa.
Como o misticismo se afina com o lado construtivo?
Ele é um construtivo, mas é muito híbrido. Quando se liberta da figuração, a arte de Valentim se torna uma geometria sensível, como diz Frederico Moraes. É uma geometria do sagrado, fundada na cultura afrobrasileira e ameríndia.
Fonte: Correio Brasiliense, "Bené Fonteles lança livro sobre a obra do artista plástico Rubem Valentim", escrito por Severino Francisco, publicado em 21 de agosto de 2022. Consultado pela última vez em 1 de setembro de 2022.
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Lucina e Bené Fonteles se harmonizam na leveza de 'Canções para pescar almas' | G1
A ambiência típica de bossa nova emulada na gravação de Ama e reza – primeira das 12 músicas do álbum com parcerias de Lucina com Bené Fonteles – está em sintonia com o espírito da composição e do próprio disco, intitulado Canções para pescar almas.
Cantora, compositora e instrumentista mato-grossense projetada nos anos 1970 ao formar dupla com Luhli (1945 – 2018), Lucina se harmoniza com Bené – poeta, compositor e escultor paraense Bené Fonteles – neste disco que celebra a leveza da música brasileira sem xenofobia.
Seja cantando Saudade caipira, com evocação da Tristeza do Jeca (Angelino de Oliveira, 1922), seja caindo no samba De flor, Lucina e Bené combinam melodia e poesia para versar sobre questões éticas, filosóficas, ecológicas e espirituais.
Música pontuada pela guitarra de Ney Marques, Um sol é faixa dedicada a Luhli, amiga que saiu de cena no ano passado. "E há vida a um passo da tristeza / E há morte a um passo da alegria", correlacionam poeticamente Lucina e Bené em versos de Um sol.
Faixa mais estrelada do álbum Canções para pescar almas, Só Yara ostenta o violão de Gilberto Gil – artista identificado com a ideologia do álbum – e o piano de Egberto Gismonti. Nesta música, o suave canto grave de Lucina é entrecortado pela poesia falada de Bené.
Produzido por Lucina com Bené, sob direção musical da artista, o disco é o desdobramento do encontro da cantora com o poeta há 37 anos. Lucina e Bené foram apresentados por Belchior (1946 – 2017) em 1982 quando o artista cearense produzia disco de Bené.
Diversas conexões depois, o álbum Canções para pescar almas vem ao mundo com o registro de parcerias criadas ao longo dos últimos dez anos, reiterando a harmonia que pauta o encontro musical e existencial de Lucina com Bené Fonteles.
Fonte: G1, "Lucina e Bené Fonteles se harmonizam na leveza de 'Canções para pescar almas'", escrito por Mauro Ferreira, publicado em 10 de agosto de 2019. Consultado pela última vez em 1 de setembro de 2022.
Crédito fotográfico: Fase10, "Bené Fonteles". Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
José Benedito Fonteles (Bragança, PA, 21 de março de 1953), mais conhecido como Bené Fonteles, é um artista visual, compositor, escritor, escultor, jornalista, curador de arte, xamã e poeta brasileiro. Iniciou sua carreira em 1971, expondo no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará e trabalhando como jornalista em Fortaleza. Ativista ambiental, as obras plásticas de Bené se baseiam na transformação de materiais simples em arte, utilizando elementos naturais ou pouco trabalhados pelo homem, como pedras, pedaços de troncos, cordas, tecidos rústicos e arame. Durante as décadas de 70 e 80, integra anualmente diversas exposições coletivas, nacionais e internacionais, ligadas à arte postal e a pesquisas de novos meios de expressão. Nesse período, participou de quatro edições da Bienal Internacional de São Paulo e envolveu-se em projetos e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Entre 1983 e 1986, dirigiu o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Em 1997, organiza a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim (1922-2001), no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA). Entre os livros que publicou, destacam-se O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Seu trabalho como compositor está reunido no CD Benditos, lançado em 2003, que agrupa três trabalhos anteriores, Bendito (1983), Silencioso (1989) e Aê (1991). Em 2003, recebeu da Presidência da República a comenda Ordem do Mérito Cultural. Bené realizou diversas mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior.
Biografia – Itaú Cultural
José Benedito Fonteles iniciou sua carreira em 1971, expondo no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará. Em Fortaleza, trabalha como jornalista. Durante as décadas de 1970 e 1980, integra anualmente diversas exposições coletivas, nacionais e internacionais, ligadas à arte postal e a pesquisas de novos meios de expressão. Nesse período, participou de quatro edições da Bienal Internacional de São Paulo (1973, 1975, 1977 e 1981). Realiza, ainda, a partir de 1974, diversas mostras individuais, no Brasil e no exterior.
Entre 1983 e 1986, dirige o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Na década de 1980, envolveu-se em projetos e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Em 1991, mudou-se para Brasília, onde mantém atuação como ativista ecológico e organizador de eventos artísticos. Em 1997, organiza a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA). Entre os livros que publicou, destacam-se O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Seu trabalho como compositor está reunido no CD Benditos, lançado em 2003, que agrupa três trabalhos anteriores, Bendito (1983), Silencioso (1989) e Aê (1991). Em 2003, recebe da Presidência da República a Comenda Ordem do Mérito Cultural.
Análise
O texto de Bené Fonteles para o catálogo de sua exposição Palavras e Obras inicia com a frase: "Eu gosto desta dúvida de transitar entre o que é arte e o que é artesanía"1. Ela diz muito sobre a obra plástica do artista, baseada sobretudo na transformação de materiais simples e muitas vezes frágeis, naturais ou pouco trabalhados pelo homem, tais como pedras, pedaços de troncos, cordas, tecidos rústicos e arame. Além desse tipo de suporte, Fonteles trabalha com a apropriação de objetos, sempre com o objetivo de transfigurá-los a partir da evocação de seu potencial poético, seja intervindo nesses objetos ou associando-os em instalações. Deve-se observar que grande parte dos materiais escolhidos pelo artista estão ligados à terra brasileira, uma opção que advém de sua postura política como ativista ambiental.
Fonteles procura recolocar o homem em contato com a energia poética contida na natureza, estimulando a imaginação do observador com vistas a escapar de conceitos e usos convencionais associados aos objetos que utiliza. Como o próprio artista reconhece, essa postura inspira-se em mais de uma geração de artistas atuantes no século XX, que procuram inspiração na relação entre homem, natureza e universo.
Críticas
"Para os trabalhos em xerox Bené se utiliza sobretudo do fotojornalismo, pois sua temática continua baseada na informação visual externa (como no caso das greves, Lula, séries de Lennon e Yoko Ono, etc.). Ao mesmo tempo, mantém seu artesanato no recorte das imagens, na composição e arranjo das mesmas, em sua justaposição e sobreposição - ou seja: a foto apropriada manipulada através do artesanato e a seguir submetida a máquina que lhe confere uma dignidade gráfica inexistente na simples colagem. E mais: uma vez xerocada essa imagem, com as distorções e efeitos que Bené já explora e sabe como conseguir, ele novamente retorna ao artesanal, amassando o papel impresso xerograficamente, ou recortando as imagens em xerox antes de reinserí-las em composição alternativa. Que por sua vez é submetida ao xerox como 'matrix' para uma imagem que ele possa considerar como definitiva. De uma tiragem que poderá repetir inúmeras vezes.
O resultado, em alguns trabalhos, como na série de Lula falando com o dedo em riste é, sem dúvida, o melhor, na utilização do xerox que temos visto entre nós" — Aracy Amaral (AMARAL, Aracy. Arte e meio artístico: entre a feijoada e o x-burguer: 1961 - 1981. Apresentação Ana Maria de Moraes Belluzzo. São Paulo: Nobel, 1983. 423 p).
"Bené Fonteles vem realizando uma obra, tendo sempre a natureza como fulcro e cerne. Poucos artistas nacionais seguem o processo indígena de sentir, como Fonteles. Para o índio não há diferença entre 'arte' e vida... A Arte de Bené é ecológica e é toda centrada em signos da natureza, ou seja, significantes que mudam de significados tão logo deixem as florestas e cerrados-, onde realmente existem em plenitude...
Como os índios, Bené faz arte como manifestação de alegria, pureza de viver, beleza de emocionar. Tendo como atelier a Chapada dos Guimarães, além de utilizar-se de material local com a nítida intenção de mostrar ao homo urbanus as delícias do viver natural, Bené nos indianiza, nos purifica e cria obra invulgar... Arte sem artificialismos, seja com a tecnologia urbana, seja com a tecnologia da selva" — Alberto Beuttenmüller, 1986
BEUTTENMÜLLER, Alberto. [Texto crítico]. In: FONTELES, Bené. Antes arte do que tarde: Bené Fonteles. Fortaleza: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, 1990.
Depoimentos
"É só pôr a tecnologia para o uso do artista: uma fotocopiadora, uma tesoura, letraset, cola, lápis, régua, ecoline, impressão offset papel/cor - usando-a para reinventar as paisagens e os fatos destruídos por ela, denunciar as atmosferas suspeitas. A arte é exercício da lucidez frente à realidade do homem oprimido em qualquer lugar do planeta. Que se crie através da amoralidade o princípio único da arte: uma democracia de concepções criativas múltiplas; que brote de cada ser na arte: alternativa - adormecida pelo entorpecimento da rotina; que de cada espírito nasçam seus desejos ancestrais...
A arte como experimento sendo veículo-meio de produção artística sem intenções de consumismo imediato, mas de ativismo das idéias para propor e decifrar enigmas contemporâneos; assim assume uma função verdadeira dentro do processo histórico: não ver o homem dentro de um processo vitrine, mas estar com ele dentro da vitrine e despertar-lhe, então o silêncio e o barulho, a sua consciência para quebrar o vidro que separa a vida da arte, e aí, a partir desta reação, perdermos a linguagem do medo, retornarmos à verdadeira função sensível - percepção biológica - filosófica - política de equilíbrio com o meio ambiente em que fomos reproduzidos, dentro da estrutura natureza-mente - evolução normal de onde fomos desencaminhados.
A arte experimental urbana é testemunha dos tempos trágicos; e usando os meios de expressão de grande tecnologia - avanços irrealistas frente à fome, eu disse 'à fome' geral que ainda nos ameaça - precisava-se resolver, através da ciência x arte, o problema espiritual e material da evolução humana. Semeando uma nova consciência na cabeça dos povos oprimidos, fazendo que, com o próprio exercício da reflexão crítica de sua condição, nasça o instinto da libertação. Antes arte do que tarde" — Bené Fonteles (FONTELES, Bené. Antes arte do que tarde: Bené Fonteles. Fortaleza: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, 1990).
Acervos
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil - São Paulo SP
Fundação Nacional de Arte - Funarte - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte Contemporânea de Porto Alegre - MAC - Curitiba PR
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP - São Paulo SP
Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará - Mauc - Fortaleza CE
Minimuseu Firmeza - Fortaleza CE
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris - Paris (França)
Museu da Universidade Federal do Pará - Museu da UFPA - Belém PA
Museu de Arte Contemporânea José Pancetti - MACC - Campinas SP
Museu de Arte e de Cultura Popular - Cuiabá MT
Museum of Modern Art - MoMA - Nova York (Estados Unidos)
Exposições Individuais
1974 - Fortaleza CE - Individual, na Galeria da Casa de Cultura Raimundo Cela
1974 - Fortaleza CE - Primeira individual, na Galeria Gauguin
1975 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1976 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1977 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1978 - Fortaleza CE - Investigações, na Sala Interarte
1979 - Fortaleza CE - Resultado, na Sala Interarte
1979 - São Paulo SP - Bené Fonteles: audiovisuais, no MAC/USP
1980 - Belém PA - Bené Fonteles: xerografias e colagens, na Galeria Um
1980 - Belém PA - Experimentos, na Universidade Federal do Pará
1980 - Belém PA - Gravuras Experimentais, na Galeria Theodoro Braga
1980 - Curitiba PR - Bené Fonteles: audiovisuais, no Museu Guido Viaro
1980 - Fortaleza CE - Exercícios Visuais, na Universidade Federal do Ceará
1980 - Rio de Janeiro RJ - Bené Fonteles: xerografias, na Galeria Gravura Brasileira
1980 - Rio de Janeiro RJ - Em Extermínio, na Funarte. Galeria Rodrigo Mello Franco de Andrade
1980 - San Salvador (El Salvador) - Ejercicios Visuales, na Sala Nacional de Exposiciones
1980 - São Paulo SP - Bené Fonteles: audiovisuais, na Pinacoteca do Estado
1981 - Cuiabá MT - Individual, na Galeria Laila Zahran
1981 - Porto Alegre RS - Yokos, no Espaço N.O.
1981 - São Paulo SP - Bené Fonteles: xerografias, colagens e outdoors, na Galeria Suzanna Sassoun
1981 - São Paulo SP - O Cartaz e a Obra, no Café Paris
1981 - São Paulo SP - Relações, no Gabinete Fotográfico da Pinacoteca do Estado
1982 - Cuiabá MT - Bené Fonteles: xerografias e colagens, na Estação Rodoviária de Cuiabá
1982 - São Paulo SP - Terra, na Pinacoteca do Estado
1983 - São Paulo SP - A Natureza do Artista, no CCSP
1984 - São Paulo SP - Individual, no Paço das Artes
1985 - Cuiabá MT - Mágicas, na Artegaleria
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na EAV/Parque Lage
1986 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, na Galeria Unidade Dois
1986 - São Paulo SP - Individual, no Paço das Artes
1987 - Porto Alegre RS - Antes Arte do que Tarde, no Cambona Centro de Artes
1987 - Rio de Janeiro RJ - Antes Arte do que Tarde, na Montesanti Galleria
1988 - Brasília DF - Antes Arte do que Tarde, na Galeria Espaço Capital
1988 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, na Paulo Figueiredo Galeria de Arte
1990 - Fortaleza CE - Antes Arte do que Tarde, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará
1990 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, no Masp
2001 - Brasília DF - Bené Fonteles: sudários, auto-retratos e obras de 1996 a 2001, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2001 - Brasília DF - Individual, na Referência Galeria de Arte
2004 - São Paulo SP - Ausência e Presença em Gameleira do Assuruá, no Sesc Pompéia
2004 - São Paulo SP - Palavras e Obras, na Estação Pinacoteca
Exposições Coletivas
1971 - Fortaleza CE - 1ª Expô Universiatária de Arte - prêmio especial
1971 - Fortaleza CE - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará
1971 - Fortaleza CE - Salão de Abril
1972 - Fortaleza CE - 22º Salão Municipal de Abril - sala especial
1972 - Fortaleza CE - 2ª Expô Universiatária de Arte
1973 - São Paulo SP - 12ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1974 - São Paulo SP - 8º Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP
1974 - São Paulo SP - Bienal Nacional 74, na Fundação Bienal
1975 - Rio de Janeiro RJ - 7º Salão de Verão, no MAM/RJ
1975 - São Paulo SP - 13ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1975 - São Paulo SP - 7º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - Lansing (Estados Unidos) - Modern Art in Brazil, no Kresge Art Museum
1976 - Rio de Janeiro RJ - 1º Arte Agora, no MAM/RJ
1977 - Amsterdã (Holanda) - Mail Art Exposition
1977 - São Paulo SP - 14ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1977 - São Paulo SP - Poéticas Visuais, no MAC/USP
1979 - Nova York (Estados Unidos) - Contemporary Brazilian Works on Paper: 49 artists, na Nobé Gallery
1980 - João Pessoa PB - Xerografias, no Núcleo de Arte Contemporânea
1980 - Lisboa (Portugal) - Mostra Internacional de Arte Postal, na Galeria Quadrum
1980 - Porto Alegre RS - Xerografias, no Espaço N.O.
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1980 - São Paulo SP - Destaque do Ano, no Masp
1980 - São Paulo SP - Fotografia como Suporte, na Foto Galeria
1980 - São Paulo SP - Poucos e Raros
1980 - São Paulo SP - Xerografias, na Pinacoteca do Estado
1981 - Boston (Estados Unidos) - Current Myths, no Art Institute of Boston
1981 - Cuiabá MT - Papel da Arte sobre Papel, na Galeria Laila Zahran
1981 - Curitiba PR - 38º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra - sala especial
1981 - Los Angeles (Estados Unidos) - International Mail-Art Show, no Otis Art Institute
1981 - Recife PE - 1ª Exposição Internacional de Poemas Visuais em Outdoor, no espaço urbano da cidade
1981 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1981 - Rio de Janeiro RJ - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1981 - São Paulo SP - 16ª Bienal Internacional de São Paulol, na Fundação Bienal
1981 - São Paulo SP - Mostra de Heliografia, na Pinacoteca do Estado
1981 - Vista (Estados Unidos) - Erotica-Exotica, na New Vistas Gallery
1982 - Caxias do Sul RS - Artemicro, na Universidade de Caxias do Sul
1982 - Coimbra (Portugal) - Microarte, no Círculo das Artes Plásticas
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Lisboa (Portugal) - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Fundação Calouste Gulbenkian
1982 - Lisboa (Portugal) - Microarte, na Cooperativa Diferença
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Rio de Janeiro RJ - Artemicro, no MAM/RJ
1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ
1982 - São Paulo SP - Artemicro, no MIS/SP
1982 - São Paulo SP - Intercomunicável/Intercomunicabile, no MAC/USP
1983 - Dallas (Estados Unidos) - Artemicro, no Bath House Cultural Center
1983 - Los Angeles (Estados Unidos) - Target Earget, na Double Rocking Gallery
1984 - São Paulo SP - 15º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Arte na Rua 2
1984 - São Paulo SP - Arte Xerox Brasil, na Pinacoteca do Estado
1985 - Amsterdã (Holanda) - Art on the Move, na The Art Exhibition Foundation
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 - Rio de Janeiro RJ - Caligrafias e Escrituras, na Funarte. Galeria Sérgio Milliet
1985 - São Paulo SP - Arte Novos Meios/Multimeios: Brasil 70/80, no MAB/Faap
1985 - São Paulo SP - Tendências do Livro de Artista no Brasil, no CCSP
1985 - Waregem (Bélgica) - Participate, no Museum of Museums
1986 - Edmonton (Canadá) - Images of Peace, na University of Alberta. Ring House Gallery
1986 - Rio de Janeiro RJ - Artistas da Bolsa Ivan Serpa, na Funarte
1986 - São Paulo SP - A Nova Dimensão do Objeto, no MAC/USP
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 18º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1987 - São Paulo SP - A Trama do Gosto: um outro olhar sobre o cotidiano, na Fundação Bienal
1987 - Washington (Estados Unidos) - Contemporary Artists from Brazil-Portugal, no Brazilian-American Cultural Institute
1988 - Campinas SP - 13º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Artistas Brasileiros, no Masp
1988 - São Paulo SP - Civilidades da Selva: mitos e iconografias indígenas, no MAC/USP
1988 - São Paulo SP - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Sesc Pompéia
1989 - Copenhague (Dinamarca) - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Museu Charlottenborg
1989 - Londres (Inglaterra) - No Boundaries on the Planet of Tupis-Toris, no London Ecology Centre
1989 - São Paulo SP - A Estética do Candomblé, no MAC/USP
1989 - São Paulo SP - Papel Artesanal na América Latina, na Pinacoteca do Estado
1990 - Rio de Janeiro RJ - Armadilhas Indígenas, na Funarte
1990 - São Paulo SP - Armadilhas Indígenas, no Masp
1990 - São Paulo SP - Gente de Fibra, no Sesc Pompéia
1991 - São Paulo SP - Nacional x Internacional na Arte Brasileira, no Paço das Artes
1992 - Rio de Janeiro RJ - Reciclo, na Funarte
1993 - Belém PA - 2º Salão Paraense de Arte Contemporânea, na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves
1993 - Brasília DF - Um Olhar sobre Joseph Beuys, na Fundação Athos Bulcão
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1997 - São Paulo SP - 3º United Artist: luz, na Casa das Rosas
1998 - Brasília DF - Cien Recuerdos para Garcia Lorca , Espaço Cultural 508 Sul
1999 - São Paulo SP - A Ressacralização da Arte, no Sec Pompéia
2000 - Brasília DF - Athos Criativos, no Conjunto Nacional Brasília
2000 - São Bento do Sapucaí SP - Athos Criativos, no O Casarão
2000 - São Paulo SP - Arte Conceitual e Conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC/USP, na Galeria de Arte do Sesi
2000 - São Paulo SP - O Papel da Arte, na Galeria de Arte do Sesi
2001 - Fortaleza CE - Retratos: Belchior visto por grandes nomes e por ele mesmo, no Centro Cultural Oboé
2002 - Austin (Estados Unidos) - Brazilian Visual Poetry, no Mexic-Arte Museum
2002 - Brasília DF - Fragmentos a Seu Imã, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2002 - Curitiba PR - São ou Não São Gravuras, Museu de Arte de Londrina
2002 - Fortaleza CE - Retratos: Belchior visto por grandes nomes e por ele mesmo, no Centro Cultural Oboé
2002 - Londrina PR - São ou Não São Gravuras?, no Museu de Arte de Londrina
2002 - São Paulo SP - Arte e Política, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - México Imaginário: o olhar do artista brasileiro, na Casa das Rosas
2003 - Brasília DF - Obranome, no Conjunto Cultural da Caixa
2003 - Rio de Janeiro RJ - Belchior: retratos e auto-retratos, no Centro Cultural da Justiça Federal
2003 - São Paulo SP - A Subversão dos Meios, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Lugar de Encontros: Amélia Toledo entre nós, na Unicid
2003 - São Paulo SP - MAC USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake
2004 - Rio de Janeiro RJ - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no MNBA
Fonte: BENÉ Fonteles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 31 de agosto de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia – Wikipédia
Com uma longa e consolidada trajetória artística nas artes plásticas, música e poesia, Bené tem álbuns e livros publicados e obras expostas em acervos dos museus de arte moderna de São Paulo, Rio, Nova Iorque, Paris e Bahia, além de ter participado de cinco Bienais Internacionais de São Paulo e diversas mostras individuais e coletivas ligadas à arte postal e a pesquisas de novas expressões artísticas. A militância ecológica é um traço marcante em sua obra, sendo criador do "Movimento Artista pela Natureza", que desde 1986 promove a consciência ecológica e da educação ambiental por meio da arte. Grande parte do seu trabalho dialoga com as estéticas e poéticas das culturas indígenas.
Biografia
Iniciou sua atuação artística nos anos 1970 em Fortaleza, onde morou até 1975 e atuou como artista plástico, compositor e ainda como jornalista e editor. Aos 18 anos, expôs no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará em 1971.
Em 1974, conheceu o compositor Gilberto Gil, com quem mantém uma consolidada amizade e parceria no ativismo ambiental e também na música. Entre 1983 e 1986, foi diretor do Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Nessa época, começou a unir suas criações artísticas a projetos e movimentos voltados à preservação ecológica. Em 1991 mudou-se para Brasília, onde manteve base por quase 30 anos, organizando eventos artísticos e produzindo suas obras.
Em 1997, ele organizou a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim (1922-2001), no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA).
Em 2003, Fonteles foi contemplado com a comenda Ordem do Mérito Cultural, que recebeu da Presidência da República.
Em 2016 apresentou-se na 32º Bienal de São Paulo com a obra de instalação “Conversas para adiar o fim do mundo”, com a colaboração do líder indígena Ailton Krenak.
A instalação “Oca Tapera Terreiro” montada como ágora dentro do Pavilhão da Bineal, recebeu artistas, ativistas, ecologistas, antropólogos, educadores e curadores para uma série de debates.
Álbuns
• Bendito (1983), com participação de Luiz Gonzaga, Tetê Espíndola, Belchior, Egberto Gismonti, Luli e Lucina.
• Silencioso (1989)
• Aê (1991). com participação de Egberto Gismonti, Tetê Espíndola, Duofel e Ney Matogrosso.
• Benditos (2003), que agrupa os três trabalhos anteriores.
• Canções para Pescar Almas (2019), lançado por Bené Fonteles e Lucina, o álbum traz canções compostas em parcerias com a compositora. Conta com participação DE Egberto Gismonti, Gilberto Gil, João Arruda, Ney Marques, Marco Bosco, Paulinho Oliveira, Décio Gioielli, Chica Brother, Saulo Battesini, Adriana Sanchez, Bosco Fonseca, Márcia Nascimento, Julia Borges e Regina Machado.
Livros Publicados
• O Livro do Ser (1994)
• Giluminoso - A Po.Ética do Ser (1999), livro sobre Gilberto Gil, que conta com ensaio fotográfico de Mário Cravo Neto, e fotos de Pierre Verger, textos de Caetano Veloso e ilustração de Arnaldo Antunes. A obra se divide em quatro partes: "Ao Compositor", um ensaio de Fonteles sobre a obra de Gil; "O Compositor Disse", antologia com 50 letras escolhidas por Fonteles e Gil; "O Compositor Me Disse", depoimento de Gil e "O Compositor Canta", com CD inédito homônimo com 15 canções cantadas e compostas por Gil. O livro e o CD foram lançados com shows no teatro do Sesc-Pompéia, em São Paulo.
• O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Para adiar o fim do mundo - Conexão Planeta
Deitar e olhar para um outro teto. Estar cercado por outras paredes. Entrar por uma porta diferente. Observar horizontes diferentes por meio de janelas desconhecidas. A oca que o paraense montou na 32ª Bienal de São Paulo tem o poder mágico de fazer com que nos permitamos. O espírito começa a voar livre por entre o teto de palha e as paredes de taipa em direção a outros saberes, na busca por outros símbolos e outros tempos.
Bené Fonteles é poeta, compositor e artista visual, mas não se diz artista. Considera-se um artivista. Desde 1970, trabalha com projetos transdisciplinares.
A instalação na Bienal funciona como uma ágora que recebe artistas, músicos, xamãs, educadores e o público, num movimento para entoar um canto de resistência.
Materiais usados em habitações indígenas e caboclas e mais restos orgânicos trazidos pelo mar, além de outros objetos coletados por Bené nas suas viagens pelo país, fundem-se na alquimia da troca durante os encontros que ele chamou de “Conversas para adiar o fim do mundo” na Ágora: Oca Tapera Terreiro, proposta que surgiu a partir de uma ideia do líder indígena Ailton Krenak.
Nesse caldeirão e nessa obra Cozinheiro do Tempo ferve mesmo o tempo, não tenha dúvida. Tempo cozido e temperado por Bené. Receita simples de seguir para quem tem alma amalgamada à natureza como ele. Ingredientes de profunda humanidade, preocupação e respeito à vida. A arte dele é mais do que objeto e estética. É a atitude. É o ser que vive para lutar pela preservação.
O nome de santo, Benedito, vem de uma promessa feita pela mãe, que precisou rezar fervorosamente para que o filho sobrevivesse. Ela morreu cedo, quando Bené tinha dois anos. A força católica da mãe, mais a lembrança de ver índios às margens do Rio Caetés, no lugar onde nasceu, como que dão o norte à sua caminhada. As tantas lutas – como as pela preservação do Rio São Francisco, da Chapada dos Guimarães – trazem essa marca. Bené expressa espiritualidade no que faz. Imprime o sublime nos pensamentos e ações.
Gosta de misturar índio com negro para falar de um caboclo brasileiro por circunstância, universal pelo unânime que há no humano. Cava em busca de resquícios e ancestralidade. Desenterra sabedoria telúrica e acorda os homens preocupados com as roupas que vão vestir no caixão. Como se as desenterrasse antes da desintegração para lembrar que não passarão de pó, mais dia, menos dia.
O misto de força católica e xamânica dá sentido visceral a cada passo. Planta sentimento pelo planeta. Acredita na caminhada que busca a raiz na magia oferecida pelo primitivo.
Primordial transmutante, tocando num lapso meditativo sob sol que quer evaporar rio, sempre no desaguar das emoções. E elas correm embaladas pela pausa que suspende o ar para acabar no mar. Que também é lar para os sobreviventes do duelo do lixo e do esgoto contra a vida à procura de descanso. Vem remanso até o refúgio da oca. Vem manso e nos toca. E nos mostra o caminho para adiar esse fim de mundo.
Fonte: Conexão Planeta, "Para adiar o fim do mundo", publicado por Karen Monteiro, em 28 de novembro de 2016. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Gravação do novo álbum do “artivista” paraense Bené Fonteles | Barulho d'água música
Artista plástico, jornalista, editor, escritor, poeta, cantor, compositor e xamã, entre outras formas de expressão que formam as várias facetas do incansável “artivista” que, conforme a própria definição, ele encarna, Bené Fonteles disparou campanha na internet para coletar contribuições entre amigos e tirar do papel o disco D’Alegria. Em formato físico e digital, D’Alegria será gravado no Sítio Arvoredo, em Pocinhos do Rio Verde, distrito de Caldas (MG) e onde fica o estúdio Venta Moinho “debaixo de um pé de jequitibá” do amigo, violeiro cantor e vizinho de porta João Arruda. O trabalho reforçará uma discografia que, fora a participação em outras gravações¹, inclui os autorais Benditos, coletânea de 2003 que mescla Benedito (1983), Silencioso (1987) e AÊ (1991); Silencioso tem apenas capa, já que sua proposta conceitual é a de que seja ouvido o silêncio.
Em 2019, em parceria com Lucina, Fonteles trouxe em Canções para Pescar Almas as sonoridades do diverso, que o fazem tão brasileiro quanto universal em meio a conversas fluidas de melodia e poesia sobre questões culturais, ecológicas, filosóficas e espirituais. A partir das bases de Lucina, os músicos convidados criaram verdadeiras arquiteturas sonoras: Egberto Gismonti, Gilberto Gil, João Arruda, Ney Marques, Marco Bosco, Paulinho Oliveira, Décio Gioielli, Chica Brother, Saulo Battesini, Adriana Sanchez, Bosco Fonseca, Márcia Nascimento, Julia Borges e Regina Machado. Embora digital, Canções… sugere sua apreciação à moda antiga, como um dos vinis “em que curtíamos o belo projeto gráfico, o encarte farto com as letras das canções onde a poesia realçava-se como num pequeno livro e que deu à chamada MPB o status poético merecido”.
Gismonti, Gil e Arruda estarão de volta em D’Alegria, cuja direção artística caberá a Lucina, cantora e compositora que formou a inesquecível dupla com Luhli (1945-2018). Neste novo rebento, há entre outras participações especiais divulgadas pelo próprio Fonteles, ainda, Bianca (filha de Egberto e que forma com Claudia Castelo Branco o Duo Gisbranco); Consuelo de Paula; Joésia Falavigna, Levi Ramiro, Tetê Espíndola e Luiz Bueno, parceiro de Fernando Melo no Duofel, e Webster Santos.
“Bené Fonteles é pura fonte de água límpida que jorra arte sobre todos nós!”, escreveu Consuelo de Paula. “Um eterno menino, pois a música dele o faz assim. Bené é a união da sabedoria, do amor e da arte. Participar desse disco é a união do prazer estético com o prazer da alma, é banhar-se em cachoeira mágica. Salve, Bené!”, concluiu a cantora, compositora e poetisa mineira, autora entre outros trabalhos de Maryákoré (2019).
Compositor, letrista, jornalista e escritor, Carlos Rennó também elogiou o projeto novo de Fonteles: “Merece o nosso apoio. Bené é mais conhecido como ‘artista plástico’, mas o termo não dá conta de seu trabalho – nem talvez a palavra ‘trabalho’ dê conta do que ele faz…; nem, talvez, ‘arte’…: talvez ‘artevida’ possa ser aplicada ao seu caso (…) É um artista de atividade plural que inclui a música e a poesia, e que já fez álbuns muito bonitos, cheios de participações bacanas, de nomes da música admiradores seus. Além disso, produziu um disco-livro antológico de Gil que é justamente aquilo que seu título diz: Gil Luminoso. O reconhecimento da grandeza da obra desse ‘artivista’ – que foi aliás quem usou pioneira e inventivamente a expressão ‘artevismo’, do que eu sou um seguidor, nos anos 1980 – é ainda maior, quanto mais nos damos conta da sua simplicidade.”
Criador de longa e consolidada trajetória artística nas artes plásticas, música e poesia, há várias páginas e vídeos que trazem dados e informações sobre a rica biografia de Bené Fonteles e os projetos transdisciplinares marcados pela esfera ritualística que ele vem protagonizando desde o começo dos anos 1970. São álbuns e livros publicados e obras expostas em acervos dos museus de arte moderna de cidades como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Nova Iorque (Estados Unidos da América), e Paris (França), além de, ao menos cinco Bienais Internacionais de São Paulo, somadas às diversas mostras individuais e coletivas ligadas à arte postal e a pesquisas de novas expressões artísticas.
A militância ecológica é um traço marcante da obra de Bené Fonteles, da qual deriva o Movimento Artista pela Natureza, que desde 1986 busca fomentar a consciência ecológica e valorizar a educação ambiental por meio da arte. Natural de Bragança (PA), grande parte desta produção dialoga com as estéticas e poéticas das culturas indígenas. “Eu gosto desta dúvida de transitar entre o que é arte e o que é artesanía”, enfatiza Fonteles a respeito de sua obra plástica, baseada na transformação de materiais simples, e muitas vezes frágeis, naturais ou pouco trabalhados pelo homem.
Fonteles se apropria de objetos para transfigurá-los a partir da evocação de seu potencial poético, seja intervindo nesses objetos ou associando-os em instalações. Grande parte dos materiais escolhidos pelo artista está ligada à terra brasileira, devido à sua postura política como ativista ambiental. Assim, Bené Fonteles tenta estimular a imaginação do observador a escapar dos usos convencionais dos objetos, tendência de uma geração de artistas do século XX que busca uma alternativa ao entorpecimento da rotina.
Em matéria disponível no portal Conexão Planeta-Inspiração para a ação, escrita por Karen Monteiro, em 28 de novembro de 2016 e intitulada Para adiar o fim o mundo, por ocasião da 32º Bienal de São Paulo, a jornalista, tradutora, e cronista escreveu que:
“Materiais usados em habitações indígenas e caboclas e mais restos orgânicos trazidos pelo mar, além de outros objetos coletados por Bené nas suas viagens pelo país, fundem-se na alquimia da troca durante os encontros que ele chamou de Conversas para adiar o fim do mundo na Ágora: Oca Tapera Terreiro, proposta que surgiu a partir de uma ideia do líder indígena Ailton Krenak.
Nesse caldeirão e nessa obra Cozinheiro do Tempo ferve mesmo o tempo, não tenha dúvida. Tempo cozido e temperado por Bené. Receita simples de seguir para quem tem alma amalgamada à natureza como ele. Ingredientes de profunda humanidade, preocupação e respeito à vida. A arte dele é mais do que objeto e estética. É a atitude. É o ser que vive para lutar pela preservação.”
Na matéria de Karen Monteiro para o portal Conexão Planeta-Inspiração, ela também redigiu uma biografia de Bené Fonteles apontando que o nome de santo, Benedito,
“Vem de uma promessa feita pela mãe, que precisou rezar fervorosamente para que o filho sobrevivesse. Ela morreu cedo, quando Bené tinha dois anos. A força católica da mãe, mais a lembrança de ver índios às margens do Rio Caetés, no lugar onde nasceu, como que dão o norte à sua caminhada. As tantas lutas – como as pela preservação do Rio São Francisco, da Chapada dos Guimarães – trazem essa marca. Bené expressa espiritualidade no que faz. Imprime o sublime nos pensamentos e ações.”
Karen prosseguiu sobre Fonteles:
“Gosta de misturar índio com negro para falar de um caboclo brasileiro por circunstância, universal pelo unânime que há no humano. Cava em busca de resquícios e ancestralidade. Desenterra sabedoria telúrica e acorda os homens preocupados com as roupas que vão vestir no caixão. Como se as desenterrasse antes da desintegração para lembrar que não passarão de pó, mais dia, menos dia.”
“O misto de força católica e xamânica dá sentido visceral a cada passo. Planta sentimento pelo planeta”, na visão de Karen Monteiro. “Acredita na caminhada que busca a raiz na magia oferecida pelo primitivo”.
“Primordial transmutante, tocando num lapso meditativo sob sol que quer evaporar rio, sempre no desaguar das emoções”, lê-se também na matéria para o portal Conexão Planeta, que assim flui: “E elas correm embaladas pela pausa que suspende o ar para acabar no mar. Que também é lar para os sobreviventes do duelo do lixo e do esgoto contra a vida à procura de descanso. Vem remanso até o refúgio da oca. Vem manso e nos toca. E nos mostra o caminho para adiar esse fim de mundo.”
Ordem do mérito cultural
O currículo de atividades e colaborações ao mundo artístico de Fonteles destaca ainda que entre 1983 e 1986 ele dirigiu o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP), da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Na década dos anos 1980, envolveu-se em programas e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Chegou em 1991 a mudar-se para Brasília, onde manteve atuação como ativista ecológico e organizador de eventos artísticos. Em 1997, organizou a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA).
Os livros que assina são aclamados no meio, tal qual O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Juntando todas as linhas e pontas, este tapete multicultural que ele tece rendeu a Bené Fonteles, em 2003, entregue na ocasião pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Ordem do Mérito Cultural, insígnia outorgada a personalidades e instituições culturais pelo Ministério da Cultura, a única no país voltada, exclusivamente, à valorização da Cultura (MinC).
A cerimônia de entrega da Ordem transcorreu em 19 de dezembro, com a presença de Gilberto Gil, então titular do MinC, e além de Fonteles também a receberam entre outros da seleta lista que tem 40 nomes Milton Santos (in memorian); Antônio Nóbrega; Chico Buarque de Holanda; Eduardo Bueno; Herbert Vianna, pelos Paralamas do Sucesso; Jorge Mautner; Luiz Costa Lima; Maestro Gilberto Mendes Marília Pêra; Mestre João Pequeno; Moacyr Scliar; Nelson Pereira dos Santos; Rita Lee; Roberto Farias; Rogério Sganzerla; Rubinho do Vale e a dupla Zezé Di Camargo e Luciano.
Em 2014, Bené Fonteles organizou o livro NicEstrigas: Arte e Afeto, projeto realizado com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.
Fonte: Barulho d'Água música. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Bené Fonteles lança livro sobre a obra do artista plástico Rubem Valentim | Correio Braziliense
Em 'Geometria do sagrado', Bené Fonteles se debruça sobre a obra de Rubem Valentim, um dos mais importantes artistas brasileiros modernos.
O artista plástico, curador e editor Bené Fonteles se encontrou, pela primeira vez, com Rubem Valentim, em uma exposição na Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1977. A conexão espiritual foi instantânea porque o paraense conhecia muito bem o universo do candomblé, uma das fontes da obra do baiano. Ficaram muito amigos e, pouco antes de morrer, Valentim designou Bené para ser o guardião de sua obra. O próprio Bené se autonomeou o "Ogan da obra de Valentim". O Ogan, em iorubá, quer dizer "senhor da minha casa".
E, agora, ele lança o primeiro livro alentado sobre Rubem Valentim: Sagrada geometria (Edições Pinakotheke), que oferece um amplo panorama sobre um dos mais importantes artistas brasileiros modernos. Ele nasceu em Salvador, Bahia, no ano da Semana de Arte Moderna, em 1922, e morreu em São Paulo, em 1991.
Tinha afinidades com o movimento concreto e com movimento neoconcreto. Mas a sua arte transcende essas vertentes, pois Valentim buscava a expressão do sagrado, com a signagem das pinturas e os totens e altares inspirados nas tradições afrobaiana e ameríndia, associadas a culturas ancestrais de outros países.
Valentim morou em Brasília, nas décadas de 1970 e 1980, sofreu o impacto da espacialidade, mas amargou a incompreensão e a frustração de não conseguir organizar um centro cultural, a partir de sua obra. Nesta entrevista, Bené Fonteles fala sobre a relevância, os embates e o legado precioso da obra de Rubem Valentim.
Como situa esse livro dentro da bibliografia de Rubem Valentim?
Apesar da importância dele para a arte brasileira, não havia, ainda, nenhum livro sobre Rubem Valentim. Só existia um livro-catálogo, com fortuna crítica muito boa, mas sem cronologia. Não conseguimos o financiamento completo, e tivemos de reduzir o livro para 300 páginas. O projeto original era de 500 páginas. A fortuna crítica é preciosa, reúne textos de Ferreira Gullar, Frederico Moraes, Paulo Herkenhoff, Emanoel Araújo, Giulio Argan, Roberto Pontual e Olívio Tavares, entre outros. Valentim é o único artista latino americano que teve um texto de Giulio Argan. Nos tempos em que ele era prefeito de Roma, comprou três obras de Valentim para o museu da cidade.
Como avalia a relevância de Rubem Valentim para a arte brasileira?
É uma importância capital, acho que ele é um dos cinco ou sete artistas mais importantes da arte brasileira, alguns críticos consideram. Não são só fundamentais, são raiz, estão no nível de Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Noel Rosa. É um marco, ele influenciou muitos artistas. Paulo Herkenhoff considera que ele não é só um artista negro ou mestiço relevante, é o mais importante artista das américas.
Quais são os traços de originalidade da obra de Rubem Valentim?
Primeiro, ter partido da raiz, dos símbolos afrobaianos e afroamericanos. Ele decodificou as ferramentas dos orixás e mostrou que algumas são cruzadas, têm essa coisa energética e bela tão original da Bahia. Transforma isso em uma obra construtiva, até de muita parecença com os artistas concretos. Aliás, havia essa afinidade também dos concretos com Volpi, mas eles não quiseram participar do movimento, tinham trajetórias muito singulares. Depois, Valentim realiza a transcriação desses objetos associada a outras culturas do mundo. Vai aos tempos da Grécia e da Mesopotânia. Ele tinha uma biblioteca de 2 mil volumes, bebia no I Ching, na cultura dos maias, na cultura dos astecas. Era um homem muito culto, produziu uma obra muito complexa.
A relação de Rubem Valentim com Brasília foi muito conturbada?
Foi importantíssima, a espacialidade da obra dele tem muita relação com Brasília. A cidade impactou sua obra. Queria fazer esculturas no meio do cerrado, chegou a fazer fotos dos seus trabalhos no meio do descampado, queria uma arte monumental para Brasília. Mas nunca conseguiu realizar seu ideal. Tentou criar a Casa Rubem Valentim em um terreno comprado no Lago Sul, com uma exposição inteira que havia vendido para essa finalidade. Montou um escritório na Asa Sul, tentando apoio do governo para a construção. Foi uma frustração muito grande, teve de devolver o terreno com a Terracap. Acho que levou essa mágoa. Os livros da biblioteca dele foram vendidos para um sebo. Montei 17 exposições de Rubem Valentim, os herdeiros foram muito generosos.
Ainda há algo a fazer para reparar o desinteresse de Brasília pela obra de Rubem Valentim?
Não, nada mais. Consegui que o atelier dele inteiro fosse para o Museu de Arte em Brasília, quando o Wagner Barja era diretor. É precioso o que o MAB tem. Ele falava com todos, conversava com ministros, com autoridades, mas ninguém se sensibilizava. O reconhecimento da crítica veio, principalmente, depois que montei uma grande exposição na Pinacoteca de São Paulo com o acervo que deixou com a mulher e com os colecionadores. A geração mais nova não entendia.
Havia afinidades com o movimento concreto. Mas o que separava Valentim dos concretistas?
Os trabalhos de Valentim poderiam estar em uma exposição de arte concreta ou neoconcreta. Mas a liberdade dele era imensa.
Como o misticismo se afina com o lado construtivo?
Ele é um construtivo, mas é muito híbrido. Quando se liberta da figuração, a arte de Valentim se torna uma geometria sensível, como diz Frederico Moraes. É uma geometria do sagrado, fundada na cultura afrobrasileira e ameríndia.
Fonte: Correio Brasiliense, "Bené Fonteles lança livro sobre a obra do artista plástico Rubem Valentim", escrito por Severino Francisco, publicado em 21 de agosto de 2022. Consultado pela última vez em 1 de setembro de 2022.
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Lucina e Bené Fonteles se harmonizam na leveza de 'Canções para pescar almas' | G1
A ambiência típica de bossa nova emulada na gravação de Ama e reza – primeira das 12 músicas do álbum com parcerias de Lucina com Bené Fonteles – está em sintonia com o espírito da composição e do próprio disco, intitulado Canções para pescar almas.
Cantora, compositora e instrumentista mato-grossense projetada nos anos 1970 ao formar dupla com Luhli (1945 – 2018), Lucina se harmoniza com Bené – poeta, compositor e escultor paraense Bené Fonteles – neste disco que celebra a leveza da música brasileira sem xenofobia.
Seja cantando Saudade caipira, com evocação da Tristeza do Jeca (Angelino de Oliveira, 1922), seja caindo no samba De flor, Lucina e Bené combinam melodia e poesia para versar sobre questões éticas, filosóficas, ecológicas e espirituais.
Música pontuada pela guitarra de Ney Marques, Um sol é faixa dedicada a Luhli, amiga que saiu de cena no ano passado. "E há vida a um passo da tristeza / E há morte a um passo da alegria", correlacionam poeticamente Lucina e Bené em versos de Um sol.
Faixa mais estrelada do álbum Canções para pescar almas, Só Yara ostenta o violão de Gilberto Gil – artista identificado com a ideologia do álbum – e o piano de Egberto Gismonti. Nesta música, o suave canto grave de Lucina é entrecortado pela poesia falada de Bené.
Produzido por Lucina com Bené, sob direção musical da artista, o disco é o desdobramento do encontro da cantora com o poeta há 37 anos. Lucina e Bené foram apresentados por Belchior (1946 – 2017) em 1982 quando o artista cearense produzia disco de Bené.
Diversas conexões depois, o álbum Canções para pescar almas vem ao mundo com o registro de parcerias criadas ao longo dos últimos dez anos, reiterando a harmonia que pauta o encontro musical e existencial de Lucina com Bené Fonteles.
Fonte: G1, "Lucina e Bené Fonteles se harmonizam na leveza de 'Canções para pescar almas'", escrito por Mauro Ferreira, publicado em 10 de agosto de 2019. Consultado pela última vez em 1 de setembro de 2022.
Crédito fotográfico: Fase10, "Bené Fonteles". Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
José Benedito Fonteles (Bragança, PA, 21 de março de 1953), mais conhecido como Bené Fonteles, é um artista visual, compositor, escritor, escultor, jornalista, curador de arte, xamã e poeta brasileiro. Iniciou sua carreira em 1971, expondo no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará e trabalhando como jornalista em Fortaleza. Ativista ambiental, as obras plásticas de Bené se baseiam na transformação de materiais simples em arte, utilizando elementos naturais ou pouco trabalhados pelo homem, como pedras, pedaços de troncos, cordas, tecidos rústicos e arame. Durante as décadas de 70 e 80, integra anualmente diversas exposições coletivas, nacionais e internacionais, ligadas à arte postal e a pesquisas de novos meios de expressão. Nesse período, participou de quatro edições da Bienal Internacional de São Paulo e envolveu-se em projetos e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Entre 1983 e 1986, dirigiu o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Em 1997, organiza a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim (1922-2001), no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA). Entre os livros que publicou, destacam-se O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Seu trabalho como compositor está reunido no CD Benditos, lançado em 2003, que agrupa três trabalhos anteriores, Bendito (1983), Silencioso (1989) e Aê (1991). Em 2003, recebeu da Presidência da República a comenda Ordem do Mérito Cultural. Bené realizou diversas mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior.
Biografia – Itaú Cultural
José Benedito Fonteles iniciou sua carreira em 1971, expondo no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará. Em Fortaleza, trabalha como jornalista. Durante as décadas de 1970 e 1980, integra anualmente diversas exposições coletivas, nacionais e internacionais, ligadas à arte postal e a pesquisas de novos meios de expressão. Nesse período, participou de quatro edições da Bienal Internacional de São Paulo (1973, 1975, 1977 e 1981). Realiza, ainda, a partir de 1974, diversas mostras individuais, no Brasil e no exterior.
Entre 1983 e 1986, dirige o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Na década de 1980, envolveu-se em projetos e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Em 1991, mudou-se para Brasília, onde mantém atuação como ativista ecológico e organizador de eventos artísticos. Em 1997, organiza a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA). Entre os livros que publicou, destacam-se O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Seu trabalho como compositor está reunido no CD Benditos, lançado em 2003, que agrupa três trabalhos anteriores, Bendito (1983), Silencioso (1989) e Aê (1991). Em 2003, recebe da Presidência da República a Comenda Ordem do Mérito Cultural.
Análise
O texto de Bené Fonteles para o catálogo de sua exposição Palavras e Obras inicia com a frase: "Eu gosto desta dúvida de transitar entre o que é arte e o que é artesanía"1. Ela diz muito sobre a obra plástica do artista, baseada sobretudo na transformação de materiais simples e muitas vezes frágeis, naturais ou pouco trabalhados pelo homem, tais como pedras, pedaços de troncos, cordas, tecidos rústicos e arame. Além desse tipo de suporte, Fonteles trabalha com a apropriação de objetos, sempre com o objetivo de transfigurá-los a partir da evocação de seu potencial poético, seja intervindo nesses objetos ou associando-os em instalações. Deve-se observar que grande parte dos materiais escolhidos pelo artista estão ligados à terra brasileira, uma opção que advém de sua postura política como ativista ambiental.
Fonteles procura recolocar o homem em contato com a energia poética contida na natureza, estimulando a imaginação do observador com vistas a escapar de conceitos e usos convencionais associados aos objetos que utiliza. Como o próprio artista reconhece, essa postura inspira-se em mais de uma geração de artistas atuantes no século XX, que procuram inspiração na relação entre homem, natureza e universo.
Críticas
"Para os trabalhos em xerox Bené se utiliza sobretudo do fotojornalismo, pois sua temática continua baseada na informação visual externa (como no caso das greves, Lula, séries de Lennon e Yoko Ono, etc.). Ao mesmo tempo, mantém seu artesanato no recorte das imagens, na composição e arranjo das mesmas, em sua justaposição e sobreposição - ou seja: a foto apropriada manipulada através do artesanato e a seguir submetida a máquina que lhe confere uma dignidade gráfica inexistente na simples colagem. E mais: uma vez xerocada essa imagem, com as distorções e efeitos que Bené já explora e sabe como conseguir, ele novamente retorna ao artesanal, amassando o papel impresso xerograficamente, ou recortando as imagens em xerox antes de reinserí-las em composição alternativa. Que por sua vez é submetida ao xerox como 'matrix' para uma imagem que ele possa considerar como definitiva. De uma tiragem que poderá repetir inúmeras vezes.
O resultado, em alguns trabalhos, como na série de Lula falando com o dedo em riste é, sem dúvida, o melhor, na utilização do xerox que temos visto entre nós" — Aracy Amaral (AMARAL, Aracy. Arte e meio artístico: entre a feijoada e o x-burguer: 1961 - 1981. Apresentação Ana Maria de Moraes Belluzzo. São Paulo: Nobel, 1983. 423 p).
"Bené Fonteles vem realizando uma obra, tendo sempre a natureza como fulcro e cerne. Poucos artistas nacionais seguem o processo indígena de sentir, como Fonteles. Para o índio não há diferença entre 'arte' e vida... A Arte de Bené é ecológica e é toda centrada em signos da natureza, ou seja, significantes que mudam de significados tão logo deixem as florestas e cerrados-, onde realmente existem em plenitude...
Como os índios, Bené faz arte como manifestação de alegria, pureza de viver, beleza de emocionar. Tendo como atelier a Chapada dos Guimarães, além de utilizar-se de material local com a nítida intenção de mostrar ao homo urbanus as delícias do viver natural, Bené nos indianiza, nos purifica e cria obra invulgar... Arte sem artificialismos, seja com a tecnologia urbana, seja com a tecnologia da selva" — Alberto Beuttenmüller, 1986
BEUTTENMÜLLER, Alberto. [Texto crítico]. In: FONTELES, Bené. Antes arte do que tarde: Bené Fonteles. Fortaleza: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, 1990.
Depoimentos
"É só pôr a tecnologia para o uso do artista: uma fotocopiadora, uma tesoura, letraset, cola, lápis, régua, ecoline, impressão offset papel/cor - usando-a para reinventar as paisagens e os fatos destruídos por ela, denunciar as atmosferas suspeitas. A arte é exercício da lucidez frente à realidade do homem oprimido em qualquer lugar do planeta. Que se crie através da amoralidade o princípio único da arte: uma democracia de concepções criativas múltiplas; que brote de cada ser na arte: alternativa - adormecida pelo entorpecimento da rotina; que de cada espírito nasçam seus desejos ancestrais...
A arte como experimento sendo veículo-meio de produção artística sem intenções de consumismo imediato, mas de ativismo das idéias para propor e decifrar enigmas contemporâneos; assim assume uma função verdadeira dentro do processo histórico: não ver o homem dentro de um processo vitrine, mas estar com ele dentro da vitrine e despertar-lhe, então o silêncio e o barulho, a sua consciência para quebrar o vidro que separa a vida da arte, e aí, a partir desta reação, perdermos a linguagem do medo, retornarmos à verdadeira função sensível - percepção biológica - filosófica - política de equilíbrio com o meio ambiente em que fomos reproduzidos, dentro da estrutura natureza-mente - evolução normal de onde fomos desencaminhados.
A arte experimental urbana é testemunha dos tempos trágicos; e usando os meios de expressão de grande tecnologia - avanços irrealistas frente à fome, eu disse 'à fome' geral que ainda nos ameaça - precisava-se resolver, através da ciência x arte, o problema espiritual e material da evolução humana. Semeando uma nova consciência na cabeça dos povos oprimidos, fazendo que, com o próprio exercício da reflexão crítica de sua condição, nasça o instinto da libertação. Antes arte do que tarde" — Bené Fonteles (FONTELES, Bené. Antes arte do que tarde: Bené Fonteles. Fortaleza: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, 1990).
Acervos
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil - São Paulo SP
Fundação Nacional de Arte - Funarte - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte Contemporânea de Porto Alegre - MAC - Curitiba PR
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP - São Paulo SP
Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará - Mauc - Fortaleza CE
Minimuseu Firmeza - Fortaleza CE
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris - Paris (França)
Museu da Universidade Federal do Pará - Museu da UFPA - Belém PA
Museu de Arte Contemporânea José Pancetti - MACC - Campinas SP
Museu de Arte e de Cultura Popular - Cuiabá MT
Museum of Modern Art - MoMA - Nova York (Estados Unidos)
Exposições Individuais
1974 - Fortaleza CE - Individual, na Galeria da Casa de Cultura Raimundo Cela
1974 - Fortaleza CE - Primeira individual, na Galeria Gauguin
1975 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1976 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1977 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1978 - Fortaleza CE - Investigações, na Sala Interarte
1979 - Fortaleza CE - Resultado, na Sala Interarte
1979 - São Paulo SP - Bené Fonteles: audiovisuais, no MAC/USP
1980 - Belém PA - Bené Fonteles: xerografias e colagens, na Galeria Um
1980 - Belém PA - Experimentos, na Universidade Federal do Pará
1980 - Belém PA - Gravuras Experimentais, na Galeria Theodoro Braga
1980 - Curitiba PR - Bené Fonteles: audiovisuais, no Museu Guido Viaro
1980 - Fortaleza CE - Exercícios Visuais, na Universidade Federal do Ceará
1980 - Rio de Janeiro RJ - Bené Fonteles: xerografias, na Galeria Gravura Brasileira
1980 - Rio de Janeiro RJ - Em Extermínio, na Funarte. Galeria Rodrigo Mello Franco de Andrade
1980 - San Salvador (El Salvador) - Ejercicios Visuales, na Sala Nacional de Exposiciones
1980 - São Paulo SP - Bené Fonteles: audiovisuais, na Pinacoteca do Estado
1981 - Cuiabá MT - Individual, na Galeria Laila Zahran
1981 - Porto Alegre RS - Yokos, no Espaço N.O.
1981 - São Paulo SP - Bené Fonteles: xerografias, colagens e outdoors, na Galeria Suzanna Sassoun
1981 - São Paulo SP - O Cartaz e a Obra, no Café Paris
1981 - São Paulo SP - Relações, no Gabinete Fotográfico da Pinacoteca do Estado
1982 - Cuiabá MT - Bené Fonteles: xerografias e colagens, na Estação Rodoviária de Cuiabá
1982 - São Paulo SP - Terra, na Pinacoteca do Estado
1983 - São Paulo SP - A Natureza do Artista, no CCSP
1984 - São Paulo SP - Individual, no Paço das Artes
1985 - Cuiabá MT - Mágicas, na Artegaleria
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na EAV/Parque Lage
1986 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, na Galeria Unidade Dois
1986 - São Paulo SP - Individual, no Paço das Artes
1987 - Porto Alegre RS - Antes Arte do que Tarde, no Cambona Centro de Artes
1987 - Rio de Janeiro RJ - Antes Arte do que Tarde, na Montesanti Galleria
1988 - Brasília DF - Antes Arte do que Tarde, na Galeria Espaço Capital
1988 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, na Paulo Figueiredo Galeria de Arte
1990 - Fortaleza CE - Antes Arte do que Tarde, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará
1990 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, no Masp
2001 - Brasília DF - Bené Fonteles: sudários, auto-retratos e obras de 1996 a 2001, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2001 - Brasília DF - Individual, na Referência Galeria de Arte
2004 - São Paulo SP - Ausência e Presença em Gameleira do Assuruá, no Sesc Pompéia
2004 - São Paulo SP - Palavras e Obras, na Estação Pinacoteca
Exposições Coletivas
1971 - Fortaleza CE - 1ª Expô Universiatária de Arte - prêmio especial
1971 - Fortaleza CE - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará
1971 - Fortaleza CE - Salão de Abril
1972 - Fortaleza CE - 22º Salão Municipal de Abril - sala especial
1972 - Fortaleza CE - 2ª Expô Universiatária de Arte
1973 - São Paulo SP - 12ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1974 - São Paulo SP - 8º Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP
1974 - São Paulo SP - Bienal Nacional 74, na Fundação Bienal
1975 - Rio de Janeiro RJ - 7º Salão de Verão, no MAM/RJ
1975 - São Paulo SP - 13ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1975 - São Paulo SP - 7º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - Lansing (Estados Unidos) - Modern Art in Brazil, no Kresge Art Museum
1976 - Rio de Janeiro RJ - 1º Arte Agora, no MAM/RJ
1977 - Amsterdã (Holanda) - Mail Art Exposition
1977 - São Paulo SP - 14ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1977 - São Paulo SP - Poéticas Visuais, no MAC/USP
1979 - Nova York (Estados Unidos) - Contemporary Brazilian Works on Paper: 49 artists, na Nobé Gallery
1980 - João Pessoa PB - Xerografias, no Núcleo de Arte Contemporânea
1980 - Lisboa (Portugal) - Mostra Internacional de Arte Postal, na Galeria Quadrum
1980 - Porto Alegre RS - Xerografias, no Espaço N.O.
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1980 - São Paulo SP - Destaque do Ano, no Masp
1980 - São Paulo SP - Fotografia como Suporte, na Foto Galeria
1980 - São Paulo SP - Poucos e Raros
1980 - São Paulo SP - Xerografias, na Pinacoteca do Estado
1981 - Boston (Estados Unidos) - Current Myths, no Art Institute of Boston
1981 - Cuiabá MT - Papel da Arte sobre Papel, na Galeria Laila Zahran
1981 - Curitiba PR - 38º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra - sala especial
1981 - Los Angeles (Estados Unidos) - International Mail-Art Show, no Otis Art Institute
1981 - Recife PE - 1ª Exposição Internacional de Poemas Visuais em Outdoor, no espaço urbano da cidade
1981 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1981 - Rio de Janeiro RJ - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1981 - São Paulo SP - 16ª Bienal Internacional de São Paulol, na Fundação Bienal
1981 - São Paulo SP - Mostra de Heliografia, na Pinacoteca do Estado
1981 - Vista (Estados Unidos) - Erotica-Exotica, na New Vistas Gallery
1982 - Caxias do Sul RS - Artemicro, na Universidade de Caxias do Sul
1982 - Coimbra (Portugal) - Microarte, no Círculo das Artes Plásticas
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Lisboa (Portugal) - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Fundação Calouste Gulbenkian
1982 - Lisboa (Portugal) - Microarte, na Cooperativa Diferença
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Rio de Janeiro RJ - Artemicro, no MAM/RJ
1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ
1982 - São Paulo SP - Artemicro, no MIS/SP
1982 - São Paulo SP - Intercomunicável/Intercomunicabile, no MAC/USP
1983 - Dallas (Estados Unidos) - Artemicro, no Bath House Cultural Center
1983 - Los Angeles (Estados Unidos) - Target Earget, na Double Rocking Gallery
1984 - São Paulo SP - 15º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Arte na Rua 2
1984 - São Paulo SP - Arte Xerox Brasil, na Pinacoteca do Estado
1985 - Amsterdã (Holanda) - Art on the Move, na The Art Exhibition Foundation
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 - Rio de Janeiro RJ - Caligrafias e Escrituras, na Funarte. Galeria Sérgio Milliet
1985 - São Paulo SP - Arte Novos Meios/Multimeios: Brasil 70/80, no MAB/Faap
1985 - São Paulo SP - Tendências do Livro de Artista no Brasil, no CCSP
1985 - Waregem (Bélgica) - Participate, no Museum of Museums
1986 - Edmonton (Canadá) - Images of Peace, na University of Alberta. Ring House Gallery
1986 - Rio de Janeiro RJ - Artistas da Bolsa Ivan Serpa, na Funarte
1986 - São Paulo SP - A Nova Dimensão do Objeto, no MAC/USP
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 18º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1987 - São Paulo SP - A Trama do Gosto: um outro olhar sobre o cotidiano, na Fundação Bienal
1987 - Washington (Estados Unidos) - Contemporary Artists from Brazil-Portugal, no Brazilian-American Cultural Institute
1988 - Campinas SP - 13º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Artistas Brasileiros, no Masp
1988 - São Paulo SP - Civilidades da Selva: mitos e iconografias indígenas, no MAC/USP
1988 - São Paulo SP - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Sesc Pompéia
1989 - Copenhague (Dinamarca) - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Museu Charlottenborg
1989 - Londres (Inglaterra) - No Boundaries on the Planet of Tupis-Toris, no London Ecology Centre
1989 - São Paulo SP - A Estética do Candomblé, no MAC/USP
1989 - São Paulo SP - Papel Artesanal na América Latina, na Pinacoteca do Estado
1990 - Rio de Janeiro RJ - Armadilhas Indígenas, na Funarte
1990 - São Paulo SP - Armadilhas Indígenas, no Masp
1990 - São Paulo SP - Gente de Fibra, no Sesc Pompéia
1991 - São Paulo SP - Nacional x Internacional na Arte Brasileira, no Paço das Artes
1992 - Rio de Janeiro RJ - Reciclo, na Funarte
1993 - Belém PA - 2º Salão Paraense de Arte Contemporânea, na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves
1993 - Brasília DF - Um Olhar sobre Joseph Beuys, na Fundação Athos Bulcão
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1997 - São Paulo SP - 3º United Artist: luz, na Casa das Rosas
1998 - Brasília DF - Cien Recuerdos para Garcia Lorca , Espaço Cultural 508 Sul
1999 - São Paulo SP - A Ressacralização da Arte, no Sec Pompéia
2000 - Brasília DF - Athos Criativos, no Conjunto Nacional Brasília
2000 - São Bento do Sapucaí SP - Athos Criativos, no O Casarão
2000 - São Paulo SP - Arte Conceitual e Conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC/USP, na Galeria de Arte do Sesi
2000 - São Paulo SP - O Papel da Arte, na Galeria de Arte do Sesi
2001 - Fortaleza CE - Retratos: Belchior visto por grandes nomes e por ele mesmo, no Centro Cultural Oboé
2002 - Austin (Estados Unidos) - Brazilian Visual Poetry, no Mexic-Arte Museum
2002 - Brasília DF - Fragmentos a Seu Imã, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2002 - Curitiba PR - São ou Não São Gravuras, Museu de Arte de Londrina
2002 - Fortaleza CE - Retratos: Belchior visto por grandes nomes e por ele mesmo, no Centro Cultural Oboé
2002 - Londrina PR - São ou Não São Gravuras?, no Museu de Arte de Londrina
2002 - São Paulo SP - Arte e Política, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - México Imaginário: o olhar do artista brasileiro, na Casa das Rosas
2003 - Brasília DF - Obranome, no Conjunto Cultural da Caixa
2003 - Rio de Janeiro RJ - Belchior: retratos e auto-retratos, no Centro Cultural da Justiça Federal
2003 - São Paulo SP - A Subversão dos Meios, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Lugar de Encontros: Amélia Toledo entre nós, na Unicid
2003 - São Paulo SP - MAC USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake
2004 - Rio de Janeiro RJ - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no MNBA
Fonte: BENÉ Fonteles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 31 de agosto de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia – Wikipédia
Com uma longa e consolidada trajetória artística nas artes plásticas, música e poesia, Bené tem álbuns e livros publicados e obras expostas em acervos dos museus de arte moderna de São Paulo, Rio, Nova Iorque, Paris e Bahia, além de ter participado de cinco Bienais Internacionais de São Paulo e diversas mostras individuais e coletivas ligadas à arte postal e a pesquisas de novas expressões artísticas. A militância ecológica é um traço marcante em sua obra, sendo criador do "Movimento Artista pela Natureza", que desde 1986 promove a consciência ecológica e da educação ambiental por meio da arte. Grande parte do seu trabalho dialoga com as estéticas e poéticas das culturas indígenas.
Biografia
Iniciou sua atuação artística nos anos 1970 em Fortaleza, onde morou até 1975 e atuou como artista plástico, compositor e ainda como jornalista e editor. Aos 18 anos, expôs no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará em 1971.
Em 1974, conheceu o compositor Gilberto Gil, com quem mantém uma consolidada amizade e parceria no ativismo ambiental e também na música. Entre 1983 e 1986, foi diretor do Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Nessa época, começou a unir suas criações artísticas a projetos e movimentos voltados à preservação ecológica. Em 1991 mudou-se para Brasília, onde manteve base por quase 30 anos, organizando eventos artísticos e produzindo suas obras.
Em 1997, ele organizou a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim (1922-2001), no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA).
Em 2003, Fonteles foi contemplado com a comenda Ordem do Mérito Cultural, que recebeu da Presidência da República.
Em 2016 apresentou-se na 32º Bienal de São Paulo com a obra de instalação “Conversas para adiar o fim do mundo”, com a colaboração do líder indígena Ailton Krenak.
A instalação “Oca Tapera Terreiro” montada como ágora dentro do Pavilhão da Bineal, recebeu artistas, ativistas, ecologistas, antropólogos, educadores e curadores para uma série de debates.
Álbuns
• Bendito (1983), com participação de Luiz Gonzaga, Tetê Espíndola, Belchior, Egberto Gismonti, Luli e Lucina.
• Silencioso (1989)
• Aê (1991). com participação de Egberto Gismonti, Tetê Espíndola, Duofel e Ney Matogrosso.
• Benditos (2003), que agrupa os três trabalhos anteriores.
• Canções para Pescar Almas (2019), lançado por Bené Fonteles e Lucina, o álbum traz canções compostas em parcerias com a compositora. Conta com participação DE Egberto Gismonti, Gilberto Gil, João Arruda, Ney Marques, Marco Bosco, Paulinho Oliveira, Décio Gioielli, Chica Brother, Saulo Battesini, Adriana Sanchez, Bosco Fonseca, Márcia Nascimento, Julia Borges e Regina Machado.
Livros Publicados
• O Livro do Ser (1994)
• Giluminoso - A Po.Ética do Ser (1999), livro sobre Gilberto Gil, que conta com ensaio fotográfico de Mário Cravo Neto, e fotos de Pierre Verger, textos de Caetano Veloso e ilustração de Arnaldo Antunes. A obra se divide em quatro partes: "Ao Compositor", um ensaio de Fonteles sobre a obra de Gil; "O Compositor Disse", antologia com 50 letras escolhidas por Fonteles e Gil; "O Compositor Me Disse", depoimento de Gil e "O Compositor Canta", com CD inédito homônimo com 15 canções cantadas e compostas por Gil. O livro e o CD foram lançados com shows no teatro do Sesc-Pompéia, em São Paulo.
• O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Para adiar o fim do mundo - Conexão Planeta
Deitar e olhar para um outro teto. Estar cercado por outras paredes. Entrar por uma porta diferente. Observar horizontes diferentes por meio de janelas desconhecidas. A oca que o paraense montou na 32ª Bienal de São Paulo tem o poder mágico de fazer com que nos permitamos. O espírito começa a voar livre por entre o teto de palha e as paredes de taipa em direção a outros saberes, na busca por outros símbolos e outros tempos.
Bené Fonteles é poeta, compositor e artista visual, mas não se diz artista. Considera-se um artivista. Desde 1970, trabalha com projetos transdisciplinares.
A instalação na Bienal funciona como uma ágora que recebe artistas, músicos, xamãs, educadores e o público, num movimento para entoar um canto de resistência.
Materiais usados em habitações indígenas e caboclas e mais restos orgânicos trazidos pelo mar, além de outros objetos coletados por Bené nas suas viagens pelo país, fundem-se na alquimia da troca durante os encontros que ele chamou de “Conversas para adiar o fim do mundo” na Ágora: Oca Tapera Terreiro, proposta que surgiu a partir de uma ideia do líder indígena Ailton Krenak.
Nesse caldeirão e nessa obra Cozinheiro do Tempo ferve mesmo o tempo, não tenha dúvida. Tempo cozido e temperado por Bené. Receita simples de seguir para quem tem alma amalgamada à natureza como ele. Ingredientes de profunda humanidade, preocupação e respeito à vida. A arte dele é mais do que objeto e estética. É a atitude. É o ser que vive para lutar pela preservação.
O nome de santo, Benedito, vem de uma promessa feita pela mãe, que precisou rezar fervorosamente para que o filho sobrevivesse. Ela morreu cedo, quando Bené tinha dois anos. A força católica da mãe, mais a lembrança de ver índios às margens do Rio Caetés, no lugar onde nasceu, como que dão o norte à sua caminhada. As tantas lutas – como as pela preservação do Rio São Francisco, da Chapada dos Guimarães – trazem essa marca. Bené expressa espiritualidade no que faz. Imprime o sublime nos pensamentos e ações.
Gosta de misturar índio com negro para falar de um caboclo brasileiro por circunstância, universal pelo unânime que há no humano. Cava em busca de resquícios e ancestralidade. Desenterra sabedoria telúrica e acorda os homens preocupados com as roupas que vão vestir no caixão. Como se as desenterrasse antes da desintegração para lembrar que não passarão de pó, mais dia, menos dia.
O misto de força católica e xamânica dá sentido visceral a cada passo. Planta sentimento pelo planeta. Acredita na caminhada que busca a raiz na magia oferecida pelo primitivo.
Primordial transmutante, tocando num lapso meditativo sob sol que quer evaporar rio, sempre no desaguar das emoções. E elas correm embaladas pela pausa que suspende o ar para acabar no mar. Que também é lar para os sobreviventes do duelo do lixo e do esgoto contra a vida à procura de descanso. Vem remanso até o refúgio da oca. Vem manso e nos toca. E nos mostra o caminho para adiar esse fim de mundo.
Fonte: Conexão Planeta, "Para adiar o fim do mundo", publicado por Karen Monteiro, em 28 de novembro de 2016. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Gravação do novo álbum do “artivista” paraense Bené Fonteles | Barulho d'água música
Artista plástico, jornalista, editor, escritor, poeta, cantor, compositor e xamã, entre outras formas de expressão que formam as várias facetas do incansável “artivista” que, conforme a própria definição, ele encarna, Bené Fonteles disparou campanha na internet para coletar contribuições entre amigos e tirar do papel o disco D’Alegria. Em formato físico e digital, D’Alegria será gravado no Sítio Arvoredo, em Pocinhos do Rio Verde, distrito de Caldas (MG) e onde fica o estúdio Venta Moinho “debaixo de um pé de jequitibá” do amigo, violeiro cantor e vizinho de porta João Arruda. O trabalho reforçará uma discografia que, fora a participação em outras gravações¹, inclui os autorais Benditos, coletânea de 2003 que mescla Benedito (1983), Silencioso (1987) e AÊ (1991); Silencioso tem apenas capa, já que sua proposta conceitual é a de que seja ouvido o silêncio.
Em 2019, em parceria com Lucina, Fonteles trouxe em Canções para Pescar Almas as sonoridades do diverso, que o fazem tão brasileiro quanto universal em meio a conversas fluidas de melodia e poesia sobre questões culturais, ecológicas, filosóficas e espirituais. A partir das bases de Lucina, os músicos convidados criaram verdadeiras arquiteturas sonoras: Egberto Gismonti, Gilberto Gil, João Arruda, Ney Marques, Marco Bosco, Paulinho Oliveira, Décio Gioielli, Chica Brother, Saulo Battesini, Adriana Sanchez, Bosco Fonseca, Márcia Nascimento, Julia Borges e Regina Machado. Embora digital, Canções… sugere sua apreciação à moda antiga, como um dos vinis “em que curtíamos o belo projeto gráfico, o encarte farto com as letras das canções onde a poesia realçava-se como num pequeno livro e que deu à chamada MPB o status poético merecido”.
Gismonti, Gil e Arruda estarão de volta em D’Alegria, cuja direção artística caberá a Lucina, cantora e compositora que formou a inesquecível dupla com Luhli (1945-2018). Neste novo rebento, há entre outras participações especiais divulgadas pelo próprio Fonteles, ainda, Bianca (filha de Egberto e que forma com Claudia Castelo Branco o Duo Gisbranco); Consuelo de Paula; Joésia Falavigna, Levi Ramiro, Tetê Espíndola e Luiz Bueno, parceiro de Fernando Melo no Duofel, e Webster Santos.
“Bené Fonteles é pura fonte de água límpida que jorra arte sobre todos nós!”, escreveu Consuelo de Paula. “Um eterno menino, pois a música dele o faz assim. Bené é a união da sabedoria, do amor e da arte. Participar desse disco é a união do prazer estético com o prazer da alma, é banhar-se em cachoeira mágica. Salve, Bené!”, concluiu a cantora, compositora e poetisa mineira, autora entre outros trabalhos de Maryákoré (2019).
Compositor, letrista, jornalista e escritor, Carlos Rennó também elogiou o projeto novo de Fonteles: “Merece o nosso apoio. Bené é mais conhecido como ‘artista plástico’, mas o termo não dá conta de seu trabalho – nem talvez a palavra ‘trabalho’ dê conta do que ele faz…; nem, talvez, ‘arte’…: talvez ‘artevida’ possa ser aplicada ao seu caso (…) É um artista de atividade plural que inclui a música e a poesia, e que já fez álbuns muito bonitos, cheios de participações bacanas, de nomes da música admiradores seus. Além disso, produziu um disco-livro antológico de Gil que é justamente aquilo que seu título diz: Gil Luminoso. O reconhecimento da grandeza da obra desse ‘artivista’ – que foi aliás quem usou pioneira e inventivamente a expressão ‘artevismo’, do que eu sou um seguidor, nos anos 1980 – é ainda maior, quanto mais nos damos conta da sua simplicidade.”
Criador de longa e consolidada trajetória artística nas artes plásticas, música e poesia, há várias páginas e vídeos que trazem dados e informações sobre a rica biografia de Bené Fonteles e os projetos transdisciplinares marcados pela esfera ritualística que ele vem protagonizando desde o começo dos anos 1970. São álbuns e livros publicados e obras expostas em acervos dos museus de arte moderna de cidades como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Nova Iorque (Estados Unidos da América), e Paris (França), além de, ao menos cinco Bienais Internacionais de São Paulo, somadas às diversas mostras individuais e coletivas ligadas à arte postal e a pesquisas de novas expressões artísticas.
A militância ecológica é um traço marcante da obra de Bené Fonteles, da qual deriva o Movimento Artista pela Natureza, que desde 1986 busca fomentar a consciência ecológica e valorizar a educação ambiental por meio da arte. Natural de Bragança (PA), grande parte desta produção dialoga com as estéticas e poéticas das culturas indígenas. “Eu gosto desta dúvida de transitar entre o que é arte e o que é artesanía”, enfatiza Fonteles a respeito de sua obra plástica, baseada na transformação de materiais simples, e muitas vezes frágeis, naturais ou pouco trabalhados pelo homem.
Fonteles se apropria de objetos para transfigurá-los a partir da evocação de seu potencial poético, seja intervindo nesses objetos ou associando-os em instalações. Grande parte dos materiais escolhidos pelo artista está ligada à terra brasileira, devido à sua postura política como ativista ambiental. Assim, Bené Fonteles tenta estimular a imaginação do observador a escapar dos usos convencionais dos objetos, tendência de uma geração de artistas do século XX que busca uma alternativa ao entorpecimento da rotina.
Em matéria disponível no portal Conexão Planeta-Inspiração para a ação, escrita por Karen Monteiro, em 28 de novembro de 2016 e intitulada Para adiar o fim o mundo, por ocasião da 32º Bienal de São Paulo, a jornalista, tradutora, e cronista escreveu que:
“Materiais usados em habitações indígenas e caboclas e mais restos orgânicos trazidos pelo mar, além de outros objetos coletados por Bené nas suas viagens pelo país, fundem-se na alquimia da troca durante os encontros que ele chamou de Conversas para adiar o fim do mundo na Ágora: Oca Tapera Terreiro, proposta que surgiu a partir de uma ideia do líder indígena Ailton Krenak.
Nesse caldeirão e nessa obra Cozinheiro do Tempo ferve mesmo o tempo, não tenha dúvida. Tempo cozido e temperado por Bené. Receita simples de seguir para quem tem alma amalgamada à natureza como ele. Ingredientes de profunda humanidade, preocupação e respeito à vida. A arte dele é mais do que objeto e estética. É a atitude. É o ser que vive para lutar pela preservação.”
Na matéria de Karen Monteiro para o portal Conexão Planeta-Inspiração, ela também redigiu uma biografia de Bené Fonteles apontando que o nome de santo, Benedito,
“Vem de uma promessa feita pela mãe, que precisou rezar fervorosamente para que o filho sobrevivesse. Ela morreu cedo, quando Bené tinha dois anos. A força católica da mãe, mais a lembrança de ver índios às margens do Rio Caetés, no lugar onde nasceu, como que dão o norte à sua caminhada. As tantas lutas – como as pela preservação do Rio São Francisco, da Chapada dos Guimarães – trazem essa marca. Bené expressa espiritualidade no que faz. Imprime o sublime nos pensamentos e ações.”
Karen prosseguiu sobre Fonteles:
“Gosta de misturar índio com negro para falar de um caboclo brasileiro por circunstância, universal pelo unânime que há no humano. Cava em busca de resquícios e ancestralidade. Desenterra sabedoria telúrica e acorda os homens preocupados com as roupas que vão vestir no caixão. Como se as desenterrasse antes da desintegração para lembrar que não passarão de pó, mais dia, menos dia.”
“O misto de força católica e xamânica dá sentido visceral a cada passo. Planta sentimento pelo planeta”, na visão de Karen Monteiro. “Acredita na caminhada que busca a raiz na magia oferecida pelo primitivo”.
“Primordial transmutante, tocando num lapso meditativo sob sol que quer evaporar rio, sempre no desaguar das emoções”, lê-se também na matéria para o portal Conexão Planeta, que assim flui: “E elas correm embaladas pela pausa que suspende o ar para acabar no mar. Que também é lar para os sobreviventes do duelo do lixo e do esgoto contra a vida à procura de descanso. Vem remanso até o refúgio da oca. Vem manso e nos toca. E nos mostra o caminho para adiar esse fim de mundo.”
Ordem do mérito cultural
O currículo de atividades e colaborações ao mundo artístico de Fonteles destaca ainda que entre 1983 e 1986 ele dirigiu o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP), da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Na década dos anos 1980, envolveu-se em programas e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Chegou em 1991 a mudar-se para Brasília, onde manteve atuação como ativista ecológico e organizador de eventos artísticos. Em 1997, organizou a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA).
Os livros que assina são aclamados no meio, tal qual O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Juntando todas as linhas e pontas, este tapete multicultural que ele tece rendeu a Bené Fonteles, em 2003, entregue na ocasião pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Ordem do Mérito Cultural, insígnia outorgada a personalidades e instituições culturais pelo Ministério da Cultura, a única no país voltada, exclusivamente, à valorização da Cultura (MinC).
A cerimônia de entrega da Ordem transcorreu em 19 de dezembro, com a presença de Gilberto Gil, então titular do MinC, e além de Fonteles também a receberam entre outros da seleta lista que tem 40 nomes Milton Santos (in memorian); Antônio Nóbrega; Chico Buarque de Holanda; Eduardo Bueno; Herbert Vianna, pelos Paralamas do Sucesso; Jorge Mautner; Luiz Costa Lima; Maestro Gilberto Mendes Marília Pêra; Mestre João Pequeno; Moacyr Scliar; Nelson Pereira dos Santos; Rita Lee; Roberto Farias; Rogério Sganzerla; Rubinho do Vale e a dupla Zezé Di Camargo e Luciano.
Em 2014, Bené Fonteles organizou o livro NicEstrigas: Arte e Afeto, projeto realizado com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.
Fonte: Barulho d'Água música. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Bené Fonteles lança livro sobre a obra do artista plástico Rubem Valentim | Correio Braziliense
Em 'Geometria do sagrado', Bené Fonteles se debruça sobre a obra de Rubem Valentim, um dos mais importantes artistas brasileiros modernos.
O artista plástico, curador e editor Bené Fonteles se encontrou, pela primeira vez, com Rubem Valentim, em uma exposição na Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1977. A conexão espiritual foi instantânea porque o paraense conhecia muito bem o universo do candomblé, uma das fontes da obra do baiano. Ficaram muito amigos e, pouco antes de morrer, Valentim designou Bené para ser o guardião de sua obra. O próprio Bené se autonomeou o "Ogan da obra de Valentim". O Ogan, em iorubá, quer dizer "senhor da minha casa".
E, agora, ele lança o primeiro livro alentado sobre Rubem Valentim: Sagrada geometria (Edições Pinakotheke), que oferece um amplo panorama sobre um dos mais importantes artistas brasileiros modernos. Ele nasceu em Salvador, Bahia, no ano da Semana de Arte Moderna, em 1922, e morreu em São Paulo, em 1991.
Tinha afinidades com o movimento concreto e com movimento neoconcreto. Mas a sua arte transcende essas vertentes, pois Valentim buscava a expressão do sagrado, com a signagem das pinturas e os totens e altares inspirados nas tradições afrobaiana e ameríndia, associadas a culturas ancestrais de outros países.
Valentim morou em Brasília, nas décadas de 1970 e 1980, sofreu o impacto da espacialidade, mas amargou a incompreensão e a frustração de não conseguir organizar um centro cultural, a partir de sua obra. Nesta entrevista, Bené Fonteles fala sobre a relevância, os embates e o legado precioso da obra de Rubem Valentim.
Como situa esse livro dentro da bibliografia de Rubem Valentim?
Apesar da importância dele para a arte brasileira, não havia, ainda, nenhum livro sobre Rubem Valentim. Só existia um livro-catálogo, com fortuna crítica muito boa, mas sem cronologia. Não conseguimos o financiamento completo, e tivemos de reduzir o livro para 300 páginas. O projeto original era de 500 páginas. A fortuna crítica é preciosa, reúne textos de Ferreira Gullar, Frederico Moraes, Paulo Herkenhoff, Emanoel Araújo, Giulio Argan, Roberto Pontual e Olívio Tavares, entre outros. Valentim é o único artista latino americano que teve um texto de Giulio Argan. Nos tempos em que ele era prefeito de Roma, comprou três obras de Valentim para o museu da cidade.
Como avalia a relevância de Rubem Valentim para a arte brasileira?
É uma importância capital, acho que ele é um dos cinco ou sete artistas mais importantes da arte brasileira, alguns críticos consideram. Não são só fundamentais, são raiz, estão no nível de Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Noel Rosa. É um marco, ele influenciou muitos artistas. Paulo Herkenhoff considera que ele não é só um artista negro ou mestiço relevante, é o mais importante artista das américas.
Quais são os traços de originalidade da obra de Rubem Valentim?
Primeiro, ter partido da raiz, dos símbolos afrobaianos e afroamericanos. Ele decodificou as ferramentas dos orixás e mostrou que algumas são cruzadas, têm essa coisa energética e bela tão original da Bahia. Transforma isso em uma obra construtiva, até de muita parecença com os artistas concretos. Aliás, havia essa afinidade também dos concretos com Volpi, mas eles não quiseram participar do movimento, tinham trajetórias muito singulares. Depois, Valentim realiza a transcriação desses objetos associada a outras culturas do mundo. Vai aos tempos da Grécia e da Mesopotânia. Ele tinha uma biblioteca de 2 mil volumes, bebia no I Ching, na cultura dos maias, na cultura dos astecas. Era um homem muito culto, produziu uma obra muito complexa.
A relação de Rubem Valentim com Brasília foi muito conturbada?
Foi importantíssima, a espacialidade da obra dele tem muita relação com Brasília. A cidade impactou sua obra. Queria fazer esculturas no meio do cerrado, chegou a fazer fotos dos seus trabalhos no meio do descampado, queria uma arte monumental para Brasília. Mas nunca conseguiu realizar seu ideal. Tentou criar a Casa Rubem Valentim em um terreno comprado no Lago Sul, com uma exposição inteira que havia vendido para essa finalidade. Montou um escritório na Asa Sul, tentando apoio do governo para a construção. Foi uma frustração muito grande, teve de devolver o terreno com a Terracap. Acho que levou essa mágoa. Os livros da biblioteca dele foram vendidos para um sebo. Montei 17 exposições de Rubem Valentim, os herdeiros foram muito generosos.
Ainda há algo a fazer para reparar o desinteresse de Brasília pela obra de Rubem Valentim?
Não, nada mais. Consegui que o atelier dele inteiro fosse para o Museu de Arte em Brasília, quando o Wagner Barja era diretor. É precioso o que o MAB tem. Ele falava com todos, conversava com ministros, com autoridades, mas ninguém se sensibilizava. O reconhecimento da crítica veio, principalmente, depois que montei uma grande exposição na Pinacoteca de São Paulo com o acervo que deixou com a mulher e com os colecionadores. A geração mais nova não entendia.
Havia afinidades com o movimento concreto. Mas o que separava Valentim dos concretistas?
Os trabalhos de Valentim poderiam estar em uma exposição de arte concreta ou neoconcreta. Mas a liberdade dele era imensa.
Como o misticismo se afina com o lado construtivo?
Ele é um construtivo, mas é muito híbrido. Quando se liberta da figuração, a arte de Valentim se torna uma geometria sensível, como diz Frederico Moraes. É uma geometria do sagrado, fundada na cultura afrobrasileira e ameríndia.
Fonte: Correio Brasiliense, "Bené Fonteles lança livro sobre a obra do artista plástico Rubem Valentim", escrito por Severino Francisco, publicado em 21 de agosto de 2022. Consultado pela última vez em 1 de setembro de 2022.
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Lucina e Bené Fonteles se harmonizam na leveza de 'Canções para pescar almas' | G1
A ambiência típica de bossa nova emulada na gravação de Ama e reza – primeira das 12 músicas do álbum com parcerias de Lucina com Bené Fonteles – está em sintonia com o espírito da composição e do próprio disco, intitulado Canções para pescar almas.
Cantora, compositora e instrumentista mato-grossense projetada nos anos 1970 ao formar dupla com Luhli (1945 – 2018), Lucina se harmoniza com Bené – poeta, compositor e escultor paraense Bené Fonteles – neste disco que celebra a leveza da música brasileira sem xenofobia.
Seja cantando Saudade caipira, com evocação da Tristeza do Jeca (Angelino de Oliveira, 1922), seja caindo no samba De flor, Lucina e Bené combinam melodia e poesia para versar sobre questões éticas, filosóficas, ecológicas e espirituais.
Música pontuada pela guitarra de Ney Marques, Um sol é faixa dedicada a Luhli, amiga que saiu de cena no ano passado. "E há vida a um passo da tristeza / E há morte a um passo da alegria", correlacionam poeticamente Lucina e Bené em versos de Um sol.
Faixa mais estrelada do álbum Canções para pescar almas, Só Yara ostenta o violão de Gilberto Gil – artista identificado com a ideologia do álbum – e o piano de Egberto Gismonti. Nesta música, o suave canto grave de Lucina é entrecortado pela poesia falada de Bené.
Produzido por Lucina com Bené, sob direção musical da artista, o disco é o desdobramento do encontro da cantora com o poeta há 37 anos. Lucina e Bené foram apresentados por Belchior (1946 – 2017) em 1982 quando o artista cearense produzia disco de Bené.
Diversas conexões depois, o álbum Canções para pescar almas vem ao mundo com o registro de parcerias criadas ao longo dos últimos dez anos, reiterando a harmonia que pauta o encontro musical e existencial de Lucina com Bené Fonteles.
Fonte: G1, "Lucina e Bené Fonteles se harmonizam na leveza de 'Canções para pescar almas'", escrito por Mauro Ferreira, publicado em 10 de agosto de 2019. Consultado pela última vez em 1 de setembro de 2022.
Crédito fotográfico: Fase10, "Bené Fonteles". Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
José Benedito Fonteles (Bragança, PA, 21 de março de 1953), mais conhecido como Bené Fonteles, é um artista visual, compositor, escritor, escultor, jornalista, curador de arte, xamã e poeta brasileiro. Iniciou sua carreira em 1971, expondo no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará e trabalhando como jornalista em Fortaleza. Ativista ambiental, as obras plásticas de Bené se baseiam na transformação de materiais simples em arte, utilizando elementos naturais ou pouco trabalhados pelo homem, como pedras, pedaços de troncos, cordas, tecidos rústicos e arame. Durante as décadas de 70 e 80, integra anualmente diversas exposições coletivas, nacionais e internacionais, ligadas à arte postal e a pesquisas de novos meios de expressão. Nesse período, participou de quatro edições da Bienal Internacional de São Paulo e envolveu-se em projetos e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Entre 1983 e 1986, dirigiu o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Em 1997, organiza a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim (1922-2001), no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA). Entre os livros que publicou, destacam-se O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Seu trabalho como compositor está reunido no CD Benditos, lançado em 2003, que agrupa três trabalhos anteriores, Bendito (1983), Silencioso (1989) e Aê (1991). Em 2003, recebeu da Presidência da República a comenda Ordem do Mérito Cultural. Bené realizou diversas mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior.
Biografia – Itaú Cultural
José Benedito Fonteles iniciou sua carreira em 1971, expondo no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará. Em Fortaleza, trabalha como jornalista. Durante as décadas de 1970 e 1980, integra anualmente diversas exposições coletivas, nacionais e internacionais, ligadas à arte postal e a pesquisas de novos meios de expressão. Nesse período, participou de quatro edições da Bienal Internacional de São Paulo (1973, 1975, 1977 e 1981). Realiza, ainda, a partir de 1974, diversas mostras individuais, no Brasil e no exterior.
Entre 1983 e 1986, dirige o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Na década de 1980, envolveu-se em projetos e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Em 1991, mudou-se para Brasília, onde mantém atuação como ativista ecológico e organizador de eventos artísticos. Em 1997, organiza a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA). Entre os livros que publicou, destacam-se O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Seu trabalho como compositor está reunido no CD Benditos, lançado em 2003, que agrupa três trabalhos anteriores, Bendito (1983), Silencioso (1989) e Aê (1991). Em 2003, recebe da Presidência da República a Comenda Ordem do Mérito Cultural.
Análise
O texto de Bené Fonteles para o catálogo de sua exposição Palavras e Obras inicia com a frase: "Eu gosto desta dúvida de transitar entre o que é arte e o que é artesanía"1. Ela diz muito sobre a obra plástica do artista, baseada sobretudo na transformação de materiais simples e muitas vezes frágeis, naturais ou pouco trabalhados pelo homem, tais como pedras, pedaços de troncos, cordas, tecidos rústicos e arame. Além desse tipo de suporte, Fonteles trabalha com a apropriação de objetos, sempre com o objetivo de transfigurá-los a partir da evocação de seu potencial poético, seja intervindo nesses objetos ou associando-os em instalações. Deve-se observar que grande parte dos materiais escolhidos pelo artista estão ligados à terra brasileira, uma opção que advém de sua postura política como ativista ambiental.
Fonteles procura recolocar o homem em contato com a energia poética contida na natureza, estimulando a imaginação do observador com vistas a escapar de conceitos e usos convencionais associados aos objetos que utiliza. Como o próprio artista reconhece, essa postura inspira-se em mais de uma geração de artistas atuantes no século XX, que procuram inspiração na relação entre homem, natureza e universo.
Críticas
"Para os trabalhos em xerox Bené se utiliza sobretudo do fotojornalismo, pois sua temática continua baseada na informação visual externa (como no caso das greves, Lula, séries de Lennon e Yoko Ono, etc.). Ao mesmo tempo, mantém seu artesanato no recorte das imagens, na composição e arranjo das mesmas, em sua justaposição e sobreposição - ou seja: a foto apropriada manipulada através do artesanato e a seguir submetida a máquina que lhe confere uma dignidade gráfica inexistente na simples colagem. E mais: uma vez xerocada essa imagem, com as distorções e efeitos que Bené já explora e sabe como conseguir, ele novamente retorna ao artesanal, amassando o papel impresso xerograficamente, ou recortando as imagens em xerox antes de reinserí-las em composição alternativa. Que por sua vez é submetida ao xerox como 'matrix' para uma imagem que ele possa considerar como definitiva. De uma tiragem que poderá repetir inúmeras vezes.
O resultado, em alguns trabalhos, como na série de Lula falando com o dedo em riste é, sem dúvida, o melhor, na utilização do xerox que temos visto entre nós" — Aracy Amaral (AMARAL, Aracy. Arte e meio artístico: entre a feijoada e o x-burguer: 1961 - 1981. Apresentação Ana Maria de Moraes Belluzzo. São Paulo: Nobel, 1983. 423 p).
"Bené Fonteles vem realizando uma obra, tendo sempre a natureza como fulcro e cerne. Poucos artistas nacionais seguem o processo indígena de sentir, como Fonteles. Para o índio não há diferença entre 'arte' e vida... A Arte de Bené é ecológica e é toda centrada em signos da natureza, ou seja, significantes que mudam de significados tão logo deixem as florestas e cerrados-, onde realmente existem em plenitude...
Como os índios, Bené faz arte como manifestação de alegria, pureza de viver, beleza de emocionar. Tendo como atelier a Chapada dos Guimarães, além de utilizar-se de material local com a nítida intenção de mostrar ao homo urbanus as delícias do viver natural, Bené nos indianiza, nos purifica e cria obra invulgar... Arte sem artificialismos, seja com a tecnologia urbana, seja com a tecnologia da selva" — Alberto Beuttenmüller, 1986
BEUTTENMÜLLER, Alberto. [Texto crítico]. In: FONTELES, Bené. Antes arte do que tarde: Bené Fonteles. Fortaleza: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, 1990.
Depoimentos
"É só pôr a tecnologia para o uso do artista: uma fotocopiadora, uma tesoura, letraset, cola, lápis, régua, ecoline, impressão offset papel/cor - usando-a para reinventar as paisagens e os fatos destruídos por ela, denunciar as atmosferas suspeitas. A arte é exercício da lucidez frente à realidade do homem oprimido em qualquer lugar do planeta. Que se crie através da amoralidade o princípio único da arte: uma democracia de concepções criativas múltiplas; que brote de cada ser na arte: alternativa - adormecida pelo entorpecimento da rotina; que de cada espírito nasçam seus desejos ancestrais...
A arte como experimento sendo veículo-meio de produção artística sem intenções de consumismo imediato, mas de ativismo das idéias para propor e decifrar enigmas contemporâneos; assim assume uma função verdadeira dentro do processo histórico: não ver o homem dentro de um processo vitrine, mas estar com ele dentro da vitrine e despertar-lhe, então o silêncio e o barulho, a sua consciência para quebrar o vidro que separa a vida da arte, e aí, a partir desta reação, perdermos a linguagem do medo, retornarmos à verdadeira função sensível - percepção biológica - filosófica - política de equilíbrio com o meio ambiente em que fomos reproduzidos, dentro da estrutura natureza-mente - evolução normal de onde fomos desencaminhados.
A arte experimental urbana é testemunha dos tempos trágicos; e usando os meios de expressão de grande tecnologia - avanços irrealistas frente à fome, eu disse 'à fome' geral que ainda nos ameaça - precisava-se resolver, através da ciência x arte, o problema espiritual e material da evolução humana. Semeando uma nova consciência na cabeça dos povos oprimidos, fazendo que, com o próprio exercício da reflexão crítica de sua condição, nasça o instinto da libertação. Antes arte do que tarde" — Bené Fonteles (FONTELES, Bené. Antes arte do que tarde: Bené Fonteles. Fortaleza: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, 1990).
Acervos
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil - São Paulo SP
Fundação Nacional de Arte - Funarte - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte Contemporânea de Porto Alegre - MAC - Curitiba PR
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP - São Paulo SP
Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará - Mauc - Fortaleza CE
Minimuseu Firmeza - Fortaleza CE
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris - Paris (França)
Museu da Universidade Federal do Pará - Museu da UFPA - Belém PA
Museu de Arte Contemporânea José Pancetti - MACC - Campinas SP
Museu de Arte e de Cultura Popular - Cuiabá MT
Museum of Modern Art - MoMA - Nova York (Estados Unidos)
Exposições Individuais
1974 - Fortaleza CE - Individual, na Galeria da Casa de Cultura Raimundo Cela
1974 - Fortaleza CE - Primeira individual, na Galeria Gauguin
1975 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1976 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1977 - Salvador BA - Individual, na Galeria do ICBA
1978 - Fortaleza CE - Investigações, na Sala Interarte
1979 - Fortaleza CE - Resultado, na Sala Interarte
1979 - São Paulo SP - Bené Fonteles: audiovisuais, no MAC/USP
1980 - Belém PA - Bené Fonteles: xerografias e colagens, na Galeria Um
1980 - Belém PA - Experimentos, na Universidade Federal do Pará
1980 - Belém PA - Gravuras Experimentais, na Galeria Theodoro Braga
1980 - Curitiba PR - Bené Fonteles: audiovisuais, no Museu Guido Viaro
1980 - Fortaleza CE - Exercícios Visuais, na Universidade Federal do Ceará
1980 - Rio de Janeiro RJ - Bené Fonteles: xerografias, na Galeria Gravura Brasileira
1980 - Rio de Janeiro RJ - Em Extermínio, na Funarte. Galeria Rodrigo Mello Franco de Andrade
1980 - San Salvador (El Salvador) - Ejercicios Visuales, na Sala Nacional de Exposiciones
1980 - São Paulo SP - Bené Fonteles: audiovisuais, na Pinacoteca do Estado
1981 - Cuiabá MT - Individual, na Galeria Laila Zahran
1981 - Porto Alegre RS - Yokos, no Espaço N.O.
1981 - São Paulo SP - Bené Fonteles: xerografias, colagens e outdoors, na Galeria Suzanna Sassoun
1981 - São Paulo SP - O Cartaz e a Obra, no Café Paris
1981 - São Paulo SP - Relações, no Gabinete Fotográfico da Pinacoteca do Estado
1982 - Cuiabá MT - Bené Fonteles: xerografias e colagens, na Estação Rodoviária de Cuiabá
1982 - São Paulo SP - Terra, na Pinacoteca do Estado
1983 - São Paulo SP - A Natureza do Artista, no CCSP
1984 - São Paulo SP - Individual, no Paço das Artes
1985 - Cuiabá MT - Mágicas, na Artegaleria
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na EAV/Parque Lage
1986 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, na Galeria Unidade Dois
1986 - São Paulo SP - Individual, no Paço das Artes
1987 - Porto Alegre RS - Antes Arte do que Tarde, no Cambona Centro de Artes
1987 - Rio de Janeiro RJ - Antes Arte do que Tarde, na Montesanti Galleria
1988 - Brasília DF - Antes Arte do que Tarde, na Galeria Espaço Capital
1988 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, na Paulo Figueiredo Galeria de Arte
1990 - Fortaleza CE - Antes Arte do que Tarde, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará
1990 - São Paulo SP - Antes Arte do que Tarde, no Masp
2001 - Brasília DF - Bené Fonteles: sudários, auto-retratos e obras de 1996 a 2001, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2001 - Brasília DF - Individual, na Referência Galeria de Arte
2004 - São Paulo SP - Ausência e Presença em Gameleira do Assuruá, no Sesc Pompéia
2004 - São Paulo SP - Palavras e Obras, na Estação Pinacoteca
Exposições Coletivas
1971 - Fortaleza CE - 1ª Expô Universiatária de Arte - prêmio especial
1971 - Fortaleza CE - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará
1971 - Fortaleza CE - Salão de Abril
1972 - Fortaleza CE - 22º Salão Municipal de Abril - sala especial
1972 - Fortaleza CE - 2ª Expô Universiatária de Arte
1973 - São Paulo SP - 12ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1974 - São Paulo SP - 8º Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP
1974 - São Paulo SP - Bienal Nacional 74, na Fundação Bienal
1975 - Rio de Janeiro RJ - 7º Salão de Verão, no MAM/RJ
1975 - São Paulo SP - 13ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1975 - São Paulo SP - 7º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - Lansing (Estados Unidos) - Modern Art in Brazil, no Kresge Art Museum
1976 - Rio de Janeiro RJ - 1º Arte Agora, no MAM/RJ
1977 - Amsterdã (Holanda) - Mail Art Exposition
1977 - São Paulo SP - 14ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1977 - São Paulo SP - Poéticas Visuais, no MAC/USP
1979 - Nova York (Estados Unidos) - Contemporary Brazilian Works on Paper: 49 artists, na Nobé Gallery
1980 - João Pessoa PB - Xerografias, no Núcleo de Arte Contemporânea
1980 - Lisboa (Portugal) - Mostra Internacional de Arte Postal, na Galeria Quadrum
1980 - Porto Alegre RS - Xerografias, no Espaço N.O.
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1980 - São Paulo SP - Destaque do Ano, no Masp
1980 - São Paulo SP - Fotografia como Suporte, na Foto Galeria
1980 - São Paulo SP - Poucos e Raros
1980 - São Paulo SP - Xerografias, na Pinacoteca do Estado
1981 - Boston (Estados Unidos) - Current Myths, no Art Institute of Boston
1981 - Cuiabá MT - Papel da Arte sobre Papel, na Galeria Laila Zahran
1981 - Curitiba PR - 38º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra - sala especial
1981 - Los Angeles (Estados Unidos) - International Mail-Art Show, no Otis Art Institute
1981 - Recife PE - 1ª Exposição Internacional de Poemas Visuais em Outdoor, no espaço urbano da cidade
1981 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1981 - Rio de Janeiro RJ - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1981 - São Paulo SP - 16ª Bienal Internacional de São Paulol, na Fundação Bienal
1981 - São Paulo SP - Mostra de Heliografia, na Pinacoteca do Estado
1981 - Vista (Estados Unidos) - Erotica-Exotica, na New Vistas Gallery
1982 - Caxias do Sul RS - Artemicro, na Universidade de Caxias do Sul
1982 - Coimbra (Portugal) - Microarte, no Círculo das Artes Plásticas
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Lisboa (Portugal) - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Fundação Calouste Gulbenkian
1982 - Lisboa (Portugal) - Microarte, na Cooperativa Diferença
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Rio de Janeiro RJ - Artemicro, no MAM/RJ
1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ
1982 - São Paulo SP - Artemicro, no MIS/SP
1982 - São Paulo SP - Intercomunicável/Intercomunicabile, no MAC/USP
1983 - Dallas (Estados Unidos) - Artemicro, no Bath House Cultural Center
1983 - Los Angeles (Estados Unidos) - Target Earget, na Double Rocking Gallery
1984 - São Paulo SP - 15º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Arte na Rua 2
1984 - São Paulo SP - Arte Xerox Brasil, na Pinacoteca do Estado
1985 - Amsterdã (Holanda) - Art on the Move, na The Art Exhibition Foundation
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 - Rio de Janeiro RJ - Caligrafias e Escrituras, na Funarte. Galeria Sérgio Milliet
1985 - São Paulo SP - Arte Novos Meios/Multimeios: Brasil 70/80, no MAB/Faap
1985 - São Paulo SP - Tendências do Livro de Artista no Brasil, no CCSP
1985 - Waregem (Bélgica) - Participate, no Museum of Museums
1986 - Edmonton (Canadá) - Images of Peace, na University of Alberta. Ring House Gallery
1986 - Rio de Janeiro RJ - Artistas da Bolsa Ivan Serpa, na Funarte
1986 - São Paulo SP - A Nova Dimensão do Objeto, no MAC/USP
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 18º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1987 - São Paulo SP - A Trama do Gosto: um outro olhar sobre o cotidiano, na Fundação Bienal
1987 - Washington (Estados Unidos) - Contemporary Artists from Brazil-Portugal, no Brazilian-American Cultural Institute
1988 - Campinas SP - 13º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Artistas Brasileiros, no Masp
1988 - São Paulo SP - Civilidades da Selva: mitos e iconografias indígenas, no MAC/USP
1988 - São Paulo SP - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Sesc Pompéia
1989 - Copenhague (Dinamarca) - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Museu Charlottenborg
1989 - Londres (Inglaterra) - No Boundaries on the Planet of Tupis-Toris, no London Ecology Centre
1989 - São Paulo SP - A Estética do Candomblé, no MAC/USP
1989 - São Paulo SP - Papel Artesanal na América Latina, na Pinacoteca do Estado
1990 - Rio de Janeiro RJ - Armadilhas Indígenas, na Funarte
1990 - São Paulo SP - Armadilhas Indígenas, no Masp
1990 - São Paulo SP - Gente de Fibra, no Sesc Pompéia
1991 - São Paulo SP - Nacional x Internacional na Arte Brasileira, no Paço das Artes
1992 - Rio de Janeiro RJ - Reciclo, na Funarte
1993 - Belém PA - 2º Salão Paraense de Arte Contemporânea, na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves
1993 - Brasília DF - Um Olhar sobre Joseph Beuys, na Fundação Athos Bulcão
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1997 - São Paulo SP - 3º United Artist: luz, na Casa das Rosas
1998 - Brasília DF - Cien Recuerdos para Garcia Lorca , Espaço Cultural 508 Sul
1999 - São Paulo SP - A Ressacralização da Arte, no Sec Pompéia
2000 - Brasília DF - Athos Criativos, no Conjunto Nacional Brasília
2000 - São Bento do Sapucaí SP - Athos Criativos, no O Casarão
2000 - São Paulo SP - Arte Conceitual e Conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC/USP, na Galeria de Arte do Sesi
2000 - São Paulo SP - O Papel da Arte, na Galeria de Arte do Sesi
2001 - Fortaleza CE - Retratos: Belchior visto por grandes nomes e por ele mesmo, no Centro Cultural Oboé
2002 - Austin (Estados Unidos) - Brazilian Visual Poetry, no Mexic-Arte Museum
2002 - Brasília DF - Fragmentos a Seu Imã, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2002 - Curitiba PR - São ou Não São Gravuras, Museu de Arte de Londrina
2002 - Fortaleza CE - Retratos: Belchior visto por grandes nomes e por ele mesmo, no Centro Cultural Oboé
2002 - Londrina PR - São ou Não São Gravuras?, no Museu de Arte de Londrina
2002 - São Paulo SP - Arte e Política, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - México Imaginário: o olhar do artista brasileiro, na Casa das Rosas
2003 - Brasília DF - Obranome, no Conjunto Cultural da Caixa
2003 - Rio de Janeiro RJ - Belchior: retratos e auto-retratos, no Centro Cultural da Justiça Federal
2003 - São Paulo SP - A Subversão dos Meios, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Lugar de Encontros: Amélia Toledo entre nós, na Unicid
2003 - São Paulo SP - MAC USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake
2004 - Rio de Janeiro RJ - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no MNBA
Fonte: BENÉ Fonteles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 31 de agosto de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia – Wikipédia
Com uma longa e consolidada trajetória artística nas artes plásticas, música e poesia, Bené tem álbuns e livros publicados e obras expostas em acervos dos museus de arte moderna de São Paulo, Rio, Nova Iorque, Paris e Bahia, além de ter participado de cinco Bienais Internacionais de São Paulo e diversas mostras individuais e coletivas ligadas à arte postal e a pesquisas de novas expressões artísticas. A militância ecológica é um traço marcante em sua obra, sendo criador do "Movimento Artista pela Natureza", que desde 1986 promove a consciência ecológica e da educação ambiental por meio da arte. Grande parte do seu trabalho dialoga com as estéticas e poéticas das culturas indígenas.
Biografia
Iniciou sua atuação artística nos anos 1970 em Fortaleza, onde morou até 1975 e atuou como artista plástico, compositor e ainda como jornalista e editor. Aos 18 anos, expôs no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará em 1971.
Em 1974, conheceu o compositor Gilberto Gil, com quem mantém uma consolidada amizade e parceria no ativismo ambiental e também na música. Entre 1983 e 1986, foi diretor do Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Nessa época, começou a unir suas criações artísticas a projetos e movimentos voltados à preservação ecológica. Em 1991 mudou-se para Brasília, onde manteve base por quase 30 anos, organizando eventos artísticos e produzindo suas obras.
Em 1997, ele organizou a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim (1922-2001), no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA).
Em 2003, Fonteles foi contemplado com a comenda Ordem do Mérito Cultural, que recebeu da Presidência da República.
Em 2016 apresentou-se na 32º Bienal de São Paulo com a obra de instalação “Conversas para adiar o fim do mundo”, com a colaboração do líder indígena Ailton Krenak.
A instalação “Oca Tapera Terreiro” montada como ágora dentro do Pavilhão da Bineal, recebeu artistas, ativistas, ecologistas, antropólogos, educadores e curadores para uma série de debates.
Álbuns
• Bendito (1983), com participação de Luiz Gonzaga, Tetê Espíndola, Belchior, Egberto Gismonti, Luli e Lucina.
• Silencioso (1989)
• Aê (1991). com participação de Egberto Gismonti, Tetê Espíndola, Duofel e Ney Matogrosso.
• Benditos (2003), que agrupa os três trabalhos anteriores.
• Canções para Pescar Almas (2019), lançado por Bené Fonteles e Lucina, o álbum traz canções compostas em parcerias com a compositora. Conta com participação DE Egberto Gismonti, Gilberto Gil, João Arruda, Ney Marques, Marco Bosco, Paulinho Oliveira, Décio Gioielli, Chica Brother, Saulo Battesini, Adriana Sanchez, Bosco Fonseca, Márcia Nascimento, Julia Borges e Regina Machado.
Livros Publicados
• O Livro do Ser (1994)
• Giluminoso - A Po.Ética do Ser (1999), livro sobre Gilberto Gil, que conta com ensaio fotográfico de Mário Cravo Neto, e fotos de Pierre Verger, textos de Caetano Veloso e ilustração de Arnaldo Antunes. A obra se divide em quatro partes: "Ao Compositor", um ensaio de Fonteles sobre a obra de Gil; "O Compositor Disse", antologia com 50 letras escolhidas por Fonteles e Gil; "O Compositor Me Disse", depoimento de Gil e "O Compositor Canta", com CD inédito homônimo com 15 canções cantadas e compostas por Gil. O livro e o CD foram lançados com shows no teatro do Sesc-Pompéia, em São Paulo.
• O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Para adiar o fim do mundo - Conexão Planeta
Deitar e olhar para um outro teto. Estar cercado por outras paredes. Entrar por uma porta diferente. Observar horizontes diferentes por meio de janelas desconhecidas. A oca que o paraense montou na 32ª Bienal de São Paulo tem o poder mágico de fazer com que nos permitamos. O espírito começa a voar livre por entre o teto de palha e as paredes de taipa em direção a outros saberes, na busca por outros símbolos e outros tempos.
Bené Fonteles é poeta, compositor e artista visual, mas não se diz artista. Considera-se um artivista. Desde 1970, trabalha com projetos transdisciplinares.
A instalação na Bienal funciona como uma ágora que recebe artistas, músicos, xamãs, educadores e o público, num movimento para entoar um canto de resistência.
Materiais usados em habitações indígenas e caboclas e mais restos orgânicos trazidos pelo mar, além de outros objetos coletados por Bené nas suas viagens pelo país, fundem-se na alquimia da troca durante os encontros que ele chamou de “Conversas para adiar o fim do mundo” na Ágora: Oca Tapera Terreiro, proposta que surgiu a partir de uma ideia do líder indígena Ailton Krenak.
Nesse caldeirão e nessa obra Cozinheiro do Tempo ferve mesmo o tempo, não tenha dúvida. Tempo cozido e temperado por Bené. Receita simples de seguir para quem tem alma amalgamada à natureza como ele. Ingredientes de profunda humanidade, preocupação e respeito à vida. A arte dele é mais do que objeto e estética. É a atitude. É o ser que vive para lutar pela preservação.
O nome de santo, Benedito, vem de uma promessa feita pela mãe, que precisou rezar fervorosamente para que o filho sobrevivesse. Ela morreu cedo, quando Bené tinha dois anos. A força católica da mãe, mais a lembrança de ver índios às margens do Rio Caetés, no lugar onde nasceu, como que dão o norte à sua caminhada. As tantas lutas – como as pela preservação do Rio São Francisco, da Chapada dos Guimarães – trazem essa marca. Bené expressa espiritualidade no que faz. Imprime o sublime nos pensamentos e ações.
Gosta de misturar índio com negro para falar de um caboclo brasileiro por circunstância, universal pelo unânime que há no humano. Cava em busca de resquícios e ancestralidade. Desenterra sabedoria telúrica e acorda os homens preocupados com as roupas que vão vestir no caixão. Como se as desenterrasse antes da desintegração para lembrar que não passarão de pó, mais dia, menos dia.
O misto de força católica e xamânica dá sentido visceral a cada passo. Planta sentimento pelo planeta. Acredita na caminhada que busca a raiz na magia oferecida pelo primitivo.
Primordial transmutante, tocando num lapso meditativo sob sol que quer evaporar rio, sempre no desaguar das emoções. E elas correm embaladas pela pausa que suspende o ar para acabar no mar. Que também é lar para os sobreviventes do duelo do lixo e do esgoto contra a vida à procura de descanso. Vem remanso até o refúgio da oca. Vem manso e nos toca. E nos mostra o caminho para adiar esse fim de mundo.
Fonte: Conexão Planeta, "Para adiar o fim do mundo", publicado por Karen Monteiro, em 28 de novembro de 2016. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Gravação do novo álbum do “artivista” paraense Bené Fonteles | Barulho d'água música
Artista plástico, jornalista, editor, escritor, poeta, cantor, compositor e xamã, entre outras formas de expressão que formam as várias facetas do incansável “artivista” que, conforme a própria definição, ele encarna, Bené Fonteles disparou campanha na internet para coletar contribuições entre amigos e tirar do papel o disco D’Alegria. Em formato físico e digital, D’Alegria será gravado no Sítio Arvoredo, em Pocinhos do Rio Verde, distrito de Caldas (MG) e onde fica o estúdio Venta Moinho “debaixo de um pé de jequitibá” do amigo, violeiro cantor e vizinho de porta João Arruda. O trabalho reforçará uma discografia que, fora a participação em outras gravações¹, inclui os autorais Benditos, coletânea de 2003 que mescla Benedito (1983), Silencioso (1987) e AÊ (1991); Silencioso tem apenas capa, já que sua proposta conceitual é a de que seja ouvido o silêncio.
Em 2019, em parceria com Lucina, Fonteles trouxe em Canções para Pescar Almas as sonoridades do diverso, que o fazem tão brasileiro quanto universal em meio a conversas fluidas de melodia e poesia sobre questões culturais, ecológicas, filosóficas e espirituais. A partir das bases de Lucina, os músicos convidados criaram verdadeiras arquiteturas sonoras: Egberto Gismonti, Gilberto Gil, João Arruda, Ney Marques, Marco Bosco, Paulinho Oliveira, Décio Gioielli, Chica Brother, Saulo Battesini, Adriana Sanchez, Bosco Fonseca, Márcia Nascimento, Julia Borges e Regina Machado. Embora digital, Canções… sugere sua apreciação à moda antiga, como um dos vinis “em que curtíamos o belo projeto gráfico, o encarte farto com as letras das canções onde a poesia realçava-se como num pequeno livro e que deu à chamada MPB o status poético merecido”.
Gismonti, Gil e Arruda estarão de volta em D’Alegria, cuja direção artística caberá a Lucina, cantora e compositora que formou a inesquecível dupla com Luhli (1945-2018). Neste novo rebento, há entre outras participações especiais divulgadas pelo próprio Fonteles, ainda, Bianca (filha de Egberto e que forma com Claudia Castelo Branco o Duo Gisbranco); Consuelo de Paula; Joésia Falavigna, Levi Ramiro, Tetê Espíndola e Luiz Bueno, parceiro de Fernando Melo no Duofel, e Webster Santos.
“Bené Fonteles é pura fonte de água límpida que jorra arte sobre todos nós!”, escreveu Consuelo de Paula. “Um eterno menino, pois a música dele o faz assim. Bené é a união da sabedoria, do amor e da arte. Participar desse disco é a união do prazer estético com o prazer da alma, é banhar-se em cachoeira mágica. Salve, Bené!”, concluiu a cantora, compositora e poetisa mineira, autora entre outros trabalhos de Maryákoré (2019).
Compositor, letrista, jornalista e escritor, Carlos Rennó também elogiou o projeto novo de Fonteles: “Merece o nosso apoio. Bené é mais conhecido como ‘artista plástico’, mas o termo não dá conta de seu trabalho – nem talvez a palavra ‘trabalho’ dê conta do que ele faz…; nem, talvez, ‘arte’…: talvez ‘artevida’ possa ser aplicada ao seu caso (…) É um artista de atividade plural que inclui a música e a poesia, e que já fez álbuns muito bonitos, cheios de participações bacanas, de nomes da música admiradores seus. Além disso, produziu um disco-livro antológico de Gil que é justamente aquilo que seu título diz: Gil Luminoso. O reconhecimento da grandeza da obra desse ‘artivista’ – que foi aliás quem usou pioneira e inventivamente a expressão ‘artevismo’, do que eu sou um seguidor, nos anos 1980 – é ainda maior, quanto mais nos damos conta da sua simplicidade.”
Criador de longa e consolidada trajetória artística nas artes plásticas, música e poesia, há várias páginas e vídeos que trazem dados e informações sobre a rica biografia de Bené Fonteles e os projetos transdisciplinares marcados pela esfera ritualística que ele vem protagonizando desde o começo dos anos 1970. São álbuns e livros publicados e obras expostas em acervos dos museus de arte moderna de cidades como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Nova Iorque (Estados Unidos da América), e Paris (França), além de, ao menos cinco Bienais Internacionais de São Paulo, somadas às diversas mostras individuais e coletivas ligadas à arte postal e a pesquisas de novas expressões artísticas.
A militância ecológica é um traço marcante da obra de Bené Fonteles, da qual deriva o Movimento Artista pela Natureza, que desde 1986 busca fomentar a consciência ecológica e valorizar a educação ambiental por meio da arte. Natural de Bragança (PA), grande parte desta produção dialoga com as estéticas e poéticas das culturas indígenas. “Eu gosto desta dúvida de transitar entre o que é arte e o que é artesanía”, enfatiza Fonteles a respeito de sua obra plástica, baseada na transformação de materiais simples, e muitas vezes frágeis, naturais ou pouco trabalhados pelo homem.
Fonteles se apropria de objetos para transfigurá-los a partir da evocação de seu potencial poético, seja intervindo nesses objetos ou associando-os em instalações. Grande parte dos materiais escolhidos pelo artista está ligada à terra brasileira, devido à sua postura política como ativista ambiental. Assim, Bené Fonteles tenta estimular a imaginação do observador a escapar dos usos convencionais dos objetos, tendência de uma geração de artistas do século XX que busca uma alternativa ao entorpecimento da rotina.
Em matéria disponível no portal Conexão Planeta-Inspiração para a ação, escrita por Karen Monteiro, em 28 de novembro de 2016 e intitulada Para adiar o fim o mundo, por ocasião da 32º Bienal de São Paulo, a jornalista, tradutora, e cronista escreveu que:
“Materiais usados em habitações indígenas e caboclas e mais restos orgânicos trazidos pelo mar, além de outros objetos coletados por Bené nas suas viagens pelo país, fundem-se na alquimia da troca durante os encontros que ele chamou de Conversas para adiar o fim do mundo na Ágora: Oca Tapera Terreiro, proposta que surgiu a partir de uma ideia do líder indígena Ailton Krenak.
Nesse caldeirão e nessa obra Cozinheiro do Tempo ferve mesmo o tempo, não tenha dúvida. Tempo cozido e temperado por Bené. Receita simples de seguir para quem tem alma amalgamada à natureza como ele. Ingredientes de profunda humanidade, preocupação e respeito à vida. A arte dele é mais do que objeto e estética. É a atitude. É o ser que vive para lutar pela preservação.”
Na matéria de Karen Monteiro para o portal Conexão Planeta-Inspiração, ela também redigiu uma biografia de Bené Fonteles apontando que o nome de santo, Benedito,
“Vem de uma promessa feita pela mãe, que precisou rezar fervorosamente para que o filho sobrevivesse. Ela morreu cedo, quando Bené tinha dois anos. A força católica da mãe, mais a lembrança de ver índios às margens do Rio Caetés, no lugar onde nasceu, como que dão o norte à sua caminhada. As tantas lutas – como as pela preservação do Rio São Francisco, da Chapada dos Guimarães – trazem essa marca. Bené expressa espiritualidade no que faz. Imprime o sublime nos pensamentos e ações.”
Karen prosseguiu sobre Fonteles:
“Gosta de misturar índio com negro para falar de um caboclo brasileiro por circunstância, universal pelo unânime que há no humano. Cava em busca de resquícios e ancestralidade. Desenterra sabedoria telúrica e acorda os homens preocupados com as roupas que vão vestir no caixão. Como se as desenterrasse antes da desintegração para lembrar que não passarão de pó, mais dia, menos dia.”
“O misto de força católica e xamânica dá sentido visceral a cada passo. Planta sentimento pelo planeta”, na visão de Karen Monteiro. “Acredita na caminhada que busca a raiz na magia oferecida pelo primitivo”.
“Primordial transmutante, tocando num lapso meditativo sob sol que quer evaporar rio, sempre no desaguar das emoções”, lê-se também na matéria para o portal Conexão Planeta, que assim flui: “E elas correm embaladas pela pausa que suspende o ar para acabar no mar. Que também é lar para os sobreviventes do duelo do lixo e do esgoto contra a vida à procura de descanso. Vem remanso até o refúgio da oca. Vem manso e nos toca. E nos mostra o caminho para adiar esse fim de mundo.”
Ordem do mérito cultural
O currículo de atividades e colaborações ao mundo artístico de Fonteles destaca ainda que entre 1983 e 1986 ele dirigiu o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP), da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Na década dos anos 1980, envolveu-se em programas e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Chegou em 1991 a mudar-se para Brasília, onde manteve atuação como ativista ecológico e organizador de eventos artísticos. Em 1997, organizou a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA).
Os livros que assina são aclamados no meio, tal qual O Livro do Ser (1994) e O Artista da Luz (2001), sobre Rubem Valentim. Juntando todas as linhas e pontas, este tapete multicultural que ele tece rendeu a Bené Fonteles, em 2003, entregue na ocasião pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Ordem do Mérito Cultural, insígnia outorgada a personalidades e instituições culturais pelo Ministério da Cultura, a única no país voltada, exclusivamente, à valorização da Cultura (MinC).
A cerimônia de entrega da Ordem transcorreu em 19 de dezembro, com a presença de Gilberto Gil, então titular do MinC, e além de Fonteles também a receberam entre outros da seleta lista que tem 40 nomes Milton Santos (in memorian); Antônio Nóbrega; Chico Buarque de Holanda; Eduardo Bueno; Herbert Vianna, pelos Paralamas do Sucesso; Jorge Mautner; Luiz Costa Lima; Maestro Gilberto Mendes Marília Pêra; Mestre João Pequeno; Moacyr Scliar; Nelson Pereira dos Santos; Rita Lee; Roberto Farias; Rogério Sganzerla; Rubinho do Vale e a dupla Zezé Di Camargo e Luciano.
Em 2014, Bené Fonteles organizou o livro NicEstrigas: Arte e Afeto, projeto realizado com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.
Fonte: Barulho d'Água música. Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.
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Bené Fonteles lança livro sobre a obra do artista plástico Rubem Valentim | Correio Braziliense
Em 'Geometria do sagrado', Bené Fonteles se debruça sobre a obra de Rubem Valentim, um dos mais importantes artistas brasileiros modernos.
O artista plástico, curador e editor Bené Fonteles se encontrou, pela primeira vez, com Rubem Valentim, em uma exposição na Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1977. A conexão espiritual foi instantânea porque o paraense conhecia muito bem o universo do candomblé, uma das fontes da obra do baiano. Ficaram muito amigos e, pouco antes de morrer, Valentim designou Bené para ser o guardião de sua obra. O próprio Bené se autonomeou o "Ogan da obra de Valentim". O Ogan, em iorubá, quer dizer "senhor da minha casa".
E, agora, ele lança o primeiro livro alentado sobre Rubem Valentim: Sagrada geometria (Edições Pinakotheke), que oferece um amplo panorama sobre um dos mais importantes artistas brasileiros modernos. Ele nasceu em Salvador, Bahia, no ano da Semana de Arte Moderna, em 1922, e morreu em São Paulo, em 1991.
Tinha afinidades com o movimento concreto e com movimento neoconcreto. Mas a sua arte transcende essas vertentes, pois Valentim buscava a expressão do sagrado, com a signagem das pinturas e os totens e altares inspirados nas tradições afrobaiana e ameríndia, associadas a culturas ancestrais de outros países.
Valentim morou em Brasília, nas décadas de 1970 e 1980, sofreu o impacto da espacialidade, mas amargou a incompreensão e a frustração de não conseguir organizar um centro cultural, a partir de sua obra. Nesta entrevista, Bené Fonteles fala sobre a relevância, os embates e o legado precioso da obra de Rubem Valentim.
Como situa esse livro dentro da bibliografia de Rubem Valentim?
Apesar da importância dele para a arte brasileira, não havia, ainda, nenhum livro sobre Rubem Valentim. Só existia um livro-catálogo, com fortuna crítica muito boa, mas sem cronologia. Não conseguimos o financiamento completo, e tivemos de reduzir o livro para 300 páginas. O projeto original era de 500 páginas. A fortuna crítica é preciosa, reúne textos de Ferreira Gullar, Frederico Moraes, Paulo Herkenhoff, Emanoel Araújo, Giulio Argan, Roberto Pontual e Olívio Tavares, entre outros. Valentim é o único artista latino americano que teve um texto de Giulio Argan. Nos tempos em que ele era prefeito de Roma, comprou três obras de Valentim para o museu da cidade.
Como avalia a relevância de Rubem Valentim para a arte brasileira?
É uma importância capital, acho que ele é um dos cinco ou sete artistas mais importantes da arte brasileira, alguns críticos consideram. Não são só fundamentais, são raiz, estão no nível de Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Noel Rosa. É um marco, ele influenciou muitos artistas. Paulo Herkenhoff considera que ele não é só um artista negro ou mestiço relevante, é o mais importante artista das américas.
Quais são os traços de originalidade da obra de Rubem Valentim?
Primeiro, ter partido da raiz, dos símbolos afrobaianos e afroamericanos. Ele decodificou as ferramentas dos orixás e mostrou que algumas são cruzadas, têm essa coisa energética e bela tão original da Bahia. Transforma isso em uma obra construtiva, até de muita parecença com os artistas concretos. Aliás, havia essa afinidade também dos concretos com Volpi, mas eles não quiseram participar do movimento, tinham trajetórias muito singulares. Depois, Valentim realiza a transcriação desses objetos associada a outras culturas do mundo. Vai aos tempos da Grécia e da Mesopotânia. Ele tinha uma biblioteca de 2 mil volumes, bebia no I Ching, na cultura dos maias, na cultura dos astecas. Era um homem muito culto, produziu uma obra muito complexa.
A relação de Rubem Valentim com Brasília foi muito conturbada?
Foi importantíssima, a espacialidade da obra dele tem muita relação com Brasília. A cidade impactou sua obra. Queria fazer esculturas no meio do cerrado, chegou a fazer fotos dos seus trabalhos no meio do descampado, queria uma arte monumental para Brasília. Mas nunca conseguiu realizar seu ideal. Tentou criar a Casa Rubem Valentim em um terreno comprado no Lago Sul, com uma exposição inteira que havia vendido para essa finalidade. Montou um escritório na Asa Sul, tentando apoio do governo para a construção. Foi uma frustração muito grande, teve de devolver o terreno com a Terracap. Acho que levou essa mágoa. Os livros da biblioteca dele foram vendidos para um sebo. Montei 17 exposições de Rubem Valentim, os herdeiros foram muito generosos.
Ainda há algo a fazer para reparar o desinteresse de Brasília pela obra de Rubem Valentim?
Não, nada mais. Consegui que o atelier dele inteiro fosse para o Museu de Arte em Brasília, quando o Wagner Barja era diretor. É precioso o que o MAB tem. Ele falava com todos, conversava com ministros, com autoridades, mas ninguém se sensibilizava. O reconhecimento da crítica veio, principalmente, depois que montei uma grande exposição na Pinacoteca de São Paulo com o acervo que deixou com a mulher e com os colecionadores. A geração mais nova não entendia.
Havia afinidades com o movimento concreto. Mas o que separava Valentim dos concretistas?
Os trabalhos de Valentim poderiam estar em uma exposição de arte concreta ou neoconcreta. Mas a liberdade dele era imensa.
Como o misticismo se afina com o lado construtivo?
Ele é um construtivo, mas é muito híbrido. Quando se liberta da figuração, a arte de Valentim se torna uma geometria sensível, como diz Frederico Moraes. É uma geometria do sagrado, fundada na cultura afrobrasileira e ameríndia.
Fonte: Correio Brasiliense, "Bené Fonteles lança livro sobre a obra do artista plástico Rubem Valentim", escrito por Severino Francisco, publicado em 21 de agosto de 2022. Consultado pela última vez em 1 de setembro de 2022.
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Lucina e Bené Fonteles se harmonizam na leveza de 'Canções para pescar almas' | G1
A ambiência típica de bossa nova emulada na gravação de Ama e reza – primeira das 12 músicas do álbum com parcerias de Lucina com Bené Fonteles – está em sintonia com o espírito da composição e do próprio disco, intitulado Canções para pescar almas.
Cantora, compositora e instrumentista mato-grossense projetada nos anos 1970 ao formar dupla com Luhli (1945 – 2018), Lucina se harmoniza com Bené – poeta, compositor e escultor paraense Bené Fonteles – neste disco que celebra a leveza da música brasileira sem xenofobia.
Seja cantando Saudade caipira, com evocação da Tristeza do Jeca (Angelino de Oliveira, 1922), seja caindo no samba De flor, Lucina e Bené combinam melodia e poesia para versar sobre questões éticas, filosóficas, ecológicas e espirituais.
Música pontuada pela guitarra de Ney Marques, Um sol é faixa dedicada a Luhli, amiga que saiu de cena no ano passado. "E há vida a um passo da tristeza / E há morte a um passo da alegria", correlacionam poeticamente Lucina e Bené em versos de Um sol.
Faixa mais estrelada do álbum Canções para pescar almas, Só Yara ostenta o violão de Gilberto Gil – artista identificado com a ideologia do álbum – e o piano de Egberto Gismonti. Nesta música, o suave canto grave de Lucina é entrecortado pela poesia falada de Bené.
Produzido por Lucina com Bené, sob direção musical da artista, o disco é o desdobramento do encontro da cantora com o poeta há 37 anos. Lucina e Bené foram apresentados por Belchior (1946 – 2017) em 1982 quando o artista cearense produzia disco de Bené.
Diversas conexões depois, o álbum Canções para pescar almas vem ao mundo com o registro de parcerias criadas ao longo dos últimos dez anos, reiterando a harmonia que pauta o encontro musical e existencial de Lucina com Bené Fonteles.
Fonte: G1, "Lucina e Bené Fonteles se harmonizam na leveza de 'Canções para pescar almas'", escrito por Mauro Ferreira, publicado em 10 de agosto de 2019. Consultado pela última vez em 1 de setembro de 2022.
Crédito fotográfico: Fase10, "Bené Fonteles". Consultado pela última vez em 31 de agosto de 2022.