Bernardo Cid de Souza Pinto (São Paulo, SP, 1925 – Idem, 1982), mais conhecido como Bernardo Cid, foi um pintor, desenhista, gravador e escultor autodidata brasileiro. Foi o responsável pela concepção da estatueta do Prêmio Jabuti, a maior láurea da literatura no Brasil. Expôs e foi premiado em diversas exposições e bienais. Inicialmente seguiu expressionismo, depois o abstracionismo informal, ao qual se sucederam temas fantásticos ou oníricos em composições de cores translúcidas e clima etéreo, um misto entre delicado e sombrio.
Biografia - Itaú Cultural
Expõe individualmente pela primeira vez em 1952, na galeria Ambiente, em São Paulo.
Ganha concurso de escultura da Câmara Brasileira do Livro (CBL), sendo responsável pela concepção da estatueta do prêmio Jabuti, em 1959.
Nos anos 1960, participa do grupo Realismo Mágico, com Wesley Duke Lee (1931 - 2010), e do grupo Austral, desdobramento do movimento Phases de Paris, em São Paulo.
Em 1965, expõe na mostra Propostas 65, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo.
Participa da 5ª e 8ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1959 e 1965, respectivamente.
É premiado, em 1968, no 17º Salão Paulista de Arte Moderna. Em 1976, figura como artista convidado na Bienal Nacional 76, na Fundação Bienal, em São Paulo.
Em 1997, seu trabalho integra a exposição Phases: Surrealismo e Contemporaneidade, Grupo Austral e Cone Sul, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP).
Comentário crítico
Preocupado com aspectos gráficos nos anos 1950, como atestam seus desenhos Figura n° 1 e Figura n° 2 (1955), Bernardo Cid passa a interessar-se pela abstração informal durante o início do decênio seguinte. Segundo o crítico Mario Schenberg, essa fase dita informal termina em 1964, quando Cid retorna à figuração, incorporando elementos fantásticos ou oníricos.
De fato, a mudança na poética de Cid coincide com uma transformação do meio artístico local, quando o interesse de fins da década de 1950 e início de 1960 pela abstração, tanto geométrica como informal, é substituído pela atenção para as novas figurações. Dessa fase de retorno à nova figuração é a escultura Criatura Vestida (1966), na qual um amálgama de elementos de natureza díspar, que remetem simultaneamente ao orgânico e ao mecânico, se fundem num todo assimétrico e compacto.
Poema Concreto de Pedro Xisto, também de 1967, faz referência clara à arte pop e à poesia concreta. As palavras que compõem o poema concreto mencionado no título, homenageando o poeta pernambucano Pedro Xisto (1901-1987), se sobrepõem às figuras como numa colagem, expediente comum na produção do artista nesse período.
Simultaneamente, nos anos 1960, seu trabalho adota uma temática de social - que transparece no tratamento deformador da figura humana - como em Nós Esperamos (1966). Nas décadas seguintes, Cid segue com várias pesquisas, sobretudo, em pintura e litogravura.
Críticas
"Nas fases figurativas anteriores a 1960, Bernardo Cid experimentou várias técnicas. De um modo geral, o grafismo desempenhou o papel mais importante nesse período, se bem que tenha empregado também uma técnica de esmaltes. A partir de 1960 iniciou sua fase abstrata informal, que se prolongou até o fim de 1964, quando voltou de novo ao figurativismo. A pintura informal de Cid apresenta um interesse considerável. Algumas obras desse período se aproximam do expressionismo abstrato, revelando um senso cósmico acentuado, adequadamente comunicado por uma linguagem pictórica rica de sensibilidade cromática. A visão cósmica de Cid tem uma dramaticidade contida mas forte. Ela reapareceu combinada com outros elementos em alguns dos seus quadros neo-realistas de 1965. A passagem pelo informalismo enriqueceu consideravelmente a pintura de Cid, combatendo uma predominância excessiva de grafismo, evidenciada nas fases precedentes. Aprimorou o seu senso espacial e deu-lhe musicalidade. Há um ano, Cid iniciou a sua nova fase figurativa. Passou a desenvolver uma espécie de realismo mais ampliado, procurando captar a totalidade da pessoa, da situação ou da idéia poética. Esses trabalhos são complexos e fascinantes em sua combinação de realismo mágico ou fantástico com elementos da velha pintura metafísica italiana e a inclusão de colagens, palavras e textos escritos na composição plástica. Cid utilizou alguns poemas concretos e Haicais ou reminiscências como ´leit motiv´ para os seus trabalhos". – Mário Schenberg (Bernardo Cid, pintor, gravador e escultor; Pensando a arte. São Paulo: Nova Stella, 1988).
Exposições Individuais
1952 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ambiente
1954 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ambiente
1959 - Ribeirão Preto SP - Individual
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria La Ruche
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria KLM
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1968 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1969 - Londres (Inglaterra) - Individual, na Lasson Gallery
1971 - São Paulo SP - Individual, na Documenta Galeria de Arte
1974 - Washington (Estados Unidos) - Individual, na Galeria da OEA
1977 - São Paulo SP - Individual, na Christina Faria de Paula Galeria de Arte
1978 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1978 - Porto Alegre RS - Individual, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Puc
1979 - Goiânia GO - Individual, na Casa Grande Galeria de Arte
1980 - São Paulo - Individual, na Galeria Suzana Sassoun
1981 - São Paulo SP - Individual, na Christina Faria de Paula Galeria de Arte
1981 - Ribeirão Preto SP - Individual, na Itaugaleria
Exposições Coletivas
1959 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Arte Moderna
1959 - São Paulo SP - 5ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1959 - São Paulo SP - Salão Paulista de Arte Moderna
1960 - São Paulo SP - 9º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1961 - São Paulo SP - 10º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - menção honrosa
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1965 - São Paulo SP - Propostas 65, no MAB/Faap
1966 - Curitiba PR - Salão da Primavera - premiado
1968 - Campinas SP - 4º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1968 - Curitiba PR - 25º Salão Paranaense, na Biblioteca Pública do Paraná - convidado de honra
1968 - Florianópolis SC - 1ª Exposição Nacional de Artes Plásticas, no Masc
1968 - São Paulo SP - 17º Salão Paulista de Arte Moderna - premiado
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1969 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no Masp
1970 - São Paulo SP - 2º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Mostra de Arte Sesquicentenário da Independência e Brasil Plástica - 72, na Fundação Bienal
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1974 - França - Mostra do Grupo Phases
1974 - Medellín (Colômbia) - 2ª Bienal de Arte Cottejer
1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - São Paulo SP - Bienal Nacional 76, na Fundação Bienal - artista convidado
1977 - Washington (Estados Unidos) - Coletiva, no Museu de Arte Contemporânea da América Latina
1978 - Curitiba PR - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, no Centro de Criatividade
1978 - Penápolis SP - 3º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1979 - São Paulo SP - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - São Paulo SP - Quatro Pintores, na André Galeria de Arte, ao lado de Otávio de Araújo, Jorge Mori e Vito Campanella
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
Exposições Póstumas
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - A Arte do Imaginário, na Galeria Encontro das Artes
1992 - São Paulo SP - A Sedução dos Volumes: os tridimensionais do MAC, no MAC/USP
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1997 - São Paulo SP - Phases: surrealismo e contemporaneidade - Grupo Austral e Cone Sul, no MAC/USP
1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: Matrizes e Gravuras, no Centro Cultural Fiesp
Fonte: BERNARDO Cid. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 27 de janeiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Artigo Bernardo Cid de Souza Pinto por Mario Schenberg
Na VII Bienal despertaram a minha atenção os quadros de tendência realista bastante peculiar de um pintor pouco conhecido: Bernardo Cid de Souza Pinto. Essas telas indicavam um artista amadurecido e dispondo de um controle seguro dos meios de expressão. Posteriormente Sheila Brannigan me levou ao atelier de Bernardo, onde pude conhecer os seus trabalhos mais recentes, assim como os outros das fases mais antigas.
Bernardo Cid é um artista inteligente e pesquisador, com quase 20 anos de atividade pictórica. Temperamento tímido e retraído, participa raramente de exposições e mantém poucos contatos com o ambiente artístico paulistano. Daí o ser menos conhecido do que deveria, pela qualidade e volume de sua obra.
Considera suas obras anteriores a 1959 como não profissionais, pois só então começou a fazer exposições. Critério sumamente discutível e arbitrário. Desde 1954 produzira excelentes trabalhos figurativos, que se relacionam intimamente com os de sua última fase de realismo social, sobretudo pela natureza do desenho.
Nas fases figurativas anteriores à 1960, Bernardo Cid experimentou várias técnicas. De um modo geral, o grafismo desempenhou o papel mais importante nesse período, se bem que tenha empregado também uma técnica de esmaltes. A partir de 1960 iniciou sua fase abstrata informal - que se prolongou até o fim de 1964 - quando voltou de novo ao figurativismo.
A pintura informal de Cid apresenta um interesse considerável. Algumas obras desse período se aproximam do expressionismo abstrato, revelando um senso cósmico acentuado, adequadamente comunicado por uma linguagem pictórica rica de sensibilidade cromática. A visão cósmica de Cid tem uma dramaticidade contida, mas forte. Ela reapareceu combinada com outros elementos em alguns dos seus quadros neo-realistas de 1965. A passagem pelo informalismo enriqueceu consideravelmente a pintura de Cid, combatendo uma predominância excessiva de grafismo, evidenciada nas fases precedentes. Aprimorou o seu senso espacial e deu-lhe musicalidade.
Há um ano, Cid iniciou sua nova fase figurativa. Passou a desenvolver uma espécie de realismo mais ampliado, procurando captar a totalidade da pessoa, da situação ou da idéia poética. Esses trabalhos são complexos e fascinantes em sua combinação de realismo mágico ou fantástico com elementos da velha pintura metafísica italiana e a inclusão de colagens, palavras e textos escritos na composição plástica. Cid utilizou alguns poemas concretos, e Hai Kais ou reminiscências como “leitmotiv”para os seus trabalhos.
Um dos elementos mais importantes dessa primeira série de trabalhos neofigurativos é o seu gênero de espacialidade. Ela tem afinidades com a pintura metafísica, mas possui uma natureza mais complexa. Intensamente subjetiva e musical, relaciona-se com a memória e com uma temporalidade como que reversível. Há algo na espacialidade desses quadros de Cid que evoca “O Ano Passado em Marienbad”, o filme de Resnais.
Ultimamente o realismo de Cid tornou-se mais social, com a série dos trabalhos sobre Hiroshima e outros. Em vez de tomar como “leitmotiv” um poema concreto ou uma reminiscência, Cid o faz agora com uma fase de significação social ou mesmo política. Assim, no primeiro quadro da série de Hiroshima, o “leitmotiv” é a frase “Em Hiroshima não tem crianças” , como que construída com varetas de metal negro encurvadas, sobre uma faixa central vermelha sugerindo talvez sangue. Várias palavras da frase “Em Hiroshima não tem crianças” são repetidas em muitos pontos da tela, dentro e fora da figura da criança.
Nos quadros da série de Hiroshima há uma influência óbvia da técnica dos cartazes de propaganda. O grafismo e as pesquisas espaciais são menos elaborados do que na fase realista anterior. Cid passou de um realismo afim ao mágico e ao fantástico para um realismo social tendo certos pontos de contato com a pop art.
Entre os quadros da série de Hiroshima, Cid fez uma experiência interessante no quadro do ouro, que tem uma textura muito rica e um cromatismo muito exuberante. O quadro é construído sobre a idéia do ouro e do abutre, simbolizando obviamente a voracidade do dinheiro levada à crueldade implacável. Nesse sentido Cid aproveita muitas experiências da fase informal, associando-as a efeitos semelhantes aos da colagem. Há também relações com a poesia concreta na utilização das palavras ouro, oro e choro.
A variedade e a profundidade das pesquisas neo-realistas de Cid dão-lhe uma posição de destaque no movimento renovador da arte brasileira, nascido com o declínio do informalismo, que vem se caracterizando pelo surto das tendências neo-realistas.
Fonte: Artigo Bernardo Cid de Souza Pinto, escrito por Mario Schenberg, publicado em 1965.
Crédito fotográfico: Obras de Bernardo Cid. Postado por Tiago S. Pinto em 5 de outubro de 2010.
Bernardo Cid de Souza Pinto (São Paulo, SP, 1925 – Idem, 1982), mais conhecido como Bernardo Cid, foi um pintor, desenhista, gravador e escultor autodidata brasileiro. Foi o responsável pela concepção da estatueta do Prêmio Jabuti, a maior láurea da literatura no Brasil. Expôs e foi premiado em diversas exposições e bienais. Inicialmente seguiu expressionismo, depois o abstracionismo informal, ao qual se sucederam temas fantásticos ou oníricos em composições de cores translúcidas e clima etéreo, um misto entre delicado e sombrio.
Biografia - Itaú Cultural
Expõe individualmente pela primeira vez em 1952, na galeria Ambiente, em São Paulo.
Ganha concurso de escultura da Câmara Brasileira do Livro (CBL), sendo responsável pela concepção da estatueta do prêmio Jabuti, em 1959.
Nos anos 1960, participa do grupo Realismo Mágico, com Wesley Duke Lee (1931 - 2010), e do grupo Austral, desdobramento do movimento Phases de Paris, em São Paulo.
Em 1965, expõe na mostra Propostas 65, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo.
Participa da 5ª e 8ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1959 e 1965, respectivamente.
É premiado, em 1968, no 17º Salão Paulista de Arte Moderna. Em 1976, figura como artista convidado na Bienal Nacional 76, na Fundação Bienal, em São Paulo.
Em 1997, seu trabalho integra a exposição Phases: Surrealismo e Contemporaneidade, Grupo Austral e Cone Sul, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP).
Comentário crítico
Preocupado com aspectos gráficos nos anos 1950, como atestam seus desenhos Figura n° 1 e Figura n° 2 (1955), Bernardo Cid passa a interessar-se pela abstração informal durante o início do decênio seguinte. Segundo o crítico Mario Schenberg, essa fase dita informal termina em 1964, quando Cid retorna à figuração, incorporando elementos fantásticos ou oníricos.
De fato, a mudança na poética de Cid coincide com uma transformação do meio artístico local, quando o interesse de fins da década de 1950 e início de 1960 pela abstração, tanto geométrica como informal, é substituído pela atenção para as novas figurações. Dessa fase de retorno à nova figuração é a escultura Criatura Vestida (1966), na qual um amálgama de elementos de natureza díspar, que remetem simultaneamente ao orgânico e ao mecânico, se fundem num todo assimétrico e compacto.
Poema Concreto de Pedro Xisto, também de 1967, faz referência clara à arte pop e à poesia concreta. As palavras que compõem o poema concreto mencionado no título, homenageando o poeta pernambucano Pedro Xisto (1901-1987), se sobrepõem às figuras como numa colagem, expediente comum na produção do artista nesse período.
Simultaneamente, nos anos 1960, seu trabalho adota uma temática de social - que transparece no tratamento deformador da figura humana - como em Nós Esperamos (1966). Nas décadas seguintes, Cid segue com várias pesquisas, sobretudo, em pintura e litogravura.
Críticas
"Nas fases figurativas anteriores a 1960, Bernardo Cid experimentou várias técnicas. De um modo geral, o grafismo desempenhou o papel mais importante nesse período, se bem que tenha empregado também uma técnica de esmaltes. A partir de 1960 iniciou sua fase abstrata informal, que se prolongou até o fim de 1964, quando voltou de novo ao figurativismo. A pintura informal de Cid apresenta um interesse considerável. Algumas obras desse período se aproximam do expressionismo abstrato, revelando um senso cósmico acentuado, adequadamente comunicado por uma linguagem pictórica rica de sensibilidade cromática. A visão cósmica de Cid tem uma dramaticidade contida mas forte. Ela reapareceu combinada com outros elementos em alguns dos seus quadros neo-realistas de 1965. A passagem pelo informalismo enriqueceu consideravelmente a pintura de Cid, combatendo uma predominância excessiva de grafismo, evidenciada nas fases precedentes. Aprimorou o seu senso espacial e deu-lhe musicalidade. Há um ano, Cid iniciou a sua nova fase figurativa. Passou a desenvolver uma espécie de realismo mais ampliado, procurando captar a totalidade da pessoa, da situação ou da idéia poética. Esses trabalhos são complexos e fascinantes em sua combinação de realismo mágico ou fantástico com elementos da velha pintura metafísica italiana e a inclusão de colagens, palavras e textos escritos na composição plástica. Cid utilizou alguns poemas concretos e Haicais ou reminiscências como ´leit motiv´ para os seus trabalhos". – Mário Schenberg (Bernardo Cid, pintor, gravador e escultor; Pensando a arte. São Paulo: Nova Stella, 1988).
Exposições Individuais
1952 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ambiente
1954 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ambiente
1959 - Ribeirão Preto SP - Individual
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria La Ruche
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria KLM
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1968 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1969 - Londres (Inglaterra) - Individual, na Lasson Gallery
1971 - São Paulo SP - Individual, na Documenta Galeria de Arte
1974 - Washington (Estados Unidos) - Individual, na Galeria da OEA
1977 - São Paulo SP - Individual, na Christina Faria de Paula Galeria de Arte
1978 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1978 - Porto Alegre RS - Individual, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Puc
1979 - Goiânia GO - Individual, na Casa Grande Galeria de Arte
1980 - São Paulo - Individual, na Galeria Suzana Sassoun
1981 - São Paulo SP - Individual, na Christina Faria de Paula Galeria de Arte
1981 - Ribeirão Preto SP - Individual, na Itaugaleria
Exposições Coletivas
1959 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Arte Moderna
1959 - São Paulo SP - 5ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1959 - São Paulo SP - Salão Paulista de Arte Moderna
1960 - São Paulo SP - 9º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1961 - São Paulo SP - 10º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - menção honrosa
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1965 - São Paulo SP - Propostas 65, no MAB/Faap
1966 - Curitiba PR - Salão da Primavera - premiado
1968 - Campinas SP - 4º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1968 - Curitiba PR - 25º Salão Paranaense, na Biblioteca Pública do Paraná - convidado de honra
1968 - Florianópolis SC - 1ª Exposição Nacional de Artes Plásticas, no Masc
1968 - São Paulo SP - 17º Salão Paulista de Arte Moderna - premiado
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1969 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no Masp
1970 - São Paulo SP - 2º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Mostra de Arte Sesquicentenário da Independência e Brasil Plástica - 72, na Fundação Bienal
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1974 - França - Mostra do Grupo Phases
1974 - Medellín (Colômbia) - 2ª Bienal de Arte Cottejer
1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - São Paulo SP - Bienal Nacional 76, na Fundação Bienal - artista convidado
1977 - Washington (Estados Unidos) - Coletiva, no Museu de Arte Contemporânea da América Latina
1978 - Curitiba PR - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, no Centro de Criatividade
1978 - Penápolis SP - 3º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1979 - São Paulo SP - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - São Paulo SP - Quatro Pintores, na André Galeria de Arte, ao lado de Otávio de Araújo, Jorge Mori e Vito Campanella
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
Exposições Póstumas
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - A Arte do Imaginário, na Galeria Encontro das Artes
1992 - São Paulo SP - A Sedução dos Volumes: os tridimensionais do MAC, no MAC/USP
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1997 - São Paulo SP - Phases: surrealismo e contemporaneidade - Grupo Austral e Cone Sul, no MAC/USP
1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: Matrizes e Gravuras, no Centro Cultural Fiesp
Fonte: BERNARDO Cid. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 27 de janeiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Artigo Bernardo Cid de Souza Pinto por Mario Schenberg
Na VII Bienal despertaram a minha atenção os quadros de tendência realista bastante peculiar de um pintor pouco conhecido: Bernardo Cid de Souza Pinto. Essas telas indicavam um artista amadurecido e dispondo de um controle seguro dos meios de expressão. Posteriormente Sheila Brannigan me levou ao atelier de Bernardo, onde pude conhecer os seus trabalhos mais recentes, assim como os outros das fases mais antigas.
Bernardo Cid é um artista inteligente e pesquisador, com quase 20 anos de atividade pictórica. Temperamento tímido e retraído, participa raramente de exposições e mantém poucos contatos com o ambiente artístico paulistano. Daí o ser menos conhecido do que deveria, pela qualidade e volume de sua obra.
Considera suas obras anteriores a 1959 como não profissionais, pois só então começou a fazer exposições. Critério sumamente discutível e arbitrário. Desde 1954 produzira excelentes trabalhos figurativos, que se relacionam intimamente com os de sua última fase de realismo social, sobretudo pela natureza do desenho.
Nas fases figurativas anteriores à 1960, Bernardo Cid experimentou várias técnicas. De um modo geral, o grafismo desempenhou o papel mais importante nesse período, se bem que tenha empregado também uma técnica de esmaltes. A partir de 1960 iniciou sua fase abstrata informal - que se prolongou até o fim de 1964 - quando voltou de novo ao figurativismo.
A pintura informal de Cid apresenta um interesse considerável. Algumas obras desse período se aproximam do expressionismo abstrato, revelando um senso cósmico acentuado, adequadamente comunicado por uma linguagem pictórica rica de sensibilidade cromática. A visão cósmica de Cid tem uma dramaticidade contida, mas forte. Ela reapareceu combinada com outros elementos em alguns dos seus quadros neo-realistas de 1965. A passagem pelo informalismo enriqueceu consideravelmente a pintura de Cid, combatendo uma predominância excessiva de grafismo, evidenciada nas fases precedentes. Aprimorou o seu senso espacial e deu-lhe musicalidade.
Há um ano, Cid iniciou sua nova fase figurativa. Passou a desenvolver uma espécie de realismo mais ampliado, procurando captar a totalidade da pessoa, da situação ou da idéia poética. Esses trabalhos são complexos e fascinantes em sua combinação de realismo mágico ou fantástico com elementos da velha pintura metafísica italiana e a inclusão de colagens, palavras e textos escritos na composição plástica. Cid utilizou alguns poemas concretos, e Hai Kais ou reminiscências como “leitmotiv”para os seus trabalhos.
Um dos elementos mais importantes dessa primeira série de trabalhos neofigurativos é o seu gênero de espacialidade. Ela tem afinidades com a pintura metafísica, mas possui uma natureza mais complexa. Intensamente subjetiva e musical, relaciona-se com a memória e com uma temporalidade como que reversível. Há algo na espacialidade desses quadros de Cid que evoca “O Ano Passado em Marienbad”, o filme de Resnais.
Ultimamente o realismo de Cid tornou-se mais social, com a série dos trabalhos sobre Hiroshima e outros. Em vez de tomar como “leitmotiv” um poema concreto ou uma reminiscência, Cid o faz agora com uma fase de significação social ou mesmo política. Assim, no primeiro quadro da série de Hiroshima, o “leitmotiv” é a frase “Em Hiroshima não tem crianças” , como que construída com varetas de metal negro encurvadas, sobre uma faixa central vermelha sugerindo talvez sangue. Várias palavras da frase “Em Hiroshima não tem crianças” são repetidas em muitos pontos da tela, dentro e fora da figura da criança.
Nos quadros da série de Hiroshima há uma influência óbvia da técnica dos cartazes de propaganda. O grafismo e as pesquisas espaciais são menos elaborados do que na fase realista anterior. Cid passou de um realismo afim ao mágico e ao fantástico para um realismo social tendo certos pontos de contato com a pop art.
Entre os quadros da série de Hiroshima, Cid fez uma experiência interessante no quadro do ouro, que tem uma textura muito rica e um cromatismo muito exuberante. O quadro é construído sobre a idéia do ouro e do abutre, simbolizando obviamente a voracidade do dinheiro levada à crueldade implacável. Nesse sentido Cid aproveita muitas experiências da fase informal, associando-as a efeitos semelhantes aos da colagem. Há também relações com a poesia concreta na utilização das palavras ouro, oro e choro.
A variedade e a profundidade das pesquisas neo-realistas de Cid dão-lhe uma posição de destaque no movimento renovador da arte brasileira, nascido com o declínio do informalismo, que vem se caracterizando pelo surto das tendências neo-realistas.
Fonte: Artigo Bernardo Cid de Souza Pinto, escrito por Mario Schenberg, publicado em 1965.
Crédito fotográfico: Obras de Bernardo Cid. Postado por Tiago S. Pinto em 5 de outubro de 2010.
Bernardo Cid de Souza Pinto (São Paulo, SP, 1925 – Idem, 1982), mais conhecido como Bernardo Cid, foi um pintor, desenhista, gravador e escultor autodidata brasileiro. Foi o responsável pela concepção da estatueta do Prêmio Jabuti, a maior láurea da literatura no Brasil. Expôs e foi premiado em diversas exposições e bienais. Inicialmente seguiu expressionismo, depois o abstracionismo informal, ao qual se sucederam temas fantásticos ou oníricos em composições de cores translúcidas e clima etéreo, um misto entre delicado e sombrio.
Biografia - Itaú Cultural
Expõe individualmente pela primeira vez em 1952, na galeria Ambiente, em São Paulo.
Ganha concurso de escultura da Câmara Brasileira do Livro (CBL), sendo responsável pela concepção da estatueta do prêmio Jabuti, em 1959.
Nos anos 1960, participa do grupo Realismo Mágico, com Wesley Duke Lee (1931 - 2010), e do grupo Austral, desdobramento do movimento Phases de Paris, em São Paulo.
Em 1965, expõe na mostra Propostas 65, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo.
Participa da 5ª e 8ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1959 e 1965, respectivamente.
É premiado, em 1968, no 17º Salão Paulista de Arte Moderna. Em 1976, figura como artista convidado na Bienal Nacional 76, na Fundação Bienal, em São Paulo.
Em 1997, seu trabalho integra a exposição Phases: Surrealismo e Contemporaneidade, Grupo Austral e Cone Sul, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP).
Comentário crítico
Preocupado com aspectos gráficos nos anos 1950, como atestam seus desenhos Figura n° 1 e Figura n° 2 (1955), Bernardo Cid passa a interessar-se pela abstração informal durante o início do decênio seguinte. Segundo o crítico Mario Schenberg, essa fase dita informal termina em 1964, quando Cid retorna à figuração, incorporando elementos fantásticos ou oníricos.
De fato, a mudança na poética de Cid coincide com uma transformação do meio artístico local, quando o interesse de fins da década de 1950 e início de 1960 pela abstração, tanto geométrica como informal, é substituído pela atenção para as novas figurações. Dessa fase de retorno à nova figuração é a escultura Criatura Vestida (1966), na qual um amálgama de elementos de natureza díspar, que remetem simultaneamente ao orgânico e ao mecânico, se fundem num todo assimétrico e compacto.
Poema Concreto de Pedro Xisto, também de 1967, faz referência clara à arte pop e à poesia concreta. As palavras que compõem o poema concreto mencionado no título, homenageando o poeta pernambucano Pedro Xisto (1901-1987), se sobrepõem às figuras como numa colagem, expediente comum na produção do artista nesse período.
Simultaneamente, nos anos 1960, seu trabalho adota uma temática de social - que transparece no tratamento deformador da figura humana - como em Nós Esperamos (1966). Nas décadas seguintes, Cid segue com várias pesquisas, sobretudo, em pintura e litogravura.
Críticas
"Nas fases figurativas anteriores a 1960, Bernardo Cid experimentou várias técnicas. De um modo geral, o grafismo desempenhou o papel mais importante nesse período, se bem que tenha empregado também uma técnica de esmaltes. A partir de 1960 iniciou sua fase abstrata informal, que se prolongou até o fim de 1964, quando voltou de novo ao figurativismo. A pintura informal de Cid apresenta um interesse considerável. Algumas obras desse período se aproximam do expressionismo abstrato, revelando um senso cósmico acentuado, adequadamente comunicado por uma linguagem pictórica rica de sensibilidade cromática. A visão cósmica de Cid tem uma dramaticidade contida mas forte. Ela reapareceu combinada com outros elementos em alguns dos seus quadros neo-realistas de 1965. A passagem pelo informalismo enriqueceu consideravelmente a pintura de Cid, combatendo uma predominância excessiva de grafismo, evidenciada nas fases precedentes. Aprimorou o seu senso espacial e deu-lhe musicalidade. Há um ano, Cid iniciou a sua nova fase figurativa. Passou a desenvolver uma espécie de realismo mais ampliado, procurando captar a totalidade da pessoa, da situação ou da idéia poética. Esses trabalhos são complexos e fascinantes em sua combinação de realismo mágico ou fantástico com elementos da velha pintura metafísica italiana e a inclusão de colagens, palavras e textos escritos na composição plástica. Cid utilizou alguns poemas concretos e Haicais ou reminiscências como ´leit motiv´ para os seus trabalhos". – Mário Schenberg (Bernardo Cid, pintor, gravador e escultor; Pensando a arte. São Paulo: Nova Stella, 1988).
Exposições Individuais
1952 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ambiente
1954 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ambiente
1959 - Ribeirão Preto SP - Individual
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria La Ruche
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria KLM
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1968 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1969 - Londres (Inglaterra) - Individual, na Lasson Gallery
1971 - São Paulo SP - Individual, na Documenta Galeria de Arte
1974 - Washington (Estados Unidos) - Individual, na Galeria da OEA
1977 - São Paulo SP - Individual, na Christina Faria de Paula Galeria de Arte
1978 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1978 - Porto Alegre RS - Individual, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Puc
1979 - Goiânia GO - Individual, na Casa Grande Galeria de Arte
1980 - São Paulo - Individual, na Galeria Suzana Sassoun
1981 - São Paulo SP - Individual, na Christina Faria de Paula Galeria de Arte
1981 - Ribeirão Preto SP - Individual, na Itaugaleria
Exposições Coletivas
1959 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Arte Moderna
1959 - São Paulo SP - 5ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1959 - São Paulo SP - Salão Paulista de Arte Moderna
1960 - São Paulo SP - 9º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1961 - São Paulo SP - 10º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - menção honrosa
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1965 - São Paulo SP - Propostas 65, no MAB/Faap
1966 - Curitiba PR - Salão da Primavera - premiado
1968 - Campinas SP - 4º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1968 - Curitiba PR - 25º Salão Paranaense, na Biblioteca Pública do Paraná - convidado de honra
1968 - Florianópolis SC - 1ª Exposição Nacional de Artes Plásticas, no Masc
1968 - São Paulo SP - 17º Salão Paulista de Arte Moderna - premiado
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1969 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no Masp
1970 - São Paulo SP - 2º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Mostra de Arte Sesquicentenário da Independência e Brasil Plástica - 72, na Fundação Bienal
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1974 - França - Mostra do Grupo Phases
1974 - Medellín (Colômbia) - 2ª Bienal de Arte Cottejer
1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - São Paulo SP - Bienal Nacional 76, na Fundação Bienal - artista convidado
1977 - Washington (Estados Unidos) - Coletiva, no Museu de Arte Contemporânea da América Latina
1978 - Curitiba PR - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, no Centro de Criatividade
1978 - Penápolis SP - 3º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1979 - São Paulo SP - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - São Paulo SP - Quatro Pintores, na André Galeria de Arte, ao lado de Otávio de Araújo, Jorge Mori e Vito Campanella
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
Exposições Póstumas
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - A Arte do Imaginário, na Galeria Encontro das Artes
1992 - São Paulo SP - A Sedução dos Volumes: os tridimensionais do MAC, no MAC/USP
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1997 - São Paulo SP - Phases: surrealismo e contemporaneidade - Grupo Austral e Cone Sul, no MAC/USP
1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: Matrizes e Gravuras, no Centro Cultural Fiesp
Fonte: BERNARDO Cid. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 27 de janeiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Artigo Bernardo Cid de Souza Pinto por Mario Schenberg
Na VII Bienal despertaram a minha atenção os quadros de tendência realista bastante peculiar de um pintor pouco conhecido: Bernardo Cid de Souza Pinto. Essas telas indicavam um artista amadurecido e dispondo de um controle seguro dos meios de expressão. Posteriormente Sheila Brannigan me levou ao atelier de Bernardo, onde pude conhecer os seus trabalhos mais recentes, assim como os outros das fases mais antigas.
Bernardo Cid é um artista inteligente e pesquisador, com quase 20 anos de atividade pictórica. Temperamento tímido e retraído, participa raramente de exposições e mantém poucos contatos com o ambiente artístico paulistano. Daí o ser menos conhecido do que deveria, pela qualidade e volume de sua obra.
Considera suas obras anteriores a 1959 como não profissionais, pois só então começou a fazer exposições. Critério sumamente discutível e arbitrário. Desde 1954 produzira excelentes trabalhos figurativos, que se relacionam intimamente com os de sua última fase de realismo social, sobretudo pela natureza do desenho.
Nas fases figurativas anteriores à 1960, Bernardo Cid experimentou várias técnicas. De um modo geral, o grafismo desempenhou o papel mais importante nesse período, se bem que tenha empregado também uma técnica de esmaltes. A partir de 1960 iniciou sua fase abstrata informal - que se prolongou até o fim de 1964 - quando voltou de novo ao figurativismo.
A pintura informal de Cid apresenta um interesse considerável. Algumas obras desse período se aproximam do expressionismo abstrato, revelando um senso cósmico acentuado, adequadamente comunicado por uma linguagem pictórica rica de sensibilidade cromática. A visão cósmica de Cid tem uma dramaticidade contida, mas forte. Ela reapareceu combinada com outros elementos em alguns dos seus quadros neo-realistas de 1965. A passagem pelo informalismo enriqueceu consideravelmente a pintura de Cid, combatendo uma predominância excessiva de grafismo, evidenciada nas fases precedentes. Aprimorou o seu senso espacial e deu-lhe musicalidade.
Há um ano, Cid iniciou sua nova fase figurativa. Passou a desenvolver uma espécie de realismo mais ampliado, procurando captar a totalidade da pessoa, da situação ou da idéia poética. Esses trabalhos são complexos e fascinantes em sua combinação de realismo mágico ou fantástico com elementos da velha pintura metafísica italiana e a inclusão de colagens, palavras e textos escritos na composição plástica. Cid utilizou alguns poemas concretos, e Hai Kais ou reminiscências como “leitmotiv”para os seus trabalhos.
Um dos elementos mais importantes dessa primeira série de trabalhos neofigurativos é o seu gênero de espacialidade. Ela tem afinidades com a pintura metafísica, mas possui uma natureza mais complexa. Intensamente subjetiva e musical, relaciona-se com a memória e com uma temporalidade como que reversível. Há algo na espacialidade desses quadros de Cid que evoca “O Ano Passado em Marienbad”, o filme de Resnais.
Ultimamente o realismo de Cid tornou-se mais social, com a série dos trabalhos sobre Hiroshima e outros. Em vez de tomar como “leitmotiv” um poema concreto ou uma reminiscência, Cid o faz agora com uma fase de significação social ou mesmo política. Assim, no primeiro quadro da série de Hiroshima, o “leitmotiv” é a frase “Em Hiroshima não tem crianças” , como que construída com varetas de metal negro encurvadas, sobre uma faixa central vermelha sugerindo talvez sangue. Várias palavras da frase “Em Hiroshima não tem crianças” são repetidas em muitos pontos da tela, dentro e fora da figura da criança.
Nos quadros da série de Hiroshima há uma influência óbvia da técnica dos cartazes de propaganda. O grafismo e as pesquisas espaciais são menos elaborados do que na fase realista anterior. Cid passou de um realismo afim ao mágico e ao fantástico para um realismo social tendo certos pontos de contato com a pop art.
Entre os quadros da série de Hiroshima, Cid fez uma experiência interessante no quadro do ouro, que tem uma textura muito rica e um cromatismo muito exuberante. O quadro é construído sobre a idéia do ouro e do abutre, simbolizando obviamente a voracidade do dinheiro levada à crueldade implacável. Nesse sentido Cid aproveita muitas experiências da fase informal, associando-as a efeitos semelhantes aos da colagem. Há também relações com a poesia concreta na utilização das palavras ouro, oro e choro.
A variedade e a profundidade das pesquisas neo-realistas de Cid dão-lhe uma posição de destaque no movimento renovador da arte brasileira, nascido com o declínio do informalismo, que vem se caracterizando pelo surto das tendências neo-realistas.
Fonte: Artigo Bernardo Cid de Souza Pinto, escrito por Mario Schenberg, publicado em 1965.
Crédito fotográfico: Obras de Bernardo Cid. Postado por Tiago S. Pinto em 5 de outubro de 2010.
Bernardo Cid de Souza Pinto (São Paulo, SP, 1925 – Idem, 1982), mais conhecido como Bernardo Cid, foi um pintor, desenhista, gravador e escultor autodidata brasileiro. Foi o responsável pela concepção da estatueta do Prêmio Jabuti, a maior láurea da literatura no Brasil. Expôs e foi premiado em diversas exposições e bienais. Inicialmente seguiu expressionismo, depois o abstracionismo informal, ao qual se sucederam temas fantásticos ou oníricos em composições de cores translúcidas e clima etéreo, um misto entre delicado e sombrio.
Biografia - Itaú Cultural
Expõe individualmente pela primeira vez em 1952, na galeria Ambiente, em São Paulo.
Ganha concurso de escultura da Câmara Brasileira do Livro (CBL), sendo responsável pela concepção da estatueta do prêmio Jabuti, em 1959.
Nos anos 1960, participa do grupo Realismo Mágico, com Wesley Duke Lee (1931 - 2010), e do grupo Austral, desdobramento do movimento Phases de Paris, em São Paulo.
Em 1965, expõe na mostra Propostas 65, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo.
Participa da 5ª e 8ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1959 e 1965, respectivamente.
É premiado, em 1968, no 17º Salão Paulista de Arte Moderna. Em 1976, figura como artista convidado na Bienal Nacional 76, na Fundação Bienal, em São Paulo.
Em 1997, seu trabalho integra a exposição Phases: Surrealismo e Contemporaneidade, Grupo Austral e Cone Sul, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP).
Comentário crítico
Preocupado com aspectos gráficos nos anos 1950, como atestam seus desenhos Figura n° 1 e Figura n° 2 (1955), Bernardo Cid passa a interessar-se pela abstração informal durante o início do decênio seguinte. Segundo o crítico Mario Schenberg, essa fase dita informal termina em 1964, quando Cid retorna à figuração, incorporando elementos fantásticos ou oníricos.
De fato, a mudança na poética de Cid coincide com uma transformação do meio artístico local, quando o interesse de fins da década de 1950 e início de 1960 pela abstração, tanto geométrica como informal, é substituído pela atenção para as novas figurações. Dessa fase de retorno à nova figuração é a escultura Criatura Vestida (1966), na qual um amálgama de elementos de natureza díspar, que remetem simultaneamente ao orgânico e ao mecânico, se fundem num todo assimétrico e compacto.
Poema Concreto de Pedro Xisto, também de 1967, faz referência clara à arte pop e à poesia concreta. As palavras que compõem o poema concreto mencionado no título, homenageando o poeta pernambucano Pedro Xisto (1901-1987), se sobrepõem às figuras como numa colagem, expediente comum na produção do artista nesse período.
Simultaneamente, nos anos 1960, seu trabalho adota uma temática de social - que transparece no tratamento deformador da figura humana - como em Nós Esperamos (1966). Nas décadas seguintes, Cid segue com várias pesquisas, sobretudo, em pintura e litogravura.
Críticas
"Nas fases figurativas anteriores a 1960, Bernardo Cid experimentou várias técnicas. De um modo geral, o grafismo desempenhou o papel mais importante nesse período, se bem que tenha empregado também uma técnica de esmaltes. A partir de 1960 iniciou sua fase abstrata informal, que se prolongou até o fim de 1964, quando voltou de novo ao figurativismo. A pintura informal de Cid apresenta um interesse considerável. Algumas obras desse período se aproximam do expressionismo abstrato, revelando um senso cósmico acentuado, adequadamente comunicado por uma linguagem pictórica rica de sensibilidade cromática. A visão cósmica de Cid tem uma dramaticidade contida mas forte. Ela reapareceu combinada com outros elementos em alguns dos seus quadros neo-realistas de 1965. A passagem pelo informalismo enriqueceu consideravelmente a pintura de Cid, combatendo uma predominância excessiva de grafismo, evidenciada nas fases precedentes. Aprimorou o seu senso espacial e deu-lhe musicalidade. Há um ano, Cid iniciou a sua nova fase figurativa. Passou a desenvolver uma espécie de realismo mais ampliado, procurando captar a totalidade da pessoa, da situação ou da idéia poética. Esses trabalhos são complexos e fascinantes em sua combinação de realismo mágico ou fantástico com elementos da velha pintura metafísica italiana e a inclusão de colagens, palavras e textos escritos na composição plástica. Cid utilizou alguns poemas concretos e Haicais ou reminiscências como ´leit motiv´ para os seus trabalhos". – Mário Schenberg (Bernardo Cid, pintor, gravador e escultor; Pensando a arte. São Paulo: Nova Stella, 1988).
Exposições Individuais
1952 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ambiente
1954 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ambiente
1959 - Ribeirão Preto SP - Individual
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria La Ruche
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria KLM
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1968 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1969 - Londres (Inglaterra) - Individual, na Lasson Gallery
1971 - São Paulo SP - Individual, na Documenta Galeria de Arte
1974 - Washington (Estados Unidos) - Individual, na Galeria da OEA
1977 - São Paulo SP - Individual, na Christina Faria de Paula Galeria de Arte
1978 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1978 - Porto Alegre RS - Individual, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Puc
1979 - Goiânia GO - Individual, na Casa Grande Galeria de Arte
1980 - São Paulo - Individual, na Galeria Suzana Sassoun
1981 - São Paulo SP - Individual, na Christina Faria de Paula Galeria de Arte
1981 - Ribeirão Preto SP - Individual, na Itaugaleria
Exposições Coletivas
1959 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Arte Moderna
1959 - São Paulo SP - 5ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1959 - São Paulo SP - Salão Paulista de Arte Moderna
1960 - São Paulo SP - 9º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1961 - São Paulo SP - 10º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - menção honrosa
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1965 - São Paulo SP - Propostas 65, no MAB/Faap
1966 - Curitiba PR - Salão da Primavera - premiado
1968 - Campinas SP - 4º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1968 - Curitiba PR - 25º Salão Paranaense, na Biblioteca Pública do Paraná - convidado de honra
1968 - Florianópolis SC - 1ª Exposição Nacional de Artes Plásticas, no Masc
1968 - São Paulo SP - 17º Salão Paulista de Arte Moderna - premiado
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1969 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no Masp
1970 - São Paulo SP - 2º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Mostra de Arte Sesquicentenário da Independência e Brasil Plástica - 72, na Fundação Bienal
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1974 - França - Mostra do Grupo Phases
1974 - Medellín (Colômbia) - 2ª Bienal de Arte Cottejer
1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1976 - São Paulo SP - Bienal Nacional 76, na Fundação Bienal - artista convidado
1977 - Washington (Estados Unidos) - Coletiva, no Museu de Arte Contemporânea da América Latina
1978 - Curitiba PR - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, no Centro de Criatividade
1978 - Penápolis SP - 3º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1979 - São Paulo SP - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - São Paulo SP - Quatro Pintores, na André Galeria de Arte, ao lado de Otávio de Araújo, Jorge Mori e Vito Campanella
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
Exposições Póstumas
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - A Arte do Imaginário, na Galeria Encontro das Artes
1992 - São Paulo SP - A Sedução dos Volumes: os tridimensionais do MAC, no MAC/USP
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1997 - São Paulo SP - Phases: surrealismo e contemporaneidade - Grupo Austral e Cone Sul, no MAC/USP
1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: Matrizes e Gravuras, no Centro Cultural Fiesp
Fonte: BERNARDO Cid. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 27 de janeiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Artigo Bernardo Cid de Souza Pinto por Mario Schenberg
Na VII Bienal despertaram a minha atenção os quadros de tendência realista bastante peculiar de um pintor pouco conhecido: Bernardo Cid de Souza Pinto. Essas telas indicavam um artista amadurecido e dispondo de um controle seguro dos meios de expressão. Posteriormente Sheila Brannigan me levou ao atelier de Bernardo, onde pude conhecer os seus trabalhos mais recentes, assim como os outros das fases mais antigas.
Bernardo Cid é um artista inteligente e pesquisador, com quase 20 anos de atividade pictórica. Temperamento tímido e retraído, participa raramente de exposições e mantém poucos contatos com o ambiente artístico paulistano. Daí o ser menos conhecido do que deveria, pela qualidade e volume de sua obra.
Considera suas obras anteriores a 1959 como não profissionais, pois só então começou a fazer exposições. Critério sumamente discutível e arbitrário. Desde 1954 produzira excelentes trabalhos figurativos, que se relacionam intimamente com os de sua última fase de realismo social, sobretudo pela natureza do desenho.
Nas fases figurativas anteriores à 1960, Bernardo Cid experimentou várias técnicas. De um modo geral, o grafismo desempenhou o papel mais importante nesse período, se bem que tenha empregado também uma técnica de esmaltes. A partir de 1960 iniciou sua fase abstrata informal - que se prolongou até o fim de 1964 - quando voltou de novo ao figurativismo.
A pintura informal de Cid apresenta um interesse considerável. Algumas obras desse período se aproximam do expressionismo abstrato, revelando um senso cósmico acentuado, adequadamente comunicado por uma linguagem pictórica rica de sensibilidade cromática. A visão cósmica de Cid tem uma dramaticidade contida, mas forte. Ela reapareceu combinada com outros elementos em alguns dos seus quadros neo-realistas de 1965. A passagem pelo informalismo enriqueceu consideravelmente a pintura de Cid, combatendo uma predominância excessiva de grafismo, evidenciada nas fases precedentes. Aprimorou o seu senso espacial e deu-lhe musicalidade.
Há um ano, Cid iniciou sua nova fase figurativa. Passou a desenvolver uma espécie de realismo mais ampliado, procurando captar a totalidade da pessoa, da situação ou da idéia poética. Esses trabalhos são complexos e fascinantes em sua combinação de realismo mágico ou fantástico com elementos da velha pintura metafísica italiana e a inclusão de colagens, palavras e textos escritos na composição plástica. Cid utilizou alguns poemas concretos, e Hai Kais ou reminiscências como “leitmotiv”para os seus trabalhos.
Um dos elementos mais importantes dessa primeira série de trabalhos neofigurativos é o seu gênero de espacialidade. Ela tem afinidades com a pintura metafísica, mas possui uma natureza mais complexa. Intensamente subjetiva e musical, relaciona-se com a memória e com uma temporalidade como que reversível. Há algo na espacialidade desses quadros de Cid que evoca “O Ano Passado em Marienbad”, o filme de Resnais.
Ultimamente o realismo de Cid tornou-se mais social, com a série dos trabalhos sobre Hiroshima e outros. Em vez de tomar como “leitmotiv” um poema concreto ou uma reminiscência, Cid o faz agora com uma fase de significação social ou mesmo política. Assim, no primeiro quadro da série de Hiroshima, o “leitmotiv” é a frase “Em Hiroshima não tem crianças” , como que construída com varetas de metal negro encurvadas, sobre uma faixa central vermelha sugerindo talvez sangue. Várias palavras da frase “Em Hiroshima não tem crianças” são repetidas em muitos pontos da tela, dentro e fora da figura da criança.
Nos quadros da série de Hiroshima há uma influência óbvia da técnica dos cartazes de propaganda. O grafismo e as pesquisas espaciais são menos elaborados do que na fase realista anterior. Cid passou de um realismo afim ao mágico e ao fantástico para um realismo social tendo certos pontos de contato com a pop art.
Entre os quadros da série de Hiroshima, Cid fez uma experiência interessante no quadro do ouro, que tem uma textura muito rica e um cromatismo muito exuberante. O quadro é construído sobre a idéia do ouro e do abutre, simbolizando obviamente a voracidade do dinheiro levada à crueldade implacável. Nesse sentido Cid aproveita muitas experiências da fase informal, associando-as a efeitos semelhantes aos da colagem. Há também relações com a poesia concreta na utilização das palavras ouro, oro e choro.
A variedade e a profundidade das pesquisas neo-realistas de Cid dão-lhe uma posição de destaque no movimento renovador da arte brasileira, nascido com o declínio do informalismo, que vem se caracterizando pelo surto das tendências neo-realistas.
Fonte: Artigo Bernardo Cid de Souza Pinto, escrito por Mario Schenberg, publicado em 1965.
Crédito fotográfico: Obras de Bernardo Cid. Postado por Tiago S. Pinto em 5 de outubro de 2010.