Cecília Benevides de Carvalho Meirelles (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1901 - idem 1964), mais conhecida como Cecília Meireles, foi uma pintora, poeta, cronista, educadora, ensaísta, tradutora e dramaturga brasileira. Ficou reconhecida mundialmente, uma vez que suas obras foram traduzidas para muitas línguas. Cecília Meireles tornou-se um nome importante do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discriminação de gênero. Sua arte se refletiu, principalmente, em publicações que evidenciam uma inclinação pelo simbolismo, religiosidade, desespero e individualismo. Pelo trabalho realizado na literatura ela recebeu diversos prêmios, dos quais se destacam o Prêmio de Poesia Olavo Bilac, Prêmio Jabuti e o Prêmio Machado de Assis. Também realizou palestras e conferências sobre educação, literatura brasileira, teoria literária e folclore, em diversos países do mundo.
Biografia — Itaú Cultural
Seus três irmãos mais velhos morrem antes de ela nascer; seu pai, três meses antes de seu nascimento; e a mãe, antes de ela completar 3 anos.
É criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides, natural dos Açores, Portugal. Concluiu o curso primário em 1910, na Escola Estácio de Sá, quando recebeu das mãos do poeta Olavo Bilac (1865-1918), então inspetor escolar do Distrito Federal, medalha de ouro por ter concluído o curso com "distinção e louvor".
Diplomando-se no curso normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, o magistério torna-se uma de suas paixões, levando-a a escrever para o público infantil, em livros didáticos, como Criança, Meu Amor, de 1924, ou em poemas, como Ou Isto ou Aquilo, de 1964.
Em 1922, casa-se com o artista plástico português Correia Dias (1893-1935), com quem tem três filhas - a mais nova, Maria Fernanda (1928), torna-se atriz de teatro. De 1930 a 1933, mantém no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação, que resulta um livro póstumo de cinco volumes, Crônicas da Educação, e, em 1934, organiza a primeira biblioteca infantil do Brasil, no Rio de Janeiro.
Assina, em 1932, com os educadores Fernando de Azevedo (1894-1974), Anísio Teixeira (1900-1971), Afrânio Peixoto (1876-1947), entre outros, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, marco da renovação educacional do país. Em 1935, seu marido se suicidou. Cinco anos depois, Cecília casa-se com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo.
Aposenta-se como diretora de escola em 1951, mas se mantém como produtora e redatora de programas culturais da Rádio MEC, que são reunidos postumamente no livro Ilusões da Vida, de 1976. Embora tenha estreado aos 18 anos, com o livro de sonetos Espectros, em 1919, somente com Viagem, de 1939, vencedor do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras - ABL, encontra seu estilo definitivo. Mesmo considerada uma poeta filiada ao modernismo, seus caminhos estéticos estão mais ligados à evolução pessoal que a movimentos literários. Entre outros temas, sua obra aborda a solidão, a brevidade da vida e a religiosidade.
Análise
Cecília Meireles é uma poeta brasileira da segunda geração modernista, mas em sua obra encontram-se influências da poesia medieval, romântica, parnasiana e simbolista, como o uso de formas fixas, especialmente o soneto, técnicas tradicionais de versificação, temas filosóficos e espirituais e linguagem elevada, que tornam a sua obra singular no contexto histórico em que é desenvolvida. Poeta intimista, próxima à abstração da música, ao sentimento religioso e à fluidez do sonho, seus temas recorrentes são o amor, a morte, o tempo e a eternidade, o que se evidencia já a partir dos títulos de seus livros, como Vaga Música e Mar Absoluto.
Inicia a vida literária participando do grupo tradicionalista e católico que se articula dentro da revista Festa, dirigida por Tasso da Silveira, que, segundo análise de Miguel Sanches Neto (1965), se aglutina "em torno de uma visão mística contrária aos valores de um mundo industrial e mecânico que, num primeiro momento, causa deslumbramento em intelectuais e artistas do subúrbio do capitalismo, que se sonham integrados à nova civilização".
Em seu livro de estreia, Espectros, publicado em 1919, encontramos poemas sobre temas históricos, lendários, mitológicos ou religiosos, com personagens como Cleópatra, Maria Antonieta, Judite, Sansão e Dalila, retratados em sonetos de nítida influência simbolista, na musicalidade, melancolia e na dimensão onírica dos versos. Em obras posteriores, como Nunca Mais (1923), Baladas para el-Rey (1925), Viagem (1939), Vaga Música (1942), entre outras, a autora prossegue na investigação das possibilidades de uma "música abstrata" (para usar expressão de Alfredo Bosi (1936), que acarretam críticas de passadismo e, ao mesmo tempo, elogios à habilidade de articulação melódica.
Na opinião de Miguel Sanches Neto, "os primeiros livros de Cecília Meireles apresentam uma nítida rarefação, revelando assim uma maior presença do imaginário simbolista, que vai sendo aos poucos incorporado à sua voz, marcando-lhe a diferença". Mar Absoluto e Outros Poemas, publicado em 1945, é considerado um dos melhores livros da autora, e concilia a vagueza e imprecisão do sentido com uma capacidade maior de síntese e força narrativa, incorporando ainda o recurso do verso livre. O poema de abertura do livro, um dos mais belos que escreve, começa com as linhas:
"Foi desde sempre o mar
E multidões passadas me empurravam
como a barco esquecido.
Agora recordo que falavam
da revolta dos ventos,
de linhos, de cordas, de ferros,
de sereias dadas à costa".
Esse poema, assim como outros da autora, revela uma obsessão pelo mar, metáfora da fluidez, da impermanência, da transformação incessante de todas as coisas, ou seja, do tempo e da eternidade.
Água, viagem, música, sonho e Oriente são as principais pedras-de-toque da poesia de Cecília Meireles, acompanhando o conjunto de sua obra poética. O fascínio pela Índia, por exemplo, já está presente em seu livro de estreia, em que se encontra o soneto intitulado Brâmane ("Ao longe, em suspiroso murmúrio, / Do Ganges rola a fúlgida serpente"). A filosofia védica, expressa em obras como os Upanishads e o Bhagavad Gita, encantam a autora, que pesquisa doutrinas místicas de diferentes culturas, em busca de um humanismo universalista. Sua viagem à Índia, onde participa de um simpósio sobre Mahatma Gandhi, inspira o livro Poemas Escritos na Índia (1961) e as traduções que faz do poeta Rabindranath Tagore.
Já os livros Pequeno Oratório de Santa Clara (1955), Romance de Santa Cecília (1957) e Oratório de Santa Maria Egipcíaca (publicado postumamente em 1996) são recriações poéticas de narrativas cristãs medievais, especialmente do Flos Sanctorum, que a autora lê com entusiasmo. O tema do Oratório, também abordado por Manuel Bandeira (1886-1968) no poema Balada de Santa Maria Egipcíaca, é baseado na lenda de uma pecadora que, após uma vida dedicada aos prazeres mundanos, decide partir em peregrinação a Jerusalém. No meio da jornada, não tendo moedas para pagar ao barqueiro pela travessia de um rio, oferece o seu corpo como recompensa para continuar a viagem até a cidade sagrada. A lenda religiosa é transformada por Cecília Meireles num poema dramático de grande beleza, força sonora e plasticidade, em que se destacam versos como estes:
"Sou rio, serpente,
corro para onde quero, sozinha,
para longe corro
Sou perfume de óleo fervente,
ervas, flor, semente / em viva brasa".
Este poema é concebido originalmente como obra dramática e musical, para encenação no palco, com acompanhamento orquestral e canto.
A obra mais conhecida de Cecília Meireles, no entanto, é o Romanceiro da Inconfidência, publicado em 1953, que utiliza o verso em redondilha maior para construir uma narrativa poética sobre a saga dos conjurados mineiros do século XVIII, alternando o tom lírico com o épico ("Não posso mover meus passos / por esse atroz labirinto / de esquecimento e cegueira / em que amores e ódios vão"). O que singulariza esse livro dentro da obra de Cecília Meireles, além de sua perfeição técnica, é a abordagem de um fato da história política nacional, tema pouco comum em sua produção literária. O enredo histórico, porém, é abordado de maneira alegórica, simbólica, transcendendo a sua condição temporal, como nota Miguel Sanches Neto. O Romanceiro da Inconfidência revela afinidades estéticas com os cancioneiros da Idade Média, como destaca Mário Faustino (1930-1962), e é considerado um dos poemas longos mais originais produzidos em nosso modernismo, ao lado de obras como a Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (1895-1953), e a Contemplação de Ouro Preto, de Murilo Mendes (1901-1975).
A vocação lírica de Cecília Meireles atinge plena maturidade com o livro Canções (1956), em que volta a empregar a métrica da redondilha, dialogando com a tradição poética portuguesa, inclusive com as cantigas de amor e de amigo, como nesta composição: "Como num exílio / como nas guerras, / meu amigo é morto, / sem nenhum conforto, / em longes terras". Comentando a respeito em sua História Concisa da Literatura Brasileira, diz Alfredo Bosi que "Cecília foi escritora atenta à riqueza do léxico e dos ritmos portugueses, tendo sido talvez o poeta moderno que modulou com mais felicidade os metros breves, como se vê nas Canções e no trabalhadíssimo Romanceiro da Inconfidência".
Um livro que ocupa um lugar diferenciado no conjunto da obra da autora é Ou Isto ou Aquilo (1964), que apresenta poemas escritos para crianças utilizando recursos de linguagem como trocadilhos e paronomásias, buscando atrair o leitor para os aspectos lúdicos da poesia. Um poema que se destaca nesse conjunto é O Mosquito Escreve, construído como um acróstico, em que cada letra da palavra "mosquito" é destacada, em maiúscula, num dos versos, como neste trecho: "O mosquito pernilongo / trança as pernas, faz um M, / depois, treme, treme, treme, / faz um O bastante oblongo, / faz um S". A poesia de Cecília Meireles, conforme parecer de Manuel Bandeira, busca a perfeição da construção formal, valendo-se para isso tanto de recursos tradicionais quanto modernos.
Espetáculos
1943 - Pelleas e Melisanda
1947 - Natividade
1951 - O Moço Bom e Obediente (Nô Japonês)
1956 - Bodas de Sangue
1961 - Bodas de Sangue
1962 - Yerma
1963 - O Menino Atrasado
Exposições Póstumas
1965 - Santa Joana
1967 - A Tragédia de Vila Rica no Tempo de Joaquim José
1968 - Os Inconfidentes
1968 - Tragédia em Vila Rica - O Romanceiro da Inconfidência
1968 - Os Inconfidentes
1972 - O Romanceiro da Inconfidência
1975 - Romanceiro da Inconfidência
1978 - Yerma
1981 - Libertas Quae Sera Tamen
1983 - O Romanceiro da Inconfidência
1993 - Grog de Poesia
1994 - E Deus Criou a Varoa
2000 - O Romanceiro da Inconfidência Cantares
Exposições Coletivas
1933 - 3º Salão da Pró-Arte
1933 - 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM
Exposições Póstumas
2000 - De la Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950
2002 - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950
2016 - Linguagens do corpo carioca [a vertigem do Rio]
2019 - Exposição Vozes dos Livros
Fonte: CECÍLIA Meireles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 25 de março de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia — Wikipédia
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma jornalista, pintora, poeta, escritora e professora brasileira. É um nome canônico do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discriminação de gênero.
Ela viajou pelas Américas na década de 1940, visitando os Estados Unidos, México, Argentina, Uruguai e Chile. No verão de 1940, ela deu palestras na Universidade do Texas em Austin. Ela escreveu dois poemas sobre seu tempo na capital do Texas e um longo (800 linhas) poema socialmente consciente "EUA 1940", publicado postumamente. Como jornalista, suas colunas (crônicas) concentravam-se mais na educação, mas também em suas viagens ao exterior no hemisfério ocidental, Portugal, outras partes da Europa, Israel e Índia (onde recebeu um doutorado honorário).
Como poeta, seu estilo era principalmente neossimbolista e seus temas incluíam tempo efêmero e vida contemplativa. Embora não se preocupasse com a cor local, o vernáculo nativo ou os experimentos em sintaxe (popular), ela é considerada um dos poetas mais importantes da segunda fase do modernismo brasileiro, conhecida pelo vanguardismo nacionalista. Como professora, ela fez muito para promover reformas educacionais e defendeu a construção de bibliotecas infantis. Entre 1935 e 1938, lecionou na universidade de curta duração do distrito federal do Rio de Janeiro.
Biografia
Juventude
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no bairro Rio Comprido, na cidade do Rio de Janeiro. Seus pais eram Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil, e Mathilde Benevides Meireles, professora da rede pública de ensino fundamental (na época, ensino primário). Antes de Cecília nascer, sua mãe havia perdido seus outros filhos: Carlos, Vítor e Carmem. Carlos morreu três meses antes do nascimento de Cecília. Aos três anos de idade, sua mãe morreu, e Cecília se mudou para as imediações das ruas Zamenhoff, Estrela e São Carlos, passando a morar com sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides, uma portuguesa nascida na Ilha de São Miguel, Açores, na época viúva e única sobrevivente da família. Ela criou a menina com ajuda de Pedrina, a babá da menina, que sempre lhe contava histórias à noite.
Cecília cursou o ensino fundamental na Escola Municipal Estácio de Sá, onde, ao concluir o curso em 1910, recebeu das mãos de Olavo Bilac, inspetor da escola, uma Medalha de Ouro Olavo Bilac pelo esforço e excelente desempenho "com distinção e louvor". Nessa época, a garota já demonstrava paixão por livros, chegando a escrever seus primeiros versos. Também demonstrava interesse pela música, o que a levou estudar canto, violão e violino no Conservatório Nacional de Música, pois sonhava em escrever uma ópera sobre o Apóstolo São Paulo. No entanto, posteriormente, acabou se dedicando à literatura, tendo em vista que não conseguiria desempenhar com perfeição muitas atividades simultaneamente.
Cecília Meireles possuía olhos azuis-esverdeados, era curiosa e sozinha, sobretudo porque sua avó não a deixava sair de casa para brincar, mesmo quando era chamada por outras crianças. Durante uma entrevista, Cecília disse que "em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar e nem me espantei por perder". A infância solitária rendeu à futura escritora dois pontos que, para ela, foram positivos: "a solidão e o silêncio".
1917-1935: Formação acadêmica e primeiro casamento
Em 1917, aos dezesseis anos de idade, formou-se na Escola Normal do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, onde teve como professores o historiador Basílio de Magalhães, a escritora infantil Alexina Magalhães Pinto e o poeta Osório Duque-Estrada. Por consenso, foi escolhida como oradora do seu grupo de formatura. A partir de então, passou a lecionar. Em 24 de outubro de 1922, já tendo publicado o seu livro de estreia, casou-se com o pintor, desenhista, ilustrador e artista plástico português Fernando Correia Dias, que havia se mudado para o Brasil em abril de 1914, radicando-se no Rio de Janeiro e contribuindo para o desenvolvimento das artes gráficas no país. A união dos dois gerou três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda. Além disso, a união com Correia Dias proporcionou à escritora um contato com o movimento poético em Portugal, no início do século XX, do qual Fernando Pessoa fez parte, e uma parceria na ilustração de sua obra. Porém, o casamento com o ilustrador não foi fácil: o casal passou por grandes dificuldades financeiras e o preconceito da época prejudicou o artista plástico e a professora. Seguiu-se um período difícil de perseguição mais ou menos velada, em que durante quatro anos, por ironia e desagravo de sua capacidade pedagógica, Cecília Meireles manteve uma página diária sobre educação no Diário de Notícias. Também se encontra colaboração da sua autoria na revista luso-brasileira Atlântico.
Carreira docente
Cecília iniciou sua carreira docente em 1918, quando foi nomeada professora adjunta do curso primário, na Escola Pública Deodoro. Em 29 de março de 1920, o Diretor Geral de Instrução Pública recebeu autorização do então prefeito da cidade para formar turma de desenho da Escola Normal do Distrito Federal. Ele escolheu Cecília, a pedido do arquiteto e engenheiro Fernando Nereo de Sampaio, que era responsável pela Cátedra de Desenho da Escola e fazia parte da equipe de Anísio Teixeira na Diretoria de Instrução Pública. Preocupada com a qualidade do ensino e a escassez de livros didáticos, Cecília escreveu livros para escolas primárias e publicou em 1924 o livro infantil Criança, Meu Amor, com prosas para o ensino fundamental. Ele foi adotado pela Diretoria Geral da Instrução Pública do Distrito Federal e aprovado pelo Conselho Superior de Ensino do Estado de Minas Gerais e Pernambuco, entrando na lista de leitura de livros paradidáticos. Entre os temas do livro estavam retratos, momentos do dia, animais de estimação, tarefas, sentimentos e brincadeiras.
1920-1930: concurso da Escola Normal e tese O Espírito Vitorioso
Cecília dedicou-se a estudar visando um concurso promovido pela Escola Normal para preencher o cargo de professor catedrático. Em correspondências para o marido, Cecília confidenciou sua intenção de participar. Em 1930, realizou a primeira etapa do concurso, defendendo a tese "O Espírito Vitorioso", na qual defendia "a escola moderna" e destacava os princípios de liberdade, de inteligência, de estímulo à observação e à experimentação. Nessa fase, dos oito candidatos, três foram reprovados e dois desistiram em função das notas obtidas. Somente dois continuaram disputando: Cecília Meireles e Clóvis do Rego Monteiro, tendo este nota superior à de Cecília. A última fase, realizada em 26 de agosto do mesmo ano, era uma prova prática, na qual Cecília foi derrotada.
1935-1964
Nesse período, Cecília publica diversas obras e traduções, realizando pesquisas históricas e visitando e vivendo em pequenos intervalos em países como a Argentina, Bélgica, Holanda, EUA, Índia, Israel, e teve obras traduzidas para diversos idiomas, incluindo alemão, espanhol, francês, húngaro, inglês e italiano.
De 1935 a 1938 ela foi professora de Literatura Luso-Brasileira e de Técnica e Crítica Literária na Universidade do Distrito Federal (que era na época no Rio de Janeiro).
Em 1940, ela deu um curso de literatura e cultura brasileira à Universidade do Texas em Austin (Estados Unidos). Ao longo da década, ela viaja pela América, passando pelo México e Chile e também visitando em 1944 o Uruguai e a Argentina, e publica uma obra em Boston em 1945. Em 1951, viaja à França, Bélgica, Holanda e Açores e se aposenta do cargo de diretora da Prefeitura do Distrito Federal.
Em 1953, viaja à Índia a convite do primeiro-ministro Jawaharlal Nehru e participa de um congresso sobre Gandhi em Goa. Em Nova Deli, recebe das mãos do presidente um título Doctor honoris causa por suas traduções da obra de Rabindranath Tagore.
Fez uma nova viagem à Europa em 1954. Em 1958, visita Israel.
Em 1962, um câncer no estômago começa a se manifestar e ela vem a falecer em 9 de novembro de 1964 no Rio de Janeiro, aos 63 anos.
Carreira literária
Com dezoito anos de idade, em 1919, Cecília publicou seu primeiro livro de poemas, Espectros, lançado pela Editora Leite Ribeiro (hoje Freitas Bastos), com dezessete sonetos, escritos no tempo em que cursava a Escola Normal, e com prefácio assinado por Alfredo Gomes, que tinha sido seu professor de Língua portuguesa e, à época, prestigioso gramático, que saudava "o coração já superiormente formado, a inteligência clara e lúcida, a intuição notável com que sabia expor pensamentos próprios e singulares até em assuntos pedagógicos" de sua aluna.
O livro continha poemas sobre temas históricos, lendários, mitológicos e religiosos, tendo personagens como Cleópatra, Maria Antonieta, Judite, Sansão e Dalila, retratados em sonetos, sob influência simbologista, na musicalidade e melancolia, indo na contramão do que estava sendo publicado na época. Com diminuta tiragem, acredita-se que o livro tenha sido lançado às custas da autora.
O livro ganhou uma crítica positiva de João Ribeiro, publicada no jornal O Imparcial, em que ele previa um belo futuro para Cecília. Para Darcy Damasceno, crítico do Jornal do Comércio, o livro impedia a revelação da real face criativa e espiritual de Meireles devido ao rigor das métricas e acentuação, em textos parnasianos.
Durante certa época, exemplares do livro desapareceram de circulação, levantando a hipótese de que, de fato, nunca tivessem existido. Nem mesmo a família da autora tinha notícias a respeito ou qualquer exemplar da obra. Dele, o que se conhecia eram apenas fragmentos. Porém, em 2001, o livro foi reeditado e incorporado à Poesia Completa, coletânea lançada pela Nova Fronteira.
A partir daí, Cecília começou a se aproximar de escritores como Tasso da Silveira, Andrade Muricy e, entre fevereiro e março de 1922, escreveu novos poemas para compor um novo livro. Nessa época, aconteceu a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, liderada por Oswald de Andrade, com o qual Cecília teve pouco contato. No ano seguinte, publicou Nunca Mais... E Poema dos Poemas, pela editora Leite Ribeiro, contendo vinte e um poemas e seis sonetos de caráter simbolista e com ilustrações de seu marido, Correia Dias. Posteriormente, Cecília pediu que esse livro fosse removido de sua bibliografia. Publicou em 1924 Criança, Meu Amor, seu primeiro livro infantil, com crônicas em prosa poética para o ensino fundamental, nas quais a escritora abordou realidades que as crianças gostam, como "o imaginário, o bom conselho, o humor e a fantasia". Os poemas escritos entre fevereiro e março de 1922 foram publicados em Baladas para El-Rei, lançado em 1925, pela Editora Brasileira Lux, também com ilustrações de Correia Dias, seguindo a mesma linha dos últimos dois volumes já publicados, o que acabou fazendo com que estudiosos caracterizem essa parte da vida de Cecília como um "simbolismo-tardio", movimento literário encabeçado por Tasso da Silveira.
Além de poeta, cronista, teatróloga e jornalista, Cecília também teve uma renomada carreira de tradutora literária, pelo que recebeu mais de um prêmio e reconhecimentos internacionais. Ela conhecia inglês, francês, italiano, russo, hebraico e dialetos do grupo indo-iraniano, tendo aprendido o sânscrito e hindi. Dentre as obras que verteu ao português, destacam-se as traduções de poemas de Rabindranath Tagore, pelo que recebeu título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Delhi na Índia, além de Charles Dickens, François Perroux, Alexandre Pushkin, Rainer Maria Rilke, os livros Orlando, de Virginia Woolf, a Bodas de Sangue, de García Lorca, e antologias de poesia hebraica e chinesa, esta última constituída por poemas de Li Po e Du Fu.
Homenagens
Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, pelo livro Viagem (1938)
Prêmio de Tradução de Obras Teatrais (1962)
Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária pelo livro Poesia de Israel (1963).
Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro Solombra (1964).
Prémio Machado de Assis (1965)
Sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura
Sócia honorária do Instituto Vasco da Gama (Goa)
Doutora "honoris causa" pela Universidade de Delhi (Índia)
Oficial da Ordem do Mérito (Chile)
Nos Açores, de onde eram oriundos os seus pais, o nome de Cecília Meireles foi dado à escola básica da freguesia de Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada, terra de sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides.
Após sua morte, recebeu como homenagem a impressão de uma cédula de cem cruzados novos. Esta cédula com a efígie de Cecília Meireles, lançada pelo Banco Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1989, seria mudada para cem cruzeiros, quando houve a troca da moeda pelo governo de Fernando Collor.
Obras
Estas são algumas das obras publicadas por Cecília Meireles:
Espectros, 1919
Criança, meu amor, 1923
Nunca mais, 1923
Poema dos Poemas, 1923
Baladas para El-Rei, 1925
O Espírito Vitorioso, 1929
Saudação à menina de Portugal, 1930
Batuque, samba e Macumba, 1933
A Festa das Letras, 1937
Viagem, 1939
Olhinhos de Gato,1940
Vaga Música, 1942
Poetas Novos de Portugal, 1944
Mar Absoluto, 1945
Rute e Alberto, 1945
Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948
Retrato Natural, 1949
Problemas de Literatura Infantil, 1950
Amor em Leonoreta, 1952
Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952
Romanceiro da Inconfidência, 1953
Poemas Escritos na Índia, 1953
Batuque, 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955
Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955
Panorama Folclórico de Açores, 1955
Canções, 1956
Giroflê, Giroflá, 1956
Romance de Santa Cecília, 1957
A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957
A Rosa, 1957
Obra Poética,1958
Metal Rosicler, 1960
Poemas de Israel, 1963
Antologia Poética, 1963
Solombra, 1963
Ou Isto ou Aquilo, 1964
Escolha o Seu Sonho, 1964
Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965
O Menino Atrasado, 1966
Poésie (versão francesa), 1967
Antologia Poética, 1968
Poemas Italianos, 1968
Poesias (Ou isto ou aquilo& inéditos), 1969
Flor de Poemas, 1972
Poesias Completas, 1973
Elegias, 1974
Flores e Canções, 1979
Poesia Completa, 1994
Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998
Canção da Tarde no Campo, 2001
Poesia Completa, edição do centenário, 2001, 2 vols. (Org.: Antonio Carlos Secchin. Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
Crônicas de educação, 2001, 5 vols. (Org.: Leodegário A. de Azevedo Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
Episódio Humano, 2007
Uma obra bastante particular e pouco conhecida de Cecília Meireles é o infanto-juvenil Olhinhos de Gato. Baseado na vida de Cecília, conta sua infância depois que perdeu sua mãe Matilde Benevides Meireles e como foi criada por sua avó D. Jacinta Garcia Benevides (chamada Boquinha de Doce no livro)
Cecília é considerada uma das maiores poetas do Brasil. Raimundo Fagner gravou várias músicas tendo seus poemas como base, como "Canteiros" e "Motivo".
Outros textos
1947 - Estreia "Auto do Menino Atrasado", direção de Olga Obry e Martim Gonçalves. música de Luís Cosme; marionetes, fantoches e sombras feitos pelos alunos do curso de teatro de bonecos.
1956/1964 - Gravação de poemas por Margarida Lopes de Almeida, Jograis de São Paulo e pela autora (Rio de Janeiro - Brasil)
1965 - Gravação de poemas pelo professor Cassiano Nunes (New York - USA).
1972 - Lançamento do filme "Os inconfidentes", direção de Joaquim Pedro de Andrade, argumento baseado em trechos de "O Romanceiro da Inconfidência".
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
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Biografia Cecília Meireles – e.Biografia
Cecília Meireles (1901-1964) foi uma poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estreou na literatura com o livro "Espectros".
Participou do grupo literário da Revista Festa, grupo católico, conservador. Dessa vinculação herdou a tendência espiritualista que percorre seus trabalhos com frequência. Embora mais conhecida como poetisa, deixou contribuições no domínio do conto, da crônica, da literatura infantil e do folclore.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de Janeiro no dia 7 de novembro de 1901. Perdeu o pai poucos meses antes de seu nascimento e a mãe logo depois de completar 3 anos. Foi criada por sua avó materna, a portuguesa Jacinta Garcia Benevides.
Formação
Cecília Meireles fez o curso primário na Escola Estácio de Sá, onde recebeu das mãos de Olavo Bilac a medalha do ouro por ter feito o curso com louvor e distinção. Em 1917 formou-se professora na Escola Normal do Rio de Janeiro. Estudou música e línguas. Passou a exercer o magistério em escolas oficiais do Rio de Janeiro.
Carreira literária
Em 1919, Cecília Meireles lançou seu primeiro livro de poemas, "Espectros" com 17 sonetos de temas históricos. Em 1922, por ocasião da Semana de Arte Moderna ela participou do grupo da revista Festa, ao lado de Tasso da Silveira, Andrade Muricy e outros, que defendia o universalismo e a preservação de certos valores tradicionais da poesia. Nesse mesmo ano, casou-se com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas.
Cecília Meireles estudou literatura, folclore e teoria educacional. Colaborou na imprensa carioca escrevendo sobre folclore. Atuou como jornalista em 1930 e 1931 e publicou vários artigos sobre educação. Fundou em 1934 a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro. O interesse de Cecília pela educação se transformou em livros didáticos e poemas infantis.
Ainda em 1934, a convite do governo português, Cecília viaja para Portugal, onde proferiu conferências divulgando a literatura e o folclore brasileiros. Em 1935 morreu seu marido.
Professora
Entre 1936 e 1938, Cecília lecionou Literatura Luso-Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1938, o livro de poemas “Viagem” recebeu o Prêmio de Poesia, da Academia Brasileira de Letras. Em 1940 casou-se com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Grilo.
Nesse mesmo ano, Cecília lecionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas. Proferiu conferência sobre Literatura Brasileira em Lisboa e Coimbra. Publicou em Lisboa o ensaio "Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria.
Em 1942 tornou-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Realizou várias viagens aos Estados Unidos, Europa, Ásia e África, fazendo conferências sobre Literatura, Educação e Folclore.
Características da obra de Cecília Meireles
A rigor, Cecília Meireles nunca esteve filiada a nenhum movimento literário. Sua poesia, de modo geral, filia-se às tradições da lírica luso-brasileira. Apesar disso, suas publicações iniciais evidenciam certa inclinação pelo Simbolismo, reúnem religiosidade, desespero e individualismo. Há misticismo no campo da solidão, mas existe a consciência de seus dons e seu destino:
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
-Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta."
O uso frequente de elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a solidão e a música confirmam a inclinação neossimbolista:
Das Palavras Aéreas
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma! (...)
Somente com o livro Viagem (1939) é que Cecília Meireles ingressou no espírito poético da escola modernista. A poetisa foi cuidadosa com a seleção vocabular e teve forte inclinação para a musicalidade (traço associado ao Simbolismo), para o verso curto e para os paralelismos, a exemplo dos versos das poesia medieval portuguesa:
Música
Noite perdida
Não te lamento:
embarco a vida
No pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,
Puro e sem nada,
- rosa encarnada,
intacta, ao vento.
Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida (...)
Poesia Reflexiva
Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, que abordou temas como a transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o infinito e a natureza. Cecília foi uma escritora intuitiva, que sempre procurou questionar e compreender o mundo a partir das próprias experiências. Uma série de cinco poemas, todos intitulados Motivo da Rosa, da obra “Mar Absoluto”, abordam o tema da efemeridade do tempo:
1º. Motivo da Rosa
Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil. (...)
Poesia Histórica
A obra máxima de Cecília Meireles foi o poema épico-lírico Romanceiro da Inconfidência, onde se encontram os maiores valores de sua poética. Trata-se de uma narrativa rimada, escrita em homenagem aos heróis que lutaram e morreram pela Pátria:
Romanceiro da Inconfidência
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
E diz o vigário ao Poeta:
“Escreva-me aquela letra
do versinho de Virgílio...”
E dá-lhe o papel e a pena.
E diz o Poeta ao Vigário,
Com dramática prudência:
“Tenha meus dedos cortados,
antes que tal verso escrevam...”
Liberdade, Ainda que Tarde, (...)
Cecília Meireles faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura. Cecília Meireles foi homenageada pelo Banco Central, em 1989, com sua efígie na cédula de cem cruzados novos.
Frases de Cecília Meireles
"Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira."
"Se em um instante se nasce e um instante se morre, um instante é o bastante para a vida inteira."
"Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta."
"Meu coração tombou na vida, tal qual uma estrela ferida pela flecha de um caçador."
"O vento do meu espírito soprou sobre a vida e só ficaste tu que és eterno."
Obras de Cecília Meireles
Espectros, poesia (1919)
Nunca Mais... e Poema dos Poemas (1923)
Baladas Para El-Rei, poesia (1925)
Viagem, poesia (1925)
Viagem, poesia (1939)
Vaga Música, poesia (1942)
Mar Absoluto, poesia (1945)
Evocação Lírica de Lisboa, prosa (1948)
Retrato Natural, poesia (1949)
Doze Noturnos de Holanda, poesia (1952)
Romanceiro da Inconfidência, poesia (1953)
Pequeno Oratório de Santa Clara, poesia (1955)
Pístóia, Cemitério Militar Brasileiro, poesia (1955)
Canção, poesia (1956)
Giroflê, Giroflá, prosa (1956)
Romance de Santa Cecília, poesia (1957)
A Rosa, poesia (1957)
Eternidade em Israel, prosa (1959)
Metal Rosicler, poesia (1960)
Poemas Escritos Na Índia (1962)
Antologia Poética, poesia (1963)
Ou Isto Ou Aquilo, poesia (1965)
Escolha o Seu Sonho, crônica (1964)
Fonte: e.Biografia, publicado por Dilva Frazão em 27 de outubro de 2020. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
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Cecília Meireles: conheça sete curiosidades sobre a vida da escritora
Cecília Meireles foi tradutora, jornalista, pintira, professora... Além de, claro, escritora. Um dos mais importantes nomes da literatura brasileira do século 20, seus poemas não podem ser enquadrados em apenas uma escola literária. Enquanto jornalista, escreveu sobre educação e exerceu papel atuante em defesa de um ensino de qualidade. Nascida no dia 7 de novembro de 1901, faleceu em 9 de novembro de 1964, vítima de câncer.
Conheça a seguir detalhes da vida da escritora a partir de algumas curiosidades e momentos marcantes de sua trajetória:
Órfã e viúva muito cedo
Três meses antes de Cecília nascer, Carlos Alberto de Carvalho Meirelles, seu pai, faleceu. Quando Cecília tinha três anos, sua mãe Mathilde Benevides também partiu. A menina foi criada pela avó materna Jacinta Benevides, de quem herdou o gosto pelo folclore brasileiro e a levou para aulas de canto e violino. Outra morte trágica foi a de seu primeiro marido, o pintor português Fernando Correia Dias, com quem se casou aos 20 anos, em 1921, e teve suas três filhas. Fernando se suicidou em 1935. O sentimento de angústia e de dor da escritora foi registrado em uma carta a amigos que pode ser lida aqui.
Prêmio aos 9 anos
O primeiro reconhecimento de seu talento enquanto escritora veio aos nove anos e das mãos de quem sabia o que fazia. Era nada menos que o inspetor escolar do estado do Rio de Janeiro e grande nome do período modernista, Olavo Bilac. Em 1938 ela recebe o prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras pelo seu livro Viagem. Apesar de um segundo prêmio da ABL, após sua morte, que reconheceu o valor da totalidade de sua obra, Cecília nunca ingressou na Academia, formada apenas por homens no período em que viveu. A primeira mulher a ingressar foi Rachel de Queiroz, em 1977.
Encontro frustrado com Fernando Pessoa
Em 1934, Meireles viaja para Portugal para uma série de conferências nas universidades de Coimbra e Lisboa e aproveita para entrar em contato com o escritor Fernando Pessoa por intermédio de um grande amigo. Depois de horas de espera em um café na capital lusitana, ela retorna ao hotel e encontra um recado. No bilhete, Pessoa avisava que não pôde encontrá-la por ter sido desaconselhado em seu horóscopo matinal. Como pedido de desculpas, ele deixa um exemplar no seu livro Mensagem, única obra do poeta português publicada em vida.
Centro cultural é fechado por Vargas
Autora de inúmeros livros para o público infantil e ativa defensora de uma educação pública, laica e alto nível como uma forma de diminuir as desigualdades do país, Cecília foi uma das fundadoras do movimento Escola Nova em junto a outros intelectuais da década de 1920 no Brasil. Em 1934 cria com o marido Fernando Dias o Centro de Cultura Infantil, uma biblioteca para crianças. Crítica do presidente Getúlio Vargas, a quem chamava de "O Ditador", Cecília teve seu centro fechado em 1937 diante de denúncias de que ali haveria livros de conteúdo educacional duvidoso. O principal motivo da discussão foi a presença de um clássico do escritor americano Mark Twain, As Aventuras de Tom Sawyer.
Vida mais leve
A professora e poeta da Universidade Federal de Sergipe, Maria Lúcia Dal Farra, conta que a grafia inicial do sobrenome de Cecília era com dois "l"e que a mudança teria vindo após a carta de um desconhecido que se identificou como médium e sugeriu a eliminação de uma letra para "tornar a vida mais leve". A mensagem chegou em um momento de fragilidade, após o sucidío do primeiro marido e a necessidade de trabalhar dobrado para criar as três filhas. Como podemos perceber, ela acatou a sugestão.
Valor monetário
A Casa da Moeda fez uma homenagem à Cecília em 1989 e colocou seu rosto como fundo da nota de 100 Cruzados Novos. A nota não circulou por muito tempo como sabemos, já que o Plano Real veio logo em seguida, cinco anos depois.
Poeta, não poetisa
O vocabulário da língua portuguesa ainda considera "poeta" apenas como substantivo masculino, mas Cecília nunca gostou de ser chamada de poetisa. Para ela, significava uma diminuição do seu trabalho, como se a chamassem de mulher "prendada". Um sentido que até hoje se mantém, em oposição ao de poeta, que esse sim, teria sempre algo a dizer. O aviso de preferência está inclusive registrado em um poema Motivo.
Motivo
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta."
Fonte: Galileu. Publicado por Juliana Passos em 2 de dezembro de 2018. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
Crédito fotográfico: Revista Bula, A última entrevista de Cecilia Meireles, publicada por Carlos Willian Leite, em 11 de maio de 2016. Referência à entrevista publicada na revista Manchete, edição nº 630, em 16 de maio de 1964. E posteriormente no livro Pedro Bloch Entrevista, Bloch Editores, em 1989. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Cecília Benevides de Carvalho Meirelles (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1901 - idem 1964), mais conhecida como Cecília Meireles, foi uma pintora, poeta, cronista, educadora, ensaísta, tradutora e dramaturga brasileira. Ficou reconhecida mundialmente, uma vez que suas obras foram traduzidas para muitas línguas. Cecília Meireles tornou-se um nome importante do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discriminação de gênero. Sua arte se refletiu, principalmente, em publicações que evidenciam uma inclinação pelo simbolismo, religiosidade, desespero e individualismo. Pelo trabalho realizado na literatura ela recebeu diversos prêmios, dos quais se destacam o Prêmio de Poesia Olavo Bilac, Prêmio Jabuti e o Prêmio Machado de Assis. Também realizou palestras e conferências sobre educação, literatura brasileira, teoria literária e folclore, em diversos países do mundo.
Biografia — Itaú Cultural
Seus três irmãos mais velhos morrem antes de ela nascer; seu pai, três meses antes de seu nascimento; e a mãe, antes de ela completar 3 anos.
É criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides, natural dos Açores, Portugal. Concluiu o curso primário em 1910, na Escola Estácio de Sá, quando recebeu das mãos do poeta Olavo Bilac (1865-1918), então inspetor escolar do Distrito Federal, medalha de ouro por ter concluído o curso com "distinção e louvor".
Diplomando-se no curso normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, o magistério torna-se uma de suas paixões, levando-a a escrever para o público infantil, em livros didáticos, como Criança, Meu Amor, de 1924, ou em poemas, como Ou Isto ou Aquilo, de 1964.
Em 1922, casa-se com o artista plástico português Correia Dias (1893-1935), com quem tem três filhas - a mais nova, Maria Fernanda (1928), torna-se atriz de teatro. De 1930 a 1933, mantém no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação, que resulta um livro póstumo de cinco volumes, Crônicas da Educação, e, em 1934, organiza a primeira biblioteca infantil do Brasil, no Rio de Janeiro.
Assina, em 1932, com os educadores Fernando de Azevedo (1894-1974), Anísio Teixeira (1900-1971), Afrânio Peixoto (1876-1947), entre outros, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, marco da renovação educacional do país. Em 1935, seu marido se suicidou. Cinco anos depois, Cecília casa-se com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo.
Aposenta-se como diretora de escola em 1951, mas se mantém como produtora e redatora de programas culturais da Rádio MEC, que são reunidos postumamente no livro Ilusões da Vida, de 1976. Embora tenha estreado aos 18 anos, com o livro de sonetos Espectros, em 1919, somente com Viagem, de 1939, vencedor do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras - ABL, encontra seu estilo definitivo. Mesmo considerada uma poeta filiada ao modernismo, seus caminhos estéticos estão mais ligados à evolução pessoal que a movimentos literários. Entre outros temas, sua obra aborda a solidão, a brevidade da vida e a religiosidade.
Análise
Cecília Meireles é uma poeta brasileira da segunda geração modernista, mas em sua obra encontram-se influências da poesia medieval, romântica, parnasiana e simbolista, como o uso de formas fixas, especialmente o soneto, técnicas tradicionais de versificação, temas filosóficos e espirituais e linguagem elevada, que tornam a sua obra singular no contexto histórico em que é desenvolvida. Poeta intimista, próxima à abstração da música, ao sentimento religioso e à fluidez do sonho, seus temas recorrentes são o amor, a morte, o tempo e a eternidade, o que se evidencia já a partir dos títulos de seus livros, como Vaga Música e Mar Absoluto.
Inicia a vida literária participando do grupo tradicionalista e católico que se articula dentro da revista Festa, dirigida por Tasso da Silveira, que, segundo análise de Miguel Sanches Neto (1965), se aglutina "em torno de uma visão mística contrária aos valores de um mundo industrial e mecânico que, num primeiro momento, causa deslumbramento em intelectuais e artistas do subúrbio do capitalismo, que se sonham integrados à nova civilização".
Em seu livro de estreia, Espectros, publicado em 1919, encontramos poemas sobre temas históricos, lendários, mitológicos ou religiosos, com personagens como Cleópatra, Maria Antonieta, Judite, Sansão e Dalila, retratados em sonetos de nítida influência simbolista, na musicalidade, melancolia e na dimensão onírica dos versos. Em obras posteriores, como Nunca Mais (1923), Baladas para el-Rey (1925), Viagem (1939), Vaga Música (1942), entre outras, a autora prossegue na investigação das possibilidades de uma "música abstrata" (para usar expressão de Alfredo Bosi (1936), que acarretam críticas de passadismo e, ao mesmo tempo, elogios à habilidade de articulação melódica.
Na opinião de Miguel Sanches Neto, "os primeiros livros de Cecília Meireles apresentam uma nítida rarefação, revelando assim uma maior presença do imaginário simbolista, que vai sendo aos poucos incorporado à sua voz, marcando-lhe a diferença". Mar Absoluto e Outros Poemas, publicado em 1945, é considerado um dos melhores livros da autora, e concilia a vagueza e imprecisão do sentido com uma capacidade maior de síntese e força narrativa, incorporando ainda o recurso do verso livre. O poema de abertura do livro, um dos mais belos que escreve, começa com as linhas:
"Foi desde sempre o mar
E multidões passadas me empurravam
como a barco esquecido.
Agora recordo que falavam
da revolta dos ventos,
de linhos, de cordas, de ferros,
de sereias dadas à costa".
Esse poema, assim como outros da autora, revela uma obsessão pelo mar, metáfora da fluidez, da impermanência, da transformação incessante de todas as coisas, ou seja, do tempo e da eternidade.
Água, viagem, música, sonho e Oriente são as principais pedras-de-toque da poesia de Cecília Meireles, acompanhando o conjunto de sua obra poética. O fascínio pela Índia, por exemplo, já está presente em seu livro de estreia, em que se encontra o soneto intitulado Brâmane ("Ao longe, em suspiroso murmúrio, / Do Ganges rola a fúlgida serpente"). A filosofia védica, expressa em obras como os Upanishads e o Bhagavad Gita, encantam a autora, que pesquisa doutrinas místicas de diferentes culturas, em busca de um humanismo universalista. Sua viagem à Índia, onde participa de um simpósio sobre Mahatma Gandhi, inspira o livro Poemas Escritos na Índia (1961) e as traduções que faz do poeta Rabindranath Tagore.
Já os livros Pequeno Oratório de Santa Clara (1955), Romance de Santa Cecília (1957) e Oratório de Santa Maria Egipcíaca (publicado postumamente em 1996) são recriações poéticas de narrativas cristãs medievais, especialmente do Flos Sanctorum, que a autora lê com entusiasmo. O tema do Oratório, também abordado por Manuel Bandeira (1886-1968) no poema Balada de Santa Maria Egipcíaca, é baseado na lenda de uma pecadora que, após uma vida dedicada aos prazeres mundanos, decide partir em peregrinação a Jerusalém. No meio da jornada, não tendo moedas para pagar ao barqueiro pela travessia de um rio, oferece o seu corpo como recompensa para continuar a viagem até a cidade sagrada. A lenda religiosa é transformada por Cecília Meireles num poema dramático de grande beleza, força sonora e plasticidade, em que se destacam versos como estes:
"Sou rio, serpente,
corro para onde quero, sozinha,
para longe corro
Sou perfume de óleo fervente,
ervas, flor, semente / em viva brasa".
Este poema é concebido originalmente como obra dramática e musical, para encenação no palco, com acompanhamento orquestral e canto.
A obra mais conhecida de Cecília Meireles, no entanto, é o Romanceiro da Inconfidência, publicado em 1953, que utiliza o verso em redondilha maior para construir uma narrativa poética sobre a saga dos conjurados mineiros do século XVIII, alternando o tom lírico com o épico ("Não posso mover meus passos / por esse atroz labirinto / de esquecimento e cegueira / em que amores e ódios vão"). O que singulariza esse livro dentro da obra de Cecília Meireles, além de sua perfeição técnica, é a abordagem de um fato da história política nacional, tema pouco comum em sua produção literária. O enredo histórico, porém, é abordado de maneira alegórica, simbólica, transcendendo a sua condição temporal, como nota Miguel Sanches Neto. O Romanceiro da Inconfidência revela afinidades estéticas com os cancioneiros da Idade Média, como destaca Mário Faustino (1930-1962), e é considerado um dos poemas longos mais originais produzidos em nosso modernismo, ao lado de obras como a Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (1895-1953), e a Contemplação de Ouro Preto, de Murilo Mendes (1901-1975).
A vocação lírica de Cecília Meireles atinge plena maturidade com o livro Canções (1956), em que volta a empregar a métrica da redondilha, dialogando com a tradição poética portuguesa, inclusive com as cantigas de amor e de amigo, como nesta composição: "Como num exílio / como nas guerras, / meu amigo é morto, / sem nenhum conforto, / em longes terras". Comentando a respeito em sua História Concisa da Literatura Brasileira, diz Alfredo Bosi que "Cecília foi escritora atenta à riqueza do léxico e dos ritmos portugueses, tendo sido talvez o poeta moderno que modulou com mais felicidade os metros breves, como se vê nas Canções e no trabalhadíssimo Romanceiro da Inconfidência".
Um livro que ocupa um lugar diferenciado no conjunto da obra da autora é Ou Isto ou Aquilo (1964), que apresenta poemas escritos para crianças utilizando recursos de linguagem como trocadilhos e paronomásias, buscando atrair o leitor para os aspectos lúdicos da poesia. Um poema que se destaca nesse conjunto é O Mosquito Escreve, construído como um acróstico, em que cada letra da palavra "mosquito" é destacada, em maiúscula, num dos versos, como neste trecho: "O mosquito pernilongo / trança as pernas, faz um M, / depois, treme, treme, treme, / faz um O bastante oblongo, / faz um S". A poesia de Cecília Meireles, conforme parecer de Manuel Bandeira, busca a perfeição da construção formal, valendo-se para isso tanto de recursos tradicionais quanto modernos.
Espetáculos
1943 - Pelleas e Melisanda
1947 - Natividade
1951 - O Moço Bom e Obediente (Nô Japonês)
1956 - Bodas de Sangue
1961 - Bodas de Sangue
1962 - Yerma
1963 - O Menino Atrasado
Exposições Póstumas
1965 - Santa Joana
1967 - A Tragédia de Vila Rica no Tempo de Joaquim José
1968 - Os Inconfidentes
1968 - Tragédia em Vila Rica - O Romanceiro da Inconfidência
1968 - Os Inconfidentes
1972 - O Romanceiro da Inconfidência
1975 - Romanceiro da Inconfidência
1978 - Yerma
1981 - Libertas Quae Sera Tamen
1983 - O Romanceiro da Inconfidência
1993 - Grog de Poesia
1994 - E Deus Criou a Varoa
2000 - O Romanceiro da Inconfidência Cantares
Exposições Coletivas
1933 - 3º Salão da Pró-Arte
1933 - 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM
Exposições Póstumas
2000 - De la Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950
2002 - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950
2016 - Linguagens do corpo carioca [a vertigem do Rio]
2019 - Exposição Vozes dos Livros
Fonte: CECÍLIA Meireles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 25 de março de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia — Wikipédia
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma jornalista, pintora, poeta, escritora e professora brasileira. É um nome canônico do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discriminação de gênero.
Ela viajou pelas Américas na década de 1940, visitando os Estados Unidos, México, Argentina, Uruguai e Chile. No verão de 1940, ela deu palestras na Universidade do Texas em Austin. Ela escreveu dois poemas sobre seu tempo na capital do Texas e um longo (800 linhas) poema socialmente consciente "EUA 1940", publicado postumamente. Como jornalista, suas colunas (crônicas) concentravam-se mais na educação, mas também em suas viagens ao exterior no hemisfério ocidental, Portugal, outras partes da Europa, Israel e Índia (onde recebeu um doutorado honorário).
Como poeta, seu estilo era principalmente neossimbolista e seus temas incluíam tempo efêmero e vida contemplativa. Embora não se preocupasse com a cor local, o vernáculo nativo ou os experimentos em sintaxe (popular), ela é considerada um dos poetas mais importantes da segunda fase do modernismo brasileiro, conhecida pelo vanguardismo nacionalista. Como professora, ela fez muito para promover reformas educacionais e defendeu a construção de bibliotecas infantis. Entre 1935 e 1938, lecionou na universidade de curta duração do distrito federal do Rio de Janeiro.
Biografia
Juventude
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no bairro Rio Comprido, na cidade do Rio de Janeiro. Seus pais eram Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil, e Mathilde Benevides Meireles, professora da rede pública de ensino fundamental (na época, ensino primário). Antes de Cecília nascer, sua mãe havia perdido seus outros filhos: Carlos, Vítor e Carmem. Carlos morreu três meses antes do nascimento de Cecília. Aos três anos de idade, sua mãe morreu, e Cecília se mudou para as imediações das ruas Zamenhoff, Estrela e São Carlos, passando a morar com sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides, uma portuguesa nascida na Ilha de São Miguel, Açores, na época viúva e única sobrevivente da família. Ela criou a menina com ajuda de Pedrina, a babá da menina, que sempre lhe contava histórias à noite.
Cecília cursou o ensino fundamental na Escola Municipal Estácio de Sá, onde, ao concluir o curso em 1910, recebeu das mãos de Olavo Bilac, inspetor da escola, uma Medalha de Ouro Olavo Bilac pelo esforço e excelente desempenho "com distinção e louvor". Nessa época, a garota já demonstrava paixão por livros, chegando a escrever seus primeiros versos. Também demonstrava interesse pela música, o que a levou estudar canto, violão e violino no Conservatório Nacional de Música, pois sonhava em escrever uma ópera sobre o Apóstolo São Paulo. No entanto, posteriormente, acabou se dedicando à literatura, tendo em vista que não conseguiria desempenhar com perfeição muitas atividades simultaneamente.
Cecília Meireles possuía olhos azuis-esverdeados, era curiosa e sozinha, sobretudo porque sua avó não a deixava sair de casa para brincar, mesmo quando era chamada por outras crianças. Durante uma entrevista, Cecília disse que "em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar e nem me espantei por perder". A infância solitária rendeu à futura escritora dois pontos que, para ela, foram positivos: "a solidão e o silêncio".
1917-1935: Formação acadêmica e primeiro casamento
Em 1917, aos dezesseis anos de idade, formou-se na Escola Normal do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, onde teve como professores o historiador Basílio de Magalhães, a escritora infantil Alexina Magalhães Pinto e o poeta Osório Duque-Estrada. Por consenso, foi escolhida como oradora do seu grupo de formatura. A partir de então, passou a lecionar. Em 24 de outubro de 1922, já tendo publicado o seu livro de estreia, casou-se com o pintor, desenhista, ilustrador e artista plástico português Fernando Correia Dias, que havia se mudado para o Brasil em abril de 1914, radicando-se no Rio de Janeiro e contribuindo para o desenvolvimento das artes gráficas no país. A união dos dois gerou três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda. Além disso, a união com Correia Dias proporcionou à escritora um contato com o movimento poético em Portugal, no início do século XX, do qual Fernando Pessoa fez parte, e uma parceria na ilustração de sua obra. Porém, o casamento com o ilustrador não foi fácil: o casal passou por grandes dificuldades financeiras e o preconceito da época prejudicou o artista plástico e a professora. Seguiu-se um período difícil de perseguição mais ou menos velada, em que durante quatro anos, por ironia e desagravo de sua capacidade pedagógica, Cecília Meireles manteve uma página diária sobre educação no Diário de Notícias. Também se encontra colaboração da sua autoria na revista luso-brasileira Atlântico.
Carreira docente
Cecília iniciou sua carreira docente em 1918, quando foi nomeada professora adjunta do curso primário, na Escola Pública Deodoro. Em 29 de março de 1920, o Diretor Geral de Instrução Pública recebeu autorização do então prefeito da cidade para formar turma de desenho da Escola Normal do Distrito Federal. Ele escolheu Cecília, a pedido do arquiteto e engenheiro Fernando Nereo de Sampaio, que era responsável pela Cátedra de Desenho da Escola e fazia parte da equipe de Anísio Teixeira na Diretoria de Instrução Pública. Preocupada com a qualidade do ensino e a escassez de livros didáticos, Cecília escreveu livros para escolas primárias e publicou em 1924 o livro infantil Criança, Meu Amor, com prosas para o ensino fundamental. Ele foi adotado pela Diretoria Geral da Instrução Pública do Distrito Federal e aprovado pelo Conselho Superior de Ensino do Estado de Minas Gerais e Pernambuco, entrando na lista de leitura de livros paradidáticos. Entre os temas do livro estavam retratos, momentos do dia, animais de estimação, tarefas, sentimentos e brincadeiras.
1920-1930: concurso da Escola Normal e tese O Espírito Vitorioso
Cecília dedicou-se a estudar visando um concurso promovido pela Escola Normal para preencher o cargo de professor catedrático. Em correspondências para o marido, Cecília confidenciou sua intenção de participar. Em 1930, realizou a primeira etapa do concurso, defendendo a tese "O Espírito Vitorioso", na qual defendia "a escola moderna" e destacava os princípios de liberdade, de inteligência, de estímulo à observação e à experimentação. Nessa fase, dos oito candidatos, três foram reprovados e dois desistiram em função das notas obtidas. Somente dois continuaram disputando: Cecília Meireles e Clóvis do Rego Monteiro, tendo este nota superior à de Cecília. A última fase, realizada em 26 de agosto do mesmo ano, era uma prova prática, na qual Cecília foi derrotada.
1935-1964
Nesse período, Cecília publica diversas obras e traduções, realizando pesquisas históricas e visitando e vivendo em pequenos intervalos em países como a Argentina, Bélgica, Holanda, EUA, Índia, Israel, e teve obras traduzidas para diversos idiomas, incluindo alemão, espanhol, francês, húngaro, inglês e italiano.
De 1935 a 1938 ela foi professora de Literatura Luso-Brasileira e de Técnica e Crítica Literária na Universidade do Distrito Federal (que era na época no Rio de Janeiro).
Em 1940, ela deu um curso de literatura e cultura brasileira à Universidade do Texas em Austin (Estados Unidos). Ao longo da década, ela viaja pela América, passando pelo México e Chile e também visitando em 1944 o Uruguai e a Argentina, e publica uma obra em Boston em 1945. Em 1951, viaja à França, Bélgica, Holanda e Açores e se aposenta do cargo de diretora da Prefeitura do Distrito Federal.
Em 1953, viaja à Índia a convite do primeiro-ministro Jawaharlal Nehru e participa de um congresso sobre Gandhi em Goa. Em Nova Deli, recebe das mãos do presidente um título Doctor honoris causa por suas traduções da obra de Rabindranath Tagore.
Fez uma nova viagem à Europa em 1954. Em 1958, visita Israel.
Em 1962, um câncer no estômago começa a se manifestar e ela vem a falecer em 9 de novembro de 1964 no Rio de Janeiro, aos 63 anos.
Carreira literária
Com dezoito anos de idade, em 1919, Cecília publicou seu primeiro livro de poemas, Espectros, lançado pela Editora Leite Ribeiro (hoje Freitas Bastos), com dezessete sonetos, escritos no tempo em que cursava a Escola Normal, e com prefácio assinado por Alfredo Gomes, que tinha sido seu professor de Língua portuguesa e, à época, prestigioso gramático, que saudava "o coração já superiormente formado, a inteligência clara e lúcida, a intuição notável com que sabia expor pensamentos próprios e singulares até em assuntos pedagógicos" de sua aluna.
O livro continha poemas sobre temas históricos, lendários, mitológicos e religiosos, tendo personagens como Cleópatra, Maria Antonieta, Judite, Sansão e Dalila, retratados em sonetos, sob influência simbologista, na musicalidade e melancolia, indo na contramão do que estava sendo publicado na época. Com diminuta tiragem, acredita-se que o livro tenha sido lançado às custas da autora.
O livro ganhou uma crítica positiva de João Ribeiro, publicada no jornal O Imparcial, em que ele previa um belo futuro para Cecília. Para Darcy Damasceno, crítico do Jornal do Comércio, o livro impedia a revelação da real face criativa e espiritual de Meireles devido ao rigor das métricas e acentuação, em textos parnasianos.
Durante certa época, exemplares do livro desapareceram de circulação, levantando a hipótese de que, de fato, nunca tivessem existido. Nem mesmo a família da autora tinha notícias a respeito ou qualquer exemplar da obra. Dele, o que se conhecia eram apenas fragmentos. Porém, em 2001, o livro foi reeditado e incorporado à Poesia Completa, coletânea lançada pela Nova Fronteira.
A partir daí, Cecília começou a se aproximar de escritores como Tasso da Silveira, Andrade Muricy e, entre fevereiro e março de 1922, escreveu novos poemas para compor um novo livro. Nessa época, aconteceu a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, liderada por Oswald de Andrade, com o qual Cecília teve pouco contato. No ano seguinte, publicou Nunca Mais... E Poema dos Poemas, pela editora Leite Ribeiro, contendo vinte e um poemas e seis sonetos de caráter simbolista e com ilustrações de seu marido, Correia Dias. Posteriormente, Cecília pediu que esse livro fosse removido de sua bibliografia. Publicou em 1924 Criança, Meu Amor, seu primeiro livro infantil, com crônicas em prosa poética para o ensino fundamental, nas quais a escritora abordou realidades que as crianças gostam, como "o imaginário, o bom conselho, o humor e a fantasia". Os poemas escritos entre fevereiro e março de 1922 foram publicados em Baladas para El-Rei, lançado em 1925, pela Editora Brasileira Lux, também com ilustrações de Correia Dias, seguindo a mesma linha dos últimos dois volumes já publicados, o que acabou fazendo com que estudiosos caracterizem essa parte da vida de Cecília como um "simbolismo-tardio", movimento literário encabeçado por Tasso da Silveira.
Além de poeta, cronista, teatróloga e jornalista, Cecília também teve uma renomada carreira de tradutora literária, pelo que recebeu mais de um prêmio e reconhecimentos internacionais. Ela conhecia inglês, francês, italiano, russo, hebraico e dialetos do grupo indo-iraniano, tendo aprendido o sânscrito e hindi. Dentre as obras que verteu ao português, destacam-se as traduções de poemas de Rabindranath Tagore, pelo que recebeu título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Delhi na Índia, além de Charles Dickens, François Perroux, Alexandre Pushkin, Rainer Maria Rilke, os livros Orlando, de Virginia Woolf, a Bodas de Sangue, de García Lorca, e antologias de poesia hebraica e chinesa, esta última constituída por poemas de Li Po e Du Fu.
Homenagens
Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, pelo livro Viagem (1938)
Prêmio de Tradução de Obras Teatrais (1962)
Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária pelo livro Poesia de Israel (1963).
Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro Solombra (1964).
Prémio Machado de Assis (1965)
Sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura
Sócia honorária do Instituto Vasco da Gama (Goa)
Doutora "honoris causa" pela Universidade de Delhi (Índia)
Oficial da Ordem do Mérito (Chile)
Nos Açores, de onde eram oriundos os seus pais, o nome de Cecília Meireles foi dado à escola básica da freguesia de Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada, terra de sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides.
Após sua morte, recebeu como homenagem a impressão de uma cédula de cem cruzados novos. Esta cédula com a efígie de Cecília Meireles, lançada pelo Banco Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1989, seria mudada para cem cruzeiros, quando houve a troca da moeda pelo governo de Fernando Collor.
Obras
Estas são algumas das obras publicadas por Cecília Meireles:
Espectros, 1919
Criança, meu amor, 1923
Nunca mais, 1923
Poema dos Poemas, 1923
Baladas para El-Rei, 1925
O Espírito Vitorioso, 1929
Saudação à menina de Portugal, 1930
Batuque, samba e Macumba, 1933
A Festa das Letras, 1937
Viagem, 1939
Olhinhos de Gato,1940
Vaga Música, 1942
Poetas Novos de Portugal, 1944
Mar Absoluto, 1945
Rute e Alberto, 1945
Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948
Retrato Natural, 1949
Problemas de Literatura Infantil, 1950
Amor em Leonoreta, 1952
Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952
Romanceiro da Inconfidência, 1953
Poemas Escritos na Índia, 1953
Batuque, 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955
Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955
Panorama Folclórico de Açores, 1955
Canções, 1956
Giroflê, Giroflá, 1956
Romance de Santa Cecília, 1957
A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957
A Rosa, 1957
Obra Poética,1958
Metal Rosicler, 1960
Poemas de Israel, 1963
Antologia Poética, 1963
Solombra, 1963
Ou Isto ou Aquilo, 1964
Escolha o Seu Sonho, 1964
Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965
O Menino Atrasado, 1966
Poésie (versão francesa), 1967
Antologia Poética, 1968
Poemas Italianos, 1968
Poesias (Ou isto ou aquilo& inéditos), 1969
Flor de Poemas, 1972
Poesias Completas, 1973
Elegias, 1974
Flores e Canções, 1979
Poesia Completa, 1994
Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998
Canção da Tarde no Campo, 2001
Poesia Completa, edição do centenário, 2001, 2 vols. (Org.: Antonio Carlos Secchin. Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
Crônicas de educação, 2001, 5 vols. (Org.: Leodegário A. de Azevedo Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
Episódio Humano, 2007
Uma obra bastante particular e pouco conhecida de Cecília Meireles é o infanto-juvenil Olhinhos de Gato. Baseado na vida de Cecília, conta sua infância depois que perdeu sua mãe Matilde Benevides Meireles e como foi criada por sua avó D. Jacinta Garcia Benevides (chamada Boquinha de Doce no livro)
Cecília é considerada uma das maiores poetas do Brasil. Raimundo Fagner gravou várias músicas tendo seus poemas como base, como "Canteiros" e "Motivo".
Outros textos
1947 - Estreia "Auto do Menino Atrasado", direção de Olga Obry e Martim Gonçalves. música de Luís Cosme; marionetes, fantoches e sombras feitos pelos alunos do curso de teatro de bonecos.
1956/1964 - Gravação de poemas por Margarida Lopes de Almeida, Jograis de São Paulo e pela autora (Rio de Janeiro - Brasil)
1965 - Gravação de poemas pelo professor Cassiano Nunes (New York - USA).
1972 - Lançamento do filme "Os inconfidentes", direção de Joaquim Pedro de Andrade, argumento baseado em trechos de "O Romanceiro da Inconfidência".
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
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Biografia Cecília Meireles – e.Biografia
Cecília Meireles (1901-1964) foi uma poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estreou na literatura com o livro "Espectros".
Participou do grupo literário da Revista Festa, grupo católico, conservador. Dessa vinculação herdou a tendência espiritualista que percorre seus trabalhos com frequência. Embora mais conhecida como poetisa, deixou contribuições no domínio do conto, da crônica, da literatura infantil e do folclore.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de Janeiro no dia 7 de novembro de 1901. Perdeu o pai poucos meses antes de seu nascimento e a mãe logo depois de completar 3 anos. Foi criada por sua avó materna, a portuguesa Jacinta Garcia Benevides.
Formação
Cecília Meireles fez o curso primário na Escola Estácio de Sá, onde recebeu das mãos de Olavo Bilac a medalha do ouro por ter feito o curso com louvor e distinção. Em 1917 formou-se professora na Escola Normal do Rio de Janeiro. Estudou música e línguas. Passou a exercer o magistério em escolas oficiais do Rio de Janeiro.
Carreira literária
Em 1919, Cecília Meireles lançou seu primeiro livro de poemas, "Espectros" com 17 sonetos de temas históricos. Em 1922, por ocasião da Semana de Arte Moderna ela participou do grupo da revista Festa, ao lado de Tasso da Silveira, Andrade Muricy e outros, que defendia o universalismo e a preservação de certos valores tradicionais da poesia. Nesse mesmo ano, casou-se com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas.
Cecília Meireles estudou literatura, folclore e teoria educacional. Colaborou na imprensa carioca escrevendo sobre folclore. Atuou como jornalista em 1930 e 1931 e publicou vários artigos sobre educação. Fundou em 1934 a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro. O interesse de Cecília pela educação se transformou em livros didáticos e poemas infantis.
Ainda em 1934, a convite do governo português, Cecília viaja para Portugal, onde proferiu conferências divulgando a literatura e o folclore brasileiros. Em 1935 morreu seu marido.
Professora
Entre 1936 e 1938, Cecília lecionou Literatura Luso-Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1938, o livro de poemas “Viagem” recebeu o Prêmio de Poesia, da Academia Brasileira de Letras. Em 1940 casou-se com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Grilo.
Nesse mesmo ano, Cecília lecionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas. Proferiu conferência sobre Literatura Brasileira em Lisboa e Coimbra. Publicou em Lisboa o ensaio "Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria.
Em 1942 tornou-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Realizou várias viagens aos Estados Unidos, Europa, Ásia e África, fazendo conferências sobre Literatura, Educação e Folclore.
Características da obra de Cecília Meireles
A rigor, Cecília Meireles nunca esteve filiada a nenhum movimento literário. Sua poesia, de modo geral, filia-se às tradições da lírica luso-brasileira. Apesar disso, suas publicações iniciais evidenciam certa inclinação pelo Simbolismo, reúnem religiosidade, desespero e individualismo. Há misticismo no campo da solidão, mas existe a consciência de seus dons e seu destino:
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
-Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta."
O uso frequente de elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a solidão e a música confirmam a inclinação neossimbolista:
Das Palavras Aéreas
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma! (...)
Somente com o livro Viagem (1939) é que Cecília Meireles ingressou no espírito poético da escola modernista. A poetisa foi cuidadosa com a seleção vocabular e teve forte inclinação para a musicalidade (traço associado ao Simbolismo), para o verso curto e para os paralelismos, a exemplo dos versos das poesia medieval portuguesa:
Música
Noite perdida
Não te lamento:
embarco a vida
No pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,
Puro e sem nada,
- rosa encarnada,
intacta, ao vento.
Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida (...)
Poesia Reflexiva
Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, que abordou temas como a transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o infinito e a natureza. Cecília foi uma escritora intuitiva, que sempre procurou questionar e compreender o mundo a partir das próprias experiências. Uma série de cinco poemas, todos intitulados Motivo da Rosa, da obra “Mar Absoluto”, abordam o tema da efemeridade do tempo:
1º. Motivo da Rosa
Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil. (...)
Poesia Histórica
A obra máxima de Cecília Meireles foi o poema épico-lírico Romanceiro da Inconfidência, onde se encontram os maiores valores de sua poética. Trata-se de uma narrativa rimada, escrita em homenagem aos heróis que lutaram e morreram pela Pátria:
Romanceiro da Inconfidência
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
E diz o vigário ao Poeta:
“Escreva-me aquela letra
do versinho de Virgílio...”
E dá-lhe o papel e a pena.
E diz o Poeta ao Vigário,
Com dramática prudência:
“Tenha meus dedos cortados,
antes que tal verso escrevam...”
Liberdade, Ainda que Tarde, (...)
Cecília Meireles faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura. Cecília Meireles foi homenageada pelo Banco Central, em 1989, com sua efígie na cédula de cem cruzados novos.
Frases de Cecília Meireles
"Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira."
"Se em um instante se nasce e um instante se morre, um instante é o bastante para a vida inteira."
"Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta."
"Meu coração tombou na vida, tal qual uma estrela ferida pela flecha de um caçador."
"O vento do meu espírito soprou sobre a vida e só ficaste tu que és eterno."
Obras de Cecília Meireles
Espectros, poesia (1919)
Nunca Mais... e Poema dos Poemas (1923)
Baladas Para El-Rei, poesia (1925)
Viagem, poesia (1925)
Viagem, poesia (1939)
Vaga Música, poesia (1942)
Mar Absoluto, poesia (1945)
Evocação Lírica de Lisboa, prosa (1948)
Retrato Natural, poesia (1949)
Doze Noturnos de Holanda, poesia (1952)
Romanceiro da Inconfidência, poesia (1953)
Pequeno Oratório de Santa Clara, poesia (1955)
Pístóia, Cemitério Militar Brasileiro, poesia (1955)
Canção, poesia (1956)
Giroflê, Giroflá, prosa (1956)
Romance de Santa Cecília, poesia (1957)
A Rosa, poesia (1957)
Eternidade em Israel, prosa (1959)
Metal Rosicler, poesia (1960)
Poemas Escritos Na Índia (1962)
Antologia Poética, poesia (1963)
Ou Isto Ou Aquilo, poesia (1965)
Escolha o Seu Sonho, crônica (1964)
Fonte: e.Biografia, publicado por Dilva Frazão em 27 de outubro de 2020. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
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Cecília Meireles: conheça sete curiosidades sobre a vida da escritora
Cecília Meireles foi tradutora, jornalista, pintira, professora... Além de, claro, escritora. Um dos mais importantes nomes da literatura brasileira do século 20, seus poemas não podem ser enquadrados em apenas uma escola literária. Enquanto jornalista, escreveu sobre educação e exerceu papel atuante em defesa de um ensino de qualidade. Nascida no dia 7 de novembro de 1901, faleceu em 9 de novembro de 1964, vítima de câncer.
Conheça a seguir detalhes da vida da escritora a partir de algumas curiosidades e momentos marcantes de sua trajetória:
Órfã e viúva muito cedo
Três meses antes de Cecília nascer, Carlos Alberto de Carvalho Meirelles, seu pai, faleceu. Quando Cecília tinha três anos, sua mãe Mathilde Benevides também partiu. A menina foi criada pela avó materna Jacinta Benevides, de quem herdou o gosto pelo folclore brasileiro e a levou para aulas de canto e violino. Outra morte trágica foi a de seu primeiro marido, o pintor português Fernando Correia Dias, com quem se casou aos 20 anos, em 1921, e teve suas três filhas. Fernando se suicidou em 1935. O sentimento de angústia e de dor da escritora foi registrado em uma carta a amigos que pode ser lida aqui.
Prêmio aos 9 anos
O primeiro reconhecimento de seu talento enquanto escritora veio aos nove anos e das mãos de quem sabia o que fazia. Era nada menos que o inspetor escolar do estado do Rio de Janeiro e grande nome do período modernista, Olavo Bilac. Em 1938 ela recebe o prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras pelo seu livro Viagem. Apesar de um segundo prêmio da ABL, após sua morte, que reconheceu o valor da totalidade de sua obra, Cecília nunca ingressou na Academia, formada apenas por homens no período em que viveu. A primeira mulher a ingressar foi Rachel de Queiroz, em 1977.
Encontro frustrado com Fernando Pessoa
Em 1934, Meireles viaja para Portugal para uma série de conferências nas universidades de Coimbra e Lisboa e aproveita para entrar em contato com o escritor Fernando Pessoa por intermédio de um grande amigo. Depois de horas de espera em um café na capital lusitana, ela retorna ao hotel e encontra um recado. No bilhete, Pessoa avisava que não pôde encontrá-la por ter sido desaconselhado em seu horóscopo matinal. Como pedido de desculpas, ele deixa um exemplar no seu livro Mensagem, única obra do poeta português publicada em vida.
Centro cultural é fechado por Vargas
Autora de inúmeros livros para o público infantil e ativa defensora de uma educação pública, laica e alto nível como uma forma de diminuir as desigualdades do país, Cecília foi uma das fundadoras do movimento Escola Nova em junto a outros intelectuais da década de 1920 no Brasil. Em 1934 cria com o marido Fernando Dias o Centro de Cultura Infantil, uma biblioteca para crianças. Crítica do presidente Getúlio Vargas, a quem chamava de "O Ditador", Cecília teve seu centro fechado em 1937 diante de denúncias de que ali haveria livros de conteúdo educacional duvidoso. O principal motivo da discussão foi a presença de um clássico do escritor americano Mark Twain, As Aventuras de Tom Sawyer.
Vida mais leve
A professora e poeta da Universidade Federal de Sergipe, Maria Lúcia Dal Farra, conta que a grafia inicial do sobrenome de Cecília era com dois "l"e que a mudança teria vindo após a carta de um desconhecido que se identificou como médium e sugeriu a eliminação de uma letra para "tornar a vida mais leve". A mensagem chegou em um momento de fragilidade, após o sucidío do primeiro marido e a necessidade de trabalhar dobrado para criar as três filhas. Como podemos perceber, ela acatou a sugestão.
Valor monetário
A Casa da Moeda fez uma homenagem à Cecília em 1989 e colocou seu rosto como fundo da nota de 100 Cruzados Novos. A nota não circulou por muito tempo como sabemos, já que o Plano Real veio logo em seguida, cinco anos depois.
Poeta, não poetisa
O vocabulário da língua portuguesa ainda considera "poeta" apenas como substantivo masculino, mas Cecília nunca gostou de ser chamada de poetisa. Para ela, significava uma diminuição do seu trabalho, como se a chamassem de mulher "prendada". Um sentido que até hoje se mantém, em oposição ao de poeta, que esse sim, teria sempre algo a dizer. O aviso de preferência está inclusive registrado em um poema Motivo.
Motivo
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta."
Fonte: Galileu. Publicado por Juliana Passos em 2 de dezembro de 2018. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
Crédito fotográfico: Revista Bula, A última entrevista de Cecilia Meireles, publicada por Carlos Willian Leite, em 11 de maio de 2016. Referência à entrevista publicada na revista Manchete, edição nº 630, em 16 de maio de 1964. E posteriormente no livro Pedro Bloch Entrevista, Bloch Editores, em 1989. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Cecília Benevides de Carvalho Meirelles (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1901 - idem 1964), mais conhecida como Cecília Meireles, foi uma pintora, poeta, cronista, educadora, ensaísta, tradutora e dramaturga brasileira. Ficou reconhecida mundialmente, uma vez que suas obras foram traduzidas para muitas línguas. Cecília Meireles tornou-se um nome importante do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discriminação de gênero. Sua arte se refletiu, principalmente, em publicações que evidenciam uma inclinação pelo simbolismo, religiosidade, desespero e individualismo. Pelo trabalho realizado na literatura ela recebeu diversos prêmios, dos quais se destacam o Prêmio de Poesia Olavo Bilac, Prêmio Jabuti e o Prêmio Machado de Assis. Também realizou palestras e conferências sobre educação, literatura brasileira, teoria literária e folclore, em diversos países do mundo.
Biografia — Itaú Cultural
Seus três irmãos mais velhos morrem antes de ela nascer; seu pai, três meses antes de seu nascimento; e a mãe, antes de ela completar 3 anos.
É criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides, natural dos Açores, Portugal. Concluiu o curso primário em 1910, na Escola Estácio de Sá, quando recebeu das mãos do poeta Olavo Bilac (1865-1918), então inspetor escolar do Distrito Federal, medalha de ouro por ter concluído o curso com "distinção e louvor".
Diplomando-se no curso normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, o magistério torna-se uma de suas paixões, levando-a a escrever para o público infantil, em livros didáticos, como Criança, Meu Amor, de 1924, ou em poemas, como Ou Isto ou Aquilo, de 1964.
Em 1922, casa-se com o artista plástico português Correia Dias (1893-1935), com quem tem três filhas - a mais nova, Maria Fernanda (1928), torna-se atriz de teatro. De 1930 a 1933, mantém no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação, que resulta um livro póstumo de cinco volumes, Crônicas da Educação, e, em 1934, organiza a primeira biblioteca infantil do Brasil, no Rio de Janeiro.
Assina, em 1932, com os educadores Fernando de Azevedo (1894-1974), Anísio Teixeira (1900-1971), Afrânio Peixoto (1876-1947), entre outros, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, marco da renovação educacional do país. Em 1935, seu marido se suicidou. Cinco anos depois, Cecília casa-se com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo.
Aposenta-se como diretora de escola em 1951, mas se mantém como produtora e redatora de programas culturais da Rádio MEC, que são reunidos postumamente no livro Ilusões da Vida, de 1976. Embora tenha estreado aos 18 anos, com o livro de sonetos Espectros, em 1919, somente com Viagem, de 1939, vencedor do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras - ABL, encontra seu estilo definitivo. Mesmo considerada uma poeta filiada ao modernismo, seus caminhos estéticos estão mais ligados à evolução pessoal que a movimentos literários. Entre outros temas, sua obra aborda a solidão, a brevidade da vida e a religiosidade.
Análise
Cecília Meireles é uma poeta brasileira da segunda geração modernista, mas em sua obra encontram-se influências da poesia medieval, romântica, parnasiana e simbolista, como o uso de formas fixas, especialmente o soneto, técnicas tradicionais de versificação, temas filosóficos e espirituais e linguagem elevada, que tornam a sua obra singular no contexto histórico em que é desenvolvida. Poeta intimista, próxima à abstração da música, ao sentimento religioso e à fluidez do sonho, seus temas recorrentes são o amor, a morte, o tempo e a eternidade, o que se evidencia já a partir dos títulos de seus livros, como Vaga Música e Mar Absoluto.
Inicia a vida literária participando do grupo tradicionalista e católico que se articula dentro da revista Festa, dirigida por Tasso da Silveira, que, segundo análise de Miguel Sanches Neto (1965), se aglutina "em torno de uma visão mística contrária aos valores de um mundo industrial e mecânico que, num primeiro momento, causa deslumbramento em intelectuais e artistas do subúrbio do capitalismo, que se sonham integrados à nova civilização".
Em seu livro de estreia, Espectros, publicado em 1919, encontramos poemas sobre temas históricos, lendários, mitológicos ou religiosos, com personagens como Cleópatra, Maria Antonieta, Judite, Sansão e Dalila, retratados em sonetos de nítida influência simbolista, na musicalidade, melancolia e na dimensão onírica dos versos. Em obras posteriores, como Nunca Mais (1923), Baladas para el-Rey (1925), Viagem (1939), Vaga Música (1942), entre outras, a autora prossegue na investigação das possibilidades de uma "música abstrata" (para usar expressão de Alfredo Bosi (1936), que acarretam críticas de passadismo e, ao mesmo tempo, elogios à habilidade de articulação melódica.
Na opinião de Miguel Sanches Neto, "os primeiros livros de Cecília Meireles apresentam uma nítida rarefação, revelando assim uma maior presença do imaginário simbolista, que vai sendo aos poucos incorporado à sua voz, marcando-lhe a diferença". Mar Absoluto e Outros Poemas, publicado em 1945, é considerado um dos melhores livros da autora, e concilia a vagueza e imprecisão do sentido com uma capacidade maior de síntese e força narrativa, incorporando ainda o recurso do verso livre. O poema de abertura do livro, um dos mais belos que escreve, começa com as linhas:
"Foi desde sempre o mar
E multidões passadas me empurravam
como a barco esquecido.
Agora recordo que falavam
da revolta dos ventos,
de linhos, de cordas, de ferros,
de sereias dadas à costa".
Esse poema, assim como outros da autora, revela uma obsessão pelo mar, metáfora da fluidez, da impermanência, da transformação incessante de todas as coisas, ou seja, do tempo e da eternidade.
Água, viagem, música, sonho e Oriente são as principais pedras-de-toque da poesia de Cecília Meireles, acompanhando o conjunto de sua obra poética. O fascínio pela Índia, por exemplo, já está presente em seu livro de estreia, em que se encontra o soneto intitulado Brâmane ("Ao longe, em suspiroso murmúrio, / Do Ganges rola a fúlgida serpente"). A filosofia védica, expressa em obras como os Upanishads e o Bhagavad Gita, encantam a autora, que pesquisa doutrinas místicas de diferentes culturas, em busca de um humanismo universalista. Sua viagem à Índia, onde participa de um simpósio sobre Mahatma Gandhi, inspira o livro Poemas Escritos na Índia (1961) e as traduções que faz do poeta Rabindranath Tagore.
Já os livros Pequeno Oratório de Santa Clara (1955), Romance de Santa Cecília (1957) e Oratório de Santa Maria Egipcíaca (publicado postumamente em 1996) são recriações poéticas de narrativas cristãs medievais, especialmente do Flos Sanctorum, que a autora lê com entusiasmo. O tema do Oratório, também abordado por Manuel Bandeira (1886-1968) no poema Balada de Santa Maria Egipcíaca, é baseado na lenda de uma pecadora que, após uma vida dedicada aos prazeres mundanos, decide partir em peregrinação a Jerusalém. No meio da jornada, não tendo moedas para pagar ao barqueiro pela travessia de um rio, oferece o seu corpo como recompensa para continuar a viagem até a cidade sagrada. A lenda religiosa é transformada por Cecília Meireles num poema dramático de grande beleza, força sonora e plasticidade, em que se destacam versos como estes:
"Sou rio, serpente,
corro para onde quero, sozinha,
para longe corro
Sou perfume de óleo fervente,
ervas, flor, semente / em viva brasa".
Este poema é concebido originalmente como obra dramática e musical, para encenação no palco, com acompanhamento orquestral e canto.
A obra mais conhecida de Cecília Meireles, no entanto, é o Romanceiro da Inconfidência, publicado em 1953, que utiliza o verso em redondilha maior para construir uma narrativa poética sobre a saga dos conjurados mineiros do século XVIII, alternando o tom lírico com o épico ("Não posso mover meus passos / por esse atroz labirinto / de esquecimento e cegueira / em que amores e ódios vão"). O que singulariza esse livro dentro da obra de Cecília Meireles, além de sua perfeição técnica, é a abordagem de um fato da história política nacional, tema pouco comum em sua produção literária. O enredo histórico, porém, é abordado de maneira alegórica, simbólica, transcendendo a sua condição temporal, como nota Miguel Sanches Neto. O Romanceiro da Inconfidência revela afinidades estéticas com os cancioneiros da Idade Média, como destaca Mário Faustino (1930-1962), e é considerado um dos poemas longos mais originais produzidos em nosso modernismo, ao lado de obras como a Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (1895-1953), e a Contemplação de Ouro Preto, de Murilo Mendes (1901-1975).
A vocação lírica de Cecília Meireles atinge plena maturidade com o livro Canções (1956), em que volta a empregar a métrica da redondilha, dialogando com a tradição poética portuguesa, inclusive com as cantigas de amor e de amigo, como nesta composição: "Como num exílio / como nas guerras, / meu amigo é morto, / sem nenhum conforto, / em longes terras". Comentando a respeito em sua História Concisa da Literatura Brasileira, diz Alfredo Bosi que "Cecília foi escritora atenta à riqueza do léxico e dos ritmos portugueses, tendo sido talvez o poeta moderno que modulou com mais felicidade os metros breves, como se vê nas Canções e no trabalhadíssimo Romanceiro da Inconfidência".
Um livro que ocupa um lugar diferenciado no conjunto da obra da autora é Ou Isto ou Aquilo (1964), que apresenta poemas escritos para crianças utilizando recursos de linguagem como trocadilhos e paronomásias, buscando atrair o leitor para os aspectos lúdicos da poesia. Um poema que se destaca nesse conjunto é O Mosquito Escreve, construído como um acróstico, em que cada letra da palavra "mosquito" é destacada, em maiúscula, num dos versos, como neste trecho: "O mosquito pernilongo / trança as pernas, faz um M, / depois, treme, treme, treme, / faz um O bastante oblongo, / faz um S". A poesia de Cecília Meireles, conforme parecer de Manuel Bandeira, busca a perfeição da construção formal, valendo-se para isso tanto de recursos tradicionais quanto modernos.
Espetáculos
1943 - Pelleas e Melisanda
1947 - Natividade
1951 - O Moço Bom e Obediente (Nô Japonês)
1956 - Bodas de Sangue
1961 - Bodas de Sangue
1962 - Yerma
1963 - O Menino Atrasado
Exposições Póstumas
1965 - Santa Joana
1967 - A Tragédia de Vila Rica no Tempo de Joaquim José
1968 - Os Inconfidentes
1968 - Tragédia em Vila Rica - O Romanceiro da Inconfidência
1968 - Os Inconfidentes
1972 - O Romanceiro da Inconfidência
1975 - Romanceiro da Inconfidência
1978 - Yerma
1981 - Libertas Quae Sera Tamen
1983 - O Romanceiro da Inconfidência
1993 - Grog de Poesia
1994 - E Deus Criou a Varoa
2000 - O Romanceiro da Inconfidência Cantares
Exposições Coletivas
1933 - 3º Salão da Pró-Arte
1933 - 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM
Exposições Póstumas
2000 - De la Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950
2002 - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950
2016 - Linguagens do corpo carioca [a vertigem do Rio]
2019 - Exposição Vozes dos Livros
Fonte: CECÍLIA Meireles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 25 de março de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia — Wikipédia
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma jornalista, pintora, poeta, escritora e professora brasileira. É um nome canônico do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discriminação de gênero.
Ela viajou pelas Américas na década de 1940, visitando os Estados Unidos, México, Argentina, Uruguai e Chile. No verão de 1940, ela deu palestras na Universidade do Texas em Austin. Ela escreveu dois poemas sobre seu tempo na capital do Texas e um longo (800 linhas) poema socialmente consciente "EUA 1940", publicado postumamente. Como jornalista, suas colunas (crônicas) concentravam-se mais na educação, mas também em suas viagens ao exterior no hemisfério ocidental, Portugal, outras partes da Europa, Israel e Índia (onde recebeu um doutorado honorário).
Como poeta, seu estilo era principalmente neossimbolista e seus temas incluíam tempo efêmero e vida contemplativa. Embora não se preocupasse com a cor local, o vernáculo nativo ou os experimentos em sintaxe (popular), ela é considerada um dos poetas mais importantes da segunda fase do modernismo brasileiro, conhecida pelo vanguardismo nacionalista. Como professora, ela fez muito para promover reformas educacionais e defendeu a construção de bibliotecas infantis. Entre 1935 e 1938, lecionou na universidade de curta duração do distrito federal do Rio de Janeiro.
Biografia
Juventude
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no bairro Rio Comprido, na cidade do Rio de Janeiro. Seus pais eram Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil, e Mathilde Benevides Meireles, professora da rede pública de ensino fundamental (na época, ensino primário). Antes de Cecília nascer, sua mãe havia perdido seus outros filhos: Carlos, Vítor e Carmem. Carlos morreu três meses antes do nascimento de Cecília. Aos três anos de idade, sua mãe morreu, e Cecília se mudou para as imediações das ruas Zamenhoff, Estrela e São Carlos, passando a morar com sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides, uma portuguesa nascida na Ilha de São Miguel, Açores, na época viúva e única sobrevivente da família. Ela criou a menina com ajuda de Pedrina, a babá da menina, que sempre lhe contava histórias à noite.
Cecília cursou o ensino fundamental na Escola Municipal Estácio de Sá, onde, ao concluir o curso em 1910, recebeu das mãos de Olavo Bilac, inspetor da escola, uma Medalha de Ouro Olavo Bilac pelo esforço e excelente desempenho "com distinção e louvor". Nessa época, a garota já demonstrava paixão por livros, chegando a escrever seus primeiros versos. Também demonstrava interesse pela música, o que a levou estudar canto, violão e violino no Conservatório Nacional de Música, pois sonhava em escrever uma ópera sobre o Apóstolo São Paulo. No entanto, posteriormente, acabou se dedicando à literatura, tendo em vista que não conseguiria desempenhar com perfeição muitas atividades simultaneamente.
Cecília Meireles possuía olhos azuis-esverdeados, era curiosa e sozinha, sobretudo porque sua avó não a deixava sair de casa para brincar, mesmo quando era chamada por outras crianças. Durante uma entrevista, Cecília disse que "em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar e nem me espantei por perder". A infância solitária rendeu à futura escritora dois pontos que, para ela, foram positivos: "a solidão e o silêncio".
1917-1935: Formação acadêmica e primeiro casamento
Em 1917, aos dezesseis anos de idade, formou-se na Escola Normal do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, onde teve como professores o historiador Basílio de Magalhães, a escritora infantil Alexina Magalhães Pinto e o poeta Osório Duque-Estrada. Por consenso, foi escolhida como oradora do seu grupo de formatura. A partir de então, passou a lecionar. Em 24 de outubro de 1922, já tendo publicado o seu livro de estreia, casou-se com o pintor, desenhista, ilustrador e artista plástico português Fernando Correia Dias, que havia se mudado para o Brasil em abril de 1914, radicando-se no Rio de Janeiro e contribuindo para o desenvolvimento das artes gráficas no país. A união dos dois gerou três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda. Além disso, a união com Correia Dias proporcionou à escritora um contato com o movimento poético em Portugal, no início do século XX, do qual Fernando Pessoa fez parte, e uma parceria na ilustração de sua obra. Porém, o casamento com o ilustrador não foi fácil: o casal passou por grandes dificuldades financeiras e o preconceito da época prejudicou o artista plástico e a professora. Seguiu-se um período difícil de perseguição mais ou menos velada, em que durante quatro anos, por ironia e desagravo de sua capacidade pedagógica, Cecília Meireles manteve uma página diária sobre educação no Diário de Notícias. Também se encontra colaboração da sua autoria na revista luso-brasileira Atlântico.
Carreira docente
Cecília iniciou sua carreira docente em 1918, quando foi nomeada professora adjunta do curso primário, na Escola Pública Deodoro. Em 29 de março de 1920, o Diretor Geral de Instrução Pública recebeu autorização do então prefeito da cidade para formar turma de desenho da Escola Normal do Distrito Federal. Ele escolheu Cecília, a pedido do arquiteto e engenheiro Fernando Nereo de Sampaio, que era responsável pela Cátedra de Desenho da Escola e fazia parte da equipe de Anísio Teixeira na Diretoria de Instrução Pública. Preocupada com a qualidade do ensino e a escassez de livros didáticos, Cecília escreveu livros para escolas primárias e publicou em 1924 o livro infantil Criança, Meu Amor, com prosas para o ensino fundamental. Ele foi adotado pela Diretoria Geral da Instrução Pública do Distrito Federal e aprovado pelo Conselho Superior de Ensino do Estado de Minas Gerais e Pernambuco, entrando na lista de leitura de livros paradidáticos. Entre os temas do livro estavam retratos, momentos do dia, animais de estimação, tarefas, sentimentos e brincadeiras.
1920-1930: concurso da Escola Normal e tese O Espírito Vitorioso
Cecília dedicou-se a estudar visando um concurso promovido pela Escola Normal para preencher o cargo de professor catedrático. Em correspondências para o marido, Cecília confidenciou sua intenção de participar. Em 1930, realizou a primeira etapa do concurso, defendendo a tese "O Espírito Vitorioso", na qual defendia "a escola moderna" e destacava os princípios de liberdade, de inteligência, de estímulo à observação e à experimentação. Nessa fase, dos oito candidatos, três foram reprovados e dois desistiram em função das notas obtidas. Somente dois continuaram disputando: Cecília Meireles e Clóvis do Rego Monteiro, tendo este nota superior à de Cecília. A última fase, realizada em 26 de agosto do mesmo ano, era uma prova prática, na qual Cecília foi derrotada.
1935-1964
Nesse período, Cecília publica diversas obras e traduções, realizando pesquisas históricas e visitando e vivendo em pequenos intervalos em países como a Argentina, Bélgica, Holanda, EUA, Índia, Israel, e teve obras traduzidas para diversos idiomas, incluindo alemão, espanhol, francês, húngaro, inglês e italiano.
De 1935 a 1938 ela foi professora de Literatura Luso-Brasileira e de Técnica e Crítica Literária na Universidade do Distrito Federal (que era na época no Rio de Janeiro).
Em 1940, ela deu um curso de literatura e cultura brasileira à Universidade do Texas em Austin (Estados Unidos). Ao longo da década, ela viaja pela América, passando pelo México e Chile e também visitando em 1944 o Uruguai e a Argentina, e publica uma obra em Boston em 1945. Em 1951, viaja à França, Bélgica, Holanda e Açores e se aposenta do cargo de diretora da Prefeitura do Distrito Federal.
Em 1953, viaja à Índia a convite do primeiro-ministro Jawaharlal Nehru e participa de um congresso sobre Gandhi em Goa. Em Nova Deli, recebe das mãos do presidente um título Doctor honoris causa por suas traduções da obra de Rabindranath Tagore.
Fez uma nova viagem à Europa em 1954. Em 1958, visita Israel.
Em 1962, um câncer no estômago começa a se manifestar e ela vem a falecer em 9 de novembro de 1964 no Rio de Janeiro, aos 63 anos.
Carreira literária
Com dezoito anos de idade, em 1919, Cecília publicou seu primeiro livro de poemas, Espectros, lançado pela Editora Leite Ribeiro (hoje Freitas Bastos), com dezessete sonetos, escritos no tempo em que cursava a Escola Normal, e com prefácio assinado por Alfredo Gomes, que tinha sido seu professor de Língua portuguesa e, à época, prestigioso gramático, que saudava "o coração já superiormente formado, a inteligência clara e lúcida, a intuição notável com que sabia expor pensamentos próprios e singulares até em assuntos pedagógicos" de sua aluna.
O livro continha poemas sobre temas históricos, lendários, mitológicos e religiosos, tendo personagens como Cleópatra, Maria Antonieta, Judite, Sansão e Dalila, retratados em sonetos, sob influência simbologista, na musicalidade e melancolia, indo na contramão do que estava sendo publicado na época. Com diminuta tiragem, acredita-se que o livro tenha sido lançado às custas da autora.
O livro ganhou uma crítica positiva de João Ribeiro, publicada no jornal O Imparcial, em que ele previa um belo futuro para Cecília. Para Darcy Damasceno, crítico do Jornal do Comércio, o livro impedia a revelação da real face criativa e espiritual de Meireles devido ao rigor das métricas e acentuação, em textos parnasianos.
Durante certa época, exemplares do livro desapareceram de circulação, levantando a hipótese de que, de fato, nunca tivessem existido. Nem mesmo a família da autora tinha notícias a respeito ou qualquer exemplar da obra. Dele, o que se conhecia eram apenas fragmentos. Porém, em 2001, o livro foi reeditado e incorporado à Poesia Completa, coletânea lançada pela Nova Fronteira.
A partir daí, Cecília começou a se aproximar de escritores como Tasso da Silveira, Andrade Muricy e, entre fevereiro e março de 1922, escreveu novos poemas para compor um novo livro. Nessa época, aconteceu a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, liderada por Oswald de Andrade, com o qual Cecília teve pouco contato. No ano seguinte, publicou Nunca Mais... E Poema dos Poemas, pela editora Leite Ribeiro, contendo vinte e um poemas e seis sonetos de caráter simbolista e com ilustrações de seu marido, Correia Dias. Posteriormente, Cecília pediu que esse livro fosse removido de sua bibliografia. Publicou em 1924 Criança, Meu Amor, seu primeiro livro infantil, com crônicas em prosa poética para o ensino fundamental, nas quais a escritora abordou realidades que as crianças gostam, como "o imaginário, o bom conselho, o humor e a fantasia". Os poemas escritos entre fevereiro e março de 1922 foram publicados em Baladas para El-Rei, lançado em 1925, pela Editora Brasileira Lux, também com ilustrações de Correia Dias, seguindo a mesma linha dos últimos dois volumes já publicados, o que acabou fazendo com que estudiosos caracterizem essa parte da vida de Cecília como um "simbolismo-tardio", movimento literário encabeçado por Tasso da Silveira.
Além de poeta, cronista, teatróloga e jornalista, Cecília também teve uma renomada carreira de tradutora literária, pelo que recebeu mais de um prêmio e reconhecimentos internacionais. Ela conhecia inglês, francês, italiano, russo, hebraico e dialetos do grupo indo-iraniano, tendo aprendido o sânscrito e hindi. Dentre as obras que verteu ao português, destacam-se as traduções de poemas de Rabindranath Tagore, pelo que recebeu título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Delhi na Índia, além de Charles Dickens, François Perroux, Alexandre Pushkin, Rainer Maria Rilke, os livros Orlando, de Virginia Woolf, a Bodas de Sangue, de García Lorca, e antologias de poesia hebraica e chinesa, esta última constituída por poemas de Li Po e Du Fu.
Homenagens
Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, pelo livro Viagem (1938)
Prêmio de Tradução de Obras Teatrais (1962)
Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária pelo livro Poesia de Israel (1963).
Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro Solombra (1964).
Prémio Machado de Assis (1965)
Sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura
Sócia honorária do Instituto Vasco da Gama (Goa)
Doutora "honoris causa" pela Universidade de Delhi (Índia)
Oficial da Ordem do Mérito (Chile)
Nos Açores, de onde eram oriundos os seus pais, o nome de Cecília Meireles foi dado à escola básica da freguesia de Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada, terra de sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides.
Após sua morte, recebeu como homenagem a impressão de uma cédula de cem cruzados novos. Esta cédula com a efígie de Cecília Meireles, lançada pelo Banco Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1989, seria mudada para cem cruzeiros, quando houve a troca da moeda pelo governo de Fernando Collor.
Obras
Estas são algumas das obras publicadas por Cecília Meireles:
Espectros, 1919
Criança, meu amor, 1923
Nunca mais, 1923
Poema dos Poemas, 1923
Baladas para El-Rei, 1925
O Espírito Vitorioso, 1929
Saudação à menina de Portugal, 1930
Batuque, samba e Macumba, 1933
A Festa das Letras, 1937
Viagem, 1939
Olhinhos de Gato,1940
Vaga Música, 1942
Poetas Novos de Portugal, 1944
Mar Absoluto, 1945
Rute e Alberto, 1945
Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948
Retrato Natural, 1949
Problemas de Literatura Infantil, 1950
Amor em Leonoreta, 1952
Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952
Romanceiro da Inconfidência, 1953
Poemas Escritos na Índia, 1953
Batuque, 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955
Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955
Panorama Folclórico de Açores, 1955
Canções, 1956
Giroflê, Giroflá, 1956
Romance de Santa Cecília, 1957
A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957
A Rosa, 1957
Obra Poética,1958
Metal Rosicler, 1960
Poemas de Israel, 1963
Antologia Poética, 1963
Solombra, 1963
Ou Isto ou Aquilo, 1964
Escolha o Seu Sonho, 1964
Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965
O Menino Atrasado, 1966
Poésie (versão francesa), 1967
Antologia Poética, 1968
Poemas Italianos, 1968
Poesias (Ou isto ou aquilo& inéditos), 1969
Flor de Poemas, 1972
Poesias Completas, 1973
Elegias, 1974
Flores e Canções, 1979
Poesia Completa, 1994
Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998
Canção da Tarde no Campo, 2001
Poesia Completa, edição do centenário, 2001, 2 vols. (Org.: Antonio Carlos Secchin. Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
Crônicas de educação, 2001, 5 vols. (Org.: Leodegário A. de Azevedo Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
Episódio Humano, 2007
Uma obra bastante particular e pouco conhecida de Cecília Meireles é o infanto-juvenil Olhinhos de Gato. Baseado na vida de Cecília, conta sua infância depois que perdeu sua mãe Matilde Benevides Meireles e como foi criada por sua avó D. Jacinta Garcia Benevides (chamada Boquinha de Doce no livro)
Cecília é considerada uma das maiores poetas do Brasil. Raimundo Fagner gravou várias músicas tendo seus poemas como base, como "Canteiros" e "Motivo".
Outros textos
1947 - Estreia "Auto do Menino Atrasado", direção de Olga Obry e Martim Gonçalves. música de Luís Cosme; marionetes, fantoches e sombras feitos pelos alunos do curso de teatro de bonecos.
1956/1964 - Gravação de poemas por Margarida Lopes de Almeida, Jograis de São Paulo e pela autora (Rio de Janeiro - Brasil)
1965 - Gravação de poemas pelo professor Cassiano Nunes (New York - USA).
1972 - Lançamento do filme "Os inconfidentes", direção de Joaquim Pedro de Andrade, argumento baseado em trechos de "O Romanceiro da Inconfidência".
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
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Biografia Cecília Meireles – e.Biografia
Cecília Meireles (1901-1964) foi uma poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estreou na literatura com o livro "Espectros".
Participou do grupo literário da Revista Festa, grupo católico, conservador. Dessa vinculação herdou a tendência espiritualista que percorre seus trabalhos com frequência. Embora mais conhecida como poetisa, deixou contribuições no domínio do conto, da crônica, da literatura infantil e do folclore.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de Janeiro no dia 7 de novembro de 1901. Perdeu o pai poucos meses antes de seu nascimento e a mãe logo depois de completar 3 anos. Foi criada por sua avó materna, a portuguesa Jacinta Garcia Benevides.
Formação
Cecília Meireles fez o curso primário na Escola Estácio de Sá, onde recebeu das mãos de Olavo Bilac a medalha do ouro por ter feito o curso com louvor e distinção. Em 1917 formou-se professora na Escola Normal do Rio de Janeiro. Estudou música e línguas. Passou a exercer o magistério em escolas oficiais do Rio de Janeiro.
Carreira literária
Em 1919, Cecília Meireles lançou seu primeiro livro de poemas, "Espectros" com 17 sonetos de temas históricos. Em 1922, por ocasião da Semana de Arte Moderna ela participou do grupo da revista Festa, ao lado de Tasso da Silveira, Andrade Muricy e outros, que defendia o universalismo e a preservação de certos valores tradicionais da poesia. Nesse mesmo ano, casou-se com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas.
Cecília Meireles estudou literatura, folclore e teoria educacional. Colaborou na imprensa carioca escrevendo sobre folclore. Atuou como jornalista em 1930 e 1931 e publicou vários artigos sobre educação. Fundou em 1934 a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro. O interesse de Cecília pela educação se transformou em livros didáticos e poemas infantis.
Ainda em 1934, a convite do governo português, Cecília viaja para Portugal, onde proferiu conferências divulgando a literatura e o folclore brasileiros. Em 1935 morreu seu marido.
Professora
Entre 1936 e 1938, Cecília lecionou Literatura Luso-Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1938, o livro de poemas “Viagem” recebeu o Prêmio de Poesia, da Academia Brasileira de Letras. Em 1940 casou-se com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Grilo.
Nesse mesmo ano, Cecília lecionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas. Proferiu conferência sobre Literatura Brasileira em Lisboa e Coimbra. Publicou em Lisboa o ensaio "Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria.
Em 1942 tornou-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Realizou várias viagens aos Estados Unidos, Europa, Ásia e África, fazendo conferências sobre Literatura, Educação e Folclore.
Características da obra de Cecília Meireles
A rigor, Cecília Meireles nunca esteve filiada a nenhum movimento literário. Sua poesia, de modo geral, filia-se às tradições da lírica luso-brasileira. Apesar disso, suas publicações iniciais evidenciam certa inclinação pelo Simbolismo, reúnem religiosidade, desespero e individualismo. Há misticismo no campo da solidão, mas existe a consciência de seus dons e seu destino:
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
-Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta."
O uso frequente de elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a solidão e a música confirmam a inclinação neossimbolista:
Das Palavras Aéreas
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma! (...)
Somente com o livro Viagem (1939) é que Cecília Meireles ingressou no espírito poético da escola modernista. A poetisa foi cuidadosa com a seleção vocabular e teve forte inclinação para a musicalidade (traço associado ao Simbolismo), para o verso curto e para os paralelismos, a exemplo dos versos das poesia medieval portuguesa:
Música
Noite perdida
Não te lamento:
embarco a vida
No pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,
Puro e sem nada,
- rosa encarnada,
intacta, ao vento.
Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida (...)
Poesia Reflexiva
Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, que abordou temas como a transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o infinito e a natureza. Cecília foi uma escritora intuitiva, que sempre procurou questionar e compreender o mundo a partir das próprias experiências. Uma série de cinco poemas, todos intitulados Motivo da Rosa, da obra “Mar Absoluto”, abordam o tema da efemeridade do tempo:
1º. Motivo da Rosa
Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil. (...)
Poesia Histórica
A obra máxima de Cecília Meireles foi o poema épico-lírico Romanceiro da Inconfidência, onde se encontram os maiores valores de sua poética. Trata-se de uma narrativa rimada, escrita em homenagem aos heróis que lutaram e morreram pela Pátria:
Romanceiro da Inconfidência
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
E diz o vigário ao Poeta:
“Escreva-me aquela letra
do versinho de Virgílio...”
E dá-lhe o papel e a pena.
E diz o Poeta ao Vigário,
Com dramática prudência:
“Tenha meus dedos cortados,
antes que tal verso escrevam...”
Liberdade, Ainda que Tarde, (...)
Cecília Meireles faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura. Cecília Meireles foi homenageada pelo Banco Central, em 1989, com sua efígie na cédula de cem cruzados novos.
Frases de Cecília Meireles
"Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira."
"Se em um instante se nasce e um instante se morre, um instante é o bastante para a vida inteira."
"Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta."
"Meu coração tombou na vida, tal qual uma estrela ferida pela flecha de um caçador."
"O vento do meu espírito soprou sobre a vida e só ficaste tu que és eterno."
Obras de Cecília Meireles
Espectros, poesia (1919)
Nunca Mais... e Poema dos Poemas (1923)
Baladas Para El-Rei, poesia (1925)
Viagem, poesia (1925)
Viagem, poesia (1939)
Vaga Música, poesia (1942)
Mar Absoluto, poesia (1945)
Evocação Lírica de Lisboa, prosa (1948)
Retrato Natural, poesia (1949)
Doze Noturnos de Holanda, poesia (1952)
Romanceiro da Inconfidência, poesia (1953)
Pequeno Oratório de Santa Clara, poesia (1955)
Pístóia, Cemitério Militar Brasileiro, poesia (1955)
Canção, poesia (1956)
Giroflê, Giroflá, prosa (1956)
Romance de Santa Cecília, poesia (1957)
A Rosa, poesia (1957)
Eternidade em Israel, prosa (1959)
Metal Rosicler, poesia (1960)
Poemas Escritos Na Índia (1962)
Antologia Poética, poesia (1963)
Ou Isto Ou Aquilo, poesia (1965)
Escolha o Seu Sonho, crônica (1964)
Fonte: e.Biografia, publicado por Dilva Frazão em 27 de outubro de 2020. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
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Cecília Meireles: conheça sete curiosidades sobre a vida da escritora
Cecília Meireles foi tradutora, jornalista, pintira, professora... Além de, claro, escritora. Um dos mais importantes nomes da literatura brasileira do século 20, seus poemas não podem ser enquadrados em apenas uma escola literária. Enquanto jornalista, escreveu sobre educação e exerceu papel atuante em defesa de um ensino de qualidade. Nascida no dia 7 de novembro de 1901, faleceu em 9 de novembro de 1964, vítima de câncer.
Conheça a seguir detalhes da vida da escritora a partir de algumas curiosidades e momentos marcantes de sua trajetória:
Órfã e viúva muito cedo
Três meses antes de Cecília nascer, Carlos Alberto de Carvalho Meirelles, seu pai, faleceu. Quando Cecília tinha três anos, sua mãe Mathilde Benevides também partiu. A menina foi criada pela avó materna Jacinta Benevides, de quem herdou o gosto pelo folclore brasileiro e a levou para aulas de canto e violino. Outra morte trágica foi a de seu primeiro marido, o pintor português Fernando Correia Dias, com quem se casou aos 20 anos, em 1921, e teve suas três filhas. Fernando se suicidou em 1935. O sentimento de angústia e de dor da escritora foi registrado em uma carta a amigos que pode ser lida aqui.
Prêmio aos 9 anos
O primeiro reconhecimento de seu talento enquanto escritora veio aos nove anos e das mãos de quem sabia o que fazia. Era nada menos que o inspetor escolar do estado do Rio de Janeiro e grande nome do período modernista, Olavo Bilac. Em 1938 ela recebe o prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras pelo seu livro Viagem. Apesar de um segundo prêmio da ABL, após sua morte, que reconheceu o valor da totalidade de sua obra, Cecília nunca ingressou na Academia, formada apenas por homens no período em que viveu. A primeira mulher a ingressar foi Rachel de Queiroz, em 1977.
Encontro frustrado com Fernando Pessoa
Em 1934, Meireles viaja para Portugal para uma série de conferências nas universidades de Coimbra e Lisboa e aproveita para entrar em contato com o escritor Fernando Pessoa por intermédio de um grande amigo. Depois de horas de espera em um café na capital lusitana, ela retorna ao hotel e encontra um recado. No bilhete, Pessoa avisava que não pôde encontrá-la por ter sido desaconselhado em seu horóscopo matinal. Como pedido de desculpas, ele deixa um exemplar no seu livro Mensagem, única obra do poeta português publicada em vida.
Centro cultural é fechado por Vargas
Autora de inúmeros livros para o público infantil e ativa defensora de uma educação pública, laica e alto nível como uma forma de diminuir as desigualdades do país, Cecília foi uma das fundadoras do movimento Escola Nova em junto a outros intelectuais da década de 1920 no Brasil. Em 1934 cria com o marido Fernando Dias o Centro de Cultura Infantil, uma biblioteca para crianças. Crítica do presidente Getúlio Vargas, a quem chamava de "O Ditador", Cecília teve seu centro fechado em 1937 diante de denúncias de que ali haveria livros de conteúdo educacional duvidoso. O principal motivo da discussão foi a presença de um clássico do escritor americano Mark Twain, As Aventuras de Tom Sawyer.
Vida mais leve
A professora e poeta da Universidade Federal de Sergipe, Maria Lúcia Dal Farra, conta que a grafia inicial do sobrenome de Cecília era com dois "l"e que a mudança teria vindo após a carta de um desconhecido que se identificou como médium e sugeriu a eliminação de uma letra para "tornar a vida mais leve". A mensagem chegou em um momento de fragilidade, após o sucidío do primeiro marido e a necessidade de trabalhar dobrado para criar as três filhas. Como podemos perceber, ela acatou a sugestão.
Valor monetário
A Casa da Moeda fez uma homenagem à Cecília em 1989 e colocou seu rosto como fundo da nota de 100 Cruzados Novos. A nota não circulou por muito tempo como sabemos, já que o Plano Real veio logo em seguida, cinco anos depois.
Poeta, não poetisa
O vocabulário da língua portuguesa ainda considera "poeta" apenas como substantivo masculino, mas Cecília nunca gostou de ser chamada de poetisa. Para ela, significava uma diminuição do seu trabalho, como se a chamassem de mulher "prendada". Um sentido que até hoje se mantém, em oposição ao de poeta, que esse sim, teria sempre algo a dizer. O aviso de preferência está inclusive registrado em um poema Motivo.
Motivo
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta."
Fonte: Galileu. Publicado por Juliana Passos em 2 de dezembro de 2018. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
Crédito fotográfico: Revista Bula, A última entrevista de Cecilia Meireles, publicada por Carlos Willian Leite, em 11 de maio de 2016. Referência à entrevista publicada na revista Manchete, edição nº 630, em 16 de maio de 1964. E posteriormente no livro Pedro Bloch Entrevista, Bloch Editores, em 1989. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Cecília Benevides de Carvalho Meirelles (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1901 - idem 1964), mais conhecida como Cecília Meireles, foi uma pintora, poeta, cronista, educadora, ensaísta, tradutora e dramaturga brasileira. Ficou reconhecida mundialmente, uma vez que suas obras foram traduzidas para muitas línguas. Cecília Meireles tornou-se um nome importante do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discriminação de gênero. Sua arte se refletiu, principalmente, em publicações que evidenciam uma inclinação pelo simbolismo, religiosidade, desespero e individualismo. Pelo trabalho realizado na literatura ela recebeu diversos prêmios, dos quais se destacam o Prêmio de Poesia Olavo Bilac, Prêmio Jabuti e o Prêmio Machado de Assis. Também realizou palestras e conferências sobre educação, literatura brasileira, teoria literária e folclore, em diversos países do mundo.
Biografia — Itaú Cultural
Seus três irmãos mais velhos morrem antes de ela nascer; seu pai, três meses antes de seu nascimento; e a mãe, antes de ela completar 3 anos.
É criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides, natural dos Açores, Portugal. Concluiu o curso primário em 1910, na Escola Estácio de Sá, quando recebeu das mãos do poeta Olavo Bilac (1865-1918), então inspetor escolar do Distrito Federal, medalha de ouro por ter concluído o curso com "distinção e louvor".
Diplomando-se no curso normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, o magistério torna-se uma de suas paixões, levando-a a escrever para o público infantil, em livros didáticos, como Criança, Meu Amor, de 1924, ou em poemas, como Ou Isto ou Aquilo, de 1964.
Em 1922, casa-se com o artista plástico português Correia Dias (1893-1935), com quem tem três filhas - a mais nova, Maria Fernanda (1928), torna-se atriz de teatro. De 1930 a 1933, mantém no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação, que resulta um livro póstumo de cinco volumes, Crônicas da Educação, e, em 1934, organiza a primeira biblioteca infantil do Brasil, no Rio de Janeiro.
Assina, em 1932, com os educadores Fernando de Azevedo (1894-1974), Anísio Teixeira (1900-1971), Afrânio Peixoto (1876-1947), entre outros, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, marco da renovação educacional do país. Em 1935, seu marido se suicidou. Cinco anos depois, Cecília casa-se com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo.
Aposenta-se como diretora de escola em 1951, mas se mantém como produtora e redatora de programas culturais da Rádio MEC, que são reunidos postumamente no livro Ilusões da Vida, de 1976. Embora tenha estreado aos 18 anos, com o livro de sonetos Espectros, em 1919, somente com Viagem, de 1939, vencedor do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras - ABL, encontra seu estilo definitivo. Mesmo considerada uma poeta filiada ao modernismo, seus caminhos estéticos estão mais ligados à evolução pessoal que a movimentos literários. Entre outros temas, sua obra aborda a solidão, a brevidade da vida e a religiosidade.
Análise
Cecília Meireles é uma poeta brasileira da segunda geração modernista, mas em sua obra encontram-se influências da poesia medieval, romântica, parnasiana e simbolista, como o uso de formas fixas, especialmente o soneto, técnicas tradicionais de versificação, temas filosóficos e espirituais e linguagem elevada, que tornam a sua obra singular no contexto histórico em que é desenvolvida. Poeta intimista, próxima à abstração da música, ao sentimento religioso e à fluidez do sonho, seus temas recorrentes são o amor, a morte, o tempo e a eternidade, o que se evidencia já a partir dos títulos de seus livros, como Vaga Música e Mar Absoluto.
Inicia a vida literária participando do grupo tradicionalista e católico que se articula dentro da revista Festa, dirigida por Tasso da Silveira, que, segundo análise de Miguel Sanches Neto (1965), se aglutina "em torno de uma visão mística contrária aos valores de um mundo industrial e mecânico que, num primeiro momento, causa deslumbramento em intelectuais e artistas do subúrbio do capitalismo, que se sonham integrados à nova civilização".
Em seu livro de estreia, Espectros, publicado em 1919, encontramos poemas sobre temas históricos, lendários, mitológicos ou religiosos, com personagens como Cleópatra, Maria Antonieta, Judite, Sansão e Dalila, retratados em sonetos de nítida influência simbolista, na musicalidade, melancolia e na dimensão onírica dos versos. Em obras posteriores, como Nunca Mais (1923), Baladas para el-Rey (1925), Viagem (1939), Vaga Música (1942), entre outras, a autora prossegue na investigação das possibilidades de uma "música abstrata" (para usar expressão de Alfredo Bosi (1936), que acarretam críticas de passadismo e, ao mesmo tempo, elogios à habilidade de articulação melódica.
Na opinião de Miguel Sanches Neto, "os primeiros livros de Cecília Meireles apresentam uma nítida rarefação, revelando assim uma maior presença do imaginário simbolista, que vai sendo aos poucos incorporado à sua voz, marcando-lhe a diferença". Mar Absoluto e Outros Poemas, publicado em 1945, é considerado um dos melhores livros da autora, e concilia a vagueza e imprecisão do sentido com uma capacidade maior de síntese e força narrativa, incorporando ainda o recurso do verso livre. O poema de abertura do livro, um dos mais belos que escreve, começa com as linhas:
"Foi desde sempre o mar
E multidões passadas me empurravam
como a barco esquecido.
Agora recordo que falavam
da revolta dos ventos,
de linhos, de cordas, de ferros,
de sereias dadas à costa".
Esse poema, assim como outros da autora, revela uma obsessão pelo mar, metáfora da fluidez, da impermanência, da transformação incessante de todas as coisas, ou seja, do tempo e da eternidade.
Água, viagem, música, sonho e Oriente são as principais pedras-de-toque da poesia de Cecília Meireles, acompanhando o conjunto de sua obra poética. O fascínio pela Índia, por exemplo, já está presente em seu livro de estreia, em que se encontra o soneto intitulado Brâmane ("Ao longe, em suspiroso murmúrio, / Do Ganges rola a fúlgida serpente"). A filosofia védica, expressa em obras como os Upanishads e o Bhagavad Gita, encantam a autora, que pesquisa doutrinas místicas de diferentes culturas, em busca de um humanismo universalista. Sua viagem à Índia, onde participa de um simpósio sobre Mahatma Gandhi, inspira o livro Poemas Escritos na Índia (1961) e as traduções que faz do poeta Rabindranath Tagore.
Já os livros Pequeno Oratório de Santa Clara (1955), Romance de Santa Cecília (1957) e Oratório de Santa Maria Egipcíaca (publicado postumamente em 1996) são recriações poéticas de narrativas cristãs medievais, especialmente do Flos Sanctorum, que a autora lê com entusiasmo. O tema do Oratório, também abordado por Manuel Bandeira (1886-1968) no poema Balada de Santa Maria Egipcíaca, é baseado na lenda de uma pecadora que, após uma vida dedicada aos prazeres mundanos, decide partir em peregrinação a Jerusalém. No meio da jornada, não tendo moedas para pagar ao barqueiro pela travessia de um rio, oferece o seu corpo como recompensa para continuar a viagem até a cidade sagrada. A lenda religiosa é transformada por Cecília Meireles num poema dramático de grande beleza, força sonora e plasticidade, em que se destacam versos como estes:
"Sou rio, serpente,
corro para onde quero, sozinha,
para longe corro
Sou perfume de óleo fervente,
ervas, flor, semente / em viva brasa".
Este poema é concebido originalmente como obra dramática e musical, para encenação no palco, com acompanhamento orquestral e canto.
A obra mais conhecida de Cecília Meireles, no entanto, é o Romanceiro da Inconfidência, publicado em 1953, que utiliza o verso em redondilha maior para construir uma narrativa poética sobre a saga dos conjurados mineiros do século XVIII, alternando o tom lírico com o épico ("Não posso mover meus passos / por esse atroz labirinto / de esquecimento e cegueira / em que amores e ódios vão"). O que singulariza esse livro dentro da obra de Cecília Meireles, além de sua perfeição técnica, é a abordagem de um fato da história política nacional, tema pouco comum em sua produção literária. O enredo histórico, porém, é abordado de maneira alegórica, simbólica, transcendendo a sua condição temporal, como nota Miguel Sanches Neto. O Romanceiro da Inconfidência revela afinidades estéticas com os cancioneiros da Idade Média, como destaca Mário Faustino (1930-1962), e é considerado um dos poemas longos mais originais produzidos em nosso modernismo, ao lado de obras como a Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (1895-1953), e a Contemplação de Ouro Preto, de Murilo Mendes (1901-1975).
A vocação lírica de Cecília Meireles atinge plena maturidade com o livro Canções (1956), em que volta a empregar a métrica da redondilha, dialogando com a tradição poética portuguesa, inclusive com as cantigas de amor e de amigo, como nesta composição: "Como num exílio / como nas guerras, / meu amigo é morto, / sem nenhum conforto, / em longes terras". Comentando a respeito em sua História Concisa da Literatura Brasileira, diz Alfredo Bosi que "Cecília foi escritora atenta à riqueza do léxico e dos ritmos portugueses, tendo sido talvez o poeta moderno que modulou com mais felicidade os metros breves, como se vê nas Canções e no trabalhadíssimo Romanceiro da Inconfidência".
Um livro que ocupa um lugar diferenciado no conjunto da obra da autora é Ou Isto ou Aquilo (1964), que apresenta poemas escritos para crianças utilizando recursos de linguagem como trocadilhos e paronomásias, buscando atrair o leitor para os aspectos lúdicos da poesia. Um poema que se destaca nesse conjunto é O Mosquito Escreve, construído como um acróstico, em que cada letra da palavra "mosquito" é destacada, em maiúscula, num dos versos, como neste trecho: "O mosquito pernilongo / trança as pernas, faz um M, / depois, treme, treme, treme, / faz um O bastante oblongo, / faz um S". A poesia de Cecília Meireles, conforme parecer de Manuel Bandeira, busca a perfeição da construção formal, valendo-se para isso tanto de recursos tradicionais quanto modernos.
Espetáculos
1943 - Pelleas e Melisanda
1947 - Natividade
1951 - O Moço Bom e Obediente (Nô Japonês)
1956 - Bodas de Sangue
1961 - Bodas de Sangue
1962 - Yerma
1963 - O Menino Atrasado
Exposições Póstumas
1965 - Santa Joana
1967 - A Tragédia de Vila Rica no Tempo de Joaquim José
1968 - Os Inconfidentes
1968 - Tragédia em Vila Rica - O Romanceiro da Inconfidência
1968 - Os Inconfidentes
1972 - O Romanceiro da Inconfidência
1975 - Romanceiro da Inconfidência
1978 - Yerma
1981 - Libertas Quae Sera Tamen
1983 - O Romanceiro da Inconfidência
1993 - Grog de Poesia
1994 - E Deus Criou a Varoa
2000 - O Romanceiro da Inconfidência Cantares
Exposições Coletivas
1933 - 3º Salão da Pró-Arte
1933 - 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM
Exposições Póstumas
2000 - De la Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950
2002 - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950
2016 - Linguagens do corpo carioca [a vertigem do Rio]
2019 - Exposição Vozes dos Livros
Fonte: CECÍLIA Meireles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 25 de março de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia — Wikipédia
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma jornalista, pintora, poeta, escritora e professora brasileira. É um nome canônico do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discriminação de gênero.
Ela viajou pelas Américas na década de 1940, visitando os Estados Unidos, México, Argentina, Uruguai e Chile. No verão de 1940, ela deu palestras na Universidade do Texas em Austin. Ela escreveu dois poemas sobre seu tempo na capital do Texas e um longo (800 linhas) poema socialmente consciente "EUA 1940", publicado postumamente. Como jornalista, suas colunas (crônicas) concentravam-se mais na educação, mas também em suas viagens ao exterior no hemisfério ocidental, Portugal, outras partes da Europa, Israel e Índia (onde recebeu um doutorado honorário).
Como poeta, seu estilo era principalmente neossimbolista e seus temas incluíam tempo efêmero e vida contemplativa. Embora não se preocupasse com a cor local, o vernáculo nativo ou os experimentos em sintaxe (popular), ela é considerada um dos poetas mais importantes da segunda fase do modernismo brasileiro, conhecida pelo vanguardismo nacionalista. Como professora, ela fez muito para promover reformas educacionais e defendeu a construção de bibliotecas infantis. Entre 1935 e 1938, lecionou na universidade de curta duração do distrito federal do Rio de Janeiro.
Biografia
Juventude
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no bairro Rio Comprido, na cidade do Rio de Janeiro. Seus pais eram Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil, e Mathilde Benevides Meireles, professora da rede pública de ensino fundamental (na época, ensino primário). Antes de Cecília nascer, sua mãe havia perdido seus outros filhos: Carlos, Vítor e Carmem. Carlos morreu três meses antes do nascimento de Cecília. Aos três anos de idade, sua mãe morreu, e Cecília se mudou para as imediações das ruas Zamenhoff, Estrela e São Carlos, passando a morar com sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides, uma portuguesa nascida na Ilha de São Miguel, Açores, na época viúva e única sobrevivente da família. Ela criou a menina com ajuda de Pedrina, a babá da menina, que sempre lhe contava histórias à noite.
Cecília cursou o ensino fundamental na Escola Municipal Estácio de Sá, onde, ao concluir o curso em 1910, recebeu das mãos de Olavo Bilac, inspetor da escola, uma Medalha de Ouro Olavo Bilac pelo esforço e excelente desempenho "com distinção e louvor". Nessa época, a garota já demonstrava paixão por livros, chegando a escrever seus primeiros versos. Também demonstrava interesse pela música, o que a levou estudar canto, violão e violino no Conservatório Nacional de Música, pois sonhava em escrever uma ópera sobre o Apóstolo São Paulo. No entanto, posteriormente, acabou se dedicando à literatura, tendo em vista que não conseguiria desempenhar com perfeição muitas atividades simultaneamente.
Cecília Meireles possuía olhos azuis-esverdeados, era curiosa e sozinha, sobretudo porque sua avó não a deixava sair de casa para brincar, mesmo quando era chamada por outras crianças. Durante uma entrevista, Cecília disse que "em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar e nem me espantei por perder". A infância solitária rendeu à futura escritora dois pontos que, para ela, foram positivos: "a solidão e o silêncio".
1917-1935: Formação acadêmica e primeiro casamento
Em 1917, aos dezesseis anos de idade, formou-se na Escola Normal do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, onde teve como professores o historiador Basílio de Magalhães, a escritora infantil Alexina Magalhães Pinto e o poeta Osório Duque-Estrada. Por consenso, foi escolhida como oradora do seu grupo de formatura. A partir de então, passou a lecionar. Em 24 de outubro de 1922, já tendo publicado o seu livro de estreia, casou-se com o pintor, desenhista, ilustrador e artista plástico português Fernando Correia Dias, que havia se mudado para o Brasil em abril de 1914, radicando-se no Rio de Janeiro e contribuindo para o desenvolvimento das artes gráficas no país. A união dos dois gerou três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda. Além disso, a união com Correia Dias proporcionou à escritora um contato com o movimento poético em Portugal, no início do século XX, do qual Fernando Pessoa fez parte, e uma parceria na ilustração de sua obra. Porém, o casamento com o ilustrador não foi fácil: o casal passou por grandes dificuldades financeiras e o preconceito da época prejudicou o artista plástico e a professora. Seguiu-se um período difícil de perseguição mais ou menos velada, em que durante quatro anos, por ironia e desagravo de sua capacidade pedagógica, Cecília Meireles manteve uma página diária sobre educação no Diário de Notícias. Também se encontra colaboração da sua autoria na revista luso-brasileira Atlântico.
Carreira docente
Cecília iniciou sua carreira docente em 1918, quando foi nomeada professora adjunta do curso primário, na Escola Pública Deodoro. Em 29 de março de 1920, o Diretor Geral de Instrução Pública recebeu autorização do então prefeito da cidade para formar turma de desenho da Escola Normal do Distrito Federal. Ele escolheu Cecília, a pedido do arquiteto e engenheiro Fernando Nereo de Sampaio, que era responsável pela Cátedra de Desenho da Escola e fazia parte da equipe de Anísio Teixeira na Diretoria de Instrução Pública. Preocupada com a qualidade do ensino e a escassez de livros didáticos, Cecília escreveu livros para escolas primárias e publicou em 1924 o livro infantil Criança, Meu Amor, com prosas para o ensino fundamental. Ele foi adotado pela Diretoria Geral da Instrução Pública do Distrito Federal e aprovado pelo Conselho Superior de Ensino do Estado de Minas Gerais e Pernambuco, entrando na lista de leitura de livros paradidáticos. Entre os temas do livro estavam retratos, momentos do dia, animais de estimação, tarefas, sentimentos e brincadeiras.
1920-1930: concurso da Escola Normal e tese O Espírito Vitorioso
Cecília dedicou-se a estudar visando um concurso promovido pela Escola Normal para preencher o cargo de professor catedrático. Em correspondências para o marido, Cecília confidenciou sua intenção de participar. Em 1930, realizou a primeira etapa do concurso, defendendo a tese "O Espírito Vitorioso", na qual defendia "a escola moderna" e destacava os princípios de liberdade, de inteligência, de estímulo à observação e à experimentação. Nessa fase, dos oito candidatos, três foram reprovados e dois desistiram em função das notas obtidas. Somente dois continuaram disputando: Cecília Meireles e Clóvis do Rego Monteiro, tendo este nota superior à de Cecília. A última fase, realizada em 26 de agosto do mesmo ano, era uma prova prática, na qual Cecília foi derrotada.
1935-1964
Nesse período, Cecília publica diversas obras e traduções, realizando pesquisas históricas e visitando e vivendo em pequenos intervalos em países como a Argentina, Bélgica, Holanda, EUA, Índia, Israel, e teve obras traduzidas para diversos idiomas, incluindo alemão, espanhol, francês, húngaro, inglês e italiano.
De 1935 a 1938 ela foi professora de Literatura Luso-Brasileira e de Técnica e Crítica Literária na Universidade do Distrito Federal (que era na época no Rio de Janeiro).
Em 1940, ela deu um curso de literatura e cultura brasileira à Universidade do Texas em Austin (Estados Unidos). Ao longo da década, ela viaja pela América, passando pelo México e Chile e também visitando em 1944 o Uruguai e a Argentina, e publica uma obra em Boston em 1945. Em 1951, viaja à França, Bélgica, Holanda e Açores e se aposenta do cargo de diretora da Prefeitura do Distrito Federal.
Em 1953, viaja à Índia a convite do primeiro-ministro Jawaharlal Nehru e participa de um congresso sobre Gandhi em Goa. Em Nova Deli, recebe das mãos do presidente um título Doctor honoris causa por suas traduções da obra de Rabindranath Tagore.
Fez uma nova viagem à Europa em 1954. Em 1958, visita Israel.
Em 1962, um câncer no estômago começa a se manifestar e ela vem a falecer em 9 de novembro de 1964 no Rio de Janeiro, aos 63 anos.
Carreira literária
Com dezoito anos de idade, em 1919, Cecília publicou seu primeiro livro de poemas, Espectros, lançado pela Editora Leite Ribeiro (hoje Freitas Bastos), com dezessete sonetos, escritos no tempo em que cursava a Escola Normal, e com prefácio assinado por Alfredo Gomes, que tinha sido seu professor de Língua portuguesa e, à época, prestigioso gramático, que saudava "o coração já superiormente formado, a inteligência clara e lúcida, a intuição notável com que sabia expor pensamentos próprios e singulares até em assuntos pedagógicos" de sua aluna.
O livro continha poemas sobre temas históricos, lendários, mitológicos e religiosos, tendo personagens como Cleópatra, Maria Antonieta, Judite, Sansão e Dalila, retratados em sonetos, sob influência simbologista, na musicalidade e melancolia, indo na contramão do que estava sendo publicado na época. Com diminuta tiragem, acredita-se que o livro tenha sido lançado às custas da autora.
O livro ganhou uma crítica positiva de João Ribeiro, publicada no jornal O Imparcial, em que ele previa um belo futuro para Cecília. Para Darcy Damasceno, crítico do Jornal do Comércio, o livro impedia a revelação da real face criativa e espiritual de Meireles devido ao rigor das métricas e acentuação, em textos parnasianos.
Durante certa época, exemplares do livro desapareceram de circulação, levantando a hipótese de que, de fato, nunca tivessem existido. Nem mesmo a família da autora tinha notícias a respeito ou qualquer exemplar da obra. Dele, o que se conhecia eram apenas fragmentos. Porém, em 2001, o livro foi reeditado e incorporado à Poesia Completa, coletânea lançada pela Nova Fronteira.
A partir daí, Cecília começou a se aproximar de escritores como Tasso da Silveira, Andrade Muricy e, entre fevereiro e março de 1922, escreveu novos poemas para compor um novo livro. Nessa época, aconteceu a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, liderada por Oswald de Andrade, com o qual Cecília teve pouco contato. No ano seguinte, publicou Nunca Mais... E Poema dos Poemas, pela editora Leite Ribeiro, contendo vinte e um poemas e seis sonetos de caráter simbolista e com ilustrações de seu marido, Correia Dias. Posteriormente, Cecília pediu que esse livro fosse removido de sua bibliografia. Publicou em 1924 Criança, Meu Amor, seu primeiro livro infantil, com crônicas em prosa poética para o ensino fundamental, nas quais a escritora abordou realidades que as crianças gostam, como "o imaginário, o bom conselho, o humor e a fantasia". Os poemas escritos entre fevereiro e março de 1922 foram publicados em Baladas para El-Rei, lançado em 1925, pela Editora Brasileira Lux, também com ilustrações de Correia Dias, seguindo a mesma linha dos últimos dois volumes já publicados, o que acabou fazendo com que estudiosos caracterizem essa parte da vida de Cecília como um "simbolismo-tardio", movimento literário encabeçado por Tasso da Silveira.
Além de poeta, cronista, teatróloga e jornalista, Cecília também teve uma renomada carreira de tradutora literária, pelo que recebeu mais de um prêmio e reconhecimentos internacionais. Ela conhecia inglês, francês, italiano, russo, hebraico e dialetos do grupo indo-iraniano, tendo aprendido o sânscrito e hindi. Dentre as obras que verteu ao português, destacam-se as traduções de poemas de Rabindranath Tagore, pelo que recebeu título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Delhi na Índia, além de Charles Dickens, François Perroux, Alexandre Pushkin, Rainer Maria Rilke, os livros Orlando, de Virginia Woolf, a Bodas de Sangue, de García Lorca, e antologias de poesia hebraica e chinesa, esta última constituída por poemas de Li Po e Du Fu.
Homenagens
Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, pelo livro Viagem (1938)
Prêmio de Tradução de Obras Teatrais (1962)
Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária pelo livro Poesia de Israel (1963).
Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro Solombra (1964).
Prémio Machado de Assis (1965)
Sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura
Sócia honorária do Instituto Vasco da Gama (Goa)
Doutora "honoris causa" pela Universidade de Delhi (Índia)
Oficial da Ordem do Mérito (Chile)
Nos Açores, de onde eram oriundos os seus pais, o nome de Cecília Meireles foi dado à escola básica da freguesia de Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada, terra de sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides.
Após sua morte, recebeu como homenagem a impressão de uma cédula de cem cruzados novos. Esta cédula com a efígie de Cecília Meireles, lançada pelo Banco Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1989, seria mudada para cem cruzeiros, quando houve a troca da moeda pelo governo de Fernando Collor.
Obras
Estas são algumas das obras publicadas por Cecília Meireles:
Espectros, 1919
Criança, meu amor, 1923
Nunca mais, 1923
Poema dos Poemas, 1923
Baladas para El-Rei, 1925
O Espírito Vitorioso, 1929
Saudação à menina de Portugal, 1930
Batuque, samba e Macumba, 1933
A Festa das Letras, 1937
Viagem, 1939
Olhinhos de Gato,1940
Vaga Música, 1942
Poetas Novos de Portugal, 1944
Mar Absoluto, 1945
Rute e Alberto, 1945
Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948
Retrato Natural, 1949
Problemas de Literatura Infantil, 1950
Amor em Leonoreta, 1952
Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952
Romanceiro da Inconfidência, 1953
Poemas Escritos na Índia, 1953
Batuque, 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955
Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955
Panorama Folclórico de Açores, 1955
Canções, 1956
Giroflê, Giroflá, 1956
Romance de Santa Cecília, 1957
A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957
A Rosa, 1957
Obra Poética,1958
Metal Rosicler, 1960
Poemas de Israel, 1963
Antologia Poética, 1963
Solombra, 1963
Ou Isto ou Aquilo, 1964
Escolha o Seu Sonho, 1964
Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965
O Menino Atrasado, 1966
Poésie (versão francesa), 1967
Antologia Poética, 1968
Poemas Italianos, 1968
Poesias (Ou isto ou aquilo& inéditos), 1969
Flor de Poemas, 1972
Poesias Completas, 1973
Elegias, 1974
Flores e Canções, 1979
Poesia Completa, 1994
Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998
Canção da Tarde no Campo, 2001
Poesia Completa, edição do centenário, 2001, 2 vols. (Org.: Antonio Carlos Secchin. Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
Crônicas de educação, 2001, 5 vols. (Org.: Leodegário A. de Azevedo Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
Episódio Humano, 2007
Uma obra bastante particular e pouco conhecida de Cecília Meireles é o infanto-juvenil Olhinhos de Gato. Baseado na vida de Cecília, conta sua infância depois que perdeu sua mãe Matilde Benevides Meireles e como foi criada por sua avó D. Jacinta Garcia Benevides (chamada Boquinha de Doce no livro)
Cecília é considerada uma das maiores poetas do Brasil. Raimundo Fagner gravou várias músicas tendo seus poemas como base, como "Canteiros" e "Motivo".
Outros textos
1947 - Estreia "Auto do Menino Atrasado", direção de Olga Obry e Martim Gonçalves. música de Luís Cosme; marionetes, fantoches e sombras feitos pelos alunos do curso de teatro de bonecos.
1956/1964 - Gravação de poemas por Margarida Lopes de Almeida, Jograis de São Paulo e pela autora (Rio de Janeiro - Brasil)
1965 - Gravação de poemas pelo professor Cassiano Nunes (New York - USA).
1972 - Lançamento do filme "Os inconfidentes", direção de Joaquim Pedro de Andrade, argumento baseado em trechos de "O Romanceiro da Inconfidência".
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
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Biografia Cecília Meireles – e.Biografia
Cecília Meireles (1901-1964) foi uma poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estreou na literatura com o livro "Espectros".
Participou do grupo literário da Revista Festa, grupo católico, conservador. Dessa vinculação herdou a tendência espiritualista que percorre seus trabalhos com frequência. Embora mais conhecida como poetisa, deixou contribuições no domínio do conto, da crônica, da literatura infantil e do folclore.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de Janeiro no dia 7 de novembro de 1901. Perdeu o pai poucos meses antes de seu nascimento e a mãe logo depois de completar 3 anos. Foi criada por sua avó materna, a portuguesa Jacinta Garcia Benevides.
Formação
Cecília Meireles fez o curso primário na Escola Estácio de Sá, onde recebeu das mãos de Olavo Bilac a medalha do ouro por ter feito o curso com louvor e distinção. Em 1917 formou-se professora na Escola Normal do Rio de Janeiro. Estudou música e línguas. Passou a exercer o magistério em escolas oficiais do Rio de Janeiro.
Carreira literária
Em 1919, Cecília Meireles lançou seu primeiro livro de poemas, "Espectros" com 17 sonetos de temas históricos. Em 1922, por ocasião da Semana de Arte Moderna ela participou do grupo da revista Festa, ao lado de Tasso da Silveira, Andrade Muricy e outros, que defendia o universalismo e a preservação de certos valores tradicionais da poesia. Nesse mesmo ano, casou-se com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas.
Cecília Meireles estudou literatura, folclore e teoria educacional. Colaborou na imprensa carioca escrevendo sobre folclore. Atuou como jornalista em 1930 e 1931 e publicou vários artigos sobre educação. Fundou em 1934 a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro. O interesse de Cecília pela educação se transformou em livros didáticos e poemas infantis.
Ainda em 1934, a convite do governo português, Cecília viaja para Portugal, onde proferiu conferências divulgando a literatura e o folclore brasileiros. Em 1935 morreu seu marido.
Professora
Entre 1936 e 1938, Cecília lecionou Literatura Luso-Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1938, o livro de poemas “Viagem” recebeu o Prêmio de Poesia, da Academia Brasileira de Letras. Em 1940 casou-se com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Grilo.
Nesse mesmo ano, Cecília lecionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas. Proferiu conferência sobre Literatura Brasileira em Lisboa e Coimbra. Publicou em Lisboa o ensaio "Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria.
Em 1942 tornou-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Realizou várias viagens aos Estados Unidos, Europa, Ásia e África, fazendo conferências sobre Literatura, Educação e Folclore.
Características da obra de Cecília Meireles
A rigor, Cecília Meireles nunca esteve filiada a nenhum movimento literário. Sua poesia, de modo geral, filia-se às tradições da lírica luso-brasileira. Apesar disso, suas publicações iniciais evidenciam certa inclinação pelo Simbolismo, reúnem religiosidade, desespero e individualismo. Há misticismo no campo da solidão, mas existe a consciência de seus dons e seu destino:
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
-Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta."
O uso frequente de elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a solidão e a música confirmam a inclinação neossimbolista:
Das Palavras Aéreas
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma! (...)
Somente com o livro Viagem (1939) é que Cecília Meireles ingressou no espírito poético da escola modernista. A poetisa foi cuidadosa com a seleção vocabular e teve forte inclinação para a musicalidade (traço associado ao Simbolismo), para o verso curto e para os paralelismos, a exemplo dos versos das poesia medieval portuguesa:
Música
Noite perdida
Não te lamento:
embarco a vida
No pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,
Puro e sem nada,
- rosa encarnada,
intacta, ao vento.
Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida (...)
Poesia Reflexiva
Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, que abordou temas como a transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o infinito e a natureza. Cecília foi uma escritora intuitiva, que sempre procurou questionar e compreender o mundo a partir das próprias experiências. Uma série de cinco poemas, todos intitulados Motivo da Rosa, da obra “Mar Absoluto”, abordam o tema da efemeridade do tempo:
1º. Motivo da Rosa
Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil. (...)
Poesia Histórica
A obra máxima de Cecília Meireles foi o poema épico-lírico Romanceiro da Inconfidência, onde se encontram os maiores valores de sua poética. Trata-se de uma narrativa rimada, escrita em homenagem aos heróis que lutaram e morreram pela Pátria:
Romanceiro da Inconfidência
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
E diz o vigário ao Poeta:
“Escreva-me aquela letra
do versinho de Virgílio...”
E dá-lhe o papel e a pena.
E diz o Poeta ao Vigário,
Com dramática prudência:
“Tenha meus dedos cortados,
antes que tal verso escrevam...”
Liberdade, Ainda que Tarde, (...)
Cecília Meireles faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura. Cecília Meireles foi homenageada pelo Banco Central, em 1989, com sua efígie na cédula de cem cruzados novos.
Frases de Cecília Meireles
"Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira."
"Se em um instante se nasce e um instante se morre, um instante é o bastante para a vida inteira."
"Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta."
"Meu coração tombou na vida, tal qual uma estrela ferida pela flecha de um caçador."
"O vento do meu espírito soprou sobre a vida e só ficaste tu que és eterno."
Obras de Cecília Meireles
Espectros, poesia (1919)
Nunca Mais... e Poema dos Poemas (1923)
Baladas Para El-Rei, poesia (1925)
Viagem, poesia (1925)
Viagem, poesia (1939)
Vaga Música, poesia (1942)
Mar Absoluto, poesia (1945)
Evocação Lírica de Lisboa, prosa (1948)
Retrato Natural, poesia (1949)
Doze Noturnos de Holanda, poesia (1952)
Romanceiro da Inconfidência, poesia (1953)
Pequeno Oratório de Santa Clara, poesia (1955)
Pístóia, Cemitério Militar Brasileiro, poesia (1955)
Canção, poesia (1956)
Giroflê, Giroflá, prosa (1956)
Romance de Santa Cecília, poesia (1957)
A Rosa, poesia (1957)
Eternidade em Israel, prosa (1959)
Metal Rosicler, poesia (1960)
Poemas Escritos Na Índia (1962)
Antologia Poética, poesia (1963)
Ou Isto Ou Aquilo, poesia (1965)
Escolha o Seu Sonho, crônica (1964)
Fonte: e.Biografia, publicado por Dilva Frazão em 27 de outubro de 2020. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
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Cecília Meireles: conheça sete curiosidades sobre a vida da escritora
Cecília Meireles foi tradutora, jornalista, pintira, professora... Além de, claro, escritora. Um dos mais importantes nomes da literatura brasileira do século 20, seus poemas não podem ser enquadrados em apenas uma escola literária. Enquanto jornalista, escreveu sobre educação e exerceu papel atuante em defesa de um ensino de qualidade. Nascida no dia 7 de novembro de 1901, faleceu em 9 de novembro de 1964, vítima de câncer.
Conheça a seguir detalhes da vida da escritora a partir de algumas curiosidades e momentos marcantes de sua trajetória:
Órfã e viúva muito cedo
Três meses antes de Cecília nascer, Carlos Alberto de Carvalho Meirelles, seu pai, faleceu. Quando Cecília tinha três anos, sua mãe Mathilde Benevides também partiu. A menina foi criada pela avó materna Jacinta Benevides, de quem herdou o gosto pelo folclore brasileiro e a levou para aulas de canto e violino. Outra morte trágica foi a de seu primeiro marido, o pintor português Fernando Correia Dias, com quem se casou aos 20 anos, em 1921, e teve suas três filhas. Fernando se suicidou em 1935. O sentimento de angústia e de dor da escritora foi registrado em uma carta a amigos que pode ser lida aqui.
Prêmio aos 9 anos
O primeiro reconhecimento de seu talento enquanto escritora veio aos nove anos e das mãos de quem sabia o que fazia. Era nada menos que o inspetor escolar do estado do Rio de Janeiro e grande nome do período modernista, Olavo Bilac. Em 1938 ela recebe o prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras pelo seu livro Viagem. Apesar de um segundo prêmio da ABL, após sua morte, que reconheceu o valor da totalidade de sua obra, Cecília nunca ingressou na Academia, formada apenas por homens no período em que viveu. A primeira mulher a ingressar foi Rachel de Queiroz, em 1977.
Encontro frustrado com Fernando Pessoa
Em 1934, Meireles viaja para Portugal para uma série de conferências nas universidades de Coimbra e Lisboa e aproveita para entrar em contato com o escritor Fernando Pessoa por intermédio de um grande amigo. Depois de horas de espera em um café na capital lusitana, ela retorna ao hotel e encontra um recado. No bilhete, Pessoa avisava que não pôde encontrá-la por ter sido desaconselhado em seu horóscopo matinal. Como pedido de desculpas, ele deixa um exemplar no seu livro Mensagem, única obra do poeta português publicada em vida.
Centro cultural é fechado por Vargas
Autora de inúmeros livros para o público infantil e ativa defensora de uma educação pública, laica e alto nível como uma forma de diminuir as desigualdades do país, Cecília foi uma das fundadoras do movimento Escola Nova em junto a outros intelectuais da década de 1920 no Brasil. Em 1934 cria com o marido Fernando Dias o Centro de Cultura Infantil, uma biblioteca para crianças. Crítica do presidente Getúlio Vargas, a quem chamava de "O Ditador", Cecília teve seu centro fechado em 1937 diante de denúncias de que ali haveria livros de conteúdo educacional duvidoso. O principal motivo da discussão foi a presença de um clássico do escritor americano Mark Twain, As Aventuras de Tom Sawyer.
Vida mais leve
A professora e poeta da Universidade Federal de Sergipe, Maria Lúcia Dal Farra, conta que a grafia inicial do sobrenome de Cecília era com dois "l"e que a mudança teria vindo após a carta de um desconhecido que se identificou como médium e sugeriu a eliminação de uma letra para "tornar a vida mais leve". A mensagem chegou em um momento de fragilidade, após o sucidío do primeiro marido e a necessidade de trabalhar dobrado para criar as três filhas. Como podemos perceber, ela acatou a sugestão.
Valor monetário
A Casa da Moeda fez uma homenagem à Cecília em 1989 e colocou seu rosto como fundo da nota de 100 Cruzados Novos. A nota não circulou por muito tempo como sabemos, já que o Plano Real veio logo em seguida, cinco anos depois.
Poeta, não poetisa
O vocabulário da língua portuguesa ainda considera "poeta" apenas como substantivo masculino, mas Cecília nunca gostou de ser chamada de poetisa. Para ela, significava uma diminuição do seu trabalho, como se a chamassem de mulher "prendada". Um sentido que até hoje se mantém, em oposição ao de poeta, que esse sim, teria sempre algo a dizer. O aviso de preferência está inclusive registrado em um poema Motivo.
Motivo
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta."
Fonte: Galileu. Publicado por Juliana Passos em 2 de dezembro de 2018. Consultado pela última vez em 28 de março de 2022.
Crédito fotográfico: Revista Bula, A última entrevista de Cecilia Meireles, publicada por Carlos Willian Leite, em 11 de maio de 2016. Referência à entrevista publicada na revista Manchete, edição nº 630, em 16 de maio de 1964. E posteriormente no livro Pedro Bloch Entrevista, Bloch Editores, em 1989. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.