Johann Moritz Rugendas (Augsburgo, Alemanha, 29 de março de 1802 — Weilheim, Alemanha, 29 de maio de 1858), mais conhecido como Rugendas, foi um desenhista, litógrafo e pintor alemão formado pela Academia de Munique. Participou de importantes expedições com o objetivo de documentar sobre o continente americano e tem um importante trabalho iconográfico de paisagens e costumes brasileiros, entre elas a expedição Langsdorff, uma das mais importantes incursões científicas realizadas no Brasil no século XIX, publicando em 1835, em Paris, seu célebre trabalho Malerische Reise in Brasilien (Viagem Pitoresca Através do Brasil), no qual retrata, em belíssimas gravuras, cenas do Brasil Colonial.
Biografia resumida
Desde criança, exercita o desenho e a gravura com o pai Johann Lorenz Rugendas II (1775 – 1826). Freqüenta o ateliê de Albrecht Adam (1786 – 1862), de 1815 até 1817, quando ingressou na Academia de Belas Artes de Munique.
Incentivado pelos relatos de viagem dos naturalistas J. B. von Spix (1781 – 1826) e C. Fr. Ph. de Martius (1794 – 1868) e pela obra de Thomas Ender (1793 – 1875), vem para o Brasil em 1821, como desenhista documentarista da Expedição Langsdorff.
Abandona a expedição em 1824, mas continua sozinho o registro de tipos, costumes, paisagens, fauna e flora brasileiros. Segue para Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo e retorna ao Rio de Janeiro ainda no mesmo ano.
Rugendas não realiza nenhuma pintura a óleo em sua primeira estada no Brasil, privilegia o desenho e ocasionalmente o colore à aquarela. De 1825 a 1828 viveu entre Paris, Augsburg e Munique. Nesse período, dedica-se à publicação de sua obra Voyage Pittoresque dans le Brésil.
Vai para a Itália em 1828, onde observa novas técnicas. O uso de cores e o esboço a óleo chamam sua atenção. Motivado pelo naturalista Alexander Humboldt (1769 – 1859), Rugendas viajou para o México em 1831, com projeto de viagem pela América com objetivo de reunir material para nova publicação. No México, começa a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália.
A partir de 1834, excursiona pela América do Sul, passa pelo Chile, Argentina, Peru e Bolívia. Em 1845, chega ao Rio de Janeiro, onde retrata membros da família imperial e é convidado a participar da Exposição Geral de Belas Artes. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa.
Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao Rei Maximiliano II, da Baviera, perdendo-a anos depois por não realizar produção pictórica com base em seus trabalhos americanos, tal como havia acordado.
Faleceu no dia 29 de maio de 1858 na cidade de Weilh em situação financeira não muito favorável e amargurado pela certeza do fracasso artístico.
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Biografia - Itaú Cultural
Pertence à sétima geração de uma família de desenhistas, pintores, gravadores e impressores. Desde criança, exercita o desenho e a gravura, e se inicia na atividade artística por influência de seu pai, Johann Lorenz Rugendas II (1775 – 1826), diretor e professor da escola de desenho de Augsburg.
De 1815 a 1817, frequenta o ateliê do pintor alemão de batalhas Albrecht Adam (1786 – 1862). Em 1817, começa a estudar na Academia de Belas Artes de Munique como aluno de Lorenzo Quaglio II (1793 – 1869). A influência do ensino acadêmico é permanente na produção do artista, que valoriza o desenho em suas composições e a representação segundo a reelaboração ideal e universal da observação do particular.
Incentivado pelos relatos de viagem dos naturalistas alemães Johann Baptist von Spix (1781-1826) e Karl Friedrich Philipp von Martius (1794 – 1868) e pela obra do pintor austríaco Thomas Ender (1793-1875), vem ao Brasil como desenhista documentarista da Expedição Langsdorff, do cônsul da Rússia Grigory Ivanovitch Langsdorff (1774 – 1852).
Chega ao Rio de Janeiro em 1822, em pleno processo de independência do país.
Apesar de viver isolado com os outros participantes da expedição na Fazenda Mandioca, de propriedade do cônsul, Rugendas vai constantemente à capital e faz amizade com os artistas da Missão Artística Francesa. Nesse período, retrata a paisagem natural, a fauna, a flora, os tipos físicos e as vistas da cidade do Rio de Janeiro.
Em 1824, parte em direção a Minas Gerais, passando por São Paulo. O artista se desentende com Langsdorff e abandona o grupo, continuando suas andanças sozinho. Seu itinerário exato não é conhecido, mas, pelos desenhos, sabe-se que passa por São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco. Nessa primeira viagem privilegia o desenho, ocasionalmente colorido à aquarela.
Cem litografias baseadas em desenhos brasileiros são publicadas no volume Voyage Pittoresque dans le Brésil [Viagem Pitoresca através do Brasil], em edição bilíngue em francês-alemão (1827 – 1835). Pensado como livro de viagem, conta com a participação de 22 litógrafos e de Victor Aimé Huber (1800 – 1869) na preparação dos textos. O livro é considerado um dos mais importantes documentos iconográficos sobre o Brasil do século XIX, e é subdividido em: paisagens, tipos e costumes, usos e costumes dos indígenas, a vida dos europeus, europeus na Bahia e em Pernambuco, usos e costumes dos negros.
A obra brasileira de Rugendas nem sempre é uma cópia fiel da realidade.
As ilustrações de plantas e animais obedecem a um caráter minucioso e objetivo; nesses casos o artista desenha sob a tutela de naturalistas. Com relação às paisagens, o historiador Pablo Diener afirma que são uma reprodução fiel da natureza, apreendida mais em sua unidade do que nos detalhes, com exceção das gravuras, em que o litógrafo recria outra imagem com base no desenho original, como a prancha Entrada da Barra do Rio de Janeiro, gravada pelo artista romântico Richard Parkes Bonington (1802 – 1828).
Em cenas da vida cotidiana da população brasileira e nos retratos etnográficos percebemos o empenho em criar imagens idealizadas, de caráter mais programático. Os corpos de negros e indígenas são representados em estilo clássico, os traços suavizados e europeizados. Da mesma forma, a situação dos escravizados é amenizada: o trabalho é mostrado como atividade quase lúdica em pranchas como Preparação da Raiz de Mandioca e Colheita de Café.
Já na época de sua publicação, Voyage Pittoresque recebe críticas por seu caráter pouco documental. Mas alcança êxito com o grande público, circulando no Brasil em edição francesa com sucesso, talvez por causa da maneira benevolente com que retrata a sociedade oitocentista.
De 1825 a 1828, viveu entre Paris, Augsburg e Munique. Em 1828, vai para a Itália e, durante o tempo em Roma, entra em contato com correntes artísticas como neoclassicismo e romantismo. De 1829 a 1831, pinta telas de temas brasileiros com base em seus desenhos. São espaços idílicos que refletem ideias correntes na época sobre o Novo Mundo como paraíso terreno e habitat do bom selvagem.
Motivado pelo naturalista alemão Alexander Humboldt (1769 – 1859), cuja influência o leva à decisão de se tornar “o ilustrador dos novos territórios”, viaja para o México em 1831, onde começa a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália. A partir de 1834, excursionou por países como Chile, Argentina, Peru e Bolívia.
Em sua segunda passagem pelo Rio de Janeiro (1845 – 1846) encontra uma extraordinária acolhida por parte da coroa brasileira, que lhe encomenda diversos retratos. Participa das Exposições Gerais de Belas Artes (1845 e 1846) a convite do pintor francês Félix Taunay (1795 – 1881).
Em 1847, parte definitivamente para a Europa. Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao Rei Maximiliano II (1811 – 1864), da Baviera, perdendo-a anos depois por não realizar produção pictórica com base em seus trabalhos americanos, como acordado.
Com desenhos, aquarelas e pinturas a óleo, o conjunto gráfico e pictórico de Johann Moritz Rugendas representa um dos materiais fundamentais de conhecimento da sociedade e da paisagem americana no século XIX.
Críticas
"Humboldt e Martius são referências preliminares para uma primeira aproximação da síntese realizada por Rugendas em seu álbum pitoresco. A viagem de Humboldt e Bonpland à América Latina é de modo geral indissociável da construção da paisagem dos trópicos. Em particular, o modelo do Atlas Pittoresque. Vue des Cordillères et des Monuments du Peuple Indigène de l'America oferece uma solução de concepção científica expressa pela arte (...) Apropriando-se da visão pictórica de matriz científica, recomendada por Humboldt, Rugendas acerca-se do pitoresco, buscando as características regionais do país, que são definidas e se manifestam simultaneamente na conformação geral do solo, no recorte das montanhas com relação à planície, na geologia geográfica, na geobotânica. Seus desenhos têm a capacidade de transformar aspectos físicos em esfera cosmogônica da vida humana. (...) Rugendas afirma nos desenhos uma concepção orgânica da vida em completa interdependência, despreocupando-se da individualização de unidades que formam a paisagem e enfatizando a maneira como se dão no conjunto. (...) Nos desenhos originais de Rugendas transparece o grande gesto que sustenta a visão de conjunto, o modo como primeiro desenha o todo e depois intensifica alguma parte". – Ana Maria de Moraes Belluzzo (RUGENDAS. O desenhista e pintor. BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994. v. 1, p. 77. Volume 1: imaginário do novo mundo).
"Rugendas insere-se na história da arte como um dos maiores criadores da iconografia americana, como um pintor versátil, cujo leque temático vai desde os estudos naturalistas da paisagem até as mais sofisticadas composições de tema histórico. Seu conhecimento da América está fundamentado nos vinte anos de viagens, quando percorreu desde o México até o sul do Chile, perfazendo no continente a maior rota realizada por um viajante no século XIX. Ao concluir sua grande viagem americana, Rugendas deu uma mirada retrospectiva no trabalho realizado durante essa etapa fundamental de sua carreira; essa recapitulação autobiográfica se materializou na seleção da pintura a óleo, que apresentou na Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro em 1845. Essa mostra lhe valeu o mais alto reconhecimento público pelo seu trabalho, traduzido na condecoração de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro oferecido pelo Império brasileiro". –
Pablo Diener e Maria de Fátima Costa (RUGENDAS. O desenhista e pintor. DIENER, Pablo; COSTA, Maria de Fátima. A América de Rugendas: obras e documentos. Edição Angel Bojadsen, Edilberto Fernando Verza. São Paulo: Estação Liberdade, 1999. p.13-14).
Acervos
Acervo Staatliche Graphische Sammlung Munich - Munique (Alemanha)
Acervo Städtische Kunstsannlungen Augsburg - Augsburg (Alemanha)
Arquivo da Academia de Ciências de São Petesburgo - São Petesburgo (Rússia)
Coleção Brasiliana / Fundação Estudar - São Paulo SP
Coleção Itaú - São Paulo SP
Coleção Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa - Rio de Janeiro RJ
Fundação Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro RJ
Ibero-Amerikanisches Institut, Preussischer Kulturbesitz - Berlim (Alemanha)
Museu de Belas Artes - Caracas (Venezuela)
Museu Histórico de Montevidéu - Cabildo (Uruguai)
Museu Histórico Nacional - Rio de Janeiro RJ
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Museu Nacional de Belas Artes - Santiago (Chile)
Museu Nacional de História - Rio de Janeiro RJ
Museum für Völkerkunde, Preussischer Kulturbesitz - Berlim (Alemanha)
Museus Castro Maya - Rio de Janeiro RJ
Palácios e Jardins Estatais - Potsdam-Sanssouci (Alemanha)
Exposições Coletivas
1845 - Rio de Janeiro RJ - 6ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - recebe a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul
1846 - Rio de Janeiro RJ - 7ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
Exposições Póstumas
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA
1966 - Austin (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, na The University of Texas at Austin. Archer M. Huntington Art Gallery
1966 - New Haven (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, na The Yale University Art Gallery,
1966 - San Diego (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no La Jolla Museum of Art
1966 - New Orleans (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no Isaac Delgado Museum of Art
1966 - San Francisco (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no San Francisco art Museum
1969 - Rio de Janeiro RJ - Rugendas, no MIS/SP
1977 - São Paulo SP - 33 Desenhos Originais de Rugendas: coleção Pirajá da Silva
1977 - São Paulo SP - Individual, na Pinacoteca do Estado
1983 - Recife PE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, na Fundação Joaquim Nabuco. Administração Central
1984 - Aracaju SE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Brasília DF - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Lisboa (Portugal) - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, no Museu Gulbenkian da Fundação Calouste Gulbenkian
1984 - Salvador BA - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1984 - Vitória ES - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1990 - Rio de Janeiro RJ - Rugendas x Fotografia
1990 - São Paulo SP - Rugendas x Fotografia
1990 - Curitiba PR - Rugendas x Fotografia
1990 - Belo Horizonte MG - Rugendas x Fotografia
1990 - Salvador BA - Rugendas x Fotografia
1990 - São Paulo SP - A Coleção de Arte do Município de São Paulo, no Masp
1991 - São Paulo SP - A Mata, no MAC/USP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1992 - São Paulo SP - O Olhar de Sérgio sobre a Arte Brasileira: desenhos e pinturas, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade
1992 - Zurique (Suíça) - Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, no Kunsthaus Zürich
1994 - Lisboa (Portugal) - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no Museu Rafael Bordalo Pinheiro
1994 - Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no CCBB
1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1995 - Belo Horizonte MG - Os Herdeiros da Noite: fragmentos do imaginário negro, no Centro de Cultura de Belo Horizonte
1995 - São Paulo SP - O Brasil de Hoje no Espelho do Século XIX: artistas alemães e brasileiros refazem a Expedição Langsdorff, no Masp
1996 - Londres (Reino Unido) - Brazil Through European Eyes, na Christie's
1996 - Rio de Janerio RJ - O Brasil de Hoje no Espelho do Século XIX: artistas alemães e brasileiros refazem a Expedição Langsdorff, na Fundação Casa França-Brasil
1998 - Brasília DF - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Ministério das Relações Exteriores
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
1999 - São Paulo SP - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Museu de Arte Brasileira. Salão Cultural
2000 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio na Coleção Geyer, no CCBB
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento: Negro de Corpo e Alma e O Olhar Distante, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - São Paulo SP - Rugendas no México, no Memorial da América Latina
2003 - São Paulo SP - Vistas do Brasil: Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2004 - São Paulo SP - Gabinete de Papel, no CCSP
Fonte: JOHANN Moritz Rugendas. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 10 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Missão Artística Francesa
O século XIX no Brasil presencia mudanças profundas na história das artes plásticas em relação aos séculos anteriores, cujo sentido não pode ser compreendido sem referência à chamada Missão Artística Francesa.
Em 26 de março de 1816 aporta no Rio de Janeiro um grupo de artistas franceses, liderados por Joachim Lebreton (1760-1819), secretário recém-destituído do Institut de France.
Acompanham-no o pintor histórico Debret (1768-1848), o paisagista Nicolas Antoine Taunay (1755-1830) e seu irmão, o escultor Auguste-Marie Taunay (1768-1824), o arquiteto Grandjean de Montigny (1776-1850) e o gravador de medalhas Charles-Simon Pradier (1783-1847). O objetivo é fundar a primeira Academia de Arte no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Há duas versões sobre a origem da Missão. A primeira afirma que, por sugestão do conde da Barca, o príncipe Dom João (1767-1826) requer ao marquês de Marialva, então representante do governo português na França, a contratação de um grupo de artistas capaz de lançar as bases de uma instituição de ensino em artes visuais na nova capital do reino. Aconselhado pelo naturalista Alexander von Humboldt (1769-1859), Marialva chega a Lebreton, que se encarrega de formar o grupo.
A outra versão afirma que os integrantes da Missão vêm por iniciativa própria, oferecendo seus serviços à corte portuguesa. Formados no ambiente neoclássico e partidários de Napoleão Bonaparte, os artistas se sentem prejudicados com a volta dos Bourbon ao poder. Decidem vir para o Brasil e são acolhidos por D. João, esperançoso de que possam ajudar nos processos de renovação do Rio de Janeiro e de afirmação da corte no país.
Recentemente, historiadores buscaram um meio termo entre as duas versões, que parece a mais plausível. Fala-se em casamento de interesses: por um lado, o rei teria se mostrado receptivo à criação da academia; a par dessa informação, Lebreton, com o intuito de sair da França, teria oferecido seus serviços, arregimentando artistas dispostos a se refugiar em outro país.
Não foram poucas as dificuldades encontradas pelo grupo para realização da missão. A Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios foi criada por decreto no dia 12 de agosto de 1816, estabelecendo pelo período de seis anos pensão aos artistas franceses.
No entanto, ela não passa de uma medida formal, pois não chega a funcionar, devido a causas políticas e sociais: a resistência de membros lusitanos do governo à presença francesa; as dificuldades impostas pelo representante da monarquia francesa, o cônsul-geral coronel Maler; o atraso de ordem material e estrutural no qual se encontrava o Rio de Janeiro; o desprezo da sociedade por assuntos relativos às artes.
A escola abre as portas somente em 5 de novembro de 1826, passando por dois outros decretos, o de 12 de outubro de 1820, que institui a Real Academia de Desenho, Pintura e Arquitetura Civil, e o derradeiro, de 25 de novembro do mesmo ano, que anuncia a criação de uma escola de ensino unicamente artístico com a denominação Academia e Escola Real.
Durante o longo tempo de espera, os franceses seguem com suas atividades. Notadamente Debret e Grandjean de Montigny aceitam encomendas oficiais. O primeiro realiza diversas telas para a família real e o último é responsável pelo edifício da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) e outras obras públicas, como o prédio da Alfândega (atual Casa França-Brasil).
Por ocasião das festas comemorativas da coroação de Dom João VI, em 1818, ambos idealizam, com Auguste Taunay, a ornamentação da cidade. Debret também se dedica ao ensino de desenho e pintura num espaço alugado, enquanto realiza as aquarelas que marcariam sua obra da fase brasileira. No Rio de Janeiro, Nicolas Taunay segue como pintor de paisagem encantado com a natureza tropical.
A situação torna-se difícil com a morte de Lebreton em 1819, e a nomeação, em 1820 do pintor português Henrique José da Silva (1772-1834) para a direção da Academia Real. Nicolas Taunay decide voltar para França em 1821 e é substituído pelo filho Félix Taunay (1795-1881). Os outros tentam adaptar-se à realidade de uma academia distante de seus planos originais.
Com a chegada de reforços franceses, os irmãos Marc Ferrez (1788-1850) e Zepherin Ferrez (1797-1851), escultor e gravador, respectivamente, os remanescentes da Missão procuram resistir às adversidades criadas pelo novo diretor. Debret não aguenta por muito tempo e retorna à França em 1831, levando seu aluno preferido, Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879).
Historicamente, além da importância da Missão Artística Francesa como fundadora do ensino formal de artes no Brasil, pode-se dizer que durante o tempo em que esses artistas permanecem no país, dentro ou não da Academia, eles ajudam a fixar a imagem do artista como homem livre numa sociedade de cunho burguês e da arte como ação cultural leiga no lugar da figura do artista-artesão, submetido à Igreja e seus temas, posição predominante nos séculos anteriores.
Fonte: MISSÃO Artística Francesa. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 14 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia - Wikipédia
Era descendente de uma antiga família de artistas, cujos antecessores eram catalães e flamengos, que abandonou a Catalunha, por suas crenças protestantes, em 1608. Foi o primeiro filho de Johann Lorenz Rugendas, o diretor da escola de artes local, pintor e desenhista e de Regina Lachler.
Em 1821, aos 19 anos de idade, acompanhou a expedição do Barão Georg Heinrich von Langsdorff ao Brasil, publicando em 1835, em Paris, seu célebre trabalho Malerische Reise in Brasilien (Viagem Pitoresca Através do Brasil), no qual retrata, em belíssimas gravuras, cenas do Brasil Colonial.
Nikolaus I Rugendas (1575-1658), primeiro representante da família Rugendas, estabeleceu uma relojoaria em Augsburgo, em 1608, e mostrou que era um relojoeiro de rara habilidade artística. Seu filho Nikolaus II (1619 – 1695), casado com Anne Marie (Kreuther), seguiu a tradição, porém, de seus treze filhos, apenas Nikolaus III (1665 – 1745) continuou com a tradição, fazendo relógios de sol e instrumentos de medição.
Seu filho mais novo, Georg Philipp (1666 – 1742), considerado o fundador da importante família Rugendas de artistas do século XVIII e XIX, não seguiu o negócio e foi estudar com o pintor de história de Augsburgo Isaak Fischesd. Viajou para Roma em 1692, seguindo depois para Viena, em 1690, e depois para Veneza, em 1692, onde frequentou academias e recebeu seus primeiros pedidos.
Em 1693, de volta a Roma, frequentou a Accademia di San Luca, onde desenhou ruínas e esculturas e praticou a pintura de paisagens com modelos que moldaram o seu trabalho. Tornou-se um artista. Com a morte de seu pai, em 1695, retornou a Augsburgo. Dois anos depois casa-se pela primeira vez com Anna Barbara Haid († 1732) que lhe dá 9 filhos.
Suas primeiras experiências com a calcografia (gravura em metal) se dão com as séries Capricci (1698) e Diversi Pensieri (1699), publicadas por Jeremias Wolff. Em 1700 já trabalhava com a meia-tinta publicando o trabalho Chargen der Reiterei (Cargas da Cavalaria).
Seu período criativo de maior sucesso foi de 1702 a 1716, período semelhante ao da Guerra da Sucessão Espanhola (1701–1714), quando metade da Europa entrou no teatro de guerra. Ganhou reputação internacional como pintor e desenhista, principalmente de cavalos e batalhas, e entre seus clientes estavam príncipes e poderosos, como o príncipe Johann Adam Andreas von Liechtenstein e o príncipe-bispo Lothar Franz von Schönborn, arcebispo de Mainz e bispo de Bamberg.
A base de sua reputação como pintor de batalhas reais pode ser vista no trabalho Die Befreiung Wiens (Libertação de Viena), de 1690. Em 1710, foi nomeado diretor vitalício da Academia de Artes de Augsburgo, tendo entre seus alunos Johann Elias Ridinger (1698-1767).
De 1715 a 1735, dedicou-se mais à produção de gráficos impressos, muito mais lucrativos, criando extensas sequências de meia-tinta e folhas de tese, envolvendo seus filhos Georg e Christian em sua manufatura. Georg Phillip, "o velho", casou-se mais duas vezes, em 1732 e 1734. Entre seus 13 filhos, Georg Philipp Rugendas (1701-1774), Christian Rugendas (1708-1781) e Jeremias Got Rugendas (1710-1772) trabalharam como gravuristas, especialmente em água-tinta.
Moritz cresceu sob a aura desta família de gravuristas e pintores. O bisavô, presente no auto-retrato pendurado na sala, era o modelo venerado e vinculador, para o menino que, desde cedo, seduzido pelo colorido dos uniformes dos soldados franceses que andavam pelas ruas, tentava imitar a seu pai, Johann Lorenz Rugendas, um famoso pintor das batalhas napoleônicas.
Moritz continuou praticando, inspirado pelos desenhos de seu admirável antepassado. Seu pai, percebendo, em certos aspectos, que as disposições para o talento do seu filho na escola dificilmente mereceriam ser consideradas, enquanto que outras deveriam ser levadas a sério, preocupou-se em ele mesmo formá-lo.
De visita aos Rugendas, após a desastrosa marcha a Moscou, o pintor Albrecht Adam (1786-1862), amigo íntimo da família foi quem impulsionou a carreira de Johann Moritz. Adam, que havia levado sua pasta de desenhos, viu o jovem Johann Moritz estudar com entusiasmo os leves contornos dos acontecimentos mundiais em suas pranchas. Seus pais concluíram que o melhor era enviá-lo a Munique e entregá-lo aos ensinamentos do amigo.
Do estúdio de Adam, onde morou, Moritz, aos 15 anos de idade, em 1817, foi para a Academia de Belas Artes de Munique, frequentando aulas de gênero e pintura de paisagem com Lorenzo II Quaglio (1793-1869), mas aquele ambiente acadêmico não lhe satisfazia, preferindo passear pelos campos, pelos alpes, conversando com camponeses, apreciando o brilho da luz sobre um lago, e sempre desenhando, mas nunca satisfeito com seus traços.
Seu pai queria enviá-lo a Roma para finalizar seus estudos acadêmicos, no entanto seus modestos rendimentos lhe impediam. Enquanto isso, nos círculos culturais de Munique, comentava-se sobre o acordo entre as coroas da Áustria e de Portugal, unindo em matrimônio a Princesa Leopoldina, da Áustria, com o príncipe D. Pedro I, rei do Brasil, e sobre a expedição científica financiada pelo príncipe von Metternich (1773-1859) para acompanhá-la em sua viagem ao Brasil.
Entre os cientistas enviados, encontravam-se dois bávaros de Munique, o naturalista Johann Baptist Ritter von Spix (1781-1826) e o médico e botânico Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868). Além deles, participaram, entre outros, os pintores Thomas Ender e Johann Buchberger.
Em 1820, o cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro, barão Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852), médico, botânico, zoólogo, antropólogo, filólogo e navegante, que estava organizando sua própria expedição científica ao Brasil, financiado pelo czar Alexandre I, foi a Munique para encontrar-se com Martius e Spix, recém-chegados de sua expedição ao Brasil, que comentaram a falta que lhes fazia um rico material de pinturas para ilustrar seus trabalhos, visto que os pintores da expedição adoeceram durante a missão. Langsdorf preocupou-se então em encontrar, como precaução, um pintor para acompanhá-lo em sua viagem.
Rugendas, teve conhecimento da futura expedição através do botânico russo Wilhelm Friedrich von Karwinsky (1780-1855), amigo de sua família e de Langsdorf, que tratou de marcar um encontro entre os dois. As condições do contrato de trabalho foram tratadas, por carta, entre o pai de Moritz, Johann Lorenz, e o irmão do barão Georg Langsdorff, Wilhelm von Langsdorff. Rugendas e Langsdorff assinaram o contrato em 1821.
A Expedição Langsdorff (Viagem Pitoresca Através do Brasil)
Langsdorff tinha como objetivo fornecer à Academia Real de Ciências de São Petersburgo uma descrição completa da flora, fauna e populações nativas brasileiras. Johann Moritz Rugendas, já como integrante da expedição, desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de março de 1822, acompanhado do zoólogo francês Edouard P. Ménétriès (1802-1861). Rugendas ficou estarrecido com a exuberância da natureza do Brasil e seu colorido.
Enquanto não se iniciava a expedição, Langsdorff hospedou Rugendas na Fazenda Mandioca (Magé-RJ), de sua propriedade. 1822 foi o ano em que o Brasil foi abalado por distúrbios que levaram à proclamação de independência de Dom Pedro I e esses distúrbios políticos atrasaram a partida da expedição até 1824. Mais tarde, se uniriam a expedição o astrônomo russo Nester Rubtsov (1799-1874), o botânico berlinense Ludwig Riedel (1790-1861) e o pintor parisiense Adrien-Aimé Taunay (1803-1828).
Rugendas realizou algumas viagens por conta própria à cidade do Rio de Janeiro, se hospedando, frequentemente, na casa do barão Wenzel Philipp Leopold, embaixador austríaco, e foi testemunha ocular da coroação de D. Pedro I., como imperador do Brasil, em 1º de dezembro de 1822. Na capital, fez amizade com os membros da Missão Francesa especialmente com Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e com os filhos do pintor Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), Félix e Adrien. Esses contatos, com artistas europeus, como ele, com uma visão revista e atualizada do neo-classicismo, contribuíram para que Rugendas criasse novas perspectivas no seu olhar sobre o território e populações brasileiras. A essa fase da viagem correspondem a maioria de seus desenhos de plantas e animais, que permitiram-lhe aprimorar a sistemática do desenho científico.
Em 8 de maio de 1824, saindo do Rio de Janeiro, a Expedição Langsdorff viajou para Minas Gerais, passando por Barbacena e São João del Rei, seguindo para Ouro Preto, Sabará e Diamantina. Em Barra de Jequitibá (MG), em 1º de novembro de 1824, Rugendas teve uma grave discussão com Langsdorff e abandonou a expedição, e a partir daí, viajou sozinho, retornando ao Rio de Janeiro em 29 de março.
Motivado pelo naturalista Alexander Humboldt (1769-1859) em Paris, Rugendas viajou para o México em 1831, com projeto de viagem pela América com objetivo de reunir material para nova publicação.
No México, começou a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália. A partir de 1834, percorreu a América do Sul, tendo visitado Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Uruguai e Brasil.
Em 1845, voltou ao Rio de Janeiro, onde retratou membros da família imperial e foi convidado a participar da Exposição Geral de Belas Artes. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa. Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao rei Maximiliano II, da Baviera.
Obras
Viagem pitoresca pelo Brasil
Missão chefiada pelo Barão Georg Heinrich von Langsdorff com a participação de Rugendas, com o objetivo de retratar a natureza e os nativos do Brasil. A equipe permanece no Brasil no período entre 1822 a 1825 e percorre um trajeto entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo neste intervalo o período em que se inspiram as pinturas produzidas posteriormente, já na Europa por Rugendas.
O trabalho retrata a paisagem e os indígenas e foi muito elogiada inicialmente na Europa, com destaque para os elogios de Alexander von Humboldt, o qual vai inspirar e motivar o autor em seus novos trabalhos.
Dentro do Brasil a publicação vai ganhar destaque primeiramente na comemoração dos 100 anos do IHGB e posteriormente na busca por imagens representativas sobre o século XIX durante o período inicial do governo de Getúlio Vargas, se tornando uma clássica representação imagética do Brasil no Século XIX.
25 litografias sobre os indígenas Argentinos
Após o sucesso de seu trabalho "Viagem pitoresca pelo Brasil" o autor resolve retornar a América em busca de material para a produção de um novo trabalho. Inicialmente desembarca no México em 1831 porém sua experiência vai se intensificar em 1834 onde dá início ao trajeto que mais o influencia no produto final que seriam as 25 litografias sobre a Argentina.
Desembarca em 1834 no Chile onde vai ter o maior período de estadia em um país e em 1837 viaja para a Argentina, porém a viagem é interrompida por um acidente com um cavalo o qual vai gerar sequelas pelo resto da vida e Rugendas retorna ao Chile.
Voltou à Argentina em 1845 onde concluiu a experiência para a produção das litografias. Durante esse período de 1834 a 1845 Rugendas percorreu Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Uruguai e teve contato com importantes figuras com Domingos Faustino Sarmiento, Esteban Echeverría e Juan Bautista Alberdi, sendo eles grandes críticos do governo de Juan Manoel Rosas, vigente na Argentina , e grandes influenciadores na representação da figura dos indígenas por Rugendas, Tornando as imagens em uma espécie de representação imagética do Poema La Cautiva de Esteban Echeverría e sendo dotadas de um enorme teor político, se tornando também importante representação da relação dos Argentinos com o Indígenas nas celebrações da independência Argentina.
Fonte: Wikipédia, Johann Moritz Rugendas. Consultada pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
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Guerra da Sucessão Espanhola
A Guerra de Sucessão Espanhola, que durou onze anos (1702 a 1714), deveu-se a uma crise entre casas aristocráticas após a morte do rei Carlos II da Espanha. Na passagem do século XVII para o século XVIII, a Europa vivia o auge do absolutismo monárquico, em que as “casas aristocráticas”, ou linhagens nobres, articulavam-se para exercer o poder sobre os diversos reinos do continente.
A Guerra de Sucessão Espanhola, que aconteceu entre os anos de 1702 e 1714, foi o maior conflito entre essas casas aristocráticas, tendo sido motivada pelo problema da herança do trono real da Espanha após a morte do, até então, rei Carlos II em 1700.
Antes de morrer, Carlos II aventou alguns possíveis nomes para seu trono, já que não possuía um herdeiro direito. O nome a que chegou Carlos II foi o de Felipe de Bourbon, conhecido como Duque de Anjour, que era neto do rei Luís XIV da França. Após o falecimento de Carlos II, as cortes espanholas reuniram-se nas cidades de Madrid e Barcelona para deliberar e reconhecer o novo rei.
O Duque de Anjour foi então alçado à categoria de monarca sob o título de Felipe V. Assim sendo, a Espanha passava a ter um rei da casa do Bourbons, a mesma que governava a França.
Um rei dos Bourbons na Espanha gerava uma tensão muito grande em outros países da Europa que eram gestados por outras linhagens aristocráticas, sobretudo a dos Habsburgos.
A tensão acontecia, sobretudo, porque Luís XIV, o então rei da França, precisaria, em breve, de um sucessor. Levantou-se a hipótese de que Luís XV poderia ser o seu neto, o aclamado rei da Espanha.
Nesse sentido, havia a possibilidade de Felipe V tornar-se rei da Espanha e França ao mesmo tempo. Algumas nações posicionaram-se contra isso, formando uma “Grande Aliança”para enfrentar a Espanha.
A Grande Aliança foi formada por Áustria, Inglaterra, Holanda, Suécia, Dinamarca e os principados alemães. O Tratado de Haia, assinado em setembro de 1701, selou sua formação e determinou suas diretrizes. A guerra estourou no ano seguinte.
O começo da guerra motivada pela sucessão do trono espanhol ocorreu no norte da Itália, que à época não era ainda um Estado unificado, mas uma miríade de pequenos reinos, e logo se espalhou para outras regiões, como os Países Baixos, os principados da Alemanha, o norte da França e, evidentemente, a Península Ibérica. Essa guerra mobilizou praticamente todas as nações europeias ao longo dos onze anos de sua duração.
O problema só foi resolvido quando, por meio do Tratado de Paz de Utrecht, a Espanha, vencida pelas tropas inglesas e holandesas, teve de se comprometer a renunciar quaisquer pretensões ao trono francês e, além disso, a garantir territórios e conexões comerciais às nações vencedoras. Parte das sanções do referido tratado também foi destinada à França, já que essa apoiou a Espanha na guerra.
Fonte: FERNANDES, Cláudio. "Guerra de Sucessão Espanhola"; Brasil Escola. Acesso em 14 de fevereiro de 2022.
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A Missão Científica Austríaca no Brasil
Em novembro de 1817, Leopoldina de Habsburgo, aos 20 anos, desembarcava no Brasil para se casar com o príncipe D. Pedro I. Filha do imperador da Áustria, ela cruzou o Atlântico na companhia de um grupo de cientistas que percorreriam diferentes itinerários para estudar e coletar espécies de animais e plantas típicas do país.
A Missão Austríaca reuniu naturalistas e artistas não apenas da Áustria, mas também do Reino da Baviera (atualmente, um dos estados da Alemanha) e da Itália. A vinda da família real e a abertura dos portos às nações amigas, em 1808, criaram um ambiente propício para que profissionais das ciências e das artes viajassem pelo Brasil a fim de conhecê-lo e retratá-lo.
Na esperança de estreitar os vínculos entre Áustria e Brasil e também agradar à filha, que gostava de estudar ciências naturais, o pai de D. Leopoldina, o imperador Francisco I, financiou a empreitada que deveria descrever e colher exemplares da fauna e da flora para museus, jardins zoológicos e jardins botânicos de seu país.
A expedição nos deixou muitas obras científicas e artísticas importantes, mas uma delas se destaca pela sua atualidade: Flora Brasiliensis (em latim científico). Trata-se, ainda hoje, da mais completa publicação sobre flora brasileira, na qual, pela primeira vez, Carl Friedrich Philipp von Martius, botânico bávaro, identificou os cinco ecossistemas do país: caatinga, cerrado, Mata Atlântica, pampa e Amazônia.
Os 15 volumes encontram-se integralmente digitalizados e disponibilizados on-line, em um projeto de mesmo nome feito pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos, e pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, com patrocínio privado e estatal. “Há poucos originais da obra e os muitos volumes que a compõem dificultam o manuseio. Buscamos facilitar o acesso ao documento”, afirma George J. Shepherd, professor aposentado do Instituto de Biologia da Unicamp, responsável pelo trabalho.
Fonte: MultiRio, "200 Anos da Missão Austríaca no Brasil", escrito e publicado por Larissa Altoé, em 30 de Maio de 2017. Consultado pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
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Exposição traz Brasil do século 19 a partir do olhar de Rugendas – Agência Brasil
As paisagens, as pessoas e o cotidiano do Brasil no século 19 a partir do olhar do artista alemão Johann Moritz Rugendas podem ser vistos a partir de hoje (12) na Caixa Cultural, no centro paulistano. Pintor, desenhista, ilustrador, aquarelista e litógrafo, produziu um dos mais importantes registros do país à época, ao lado de outros artistas, como o francês Jean Baptiste Debret.
Rugendas veio para o Brasil em 1821, ano em que completou 20 anos de idade, para fazer parte da Expedição Langsdorff, que patrocinada pelo império russo, pretendia elaborar um inventário da então colônia. Os trabalhos desse contato inicial são marcados, segundo a curadora da exposição, Ângela Ancora da Luz, pelo impacto do novo ambiente no jovem artista.
“Ele chega com um olhar habituado aquela luz menos incidente nos objetos, de invernos longos e escuros, de verões que não tem aquela claridade como ele vai encontrar no Brasil. Quando ele chega aqui ele se deslumbra com a luz tropical, com a exuberância da vegetação tropical, dos tipos diferentes”, analisou a curadora Ângela Âncora.
Influências
Segundo Ângela Âncora, as pinturas e gravuras feitas por Rugendas tiveram influência estética do romantismo, em que o autor traz a carga emocional causada pelas experiências levadas à tela. Mesmo assim, a produção tem um forte caráter documental.
“Ele [Rugendas] representa não só a fauna e a flora, como os costumes, as danças, os tipos etnográficos do índio e do negro. Ele faz um álbum de documentação do que ele via no século 19”, enfatizou a curadora.
A vivência no país vai tornando o artista mais atento aos detalhes e cenas do dia a dia. “Primeiro, nos temos um Rugendas que vê de longe, de fora, quando ele chega. Depois um outro Rugendas, quando ele já está aqui, que o seu olho já se habituou a essa exuberância toda. Então, o primeiro registro é muito mais panorâmico, enquanto o segundo registro é muito mais singular”, acrescentou a curadora.
Fonte: Agência Brasil, "Exposição traz Brasil do século 19 a partir do olhar de Rugendas" Publicado por Daniel Mello, em 12 de janeiro de 2019.
Crédito fotográfico: IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Johann Moritz Rugendas. História das Artes, publicado em 12 de maio de 2016. Consultado pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
Johann Moritz Rugendas (Augsburgo, Alemanha, 29 de março de 1802 — Weilheim, Alemanha, 29 de maio de 1858), mais conhecido como Rugendas, foi um desenhista, litógrafo e pintor alemão formado pela Academia de Munique. Participou de importantes expedições com o objetivo de documentar sobre o continente americano e tem um importante trabalho iconográfico de paisagens e costumes brasileiros, entre elas a expedição Langsdorff, uma das mais importantes incursões científicas realizadas no Brasil no século XIX, publicando em 1835, em Paris, seu célebre trabalho Malerische Reise in Brasilien (Viagem Pitoresca Através do Brasil), no qual retrata, em belíssimas gravuras, cenas do Brasil Colonial.
Biografia resumida
Desde criança, exercita o desenho e a gravura com o pai Johann Lorenz Rugendas II (1775 – 1826). Freqüenta o ateliê de Albrecht Adam (1786 – 1862), de 1815 até 1817, quando ingressou na Academia de Belas Artes de Munique.
Incentivado pelos relatos de viagem dos naturalistas J. B. von Spix (1781 – 1826) e C. Fr. Ph. de Martius (1794 – 1868) e pela obra de Thomas Ender (1793 – 1875), vem para o Brasil em 1821, como desenhista documentarista da Expedição Langsdorff.
Abandona a expedição em 1824, mas continua sozinho o registro de tipos, costumes, paisagens, fauna e flora brasileiros. Segue para Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo e retorna ao Rio de Janeiro ainda no mesmo ano.
Rugendas não realiza nenhuma pintura a óleo em sua primeira estada no Brasil, privilegia o desenho e ocasionalmente o colore à aquarela. De 1825 a 1828 viveu entre Paris, Augsburg e Munique. Nesse período, dedica-se à publicação de sua obra Voyage Pittoresque dans le Brésil.
Vai para a Itália em 1828, onde observa novas técnicas. O uso de cores e o esboço a óleo chamam sua atenção. Motivado pelo naturalista Alexander Humboldt (1769 – 1859), Rugendas viajou para o México em 1831, com projeto de viagem pela América com objetivo de reunir material para nova publicação. No México, começa a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália.
A partir de 1834, excursiona pela América do Sul, passa pelo Chile, Argentina, Peru e Bolívia. Em 1845, chega ao Rio de Janeiro, onde retrata membros da família imperial e é convidado a participar da Exposição Geral de Belas Artes. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa.
Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao Rei Maximiliano II, da Baviera, perdendo-a anos depois por não realizar produção pictórica com base em seus trabalhos americanos, tal como havia acordado.
Faleceu no dia 29 de maio de 1858 na cidade de Weilh em situação financeira não muito favorável e amargurado pela certeza do fracasso artístico.
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Biografia - Itaú Cultural
Pertence à sétima geração de uma família de desenhistas, pintores, gravadores e impressores. Desde criança, exercita o desenho e a gravura, e se inicia na atividade artística por influência de seu pai, Johann Lorenz Rugendas II (1775 – 1826), diretor e professor da escola de desenho de Augsburg.
De 1815 a 1817, frequenta o ateliê do pintor alemão de batalhas Albrecht Adam (1786 – 1862). Em 1817, começa a estudar na Academia de Belas Artes de Munique como aluno de Lorenzo Quaglio II (1793 – 1869). A influência do ensino acadêmico é permanente na produção do artista, que valoriza o desenho em suas composições e a representação segundo a reelaboração ideal e universal da observação do particular.
Incentivado pelos relatos de viagem dos naturalistas alemães Johann Baptist von Spix (1781-1826) e Karl Friedrich Philipp von Martius (1794 – 1868) e pela obra do pintor austríaco Thomas Ender (1793-1875), vem ao Brasil como desenhista documentarista da Expedição Langsdorff, do cônsul da Rússia Grigory Ivanovitch Langsdorff (1774 – 1852).
Chega ao Rio de Janeiro em 1822, em pleno processo de independência do país.
Apesar de viver isolado com os outros participantes da expedição na Fazenda Mandioca, de propriedade do cônsul, Rugendas vai constantemente à capital e faz amizade com os artistas da Missão Artística Francesa. Nesse período, retrata a paisagem natural, a fauna, a flora, os tipos físicos e as vistas da cidade do Rio de Janeiro.
Em 1824, parte em direção a Minas Gerais, passando por São Paulo. O artista se desentende com Langsdorff e abandona o grupo, continuando suas andanças sozinho. Seu itinerário exato não é conhecido, mas, pelos desenhos, sabe-se que passa por São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco. Nessa primeira viagem privilegia o desenho, ocasionalmente colorido à aquarela.
Cem litografias baseadas em desenhos brasileiros são publicadas no volume Voyage Pittoresque dans le Brésil [Viagem Pitoresca através do Brasil], em edição bilíngue em francês-alemão (1827 – 1835). Pensado como livro de viagem, conta com a participação de 22 litógrafos e de Victor Aimé Huber (1800 – 1869) na preparação dos textos. O livro é considerado um dos mais importantes documentos iconográficos sobre o Brasil do século XIX, e é subdividido em: paisagens, tipos e costumes, usos e costumes dos indígenas, a vida dos europeus, europeus na Bahia e em Pernambuco, usos e costumes dos negros.
A obra brasileira de Rugendas nem sempre é uma cópia fiel da realidade.
As ilustrações de plantas e animais obedecem a um caráter minucioso e objetivo; nesses casos o artista desenha sob a tutela de naturalistas. Com relação às paisagens, o historiador Pablo Diener afirma que são uma reprodução fiel da natureza, apreendida mais em sua unidade do que nos detalhes, com exceção das gravuras, em que o litógrafo recria outra imagem com base no desenho original, como a prancha Entrada da Barra do Rio de Janeiro, gravada pelo artista romântico Richard Parkes Bonington (1802 – 1828).
Em cenas da vida cotidiana da população brasileira e nos retratos etnográficos percebemos o empenho em criar imagens idealizadas, de caráter mais programático. Os corpos de negros e indígenas são representados em estilo clássico, os traços suavizados e europeizados. Da mesma forma, a situação dos escravizados é amenizada: o trabalho é mostrado como atividade quase lúdica em pranchas como Preparação da Raiz de Mandioca e Colheita de Café.
Já na época de sua publicação, Voyage Pittoresque recebe críticas por seu caráter pouco documental. Mas alcança êxito com o grande público, circulando no Brasil em edição francesa com sucesso, talvez por causa da maneira benevolente com que retrata a sociedade oitocentista.
De 1825 a 1828, viveu entre Paris, Augsburg e Munique. Em 1828, vai para a Itália e, durante o tempo em Roma, entra em contato com correntes artísticas como neoclassicismo e romantismo. De 1829 a 1831, pinta telas de temas brasileiros com base em seus desenhos. São espaços idílicos que refletem ideias correntes na época sobre o Novo Mundo como paraíso terreno e habitat do bom selvagem.
Motivado pelo naturalista alemão Alexander Humboldt (1769 – 1859), cuja influência o leva à decisão de se tornar “o ilustrador dos novos territórios”, viaja para o México em 1831, onde começa a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália. A partir de 1834, excursionou por países como Chile, Argentina, Peru e Bolívia.
Em sua segunda passagem pelo Rio de Janeiro (1845 – 1846) encontra uma extraordinária acolhida por parte da coroa brasileira, que lhe encomenda diversos retratos. Participa das Exposições Gerais de Belas Artes (1845 e 1846) a convite do pintor francês Félix Taunay (1795 – 1881).
Em 1847, parte definitivamente para a Europa. Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao Rei Maximiliano II (1811 – 1864), da Baviera, perdendo-a anos depois por não realizar produção pictórica com base em seus trabalhos americanos, como acordado.
Com desenhos, aquarelas e pinturas a óleo, o conjunto gráfico e pictórico de Johann Moritz Rugendas representa um dos materiais fundamentais de conhecimento da sociedade e da paisagem americana no século XIX.
Críticas
"Humboldt e Martius são referências preliminares para uma primeira aproximação da síntese realizada por Rugendas em seu álbum pitoresco. A viagem de Humboldt e Bonpland à América Latina é de modo geral indissociável da construção da paisagem dos trópicos. Em particular, o modelo do Atlas Pittoresque. Vue des Cordillères et des Monuments du Peuple Indigène de l'America oferece uma solução de concepção científica expressa pela arte (...) Apropriando-se da visão pictórica de matriz científica, recomendada por Humboldt, Rugendas acerca-se do pitoresco, buscando as características regionais do país, que são definidas e se manifestam simultaneamente na conformação geral do solo, no recorte das montanhas com relação à planície, na geologia geográfica, na geobotânica. Seus desenhos têm a capacidade de transformar aspectos físicos em esfera cosmogônica da vida humana. (...) Rugendas afirma nos desenhos uma concepção orgânica da vida em completa interdependência, despreocupando-se da individualização de unidades que formam a paisagem e enfatizando a maneira como se dão no conjunto. (...) Nos desenhos originais de Rugendas transparece o grande gesto que sustenta a visão de conjunto, o modo como primeiro desenha o todo e depois intensifica alguma parte". – Ana Maria de Moraes Belluzzo (RUGENDAS. O desenhista e pintor. BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994. v. 1, p. 77. Volume 1: imaginário do novo mundo).
"Rugendas insere-se na história da arte como um dos maiores criadores da iconografia americana, como um pintor versátil, cujo leque temático vai desde os estudos naturalistas da paisagem até as mais sofisticadas composições de tema histórico. Seu conhecimento da América está fundamentado nos vinte anos de viagens, quando percorreu desde o México até o sul do Chile, perfazendo no continente a maior rota realizada por um viajante no século XIX. Ao concluir sua grande viagem americana, Rugendas deu uma mirada retrospectiva no trabalho realizado durante essa etapa fundamental de sua carreira; essa recapitulação autobiográfica se materializou na seleção da pintura a óleo, que apresentou na Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro em 1845. Essa mostra lhe valeu o mais alto reconhecimento público pelo seu trabalho, traduzido na condecoração de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro oferecido pelo Império brasileiro". –
Pablo Diener e Maria de Fátima Costa (RUGENDAS. O desenhista e pintor. DIENER, Pablo; COSTA, Maria de Fátima. A América de Rugendas: obras e documentos. Edição Angel Bojadsen, Edilberto Fernando Verza. São Paulo: Estação Liberdade, 1999. p.13-14).
Acervos
Acervo Staatliche Graphische Sammlung Munich - Munique (Alemanha)
Acervo Städtische Kunstsannlungen Augsburg - Augsburg (Alemanha)
Arquivo da Academia de Ciências de São Petesburgo - São Petesburgo (Rússia)
Coleção Brasiliana / Fundação Estudar - São Paulo SP
Coleção Itaú - São Paulo SP
Coleção Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa - Rio de Janeiro RJ
Fundação Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro RJ
Ibero-Amerikanisches Institut, Preussischer Kulturbesitz - Berlim (Alemanha)
Museu de Belas Artes - Caracas (Venezuela)
Museu Histórico de Montevidéu - Cabildo (Uruguai)
Museu Histórico Nacional - Rio de Janeiro RJ
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Museu Nacional de Belas Artes - Santiago (Chile)
Museu Nacional de História - Rio de Janeiro RJ
Museum für Völkerkunde, Preussischer Kulturbesitz - Berlim (Alemanha)
Museus Castro Maya - Rio de Janeiro RJ
Palácios e Jardins Estatais - Potsdam-Sanssouci (Alemanha)
Exposições Coletivas
1845 - Rio de Janeiro RJ - 6ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - recebe a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul
1846 - Rio de Janeiro RJ - 7ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
Exposições Póstumas
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA
1966 - Austin (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, na The University of Texas at Austin. Archer M. Huntington Art Gallery
1966 - New Haven (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, na The Yale University Art Gallery,
1966 - San Diego (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no La Jolla Museum of Art
1966 - New Orleans (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no Isaac Delgado Museum of Art
1966 - San Francisco (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no San Francisco art Museum
1969 - Rio de Janeiro RJ - Rugendas, no MIS/SP
1977 - São Paulo SP - 33 Desenhos Originais de Rugendas: coleção Pirajá da Silva
1977 - São Paulo SP - Individual, na Pinacoteca do Estado
1983 - Recife PE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, na Fundação Joaquim Nabuco. Administração Central
1984 - Aracaju SE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Brasília DF - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Lisboa (Portugal) - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, no Museu Gulbenkian da Fundação Calouste Gulbenkian
1984 - Salvador BA - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1984 - Vitória ES - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1990 - Rio de Janeiro RJ - Rugendas x Fotografia
1990 - São Paulo SP - Rugendas x Fotografia
1990 - Curitiba PR - Rugendas x Fotografia
1990 - Belo Horizonte MG - Rugendas x Fotografia
1990 - Salvador BA - Rugendas x Fotografia
1990 - São Paulo SP - A Coleção de Arte do Município de São Paulo, no Masp
1991 - São Paulo SP - A Mata, no MAC/USP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1992 - São Paulo SP - O Olhar de Sérgio sobre a Arte Brasileira: desenhos e pinturas, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade
1992 - Zurique (Suíça) - Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, no Kunsthaus Zürich
1994 - Lisboa (Portugal) - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no Museu Rafael Bordalo Pinheiro
1994 - Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no CCBB
1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1995 - Belo Horizonte MG - Os Herdeiros da Noite: fragmentos do imaginário negro, no Centro de Cultura de Belo Horizonte
1995 - São Paulo SP - O Brasil de Hoje no Espelho do Século XIX: artistas alemães e brasileiros refazem a Expedição Langsdorff, no Masp
1996 - Londres (Reino Unido) - Brazil Through European Eyes, na Christie's
1996 - Rio de Janerio RJ - O Brasil de Hoje no Espelho do Século XIX: artistas alemães e brasileiros refazem a Expedição Langsdorff, na Fundação Casa França-Brasil
1998 - Brasília DF - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Ministério das Relações Exteriores
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
1999 - São Paulo SP - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Museu de Arte Brasileira. Salão Cultural
2000 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio na Coleção Geyer, no CCBB
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento: Negro de Corpo e Alma e O Olhar Distante, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - São Paulo SP - Rugendas no México, no Memorial da América Latina
2003 - São Paulo SP - Vistas do Brasil: Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2004 - São Paulo SP - Gabinete de Papel, no CCSP
Fonte: JOHANN Moritz Rugendas. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 10 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Missão Artística Francesa
O século XIX no Brasil presencia mudanças profundas na história das artes plásticas em relação aos séculos anteriores, cujo sentido não pode ser compreendido sem referência à chamada Missão Artística Francesa.
Em 26 de março de 1816 aporta no Rio de Janeiro um grupo de artistas franceses, liderados por Joachim Lebreton (1760-1819), secretário recém-destituído do Institut de France.
Acompanham-no o pintor histórico Debret (1768-1848), o paisagista Nicolas Antoine Taunay (1755-1830) e seu irmão, o escultor Auguste-Marie Taunay (1768-1824), o arquiteto Grandjean de Montigny (1776-1850) e o gravador de medalhas Charles-Simon Pradier (1783-1847). O objetivo é fundar a primeira Academia de Arte no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Há duas versões sobre a origem da Missão. A primeira afirma que, por sugestão do conde da Barca, o príncipe Dom João (1767-1826) requer ao marquês de Marialva, então representante do governo português na França, a contratação de um grupo de artistas capaz de lançar as bases de uma instituição de ensino em artes visuais na nova capital do reino. Aconselhado pelo naturalista Alexander von Humboldt (1769-1859), Marialva chega a Lebreton, que se encarrega de formar o grupo.
A outra versão afirma que os integrantes da Missão vêm por iniciativa própria, oferecendo seus serviços à corte portuguesa. Formados no ambiente neoclássico e partidários de Napoleão Bonaparte, os artistas se sentem prejudicados com a volta dos Bourbon ao poder. Decidem vir para o Brasil e são acolhidos por D. João, esperançoso de que possam ajudar nos processos de renovação do Rio de Janeiro e de afirmação da corte no país.
Recentemente, historiadores buscaram um meio termo entre as duas versões, que parece a mais plausível. Fala-se em casamento de interesses: por um lado, o rei teria se mostrado receptivo à criação da academia; a par dessa informação, Lebreton, com o intuito de sair da França, teria oferecido seus serviços, arregimentando artistas dispostos a se refugiar em outro país.
Não foram poucas as dificuldades encontradas pelo grupo para realização da missão. A Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios foi criada por decreto no dia 12 de agosto de 1816, estabelecendo pelo período de seis anos pensão aos artistas franceses.
No entanto, ela não passa de uma medida formal, pois não chega a funcionar, devido a causas políticas e sociais: a resistência de membros lusitanos do governo à presença francesa; as dificuldades impostas pelo representante da monarquia francesa, o cônsul-geral coronel Maler; o atraso de ordem material e estrutural no qual se encontrava o Rio de Janeiro; o desprezo da sociedade por assuntos relativos às artes.
A escola abre as portas somente em 5 de novembro de 1826, passando por dois outros decretos, o de 12 de outubro de 1820, que institui a Real Academia de Desenho, Pintura e Arquitetura Civil, e o derradeiro, de 25 de novembro do mesmo ano, que anuncia a criação de uma escola de ensino unicamente artístico com a denominação Academia e Escola Real.
Durante o longo tempo de espera, os franceses seguem com suas atividades. Notadamente Debret e Grandjean de Montigny aceitam encomendas oficiais. O primeiro realiza diversas telas para a família real e o último é responsável pelo edifício da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) e outras obras públicas, como o prédio da Alfândega (atual Casa França-Brasil).
Por ocasião das festas comemorativas da coroação de Dom João VI, em 1818, ambos idealizam, com Auguste Taunay, a ornamentação da cidade. Debret também se dedica ao ensino de desenho e pintura num espaço alugado, enquanto realiza as aquarelas que marcariam sua obra da fase brasileira. No Rio de Janeiro, Nicolas Taunay segue como pintor de paisagem encantado com a natureza tropical.
A situação torna-se difícil com a morte de Lebreton em 1819, e a nomeação, em 1820 do pintor português Henrique José da Silva (1772-1834) para a direção da Academia Real. Nicolas Taunay decide voltar para França em 1821 e é substituído pelo filho Félix Taunay (1795-1881). Os outros tentam adaptar-se à realidade de uma academia distante de seus planos originais.
Com a chegada de reforços franceses, os irmãos Marc Ferrez (1788-1850) e Zepherin Ferrez (1797-1851), escultor e gravador, respectivamente, os remanescentes da Missão procuram resistir às adversidades criadas pelo novo diretor. Debret não aguenta por muito tempo e retorna à França em 1831, levando seu aluno preferido, Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879).
Historicamente, além da importância da Missão Artística Francesa como fundadora do ensino formal de artes no Brasil, pode-se dizer que durante o tempo em que esses artistas permanecem no país, dentro ou não da Academia, eles ajudam a fixar a imagem do artista como homem livre numa sociedade de cunho burguês e da arte como ação cultural leiga no lugar da figura do artista-artesão, submetido à Igreja e seus temas, posição predominante nos séculos anteriores.
Fonte: MISSÃO Artística Francesa. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 14 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia - Wikipédia
Era descendente de uma antiga família de artistas, cujos antecessores eram catalães e flamengos, que abandonou a Catalunha, por suas crenças protestantes, em 1608. Foi o primeiro filho de Johann Lorenz Rugendas, o diretor da escola de artes local, pintor e desenhista e de Regina Lachler.
Em 1821, aos 19 anos de idade, acompanhou a expedição do Barão Georg Heinrich von Langsdorff ao Brasil, publicando em 1835, em Paris, seu célebre trabalho Malerische Reise in Brasilien (Viagem Pitoresca Através do Brasil), no qual retrata, em belíssimas gravuras, cenas do Brasil Colonial.
Nikolaus I Rugendas (1575-1658), primeiro representante da família Rugendas, estabeleceu uma relojoaria em Augsburgo, em 1608, e mostrou que era um relojoeiro de rara habilidade artística. Seu filho Nikolaus II (1619 – 1695), casado com Anne Marie (Kreuther), seguiu a tradição, porém, de seus treze filhos, apenas Nikolaus III (1665 – 1745) continuou com a tradição, fazendo relógios de sol e instrumentos de medição.
Seu filho mais novo, Georg Philipp (1666 – 1742), considerado o fundador da importante família Rugendas de artistas do século XVIII e XIX, não seguiu o negócio e foi estudar com o pintor de história de Augsburgo Isaak Fischesd. Viajou para Roma em 1692, seguindo depois para Viena, em 1690, e depois para Veneza, em 1692, onde frequentou academias e recebeu seus primeiros pedidos.
Em 1693, de volta a Roma, frequentou a Accademia di San Luca, onde desenhou ruínas e esculturas e praticou a pintura de paisagens com modelos que moldaram o seu trabalho. Tornou-se um artista. Com a morte de seu pai, em 1695, retornou a Augsburgo. Dois anos depois casa-se pela primeira vez com Anna Barbara Haid († 1732) que lhe dá 9 filhos.
Suas primeiras experiências com a calcografia (gravura em metal) se dão com as séries Capricci (1698) e Diversi Pensieri (1699), publicadas por Jeremias Wolff. Em 1700 já trabalhava com a meia-tinta publicando o trabalho Chargen der Reiterei (Cargas da Cavalaria).
Seu período criativo de maior sucesso foi de 1702 a 1716, período semelhante ao da Guerra da Sucessão Espanhola (1701–1714), quando metade da Europa entrou no teatro de guerra. Ganhou reputação internacional como pintor e desenhista, principalmente de cavalos e batalhas, e entre seus clientes estavam príncipes e poderosos, como o príncipe Johann Adam Andreas von Liechtenstein e o príncipe-bispo Lothar Franz von Schönborn, arcebispo de Mainz e bispo de Bamberg.
A base de sua reputação como pintor de batalhas reais pode ser vista no trabalho Die Befreiung Wiens (Libertação de Viena), de 1690. Em 1710, foi nomeado diretor vitalício da Academia de Artes de Augsburgo, tendo entre seus alunos Johann Elias Ridinger (1698-1767).
De 1715 a 1735, dedicou-se mais à produção de gráficos impressos, muito mais lucrativos, criando extensas sequências de meia-tinta e folhas de tese, envolvendo seus filhos Georg e Christian em sua manufatura. Georg Phillip, "o velho", casou-se mais duas vezes, em 1732 e 1734. Entre seus 13 filhos, Georg Philipp Rugendas (1701-1774), Christian Rugendas (1708-1781) e Jeremias Got Rugendas (1710-1772) trabalharam como gravuristas, especialmente em água-tinta.
Moritz cresceu sob a aura desta família de gravuristas e pintores. O bisavô, presente no auto-retrato pendurado na sala, era o modelo venerado e vinculador, para o menino que, desde cedo, seduzido pelo colorido dos uniformes dos soldados franceses que andavam pelas ruas, tentava imitar a seu pai, Johann Lorenz Rugendas, um famoso pintor das batalhas napoleônicas.
Moritz continuou praticando, inspirado pelos desenhos de seu admirável antepassado. Seu pai, percebendo, em certos aspectos, que as disposições para o talento do seu filho na escola dificilmente mereceriam ser consideradas, enquanto que outras deveriam ser levadas a sério, preocupou-se em ele mesmo formá-lo.
De visita aos Rugendas, após a desastrosa marcha a Moscou, o pintor Albrecht Adam (1786-1862), amigo íntimo da família foi quem impulsionou a carreira de Johann Moritz. Adam, que havia levado sua pasta de desenhos, viu o jovem Johann Moritz estudar com entusiasmo os leves contornos dos acontecimentos mundiais em suas pranchas. Seus pais concluíram que o melhor era enviá-lo a Munique e entregá-lo aos ensinamentos do amigo.
Do estúdio de Adam, onde morou, Moritz, aos 15 anos de idade, em 1817, foi para a Academia de Belas Artes de Munique, frequentando aulas de gênero e pintura de paisagem com Lorenzo II Quaglio (1793-1869), mas aquele ambiente acadêmico não lhe satisfazia, preferindo passear pelos campos, pelos alpes, conversando com camponeses, apreciando o brilho da luz sobre um lago, e sempre desenhando, mas nunca satisfeito com seus traços.
Seu pai queria enviá-lo a Roma para finalizar seus estudos acadêmicos, no entanto seus modestos rendimentos lhe impediam. Enquanto isso, nos círculos culturais de Munique, comentava-se sobre o acordo entre as coroas da Áustria e de Portugal, unindo em matrimônio a Princesa Leopoldina, da Áustria, com o príncipe D. Pedro I, rei do Brasil, e sobre a expedição científica financiada pelo príncipe von Metternich (1773-1859) para acompanhá-la em sua viagem ao Brasil.
Entre os cientistas enviados, encontravam-se dois bávaros de Munique, o naturalista Johann Baptist Ritter von Spix (1781-1826) e o médico e botânico Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868). Além deles, participaram, entre outros, os pintores Thomas Ender e Johann Buchberger.
Em 1820, o cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro, barão Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852), médico, botânico, zoólogo, antropólogo, filólogo e navegante, que estava organizando sua própria expedição científica ao Brasil, financiado pelo czar Alexandre I, foi a Munique para encontrar-se com Martius e Spix, recém-chegados de sua expedição ao Brasil, que comentaram a falta que lhes fazia um rico material de pinturas para ilustrar seus trabalhos, visto que os pintores da expedição adoeceram durante a missão. Langsdorf preocupou-se então em encontrar, como precaução, um pintor para acompanhá-lo em sua viagem.
Rugendas, teve conhecimento da futura expedição através do botânico russo Wilhelm Friedrich von Karwinsky (1780-1855), amigo de sua família e de Langsdorf, que tratou de marcar um encontro entre os dois. As condições do contrato de trabalho foram tratadas, por carta, entre o pai de Moritz, Johann Lorenz, e o irmão do barão Georg Langsdorff, Wilhelm von Langsdorff. Rugendas e Langsdorff assinaram o contrato em 1821.
A Expedição Langsdorff (Viagem Pitoresca Através do Brasil)
Langsdorff tinha como objetivo fornecer à Academia Real de Ciências de São Petersburgo uma descrição completa da flora, fauna e populações nativas brasileiras. Johann Moritz Rugendas, já como integrante da expedição, desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de março de 1822, acompanhado do zoólogo francês Edouard P. Ménétriès (1802-1861). Rugendas ficou estarrecido com a exuberância da natureza do Brasil e seu colorido.
Enquanto não se iniciava a expedição, Langsdorff hospedou Rugendas na Fazenda Mandioca (Magé-RJ), de sua propriedade. 1822 foi o ano em que o Brasil foi abalado por distúrbios que levaram à proclamação de independência de Dom Pedro I e esses distúrbios políticos atrasaram a partida da expedição até 1824. Mais tarde, se uniriam a expedição o astrônomo russo Nester Rubtsov (1799-1874), o botânico berlinense Ludwig Riedel (1790-1861) e o pintor parisiense Adrien-Aimé Taunay (1803-1828).
Rugendas realizou algumas viagens por conta própria à cidade do Rio de Janeiro, se hospedando, frequentemente, na casa do barão Wenzel Philipp Leopold, embaixador austríaco, e foi testemunha ocular da coroação de D. Pedro I., como imperador do Brasil, em 1º de dezembro de 1822. Na capital, fez amizade com os membros da Missão Francesa especialmente com Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e com os filhos do pintor Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), Félix e Adrien. Esses contatos, com artistas europeus, como ele, com uma visão revista e atualizada do neo-classicismo, contribuíram para que Rugendas criasse novas perspectivas no seu olhar sobre o território e populações brasileiras. A essa fase da viagem correspondem a maioria de seus desenhos de plantas e animais, que permitiram-lhe aprimorar a sistemática do desenho científico.
Em 8 de maio de 1824, saindo do Rio de Janeiro, a Expedição Langsdorff viajou para Minas Gerais, passando por Barbacena e São João del Rei, seguindo para Ouro Preto, Sabará e Diamantina. Em Barra de Jequitibá (MG), em 1º de novembro de 1824, Rugendas teve uma grave discussão com Langsdorff e abandonou a expedição, e a partir daí, viajou sozinho, retornando ao Rio de Janeiro em 29 de março.
Motivado pelo naturalista Alexander Humboldt (1769-1859) em Paris, Rugendas viajou para o México em 1831, com projeto de viagem pela América com objetivo de reunir material para nova publicação.
No México, começou a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália. A partir de 1834, percorreu a América do Sul, tendo visitado Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Uruguai e Brasil.
Em 1845, voltou ao Rio de Janeiro, onde retratou membros da família imperial e foi convidado a participar da Exposição Geral de Belas Artes. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa. Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao rei Maximiliano II, da Baviera.
Obras
Viagem pitoresca pelo Brasil
Missão chefiada pelo Barão Georg Heinrich von Langsdorff com a participação de Rugendas, com o objetivo de retratar a natureza e os nativos do Brasil. A equipe permanece no Brasil no período entre 1822 a 1825 e percorre um trajeto entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo neste intervalo o período em que se inspiram as pinturas produzidas posteriormente, já na Europa por Rugendas.
O trabalho retrata a paisagem e os indígenas e foi muito elogiada inicialmente na Europa, com destaque para os elogios de Alexander von Humboldt, o qual vai inspirar e motivar o autor em seus novos trabalhos.
Dentro do Brasil a publicação vai ganhar destaque primeiramente na comemoração dos 100 anos do IHGB e posteriormente na busca por imagens representativas sobre o século XIX durante o período inicial do governo de Getúlio Vargas, se tornando uma clássica representação imagética do Brasil no Século XIX.
25 litografias sobre os indígenas Argentinos
Após o sucesso de seu trabalho "Viagem pitoresca pelo Brasil" o autor resolve retornar a América em busca de material para a produção de um novo trabalho. Inicialmente desembarca no México em 1831 porém sua experiência vai se intensificar em 1834 onde dá início ao trajeto que mais o influencia no produto final que seriam as 25 litografias sobre a Argentina.
Desembarca em 1834 no Chile onde vai ter o maior período de estadia em um país e em 1837 viaja para a Argentina, porém a viagem é interrompida por um acidente com um cavalo o qual vai gerar sequelas pelo resto da vida e Rugendas retorna ao Chile.
Voltou à Argentina em 1845 onde concluiu a experiência para a produção das litografias. Durante esse período de 1834 a 1845 Rugendas percorreu Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Uruguai e teve contato com importantes figuras com Domingos Faustino Sarmiento, Esteban Echeverría e Juan Bautista Alberdi, sendo eles grandes críticos do governo de Juan Manoel Rosas, vigente na Argentina , e grandes influenciadores na representação da figura dos indígenas por Rugendas, Tornando as imagens em uma espécie de representação imagética do Poema La Cautiva de Esteban Echeverría e sendo dotadas de um enorme teor político, se tornando também importante representação da relação dos Argentinos com o Indígenas nas celebrações da independência Argentina.
Fonte: Wikipédia, Johann Moritz Rugendas. Consultada pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
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Guerra da Sucessão Espanhola
A Guerra de Sucessão Espanhola, que durou onze anos (1702 a 1714), deveu-se a uma crise entre casas aristocráticas após a morte do rei Carlos II da Espanha. Na passagem do século XVII para o século XVIII, a Europa vivia o auge do absolutismo monárquico, em que as “casas aristocráticas”, ou linhagens nobres, articulavam-se para exercer o poder sobre os diversos reinos do continente.
A Guerra de Sucessão Espanhola, que aconteceu entre os anos de 1702 e 1714, foi o maior conflito entre essas casas aristocráticas, tendo sido motivada pelo problema da herança do trono real da Espanha após a morte do, até então, rei Carlos II em 1700.
Antes de morrer, Carlos II aventou alguns possíveis nomes para seu trono, já que não possuía um herdeiro direito. O nome a que chegou Carlos II foi o de Felipe de Bourbon, conhecido como Duque de Anjour, que era neto do rei Luís XIV da França. Após o falecimento de Carlos II, as cortes espanholas reuniram-se nas cidades de Madrid e Barcelona para deliberar e reconhecer o novo rei.
O Duque de Anjour foi então alçado à categoria de monarca sob o título de Felipe V. Assim sendo, a Espanha passava a ter um rei da casa do Bourbons, a mesma que governava a França.
Um rei dos Bourbons na Espanha gerava uma tensão muito grande em outros países da Europa que eram gestados por outras linhagens aristocráticas, sobretudo a dos Habsburgos.
A tensão acontecia, sobretudo, porque Luís XIV, o então rei da França, precisaria, em breve, de um sucessor. Levantou-se a hipótese de que Luís XV poderia ser o seu neto, o aclamado rei da Espanha.
Nesse sentido, havia a possibilidade de Felipe V tornar-se rei da Espanha e França ao mesmo tempo. Algumas nações posicionaram-se contra isso, formando uma “Grande Aliança”para enfrentar a Espanha.
A Grande Aliança foi formada por Áustria, Inglaterra, Holanda, Suécia, Dinamarca e os principados alemães. O Tratado de Haia, assinado em setembro de 1701, selou sua formação e determinou suas diretrizes. A guerra estourou no ano seguinte.
O começo da guerra motivada pela sucessão do trono espanhol ocorreu no norte da Itália, que à época não era ainda um Estado unificado, mas uma miríade de pequenos reinos, e logo se espalhou para outras regiões, como os Países Baixos, os principados da Alemanha, o norte da França e, evidentemente, a Península Ibérica. Essa guerra mobilizou praticamente todas as nações europeias ao longo dos onze anos de sua duração.
O problema só foi resolvido quando, por meio do Tratado de Paz de Utrecht, a Espanha, vencida pelas tropas inglesas e holandesas, teve de se comprometer a renunciar quaisquer pretensões ao trono francês e, além disso, a garantir territórios e conexões comerciais às nações vencedoras. Parte das sanções do referido tratado também foi destinada à França, já que essa apoiou a Espanha na guerra.
Fonte: FERNANDES, Cláudio. "Guerra de Sucessão Espanhola"; Brasil Escola. Acesso em 14 de fevereiro de 2022.
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A Missão Científica Austríaca no Brasil
Em novembro de 1817, Leopoldina de Habsburgo, aos 20 anos, desembarcava no Brasil para se casar com o príncipe D. Pedro I. Filha do imperador da Áustria, ela cruzou o Atlântico na companhia de um grupo de cientistas que percorreriam diferentes itinerários para estudar e coletar espécies de animais e plantas típicas do país.
A Missão Austríaca reuniu naturalistas e artistas não apenas da Áustria, mas também do Reino da Baviera (atualmente, um dos estados da Alemanha) e da Itália. A vinda da família real e a abertura dos portos às nações amigas, em 1808, criaram um ambiente propício para que profissionais das ciências e das artes viajassem pelo Brasil a fim de conhecê-lo e retratá-lo.
Na esperança de estreitar os vínculos entre Áustria e Brasil e também agradar à filha, que gostava de estudar ciências naturais, o pai de D. Leopoldina, o imperador Francisco I, financiou a empreitada que deveria descrever e colher exemplares da fauna e da flora para museus, jardins zoológicos e jardins botânicos de seu país.
A expedição nos deixou muitas obras científicas e artísticas importantes, mas uma delas se destaca pela sua atualidade: Flora Brasiliensis (em latim científico). Trata-se, ainda hoje, da mais completa publicação sobre flora brasileira, na qual, pela primeira vez, Carl Friedrich Philipp von Martius, botânico bávaro, identificou os cinco ecossistemas do país: caatinga, cerrado, Mata Atlântica, pampa e Amazônia.
Os 15 volumes encontram-se integralmente digitalizados e disponibilizados on-line, em um projeto de mesmo nome feito pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos, e pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, com patrocínio privado e estatal. “Há poucos originais da obra e os muitos volumes que a compõem dificultam o manuseio. Buscamos facilitar o acesso ao documento”, afirma George J. Shepherd, professor aposentado do Instituto de Biologia da Unicamp, responsável pelo trabalho.
Fonte: MultiRio, "200 Anos da Missão Austríaca no Brasil", escrito e publicado por Larissa Altoé, em 30 de Maio de 2017. Consultado pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
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Exposição traz Brasil do século 19 a partir do olhar de Rugendas – Agência Brasil
As paisagens, as pessoas e o cotidiano do Brasil no século 19 a partir do olhar do artista alemão Johann Moritz Rugendas podem ser vistos a partir de hoje (12) na Caixa Cultural, no centro paulistano. Pintor, desenhista, ilustrador, aquarelista e litógrafo, produziu um dos mais importantes registros do país à época, ao lado de outros artistas, como o francês Jean Baptiste Debret.
Rugendas veio para o Brasil em 1821, ano em que completou 20 anos de idade, para fazer parte da Expedição Langsdorff, que patrocinada pelo império russo, pretendia elaborar um inventário da então colônia. Os trabalhos desse contato inicial são marcados, segundo a curadora da exposição, Ângela Ancora da Luz, pelo impacto do novo ambiente no jovem artista.
“Ele chega com um olhar habituado aquela luz menos incidente nos objetos, de invernos longos e escuros, de verões que não tem aquela claridade como ele vai encontrar no Brasil. Quando ele chega aqui ele se deslumbra com a luz tropical, com a exuberância da vegetação tropical, dos tipos diferentes”, analisou a curadora Ângela Âncora.
Influências
Segundo Ângela Âncora, as pinturas e gravuras feitas por Rugendas tiveram influência estética do romantismo, em que o autor traz a carga emocional causada pelas experiências levadas à tela. Mesmo assim, a produção tem um forte caráter documental.
“Ele [Rugendas] representa não só a fauna e a flora, como os costumes, as danças, os tipos etnográficos do índio e do negro. Ele faz um álbum de documentação do que ele via no século 19”, enfatizou a curadora.
A vivência no país vai tornando o artista mais atento aos detalhes e cenas do dia a dia. “Primeiro, nos temos um Rugendas que vê de longe, de fora, quando ele chega. Depois um outro Rugendas, quando ele já está aqui, que o seu olho já se habituou a essa exuberância toda. Então, o primeiro registro é muito mais panorâmico, enquanto o segundo registro é muito mais singular”, acrescentou a curadora.
Fonte: Agência Brasil, "Exposição traz Brasil do século 19 a partir do olhar de Rugendas" Publicado por Daniel Mello, em 12 de janeiro de 2019.
Crédito fotográfico: IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Johann Moritz Rugendas. História das Artes, publicado em 12 de maio de 2016. Consultado pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
2 artistas relacionados
Johann Moritz Rugendas (Augsburgo, Alemanha, 29 de março de 1802 — Weilheim, Alemanha, 29 de maio de 1858), mais conhecido como Rugendas, foi um desenhista, litógrafo e pintor alemão formado pela Academia de Munique. Participou de importantes expedições com o objetivo de documentar sobre o continente americano e tem um importante trabalho iconográfico de paisagens e costumes brasileiros, entre elas a expedição Langsdorff, uma das mais importantes incursões científicas realizadas no Brasil no século XIX, publicando em 1835, em Paris, seu célebre trabalho Malerische Reise in Brasilien (Viagem Pitoresca Através do Brasil), no qual retrata, em belíssimas gravuras, cenas do Brasil Colonial.
Biografia resumida
Desde criança, exercita o desenho e a gravura com o pai Johann Lorenz Rugendas II (1775 – 1826). Freqüenta o ateliê de Albrecht Adam (1786 – 1862), de 1815 até 1817, quando ingressou na Academia de Belas Artes de Munique.
Incentivado pelos relatos de viagem dos naturalistas J. B. von Spix (1781 – 1826) e C. Fr. Ph. de Martius (1794 – 1868) e pela obra de Thomas Ender (1793 – 1875), vem para o Brasil em 1821, como desenhista documentarista da Expedição Langsdorff.
Abandona a expedição em 1824, mas continua sozinho o registro de tipos, costumes, paisagens, fauna e flora brasileiros. Segue para Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo e retorna ao Rio de Janeiro ainda no mesmo ano.
Rugendas não realiza nenhuma pintura a óleo em sua primeira estada no Brasil, privilegia o desenho e ocasionalmente o colore à aquarela. De 1825 a 1828 viveu entre Paris, Augsburg e Munique. Nesse período, dedica-se à publicação de sua obra Voyage Pittoresque dans le Brésil.
Vai para a Itália em 1828, onde observa novas técnicas. O uso de cores e o esboço a óleo chamam sua atenção. Motivado pelo naturalista Alexander Humboldt (1769 – 1859), Rugendas viajou para o México em 1831, com projeto de viagem pela América com objetivo de reunir material para nova publicação. No México, começa a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália.
A partir de 1834, excursiona pela América do Sul, passa pelo Chile, Argentina, Peru e Bolívia. Em 1845, chega ao Rio de Janeiro, onde retrata membros da família imperial e é convidado a participar da Exposição Geral de Belas Artes. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa.
Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao Rei Maximiliano II, da Baviera, perdendo-a anos depois por não realizar produção pictórica com base em seus trabalhos americanos, tal como havia acordado.
Faleceu no dia 29 de maio de 1858 na cidade de Weilh em situação financeira não muito favorável e amargurado pela certeza do fracasso artístico.
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Biografia - Itaú Cultural
Pertence à sétima geração de uma família de desenhistas, pintores, gravadores e impressores. Desde criança, exercita o desenho e a gravura, e se inicia na atividade artística por influência de seu pai, Johann Lorenz Rugendas II (1775 – 1826), diretor e professor da escola de desenho de Augsburg.
De 1815 a 1817, frequenta o ateliê do pintor alemão de batalhas Albrecht Adam (1786 – 1862). Em 1817, começa a estudar na Academia de Belas Artes de Munique como aluno de Lorenzo Quaglio II (1793 – 1869). A influência do ensino acadêmico é permanente na produção do artista, que valoriza o desenho em suas composições e a representação segundo a reelaboração ideal e universal da observação do particular.
Incentivado pelos relatos de viagem dos naturalistas alemães Johann Baptist von Spix (1781-1826) e Karl Friedrich Philipp von Martius (1794 – 1868) e pela obra do pintor austríaco Thomas Ender (1793-1875), vem ao Brasil como desenhista documentarista da Expedição Langsdorff, do cônsul da Rússia Grigory Ivanovitch Langsdorff (1774 – 1852).
Chega ao Rio de Janeiro em 1822, em pleno processo de independência do país.
Apesar de viver isolado com os outros participantes da expedição na Fazenda Mandioca, de propriedade do cônsul, Rugendas vai constantemente à capital e faz amizade com os artistas da Missão Artística Francesa. Nesse período, retrata a paisagem natural, a fauna, a flora, os tipos físicos e as vistas da cidade do Rio de Janeiro.
Em 1824, parte em direção a Minas Gerais, passando por São Paulo. O artista se desentende com Langsdorff e abandona o grupo, continuando suas andanças sozinho. Seu itinerário exato não é conhecido, mas, pelos desenhos, sabe-se que passa por São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco. Nessa primeira viagem privilegia o desenho, ocasionalmente colorido à aquarela.
Cem litografias baseadas em desenhos brasileiros são publicadas no volume Voyage Pittoresque dans le Brésil [Viagem Pitoresca através do Brasil], em edição bilíngue em francês-alemão (1827 – 1835). Pensado como livro de viagem, conta com a participação de 22 litógrafos e de Victor Aimé Huber (1800 – 1869) na preparação dos textos. O livro é considerado um dos mais importantes documentos iconográficos sobre o Brasil do século XIX, e é subdividido em: paisagens, tipos e costumes, usos e costumes dos indígenas, a vida dos europeus, europeus na Bahia e em Pernambuco, usos e costumes dos negros.
A obra brasileira de Rugendas nem sempre é uma cópia fiel da realidade.
As ilustrações de plantas e animais obedecem a um caráter minucioso e objetivo; nesses casos o artista desenha sob a tutela de naturalistas. Com relação às paisagens, o historiador Pablo Diener afirma que são uma reprodução fiel da natureza, apreendida mais em sua unidade do que nos detalhes, com exceção das gravuras, em que o litógrafo recria outra imagem com base no desenho original, como a prancha Entrada da Barra do Rio de Janeiro, gravada pelo artista romântico Richard Parkes Bonington (1802 – 1828).
Em cenas da vida cotidiana da população brasileira e nos retratos etnográficos percebemos o empenho em criar imagens idealizadas, de caráter mais programático. Os corpos de negros e indígenas são representados em estilo clássico, os traços suavizados e europeizados. Da mesma forma, a situação dos escravizados é amenizada: o trabalho é mostrado como atividade quase lúdica em pranchas como Preparação da Raiz de Mandioca e Colheita de Café.
Já na época de sua publicação, Voyage Pittoresque recebe críticas por seu caráter pouco documental. Mas alcança êxito com o grande público, circulando no Brasil em edição francesa com sucesso, talvez por causa da maneira benevolente com que retrata a sociedade oitocentista.
De 1825 a 1828, viveu entre Paris, Augsburg e Munique. Em 1828, vai para a Itália e, durante o tempo em Roma, entra em contato com correntes artísticas como neoclassicismo e romantismo. De 1829 a 1831, pinta telas de temas brasileiros com base em seus desenhos. São espaços idílicos que refletem ideias correntes na época sobre o Novo Mundo como paraíso terreno e habitat do bom selvagem.
Motivado pelo naturalista alemão Alexander Humboldt (1769 – 1859), cuja influência o leva à decisão de se tornar “o ilustrador dos novos territórios”, viaja para o México em 1831, onde começa a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália. A partir de 1834, excursionou por países como Chile, Argentina, Peru e Bolívia.
Em sua segunda passagem pelo Rio de Janeiro (1845 – 1846) encontra uma extraordinária acolhida por parte da coroa brasileira, que lhe encomenda diversos retratos. Participa das Exposições Gerais de Belas Artes (1845 e 1846) a convite do pintor francês Félix Taunay (1795 – 1881).
Em 1847, parte definitivamente para a Europa. Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao Rei Maximiliano II (1811 – 1864), da Baviera, perdendo-a anos depois por não realizar produção pictórica com base em seus trabalhos americanos, como acordado.
Com desenhos, aquarelas e pinturas a óleo, o conjunto gráfico e pictórico de Johann Moritz Rugendas representa um dos materiais fundamentais de conhecimento da sociedade e da paisagem americana no século XIX.
Críticas
"Humboldt e Martius são referências preliminares para uma primeira aproximação da síntese realizada por Rugendas em seu álbum pitoresco. A viagem de Humboldt e Bonpland à América Latina é de modo geral indissociável da construção da paisagem dos trópicos. Em particular, o modelo do Atlas Pittoresque. Vue des Cordillères et des Monuments du Peuple Indigène de l'America oferece uma solução de concepção científica expressa pela arte (...) Apropriando-se da visão pictórica de matriz científica, recomendada por Humboldt, Rugendas acerca-se do pitoresco, buscando as características regionais do país, que são definidas e se manifestam simultaneamente na conformação geral do solo, no recorte das montanhas com relação à planície, na geologia geográfica, na geobotânica. Seus desenhos têm a capacidade de transformar aspectos físicos em esfera cosmogônica da vida humana. (...) Rugendas afirma nos desenhos uma concepção orgânica da vida em completa interdependência, despreocupando-se da individualização de unidades que formam a paisagem e enfatizando a maneira como se dão no conjunto. (...) Nos desenhos originais de Rugendas transparece o grande gesto que sustenta a visão de conjunto, o modo como primeiro desenha o todo e depois intensifica alguma parte". – Ana Maria de Moraes Belluzzo (RUGENDAS. O desenhista e pintor. BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994. v. 1, p. 77. Volume 1: imaginário do novo mundo).
"Rugendas insere-se na história da arte como um dos maiores criadores da iconografia americana, como um pintor versátil, cujo leque temático vai desde os estudos naturalistas da paisagem até as mais sofisticadas composições de tema histórico. Seu conhecimento da América está fundamentado nos vinte anos de viagens, quando percorreu desde o México até o sul do Chile, perfazendo no continente a maior rota realizada por um viajante no século XIX. Ao concluir sua grande viagem americana, Rugendas deu uma mirada retrospectiva no trabalho realizado durante essa etapa fundamental de sua carreira; essa recapitulação autobiográfica se materializou na seleção da pintura a óleo, que apresentou na Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro em 1845. Essa mostra lhe valeu o mais alto reconhecimento público pelo seu trabalho, traduzido na condecoração de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro oferecido pelo Império brasileiro". –
Pablo Diener e Maria de Fátima Costa (RUGENDAS. O desenhista e pintor. DIENER, Pablo; COSTA, Maria de Fátima. A América de Rugendas: obras e documentos. Edição Angel Bojadsen, Edilberto Fernando Verza. São Paulo: Estação Liberdade, 1999. p.13-14).
Acervos
Acervo Staatliche Graphische Sammlung Munich - Munique (Alemanha)
Acervo Städtische Kunstsannlungen Augsburg - Augsburg (Alemanha)
Arquivo da Academia de Ciências de São Petesburgo - São Petesburgo (Rússia)
Coleção Brasiliana / Fundação Estudar - São Paulo SP
Coleção Itaú - São Paulo SP
Coleção Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa - Rio de Janeiro RJ
Fundação Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro RJ
Ibero-Amerikanisches Institut, Preussischer Kulturbesitz - Berlim (Alemanha)
Museu de Belas Artes - Caracas (Venezuela)
Museu Histórico de Montevidéu - Cabildo (Uruguai)
Museu Histórico Nacional - Rio de Janeiro RJ
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Museu Nacional de Belas Artes - Santiago (Chile)
Museu Nacional de História - Rio de Janeiro RJ
Museum für Völkerkunde, Preussischer Kulturbesitz - Berlim (Alemanha)
Museus Castro Maya - Rio de Janeiro RJ
Palácios e Jardins Estatais - Potsdam-Sanssouci (Alemanha)
Exposições Coletivas
1845 - Rio de Janeiro RJ - 6ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - recebe a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul
1846 - Rio de Janeiro RJ - 7ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
Exposições Póstumas
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA
1966 - Austin (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, na The University of Texas at Austin. Archer M. Huntington Art Gallery
1966 - New Haven (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, na The Yale University Art Gallery,
1966 - San Diego (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no La Jolla Museum of Art
1966 - New Orleans (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no Isaac Delgado Museum of Art
1966 - San Francisco (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no San Francisco art Museum
1969 - Rio de Janeiro RJ - Rugendas, no MIS/SP
1977 - São Paulo SP - 33 Desenhos Originais de Rugendas: coleção Pirajá da Silva
1977 - São Paulo SP - Individual, na Pinacoteca do Estado
1983 - Recife PE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, na Fundação Joaquim Nabuco. Administração Central
1984 - Aracaju SE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Brasília DF - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Lisboa (Portugal) - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, no Museu Gulbenkian da Fundação Calouste Gulbenkian
1984 - Salvador BA - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1984 - Vitória ES - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1990 - Rio de Janeiro RJ - Rugendas x Fotografia
1990 - São Paulo SP - Rugendas x Fotografia
1990 - Curitiba PR - Rugendas x Fotografia
1990 - Belo Horizonte MG - Rugendas x Fotografia
1990 - Salvador BA - Rugendas x Fotografia
1990 - São Paulo SP - A Coleção de Arte do Município de São Paulo, no Masp
1991 - São Paulo SP - A Mata, no MAC/USP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1992 - São Paulo SP - O Olhar de Sérgio sobre a Arte Brasileira: desenhos e pinturas, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade
1992 - Zurique (Suíça) - Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, no Kunsthaus Zürich
1994 - Lisboa (Portugal) - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no Museu Rafael Bordalo Pinheiro
1994 - Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no CCBB
1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1995 - Belo Horizonte MG - Os Herdeiros da Noite: fragmentos do imaginário negro, no Centro de Cultura de Belo Horizonte
1995 - São Paulo SP - O Brasil de Hoje no Espelho do Século XIX: artistas alemães e brasileiros refazem a Expedição Langsdorff, no Masp
1996 - Londres (Reino Unido) - Brazil Through European Eyes, na Christie's
1996 - Rio de Janerio RJ - O Brasil de Hoje no Espelho do Século XIX: artistas alemães e brasileiros refazem a Expedição Langsdorff, na Fundação Casa França-Brasil
1998 - Brasília DF - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Ministério das Relações Exteriores
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
1999 - São Paulo SP - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Museu de Arte Brasileira. Salão Cultural
2000 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio na Coleção Geyer, no CCBB
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento: Negro de Corpo e Alma e O Olhar Distante, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - São Paulo SP - Rugendas no México, no Memorial da América Latina
2003 - São Paulo SP - Vistas do Brasil: Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2004 - São Paulo SP - Gabinete de Papel, no CCSP
Fonte: JOHANN Moritz Rugendas. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 10 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Missão Artística Francesa
O século XIX no Brasil presencia mudanças profundas na história das artes plásticas em relação aos séculos anteriores, cujo sentido não pode ser compreendido sem referência à chamada Missão Artística Francesa.
Em 26 de março de 1816 aporta no Rio de Janeiro um grupo de artistas franceses, liderados por Joachim Lebreton (1760-1819), secretário recém-destituído do Institut de France.
Acompanham-no o pintor histórico Debret (1768-1848), o paisagista Nicolas Antoine Taunay (1755-1830) e seu irmão, o escultor Auguste-Marie Taunay (1768-1824), o arquiteto Grandjean de Montigny (1776-1850) e o gravador de medalhas Charles-Simon Pradier (1783-1847). O objetivo é fundar a primeira Academia de Arte no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Há duas versões sobre a origem da Missão. A primeira afirma que, por sugestão do conde da Barca, o príncipe Dom João (1767-1826) requer ao marquês de Marialva, então representante do governo português na França, a contratação de um grupo de artistas capaz de lançar as bases de uma instituição de ensino em artes visuais na nova capital do reino. Aconselhado pelo naturalista Alexander von Humboldt (1769-1859), Marialva chega a Lebreton, que se encarrega de formar o grupo.
A outra versão afirma que os integrantes da Missão vêm por iniciativa própria, oferecendo seus serviços à corte portuguesa. Formados no ambiente neoclássico e partidários de Napoleão Bonaparte, os artistas se sentem prejudicados com a volta dos Bourbon ao poder. Decidem vir para o Brasil e são acolhidos por D. João, esperançoso de que possam ajudar nos processos de renovação do Rio de Janeiro e de afirmação da corte no país.
Recentemente, historiadores buscaram um meio termo entre as duas versões, que parece a mais plausível. Fala-se em casamento de interesses: por um lado, o rei teria se mostrado receptivo à criação da academia; a par dessa informação, Lebreton, com o intuito de sair da França, teria oferecido seus serviços, arregimentando artistas dispostos a se refugiar em outro país.
Não foram poucas as dificuldades encontradas pelo grupo para realização da missão. A Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios foi criada por decreto no dia 12 de agosto de 1816, estabelecendo pelo período de seis anos pensão aos artistas franceses.
No entanto, ela não passa de uma medida formal, pois não chega a funcionar, devido a causas políticas e sociais: a resistência de membros lusitanos do governo à presença francesa; as dificuldades impostas pelo representante da monarquia francesa, o cônsul-geral coronel Maler; o atraso de ordem material e estrutural no qual se encontrava o Rio de Janeiro; o desprezo da sociedade por assuntos relativos às artes.
A escola abre as portas somente em 5 de novembro de 1826, passando por dois outros decretos, o de 12 de outubro de 1820, que institui a Real Academia de Desenho, Pintura e Arquitetura Civil, e o derradeiro, de 25 de novembro do mesmo ano, que anuncia a criação de uma escola de ensino unicamente artístico com a denominação Academia e Escola Real.
Durante o longo tempo de espera, os franceses seguem com suas atividades. Notadamente Debret e Grandjean de Montigny aceitam encomendas oficiais. O primeiro realiza diversas telas para a família real e o último é responsável pelo edifício da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) e outras obras públicas, como o prédio da Alfândega (atual Casa França-Brasil).
Por ocasião das festas comemorativas da coroação de Dom João VI, em 1818, ambos idealizam, com Auguste Taunay, a ornamentação da cidade. Debret também se dedica ao ensino de desenho e pintura num espaço alugado, enquanto realiza as aquarelas que marcariam sua obra da fase brasileira. No Rio de Janeiro, Nicolas Taunay segue como pintor de paisagem encantado com a natureza tropical.
A situação torna-se difícil com a morte de Lebreton em 1819, e a nomeação, em 1820 do pintor português Henrique José da Silva (1772-1834) para a direção da Academia Real. Nicolas Taunay decide voltar para França em 1821 e é substituído pelo filho Félix Taunay (1795-1881). Os outros tentam adaptar-se à realidade de uma academia distante de seus planos originais.
Com a chegada de reforços franceses, os irmãos Marc Ferrez (1788-1850) e Zepherin Ferrez (1797-1851), escultor e gravador, respectivamente, os remanescentes da Missão procuram resistir às adversidades criadas pelo novo diretor. Debret não aguenta por muito tempo e retorna à França em 1831, levando seu aluno preferido, Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879).
Historicamente, além da importância da Missão Artística Francesa como fundadora do ensino formal de artes no Brasil, pode-se dizer que durante o tempo em que esses artistas permanecem no país, dentro ou não da Academia, eles ajudam a fixar a imagem do artista como homem livre numa sociedade de cunho burguês e da arte como ação cultural leiga no lugar da figura do artista-artesão, submetido à Igreja e seus temas, posição predominante nos séculos anteriores.
Fonte: MISSÃO Artística Francesa. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 14 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia - Wikipédia
Era descendente de uma antiga família de artistas, cujos antecessores eram catalães e flamengos, que abandonou a Catalunha, por suas crenças protestantes, em 1608. Foi o primeiro filho de Johann Lorenz Rugendas, o diretor da escola de artes local, pintor e desenhista e de Regina Lachler.
Em 1821, aos 19 anos de idade, acompanhou a expedição do Barão Georg Heinrich von Langsdorff ao Brasil, publicando em 1835, em Paris, seu célebre trabalho Malerische Reise in Brasilien (Viagem Pitoresca Através do Brasil), no qual retrata, em belíssimas gravuras, cenas do Brasil Colonial.
Nikolaus I Rugendas (1575-1658), primeiro representante da família Rugendas, estabeleceu uma relojoaria em Augsburgo, em 1608, e mostrou que era um relojoeiro de rara habilidade artística. Seu filho Nikolaus II (1619 – 1695), casado com Anne Marie (Kreuther), seguiu a tradição, porém, de seus treze filhos, apenas Nikolaus III (1665 – 1745) continuou com a tradição, fazendo relógios de sol e instrumentos de medição.
Seu filho mais novo, Georg Philipp (1666 – 1742), considerado o fundador da importante família Rugendas de artistas do século XVIII e XIX, não seguiu o negócio e foi estudar com o pintor de história de Augsburgo Isaak Fischesd. Viajou para Roma em 1692, seguindo depois para Viena, em 1690, e depois para Veneza, em 1692, onde frequentou academias e recebeu seus primeiros pedidos.
Em 1693, de volta a Roma, frequentou a Accademia di San Luca, onde desenhou ruínas e esculturas e praticou a pintura de paisagens com modelos que moldaram o seu trabalho. Tornou-se um artista. Com a morte de seu pai, em 1695, retornou a Augsburgo. Dois anos depois casa-se pela primeira vez com Anna Barbara Haid († 1732) que lhe dá 9 filhos.
Suas primeiras experiências com a calcografia (gravura em metal) se dão com as séries Capricci (1698) e Diversi Pensieri (1699), publicadas por Jeremias Wolff. Em 1700 já trabalhava com a meia-tinta publicando o trabalho Chargen der Reiterei (Cargas da Cavalaria).
Seu período criativo de maior sucesso foi de 1702 a 1716, período semelhante ao da Guerra da Sucessão Espanhola (1701–1714), quando metade da Europa entrou no teatro de guerra. Ganhou reputação internacional como pintor e desenhista, principalmente de cavalos e batalhas, e entre seus clientes estavam príncipes e poderosos, como o príncipe Johann Adam Andreas von Liechtenstein e o príncipe-bispo Lothar Franz von Schönborn, arcebispo de Mainz e bispo de Bamberg.
A base de sua reputação como pintor de batalhas reais pode ser vista no trabalho Die Befreiung Wiens (Libertação de Viena), de 1690. Em 1710, foi nomeado diretor vitalício da Academia de Artes de Augsburgo, tendo entre seus alunos Johann Elias Ridinger (1698-1767).
De 1715 a 1735, dedicou-se mais à produção de gráficos impressos, muito mais lucrativos, criando extensas sequências de meia-tinta e folhas de tese, envolvendo seus filhos Georg e Christian em sua manufatura. Georg Phillip, "o velho", casou-se mais duas vezes, em 1732 e 1734. Entre seus 13 filhos, Georg Philipp Rugendas (1701-1774), Christian Rugendas (1708-1781) e Jeremias Got Rugendas (1710-1772) trabalharam como gravuristas, especialmente em água-tinta.
Moritz cresceu sob a aura desta família de gravuristas e pintores. O bisavô, presente no auto-retrato pendurado na sala, era o modelo venerado e vinculador, para o menino que, desde cedo, seduzido pelo colorido dos uniformes dos soldados franceses que andavam pelas ruas, tentava imitar a seu pai, Johann Lorenz Rugendas, um famoso pintor das batalhas napoleônicas.
Moritz continuou praticando, inspirado pelos desenhos de seu admirável antepassado. Seu pai, percebendo, em certos aspectos, que as disposições para o talento do seu filho na escola dificilmente mereceriam ser consideradas, enquanto que outras deveriam ser levadas a sério, preocupou-se em ele mesmo formá-lo.
De visita aos Rugendas, após a desastrosa marcha a Moscou, o pintor Albrecht Adam (1786-1862), amigo íntimo da família foi quem impulsionou a carreira de Johann Moritz. Adam, que havia levado sua pasta de desenhos, viu o jovem Johann Moritz estudar com entusiasmo os leves contornos dos acontecimentos mundiais em suas pranchas. Seus pais concluíram que o melhor era enviá-lo a Munique e entregá-lo aos ensinamentos do amigo.
Do estúdio de Adam, onde morou, Moritz, aos 15 anos de idade, em 1817, foi para a Academia de Belas Artes de Munique, frequentando aulas de gênero e pintura de paisagem com Lorenzo II Quaglio (1793-1869), mas aquele ambiente acadêmico não lhe satisfazia, preferindo passear pelos campos, pelos alpes, conversando com camponeses, apreciando o brilho da luz sobre um lago, e sempre desenhando, mas nunca satisfeito com seus traços.
Seu pai queria enviá-lo a Roma para finalizar seus estudos acadêmicos, no entanto seus modestos rendimentos lhe impediam. Enquanto isso, nos círculos culturais de Munique, comentava-se sobre o acordo entre as coroas da Áustria e de Portugal, unindo em matrimônio a Princesa Leopoldina, da Áustria, com o príncipe D. Pedro I, rei do Brasil, e sobre a expedição científica financiada pelo príncipe von Metternich (1773-1859) para acompanhá-la em sua viagem ao Brasil.
Entre os cientistas enviados, encontravam-se dois bávaros de Munique, o naturalista Johann Baptist Ritter von Spix (1781-1826) e o médico e botânico Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868). Além deles, participaram, entre outros, os pintores Thomas Ender e Johann Buchberger.
Em 1820, o cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro, barão Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852), médico, botânico, zoólogo, antropólogo, filólogo e navegante, que estava organizando sua própria expedição científica ao Brasil, financiado pelo czar Alexandre I, foi a Munique para encontrar-se com Martius e Spix, recém-chegados de sua expedição ao Brasil, que comentaram a falta que lhes fazia um rico material de pinturas para ilustrar seus trabalhos, visto que os pintores da expedição adoeceram durante a missão. Langsdorf preocupou-se então em encontrar, como precaução, um pintor para acompanhá-lo em sua viagem.
Rugendas, teve conhecimento da futura expedição através do botânico russo Wilhelm Friedrich von Karwinsky (1780-1855), amigo de sua família e de Langsdorf, que tratou de marcar um encontro entre os dois. As condições do contrato de trabalho foram tratadas, por carta, entre o pai de Moritz, Johann Lorenz, e o irmão do barão Georg Langsdorff, Wilhelm von Langsdorff. Rugendas e Langsdorff assinaram o contrato em 1821.
A Expedição Langsdorff (Viagem Pitoresca Através do Brasil)
Langsdorff tinha como objetivo fornecer à Academia Real de Ciências de São Petersburgo uma descrição completa da flora, fauna e populações nativas brasileiras. Johann Moritz Rugendas, já como integrante da expedição, desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de março de 1822, acompanhado do zoólogo francês Edouard P. Ménétriès (1802-1861). Rugendas ficou estarrecido com a exuberância da natureza do Brasil e seu colorido.
Enquanto não se iniciava a expedição, Langsdorff hospedou Rugendas na Fazenda Mandioca (Magé-RJ), de sua propriedade. 1822 foi o ano em que o Brasil foi abalado por distúrbios que levaram à proclamação de independência de Dom Pedro I e esses distúrbios políticos atrasaram a partida da expedição até 1824. Mais tarde, se uniriam a expedição o astrônomo russo Nester Rubtsov (1799-1874), o botânico berlinense Ludwig Riedel (1790-1861) e o pintor parisiense Adrien-Aimé Taunay (1803-1828).
Rugendas realizou algumas viagens por conta própria à cidade do Rio de Janeiro, se hospedando, frequentemente, na casa do barão Wenzel Philipp Leopold, embaixador austríaco, e foi testemunha ocular da coroação de D. Pedro I., como imperador do Brasil, em 1º de dezembro de 1822. Na capital, fez amizade com os membros da Missão Francesa especialmente com Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e com os filhos do pintor Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), Félix e Adrien. Esses contatos, com artistas europeus, como ele, com uma visão revista e atualizada do neo-classicismo, contribuíram para que Rugendas criasse novas perspectivas no seu olhar sobre o território e populações brasileiras. A essa fase da viagem correspondem a maioria de seus desenhos de plantas e animais, que permitiram-lhe aprimorar a sistemática do desenho científico.
Em 8 de maio de 1824, saindo do Rio de Janeiro, a Expedição Langsdorff viajou para Minas Gerais, passando por Barbacena e São João del Rei, seguindo para Ouro Preto, Sabará e Diamantina. Em Barra de Jequitibá (MG), em 1º de novembro de 1824, Rugendas teve uma grave discussão com Langsdorff e abandonou a expedição, e a partir daí, viajou sozinho, retornando ao Rio de Janeiro em 29 de março.
Motivado pelo naturalista Alexander Humboldt (1769-1859) em Paris, Rugendas viajou para o México em 1831, com projeto de viagem pela América com objetivo de reunir material para nova publicação.
No México, começou a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália. A partir de 1834, percorreu a América do Sul, tendo visitado Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Uruguai e Brasil.
Em 1845, voltou ao Rio de Janeiro, onde retratou membros da família imperial e foi convidado a participar da Exposição Geral de Belas Artes. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa. Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao rei Maximiliano II, da Baviera.
Obras
Viagem pitoresca pelo Brasil
Missão chefiada pelo Barão Georg Heinrich von Langsdorff com a participação de Rugendas, com o objetivo de retratar a natureza e os nativos do Brasil. A equipe permanece no Brasil no período entre 1822 a 1825 e percorre um trajeto entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo neste intervalo o período em que se inspiram as pinturas produzidas posteriormente, já na Europa por Rugendas.
O trabalho retrata a paisagem e os indígenas e foi muito elogiada inicialmente na Europa, com destaque para os elogios de Alexander von Humboldt, o qual vai inspirar e motivar o autor em seus novos trabalhos.
Dentro do Brasil a publicação vai ganhar destaque primeiramente na comemoração dos 100 anos do IHGB e posteriormente na busca por imagens representativas sobre o século XIX durante o período inicial do governo de Getúlio Vargas, se tornando uma clássica representação imagética do Brasil no Século XIX.
25 litografias sobre os indígenas Argentinos
Após o sucesso de seu trabalho "Viagem pitoresca pelo Brasil" o autor resolve retornar a América em busca de material para a produção de um novo trabalho. Inicialmente desembarca no México em 1831 porém sua experiência vai se intensificar em 1834 onde dá início ao trajeto que mais o influencia no produto final que seriam as 25 litografias sobre a Argentina.
Desembarca em 1834 no Chile onde vai ter o maior período de estadia em um país e em 1837 viaja para a Argentina, porém a viagem é interrompida por um acidente com um cavalo o qual vai gerar sequelas pelo resto da vida e Rugendas retorna ao Chile.
Voltou à Argentina em 1845 onde concluiu a experiência para a produção das litografias. Durante esse período de 1834 a 1845 Rugendas percorreu Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Uruguai e teve contato com importantes figuras com Domingos Faustino Sarmiento, Esteban Echeverría e Juan Bautista Alberdi, sendo eles grandes críticos do governo de Juan Manoel Rosas, vigente na Argentina , e grandes influenciadores na representação da figura dos indígenas por Rugendas, Tornando as imagens em uma espécie de representação imagética do Poema La Cautiva de Esteban Echeverría e sendo dotadas de um enorme teor político, se tornando também importante representação da relação dos Argentinos com o Indígenas nas celebrações da independência Argentina.
Fonte: Wikipédia, Johann Moritz Rugendas. Consultada pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
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Guerra da Sucessão Espanhola
A Guerra de Sucessão Espanhola, que durou onze anos (1702 a 1714), deveu-se a uma crise entre casas aristocráticas após a morte do rei Carlos II da Espanha. Na passagem do século XVII para o século XVIII, a Europa vivia o auge do absolutismo monárquico, em que as “casas aristocráticas”, ou linhagens nobres, articulavam-se para exercer o poder sobre os diversos reinos do continente.
A Guerra de Sucessão Espanhola, que aconteceu entre os anos de 1702 e 1714, foi o maior conflito entre essas casas aristocráticas, tendo sido motivada pelo problema da herança do trono real da Espanha após a morte do, até então, rei Carlos II em 1700.
Antes de morrer, Carlos II aventou alguns possíveis nomes para seu trono, já que não possuía um herdeiro direito. O nome a que chegou Carlos II foi o de Felipe de Bourbon, conhecido como Duque de Anjour, que era neto do rei Luís XIV da França. Após o falecimento de Carlos II, as cortes espanholas reuniram-se nas cidades de Madrid e Barcelona para deliberar e reconhecer o novo rei.
O Duque de Anjour foi então alçado à categoria de monarca sob o título de Felipe V. Assim sendo, a Espanha passava a ter um rei da casa do Bourbons, a mesma que governava a França.
Um rei dos Bourbons na Espanha gerava uma tensão muito grande em outros países da Europa que eram gestados por outras linhagens aristocráticas, sobretudo a dos Habsburgos.
A tensão acontecia, sobretudo, porque Luís XIV, o então rei da França, precisaria, em breve, de um sucessor. Levantou-se a hipótese de que Luís XV poderia ser o seu neto, o aclamado rei da Espanha.
Nesse sentido, havia a possibilidade de Felipe V tornar-se rei da Espanha e França ao mesmo tempo. Algumas nações posicionaram-se contra isso, formando uma “Grande Aliança”para enfrentar a Espanha.
A Grande Aliança foi formada por Áustria, Inglaterra, Holanda, Suécia, Dinamarca e os principados alemães. O Tratado de Haia, assinado em setembro de 1701, selou sua formação e determinou suas diretrizes. A guerra estourou no ano seguinte.
O começo da guerra motivada pela sucessão do trono espanhol ocorreu no norte da Itália, que à época não era ainda um Estado unificado, mas uma miríade de pequenos reinos, e logo se espalhou para outras regiões, como os Países Baixos, os principados da Alemanha, o norte da França e, evidentemente, a Península Ibérica. Essa guerra mobilizou praticamente todas as nações europeias ao longo dos onze anos de sua duração.
O problema só foi resolvido quando, por meio do Tratado de Paz de Utrecht, a Espanha, vencida pelas tropas inglesas e holandesas, teve de se comprometer a renunciar quaisquer pretensões ao trono francês e, além disso, a garantir territórios e conexões comerciais às nações vencedoras. Parte das sanções do referido tratado também foi destinada à França, já que essa apoiou a Espanha na guerra.
Fonte: FERNANDES, Cláudio. "Guerra de Sucessão Espanhola"; Brasil Escola. Acesso em 14 de fevereiro de 2022.
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A Missão Científica Austríaca no Brasil
Em novembro de 1817, Leopoldina de Habsburgo, aos 20 anos, desembarcava no Brasil para se casar com o príncipe D. Pedro I. Filha do imperador da Áustria, ela cruzou o Atlântico na companhia de um grupo de cientistas que percorreriam diferentes itinerários para estudar e coletar espécies de animais e plantas típicas do país.
A Missão Austríaca reuniu naturalistas e artistas não apenas da Áustria, mas também do Reino da Baviera (atualmente, um dos estados da Alemanha) e da Itália. A vinda da família real e a abertura dos portos às nações amigas, em 1808, criaram um ambiente propício para que profissionais das ciências e das artes viajassem pelo Brasil a fim de conhecê-lo e retratá-lo.
Na esperança de estreitar os vínculos entre Áustria e Brasil e também agradar à filha, que gostava de estudar ciências naturais, o pai de D. Leopoldina, o imperador Francisco I, financiou a empreitada que deveria descrever e colher exemplares da fauna e da flora para museus, jardins zoológicos e jardins botânicos de seu país.
A expedição nos deixou muitas obras científicas e artísticas importantes, mas uma delas se destaca pela sua atualidade: Flora Brasiliensis (em latim científico). Trata-se, ainda hoje, da mais completa publicação sobre flora brasileira, na qual, pela primeira vez, Carl Friedrich Philipp von Martius, botânico bávaro, identificou os cinco ecossistemas do país: caatinga, cerrado, Mata Atlântica, pampa e Amazônia.
Os 15 volumes encontram-se integralmente digitalizados e disponibilizados on-line, em um projeto de mesmo nome feito pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos, e pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, com patrocínio privado e estatal. “Há poucos originais da obra e os muitos volumes que a compõem dificultam o manuseio. Buscamos facilitar o acesso ao documento”, afirma George J. Shepherd, professor aposentado do Instituto de Biologia da Unicamp, responsável pelo trabalho.
Fonte: MultiRio, "200 Anos da Missão Austríaca no Brasil", escrito e publicado por Larissa Altoé, em 30 de Maio de 2017. Consultado pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
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Exposição traz Brasil do século 19 a partir do olhar de Rugendas – Agência Brasil
As paisagens, as pessoas e o cotidiano do Brasil no século 19 a partir do olhar do artista alemão Johann Moritz Rugendas podem ser vistos a partir de hoje (12) na Caixa Cultural, no centro paulistano. Pintor, desenhista, ilustrador, aquarelista e litógrafo, produziu um dos mais importantes registros do país à época, ao lado de outros artistas, como o francês Jean Baptiste Debret.
Rugendas veio para o Brasil em 1821, ano em que completou 20 anos de idade, para fazer parte da Expedição Langsdorff, que patrocinada pelo império russo, pretendia elaborar um inventário da então colônia. Os trabalhos desse contato inicial são marcados, segundo a curadora da exposição, Ângela Ancora da Luz, pelo impacto do novo ambiente no jovem artista.
“Ele chega com um olhar habituado aquela luz menos incidente nos objetos, de invernos longos e escuros, de verões que não tem aquela claridade como ele vai encontrar no Brasil. Quando ele chega aqui ele se deslumbra com a luz tropical, com a exuberância da vegetação tropical, dos tipos diferentes”, analisou a curadora Ângela Âncora.
Influências
Segundo Ângela Âncora, as pinturas e gravuras feitas por Rugendas tiveram influência estética do romantismo, em que o autor traz a carga emocional causada pelas experiências levadas à tela. Mesmo assim, a produção tem um forte caráter documental.
“Ele [Rugendas] representa não só a fauna e a flora, como os costumes, as danças, os tipos etnográficos do índio e do negro. Ele faz um álbum de documentação do que ele via no século 19”, enfatizou a curadora.
A vivência no país vai tornando o artista mais atento aos detalhes e cenas do dia a dia. “Primeiro, nos temos um Rugendas que vê de longe, de fora, quando ele chega. Depois um outro Rugendas, quando ele já está aqui, que o seu olho já se habituou a essa exuberância toda. Então, o primeiro registro é muito mais panorâmico, enquanto o segundo registro é muito mais singular”, acrescentou a curadora.
Fonte: Agência Brasil, "Exposição traz Brasil do século 19 a partir do olhar de Rugendas" Publicado por Daniel Mello, em 12 de janeiro de 2019.
Crédito fotográfico: IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Johann Moritz Rugendas. História das Artes, publicado em 12 de maio de 2016. Consultado pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
Johann Moritz Rugendas (Augsburgo, Alemanha, 29 de março de 1802 — Weilheim, Alemanha, 29 de maio de 1858), mais conhecido como Rugendas, foi um desenhista, litógrafo e pintor alemão formado pela Academia de Munique. Participou de importantes expedições com o objetivo de documentar sobre o continente americano e tem um importante trabalho iconográfico de paisagens e costumes brasileiros, entre elas a expedição Langsdorff, uma das mais importantes incursões científicas realizadas no Brasil no século XIX, publicando em 1835, em Paris, seu célebre trabalho Malerische Reise in Brasilien (Viagem Pitoresca Através do Brasil), no qual retrata, em belíssimas gravuras, cenas do Brasil Colonial.
Biografia resumida
Desde criança, exercita o desenho e a gravura com o pai Johann Lorenz Rugendas II (1775 – 1826). Freqüenta o ateliê de Albrecht Adam (1786 – 1862), de 1815 até 1817, quando ingressou na Academia de Belas Artes de Munique.
Incentivado pelos relatos de viagem dos naturalistas J. B. von Spix (1781 – 1826) e C. Fr. Ph. de Martius (1794 – 1868) e pela obra de Thomas Ender (1793 – 1875), vem para o Brasil em 1821, como desenhista documentarista da Expedição Langsdorff.
Abandona a expedição em 1824, mas continua sozinho o registro de tipos, costumes, paisagens, fauna e flora brasileiros. Segue para Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo e retorna ao Rio de Janeiro ainda no mesmo ano.
Rugendas não realiza nenhuma pintura a óleo em sua primeira estada no Brasil, privilegia o desenho e ocasionalmente o colore à aquarela. De 1825 a 1828 viveu entre Paris, Augsburg e Munique. Nesse período, dedica-se à publicação de sua obra Voyage Pittoresque dans le Brésil.
Vai para a Itália em 1828, onde observa novas técnicas. O uso de cores e o esboço a óleo chamam sua atenção. Motivado pelo naturalista Alexander Humboldt (1769 – 1859), Rugendas viajou para o México em 1831, com projeto de viagem pela América com objetivo de reunir material para nova publicação. No México, começa a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália.
A partir de 1834, excursiona pela América do Sul, passa pelo Chile, Argentina, Peru e Bolívia. Em 1845, chega ao Rio de Janeiro, onde retrata membros da família imperial e é convidado a participar da Exposição Geral de Belas Artes. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa.
Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao Rei Maximiliano II, da Baviera, perdendo-a anos depois por não realizar produção pictórica com base em seus trabalhos americanos, tal como havia acordado.
Faleceu no dia 29 de maio de 1858 na cidade de Weilh em situação financeira não muito favorável e amargurado pela certeza do fracasso artístico.
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Biografia - Itaú Cultural
Pertence à sétima geração de uma família de desenhistas, pintores, gravadores e impressores. Desde criança, exercita o desenho e a gravura, e se inicia na atividade artística por influência de seu pai, Johann Lorenz Rugendas II (1775 – 1826), diretor e professor da escola de desenho de Augsburg.
De 1815 a 1817, frequenta o ateliê do pintor alemão de batalhas Albrecht Adam (1786 – 1862). Em 1817, começa a estudar na Academia de Belas Artes de Munique como aluno de Lorenzo Quaglio II (1793 – 1869). A influência do ensino acadêmico é permanente na produção do artista, que valoriza o desenho em suas composições e a representação segundo a reelaboração ideal e universal da observação do particular.
Incentivado pelos relatos de viagem dos naturalistas alemães Johann Baptist von Spix (1781-1826) e Karl Friedrich Philipp von Martius (1794 – 1868) e pela obra do pintor austríaco Thomas Ender (1793-1875), vem ao Brasil como desenhista documentarista da Expedição Langsdorff, do cônsul da Rússia Grigory Ivanovitch Langsdorff (1774 – 1852).
Chega ao Rio de Janeiro em 1822, em pleno processo de independência do país.
Apesar de viver isolado com os outros participantes da expedição na Fazenda Mandioca, de propriedade do cônsul, Rugendas vai constantemente à capital e faz amizade com os artistas da Missão Artística Francesa. Nesse período, retrata a paisagem natural, a fauna, a flora, os tipos físicos e as vistas da cidade do Rio de Janeiro.
Em 1824, parte em direção a Minas Gerais, passando por São Paulo. O artista se desentende com Langsdorff e abandona o grupo, continuando suas andanças sozinho. Seu itinerário exato não é conhecido, mas, pelos desenhos, sabe-se que passa por São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco. Nessa primeira viagem privilegia o desenho, ocasionalmente colorido à aquarela.
Cem litografias baseadas em desenhos brasileiros são publicadas no volume Voyage Pittoresque dans le Brésil [Viagem Pitoresca através do Brasil], em edição bilíngue em francês-alemão (1827 – 1835). Pensado como livro de viagem, conta com a participação de 22 litógrafos e de Victor Aimé Huber (1800 – 1869) na preparação dos textos. O livro é considerado um dos mais importantes documentos iconográficos sobre o Brasil do século XIX, e é subdividido em: paisagens, tipos e costumes, usos e costumes dos indígenas, a vida dos europeus, europeus na Bahia e em Pernambuco, usos e costumes dos negros.
A obra brasileira de Rugendas nem sempre é uma cópia fiel da realidade.
As ilustrações de plantas e animais obedecem a um caráter minucioso e objetivo; nesses casos o artista desenha sob a tutela de naturalistas. Com relação às paisagens, o historiador Pablo Diener afirma que são uma reprodução fiel da natureza, apreendida mais em sua unidade do que nos detalhes, com exceção das gravuras, em que o litógrafo recria outra imagem com base no desenho original, como a prancha Entrada da Barra do Rio de Janeiro, gravada pelo artista romântico Richard Parkes Bonington (1802 – 1828).
Em cenas da vida cotidiana da população brasileira e nos retratos etnográficos percebemos o empenho em criar imagens idealizadas, de caráter mais programático. Os corpos de negros e indígenas são representados em estilo clássico, os traços suavizados e europeizados. Da mesma forma, a situação dos escravizados é amenizada: o trabalho é mostrado como atividade quase lúdica em pranchas como Preparação da Raiz de Mandioca e Colheita de Café.
Já na época de sua publicação, Voyage Pittoresque recebe críticas por seu caráter pouco documental. Mas alcança êxito com o grande público, circulando no Brasil em edição francesa com sucesso, talvez por causa da maneira benevolente com que retrata a sociedade oitocentista.
De 1825 a 1828, viveu entre Paris, Augsburg e Munique. Em 1828, vai para a Itália e, durante o tempo em Roma, entra em contato com correntes artísticas como neoclassicismo e romantismo. De 1829 a 1831, pinta telas de temas brasileiros com base em seus desenhos. São espaços idílicos que refletem ideias correntes na época sobre o Novo Mundo como paraíso terreno e habitat do bom selvagem.
Motivado pelo naturalista alemão Alexander Humboldt (1769 – 1859), cuja influência o leva à decisão de se tornar “o ilustrador dos novos territórios”, viaja para o México em 1831, onde começa a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália. A partir de 1834, excursionou por países como Chile, Argentina, Peru e Bolívia.
Em sua segunda passagem pelo Rio de Janeiro (1845 – 1846) encontra uma extraordinária acolhida por parte da coroa brasileira, que lhe encomenda diversos retratos. Participa das Exposições Gerais de Belas Artes (1845 e 1846) a convite do pintor francês Félix Taunay (1795 – 1881).
Em 1847, parte definitivamente para a Europa. Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao Rei Maximiliano II (1811 – 1864), da Baviera, perdendo-a anos depois por não realizar produção pictórica com base em seus trabalhos americanos, como acordado.
Com desenhos, aquarelas e pinturas a óleo, o conjunto gráfico e pictórico de Johann Moritz Rugendas representa um dos materiais fundamentais de conhecimento da sociedade e da paisagem americana no século XIX.
Críticas
"Humboldt e Martius são referências preliminares para uma primeira aproximação da síntese realizada por Rugendas em seu álbum pitoresco. A viagem de Humboldt e Bonpland à América Latina é de modo geral indissociável da construção da paisagem dos trópicos. Em particular, o modelo do Atlas Pittoresque. Vue des Cordillères et des Monuments du Peuple Indigène de l'America oferece uma solução de concepção científica expressa pela arte (...) Apropriando-se da visão pictórica de matriz científica, recomendada por Humboldt, Rugendas acerca-se do pitoresco, buscando as características regionais do país, que são definidas e se manifestam simultaneamente na conformação geral do solo, no recorte das montanhas com relação à planície, na geologia geográfica, na geobotânica. Seus desenhos têm a capacidade de transformar aspectos físicos em esfera cosmogônica da vida humana. (...) Rugendas afirma nos desenhos uma concepção orgânica da vida em completa interdependência, despreocupando-se da individualização de unidades que formam a paisagem e enfatizando a maneira como se dão no conjunto. (...) Nos desenhos originais de Rugendas transparece o grande gesto que sustenta a visão de conjunto, o modo como primeiro desenha o todo e depois intensifica alguma parte". – Ana Maria de Moraes Belluzzo (RUGENDAS. O desenhista e pintor. BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994. v. 1, p. 77. Volume 1: imaginário do novo mundo).
"Rugendas insere-se na história da arte como um dos maiores criadores da iconografia americana, como um pintor versátil, cujo leque temático vai desde os estudos naturalistas da paisagem até as mais sofisticadas composições de tema histórico. Seu conhecimento da América está fundamentado nos vinte anos de viagens, quando percorreu desde o México até o sul do Chile, perfazendo no continente a maior rota realizada por um viajante no século XIX. Ao concluir sua grande viagem americana, Rugendas deu uma mirada retrospectiva no trabalho realizado durante essa etapa fundamental de sua carreira; essa recapitulação autobiográfica se materializou na seleção da pintura a óleo, que apresentou na Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro em 1845. Essa mostra lhe valeu o mais alto reconhecimento público pelo seu trabalho, traduzido na condecoração de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro oferecido pelo Império brasileiro". –
Pablo Diener e Maria de Fátima Costa (RUGENDAS. O desenhista e pintor. DIENER, Pablo; COSTA, Maria de Fátima. A América de Rugendas: obras e documentos. Edição Angel Bojadsen, Edilberto Fernando Verza. São Paulo: Estação Liberdade, 1999. p.13-14).
Acervos
Acervo Staatliche Graphische Sammlung Munich - Munique (Alemanha)
Acervo Städtische Kunstsannlungen Augsburg - Augsburg (Alemanha)
Arquivo da Academia de Ciências de São Petesburgo - São Petesburgo (Rússia)
Coleção Brasiliana / Fundação Estudar - São Paulo SP
Coleção Itaú - São Paulo SP
Coleção Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa - Rio de Janeiro RJ
Fundação Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro RJ
Ibero-Amerikanisches Institut, Preussischer Kulturbesitz - Berlim (Alemanha)
Museu de Belas Artes - Caracas (Venezuela)
Museu Histórico de Montevidéu - Cabildo (Uruguai)
Museu Histórico Nacional - Rio de Janeiro RJ
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Museu Nacional de Belas Artes - Santiago (Chile)
Museu Nacional de História - Rio de Janeiro RJ
Museum für Völkerkunde, Preussischer Kulturbesitz - Berlim (Alemanha)
Museus Castro Maya - Rio de Janeiro RJ
Palácios e Jardins Estatais - Potsdam-Sanssouci (Alemanha)
Exposições Coletivas
1845 - Rio de Janeiro RJ - 6ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - recebe a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul
1846 - Rio de Janeiro RJ - 7ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
Exposições Póstumas
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA
1966 - Austin (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, na The University of Texas at Austin. Archer M. Huntington Art Gallery
1966 - New Haven (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, na The Yale University Art Gallery,
1966 - San Diego (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no La Jolla Museum of Art
1966 - New Orleans (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no Isaac Delgado Museum of Art
1966 - San Francisco (Estados Unidos) - Art of Latin America since Independence, no San Francisco art Museum
1969 - Rio de Janeiro RJ - Rugendas, no MIS/SP
1977 - São Paulo SP - 33 Desenhos Originais de Rugendas: coleção Pirajá da Silva
1977 - São Paulo SP - Individual, na Pinacoteca do Estado
1983 - Recife PE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, na Fundação Joaquim Nabuco. Administração Central
1984 - Aracaju SE - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Brasília DF - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - Lisboa (Portugal) - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala, no Museu Gulbenkian da Fundação Calouste Gulbenkian
1984 - Salvador BA - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1984 - Vitória ES - 50 Anos de Casa-Grande & Senzala
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1990 - Rio de Janeiro RJ - Rugendas x Fotografia
1990 - São Paulo SP - Rugendas x Fotografia
1990 - Curitiba PR - Rugendas x Fotografia
1990 - Belo Horizonte MG - Rugendas x Fotografia
1990 - Salvador BA - Rugendas x Fotografia
1990 - São Paulo SP - A Coleção de Arte do Município de São Paulo, no Masp
1991 - São Paulo SP - A Mata, no MAC/USP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1992 - São Paulo SP - O Olhar de Sérgio sobre a Arte Brasileira: desenhos e pinturas, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade
1992 - Zurique (Suíça) - Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, no Kunsthaus Zürich
1994 - Lisboa (Portugal) - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no Museu Rafael Bordalo Pinheiro
1994 - Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro: capital d'além-mar, no CCBB
1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1995 - Belo Horizonte MG - Os Herdeiros da Noite: fragmentos do imaginário negro, no Centro de Cultura de Belo Horizonte
1995 - São Paulo SP - O Brasil de Hoje no Espelho do Século XIX: artistas alemães e brasileiros refazem a Expedição Langsdorff, no Masp
1996 - Londres (Reino Unido) - Brazil Through European Eyes, na Christie's
1996 - Rio de Janerio RJ - O Brasil de Hoje no Espelho do Século XIX: artistas alemães e brasileiros refazem a Expedição Langsdorff, na Fundação Casa França-Brasil
1998 - Brasília DF - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Ministério das Relações Exteriores
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
1999 - São Paulo SP - Brasileiro que nem Eu, que nem Quem?, no Museu de Arte Brasileira. Salão Cultural
2000 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio na Coleção Geyer, no CCBB
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento: Negro de Corpo e Alma e O Olhar Distante, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - São Paulo SP - Rugendas no México, no Memorial da América Latina
2003 - São Paulo SP - Vistas do Brasil: Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2004 - São Paulo SP - Gabinete de Papel, no CCSP
Fonte: JOHANN Moritz Rugendas. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 10 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Missão Artística Francesa
O século XIX no Brasil presencia mudanças profundas na história das artes plásticas em relação aos séculos anteriores, cujo sentido não pode ser compreendido sem referência à chamada Missão Artística Francesa.
Em 26 de março de 1816 aporta no Rio de Janeiro um grupo de artistas franceses, liderados por Joachim Lebreton (1760-1819), secretário recém-destituído do Institut de France.
Acompanham-no o pintor histórico Debret (1768-1848), o paisagista Nicolas Antoine Taunay (1755-1830) e seu irmão, o escultor Auguste-Marie Taunay (1768-1824), o arquiteto Grandjean de Montigny (1776-1850) e o gravador de medalhas Charles-Simon Pradier (1783-1847). O objetivo é fundar a primeira Academia de Arte no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Há duas versões sobre a origem da Missão. A primeira afirma que, por sugestão do conde da Barca, o príncipe Dom João (1767-1826) requer ao marquês de Marialva, então representante do governo português na França, a contratação de um grupo de artistas capaz de lançar as bases de uma instituição de ensino em artes visuais na nova capital do reino. Aconselhado pelo naturalista Alexander von Humboldt (1769-1859), Marialva chega a Lebreton, que se encarrega de formar o grupo.
A outra versão afirma que os integrantes da Missão vêm por iniciativa própria, oferecendo seus serviços à corte portuguesa. Formados no ambiente neoclássico e partidários de Napoleão Bonaparte, os artistas se sentem prejudicados com a volta dos Bourbon ao poder. Decidem vir para o Brasil e são acolhidos por D. João, esperançoso de que possam ajudar nos processos de renovação do Rio de Janeiro e de afirmação da corte no país.
Recentemente, historiadores buscaram um meio termo entre as duas versões, que parece a mais plausível. Fala-se em casamento de interesses: por um lado, o rei teria se mostrado receptivo à criação da academia; a par dessa informação, Lebreton, com o intuito de sair da França, teria oferecido seus serviços, arregimentando artistas dispostos a se refugiar em outro país.
Não foram poucas as dificuldades encontradas pelo grupo para realização da missão. A Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios foi criada por decreto no dia 12 de agosto de 1816, estabelecendo pelo período de seis anos pensão aos artistas franceses.
No entanto, ela não passa de uma medida formal, pois não chega a funcionar, devido a causas políticas e sociais: a resistência de membros lusitanos do governo à presença francesa; as dificuldades impostas pelo representante da monarquia francesa, o cônsul-geral coronel Maler; o atraso de ordem material e estrutural no qual se encontrava o Rio de Janeiro; o desprezo da sociedade por assuntos relativos às artes.
A escola abre as portas somente em 5 de novembro de 1826, passando por dois outros decretos, o de 12 de outubro de 1820, que institui a Real Academia de Desenho, Pintura e Arquitetura Civil, e o derradeiro, de 25 de novembro do mesmo ano, que anuncia a criação de uma escola de ensino unicamente artístico com a denominação Academia e Escola Real.
Durante o longo tempo de espera, os franceses seguem com suas atividades. Notadamente Debret e Grandjean de Montigny aceitam encomendas oficiais. O primeiro realiza diversas telas para a família real e o último é responsável pelo edifício da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) e outras obras públicas, como o prédio da Alfândega (atual Casa França-Brasil).
Por ocasião das festas comemorativas da coroação de Dom João VI, em 1818, ambos idealizam, com Auguste Taunay, a ornamentação da cidade. Debret também se dedica ao ensino de desenho e pintura num espaço alugado, enquanto realiza as aquarelas que marcariam sua obra da fase brasileira. No Rio de Janeiro, Nicolas Taunay segue como pintor de paisagem encantado com a natureza tropical.
A situação torna-se difícil com a morte de Lebreton em 1819, e a nomeação, em 1820 do pintor português Henrique José da Silva (1772-1834) para a direção da Academia Real. Nicolas Taunay decide voltar para França em 1821 e é substituído pelo filho Félix Taunay (1795-1881). Os outros tentam adaptar-se à realidade de uma academia distante de seus planos originais.
Com a chegada de reforços franceses, os irmãos Marc Ferrez (1788-1850) e Zepherin Ferrez (1797-1851), escultor e gravador, respectivamente, os remanescentes da Missão procuram resistir às adversidades criadas pelo novo diretor. Debret não aguenta por muito tempo e retorna à França em 1831, levando seu aluno preferido, Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879).
Historicamente, além da importância da Missão Artística Francesa como fundadora do ensino formal de artes no Brasil, pode-se dizer que durante o tempo em que esses artistas permanecem no país, dentro ou não da Academia, eles ajudam a fixar a imagem do artista como homem livre numa sociedade de cunho burguês e da arte como ação cultural leiga no lugar da figura do artista-artesão, submetido à Igreja e seus temas, posição predominante nos séculos anteriores.
Fonte: MISSÃO Artística Francesa. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 14 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia - Wikipédia
Era descendente de uma antiga família de artistas, cujos antecessores eram catalães e flamengos, que abandonou a Catalunha, por suas crenças protestantes, em 1608. Foi o primeiro filho de Johann Lorenz Rugendas, o diretor da escola de artes local, pintor e desenhista e de Regina Lachler.
Em 1821, aos 19 anos de idade, acompanhou a expedição do Barão Georg Heinrich von Langsdorff ao Brasil, publicando em 1835, em Paris, seu célebre trabalho Malerische Reise in Brasilien (Viagem Pitoresca Através do Brasil), no qual retrata, em belíssimas gravuras, cenas do Brasil Colonial.
Nikolaus I Rugendas (1575-1658), primeiro representante da família Rugendas, estabeleceu uma relojoaria em Augsburgo, em 1608, e mostrou que era um relojoeiro de rara habilidade artística. Seu filho Nikolaus II (1619 – 1695), casado com Anne Marie (Kreuther), seguiu a tradição, porém, de seus treze filhos, apenas Nikolaus III (1665 – 1745) continuou com a tradição, fazendo relógios de sol e instrumentos de medição.
Seu filho mais novo, Georg Philipp (1666 – 1742), considerado o fundador da importante família Rugendas de artistas do século XVIII e XIX, não seguiu o negócio e foi estudar com o pintor de história de Augsburgo Isaak Fischesd. Viajou para Roma em 1692, seguindo depois para Viena, em 1690, e depois para Veneza, em 1692, onde frequentou academias e recebeu seus primeiros pedidos.
Em 1693, de volta a Roma, frequentou a Accademia di San Luca, onde desenhou ruínas e esculturas e praticou a pintura de paisagens com modelos que moldaram o seu trabalho. Tornou-se um artista. Com a morte de seu pai, em 1695, retornou a Augsburgo. Dois anos depois casa-se pela primeira vez com Anna Barbara Haid († 1732) que lhe dá 9 filhos.
Suas primeiras experiências com a calcografia (gravura em metal) se dão com as séries Capricci (1698) e Diversi Pensieri (1699), publicadas por Jeremias Wolff. Em 1700 já trabalhava com a meia-tinta publicando o trabalho Chargen der Reiterei (Cargas da Cavalaria).
Seu período criativo de maior sucesso foi de 1702 a 1716, período semelhante ao da Guerra da Sucessão Espanhola (1701–1714), quando metade da Europa entrou no teatro de guerra. Ganhou reputação internacional como pintor e desenhista, principalmente de cavalos e batalhas, e entre seus clientes estavam príncipes e poderosos, como o príncipe Johann Adam Andreas von Liechtenstein e o príncipe-bispo Lothar Franz von Schönborn, arcebispo de Mainz e bispo de Bamberg.
A base de sua reputação como pintor de batalhas reais pode ser vista no trabalho Die Befreiung Wiens (Libertação de Viena), de 1690. Em 1710, foi nomeado diretor vitalício da Academia de Artes de Augsburgo, tendo entre seus alunos Johann Elias Ridinger (1698-1767).
De 1715 a 1735, dedicou-se mais à produção de gráficos impressos, muito mais lucrativos, criando extensas sequências de meia-tinta e folhas de tese, envolvendo seus filhos Georg e Christian em sua manufatura. Georg Phillip, "o velho", casou-se mais duas vezes, em 1732 e 1734. Entre seus 13 filhos, Georg Philipp Rugendas (1701-1774), Christian Rugendas (1708-1781) e Jeremias Got Rugendas (1710-1772) trabalharam como gravuristas, especialmente em água-tinta.
Moritz cresceu sob a aura desta família de gravuristas e pintores. O bisavô, presente no auto-retrato pendurado na sala, era o modelo venerado e vinculador, para o menino que, desde cedo, seduzido pelo colorido dos uniformes dos soldados franceses que andavam pelas ruas, tentava imitar a seu pai, Johann Lorenz Rugendas, um famoso pintor das batalhas napoleônicas.
Moritz continuou praticando, inspirado pelos desenhos de seu admirável antepassado. Seu pai, percebendo, em certos aspectos, que as disposições para o talento do seu filho na escola dificilmente mereceriam ser consideradas, enquanto que outras deveriam ser levadas a sério, preocupou-se em ele mesmo formá-lo.
De visita aos Rugendas, após a desastrosa marcha a Moscou, o pintor Albrecht Adam (1786-1862), amigo íntimo da família foi quem impulsionou a carreira de Johann Moritz. Adam, que havia levado sua pasta de desenhos, viu o jovem Johann Moritz estudar com entusiasmo os leves contornos dos acontecimentos mundiais em suas pranchas. Seus pais concluíram que o melhor era enviá-lo a Munique e entregá-lo aos ensinamentos do amigo.
Do estúdio de Adam, onde morou, Moritz, aos 15 anos de idade, em 1817, foi para a Academia de Belas Artes de Munique, frequentando aulas de gênero e pintura de paisagem com Lorenzo II Quaglio (1793-1869), mas aquele ambiente acadêmico não lhe satisfazia, preferindo passear pelos campos, pelos alpes, conversando com camponeses, apreciando o brilho da luz sobre um lago, e sempre desenhando, mas nunca satisfeito com seus traços.
Seu pai queria enviá-lo a Roma para finalizar seus estudos acadêmicos, no entanto seus modestos rendimentos lhe impediam. Enquanto isso, nos círculos culturais de Munique, comentava-se sobre o acordo entre as coroas da Áustria e de Portugal, unindo em matrimônio a Princesa Leopoldina, da Áustria, com o príncipe D. Pedro I, rei do Brasil, e sobre a expedição científica financiada pelo príncipe von Metternich (1773-1859) para acompanhá-la em sua viagem ao Brasil.
Entre os cientistas enviados, encontravam-se dois bávaros de Munique, o naturalista Johann Baptist Ritter von Spix (1781-1826) e o médico e botânico Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868). Além deles, participaram, entre outros, os pintores Thomas Ender e Johann Buchberger.
Em 1820, o cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro, barão Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852), médico, botânico, zoólogo, antropólogo, filólogo e navegante, que estava organizando sua própria expedição científica ao Brasil, financiado pelo czar Alexandre I, foi a Munique para encontrar-se com Martius e Spix, recém-chegados de sua expedição ao Brasil, que comentaram a falta que lhes fazia um rico material de pinturas para ilustrar seus trabalhos, visto que os pintores da expedição adoeceram durante a missão. Langsdorf preocupou-se então em encontrar, como precaução, um pintor para acompanhá-lo em sua viagem.
Rugendas, teve conhecimento da futura expedição através do botânico russo Wilhelm Friedrich von Karwinsky (1780-1855), amigo de sua família e de Langsdorf, que tratou de marcar um encontro entre os dois. As condições do contrato de trabalho foram tratadas, por carta, entre o pai de Moritz, Johann Lorenz, e o irmão do barão Georg Langsdorff, Wilhelm von Langsdorff. Rugendas e Langsdorff assinaram o contrato em 1821.
A Expedição Langsdorff (Viagem Pitoresca Através do Brasil)
Langsdorff tinha como objetivo fornecer à Academia Real de Ciências de São Petersburgo uma descrição completa da flora, fauna e populações nativas brasileiras. Johann Moritz Rugendas, já como integrante da expedição, desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de março de 1822, acompanhado do zoólogo francês Edouard P. Ménétriès (1802-1861). Rugendas ficou estarrecido com a exuberância da natureza do Brasil e seu colorido.
Enquanto não se iniciava a expedição, Langsdorff hospedou Rugendas na Fazenda Mandioca (Magé-RJ), de sua propriedade. 1822 foi o ano em que o Brasil foi abalado por distúrbios que levaram à proclamação de independência de Dom Pedro I e esses distúrbios políticos atrasaram a partida da expedição até 1824. Mais tarde, se uniriam a expedição o astrônomo russo Nester Rubtsov (1799-1874), o botânico berlinense Ludwig Riedel (1790-1861) e o pintor parisiense Adrien-Aimé Taunay (1803-1828).
Rugendas realizou algumas viagens por conta própria à cidade do Rio de Janeiro, se hospedando, frequentemente, na casa do barão Wenzel Philipp Leopold, embaixador austríaco, e foi testemunha ocular da coroação de D. Pedro I., como imperador do Brasil, em 1º de dezembro de 1822. Na capital, fez amizade com os membros da Missão Francesa especialmente com Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e com os filhos do pintor Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), Félix e Adrien. Esses contatos, com artistas europeus, como ele, com uma visão revista e atualizada do neo-classicismo, contribuíram para que Rugendas criasse novas perspectivas no seu olhar sobre o território e populações brasileiras. A essa fase da viagem correspondem a maioria de seus desenhos de plantas e animais, que permitiram-lhe aprimorar a sistemática do desenho científico.
Em 8 de maio de 1824, saindo do Rio de Janeiro, a Expedição Langsdorff viajou para Minas Gerais, passando por Barbacena e São João del Rei, seguindo para Ouro Preto, Sabará e Diamantina. Em Barra de Jequitibá (MG), em 1º de novembro de 1824, Rugendas teve uma grave discussão com Langsdorff e abandonou a expedição, e a partir daí, viajou sozinho, retornando ao Rio de Janeiro em 29 de março.
Motivado pelo naturalista Alexander Humboldt (1769-1859) em Paris, Rugendas viajou para o México em 1831, com projeto de viagem pela América com objetivo de reunir material para nova publicação.
No México, começou a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália. A partir de 1834, percorreu a América do Sul, tendo visitado Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Uruguai e Brasil.
Em 1845, voltou ao Rio de Janeiro, onde retratou membros da família imperial e foi convidado a participar da Exposição Geral de Belas Artes. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa. Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao rei Maximiliano II, da Baviera.
Obras
Viagem pitoresca pelo Brasil
Missão chefiada pelo Barão Georg Heinrich von Langsdorff com a participação de Rugendas, com o objetivo de retratar a natureza e os nativos do Brasil. A equipe permanece no Brasil no período entre 1822 a 1825 e percorre um trajeto entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo neste intervalo o período em que se inspiram as pinturas produzidas posteriormente, já na Europa por Rugendas.
O trabalho retrata a paisagem e os indígenas e foi muito elogiada inicialmente na Europa, com destaque para os elogios de Alexander von Humboldt, o qual vai inspirar e motivar o autor em seus novos trabalhos.
Dentro do Brasil a publicação vai ganhar destaque primeiramente na comemoração dos 100 anos do IHGB e posteriormente na busca por imagens representativas sobre o século XIX durante o período inicial do governo de Getúlio Vargas, se tornando uma clássica representação imagética do Brasil no Século XIX.
25 litografias sobre os indígenas Argentinos
Após o sucesso de seu trabalho "Viagem pitoresca pelo Brasil" o autor resolve retornar a América em busca de material para a produção de um novo trabalho. Inicialmente desembarca no México em 1831 porém sua experiência vai se intensificar em 1834 onde dá início ao trajeto que mais o influencia no produto final que seriam as 25 litografias sobre a Argentina.
Desembarca em 1834 no Chile onde vai ter o maior período de estadia em um país e em 1837 viaja para a Argentina, porém a viagem é interrompida por um acidente com um cavalo o qual vai gerar sequelas pelo resto da vida e Rugendas retorna ao Chile.
Voltou à Argentina em 1845 onde concluiu a experiência para a produção das litografias. Durante esse período de 1834 a 1845 Rugendas percorreu Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Uruguai e teve contato com importantes figuras com Domingos Faustino Sarmiento, Esteban Echeverría e Juan Bautista Alberdi, sendo eles grandes críticos do governo de Juan Manoel Rosas, vigente na Argentina , e grandes influenciadores na representação da figura dos indígenas por Rugendas, Tornando as imagens em uma espécie de representação imagética do Poema La Cautiva de Esteban Echeverría e sendo dotadas de um enorme teor político, se tornando também importante representação da relação dos Argentinos com o Indígenas nas celebrações da independência Argentina.
Fonte: Wikipédia, Johann Moritz Rugendas. Consultada pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
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Guerra da Sucessão Espanhola
A Guerra de Sucessão Espanhola, que durou onze anos (1702 a 1714), deveu-se a uma crise entre casas aristocráticas após a morte do rei Carlos II da Espanha. Na passagem do século XVII para o século XVIII, a Europa vivia o auge do absolutismo monárquico, em que as “casas aristocráticas”, ou linhagens nobres, articulavam-se para exercer o poder sobre os diversos reinos do continente.
A Guerra de Sucessão Espanhola, que aconteceu entre os anos de 1702 e 1714, foi o maior conflito entre essas casas aristocráticas, tendo sido motivada pelo problema da herança do trono real da Espanha após a morte do, até então, rei Carlos II em 1700.
Antes de morrer, Carlos II aventou alguns possíveis nomes para seu trono, já que não possuía um herdeiro direito. O nome a que chegou Carlos II foi o de Felipe de Bourbon, conhecido como Duque de Anjour, que era neto do rei Luís XIV da França. Após o falecimento de Carlos II, as cortes espanholas reuniram-se nas cidades de Madrid e Barcelona para deliberar e reconhecer o novo rei.
O Duque de Anjour foi então alçado à categoria de monarca sob o título de Felipe V. Assim sendo, a Espanha passava a ter um rei da casa do Bourbons, a mesma que governava a França.
Um rei dos Bourbons na Espanha gerava uma tensão muito grande em outros países da Europa que eram gestados por outras linhagens aristocráticas, sobretudo a dos Habsburgos.
A tensão acontecia, sobretudo, porque Luís XIV, o então rei da França, precisaria, em breve, de um sucessor. Levantou-se a hipótese de que Luís XV poderia ser o seu neto, o aclamado rei da Espanha.
Nesse sentido, havia a possibilidade de Felipe V tornar-se rei da Espanha e França ao mesmo tempo. Algumas nações posicionaram-se contra isso, formando uma “Grande Aliança”para enfrentar a Espanha.
A Grande Aliança foi formada por Áustria, Inglaterra, Holanda, Suécia, Dinamarca e os principados alemães. O Tratado de Haia, assinado em setembro de 1701, selou sua formação e determinou suas diretrizes. A guerra estourou no ano seguinte.
O começo da guerra motivada pela sucessão do trono espanhol ocorreu no norte da Itália, que à época não era ainda um Estado unificado, mas uma miríade de pequenos reinos, e logo se espalhou para outras regiões, como os Países Baixos, os principados da Alemanha, o norte da França e, evidentemente, a Península Ibérica. Essa guerra mobilizou praticamente todas as nações europeias ao longo dos onze anos de sua duração.
O problema só foi resolvido quando, por meio do Tratado de Paz de Utrecht, a Espanha, vencida pelas tropas inglesas e holandesas, teve de se comprometer a renunciar quaisquer pretensões ao trono francês e, além disso, a garantir territórios e conexões comerciais às nações vencedoras. Parte das sanções do referido tratado também foi destinada à França, já que essa apoiou a Espanha na guerra.
Fonte: FERNANDES, Cláudio. "Guerra de Sucessão Espanhola"; Brasil Escola. Acesso em 14 de fevereiro de 2022.
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A Missão Científica Austríaca no Brasil
Em novembro de 1817, Leopoldina de Habsburgo, aos 20 anos, desembarcava no Brasil para se casar com o príncipe D. Pedro I. Filha do imperador da Áustria, ela cruzou o Atlântico na companhia de um grupo de cientistas que percorreriam diferentes itinerários para estudar e coletar espécies de animais e plantas típicas do país.
A Missão Austríaca reuniu naturalistas e artistas não apenas da Áustria, mas também do Reino da Baviera (atualmente, um dos estados da Alemanha) e da Itália. A vinda da família real e a abertura dos portos às nações amigas, em 1808, criaram um ambiente propício para que profissionais das ciências e das artes viajassem pelo Brasil a fim de conhecê-lo e retratá-lo.
Na esperança de estreitar os vínculos entre Áustria e Brasil e também agradar à filha, que gostava de estudar ciências naturais, o pai de D. Leopoldina, o imperador Francisco I, financiou a empreitada que deveria descrever e colher exemplares da fauna e da flora para museus, jardins zoológicos e jardins botânicos de seu país.
A expedição nos deixou muitas obras científicas e artísticas importantes, mas uma delas se destaca pela sua atualidade: Flora Brasiliensis (em latim científico). Trata-se, ainda hoje, da mais completa publicação sobre flora brasileira, na qual, pela primeira vez, Carl Friedrich Philipp von Martius, botânico bávaro, identificou os cinco ecossistemas do país: caatinga, cerrado, Mata Atlântica, pampa e Amazônia.
Os 15 volumes encontram-se integralmente digitalizados e disponibilizados on-line, em um projeto de mesmo nome feito pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos, e pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, com patrocínio privado e estatal. “Há poucos originais da obra e os muitos volumes que a compõem dificultam o manuseio. Buscamos facilitar o acesso ao documento”, afirma George J. Shepherd, professor aposentado do Instituto de Biologia da Unicamp, responsável pelo trabalho.
Fonte: MultiRio, "200 Anos da Missão Austríaca no Brasil", escrito e publicado por Larissa Altoé, em 30 de Maio de 2017. Consultado pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.
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Exposição traz Brasil do século 19 a partir do olhar de Rugendas – Agência Brasil
As paisagens, as pessoas e o cotidiano do Brasil no século 19 a partir do olhar do artista alemão Johann Moritz Rugendas podem ser vistos a partir de hoje (12) na Caixa Cultural, no centro paulistano. Pintor, desenhista, ilustrador, aquarelista e litógrafo, produziu um dos mais importantes registros do país à época, ao lado de outros artistas, como o francês Jean Baptiste Debret.
Rugendas veio para o Brasil em 1821, ano em que completou 20 anos de idade, para fazer parte da Expedição Langsdorff, que patrocinada pelo império russo, pretendia elaborar um inventário da então colônia. Os trabalhos desse contato inicial são marcados, segundo a curadora da exposição, Ângela Ancora da Luz, pelo impacto do novo ambiente no jovem artista.
“Ele chega com um olhar habituado aquela luz menos incidente nos objetos, de invernos longos e escuros, de verões que não tem aquela claridade como ele vai encontrar no Brasil. Quando ele chega aqui ele se deslumbra com a luz tropical, com a exuberância da vegetação tropical, dos tipos diferentes”, analisou a curadora Ângela Âncora.
Influências
Segundo Ângela Âncora, as pinturas e gravuras feitas por Rugendas tiveram influência estética do romantismo, em que o autor traz a carga emocional causada pelas experiências levadas à tela. Mesmo assim, a produção tem um forte caráter documental.
“Ele [Rugendas] representa não só a fauna e a flora, como os costumes, as danças, os tipos etnográficos do índio e do negro. Ele faz um álbum de documentação do que ele via no século 19”, enfatizou a curadora.
A vivência no país vai tornando o artista mais atento aos detalhes e cenas do dia a dia. “Primeiro, nos temos um Rugendas que vê de longe, de fora, quando ele chega. Depois um outro Rugendas, quando ele já está aqui, que o seu olho já se habituou a essa exuberância toda. Então, o primeiro registro é muito mais panorâmico, enquanto o segundo registro é muito mais singular”, acrescentou a curadora.
Fonte: Agência Brasil, "Exposição traz Brasil do século 19 a partir do olhar de Rugendas" Publicado por Daniel Mello, em 12 de janeiro de 2019.
Crédito fotográfico: IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Johann Moritz Rugendas. História das Artes, publicado em 12 de maio de 2016. Consultado pela última vez em 14 de fevereiro de 2022.