Ivens Olinto Machado (1942, Florianópolis, Brasil — 12 de maio de 2015, Rio de Janeiro, Brasil), mais conhecido como Ivens Machado, foi um artista visual, escultor, artista de performance e pioneiro da videoarte brasileiro. Estudou na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, onde teve aulas com Anna Bella Geiger e outros artistas ligados à arte experimental. Adquiriu um repertório de movimentos internacionais da arte contemporânea e iniciou sua trajetória no contexto da ditadura militar brasileira, utilizando o corpo como ferramenta expressiva e política. Em suas obras, utilizou materiais brutos como vergalhões, cimento, vidro e argamassa, e por uma estética que tenciona fragilidade e violência, memória e ruína, corpo e estrutura. Explorou temas como censura, sexualidade, violência urbana, racismo e identidade, sendo considerado um artista à frente de seu tempo por sua abordagem política e formal. Participou de cinco Bienais de São Paulo, além da Bienal de Paris e Bienal do Mercosul. Recebeu o prêmio no 5º Salão de Verão do MAM-RJ (1973). Suas obras integram acervos de instituições como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Museo Reina Sofía (Madri), Blanton Museum (EUA), Pivô (SP) e Museu Oscar Niemeyer (MON), que lhe dedicou retrospectiva em 2019.
Ivens Machado | Arremate Arte
Ivens Olinto Machado, mais conhecido como Ivens Machado, foi um artista visual brasileiro que desafiou fronteiras entre escultura, performance e videoarte, ocupando um lugar singular na arte contemporânea brasileira.
Nascido em 1942, em Florianópolis, Santa Catarina, iniciou sua formação na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, onde teve aulas com nomes como Anna Bella Geiger, desenvolvendo desde cedo um olhar crítico e experimental. Nos anos 1970, tornou-se um dos precursores da videoarte no país, usando o corpo como meio expressivo para discutir temas como censura, violência, sexualidade e racismo em plena ditadura militar.
Sua obra escultórica destacou-se pelo uso não convencional de materiais como concreto, vergalhão, vidro quebrado, argamassa e objetos de demolição — elementos que remetem à brutalidade urbana e ao corpo vulnerável. Em instalações e objetos de grande tensão física e simbólica, Ivens abordava questões sobre a memória coletiva, a violência estrutural e as camadas da história social brasileira. Ao mesmo tempo, mantinha um refinado senso poético na composição de suas formas. Trabalhos em papel, como a série Correction Fluids, revelam seu gesto incisivo sobre a linguagem gráfica tradicional, operando como sabotagens visuais contra o cânone.
Machado participou de cinco edições da Bienal de São Paulo, da Bienal de Paris e da Bienal do Mercosul. Foi premiado no 5º Salão de Verão do MAM-RJ em 1973 e teve obras exibidas em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museo Reina Sofía (Madri), Blanton Museum (Austin), e Pivô (São Paulo), que sediou a retrospectiva O Cru do Mundo, em 2016. Em 2019, o Museu Oscar Niemeyer dedicou-lhe uma ampla individual, Mestre de Obras, reconhecendo sua importância como um dos artistas mais inventivos e críticos do país. Ivens Machado deixou um legado que confronta, provoca e ainda ressoa como forma de resistência estética e política.
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Ivens Machado | Wikipédia
Ivens Olinto Machado (Florianópolis, 1942 - Rio de Janeiro, 12 de maio de 2015) foi um escultor, gravador, performance, desenhista brasileiro. Considerado uma referência da escultura brasileira, sua obra frequentemente utiliza materiais arquitetônicos, abrindo-se a reflexões acerca da memória social e histórica. Pioneiro da videoarte no Brasil, em 1973 foi premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Participou da Bienal do Mercosul, da Nouvelle Biennale de Paris e de cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Ivens Machado | Itaú Cultural
Ivens Olinto Machado (Florianópolis, Santa Catarina, 1942 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015). Escultor, gravador, pintor, videoartista. Seu trabalho é marcado pelo uso de concreto e outros materiais de construção, pela evocação política, pela tensão formal e pelo erotismo.
Em 1964, muda-se para o Rio de Janeiro, onde inicia a carreira, aproximando-se de artistas como Fernando Cocchiarale (1951), Paulo Herkenhoff (1949) e Anna Bella Geiger (1933), sua professora de gravura na Escolinha de Arte do Brasil (EAB).
O primeiro marco na sua obra é a instalação Cerimônia em três tempos (1973), pela qual é premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), em 1973. Neste mesmo ano, faz a primeira de muitas participações na Bienal Internacional de São Paulo. Um ano depois, acontece sua primeira exposição individual, na Central de Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro. Ao longo das quatro décadas seguintes, expõe em numerosas mostras nacionais e internacionais, além de assinar esculturas localizadas em espaços públicos do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Salvador. Em 2016, sua obra é homenageada na exposição Ivens Machado: Corpo e Construção, realizada no MAM-Rio, e na exposição O Crú do Mundo, realizada no espaço Pivô, em São Paulo.
O trabalho audiovisual representa uma porção menos volumosa de sua produção, mas igualmente celebrada e relevante, entre outras qualidades, pelo pioneirismo: ele é um dos precursores do gênero no Brasil. Na videoarte Versus (1974), encostados em uma parede branca, estão um homem branco e um homem negro. A câmera passa a deslizar horizontalmente de um para o outro, numa velocidade que aumenta, misturando as imagens sem, no entanto, fundir os dois corpos. A cena se desenrola com a aproximação dos personagens, gerando a expectativa de um beijo que, com a interrupção da sequência, afinal não se realiza. De forte cunho político, a obra traz à tona a questão racial com um gesto de brutalidade e erotismo, antecipando uma combinação que é marcante em toda a trajetória do artista e se apresenta de forma bastante explícita em trabalhos mais tardios, como as esculturas Sem título de 1988 e 1990, que evocam, com formas estranhas, uma carnalidade orgânica na rudeza do material rígido.
Também mais raros, porém icônicos, são os trabalhos que ele produz com folhas de caderno, entre 1970 e 1980. Em Sem título (1970), saltam aos olhos, no papel pautado, algumas linhas corrompidas, como cordas arrebentadas, atravessadas por aberturas que criam desvios de rota num percurso originalmente fechado e retilíneo. Em Fluidos corretores (1974), o artista usa corretor de estêncil para preencher o espaço vazio entre as linhas. Já em Machucados e curados (1980), as folhas de caderno atraem o olhar para os buracos nelas contidos. As intervenções realizadas pelo artista subvertem a lógica de poder impressa no espaço marcado para o aprendizado, como nota Cocchiarale. Operando na forma da folha pautada, ele desloca o objeto de sua função habitual para o campo da arte.
A década de 1980 é marcada por um maior envolvimento com a escultura, a manifestação mais emblemática de sua obra. Esse movimento já se anuncia nos anos precedentes. Ainda em 1979, ele cria Mapa mudo, uma obra feita de cacos de vidro verde cravados numa peça de concreto com o formato do território brasileiro. Criada durante a ditadura militar, a imagem evoca ao mesmo tempo as exuberantes florestas e o precário sistema de proteção tipicamente cultural presente nos muros das casas, sendo também um símbolo das fronteiras sociais e políticas no país. Mais um marco na produção do artista, a obra, como frisa a crítica e curadora Luisa Duarte (1979), combina elementos que, ao longo das décadas seguintes, consolidam-se como fundamentais no seu trabalho: o uso de materiais de construção e a presença de elementos que remetem às casas populares.
A escritora e artista visual Laura Erber (1979) chama atenção para uma opacidade não apenas material, mas também conceitual na obra do artista: Mapa mudo é um dos “raros momentos em que a forma é alçada à condição de imagem interpretável”, como ela declara. Suas esculturas, por exemplo, mesmo quando insinuam alguma relação com uma forma identificável, mantêm certo grau de indeterminabilidade, outra de suas marcas. Apesar disso, sua obra, como defende o crítico Agnaldo Farias (1955), posiciona-se contra um projeto que não se preocupa com a definição de propósitos e da função da arte: é uma arte que quer significar. E significa fazendo da matéria sua linguagem.
Sem filiação a um grupo ou tendência artística, Ivens Machado tem uma trajetória singular, na qual o sentido de sua obra vai se construindo na experimentação de meios e materiais. Tão plástica quanto política, sua linguagem se funda no sutil equilíbrio da sofisticação com a matéria bruta, combinando a imponência da forma com uma eloquência discreta do nível do discurso.
Exposições
1966 - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas
1967 - 7 Novíssimos (1967 : Rio de Janeiro, RJ)
1971 - 3º Salão de Verão
1973 - 5º Salão de Verão
1973 - 12ª Bienal Internacional de São Paulo
1974 - Prospectiva' 74
1974 - 8ª Jovem Arte Contemporânea
1975 - lVideo Art
1975 - Video Art
1975 - Video Art
1975 - Video Art
1975 - Individual de Ivens Machado
1977 - Identidade de artista – um livro
1978 - Individual de Ivens Machado
1978 - Individual de Ivens Machado
1979 - Individual de Ivens Machado
1981 - 16ª Bienal Internacional de São Paulo
1983 - Individual de Ivens Machado
1984 - Individual de Ivens Machado
1984 - Nouvelle Bienal de Paris
1985 - Individual de Ivens Machado
1985 - Nuove Trame dell' Arte
1985 - Individual de Ivens Machado
1985 - Galeria Subdistrito: Mostra Inaugural
1985 - 16º Panorama de Arte Atual Brasileira
1985 - Couriers: Six Brazilian Artists
1986 - Individual de Ivens Machado
1986 - Transvanguarda e Culturas Nacionais
1986 - Individual de Ivens Machado
1987 - Individual de Ivens Machado
1987 - 19ª Bienal Internacional de São Paulo
1987 - Modernidade
1987 - Modernidade: arte brasileira do século XX
1988 - Brazil Projects
1988 - Individual de Ivens Machado
1988 - Ivens Machado: esculturas
1988 - A Ordem Desfeita
1989 - Rio Hoje
1989 - Individual de Ivens Machado
1990 - Projetos Arqueos
1990 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas
1990 - Arie
1991 - Individual de Ivens Machado
1991 - Termoli
1992 - Frida, Ivens, Nuno, Venosa: Quatro artistas da Coleção Marcantonio Villaça
1992 - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateubriand: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
1992 - 10ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba
1992 - A sedução dos volumes: os tridimensionais do MAC
1992 - Brazilian Contemporary Art
1992 - Brazilian Contemporary Art
1992 - 1º A Caminho de Niterói: coleção João Sattamini
1992 - Brazilian Contemporary Art
1993 - A Rarefação dos Sentidos: Coleção João Sattamini - anos 70
1993 - Arte Erótica
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - 2ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini
1993 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Livro-Objeto: a fronteira dos vazios
1994 - Trincheiras: arte e política no Brasil
1994 - Individual de Ivens Machado
1994 - Espelhos e Sombras
1994 - 22ª Bienal Internacional de São Paulo
1994 - Espelhos e Sombras
1995 - Livro-Objeto: a fronteira dos vazios
1995 - Esculturas Urbanas
1996 - Mensa/Mensae
1996 - Arte e Espaço Urbano: quinze propostas
1996 - Transparências
1996 - Entre Esculturas e Objetos
1997 - Vertente Cartográfica
1997 - 1ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
1997 - Arte Cidade III: a cidade e suas histórias
1997 - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX
1997 - A Arte Contemporânea da Gravura
1997 - 16º Salão Nacional de Artes Plásticas
1998 - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996 - 1998
1998 - 24ª Bienal Internacional de São Paulo
1998 - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ
1998 - Espelho da Bienal
1998 - Coleção Sattamini: dos materiais às diferenças internas
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 - Brasilidades
2000 - Arte Conceitual e Conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC/USP
2000 - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz
2000 - Situações: arte brasileira anos 70
2000 - Arte e Erotismo
2000 - Século 20: arte do Brasil
2001 - Jardim de Esculturas
2001 - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea
2001 - O Espírito de Nossa Época
2001 - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea
2001 - O Espírito de Nossa Época
2001 - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea
2001 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Cidadeprojeto / cidadeexperiência
2002 - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini
2002 - 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea
2002 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Caminhos do Contemporâneo: 1952/2002
2002 - Coleção Sattamini: esculturas e objetos
2002 - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói
2002 - A Forma e a Imagem Técnica na Arte do Rio de Janeiro: 1950-1975
2002 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Violência e Paixão
2002 - Individual de Ivens Machado
2002 - Acervo em Papel
2002 - Fragmentos a seu Ímã: obras primas do MAB
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - 11ª Universidarte
2003 - 1º Projéteis de Arte Contemporânea
2003 - 4ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
2003 - Arteconhecimento: 70 anos USP
2004 - Fotografia e Escultura no Acervo do MAM - 1995 a 2004
2004 - 26ª Bienal Internacional de São Paulo
2005 - Coletiva 2005
2005 - O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira
2005 - Coletiva de Acervo 2005
2005 - Amalgames brésiliens : 18 Artistes contemporains du Brésil
2005 - Grandes Múltiplos Incomuns
2005 - N_múltiplos
2005 - BR 2005
2005 - Artecontemporânea
2006 - Parcial
2006 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2006 - Volpi e as Heranças Contemporâneas
2006 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2006 - Abrigo Poético: diálogos com Lygia Clark
2006 - Acumulações
2006 - MAM [na] OCA: Arte Brasileira do Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo
2006 - Individual de Ivens Machado
2006 - Viva Cultura Viva
2006 - 25 Artistas
2007 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2007 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2007 - Arte como Questão: anos 70
2007 - Quase Escultura
2007 - Acumulações
2008 - Arte Pela Amazônia: arte e atitude
2008 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2008 - 3º Arquivo Geral
2008 - N Múltiplos
2008 - Coletiva 08
2009 - Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções João Sattamini e Mac de Niterói
2010 - Genealogias do Contemporâneo
2010 - Notas do Acervo
2010 - Ivens Machado: made in China
2010 - Os 70's
2010 - Desenhos e Diálogos
2011 - Centopéia: intervenções do ñ grupo
2011 - O Colecionador de Sonhos
2011 - Em Torno da Escultura
2011 - Individual de Ivens Machado
2012 - Arte de Contradicciones: Pop, Realismos y Política - Brasil - Argentina 1960
2013 - Rio de Imagens: uma paisagem em construção
2013 - O Abrigo e o Terreno: arte e sociedade no Brasil
2013 - O Artista como Autor. O Artista Como Editor
2014 - 30 X Bienal: Transformações na Arte Brasileira da 1ª à 30ª edição
2014 - Arroz sem Sal
2014 - Éter: exposição coletiva
2014- Há Escolas que São Gaiolas e Há Escolas que São Asas
2014 - 20 Anos
2015 - Era só saudade dos que partiram (2015 : São Paulo, SP)
2015 - Manifesto
2016 - Todos por Um
2016 - Em Polvorosa: um Panorama das Coleções MAM Rio
2018 - Matriz do Tempo Real
2018 - A-tensão
2018 - Desterro Desaterro - MASC 70 Anos
2018 - A marquise, o MAM e nós no meio
2019 - Alegria – A Natureza-Morta nas Coleções MAM Rio
2019 - Mestre de Obras
2019 - Homenagem a Reynaldo Roels Jr.
2019 - Do Volume e do Espaço: modos de fazer
2019 - O Ovo e a Galinha
2020 - Collapsible
2020 - Casa Carioca
2020 - Realce (obras do acervo)
2021 - 1981/2021: Arte contemporânea brasileira na coleção Andrea e José Olympio Pereira
2021 - Estado Bruto
2021 - Os Monstros de Babaloo
2023 - Contra-Flecha: Arqueia mas não quebra
2023 - Diagonais
2023 - ABERTO/02
Fonte: IVENS Machado. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 09 de junho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Ivens Machado: Mestre de Obras | Arte que Acontece
Realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), a mostra individual de Ivens Machado “Mestre de Obras” apresenta desenhos, esculturas, fotografias e vídeos relacionados a diferentes períodos da trajetória do artista, procurando criar um diálogo entre as várias vertentes. Ivens Machado foi um dos artistas mais importantes de sua geração e um dos pioneiros da videoarte no Brasil.
“A exposição apresentada pelo Museu Oscar Niemeyer apresenta ao público um conjunto expressivo de obras desse importante artista brasileiro, que influenciou várias gerações”, comentou a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika. “Com genialidade, ele conseguiu extrapolar a matéria, permitindo que seu trabalho evoque sensações”, disse.
No início da década de 1970, Ivens Machado produziu obras em papel utilizando cadernos pautados ou quadriculados, onde realizou interferências. Na década seguinte, sua obra é marcada por um envolvimento maior com a escultura. Em grande parte de seu trabalho escultórico, utiliza materiais da construção civil, trabalhando com formas e superfícies irregulares.
Produzida pelo MON, a exposição apresenta de forma abrangente e expressiva a obra do artista em Curitiba, incluindo trabalhos poucas vezes mostrados no Brasil. A exposição será para o público uma experiência inédita e de grande intensidade artística.
“A mostra reúne o conjunto de sua obra, atravessando meio século de uma produção marcada pela sua força, sua crueza e também sua delicadeza e alegria”, diz a curadora Mônica Grandchamp. Ela explica que, num primeiro momento o impacto da obra pode trazer desconforto, mas com um segundo olhar, encontra-se a fantasia, a sutileza e a delicadeza.
Fonte: Arte que Acontece, “Ivens Machado: Mestre de Obras”, publicado em 13 de abril de 2019. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Ivens Machado: Corpo e construção | ArtRef
Ivens Machado: Corpo e construção, primeira exposição do artista em uma galeria após seu repentino falecimento em 2015. A mostra apresenta seis esculturas realizadas entre 1991 e 2006, um tríptico fotográfico a partir da Performance com bandagens cirúrgicas, de 1973, e uma série de fotos com registros inéditos da mesma performance, editado a partir da recuperação de negativos do artista.
Ivens Machado utilizava matérias-primas próprias da construção civil como concreto, vergalhões, vidro e madeira, manipulando estes materiais de modo a reorganizar os códigos da escultura convencional. Suas obras articulam tensões sociais e sexuais ao abordarem questões como a violência e a repressão, temáticas que revelaram-se controversas ao longo de sua carreira, especialmente durante o período da ditadura militar. Suas esculturas materializam uma sintaxe clara e objetiva que dá voz às formas em si, deixando que o concreto armado ou estilhaçado, telas aramadas e tijolos quebrados desvelem camadas de significação para além de suas superfícies. Em Sem título (2006), na primeira sala expositiva, o concreto dilata-se em um ângulo superior a 90º, encerrando-se em robustas extremidades cravadas por estilhaços de telha.
Parte de uma geração de artistas sucessora ao Neoconcretismo, Machado escolhe trilhar uma trajetória estética paralela ao circuito da arte dos anos 70, marcado pelas discussões políticas e afiliações a grupos e movimentos. A crueza de suas formas revela-se, portanto, como digestão da herança construtivista para uma terceira direção, de forte viés autoral e alta carga provocativa. O excesso e a exuberância de suas formas tecem relações entre corporeidade e construção, carne e cimento. A obra Sem título (2001), que ocupa um dos salões frontais do espaço expositivo, tem forte relação com a escultura pública originalmente produzida pelo artista para o entorno do Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, em 1997. O arco de Ivens evidencia, já em um momento avançado de sua trajetória, a coerência e o rigor formal com que sua obra se desenrola ao longo de mais de quatro décadas.
A série de fotografias Sem título (Performance com bandagem cirúrgica) (1973–2018) também sublinha a articulação entre o corpo e a escultura. Ao recobrir partes do corpo, as bandagens brancas acentuam suas formas à medida em que recortam em partes o sujeito (o próprio artista). Braços e pernas aparecem despregados do corpo e o rosto, que em um momento está encoberto, em outro mira a câmera desafiadoramente. A performance remonta a um momento da arte em que a investigação de questões ligadas ao corpo no campo do vídeo, da fotografia e da performance aparece como elemento central na pesquisa de diversos artistas. Aqui, o artista forja seu corpo enquanto campo de experimentação, permitindo conotações de dor e privação. A escolha da gaze enquanto dispositivo performático possibilita diferentes chaves de leitura, remetendo a dor tanto em uma dimensão física, do autoflagelo, quanto em uma dimensão metafórica, aludindo à repressão militar e sexual.
Ivens Machado (Florianópolis, 1942 – Rio de Janeiro, 2015) começa sua carreira na década de 1970, em uma produção que se desdobra entre desenho, escultura, pintura, e vídeo. Após um período de dificuldades relacionadas a problemas de saúde, o artista começa a trabalhar com a Fortes D’Aloia & Gabriel no ano de 2014 mas, infelizmente, acaba por não concretizar a tempo sua primeira individual com a galeria. A presente exposição, portanto, foi realizada em colaboração com o recém-criado Acervo Ivens Machado, coordenado por Mônica Grandchamp. Esta primeira exposição marca o início de uma trajetória de trabalho que busca dar continuidade ao legado deste grande artista de trajetória singular.
Fonte: ArtRef, “Ivens Machado: Corpo e construção”, publicado por Paulo Varella, em 14 de maio de 2018. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Morre o artista visual Ivens Machado, aos 72 anos | O Globo
O artista visual Ivens Machado morreu nesta terça-feira, aos 72 anos, em sua casa, na Avenida Niemeyer, no Rio. Machado não resistiu aos traumas após cair da escada. O velório será realizado nesta quarta-feira, de 14h às 18h, no Cemitério da Ordem Terceira do Carmo. A cerimônia de cremação está marcada para quinta, no mesmo local, às 15h.
Nascido em Florianópolis, Santa Catarina, em 1942, Machado foi um dos pioneiros da videoarte no Brasil — em 1974, ele fez parte da primeira mostra da nova mídia no Brasil. No mesmo ano, teve um de seus vídeos, "Versus", censurado por uma possível alusão a um beijo homossexual.
Na década de 1970, no auge da arte conceitual, os artistas debatiam o dia inteiro sobre arte, mas Ivens Machado queria ir ao cinema e ao teatro. Arredio às panelinhas do meio, e alheio aos movimentos que confortavelmente servem para classificar a criação, Machado preferiu se manter indefinível, e acabou criando esculturas singulares na arte brasileira.
— Não sou especialmente ligado à minha área, sinto como se sempre estivesse fora dela. Pelos movimentos artísticos, pela própria sociabilidade dos artistas. Minhas escolhas não foram as mais convencionais, as mais ligadas às pesquisas do meio — disse o artista em entrevista ao GLOBO. — Tenho uma formação ampla, mas pouco estruturada. Olho para vários lugares, perco-me um pouco, sempre foi difícil formar uma frase, escrever. Pelo menos, se há uma qualidade no meu trabalho, é a originalidade.
Aluno de Anna Bella Geiger, começou a carreira com obras em papel, tendo sido premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio, o MAM, em 1973.
A partir daí, começou a se destacar pelo uso de diferentes materiais usados em construção, como ferro, concreto e argila, que remetem ao acabamento rústico das casas pobres. Nos mais de 30 anos de escultura e desenho, o artista dominou todo o processo material da criação de suas obras.
— Não trabalho com materiais dentro do campo de algumas tradições, não tenho uma leitura concreta, não uso metal e placas. Tenho uma posição especial dentro da arte - disse, em 2008. — Não sou dos queridinhos, apesar de ser considerado importante. Sou plano B.
Ser artista, na vida de Machado, também acabou sendo um plano B. A idéia inicial era trabalhar com arte-educação. Ele chegou ao Rio em 1964, para fazer um curso de professores de arte, mas já com planos de não voltar para a capital catarinense.
Depois do curso, criou uma escolinha em Laranjeiras e começou a dar aulas de arte. Fundou um orfanato que abrigava dez crianças, no fim dos anos 1970, no mesmo bairro. Até que se cansou. Parou de trabalhar com arte-educação, doou a casa do orfanato e decidiu se dedicar a ser artista. Em 1975, Machado fez sua primeira exposição individual, em Milão, na Itália, em conseqüência do primeiro prêmio do Salão de Verão do MAM, dois anos antes.
Na época, o artista trabalhava com papéis pautados, interrompendo a regularidade das linhas. Comprou uma bobina e brincava com a interrupção do funcionamento do mecanismo ainda artesanal de se fazer pautas, distorcendo-as, em papéis que chegavam a 12 metros de comprimento.
Com trabalhos expostos nos principais museus do país, assim como em Veneza, Milão e Turim, Machado participou de bienais em São Paulo (1981, 1987, 1998 e 2004), Paris (1985) e do Mercosul. Em 2008, exposições no Paço Imperial e na galeria Marcia Barrozo do Amaral fizeram retrospectiva de sua obra.
Furto e polêmica com VLT
Recentemente, Ivens Machado passou por dois incidentes nada agradáveis. Em 2014, uma obra que fez na década de 1990 para o projeto "Esculturas Urbanas" foi retirada por conta do processo de revitalização do Centro do Rio.
A Secretaria municipal de Conservação informou que a escultura de Ivens foi levada para a sede da Gerência de Monumentos e Chafarizes e será recolocada no endereço original após a conclusão das obras.
Em 2013, ele teve parte de sua obra — um abridor de lata — furtada de exposição no Museu de Arte do Rio (MAR).
Fonte: O Globo, “Morre o artista visual Ivens Machado, aos 72 anos”, publicado em 13 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Três anos após sua morte, Ivens Machado ganha mostra na Carpintaria | O Globo
Um ano antes de sua morte, em 12 de maio de 2015, causada por uma queda acidental em casa, Ivens Machado conversava com a galerista e amiga Márcia Fortes sobre uma exposição, que, à época, não chegou a se concretizar. Um dos pioneiros da videoarte no país, que se firmou como escultor nas décadas de 1970 e 1980, o catarinense radicado no Rio havia se isolado do meio artístico após passar pelo tratamento de um câncer, e buscava ânimo para voltar a produzir, ao mesmo tempo em que tentava salvar parte do acervo, acondicionado em condições longe das ideais em um depósito no bairro de Ramos.
A morte repentina, aos 72 anos, interrompeu a volta ao circuito com material inédito, mas não o trabalho de catalogação e conservação das obras, levado à frente por Márcia e pela designer Mônica Grandchamp, assistente do escultor durante anos. Após duas mostras institucionais em 2016, no Espaço Pivô (São Paulo) e no MAM-RJ, suas obras serão expostas agora na individual “Ivens Machado: Corpo e construção” na Carpintaria — galeria carioca da qual Márcia é sócia — a partir de sábado, dentro de um projeto de memória e preservação de seu legado.
Era amiga do Ivens antes de começar a trabalhar com ele, desde a época em que era crítica e curadora. Ele sempre foi tido como um artista “difícil”, mas nos entendíamos muito bem, e da amizade surgiu uma enorme admiração por sua obra — lembra Márcia Fortes. — Ele havia conseguido vencer a batalha contra o câncer, mas não contra a depressão. Quando começamos a trabalhar juntos o primeiro passo foi recuperar seu acervo, e depois começamos a pensar numa exposição só de obras inéditas, mas infelizmente não tivemos tempo para concluí-la.
Segundo a galerista, a catalogação e o restauro das obras foram priorizados nos últimos três anos, antes que voltassem a ser expostas em um espaço comercial, pela primeira vez após a morte do artista. Realizado pelo recém-criado Acervo Ivens Machado, que é coordenado por Mônica Grandchamp, o trabalho de conservação conseguiu fazer um levantamento inicial de 300 obras, algumas delas já restauradas, além de acomodá-las de forma tecnicamente adequada em um espaço na Antiga Fábrica Bhering.
Muitas obras estavam em estado avançado de deterioração, tanto pela forma como estavam guardadas quanto pela natureza dos trabalhos — observa Mônica Grandchamp. — Além da utilização de material de construção civil, como cimento e ferro, que notabilizou sua produção, o Ivens trabalhava com madeira, papel e elementos orgânicos, que sofrem com alterações climáticas e umidade, ainda mais em uma cidade como o Rio. Mesmo obras de cimento, que é mais resistente, já apresentavam pontos de infiltração, o que pode corroê-las por dentro.
A Carpintaria vai exibir cinco esculturas em materiais como concreto, ferro e entulho de obra, realizadas entre 1991 e 2006, além de um tríptico fotográfico com o registro da sua “Performance com bandagem cirúrgica”, de 1973. A galerista espera que a mostra seja mais um passo para ampliar a divulgação da obra de Machado, inclusive no exterior.
Levamos esculturas dele para a Frieze de Nova York, no início do mês, e o retorno foi incrível — atesta Márcia. — A seleção das obras para esta mostra destaca o caráter múltiplo da sua produção, com um diálogo entre os campos escultórico, performático e fotográfico.
Visto como um projeto de longo prazo, a catalogação e restauração das obras do escultor podem resultar também na publicação de um catalogo raisonné, ainda sem previsão de produção. Por ora, Mônica torce para que o trabalho de memória tenha reflexo também no resgate das obras públicas do artista: a escultura instalada no Largo da Carioca foi retirada em 2014 durante o processo de revitalização do Centro, e até hoje permanece em um galpão da prefeitura.
Já visitei a obra e ela está corretamente acondicionada, mas não há previsão para que retorne ao espaço original — comenta Mônica. — Seria importante ter uma cobrança da população neste sentido, porque se trata de um patrimônio público.
Márcia espera que a presença do artista aumente em instituições e coleções de referência, para que conquiste, ainda que postumamente, o reconhecimento que ela considera justo:
Ele era um artista de artistas, vários nomes de peso, como Adriana Varejão, admiram seu trabalho. Muito do que se vê hoje já era adiantado por Ivens nas décadas de 1970 e 1980. Infelizmente seu alcance não esteve à altura de sua obra, mas acredito muito nesta redescoberta agora.
Fonte: O Globo, “Três anos após sua morte, Ivens Machado ganha mostra na Carpintaria”, publicado por Nelson Gobbi, em 14 de maio de 2018. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
Crédito fotográfico: O Globo. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
Ivens Olinto Machado (1942, Florianópolis, Brasil — 12 de maio de 2015, Rio de Janeiro, Brasil), mais conhecido como Ivens Machado, foi um artista visual, escultor, artista de performance e pioneiro da videoarte brasileiro. Estudou na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, onde teve aulas com Anna Bella Geiger e outros artistas ligados à arte experimental. Adquiriu um repertório de movimentos internacionais da arte contemporânea e iniciou sua trajetória no contexto da ditadura militar brasileira, utilizando o corpo como ferramenta expressiva e política. Em suas obras, utilizou materiais brutos como vergalhões, cimento, vidro e argamassa, e por uma estética que tenciona fragilidade e violência, memória e ruína, corpo e estrutura. Explorou temas como censura, sexualidade, violência urbana, racismo e identidade, sendo considerado um artista à frente de seu tempo por sua abordagem política e formal. Participou de cinco Bienais de São Paulo, além da Bienal de Paris e Bienal do Mercosul. Recebeu o prêmio no 5º Salão de Verão do MAM-RJ (1973). Suas obras integram acervos de instituições como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Museo Reina Sofía (Madri), Blanton Museum (EUA), Pivô (SP) e Museu Oscar Niemeyer (MON), que lhe dedicou retrospectiva em 2019.
Ivens Machado | Arremate Arte
Ivens Olinto Machado, mais conhecido como Ivens Machado, foi um artista visual brasileiro que desafiou fronteiras entre escultura, performance e videoarte, ocupando um lugar singular na arte contemporânea brasileira.
Nascido em 1942, em Florianópolis, Santa Catarina, iniciou sua formação na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, onde teve aulas com nomes como Anna Bella Geiger, desenvolvendo desde cedo um olhar crítico e experimental. Nos anos 1970, tornou-se um dos precursores da videoarte no país, usando o corpo como meio expressivo para discutir temas como censura, violência, sexualidade e racismo em plena ditadura militar.
Sua obra escultórica destacou-se pelo uso não convencional de materiais como concreto, vergalhão, vidro quebrado, argamassa e objetos de demolição — elementos que remetem à brutalidade urbana e ao corpo vulnerável. Em instalações e objetos de grande tensão física e simbólica, Ivens abordava questões sobre a memória coletiva, a violência estrutural e as camadas da história social brasileira. Ao mesmo tempo, mantinha um refinado senso poético na composição de suas formas. Trabalhos em papel, como a série Correction Fluids, revelam seu gesto incisivo sobre a linguagem gráfica tradicional, operando como sabotagens visuais contra o cânone.
Machado participou de cinco edições da Bienal de São Paulo, da Bienal de Paris e da Bienal do Mercosul. Foi premiado no 5º Salão de Verão do MAM-RJ em 1973 e teve obras exibidas em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museo Reina Sofía (Madri), Blanton Museum (Austin), e Pivô (São Paulo), que sediou a retrospectiva O Cru do Mundo, em 2016. Em 2019, o Museu Oscar Niemeyer dedicou-lhe uma ampla individual, Mestre de Obras, reconhecendo sua importância como um dos artistas mais inventivos e críticos do país. Ivens Machado deixou um legado que confronta, provoca e ainda ressoa como forma de resistência estética e política.
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Ivens Machado | Wikipédia
Ivens Olinto Machado (Florianópolis, 1942 - Rio de Janeiro, 12 de maio de 2015) foi um escultor, gravador, performance, desenhista brasileiro. Considerado uma referência da escultura brasileira, sua obra frequentemente utiliza materiais arquitetônicos, abrindo-se a reflexões acerca da memória social e histórica. Pioneiro da videoarte no Brasil, em 1973 foi premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Participou da Bienal do Mercosul, da Nouvelle Biennale de Paris e de cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Ivens Machado | Itaú Cultural
Ivens Olinto Machado (Florianópolis, Santa Catarina, 1942 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015). Escultor, gravador, pintor, videoartista. Seu trabalho é marcado pelo uso de concreto e outros materiais de construção, pela evocação política, pela tensão formal e pelo erotismo.
Em 1964, muda-se para o Rio de Janeiro, onde inicia a carreira, aproximando-se de artistas como Fernando Cocchiarale (1951), Paulo Herkenhoff (1949) e Anna Bella Geiger (1933), sua professora de gravura na Escolinha de Arte do Brasil (EAB).
O primeiro marco na sua obra é a instalação Cerimônia em três tempos (1973), pela qual é premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), em 1973. Neste mesmo ano, faz a primeira de muitas participações na Bienal Internacional de São Paulo. Um ano depois, acontece sua primeira exposição individual, na Central de Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro. Ao longo das quatro décadas seguintes, expõe em numerosas mostras nacionais e internacionais, além de assinar esculturas localizadas em espaços públicos do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Salvador. Em 2016, sua obra é homenageada na exposição Ivens Machado: Corpo e Construção, realizada no MAM-Rio, e na exposição O Crú do Mundo, realizada no espaço Pivô, em São Paulo.
O trabalho audiovisual representa uma porção menos volumosa de sua produção, mas igualmente celebrada e relevante, entre outras qualidades, pelo pioneirismo: ele é um dos precursores do gênero no Brasil. Na videoarte Versus (1974), encostados em uma parede branca, estão um homem branco e um homem negro. A câmera passa a deslizar horizontalmente de um para o outro, numa velocidade que aumenta, misturando as imagens sem, no entanto, fundir os dois corpos. A cena se desenrola com a aproximação dos personagens, gerando a expectativa de um beijo que, com a interrupção da sequência, afinal não se realiza. De forte cunho político, a obra traz à tona a questão racial com um gesto de brutalidade e erotismo, antecipando uma combinação que é marcante em toda a trajetória do artista e se apresenta de forma bastante explícita em trabalhos mais tardios, como as esculturas Sem título de 1988 e 1990, que evocam, com formas estranhas, uma carnalidade orgânica na rudeza do material rígido.
Também mais raros, porém icônicos, são os trabalhos que ele produz com folhas de caderno, entre 1970 e 1980. Em Sem título (1970), saltam aos olhos, no papel pautado, algumas linhas corrompidas, como cordas arrebentadas, atravessadas por aberturas que criam desvios de rota num percurso originalmente fechado e retilíneo. Em Fluidos corretores (1974), o artista usa corretor de estêncil para preencher o espaço vazio entre as linhas. Já em Machucados e curados (1980), as folhas de caderno atraem o olhar para os buracos nelas contidos. As intervenções realizadas pelo artista subvertem a lógica de poder impressa no espaço marcado para o aprendizado, como nota Cocchiarale. Operando na forma da folha pautada, ele desloca o objeto de sua função habitual para o campo da arte.
A década de 1980 é marcada por um maior envolvimento com a escultura, a manifestação mais emblemática de sua obra. Esse movimento já se anuncia nos anos precedentes. Ainda em 1979, ele cria Mapa mudo, uma obra feita de cacos de vidro verde cravados numa peça de concreto com o formato do território brasileiro. Criada durante a ditadura militar, a imagem evoca ao mesmo tempo as exuberantes florestas e o precário sistema de proteção tipicamente cultural presente nos muros das casas, sendo também um símbolo das fronteiras sociais e políticas no país. Mais um marco na produção do artista, a obra, como frisa a crítica e curadora Luisa Duarte (1979), combina elementos que, ao longo das décadas seguintes, consolidam-se como fundamentais no seu trabalho: o uso de materiais de construção e a presença de elementos que remetem às casas populares.
A escritora e artista visual Laura Erber (1979) chama atenção para uma opacidade não apenas material, mas também conceitual na obra do artista: Mapa mudo é um dos “raros momentos em que a forma é alçada à condição de imagem interpretável”, como ela declara. Suas esculturas, por exemplo, mesmo quando insinuam alguma relação com uma forma identificável, mantêm certo grau de indeterminabilidade, outra de suas marcas. Apesar disso, sua obra, como defende o crítico Agnaldo Farias (1955), posiciona-se contra um projeto que não se preocupa com a definição de propósitos e da função da arte: é uma arte que quer significar. E significa fazendo da matéria sua linguagem.
Sem filiação a um grupo ou tendência artística, Ivens Machado tem uma trajetória singular, na qual o sentido de sua obra vai se construindo na experimentação de meios e materiais. Tão plástica quanto política, sua linguagem se funda no sutil equilíbrio da sofisticação com a matéria bruta, combinando a imponência da forma com uma eloquência discreta do nível do discurso.
Exposições
1966 - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas
1967 - 7 Novíssimos (1967 : Rio de Janeiro, RJ)
1971 - 3º Salão de Verão
1973 - 5º Salão de Verão
1973 - 12ª Bienal Internacional de São Paulo
1974 - Prospectiva' 74
1974 - 8ª Jovem Arte Contemporânea
1975 - lVideo Art
1975 - Video Art
1975 - Video Art
1975 - Video Art
1975 - Individual de Ivens Machado
1977 - Identidade de artista – um livro
1978 - Individual de Ivens Machado
1978 - Individual de Ivens Machado
1979 - Individual de Ivens Machado
1981 - 16ª Bienal Internacional de São Paulo
1983 - Individual de Ivens Machado
1984 - Individual de Ivens Machado
1984 - Nouvelle Bienal de Paris
1985 - Individual de Ivens Machado
1985 - Nuove Trame dell' Arte
1985 - Individual de Ivens Machado
1985 - Galeria Subdistrito: Mostra Inaugural
1985 - 16º Panorama de Arte Atual Brasileira
1985 - Couriers: Six Brazilian Artists
1986 - Individual de Ivens Machado
1986 - Transvanguarda e Culturas Nacionais
1986 - Individual de Ivens Machado
1987 - Individual de Ivens Machado
1987 - 19ª Bienal Internacional de São Paulo
1987 - Modernidade
1987 - Modernidade: arte brasileira do século XX
1988 - Brazil Projects
1988 - Individual de Ivens Machado
1988 - Ivens Machado: esculturas
1988 - A Ordem Desfeita
1989 - Rio Hoje
1989 - Individual de Ivens Machado
1990 - Projetos Arqueos
1990 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas
1990 - Arie
1991 - Individual de Ivens Machado
1991 - Termoli
1992 - Frida, Ivens, Nuno, Venosa: Quatro artistas da Coleção Marcantonio Villaça
1992 - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateubriand: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
1992 - 10ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba
1992 - A sedução dos volumes: os tridimensionais do MAC
1992 - Brazilian Contemporary Art
1992 - Brazilian Contemporary Art
1992 - 1º A Caminho de Niterói: coleção João Sattamini
1992 - Brazilian Contemporary Art
1993 - A Rarefação dos Sentidos: Coleção João Sattamini - anos 70
1993 - Arte Erótica
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - 2ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini
1993 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Livro-Objeto: a fronteira dos vazios
1994 - Trincheiras: arte e política no Brasil
1994 - Individual de Ivens Machado
1994 - Espelhos e Sombras
1994 - 22ª Bienal Internacional de São Paulo
1994 - Espelhos e Sombras
1995 - Livro-Objeto: a fronteira dos vazios
1995 - Esculturas Urbanas
1996 - Mensa/Mensae
1996 - Arte e Espaço Urbano: quinze propostas
1996 - Transparências
1996 - Entre Esculturas e Objetos
1997 - Vertente Cartográfica
1997 - 1ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
1997 - Arte Cidade III: a cidade e suas histórias
1997 - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX
1997 - A Arte Contemporânea da Gravura
1997 - 16º Salão Nacional de Artes Plásticas
1998 - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996 - 1998
1998 - 24ª Bienal Internacional de São Paulo
1998 - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ
1998 - Espelho da Bienal
1998 - Coleção Sattamini: dos materiais às diferenças internas
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 - Brasilidades
2000 - Arte Conceitual e Conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC/USP
2000 - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz
2000 - Situações: arte brasileira anos 70
2000 - Arte e Erotismo
2000 - Século 20: arte do Brasil
2001 - Jardim de Esculturas
2001 - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea
2001 - O Espírito de Nossa Época
2001 - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea
2001 - O Espírito de Nossa Época
2001 - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea
2001 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Cidadeprojeto / cidadeexperiência
2002 - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini
2002 - 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea
2002 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Caminhos do Contemporâneo: 1952/2002
2002 - Coleção Sattamini: esculturas e objetos
2002 - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói
2002 - A Forma e a Imagem Técnica na Arte do Rio de Janeiro: 1950-1975
2002 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Violência e Paixão
2002 - Individual de Ivens Machado
2002 - Acervo em Papel
2002 - Fragmentos a seu Ímã: obras primas do MAB
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - 11ª Universidarte
2003 - 1º Projéteis de Arte Contemporânea
2003 - 4ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
2003 - Arteconhecimento: 70 anos USP
2004 - Fotografia e Escultura no Acervo do MAM - 1995 a 2004
2004 - 26ª Bienal Internacional de São Paulo
2005 - Coletiva 2005
2005 - O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira
2005 - Coletiva de Acervo 2005
2005 - Amalgames brésiliens : 18 Artistes contemporains du Brésil
2005 - Grandes Múltiplos Incomuns
2005 - N_múltiplos
2005 - BR 2005
2005 - Artecontemporânea
2006 - Parcial
2006 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2006 - Volpi e as Heranças Contemporâneas
2006 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2006 - Abrigo Poético: diálogos com Lygia Clark
2006 - Acumulações
2006 - MAM [na] OCA: Arte Brasileira do Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo
2006 - Individual de Ivens Machado
2006 - Viva Cultura Viva
2006 - 25 Artistas
2007 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2007 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2007 - Arte como Questão: anos 70
2007 - Quase Escultura
2007 - Acumulações
2008 - Arte Pela Amazônia: arte e atitude
2008 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2008 - 3º Arquivo Geral
2008 - N Múltiplos
2008 - Coletiva 08
2009 - Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções João Sattamini e Mac de Niterói
2010 - Genealogias do Contemporâneo
2010 - Notas do Acervo
2010 - Ivens Machado: made in China
2010 - Os 70's
2010 - Desenhos e Diálogos
2011 - Centopéia: intervenções do ñ grupo
2011 - O Colecionador de Sonhos
2011 - Em Torno da Escultura
2011 - Individual de Ivens Machado
2012 - Arte de Contradicciones: Pop, Realismos y Política - Brasil - Argentina 1960
2013 - Rio de Imagens: uma paisagem em construção
2013 - O Abrigo e o Terreno: arte e sociedade no Brasil
2013 - O Artista como Autor. O Artista Como Editor
2014 - 30 X Bienal: Transformações na Arte Brasileira da 1ª à 30ª edição
2014 - Arroz sem Sal
2014 - Éter: exposição coletiva
2014- Há Escolas que São Gaiolas e Há Escolas que São Asas
2014 - 20 Anos
2015 - Era só saudade dos que partiram (2015 : São Paulo, SP)
2015 - Manifesto
2016 - Todos por Um
2016 - Em Polvorosa: um Panorama das Coleções MAM Rio
2018 - Matriz do Tempo Real
2018 - A-tensão
2018 - Desterro Desaterro - MASC 70 Anos
2018 - A marquise, o MAM e nós no meio
2019 - Alegria – A Natureza-Morta nas Coleções MAM Rio
2019 - Mestre de Obras
2019 - Homenagem a Reynaldo Roels Jr.
2019 - Do Volume e do Espaço: modos de fazer
2019 - O Ovo e a Galinha
2020 - Collapsible
2020 - Casa Carioca
2020 - Realce (obras do acervo)
2021 - 1981/2021: Arte contemporânea brasileira na coleção Andrea e José Olympio Pereira
2021 - Estado Bruto
2021 - Os Monstros de Babaloo
2023 - Contra-Flecha: Arqueia mas não quebra
2023 - Diagonais
2023 - ABERTO/02
Fonte: IVENS Machado. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 09 de junho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Ivens Machado: Mestre de Obras | Arte que Acontece
Realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), a mostra individual de Ivens Machado “Mestre de Obras” apresenta desenhos, esculturas, fotografias e vídeos relacionados a diferentes períodos da trajetória do artista, procurando criar um diálogo entre as várias vertentes. Ivens Machado foi um dos artistas mais importantes de sua geração e um dos pioneiros da videoarte no Brasil.
“A exposição apresentada pelo Museu Oscar Niemeyer apresenta ao público um conjunto expressivo de obras desse importante artista brasileiro, que influenciou várias gerações”, comentou a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika. “Com genialidade, ele conseguiu extrapolar a matéria, permitindo que seu trabalho evoque sensações”, disse.
No início da década de 1970, Ivens Machado produziu obras em papel utilizando cadernos pautados ou quadriculados, onde realizou interferências. Na década seguinte, sua obra é marcada por um envolvimento maior com a escultura. Em grande parte de seu trabalho escultórico, utiliza materiais da construção civil, trabalhando com formas e superfícies irregulares.
Produzida pelo MON, a exposição apresenta de forma abrangente e expressiva a obra do artista em Curitiba, incluindo trabalhos poucas vezes mostrados no Brasil. A exposição será para o público uma experiência inédita e de grande intensidade artística.
“A mostra reúne o conjunto de sua obra, atravessando meio século de uma produção marcada pela sua força, sua crueza e também sua delicadeza e alegria”, diz a curadora Mônica Grandchamp. Ela explica que, num primeiro momento o impacto da obra pode trazer desconforto, mas com um segundo olhar, encontra-se a fantasia, a sutileza e a delicadeza.
Fonte: Arte que Acontece, “Ivens Machado: Mestre de Obras”, publicado em 13 de abril de 2019. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Ivens Machado: Corpo e construção | ArtRef
Ivens Machado: Corpo e construção, primeira exposição do artista em uma galeria após seu repentino falecimento em 2015. A mostra apresenta seis esculturas realizadas entre 1991 e 2006, um tríptico fotográfico a partir da Performance com bandagens cirúrgicas, de 1973, e uma série de fotos com registros inéditos da mesma performance, editado a partir da recuperação de negativos do artista.
Ivens Machado utilizava matérias-primas próprias da construção civil como concreto, vergalhões, vidro e madeira, manipulando estes materiais de modo a reorganizar os códigos da escultura convencional. Suas obras articulam tensões sociais e sexuais ao abordarem questões como a violência e a repressão, temáticas que revelaram-se controversas ao longo de sua carreira, especialmente durante o período da ditadura militar. Suas esculturas materializam uma sintaxe clara e objetiva que dá voz às formas em si, deixando que o concreto armado ou estilhaçado, telas aramadas e tijolos quebrados desvelem camadas de significação para além de suas superfícies. Em Sem título (2006), na primeira sala expositiva, o concreto dilata-se em um ângulo superior a 90º, encerrando-se em robustas extremidades cravadas por estilhaços de telha.
Parte de uma geração de artistas sucessora ao Neoconcretismo, Machado escolhe trilhar uma trajetória estética paralela ao circuito da arte dos anos 70, marcado pelas discussões políticas e afiliações a grupos e movimentos. A crueza de suas formas revela-se, portanto, como digestão da herança construtivista para uma terceira direção, de forte viés autoral e alta carga provocativa. O excesso e a exuberância de suas formas tecem relações entre corporeidade e construção, carne e cimento. A obra Sem título (2001), que ocupa um dos salões frontais do espaço expositivo, tem forte relação com a escultura pública originalmente produzida pelo artista para o entorno do Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, em 1997. O arco de Ivens evidencia, já em um momento avançado de sua trajetória, a coerência e o rigor formal com que sua obra se desenrola ao longo de mais de quatro décadas.
A série de fotografias Sem título (Performance com bandagem cirúrgica) (1973–2018) também sublinha a articulação entre o corpo e a escultura. Ao recobrir partes do corpo, as bandagens brancas acentuam suas formas à medida em que recortam em partes o sujeito (o próprio artista). Braços e pernas aparecem despregados do corpo e o rosto, que em um momento está encoberto, em outro mira a câmera desafiadoramente. A performance remonta a um momento da arte em que a investigação de questões ligadas ao corpo no campo do vídeo, da fotografia e da performance aparece como elemento central na pesquisa de diversos artistas. Aqui, o artista forja seu corpo enquanto campo de experimentação, permitindo conotações de dor e privação. A escolha da gaze enquanto dispositivo performático possibilita diferentes chaves de leitura, remetendo a dor tanto em uma dimensão física, do autoflagelo, quanto em uma dimensão metafórica, aludindo à repressão militar e sexual.
Ivens Machado (Florianópolis, 1942 – Rio de Janeiro, 2015) começa sua carreira na década de 1970, em uma produção que se desdobra entre desenho, escultura, pintura, e vídeo. Após um período de dificuldades relacionadas a problemas de saúde, o artista começa a trabalhar com a Fortes D’Aloia & Gabriel no ano de 2014 mas, infelizmente, acaba por não concretizar a tempo sua primeira individual com a galeria. A presente exposição, portanto, foi realizada em colaboração com o recém-criado Acervo Ivens Machado, coordenado por Mônica Grandchamp. Esta primeira exposição marca o início de uma trajetória de trabalho que busca dar continuidade ao legado deste grande artista de trajetória singular.
Fonte: ArtRef, “Ivens Machado: Corpo e construção”, publicado por Paulo Varella, em 14 de maio de 2018. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Morre o artista visual Ivens Machado, aos 72 anos | O Globo
O artista visual Ivens Machado morreu nesta terça-feira, aos 72 anos, em sua casa, na Avenida Niemeyer, no Rio. Machado não resistiu aos traumas após cair da escada. O velório será realizado nesta quarta-feira, de 14h às 18h, no Cemitério da Ordem Terceira do Carmo. A cerimônia de cremação está marcada para quinta, no mesmo local, às 15h.
Nascido em Florianópolis, Santa Catarina, em 1942, Machado foi um dos pioneiros da videoarte no Brasil — em 1974, ele fez parte da primeira mostra da nova mídia no Brasil. No mesmo ano, teve um de seus vídeos, "Versus", censurado por uma possível alusão a um beijo homossexual.
Na década de 1970, no auge da arte conceitual, os artistas debatiam o dia inteiro sobre arte, mas Ivens Machado queria ir ao cinema e ao teatro. Arredio às panelinhas do meio, e alheio aos movimentos que confortavelmente servem para classificar a criação, Machado preferiu se manter indefinível, e acabou criando esculturas singulares na arte brasileira.
— Não sou especialmente ligado à minha área, sinto como se sempre estivesse fora dela. Pelos movimentos artísticos, pela própria sociabilidade dos artistas. Minhas escolhas não foram as mais convencionais, as mais ligadas às pesquisas do meio — disse o artista em entrevista ao GLOBO. — Tenho uma formação ampla, mas pouco estruturada. Olho para vários lugares, perco-me um pouco, sempre foi difícil formar uma frase, escrever. Pelo menos, se há uma qualidade no meu trabalho, é a originalidade.
Aluno de Anna Bella Geiger, começou a carreira com obras em papel, tendo sido premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio, o MAM, em 1973.
A partir daí, começou a se destacar pelo uso de diferentes materiais usados em construção, como ferro, concreto e argila, que remetem ao acabamento rústico das casas pobres. Nos mais de 30 anos de escultura e desenho, o artista dominou todo o processo material da criação de suas obras.
— Não trabalho com materiais dentro do campo de algumas tradições, não tenho uma leitura concreta, não uso metal e placas. Tenho uma posição especial dentro da arte - disse, em 2008. — Não sou dos queridinhos, apesar de ser considerado importante. Sou plano B.
Ser artista, na vida de Machado, também acabou sendo um plano B. A idéia inicial era trabalhar com arte-educação. Ele chegou ao Rio em 1964, para fazer um curso de professores de arte, mas já com planos de não voltar para a capital catarinense.
Depois do curso, criou uma escolinha em Laranjeiras e começou a dar aulas de arte. Fundou um orfanato que abrigava dez crianças, no fim dos anos 1970, no mesmo bairro. Até que se cansou. Parou de trabalhar com arte-educação, doou a casa do orfanato e decidiu se dedicar a ser artista. Em 1975, Machado fez sua primeira exposição individual, em Milão, na Itália, em conseqüência do primeiro prêmio do Salão de Verão do MAM, dois anos antes.
Na época, o artista trabalhava com papéis pautados, interrompendo a regularidade das linhas. Comprou uma bobina e brincava com a interrupção do funcionamento do mecanismo ainda artesanal de se fazer pautas, distorcendo-as, em papéis que chegavam a 12 metros de comprimento.
Com trabalhos expostos nos principais museus do país, assim como em Veneza, Milão e Turim, Machado participou de bienais em São Paulo (1981, 1987, 1998 e 2004), Paris (1985) e do Mercosul. Em 2008, exposições no Paço Imperial e na galeria Marcia Barrozo do Amaral fizeram retrospectiva de sua obra.
Furto e polêmica com VLT
Recentemente, Ivens Machado passou por dois incidentes nada agradáveis. Em 2014, uma obra que fez na década de 1990 para o projeto "Esculturas Urbanas" foi retirada por conta do processo de revitalização do Centro do Rio.
A Secretaria municipal de Conservação informou que a escultura de Ivens foi levada para a sede da Gerência de Monumentos e Chafarizes e será recolocada no endereço original após a conclusão das obras.
Em 2013, ele teve parte de sua obra — um abridor de lata — furtada de exposição no Museu de Arte do Rio (MAR).
Fonte: O Globo, “Morre o artista visual Ivens Machado, aos 72 anos”, publicado em 13 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Três anos após sua morte, Ivens Machado ganha mostra na Carpintaria | O Globo
Um ano antes de sua morte, em 12 de maio de 2015, causada por uma queda acidental em casa, Ivens Machado conversava com a galerista e amiga Márcia Fortes sobre uma exposição, que, à época, não chegou a se concretizar. Um dos pioneiros da videoarte no país, que se firmou como escultor nas décadas de 1970 e 1980, o catarinense radicado no Rio havia se isolado do meio artístico após passar pelo tratamento de um câncer, e buscava ânimo para voltar a produzir, ao mesmo tempo em que tentava salvar parte do acervo, acondicionado em condições longe das ideais em um depósito no bairro de Ramos.
A morte repentina, aos 72 anos, interrompeu a volta ao circuito com material inédito, mas não o trabalho de catalogação e conservação das obras, levado à frente por Márcia e pela designer Mônica Grandchamp, assistente do escultor durante anos. Após duas mostras institucionais em 2016, no Espaço Pivô (São Paulo) e no MAM-RJ, suas obras serão expostas agora na individual “Ivens Machado: Corpo e construção” na Carpintaria — galeria carioca da qual Márcia é sócia — a partir de sábado, dentro de um projeto de memória e preservação de seu legado.
Era amiga do Ivens antes de começar a trabalhar com ele, desde a época em que era crítica e curadora. Ele sempre foi tido como um artista “difícil”, mas nos entendíamos muito bem, e da amizade surgiu uma enorme admiração por sua obra — lembra Márcia Fortes. — Ele havia conseguido vencer a batalha contra o câncer, mas não contra a depressão. Quando começamos a trabalhar juntos o primeiro passo foi recuperar seu acervo, e depois começamos a pensar numa exposição só de obras inéditas, mas infelizmente não tivemos tempo para concluí-la.
Segundo a galerista, a catalogação e o restauro das obras foram priorizados nos últimos três anos, antes que voltassem a ser expostas em um espaço comercial, pela primeira vez após a morte do artista. Realizado pelo recém-criado Acervo Ivens Machado, que é coordenado por Mônica Grandchamp, o trabalho de conservação conseguiu fazer um levantamento inicial de 300 obras, algumas delas já restauradas, além de acomodá-las de forma tecnicamente adequada em um espaço na Antiga Fábrica Bhering.
Muitas obras estavam em estado avançado de deterioração, tanto pela forma como estavam guardadas quanto pela natureza dos trabalhos — observa Mônica Grandchamp. — Além da utilização de material de construção civil, como cimento e ferro, que notabilizou sua produção, o Ivens trabalhava com madeira, papel e elementos orgânicos, que sofrem com alterações climáticas e umidade, ainda mais em uma cidade como o Rio. Mesmo obras de cimento, que é mais resistente, já apresentavam pontos de infiltração, o que pode corroê-las por dentro.
A Carpintaria vai exibir cinco esculturas em materiais como concreto, ferro e entulho de obra, realizadas entre 1991 e 2006, além de um tríptico fotográfico com o registro da sua “Performance com bandagem cirúrgica”, de 1973. A galerista espera que a mostra seja mais um passo para ampliar a divulgação da obra de Machado, inclusive no exterior.
Levamos esculturas dele para a Frieze de Nova York, no início do mês, e o retorno foi incrível — atesta Márcia. — A seleção das obras para esta mostra destaca o caráter múltiplo da sua produção, com um diálogo entre os campos escultórico, performático e fotográfico.
Visto como um projeto de longo prazo, a catalogação e restauração das obras do escultor podem resultar também na publicação de um catalogo raisonné, ainda sem previsão de produção. Por ora, Mônica torce para que o trabalho de memória tenha reflexo também no resgate das obras públicas do artista: a escultura instalada no Largo da Carioca foi retirada em 2014 durante o processo de revitalização do Centro, e até hoje permanece em um galpão da prefeitura.
Já visitei a obra e ela está corretamente acondicionada, mas não há previsão para que retorne ao espaço original — comenta Mônica. — Seria importante ter uma cobrança da população neste sentido, porque se trata de um patrimônio público.
Márcia espera que a presença do artista aumente em instituições e coleções de referência, para que conquiste, ainda que postumamente, o reconhecimento que ela considera justo:
Ele era um artista de artistas, vários nomes de peso, como Adriana Varejão, admiram seu trabalho. Muito do que se vê hoje já era adiantado por Ivens nas décadas de 1970 e 1980. Infelizmente seu alcance não esteve à altura de sua obra, mas acredito muito nesta redescoberta agora.
Fonte: O Globo, “Três anos após sua morte, Ivens Machado ganha mostra na Carpintaria”, publicado por Nelson Gobbi, em 14 de maio de 2018. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
Crédito fotográfico: O Globo. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
Ivens Olinto Machado (1942, Florianópolis, Brasil — 12 de maio de 2015, Rio de Janeiro, Brasil), mais conhecido como Ivens Machado, foi um artista visual, escultor, artista de performance e pioneiro da videoarte brasileiro. Estudou na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, onde teve aulas com Anna Bella Geiger e outros artistas ligados à arte experimental. Adquiriu um repertório de movimentos internacionais da arte contemporânea e iniciou sua trajetória no contexto da ditadura militar brasileira, utilizando o corpo como ferramenta expressiva e política. Em suas obras, utilizou materiais brutos como vergalhões, cimento, vidro e argamassa, e por uma estética que tenciona fragilidade e violência, memória e ruína, corpo e estrutura. Explorou temas como censura, sexualidade, violência urbana, racismo e identidade, sendo considerado um artista à frente de seu tempo por sua abordagem política e formal. Participou de cinco Bienais de São Paulo, além da Bienal de Paris e Bienal do Mercosul. Recebeu o prêmio no 5º Salão de Verão do MAM-RJ (1973). Suas obras integram acervos de instituições como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Museo Reina Sofía (Madri), Blanton Museum (EUA), Pivô (SP) e Museu Oscar Niemeyer (MON), que lhe dedicou retrospectiva em 2019.
Ivens Machado | Arremate Arte
Ivens Olinto Machado, mais conhecido como Ivens Machado, foi um artista visual brasileiro que desafiou fronteiras entre escultura, performance e videoarte, ocupando um lugar singular na arte contemporânea brasileira.
Nascido em 1942, em Florianópolis, Santa Catarina, iniciou sua formação na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, onde teve aulas com nomes como Anna Bella Geiger, desenvolvendo desde cedo um olhar crítico e experimental. Nos anos 1970, tornou-se um dos precursores da videoarte no país, usando o corpo como meio expressivo para discutir temas como censura, violência, sexualidade e racismo em plena ditadura militar.
Sua obra escultórica destacou-se pelo uso não convencional de materiais como concreto, vergalhão, vidro quebrado, argamassa e objetos de demolição — elementos que remetem à brutalidade urbana e ao corpo vulnerável. Em instalações e objetos de grande tensão física e simbólica, Ivens abordava questões sobre a memória coletiva, a violência estrutural e as camadas da história social brasileira. Ao mesmo tempo, mantinha um refinado senso poético na composição de suas formas. Trabalhos em papel, como a série Correction Fluids, revelam seu gesto incisivo sobre a linguagem gráfica tradicional, operando como sabotagens visuais contra o cânone.
Machado participou de cinco edições da Bienal de São Paulo, da Bienal de Paris e da Bienal do Mercosul. Foi premiado no 5º Salão de Verão do MAM-RJ em 1973 e teve obras exibidas em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museo Reina Sofía (Madri), Blanton Museum (Austin), e Pivô (São Paulo), que sediou a retrospectiva O Cru do Mundo, em 2016. Em 2019, o Museu Oscar Niemeyer dedicou-lhe uma ampla individual, Mestre de Obras, reconhecendo sua importância como um dos artistas mais inventivos e críticos do país. Ivens Machado deixou um legado que confronta, provoca e ainda ressoa como forma de resistência estética e política.
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Ivens Machado | Wikipédia
Ivens Olinto Machado (Florianópolis, 1942 - Rio de Janeiro, 12 de maio de 2015) foi um escultor, gravador, performance, desenhista brasileiro. Considerado uma referência da escultura brasileira, sua obra frequentemente utiliza materiais arquitetônicos, abrindo-se a reflexões acerca da memória social e histórica. Pioneiro da videoarte no Brasil, em 1973 foi premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Participou da Bienal do Mercosul, da Nouvelle Biennale de Paris e de cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Ivens Machado | Itaú Cultural
Ivens Olinto Machado (Florianópolis, Santa Catarina, 1942 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015). Escultor, gravador, pintor, videoartista. Seu trabalho é marcado pelo uso de concreto e outros materiais de construção, pela evocação política, pela tensão formal e pelo erotismo.
Em 1964, muda-se para o Rio de Janeiro, onde inicia a carreira, aproximando-se de artistas como Fernando Cocchiarale (1951), Paulo Herkenhoff (1949) e Anna Bella Geiger (1933), sua professora de gravura na Escolinha de Arte do Brasil (EAB).
O primeiro marco na sua obra é a instalação Cerimônia em três tempos (1973), pela qual é premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), em 1973. Neste mesmo ano, faz a primeira de muitas participações na Bienal Internacional de São Paulo. Um ano depois, acontece sua primeira exposição individual, na Central de Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro. Ao longo das quatro décadas seguintes, expõe em numerosas mostras nacionais e internacionais, além de assinar esculturas localizadas em espaços públicos do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Salvador. Em 2016, sua obra é homenageada na exposição Ivens Machado: Corpo e Construção, realizada no MAM-Rio, e na exposição O Crú do Mundo, realizada no espaço Pivô, em São Paulo.
O trabalho audiovisual representa uma porção menos volumosa de sua produção, mas igualmente celebrada e relevante, entre outras qualidades, pelo pioneirismo: ele é um dos precursores do gênero no Brasil. Na videoarte Versus (1974), encostados em uma parede branca, estão um homem branco e um homem negro. A câmera passa a deslizar horizontalmente de um para o outro, numa velocidade que aumenta, misturando as imagens sem, no entanto, fundir os dois corpos. A cena se desenrola com a aproximação dos personagens, gerando a expectativa de um beijo que, com a interrupção da sequência, afinal não se realiza. De forte cunho político, a obra traz à tona a questão racial com um gesto de brutalidade e erotismo, antecipando uma combinação que é marcante em toda a trajetória do artista e se apresenta de forma bastante explícita em trabalhos mais tardios, como as esculturas Sem título de 1988 e 1990, que evocam, com formas estranhas, uma carnalidade orgânica na rudeza do material rígido.
Também mais raros, porém icônicos, são os trabalhos que ele produz com folhas de caderno, entre 1970 e 1980. Em Sem título (1970), saltam aos olhos, no papel pautado, algumas linhas corrompidas, como cordas arrebentadas, atravessadas por aberturas que criam desvios de rota num percurso originalmente fechado e retilíneo. Em Fluidos corretores (1974), o artista usa corretor de estêncil para preencher o espaço vazio entre as linhas. Já em Machucados e curados (1980), as folhas de caderno atraem o olhar para os buracos nelas contidos. As intervenções realizadas pelo artista subvertem a lógica de poder impressa no espaço marcado para o aprendizado, como nota Cocchiarale. Operando na forma da folha pautada, ele desloca o objeto de sua função habitual para o campo da arte.
A década de 1980 é marcada por um maior envolvimento com a escultura, a manifestação mais emblemática de sua obra. Esse movimento já se anuncia nos anos precedentes. Ainda em 1979, ele cria Mapa mudo, uma obra feita de cacos de vidro verde cravados numa peça de concreto com o formato do território brasileiro. Criada durante a ditadura militar, a imagem evoca ao mesmo tempo as exuberantes florestas e o precário sistema de proteção tipicamente cultural presente nos muros das casas, sendo também um símbolo das fronteiras sociais e políticas no país. Mais um marco na produção do artista, a obra, como frisa a crítica e curadora Luisa Duarte (1979), combina elementos que, ao longo das décadas seguintes, consolidam-se como fundamentais no seu trabalho: o uso de materiais de construção e a presença de elementos que remetem às casas populares.
A escritora e artista visual Laura Erber (1979) chama atenção para uma opacidade não apenas material, mas também conceitual na obra do artista: Mapa mudo é um dos “raros momentos em que a forma é alçada à condição de imagem interpretável”, como ela declara. Suas esculturas, por exemplo, mesmo quando insinuam alguma relação com uma forma identificável, mantêm certo grau de indeterminabilidade, outra de suas marcas. Apesar disso, sua obra, como defende o crítico Agnaldo Farias (1955), posiciona-se contra um projeto que não se preocupa com a definição de propósitos e da função da arte: é uma arte que quer significar. E significa fazendo da matéria sua linguagem.
Sem filiação a um grupo ou tendência artística, Ivens Machado tem uma trajetória singular, na qual o sentido de sua obra vai se construindo na experimentação de meios e materiais. Tão plástica quanto política, sua linguagem se funda no sutil equilíbrio da sofisticação com a matéria bruta, combinando a imponência da forma com uma eloquência discreta do nível do discurso.
Exposições
1966 - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas
1967 - 7 Novíssimos (1967 : Rio de Janeiro, RJ)
1971 - 3º Salão de Verão
1973 - 5º Salão de Verão
1973 - 12ª Bienal Internacional de São Paulo
1974 - Prospectiva' 74
1974 - 8ª Jovem Arte Contemporânea
1975 - lVideo Art
1975 - Video Art
1975 - Video Art
1975 - Video Art
1975 - Individual de Ivens Machado
1977 - Identidade de artista – um livro
1978 - Individual de Ivens Machado
1978 - Individual de Ivens Machado
1979 - Individual de Ivens Machado
1981 - 16ª Bienal Internacional de São Paulo
1983 - Individual de Ivens Machado
1984 - Individual de Ivens Machado
1984 - Nouvelle Bienal de Paris
1985 - Individual de Ivens Machado
1985 - Nuove Trame dell' Arte
1985 - Individual de Ivens Machado
1985 - Galeria Subdistrito: Mostra Inaugural
1985 - 16º Panorama de Arte Atual Brasileira
1985 - Couriers: Six Brazilian Artists
1986 - Individual de Ivens Machado
1986 - Transvanguarda e Culturas Nacionais
1986 - Individual de Ivens Machado
1987 - Individual de Ivens Machado
1987 - 19ª Bienal Internacional de São Paulo
1987 - Modernidade
1987 - Modernidade: arte brasileira do século XX
1988 - Brazil Projects
1988 - Individual de Ivens Machado
1988 - Ivens Machado: esculturas
1988 - A Ordem Desfeita
1989 - Rio Hoje
1989 - Individual de Ivens Machado
1990 - Projetos Arqueos
1990 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas
1990 - Arie
1991 - Individual de Ivens Machado
1991 - Termoli
1992 - Frida, Ivens, Nuno, Venosa: Quatro artistas da Coleção Marcantonio Villaça
1992 - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateubriand: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
1992 - 10ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba
1992 - A sedução dos volumes: os tridimensionais do MAC
1992 - Brazilian Contemporary Art
1992 - Brazilian Contemporary Art
1992 - 1º A Caminho de Niterói: coleção João Sattamini
1992 - Brazilian Contemporary Art
1993 - A Rarefação dos Sentidos: Coleção João Sattamini - anos 70
1993 - Arte Erótica
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - 2ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini
1993 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Livro-Objeto: a fronteira dos vazios
1994 - Trincheiras: arte e política no Brasil
1994 - Individual de Ivens Machado
1994 - Espelhos e Sombras
1994 - 22ª Bienal Internacional de São Paulo
1994 - Espelhos e Sombras
1995 - Livro-Objeto: a fronteira dos vazios
1995 - Esculturas Urbanas
1996 - Mensa/Mensae
1996 - Arte e Espaço Urbano: quinze propostas
1996 - Transparências
1996 - Entre Esculturas e Objetos
1997 - Vertente Cartográfica
1997 - 1ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
1997 - Arte Cidade III: a cidade e suas histórias
1997 - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX
1997 - A Arte Contemporânea da Gravura
1997 - 16º Salão Nacional de Artes Plásticas
1998 - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996 - 1998
1998 - 24ª Bienal Internacional de São Paulo
1998 - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ
1998 - Espelho da Bienal
1998 - Coleção Sattamini: dos materiais às diferenças internas
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 - Brasilidades
2000 - Arte Conceitual e Conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC/USP
2000 - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz
2000 - Situações: arte brasileira anos 70
2000 - Arte e Erotismo
2000 - Século 20: arte do Brasil
2001 - Jardim de Esculturas
2001 - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea
2001 - O Espírito de Nossa Época
2001 - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea
2001 - O Espírito de Nossa Época
2001 - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea
2001 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Cidadeprojeto / cidadeexperiência
2002 - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini
2002 - 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea
2002 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Caminhos do Contemporâneo: 1952/2002
2002 - Coleção Sattamini: esculturas e objetos
2002 - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói
2002 - A Forma e a Imagem Técnica na Arte do Rio de Janeiro: 1950-1975
2002 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Violência e Paixão
2002 - Individual de Ivens Machado
2002 - Acervo em Papel
2002 - Fragmentos a seu Ímã: obras primas do MAB
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - 11ª Universidarte
2003 - 1º Projéteis de Arte Contemporânea
2003 - 4ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
2003 - Arteconhecimento: 70 anos USP
2004 - Fotografia e Escultura no Acervo do MAM - 1995 a 2004
2004 - 26ª Bienal Internacional de São Paulo
2005 - Coletiva 2005
2005 - O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira
2005 - Coletiva de Acervo 2005
2005 - Amalgames brésiliens : 18 Artistes contemporains du Brésil
2005 - Grandes Múltiplos Incomuns
2005 - N_múltiplos
2005 - BR 2005
2005 - Artecontemporânea
2006 - Parcial
2006 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2006 - Volpi e as Heranças Contemporâneas
2006 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2006 - Abrigo Poético: diálogos com Lygia Clark
2006 - Acumulações
2006 - MAM [na] OCA: Arte Brasileira do Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo
2006 - Individual de Ivens Machado
2006 - Viva Cultura Viva
2006 - 25 Artistas
2007 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2007 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2007 - Arte como Questão: anos 70
2007 - Quase Escultura
2007 - Acumulações
2008 - Arte Pela Amazônia: arte e atitude
2008 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2008 - 3º Arquivo Geral
2008 - N Múltiplos
2008 - Coletiva 08
2009 - Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções João Sattamini e Mac de Niterói
2010 - Genealogias do Contemporâneo
2010 - Notas do Acervo
2010 - Ivens Machado: made in China
2010 - Os 70's
2010 - Desenhos e Diálogos
2011 - Centopéia: intervenções do ñ grupo
2011 - O Colecionador de Sonhos
2011 - Em Torno da Escultura
2011 - Individual de Ivens Machado
2012 - Arte de Contradicciones: Pop, Realismos y Política - Brasil - Argentina 1960
2013 - Rio de Imagens: uma paisagem em construção
2013 - O Abrigo e o Terreno: arte e sociedade no Brasil
2013 - O Artista como Autor. O Artista Como Editor
2014 - 30 X Bienal: Transformações na Arte Brasileira da 1ª à 30ª edição
2014 - Arroz sem Sal
2014 - Éter: exposição coletiva
2014- Há Escolas que São Gaiolas e Há Escolas que São Asas
2014 - 20 Anos
2015 - Era só saudade dos que partiram (2015 : São Paulo, SP)
2015 - Manifesto
2016 - Todos por Um
2016 - Em Polvorosa: um Panorama das Coleções MAM Rio
2018 - Matriz do Tempo Real
2018 - A-tensão
2018 - Desterro Desaterro - MASC 70 Anos
2018 - A marquise, o MAM e nós no meio
2019 - Alegria – A Natureza-Morta nas Coleções MAM Rio
2019 - Mestre de Obras
2019 - Homenagem a Reynaldo Roels Jr.
2019 - Do Volume e do Espaço: modos de fazer
2019 - O Ovo e a Galinha
2020 - Collapsible
2020 - Casa Carioca
2020 - Realce (obras do acervo)
2021 - 1981/2021: Arte contemporânea brasileira na coleção Andrea e José Olympio Pereira
2021 - Estado Bruto
2021 - Os Monstros de Babaloo
2023 - Contra-Flecha: Arqueia mas não quebra
2023 - Diagonais
2023 - ABERTO/02
Fonte: IVENS Machado. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 09 de junho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Ivens Machado: Mestre de Obras | Arte que Acontece
Realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), a mostra individual de Ivens Machado “Mestre de Obras” apresenta desenhos, esculturas, fotografias e vídeos relacionados a diferentes períodos da trajetória do artista, procurando criar um diálogo entre as várias vertentes. Ivens Machado foi um dos artistas mais importantes de sua geração e um dos pioneiros da videoarte no Brasil.
“A exposição apresentada pelo Museu Oscar Niemeyer apresenta ao público um conjunto expressivo de obras desse importante artista brasileiro, que influenciou várias gerações”, comentou a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika. “Com genialidade, ele conseguiu extrapolar a matéria, permitindo que seu trabalho evoque sensações”, disse.
No início da década de 1970, Ivens Machado produziu obras em papel utilizando cadernos pautados ou quadriculados, onde realizou interferências. Na década seguinte, sua obra é marcada por um envolvimento maior com a escultura. Em grande parte de seu trabalho escultórico, utiliza materiais da construção civil, trabalhando com formas e superfícies irregulares.
Produzida pelo MON, a exposição apresenta de forma abrangente e expressiva a obra do artista em Curitiba, incluindo trabalhos poucas vezes mostrados no Brasil. A exposição será para o público uma experiência inédita e de grande intensidade artística.
“A mostra reúne o conjunto de sua obra, atravessando meio século de uma produção marcada pela sua força, sua crueza e também sua delicadeza e alegria”, diz a curadora Mônica Grandchamp. Ela explica que, num primeiro momento o impacto da obra pode trazer desconforto, mas com um segundo olhar, encontra-se a fantasia, a sutileza e a delicadeza.
Fonte: Arte que Acontece, “Ivens Machado: Mestre de Obras”, publicado em 13 de abril de 2019. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Ivens Machado: Corpo e construção | ArtRef
Ivens Machado: Corpo e construção, primeira exposição do artista em uma galeria após seu repentino falecimento em 2015. A mostra apresenta seis esculturas realizadas entre 1991 e 2006, um tríptico fotográfico a partir da Performance com bandagens cirúrgicas, de 1973, e uma série de fotos com registros inéditos da mesma performance, editado a partir da recuperação de negativos do artista.
Ivens Machado utilizava matérias-primas próprias da construção civil como concreto, vergalhões, vidro e madeira, manipulando estes materiais de modo a reorganizar os códigos da escultura convencional. Suas obras articulam tensões sociais e sexuais ao abordarem questões como a violência e a repressão, temáticas que revelaram-se controversas ao longo de sua carreira, especialmente durante o período da ditadura militar. Suas esculturas materializam uma sintaxe clara e objetiva que dá voz às formas em si, deixando que o concreto armado ou estilhaçado, telas aramadas e tijolos quebrados desvelem camadas de significação para além de suas superfícies. Em Sem título (2006), na primeira sala expositiva, o concreto dilata-se em um ângulo superior a 90º, encerrando-se em robustas extremidades cravadas por estilhaços de telha.
Parte de uma geração de artistas sucessora ao Neoconcretismo, Machado escolhe trilhar uma trajetória estética paralela ao circuito da arte dos anos 70, marcado pelas discussões políticas e afiliações a grupos e movimentos. A crueza de suas formas revela-se, portanto, como digestão da herança construtivista para uma terceira direção, de forte viés autoral e alta carga provocativa. O excesso e a exuberância de suas formas tecem relações entre corporeidade e construção, carne e cimento. A obra Sem título (2001), que ocupa um dos salões frontais do espaço expositivo, tem forte relação com a escultura pública originalmente produzida pelo artista para o entorno do Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, em 1997. O arco de Ivens evidencia, já em um momento avançado de sua trajetória, a coerência e o rigor formal com que sua obra se desenrola ao longo de mais de quatro décadas.
A série de fotografias Sem título (Performance com bandagem cirúrgica) (1973–2018) também sublinha a articulação entre o corpo e a escultura. Ao recobrir partes do corpo, as bandagens brancas acentuam suas formas à medida em que recortam em partes o sujeito (o próprio artista). Braços e pernas aparecem despregados do corpo e o rosto, que em um momento está encoberto, em outro mira a câmera desafiadoramente. A performance remonta a um momento da arte em que a investigação de questões ligadas ao corpo no campo do vídeo, da fotografia e da performance aparece como elemento central na pesquisa de diversos artistas. Aqui, o artista forja seu corpo enquanto campo de experimentação, permitindo conotações de dor e privação. A escolha da gaze enquanto dispositivo performático possibilita diferentes chaves de leitura, remetendo a dor tanto em uma dimensão física, do autoflagelo, quanto em uma dimensão metafórica, aludindo à repressão militar e sexual.
Ivens Machado (Florianópolis, 1942 – Rio de Janeiro, 2015) começa sua carreira na década de 1970, em uma produção que se desdobra entre desenho, escultura, pintura, e vídeo. Após um período de dificuldades relacionadas a problemas de saúde, o artista começa a trabalhar com a Fortes D’Aloia & Gabriel no ano de 2014 mas, infelizmente, acaba por não concretizar a tempo sua primeira individual com a galeria. A presente exposição, portanto, foi realizada em colaboração com o recém-criado Acervo Ivens Machado, coordenado por Mônica Grandchamp. Esta primeira exposição marca o início de uma trajetória de trabalho que busca dar continuidade ao legado deste grande artista de trajetória singular.
Fonte: ArtRef, “Ivens Machado: Corpo e construção”, publicado por Paulo Varella, em 14 de maio de 2018. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Morre o artista visual Ivens Machado, aos 72 anos | O Globo
O artista visual Ivens Machado morreu nesta terça-feira, aos 72 anos, em sua casa, na Avenida Niemeyer, no Rio. Machado não resistiu aos traumas após cair da escada. O velório será realizado nesta quarta-feira, de 14h às 18h, no Cemitério da Ordem Terceira do Carmo. A cerimônia de cremação está marcada para quinta, no mesmo local, às 15h.
Nascido em Florianópolis, Santa Catarina, em 1942, Machado foi um dos pioneiros da videoarte no Brasil — em 1974, ele fez parte da primeira mostra da nova mídia no Brasil. No mesmo ano, teve um de seus vídeos, "Versus", censurado por uma possível alusão a um beijo homossexual.
Na década de 1970, no auge da arte conceitual, os artistas debatiam o dia inteiro sobre arte, mas Ivens Machado queria ir ao cinema e ao teatro. Arredio às panelinhas do meio, e alheio aos movimentos que confortavelmente servem para classificar a criação, Machado preferiu se manter indefinível, e acabou criando esculturas singulares na arte brasileira.
— Não sou especialmente ligado à minha área, sinto como se sempre estivesse fora dela. Pelos movimentos artísticos, pela própria sociabilidade dos artistas. Minhas escolhas não foram as mais convencionais, as mais ligadas às pesquisas do meio — disse o artista em entrevista ao GLOBO. — Tenho uma formação ampla, mas pouco estruturada. Olho para vários lugares, perco-me um pouco, sempre foi difícil formar uma frase, escrever. Pelo menos, se há uma qualidade no meu trabalho, é a originalidade.
Aluno de Anna Bella Geiger, começou a carreira com obras em papel, tendo sido premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio, o MAM, em 1973.
A partir daí, começou a se destacar pelo uso de diferentes materiais usados em construção, como ferro, concreto e argila, que remetem ao acabamento rústico das casas pobres. Nos mais de 30 anos de escultura e desenho, o artista dominou todo o processo material da criação de suas obras.
— Não trabalho com materiais dentro do campo de algumas tradições, não tenho uma leitura concreta, não uso metal e placas. Tenho uma posição especial dentro da arte - disse, em 2008. — Não sou dos queridinhos, apesar de ser considerado importante. Sou plano B.
Ser artista, na vida de Machado, também acabou sendo um plano B. A idéia inicial era trabalhar com arte-educação. Ele chegou ao Rio em 1964, para fazer um curso de professores de arte, mas já com planos de não voltar para a capital catarinense.
Depois do curso, criou uma escolinha em Laranjeiras e começou a dar aulas de arte. Fundou um orfanato que abrigava dez crianças, no fim dos anos 1970, no mesmo bairro. Até que se cansou. Parou de trabalhar com arte-educação, doou a casa do orfanato e decidiu se dedicar a ser artista. Em 1975, Machado fez sua primeira exposição individual, em Milão, na Itália, em conseqüência do primeiro prêmio do Salão de Verão do MAM, dois anos antes.
Na época, o artista trabalhava com papéis pautados, interrompendo a regularidade das linhas. Comprou uma bobina e brincava com a interrupção do funcionamento do mecanismo ainda artesanal de se fazer pautas, distorcendo-as, em papéis que chegavam a 12 metros de comprimento.
Com trabalhos expostos nos principais museus do país, assim como em Veneza, Milão e Turim, Machado participou de bienais em São Paulo (1981, 1987, 1998 e 2004), Paris (1985) e do Mercosul. Em 2008, exposições no Paço Imperial e na galeria Marcia Barrozo do Amaral fizeram retrospectiva de sua obra.
Furto e polêmica com VLT
Recentemente, Ivens Machado passou por dois incidentes nada agradáveis. Em 2014, uma obra que fez na década de 1990 para o projeto "Esculturas Urbanas" foi retirada por conta do processo de revitalização do Centro do Rio.
A Secretaria municipal de Conservação informou que a escultura de Ivens foi levada para a sede da Gerência de Monumentos e Chafarizes e será recolocada no endereço original após a conclusão das obras.
Em 2013, ele teve parte de sua obra — um abridor de lata — furtada de exposição no Museu de Arte do Rio (MAR).
Fonte: O Globo, “Morre o artista visual Ivens Machado, aos 72 anos”, publicado em 13 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Três anos após sua morte, Ivens Machado ganha mostra na Carpintaria | O Globo
Um ano antes de sua morte, em 12 de maio de 2015, causada por uma queda acidental em casa, Ivens Machado conversava com a galerista e amiga Márcia Fortes sobre uma exposição, que, à época, não chegou a se concretizar. Um dos pioneiros da videoarte no país, que se firmou como escultor nas décadas de 1970 e 1980, o catarinense radicado no Rio havia se isolado do meio artístico após passar pelo tratamento de um câncer, e buscava ânimo para voltar a produzir, ao mesmo tempo em que tentava salvar parte do acervo, acondicionado em condições longe das ideais em um depósito no bairro de Ramos.
A morte repentina, aos 72 anos, interrompeu a volta ao circuito com material inédito, mas não o trabalho de catalogação e conservação das obras, levado à frente por Márcia e pela designer Mônica Grandchamp, assistente do escultor durante anos. Após duas mostras institucionais em 2016, no Espaço Pivô (São Paulo) e no MAM-RJ, suas obras serão expostas agora na individual “Ivens Machado: Corpo e construção” na Carpintaria — galeria carioca da qual Márcia é sócia — a partir de sábado, dentro de um projeto de memória e preservação de seu legado.
Era amiga do Ivens antes de começar a trabalhar com ele, desde a época em que era crítica e curadora. Ele sempre foi tido como um artista “difícil”, mas nos entendíamos muito bem, e da amizade surgiu uma enorme admiração por sua obra — lembra Márcia Fortes. — Ele havia conseguido vencer a batalha contra o câncer, mas não contra a depressão. Quando começamos a trabalhar juntos o primeiro passo foi recuperar seu acervo, e depois começamos a pensar numa exposição só de obras inéditas, mas infelizmente não tivemos tempo para concluí-la.
Segundo a galerista, a catalogação e o restauro das obras foram priorizados nos últimos três anos, antes que voltassem a ser expostas em um espaço comercial, pela primeira vez após a morte do artista. Realizado pelo recém-criado Acervo Ivens Machado, que é coordenado por Mônica Grandchamp, o trabalho de conservação conseguiu fazer um levantamento inicial de 300 obras, algumas delas já restauradas, além de acomodá-las de forma tecnicamente adequada em um espaço na Antiga Fábrica Bhering.
Muitas obras estavam em estado avançado de deterioração, tanto pela forma como estavam guardadas quanto pela natureza dos trabalhos — observa Mônica Grandchamp. — Além da utilização de material de construção civil, como cimento e ferro, que notabilizou sua produção, o Ivens trabalhava com madeira, papel e elementos orgânicos, que sofrem com alterações climáticas e umidade, ainda mais em uma cidade como o Rio. Mesmo obras de cimento, que é mais resistente, já apresentavam pontos de infiltração, o que pode corroê-las por dentro.
A Carpintaria vai exibir cinco esculturas em materiais como concreto, ferro e entulho de obra, realizadas entre 1991 e 2006, além de um tríptico fotográfico com o registro da sua “Performance com bandagem cirúrgica”, de 1973. A galerista espera que a mostra seja mais um passo para ampliar a divulgação da obra de Machado, inclusive no exterior.
Levamos esculturas dele para a Frieze de Nova York, no início do mês, e o retorno foi incrível — atesta Márcia. — A seleção das obras para esta mostra destaca o caráter múltiplo da sua produção, com um diálogo entre os campos escultórico, performático e fotográfico.
Visto como um projeto de longo prazo, a catalogação e restauração das obras do escultor podem resultar também na publicação de um catalogo raisonné, ainda sem previsão de produção. Por ora, Mônica torce para que o trabalho de memória tenha reflexo também no resgate das obras públicas do artista: a escultura instalada no Largo da Carioca foi retirada em 2014 durante o processo de revitalização do Centro, e até hoje permanece em um galpão da prefeitura.
Já visitei a obra e ela está corretamente acondicionada, mas não há previsão para que retorne ao espaço original — comenta Mônica. — Seria importante ter uma cobrança da população neste sentido, porque se trata de um patrimônio público.
Márcia espera que a presença do artista aumente em instituições e coleções de referência, para que conquiste, ainda que postumamente, o reconhecimento que ela considera justo:
Ele era um artista de artistas, vários nomes de peso, como Adriana Varejão, admiram seu trabalho. Muito do que se vê hoje já era adiantado por Ivens nas décadas de 1970 e 1980. Infelizmente seu alcance não esteve à altura de sua obra, mas acredito muito nesta redescoberta agora.
Fonte: O Globo, “Três anos após sua morte, Ivens Machado ganha mostra na Carpintaria”, publicado por Nelson Gobbi, em 14 de maio de 2018. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
Crédito fotográfico: O Globo. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
Ivens Olinto Machado (1942, Florianópolis, Brasil — 12 de maio de 2015, Rio de Janeiro, Brasil), mais conhecido como Ivens Machado, foi um artista visual, escultor, artista de performance e pioneiro da videoarte brasileiro. Estudou na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, onde teve aulas com Anna Bella Geiger e outros artistas ligados à arte experimental. Adquiriu um repertório de movimentos internacionais da arte contemporânea e iniciou sua trajetória no contexto da ditadura militar brasileira, utilizando o corpo como ferramenta expressiva e política. Em suas obras, utilizou materiais brutos como vergalhões, cimento, vidro e argamassa, e por uma estética que tenciona fragilidade e violência, memória e ruína, corpo e estrutura. Explorou temas como censura, sexualidade, violência urbana, racismo e identidade, sendo considerado um artista à frente de seu tempo por sua abordagem política e formal. Participou de cinco Bienais de São Paulo, além da Bienal de Paris e Bienal do Mercosul. Recebeu o prêmio no 5º Salão de Verão do MAM-RJ (1973). Suas obras integram acervos de instituições como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Museo Reina Sofía (Madri), Blanton Museum (EUA), Pivô (SP) e Museu Oscar Niemeyer (MON), que lhe dedicou retrospectiva em 2019.
Ivens Machado | Arremate Arte
Ivens Olinto Machado, mais conhecido como Ivens Machado, foi um artista visual brasileiro que desafiou fronteiras entre escultura, performance e videoarte, ocupando um lugar singular na arte contemporânea brasileira.
Nascido em 1942, em Florianópolis, Santa Catarina, iniciou sua formação na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, onde teve aulas com nomes como Anna Bella Geiger, desenvolvendo desde cedo um olhar crítico e experimental. Nos anos 1970, tornou-se um dos precursores da videoarte no país, usando o corpo como meio expressivo para discutir temas como censura, violência, sexualidade e racismo em plena ditadura militar.
Sua obra escultórica destacou-se pelo uso não convencional de materiais como concreto, vergalhão, vidro quebrado, argamassa e objetos de demolição — elementos que remetem à brutalidade urbana e ao corpo vulnerável. Em instalações e objetos de grande tensão física e simbólica, Ivens abordava questões sobre a memória coletiva, a violência estrutural e as camadas da história social brasileira. Ao mesmo tempo, mantinha um refinado senso poético na composição de suas formas. Trabalhos em papel, como a série Correction Fluids, revelam seu gesto incisivo sobre a linguagem gráfica tradicional, operando como sabotagens visuais contra o cânone.
Machado participou de cinco edições da Bienal de São Paulo, da Bienal de Paris e da Bienal do Mercosul. Foi premiado no 5º Salão de Verão do MAM-RJ em 1973 e teve obras exibidas em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museo Reina Sofía (Madri), Blanton Museum (Austin), e Pivô (São Paulo), que sediou a retrospectiva O Cru do Mundo, em 2016. Em 2019, o Museu Oscar Niemeyer dedicou-lhe uma ampla individual, Mestre de Obras, reconhecendo sua importância como um dos artistas mais inventivos e críticos do país. Ivens Machado deixou um legado que confronta, provoca e ainda ressoa como forma de resistência estética e política.
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Ivens Machado | Wikipédia
Ivens Olinto Machado (Florianópolis, 1942 - Rio de Janeiro, 12 de maio de 2015) foi um escultor, gravador, performance, desenhista brasileiro. Considerado uma referência da escultura brasileira, sua obra frequentemente utiliza materiais arquitetônicos, abrindo-se a reflexões acerca da memória social e histórica. Pioneiro da videoarte no Brasil, em 1973 foi premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Participou da Bienal do Mercosul, da Nouvelle Biennale de Paris e de cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Ivens Machado | Itaú Cultural
Ivens Olinto Machado (Florianópolis, Santa Catarina, 1942 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015). Escultor, gravador, pintor, videoartista. Seu trabalho é marcado pelo uso de concreto e outros materiais de construção, pela evocação política, pela tensão formal e pelo erotismo.
Em 1964, muda-se para o Rio de Janeiro, onde inicia a carreira, aproximando-se de artistas como Fernando Cocchiarale (1951), Paulo Herkenhoff (1949) e Anna Bella Geiger (1933), sua professora de gravura na Escolinha de Arte do Brasil (EAB).
O primeiro marco na sua obra é a instalação Cerimônia em três tempos (1973), pela qual é premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), em 1973. Neste mesmo ano, faz a primeira de muitas participações na Bienal Internacional de São Paulo. Um ano depois, acontece sua primeira exposição individual, na Central de Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro. Ao longo das quatro décadas seguintes, expõe em numerosas mostras nacionais e internacionais, além de assinar esculturas localizadas em espaços públicos do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Salvador. Em 2016, sua obra é homenageada na exposição Ivens Machado: Corpo e Construção, realizada no MAM-Rio, e na exposição O Crú do Mundo, realizada no espaço Pivô, em São Paulo.
O trabalho audiovisual representa uma porção menos volumosa de sua produção, mas igualmente celebrada e relevante, entre outras qualidades, pelo pioneirismo: ele é um dos precursores do gênero no Brasil. Na videoarte Versus (1974), encostados em uma parede branca, estão um homem branco e um homem negro. A câmera passa a deslizar horizontalmente de um para o outro, numa velocidade que aumenta, misturando as imagens sem, no entanto, fundir os dois corpos. A cena se desenrola com a aproximação dos personagens, gerando a expectativa de um beijo que, com a interrupção da sequência, afinal não se realiza. De forte cunho político, a obra traz à tona a questão racial com um gesto de brutalidade e erotismo, antecipando uma combinação que é marcante em toda a trajetória do artista e se apresenta de forma bastante explícita em trabalhos mais tardios, como as esculturas Sem título de 1988 e 1990, que evocam, com formas estranhas, uma carnalidade orgânica na rudeza do material rígido.
Também mais raros, porém icônicos, são os trabalhos que ele produz com folhas de caderno, entre 1970 e 1980. Em Sem título (1970), saltam aos olhos, no papel pautado, algumas linhas corrompidas, como cordas arrebentadas, atravessadas por aberturas que criam desvios de rota num percurso originalmente fechado e retilíneo. Em Fluidos corretores (1974), o artista usa corretor de estêncil para preencher o espaço vazio entre as linhas. Já em Machucados e curados (1980), as folhas de caderno atraem o olhar para os buracos nelas contidos. As intervenções realizadas pelo artista subvertem a lógica de poder impressa no espaço marcado para o aprendizado, como nota Cocchiarale. Operando na forma da folha pautada, ele desloca o objeto de sua função habitual para o campo da arte.
A década de 1980 é marcada por um maior envolvimento com a escultura, a manifestação mais emblemática de sua obra. Esse movimento já se anuncia nos anos precedentes. Ainda em 1979, ele cria Mapa mudo, uma obra feita de cacos de vidro verde cravados numa peça de concreto com o formato do território brasileiro. Criada durante a ditadura militar, a imagem evoca ao mesmo tempo as exuberantes florestas e o precário sistema de proteção tipicamente cultural presente nos muros das casas, sendo também um símbolo das fronteiras sociais e políticas no país. Mais um marco na produção do artista, a obra, como frisa a crítica e curadora Luisa Duarte (1979), combina elementos que, ao longo das décadas seguintes, consolidam-se como fundamentais no seu trabalho: o uso de materiais de construção e a presença de elementos que remetem às casas populares.
A escritora e artista visual Laura Erber (1979) chama atenção para uma opacidade não apenas material, mas também conceitual na obra do artista: Mapa mudo é um dos “raros momentos em que a forma é alçada à condição de imagem interpretável”, como ela declara. Suas esculturas, por exemplo, mesmo quando insinuam alguma relação com uma forma identificável, mantêm certo grau de indeterminabilidade, outra de suas marcas. Apesar disso, sua obra, como defende o crítico Agnaldo Farias (1955), posiciona-se contra um projeto que não se preocupa com a definição de propósitos e da função da arte: é uma arte que quer significar. E significa fazendo da matéria sua linguagem.
Sem filiação a um grupo ou tendência artística, Ivens Machado tem uma trajetória singular, na qual o sentido de sua obra vai se construindo na experimentação de meios e materiais. Tão plástica quanto política, sua linguagem se funda no sutil equilíbrio da sofisticação com a matéria bruta, combinando a imponência da forma com uma eloquência discreta do nível do discurso.
Exposições
1966 - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas
1967 - 7 Novíssimos (1967 : Rio de Janeiro, RJ)
1971 - 3º Salão de Verão
1973 - 5º Salão de Verão
1973 - 12ª Bienal Internacional de São Paulo
1974 - Prospectiva' 74
1974 - 8ª Jovem Arte Contemporânea
1975 - lVideo Art
1975 - Video Art
1975 - Video Art
1975 - Video Art
1975 - Individual de Ivens Machado
1977 - Identidade de artista – um livro
1978 - Individual de Ivens Machado
1978 - Individual de Ivens Machado
1979 - Individual de Ivens Machado
1981 - 16ª Bienal Internacional de São Paulo
1983 - Individual de Ivens Machado
1984 - Individual de Ivens Machado
1984 - Nouvelle Bienal de Paris
1985 - Individual de Ivens Machado
1985 - Nuove Trame dell' Arte
1985 - Individual de Ivens Machado
1985 - Galeria Subdistrito: Mostra Inaugural
1985 - 16º Panorama de Arte Atual Brasileira
1985 - Couriers: Six Brazilian Artists
1986 - Individual de Ivens Machado
1986 - Transvanguarda e Culturas Nacionais
1986 - Individual de Ivens Machado
1987 - Individual de Ivens Machado
1987 - 19ª Bienal Internacional de São Paulo
1987 - Modernidade
1987 - Modernidade: arte brasileira do século XX
1988 - Brazil Projects
1988 - Individual de Ivens Machado
1988 - Ivens Machado: esculturas
1988 - A Ordem Desfeita
1989 - Rio Hoje
1989 - Individual de Ivens Machado
1990 - Projetos Arqueos
1990 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas
1990 - Arie
1991 - Individual de Ivens Machado
1991 - Termoli
1992 - Frida, Ivens, Nuno, Venosa: Quatro artistas da Coleção Marcantonio Villaça
1992 - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateubriand: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
1992 - 10ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba
1992 - A sedução dos volumes: os tridimensionais do MAC
1992 - Brazilian Contemporary Art
1992 - Brazilian Contemporary Art
1992 - 1º A Caminho de Niterói: coleção João Sattamini
1992 - Brazilian Contemporary Art
1993 - A Rarefação dos Sentidos: Coleção João Sattamini - anos 70
1993 - Arte Erótica
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - Brasil: segni d'arte libri e video 1950-1993
1993 - 2ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini
1993 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Livro-Objeto: a fronteira dos vazios
1994 - Trincheiras: arte e política no Brasil
1994 - Individual de Ivens Machado
1994 - Espelhos e Sombras
1994 - 22ª Bienal Internacional de São Paulo
1994 - Espelhos e Sombras
1995 - Livro-Objeto: a fronteira dos vazios
1995 - Esculturas Urbanas
1996 - Mensa/Mensae
1996 - Arte e Espaço Urbano: quinze propostas
1996 - Transparências
1996 - Entre Esculturas e Objetos
1997 - Vertente Cartográfica
1997 - 1ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
1997 - Arte Cidade III: a cidade e suas histórias
1997 - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX
1997 - A Arte Contemporânea da Gravura
1997 - 16º Salão Nacional de Artes Plásticas
1998 - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996 - 1998
1998 - 24ª Bienal Internacional de São Paulo
1998 - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ
1998 - Espelho da Bienal
1998 - Coleção Sattamini: dos materiais às diferenças internas
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 - Brasilidades
2000 - Arte Conceitual e Conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC/USP
2000 - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz
2000 - Situações: arte brasileira anos 70
2000 - Arte e Erotismo
2000 - Século 20: arte do Brasil
2001 - Jardim de Esculturas
2001 - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea
2001 - O Espírito de Nossa Época
2001 - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea
2001 - O Espírito de Nossa Época
2001 - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea
2001 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Cidadeprojeto / cidadeexperiência
2002 - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini
2002 - 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea
2002 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Caminhos do Contemporâneo: 1952/2002
2002 - Coleção Sattamini: esculturas e objetos
2002 - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói
2002 - A Forma e a Imagem Técnica na Arte do Rio de Janeiro: 1950-1975
2002 - O Engenheiro de Fábulas
2002 - Violência e Paixão
2002 - Individual de Ivens Machado
2002 - Acervo em Papel
2002 - Fragmentos a seu Ímã: obras primas do MAB
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - 11ª Universidarte
2003 - 1º Projéteis de Arte Contemporânea
2003 - 4ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
2003 - Arteconhecimento: 70 anos USP
2004 - Fotografia e Escultura no Acervo do MAM - 1995 a 2004
2004 - 26ª Bienal Internacional de São Paulo
2005 - Coletiva 2005
2005 - O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira
2005 - Coletiva de Acervo 2005
2005 - Amalgames brésiliens : 18 Artistes contemporains du Brésil
2005 - Grandes Múltiplos Incomuns
2005 - N_múltiplos
2005 - BR 2005
2005 - Artecontemporânea
2006 - Parcial
2006 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2006 - Volpi e as Heranças Contemporâneas
2006 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2006 - Abrigo Poético: diálogos com Lygia Clark
2006 - Acumulações
2006 - MAM [na] OCA: Arte Brasileira do Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo
2006 - Individual de Ivens Machado
2006 - Viva Cultura Viva
2006 - 25 Artistas
2007 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2007 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2007 - Arte como Questão: anos 70
2007 - Quase Escultura
2007 - Acumulações
2008 - Arte Pela Amazônia: arte e atitude
2008 - Um Século de Arte Brasileira - Coleção Gilberto Chateaubriand
2008 - 3º Arquivo Geral
2008 - N Múltiplos
2008 - Coletiva 08
2009 - Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções João Sattamini e Mac de Niterói
2010 - Genealogias do Contemporâneo
2010 - Notas do Acervo
2010 - Ivens Machado: made in China
2010 - Os 70's
2010 - Desenhos e Diálogos
2011 - Centopéia: intervenções do ñ grupo
2011 - O Colecionador de Sonhos
2011 - Em Torno da Escultura
2011 - Individual de Ivens Machado
2012 - Arte de Contradicciones: Pop, Realismos y Política - Brasil - Argentina 1960
2013 - Rio de Imagens: uma paisagem em construção
2013 - O Abrigo e o Terreno: arte e sociedade no Brasil
2013 - O Artista como Autor. O Artista Como Editor
2014 - 30 X Bienal: Transformações na Arte Brasileira da 1ª à 30ª edição
2014 - Arroz sem Sal
2014 - Éter: exposição coletiva
2014- Há Escolas que São Gaiolas e Há Escolas que São Asas
2014 - 20 Anos
2015 - Era só saudade dos que partiram (2015 : São Paulo, SP)
2015 - Manifesto
2016 - Todos por Um
2016 - Em Polvorosa: um Panorama das Coleções MAM Rio
2018 - Matriz do Tempo Real
2018 - A-tensão
2018 - Desterro Desaterro - MASC 70 Anos
2018 - A marquise, o MAM e nós no meio
2019 - Alegria – A Natureza-Morta nas Coleções MAM Rio
2019 - Mestre de Obras
2019 - Homenagem a Reynaldo Roels Jr.
2019 - Do Volume e do Espaço: modos de fazer
2019 - O Ovo e a Galinha
2020 - Collapsible
2020 - Casa Carioca
2020 - Realce (obras do acervo)
2021 - 1981/2021: Arte contemporânea brasileira na coleção Andrea e José Olympio Pereira
2021 - Estado Bruto
2021 - Os Monstros de Babaloo
2023 - Contra-Flecha: Arqueia mas não quebra
2023 - Diagonais
2023 - ABERTO/02
Fonte: IVENS Machado. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 09 de junho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Ivens Machado: Mestre de Obras | Arte que Acontece
Realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), a mostra individual de Ivens Machado “Mestre de Obras” apresenta desenhos, esculturas, fotografias e vídeos relacionados a diferentes períodos da trajetória do artista, procurando criar um diálogo entre as várias vertentes. Ivens Machado foi um dos artistas mais importantes de sua geração e um dos pioneiros da videoarte no Brasil.
“A exposição apresentada pelo Museu Oscar Niemeyer apresenta ao público um conjunto expressivo de obras desse importante artista brasileiro, que influenciou várias gerações”, comentou a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika. “Com genialidade, ele conseguiu extrapolar a matéria, permitindo que seu trabalho evoque sensações”, disse.
No início da década de 1970, Ivens Machado produziu obras em papel utilizando cadernos pautados ou quadriculados, onde realizou interferências. Na década seguinte, sua obra é marcada por um envolvimento maior com a escultura. Em grande parte de seu trabalho escultórico, utiliza materiais da construção civil, trabalhando com formas e superfícies irregulares.
Produzida pelo MON, a exposição apresenta de forma abrangente e expressiva a obra do artista em Curitiba, incluindo trabalhos poucas vezes mostrados no Brasil. A exposição será para o público uma experiência inédita e de grande intensidade artística.
“A mostra reúne o conjunto de sua obra, atravessando meio século de uma produção marcada pela sua força, sua crueza e também sua delicadeza e alegria”, diz a curadora Mônica Grandchamp. Ela explica que, num primeiro momento o impacto da obra pode trazer desconforto, mas com um segundo olhar, encontra-se a fantasia, a sutileza e a delicadeza.
Fonte: Arte que Acontece, “Ivens Machado: Mestre de Obras”, publicado em 13 de abril de 2019. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Ivens Machado: Corpo e construção | ArtRef
Ivens Machado: Corpo e construção, primeira exposição do artista em uma galeria após seu repentino falecimento em 2015. A mostra apresenta seis esculturas realizadas entre 1991 e 2006, um tríptico fotográfico a partir da Performance com bandagens cirúrgicas, de 1973, e uma série de fotos com registros inéditos da mesma performance, editado a partir da recuperação de negativos do artista.
Ivens Machado utilizava matérias-primas próprias da construção civil como concreto, vergalhões, vidro e madeira, manipulando estes materiais de modo a reorganizar os códigos da escultura convencional. Suas obras articulam tensões sociais e sexuais ao abordarem questões como a violência e a repressão, temáticas que revelaram-se controversas ao longo de sua carreira, especialmente durante o período da ditadura militar. Suas esculturas materializam uma sintaxe clara e objetiva que dá voz às formas em si, deixando que o concreto armado ou estilhaçado, telas aramadas e tijolos quebrados desvelem camadas de significação para além de suas superfícies. Em Sem título (2006), na primeira sala expositiva, o concreto dilata-se em um ângulo superior a 90º, encerrando-se em robustas extremidades cravadas por estilhaços de telha.
Parte de uma geração de artistas sucessora ao Neoconcretismo, Machado escolhe trilhar uma trajetória estética paralela ao circuito da arte dos anos 70, marcado pelas discussões políticas e afiliações a grupos e movimentos. A crueza de suas formas revela-se, portanto, como digestão da herança construtivista para uma terceira direção, de forte viés autoral e alta carga provocativa. O excesso e a exuberância de suas formas tecem relações entre corporeidade e construção, carne e cimento. A obra Sem título (2001), que ocupa um dos salões frontais do espaço expositivo, tem forte relação com a escultura pública originalmente produzida pelo artista para o entorno do Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, em 1997. O arco de Ivens evidencia, já em um momento avançado de sua trajetória, a coerência e o rigor formal com que sua obra se desenrola ao longo de mais de quatro décadas.
A série de fotografias Sem título (Performance com bandagem cirúrgica) (1973–2018) também sublinha a articulação entre o corpo e a escultura. Ao recobrir partes do corpo, as bandagens brancas acentuam suas formas à medida em que recortam em partes o sujeito (o próprio artista). Braços e pernas aparecem despregados do corpo e o rosto, que em um momento está encoberto, em outro mira a câmera desafiadoramente. A performance remonta a um momento da arte em que a investigação de questões ligadas ao corpo no campo do vídeo, da fotografia e da performance aparece como elemento central na pesquisa de diversos artistas. Aqui, o artista forja seu corpo enquanto campo de experimentação, permitindo conotações de dor e privação. A escolha da gaze enquanto dispositivo performático possibilita diferentes chaves de leitura, remetendo a dor tanto em uma dimensão física, do autoflagelo, quanto em uma dimensão metafórica, aludindo à repressão militar e sexual.
Ivens Machado (Florianópolis, 1942 – Rio de Janeiro, 2015) começa sua carreira na década de 1970, em uma produção que se desdobra entre desenho, escultura, pintura, e vídeo. Após um período de dificuldades relacionadas a problemas de saúde, o artista começa a trabalhar com a Fortes D’Aloia & Gabriel no ano de 2014 mas, infelizmente, acaba por não concretizar a tempo sua primeira individual com a galeria. A presente exposição, portanto, foi realizada em colaboração com o recém-criado Acervo Ivens Machado, coordenado por Mônica Grandchamp. Esta primeira exposição marca o início de uma trajetória de trabalho que busca dar continuidade ao legado deste grande artista de trajetória singular.
Fonte: ArtRef, “Ivens Machado: Corpo e construção”, publicado por Paulo Varella, em 14 de maio de 2018. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Morre o artista visual Ivens Machado, aos 72 anos | O Globo
O artista visual Ivens Machado morreu nesta terça-feira, aos 72 anos, em sua casa, na Avenida Niemeyer, no Rio. Machado não resistiu aos traumas após cair da escada. O velório será realizado nesta quarta-feira, de 14h às 18h, no Cemitério da Ordem Terceira do Carmo. A cerimônia de cremação está marcada para quinta, no mesmo local, às 15h.
Nascido em Florianópolis, Santa Catarina, em 1942, Machado foi um dos pioneiros da videoarte no Brasil — em 1974, ele fez parte da primeira mostra da nova mídia no Brasil. No mesmo ano, teve um de seus vídeos, "Versus", censurado por uma possível alusão a um beijo homossexual.
Na década de 1970, no auge da arte conceitual, os artistas debatiam o dia inteiro sobre arte, mas Ivens Machado queria ir ao cinema e ao teatro. Arredio às panelinhas do meio, e alheio aos movimentos que confortavelmente servem para classificar a criação, Machado preferiu se manter indefinível, e acabou criando esculturas singulares na arte brasileira.
— Não sou especialmente ligado à minha área, sinto como se sempre estivesse fora dela. Pelos movimentos artísticos, pela própria sociabilidade dos artistas. Minhas escolhas não foram as mais convencionais, as mais ligadas às pesquisas do meio — disse o artista em entrevista ao GLOBO. — Tenho uma formação ampla, mas pouco estruturada. Olho para vários lugares, perco-me um pouco, sempre foi difícil formar uma frase, escrever. Pelo menos, se há uma qualidade no meu trabalho, é a originalidade.
Aluno de Anna Bella Geiger, começou a carreira com obras em papel, tendo sido premiado no 5º Salão de Verão do Museu de Arte Moderna do Rio, o MAM, em 1973.
A partir daí, começou a se destacar pelo uso de diferentes materiais usados em construção, como ferro, concreto e argila, que remetem ao acabamento rústico das casas pobres. Nos mais de 30 anos de escultura e desenho, o artista dominou todo o processo material da criação de suas obras.
— Não trabalho com materiais dentro do campo de algumas tradições, não tenho uma leitura concreta, não uso metal e placas. Tenho uma posição especial dentro da arte - disse, em 2008. — Não sou dos queridinhos, apesar de ser considerado importante. Sou plano B.
Ser artista, na vida de Machado, também acabou sendo um plano B. A idéia inicial era trabalhar com arte-educação. Ele chegou ao Rio em 1964, para fazer um curso de professores de arte, mas já com planos de não voltar para a capital catarinense.
Depois do curso, criou uma escolinha em Laranjeiras e começou a dar aulas de arte. Fundou um orfanato que abrigava dez crianças, no fim dos anos 1970, no mesmo bairro. Até que se cansou. Parou de trabalhar com arte-educação, doou a casa do orfanato e decidiu se dedicar a ser artista. Em 1975, Machado fez sua primeira exposição individual, em Milão, na Itália, em conseqüência do primeiro prêmio do Salão de Verão do MAM, dois anos antes.
Na época, o artista trabalhava com papéis pautados, interrompendo a regularidade das linhas. Comprou uma bobina e brincava com a interrupção do funcionamento do mecanismo ainda artesanal de se fazer pautas, distorcendo-as, em papéis que chegavam a 12 metros de comprimento.
Com trabalhos expostos nos principais museus do país, assim como em Veneza, Milão e Turim, Machado participou de bienais em São Paulo (1981, 1987, 1998 e 2004), Paris (1985) e do Mercosul. Em 2008, exposições no Paço Imperial e na galeria Marcia Barrozo do Amaral fizeram retrospectiva de sua obra.
Furto e polêmica com VLT
Recentemente, Ivens Machado passou por dois incidentes nada agradáveis. Em 2014, uma obra que fez na década de 1990 para o projeto "Esculturas Urbanas" foi retirada por conta do processo de revitalização do Centro do Rio.
A Secretaria municipal de Conservação informou que a escultura de Ivens foi levada para a sede da Gerência de Monumentos e Chafarizes e será recolocada no endereço original após a conclusão das obras.
Em 2013, ele teve parte de sua obra — um abridor de lata — furtada de exposição no Museu de Arte do Rio (MAR).
Fonte: O Globo, “Morre o artista visual Ivens Machado, aos 72 anos”, publicado em 13 de maio de 2015. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
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Três anos após sua morte, Ivens Machado ganha mostra na Carpintaria | O Globo
Um ano antes de sua morte, em 12 de maio de 2015, causada por uma queda acidental em casa, Ivens Machado conversava com a galerista e amiga Márcia Fortes sobre uma exposição, que, à época, não chegou a se concretizar. Um dos pioneiros da videoarte no país, que se firmou como escultor nas décadas de 1970 e 1980, o catarinense radicado no Rio havia se isolado do meio artístico após passar pelo tratamento de um câncer, e buscava ânimo para voltar a produzir, ao mesmo tempo em que tentava salvar parte do acervo, acondicionado em condições longe das ideais em um depósito no bairro de Ramos.
A morte repentina, aos 72 anos, interrompeu a volta ao circuito com material inédito, mas não o trabalho de catalogação e conservação das obras, levado à frente por Márcia e pela designer Mônica Grandchamp, assistente do escultor durante anos. Após duas mostras institucionais em 2016, no Espaço Pivô (São Paulo) e no MAM-RJ, suas obras serão expostas agora na individual “Ivens Machado: Corpo e construção” na Carpintaria — galeria carioca da qual Márcia é sócia — a partir de sábado, dentro de um projeto de memória e preservação de seu legado.
Era amiga do Ivens antes de começar a trabalhar com ele, desde a época em que era crítica e curadora. Ele sempre foi tido como um artista “difícil”, mas nos entendíamos muito bem, e da amizade surgiu uma enorme admiração por sua obra — lembra Márcia Fortes. — Ele havia conseguido vencer a batalha contra o câncer, mas não contra a depressão. Quando começamos a trabalhar juntos o primeiro passo foi recuperar seu acervo, e depois começamos a pensar numa exposição só de obras inéditas, mas infelizmente não tivemos tempo para concluí-la.
Segundo a galerista, a catalogação e o restauro das obras foram priorizados nos últimos três anos, antes que voltassem a ser expostas em um espaço comercial, pela primeira vez após a morte do artista. Realizado pelo recém-criado Acervo Ivens Machado, que é coordenado por Mônica Grandchamp, o trabalho de conservação conseguiu fazer um levantamento inicial de 300 obras, algumas delas já restauradas, além de acomodá-las de forma tecnicamente adequada em um espaço na Antiga Fábrica Bhering.
Muitas obras estavam em estado avançado de deterioração, tanto pela forma como estavam guardadas quanto pela natureza dos trabalhos — observa Mônica Grandchamp. — Além da utilização de material de construção civil, como cimento e ferro, que notabilizou sua produção, o Ivens trabalhava com madeira, papel e elementos orgânicos, que sofrem com alterações climáticas e umidade, ainda mais em uma cidade como o Rio. Mesmo obras de cimento, que é mais resistente, já apresentavam pontos de infiltração, o que pode corroê-las por dentro.
A Carpintaria vai exibir cinco esculturas em materiais como concreto, ferro e entulho de obra, realizadas entre 1991 e 2006, além de um tríptico fotográfico com o registro da sua “Performance com bandagem cirúrgica”, de 1973. A galerista espera que a mostra seja mais um passo para ampliar a divulgação da obra de Machado, inclusive no exterior.
Levamos esculturas dele para a Frieze de Nova York, no início do mês, e o retorno foi incrível — atesta Márcia. — A seleção das obras para esta mostra destaca o caráter múltiplo da sua produção, com um diálogo entre os campos escultórico, performático e fotográfico.
Visto como um projeto de longo prazo, a catalogação e restauração das obras do escultor podem resultar também na publicação de um catalogo raisonné, ainda sem previsão de produção. Por ora, Mônica torce para que o trabalho de memória tenha reflexo também no resgate das obras públicas do artista: a escultura instalada no Largo da Carioca foi retirada em 2014 durante o processo de revitalização do Centro, e até hoje permanece em um galpão da prefeitura.
Já visitei a obra e ela está corretamente acondicionada, mas não há previsão para que retorne ao espaço original — comenta Mônica. — Seria importante ter uma cobrança da população neste sentido, porque se trata de um patrimônio público.
Márcia espera que a presença do artista aumente em instituições e coleções de referência, para que conquiste, ainda que postumamente, o reconhecimento que ela considera justo:
Ele era um artista de artistas, vários nomes de peso, como Adriana Varejão, admiram seu trabalho. Muito do que se vê hoje já era adiantado por Ivens nas décadas de 1970 e 1980. Infelizmente seu alcance não esteve à altura de sua obra, mas acredito muito nesta redescoberta agora.
Fonte: O Globo, “Três anos após sua morte, Ivens Machado ganha mostra na Carpintaria”, publicado por Nelson Gobbi, em 14 de maio de 2018. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.
Crédito fotográfico: O Globo. Consultado pela última vez em 9 de junho de 2025.