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Manoel do Bomfim

Manoel do Bonfim (Salvador, Bahia, 25 de maio de 1928 — Salvador, Bahia, 20 de março de 2016), foi um escultor, pintor, ceramista e tapeceiro baiano, autor de várias obras, entre elas a escultura da Iemanjá no Rio Vermelho, um dos monumentos mais visitados da Bahia. Considerado um dos mais tradicionais artistas de origem popular da Bahia, Manoel do Bomfim, retrata em suas obras raízes e as manifestações da religiosidade do povo, dos espíritos e deuses que povoam o imaginário dos africanos e afro-descendentes. Participou de importantes exposições coletivas e individuais, em cidades brasileiras e do exterior. Suas obras estão espalhadas por coleções particulares em vários países, dentre eles Alemanha, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Israel, Itália, México e Portugal.

Biografia – Ubaldo Marques Porto Filho

Nascido em Salvador, Manoel do Bomfim viveu na cidade de Nazaré, no Recôncavo da Bahia, até os 14 anos, quando retornou à capital baiana, de onde saiu recém-nascido.

Ao ingressar na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, em 1949, para trabalhar como contínuo, desenvolveu o dom para as artes plásticas no convívio com os professores. Tornou-se amigo e ajudante de grandes mestres, dentre eles Mendonça Filho, Alberto Valença, Jair Brandão, Nilton Silva, Adolf Buck, Udo Knoff e Rescala.

Embora formalmente não tenha sido aluno da Escola de Belas Artes, foi lá que adquiriu conhecimentos acadêmicos, pois dava um jeito de assistir às aulas. De contínuo foi promovido a auxiliar dos professores, tendo sido assistente nas disciplinas sobre cerâmica e modelagem, o que lhe permitiu manipular materiais e dar forma às próprias esculturas.

Com Aldemiro Broxado cursou anatomia, com Mário Cravo aprendeu escultura em madeira e com Juarez Paraíso tomou aulas de desenho. Seu currículo também registra que é técnico em restauração de obras de arte.

Complementando a base acadêmica informal, o jovem artista traçou com obstinação seus caminhos nas artes com forte inspiração no povo do Candomblé, nas rodas da Capoeira, nos carurus de Cosme & Damião, na movimentação da Rampa do Mercado Modelo e nos pescadores do Rio Vermelho, bairro localizado na Cidade do Salvador, capital do Estado da Bahia, que foi a primeira Capital do Brasil, de 1549 até 1763.

Enfim, de contínuo na Escola de Belas Artes da Ufba, Manoel do Bomfim transformou-se num escultor, pintor, ceramista e tapeceiro de projeção, que participou de importantes exposições coletivas e individuais, em cidades brasileiras e do exterior. Suas obras estão espalhadas por coleções particulares em vários países, dentre eles a Alemanha, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Israel, Itália, México e Portugal.

Monumento à Yemanjá

Quando era funcionário da Superintendência de Turismo da Cidade do Salvador (Sutursa), atendendo pedido de Antônio Tourinho, diretor da Divisão de Diversões Públicas desta autarquia municipal, o artista confeccionou uma escultura de Yemanjá. A Sutursa deu o material, mas a mão de obra foi gratuita, pois Bomfim não quis cobrar por um trabalho dedicado ao orixá da sua devoção.

Na festa de 2 de fevereiro de 1967, a Casa do Peso ganhou um monumento externo, com a colocação da escultura de Manoel do Bomfim sobre um pedestal. Na execução da obra, o artista se inspirou na mitologia européia, pois colocou uma sereia para simbolizar Yemanjá e deu a identidade visual à Rainha do Mar.

Na verdade, Bomfim mergulhou fundo na história dos pescadores do Rio Vermelho, que descendiam dos tupinambás, excelentes pescadores que utilizavam jangadas. A maioria era de origem mameluca, ou seja, do cruzamento do branco com as índias. É lógico que à receita cabocla foi adicionado também o sangue africano.

O jornalista e professor Adroaldo Ribeiro Costa, nascido no Rio Vermelho e que ficou famoso por compor o 'Hino do Esporte Clube Bahia', em depoimento ao periódico 'O Pescador', edição de abril de 1983, informou de forma genérica:

"As coisas do candomblé eram secretas, por serem proibidas e perseguidas. Faziam parte da vivência dos pescadores. Alguns iam à praia e jogavam presentes em surdina. Mas não confundiam a religião católica com suas festas e a religião negra. As coisas eram bem separadas".

Porém, uma coisa é certa, os pescadores do Rio Vermelho eram todos católicos, uma herança da missão jesuítica que, por volta de 1580, já tinha erguido na aldeia tupinambá uma capela em louvor à Senhora Sant’Ana, daí a origem do nome Porto de Santana.

Não se tem notícia de que, até 1924, os pescadores fossem efetivamente adeptos do candomblé. Podia haver um ou outro agindo na 'surdina', como disse o professor Adroaldo, mas sem qualquer interferência no surgimento da festa. Tanto é verdade que o primeiro presente não teve nenhum ritual afro. A única cerimônia religiosa foi católica, com a missa rezada antes da saída do saveiro levando o presente para a Mãe d’Água, que estava muito mais para Yara, a mãe d’água dos índios, do que para a divindade africana.

Mas o escultor não esqueceu de incorporar à sereia européia o abebê (leque do candomblé), que pôs na sua mão esquerda. Também deu-lhe o toque nativo nos cabelos, colocando-os pretos, em homenagem à índia Catharina Paraguassú, Matriarca da Bahia.

O segredo

Em 2 de fevereiro de 2007, quando o Monumento à Yemanjá completou 40 anos de inaugurado, Bomfim revelou um segredo: a primeira escultura fora substituída seis meses depois. Eis o seu depoimento, exclusivo para o autor do livro 'Dois de Fevereiro no Rio Vermelho':

"Recebi o pedido no final de 1966. Portanto, o tempo era curtíssimo para a obra ser a novidade na festa de 1967. Tudo foi feito às pressas: a modelagem no barro, a fundição da forma em gesso e o enchimento do molde com ferragem e massa de cimento. Quando ficou pronta eu mesmo não gostei. Como não havia tempo para refazê-la, foi assim mesmo para o pedestal.

João Garboggini Quaglia, também artista plástico, meu amigo e ex-morador do Rio Vermelho, foi franco e direto: “Bomfim, a sua sereia ficou uma merda, o rabo está muito empinado. Você tem condições de fazer coisa melhor!

Resolvi então confeccionar outra, sem fugir da conceituação já oficializada publicamente, corrigindo apenas as imperfeições estéticas. A troca ocorreu na mais absoluta discrição. Ninguém percebeu a permuta.

A primeira estátua resolvi oferecer à Yemanjá. Chamei Flaviano (comandou a festa de 1950 a 1979) e pedi que me levasse ao local da entrega dos presentes no dia 2 de fevereiro. Chegando lá, aconteceram dois fatos anormais: o primeiro assustou-me, pois quando me dirigi à borda do saveiro, com a Yemanjá nos braços, tropecei e quase caí no mar com a imagem. Fui seguro pelo Flaviano, que foi logo avisando: “A Sereia tentou levar você!”.

Sua observação, instantânea, foi uma lembrança da mitologia difundida pelos navegantes europeus, falando de uma sereia bela e sedutora, mas muito perigosa, pois levava para o fundo do mar os homens que desejava namorar, num amor fatal.

Ao me refazer do susto veio a emoção: reparei que o cardume, que repentinamente se aproximou do barco, desapareceu assim que a escultura submergiu. Fiquei com uma certeza: os peixes tinham vindo para escoltá-la na viagem ao fundo mar!".

Nova escultura

Com o tempo, por causa da ação do salitre, que conseguiu penetrar nas ferragens, a escultura começou a apresentar inchaço e pequenas rachaduras no cimento. O próprio escultor, testemunha da deterioração, propôs fazer uma nova Yemanjá. Com a mesma formatação, mas usando o recurso da tecnologia da fibra de vidro, trocou a imagem pela terceira vez, em 2002.

Bomfim transportou a escultura antiga para sua residência, na Boca do Rio, onde deveria aguardar pelo local definitivo. A preferência seria por um museu. Como se falava na criação de um no Rio Vermelho, ficaria aguardando a sua implantação.

Assim que acomodou a Sereia na sala do apartamento, percebeu uma alteração na energia do recanto domiciliar. Era como se houvesse chegado mais uma pessoa, fisicamente invisível mas espiritualmente presente.

O artista passou a sentir um inexplicável desconforto e por duas vezes sentiu um pequeno mal-estar. Creditou essas ocorrências a um protesto da Sereia. Eis a sua interpretação:

"Acho que a Sereia não gostou de sair de um espaço livre para ser confinada numa área pequena e fechada. Nisso apareceu uma amiga, Yeda Machado, bibliotecária do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, pedindo insistentemente para colocar a estátua no jardim da entrada de sua casa, na Pituba. E esse foi o destino da escultura que durante 34 anos constituiu-se no símbolo catalisador da Festa de Yemanjá. Infelizmente, a alegria da Yeda durou pouco tempo, pois a querida amiga ficou doente e faleceu".

Morador do Rio Vermelho, a casa de Yemanjá

Manoel do Bomfim residiu no Rio Vermelho por 22 anos. A primeira metade foi na Rua Monte Conselho 4. Sua casa ficava colada ao imóvel atualmente ocupado pela 7ª Delegacia da Polícia Civil. Depois, após uma temporada em São Paulo, voltou ao Rio Vermelho, desta feita para a Rua da Fonte do Boi 5, onde também montou o ateliê de trabalho e a Galeria Bomfim, loja para comercialização de suas obras, que se encontram espalhadas em coleções particulares no Brasil e no exterior. Suas pinturas passaram por três fases distintas: casario, orixás e abstrata.

Bomfim foi homenageado pelo bairro com um diploma de Honra ao Mérito, outorgado pela Central das Entidades do Rio Vermelho. A entrega ocorreu no dia 27 de janeiro de 2009, durante o lançamento do livro 'Dois de Fevereiro no Rio Vermelho', onde o escultor figura como um dos grandes personagens da famosa festa.

Afrodescendente, o escultor tornou-se ogã confirmado do Ilê Axé Yá Nassô Oka, mais conhecido como Casa Branca, considerado o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil. Do casamento com Maria Augusta Gomes Bomfim, nasceram três filhos: Manoel Augusto, João Augusto e Isa Augusta. Os homens herdaram-lhe a veia artística, são artistas plásticos.

Homenagem póstuma

Manoel do Bomfim morreu aos 87 anos, no dia 19 de março de 2016, em Salvador, sendo sepultado no Cemitério Bosque da Paz. Na sessão do dia 29 de março, o vereador Everaldo Augusto da Silva (PCdoB) apresentou uma Moção de Pesar que foi lida no plenário da Câmara Municipal de Salvador, onde o edil - utilizando como fonte o número 14 (1983) da revista 'Afro-Ásia', editada pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia - fez a seguinte citação sobre Manoel do Bomfim, escrita por Antônio Vieira da Silva, da Universidade de Ifé, na Nigéria:

"Foi o primeiro no Brasil a fazer todos os orixás do panteão nagô-jeje (iorubá) da Bahia, em madeira, 1964. Também fez uma série de orixás em tapeçaria e reproduziu seus símbolos, armas dos mesmos, nas cores características e próprias de cada orixá, de acordo com a tradição".

Na página 2, da edição de 5 de abril de 2016, o Diário Oficial do Legislativo, de Salvador, publicou uma matéria sobre a homenagem póstuma prestada pelo vereador Everaldo Augusto, que dentre outras referências mencionou que a admirável trajetória de Manoel do Bomfim tornou "grande a perda da nossa Salvador".

Fonte: Página de Ubaldo Filho no Facebook, publicado em 13 de abril de 2016 Consultado pela última vez em 15 de março de 2022.

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Morre artista Manoel Bonfim autor da escultura de Iemanjá

De acordo com o trabalho “Reflexões da Cultura Ioruba na Arte e nos Artistas Brasileiros” de Antônio Vieira da Silva Universidade de Ifé – Nigéria”, sua arte afro-brasileira lhe foi despertada também por influência de vários outros artistas mais experimentados, maduros e seguros economicamente.

Mário Cravo ensinou-lhe a trabalhar na madeira e esculpir. Agnaldo M. dos Santos que também trabalhou como empregado de Cravo Jr., teve suas influências, pois já esculpia e vendia, individualmente, suas peças, o que lhe serviu de exemplo. Carybé lhe influiu e ajudou por intermédio de seus desenhos em livros sobre a gente do candomblé, orixás e tipos característicos da Bahia. De uma vontade firme e resoluta de vencer e com a ajuda destes dois já consagrados artistas, surgiu mais um nome dentro do rico ambiente artístico baiano: Manoel Bomfim.

O autor prossegue destacando a influência da religiosidade afro em seus obras: "identificou e redescobriu na religião de orixás, suas verdadeiras raízes, e, começou a trabalhar "como negro e artista negro" como ele mesmo afirma.

Manoel Bomfim foi o primeiro artista no Brasil a fazer todos os orixás do panteão nagô-jeje (iorubá) da Bahia, em madeira, 1964. Também fez uma série de orixás em tapeçaria e reproduziu seus símbolos, armas dos mesmos, nas cores características e próprias de cada orixá, de acordo com a tradição. Já em forma de tapeçaria, Bonfim produziu 200 peças.

Para o Segundo Festival de Artes e Cultura Negra (FESTAC), ele fez 17 peças em madeira, em baixo e alto-relevo, representando os orixás e sequenciando o ritual de iniciação de iaôs. Seus trabalhos não foram aprovados pela comissão julgadora (inexplicavelmente) e assim, seus irmãos do outro lado do Atlântico, na África, não puderam ver e admirar sua arte e seu talento.

Manoel Bomfim vem contribuindo imensamente, para o progresso e divulgação de sua gente e cultura afro-brasileira porque acredita que todo negro deve se valorizar e divulgar a sua cultura, sua arte e suas tradições, procurando galgar a posição que bem merece no cenário artístico brasileiro contemporâneo. Já é mais que tempo de reconhecer esta realidade e, em nossos dias, é obscurantismo e atraso não reconhecer esta verdade.

Seus orixás em madeira, tapetes, desenhos e pintura, são parte de coleções privadas, museus e casas familiares, por todo o país e exterior.

Fonte: Blog do Rio Vermelho, "Morre artista Manoel Bonfim autor da escultura de Iemanjá", publicado por Carmela, em 5 de abril de 2016. Consultado pela última vez em 15 de março de 2022.

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Manoel Bomfim, o emissário dos Orixás

Bomfim era um negro típico da Bahia, ligado ao candomblé, morador antigo do bairro do Rio Vermelho e depois mudou-se para um prédio na Boca do Rio.

Tinha a conversa fácil e agradável, além de sua risada inconfundível, dando uma aparência que era feliz eternamente. Gostava de falar de seus trabalhos plásticos sempre ligados a coisas do candomblé, principalmente os Orixás. Pintou, fez tapeçaria e esculpiu centenas de Orixás que hoje estão espalhados em coleções daqui e de fora do país. Era ogã confirmado da Casa Branca, tinha portanto conhecimento e envolvimento com o mundo dos Orixás.

Trabalhou como servente na Escola de Belas Artes e foi através desta convivência com a arte e os professores e alunos que descambou para iniciar seus primeiros passos na escultura dos Orixás. Terminou sendo professor auxiliar de Modelagem.

Lembro que em novembro de 2002 ele comemorou 50 anos de arte. Estava visivelmente alegre com as exposições que iria realizar mostrando pinturas e esculturas. Era uma realização e reconhecimento de todos estes anos de muito trabalho e dificuldades. Na realidade, o trabalho não veio lhe proporcionar uma vida mais confortável, ou seja, não lhe deu grandes vantagens financeiras.

Sempre teve uma vida humilde com seus filhos e sua esposa Maria Augusta Gomes do Bonfim que era muito conhecida por preparar um gostosíssimo bacalhau de martelo e uma batida de limão inesquecíveis nos encontros com os colegas artistas.

Numa conversa recente que teve com seu filho, e também artista João Augusto Bonfim, se queixou que não deram a devida atenção à memória de seus pais, ambos falecidos, que eram pessoas especiais. Hoje, João Augusto e o Manoel, filhos do mestre dos Orixás, estão formados pela Escola de Belas Artes da Ufba e trabalham com arte.

O patriarca Manoel Bomfim - ele gostava de assinar com m, embora fosse batizado com n de Bonfim, uma homenagem ao Senhor do Bonfim - fez sua primeira exposição em 1963 na então Galeria Bazarte, de José de Almeida Castro, que ajudou muitos artistas que hoje estão aí como os líderes de mercado, sendo que muitos inclusive já faleceram.

Manoel Bomfim nasceu em 25 de maio de 1928, portanto, faleceu perto de completar 88 anos em 19 de março de 2016. Deixou um legado artístico que precisa ser estudado por algum aluno da Escola de Belas Artes através de uma tese de mestrado ou coisa que o valha mostrando essa sua trajetória de servente até professor auxiliar de Modelagem, sem esquecer que era tapeceiro, pintor e escultor.

Lembro que em janeiro de 2003 ele estava expondo na Galeria da Casa do Comércio e fui encontrá-lo. Estava contentíssimo com a exposição e na época reproduzi este pequeno texto de Jorge Amado que diz: "Manoel do Bonfim é um filho do povo da Bahia, cuja arte ingênua, porém verdadeira, nasce diretamente das fontes da cultura popular,e se mantém fiel às suas origens despida de artificialismos, modismos integrada nas tradições e na vida.

O caminho do artista Bonfim foi traçado por ele próprio, com seus próprios meios, com sua obstinação. Aprendeu com o povo, nas rodas de samba, nos candomblés, nas escolas de capoeira, nos carurus de Cosme e Damião, na rampa do Mercado, ao lado dos pescadores, dos barraqueiros, da gente pobre, aprendeu com os Orixás".

O festejado e saudoso escritor Jorge Amado sabia dizer em poucas linhas a essência da obra de um artista, principalmente quando se tratava de um artista que viesse do seio da cultura popular, fonte onde bebeu incansavelmente para escrever seus belos e grandiosos romances.

Fonte: Blog do Reynivaldo, "Manoel Bomfim, o emissário dos Orixás", publicado por Reynivaldo Brito, em 19 de Janeiro de 2017. Consultado pela última vez em 10 de março de 2022.


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Manoel do Bonfim expõe esculturas,talhas e pinturas em mostra na galeria da Casa do Comércio – Blog Reynivaldo Brito

Tudo gira em torno das manifestações da religiosidade do povo, dos espíritos e deuses que povoam o imaginário dos africanos e afro-descendentes.

Ele está comemorando 50 anos de arte. Nasceu em Salvador em 25 de maio de 1928. Basta isso para criar uma curiosidade natural: saber o que fez este artista durante cinco décadas. A resposta é fácil: fez arte. Uma arte forte, que sai das suas entranhas africanas e do seu compromisso com o candomblé.

Antecedeu-lhe o escultor Agnaldo Silva, já falecido, que deixou uma marca indelével de seu talento. Agora, Bonfim continua esculpindo orixás e símbolos do candomblé com a naturalidade de sua convivência com a religião afro-brasileira.

Praças públicas

Negro, cabelos alvos e o corpanzil que lembra um pai-de-santo, o velho Bonfim, como o chamamos carinhosamente, é uma dessas figuras baianas que marcam sua presença pelo trato, pelo trabalho ligado às coisas da terra.

Tem obras em praças públicas, a exemplo da Iemanjá que todos veneram no dia 2 de fevereiro na Casa do Peso, no bairro do Rio Vermelho. Também tem esculturas em coleções da Alemanha,Estados Unidos, França,Inglaterra, Israel, México, Itália e Espanha.

A arte com forte influência africana tem um caráter religioso deliberado. Tudo gira em torno das manifestações da religiosidade do povo, dos espíritos e deuses que povoam o imaginário dos africanos e afro-descendentes.

Na exposição Raízes da Alma, na galeria da Casa do Comércio, é composta por esculturas, talhas e pinturas com forte influência de suas raízes africanas.

Afinal, Bonfim é um integrante do candomblé e um negro que cultua a sua origem com uma simplicidade singular. Tem dois filhos que, também, se dedicam às artes. Um deles até se formou na Escola de Belas Artes e, hoje, retrata os casarios, as igrejas e outros monumentos históricos. O outro pinta paisagens.

Fonte: Reynivaldo Brito, "Manoel do Bonfim: raízes da Bahia", publicado em 31 de maio de 2012.

Crédito fotográfico: Ubaldo Marques Porto Filho, "Manoel do Bomfim, artista e Ogã, autor da escultura de Yemanjá no Rio Vermelho", publicado em 13 de abril de 2016. Consultado pela última vez em 15 de março de 2022.

Manoel do Bonfim (Salvador, Bahia, 25 de maio de 1928 — Salvador, Bahia, 20 de março de 2016), foi um escultor, pintor, ceramista e tapeceiro baiano, autor de várias obras, entre elas a escultura da Iemanjá no Rio Vermelho, um dos monumentos mais visitados da Bahia. Considerado um dos mais tradicionais artistas de origem popular da Bahia, Manoel do Bomfim, retrata em suas obras raízes e as manifestações da religiosidade do povo, dos espíritos e deuses que povoam o imaginário dos africanos e afro-descendentes. Participou de importantes exposições coletivas e individuais, em cidades brasileiras e do exterior. Suas obras estão espalhadas por coleções particulares em vários países, dentre eles Alemanha, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Israel, Itália, México e Portugal.

Manoel do Bomfim

Manoel do Bonfim (Salvador, Bahia, 25 de maio de 1928 — Salvador, Bahia, 20 de março de 2016), foi um escultor, pintor, ceramista e tapeceiro baiano, autor de várias obras, entre elas a escultura da Iemanjá no Rio Vermelho, um dos monumentos mais visitados da Bahia. Considerado um dos mais tradicionais artistas de origem popular da Bahia, Manoel do Bomfim, retrata em suas obras raízes e as manifestações da religiosidade do povo, dos espíritos e deuses que povoam o imaginário dos africanos e afro-descendentes. Participou de importantes exposições coletivas e individuais, em cidades brasileiras e do exterior. Suas obras estão espalhadas por coleções particulares em vários países, dentre eles Alemanha, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Israel, Itália, México e Portugal.

Biografia – Ubaldo Marques Porto Filho

Nascido em Salvador, Manoel do Bomfim viveu na cidade de Nazaré, no Recôncavo da Bahia, até os 14 anos, quando retornou à capital baiana, de onde saiu recém-nascido.

Ao ingressar na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, em 1949, para trabalhar como contínuo, desenvolveu o dom para as artes plásticas no convívio com os professores. Tornou-se amigo e ajudante de grandes mestres, dentre eles Mendonça Filho, Alberto Valença, Jair Brandão, Nilton Silva, Adolf Buck, Udo Knoff e Rescala.

Embora formalmente não tenha sido aluno da Escola de Belas Artes, foi lá que adquiriu conhecimentos acadêmicos, pois dava um jeito de assistir às aulas. De contínuo foi promovido a auxiliar dos professores, tendo sido assistente nas disciplinas sobre cerâmica e modelagem, o que lhe permitiu manipular materiais e dar forma às próprias esculturas.

Com Aldemiro Broxado cursou anatomia, com Mário Cravo aprendeu escultura em madeira e com Juarez Paraíso tomou aulas de desenho. Seu currículo também registra que é técnico em restauração de obras de arte.

Complementando a base acadêmica informal, o jovem artista traçou com obstinação seus caminhos nas artes com forte inspiração no povo do Candomblé, nas rodas da Capoeira, nos carurus de Cosme & Damião, na movimentação da Rampa do Mercado Modelo e nos pescadores do Rio Vermelho, bairro localizado na Cidade do Salvador, capital do Estado da Bahia, que foi a primeira Capital do Brasil, de 1549 até 1763.

Enfim, de contínuo na Escola de Belas Artes da Ufba, Manoel do Bomfim transformou-se num escultor, pintor, ceramista e tapeceiro de projeção, que participou de importantes exposições coletivas e individuais, em cidades brasileiras e do exterior. Suas obras estão espalhadas por coleções particulares em vários países, dentre eles a Alemanha, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Israel, Itália, México e Portugal.

Monumento à Yemanjá

Quando era funcionário da Superintendência de Turismo da Cidade do Salvador (Sutursa), atendendo pedido de Antônio Tourinho, diretor da Divisão de Diversões Públicas desta autarquia municipal, o artista confeccionou uma escultura de Yemanjá. A Sutursa deu o material, mas a mão de obra foi gratuita, pois Bomfim não quis cobrar por um trabalho dedicado ao orixá da sua devoção.

Na festa de 2 de fevereiro de 1967, a Casa do Peso ganhou um monumento externo, com a colocação da escultura de Manoel do Bomfim sobre um pedestal. Na execução da obra, o artista se inspirou na mitologia européia, pois colocou uma sereia para simbolizar Yemanjá e deu a identidade visual à Rainha do Mar.

Na verdade, Bomfim mergulhou fundo na história dos pescadores do Rio Vermelho, que descendiam dos tupinambás, excelentes pescadores que utilizavam jangadas. A maioria era de origem mameluca, ou seja, do cruzamento do branco com as índias. É lógico que à receita cabocla foi adicionado também o sangue africano.

O jornalista e professor Adroaldo Ribeiro Costa, nascido no Rio Vermelho e que ficou famoso por compor o 'Hino do Esporte Clube Bahia', em depoimento ao periódico 'O Pescador', edição de abril de 1983, informou de forma genérica:

"As coisas do candomblé eram secretas, por serem proibidas e perseguidas. Faziam parte da vivência dos pescadores. Alguns iam à praia e jogavam presentes em surdina. Mas não confundiam a religião católica com suas festas e a religião negra. As coisas eram bem separadas".

Porém, uma coisa é certa, os pescadores do Rio Vermelho eram todos católicos, uma herança da missão jesuítica que, por volta de 1580, já tinha erguido na aldeia tupinambá uma capela em louvor à Senhora Sant’Ana, daí a origem do nome Porto de Santana.

Não se tem notícia de que, até 1924, os pescadores fossem efetivamente adeptos do candomblé. Podia haver um ou outro agindo na 'surdina', como disse o professor Adroaldo, mas sem qualquer interferência no surgimento da festa. Tanto é verdade que o primeiro presente não teve nenhum ritual afro. A única cerimônia religiosa foi católica, com a missa rezada antes da saída do saveiro levando o presente para a Mãe d’Água, que estava muito mais para Yara, a mãe d’água dos índios, do que para a divindade africana.

Mas o escultor não esqueceu de incorporar à sereia européia o abebê (leque do candomblé), que pôs na sua mão esquerda. Também deu-lhe o toque nativo nos cabelos, colocando-os pretos, em homenagem à índia Catharina Paraguassú, Matriarca da Bahia.

O segredo

Em 2 de fevereiro de 2007, quando o Monumento à Yemanjá completou 40 anos de inaugurado, Bomfim revelou um segredo: a primeira escultura fora substituída seis meses depois. Eis o seu depoimento, exclusivo para o autor do livro 'Dois de Fevereiro no Rio Vermelho':

"Recebi o pedido no final de 1966. Portanto, o tempo era curtíssimo para a obra ser a novidade na festa de 1967. Tudo foi feito às pressas: a modelagem no barro, a fundição da forma em gesso e o enchimento do molde com ferragem e massa de cimento. Quando ficou pronta eu mesmo não gostei. Como não havia tempo para refazê-la, foi assim mesmo para o pedestal.

João Garboggini Quaglia, também artista plástico, meu amigo e ex-morador do Rio Vermelho, foi franco e direto: “Bomfim, a sua sereia ficou uma merda, o rabo está muito empinado. Você tem condições de fazer coisa melhor!

Resolvi então confeccionar outra, sem fugir da conceituação já oficializada publicamente, corrigindo apenas as imperfeições estéticas. A troca ocorreu na mais absoluta discrição. Ninguém percebeu a permuta.

A primeira estátua resolvi oferecer à Yemanjá. Chamei Flaviano (comandou a festa de 1950 a 1979) e pedi que me levasse ao local da entrega dos presentes no dia 2 de fevereiro. Chegando lá, aconteceram dois fatos anormais: o primeiro assustou-me, pois quando me dirigi à borda do saveiro, com a Yemanjá nos braços, tropecei e quase caí no mar com a imagem. Fui seguro pelo Flaviano, que foi logo avisando: “A Sereia tentou levar você!”.

Sua observação, instantânea, foi uma lembrança da mitologia difundida pelos navegantes europeus, falando de uma sereia bela e sedutora, mas muito perigosa, pois levava para o fundo do mar os homens que desejava namorar, num amor fatal.

Ao me refazer do susto veio a emoção: reparei que o cardume, que repentinamente se aproximou do barco, desapareceu assim que a escultura submergiu. Fiquei com uma certeza: os peixes tinham vindo para escoltá-la na viagem ao fundo mar!".

Nova escultura

Com o tempo, por causa da ação do salitre, que conseguiu penetrar nas ferragens, a escultura começou a apresentar inchaço e pequenas rachaduras no cimento. O próprio escultor, testemunha da deterioração, propôs fazer uma nova Yemanjá. Com a mesma formatação, mas usando o recurso da tecnologia da fibra de vidro, trocou a imagem pela terceira vez, em 2002.

Bomfim transportou a escultura antiga para sua residência, na Boca do Rio, onde deveria aguardar pelo local definitivo. A preferência seria por um museu. Como se falava na criação de um no Rio Vermelho, ficaria aguardando a sua implantação.

Assim que acomodou a Sereia na sala do apartamento, percebeu uma alteração na energia do recanto domiciliar. Era como se houvesse chegado mais uma pessoa, fisicamente invisível mas espiritualmente presente.

O artista passou a sentir um inexplicável desconforto e por duas vezes sentiu um pequeno mal-estar. Creditou essas ocorrências a um protesto da Sereia. Eis a sua interpretação:

"Acho que a Sereia não gostou de sair de um espaço livre para ser confinada numa área pequena e fechada. Nisso apareceu uma amiga, Yeda Machado, bibliotecária do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, pedindo insistentemente para colocar a estátua no jardim da entrada de sua casa, na Pituba. E esse foi o destino da escultura que durante 34 anos constituiu-se no símbolo catalisador da Festa de Yemanjá. Infelizmente, a alegria da Yeda durou pouco tempo, pois a querida amiga ficou doente e faleceu".

Morador do Rio Vermelho, a casa de Yemanjá

Manoel do Bomfim residiu no Rio Vermelho por 22 anos. A primeira metade foi na Rua Monte Conselho 4. Sua casa ficava colada ao imóvel atualmente ocupado pela 7ª Delegacia da Polícia Civil. Depois, após uma temporada em São Paulo, voltou ao Rio Vermelho, desta feita para a Rua da Fonte do Boi 5, onde também montou o ateliê de trabalho e a Galeria Bomfim, loja para comercialização de suas obras, que se encontram espalhadas em coleções particulares no Brasil e no exterior. Suas pinturas passaram por três fases distintas: casario, orixás e abstrata.

Bomfim foi homenageado pelo bairro com um diploma de Honra ao Mérito, outorgado pela Central das Entidades do Rio Vermelho. A entrega ocorreu no dia 27 de janeiro de 2009, durante o lançamento do livro 'Dois de Fevereiro no Rio Vermelho', onde o escultor figura como um dos grandes personagens da famosa festa.

Afrodescendente, o escultor tornou-se ogã confirmado do Ilê Axé Yá Nassô Oka, mais conhecido como Casa Branca, considerado o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil. Do casamento com Maria Augusta Gomes Bomfim, nasceram três filhos: Manoel Augusto, João Augusto e Isa Augusta. Os homens herdaram-lhe a veia artística, são artistas plásticos.

Homenagem póstuma

Manoel do Bomfim morreu aos 87 anos, no dia 19 de março de 2016, em Salvador, sendo sepultado no Cemitério Bosque da Paz. Na sessão do dia 29 de março, o vereador Everaldo Augusto da Silva (PCdoB) apresentou uma Moção de Pesar que foi lida no plenário da Câmara Municipal de Salvador, onde o edil - utilizando como fonte o número 14 (1983) da revista 'Afro-Ásia', editada pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia - fez a seguinte citação sobre Manoel do Bomfim, escrita por Antônio Vieira da Silva, da Universidade de Ifé, na Nigéria:

"Foi o primeiro no Brasil a fazer todos os orixás do panteão nagô-jeje (iorubá) da Bahia, em madeira, 1964. Também fez uma série de orixás em tapeçaria e reproduziu seus símbolos, armas dos mesmos, nas cores características e próprias de cada orixá, de acordo com a tradição".

Na página 2, da edição de 5 de abril de 2016, o Diário Oficial do Legislativo, de Salvador, publicou uma matéria sobre a homenagem póstuma prestada pelo vereador Everaldo Augusto, que dentre outras referências mencionou que a admirável trajetória de Manoel do Bomfim tornou "grande a perda da nossa Salvador".

Fonte: Página de Ubaldo Filho no Facebook, publicado em 13 de abril de 2016 Consultado pela última vez em 15 de março de 2022.

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Morre artista Manoel Bonfim autor da escultura de Iemanjá

De acordo com o trabalho “Reflexões da Cultura Ioruba na Arte e nos Artistas Brasileiros” de Antônio Vieira da Silva Universidade de Ifé – Nigéria”, sua arte afro-brasileira lhe foi despertada também por influência de vários outros artistas mais experimentados, maduros e seguros economicamente.

Mário Cravo ensinou-lhe a trabalhar na madeira e esculpir. Agnaldo M. dos Santos que também trabalhou como empregado de Cravo Jr., teve suas influências, pois já esculpia e vendia, individualmente, suas peças, o que lhe serviu de exemplo. Carybé lhe influiu e ajudou por intermédio de seus desenhos em livros sobre a gente do candomblé, orixás e tipos característicos da Bahia. De uma vontade firme e resoluta de vencer e com a ajuda destes dois já consagrados artistas, surgiu mais um nome dentro do rico ambiente artístico baiano: Manoel Bomfim.

O autor prossegue destacando a influência da religiosidade afro em seus obras: "identificou e redescobriu na religião de orixás, suas verdadeiras raízes, e, começou a trabalhar "como negro e artista negro" como ele mesmo afirma.

Manoel Bomfim foi o primeiro artista no Brasil a fazer todos os orixás do panteão nagô-jeje (iorubá) da Bahia, em madeira, 1964. Também fez uma série de orixás em tapeçaria e reproduziu seus símbolos, armas dos mesmos, nas cores características e próprias de cada orixá, de acordo com a tradição. Já em forma de tapeçaria, Bonfim produziu 200 peças.

Para o Segundo Festival de Artes e Cultura Negra (FESTAC), ele fez 17 peças em madeira, em baixo e alto-relevo, representando os orixás e sequenciando o ritual de iniciação de iaôs. Seus trabalhos não foram aprovados pela comissão julgadora (inexplicavelmente) e assim, seus irmãos do outro lado do Atlântico, na África, não puderam ver e admirar sua arte e seu talento.

Manoel Bomfim vem contribuindo imensamente, para o progresso e divulgação de sua gente e cultura afro-brasileira porque acredita que todo negro deve se valorizar e divulgar a sua cultura, sua arte e suas tradições, procurando galgar a posição que bem merece no cenário artístico brasileiro contemporâneo. Já é mais que tempo de reconhecer esta realidade e, em nossos dias, é obscurantismo e atraso não reconhecer esta verdade.

Seus orixás em madeira, tapetes, desenhos e pintura, são parte de coleções privadas, museus e casas familiares, por todo o país e exterior.

Fonte: Blog do Rio Vermelho, "Morre artista Manoel Bonfim autor da escultura de Iemanjá", publicado por Carmela, em 5 de abril de 2016. Consultado pela última vez em 15 de março de 2022.

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Manoel Bomfim, o emissário dos Orixás

Bomfim era um negro típico da Bahia, ligado ao candomblé, morador antigo do bairro do Rio Vermelho e depois mudou-se para um prédio na Boca do Rio.

Tinha a conversa fácil e agradável, além de sua risada inconfundível, dando uma aparência que era feliz eternamente. Gostava de falar de seus trabalhos plásticos sempre ligados a coisas do candomblé, principalmente os Orixás. Pintou, fez tapeçaria e esculpiu centenas de Orixás que hoje estão espalhados em coleções daqui e de fora do país. Era ogã confirmado da Casa Branca, tinha portanto conhecimento e envolvimento com o mundo dos Orixás.

Trabalhou como servente na Escola de Belas Artes e foi através desta convivência com a arte e os professores e alunos que descambou para iniciar seus primeiros passos na escultura dos Orixás. Terminou sendo professor auxiliar de Modelagem.

Lembro que em novembro de 2002 ele comemorou 50 anos de arte. Estava visivelmente alegre com as exposições que iria realizar mostrando pinturas e esculturas. Era uma realização e reconhecimento de todos estes anos de muito trabalho e dificuldades. Na realidade, o trabalho não veio lhe proporcionar uma vida mais confortável, ou seja, não lhe deu grandes vantagens financeiras.

Sempre teve uma vida humilde com seus filhos e sua esposa Maria Augusta Gomes do Bonfim que era muito conhecida por preparar um gostosíssimo bacalhau de martelo e uma batida de limão inesquecíveis nos encontros com os colegas artistas.

Numa conversa recente que teve com seu filho, e também artista João Augusto Bonfim, se queixou que não deram a devida atenção à memória de seus pais, ambos falecidos, que eram pessoas especiais. Hoje, João Augusto e o Manoel, filhos do mestre dos Orixás, estão formados pela Escola de Belas Artes da Ufba e trabalham com arte.

O patriarca Manoel Bomfim - ele gostava de assinar com m, embora fosse batizado com n de Bonfim, uma homenagem ao Senhor do Bonfim - fez sua primeira exposição em 1963 na então Galeria Bazarte, de José de Almeida Castro, que ajudou muitos artistas que hoje estão aí como os líderes de mercado, sendo que muitos inclusive já faleceram.

Manoel Bomfim nasceu em 25 de maio de 1928, portanto, faleceu perto de completar 88 anos em 19 de março de 2016. Deixou um legado artístico que precisa ser estudado por algum aluno da Escola de Belas Artes através de uma tese de mestrado ou coisa que o valha mostrando essa sua trajetória de servente até professor auxiliar de Modelagem, sem esquecer que era tapeceiro, pintor e escultor.

Lembro que em janeiro de 2003 ele estava expondo na Galeria da Casa do Comércio e fui encontrá-lo. Estava contentíssimo com a exposição e na época reproduzi este pequeno texto de Jorge Amado que diz: "Manoel do Bonfim é um filho do povo da Bahia, cuja arte ingênua, porém verdadeira, nasce diretamente das fontes da cultura popular,e se mantém fiel às suas origens despida de artificialismos, modismos integrada nas tradições e na vida.

O caminho do artista Bonfim foi traçado por ele próprio, com seus próprios meios, com sua obstinação. Aprendeu com o povo, nas rodas de samba, nos candomblés, nas escolas de capoeira, nos carurus de Cosme e Damião, na rampa do Mercado, ao lado dos pescadores, dos barraqueiros, da gente pobre, aprendeu com os Orixás".

O festejado e saudoso escritor Jorge Amado sabia dizer em poucas linhas a essência da obra de um artista, principalmente quando se tratava de um artista que viesse do seio da cultura popular, fonte onde bebeu incansavelmente para escrever seus belos e grandiosos romances.

Fonte: Blog do Reynivaldo, "Manoel Bomfim, o emissário dos Orixás", publicado por Reynivaldo Brito, em 19 de Janeiro de 2017. Consultado pela última vez em 10 de março de 2022.


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Manoel do Bonfim expõe esculturas,talhas e pinturas em mostra na galeria da Casa do Comércio – Blog Reynivaldo Brito

Tudo gira em torno das manifestações da religiosidade do povo, dos espíritos e deuses que povoam o imaginário dos africanos e afro-descendentes.

Ele está comemorando 50 anos de arte. Nasceu em Salvador em 25 de maio de 1928. Basta isso para criar uma curiosidade natural: saber o que fez este artista durante cinco décadas. A resposta é fácil: fez arte. Uma arte forte, que sai das suas entranhas africanas e do seu compromisso com o candomblé.

Antecedeu-lhe o escultor Agnaldo Silva, já falecido, que deixou uma marca indelével de seu talento. Agora, Bonfim continua esculpindo orixás e símbolos do candomblé com a naturalidade de sua convivência com a religião afro-brasileira.

Praças públicas

Negro, cabelos alvos e o corpanzil que lembra um pai-de-santo, o velho Bonfim, como o chamamos carinhosamente, é uma dessas figuras baianas que marcam sua presença pelo trato, pelo trabalho ligado às coisas da terra.

Tem obras em praças públicas, a exemplo da Iemanjá que todos veneram no dia 2 de fevereiro na Casa do Peso, no bairro do Rio Vermelho. Também tem esculturas em coleções da Alemanha,Estados Unidos, França,Inglaterra, Israel, México, Itália e Espanha.

A arte com forte influência africana tem um caráter religioso deliberado. Tudo gira em torno das manifestações da religiosidade do povo, dos espíritos e deuses que povoam o imaginário dos africanos e afro-descendentes.

Na exposição Raízes da Alma, na galeria da Casa do Comércio, é composta por esculturas, talhas e pinturas com forte influência de suas raízes africanas.

Afinal, Bonfim é um integrante do candomblé e um negro que cultua a sua origem com uma simplicidade singular. Tem dois filhos que, também, se dedicam às artes. Um deles até se formou na Escola de Belas Artes e, hoje, retrata os casarios, as igrejas e outros monumentos históricos. O outro pinta paisagens.

Fonte: Reynivaldo Brito, "Manoel do Bonfim: raízes da Bahia", publicado em 31 de maio de 2012.

Crédito fotográfico: Ubaldo Marques Porto Filho, "Manoel do Bomfim, artista e Ogã, autor da escultura de Yemanjá no Rio Vermelho", publicado em 13 de abril de 2016. Consultado pela última vez em 15 de março de 2022.

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