Biografia
Cores rebaixadas e contornos arredondados representam cenários surrealistas na obra de João José Rescala. O artista, apesar de nascido no Rio de Janeiro, é bastante marcado pela cultura baiana. Se mudou para Salvador depois de aprovado num concurso para professor de teoria, conservação e restauração de pinturas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Para o efeito metafísico em suas pinturas, une símbolos do candomblé ao catolicismo, imagens da natureza e arquitetura.
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Biografia - Itaú Cultural
Por volta de 1925, estuda no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e, em 1928, ingressa na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), tornando-se discípulo de Rodolfo Chambelland (1879-1967), Augusto Bracet (1881-1960), Manoel Santiago (1897-1987) e Marques Júnior (1887-1960). Em 1931, funda, ao lado de outros artistas, o Núcleo Bernardelli. Expõe em várias edições do Salão Nacional de Belas Artes (SNBA), recebendo as medalhas de bronze e prata em 1934 e 1939 e os prêmios de viagem ao país e ao exterior em 1937 e 1943, graças aos quais percorre Estados do Norte e do Nordeste do Brasil e viaja ao México e aos Estados Unidos. Nesse último país, faz individuais em Nova York e Chicago em 1945. Um ano depois, expõe na 23ª Bienal de Veneza e, realiza uma individual, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. Na década de 1940, trabalha como desenhista e ilustrador da Revista do Museu Nacional de História Natural (Rio de Janeiro) e realiza curso de especialização na New School for Social Research, em 1945, nos Estados Unidos. Transfere-se para Salvador em 1956, quando é aprovado no concurso para professor catedrático de teoria, conservação e restauração de pinturas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. Posteriormente, torna-se diretor da Escola, de 1963 a 1967. Em 1950, trabalha como técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) realizando trabalhos de conservação de obras de arte religiosas na Bahia, em Pernambuco e em Goiás.
Análise
A pintura de João José Rescala é de temática regionalista. O artista figura cenas de gênero e paisagens locais com um desenho correto e cores exuberantes, enfatizando a luminosidade da Bahia. Pescadores, lavadeiras, vendedores ou simples passantes são vistos nas praças, praias, lagoas, rios e igrejas, e representados não de perto, mas sempre integrados no entorno. Ele ressalta a alegria e simplicidade do povo e a beleza natural e histórica da terra. Há nas telas uma estilização que remete a algumas cenas de gênero de Carybé (1911 - 1997), como as telas No Largo de São Francisco, Lavadeiras II e Procissão do Senhor dos Navegantes, expostas em 1982, em Salvador.
Também são marcadas pela cultura baiana as obras místicas, que ficam entre um surrealismo mágico e a pintura metafísica. Nelas, junta símbolos católicos e do candomblé, arquitetura religiosa brasileira, conchas, árvores e ondas, dentre outros elementos, em espaços surreais, com cores rebaixadas e contornos arredondados. Exemplos desse tipo de procedimento são os quadros Meditação Poético-Pictórica: Sublimação e Meditação Poético-Pictórica: A Naveta, ambos de 1968.
Faz igualmente telas religiosas, como Revelação do Dogma de Nossa Senhora da Conceição, de 1971, que se encontra na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador. A composição é tradicional, talvez em razão das exigências da encomenda. Na tela vê-se o Vaticano ao fundo e, flutuando no primeiro plano, o papa à esquerda e Nossa Senhora à direita.
Fonte: RESCÁLA . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 03 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Biografia
Cores rebaixadas e contornos arredondados representam cenários surrealistas na obra de João José Rescala. O artista, apesar de nascido no Rio de Janeiro, é bastante marcado pela cultura baiana. Se mudou para Salvador depois de aprovado num concurso para professor de teoria, conservação e restauração de pinturas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Para o efeito metafísico em suas pinturas, une símbolos do candomblé ao catolicismo, imagens da natureza e arquitetura.
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Biografia - Itaú Cultural
Por volta de 1925, estuda no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e, em 1928, ingressa na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), tornando-se discípulo de Rodolfo Chambelland (1879-1967), Augusto Bracet (1881-1960), Manoel Santiago (1897-1987) e Marques Júnior (1887-1960). Em 1931, funda, ao lado de outros artistas, o Núcleo Bernardelli. Expõe em várias edições do Salão Nacional de Belas Artes (SNBA), recebendo as medalhas de bronze e prata em 1934 e 1939 e os prêmios de viagem ao país e ao exterior em 1937 e 1943, graças aos quais percorre Estados do Norte e do Nordeste do Brasil e viaja ao México e aos Estados Unidos. Nesse último país, faz individuais em Nova York e Chicago em 1945. Um ano depois, expõe na 23ª Bienal de Veneza e, realiza uma individual, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. Na década de 1940, trabalha como desenhista e ilustrador da Revista do Museu Nacional de História Natural (Rio de Janeiro) e realiza curso de especialização na New School for Social Research, em 1945, nos Estados Unidos. Transfere-se para Salvador em 1956, quando é aprovado no concurso para professor catedrático de teoria, conservação e restauração de pinturas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. Posteriormente, torna-se diretor da Escola, de 1963 a 1967. Em 1950, trabalha como técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) realizando trabalhos de conservação de obras de arte religiosas na Bahia, em Pernambuco e em Goiás.
Análise
A pintura de João José Rescala é de temática regionalista. O artista figura cenas de gênero e paisagens locais com um desenho correto e cores exuberantes, enfatizando a luminosidade da Bahia. Pescadores, lavadeiras, vendedores ou simples passantes são vistos nas praças, praias, lagoas, rios e igrejas, e representados não de perto, mas sempre integrados no entorno. Ele ressalta a alegria e simplicidade do povo e a beleza natural e histórica da terra. Há nas telas uma estilização que remete a algumas cenas de gênero de Carybé (1911 - 1997), como as telas No Largo de São Francisco, Lavadeiras II e Procissão do Senhor dos Navegantes, expostas em 1982, em Salvador.
Também são marcadas pela cultura baiana as obras místicas, que ficam entre um surrealismo mágico e a pintura metafísica. Nelas, junta símbolos católicos e do candomblé, arquitetura religiosa brasileira, conchas, árvores e ondas, dentre outros elementos, em espaços surreais, com cores rebaixadas e contornos arredondados. Exemplos desse tipo de procedimento são os quadros Meditação Poético-Pictórica: Sublimação e Meditação Poético-Pictórica: A Naveta, ambos de 1968.
Faz igualmente telas religiosas, como Revelação do Dogma de Nossa Senhora da Conceição, de 1971, que se encontra na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador. A composição é tradicional, talvez em razão das exigências da encomenda. Na tela vê-se o Vaticano ao fundo e, flutuando no primeiro plano, o papa à esquerda e Nossa Senhora à direita.
Fonte: RESCÁLA . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 03 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
3 artistas relacionados
Biografia
Cores rebaixadas e contornos arredondados representam cenários surrealistas na obra de João José Rescala. O artista, apesar de nascido no Rio de Janeiro, é bastante marcado pela cultura baiana. Se mudou para Salvador depois de aprovado num concurso para professor de teoria, conservação e restauração de pinturas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Para o efeito metafísico em suas pinturas, une símbolos do candomblé ao catolicismo, imagens da natureza e arquitetura.
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Biografia - Itaú Cultural
Por volta de 1925, estuda no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e, em 1928, ingressa na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), tornando-se discípulo de Rodolfo Chambelland (1879-1967), Augusto Bracet (1881-1960), Manoel Santiago (1897-1987) e Marques Júnior (1887-1960). Em 1931, funda, ao lado de outros artistas, o Núcleo Bernardelli. Expõe em várias edições do Salão Nacional de Belas Artes (SNBA), recebendo as medalhas de bronze e prata em 1934 e 1939 e os prêmios de viagem ao país e ao exterior em 1937 e 1943, graças aos quais percorre Estados do Norte e do Nordeste do Brasil e viaja ao México e aos Estados Unidos. Nesse último país, faz individuais em Nova York e Chicago em 1945. Um ano depois, expõe na 23ª Bienal de Veneza e, realiza uma individual, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. Na década de 1940, trabalha como desenhista e ilustrador da Revista do Museu Nacional de História Natural (Rio de Janeiro) e realiza curso de especialização na New School for Social Research, em 1945, nos Estados Unidos. Transfere-se para Salvador em 1956, quando é aprovado no concurso para professor catedrático de teoria, conservação e restauração de pinturas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. Posteriormente, torna-se diretor da Escola, de 1963 a 1967. Em 1950, trabalha como técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) realizando trabalhos de conservação de obras de arte religiosas na Bahia, em Pernambuco e em Goiás.
Análise
A pintura de João José Rescala é de temática regionalista. O artista figura cenas de gênero e paisagens locais com um desenho correto e cores exuberantes, enfatizando a luminosidade da Bahia. Pescadores, lavadeiras, vendedores ou simples passantes são vistos nas praças, praias, lagoas, rios e igrejas, e representados não de perto, mas sempre integrados no entorno. Ele ressalta a alegria e simplicidade do povo e a beleza natural e histórica da terra. Há nas telas uma estilização que remete a algumas cenas de gênero de Carybé (1911 - 1997), como as telas No Largo de São Francisco, Lavadeiras II e Procissão do Senhor dos Navegantes, expostas em 1982, em Salvador.
Também são marcadas pela cultura baiana as obras místicas, que ficam entre um surrealismo mágico e a pintura metafísica. Nelas, junta símbolos católicos e do candomblé, arquitetura religiosa brasileira, conchas, árvores e ondas, dentre outros elementos, em espaços surreais, com cores rebaixadas e contornos arredondados. Exemplos desse tipo de procedimento são os quadros Meditação Poético-Pictórica: Sublimação e Meditação Poético-Pictórica: A Naveta, ambos de 1968.
Faz igualmente telas religiosas, como Revelação do Dogma de Nossa Senhora da Conceição, de 1971, que se encontra na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador. A composição é tradicional, talvez em razão das exigências da encomenda. Na tela vê-se o Vaticano ao fundo e, flutuando no primeiro plano, o papa à esquerda e Nossa Senhora à direita.
Fonte: RESCÁLA . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 03 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Biografia
Cores rebaixadas e contornos arredondados representam cenários surrealistas na obra de João José Rescala. O artista, apesar de nascido no Rio de Janeiro, é bastante marcado pela cultura baiana. Se mudou para Salvador depois de aprovado num concurso para professor de teoria, conservação e restauração de pinturas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Para o efeito metafísico em suas pinturas, une símbolos do candomblé ao catolicismo, imagens da natureza e arquitetura.
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Biografia - Itaú Cultural
Por volta de 1925, estuda no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e, em 1928, ingressa na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), tornando-se discípulo de Rodolfo Chambelland (1879-1967), Augusto Bracet (1881-1960), Manoel Santiago (1897-1987) e Marques Júnior (1887-1960). Em 1931, funda, ao lado de outros artistas, o Núcleo Bernardelli. Expõe em várias edições do Salão Nacional de Belas Artes (SNBA), recebendo as medalhas de bronze e prata em 1934 e 1939 e os prêmios de viagem ao país e ao exterior em 1937 e 1943, graças aos quais percorre Estados do Norte e do Nordeste do Brasil e viaja ao México e aos Estados Unidos. Nesse último país, faz individuais em Nova York e Chicago em 1945. Um ano depois, expõe na 23ª Bienal de Veneza e, realiza uma individual, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. Na década de 1940, trabalha como desenhista e ilustrador da Revista do Museu Nacional de História Natural (Rio de Janeiro) e realiza curso de especialização na New School for Social Research, em 1945, nos Estados Unidos. Transfere-se para Salvador em 1956, quando é aprovado no concurso para professor catedrático de teoria, conservação e restauração de pinturas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. Posteriormente, torna-se diretor da Escola, de 1963 a 1967. Em 1950, trabalha como técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) realizando trabalhos de conservação de obras de arte religiosas na Bahia, em Pernambuco e em Goiás.
Análise
A pintura de João José Rescala é de temática regionalista. O artista figura cenas de gênero e paisagens locais com um desenho correto e cores exuberantes, enfatizando a luminosidade da Bahia. Pescadores, lavadeiras, vendedores ou simples passantes são vistos nas praças, praias, lagoas, rios e igrejas, e representados não de perto, mas sempre integrados no entorno. Ele ressalta a alegria e simplicidade do povo e a beleza natural e histórica da terra. Há nas telas uma estilização que remete a algumas cenas de gênero de Carybé (1911 - 1997), como as telas No Largo de São Francisco, Lavadeiras II e Procissão do Senhor dos Navegantes, expostas em 1982, em Salvador.
Também são marcadas pela cultura baiana as obras místicas, que ficam entre um surrealismo mágico e a pintura metafísica. Nelas, junta símbolos católicos e do candomblé, arquitetura religiosa brasileira, conchas, árvores e ondas, dentre outros elementos, em espaços surreais, com cores rebaixadas e contornos arredondados. Exemplos desse tipo de procedimento são os quadros Meditação Poético-Pictórica: Sublimação e Meditação Poético-Pictórica: A Naveta, ambos de 1968.
Faz igualmente telas religiosas, como Revelação do Dogma de Nossa Senhora da Conceição, de 1971, que se encontra na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador. A composição é tradicional, talvez em razão das exigências da encomenda. Na tela vê-se o Vaticano ao fundo e, flutuando no primeiro plano, o papa à esquerda e Nossa Senhora à direita.
Fonte: RESCÁLA . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 03 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7