Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (8 de fevereiro de 1952, Palmares, PE, Brasil — 6 de junho de 2016, Rio de Janeiro, RJ, Brasil), mais conhecido como Tunga, foi um escultor, desenhista e artista performático brasileiro. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, Tunga construiu uma carreira marcada pela experimentação e pelo diálogo com diversas áreas do conhecimento, como literatura, alquimia, psicanálise, mitologia e filosofia. Sua produção artística abrangeu escultura, desenho, instalação, performance e vídeo, sempre pautada por uma estética provocativa, simbólica e sensorial. Utilizava materiais inusitados, como cabelos, ímãs, borracha, cobre e vidro, criando obras que desafiam as convenções e exploravam a dualidade entre corpo e mente, razão e instinto. Participou de importantes bienais e exposições internacionais, tendo sido o primeiro artista contemporâneo a expor sob a pirâmide do Museu do Louvre, em Paris, em 2005. Sua obra está presente em acervos de instituições como o MoMA, em Nova York, a Tate Modern, em Londres, e o Centre Pompidou, em Paris. No Brasil, tem um pavilhão inteiramente dedicado à sua obra no Instituto Inhotim, em Minas Gerais.
Tunga | Wikipédia
Escultor, desenhista e artista performático, Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, conhecido como Tunga, ( 8 de fevereiro de 1952 – Rio de Janeiro, 6 de junho de 2016), é considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional.
Sua erudição e formação filosófica se refletiu em uma produção artística que envolve o cruzamento de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, apresentando interfaces com a literatura, filosofia, psicanálise, teatro, ciências exatas e biológicas. Trata-se de uma obra potente, profunda e autorreferente que nega o tempo linear e se apoia fortemente na materialidade, topologia, simbologias e processos de transformação e metamorfoses.
Foi o primeiro artista contemporâneo e o primeiro brasileiro a expor no icônico Museu do Louvre em Paris , e já teve sua obra exposta na 40ª Bienal de Veneza, na Itália; na X Bienal de Havana, em Cuba; na X Documenta de Kassel, na Alemanha; e, na V Bienal de Lyon, na França.
Participou, ainda, de mostras na Whitechapel Gallery, na Inglaterra; no Museum of Contemporary Art of Chicago e no Museum of Modern Art PS1, ambos nos EUA; no Jeu de Paume e no Centre de la Vieille Charité, ambos na França; no Moderna Museet, na Suécia; no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, na Espanha; e, no Garage Center of Contemporary Culture, na Rússia.
Tunga tem, atualmente, obras em acervos permanentes de museus como o Guggenheim, em Veneza; o Museum of Modern Art, em Nova York; a Tate Modern, em Londres; o Museu d´Art Contemporani de Barcelona, em Barcelona; o Museum of Fine Arts Houston, em Houston; e, Centre Pompidou, em Paris, além de galerias dedicadas à sua obra no Instituto Inhotim.
Faleceu, no Rio de Janeiro, em 6 de junho de 2016. Desde então, o Instituto Tunga atua preservando, conservando, catalogando e divulgando sua extensa obra e memória. Em parceria com as galerias e museus do Brasil e mundo, o Instituto Tunga já realizou 6 grandes exposições e colaborou ativamente para 4 publicações.
Atualmente, a equipe do Instituto Tunga trabalha na elaboração do Catálogo Raisonné que irá mapear todas as obras bidimensionais do artista em uma única publicação bilingue, em português e inglês, online e gratuita.
Biografia
Nascido em Palmares, Pernambuco, filho do escritor Gerardo Mello Mourão e da ativista social Léa de Barros Carvalho e Mello Mourão, Tunga morou e trabalhou no Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Santa Úrsula.
Inicia sua carreira nos primeiros anos da década de 1960, produzindo desenhos e pequenas esculturas. Traça imagens figurativas com temas ousados, como nas séries O Perverso, Pensamentos, Máquinas, Charles Fourier (1772/1887) e Paisagens do Desejo.
Editou, ao lado de Celso F. Ramos Filho, Eduardo Prisco Paraiso Ramos, Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, Marcelo Villela de Andrade, Paulo Ramos Filho, a Revista Nove (1969-1971), uma publicação de poesia moderna. E colaborou com a revista Malasartes (1976), ao lado de Paulo Sérgio Duarte, Waltercio Caldas, Ronaldo Brito, Cildo Meireles, Paulo Venancio Filho, José Resende e Rodrigo Naves; e com o jornal A Parte do Fogo (1980), também com Cildo Meireles, José Resende e Waltercio Caldas, entre outros.
Em 1975, Tunga apresentou pela primeira vez objetos tridimensionais, apresentados na exposição individual intitulada Tunga - Ar do Corpo, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Na década de 1980, passou a criar instalações, nas quais utilizou grande variedade de materiais para explorar a ideia de conjunção, magnetismo, transmissão e isolamento de energia e forças invisíveis - é o caso dos imãs, das lâmpadas, dos fios elétricos, do cobre, e de materiais isolantes como o feltro e a borracha -, sempre justapondo-os com rigor formal.
Buscava extrair sentidos simbólicos de obras que passaram, aos poucos, a apresentar um caráter autorreferente. Neste período criou obras icônicas como Trança [1983]; ÃO [1981]; Xifópagas Capilares entre Nós [1984], Vanguarda Viperina [1985]; Eixos Exógenos [1986-2000]; e, Semeando Sereias [1987-1998].
Nesta mesma época, Tunga deu início aos trabalhos com formas e signos que marcariam sua carreira como as tranças; o tacape; o escalpe; o pente; o cálice; os sinos, seda, palíndromo, caldeirões e funis.
No decorrer da década de 90, Tunga intensificou a pesquisa sobre as relações energéticas entre diferentes metais em suas instalações, passando a usar conjuntos de ímãs em diversos trabalhos. Ao mesmo tempo, passou a elaborar suas instaurações - nome dado pelo artista às ações que ativavam seus trabalhos tridimensionais ou imersivos. Segundo Tunga, vale lembrar, a noção de instauração implica um modo de fazer poesia onde não há ensaios. Diferente da performance, que implica uma noção relacionada ao desempenho, a instauração trata-se de "fazer acontecer algo que você testemunha, que não estava ali, com uma luz nova.” Neste período, Tunga promove uma série de ações com terracota, argila e maquiagem - materiais que fazem alusão à origem humana, da terra; ao primitivismo; e, ao processo de reencarnação, de dar carne ao objeto, corporeidade à obra.
Em 1997, publica o icônico Barroco de Lírios, primeiro livro editado pela Cosac & Naify, que faz um retrospecto das principais obras de Tunga realizadas entre 1981 e 1996. Trata-se de uma publicação concebida pelo artista como uma obra de arte em si, apresentando textos de sua própria autoria, além de encartes e transparências que são como múltiplos não assinados.
Entre os anos 2000 e 2016, as obras incorporam, em pequenas e grandes dimensões, a presença de sinos, mondrongos, garrafas, cálices, jóias, dentes, asas, portais, luminárias, tripés, dedais, balança, bengala, líquidos e tipitis. Também foi o período em que ele passou a incluir os mondrongos em diversas instalações e instaurações. Mondongos são elementos amorfos utilizados em pares que sugerem uma reprodução Morfogenética, na qual os que apresentam protuberância estão relacionados ao "macho-fera" e os que possuem cavidade estão relacionados à “fêmea-bela”.
Em 2002, ocupa três andares do Centro Cultural Banco do Brasil e preenche a rotunda da instituição com uma luz vermelha e voz de Arnaldo Antunes, além de uma tríade com sinos, cálices, garrafas, caldeirões e bengalas de 14 metros. Atores e bailarinos, dirigidos pela coreógrafa Lia Rodrigues, aplicavam maquiagem à instalação. Idealizou a instalação Tríade Trindade [2001]; as performances Encarnações Miméticas e Experiência com Ynaiê [2003]; a série Quase Auroras [2005]; os filmes Quimera [2004], que concorreu à Palma de Ouro, na categoria curta-metragem, em Cannes, em 2004, e Medula [2005], ambos em parceria com Eryk Rocha; e, as obras i Psicopompos e Vers La Voie Humide, no Château La Coste, na França [2008-2015].
Em 2004, inaugura a Galeria True Rouge - primeira instalação permanente do Instituto Inhotim, um desdobramento da série de performances True Rouge, apresentadas desde 1997 em diversas ocasiões e cuja inspiração parte de uma poesia algébrica do escritor Simon Lane. E, em 2012, inaugura a Galeria Psicoativa Tunga, também em Inhotim, que abriga uma exposição permanente apresentando mais de 20 obras do artista sendo muitas icônicas como Ão (1981); Vanguarda Viperina (1985); Palíndromo Incesto (1990-1992); Tereza (1998); Prole do Bebê (2000); À la Lumière des Deux Mondes (2005); X-estudo (2009); Psicopompo Cooking Crystal (2010); e, Toro Condensed (1983) and Toro Expanded (2012).
Tunga recebeu a condecoração Chevalier des Arts et des Lettres (Cavaleiro das Artes e das Letras) pelo embaixador da França, Alain Rouquié. E, em 2005, foi o primeiro artista contemporâneo a exibir sua obra, À la Lumière des Deux Mondes, na pirâmide do Louvre.
Filmografia
Filmes do Tunga em parceria com outros criativos:
1975 - O ar do corpo - João Lanari e Tunga
1987 - Nervo de Prata - direção, fotografia, edição e trilha sonora: Arthur Omar sobre conceitos, obras e argumento de Tunga
2004 - Medula - Tunga e Eryk Rocha
2004 - Quimera - Tunga e Eryk Rocha
Filmes sobre o trabalho do Tunga:
1993 - Seeding Mermaids - Shelagh Wakely
1996 - Dear Friend - Shelagh Wakely
1997 - Inside out / upside down - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
1997 - Há Sopas - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
1997 - A última sereia - Arthur Omar
1998 - True Rouge - Shelagh Wakely
1999 - A Vida de Infra Tunga - Karin Schneider e Nicholas Guagnini
2000 - Lucido Nigredo - Shelagh Wakely
2001 - Resgate - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
2002 - Nosferatu Spectrum - Shelagh Wakely
2002 - TUNGA: Encarnações Miméticas e Nociferatu - Murilo Salles
2003 - Egypsia and the Phoenix - Shelagh Wakely
2005 - Paris [À La Lumière des deux mondes - Louvre] - Shelagh Wakely
Exposições e trabalhos no exterior
Sua obra acabou por ganhar repercussão internacional, levando-o a expor em importantes espaços destinados às artes plásticas ao redor do mundo.
1981 - Participa da exposição individual “Spazio Aperto - 123ª Mostra D'arte maggio-giugno 1981 - Tunga no Centro Iniziative Culturali Pordenone, Itália;
1982 - Divide o Pavilhão Brasileiro da 41ª Bienal de Veneza com o escultor Sérgio Camargo.
1985 - Realiza a exposição individual “Xifópagas Capilares Entre Nós - Siamesas Capilares Entre Nosotros” no Museo Nacional de Bellas Artes, em Buenos Aires, Argentina;
1986 - Participa da “Trienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel” no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), em Buenos Aires, Argentina;
1989 - Realiza a exposição individual “Options 37: Tunga”, no Museum of Contemporary Art Chicago (MCA), EUA;
1989 - Participa da exposição coletiva “U-ABC”, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, Holanda. Com itinerância na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Portugal;
1989 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Whitechapel Gallery, em Londres;
1989 - Participa da exposição “Tunga Lezarts / Cildo Meireles Through”no Kanaal Art Foundation, em Kortrijk, Bélgica;
1990 - Realiza a exposição individual “Tunga” no The Third Eye Centre, em Glasgow, Escócia;
1992 - Participa da exposição coletiva “Désordres” na Galerie nationale du Jeu de Paume, em Paris, França;
1992 - Participa da exposição coletiva “Latin American Artists of the Twentieth Century”, no Centre Georges Pompidou, Paris, França. Com itinerância na Estación Plaza de Armas, em Sevilla, Espanha; no Museum Ludwig, em Colônia, Alemanha; e no Museum of Modern Art (MoMA) em Nova York, EUA;
1993 - Participa de uma mostra coletiva no Moma, em Nova York;
1993 - Participa de uma mostra coletiva no Ludwig Museum, na Alemanha;
1994 - Realiza a exposição individual “Tunga: Instalações e Esculturas”, no The Museum of Contemporary Art, em Nova York, EUA;
1994 - Participa da “5º Bienal de Havana”, Cuba;
1995 - Participa da exposição coletiva “Avant-garde walk a Venezia”, em Veneza, Itália;
1996 - Participa da exposição coletiva “Walk on the SoHo Side”, em Nova York, EUA;
1997 - Participa da “Documenta X”, em Kassel, Alemanha;
1998 - Participa da exposição coletiva “Être Nature“ na Fondation Cartier pour l'art contemporain, em Paris, França;
1999 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires, Argentina;
2000 - Participa da “3ª Gwangju Biennale”, Coreia do Sul;
2000 - Participa da “5ª Biennale D'Art Contemporain de Lyon”, França;
2001 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Galerie Nationale du Jeu de Paume, em Paris, França;
2001 - Participa da “49ª Venice Biennale: Brazil in Venezia” no Peggy Guggenheim Collection, em Veneza, Itália;
2001 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Musée d'art Contemporain de Bordeaux, França;
2001 - Participa da “1ª Bienal de Valencia”, Espanha;
2002 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Centre international de recherche sur le verre et les arts plastiques (Cirva), em Marselha, França;
2002 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Luhring Augustine Gallery, em Nova York, EUA;
2005 - Realiza a exposição individual “Tunga: À La Lumière Des Deux Mondes, Une Installation Sous La Pyramide” no Museu do Louvre, em Paris, França;
2005 - Participa da exposição coletiva “The Art of Chess”, na Luhring Augustine, em Nova York, EUA. Com itinerância na Gary Tatintsian Gallery, em Moscou, Rússia;
2007 - Realiza a exposição individual “Tunga: Laminated Souls” no Museum of Modern Art- PS1 (MoMA PS1), em Nova York, EUA;
2009 - Participa da “3ª Moscow Biennale Of Contemporary Art” no Garage Museum of Contemporary Art, Rússia;
2009 - Realiza a exposição individual “Tunga: Lezart” no Museum of Fine Arts, em Houston, EUA;
2014 - Realiza a exposição individual "From La Voie Humide" na Luhring Augustine Gallery, em Nova York, EUA;
2015 - Realiza a exposição individual “Eu, Você e a Lua” no Domaine de Chaumont-sur-Loire, em Loire, França;
2016 - Sua obra integra a exposição coletiva "Contingent Beauty: Contemporary Art From Latim America" no Museum of Fine Arts, em Houston, EUA;
2017 - Sua obra integra a exposição coletiva “Sol Lewitt, Andres Serrano, Joel Shapiro, Tunga, Andy Warhol” na Galerie Michel Vidal, em Paris, França;
2018 - É realizada a exposição individual “Capillary Xiphopagus among Us” na Tate Modern, em Londres, Inglaterra;
2019 - É realizada a exposição individual “Tunga” na Galleria Franco Noero, em Turim, Itália;
2021 - Sua obra integra a exposição coletiva “Fictionalising the Museum” no Centro Internacional das Artes José de Guimarães - CIAJG, em Guimarães, Portugal;
2023 - É realizada a exposição individual “Tunga: Vê-Nus” na Luhring Augustine, em Nova York, EUA.
Prêmios e honrarias
1985 - Prêmio Museo de Arte Moderno de Caracas Caracas, Venezuela
1986 - Prêmio Trienal Latino-americana de Arte sobre papel Prize “Trienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel”, no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), em Buenos Aires
1986 - Prêmio Governo do Estado do Rio Grande do Sul - Destaque Desenho Brasileiro Exposição coletiva “Caminhos do Desenho Brasileiro”, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), em Porto Alegre
1987 - Prêmio Tucano de Prata do FestRio, O filme “Nervo de Prata” no FestRio, no Rio de Janeiro
1987 - Festival de Cinema e Vídeo do Maranhão, O filme “Nervo de Prata” recebeu o prêmio de melhor vídeo e melhor fotografia no Festival de Cinema e Vídeo do Maranhão, em São Luís
1990 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas, participou da exposição coletiva “Prêmio Brasília de Artes Plásticas”, no Museu de Arte de Brasília, em Brasília
1991 - Prêmio Mário Pedrosa, na Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), pela obra Preliminares do Palíndromo Incesto
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Contemporânea, Niterói, Brasil
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Moderna de Recife, Brasil
1997 - Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo: 50 anos - Panorama 1997 Museu de Arte Moderna de São Paulo
1997 - Prêmio Embratel, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil
1997 - Prêmio de 30 anos Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil
1997 - Melhor vídeo experimental no IV FestRio, o filme “Nervo de Prata” recebeu o prêmio de melhor vídeo experimental no IV FestRio, no Rio de Janeiro
1998 - Johnny Walker Prize Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil
1998 - Prêmio APCA - os Melhores de 1997, recebeu o Prêmio APCA - os Melhores de 1997, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
1998 - Prêmio Cine Ceará O vídeo ”Tunga - Sem redes e tralhas” recebeu o Prêmio Cine Ceará por melhor edição e melhor trilha sonora original.
1999 - Prêmio de melhor mostra estrangeira de 1999, com a exposição "Tunga", apresentada no Centro Cultural Recoleta, recebeu o Prêmio de melhor mostra estrangeira de 1999, Argentina.
2000 - Chevalier des Arts et des Lettres Foi nomeado "Chevalier des Arts et des Lettres” (Cavaleiro das Artes e das Letras) pelo Ministério da Cultura da França.
2000 - Hugo Boss Award Participou da exposição coletiva “Hugo Boss Prize”, no Guggenheim Museum (Nova York), em Nova York, com indicação ao “Prêmio Hugo Boss Prize”
2004 - Prêmio Palma de Ouro, o filme “Quimera” concorreu ao “Prêmio Palma de Ouro”, do Festival de Cannes, França.
2005 - Artes Mundi prize, Wales, Inglaterra
2008 - Prêmio Jabuti A “Caixa de Livros Tunga” foi ganhadora do Prêmio Jabuti (Câmara Brasileira do Livro) em 2008, na categoria Arquitetura e Urbanismo, Fotografia, Comunicação e Artes.
2022 - Prêmio APCA - Os melhores de 2021, a exposição “Tunga - Conjunções magnéticas”, realizada no Itaú Cultural e no Instituto Tomie Ohtake, recebe o Prêmio APCA - Os melhores de 2021, concedida pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Publicações monográficas
1980 - "Tunga Esculturas", Paulo Sergio Duarte, Espaço ABC (Funarte) / Parque Natural Municipal da Catacumba
1997 - "Tunga: Barroco de Lírios", Tunga, Cosac & Naify
1997 - "Tunga: 1977_1997”, Carlos Basualdo, Edith C Blum Art Inst
1999 - "Tunga em Buenos Aires”, Mercedes Casanegra, Centro Cultural Recoleta
2005 - "Tunga: Las películas, Los vídeos”, José Jiménez, Instituto Cervantes
2007 -“Tunga" - caixa constituída de sete volumes de diferentes formatos (textos, fotografias, vídeos) que documentam a trajetória do artista, Cosac & Naify
2007 - "Tunga: Dessins Érotiques", Daniel Templon, Galerie Daniel Templon
2008 - "Apesar de Leves "Pumbeo Sapiens”, Paulo Darzé Galeria
2013 - "Narrativas Ficcionais de Tunga", Marta Martins, editora Apicuri
2016 - Tunga: Pálpebras, Galeria Millan
2018 - Tunga: O Corpo em Obras, Isabella Rjeille e Tomás Toledo
2018 - Tunga - O rigor da distração, Luisa Duarte e Evandro Salles, Museu de Arte do Rio (MAR)
2019 - "Tunga", Catherine Lampert, editora Cosac & Naify
2021 - "Tunga: Conjunções Magnéticas”, Instituto Tomie Ohtake / Instituto Itaú Cultural
2023 - "Tunga: Vê-Nus”, Paulo Venancio Filho, Luhring Augustine
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Tunga | Itaú Cultural
Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (Palmares, Pernambuco, 1952 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016). Escultor, desenhista e artista performático. Torna os objetos utilizados em suas obras elementos de performance, criando analogias entre corpo e escultura.
Filho do poeta e escritor Gerardo Melo Mourão (1917-2007) e de Léa de Barros (1922-?), retratada no quadro As Gêmeas (1940), do pintor Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), convive desde cedo com a literatura e com as artes plásticas, experiências que marcam sua formação.
Muda-se para o Rio de Janeiro e, na década de 1970, inicia sua obra, que se aproxima da produção de artistas de diferentes vertentes da arte contemporânea brasileira, como Cildo Meireles (1948), Waltercio Caldas (1946) e José Resende (1945). A relação entre representação, linguagem e realidade, tema-chave para essa geração de artistas, está presente em muitos dos trabalhos do escultor. Neles, corpo e desejo tornam-se componentes ativos da investigação, na qual são incluídos itens de outras áreas de conhecimento, como literatura, filosofia, psicanálise, teatro, matemática, física e biologia.
Em 1974, conclui o curso de arquitetura e urbanismo na Universidade Santa Úrsula. No mesmo ano, realiza sua primeira exposição individual, Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), onde expõe conjuntos de desenhos marcados por um “erotismo mental”: espécie de atitude reflexiva em torno do desejo humano, em que as formas não representam nada de específico, mas a tensão sexual pode ser inferida em ambíguas sugestões fálicas ou nos títulos das obras.
Nos objetos e esculturas, as formas e materiais se entrelaçam, em analogia à cópula, atualizando a proposta dos surrealistas de que, nos poemas e obras, as palavras fariam amor. Segundo o crítico inglês Guy Brett (1942), por meio da imersão na matéria e no mundo físico, Tunga estabelece “uma surpreendente e inesperada analogia ou ponto de encontro entre energias ‘esculturais’ e as do corpo humano”1.
Ao construir sua obra, Tunga opera no cruzamento entre objeto, performance e texto. Suas esculturas constroem narrativas, das quais os textos são componentes. Além disso, os objetos utilizados em performances figuram como agentes detonadores de processos. Mesmo em espaços expositivos, os objetos assumem dimensão performática, como resíduos ou dejetos de determinada ação deixados no ambiente. O artista chama esses objetos de “instaurações”, uma imbricação entre as categorias artísticas de “ação” – pertencente ao universo da performance e do teatro – e “instalação” – objetos montados em espaço expositivo –, de modo a incluí-los como parte da experiência artística.
Colabora, nos anos seguintes, para a revista Malasartes e o jornal independente A Parte do Fogo, ambos de curta duração2. Em 1981, integra a 16ª Bienal de São Paulo, onde apresenta o filme-instalação Ão. Filmado em 16mm, ele constrói a projeção em um toro imaginário no interior do Túnel Dois Irmãos (atual Túnel Zuzu Angel), no Rio de Janeiro. Essa projeção é acompanhada pela repetição de um trecho da música Night and Day, do compositor Cole Porter (1891-1964), cantada por Frank Sinatra (1915-1998), criando a sensação de uma viagem infinita.
Em outubro de 1985, publica um encarte na revista Revirão 2 – Revista da Prática Freudiana, com imagens da performance Xifópagas Capilares (1984), acompanhadas da narrativa sobre a origem da obra. A relação que os textos de Tunga mantêm com as demais dimensões da obra está exemplificada nessa produção, uma vez que no encarte encontram-se fotografias de uma série de trabalhos realizados no início da década de 1980, como Les bijoux de Mme. De Sade (1982); Troféu (1984); Toros, joias de Mme. De Sade (1983), um registro da performance Xifópagas Capilares, fotogramas do filme Ão. As imagens parecem ilustrar pequenos trechos do texto que fecha o encarte. A narrativa apresenta, por um lado, o estilo de relato científico, e, por outro, aproxima-se da literatura fantástica latino-americana, como a do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Ao longo do texto, encontram-se referências a objetos criados por Tunga, que lhes atribuem uma origem e produzem entre eles um vínculo para além da forma. Embora seja difícil estabelecer relação causal entre texto e objetos, é possível afirmar que, ao mesmo tempo que as peças parecem ter saído de dentro do texto, são elas que alimentam a dinâmica da narrativa. Desse modo, texto e obras configuram um sistema contínuo que suspende os limites entre literatura, performance e objeto, lançando-se no campo especulativo da linguagem.
A noção de sistema contínuo permite compreender que a dimensão simbólica dos objetos de Tunga não conduz à ideia de um todo uniforme, do qual cada peça individual é parte. Antes, cada peça, cada texto e cada ação remetem a uma produção contínua de formas e narrativas, que se prolongam sem princípio ou finalidade evidentes. Também vem dessa concepção o interesse do artista pela figura matemática do toro - que aparece no filme-instalação Aõ: sendo um produto da rotação de uma superfície circular em torno de uma circunferência, o toro configura também um sistema contínuo.
Os sistemas contínuos de Tunga têm uma origem: o espaço fantasmático entre corpo e psique. Esse espaço obedece a temporalidade e espacialidade singulares, dominadas por pulsões eróticas e combinações inconscientes. O curador argentino Carlos Basualdo (1964) define esse movimento como “tendência ao transbordamento e à profusão mediada por um delicado sentido de equilíbrio e composição”3, que ele chama também de “tensão barroca”.
Tunga entende os sistemas contínuos de esculturas que cria como elementos que se desdobram no espaço, organizando-o em uma experiência que envolve corpo e mente. São objetos que têm o poder de fazer aparecer a força poética dos gestos, como sugere Ronaldo Brito ao referir-se a obras como Trança (1984).
Se entre os materiais mais utilizados no início da carreira estão ferro, aço, latão, lâmpadas, correntes, ímãs, feltro e borracha, a partir da década de 1990, Tunga explora materiais mais orgânicos e fluidos, como a gelatina, que recobre os sinos em Cadentes Lácteos (1994), ou a pasta de maquiagem, com a qual sete meninas, que participam da ação Floresta Sopão (2002), recobrem objetos e os próprios corpos.
Tunga é um dos primeiros artistas contemporâneos a expor no Museu do Louvre, Paris, com a obra À Luz de Dois Mundos (2005). Mais tarde, em 2012, inaugura espaço dedicado à sua produção, a Galeria Psicoativa, localizada no Instituto Inhotim, na cidade de Brumadinho, Minas Gerais. Suas obras integram importantes acervos de museus nacionais e internacionais.
Em 2016, é inaugurada a exposição póstuma Pálpebras, na Galeria Millan, com obras inéditas. No ano seguinte, integra a sequência de mostras sobre sexualidade realizadas no Museu de Arte de São Paulo (Masp) com Tunga: O Corpo em Obras.
Críticas
"Na Galeria Luisa Strina, o artista expõe sete conjuntos de objetos-esculturas que, a um primeiro olhar, parecem peças de cerâmica. A cor terrosa engana. Ela não é do material, mas do seu acabamento insólito: maquiagem. As peças são fundidas em bronze e cobertas com base, batom e pó compacto. A superfície resultante não se pretende simulacro perfeito da pele: conserva o índice da mão que a plasmou em argila. Os objetos-esculturas nasceram do desenho de corpos unidos. O artista isolou a linha que define ao mesmo tempo duas pessoas: fronteira e mistura de peles, vasos comunicantes e incomunicados. Metáfora das relações amorosas, essa linha ganhou volume e expandiu-se em duas formas: urna e cálice (ou aberto e fechado, masculino e feminino). Preenchendo o espaço entre elas, um lábio. Está montada a equação visual que, conforme os hábitos de Tunga, ainda se alimentou de inúmeras fontes de pesquisa, entre elas as ciências exatas" — Angélica de Moraes (MORAES, Angélica de. "Tunga expõe metáforas do amor". In: O Estado de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 1994. Caderno 2, p.D1).
"Tunga pertence à geração de artistas brasileiros seguidores de Hélio Oiticica e Lygia Clark. Arquiteto por formação, imerso em literatura (de Nerval a Borges) e em referências filosóficas e científicas (arqueologia, paleontologia, zoologia, medicina), seu trabalho exibe a marca das grandes ficções do continente latino-americano. Freqüentemente lidando com o excesso - muitas de suas obras foram realizadas através do acúmulo de materiais pesados (ferro, cobre, ímã) -, ele apresenta objetos comuns que passaram por uma estranha transformação: dedais, agulhas gigantes ou pentes. Inventa um bestiário fantástico de lagartos e serpentes mutantes que parece saído diretamente de uma antologia surrealista. Jogando com as diferenças de proporções, Tunga considera a escultura como um conjunto de formas e figuras enigmáticas cuja estranheza e proporções fabulosas intrigam o espectador e causam transtorno em sua percepção habitual de próximo e distante, dentro e fora, cheio e vazio. Seu interesse no inconsciente e, particularmente, nos processos associativos das engrenagens do sonho, bem como na figura da metáfora, o levou a construir obras de arte com ramificações e efeitos de significado múltiplos. Estes se entrelaçam com erupções do fantástico, convidando o espectador a penetrar num universo barroco onde não se pode distinguir o real do imaginário" — Paul Sztulman (SZTULMAN, Paul. "Tunga". In: Documenta 10. Kassel: Documenta, 1997. p.226. Conteúdo traduzido.)
"Muitos podem ser os dispositivos disparadores de obras, operadores de contágio e hibridação. Eles servem para dar liga ao conjunto de elementos que constituirão uma mesma obra, ou para juntar e amalgamar várias obras entre si e, nesta combinação, produzir uma outra, inédita. Um deles, talvez o que mais retorna, é a gelatina. Matéria orgânica gosmenta, próxima dos fluidos corporais - baba, meleca, esperma - que lambuza tudo, produzindo um continuum. (...) Outro dispositivo recorrente na fabricação de híbridos: os ímãs. À primeira vista, usá-los para ligar materiais parece óbvio: a vocação dos ímãs é justamente produzir atração entre minérios. No entanto, ao cumprir seu destino no contexto inesperado de uma obra de arte, eles provocam estranhamento. (...) Outros inesperados operadores de junção: batom, base e pó compacto maquiam cálices, urnas e 'lábios' e fazem deles um só corpo. Outros ainda: finíssimos fios de toda espécie - de cobre, nylon ou prata - unem os elementos em cena em diferentes obras. Por último, um tipo de operador que vale a pena privilegiar: os textos de Tunga que por vezes acompanham seus trabalhos. Narrativas com referências a documentos imaginários - recortes de jornal, relatórios de pesquisa, depoimentos, telegramas, cartas, inscrições arqueológicas, achados paleontológicos, registro de experiências telepáticas etc. - produzem uma impostação pseudocientífica impregnada de mistério e magia que acaba contaminando a obra. Nestes textos, onde ficção se entrelaça com dados objetivos e biográficos, obra e vida tornam-se inseparáveis - a vida se mostra obra, e a obra, cartografia da vida. Como se os novos elos que unem ingredientes incompossíveis para fazer obra, ou várias obras para fazer uma nova, fossem da ordem do necessário e, portanto, passíveis de explicação científica" — Suely Rolnik (ROLNIK, Suely. "Instaurações de Mundos". In: TUNGA. Tunga: 1977-1997. Curadoria Carlos Basualdo. Miami : Museum of Contemporary Art, 1998, p. 115-136).
Exposições Individuais
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1976 - São Paulo SP - Tunga: desenhos e objetos, na Galeria Luisa Strina
1979 - Rio de Janeiro RJ - Pálpebras, no Centro Cultural Candido Mendes
1980 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Espaço ABC
1981 - São Paulo SP - Individual, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1982 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Centro Cultural Candido Mendes
1983 - São Paulo SP - As Jóias da Senhora de Sade, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1984 - Rio de Janeiro RJ - Tranças, na GB ARTe
1985 - São Paulo SP - Tunga: esculturas, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1986 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Saramenha
1989 - Chicago (Estados Unidos) - Option 37: Tunga, no Museum of Contemporary Art
1989 - Londres (Inglaterra) - Individual, na Whitechapel Art Gallery
1989 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Paulo Klabin
1989 - São Paulo SP - Individual, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1990 - Amsterdã (Holanda) - Individual, na Pulitzer Art Gallery
1990 - Glasgow (Escócia) - Individual, no The Third Eye Center
1990 - Toronto (Canadá) - Interceptions, na The Power Plant Contemporary Art Gallery
1991 - Rio de Janeiro RJ - Preliminares do Palíndromo Incesto, na GB ARTe
1991 - São Paulo SP - Preliminares do Palíndromo Incesto, na Galeria Millan
1992 - Rio de Janeiro RJ - Sero Te Amavi, na Galeria Saramenha
1992 - São Paulo SP - Antigas Minúcias, na Marília Razuk Galeria de Arte
1992 - São Paulo SP - Sero Te Amavi, na Galeria Millan
1994 - Nova York (Estados Unidos) - Tunga: instalações e esculturas, no The Museum of Contemporary Art
1994 - Rio de Janeiro RJ - Tunga: esculturas, na Galeria Paulo Fernandes
1994 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
1994 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan
1995 - Nova York (Estados Unidos) - Sero Te Amavi, no The New Museum of Contemporary Art
1996 - São Paulo SP - Individual, na Galeria André Millan
1996 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
1997 - Miami (Estados Unidos) - Tunga: 1977-1997, no Museum of Contemporary Art Joan Lehman Building
1997 - Nova York (Estados Unidos) - Tunga: 1977-1997, no Center for Curatorial Studies
1997 - Rio de Janeiro RJ - Tunga, na Galeria Thomas Cohn
1998 - Caracas (Venezuela) - Tunga: 1977-1997, no Museo Alejandro Otero
1999 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
2001 - Paris (França) - Individual, na Galerie Nationale du Jeu de Paume
2001 - São Paulo SP - Resgate, no CCBB
2004 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan Antonio
Exposições Coletivas
1973 - Valparaíso (Chile) - Coletiva, no Instituto de Arte de la Universidade del Valparaíso
1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Milão (Itália) - Camere Incantate, no Palazzo Reale
1981 - Porto Alegre RS - Artistas Brasileiros dos Anos 60 e 70 na Coleção Rubem Knijnik, no Espaço NO Galeria Chaves
1981 - Rio de Janeiro RJ - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1981 - São Paulo SP - 16ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Lisboa (Portugal) - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Reino Unido) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Veneza (Itália) - 41ª Bienal de Veneza - Pavilhão Brasileiro, com Sérgio de Camargo
1983 - Rio de Janeiro RJ - 13 Artistas/13 Obras, na Thomas Cohn Arte Contemporânea
1983 - Rio de Janeiro RJ - 3000 Metros Cúbicos, no Espaço Cultural Sérgio Porto
1983 - São Paulo SP - Imaginar o Presente, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1984 - Rio de Janeiro RJ - Exposição, na GB Arte
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1985 - Caracas (Venezuela) - Escultura 85, no Museo Ambiental
1985 - Niterói RJ - Uma Luz sobre a Cidade, na Galeria de Artes da UFF
1985 - Rio de Janeiro RJ - Encontros, na Petite Galeria
1985 - São Paulo SP - Sete Artistas, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1985 - São Paulo SP - Tendências do Livro de Artista no Brasil, no CCSP
1985 - Tóquio (Japão) - Today's Art of Brazil, no Hara Museum of Contemporary Art
1986 - Buenos Aires (Argentina) - 1ª Bienal Latino-americana de Arte sobre Papel, no Museo de Arte Moderno de Buenos Aires - premiado
1986 - Niterói RJ - 1083º, na UFF. Núcleo de Documentação
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs - Prêmio Governo do Estado
1986 - Porto Alegre RS - Coleção Rubem Knijnik: arte brasileira anos 60/70/80, no Margs
1986 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Carioca de Arte, na Estação Carioca do Metrô
1986 - Rio de Janeiro RJ - Transvanguarda e Culturas Nacionais, MAM/RJ
1986 - São Paulo SP - Transvanguarda e Culturas Nacionais, no MAM/SP
1987 - Paris (França) - Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1988 - Campinas SP - 13º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1988 - Nova York (Estados Unidos) - Painting Degree Zero, na Terne Gallery
1988 - Rio de Janeiro RJ - Ponto para 21, no Rio Design Center
1988 - Rio de Janeiro RJ - Uma Escultura para o Mar de Angra, na EAV/Parque Lage
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Amsterdã (Holanda) - U-ABC, no Stedelijk Museum Amsterdam
1989 - Kortrijk (Bélgica) - Cildo Meireles: through/Tunga: lezarts, na Kannal Art Foundation
1989 - Londres (Inglaterra) - Cildo Meireles, Tunga, na Whitechapel Gallery
1989 - Rio de Janeiro RJ - Nossos Anos 80, na Casa de Cultura Laura Alvim
1989 - Rio de Janeiro RJ - Rio Hoje, no MAM/RJ
1989 - São Paulo SP - 10 Escultores, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1989 - São Paulo SP - O Pequeno Infinito e o Grande Circunscrito, na Arco Arte Contemporânea Galeria Bruno Musatti
1990 - Birmingham (Inglaterra) - Transcontinental, na Ikon Gallery
1990 - Brasília DF - Prêmio Brasília de Artes Plásticas, no MAB/DF
1990 - Lisboa (Portugal) - U-ABC, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1991 - Estocolmo (Suécia) - Viva Brasil Viva, no Kulturhuset, Konstavdelningen och Liljevalchs Konsthall
1991 - Rio de Janeiro RJ - Imagem sobre Imagem, no Espaço Cultural Sérgio Porto
1991 - São Paulo SP - 22º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1992 - Berlim (Alemanha) - Klima Global, na Staatliche Kunsthalle
1992 - Curitiba PR - 10ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba/Mostra América, no Museu da Gravura
1992 - Paris (França) - Désordres, na Galerie Nationale du Jeu de Paume
1992 - Paris (França) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no Centre Georges Pompidou
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1992 - Rio de Janeiro RJ - Diferenças, no MNBA
1992 - Rio de Janeiro RJ - Escultura 92: sete expressões, no Espaço RB1
1992 - Rio de Janeiro RJ - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/SP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Arte Amazonas, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Arte Amazonas, na Fundação Bienal
1992 - Brasília DF - Arte Amazonas, no MAB/DF
1992 - Berlim (Alemanha) - Arte Amazonas, na Staatliche Kunsthalle
1992 - São Paulo SP - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateaubriand Museu de Arte Moderna-RJ, na Galeria de Arte do Sesi
1992 - São Paulo SP - Branco Dominante, na Galeria de Arte São Paulo
1992 - São Paulo SP - Galeria Millan: mostra inaugural, na Galeria Millan
1992 - Sevilha (Espanha) - Latin American Artists of the Twentieth Century, na Estación Plaza de Armas
1992 - Paris (França) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no Centre Georges Pompidou
1993 - Brasília DF - Um Olhar sobre Joseph Beuys, na Fundação Athos Bulcão
1993 - Colônia (Alemanha) - Latin American Artists of the Twentieth Century, na Kunsthalle Cologne
1993 - Nova York (Estados Unidos) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no MoMA
1993 - Los Angeles (Estados Unidos) - Body to Earth, na Fischer Gallery, University of Southern California
1993 - Newcastle (Inglaterra) - Second Tyne International Exhibition of Contemporary Art, na Computer Warehouse Ltda
1993 - Rio de Janeiro RJ - Arte Erótica, no MAM/RJ
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - Rio de Janeiro RJ - Emblemas do Corpo: o nu na arte moderna brasileira, no CCBB
1993 - São Paulo SP - A Arte Brasileira no Mundo, uma Trajetória: 24 artistas brasileiros, na Dan Galeria
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1994 - Havana (Cuba) - 5ª Bienal de Havana
1994 - Rio de Janeiro RJ - As Potências do Orgânico, no Museus Castro Maya. Museu do Açude
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - Rotterdã (Holanda) - Call it Sleep, no Witte de With Center for Contemporary Art
1994 - São Paulo SP - 22ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1995 - Caracas (Venezuela) - 2ª Bienal Barro de América, no Museu de Arte Contemporânea de Caracas Sophia Imber
1995 - Rio de Janeiro RJ e Belo Horizonte MG - Libertinos/Libertários, na Funarte e no Centro Cultural da UFMG
1995 - Rio de Janeiro RJ e Belo Horizonte MG - Libertinos/Libertários, na Funarte e no Centro Cultural da UFMG
1995 - São Paulo SP - Entre o Desenho e a Escultura, no MAM/SP
1995 - São Paulo SP - Morandi no Brasil, no CCSP
1995 - Veneza (Itália) - Avant-Garde Walk in Venice 1995
1996 - Nova York (Estados Unidos) - Avant-Garde Walk in Soho 1996
1996 - Rio de Janeiro RJ - Mensa/Mensae, na Funarte. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
1996 - Rio de Janeiro RJ - Transparências, no MAM/RJ
1996 - São Paulo SP - 2ª United Artists: utopia, na Casa das Rosas
1997 - Kassel (Alemanha) - 10ª Documenta, no Museum Fridericianum
1997 - Rio de Janeiro RJ - Há Sopas, no Paço Imperial
1997 - São Paulo SP - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/SP
1997 - São Paulo SP - Diversidade da Escultura Contemporânea Brasileira, na Avenida Paulista - realização Ministério da Cultura/Itaú Cultural
1997 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: perfil de uma identidade, no Banco Safra
1997 - São Paulo SP - Tridimensionalidade: Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1997 - Washington (Estados Unidos) - Escultura Brasileira: perfil de uma identidade, no Centro Cultural do BID
1998 - Belo Horizonte MG - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Brasília DF - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niterói
1998 - Niterói RJ - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAC/Niterói
1998 - Penápolis SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Porto Alegre RS - Remetente, no Espaço Cultural Ulbra
1998 - Recife PE - 25º Panorama de Arte Brasileira, no Mamam
1998 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996-1998, no CCBB
1998 - Salvador BA - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/BA
1998 - São Paulo SP - 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1998 - São Paulo SP - Afinidades Eletivas I: o olhar do colecionador, na Casa das Rosas
1998 - São Paulo SP - Teoria dos Valores, no MAM/SP
1999 - Lisboa (Portugal) - América Latina das Vanguardas ao Fim do Milênio, na Culturgest
1999 - Porto Alegre RS - 2ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, no Espaço Margs, no Espaço Usina Gasômetro e no Espaço Armazém do Cais do Porto (antigo DEPREC)
1999 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Chico Buarque, no Paço Imperial
1999 - Santa Mônica (Estados Unidos) - Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Mira Schendel, Tunga, na Christopher Grimes Gallery
1999 - São Paulo SP - 3ª Heranças Contemporâneas, no MAC/USP
2000 - Colchester (Inglaterra) - Outros 500: highlights of brazilian contemporary art in UECLAA, na Art Gallery - University of Essex
2000 - Curitiba PR - 12ª Mostra da Gravura de Curitiba. Marcas do Corpo, Dobras da Alma
2000 - Lion (França) - Bienal de Lion
2000 - Lisboa (Portugal) - Século 20: arte do Brasil, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
2000 - Rio de Janeiro RJ - Situações: arte brasileira anos 70, na Fundação Casa França-Brasil
2000 - Salvador BA - A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé, no MAM/BA
2000 - São Paulo SP - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - Obra Nova, no MAC/USP
2001 - Campinas SP - (quase) Efêmera Arte, no Itaú Cultural
2001 - Madri (Espanha) - El Final del Eclipse: el arte de América Latina en la transición al siglo XXI, na Fundación Telefonica
2001 - Nova York (Estados Unidos) - Brazil: body and soul, no Solomon R. Guggenheim Museum
2001 - Oxford (Inglaterra) - Experiment Experiência: art in Brazil 1958-2000, no Museum of Modern Art
2001 - Porto Alegre RS - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea, no Margs
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2001 - Rio de Janeiro RJ - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - O Espírito de Nossa Época, no MAM/RJ
2001 - São Paulo SP - Anos 70: Trajetórias, no Itaú Cultural
2001 - São Paulo SP - Arco das Rosas: marchand como curador, na Casa das Rosas
2001 - São Paulo SP - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no MAM/SP
2001 - São Paulo SP - O Espírito de Nossa Época, no MAM/SP
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - Fragmentos a Seu Ímã, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2002 - Liverpool (Reino Unido) - Pot
2002 - Madri (Espanha) - Arco/2002, no Parque Ferial Juan Carlos I
2002 - Niterói RJ - Coleção Sattamini: esculturas e objetos, no MAC/Niterói
2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC/Niterói
2002 - Porto Alegre RS - Violência e Paixão, no Santander Cultural
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arquipélagos: o universo plural do MAM, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Artefoto, no CCBB
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Canteiro de Obras do Circo Voador, no Circo Voador
2002 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Paralelos: arte brasileira da segunda metade do século XX em contexto, Collección Cisneros, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Seleção do Acervo de Arte da UCAM, no Centro Cultural Candido Mendes
2002 - São Paulo SP - 10 Anos Marília Razuk, na Marília Razuk Galeria de Arte
2002 - São Paulo SP - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Instituto Tomie Ohtake
2002 - São Paulo SP - Ópera Aberta: celebração, na Casa das Rosas
2002 - São Paulo SP - Paralela, no Galpão localizado na Avenida Matarazzo, 530
2002 - São Paulo SP - Paralelos: arte brasileira da segunda metade do século XX em contexto, Colección Cisneros, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - Pot, no Galeria Fortes Vilaça
2003 - Brasília DF - Artefoto, no CCBB
2003 - Niterói RJ - Apropriações: Curto-Circuito de Experiências Participativas, no MAC/Niterói
2003 - Rio de Janeiro RJ - Desenho Anos 70, no MAM/RJ
2003 - Rio de Janeiro RJ - Grande Orlândia: artistas abaixo da linha do equador
2003 - Rio de Janeiro RJ - Vinte e Cinco Anos: Galeria de Arte Cândido Mendes, na Galeria Candido Mendes
2003 - São Paulo SP - A Subversão dos Meios, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Escultores - Esculturas, na Pinakotheke
2003 - Vila Velha ES - O Sal da Terra, no Museu Vale do Rio Doce
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, no Mercedes Viegas Escritório de Arte
2004 - Rio de Janeiro RJ - Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções do Rio, no MAM/RJ
2004 - São Paulo SP - Fotografia e Escultura no Acervo do MAM - 1995 a 2004, no MAM/SP
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
2005 - Rio de Janeiro RJ - 10 Indicam 10, no Centro Cultural Candido Mendes
2005 - São Paulo SP - O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira, no Itaú Cultural
Fonte: TUNGA. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 30 de março de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Confira nove elementos e conceitos para entender o trabalho de Tunga | Arte que Acontece
Aproximadamente duas toneladas de imã, mais de 300 quilômetros de fios de ferro e cerca de 300 obras. Esse é só um cheiro da magnitude da retrospectiva TUNGA: Conjunções Magnéticas, que abre dia 11 de novembro no Itaú Cultural e Instituto Tomie Ohtake.
Curada por Paulo Venancio Filho, a maior e mais completa retrospectiva do artista tem o desenho como fio condutor – apesar de ser muitas vezes reconhecido pelas esculturas e performances, o artista começou a explorar o universo das artes pelo desenho e nunca mais abandonou a mídia – e apresenta desde os primeiros trabalhos até obras mais recentes como as esculturas da série From ‘La Voie Humide’.
Entre os três andares do Itaú que abrigam a exposição, vale dedicar um tempo para observar o cabinet de curiosité idealizado por Venancio Filho onde são apresentados alguns elementos para o público mergulhar no universo de Tunga: cadernos com textos e desenhos; projetos em cerâmica e metal para obras futuras; joais desenhadas pelo artista; as peças feitas em parceria com a Bordallo Pinheiro; e, suas primeiras experimentações e culturais apresentadas no MAM em 1974. Ainda com o objetivo de revelar o universo fantástico de Tunga, o público poderá ver, no Instituto Tomie Ohtake, uma maquete da instalação Gravitação Magnética. Criada para a 19ª Bienal de São Paulo em 1987, a obra que está sendo remontada pela primeira vez impressiona por sua monumentalidade – mede 10 metros e pesa 1000 kg – e pela poesia. Também é possível ver, nos dois espaços, desenhos da mesma série revelando uma verdadeira dança espiral de um corpo-cabeleira-magnético.
Um dos destaques é a cópia de exibição da obra Piscina, mostrada uma única vez em 1975 e de paradeiro desconhecido. Trata-se de uma das primeiras vezes que o artista usa a ideia do tripé – um símbolo que voltaria a protagonizar seu trabalho quase 40 anos depois. Vale notar, ainda, raridades como Desenhos Protuberantes e as belíssimas Morfológicas – em cerâmica, bronze, látex – e os Eixos Exógenos, esculturas de madeira feitas a partir do perfil de corpos femininos.
O Tomie Ohtake abrigará, ainda, a icônica Ão – uma projeção que mostra o interior do túnel dos morros Dois Irmãos, na qual a câmera se move em um caminho contínuo sem encontrar entrada ou saída. O vídeo em loop dilata a ideia de espaço-tempo ao sugerir uma curva infinita dentro de uma montanha, sem acesso ao exterior, provocando uma leve sensação de tontura potencializada pela repetição dos fragmentos da música Night and Day na voz de Frank Sinatra.
Apesar de se tratar de uma retrospectiva, a exposição não foi organizada de forma cronológica. E nem poderia: o pensamento de Tunga era como uma espiral eterna e contínua onde diversos elementos e conceitos, ligados aos seus interesses pela arte, literatura, matemática e filosofia, aparecem e reaparecem sem começo, meio ou fim, como propõe a atmosfera de Ão.
Para facilitar a sua visita, separamos alguns elementos e conceitos recorrentes na obra do artista. Vem com a gente!
1.O nascimento e a noção de verdade
Boa parte dos textos escritos por Tunga vem supostamente de experiências vividas pelo artista, criando uma linha tênue entre o que é realidade e o que é ficção. Há aqui uma ligação direta ao artista alemão Joseph Beuys que criou os próprios mitos que, de alguma forma, justificavam a escolha de materiais e elementos de sua obra.
Assim como Beuys, Tunga gostava de fazer mais perguntas do que dar respostas. Dizem, por exemplo, que Tunga nasceu em Palmares, em Pernambuco. Mas também corre o boato que foi no Rio de Janeiro. Sobre o mistério em relação a sua origem, o artista comenta: O primeiro pensamento que eu coloco é que precisamos acreditar em alguma coisa ou em alguém ou em um fato. O nascimento sempre tem uma testemunha escrita ou um relato. E eu devo acreditar nessas testemunhas, certo? E se eu tiver dois depoimentos contraditórios? Posso acreditar nos dois? Onde vou parar se seguir duas pistas diferentes?
Estou levando esta questão a um grau bastante consequente. Quando digo que nasci em dois lugares diferentes, estou levando estas questões a um grau bastante consequente. É paradoxal, mas pode ser uma situação interessante para se investigar. O que representa nascer duas vezes? Podemos efetivamente nascer e renascer. E este renascer não necessariamente vai significar um nascer novo, mas um nascer somado a outro anterior, e vamos continuamente renascendo em versões diversas. É expandir as experiências e a veracidade delas.
Henri Michaux tem uma frase muito bonita: Même si c’est vrai c’est faux [mesmo se for verdadeiro, é falso]. E o inverso também é válido: mesmo se for falso, é verdadeiro.
2. As gêmeas
Um dos trabalhos mais famosos de Tunga é chamado de Xifópagas Capilares. Trata-se de uma performance feita pela primeira vez em 1984, na qual duas irmãs gêmeas unidas pelos cabelos passeiam pelo espaço expositivo, entre os visitantes e alguns outros trabalhos do artista. De todos os trabalhos de Tunga, Xifópagas Capilares entre Nós é o mais emblemático da ideia da uma narrativa como obra – ela faz referência a diversos trabalhos do artista, incluindo Escalpe, Bordas, Pintura Sedativa, Protesis, Revê-la Antinomia e Les Bijoux de Mme de Sade, e os conecta e entrelaça em loop, tal qual Ão, esculpindo, escavando o próprio texto. A ideia do artista é questionar também a própria ideia de representação, subjetividade e unidade.
Tunga explica: “Tanto a história das xifópagas capilares, quanto a do nascimento partem de um mesmo quadro: As Gêmeas, do Guignard [ o pai de tunga, o poeta Gerardo Mello Mourão, era amigo do artista e as gêmeas da tela são a mãe e a tia de Tunga]. Quando olho essa imagem, eu me pergunto: ele pintou as duas juntas? Ou pintou uma de cada vez? Ou pintou uma e outra foi embora? Ele questiona a representação: o que cada uma representa e o que uma representa para a outra. E não sabemos qual veio primeiro. Aí aparece outro problema: o que antecede a unidade? Existe uma unidade bipartida ou ela é discreta [grandeza constituída por unidades distintas]? Há uma série de consequências que você pode deduzir de fatos que são reais ou apenas ficções deduzidas de fatos reais”.
3. Os cabelos e pentes
O formato do pente surge como um elemento organizador: ao passarem por seus dentes, os fios metálicos dos cabelos são separados. Elementos organizadores são como elementos aglutinadores, porém, mais sofisticados. A superfície polida do pente pode servir de espelho para os fios, que entram de um lado e só conseguem atravessar para o outro lado do pente ao deixar para trás a própria imagem.
Segundo diversas fontes, Tunga decidiu diferenciar as versões maiores de Pente – como são apresentadas no catálogo do Bard College -, que receberam o título de Troféu, das menores, chamadas Escalpe. Uma composição de pentes e fios de metal, esses trabalhos foram feitos em escalas variadas, sendo os menores exibidos nas paredes, e os maiores, no chão. Em alguns casos, juntaram-se tranças de chumbo e tacapes magnéticos, resultando em TaCaPe/ Escalpe e Êxtases.
4.Tranças e tripés
Sobre as tranças, o artista fala: “Uma das primeiras coisas que o homem fez foram tranças. E a trança é uma coisa tão misteriosa. É uma coisa tão simples. Transformar 3 em 1. Esta ideia de transformar 3 em 1 está presente nas cosmologias, no velho testamento, na ideia de santíssima trindade. Que é um pensamento abstrato, feito por uma pessoa de 15 milhões de anos, onde o pensamento abstrato ainda não existia. Este pensamento abstrato do tecer, de fazer 3 em 1, de transformar, criar e recriar a unidade está na presença das tranças, é uma coisa essencialmente feminina. E é equivalente a um mesmo momento onde o homem vai caçar e faz um tacape, um instrumento que é uma coisa massiva e agressiva para caçar um animal. Então esta dialética me fez produzir tranças de chumbo e tacapes de imã.”
Muitos trabalhos são compostos por tranças de chumbo. Aqui, Tunga cria um paradoxo entre uma coisa que é tão feminina (trança) com um material tão bruto e pesado e tipicamente masculino (chumbo).
Em muitos trabalhos é possível identificar o três que é, ao mesmo tempo, três e um: três eixos, três mechas, três meninas, três velas ou três bolas de sabão. As três chamas que viram uma de Sero te Amavi, a Trança e os questionamentos de Santo Agostinho, se comparam a força do torque no encontro das três colunas de ferro dos tripés da Trindade Tríade.
5. Imãs
A presença do imã na obra de Tunga pode ser lido como “conectivos invisíveis”, nas palavras do artista, que interagem biologicamente com o corpo do espectador. O imã em sua obra é capaz de esculpir o vazio, uma vez que ele cria um campo magnético, que por sua vez é invisível aos olhos e sensível à percepção corporal; imanta de alguma forma o corpo do espectador.
Como vemos no pavilhão dedicado a ele no Inhotim, há um aviso de restrição para pessoas portadoras de marca-passo, pois a utilização de grandes quantidades de imãs pode gerar um campo magnético capaz de alterar o funcionamento de alguns aparelhos eletrônicos. O mesmo deve acontecer com os visitantes da instalação Gravitação Magnética.
6.Tacape e redes
Tacape, uma palavra com origem tupi takapé, é uma arma construída com um pedaço de madeira, sendo uma de suas extremidades mais grossas, usada entre os indígenas para combates próximos ou rituais. Nos trabalhos com tacape de imã Tunga cria outro paradoxo, pois o que deveria ser algo bruto (tacape) é, na verdade, frágil por feito por fragmentos de imã – se for usado irá se desfaleçer!
“A forma do tacape, nascida da linha, pode ocultar outra linha como uma trança ou uma bengala. O conjunto repousa pesadamente na hipótese de um possível reagrupamento”, descreve o texto da obra no site do artista.
Outra referência indígena que aparece com frequência no trabalho de Tunga é a rede. Aqui, no entanto, o artista usa a estrutura feita para abrigar objetos cotidianos para armazenar caveiras ou recipientes de laboratório cheios de líquidos que remetem à transformação e à alquimia.
7. Transmutação e metamorfose
A ideia de transformação encontra o transitório, o desvio, o mutável, o lugar em que diferentes estados da matéria orgânica não estão definidos, encontram-se passíveis de transformação.
Este conceito era bastante caro à Tunga. O artista explica: “No ato de “fazer arte” o processo de transformação é contínuo. Não existe finitude – isso é um idealismo da arte. A palavra “vernissage” é “envernizamento”. Mas se o artista acha que vai passar um verniz no quadro e vai cristalizar aquela imagem, está enganado. Os processos persistem: a luz continua oxidando as cores da tela, por exemplo. Por isso, desde o começo eu me interessei em ver a arte como um processo de transformação contínua e que a grande transformação da matéria passava por mutações paulatinas. Nessas pequenas alterações podemos encontrar a metáfora de uma transformação maior que é contínua e peremptória dos elementos da obra.
Ou seja: é importante saber que as coisas não estão paradas. Não podemos ficar estocados em uma experiência. Elas são dinâmicas – assim como o pensar – e podem se transformar em outras experiências muitas vezes mais sutis e delicadas, mas não menos importantes do que experiências grandes.O período das grandes transformações já aconteceu no século 20 e cabe agora ao artista observar as pequenas mudanças deste tempo. É necessário encontrar macromudanças nas micromudanças. Detectar transformações graves a partir de pequenos fatos”.
Sobre este assunto, a pesquisadora Vanessa Séves Deister de Sousa reflete: “A alquimia é a fonte na qual Tunga busca não só os títulos para alguns trabalhos como também inspiração para uma escolha mais precisa de materiais que trariam seu respectivo simbolismo para o interior da obra artística. São exemplos desse tipo de operação poética os frascos de laboratório utilizados em Cooking Cristals expanded (2009), assim como a presença recorrente de materiais como cobre, chumbo, prata, ouro e enxofre que ressoam alquimia tanto no modo como são empregados, como na forma que assumem nas composições dos trabalhos”.
8. A natureza e os animais
Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão foi apelidado, ainda criança de Tunga – uma referência ao Tunga penetrans, nome científico de “bicho-de-pé”. Sobre o assunto, Martha Martins afirma:“Por algum acaso familiar perdido na memória, um dia, o menino Antônio José começou a ser chamado de Tunga. Mas, não por acaso, parece ter incorporado ao longo de sua carreira algumas das inquietantes peculiaridades de seu minúsculo homônimo […] O fluxo de energia que domina suas obras, que por vezes evocam a potência biológica da natureza tropical, implica o próprio nome. Um nome em que a sonoridade já evoca por si mesma algo primitivo e confirma a existência de um pacto entre o significado do nome como atribuidor de caráter, e uma analogia em relação às ações e às marcas que se deixam neste mundo”
Tunga usa, em muitos trabalhos, animais vivos e elementos relacionados a estes. A cobra é um animal recorrente em obras de diversos tempos e geografias justamente pelo seu poder de transformação e renascimento quando troca de pele. Em A vanguarda viperina, três serpentes são sedadas com éter e trançadas juntas. A performance consiste em acompanhar o destrançar das serpentes à medida que o sedativo perde o efeito. Coincidentemente o éter que se relaciona ao aether do mesmo vazio que associamos ao espaço que a escultura clássica irá ocupar. A serpente inala o vazio, adormece e acorda trançada.
Laminadas Almas é uma investigação sobre a metamorfose e o movimento incessante das moscas e dos sapos em um ambiente laboratorial. É composta por dois portais, uma mesa,, uma forte lâmpada incandescente e um aquário repleto de girinos.Sobre o tampo da mesa algo parecido com terra está espalhado ocultando milhares de larvas de mosca que se movem escondendo-se da luz. Lâminas de laboratório se espalham entre as larvas.Dois grandes alfinetes cravados na parede, se alongam até os portais, apoiando-se neles. Sua longa superfície de alumínio polido serve de varal para dois viveiros, um de moscas e o outro de rãs.
Em conversa com a francesa Catherine Lampert, Tunga afirma: “O que eu quero dizer é que a natureza deixa de existir assim que alguém a observa, a testemunha, ou a formula. Mas ela pode ser coletada e reorganizada como uma força diferente. A presença da natureza na cultura é paradoxalmente similar a um modelo no qual a vegetação cresce e rompe a ilusão europeia de permanência de uma obra feita, por exemplo, de mármore. (…) Ela me ajudou a perceber a existência de uma dinâmica que poderia permitir uma nova inscrição a ser aplicada à arte. É a ideia de se procurar desvendar a maneira que aprendemos das coisas que são estáticas e no entanto, ao mesmo tempo, representam transição. Existe, além disso, uma coincidência incrível com a arte moderna, que também nos ajudou a entender que a estabilidade das formas, cores e estruturas apresentadas por artistas é, na maior parte das vezes, sujeita ao espectador, e a seu olhar e seus humores, vítreo ou espiritual; sujeita à pessoa no extremo receptor da obra”.
9.O corpo e o nu
Desde a Vênus de Willendorf, criada para representar a fertilidade, até performances atuais como a do Chico Fernandes que rendeu uma multa ao artista – o nu é um tema discutido desde o nascimento das artes visuais. Para Tunga, despir-se era um ato necessário para encontrar nossa essência.
O artista explica: “As pessoas se vestem para se fazerem presentes. E, a rigor, você precisa despi-las para mostrar o que elas realmente são. Mas, mesmo nuas, elas podem estar vestidas. Há aqui a metáfora do nu como forma de representação dele mesmo. É preciso despir o nu. Trazer o nu – uma imagem clássica – à sua intimidade para que ele apareça naquilo que ele é e não naquilo que ele representa. Nós somos cobertos de cascas e representações que construímos de nós mesmos. E normalmente tentamos nos fazer representar por coisas que não são a nossa essência. Por isso, é importante buscar o strip-tease das coisas para ir além daquilo que está representado. E confrontar o nu de nós mesmos com o nu do mundo”.
É sobre criar continuidade entre o mundo que a gente constrói e o mundo que a gente vive enquanto está construindo o que constrói. Em entrevista dada a Fabio Cypriano, Tunga fala sobre a questão do corpo em seus trabalhos: “Na arte contemporânea, interessam as experiências com o corpo em sua totalidade, não é apenas o olhar, mas o tato, o olfato, a presença, tudo aquilo que vai servir de constitutivo do sujeito. A linguagem corpórea é um dos momentos da formação dos sentidos do sujeito. Mesmo que ela não esteja codificada como a visual-verbal, ela pode ser tão bem elaborada quanto […] E a performance é como colocar a obra à disposição da experiência”.
Fonte: Arte Que Acontece. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Morre o artista plástico Tunga, aos 64 anos | O Globo
Um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira, Tunga morreu às 16h desta segunda-feira de câncer, aos 64 anos. Ele estava internado no hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, desde 12 de maio. Pernambucano radicado no Rio desde a juventude, ele tem uma obra que recusa categorias da história da arte brasileira. O corpo vai ser velado nesta terça-feira e enterrado na quarta, no cemitério São João Batista, a pedido do próprio artista, que queria ficar no jazigo da família.
Tunga foi o primeiro artista contemporâneo do mundo a ter uma obra no Louvre, em Paris. Apesar de ter despontado nos anos 1970, junto a artistas que também criaram esculturas e instalações marcadas pela reflexão, como Cildo Meireles e Waltercio Caldas, Tunga construiu um vocabulário e uma gramática particulares. Sua obra é barroca, carregada de simbolismos e potência física, interessada em criar novas relações entre imagens recorrentes em 40 anos de trajetória: ossos, crânios, tranças, dedais, agulhas e bengalas gigantes, redes, dentes, recipientes de vidro, líquidos viscosos.
A escultura “Lezart”, criada em 1989, é exemplar do repertório formal do artista. Fios e tranças de cobre atravessam pentes monumentais de ferro, e a eles são unidos por ímãs – por meio deles, as partes de sua escultura podem ser sempre recombinadas, criando novos sentidos. “Fazer arte é juntar coisas”, repetia, ressaltando que dessa junção de elementos aparentemente sem conexão algo novo se revelaria, como na poesia.
“Nasci em Palmares, Pernambuco, ao mesmo tempo em que nasci no Rio de Janeiro, no mesmo dia e hora”, escreveu Tunga, batizado como Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, filho do jornalista e poeta Gerardo Mello Mourão e de Léa de Barros (ela é uma das “Gêmeas” da célebre tela de Guignard). O artista costumava contar que nasceu em Palmares, tendo se mudado paro o Rio ainda criança, mas chegou a dizer que essa era mais uma de suas histórias inventadas.
De todo modo, foi no Rio de Janeiro onde Tunga construiu seu pensamento visual, desde sua primeira exposição individual no Museu de Arte Moderna, em 1974, aos 22 anos. Com 50 desenhos, “Museu da masturbação infantil” anunciava o erotismo que seria presente em sua obra, em que sempre predominou uma presença corpórea. Não à toa, ele costumava inaugurar seus trabalhos com performances, que chamava de instaurações.
PARCERIA CONSTANTE COM ARNALDO ANTUNES
Em 1998, atores carregaram uma trança para “instaurar” a obra “Tereza” no Museu de Belas Artes do Rio, ao som de Arnaldo Antunes, que se tornaria parceiro constante do artista; e novamente quando o trabalho chegou a Inhotim, o maior centro de arte contemporânea do país, em Brumadinho, Minas Gerais, de cuja criação Tunga foi um dos inspiradores. Em 2012, o artista inaugurou ali um espaço de 2.600 metros quadrados para algumas suas esculturas, a Galeria Psicoativa.
Na galeria também está “Lezart”, “instaurada” com “Xifópagas capilares”, performance de 1984 criada a partir de uma lenda inventada por Tunga: duas meninas unidas pelo cabelo que são decapitadas porque não querem se separar. Outro pavilhão do instituto, existente desde 2006, é dedicado a “True Rouge” (1997), e foi aberto com uma ação de mulheres e homens nus, que espalharam um líquido viscoso vermelho no chão e nas redes de mesma cor, fazendo-o transbordar de garrafas transparentes.
Em “Resgate”, que inaugurou o Centro Cultural Banco do Brasil, em 2001, a coreógrafa Lia Rodrigues dirigiu mais de 100 pessoas, que pintaram de vermelho uma instalação monumental, em performance de oito horas.
Além das parcerias constantes com Lia Rodrigues e Arnaldo Antunes, Tunga fez o vídeo “Nervo de prata” (1987) com Arthur Omar, e uma trilogia audiovisual com o cineasta Eryk Rocha: “Medula” (2004), a abotoadura do vestido feita com os dentes de um casal; “Quimera” (2004), exibido nos festivais de Cannes e Sundance, chamado de sonhometragem pela dupla; e “Laminadas almas” (2006), filmado na performance de mesmo ano no Jardim Botânico do Rio com 600 rãs, 40 mil moscas, girinos, larvas, estudantes de jaleco, luvas e asas gigantes.
A exploração do audiovisual começou em 1980, com “Ão”, 16mm em looping que mostra a curva de um túnel, como se ele não tivesse entrada nem fim, exibido no ano seguinte na Bienal de São Paulo, da qual participou ainda em 1987 e 1994. Tunga expôs também na Bienal de Veneza, na documenta de Kassel e foi o primeiro artista contemporâneo do mundo a ter uma obra no Louvre, em Paris.
Nas duas principais publicações sobre sua obra, ambas da hoje extinta editora CosacNaify, Tunga se manteve fiel a esse princípio, escolhendo textos que não teorizassem sobre seu trabalho, mas acrescentassem sentidos poéticos a ele. Como “Isso”, de Arnaldo Antunes, publicado originalmente no “Jornal da Tarde”, em 1994: a queda dos dentes,/ o desmame/ (o desmesmo),/ a amnésia cotidiana,/ o oco da caixa craniana,/ o ovo do sino/ (o badalo),/ a sombra do símbolo,/ a lembrança da silhueta do semblante,/ o silêncio dos pêndulos,/ o silêncio de todas as coisas que dependem de tempo” – diz um trecho do poema.
Fonte: O Globo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Última obra de Tunga, um anatomista surreal, é um choque entre vida e morte | Folha de São Paulo
O corpo é ao mesmo tempo raiz e flores, um tronco estendido entre o nada abissal e as pétalas que lutam pela luz solar. Tunga é o arquiteto dessa tragédia cheia de vida, o retrato crepuscular dos breves instantes em que nossos corações batem, entre o nascimento e a morte.
É a vida, no impulso do sexo, que importa em todo caso. Um quarto de século desde a sua última mostra na Argentina, a derradeira megainstalação do artista brasileiro, "Eu, Você e a Lua", agora toma um banho de sol no átrio do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, iluminada pela luz do dia filtrada pelas claraboias no teto da galeria e entrevista pela janela aberta na lateral do prédio, fresta que não raro atrai os passantes na calçada para um espetáculo de vidro, cerâmica, metal, gesso e resina.
Difícil não prestar atenção nessa arquitetura de equilíbrios e balanços delicados. No centro de tudo, está o tronco de uma árvore fossilizada, madeira que se transformou quase em vidro esbranquiçado, um elo entre vida e morte, plano terreno e celeste, transformado por forças que não controlamos, a madeira antiga feita exótica escultura.
Nas laterais, como que fecundando óvulos trincados, dois dedos gigantescos fazem pressão, gozam em espasmos e se desfazem em tempestade sobre garrafas e bacias, entre espelhos e frascos sobre um traçado de linhas no chão da galeria, uma frágil arquitetura do desejo que alegoriza nossa também frágil existência, o corpo que endeusamos como a carne mais fraca do mercado.
Tunga, morto há nove anos, foi antes de artista uma espécie de anatomista surrealista e punk, obcecado por tudo o que atravessa o corpo humano, pela virilha, pelos peitos, pênis, vagina, ânus, um artista de olho no chão, no mais básico da natureza humana como animais que se excitam, deitam e rolam, bichos, por mais elegantes e sofisticados, que não deixam de ser rasteiros, excitáveis e fáceis.
Se no traçado solto e surrealista de seus desenhos, composições muitas vezes espelhadas, que ele fazia com as duas mãos, isso fica só nas trêmulas entrelinhas, Tunga já mostrou o sexo e o fetiche, em toda a sua exuberância grosteca, em "Cooking", um filme explícito, em que um casal se entrega a prazeres com cristais, fezes e urina, com pedras penetrando orifícios e outras coisas mais. Também já mergulhou bailarinos em líquido vermelho sangue e dirigiu mulheres nuas a maquiar peças de argila em performances que refletem a estranha elasticidade da carne.
Na mostra agora em Buenos Aires, os corpos de carne e osso estão ausentes, ao menos nesse grau de presença. Isso talvez porque na instalação, construída já no fim da vida, Tunga orquestrava nas formas exasperadas a sensação de fugacidade, a consciência de um corpo que agora está aqui, mas sempre em vias de desaparecer, o corpo em colapso porque é feito de carne, água e sal, mas eterno porque se torna cristal, o grande fóssil que rege esse jogo de pesos e contrapesos, ele mesmo oco, como um túnel entre duas dimensões paralelas.
O que sobra, nessa visão de Tunga, é a encenação calculada de uma arqueologia, os rastros que deixamos para trás, nossa transmutação em coisa outra no nascimento, no sexo, na morte, como um processo de pura alquimia —pele, sangue, pelos, ossos e músculos que se tornam minerais, raízes, fósseis, cristais. Seria o que ele entende por memória visual e molecular prévia à existência, um flagra da natureza antes de ela ser conspurcada por uma humanidade menos resistente ao tempo, distante da sólida beleza das pedras.
Num documentário, também exibido no museu, Tunga fala do que seria uma gota d’água cristalizada numa pedra em forma de garrafa como uma testemunha de um tempo antes mesmo dos dinossauros, o elemento-testemunha da vida na Terra antes de nós, antes de tudo, as árvores como ponte entre terra e céu. Ele sabe que isso é um exercício de pura extrapolação, a ideia que o artista imagina as coisas, constrói imagens que ele faz aparecer, sonhos e pesadelos que saltam do delírio para a concretude do material.
É um vocabulário que, no caso dele, por mais selvagem e visceral que possa se manifestar na superfície, respeita uma hierarquia simbólica rígida. Tunga repetiu muitas formas e objetos —tranças, cálices, garrafas, sinos e tacapes— nos mesmos materiais —cobre, couro, cristal, bronze, feltro ou ferro fundido. Era um surrealista apegado à figuração, a formas reconhecíveis, mas que se deixam atravessar pelo imprevisível, a carne nervosa como as mãos que desobedecem ao comando do cérebro. No fundo, mais paixão e menos ordem.
Delicados, os desenhos que circundam a instalação são suas âncoras visuais, formas na folha de papel que se desdobram nos contornos físicos das esculturas. Nos próprios desenhos, há um espelhamento, um jogo de duplos. Um deles sugere figuras gêmeas unidas pelos seios, de um lado, uma perna, do outro, uma asa. Outro mostra dois olhos unidos por um emaranhado de linhas que no centro formam tanto uma vulva quanto um saco escrotal, uma sexualidade primordial, masculina e feminina, trans, o todo da espécie humana de onde fluem várias linhas que se cruzam.
Esses pares, seres que dão à luz seus próprios pares idênticos, são um motivo que atravessa toda a obra do artista desde as meninas gêmeas que fez desfilar pela galeria unidas pelos longos cabelos, seus ímãs unidos por forças maiores do que humanas, ou as gigantescas tranças de cobre em que os cabelos, tornados metal, parecem serpentear num sentido de ordem, mas uns sobre os outros, sempre em multiplicação.
Tunga foi um agente máximo da vontade, um artista movido por uma força vital tão avassaladora que, em consciência da própria finitude, lidava com a banalidade da vida, um acidente, afinal, tão bem quanto com o espelho da morte, o nosso destino final. Sem medo, irrefreável, construiu no seu laboratório de estranhezas uma grande celebração do mais insondável mistério que é estarmos aqui e agora.
O inevitável flerte entre a vida e a morte, do sangue à seiva escorrida em troncos que já são fósseis, está no centro de tudo o que fez, ele como testemunha da mais dolorosa beleza, o barroco explícito e duro como os ossos das caveiras. Tunga dizia, não espanta, que "as cavernas mais profundas da mente brilham com esplendor".
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Tunga questiona toda ordem da arte | Folha de São Paulo
Uma das declarações mais frequentes nas entrevistas de Catherine David, curadora da mostra Documenta de Kassel, defende a dissolução do espaço museológico.
A idéia ressoa com alguma reminiscência do discurso que acompanhou as experiências artísticas realizadas nos anos 60-70. Mas seu objetivo tem um tom crítico: o que distingue a produção atual e como o presente permite uma releitura de paradigmas históricos?
Não deixa de ser sintomático que, na mostra de artes de maior prestígio, a participação de um escultor da importância de Tunga consista nos vestígios de um acontecimento efêmero.
Levar para Kassel obras que contam com a gestualidade de alguns atores, privilegiando a linguagem da performance, contrapõe-se ao peso e gigantismo das esculturas que o artista havia exposto nas Bienais de São Paulo: imensa cabeleira de metal (1987) e conjunto de sinos monumentais (1994).
Para definir esse novo gênero, Tunga introduziu o termo "instauração", conceito flutuante que reúne elementos da performance e da instalação.
Captar a fagulha de vida em seu deslizar no espaço remete às danças-performances de Robert Morris, sobretudo à percepção corpórea da obra.
Num plano de equivalência, Tunga propõe três peças, cada uma delas ocorrendo em tempos simultâneos: o espectro de uma ação (obra em movimento) e as marcas desta passagem sobre a matéria (obra estática). O título "Inside Out - Upside Down" indica que todos os aspectos foram virados pelo avesso: a perda voluntária das insuspeitas categorias estéticas.
O campo da instauração mantém uma afinidade com o campo da experiência real de Hélio Oiticica (1937-1980) e Lygia Clark (1920-1988).
Presentes ambos no núcleo histórico desta Documenta, sublinhavam a descoberta de uma experiência primeira e espontânea, o diálogo sujeito-objeto: "Somos os propositores: somos o molde; a vocês cabe o sopro no interior desse molde: o sentido de nossa existência. Sós, não existimos; estamos a vosso dispor. Somos os propositores: enterramos a 'obra de arte' como tal e solicitamos a vocês para que o pensamento viva pela ação" (Lygia Clark, 1968).
É possível identificar uma linha decorrente em toda a trajetória de Tunga. As situações, dirigidas pelo artista sem sua presença direta, mesclam aspectos ritualísticos, num transe hipnótico.
Construir uma narrativa circular sempre integrou seu vocabulário. Em 1981, apresentou, na 16ª Bienal de São Paulo, uma instalação audiovisual projetando uma visão infinita de um trajeto dentro de um túnel ao contínuo som da música "Night and Day", de Frank Sinatra. Como em Beckett, o espaço discursivo não conhece repouso, o sujeito precisa habitar o tempo, nascer de novo, animal, mineral ou vegetal.
Sua gana da matéria impõe uma reflexão acerca da heterogeneidade dos impulsos do erotismo. Desde 1973, com a exibição de uma série de desenhos intitulados "Museu da Masturbação Infantil", Tunga vem refutando o discurso do patológico (ciência) e da transgressão (religião).
Procura simplesmente dar conta de um mecanismo interior que obedece a lei da natureza. Em exposição recente, bronzes maquiados com batom acentuavam o caráter hermafrodita de formas cônicas (cálice, garrafa, sino e funil).
A excitação erótica chega a seu auge no crime (Sade), como atesta a obra "Experiência de Física Sutil", onde sete jovens carregam malas, deixando cair partes do corpo do artista moldadas em gesso.
Já a peça "Tarde Vos Amei", inspirada numa confissão de Santo Agostinho, trazia toda a mística do erotismo sagrado: um tripé de velas acesas de 1,80 m cujo fogo, no sétimo dia, atingia três termômetros. A instauração incide precisamente no momento em que ocorre a explosão e o mercúrio se espalha no ambiente. A aproximação com o real dá-se na imersão escatológica.
Outro ato instaurado: em "Querido Amigo", sete mulheres nuas de cócoras imprimem suas genitálias sobre uma argila úmida. Com uma sensualidade quase aberrante, Tunga deixa aflorar um desejo interior na matéria: argila e vulvas desejando-se mutuamente, invocando Oiticica: "a obra nasce de apenas um toque na matéria".
Em "Xifópagas Capilares", unidades gemelares rodeavam a questão da dissimetria, do sacrifício e da inquietante imagem do outro. Para interromper a descontinuidade do ser e das coisas, o único ato que resta é comer o outro (imagem de duas lagartixas devorando-se até abolir os limites do um e do outro, na confusão da totalidade unívoca).
Vários domínios do conhecimento são tragados para dentro da matéria, imantando-se aos montes, como nos campos magnéticos das esculturas de Tunga: alquimia, arqueologia, mitologia, teologia, matemática, física, antropologia. Mas cada um denota uma insuficiência diante dos enigmas do mundo. Algo informe resulta desse amálgama de informações, que poderia ser chamado de "escultura de ação" ou "pintura viva", os termos não importam.
Diante da crise da racionalidade, o erotismo permanece como valor, força capaz de desequilibrar os fundamentos do simulacro.
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Antônio José de Barros de Carvalho e Mello Mourão | Folha de São Paulo
Um dos nomes mais celebrados e relevantes das artes visuais do país, Tunga morreu nesta segunda, aos 64. Ele sofria de câncer e estava internado no hospital Samaritano, no Rio, havia três semanas. Seu corpo será enterrado no cemitério São João Batista.
Em quase meio século de carreira, Tunga construiu uma obra plástica incontornável na arte contemporânea, mesclando referências sutis à herança construtiva que dominou as vanguardas nacionais a um universo simbólico único.
Seu mundo de tranças de aço e cobre atravessando pentes, ímãs ultrapotentes, caveiras, esqueletos, sereias, pérolas e sementes foi ao longo dos anos chamado de surrealista, delírios orquestrados como parte de uma mesma sinfonia.
Nascido em Pernambuco e radicado no Rio desde os anos 1970, Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão era filho de um poeta — Gerardo Mello Mourão. jornalista morto aos 90, em 2007, que foi correspondente da Folha em Pequim no início dos anos 1980.
Desde seus primeiros desenhos, Tunga dizia que suas obras partiam de reflexões a meio caminho entre versos e teorias filosóficas e científicas, “nunca demonstráveis nem refutáveis”, ele frisava.
No campo da escultura, maior parte de sua obra que surgiu sempre aliada à performance, usava materiais como cobre, aço e ímãs em construções que lembram o corpo humano, tecidos, pele, cartilagens e esqueletos, revestindo de dimensão carnal tudo que parece surgir como algo de natureza robusta, industrial.
É nesse sentido, falando em “construção rigorosa do imaginário”, que Tunga juntou duas pontas irreconciliáveis do espectro da arte contemporânea —o minimalismo obcecado pela força bruta da matéria, de Richard Serra a José Resende, e a sensualidade sanguínea de obras sobre o desejo, lembrando a dor dos corpos incomuns de Louise Bourgeois.
Esse erotismo, enquanto forma de manifestação do instinto e do desejo, parece guiar grande parte de suas pesquisas estéticas. Em um filme pornográfico que realizou, cristais e pedras surgem como transmutação de fluidos corporais, saliva, urina e fezes —o artista apontava ali uma espécie de alquimia latente na própria existência, de corpos em transformação.
Dândi Tropical
Sempre vestindo ternos de cores extravagantes, Tunga era um dândi tropical, lembrando às vezes Flávio de Carvalho, um artista de rigor absoluto em sua obra plástica que sabia ao mesmo tempo desafiar a atmosfera espessa que pesa sobre o mundo da arte.
Numa de suas primeiras séries de desenhos, “Museu da Masturbação Infantil”, dos anos 1970, Tunga já indicava esse caminho dúbio.
É uma dualidade que também transparece em “Ão”, filme que rodou em preto e branco num túnel, nos anos 1980, contrastando luz e escuridão.
Suas tranças de chumbo com laços coloridos criadas na mesma década parecem ter sido o primeiro passo de um arco narrativo que atingiu seu auge nas obras mais recentes, em que peças de argila moldadas à mão se equilibram sobre hastes metálicas.
Tunga morreu num momento de transformação em sua obra. Desde o começo da década de 1980, quando representou o Brasil na Bienal de Veneza, e depois de quatro passagens pela Bienal de São Paulo e mostras no MoMA, em Nova York, na Whitechapel, em Londres, no Jeu de Paume, em Paris, entre outras instituições de peso, ele se firmou como o menos solar e mais soturno dos artistas do país.
O esqueleto que pendurou numa espécie de rede debaixo da pirâmide do Louvre, em Paris, coroava essa descida ao inferno. Seu boneco tétrico se equilibrava tendo como contrapeso outras bolsas cheias de caveiras, uma versão fossilizada de obras que fez ao longo da vida em que frágeis objetos surgem suspensos por redes esgarçadas.
“True Rouge”, de 1997, uma de suas obras mais famosas agora no Instituto Inhotim, é uma dessas peças içadas, com frascos e ampolas de vidro cheias de um líquido vermelho, como se fosse sangue.
Nos últimos anos, depois de cicatrizadas as feridas e tendo sobrado só os ossos, talvez um indício do que ele chamava de um “reencontro com o arcaico”, Tunga foi abrindo mais o traço de seus desenhos e ampliando sua paleta de cores para incluir também tons mais solares, talvez, como dizia, lembrando sua vida à beira do mar.
Sua morte coincide com um momento em que ele afirmava ver “mais mistério na luz do que no escuro, na morte”.
Tunga construiu sua poesia calcado em universos distintos
Ali por meados dos anos 1980, Tunga apareceu na ampla sala do apartamento de seu pai, em Copacabana. Seus cabelos, lisos e compridos, mais ou menos divididos no meio da cabeça, caíam nos ombros e lhe davam um ar de cherokee digital. Magro, olhos escuros estalados no meio da noite, vestia algo assemelhado a uma bata, de gola careca; falava rápido e num tom baixo: "Então, você é o amigo de que meu pai tanto fala", disse, e me abraçou. Nunca mais deixamos de ser amigos.
Seu pai era o lendário poeta Gerardo Mello Mourão. Naquela época, voltava da China, onde fora correspondente da Folha. Os despachos de Gerardo brilhavam ao lado de textos de Paulo Francis, de Nova York; Claudio Abramo, de Paris e Londres; e Osvaldo Peralva, de Tóquio. Sacou a briga de estrelas? Gerardo logo me adotou e me transformou em seu cicerone na Pauliceia. Minha tarefa era descobrir novos restaurantes japoneses pela cidade, e contar causos.
Casado com Léa, filha do poderoso senador Antônio de Barros Carvalho, Gerardo, nascido no sertão cearense, fora deputado federal, fundador de vários jornais e se transformara por conta de sua obra e militância política em cidadão do mundo. Estabelecera uma imensa rede de amigos poetas e políticos ao redor do planeta. Cultivava também bons adversários. Aquilo tudo me fascinava: tinha segredos de polichinelo de personagens distintos como Michel Deguy, Pablo Neruda e Leonel Brizola.
Por vários anos, o senador Antônio Barros dera abrigo (casa, comida e roupa lavada) ao amigo Alberto da Veiga Guignard. Em agradecimento, o doce artista mineiro tratou de pintar o casarão da família, na rua România, no bairro carioca de Laranjeiras. Tetos, portas e algumas paredes foram cobertas por suas cores amenas e cenas cotidianas. Também registrou as filhas do senador numa tela clássica, as gêmeas Maura e Lea, mãe de Tunga, que vai citar o caso na sua série, hilária, "Xipófogas Capilares", da década de 1980.
Então, embaixo do prosaico apelido de Tunga escondia-se o nome heráldico de Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão. Um disfarce. Tanta política, arte brasileira e funda tradição nordestina, vinda da colônia, mais certa distinção próxima ao rapapé, soavam a ele peso desproporcional diante de seu projeto em construir uma obra desterritorializada, não imbricada com regionalismos ou cepas nacionalistas. De Gerardo herdou um fino humor, sofisticado, ao qual acrescentou um gosto pelo chiste e a construção permanente de irrealidades.
Isso no Brasil? Um país jovem mas talhado pela desigualdade social na falsa sisudez da república de doutores? É demais para essa terra um artista que se recusa a tecer um trabalho que não tenha por base a realidade imediata e azeda. Como ousa?
No DNA estético-ideológico pátrio se encontra o desenho da arte como registro, reprodução e, muitas vezes, acentos regionais. Se fosse assento seria mais útil. Assim o que possui caráter internacionalista, no Brasil, é posto sob suspeição. É pau, é pedra, é o fim do caminho.
Talvez venha daí a maior repercussão da obra de Tunga em terras estrangeiras: nos últimos anos foram várias as mostras dele em cidades europeias e americanas. Ele sempre fez um trabalho pertencente ao mundo, a partir de referências colhidas na especificidade dos materiais, por vezes em suas próprias excentricidades (cabelo, ossos, barro etc.), no lúdico, e solidamente amparado numa visão filosófica da arte. Porque sempre teve uma sede exuberante pela vida.
Aí que está. Nestes últimos tempos, trocando ideias para o nosso documentário, percebi como Tunga construía sua poesia calcado em universos distintos, quase intangíveis, e num diálogo com a natureza primeva. Numa imagem, o osso que sobe em "2001" de Kubrick e sob Wagner se transforma numa espaçonave. De primatas a astronautas, glosando Mlodinow.
Na construção do roteiro do nosso filme, senti como Tunga sacava conceitos oriundos da física, da química, de fenômenos geofísicos, da linguística e da filosofia para alicerçar seu pensamento. A todo esse coquetel adicione-se ainda sua picardia e sobretudo sua elegância ao desprezar os temas pedestres do cotidiano. É só olhar em volta e cotejar como ele fará falta.
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
Crédito fotográfico: Editora Cobogó. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (8 de fevereiro de 1952, Palmares, PE, Brasil — 6 de junho de 2016, Rio de Janeiro, RJ, Brasil), mais conhecido como Tunga, foi um escultor, desenhista e artista performático brasileiro. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, Tunga construiu uma carreira marcada pela experimentação e pelo diálogo com diversas áreas do conhecimento, como literatura, alquimia, psicanálise, mitologia e filosofia. Sua produção artística abrangeu escultura, desenho, instalação, performance e vídeo, sempre pautada por uma estética provocativa, simbólica e sensorial. Utilizava materiais inusitados, como cabelos, ímãs, borracha, cobre e vidro, criando obras que desafiam as convenções e exploravam a dualidade entre corpo e mente, razão e instinto. Participou de importantes bienais e exposições internacionais, tendo sido o primeiro artista contemporâneo a expor sob a pirâmide do Museu do Louvre, em Paris, em 2005. Sua obra está presente em acervos de instituições como o MoMA, em Nova York, a Tate Modern, em Londres, e o Centre Pompidou, em Paris. No Brasil, tem um pavilhão inteiramente dedicado à sua obra no Instituto Inhotim, em Minas Gerais.
Tunga | Wikipédia
Escultor, desenhista e artista performático, Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, conhecido como Tunga, ( 8 de fevereiro de 1952 – Rio de Janeiro, 6 de junho de 2016), é considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional.
Sua erudição e formação filosófica se refletiu em uma produção artística que envolve o cruzamento de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, apresentando interfaces com a literatura, filosofia, psicanálise, teatro, ciências exatas e biológicas. Trata-se de uma obra potente, profunda e autorreferente que nega o tempo linear e se apoia fortemente na materialidade, topologia, simbologias e processos de transformação e metamorfoses.
Foi o primeiro artista contemporâneo e o primeiro brasileiro a expor no icônico Museu do Louvre em Paris , e já teve sua obra exposta na 40ª Bienal de Veneza, na Itália; na X Bienal de Havana, em Cuba; na X Documenta de Kassel, na Alemanha; e, na V Bienal de Lyon, na França.
Participou, ainda, de mostras na Whitechapel Gallery, na Inglaterra; no Museum of Contemporary Art of Chicago e no Museum of Modern Art PS1, ambos nos EUA; no Jeu de Paume e no Centre de la Vieille Charité, ambos na França; no Moderna Museet, na Suécia; no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, na Espanha; e, no Garage Center of Contemporary Culture, na Rússia.
Tunga tem, atualmente, obras em acervos permanentes de museus como o Guggenheim, em Veneza; o Museum of Modern Art, em Nova York; a Tate Modern, em Londres; o Museu d´Art Contemporani de Barcelona, em Barcelona; o Museum of Fine Arts Houston, em Houston; e, Centre Pompidou, em Paris, além de galerias dedicadas à sua obra no Instituto Inhotim.
Faleceu, no Rio de Janeiro, em 6 de junho de 2016. Desde então, o Instituto Tunga atua preservando, conservando, catalogando e divulgando sua extensa obra e memória. Em parceria com as galerias e museus do Brasil e mundo, o Instituto Tunga já realizou 6 grandes exposições e colaborou ativamente para 4 publicações.
Atualmente, a equipe do Instituto Tunga trabalha na elaboração do Catálogo Raisonné que irá mapear todas as obras bidimensionais do artista em uma única publicação bilingue, em português e inglês, online e gratuita.
Biografia
Nascido em Palmares, Pernambuco, filho do escritor Gerardo Mello Mourão e da ativista social Léa de Barros Carvalho e Mello Mourão, Tunga morou e trabalhou no Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Santa Úrsula.
Inicia sua carreira nos primeiros anos da década de 1960, produzindo desenhos e pequenas esculturas. Traça imagens figurativas com temas ousados, como nas séries O Perverso, Pensamentos, Máquinas, Charles Fourier (1772/1887) e Paisagens do Desejo.
Editou, ao lado de Celso F. Ramos Filho, Eduardo Prisco Paraiso Ramos, Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, Marcelo Villela de Andrade, Paulo Ramos Filho, a Revista Nove (1969-1971), uma publicação de poesia moderna. E colaborou com a revista Malasartes (1976), ao lado de Paulo Sérgio Duarte, Waltercio Caldas, Ronaldo Brito, Cildo Meireles, Paulo Venancio Filho, José Resende e Rodrigo Naves; e com o jornal A Parte do Fogo (1980), também com Cildo Meireles, José Resende e Waltercio Caldas, entre outros.
Em 1975, Tunga apresentou pela primeira vez objetos tridimensionais, apresentados na exposição individual intitulada Tunga - Ar do Corpo, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Na década de 1980, passou a criar instalações, nas quais utilizou grande variedade de materiais para explorar a ideia de conjunção, magnetismo, transmissão e isolamento de energia e forças invisíveis - é o caso dos imãs, das lâmpadas, dos fios elétricos, do cobre, e de materiais isolantes como o feltro e a borracha -, sempre justapondo-os com rigor formal.
Buscava extrair sentidos simbólicos de obras que passaram, aos poucos, a apresentar um caráter autorreferente. Neste período criou obras icônicas como Trança [1983]; ÃO [1981]; Xifópagas Capilares entre Nós [1984], Vanguarda Viperina [1985]; Eixos Exógenos [1986-2000]; e, Semeando Sereias [1987-1998].
Nesta mesma época, Tunga deu início aos trabalhos com formas e signos que marcariam sua carreira como as tranças; o tacape; o escalpe; o pente; o cálice; os sinos, seda, palíndromo, caldeirões e funis.
No decorrer da década de 90, Tunga intensificou a pesquisa sobre as relações energéticas entre diferentes metais em suas instalações, passando a usar conjuntos de ímãs em diversos trabalhos. Ao mesmo tempo, passou a elaborar suas instaurações - nome dado pelo artista às ações que ativavam seus trabalhos tridimensionais ou imersivos. Segundo Tunga, vale lembrar, a noção de instauração implica um modo de fazer poesia onde não há ensaios. Diferente da performance, que implica uma noção relacionada ao desempenho, a instauração trata-se de "fazer acontecer algo que você testemunha, que não estava ali, com uma luz nova.” Neste período, Tunga promove uma série de ações com terracota, argila e maquiagem - materiais que fazem alusão à origem humana, da terra; ao primitivismo; e, ao processo de reencarnação, de dar carne ao objeto, corporeidade à obra.
Em 1997, publica o icônico Barroco de Lírios, primeiro livro editado pela Cosac & Naify, que faz um retrospecto das principais obras de Tunga realizadas entre 1981 e 1996. Trata-se de uma publicação concebida pelo artista como uma obra de arte em si, apresentando textos de sua própria autoria, além de encartes e transparências que são como múltiplos não assinados.
Entre os anos 2000 e 2016, as obras incorporam, em pequenas e grandes dimensões, a presença de sinos, mondrongos, garrafas, cálices, jóias, dentes, asas, portais, luminárias, tripés, dedais, balança, bengala, líquidos e tipitis. Também foi o período em que ele passou a incluir os mondrongos em diversas instalações e instaurações. Mondongos são elementos amorfos utilizados em pares que sugerem uma reprodução Morfogenética, na qual os que apresentam protuberância estão relacionados ao "macho-fera" e os que possuem cavidade estão relacionados à “fêmea-bela”.
Em 2002, ocupa três andares do Centro Cultural Banco do Brasil e preenche a rotunda da instituição com uma luz vermelha e voz de Arnaldo Antunes, além de uma tríade com sinos, cálices, garrafas, caldeirões e bengalas de 14 metros. Atores e bailarinos, dirigidos pela coreógrafa Lia Rodrigues, aplicavam maquiagem à instalação. Idealizou a instalação Tríade Trindade [2001]; as performances Encarnações Miméticas e Experiência com Ynaiê [2003]; a série Quase Auroras [2005]; os filmes Quimera [2004], que concorreu à Palma de Ouro, na categoria curta-metragem, em Cannes, em 2004, e Medula [2005], ambos em parceria com Eryk Rocha; e, as obras i Psicopompos e Vers La Voie Humide, no Château La Coste, na França [2008-2015].
Em 2004, inaugura a Galeria True Rouge - primeira instalação permanente do Instituto Inhotim, um desdobramento da série de performances True Rouge, apresentadas desde 1997 em diversas ocasiões e cuja inspiração parte de uma poesia algébrica do escritor Simon Lane. E, em 2012, inaugura a Galeria Psicoativa Tunga, também em Inhotim, que abriga uma exposição permanente apresentando mais de 20 obras do artista sendo muitas icônicas como Ão (1981); Vanguarda Viperina (1985); Palíndromo Incesto (1990-1992); Tereza (1998); Prole do Bebê (2000); À la Lumière des Deux Mondes (2005); X-estudo (2009); Psicopompo Cooking Crystal (2010); e, Toro Condensed (1983) and Toro Expanded (2012).
Tunga recebeu a condecoração Chevalier des Arts et des Lettres (Cavaleiro das Artes e das Letras) pelo embaixador da França, Alain Rouquié. E, em 2005, foi o primeiro artista contemporâneo a exibir sua obra, À la Lumière des Deux Mondes, na pirâmide do Louvre.
Filmografia
Filmes do Tunga em parceria com outros criativos:
1975 - O ar do corpo - João Lanari e Tunga
1987 - Nervo de Prata - direção, fotografia, edição e trilha sonora: Arthur Omar sobre conceitos, obras e argumento de Tunga
2004 - Medula - Tunga e Eryk Rocha
2004 - Quimera - Tunga e Eryk Rocha
Filmes sobre o trabalho do Tunga:
1993 - Seeding Mermaids - Shelagh Wakely
1996 - Dear Friend - Shelagh Wakely
1997 - Inside out / upside down - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
1997 - Há Sopas - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
1997 - A última sereia - Arthur Omar
1998 - True Rouge - Shelagh Wakely
1999 - A Vida de Infra Tunga - Karin Schneider e Nicholas Guagnini
2000 - Lucido Nigredo - Shelagh Wakely
2001 - Resgate - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
2002 - Nosferatu Spectrum - Shelagh Wakely
2002 - TUNGA: Encarnações Miméticas e Nociferatu - Murilo Salles
2003 - Egypsia and the Phoenix - Shelagh Wakely
2005 - Paris [À La Lumière des deux mondes - Louvre] - Shelagh Wakely
Exposições e trabalhos no exterior
Sua obra acabou por ganhar repercussão internacional, levando-o a expor em importantes espaços destinados às artes plásticas ao redor do mundo.
1981 - Participa da exposição individual “Spazio Aperto - 123ª Mostra D'arte maggio-giugno 1981 - Tunga no Centro Iniziative Culturali Pordenone, Itália;
1982 - Divide o Pavilhão Brasileiro da 41ª Bienal de Veneza com o escultor Sérgio Camargo.
1985 - Realiza a exposição individual “Xifópagas Capilares Entre Nós - Siamesas Capilares Entre Nosotros” no Museo Nacional de Bellas Artes, em Buenos Aires, Argentina;
1986 - Participa da “Trienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel” no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), em Buenos Aires, Argentina;
1989 - Realiza a exposição individual “Options 37: Tunga”, no Museum of Contemporary Art Chicago (MCA), EUA;
1989 - Participa da exposição coletiva “U-ABC”, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, Holanda. Com itinerância na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Portugal;
1989 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Whitechapel Gallery, em Londres;
1989 - Participa da exposição “Tunga Lezarts / Cildo Meireles Through”no Kanaal Art Foundation, em Kortrijk, Bélgica;
1990 - Realiza a exposição individual “Tunga” no The Third Eye Centre, em Glasgow, Escócia;
1992 - Participa da exposição coletiva “Désordres” na Galerie nationale du Jeu de Paume, em Paris, França;
1992 - Participa da exposição coletiva “Latin American Artists of the Twentieth Century”, no Centre Georges Pompidou, Paris, França. Com itinerância na Estación Plaza de Armas, em Sevilla, Espanha; no Museum Ludwig, em Colônia, Alemanha; e no Museum of Modern Art (MoMA) em Nova York, EUA;
1993 - Participa de uma mostra coletiva no Moma, em Nova York;
1993 - Participa de uma mostra coletiva no Ludwig Museum, na Alemanha;
1994 - Realiza a exposição individual “Tunga: Instalações e Esculturas”, no The Museum of Contemporary Art, em Nova York, EUA;
1994 - Participa da “5º Bienal de Havana”, Cuba;
1995 - Participa da exposição coletiva “Avant-garde walk a Venezia”, em Veneza, Itália;
1996 - Participa da exposição coletiva “Walk on the SoHo Side”, em Nova York, EUA;
1997 - Participa da “Documenta X”, em Kassel, Alemanha;
1998 - Participa da exposição coletiva “Être Nature“ na Fondation Cartier pour l'art contemporain, em Paris, França;
1999 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires, Argentina;
2000 - Participa da “3ª Gwangju Biennale”, Coreia do Sul;
2000 - Participa da “5ª Biennale D'Art Contemporain de Lyon”, França;
2001 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Galerie Nationale du Jeu de Paume, em Paris, França;
2001 - Participa da “49ª Venice Biennale: Brazil in Venezia” no Peggy Guggenheim Collection, em Veneza, Itália;
2001 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Musée d'art Contemporain de Bordeaux, França;
2001 - Participa da “1ª Bienal de Valencia”, Espanha;
2002 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Centre international de recherche sur le verre et les arts plastiques (Cirva), em Marselha, França;
2002 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Luhring Augustine Gallery, em Nova York, EUA;
2005 - Realiza a exposição individual “Tunga: À La Lumière Des Deux Mondes, Une Installation Sous La Pyramide” no Museu do Louvre, em Paris, França;
2005 - Participa da exposição coletiva “The Art of Chess”, na Luhring Augustine, em Nova York, EUA. Com itinerância na Gary Tatintsian Gallery, em Moscou, Rússia;
2007 - Realiza a exposição individual “Tunga: Laminated Souls” no Museum of Modern Art- PS1 (MoMA PS1), em Nova York, EUA;
2009 - Participa da “3ª Moscow Biennale Of Contemporary Art” no Garage Museum of Contemporary Art, Rússia;
2009 - Realiza a exposição individual “Tunga: Lezart” no Museum of Fine Arts, em Houston, EUA;
2014 - Realiza a exposição individual "From La Voie Humide" na Luhring Augustine Gallery, em Nova York, EUA;
2015 - Realiza a exposição individual “Eu, Você e a Lua” no Domaine de Chaumont-sur-Loire, em Loire, França;
2016 - Sua obra integra a exposição coletiva "Contingent Beauty: Contemporary Art From Latim America" no Museum of Fine Arts, em Houston, EUA;
2017 - Sua obra integra a exposição coletiva “Sol Lewitt, Andres Serrano, Joel Shapiro, Tunga, Andy Warhol” na Galerie Michel Vidal, em Paris, França;
2018 - É realizada a exposição individual “Capillary Xiphopagus among Us” na Tate Modern, em Londres, Inglaterra;
2019 - É realizada a exposição individual “Tunga” na Galleria Franco Noero, em Turim, Itália;
2021 - Sua obra integra a exposição coletiva “Fictionalising the Museum” no Centro Internacional das Artes José de Guimarães - CIAJG, em Guimarães, Portugal;
2023 - É realizada a exposição individual “Tunga: Vê-Nus” na Luhring Augustine, em Nova York, EUA.
Prêmios e honrarias
1985 - Prêmio Museo de Arte Moderno de Caracas Caracas, Venezuela
1986 - Prêmio Trienal Latino-americana de Arte sobre papel Prize “Trienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel”, no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), em Buenos Aires
1986 - Prêmio Governo do Estado do Rio Grande do Sul - Destaque Desenho Brasileiro Exposição coletiva “Caminhos do Desenho Brasileiro”, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), em Porto Alegre
1987 - Prêmio Tucano de Prata do FestRio, O filme “Nervo de Prata” no FestRio, no Rio de Janeiro
1987 - Festival de Cinema e Vídeo do Maranhão, O filme “Nervo de Prata” recebeu o prêmio de melhor vídeo e melhor fotografia no Festival de Cinema e Vídeo do Maranhão, em São Luís
1990 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas, participou da exposição coletiva “Prêmio Brasília de Artes Plásticas”, no Museu de Arte de Brasília, em Brasília
1991 - Prêmio Mário Pedrosa, na Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), pela obra Preliminares do Palíndromo Incesto
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Contemporânea, Niterói, Brasil
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Moderna de Recife, Brasil
1997 - Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo: 50 anos - Panorama 1997 Museu de Arte Moderna de São Paulo
1997 - Prêmio Embratel, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil
1997 - Prêmio de 30 anos Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil
1997 - Melhor vídeo experimental no IV FestRio, o filme “Nervo de Prata” recebeu o prêmio de melhor vídeo experimental no IV FestRio, no Rio de Janeiro
1998 - Johnny Walker Prize Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil
1998 - Prêmio APCA - os Melhores de 1997, recebeu o Prêmio APCA - os Melhores de 1997, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
1998 - Prêmio Cine Ceará O vídeo ”Tunga - Sem redes e tralhas” recebeu o Prêmio Cine Ceará por melhor edição e melhor trilha sonora original.
1999 - Prêmio de melhor mostra estrangeira de 1999, com a exposição "Tunga", apresentada no Centro Cultural Recoleta, recebeu o Prêmio de melhor mostra estrangeira de 1999, Argentina.
2000 - Chevalier des Arts et des Lettres Foi nomeado "Chevalier des Arts et des Lettres” (Cavaleiro das Artes e das Letras) pelo Ministério da Cultura da França.
2000 - Hugo Boss Award Participou da exposição coletiva “Hugo Boss Prize”, no Guggenheim Museum (Nova York), em Nova York, com indicação ao “Prêmio Hugo Boss Prize”
2004 - Prêmio Palma de Ouro, o filme “Quimera” concorreu ao “Prêmio Palma de Ouro”, do Festival de Cannes, França.
2005 - Artes Mundi prize, Wales, Inglaterra
2008 - Prêmio Jabuti A “Caixa de Livros Tunga” foi ganhadora do Prêmio Jabuti (Câmara Brasileira do Livro) em 2008, na categoria Arquitetura e Urbanismo, Fotografia, Comunicação e Artes.
2022 - Prêmio APCA - Os melhores de 2021, a exposição “Tunga - Conjunções magnéticas”, realizada no Itaú Cultural e no Instituto Tomie Ohtake, recebe o Prêmio APCA - Os melhores de 2021, concedida pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Publicações monográficas
1980 - "Tunga Esculturas", Paulo Sergio Duarte, Espaço ABC (Funarte) / Parque Natural Municipal da Catacumba
1997 - "Tunga: Barroco de Lírios", Tunga, Cosac & Naify
1997 - "Tunga: 1977_1997”, Carlos Basualdo, Edith C Blum Art Inst
1999 - "Tunga em Buenos Aires”, Mercedes Casanegra, Centro Cultural Recoleta
2005 - "Tunga: Las películas, Los vídeos”, José Jiménez, Instituto Cervantes
2007 -“Tunga" - caixa constituída de sete volumes de diferentes formatos (textos, fotografias, vídeos) que documentam a trajetória do artista, Cosac & Naify
2007 - "Tunga: Dessins Érotiques", Daniel Templon, Galerie Daniel Templon
2008 - "Apesar de Leves "Pumbeo Sapiens”, Paulo Darzé Galeria
2013 - "Narrativas Ficcionais de Tunga", Marta Martins, editora Apicuri
2016 - Tunga: Pálpebras, Galeria Millan
2018 - Tunga: O Corpo em Obras, Isabella Rjeille e Tomás Toledo
2018 - Tunga - O rigor da distração, Luisa Duarte e Evandro Salles, Museu de Arte do Rio (MAR)
2019 - "Tunga", Catherine Lampert, editora Cosac & Naify
2021 - "Tunga: Conjunções Magnéticas”, Instituto Tomie Ohtake / Instituto Itaú Cultural
2023 - "Tunga: Vê-Nus”, Paulo Venancio Filho, Luhring Augustine
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Tunga | Itaú Cultural
Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (Palmares, Pernambuco, 1952 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016). Escultor, desenhista e artista performático. Torna os objetos utilizados em suas obras elementos de performance, criando analogias entre corpo e escultura.
Filho do poeta e escritor Gerardo Melo Mourão (1917-2007) e de Léa de Barros (1922-?), retratada no quadro As Gêmeas (1940), do pintor Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), convive desde cedo com a literatura e com as artes plásticas, experiências que marcam sua formação.
Muda-se para o Rio de Janeiro e, na década de 1970, inicia sua obra, que se aproxima da produção de artistas de diferentes vertentes da arte contemporânea brasileira, como Cildo Meireles (1948), Waltercio Caldas (1946) e José Resende (1945). A relação entre representação, linguagem e realidade, tema-chave para essa geração de artistas, está presente em muitos dos trabalhos do escultor. Neles, corpo e desejo tornam-se componentes ativos da investigação, na qual são incluídos itens de outras áreas de conhecimento, como literatura, filosofia, psicanálise, teatro, matemática, física e biologia.
Em 1974, conclui o curso de arquitetura e urbanismo na Universidade Santa Úrsula. No mesmo ano, realiza sua primeira exposição individual, Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), onde expõe conjuntos de desenhos marcados por um “erotismo mental”: espécie de atitude reflexiva em torno do desejo humano, em que as formas não representam nada de específico, mas a tensão sexual pode ser inferida em ambíguas sugestões fálicas ou nos títulos das obras.
Nos objetos e esculturas, as formas e materiais se entrelaçam, em analogia à cópula, atualizando a proposta dos surrealistas de que, nos poemas e obras, as palavras fariam amor. Segundo o crítico inglês Guy Brett (1942), por meio da imersão na matéria e no mundo físico, Tunga estabelece “uma surpreendente e inesperada analogia ou ponto de encontro entre energias ‘esculturais’ e as do corpo humano”1.
Ao construir sua obra, Tunga opera no cruzamento entre objeto, performance e texto. Suas esculturas constroem narrativas, das quais os textos são componentes. Além disso, os objetos utilizados em performances figuram como agentes detonadores de processos. Mesmo em espaços expositivos, os objetos assumem dimensão performática, como resíduos ou dejetos de determinada ação deixados no ambiente. O artista chama esses objetos de “instaurações”, uma imbricação entre as categorias artísticas de “ação” – pertencente ao universo da performance e do teatro – e “instalação” – objetos montados em espaço expositivo –, de modo a incluí-los como parte da experiência artística.
Colabora, nos anos seguintes, para a revista Malasartes e o jornal independente A Parte do Fogo, ambos de curta duração2. Em 1981, integra a 16ª Bienal de São Paulo, onde apresenta o filme-instalação Ão. Filmado em 16mm, ele constrói a projeção em um toro imaginário no interior do Túnel Dois Irmãos (atual Túnel Zuzu Angel), no Rio de Janeiro. Essa projeção é acompanhada pela repetição de um trecho da música Night and Day, do compositor Cole Porter (1891-1964), cantada por Frank Sinatra (1915-1998), criando a sensação de uma viagem infinita.
Em outubro de 1985, publica um encarte na revista Revirão 2 – Revista da Prática Freudiana, com imagens da performance Xifópagas Capilares (1984), acompanhadas da narrativa sobre a origem da obra. A relação que os textos de Tunga mantêm com as demais dimensões da obra está exemplificada nessa produção, uma vez que no encarte encontram-se fotografias de uma série de trabalhos realizados no início da década de 1980, como Les bijoux de Mme. De Sade (1982); Troféu (1984); Toros, joias de Mme. De Sade (1983), um registro da performance Xifópagas Capilares, fotogramas do filme Ão. As imagens parecem ilustrar pequenos trechos do texto que fecha o encarte. A narrativa apresenta, por um lado, o estilo de relato científico, e, por outro, aproxima-se da literatura fantástica latino-americana, como a do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Ao longo do texto, encontram-se referências a objetos criados por Tunga, que lhes atribuem uma origem e produzem entre eles um vínculo para além da forma. Embora seja difícil estabelecer relação causal entre texto e objetos, é possível afirmar que, ao mesmo tempo que as peças parecem ter saído de dentro do texto, são elas que alimentam a dinâmica da narrativa. Desse modo, texto e obras configuram um sistema contínuo que suspende os limites entre literatura, performance e objeto, lançando-se no campo especulativo da linguagem.
A noção de sistema contínuo permite compreender que a dimensão simbólica dos objetos de Tunga não conduz à ideia de um todo uniforme, do qual cada peça individual é parte. Antes, cada peça, cada texto e cada ação remetem a uma produção contínua de formas e narrativas, que se prolongam sem princípio ou finalidade evidentes. Também vem dessa concepção o interesse do artista pela figura matemática do toro - que aparece no filme-instalação Aõ: sendo um produto da rotação de uma superfície circular em torno de uma circunferência, o toro configura também um sistema contínuo.
Os sistemas contínuos de Tunga têm uma origem: o espaço fantasmático entre corpo e psique. Esse espaço obedece a temporalidade e espacialidade singulares, dominadas por pulsões eróticas e combinações inconscientes. O curador argentino Carlos Basualdo (1964) define esse movimento como “tendência ao transbordamento e à profusão mediada por um delicado sentido de equilíbrio e composição”3, que ele chama também de “tensão barroca”.
Tunga entende os sistemas contínuos de esculturas que cria como elementos que se desdobram no espaço, organizando-o em uma experiência que envolve corpo e mente. São objetos que têm o poder de fazer aparecer a força poética dos gestos, como sugere Ronaldo Brito ao referir-se a obras como Trança (1984).
Se entre os materiais mais utilizados no início da carreira estão ferro, aço, latão, lâmpadas, correntes, ímãs, feltro e borracha, a partir da década de 1990, Tunga explora materiais mais orgânicos e fluidos, como a gelatina, que recobre os sinos em Cadentes Lácteos (1994), ou a pasta de maquiagem, com a qual sete meninas, que participam da ação Floresta Sopão (2002), recobrem objetos e os próprios corpos.
Tunga é um dos primeiros artistas contemporâneos a expor no Museu do Louvre, Paris, com a obra À Luz de Dois Mundos (2005). Mais tarde, em 2012, inaugura espaço dedicado à sua produção, a Galeria Psicoativa, localizada no Instituto Inhotim, na cidade de Brumadinho, Minas Gerais. Suas obras integram importantes acervos de museus nacionais e internacionais.
Em 2016, é inaugurada a exposição póstuma Pálpebras, na Galeria Millan, com obras inéditas. No ano seguinte, integra a sequência de mostras sobre sexualidade realizadas no Museu de Arte de São Paulo (Masp) com Tunga: O Corpo em Obras.
Críticas
"Na Galeria Luisa Strina, o artista expõe sete conjuntos de objetos-esculturas que, a um primeiro olhar, parecem peças de cerâmica. A cor terrosa engana. Ela não é do material, mas do seu acabamento insólito: maquiagem. As peças são fundidas em bronze e cobertas com base, batom e pó compacto. A superfície resultante não se pretende simulacro perfeito da pele: conserva o índice da mão que a plasmou em argila. Os objetos-esculturas nasceram do desenho de corpos unidos. O artista isolou a linha que define ao mesmo tempo duas pessoas: fronteira e mistura de peles, vasos comunicantes e incomunicados. Metáfora das relações amorosas, essa linha ganhou volume e expandiu-se em duas formas: urna e cálice (ou aberto e fechado, masculino e feminino). Preenchendo o espaço entre elas, um lábio. Está montada a equação visual que, conforme os hábitos de Tunga, ainda se alimentou de inúmeras fontes de pesquisa, entre elas as ciências exatas" — Angélica de Moraes (MORAES, Angélica de. "Tunga expõe metáforas do amor". In: O Estado de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 1994. Caderno 2, p.D1).
"Tunga pertence à geração de artistas brasileiros seguidores de Hélio Oiticica e Lygia Clark. Arquiteto por formação, imerso em literatura (de Nerval a Borges) e em referências filosóficas e científicas (arqueologia, paleontologia, zoologia, medicina), seu trabalho exibe a marca das grandes ficções do continente latino-americano. Freqüentemente lidando com o excesso - muitas de suas obras foram realizadas através do acúmulo de materiais pesados (ferro, cobre, ímã) -, ele apresenta objetos comuns que passaram por uma estranha transformação: dedais, agulhas gigantes ou pentes. Inventa um bestiário fantástico de lagartos e serpentes mutantes que parece saído diretamente de uma antologia surrealista. Jogando com as diferenças de proporções, Tunga considera a escultura como um conjunto de formas e figuras enigmáticas cuja estranheza e proporções fabulosas intrigam o espectador e causam transtorno em sua percepção habitual de próximo e distante, dentro e fora, cheio e vazio. Seu interesse no inconsciente e, particularmente, nos processos associativos das engrenagens do sonho, bem como na figura da metáfora, o levou a construir obras de arte com ramificações e efeitos de significado múltiplos. Estes se entrelaçam com erupções do fantástico, convidando o espectador a penetrar num universo barroco onde não se pode distinguir o real do imaginário" — Paul Sztulman (SZTULMAN, Paul. "Tunga". In: Documenta 10. Kassel: Documenta, 1997. p.226. Conteúdo traduzido.)
"Muitos podem ser os dispositivos disparadores de obras, operadores de contágio e hibridação. Eles servem para dar liga ao conjunto de elementos que constituirão uma mesma obra, ou para juntar e amalgamar várias obras entre si e, nesta combinação, produzir uma outra, inédita. Um deles, talvez o que mais retorna, é a gelatina. Matéria orgânica gosmenta, próxima dos fluidos corporais - baba, meleca, esperma - que lambuza tudo, produzindo um continuum. (...) Outro dispositivo recorrente na fabricação de híbridos: os ímãs. À primeira vista, usá-los para ligar materiais parece óbvio: a vocação dos ímãs é justamente produzir atração entre minérios. No entanto, ao cumprir seu destino no contexto inesperado de uma obra de arte, eles provocam estranhamento. (...) Outros inesperados operadores de junção: batom, base e pó compacto maquiam cálices, urnas e 'lábios' e fazem deles um só corpo. Outros ainda: finíssimos fios de toda espécie - de cobre, nylon ou prata - unem os elementos em cena em diferentes obras. Por último, um tipo de operador que vale a pena privilegiar: os textos de Tunga que por vezes acompanham seus trabalhos. Narrativas com referências a documentos imaginários - recortes de jornal, relatórios de pesquisa, depoimentos, telegramas, cartas, inscrições arqueológicas, achados paleontológicos, registro de experiências telepáticas etc. - produzem uma impostação pseudocientífica impregnada de mistério e magia que acaba contaminando a obra. Nestes textos, onde ficção se entrelaça com dados objetivos e biográficos, obra e vida tornam-se inseparáveis - a vida se mostra obra, e a obra, cartografia da vida. Como se os novos elos que unem ingredientes incompossíveis para fazer obra, ou várias obras para fazer uma nova, fossem da ordem do necessário e, portanto, passíveis de explicação científica" — Suely Rolnik (ROLNIK, Suely. "Instaurações de Mundos". In: TUNGA. Tunga: 1977-1997. Curadoria Carlos Basualdo. Miami : Museum of Contemporary Art, 1998, p. 115-136).
Exposições Individuais
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1976 - São Paulo SP - Tunga: desenhos e objetos, na Galeria Luisa Strina
1979 - Rio de Janeiro RJ - Pálpebras, no Centro Cultural Candido Mendes
1980 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Espaço ABC
1981 - São Paulo SP - Individual, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1982 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Centro Cultural Candido Mendes
1983 - São Paulo SP - As Jóias da Senhora de Sade, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1984 - Rio de Janeiro RJ - Tranças, na GB ARTe
1985 - São Paulo SP - Tunga: esculturas, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1986 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Saramenha
1989 - Chicago (Estados Unidos) - Option 37: Tunga, no Museum of Contemporary Art
1989 - Londres (Inglaterra) - Individual, na Whitechapel Art Gallery
1989 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Paulo Klabin
1989 - São Paulo SP - Individual, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1990 - Amsterdã (Holanda) - Individual, na Pulitzer Art Gallery
1990 - Glasgow (Escócia) - Individual, no The Third Eye Center
1990 - Toronto (Canadá) - Interceptions, na The Power Plant Contemporary Art Gallery
1991 - Rio de Janeiro RJ - Preliminares do Palíndromo Incesto, na GB ARTe
1991 - São Paulo SP - Preliminares do Palíndromo Incesto, na Galeria Millan
1992 - Rio de Janeiro RJ - Sero Te Amavi, na Galeria Saramenha
1992 - São Paulo SP - Antigas Minúcias, na Marília Razuk Galeria de Arte
1992 - São Paulo SP - Sero Te Amavi, na Galeria Millan
1994 - Nova York (Estados Unidos) - Tunga: instalações e esculturas, no The Museum of Contemporary Art
1994 - Rio de Janeiro RJ - Tunga: esculturas, na Galeria Paulo Fernandes
1994 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
1994 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan
1995 - Nova York (Estados Unidos) - Sero Te Amavi, no The New Museum of Contemporary Art
1996 - São Paulo SP - Individual, na Galeria André Millan
1996 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
1997 - Miami (Estados Unidos) - Tunga: 1977-1997, no Museum of Contemporary Art Joan Lehman Building
1997 - Nova York (Estados Unidos) - Tunga: 1977-1997, no Center for Curatorial Studies
1997 - Rio de Janeiro RJ - Tunga, na Galeria Thomas Cohn
1998 - Caracas (Venezuela) - Tunga: 1977-1997, no Museo Alejandro Otero
1999 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
2001 - Paris (França) - Individual, na Galerie Nationale du Jeu de Paume
2001 - São Paulo SP - Resgate, no CCBB
2004 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan Antonio
Exposições Coletivas
1973 - Valparaíso (Chile) - Coletiva, no Instituto de Arte de la Universidade del Valparaíso
1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Milão (Itália) - Camere Incantate, no Palazzo Reale
1981 - Porto Alegre RS - Artistas Brasileiros dos Anos 60 e 70 na Coleção Rubem Knijnik, no Espaço NO Galeria Chaves
1981 - Rio de Janeiro RJ - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1981 - São Paulo SP - 16ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Lisboa (Portugal) - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Reino Unido) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Veneza (Itália) - 41ª Bienal de Veneza - Pavilhão Brasileiro, com Sérgio de Camargo
1983 - Rio de Janeiro RJ - 13 Artistas/13 Obras, na Thomas Cohn Arte Contemporânea
1983 - Rio de Janeiro RJ - 3000 Metros Cúbicos, no Espaço Cultural Sérgio Porto
1983 - São Paulo SP - Imaginar o Presente, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1984 - Rio de Janeiro RJ - Exposição, na GB Arte
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1985 - Caracas (Venezuela) - Escultura 85, no Museo Ambiental
1985 - Niterói RJ - Uma Luz sobre a Cidade, na Galeria de Artes da UFF
1985 - Rio de Janeiro RJ - Encontros, na Petite Galeria
1985 - São Paulo SP - Sete Artistas, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1985 - São Paulo SP - Tendências do Livro de Artista no Brasil, no CCSP
1985 - Tóquio (Japão) - Today's Art of Brazil, no Hara Museum of Contemporary Art
1986 - Buenos Aires (Argentina) - 1ª Bienal Latino-americana de Arte sobre Papel, no Museo de Arte Moderno de Buenos Aires - premiado
1986 - Niterói RJ - 1083º, na UFF. Núcleo de Documentação
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs - Prêmio Governo do Estado
1986 - Porto Alegre RS - Coleção Rubem Knijnik: arte brasileira anos 60/70/80, no Margs
1986 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Carioca de Arte, na Estação Carioca do Metrô
1986 - Rio de Janeiro RJ - Transvanguarda e Culturas Nacionais, MAM/RJ
1986 - São Paulo SP - Transvanguarda e Culturas Nacionais, no MAM/SP
1987 - Paris (França) - Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1988 - Campinas SP - 13º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1988 - Nova York (Estados Unidos) - Painting Degree Zero, na Terne Gallery
1988 - Rio de Janeiro RJ - Ponto para 21, no Rio Design Center
1988 - Rio de Janeiro RJ - Uma Escultura para o Mar de Angra, na EAV/Parque Lage
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Amsterdã (Holanda) - U-ABC, no Stedelijk Museum Amsterdam
1989 - Kortrijk (Bélgica) - Cildo Meireles: through/Tunga: lezarts, na Kannal Art Foundation
1989 - Londres (Inglaterra) - Cildo Meireles, Tunga, na Whitechapel Gallery
1989 - Rio de Janeiro RJ - Nossos Anos 80, na Casa de Cultura Laura Alvim
1989 - Rio de Janeiro RJ - Rio Hoje, no MAM/RJ
1989 - São Paulo SP - 10 Escultores, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1989 - São Paulo SP - O Pequeno Infinito e o Grande Circunscrito, na Arco Arte Contemporânea Galeria Bruno Musatti
1990 - Birmingham (Inglaterra) - Transcontinental, na Ikon Gallery
1990 - Brasília DF - Prêmio Brasília de Artes Plásticas, no MAB/DF
1990 - Lisboa (Portugal) - U-ABC, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1991 - Estocolmo (Suécia) - Viva Brasil Viva, no Kulturhuset, Konstavdelningen och Liljevalchs Konsthall
1991 - Rio de Janeiro RJ - Imagem sobre Imagem, no Espaço Cultural Sérgio Porto
1991 - São Paulo SP - 22º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1992 - Berlim (Alemanha) - Klima Global, na Staatliche Kunsthalle
1992 - Curitiba PR - 10ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba/Mostra América, no Museu da Gravura
1992 - Paris (França) - Désordres, na Galerie Nationale du Jeu de Paume
1992 - Paris (França) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no Centre Georges Pompidou
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1992 - Rio de Janeiro RJ - Diferenças, no MNBA
1992 - Rio de Janeiro RJ - Escultura 92: sete expressões, no Espaço RB1
1992 - Rio de Janeiro RJ - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/SP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Arte Amazonas, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Arte Amazonas, na Fundação Bienal
1992 - Brasília DF - Arte Amazonas, no MAB/DF
1992 - Berlim (Alemanha) - Arte Amazonas, na Staatliche Kunsthalle
1992 - São Paulo SP - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateaubriand Museu de Arte Moderna-RJ, na Galeria de Arte do Sesi
1992 - São Paulo SP - Branco Dominante, na Galeria de Arte São Paulo
1992 - São Paulo SP - Galeria Millan: mostra inaugural, na Galeria Millan
1992 - Sevilha (Espanha) - Latin American Artists of the Twentieth Century, na Estación Plaza de Armas
1992 - Paris (França) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no Centre Georges Pompidou
1993 - Brasília DF - Um Olhar sobre Joseph Beuys, na Fundação Athos Bulcão
1993 - Colônia (Alemanha) - Latin American Artists of the Twentieth Century, na Kunsthalle Cologne
1993 - Nova York (Estados Unidos) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no MoMA
1993 - Los Angeles (Estados Unidos) - Body to Earth, na Fischer Gallery, University of Southern California
1993 - Newcastle (Inglaterra) - Second Tyne International Exhibition of Contemporary Art, na Computer Warehouse Ltda
1993 - Rio de Janeiro RJ - Arte Erótica, no MAM/RJ
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - Rio de Janeiro RJ - Emblemas do Corpo: o nu na arte moderna brasileira, no CCBB
1993 - São Paulo SP - A Arte Brasileira no Mundo, uma Trajetória: 24 artistas brasileiros, na Dan Galeria
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1994 - Havana (Cuba) - 5ª Bienal de Havana
1994 - Rio de Janeiro RJ - As Potências do Orgânico, no Museus Castro Maya. Museu do Açude
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - Rotterdã (Holanda) - Call it Sleep, no Witte de With Center for Contemporary Art
1994 - São Paulo SP - 22ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1995 - Caracas (Venezuela) - 2ª Bienal Barro de América, no Museu de Arte Contemporânea de Caracas Sophia Imber
1995 - Rio de Janeiro RJ e Belo Horizonte MG - Libertinos/Libertários, na Funarte e no Centro Cultural da UFMG
1995 - Rio de Janeiro RJ e Belo Horizonte MG - Libertinos/Libertários, na Funarte e no Centro Cultural da UFMG
1995 - São Paulo SP - Entre o Desenho e a Escultura, no MAM/SP
1995 - São Paulo SP - Morandi no Brasil, no CCSP
1995 - Veneza (Itália) - Avant-Garde Walk in Venice 1995
1996 - Nova York (Estados Unidos) - Avant-Garde Walk in Soho 1996
1996 - Rio de Janeiro RJ - Mensa/Mensae, na Funarte. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
1996 - Rio de Janeiro RJ - Transparências, no MAM/RJ
1996 - São Paulo SP - 2ª United Artists: utopia, na Casa das Rosas
1997 - Kassel (Alemanha) - 10ª Documenta, no Museum Fridericianum
1997 - Rio de Janeiro RJ - Há Sopas, no Paço Imperial
1997 - São Paulo SP - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/SP
1997 - São Paulo SP - Diversidade da Escultura Contemporânea Brasileira, na Avenida Paulista - realização Ministério da Cultura/Itaú Cultural
1997 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: perfil de uma identidade, no Banco Safra
1997 - São Paulo SP - Tridimensionalidade: Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1997 - Washington (Estados Unidos) - Escultura Brasileira: perfil de uma identidade, no Centro Cultural do BID
1998 - Belo Horizonte MG - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Brasília DF - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niterói
1998 - Niterói RJ - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAC/Niterói
1998 - Penápolis SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Porto Alegre RS - Remetente, no Espaço Cultural Ulbra
1998 - Recife PE - 25º Panorama de Arte Brasileira, no Mamam
1998 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996-1998, no CCBB
1998 - Salvador BA - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/BA
1998 - São Paulo SP - 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1998 - São Paulo SP - Afinidades Eletivas I: o olhar do colecionador, na Casa das Rosas
1998 - São Paulo SP - Teoria dos Valores, no MAM/SP
1999 - Lisboa (Portugal) - América Latina das Vanguardas ao Fim do Milênio, na Culturgest
1999 - Porto Alegre RS - 2ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, no Espaço Margs, no Espaço Usina Gasômetro e no Espaço Armazém do Cais do Porto (antigo DEPREC)
1999 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Chico Buarque, no Paço Imperial
1999 - Santa Mônica (Estados Unidos) - Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Mira Schendel, Tunga, na Christopher Grimes Gallery
1999 - São Paulo SP - 3ª Heranças Contemporâneas, no MAC/USP
2000 - Colchester (Inglaterra) - Outros 500: highlights of brazilian contemporary art in UECLAA, na Art Gallery - University of Essex
2000 - Curitiba PR - 12ª Mostra da Gravura de Curitiba. Marcas do Corpo, Dobras da Alma
2000 - Lion (França) - Bienal de Lion
2000 - Lisboa (Portugal) - Século 20: arte do Brasil, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
2000 - Rio de Janeiro RJ - Situações: arte brasileira anos 70, na Fundação Casa França-Brasil
2000 - Salvador BA - A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé, no MAM/BA
2000 - São Paulo SP - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - Obra Nova, no MAC/USP
2001 - Campinas SP - (quase) Efêmera Arte, no Itaú Cultural
2001 - Madri (Espanha) - El Final del Eclipse: el arte de América Latina en la transición al siglo XXI, na Fundación Telefonica
2001 - Nova York (Estados Unidos) - Brazil: body and soul, no Solomon R. Guggenheim Museum
2001 - Oxford (Inglaterra) - Experiment Experiência: art in Brazil 1958-2000, no Museum of Modern Art
2001 - Porto Alegre RS - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea, no Margs
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2001 - Rio de Janeiro RJ - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - O Espírito de Nossa Época, no MAM/RJ
2001 - São Paulo SP - Anos 70: Trajetórias, no Itaú Cultural
2001 - São Paulo SP - Arco das Rosas: marchand como curador, na Casa das Rosas
2001 - São Paulo SP - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no MAM/SP
2001 - São Paulo SP - O Espírito de Nossa Época, no MAM/SP
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - Fragmentos a Seu Ímã, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2002 - Liverpool (Reino Unido) - Pot
2002 - Madri (Espanha) - Arco/2002, no Parque Ferial Juan Carlos I
2002 - Niterói RJ - Coleção Sattamini: esculturas e objetos, no MAC/Niterói
2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC/Niterói
2002 - Porto Alegre RS - Violência e Paixão, no Santander Cultural
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arquipélagos: o universo plural do MAM, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Artefoto, no CCBB
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Canteiro de Obras do Circo Voador, no Circo Voador
2002 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Paralelos: arte brasileira da segunda metade do século XX em contexto, Collección Cisneros, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Seleção do Acervo de Arte da UCAM, no Centro Cultural Candido Mendes
2002 - São Paulo SP - 10 Anos Marília Razuk, na Marília Razuk Galeria de Arte
2002 - São Paulo SP - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Instituto Tomie Ohtake
2002 - São Paulo SP - Ópera Aberta: celebração, na Casa das Rosas
2002 - São Paulo SP - Paralela, no Galpão localizado na Avenida Matarazzo, 530
2002 - São Paulo SP - Paralelos: arte brasileira da segunda metade do século XX em contexto, Colección Cisneros, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - Pot, no Galeria Fortes Vilaça
2003 - Brasília DF - Artefoto, no CCBB
2003 - Niterói RJ - Apropriações: Curto-Circuito de Experiências Participativas, no MAC/Niterói
2003 - Rio de Janeiro RJ - Desenho Anos 70, no MAM/RJ
2003 - Rio de Janeiro RJ - Grande Orlândia: artistas abaixo da linha do equador
2003 - Rio de Janeiro RJ - Vinte e Cinco Anos: Galeria de Arte Cândido Mendes, na Galeria Candido Mendes
2003 - São Paulo SP - A Subversão dos Meios, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Escultores - Esculturas, na Pinakotheke
2003 - Vila Velha ES - O Sal da Terra, no Museu Vale do Rio Doce
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, no Mercedes Viegas Escritório de Arte
2004 - Rio de Janeiro RJ - Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções do Rio, no MAM/RJ
2004 - São Paulo SP - Fotografia e Escultura no Acervo do MAM - 1995 a 2004, no MAM/SP
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
2005 - Rio de Janeiro RJ - 10 Indicam 10, no Centro Cultural Candido Mendes
2005 - São Paulo SP - O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira, no Itaú Cultural
Fonte: TUNGA. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 30 de março de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Confira nove elementos e conceitos para entender o trabalho de Tunga | Arte que Acontece
Aproximadamente duas toneladas de imã, mais de 300 quilômetros de fios de ferro e cerca de 300 obras. Esse é só um cheiro da magnitude da retrospectiva TUNGA: Conjunções Magnéticas, que abre dia 11 de novembro no Itaú Cultural e Instituto Tomie Ohtake.
Curada por Paulo Venancio Filho, a maior e mais completa retrospectiva do artista tem o desenho como fio condutor – apesar de ser muitas vezes reconhecido pelas esculturas e performances, o artista começou a explorar o universo das artes pelo desenho e nunca mais abandonou a mídia – e apresenta desde os primeiros trabalhos até obras mais recentes como as esculturas da série From ‘La Voie Humide’.
Entre os três andares do Itaú que abrigam a exposição, vale dedicar um tempo para observar o cabinet de curiosité idealizado por Venancio Filho onde são apresentados alguns elementos para o público mergulhar no universo de Tunga: cadernos com textos e desenhos; projetos em cerâmica e metal para obras futuras; joais desenhadas pelo artista; as peças feitas em parceria com a Bordallo Pinheiro; e, suas primeiras experimentações e culturais apresentadas no MAM em 1974. Ainda com o objetivo de revelar o universo fantástico de Tunga, o público poderá ver, no Instituto Tomie Ohtake, uma maquete da instalação Gravitação Magnética. Criada para a 19ª Bienal de São Paulo em 1987, a obra que está sendo remontada pela primeira vez impressiona por sua monumentalidade – mede 10 metros e pesa 1000 kg – e pela poesia. Também é possível ver, nos dois espaços, desenhos da mesma série revelando uma verdadeira dança espiral de um corpo-cabeleira-magnético.
Um dos destaques é a cópia de exibição da obra Piscina, mostrada uma única vez em 1975 e de paradeiro desconhecido. Trata-se de uma das primeiras vezes que o artista usa a ideia do tripé – um símbolo que voltaria a protagonizar seu trabalho quase 40 anos depois. Vale notar, ainda, raridades como Desenhos Protuberantes e as belíssimas Morfológicas – em cerâmica, bronze, látex – e os Eixos Exógenos, esculturas de madeira feitas a partir do perfil de corpos femininos.
O Tomie Ohtake abrigará, ainda, a icônica Ão – uma projeção que mostra o interior do túnel dos morros Dois Irmãos, na qual a câmera se move em um caminho contínuo sem encontrar entrada ou saída. O vídeo em loop dilata a ideia de espaço-tempo ao sugerir uma curva infinita dentro de uma montanha, sem acesso ao exterior, provocando uma leve sensação de tontura potencializada pela repetição dos fragmentos da música Night and Day na voz de Frank Sinatra.
Apesar de se tratar de uma retrospectiva, a exposição não foi organizada de forma cronológica. E nem poderia: o pensamento de Tunga era como uma espiral eterna e contínua onde diversos elementos e conceitos, ligados aos seus interesses pela arte, literatura, matemática e filosofia, aparecem e reaparecem sem começo, meio ou fim, como propõe a atmosfera de Ão.
Para facilitar a sua visita, separamos alguns elementos e conceitos recorrentes na obra do artista. Vem com a gente!
1.O nascimento e a noção de verdade
Boa parte dos textos escritos por Tunga vem supostamente de experiências vividas pelo artista, criando uma linha tênue entre o que é realidade e o que é ficção. Há aqui uma ligação direta ao artista alemão Joseph Beuys que criou os próprios mitos que, de alguma forma, justificavam a escolha de materiais e elementos de sua obra.
Assim como Beuys, Tunga gostava de fazer mais perguntas do que dar respostas. Dizem, por exemplo, que Tunga nasceu em Palmares, em Pernambuco. Mas também corre o boato que foi no Rio de Janeiro. Sobre o mistério em relação a sua origem, o artista comenta: O primeiro pensamento que eu coloco é que precisamos acreditar em alguma coisa ou em alguém ou em um fato. O nascimento sempre tem uma testemunha escrita ou um relato. E eu devo acreditar nessas testemunhas, certo? E se eu tiver dois depoimentos contraditórios? Posso acreditar nos dois? Onde vou parar se seguir duas pistas diferentes?
Estou levando esta questão a um grau bastante consequente. Quando digo que nasci em dois lugares diferentes, estou levando estas questões a um grau bastante consequente. É paradoxal, mas pode ser uma situação interessante para se investigar. O que representa nascer duas vezes? Podemos efetivamente nascer e renascer. E este renascer não necessariamente vai significar um nascer novo, mas um nascer somado a outro anterior, e vamos continuamente renascendo em versões diversas. É expandir as experiências e a veracidade delas.
Henri Michaux tem uma frase muito bonita: Même si c’est vrai c’est faux [mesmo se for verdadeiro, é falso]. E o inverso também é válido: mesmo se for falso, é verdadeiro.
2. As gêmeas
Um dos trabalhos mais famosos de Tunga é chamado de Xifópagas Capilares. Trata-se de uma performance feita pela primeira vez em 1984, na qual duas irmãs gêmeas unidas pelos cabelos passeiam pelo espaço expositivo, entre os visitantes e alguns outros trabalhos do artista. De todos os trabalhos de Tunga, Xifópagas Capilares entre Nós é o mais emblemático da ideia da uma narrativa como obra – ela faz referência a diversos trabalhos do artista, incluindo Escalpe, Bordas, Pintura Sedativa, Protesis, Revê-la Antinomia e Les Bijoux de Mme de Sade, e os conecta e entrelaça em loop, tal qual Ão, esculpindo, escavando o próprio texto. A ideia do artista é questionar também a própria ideia de representação, subjetividade e unidade.
Tunga explica: “Tanto a história das xifópagas capilares, quanto a do nascimento partem de um mesmo quadro: As Gêmeas, do Guignard [ o pai de tunga, o poeta Gerardo Mello Mourão, era amigo do artista e as gêmeas da tela são a mãe e a tia de Tunga]. Quando olho essa imagem, eu me pergunto: ele pintou as duas juntas? Ou pintou uma de cada vez? Ou pintou uma e outra foi embora? Ele questiona a representação: o que cada uma representa e o que uma representa para a outra. E não sabemos qual veio primeiro. Aí aparece outro problema: o que antecede a unidade? Existe uma unidade bipartida ou ela é discreta [grandeza constituída por unidades distintas]? Há uma série de consequências que você pode deduzir de fatos que são reais ou apenas ficções deduzidas de fatos reais”.
3. Os cabelos e pentes
O formato do pente surge como um elemento organizador: ao passarem por seus dentes, os fios metálicos dos cabelos são separados. Elementos organizadores são como elementos aglutinadores, porém, mais sofisticados. A superfície polida do pente pode servir de espelho para os fios, que entram de um lado e só conseguem atravessar para o outro lado do pente ao deixar para trás a própria imagem.
Segundo diversas fontes, Tunga decidiu diferenciar as versões maiores de Pente – como são apresentadas no catálogo do Bard College -, que receberam o título de Troféu, das menores, chamadas Escalpe. Uma composição de pentes e fios de metal, esses trabalhos foram feitos em escalas variadas, sendo os menores exibidos nas paredes, e os maiores, no chão. Em alguns casos, juntaram-se tranças de chumbo e tacapes magnéticos, resultando em TaCaPe/ Escalpe e Êxtases.
4.Tranças e tripés
Sobre as tranças, o artista fala: “Uma das primeiras coisas que o homem fez foram tranças. E a trança é uma coisa tão misteriosa. É uma coisa tão simples. Transformar 3 em 1. Esta ideia de transformar 3 em 1 está presente nas cosmologias, no velho testamento, na ideia de santíssima trindade. Que é um pensamento abstrato, feito por uma pessoa de 15 milhões de anos, onde o pensamento abstrato ainda não existia. Este pensamento abstrato do tecer, de fazer 3 em 1, de transformar, criar e recriar a unidade está na presença das tranças, é uma coisa essencialmente feminina. E é equivalente a um mesmo momento onde o homem vai caçar e faz um tacape, um instrumento que é uma coisa massiva e agressiva para caçar um animal. Então esta dialética me fez produzir tranças de chumbo e tacapes de imã.”
Muitos trabalhos são compostos por tranças de chumbo. Aqui, Tunga cria um paradoxo entre uma coisa que é tão feminina (trança) com um material tão bruto e pesado e tipicamente masculino (chumbo).
Em muitos trabalhos é possível identificar o três que é, ao mesmo tempo, três e um: três eixos, três mechas, três meninas, três velas ou três bolas de sabão. As três chamas que viram uma de Sero te Amavi, a Trança e os questionamentos de Santo Agostinho, se comparam a força do torque no encontro das três colunas de ferro dos tripés da Trindade Tríade.
5. Imãs
A presença do imã na obra de Tunga pode ser lido como “conectivos invisíveis”, nas palavras do artista, que interagem biologicamente com o corpo do espectador. O imã em sua obra é capaz de esculpir o vazio, uma vez que ele cria um campo magnético, que por sua vez é invisível aos olhos e sensível à percepção corporal; imanta de alguma forma o corpo do espectador.
Como vemos no pavilhão dedicado a ele no Inhotim, há um aviso de restrição para pessoas portadoras de marca-passo, pois a utilização de grandes quantidades de imãs pode gerar um campo magnético capaz de alterar o funcionamento de alguns aparelhos eletrônicos. O mesmo deve acontecer com os visitantes da instalação Gravitação Magnética.
6.Tacape e redes
Tacape, uma palavra com origem tupi takapé, é uma arma construída com um pedaço de madeira, sendo uma de suas extremidades mais grossas, usada entre os indígenas para combates próximos ou rituais. Nos trabalhos com tacape de imã Tunga cria outro paradoxo, pois o que deveria ser algo bruto (tacape) é, na verdade, frágil por feito por fragmentos de imã – se for usado irá se desfaleçer!
“A forma do tacape, nascida da linha, pode ocultar outra linha como uma trança ou uma bengala. O conjunto repousa pesadamente na hipótese de um possível reagrupamento”, descreve o texto da obra no site do artista.
Outra referência indígena que aparece com frequência no trabalho de Tunga é a rede. Aqui, no entanto, o artista usa a estrutura feita para abrigar objetos cotidianos para armazenar caveiras ou recipientes de laboratório cheios de líquidos que remetem à transformação e à alquimia.
7. Transmutação e metamorfose
A ideia de transformação encontra o transitório, o desvio, o mutável, o lugar em que diferentes estados da matéria orgânica não estão definidos, encontram-se passíveis de transformação.
Este conceito era bastante caro à Tunga. O artista explica: “No ato de “fazer arte” o processo de transformação é contínuo. Não existe finitude – isso é um idealismo da arte. A palavra “vernissage” é “envernizamento”. Mas se o artista acha que vai passar um verniz no quadro e vai cristalizar aquela imagem, está enganado. Os processos persistem: a luz continua oxidando as cores da tela, por exemplo. Por isso, desde o começo eu me interessei em ver a arte como um processo de transformação contínua e que a grande transformação da matéria passava por mutações paulatinas. Nessas pequenas alterações podemos encontrar a metáfora de uma transformação maior que é contínua e peremptória dos elementos da obra.
Ou seja: é importante saber que as coisas não estão paradas. Não podemos ficar estocados em uma experiência. Elas são dinâmicas – assim como o pensar – e podem se transformar em outras experiências muitas vezes mais sutis e delicadas, mas não menos importantes do que experiências grandes.O período das grandes transformações já aconteceu no século 20 e cabe agora ao artista observar as pequenas mudanças deste tempo. É necessário encontrar macromudanças nas micromudanças. Detectar transformações graves a partir de pequenos fatos”.
Sobre este assunto, a pesquisadora Vanessa Séves Deister de Sousa reflete: “A alquimia é a fonte na qual Tunga busca não só os títulos para alguns trabalhos como também inspiração para uma escolha mais precisa de materiais que trariam seu respectivo simbolismo para o interior da obra artística. São exemplos desse tipo de operação poética os frascos de laboratório utilizados em Cooking Cristals expanded (2009), assim como a presença recorrente de materiais como cobre, chumbo, prata, ouro e enxofre que ressoam alquimia tanto no modo como são empregados, como na forma que assumem nas composições dos trabalhos”.
8. A natureza e os animais
Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão foi apelidado, ainda criança de Tunga – uma referência ao Tunga penetrans, nome científico de “bicho-de-pé”. Sobre o assunto, Martha Martins afirma:“Por algum acaso familiar perdido na memória, um dia, o menino Antônio José começou a ser chamado de Tunga. Mas, não por acaso, parece ter incorporado ao longo de sua carreira algumas das inquietantes peculiaridades de seu minúsculo homônimo […] O fluxo de energia que domina suas obras, que por vezes evocam a potência biológica da natureza tropical, implica o próprio nome. Um nome em que a sonoridade já evoca por si mesma algo primitivo e confirma a existência de um pacto entre o significado do nome como atribuidor de caráter, e uma analogia em relação às ações e às marcas que se deixam neste mundo”
Tunga usa, em muitos trabalhos, animais vivos e elementos relacionados a estes. A cobra é um animal recorrente em obras de diversos tempos e geografias justamente pelo seu poder de transformação e renascimento quando troca de pele. Em A vanguarda viperina, três serpentes são sedadas com éter e trançadas juntas. A performance consiste em acompanhar o destrançar das serpentes à medida que o sedativo perde o efeito. Coincidentemente o éter que se relaciona ao aether do mesmo vazio que associamos ao espaço que a escultura clássica irá ocupar. A serpente inala o vazio, adormece e acorda trançada.
Laminadas Almas é uma investigação sobre a metamorfose e o movimento incessante das moscas e dos sapos em um ambiente laboratorial. É composta por dois portais, uma mesa,, uma forte lâmpada incandescente e um aquário repleto de girinos.Sobre o tampo da mesa algo parecido com terra está espalhado ocultando milhares de larvas de mosca que se movem escondendo-se da luz. Lâminas de laboratório se espalham entre as larvas.Dois grandes alfinetes cravados na parede, se alongam até os portais, apoiando-se neles. Sua longa superfície de alumínio polido serve de varal para dois viveiros, um de moscas e o outro de rãs.
Em conversa com a francesa Catherine Lampert, Tunga afirma: “O que eu quero dizer é que a natureza deixa de existir assim que alguém a observa, a testemunha, ou a formula. Mas ela pode ser coletada e reorganizada como uma força diferente. A presença da natureza na cultura é paradoxalmente similar a um modelo no qual a vegetação cresce e rompe a ilusão europeia de permanência de uma obra feita, por exemplo, de mármore. (…) Ela me ajudou a perceber a existência de uma dinâmica que poderia permitir uma nova inscrição a ser aplicada à arte. É a ideia de se procurar desvendar a maneira que aprendemos das coisas que são estáticas e no entanto, ao mesmo tempo, representam transição. Existe, além disso, uma coincidência incrível com a arte moderna, que também nos ajudou a entender que a estabilidade das formas, cores e estruturas apresentadas por artistas é, na maior parte das vezes, sujeita ao espectador, e a seu olhar e seus humores, vítreo ou espiritual; sujeita à pessoa no extremo receptor da obra”.
9.O corpo e o nu
Desde a Vênus de Willendorf, criada para representar a fertilidade, até performances atuais como a do Chico Fernandes que rendeu uma multa ao artista – o nu é um tema discutido desde o nascimento das artes visuais. Para Tunga, despir-se era um ato necessário para encontrar nossa essência.
O artista explica: “As pessoas se vestem para se fazerem presentes. E, a rigor, você precisa despi-las para mostrar o que elas realmente são. Mas, mesmo nuas, elas podem estar vestidas. Há aqui a metáfora do nu como forma de representação dele mesmo. É preciso despir o nu. Trazer o nu – uma imagem clássica – à sua intimidade para que ele apareça naquilo que ele é e não naquilo que ele representa. Nós somos cobertos de cascas e representações que construímos de nós mesmos. E normalmente tentamos nos fazer representar por coisas que não são a nossa essência. Por isso, é importante buscar o strip-tease das coisas para ir além daquilo que está representado. E confrontar o nu de nós mesmos com o nu do mundo”.
É sobre criar continuidade entre o mundo que a gente constrói e o mundo que a gente vive enquanto está construindo o que constrói. Em entrevista dada a Fabio Cypriano, Tunga fala sobre a questão do corpo em seus trabalhos: “Na arte contemporânea, interessam as experiências com o corpo em sua totalidade, não é apenas o olhar, mas o tato, o olfato, a presença, tudo aquilo que vai servir de constitutivo do sujeito. A linguagem corpórea é um dos momentos da formação dos sentidos do sujeito. Mesmo que ela não esteja codificada como a visual-verbal, ela pode ser tão bem elaborada quanto […] E a performance é como colocar a obra à disposição da experiência”.
Fonte: Arte Que Acontece. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Morre o artista plástico Tunga, aos 64 anos | O Globo
Um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira, Tunga morreu às 16h desta segunda-feira de câncer, aos 64 anos. Ele estava internado no hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, desde 12 de maio. Pernambucano radicado no Rio desde a juventude, ele tem uma obra que recusa categorias da história da arte brasileira. O corpo vai ser velado nesta terça-feira e enterrado na quarta, no cemitério São João Batista, a pedido do próprio artista, que queria ficar no jazigo da família.
Tunga foi o primeiro artista contemporâneo do mundo a ter uma obra no Louvre, em Paris. Apesar de ter despontado nos anos 1970, junto a artistas que também criaram esculturas e instalações marcadas pela reflexão, como Cildo Meireles e Waltercio Caldas, Tunga construiu um vocabulário e uma gramática particulares. Sua obra é barroca, carregada de simbolismos e potência física, interessada em criar novas relações entre imagens recorrentes em 40 anos de trajetória: ossos, crânios, tranças, dedais, agulhas e bengalas gigantes, redes, dentes, recipientes de vidro, líquidos viscosos.
A escultura “Lezart”, criada em 1989, é exemplar do repertório formal do artista. Fios e tranças de cobre atravessam pentes monumentais de ferro, e a eles são unidos por ímãs – por meio deles, as partes de sua escultura podem ser sempre recombinadas, criando novos sentidos. “Fazer arte é juntar coisas”, repetia, ressaltando que dessa junção de elementos aparentemente sem conexão algo novo se revelaria, como na poesia.
“Nasci em Palmares, Pernambuco, ao mesmo tempo em que nasci no Rio de Janeiro, no mesmo dia e hora”, escreveu Tunga, batizado como Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, filho do jornalista e poeta Gerardo Mello Mourão e de Léa de Barros (ela é uma das “Gêmeas” da célebre tela de Guignard). O artista costumava contar que nasceu em Palmares, tendo se mudado paro o Rio ainda criança, mas chegou a dizer que essa era mais uma de suas histórias inventadas.
De todo modo, foi no Rio de Janeiro onde Tunga construiu seu pensamento visual, desde sua primeira exposição individual no Museu de Arte Moderna, em 1974, aos 22 anos. Com 50 desenhos, “Museu da masturbação infantil” anunciava o erotismo que seria presente em sua obra, em que sempre predominou uma presença corpórea. Não à toa, ele costumava inaugurar seus trabalhos com performances, que chamava de instaurações.
PARCERIA CONSTANTE COM ARNALDO ANTUNES
Em 1998, atores carregaram uma trança para “instaurar” a obra “Tereza” no Museu de Belas Artes do Rio, ao som de Arnaldo Antunes, que se tornaria parceiro constante do artista; e novamente quando o trabalho chegou a Inhotim, o maior centro de arte contemporânea do país, em Brumadinho, Minas Gerais, de cuja criação Tunga foi um dos inspiradores. Em 2012, o artista inaugurou ali um espaço de 2.600 metros quadrados para algumas suas esculturas, a Galeria Psicoativa.
Na galeria também está “Lezart”, “instaurada” com “Xifópagas capilares”, performance de 1984 criada a partir de uma lenda inventada por Tunga: duas meninas unidas pelo cabelo que são decapitadas porque não querem se separar. Outro pavilhão do instituto, existente desde 2006, é dedicado a “True Rouge” (1997), e foi aberto com uma ação de mulheres e homens nus, que espalharam um líquido viscoso vermelho no chão e nas redes de mesma cor, fazendo-o transbordar de garrafas transparentes.
Em “Resgate”, que inaugurou o Centro Cultural Banco do Brasil, em 2001, a coreógrafa Lia Rodrigues dirigiu mais de 100 pessoas, que pintaram de vermelho uma instalação monumental, em performance de oito horas.
Além das parcerias constantes com Lia Rodrigues e Arnaldo Antunes, Tunga fez o vídeo “Nervo de prata” (1987) com Arthur Omar, e uma trilogia audiovisual com o cineasta Eryk Rocha: “Medula” (2004), a abotoadura do vestido feita com os dentes de um casal; “Quimera” (2004), exibido nos festivais de Cannes e Sundance, chamado de sonhometragem pela dupla; e “Laminadas almas” (2006), filmado na performance de mesmo ano no Jardim Botânico do Rio com 600 rãs, 40 mil moscas, girinos, larvas, estudantes de jaleco, luvas e asas gigantes.
A exploração do audiovisual começou em 1980, com “Ão”, 16mm em looping que mostra a curva de um túnel, como se ele não tivesse entrada nem fim, exibido no ano seguinte na Bienal de São Paulo, da qual participou ainda em 1987 e 1994. Tunga expôs também na Bienal de Veneza, na documenta de Kassel e foi o primeiro artista contemporâneo do mundo a ter uma obra no Louvre, em Paris.
Nas duas principais publicações sobre sua obra, ambas da hoje extinta editora CosacNaify, Tunga se manteve fiel a esse princípio, escolhendo textos que não teorizassem sobre seu trabalho, mas acrescentassem sentidos poéticos a ele. Como “Isso”, de Arnaldo Antunes, publicado originalmente no “Jornal da Tarde”, em 1994: a queda dos dentes,/ o desmame/ (o desmesmo),/ a amnésia cotidiana,/ o oco da caixa craniana,/ o ovo do sino/ (o badalo),/ a sombra do símbolo,/ a lembrança da silhueta do semblante,/ o silêncio dos pêndulos,/ o silêncio de todas as coisas que dependem de tempo” – diz um trecho do poema.
Fonte: O Globo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Última obra de Tunga, um anatomista surreal, é um choque entre vida e morte | Folha de São Paulo
O corpo é ao mesmo tempo raiz e flores, um tronco estendido entre o nada abissal e as pétalas que lutam pela luz solar. Tunga é o arquiteto dessa tragédia cheia de vida, o retrato crepuscular dos breves instantes em que nossos corações batem, entre o nascimento e a morte.
É a vida, no impulso do sexo, que importa em todo caso. Um quarto de século desde a sua última mostra na Argentina, a derradeira megainstalação do artista brasileiro, "Eu, Você e a Lua", agora toma um banho de sol no átrio do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, iluminada pela luz do dia filtrada pelas claraboias no teto da galeria e entrevista pela janela aberta na lateral do prédio, fresta que não raro atrai os passantes na calçada para um espetáculo de vidro, cerâmica, metal, gesso e resina.
Difícil não prestar atenção nessa arquitetura de equilíbrios e balanços delicados. No centro de tudo, está o tronco de uma árvore fossilizada, madeira que se transformou quase em vidro esbranquiçado, um elo entre vida e morte, plano terreno e celeste, transformado por forças que não controlamos, a madeira antiga feita exótica escultura.
Nas laterais, como que fecundando óvulos trincados, dois dedos gigantescos fazem pressão, gozam em espasmos e se desfazem em tempestade sobre garrafas e bacias, entre espelhos e frascos sobre um traçado de linhas no chão da galeria, uma frágil arquitetura do desejo que alegoriza nossa também frágil existência, o corpo que endeusamos como a carne mais fraca do mercado.
Tunga, morto há nove anos, foi antes de artista uma espécie de anatomista surrealista e punk, obcecado por tudo o que atravessa o corpo humano, pela virilha, pelos peitos, pênis, vagina, ânus, um artista de olho no chão, no mais básico da natureza humana como animais que se excitam, deitam e rolam, bichos, por mais elegantes e sofisticados, que não deixam de ser rasteiros, excitáveis e fáceis.
Se no traçado solto e surrealista de seus desenhos, composições muitas vezes espelhadas, que ele fazia com as duas mãos, isso fica só nas trêmulas entrelinhas, Tunga já mostrou o sexo e o fetiche, em toda a sua exuberância grosteca, em "Cooking", um filme explícito, em que um casal se entrega a prazeres com cristais, fezes e urina, com pedras penetrando orifícios e outras coisas mais. Também já mergulhou bailarinos em líquido vermelho sangue e dirigiu mulheres nuas a maquiar peças de argila em performances que refletem a estranha elasticidade da carne.
Na mostra agora em Buenos Aires, os corpos de carne e osso estão ausentes, ao menos nesse grau de presença. Isso talvez porque na instalação, construída já no fim da vida, Tunga orquestrava nas formas exasperadas a sensação de fugacidade, a consciência de um corpo que agora está aqui, mas sempre em vias de desaparecer, o corpo em colapso porque é feito de carne, água e sal, mas eterno porque se torna cristal, o grande fóssil que rege esse jogo de pesos e contrapesos, ele mesmo oco, como um túnel entre duas dimensões paralelas.
O que sobra, nessa visão de Tunga, é a encenação calculada de uma arqueologia, os rastros que deixamos para trás, nossa transmutação em coisa outra no nascimento, no sexo, na morte, como um processo de pura alquimia —pele, sangue, pelos, ossos e músculos que se tornam minerais, raízes, fósseis, cristais. Seria o que ele entende por memória visual e molecular prévia à existência, um flagra da natureza antes de ela ser conspurcada por uma humanidade menos resistente ao tempo, distante da sólida beleza das pedras.
Num documentário, também exibido no museu, Tunga fala do que seria uma gota d’água cristalizada numa pedra em forma de garrafa como uma testemunha de um tempo antes mesmo dos dinossauros, o elemento-testemunha da vida na Terra antes de nós, antes de tudo, as árvores como ponte entre terra e céu. Ele sabe que isso é um exercício de pura extrapolação, a ideia que o artista imagina as coisas, constrói imagens que ele faz aparecer, sonhos e pesadelos que saltam do delírio para a concretude do material.
É um vocabulário que, no caso dele, por mais selvagem e visceral que possa se manifestar na superfície, respeita uma hierarquia simbólica rígida. Tunga repetiu muitas formas e objetos —tranças, cálices, garrafas, sinos e tacapes— nos mesmos materiais —cobre, couro, cristal, bronze, feltro ou ferro fundido. Era um surrealista apegado à figuração, a formas reconhecíveis, mas que se deixam atravessar pelo imprevisível, a carne nervosa como as mãos que desobedecem ao comando do cérebro. No fundo, mais paixão e menos ordem.
Delicados, os desenhos que circundam a instalação são suas âncoras visuais, formas na folha de papel que se desdobram nos contornos físicos das esculturas. Nos próprios desenhos, há um espelhamento, um jogo de duplos. Um deles sugere figuras gêmeas unidas pelos seios, de um lado, uma perna, do outro, uma asa. Outro mostra dois olhos unidos por um emaranhado de linhas que no centro formam tanto uma vulva quanto um saco escrotal, uma sexualidade primordial, masculina e feminina, trans, o todo da espécie humana de onde fluem várias linhas que se cruzam.
Esses pares, seres que dão à luz seus próprios pares idênticos, são um motivo que atravessa toda a obra do artista desde as meninas gêmeas que fez desfilar pela galeria unidas pelos longos cabelos, seus ímãs unidos por forças maiores do que humanas, ou as gigantescas tranças de cobre em que os cabelos, tornados metal, parecem serpentear num sentido de ordem, mas uns sobre os outros, sempre em multiplicação.
Tunga foi um agente máximo da vontade, um artista movido por uma força vital tão avassaladora que, em consciência da própria finitude, lidava com a banalidade da vida, um acidente, afinal, tão bem quanto com o espelho da morte, o nosso destino final. Sem medo, irrefreável, construiu no seu laboratório de estranhezas uma grande celebração do mais insondável mistério que é estarmos aqui e agora.
O inevitável flerte entre a vida e a morte, do sangue à seiva escorrida em troncos que já são fósseis, está no centro de tudo o que fez, ele como testemunha da mais dolorosa beleza, o barroco explícito e duro como os ossos das caveiras. Tunga dizia, não espanta, que "as cavernas mais profundas da mente brilham com esplendor".
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Tunga questiona toda ordem da arte | Folha de São Paulo
Uma das declarações mais frequentes nas entrevistas de Catherine David, curadora da mostra Documenta de Kassel, defende a dissolução do espaço museológico.
A idéia ressoa com alguma reminiscência do discurso que acompanhou as experiências artísticas realizadas nos anos 60-70. Mas seu objetivo tem um tom crítico: o que distingue a produção atual e como o presente permite uma releitura de paradigmas históricos?
Não deixa de ser sintomático que, na mostra de artes de maior prestígio, a participação de um escultor da importância de Tunga consista nos vestígios de um acontecimento efêmero.
Levar para Kassel obras que contam com a gestualidade de alguns atores, privilegiando a linguagem da performance, contrapõe-se ao peso e gigantismo das esculturas que o artista havia exposto nas Bienais de São Paulo: imensa cabeleira de metal (1987) e conjunto de sinos monumentais (1994).
Para definir esse novo gênero, Tunga introduziu o termo "instauração", conceito flutuante que reúne elementos da performance e da instalação.
Captar a fagulha de vida em seu deslizar no espaço remete às danças-performances de Robert Morris, sobretudo à percepção corpórea da obra.
Num plano de equivalência, Tunga propõe três peças, cada uma delas ocorrendo em tempos simultâneos: o espectro de uma ação (obra em movimento) e as marcas desta passagem sobre a matéria (obra estática). O título "Inside Out - Upside Down" indica que todos os aspectos foram virados pelo avesso: a perda voluntária das insuspeitas categorias estéticas.
O campo da instauração mantém uma afinidade com o campo da experiência real de Hélio Oiticica (1937-1980) e Lygia Clark (1920-1988).
Presentes ambos no núcleo histórico desta Documenta, sublinhavam a descoberta de uma experiência primeira e espontânea, o diálogo sujeito-objeto: "Somos os propositores: somos o molde; a vocês cabe o sopro no interior desse molde: o sentido de nossa existência. Sós, não existimos; estamos a vosso dispor. Somos os propositores: enterramos a 'obra de arte' como tal e solicitamos a vocês para que o pensamento viva pela ação" (Lygia Clark, 1968).
É possível identificar uma linha decorrente em toda a trajetória de Tunga. As situações, dirigidas pelo artista sem sua presença direta, mesclam aspectos ritualísticos, num transe hipnótico.
Construir uma narrativa circular sempre integrou seu vocabulário. Em 1981, apresentou, na 16ª Bienal de São Paulo, uma instalação audiovisual projetando uma visão infinita de um trajeto dentro de um túnel ao contínuo som da música "Night and Day", de Frank Sinatra. Como em Beckett, o espaço discursivo não conhece repouso, o sujeito precisa habitar o tempo, nascer de novo, animal, mineral ou vegetal.
Sua gana da matéria impõe uma reflexão acerca da heterogeneidade dos impulsos do erotismo. Desde 1973, com a exibição de uma série de desenhos intitulados "Museu da Masturbação Infantil", Tunga vem refutando o discurso do patológico (ciência) e da transgressão (religião).
Procura simplesmente dar conta de um mecanismo interior que obedece a lei da natureza. Em exposição recente, bronzes maquiados com batom acentuavam o caráter hermafrodita de formas cônicas (cálice, garrafa, sino e funil).
A excitação erótica chega a seu auge no crime (Sade), como atesta a obra "Experiência de Física Sutil", onde sete jovens carregam malas, deixando cair partes do corpo do artista moldadas em gesso.
Já a peça "Tarde Vos Amei", inspirada numa confissão de Santo Agostinho, trazia toda a mística do erotismo sagrado: um tripé de velas acesas de 1,80 m cujo fogo, no sétimo dia, atingia três termômetros. A instauração incide precisamente no momento em que ocorre a explosão e o mercúrio se espalha no ambiente. A aproximação com o real dá-se na imersão escatológica.
Outro ato instaurado: em "Querido Amigo", sete mulheres nuas de cócoras imprimem suas genitálias sobre uma argila úmida. Com uma sensualidade quase aberrante, Tunga deixa aflorar um desejo interior na matéria: argila e vulvas desejando-se mutuamente, invocando Oiticica: "a obra nasce de apenas um toque na matéria".
Em "Xifópagas Capilares", unidades gemelares rodeavam a questão da dissimetria, do sacrifício e da inquietante imagem do outro. Para interromper a descontinuidade do ser e das coisas, o único ato que resta é comer o outro (imagem de duas lagartixas devorando-se até abolir os limites do um e do outro, na confusão da totalidade unívoca).
Vários domínios do conhecimento são tragados para dentro da matéria, imantando-se aos montes, como nos campos magnéticos das esculturas de Tunga: alquimia, arqueologia, mitologia, teologia, matemática, física, antropologia. Mas cada um denota uma insuficiência diante dos enigmas do mundo. Algo informe resulta desse amálgama de informações, que poderia ser chamado de "escultura de ação" ou "pintura viva", os termos não importam.
Diante da crise da racionalidade, o erotismo permanece como valor, força capaz de desequilibrar os fundamentos do simulacro.
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Antônio José de Barros de Carvalho e Mello Mourão | Folha de São Paulo
Um dos nomes mais celebrados e relevantes das artes visuais do país, Tunga morreu nesta segunda, aos 64. Ele sofria de câncer e estava internado no hospital Samaritano, no Rio, havia três semanas. Seu corpo será enterrado no cemitério São João Batista.
Em quase meio século de carreira, Tunga construiu uma obra plástica incontornável na arte contemporânea, mesclando referências sutis à herança construtiva que dominou as vanguardas nacionais a um universo simbólico único.
Seu mundo de tranças de aço e cobre atravessando pentes, ímãs ultrapotentes, caveiras, esqueletos, sereias, pérolas e sementes foi ao longo dos anos chamado de surrealista, delírios orquestrados como parte de uma mesma sinfonia.
Nascido em Pernambuco e radicado no Rio desde os anos 1970, Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão era filho de um poeta — Gerardo Mello Mourão. jornalista morto aos 90, em 2007, que foi correspondente da Folha em Pequim no início dos anos 1980.
Desde seus primeiros desenhos, Tunga dizia que suas obras partiam de reflexões a meio caminho entre versos e teorias filosóficas e científicas, “nunca demonstráveis nem refutáveis”, ele frisava.
No campo da escultura, maior parte de sua obra que surgiu sempre aliada à performance, usava materiais como cobre, aço e ímãs em construções que lembram o corpo humano, tecidos, pele, cartilagens e esqueletos, revestindo de dimensão carnal tudo que parece surgir como algo de natureza robusta, industrial.
É nesse sentido, falando em “construção rigorosa do imaginário”, que Tunga juntou duas pontas irreconciliáveis do espectro da arte contemporânea —o minimalismo obcecado pela força bruta da matéria, de Richard Serra a José Resende, e a sensualidade sanguínea de obras sobre o desejo, lembrando a dor dos corpos incomuns de Louise Bourgeois.
Esse erotismo, enquanto forma de manifestação do instinto e do desejo, parece guiar grande parte de suas pesquisas estéticas. Em um filme pornográfico que realizou, cristais e pedras surgem como transmutação de fluidos corporais, saliva, urina e fezes —o artista apontava ali uma espécie de alquimia latente na própria existência, de corpos em transformação.
Dândi Tropical
Sempre vestindo ternos de cores extravagantes, Tunga era um dândi tropical, lembrando às vezes Flávio de Carvalho, um artista de rigor absoluto em sua obra plástica que sabia ao mesmo tempo desafiar a atmosfera espessa que pesa sobre o mundo da arte.
Numa de suas primeiras séries de desenhos, “Museu da Masturbação Infantil”, dos anos 1970, Tunga já indicava esse caminho dúbio.
É uma dualidade que também transparece em “Ão”, filme que rodou em preto e branco num túnel, nos anos 1980, contrastando luz e escuridão.
Suas tranças de chumbo com laços coloridos criadas na mesma década parecem ter sido o primeiro passo de um arco narrativo que atingiu seu auge nas obras mais recentes, em que peças de argila moldadas à mão se equilibram sobre hastes metálicas.
Tunga morreu num momento de transformação em sua obra. Desde o começo da década de 1980, quando representou o Brasil na Bienal de Veneza, e depois de quatro passagens pela Bienal de São Paulo e mostras no MoMA, em Nova York, na Whitechapel, em Londres, no Jeu de Paume, em Paris, entre outras instituições de peso, ele se firmou como o menos solar e mais soturno dos artistas do país.
O esqueleto que pendurou numa espécie de rede debaixo da pirâmide do Louvre, em Paris, coroava essa descida ao inferno. Seu boneco tétrico se equilibrava tendo como contrapeso outras bolsas cheias de caveiras, uma versão fossilizada de obras que fez ao longo da vida em que frágeis objetos surgem suspensos por redes esgarçadas.
“True Rouge”, de 1997, uma de suas obras mais famosas agora no Instituto Inhotim, é uma dessas peças içadas, com frascos e ampolas de vidro cheias de um líquido vermelho, como se fosse sangue.
Nos últimos anos, depois de cicatrizadas as feridas e tendo sobrado só os ossos, talvez um indício do que ele chamava de um “reencontro com o arcaico”, Tunga foi abrindo mais o traço de seus desenhos e ampliando sua paleta de cores para incluir também tons mais solares, talvez, como dizia, lembrando sua vida à beira do mar.
Sua morte coincide com um momento em que ele afirmava ver “mais mistério na luz do que no escuro, na morte”.
Tunga construiu sua poesia calcado em universos distintos
Ali por meados dos anos 1980, Tunga apareceu na ampla sala do apartamento de seu pai, em Copacabana. Seus cabelos, lisos e compridos, mais ou menos divididos no meio da cabeça, caíam nos ombros e lhe davam um ar de cherokee digital. Magro, olhos escuros estalados no meio da noite, vestia algo assemelhado a uma bata, de gola careca; falava rápido e num tom baixo: "Então, você é o amigo de que meu pai tanto fala", disse, e me abraçou. Nunca mais deixamos de ser amigos.
Seu pai era o lendário poeta Gerardo Mello Mourão. Naquela época, voltava da China, onde fora correspondente da Folha. Os despachos de Gerardo brilhavam ao lado de textos de Paulo Francis, de Nova York; Claudio Abramo, de Paris e Londres; e Osvaldo Peralva, de Tóquio. Sacou a briga de estrelas? Gerardo logo me adotou e me transformou em seu cicerone na Pauliceia. Minha tarefa era descobrir novos restaurantes japoneses pela cidade, e contar causos.
Casado com Léa, filha do poderoso senador Antônio de Barros Carvalho, Gerardo, nascido no sertão cearense, fora deputado federal, fundador de vários jornais e se transformara por conta de sua obra e militância política em cidadão do mundo. Estabelecera uma imensa rede de amigos poetas e políticos ao redor do planeta. Cultivava também bons adversários. Aquilo tudo me fascinava: tinha segredos de polichinelo de personagens distintos como Michel Deguy, Pablo Neruda e Leonel Brizola.
Por vários anos, o senador Antônio Barros dera abrigo (casa, comida e roupa lavada) ao amigo Alberto da Veiga Guignard. Em agradecimento, o doce artista mineiro tratou de pintar o casarão da família, na rua România, no bairro carioca de Laranjeiras. Tetos, portas e algumas paredes foram cobertas por suas cores amenas e cenas cotidianas. Também registrou as filhas do senador numa tela clássica, as gêmeas Maura e Lea, mãe de Tunga, que vai citar o caso na sua série, hilária, "Xipófogas Capilares", da década de 1980.
Então, embaixo do prosaico apelido de Tunga escondia-se o nome heráldico de Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão. Um disfarce. Tanta política, arte brasileira e funda tradição nordestina, vinda da colônia, mais certa distinção próxima ao rapapé, soavam a ele peso desproporcional diante de seu projeto em construir uma obra desterritorializada, não imbricada com regionalismos ou cepas nacionalistas. De Gerardo herdou um fino humor, sofisticado, ao qual acrescentou um gosto pelo chiste e a construção permanente de irrealidades.
Isso no Brasil? Um país jovem mas talhado pela desigualdade social na falsa sisudez da república de doutores? É demais para essa terra um artista que se recusa a tecer um trabalho que não tenha por base a realidade imediata e azeda. Como ousa?
No DNA estético-ideológico pátrio se encontra o desenho da arte como registro, reprodução e, muitas vezes, acentos regionais. Se fosse assento seria mais útil. Assim o que possui caráter internacionalista, no Brasil, é posto sob suspeição. É pau, é pedra, é o fim do caminho.
Talvez venha daí a maior repercussão da obra de Tunga em terras estrangeiras: nos últimos anos foram várias as mostras dele em cidades europeias e americanas. Ele sempre fez um trabalho pertencente ao mundo, a partir de referências colhidas na especificidade dos materiais, por vezes em suas próprias excentricidades (cabelo, ossos, barro etc.), no lúdico, e solidamente amparado numa visão filosófica da arte. Porque sempre teve uma sede exuberante pela vida.
Aí que está. Nestes últimos tempos, trocando ideias para o nosso documentário, percebi como Tunga construía sua poesia calcado em universos distintos, quase intangíveis, e num diálogo com a natureza primeva. Numa imagem, o osso que sobe em "2001" de Kubrick e sob Wagner se transforma numa espaçonave. De primatas a astronautas, glosando Mlodinow.
Na construção do roteiro do nosso filme, senti como Tunga sacava conceitos oriundos da física, da química, de fenômenos geofísicos, da linguística e da filosofia para alicerçar seu pensamento. A todo esse coquetel adicione-se ainda sua picardia e sobretudo sua elegância ao desprezar os temas pedestres do cotidiano. É só olhar em volta e cotejar como ele fará falta.
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
Crédito fotográfico: Editora Cobogó. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (8 de fevereiro de 1952, Palmares, PE, Brasil — 6 de junho de 2016, Rio de Janeiro, RJ, Brasil), mais conhecido como Tunga, foi um escultor, desenhista e artista performático brasileiro. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, Tunga construiu uma carreira marcada pela experimentação e pelo diálogo com diversas áreas do conhecimento, como literatura, alquimia, psicanálise, mitologia e filosofia. Sua produção artística abrangeu escultura, desenho, instalação, performance e vídeo, sempre pautada por uma estética provocativa, simbólica e sensorial. Utilizava materiais inusitados, como cabelos, ímãs, borracha, cobre e vidro, criando obras que desafiam as convenções e exploravam a dualidade entre corpo e mente, razão e instinto. Participou de importantes bienais e exposições internacionais, tendo sido o primeiro artista contemporâneo a expor sob a pirâmide do Museu do Louvre, em Paris, em 2005. Sua obra está presente em acervos de instituições como o MoMA, em Nova York, a Tate Modern, em Londres, e o Centre Pompidou, em Paris. No Brasil, tem um pavilhão inteiramente dedicado à sua obra no Instituto Inhotim, em Minas Gerais.
Tunga | Wikipédia
Escultor, desenhista e artista performático, Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, conhecido como Tunga, ( 8 de fevereiro de 1952 – Rio de Janeiro, 6 de junho de 2016), é considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional.
Sua erudição e formação filosófica se refletiu em uma produção artística que envolve o cruzamento de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, apresentando interfaces com a literatura, filosofia, psicanálise, teatro, ciências exatas e biológicas. Trata-se de uma obra potente, profunda e autorreferente que nega o tempo linear e se apoia fortemente na materialidade, topologia, simbologias e processos de transformação e metamorfoses.
Foi o primeiro artista contemporâneo e o primeiro brasileiro a expor no icônico Museu do Louvre em Paris , e já teve sua obra exposta na 40ª Bienal de Veneza, na Itália; na X Bienal de Havana, em Cuba; na X Documenta de Kassel, na Alemanha; e, na V Bienal de Lyon, na França.
Participou, ainda, de mostras na Whitechapel Gallery, na Inglaterra; no Museum of Contemporary Art of Chicago e no Museum of Modern Art PS1, ambos nos EUA; no Jeu de Paume e no Centre de la Vieille Charité, ambos na França; no Moderna Museet, na Suécia; no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, na Espanha; e, no Garage Center of Contemporary Culture, na Rússia.
Tunga tem, atualmente, obras em acervos permanentes de museus como o Guggenheim, em Veneza; o Museum of Modern Art, em Nova York; a Tate Modern, em Londres; o Museu d´Art Contemporani de Barcelona, em Barcelona; o Museum of Fine Arts Houston, em Houston; e, Centre Pompidou, em Paris, além de galerias dedicadas à sua obra no Instituto Inhotim.
Faleceu, no Rio de Janeiro, em 6 de junho de 2016. Desde então, o Instituto Tunga atua preservando, conservando, catalogando e divulgando sua extensa obra e memória. Em parceria com as galerias e museus do Brasil e mundo, o Instituto Tunga já realizou 6 grandes exposições e colaborou ativamente para 4 publicações.
Atualmente, a equipe do Instituto Tunga trabalha na elaboração do Catálogo Raisonné que irá mapear todas as obras bidimensionais do artista em uma única publicação bilingue, em português e inglês, online e gratuita.
Biografia
Nascido em Palmares, Pernambuco, filho do escritor Gerardo Mello Mourão e da ativista social Léa de Barros Carvalho e Mello Mourão, Tunga morou e trabalhou no Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Santa Úrsula.
Inicia sua carreira nos primeiros anos da década de 1960, produzindo desenhos e pequenas esculturas. Traça imagens figurativas com temas ousados, como nas séries O Perverso, Pensamentos, Máquinas, Charles Fourier (1772/1887) e Paisagens do Desejo.
Editou, ao lado de Celso F. Ramos Filho, Eduardo Prisco Paraiso Ramos, Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, Marcelo Villela de Andrade, Paulo Ramos Filho, a Revista Nove (1969-1971), uma publicação de poesia moderna. E colaborou com a revista Malasartes (1976), ao lado de Paulo Sérgio Duarte, Waltercio Caldas, Ronaldo Brito, Cildo Meireles, Paulo Venancio Filho, José Resende e Rodrigo Naves; e com o jornal A Parte do Fogo (1980), também com Cildo Meireles, José Resende e Waltercio Caldas, entre outros.
Em 1975, Tunga apresentou pela primeira vez objetos tridimensionais, apresentados na exposição individual intitulada Tunga - Ar do Corpo, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Na década de 1980, passou a criar instalações, nas quais utilizou grande variedade de materiais para explorar a ideia de conjunção, magnetismo, transmissão e isolamento de energia e forças invisíveis - é o caso dos imãs, das lâmpadas, dos fios elétricos, do cobre, e de materiais isolantes como o feltro e a borracha -, sempre justapondo-os com rigor formal.
Buscava extrair sentidos simbólicos de obras que passaram, aos poucos, a apresentar um caráter autorreferente. Neste período criou obras icônicas como Trança [1983]; ÃO [1981]; Xifópagas Capilares entre Nós [1984], Vanguarda Viperina [1985]; Eixos Exógenos [1986-2000]; e, Semeando Sereias [1987-1998].
Nesta mesma época, Tunga deu início aos trabalhos com formas e signos que marcariam sua carreira como as tranças; o tacape; o escalpe; o pente; o cálice; os sinos, seda, palíndromo, caldeirões e funis.
No decorrer da década de 90, Tunga intensificou a pesquisa sobre as relações energéticas entre diferentes metais em suas instalações, passando a usar conjuntos de ímãs em diversos trabalhos. Ao mesmo tempo, passou a elaborar suas instaurações - nome dado pelo artista às ações que ativavam seus trabalhos tridimensionais ou imersivos. Segundo Tunga, vale lembrar, a noção de instauração implica um modo de fazer poesia onde não há ensaios. Diferente da performance, que implica uma noção relacionada ao desempenho, a instauração trata-se de "fazer acontecer algo que você testemunha, que não estava ali, com uma luz nova.” Neste período, Tunga promove uma série de ações com terracota, argila e maquiagem - materiais que fazem alusão à origem humana, da terra; ao primitivismo; e, ao processo de reencarnação, de dar carne ao objeto, corporeidade à obra.
Em 1997, publica o icônico Barroco de Lírios, primeiro livro editado pela Cosac & Naify, que faz um retrospecto das principais obras de Tunga realizadas entre 1981 e 1996. Trata-se de uma publicação concebida pelo artista como uma obra de arte em si, apresentando textos de sua própria autoria, além de encartes e transparências que são como múltiplos não assinados.
Entre os anos 2000 e 2016, as obras incorporam, em pequenas e grandes dimensões, a presença de sinos, mondrongos, garrafas, cálices, jóias, dentes, asas, portais, luminárias, tripés, dedais, balança, bengala, líquidos e tipitis. Também foi o período em que ele passou a incluir os mondrongos em diversas instalações e instaurações. Mondongos são elementos amorfos utilizados em pares que sugerem uma reprodução Morfogenética, na qual os que apresentam protuberância estão relacionados ao "macho-fera" e os que possuem cavidade estão relacionados à “fêmea-bela”.
Em 2002, ocupa três andares do Centro Cultural Banco do Brasil e preenche a rotunda da instituição com uma luz vermelha e voz de Arnaldo Antunes, além de uma tríade com sinos, cálices, garrafas, caldeirões e bengalas de 14 metros. Atores e bailarinos, dirigidos pela coreógrafa Lia Rodrigues, aplicavam maquiagem à instalação. Idealizou a instalação Tríade Trindade [2001]; as performances Encarnações Miméticas e Experiência com Ynaiê [2003]; a série Quase Auroras [2005]; os filmes Quimera [2004], que concorreu à Palma de Ouro, na categoria curta-metragem, em Cannes, em 2004, e Medula [2005], ambos em parceria com Eryk Rocha; e, as obras i Psicopompos e Vers La Voie Humide, no Château La Coste, na França [2008-2015].
Em 2004, inaugura a Galeria True Rouge - primeira instalação permanente do Instituto Inhotim, um desdobramento da série de performances True Rouge, apresentadas desde 1997 em diversas ocasiões e cuja inspiração parte de uma poesia algébrica do escritor Simon Lane. E, em 2012, inaugura a Galeria Psicoativa Tunga, também em Inhotim, que abriga uma exposição permanente apresentando mais de 20 obras do artista sendo muitas icônicas como Ão (1981); Vanguarda Viperina (1985); Palíndromo Incesto (1990-1992); Tereza (1998); Prole do Bebê (2000); À la Lumière des Deux Mondes (2005); X-estudo (2009); Psicopompo Cooking Crystal (2010); e, Toro Condensed (1983) and Toro Expanded (2012).
Tunga recebeu a condecoração Chevalier des Arts et des Lettres (Cavaleiro das Artes e das Letras) pelo embaixador da França, Alain Rouquié. E, em 2005, foi o primeiro artista contemporâneo a exibir sua obra, À la Lumière des Deux Mondes, na pirâmide do Louvre.
Filmografia
Filmes do Tunga em parceria com outros criativos:
1975 - O ar do corpo - João Lanari e Tunga
1987 - Nervo de Prata - direção, fotografia, edição e trilha sonora: Arthur Omar sobre conceitos, obras e argumento de Tunga
2004 - Medula - Tunga e Eryk Rocha
2004 - Quimera - Tunga e Eryk Rocha
Filmes sobre o trabalho do Tunga:
1993 - Seeding Mermaids - Shelagh Wakely
1996 - Dear Friend - Shelagh Wakely
1997 - Inside out / upside down - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
1997 - Há Sopas - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
1997 - A última sereia - Arthur Omar
1998 - True Rouge - Shelagh Wakely
1999 - A Vida de Infra Tunga - Karin Schneider e Nicholas Guagnini
2000 - Lucido Nigredo - Shelagh Wakely
2001 - Resgate - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
2002 - Nosferatu Spectrum - Shelagh Wakely
2002 - TUNGA: Encarnações Miméticas e Nociferatu - Murilo Salles
2003 - Egypsia and the Phoenix - Shelagh Wakely
2005 - Paris [À La Lumière des deux mondes - Louvre] - Shelagh Wakely
Exposições e trabalhos no exterior
Sua obra acabou por ganhar repercussão internacional, levando-o a expor em importantes espaços destinados às artes plásticas ao redor do mundo.
1981 - Participa da exposição individual “Spazio Aperto - 123ª Mostra D'arte maggio-giugno 1981 - Tunga no Centro Iniziative Culturali Pordenone, Itália;
1982 - Divide o Pavilhão Brasileiro da 41ª Bienal de Veneza com o escultor Sérgio Camargo.
1985 - Realiza a exposição individual “Xifópagas Capilares Entre Nós - Siamesas Capilares Entre Nosotros” no Museo Nacional de Bellas Artes, em Buenos Aires, Argentina;
1986 - Participa da “Trienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel” no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), em Buenos Aires, Argentina;
1989 - Realiza a exposição individual “Options 37: Tunga”, no Museum of Contemporary Art Chicago (MCA), EUA;
1989 - Participa da exposição coletiva “U-ABC”, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, Holanda. Com itinerância na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Portugal;
1989 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Whitechapel Gallery, em Londres;
1989 - Participa da exposição “Tunga Lezarts / Cildo Meireles Through”no Kanaal Art Foundation, em Kortrijk, Bélgica;
1990 - Realiza a exposição individual “Tunga” no The Third Eye Centre, em Glasgow, Escócia;
1992 - Participa da exposição coletiva “Désordres” na Galerie nationale du Jeu de Paume, em Paris, França;
1992 - Participa da exposição coletiva “Latin American Artists of the Twentieth Century”, no Centre Georges Pompidou, Paris, França. Com itinerância na Estación Plaza de Armas, em Sevilla, Espanha; no Museum Ludwig, em Colônia, Alemanha; e no Museum of Modern Art (MoMA) em Nova York, EUA;
1993 - Participa de uma mostra coletiva no Moma, em Nova York;
1993 - Participa de uma mostra coletiva no Ludwig Museum, na Alemanha;
1994 - Realiza a exposição individual “Tunga: Instalações e Esculturas”, no The Museum of Contemporary Art, em Nova York, EUA;
1994 - Participa da “5º Bienal de Havana”, Cuba;
1995 - Participa da exposição coletiva “Avant-garde walk a Venezia”, em Veneza, Itália;
1996 - Participa da exposição coletiva “Walk on the SoHo Side”, em Nova York, EUA;
1997 - Participa da “Documenta X”, em Kassel, Alemanha;
1998 - Participa da exposição coletiva “Être Nature“ na Fondation Cartier pour l'art contemporain, em Paris, França;
1999 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires, Argentina;
2000 - Participa da “3ª Gwangju Biennale”, Coreia do Sul;
2000 - Participa da “5ª Biennale D'Art Contemporain de Lyon”, França;
2001 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Galerie Nationale du Jeu de Paume, em Paris, França;
2001 - Participa da “49ª Venice Biennale: Brazil in Venezia” no Peggy Guggenheim Collection, em Veneza, Itália;
2001 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Musée d'art Contemporain de Bordeaux, França;
2001 - Participa da “1ª Bienal de Valencia”, Espanha;
2002 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Centre international de recherche sur le verre et les arts plastiques (Cirva), em Marselha, França;
2002 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Luhring Augustine Gallery, em Nova York, EUA;
2005 - Realiza a exposição individual “Tunga: À La Lumière Des Deux Mondes, Une Installation Sous La Pyramide” no Museu do Louvre, em Paris, França;
2005 - Participa da exposição coletiva “The Art of Chess”, na Luhring Augustine, em Nova York, EUA. Com itinerância na Gary Tatintsian Gallery, em Moscou, Rússia;
2007 - Realiza a exposição individual “Tunga: Laminated Souls” no Museum of Modern Art- PS1 (MoMA PS1), em Nova York, EUA;
2009 - Participa da “3ª Moscow Biennale Of Contemporary Art” no Garage Museum of Contemporary Art, Rússia;
2009 - Realiza a exposição individual “Tunga: Lezart” no Museum of Fine Arts, em Houston, EUA;
2014 - Realiza a exposição individual "From La Voie Humide" na Luhring Augustine Gallery, em Nova York, EUA;
2015 - Realiza a exposição individual “Eu, Você e a Lua” no Domaine de Chaumont-sur-Loire, em Loire, França;
2016 - Sua obra integra a exposição coletiva "Contingent Beauty: Contemporary Art From Latim America" no Museum of Fine Arts, em Houston, EUA;
2017 - Sua obra integra a exposição coletiva “Sol Lewitt, Andres Serrano, Joel Shapiro, Tunga, Andy Warhol” na Galerie Michel Vidal, em Paris, França;
2018 - É realizada a exposição individual “Capillary Xiphopagus among Us” na Tate Modern, em Londres, Inglaterra;
2019 - É realizada a exposição individual “Tunga” na Galleria Franco Noero, em Turim, Itália;
2021 - Sua obra integra a exposição coletiva “Fictionalising the Museum” no Centro Internacional das Artes José de Guimarães - CIAJG, em Guimarães, Portugal;
2023 - É realizada a exposição individual “Tunga: Vê-Nus” na Luhring Augustine, em Nova York, EUA.
Prêmios e honrarias
1985 - Prêmio Museo de Arte Moderno de Caracas Caracas, Venezuela
1986 - Prêmio Trienal Latino-americana de Arte sobre papel Prize “Trienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel”, no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), em Buenos Aires
1986 - Prêmio Governo do Estado do Rio Grande do Sul - Destaque Desenho Brasileiro Exposição coletiva “Caminhos do Desenho Brasileiro”, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), em Porto Alegre
1987 - Prêmio Tucano de Prata do FestRio, O filme “Nervo de Prata” no FestRio, no Rio de Janeiro
1987 - Festival de Cinema e Vídeo do Maranhão, O filme “Nervo de Prata” recebeu o prêmio de melhor vídeo e melhor fotografia no Festival de Cinema e Vídeo do Maranhão, em São Luís
1990 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas, participou da exposição coletiva “Prêmio Brasília de Artes Plásticas”, no Museu de Arte de Brasília, em Brasília
1991 - Prêmio Mário Pedrosa, na Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), pela obra Preliminares do Palíndromo Incesto
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Contemporânea, Niterói, Brasil
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Moderna de Recife, Brasil
1997 - Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo: 50 anos - Panorama 1997 Museu de Arte Moderna de São Paulo
1997 - Prêmio Embratel, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil
1997 - Prêmio de 30 anos Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil
1997 - Melhor vídeo experimental no IV FestRio, o filme “Nervo de Prata” recebeu o prêmio de melhor vídeo experimental no IV FestRio, no Rio de Janeiro
1998 - Johnny Walker Prize Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil
1998 - Prêmio APCA - os Melhores de 1997, recebeu o Prêmio APCA - os Melhores de 1997, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
1998 - Prêmio Cine Ceará O vídeo ”Tunga - Sem redes e tralhas” recebeu o Prêmio Cine Ceará por melhor edição e melhor trilha sonora original.
1999 - Prêmio de melhor mostra estrangeira de 1999, com a exposição "Tunga", apresentada no Centro Cultural Recoleta, recebeu o Prêmio de melhor mostra estrangeira de 1999, Argentina.
2000 - Chevalier des Arts et des Lettres Foi nomeado "Chevalier des Arts et des Lettres” (Cavaleiro das Artes e das Letras) pelo Ministério da Cultura da França.
2000 - Hugo Boss Award Participou da exposição coletiva “Hugo Boss Prize”, no Guggenheim Museum (Nova York), em Nova York, com indicação ao “Prêmio Hugo Boss Prize”
2004 - Prêmio Palma de Ouro, o filme “Quimera” concorreu ao “Prêmio Palma de Ouro”, do Festival de Cannes, França.
2005 - Artes Mundi prize, Wales, Inglaterra
2008 - Prêmio Jabuti A “Caixa de Livros Tunga” foi ganhadora do Prêmio Jabuti (Câmara Brasileira do Livro) em 2008, na categoria Arquitetura e Urbanismo, Fotografia, Comunicação e Artes.
2022 - Prêmio APCA - Os melhores de 2021, a exposição “Tunga - Conjunções magnéticas”, realizada no Itaú Cultural e no Instituto Tomie Ohtake, recebe o Prêmio APCA - Os melhores de 2021, concedida pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Publicações monográficas
1980 - "Tunga Esculturas", Paulo Sergio Duarte, Espaço ABC (Funarte) / Parque Natural Municipal da Catacumba
1997 - "Tunga: Barroco de Lírios", Tunga, Cosac & Naify
1997 - "Tunga: 1977_1997”, Carlos Basualdo, Edith C Blum Art Inst
1999 - "Tunga em Buenos Aires”, Mercedes Casanegra, Centro Cultural Recoleta
2005 - "Tunga: Las películas, Los vídeos”, José Jiménez, Instituto Cervantes
2007 -“Tunga" - caixa constituída de sete volumes de diferentes formatos (textos, fotografias, vídeos) que documentam a trajetória do artista, Cosac & Naify
2007 - "Tunga: Dessins Érotiques", Daniel Templon, Galerie Daniel Templon
2008 - "Apesar de Leves "Pumbeo Sapiens”, Paulo Darzé Galeria
2013 - "Narrativas Ficcionais de Tunga", Marta Martins, editora Apicuri
2016 - Tunga: Pálpebras, Galeria Millan
2018 - Tunga: O Corpo em Obras, Isabella Rjeille e Tomás Toledo
2018 - Tunga - O rigor da distração, Luisa Duarte e Evandro Salles, Museu de Arte do Rio (MAR)
2019 - "Tunga", Catherine Lampert, editora Cosac & Naify
2021 - "Tunga: Conjunções Magnéticas”, Instituto Tomie Ohtake / Instituto Itaú Cultural
2023 - "Tunga: Vê-Nus”, Paulo Venancio Filho, Luhring Augustine
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Tunga | Itaú Cultural
Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (Palmares, Pernambuco, 1952 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016). Escultor, desenhista e artista performático. Torna os objetos utilizados em suas obras elementos de performance, criando analogias entre corpo e escultura.
Filho do poeta e escritor Gerardo Melo Mourão (1917-2007) e de Léa de Barros (1922-?), retratada no quadro As Gêmeas (1940), do pintor Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), convive desde cedo com a literatura e com as artes plásticas, experiências que marcam sua formação.
Muda-se para o Rio de Janeiro e, na década de 1970, inicia sua obra, que se aproxima da produção de artistas de diferentes vertentes da arte contemporânea brasileira, como Cildo Meireles (1948), Waltercio Caldas (1946) e José Resende (1945). A relação entre representação, linguagem e realidade, tema-chave para essa geração de artistas, está presente em muitos dos trabalhos do escultor. Neles, corpo e desejo tornam-se componentes ativos da investigação, na qual são incluídos itens de outras áreas de conhecimento, como literatura, filosofia, psicanálise, teatro, matemática, física e biologia.
Em 1974, conclui o curso de arquitetura e urbanismo na Universidade Santa Úrsula. No mesmo ano, realiza sua primeira exposição individual, Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), onde expõe conjuntos de desenhos marcados por um “erotismo mental”: espécie de atitude reflexiva em torno do desejo humano, em que as formas não representam nada de específico, mas a tensão sexual pode ser inferida em ambíguas sugestões fálicas ou nos títulos das obras.
Nos objetos e esculturas, as formas e materiais se entrelaçam, em analogia à cópula, atualizando a proposta dos surrealistas de que, nos poemas e obras, as palavras fariam amor. Segundo o crítico inglês Guy Brett (1942), por meio da imersão na matéria e no mundo físico, Tunga estabelece “uma surpreendente e inesperada analogia ou ponto de encontro entre energias ‘esculturais’ e as do corpo humano”1.
Ao construir sua obra, Tunga opera no cruzamento entre objeto, performance e texto. Suas esculturas constroem narrativas, das quais os textos são componentes. Além disso, os objetos utilizados em performances figuram como agentes detonadores de processos. Mesmo em espaços expositivos, os objetos assumem dimensão performática, como resíduos ou dejetos de determinada ação deixados no ambiente. O artista chama esses objetos de “instaurações”, uma imbricação entre as categorias artísticas de “ação” – pertencente ao universo da performance e do teatro – e “instalação” – objetos montados em espaço expositivo –, de modo a incluí-los como parte da experiência artística.
Colabora, nos anos seguintes, para a revista Malasartes e o jornal independente A Parte do Fogo, ambos de curta duração2. Em 1981, integra a 16ª Bienal de São Paulo, onde apresenta o filme-instalação Ão. Filmado em 16mm, ele constrói a projeção em um toro imaginário no interior do Túnel Dois Irmãos (atual Túnel Zuzu Angel), no Rio de Janeiro. Essa projeção é acompanhada pela repetição de um trecho da música Night and Day, do compositor Cole Porter (1891-1964), cantada por Frank Sinatra (1915-1998), criando a sensação de uma viagem infinita.
Em outubro de 1985, publica um encarte na revista Revirão 2 – Revista da Prática Freudiana, com imagens da performance Xifópagas Capilares (1984), acompanhadas da narrativa sobre a origem da obra. A relação que os textos de Tunga mantêm com as demais dimensões da obra está exemplificada nessa produção, uma vez que no encarte encontram-se fotografias de uma série de trabalhos realizados no início da década de 1980, como Les bijoux de Mme. De Sade (1982); Troféu (1984); Toros, joias de Mme. De Sade (1983), um registro da performance Xifópagas Capilares, fotogramas do filme Ão. As imagens parecem ilustrar pequenos trechos do texto que fecha o encarte. A narrativa apresenta, por um lado, o estilo de relato científico, e, por outro, aproxima-se da literatura fantástica latino-americana, como a do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Ao longo do texto, encontram-se referências a objetos criados por Tunga, que lhes atribuem uma origem e produzem entre eles um vínculo para além da forma. Embora seja difícil estabelecer relação causal entre texto e objetos, é possível afirmar que, ao mesmo tempo que as peças parecem ter saído de dentro do texto, são elas que alimentam a dinâmica da narrativa. Desse modo, texto e obras configuram um sistema contínuo que suspende os limites entre literatura, performance e objeto, lançando-se no campo especulativo da linguagem.
A noção de sistema contínuo permite compreender que a dimensão simbólica dos objetos de Tunga não conduz à ideia de um todo uniforme, do qual cada peça individual é parte. Antes, cada peça, cada texto e cada ação remetem a uma produção contínua de formas e narrativas, que se prolongam sem princípio ou finalidade evidentes. Também vem dessa concepção o interesse do artista pela figura matemática do toro - que aparece no filme-instalação Aõ: sendo um produto da rotação de uma superfície circular em torno de uma circunferência, o toro configura também um sistema contínuo.
Os sistemas contínuos de Tunga têm uma origem: o espaço fantasmático entre corpo e psique. Esse espaço obedece a temporalidade e espacialidade singulares, dominadas por pulsões eróticas e combinações inconscientes. O curador argentino Carlos Basualdo (1964) define esse movimento como “tendência ao transbordamento e à profusão mediada por um delicado sentido de equilíbrio e composição”3, que ele chama também de “tensão barroca”.
Tunga entende os sistemas contínuos de esculturas que cria como elementos que se desdobram no espaço, organizando-o em uma experiência que envolve corpo e mente. São objetos que têm o poder de fazer aparecer a força poética dos gestos, como sugere Ronaldo Brito ao referir-se a obras como Trança (1984).
Se entre os materiais mais utilizados no início da carreira estão ferro, aço, latão, lâmpadas, correntes, ímãs, feltro e borracha, a partir da década de 1990, Tunga explora materiais mais orgânicos e fluidos, como a gelatina, que recobre os sinos em Cadentes Lácteos (1994), ou a pasta de maquiagem, com a qual sete meninas, que participam da ação Floresta Sopão (2002), recobrem objetos e os próprios corpos.
Tunga é um dos primeiros artistas contemporâneos a expor no Museu do Louvre, Paris, com a obra À Luz de Dois Mundos (2005). Mais tarde, em 2012, inaugura espaço dedicado à sua produção, a Galeria Psicoativa, localizada no Instituto Inhotim, na cidade de Brumadinho, Minas Gerais. Suas obras integram importantes acervos de museus nacionais e internacionais.
Em 2016, é inaugurada a exposição póstuma Pálpebras, na Galeria Millan, com obras inéditas. No ano seguinte, integra a sequência de mostras sobre sexualidade realizadas no Museu de Arte de São Paulo (Masp) com Tunga: O Corpo em Obras.
Críticas
"Na Galeria Luisa Strina, o artista expõe sete conjuntos de objetos-esculturas que, a um primeiro olhar, parecem peças de cerâmica. A cor terrosa engana. Ela não é do material, mas do seu acabamento insólito: maquiagem. As peças são fundidas em bronze e cobertas com base, batom e pó compacto. A superfície resultante não se pretende simulacro perfeito da pele: conserva o índice da mão que a plasmou em argila. Os objetos-esculturas nasceram do desenho de corpos unidos. O artista isolou a linha que define ao mesmo tempo duas pessoas: fronteira e mistura de peles, vasos comunicantes e incomunicados. Metáfora das relações amorosas, essa linha ganhou volume e expandiu-se em duas formas: urna e cálice (ou aberto e fechado, masculino e feminino). Preenchendo o espaço entre elas, um lábio. Está montada a equação visual que, conforme os hábitos de Tunga, ainda se alimentou de inúmeras fontes de pesquisa, entre elas as ciências exatas" — Angélica de Moraes (MORAES, Angélica de. "Tunga expõe metáforas do amor". In: O Estado de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 1994. Caderno 2, p.D1).
"Tunga pertence à geração de artistas brasileiros seguidores de Hélio Oiticica e Lygia Clark. Arquiteto por formação, imerso em literatura (de Nerval a Borges) e em referências filosóficas e científicas (arqueologia, paleontologia, zoologia, medicina), seu trabalho exibe a marca das grandes ficções do continente latino-americano. Freqüentemente lidando com o excesso - muitas de suas obras foram realizadas através do acúmulo de materiais pesados (ferro, cobre, ímã) -, ele apresenta objetos comuns que passaram por uma estranha transformação: dedais, agulhas gigantes ou pentes. Inventa um bestiário fantástico de lagartos e serpentes mutantes que parece saído diretamente de uma antologia surrealista. Jogando com as diferenças de proporções, Tunga considera a escultura como um conjunto de formas e figuras enigmáticas cuja estranheza e proporções fabulosas intrigam o espectador e causam transtorno em sua percepção habitual de próximo e distante, dentro e fora, cheio e vazio. Seu interesse no inconsciente e, particularmente, nos processos associativos das engrenagens do sonho, bem como na figura da metáfora, o levou a construir obras de arte com ramificações e efeitos de significado múltiplos. Estes se entrelaçam com erupções do fantástico, convidando o espectador a penetrar num universo barroco onde não se pode distinguir o real do imaginário" — Paul Sztulman (SZTULMAN, Paul. "Tunga". In: Documenta 10. Kassel: Documenta, 1997. p.226. Conteúdo traduzido.)
"Muitos podem ser os dispositivos disparadores de obras, operadores de contágio e hibridação. Eles servem para dar liga ao conjunto de elementos que constituirão uma mesma obra, ou para juntar e amalgamar várias obras entre si e, nesta combinação, produzir uma outra, inédita. Um deles, talvez o que mais retorna, é a gelatina. Matéria orgânica gosmenta, próxima dos fluidos corporais - baba, meleca, esperma - que lambuza tudo, produzindo um continuum. (...) Outro dispositivo recorrente na fabricação de híbridos: os ímãs. À primeira vista, usá-los para ligar materiais parece óbvio: a vocação dos ímãs é justamente produzir atração entre minérios. No entanto, ao cumprir seu destino no contexto inesperado de uma obra de arte, eles provocam estranhamento. (...) Outros inesperados operadores de junção: batom, base e pó compacto maquiam cálices, urnas e 'lábios' e fazem deles um só corpo. Outros ainda: finíssimos fios de toda espécie - de cobre, nylon ou prata - unem os elementos em cena em diferentes obras. Por último, um tipo de operador que vale a pena privilegiar: os textos de Tunga que por vezes acompanham seus trabalhos. Narrativas com referências a documentos imaginários - recortes de jornal, relatórios de pesquisa, depoimentos, telegramas, cartas, inscrições arqueológicas, achados paleontológicos, registro de experiências telepáticas etc. - produzem uma impostação pseudocientífica impregnada de mistério e magia que acaba contaminando a obra. Nestes textos, onde ficção se entrelaça com dados objetivos e biográficos, obra e vida tornam-se inseparáveis - a vida se mostra obra, e a obra, cartografia da vida. Como se os novos elos que unem ingredientes incompossíveis para fazer obra, ou várias obras para fazer uma nova, fossem da ordem do necessário e, portanto, passíveis de explicação científica" — Suely Rolnik (ROLNIK, Suely. "Instaurações de Mundos". In: TUNGA. Tunga: 1977-1997. Curadoria Carlos Basualdo. Miami : Museum of Contemporary Art, 1998, p. 115-136).
Exposições Individuais
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1976 - São Paulo SP - Tunga: desenhos e objetos, na Galeria Luisa Strina
1979 - Rio de Janeiro RJ - Pálpebras, no Centro Cultural Candido Mendes
1980 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Espaço ABC
1981 - São Paulo SP - Individual, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1982 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Centro Cultural Candido Mendes
1983 - São Paulo SP - As Jóias da Senhora de Sade, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1984 - Rio de Janeiro RJ - Tranças, na GB ARTe
1985 - São Paulo SP - Tunga: esculturas, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1986 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Saramenha
1989 - Chicago (Estados Unidos) - Option 37: Tunga, no Museum of Contemporary Art
1989 - Londres (Inglaterra) - Individual, na Whitechapel Art Gallery
1989 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Paulo Klabin
1989 - São Paulo SP - Individual, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1990 - Amsterdã (Holanda) - Individual, na Pulitzer Art Gallery
1990 - Glasgow (Escócia) - Individual, no The Third Eye Center
1990 - Toronto (Canadá) - Interceptions, na The Power Plant Contemporary Art Gallery
1991 - Rio de Janeiro RJ - Preliminares do Palíndromo Incesto, na GB ARTe
1991 - São Paulo SP - Preliminares do Palíndromo Incesto, na Galeria Millan
1992 - Rio de Janeiro RJ - Sero Te Amavi, na Galeria Saramenha
1992 - São Paulo SP - Antigas Minúcias, na Marília Razuk Galeria de Arte
1992 - São Paulo SP - Sero Te Amavi, na Galeria Millan
1994 - Nova York (Estados Unidos) - Tunga: instalações e esculturas, no The Museum of Contemporary Art
1994 - Rio de Janeiro RJ - Tunga: esculturas, na Galeria Paulo Fernandes
1994 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
1994 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan
1995 - Nova York (Estados Unidos) - Sero Te Amavi, no The New Museum of Contemporary Art
1996 - São Paulo SP - Individual, na Galeria André Millan
1996 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
1997 - Miami (Estados Unidos) - Tunga: 1977-1997, no Museum of Contemporary Art Joan Lehman Building
1997 - Nova York (Estados Unidos) - Tunga: 1977-1997, no Center for Curatorial Studies
1997 - Rio de Janeiro RJ - Tunga, na Galeria Thomas Cohn
1998 - Caracas (Venezuela) - Tunga: 1977-1997, no Museo Alejandro Otero
1999 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
2001 - Paris (França) - Individual, na Galerie Nationale du Jeu de Paume
2001 - São Paulo SP - Resgate, no CCBB
2004 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan Antonio
Exposições Coletivas
1973 - Valparaíso (Chile) - Coletiva, no Instituto de Arte de la Universidade del Valparaíso
1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Milão (Itália) - Camere Incantate, no Palazzo Reale
1981 - Porto Alegre RS - Artistas Brasileiros dos Anos 60 e 70 na Coleção Rubem Knijnik, no Espaço NO Galeria Chaves
1981 - Rio de Janeiro RJ - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1981 - São Paulo SP - 16ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Lisboa (Portugal) - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Reino Unido) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Veneza (Itália) - 41ª Bienal de Veneza - Pavilhão Brasileiro, com Sérgio de Camargo
1983 - Rio de Janeiro RJ - 13 Artistas/13 Obras, na Thomas Cohn Arte Contemporânea
1983 - Rio de Janeiro RJ - 3000 Metros Cúbicos, no Espaço Cultural Sérgio Porto
1983 - São Paulo SP - Imaginar o Presente, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1984 - Rio de Janeiro RJ - Exposição, na GB Arte
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1985 - Caracas (Venezuela) - Escultura 85, no Museo Ambiental
1985 - Niterói RJ - Uma Luz sobre a Cidade, na Galeria de Artes da UFF
1985 - Rio de Janeiro RJ - Encontros, na Petite Galeria
1985 - São Paulo SP - Sete Artistas, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1985 - São Paulo SP - Tendências do Livro de Artista no Brasil, no CCSP
1985 - Tóquio (Japão) - Today's Art of Brazil, no Hara Museum of Contemporary Art
1986 - Buenos Aires (Argentina) - 1ª Bienal Latino-americana de Arte sobre Papel, no Museo de Arte Moderno de Buenos Aires - premiado
1986 - Niterói RJ - 1083º, na UFF. Núcleo de Documentação
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs - Prêmio Governo do Estado
1986 - Porto Alegre RS - Coleção Rubem Knijnik: arte brasileira anos 60/70/80, no Margs
1986 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Carioca de Arte, na Estação Carioca do Metrô
1986 - Rio de Janeiro RJ - Transvanguarda e Culturas Nacionais, MAM/RJ
1986 - São Paulo SP - Transvanguarda e Culturas Nacionais, no MAM/SP
1987 - Paris (França) - Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1988 - Campinas SP - 13º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1988 - Nova York (Estados Unidos) - Painting Degree Zero, na Terne Gallery
1988 - Rio de Janeiro RJ - Ponto para 21, no Rio Design Center
1988 - Rio de Janeiro RJ - Uma Escultura para o Mar de Angra, na EAV/Parque Lage
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Amsterdã (Holanda) - U-ABC, no Stedelijk Museum Amsterdam
1989 - Kortrijk (Bélgica) - Cildo Meireles: through/Tunga: lezarts, na Kannal Art Foundation
1989 - Londres (Inglaterra) - Cildo Meireles, Tunga, na Whitechapel Gallery
1989 - Rio de Janeiro RJ - Nossos Anos 80, na Casa de Cultura Laura Alvim
1989 - Rio de Janeiro RJ - Rio Hoje, no MAM/RJ
1989 - São Paulo SP - 10 Escultores, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1989 - São Paulo SP - O Pequeno Infinito e o Grande Circunscrito, na Arco Arte Contemporânea Galeria Bruno Musatti
1990 - Birmingham (Inglaterra) - Transcontinental, na Ikon Gallery
1990 - Brasília DF - Prêmio Brasília de Artes Plásticas, no MAB/DF
1990 - Lisboa (Portugal) - U-ABC, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1991 - Estocolmo (Suécia) - Viva Brasil Viva, no Kulturhuset, Konstavdelningen och Liljevalchs Konsthall
1991 - Rio de Janeiro RJ - Imagem sobre Imagem, no Espaço Cultural Sérgio Porto
1991 - São Paulo SP - 22º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1992 - Berlim (Alemanha) - Klima Global, na Staatliche Kunsthalle
1992 - Curitiba PR - 10ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba/Mostra América, no Museu da Gravura
1992 - Paris (França) - Désordres, na Galerie Nationale du Jeu de Paume
1992 - Paris (França) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no Centre Georges Pompidou
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1992 - Rio de Janeiro RJ - Diferenças, no MNBA
1992 - Rio de Janeiro RJ - Escultura 92: sete expressões, no Espaço RB1
1992 - Rio de Janeiro RJ - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/SP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Arte Amazonas, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Arte Amazonas, na Fundação Bienal
1992 - Brasília DF - Arte Amazonas, no MAB/DF
1992 - Berlim (Alemanha) - Arte Amazonas, na Staatliche Kunsthalle
1992 - São Paulo SP - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateaubriand Museu de Arte Moderna-RJ, na Galeria de Arte do Sesi
1992 - São Paulo SP - Branco Dominante, na Galeria de Arte São Paulo
1992 - São Paulo SP - Galeria Millan: mostra inaugural, na Galeria Millan
1992 - Sevilha (Espanha) - Latin American Artists of the Twentieth Century, na Estación Plaza de Armas
1992 - Paris (França) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no Centre Georges Pompidou
1993 - Brasília DF - Um Olhar sobre Joseph Beuys, na Fundação Athos Bulcão
1993 - Colônia (Alemanha) - Latin American Artists of the Twentieth Century, na Kunsthalle Cologne
1993 - Nova York (Estados Unidos) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no MoMA
1993 - Los Angeles (Estados Unidos) - Body to Earth, na Fischer Gallery, University of Southern California
1993 - Newcastle (Inglaterra) - Second Tyne International Exhibition of Contemporary Art, na Computer Warehouse Ltda
1993 - Rio de Janeiro RJ - Arte Erótica, no MAM/RJ
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - Rio de Janeiro RJ - Emblemas do Corpo: o nu na arte moderna brasileira, no CCBB
1993 - São Paulo SP - A Arte Brasileira no Mundo, uma Trajetória: 24 artistas brasileiros, na Dan Galeria
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1994 - Havana (Cuba) - 5ª Bienal de Havana
1994 - Rio de Janeiro RJ - As Potências do Orgânico, no Museus Castro Maya. Museu do Açude
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - Rotterdã (Holanda) - Call it Sleep, no Witte de With Center for Contemporary Art
1994 - São Paulo SP - 22ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1995 - Caracas (Venezuela) - 2ª Bienal Barro de América, no Museu de Arte Contemporânea de Caracas Sophia Imber
1995 - Rio de Janeiro RJ e Belo Horizonte MG - Libertinos/Libertários, na Funarte e no Centro Cultural da UFMG
1995 - Rio de Janeiro RJ e Belo Horizonte MG - Libertinos/Libertários, na Funarte e no Centro Cultural da UFMG
1995 - São Paulo SP - Entre o Desenho e a Escultura, no MAM/SP
1995 - São Paulo SP - Morandi no Brasil, no CCSP
1995 - Veneza (Itália) - Avant-Garde Walk in Venice 1995
1996 - Nova York (Estados Unidos) - Avant-Garde Walk in Soho 1996
1996 - Rio de Janeiro RJ - Mensa/Mensae, na Funarte. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
1996 - Rio de Janeiro RJ - Transparências, no MAM/RJ
1996 - São Paulo SP - 2ª United Artists: utopia, na Casa das Rosas
1997 - Kassel (Alemanha) - 10ª Documenta, no Museum Fridericianum
1997 - Rio de Janeiro RJ - Há Sopas, no Paço Imperial
1997 - São Paulo SP - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/SP
1997 - São Paulo SP - Diversidade da Escultura Contemporânea Brasileira, na Avenida Paulista - realização Ministério da Cultura/Itaú Cultural
1997 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: perfil de uma identidade, no Banco Safra
1997 - São Paulo SP - Tridimensionalidade: Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1997 - Washington (Estados Unidos) - Escultura Brasileira: perfil de uma identidade, no Centro Cultural do BID
1998 - Belo Horizonte MG - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Brasília DF - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niterói
1998 - Niterói RJ - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAC/Niterói
1998 - Penápolis SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Porto Alegre RS - Remetente, no Espaço Cultural Ulbra
1998 - Recife PE - 25º Panorama de Arte Brasileira, no Mamam
1998 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996-1998, no CCBB
1998 - Salvador BA - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/BA
1998 - São Paulo SP - 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1998 - São Paulo SP - Afinidades Eletivas I: o olhar do colecionador, na Casa das Rosas
1998 - São Paulo SP - Teoria dos Valores, no MAM/SP
1999 - Lisboa (Portugal) - América Latina das Vanguardas ao Fim do Milênio, na Culturgest
1999 - Porto Alegre RS - 2ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, no Espaço Margs, no Espaço Usina Gasômetro e no Espaço Armazém do Cais do Porto (antigo DEPREC)
1999 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Chico Buarque, no Paço Imperial
1999 - Santa Mônica (Estados Unidos) - Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Mira Schendel, Tunga, na Christopher Grimes Gallery
1999 - São Paulo SP - 3ª Heranças Contemporâneas, no MAC/USP
2000 - Colchester (Inglaterra) - Outros 500: highlights of brazilian contemporary art in UECLAA, na Art Gallery - University of Essex
2000 - Curitiba PR - 12ª Mostra da Gravura de Curitiba. Marcas do Corpo, Dobras da Alma
2000 - Lion (França) - Bienal de Lion
2000 - Lisboa (Portugal) - Século 20: arte do Brasil, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
2000 - Rio de Janeiro RJ - Situações: arte brasileira anos 70, na Fundação Casa França-Brasil
2000 - Salvador BA - A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé, no MAM/BA
2000 - São Paulo SP - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - Obra Nova, no MAC/USP
2001 - Campinas SP - (quase) Efêmera Arte, no Itaú Cultural
2001 - Madri (Espanha) - El Final del Eclipse: el arte de América Latina en la transición al siglo XXI, na Fundación Telefonica
2001 - Nova York (Estados Unidos) - Brazil: body and soul, no Solomon R. Guggenheim Museum
2001 - Oxford (Inglaterra) - Experiment Experiência: art in Brazil 1958-2000, no Museum of Modern Art
2001 - Porto Alegre RS - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea, no Margs
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2001 - Rio de Janeiro RJ - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - O Espírito de Nossa Época, no MAM/RJ
2001 - São Paulo SP - Anos 70: Trajetórias, no Itaú Cultural
2001 - São Paulo SP - Arco das Rosas: marchand como curador, na Casa das Rosas
2001 - São Paulo SP - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no MAM/SP
2001 - São Paulo SP - O Espírito de Nossa Época, no MAM/SP
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - Fragmentos a Seu Ímã, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2002 - Liverpool (Reino Unido) - Pot
2002 - Madri (Espanha) - Arco/2002, no Parque Ferial Juan Carlos I
2002 - Niterói RJ - Coleção Sattamini: esculturas e objetos, no MAC/Niterói
2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC/Niterói
2002 - Porto Alegre RS - Violência e Paixão, no Santander Cultural
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arquipélagos: o universo plural do MAM, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Artefoto, no CCBB
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Canteiro de Obras do Circo Voador, no Circo Voador
2002 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Paralelos: arte brasileira da segunda metade do século XX em contexto, Collección Cisneros, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Seleção do Acervo de Arte da UCAM, no Centro Cultural Candido Mendes
2002 - São Paulo SP - 10 Anos Marília Razuk, na Marília Razuk Galeria de Arte
2002 - São Paulo SP - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Instituto Tomie Ohtake
2002 - São Paulo SP - Ópera Aberta: celebração, na Casa das Rosas
2002 - São Paulo SP - Paralela, no Galpão localizado na Avenida Matarazzo, 530
2002 - São Paulo SP - Paralelos: arte brasileira da segunda metade do século XX em contexto, Colección Cisneros, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - Pot, no Galeria Fortes Vilaça
2003 - Brasília DF - Artefoto, no CCBB
2003 - Niterói RJ - Apropriações: Curto-Circuito de Experiências Participativas, no MAC/Niterói
2003 - Rio de Janeiro RJ - Desenho Anos 70, no MAM/RJ
2003 - Rio de Janeiro RJ - Grande Orlândia: artistas abaixo da linha do equador
2003 - Rio de Janeiro RJ - Vinte e Cinco Anos: Galeria de Arte Cândido Mendes, na Galeria Candido Mendes
2003 - São Paulo SP - A Subversão dos Meios, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Escultores - Esculturas, na Pinakotheke
2003 - Vila Velha ES - O Sal da Terra, no Museu Vale do Rio Doce
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, no Mercedes Viegas Escritório de Arte
2004 - Rio de Janeiro RJ - Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções do Rio, no MAM/RJ
2004 - São Paulo SP - Fotografia e Escultura no Acervo do MAM - 1995 a 2004, no MAM/SP
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
2005 - Rio de Janeiro RJ - 10 Indicam 10, no Centro Cultural Candido Mendes
2005 - São Paulo SP - O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira, no Itaú Cultural
Fonte: TUNGA. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 30 de março de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Confira nove elementos e conceitos para entender o trabalho de Tunga | Arte que Acontece
Aproximadamente duas toneladas de imã, mais de 300 quilômetros de fios de ferro e cerca de 300 obras. Esse é só um cheiro da magnitude da retrospectiva TUNGA: Conjunções Magnéticas, que abre dia 11 de novembro no Itaú Cultural e Instituto Tomie Ohtake.
Curada por Paulo Venancio Filho, a maior e mais completa retrospectiva do artista tem o desenho como fio condutor – apesar de ser muitas vezes reconhecido pelas esculturas e performances, o artista começou a explorar o universo das artes pelo desenho e nunca mais abandonou a mídia – e apresenta desde os primeiros trabalhos até obras mais recentes como as esculturas da série From ‘La Voie Humide’.
Entre os três andares do Itaú que abrigam a exposição, vale dedicar um tempo para observar o cabinet de curiosité idealizado por Venancio Filho onde são apresentados alguns elementos para o público mergulhar no universo de Tunga: cadernos com textos e desenhos; projetos em cerâmica e metal para obras futuras; joais desenhadas pelo artista; as peças feitas em parceria com a Bordallo Pinheiro; e, suas primeiras experimentações e culturais apresentadas no MAM em 1974. Ainda com o objetivo de revelar o universo fantástico de Tunga, o público poderá ver, no Instituto Tomie Ohtake, uma maquete da instalação Gravitação Magnética. Criada para a 19ª Bienal de São Paulo em 1987, a obra que está sendo remontada pela primeira vez impressiona por sua monumentalidade – mede 10 metros e pesa 1000 kg – e pela poesia. Também é possível ver, nos dois espaços, desenhos da mesma série revelando uma verdadeira dança espiral de um corpo-cabeleira-magnético.
Um dos destaques é a cópia de exibição da obra Piscina, mostrada uma única vez em 1975 e de paradeiro desconhecido. Trata-se de uma das primeiras vezes que o artista usa a ideia do tripé – um símbolo que voltaria a protagonizar seu trabalho quase 40 anos depois. Vale notar, ainda, raridades como Desenhos Protuberantes e as belíssimas Morfológicas – em cerâmica, bronze, látex – e os Eixos Exógenos, esculturas de madeira feitas a partir do perfil de corpos femininos.
O Tomie Ohtake abrigará, ainda, a icônica Ão – uma projeção que mostra o interior do túnel dos morros Dois Irmãos, na qual a câmera se move em um caminho contínuo sem encontrar entrada ou saída. O vídeo em loop dilata a ideia de espaço-tempo ao sugerir uma curva infinita dentro de uma montanha, sem acesso ao exterior, provocando uma leve sensação de tontura potencializada pela repetição dos fragmentos da música Night and Day na voz de Frank Sinatra.
Apesar de se tratar de uma retrospectiva, a exposição não foi organizada de forma cronológica. E nem poderia: o pensamento de Tunga era como uma espiral eterna e contínua onde diversos elementos e conceitos, ligados aos seus interesses pela arte, literatura, matemática e filosofia, aparecem e reaparecem sem começo, meio ou fim, como propõe a atmosfera de Ão.
Para facilitar a sua visita, separamos alguns elementos e conceitos recorrentes na obra do artista. Vem com a gente!
1.O nascimento e a noção de verdade
Boa parte dos textos escritos por Tunga vem supostamente de experiências vividas pelo artista, criando uma linha tênue entre o que é realidade e o que é ficção. Há aqui uma ligação direta ao artista alemão Joseph Beuys que criou os próprios mitos que, de alguma forma, justificavam a escolha de materiais e elementos de sua obra.
Assim como Beuys, Tunga gostava de fazer mais perguntas do que dar respostas. Dizem, por exemplo, que Tunga nasceu em Palmares, em Pernambuco. Mas também corre o boato que foi no Rio de Janeiro. Sobre o mistério em relação a sua origem, o artista comenta: O primeiro pensamento que eu coloco é que precisamos acreditar em alguma coisa ou em alguém ou em um fato. O nascimento sempre tem uma testemunha escrita ou um relato. E eu devo acreditar nessas testemunhas, certo? E se eu tiver dois depoimentos contraditórios? Posso acreditar nos dois? Onde vou parar se seguir duas pistas diferentes?
Estou levando esta questão a um grau bastante consequente. Quando digo que nasci em dois lugares diferentes, estou levando estas questões a um grau bastante consequente. É paradoxal, mas pode ser uma situação interessante para se investigar. O que representa nascer duas vezes? Podemos efetivamente nascer e renascer. E este renascer não necessariamente vai significar um nascer novo, mas um nascer somado a outro anterior, e vamos continuamente renascendo em versões diversas. É expandir as experiências e a veracidade delas.
Henri Michaux tem uma frase muito bonita: Même si c’est vrai c’est faux [mesmo se for verdadeiro, é falso]. E o inverso também é válido: mesmo se for falso, é verdadeiro.
2. As gêmeas
Um dos trabalhos mais famosos de Tunga é chamado de Xifópagas Capilares. Trata-se de uma performance feita pela primeira vez em 1984, na qual duas irmãs gêmeas unidas pelos cabelos passeiam pelo espaço expositivo, entre os visitantes e alguns outros trabalhos do artista. De todos os trabalhos de Tunga, Xifópagas Capilares entre Nós é o mais emblemático da ideia da uma narrativa como obra – ela faz referência a diversos trabalhos do artista, incluindo Escalpe, Bordas, Pintura Sedativa, Protesis, Revê-la Antinomia e Les Bijoux de Mme de Sade, e os conecta e entrelaça em loop, tal qual Ão, esculpindo, escavando o próprio texto. A ideia do artista é questionar também a própria ideia de representação, subjetividade e unidade.
Tunga explica: “Tanto a história das xifópagas capilares, quanto a do nascimento partem de um mesmo quadro: As Gêmeas, do Guignard [ o pai de tunga, o poeta Gerardo Mello Mourão, era amigo do artista e as gêmeas da tela são a mãe e a tia de Tunga]. Quando olho essa imagem, eu me pergunto: ele pintou as duas juntas? Ou pintou uma de cada vez? Ou pintou uma e outra foi embora? Ele questiona a representação: o que cada uma representa e o que uma representa para a outra. E não sabemos qual veio primeiro. Aí aparece outro problema: o que antecede a unidade? Existe uma unidade bipartida ou ela é discreta [grandeza constituída por unidades distintas]? Há uma série de consequências que você pode deduzir de fatos que são reais ou apenas ficções deduzidas de fatos reais”.
3. Os cabelos e pentes
O formato do pente surge como um elemento organizador: ao passarem por seus dentes, os fios metálicos dos cabelos são separados. Elementos organizadores são como elementos aglutinadores, porém, mais sofisticados. A superfície polida do pente pode servir de espelho para os fios, que entram de um lado e só conseguem atravessar para o outro lado do pente ao deixar para trás a própria imagem.
Segundo diversas fontes, Tunga decidiu diferenciar as versões maiores de Pente – como são apresentadas no catálogo do Bard College -, que receberam o título de Troféu, das menores, chamadas Escalpe. Uma composição de pentes e fios de metal, esses trabalhos foram feitos em escalas variadas, sendo os menores exibidos nas paredes, e os maiores, no chão. Em alguns casos, juntaram-se tranças de chumbo e tacapes magnéticos, resultando em TaCaPe/ Escalpe e Êxtases.
4.Tranças e tripés
Sobre as tranças, o artista fala: “Uma das primeiras coisas que o homem fez foram tranças. E a trança é uma coisa tão misteriosa. É uma coisa tão simples. Transformar 3 em 1. Esta ideia de transformar 3 em 1 está presente nas cosmologias, no velho testamento, na ideia de santíssima trindade. Que é um pensamento abstrato, feito por uma pessoa de 15 milhões de anos, onde o pensamento abstrato ainda não existia. Este pensamento abstrato do tecer, de fazer 3 em 1, de transformar, criar e recriar a unidade está na presença das tranças, é uma coisa essencialmente feminina. E é equivalente a um mesmo momento onde o homem vai caçar e faz um tacape, um instrumento que é uma coisa massiva e agressiva para caçar um animal. Então esta dialética me fez produzir tranças de chumbo e tacapes de imã.”
Muitos trabalhos são compostos por tranças de chumbo. Aqui, Tunga cria um paradoxo entre uma coisa que é tão feminina (trança) com um material tão bruto e pesado e tipicamente masculino (chumbo).
Em muitos trabalhos é possível identificar o três que é, ao mesmo tempo, três e um: três eixos, três mechas, três meninas, três velas ou três bolas de sabão. As três chamas que viram uma de Sero te Amavi, a Trança e os questionamentos de Santo Agostinho, se comparam a força do torque no encontro das três colunas de ferro dos tripés da Trindade Tríade.
5. Imãs
A presença do imã na obra de Tunga pode ser lido como “conectivos invisíveis”, nas palavras do artista, que interagem biologicamente com o corpo do espectador. O imã em sua obra é capaz de esculpir o vazio, uma vez que ele cria um campo magnético, que por sua vez é invisível aos olhos e sensível à percepção corporal; imanta de alguma forma o corpo do espectador.
Como vemos no pavilhão dedicado a ele no Inhotim, há um aviso de restrição para pessoas portadoras de marca-passo, pois a utilização de grandes quantidades de imãs pode gerar um campo magnético capaz de alterar o funcionamento de alguns aparelhos eletrônicos. O mesmo deve acontecer com os visitantes da instalação Gravitação Magnética.
6.Tacape e redes
Tacape, uma palavra com origem tupi takapé, é uma arma construída com um pedaço de madeira, sendo uma de suas extremidades mais grossas, usada entre os indígenas para combates próximos ou rituais. Nos trabalhos com tacape de imã Tunga cria outro paradoxo, pois o que deveria ser algo bruto (tacape) é, na verdade, frágil por feito por fragmentos de imã – se for usado irá se desfaleçer!
“A forma do tacape, nascida da linha, pode ocultar outra linha como uma trança ou uma bengala. O conjunto repousa pesadamente na hipótese de um possível reagrupamento”, descreve o texto da obra no site do artista.
Outra referência indígena que aparece com frequência no trabalho de Tunga é a rede. Aqui, no entanto, o artista usa a estrutura feita para abrigar objetos cotidianos para armazenar caveiras ou recipientes de laboratório cheios de líquidos que remetem à transformação e à alquimia.
7. Transmutação e metamorfose
A ideia de transformação encontra o transitório, o desvio, o mutável, o lugar em que diferentes estados da matéria orgânica não estão definidos, encontram-se passíveis de transformação.
Este conceito era bastante caro à Tunga. O artista explica: “No ato de “fazer arte” o processo de transformação é contínuo. Não existe finitude – isso é um idealismo da arte. A palavra “vernissage” é “envernizamento”. Mas se o artista acha que vai passar um verniz no quadro e vai cristalizar aquela imagem, está enganado. Os processos persistem: a luz continua oxidando as cores da tela, por exemplo. Por isso, desde o começo eu me interessei em ver a arte como um processo de transformação contínua e que a grande transformação da matéria passava por mutações paulatinas. Nessas pequenas alterações podemos encontrar a metáfora de uma transformação maior que é contínua e peremptória dos elementos da obra.
Ou seja: é importante saber que as coisas não estão paradas. Não podemos ficar estocados em uma experiência. Elas são dinâmicas – assim como o pensar – e podem se transformar em outras experiências muitas vezes mais sutis e delicadas, mas não menos importantes do que experiências grandes.O período das grandes transformações já aconteceu no século 20 e cabe agora ao artista observar as pequenas mudanças deste tempo. É necessário encontrar macromudanças nas micromudanças. Detectar transformações graves a partir de pequenos fatos”.
Sobre este assunto, a pesquisadora Vanessa Séves Deister de Sousa reflete: “A alquimia é a fonte na qual Tunga busca não só os títulos para alguns trabalhos como também inspiração para uma escolha mais precisa de materiais que trariam seu respectivo simbolismo para o interior da obra artística. São exemplos desse tipo de operação poética os frascos de laboratório utilizados em Cooking Cristals expanded (2009), assim como a presença recorrente de materiais como cobre, chumbo, prata, ouro e enxofre que ressoam alquimia tanto no modo como são empregados, como na forma que assumem nas composições dos trabalhos”.
8. A natureza e os animais
Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão foi apelidado, ainda criança de Tunga – uma referência ao Tunga penetrans, nome científico de “bicho-de-pé”. Sobre o assunto, Martha Martins afirma:“Por algum acaso familiar perdido na memória, um dia, o menino Antônio José começou a ser chamado de Tunga. Mas, não por acaso, parece ter incorporado ao longo de sua carreira algumas das inquietantes peculiaridades de seu minúsculo homônimo […] O fluxo de energia que domina suas obras, que por vezes evocam a potência biológica da natureza tropical, implica o próprio nome. Um nome em que a sonoridade já evoca por si mesma algo primitivo e confirma a existência de um pacto entre o significado do nome como atribuidor de caráter, e uma analogia em relação às ações e às marcas que se deixam neste mundo”
Tunga usa, em muitos trabalhos, animais vivos e elementos relacionados a estes. A cobra é um animal recorrente em obras de diversos tempos e geografias justamente pelo seu poder de transformação e renascimento quando troca de pele. Em A vanguarda viperina, três serpentes são sedadas com éter e trançadas juntas. A performance consiste em acompanhar o destrançar das serpentes à medida que o sedativo perde o efeito. Coincidentemente o éter que se relaciona ao aether do mesmo vazio que associamos ao espaço que a escultura clássica irá ocupar. A serpente inala o vazio, adormece e acorda trançada.
Laminadas Almas é uma investigação sobre a metamorfose e o movimento incessante das moscas e dos sapos em um ambiente laboratorial. É composta por dois portais, uma mesa,, uma forte lâmpada incandescente e um aquário repleto de girinos.Sobre o tampo da mesa algo parecido com terra está espalhado ocultando milhares de larvas de mosca que se movem escondendo-se da luz. Lâminas de laboratório se espalham entre as larvas.Dois grandes alfinetes cravados na parede, se alongam até os portais, apoiando-se neles. Sua longa superfície de alumínio polido serve de varal para dois viveiros, um de moscas e o outro de rãs.
Em conversa com a francesa Catherine Lampert, Tunga afirma: “O que eu quero dizer é que a natureza deixa de existir assim que alguém a observa, a testemunha, ou a formula. Mas ela pode ser coletada e reorganizada como uma força diferente. A presença da natureza na cultura é paradoxalmente similar a um modelo no qual a vegetação cresce e rompe a ilusão europeia de permanência de uma obra feita, por exemplo, de mármore. (…) Ela me ajudou a perceber a existência de uma dinâmica que poderia permitir uma nova inscrição a ser aplicada à arte. É a ideia de se procurar desvendar a maneira que aprendemos das coisas que são estáticas e no entanto, ao mesmo tempo, representam transição. Existe, além disso, uma coincidência incrível com a arte moderna, que também nos ajudou a entender que a estabilidade das formas, cores e estruturas apresentadas por artistas é, na maior parte das vezes, sujeita ao espectador, e a seu olhar e seus humores, vítreo ou espiritual; sujeita à pessoa no extremo receptor da obra”.
9.O corpo e o nu
Desde a Vênus de Willendorf, criada para representar a fertilidade, até performances atuais como a do Chico Fernandes que rendeu uma multa ao artista – o nu é um tema discutido desde o nascimento das artes visuais. Para Tunga, despir-se era um ato necessário para encontrar nossa essência.
O artista explica: “As pessoas se vestem para se fazerem presentes. E, a rigor, você precisa despi-las para mostrar o que elas realmente são. Mas, mesmo nuas, elas podem estar vestidas. Há aqui a metáfora do nu como forma de representação dele mesmo. É preciso despir o nu. Trazer o nu – uma imagem clássica – à sua intimidade para que ele apareça naquilo que ele é e não naquilo que ele representa. Nós somos cobertos de cascas e representações que construímos de nós mesmos. E normalmente tentamos nos fazer representar por coisas que não são a nossa essência. Por isso, é importante buscar o strip-tease das coisas para ir além daquilo que está representado. E confrontar o nu de nós mesmos com o nu do mundo”.
É sobre criar continuidade entre o mundo que a gente constrói e o mundo que a gente vive enquanto está construindo o que constrói. Em entrevista dada a Fabio Cypriano, Tunga fala sobre a questão do corpo em seus trabalhos: “Na arte contemporânea, interessam as experiências com o corpo em sua totalidade, não é apenas o olhar, mas o tato, o olfato, a presença, tudo aquilo que vai servir de constitutivo do sujeito. A linguagem corpórea é um dos momentos da formação dos sentidos do sujeito. Mesmo que ela não esteja codificada como a visual-verbal, ela pode ser tão bem elaborada quanto […] E a performance é como colocar a obra à disposição da experiência”.
Fonte: Arte Que Acontece. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Morre o artista plástico Tunga, aos 64 anos | O Globo
Um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira, Tunga morreu às 16h desta segunda-feira de câncer, aos 64 anos. Ele estava internado no hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, desde 12 de maio. Pernambucano radicado no Rio desde a juventude, ele tem uma obra que recusa categorias da história da arte brasileira. O corpo vai ser velado nesta terça-feira e enterrado na quarta, no cemitério São João Batista, a pedido do próprio artista, que queria ficar no jazigo da família.
Tunga foi o primeiro artista contemporâneo do mundo a ter uma obra no Louvre, em Paris. Apesar de ter despontado nos anos 1970, junto a artistas que também criaram esculturas e instalações marcadas pela reflexão, como Cildo Meireles e Waltercio Caldas, Tunga construiu um vocabulário e uma gramática particulares. Sua obra é barroca, carregada de simbolismos e potência física, interessada em criar novas relações entre imagens recorrentes em 40 anos de trajetória: ossos, crânios, tranças, dedais, agulhas e bengalas gigantes, redes, dentes, recipientes de vidro, líquidos viscosos.
A escultura “Lezart”, criada em 1989, é exemplar do repertório formal do artista. Fios e tranças de cobre atravessam pentes monumentais de ferro, e a eles são unidos por ímãs – por meio deles, as partes de sua escultura podem ser sempre recombinadas, criando novos sentidos. “Fazer arte é juntar coisas”, repetia, ressaltando que dessa junção de elementos aparentemente sem conexão algo novo se revelaria, como na poesia.
“Nasci em Palmares, Pernambuco, ao mesmo tempo em que nasci no Rio de Janeiro, no mesmo dia e hora”, escreveu Tunga, batizado como Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, filho do jornalista e poeta Gerardo Mello Mourão e de Léa de Barros (ela é uma das “Gêmeas” da célebre tela de Guignard). O artista costumava contar que nasceu em Palmares, tendo se mudado paro o Rio ainda criança, mas chegou a dizer que essa era mais uma de suas histórias inventadas.
De todo modo, foi no Rio de Janeiro onde Tunga construiu seu pensamento visual, desde sua primeira exposição individual no Museu de Arte Moderna, em 1974, aos 22 anos. Com 50 desenhos, “Museu da masturbação infantil” anunciava o erotismo que seria presente em sua obra, em que sempre predominou uma presença corpórea. Não à toa, ele costumava inaugurar seus trabalhos com performances, que chamava de instaurações.
PARCERIA CONSTANTE COM ARNALDO ANTUNES
Em 1998, atores carregaram uma trança para “instaurar” a obra “Tereza” no Museu de Belas Artes do Rio, ao som de Arnaldo Antunes, que se tornaria parceiro constante do artista; e novamente quando o trabalho chegou a Inhotim, o maior centro de arte contemporânea do país, em Brumadinho, Minas Gerais, de cuja criação Tunga foi um dos inspiradores. Em 2012, o artista inaugurou ali um espaço de 2.600 metros quadrados para algumas suas esculturas, a Galeria Psicoativa.
Na galeria também está “Lezart”, “instaurada” com “Xifópagas capilares”, performance de 1984 criada a partir de uma lenda inventada por Tunga: duas meninas unidas pelo cabelo que são decapitadas porque não querem se separar. Outro pavilhão do instituto, existente desde 2006, é dedicado a “True Rouge” (1997), e foi aberto com uma ação de mulheres e homens nus, que espalharam um líquido viscoso vermelho no chão e nas redes de mesma cor, fazendo-o transbordar de garrafas transparentes.
Em “Resgate”, que inaugurou o Centro Cultural Banco do Brasil, em 2001, a coreógrafa Lia Rodrigues dirigiu mais de 100 pessoas, que pintaram de vermelho uma instalação monumental, em performance de oito horas.
Além das parcerias constantes com Lia Rodrigues e Arnaldo Antunes, Tunga fez o vídeo “Nervo de prata” (1987) com Arthur Omar, e uma trilogia audiovisual com o cineasta Eryk Rocha: “Medula” (2004), a abotoadura do vestido feita com os dentes de um casal; “Quimera” (2004), exibido nos festivais de Cannes e Sundance, chamado de sonhometragem pela dupla; e “Laminadas almas” (2006), filmado na performance de mesmo ano no Jardim Botânico do Rio com 600 rãs, 40 mil moscas, girinos, larvas, estudantes de jaleco, luvas e asas gigantes.
A exploração do audiovisual começou em 1980, com “Ão”, 16mm em looping que mostra a curva de um túnel, como se ele não tivesse entrada nem fim, exibido no ano seguinte na Bienal de São Paulo, da qual participou ainda em 1987 e 1994. Tunga expôs também na Bienal de Veneza, na documenta de Kassel e foi o primeiro artista contemporâneo do mundo a ter uma obra no Louvre, em Paris.
Nas duas principais publicações sobre sua obra, ambas da hoje extinta editora CosacNaify, Tunga se manteve fiel a esse princípio, escolhendo textos que não teorizassem sobre seu trabalho, mas acrescentassem sentidos poéticos a ele. Como “Isso”, de Arnaldo Antunes, publicado originalmente no “Jornal da Tarde”, em 1994: a queda dos dentes,/ o desmame/ (o desmesmo),/ a amnésia cotidiana,/ o oco da caixa craniana,/ o ovo do sino/ (o badalo),/ a sombra do símbolo,/ a lembrança da silhueta do semblante,/ o silêncio dos pêndulos,/ o silêncio de todas as coisas que dependem de tempo” – diz um trecho do poema.
Fonte: O Globo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Última obra de Tunga, um anatomista surreal, é um choque entre vida e morte | Folha de São Paulo
O corpo é ao mesmo tempo raiz e flores, um tronco estendido entre o nada abissal e as pétalas que lutam pela luz solar. Tunga é o arquiteto dessa tragédia cheia de vida, o retrato crepuscular dos breves instantes em que nossos corações batem, entre o nascimento e a morte.
É a vida, no impulso do sexo, que importa em todo caso. Um quarto de século desde a sua última mostra na Argentina, a derradeira megainstalação do artista brasileiro, "Eu, Você e a Lua", agora toma um banho de sol no átrio do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, iluminada pela luz do dia filtrada pelas claraboias no teto da galeria e entrevista pela janela aberta na lateral do prédio, fresta que não raro atrai os passantes na calçada para um espetáculo de vidro, cerâmica, metal, gesso e resina.
Difícil não prestar atenção nessa arquitetura de equilíbrios e balanços delicados. No centro de tudo, está o tronco de uma árvore fossilizada, madeira que se transformou quase em vidro esbranquiçado, um elo entre vida e morte, plano terreno e celeste, transformado por forças que não controlamos, a madeira antiga feita exótica escultura.
Nas laterais, como que fecundando óvulos trincados, dois dedos gigantescos fazem pressão, gozam em espasmos e se desfazem em tempestade sobre garrafas e bacias, entre espelhos e frascos sobre um traçado de linhas no chão da galeria, uma frágil arquitetura do desejo que alegoriza nossa também frágil existência, o corpo que endeusamos como a carne mais fraca do mercado.
Tunga, morto há nove anos, foi antes de artista uma espécie de anatomista surrealista e punk, obcecado por tudo o que atravessa o corpo humano, pela virilha, pelos peitos, pênis, vagina, ânus, um artista de olho no chão, no mais básico da natureza humana como animais que se excitam, deitam e rolam, bichos, por mais elegantes e sofisticados, que não deixam de ser rasteiros, excitáveis e fáceis.
Se no traçado solto e surrealista de seus desenhos, composições muitas vezes espelhadas, que ele fazia com as duas mãos, isso fica só nas trêmulas entrelinhas, Tunga já mostrou o sexo e o fetiche, em toda a sua exuberância grosteca, em "Cooking", um filme explícito, em que um casal se entrega a prazeres com cristais, fezes e urina, com pedras penetrando orifícios e outras coisas mais. Também já mergulhou bailarinos em líquido vermelho sangue e dirigiu mulheres nuas a maquiar peças de argila em performances que refletem a estranha elasticidade da carne.
Na mostra agora em Buenos Aires, os corpos de carne e osso estão ausentes, ao menos nesse grau de presença. Isso talvez porque na instalação, construída já no fim da vida, Tunga orquestrava nas formas exasperadas a sensação de fugacidade, a consciência de um corpo que agora está aqui, mas sempre em vias de desaparecer, o corpo em colapso porque é feito de carne, água e sal, mas eterno porque se torna cristal, o grande fóssil que rege esse jogo de pesos e contrapesos, ele mesmo oco, como um túnel entre duas dimensões paralelas.
O que sobra, nessa visão de Tunga, é a encenação calculada de uma arqueologia, os rastros que deixamos para trás, nossa transmutação em coisa outra no nascimento, no sexo, na morte, como um processo de pura alquimia —pele, sangue, pelos, ossos e músculos que se tornam minerais, raízes, fósseis, cristais. Seria o que ele entende por memória visual e molecular prévia à existência, um flagra da natureza antes de ela ser conspurcada por uma humanidade menos resistente ao tempo, distante da sólida beleza das pedras.
Num documentário, também exibido no museu, Tunga fala do que seria uma gota d’água cristalizada numa pedra em forma de garrafa como uma testemunha de um tempo antes mesmo dos dinossauros, o elemento-testemunha da vida na Terra antes de nós, antes de tudo, as árvores como ponte entre terra e céu. Ele sabe que isso é um exercício de pura extrapolação, a ideia que o artista imagina as coisas, constrói imagens que ele faz aparecer, sonhos e pesadelos que saltam do delírio para a concretude do material.
É um vocabulário que, no caso dele, por mais selvagem e visceral que possa se manifestar na superfície, respeita uma hierarquia simbólica rígida. Tunga repetiu muitas formas e objetos —tranças, cálices, garrafas, sinos e tacapes— nos mesmos materiais —cobre, couro, cristal, bronze, feltro ou ferro fundido. Era um surrealista apegado à figuração, a formas reconhecíveis, mas que se deixam atravessar pelo imprevisível, a carne nervosa como as mãos que desobedecem ao comando do cérebro. No fundo, mais paixão e menos ordem.
Delicados, os desenhos que circundam a instalação são suas âncoras visuais, formas na folha de papel que se desdobram nos contornos físicos das esculturas. Nos próprios desenhos, há um espelhamento, um jogo de duplos. Um deles sugere figuras gêmeas unidas pelos seios, de um lado, uma perna, do outro, uma asa. Outro mostra dois olhos unidos por um emaranhado de linhas que no centro formam tanto uma vulva quanto um saco escrotal, uma sexualidade primordial, masculina e feminina, trans, o todo da espécie humana de onde fluem várias linhas que se cruzam.
Esses pares, seres que dão à luz seus próprios pares idênticos, são um motivo que atravessa toda a obra do artista desde as meninas gêmeas que fez desfilar pela galeria unidas pelos longos cabelos, seus ímãs unidos por forças maiores do que humanas, ou as gigantescas tranças de cobre em que os cabelos, tornados metal, parecem serpentear num sentido de ordem, mas uns sobre os outros, sempre em multiplicação.
Tunga foi um agente máximo da vontade, um artista movido por uma força vital tão avassaladora que, em consciência da própria finitude, lidava com a banalidade da vida, um acidente, afinal, tão bem quanto com o espelho da morte, o nosso destino final. Sem medo, irrefreável, construiu no seu laboratório de estranhezas uma grande celebração do mais insondável mistério que é estarmos aqui e agora.
O inevitável flerte entre a vida e a morte, do sangue à seiva escorrida em troncos que já são fósseis, está no centro de tudo o que fez, ele como testemunha da mais dolorosa beleza, o barroco explícito e duro como os ossos das caveiras. Tunga dizia, não espanta, que "as cavernas mais profundas da mente brilham com esplendor".
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Tunga questiona toda ordem da arte | Folha de São Paulo
Uma das declarações mais frequentes nas entrevistas de Catherine David, curadora da mostra Documenta de Kassel, defende a dissolução do espaço museológico.
A idéia ressoa com alguma reminiscência do discurso que acompanhou as experiências artísticas realizadas nos anos 60-70. Mas seu objetivo tem um tom crítico: o que distingue a produção atual e como o presente permite uma releitura de paradigmas históricos?
Não deixa de ser sintomático que, na mostra de artes de maior prestígio, a participação de um escultor da importância de Tunga consista nos vestígios de um acontecimento efêmero.
Levar para Kassel obras que contam com a gestualidade de alguns atores, privilegiando a linguagem da performance, contrapõe-se ao peso e gigantismo das esculturas que o artista havia exposto nas Bienais de São Paulo: imensa cabeleira de metal (1987) e conjunto de sinos monumentais (1994).
Para definir esse novo gênero, Tunga introduziu o termo "instauração", conceito flutuante que reúne elementos da performance e da instalação.
Captar a fagulha de vida em seu deslizar no espaço remete às danças-performances de Robert Morris, sobretudo à percepção corpórea da obra.
Num plano de equivalência, Tunga propõe três peças, cada uma delas ocorrendo em tempos simultâneos: o espectro de uma ação (obra em movimento) e as marcas desta passagem sobre a matéria (obra estática). O título "Inside Out - Upside Down" indica que todos os aspectos foram virados pelo avesso: a perda voluntária das insuspeitas categorias estéticas.
O campo da instauração mantém uma afinidade com o campo da experiência real de Hélio Oiticica (1937-1980) e Lygia Clark (1920-1988).
Presentes ambos no núcleo histórico desta Documenta, sublinhavam a descoberta de uma experiência primeira e espontânea, o diálogo sujeito-objeto: "Somos os propositores: somos o molde; a vocês cabe o sopro no interior desse molde: o sentido de nossa existência. Sós, não existimos; estamos a vosso dispor. Somos os propositores: enterramos a 'obra de arte' como tal e solicitamos a vocês para que o pensamento viva pela ação" (Lygia Clark, 1968).
É possível identificar uma linha decorrente em toda a trajetória de Tunga. As situações, dirigidas pelo artista sem sua presença direta, mesclam aspectos ritualísticos, num transe hipnótico.
Construir uma narrativa circular sempre integrou seu vocabulário. Em 1981, apresentou, na 16ª Bienal de São Paulo, uma instalação audiovisual projetando uma visão infinita de um trajeto dentro de um túnel ao contínuo som da música "Night and Day", de Frank Sinatra. Como em Beckett, o espaço discursivo não conhece repouso, o sujeito precisa habitar o tempo, nascer de novo, animal, mineral ou vegetal.
Sua gana da matéria impõe uma reflexão acerca da heterogeneidade dos impulsos do erotismo. Desde 1973, com a exibição de uma série de desenhos intitulados "Museu da Masturbação Infantil", Tunga vem refutando o discurso do patológico (ciência) e da transgressão (religião).
Procura simplesmente dar conta de um mecanismo interior que obedece a lei da natureza. Em exposição recente, bronzes maquiados com batom acentuavam o caráter hermafrodita de formas cônicas (cálice, garrafa, sino e funil).
A excitação erótica chega a seu auge no crime (Sade), como atesta a obra "Experiência de Física Sutil", onde sete jovens carregam malas, deixando cair partes do corpo do artista moldadas em gesso.
Já a peça "Tarde Vos Amei", inspirada numa confissão de Santo Agostinho, trazia toda a mística do erotismo sagrado: um tripé de velas acesas de 1,80 m cujo fogo, no sétimo dia, atingia três termômetros. A instauração incide precisamente no momento em que ocorre a explosão e o mercúrio se espalha no ambiente. A aproximação com o real dá-se na imersão escatológica.
Outro ato instaurado: em "Querido Amigo", sete mulheres nuas de cócoras imprimem suas genitálias sobre uma argila úmida. Com uma sensualidade quase aberrante, Tunga deixa aflorar um desejo interior na matéria: argila e vulvas desejando-se mutuamente, invocando Oiticica: "a obra nasce de apenas um toque na matéria".
Em "Xifópagas Capilares", unidades gemelares rodeavam a questão da dissimetria, do sacrifício e da inquietante imagem do outro. Para interromper a descontinuidade do ser e das coisas, o único ato que resta é comer o outro (imagem de duas lagartixas devorando-se até abolir os limites do um e do outro, na confusão da totalidade unívoca).
Vários domínios do conhecimento são tragados para dentro da matéria, imantando-se aos montes, como nos campos magnéticos das esculturas de Tunga: alquimia, arqueologia, mitologia, teologia, matemática, física, antropologia. Mas cada um denota uma insuficiência diante dos enigmas do mundo. Algo informe resulta desse amálgama de informações, que poderia ser chamado de "escultura de ação" ou "pintura viva", os termos não importam.
Diante da crise da racionalidade, o erotismo permanece como valor, força capaz de desequilibrar os fundamentos do simulacro.
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Antônio José de Barros de Carvalho e Mello Mourão | Folha de São Paulo
Um dos nomes mais celebrados e relevantes das artes visuais do país, Tunga morreu nesta segunda, aos 64. Ele sofria de câncer e estava internado no hospital Samaritano, no Rio, havia três semanas. Seu corpo será enterrado no cemitério São João Batista.
Em quase meio século de carreira, Tunga construiu uma obra plástica incontornável na arte contemporânea, mesclando referências sutis à herança construtiva que dominou as vanguardas nacionais a um universo simbólico único.
Seu mundo de tranças de aço e cobre atravessando pentes, ímãs ultrapotentes, caveiras, esqueletos, sereias, pérolas e sementes foi ao longo dos anos chamado de surrealista, delírios orquestrados como parte de uma mesma sinfonia.
Nascido em Pernambuco e radicado no Rio desde os anos 1970, Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão era filho de um poeta — Gerardo Mello Mourão. jornalista morto aos 90, em 2007, que foi correspondente da Folha em Pequim no início dos anos 1980.
Desde seus primeiros desenhos, Tunga dizia que suas obras partiam de reflexões a meio caminho entre versos e teorias filosóficas e científicas, “nunca demonstráveis nem refutáveis”, ele frisava.
No campo da escultura, maior parte de sua obra que surgiu sempre aliada à performance, usava materiais como cobre, aço e ímãs em construções que lembram o corpo humano, tecidos, pele, cartilagens e esqueletos, revestindo de dimensão carnal tudo que parece surgir como algo de natureza robusta, industrial.
É nesse sentido, falando em “construção rigorosa do imaginário”, que Tunga juntou duas pontas irreconciliáveis do espectro da arte contemporânea —o minimalismo obcecado pela força bruta da matéria, de Richard Serra a José Resende, e a sensualidade sanguínea de obras sobre o desejo, lembrando a dor dos corpos incomuns de Louise Bourgeois.
Esse erotismo, enquanto forma de manifestação do instinto e do desejo, parece guiar grande parte de suas pesquisas estéticas. Em um filme pornográfico que realizou, cristais e pedras surgem como transmutação de fluidos corporais, saliva, urina e fezes —o artista apontava ali uma espécie de alquimia latente na própria existência, de corpos em transformação.
Dândi Tropical
Sempre vestindo ternos de cores extravagantes, Tunga era um dândi tropical, lembrando às vezes Flávio de Carvalho, um artista de rigor absoluto em sua obra plástica que sabia ao mesmo tempo desafiar a atmosfera espessa que pesa sobre o mundo da arte.
Numa de suas primeiras séries de desenhos, “Museu da Masturbação Infantil”, dos anos 1970, Tunga já indicava esse caminho dúbio.
É uma dualidade que também transparece em “Ão”, filme que rodou em preto e branco num túnel, nos anos 1980, contrastando luz e escuridão.
Suas tranças de chumbo com laços coloridos criadas na mesma década parecem ter sido o primeiro passo de um arco narrativo que atingiu seu auge nas obras mais recentes, em que peças de argila moldadas à mão se equilibram sobre hastes metálicas.
Tunga morreu num momento de transformação em sua obra. Desde o começo da década de 1980, quando representou o Brasil na Bienal de Veneza, e depois de quatro passagens pela Bienal de São Paulo e mostras no MoMA, em Nova York, na Whitechapel, em Londres, no Jeu de Paume, em Paris, entre outras instituições de peso, ele se firmou como o menos solar e mais soturno dos artistas do país.
O esqueleto que pendurou numa espécie de rede debaixo da pirâmide do Louvre, em Paris, coroava essa descida ao inferno. Seu boneco tétrico se equilibrava tendo como contrapeso outras bolsas cheias de caveiras, uma versão fossilizada de obras que fez ao longo da vida em que frágeis objetos surgem suspensos por redes esgarçadas.
“True Rouge”, de 1997, uma de suas obras mais famosas agora no Instituto Inhotim, é uma dessas peças içadas, com frascos e ampolas de vidro cheias de um líquido vermelho, como se fosse sangue.
Nos últimos anos, depois de cicatrizadas as feridas e tendo sobrado só os ossos, talvez um indício do que ele chamava de um “reencontro com o arcaico”, Tunga foi abrindo mais o traço de seus desenhos e ampliando sua paleta de cores para incluir também tons mais solares, talvez, como dizia, lembrando sua vida à beira do mar.
Sua morte coincide com um momento em que ele afirmava ver “mais mistério na luz do que no escuro, na morte”.
Tunga construiu sua poesia calcado em universos distintos
Ali por meados dos anos 1980, Tunga apareceu na ampla sala do apartamento de seu pai, em Copacabana. Seus cabelos, lisos e compridos, mais ou menos divididos no meio da cabeça, caíam nos ombros e lhe davam um ar de cherokee digital. Magro, olhos escuros estalados no meio da noite, vestia algo assemelhado a uma bata, de gola careca; falava rápido e num tom baixo: "Então, você é o amigo de que meu pai tanto fala", disse, e me abraçou. Nunca mais deixamos de ser amigos.
Seu pai era o lendário poeta Gerardo Mello Mourão. Naquela época, voltava da China, onde fora correspondente da Folha. Os despachos de Gerardo brilhavam ao lado de textos de Paulo Francis, de Nova York; Claudio Abramo, de Paris e Londres; e Osvaldo Peralva, de Tóquio. Sacou a briga de estrelas? Gerardo logo me adotou e me transformou em seu cicerone na Pauliceia. Minha tarefa era descobrir novos restaurantes japoneses pela cidade, e contar causos.
Casado com Léa, filha do poderoso senador Antônio de Barros Carvalho, Gerardo, nascido no sertão cearense, fora deputado federal, fundador de vários jornais e se transformara por conta de sua obra e militância política em cidadão do mundo. Estabelecera uma imensa rede de amigos poetas e políticos ao redor do planeta. Cultivava também bons adversários. Aquilo tudo me fascinava: tinha segredos de polichinelo de personagens distintos como Michel Deguy, Pablo Neruda e Leonel Brizola.
Por vários anos, o senador Antônio Barros dera abrigo (casa, comida e roupa lavada) ao amigo Alberto da Veiga Guignard. Em agradecimento, o doce artista mineiro tratou de pintar o casarão da família, na rua România, no bairro carioca de Laranjeiras. Tetos, portas e algumas paredes foram cobertas por suas cores amenas e cenas cotidianas. Também registrou as filhas do senador numa tela clássica, as gêmeas Maura e Lea, mãe de Tunga, que vai citar o caso na sua série, hilária, "Xipófogas Capilares", da década de 1980.
Então, embaixo do prosaico apelido de Tunga escondia-se o nome heráldico de Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão. Um disfarce. Tanta política, arte brasileira e funda tradição nordestina, vinda da colônia, mais certa distinção próxima ao rapapé, soavam a ele peso desproporcional diante de seu projeto em construir uma obra desterritorializada, não imbricada com regionalismos ou cepas nacionalistas. De Gerardo herdou um fino humor, sofisticado, ao qual acrescentou um gosto pelo chiste e a construção permanente de irrealidades.
Isso no Brasil? Um país jovem mas talhado pela desigualdade social na falsa sisudez da república de doutores? É demais para essa terra um artista que se recusa a tecer um trabalho que não tenha por base a realidade imediata e azeda. Como ousa?
No DNA estético-ideológico pátrio se encontra o desenho da arte como registro, reprodução e, muitas vezes, acentos regionais. Se fosse assento seria mais útil. Assim o que possui caráter internacionalista, no Brasil, é posto sob suspeição. É pau, é pedra, é o fim do caminho.
Talvez venha daí a maior repercussão da obra de Tunga em terras estrangeiras: nos últimos anos foram várias as mostras dele em cidades europeias e americanas. Ele sempre fez um trabalho pertencente ao mundo, a partir de referências colhidas na especificidade dos materiais, por vezes em suas próprias excentricidades (cabelo, ossos, barro etc.), no lúdico, e solidamente amparado numa visão filosófica da arte. Porque sempre teve uma sede exuberante pela vida.
Aí que está. Nestes últimos tempos, trocando ideias para o nosso documentário, percebi como Tunga construía sua poesia calcado em universos distintos, quase intangíveis, e num diálogo com a natureza primeva. Numa imagem, o osso que sobe em "2001" de Kubrick e sob Wagner se transforma numa espaçonave. De primatas a astronautas, glosando Mlodinow.
Na construção do roteiro do nosso filme, senti como Tunga sacava conceitos oriundos da física, da química, de fenômenos geofísicos, da linguística e da filosofia para alicerçar seu pensamento. A todo esse coquetel adicione-se ainda sua picardia e sobretudo sua elegância ao desprezar os temas pedestres do cotidiano. É só olhar em volta e cotejar como ele fará falta.
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
Crédito fotográfico: Editora Cobogó. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (8 de fevereiro de 1952, Palmares, PE, Brasil — 6 de junho de 2016, Rio de Janeiro, RJ, Brasil), mais conhecido como Tunga, foi um escultor, desenhista e artista performático brasileiro. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, Tunga construiu uma carreira marcada pela experimentação e pelo diálogo com diversas áreas do conhecimento, como literatura, alquimia, psicanálise, mitologia e filosofia. Sua produção artística abrangeu escultura, desenho, instalação, performance e vídeo, sempre pautada por uma estética provocativa, simbólica e sensorial. Utilizava materiais inusitados, como cabelos, ímãs, borracha, cobre e vidro, criando obras que desafiam as convenções e exploravam a dualidade entre corpo e mente, razão e instinto. Participou de importantes bienais e exposições internacionais, tendo sido o primeiro artista contemporâneo a expor sob a pirâmide do Museu do Louvre, em Paris, em 2005. Sua obra está presente em acervos de instituições como o MoMA, em Nova York, a Tate Modern, em Londres, e o Centre Pompidou, em Paris. No Brasil, tem um pavilhão inteiramente dedicado à sua obra no Instituto Inhotim, em Minas Gerais.
Tunga | Wikipédia
Escultor, desenhista e artista performático, Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, conhecido como Tunga, ( 8 de fevereiro de 1952 – Rio de Janeiro, 6 de junho de 2016), é considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional.
Sua erudição e formação filosófica se refletiu em uma produção artística que envolve o cruzamento de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, apresentando interfaces com a literatura, filosofia, psicanálise, teatro, ciências exatas e biológicas. Trata-se de uma obra potente, profunda e autorreferente que nega o tempo linear e se apoia fortemente na materialidade, topologia, simbologias e processos de transformação e metamorfoses.
Foi o primeiro artista contemporâneo e o primeiro brasileiro a expor no icônico Museu do Louvre em Paris , e já teve sua obra exposta na 40ª Bienal de Veneza, na Itália; na X Bienal de Havana, em Cuba; na X Documenta de Kassel, na Alemanha; e, na V Bienal de Lyon, na França.
Participou, ainda, de mostras na Whitechapel Gallery, na Inglaterra; no Museum of Contemporary Art of Chicago e no Museum of Modern Art PS1, ambos nos EUA; no Jeu de Paume e no Centre de la Vieille Charité, ambos na França; no Moderna Museet, na Suécia; no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, na Espanha; e, no Garage Center of Contemporary Culture, na Rússia.
Tunga tem, atualmente, obras em acervos permanentes de museus como o Guggenheim, em Veneza; o Museum of Modern Art, em Nova York; a Tate Modern, em Londres; o Museu d´Art Contemporani de Barcelona, em Barcelona; o Museum of Fine Arts Houston, em Houston; e, Centre Pompidou, em Paris, além de galerias dedicadas à sua obra no Instituto Inhotim.
Faleceu, no Rio de Janeiro, em 6 de junho de 2016. Desde então, o Instituto Tunga atua preservando, conservando, catalogando e divulgando sua extensa obra e memória. Em parceria com as galerias e museus do Brasil e mundo, o Instituto Tunga já realizou 6 grandes exposições e colaborou ativamente para 4 publicações.
Atualmente, a equipe do Instituto Tunga trabalha na elaboração do Catálogo Raisonné que irá mapear todas as obras bidimensionais do artista em uma única publicação bilingue, em português e inglês, online e gratuita.
Biografia
Nascido em Palmares, Pernambuco, filho do escritor Gerardo Mello Mourão e da ativista social Léa de Barros Carvalho e Mello Mourão, Tunga morou e trabalhou no Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Santa Úrsula.
Inicia sua carreira nos primeiros anos da década de 1960, produzindo desenhos e pequenas esculturas. Traça imagens figurativas com temas ousados, como nas séries O Perverso, Pensamentos, Máquinas, Charles Fourier (1772/1887) e Paisagens do Desejo.
Editou, ao lado de Celso F. Ramos Filho, Eduardo Prisco Paraiso Ramos, Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, Marcelo Villela de Andrade, Paulo Ramos Filho, a Revista Nove (1969-1971), uma publicação de poesia moderna. E colaborou com a revista Malasartes (1976), ao lado de Paulo Sérgio Duarte, Waltercio Caldas, Ronaldo Brito, Cildo Meireles, Paulo Venancio Filho, José Resende e Rodrigo Naves; e com o jornal A Parte do Fogo (1980), também com Cildo Meireles, José Resende e Waltercio Caldas, entre outros.
Em 1975, Tunga apresentou pela primeira vez objetos tridimensionais, apresentados na exposição individual intitulada Tunga - Ar do Corpo, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Na década de 1980, passou a criar instalações, nas quais utilizou grande variedade de materiais para explorar a ideia de conjunção, magnetismo, transmissão e isolamento de energia e forças invisíveis - é o caso dos imãs, das lâmpadas, dos fios elétricos, do cobre, e de materiais isolantes como o feltro e a borracha -, sempre justapondo-os com rigor formal.
Buscava extrair sentidos simbólicos de obras que passaram, aos poucos, a apresentar um caráter autorreferente. Neste período criou obras icônicas como Trança [1983]; ÃO [1981]; Xifópagas Capilares entre Nós [1984], Vanguarda Viperina [1985]; Eixos Exógenos [1986-2000]; e, Semeando Sereias [1987-1998].
Nesta mesma época, Tunga deu início aos trabalhos com formas e signos que marcariam sua carreira como as tranças; o tacape; o escalpe; o pente; o cálice; os sinos, seda, palíndromo, caldeirões e funis.
No decorrer da década de 90, Tunga intensificou a pesquisa sobre as relações energéticas entre diferentes metais em suas instalações, passando a usar conjuntos de ímãs em diversos trabalhos. Ao mesmo tempo, passou a elaborar suas instaurações - nome dado pelo artista às ações que ativavam seus trabalhos tridimensionais ou imersivos. Segundo Tunga, vale lembrar, a noção de instauração implica um modo de fazer poesia onde não há ensaios. Diferente da performance, que implica uma noção relacionada ao desempenho, a instauração trata-se de "fazer acontecer algo que você testemunha, que não estava ali, com uma luz nova.” Neste período, Tunga promove uma série de ações com terracota, argila e maquiagem - materiais que fazem alusão à origem humana, da terra; ao primitivismo; e, ao processo de reencarnação, de dar carne ao objeto, corporeidade à obra.
Em 1997, publica o icônico Barroco de Lírios, primeiro livro editado pela Cosac & Naify, que faz um retrospecto das principais obras de Tunga realizadas entre 1981 e 1996. Trata-se de uma publicação concebida pelo artista como uma obra de arte em si, apresentando textos de sua própria autoria, além de encartes e transparências que são como múltiplos não assinados.
Entre os anos 2000 e 2016, as obras incorporam, em pequenas e grandes dimensões, a presença de sinos, mondrongos, garrafas, cálices, jóias, dentes, asas, portais, luminárias, tripés, dedais, balança, bengala, líquidos e tipitis. Também foi o período em que ele passou a incluir os mondrongos em diversas instalações e instaurações. Mondongos são elementos amorfos utilizados em pares que sugerem uma reprodução Morfogenética, na qual os que apresentam protuberância estão relacionados ao "macho-fera" e os que possuem cavidade estão relacionados à “fêmea-bela”.
Em 2002, ocupa três andares do Centro Cultural Banco do Brasil e preenche a rotunda da instituição com uma luz vermelha e voz de Arnaldo Antunes, além de uma tríade com sinos, cálices, garrafas, caldeirões e bengalas de 14 metros. Atores e bailarinos, dirigidos pela coreógrafa Lia Rodrigues, aplicavam maquiagem à instalação. Idealizou a instalação Tríade Trindade [2001]; as performances Encarnações Miméticas e Experiência com Ynaiê [2003]; a série Quase Auroras [2005]; os filmes Quimera [2004], que concorreu à Palma de Ouro, na categoria curta-metragem, em Cannes, em 2004, e Medula [2005], ambos em parceria com Eryk Rocha; e, as obras i Psicopompos e Vers La Voie Humide, no Château La Coste, na França [2008-2015].
Em 2004, inaugura a Galeria True Rouge - primeira instalação permanente do Instituto Inhotim, um desdobramento da série de performances True Rouge, apresentadas desde 1997 em diversas ocasiões e cuja inspiração parte de uma poesia algébrica do escritor Simon Lane. E, em 2012, inaugura a Galeria Psicoativa Tunga, também em Inhotim, que abriga uma exposição permanente apresentando mais de 20 obras do artista sendo muitas icônicas como Ão (1981); Vanguarda Viperina (1985); Palíndromo Incesto (1990-1992); Tereza (1998); Prole do Bebê (2000); À la Lumière des Deux Mondes (2005); X-estudo (2009); Psicopompo Cooking Crystal (2010); e, Toro Condensed (1983) and Toro Expanded (2012).
Tunga recebeu a condecoração Chevalier des Arts et des Lettres (Cavaleiro das Artes e das Letras) pelo embaixador da França, Alain Rouquié. E, em 2005, foi o primeiro artista contemporâneo a exibir sua obra, À la Lumière des Deux Mondes, na pirâmide do Louvre.
Filmografia
Filmes do Tunga em parceria com outros criativos:
1975 - O ar do corpo - João Lanari e Tunga
1987 - Nervo de Prata - direção, fotografia, edição e trilha sonora: Arthur Omar sobre conceitos, obras e argumento de Tunga
2004 - Medula - Tunga e Eryk Rocha
2004 - Quimera - Tunga e Eryk Rocha
Filmes sobre o trabalho do Tunga:
1993 - Seeding Mermaids - Shelagh Wakely
1996 - Dear Friend - Shelagh Wakely
1997 - Inside out / upside down - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
1997 - Há Sopas - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
1997 - A última sereia - Arthur Omar
1998 - True Rouge - Shelagh Wakely
1999 - A Vida de Infra Tunga - Karin Schneider e Nicholas Guagnini
2000 - Lucido Nigredo - Shelagh Wakely
2001 - Resgate - Lucia Helena Zaremba e Toni Cid Guimarães
2002 - Nosferatu Spectrum - Shelagh Wakely
2002 - TUNGA: Encarnações Miméticas e Nociferatu - Murilo Salles
2003 - Egypsia and the Phoenix - Shelagh Wakely
2005 - Paris [À La Lumière des deux mondes - Louvre] - Shelagh Wakely
Exposições e trabalhos no exterior
Sua obra acabou por ganhar repercussão internacional, levando-o a expor em importantes espaços destinados às artes plásticas ao redor do mundo.
1981 - Participa da exposição individual “Spazio Aperto - 123ª Mostra D'arte maggio-giugno 1981 - Tunga no Centro Iniziative Culturali Pordenone, Itália;
1982 - Divide o Pavilhão Brasileiro da 41ª Bienal de Veneza com o escultor Sérgio Camargo.
1985 - Realiza a exposição individual “Xifópagas Capilares Entre Nós - Siamesas Capilares Entre Nosotros” no Museo Nacional de Bellas Artes, em Buenos Aires, Argentina;
1986 - Participa da “Trienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel” no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), em Buenos Aires, Argentina;
1989 - Realiza a exposição individual “Options 37: Tunga”, no Museum of Contemporary Art Chicago (MCA), EUA;
1989 - Participa da exposição coletiva “U-ABC”, no Stedelijk Museum, em Amsterdam, Holanda. Com itinerância na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Portugal;
1989 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Whitechapel Gallery, em Londres;
1989 - Participa da exposição “Tunga Lezarts / Cildo Meireles Through”no Kanaal Art Foundation, em Kortrijk, Bélgica;
1990 - Realiza a exposição individual “Tunga” no The Third Eye Centre, em Glasgow, Escócia;
1992 - Participa da exposição coletiva “Désordres” na Galerie nationale du Jeu de Paume, em Paris, França;
1992 - Participa da exposição coletiva “Latin American Artists of the Twentieth Century”, no Centre Georges Pompidou, Paris, França. Com itinerância na Estación Plaza de Armas, em Sevilla, Espanha; no Museum Ludwig, em Colônia, Alemanha; e no Museum of Modern Art (MoMA) em Nova York, EUA;
1993 - Participa de uma mostra coletiva no Moma, em Nova York;
1993 - Participa de uma mostra coletiva no Ludwig Museum, na Alemanha;
1994 - Realiza a exposição individual “Tunga: Instalações e Esculturas”, no The Museum of Contemporary Art, em Nova York, EUA;
1994 - Participa da “5º Bienal de Havana”, Cuba;
1995 - Participa da exposição coletiva “Avant-garde walk a Venezia”, em Veneza, Itália;
1996 - Participa da exposição coletiva “Walk on the SoHo Side”, em Nova York, EUA;
1997 - Participa da “Documenta X”, em Kassel, Alemanha;
1998 - Participa da exposição coletiva “Être Nature“ na Fondation Cartier pour l'art contemporain, em Paris, França;
1999 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires, Argentina;
2000 - Participa da “3ª Gwangju Biennale”, Coreia do Sul;
2000 - Participa da “5ª Biennale D'Art Contemporain de Lyon”, França;
2001 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Galerie Nationale du Jeu de Paume, em Paris, França;
2001 - Participa da “49ª Venice Biennale: Brazil in Venezia” no Peggy Guggenheim Collection, em Veneza, Itália;
2001 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Musée d'art Contemporain de Bordeaux, França;
2001 - Participa da “1ª Bienal de Valencia”, Espanha;
2002 - Realiza a exposição individual “Tunga” no Centre international de recherche sur le verre et les arts plastiques (Cirva), em Marselha, França;
2002 - Realiza a exposição individual “Tunga” na Luhring Augustine Gallery, em Nova York, EUA;
2005 - Realiza a exposição individual “Tunga: À La Lumière Des Deux Mondes, Une Installation Sous La Pyramide” no Museu do Louvre, em Paris, França;
2005 - Participa da exposição coletiva “The Art of Chess”, na Luhring Augustine, em Nova York, EUA. Com itinerância na Gary Tatintsian Gallery, em Moscou, Rússia;
2007 - Realiza a exposição individual “Tunga: Laminated Souls” no Museum of Modern Art- PS1 (MoMA PS1), em Nova York, EUA;
2009 - Participa da “3ª Moscow Biennale Of Contemporary Art” no Garage Museum of Contemporary Art, Rússia;
2009 - Realiza a exposição individual “Tunga: Lezart” no Museum of Fine Arts, em Houston, EUA;
2014 - Realiza a exposição individual "From La Voie Humide" na Luhring Augustine Gallery, em Nova York, EUA;
2015 - Realiza a exposição individual “Eu, Você e a Lua” no Domaine de Chaumont-sur-Loire, em Loire, França;
2016 - Sua obra integra a exposição coletiva "Contingent Beauty: Contemporary Art From Latim America" no Museum of Fine Arts, em Houston, EUA;
2017 - Sua obra integra a exposição coletiva “Sol Lewitt, Andres Serrano, Joel Shapiro, Tunga, Andy Warhol” na Galerie Michel Vidal, em Paris, França;
2018 - É realizada a exposição individual “Capillary Xiphopagus among Us” na Tate Modern, em Londres, Inglaterra;
2019 - É realizada a exposição individual “Tunga” na Galleria Franco Noero, em Turim, Itália;
2021 - Sua obra integra a exposição coletiva “Fictionalising the Museum” no Centro Internacional das Artes José de Guimarães - CIAJG, em Guimarães, Portugal;
2023 - É realizada a exposição individual “Tunga: Vê-Nus” na Luhring Augustine, em Nova York, EUA.
Prêmios e honrarias
1985 - Prêmio Museo de Arte Moderno de Caracas Caracas, Venezuela
1986 - Prêmio Trienal Latino-americana de Arte sobre papel Prize “Trienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel”, no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), em Buenos Aires
1986 - Prêmio Governo do Estado do Rio Grande do Sul - Destaque Desenho Brasileiro Exposição coletiva “Caminhos do Desenho Brasileiro”, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), em Porto Alegre
1987 - Prêmio Tucano de Prata do FestRio, O filme “Nervo de Prata” no FestRio, no Rio de Janeiro
1987 - Festival de Cinema e Vídeo do Maranhão, O filme “Nervo de Prata” recebeu o prêmio de melhor vídeo e melhor fotografia no Festival de Cinema e Vídeo do Maranhão, em São Luís
1990 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas, participou da exposição coletiva “Prêmio Brasília de Artes Plásticas”, no Museu de Arte de Brasília, em Brasília
1991 - Prêmio Mário Pedrosa, na Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), pela obra Preliminares do Palíndromo Incesto
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Contemporânea, Niterói, Brasil
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil
1997 - Prêmio Aquisição, Museu de Arte Moderna de Recife, Brasil
1997 - Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo: 50 anos - Panorama 1997 Museu de Arte Moderna de São Paulo
1997 - Prêmio Embratel, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil
1997 - Prêmio de 30 anos Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil
1997 - Melhor vídeo experimental no IV FestRio, o filme “Nervo de Prata” recebeu o prêmio de melhor vídeo experimental no IV FestRio, no Rio de Janeiro
1998 - Johnny Walker Prize Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil
1998 - Prêmio APCA - os Melhores de 1997, recebeu o Prêmio APCA - os Melhores de 1997, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
1998 - Prêmio Cine Ceará O vídeo ”Tunga - Sem redes e tralhas” recebeu o Prêmio Cine Ceará por melhor edição e melhor trilha sonora original.
1999 - Prêmio de melhor mostra estrangeira de 1999, com a exposição "Tunga", apresentada no Centro Cultural Recoleta, recebeu o Prêmio de melhor mostra estrangeira de 1999, Argentina.
2000 - Chevalier des Arts et des Lettres Foi nomeado "Chevalier des Arts et des Lettres” (Cavaleiro das Artes e das Letras) pelo Ministério da Cultura da França.
2000 - Hugo Boss Award Participou da exposição coletiva “Hugo Boss Prize”, no Guggenheim Museum (Nova York), em Nova York, com indicação ao “Prêmio Hugo Boss Prize”
2004 - Prêmio Palma de Ouro, o filme “Quimera” concorreu ao “Prêmio Palma de Ouro”, do Festival de Cannes, França.
2005 - Artes Mundi prize, Wales, Inglaterra
2008 - Prêmio Jabuti A “Caixa de Livros Tunga” foi ganhadora do Prêmio Jabuti (Câmara Brasileira do Livro) em 2008, na categoria Arquitetura e Urbanismo, Fotografia, Comunicação e Artes.
2022 - Prêmio APCA - Os melhores de 2021, a exposição “Tunga - Conjunções magnéticas”, realizada no Itaú Cultural e no Instituto Tomie Ohtake, recebe o Prêmio APCA - Os melhores de 2021, concedida pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Publicações monográficas
1980 - "Tunga Esculturas", Paulo Sergio Duarte, Espaço ABC (Funarte) / Parque Natural Municipal da Catacumba
1997 - "Tunga: Barroco de Lírios", Tunga, Cosac & Naify
1997 - "Tunga: 1977_1997”, Carlos Basualdo, Edith C Blum Art Inst
1999 - "Tunga em Buenos Aires”, Mercedes Casanegra, Centro Cultural Recoleta
2005 - "Tunga: Las películas, Los vídeos”, José Jiménez, Instituto Cervantes
2007 -“Tunga" - caixa constituída de sete volumes de diferentes formatos (textos, fotografias, vídeos) que documentam a trajetória do artista, Cosac & Naify
2007 - "Tunga: Dessins Érotiques", Daniel Templon, Galerie Daniel Templon
2008 - "Apesar de Leves "Pumbeo Sapiens”, Paulo Darzé Galeria
2013 - "Narrativas Ficcionais de Tunga", Marta Martins, editora Apicuri
2016 - Tunga: Pálpebras, Galeria Millan
2018 - Tunga: O Corpo em Obras, Isabella Rjeille e Tomás Toledo
2018 - Tunga - O rigor da distração, Luisa Duarte e Evandro Salles, Museu de Arte do Rio (MAR)
2019 - "Tunga", Catherine Lampert, editora Cosac & Naify
2021 - "Tunga: Conjunções Magnéticas”, Instituto Tomie Ohtake / Instituto Itaú Cultural
2023 - "Tunga: Vê-Nus”, Paulo Venancio Filho, Luhring Augustine
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Tunga | Itaú Cultural
Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (Palmares, Pernambuco, 1952 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016). Escultor, desenhista e artista performático. Torna os objetos utilizados em suas obras elementos de performance, criando analogias entre corpo e escultura.
Filho do poeta e escritor Gerardo Melo Mourão (1917-2007) e de Léa de Barros (1922-?), retratada no quadro As Gêmeas (1940), do pintor Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), convive desde cedo com a literatura e com as artes plásticas, experiências que marcam sua formação.
Muda-se para o Rio de Janeiro e, na década de 1970, inicia sua obra, que se aproxima da produção de artistas de diferentes vertentes da arte contemporânea brasileira, como Cildo Meireles (1948), Waltercio Caldas (1946) e José Resende (1945). A relação entre representação, linguagem e realidade, tema-chave para essa geração de artistas, está presente em muitos dos trabalhos do escultor. Neles, corpo e desejo tornam-se componentes ativos da investigação, na qual são incluídos itens de outras áreas de conhecimento, como literatura, filosofia, psicanálise, teatro, matemática, física e biologia.
Em 1974, conclui o curso de arquitetura e urbanismo na Universidade Santa Úrsula. No mesmo ano, realiza sua primeira exposição individual, Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), onde expõe conjuntos de desenhos marcados por um “erotismo mental”: espécie de atitude reflexiva em torno do desejo humano, em que as formas não representam nada de específico, mas a tensão sexual pode ser inferida em ambíguas sugestões fálicas ou nos títulos das obras.
Nos objetos e esculturas, as formas e materiais se entrelaçam, em analogia à cópula, atualizando a proposta dos surrealistas de que, nos poemas e obras, as palavras fariam amor. Segundo o crítico inglês Guy Brett (1942), por meio da imersão na matéria e no mundo físico, Tunga estabelece “uma surpreendente e inesperada analogia ou ponto de encontro entre energias ‘esculturais’ e as do corpo humano”1.
Ao construir sua obra, Tunga opera no cruzamento entre objeto, performance e texto. Suas esculturas constroem narrativas, das quais os textos são componentes. Além disso, os objetos utilizados em performances figuram como agentes detonadores de processos. Mesmo em espaços expositivos, os objetos assumem dimensão performática, como resíduos ou dejetos de determinada ação deixados no ambiente. O artista chama esses objetos de “instaurações”, uma imbricação entre as categorias artísticas de “ação” – pertencente ao universo da performance e do teatro – e “instalação” – objetos montados em espaço expositivo –, de modo a incluí-los como parte da experiência artística.
Colabora, nos anos seguintes, para a revista Malasartes e o jornal independente A Parte do Fogo, ambos de curta duração2. Em 1981, integra a 16ª Bienal de São Paulo, onde apresenta o filme-instalação Ão. Filmado em 16mm, ele constrói a projeção em um toro imaginário no interior do Túnel Dois Irmãos (atual Túnel Zuzu Angel), no Rio de Janeiro. Essa projeção é acompanhada pela repetição de um trecho da música Night and Day, do compositor Cole Porter (1891-1964), cantada por Frank Sinatra (1915-1998), criando a sensação de uma viagem infinita.
Em outubro de 1985, publica um encarte na revista Revirão 2 – Revista da Prática Freudiana, com imagens da performance Xifópagas Capilares (1984), acompanhadas da narrativa sobre a origem da obra. A relação que os textos de Tunga mantêm com as demais dimensões da obra está exemplificada nessa produção, uma vez que no encarte encontram-se fotografias de uma série de trabalhos realizados no início da década de 1980, como Les bijoux de Mme. De Sade (1982); Troféu (1984); Toros, joias de Mme. De Sade (1983), um registro da performance Xifópagas Capilares, fotogramas do filme Ão. As imagens parecem ilustrar pequenos trechos do texto que fecha o encarte. A narrativa apresenta, por um lado, o estilo de relato científico, e, por outro, aproxima-se da literatura fantástica latino-americana, como a do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Ao longo do texto, encontram-se referências a objetos criados por Tunga, que lhes atribuem uma origem e produzem entre eles um vínculo para além da forma. Embora seja difícil estabelecer relação causal entre texto e objetos, é possível afirmar que, ao mesmo tempo que as peças parecem ter saído de dentro do texto, são elas que alimentam a dinâmica da narrativa. Desse modo, texto e obras configuram um sistema contínuo que suspende os limites entre literatura, performance e objeto, lançando-se no campo especulativo da linguagem.
A noção de sistema contínuo permite compreender que a dimensão simbólica dos objetos de Tunga não conduz à ideia de um todo uniforme, do qual cada peça individual é parte. Antes, cada peça, cada texto e cada ação remetem a uma produção contínua de formas e narrativas, que se prolongam sem princípio ou finalidade evidentes. Também vem dessa concepção o interesse do artista pela figura matemática do toro - que aparece no filme-instalação Aõ: sendo um produto da rotação de uma superfície circular em torno de uma circunferência, o toro configura também um sistema contínuo.
Os sistemas contínuos de Tunga têm uma origem: o espaço fantasmático entre corpo e psique. Esse espaço obedece a temporalidade e espacialidade singulares, dominadas por pulsões eróticas e combinações inconscientes. O curador argentino Carlos Basualdo (1964) define esse movimento como “tendência ao transbordamento e à profusão mediada por um delicado sentido de equilíbrio e composição”3, que ele chama também de “tensão barroca”.
Tunga entende os sistemas contínuos de esculturas que cria como elementos que se desdobram no espaço, organizando-o em uma experiência que envolve corpo e mente. São objetos que têm o poder de fazer aparecer a força poética dos gestos, como sugere Ronaldo Brito ao referir-se a obras como Trança (1984).
Se entre os materiais mais utilizados no início da carreira estão ferro, aço, latão, lâmpadas, correntes, ímãs, feltro e borracha, a partir da década de 1990, Tunga explora materiais mais orgânicos e fluidos, como a gelatina, que recobre os sinos em Cadentes Lácteos (1994), ou a pasta de maquiagem, com a qual sete meninas, que participam da ação Floresta Sopão (2002), recobrem objetos e os próprios corpos.
Tunga é um dos primeiros artistas contemporâneos a expor no Museu do Louvre, Paris, com a obra À Luz de Dois Mundos (2005). Mais tarde, em 2012, inaugura espaço dedicado à sua produção, a Galeria Psicoativa, localizada no Instituto Inhotim, na cidade de Brumadinho, Minas Gerais. Suas obras integram importantes acervos de museus nacionais e internacionais.
Em 2016, é inaugurada a exposição póstuma Pálpebras, na Galeria Millan, com obras inéditas. No ano seguinte, integra a sequência de mostras sobre sexualidade realizadas no Museu de Arte de São Paulo (Masp) com Tunga: O Corpo em Obras.
Críticas
"Na Galeria Luisa Strina, o artista expõe sete conjuntos de objetos-esculturas que, a um primeiro olhar, parecem peças de cerâmica. A cor terrosa engana. Ela não é do material, mas do seu acabamento insólito: maquiagem. As peças são fundidas em bronze e cobertas com base, batom e pó compacto. A superfície resultante não se pretende simulacro perfeito da pele: conserva o índice da mão que a plasmou em argila. Os objetos-esculturas nasceram do desenho de corpos unidos. O artista isolou a linha que define ao mesmo tempo duas pessoas: fronteira e mistura de peles, vasos comunicantes e incomunicados. Metáfora das relações amorosas, essa linha ganhou volume e expandiu-se em duas formas: urna e cálice (ou aberto e fechado, masculino e feminino). Preenchendo o espaço entre elas, um lábio. Está montada a equação visual que, conforme os hábitos de Tunga, ainda se alimentou de inúmeras fontes de pesquisa, entre elas as ciências exatas" — Angélica de Moraes (MORAES, Angélica de. "Tunga expõe metáforas do amor". In: O Estado de S. Paulo, São Paulo, 15 mar. 1994. Caderno 2, p.D1).
"Tunga pertence à geração de artistas brasileiros seguidores de Hélio Oiticica e Lygia Clark. Arquiteto por formação, imerso em literatura (de Nerval a Borges) e em referências filosóficas e científicas (arqueologia, paleontologia, zoologia, medicina), seu trabalho exibe a marca das grandes ficções do continente latino-americano. Freqüentemente lidando com o excesso - muitas de suas obras foram realizadas através do acúmulo de materiais pesados (ferro, cobre, ímã) -, ele apresenta objetos comuns que passaram por uma estranha transformação: dedais, agulhas gigantes ou pentes. Inventa um bestiário fantástico de lagartos e serpentes mutantes que parece saído diretamente de uma antologia surrealista. Jogando com as diferenças de proporções, Tunga considera a escultura como um conjunto de formas e figuras enigmáticas cuja estranheza e proporções fabulosas intrigam o espectador e causam transtorno em sua percepção habitual de próximo e distante, dentro e fora, cheio e vazio. Seu interesse no inconsciente e, particularmente, nos processos associativos das engrenagens do sonho, bem como na figura da metáfora, o levou a construir obras de arte com ramificações e efeitos de significado múltiplos. Estes se entrelaçam com erupções do fantástico, convidando o espectador a penetrar num universo barroco onde não se pode distinguir o real do imaginário" — Paul Sztulman (SZTULMAN, Paul. "Tunga". In: Documenta 10. Kassel: Documenta, 1997. p.226. Conteúdo traduzido.)
"Muitos podem ser os dispositivos disparadores de obras, operadores de contágio e hibridação. Eles servem para dar liga ao conjunto de elementos que constituirão uma mesma obra, ou para juntar e amalgamar várias obras entre si e, nesta combinação, produzir uma outra, inédita. Um deles, talvez o que mais retorna, é a gelatina. Matéria orgânica gosmenta, próxima dos fluidos corporais - baba, meleca, esperma - que lambuza tudo, produzindo um continuum. (...) Outro dispositivo recorrente na fabricação de híbridos: os ímãs. À primeira vista, usá-los para ligar materiais parece óbvio: a vocação dos ímãs é justamente produzir atração entre minérios. No entanto, ao cumprir seu destino no contexto inesperado de uma obra de arte, eles provocam estranhamento. (...) Outros inesperados operadores de junção: batom, base e pó compacto maquiam cálices, urnas e 'lábios' e fazem deles um só corpo. Outros ainda: finíssimos fios de toda espécie - de cobre, nylon ou prata - unem os elementos em cena em diferentes obras. Por último, um tipo de operador que vale a pena privilegiar: os textos de Tunga que por vezes acompanham seus trabalhos. Narrativas com referências a documentos imaginários - recortes de jornal, relatórios de pesquisa, depoimentos, telegramas, cartas, inscrições arqueológicas, achados paleontológicos, registro de experiências telepáticas etc. - produzem uma impostação pseudocientífica impregnada de mistério e magia que acaba contaminando a obra. Nestes textos, onde ficção se entrelaça com dados objetivos e biográficos, obra e vida tornam-se inseparáveis - a vida se mostra obra, e a obra, cartografia da vida. Como se os novos elos que unem ingredientes incompossíveis para fazer obra, ou várias obras para fazer uma nova, fossem da ordem do necessário e, portanto, passíveis de explicação científica" — Suely Rolnik (ROLNIK, Suely. "Instaurações de Mundos". In: TUNGA. Tunga: 1977-1997. Curadoria Carlos Basualdo. Miami : Museum of Contemporary Art, 1998, p. 115-136).
Exposições Individuais
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1976 - São Paulo SP - Tunga: desenhos e objetos, na Galeria Luisa Strina
1979 - Rio de Janeiro RJ - Pálpebras, no Centro Cultural Candido Mendes
1980 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Espaço ABC
1981 - São Paulo SP - Individual, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1982 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Centro Cultural Candido Mendes
1983 - São Paulo SP - As Jóias da Senhora de Sade, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1984 - Rio de Janeiro RJ - Tranças, na GB ARTe
1985 - São Paulo SP - Tunga: esculturas, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1986 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Saramenha
1989 - Chicago (Estados Unidos) - Option 37: Tunga, no Museum of Contemporary Art
1989 - Londres (Inglaterra) - Individual, na Whitechapel Art Gallery
1989 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Paulo Klabin
1989 - São Paulo SP - Individual, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1990 - Amsterdã (Holanda) - Individual, na Pulitzer Art Gallery
1990 - Glasgow (Escócia) - Individual, no The Third Eye Center
1990 - Toronto (Canadá) - Interceptions, na The Power Plant Contemporary Art Gallery
1991 - Rio de Janeiro RJ - Preliminares do Palíndromo Incesto, na GB ARTe
1991 - São Paulo SP - Preliminares do Palíndromo Incesto, na Galeria Millan
1992 - Rio de Janeiro RJ - Sero Te Amavi, na Galeria Saramenha
1992 - São Paulo SP - Antigas Minúcias, na Marília Razuk Galeria de Arte
1992 - São Paulo SP - Sero Te Amavi, na Galeria Millan
1994 - Nova York (Estados Unidos) - Tunga: instalações e esculturas, no The Museum of Contemporary Art
1994 - Rio de Janeiro RJ - Tunga: esculturas, na Galeria Paulo Fernandes
1994 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
1994 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan
1995 - Nova York (Estados Unidos) - Sero Te Amavi, no The New Museum of Contemporary Art
1996 - São Paulo SP - Individual, na Galeria André Millan
1996 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
1997 - Miami (Estados Unidos) - Tunga: 1977-1997, no Museum of Contemporary Art Joan Lehman Building
1997 - Nova York (Estados Unidos) - Tunga: 1977-1997, no Center for Curatorial Studies
1997 - Rio de Janeiro RJ - Tunga, na Galeria Thomas Cohn
1998 - Caracas (Venezuela) - Tunga: 1977-1997, no Museo Alejandro Otero
1999 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Luisa Strina
2001 - Paris (França) - Individual, na Galerie Nationale du Jeu de Paume
2001 - São Paulo SP - Resgate, no CCBB
2004 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan Antonio
Exposições Coletivas
1973 - Valparaíso (Chile) - Coletiva, no Instituto de Arte de la Universidade del Valparaíso
1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Milão (Itália) - Camere Incantate, no Palazzo Reale
1981 - Porto Alegre RS - Artistas Brasileiros dos Anos 60 e 70 na Coleção Rubem Knijnik, no Espaço NO Galeria Chaves
1981 - Rio de Janeiro RJ - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1981 - São Paulo SP - 16ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Lisboa (Portugal) - Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Reino Unido) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Veneza (Itália) - 41ª Bienal de Veneza - Pavilhão Brasileiro, com Sérgio de Camargo
1983 - Rio de Janeiro RJ - 13 Artistas/13 Obras, na Thomas Cohn Arte Contemporânea
1983 - Rio de Janeiro RJ - 3000 Metros Cúbicos, no Espaço Cultural Sérgio Porto
1983 - São Paulo SP - Imaginar o Presente, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1984 - Rio de Janeiro RJ - Exposição, na GB Arte
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1985 - Caracas (Venezuela) - Escultura 85, no Museo Ambiental
1985 - Niterói RJ - Uma Luz sobre a Cidade, na Galeria de Artes da UFF
1985 - Rio de Janeiro RJ - Encontros, na Petite Galeria
1985 - São Paulo SP - Sete Artistas, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1985 - São Paulo SP - Tendências do Livro de Artista no Brasil, no CCSP
1985 - Tóquio (Japão) - Today's Art of Brazil, no Hara Museum of Contemporary Art
1986 - Buenos Aires (Argentina) - 1ª Bienal Latino-americana de Arte sobre Papel, no Museo de Arte Moderno de Buenos Aires - premiado
1986 - Niterói RJ - 1083º, na UFF. Núcleo de Documentação
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs - Prêmio Governo do Estado
1986 - Porto Alegre RS - Coleção Rubem Knijnik: arte brasileira anos 60/70/80, no Margs
1986 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Carioca de Arte, na Estação Carioca do Metrô
1986 - Rio de Janeiro RJ - Transvanguarda e Culturas Nacionais, MAM/RJ
1986 - São Paulo SP - Transvanguarda e Culturas Nacionais, no MAM/SP
1987 - Paris (França) - Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1988 - Campinas SP - 13º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1988 - Nova York (Estados Unidos) - Painting Degree Zero, na Terne Gallery
1988 - Rio de Janeiro RJ - Ponto para 21, no Rio Design Center
1988 - Rio de Janeiro RJ - Uma Escultura para o Mar de Angra, na EAV/Parque Lage
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Amsterdã (Holanda) - U-ABC, no Stedelijk Museum Amsterdam
1989 - Kortrijk (Bélgica) - Cildo Meireles: through/Tunga: lezarts, na Kannal Art Foundation
1989 - Londres (Inglaterra) - Cildo Meireles, Tunga, na Whitechapel Gallery
1989 - Rio de Janeiro RJ - Nossos Anos 80, na Casa de Cultura Laura Alvim
1989 - Rio de Janeiro RJ - Rio Hoje, no MAM/RJ
1989 - São Paulo SP - 10 Escultores, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
1989 - São Paulo SP - O Pequeno Infinito e o Grande Circunscrito, na Arco Arte Contemporânea Galeria Bruno Musatti
1990 - Birmingham (Inglaterra) - Transcontinental, na Ikon Gallery
1990 - Brasília DF - Prêmio Brasília de Artes Plásticas, no MAB/DF
1990 - Lisboa (Portugal) - U-ABC, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1991 - Estocolmo (Suécia) - Viva Brasil Viva, no Kulturhuset, Konstavdelningen och Liljevalchs Konsthall
1991 - Rio de Janeiro RJ - Imagem sobre Imagem, no Espaço Cultural Sérgio Porto
1991 - São Paulo SP - 22º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1992 - Berlim (Alemanha) - Klima Global, na Staatliche Kunsthalle
1992 - Curitiba PR - 10ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba/Mostra América, no Museu da Gravura
1992 - Paris (França) - Désordres, na Galerie Nationale du Jeu de Paume
1992 - Paris (França) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no Centre Georges Pompidou
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1992 - Rio de Janeiro RJ - Diferenças, no MNBA
1992 - Rio de Janeiro RJ - Escultura 92: sete expressões, no Espaço RB1
1992 - Rio de Janeiro RJ - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/SP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Arte Amazonas, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Arte Amazonas, na Fundação Bienal
1992 - Brasília DF - Arte Amazonas, no MAB/DF
1992 - Berlim (Alemanha) - Arte Amazonas, na Staatliche Kunsthalle
1992 - São Paulo SP - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateaubriand Museu de Arte Moderna-RJ, na Galeria de Arte do Sesi
1992 - São Paulo SP - Branco Dominante, na Galeria de Arte São Paulo
1992 - São Paulo SP - Galeria Millan: mostra inaugural, na Galeria Millan
1992 - Sevilha (Espanha) - Latin American Artists of the Twentieth Century, na Estación Plaza de Armas
1992 - Paris (França) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no Centre Georges Pompidou
1993 - Brasília DF - Um Olhar sobre Joseph Beuys, na Fundação Athos Bulcão
1993 - Colônia (Alemanha) - Latin American Artists of the Twentieth Century, na Kunsthalle Cologne
1993 - Nova York (Estados Unidos) - Latin American Artists of the Twentieth Century, no MoMA
1993 - Los Angeles (Estados Unidos) - Body to Earth, na Fischer Gallery, University of Southern California
1993 - Newcastle (Inglaterra) - Second Tyne International Exhibition of Contemporary Art, na Computer Warehouse Ltda
1993 - Rio de Janeiro RJ - Arte Erótica, no MAM/RJ
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - Rio de Janeiro RJ - Emblemas do Corpo: o nu na arte moderna brasileira, no CCBB
1993 - São Paulo SP - A Arte Brasileira no Mundo, uma Trajetória: 24 artistas brasileiros, na Dan Galeria
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1994 - Havana (Cuba) - 5ª Bienal de Havana
1994 - Rio de Janeiro RJ - As Potências do Orgânico, no Museus Castro Maya. Museu do Açude
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - Rotterdã (Holanda) - Call it Sleep, no Witte de With Center for Contemporary Art
1994 - São Paulo SP - 22ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1995 - Caracas (Venezuela) - 2ª Bienal Barro de América, no Museu de Arte Contemporânea de Caracas Sophia Imber
1995 - Rio de Janeiro RJ e Belo Horizonte MG - Libertinos/Libertários, na Funarte e no Centro Cultural da UFMG
1995 - Rio de Janeiro RJ e Belo Horizonte MG - Libertinos/Libertários, na Funarte e no Centro Cultural da UFMG
1995 - São Paulo SP - Entre o Desenho e a Escultura, no MAM/SP
1995 - São Paulo SP - Morandi no Brasil, no CCSP
1995 - Veneza (Itália) - Avant-Garde Walk in Venice 1995
1996 - Nova York (Estados Unidos) - Avant-Garde Walk in Soho 1996
1996 - Rio de Janeiro RJ - Mensa/Mensae, na Funarte. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
1996 - Rio de Janeiro RJ - Transparências, no MAM/RJ
1996 - São Paulo SP - 2ª United Artists: utopia, na Casa das Rosas
1997 - Kassel (Alemanha) - 10ª Documenta, no Museum Fridericianum
1997 - Rio de Janeiro RJ - Há Sopas, no Paço Imperial
1997 - São Paulo SP - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/SP
1997 - São Paulo SP - Diversidade da Escultura Contemporânea Brasileira, na Avenida Paulista - realização Ministério da Cultura/Itaú Cultural
1997 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: perfil de uma identidade, no Banco Safra
1997 - São Paulo SP - Tridimensionalidade: Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1997 - Washington (Estados Unidos) - Escultura Brasileira: perfil de uma identidade, no Centro Cultural do BID
1998 - Belo Horizonte MG - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Brasília DF - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niterói
1998 - Niterói RJ - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAC/Niterói
1998 - Penápolis SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Porto Alegre RS - Remetente, no Espaço Cultural Ulbra
1998 - Recife PE - 25º Panorama de Arte Brasileira, no Mamam
1998 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996-1998, no CCBB
1998 - Salvador BA - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/BA
1998 - São Paulo SP - 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1998 - São Paulo SP - Afinidades Eletivas I: o olhar do colecionador, na Casa das Rosas
1998 - São Paulo SP - Teoria dos Valores, no MAM/SP
1999 - Lisboa (Portugal) - América Latina das Vanguardas ao Fim do Milênio, na Culturgest
1999 - Porto Alegre RS - 2ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, no Espaço Margs, no Espaço Usina Gasômetro e no Espaço Armazém do Cais do Porto (antigo DEPREC)
1999 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Chico Buarque, no Paço Imperial
1999 - Santa Mônica (Estados Unidos) - Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Mira Schendel, Tunga, na Christopher Grimes Gallery
1999 - São Paulo SP - 3ª Heranças Contemporâneas, no MAC/USP
2000 - Colchester (Inglaterra) - Outros 500: highlights of brazilian contemporary art in UECLAA, na Art Gallery - University of Essex
2000 - Curitiba PR - 12ª Mostra da Gravura de Curitiba. Marcas do Corpo, Dobras da Alma
2000 - Lion (França) - Bienal de Lion
2000 - Lisboa (Portugal) - Século 20: arte do Brasil, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
2000 - Rio de Janeiro RJ - Situações: arte brasileira anos 70, na Fundação Casa França-Brasil
2000 - Salvador BA - A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé, no MAM/BA
2000 - São Paulo SP - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - Obra Nova, no MAC/USP
2001 - Campinas SP - (quase) Efêmera Arte, no Itaú Cultural
2001 - Madri (Espanha) - El Final del Eclipse: el arte de América Latina en la transición al siglo XXI, na Fundación Telefonica
2001 - Nova York (Estados Unidos) - Brazil: body and soul, no Solomon R. Guggenheim Museum
2001 - Oxford (Inglaterra) - Experiment Experiência: art in Brazil 1958-2000, no Museum of Modern Art
2001 - Porto Alegre RS - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea, no Margs
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2001 - Rio de Janeiro RJ - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - O Espírito de Nossa Época, no MAM/RJ
2001 - São Paulo SP - Anos 70: Trajetórias, no Itaú Cultural
2001 - São Paulo SP - Arco das Rosas: marchand como curador, na Casa das Rosas
2001 - São Paulo SP - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no MAM/SP
2001 - São Paulo SP - O Espírito de Nossa Época, no MAM/SP
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - Fragmentos a Seu Ímã, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2002 - Liverpool (Reino Unido) - Pot
2002 - Madri (Espanha) - Arco/2002, no Parque Ferial Juan Carlos I
2002 - Niterói RJ - Coleção Sattamini: esculturas e objetos, no MAC/Niterói
2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC/Niterói
2002 - Porto Alegre RS - Violência e Paixão, no Santander Cultural
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arquipélagos: o universo plural do MAM, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Artefoto, no CCBB
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Canteiro de Obras do Circo Voador, no Circo Voador
2002 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Mostra Rio Arte Contemporânea, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Paralelos: arte brasileira da segunda metade do século XX em contexto, Collección Cisneros, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Seleção do Acervo de Arte da UCAM, no Centro Cultural Candido Mendes
2002 - São Paulo SP - 10 Anos Marília Razuk, na Marília Razuk Galeria de Arte
2002 - São Paulo SP - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Instituto Tomie Ohtake
2002 - São Paulo SP - Ópera Aberta: celebração, na Casa das Rosas
2002 - São Paulo SP - Paralela, no Galpão localizado na Avenida Matarazzo, 530
2002 - São Paulo SP - Paralelos: arte brasileira da segunda metade do século XX em contexto, Colección Cisneros, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - Pot, no Galeria Fortes Vilaça
2003 - Brasília DF - Artefoto, no CCBB
2003 - Niterói RJ - Apropriações: Curto-Circuito de Experiências Participativas, no MAC/Niterói
2003 - Rio de Janeiro RJ - Desenho Anos 70, no MAM/RJ
2003 - Rio de Janeiro RJ - Grande Orlândia: artistas abaixo da linha do equador
2003 - Rio de Janeiro RJ - Vinte e Cinco Anos: Galeria de Arte Cândido Mendes, na Galeria Candido Mendes
2003 - São Paulo SP - A Subversão dos Meios, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Escultores - Esculturas, na Pinakotheke
2003 - Vila Velha ES - O Sal da Terra, no Museu Vale do Rio Doce
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, no Mercedes Viegas Escritório de Arte
2004 - Rio de Janeiro RJ - Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções do Rio, no MAM/RJ
2004 - São Paulo SP - Fotografia e Escultura no Acervo do MAM - 1995 a 2004, no MAM/SP
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
2005 - Rio de Janeiro RJ - 10 Indicam 10, no Centro Cultural Candido Mendes
2005 - São Paulo SP - O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira, no Itaú Cultural
Fonte: TUNGA. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 30 de março de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Confira nove elementos e conceitos para entender o trabalho de Tunga | Arte que Acontece
Aproximadamente duas toneladas de imã, mais de 300 quilômetros de fios de ferro e cerca de 300 obras. Esse é só um cheiro da magnitude da retrospectiva TUNGA: Conjunções Magnéticas, que abre dia 11 de novembro no Itaú Cultural e Instituto Tomie Ohtake.
Curada por Paulo Venancio Filho, a maior e mais completa retrospectiva do artista tem o desenho como fio condutor – apesar de ser muitas vezes reconhecido pelas esculturas e performances, o artista começou a explorar o universo das artes pelo desenho e nunca mais abandonou a mídia – e apresenta desde os primeiros trabalhos até obras mais recentes como as esculturas da série From ‘La Voie Humide’.
Entre os três andares do Itaú que abrigam a exposição, vale dedicar um tempo para observar o cabinet de curiosité idealizado por Venancio Filho onde são apresentados alguns elementos para o público mergulhar no universo de Tunga: cadernos com textos e desenhos; projetos em cerâmica e metal para obras futuras; joais desenhadas pelo artista; as peças feitas em parceria com a Bordallo Pinheiro; e, suas primeiras experimentações e culturais apresentadas no MAM em 1974. Ainda com o objetivo de revelar o universo fantástico de Tunga, o público poderá ver, no Instituto Tomie Ohtake, uma maquete da instalação Gravitação Magnética. Criada para a 19ª Bienal de São Paulo em 1987, a obra que está sendo remontada pela primeira vez impressiona por sua monumentalidade – mede 10 metros e pesa 1000 kg – e pela poesia. Também é possível ver, nos dois espaços, desenhos da mesma série revelando uma verdadeira dança espiral de um corpo-cabeleira-magnético.
Um dos destaques é a cópia de exibição da obra Piscina, mostrada uma única vez em 1975 e de paradeiro desconhecido. Trata-se de uma das primeiras vezes que o artista usa a ideia do tripé – um símbolo que voltaria a protagonizar seu trabalho quase 40 anos depois. Vale notar, ainda, raridades como Desenhos Protuberantes e as belíssimas Morfológicas – em cerâmica, bronze, látex – e os Eixos Exógenos, esculturas de madeira feitas a partir do perfil de corpos femininos.
O Tomie Ohtake abrigará, ainda, a icônica Ão – uma projeção que mostra o interior do túnel dos morros Dois Irmãos, na qual a câmera se move em um caminho contínuo sem encontrar entrada ou saída. O vídeo em loop dilata a ideia de espaço-tempo ao sugerir uma curva infinita dentro de uma montanha, sem acesso ao exterior, provocando uma leve sensação de tontura potencializada pela repetição dos fragmentos da música Night and Day na voz de Frank Sinatra.
Apesar de se tratar de uma retrospectiva, a exposição não foi organizada de forma cronológica. E nem poderia: o pensamento de Tunga era como uma espiral eterna e contínua onde diversos elementos e conceitos, ligados aos seus interesses pela arte, literatura, matemática e filosofia, aparecem e reaparecem sem começo, meio ou fim, como propõe a atmosfera de Ão.
Para facilitar a sua visita, separamos alguns elementos e conceitos recorrentes na obra do artista. Vem com a gente!
1.O nascimento e a noção de verdade
Boa parte dos textos escritos por Tunga vem supostamente de experiências vividas pelo artista, criando uma linha tênue entre o que é realidade e o que é ficção. Há aqui uma ligação direta ao artista alemão Joseph Beuys que criou os próprios mitos que, de alguma forma, justificavam a escolha de materiais e elementos de sua obra.
Assim como Beuys, Tunga gostava de fazer mais perguntas do que dar respostas. Dizem, por exemplo, que Tunga nasceu em Palmares, em Pernambuco. Mas também corre o boato que foi no Rio de Janeiro. Sobre o mistério em relação a sua origem, o artista comenta: O primeiro pensamento que eu coloco é que precisamos acreditar em alguma coisa ou em alguém ou em um fato. O nascimento sempre tem uma testemunha escrita ou um relato. E eu devo acreditar nessas testemunhas, certo? E se eu tiver dois depoimentos contraditórios? Posso acreditar nos dois? Onde vou parar se seguir duas pistas diferentes?
Estou levando esta questão a um grau bastante consequente. Quando digo que nasci em dois lugares diferentes, estou levando estas questões a um grau bastante consequente. É paradoxal, mas pode ser uma situação interessante para se investigar. O que representa nascer duas vezes? Podemos efetivamente nascer e renascer. E este renascer não necessariamente vai significar um nascer novo, mas um nascer somado a outro anterior, e vamos continuamente renascendo em versões diversas. É expandir as experiências e a veracidade delas.
Henri Michaux tem uma frase muito bonita: Même si c’est vrai c’est faux [mesmo se for verdadeiro, é falso]. E o inverso também é válido: mesmo se for falso, é verdadeiro.
2. As gêmeas
Um dos trabalhos mais famosos de Tunga é chamado de Xifópagas Capilares. Trata-se de uma performance feita pela primeira vez em 1984, na qual duas irmãs gêmeas unidas pelos cabelos passeiam pelo espaço expositivo, entre os visitantes e alguns outros trabalhos do artista. De todos os trabalhos de Tunga, Xifópagas Capilares entre Nós é o mais emblemático da ideia da uma narrativa como obra – ela faz referência a diversos trabalhos do artista, incluindo Escalpe, Bordas, Pintura Sedativa, Protesis, Revê-la Antinomia e Les Bijoux de Mme de Sade, e os conecta e entrelaça em loop, tal qual Ão, esculpindo, escavando o próprio texto. A ideia do artista é questionar também a própria ideia de representação, subjetividade e unidade.
Tunga explica: “Tanto a história das xifópagas capilares, quanto a do nascimento partem de um mesmo quadro: As Gêmeas, do Guignard [ o pai de tunga, o poeta Gerardo Mello Mourão, era amigo do artista e as gêmeas da tela são a mãe e a tia de Tunga]. Quando olho essa imagem, eu me pergunto: ele pintou as duas juntas? Ou pintou uma de cada vez? Ou pintou uma e outra foi embora? Ele questiona a representação: o que cada uma representa e o que uma representa para a outra. E não sabemos qual veio primeiro. Aí aparece outro problema: o que antecede a unidade? Existe uma unidade bipartida ou ela é discreta [grandeza constituída por unidades distintas]? Há uma série de consequências que você pode deduzir de fatos que são reais ou apenas ficções deduzidas de fatos reais”.
3. Os cabelos e pentes
O formato do pente surge como um elemento organizador: ao passarem por seus dentes, os fios metálicos dos cabelos são separados. Elementos organizadores são como elementos aglutinadores, porém, mais sofisticados. A superfície polida do pente pode servir de espelho para os fios, que entram de um lado e só conseguem atravessar para o outro lado do pente ao deixar para trás a própria imagem.
Segundo diversas fontes, Tunga decidiu diferenciar as versões maiores de Pente – como são apresentadas no catálogo do Bard College -, que receberam o título de Troféu, das menores, chamadas Escalpe. Uma composição de pentes e fios de metal, esses trabalhos foram feitos em escalas variadas, sendo os menores exibidos nas paredes, e os maiores, no chão. Em alguns casos, juntaram-se tranças de chumbo e tacapes magnéticos, resultando em TaCaPe/ Escalpe e Êxtases.
4.Tranças e tripés
Sobre as tranças, o artista fala: “Uma das primeiras coisas que o homem fez foram tranças. E a trança é uma coisa tão misteriosa. É uma coisa tão simples. Transformar 3 em 1. Esta ideia de transformar 3 em 1 está presente nas cosmologias, no velho testamento, na ideia de santíssima trindade. Que é um pensamento abstrato, feito por uma pessoa de 15 milhões de anos, onde o pensamento abstrato ainda não existia. Este pensamento abstrato do tecer, de fazer 3 em 1, de transformar, criar e recriar a unidade está na presença das tranças, é uma coisa essencialmente feminina. E é equivalente a um mesmo momento onde o homem vai caçar e faz um tacape, um instrumento que é uma coisa massiva e agressiva para caçar um animal. Então esta dialética me fez produzir tranças de chumbo e tacapes de imã.”
Muitos trabalhos são compostos por tranças de chumbo. Aqui, Tunga cria um paradoxo entre uma coisa que é tão feminina (trança) com um material tão bruto e pesado e tipicamente masculino (chumbo).
Em muitos trabalhos é possível identificar o três que é, ao mesmo tempo, três e um: três eixos, três mechas, três meninas, três velas ou três bolas de sabão. As três chamas que viram uma de Sero te Amavi, a Trança e os questionamentos de Santo Agostinho, se comparam a força do torque no encontro das três colunas de ferro dos tripés da Trindade Tríade.
5. Imãs
A presença do imã na obra de Tunga pode ser lido como “conectivos invisíveis”, nas palavras do artista, que interagem biologicamente com o corpo do espectador. O imã em sua obra é capaz de esculpir o vazio, uma vez que ele cria um campo magnético, que por sua vez é invisível aos olhos e sensível à percepção corporal; imanta de alguma forma o corpo do espectador.
Como vemos no pavilhão dedicado a ele no Inhotim, há um aviso de restrição para pessoas portadoras de marca-passo, pois a utilização de grandes quantidades de imãs pode gerar um campo magnético capaz de alterar o funcionamento de alguns aparelhos eletrônicos. O mesmo deve acontecer com os visitantes da instalação Gravitação Magnética.
6.Tacape e redes
Tacape, uma palavra com origem tupi takapé, é uma arma construída com um pedaço de madeira, sendo uma de suas extremidades mais grossas, usada entre os indígenas para combates próximos ou rituais. Nos trabalhos com tacape de imã Tunga cria outro paradoxo, pois o que deveria ser algo bruto (tacape) é, na verdade, frágil por feito por fragmentos de imã – se for usado irá se desfaleçer!
“A forma do tacape, nascida da linha, pode ocultar outra linha como uma trança ou uma bengala. O conjunto repousa pesadamente na hipótese de um possível reagrupamento”, descreve o texto da obra no site do artista.
Outra referência indígena que aparece com frequência no trabalho de Tunga é a rede. Aqui, no entanto, o artista usa a estrutura feita para abrigar objetos cotidianos para armazenar caveiras ou recipientes de laboratório cheios de líquidos que remetem à transformação e à alquimia.
7. Transmutação e metamorfose
A ideia de transformação encontra o transitório, o desvio, o mutável, o lugar em que diferentes estados da matéria orgânica não estão definidos, encontram-se passíveis de transformação.
Este conceito era bastante caro à Tunga. O artista explica: “No ato de “fazer arte” o processo de transformação é contínuo. Não existe finitude – isso é um idealismo da arte. A palavra “vernissage” é “envernizamento”. Mas se o artista acha que vai passar um verniz no quadro e vai cristalizar aquela imagem, está enganado. Os processos persistem: a luz continua oxidando as cores da tela, por exemplo. Por isso, desde o começo eu me interessei em ver a arte como um processo de transformação contínua e que a grande transformação da matéria passava por mutações paulatinas. Nessas pequenas alterações podemos encontrar a metáfora de uma transformação maior que é contínua e peremptória dos elementos da obra.
Ou seja: é importante saber que as coisas não estão paradas. Não podemos ficar estocados em uma experiência. Elas são dinâmicas – assim como o pensar – e podem se transformar em outras experiências muitas vezes mais sutis e delicadas, mas não menos importantes do que experiências grandes.O período das grandes transformações já aconteceu no século 20 e cabe agora ao artista observar as pequenas mudanças deste tempo. É necessário encontrar macromudanças nas micromudanças. Detectar transformações graves a partir de pequenos fatos”.
Sobre este assunto, a pesquisadora Vanessa Séves Deister de Sousa reflete: “A alquimia é a fonte na qual Tunga busca não só os títulos para alguns trabalhos como também inspiração para uma escolha mais precisa de materiais que trariam seu respectivo simbolismo para o interior da obra artística. São exemplos desse tipo de operação poética os frascos de laboratório utilizados em Cooking Cristals expanded (2009), assim como a presença recorrente de materiais como cobre, chumbo, prata, ouro e enxofre que ressoam alquimia tanto no modo como são empregados, como na forma que assumem nas composições dos trabalhos”.
8. A natureza e os animais
Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão foi apelidado, ainda criança de Tunga – uma referência ao Tunga penetrans, nome científico de “bicho-de-pé”. Sobre o assunto, Martha Martins afirma:“Por algum acaso familiar perdido na memória, um dia, o menino Antônio José começou a ser chamado de Tunga. Mas, não por acaso, parece ter incorporado ao longo de sua carreira algumas das inquietantes peculiaridades de seu minúsculo homônimo […] O fluxo de energia que domina suas obras, que por vezes evocam a potência biológica da natureza tropical, implica o próprio nome. Um nome em que a sonoridade já evoca por si mesma algo primitivo e confirma a existência de um pacto entre o significado do nome como atribuidor de caráter, e uma analogia em relação às ações e às marcas que se deixam neste mundo”
Tunga usa, em muitos trabalhos, animais vivos e elementos relacionados a estes. A cobra é um animal recorrente em obras de diversos tempos e geografias justamente pelo seu poder de transformação e renascimento quando troca de pele. Em A vanguarda viperina, três serpentes são sedadas com éter e trançadas juntas. A performance consiste em acompanhar o destrançar das serpentes à medida que o sedativo perde o efeito. Coincidentemente o éter que se relaciona ao aether do mesmo vazio que associamos ao espaço que a escultura clássica irá ocupar. A serpente inala o vazio, adormece e acorda trançada.
Laminadas Almas é uma investigação sobre a metamorfose e o movimento incessante das moscas e dos sapos em um ambiente laboratorial. É composta por dois portais, uma mesa,, uma forte lâmpada incandescente e um aquário repleto de girinos.Sobre o tampo da mesa algo parecido com terra está espalhado ocultando milhares de larvas de mosca que se movem escondendo-se da luz. Lâminas de laboratório se espalham entre as larvas.Dois grandes alfinetes cravados na parede, se alongam até os portais, apoiando-se neles. Sua longa superfície de alumínio polido serve de varal para dois viveiros, um de moscas e o outro de rãs.
Em conversa com a francesa Catherine Lampert, Tunga afirma: “O que eu quero dizer é que a natureza deixa de existir assim que alguém a observa, a testemunha, ou a formula. Mas ela pode ser coletada e reorganizada como uma força diferente. A presença da natureza na cultura é paradoxalmente similar a um modelo no qual a vegetação cresce e rompe a ilusão europeia de permanência de uma obra feita, por exemplo, de mármore. (…) Ela me ajudou a perceber a existência de uma dinâmica que poderia permitir uma nova inscrição a ser aplicada à arte. É a ideia de se procurar desvendar a maneira que aprendemos das coisas que são estáticas e no entanto, ao mesmo tempo, representam transição. Existe, além disso, uma coincidência incrível com a arte moderna, que também nos ajudou a entender que a estabilidade das formas, cores e estruturas apresentadas por artistas é, na maior parte das vezes, sujeita ao espectador, e a seu olhar e seus humores, vítreo ou espiritual; sujeita à pessoa no extremo receptor da obra”.
9.O corpo e o nu
Desde a Vênus de Willendorf, criada para representar a fertilidade, até performances atuais como a do Chico Fernandes que rendeu uma multa ao artista – o nu é um tema discutido desde o nascimento das artes visuais. Para Tunga, despir-se era um ato necessário para encontrar nossa essência.
O artista explica: “As pessoas se vestem para se fazerem presentes. E, a rigor, você precisa despi-las para mostrar o que elas realmente são. Mas, mesmo nuas, elas podem estar vestidas. Há aqui a metáfora do nu como forma de representação dele mesmo. É preciso despir o nu. Trazer o nu – uma imagem clássica – à sua intimidade para que ele apareça naquilo que ele é e não naquilo que ele representa. Nós somos cobertos de cascas e representações que construímos de nós mesmos. E normalmente tentamos nos fazer representar por coisas que não são a nossa essência. Por isso, é importante buscar o strip-tease das coisas para ir além daquilo que está representado. E confrontar o nu de nós mesmos com o nu do mundo”.
É sobre criar continuidade entre o mundo que a gente constrói e o mundo que a gente vive enquanto está construindo o que constrói. Em entrevista dada a Fabio Cypriano, Tunga fala sobre a questão do corpo em seus trabalhos: “Na arte contemporânea, interessam as experiências com o corpo em sua totalidade, não é apenas o olhar, mas o tato, o olfato, a presença, tudo aquilo que vai servir de constitutivo do sujeito. A linguagem corpórea é um dos momentos da formação dos sentidos do sujeito. Mesmo que ela não esteja codificada como a visual-verbal, ela pode ser tão bem elaborada quanto […] E a performance é como colocar a obra à disposição da experiência”.
Fonte: Arte Que Acontece. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Morre o artista plástico Tunga, aos 64 anos | O Globo
Um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira, Tunga morreu às 16h desta segunda-feira de câncer, aos 64 anos. Ele estava internado no hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, desde 12 de maio. Pernambucano radicado no Rio desde a juventude, ele tem uma obra que recusa categorias da história da arte brasileira. O corpo vai ser velado nesta terça-feira e enterrado na quarta, no cemitério São João Batista, a pedido do próprio artista, que queria ficar no jazigo da família.
Tunga foi o primeiro artista contemporâneo do mundo a ter uma obra no Louvre, em Paris. Apesar de ter despontado nos anos 1970, junto a artistas que também criaram esculturas e instalações marcadas pela reflexão, como Cildo Meireles e Waltercio Caldas, Tunga construiu um vocabulário e uma gramática particulares. Sua obra é barroca, carregada de simbolismos e potência física, interessada em criar novas relações entre imagens recorrentes em 40 anos de trajetória: ossos, crânios, tranças, dedais, agulhas e bengalas gigantes, redes, dentes, recipientes de vidro, líquidos viscosos.
A escultura “Lezart”, criada em 1989, é exemplar do repertório formal do artista. Fios e tranças de cobre atravessam pentes monumentais de ferro, e a eles são unidos por ímãs – por meio deles, as partes de sua escultura podem ser sempre recombinadas, criando novos sentidos. “Fazer arte é juntar coisas”, repetia, ressaltando que dessa junção de elementos aparentemente sem conexão algo novo se revelaria, como na poesia.
“Nasci em Palmares, Pernambuco, ao mesmo tempo em que nasci no Rio de Janeiro, no mesmo dia e hora”, escreveu Tunga, batizado como Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, filho do jornalista e poeta Gerardo Mello Mourão e de Léa de Barros (ela é uma das “Gêmeas” da célebre tela de Guignard). O artista costumava contar que nasceu em Palmares, tendo se mudado paro o Rio ainda criança, mas chegou a dizer que essa era mais uma de suas histórias inventadas.
De todo modo, foi no Rio de Janeiro onde Tunga construiu seu pensamento visual, desde sua primeira exposição individual no Museu de Arte Moderna, em 1974, aos 22 anos. Com 50 desenhos, “Museu da masturbação infantil” anunciava o erotismo que seria presente em sua obra, em que sempre predominou uma presença corpórea. Não à toa, ele costumava inaugurar seus trabalhos com performances, que chamava de instaurações.
PARCERIA CONSTANTE COM ARNALDO ANTUNES
Em 1998, atores carregaram uma trança para “instaurar” a obra “Tereza” no Museu de Belas Artes do Rio, ao som de Arnaldo Antunes, que se tornaria parceiro constante do artista; e novamente quando o trabalho chegou a Inhotim, o maior centro de arte contemporânea do país, em Brumadinho, Minas Gerais, de cuja criação Tunga foi um dos inspiradores. Em 2012, o artista inaugurou ali um espaço de 2.600 metros quadrados para algumas suas esculturas, a Galeria Psicoativa.
Na galeria também está “Lezart”, “instaurada” com “Xifópagas capilares”, performance de 1984 criada a partir de uma lenda inventada por Tunga: duas meninas unidas pelo cabelo que são decapitadas porque não querem se separar. Outro pavilhão do instituto, existente desde 2006, é dedicado a “True Rouge” (1997), e foi aberto com uma ação de mulheres e homens nus, que espalharam um líquido viscoso vermelho no chão e nas redes de mesma cor, fazendo-o transbordar de garrafas transparentes.
Em “Resgate”, que inaugurou o Centro Cultural Banco do Brasil, em 2001, a coreógrafa Lia Rodrigues dirigiu mais de 100 pessoas, que pintaram de vermelho uma instalação monumental, em performance de oito horas.
Além das parcerias constantes com Lia Rodrigues e Arnaldo Antunes, Tunga fez o vídeo “Nervo de prata” (1987) com Arthur Omar, e uma trilogia audiovisual com o cineasta Eryk Rocha: “Medula” (2004), a abotoadura do vestido feita com os dentes de um casal; “Quimera” (2004), exibido nos festivais de Cannes e Sundance, chamado de sonhometragem pela dupla; e “Laminadas almas” (2006), filmado na performance de mesmo ano no Jardim Botânico do Rio com 600 rãs, 40 mil moscas, girinos, larvas, estudantes de jaleco, luvas e asas gigantes.
A exploração do audiovisual começou em 1980, com “Ão”, 16mm em looping que mostra a curva de um túnel, como se ele não tivesse entrada nem fim, exibido no ano seguinte na Bienal de São Paulo, da qual participou ainda em 1987 e 1994. Tunga expôs também na Bienal de Veneza, na documenta de Kassel e foi o primeiro artista contemporâneo do mundo a ter uma obra no Louvre, em Paris.
Nas duas principais publicações sobre sua obra, ambas da hoje extinta editora CosacNaify, Tunga se manteve fiel a esse princípio, escolhendo textos que não teorizassem sobre seu trabalho, mas acrescentassem sentidos poéticos a ele. Como “Isso”, de Arnaldo Antunes, publicado originalmente no “Jornal da Tarde”, em 1994: a queda dos dentes,/ o desmame/ (o desmesmo),/ a amnésia cotidiana,/ o oco da caixa craniana,/ o ovo do sino/ (o badalo),/ a sombra do símbolo,/ a lembrança da silhueta do semblante,/ o silêncio dos pêndulos,/ o silêncio de todas as coisas que dependem de tempo” – diz um trecho do poema.
Fonte: O Globo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Última obra de Tunga, um anatomista surreal, é um choque entre vida e morte | Folha de São Paulo
O corpo é ao mesmo tempo raiz e flores, um tronco estendido entre o nada abissal e as pétalas que lutam pela luz solar. Tunga é o arquiteto dessa tragédia cheia de vida, o retrato crepuscular dos breves instantes em que nossos corações batem, entre o nascimento e a morte.
É a vida, no impulso do sexo, que importa em todo caso. Um quarto de século desde a sua última mostra na Argentina, a derradeira megainstalação do artista brasileiro, "Eu, Você e a Lua", agora toma um banho de sol no átrio do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, iluminada pela luz do dia filtrada pelas claraboias no teto da galeria e entrevista pela janela aberta na lateral do prédio, fresta que não raro atrai os passantes na calçada para um espetáculo de vidro, cerâmica, metal, gesso e resina.
Difícil não prestar atenção nessa arquitetura de equilíbrios e balanços delicados. No centro de tudo, está o tronco de uma árvore fossilizada, madeira que se transformou quase em vidro esbranquiçado, um elo entre vida e morte, plano terreno e celeste, transformado por forças que não controlamos, a madeira antiga feita exótica escultura.
Nas laterais, como que fecundando óvulos trincados, dois dedos gigantescos fazem pressão, gozam em espasmos e se desfazem em tempestade sobre garrafas e bacias, entre espelhos e frascos sobre um traçado de linhas no chão da galeria, uma frágil arquitetura do desejo que alegoriza nossa também frágil existência, o corpo que endeusamos como a carne mais fraca do mercado.
Tunga, morto há nove anos, foi antes de artista uma espécie de anatomista surrealista e punk, obcecado por tudo o que atravessa o corpo humano, pela virilha, pelos peitos, pênis, vagina, ânus, um artista de olho no chão, no mais básico da natureza humana como animais que se excitam, deitam e rolam, bichos, por mais elegantes e sofisticados, que não deixam de ser rasteiros, excitáveis e fáceis.
Se no traçado solto e surrealista de seus desenhos, composições muitas vezes espelhadas, que ele fazia com as duas mãos, isso fica só nas trêmulas entrelinhas, Tunga já mostrou o sexo e o fetiche, em toda a sua exuberância grosteca, em "Cooking", um filme explícito, em que um casal se entrega a prazeres com cristais, fezes e urina, com pedras penetrando orifícios e outras coisas mais. Também já mergulhou bailarinos em líquido vermelho sangue e dirigiu mulheres nuas a maquiar peças de argila em performances que refletem a estranha elasticidade da carne.
Na mostra agora em Buenos Aires, os corpos de carne e osso estão ausentes, ao menos nesse grau de presença. Isso talvez porque na instalação, construída já no fim da vida, Tunga orquestrava nas formas exasperadas a sensação de fugacidade, a consciência de um corpo que agora está aqui, mas sempre em vias de desaparecer, o corpo em colapso porque é feito de carne, água e sal, mas eterno porque se torna cristal, o grande fóssil que rege esse jogo de pesos e contrapesos, ele mesmo oco, como um túnel entre duas dimensões paralelas.
O que sobra, nessa visão de Tunga, é a encenação calculada de uma arqueologia, os rastros que deixamos para trás, nossa transmutação em coisa outra no nascimento, no sexo, na morte, como um processo de pura alquimia —pele, sangue, pelos, ossos e músculos que se tornam minerais, raízes, fósseis, cristais. Seria o que ele entende por memória visual e molecular prévia à existência, um flagra da natureza antes de ela ser conspurcada por uma humanidade menos resistente ao tempo, distante da sólida beleza das pedras.
Num documentário, também exibido no museu, Tunga fala do que seria uma gota d’água cristalizada numa pedra em forma de garrafa como uma testemunha de um tempo antes mesmo dos dinossauros, o elemento-testemunha da vida na Terra antes de nós, antes de tudo, as árvores como ponte entre terra e céu. Ele sabe que isso é um exercício de pura extrapolação, a ideia que o artista imagina as coisas, constrói imagens que ele faz aparecer, sonhos e pesadelos que saltam do delírio para a concretude do material.
É um vocabulário que, no caso dele, por mais selvagem e visceral que possa se manifestar na superfície, respeita uma hierarquia simbólica rígida. Tunga repetiu muitas formas e objetos —tranças, cálices, garrafas, sinos e tacapes— nos mesmos materiais —cobre, couro, cristal, bronze, feltro ou ferro fundido. Era um surrealista apegado à figuração, a formas reconhecíveis, mas que se deixam atravessar pelo imprevisível, a carne nervosa como as mãos que desobedecem ao comando do cérebro. No fundo, mais paixão e menos ordem.
Delicados, os desenhos que circundam a instalação são suas âncoras visuais, formas na folha de papel que se desdobram nos contornos físicos das esculturas. Nos próprios desenhos, há um espelhamento, um jogo de duplos. Um deles sugere figuras gêmeas unidas pelos seios, de um lado, uma perna, do outro, uma asa. Outro mostra dois olhos unidos por um emaranhado de linhas que no centro formam tanto uma vulva quanto um saco escrotal, uma sexualidade primordial, masculina e feminina, trans, o todo da espécie humana de onde fluem várias linhas que se cruzam.
Esses pares, seres que dão à luz seus próprios pares idênticos, são um motivo que atravessa toda a obra do artista desde as meninas gêmeas que fez desfilar pela galeria unidas pelos longos cabelos, seus ímãs unidos por forças maiores do que humanas, ou as gigantescas tranças de cobre em que os cabelos, tornados metal, parecem serpentear num sentido de ordem, mas uns sobre os outros, sempre em multiplicação.
Tunga foi um agente máximo da vontade, um artista movido por uma força vital tão avassaladora que, em consciência da própria finitude, lidava com a banalidade da vida, um acidente, afinal, tão bem quanto com o espelho da morte, o nosso destino final. Sem medo, irrefreável, construiu no seu laboratório de estranhezas uma grande celebração do mais insondável mistério que é estarmos aqui e agora.
O inevitável flerte entre a vida e a morte, do sangue à seiva escorrida em troncos que já são fósseis, está no centro de tudo o que fez, ele como testemunha da mais dolorosa beleza, o barroco explícito e duro como os ossos das caveiras. Tunga dizia, não espanta, que "as cavernas mais profundas da mente brilham com esplendor".
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Tunga questiona toda ordem da arte | Folha de São Paulo
Uma das declarações mais frequentes nas entrevistas de Catherine David, curadora da mostra Documenta de Kassel, defende a dissolução do espaço museológico.
A idéia ressoa com alguma reminiscência do discurso que acompanhou as experiências artísticas realizadas nos anos 60-70. Mas seu objetivo tem um tom crítico: o que distingue a produção atual e como o presente permite uma releitura de paradigmas históricos?
Não deixa de ser sintomático que, na mostra de artes de maior prestígio, a participação de um escultor da importância de Tunga consista nos vestígios de um acontecimento efêmero.
Levar para Kassel obras que contam com a gestualidade de alguns atores, privilegiando a linguagem da performance, contrapõe-se ao peso e gigantismo das esculturas que o artista havia exposto nas Bienais de São Paulo: imensa cabeleira de metal (1987) e conjunto de sinos monumentais (1994).
Para definir esse novo gênero, Tunga introduziu o termo "instauração", conceito flutuante que reúne elementos da performance e da instalação.
Captar a fagulha de vida em seu deslizar no espaço remete às danças-performances de Robert Morris, sobretudo à percepção corpórea da obra.
Num plano de equivalência, Tunga propõe três peças, cada uma delas ocorrendo em tempos simultâneos: o espectro de uma ação (obra em movimento) e as marcas desta passagem sobre a matéria (obra estática). O título "Inside Out - Upside Down" indica que todos os aspectos foram virados pelo avesso: a perda voluntária das insuspeitas categorias estéticas.
O campo da instauração mantém uma afinidade com o campo da experiência real de Hélio Oiticica (1937-1980) e Lygia Clark (1920-1988).
Presentes ambos no núcleo histórico desta Documenta, sublinhavam a descoberta de uma experiência primeira e espontânea, o diálogo sujeito-objeto: "Somos os propositores: somos o molde; a vocês cabe o sopro no interior desse molde: o sentido de nossa existência. Sós, não existimos; estamos a vosso dispor. Somos os propositores: enterramos a 'obra de arte' como tal e solicitamos a vocês para que o pensamento viva pela ação" (Lygia Clark, 1968).
É possível identificar uma linha decorrente em toda a trajetória de Tunga. As situações, dirigidas pelo artista sem sua presença direta, mesclam aspectos ritualísticos, num transe hipnótico.
Construir uma narrativa circular sempre integrou seu vocabulário. Em 1981, apresentou, na 16ª Bienal de São Paulo, uma instalação audiovisual projetando uma visão infinita de um trajeto dentro de um túnel ao contínuo som da música "Night and Day", de Frank Sinatra. Como em Beckett, o espaço discursivo não conhece repouso, o sujeito precisa habitar o tempo, nascer de novo, animal, mineral ou vegetal.
Sua gana da matéria impõe uma reflexão acerca da heterogeneidade dos impulsos do erotismo. Desde 1973, com a exibição de uma série de desenhos intitulados "Museu da Masturbação Infantil", Tunga vem refutando o discurso do patológico (ciência) e da transgressão (religião).
Procura simplesmente dar conta de um mecanismo interior que obedece a lei da natureza. Em exposição recente, bronzes maquiados com batom acentuavam o caráter hermafrodita de formas cônicas (cálice, garrafa, sino e funil).
A excitação erótica chega a seu auge no crime (Sade), como atesta a obra "Experiência de Física Sutil", onde sete jovens carregam malas, deixando cair partes do corpo do artista moldadas em gesso.
Já a peça "Tarde Vos Amei", inspirada numa confissão de Santo Agostinho, trazia toda a mística do erotismo sagrado: um tripé de velas acesas de 1,80 m cujo fogo, no sétimo dia, atingia três termômetros. A instauração incide precisamente no momento em que ocorre a explosão e o mercúrio se espalha no ambiente. A aproximação com o real dá-se na imersão escatológica.
Outro ato instaurado: em "Querido Amigo", sete mulheres nuas de cócoras imprimem suas genitálias sobre uma argila úmida. Com uma sensualidade quase aberrante, Tunga deixa aflorar um desejo interior na matéria: argila e vulvas desejando-se mutuamente, invocando Oiticica: "a obra nasce de apenas um toque na matéria".
Em "Xifópagas Capilares", unidades gemelares rodeavam a questão da dissimetria, do sacrifício e da inquietante imagem do outro. Para interromper a descontinuidade do ser e das coisas, o único ato que resta é comer o outro (imagem de duas lagartixas devorando-se até abolir os limites do um e do outro, na confusão da totalidade unívoca).
Vários domínios do conhecimento são tragados para dentro da matéria, imantando-se aos montes, como nos campos magnéticos das esculturas de Tunga: alquimia, arqueologia, mitologia, teologia, matemática, física, antropologia. Mas cada um denota uma insuficiência diante dos enigmas do mundo. Algo informe resulta desse amálgama de informações, que poderia ser chamado de "escultura de ação" ou "pintura viva", os termos não importam.
Diante da crise da racionalidade, o erotismo permanece como valor, força capaz de desequilibrar os fundamentos do simulacro.
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
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Antônio José de Barros de Carvalho e Mello Mourão | Folha de São Paulo
Um dos nomes mais celebrados e relevantes das artes visuais do país, Tunga morreu nesta segunda, aos 64. Ele sofria de câncer e estava internado no hospital Samaritano, no Rio, havia três semanas. Seu corpo será enterrado no cemitério São João Batista.
Em quase meio século de carreira, Tunga construiu uma obra plástica incontornável na arte contemporânea, mesclando referências sutis à herança construtiva que dominou as vanguardas nacionais a um universo simbólico único.
Seu mundo de tranças de aço e cobre atravessando pentes, ímãs ultrapotentes, caveiras, esqueletos, sereias, pérolas e sementes foi ao longo dos anos chamado de surrealista, delírios orquestrados como parte de uma mesma sinfonia.
Nascido em Pernambuco e radicado no Rio desde os anos 1970, Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão era filho de um poeta — Gerardo Mello Mourão. jornalista morto aos 90, em 2007, que foi correspondente da Folha em Pequim no início dos anos 1980.
Desde seus primeiros desenhos, Tunga dizia que suas obras partiam de reflexões a meio caminho entre versos e teorias filosóficas e científicas, “nunca demonstráveis nem refutáveis”, ele frisava.
No campo da escultura, maior parte de sua obra que surgiu sempre aliada à performance, usava materiais como cobre, aço e ímãs em construções que lembram o corpo humano, tecidos, pele, cartilagens e esqueletos, revestindo de dimensão carnal tudo que parece surgir como algo de natureza robusta, industrial.
É nesse sentido, falando em “construção rigorosa do imaginário”, que Tunga juntou duas pontas irreconciliáveis do espectro da arte contemporânea —o minimalismo obcecado pela força bruta da matéria, de Richard Serra a José Resende, e a sensualidade sanguínea de obras sobre o desejo, lembrando a dor dos corpos incomuns de Louise Bourgeois.
Esse erotismo, enquanto forma de manifestação do instinto e do desejo, parece guiar grande parte de suas pesquisas estéticas. Em um filme pornográfico que realizou, cristais e pedras surgem como transmutação de fluidos corporais, saliva, urina e fezes —o artista apontava ali uma espécie de alquimia latente na própria existência, de corpos em transformação.
Dândi Tropical
Sempre vestindo ternos de cores extravagantes, Tunga era um dândi tropical, lembrando às vezes Flávio de Carvalho, um artista de rigor absoluto em sua obra plástica que sabia ao mesmo tempo desafiar a atmosfera espessa que pesa sobre o mundo da arte.
Numa de suas primeiras séries de desenhos, “Museu da Masturbação Infantil”, dos anos 1970, Tunga já indicava esse caminho dúbio.
É uma dualidade que também transparece em “Ão”, filme que rodou em preto e branco num túnel, nos anos 1980, contrastando luz e escuridão.
Suas tranças de chumbo com laços coloridos criadas na mesma década parecem ter sido o primeiro passo de um arco narrativo que atingiu seu auge nas obras mais recentes, em que peças de argila moldadas à mão se equilibram sobre hastes metálicas.
Tunga morreu num momento de transformação em sua obra. Desde o começo da década de 1980, quando representou o Brasil na Bienal de Veneza, e depois de quatro passagens pela Bienal de São Paulo e mostras no MoMA, em Nova York, na Whitechapel, em Londres, no Jeu de Paume, em Paris, entre outras instituições de peso, ele se firmou como o menos solar e mais soturno dos artistas do país.
O esqueleto que pendurou numa espécie de rede debaixo da pirâmide do Louvre, em Paris, coroava essa descida ao inferno. Seu boneco tétrico se equilibrava tendo como contrapeso outras bolsas cheias de caveiras, uma versão fossilizada de obras que fez ao longo da vida em que frágeis objetos surgem suspensos por redes esgarçadas.
“True Rouge”, de 1997, uma de suas obras mais famosas agora no Instituto Inhotim, é uma dessas peças içadas, com frascos e ampolas de vidro cheias de um líquido vermelho, como se fosse sangue.
Nos últimos anos, depois de cicatrizadas as feridas e tendo sobrado só os ossos, talvez um indício do que ele chamava de um “reencontro com o arcaico”, Tunga foi abrindo mais o traço de seus desenhos e ampliando sua paleta de cores para incluir também tons mais solares, talvez, como dizia, lembrando sua vida à beira do mar.
Sua morte coincide com um momento em que ele afirmava ver “mais mistério na luz do que no escuro, na morte”.
Tunga construiu sua poesia calcado em universos distintos
Ali por meados dos anos 1980, Tunga apareceu na ampla sala do apartamento de seu pai, em Copacabana. Seus cabelos, lisos e compridos, mais ou menos divididos no meio da cabeça, caíam nos ombros e lhe davam um ar de cherokee digital. Magro, olhos escuros estalados no meio da noite, vestia algo assemelhado a uma bata, de gola careca; falava rápido e num tom baixo: "Então, você é o amigo de que meu pai tanto fala", disse, e me abraçou. Nunca mais deixamos de ser amigos.
Seu pai era o lendário poeta Gerardo Mello Mourão. Naquela época, voltava da China, onde fora correspondente da Folha. Os despachos de Gerardo brilhavam ao lado de textos de Paulo Francis, de Nova York; Claudio Abramo, de Paris e Londres; e Osvaldo Peralva, de Tóquio. Sacou a briga de estrelas? Gerardo logo me adotou e me transformou em seu cicerone na Pauliceia. Minha tarefa era descobrir novos restaurantes japoneses pela cidade, e contar causos.
Casado com Léa, filha do poderoso senador Antônio de Barros Carvalho, Gerardo, nascido no sertão cearense, fora deputado federal, fundador de vários jornais e se transformara por conta de sua obra e militância política em cidadão do mundo. Estabelecera uma imensa rede de amigos poetas e políticos ao redor do planeta. Cultivava também bons adversários. Aquilo tudo me fascinava: tinha segredos de polichinelo de personagens distintos como Michel Deguy, Pablo Neruda e Leonel Brizola.
Por vários anos, o senador Antônio Barros dera abrigo (casa, comida e roupa lavada) ao amigo Alberto da Veiga Guignard. Em agradecimento, o doce artista mineiro tratou de pintar o casarão da família, na rua România, no bairro carioca de Laranjeiras. Tetos, portas e algumas paredes foram cobertas por suas cores amenas e cenas cotidianas. Também registrou as filhas do senador numa tela clássica, as gêmeas Maura e Lea, mãe de Tunga, que vai citar o caso na sua série, hilária, "Xipófogas Capilares", da década de 1980.
Então, embaixo do prosaico apelido de Tunga escondia-se o nome heráldico de Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão. Um disfarce. Tanta política, arte brasileira e funda tradição nordestina, vinda da colônia, mais certa distinção próxima ao rapapé, soavam a ele peso desproporcional diante de seu projeto em construir uma obra desterritorializada, não imbricada com regionalismos ou cepas nacionalistas. De Gerardo herdou um fino humor, sofisticado, ao qual acrescentou um gosto pelo chiste e a construção permanente de irrealidades.
Isso no Brasil? Um país jovem mas talhado pela desigualdade social na falsa sisudez da república de doutores? É demais para essa terra um artista que se recusa a tecer um trabalho que não tenha por base a realidade imediata e azeda. Como ousa?
No DNA estético-ideológico pátrio se encontra o desenho da arte como registro, reprodução e, muitas vezes, acentos regionais. Se fosse assento seria mais útil. Assim o que possui caráter internacionalista, no Brasil, é posto sob suspeição. É pau, é pedra, é o fim do caminho.
Talvez venha daí a maior repercussão da obra de Tunga em terras estrangeiras: nos últimos anos foram várias as mostras dele em cidades europeias e americanas. Ele sempre fez um trabalho pertencente ao mundo, a partir de referências colhidas na especificidade dos materiais, por vezes em suas próprias excentricidades (cabelo, ossos, barro etc.), no lúdico, e solidamente amparado numa visão filosófica da arte. Porque sempre teve uma sede exuberante pela vida.
Aí que está. Nestes últimos tempos, trocando ideias para o nosso documentário, percebi como Tunga construía sua poesia calcado em universos distintos, quase intangíveis, e num diálogo com a natureza primeva. Numa imagem, o osso que sobe em "2001" de Kubrick e sob Wagner se transforma numa espaçonave. De primatas a astronautas, glosando Mlodinow.
Na construção do roteiro do nosso filme, senti como Tunga sacava conceitos oriundos da física, da química, de fenômenos geofísicos, da linguística e da filosofia para alicerçar seu pensamento. A todo esse coquetel adicione-se ainda sua picardia e sobretudo sua elegância ao desprezar os temas pedestres do cotidiano. É só olhar em volta e cotejar como ele fará falta.
Fonte: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.
Crédito fotográfico: Editora Cobogó. Consultado pela última vez em 30 de março de 2025.