Alcides Santos (1945, Recife, PE — 2008, Recife, PE) foi um pintor naïf brasileiro. Autodidata, iniciou sua trajetória artística enquanto trabalhava como enfermeiro, sendo incentivado a pintar pelo artista Antônio Cavalcanti. A partir de 1969, passou a se dedicar à pintura, desenvolvendo um estilo próprio e visceral, marcado por composições densas, figuras fantásticas e uma paleta de cores intensa. Suas obras exploram o universo simbólico e mítico do Nordeste, com forte influência do cordel, das festas populares, da religiosidade e do imaginário sertanejo. Mesmo não tendo formação acadêmica, seu trabalho conquistou reconhecimento nacional, participando de exposições importantes como a Bienal Internacional de São Paulo e sendo elogiado por personalidades como Ariano Suassuna. A crítica o comparou a artistas como Hieronymus Bosch, devido à riqueza simbólica de suas composições. Apesar do declínio de sua visibilidade nos anos 1990, sua obra permanece viva, sendo preservada por colecionadores e reconhecida por seu valor estético e cultural no contexto da arte popular brasileira.
Alcides Santos | Arremate Arte
Alcides Santos nasceu em 1945, na cidade do Recife, Pernambuco, e construiu uma trajetória singular na arte brasileira como um dos grandes expoentes da pintura naïf. Autodidata e de origem humilde, iniciou sua carreira artística de maneira inusitada: trabalhava como enfermeiro e foi incentivado a pintar pelo artista plástico Antônio Cavalcanti, de quem cuidava. Esse encontro transformou sua vida e o conduziu a uma produção intensa e marcada por um imaginário profundamente enraizado na cultura popular nordestina.
A partir de 1969, começou a pintar com regularidade, e seu estilo, livre padrões acadêmicos, logo chamou a atenção pela força cromática, composições densas e narrativa visual impregnada de elementos simbólicos e fantásticos. Suas obras dialogam diretamente com o universo do cordel, das festas populares, do catolicismo popular e da oralidade nordestina. Personagens mitológicos, figuras religiosas, vaqueiros, danças e rituais ganham vida em telas onde o real e o fantástico se entrelaçam com ousadia, humor e certa melancolia.
Nas décadas de 1970 e 1980, sua arte ganhou destaque nacional. Participou de exposições importantes, como a Bienal Internacional de São Paulo, e integrou coletivas que o colocaram em contato com artistas contemporâneos e críticos de arte. Foi amplamente reconhecido por nomes como Ariano Suassuna, que descreveu sua pintura como uma representação visual do “mundo maravilhoso, porém sinistro e sinuoso dos folhetos e contos populares nordestinos”.
Apesar do reconhecimento e de uma produção consistente, Alcides Santos enfrentou dificuldades nos anos seguintes. A partir da década de 1990, sua visibilidade diminuiu e ele deixou de ser mencionado em críticas e de participar de exposições. Em 2008, o artista faleceu, sem o devido reconhecimento que sua obra merecia.
Sua obra, por vezes comparada ao universo de Hieronymus Bosch pela densidade simbólica e inventividade, é um testemunho do poder expressivo da arte intuitiva.
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Alcides Santos | Itaú Cultural
Exposições
1972 - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois
1975 - Coletiva de Abertura
1978 - 1ª Bienal Latino Americana de São Paulo
1979 - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira
1980 - Gente da Terra
1980 - 4º Salão de Artes Plásticas da Noroeste
1981 - Múltiplas Tendências
1982 - Universo do Futebol
1985 - As Mães e a Flor na Visão de 33 Pintores
1986 - Pernambucanos em Brasília
1988 - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs
1999 - Gênios Ingênuos 70/80
2002 - Bienal Naifs do Brasil 2002
Fonte: ALCIDES Santos. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 03 de abril de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Ícone da arte naïf, Alcides Santos morreu no esquecimento | UOL Notícias
Em 1971, dom Gerardo Martins, à frente da Galeria do Rosário, na Igreja dos Rosários dos Pretos, se preparava para apresentar à sociedade Alcides Santos, artista cujos traços originais não se atrelavam aos academicismos. Em um texto publicado no Diário de Pernambuco, ele explica: “É um pintor ingênuo, desculpem-me o adjetivo. Trata-se, porém, de um autêntico ingênuo tocado pelo surrealismo e pelo lirismo, qualidade rara em artistas arrolados no gênero. Talvez, só nos maiores. É uma pintura sombria, como o próprio artista. É pintor de longa-metragem. Dou-lhe um crédito de confiança bastante largo. Só o futuro poderá dizer se tenho razão, pois, o melhor crítico de arte, chama-se, ainda, cinquenta anos depois”. Sua aposta não poderia estar mais certa: Alcides se tornaria um fenômeno de repercussão nacional, mas, após atingir o auge, ele foi relegado ao ostracismo ao ponto de sua morte, em meados de 2008 (não se sabe a data exata), ter passado batida, sem destaque na mídia ou até dentro da própria classe artística.
Mas o que teria acontecido para que um nome tão original das nossas artes plásticas, que dividiu os holofotes com artistas como Francisco Brennand, Reynaldo Fonseca e Wellington Virgolino, entre outros, terminasse seus dias no esquecimento? É difícil achar uma resposta simplista, pois, assim como seus trabalhos, a vida de Alcides Santos nunca foi de linhas retas e sim de traços originais e cores marcantes.
Nascido em 1945, no Recife, Alcides teve uma origem humilde e desenvolveu o talento para pintura incentivado pelo artista plástico Antônio Cavalcanti, de quem era enfermeiro, em meados dos anos 1960.
“Alcides contava que um dia Antônio perguntou se ele tinha interesse em pintar e, quando ele respondeu que sim, ele começou a transmitir seus conhecimentos. Ele, inclusive, passou para Alcides uma técnica muito pessoal, que não passou para mais ninguém, de preparação da tela, do uso das cores. Com o que aprendeu, ele deu um toque próprio a sua arte”, pontua o artista plástico José Ferreira de Carvalho, grande amigo de Alcides Santos.
O trabalho de Alcides é classificado pelos críticos como parte do movimento da arte naïf ou primitiva, marcado por artistas sem conhecimento de técnicas acadêmicas e que, justamente por isso, tem entre seus grandes diferenciais a liberdade estética. A originalidade do artista plástico, aliás, foi o que chamou a atenção do marchand Carlos Ranulpho.
“Conheci as obras de Alcides na Igreja do Rosário dos Pretos. Fiquei intrigado de imediato pela peculiaridade de sua arte. As cores, as formas e os personagens que ele ornava eram atraentes e originais. Poucos artistas conseguiram construir um universo pictórico tão sólido, diverso e interessante quanto Alcides. Ele deixava sua marca nos mínimos detalhes das telas”, lembra o marchand.
Ranulpho, então, convidou Alcides para trabalhar com ele e ofereceu um contrato de exclusividade, em 1973, através do qual ele poderia se dedicar exclusivamente à pintura. Alcides Santos e a família se mudaram do Córrego José Grande para uma casa espaçosa em Casa Forte e, durante toda a década de 1970 e meados de 1980, ele se firmou no cenário local e nacional, participando de várias coletivas e se destacando em eventos como a Bienal de São Paulo.
O artista plástico era figura carimbada nos jornais e recebia muitos elogios de seus contemporâneos. Sobre sua pintura, Ariano Suassuna afirmou que “é como se entrássemos na representação plástica do mundo maravilhoso, porém sinistro, sinuoso e meio demente dos folhetos e contos populares nordestinos”.
Em suas telas, como observa Olívio Tavares de Araújo na apresentação da exposição O Universo Alquimista de Alcides Santos, de 1979, há um caráter terapêutico, com símbolos religiosos, da cultura popular, e elementos que expressam suas crises de depressão e conflitos internos.
“Ele tem um traçado genial e a forma como usa as cores me surpreende muito. É uma pena que o trabalho dele seja tão pouco conhecido atualmente”, lamenta a galerista Edna Pontes, que possui 15 telas do pernambucano. Ela acredita que parte desse desinteresse pela obra do artista se dê por um certo preconceito que se mantém em relação à arte popular.
Dificuldades
Em meados dos anos 1980, Alcides se mudou para Fortaleza, seguindo sua então companheira, mas não foi bem sucedido na capital cearense. Pouco se sabe sobre sua vida desse período em diante. José Ferreira é um dos únicos a ter mantido contato com o pintor.
“Um dia, soube que ele estava de volta ao Recife, fui atrás e ele me contou que estava passando por dificuldades. Passei a ajudar, pegando os quadros dele para vender. Ele estava morando com a filha no Ipsep, mas depois se mudou para Paulista, para o quartinho de sua companheira na época. Quando fui lá, ele reclamou que já não enxergava direito por conta da diabetes. Estava debilitado. Depois, passei um tempo fora e não tive mais notícias. Fui várias vezes na casa dele, mas ninguém atendia. Quase um ano depois soube que ele tinha falecido no completo ostracismo”, lembra Ferreira.
Prolífica, a obra de Alcides Santos ainda tem muito a ser explorada. Ranulpho, por exemplo, sempre costuma incluir telas do artista em suas exposições coletivas a fim de ressaltar sua importância. Ferreira também possui quadros do amigo, que ele guarda com carinho.
“Ele morreu esquecido. O que é uma grande contradição e injustiça, pois ao longo dos anos 1970 seu mérito foi reconhecido por diversos críticos e instituições, inclusive internacionais. Acredito que o fato de ele ter sido um artista negro, de origem humilde e naïf foram elementos que contribuíram para o seu esquecimento no cenário artístico nacional. Mas seu trabalho está vivo e à espera de ser redescoberto”, pontua Ranulpho.
Fonte: UOL. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
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Alcides Santos | Rodrigues Galeria
Autodidata. Começa a pintar em 1969, com o estímulo do pintor pernambucano Antônio Cavalcanti que o inicia na utilização das tintas a óleo. Obteve o 3º Prêmio do Salão dos Novos, promovido pelo Museu de Arte Contemporânea de Olinda.
Em 1974, conquista o Prêmio de viagem ao Peru, no I Salão de Arte Global, acontecido no MAC/Olinda e no ano seguinte, o Prêmio “Seqüiscentenário de Pernambuco”, no II Salão de Arte Global, na Casa da Cultura. Sua temática é religiosa, mas sempre enfatizando a flora e a fauna do Nordeste. Realiza várias exposições (individuais e coletivas), além de participar de Bienais e Salões.
Olívio Tavares de Araújo escreveu: “Refletindo com precisão o instinto mágico deste pintor do Nordeste, não há dúvida de que sua arte reflete mundos ameaçadoramente profundos e insondáveis. Quanto mais antigas, mais suas obras se mostram atormentadas e sombrias. E mesmo nas mais novas, sobrevive a fantasia que povoa os fundos dos quadros e – sob o ponto de vista pictórico – lhes fornece a parte mais fascinante. Refiro-me é claro, a esses peixes-pássaros, animais de uma fauna inexistente, muitas vezes bicéfalos, com uma cabeça em cada ponta do corpo, e às formas amebóides soltas ao acaso no espaço, e aos signos arquétipos – estrelas, mandalas, serpentes – , e vegetações esfuziantes que parecem animadas, organismos híbridos onde uma corola pode se transformar em caranguejo, e toda uma infinidade de símbolos fálicos, disseminados pelos quadros” (…).
Joaquim Cardozo registrou: “A pintura de Alcides ‚ rica de invenções, de transformações das coisas e dos seres em outras formas inteiramente absurdas;… Alcides Santos é pintor para ser estudado com mais vagar e atenção, dentro do campo de sua classe ou categoria, ser estudado como um criador de universos” (…).
Roberto Pontual disse sobre seu trabalho: (…) “Nela os elementos de destaque estão no retorno a iconografia da infância, mesclada de contínuas referências transfiguradas à flora nordestina. Por sua vez, a fauna, que se inclui nesses ambientes de sonho ou de alucinação, em meio a árvores nuvens brotando de solos ardentes, dispõe de uma típica característica fantástica, como exercício do realismo mágico, tão aproximado da própria arte genuinamente popular. Vale ainda observar o cuidado com o que ele busca prover de texturas tênues e superfície de cada um de seus trabalhos, ampliando com elas a impressão de voluptuosos volumes”.
Hermilo Borba Filho afirmou: “Esses novos quadros, lembram-me de imediato certas iluminuras medievais e ícones russos, ligados à arte bizantina, caídos na pintura de Alcides Santos que, sendo do Nordeste, absorve o que de herança pode receber na Península Ibérica… na sua realidade imaginada, bichos e santos, folhagens e homens árvores, símbolos fálicos e bestiário atestam a marca da região em que o fantástico ‚ comumente encontrado a cada dia e a cada passo, com Alcides Santos convivendo com ele”.
Principais exposições individuais
1971: Galeria do Rosário, Recife (PE)
1973: Atelier de Augusto Rodrigues, Rio de Janeiro, (RJ)
1976: Galeria Ipanema, Rio de Janeiro, (RJ)
1979: Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo, (SP).
Principais exposições coletivas
1972: Palácio do Itamaraty, Espírito criador do povo brasileiro, Brasília (DF)
MAC/PE, I Salão dos Novos, Olinda (PE)
1973: Galeria Collectio, Arte Brasil Hoje / 50 anos depois, São Paulo (SP)
Ranulpho Galeria de Arte, Mostra franciscana, Recife (PE)
1974: MAC/PE, I Salão de Arte Global – Prêmio de viagem ao Peru, Olinda (PE)
MAM, XXIII Salão Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro (RJ)
1975: Casa da Cultura, II Salão de Arte Global, Prêmio Sesquicentenário de Pernambuco, Recife (PE)
1976: Salão Nacional, Rio de Janeiro (RJ)
1977: Paço das Artes, São Paulo (SP)
I Bienal Latino-Americano, sala especial, São Paulo (SP)
1985: Palácio dos Governadores / P.M.O., A vertente dos sonhos, Olinda (PE)
Museu de Arte Brasileira / FAAP, Artistas de Pernambuco – Acervo MAC/PE, São Paulo (SP)
1986: MAC/PE / CCPE, XXIX Congresso Cotal (mostra obras do acervo), Olinda (PE)
1988: Centro Cultural Quiriri, Mostra coletiva, São Paulo (SP)
Museu Max Fourny, Mostra internacional, Paris (França)
1988/89: Paço das Artes, O mundo fascinante dos pintores naïfs, Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: Rodrigues Galeria. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
Crédito fotográfico: Rodrigues Galeria. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
Alcides Santos (1945, Recife, PE — 2008, Recife, PE) foi um pintor naïf brasileiro. Autodidata, iniciou sua trajetória artística enquanto trabalhava como enfermeiro, sendo incentivado a pintar pelo artista Antônio Cavalcanti. A partir de 1969, passou a se dedicar à pintura, desenvolvendo um estilo próprio e visceral, marcado por composições densas, figuras fantásticas e uma paleta de cores intensa. Suas obras exploram o universo simbólico e mítico do Nordeste, com forte influência do cordel, das festas populares, da religiosidade e do imaginário sertanejo. Mesmo não tendo formação acadêmica, seu trabalho conquistou reconhecimento nacional, participando de exposições importantes como a Bienal Internacional de São Paulo e sendo elogiado por personalidades como Ariano Suassuna. A crítica o comparou a artistas como Hieronymus Bosch, devido à riqueza simbólica de suas composições. Apesar do declínio de sua visibilidade nos anos 1990, sua obra permanece viva, sendo preservada por colecionadores e reconhecida por seu valor estético e cultural no contexto da arte popular brasileira.
Alcides Santos | Arremate Arte
Alcides Santos nasceu em 1945, na cidade do Recife, Pernambuco, e construiu uma trajetória singular na arte brasileira como um dos grandes expoentes da pintura naïf. Autodidata e de origem humilde, iniciou sua carreira artística de maneira inusitada: trabalhava como enfermeiro e foi incentivado a pintar pelo artista plástico Antônio Cavalcanti, de quem cuidava. Esse encontro transformou sua vida e o conduziu a uma produção intensa e marcada por um imaginário profundamente enraizado na cultura popular nordestina.
A partir de 1969, começou a pintar com regularidade, e seu estilo, livre padrões acadêmicos, logo chamou a atenção pela força cromática, composições densas e narrativa visual impregnada de elementos simbólicos e fantásticos. Suas obras dialogam diretamente com o universo do cordel, das festas populares, do catolicismo popular e da oralidade nordestina. Personagens mitológicos, figuras religiosas, vaqueiros, danças e rituais ganham vida em telas onde o real e o fantástico se entrelaçam com ousadia, humor e certa melancolia.
Nas décadas de 1970 e 1980, sua arte ganhou destaque nacional. Participou de exposições importantes, como a Bienal Internacional de São Paulo, e integrou coletivas que o colocaram em contato com artistas contemporâneos e críticos de arte. Foi amplamente reconhecido por nomes como Ariano Suassuna, que descreveu sua pintura como uma representação visual do “mundo maravilhoso, porém sinistro e sinuoso dos folhetos e contos populares nordestinos”.
Apesar do reconhecimento e de uma produção consistente, Alcides Santos enfrentou dificuldades nos anos seguintes. A partir da década de 1990, sua visibilidade diminuiu e ele deixou de ser mencionado em críticas e de participar de exposições. Em 2008, o artista faleceu, sem o devido reconhecimento que sua obra merecia.
Sua obra, por vezes comparada ao universo de Hieronymus Bosch pela densidade simbólica e inventividade, é um testemunho do poder expressivo da arte intuitiva.
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Alcides Santos | Itaú Cultural
Exposições
1972 - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois
1975 - Coletiva de Abertura
1978 - 1ª Bienal Latino Americana de São Paulo
1979 - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira
1980 - Gente da Terra
1980 - 4º Salão de Artes Plásticas da Noroeste
1981 - Múltiplas Tendências
1982 - Universo do Futebol
1985 - As Mães e a Flor na Visão de 33 Pintores
1986 - Pernambucanos em Brasília
1988 - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs
1999 - Gênios Ingênuos 70/80
2002 - Bienal Naifs do Brasil 2002
Fonte: ALCIDES Santos. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 03 de abril de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Ícone da arte naïf, Alcides Santos morreu no esquecimento | UOL Notícias
Em 1971, dom Gerardo Martins, à frente da Galeria do Rosário, na Igreja dos Rosários dos Pretos, se preparava para apresentar à sociedade Alcides Santos, artista cujos traços originais não se atrelavam aos academicismos. Em um texto publicado no Diário de Pernambuco, ele explica: “É um pintor ingênuo, desculpem-me o adjetivo. Trata-se, porém, de um autêntico ingênuo tocado pelo surrealismo e pelo lirismo, qualidade rara em artistas arrolados no gênero. Talvez, só nos maiores. É uma pintura sombria, como o próprio artista. É pintor de longa-metragem. Dou-lhe um crédito de confiança bastante largo. Só o futuro poderá dizer se tenho razão, pois, o melhor crítico de arte, chama-se, ainda, cinquenta anos depois”. Sua aposta não poderia estar mais certa: Alcides se tornaria um fenômeno de repercussão nacional, mas, após atingir o auge, ele foi relegado ao ostracismo ao ponto de sua morte, em meados de 2008 (não se sabe a data exata), ter passado batida, sem destaque na mídia ou até dentro da própria classe artística.
Mas o que teria acontecido para que um nome tão original das nossas artes plásticas, que dividiu os holofotes com artistas como Francisco Brennand, Reynaldo Fonseca e Wellington Virgolino, entre outros, terminasse seus dias no esquecimento? É difícil achar uma resposta simplista, pois, assim como seus trabalhos, a vida de Alcides Santos nunca foi de linhas retas e sim de traços originais e cores marcantes.
Nascido em 1945, no Recife, Alcides teve uma origem humilde e desenvolveu o talento para pintura incentivado pelo artista plástico Antônio Cavalcanti, de quem era enfermeiro, em meados dos anos 1960.
“Alcides contava que um dia Antônio perguntou se ele tinha interesse em pintar e, quando ele respondeu que sim, ele começou a transmitir seus conhecimentos. Ele, inclusive, passou para Alcides uma técnica muito pessoal, que não passou para mais ninguém, de preparação da tela, do uso das cores. Com o que aprendeu, ele deu um toque próprio a sua arte”, pontua o artista plástico José Ferreira de Carvalho, grande amigo de Alcides Santos.
O trabalho de Alcides é classificado pelos críticos como parte do movimento da arte naïf ou primitiva, marcado por artistas sem conhecimento de técnicas acadêmicas e que, justamente por isso, tem entre seus grandes diferenciais a liberdade estética. A originalidade do artista plástico, aliás, foi o que chamou a atenção do marchand Carlos Ranulpho.
“Conheci as obras de Alcides na Igreja do Rosário dos Pretos. Fiquei intrigado de imediato pela peculiaridade de sua arte. As cores, as formas e os personagens que ele ornava eram atraentes e originais. Poucos artistas conseguiram construir um universo pictórico tão sólido, diverso e interessante quanto Alcides. Ele deixava sua marca nos mínimos detalhes das telas”, lembra o marchand.
Ranulpho, então, convidou Alcides para trabalhar com ele e ofereceu um contrato de exclusividade, em 1973, através do qual ele poderia se dedicar exclusivamente à pintura. Alcides Santos e a família se mudaram do Córrego José Grande para uma casa espaçosa em Casa Forte e, durante toda a década de 1970 e meados de 1980, ele se firmou no cenário local e nacional, participando de várias coletivas e se destacando em eventos como a Bienal de São Paulo.
O artista plástico era figura carimbada nos jornais e recebia muitos elogios de seus contemporâneos. Sobre sua pintura, Ariano Suassuna afirmou que “é como se entrássemos na representação plástica do mundo maravilhoso, porém sinistro, sinuoso e meio demente dos folhetos e contos populares nordestinos”.
Em suas telas, como observa Olívio Tavares de Araújo na apresentação da exposição O Universo Alquimista de Alcides Santos, de 1979, há um caráter terapêutico, com símbolos religiosos, da cultura popular, e elementos que expressam suas crises de depressão e conflitos internos.
“Ele tem um traçado genial e a forma como usa as cores me surpreende muito. É uma pena que o trabalho dele seja tão pouco conhecido atualmente”, lamenta a galerista Edna Pontes, que possui 15 telas do pernambucano. Ela acredita que parte desse desinteresse pela obra do artista se dê por um certo preconceito que se mantém em relação à arte popular.
Dificuldades
Em meados dos anos 1980, Alcides se mudou para Fortaleza, seguindo sua então companheira, mas não foi bem sucedido na capital cearense. Pouco se sabe sobre sua vida desse período em diante. José Ferreira é um dos únicos a ter mantido contato com o pintor.
“Um dia, soube que ele estava de volta ao Recife, fui atrás e ele me contou que estava passando por dificuldades. Passei a ajudar, pegando os quadros dele para vender. Ele estava morando com a filha no Ipsep, mas depois se mudou para Paulista, para o quartinho de sua companheira na época. Quando fui lá, ele reclamou que já não enxergava direito por conta da diabetes. Estava debilitado. Depois, passei um tempo fora e não tive mais notícias. Fui várias vezes na casa dele, mas ninguém atendia. Quase um ano depois soube que ele tinha falecido no completo ostracismo”, lembra Ferreira.
Prolífica, a obra de Alcides Santos ainda tem muito a ser explorada. Ranulpho, por exemplo, sempre costuma incluir telas do artista em suas exposições coletivas a fim de ressaltar sua importância. Ferreira também possui quadros do amigo, que ele guarda com carinho.
“Ele morreu esquecido. O que é uma grande contradição e injustiça, pois ao longo dos anos 1970 seu mérito foi reconhecido por diversos críticos e instituições, inclusive internacionais. Acredito que o fato de ele ter sido um artista negro, de origem humilde e naïf foram elementos que contribuíram para o seu esquecimento no cenário artístico nacional. Mas seu trabalho está vivo e à espera de ser redescoberto”, pontua Ranulpho.
Fonte: UOL. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
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Alcides Santos | Rodrigues Galeria
Autodidata. Começa a pintar em 1969, com o estímulo do pintor pernambucano Antônio Cavalcanti que o inicia na utilização das tintas a óleo. Obteve o 3º Prêmio do Salão dos Novos, promovido pelo Museu de Arte Contemporânea de Olinda.
Em 1974, conquista o Prêmio de viagem ao Peru, no I Salão de Arte Global, acontecido no MAC/Olinda e no ano seguinte, o Prêmio “Seqüiscentenário de Pernambuco”, no II Salão de Arte Global, na Casa da Cultura. Sua temática é religiosa, mas sempre enfatizando a flora e a fauna do Nordeste. Realiza várias exposições (individuais e coletivas), além de participar de Bienais e Salões.
Olívio Tavares de Araújo escreveu: “Refletindo com precisão o instinto mágico deste pintor do Nordeste, não há dúvida de que sua arte reflete mundos ameaçadoramente profundos e insondáveis. Quanto mais antigas, mais suas obras se mostram atormentadas e sombrias. E mesmo nas mais novas, sobrevive a fantasia que povoa os fundos dos quadros e – sob o ponto de vista pictórico – lhes fornece a parte mais fascinante. Refiro-me é claro, a esses peixes-pássaros, animais de uma fauna inexistente, muitas vezes bicéfalos, com uma cabeça em cada ponta do corpo, e às formas amebóides soltas ao acaso no espaço, e aos signos arquétipos – estrelas, mandalas, serpentes – , e vegetações esfuziantes que parecem animadas, organismos híbridos onde uma corola pode se transformar em caranguejo, e toda uma infinidade de símbolos fálicos, disseminados pelos quadros” (…).
Joaquim Cardozo registrou: “A pintura de Alcides ‚ rica de invenções, de transformações das coisas e dos seres em outras formas inteiramente absurdas;… Alcides Santos é pintor para ser estudado com mais vagar e atenção, dentro do campo de sua classe ou categoria, ser estudado como um criador de universos” (…).
Roberto Pontual disse sobre seu trabalho: (…) “Nela os elementos de destaque estão no retorno a iconografia da infância, mesclada de contínuas referências transfiguradas à flora nordestina. Por sua vez, a fauna, que se inclui nesses ambientes de sonho ou de alucinação, em meio a árvores nuvens brotando de solos ardentes, dispõe de uma típica característica fantástica, como exercício do realismo mágico, tão aproximado da própria arte genuinamente popular. Vale ainda observar o cuidado com o que ele busca prover de texturas tênues e superfície de cada um de seus trabalhos, ampliando com elas a impressão de voluptuosos volumes”.
Hermilo Borba Filho afirmou: “Esses novos quadros, lembram-me de imediato certas iluminuras medievais e ícones russos, ligados à arte bizantina, caídos na pintura de Alcides Santos que, sendo do Nordeste, absorve o que de herança pode receber na Península Ibérica… na sua realidade imaginada, bichos e santos, folhagens e homens árvores, símbolos fálicos e bestiário atestam a marca da região em que o fantástico ‚ comumente encontrado a cada dia e a cada passo, com Alcides Santos convivendo com ele”.
Principais exposições individuais
1971: Galeria do Rosário, Recife (PE)
1973: Atelier de Augusto Rodrigues, Rio de Janeiro, (RJ)
1976: Galeria Ipanema, Rio de Janeiro, (RJ)
1979: Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo, (SP).
Principais exposições coletivas
1972: Palácio do Itamaraty, Espírito criador do povo brasileiro, Brasília (DF)
MAC/PE, I Salão dos Novos, Olinda (PE)
1973: Galeria Collectio, Arte Brasil Hoje / 50 anos depois, São Paulo (SP)
Ranulpho Galeria de Arte, Mostra franciscana, Recife (PE)
1974: MAC/PE, I Salão de Arte Global – Prêmio de viagem ao Peru, Olinda (PE)
MAM, XXIII Salão Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro (RJ)
1975: Casa da Cultura, II Salão de Arte Global, Prêmio Sesquicentenário de Pernambuco, Recife (PE)
1976: Salão Nacional, Rio de Janeiro (RJ)
1977: Paço das Artes, São Paulo (SP)
I Bienal Latino-Americano, sala especial, São Paulo (SP)
1985: Palácio dos Governadores / P.M.O., A vertente dos sonhos, Olinda (PE)
Museu de Arte Brasileira / FAAP, Artistas de Pernambuco – Acervo MAC/PE, São Paulo (SP)
1986: MAC/PE / CCPE, XXIX Congresso Cotal (mostra obras do acervo), Olinda (PE)
1988: Centro Cultural Quiriri, Mostra coletiva, São Paulo (SP)
Museu Max Fourny, Mostra internacional, Paris (França)
1988/89: Paço das Artes, O mundo fascinante dos pintores naïfs, Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: Rodrigues Galeria. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
Crédito fotográfico: Rodrigues Galeria. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
Alcides Santos (1945, Recife, PE — 2008, Recife, PE) foi um pintor naïf brasileiro. Autodidata, iniciou sua trajetória artística enquanto trabalhava como enfermeiro, sendo incentivado a pintar pelo artista Antônio Cavalcanti. A partir de 1969, passou a se dedicar à pintura, desenvolvendo um estilo próprio e visceral, marcado por composições densas, figuras fantásticas e uma paleta de cores intensa. Suas obras exploram o universo simbólico e mítico do Nordeste, com forte influência do cordel, das festas populares, da religiosidade e do imaginário sertanejo. Mesmo não tendo formação acadêmica, seu trabalho conquistou reconhecimento nacional, participando de exposições importantes como a Bienal Internacional de São Paulo e sendo elogiado por personalidades como Ariano Suassuna. A crítica o comparou a artistas como Hieronymus Bosch, devido à riqueza simbólica de suas composições. Apesar do declínio de sua visibilidade nos anos 1990, sua obra permanece viva, sendo preservada por colecionadores e reconhecida por seu valor estético e cultural no contexto da arte popular brasileira.
Alcides Santos | Arremate Arte
Alcides Santos nasceu em 1945, na cidade do Recife, Pernambuco, e construiu uma trajetória singular na arte brasileira como um dos grandes expoentes da pintura naïf. Autodidata e de origem humilde, iniciou sua carreira artística de maneira inusitada: trabalhava como enfermeiro e foi incentivado a pintar pelo artista plástico Antônio Cavalcanti, de quem cuidava. Esse encontro transformou sua vida e o conduziu a uma produção intensa e marcada por um imaginário profundamente enraizado na cultura popular nordestina.
A partir de 1969, começou a pintar com regularidade, e seu estilo, livre padrões acadêmicos, logo chamou a atenção pela força cromática, composições densas e narrativa visual impregnada de elementos simbólicos e fantásticos. Suas obras dialogam diretamente com o universo do cordel, das festas populares, do catolicismo popular e da oralidade nordestina. Personagens mitológicos, figuras religiosas, vaqueiros, danças e rituais ganham vida em telas onde o real e o fantástico se entrelaçam com ousadia, humor e certa melancolia.
Nas décadas de 1970 e 1980, sua arte ganhou destaque nacional. Participou de exposições importantes, como a Bienal Internacional de São Paulo, e integrou coletivas que o colocaram em contato com artistas contemporâneos e críticos de arte. Foi amplamente reconhecido por nomes como Ariano Suassuna, que descreveu sua pintura como uma representação visual do “mundo maravilhoso, porém sinistro e sinuoso dos folhetos e contos populares nordestinos”.
Apesar do reconhecimento e de uma produção consistente, Alcides Santos enfrentou dificuldades nos anos seguintes. A partir da década de 1990, sua visibilidade diminuiu e ele deixou de ser mencionado em críticas e de participar de exposições. Em 2008, o artista faleceu, sem o devido reconhecimento que sua obra merecia.
Sua obra, por vezes comparada ao universo de Hieronymus Bosch pela densidade simbólica e inventividade, é um testemunho do poder expressivo da arte intuitiva.
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Alcides Santos | Itaú Cultural
Exposições
1972 - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois
1975 - Coletiva de Abertura
1978 - 1ª Bienal Latino Americana de São Paulo
1979 - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira
1980 - Gente da Terra
1980 - 4º Salão de Artes Plásticas da Noroeste
1981 - Múltiplas Tendências
1982 - Universo do Futebol
1985 - As Mães e a Flor na Visão de 33 Pintores
1986 - Pernambucanos em Brasília
1988 - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs
1999 - Gênios Ingênuos 70/80
2002 - Bienal Naifs do Brasil 2002
Fonte: ALCIDES Santos. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 03 de abril de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Ícone da arte naïf, Alcides Santos morreu no esquecimento | UOL Notícias
Em 1971, dom Gerardo Martins, à frente da Galeria do Rosário, na Igreja dos Rosários dos Pretos, se preparava para apresentar à sociedade Alcides Santos, artista cujos traços originais não se atrelavam aos academicismos. Em um texto publicado no Diário de Pernambuco, ele explica: “É um pintor ingênuo, desculpem-me o adjetivo. Trata-se, porém, de um autêntico ingênuo tocado pelo surrealismo e pelo lirismo, qualidade rara em artistas arrolados no gênero. Talvez, só nos maiores. É uma pintura sombria, como o próprio artista. É pintor de longa-metragem. Dou-lhe um crédito de confiança bastante largo. Só o futuro poderá dizer se tenho razão, pois, o melhor crítico de arte, chama-se, ainda, cinquenta anos depois”. Sua aposta não poderia estar mais certa: Alcides se tornaria um fenômeno de repercussão nacional, mas, após atingir o auge, ele foi relegado ao ostracismo ao ponto de sua morte, em meados de 2008 (não se sabe a data exata), ter passado batida, sem destaque na mídia ou até dentro da própria classe artística.
Mas o que teria acontecido para que um nome tão original das nossas artes plásticas, que dividiu os holofotes com artistas como Francisco Brennand, Reynaldo Fonseca e Wellington Virgolino, entre outros, terminasse seus dias no esquecimento? É difícil achar uma resposta simplista, pois, assim como seus trabalhos, a vida de Alcides Santos nunca foi de linhas retas e sim de traços originais e cores marcantes.
Nascido em 1945, no Recife, Alcides teve uma origem humilde e desenvolveu o talento para pintura incentivado pelo artista plástico Antônio Cavalcanti, de quem era enfermeiro, em meados dos anos 1960.
“Alcides contava que um dia Antônio perguntou se ele tinha interesse em pintar e, quando ele respondeu que sim, ele começou a transmitir seus conhecimentos. Ele, inclusive, passou para Alcides uma técnica muito pessoal, que não passou para mais ninguém, de preparação da tela, do uso das cores. Com o que aprendeu, ele deu um toque próprio a sua arte”, pontua o artista plástico José Ferreira de Carvalho, grande amigo de Alcides Santos.
O trabalho de Alcides é classificado pelos críticos como parte do movimento da arte naïf ou primitiva, marcado por artistas sem conhecimento de técnicas acadêmicas e que, justamente por isso, tem entre seus grandes diferenciais a liberdade estética. A originalidade do artista plástico, aliás, foi o que chamou a atenção do marchand Carlos Ranulpho.
“Conheci as obras de Alcides na Igreja do Rosário dos Pretos. Fiquei intrigado de imediato pela peculiaridade de sua arte. As cores, as formas e os personagens que ele ornava eram atraentes e originais. Poucos artistas conseguiram construir um universo pictórico tão sólido, diverso e interessante quanto Alcides. Ele deixava sua marca nos mínimos detalhes das telas”, lembra o marchand.
Ranulpho, então, convidou Alcides para trabalhar com ele e ofereceu um contrato de exclusividade, em 1973, através do qual ele poderia se dedicar exclusivamente à pintura. Alcides Santos e a família se mudaram do Córrego José Grande para uma casa espaçosa em Casa Forte e, durante toda a década de 1970 e meados de 1980, ele se firmou no cenário local e nacional, participando de várias coletivas e se destacando em eventos como a Bienal de São Paulo.
O artista plástico era figura carimbada nos jornais e recebia muitos elogios de seus contemporâneos. Sobre sua pintura, Ariano Suassuna afirmou que “é como se entrássemos na representação plástica do mundo maravilhoso, porém sinistro, sinuoso e meio demente dos folhetos e contos populares nordestinos”.
Em suas telas, como observa Olívio Tavares de Araújo na apresentação da exposição O Universo Alquimista de Alcides Santos, de 1979, há um caráter terapêutico, com símbolos religiosos, da cultura popular, e elementos que expressam suas crises de depressão e conflitos internos.
“Ele tem um traçado genial e a forma como usa as cores me surpreende muito. É uma pena que o trabalho dele seja tão pouco conhecido atualmente”, lamenta a galerista Edna Pontes, que possui 15 telas do pernambucano. Ela acredita que parte desse desinteresse pela obra do artista se dê por um certo preconceito que se mantém em relação à arte popular.
Dificuldades
Em meados dos anos 1980, Alcides se mudou para Fortaleza, seguindo sua então companheira, mas não foi bem sucedido na capital cearense. Pouco se sabe sobre sua vida desse período em diante. José Ferreira é um dos únicos a ter mantido contato com o pintor.
“Um dia, soube que ele estava de volta ao Recife, fui atrás e ele me contou que estava passando por dificuldades. Passei a ajudar, pegando os quadros dele para vender. Ele estava morando com a filha no Ipsep, mas depois se mudou para Paulista, para o quartinho de sua companheira na época. Quando fui lá, ele reclamou que já não enxergava direito por conta da diabetes. Estava debilitado. Depois, passei um tempo fora e não tive mais notícias. Fui várias vezes na casa dele, mas ninguém atendia. Quase um ano depois soube que ele tinha falecido no completo ostracismo”, lembra Ferreira.
Prolífica, a obra de Alcides Santos ainda tem muito a ser explorada. Ranulpho, por exemplo, sempre costuma incluir telas do artista em suas exposições coletivas a fim de ressaltar sua importância. Ferreira também possui quadros do amigo, que ele guarda com carinho.
“Ele morreu esquecido. O que é uma grande contradição e injustiça, pois ao longo dos anos 1970 seu mérito foi reconhecido por diversos críticos e instituições, inclusive internacionais. Acredito que o fato de ele ter sido um artista negro, de origem humilde e naïf foram elementos que contribuíram para o seu esquecimento no cenário artístico nacional. Mas seu trabalho está vivo e à espera de ser redescoberto”, pontua Ranulpho.
Fonte: UOL. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
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Alcides Santos | Rodrigues Galeria
Autodidata. Começa a pintar em 1969, com o estímulo do pintor pernambucano Antônio Cavalcanti que o inicia na utilização das tintas a óleo. Obteve o 3º Prêmio do Salão dos Novos, promovido pelo Museu de Arte Contemporânea de Olinda.
Em 1974, conquista o Prêmio de viagem ao Peru, no I Salão de Arte Global, acontecido no MAC/Olinda e no ano seguinte, o Prêmio “Seqüiscentenário de Pernambuco”, no II Salão de Arte Global, na Casa da Cultura. Sua temática é religiosa, mas sempre enfatizando a flora e a fauna do Nordeste. Realiza várias exposições (individuais e coletivas), além de participar de Bienais e Salões.
Olívio Tavares de Araújo escreveu: “Refletindo com precisão o instinto mágico deste pintor do Nordeste, não há dúvida de que sua arte reflete mundos ameaçadoramente profundos e insondáveis. Quanto mais antigas, mais suas obras se mostram atormentadas e sombrias. E mesmo nas mais novas, sobrevive a fantasia que povoa os fundos dos quadros e – sob o ponto de vista pictórico – lhes fornece a parte mais fascinante. Refiro-me é claro, a esses peixes-pássaros, animais de uma fauna inexistente, muitas vezes bicéfalos, com uma cabeça em cada ponta do corpo, e às formas amebóides soltas ao acaso no espaço, e aos signos arquétipos – estrelas, mandalas, serpentes – , e vegetações esfuziantes que parecem animadas, organismos híbridos onde uma corola pode se transformar em caranguejo, e toda uma infinidade de símbolos fálicos, disseminados pelos quadros” (…).
Joaquim Cardozo registrou: “A pintura de Alcides ‚ rica de invenções, de transformações das coisas e dos seres em outras formas inteiramente absurdas;… Alcides Santos é pintor para ser estudado com mais vagar e atenção, dentro do campo de sua classe ou categoria, ser estudado como um criador de universos” (…).
Roberto Pontual disse sobre seu trabalho: (…) “Nela os elementos de destaque estão no retorno a iconografia da infância, mesclada de contínuas referências transfiguradas à flora nordestina. Por sua vez, a fauna, que se inclui nesses ambientes de sonho ou de alucinação, em meio a árvores nuvens brotando de solos ardentes, dispõe de uma típica característica fantástica, como exercício do realismo mágico, tão aproximado da própria arte genuinamente popular. Vale ainda observar o cuidado com o que ele busca prover de texturas tênues e superfície de cada um de seus trabalhos, ampliando com elas a impressão de voluptuosos volumes”.
Hermilo Borba Filho afirmou: “Esses novos quadros, lembram-me de imediato certas iluminuras medievais e ícones russos, ligados à arte bizantina, caídos na pintura de Alcides Santos que, sendo do Nordeste, absorve o que de herança pode receber na Península Ibérica… na sua realidade imaginada, bichos e santos, folhagens e homens árvores, símbolos fálicos e bestiário atestam a marca da região em que o fantástico ‚ comumente encontrado a cada dia e a cada passo, com Alcides Santos convivendo com ele”.
Principais exposições individuais
1971: Galeria do Rosário, Recife (PE)
1973: Atelier de Augusto Rodrigues, Rio de Janeiro, (RJ)
1976: Galeria Ipanema, Rio de Janeiro, (RJ)
1979: Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo, (SP).
Principais exposições coletivas
1972: Palácio do Itamaraty, Espírito criador do povo brasileiro, Brasília (DF)
MAC/PE, I Salão dos Novos, Olinda (PE)
1973: Galeria Collectio, Arte Brasil Hoje / 50 anos depois, São Paulo (SP)
Ranulpho Galeria de Arte, Mostra franciscana, Recife (PE)
1974: MAC/PE, I Salão de Arte Global – Prêmio de viagem ao Peru, Olinda (PE)
MAM, XXIII Salão Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro (RJ)
1975: Casa da Cultura, II Salão de Arte Global, Prêmio Sesquicentenário de Pernambuco, Recife (PE)
1976: Salão Nacional, Rio de Janeiro (RJ)
1977: Paço das Artes, São Paulo (SP)
I Bienal Latino-Americano, sala especial, São Paulo (SP)
1985: Palácio dos Governadores / P.M.O., A vertente dos sonhos, Olinda (PE)
Museu de Arte Brasileira / FAAP, Artistas de Pernambuco – Acervo MAC/PE, São Paulo (SP)
1986: MAC/PE / CCPE, XXIX Congresso Cotal (mostra obras do acervo), Olinda (PE)
1988: Centro Cultural Quiriri, Mostra coletiva, São Paulo (SP)
Museu Max Fourny, Mostra internacional, Paris (França)
1988/89: Paço das Artes, O mundo fascinante dos pintores naïfs, Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: Rodrigues Galeria. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
Crédito fotográfico: Rodrigues Galeria. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
Alcides Santos (1945, Recife, PE — 2008, Recife, PE) foi um pintor naïf brasileiro. Autodidata, iniciou sua trajetória artística enquanto trabalhava como enfermeiro, sendo incentivado a pintar pelo artista Antônio Cavalcanti. A partir de 1969, passou a se dedicar à pintura, desenvolvendo um estilo próprio e visceral, marcado por composições densas, figuras fantásticas e uma paleta de cores intensa. Suas obras exploram o universo simbólico e mítico do Nordeste, com forte influência do cordel, das festas populares, da religiosidade e do imaginário sertanejo. Mesmo não tendo formação acadêmica, seu trabalho conquistou reconhecimento nacional, participando de exposições importantes como a Bienal Internacional de São Paulo e sendo elogiado por personalidades como Ariano Suassuna. A crítica o comparou a artistas como Hieronymus Bosch, devido à riqueza simbólica de suas composições. Apesar do declínio de sua visibilidade nos anos 1990, sua obra permanece viva, sendo preservada por colecionadores e reconhecida por seu valor estético e cultural no contexto da arte popular brasileira.
Alcides Santos | Arremate Arte
Alcides Santos nasceu em 1945, na cidade do Recife, Pernambuco, e construiu uma trajetória singular na arte brasileira como um dos grandes expoentes da pintura naïf. Autodidata e de origem humilde, iniciou sua carreira artística de maneira inusitada: trabalhava como enfermeiro e foi incentivado a pintar pelo artista plástico Antônio Cavalcanti, de quem cuidava. Esse encontro transformou sua vida e o conduziu a uma produção intensa e marcada por um imaginário profundamente enraizado na cultura popular nordestina.
A partir de 1969, começou a pintar com regularidade, e seu estilo, livre padrões acadêmicos, logo chamou a atenção pela força cromática, composições densas e narrativa visual impregnada de elementos simbólicos e fantásticos. Suas obras dialogam diretamente com o universo do cordel, das festas populares, do catolicismo popular e da oralidade nordestina. Personagens mitológicos, figuras religiosas, vaqueiros, danças e rituais ganham vida em telas onde o real e o fantástico se entrelaçam com ousadia, humor e certa melancolia.
Nas décadas de 1970 e 1980, sua arte ganhou destaque nacional. Participou de exposições importantes, como a Bienal Internacional de São Paulo, e integrou coletivas que o colocaram em contato com artistas contemporâneos e críticos de arte. Foi amplamente reconhecido por nomes como Ariano Suassuna, que descreveu sua pintura como uma representação visual do “mundo maravilhoso, porém sinistro e sinuoso dos folhetos e contos populares nordestinos”.
Apesar do reconhecimento e de uma produção consistente, Alcides Santos enfrentou dificuldades nos anos seguintes. A partir da década de 1990, sua visibilidade diminuiu e ele deixou de ser mencionado em críticas e de participar de exposições. Em 2008, o artista faleceu, sem o devido reconhecimento que sua obra merecia.
Sua obra, por vezes comparada ao universo de Hieronymus Bosch pela densidade simbólica e inventividade, é um testemunho do poder expressivo da arte intuitiva.
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Alcides Santos | Itaú Cultural
Exposições
1972 - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois
1975 - Coletiva de Abertura
1978 - 1ª Bienal Latino Americana de São Paulo
1979 - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira
1980 - Gente da Terra
1980 - 4º Salão de Artes Plásticas da Noroeste
1981 - Múltiplas Tendências
1982 - Universo do Futebol
1985 - As Mães e a Flor na Visão de 33 Pintores
1986 - Pernambucanos em Brasília
1988 - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs
1999 - Gênios Ingênuos 70/80
2002 - Bienal Naifs do Brasil 2002
Fonte: ALCIDES Santos. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 03 de abril de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Ícone da arte naïf, Alcides Santos morreu no esquecimento | UOL Notícias
Em 1971, dom Gerardo Martins, à frente da Galeria do Rosário, na Igreja dos Rosários dos Pretos, se preparava para apresentar à sociedade Alcides Santos, artista cujos traços originais não se atrelavam aos academicismos. Em um texto publicado no Diário de Pernambuco, ele explica: “É um pintor ingênuo, desculpem-me o adjetivo. Trata-se, porém, de um autêntico ingênuo tocado pelo surrealismo e pelo lirismo, qualidade rara em artistas arrolados no gênero. Talvez, só nos maiores. É uma pintura sombria, como o próprio artista. É pintor de longa-metragem. Dou-lhe um crédito de confiança bastante largo. Só o futuro poderá dizer se tenho razão, pois, o melhor crítico de arte, chama-se, ainda, cinquenta anos depois”. Sua aposta não poderia estar mais certa: Alcides se tornaria um fenômeno de repercussão nacional, mas, após atingir o auge, ele foi relegado ao ostracismo ao ponto de sua morte, em meados de 2008 (não se sabe a data exata), ter passado batida, sem destaque na mídia ou até dentro da própria classe artística.
Mas o que teria acontecido para que um nome tão original das nossas artes plásticas, que dividiu os holofotes com artistas como Francisco Brennand, Reynaldo Fonseca e Wellington Virgolino, entre outros, terminasse seus dias no esquecimento? É difícil achar uma resposta simplista, pois, assim como seus trabalhos, a vida de Alcides Santos nunca foi de linhas retas e sim de traços originais e cores marcantes.
Nascido em 1945, no Recife, Alcides teve uma origem humilde e desenvolveu o talento para pintura incentivado pelo artista plástico Antônio Cavalcanti, de quem era enfermeiro, em meados dos anos 1960.
“Alcides contava que um dia Antônio perguntou se ele tinha interesse em pintar e, quando ele respondeu que sim, ele começou a transmitir seus conhecimentos. Ele, inclusive, passou para Alcides uma técnica muito pessoal, que não passou para mais ninguém, de preparação da tela, do uso das cores. Com o que aprendeu, ele deu um toque próprio a sua arte”, pontua o artista plástico José Ferreira de Carvalho, grande amigo de Alcides Santos.
O trabalho de Alcides é classificado pelos críticos como parte do movimento da arte naïf ou primitiva, marcado por artistas sem conhecimento de técnicas acadêmicas e que, justamente por isso, tem entre seus grandes diferenciais a liberdade estética. A originalidade do artista plástico, aliás, foi o que chamou a atenção do marchand Carlos Ranulpho.
“Conheci as obras de Alcides na Igreja do Rosário dos Pretos. Fiquei intrigado de imediato pela peculiaridade de sua arte. As cores, as formas e os personagens que ele ornava eram atraentes e originais. Poucos artistas conseguiram construir um universo pictórico tão sólido, diverso e interessante quanto Alcides. Ele deixava sua marca nos mínimos detalhes das telas”, lembra o marchand.
Ranulpho, então, convidou Alcides para trabalhar com ele e ofereceu um contrato de exclusividade, em 1973, através do qual ele poderia se dedicar exclusivamente à pintura. Alcides Santos e a família se mudaram do Córrego José Grande para uma casa espaçosa em Casa Forte e, durante toda a década de 1970 e meados de 1980, ele se firmou no cenário local e nacional, participando de várias coletivas e se destacando em eventos como a Bienal de São Paulo.
O artista plástico era figura carimbada nos jornais e recebia muitos elogios de seus contemporâneos. Sobre sua pintura, Ariano Suassuna afirmou que “é como se entrássemos na representação plástica do mundo maravilhoso, porém sinistro, sinuoso e meio demente dos folhetos e contos populares nordestinos”.
Em suas telas, como observa Olívio Tavares de Araújo na apresentação da exposição O Universo Alquimista de Alcides Santos, de 1979, há um caráter terapêutico, com símbolos religiosos, da cultura popular, e elementos que expressam suas crises de depressão e conflitos internos.
“Ele tem um traçado genial e a forma como usa as cores me surpreende muito. É uma pena que o trabalho dele seja tão pouco conhecido atualmente”, lamenta a galerista Edna Pontes, que possui 15 telas do pernambucano. Ela acredita que parte desse desinteresse pela obra do artista se dê por um certo preconceito que se mantém em relação à arte popular.
Dificuldades
Em meados dos anos 1980, Alcides se mudou para Fortaleza, seguindo sua então companheira, mas não foi bem sucedido na capital cearense. Pouco se sabe sobre sua vida desse período em diante. José Ferreira é um dos únicos a ter mantido contato com o pintor.
“Um dia, soube que ele estava de volta ao Recife, fui atrás e ele me contou que estava passando por dificuldades. Passei a ajudar, pegando os quadros dele para vender. Ele estava morando com a filha no Ipsep, mas depois se mudou para Paulista, para o quartinho de sua companheira na época. Quando fui lá, ele reclamou que já não enxergava direito por conta da diabetes. Estava debilitado. Depois, passei um tempo fora e não tive mais notícias. Fui várias vezes na casa dele, mas ninguém atendia. Quase um ano depois soube que ele tinha falecido no completo ostracismo”, lembra Ferreira.
Prolífica, a obra de Alcides Santos ainda tem muito a ser explorada. Ranulpho, por exemplo, sempre costuma incluir telas do artista em suas exposições coletivas a fim de ressaltar sua importância. Ferreira também possui quadros do amigo, que ele guarda com carinho.
“Ele morreu esquecido. O que é uma grande contradição e injustiça, pois ao longo dos anos 1970 seu mérito foi reconhecido por diversos críticos e instituições, inclusive internacionais. Acredito que o fato de ele ter sido um artista negro, de origem humilde e naïf foram elementos que contribuíram para o seu esquecimento no cenário artístico nacional. Mas seu trabalho está vivo e à espera de ser redescoberto”, pontua Ranulpho.
Fonte: UOL. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
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Alcides Santos | Rodrigues Galeria
Autodidata. Começa a pintar em 1969, com o estímulo do pintor pernambucano Antônio Cavalcanti que o inicia na utilização das tintas a óleo. Obteve o 3º Prêmio do Salão dos Novos, promovido pelo Museu de Arte Contemporânea de Olinda.
Em 1974, conquista o Prêmio de viagem ao Peru, no I Salão de Arte Global, acontecido no MAC/Olinda e no ano seguinte, o Prêmio “Seqüiscentenário de Pernambuco”, no II Salão de Arte Global, na Casa da Cultura. Sua temática é religiosa, mas sempre enfatizando a flora e a fauna do Nordeste. Realiza várias exposições (individuais e coletivas), além de participar de Bienais e Salões.
Olívio Tavares de Araújo escreveu: “Refletindo com precisão o instinto mágico deste pintor do Nordeste, não há dúvida de que sua arte reflete mundos ameaçadoramente profundos e insondáveis. Quanto mais antigas, mais suas obras se mostram atormentadas e sombrias. E mesmo nas mais novas, sobrevive a fantasia que povoa os fundos dos quadros e – sob o ponto de vista pictórico – lhes fornece a parte mais fascinante. Refiro-me é claro, a esses peixes-pássaros, animais de uma fauna inexistente, muitas vezes bicéfalos, com uma cabeça em cada ponta do corpo, e às formas amebóides soltas ao acaso no espaço, e aos signos arquétipos – estrelas, mandalas, serpentes – , e vegetações esfuziantes que parecem animadas, organismos híbridos onde uma corola pode se transformar em caranguejo, e toda uma infinidade de símbolos fálicos, disseminados pelos quadros” (…).
Joaquim Cardozo registrou: “A pintura de Alcides ‚ rica de invenções, de transformações das coisas e dos seres em outras formas inteiramente absurdas;… Alcides Santos é pintor para ser estudado com mais vagar e atenção, dentro do campo de sua classe ou categoria, ser estudado como um criador de universos” (…).
Roberto Pontual disse sobre seu trabalho: (…) “Nela os elementos de destaque estão no retorno a iconografia da infância, mesclada de contínuas referências transfiguradas à flora nordestina. Por sua vez, a fauna, que se inclui nesses ambientes de sonho ou de alucinação, em meio a árvores nuvens brotando de solos ardentes, dispõe de uma típica característica fantástica, como exercício do realismo mágico, tão aproximado da própria arte genuinamente popular. Vale ainda observar o cuidado com o que ele busca prover de texturas tênues e superfície de cada um de seus trabalhos, ampliando com elas a impressão de voluptuosos volumes”.
Hermilo Borba Filho afirmou: “Esses novos quadros, lembram-me de imediato certas iluminuras medievais e ícones russos, ligados à arte bizantina, caídos na pintura de Alcides Santos que, sendo do Nordeste, absorve o que de herança pode receber na Península Ibérica… na sua realidade imaginada, bichos e santos, folhagens e homens árvores, símbolos fálicos e bestiário atestam a marca da região em que o fantástico ‚ comumente encontrado a cada dia e a cada passo, com Alcides Santos convivendo com ele”.
Principais exposições individuais
1971: Galeria do Rosário, Recife (PE)
1973: Atelier de Augusto Rodrigues, Rio de Janeiro, (RJ)
1976: Galeria Ipanema, Rio de Janeiro, (RJ)
1979: Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo, (SP).
Principais exposições coletivas
1972: Palácio do Itamaraty, Espírito criador do povo brasileiro, Brasília (DF)
MAC/PE, I Salão dos Novos, Olinda (PE)
1973: Galeria Collectio, Arte Brasil Hoje / 50 anos depois, São Paulo (SP)
Ranulpho Galeria de Arte, Mostra franciscana, Recife (PE)
1974: MAC/PE, I Salão de Arte Global – Prêmio de viagem ao Peru, Olinda (PE)
MAM, XXIII Salão Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro (RJ)
1975: Casa da Cultura, II Salão de Arte Global, Prêmio Sesquicentenário de Pernambuco, Recife (PE)
1976: Salão Nacional, Rio de Janeiro (RJ)
1977: Paço das Artes, São Paulo (SP)
I Bienal Latino-Americano, sala especial, São Paulo (SP)
1985: Palácio dos Governadores / P.M.O., A vertente dos sonhos, Olinda (PE)
Museu de Arte Brasileira / FAAP, Artistas de Pernambuco – Acervo MAC/PE, São Paulo (SP)
1986: MAC/PE / CCPE, XXIX Congresso Cotal (mostra obras do acervo), Olinda (PE)
1988: Centro Cultural Quiriri, Mostra coletiva, São Paulo (SP)
Museu Max Fourny, Mostra internacional, Paris (França)
1988/89: Paço das Artes, O mundo fascinante dos pintores naïfs, Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: Rodrigues Galeria. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.
Crédito fotográfico: Rodrigues Galeria. Consultado pela última vez em 3 de abril de 2025.