Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1898 — Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1966), conhecido também como Heitor do Cavaco e Heitor do Estácio, foi um compositor, cantor e pintor brasileiro, sendo um dos pioneiros na composição dos sambas e participando da fundação das primeiras escolas de samba brasileiras.
Biografia
Heitor dos Prazeres já era músico reconhecido quando passou a se dedicar também à pintura. Com sua visão jovial do mundo, registra em cores fortes cenas do cotidiano - as festas populares, o samba, o interior das casas, as brincadeiras das crianças. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1898, uma década depois da abolição da escravatura.
Presente nas primeiras rodas de samba, a música fez com que caísse no mundo. Com o cavaquinho que ganhou do tio debaixo do braço, a caixa de engraxate e a bolsa de carregar jornais, saiu pela cidade - tocando e passando o chapéu.
Descobriu a pintura ao ilustrar uma de suas criações musicais: O pierrot apaixonado.
Muitos jovens artistas iam em sua casa procurá-lo. Certo dia, Carlos Drummond de Andrade apareceu com um poema dedicado ao amigo. O compositor bem tentou, mas não conseguiu musicar o poema. Mais tarde, no entanto, ele lhe inspirou a criar um quadro, que recebeu o título dos versos de Drummond: O homem e seu Carnaval (1934).
Uma de suas telas, Festa de São João, participou da coletiva RAF em benefício das vítimas da 2ª Guerra Mundial, e foi arrematada pela então princesa Elizabeth, no Reino Unido.
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Biografia Itaú Cultural
Compositor e pintor. Filho de um marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional e de uma costureira, fica órfão de pai aos 7 anos. Sobrinho do pioneiro dos ranchos cariocas, Hilário Jovino Ferreira, ganha do tio seu primeiro cavaquinho. Aos 12 anos, trabalha como engraxate, jornaleiro e lustrador, vive constantemente em companhia do tio Hilário e frequenta a casa das tias baianas (Tia Ciata e Tia Esther), onde tem contato com músicos como Donga (1890-1974), João da Baiana (1887-1974), Sinhô (1888-1930), Caninha, Getúlio Marinho "Amor", Pixinguinha (1897-1973), Paulo da Portela (1901-1949) entre outros. Apesar dos trabalhos informais, o jovem Heitor é preso aos 13, por vadiagem, e passa algumas semanas na colônia correcional de Ilha Grande.
Aos 20, é conhecido como Mano Heitor do Cavaco e depois Mano Heitor do Estácio, sendo "Mano" uma denominação comum entre os sambistas. Quanto ao "Estácio", é uma referência aos companheiros que conhece no local: Ismael Silva (1905-1978), Bide (Alcebíades Barcelos), Nilton Bastos e Marçal. Com boa circulação entre os sambistas, firma relações com compositores da Mangueira, principalmente Cartola (1908-1980), e de Oswaldo Cruz, principalmente Paulo da Portela. Por meio dessas relações, Heitor dos Prazeres compõe sambas em parceria e participa do início dos trabalhos e da fundação de escolas de samba, que se tornam importantes referências: Mangueira, Portela e Deixar Falar (futura Estácio de Sá).
Em 1927 vence, com A Tristeza Me Persegue, um concurso de samba organizado por José Espinguela. No mesmo ano envolve-se em polêmica com o compositor Sinhô, acusando-o de ter "roubado" partes de seus sambas Ora Vejam Só (1927) e Gosto que Me Enrosco (gravada como Cassino Maxixe, em 1927, por Francisco Alves (1898-1952)). Consegue indenização e reconhecimento público da parceria. Os sambas Vai Mesmo e Deixaste Meu Lar, parceria com Francisco Alves, são gravados por Mário Reis (1907-1981), em 1929. Ainda em 1929, Alves registra És Feliz, e, em 1931, Riso Fingido. Entre gravações e polêmicas, Prazeres inicia um catálogo que reúne cerca de 300 composições. Cria, em 1930, um coro feminino como acompanhamento, Heitor dos Prazeres e Sua Gente, com o qual excursiona e se apresenta no Uruguai. Atua nas Rádios Cosmos e Cruzeiro do Sul, em que apresenta o programa A Voz do Morro, com Cartola e Paulo da Portela. Orestes Barbosa (1893-1966) grava seu samba Nega, Meu Bem, em 1931. Prazeres forma o Grupo Carioca e torna-se ritmista da Rádio Nacional e do Cassino da Urca. Entre suas principais composições estão Cantar para Não Chorar, com Paulo Portela, lançada por Carlos Galhardo em 1938, regravada pelo Quinteto em Branco e Preto, em 2000, e Paulinho da Viola (1942), em 2006; Carioca Boêmio, sucesso com Orlando Silva, em 1945; Consideração, parceria com Cartola, gravada por Arranco de Varsóvia, em 1997, e por Beth Carvalho, em 2003; Lá em Mangueira, com Herivelto Martins, lançada pelo Trio de Ouro, em 1943, gravada por Elizeth Cardoso, em 1967, Clementina de Jesus, em 1968, e Zeca Pagodinho e Raphael Rabello, em 1991; A Tristeza Me Persegue, com João da Gente, gravado pela Velha Guarda da Portela em 1970, e Zeca Pagodinho, em 1998. Em 1957, com o grupo Heitor dos Prazeres e Sua Gente, grava uma canção contra o rock'n'roll Nada de Rock Rock, regravada por Pedro Miranda em 2006.
Por volta de 1937 passa a dedicar-se também à pintura, tendo alcançado em 1951 o terceiro lugar para artistas nacionais na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, com o quadro Moenda. Ganha uma sala especial na 2ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1953. Cria ainda cenários e figurinos para o Balé do IV Centenário da Cidade de São Paulo, e, em 1965, Antônio Carlos Fontoura produz um documentário sobre sua obra. Em 1999, é realizada mostra retrospectiva no Espaço BNDES e no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), em comemoração do centenário de seu nascimento.
Análise
A vida de Heitor dos Prazeres transcorre em época de grandes definições para a cultura brasileira em geral. Em um extremo a abolição da escravatura, em 1888, é um marco de liberdade potencial, e no outro a ascensão da ditadura militar de 1964 é um duro golpe para a liberdade prometida. Entre esses extremos o Brasil passa por momentos decisivos, construindo o imaginário de país livre, que busca afirmar sua identidade como povo moderno e criar as formas culturais que nascem desse novo imaginário. A primeira metade do século XX, importante para a nação, é também agitada no cenário internacional, que assiste às duas guerras mundiais.
Liberados dos laços escravistas, muitos negros da Bahia, ex-escravos ou forros, seguem rumo ao Rio de Janeiro, gerando uma pequena "diáspora baiana". Se em 1890 a capital tem pouco mais de 500 mil habitantes, em 1920 tem 1 milhão. Heitor dos Prazeres, carioca descendente de negros baianos, cria a denominação África em Miniatura, referindo-se à região da Praça 11 e às festas na casa das tias baianas (Tia Ciata e Tia Esther). Se o novo estado republicano trabalha em uma série de reformas com moldes franceses voltados para atender a elite, a pequena África passa a gerar as próprias formas de convívio.
O Carnaval e o samba surgem como criações fortes dos grupos sociais que habitam as favelas e os subúrbios. É nesse momento que se definem as linhas principais daquilo que o mundo conheceria como sendo o samba tipicamente brasileiro. Firmam-se as rítmicas básicas, os timbres e instrumentos típicos e os modos de tocá-los. As primeiras escolas se fortalecem, e uma "identidade" do samba passa a ser partilhada. Surgem as oportunidades de ganhar algum dinheiro com essa música, de gravar discos e experimentar o reconhecimento social. Todas essas linhas de força estão atuantes nos períodos decisivos de formação do samba, e Heitor dos Prazeres as vive de forma ativa.
É nesse momento que a música propriamente brasileira torna-se mercadoria, passa a ser vendida e a gerar renda para o compositor. Essa nova perspectiva causa certas confusões: a turma do Estácio discute com a turma da "velha guarda" como seria o verdadeiro samba, malandros se apropriam de sambas tradicionais e aspirantes a compositor compram parcerias ou às vezes o samba inteiro de compositores do morro. Nesse ambiente se dá a polêmica de Heitor dos Prazeres com Sinhô. Ao questionar Sinhô sobre o fato de ter roubado dois estribilhos seus, Heitor recebe como resposta que o acusado não sabia que os sambas eram de sua autoria, achava que eram temas populares "sem dono". Sinhô já havia se envolvido em outra questão com o samba Pelo Telefone, que teria sido composto coletivamente nas reuniões na casa de Tia Ciata. É atribuída a Sinhô a máxima "samba é que nem passarinho, é de quem pegar". Inicia-se uma polêmica, e Heitor dos Prazeres, visando Sinhô, compõe Olha Ele, Cuidado, de 1929, gravado por Alfredo Albuquerque, e respondido com Segura o Boi, por Francisco Alves, também em 1929. Sinhô havia construído para si mesmo a alcunha de "Rei do Samba", como uma espécie de marketing, e Heitor compõe então Rei dos Meus Sambas, gravado por Inácio G. Loiola, em 1929. Entretanto, o próprio Heitor é acusado de apropriar-se indevidamente de diversos sambas, entre eles alguns de Paulo da Portela e Vai Mesmo, de Antonio Rufino. Por esses e outros roubos, o dirigente Mané Bam-Bam-Bam impede Heitor de desfilar na Portela no Carnaval de 1941, gerando uma ruptura na escola.
Heitor dos Prazeres compõe choros (Comigo Ninguém Pode e A Coisa Melhorou), canções (Canção do Jornaleiro, lançada pelo menino Jonas Tinoco e regravada por Wanderley Cardoso, em 1959), rancheiras (Cousa Gozada), macumbas (Yêmanjá Ofeiaba, Vamos Brincar no Terreiro), baiões (Êta, Seu Mano), marchas (Africana, com J. Cascata, e Pierrô Apaixonado, parceria com Noel Rosa (1910-1937), gravada por Joel e Gaúcho, em 1936, Maria Bethânia, em 1965, Martinho da Vila, em 1979, e Ivan Lins, em 1997) e até ritmos latinos (Bate no Bongô), mas é o samba seu gênero mais producente e para o qual trouxe mais contribuições. Em seu primeiro grande êxito, Mulher de Malandro, lançado por Francisco Alves, em 1931, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, lida com a forma do samba de breque, ainda em gestação. Os breques são curtos, mas a ideia do estilo assumido por Moreira da Silva alguns anos depois já está constituída.
O samba de breque, surgido das possibilidades musicais do samba-choro, tem ainda ligação íntima com o samba sincopado, estilo no qual o compositor trabalha o deslocamento sutil entre a melodia e o acompanhamento. Já presente de certa forma entre os chorões e em alguns estilos da música africana, os sambistas sincopados procuram trabalhar esse deslocamento de modo contínuo, gerando uma sincopação consistente. Nesse sentido, é interessante ouvir a composição É Tempo, de Heitor dos Prazeres, com interpretação de Luís Barbosa, lançada em 1933. Esse intérprete - conhecido por suas peripécias rítmicas - é considerado um dos grandes nomes do samba sincopado, e encontra no samba de Heitor do Prazeres uma composição em que o deslocamento rítmico entre melodia e acompanhamento é bastante acentuado, gerando a sincopa consistente que vai caracterizar seu estilo e o de toda uma tradição que se segue, de Geraldo Pereira a João Gilberto (1931)
Críticas
"Se há um homem que não precisava ser pintor era esse, cuja vida e amores já conta de maneira tão boa em outra arte, mas sua riqueza interna veio ganhar na pintura uma expressão irmã do samba, e seria fácil reconhecer o ritmista na composição dos quadros, o 'envernizador técnico' no seu acabamento caprichado, o boêmio nos motivos malandros que o inspiram. Ele não faz pintura 'do Partido Alto', para deleite dos ricos, nem traz para a tela as cenas das macumbas e candomblés que freqüentou, apenas conta essa vida solta e heróica de cavaquinho na mão e cachaça e mulata, sua vida de seresteiro e trovador de muitas conquistas 'não pela cara que tenho, mas pela conversa que eu sei fazer'".
Rubem Braga (BRAGA, Rubem. Três Primitivos. Rio de Janeiro, Ministério da Educação/Serviço de Documentação, série Os Cadernos de Cultura nº 63, 1953, p. 14.)
"Sua arte consiste numa visão clara e ingênua de um mundo ideal; até o contorno das figuras parece representar visualmente a distância que existe entre elas e a realidade. Tais figuras, com raríssimas exceções, são retratadas com o rosto de perfil, mesmo quando o corpo aparece de frente ou de três quartos, e, pelo fato de estarem sempre na ponta dos pés, sugerem movimento. São gente de toda cor, participando fraternalmente da mesma atividade: um ensaio, uma serenata, uma ciranda, uma cena campestre. Raras vezes Heitor focaliza aspectos tristes do cotidiano, ou alude a preconceitos. A minúcia microscópica, estendendo-se a todos os elementos do quadro, é uma característica constante, que confirma a irrealidade simplória da obra. As cores, vivas e chapadas em tonalidades únicas, sublinham a simplicidade desse mundo ideal. Fina camada de verniz arremata a obra, denunciando a profissão de 'envernizador técnico' exercida pelo pintor".
Pedro Manuel (E no Brasil. Apresentação de Pietro Maria Bardi e Pedro Manuel. São Paulo: Abril Cultural, 1979.)
"A tônica dominante na pintura de Heitor está na vida e no samba carioca da Praça Onze e dos Arcos da Lapa. (...) Será que esse pintor, igualmente conhecido no cenário musical, teria sido mais compositor que artista plástico? Não há dúvida da importância que tem a música para esse artista: na sua pintura, o samba carioca faz ecoar os sons da África. Mas não se pode negar a força plástica desses personagens do povo, que cantam e dançam com o corpo virado para a frente e a cabeça para o lado. Essas figuras humanas bipolares de Heitor, bem como as cores contrastantes, particularmente na série das rodas de samba, fazem lembrar Di Cavalcanti. Sua declaração de que 'eu sou um ovo e o povo é a chocadeira' ilustra o espírito modernista de Heitor dos Prazeres".
Marta Heloísa Leuba Salum (MOSTRA do Redescobrimento: arte afro-brasileira. Nelson Aguilar, organizador/Fundação Bienal de São Paulo. São Paulo, Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000, p. 116.)
Exposições Individuais
1959 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Gea
1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1961 - São Paulo SP - Heitor dos Prazeres: pinturas, na Galeria Sistina
1963 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Selearte
1964 - Salvador BA - Individual, na Galeria Quirino
1965 - Porto Alegre RS - Individual, no Margs
Exposições Coletivas
1944 - Belo Horizonte MG - Exposição de Arte Moderna, no MAP
ca.1946 - Londres (Inglaterra) - Mostra em homenagem à Real Força Aérea Britânica - um de seus quadros é adquirido pela Rainha Elizabeth
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon - 3º prêmio
1952 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Artistas Brasileiros, no MAM/RJ
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1954 - São Paulo SP - Arte Contemporânea: exposição do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no MAM/SP
1957 - Buenos Aires (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Moderno
1957 - Lima (Peru) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte de Lima
1957 - Rosario (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo Municipal de Bellas Artes Juan B. Castagnino
1957 - Santiago (Chile) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Contemporáneo
1959 - Rio de Janeiro RJ - 30 Anos de Arte Brasileira, na Enba
1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no MAM/SP
1963 - Campinas SP - Pintura e Escultura Contemporâneas, no Museu Carlos Gomes
1965 - Bonn (Alemanha) - Brazilian Art Today
1965 - Londres (Inglaterra) - Brazilian Art Today, na Royal Academy of Arts
1965 - Paris (França) - Oito Pintores Ingênuos Brasileiros, na Galeria Jacques Massol
1965 - Viena (Áustria) - Brazilian Art Today
1966 - Dacar (Senegal) - 1º Festival Mundial de Artes Negras
1966 - Moscou (União Soviética, atual Rússia) - Pintores Primitivos Brasileiros
Exposições Póstumas
1966 - Dacar (Senegal) - 1º Festival Mundial de Artes Negras
1966 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos, na Galeria Ibeu Copacabana
1966 - Rio de Janeiro RJ - O Artista e a Máquina, no MAM/RJ
1966 - São Paulo SP - O Artista e a Máquina, no Masp
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ars Artis
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Mário Pedrosa, na Galeria Jean Boghici
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR
1983 - Olinda PE - 2ª Exposição da Coleção Abelardo Rodrigues de Artes Plásticas, no MAC/Olinda
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André
1984 - Paris (França) - Heitor dos Prazeres: retrospectiva, na Galeria Debret
1984 - Roma (Itália) - Heitor dos Prazeres: retrospectiva, na Embaixada do Brasil na Itália
1987 - São Paulo SP - As Bienais no Acervo do MAC: 1951 a 1985, no MAC/USP
1988 - Rio de Janeiro RJ - Hedonismo: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria Edifício Gilberto Chateaubriand
1988 - Rio de Janeiro RJ - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs, no Paço Imperial
1992 - Poços de Caldas MG - Arte Moderna Brasileira: acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Casa da Cultura de Poços de Caldas
1994 - Poços de Caldas MG - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos de Unibanco, na Casa da Cultura de Poços de Caldas
1995 - Rio de Janeiro RJ - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos do Unibanco, no MAM/RJ
1998 - Rio de Janeiro RJ - Heitor dos Prazeres: um século de arte
1998 - São Paulo SP - Fantasia Brasileira: o balé do IV Centenário, no Sesc Belenzinho
1998 - São Paulo SP - Mostra Comemorativa do Centenário do Artista, na Galeria Albert Einstein
1998 - São Paulo SP - O Colecionador, no MAM/SP
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
1999 - Rio de Janeiro RJ - As Três Artes de Heitor dos Prazeres, no MNBA
1999 - São Paulo SP - Cotidiano/Arte. O Consumo, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2001 - São Paulo SP - Figuras e Faces, na A Galeria
2002 - Piracicaba SP - 6ª Bienal Naifs do Brasi, no Sesc
2002 - São Paulo SP - Pop Brasil: a arte popular e o popular na arte, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Santa Ingenuidade, na Unifieo
2003 - Rio de Janeiro RJ - Arte em Movimento, no Espaço BNDES
2005 - São Paulo SP - Individual, no Espaço Cultural BM&F
Fonte: HEITOR dos Prazeres. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10428/heitor-dos-prazeres>. Acesso em: 12 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Primeiros anos
Seus pais eram Eduardo Alexandre dos Prazeres, marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional, e Celestina Gonçalves Martins, costureira, residentes no bairro carioca Cidade Nova (Praça Onze). Em sua família, ele era conhecido como Lino e tinha duas irmãs mais velhas, Acirema e Iraci.
O pai de Heitor o ensinou a tocar o clarinete em vários ritmos como polcas, valsas, choros e marchas. Ele morreu quando o filho tinha sete anos. Ele estudou nas escolas "Benjamin Constant", colégio dos padres de Sant'Ana e Externato Sousa Aguiar, mas foi expulso de todas elas e só cursou até a quarta série. Fez cursos de carpintaria. Seu tio, Hilário Jovino Ferreira, músico conhecido como "Lalau de Ouro" deu-lhe o seu primeiro cavaquinho. Tomou seu tio como modelo de compositor e aos doze anos, já era conhecido como Mano Heitor do Cavaquinho. Começou a participar de reuniões religiosas em casas onde na companhia de músicos experientes tocava e improvisava ritmos africanos como candomblé, jongo, lundu, cateretê, samba, etc., com instrumentos de percussão ou cavaquinho. Entre as casas que frequentava eram as de vovó Celi, tia Esther, Oswaldo Cruz e tia Ciata, onde as reuniões de bambas mais importantes da época eram feitas, como Lalu de Ouro, Caninha, João da Baiana, Sinhô, Getúlio Marinho ("Amor"), Donga, Saturnino Gonçalves ("Satur"), Pixinguinha, Paulo da Portela e outros.
Enquanto trabalhava como engraxate e vendedor de jornais, frequentava as cervejarias próximas e cinemas mudos próximos à Praça Onze e cafés da Lapa, onde ela podia ouvir os músicos e orquestras típicas da Belle Époque, no Rio de Janeiro. Aos treze anos, Heitor foi enviado para a prisão por vadiagem e passou dois meses na colônia correcional Dois Rios, na Ilha Grande. Alguns anos depois, ele começou a sair no carnaval fantasiado de baiana, envolto em um pano de cores vivas, tocando cavaquinho e seguido por uma multidão agitando as extremidades do pano O limoeiro, Limão e Adeus, óculo foram as primeiras composições e datam de 1912.
Carreira
Na década de 1920, assistido por outros sambistas e compositores como João da Baiana, Caninha, Ismael Silva, Alcebíades Barcelos ( "Bide") e Marçal ajudou a organizar vários grupos de samba do Rio Comprido, Estácio e outros locais nas proximidades, por isso era conhecido como Mano Heitor do Estácio. Ele participou de reuniões na Mangueira e Oswaldo Cruz com Cartola, Paulo da Portela, João da Gente, Manoel Bambambam e outros, o que levou à criação das primeiras escolas de samba: Deixa Falar, De Mim Ninguém se Lembra e Vizinha Faladeira no Estácio; Prazer da Moreninha e Vai como Pode em Madureira. As duas últimas se unimra e se tornaram a Portela, sua escola de samba favorita, cujas cores azul e branco foram escolhidas por ele. A Portela, em 1929 foi a primeira vencedora de uma competição entre escolas, com a sua composição Não Adianta Chorar. Ele participou na formação da Estação Primeira de Mangueira com Cartola. Fundou em 1928 a União do Estácio, com Nilton Bastos, "Bide" e Mano Rubem.
Duas de suas composições que o popularizaram foram Deixaste meu lar e Estas farto de minha vida, ambas de 1925 e gravadas por Francisco Alves. Outro tema de sua autoria da mesma época era Deixe a malandragem se és capaz. Em 1927, ele ganhou um concurso organizado por Zé Espinguela samba com a canção A Tristeza Me Persegue. No mesmo ano ele realizou com o pianista Sinhô a primeira controvérsia da música popular brasileira. Ao apresentar-se na popular festa carioca de Nossa Senhora da Penha, onde foram apresentadas ao público as canções para o próximo carnaval, ele descobriu que a autoria de Cassino Maxixe, interpretada por Francisco Alves, era atribuída somente a Sinhô e sua co-autoria era desconhecida. Algo semelhante aconteceu com Ora Vejam Só. A resposta de Sinhô foi:«Samba é como passarinho, é de quem pegar» . A resposta de Heitor foi o samba Olha ele, cuidado, onde denunciou o episódio. Por sua vez, ele foi respondido por Sinhô com samba Segura o Boi. Dado que Sinhô era conhecido como o "Rei do Samba", Heitor compôs a música Rei dos meus sambas e pode gravá-la e distribuí-la apesar da oposição de Sinhô. Ele chegou a um acordo pelo qual alcançou 38.000 réis e reconhecimento pela co-autoria. O próprio dos Prazeres foi acusado de se apropriar de outros sambas como alguns de Paulo da Portela e Vai Mesmo de Antônio Rufino, pelo qual em 1941 um dirigente o impediu de desfilar com a Portela.
Em 1933, ele compôs Canção do jornaleiro . A partir da letra autobiográfica autobiográfica deste tema, que lida com a vida das crianças que vendem jornais nas ruas, se iniciou uma campanha para financiar a construção da Casa do Pequeno Jornaleiro, que abriu em 1940.
Casou-se em 1931 com dona Gloria, com quem teve três filhas, Ivete, Iriete e Ionete Maria. Após a morte de sua esposa em 1936, dedicou-se às artes visuais, especialmente à pintura,por incentivo do desenhista, jornalista e crítico de arte Carlos Cavalcante, do pintor Augusto Rodrigues e do escritor Carlos Drummond de Andrade. Ele também fez instrumentos de percussão e projetou e fez os figurinos, móveis e tapeçaria de seus grupos musicais e de dança.
Sua residência na Praça Tiradentes era, de fato, um ponto de encontro de pessoas interessadas em seu conhecimento da cultura afro-brasileira e de seus mais importantes centros de encontro. Entre os visitantes, estava o estudante de medicina e futuro compositor Noel Rosa que lhe pediu ajuda para enfrentar um marinheiro agressivo que estava assediando sua namorada. Dos Prazeres era conhecido naquele bairro como um especialista em capoeira e um aviso ao marinheiro era o suficiente para afastá-lo. Ao retornar, enquanto cantarolava a marcha que estava compondo e para a qual também estava conduzindo uma ilustração, Noel Rosa sugeriu algumas mudanças na letra. Assim, ele tornou-se co-autor de Pierrô Apaixonado (lançado em 1936), um dos maiores sucessos de Heitor dos Prazeres. Naquela noite Drummond, outro de seus visitantes freqüentes, levou-lhe um poema de sua autoria para ser musicado , O Homem e seu Carnaval (1934). Ainda que não tenha conseguido musicalizá-lo, mais tarde foi inspirado por esse poema para criar um quadro de mesmo nome.
Em 1937, começou a exibir suas pinturas, nas quais retratou a vida nas favelas: crianças brincando, homens jogando ou bebendo, jovens dançando samba, etc. Representava os rostos das pessoas de perfil, com a cabeça e os olhos voltados para cima.
Nessa época ele se casou com Nativa Paiva, com quem teve dois filhos:I drolete e o músico Heitorzinho dos Prazeres. Seu primeiro filho inspirou o tema A Coisa melhorou, cuja letra inclui o famoso verso: É mais um guerreiro, é mais um carioca, é mais um brasileiro. Esta edição marcou o início da carreira solo da cantora Carmen Costa e foi gravado em uma das primeiras gravadoras independentes do Brasil.
Ao longo de sua vida, teve relacionamentos com várias mulheres, muitas das quais treinava para integrar grupos de música e dança que o acompanharam em suas turnês. Em São Paulo, conheceu uma mulher chamada Rosa, que lhe inspirou o tema Linda Rosa e com quem teve uma filha chamada Dirce. No final de 1920 nasceu sua filha mais velha, Laura, de seu relacionamento com a tia ialorixá Carlinda. Sua paixão por mulheres está presente em muitas de suas canções mais famosas, incluindo Deixa a Malandragem, Gosto que me Enrosco e Mulher de malandro.
Em 1939 e 1941 participou em São Paulo do evento Carnaval do Povo com o grupo Embaixada do Samba Carioca, criado para a ocasião. Participaram mais de cem artistas como Paulo da Portela, Cartola, Carmem Costa, Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Bide, Marçal, Henricão, Herivelto Martins e Nilo Chagas (duo Branco e Preto, depois Trio de Ouro com Dalva de Oliveira). Este evento ao ar livre, organizado pelo radialista e compositor Adoniran Barbosa e transmitido pelas rádios Cruzeiro do Sul e Kosmo, conquistou o samba em terras paulistas e de lá para Buenos Aires e Montevidéu. Graças à repercussão desse tipo evento o samba tornou-se aceito pelos setores mais ricos e ser ouvido maciçamente em casinos, cinemas, rádios, etc.
No final de 1930 atuou como músico, cantor e dançarino no Casino da Urca com Josephine Baker e Grande Otelo. Foi contratado por Orson Welles como coreógrafo de um filme sobre cultura afro-brasileira, centrado no samba e no carnaval. Também tocou seu cavaquinho em programas de auditório das rádios do Rio de Janeiro acompanhado pelo grupo Heitor dos Prazeres e Sua Gente, composto por vocalistas e outros músicos percussionistas e pasistas.
Em 1943 obteve o primeiro concurso oficial de Música de Carnaval , organizado pela prefeitura do Distrito Federal, pelo samba Mulher de malandro, na voz de Francisco Alves. Também nesse ano apresentou o samba Lá em Mangueira, co-escrito com Herivelto Martins e gravado pelo duo Branco e Preto e Dalva de Oliveira, começou a trabalhar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro ea expor suas pinturas em exposições locais e no exterior . Graças a uma exposição organizada pela RAF em Londres para arrecadar fundos para as vítimas da Segunda Guerra Mundial, a então princesa Elizabeth adquiriu seu quadro Festa de São João.
A pedido de seu amigo Carlos Cavalcante, em 1951 participou da primeira Bienal de Arte Moderna de São Paulo, com a presença de artistas de todo o mundo, que ganhou o terceiro prêmio nos artistas nacionais com seu quadro Moenda. Na segunda Bienal de São Paulo, em 1953, foi reservada uma sala para a exposição de sua obra. Ele criou cenários e figurinos para o balé do quarto centenário da cidade de São Paulo. Em 1959, exibiu pela primeira vez individualmente na Galeria Gea Rio de Janeiro.
Antonio Carlos da Fontoura dirigiu em 1965 um documentário sobre sua vida e obra.
Morte e legado
Morreu em 4 de outubro de 1966 no Rio de Janeiro, aos 68 anos de idade. Ele entregou um catálogo de cerca de 300 composições.
Em 1999, no centenário de seu nascimento, foi realizada uma retrospectiva de sua obra pictórica no Espaço BNDES e no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 2003 a jornalista Alba Lírio publicou o livro Heitor dos Prazeres: Sua Arte e Seu Tempo.
Discografia
1954 - Cosme e Damião/Iemanjá (Columbia)
1955 - Pai Benedito/Santa Bárbara (Columbia)
1955 - Vamos brincar no terreiro/Nego véio (Sinter)
1957 - Heitor dos Prazeres e sua gente (Sinter)
1957 - Nada de rock rock/Eta seu Mano! (Todamerica)
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 25 de março de 2017.
Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1898 — Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1966), conhecido também como Heitor do Cavaco e Heitor do Estácio, foi um compositor, cantor e pintor brasileiro, sendo um dos pioneiros na composição dos sambas e participando da fundação das primeiras escolas de samba brasileiras.
Biografia
Heitor dos Prazeres já era músico reconhecido quando passou a se dedicar também à pintura. Com sua visão jovial do mundo, registra em cores fortes cenas do cotidiano - as festas populares, o samba, o interior das casas, as brincadeiras das crianças. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1898, uma década depois da abolição da escravatura.
Presente nas primeiras rodas de samba, a música fez com que caísse no mundo. Com o cavaquinho que ganhou do tio debaixo do braço, a caixa de engraxate e a bolsa de carregar jornais, saiu pela cidade - tocando e passando o chapéu.
Descobriu a pintura ao ilustrar uma de suas criações musicais: O pierrot apaixonado.
Muitos jovens artistas iam em sua casa procurá-lo. Certo dia, Carlos Drummond de Andrade apareceu com um poema dedicado ao amigo. O compositor bem tentou, mas não conseguiu musicar o poema. Mais tarde, no entanto, ele lhe inspirou a criar um quadro, que recebeu o título dos versos de Drummond: O homem e seu Carnaval (1934).
Uma de suas telas, Festa de São João, participou da coletiva RAF em benefício das vítimas da 2ª Guerra Mundial, e foi arrematada pela então princesa Elizabeth, no Reino Unido.
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Biografia Itaú Cultural
Compositor e pintor. Filho de um marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional e de uma costureira, fica órfão de pai aos 7 anos. Sobrinho do pioneiro dos ranchos cariocas, Hilário Jovino Ferreira, ganha do tio seu primeiro cavaquinho. Aos 12 anos, trabalha como engraxate, jornaleiro e lustrador, vive constantemente em companhia do tio Hilário e frequenta a casa das tias baianas (Tia Ciata e Tia Esther), onde tem contato com músicos como Donga (1890-1974), João da Baiana (1887-1974), Sinhô (1888-1930), Caninha, Getúlio Marinho "Amor", Pixinguinha (1897-1973), Paulo da Portela (1901-1949) entre outros. Apesar dos trabalhos informais, o jovem Heitor é preso aos 13, por vadiagem, e passa algumas semanas na colônia correcional de Ilha Grande.
Aos 20, é conhecido como Mano Heitor do Cavaco e depois Mano Heitor do Estácio, sendo "Mano" uma denominação comum entre os sambistas. Quanto ao "Estácio", é uma referência aos companheiros que conhece no local: Ismael Silva (1905-1978), Bide (Alcebíades Barcelos), Nilton Bastos e Marçal. Com boa circulação entre os sambistas, firma relações com compositores da Mangueira, principalmente Cartola (1908-1980), e de Oswaldo Cruz, principalmente Paulo da Portela. Por meio dessas relações, Heitor dos Prazeres compõe sambas em parceria e participa do início dos trabalhos e da fundação de escolas de samba, que se tornam importantes referências: Mangueira, Portela e Deixar Falar (futura Estácio de Sá).
Em 1927 vence, com A Tristeza Me Persegue, um concurso de samba organizado por José Espinguela. No mesmo ano envolve-se em polêmica com o compositor Sinhô, acusando-o de ter "roubado" partes de seus sambas Ora Vejam Só (1927) e Gosto que Me Enrosco (gravada como Cassino Maxixe, em 1927, por Francisco Alves (1898-1952)). Consegue indenização e reconhecimento público da parceria. Os sambas Vai Mesmo e Deixaste Meu Lar, parceria com Francisco Alves, são gravados por Mário Reis (1907-1981), em 1929. Ainda em 1929, Alves registra És Feliz, e, em 1931, Riso Fingido. Entre gravações e polêmicas, Prazeres inicia um catálogo que reúne cerca de 300 composições. Cria, em 1930, um coro feminino como acompanhamento, Heitor dos Prazeres e Sua Gente, com o qual excursiona e se apresenta no Uruguai. Atua nas Rádios Cosmos e Cruzeiro do Sul, em que apresenta o programa A Voz do Morro, com Cartola e Paulo da Portela. Orestes Barbosa (1893-1966) grava seu samba Nega, Meu Bem, em 1931. Prazeres forma o Grupo Carioca e torna-se ritmista da Rádio Nacional e do Cassino da Urca. Entre suas principais composições estão Cantar para Não Chorar, com Paulo Portela, lançada por Carlos Galhardo em 1938, regravada pelo Quinteto em Branco e Preto, em 2000, e Paulinho da Viola (1942), em 2006; Carioca Boêmio, sucesso com Orlando Silva, em 1945; Consideração, parceria com Cartola, gravada por Arranco de Varsóvia, em 1997, e por Beth Carvalho, em 2003; Lá em Mangueira, com Herivelto Martins, lançada pelo Trio de Ouro, em 1943, gravada por Elizeth Cardoso, em 1967, Clementina de Jesus, em 1968, e Zeca Pagodinho e Raphael Rabello, em 1991; A Tristeza Me Persegue, com João da Gente, gravado pela Velha Guarda da Portela em 1970, e Zeca Pagodinho, em 1998. Em 1957, com o grupo Heitor dos Prazeres e Sua Gente, grava uma canção contra o rock'n'roll Nada de Rock Rock, regravada por Pedro Miranda em 2006.
Por volta de 1937 passa a dedicar-se também à pintura, tendo alcançado em 1951 o terceiro lugar para artistas nacionais na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, com o quadro Moenda. Ganha uma sala especial na 2ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1953. Cria ainda cenários e figurinos para o Balé do IV Centenário da Cidade de São Paulo, e, em 1965, Antônio Carlos Fontoura produz um documentário sobre sua obra. Em 1999, é realizada mostra retrospectiva no Espaço BNDES e no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), em comemoração do centenário de seu nascimento.
Análise
A vida de Heitor dos Prazeres transcorre em época de grandes definições para a cultura brasileira em geral. Em um extremo a abolição da escravatura, em 1888, é um marco de liberdade potencial, e no outro a ascensão da ditadura militar de 1964 é um duro golpe para a liberdade prometida. Entre esses extremos o Brasil passa por momentos decisivos, construindo o imaginário de país livre, que busca afirmar sua identidade como povo moderno e criar as formas culturais que nascem desse novo imaginário. A primeira metade do século XX, importante para a nação, é também agitada no cenário internacional, que assiste às duas guerras mundiais.
Liberados dos laços escravistas, muitos negros da Bahia, ex-escravos ou forros, seguem rumo ao Rio de Janeiro, gerando uma pequena "diáspora baiana". Se em 1890 a capital tem pouco mais de 500 mil habitantes, em 1920 tem 1 milhão. Heitor dos Prazeres, carioca descendente de negros baianos, cria a denominação África em Miniatura, referindo-se à região da Praça 11 e às festas na casa das tias baianas (Tia Ciata e Tia Esther). Se o novo estado republicano trabalha em uma série de reformas com moldes franceses voltados para atender a elite, a pequena África passa a gerar as próprias formas de convívio.
O Carnaval e o samba surgem como criações fortes dos grupos sociais que habitam as favelas e os subúrbios. É nesse momento que se definem as linhas principais daquilo que o mundo conheceria como sendo o samba tipicamente brasileiro. Firmam-se as rítmicas básicas, os timbres e instrumentos típicos e os modos de tocá-los. As primeiras escolas se fortalecem, e uma "identidade" do samba passa a ser partilhada. Surgem as oportunidades de ganhar algum dinheiro com essa música, de gravar discos e experimentar o reconhecimento social. Todas essas linhas de força estão atuantes nos períodos decisivos de formação do samba, e Heitor dos Prazeres as vive de forma ativa.
É nesse momento que a música propriamente brasileira torna-se mercadoria, passa a ser vendida e a gerar renda para o compositor. Essa nova perspectiva causa certas confusões: a turma do Estácio discute com a turma da "velha guarda" como seria o verdadeiro samba, malandros se apropriam de sambas tradicionais e aspirantes a compositor compram parcerias ou às vezes o samba inteiro de compositores do morro. Nesse ambiente se dá a polêmica de Heitor dos Prazeres com Sinhô. Ao questionar Sinhô sobre o fato de ter roubado dois estribilhos seus, Heitor recebe como resposta que o acusado não sabia que os sambas eram de sua autoria, achava que eram temas populares "sem dono". Sinhô já havia se envolvido em outra questão com o samba Pelo Telefone, que teria sido composto coletivamente nas reuniões na casa de Tia Ciata. É atribuída a Sinhô a máxima "samba é que nem passarinho, é de quem pegar". Inicia-se uma polêmica, e Heitor dos Prazeres, visando Sinhô, compõe Olha Ele, Cuidado, de 1929, gravado por Alfredo Albuquerque, e respondido com Segura o Boi, por Francisco Alves, também em 1929. Sinhô havia construído para si mesmo a alcunha de "Rei do Samba", como uma espécie de marketing, e Heitor compõe então Rei dos Meus Sambas, gravado por Inácio G. Loiola, em 1929. Entretanto, o próprio Heitor é acusado de apropriar-se indevidamente de diversos sambas, entre eles alguns de Paulo da Portela e Vai Mesmo, de Antonio Rufino. Por esses e outros roubos, o dirigente Mané Bam-Bam-Bam impede Heitor de desfilar na Portela no Carnaval de 1941, gerando uma ruptura na escola.
Heitor dos Prazeres compõe choros (Comigo Ninguém Pode e A Coisa Melhorou), canções (Canção do Jornaleiro, lançada pelo menino Jonas Tinoco e regravada por Wanderley Cardoso, em 1959), rancheiras (Cousa Gozada), macumbas (Yêmanjá Ofeiaba, Vamos Brincar no Terreiro), baiões (Êta, Seu Mano), marchas (Africana, com J. Cascata, e Pierrô Apaixonado, parceria com Noel Rosa (1910-1937), gravada por Joel e Gaúcho, em 1936, Maria Bethânia, em 1965, Martinho da Vila, em 1979, e Ivan Lins, em 1997) e até ritmos latinos (Bate no Bongô), mas é o samba seu gênero mais producente e para o qual trouxe mais contribuições. Em seu primeiro grande êxito, Mulher de Malandro, lançado por Francisco Alves, em 1931, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, lida com a forma do samba de breque, ainda em gestação. Os breques são curtos, mas a ideia do estilo assumido por Moreira da Silva alguns anos depois já está constituída.
O samba de breque, surgido das possibilidades musicais do samba-choro, tem ainda ligação íntima com o samba sincopado, estilo no qual o compositor trabalha o deslocamento sutil entre a melodia e o acompanhamento. Já presente de certa forma entre os chorões e em alguns estilos da música africana, os sambistas sincopados procuram trabalhar esse deslocamento de modo contínuo, gerando uma sincopação consistente. Nesse sentido, é interessante ouvir a composição É Tempo, de Heitor dos Prazeres, com interpretação de Luís Barbosa, lançada em 1933. Esse intérprete - conhecido por suas peripécias rítmicas - é considerado um dos grandes nomes do samba sincopado, e encontra no samba de Heitor do Prazeres uma composição em que o deslocamento rítmico entre melodia e acompanhamento é bastante acentuado, gerando a sincopa consistente que vai caracterizar seu estilo e o de toda uma tradição que se segue, de Geraldo Pereira a João Gilberto (1931)
Críticas
"Se há um homem que não precisava ser pintor era esse, cuja vida e amores já conta de maneira tão boa em outra arte, mas sua riqueza interna veio ganhar na pintura uma expressão irmã do samba, e seria fácil reconhecer o ritmista na composição dos quadros, o 'envernizador técnico' no seu acabamento caprichado, o boêmio nos motivos malandros que o inspiram. Ele não faz pintura 'do Partido Alto', para deleite dos ricos, nem traz para a tela as cenas das macumbas e candomblés que freqüentou, apenas conta essa vida solta e heróica de cavaquinho na mão e cachaça e mulata, sua vida de seresteiro e trovador de muitas conquistas 'não pela cara que tenho, mas pela conversa que eu sei fazer'".
Rubem Braga (BRAGA, Rubem. Três Primitivos. Rio de Janeiro, Ministério da Educação/Serviço de Documentação, série Os Cadernos de Cultura nº 63, 1953, p. 14.)
"Sua arte consiste numa visão clara e ingênua de um mundo ideal; até o contorno das figuras parece representar visualmente a distância que existe entre elas e a realidade. Tais figuras, com raríssimas exceções, são retratadas com o rosto de perfil, mesmo quando o corpo aparece de frente ou de três quartos, e, pelo fato de estarem sempre na ponta dos pés, sugerem movimento. São gente de toda cor, participando fraternalmente da mesma atividade: um ensaio, uma serenata, uma ciranda, uma cena campestre. Raras vezes Heitor focaliza aspectos tristes do cotidiano, ou alude a preconceitos. A minúcia microscópica, estendendo-se a todos os elementos do quadro, é uma característica constante, que confirma a irrealidade simplória da obra. As cores, vivas e chapadas em tonalidades únicas, sublinham a simplicidade desse mundo ideal. Fina camada de verniz arremata a obra, denunciando a profissão de 'envernizador técnico' exercida pelo pintor".
Pedro Manuel (E no Brasil. Apresentação de Pietro Maria Bardi e Pedro Manuel. São Paulo: Abril Cultural, 1979.)
"A tônica dominante na pintura de Heitor está na vida e no samba carioca da Praça Onze e dos Arcos da Lapa. (...) Será que esse pintor, igualmente conhecido no cenário musical, teria sido mais compositor que artista plástico? Não há dúvida da importância que tem a música para esse artista: na sua pintura, o samba carioca faz ecoar os sons da África. Mas não se pode negar a força plástica desses personagens do povo, que cantam e dançam com o corpo virado para a frente e a cabeça para o lado. Essas figuras humanas bipolares de Heitor, bem como as cores contrastantes, particularmente na série das rodas de samba, fazem lembrar Di Cavalcanti. Sua declaração de que 'eu sou um ovo e o povo é a chocadeira' ilustra o espírito modernista de Heitor dos Prazeres".
Marta Heloísa Leuba Salum (MOSTRA do Redescobrimento: arte afro-brasileira. Nelson Aguilar, organizador/Fundação Bienal de São Paulo. São Paulo, Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000, p. 116.)
Exposições Individuais
1959 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Gea
1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1961 - São Paulo SP - Heitor dos Prazeres: pinturas, na Galeria Sistina
1963 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Selearte
1964 - Salvador BA - Individual, na Galeria Quirino
1965 - Porto Alegre RS - Individual, no Margs
Exposições Coletivas
1944 - Belo Horizonte MG - Exposição de Arte Moderna, no MAP
ca.1946 - Londres (Inglaterra) - Mostra em homenagem à Real Força Aérea Britânica - um de seus quadros é adquirido pela Rainha Elizabeth
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon - 3º prêmio
1952 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Artistas Brasileiros, no MAM/RJ
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1954 - São Paulo SP - Arte Contemporânea: exposição do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no MAM/SP
1957 - Buenos Aires (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Moderno
1957 - Lima (Peru) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte de Lima
1957 - Rosario (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo Municipal de Bellas Artes Juan B. Castagnino
1957 - Santiago (Chile) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Contemporáneo
1959 - Rio de Janeiro RJ - 30 Anos de Arte Brasileira, na Enba
1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no MAM/SP
1963 - Campinas SP - Pintura e Escultura Contemporâneas, no Museu Carlos Gomes
1965 - Bonn (Alemanha) - Brazilian Art Today
1965 - Londres (Inglaterra) - Brazilian Art Today, na Royal Academy of Arts
1965 - Paris (França) - Oito Pintores Ingênuos Brasileiros, na Galeria Jacques Massol
1965 - Viena (Áustria) - Brazilian Art Today
1966 - Dacar (Senegal) - 1º Festival Mundial de Artes Negras
1966 - Moscou (União Soviética, atual Rússia) - Pintores Primitivos Brasileiros
Exposições Póstumas
1966 - Dacar (Senegal) - 1º Festival Mundial de Artes Negras
1966 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos, na Galeria Ibeu Copacabana
1966 - Rio de Janeiro RJ - O Artista e a Máquina, no MAM/RJ
1966 - São Paulo SP - O Artista e a Máquina, no Masp
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ars Artis
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Mário Pedrosa, na Galeria Jean Boghici
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR
1983 - Olinda PE - 2ª Exposição da Coleção Abelardo Rodrigues de Artes Plásticas, no MAC/Olinda
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André
1984 - Paris (França) - Heitor dos Prazeres: retrospectiva, na Galeria Debret
1984 - Roma (Itália) - Heitor dos Prazeres: retrospectiva, na Embaixada do Brasil na Itália
1987 - São Paulo SP - As Bienais no Acervo do MAC: 1951 a 1985, no MAC/USP
1988 - Rio de Janeiro RJ - Hedonismo: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria Edifício Gilberto Chateaubriand
1988 - Rio de Janeiro RJ - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs, no Paço Imperial
1992 - Poços de Caldas MG - Arte Moderna Brasileira: acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Casa da Cultura de Poços de Caldas
1994 - Poços de Caldas MG - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos de Unibanco, na Casa da Cultura de Poços de Caldas
1995 - Rio de Janeiro RJ - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos do Unibanco, no MAM/RJ
1998 - Rio de Janeiro RJ - Heitor dos Prazeres: um século de arte
1998 - São Paulo SP - Fantasia Brasileira: o balé do IV Centenário, no Sesc Belenzinho
1998 - São Paulo SP - Mostra Comemorativa do Centenário do Artista, na Galeria Albert Einstein
1998 - São Paulo SP - O Colecionador, no MAM/SP
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
1999 - Rio de Janeiro RJ - As Três Artes de Heitor dos Prazeres, no MNBA
1999 - São Paulo SP - Cotidiano/Arte. O Consumo, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2001 - São Paulo SP - Figuras e Faces, na A Galeria
2002 - Piracicaba SP - 6ª Bienal Naifs do Brasi, no Sesc
2002 - São Paulo SP - Pop Brasil: a arte popular e o popular na arte, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Santa Ingenuidade, na Unifieo
2003 - Rio de Janeiro RJ - Arte em Movimento, no Espaço BNDES
2005 - São Paulo SP - Individual, no Espaço Cultural BM&F
Fonte: HEITOR dos Prazeres. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10428/heitor-dos-prazeres>. Acesso em: 12 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Primeiros anos
Seus pais eram Eduardo Alexandre dos Prazeres, marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional, e Celestina Gonçalves Martins, costureira, residentes no bairro carioca Cidade Nova (Praça Onze). Em sua família, ele era conhecido como Lino e tinha duas irmãs mais velhas, Acirema e Iraci.
O pai de Heitor o ensinou a tocar o clarinete em vários ritmos como polcas, valsas, choros e marchas. Ele morreu quando o filho tinha sete anos. Ele estudou nas escolas "Benjamin Constant", colégio dos padres de Sant'Ana e Externato Sousa Aguiar, mas foi expulso de todas elas e só cursou até a quarta série. Fez cursos de carpintaria. Seu tio, Hilário Jovino Ferreira, músico conhecido como "Lalau de Ouro" deu-lhe o seu primeiro cavaquinho. Tomou seu tio como modelo de compositor e aos doze anos, já era conhecido como Mano Heitor do Cavaquinho. Começou a participar de reuniões religiosas em casas onde na companhia de músicos experientes tocava e improvisava ritmos africanos como candomblé, jongo, lundu, cateretê, samba, etc., com instrumentos de percussão ou cavaquinho. Entre as casas que frequentava eram as de vovó Celi, tia Esther, Oswaldo Cruz e tia Ciata, onde as reuniões de bambas mais importantes da época eram feitas, como Lalu de Ouro, Caninha, João da Baiana, Sinhô, Getúlio Marinho ("Amor"), Donga, Saturnino Gonçalves ("Satur"), Pixinguinha, Paulo da Portela e outros.
Enquanto trabalhava como engraxate e vendedor de jornais, frequentava as cervejarias próximas e cinemas mudos próximos à Praça Onze e cafés da Lapa, onde ela podia ouvir os músicos e orquestras típicas da Belle Époque, no Rio de Janeiro. Aos treze anos, Heitor foi enviado para a prisão por vadiagem e passou dois meses na colônia correcional Dois Rios, na Ilha Grande. Alguns anos depois, ele começou a sair no carnaval fantasiado de baiana, envolto em um pano de cores vivas, tocando cavaquinho e seguido por uma multidão agitando as extremidades do pano O limoeiro, Limão e Adeus, óculo foram as primeiras composições e datam de 1912.
Carreira
Na década de 1920, assistido por outros sambistas e compositores como João da Baiana, Caninha, Ismael Silva, Alcebíades Barcelos ( "Bide") e Marçal ajudou a organizar vários grupos de samba do Rio Comprido, Estácio e outros locais nas proximidades, por isso era conhecido como Mano Heitor do Estácio. Ele participou de reuniões na Mangueira e Oswaldo Cruz com Cartola, Paulo da Portela, João da Gente, Manoel Bambambam e outros, o que levou à criação das primeiras escolas de samba: Deixa Falar, De Mim Ninguém se Lembra e Vizinha Faladeira no Estácio; Prazer da Moreninha e Vai como Pode em Madureira. As duas últimas se unimra e se tornaram a Portela, sua escola de samba favorita, cujas cores azul e branco foram escolhidas por ele. A Portela, em 1929 foi a primeira vencedora de uma competição entre escolas, com a sua composição Não Adianta Chorar. Ele participou na formação da Estação Primeira de Mangueira com Cartola. Fundou em 1928 a União do Estácio, com Nilton Bastos, "Bide" e Mano Rubem.
Duas de suas composições que o popularizaram foram Deixaste meu lar e Estas farto de minha vida, ambas de 1925 e gravadas por Francisco Alves. Outro tema de sua autoria da mesma época era Deixe a malandragem se és capaz. Em 1927, ele ganhou um concurso organizado por Zé Espinguela samba com a canção A Tristeza Me Persegue. No mesmo ano ele realizou com o pianista Sinhô a primeira controvérsia da música popular brasileira. Ao apresentar-se na popular festa carioca de Nossa Senhora da Penha, onde foram apresentadas ao público as canções para o próximo carnaval, ele descobriu que a autoria de Cassino Maxixe, interpretada por Francisco Alves, era atribuída somente a Sinhô e sua co-autoria era desconhecida. Algo semelhante aconteceu com Ora Vejam Só. A resposta de Sinhô foi:«Samba é como passarinho, é de quem pegar» . A resposta de Heitor foi o samba Olha ele, cuidado, onde denunciou o episódio. Por sua vez, ele foi respondido por Sinhô com samba Segura o Boi. Dado que Sinhô era conhecido como o "Rei do Samba", Heitor compôs a música Rei dos meus sambas e pode gravá-la e distribuí-la apesar da oposição de Sinhô. Ele chegou a um acordo pelo qual alcançou 38.000 réis e reconhecimento pela co-autoria. O próprio dos Prazeres foi acusado de se apropriar de outros sambas como alguns de Paulo da Portela e Vai Mesmo de Antônio Rufino, pelo qual em 1941 um dirigente o impediu de desfilar com a Portela.
Em 1933, ele compôs Canção do jornaleiro . A partir da letra autobiográfica autobiográfica deste tema, que lida com a vida das crianças que vendem jornais nas ruas, se iniciou uma campanha para financiar a construção da Casa do Pequeno Jornaleiro, que abriu em 1940.
Casou-se em 1931 com dona Gloria, com quem teve três filhas, Ivete, Iriete e Ionete Maria. Após a morte de sua esposa em 1936, dedicou-se às artes visuais, especialmente à pintura,por incentivo do desenhista, jornalista e crítico de arte Carlos Cavalcante, do pintor Augusto Rodrigues e do escritor Carlos Drummond de Andrade. Ele também fez instrumentos de percussão e projetou e fez os figurinos, móveis e tapeçaria de seus grupos musicais e de dança.
Sua residência na Praça Tiradentes era, de fato, um ponto de encontro de pessoas interessadas em seu conhecimento da cultura afro-brasileira e de seus mais importantes centros de encontro. Entre os visitantes, estava o estudante de medicina e futuro compositor Noel Rosa que lhe pediu ajuda para enfrentar um marinheiro agressivo que estava assediando sua namorada. Dos Prazeres era conhecido naquele bairro como um especialista em capoeira e um aviso ao marinheiro era o suficiente para afastá-lo. Ao retornar, enquanto cantarolava a marcha que estava compondo e para a qual também estava conduzindo uma ilustração, Noel Rosa sugeriu algumas mudanças na letra. Assim, ele tornou-se co-autor de Pierrô Apaixonado (lançado em 1936), um dos maiores sucessos de Heitor dos Prazeres. Naquela noite Drummond, outro de seus visitantes freqüentes, levou-lhe um poema de sua autoria para ser musicado , O Homem e seu Carnaval (1934). Ainda que não tenha conseguido musicalizá-lo, mais tarde foi inspirado por esse poema para criar um quadro de mesmo nome.
Em 1937, começou a exibir suas pinturas, nas quais retratou a vida nas favelas: crianças brincando, homens jogando ou bebendo, jovens dançando samba, etc. Representava os rostos das pessoas de perfil, com a cabeça e os olhos voltados para cima.
Nessa época ele se casou com Nativa Paiva, com quem teve dois filhos:I drolete e o músico Heitorzinho dos Prazeres. Seu primeiro filho inspirou o tema A Coisa melhorou, cuja letra inclui o famoso verso: É mais um guerreiro, é mais um carioca, é mais um brasileiro. Esta edição marcou o início da carreira solo da cantora Carmen Costa e foi gravado em uma das primeiras gravadoras independentes do Brasil.
Ao longo de sua vida, teve relacionamentos com várias mulheres, muitas das quais treinava para integrar grupos de música e dança que o acompanharam em suas turnês. Em São Paulo, conheceu uma mulher chamada Rosa, que lhe inspirou o tema Linda Rosa e com quem teve uma filha chamada Dirce. No final de 1920 nasceu sua filha mais velha, Laura, de seu relacionamento com a tia ialorixá Carlinda. Sua paixão por mulheres está presente em muitas de suas canções mais famosas, incluindo Deixa a Malandragem, Gosto que me Enrosco e Mulher de malandro.
Em 1939 e 1941 participou em São Paulo do evento Carnaval do Povo com o grupo Embaixada do Samba Carioca, criado para a ocasião. Participaram mais de cem artistas como Paulo da Portela, Cartola, Carmem Costa, Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Bide, Marçal, Henricão, Herivelto Martins e Nilo Chagas (duo Branco e Preto, depois Trio de Ouro com Dalva de Oliveira). Este evento ao ar livre, organizado pelo radialista e compositor Adoniran Barbosa e transmitido pelas rádios Cruzeiro do Sul e Kosmo, conquistou o samba em terras paulistas e de lá para Buenos Aires e Montevidéu. Graças à repercussão desse tipo evento o samba tornou-se aceito pelos setores mais ricos e ser ouvido maciçamente em casinos, cinemas, rádios, etc.
No final de 1930 atuou como músico, cantor e dançarino no Casino da Urca com Josephine Baker e Grande Otelo. Foi contratado por Orson Welles como coreógrafo de um filme sobre cultura afro-brasileira, centrado no samba e no carnaval. Também tocou seu cavaquinho em programas de auditório das rádios do Rio de Janeiro acompanhado pelo grupo Heitor dos Prazeres e Sua Gente, composto por vocalistas e outros músicos percussionistas e pasistas.
Em 1943 obteve o primeiro concurso oficial de Música de Carnaval , organizado pela prefeitura do Distrito Federal, pelo samba Mulher de malandro, na voz de Francisco Alves. Também nesse ano apresentou o samba Lá em Mangueira, co-escrito com Herivelto Martins e gravado pelo duo Branco e Preto e Dalva de Oliveira, começou a trabalhar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro ea expor suas pinturas em exposições locais e no exterior . Graças a uma exposição organizada pela RAF em Londres para arrecadar fundos para as vítimas da Segunda Guerra Mundial, a então princesa Elizabeth adquiriu seu quadro Festa de São João.
A pedido de seu amigo Carlos Cavalcante, em 1951 participou da primeira Bienal de Arte Moderna de São Paulo, com a presença de artistas de todo o mundo, que ganhou o terceiro prêmio nos artistas nacionais com seu quadro Moenda. Na segunda Bienal de São Paulo, em 1953, foi reservada uma sala para a exposição de sua obra. Ele criou cenários e figurinos para o balé do quarto centenário da cidade de São Paulo. Em 1959, exibiu pela primeira vez individualmente na Galeria Gea Rio de Janeiro.
Antonio Carlos da Fontoura dirigiu em 1965 um documentário sobre sua vida e obra.
Morte e legado
Morreu em 4 de outubro de 1966 no Rio de Janeiro, aos 68 anos de idade. Ele entregou um catálogo de cerca de 300 composições.
Em 1999, no centenário de seu nascimento, foi realizada uma retrospectiva de sua obra pictórica no Espaço BNDES e no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 2003 a jornalista Alba Lírio publicou o livro Heitor dos Prazeres: Sua Arte e Seu Tempo.
Discografia
1954 - Cosme e Damião/Iemanjá (Columbia)
1955 - Pai Benedito/Santa Bárbara (Columbia)
1955 - Vamos brincar no terreiro/Nego véio (Sinter)
1957 - Heitor dos Prazeres e sua gente (Sinter)
1957 - Nada de rock rock/Eta seu Mano! (Todamerica)
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 25 de março de 2017.
Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1898 — Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1966), conhecido também como Heitor do Cavaco e Heitor do Estácio, foi um compositor, cantor e pintor brasileiro, sendo um dos pioneiros na composição dos sambas e participando da fundação das primeiras escolas de samba brasileiras.
Biografia
Heitor dos Prazeres já era músico reconhecido quando passou a se dedicar também à pintura. Com sua visão jovial do mundo, registra em cores fortes cenas do cotidiano - as festas populares, o samba, o interior das casas, as brincadeiras das crianças. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1898, uma década depois da abolição da escravatura.
Presente nas primeiras rodas de samba, a música fez com que caísse no mundo. Com o cavaquinho que ganhou do tio debaixo do braço, a caixa de engraxate e a bolsa de carregar jornais, saiu pela cidade - tocando e passando o chapéu.
Descobriu a pintura ao ilustrar uma de suas criações musicais: O pierrot apaixonado.
Muitos jovens artistas iam em sua casa procurá-lo. Certo dia, Carlos Drummond de Andrade apareceu com um poema dedicado ao amigo. O compositor bem tentou, mas não conseguiu musicar o poema. Mais tarde, no entanto, ele lhe inspirou a criar um quadro, que recebeu o título dos versos de Drummond: O homem e seu Carnaval (1934).
Uma de suas telas, Festa de São João, participou da coletiva RAF em benefício das vítimas da 2ª Guerra Mundial, e foi arrematada pela então princesa Elizabeth, no Reino Unido.
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Biografia Itaú Cultural
Compositor e pintor. Filho de um marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional e de uma costureira, fica órfão de pai aos 7 anos. Sobrinho do pioneiro dos ranchos cariocas, Hilário Jovino Ferreira, ganha do tio seu primeiro cavaquinho. Aos 12 anos, trabalha como engraxate, jornaleiro e lustrador, vive constantemente em companhia do tio Hilário e frequenta a casa das tias baianas (Tia Ciata e Tia Esther), onde tem contato com músicos como Donga (1890-1974), João da Baiana (1887-1974), Sinhô (1888-1930), Caninha, Getúlio Marinho "Amor", Pixinguinha (1897-1973), Paulo da Portela (1901-1949) entre outros. Apesar dos trabalhos informais, o jovem Heitor é preso aos 13, por vadiagem, e passa algumas semanas na colônia correcional de Ilha Grande.
Aos 20, é conhecido como Mano Heitor do Cavaco e depois Mano Heitor do Estácio, sendo "Mano" uma denominação comum entre os sambistas. Quanto ao "Estácio", é uma referência aos companheiros que conhece no local: Ismael Silva (1905-1978), Bide (Alcebíades Barcelos), Nilton Bastos e Marçal. Com boa circulação entre os sambistas, firma relações com compositores da Mangueira, principalmente Cartola (1908-1980), e de Oswaldo Cruz, principalmente Paulo da Portela. Por meio dessas relações, Heitor dos Prazeres compõe sambas em parceria e participa do início dos trabalhos e da fundação de escolas de samba, que se tornam importantes referências: Mangueira, Portela e Deixar Falar (futura Estácio de Sá).
Em 1927 vence, com A Tristeza Me Persegue, um concurso de samba organizado por José Espinguela. No mesmo ano envolve-se em polêmica com o compositor Sinhô, acusando-o de ter "roubado" partes de seus sambas Ora Vejam Só (1927) e Gosto que Me Enrosco (gravada como Cassino Maxixe, em 1927, por Francisco Alves (1898-1952)). Consegue indenização e reconhecimento público da parceria. Os sambas Vai Mesmo e Deixaste Meu Lar, parceria com Francisco Alves, são gravados por Mário Reis (1907-1981), em 1929. Ainda em 1929, Alves registra És Feliz, e, em 1931, Riso Fingido. Entre gravações e polêmicas, Prazeres inicia um catálogo que reúne cerca de 300 composições. Cria, em 1930, um coro feminino como acompanhamento, Heitor dos Prazeres e Sua Gente, com o qual excursiona e se apresenta no Uruguai. Atua nas Rádios Cosmos e Cruzeiro do Sul, em que apresenta o programa A Voz do Morro, com Cartola e Paulo da Portela. Orestes Barbosa (1893-1966) grava seu samba Nega, Meu Bem, em 1931. Prazeres forma o Grupo Carioca e torna-se ritmista da Rádio Nacional e do Cassino da Urca. Entre suas principais composições estão Cantar para Não Chorar, com Paulo Portela, lançada por Carlos Galhardo em 1938, regravada pelo Quinteto em Branco e Preto, em 2000, e Paulinho da Viola (1942), em 2006; Carioca Boêmio, sucesso com Orlando Silva, em 1945; Consideração, parceria com Cartola, gravada por Arranco de Varsóvia, em 1997, e por Beth Carvalho, em 2003; Lá em Mangueira, com Herivelto Martins, lançada pelo Trio de Ouro, em 1943, gravada por Elizeth Cardoso, em 1967, Clementina de Jesus, em 1968, e Zeca Pagodinho e Raphael Rabello, em 1991; A Tristeza Me Persegue, com João da Gente, gravado pela Velha Guarda da Portela em 1970, e Zeca Pagodinho, em 1998. Em 1957, com o grupo Heitor dos Prazeres e Sua Gente, grava uma canção contra o rock'n'roll Nada de Rock Rock, regravada por Pedro Miranda em 2006.
Por volta de 1937 passa a dedicar-se também à pintura, tendo alcançado em 1951 o terceiro lugar para artistas nacionais na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, com o quadro Moenda. Ganha uma sala especial na 2ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1953. Cria ainda cenários e figurinos para o Balé do IV Centenário da Cidade de São Paulo, e, em 1965, Antônio Carlos Fontoura produz um documentário sobre sua obra. Em 1999, é realizada mostra retrospectiva no Espaço BNDES e no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), em comemoração do centenário de seu nascimento.
Análise
A vida de Heitor dos Prazeres transcorre em época de grandes definições para a cultura brasileira em geral. Em um extremo a abolição da escravatura, em 1888, é um marco de liberdade potencial, e no outro a ascensão da ditadura militar de 1964 é um duro golpe para a liberdade prometida. Entre esses extremos o Brasil passa por momentos decisivos, construindo o imaginário de país livre, que busca afirmar sua identidade como povo moderno e criar as formas culturais que nascem desse novo imaginário. A primeira metade do século XX, importante para a nação, é também agitada no cenário internacional, que assiste às duas guerras mundiais.
Liberados dos laços escravistas, muitos negros da Bahia, ex-escravos ou forros, seguem rumo ao Rio de Janeiro, gerando uma pequena "diáspora baiana". Se em 1890 a capital tem pouco mais de 500 mil habitantes, em 1920 tem 1 milhão. Heitor dos Prazeres, carioca descendente de negros baianos, cria a denominação África em Miniatura, referindo-se à região da Praça 11 e às festas na casa das tias baianas (Tia Ciata e Tia Esther). Se o novo estado republicano trabalha em uma série de reformas com moldes franceses voltados para atender a elite, a pequena África passa a gerar as próprias formas de convívio.
O Carnaval e o samba surgem como criações fortes dos grupos sociais que habitam as favelas e os subúrbios. É nesse momento que se definem as linhas principais daquilo que o mundo conheceria como sendo o samba tipicamente brasileiro. Firmam-se as rítmicas básicas, os timbres e instrumentos típicos e os modos de tocá-los. As primeiras escolas se fortalecem, e uma "identidade" do samba passa a ser partilhada. Surgem as oportunidades de ganhar algum dinheiro com essa música, de gravar discos e experimentar o reconhecimento social. Todas essas linhas de força estão atuantes nos períodos decisivos de formação do samba, e Heitor dos Prazeres as vive de forma ativa.
É nesse momento que a música propriamente brasileira torna-se mercadoria, passa a ser vendida e a gerar renda para o compositor. Essa nova perspectiva causa certas confusões: a turma do Estácio discute com a turma da "velha guarda" como seria o verdadeiro samba, malandros se apropriam de sambas tradicionais e aspirantes a compositor compram parcerias ou às vezes o samba inteiro de compositores do morro. Nesse ambiente se dá a polêmica de Heitor dos Prazeres com Sinhô. Ao questionar Sinhô sobre o fato de ter roubado dois estribilhos seus, Heitor recebe como resposta que o acusado não sabia que os sambas eram de sua autoria, achava que eram temas populares "sem dono". Sinhô já havia se envolvido em outra questão com o samba Pelo Telefone, que teria sido composto coletivamente nas reuniões na casa de Tia Ciata. É atribuída a Sinhô a máxima "samba é que nem passarinho, é de quem pegar". Inicia-se uma polêmica, e Heitor dos Prazeres, visando Sinhô, compõe Olha Ele, Cuidado, de 1929, gravado por Alfredo Albuquerque, e respondido com Segura o Boi, por Francisco Alves, também em 1929. Sinhô havia construído para si mesmo a alcunha de "Rei do Samba", como uma espécie de marketing, e Heitor compõe então Rei dos Meus Sambas, gravado por Inácio G. Loiola, em 1929. Entretanto, o próprio Heitor é acusado de apropriar-se indevidamente de diversos sambas, entre eles alguns de Paulo da Portela e Vai Mesmo, de Antonio Rufino. Por esses e outros roubos, o dirigente Mané Bam-Bam-Bam impede Heitor de desfilar na Portela no Carnaval de 1941, gerando uma ruptura na escola.
Heitor dos Prazeres compõe choros (Comigo Ninguém Pode e A Coisa Melhorou), canções (Canção do Jornaleiro, lançada pelo menino Jonas Tinoco e regravada por Wanderley Cardoso, em 1959), rancheiras (Cousa Gozada), macumbas (Yêmanjá Ofeiaba, Vamos Brincar no Terreiro), baiões (Êta, Seu Mano), marchas (Africana, com J. Cascata, e Pierrô Apaixonado, parceria com Noel Rosa (1910-1937), gravada por Joel e Gaúcho, em 1936, Maria Bethânia, em 1965, Martinho da Vila, em 1979, e Ivan Lins, em 1997) e até ritmos latinos (Bate no Bongô), mas é o samba seu gênero mais producente e para o qual trouxe mais contribuições. Em seu primeiro grande êxito, Mulher de Malandro, lançado por Francisco Alves, em 1931, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, lida com a forma do samba de breque, ainda em gestação. Os breques são curtos, mas a ideia do estilo assumido por Moreira da Silva alguns anos depois já está constituída.
O samba de breque, surgido das possibilidades musicais do samba-choro, tem ainda ligação íntima com o samba sincopado, estilo no qual o compositor trabalha o deslocamento sutil entre a melodia e o acompanhamento. Já presente de certa forma entre os chorões e em alguns estilos da música africana, os sambistas sincopados procuram trabalhar esse deslocamento de modo contínuo, gerando uma sincopação consistente. Nesse sentido, é interessante ouvir a composição É Tempo, de Heitor dos Prazeres, com interpretação de Luís Barbosa, lançada em 1933. Esse intérprete - conhecido por suas peripécias rítmicas - é considerado um dos grandes nomes do samba sincopado, e encontra no samba de Heitor do Prazeres uma composição em que o deslocamento rítmico entre melodia e acompanhamento é bastante acentuado, gerando a sincopa consistente que vai caracterizar seu estilo e o de toda uma tradição que se segue, de Geraldo Pereira a João Gilberto (1931)
Críticas
"Se há um homem que não precisava ser pintor era esse, cuja vida e amores já conta de maneira tão boa em outra arte, mas sua riqueza interna veio ganhar na pintura uma expressão irmã do samba, e seria fácil reconhecer o ritmista na composição dos quadros, o 'envernizador técnico' no seu acabamento caprichado, o boêmio nos motivos malandros que o inspiram. Ele não faz pintura 'do Partido Alto', para deleite dos ricos, nem traz para a tela as cenas das macumbas e candomblés que freqüentou, apenas conta essa vida solta e heróica de cavaquinho na mão e cachaça e mulata, sua vida de seresteiro e trovador de muitas conquistas 'não pela cara que tenho, mas pela conversa que eu sei fazer'".
Rubem Braga (BRAGA, Rubem. Três Primitivos. Rio de Janeiro, Ministério da Educação/Serviço de Documentação, série Os Cadernos de Cultura nº 63, 1953, p. 14.)
"Sua arte consiste numa visão clara e ingênua de um mundo ideal; até o contorno das figuras parece representar visualmente a distância que existe entre elas e a realidade. Tais figuras, com raríssimas exceções, são retratadas com o rosto de perfil, mesmo quando o corpo aparece de frente ou de três quartos, e, pelo fato de estarem sempre na ponta dos pés, sugerem movimento. São gente de toda cor, participando fraternalmente da mesma atividade: um ensaio, uma serenata, uma ciranda, uma cena campestre. Raras vezes Heitor focaliza aspectos tristes do cotidiano, ou alude a preconceitos. A minúcia microscópica, estendendo-se a todos os elementos do quadro, é uma característica constante, que confirma a irrealidade simplória da obra. As cores, vivas e chapadas em tonalidades únicas, sublinham a simplicidade desse mundo ideal. Fina camada de verniz arremata a obra, denunciando a profissão de 'envernizador técnico' exercida pelo pintor".
Pedro Manuel (E no Brasil. Apresentação de Pietro Maria Bardi e Pedro Manuel. São Paulo: Abril Cultural, 1979.)
"A tônica dominante na pintura de Heitor está na vida e no samba carioca da Praça Onze e dos Arcos da Lapa. (...) Será que esse pintor, igualmente conhecido no cenário musical, teria sido mais compositor que artista plástico? Não há dúvida da importância que tem a música para esse artista: na sua pintura, o samba carioca faz ecoar os sons da África. Mas não se pode negar a força plástica desses personagens do povo, que cantam e dançam com o corpo virado para a frente e a cabeça para o lado. Essas figuras humanas bipolares de Heitor, bem como as cores contrastantes, particularmente na série das rodas de samba, fazem lembrar Di Cavalcanti. Sua declaração de que 'eu sou um ovo e o povo é a chocadeira' ilustra o espírito modernista de Heitor dos Prazeres".
Marta Heloísa Leuba Salum (MOSTRA do Redescobrimento: arte afro-brasileira. Nelson Aguilar, organizador/Fundação Bienal de São Paulo. São Paulo, Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000, p. 116.)
Exposições Individuais
1959 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Gea
1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1961 - São Paulo SP - Heitor dos Prazeres: pinturas, na Galeria Sistina
1963 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Selearte
1964 - Salvador BA - Individual, na Galeria Quirino
1965 - Porto Alegre RS - Individual, no Margs
Exposições Coletivas
1944 - Belo Horizonte MG - Exposição de Arte Moderna, no MAP
ca.1946 - Londres (Inglaterra) - Mostra em homenagem à Real Força Aérea Britânica - um de seus quadros é adquirido pela Rainha Elizabeth
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon - 3º prêmio
1952 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Artistas Brasileiros, no MAM/RJ
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1954 - São Paulo SP - Arte Contemporânea: exposição do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no MAM/SP
1957 - Buenos Aires (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Moderno
1957 - Lima (Peru) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte de Lima
1957 - Rosario (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo Municipal de Bellas Artes Juan B. Castagnino
1957 - Santiago (Chile) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Contemporáneo
1959 - Rio de Janeiro RJ - 30 Anos de Arte Brasileira, na Enba
1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no MAM/SP
1963 - Campinas SP - Pintura e Escultura Contemporâneas, no Museu Carlos Gomes
1965 - Bonn (Alemanha) - Brazilian Art Today
1965 - Londres (Inglaterra) - Brazilian Art Today, na Royal Academy of Arts
1965 - Paris (França) - Oito Pintores Ingênuos Brasileiros, na Galeria Jacques Massol
1965 - Viena (Áustria) - Brazilian Art Today
1966 - Dacar (Senegal) - 1º Festival Mundial de Artes Negras
1966 - Moscou (União Soviética, atual Rússia) - Pintores Primitivos Brasileiros
Exposições Póstumas
1966 - Dacar (Senegal) - 1º Festival Mundial de Artes Negras
1966 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos, na Galeria Ibeu Copacabana
1966 - Rio de Janeiro RJ - O Artista e a Máquina, no MAM/RJ
1966 - São Paulo SP - O Artista e a Máquina, no Masp
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ars Artis
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Mário Pedrosa, na Galeria Jean Boghici
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR
1983 - Olinda PE - 2ª Exposição da Coleção Abelardo Rodrigues de Artes Plásticas, no MAC/Olinda
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André
1984 - Paris (França) - Heitor dos Prazeres: retrospectiva, na Galeria Debret
1984 - Roma (Itália) - Heitor dos Prazeres: retrospectiva, na Embaixada do Brasil na Itália
1987 - São Paulo SP - As Bienais no Acervo do MAC: 1951 a 1985, no MAC/USP
1988 - Rio de Janeiro RJ - Hedonismo: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria Edifício Gilberto Chateaubriand
1988 - Rio de Janeiro RJ - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs, no Paço Imperial
1992 - Poços de Caldas MG - Arte Moderna Brasileira: acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Casa da Cultura de Poços de Caldas
1994 - Poços de Caldas MG - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos de Unibanco, na Casa da Cultura de Poços de Caldas
1995 - Rio de Janeiro RJ - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos do Unibanco, no MAM/RJ
1998 - Rio de Janeiro RJ - Heitor dos Prazeres: um século de arte
1998 - São Paulo SP - Fantasia Brasileira: o balé do IV Centenário, no Sesc Belenzinho
1998 - São Paulo SP - Mostra Comemorativa do Centenário do Artista, na Galeria Albert Einstein
1998 - São Paulo SP - O Colecionador, no MAM/SP
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
1999 - Rio de Janeiro RJ - As Três Artes de Heitor dos Prazeres, no MNBA
1999 - São Paulo SP - Cotidiano/Arte. O Consumo, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2001 - São Paulo SP - Figuras e Faces, na A Galeria
2002 - Piracicaba SP - 6ª Bienal Naifs do Brasi, no Sesc
2002 - São Paulo SP - Pop Brasil: a arte popular e o popular na arte, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Santa Ingenuidade, na Unifieo
2003 - Rio de Janeiro RJ - Arte em Movimento, no Espaço BNDES
2005 - São Paulo SP - Individual, no Espaço Cultural BM&F
Fonte: HEITOR dos Prazeres. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10428/heitor-dos-prazeres>. Acesso em: 12 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Primeiros anos
Seus pais eram Eduardo Alexandre dos Prazeres, marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional, e Celestina Gonçalves Martins, costureira, residentes no bairro carioca Cidade Nova (Praça Onze). Em sua família, ele era conhecido como Lino e tinha duas irmãs mais velhas, Acirema e Iraci.
O pai de Heitor o ensinou a tocar o clarinete em vários ritmos como polcas, valsas, choros e marchas. Ele morreu quando o filho tinha sete anos. Ele estudou nas escolas "Benjamin Constant", colégio dos padres de Sant'Ana e Externato Sousa Aguiar, mas foi expulso de todas elas e só cursou até a quarta série. Fez cursos de carpintaria. Seu tio, Hilário Jovino Ferreira, músico conhecido como "Lalau de Ouro" deu-lhe o seu primeiro cavaquinho. Tomou seu tio como modelo de compositor e aos doze anos, já era conhecido como Mano Heitor do Cavaquinho. Começou a participar de reuniões religiosas em casas onde na companhia de músicos experientes tocava e improvisava ritmos africanos como candomblé, jongo, lundu, cateretê, samba, etc., com instrumentos de percussão ou cavaquinho. Entre as casas que frequentava eram as de vovó Celi, tia Esther, Oswaldo Cruz e tia Ciata, onde as reuniões de bambas mais importantes da época eram feitas, como Lalu de Ouro, Caninha, João da Baiana, Sinhô, Getúlio Marinho ("Amor"), Donga, Saturnino Gonçalves ("Satur"), Pixinguinha, Paulo da Portela e outros.
Enquanto trabalhava como engraxate e vendedor de jornais, frequentava as cervejarias próximas e cinemas mudos próximos à Praça Onze e cafés da Lapa, onde ela podia ouvir os músicos e orquestras típicas da Belle Époque, no Rio de Janeiro. Aos treze anos, Heitor foi enviado para a prisão por vadiagem e passou dois meses na colônia correcional Dois Rios, na Ilha Grande. Alguns anos depois, ele começou a sair no carnaval fantasiado de baiana, envolto em um pano de cores vivas, tocando cavaquinho e seguido por uma multidão agitando as extremidades do pano O limoeiro, Limão e Adeus, óculo foram as primeiras composições e datam de 1912.
Carreira
Na década de 1920, assistido por outros sambistas e compositores como João da Baiana, Caninha, Ismael Silva, Alcebíades Barcelos ( "Bide") e Marçal ajudou a organizar vários grupos de samba do Rio Comprido, Estácio e outros locais nas proximidades, por isso era conhecido como Mano Heitor do Estácio. Ele participou de reuniões na Mangueira e Oswaldo Cruz com Cartola, Paulo da Portela, João da Gente, Manoel Bambambam e outros, o que levou à criação das primeiras escolas de samba: Deixa Falar, De Mim Ninguém se Lembra e Vizinha Faladeira no Estácio; Prazer da Moreninha e Vai como Pode em Madureira. As duas últimas se unimra e se tornaram a Portela, sua escola de samba favorita, cujas cores azul e branco foram escolhidas por ele. A Portela, em 1929 foi a primeira vencedora de uma competição entre escolas, com a sua composição Não Adianta Chorar. Ele participou na formação da Estação Primeira de Mangueira com Cartola. Fundou em 1928 a União do Estácio, com Nilton Bastos, "Bide" e Mano Rubem.
Duas de suas composições que o popularizaram foram Deixaste meu lar e Estas farto de minha vida, ambas de 1925 e gravadas por Francisco Alves. Outro tema de sua autoria da mesma época era Deixe a malandragem se és capaz. Em 1927, ele ganhou um concurso organizado por Zé Espinguela samba com a canção A Tristeza Me Persegue. No mesmo ano ele realizou com o pianista Sinhô a primeira controvérsia da música popular brasileira. Ao apresentar-se na popular festa carioca de Nossa Senhora da Penha, onde foram apresentadas ao público as canções para o próximo carnaval, ele descobriu que a autoria de Cassino Maxixe, interpretada por Francisco Alves, era atribuída somente a Sinhô e sua co-autoria era desconhecida. Algo semelhante aconteceu com Ora Vejam Só. A resposta de Sinhô foi:«Samba é como passarinho, é de quem pegar» . A resposta de Heitor foi o samba Olha ele, cuidado, onde denunciou o episódio. Por sua vez, ele foi respondido por Sinhô com samba Segura o Boi. Dado que Sinhô era conhecido como o "Rei do Samba", Heitor compôs a música Rei dos meus sambas e pode gravá-la e distribuí-la apesar da oposição de Sinhô. Ele chegou a um acordo pelo qual alcançou 38.000 réis e reconhecimento pela co-autoria. O próprio dos Prazeres foi acusado de se apropriar de outros sambas como alguns de Paulo da Portela e Vai Mesmo de Antônio Rufino, pelo qual em 1941 um dirigente o impediu de desfilar com a Portela.
Em 1933, ele compôs Canção do jornaleiro . A partir da letra autobiográfica autobiográfica deste tema, que lida com a vida das crianças que vendem jornais nas ruas, se iniciou uma campanha para financiar a construção da Casa do Pequeno Jornaleiro, que abriu em 1940.
Casou-se em 1931 com dona Gloria, com quem teve três filhas, Ivete, Iriete e Ionete Maria. Após a morte de sua esposa em 1936, dedicou-se às artes visuais, especialmente à pintura,por incentivo do desenhista, jornalista e crítico de arte Carlos Cavalcante, do pintor Augusto Rodrigues e do escritor Carlos Drummond de Andrade. Ele também fez instrumentos de percussão e projetou e fez os figurinos, móveis e tapeçaria de seus grupos musicais e de dança.
Sua residência na Praça Tiradentes era, de fato, um ponto de encontro de pessoas interessadas em seu conhecimento da cultura afro-brasileira e de seus mais importantes centros de encontro. Entre os visitantes, estava o estudante de medicina e futuro compositor Noel Rosa que lhe pediu ajuda para enfrentar um marinheiro agressivo que estava assediando sua namorada. Dos Prazeres era conhecido naquele bairro como um especialista em capoeira e um aviso ao marinheiro era o suficiente para afastá-lo. Ao retornar, enquanto cantarolava a marcha que estava compondo e para a qual também estava conduzindo uma ilustração, Noel Rosa sugeriu algumas mudanças na letra. Assim, ele tornou-se co-autor de Pierrô Apaixonado (lançado em 1936), um dos maiores sucessos de Heitor dos Prazeres. Naquela noite Drummond, outro de seus visitantes freqüentes, levou-lhe um poema de sua autoria para ser musicado , O Homem e seu Carnaval (1934). Ainda que não tenha conseguido musicalizá-lo, mais tarde foi inspirado por esse poema para criar um quadro de mesmo nome.
Em 1937, começou a exibir suas pinturas, nas quais retratou a vida nas favelas: crianças brincando, homens jogando ou bebendo, jovens dançando samba, etc. Representava os rostos das pessoas de perfil, com a cabeça e os olhos voltados para cima.
Nessa época ele se casou com Nativa Paiva, com quem teve dois filhos:I drolete e o músico Heitorzinho dos Prazeres. Seu primeiro filho inspirou o tema A Coisa melhorou, cuja letra inclui o famoso verso: É mais um guerreiro, é mais um carioca, é mais um brasileiro. Esta edição marcou o início da carreira solo da cantora Carmen Costa e foi gravado em uma das primeiras gravadoras independentes do Brasil.
Ao longo de sua vida, teve relacionamentos com várias mulheres, muitas das quais treinava para integrar grupos de música e dança que o acompanharam em suas turnês. Em São Paulo, conheceu uma mulher chamada Rosa, que lhe inspirou o tema Linda Rosa e com quem teve uma filha chamada Dirce. No final de 1920 nasceu sua filha mais velha, Laura, de seu relacionamento com a tia ialorixá Carlinda. Sua paixão por mulheres está presente em muitas de suas canções mais famosas, incluindo Deixa a Malandragem, Gosto que me Enrosco e Mulher de malandro.
Em 1939 e 1941 participou em São Paulo do evento Carnaval do Povo com o grupo Embaixada do Samba Carioca, criado para a ocasião. Participaram mais de cem artistas como Paulo da Portela, Cartola, Carmem Costa, Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Bide, Marçal, Henricão, Herivelto Martins e Nilo Chagas (duo Branco e Preto, depois Trio de Ouro com Dalva de Oliveira). Este evento ao ar livre, organizado pelo radialista e compositor Adoniran Barbosa e transmitido pelas rádios Cruzeiro do Sul e Kosmo, conquistou o samba em terras paulistas e de lá para Buenos Aires e Montevidéu. Graças à repercussão desse tipo evento o samba tornou-se aceito pelos setores mais ricos e ser ouvido maciçamente em casinos, cinemas, rádios, etc.
No final de 1930 atuou como músico, cantor e dançarino no Casino da Urca com Josephine Baker e Grande Otelo. Foi contratado por Orson Welles como coreógrafo de um filme sobre cultura afro-brasileira, centrado no samba e no carnaval. Também tocou seu cavaquinho em programas de auditório das rádios do Rio de Janeiro acompanhado pelo grupo Heitor dos Prazeres e Sua Gente, composto por vocalistas e outros músicos percussionistas e pasistas.
Em 1943 obteve o primeiro concurso oficial de Música de Carnaval , organizado pela prefeitura do Distrito Federal, pelo samba Mulher de malandro, na voz de Francisco Alves. Também nesse ano apresentou o samba Lá em Mangueira, co-escrito com Herivelto Martins e gravado pelo duo Branco e Preto e Dalva de Oliveira, começou a trabalhar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro ea expor suas pinturas em exposições locais e no exterior . Graças a uma exposição organizada pela RAF em Londres para arrecadar fundos para as vítimas da Segunda Guerra Mundial, a então princesa Elizabeth adquiriu seu quadro Festa de São João.
A pedido de seu amigo Carlos Cavalcante, em 1951 participou da primeira Bienal de Arte Moderna de São Paulo, com a presença de artistas de todo o mundo, que ganhou o terceiro prêmio nos artistas nacionais com seu quadro Moenda. Na segunda Bienal de São Paulo, em 1953, foi reservada uma sala para a exposição de sua obra. Ele criou cenários e figurinos para o balé do quarto centenário da cidade de São Paulo. Em 1959, exibiu pela primeira vez individualmente na Galeria Gea Rio de Janeiro.
Antonio Carlos da Fontoura dirigiu em 1965 um documentário sobre sua vida e obra.
Morte e legado
Morreu em 4 de outubro de 1966 no Rio de Janeiro, aos 68 anos de idade. Ele entregou um catálogo de cerca de 300 composições.
Em 1999, no centenário de seu nascimento, foi realizada uma retrospectiva de sua obra pictórica no Espaço BNDES e no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 2003 a jornalista Alba Lírio publicou o livro Heitor dos Prazeres: Sua Arte e Seu Tempo.
Discografia
1954 - Cosme e Damião/Iemanjá (Columbia)
1955 - Pai Benedito/Santa Bárbara (Columbia)
1955 - Vamos brincar no terreiro/Nego véio (Sinter)
1957 - Heitor dos Prazeres e sua gente (Sinter)
1957 - Nada de rock rock/Eta seu Mano! (Todamerica)
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 25 de março de 2017.
Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1898 — Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1966), conhecido também como Heitor do Cavaco e Heitor do Estácio, foi um compositor, cantor e pintor brasileiro, sendo um dos pioneiros na composição dos sambas e participando da fundação das primeiras escolas de samba brasileiras.
Biografia
Heitor dos Prazeres já era músico reconhecido quando passou a se dedicar também à pintura. Com sua visão jovial do mundo, registra em cores fortes cenas do cotidiano - as festas populares, o samba, o interior das casas, as brincadeiras das crianças. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1898, uma década depois da abolição da escravatura.
Presente nas primeiras rodas de samba, a música fez com que caísse no mundo. Com o cavaquinho que ganhou do tio debaixo do braço, a caixa de engraxate e a bolsa de carregar jornais, saiu pela cidade - tocando e passando o chapéu.
Descobriu a pintura ao ilustrar uma de suas criações musicais: O pierrot apaixonado.
Muitos jovens artistas iam em sua casa procurá-lo. Certo dia, Carlos Drummond de Andrade apareceu com um poema dedicado ao amigo. O compositor bem tentou, mas não conseguiu musicar o poema. Mais tarde, no entanto, ele lhe inspirou a criar um quadro, que recebeu o título dos versos de Drummond: O homem e seu Carnaval (1934).
Uma de suas telas, Festa de São João, participou da coletiva RAF em benefício das vítimas da 2ª Guerra Mundial, e foi arrematada pela então princesa Elizabeth, no Reino Unido.
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Biografia Itaú Cultural
Compositor e pintor. Filho de um marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional e de uma costureira, fica órfão de pai aos 7 anos. Sobrinho do pioneiro dos ranchos cariocas, Hilário Jovino Ferreira, ganha do tio seu primeiro cavaquinho. Aos 12 anos, trabalha como engraxate, jornaleiro e lustrador, vive constantemente em companhia do tio Hilário e frequenta a casa das tias baianas (Tia Ciata e Tia Esther), onde tem contato com músicos como Donga (1890-1974), João da Baiana (1887-1974), Sinhô (1888-1930), Caninha, Getúlio Marinho "Amor", Pixinguinha (1897-1973), Paulo da Portela (1901-1949) entre outros. Apesar dos trabalhos informais, o jovem Heitor é preso aos 13, por vadiagem, e passa algumas semanas na colônia correcional de Ilha Grande.
Aos 20, é conhecido como Mano Heitor do Cavaco e depois Mano Heitor do Estácio, sendo "Mano" uma denominação comum entre os sambistas. Quanto ao "Estácio", é uma referência aos companheiros que conhece no local: Ismael Silva (1905-1978), Bide (Alcebíades Barcelos), Nilton Bastos e Marçal. Com boa circulação entre os sambistas, firma relações com compositores da Mangueira, principalmente Cartola (1908-1980), e de Oswaldo Cruz, principalmente Paulo da Portela. Por meio dessas relações, Heitor dos Prazeres compõe sambas em parceria e participa do início dos trabalhos e da fundação de escolas de samba, que se tornam importantes referências: Mangueira, Portela e Deixar Falar (futura Estácio de Sá).
Em 1927 vence, com A Tristeza Me Persegue, um concurso de samba organizado por José Espinguela. No mesmo ano envolve-se em polêmica com o compositor Sinhô, acusando-o de ter "roubado" partes de seus sambas Ora Vejam Só (1927) e Gosto que Me Enrosco (gravada como Cassino Maxixe, em 1927, por Francisco Alves (1898-1952)). Consegue indenização e reconhecimento público da parceria. Os sambas Vai Mesmo e Deixaste Meu Lar, parceria com Francisco Alves, são gravados por Mário Reis (1907-1981), em 1929. Ainda em 1929, Alves registra És Feliz, e, em 1931, Riso Fingido. Entre gravações e polêmicas, Prazeres inicia um catálogo que reúne cerca de 300 composições. Cria, em 1930, um coro feminino como acompanhamento, Heitor dos Prazeres e Sua Gente, com o qual excursiona e se apresenta no Uruguai. Atua nas Rádios Cosmos e Cruzeiro do Sul, em que apresenta o programa A Voz do Morro, com Cartola e Paulo da Portela. Orestes Barbosa (1893-1966) grava seu samba Nega, Meu Bem, em 1931. Prazeres forma o Grupo Carioca e torna-se ritmista da Rádio Nacional e do Cassino da Urca. Entre suas principais composições estão Cantar para Não Chorar, com Paulo Portela, lançada por Carlos Galhardo em 1938, regravada pelo Quinteto em Branco e Preto, em 2000, e Paulinho da Viola (1942), em 2006; Carioca Boêmio, sucesso com Orlando Silva, em 1945; Consideração, parceria com Cartola, gravada por Arranco de Varsóvia, em 1997, e por Beth Carvalho, em 2003; Lá em Mangueira, com Herivelto Martins, lançada pelo Trio de Ouro, em 1943, gravada por Elizeth Cardoso, em 1967, Clementina de Jesus, em 1968, e Zeca Pagodinho e Raphael Rabello, em 1991; A Tristeza Me Persegue, com João da Gente, gravado pela Velha Guarda da Portela em 1970, e Zeca Pagodinho, em 1998. Em 1957, com o grupo Heitor dos Prazeres e Sua Gente, grava uma canção contra o rock'n'roll Nada de Rock Rock, regravada por Pedro Miranda em 2006.
Por volta de 1937 passa a dedicar-se também à pintura, tendo alcançado em 1951 o terceiro lugar para artistas nacionais na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, com o quadro Moenda. Ganha uma sala especial na 2ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1953. Cria ainda cenários e figurinos para o Balé do IV Centenário da Cidade de São Paulo, e, em 1965, Antônio Carlos Fontoura produz um documentário sobre sua obra. Em 1999, é realizada mostra retrospectiva no Espaço BNDES e no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), em comemoração do centenário de seu nascimento.
Análise
A vida de Heitor dos Prazeres transcorre em época de grandes definições para a cultura brasileira em geral. Em um extremo a abolição da escravatura, em 1888, é um marco de liberdade potencial, e no outro a ascensão da ditadura militar de 1964 é um duro golpe para a liberdade prometida. Entre esses extremos o Brasil passa por momentos decisivos, construindo o imaginário de país livre, que busca afirmar sua identidade como povo moderno e criar as formas culturais que nascem desse novo imaginário. A primeira metade do século XX, importante para a nação, é também agitada no cenário internacional, que assiste às duas guerras mundiais.
Liberados dos laços escravistas, muitos negros da Bahia, ex-escravos ou forros, seguem rumo ao Rio de Janeiro, gerando uma pequena "diáspora baiana". Se em 1890 a capital tem pouco mais de 500 mil habitantes, em 1920 tem 1 milhão. Heitor dos Prazeres, carioca descendente de negros baianos, cria a denominação África em Miniatura, referindo-se à região da Praça 11 e às festas na casa das tias baianas (Tia Ciata e Tia Esther). Se o novo estado republicano trabalha em uma série de reformas com moldes franceses voltados para atender a elite, a pequena África passa a gerar as próprias formas de convívio.
O Carnaval e o samba surgem como criações fortes dos grupos sociais que habitam as favelas e os subúrbios. É nesse momento que se definem as linhas principais daquilo que o mundo conheceria como sendo o samba tipicamente brasileiro. Firmam-se as rítmicas básicas, os timbres e instrumentos típicos e os modos de tocá-los. As primeiras escolas se fortalecem, e uma "identidade" do samba passa a ser partilhada. Surgem as oportunidades de ganhar algum dinheiro com essa música, de gravar discos e experimentar o reconhecimento social. Todas essas linhas de força estão atuantes nos períodos decisivos de formação do samba, e Heitor dos Prazeres as vive de forma ativa.
É nesse momento que a música propriamente brasileira torna-se mercadoria, passa a ser vendida e a gerar renda para o compositor. Essa nova perspectiva causa certas confusões: a turma do Estácio discute com a turma da "velha guarda" como seria o verdadeiro samba, malandros se apropriam de sambas tradicionais e aspirantes a compositor compram parcerias ou às vezes o samba inteiro de compositores do morro. Nesse ambiente se dá a polêmica de Heitor dos Prazeres com Sinhô. Ao questionar Sinhô sobre o fato de ter roubado dois estribilhos seus, Heitor recebe como resposta que o acusado não sabia que os sambas eram de sua autoria, achava que eram temas populares "sem dono". Sinhô já havia se envolvido em outra questão com o samba Pelo Telefone, que teria sido composto coletivamente nas reuniões na casa de Tia Ciata. É atribuída a Sinhô a máxima "samba é que nem passarinho, é de quem pegar". Inicia-se uma polêmica, e Heitor dos Prazeres, visando Sinhô, compõe Olha Ele, Cuidado, de 1929, gravado por Alfredo Albuquerque, e respondido com Segura o Boi, por Francisco Alves, também em 1929. Sinhô havia construído para si mesmo a alcunha de "Rei do Samba", como uma espécie de marketing, e Heitor compõe então Rei dos Meus Sambas, gravado por Inácio G. Loiola, em 1929. Entretanto, o próprio Heitor é acusado de apropriar-se indevidamente de diversos sambas, entre eles alguns de Paulo da Portela e Vai Mesmo, de Antonio Rufino. Por esses e outros roubos, o dirigente Mané Bam-Bam-Bam impede Heitor de desfilar na Portela no Carnaval de 1941, gerando uma ruptura na escola.
Heitor dos Prazeres compõe choros (Comigo Ninguém Pode e A Coisa Melhorou), canções (Canção do Jornaleiro, lançada pelo menino Jonas Tinoco e regravada por Wanderley Cardoso, em 1959), rancheiras (Cousa Gozada), macumbas (Yêmanjá Ofeiaba, Vamos Brincar no Terreiro), baiões (Êta, Seu Mano), marchas (Africana, com J. Cascata, e Pierrô Apaixonado, parceria com Noel Rosa (1910-1937), gravada por Joel e Gaúcho, em 1936, Maria Bethânia, em 1965, Martinho da Vila, em 1979, e Ivan Lins, em 1997) e até ritmos latinos (Bate no Bongô), mas é o samba seu gênero mais producente e para o qual trouxe mais contribuições. Em seu primeiro grande êxito, Mulher de Malandro, lançado por Francisco Alves, em 1931, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, lida com a forma do samba de breque, ainda em gestação. Os breques são curtos, mas a ideia do estilo assumido por Moreira da Silva alguns anos depois já está constituída.
O samba de breque, surgido das possibilidades musicais do samba-choro, tem ainda ligação íntima com o samba sincopado, estilo no qual o compositor trabalha o deslocamento sutil entre a melodia e o acompanhamento. Já presente de certa forma entre os chorões e em alguns estilos da música africana, os sambistas sincopados procuram trabalhar esse deslocamento de modo contínuo, gerando uma sincopação consistente. Nesse sentido, é interessante ouvir a composição É Tempo, de Heitor dos Prazeres, com interpretação de Luís Barbosa, lançada em 1933. Esse intérprete - conhecido por suas peripécias rítmicas - é considerado um dos grandes nomes do samba sincopado, e encontra no samba de Heitor do Prazeres uma composição em que o deslocamento rítmico entre melodia e acompanhamento é bastante acentuado, gerando a sincopa consistente que vai caracterizar seu estilo e o de toda uma tradição que se segue, de Geraldo Pereira a João Gilberto (1931)
Críticas
"Se há um homem que não precisava ser pintor era esse, cuja vida e amores já conta de maneira tão boa em outra arte, mas sua riqueza interna veio ganhar na pintura uma expressão irmã do samba, e seria fácil reconhecer o ritmista na composição dos quadros, o 'envernizador técnico' no seu acabamento caprichado, o boêmio nos motivos malandros que o inspiram. Ele não faz pintura 'do Partido Alto', para deleite dos ricos, nem traz para a tela as cenas das macumbas e candomblés que freqüentou, apenas conta essa vida solta e heróica de cavaquinho na mão e cachaça e mulata, sua vida de seresteiro e trovador de muitas conquistas 'não pela cara que tenho, mas pela conversa que eu sei fazer'".
Rubem Braga (BRAGA, Rubem. Três Primitivos. Rio de Janeiro, Ministério da Educação/Serviço de Documentação, série Os Cadernos de Cultura nº 63, 1953, p. 14.)
"Sua arte consiste numa visão clara e ingênua de um mundo ideal; até o contorno das figuras parece representar visualmente a distância que existe entre elas e a realidade. Tais figuras, com raríssimas exceções, são retratadas com o rosto de perfil, mesmo quando o corpo aparece de frente ou de três quartos, e, pelo fato de estarem sempre na ponta dos pés, sugerem movimento. São gente de toda cor, participando fraternalmente da mesma atividade: um ensaio, uma serenata, uma ciranda, uma cena campestre. Raras vezes Heitor focaliza aspectos tristes do cotidiano, ou alude a preconceitos. A minúcia microscópica, estendendo-se a todos os elementos do quadro, é uma característica constante, que confirma a irrealidade simplória da obra. As cores, vivas e chapadas em tonalidades únicas, sublinham a simplicidade desse mundo ideal. Fina camada de verniz arremata a obra, denunciando a profissão de 'envernizador técnico' exercida pelo pintor".
Pedro Manuel (E no Brasil. Apresentação de Pietro Maria Bardi e Pedro Manuel. São Paulo: Abril Cultural, 1979.)
"A tônica dominante na pintura de Heitor está na vida e no samba carioca da Praça Onze e dos Arcos da Lapa. (...) Será que esse pintor, igualmente conhecido no cenário musical, teria sido mais compositor que artista plástico? Não há dúvida da importância que tem a música para esse artista: na sua pintura, o samba carioca faz ecoar os sons da África. Mas não se pode negar a força plástica desses personagens do povo, que cantam e dançam com o corpo virado para a frente e a cabeça para o lado. Essas figuras humanas bipolares de Heitor, bem como as cores contrastantes, particularmente na série das rodas de samba, fazem lembrar Di Cavalcanti. Sua declaração de que 'eu sou um ovo e o povo é a chocadeira' ilustra o espírito modernista de Heitor dos Prazeres".
Marta Heloísa Leuba Salum (MOSTRA do Redescobrimento: arte afro-brasileira. Nelson Aguilar, organizador/Fundação Bienal de São Paulo. São Paulo, Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000, p. 116.)
Exposições Individuais
1959 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Gea
1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1961 - São Paulo SP - Heitor dos Prazeres: pinturas, na Galeria Sistina
1963 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Selearte
1964 - Salvador BA - Individual, na Galeria Quirino
1965 - Porto Alegre RS - Individual, no Margs
Exposições Coletivas
1944 - Belo Horizonte MG - Exposição de Arte Moderna, no MAP
ca.1946 - Londres (Inglaterra) - Mostra em homenagem à Real Força Aérea Britânica - um de seus quadros é adquirido pela Rainha Elizabeth
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon - 3º prêmio
1952 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Artistas Brasileiros, no MAM/RJ
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1954 - São Paulo SP - Arte Contemporânea: exposição do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no MAM/SP
1957 - Buenos Aires (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Moderno
1957 - Lima (Peru) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte de Lima
1957 - Rosario (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo Municipal de Bellas Artes Juan B. Castagnino
1957 - Santiago (Chile) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Contemporáneo
1959 - Rio de Janeiro RJ - 30 Anos de Arte Brasileira, na Enba
1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no MAM/SP
1963 - Campinas SP - Pintura e Escultura Contemporâneas, no Museu Carlos Gomes
1965 - Bonn (Alemanha) - Brazilian Art Today
1965 - Londres (Inglaterra) - Brazilian Art Today, na Royal Academy of Arts
1965 - Paris (França) - Oito Pintores Ingênuos Brasileiros, na Galeria Jacques Massol
1965 - Viena (Áustria) - Brazilian Art Today
1966 - Dacar (Senegal) - 1º Festival Mundial de Artes Negras
1966 - Moscou (União Soviética, atual Rússia) - Pintores Primitivos Brasileiros
Exposições Póstumas
1966 - Dacar (Senegal) - 1º Festival Mundial de Artes Negras
1966 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos, na Galeria Ibeu Copacabana
1966 - Rio de Janeiro RJ - O Artista e a Máquina, no MAM/RJ
1966 - São Paulo SP - O Artista e a Máquina, no Masp
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ars Artis
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Mário Pedrosa, na Galeria Jean Boghici
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR
1983 - Olinda PE - 2ª Exposição da Coleção Abelardo Rodrigues de Artes Plásticas, no MAC/Olinda
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André
1984 - Paris (França) - Heitor dos Prazeres: retrospectiva, na Galeria Debret
1984 - Roma (Itália) - Heitor dos Prazeres: retrospectiva, na Embaixada do Brasil na Itália
1987 - São Paulo SP - As Bienais no Acervo do MAC: 1951 a 1985, no MAC/USP
1988 - Rio de Janeiro RJ - Hedonismo: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria Edifício Gilberto Chateaubriand
1988 - Rio de Janeiro RJ - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs, no Paço Imperial
1992 - Poços de Caldas MG - Arte Moderna Brasileira: acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Casa da Cultura de Poços de Caldas
1994 - Poços de Caldas MG - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos de Unibanco, na Casa da Cultura de Poços de Caldas
1995 - Rio de Janeiro RJ - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos do Unibanco, no MAM/RJ
1998 - Rio de Janeiro RJ - Heitor dos Prazeres: um século de arte
1998 - São Paulo SP - Fantasia Brasileira: o balé do IV Centenário, no Sesc Belenzinho
1998 - São Paulo SP - Mostra Comemorativa do Centenário do Artista, na Galeria Albert Einstein
1998 - São Paulo SP - O Colecionador, no MAM/SP
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
1999 - Rio de Janeiro RJ - As Três Artes de Heitor dos Prazeres, no MNBA
1999 - São Paulo SP - Cotidiano/Arte. O Consumo, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2001 - São Paulo SP - Figuras e Faces, na A Galeria
2002 - Piracicaba SP - 6ª Bienal Naifs do Brasi, no Sesc
2002 - São Paulo SP - Pop Brasil: a arte popular e o popular na arte, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Santa Ingenuidade, na Unifieo
2003 - Rio de Janeiro RJ - Arte em Movimento, no Espaço BNDES
2005 - São Paulo SP - Individual, no Espaço Cultural BM&F
Fonte: HEITOR dos Prazeres. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10428/heitor-dos-prazeres>. Acesso em: 12 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Primeiros anos
Seus pais eram Eduardo Alexandre dos Prazeres, marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional, e Celestina Gonçalves Martins, costureira, residentes no bairro carioca Cidade Nova (Praça Onze). Em sua família, ele era conhecido como Lino e tinha duas irmãs mais velhas, Acirema e Iraci.
O pai de Heitor o ensinou a tocar o clarinete em vários ritmos como polcas, valsas, choros e marchas. Ele morreu quando o filho tinha sete anos. Ele estudou nas escolas "Benjamin Constant", colégio dos padres de Sant'Ana e Externato Sousa Aguiar, mas foi expulso de todas elas e só cursou até a quarta série. Fez cursos de carpintaria. Seu tio, Hilário Jovino Ferreira, músico conhecido como "Lalau de Ouro" deu-lhe o seu primeiro cavaquinho. Tomou seu tio como modelo de compositor e aos doze anos, já era conhecido como Mano Heitor do Cavaquinho. Começou a participar de reuniões religiosas em casas onde na companhia de músicos experientes tocava e improvisava ritmos africanos como candomblé, jongo, lundu, cateretê, samba, etc., com instrumentos de percussão ou cavaquinho. Entre as casas que frequentava eram as de vovó Celi, tia Esther, Oswaldo Cruz e tia Ciata, onde as reuniões de bambas mais importantes da época eram feitas, como Lalu de Ouro, Caninha, João da Baiana, Sinhô, Getúlio Marinho ("Amor"), Donga, Saturnino Gonçalves ("Satur"), Pixinguinha, Paulo da Portela e outros.
Enquanto trabalhava como engraxate e vendedor de jornais, frequentava as cervejarias próximas e cinemas mudos próximos à Praça Onze e cafés da Lapa, onde ela podia ouvir os músicos e orquestras típicas da Belle Époque, no Rio de Janeiro. Aos treze anos, Heitor foi enviado para a prisão por vadiagem e passou dois meses na colônia correcional Dois Rios, na Ilha Grande. Alguns anos depois, ele começou a sair no carnaval fantasiado de baiana, envolto em um pano de cores vivas, tocando cavaquinho e seguido por uma multidão agitando as extremidades do pano O limoeiro, Limão e Adeus, óculo foram as primeiras composições e datam de 1912.
Carreira
Na década de 1920, assistido por outros sambistas e compositores como João da Baiana, Caninha, Ismael Silva, Alcebíades Barcelos ( "Bide") e Marçal ajudou a organizar vários grupos de samba do Rio Comprido, Estácio e outros locais nas proximidades, por isso era conhecido como Mano Heitor do Estácio. Ele participou de reuniões na Mangueira e Oswaldo Cruz com Cartola, Paulo da Portela, João da Gente, Manoel Bambambam e outros, o que levou à criação das primeiras escolas de samba: Deixa Falar, De Mim Ninguém se Lembra e Vizinha Faladeira no Estácio; Prazer da Moreninha e Vai como Pode em Madureira. As duas últimas se unimra e se tornaram a Portela, sua escola de samba favorita, cujas cores azul e branco foram escolhidas por ele. A Portela, em 1929 foi a primeira vencedora de uma competição entre escolas, com a sua composição Não Adianta Chorar. Ele participou na formação da Estação Primeira de Mangueira com Cartola. Fundou em 1928 a União do Estácio, com Nilton Bastos, "Bide" e Mano Rubem.
Duas de suas composições que o popularizaram foram Deixaste meu lar e Estas farto de minha vida, ambas de 1925 e gravadas por Francisco Alves. Outro tema de sua autoria da mesma época era Deixe a malandragem se és capaz. Em 1927, ele ganhou um concurso organizado por Zé Espinguela samba com a canção A Tristeza Me Persegue. No mesmo ano ele realizou com o pianista Sinhô a primeira controvérsia da música popular brasileira. Ao apresentar-se na popular festa carioca de Nossa Senhora da Penha, onde foram apresentadas ao público as canções para o próximo carnaval, ele descobriu que a autoria de Cassino Maxixe, interpretada por Francisco Alves, era atribuída somente a Sinhô e sua co-autoria era desconhecida. Algo semelhante aconteceu com Ora Vejam Só. A resposta de Sinhô foi:«Samba é como passarinho, é de quem pegar» . A resposta de Heitor foi o samba Olha ele, cuidado, onde denunciou o episódio. Por sua vez, ele foi respondido por Sinhô com samba Segura o Boi. Dado que Sinhô era conhecido como o "Rei do Samba", Heitor compôs a música Rei dos meus sambas e pode gravá-la e distribuí-la apesar da oposição de Sinhô. Ele chegou a um acordo pelo qual alcançou 38.000 réis e reconhecimento pela co-autoria. O próprio dos Prazeres foi acusado de se apropriar de outros sambas como alguns de Paulo da Portela e Vai Mesmo de Antônio Rufino, pelo qual em 1941 um dirigente o impediu de desfilar com a Portela.
Em 1933, ele compôs Canção do jornaleiro . A partir da letra autobiográfica autobiográfica deste tema, que lida com a vida das crianças que vendem jornais nas ruas, se iniciou uma campanha para financiar a construção da Casa do Pequeno Jornaleiro, que abriu em 1940.
Casou-se em 1931 com dona Gloria, com quem teve três filhas, Ivete, Iriete e Ionete Maria. Após a morte de sua esposa em 1936, dedicou-se às artes visuais, especialmente à pintura,por incentivo do desenhista, jornalista e crítico de arte Carlos Cavalcante, do pintor Augusto Rodrigues e do escritor Carlos Drummond de Andrade. Ele também fez instrumentos de percussão e projetou e fez os figurinos, móveis e tapeçaria de seus grupos musicais e de dança.
Sua residência na Praça Tiradentes era, de fato, um ponto de encontro de pessoas interessadas em seu conhecimento da cultura afro-brasileira e de seus mais importantes centros de encontro. Entre os visitantes, estava o estudante de medicina e futuro compositor Noel Rosa que lhe pediu ajuda para enfrentar um marinheiro agressivo que estava assediando sua namorada. Dos Prazeres era conhecido naquele bairro como um especialista em capoeira e um aviso ao marinheiro era o suficiente para afastá-lo. Ao retornar, enquanto cantarolava a marcha que estava compondo e para a qual também estava conduzindo uma ilustração, Noel Rosa sugeriu algumas mudanças na letra. Assim, ele tornou-se co-autor de Pierrô Apaixonado (lançado em 1936), um dos maiores sucessos de Heitor dos Prazeres. Naquela noite Drummond, outro de seus visitantes freqüentes, levou-lhe um poema de sua autoria para ser musicado , O Homem e seu Carnaval (1934). Ainda que não tenha conseguido musicalizá-lo, mais tarde foi inspirado por esse poema para criar um quadro de mesmo nome.
Em 1937, começou a exibir suas pinturas, nas quais retratou a vida nas favelas: crianças brincando, homens jogando ou bebendo, jovens dançando samba, etc. Representava os rostos das pessoas de perfil, com a cabeça e os olhos voltados para cima.
Nessa época ele se casou com Nativa Paiva, com quem teve dois filhos:I drolete e o músico Heitorzinho dos Prazeres. Seu primeiro filho inspirou o tema A Coisa melhorou, cuja letra inclui o famoso verso: É mais um guerreiro, é mais um carioca, é mais um brasileiro. Esta edição marcou o início da carreira solo da cantora Carmen Costa e foi gravado em uma das primeiras gravadoras independentes do Brasil.
Ao longo de sua vida, teve relacionamentos com várias mulheres, muitas das quais treinava para integrar grupos de música e dança que o acompanharam em suas turnês. Em São Paulo, conheceu uma mulher chamada Rosa, que lhe inspirou o tema Linda Rosa e com quem teve uma filha chamada Dirce. No final de 1920 nasceu sua filha mais velha, Laura, de seu relacionamento com a tia ialorixá Carlinda. Sua paixão por mulheres está presente em muitas de suas canções mais famosas, incluindo Deixa a Malandragem, Gosto que me Enrosco e Mulher de malandro.
Em 1939 e 1941 participou em São Paulo do evento Carnaval do Povo com o grupo Embaixada do Samba Carioca, criado para a ocasião. Participaram mais de cem artistas como Paulo da Portela, Cartola, Carmem Costa, Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Bide, Marçal, Henricão, Herivelto Martins e Nilo Chagas (duo Branco e Preto, depois Trio de Ouro com Dalva de Oliveira). Este evento ao ar livre, organizado pelo radialista e compositor Adoniran Barbosa e transmitido pelas rádios Cruzeiro do Sul e Kosmo, conquistou o samba em terras paulistas e de lá para Buenos Aires e Montevidéu. Graças à repercussão desse tipo evento o samba tornou-se aceito pelos setores mais ricos e ser ouvido maciçamente em casinos, cinemas, rádios, etc.
No final de 1930 atuou como músico, cantor e dançarino no Casino da Urca com Josephine Baker e Grande Otelo. Foi contratado por Orson Welles como coreógrafo de um filme sobre cultura afro-brasileira, centrado no samba e no carnaval. Também tocou seu cavaquinho em programas de auditório das rádios do Rio de Janeiro acompanhado pelo grupo Heitor dos Prazeres e Sua Gente, composto por vocalistas e outros músicos percussionistas e pasistas.
Em 1943 obteve o primeiro concurso oficial de Música de Carnaval , organizado pela prefeitura do Distrito Federal, pelo samba Mulher de malandro, na voz de Francisco Alves. Também nesse ano apresentou o samba Lá em Mangueira, co-escrito com Herivelto Martins e gravado pelo duo Branco e Preto e Dalva de Oliveira, começou a trabalhar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro ea expor suas pinturas em exposições locais e no exterior . Graças a uma exposição organizada pela RAF em Londres para arrecadar fundos para as vítimas da Segunda Guerra Mundial, a então princesa Elizabeth adquiriu seu quadro Festa de São João.
A pedido de seu amigo Carlos Cavalcante, em 1951 participou da primeira Bienal de Arte Moderna de São Paulo, com a presença de artistas de todo o mundo, que ganhou o terceiro prêmio nos artistas nacionais com seu quadro Moenda. Na segunda Bienal de São Paulo, em 1953, foi reservada uma sala para a exposição de sua obra. Ele criou cenários e figurinos para o balé do quarto centenário da cidade de São Paulo. Em 1959, exibiu pela primeira vez individualmente na Galeria Gea Rio de Janeiro.
Antonio Carlos da Fontoura dirigiu em 1965 um documentário sobre sua vida e obra.
Morte e legado
Morreu em 4 de outubro de 1966 no Rio de Janeiro, aos 68 anos de idade. Ele entregou um catálogo de cerca de 300 composições.
Em 1999, no centenário de seu nascimento, foi realizada uma retrospectiva de sua obra pictórica no Espaço BNDES e no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 2003 a jornalista Alba Lírio publicou o livro Heitor dos Prazeres: Sua Arte e Seu Tempo.
Discografia
1954 - Cosme e Damião/Iemanjá (Columbia)
1955 - Pai Benedito/Santa Bárbara (Columbia)
1955 - Vamos brincar no terreiro/Nego véio (Sinter)
1957 - Heitor dos Prazeres e sua gente (Sinter)
1957 - Nada de rock rock/Eta seu Mano! (Todamerica)
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 25 de março de 2017.