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Chico da Silva

Chico da Silva Francisco Domingos (Alto Tejo, Acre, 1910 — Fortaleza, Ceará, 6 de dezembro de 1985), mais conhecido como Chico da Silva foi um pintor naif brasileiro. Descoberto pelo pintor suíço Jean-Pierre Chabloz que percebeu seus desenhos em paredes e muros de casas na cidade, Chico da Silva tornou-se um dos principais artistas autodidatas do Brasil na segunda metade do século XX. Suas obras são caracterizadas por figuras imaginárias, muitas vezes de caráter mítico e fantástico, como animais selvagens, seres híbridos e paisagens oníricas. Ele usava cores vibrantes e traços marcantes, criando composições que pareciam emergir de um mundo mágico e misterioso. A natureza exuberante e os mitos locais foram uma fonte constante de inspiração para suas criações. Fundou um ateliê no bairro do Pirambu, que consiste em um movimento para representar a vida e as lutas das pessoas de camadas mais pobres da sociedade. Da Silva ganhou reconhecimento nacional e internacional, participando de várias exposições importantes, como a Bienal de São Paulo e outras mostras fora do Brasil. Seu trabalho foi bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público, o que lhe rendeu diversos prêmios e homenagens, como a menção honrosa na Bienal de Veneza, em 1966.

Biografia Chico da Siva | Arremate Arte

Chico da Silva foi um notável artista plástico brasileiro, nascido em 1910 em Alto Tejo, no Acre, mas que passou a maior parte de sua vida no Brasil, especificamente no estado do Ceará. Ele se tornou um dos mais proeminentes representantes da arte primitiva no país, destacando-se por sua abordagem única e inovadora.

Chico da Silva mudou-se para Fortaleza ainda jovem e, desde cedo, demonstrou uma habilidade natural para o desenho e a pintura. Seu talento foi descoberto por volta dos anos 1940, quando o pintor suíço Jean-Pierre Chabloz percebeu seus desenhos em paredes e muros de casas na cidade. Esses primeiros trabalhos chamaram a atenção pela originalidade e pelo vigor das formas e cores.

Suas obras são caracterizadas por figuras imaginárias, muitas vezes de caráter mítico e fantástico, como animais selvagens, seres híbridos e paisagens oníricas. Ele usava cores vibrantes e traços marcantes, criando composições que pareciam emergir de um mundo mágico e misterioso. A natureza exuberante e os mitos locais foram uma fonte constante de inspiração para suas criações.

Ao longo de sua carreira, Chico da Silva ganhou reconhecimento nacional e internacional, participando de várias exposições importantes, como a Bienal de São Paulo e outras mostras fora do Brasil. Seu trabalho foi bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público, o que lhe rendeu diversos prêmios e homenagens.

Chico da Silva faleceu em 1985, mas seu legado continua vivo. Ele é lembrado como um artista que, com sua visão única e talento inato, conseguiu transformar elementos da cultura popular e da natureza em obras de arte de grande expressividade e beleza. Suas pinturas são celebradas por sua capacidade de transportar o espectador para um universo de imaginação e maravilha, solidificando seu lugar na história da arte brasileira.

Biografia Itaú Cultural

Começou a desenhar a carvão e giz nos muros dos casebres de pescadores. Captura fábulas reminiscentes da tradição oral num traço primitivo, barroco, com toques surrealistas. Cada composição cuidadosamente construída, em detalhes de grafismo e cor. Chico da Silva captava instintivamente o inconsciente coletivo numa pintura emocional. Os mundos que abriga em tela são povoados por criaturas fantásticas - pássaros, peixes e dragões.

Expôs ao lado de grandes nomes como Inimá de Paula e Antônio Bandeira, na mostra Chabloz, no Rio de Janeiro - evento que impulsionaria sua carreira e levaria as obras do naif amazônico para o exterior.

Passou quatro anos internado num hospital psiquiátrico, o que representou um buraco em sua produção, mas voltou a pintar após receber alta, em 1981.

Críticas

"Mantém aquelas visões e figuras procedentes da fabulação popular amazônica, alteradas por prodigiosa imaginação. É o intérprete de uma mitologia diluída na tradição oral de uma região imensa que somente ele fixou e refletiu. Certamente acrescenta imaginária subjetiva, tomada dos conflitos de sua alma rude (...). Outro aspecto relevante (...) é a qualidade plástica como composição bem ordenada e construída, valorizando os elementos decorativos da arte folclórica. O grafismo, a trama do desenho, a policromia e o enriquecimento detalhista são características marcantes" — Clarival Valadares (PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Apresentação de Antônio Houaiss. Textos de Mário Barata et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.)

"O grande Chico da Silva foi aquele que, soltando magicamente a sua vivência amazônica, pôs na pintura um mundo povoado de narrativas arquetípicas, oriundas da tradição oral e de suas antenas instintivas para o inconsciente coletivo. Nesse mundo, o predomínio coube a uma fauna agressiva e fantástica, com pássaros, dragões, peixes, aranhas e outros animais menos reconhecíveis se entredevorando, quase sempre em meio a um mar primevo. Tensão de mandala e alegria decorativa ali sabiam ajustar-se às mil maravilhas" — Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Prefácio de Gilberto Allard Chateaubriand e Antônio Houaiss. Apresentação de M. F. do Nascimento Brito. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1987.)

"(...) Partindo do arcaísmo mais puro, o pintor da praia tornava-se clássico, barroco, impressionista, e enfim moderno e até mesmo surrealista, se posso usar tais nomenclaturas a propósito de uma arte tão espontânea e que sempre permaneceu essencialmente primitiva, apesar das oscilações (...)" Jean Pierre Chabloz (CHICO da Silva: do delírio ao dilúvio = from delirium to diluvium. trad. Tradução de Lincoln Machado e Michael R. Eastmam. Texto de Roberto Galvão. Fortaleza: Espaço Cultural do Palácio da Abolição, 1990.)

Exposições Individuais

1950 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galeria Pour L'Art

1961 - Fortaleza CE - Individual, na Sede dos Diários Associados

1963 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Relevo

1965 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Goeldi

1965 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Selearte

1965 - Salvador BA - Individual, na Galeria Querino

1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Petite Galerie

1966 - Veneza (Itália) - Individual - menção nonrosa

1966 - Moscou (URSS - atual Rússia) - Individual

1967 - Rio de Janeiro RJ - Individual, nas Galerias Gemini e Dezon

1967 - São Paulo SP - Individual, na A Galeria

Exposições Coletivas

1943 - Fortaleza CE - Salão de Abril

1944 - Fortaleza CE - 3ª Salão Cearense de Pintura

1945 - Rio de Janeiro RJ - Mostra com Chabloz, Antônio Bandeira e Inimá de Paula, na Galeria Askanasy

1949 - Genebra (Suíça) - Salão Beauregard

1956 - Neuchâtel (Suíça) - Exposição Brasileira de Arte Folclórica e Popular, no Museu Etnográfico

1965 - Paris (França) - Oito Pintores Ingênuos Brasileiros, na Galeria Jaques Massol

1966 - Europa - Artistas Primitivos Brasileiros - itinerante

1966 - Paris (França) - Brasil Incomum, na Maison Janson

1966 - Madri (Espanha) - Primitivos Brasileiros, no Instituto de Cultura Hispânica

1966 - Veneza (Itália) - 33ª Bienal de Veneza

1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1970 - Fortaleza CE - 20º Salão de Abril

1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 Anos Depois, na Galeria Collectio

1977 - Fortaleza CE - 27º Salão de Abril

1978 - Fortaleza CE - 28º Salão de Abril - sala especial

1978 - Penápolis SP - 3º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis

1978 - São Paulo SP - 1ª Bienal Latino-Americana de São Paulo, na Fundação Bienal

1984 - Fortaleza CE - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas - sala especial

Exposições Póstumas

1988 - Rio de Janeiro RJ - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs, no Paço Imperial

1989 - Fortaleza CE - Retrospectiva Chico da Silva: Do Delírio ao Dilúvio, no Espaço Cultural do Palácio da Abolição

1996 - Osasco SP - Expo FIEO: doação Luiz Ernesto Kawall, no Centro Universitário Fieo

2001 - São Paulo SP - Biografias Instantâneas, na Casa das Rosas

2002 - São Paulo SP - Santa Ingenuidade, na Unifieo

2002 - São Paulo SP - Pop Brasil: a arte popular e o popular na arte, no CCBB

2002 - Piracicaba SP - 6ª Bienal Naifs do Brasil, no Sesc

Fonte: CHICO da Silva. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 27 de maio de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Biografia Chico da Silva | Wikipédia

Descendente de uma cearense e um índio da Amazônia peruana. Viveu até os dez anos de idade na antiga comunidade de Alto Tejo. Em 1934, a família de Chico da Silva embarcou para o Ceará, indo morar em Fortaleza. Semi-analfabeto, teve diversas profissões não relacionadas à arte (consertava sapatos e guarda-chuvas, fazia fogareiros de lata para vender, entre outras), mas sempre desenhava pelos muros da cidade com carvão e giz. Era autodidata.

Chico da Silva foi descoberto pelo pintor suíço Jean-Pierre Chabloz, que notou um destes graffitis, em meados da década de 1950 na praia do Pirambu, em Fortaleza, onde costumava desenhar em paredes e muros do bairro. Antes de ser conhecido, era chamado pelos moradores de "indiozinho débil mental". Chabloz, que o tomou como discípulo, ensinou-lhe as técnicas do guache e do óleo. Logo passou a expor seus trabalhos na cidade, no Rio de Janeiro e na Suíça. Em 1966 recebeu menção honrosa na XXXIII Bienal de Veneza. Três anos depois, Chabloz cortou relação com Chico, afirmando mais tarde em uma entrevista que estava insatisfeito com a qualidade do artista.

Estilo

Seu estilo é incomparável. Seus desenhos surgiam de forma espontânea, como involuntários impulsos de sua imaginação. Chico não teve nenhuma influência de outros estilos nem muito menos de escolas de pintura. Seus traços, inicialmente feitos a carvão, impressionavam pela riqueza de detalhes e abstração. Eram dragões, peixes voadores, sereias, figuras ameaçadoras e de grande densidade e formas. Pintor de lendas, folclore nacional, cotidiano e seres fantásticos

Na Europa ele é conhecido como o índio de técnica apuradíssima e traços autodidatas de origem inerente à visão tropical da vida na floresta.

Para alguns especialistas seus trabalhos são individuais mas comunitários, pois muitos dos seus quadros foram apenas assinados por ele, pois na verdade estes teriam sido pintados por seus filhos e parentes para aumentar a produção (já que a procura era cada vez maior); e cobiçada devido à valorização dos trabalhos no mundo das artes plásticas. Uma pesquisa estimou que 90%, dos quadros posteriores a 1972, eram falsos. Tal acontecimento cercou o artista de aproveitadores que vendiam essas falsificações em qualquer lugar por pequenos preços.

Exposições

Chico da Silva está presente com dois guaches da década de 1960 na coleção do MAR, o Museu de Arte do Rio de Janeiro, por doação do Fundo Max Perlingeiro. Em 2014, essas obras foram apresentadas nas exposições "Encontro de Mundos" e "Pororoca, a Amazônica no MAR". O catálogo da exposição Pororoca traz o artigo "Arte de ciclos de borracha: seringueiros artistas", no qual o significado singular da produção de Chico da Silva é articulado ao desenho de Helio Melo do Acre e às pinturas de Paulo Sampaio, "um soldado da borracha" do Pará. O artigo de Herkenhoff acentua a proximidade de Chico da Silva com o imaginário da selva pelas sociedades tribais e na construção de um bestiário particular. Segundo Herkenhoff, a selva na pintura de Chico da Silva, é "o espaço, onde nenhum ser tem repouso ou refúgio, é sempre uma cena atravessada por voos e ataques de predadores, entre o sonho e a imaginação."

Também está presente no MAUC - Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, que conta com uma sala permanente do artista "na qual a maior parte do acervo corresponde as obras que participaram e receberam a Menção Honrosa na Bienal de Veneza de 1966."

Chico da Silva participou de várias exposições em países como França, Suíça, Itália e Rússia. Algumas de suas pinturas foram expostas em Manaus, a cidade mais próxima de sua terra natal onde os seus trabalhos chegaram, mas nunca seus quadros foram apresentados em Rio Branco (AC).

Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 27 de maio de 2024.

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A redescoberta de Chico da Silva: obra do visionário artista brasileiro ganha exposição em Nova York | Estadão

Francisco da Silva foi um dos primeiros artistas brasileiros de ascendência indígena alçados à fama internacional. Na década de 1960, suas pinturas, repletas de criaturas fantásticas e folclóricas, entrelaçadas em lutas renhidas e em campos alucinatórios de cores e padrões vibrantes, tornaram-se extremamente populares no Brasil e em outros países. Uma de suas obras chegou a ilustrar a capa da lista telefônica de Fortaleza, onde o artista – conhecido simplesmente como Chico – viveu e fundou um ateliê coletivo pioneiro e controverso.

Quando morreu, em 1985, vítima do alcoolismo, Chico se encontrava em um estado de desamparo, tendo sido praticamente esquecido pelo mundo da arte, que o celebrara inicialmente por sua visão “primitiva” singular e depois questionara a autenticidade de seu trabalho. Agora, uma nova onda de interesse e pesquisa está reavaliando a obra de Chico e reabrindo discussões sobre autoria, autonomia artística e exotização que permeiam sua história.

Em 27 de outubro, a primeira grande exposição individual de seu trabalho em Nova York foi inaugurada na Galeria David Kordansky, com cerca de 25 pinturas e obras em papel do período entre os anos 1960 e o início dos anos 1970. Essa mostra é produzida depois da apresentação de Chico na feira de arte Independent em Nova York no ano passado, organizada pela galeria paulista Galatea. Além disso, a maior exposição retrospectiva de sua carreira até hoje, Chico da Silva e o Ateliê do Pirambu, esteve na Pinacoteca de São Paulo de quatro de março a 28 de maio, e foi até 29 de outubro na Pinacoteca do Ceará, em Fortaleza. “À medida que o mundo da arte começa a reconhecer a importância da indigeneidade, queremos destacar a obra e o legado de Chico da Silva, que, da maneira mais visionária, abriu caminho para uma nova geração de artistas indígenas que começa a surgir no Brasil”, afirmou Kordansky.

Artistas indígenas brasileiros contemporâneos, como Denilson Baniwa e Jaider Esbell, destacaram a influência direta da obra de Chico. Esbell se suicidou aos 41 anos em 2021, enquanto seu trabalho estava sendo exposto na Bienal de São Paulo.

Graham Steele, negociante e colecionador de arte, disse que as circunstâncias trágicas que envolveram os últimos anos de vida desses dois artistas merecem uma análise mais minuciosa: “A morte de outro artista indígena em razão de pressões semelhantes mostra que há muitas lições importantes a tirar da história de Chico e de como esses artistas, de certa forma, são explorados.” Em parceria com a negociante de arte Alexandra Mollof, Steele foi o curador da exposição na Galeria David Kordansky, em Manhattan, que permanece em cartaz até 16 de dezembro.

Como informa o catálogo que acompanha a exposição, Chico da Silva nasceu em 1910 (embora algumas fontes sugiram o período entre 1922 e 1923). Filho de pai peruano e mãe indígena do Ceará, na região Nordeste do Brasil, passou sua juventude na floresta amazônica. Quando criança, acompanhava o pai, que era barqueiro, nas jornadas pelo rio, onde a flora e a fauna exuberantes alimentavam sua imaginação artística.

Depois que o pai morreu em consequência de uma picada de cascavel, Chico se mudou com a mãe para Fortaleza. Lá, o artista autodidata começou a pintar pássaros nas paredes externas de casas de pescadores usando carvão, giz e matéria orgânica triturada como pigmento.

Em 1943, o crítico de arte e artista suíço Jean-Pierre Chabloz, que imigrara para o Brasil, viu um dos murais e procurou seu autor. Chabloz estabeleceu um vínculo de amizade com Chico e passou a lhe fornecer materiais de pintura e telas. O zoológico estilizado de dragões, serpentes, peixes e aves das obras de Chico, representado em intricadas constelações em pontilhismo, proliferou nos anos subsequentes. Chabloz passou a expor essas obras e vendê-las para colecionadores no Rio de Janeiro, em São Paulo e em várias cidades europeias.

Ao promover a obra de Chico em revistas de arte, Chabloz o caracterizou como “gloriosamente primitivo, divinamente analfabeto e, acima de tudo, um artista excepcional que, até então, só carecia de uma oportunidade favorável para revelar seus dons extraordinários”.

Considerando-se que Chabloz era um homem branco europeu daquela época, Mollof admite que ele tinha uma mente aberta: “Seu olhar vê a singularidade e o poder da obra de Chico e acho que ele faz um esforço genuíno para apoiar essa arte. É evidente que, em algum momento, ele também lucrou com isso.”

Para Steele, Chabloz foi tanto o explorador de Chico quanto seu defensor: “Quando consideramos os debates sobre o ‘bom selvagem’ e os modernistas que buscam pureza de expressão em alguém que vem de fora, essa apreciação enorme é uma faca de dois gumes. De certa forma, é o mesmo que atribuir um rótulo a Chico.”

À medida que o mundo da arte começa a reconhecer a importância da indigeneidade, queremos destacar a obra e o legado de Chico da Silva, que, da maneira mais visionária, abriu caminho para uma nova geração de artistas indígenas que começa a surgir no Brasil.

De 1948 a 1960, Chabloz voltou a morar na Europa e, por falta de recursos, Chico diminuiu sua produção artística. Sua arte ganhou força novamente quando Chabloz retornou ao Brasil e conseguiu um emprego para Chico no museu de arte da Universidade Federal do Ceará em 1961. Nesse período, Chico recebeu um salário e criou cerca de 40 telas para a instituição ao longo de três anos. Chabloz também apresentou Chico ao seu primeiro marchand, Henrique Bluhm.

Com o aumento da demanda por suas obras, Chico começou a treinar assistentes e estudantes da favela do Pirambu, em Fortaleza, para pintar seguindo seu estilo característico. Nessa época, seu trabalho atraiu a atenção do historiador e crítico de arte Clarival do Prado Valladares, que o incluiu em uma exposição coletiva de arte naïf no pavilhão brasileiro da Bienal de Veneza em 1966. Chico também participou da Bienal de São Paulo de 1967.

O Ateliê do Pirambu, como era chamado o estúdio de Chico, tornou-se um fenômeno local – e alvo de críticas. As pinturas de Chico eram vendidas nas ruas, sendo encontradas em mercados locais e em casas de toda a região. Em um artigo de 1969 publicado no jornal O Povo, Chabloz rompeu publicamente com Chico, argumentando que a produção em larga escala do ateliê havia diluído a força de sua obra e depreciado seu valor artístico. A resistência do establishment artístico coincidiu com o aumento do consumo de álcool e as internações de Chico em instituições psiquiátricas na década de 1970, das quais ele nunca se recuperou totalmente.

Por que (ter assistentes) é aceitável para Andy Warhol, mas não para Chico da Silva?

Acompanhando a obra de Chico, a atual exposição retrospectiva em cartaz no Brasil apresenta as criações dos cinco principais aprendizes que trabalharam com ele: Chica (Francisca, filha de Chico), Babá, Ivan, Garcia e Claudionor. Cada um deles acabou estabelecendo um ateliê independente e desenvolvendo uma obra autoral.

“A discussão da obra de Chico da Silva sempre girou em torno da dúvida sobre sua originalidade. É muito mais interessante pensar que ele desenvolveu certa economia dentro do bairro de Fortaleza, aonde as pessoas de diversos lugares iam para conhecer pinturas de criaturas fantásticas. Ele se tornou parte do imaginário coletivo”, destacou Jochen Volz, diretor da Pinacoteca de São Paulo.

A curadora brasileira Keyna Eleison, que cresceu no Rio e frequentemente encontrava as pinturas de Chico adornando casas, vê sua prática comunitária como autenticamente afro-indígena: “É claro que o ateliê foi demonizado por Chabloz, porque representava uma espécie de movimento de libertação de Chico, e todo movimento de libertação precisa ser coletivo.”

O uso de assistentes foi considerado radical e “sem precedentes no modernismo brasileiro”, observou Kordansky, embora seja uma prática comum na arte contemporânea e tenha raízes no Renascimento. “Por que é aceitável para Andy Warhol, mas não para Chico da Silva?”, questionou, referindo-se à linha de produção no estúdio de Warhol, conhecido como The Factory.

Paralelamente à exposição, a Pinacoteca de São Paulo adquiriu pela primeira vez uma obra de Chico para enriquecer a apresentação da história da arte brasileira em sua coleção permanente. A Tate, em Londres, e o Centre Pompidou, em Paris, também fizeram aquisições recentes.

Mencionando um panteão de modernistas brasileiros – incluindo Lygia Pape, Lygia Clark, Hélio Oiticica e Mira Schendel –, Steele disse que as obras de Chico estão começando a ser inseridas nesse contexto: “Isso está se concretizando agora de uma forma interessante. Há um interesse mais profundo em explorar a história de Chico e como esta reflete as questões de racismo e classismo.”

Fonte: Estadão, escrito por Kevin Draper e Rory Smith, publicado em 7 de novembro de 2023. Consultado pela última vez em 27 de maio de 2024.

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Artista brasileiro de origem indígena, morto há 38 anos, ganha exposição individual em NY | Brazilian Times

Ao falecer em 1985, vítima do alcoolismo, Chico encontrou-se em um estado de desamparo, praticamente esquecido pelo mundo da arte. Inicialmente, ele havia sido celebrado por sua visão "primitiva" singular, mas, posteriormente, questionou-se a autenticidade de seu trabalho. Agora, uma onda renovada de interesse e pesquisa está reexaminando a obra de Chico, reabrindo discussões sobre autoria, autonomia artística e exotização que permeiam sua história.

Em 27 de outubro, a Galeria David Kordansky em New York inaugurou a primeira grande exposição individual de sua obra. A exposição exibe cerca de 25 pinturas e obras em papel criadas no período entre os anos 1960 e o início dos anos 1970. Essa mostra veio após a participação de Chico na feira de arte Independent em Nova York no ano passado, organizada pela galeria paulista Galatea. Além disso, a maior exposição retrospectiva de sua carreira até o momento, intitulada "Chico da Silva e o Ateliê do Pirambu", esteve em exibição na Pinacoteca de São Paulo de 4 de março a 28 de maio, e posteriormente na Pinacoteca do Ceará, em Fortaleza, até 29 de outubro.

"À medida que o mundo da arte começa a reconhecer a importância da indigeneidade, queremos destacar a obra e o legado de Chico da Silva, que, de maneira visionária, abriu caminho para uma nova geração de artistas indígenas que começa a surgir no Brasil", afirma Kordansky.

Artistas indígenas contemporâneos do Brasil, como Denilson Baniwa e Jaider Esbell, mencionaram a influência direta da obra de Chico. Tragicamente, Esbell tirou sua própria vida aos 41 anos em 2021, enquanto seu trabalho estava sendo exibido na Bienal de São Paulo.

Graham Steele, um negociante e colecionador de arte, destaca que as circunstâncias trágicas que envolveram os últimos anos de vida desses dois artistas merecem uma análise mais profunda: "A morte de outro artista indígena devido a pressões semelhantes mostra que há muitas lições importantes a tirar da história de Chico e de como esses artistas, de certa forma, são explorados".

Steele, em parceria com a negociante de arte Alexandra Mollof, é o curador da exposição na Galeria David Kordansky, em Manhattan, que permanecerá em cartaz até 16 de dezembro.

O catálogo que acompanha a exposição informa que Chico da Silva nasceu em 1910, embora algumas fontes sugiram o período entre 1922 e 1923. Filho de um pai peruano e uma mãe indígena do Ceará, na região nordeste do Brasil, passou sua juventude na floresta amazônica, onde sua imaginação artística era alimentada pela rica fauna e flora durante as jornadas pelo rio com seu pai, um barqueiro.

Após a morte de seu pai devido a uma picada de cascavel, Chico se mudou com sua mãe para Fortaleza. Lá, como autodidata, ele começou a pintar pássaros nas paredes externas das casas de pescadores, usando carvão, giz e matéria orgânica triturada como pigmento.

Em 1943, o crítico de arte suíço Jean-Pierre Chabloz, que havia imigrado para o Brasil, descobriu um dos murais e procurou o autor. Chabloz estabeleceu uma amizade com Chico e passou a fornecer materiais de pintura e telas. As obras de Chico, que representavam um zoológico estilizado de dragões, serpentes, peixes e aves dispostos em intricadas constelações de pontilhismo, começaram a se proliferar nos anos seguintes. Chabloz passou a expor e vender essas obras para colecionadores no Rio de Janeiro, em São Paulo e em várias cidades europeias.

Promovendo a obra de Chico em revistas de arte, Chabloz o descreveu como "gloriosamente primitivo, divinamente analfabeto e, acima de tudo, um artista excepcional que, até então, só carecia de uma oportunidade favorável para revelar seus dons extraordinários". Considerando que Chabloz era um homem branco europeu da época, Mollof reconhece que ele tinha uma mente aberta, embora também tenha se beneficiado de suas ações.

Steele aponta que Chabloz foi tanto um explorador de Chico quanto seu defensor. Ele destaca que a apreciação exagerada pode ser um dilema, lembrando debates sobre o "bom selvagem" e modernistas em busca de pureza de expressão em indivíduos de fora de sua cultura.

De 1948 a 1960, Chabloz voltou a morar na Europa, o que resultou em uma redução na produção artística de Chico devido à falta de recursos. O retorno de Chabloz ao Brasil impulsionou novamente o trabalho de Chico, que conseguiu um emprego no museu de arte da Universidade Federal do Ceará em 1961. Nesse período, Chico recebeu um salário e criou cerca de 40 telas para a instituição ao longo de três anos. Chabloz também apresentou Chico ao seu primeiro marchand, Henrique Bluhm.

Com a crescente demanda por suas obras, Chico começou a treinar assistentes e estudantes da favela do Pirambu, em Fortaleza, para pintar seguindo seu estilo característico. Seu trabalho chamou a atenção do historiador e crítico de arte Clarival do Prado Valladares, que o incluiu em uma exposição coletiva de arte naïf no pavilhão brasileiro da Bienal de Veneza em 1966. Chico também participou da Bienal de São Paulo de 1967.

O Ateliê do Pirambu, como era chamado o estúdio de Chico, tornou-se um fenômeno local, embora também tenha enfrentado críticas. Em um artigo de 1969, publicado no jornal "O Povo", Chabloz rompeu publicamente com Chico, argumentando que a produção em larga escala do ateliê havia diluído a força de sua obra e depreciado seu valor artístico. A resistência do estabelecimento artístico coincidiu com o aumento do consumo de álcool por Chico e suas internações em instituições psiquiátricas na década de 1970, das quais ele nunca se recuperou completamente.

Além de apresentar a obra de Chico, a atual exposição retrospectiva no Brasil também destaca as criações dos cinco principais aprendizes que trabalharam com ele: Chica (Francisca, filha de Chico), Babá, Ivan, Garcia e Claudionor. Cada um deles acabou estabelecendo seu próprio ateliê independente e desenvolvendo uma obra autoral.

A discussão sobre a obra de Chico da Silva sempre girou em torno de dúvidas sobre sua originalidade. No entanto, muitos consideram que ele se tornou uma parte do imaginário coletivo, criando uma economia em sua comunidade em Fortaleza, onde pessoas de diversas origens vinham para apreciar suas pinturas de criaturas fantásticas. Alguns acreditam que seu trabalho tinha uma autenticidade afro-indígena genuína, ressaltando o aspecto coletivo de sua prática.

O uso de assistentes por Chico era uma prática radical, sem precedentes no modernismo brasileiro, embora seja comum na arte contemporânea e tenha raízes históricas no Renascimento. Paralelamente à exposição, a Pinacoteca de São Paulo adquiriu pela primeira vez uma obra de Chico para enriquecer sua coleção permanente de História da arte brasileira. Além disso, a Tate, em Londres, e o Centre Pompidou, em Paris, realizaram recentes aquisições de sua obra.

Fonte: Brazilian Times. Consultado pela última vez em 27 de maio de 2024.

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Escola do Pirambu – Pinacoteca de São Paulo

“Chico da Silva e o ateliê do Pirambu é a primeira grande mostra panorâmica do artista Chico da Silva apresentada pela Pinacoteca de São Paulo. A exposição ocupa a principal galeria expositiva da Pinacoteca Luz e convida o público a conhecer o legado do artista que foi um dos responsáveis por transformar o cenário artístico cearense a partir da década de 1940, com suas composições fabulares repletas de monstros mitológicos, animais fantásticos e outros personagens.

A exposição é a mais abrangente já realizada por uma instituição sobre o artista, reunindo um conjunto de importantes obras da trajetória de Chico da Silva, como Caboclo peruano, parte do singular grupo de desenhos realizados entre 1943 e 1944, emprestados da coleção da Pinacoteca do Ceará.

“Chico da Silva e o ateliê do Pirambu” percorre o legado de um dos primeiros artistas brasileiros de origem indígena a alcançar destaque no cenário nacional e no exterior.

O ateliê do Pirambu

Por volta de 1963, Chico passa a trabalhar com auxílio de ajudantes, inicialmente crianças e adolescentes do seu bairro — na periferia de Fortaleza. Enquanto ensinava suas técnicas para esses jovens, o artista incorporava sugestões e métodos trazidos por eles. No ateliê do Pirambu, surge uma produção em grande escala feita em parceria e coordenada pelo mestre. Os painéis exibidos na segunda sala da exposição na Pina representam o auge da manufatura realizada pela escola.

Na mostra da Pinacoteca, foi optado não só assumir a importância do ateliê, mas também dar visibilidade aos artistas que o integraram, com a exposição de obras de ao menos cinco nomes: Babá (Sebastião Lima da Silva), Chica da Silva (Francisca Silva), Claudionor (José Claudio Nogueira), Garcia (José dos Santos Gomes) e Ivan (Ivan José de Assis).

Sobre Chico da Silva

Chico da Silva (região do Alto Tejo, Acre, 1910 ou 1922/23 – Fortaleza, Ceará, 1985) foi um dos principais artistas sem treino artístico do Brasil na segunda metade do século XX. Seus trabalhos consistem em composições figurativas fabulares que apresentam seres mitológicos, animais fantásticos e personagens preenchidos por pontilhismo e fundos amplamente trabalhados.

Além da fundação do Ateliê do Pirambu, Da Silva participou de importantes mostras, como a Bienal de São Paulo em 1967, e teve três trabalhos agraciados com menção honrosa na Bienal de Veneza, em 1966.

Ao longo dos anos, a oficina criada por Chico foi tratada de forma dúbia pelo próprio artista. Apenas em 1977, em um evento realizado no Salão de Abril, Chico assumiu a existência do grupo. Sob coordenação do pintor, os cinco artistas realizaram em conjunto um grande painel, ação representada na exposição da Pina por meio de fotos e um vídeo super-8.

Fonte: Pinacoteca de São Paulo, "Chico da Silva e o ateliê do Pirambu". Consultado pela última vez em 27 de maio de 2023.

Crédito fotográfico: Márcia Travessoni, "Mostra ‘Chico da Silva e a Escola do Pirambu’ ficará em exposição na Pinacoteca do Ceará até outubro". Consultado pela última vez em 27 de maio de 2024.

Chico da Silva Francisco Domingos (Alto Tejo, Acre, 1910 — Fortaleza, Ceará, 6 de dezembro de 1985), mais conhecido como Chico da Silva foi um pintor naif brasileiro. Descoberto pelo pintor suíço Jean-Pierre Chabloz que percebeu seus desenhos em paredes e muros de casas na cidade, Chico da Silva tornou-se um dos principais artistas autodidatas do Brasil na segunda metade do século XX. Suas obras são caracterizadas por figuras imaginárias, muitas vezes de caráter mítico e fantástico, como animais selvagens, seres híbridos e paisagens oníricas. Ele usava cores vibrantes e traços marcantes, criando composições que pareciam emergir de um mundo mágico e misterioso. A natureza exuberante e os mitos locais foram uma fonte constante de inspiração para suas criações. Fundou um ateliê no bairro do Pirambu, que consiste em um movimento para representar a vida e as lutas das pessoas de camadas mais pobres da sociedade. Da Silva ganhou reconhecimento nacional e internacional, participando de várias exposições importantes, como a Bienal de São Paulo e outras mostras fora do Brasil. Seu trabalho foi bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público, o que lhe rendeu diversos prêmios e homenagens, como a menção honrosa na Bienal de Veneza, em 1966.

Chico da Silva

Chico da Silva Francisco Domingos (Alto Tejo, Acre, 1910 — Fortaleza, Ceará, 6 de dezembro de 1985), mais conhecido como Chico da Silva foi um pintor naif brasileiro. Descoberto pelo pintor suíço Jean-Pierre Chabloz que percebeu seus desenhos em paredes e muros de casas na cidade, Chico da Silva tornou-se um dos principais artistas autodidatas do Brasil na segunda metade do século XX. Suas obras são caracterizadas por figuras imaginárias, muitas vezes de caráter mítico e fantástico, como animais selvagens, seres híbridos e paisagens oníricas. Ele usava cores vibrantes e traços marcantes, criando composições que pareciam emergir de um mundo mágico e misterioso. A natureza exuberante e os mitos locais foram uma fonte constante de inspiração para suas criações. Fundou um ateliê no bairro do Pirambu, que consiste em um movimento para representar a vida e as lutas das pessoas de camadas mais pobres da sociedade. Da Silva ganhou reconhecimento nacional e internacional, participando de várias exposições importantes, como a Bienal de São Paulo e outras mostras fora do Brasil. Seu trabalho foi bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público, o que lhe rendeu diversos prêmios e homenagens, como a menção honrosa na Bienal de Veneza, em 1966.

Videos

Chico da Silva: O Renascer 100 anos | 2010

Palestra sobre técnicas de Chico da Silva | 2020

História de Chico da Silva | 2022

Imagens de Chico da Silva | 2020

Museu de Arte da UFC: Chico da Silva | 2020

Entrevista Chico da Silva | 2020

Chico da Silva: Vida, obra e arte contemporânea | 2020

Filme de Chico da Silva | 2023

Homenagem à Chico da Silva | 2020

ArteLive sobre Chico da Silva | 2020

Podcast: Chico, o maior Artista do Pirambu | 2019

Obras de Chico da Silva | 2015

Biografia Chico da Siva | Arremate Arte

Chico da Silva foi um notável artista plástico brasileiro, nascido em 1910 em Alto Tejo, no Acre, mas que passou a maior parte de sua vida no Brasil, especificamente no estado do Ceará. Ele se tornou um dos mais proeminentes representantes da arte primitiva no país, destacando-se por sua abordagem única e inovadora.

Chico da Silva mudou-se para Fortaleza ainda jovem e, desde cedo, demonstrou uma habilidade natural para o desenho e a pintura. Seu talento foi descoberto por volta dos anos 1940, quando o pintor suíço Jean-Pierre Chabloz percebeu seus desenhos em paredes e muros de casas na cidade. Esses primeiros trabalhos chamaram a atenção pela originalidade e pelo vigor das formas e cores.

Suas obras são caracterizadas por figuras imaginárias, muitas vezes de caráter mítico e fantástico, como animais selvagens, seres híbridos e paisagens oníricas. Ele usava cores vibrantes e traços marcantes, criando composições que pareciam emergir de um mundo mágico e misterioso. A natureza exuberante e os mitos locais foram uma fonte constante de inspiração para suas criações.

Ao longo de sua carreira, Chico da Silva ganhou reconhecimento nacional e internacional, participando de várias exposições importantes, como a Bienal de São Paulo e outras mostras fora do Brasil. Seu trabalho foi bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público, o que lhe rendeu diversos prêmios e homenagens.

Chico da Silva faleceu em 1985, mas seu legado continua vivo. Ele é lembrado como um artista que, com sua visão única e talento inato, conseguiu transformar elementos da cultura popular e da natureza em obras de arte de grande expressividade e beleza. Suas pinturas são celebradas por sua capacidade de transportar o espectador para um universo de imaginação e maravilha, solidificando seu lugar na história da arte brasileira.

Biografia Itaú Cultural

Começou a desenhar a carvão e giz nos muros dos casebres de pescadores. Captura fábulas reminiscentes da tradição oral num traço primitivo, barroco, com toques surrealistas. Cada composição cuidadosamente construída, em detalhes de grafismo e cor. Chico da Silva captava instintivamente o inconsciente coletivo numa pintura emocional. Os mundos que abriga em tela são povoados por criaturas fantásticas - pássaros, peixes e dragões.

Expôs ao lado de grandes nomes como Inimá de Paula e Antônio Bandeira, na mostra Chabloz, no Rio de Janeiro - evento que impulsionaria sua carreira e levaria as obras do naif amazônico para o exterior.

Passou quatro anos internado num hospital psiquiátrico, o que representou um buraco em sua produção, mas voltou a pintar após receber alta, em 1981.

Críticas

"Mantém aquelas visões e figuras procedentes da fabulação popular amazônica, alteradas por prodigiosa imaginação. É o intérprete de uma mitologia diluída na tradição oral de uma região imensa que somente ele fixou e refletiu. Certamente acrescenta imaginária subjetiva, tomada dos conflitos de sua alma rude (...). Outro aspecto relevante (...) é a qualidade plástica como composição bem ordenada e construída, valorizando os elementos decorativos da arte folclórica. O grafismo, a trama do desenho, a policromia e o enriquecimento detalhista são características marcantes" — Clarival Valadares (PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Apresentação de Antônio Houaiss. Textos de Mário Barata et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.)

"O grande Chico da Silva foi aquele que, soltando magicamente a sua vivência amazônica, pôs na pintura um mundo povoado de narrativas arquetípicas, oriundas da tradição oral e de suas antenas instintivas para o inconsciente coletivo. Nesse mundo, o predomínio coube a uma fauna agressiva e fantástica, com pássaros, dragões, peixes, aranhas e outros animais menos reconhecíveis se entredevorando, quase sempre em meio a um mar primevo. Tensão de mandala e alegria decorativa ali sabiam ajustar-se às mil maravilhas" — Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Prefácio de Gilberto Allard Chateaubriand e Antônio Houaiss. Apresentação de M. F. do Nascimento Brito. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1987.)

"(...) Partindo do arcaísmo mais puro, o pintor da praia tornava-se clássico, barroco, impressionista, e enfim moderno e até mesmo surrealista, se posso usar tais nomenclaturas a propósito de uma arte tão espontânea e que sempre permaneceu essencialmente primitiva, apesar das oscilações (...)" Jean Pierre Chabloz (CHICO da Silva: do delírio ao dilúvio = from delirium to diluvium. trad. Tradução de Lincoln Machado e Michael R. Eastmam. Texto de Roberto Galvão. Fortaleza: Espaço Cultural do Palácio da Abolição, 1990.)

Exposições Individuais

1950 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galeria Pour L'Art

1961 - Fortaleza CE - Individual, na Sede dos Diários Associados

1963 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Relevo

1965 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Goeldi

1965 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Selearte

1965 - Salvador BA - Individual, na Galeria Querino

1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Petite Galerie

1966 - Veneza (Itália) - Individual - menção nonrosa

1966 - Moscou (URSS - atual Rússia) - Individual

1967 - Rio de Janeiro RJ - Individual, nas Galerias Gemini e Dezon

1967 - São Paulo SP - Individual, na A Galeria

Exposições Coletivas

1943 - Fortaleza CE - Salão de Abril

1944 - Fortaleza CE - 3ª Salão Cearense de Pintura

1945 - Rio de Janeiro RJ - Mostra com Chabloz, Antônio Bandeira e Inimá de Paula, na Galeria Askanasy

1949 - Genebra (Suíça) - Salão Beauregard

1956 - Neuchâtel (Suíça) - Exposição Brasileira de Arte Folclórica e Popular, no Museu Etnográfico

1965 - Paris (França) - Oito Pintores Ingênuos Brasileiros, na Galeria Jaques Massol

1966 - Europa - Artistas Primitivos Brasileiros - itinerante

1966 - Paris (França) - Brasil Incomum, na Maison Janson

1966 - Madri (Espanha) - Primitivos Brasileiros, no Instituto de Cultura Hispânica

1966 - Veneza (Itália) - 33ª Bienal de Veneza

1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1970 - Fortaleza CE - 20º Salão de Abril

1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 Anos Depois, na Galeria Collectio

1977 - Fortaleza CE - 27º Salão de Abril

1978 - Fortaleza CE - 28º Salão de Abril - sala especial

1978 - Penápolis SP - 3º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis

1978 - São Paulo SP - 1ª Bienal Latino-Americana de São Paulo, na Fundação Bienal

1984 - Fortaleza CE - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas - sala especial

Exposições Póstumas

1988 - Rio de Janeiro RJ - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs, no Paço Imperial

1989 - Fortaleza CE - Retrospectiva Chico da Silva: Do Delírio ao Dilúvio, no Espaço Cultural do Palácio da Abolição

1996 - Osasco SP - Expo FIEO: doação Luiz Ernesto Kawall, no Centro Universitário Fieo

2001 - São Paulo SP - Biografias Instantâneas, na Casa das Rosas

2002 - São Paulo SP - Santa Ingenuidade, na Unifieo

2002 - São Paulo SP - Pop Brasil: a arte popular e o popular na arte, no CCBB

2002 - Piracicaba SP - 6ª Bienal Naifs do Brasil, no Sesc

Fonte: CHICO da Silva. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 27 de maio de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Biografia Chico da Silva | Wikipédia

Descendente de uma cearense e um índio da Amazônia peruana. Viveu até os dez anos de idade na antiga comunidade de Alto Tejo. Em 1934, a família de Chico da Silva embarcou para o Ceará, indo morar em Fortaleza. Semi-analfabeto, teve diversas profissões não relacionadas à arte (consertava sapatos e guarda-chuvas, fazia fogareiros de lata para vender, entre outras), mas sempre desenhava pelos muros da cidade com carvão e giz. Era autodidata.

Chico da Silva foi descoberto pelo pintor suíço Jean-Pierre Chabloz, que notou um destes graffitis, em meados da década de 1950 na praia do Pirambu, em Fortaleza, onde costumava desenhar em paredes e muros do bairro. Antes de ser conhecido, era chamado pelos moradores de "indiozinho débil mental". Chabloz, que o tomou como discípulo, ensinou-lhe as técnicas do guache e do óleo. Logo passou a expor seus trabalhos na cidade, no Rio de Janeiro e na Suíça. Em 1966 recebeu menção honrosa na XXXIII Bienal de Veneza. Três anos depois, Chabloz cortou relação com Chico, afirmando mais tarde em uma entrevista que estava insatisfeito com a qualidade do artista.

Estilo

Seu estilo é incomparável. Seus desenhos surgiam de forma espontânea, como involuntários impulsos de sua imaginação. Chico não teve nenhuma influência de outros estilos nem muito menos de escolas de pintura. Seus traços, inicialmente feitos a carvão, impressionavam pela riqueza de detalhes e abstração. Eram dragões, peixes voadores, sereias, figuras ameaçadoras e de grande densidade e formas. Pintor de lendas, folclore nacional, cotidiano e seres fantásticos

Na Europa ele é conhecido como o índio de técnica apuradíssima e traços autodidatas de origem inerente à visão tropical da vida na floresta.

Para alguns especialistas seus trabalhos são individuais mas comunitários, pois muitos dos seus quadros foram apenas assinados por ele, pois na verdade estes teriam sido pintados por seus filhos e parentes para aumentar a produção (já que a procura era cada vez maior); e cobiçada devido à valorização dos trabalhos no mundo das artes plásticas. Uma pesquisa estimou que 90%, dos quadros posteriores a 1972, eram falsos. Tal acontecimento cercou o artista de aproveitadores que vendiam essas falsificações em qualquer lugar por pequenos preços.

Exposições

Chico da Silva está presente com dois guaches da década de 1960 na coleção do MAR, o Museu de Arte do Rio de Janeiro, por doação do Fundo Max Perlingeiro. Em 2014, essas obras foram apresentadas nas exposições "Encontro de Mundos" e "Pororoca, a Amazônica no MAR". O catálogo da exposição Pororoca traz o artigo "Arte de ciclos de borracha: seringueiros artistas", no qual o significado singular da produção de Chico da Silva é articulado ao desenho de Helio Melo do Acre e às pinturas de Paulo Sampaio, "um soldado da borracha" do Pará. O artigo de Herkenhoff acentua a proximidade de Chico da Silva com o imaginário da selva pelas sociedades tribais e na construção de um bestiário particular. Segundo Herkenhoff, a selva na pintura de Chico da Silva, é "o espaço, onde nenhum ser tem repouso ou refúgio, é sempre uma cena atravessada por voos e ataques de predadores, entre o sonho e a imaginação."

Também está presente no MAUC - Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, que conta com uma sala permanente do artista "na qual a maior parte do acervo corresponde as obras que participaram e receberam a Menção Honrosa na Bienal de Veneza de 1966."

Chico da Silva participou de várias exposições em países como França, Suíça, Itália e Rússia. Algumas de suas pinturas foram expostas em Manaus, a cidade mais próxima de sua terra natal onde os seus trabalhos chegaram, mas nunca seus quadros foram apresentados em Rio Branco (AC).

Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 27 de maio de 2024.

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A redescoberta de Chico da Silva: obra do visionário artista brasileiro ganha exposição em Nova York | Estadão

Francisco da Silva foi um dos primeiros artistas brasileiros de ascendência indígena alçados à fama internacional. Na década de 1960, suas pinturas, repletas de criaturas fantásticas e folclóricas, entrelaçadas em lutas renhidas e em campos alucinatórios de cores e padrões vibrantes, tornaram-se extremamente populares no Brasil e em outros países. Uma de suas obras chegou a ilustrar a capa da lista telefônica de Fortaleza, onde o artista – conhecido simplesmente como Chico – viveu e fundou um ateliê coletivo pioneiro e controverso.

Quando morreu, em 1985, vítima do alcoolismo, Chico se encontrava em um estado de desamparo, tendo sido praticamente esquecido pelo mundo da arte, que o celebrara inicialmente por sua visão “primitiva” singular e depois questionara a autenticidade de seu trabalho. Agora, uma nova onda de interesse e pesquisa está reavaliando a obra de Chico e reabrindo discussões sobre autoria, autonomia artística e exotização que permeiam sua história.

Em 27 de outubro, a primeira grande exposição individual de seu trabalho em Nova York foi inaugurada na Galeria David Kordansky, com cerca de 25 pinturas e obras em papel do período entre os anos 1960 e o início dos anos 1970. Essa mostra é produzida depois da apresentação de Chico na feira de arte Independent em Nova York no ano passado, organizada pela galeria paulista Galatea. Além disso, a maior exposição retrospectiva de sua carreira até hoje, Chico da Silva e o Ateliê do Pirambu, esteve na Pinacoteca de São Paulo de quatro de março a 28 de maio, e foi até 29 de outubro na Pinacoteca do Ceará, em Fortaleza. “À medida que o mundo da arte começa a reconhecer a importância da indigeneidade, queremos destacar a obra e o legado de Chico da Silva, que, da maneira mais visionária, abriu caminho para uma nova geração de artistas indígenas que começa a surgir no Brasil”, afirmou Kordansky.

Artistas indígenas brasileiros contemporâneos, como Denilson Baniwa e Jaider Esbell, destacaram a influência direta da obra de Chico. Esbell se suicidou aos 41 anos em 2021, enquanto seu trabalho estava sendo exposto na Bienal de São Paulo.

Graham Steele, negociante e colecionador de arte, disse que as circunstâncias trágicas que envolveram os últimos anos de vida desses dois artistas merecem uma análise mais minuciosa: “A morte de outro artista indígena em razão de pressões semelhantes mostra que há muitas lições importantes a tirar da história de Chico e de como esses artistas, de certa forma, são explorados.” Em parceria com a negociante de arte Alexandra Mollof, Steele foi o curador da exposição na Galeria David Kordansky, em Manhattan, que permanece em cartaz até 16 de dezembro.

Como informa o catálogo que acompanha a exposição, Chico da Silva nasceu em 1910 (embora algumas fontes sugiram o período entre 1922 e 1923). Filho de pai peruano e mãe indígena do Ceará, na região Nordeste do Brasil, passou sua juventude na floresta amazônica. Quando criança, acompanhava o pai, que era barqueiro, nas jornadas pelo rio, onde a flora e a fauna exuberantes alimentavam sua imaginação artística.

Depois que o pai morreu em consequência de uma picada de cascavel, Chico se mudou com a mãe para Fortaleza. Lá, o artista autodidata começou a pintar pássaros nas paredes externas de casas de pescadores usando carvão, giz e matéria orgânica triturada como pigmento.

Em 1943, o crítico de arte e artista suíço Jean-Pierre Chabloz, que imigrara para o Brasil, viu um dos murais e procurou seu autor. Chabloz estabeleceu um vínculo de amizade com Chico e passou a lhe fornecer materiais de pintura e telas. O zoológico estilizado de dragões, serpentes, peixes e aves das obras de Chico, representado em intricadas constelações em pontilhismo, proliferou nos anos subsequentes. Chabloz passou a expor essas obras e vendê-las para colecionadores no Rio de Janeiro, em São Paulo e em várias cidades europeias.

Ao promover a obra de Chico em revistas de arte, Chabloz o caracterizou como “gloriosamente primitivo, divinamente analfabeto e, acima de tudo, um artista excepcional que, até então, só carecia de uma oportunidade favorável para revelar seus dons extraordinários”.

Considerando-se que Chabloz era um homem branco europeu daquela época, Mollof admite que ele tinha uma mente aberta: “Seu olhar vê a singularidade e o poder da obra de Chico e acho que ele faz um esforço genuíno para apoiar essa arte. É evidente que, em algum momento, ele também lucrou com isso.”

Para Steele, Chabloz foi tanto o explorador de Chico quanto seu defensor: “Quando consideramos os debates sobre o ‘bom selvagem’ e os modernistas que buscam pureza de expressão em alguém que vem de fora, essa apreciação enorme é uma faca de dois gumes. De certa forma, é o mesmo que atribuir um rótulo a Chico.”

À medida que o mundo da arte começa a reconhecer a importância da indigeneidade, queremos destacar a obra e o legado de Chico da Silva, que, da maneira mais visionária, abriu caminho para uma nova geração de artistas indígenas que começa a surgir no Brasil.

De 1948 a 1960, Chabloz voltou a morar na Europa e, por falta de recursos, Chico diminuiu sua produção artística. Sua arte ganhou força novamente quando Chabloz retornou ao Brasil e conseguiu um emprego para Chico no museu de arte da Universidade Federal do Ceará em 1961. Nesse período, Chico recebeu um salário e criou cerca de 40 telas para a instituição ao longo de três anos. Chabloz também apresentou Chico ao seu primeiro marchand, Henrique Bluhm.

Com o aumento da demanda por suas obras, Chico começou a treinar assistentes e estudantes da favela do Pirambu, em Fortaleza, para pintar seguindo seu estilo característico. Nessa época, seu trabalho atraiu a atenção do historiador e crítico de arte Clarival do Prado Valladares, que o incluiu em uma exposição coletiva de arte naïf no pavilhão brasileiro da Bienal de Veneza em 1966. Chico também participou da Bienal de São Paulo de 1967.

O Ateliê do Pirambu, como era chamado o estúdio de Chico, tornou-se um fenômeno local – e alvo de críticas. As pinturas de Chico eram vendidas nas ruas, sendo encontradas em mercados locais e em casas de toda a região. Em um artigo de 1969 publicado no jornal O Povo, Chabloz rompeu publicamente com Chico, argumentando que a produção em larga escala do ateliê havia diluído a força de sua obra e depreciado seu valor artístico. A resistência do establishment artístico coincidiu com o aumento do consumo de álcool e as internações de Chico em instituições psiquiátricas na década de 1970, das quais ele nunca se recuperou totalmente.

Por que (ter assistentes) é aceitável para Andy Warhol, mas não para Chico da Silva?

Acompanhando a obra de Chico, a atual exposição retrospectiva em cartaz no Brasil apresenta as criações dos cinco principais aprendizes que trabalharam com ele: Chica (Francisca, filha de Chico), Babá, Ivan, Garcia e Claudionor. Cada um deles acabou estabelecendo um ateliê independente e desenvolvendo uma obra autoral.

“A discussão da obra de Chico da Silva sempre girou em torno da dúvida sobre sua originalidade. É muito mais interessante pensar que ele desenvolveu certa economia dentro do bairro de Fortaleza, aonde as pessoas de diversos lugares iam para conhecer pinturas de criaturas fantásticas. Ele se tornou parte do imaginário coletivo”, destacou Jochen Volz, diretor da Pinacoteca de São Paulo.

A curadora brasileira Keyna Eleison, que cresceu no Rio e frequentemente encontrava as pinturas de Chico adornando casas, vê sua prática comunitária como autenticamente afro-indígena: “É claro que o ateliê foi demonizado por Chabloz, porque representava uma espécie de movimento de libertação de Chico, e todo movimento de libertação precisa ser coletivo.”

O uso de assistentes foi considerado radical e “sem precedentes no modernismo brasileiro”, observou Kordansky, embora seja uma prática comum na arte contemporânea e tenha raízes no Renascimento. “Por que é aceitável para Andy Warhol, mas não para Chico da Silva?”, questionou, referindo-se à linha de produção no estúdio de Warhol, conhecido como The Factory.

Paralelamente à exposição, a Pinacoteca de São Paulo adquiriu pela primeira vez uma obra de Chico para enriquecer a apresentação da história da arte brasileira em sua coleção permanente. A Tate, em Londres, e o Centre Pompidou, em Paris, também fizeram aquisições recentes.

Mencionando um panteão de modernistas brasileiros – incluindo Lygia Pape, Lygia Clark, Hélio Oiticica e Mira Schendel –, Steele disse que as obras de Chico estão começando a ser inseridas nesse contexto: “Isso está se concretizando agora de uma forma interessante. Há um interesse mais profundo em explorar a história de Chico e como esta reflete as questões de racismo e classismo.”

Fonte: Estadão, escrito por Kevin Draper e Rory Smith, publicado em 7 de novembro de 2023. Consultado pela última vez em 27 de maio de 2024.

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Artista brasileiro de origem indígena, morto há 38 anos, ganha exposição individual em NY | Brazilian Times

Ao falecer em 1985, vítima do alcoolismo, Chico encontrou-se em um estado de desamparo, praticamente esquecido pelo mundo da arte. Inicialmente, ele havia sido celebrado por sua visão "primitiva" singular, mas, posteriormente, questionou-se a autenticidade de seu trabalho. Agora, uma onda renovada de interesse e pesquisa está reexaminando a obra de Chico, reabrindo discussões sobre autoria, autonomia artística e exotização que permeiam sua história.

Em 27 de outubro, a Galeria David Kordansky em New York inaugurou a primeira grande exposição individual de sua obra. A exposição exibe cerca de 25 pinturas e obras em papel criadas no período entre os anos 1960 e o início dos anos 1970. Essa mostra veio após a participação de Chico na feira de arte Independent em Nova York no ano passado, organizada pela galeria paulista Galatea. Além disso, a maior exposição retrospectiva de sua carreira até o momento, intitulada "Chico da Silva e o Ateliê do Pirambu", esteve em exibição na Pinacoteca de São Paulo de 4 de março a 28 de maio, e posteriormente na Pinacoteca do Ceará, em Fortaleza, até 29 de outubro.

"À medida que o mundo da arte começa a reconhecer a importância da indigeneidade, queremos destacar a obra e o legado de Chico da Silva, que, de maneira visionária, abriu caminho para uma nova geração de artistas indígenas que começa a surgir no Brasil", afirma Kordansky.

Artistas indígenas contemporâneos do Brasil, como Denilson Baniwa e Jaider Esbell, mencionaram a influência direta da obra de Chico. Tragicamente, Esbell tirou sua própria vida aos 41 anos em 2021, enquanto seu trabalho estava sendo exibido na Bienal de São Paulo.

Graham Steele, um negociante e colecionador de arte, destaca que as circunstâncias trágicas que envolveram os últimos anos de vida desses dois artistas merecem uma análise mais profunda: "A morte de outro artista indígena devido a pressões semelhantes mostra que há muitas lições importantes a tirar da história de Chico e de como esses artistas, de certa forma, são explorados".

Steele, em parceria com a negociante de arte Alexandra Mollof, é o curador da exposição na Galeria David Kordansky, em Manhattan, que permanecerá em cartaz até 16 de dezembro.

O catálogo que acompanha a exposição informa que Chico da Silva nasceu em 1910, embora algumas fontes sugiram o período entre 1922 e 1923. Filho de um pai peruano e uma mãe indígena do Ceará, na região nordeste do Brasil, passou sua juventude na floresta amazônica, onde sua imaginação artística era alimentada pela rica fauna e flora durante as jornadas pelo rio com seu pai, um barqueiro.

Após a morte de seu pai devido a uma picada de cascavel, Chico se mudou com sua mãe para Fortaleza. Lá, como autodidata, ele começou a pintar pássaros nas paredes externas das casas de pescadores, usando carvão, giz e matéria orgânica triturada como pigmento.

Em 1943, o crítico de arte suíço Jean-Pierre Chabloz, que havia imigrado para o Brasil, descobriu um dos murais e procurou o autor. Chabloz estabeleceu uma amizade com Chico e passou a fornecer materiais de pintura e telas. As obras de Chico, que representavam um zoológico estilizado de dragões, serpentes, peixes e aves dispostos em intricadas constelações de pontilhismo, começaram a se proliferar nos anos seguintes. Chabloz passou a expor e vender essas obras para colecionadores no Rio de Janeiro, em São Paulo e em várias cidades europeias.

Promovendo a obra de Chico em revistas de arte, Chabloz o descreveu como "gloriosamente primitivo, divinamente analfabeto e, acima de tudo, um artista excepcional que, até então, só carecia de uma oportunidade favorável para revelar seus dons extraordinários". Considerando que Chabloz era um homem branco europeu da época, Mollof reconhece que ele tinha uma mente aberta, embora também tenha se beneficiado de suas ações.

Steele aponta que Chabloz foi tanto um explorador de Chico quanto seu defensor. Ele destaca que a apreciação exagerada pode ser um dilema, lembrando debates sobre o "bom selvagem" e modernistas em busca de pureza de expressão em indivíduos de fora de sua cultura.

De 1948 a 1960, Chabloz voltou a morar na Europa, o que resultou em uma redução na produção artística de Chico devido à falta de recursos. O retorno de Chabloz ao Brasil impulsionou novamente o trabalho de Chico, que conseguiu um emprego no museu de arte da Universidade Federal do Ceará em 1961. Nesse período, Chico recebeu um salário e criou cerca de 40 telas para a instituição ao longo de três anos. Chabloz também apresentou Chico ao seu primeiro marchand, Henrique Bluhm.

Com a crescente demanda por suas obras, Chico começou a treinar assistentes e estudantes da favela do Pirambu, em Fortaleza, para pintar seguindo seu estilo característico. Seu trabalho chamou a atenção do historiador e crítico de arte Clarival do Prado Valladares, que o incluiu em uma exposição coletiva de arte naïf no pavilhão brasileiro da Bienal de Veneza em 1966. Chico também participou da Bienal de São Paulo de 1967.

O Ateliê do Pirambu, como era chamado o estúdio de Chico, tornou-se um fenômeno local, embora também tenha enfrentado críticas. Em um artigo de 1969, publicado no jornal "O Povo", Chabloz rompeu publicamente com Chico, argumentando que a produção em larga escala do ateliê havia diluído a força de sua obra e depreciado seu valor artístico. A resistência do estabelecimento artístico coincidiu com o aumento do consumo de álcool por Chico e suas internações em instituições psiquiátricas na década de 1970, das quais ele nunca se recuperou completamente.

Além de apresentar a obra de Chico, a atual exposição retrospectiva no Brasil também destaca as criações dos cinco principais aprendizes que trabalharam com ele: Chica (Francisca, filha de Chico), Babá, Ivan, Garcia e Claudionor. Cada um deles acabou estabelecendo seu próprio ateliê independente e desenvolvendo uma obra autoral.

A discussão sobre a obra de Chico da Silva sempre girou em torno de dúvidas sobre sua originalidade. No entanto, muitos consideram que ele se tornou uma parte do imaginário coletivo, criando uma economia em sua comunidade em Fortaleza, onde pessoas de diversas origens vinham para apreciar suas pinturas de criaturas fantásticas. Alguns acreditam que seu trabalho tinha uma autenticidade afro-indígena genuína, ressaltando o aspecto coletivo de sua prática.

O uso de assistentes por Chico era uma prática radical, sem precedentes no modernismo brasileiro, embora seja comum na arte contemporânea e tenha raízes históricas no Renascimento. Paralelamente à exposição, a Pinacoteca de São Paulo adquiriu pela primeira vez uma obra de Chico para enriquecer sua coleção permanente de História da arte brasileira. Além disso, a Tate, em Londres, e o Centre Pompidou, em Paris, realizaram recentes aquisições de sua obra.

Fonte: Brazilian Times. Consultado pela última vez em 27 de maio de 2024.

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Escola do Pirambu – Pinacoteca de São Paulo

“Chico da Silva e o ateliê do Pirambu é a primeira grande mostra panorâmica do artista Chico da Silva apresentada pela Pinacoteca de São Paulo. A exposição ocupa a principal galeria expositiva da Pinacoteca Luz e convida o público a conhecer o legado do artista que foi um dos responsáveis por transformar o cenário artístico cearense a partir da década de 1940, com suas composições fabulares repletas de monstros mitológicos, animais fantásticos e outros personagens.

A exposição é a mais abrangente já realizada por uma instituição sobre o artista, reunindo um conjunto de importantes obras da trajetória de Chico da Silva, como Caboclo peruano, parte do singular grupo de desenhos realizados entre 1943 e 1944, emprestados da coleção da Pinacoteca do Ceará.

“Chico da Silva e o ateliê do Pirambu” percorre o legado de um dos primeiros artistas brasileiros de origem indígena a alcançar destaque no cenário nacional e no exterior.

O ateliê do Pirambu

Por volta de 1963, Chico passa a trabalhar com auxílio de ajudantes, inicialmente crianças e adolescentes do seu bairro — na periferia de Fortaleza. Enquanto ensinava suas técnicas para esses jovens, o artista incorporava sugestões e métodos trazidos por eles. No ateliê do Pirambu, surge uma produção em grande escala feita em parceria e coordenada pelo mestre. Os painéis exibidos na segunda sala da exposição na Pina representam o auge da manufatura realizada pela escola.

Na mostra da Pinacoteca, foi optado não só assumir a importância do ateliê, mas também dar visibilidade aos artistas que o integraram, com a exposição de obras de ao menos cinco nomes: Babá (Sebastião Lima da Silva), Chica da Silva (Francisca Silva), Claudionor (José Claudio Nogueira), Garcia (José dos Santos Gomes) e Ivan (Ivan José de Assis).

Sobre Chico da Silva

Chico da Silva (região do Alto Tejo, Acre, 1910 ou 1922/23 – Fortaleza, Ceará, 1985) foi um dos principais artistas sem treino artístico do Brasil na segunda metade do século XX. Seus trabalhos consistem em composições figurativas fabulares que apresentam seres mitológicos, animais fantásticos e personagens preenchidos por pontilhismo e fundos amplamente trabalhados.

Além da fundação do Ateliê do Pirambu, Da Silva participou de importantes mostras, como a Bienal de São Paulo em 1967, e teve três trabalhos agraciados com menção honrosa na Bienal de Veneza, em 1966.

Ao longo dos anos, a oficina criada por Chico foi tratada de forma dúbia pelo próprio artista. Apenas em 1977, em um evento realizado no Salão de Abril, Chico assumiu a existência do grupo. Sob coordenação do pintor, os cinco artistas realizaram em conjunto um grande painel, ação representada na exposição da Pina por meio de fotos e um vídeo super-8.

Fonte: Pinacoteca de São Paulo, "Chico da Silva e o ateliê do Pirambu". Consultado pela última vez em 27 de maio de 2023.

Crédito fotográfico: Márcia Travessoni, "Mostra ‘Chico da Silva e a Escola do Pirambu’ ficará em exposição na Pinacoteca do Ceará até outubro". Consultado pela última vez em 27 de maio de 2024.

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