Ismael Nery (Belém, PA, 9 de outubro de 1900 — Rio de Janeiro, RJ, 6 de abril de 1934) foi um pintor, desenhista, arquiteto, filósofo e poeta brasileiro de influência surrealista.
Biografia Itaú Cultural
Muda-se ainda criança para o Rio de Janeiro onde, em 1917, matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Viaja para França em 1920 e freqüenta a Académie Julian. De volta ao Rio de Janeiro, no ano seguinte, trabalha como desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), que se torna grande amigo e incentivador de sua obra. Em 1922 casa-se com a poeta Adalgisa Nery (1905 - 1980). Ismael Nery aplica à sua produção os princípios do Essencialismo, sistema filosófico que ele mesmo cria. Segundo Murilo Mendes, esse sistema diz respeito às concepções do artista sobre a abstração do tempo e do espaço. Em 1927, novamente na França, conhece Marc Chagall (1887 - 1985), André Breton (1896 - 1966) e Marcel Noll. A volta ao Brasil marca a fase surrealista de sua obra, a princípio por influência de Chagall. Em 1930, contrai tuberculose. Enfermo, seus trabalhos passam a revelar seu drama pessoal e a fragilidade do corpo. Falece aos 33 anos. Em 1948, uma série de artigos de Murilo Mendes publicados nos jornais O Estado de S. Paulo e Letras e Artes busca resgatar a obra plástica, literária e filosófica do artista. Esquecido, Ismael Nery, passa a ser valorizado em meados dos anos 1960 com exposições realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Comentário Crítico
Ismael Nery é uma das personalidades mais inquietas do modernismo brasileiro. Dedica-se à pintura e ao desenho, sem nunca delimitar seu campo de atuação. Assim, também produz poemas e elabora reflexões teóricas. Em vida, não se define como artista plástico. Mário Pedrosa (1900 - 1981), crítico de arte e amigo de Nery, lembra que ele "nunca quis ser artista profissional".1 Sua pintura aparece como um nicho onde ele formula parte de suas reflexões metafísicas, uma materialização de suas idéias sobre o que era necessário a todos os homens, universalmente, independentemente da época e do lugar.
Ismael Nery nasce em Belém. Ainda na infância, muda-se para o Rio de Janeiro. Tudo indica que se aproxima das artes na juventude. Provavelmente, freqüenta a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, entre 1915 e 1916. É certo que em 1918 está entre os alunos matriculados na instituição. Nesse período, dedica-se à cópia em gesso de esculturas da Antigüidade greco-romana e, por meio delas, desenvolve interesse pela figura humana, tema que iria tomar a maior parte de suas inquietações artísticas. Na Enba faz aulas com Henrique Bernardelli (1858 - 1936), cujos incentivo e elogios o animam a seguir estudando arte.
Em 1920, Nery vai a Paris para estudar. Permanece na Académie Julian por três meses. Na Europa entra em contato com o modernismo. Examina os quadros de artistas cubistas como Pablo Picasso (1881 - 1973), Georges Braque (1882 - 1963), André Lhote (1885 - 1962), Fernand Léger (1881 - 1955) e Jean Metzinger (1883 - 1956). Durante a sua permanência, pode conhecer boa parte da tradição artística do velho continente. Além da Escola de Paris, tem grande interesse pelo expressionismo alemão. Na Itália conhece as obras dos mestres do Renascimento e torna-se admirador da pintura do período. Devota-se, sobretudo, a Ticiano (ca.1488 - 1576), Tintoretto (1519 - 1594), Paolo Veronese (1528 - 1588), Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564) e Rafael (1483 - 1520). Tem interesse também por artistas italianos modernos, como Giorgio de Chirico (1888 - 1978).
Ao voltar para o Brasil, em 1921, é nomeado desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece e se torna amigo do poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), um dos seus grandes incentivadores. Um ano depois, casa-se com poetisa Adalgisa Nery (1905 - 1980), musa de suas principais pinturas. Apesar de já trabalhar com formas modernas, seu assunto o diferencia do modernismo brasileiro da Semana de Arte Moderna de 1922. O artista não tem gosto por temas nacionalistas. Seus personagens aparecem em cenários imaginários, avessos a qualquer referência reconhecível. Ele trata, basicamente, da figura humana, idealizada, a serviço de uma figuração simbólica. Neste período, faz retratos, como as obras Retrato de Murilo Mendes (1922) e A Espanhola (1923). A relação entre as partes claras e as partes escuras é bastante marcada.
Ismael Nery, posteriormente, dá tratamento mais geométrico a suas figuras. Em 1924, aproximadamente, compõe seus personagens com cilindros e formas ovais. Os homens e mulheres se tornam mais alongados e estruturados. Dão a impressão de formas ideais, fora do tempo e do espaço. Ao seu expressionismo é somada a influência cubista. Na época a casa do artista se torna um ponto de encontro de artistas e intelectuais cariocas. É freqüentada, entre outros, por Mário Pedrosa, Murilo Mendes, Guignard (1896 - 1962) e Antonio Bento (1902 - 1988).
Em torno de 1926, expõe a alguns desses amigos a sua doutrina: o essencialismo. Um conjunto de princípios, ligados ao seu humanismo cristão, que seria a síntese de suas reflexões. Em 1927, Nery parte, com a esposa e a mãe, para a Europa, onde convive com Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959) e conhece André Breton (1896 - 1966), Marc Noll e Marc Chagall (1887 - 1985). A viagem influencia profundamente sua pintura. Ele volta particularmente impressionado com o trabalho de Chagall que seus temas e personagens, a partir daí, aproximam-se dos do artista russo.
Os corpos são pintados com cores mais vivas e aparentam mais leveza. A ação das suas pinturas ocorre em um plano onírico. No entanto, este tratamento se dá com base em relações que Murilo Mendes chama de "absolutas, definitivas e eternas",2 derivadas do essencialismo de Ismael Nery. A partir de 1930, é constatada sua tuberculose e isso se reflete em suas pinturas. Suas figuras se tornam esgarçadas, aparecem com as vísceras abertas. Os personagens surgem em cenários vazios, nitidamente influenciados pela pintura metafísica italiana. Os personagens agora são flagelados e feridos. O trabalho incorpora o tema da morte.
Daí em diante o artista trabalha menos. No entanto, sua produção tem maior projeção. Antes disso, em 1929, Ismael Nery faz as suas únicas exposições individuais, a primeira em Belém e a segunda no Rio de Janeiro. Não chega a ter grande receptividade, mas consegue expor numa coletiva de pintura brasileira em Nova York e participar de importantes salões, como o Salão Revolucionário, no Rio de Janeiro, em 1931, e a Exposição de Arte Moderna da SPAM, em São Paulo, em 1933.
Doente, apesar de uma rápida melhora em 1933, Ismael não resiste e morre, vitimado pela tuberculose, em 1934, num mosteiro franciscano. O reconhecimento ao seu trabalho ocorre postumamente, após sua participação nas Bienais de 1965 e 1969 e de retrospectivas em 1966, no Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e na Petite Galerie.
Críticas
"Devo dizer que a posição individual de Ismael Nery se insurgia abertamente contra a corrente ´brasileira´ então dominante. Firmou-se em sua pintura a orientação internacional, que então prevalecia, como ainda hoje prevalece na Europa e nos centros artísticos mais avançados dos outros continentes. Por esse motivo, os temas brasileiros estão ausentes quase completamente de sua arte, como estavam alheios a suas preocupações e a seus problemas plásticos ou visuais. Manifestava-se igualmente contrário a uma pintura de tendência regional, matuta ou caipira, de influência índia, negra ou afro-brasileira. Segundo suas idéias, uma arte de temática nacionalista seria secundária, pois assumia desde logo um caráter limitado e até anedótico, em oposição à tendência internacionalista, que deveria prevalecer neste século. Não preciso dizer que o desenvolvimento da arte deste século como da própria arte brasileira, nos últimos vinte e cinco anos, viria mostrar a originalidade da posição de vanguarda coerentemente mantida por Ismael Nery, durante o transcurso de sua breve e fecunda vida de pintor e desenhista".
— Antônio Bento
"Já em inícios dos anos 20 vemos aparecer, sobretudo em sua pintura, o ambiente que Di (Cavalcanti) denominara de "penumbrista" em relação a esse mesmo período em seu trabalho. Nesse primeiro período (a que Antonio Bento se referiria como "expressionista") percebemos que a facilidade, as redundâncias, as retomadas de temas e o dado literário são freqüentes em seus retratos e figuras até por volta de 1923, denotando uma grande produção com avanço difícil. Porém, a partir de 1924, observa-se que o rigor cubista passa a ordenar sua pintura, através da redução de elementos e da autodisciplina que gradativamente caracterizará sua obra. Esse período de passagem alongar-se-ia até por volta de 1927, época de sua estada em Paris. A presença chagalliana, assim como posteriormente a metafísica, é outro dado singular no modernismo brasileiro a partir de Nery: a influência metafísica classicizante vem conjugada, em seu caso, com um expor-se absolutamente inédito na arte brasileira. Na verdade, Ismael Nery se expõe em seus trabalhos como raros o fazem e nesse ato de comunicação através da expressão pela imagem está implícito um ato de entrega de sua intimidade ao espectador reflexivo".
— Aracy Amaral
"Ismael Nery tem um talento vasto de pintor, porém, com exceção duns poucos quadros, toda a obra dele se ressente dum inacabado muito inquieto. Mas é pesquisador da mais nobre seita. Vive quase uma obsessão mística, preocupado com uns tantos problemas plásticos, principalmente a composição com figuras e a realização dum tipo ideal humano. Seguindo as obras dele na casa de Murilo Mendes, que é quem as guarda no Rio, a gente tem a impressão de que os problemas se enunciam nuns quadros, e são desenvolvidos noutros para terminar noutros. A procura de um tipo plástico ideal representativo do ser humano o irmana com certos pesquisadores europeus imensamente comoventes, sobretudo com Modigliani e Eugen Zak. E assim com as figuras todas arrinconadas num tipo único que jamais satisfaz este artista duma seriedade absoluta, Ismael Nery as coloca em todas as composições possíveis, buscando um equilíbrio e uma harmonia exclusivamente plásticos. Esses problemas, da composição e do tipo ideal, preocupam tanto o pintor que durante muito tempo ele abandonou totalmente a cor se servindo só do azul. Essa fase azul é verdadeiramente impressionante como fenômeno psicológico e alguns dos quadros dela me parecem dos mais notáveis que o modernismo brasileiro produziu".
— Mário de Andrade
"O ego inflado de Ismael Nery, na confluência entre a mitomania e o misticismo o levaria a coincidir sua figura ainda mais com a do cristão. Não apenas foi enterrado com o hábito de São Francisco, mas tentou coincidir sua morte com a sexta-feira da paixão, quando tinha também, como Cristo, 33 anos. Atrasou-se um pouco, morreu uma semana depois, na sexta-feira de Páscoa. Morria miticamente cercado pelo número três. Morria reinscrevendo simbolicamente a idade da morte do seu pai, também de nome Ismael, morto aos 33 anos. Ismael-pai e Ismael-filho, o Ismael-pai era médico, o Ismael-filho o enfermo. O Ismael-Cristo e o Ismael-homem. O EU e o OUTRO. Dois em um. Três em um: a circularidade mítica e psicanalítica do 33.
Muito do que dissemos até agora poderia ser revisto em seus quadros e relido num poema intitulado "Eu", escrito no último ano de vida, onde começa dizendo: "Eu sou a tangência de duas formas opostas e justapostas." A seguir o poema vai ser o confronto e a oposição de forças que tendem para a anulação do indivíduo. O verso é emblemático para mostrar a recusa inicial do individuo do ponto de vista subjetivo. E do ponto de vista estético, para ilustrar as raízes do estilo cubista que adotou. É neste sentido que o cubismo lhe foi útil. O desdobramento da figuras, as duas ou três faces em conflito, correspondem tanto a um rasgo estilístico quanto a uma cesura do espírito atormentado do artista que buscava a unidade no que chamava de ESSÊNCIA. ESSÊNCIA que não apagava as rasuras, que são humanas".
— Affonso Romano de Sant"Anna
"Foi em fins do ano de 1921 que conheci Ismael Nery. Eu trabalhava na antiga Diretoria do Patrimônio Nacional, no Ministério da Fazenda. Ismael Nery foi nomeado desenhista da seção de arquitetura e topografia. Vi, um belo dia, entrar na sala um moço elegante e bem vestido. Ajeitou a prancheta, sentou-se e começou a desenhar. Meia hora depois saiu para o café. Aproveitei sua ausência e resolvi espiar o que ele fazia: rabiscava bonecos em torno de um projeto para o edifício de uma alfândega. Ao regressar puxei conversa com ele: saímos juntos da repartição. Assim começou uma amizade que se prolongou ininterruptamente até o dia de sua morte, em 6 de abril de 1934. Ismael voltava da Europa, onde havia passado um ano. Fora aperfeiçoar seus estudos de pintura. Lembro-me que falava com entusiasmo do conjunto das exposições e museus, mas não se referia em particular a nenhum pintor da época. Esperava uma grande transformação do conceito de artista ou talvez uma volta do conceito clássico, pois encarava o artista como um ser harmônico, sábio e vidente, e não um simples cultor de temperamento via a pintura em estado de crise com a proximidade do cinema. Alguns anos mais tarde lembrei-me dessas primeiras conversas, ao ler o ensaio de André Breton, que começa mais ou menos assim: "A máquina fotográfica deu um golpe mortal nos velhos meios de expressão [...]". Ismael achava que muitas intenções da pintura já estavam realizadas definitivamente: por exemplo, a primeira vez que viu Tintoretto, achou inútil continuar a pintar. Foi, pois, sob as espécies de pintor, desenhista e arquiteto que conheci Ismael Nery. Mas em breve outros aspectos, estes os mais profundos, da sua personalidade, eram-me desvendados: o do poeta, do filósofo e mesmo do teólogo. Devo dizer que presto meu depoimento com absoluta honestidade, sem o menor desejo de mistificar, como também sem motivo para concordar com algumas pessoas que, tendo conhecido superficialmente Ismael Nery, recusam-lhe a grandeza e atribuem-me a preocupação de criar um mito".
— Murilo Mendes
"Tão maldito quanto Flávio de Carvalho - e com uma obra igualmente autobiográfica - foi Ismael Nery. Falecido em 1934, sua obra começou a sofrer um processo de resgate nos anos 60, quando finalmente foi possível conhecer outro artista brasileiro que propositadamente confundiu os limites entre arte e vida. Os estudiosos Antonio Bento e Chaim Hamer já tentaram explicar a razão para o prolongado esquecimento da obra de Nery dentro do circuito brasileiro. Bento culpa o despreparo do público brasileiro dos anos 30 por esse esquecimento. Já Hamer traça uma complexa hipótese de fundo psicanalítico para explicar o mesmo fenômeno. Mas talvez um texto de Mário de Andrade de 1928 possa dar algumas pistas para este esquecimento de mais de trinta anos. No artigo, Andrade aponta três questões que, mais tarde, talvez tenham contribuído para a marginalização da obra do artista: o pouco refinamento técnico das produções de Nery a rapidez com que ele trabalhava, parecendo que "os problemas se enunciavam nuns quadros, e são desenvolvidos noutros para terminar em ainda outros" e o desejo do artista em encontrar em sua produção "um tipo ideal representativo do ser humano". Ora, Mário de Andrade de fato sempre se preocupou com a falta de apuro técnico dos pintores modernistas. Porém, Nery - que após ter visto obras de Tintoretto achava inútil pintar - via a pintura não como uma técnica a ser dominada plenamente como um bom artesão, mas como um instrumento capaz de suportar a concreção de suas idéias. Por sua vez, analisando as pinturas, poemas, desenhos e aquarelas do artista, percebe-se que, na verdade, os problemas que se enunciavam numa tela podiam expandir-se para qualquer forma de registro, já que o que interessava para Nery, parece, não era propriamente o registro em si, em suas peculiaridades ou qualidades intrínsecas, mas a idéia registrada".
— Tadeu Chiarelli
Depoimento Ismael Nery
"O silêncio provocou-me uma necessidade irreprimível de correr. Abalei como flecha através dos mares e montanhas com incrível facilidade e sem cansaço. Eis-me agora sentado diante de uma paisagem em formação, ainda não colorida. O meu pensamento agora é que percorre o que acabei de percorrer, e admiro-me, então, de nada ter encontrado, senão ao chegar ao rastro fosforescente que deixei ao partir. Os mares são agora ridículos lençóis d'água, de uns três ou quatro palmos de profundidade. As montanhas são nuvens estáticas, que o eterno medo dos homens transformará em granito. Tudo é pavorosamente desabitado. Não há leões nem elefantes nos desertos da África. Não existem as pirâmides nem a Torre Eiffel. Existe apenas eu mesmo, que me percebo inversamente por uma idéia que chamo mulher e que paira rarefeita sobre a superfície do globo - idéia incompreensível porque nada existe na terra além de mim mesmo. Volto a percorrer novamente o espaço, porém, desta vez, com a lentidão do crescimento das plantas, multiplicando-me progressivamente na minha idéia para mostrar-me a mim mesmo. Os mares, agora, são profundos e as montanhas se solidificaram. Aparecem leões e elefantes nos desertos da África. Construíram as pirâmides no Egito e levantaram a Torre Eiffel, em Paris, no ano em que um outro eu nascia em Belém do Pará. Tudo se povoou transbordantemente. Acho-me agora sentado na prisão, olhando sereno através das grades, aguardando o julgamento do crime nefando que cometi de usar a mim mesmo, na minha mãe, mulher, filha, neta, bisneta, tataraneta, nora e cunhada. Voltarei, ainda uma vez, para ser o meu próprio Juiz. Nada existe, além de mim mesmo, senão para mim. Silêncio".
Ismael Nery (Poemas de Ismael Nery. In: ______. Ismael Nery 100 anos: a poética de um mito. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2000. p. 71. [Poemas recolhidos por Murilo Mendes e publicados na Revista A Ordem e no Boletim de Ariel, 1935.)
Exposições Individuais
1929 - Belém PA - Individual, no Palace Theatre
1929 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria do Palace Hotel
1930 - Rio Janeiro RJ - Individual, no Studio Nicolas
Exposições Coletivas
1930 - Nova York (Estados Unidos) - The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, no Nicholas Roerich Museum
1931 - Rio de Janeiro RJ - Salão Revolucionário, na Enba
1933 - Rio de Janeiro RJ - 3ª Salão da Pró-Arte
1933 - São Paulo SP - 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM, no Palacete Campinas
Exposições Póstumas
1935 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Social, no Clube de Cultura Moderna
1935 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: retrospectiva, no Pró-Arte, Edifício da Associação dos Empregados do Comércio
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1966 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos, na Galeria Ibeu Copacabana
1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1966 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: retrospectiva, na Petite Galerie
1967 - Rio de Janeiro RJ - 5º Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1967 - Rio de Janeiro RJ - Pioneiros da Arte Moderna do Brasil, no Diretório Acadêmico da Enba
1969 - São Paulo SP - 10ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1970 - São Paulo SP - 4 Grupos de Aquisições Recentes e Doações da International Society of Plastic and Visual Art, no MAC/USP
1970 - São Paulo SP - Ismael Nery: 40 anos depois, no MAB/Faap
1971 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Barcinsky
1971 - São Paulo SP - Individual, na A Hebraica
1972 - São Paulo SP - A Semana de 22: antecedentes e conseqüências, no Masp
1974 - São Paulo SP - Ismael Nery: 1900-1934, no Masp
1974 - São Paulo SP - Ismael Nery: retrospectiva, no MAB/Faap
1975 - São Paulo SP - O Modernismo de 1917 a 1930, no Museu Lasar Segall
1975 - São Paulo SP - SPAM e CAM, no Museu Lasar Segall
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - São Paulo SP - Ismael Nery: desenhos, aquarelas, guaches, na Grifo Galeria de Arte
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Ochenta Años de Arte Brasileño, no Banco Itaú
1980 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Mário Pedrosa, na Galeria Jean Boghici
1980 - Santiago (Chile) - 20 Pintores Brasileños, na Academia Chilena de Bellas Artes
1981 - Maceió AL - Artistas Brasileiros da Primeira Metade do Século XX, no Instituto Histórico e Geográfico
1981 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Carnaval: imagens e reflexões, na Acervo Galeria de Arte
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap
1982 - São Paulo SP - Do Modernismo à Bienal, no MAM/SP
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1983 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj
1983 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Ismael Nery, na Ralph Camargo Consultoria de Arte
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André
1984 - Fortaleza CE - 7º Salão Nacional de Artes Plásticas
1984 - Porto Alegre RS - Individual, no Kraft Escritório de Arte
1984 - Rio de Janeiro RJ - Salão de 31, na Funarte
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Ismael Nery: 50 anos depois, no MAC/USP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Curitiba PR - Rio: vertente surrealista, no Museu Guido Viaro
1985 - Porto Alegre RS - Rio: vertente surrealista, no Margs
1985 - Rio de Janeiro RJ - Rio: vertente surrealista, na Galeria de Arte Banerj
1985 - Rio de Janeiro RJ - Seis Décadas de Arte Moderna: Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - A Arte do Imaginário, na Galeria Encontro das Artes
1985 - São Paulo SP - Rio: vertente surrealista, no MAC/USP
1987 - Paris (França) - Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1987 - São Paulo SP - O Ofício da Arte: pintura, no Sesc
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor
1989 - Lisboa (Portugal) - Seis Décadas de Arte Brasileira: Coleção Roberto Marinho, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1991 - São Paulo SP - Ismael Nery: retrospectiva, na Dan Galeria
1992 - Poços de Caldas MG - Arte Moderna Brasileira: acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Casa da Cultura
1993 - Poços de Caldas MG - Coleção Mário de Andrade: o modernismo em 50 obras sobre papel, na Casa da Cultura
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil, 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - Rio de Janeiro RJ - Emblemas do Corpo: o nu na arte moderna brasileira, no CCBB
1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP
1993 - São Paulo SP - Ismael Nery: desenhos, na Dan Galeria
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1993 - São Paulo SP - O Modernismo no Museu de Arte Brasileira: pintura, no MAB/Faap
1994 - Poços de Caldas MG - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos de Unibanco, na Casa da Cultura
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - Rio de Janeiro RJ - Trincheiras: arte e política no Brasil, no MAM/RJ
1994 - São Paulo SP - Arte Moderna Brasileira: uma seleção da Coleção Roberto Marinho, no Masp
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1995 - Brasília DF - Coleções de Brasília, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
1995 - Rio de Janeiro RJ - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos do Unibanco, na MAM/RJ
1995 - São Paulo SP - Modernismo Paris Anos 20: vivências e convivências, no MAC/USP
1996 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: desenhos e aquarelas, na Casa das Artes Galeria
1996 - São Paulo SP - Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo MAC/USP: 1920-1970, no MAC/USP
1997 - São Paulo SP - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/SP
1998 - Niterói RJ - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAC/Niterói
1998 - Recife PE - 25º Panorama de Arte Brasileira, no Mamam
1998 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996-1998, no CCBB
1998 - Salvador BA - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/BA
1998 - São Paulo SP - 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1998 - São Paulo SP - Destaques da Coleção Unibanco, no Instituto Moreira Salles
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
1999 - São Paulo SP - Obras Sobre Papel: do modernismo à abstração, na Dan Galeria
1999 - São Paulo SP - Sobre Papel, Grafite e Nanquim, no Banco Cidade
2000 - Lisboa (Portugal) - Brasil-brasis: cousas notaveis e espantosas. Olhares Modernistas, no Museu do Chiado
2000 - Lisboa (Portugal) - Século 20: arte do Brasil, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
2000 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery 100 Anos: a poética de um mito, no CCBB
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2000 - São Paulo SP - A Figura Humana na Coleção Itaú, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Brasil Sobre Papel: matizes e vivências, no Espaço de Artes Unicid
2000 - São Paulo SP - Ismael Nery 100 Anos: a poética de um mito, no MAB/Faap
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2000 - Valência (Espanha) - De la Antropofagia a Brasilía: Brasil 1920-1950, no IVAM. Centre Julio Gonzáles
2001 - Brasília DF - Coleções do Brasil, no CCBB
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2001 - Rio de Janeiro RJ - Coleções do Moderno: Hecilda e Sergio Fadel na Chácara do Céu, no Museus Castro Maya. Museu da Chácara do Céu
2001 - Rio de Janeiro RJ - Surrealismo, no CCBB
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Auto-Retrato o Espelho do Artista, na Galeria de Arte do Sesi
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - Rio de Janeiro RJ - Identidades: o retrato brasileiro na Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
2002 - São Paulo SP - 22 e a Idéia do Moderno, no MAC/USP
2002 - São Paulo SP - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950, no MAB/Faap
2002 - São Paulo SP - Espelho Selvagem: arte moderna no Brasil da primeira metade do século XX, Coleção Nemirovsky, no MAM/SP
2003 - Belém PA - 22º Salão Arte Pará, no Museu do Estado do Pará
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2003 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira: da Revolução de 30 ao pós-guerra, no MAM/RJ
2003 - Rio de Janeiro RJ - Autonomia do Desenho, no MAM/RJ
2003 - São Paulo SP - A Aventura Modernista de Berta Singerman: uma voz argentina no Brasil, no Museu Lasar Segall
2003 - São Paulo SP - Arteconhecimento: 70 anos USP, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - MAC USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake
2004 - Madri (Espanha) - Arco/2004, no Parque Ferial Juan Carlos I
2004 - Rio de Janeiro RJ - O Século de um Brasileiro: Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial
2004 - Rio de Janeiro RJ - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no MNBA
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
2005 - São Paulo SP - O Século de um Brasileiro: Coleção Roberto Marinho, no MAM/SP
Fonte: ISMAEL Nery. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 03 de Mai. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Descendente de indígenas, africanos e neerlandeses (holandeses), em 1909 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 1917, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes. Viajou pela Europa em 1920, tendo frequentado a Academia Julian, em Paris. De volta ao Brasil, trabalha como desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes que se tornaria seu grande amigo e incentivador de sua obra.
Em 1922, casou-se com a poetisa Adalgisa Ferreira. Nessa época realizou obras de tendência expressionista. Em 1926, deu início ao seu sistema filosófico de fundamentação católica e neotomista, denominado de Essencialismo. Em 1927 fez nova viagem a Europa, onde entrou em contato com Marc Chagall, André Breton e Marcel Noll, dentre outros surrealistas. Sua obra sofreu, também, a influência metafísica de Giorgio de Chirico e do cubismo de Picasso. Seus temas remetem-se sempre à figura humana: retratos, auto-retratos e nus. Não se interessou pelos temas nacionais, indígenas e afro-brasileiros, que considerava regionalistas e limitados. Dedicou-se a várias técnicas aplicadas em desenhos e ilustrações de livros. Foi, também, cenógrafo. Em 1929, depois de uma viagem à Argentina e Uruguai, um diagnóstico revelou que ele era portador de tuberculose, o que o levou a internar-se no Sanatório de Correas, em Petrópolis (RJ), por dois anos. Saiu de lá aparentemente curado. No entanto, em 1933, a doença voltou de forma irreversível.
A partir daí, suas figuras tornaram-se mais viscerais e mutiladas. Morreu em 1934, aos trinta e três anos de idade, no Rio de Janeiro. Foi enterrado vestindo um hábito dos franciscanos, numa homenagem dos frades à sua ardorosa fé católica.
A obra de Nery permaneceu ignorada do público e da crítica até 1965, quando teve seu nome inscrito na 8ª Bienal de São Paulo, na Sala Especial de Surrealismo e Arte Fantástica. Suas obras foram expostas também na 10ª Bienal de São Paulo. Foram feitas retrospectivas em 1966, no Rio de Janeiro, e em 1984, no MAC-USP
Sua obra icônica é Autorretrato, 1927 (Autorretrato Rio/Paris). Esta obra participou da exposição Brazil: Body & Soul, no Museu Solomon R. Guggenheim em 2001.
Fases da obra de Ismael Nery
Costuma-se dividir a obra de Ismael Nery em três fases:
de 1922 a 1923, a fase Expressionista;
de 1924 a 1927, a fase Cubista, com evidente influência da fase azul de Pablo Picasso;
de 1927 a 1934, fase do Surrealismo, sua fase mais importante e promissora.
Fonte: Wikipédia, consultado em 20 de janeiro de 2018.
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Biografia - Arte e Artistas
Ismael Nery foi um importante artista brasileiro que teve uma forte influência do expressionismo, cubismo e surrealismo. Discorrer sobre esse grande artista é divulgar aquilo que poucos sabem, mas cuja importância para a história da arte visual brasileira é imensa.
Ismael Nery nasceu no dia 09 de outubro de 1900 na cidade de Belém do Pará. Sua família mudou-se para o Rio de Janeiro, quando ele ainda era um menino. Tudo indica que se interessou por arte ainda na juventude.
Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, entre 1915 e 1916, mas não se adaptou ao caráter acadêmico do curso. Nesse período, dedica-se à cópia em gesso de esculturas da antiguidade greco-romana e, por meio delas, desenvolveu um interesse pela figura humana, tema que iria tomar a maior parte de suas inquietações artísticas. Na ENBA faz aulas com Henrique Bernadelli, cujos incentivo e elogios o animam a seguir estudando arte.
Em 1920, vai a Paris para aperfeiçoar seus estudos. Permanece na Académie Julian por três meses, foi nesse período em que aparecem as influências expressionistas, já com o traço pessoal dramático que iria marcar sua obra. Na Europa entra em contato com o modernismo. Examina os quadros de artistas cubistas como Pablo Picasso, Georges Braque, André Lhote e Fernand Léger . Durante a sua permanência no velho continente, pode conhecer boa parte da tradição artística. Ismael se mostrou também muito interessado pelo expressionismo alemão. Teve contato as obras dos mestres do Renascimento e passa a admirar a pintura desse período, principalmente por Tintoretto, Paolo Veronese, Michelangelo Buonarroti e Rafael. Na Itália teve contato também com a pintura metafísica de Giorgio de Chirico, a quem demonstra interesse especial.
Em 1921, já no Brasil, muito honrado, recebe a nomeação de desenhista na seção de Topografia e Arquitetura da Diretoria do Patrimônio Nacional, um órgão que é ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes, um dos seus grandes incentivadores, responsável pela preservação da memória e da obra do artista. O amigo poeta conheceu profundamente sua personalidade e o “Essencialismo“, um sistema filosófico que Nery criou.
Um ano depois, em 1922, casa-se com a bela poetisa Adalgisa Nery, musa de suas principais pinturas. Em sua pintura surgem com cenários e personagens imaginários. A relação entre as partes claras e as partes escuras é bastante marcada em sua obra.
Em 1924, sua casa se torna um ponto de encontro de artistas e intelectuais cariocas. É frequentada, entre outros, por Mário Pedrosa, Guignard , Antonio Bento e seu grande amigo e incentivador Murilo Mendes, seu parceiro na poesia
No ano de 1927, Ismael viaja com a família para a Europa. No período em que lá, conhece figuras importantes do surrealismo como André Breton e Marc Chagall. Essa estadia na Europa influencia profundamente sua maneira de expressar, passa a admirar a obra de Chagall se aproximando muito do artista russo.
Realiza em 1929, suas únicas exposições individuais no Brasil. Infelizmente não teve grande receptividade, mesmo assim participa também de uma coletiva em Nova York só de pinturas brasileiras.
Em 1930 descobre que está com tuberculose,mesmo doente, continuou pintando. Ismael expressou toda dor e sentimento em suas pinturas durante três anos de tratamento sem perspectivas de melhora.
Ismael Nery não venceu ao mal do século. No dia 6 de abril de 1934, morre em um mosteiro franciscano, confinado pela tuberculose. Mesmo com tanta dedicação, morreu sem nunca ter vendido um quadro em vida.
Seu trabalho foi reconhecido em homenagens póstumas depois de muitos anos, na Bienal de São Paulo em 1965 ao ser exposta em uma sala especial nomeada Surrealismo e Arte Fantástica. Em 1966 na Petite Galerie do Museu do Louvre e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e também na Bienal de 1969.
Ismael Nery e sua obra
Um dos principais pintores do modernismo brasileiro, teve sua obra basicamente dividida em três fases: Expressionista, Cubista e a última, a mais importante e promissora, o Surrealismo:
Expressionismo (1922 a 23), Cubismo (1924 a 27) e Surrealismo (1927 a 34). Óleos, desenhos e aquarelas de caráter universal, onde a realidade brasileira estava ausente. O tema girava em torno do homem atemporal que tanto pode vestir trajes da antiguidade como os costumes simples do proletário moderno.
Apesar de ter sido contemporâneo dos artistas modernistas brasileiros na entrada do século passado, sua arte visual era diferente da de seus pares. Não tinha interesse por temáticas nacionalistas. Sua obra gira em torno de certas dualidades de cunho filosófico como o eu e o outro, o corpo e o espírito, o bem e o mal, o masculino e o feminino. O outro é normalmente representado pela sua mulher, a poetisa Adalgisa Ferreira, ou seu grande amigo, o poeta Murilo Mendes. Seus quadros conduzem a uma questão paradoxal, como alguém que se olha no espelho e pergunta: “Quem sou eu?”
Alguns de seus trabalhos remetem a Amadeo Modigliani pelas formas alongadas do pescoço e das mãos. Também não há como deixar de associá-los à obra de Frida Kahlo. Os dois souberam externar com maestria suas tragédias pessoais.
Arte comentada...
A partir de 1924, Ismael Nery, posteriormente, dá tratamento mais geométrico a suas figuras, compõe seus personagens com cilindros e formas ovais. Figuras humanas tornam-se mais alongados a La Modigliani. Recebe influências expressionistas e cubistas.
Considerado um dos pioneiros do surrealismo no Brasil, Ismael Nery ao seguir esta linha de trabalho na qual pinta as aflições de uma doença que o vitimaria, desenvolve uma obra singular.
A carta ilustrada do pintor Ismael Nery de convencional só tem o respeito do artista à maneira usual de abertura e fechamento: a folha é datada, “Rio, 21 de maio de 1929”, começa com “Caríssimo amigo” e acaba com “Sempre seu” e as iniciais. O que numa carta comum seria o texto, aqui é uma sucessão de imagens surrealistas, flutuando como num sonho.
Poucas “cartas” ilustradas são tão belas na arte brasileira quanto esta missiva críptica de Nery, que talvez tenha querido presentear um amigo com um desenho em forma de carta (ou seria uma carta em forma de desenho?).
Fonte e crédito fotográfico: Arte e Artista, publicado em 4 de setembro de 2017.
Ismael Nery (Belém, PA, 9 de outubro de 1900 — Rio de Janeiro, RJ, 6 de abril de 1934) foi um pintor, desenhista, arquiteto, filósofo e poeta brasileiro de influência surrealista.
Biografia Itaú Cultural
Muda-se ainda criança para o Rio de Janeiro onde, em 1917, matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Viaja para França em 1920 e freqüenta a Académie Julian. De volta ao Rio de Janeiro, no ano seguinte, trabalha como desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), que se torna grande amigo e incentivador de sua obra. Em 1922 casa-se com a poeta Adalgisa Nery (1905 - 1980). Ismael Nery aplica à sua produção os princípios do Essencialismo, sistema filosófico que ele mesmo cria. Segundo Murilo Mendes, esse sistema diz respeito às concepções do artista sobre a abstração do tempo e do espaço. Em 1927, novamente na França, conhece Marc Chagall (1887 - 1985), André Breton (1896 - 1966) e Marcel Noll. A volta ao Brasil marca a fase surrealista de sua obra, a princípio por influência de Chagall. Em 1930, contrai tuberculose. Enfermo, seus trabalhos passam a revelar seu drama pessoal e a fragilidade do corpo. Falece aos 33 anos. Em 1948, uma série de artigos de Murilo Mendes publicados nos jornais O Estado de S. Paulo e Letras e Artes busca resgatar a obra plástica, literária e filosófica do artista. Esquecido, Ismael Nery, passa a ser valorizado em meados dos anos 1960 com exposições realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Comentário Crítico
Ismael Nery é uma das personalidades mais inquietas do modernismo brasileiro. Dedica-se à pintura e ao desenho, sem nunca delimitar seu campo de atuação. Assim, também produz poemas e elabora reflexões teóricas. Em vida, não se define como artista plástico. Mário Pedrosa (1900 - 1981), crítico de arte e amigo de Nery, lembra que ele "nunca quis ser artista profissional".1 Sua pintura aparece como um nicho onde ele formula parte de suas reflexões metafísicas, uma materialização de suas idéias sobre o que era necessário a todos os homens, universalmente, independentemente da época e do lugar.
Ismael Nery nasce em Belém. Ainda na infância, muda-se para o Rio de Janeiro. Tudo indica que se aproxima das artes na juventude. Provavelmente, freqüenta a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, entre 1915 e 1916. É certo que em 1918 está entre os alunos matriculados na instituição. Nesse período, dedica-se à cópia em gesso de esculturas da Antigüidade greco-romana e, por meio delas, desenvolve interesse pela figura humana, tema que iria tomar a maior parte de suas inquietações artísticas. Na Enba faz aulas com Henrique Bernardelli (1858 - 1936), cujos incentivo e elogios o animam a seguir estudando arte.
Em 1920, Nery vai a Paris para estudar. Permanece na Académie Julian por três meses. Na Europa entra em contato com o modernismo. Examina os quadros de artistas cubistas como Pablo Picasso (1881 - 1973), Georges Braque (1882 - 1963), André Lhote (1885 - 1962), Fernand Léger (1881 - 1955) e Jean Metzinger (1883 - 1956). Durante a sua permanência, pode conhecer boa parte da tradição artística do velho continente. Além da Escola de Paris, tem grande interesse pelo expressionismo alemão. Na Itália conhece as obras dos mestres do Renascimento e torna-se admirador da pintura do período. Devota-se, sobretudo, a Ticiano (ca.1488 - 1576), Tintoretto (1519 - 1594), Paolo Veronese (1528 - 1588), Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564) e Rafael (1483 - 1520). Tem interesse também por artistas italianos modernos, como Giorgio de Chirico (1888 - 1978).
Ao voltar para o Brasil, em 1921, é nomeado desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece e se torna amigo do poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), um dos seus grandes incentivadores. Um ano depois, casa-se com poetisa Adalgisa Nery (1905 - 1980), musa de suas principais pinturas. Apesar de já trabalhar com formas modernas, seu assunto o diferencia do modernismo brasileiro da Semana de Arte Moderna de 1922. O artista não tem gosto por temas nacionalistas. Seus personagens aparecem em cenários imaginários, avessos a qualquer referência reconhecível. Ele trata, basicamente, da figura humana, idealizada, a serviço de uma figuração simbólica. Neste período, faz retratos, como as obras Retrato de Murilo Mendes (1922) e A Espanhola (1923). A relação entre as partes claras e as partes escuras é bastante marcada.
Ismael Nery, posteriormente, dá tratamento mais geométrico a suas figuras. Em 1924, aproximadamente, compõe seus personagens com cilindros e formas ovais. Os homens e mulheres se tornam mais alongados e estruturados. Dão a impressão de formas ideais, fora do tempo e do espaço. Ao seu expressionismo é somada a influência cubista. Na época a casa do artista se torna um ponto de encontro de artistas e intelectuais cariocas. É freqüentada, entre outros, por Mário Pedrosa, Murilo Mendes, Guignard (1896 - 1962) e Antonio Bento (1902 - 1988).
Em torno de 1926, expõe a alguns desses amigos a sua doutrina: o essencialismo. Um conjunto de princípios, ligados ao seu humanismo cristão, que seria a síntese de suas reflexões. Em 1927, Nery parte, com a esposa e a mãe, para a Europa, onde convive com Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959) e conhece André Breton (1896 - 1966), Marc Noll e Marc Chagall (1887 - 1985). A viagem influencia profundamente sua pintura. Ele volta particularmente impressionado com o trabalho de Chagall que seus temas e personagens, a partir daí, aproximam-se dos do artista russo.
Os corpos são pintados com cores mais vivas e aparentam mais leveza. A ação das suas pinturas ocorre em um plano onírico. No entanto, este tratamento se dá com base em relações que Murilo Mendes chama de "absolutas, definitivas e eternas",2 derivadas do essencialismo de Ismael Nery. A partir de 1930, é constatada sua tuberculose e isso se reflete em suas pinturas. Suas figuras se tornam esgarçadas, aparecem com as vísceras abertas. Os personagens surgem em cenários vazios, nitidamente influenciados pela pintura metafísica italiana. Os personagens agora são flagelados e feridos. O trabalho incorpora o tema da morte.
Daí em diante o artista trabalha menos. No entanto, sua produção tem maior projeção. Antes disso, em 1929, Ismael Nery faz as suas únicas exposições individuais, a primeira em Belém e a segunda no Rio de Janeiro. Não chega a ter grande receptividade, mas consegue expor numa coletiva de pintura brasileira em Nova York e participar de importantes salões, como o Salão Revolucionário, no Rio de Janeiro, em 1931, e a Exposição de Arte Moderna da SPAM, em São Paulo, em 1933.
Doente, apesar de uma rápida melhora em 1933, Ismael não resiste e morre, vitimado pela tuberculose, em 1934, num mosteiro franciscano. O reconhecimento ao seu trabalho ocorre postumamente, após sua participação nas Bienais de 1965 e 1969 e de retrospectivas em 1966, no Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e na Petite Galerie.
Críticas
"Devo dizer que a posição individual de Ismael Nery se insurgia abertamente contra a corrente ´brasileira´ então dominante. Firmou-se em sua pintura a orientação internacional, que então prevalecia, como ainda hoje prevalece na Europa e nos centros artísticos mais avançados dos outros continentes. Por esse motivo, os temas brasileiros estão ausentes quase completamente de sua arte, como estavam alheios a suas preocupações e a seus problemas plásticos ou visuais. Manifestava-se igualmente contrário a uma pintura de tendência regional, matuta ou caipira, de influência índia, negra ou afro-brasileira. Segundo suas idéias, uma arte de temática nacionalista seria secundária, pois assumia desde logo um caráter limitado e até anedótico, em oposição à tendência internacionalista, que deveria prevalecer neste século. Não preciso dizer que o desenvolvimento da arte deste século como da própria arte brasileira, nos últimos vinte e cinco anos, viria mostrar a originalidade da posição de vanguarda coerentemente mantida por Ismael Nery, durante o transcurso de sua breve e fecunda vida de pintor e desenhista".
— Antônio Bento
"Já em inícios dos anos 20 vemos aparecer, sobretudo em sua pintura, o ambiente que Di (Cavalcanti) denominara de "penumbrista" em relação a esse mesmo período em seu trabalho. Nesse primeiro período (a que Antonio Bento se referiria como "expressionista") percebemos que a facilidade, as redundâncias, as retomadas de temas e o dado literário são freqüentes em seus retratos e figuras até por volta de 1923, denotando uma grande produção com avanço difícil. Porém, a partir de 1924, observa-se que o rigor cubista passa a ordenar sua pintura, através da redução de elementos e da autodisciplina que gradativamente caracterizará sua obra. Esse período de passagem alongar-se-ia até por volta de 1927, época de sua estada em Paris. A presença chagalliana, assim como posteriormente a metafísica, é outro dado singular no modernismo brasileiro a partir de Nery: a influência metafísica classicizante vem conjugada, em seu caso, com um expor-se absolutamente inédito na arte brasileira. Na verdade, Ismael Nery se expõe em seus trabalhos como raros o fazem e nesse ato de comunicação através da expressão pela imagem está implícito um ato de entrega de sua intimidade ao espectador reflexivo".
— Aracy Amaral
"Ismael Nery tem um talento vasto de pintor, porém, com exceção duns poucos quadros, toda a obra dele se ressente dum inacabado muito inquieto. Mas é pesquisador da mais nobre seita. Vive quase uma obsessão mística, preocupado com uns tantos problemas plásticos, principalmente a composição com figuras e a realização dum tipo ideal humano. Seguindo as obras dele na casa de Murilo Mendes, que é quem as guarda no Rio, a gente tem a impressão de que os problemas se enunciam nuns quadros, e são desenvolvidos noutros para terminar noutros. A procura de um tipo plástico ideal representativo do ser humano o irmana com certos pesquisadores europeus imensamente comoventes, sobretudo com Modigliani e Eugen Zak. E assim com as figuras todas arrinconadas num tipo único que jamais satisfaz este artista duma seriedade absoluta, Ismael Nery as coloca em todas as composições possíveis, buscando um equilíbrio e uma harmonia exclusivamente plásticos. Esses problemas, da composição e do tipo ideal, preocupam tanto o pintor que durante muito tempo ele abandonou totalmente a cor se servindo só do azul. Essa fase azul é verdadeiramente impressionante como fenômeno psicológico e alguns dos quadros dela me parecem dos mais notáveis que o modernismo brasileiro produziu".
— Mário de Andrade
"O ego inflado de Ismael Nery, na confluência entre a mitomania e o misticismo o levaria a coincidir sua figura ainda mais com a do cristão. Não apenas foi enterrado com o hábito de São Francisco, mas tentou coincidir sua morte com a sexta-feira da paixão, quando tinha também, como Cristo, 33 anos. Atrasou-se um pouco, morreu uma semana depois, na sexta-feira de Páscoa. Morria miticamente cercado pelo número três. Morria reinscrevendo simbolicamente a idade da morte do seu pai, também de nome Ismael, morto aos 33 anos. Ismael-pai e Ismael-filho, o Ismael-pai era médico, o Ismael-filho o enfermo. O Ismael-Cristo e o Ismael-homem. O EU e o OUTRO. Dois em um. Três em um: a circularidade mítica e psicanalítica do 33.
Muito do que dissemos até agora poderia ser revisto em seus quadros e relido num poema intitulado "Eu", escrito no último ano de vida, onde começa dizendo: "Eu sou a tangência de duas formas opostas e justapostas." A seguir o poema vai ser o confronto e a oposição de forças que tendem para a anulação do indivíduo. O verso é emblemático para mostrar a recusa inicial do individuo do ponto de vista subjetivo. E do ponto de vista estético, para ilustrar as raízes do estilo cubista que adotou. É neste sentido que o cubismo lhe foi útil. O desdobramento da figuras, as duas ou três faces em conflito, correspondem tanto a um rasgo estilístico quanto a uma cesura do espírito atormentado do artista que buscava a unidade no que chamava de ESSÊNCIA. ESSÊNCIA que não apagava as rasuras, que são humanas".
— Affonso Romano de Sant"Anna
"Foi em fins do ano de 1921 que conheci Ismael Nery. Eu trabalhava na antiga Diretoria do Patrimônio Nacional, no Ministério da Fazenda. Ismael Nery foi nomeado desenhista da seção de arquitetura e topografia. Vi, um belo dia, entrar na sala um moço elegante e bem vestido. Ajeitou a prancheta, sentou-se e começou a desenhar. Meia hora depois saiu para o café. Aproveitei sua ausência e resolvi espiar o que ele fazia: rabiscava bonecos em torno de um projeto para o edifício de uma alfândega. Ao regressar puxei conversa com ele: saímos juntos da repartição. Assim começou uma amizade que se prolongou ininterruptamente até o dia de sua morte, em 6 de abril de 1934. Ismael voltava da Europa, onde havia passado um ano. Fora aperfeiçoar seus estudos de pintura. Lembro-me que falava com entusiasmo do conjunto das exposições e museus, mas não se referia em particular a nenhum pintor da época. Esperava uma grande transformação do conceito de artista ou talvez uma volta do conceito clássico, pois encarava o artista como um ser harmônico, sábio e vidente, e não um simples cultor de temperamento via a pintura em estado de crise com a proximidade do cinema. Alguns anos mais tarde lembrei-me dessas primeiras conversas, ao ler o ensaio de André Breton, que começa mais ou menos assim: "A máquina fotográfica deu um golpe mortal nos velhos meios de expressão [...]". Ismael achava que muitas intenções da pintura já estavam realizadas definitivamente: por exemplo, a primeira vez que viu Tintoretto, achou inútil continuar a pintar. Foi, pois, sob as espécies de pintor, desenhista e arquiteto que conheci Ismael Nery. Mas em breve outros aspectos, estes os mais profundos, da sua personalidade, eram-me desvendados: o do poeta, do filósofo e mesmo do teólogo. Devo dizer que presto meu depoimento com absoluta honestidade, sem o menor desejo de mistificar, como também sem motivo para concordar com algumas pessoas que, tendo conhecido superficialmente Ismael Nery, recusam-lhe a grandeza e atribuem-me a preocupação de criar um mito".
— Murilo Mendes
"Tão maldito quanto Flávio de Carvalho - e com uma obra igualmente autobiográfica - foi Ismael Nery. Falecido em 1934, sua obra começou a sofrer um processo de resgate nos anos 60, quando finalmente foi possível conhecer outro artista brasileiro que propositadamente confundiu os limites entre arte e vida. Os estudiosos Antonio Bento e Chaim Hamer já tentaram explicar a razão para o prolongado esquecimento da obra de Nery dentro do circuito brasileiro. Bento culpa o despreparo do público brasileiro dos anos 30 por esse esquecimento. Já Hamer traça uma complexa hipótese de fundo psicanalítico para explicar o mesmo fenômeno. Mas talvez um texto de Mário de Andrade de 1928 possa dar algumas pistas para este esquecimento de mais de trinta anos. No artigo, Andrade aponta três questões que, mais tarde, talvez tenham contribuído para a marginalização da obra do artista: o pouco refinamento técnico das produções de Nery a rapidez com que ele trabalhava, parecendo que "os problemas se enunciavam nuns quadros, e são desenvolvidos noutros para terminar em ainda outros" e o desejo do artista em encontrar em sua produção "um tipo ideal representativo do ser humano". Ora, Mário de Andrade de fato sempre se preocupou com a falta de apuro técnico dos pintores modernistas. Porém, Nery - que após ter visto obras de Tintoretto achava inútil pintar - via a pintura não como uma técnica a ser dominada plenamente como um bom artesão, mas como um instrumento capaz de suportar a concreção de suas idéias. Por sua vez, analisando as pinturas, poemas, desenhos e aquarelas do artista, percebe-se que, na verdade, os problemas que se enunciavam numa tela podiam expandir-se para qualquer forma de registro, já que o que interessava para Nery, parece, não era propriamente o registro em si, em suas peculiaridades ou qualidades intrínsecas, mas a idéia registrada".
— Tadeu Chiarelli
Depoimento Ismael Nery
"O silêncio provocou-me uma necessidade irreprimível de correr. Abalei como flecha através dos mares e montanhas com incrível facilidade e sem cansaço. Eis-me agora sentado diante de uma paisagem em formação, ainda não colorida. O meu pensamento agora é que percorre o que acabei de percorrer, e admiro-me, então, de nada ter encontrado, senão ao chegar ao rastro fosforescente que deixei ao partir. Os mares são agora ridículos lençóis d'água, de uns três ou quatro palmos de profundidade. As montanhas são nuvens estáticas, que o eterno medo dos homens transformará em granito. Tudo é pavorosamente desabitado. Não há leões nem elefantes nos desertos da África. Não existem as pirâmides nem a Torre Eiffel. Existe apenas eu mesmo, que me percebo inversamente por uma idéia que chamo mulher e que paira rarefeita sobre a superfície do globo - idéia incompreensível porque nada existe na terra além de mim mesmo. Volto a percorrer novamente o espaço, porém, desta vez, com a lentidão do crescimento das plantas, multiplicando-me progressivamente na minha idéia para mostrar-me a mim mesmo. Os mares, agora, são profundos e as montanhas se solidificaram. Aparecem leões e elefantes nos desertos da África. Construíram as pirâmides no Egito e levantaram a Torre Eiffel, em Paris, no ano em que um outro eu nascia em Belém do Pará. Tudo se povoou transbordantemente. Acho-me agora sentado na prisão, olhando sereno através das grades, aguardando o julgamento do crime nefando que cometi de usar a mim mesmo, na minha mãe, mulher, filha, neta, bisneta, tataraneta, nora e cunhada. Voltarei, ainda uma vez, para ser o meu próprio Juiz. Nada existe, além de mim mesmo, senão para mim. Silêncio".
Ismael Nery (Poemas de Ismael Nery. In: ______. Ismael Nery 100 anos: a poética de um mito. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2000. p. 71. [Poemas recolhidos por Murilo Mendes e publicados na Revista A Ordem e no Boletim de Ariel, 1935.)
Exposições Individuais
1929 - Belém PA - Individual, no Palace Theatre
1929 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria do Palace Hotel
1930 - Rio Janeiro RJ - Individual, no Studio Nicolas
Exposições Coletivas
1930 - Nova York (Estados Unidos) - The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, no Nicholas Roerich Museum
1931 - Rio de Janeiro RJ - Salão Revolucionário, na Enba
1933 - Rio de Janeiro RJ - 3ª Salão da Pró-Arte
1933 - São Paulo SP - 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM, no Palacete Campinas
Exposições Póstumas
1935 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Social, no Clube de Cultura Moderna
1935 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: retrospectiva, no Pró-Arte, Edifício da Associação dos Empregados do Comércio
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1966 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos, na Galeria Ibeu Copacabana
1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1966 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: retrospectiva, na Petite Galerie
1967 - Rio de Janeiro RJ - 5º Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1967 - Rio de Janeiro RJ - Pioneiros da Arte Moderna do Brasil, no Diretório Acadêmico da Enba
1969 - São Paulo SP - 10ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1970 - São Paulo SP - 4 Grupos de Aquisições Recentes e Doações da International Society of Plastic and Visual Art, no MAC/USP
1970 - São Paulo SP - Ismael Nery: 40 anos depois, no MAB/Faap
1971 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Barcinsky
1971 - São Paulo SP - Individual, na A Hebraica
1972 - São Paulo SP - A Semana de 22: antecedentes e conseqüências, no Masp
1974 - São Paulo SP - Ismael Nery: 1900-1934, no Masp
1974 - São Paulo SP - Ismael Nery: retrospectiva, no MAB/Faap
1975 - São Paulo SP - O Modernismo de 1917 a 1930, no Museu Lasar Segall
1975 - São Paulo SP - SPAM e CAM, no Museu Lasar Segall
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - São Paulo SP - Ismael Nery: desenhos, aquarelas, guaches, na Grifo Galeria de Arte
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Ochenta Años de Arte Brasileño, no Banco Itaú
1980 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Mário Pedrosa, na Galeria Jean Boghici
1980 - Santiago (Chile) - 20 Pintores Brasileños, na Academia Chilena de Bellas Artes
1981 - Maceió AL - Artistas Brasileiros da Primeira Metade do Século XX, no Instituto Histórico e Geográfico
1981 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Carnaval: imagens e reflexões, na Acervo Galeria de Arte
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap
1982 - São Paulo SP - Do Modernismo à Bienal, no MAM/SP
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1983 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj
1983 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Ismael Nery, na Ralph Camargo Consultoria de Arte
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André
1984 - Fortaleza CE - 7º Salão Nacional de Artes Plásticas
1984 - Porto Alegre RS - Individual, no Kraft Escritório de Arte
1984 - Rio de Janeiro RJ - Salão de 31, na Funarte
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Ismael Nery: 50 anos depois, no MAC/USP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Curitiba PR - Rio: vertente surrealista, no Museu Guido Viaro
1985 - Porto Alegre RS - Rio: vertente surrealista, no Margs
1985 - Rio de Janeiro RJ - Rio: vertente surrealista, na Galeria de Arte Banerj
1985 - Rio de Janeiro RJ - Seis Décadas de Arte Moderna: Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - A Arte do Imaginário, na Galeria Encontro das Artes
1985 - São Paulo SP - Rio: vertente surrealista, no MAC/USP
1987 - Paris (França) - Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1987 - São Paulo SP - O Ofício da Arte: pintura, no Sesc
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor
1989 - Lisboa (Portugal) - Seis Décadas de Arte Brasileira: Coleção Roberto Marinho, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1991 - São Paulo SP - Ismael Nery: retrospectiva, na Dan Galeria
1992 - Poços de Caldas MG - Arte Moderna Brasileira: acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Casa da Cultura
1993 - Poços de Caldas MG - Coleção Mário de Andrade: o modernismo em 50 obras sobre papel, na Casa da Cultura
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil, 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - Rio de Janeiro RJ - Emblemas do Corpo: o nu na arte moderna brasileira, no CCBB
1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP
1993 - São Paulo SP - Ismael Nery: desenhos, na Dan Galeria
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1993 - São Paulo SP - O Modernismo no Museu de Arte Brasileira: pintura, no MAB/Faap
1994 - Poços de Caldas MG - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos de Unibanco, na Casa da Cultura
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - Rio de Janeiro RJ - Trincheiras: arte e política no Brasil, no MAM/RJ
1994 - São Paulo SP - Arte Moderna Brasileira: uma seleção da Coleção Roberto Marinho, no Masp
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1995 - Brasília DF - Coleções de Brasília, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
1995 - Rio de Janeiro RJ - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos do Unibanco, na MAM/RJ
1995 - São Paulo SP - Modernismo Paris Anos 20: vivências e convivências, no MAC/USP
1996 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: desenhos e aquarelas, na Casa das Artes Galeria
1996 - São Paulo SP - Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo MAC/USP: 1920-1970, no MAC/USP
1997 - São Paulo SP - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/SP
1998 - Niterói RJ - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAC/Niterói
1998 - Recife PE - 25º Panorama de Arte Brasileira, no Mamam
1998 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996-1998, no CCBB
1998 - Salvador BA - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/BA
1998 - São Paulo SP - 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1998 - São Paulo SP - Destaques da Coleção Unibanco, no Instituto Moreira Salles
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
1999 - São Paulo SP - Obras Sobre Papel: do modernismo à abstração, na Dan Galeria
1999 - São Paulo SP - Sobre Papel, Grafite e Nanquim, no Banco Cidade
2000 - Lisboa (Portugal) - Brasil-brasis: cousas notaveis e espantosas. Olhares Modernistas, no Museu do Chiado
2000 - Lisboa (Portugal) - Século 20: arte do Brasil, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
2000 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery 100 Anos: a poética de um mito, no CCBB
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2000 - São Paulo SP - A Figura Humana na Coleção Itaú, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Brasil Sobre Papel: matizes e vivências, no Espaço de Artes Unicid
2000 - São Paulo SP - Ismael Nery 100 Anos: a poética de um mito, no MAB/Faap
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2000 - Valência (Espanha) - De la Antropofagia a Brasilía: Brasil 1920-1950, no IVAM. Centre Julio Gonzáles
2001 - Brasília DF - Coleções do Brasil, no CCBB
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2001 - Rio de Janeiro RJ - Coleções do Moderno: Hecilda e Sergio Fadel na Chácara do Céu, no Museus Castro Maya. Museu da Chácara do Céu
2001 - Rio de Janeiro RJ - Surrealismo, no CCBB
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Auto-Retrato o Espelho do Artista, na Galeria de Arte do Sesi
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - Rio de Janeiro RJ - Identidades: o retrato brasileiro na Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
2002 - São Paulo SP - 22 e a Idéia do Moderno, no MAC/USP
2002 - São Paulo SP - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950, no MAB/Faap
2002 - São Paulo SP - Espelho Selvagem: arte moderna no Brasil da primeira metade do século XX, Coleção Nemirovsky, no MAM/SP
2003 - Belém PA - 22º Salão Arte Pará, no Museu do Estado do Pará
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2003 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira: da Revolução de 30 ao pós-guerra, no MAM/RJ
2003 - Rio de Janeiro RJ - Autonomia do Desenho, no MAM/RJ
2003 - São Paulo SP - A Aventura Modernista de Berta Singerman: uma voz argentina no Brasil, no Museu Lasar Segall
2003 - São Paulo SP - Arteconhecimento: 70 anos USP, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - MAC USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake
2004 - Madri (Espanha) - Arco/2004, no Parque Ferial Juan Carlos I
2004 - Rio de Janeiro RJ - O Século de um Brasileiro: Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial
2004 - Rio de Janeiro RJ - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no MNBA
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
2005 - São Paulo SP - O Século de um Brasileiro: Coleção Roberto Marinho, no MAM/SP
Fonte: ISMAEL Nery. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 03 de Mai. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Descendente de indígenas, africanos e neerlandeses (holandeses), em 1909 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 1917, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes. Viajou pela Europa em 1920, tendo frequentado a Academia Julian, em Paris. De volta ao Brasil, trabalha como desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes que se tornaria seu grande amigo e incentivador de sua obra.
Em 1922, casou-se com a poetisa Adalgisa Ferreira. Nessa época realizou obras de tendência expressionista. Em 1926, deu início ao seu sistema filosófico de fundamentação católica e neotomista, denominado de Essencialismo. Em 1927 fez nova viagem a Europa, onde entrou em contato com Marc Chagall, André Breton e Marcel Noll, dentre outros surrealistas. Sua obra sofreu, também, a influência metafísica de Giorgio de Chirico e do cubismo de Picasso. Seus temas remetem-se sempre à figura humana: retratos, auto-retratos e nus. Não se interessou pelos temas nacionais, indígenas e afro-brasileiros, que considerava regionalistas e limitados. Dedicou-se a várias técnicas aplicadas em desenhos e ilustrações de livros. Foi, também, cenógrafo. Em 1929, depois de uma viagem à Argentina e Uruguai, um diagnóstico revelou que ele era portador de tuberculose, o que o levou a internar-se no Sanatório de Correas, em Petrópolis (RJ), por dois anos. Saiu de lá aparentemente curado. No entanto, em 1933, a doença voltou de forma irreversível.
A partir daí, suas figuras tornaram-se mais viscerais e mutiladas. Morreu em 1934, aos trinta e três anos de idade, no Rio de Janeiro. Foi enterrado vestindo um hábito dos franciscanos, numa homenagem dos frades à sua ardorosa fé católica.
A obra de Nery permaneceu ignorada do público e da crítica até 1965, quando teve seu nome inscrito na 8ª Bienal de São Paulo, na Sala Especial de Surrealismo e Arte Fantástica. Suas obras foram expostas também na 10ª Bienal de São Paulo. Foram feitas retrospectivas em 1966, no Rio de Janeiro, e em 1984, no MAC-USP
Sua obra icônica é Autorretrato, 1927 (Autorretrato Rio/Paris). Esta obra participou da exposição Brazil: Body & Soul, no Museu Solomon R. Guggenheim em 2001.
Fases da obra de Ismael Nery
Costuma-se dividir a obra de Ismael Nery em três fases:
de 1922 a 1923, a fase Expressionista;
de 1924 a 1927, a fase Cubista, com evidente influência da fase azul de Pablo Picasso;
de 1927 a 1934, fase do Surrealismo, sua fase mais importante e promissora.
Fonte: Wikipédia, consultado em 20 de janeiro de 2018.
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Biografia - Arte e Artistas
Ismael Nery foi um importante artista brasileiro que teve uma forte influência do expressionismo, cubismo e surrealismo. Discorrer sobre esse grande artista é divulgar aquilo que poucos sabem, mas cuja importância para a história da arte visual brasileira é imensa.
Ismael Nery nasceu no dia 09 de outubro de 1900 na cidade de Belém do Pará. Sua família mudou-se para o Rio de Janeiro, quando ele ainda era um menino. Tudo indica que se interessou por arte ainda na juventude.
Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, entre 1915 e 1916, mas não se adaptou ao caráter acadêmico do curso. Nesse período, dedica-se à cópia em gesso de esculturas da antiguidade greco-romana e, por meio delas, desenvolveu um interesse pela figura humana, tema que iria tomar a maior parte de suas inquietações artísticas. Na ENBA faz aulas com Henrique Bernadelli, cujos incentivo e elogios o animam a seguir estudando arte.
Em 1920, vai a Paris para aperfeiçoar seus estudos. Permanece na Académie Julian por três meses, foi nesse período em que aparecem as influências expressionistas, já com o traço pessoal dramático que iria marcar sua obra. Na Europa entra em contato com o modernismo. Examina os quadros de artistas cubistas como Pablo Picasso, Georges Braque, André Lhote e Fernand Léger . Durante a sua permanência no velho continente, pode conhecer boa parte da tradição artística. Ismael se mostrou também muito interessado pelo expressionismo alemão. Teve contato as obras dos mestres do Renascimento e passa a admirar a pintura desse período, principalmente por Tintoretto, Paolo Veronese, Michelangelo Buonarroti e Rafael. Na Itália teve contato também com a pintura metafísica de Giorgio de Chirico, a quem demonstra interesse especial.
Em 1921, já no Brasil, muito honrado, recebe a nomeação de desenhista na seção de Topografia e Arquitetura da Diretoria do Patrimônio Nacional, um órgão que é ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes, um dos seus grandes incentivadores, responsável pela preservação da memória e da obra do artista. O amigo poeta conheceu profundamente sua personalidade e o “Essencialismo“, um sistema filosófico que Nery criou.
Um ano depois, em 1922, casa-se com a bela poetisa Adalgisa Nery, musa de suas principais pinturas. Em sua pintura surgem com cenários e personagens imaginários. A relação entre as partes claras e as partes escuras é bastante marcada em sua obra.
Em 1924, sua casa se torna um ponto de encontro de artistas e intelectuais cariocas. É frequentada, entre outros, por Mário Pedrosa, Guignard , Antonio Bento e seu grande amigo e incentivador Murilo Mendes, seu parceiro na poesia
No ano de 1927, Ismael viaja com a família para a Europa. No período em que lá, conhece figuras importantes do surrealismo como André Breton e Marc Chagall. Essa estadia na Europa influencia profundamente sua maneira de expressar, passa a admirar a obra de Chagall se aproximando muito do artista russo.
Realiza em 1929, suas únicas exposições individuais no Brasil. Infelizmente não teve grande receptividade, mesmo assim participa também de uma coletiva em Nova York só de pinturas brasileiras.
Em 1930 descobre que está com tuberculose,mesmo doente, continuou pintando. Ismael expressou toda dor e sentimento em suas pinturas durante três anos de tratamento sem perspectivas de melhora.
Ismael Nery não venceu ao mal do século. No dia 6 de abril de 1934, morre em um mosteiro franciscano, confinado pela tuberculose. Mesmo com tanta dedicação, morreu sem nunca ter vendido um quadro em vida.
Seu trabalho foi reconhecido em homenagens póstumas depois de muitos anos, na Bienal de São Paulo em 1965 ao ser exposta em uma sala especial nomeada Surrealismo e Arte Fantástica. Em 1966 na Petite Galerie do Museu do Louvre e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e também na Bienal de 1969.
Ismael Nery e sua obra
Um dos principais pintores do modernismo brasileiro, teve sua obra basicamente dividida em três fases: Expressionista, Cubista e a última, a mais importante e promissora, o Surrealismo:
Expressionismo (1922 a 23), Cubismo (1924 a 27) e Surrealismo (1927 a 34). Óleos, desenhos e aquarelas de caráter universal, onde a realidade brasileira estava ausente. O tema girava em torno do homem atemporal que tanto pode vestir trajes da antiguidade como os costumes simples do proletário moderno.
Apesar de ter sido contemporâneo dos artistas modernistas brasileiros na entrada do século passado, sua arte visual era diferente da de seus pares. Não tinha interesse por temáticas nacionalistas. Sua obra gira em torno de certas dualidades de cunho filosófico como o eu e o outro, o corpo e o espírito, o bem e o mal, o masculino e o feminino. O outro é normalmente representado pela sua mulher, a poetisa Adalgisa Ferreira, ou seu grande amigo, o poeta Murilo Mendes. Seus quadros conduzem a uma questão paradoxal, como alguém que se olha no espelho e pergunta: “Quem sou eu?”
Alguns de seus trabalhos remetem a Amadeo Modigliani pelas formas alongadas do pescoço e das mãos. Também não há como deixar de associá-los à obra de Frida Kahlo. Os dois souberam externar com maestria suas tragédias pessoais.
Arte comentada...
A partir de 1924, Ismael Nery, posteriormente, dá tratamento mais geométrico a suas figuras, compõe seus personagens com cilindros e formas ovais. Figuras humanas tornam-se mais alongados a La Modigliani. Recebe influências expressionistas e cubistas.
Considerado um dos pioneiros do surrealismo no Brasil, Ismael Nery ao seguir esta linha de trabalho na qual pinta as aflições de uma doença que o vitimaria, desenvolve uma obra singular.
A carta ilustrada do pintor Ismael Nery de convencional só tem o respeito do artista à maneira usual de abertura e fechamento: a folha é datada, “Rio, 21 de maio de 1929”, começa com “Caríssimo amigo” e acaba com “Sempre seu” e as iniciais. O que numa carta comum seria o texto, aqui é uma sucessão de imagens surrealistas, flutuando como num sonho.
Poucas “cartas” ilustradas são tão belas na arte brasileira quanto esta missiva críptica de Nery, que talvez tenha querido presentear um amigo com um desenho em forma de carta (ou seria uma carta em forma de desenho?).
Fonte e crédito fotográfico: Arte e Artista, publicado em 4 de setembro de 2017.
Ismael Nery (Belém, PA, 9 de outubro de 1900 — Rio de Janeiro, RJ, 6 de abril de 1934) foi um pintor, desenhista, arquiteto, filósofo e poeta brasileiro de influência surrealista.
Biografia Itaú Cultural
Muda-se ainda criança para o Rio de Janeiro onde, em 1917, matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Viaja para França em 1920 e freqüenta a Académie Julian. De volta ao Rio de Janeiro, no ano seguinte, trabalha como desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), que se torna grande amigo e incentivador de sua obra. Em 1922 casa-se com a poeta Adalgisa Nery (1905 - 1980). Ismael Nery aplica à sua produção os princípios do Essencialismo, sistema filosófico que ele mesmo cria. Segundo Murilo Mendes, esse sistema diz respeito às concepções do artista sobre a abstração do tempo e do espaço. Em 1927, novamente na França, conhece Marc Chagall (1887 - 1985), André Breton (1896 - 1966) e Marcel Noll. A volta ao Brasil marca a fase surrealista de sua obra, a princípio por influência de Chagall. Em 1930, contrai tuberculose. Enfermo, seus trabalhos passam a revelar seu drama pessoal e a fragilidade do corpo. Falece aos 33 anos. Em 1948, uma série de artigos de Murilo Mendes publicados nos jornais O Estado de S. Paulo e Letras e Artes busca resgatar a obra plástica, literária e filosófica do artista. Esquecido, Ismael Nery, passa a ser valorizado em meados dos anos 1960 com exposições realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Comentário Crítico
Ismael Nery é uma das personalidades mais inquietas do modernismo brasileiro. Dedica-se à pintura e ao desenho, sem nunca delimitar seu campo de atuação. Assim, também produz poemas e elabora reflexões teóricas. Em vida, não se define como artista plástico. Mário Pedrosa (1900 - 1981), crítico de arte e amigo de Nery, lembra que ele "nunca quis ser artista profissional".1 Sua pintura aparece como um nicho onde ele formula parte de suas reflexões metafísicas, uma materialização de suas idéias sobre o que era necessário a todos os homens, universalmente, independentemente da época e do lugar.
Ismael Nery nasce em Belém. Ainda na infância, muda-se para o Rio de Janeiro. Tudo indica que se aproxima das artes na juventude. Provavelmente, freqüenta a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, entre 1915 e 1916. É certo que em 1918 está entre os alunos matriculados na instituição. Nesse período, dedica-se à cópia em gesso de esculturas da Antigüidade greco-romana e, por meio delas, desenvolve interesse pela figura humana, tema que iria tomar a maior parte de suas inquietações artísticas. Na Enba faz aulas com Henrique Bernardelli (1858 - 1936), cujos incentivo e elogios o animam a seguir estudando arte.
Em 1920, Nery vai a Paris para estudar. Permanece na Académie Julian por três meses. Na Europa entra em contato com o modernismo. Examina os quadros de artistas cubistas como Pablo Picasso (1881 - 1973), Georges Braque (1882 - 1963), André Lhote (1885 - 1962), Fernand Léger (1881 - 1955) e Jean Metzinger (1883 - 1956). Durante a sua permanência, pode conhecer boa parte da tradição artística do velho continente. Além da Escola de Paris, tem grande interesse pelo expressionismo alemão. Na Itália conhece as obras dos mestres do Renascimento e torna-se admirador da pintura do período. Devota-se, sobretudo, a Ticiano (ca.1488 - 1576), Tintoretto (1519 - 1594), Paolo Veronese (1528 - 1588), Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564) e Rafael (1483 - 1520). Tem interesse também por artistas italianos modernos, como Giorgio de Chirico (1888 - 1978).
Ao voltar para o Brasil, em 1921, é nomeado desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece e se torna amigo do poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), um dos seus grandes incentivadores. Um ano depois, casa-se com poetisa Adalgisa Nery (1905 - 1980), musa de suas principais pinturas. Apesar de já trabalhar com formas modernas, seu assunto o diferencia do modernismo brasileiro da Semana de Arte Moderna de 1922. O artista não tem gosto por temas nacionalistas. Seus personagens aparecem em cenários imaginários, avessos a qualquer referência reconhecível. Ele trata, basicamente, da figura humana, idealizada, a serviço de uma figuração simbólica. Neste período, faz retratos, como as obras Retrato de Murilo Mendes (1922) e A Espanhola (1923). A relação entre as partes claras e as partes escuras é bastante marcada.
Ismael Nery, posteriormente, dá tratamento mais geométrico a suas figuras. Em 1924, aproximadamente, compõe seus personagens com cilindros e formas ovais. Os homens e mulheres se tornam mais alongados e estruturados. Dão a impressão de formas ideais, fora do tempo e do espaço. Ao seu expressionismo é somada a influência cubista. Na época a casa do artista se torna um ponto de encontro de artistas e intelectuais cariocas. É freqüentada, entre outros, por Mário Pedrosa, Murilo Mendes, Guignard (1896 - 1962) e Antonio Bento (1902 - 1988).
Em torno de 1926, expõe a alguns desses amigos a sua doutrina: o essencialismo. Um conjunto de princípios, ligados ao seu humanismo cristão, que seria a síntese de suas reflexões. Em 1927, Nery parte, com a esposa e a mãe, para a Europa, onde convive com Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959) e conhece André Breton (1896 - 1966), Marc Noll e Marc Chagall (1887 - 1985). A viagem influencia profundamente sua pintura. Ele volta particularmente impressionado com o trabalho de Chagall que seus temas e personagens, a partir daí, aproximam-se dos do artista russo.
Os corpos são pintados com cores mais vivas e aparentam mais leveza. A ação das suas pinturas ocorre em um plano onírico. No entanto, este tratamento se dá com base em relações que Murilo Mendes chama de "absolutas, definitivas e eternas",2 derivadas do essencialismo de Ismael Nery. A partir de 1930, é constatada sua tuberculose e isso se reflete em suas pinturas. Suas figuras se tornam esgarçadas, aparecem com as vísceras abertas. Os personagens surgem em cenários vazios, nitidamente influenciados pela pintura metafísica italiana. Os personagens agora são flagelados e feridos. O trabalho incorpora o tema da morte.
Daí em diante o artista trabalha menos. No entanto, sua produção tem maior projeção. Antes disso, em 1929, Ismael Nery faz as suas únicas exposições individuais, a primeira em Belém e a segunda no Rio de Janeiro. Não chega a ter grande receptividade, mas consegue expor numa coletiva de pintura brasileira em Nova York e participar de importantes salões, como o Salão Revolucionário, no Rio de Janeiro, em 1931, e a Exposição de Arte Moderna da SPAM, em São Paulo, em 1933.
Doente, apesar de uma rápida melhora em 1933, Ismael não resiste e morre, vitimado pela tuberculose, em 1934, num mosteiro franciscano. O reconhecimento ao seu trabalho ocorre postumamente, após sua participação nas Bienais de 1965 e 1969 e de retrospectivas em 1966, no Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e na Petite Galerie.
Críticas
"Devo dizer que a posição individual de Ismael Nery se insurgia abertamente contra a corrente ´brasileira´ então dominante. Firmou-se em sua pintura a orientação internacional, que então prevalecia, como ainda hoje prevalece na Europa e nos centros artísticos mais avançados dos outros continentes. Por esse motivo, os temas brasileiros estão ausentes quase completamente de sua arte, como estavam alheios a suas preocupações e a seus problemas plásticos ou visuais. Manifestava-se igualmente contrário a uma pintura de tendência regional, matuta ou caipira, de influência índia, negra ou afro-brasileira. Segundo suas idéias, uma arte de temática nacionalista seria secundária, pois assumia desde logo um caráter limitado e até anedótico, em oposição à tendência internacionalista, que deveria prevalecer neste século. Não preciso dizer que o desenvolvimento da arte deste século como da própria arte brasileira, nos últimos vinte e cinco anos, viria mostrar a originalidade da posição de vanguarda coerentemente mantida por Ismael Nery, durante o transcurso de sua breve e fecunda vida de pintor e desenhista".
— Antônio Bento
"Já em inícios dos anos 20 vemos aparecer, sobretudo em sua pintura, o ambiente que Di (Cavalcanti) denominara de "penumbrista" em relação a esse mesmo período em seu trabalho. Nesse primeiro período (a que Antonio Bento se referiria como "expressionista") percebemos que a facilidade, as redundâncias, as retomadas de temas e o dado literário são freqüentes em seus retratos e figuras até por volta de 1923, denotando uma grande produção com avanço difícil. Porém, a partir de 1924, observa-se que o rigor cubista passa a ordenar sua pintura, através da redução de elementos e da autodisciplina que gradativamente caracterizará sua obra. Esse período de passagem alongar-se-ia até por volta de 1927, época de sua estada em Paris. A presença chagalliana, assim como posteriormente a metafísica, é outro dado singular no modernismo brasileiro a partir de Nery: a influência metafísica classicizante vem conjugada, em seu caso, com um expor-se absolutamente inédito na arte brasileira. Na verdade, Ismael Nery se expõe em seus trabalhos como raros o fazem e nesse ato de comunicação através da expressão pela imagem está implícito um ato de entrega de sua intimidade ao espectador reflexivo".
— Aracy Amaral
"Ismael Nery tem um talento vasto de pintor, porém, com exceção duns poucos quadros, toda a obra dele se ressente dum inacabado muito inquieto. Mas é pesquisador da mais nobre seita. Vive quase uma obsessão mística, preocupado com uns tantos problemas plásticos, principalmente a composição com figuras e a realização dum tipo ideal humano. Seguindo as obras dele na casa de Murilo Mendes, que é quem as guarda no Rio, a gente tem a impressão de que os problemas se enunciam nuns quadros, e são desenvolvidos noutros para terminar noutros. A procura de um tipo plástico ideal representativo do ser humano o irmana com certos pesquisadores europeus imensamente comoventes, sobretudo com Modigliani e Eugen Zak. E assim com as figuras todas arrinconadas num tipo único que jamais satisfaz este artista duma seriedade absoluta, Ismael Nery as coloca em todas as composições possíveis, buscando um equilíbrio e uma harmonia exclusivamente plásticos. Esses problemas, da composição e do tipo ideal, preocupam tanto o pintor que durante muito tempo ele abandonou totalmente a cor se servindo só do azul. Essa fase azul é verdadeiramente impressionante como fenômeno psicológico e alguns dos quadros dela me parecem dos mais notáveis que o modernismo brasileiro produziu".
— Mário de Andrade
"O ego inflado de Ismael Nery, na confluência entre a mitomania e o misticismo o levaria a coincidir sua figura ainda mais com a do cristão. Não apenas foi enterrado com o hábito de São Francisco, mas tentou coincidir sua morte com a sexta-feira da paixão, quando tinha também, como Cristo, 33 anos. Atrasou-se um pouco, morreu uma semana depois, na sexta-feira de Páscoa. Morria miticamente cercado pelo número três. Morria reinscrevendo simbolicamente a idade da morte do seu pai, também de nome Ismael, morto aos 33 anos. Ismael-pai e Ismael-filho, o Ismael-pai era médico, o Ismael-filho o enfermo. O Ismael-Cristo e o Ismael-homem. O EU e o OUTRO. Dois em um. Três em um: a circularidade mítica e psicanalítica do 33.
Muito do que dissemos até agora poderia ser revisto em seus quadros e relido num poema intitulado "Eu", escrito no último ano de vida, onde começa dizendo: "Eu sou a tangência de duas formas opostas e justapostas." A seguir o poema vai ser o confronto e a oposição de forças que tendem para a anulação do indivíduo. O verso é emblemático para mostrar a recusa inicial do individuo do ponto de vista subjetivo. E do ponto de vista estético, para ilustrar as raízes do estilo cubista que adotou. É neste sentido que o cubismo lhe foi útil. O desdobramento da figuras, as duas ou três faces em conflito, correspondem tanto a um rasgo estilístico quanto a uma cesura do espírito atormentado do artista que buscava a unidade no que chamava de ESSÊNCIA. ESSÊNCIA que não apagava as rasuras, que são humanas".
— Affonso Romano de Sant"Anna
"Foi em fins do ano de 1921 que conheci Ismael Nery. Eu trabalhava na antiga Diretoria do Patrimônio Nacional, no Ministério da Fazenda. Ismael Nery foi nomeado desenhista da seção de arquitetura e topografia. Vi, um belo dia, entrar na sala um moço elegante e bem vestido. Ajeitou a prancheta, sentou-se e começou a desenhar. Meia hora depois saiu para o café. Aproveitei sua ausência e resolvi espiar o que ele fazia: rabiscava bonecos em torno de um projeto para o edifício de uma alfândega. Ao regressar puxei conversa com ele: saímos juntos da repartição. Assim começou uma amizade que se prolongou ininterruptamente até o dia de sua morte, em 6 de abril de 1934. Ismael voltava da Europa, onde havia passado um ano. Fora aperfeiçoar seus estudos de pintura. Lembro-me que falava com entusiasmo do conjunto das exposições e museus, mas não se referia em particular a nenhum pintor da época. Esperava uma grande transformação do conceito de artista ou talvez uma volta do conceito clássico, pois encarava o artista como um ser harmônico, sábio e vidente, e não um simples cultor de temperamento via a pintura em estado de crise com a proximidade do cinema. Alguns anos mais tarde lembrei-me dessas primeiras conversas, ao ler o ensaio de André Breton, que começa mais ou menos assim: "A máquina fotográfica deu um golpe mortal nos velhos meios de expressão [...]". Ismael achava que muitas intenções da pintura já estavam realizadas definitivamente: por exemplo, a primeira vez que viu Tintoretto, achou inútil continuar a pintar. Foi, pois, sob as espécies de pintor, desenhista e arquiteto que conheci Ismael Nery. Mas em breve outros aspectos, estes os mais profundos, da sua personalidade, eram-me desvendados: o do poeta, do filósofo e mesmo do teólogo. Devo dizer que presto meu depoimento com absoluta honestidade, sem o menor desejo de mistificar, como também sem motivo para concordar com algumas pessoas que, tendo conhecido superficialmente Ismael Nery, recusam-lhe a grandeza e atribuem-me a preocupação de criar um mito".
— Murilo Mendes
"Tão maldito quanto Flávio de Carvalho - e com uma obra igualmente autobiográfica - foi Ismael Nery. Falecido em 1934, sua obra começou a sofrer um processo de resgate nos anos 60, quando finalmente foi possível conhecer outro artista brasileiro que propositadamente confundiu os limites entre arte e vida. Os estudiosos Antonio Bento e Chaim Hamer já tentaram explicar a razão para o prolongado esquecimento da obra de Nery dentro do circuito brasileiro. Bento culpa o despreparo do público brasileiro dos anos 30 por esse esquecimento. Já Hamer traça uma complexa hipótese de fundo psicanalítico para explicar o mesmo fenômeno. Mas talvez um texto de Mário de Andrade de 1928 possa dar algumas pistas para este esquecimento de mais de trinta anos. No artigo, Andrade aponta três questões que, mais tarde, talvez tenham contribuído para a marginalização da obra do artista: o pouco refinamento técnico das produções de Nery a rapidez com que ele trabalhava, parecendo que "os problemas se enunciavam nuns quadros, e são desenvolvidos noutros para terminar em ainda outros" e o desejo do artista em encontrar em sua produção "um tipo ideal representativo do ser humano". Ora, Mário de Andrade de fato sempre se preocupou com a falta de apuro técnico dos pintores modernistas. Porém, Nery - que após ter visto obras de Tintoretto achava inútil pintar - via a pintura não como uma técnica a ser dominada plenamente como um bom artesão, mas como um instrumento capaz de suportar a concreção de suas idéias. Por sua vez, analisando as pinturas, poemas, desenhos e aquarelas do artista, percebe-se que, na verdade, os problemas que se enunciavam numa tela podiam expandir-se para qualquer forma de registro, já que o que interessava para Nery, parece, não era propriamente o registro em si, em suas peculiaridades ou qualidades intrínsecas, mas a idéia registrada".
— Tadeu Chiarelli
Depoimento Ismael Nery
"O silêncio provocou-me uma necessidade irreprimível de correr. Abalei como flecha através dos mares e montanhas com incrível facilidade e sem cansaço. Eis-me agora sentado diante de uma paisagem em formação, ainda não colorida. O meu pensamento agora é que percorre o que acabei de percorrer, e admiro-me, então, de nada ter encontrado, senão ao chegar ao rastro fosforescente que deixei ao partir. Os mares são agora ridículos lençóis d'água, de uns três ou quatro palmos de profundidade. As montanhas são nuvens estáticas, que o eterno medo dos homens transformará em granito. Tudo é pavorosamente desabitado. Não há leões nem elefantes nos desertos da África. Não existem as pirâmides nem a Torre Eiffel. Existe apenas eu mesmo, que me percebo inversamente por uma idéia que chamo mulher e que paira rarefeita sobre a superfície do globo - idéia incompreensível porque nada existe na terra além de mim mesmo. Volto a percorrer novamente o espaço, porém, desta vez, com a lentidão do crescimento das plantas, multiplicando-me progressivamente na minha idéia para mostrar-me a mim mesmo. Os mares, agora, são profundos e as montanhas se solidificaram. Aparecem leões e elefantes nos desertos da África. Construíram as pirâmides no Egito e levantaram a Torre Eiffel, em Paris, no ano em que um outro eu nascia em Belém do Pará. Tudo se povoou transbordantemente. Acho-me agora sentado na prisão, olhando sereno através das grades, aguardando o julgamento do crime nefando que cometi de usar a mim mesmo, na minha mãe, mulher, filha, neta, bisneta, tataraneta, nora e cunhada. Voltarei, ainda uma vez, para ser o meu próprio Juiz. Nada existe, além de mim mesmo, senão para mim. Silêncio".
Ismael Nery (Poemas de Ismael Nery. In: ______. Ismael Nery 100 anos: a poética de um mito. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2000. p. 71. [Poemas recolhidos por Murilo Mendes e publicados na Revista A Ordem e no Boletim de Ariel, 1935.)
Exposições Individuais
1929 - Belém PA - Individual, no Palace Theatre
1929 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria do Palace Hotel
1930 - Rio Janeiro RJ - Individual, no Studio Nicolas
Exposições Coletivas
1930 - Nova York (Estados Unidos) - The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, no Nicholas Roerich Museum
1931 - Rio de Janeiro RJ - Salão Revolucionário, na Enba
1933 - Rio de Janeiro RJ - 3ª Salão da Pró-Arte
1933 - São Paulo SP - 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM, no Palacete Campinas
Exposições Póstumas
1935 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Social, no Clube de Cultura Moderna
1935 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: retrospectiva, no Pró-Arte, Edifício da Associação dos Empregados do Comércio
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1966 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos, na Galeria Ibeu Copacabana
1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1966 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: retrospectiva, na Petite Galerie
1967 - Rio de Janeiro RJ - 5º Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1967 - Rio de Janeiro RJ - Pioneiros da Arte Moderna do Brasil, no Diretório Acadêmico da Enba
1969 - São Paulo SP - 10ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1970 - São Paulo SP - 4 Grupos de Aquisições Recentes e Doações da International Society of Plastic and Visual Art, no MAC/USP
1970 - São Paulo SP - Ismael Nery: 40 anos depois, no MAB/Faap
1971 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Barcinsky
1971 - São Paulo SP - Individual, na A Hebraica
1972 - São Paulo SP - A Semana de 22: antecedentes e conseqüências, no Masp
1974 - São Paulo SP - Ismael Nery: 1900-1934, no Masp
1974 - São Paulo SP - Ismael Nery: retrospectiva, no MAB/Faap
1975 - São Paulo SP - O Modernismo de 1917 a 1930, no Museu Lasar Segall
1975 - São Paulo SP - SPAM e CAM, no Museu Lasar Segall
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - São Paulo SP - Ismael Nery: desenhos, aquarelas, guaches, na Grifo Galeria de Arte
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Ochenta Años de Arte Brasileño, no Banco Itaú
1980 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Mário Pedrosa, na Galeria Jean Boghici
1980 - Santiago (Chile) - 20 Pintores Brasileños, na Academia Chilena de Bellas Artes
1981 - Maceió AL - Artistas Brasileiros da Primeira Metade do Século XX, no Instituto Histórico e Geográfico
1981 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Carnaval: imagens e reflexões, na Acervo Galeria de Arte
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap
1982 - São Paulo SP - Do Modernismo à Bienal, no MAM/SP
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1983 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj
1983 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Ismael Nery, na Ralph Camargo Consultoria de Arte
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André
1984 - Fortaleza CE - 7º Salão Nacional de Artes Plásticas
1984 - Porto Alegre RS - Individual, no Kraft Escritório de Arte
1984 - Rio de Janeiro RJ - Salão de 31, na Funarte
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Ismael Nery: 50 anos depois, no MAC/USP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Curitiba PR - Rio: vertente surrealista, no Museu Guido Viaro
1985 - Porto Alegre RS - Rio: vertente surrealista, no Margs
1985 - Rio de Janeiro RJ - Rio: vertente surrealista, na Galeria de Arte Banerj
1985 - Rio de Janeiro RJ - Seis Décadas de Arte Moderna: Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - A Arte do Imaginário, na Galeria Encontro das Artes
1985 - São Paulo SP - Rio: vertente surrealista, no MAC/USP
1987 - Paris (França) - Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1987 - São Paulo SP - O Ofício da Arte: pintura, no Sesc
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor
1989 - Lisboa (Portugal) - Seis Décadas de Arte Brasileira: Coleção Roberto Marinho, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1991 - São Paulo SP - Ismael Nery: retrospectiva, na Dan Galeria
1992 - Poços de Caldas MG - Arte Moderna Brasileira: acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Casa da Cultura
1993 - Poços de Caldas MG - Coleção Mário de Andrade: o modernismo em 50 obras sobre papel, na Casa da Cultura
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil, 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - Rio de Janeiro RJ - Emblemas do Corpo: o nu na arte moderna brasileira, no CCBB
1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP
1993 - São Paulo SP - Ismael Nery: desenhos, na Dan Galeria
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1993 - São Paulo SP - O Modernismo no Museu de Arte Brasileira: pintura, no MAB/Faap
1994 - Poços de Caldas MG - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos de Unibanco, na Casa da Cultura
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - Rio de Janeiro RJ - Trincheiras: arte e política no Brasil, no MAM/RJ
1994 - São Paulo SP - Arte Moderna Brasileira: uma seleção da Coleção Roberto Marinho, no Masp
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1995 - Brasília DF - Coleções de Brasília, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
1995 - Rio de Janeiro RJ - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos do Unibanco, na MAM/RJ
1995 - São Paulo SP - Modernismo Paris Anos 20: vivências e convivências, no MAC/USP
1996 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: desenhos e aquarelas, na Casa das Artes Galeria
1996 - São Paulo SP - Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo MAC/USP: 1920-1970, no MAC/USP
1997 - São Paulo SP - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/SP
1998 - Niterói RJ - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAC/Niterói
1998 - Recife PE - 25º Panorama de Arte Brasileira, no Mamam
1998 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996-1998, no CCBB
1998 - Salvador BA - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/BA
1998 - São Paulo SP - 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1998 - São Paulo SP - Destaques da Coleção Unibanco, no Instituto Moreira Salles
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
1999 - São Paulo SP - Obras Sobre Papel: do modernismo à abstração, na Dan Galeria
1999 - São Paulo SP - Sobre Papel, Grafite e Nanquim, no Banco Cidade
2000 - Lisboa (Portugal) - Brasil-brasis: cousas notaveis e espantosas. Olhares Modernistas, no Museu do Chiado
2000 - Lisboa (Portugal) - Século 20: arte do Brasil, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
2000 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery 100 Anos: a poética de um mito, no CCBB
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2000 - São Paulo SP - A Figura Humana na Coleção Itaú, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Brasil Sobre Papel: matizes e vivências, no Espaço de Artes Unicid
2000 - São Paulo SP - Ismael Nery 100 Anos: a poética de um mito, no MAB/Faap
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2000 - Valência (Espanha) - De la Antropofagia a Brasilía: Brasil 1920-1950, no IVAM. Centre Julio Gonzáles
2001 - Brasília DF - Coleções do Brasil, no CCBB
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2001 - Rio de Janeiro RJ - Coleções do Moderno: Hecilda e Sergio Fadel na Chácara do Céu, no Museus Castro Maya. Museu da Chácara do Céu
2001 - Rio de Janeiro RJ - Surrealismo, no CCBB
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Auto-Retrato o Espelho do Artista, na Galeria de Arte do Sesi
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - Rio de Janeiro RJ - Identidades: o retrato brasileiro na Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
2002 - São Paulo SP - 22 e a Idéia do Moderno, no MAC/USP
2002 - São Paulo SP - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950, no MAB/Faap
2002 - São Paulo SP - Espelho Selvagem: arte moderna no Brasil da primeira metade do século XX, Coleção Nemirovsky, no MAM/SP
2003 - Belém PA - 22º Salão Arte Pará, no Museu do Estado do Pará
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2003 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira: da Revolução de 30 ao pós-guerra, no MAM/RJ
2003 - Rio de Janeiro RJ - Autonomia do Desenho, no MAM/RJ
2003 - São Paulo SP - A Aventura Modernista de Berta Singerman: uma voz argentina no Brasil, no Museu Lasar Segall
2003 - São Paulo SP - Arteconhecimento: 70 anos USP, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - MAC USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake
2004 - Madri (Espanha) - Arco/2004, no Parque Ferial Juan Carlos I
2004 - Rio de Janeiro RJ - O Século de um Brasileiro: Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial
2004 - Rio de Janeiro RJ - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no MNBA
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
2005 - São Paulo SP - O Século de um Brasileiro: Coleção Roberto Marinho, no MAM/SP
Fonte: ISMAEL Nery. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 03 de Mai. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Descendente de indígenas, africanos e neerlandeses (holandeses), em 1909 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 1917, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes. Viajou pela Europa em 1920, tendo frequentado a Academia Julian, em Paris. De volta ao Brasil, trabalha como desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes que se tornaria seu grande amigo e incentivador de sua obra.
Em 1922, casou-se com a poetisa Adalgisa Ferreira. Nessa época realizou obras de tendência expressionista. Em 1926, deu início ao seu sistema filosófico de fundamentação católica e neotomista, denominado de Essencialismo. Em 1927 fez nova viagem a Europa, onde entrou em contato com Marc Chagall, André Breton e Marcel Noll, dentre outros surrealistas. Sua obra sofreu, também, a influência metafísica de Giorgio de Chirico e do cubismo de Picasso. Seus temas remetem-se sempre à figura humana: retratos, auto-retratos e nus. Não se interessou pelos temas nacionais, indígenas e afro-brasileiros, que considerava regionalistas e limitados. Dedicou-se a várias técnicas aplicadas em desenhos e ilustrações de livros. Foi, também, cenógrafo. Em 1929, depois de uma viagem à Argentina e Uruguai, um diagnóstico revelou que ele era portador de tuberculose, o que o levou a internar-se no Sanatório de Correas, em Petrópolis (RJ), por dois anos. Saiu de lá aparentemente curado. No entanto, em 1933, a doença voltou de forma irreversível.
A partir daí, suas figuras tornaram-se mais viscerais e mutiladas. Morreu em 1934, aos trinta e três anos de idade, no Rio de Janeiro. Foi enterrado vestindo um hábito dos franciscanos, numa homenagem dos frades à sua ardorosa fé católica.
A obra de Nery permaneceu ignorada do público e da crítica até 1965, quando teve seu nome inscrito na 8ª Bienal de São Paulo, na Sala Especial de Surrealismo e Arte Fantástica. Suas obras foram expostas também na 10ª Bienal de São Paulo. Foram feitas retrospectivas em 1966, no Rio de Janeiro, e em 1984, no MAC-USP
Sua obra icônica é Autorretrato, 1927 (Autorretrato Rio/Paris). Esta obra participou da exposição Brazil: Body & Soul, no Museu Solomon R. Guggenheim em 2001.
Fases da obra de Ismael Nery
Costuma-se dividir a obra de Ismael Nery em três fases:
de 1922 a 1923, a fase Expressionista;
de 1924 a 1927, a fase Cubista, com evidente influência da fase azul de Pablo Picasso;
de 1927 a 1934, fase do Surrealismo, sua fase mais importante e promissora.
Fonte: Wikipédia, consultado em 20 de janeiro de 2018.
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Biografia - Arte e Artistas
Ismael Nery foi um importante artista brasileiro que teve uma forte influência do expressionismo, cubismo e surrealismo. Discorrer sobre esse grande artista é divulgar aquilo que poucos sabem, mas cuja importância para a história da arte visual brasileira é imensa.
Ismael Nery nasceu no dia 09 de outubro de 1900 na cidade de Belém do Pará. Sua família mudou-se para o Rio de Janeiro, quando ele ainda era um menino. Tudo indica que se interessou por arte ainda na juventude.
Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, entre 1915 e 1916, mas não se adaptou ao caráter acadêmico do curso. Nesse período, dedica-se à cópia em gesso de esculturas da antiguidade greco-romana e, por meio delas, desenvolveu um interesse pela figura humana, tema que iria tomar a maior parte de suas inquietações artísticas. Na ENBA faz aulas com Henrique Bernadelli, cujos incentivo e elogios o animam a seguir estudando arte.
Em 1920, vai a Paris para aperfeiçoar seus estudos. Permanece na Académie Julian por três meses, foi nesse período em que aparecem as influências expressionistas, já com o traço pessoal dramático que iria marcar sua obra. Na Europa entra em contato com o modernismo. Examina os quadros de artistas cubistas como Pablo Picasso, Georges Braque, André Lhote e Fernand Léger . Durante a sua permanência no velho continente, pode conhecer boa parte da tradição artística. Ismael se mostrou também muito interessado pelo expressionismo alemão. Teve contato as obras dos mestres do Renascimento e passa a admirar a pintura desse período, principalmente por Tintoretto, Paolo Veronese, Michelangelo Buonarroti e Rafael. Na Itália teve contato também com a pintura metafísica de Giorgio de Chirico, a quem demonstra interesse especial.
Em 1921, já no Brasil, muito honrado, recebe a nomeação de desenhista na seção de Topografia e Arquitetura da Diretoria do Patrimônio Nacional, um órgão que é ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes, um dos seus grandes incentivadores, responsável pela preservação da memória e da obra do artista. O amigo poeta conheceu profundamente sua personalidade e o “Essencialismo“, um sistema filosófico que Nery criou.
Um ano depois, em 1922, casa-se com a bela poetisa Adalgisa Nery, musa de suas principais pinturas. Em sua pintura surgem com cenários e personagens imaginários. A relação entre as partes claras e as partes escuras é bastante marcada em sua obra.
Em 1924, sua casa se torna um ponto de encontro de artistas e intelectuais cariocas. É frequentada, entre outros, por Mário Pedrosa, Guignard , Antonio Bento e seu grande amigo e incentivador Murilo Mendes, seu parceiro na poesia
No ano de 1927, Ismael viaja com a família para a Europa. No período em que lá, conhece figuras importantes do surrealismo como André Breton e Marc Chagall. Essa estadia na Europa influencia profundamente sua maneira de expressar, passa a admirar a obra de Chagall se aproximando muito do artista russo.
Realiza em 1929, suas únicas exposições individuais no Brasil. Infelizmente não teve grande receptividade, mesmo assim participa também de uma coletiva em Nova York só de pinturas brasileiras.
Em 1930 descobre que está com tuberculose,mesmo doente, continuou pintando. Ismael expressou toda dor e sentimento em suas pinturas durante três anos de tratamento sem perspectivas de melhora.
Ismael Nery não venceu ao mal do século. No dia 6 de abril de 1934, morre em um mosteiro franciscano, confinado pela tuberculose. Mesmo com tanta dedicação, morreu sem nunca ter vendido um quadro em vida.
Seu trabalho foi reconhecido em homenagens póstumas depois de muitos anos, na Bienal de São Paulo em 1965 ao ser exposta em uma sala especial nomeada Surrealismo e Arte Fantástica. Em 1966 na Petite Galerie do Museu do Louvre e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e também na Bienal de 1969.
Ismael Nery e sua obra
Um dos principais pintores do modernismo brasileiro, teve sua obra basicamente dividida em três fases: Expressionista, Cubista e a última, a mais importante e promissora, o Surrealismo:
Expressionismo (1922 a 23), Cubismo (1924 a 27) e Surrealismo (1927 a 34). Óleos, desenhos e aquarelas de caráter universal, onde a realidade brasileira estava ausente. O tema girava em torno do homem atemporal que tanto pode vestir trajes da antiguidade como os costumes simples do proletário moderno.
Apesar de ter sido contemporâneo dos artistas modernistas brasileiros na entrada do século passado, sua arte visual era diferente da de seus pares. Não tinha interesse por temáticas nacionalistas. Sua obra gira em torno de certas dualidades de cunho filosófico como o eu e o outro, o corpo e o espírito, o bem e o mal, o masculino e o feminino. O outro é normalmente representado pela sua mulher, a poetisa Adalgisa Ferreira, ou seu grande amigo, o poeta Murilo Mendes. Seus quadros conduzem a uma questão paradoxal, como alguém que se olha no espelho e pergunta: “Quem sou eu?”
Alguns de seus trabalhos remetem a Amadeo Modigliani pelas formas alongadas do pescoço e das mãos. Também não há como deixar de associá-los à obra de Frida Kahlo. Os dois souberam externar com maestria suas tragédias pessoais.
Arte comentada...
A partir de 1924, Ismael Nery, posteriormente, dá tratamento mais geométrico a suas figuras, compõe seus personagens com cilindros e formas ovais. Figuras humanas tornam-se mais alongados a La Modigliani. Recebe influências expressionistas e cubistas.
Considerado um dos pioneiros do surrealismo no Brasil, Ismael Nery ao seguir esta linha de trabalho na qual pinta as aflições de uma doença que o vitimaria, desenvolve uma obra singular.
A carta ilustrada do pintor Ismael Nery de convencional só tem o respeito do artista à maneira usual de abertura e fechamento: a folha é datada, “Rio, 21 de maio de 1929”, começa com “Caríssimo amigo” e acaba com “Sempre seu” e as iniciais. O que numa carta comum seria o texto, aqui é uma sucessão de imagens surrealistas, flutuando como num sonho.
Poucas “cartas” ilustradas são tão belas na arte brasileira quanto esta missiva críptica de Nery, que talvez tenha querido presentear um amigo com um desenho em forma de carta (ou seria uma carta em forma de desenho?).
Fonte e crédito fotográfico: Arte e Artista, publicado em 4 de setembro de 2017.
Ismael Nery (Belém, PA, 9 de outubro de 1900 — Rio de Janeiro, RJ, 6 de abril de 1934) foi um pintor, desenhista, arquiteto, filósofo e poeta brasileiro de influência surrealista.
Biografia Itaú Cultural
Muda-se ainda criança para o Rio de Janeiro onde, em 1917, matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Viaja para França em 1920 e freqüenta a Académie Julian. De volta ao Rio de Janeiro, no ano seguinte, trabalha como desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), que se torna grande amigo e incentivador de sua obra. Em 1922 casa-se com a poeta Adalgisa Nery (1905 - 1980). Ismael Nery aplica à sua produção os princípios do Essencialismo, sistema filosófico que ele mesmo cria. Segundo Murilo Mendes, esse sistema diz respeito às concepções do artista sobre a abstração do tempo e do espaço. Em 1927, novamente na França, conhece Marc Chagall (1887 - 1985), André Breton (1896 - 1966) e Marcel Noll. A volta ao Brasil marca a fase surrealista de sua obra, a princípio por influência de Chagall. Em 1930, contrai tuberculose. Enfermo, seus trabalhos passam a revelar seu drama pessoal e a fragilidade do corpo. Falece aos 33 anos. Em 1948, uma série de artigos de Murilo Mendes publicados nos jornais O Estado de S. Paulo e Letras e Artes busca resgatar a obra plástica, literária e filosófica do artista. Esquecido, Ismael Nery, passa a ser valorizado em meados dos anos 1960 com exposições realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Comentário Crítico
Ismael Nery é uma das personalidades mais inquietas do modernismo brasileiro. Dedica-se à pintura e ao desenho, sem nunca delimitar seu campo de atuação. Assim, também produz poemas e elabora reflexões teóricas. Em vida, não se define como artista plástico. Mário Pedrosa (1900 - 1981), crítico de arte e amigo de Nery, lembra que ele "nunca quis ser artista profissional".1 Sua pintura aparece como um nicho onde ele formula parte de suas reflexões metafísicas, uma materialização de suas idéias sobre o que era necessário a todos os homens, universalmente, independentemente da época e do lugar.
Ismael Nery nasce em Belém. Ainda na infância, muda-se para o Rio de Janeiro. Tudo indica que se aproxima das artes na juventude. Provavelmente, freqüenta a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, entre 1915 e 1916. É certo que em 1918 está entre os alunos matriculados na instituição. Nesse período, dedica-se à cópia em gesso de esculturas da Antigüidade greco-romana e, por meio delas, desenvolve interesse pela figura humana, tema que iria tomar a maior parte de suas inquietações artísticas. Na Enba faz aulas com Henrique Bernardelli (1858 - 1936), cujos incentivo e elogios o animam a seguir estudando arte.
Em 1920, Nery vai a Paris para estudar. Permanece na Académie Julian por três meses. Na Europa entra em contato com o modernismo. Examina os quadros de artistas cubistas como Pablo Picasso (1881 - 1973), Georges Braque (1882 - 1963), André Lhote (1885 - 1962), Fernand Léger (1881 - 1955) e Jean Metzinger (1883 - 1956). Durante a sua permanência, pode conhecer boa parte da tradição artística do velho continente. Além da Escola de Paris, tem grande interesse pelo expressionismo alemão. Na Itália conhece as obras dos mestres do Renascimento e torna-se admirador da pintura do período. Devota-se, sobretudo, a Ticiano (ca.1488 - 1576), Tintoretto (1519 - 1594), Paolo Veronese (1528 - 1588), Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564) e Rafael (1483 - 1520). Tem interesse também por artistas italianos modernos, como Giorgio de Chirico (1888 - 1978).
Ao voltar para o Brasil, em 1921, é nomeado desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece e se torna amigo do poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), um dos seus grandes incentivadores. Um ano depois, casa-se com poetisa Adalgisa Nery (1905 - 1980), musa de suas principais pinturas. Apesar de já trabalhar com formas modernas, seu assunto o diferencia do modernismo brasileiro da Semana de Arte Moderna de 1922. O artista não tem gosto por temas nacionalistas. Seus personagens aparecem em cenários imaginários, avessos a qualquer referência reconhecível. Ele trata, basicamente, da figura humana, idealizada, a serviço de uma figuração simbólica. Neste período, faz retratos, como as obras Retrato de Murilo Mendes (1922) e A Espanhola (1923). A relação entre as partes claras e as partes escuras é bastante marcada.
Ismael Nery, posteriormente, dá tratamento mais geométrico a suas figuras. Em 1924, aproximadamente, compõe seus personagens com cilindros e formas ovais. Os homens e mulheres se tornam mais alongados e estruturados. Dão a impressão de formas ideais, fora do tempo e do espaço. Ao seu expressionismo é somada a influência cubista. Na época a casa do artista se torna um ponto de encontro de artistas e intelectuais cariocas. É freqüentada, entre outros, por Mário Pedrosa, Murilo Mendes, Guignard (1896 - 1962) e Antonio Bento (1902 - 1988).
Em torno de 1926, expõe a alguns desses amigos a sua doutrina: o essencialismo. Um conjunto de princípios, ligados ao seu humanismo cristão, que seria a síntese de suas reflexões. Em 1927, Nery parte, com a esposa e a mãe, para a Europa, onde convive com Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959) e conhece André Breton (1896 - 1966), Marc Noll e Marc Chagall (1887 - 1985). A viagem influencia profundamente sua pintura. Ele volta particularmente impressionado com o trabalho de Chagall que seus temas e personagens, a partir daí, aproximam-se dos do artista russo.
Os corpos são pintados com cores mais vivas e aparentam mais leveza. A ação das suas pinturas ocorre em um plano onírico. No entanto, este tratamento se dá com base em relações que Murilo Mendes chama de "absolutas, definitivas e eternas",2 derivadas do essencialismo de Ismael Nery. A partir de 1930, é constatada sua tuberculose e isso se reflete em suas pinturas. Suas figuras se tornam esgarçadas, aparecem com as vísceras abertas. Os personagens surgem em cenários vazios, nitidamente influenciados pela pintura metafísica italiana. Os personagens agora são flagelados e feridos. O trabalho incorpora o tema da morte.
Daí em diante o artista trabalha menos. No entanto, sua produção tem maior projeção. Antes disso, em 1929, Ismael Nery faz as suas únicas exposições individuais, a primeira em Belém e a segunda no Rio de Janeiro. Não chega a ter grande receptividade, mas consegue expor numa coletiva de pintura brasileira em Nova York e participar de importantes salões, como o Salão Revolucionário, no Rio de Janeiro, em 1931, e a Exposição de Arte Moderna da SPAM, em São Paulo, em 1933.
Doente, apesar de uma rápida melhora em 1933, Ismael não resiste e morre, vitimado pela tuberculose, em 1934, num mosteiro franciscano. O reconhecimento ao seu trabalho ocorre postumamente, após sua participação nas Bienais de 1965 e 1969 e de retrospectivas em 1966, no Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e na Petite Galerie.
Críticas
"Devo dizer que a posição individual de Ismael Nery se insurgia abertamente contra a corrente ´brasileira´ então dominante. Firmou-se em sua pintura a orientação internacional, que então prevalecia, como ainda hoje prevalece na Europa e nos centros artísticos mais avançados dos outros continentes. Por esse motivo, os temas brasileiros estão ausentes quase completamente de sua arte, como estavam alheios a suas preocupações e a seus problemas plásticos ou visuais. Manifestava-se igualmente contrário a uma pintura de tendência regional, matuta ou caipira, de influência índia, negra ou afro-brasileira. Segundo suas idéias, uma arte de temática nacionalista seria secundária, pois assumia desde logo um caráter limitado e até anedótico, em oposição à tendência internacionalista, que deveria prevalecer neste século. Não preciso dizer que o desenvolvimento da arte deste século como da própria arte brasileira, nos últimos vinte e cinco anos, viria mostrar a originalidade da posição de vanguarda coerentemente mantida por Ismael Nery, durante o transcurso de sua breve e fecunda vida de pintor e desenhista".
— Antônio Bento
"Já em inícios dos anos 20 vemos aparecer, sobretudo em sua pintura, o ambiente que Di (Cavalcanti) denominara de "penumbrista" em relação a esse mesmo período em seu trabalho. Nesse primeiro período (a que Antonio Bento se referiria como "expressionista") percebemos que a facilidade, as redundâncias, as retomadas de temas e o dado literário são freqüentes em seus retratos e figuras até por volta de 1923, denotando uma grande produção com avanço difícil. Porém, a partir de 1924, observa-se que o rigor cubista passa a ordenar sua pintura, através da redução de elementos e da autodisciplina que gradativamente caracterizará sua obra. Esse período de passagem alongar-se-ia até por volta de 1927, época de sua estada em Paris. A presença chagalliana, assim como posteriormente a metafísica, é outro dado singular no modernismo brasileiro a partir de Nery: a influência metafísica classicizante vem conjugada, em seu caso, com um expor-se absolutamente inédito na arte brasileira. Na verdade, Ismael Nery se expõe em seus trabalhos como raros o fazem e nesse ato de comunicação através da expressão pela imagem está implícito um ato de entrega de sua intimidade ao espectador reflexivo".
— Aracy Amaral
"Ismael Nery tem um talento vasto de pintor, porém, com exceção duns poucos quadros, toda a obra dele se ressente dum inacabado muito inquieto. Mas é pesquisador da mais nobre seita. Vive quase uma obsessão mística, preocupado com uns tantos problemas plásticos, principalmente a composição com figuras e a realização dum tipo ideal humano. Seguindo as obras dele na casa de Murilo Mendes, que é quem as guarda no Rio, a gente tem a impressão de que os problemas se enunciam nuns quadros, e são desenvolvidos noutros para terminar noutros. A procura de um tipo plástico ideal representativo do ser humano o irmana com certos pesquisadores europeus imensamente comoventes, sobretudo com Modigliani e Eugen Zak. E assim com as figuras todas arrinconadas num tipo único que jamais satisfaz este artista duma seriedade absoluta, Ismael Nery as coloca em todas as composições possíveis, buscando um equilíbrio e uma harmonia exclusivamente plásticos. Esses problemas, da composição e do tipo ideal, preocupam tanto o pintor que durante muito tempo ele abandonou totalmente a cor se servindo só do azul. Essa fase azul é verdadeiramente impressionante como fenômeno psicológico e alguns dos quadros dela me parecem dos mais notáveis que o modernismo brasileiro produziu".
— Mário de Andrade
"O ego inflado de Ismael Nery, na confluência entre a mitomania e o misticismo o levaria a coincidir sua figura ainda mais com a do cristão. Não apenas foi enterrado com o hábito de São Francisco, mas tentou coincidir sua morte com a sexta-feira da paixão, quando tinha também, como Cristo, 33 anos. Atrasou-se um pouco, morreu uma semana depois, na sexta-feira de Páscoa. Morria miticamente cercado pelo número três. Morria reinscrevendo simbolicamente a idade da morte do seu pai, também de nome Ismael, morto aos 33 anos. Ismael-pai e Ismael-filho, o Ismael-pai era médico, o Ismael-filho o enfermo. O Ismael-Cristo e o Ismael-homem. O EU e o OUTRO. Dois em um. Três em um: a circularidade mítica e psicanalítica do 33.
Muito do que dissemos até agora poderia ser revisto em seus quadros e relido num poema intitulado "Eu", escrito no último ano de vida, onde começa dizendo: "Eu sou a tangência de duas formas opostas e justapostas." A seguir o poema vai ser o confronto e a oposição de forças que tendem para a anulação do indivíduo. O verso é emblemático para mostrar a recusa inicial do individuo do ponto de vista subjetivo. E do ponto de vista estético, para ilustrar as raízes do estilo cubista que adotou. É neste sentido que o cubismo lhe foi útil. O desdobramento da figuras, as duas ou três faces em conflito, correspondem tanto a um rasgo estilístico quanto a uma cesura do espírito atormentado do artista que buscava a unidade no que chamava de ESSÊNCIA. ESSÊNCIA que não apagava as rasuras, que são humanas".
— Affonso Romano de Sant"Anna
"Foi em fins do ano de 1921 que conheci Ismael Nery. Eu trabalhava na antiga Diretoria do Patrimônio Nacional, no Ministério da Fazenda. Ismael Nery foi nomeado desenhista da seção de arquitetura e topografia. Vi, um belo dia, entrar na sala um moço elegante e bem vestido. Ajeitou a prancheta, sentou-se e começou a desenhar. Meia hora depois saiu para o café. Aproveitei sua ausência e resolvi espiar o que ele fazia: rabiscava bonecos em torno de um projeto para o edifício de uma alfândega. Ao regressar puxei conversa com ele: saímos juntos da repartição. Assim começou uma amizade que se prolongou ininterruptamente até o dia de sua morte, em 6 de abril de 1934. Ismael voltava da Europa, onde havia passado um ano. Fora aperfeiçoar seus estudos de pintura. Lembro-me que falava com entusiasmo do conjunto das exposições e museus, mas não se referia em particular a nenhum pintor da época. Esperava uma grande transformação do conceito de artista ou talvez uma volta do conceito clássico, pois encarava o artista como um ser harmônico, sábio e vidente, e não um simples cultor de temperamento via a pintura em estado de crise com a proximidade do cinema. Alguns anos mais tarde lembrei-me dessas primeiras conversas, ao ler o ensaio de André Breton, que começa mais ou menos assim: "A máquina fotográfica deu um golpe mortal nos velhos meios de expressão [...]". Ismael achava que muitas intenções da pintura já estavam realizadas definitivamente: por exemplo, a primeira vez que viu Tintoretto, achou inútil continuar a pintar. Foi, pois, sob as espécies de pintor, desenhista e arquiteto que conheci Ismael Nery. Mas em breve outros aspectos, estes os mais profundos, da sua personalidade, eram-me desvendados: o do poeta, do filósofo e mesmo do teólogo. Devo dizer que presto meu depoimento com absoluta honestidade, sem o menor desejo de mistificar, como também sem motivo para concordar com algumas pessoas que, tendo conhecido superficialmente Ismael Nery, recusam-lhe a grandeza e atribuem-me a preocupação de criar um mito".
— Murilo Mendes
"Tão maldito quanto Flávio de Carvalho - e com uma obra igualmente autobiográfica - foi Ismael Nery. Falecido em 1934, sua obra começou a sofrer um processo de resgate nos anos 60, quando finalmente foi possível conhecer outro artista brasileiro que propositadamente confundiu os limites entre arte e vida. Os estudiosos Antonio Bento e Chaim Hamer já tentaram explicar a razão para o prolongado esquecimento da obra de Nery dentro do circuito brasileiro. Bento culpa o despreparo do público brasileiro dos anos 30 por esse esquecimento. Já Hamer traça uma complexa hipótese de fundo psicanalítico para explicar o mesmo fenômeno. Mas talvez um texto de Mário de Andrade de 1928 possa dar algumas pistas para este esquecimento de mais de trinta anos. No artigo, Andrade aponta três questões que, mais tarde, talvez tenham contribuído para a marginalização da obra do artista: o pouco refinamento técnico das produções de Nery a rapidez com que ele trabalhava, parecendo que "os problemas se enunciavam nuns quadros, e são desenvolvidos noutros para terminar em ainda outros" e o desejo do artista em encontrar em sua produção "um tipo ideal representativo do ser humano". Ora, Mário de Andrade de fato sempre se preocupou com a falta de apuro técnico dos pintores modernistas. Porém, Nery - que após ter visto obras de Tintoretto achava inútil pintar - via a pintura não como uma técnica a ser dominada plenamente como um bom artesão, mas como um instrumento capaz de suportar a concreção de suas idéias. Por sua vez, analisando as pinturas, poemas, desenhos e aquarelas do artista, percebe-se que, na verdade, os problemas que se enunciavam numa tela podiam expandir-se para qualquer forma de registro, já que o que interessava para Nery, parece, não era propriamente o registro em si, em suas peculiaridades ou qualidades intrínsecas, mas a idéia registrada".
— Tadeu Chiarelli
Depoimento Ismael Nery
"O silêncio provocou-me uma necessidade irreprimível de correr. Abalei como flecha através dos mares e montanhas com incrível facilidade e sem cansaço. Eis-me agora sentado diante de uma paisagem em formação, ainda não colorida. O meu pensamento agora é que percorre o que acabei de percorrer, e admiro-me, então, de nada ter encontrado, senão ao chegar ao rastro fosforescente que deixei ao partir. Os mares são agora ridículos lençóis d'água, de uns três ou quatro palmos de profundidade. As montanhas são nuvens estáticas, que o eterno medo dos homens transformará em granito. Tudo é pavorosamente desabitado. Não há leões nem elefantes nos desertos da África. Não existem as pirâmides nem a Torre Eiffel. Existe apenas eu mesmo, que me percebo inversamente por uma idéia que chamo mulher e que paira rarefeita sobre a superfície do globo - idéia incompreensível porque nada existe na terra além de mim mesmo. Volto a percorrer novamente o espaço, porém, desta vez, com a lentidão do crescimento das plantas, multiplicando-me progressivamente na minha idéia para mostrar-me a mim mesmo. Os mares, agora, são profundos e as montanhas se solidificaram. Aparecem leões e elefantes nos desertos da África. Construíram as pirâmides no Egito e levantaram a Torre Eiffel, em Paris, no ano em que um outro eu nascia em Belém do Pará. Tudo se povoou transbordantemente. Acho-me agora sentado na prisão, olhando sereno através das grades, aguardando o julgamento do crime nefando que cometi de usar a mim mesmo, na minha mãe, mulher, filha, neta, bisneta, tataraneta, nora e cunhada. Voltarei, ainda uma vez, para ser o meu próprio Juiz. Nada existe, além de mim mesmo, senão para mim. Silêncio".
Ismael Nery (Poemas de Ismael Nery. In: ______. Ismael Nery 100 anos: a poética de um mito. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2000. p. 71. [Poemas recolhidos por Murilo Mendes e publicados na Revista A Ordem e no Boletim de Ariel, 1935.)
Exposições Individuais
1929 - Belém PA - Individual, no Palace Theatre
1929 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria do Palace Hotel
1930 - Rio Janeiro RJ - Individual, no Studio Nicolas
Exposições Coletivas
1930 - Nova York (Estados Unidos) - The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, no Nicholas Roerich Museum
1931 - Rio de Janeiro RJ - Salão Revolucionário, na Enba
1933 - Rio de Janeiro RJ - 3ª Salão da Pró-Arte
1933 - São Paulo SP - 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM, no Palacete Campinas
Exposições Póstumas
1935 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Social, no Clube de Cultura Moderna
1935 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: retrospectiva, no Pró-Arte, Edifício da Associação dos Empregados do Comércio
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1966 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos, na Galeria Ibeu Copacabana
1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1966 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: retrospectiva, na Petite Galerie
1967 - Rio de Janeiro RJ - 5º Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1967 - Rio de Janeiro RJ - Pioneiros da Arte Moderna do Brasil, no Diretório Acadêmico da Enba
1969 - São Paulo SP - 10ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1970 - São Paulo SP - 4 Grupos de Aquisições Recentes e Doações da International Society of Plastic and Visual Art, no MAC/USP
1970 - São Paulo SP - Ismael Nery: 40 anos depois, no MAB/Faap
1971 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Barcinsky
1971 - São Paulo SP - Individual, na A Hebraica
1972 - São Paulo SP - A Semana de 22: antecedentes e conseqüências, no Masp
1974 - São Paulo SP - Ismael Nery: 1900-1934, no Masp
1974 - São Paulo SP - Ismael Nery: retrospectiva, no MAB/Faap
1975 - São Paulo SP - O Modernismo de 1917 a 1930, no Museu Lasar Segall
1975 - São Paulo SP - SPAM e CAM, no Museu Lasar Segall
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - São Paulo SP - Ismael Nery: desenhos, aquarelas, guaches, na Grifo Galeria de Arte
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Ochenta Años de Arte Brasileño, no Banco Itaú
1980 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Mário Pedrosa, na Galeria Jean Boghici
1980 - Santiago (Chile) - 20 Pintores Brasileños, na Academia Chilena de Bellas Artes
1981 - Maceió AL - Artistas Brasileiros da Primeira Metade do Século XX, no Instituto Histórico e Geográfico
1981 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Carnaval: imagens e reflexões, na Acervo Galeria de Arte
1982 - Bauru SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Barbican Art Gallery
1982 - Marília SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ
1982 - São Paulo SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap
1982 - São Paulo SP - Do Modernismo à Bienal, no MAM/SP
1983 - Belo Horizonte MG - 80 Anos de Arte Brasileira, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1983 - Campinas SP - 80 Anos de Arte Brasileira, no MACC
1983 - Curitiba PR - 80 Anos de Arte Brasileira, no MAC/PR
1983 - Ribeirão Preto SP - 80 Anos de Arte Brasileira
1983 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj
1983 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Ismael Nery, na Ralph Camargo Consultoria de Arte
1983 - Santo André SP - 80 Anos de Arte Brasileira, na Prefeitura Municipal de Santo André
1984 - Fortaleza CE - 7º Salão Nacional de Artes Plásticas
1984 - Porto Alegre RS - Individual, no Kraft Escritório de Arte
1984 - Rio de Janeiro RJ - Salão de 31, na Funarte
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Ismael Nery: 50 anos depois, no MAC/USP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Curitiba PR - Rio: vertente surrealista, no Museu Guido Viaro
1985 - Porto Alegre RS - Rio: vertente surrealista, no Margs
1985 - Rio de Janeiro RJ - Rio: vertente surrealista, na Galeria de Arte Banerj
1985 - Rio de Janeiro RJ - Seis Décadas de Arte Moderna: Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - A Arte do Imaginário, na Galeria Encontro das Artes
1985 - São Paulo SP - Rio: vertente surrealista, no MAC/USP
1987 - Paris (França) - Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1987 - São Paulo SP - O Ofício da Arte: pintura, no Sesc
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor
1989 - Lisboa (Portugal) - Seis Décadas de Arte Brasileira: Coleção Roberto Marinho, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1991 - São Paulo SP - Ismael Nery: retrospectiva, na Dan Galeria
1992 - Poços de Caldas MG - Arte Moderna Brasileira: acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Casa da Cultura
1993 - Poços de Caldas MG - Coleção Mário de Andrade: o modernismo em 50 obras sobre papel, na Casa da Cultura
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil, 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - Rio de Janeiro RJ - Emblemas do Corpo: o nu na arte moderna brasileira, no CCBB
1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP
1993 - São Paulo SP - Ismael Nery: desenhos, na Dan Galeria
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1993 - São Paulo SP - O Modernismo no Museu de Arte Brasileira: pintura, no MAB/Faap
1994 - Poços de Caldas MG - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos de Unibanco, na Casa da Cultura
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - Rio de Janeiro RJ - Trincheiras: arte e política no Brasil, no MAM/RJ
1994 - São Paulo SP - Arte Moderna Brasileira: uma seleção da Coleção Roberto Marinho, no Masp
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1995 - Brasília DF - Coleções de Brasília, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
1995 - Rio de Janeiro RJ - Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos do Unibanco, na MAM/RJ
1995 - São Paulo SP - Modernismo Paris Anos 20: vivências e convivências, no MAC/USP
1996 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery: desenhos e aquarelas, na Casa das Artes Galeria
1996 - São Paulo SP - Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo MAC/USP: 1920-1970, no MAC/USP
1997 - São Paulo SP - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/SP
1998 - Niterói RJ - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAC/Niterói
1998 - Recife PE - 25º Panorama de Arte Brasileira, no Mamam
1998 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo: doações recentes 1996-1998, no CCBB
1998 - Salvador BA - 25º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/BA
1998 - São Paulo SP - 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1998 - São Paulo SP - Destaques da Coleção Unibanco, no Instituto Moreira Salles
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
1999 - São Paulo SP - Obras Sobre Papel: do modernismo à abstração, na Dan Galeria
1999 - São Paulo SP - Sobre Papel, Grafite e Nanquim, no Banco Cidade
2000 - Lisboa (Portugal) - Brasil-brasis: cousas notaveis e espantosas. Olhares Modernistas, no Museu do Chiado
2000 - Lisboa (Portugal) - Século 20: arte do Brasil, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
2000 - Rio de Janeiro RJ - Ismael Nery 100 Anos: a poética de um mito, no CCBB
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2000 - São Paulo SP - A Figura Humana na Coleção Itaú, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Brasil Sobre Papel: matizes e vivências, no Espaço de Artes Unicid
2000 - São Paulo SP - Ismael Nery 100 Anos: a poética de um mito, no MAB/Faap
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2000 - Valência (Espanha) - De la Antropofagia a Brasilía: Brasil 1920-1950, no IVAM. Centre Julio Gonzáles
2001 - Brasília DF - Coleções do Brasil, no CCBB
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2001 - Rio de Janeiro RJ - Coleções do Moderno: Hecilda e Sergio Fadel na Chácara do Céu, no Museus Castro Maya. Museu da Chácara do Céu
2001 - Rio de Janeiro RJ - Surrealismo, no CCBB
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Auto-Retrato o Espelho do Artista, na Galeria de Arte do Sesi
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - Rio de Janeiro RJ - Identidades: o retrato brasileiro na Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
2002 - São Paulo SP - 22 e a Idéia do Moderno, no MAC/USP
2002 - São Paulo SP - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950, no MAB/Faap
2002 - São Paulo SP - Espelho Selvagem: arte moderna no Brasil da primeira metade do século XX, Coleção Nemirovsky, no MAM/SP
2003 - Belém PA - 22º Salão Arte Pará, no Museu do Estado do Pará
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2003 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira: da Revolução de 30 ao pós-guerra, no MAM/RJ
2003 - Rio de Janeiro RJ - Autonomia do Desenho, no MAM/RJ
2003 - São Paulo SP - A Aventura Modernista de Berta Singerman: uma voz argentina no Brasil, no Museu Lasar Segall
2003 - São Paulo SP - Arteconhecimento: 70 anos USP, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - MAC USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake
2004 - Madri (Espanha) - Arco/2004, no Parque Ferial Juan Carlos I
2004 - Rio de Janeiro RJ - O Século de um Brasileiro: Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial
2004 - Rio de Janeiro RJ - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no MNBA
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
2005 - São Paulo SP - O Século de um Brasileiro: Coleção Roberto Marinho, no MAM/SP
Fonte: ISMAEL Nery. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 03 de Mai. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Descendente de indígenas, africanos e neerlandeses (holandeses), em 1909 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 1917, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes. Viajou pela Europa em 1920, tendo frequentado a Academia Julian, em Paris. De volta ao Brasil, trabalha como desenhista na seção de Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes que se tornaria seu grande amigo e incentivador de sua obra.
Em 1922, casou-se com a poetisa Adalgisa Ferreira. Nessa época realizou obras de tendência expressionista. Em 1926, deu início ao seu sistema filosófico de fundamentação católica e neotomista, denominado de Essencialismo. Em 1927 fez nova viagem a Europa, onde entrou em contato com Marc Chagall, André Breton e Marcel Noll, dentre outros surrealistas. Sua obra sofreu, também, a influência metafísica de Giorgio de Chirico e do cubismo de Picasso. Seus temas remetem-se sempre à figura humana: retratos, auto-retratos e nus. Não se interessou pelos temas nacionais, indígenas e afro-brasileiros, que considerava regionalistas e limitados. Dedicou-se a várias técnicas aplicadas em desenhos e ilustrações de livros. Foi, também, cenógrafo. Em 1929, depois de uma viagem à Argentina e Uruguai, um diagnóstico revelou que ele era portador de tuberculose, o que o levou a internar-se no Sanatório de Correas, em Petrópolis (RJ), por dois anos. Saiu de lá aparentemente curado. No entanto, em 1933, a doença voltou de forma irreversível.
A partir daí, suas figuras tornaram-se mais viscerais e mutiladas. Morreu em 1934, aos trinta e três anos de idade, no Rio de Janeiro. Foi enterrado vestindo um hábito dos franciscanos, numa homenagem dos frades à sua ardorosa fé católica.
A obra de Nery permaneceu ignorada do público e da crítica até 1965, quando teve seu nome inscrito na 8ª Bienal de São Paulo, na Sala Especial de Surrealismo e Arte Fantástica. Suas obras foram expostas também na 10ª Bienal de São Paulo. Foram feitas retrospectivas em 1966, no Rio de Janeiro, e em 1984, no MAC-USP
Sua obra icônica é Autorretrato, 1927 (Autorretrato Rio/Paris). Esta obra participou da exposição Brazil: Body & Soul, no Museu Solomon R. Guggenheim em 2001.
Fases da obra de Ismael Nery
Costuma-se dividir a obra de Ismael Nery em três fases:
de 1922 a 1923, a fase Expressionista;
de 1924 a 1927, a fase Cubista, com evidente influência da fase azul de Pablo Picasso;
de 1927 a 1934, fase do Surrealismo, sua fase mais importante e promissora.
Fonte: Wikipédia, consultado em 20 de janeiro de 2018.
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Biografia - Arte e Artistas
Ismael Nery foi um importante artista brasileiro que teve uma forte influência do expressionismo, cubismo e surrealismo. Discorrer sobre esse grande artista é divulgar aquilo que poucos sabem, mas cuja importância para a história da arte visual brasileira é imensa.
Ismael Nery nasceu no dia 09 de outubro de 1900 na cidade de Belém do Pará. Sua família mudou-se para o Rio de Janeiro, quando ele ainda era um menino. Tudo indica que se interessou por arte ainda na juventude.
Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, entre 1915 e 1916, mas não se adaptou ao caráter acadêmico do curso. Nesse período, dedica-se à cópia em gesso de esculturas da antiguidade greco-romana e, por meio delas, desenvolveu um interesse pela figura humana, tema que iria tomar a maior parte de suas inquietações artísticas. Na ENBA faz aulas com Henrique Bernadelli, cujos incentivo e elogios o animam a seguir estudando arte.
Em 1920, vai a Paris para aperfeiçoar seus estudos. Permanece na Académie Julian por três meses, foi nesse período em que aparecem as influências expressionistas, já com o traço pessoal dramático que iria marcar sua obra. Na Europa entra em contato com o modernismo. Examina os quadros de artistas cubistas como Pablo Picasso, Georges Braque, André Lhote e Fernand Léger . Durante a sua permanência no velho continente, pode conhecer boa parte da tradição artística. Ismael se mostrou também muito interessado pelo expressionismo alemão. Teve contato as obras dos mestres do Renascimento e passa a admirar a pintura desse período, principalmente por Tintoretto, Paolo Veronese, Michelangelo Buonarroti e Rafael. Na Itália teve contato também com a pintura metafísica de Giorgio de Chirico, a quem demonstra interesse especial.
Em 1921, já no Brasil, muito honrado, recebe a nomeação de desenhista na seção de Topografia e Arquitetura da Diretoria do Patrimônio Nacional, um órgão que é ligado ao Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes, um dos seus grandes incentivadores, responsável pela preservação da memória e da obra do artista. O amigo poeta conheceu profundamente sua personalidade e o “Essencialismo“, um sistema filosófico que Nery criou.
Um ano depois, em 1922, casa-se com a bela poetisa Adalgisa Nery, musa de suas principais pinturas. Em sua pintura surgem com cenários e personagens imaginários. A relação entre as partes claras e as partes escuras é bastante marcada em sua obra.
Em 1924, sua casa se torna um ponto de encontro de artistas e intelectuais cariocas. É frequentada, entre outros, por Mário Pedrosa, Guignard , Antonio Bento e seu grande amigo e incentivador Murilo Mendes, seu parceiro na poesia
No ano de 1927, Ismael viaja com a família para a Europa. No período em que lá, conhece figuras importantes do surrealismo como André Breton e Marc Chagall. Essa estadia na Europa influencia profundamente sua maneira de expressar, passa a admirar a obra de Chagall se aproximando muito do artista russo.
Realiza em 1929, suas únicas exposições individuais no Brasil. Infelizmente não teve grande receptividade, mesmo assim participa também de uma coletiva em Nova York só de pinturas brasileiras.
Em 1930 descobre que está com tuberculose,mesmo doente, continuou pintando. Ismael expressou toda dor e sentimento em suas pinturas durante três anos de tratamento sem perspectivas de melhora.
Ismael Nery não venceu ao mal do século. No dia 6 de abril de 1934, morre em um mosteiro franciscano, confinado pela tuberculose. Mesmo com tanta dedicação, morreu sem nunca ter vendido um quadro em vida.
Seu trabalho foi reconhecido em homenagens póstumas depois de muitos anos, na Bienal de São Paulo em 1965 ao ser exposta em uma sala especial nomeada Surrealismo e Arte Fantástica. Em 1966 na Petite Galerie do Museu do Louvre e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e também na Bienal de 1969.
Ismael Nery e sua obra
Um dos principais pintores do modernismo brasileiro, teve sua obra basicamente dividida em três fases: Expressionista, Cubista e a última, a mais importante e promissora, o Surrealismo:
Expressionismo (1922 a 23), Cubismo (1924 a 27) e Surrealismo (1927 a 34). Óleos, desenhos e aquarelas de caráter universal, onde a realidade brasileira estava ausente. O tema girava em torno do homem atemporal que tanto pode vestir trajes da antiguidade como os costumes simples do proletário moderno.
Apesar de ter sido contemporâneo dos artistas modernistas brasileiros na entrada do século passado, sua arte visual era diferente da de seus pares. Não tinha interesse por temáticas nacionalistas. Sua obra gira em torno de certas dualidades de cunho filosófico como o eu e o outro, o corpo e o espírito, o bem e o mal, o masculino e o feminino. O outro é normalmente representado pela sua mulher, a poetisa Adalgisa Ferreira, ou seu grande amigo, o poeta Murilo Mendes. Seus quadros conduzem a uma questão paradoxal, como alguém que se olha no espelho e pergunta: “Quem sou eu?”
Alguns de seus trabalhos remetem a Amadeo Modigliani pelas formas alongadas do pescoço e das mãos. Também não há como deixar de associá-los à obra de Frida Kahlo. Os dois souberam externar com maestria suas tragédias pessoais.
Arte comentada...
A partir de 1924, Ismael Nery, posteriormente, dá tratamento mais geométrico a suas figuras, compõe seus personagens com cilindros e formas ovais. Figuras humanas tornam-se mais alongados a La Modigliani. Recebe influências expressionistas e cubistas.
Considerado um dos pioneiros do surrealismo no Brasil, Ismael Nery ao seguir esta linha de trabalho na qual pinta as aflições de uma doença que o vitimaria, desenvolve uma obra singular.
A carta ilustrada do pintor Ismael Nery de convencional só tem o respeito do artista à maneira usual de abertura e fechamento: a folha é datada, “Rio, 21 de maio de 1929”, começa com “Caríssimo amigo” e acaba com “Sempre seu” e as iniciais. O que numa carta comum seria o texto, aqui é uma sucessão de imagens surrealistas, flutuando como num sonho.
Poucas “cartas” ilustradas são tão belas na arte brasileira quanto esta missiva críptica de Nery, que talvez tenha querido presentear um amigo com um desenho em forma de carta (ou seria uma carta em forma de desenho?).
Fonte e crédito fotográfico: Arte e Artista, publicado em 4 de setembro de 2017.