Lêda Saldanha da Gama Watson (Niterói, RJ, 1933), mais conhecida como Lêda Watson, é uma artista plástica, artista visual e gravadora brasileira. Graduada em Artes Plásticas na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, na École Nationale de Beaux-Arts, em Paris, e na Universidade de Brasília, em Brasília, especializou-se em gravura em metal na carioca Escolinha de Arte do Brasil – Orlando Dasilva e no Ateliê Friedlaender, francês. Diplomou-se, em 1969, no Curso Superior de Língua e Literatura Francesa da Universidade de Nancy. Foi convidada pela Société des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de Jules Laforgue. Tornou-se professora de gravura, tendo ministrado vários cursos, palestras e oficinas em universidades e museus do Brasil e Exterior por mais de 30 anos. Criou uma Escola de Gravura em seu próprio ateliê, onde formou novos gravadores de 1975 a 1987. Fundou o 1º Núcleo de Gravadores de Brasília e o Clube da Gravura. Mais de 420 alunos já aprenderam nas oficinas de Lêda Watson a arte de gravar em metal. Como agente cultural, criou o 1º Museu de Arte de Brasília, foi coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do GDF, coordenou prêmios regionais e nacionais de artes plásticas e fez a curadoria brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile. Participou de exposições coletivas e individuais na América Latina, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e no Oriente.
Biografia Leda Watson - Site da Artista
Residindo na França por quatro anos, obteve grande receptividade dos editores de arte franceses, tendo vendido inúmeras edições fechadas de gravura, representadas hoje na coleção da Bibliothèque Nationale de Paris.
Recebeu convite da Societé des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de contos de Jules Laforgue, cuja edição anterior havia sido ilustrada por Dalí. Regressando ao Brasil, instalou seu ateliê em Brasília e continuou a manter contato com seus editores franceses.
Como arte-educadora, ministrou cursos de gravura em metal e palestras na Universidade Católica de Lima (Peru), na Universidade de Brasília (Brasil), na Escola Nacional de Artes (Nicarágua), na Universidade Nacional-Heredia (Costa Rica), na Universidade Central da Venezuela (Caracas) e no Museu de Arte Contemporânea (Panamá).
Incentivada a dar continuidade ao ensino da gravura após um curso de extensão ministrado na UnB, criou sua Escola de Gravura, no próprio ateliê, onde se empenhou na formação de novos gravadores durante mais de 12 anos, entre 1975 e 1987. Fundou, então, o 1º Núcleo de Gravadores de Brasília.
Criou o 1º Museu de Arte de Brasília em 1985 e, em 1989, o Clube da Gravura, reunindo, em sua maioria, gravadores profissionais do Distrito Federal. Foi, por mais de 6 anos, coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal, tendo sido designada também para coordenar o II Prêmio Brasília de Artes Plásticas/XII Salão Nacional de Artes Plásticas do Ministério da Cultura, em 1991. Nesse mesmo ano, fez a curadoria da participação brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile.
Em 1995, aposentou-se como professora, dedicando-se inteiramente à própria arte. Como artista plástica gravadora, desde 1970, Lêda participou de exposições coletivas e individuais na América Latina, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e no Oriente. Desde 2002, retomou os estudos da gravura em seu próprio ateliê, expondo, periodicamente, com seus alunos.
Linha do tempo
Anos 50
Lêda Campofiorito formou-se no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, onde estudou desde os 12 anos e se tornou a estrela do voleibol.
Estuda Professorado de Desenho na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, período em que conheceu Marina Colasanti, que veio a se tornar uma querida amiga.
Anos 60
Casa-se com o diplomata Sérgio Veiga Watson e muda-se para Berna, na Suíça, onde nascem seus filhos Eduardo e Andréa.
Estabelece-se, após quatro anos na Suíça, em Bogotá, Colômbia, local de nascimento de Elena, sua terceira filha.
Em 1966, Lêda e família retornam ao Rio de Janeiro. Por intermédio de Marina Colasanti, Lêda ingressa na Escolinha de Arte do Brasil, na qual tem Orlando Dasilva como seu primeiro mestre de gravura em metal.
1971/1972, Paris – A família muda-se novamente, para uma missão na França, momento em que a gravura já estava enraizada na alma de Lêda. Paris representou, para ela, oportunidade inigualável de crescimento. "Friedlaender foi o maior gravador que já houve. Frequentar seu ateliê na Rue Saint Jacques era absolutamente animador, pois era um ateliê fechado, frequentado por poucos gravadores".
No ateliê de Friedlaender, a disciplina e o cuidado eram severos. Circulava-se pouco, falava-se menos ainda. De nossa mesa de trabalho, íamos apenas até a sala dos ácidos ou, então, adentrávamos a sala do mestre, em que trabalhava com Brigitte Coudrain, sua assistente, para utilizarmos a prensa francesa muito antiga e o forno, onde entintávamos a placa. Apenas nessas horas nos aproximávamos do mestre (…). Aprendíamos apenas pela observação do trabalho do mestre e dos companheiros, e como se aprendia!”
1973, Paris – Lêda e sua filha, diante da Galerie Bernier, especializada na arte em papel, durante mostra individual. “Expus 25 gravuras, e o resultado de público e de vendas foi bastante satisfatório. Foi um momento feliz, de realização profissional.”
1974, Brasília – 1ª exposição individual após chegar da França. Galeria Múltipla, de Maria Ignez Barbosa.
1974, São Paulo – 3ª exposição individual, na Galeria Bonfiglioli. Lêda foi muito prestigiada com a presença de amigos ilustres.
Lêda alternava-se entre o ateliê do mestre Friedlaender e o ateliê da École Nationale de Beaux Arts, que primava pela descontração e por artistas provenientes das mais variadas culturas. “A cada dia, surgia um truque novo para encurtar caminhos de uma técnica mais complexa”.
Anos 80
1981, Paraguai – “Lívio Abramo telefonou-me e disse: ‘Conheço suas obras, gosto delas e as admiro. Gostaria de convidá-la para uma exposição individual em Assunção, no Paraguai’. Esse foi o início de uma grande amizade”.
1988, Canadá – Mostra retrospectiva na Biblioteca Robarts, de Ottawa, e mostra individual em Toronto. Nancy Bayle, crítica de arte do jornal Ottawa Citizen visitou, cuidadosa e pacientemente, a mostra e publicou uma crítica altamente favorável aos trabalhos de Lêda, que, na ocasião, recebe o convite, do governo canadense, para expor suas gravuras em todas as universidades canadenses durante dois anos.
Anos 90
1989 a 1991, Canadá – Lêda participa da Exposição Itinerante a convite oficial do Escritório de Exposições Internacionais do Ministério das Comunicações do Canadá.
1995, Manágua (Nicarágua) – Lêda ministra curso de gravura do Centro de Estudos Brasileiros.
Junho de 1997, Brasília – Exposição Sonhos I na Referência Galeria de Arte.
1998, Niterói, Rio de Janeiro, Sala Quirino Campofiorito – Exposição Sonhos II no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno.
Anos 2000
2003, Brasília – Lêda participa das edições do Ateliê Aberto, de iniciativa de Omar Franco, que consistiu na abertura de seu ateliê a mais de 10 gravadores da cidade, para recebimento do público.
2004, Brasília – Lêda recupera mais de 280 gravuras para compor exposição na Nicarágua.
2004, Rio de Janeiro – Lêda recupera duas chapas de cobre, de 94cm x 64cm cada uma, com espessura de 3mm, trabalhadas em buril, a convite da diretora do Museu de Imprensa Nacional. As placas contêm as plantas do Rio de Janeiro, feitas por ordem do Príncipe Regente D. João VI ao chegar ao Brasil, em 1808, executadas pela Imprensa Régia. Cópias das placas nunca haviam sido feitas.
2007, Brasília - Construção e Desconstrução. Centro Cultural da CEF.
Março/abril de 2008, Brasília – Exposição Sabedoria gravada: tributo a Lêda Watson. Galeria Rubens Valentin, 508 sul. Curadoria de Bené Fonteles.
7 de outubro de 2009, Brasília – Exposição Olhares cruzados sobre a natureza (coletiva). Fundação Cultural do DF, 508 sul.
Abril de 2010, Brasília – Ateliê Lêda Watson: Novas expressões em torno da gravura em metal. Daniel Briand (coletiva).
6 de abril de 2011, Brasília – Exposição coletiva Semi-Círculo no Museu Nacional.
2011, Campinas (SP) – Lêda participa da 5ª Bienal Nacional de Gravura: Olho latino (coletiva).
2011, Brasília – Exposição coletiva Eu o meio ambiente. Senado Federal. Curador: Fábio de Almeida Prado.
Outubro de 2011, Lyon, França – Exposição Gravures contenporaines d’artistes français et bresiliens.
Novembro de 2011, Paris – Exposição 15 ème Bienale Internationale de Paris. Pays Invité: Brésil.
7 de março de 2012, Brasília – Participação na nova Referência Galeria de Arte (coletiva).
Março de 2012, Brasília – Exposição Diálogos da resistência. Museu da República, HAB. Curador: Bené Fonteles (coletiva).
24 de agosto de 2012, Brasília – Lêda participa do III Concurso de Desenho Brasileirinhos do Mundo como membro do júri. Itamaraty.
2013, Brasília – Lêda continua a ministrar aulas de gravura em seu ateliê no Lago Sul e a participar de exposições.
Maio de 2013, Brasília – Bate-papo com colecionadores com formato de feira-participação. Galeria Referência.
Junho de 2013, Brasília – Lêda participa do XXXV Salão Riachuelo como membro do júri. Teatro Nacional Claudio Santoro, foyer da Sala Villa Lobos.
Outubro de 2013, Brasília – Exposição Seu Museu: expoexperimento. Museu da República (coletiva).
Novembro de 2013, Ville de Sarcelles – Lêda participa da Bienal Internacionale de la Gravure.
5 de junho de 2014, Brasília – Lêda Watson e os Gravadores Alucinados. Café Savana.
6 de dezembro de 2014, Brasília – Lêda coordena o Gravuras no Varal: gravadores. Residência e ateliê Lêda Watson.
2015 – Lêda participa do livro Viagem incompleta: arte brasileira sobre papel. Concepção de Luiz Dolino.
Abril de 2015, Brasília – Lêda participa do Ciclo de arte. Retrospectiva. Brasília Shopping. Curadoria: Ralph Gehre.
2015, Brasília – Exposição Caminhos da impressão: uma jornada pelo universo de Lêda Watson. Galeria Referência.
10 de setembro de 2015, Brasília
Exposição O papel do museu: seis décadas de arte sobre papel. Museu da República.Curadoria: Bené Fonteles (coletiva).
Novembro, 2015 - Brasília, 12 Ateliês. Projeto de resgate da memória artística da cidade. Lêda criou o projeto, coordenou sua execução, fez a curadoria da exposição, juntamente com Newton Scheufler, e expôs seus trabalhos na mostra. Caixa Cultural Brasília, Galeria Principal - de 25 de novembro de 2015 a 17 de janeiro de 2016.
22 de abril de 2016, Brasília – Inauguração do painel com reprodução da gravura Sonhos e fantasias. QL 8, Lago Sul, residência de Lêda Watson.
14 de outubro de 2016 a 27 de abril de 2017, Brasília – Exposição Retrospectiva. Câmara dos Deputados, Gabinete da Presidência.
Novembro de 2016, Brasília – Lêda participa da I FAC RARO: Feira de Arte Contemporânea. Casa Park (coletiva).
8 de março de 2018, Brasília – Lêda participa da exposição coletiva Artistas no Acervo da Caixa: 32 mulheres artistas.
17 de agosto de 2019, Brasília, Centro Cultural Paulo Otávio - Lêda Watson, 50 Anos de Gravura.
Fonte: Biografia Lêda Watson. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Críticas
"De todas as euforias artísticas no Brasil, a da gravura gráfica de criação é a mais justa. Em seguida a um demorado processamento de iniciação, quando atuam uns raros nomes de gravadores (Carlos Osvald e Oswaldo Goeldi), a gravura com o rigor de criação realmente se impõe com a geração que emerge na década de 1940. Não cessa, então, de crescer, até alcançar uma quantidade deveras excepcional, que extravasa os limites nacionais e chega à mais decidida notoriedade internacional.
Nossos gravadores, formando uma equipe que se tornou assaz numerosa, conseguiram merecida posição de grande singularidade no conceito mundial. A gravadora Lêda Watson está nessa linhagem que hoje bem sustenta, para a gravura brasileira, esse destaque. Reconhecendo-se isto, logo se deverá apreciar a gravura com seus melhores requisitos de uma particularidade da criação artística que sustenta suas condições próprias e cujo sucesso total delas decorre. O desenvolvimento da inventividade artística exigiu, porém, liberdade para o surgimento de novos recursos de elaboração criativa que, se bem muito adaptados ao trabalho gráfico (e, consequentemente, afins ao ofício do gravador), escapam ao que se possa classificar, com um mínimo de propriedade, de gravura. Lêda Watson dá provas de fidelidades à gravura.
Seu trabalho prossegue com o compromisso que sua arte impõe: gravar. Algumas interferências são fortuitas e não afetam a legitimidade da gravura. É uma gravura que comove e se comunica pela transposição emocional e criativa da artista, fazendo valer seu ofício seguro – a água-tinta. Sutilezas de tonalizações e texturas obtidas com acurada sensibilidade no trato da corrosão pelo ácido nas sucessivas etapas. E quanto à cor, quando é o caso, não se desprende ela da comunhão intrínseca que a expressividade plástica comporta para se totalizar. Percebe-se que, na elaboração de sua gravura, Lêda Watson deixa a complexidade do motivo e a participação dos elementos que o constituirão irem se desenvolvendo num caminhar natural e emotivo, como aquilo que nasce e cresce no terreno fértil da imaginação desembaraçada, apenas colhendo alento na espontaneidade do sentimento que vai sendo estimulado pela própria ação criativa" — Quirino Campofiorito (WATSON, LEDA, a gravurista. Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1975).
"É um prazer, para mim, responder ao pedido de Lêda Watson. Ela trabalhou em meu atelier durante três anos (outubro de 1970 a outubro de 1973). Ela foi uma das minhas alunas mais dotadas de espírito de invenção e criatividade. Ela domina totalmente as técnicas da gravura e encontrou caminhos que prometem as maiores esperanças" — Friedlaender (WATSON, LEDA, a gravurista. Paris, 18 de novembro de 1975).
"Na medida em que entram os sentidos do sentido – como significado, como significante, como sinal, como símbolo, como ícone, como sema, como semema, como lema, como emblema, como ideologema, como profetema, como apocaliptema, como psiquema, como carismatema, em suma, como unidade fluente de um hipossistema de sistema de sistemas –, compreendemos que ele, o sentido, não pode haver sem sua outra face, o sem-sentido: aqui, no sem-sentido, estão a entropia e o caos, as ausências, a liberdade tão absoluta que não é liberdade, pois é liberdade compulsória, sem opção, vale dizer, não-liberdade: ali, no sentido, está a neguentropia, certa ordem, certo cosmo, certas presenças, certas determinações, certas interdependências, certas interliberdades interligadas. O trágico na arte é que, em havendo humano – um objeto achado, mas por ser humano –, há, pelo menos, sempre, o sintoma e a síndrome de outras coisas humanas, até patológicas, por exemplo, ou sociopatológicas, por exemplo. E como separar isto daquilo, em certos momentos da história? É na interface daquelas duas faces que parece estar o sentido e o sem-sentido de certas formas e substâncias de arte. Imaginemos o artista não artesão, não artífice, a jogar o dado do azar, a lançar a flecha ao ar, e a colher, ao acaso, o número platônico que governa um mundo ou o mundo, ou atingir o pássaro de ouro pousado na menor haste da campina. E imaginemos o artista criador a concretizar o número platônico ou a querer fazer que o pássaro de ouro pousado na menor haste da campina entoe seu canto de cristal.
É como como vejo as gravuras de Lêda. Não fujo ao fascínio de enfrentar o aleatório buscado. O acaso esperado, o surto desejado, o evento emerso, o caso inesperado – mas captados. Pois que acaso, surto, evento ou caso é ele dominado, acariciado, trabalhado tão amorosamente, tão amorsofridamente, que a contaminação de psiquismos – e dela e o do contemplador – deixa de ser milagre, porque deriva de uma mediação concreta instalada no retângulo (ou que outra geometria tenha) do papel, onde se inscrevem todas as linhas e todas as sugestões, cromáticas ou acromáticas, oníricas, telúricas, empíricas, fantasmáticas, talássicas, selênicas, urânicas – menos um sem- núme ro de não sugestões.
Lêda refaz o caminho da arte: domina a técnica com aprendizado diuturno de longos anos e com grandes mestres, e – vendo-se e sentindo-se cada vez mais senhora do seu fazer – quer um fazer que vê na linha do seu horizonte: um aproximar-se da linguagem visual que quer ser mais poderosa que quaisquer verbalizações e é uma busca tão intensa, tão vibrante, tão apaixonante, que explodiria, se não fosse contrapesada pela garra da sua técnica.
Desde Goeldi, a gravura brasileira vem superando o desafio da qualidade e da continuidade na diversidade, graças a fiéis artistas profissionais (é este o termo), mulheres e homens. Lêda está nessa linhagem, por direito do seu saber, do seu fazer, do sentir, do seu fazer sentir artísticos" — Antonio Houaiss (WATSON, LEDA, a gravurista).
"Certas pessoas dispensam apresentação. Não há nada mais irritante que o velho lugar comum segundo o qual certas pessoas não precisam de apresentação. Em geral, essa afirmação, ou denota preguiça, servindo como pretexto para não pesquisar o currículo de quem deveria estar sendo apresentado, ou é propaganda enganosa, alimentando, no ouvinte ou no leitor, a esperança de que não haja mesmo apresentação, falsa promessa logo seguida por uma apresentação mais longa do que desejaríamos.
Dito isso, devo confessar que não me ocorre meio mais verídico de começar meu texto: tenho que dizer que Lêda Watson não precisa de apresentação. Todos sabem que ela é hoje uma das gravadoras mais eminentes do Brasil e uma das de maior repercussão internacional, com uma trajetória que vai de Paris, onde ela estudou com Johnny Friedlaender, à América do Sul, América do Norte, Europa e Ásia. À sua reputação de artista, acrescenta-se seu prestígio como docente, graças aos cursos de gravura em metal que ministrou em Brasília, em Lima, em Manágua, na Costa Rica, no Panamá e em Caracas, e como administradora cultural, área em que ela adquiriu grande experiência em cargos, como o de Coordenadora do Programa de Museus da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.
Mas se ela não precisa de apresentação, o leitor tem direito de saber por que, então, estou escrevendo este texto. Os motivos são mais biográficos que artísticos. Barbara e eu conhecemos Lêda no início dos anos 1970, quando ela tinha acabado de voltar de Paris, onde tinha dado seus primeiros passos no atelier de Friedlaender. Linda, cheia de vida, com grande curiosidade intelectual, Lêda já era, em embrião, a grande artista que ela se tornaria depois. Os dois casais (na época, Lêda era casada com o diplomata Sérgio Watson) faziam excursões pelo cerrado, improvisando serestas e pernoitando em tendas. Não seria nesses passeios que ela aprendeu a amar o céu de Brasília – “o céu de Brasília”, escreve ela nesse livro, “me deslumbrava ao entardecer dos dias secos” – e a conhecer de perto a natureza do Planalto Central, tão decisiva para sua obra? Não seria a lembrança dessas excursões, em que ela estabeleceu contato imediato com a vegetação do cerrado, que teria entrado em sua arte, toda ela feita de folhas, de galhos entrelaçados, de raízes? É uma arte orgânica, vegetal, através da qual perpassam, sobre um fundo policrômico, figuras fugidias, em que julgamos adivinhar úteros, fetos, cordões umbilicais.
Que a arte de Lêda seria uma interiorização metafísica dessa flora é apenas uma hipótese. Mas que há uma constante inquietação filosófica em sua obra não é uma hipótese, mas um fato, que transparece nos títulos de suas gravuras. Tenho, em meu apartamento, uma gravura dos anos 1970, belíssima, a que ela deu o título O processo do infinito. Num certo sentido, o infinito define o horizonte de sua busca e de sua experimentação estética. É uma arte que capta momentos e também emoções – nome de duas séries de suas gravuras –, mas que exprime também ideias, tendo, como foco, em grande parte, a noção de infinito.
Pois, para Lêda Watson, não há incompatibilidade entre a razão e a especulação, por um lado, e a emoção, por outro, como não há incompatibilidade entre inspiração e técnica. Ela sabe que arte é trabalho, é paciência, é domínio do ofício, é manejo seguro do buril, é utilização profissional da técnica da gravura – água-tinta e água-forte –, e só assim a emoção, por mais sincera que seja, e a ideia, mesmo a mais profunda, poderão chegar à sua mais perfeita expressão.
Sim, não há dúvida de que esse livro atingirá seu objetivo de passar adiante o saber e a experiência acumulados por Lêda Watson há tantos anos, contribuindo, e muito, para o aperfeiçoamento artístico das novas gerações. Ah, e antes que me esqueça: que tal retomarmos, um dia, nossas serestas de 30 anos atrás?" — Sergio Paulo Rouanet (texto escrito por ocasião do lançamento do livro Sonhos, momentos, emoções: técnicas e gravuras. Brasília, 2008).
"A gravura no Brasil está retomando sua posição de importância internacional. Um dos elementos positivos dessa retomada será, certamente, a gravadora Lêda Watson, que se apresenta em primeira exposição individual no Rio de Janeiro. Após anos de vivência e trabalho na Europa, ela volta ao Brasil dominando plenamente o seu métier, utilizando-se dele para dar bases sólidas à sua grande capacidade criativa, à sua imaginação tão fértil. Ela cria um mundo de fantasia, no qual nos permite penetrar, mundo onde o fantástico tem a sua lógica, onde a razão continua existindo dentro da maior exuberância de formas. Lêda Watson realmente desvendou os mistérios da técnica da gravura em metal e suas ferramentas, entre as quais, o buril. Não há duvida, ela é um dos elementos que ajudaram a dar vida nova à gravura brasileira, um dos elementos com os quais podemos contar" — Marc Berkowitz (texto crítico de introdução à exposição individual realizada em 1974, no Rio de Janeiro, na Galeria Intercontinental, gerenciada por Kalma Murtinho, assessorada por Denise Mattar).
"Por que tanta arte contemporânea parece aspirar às formas nascidas do acidente ou do secreto crescimento orgânico (às microformas de mamãe natureza)?
O caso de certa gravura nos impede de falar logo em “recesso do humanismo”, pois a gravura interpõe enorme dose de cálculo na inspiração “inconsciente” e na forma-resultado. Foi possível chegar depressa a uma action painting; mas como instituir verdadeiras técnicas de “deflagração”, como celebrar autenticamente o rito da imediatez expressiva numa arte tão comprometida com “estados”, isto é, visceralmente refletida e gradual? Restava explorar a sedução da matéria por meio da mais requintada cuisine da estampa colorida: precisamente, o que fez o grande Friedlaender, mestre de Lêda Watson. Mestre, porém, de métier, não de estilo, nem de composição. Se, nas agua-tintas de Lêda, se faz sentir a sugestividade cor-textura, como em Vôo noturno; se, nas agua-tintas, também se cultivam o nodoso; o granulado; os efeitos de solo e de pele, de folha e de membrana; certo grafismo; o sombrio dos tons-pastel; e, sobretudo, a representação de fantasia (árvore, planta, pássaro?), presença icônica do que a autora chama de lembranças de outro mundo, as gravuras de Lêda já se situam (afora um ou dois puros exercícios de textura) no território ambíguo do entre textura e figura.
Mas é o próprio gravar que co-motiva o figurar, como se vê claramente nos Caminhos de um pavão: é o gravar amoroso, convicto e obstinado que “desrealiza” as mesmas alusões surgidas, até conferir-lhes aquela qualidade perturbadora que Focillon descobria no fantástico exato e frio das gravuras de Meryon: “La réalité du dépaysement”" — José "Guilherme Merquior (texto de apresentação de exposição individual realizada em 1974, em Brasília, na Galeria Múltipla, de Maria Ignês Barbosa).
Como todo artista criador, Lêda Watson condensa e sintetiza as imagens do mundo exterior, assim como aquelas do mundo interior numa imaginária e em signos simbólicos que realiza plasticamente na gravura, de maneira muito subjetiva, mas sempre rica em soluções formais. A trama de suas imagens é transformada muito frequentemente em um arabesco que, em geral, se afasta da figura humana sem se poder dizer que sua arte seja abstrata, do modo em que sentimos pulsar nela, difusa, mas perceptível, a vida do homem, da terra, das árvores, do infinito, que tudo abrange... Muitas destas gravuras nos recordam – e cremos que são o resultado de uma interpretação subjetiva dessa natureza de parte da artista – as terras do Brasil Central, mais propriamente, o "cerrado cuiabano", cuja hirta e hostil flora tanto se afina com as linhas dramáticas e até dolorosas destas estampas.
A arte da água-forte e da água-tinta, frequentemente mescladas pela autora destas gravuras, parecem o meio ideal para lograr os resultados gráfico-plásticos e expressivos a que, parece, se propõe Lêda Watson. A imprecisão e até a impressão de inacabado que dão, às vezes, alguns trabalhos, correspondem melhor à vontade de expressão exigida: é que esta solução faz com que o motivo meramente enunciado no papel exija a participação da fantasia do expectador, deixando ampla margem para a especulação e a imaginação complementarem o que é indefinido no quadro. Há, enfim, uma profunda associação subjetiva da artista com as paisagens, reais ou imaginárias, que ela interpreta mediante – segundo um crítico – "associações clandestinas" que enriquecem grandemente o valor e as qualidades plásticas da obra. Utilizando com patente perícia as técnicas da gravura em metal – água-tinta e água-forte –, a autora vai criando uma iconografia própria, na qual as "memórias" e os "momentos", as imagens humanas e a natureza, assim como os efeitos das texturas gráficas se dissolvem num mundo fantasioso e rico de soluções.
Baseando-se numa suposta ou imaginária realidade e "desrealizando-a" ao mesmo tempo, Lêda Watson nos dá uma das novas faces da moderna gravura brasileira, na qual ela ocupa o seu merecido lugar" — Lívio Abramo (ABRAMO, LÍVIO, gravador, ilustrador e desenhista. Depoimento realizado por ocasião de exposição no Paraguai, em 1981).
"(...) Não é exagero afirmar que a presente exposição nos oferece a oportunidade de conhecer o trabalho magnífico de uma gravadora que soube assimilar a técnica de seu mestre germânico Johnny Friedlaender, ao apresentar uma obra respaldada no domínio dos grandes recursos técnicos e dos jogos de fórmula, haja vista a forma pela qual desenvolve e organiza os volumes, as massas e as texturas, principalmente, quando os grânulos funcionam como relevos e as gamas tonais são discretamente exaltadas para causar os efeitos necessários ao equilíbrio e à expressão das estruturas formais de suas icásticas criações.
Mas se é verdade que Lêda Watson sabe desenvolver e carregar as lições de seu mestre, pondo-as a serviço de sua rara criatividade, não é menos verdade que essa artista, colocando suas mestrias à disposição de um rico vocabulário de formas fantásticas, revela a sua libertação ao demonstrar a posse de um estilo que se impõe em cada uma de suas composições.
Através da presente exposição, a impor-se por seu nível técnico e estético, Lêda Watson justifica a posição de relevo que vem ocupando no panorama atual da gravura contemporânea" — Hugo Auler (texto crítico publicado no jornal Correio Braziliense, em razão da exposição individual realizada em 1974, em Brasília, na Galeria Múltipla, de Maria Ignês Barbosa).
Fonte: Textos críticos - Lêda Watson. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Exposições
1974 - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira
1974 - Bienal Nacional 74
1977 - 9º Panorama de Arte Atual Brasileira
1978 - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba
1979 - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas
1980 - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas
1984 - 7 Artistas e uma Proposta
1984 - 15 Anos de Gravura
1984 - Armindo Leal, Gilberto Melo, Glênio Bianchetti, Ivanir Vianna, Lêda Watson, Marlene Godoy, Marques de Sá, Minnie Sardinha, Naura Timm, Wilma Lacerda
1987 - Lêda Watson (1987 : Brasília, DF)
1991 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas 1991/XII Salão Nacional de Artes Plásticas
1992 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas 1991/XII Salão Nacional de Artes Plásticas
1993 - 2ª Coletiva de Primavera
1998 - Panorama das Artes Visuais no Distrito Federal
2000 - Mercocidades: Artes Visuais
2002 - JK - Uma Aventura Estética
2013 - SEUmuSEU Expoexperimento
2015 - O Papel do Museu
2015 - Parede Cheia de Histórias: 20 anos de Referência
Fonte: LÊDA Watson. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 02 de junho de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Entrevista Lêda Watson, gravadora que dinamizou a arte do DF | Correio Braziliense - ed. 2 de março de 1983
Lêda Watson, formada em Artes Plásticas na Escola Nacional de Belas Artes pela Universidade de Brasília. Frequentou, em Paris, durante quatro anos, o atelier de Friedlaender, tendo vindo para Brasília em 1975. Imediatamente, dinamizou o panorama artístico da capital abrindo seu atelier, que se tornou ponto de encontro de gravadores do Distrito Federal. Lêda é uma das responsáveis pela educação do público brasiliense no que diz respeito à apreciação de gravura/arte. Sua batalha é em incentivo às importantes mostras de gravadores que vem se realizando em Brasília.
S.W. – Lêda, apesar de grandes nomes das artes terem-se dedicado à gravura, ela, somente há pouco tempo, está se projetando. Qual a sua opinião a respeito?
L.W. – Eu penso que a gravura, depois de um longo caminho percorrido, inicialmente, sendo uma atividade de produção e também de ilustração, era uma atividade paralela da parte dos grandes artistas, decorrente do trabalho de um grande pintor; não era ainda um arte maior, não no valor intenso da arte em si, mas no que representava como meio de comunicação e de participação no contexto geral. No século passado, a gravura já começou, lentamente, a adquirir o seu merecido espaço. Os pintores, os artistas, iniciam-se direto na gravura, já mergulham direto como sua expressão de arte sem ter, obrigatoriamente, que percorrer um caminho de pintores, de desenhistas, de grandes artistas e de grandes pintores para, posteriormente, se tornarem gravadores. Atualmente, os gravadores já fazem sua formação de gravura em metal como a primeira etapa e ali permanecem, eventualmente, se expressando através de outras manifestações de pintura ou de desenho, mas permanecendo a gravura como um modo central de sua maneira de se exprimir.
S.W. – Quer dizer que qualquer pessoa que se dedica à gravura pode se iniciar no trabalho e ser um gravador?
L.W. – Evidente, é, inicialmente, gravador e, posteriormente, outras coisas se quiser. Antigamente, a gravura, o ser gravador, era decorrência de uma formação anterior a um ser pintor. Já existem, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, artistas gravadores, artistas que iniciaram seu processo criativo, sua vida profissional de artista na gravura e, por isso, como não é um processo muito antigo, este caminho é um caminho lento, que a gravura, como expressão de arte, tem que percorrer, para que haja uma penetração, uma compreensão, um entendimento, uma divulgação natural do que é realmente a gravura em metal. Estamos conseguindo isto e, em Brasília, já existe uma maior compreensão do que é a gravura em metal. Eu tenho, e também vários outros artistas, procurado contribuir para isso mantendo um curso bem dinamizado; dezenas e dezenas de alunos que passam por aqui, fazendo exposições didáticas todo ano, mostrando não só os trabalhos, como a maneira que se passa através de todo o processo artesanal, para se chegar àquele resultado; para a gravura, que é uma coisa muito complexa, muito difícil, e para que as pessoas não só conheçam esta expressão de arte, mas entendam realmente o que é a gravura em metal. Coincidentemente, nós temos, aqui no Distrito Federal, exposições no momento muito importantes: gravadores espanhóis e ingleses contemporâneos, assim como um paulista, que, brevemente, estará expondo aqui no Distrito Federal.
S.W. – Bom, o que você acha da gravura aqui em Brasília? Eu sei que você tem um núcleo, formou muita gente aqui e agora está com este clube de arte; mas o grupo que você formou aqui em Brasília, você poderia dizer alguma coisa a esse respeito?
L.W. – Claro! Formou-se o processo desde a universidade, quando fui convidada, chegando da Europa, para dar um curso de gravura em metal. Vinte e tantos alunos se apresentaram. Após o curso de dois meses, muitos deles quiseram continuar a trabalhar e, como todos os cursos de extensão têm duração limitada e a matéria é muito complexa, para os que queriam continuar a trabalhar e não tinham onde, ampliei meu atelier e pude, através desses anos todos, desde 1975, manter ativo o contato com a gravura, com alunos em pequenos grupos que vinham, trabalhavam e aprendiam gravura, sabiam o que era gravura e, eventualmente, se tornavam profissionais da gravura, vários deles, como Sandra Drummond, Regina Motta, Amaro Freire, Flávia Galisa, Rose Fraymund e Siomar de Oliveira Martins. Passaram no meu atelier e, enfim, conviveram comigo e aprenderam a gravura. Estão totalmente envolvidos pela gravura e se tornaram profissionais há vários anos, divulgando, expondo no Brasil e no exterior já como profissionais, ganhando prêmios por este Brasil afora.
S.W. – Diga-me também sobre este selo que foi lançado agora, há pouco tempo, no dia de Ação de Graças.
L.W. – Isso foi um convite que muito me gratificou, das Empresas de Correios e Telégrafos, para um projeto de uma gravura que representaria o Dia de Ação de Graças. Trabalhei o ano passado nisso e resultou uma gravura que foi bem aceita, houve bastante divulgação. O selo ficou bem razoável. Foi lançado no dia 16 de novembro e tem tido uma boa penetração. Foi um trabalho de uma artista de Brasília e não é comum que gravura se torne selo; em geral, são desenhos, pinturas, o que muito me honrou por poder contribuir para divulgar a gravura através do selo.
S.W. – Você está montando um atelier novo, todo instalado. Quais são os projetos que está pensando em divulgar e o que pensa fazer no novo atelier?
L.W. – Eu acabo de chegar de Washington vindo de uma exposição individual que, aliás, transcorreu magnificamente bem, com bastante entusiasmo, professores, universitários e colecionadores. E, imediatamente chegando, tive que me envolver com essa mudança de atelier, que realmente é lento o processo, o trabalho é muito, é complicada a instalação do atelier. E vou além disso, além da gravura em metal; inúmeros cursos diferentes: de criatividade, de desenho, de pintura em tecido, de criatividade para crianças e adolescentes, uma diversificação muito grande de atividades. Tenho dito que tenho que dedicar tempo integral ao planejamento desse meu novo local de trabalho, que será aqui na 715 sul, bloco G, casa 5, e aqui sempre estaremos esperando os que amam a arte, não só pelos cursos, mas pelo convívio com a arte, palestras, conferências e exposições. Sempre o visitante terá oportunidade de muitas coisas e de conhecer de perto com se faz. Temos a ideia de iniciar com um rótulo Clube das Artes, uma espécie de associação de um grupo fechado de pessoas que se candidataram não só a participar dos cursos, palestras e exposições, como também de um sorteio mensal de 18 pinturas e 10 gravuras de um gravador e de um pintor de expressão nacional, excelentes. Eu pretendo conseguir 10 obras de cada um a cada mês (total de 20), para as quais os associados se candidatariam a um consórcio. Isso funcionará como uma atividade do Clube das Artes. Adquirir obras de arte com pagamentos parcelados suaves, sem problemas e sem juros, seria uma espécie de veículo do colecionador brasiliense que se interessa por arte e por artistas do Brasil inteiro, de caráter de galeria, e apenas como uma espécie de intermediários e de penetração de muitos artistas que não são conhecidos. Vamos ver se, em março, vamos incrementar isso.
S.W. – Agora, esse clube terá um limite de pessoas. Você acha que 30, 10 pessoas... quantas pessoas podem entrar?
L.W. – Inicialmente, eu pensei em 30 pessoas. Se a adesão à proposta for grande, podemos pensar em um revezamento dos associados que se candidatarem às obras, que, ao serem sorteados, abririam um lugar para o próximo que estaria se candidatando para os próximos sorteios.
Fonte: Entrevista Leda Watson, publicada no Correio Braziliense, na edição de 2 de março de 1983.
---
Lêda Watson revê sua trajetória e os caminhos percorridos pela capital | Correio Brasiliense
Da janela do ateliê, a artista admira as cores e as formas do cerrado que lhe arrebataram o encantamento e lhe servem de inspiração há 50 anos. Do lado de dentro, o contraste entre o material bruto e pesado da gravura e a leveza e as formas orgânicas da arte feita por Lêda Watson. Nas paredes, estão expostas lembranças das aulas ministradas e dos alunos. Foram 30 anos dedicados ao ensino. Entre pastas e gavetas, imagens de uma vida apaixonada pela gravura em metal. ;É uma técnica inesgotável e desafiadora;, resume.
Lêda percorreu o mundo. No Rio de Janeiro e na França, ela desenvolveu o amor pela arte e se especializou em gravura. Ministrou cursos no Peru, Costa Rica, Nicarágua, Caracas e Panamá. Contudo, foi na capital de Juscelino Kubitschek que ela escolheu desenhar histórias de trabalho, ensino e formação de um cenário cultural. ;Era uma entusiasta da mudança da capital;, conta a artista de sangue carioca. Naquela cidade que surgiu da terra vermelha do cerrado, Lêda também descobriu o fascínio pela vegetação sofrida. ;A mutação e a alternância produzem uma vegetação peculiar. Eu não sabia o quanto ela foi importante para mim. Sempre foi o cerrado a minha inspiração, desde a primeira gravura;, afirma.
Este ano, a artista e um dos maiores nomes da gravura brasiliense celebra 50 anos dedicados à arte. No Espaço Cult, a exposição 50 anos de gravura revela uma pequena retrospectiva de seus trabalhos. Em outubro, Lêda abre uma mostra com obras desenvolvidas nos últimos anos e lança o segundo livro na Referência Galeria de Arte. ;Estou há quatro anos trabalhando nele. É uma complementação do primeiro (Sonhos, momentos, emoções. Técnicas e gravuras). Também é resultado de uma provocação do meu ex-marido. Ele me disse: ;você rompeu recordes na gravura e é muito modesta, não mostrou tudo no primeiro livro;. Ele fez uma apresentação e me estimulou a escrever o segundo;, relembra.
Ainda sem nome, a publicação revela técnicas de gravura em metal que não exigem o aço. ;Desenvolvi muitas técnicas e sigo criando e desenvolvendo novas;, complementa a artista. E, assim como no primeiro livro, Lêda indica o ;pulo do gato;. ;São pulos que facilitam o caminho. A gravura é muito difícil. Você permanecer gravador é muito difícil, só uma maluca como eu;, afirma aos risos. Até o fim do ano, a carioca também viaja a São Paulo para expor na galeria Almeida Prado. ;Optei pela gravura em metal porque ela tem uma dualidade. Na primeira parte, você explode na água forte, nas linhas e, depois, você tem que organizar. Meus trabalhos mostram quem eu sou;, declara.
Ensino
Com um currículo extenso e diante das oportunidades que explorou, Lêda conta que se sentiu na responsabilidade de passar isso adiante. Incentivada a dar continuidade ao ensino da gravura, após um curso de extensão ministrado na Universidade de Brasília (UnB), deu aulas na instituição e criou uma escola no próprio ateliê.
;A UnB agora é outra. Acredito que cada um tem que fazer o que quer da vida desde que não atrapalhe o equilíbrio das pessoas. Não temos direito, socialmente, de impor uma particularidade. Isso que me revolta atualmente na atitude humana;, desabafa. Na avaliação da artista, não se aprende mais técnicas como antes. ;Se aprende a bolar um sistema, uma exposição. Não estou querendo doutrinar, porque odeio que me doutrinem. É que isso não é arte. Arte que tem que ser explicada não é arte;, afirma. Munidos de uma facilidade do ;fazer arte;, as pessoas perdem o estímulo de seguir o caminho de um gravurista. ;Gravador em metal não pode brincar;, resume.
Para a artista, é preciso ensinar os primórdios, a pintar, a desenhar, a fazer xilogravura e litogravura. ;Ninguém pode empurrar o aluno para um caminho. Ou deixa a liberdade com os subsídios para ele crescer ou você não é professor. Escolhi o meu caminho, mas com conhecimento de causa;, avalia.
Má gestão
Além de se inspirar no cerrado e dividir o que aprendeu com outras gerações, Lêda também participou da formação artística e cultural da capital. Ela criou o Museu de Arte de Brasília (MAB), inaugurado em 1985 e fechado há 12 anos. Também foi, por anos, a coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal. Ver a instituição e outros equipamentos culturais abandonados é, mais do que uma tristeza, um desastre. ;Não precisa de dinheiro para fazer as coisas. A própria sociedade move o sistema. Eles fecham os estabelecimentos porque não dá ibope, não faz ninguém se eleger. Existe o gostar de arte e gostar de cultura. Não é falta de público, é desorganização, má gestão. Não é a cultura que é desinteressante, é a gestão que é péssima;, enfatiza.
Para a carioca enamorada por Brasília, a capital tem um enorme potencial artístico. Ao rever sua trajetória, Lêda reconhece o fruto das sementes plantadas. ;Mergulhei de cabeça nessa cidade e tentei me doar. Queria fazer com que a cidade crescesse e, apesar de tudo, cresceu;, pondera. Viver de arte não é fácil. Picasso foi uma exceção. ;Mas é uma paixão. Te faz um bem enorme. Temos que pensar mais no bem que as coisas fazem do que no dinheiro que você não leva para o outro lado;, declara. O segredo dos 50 anos? Perseverança e, sobretudo, zelo profissional. ;Sinto que cumpri minha missão. Tudo o que está havendo agora é lucro;, finaliza.
Fonte: Correio Brasiliense, "Lêda Watson revê sua trajetória e os caminhos percorridos pela capital", publicado por Roberta Pinheiro, em 25 de agosto de 2019. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson | Gabinete de Arte da Câmara dos Deputados
As gravuras que ora enobrecem o Gabinete de Arte da Presidência da Câmara dos Deputados foram concebidas pela artista Lêda Watson, uma das pioneiras e mais importantes gravadoras do Brasil, de alto prestígio nacional e internacional. A mostra aqui apresentada traz uma compilação significativa com 24 obras de três diferentes momentos da carreira da artista, selecionadas num recorte cronológico.
A primeira sala concentra trabalhos do início da trajetória, no Rio de Janeiro; a segunda reúne gravuras criadas em Paris, quando Lêda estudou com o mestre germânico Friedlaender por três anos e meio e cursou a Escola de Belas-Artes da Sorbonne; já a sala principal congrega trabalhos feitos a partir de seu retorno a Brasília, em 1973. Nesta última sala, há uma mescla de obras das séries “Momentos”, “Emoções” e “Sonhos” — produzidas na capital federal, cidade que tão bem acolheu a artista e que tão profunda e inexplicavelmente a tem inspirado, seja pelos deslumbrantes matizes do pôr-do-sol seja pelas oníricas formas da vegetação do cerrado.
Com mais de 50 anos dedicados à produção artística, Lêda Watson também deve ser celebrada por seu incansável trabalho como agente cultural e como arte-educadora. Já ministrou inúmeras palestras, oficinas e cursos na Universidade de Brasília e em outras escolas pelo mundo afora e ainda hoje mantém um ateliê, em Brasília, onde repassa aos discípulos, de forma didática e apaixonada, os segredos das técnicas de gravura em metal que ela domina com maestria.
Oriunda da família de artistas Campofiorito, Lêda Watson não traiu suas origens e se dedicou inteiramente à arte. Nascida em Niterói-RJ em 1933, graduou-se em Artes Plásticas pela Escola Nacional de Belas-Artes (Rio de Janeiro), École Nationale de Beaux Arts — Sorbonne (Paris) e pela Universidade de Brasília. Especializou-se em gravura em metal na Escolinha de Arte do Brasil Augusto Rodrigues com o mestre Orlando Dasilva (Rio de Janeiro) e no Atelier Friedlaender (Paris).
Quando morou em Paris, sua obra foi bem recebida pelos editores de arte franceses e pela crítica especializada, sendo a artista convidada pela Société des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de Jules Laforgue (a edição anterior havia sido ilustrada por Salvador Dalí).
Voltou ao Brasil em 1973, tornou-se professora de gravura, tendo ministrado vários cursos, palestras e oficinas em universidades e museus do Brasil e Exterior por mais de 30 anos. Criou uma Escola de Gravura em seu próprio ateliê, onde formou novos gravadores de 1975 a 1987. A partir daí, deu origem ao 1o Núcleo de Gravadores de Brasília e ao Clube da Gravura. Mais de 420 alunos já aprenderam nas oficinas de Lêda Watson a arte de gravar em metal.
Como agente cultural, criou o 1o Museu de Arte de Brasília, foi a coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do GDF, coordenou prêmios regionais e nacionais de artes plásticas e fez a curadoria brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile.
Desde 1970, participa de exposições coletivas e individuais no Brasil, Europa, América Latina, EUA, Canadá e Oriente.
Fonte: Gabinete de Arte da Câmara dos Deputados. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson | por Chico Sant'Anna
As gravuras de Lêda Watson trazem, segundo os críticos, a influência da vegetação distorcida do cerrado com a abstração do céu do Planalto Central. Desta forma, poderíamos dizer que ela torna o concreto abstrato e o abstrato, concreto.
Enquanto as crianças da sua idade preferiam as brincadeiras de casinha e de bonecas, ainda menina, ela já brincava de fazer vernissage. Não é exagero algum afirmar que a arte está no seu sangue, ou como preferimos hoje, no seu DNA. Neta de arquiteto e pintor italiano radicado no Brasil, sobrinha de pianista e de professor de artes, Lêda Watson desde pequena se acostumou a freqüentar as exposições, galerias de artes, a tomar gosto pela arte. Hoje é uma referência internacional na arte da gravura.
Na França, Lêda Watson pode aprimorar sua técnica com o renomado gravurista Johnny Friedlaender.
Jovem, deu início a seus estudos na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. Mas a paixão pelas artes foi derrotada pelo amor a Sérgio da Veiga Eatson, que a fez abandonar a Escola de Belas Artes no terceiro ano do curso e se mudar para Suíça. O casamento com um diplomata brasileiro,contudo, abriu um mundo de oportunidades e contatos com culturas diferentes que ajudará a aperfeiçoar o dom que já carregava desde menina, quando se entretinha com cavaletes, pincéis e telas. Em 1966, teve os primeiros contatos com a gravura, na Escolinha de Belas Artes do Brasil, na antiga Guanabara, com o mestre Orlando Dasilva.
No exterior, estudou na École Nationale de Beaux Arts-Sorbonne, em Paris e se especializou-se em gravura em metal no atelier do renomado Johnny Friedlaender, pintor e gravurista francês da chamada Nova École de Paris e cujas as obras têm por característica a mescla do abstrato com elementos alusivos à realidade. Estilo que, arriscamos afirmar, influenciou o trabalho de Lêda Watson.
Lêda Watson é, assim, uma das gratas surpresas que a transferência, na década de 1970, dos servidores públicos do Rio de Janeiro para Brasília proporcionou a esta cidade, colocando Brasília no mapa internacional da gravura.
Como arte-educadora, ministrou cursos de gravura em metal e palestras mundo afora: em Lima, Peru: Manágua, Nicarágua, São José de Costa Rica, Caracas, Venezuela;e na Cidade do Panamá, dentre outros locais.
O interesse pelas artes desde cedo e sua trajetória artístico-profissional permitiram a convivência com grandes nomes da arte brasileira, tais como Marina Colassanti, que foi colega de escola, Athos Bulcão, Rubem Valentin e tanto outros. E o melhor de tudo isso, é que Lêda, como professora da Universidade de Brasília, ou em seu atelier, transmitiu a gerações e gerações de novos artistas a sua arte.
A contribuição de Lêda ao mundo cultural de Brasília vai além. Em 1985, criou o Museu de Arte de Brasília – MAB. Além disso, graças a sua expertise, duas plantas da cidade do Rio de Janeiro, datados de 1808, quando da chegada da família real ao Brasil foram recuperados. As chapas de cobre, com 3 mm de expessura e medindo 94 cm x 64 cm, entalhadas com o uso de buril destinavam-se a impressão dos mapas e estavam no Museu da Imprensa Nacional, criada por Dom João VI, quando aqui chegou. As chapas nunca haviam sido reproduzidas.
Para explicar o trabalho de Lêda Watson são necessárias duas etapas: uma para focar a técnica e outro o estilo. Ao contrário de outros artistas plásticos, que tem a tela e o pincel como base de trabalho, a gravura tem a chapa de metal e o buril (uma espécie de formão – se é que eu posso afirmar isso), com o qual se trabalha na marcação das chapas de metal e que servirão de matriz para reproduzir em papel as gravuras.
Na verdade, o gravurista trabalha uma matriz, um clichê, como se fosse um carimbo, que será o ponto de partida para a reprodução das gravuras.
Bem ninguém melhor do que ela mesmo para explicar o que é a gravura.
“Arte de formar por meio de incisões e talhos, ou fixar por meios químicos, em metal, em madeira, em pedra, imagens em baixo ou alto relevo, para registro de uma imagem (como no início da história humana) ou para reprodução e multiplicação através de entintamento e estampagem, manual ou mecanicamente, em papel ou outro material.”
Recorro aqui a outro especialista para descrever o trabalho de Lêda Watzon, Bené Fonteles, que ao visitar uma exposição dela não conteve suas emoções. Escreveu ele: “A sensação da visita traz a presença de seres imaginários numa fábula nunca a mim contada. Seres que nos invadem mais a alma que a mente, e me fazem possuir uma nova forma de ver e de pertencer ao mundo. Suas gravuras grávidas deste fabulário fantástico estão carregadas da organicidade, onde a simbiose da flora e da fauna do estranho humanizam a paisagem e trazem uma outra compreensão e recriação da natureza nunca dantes vislumbrada na gravura brasileira.”
Sérgio Rouanet acredita que este fabulário fantástico, a que se referiu Bené Fonteles, devem ser fruto das caminhadas e acampamentos noturnos que Lêda e seu Marido faziam nos cerrados de Brasília. “Não seria nesses passeios que ela aprendeu a amar o céu de Brasília e a conhecer de perto a natureza do Planalto Central? Não seria a lembrança dessas excursões em que ela estabeleceu contato imediato com a vegetação do cerrado, que teria entrado em sua arte, toda ela feitas de folhas, galhos entrelaçados, raízes? É uma arte orgânica, vegetal, através da qual perpassam, sobre um fundo policrômico” – escreveu o ex-ministro da Cultura, Sérgio Rouanet.
Essa também é a visão do gravador, ilustrador e desenhista, Lívio Abramo, que, em 1981, proporcionou a primeira exposição individual de Lêda Watson, no Paraguai.
Para ele, a trama das imagens produzidas pela gravurista é transformada em arabescos que afastam da figura humana sem se poder dizer que sua arte seja abstrata, do modo em que sentimos pulsar nela, difusa, mas perceptível, a vida do homem, da terra, das árvores, do infinito que tudo abrange.
“Muitas destas gravuras nos recordam – e cremos que são o resultado de uma interpretação subjetiva dessa natureza de parte da artista – as terras do Brasil Central, mais propriamente o “cerrado cuiabano”, cuja hirta e hostil flora tanto se afina com as linhas dramáticas e até dolorosas destas estampas” – comentou o artista plástico.
Fonte: Brasília por Chico Sant’Anna. "Você conhece os artistas de Brasília? Conheça aqui as gravuras de Lêda Watson", publicado em 1 de janeiro de 2014. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira | Metrópoles
A gravurista Lêda Watson está completando 50 anos de carreira neste ano. Nascida nos Estados Unidos, passou a juventude no Rio de Janeiro e teve formação na Escola de Belas Artes de Paris (França), acolheu Brasília como cidade para fincar raízes em 1973. Apesar de fazer um panorama negativo sobre as artes da atualidade, segue ativa na produção de gravuras.
Com obras em espaços como o Museu Nacional de Brasília e a Biblioteca Nacional de Paris, Lêda foi uma das figuras mais importantes na construção de um cenário artístico na capital. Ela, inclusive, atuou vigorosamente na criação do Museu de Arte de Brasília (MAB), fechado em 2007 por danos estruturais e com reabertura marcada para o ano que vem.
Nova exposição
Em entrevista ao Metrópoles, a artista afirma que tomou três decisões para comemorar os 50 anos de carreira. A primeira foi dar o pontapé inicial de uma exposição individual no Museu de Brasília para o ano que vem.
“Tentei conseguir um apoio pelo FAC, mas meu projeto não foi aprovado. Acho que preferem os artistas novinhos”, desabafa. Ainda assim, ela busca uma parceria com o Wagner Barja, diretor do museu, para que a mostra aconteça.
"Não vou desistir de apresentar minhas obras. O povo brasiliense não pode se esquecer dos artistas pioneiros" – Lêda Watson
A segunda decisão diz respeito à produção de um catálogo com todas suas produções realizadas de 2008 até hoje. “Eu já publiquei um livro há cerca de dez anos e, mesmo assim, diversos amigos insistem que eu faça um novo. Vamos ver se fica legal”, conta.
Mudança de rumos
A terceira decisão será considerada infeliz por muitos artistas iniciantes da capital. Após 30 anos dando aulas em seu ateliê localizado no Lago Sul, ela não abrirá novas turmas. “Estou cansada. Vou focar em meus próprios projetos, que estão parados há alguns meses”, revela.
Ela soma 420 artistas treinados ao longo dessas décadas, que hoje se encontram atuantes na capital e em diversos países. “Acredito que sou a única gravurista do país que abre o próprio ateliê para alunos”, diz, com orgulho.
Apesar de olhar para sua trajetória com carinho, Lêda tem uma perspectiva negativa sobre a produção artística atual. “Tem muita gente fazendo coisa boa hoje, mas tem mais gente fazendo coisa ruim e mesmo assim sendo aplaudido. É difícil de entender”, avalia.
Fonte: Metrópoles, "Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira", publicado em 8 de outubro de 2017. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
Crédito fotográfico: Metrópoles, "Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira", publicado em 8 de outubro de 2017. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
Lêda Saldanha da Gama Watson (Niterói, RJ, 1933), mais conhecida como Lêda Watson, é uma artista plástica, artista visual e gravadora brasileira. Graduada em Artes Plásticas na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, na École Nationale de Beaux-Arts, em Paris, e na Universidade de Brasília, em Brasília, especializou-se em gravura em metal na carioca Escolinha de Arte do Brasil – Orlando Dasilva e no Ateliê Friedlaender, francês. Diplomou-se, em 1969, no Curso Superior de Língua e Literatura Francesa da Universidade de Nancy. Foi convidada pela Société des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de Jules Laforgue. Tornou-se professora de gravura, tendo ministrado vários cursos, palestras e oficinas em universidades e museus do Brasil e Exterior por mais de 30 anos. Criou uma Escola de Gravura em seu próprio ateliê, onde formou novos gravadores de 1975 a 1987. Fundou o 1º Núcleo de Gravadores de Brasília e o Clube da Gravura. Mais de 420 alunos já aprenderam nas oficinas de Lêda Watson a arte de gravar em metal. Como agente cultural, criou o 1º Museu de Arte de Brasília, foi coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do GDF, coordenou prêmios regionais e nacionais de artes plásticas e fez a curadoria brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile. Participou de exposições coletivas e individuais na América Latina, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e no Oriente.
Biografia Leda Watson - Site da Artista
Residindo na França por quatro anos, obteve grande receptividade dos editores de arte franceses, tendo vendido inúmeras edições fechadas de gravura, representadas hoje na coleção da Bibliothèque Nationale de Paris.
Recebeu convite da Societé des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de contos de Jules Laforgue, cuja edição anterior havia sido ilustrada por Dalí. Regressando ao Brasil, instalou seu ateliê em Brasília e continuou a manter contato com seus editores franceses.
Como arte-educadora, ministrou cursos de gravura em metal e palestras na Universidade Católica de Lima (Peru), na Universidade de Brasília (Brasil), na Escola Nacional de Artes (Nicarágua), na Universidade Nacional-Heredia (Costa Rica), na Universidade Central da Venezuela (Caracas) e no Museu de Arte Contemporânea (Panamá).
Incentivada a dar continuidade ao ensino da gravura após um curso de extensão ministrado na UnB, criou sua Escola de Gravura, no próprio ateliê, onde se empenhou na formação de novos gravadores durante mais de 12 anos, entre 1975 e 1987. Fundou, então, o 1º Núcleo de Gravadores de Brasília.
Criou o 1º Museu de Arte de Brasília em 1985 e, em 1989, o Clube da Gravura, reunindo, em sua maioria, gravadores profissionais do Distrito Federal. Foi, por mais de 6 anos, coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal, tendo sido designada também para coordenar o II Prêmio Brasília de Artes Plásticas/XII Salão Nacional de Artes Plásticas do Ministério da Cultura, em 1991. Nesse mesmo ano, fez a curadoria da participação brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile.
Em 1995, aposentou-se como professora, dedicando-se inteiramente à própria arte. Como artista plástica gravadora, desde 1970, Lêda participou de exposições coletivas e individuais na América Latina, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e no Oriente. Desde 2002, retomou os estudos da gravura em seu próprio ateliê, expondo, periodicamente, com seus alunos.
Linha do tempo
Anos 50
Lêda Campofiorito formou-se no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, onde estudou desde os 12 anos e se tornou a estrela do voleibol.
Estuda Professorado de Desenho na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, período em que conheceu Marina Colasanti, que veio a se tornar uma querida amiga.
Anos 60
Casa-se com o diplomata Sérgio Veiga Watson e muda-se para Berna, na Suíça, onde nascem seus filhos Eduardo e Andréa.
Estabelece-se, após quatro anos na Suíça, em Bogotá, Colômbia, local de nascimento de Elena, sua terceira filha.
Em 1966, Lêda e família retornam ao Rio de Janeiro. Por intermédio de Marina Colasanti, Lêda ingressa na Escolinha de Arte do Brasil, na qual tem Orlando Dasilva como seu primeiro mestre de gravura em metal.
1971/1972, Paris – A família muda-se novamente, para uma missão na França, momento em que a gravura já estava enraizada na alma de Lêda. Paris representou, para ela, oportunidade inigualável de crescimento. "Friedlaender foi o maior gravador que já houve. Frequentar seu ateliê na Rue Saint Jacques era absolutamente animador, pois era um ateliê fechado, frequentado por poucos gravadores".
No ateliê de Friedlaender, a disciplina e o cuidado eram severos. Circulava-se pouco, falava-se menos ainda. De nossa mesa de trabalho, íamos apenas até a sala dos ácidos ou, então, adentrávamos a sala do mestre, em que trabalhava com Brigitte Coudrain, sua assistente, para utilizarmos a prensa francesa muito antiga e o forno, onde entintávamos a placa. Apenas nessas horas nos aproximávamos do mestre (…). Aprendíamos apenas pela observação do trabalho do mestre e dos companheiros, e como se aprendia!”
1973, Paris – Lêda e sua filha, diante da Galerie Bernier, especializada na arte em papel, durante mostra individual. “Expus 25 gravuras, e o resultado de público e de vendas foi bastante satisfatório. Foi um momento feliz, de realização profissional.”
1974, Brasília – 1ª exposição individual após chegar da França. Galeria Múltipla, de Maria Ignez Barbosa.
1974, São Paulo – 3ª exposição individual, na Galeria Bonfiglioli. Lêda foi muito prestigiada com a presença de amigos ilustres.
Lêda alternava-se entre o ateliê do mestre Friedlaender e o ateliê da École Nationale de Beaux Arts, que primava pela descontração e por artistas provenientes das mais variadas culturas. “A cada dia, surgia um truque novo para encurtar caminhos de uma técnica mais complexa”.
Anos 80
1981, Paraguai – “Lívio Abramo telefonou-me e disse: ‘Conheço suas obras, gosto delas e as admiro. Gostaria de convidá-la para uma exposição individual em Assunção, no Paraguai’. Esse foi o início de uma grande amizade”.
1988, Canadá – Mostra retrospectiva na Biblioteca Robarts, de Ottawa, e mostra individual em Toronto. Nancy Bayle, crítica de arte do jornal Ottawa Citizen visitou, cuidadosa e pacientemente, a mostra e publicou uma crítica altamente favorável aos trabalhos de Lêda, que, na ocasião, recebe o convite, do governo canadense, para expor suas gravuras em todas as universidades canadenses durante dois anos.
Anos 90
1989 a 1991, Canadá – Lêda participa da Exposição Itinerante a convite oficial do Escritório de Exposições Internacionais do Ministério das Comunicações do Canadá.
1995, Manágua (Nicarágua) – Lêda ministra curso de gravura do Centro de Estudos Brasileiros.
Junho de 1997, Brasília – Exposição Sonhos I na Referência Galeria de Arte.
1998, Niterói, Rio de Janeiro, Sala Quirino Campofiorito – Exposição Sonhos II no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno.
Anos 2000
2003, Brasília – Lêda participa das edições do Ateliê Aberto, de iniciativa de Omar Franco, que consistiu na abertura de seu ateliê a mais de 10 gravadores da cidade, para recebimento do público.
2004, Brasília – Lêda recupera mais de 280 gravuras para compor exposição na Nicarágua.
2004, Rio de Janeiro – Lêda recupera duas chapas de cobre, de 94cm x 64cm cada uma, com espessura de 3mm, trabalhadas em buril, a convite da diretora do Museu de Imprensa Nacional. As placas contêm as plantas do Rio de Janeiro, feitas por ordem do Príncipe Regente D. João VI ao chegar ao Brasil, em 1808, executadas pela Imprensa Régia. Cópias das placas nunca haviam sido feitas.
2007, Brasília - Construção e Desconstrução. Centro Cultural da CEF.
Março/abril de 2008, Brasília – Exposição Sabedoria gravada: tributo a Lêda Watson. Galeria Rubens Valentin, 508 sul. Curadoria de Bené Fonteles.
7 de outubro de 2009, Brasília – Exposição Olhares cruzados sobre a natureza (coletiva). Fundação Cultural do DF, 508 sul.
Abril de 2010, Brasília – Ateliê Lêda Watson: Novas expressões em torno da gravura em metal. Daniel Briand (coletiva).
6 de abril de 2011, Brasília – Exposição coletiva Semi-Círculo no Museu Nacional.
2011, Campinas (SP) – Lêda participa da 5ª Bienal Nacional de Gravura: Olho latino (coletiva).
2011, Brasília – Exposição coletiva Eu o meio ambiente. Senado Federal. Curador: Fábio de Almeida Prado.
Outubro de 2011, Lyon, França – Exposição Gravures contenporaines d’artistes français et bresiliens.
Novembro de 2011, Paris – Exposição 15 ème Bienale Internationale de Paris. Pays Invité: Brésil.
7 de março de 2012, Brasília – Participação na nova Referência Galeria de Arte (coletiva).
Março de 2012, Brasília – Exposição Diálogos da resistência. Museu da República, HAB. Curador: Bené Fonteles (coletiva).
24 de agosto de 2012, Brasília – Lêda participa do III Concurso de Desenho Brasileirinhos do Mundo como membro do júri. Itamaraty.
2013, Brasília – Lêda continua a ministrar aulas de gravura em seu ateliê no Lago Sul e a participar de exposições.
Maio de 2013, Brasília – Bate-papo com colecionadores com formato de feira-participação. Galeria Referência.
Junho de 2013, Brasília – Lêda participa do XXXV Salão Riachuelo como membro do júri. Teatro Nacional Claudio Santoro, foyer da Sala Villa Lobos.
Outubro de 2013, Brasília – Exposição Seu Museu: expoexperimento. Museu da República (coletiva).
Novembro de 2013, Ville de Sarcelles – Lêda participa da Bienal Internacionale de la Gravure.
5 de junho de 2014, Brasília – Lêda Watson e os Gravadores Alucinados. Café Savana.
6 de dezembro de 2014, Brasília – Lêda coordena o Gravuras no Varal: gravadores. Residência e ateliê Lêda Watson.
2015 – Lêda participa do livro Viagem incompleta: arte brasileira sobre papel. Concepção de Luiz Dolino.
Abril de 2015, Brasília – Lêda participa do Ciclo de arte. Retrospectiva. Brasília Shopping. Curadoria: Ralph Gehre.
2015, Brasília – Exposição Caminhos da impressão: uma jornada pelo universo de Lêda Watson. Galeria Referência.
10 de setembro de 2015, Brasília
Exposição O papel do museu: seis décadas de arte sobre papel. Museu da República.Curadoria: Bené Fonteles (coletiva).
Novembro, 2015 - Brasília, 12 Ateliês. Projeto de resgate da memória artística da cidade. Lêda criou o projeto, coordenou sua execução, fez a curadoria da exposição, juntamente com Newton Scheufler, e expôs seus trabalhos na mostra. Caixa Cultural Brasília, Galeria Principal - de 25 de novembro de 2015 a 17 de janeiro de 2016.
22 de abril de 2016, Brasília – Inauguração do painel com reprodução da gravura Sonhos e fantasias. QL 8, Lago Sul, residência de Lêda Watson.
14 de outubro de 2016 a 27 de abril de 2017, Brasília – Exposição Retrospectiva. Câmara dos Deputados, Gabinete da Presidência.
Novembro de 2016, Brasília – Lêda participa da I FAC RARO: Feira de Arte Contemporânea. Casa Park (coletiva).
8 de março de 2018, Brasília – Lêda participa da exposição coletiva Artistas no Acervo da Caixa: 32 mulheres artistas.
17 de agosto de 2019, Brasília, Centro Cultural Paulo Otávio - Lêda Watson, 50 Anos de Gravura.
Fonte: Biografia Lêda Watson. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Críticas
"De todas as euforias artísticas no Brasil, a da gravura gráfica de criação é a mais justa. Em seguida a um demorado processamento de iniciação, quando atuam uns raros nomes de gravadores (Carlos Osvald e Oswaldo Goeldi), a gravura com o rigor de criação realmente se impõe com a geração que emerge na década de 1940. Não cessa, então, de crescer, até alcançar uma quantidade deveras excepcional, que extravasa os limites nacionais e chega à mais decidida notoriedade internacional.
Nossos gravadores, formando uma equipe que se tornou assaz numerosa, conseguiram merecida posição de grande singularidade no conceito mundial. A gravadora Lêda Watson está nessa linhagem que hoje bem sustenta, para a gravura brasileira, esse destaque. Reconhecendo-se isto, logo se deverá apreciar a gravura com seus melhores requisitos de uma particularidade da criação artística que sustenta suas condições próprias e cujo sucesso total delas decorre. O desenvolvimento da inventividade artística exigiu, porém, liberdade para o surgimento de novos recursos de elaboração criativa que, se bem muito adaptados ao trabalho gráfico (e, consequentemente, afins ao ofício do gravador), escapam ao que se possa classificar, com um mínimo de propriedade, de gravura. Lêda Watson dá provas de fidelidades à gravura.
Seu trabalho prossegue com o compromisso que sua arte impõe: gravar. Algumas interferências são fortuitas e não afetam a legitimidade da gravura. É uma gravura que comove e se comunica pela transposição emocional e criativa da artista, fazendo valer seu ofício seguro – a água-tinta. Sutilezas de tonalizações e texturas obtidas com acurada sensibilidade no trato da corrosão pelo ácido nas sucessivas etapas. E quanto à cor, quando é o caso, não se desprende ela da comunhão intrínseca que a expressividade plástica comporta para se totalizar. Percebe-se que, na elaboração de sua gravura, Lêda Watson deixa a complexidade do motivo e a participação dos elementos que o constituirão irem se desenvolvendo num caminhar natural e emotivo, como aquilo que nasce e cresce no terreno fértil da imaginação desembaraçada, apenas colhendo alento na espontaneidade do sentimento que vai sendo estimulado pela própria ação criativa" — Quirino Campofiorito (WATSON, LEDA, a gravurista. Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1975).
"É um prazer, para mim, responder ao pedido de Lêda Watson. Ela trabalhou em meu atelier durante três anos (outubro de 1970 a outubro de 1973). Ela foi uma das minhas alunas mais dotadas de espírito de invenção e criatividade. Ela domina totalmente as técnicas da gravura e encontrou caminhos que prometem as maiores esperanças" — Friedlaender (WATSON, LEDA, a gravurista. Paris, 18 de novembro de 1975).
"Na medida em que entram os sentidos do sentido – como significado, como significante, como sinal, como símbolo, como ícone, como sema, como semema, como lema, como emblema, como ideologema, como profetema, como apocaliptema, como psiquema, como carismatema, em suma, como unidade fluente de um hipossistema de sistema de sistemas –, compreendemos que ele, o sentido, não pode haver sem sua outra face, o sem-sentido: aqui, no sem-sentido, estão a entropia e o caos, as ausências, a liberdade tão absoluta que não é liberdade, pois é liberdade compulsória, sem opção, vale dizer, não-liberdade: ali, no sentido, está a neguentropia, certa ordem, certo cosmo, certas presenças, certas determinações, certas interdependências, certas interliberdades interligadas. O trágico na arte é que, em havendo humano – um objeto achado, mas por ser humano –, há, pelo menos, sempre, o sintoma e a síndrome de outras coisas humanas, até patológicas, por exemplo, ou sociopatológicas, por exemplo. E como separar isto daquilo, em certos momentos da história? É na interface daquelas duas faces que parece estar o sentido e o sem-sentido de certas formas e substâncias de arte. Imaginemos o artista não artesão, não artífice, a jogar o dado do azar, a lançar a flecha ao ar, e a colher, ao acaso, o número platônico que governa um mundo ou o mundo, ou atingir o pássaro de ouro pousado na menor haste da campina. E imaginemos o artista criador a concretizar o número platônico ou a querer fazer que o pássaro de ouro pousado na menor haste da campina entoe seu canto de cristal.
É como como vejo as gravuras de Lêda. Não fujo ao fascínio de enfrentar o aleatório buscado. O acaso esperado, o surto desejado, o evento emerso, o caso inesperado – mas captados. Pois que acaso, surto, evento ou caso é ele dominado, acariciado, trabalhado tão amorosamente, tão amorsofridamente, que a contaminação de psiquismos – e dela e o do contemplador – deixa de ser milagre, porque deriva de uma mediação concreta instalada no retângulo (ou que outra geometria tenha) do papel, onde se inscrevem todas as linhas e todas as sugestões, cromáticas ou acromáticas, oníricas, telúricas, empíricas, fantasmáticas, talássicas, selênicas, urânicas – menos um sem- núme ro de não sugestões.
Lêda refaz o caminho da arte: domina a técnica com aprendizado diuturno de longos anos e com grandes mestres, e – vendo-se e sentindo-se cada vez mais senhora do seu fazer – quer um fazer que vê na linha do seu horizonte: um aproximar-se da linguagem visual que quer ser mais poderosa que quaisquer verbalizações e é uma busca tão intensa, tão vibrante, tão apaixonante, que explodiria, se não fosse contrapesada pela garra da sua técnica.
Desde Goeldi, a gravura brasileira vem superando o desafio da qualidade e da continuidade na diversidade, graças a fiéis artistas profissionais (é este o termo), mulheres e homens. Lêda está nessa linhagem, por direito do seu saber, do seu fazer, do sentir, do seu fazer sentir artísticos" — Antonio Houaiss (WATSON, LEDA, a gravurista).
"Certas pessoas dispensam apresentação. Não há nada mais irritante que o velho lugar comum segundo o qual certas pessoas não precisam de apresentação. Em geral, essa afirmação, ou denota preguiça, servindo como pretexto para não pesquisar o currículo de quem deveria estar sendo apresentado, ou é propaganda enganosa, alimentando, no ouvinte ou no leitor, a esperança de que não haja mesmo apresentação, falsa promessa logo seguida por uma apresentação mais longa do que desejaríamos.
Dito isso, devo confessar que não me ocorre meio mais verídico de começar meu texto: tenho que dizer que Lêda Watson não precisa de apresentação. Todos sabem que ela é hoje uma das gravadoras mais eminentes do Brasil e uma das de maior repercussão internacional, com uma trajetória que vai de Paris, onde ela estudou com Johnny Friedlaender, à América do Sul, América do Norte, Europa e Ásia. À sua reputação de artista, acrescenta-se seu prestígio como docente, graças aos cursos de gravura em metal que ministrou em Brasília, em Lima, em Manágua, na Costa Rica, no Panamá e em Caracas, e como administradora cultural, área em que ela adquiriu grande experiência em cargos, como o de Coordenadora do Programa de Museus da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.
Mas se ela não precisa de apresentação, o leitor tem direito de saber por que, então, estou escrevendo este texto. Os motivos são mais biográficos que artísticos. Barbara e eu conhecemos Lêda no início dos anos 1970, quando ela tinha acabado de voltar de Paris, onde tinha dado seus primeiros passos no atelier de Friedlaender. Linda, cheia de vida, com grande curiosidade intelectual, Lêda já era, em embrião, a grande artista que ela se tornaria depois. Os dois casais (na época, Lêda era casada com o diplomata Sérgio Watson) faziam excursões pelo cerrado, improvisando serestas e pernoitando em tendas. Não seria nesses passeios que ela aprendeu a amar o céu de Brasília – “o céu de Brasília”, escreve ela nesse livro, “me deslumbrava ao entardecer dos dias secos” – e a conhecer de perto a natureza do Planalto Central, tão decisiva para sua obra? Não seria a lembrança dessas excursões, em que ela estabeleceu contato imediato com a vegetação do cerrado, que teria entrado em sua arte, toda ela feita de folhas, de galhos entrelaçados, de raízes? É uma arte orgânica, vegetal, através da qual perpassam, sobre um fundo policrômico, figuras fugidias, em que julgamos adivinhar úteros, fetos, cordões umbilicais.
Que a arte de Lêda seria uma interiorização metafísica dessa flora é apenas uma hipótese. Mas que há uma constante inquietação filosófica em sua obra não é uma hipótese, mas um fato, que transparece nos títulos de suas gravuras. Tenho, em meu apartamento, uma gravura dos anos 1970, belíssima, a que ela deu o título O processo do infinito. Num certo sentido, o infinito define o horizonte de sua busca e de sua experimentação estética. É uma arte que capta momentos e também emoções – nome de duas séries de suas gravuras –, mas que exprime também ideias, tendo, como foco, em grande parte, a noção de infinito.
Pois, para Lêda Watson, não há incompatibilidade entre a razão e a especulação, por um lado, e a emoção, por outro, como não há incompatibilidade entre inspiração e técnica. Ela sabe que arte é trabalho, é paciência, é domínio do ofício, é manejo seguro do buril, é utilização profissional da técnica da gravura – água-tinta e água-forte –, e só assim a emoção, por mais sincera que seja, e a ideia, mesmo a mais profunda, poderão chegar à sua mais perfeita expressão.
Sim, não há dúvida de que esse livro atingirá seu objetivo de passar adiante o saber e a experiência acumulados por Lêda Watson há tantos anos, contribuindo, e muito, para o aperfeiçoamento artístico das novas gerações. Ah, e antes que me esqueça: que tal retomarmos, um dia, nossas serestas de 30 anos atrás?" — Sergio Paulo Rouanet (texto escrito por ocasião do lançamento do livro Sonhos, momentos, emoções: técnicas e gravuras. Brasília, 2008).
"A gravura no Brasil está retomando sua posição de importância internacional. Um dos elementos positivos dessa retomada será, certamente, a gravadora Lêda Watson, que se apresenta em primeira exposição individual no Rio de Janeiro. Após anos de vivência e trabalho na Europa, ela volta ao Brasil dominando plenamente o seu métier, utilizando-se dele para dar bases sólidas à sua grande capacidade criativa, à sua imaginação tão fértil. Ela cria um mundo de fantasia, no qual nos permite penetrar, mundo onde o fantástico tem a sua lógica, onde a razão continua existindo dentro da maior exuberância de formas. Lêda Watson realmente desvendou os mistérios da técnica da gravura em metal e suas ferramentas, entre as quais, o buril. Não há duvida, ela é um dos elementos que ajudaram a dar vida nova à gravura brasileira, um dos elementos com os quais podemos contar" — Marc Berkowitz (texto crítico de introdução à exposição individual realizada em 1974, no Rio de Janeiro, na Galeria Intercontinental, gerenciada por Kalma Murtinho, assessorada por Denise Mattar).
"Por que tanta arte contemporânea parece aspirar às formas nascidas do acidente ou do secreto crescimento orgânico (às microformas de mamãe natureza)?
O caso de certa gravura nos impede de falar logo em “recesso do humanismo”, pois a gravura interpõe enorme dose de cálculo na inspiração “inconsciente” e na forma-resultado. Foi possível chegar depressa a uma action painting; mas como instituir verdadeiras técnicas de “deflagração”, como celebrar autenticamente o rito da imediatez expressiva numa arte tão comprometida com “estados”, isto é, visceralmente refletida e gradual? Restava explorar a sedução da matéria por meio da mais requintada cuisine da estampa colorida: precisamente, o que fez o grande Friedlaender, mestre de Lêda Watson. Mestre, porém, de métier, não de estilo, nem de composição. Se, nas agua-tintas de Lêda, se faz sentir a sugestividade cor-textura, como em Vôo noturno; se, nas agua-tintas, também se cultivam o nodoso; o granulado; os efeitos de solo e de pele, de folha e de membrana; certo grafismo; o sombrio dos tons-pastel; e, sobretudo, a representação de fantasia (árvore, planta, pássaro?), presença icônica do que a autora chama de lembranças de outro mundo, as gravuras de Lêda já se situam (afora um ou dois puros exercícios de textura) no território ambíguo do entre textura e figura.
Mas é o próprio gravar que co-motiva o figurar, como se vê claramente nos Caminhos de um pavão: é o gravar amoroso, convicto e obstinado que “desrealiza” as mesmas alusões surgidas, até conferir-lhes aquela qualidade perturbadora que Focillon descobria no fantástico exato e frio das gravuras de Meryon: “La réalité du dépaysement”" — José "Guilherme Merquior (texto de apresentação de exposição individual realizada em 1974, em Brasília, na Galeria Múltipla, de Maria Ignês Barbosa).
Como todo artista criador, Lêda Watson condensa e sintetiza as imagens do mundo exterior, assim como aquelas do mundo interior numa imaginária e em signos simbólicos que realiza plasticamente na gravura, de maneira muito subjetiva, mas sempre rica em soluções formais. A trama de suas imagens é transformada muito frequentemente em um arabesco que, em geral, se afasta da figura humana sem se poder dizer que sua arte seja abstrata, do modo em que sentimos pulsar nela, difusa, mas perceptível, a vida do homem, da terra, das árvores, do infinito, que tudo abrange... Muitas destas gravuras nos recordam – e cremos que são o resultado de uma interpretação subjetiva dessa natureza de parte da artista – as terras do Brasil Central, mais propriamente, o "cerrado cuiabano", cuja hirta e hostil flora tanto se afina com as linhas dramáticas e até dolorosas destas estampas.
A arte da água-forte e da água-tinta, frequentemente mescladas pela autora destas gravuras, parecem o meio ideal para lograr os resultados gráfico-plásticos e expressivos a que, parece, se propõe Lêda Watson. A imprecisão e até a impressão de inacabado que dão, às vezes, alguns trabalhos, correspondem melhor à vontade de expressão exigida: é que esta solução faz com que o motivo meramente enunciado no papel exija a participação da fantasia do expectador, deixando ampla margem para a especulação e a imaginação complementarem o que é indefinido no quadro. Há, enfim, uma profunda associação subjetiva da artista com as paisagens, reais ou imaginárias, que ela interpreta mediante – segundo um crítico – "associações clandestinas" que enriquecem grandemente o valor e as qualidades plásticas da obra. Utilizando com patente perícia as técnicas da gravura em metal – água-tinta e água-forte –, a autora vai criando uma iconografia própria, na qual as "memórias" e os "momentos", as imagens humanas e a natureza, assim como os efeitos das texturas gráficas se dissolvem num mundo fantasioso e rico de soluções.
Baseando-se numa suposta ou imaginária realidade e "desrealizando-a" ao mesmo tempo, Lêda Watson nos dá uma das novas faces da moderna gravura brasileira, na qual ela ocupa o seu merecido lugar" — Lívio Abramo (ABRAMO, LÍVIO, gravador, ilustrador e desenhista. Depoimento realizado por ocasião de exposição no Paraguai, em 1981).
"(...) Não é exagero afirmar que a presente exposição nos oferece a oportunidade de conhecer o trabalho magnífico de uma gravadora que soube assimilar a técnica de seu mestre germânico Johnny Friedlaender, ao apresentar uma obra respaldada no domínio dos grandes recursos técnicos e dos jogos de fórmula, haja vista a forma pela qual desenvolve e organiza os volumes, as massas e as texturas, principalmente, quando os grânulos funcionam como relevos e as gamas tonais são discretamente exaltadas para causar os efeitos necessários ao equilíbrio e à expressão das estruturas formais de suas icásticas criações.
Mas se é verdade que Lêda Watson sabe desenvolver e carregar as lições de seu mestre, pondo-as a serviço de sua rara criatividade, não é menos verdade que essa artista, colocando suas mestrias à disposição de um rico vocabulário de formas fantásticas, revela a sua libertação ao demonstrar a posse de um estilo que se impõe em cada uma de suas composições.
Através da presente exposição, a impor-se por seu nível técnico e estético, Lêda Watson justifica a posição de relevo que vem ocupando no panorama atual da gravura contemporânea" — Hugo Auler (texto crítico publicado no jornal Correio Braziliense, em razão da exposição individual realizada em 1974, em Brasília, na Galeria Múltipla, de Maria Ignês Barbosa).
Fonte: Textos críticos - Lêda Watson. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Exposições
1974 - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira
1974 - Bienal Nacional 74
1977 - 9º Panorama de Arte Atual Brasileira
1978 - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba
1979 - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas
1980 - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas
1984 - 7 Artistas e uma Proposta
1984 - 15 Anos de Gravura
1984 - Armindo Leal, Gilberto Melo, Glênio Bianchetti, Ivanir Vianna, Lêda Watson, Marlene Godoy, Marques de Sá, Minnie Sardinha, Naura Timm, Wilma Lacerda
1987 - Lêda Watson (1987 : Brasília, DF)
1991 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas 1991/XII Salão Nacional de Artes Plásticas
1992 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas 1991/XII Salão Nacional de Artes Plásticas
1993 - 2ª Coletiva de Primavera
1998 - Panorama das Artes Visuais no Distrito Federal
2000 - Mercocidades: Artes Visuais
2002 - JK - Uma Aventura Estética
2013 - SEUmuSEU Expoexperimento
2015 - O Papel do Museu
2015 - Parede Cheia de Histórias: 20 anos de Referência
Fonte: LÊDA Watson. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 02 de junho de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Entrevista Lêda Watson, gravadora que dinamizou a arte do DF | Correio Braziliense - ed. 2 de março de 1983
Lêda Watson, formada em Artes Plásticas na Escola Nacional de Belas Artes pela Universidade de Brasília. Frequentou, em Paris, durante quatro anos, o atelier de Friedlaender, tendo vindo para Brasília em 1975. Imediatamente, dinamizou o panorama artístico da capital abrindo seu atelier, que se tornou ponto de encontro de gravadores do Distrito Federal. Lêda é uma das responsáveis pela educação do público brasiliense no que diz respeito à apreciação de gravura/arte. Sua batalha é em incentivo às importantes mostras de gravadores que vem se realizando em Brasília.
S.W. – Lêda, apesar de grandes nomes das artes terem-se dedicado à gravura, ela, somente há pouco tempo, está se projetando. Qual a sua opinião a respeito?
L.W. – Eu penso que a gravura, depois de um longo caminho percorrido, inicialmente, sendo uma atividade de produção e também de ilustração, era uma atividade paralela da parte dos grandes artistas, decorrente do trabalho de um grande pintor; não era ainda um arte maior, não no valor intenso da arte em si, mas no que representava como meio de comunicação e de participação no contexto geral. No século passado, a gravura já começou, lentamente, a adquirir o seu merecido espaço. Os pintores, os artistas, iniciam-se direto na gravura, já mergulham direto como sua expressão de arte sem ter, obrigatoriamente, que percorrer um caminho de pintores, de desenhistas, de grandes artistas e de grandes pintores para, posteriormente, se tornarem gravadores. Atualmente, os gravadores já fazem sua formação de gravura em metal como a primeira etapa e ali permanecem, eventualmente, se expressando através de outras manifestações de pintura ou de desenho, mas permanecendo a gravura como um modo central de sua maneira de se exprimir.
S.W. – Quer dizer que qualquer pessoa que se dedica à gravura pode se iniciar no trabalho e ser um gravador?
L.W. – Evidente, é, inicialmente, gravador e, posteriormente, outras coisas se quiser. Antigamente, a gravura, o ser gravador, era decorrência de uma formação anterior a um ser pintor. Já existem, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, artistas gravadores, artistas que iniciaram seu processo criativo, sua vida profissional de artista na gravura e, por isso, como não é um processo muito antigo, este caminho é um caminho lento, que a gravura, como expressão de arte, tem que percorrer, para que haja uma penetração, uma compreensão, um entendimento, uma divulgação natural do que é realmente a gravura em metal. Estamos conseguindo isto e, em Brasília, já existe uma maior compreensão do que é a gravura em metal. Eu tenho, e também vários outros artistas, procurado contribuir para isso mantendo um curso bem dinamizado; dezenas e dezenas de alunos que passam por aqui, fazendo exposições didáticas todo ano, mostrando não só os trabalhos, como a maneira que se passa através de todo o processo artesanal, para se chegar àquele resultado; para a gravura, que é uma coisa muito complexa, muito difícil, e para que as pessoas não só conheçam esta expressão de arte, mas entendam realmente o que é a gravura em metal. Coincidentemente, nós temos, aqui no Distrito Federal, exposições no momento muito importantes: gravadores espanhóis e ingleses contemporâneos, assim como um paulista, que, brevemente, estará expondo aqui no Distrito Federal.
S.W. – Bom, o que você acha da gravura aqui em Brasília? Eu sei que você tem um núcleo, formou muita gente aqui e agora está com este clube de arte; mas o grupo que você formou aqui em Brasília, você poderia dizer alguma coisa a esse respeito?
L.W. – Claro! Formou-se o processo desde a universidade, quando fui convidada, chegando da Europa, para dar um curso de gravura em metal. Vinte e tantos alunos se apresentaram. Após o curso de dois meses, muitos deles quiseram continuar a trabalhar e, como todos os cursos de extensão têm duração limitada e a matéria é muito complexa, para os que queriam continuar a trabalhar e não tinham onde, ampliei meu atelier e pude, através desses anos todos, desde 1975, manter ativo o contato com a gravura, com alunos em pequenos grupos que vinham, trabalhavam e aprendiam gravura, sabiam o que era gravura e, eventualmente, se tornavam profissionais da gravura, vários deles, como Sandra Drummond, Regina Motta, Amaro Freire, Flávia Galisa, Rose Fraymund e Siomar de Oliveira Martins. Passaram no meu atelier e, enfim, conviveram comigo e aprenderam a gravura. Estão totalmente envolvidos pela gravura e se tornaram profissionais há vários anos, divulgando, expondo no Brasil e no exterior já como profissionais, ganhando prêmios por este Brasil afora.
S.W. – Diga-me também sobre este selo que foi lançado agora, há pouco tempo, no dia de Ação de Graças.
L.W. – Isso foi um convite que muito me gratificou, das Empresas de Correios e Telégrafos, para um projeto de uma gravura que representaria o Dia de Ação de Graças. Trabalhei o ano passado nisso e resultou uma gravura que foi bem aceita, houve bastante divulgação. O selo ficou bem razoável. Foi lançado no dia 16 de novembro e tem tido uma boa penetração. Foi um trabalho de uma artista de Brasília e não é comum que gravura se torne selo; em geral, são desenhos, pinturas, o que muito me honrou por poder contribuir para divulgar a gravura através do selo.
S.W. – Você está montando um atelier novo, todo instalado. Quais são os projetos que está pensando em divulgar e o que pensa fazer no novo atelier?
L.W. – Eu acabo de chegar de Washington vindo de uma exposição individual que, aliás, transcorreu magnificamente bem, com bastante entusiasmo, professores, universitários e colecionadores. E, imediatamente chegando, tive que me envolver com essa mudança de atelier, que realmente é lento o processo, o trabalho é muito, é complicada a instalação do atelier. E vou além disso, além da gravura em metal; inúmeros cursos diferentes: de criatividade, de desenho, de pintura em tecido, de criatividade para crianças e adolescentes, uma diversificação muito grande de atividades. Tenho dito que tenho que dedicar tempo integral ao planejamento desse meu novo local de trabalho, que será aqui na 715 sul, bloco G, casa 5, e aqui sempre estaremos esperando os que amam a arte, não só pelos cursos, mas pelo convívio com a arte, palestras, conferências e exposições. Sempre o visitante terá oportunidade de muitas coisas e de conhecer de perto com se faz. Temos a ideia de iniciar com um rótulo Clube das Artes, uma espécie de associação de um grupo fechado de pessoas que se candidataram não só a participar dos cursos, palestras e exposições, como também de um sorteio mensal de 18 pinturas e 10 gravuras de um gravador e de um pintor de expressão nacional, excelentes. Eu pretendo conseguir 10 obras de cada um a cada mês (total de 20), para as quais os associados se candidatariam a um consórcio. Isso funcionará como uma atividade do Clube das Artes. Adquirir obras de arte com pagamentos parcelados suaves, sem problemas e sem juros, seria uma espécie de veículo do colecionador brasiliense que se interessa por arte e por artistas do Brasil inteiro, de caráter de galeria, e apenas como uma espécie de intermediários e de penetração de muitos artistas que não são conhecidos. Vamos ver se, em março, vamos incrementar isso.
S.W. – Agora, esse clube terá um limite de pessoas. Você acha que 30, 10 pessoas... quantas pessoas podem entrar?
L.W. – Inicialmente, eu pensei em 30 pessoas. Se a adesão à proposta for grande, podemos pensar em um revezamento dos associados que se candidatarem às obras, que, ao serem sorteados, abririam um lugar para o próximo que estaria se candidatando para os próximos sorteios.
Fonte: Entrevista Leda Watson, publicada no Correio Braziliense, na edição de 2 de março de 1983.
---
Lêda Watson revê sua trajetória e os caminhos percorridos pela capital | Correio Brasiliense
Da janela do ateliê, a artista admira as cores e as formas do cerrado que lhe arrebataram o encantamento e lhe servem de inspiração há 50 anos. Do lado de dentro, o contraste entre o material bruto e pesado da gravura e a leveza e as formas orgânicas da arte feita por Lêda Watson. Nas paredes, estão expostas lembranças das aulas ministradas e dos alunos. Foram 30 anos dedicados ao ensino. Entre pastas e gavetas, imagens de uma vida apaixonada pela gravura em metal. ;É uma técnica inesgotável e desafiadora;, resume.
Lêda percorreu o mundo. No Rio de Janeiro e na França, ela desenvolveu o amor pela arte e se especializou em gravura. Ministrou cursos no Peru, Costa Rica, Nicarágua, Caracas e Panamá. Contudo, foi na capital de Juscelino Kubitschek que ela escolheu desenhar histórias de trabalho, ensino e formação de um cenário cultural. ;Era uma entusiasta da mudança da capital;, conta a artista de sangue carioca. Naquela cidade que surgiu da terra vermelha do cerrado, Lêda também descobriu o fascínio pela vegetação sofrida. ;A mutação e a alternância produzem uma vegetação peculiar. Eu não sabia o quanto ela foi importante para mim. Sempre foi o cerrado a minha inspiração, desde a primeira gravura;, afirma.
Este ano, a artista e um dos maiores nomes da gravura brasiliense celebra 50 anos dedicados à arte. No Espaço Cult, a exposição 50 anos de gravura revela uma pequena retrospectiva de seus trabalhos. Em outubro, Lêda abre uma mostra com obras desenvolvidas nos últimos anos e lança o segundo livro na Referência Galeria de Arte. ;Estou há quatro anos trabalhando nele. É uma complementação do primeiro (Sonhos, momentos, emoções. Técnicas e gravuras). Também é resultado de uma provocação do meu ex-marido. Ele me disse: ;você rompeu recordes na gravura e é muito modesta, não mostrou tudo no primeiro livro;. Ele fez uma apresentação e me estimulou a escrever o segundo;, relembra.
Ainda sem nome, a publicação revela técnicas de gravura em metal que não exigem o aço. ;Desenvolvi muitas técnicas e sigo criando e desenvolvendo novas;, complementa a artista. E, assim como no primeiro livro, Lêda indica o ;pulo do gato;. ;São pulos que facilitam o caminho. A gravura é muito difícil. Você permanecer gravador é muito difícil, só uma maluca como eu;, afirma aos risos. Até o fim do ano, a carioca também viaja a São Paulo para expor na galeria Almeida Prado. ;Optei pela gravura em metal porque ela tem uma dualidade. Na primeira parte, você explode na água forte, nas linhas e, depois, você tem que organizar. Meus trabalhos mostram quem eu sou;, declara.
Ensino
Com um currículo extenso e diante das oportunidades que explorou, Lêda conta que se sentiu na responsabilidade de passar isso adiante. Incentivada a dar continuidade ao ensino da gravura, após um curso de extensão ministrado na Universidade de Brasília (UnB), deu aulas na instituição e criou uma escola no próprio ateliê.
;A UnB agora é outra. Acredito que cada um tem que fazer o que quer da vida desde que não atrapalhe o equilíbrio das pessoas. Não temos direito, socialmente, de impor uma particularidade. Isso que me revolta atualmente na atitude humana;, desabafa. Na avaliação da artista, não se aprende mais técnicas como antes. ;Se aprende a bolar um sistema, uma exposição. Não estou querendo doutrinar, porque odeio que me doutrinem. É que isso não é arte. Arte que tem que ser explicada não é arte;, afirma. Munidos de uma facilidade do ;fazer arte;, as pessoas perdem o estímulo de seguir o caminho de um gravurista. ;Gravador em metal não pode brincar;, resume.
Para a artista, é preciso ensinar os primórdios, a pintar, a desenhar, a fazer xilogravura e litogravura. ;Ninguém pode empurrar o aluno para um caminho. Ou deixa a liberdade com os subsídios para ele crescer ou você não é professor. Escolhi o meu caminho, mas com conhecimento de causa;, avalia.
Má gestão
Além de se inspirar no cerrado e dividir o que aprendeu com outras gerações, Lêda também participou da formação artística e cultural da capital. Ela criou o Museu de Arte de Brasília (MAB), inaugurado em 1985 e fechado há 12 anos. Também foi, por anos, a coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal. Ver a instituição e outros equipamentos culturais abandonados é, mais do que uma tristeza, um desastre. ;Não precisa de dinheiro para fazer as coisas. A própria sociedade move o sistema. Eles fecham os estabelecimentos porque não dá ibope, não faz ninguém se eleger. Existe o gostar de arte e gostar de cultura. Não é falta de público, é desorganização, má gestão. Não é a cultura que é desinteressante, é a gestão que é péssima;, enfatiza.
Para a carioca enamorada por Brasília, a capital tem um enorme potencial artístico. Ao rever sua trajetória, Lêda reconhece o fruto das sementes plantadas. ;Mergulhei de cabeça nessa cidade e tentei me doar. Queria fazer com que a cidade crescesse e, apesar de tudo, cresceu;, pondera. Viver de arte não é fácil. Picasso foi uma exceção. ;Mas é uma paixão. Te faz um bem enorme. Temos que pensar mais no bem que as coisas fazem do que no dinheiro que você não leva para o outro lado;, declara. O segredo dos 50 anos? Perseverança e, sobretudo, zelo profissional. ;Sinto que cumpri minha missão. Tudo o que está havendo agora é lucro;, finaliza.
Fonte: Correio Brasiliense, "Lêda Watson revê sua trajetória e os caminhos percorridos pela capital", publicado por Roberta Pinheiro, em 25 de agosto de 2019. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson | Gabinete de Arte da Câmara dos Deputados
As gravuras que ora enobrecem o Gabinete de Arte da Presidência da Câmara dos Deputados foram concebidas pela artista Lêda Watson, uma das pioneiras e mais importantes gravadoras do Brasil, de alto prestígio nacional e internacional. A mostra aqui apresentada traz uma compilação significativa com 24 obras de três diferentes momentos da carreira da artista, selecionadas num recorte cronológico.
A primeira sala concentra trabalhos do início da trajetória, no Rio de Janeiro; a segunda reúne gravuras criadas em Paris, quando Lêda estudou com o mestre germânico Friedlaender por três anos e meio e cursou a Escola de Belas-Artes da Sorbonne; já a sala principal congrega trabalhos feitos a partir de seu retorno a Brasília, em 1973. Nesta última sala, há uma mescla de obras das séries “Momentos”, “Emoções” e “Sonhos” — produzidas na capital federal, cidade que tão bem acolheu a artista e que tão profunda e inexplicavelmente a tem inspirado, seja pelos deslumbrantes matizes do pôr-do-sol seja pelas oníricas formas da vegetação do cerrado.
Com mais de 50 anos dedicados à produção artística, Lêda Watson também deve ser celebrada por seu incansável trabalho como agente cultural e como arte-educadora. Já ministrou inúmeras palestras, oficinas e cursos na Universidade de Brasília e em outras escolas pelo mundo afora e ainda hoje mantém um ateliê, em Brasília, onde repassa aos discípulos, de forma didática e apaixonada, os segredos das técnicas de gravura em metal que ela domina com maestria.
Oriunda da família de artistas Campofiorito, Lêda Watson não traiu suas origens e se dedicou inteiramente à arte. Nascida em Niterói-RJ em 1933, graduou-se em Artes Plásticas pela Escola Nacional de Belas-Artes (Rio de Janeiro), École Nationale de Beaux Arts — Sorbonne (Paris) e pela Universidade de Brasília. Especializou-se em gravura em metal na Escolinha de Arte do Brasil Augusto Rodrigues com o mestre Orlando Dasilva (Rio de Janeiro) e no Atelier Friedlaender (Paris).
Quando morou em Paris, sua obra foi bem recebida pelos editores de arte franceses e pela crítica especializada, sendo a artista convidada pela Société des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de Jules Laforgue (a edição anterior havia sido ilustrada por Salvador Dalí).
Voltou ao Brasil em 1973, tornou-se professora de gravura, tendo ministrado vários cursos, palestras e oficinas em universidades e museus do Brasil e Exterior por mais de 30 anos. Criou uma Escola de Gravura em seu próprio ateliê, onde formou novos gravadores de 1975 a 1987. A partir daí, deu origem ao 1o Núcleo de Gravadores de Brasília e ao Clube da Gravura. Mais de 420 alunos já aprenderam nas oficinas de Lêda Watson a arte de gravar em metal.
Como agente cultural, criou o 1o Museu de Arte de Brasília, foi a coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do GDF, coordenou prêmios regionais e nacionais de artes plásticas e fez a curadoria brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile.
Desde 1970, participa de exposições coletivas e individuais no Brasil, Europa, América Latina, EUA, Canadá e Oriente.
Fonte: Gabinete de Arte da Câmara dos Deputados. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson | por Chico Sant'Anna
As gravuras de Lêda Watson trazem, segundo os críticos, a influência da vegetação distorcida do cerrado com a abstração do céu do Planalto Central. Desta forma, poderíamos dizer que ela torna o concreto abstrato e o abstrato, concreto.
Enquanto as crianças da sua idade preferiam as brincadeiras de casinha e de bonecas, ainda menina, ela já brincava de fazer vernissage. Não é exagero algum afirmar que a arte está no seu sangue, ou como preferimos hoje, no seu DNA. Neta de arquiteto e pintor italiano radicado no Brasil, sobrinha de pianista e de professor de artes, Lêda Watson desde pequena se acostumou a freqüentar as exposições, galerias de artes, a tomar gosto pela arte. Hoje é uma referência internacional na arte da gravura.
Na França, Lêda Watson pode aprimorar sua técnica com o renomado gravurista Johnny Friedlaender.
Jovem, deu início a seus estudos na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. Mas a paixão pelas artes foi derrotada pelo amor a Sérgio da Veiga Eatson, que a fez abandonar a Escola de Belas Artes no terceiro ano do curso e se mudar para Suíça. O casamento com um diplomata brasileiro,contudo, abriu um mundo de oportunidades e contatos com culturas diferentes que ajudará a aperfeiçoar o dom que já carregava desde menina, quando se entretinha com cavaletes, pincéis e telas. Em 1966, teve os primeiros contatos com a gravura, na Escolinha de Belas Artes do Brasil, na antiga Guanabara, com o mestre Orlando Dasilva.
No exterior, estudou na École Nationale de Beaux Arts-Sorbonne, em Paris e se especializou-se em gravura em metal no atelier do renomado Johnny Friedlaender, pintor e gravurista francês da chamada Nova École de Paris e cujas as obras têm por característica a mescla do abstrato com elementos alusivos à realidade. Estilo que, arriscamos afirmar, influenciou o trabalho de Lêda Watson.
Lêda Watson é, assim, uma das gratas surpresas que a transferência, na década de 1970, dos servidores públicos do Rio de Janeiro para Brasília proporcionou a esta cidade, colocando Brasília no mapa internacional da gravura.
Como arte-educadora, ministrou cursos de gravura em metal e palestras mundo afora: em Lima, Peru: Manágua, Nicarágua, São José de Costa Rica, Caracas, Venezuela;e na Cidade do Panamá, dentre outros locais.
O interesse pelas artes desde cedo e sua trajetória artístico-profissional permitiram a convivência com grandes nomes da arte brasileira, tais como Marina Colassanti, que foi colega de escola, Athos Bulcão, Rubem Valentin e tanto outros. E o melhor de tudo isso, é que Lêda, como professora da Universidade de Brasília, ou em seu atelier, transmitiu a gerações e gerações de novos artistas a sua arte.
A contribuição de Lêda ao mundo cultural de Brasília vai além. Em 1985, criou o Museu de Arte de Brasília – MAB. Além disso, graças a sua expertise, duas plantas da cidade do Rio de Janeiro, datados de 1808, quando da chegada da família real ao Brasil foram recuperados. As chapas de cobre, com 3 mm de expessura e medindo 94 cm x 64 cm, entalhadas com o uso de buril destinavam-se a impressão dos mapas e estavam no Museu da Imprensa Nacional, criada por Dom João VI, quando aqui chegou. As chapas nunca haviam sido reproduzidas.
Para explicar o trabalho de Lêda Watson são necessárias duas etapas: uma para focar a técnica e outro o estilo. Ao contrário de outros artistas plásticos, que tem a tela e o pincel como base de trabalho, a gravura tem a chapa de metal e o buril (uma espécie de formão – se é que eu posso afirmar isso), com o qual se trabalha na marcação das chapas de metal e que servirão de matriz para reproduzir em papel as gravuras.
Na verdade, o gravurista trabalha uma matriz, um clichê, como se fosse um carimbo, que será o ponto de partida para a reprodução das gravuras.
Bem ninguém melhor do que ela mesmo para explicar o que é a gravura.
“Arte de formar por meio de incisões e talhos, ou fixar por meios químicos, em metal, em madeira, em pedra, imagens em baixo ou alto relevo, para registro de uma imagem (como no início da história humana) ou para reprodução e multiplicação através de entintamento e estampagem, manual ou mecanicamente, em papel ou outro material.”
Recorro aqui a outro especialista para descrever o trabalho de Lêda Watzon, Bené Fonteles, que ao visitar uma exposição dela não conteve suas emoções. Escreveu ele: “A sensação da visita traz a presença de seres imaginários numa fábula nunca a mim contada. Seres que nos invadem mais a alma que a mente, e me fazem possuir uma nova forma de ver e de pertencer ao mundo. Suas gravuras grávidas deste fabulário fantástico estão carregadas da organicidade, onde a simbiose da flora e da fauna do estranho humanizam a paisagem e trazem uma outra compreensão e recriação da natureza nunca dantes vislumbrada na gravura brasileira.”
Sérgio Rouanet acredita que este fabulário fantástico, a que se referiu Bené Fonteles, devem ser fruto das caminhadas e acampamentos noturnos que Lêda e seu Marido faziam nos cerrados de Brasília. “Não seria nesses passeios que ela aprendeu a amar o céu de Brasília e a conhecer de perto a natureza do Planalto Central? Não seria a lembrança dessas excursões em que ela estabeleceu contato imediato com a vegetação do cerrado, que teria entrado em sua arte, toda ela feitas de folhas, galhos entrelaçados, raízes? É uma arte orgânica, vegetal, através da qual perpassam, sobre um fundo policrômico” – escreveu o ex-ministro da Cultura, Sérgio Rouanet.
Essa também é a visão do gravador, ilustrador e desenhista, Lívio Abramo, que, em 1981, proporcionou a primeira exposição individual de Lêda Watson, no Paraguai.
Para ele, a trama das imagens produzidas pela gravurista é transformada em arabescos que afastam da figura humana sem se poder dizer que sua arte seja abstrata, do modo em que sentimos pulsar nela, difusa, mas perceptível, a vida do homem, da terra, das árvores, do infinito que tudo abrange.
“Muitas destas gravuras nos recordam – e cremos que são o resultado de uma interpretação subjetiva dessa natureza de parte da artista – as terras do Brasil Central, mais propriamente o “cerrado cuiabano”, cuja hirta e hostil flora tanto se afina com as linhas dramáticas e até dolorosas destas estampas” – comentou o artista plástico.
Fonte: Brasília por Chico Sant’Anna. "Você conhece os artistas de Brasília? Conheça aqui as gravuras de Lêda Watson", publicado em 1 de janeiro de 2014. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira | Metrópoles
A gravurista Lêda Watson está completando 50 anos de carreira neste ano. Nascida nos Estados Unidos, passou a juventude no Rio de Janeiro e teve formação na Escola de Belas Artes de Paris (França), acolheu Brasília como cidade para fincar raízes em 1973. Apesar de fazer um panorama negativo sobre as artes da atualidade, segue ativa na produção de gravuras.
Com obras em espaços como o Museu Nacional de Brasília e a Biblioteca Nacional de Paris, Lêda foi uma das figuras mais importantes na construção de um cenário artístico na capital. Ela, inclusive, atuou vigorosamente na criação do Museu de Arte de Brasília (MAB), fechado em 2007 por danos estruturais e com reabertura marcada para o ano que vem.
Nova exposição
Em entrevista ao Metrópoles, a artista afirma que tomou três decisões para comemorar os 50 anos de carreira. A primeira foi dar o pontapé inicial de uma exposição individual no Museu de Brasília para o ano que vem.
“Tentei conseguir um apoio pelo FAC, mas meu projeto não foi aprovado. Acho que preferem os artistas novinhos”, desabafa. Ainda assim, ela busca uma parceria com o Wagner Barja, diretor do museu, para que a mostra aconteça.
"Não vou desistir de apresentar minhas obras. O povo brasiliense não pode se esquecer dos artistas pioneiros" – Lêda Watson
A segunda decisão diz respeito à produção de um catálogo com todas suas produções realizadas de 2008 até hoje. “Eu já publiquei um livro há cerca de dez anos e, mesmo assim, diversos amigos insistem que eu faça um novo. Vamos ver se fica legal”, conta.
Mudança de rumos
A terceira decisão será considerada infeliz por muitos artistas iniciantes da capital. Após 30 anos dando aulas em seu ateliê localizado no Lago Sul, ela não abrirá novas turmas. “Estou cansada. Vou focar em meus próprios projetos, que estão parados há alguns meses”, revela.
Ela soma 420 artistas treinados ao longo dessas décadas, que hoje se encontram atuantes na capital e em diversos países. “Acredito que sou a única gravurista do país que abre o próprio ateliê para alunos”, diz, com orgulho.
Apesar de olhar para sua trajetória com carinho, Lêda tem uma perspectiva negativa sobre a produção artística atual. “Tem muita gente fazendo coisa boa hoje, mas tem mais gente fazendo coisa ruim e mesmo assim sendo aplaudido. É difícil de entender”, avalia.
Fonte: Metrópoles, "Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira", publicado em 8 de outubro de 2017. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
Crédito fotográfico: Metrópoles, "Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira", publicado em 8 de outubro de 2017. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
Lêda Saldanha da Gama Watson (Niterói, RJ, 1933), mais conhecida como Lêda Watson, é uma artista plástica, artista visual e gravadora brasileira. Graduada em Artes Plásticas na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, na École Nationale de Beaux-Arts, em Paris, e na Universidade de Brasília, em Brasília, especializou-se em gravura em metal na carioca Escolinha de Arte do Brasil – Orlando Dasilva e no Ateliê Friedlaender, francês. Diplomou-se, em 1969, no Curso Superior de Língua e Literatura Francesa da Universidade de Nancy. Foi convidada pela Société des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de Jules Laforgue. Tornou-se professora de gravura, tendo ministrado vários cursos, palestras e oficinas em universidades e museus do Brasil e Exterior por mais de 30 anos. Criou uma Escola de Gravura em seu próprio ateliê, onde formou novos gravadores de 1975 a 1987. Fundou o 1º Núcleo de Gravadores de Brasília e o Clube da Gravura. Mais de 420 alunos já aprenderam nas oficinas de Lêda Watson a arte de gravar em metal. Como agente cultural, criou o 1º Museu de Arte de Brasília, foi coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do GDF, coordenou prêmios regionais e nacionais de artes plásticas e fez a curadoria brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile. Participou de exposições coletivas e individuais na América Latina, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e no Oriente.
Biografia Leda Watson - Site da Artista
Residindo na França por quatro anos, obteve grande receptividade dos editores de arte franceses, tendo vendido inúmeras edições fechadas de gravura, representadas hoje na coleção da Bibliothèque Nationale de Paris.
Recebeu convite da Societé des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de contos de Jules Laforgue, cuja edição anterior havia sido ilustrada por Dalí. Regressando ao Brasil, instalou seu ateliê em Brasília e continuou a manter contato com seus editores franceses.
Como arte-educadora, ministrou cursos de gravura em metal e palestras na Universidade Católica de Lima (Peru), na Universidade de Brasília (Brasil), na Escola Nacional de Artes (Nicarágua), na Universidade Nacional-Heredia (Costa Rica), na Universidade Central da Venezuela (Caracas) e no Museu de Arte Contemporânea (Panamá).
Incentivada a dar continuidade ao ensino da gravura após um curso de extensão ministrado na UnB, criou sua Escola de Gravura, no próprio ateliê, onde se empenhou na formação de novos gravadores durante mais de 12 anos, entre 1975 e 1987. Fundou, então, o 1º Núcleo de Gravadores de Brasília.
Criou o 1º Museu de Arte de Brasília em 1985 e, em 1989, o Clube da Gravura, reunindo, em sua maioria, gravadores profissionais do Distrito Federal. Foi, por mais de 6 anos, coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal, tendo sido designada também para coordenar o II Prêmio Brasília de Artes Plásticas/XII Salão Nacional de Artes Plásticas do Ministério da Cultura, em 1991. Nesse mesmo ano, fez a curadoria da participação brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile.
Em 1995, aposentou-se como professora, dedicando-se inteiramente à própria arte. Como artista plástica gravadora, desde 1970, Lêda participou de exposições coletivas e individuais na América Latina, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e no Oriente. Desde 2002, retomou os estudos da gravura em seu próprio ateliê, expondo, periodicamente, com seus alunos.
Linha do tempo
Anos 50
Lêda Campofiorito formou-se no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, onde estudou desde os 12 anos e se tornou a estrela do voleibol.
Estuda Professorado de Desenho na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, período em que conheceu Marina Colasanti, que veio a se tornar uma querida amiga.
Anos 60
Casa-se com o diplomata Sérgio Veiga Watson e muda-se para Berna, na Suíça, onde nascem seus filhos Eduardo e Andréa.
Estabelece-se, após quatro anos na Suíça, em Bogotá, Colômbia, local de nascimento de Elena, sua terceira filha.
Em 1966, Lêda e família retornam ao Rio de Janeiro. Por intermédio de Marina Colasanti, Lêda ingressa na Escolinha de Arte do Brasil, na qual tem Orlando Dasilva como seu primeiro mestre de gravura em metal.
1971/1972, Paris – A família muda-se novamente, para uma missão na França, momento em que a gravura já estava enraizada na alma de Lêda. Paris representou, para ela, oportunidade inigualável de crescimento. "Friedlaender foi o maior gravador que já houve. Frequentar seu ateliê na Rue Saint Jacques era absolutamente animador, pois era um ateliê fechado, frequentado por poucos gravadores".
No ateliê de Friedlaender, a disciplina e o cuidado eram severos. Circulava-se pouco, falava-se menos ainda. De nossa mesa de trabalho, íamos apenas até a sala dos ácidos ou, então, adentrávamos a sala do mestre, em que trabalhava com Brigitte Coudrain, sua assistente, para utilizarmos a prensa francesa muito antiga e o forno, onde entintávamos a placa. Apenas nessas horas nos aproximávamos do mestre (…). Aprendíamos apenas pela observação do trabalho do mestre e dos companheiros, e como se aprendia!”
1973, Paris – Lêda e sua filha, diante da Galerie Bernier, especializada na arte em papel, durante mostra individual. “Expus 25 gravuras, e o resultado de público e de vendas foi bastante satisfatório. Foi um momento feliz, de realização profissional.”
1974, Brasília – 1ª exposição individual após chegar da França. Galeria Múltipla, de Maria Ignez Barbosa.
1974, São Paulo – 3ª exposição individual, na Galeria Bonfiglioli. Lêda foi muito prestigiada com a presença de amigos ilustres.
Lêda alternava-se entre o ateliê do mestre Friedlaender e o ateliê da École Nationale de Beaux Arts, que primava pela descontração e por artistas provenientes das mais variadas culturas. “A cada dia, surgia um truque novo para encurtar caminhos de uma técnica mais complexa”.
Anos 80
1981, Paraguai – “Lívio Abramo telefonou-me e disse: ‘Conheço suas obras, gosto delas e as admiro. Gostaria de convidá-la para uma exposição individual em Assunção, no Paraguai’. Esse foi o início de uma grande amizade”.
1988, Canadá – Mostra retrospectiva na Biblioteca Robarts, de Ottawa, e mostra individual em Toronto. Nancy Bayle, crítica de arte do jornal Ottawa Citizen visitou, cuidadosa e pacientemente, a mostra e publicou uma crítica altamente favorável aos trabalhos de Lêda, que, na ocasião, recebe o convite, do governo canadense, para expor suas gravuras em todas as universidades canadenses durante dois anos.
Anos 90
1989 a 1991, Canadá – Lêda participa da Exposição Itinerante a convite oficial do Escritório de Exposições Internacionais do Ministério das Comunicações do Canadá.
1995, Manágua (Nicarágua) – Lêda ministra curso de gravura do Centro de Estudos Brasileiros.
Junho de 1997, Brasília – Exposição Sonhos I na Referência Galeria de Arte.
1998, Niterói, Rio de Janeiro, Sala Quirino Campofiorito – Exposição Sonhos II no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno.
Anos 2000
2003, Brasília – Lêda participa das edições do Ateliê Aberto, de iniciativa de Omar Franco, que consistiu na abertura de seu ateliê a mais de 10 gravadores da cidade, para recebimento do público.
2004, Brasília – Lêda recupera mais de 280 gravuras para compor exposição na Nicarágua.
2004, Rio de Janeiro – Lêda recupera duas chapas de cobre, de 94cm x 64cm cada uma, com espessura de 3mm, trabalhadas em buril, a convite da diretora do Museu de Imprensa Nacional. As placas contêm as plantas do Rio de Janeiro, feitas por ordem do Príncipe Regente D. João VI ao chegar ao Brasil, em 1808, executadas pela Imprensa Régia. Cópias das placas nunca haviam sido feitas.
2007, Brasília - Construção e Desconstrução. Centro Cultural da CEF.
Março/abril de 2008, Brasília – Exposição Sabedoria gravada: tributo a Lêda Watson. Galeria Rubens Valentin, 508 sul. Curadoria de Bené Fonteles.
7 de outubro de 2009, Brasília – Exposição Olhares cruzados sobre a natureza (coletiva). Fundação Cultural do DF, 508 sul.
Abril de 2010, Brasília – Ateliê Lêda Watson: Novas expressões em torno da gravura em metal. Daniel Briand (coletiva).
6 de abril de 2011, Brasília – Exposição coletiva Semi-Círculo no Museu Nacional.
2011, Campinas (SP) – Lêda participa da 5ª Bienal Nacional de Gravura: Olho latino (coletiva).
2011, Brasília – Exposição coletiva Eu o meio ambiente. Senado Federal. Curador: Fábio de Almeida Prado.
Outubro de 2011, Lyon, França – Exposição Gravures contenporaines d’artistes français et bresiliens.
Novembro de 2011, Paris – Exposição 15 ème Bienale Internationale de Paris. Pays Invité: Brésil.
7 de março de 2012, Brasília – Participação na nova Referência Galeria de Arte (coletiva).
Março de 2012, Brasília – Exposição Diálogos da resistência. Museu da República, HAB. Curador: Bené Fonteles (coletiva).
24 de agosto de 2012, Brasília – Lêda participa do III Concurso de Desenho Brasileirinhos do Mundo como membro do júri. Itamaraty.
2013, Brasília – Lêda continua a ministrar aulas de gravura em seu ateliê no Lago Sul e a participar de exposições.
Maio de 2013, Brasília – Bate-papo com colecionadores com formato de feira-participação. Galeria Referência.
Junho de 2013, Brasília – Lêda participa do XXXV Salão Riachuelo como membro do júri. Teatro Nacional Claudio Santoro, foyer da Sala Villa Lobos.
Outubro de 2013, Brasília – Exposição Seu Museu: expoexperimento. Museu da República (coletiva).
Novembro de 2013, Ville de Sarcelles – Lêda participa da Bienal Internacionale de la Gravure.
5 de junho de 2014, Brasília – Lêda Watson e os Gravadores Alucinados. Café Savana.
6 de dezembro de 2014, Brasília – Lêda coordena o Gravuras no Varal: gravadores. Residência e ateliê Lêda Watson.
2015 – Lêda participa do livro Viagem incompleta: arte brasileira sobre papel. Concepção de Luiz Dolino.
Abril de 2015, Brasília – Lêda participa do Ciclo de arte. Retrospectiva. Brasília Shopping. Curadoria: Ralph Gehre.
2015, Brasília – Exposição Caminhos da impressão: uma jornada pelo universo de Lêda Watson. Galeria Referência.
10 de setembro de 2015, Brasília
Exposição O papel do museu: seis décadas de arte sobre papel. Museu da República.Curadoria: Bené Fonteles (coletiva).
Novembro, 2015 - Brasília, 12 Ateliês. Projeto de resgate da memória artística da cidade. Lêda criou o projeto, coordenou sua execução, fez a curadoria da exposição, juntamente com Newton Scheufler, e expôs seus trabalhos na mostra. Caixa Cultural Brasília, Galeria Principal - de 25 de novembro de 2015 a 17 de janeiro de 2016.
22 de abril de 2016, Brasília – Inauguração do painel com reprodução da gravura Sonhos e fantasias. QL 8, Lago Sul, residência de Lêda Watson.
14 de outubro de 2016 a 27 de abril de 2017, Brasília – Exposição Retrospectiva. Câmara dos Deputados, Gabinete da Presidência.
Novembro de 2016, Brasília – Lêda participa da I FAC RARO: Feira de Arte Contemporânea. Casa Park (coletiva).
8 de março de 2018, Brasília – Lêda participa da exposição coletiva Artistas no Acervo da Caixa: 32 mulheres artistas.
17 de agosto de 2019, Brasília, Centro Cultural Paulo Otávio - Lêda Watson, 50 Anos de Gravura.
Fonte: Biografia Lêda Watson. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Críticas
"De todas as euforias artísticas no Brasil, a da gravura gráfica de criação é a mais justa. Em seguida a um demorado processamento de iniciação, quando atuam uns raros nomes de gravadores (Carlos Osvald e Oswaldo Goeldi), a gravura com o rigor de criação realmente se impõe com a geração que emerge na década de 1940. Não cessa, então, de crescer, até alcançar uma quantidade deveras excepcional, que extravasa os limites nacionais e chega à mais decidida notoriedade internacional.
Nossos gravadores, formando uma equipe que se tornou assaz numerosa, conseguiram merecida posição de grande singularidade no conceito mundial. A gravadora Lêda Watson está nessa linhagem que hoje bem sustenta, para a gravura brasileira, esse destaque. Reconhecendo-se isto, logo se deverá apreciar a gravura com seus melhores requisitos de uma particularidade da criação artística que sustenta suas condições próprias e cujo sucesso total delas decorre. O desenvolvimento da inventividade artística exigiu, porém, liberdade para o surgimento de novos recursos de elaboração criativa que, se bem muito adaptados ao trabalho gráfico (e, consequentemente, afins ao ofício do gravador), escapam ao que se possa classificar, com um mínimo de propriedade, de gravura. Lêda Watson dá provas de fidelidades à gravura.
Seu trabalho prossegue com o compromisso que sua arte impõe: gravar. Algumas interferências são fortuitas e não afetam a legitimidade da gravura. É uma gravura que comove e se comunica pela transposição emocional e criativa da artista, fazendo valer seu ofício seguro – a água-tinta. Sutilezas de tonalizações e texturas obtidas com acurada sensibilidade no trato da corrosão pelo ácido nas sucessivas etapas. E quanto à cor, quando é o caso, não se desprende ela da comunhão intrínseca que a expressividade plástica comporta para se totalizar. Percebe-se que, na elaboração de sua gravura, Lêda Watson deixa a complexidade do motivo e a participação dos elementos que o constituirão irem se desenvolvendo num caminhar natural e emotivo, como aquilo que nasce e cresce no terreno fértil da imaginação desembaraçada, apenas colhendo alento na espontaneidade do sentimento que vai sendo estimulado pela própria ação criativa" — Quirino Campofiorito (WATSON, LEDA, a gravurista. Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1975).
"É um prazer, para mim, responder ao pedido de Lêda Watson. Ela trabalhou em meu atelier durante três anos (outubro de 1970 a outubro de 1973). Ela foi uma das minhas alunas mais dotadas de espírito de invenção e criatividade. Ela domina totalmente as técnicas da gravura e encontrou caminhos que prometem as maiores esperanças" — Friedlaender (WATSON, LEDA, a gravurista. Paris, 18 de novembro de 1975).
"Na medida em que entram os sentidos do sentido – como significado, como significante, como sinal, como símbolo, como ícone, como sema, como semema, como lema, como emblema, como ideologema, como profetema, como apocaliptema, como psiquema, como carismatema, em suma, como unidade fluente de um hipossistema de sistema de sistemas –, compreendemos que ele, o sentido, não pode haver sem sua outra face, o sem-sentido: aqui, no sem-sentido, estão a entropia e o caos, as ausências, a liberdade tão absoluta que não é liberdade, pois é liberdade compulsória, sem opção, vale dizer, não-liberdade: ali, no sentido, está a neguentropia, certa ordem, certo cosmo, certas presenças, certas determinações, certas interdependências, certas interliberdades interligadas. O trágico na arte é que, em havendo humano – um objeto achado, mas por ser humano –, há, pelo menos, sempre, o sintoma e a síndrome de outras coisas humanas, até patológicas, por exemplo, ou sociopatológicas, por exemplo. E como separar isto daquilo, em certos momentos da história? É na interface daquelas duas faces que parece estar o sentido e o sem-sentido de certas formas e substâncias de arte. Imaginemos o artista não artesão, não artífice, a jogar o dado do azar, a lançar a flecha ao ar, e a colher, ao acaso, o número platônico que governa um mundo ou o mundo, ou atingir o pássaro de ouro pousado na menor haste da campina. E imaginemos o artista criador a concretizar o número platônico ou a querer fazer que o pássaro de ouro pousado na menor haste da campina entoe seu canto de cristal.
É como como vejo as gravuras de Lêda. Não fujo ao fascínio de enfrentar o aleatório buscado. O acaso esperado, o surto desejado, o evento emerso, o caso inesperado – mas captados. Pois que acaso, surto, evento ou caso é ele dominado, acariciado, trabalhado tão amorosamente, tão amorsofridamente, que a contaminação de psiquismos – e dela e o do contemplador – deixa de ser milagre, porque deriva de uma mediação concreta instalada no retângulo (ou que outra geometria tenha) do papel, onde se inscrevem todas as linhas e todas as sugestões, cromáticas ou acromáticas, oníricas, telúricas, empíricas, fantasmáticas, talássicas, selênicas, urânicas – menos um sem- núme ro de não sugestões.
Lêda refaz o caminho da arte: domina a técnica com aprendizado diuturno de longos anos e com grandes mestres, e – vendo-se e sentindo-se cada vez mais senhora do seu fazer – quer um fazer que vê na linha do seu horizonte: um aproximar-se da linguagem visual que quer ser mais poderosa que quaisquer verbalizações e é uma busca tão intensa, tão vibrante, tão apaixonante, que explodiria, se não fosse contrapesada pela garra da sua técnica.
Desde Goeldi, a gravura brasileira vem superando o desafio da qualidade e da continuidade na diversidade, graças a fiéis artistas profissionais (é este o termo), mulheres e homens. Lêda está nessa linhagem, por direito do seu saber, do seu fazer, do sentir, do seu fazer sentir artísticos" — Antonio Houaiss (WATSON, LEDA, a gravurista).
"Certas pessoas dispensam apresentação. Não há nada mais irritante que o velho lugar comum segundo o qual certas pessoas não precisam de apresentação. Em geral, essa afirmação, ou denota preguiça, servindo como pretexto para não pesquisar o currículo de quem deveria estar sendo apresentado, ou é propaganda enganosa, alimentando, no ouvinte ou no leitor, a esperança de que não haja mesmo apresentação, falsa promessa logo seguida por uma apresentação mais longa do que desejaríamos.
Dito isso, devo confessar que não me ocorre meio mais verídico de começar meu texto: tenho que dizer que Lêda Watson não precisa de apresentação. Todos sabem que ela é hoje uma das gravadoras mais eminentes do Brasil e uma das de maior repercussão internacional, com uma trajetória que vai de Paris, onde ela estudou com Johnny Friedlaender, à América do Sul, América do Norte, Europa e Ásia. À sua reputação de artista, acrescenta-se seu prestígio como docente, graças aos cursos de gravura em metal que ministrou em Brasília, em Lima, em Manágua, na Costa Rica, no Panamá e em Caracas, e como administradora cultural, área em que ela adquiriu grande experiência em cargos, como o de Coordenadora do Programa de Museus da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.
Mas se ela não precisa de apresentação, o leitor tem direito de saber por que, então, estou escrevendo este texto. Os motivos são mais biográficos que artísticos. Barbara e eu conhecemos Lêda no início dos anos 1970, quando ela tinha acabado de voltar de Paris, onde tinha dado seus primeiros passos no atelier de Friedlaender. Linda, cheia de vida, com grande curiosidade intelectual, Lêda já era, em embrião, a grande artista que ela se tornaria depois. Os dois casais (na época, Lêda era casada com o diplomata Sérgio Watson) faziam excursões pelo cerrado, improvisando serestas e pernoitando em tendas. Não seria nesses passeios que ela aprendeu a amar o céu de Brasília – “o céu de Brasília”, escreve ela nesse livro, “me deslumbrava ao entardecer dos dias secos” – e a conhecer de perto a natureza do Planalto Central, tão decisiva para sua obra? Não seria a lembrança dessas excursões, em que ela estabeleceu contato imediato com a vegetação do cerrado, que teria entrado em sua arte, toda ela feita de folhas, de galhos entrelaçados, de raízes? É uma arte orgânica, vegetal, através da qual perpassam, sobre um fundo policrômico, figuras fugidias, em que julgamos adivinhar úteros, fetos, cordões umbilicais.
Que a arte de Lêda seria uma interiorização metafísica dessa flora é apenas uma hipótese. Mas que há uma constante inquietação filosófica em sua obra não é uma hipótese, mas um fato, que transparece nos títulos de suas gravuras. Tenho, em meu apartamento, uma gravura dos anos 1970, belíssima, a que ela deu o título O processo do infinito. Num certo sentido, o infinito define o horizonte de sua busca e de sua experimentação estética. É uma arte que capta momentos e também emoções – nome de duas séries de suas gravuras –, mas que exprime também ideias, tendo, como foco, em grande parte, a noção de infinito.
Pois, para Lêda Watson, não há incompatibilidade entre a razão e a especulação, por um lado, e a emoção, por outro, como não há incompatibilidade entre inspiração e técnica. Ela sabe que arte é trabalho, é paciência, é domínio do ofício, é manejo seguro do buril, é utilização profissional da técnica da gravura – água-tinta e água-forte –, e só assim a emoção, por mais sincera que seja, e a ideia, mesmo a mais profunda, poderão chegar à sua mais perfeita expressão.
Sim, não há dúvida de que esse livro atingirá seu objetivo de passar adiante o saber e a experiência acumulados por Lêda Watson há tantos anos, contribuindo, e muito, para o aperfeiçoamento artístico das novas gerações. Ah, e antes que me esqueça: que tal retomarmos, um dia, nossas serestas de 30 anos atrás?" — Sergio Paulo Rouanet (texto escrito por ocasião do lançamento do livro Sonhos, momentos, emoções: técnicas e gravuras. Brasília, 2008).
"A gravura no Brasil está retomando sua posição de importância internacional. Um dos elementos positivos dessa retomada será, certamente, a gravadora Lêda Watson, que se apresenta em primeira exposição individual no Rio de Janeiro. Após anos de vivência e trabalho na Europa, ela volta ao Brasil dominando plenamente o seu métier, utilizando-se dele para dar bases sólidas à sua grande capacidade criativa, à sua imaginação tão fértil. Ela cria um mundo de fantasia, no qual nos permite penetrar, mundo onde o fantástico tem a sua lógica, onde a razão continua existindo dentro da maior exuberância de formas. Lêda Watson realmente desvendou os mistérios da técnica da gravura em metal e suas ferramentas, entre as quais, o buril. Não há duvida, ela é um dos elementos que ajudaram a dar vida nova à gravura brasileira, um dos elementos com os quais podemos contar" — Marc Berkowitz (texto crítico de introdução à exposição individual realizada em 1974, no Rio de Janeiro, na Galeria Intercontinental, gerenciada por Kalma Murtinho, assessorada por Denise Mattar).
"Por que tanta arte contemporânea parece aspirar às formas nascidas do acidente ou do secreto crescimento orgânico (às microformas de mamãe natureza)?
O caso de certa gravura nos impede de falar logo em “recesso do humanismo”, pois a gravura interpõe enorme dose de cálculo na inspiração “inconsciente” e na forma-resultado. Foi possível chegar depressa a uma action painting; mas como instituir verdadeiras técnicas de “deflagração”, como celebrar autenticamente o rito da imediatez expressiva numa arte tão comprometida com “estados”, isto é, visceralmente refletida e gradual? Restava explorar a sedução da matéria por meio da mais requintada cuisine da estampa colorida: precisamente, o que fez o grande Friedlaender, mestre de Lêda Watson. Mestre, porém, de métier, não de estilo, nem de composição. Se, nas agua-tintas de Lêda, se faz sentir a sugestividade cor-textura, como em Vôo noturno; se, nas agua-tintas, também se cultivam o nodoso; o granulado; os efeitos de solo e de pele, de folha e de membrana; certo grafismo; o sombrio dos tons-pastel; e, sobretudo, a representação de fantasia (árvore, planta, pássaro?), presença icônica do que a autora chama de lembranças de outro mundo, as gravuras de Lêda já se situam (afora um ou dois puros exercícios de textura) no território ambíguo do entre textura e figura.
Mas é o próprio gravar que co-motiva o figurar, como se vê claramente nos Caminhos de um pavão: é o gravar amoroso, convicto e obstinado que “desrealiza” as mesmas alusões surgidas, até conferir-lhes aquela qualidade perturbadora que Focillon descobria no fantástico exato e frio das gravuras de Meryon: “La réalité du dépaysement”" — José "Guilherme Merquior (texto de apresentação de exposição individual realizada em 1974, em Brasília, na Galeria Múltipla, de Maria Ignês Barbosa).
Como todo artista criador, Lêda Watson condensa e sintetiza as imagens do mundo exterior, assim como aquelas do mundo interior numa imaginária e em signos simbólicos que realiza plasticamente na gravura, de maneira muito subjetiva, mas sempre rica em soluções formais. A trama de suas imagens é transformada muito frequentemente em um arabesco que, em geral, se afasta da figura humana sem se poder dizer que sua arte seja abstrata, do modo em que sentimos pulsar nela, difusa, mas perceptível, a vida do homem, da terra, das árvores, do infinito, que tudo abrange... Muitas destas gravuras nos recordam – e cremos que são o resultado de uma interpretação subjetiva dessa natureza de parte da artista – as terras do Brasil Central, mais propriamente, o "cerrado cuiabano", cuja hirta e hostil flora tanto se afina com as linhas dramáticas e até dolorosas destas estampas.
A arte da água-forte e da água-tinta, frequentemente mescladas pela autora destas gravuras, parecem o meio ideal para lograr os resultados gráfico-plásticos e expressivos a que, parece, se propõe Lêda Watson. A imprecisão e até a impressão de inacabado que dão, às vezes, alguns trabalhos, correspondem melhor à vontade de expressão exigida: é que esta solução faz com que o motivo meramente enunciado no papel exija a participação da fantasia do expectador, deixando ampla margem para a especulação e a imaginação complementarem o que é indefinido no quadro. Há, enfim, uma profunda associação subjetiva da artista com as paisagens, reais ou imaginárias, que ela interpreta mediante – segundo um crítico – "associações clandestinas" que enriquecem grandemente o valor e as qualidades plásticas da obra. Utilizando com patente perícia as técnicas da gravura em metal – água-tinta e água-forte –, a autora vai criando uma iconografia própria, na qual as "memórias" e os "momentos", as imagens humanas e a natureza, assim como os efeitos das texturas gráficas se dissolvem num mundo fantasioso e rico de soluções.
Baseando-se numa suposta ou imaginária realidade e "desrealizando-a" ao mesmo tempo, Lêda Watson nos dá uma das novas faces da moderna gravura brasileira, na qual ela ocupa o seu merecido lugar" — Lívio Abramo (ABRAMO, LÍVIO, gravador, ilustrador e desenhista. Depoimento realizado por ocasião de exposição no Paraguai, em 1981).
"(...) Não é exagero afirmar que a presente exposição nos oferece a oportunidade de conhecer o trabalho magnífico de uma gravadora que soube assimilar a técnica de seu mestre germânico Johnny Friedlaender, ao apresentar uma obra respaldada no domínio dos grandes recursos técnicos e dos jogos de fórmula, haja vista a forma pela qual desenvolve e organiza os volumes, as massas e as texturas, principalmente, quando os grânulos funcionam como relevos e as gamas tonais são discretamente exaltadas para causar os efeitos necessários ao equilíbrio e à expressão das estruturas formais de suas icásticas criações.
Mas se é verdade que Lêda Watson sabe desenvolver e carregar as lições de seu mestre, pondo-as a serviço de sua rara criatividade, não é menos verdade que essa artista, colocando suas mestrias à disposição de um rico vocabulário de formas fantásticas, revela a sua libertação ao demonstrar a posse de um estilo que se impõe em cada uma de suas composições.
Através da presente exposição, a impor-se por seu nível técnico e estético, Lêda Watson justifica a posição de relevo que vem ocupando no panorama atual da gravura contemporânea" — Hugo Auler (texto crítico publicado no jornal Correio Braziliense, em razão da exposição individual realizada em 1974, em Brasília, na Galeria Múltipla, de Maria Ignês Barbosa).
Fonte: Textos críticos - Lêda Watson. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Exposições
1974 - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira
1974 - Bienal Nacional 74
1977 - 9º Panorama de Arte Atual Brasileira
1978 - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba
1979 - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas
1980 - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas
1984 - 7 Artistas e uma Proposta
1984 - 15 Anos de Gravura
1984 - Armindo Leal, Gilberto Melo, Glênio Bianchetti, Ivanir Vianna, Lêda Watson, Marlene Godoy, Marques de Sá, Minnie Sardinha, Naura Timm, Wilma Lacerda
1987 - Lêda Watson (1987 : Brasília, DF)
1991 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas 1991/XII Salão Nacional de Artes Plásticas
1992 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas 1991/XII Salão Nacional de Artes Plásticas
1993 - 2ª Coletiva de Primavera
1998 - Panorama das Artes Visuais no Distrito Federal
2000 - Mercocidades: Artes Visuais
2002 - JK - Uma Aventura Estética
2013 - SEUmuSEU Expoexperimento
2015 - O Papel do Museu
2015 - Parede Cheia de Histórias: 20 anos de Referência
Fonte: LÊDA Watson. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 02 de junho de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Entrevista Lêda Watson, gravadora que dinamizou a arte do DF | Correio Braziliense - ed. 2 de março de 1983
Lêda Watson, formada em Artes Plásticas na Escola Nacional de Belas Artes pela Universidade de Brasília. Frequentou, em Paris, durante quatro anos, o atelier de Friedlaender, tendo vindo para Brasília em 1975. Imediatamente, dinamizou o panorama artístico da capital abrindo seu atelier, que se tornou ponto de encontro de gravadores do Distrito Federal. Lêda é uma das responsáveis pela educação do público brasiliense no que diz respeito à apreciação de gravura/arte. Sua batalha é em incentivo às importantes mostras de gravadores que vem se realizando em Brasília.
S.W. – Lêda, apesar de grandes nomes das artes terem-se dedicado à gravura, ela, somente há pouco tempo, está se projetando. Qual a sua opinião a respeito?
L.W. – Eu penso que a gravura, depois de um longo caminho percorrido, inicialmente, sendo uma atividade de produção e também de ilustração, era uma atividade paralela da parte dos grandes artistas, decorrente do trabalho de um grande pintor; não era ainda um arte maior, não no valor intenso da arte em si, mas no que representava como meio de comunicação e de participação no contexto geral. No século passado, a gravura já começou, lentamente, a adquirir o seu merecido espaço. Os pintores, os artistas, iniciam-se direto na gravura, já mergulham direto como sua expressão de arte sem ter, obrigatoriamente, que percorrer um caminho de pintores, de desenhistas, de grandes artistas e de grandes pintores para, posteriormente, se tornarem gravadores. Atualmente, os gravadores já fazem sua formação de gravura em metal como a primeira etapa e ali permanecem, eventualmente, se expressando através de outras manifestações de pintura ou de desenho, mas permanecendo a gravura como um modo central de sua maneira de se exprimir.
S.W. – Quer dizer que qualquer pessoa que se dedica à gravura pode se iniciar no trabalho e ser um gravador?
L.W. – Evidente, é, inicialmente, gravador e, posteriormente, outras coisas se quiser. Antigamente, a gravura, o ser gravador, era decorrência de uma formação anterior a um ser pintor. Já existem, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, artistas gravadores, artistas que iniciaram seu processo criativo, sua vida profissional de artista na gravura e, por isso, como não é um processo muito antigo, este caminho é um caminho lento, que a gravura, como expressão de arte, tem que percorrer, para que haja uma penetração, uma compreensão, um entendimento, uma divulgação natural do que é realmente a gravura em metal. Estamos conseguindo isto e, em Brasília, já existe uma maior compreensão do que é a gravura em metal. Eu tenho, e também vários outros artistas, procurado contribuir para isso mantendo um curso bem dinamizado; dezenas e dezenas de alunos que passam por aqui, fazendo exposições didáticas todo ano, mostrando não só os trabalhos, como a maneira que se passa através de todo o processo artesanal, para se chegar àquele resultado; para a gravura, que é uma coisa muito complexa, muito difícil, e para que as pessoas não só conheçam esta expressão de arte, mas entendam realmente o que é a gravura em metal. Coincidentemente, nós temos, aqui no Distrito Federal, exposições no momento muito importantes: gravadores espanhóis e ingleses contemporâneos, assim como um paulista, que, brevemente, estará expondo aqui no Distrito Federal.
S.W. – Bom, o que você acha da gravura aqui em Brasília? Eu sei que você tem um núcleo, formou muita gente aqui e agora está com este clube de arte; mas o grupo que você formou aqui em Brasília, você poderia dizer alguma coisa a esse respeito?
L.W. – Claro! Formou-se o processo desde a universidade, quando fui convidada, chegando da Europa, para dar um curso de gravura em metal. Vinte e tantos alunos se apresentaram. Após o curso de dois meses, muitos deles quiseram continuar a trabalhar e, como todos os cursos de extensão têm duração limitada e a matéria é muito complexa, para os que queriam continuar a trabalhar e não tinham onde, ampliei meu atelier e pude, através desses anos todos, desde 1975, manter ativo o contato com a gravura, com alunos em pequenos grupos que vinham, trabalhavam e aprendiam gravura, sabiam o que era gravura e, eventualmente, se tornavam profissionais da gravura, vários deles, como Sandra Drummond, Regina Motta, Amaro Freire, Flávia Galisa, Rose Fraymund e Siomar de Oliveira Martins. Passaram no meu atelier e, enfim, conviveram comigo e aprenderam a gravura. Estão totalmente envolvidos pela gravura e se tornaram profissionais há vários anos, divulgando, expondo no Brasil e no exterior já como profissionais, ganhando prêmios por este Brasil afora.
S.W. – Diga-me também sobre este selo que foi lançado agora, há pouco tempo, no dia de Ação de Graças.
L.W. – Isso foi um convite que muito me gratificou, das Empresas de Correios e Telégrafos, para um projeto de uma gravura que representaria o Dia de Ação de Graças. Trabalhei o ano passado nisso e resultou uma gravura que foi bem aceita, houve bastante divulgação. O selo ficou bem razoável. Foi lançado no dia 16 de novembro e tem tido uma boa penetração. Foi um trabalho de uma artista de Brasília e não é comum que gravura se torne selo; em geral, são desenhos, pinturas, o que muito me honrou por poder contribuir para divulgar a gravura através do selo.
S.W. – Você está montando um atelier novo, todo instalado. Quais são os projetos que está pensando em divulgar e o que pensa fazer no novo atelier?
L.W. – Eu acabo de chegar de Washington vindo de uma exposição individual que, aliás, transcorreu magnificamente bem, com bastante entusiasmo, professores, universitários e colecionadores. E, imediatamente chegando, tive que me envolver com essa mudança de atelier, que realmente é lento o processo, o trabalho é muito, é complicada a instalação do atelier. E vou além disso, além da gravura em metal; inúmeros cursos diferentes: de criatividade, de desenho, de pintura em tecido, de criatividade para crianças e adolescentes, uma diversificação muito grande de atividades. Tenho dito que tenho que dedicar tempo integral ao planejamento desse meu novo local de trabalho, que será aqui na 715 sul, bloco G, casa 5, e aqui sempre estaremos esperando os que amam a arte, não só pelos cursos, mas pelo convívio com a arte, palestras, conferências e exposições. Sempre o visitante terá oportunidade de muitas coisas e de conhecer de perto com se faz. Temos a ideia de iniciar com um rótulo Clube das Artes, uma espécie de associação de um grupo fechado de pessoas que se candidataram não só a participar dos cursos, palestras e exposições, como também de um sorteio mensal de 18 pinturas e 10 gravuras de um gravador e de um pintor de expressão nacional, excelentes. Eu pretendo conseguir 10 obras de cada um a cada mês (total de 20), para as quais os associados se candidatariam a um consórcio. Isso funcionará como uma atividade do Clube das Artes. Adquirir obras de arte com pagamentos parcelados suaves, sem problemas e sem juros, seria uma espécie de veículo do colecionador brasiliense que se interessa por arte e por artistas do Brasil inteiro, de caráter de galeria, e apenas como uma espécie de intermediários e de penetração de muitos artistas que não são conhecidos. Vamos ver se, em março, vamos incrementar isso.
S.W. – Agora, esse clube terá um limite de pessoas. Você acha que 30, 10 pessoas... quantas pessoas podem entrar?
L.W. – Inicialmente, eu pensei em 30 pessoas. Se a adesão à proposta for grande, podemos pensar em um revezamento dos associados que se candidatarem às obras, que, ao serem sorteados, abririam um lugar para o próximo que estaria se candidatando para os próximos sorteios.
Fonte: Entrevista Leda Watson, publicada no Correio Braziliense, na edição de 2 de março de 1983.
---
Lêda Watson revê sua trajetória e os caminhos percorridos pela capital | Correio Brasiliense
Da janela do ateliê, a artista admira as cores e as formas do cerrado que lhe arrebataram o encantamento e lhe servem de inspiração há 50 anos. Do lado de dentro, o contraste entre o material bruto e pesado da gravura e a leveza e as formas orgânicas da arte feita por Lêda Watson. Nas paredes, estão expostas lembranças das aulas ministradas e dos alunos. Foram 30 anos dedicados ao ensino. Entre pastas e gavetas, imagens de uma vida apaixonada pela gravura em metal. ;É uma técnica inesgotável e desafiadora;, resume.
Lêda percorreu o mundo. No Rio de Janeiro e na França, ela desenvolveu o amor pela arte e se especializou em gravura. Ministrou cursos no Peru, Costa Rica, Nicarágua, Caracas e Panamá. Contudo, foi na capital de Juscelino Kubitschek que ela escolheu desenhar histórias de trabalho, ensino e formação de um cenário cultural. ;Era uma entusiasta da mudança da capital;, conta a artista de sangue carioca. Naquela cidade que surgiu da terra vermelha do cerrado, Lêda também descobriu o fascínio pela vegetação sofrida. ;A mutação e a alternância produzem uma vegetação peculiar. Eu não sabia o quanto ela foi importante para mim. Sempre foi o cerrado a minha inspiração, desde a primeira gravura;, afirma.
Este ano, a artista e um dos maiores nomes da gravura brasiliense celebra 50 anos dedicados à arte. No Espaço Cult, a exposição 50 anos de gravura revela uma pequena retrospectiva de seus trabalhos. Em outubro, Lêda abre uma mostra com obras desenvolvidas nos últimos anos e lança o segundo livro na Referência Galeria de Arte. ;Estou há quatro anos trabalhando nele. É uma complementação do primeiro (Sonhos, momentos, emoções. Técnicas e gravuras). Também é resultado de uma provocação do meu ex-marido. Ele me disse: ;você rompeu recordes na gravura e é muito modesta, não mostrou tudo no primeiro livro;. Ele fez uma apresentação e me estimulou a escrever o segundo;, relembra.
Ainda sem nome, a publicação revela técnicas de gravura em metal que não exigem o aço. ;Desenvolvi muitas técnicas e sigo criando e desenvolvendo novas;, complementa a artista. E, assim como no primeiro livro, Lêda indica o ;pulo do gato;. ;São pulos que facilitam o caminho. A gravura é muito difícil. Você permanecer gravador é muito difícil, só uma maluca como eu;, afirma aos risos. Até o fim do ano, a carioca também viaja a São Paulo para expor na galeria Almeida Prado. ;Optei pela gravura em metal porque ela tem uma dualidade. Na primeira parte, você explode na água forte, nas linhas e, depois, você tem que organizar. Meus trabalhos mostram quem eu sou;, declara.
Ensino
Com um currículo extenso e diante das oportunidades que explorou, Lêda conta que se sentiu na responsabilidade de passar isso adiante. Incentivada a dar continuidade ao ensino da gravura, após um curso de extensão ministrado na Universidade de Brasília (UnB), deu aulas na instituição e criou uma escola no próprio ateliê.
;A UnB agora é outra. Acredito que cada um tem que fazer o que quer da vida desde que não atrapalhe o equilíbrio das pessoas. Não temos direito, socialmente, de impor uma particularidade. Isso que me revolta atualmente na atitude humana;, desabafa. Na avaliação da artista, não se aprende mais técnicas como antes. ;Se aprende a bolar um sistema, uma exposição. Não estou querendo doutrinar, porque odeio que me doutrinem. É que isso não é arte. Arte que tem que ser explicada não é arte;, afirma. Munidos de uma facilidade do ;fazer arte;, as pessoas perdem o estímulo de seguir o caminho de um gravurista. ;Gravador em metal não pode brincar;, resume.
Para a artista, é preciso ensinar os primórdios, a pintar, a desenhar, a fazer xilogravura e litogravura. ;Ninguém pode empurrar o aluno para um caminho. Ou deixa a liberdade com os subsídios para ele crescer ou você não é professor. Escolhi o meu caminho, mas com conhecimento de causa;, avalia.
Má gestão
Além de se inspirar no cerrado e dividir o que aprendeu com outras gerações, Lêda também participou da formação artística e cultural da capital. Ela criou o Museu de Arte de Brasília (MAB), inaugurado em 1985 e fechado há 12 anos. Também foi, por anos, a coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal. Ver a instituição e outros equipamentos culturais abandonados é, mais do que uma tristeza, um desastre. ;Não precisa de dinheiro para fazer as coisas. A própria sociedade move o sistema. Eles fecham os estabelecimentos porque não dá ibope, não faz ninguém se eleger. Existe o gostar de arte e gostar de cultura. Não é falta de público, é desorganização, má gestão. Não é a cultura que é desinteressante, é a gestão que é péssima;, enfatiza.
Para a carioca enamorada por Brasília, a capital tem um enorme potencial artístico. Ao rever sua trajetória, Lêda reconhece o fruto das sementes plantadas. ;Mergulhei de cabeça nessa cidade e tentei me doar. Queria fazer com que a cidade crescesse e, apesar de tudo, cresceu;, pondera. Viver de arte não é fácil. Picasso foi uma exceção. ;Mas é uma paixão. Te faz um bem enorme. Temos que pensar mais no bem que as coisas fazem do que no dinheiro que você não leva para o outro lado;, declara. O segredo dos 50 anos? Perseverança e, sobretudo, zelo profissional. ;Sinto que cumpri minha missão. Tudo o que está havendo agora é lucro;, finaliza.
Fonte: Correio Brasiliense, "Lêda Watson revê sua trajetória e os caminhos percorridos pela capital", publicado por Roberta Pinheiro, em 25 de agosto de 2019. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson | Gabinete de Arte da Câmara dos Deputados
As gravuras que ora enobrecem o Gabinete de Arte da Presidência da Câmara dos Deputados foram concebidas pela artista Lêda Watson, uma das pioneiras e mais importantes gravadoras do Brasil, de alto prestígio nacional e internacional. A mostra aqui apresentada traz uma compilação significativa com 24 obras de três diferentes momentos da carreira da artista, selecionadas num recorte cronológico.
A primeira sala concentra trabalhos do início da trajetória, no Rio de Janeiro; a segunda reúne gravuras criadas em Paris, quando Lêda estudou com o mestre germânico Friedlaender por três anos e meio e cursou a Escola de Belas-Artes da Sorbonne; já a sala principal congrega trabalhos feitos a partir de seu retorno a Brasília, em 1973. Nesta última sala, há uma mescla de obras das séries “Momentos”, “Emoções” e “Sonhos” — produzidas na capital federal, cidade que tão bem acolheu a artista e que tão profunda e inexplicavelmente a tem inspirado, seja pelos deslumbrantes matizes do pôr-do-sol seja pelas oníricas formas da vegetação do cerrado.
Com mais de 50 anos dedicados à produção artística, Lêda Watson também deve ser celebrada por seu incansável trabalho como agente cultural e como arte-educadora. Já ministrou inúmeras palestras, oficinas e cursos na Universidade de Brasília e em outras escolas pelo mundo afora e ainda hoje mantém um ateliê, em Brasília, onde repassa aos discípulos, de forma didática e apaixonada, os segredos das técnicas de gravura em metal que ela domina com maestria.
Oriunda da família de artistas Campofiorito, Lêda Watson não traiu suas origens e se dedicou inteiramente à arte. Nascida em Niterói-RJ em 1933, graduou-se em Artes Plásticas pela Escola Nacional de Belas-Artes (Rio de Janeiro), École Nationale de Beaux Arts — Sorbonne (Paris) e pela Universidade de Brasília. Especializou-se em gravura em metal na Escolinha de Arte do Brasil Augusto Rodrigues com o mestre Orlando Dasilva (Rio de Janeiro) e no Atelier Friedlaender (Paris).
Quando morou em Paris, sua obra foi bem recebida pelos editores de arte franceses e pela crítica especializada, sendo a artista convidada pela Société des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de Jules Laforgue (a edição anterior havia sido ilustrada por Salvador Dalí).
Voltou ao Brasil em 1973, tornou-se professora de gravura, tendo ministrado vários cursos, palestras e oficinas em universidades e museus do Brasil e Exterior por mais de 30 anos. Criou uma Escola de Gravura em seu próprio ateliê, onde formou novos gravadores de 1975 a 1987. A partir daí, deu origem ao 1o Núcleo de Gravadores de Brasília e ao Clube da Gravura. Mais de 420 alunos já aprenderam nas oficinas de Lêda Watson a arte de gravar em metal.
Como agente cultural, criou o 1o Museu de Arte de Brasília, foi a coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do GDF, coordenou prêmios regionais e nacionais de artes plásticas e fez a curadoria brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile.
Desde 1970, participa de exposições coletivas e individuais no Brasil, Europa, América Latina, EUA, Canadá e Oriente.
Fonte: Gabinete de Arte da Câmara dos Deputados. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson | por Chico Sant'Anna
As gravuras de Lêda Watson trazem, segundo os críticos, a influência da vegetação distorcida do cerrado com a abstração do céu do Planalto Central. Desta forma, poderíamos dizer que ela torna o concreto abstrato e o abstrato, concreto.
Enquanto as crianças da sua idade preferiam as brincadeiras de casinha e de bonecas, ainda menina, ela já brincava de fazer vernissage. Não é exagero algum afirmar que a arte está no seu sangue, ou como preferimos hoje, no seu DNA. Neta de arquiteto e pintor italiano radicado no Brasil, sobrinha de pianista e de professor de artes, Lêda Watson desde pequena se acostumou a freqüentar as exposições, galerias de artes, a tomar gosto pela arte. Hoje é uma referência internacional na arte da gravura.
Na França, Lêda Watson pode aprimorar sua técnica com o renomado gravurista Johnny Friedlaender.
Jovem, deu início a seus estudos na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. Mas a paixão pelas artes foi derrotada pelo amor a Sérgio da Veiga Eatson, que a fez abandonar a Escola de Belas Artes no terceiro ano do curso e se mudar para Suíça. O casamento com um diplomata brasileiro,contudo, abriu um mundo de oportunidades e contatos com culturas diferentes que ajudará a aperfeiçoar o dom que já carregava desde menina, quando se entretinha com cavaletes, pincéis e telas. Em 1966, teve os primeiros contatos com a gravura, na Escolinha de Belas Artes do Brasil, na antiga Guanabara, com o mestre Orlando Dasilva.
No exterior, estudou na École Nationale de Beaux Arts-Sorbonne, em Paris e se especializou-se em gravura em metal no atelier do renomado Johnny Friedlaender, pintor e gravurista francês da chamada Nova École de Paris e cujas as obras têm por característica a mescla do abstrato com elementos alusivos à realidade. Estilo que, arriscamos afirmar, influenciou o trabalho de Lêda Watson.
Lêda Watson é, assim, uma das gratas surpresas que a transferência, na década de 1970, dos servidores públicos do Rio de Janeiro para Brasília proporcionou a esta cidade, colocando Brasília no mapa internacional da gravura.
Como arte-educadora, ministrou cursos de gravura em metal e palestras mundo afora: em Lima, Peru: Manágua, Nicarágua, São José de Costa Rica, Caracas, Venezuela;e na Cidade do Panamá, dentre outros locais.
O interesse pelas artes desde cedo e sua trajetória artístico-profissional permitiram a convivência com grandes nomes da arte brasileira, tais como Marina Colassanti, que foi colega de escola, Athos Bulcão, Rubem Valentin e tanto outros. E o melhor de tudo isso, é que Lêda, como professora da Universidade de Brasília, ou em seu atelier, transmitiu a gerações e gerações de novos artistas a sua arte.
A contribuição de Lêda ao mundo cultural de Brasília vai além. Em 1985, criou o Museu de Arte de Brasília – MAB. Além disso, graças a sua expertise, duas plantas da cidade do Rio de Janeiro, datados de 1808, quando da chegada da família real ao Brasil foram recuperados. As chapas de cobre, com 3 mm de expessura e medindo 94 cm x 64 cm, entalhadas com o uso de buril destinavam-se a impressão dos mapas e estavam no Museu da Imprensa Nacional, criada por Dom João VI, quando aqui chegou. As chapas nunca haviam sido reproduzidas.
Para explicar o trabalho de Lêda Watson são necessárias duas etapas: uma para focar a técnica e outro o estilo. Ao contrário de outros artistas plásticos, que tem a tela e o pincel como base de trabalho, a gravura tem a chapa de metal e o buril (uma espécie de formão – se é que eu posso afirmar isso), com o qual se trabalha na marcação das chapas de metal e que servirão de matriz para reproduzir em papel as gravuras.
Na verdade, o gravurista trabalha uma matriz, um clichê, como se fosse um carimbo, que será o ponto de partida para a reprodução das gravuras.
Bem ninguém melhor do que ela mesmo para explicar o que é a gravura.
“Arte de formar por meio de incisões e talhos, ou fixar por meios químicos, em metal, em madeira, em pedra, imagens em baixo ou alto relevo, para registro de uma imagem (como no início da história humana) ou para reprodução e multiplicação através de entintamento e estampagem, manual ou mecanicamente, em papel ou outro material.”
Recorro aqui a outro especialista para descrever o trabalho de Lêda Watzon, Bené Fonteles, que ao visitar uma exposição dela não conteve suas emoções. Escreveu ele: “A sensação da visita traz a presença de seres imaginários numa fábula nunca a mim contada. Seres que nos invadem mais a alma que a mente, e me fazem possuir uma nova forma de ver e de pertencer ao mundo. Suas gravuras grávidas deste fabulário fantástico estão carregadas da organicidade, onde a simbiose da flora e da fauna do estranho humanizam a paisagem e trazem uma outra compreensão e recriação da natureza nunca dantes vislumbrada na gravura brasileira.”
Sérgio Rouanet acredita que este fabulário fantástico, a que se referiu Bené Fonteles, devem ser fruto das caminhadas e acampamentos noturnos que Lêda e seu Marido faziam nos cerrados de Brasília. “Não seria nesses passeios que ela aprendeu a amar o céu de Brasília e a conhecer de perto a natureza do Planalto Central? Não seria a lembrança dessas excursões em que ela estabeleceu contato imediato com a vegetação do cerrado, que teria entrado em sua arte, toda ela feitas de folhas, galhos entrelaçados, raízes? É uma arte orgânica, vegetal, através da qual perpassam, sobre um fundo policrômico” – escreveu o ex-ministro da Cultura, Sérgio Rouanet.
Essa também é a visão do gravador, ilustrador e desenhista, Lívio Abramo, que, em 1981, proporcionou a primeira exposição individual de Lêda Watson, no Paraguai.
Para ele, a trama das imagens produzidas pela gravurista é transformada em arabescos que afastam da figura humana sem se poder dizer que sua arte seja abstrata, do modo em que sentimos pulsar nela, difusa, mas perceptível, a vida do homem, da terra, das árvores, do infinito que tudo abrange.
“Muitas destas gravuras nos recordam – e cremos que são o resultado de uma interpretação subjetiva dessa natureza de parte da artista – as terras do Brasil Central, mais propriamente o “cerrado cuiabano”, cuja hirta e hostil flora tanto se afina com as linhas dramáticas e até dolorosas destas estampas” – comentou o artista plástico.
Fonte: Brasília por Chico Sant’Anna. "Você conhece os artistas de Brasília? Conheça aqui as gravuras de Lêda Watson", publicado em 1 de janeiro de 2014. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira | Metrópoles
A gravurista Lêda Watson está completando 50 anos de carreira neste ano. Nascida nos Estados Unidos, passou a juventude no Rio de Janeiro e teve formação na Escola de Belas Artes de Paris (França), acolheu Brasília como cidade para fincar raízes em 1973. Apesar de fazer um panorama negativo sobre as artes da atualidade, segue ativa na produção de gravuras.
Com obras em espaços como o Museu Nacional de Brasília e a Biblioteca Nacional de Paris, Lêda foi uma das figuras mais importantes na construção de um cenário artístico na capital. Ela, inclusive, atuou vigorosamente na criação do Museu de Arte de Brasília (MAB), fechado em 2007 por danos estruturais e com reabertura marcada para o ano que vem.
Nova exposição
Em entrevista ao Metrópoles, a artista afirma que tomou três decisões para comemorar os 50 anos de carreira. A primeira foi dar o pontapé inicial de uma exposição individual no Museu de Brasília para o ano que vem.
“Tentei conseguir um apoio pelo FAC, mas meu projeto não foi aprovado. Acho que preferem os artistas novinhos”, desabafa. Ainda assim, ela busca uma parceria com o Wagner Barja, diretor do museu, para que a mostra aconteça.
"Não vou desistir de apresentar minhas obras. O povo brasiliense não pode se esquecer dos artistas pioneiros" – Lêda Watson
A segunda decisão diz respeito à produção de um catálogo com todas suas produções realizadas de 2008 até hoje. “Eu já publiquei um livro há cerca de dez anos e, mesmo assim, diversos amigos insistem que eu faça um novo. Vamos ver se fica legal”, conta.
Mudança de rumos
A terceira decisão será considerada infeliz por muitos artistas iniciantes da capital. Após 30 anos dando aulas em seu ateliê localizado no Lago Sul, ela não abrirá novas turmas. “Estou cansada. Vou focar em meus próprios projetos, que estão parados há alguns meses”, revela.
Ela soma 420 artistas treinados ao longo dessas décadas, que hoje se encontram atuantes na capital e em diversos países. “Acredito que sou a única gravurista do país que abre o próprio ateliê para alunos”, diz, com orgulho.
Apesar de olhar para sua trajetória com carinho, Lêda tem uma perspectiva negativa sobre a produção artística atual. “Tem muita gente fazendo coisa boa hoje, mas tem mais gente fazendo coisa ruim e mesmo assim sendo aplaudido. É difícil de entender”, avalia.
Fonte: Metrópoles, "Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira", publicado em 8 de outubro de 2017. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
Crédito fotográfico: Metrópoles, "Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira", publicado em 8 de outubro de 2017. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
Lêda Saldanha da Gama Watson (Niterói, RJ, 1933), mais conhecida como Lêda Watson, é uma artista plástica, artista visual e gravadora brasileira. Graduada em Artes Plásticas na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, na École Nationale de Beaux-Arts, em Paris, e na Universidade de Brasília, em Brasília, especializou-se em gravura em metal na carioca Escolinha de Arte do Brasil – Orlando Dasilva e no Ateliê Friedlaender, francês. Diplomou-se, em 1969, no Curso Superior de Língua e Literatura Francesa da Universidade de Nancy. Foi convidada pela Société des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de Jules Laforgue. Tornou-se professora de gravura, tendo ministrado vários cursos, palestras e oficinas em universidades e museus do Brasil e Exterior por mais de 30 anos. Criou uma Escola de Gravura em seu próprio ateliê, onde formou novos gravadores de 1975 a 1987. Fundou o 1º Núcleo de Gravadores de Brasília e o Clube da Gravura. Mais de 420 alunos já aprenderam nas oficinas de Lêda Watson a arte de gravar em metal. Como agente cultural, criou o 1º Museu de Arte de Brasília, foi coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do GDF, coordenou prêmios regionais e nacionais de artes plásticas e fez a curadoria brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile. Participou de exposições coletivas e individuais na América Latina, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e no Oriente.
Biografia Leda Watson - Site da Artista
Residindo na França por quatro anos, obteve grande receptividade dos editores de arte franceses, tendo vendido inúmeras edições fechadas de gravura, representadas hoje na coleção da Bibliothèque Nationale de Paris.
Recebeu convite da Societé des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de contos de Jules Laforgue, cuja edição anterior havia sido ilustrada por Dalí. Regressando ao Brasil, instalou seu ateliê em Brasília e continuou a manter contato com seus editores franceses.
Como arte-educadora, ministrou cursos de gravura em metal e palestras na Universidade Católica de Lima (Peru), na Universidade de Brasília (Brasil), na Escola Nacional de Artes (Nicarágua), na Universidade Nacional-Heredia (Costa Rica), na Universidade Central da Venezuela (Caracas) e no Museu de Arte Contemporânea (Panamá).
Incentivada a dar continuidade ao ensino da gravura após um curso de extensão ministrado na UnB, criou sua Escola de Gravura, no próprio ateliê, onde se empenhou na formação de novos gravadores durante mais de 12 anos, entre 1975 e 1987. Fundou, então, o 1º Núcleo de Gravadores de Brasília.
Criou o 1º Museu de Arte de Brasília em 1985 e, em 1989, o Clube da Gravura, reunindo, em sua maioria, gravadores profissionais do Distrito Federal. Foi, por mais de 6 anos, coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal, tendo sido designada também para coordenar o II Prêmio Brasília de Artes Plásticas/XII Salão Nacional de Artes Plásticas do Ministério da Cultura, em 1991. Nesse mesmo ano, fez a curadoria da participação brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile.
Em 1995, aposentou-se como professora, dedicando-se inteiramente à própria arte. Como artista plástica gravadora, desde 1970, Lêda participou de exposições coletivas e individuais na América Latina, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e no Oriente. Desde 2002, retomou os estudos da gravura em seu próprio ateliê, expondo, periodicamente, com seus alunos.
Linha do tempo
Anos 50
Lêda Campofiorito formou-se no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, onde estudou desde os 12 anos e se tornou a estrela do voleibol.
Estuda Professorado de Desenho na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, período em que conheceu Marina Colasanti, que veio a se tornar uma querida amiga.
Anos 60
Casa-se com o diplomata Sérgio Veiga Watson e muda-se para Berna, na Suíça, onde nascem seus filhos Eduardo e Andréa.
Estabelece-se, após quatro anos na Suíça, em Bogotá, Colômbia, local de nascimento de Elena, sua terceira filha.
Em 1966, Lêda e família retornam ao Rio de Janeiro. Por intermédio de Marina Colasanti, Lêda ingressa na Escolinha de Arte do Brasil, na qual tem Orlando Dasilva como seu primeiro mestre de gravura em metal.
1971/1972, Paris – A família muda-se novamente, para uma missão na França, momento em que a gravura já estava enraizada na alma de Lêda. Paris representou, para ela, oportunidade inigualável de crescimento. "Friedlaender foi o maior gravador que já houve. Frequentar seu ateliê na Rue Saint Jacques era absolutamente animador, pois era um ateliê fechado, frequentado por poucos gravadores".
No ateliê de Friedlaender, a disciplina e o cuidado eram severos. Circulava-se pouco, falava-se menos ainda. De nossa mesa de trabalho, íamos apenas até a sala dos ácidos ou, então, adentrávamos a sala do mestre, em que trabalhava com Brigitte Coudrain, sua assistente, para utilizarmos a prensa francesa muito antiga e o forno, onde entintávamos a placa. Apenas nessas horas nos aproximávamos do mestre (…). Aprendíamos apenas pela observação do trabalho do mestre e dos companheiros, e como se aprendia!”
1973, Paris – Lêda e sua filha, diante da Galerie Bernier, especializada na arte em papel, durante mostra individual. “Expus 25 gravuras, e o resultado de público e de vendas foi bastante satisfatório. Foi um momento feliz, de realização profissional.”
1974, Brasília – 1ª exposição individual após chegar da França. Galeria Múltipla, de Maria Ignez Barbosa.
1974, São Paulo – 3ª exposição individual, na Galeria Bonfiglioli. Lêda foi muito prestigiada com a presença de amigos ilustres.
Lêda alternava-se entre o ateliê do mestre Friedlaender e o ateliê da École Nationale de Beaux Arts, que primava pela descontração e por artistas provenientes das mais variadas culturas. “A cada dia, surgia um truque novo para encurtar caminhos de uma técnica mais complexa”.
Anos 80
1981, Paraguai – “Lívio Abramo telefonou-me e disse: ‘Conheço suas obras, gosto delas e as admiro. Gostaria de convidá-la para uma exposição individual em Assunção, no Paraguai’. Esse foi o início de uma grande amizade”.
1988, Canadá – Mostra retrospectiva na Biblioteca Robarts, de Ottawa, e mostra individual em Toronto. Nancy Bayle, crítica de arte do jornal Ottawa Citizen visitou, cuidadosa e pacientemente, a mostra e publicou uma crítica altamente favorável aos trabalhos de Lêda, que, na ocasião, recebe o convite, do governo canadense, para expor suas gravuras em todas as universidades canadenses durante dois anos.
Anos 90
1989 a 1991, Canadá – Lêda participa da Exposição Itinerante a convite oficial do Escritório de Exposições Internacionais do Ministério das Comunicações do Canadá.
1995, Manágua (Nicarágua) – Lêda ministra curso de gravura do Centro de Estudos Brasileiros.
Junho de 1997, Brasília – Exposição Sonhos I na Referência Galeria de Arte.
1998, Niterói, Rio de Janeiro, Sala Quirino Campofiorito – Exposição Sonhos II no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno.
Anos 2000
2003, Brasília – Lêda participa das edições do Ateliê Aberto, de iniciativa de Omar Franco, que consistiu na abertura de seu ateliê a mais de 10 gravadores da cidade, para recebimento do público.
2004, Brasília – Lêda recupera mais de 280 gravuras para compor exposição na Nicarágua.
2004, Rio de Janeiro – Lêda recupera duas chapas de cobre, de 94cm x 64cm cada uma, com espessura de 3mm, trabalhadas em buril, a convite da diretora do Museu de Imprensa Nacional. As placas contêm as plantas do Rio de Janeiro, feitas por ordem do Príncipe Regente D. João VI ao chegar ao Brasil, em 1808, executadas pela Imprensa Régia. Cópias das placas nunca haviam sido feitas.
2007, Brasília - Construção e Desconstrução. Centro Cultural da CEF.
Março/abril de 2008, Brasília – Exposição Sabedoria gravada: tributo a Lêda Watson. Galeria Rubens Valentin, 508 sul. Curadoria de Bené Fonteles.
7 de outubro de 2009, Brasília – Exposição Olhares cruzados sobre a natureza (coletiva). Fundação Cultural do DF, 508 sul.
Abril de 2010, Brasília – Ateliê Lêda Watson: Novas expressões em torno da gravura em metal. Daniel Briand (coletiva).
6 de abril de 2011, Brasília – Exposição coletiva Semi-Círculo no Museu Nacional.
2011, Campinas (SP) – Lêda participa da 5ª Bienal Nacional de Gravura: Olho latino (coletiva).
2011, Brasília – Exposição coletiva Eu o meio ambiente. Senado Federal. Curador: Fábio de Almeida Prado.
Outubro de 2011, Lyon, França – Exposição Gravures contenporaines d’artistes français et bresiliens.
Novembro de 2011, Paris – Exposição 15 ème Bienale Internationale de Paris. Pays Invité: Brésil.
7 de março de 2012, Brasília – Participação na nova Referência Galeria de Arte (coletiva).
Março de 2012, Brasília – Exposição Diálogos da resistência. Museu da República, HAB. Curador: Bené Fonteles (coletiva).
24 de agosto de 2012, Brasília – Lêda participa do III Concurso de Desenho Brasileirinhos do Mundo como membro do júri. Itamaraty.
2013, Brasília – Lêda continua a ministrar aulas de gravura em seu ateliê no Lago Sul e a participar de exposições.
Maio de 2013, Brasília – Bate-papo com colecionadores com formato de feira-participação. Galeria Referência.
Junho de 2013, Brasília – Lêda participa do XXXV Salão Riachuelo como membro do júri. Teatro Nacional Claudio Santoro, foyer da Sala Villa Lobos.
Outubro de 2013, Brasília – Exposição Seu Museu: expoexperimento. Museu da República (coletiva).
Novembro de 2013, Ville de Sarcelles – Lêda participa da Bienal Internacionale de la Gravure.
5 de junho de 2014, Brasília – Lêda Watson e os Gravadores Alucinados. Café Savana.
6 de dezembro de 2014, Brasília – Lêda coordena o Gravuras no Varal: gravadores. Residência e ateliê Lêda Watson.
2015 – Lêda participa do livro Viagem incompleta: arte brasileira sobre papel. Concepção de Luiz Dolino.
Abril de 2015, Brasília – Lêda participa do Ciclo de arte. Retrospectiva. Brasília Shopping. Curadoria: Ralph Gehre.
2015, Brasília – Exposição Caminhos da impressão: uma jornada pelo universo de Lêda Watson. Galeria Referência.
10 de setembro de 2015, Brasília
Exposição O papel do museu: seis décadas de arte sobre papel. Museu da República.Curadoria: Bené Fonteles (coletiva).
Novembro, 2015 - Brasília, 12 Ateliês. Projeto de resgate da memória artística da cidade. Lêda criou o projeto, coordenou sua execução, fez a curadoria da exposição, juntamente com Newton Scheufler, e expôs seus trabalhos na mostra. Caixa Cultural Brasília, Galeria Principal - de 25 de novembro de 2015 a 17 de janeiro de 2016.
22 de abril de 2016, Brasília – Inauguração do painel com reprodução da gravura Sonhos e fantasias. QL 8, Lago Sul, residência de Lêda Watson.
14 de outubro de 2016 a 27 de abril de 2017, Brasília – Exposição Retrospectiva. Câmara dos Deputados, Gabinete da Presidência.
Novembro de 2016, Brasília – Lêda participa da I FAC RARO: Feira de Arte Contemporânea. Casa Park (coletiva).
8 de março de 2018, Brasília – Lêda participa da exposição coletiva Artistas no Acervo da Caixa: 32 mulheres artistas.
17 de agosto de 2019, Brasília, Centro Cultural Paulo Otávio - Lêda Watson, 50 Anos de Gravura.
Fonte: Biografia Lêda Watson. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Críticas
"De todas as euforias artísticas no Brasil, a da gravura gráfica de criação é a mais justa. Em seguida a um demorado processamento de iniciação, quando atuam uns raros nomes de gravadores (Carlos Osvald e Oswaldo Goeldi), a gravura com o rigor de criação realmente se impõe com a geração que emerge na década de 1940. Não cessa, então, de crescer, até alcançar uma quantidade deveras excepcional, que extravasa os limites nacionais e chega à mais decidida notoriedade internacional.
Nossos gravadores, formando uma equipe que se tornou assaz numerosa, conseguiram merecida posição de grande singularidade no conceito mundial. A gravadora Lêda Watson está nessa linhagem que hoje bem sustenta, para a gravura brasileira, esse destaque. Reconhecendo-se isto, logo se deverá apreciar a gravura com seus melhores requisitos de uma particularidade da criação artística que sustenta suas condições próprias e cujo sucesso total delas decorre. O desenvolvimento da inventividade artística exigiu, porém, liberdade para o surgimento de novos recursos de elaboração criativa que, se bem muito adaptados ao trabalho gráfico (e, consequentemente, afins ao ofício do gravador), escapam ao que se possa classificar, com um mínimo de propriedade, de gravura. Lêda Watson dá provas de fidelidades à gravura.
Seu trabalho prossegue com o compromisso que sua arte impõe: gravar. Algumas interferências são fortuitas e não afetam a legitimidade da gravura. É uma gravura que comove e se comunica pela transposição emocional e criativa da artista, fazendo valer seu ofício seguro – a água-tinta. Sutilezas de tonalizações e texturas obtidas com acurada sensibilidade no trato da corrosão pelo ácido nas sucessivas etapas. E quanto à cor, quando é o caso, não se desprende ela da comunhão intrínseca que a expressividade plástica comporta para se totalizar. Percebe-se que, na elaboração de sua gravura, Lêda Watson deixa a complexidade do motivo e a participação dos elementos que o constituirão irem se desenvolvendo num caminhar natural e emotivo, como aquilo que nasce e cresce no terreno fértil da imaginação desembaraçada, apenas colhendo alento na espontaneidade do sentimento que vai sendo estimulado pela própria ação criativa" — Quirino Campofiorito (WATSON, LEDA, a gravurista. Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1975).
"É um prazer, para mim, responder ao pedido de Lêda Watson. Ela trabalhou em meu atelier durante três anos (outubro de 1970 a outubro de 1973). Ela foi uma das minhas alunas mais dotadas de espírito de invenção e criatividade. Ela domina totalmente as técnicas da gravura e encontrou caminhos que prometem as maiores esperanças" — Friedlaender (WATSON, LEDA, a gravurista. Paris, 18 de novembro de 1975).
"Na medida em que entram os sentidos do sentido – como significado, como significante, como sinal, como símbolo, como ícone, como sema, como semema, como lema, como emblema, como ideologema, como profetema, como apocaliptema, como psiquema, como carismatema, em suma, como unidade fluente de um hipossistema de sistema de sistemas –, compreendemos que ele, o sentido, não pode haver sem sua outra face, o sem-sentido: aqui, no sem-sentido, estão a entropia e o caos, as ausências, a liberdade tão absoluta que não é liberdade, pois é liberdade compulsória, sem opção, vale dizer, não-liberdade: ali, no sentido, está a neguentropia, certa ordem, certo cosmo, certas presenças, certas determinações, certas interdependências, certas interliberdades interligadas. O trágico na arte é que, em havendo humano – um objeto achado, mas por ser humano –, há, pelo menos, sempre, o sintoma e a síndrome de outras coisas humanas, até patológicas, por exemplo, ou sociopatológicas, por exemplo. E como separar isto daquilo, em certos momentos da história? É na interface daquelas duas faces que parece estar o sentido e o sem-sentido de certas formas e substâncias de arte. Imaginemos o artista não artesão, não artífice, a jogar o dado do azar, a lançar a flecha ao ar, e a colher, ao acaso, o número platônico que governa um mundo ou o mundo, ou atingir o pássaro de ouro pousado na menor haste da campina. E imaginemos o artista criador a concretizar o número platônico ou a querer fazer que o pássaro de ouro pousado na menor haste da campina entoe seu canto de cristal.
É como como vejo as gravuras de Lêda. Não fujo ao fascínio de enfrentar o aleatório buscado. O acaso esperado, o surto desejado, o evento emerso, o caso inesperado – mas captados. Pois que acaso, surto, evento ou caso é ele dominado, acariciado, trabalhado tão amorosamente, tão amorsofridamente, que a contaminação de psiquismos – e dela e o do contemplador – deixa de ser milagre, porque deriva de uma mediação concreta instalada no retângulo (ou que outra geometria tenha) do papel, onde se inscrevem todas as linhas e todas as sugestões, cromáticas ou acromáticas, oníricas, telúricas, empíricas, fantasmáticas, talássicas, selênicas, urânicas – menos um sem- núme ro de não sugestões.
Lêda refaz o caminho da arte: domina a técnica com aprendizado diuturno de longos anos e com grandes mestres, e – vendo-se e sentindo-se cada vez mais senhora do seu fazer – quer um fazer que vê na linha do seu horizonte: um aproximar-se da linguagem visual que quer ser mais poderosa que quaisquer verbalizações e é uma busca tão intensa, tão vibrante, tão apaixonante, que explodiria, se não fosse contrapesada pela garra da sua técnica.
Desde Goeldi, a gravura brasileira vem superando o desafio da qualidade e da continuidade na diversidade, graças a fiéis artistas profissionais (é este o termo), mulheres e homens. Lêda está nessa linhagem, por direito do seu saber, do seu fazer, do sentir, do seu fazer sentir artísticos" — Antonio Houaiss (WATSON, LEDA, a gravurista).
"Certas pessoas dispensam apresentação. Não há nada mais irritante que o velho lugar comum segundo o qual certas pessoas não precisam de apresentação. Em geral, essa afirmação, ou denota preguiça, servindo como pretexto para não pesquisar o currículo de quem deveria estar sendo apresentado, ou é propaganda enganosa, alimentando, no ouvinte ou no leitor, a esperança de que não haja mesmo apresentação, falsa promessa logo seguida por uma apresentação mais longa do que desejaríamos.
Dito isso, devo confessar que não me ocorre meio mais verídico de começar meu texto: tenho que dizer que Lêda Watson não precisa de apresentação. Todos sabem que ela é hoje uma das gravadoras mais eminentes do Brasil e uma das de maior repercussão internacional, com uma trajetória que vai de Paris, onde ela estudou com Johnny Friedlaender, à América do Sul, América do Norte, Europa e Ásia. À sua reputação de artista, acrescenta-se seu prestígio como docente, graças aos cursos de gravura em metal que ministrou em Brasília, em Lima, em Manágua, na Costa Rica, no Panamá e em Caracas, e como administradora cultural, área em que ela adquiriu grande experiência em cargos, como o de Coordenadora do Programa de Museus da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.
Mas se ela não precisa de apresentação, o leitor tem direito de saber por que, então, estou escrevendo este texto. Os motivos são mais biográficos que artísticos. Barbara e eu conhecemos Lêda no início dos anos 1970, quando ela tinha acabado de voltar de Paris, onde tinha dado seus primeiros passos no atelier de Friedlaender. Linda, cheia de vida, com grande curiosidade intelectual, Lêda já era, em embrião, a grande artista que ela se tornaria depois. Os dois casais (na época, Lêda era casada com o diplomata Sérgio Watson) faziam excursões pelo cerrado, improvisando serestas e pernoitando em tendas. Não seria nesses passeios que ela aprendeu a amar o céu de Brasília – “o céu de Brasília”, escreve ela nesse livro, “me deslumbrava ao entardecer dos dias secos” – e a conhecer de perto a natureza do Planalto Central, tão decisiva para sua obra? Não seria a lembrança dessas excursões, em que ela estabeleceu contato imediato com a vegetação do cerrado, que teria entrado em sua arte, toda ela feita de folhas, de galhos entrelaçados, de raízes? É uma arte orgânica, vegetal, através da qual perpassam, sobre um fundo policrômico, figuras fugidias, em que julgamos adivinhar úteros, fetos, cordões umbilicais.
Que a arte de Lêda seria uma interiorização metafísica dessa flora é apenas uma hipótese. Mas que há uma constante inquietação filosófica em sua obra não é uma hipótese, mas um fato, que transparece nos títulos de suas gravuras. Tenho, em meu apartamento, uma gravura dos anos 1970, belíssima, a que ela deu o título O processo do infinito. Num certo sentido, o infinito define o horizonte de sua busca e de sua experimentação estética. É uma arte que capta momentos e também emoções – nome de duas séries de suas gravuras –, mas que exprime também ideias, tendo, como foco, em grande parte, a noção de infinito.
Pois, para Lêda Watson, não há incompatibilidade entre a razão e a especulação, por um lado, e a emoção, por outro, como não há incompatibilidade entre inspiração e técnica. Ela sabe que arte é trabalho, é paciência, é domínio do ofício, é manejo seguro do buril, é utilização profissional da técnica da gravura – água-tinta e água-forte –, e só assim a emoção, por mais sincera que seja, e a ideia, mesmo a mais profunda, poderão chegar à sua mais perfeita expressão.
Sim, não há dúvida de que esse livro atingirá seu objetivo de passar adiante o saber e a experiência acumulados por Lêda Watson há tantos anos, contribuindo, e muito, para o aperfeiçoamento artístico das novas gerações. Ah, e antes que me esqueça: que tal retomarmos, um dia, nossas serestas de 30 anos atrás?" — Sergio Paulo Rouanet (texto escrito por ocasião do lançamento do livro Sonhos, momentos, emoções: técnicas e gravuras. Brasília, 2008).
"A gravura no Brasil está retomando sua posição de importância internacional. Um dos elementos positivos dessa retomada será, certamente, a gravadora Lêda Watson, que se apresenta em primeira exposição individual no Rio de Janeiro. Após anos de vivência e trabalho na Europa, ela volta ao Brasil dominando plenamente o seu métier, utilizando-se dele para dar bases sólidas à sua grande capacidade criativa, à sua imaginação tão fértil. Ela cria um mundo de fantasia, no qual nos permite penetrar, mundo onde o fantástico tem a sua lógica, onde a razão continua existindo dentro da maior exuberância de formas. Lêda Watson realmente desvendou os mistérios da técnica da gravura em metal e suas ferramentas, entre as quais, o buril. Não há duvida, ela é um dos elementos que ajudaram a dar vida nova à gravura brasileira, um dos elementos com os quais podemos contar" — Marc Berkowitz (texto crítico de introdução à exposição individual realizada em 1974, no Rio de Janeiro, na Galeria Intercontinental, gerenciada por Kalma Murtinho, assessorada por Denise Mattar).
"Por que tanta arte contemporânea parece aspirar às formas nascidas do acidente ou do secreto crescimento orgânico (às microformas de mamãe natureza)?
O caso de certa gravura nos impede de falar logo em “recesso do humanismo”, pois a gravura interpõe enorme dose de cálculo na inspiração “inconsciente” e na forma-resultado. Foi possível chegar depressa a uma action painting; mas como instituir verdadeiras técnicas de “deflagração”, como celebrar autenticamente o rito da imediatez expressiva numa arte tão comprometida com “estados”, isto é, visceralmente refletida e gradual? Restava explorar a sedução da matéria por meio da mais requintada cuisine da estampa colorida: precisamente, o que fez o grande Friedlaender, mestre de Lêda Watson. Mestre, porém, de métier, não de estilo, nem de composição. Se, nas agua-tintas de Lêda, se faz sentir a sugestividade cor-textura, como em Vôo noturno; se, nas agua-tintas, também se cultivam o nodoso; o granulado; os efeitos de solo e de pele, de folha e de membrana; certo grafismo; o sombrio dos tons-pastel; e, sobretudo, a representação de fantasia (árvore, planta, pássaro?), presença icônica do que a autora chama de lembranças de outro mundo, as gravuras de Lêda já se situam (afora um ou dois puros exercícios de textura) no território ambíguo do entre textura e figura.
Mas é o próprio gravar que co-motiva o figurar, como se vê claramente nos Caminhos de um pavão: é o gravar amoroso, convicto e obstinado que “desrealiza” as mesmas alusões surgidas, até conferir-lhes aquela qualidade perturbadora que Focillon descobria no fantástico exato e frio das gravuras de Meryon: “La réalité du dépaysement”" — José "Guilherme Merquior (texto de apresentação de exposição individual realizada em 1974, em Brasília, na Galeria Múltipla, de Maria Ignês Barbosa).
Como todo artista criador, Lêda Watson condensa e sintetiza as imagens do mundo exterior, assim como aquelas do mundo interior numa imaginária e em signos simbólicos que realiza plasticamente na gravura, de maneira muito subjetiva, mas sempre rica em soluções formais. A trama de suas imagens é transformada muito frequentemente em um arabesco que, em geral, se afasta da figura humana sem se poder dizer que sua arte seja abstrata, do modo em que sentimos pulsar nela, difusa, mas perceptível, a vida do homem, da terra, das árvores, do infinito, que tudo abrange... Muitas destas gravuras nos recordam – e cremos que são o resultado de uma interpretação subjetiva dessa natureza de parte da artista – as terras do Brasil Central, mais propriamente, o "cerrado cuiabano", cuja hirta e hostil flora tanto se afina com as linhas dramáticas e até dolorosas destas estampas.
A arte da água-forte e da água-tinta, frequentemente mescladas pela autora destas gravuras, parecem o meio ideal para lograr os resultados gráfico-plásticos e expressivos a que, parece, se propõe Lêda Watson. A imprecisão e até a impressão de inacabado que dão, às vezes, alguns trabalhos, correspondem melhor à vontade de expressão exigida: é que esta solução faz com que o motivo meramente enunciado no papel exija a participação da fantasia do expectador, deixando ampla margem para a especulação e a imaginação complementarem o que é indefinido no quadro. Há, enfim, uma profunda associação subjetiva da artista com as paisagens, reais ou imaginárias, que ela interpreta mediante – segundo um crítico – "associações clandestinas" que enriquecem grandemente o valor e as qualidades plásticas da obra. Utilizando com patente perícia as técnicas da gravura em metal – água-tinta e água-forte –, a autora vai criando uma iconografia própria, na qual as "memórias" e os "momentos", as imagens humanas e a natureza, assim como os efeitos das texturas gráficas se dissolvem num mundo fantasioso e rico de soluções.
Baseando-se numa suposta ou imaginária realidade e "desrealizando-a" ao mesmo tempo, Lêda Watson nos dá uma das novas faces da moderna gravura brasileira, na qual ela ocupa o seu merecido lugar" — Lívio Abramo (ABRAMO, LÍVIO, gravador, ilustrador e desenhista. Depoimento realizado por ocasião de exposição no Paraguai, em 1981).
"(...) Não é exagero afirmar que a presente exposição nos oferece a oportunidade de conhecer o trabalho magnífico de uma gravadora que soube assimilar a técnica de seu mestre germânico Johnny Friedlaender, ao apresentar uma obra respaldada no domínio dos grandes recursos técnicos e dos jogos de fórmula, haja vista a forma pela qual desenvolve e organiza os volumes, as massas e as texturas, principalmente, quando os grânulos funcionam como relevos e as gamas tonais são discretamente exaltadas para causar os efeitos necessários ao equilíbrio e à expressão das estruturas formais de suas icásticas criações.
Mas se é verdade que Lêda Watson sabe desenvolver e carregar as lições de seu mestre, pondo-as a serviço de sua rara criatividade, não é menos verdade que essa artista, colocando suas mestrias à disposição de um rico vocabulário de formas fantásticas, revela a sua libertação ao demonstrar a posse de um estilo que se impõe em cada uma de suas composições.
Através da presente exposição, a impor-se por seu nível técnico e estético, Lêda Watson justifica a posição de relevo que vem ocupando no panorama atual da gravura contemporânea" — Hugo Auler (texto crítico publicado no jornal Correio Braziliense, em razão da exposição individual realizada em 1974, em Brasília, na Galeria Múltipla, de Maria Ignês Barbosa).
Fonte: Textos críticos - Lêda Watson. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Exposições
1974 - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira
1974 - Bienal Nacional 74
1977 - 9º Panorama de Arte Atual Brasileira
1978 - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba
1979 - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas
1980 - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas
1984 - 7 Artistas e uma Proposta
1984 - 15 Anos de Gravura
1984 - Armindo Leal, Gilberto Melo, Glênio Bianchetti, Ivanir Vianna, Lêda Watson, Marlene Godoy, Marques de Sá, Minnie Sardinha, Naura Timm, Wilma Lacerda
1987 - Lêda Watson (1987 : Brasília, DF)
1991 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas 1991/XII Salão Nacional de Artes Plásticas
1992 - Prêmio Brasília de Artes Plásticas 1991/XII Salão Nacional de Artes Plásticas
1993 - 2ª Coletiva de Primavera
1998 - Panorama das Artes Visuais no Distrito Federal
2000 - Mercocidades: Artes Visuais
2002 - JK - Uma Aventura Estética
2013 - SEUmuSEU Expoexperimento
2015 - O Papel do Museu
2015 - Parede Cheia de Histórias: 20 anos de Referência
Fonte: LÊDA Watson. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 02 de junho de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Entrevista Lêda Watson, gravadora que dinamizou a arte do DF | Correio Braziliense - ed. 2 de março de 1983
Lêda Watson, formada em Artes Plásticas na Escola Nacional de Belas Artes pela Universidade de Brasília. Frequentou, em Paris, durante quatro anos, o atelier de Friedlaender, tendo vindo para Brasília em 1975. Imediatamente, dinamizou o panorama artístico da capital abrindo seu atelier, que se tornou ponto de encontro de gravadores do Distrito Federal. Lêda é uma das responsáveis pela educação do público brasiliense no que diz respeito à apreciação de gravura/arte. Sua batalha é em incentivo às importantes mostras de gravadores que vem se realizando em Brasília.
S.W. – Lêda, apesar de grandes nomes das artes terem-se dedicado à gravura, ela, somente há pouco tempo, está se projetando. Qual a sua opinião a respeito?
L.W. – Eu penso que a gravura, depois de um longo caminho percorrido, inicialmente, sendo uma atividade de produção e também de ilustração, era uma atividade paralela da parte dos grandes artistas, decorrente do trabalho de um grande pintor; não era ainda um arte maior, não no valor intenso da arte em si, mas no que representava como meio de comunicação e de participação no contexto geral. No século passado, a gravura já começou, lentamente, a adquirir o seu merecido espaço. Os pintores, os artistas, iniciam-se direto na gravura, já mergulham direto como sua expressão de arte sem ter, obrigatoriamente, que percorrer um caminho de pintores, de desenhistas, de grandes artistas e de grandes pintores para, posteriormente, se tornarem gravadores. Atualmente, os gravadores já fazem sua formação de gravura em metal como a primeira etapa e ali permanecem, eventualmente, se expressando através de outras manifestações de pintura ou de desenho, mas permanecendo a gravura como um modo central de sua maneira de se exprimir.
S.W. – Quer dizer que qualquer pessoa que se dedica à gravura pode se iniciar no trabalho e ser um gravador?
L.W. – Evidente, é, inicialmente, gravador e, posteriormente, outras coisas se quiser. Antigamente, a gravura, o ser gravador, era decorrência de uma formação anterior a um ser pintor. Já existem, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, artistas gravadores, artistas que iniciaram seu processo criativo, sua vida profissional de artista na gravura e, por isso, como não é um processo muito antigo, este caminho é um caminho lento, que a gravura, como expressão de arte, tem que percorrer, para que haja uma penetração, uma compreensão, um entendimento, uma divulgação natural do que é realmente a gravura em metal. Estamos conseguindo isto e, em Brasília, já existe uma maior compreensão do que é a gravura em metal. Eu tenho, e também vários outros artistas, procurado contribuir para isso mantendo um curso bem dinamizado; dezenas e dezenas de alunos que passam por aqui, fazendo exposições didáticas todo ano, mostrando não só os trabalhos, como a maneira que se passa através de todo o processo artesanal, para se chegar àquele resultado; para a gravura, que é uma coisa muito complexa, muito difícil, e para que as pessoas não só conheçam esta expressão de arte, mas entendam realmente o que é a gravura em metal. Coincidentemente, nós temos, aqui no Distrito Federal, exposições no momento muito importantes: gravadores espanhóis e ingleses contemporâneos, assim como um paulista, que, brevemente, estará expondo aqui no Distrito Federal.
S.W. – Bom, o que você acha da gravura aqui em Brasília? Eu sei que você tem um núcleo, formou muita gente aqui e agora está com este clube de arte; mas o grupo que você formou aqui em Brasília, você poderia dizer alguma coisa a esse respeito?
L.W. – Claro! Formou-se o processo desde a universidade, quando fui convidada, chegando da Europa, para dar um curso de gravura em metal. Vinte e tantos alunos se apresentaram. Após o curso de dois meses, muitos deles quiseram continuar a trabalhar e, como todos os cursos de extensão têm duração limitada e a matéria é muito complexa, para os que queriam continuar a trabalhar e não tinham onde, ampliei meu atelier e pude, através desses anos todos, desde 1975, manter ativo o contato com a gravura, com alunos em pequenos grupos que vinham, trabalhavam e aprendiam gravura, sabiam o que era gravura e, eventualmente, se tornavam profissionais da gravura, vários deles, como Sandra Drummond, Regina Motta, Amaro Freire, Flávia Galisa, Rose Fraymund e Siomar de Oliveira Martins. Passaram no meu atelier e, enfim, conviveram comigo e aprenderam a gravura. Estão totalmente envolvidos pela gravura e se tornaram profissionais há vários anos, divulgando, expondo no Brasil e no exterior já como profissionais, ganhando prêmios por este Brasil afora.
S.W. – Diga-me também sobre este selo que foi lançado agora, há pouco tempo, no dia de Ação de Graças.
L.W. – Isso foi um convite que muito me gratificou, das Empresas de Correios e Telégrafos, para um projeto de uma gravura que representaria o Dia de Ação de Graças. Trabalhei o ano passado nisso e resultou uma gravura que foi bem aceita, houve bastante divulgação. O selo ficou bem razoável. Foi lançado no dia 16 de novembro e tem tido uma boa penetração. Foi um trabalho de uma artista de Brasília e não é comum que gravura se torne selo; em geral, são desenhos, pinturas, o que muito me honrou por poder contribuir para divulgar a gravura através do selo.
S.W. – Você está montando um atelier novo, todo instalado. Quais são os projetos que está pensando em divulgar e o que pensa fazer no novo atelier?
L.W. – Eu acabo de chegar de Washington vindo de uma exposição individual que, aliás, transcorreu magnificamente bem, com bastante entusiasmo, professores, universitários e colecionadores. E, imediatamente chegando, tive que me envolver com essa mudança de atelier, que realmente é lento o processo, o trabalho é muito, é complicada a instalação do atelier. E vou além disso, além da gravura em metal; inúmeros cursos diferentes: de criatividade, de desenho, de pintura em tecido, de criatividade para crianças e adolescentes, uma diversificação muito grande de atividades. Tenho dito que tenho que dedicar tempo integral ao planejamento desse meu novo local de trabalho, que será aqui na 715 sul, bloco G, casa 5, e aqui sempre estaremos esperando os que amam a arte, não só pelos cursos, mas pelo convívio com a arte, palestras, conferências e exposições. Sempre o visitante terá oportunidade de muitas coisas e de conhecer de perto com se faz. Temos a ideia de iniciar com um rótulo Clube das Artes, uma espécie de associação de um grupo fechado de pessoas que se candidataram não só a participar dos cursos, palestras e exposições, como também de um sorteio mensal de 18 pinturas e 10 gravuras de um gravador e de um pintor de expressão nacional, excelentes. Eu pretendo conseguir 10 obras de cada um a cada mês (total de 20), para as quais os associados se candidatariam a um consórcio. Isso funcionará como uma atividade do Clube das Artes. Adquirir obras de arte com pagamentos parcelados suaves, sem problemas e sem juros, seria uma espécie de veículo do colecionador brasiliense que se interessa por arte e por artistas do Brasil inteiro, de caráter de galeria, e apenas como uma espécie de intermediários e de penetração de muitos artistas que não são conhecidos. Vamos ver se, em março, vamos incrementar isso.
S.W. – Agora, esse clube terá um limite de pessoas. Você acha que 30, 10 pessoas... quantas pessoas podem entrar?
L.W. – Inicialmente, eu pensei em 30 pessoas. Se a adesão à proposta for grande, podemos pensar em um revezamento dos associados que se candidatarem às obras, que, ao serem sorteados, abririam um lugar para o próximo que estaria se candidatando para os próximos sorteios.
Fonte: Entrevista Leda Watson, publicada no Correio Braziliense, na edição de 2 de março de 1983.
---
Lêda Watson revê sua trajetória e os caminhos percorridos pela capital | Correio Brasiliense
Da janela do ateliê, a artista admira as cores e as formas do cerrado que lhe arrebataram o encantamento e lhe servem de inspiração há 50 anos. Do lado de dentro, o contraste entre o material bruto e pesado da gravura e a leveza e as formas orgânicas da arte feita por Lêda Watson. Nas paredes, estão expostas lembranças das aulas ministradas e dos alunos. Foram 30 anos dedicados ao ensino. Entre pastas e gavetas, imagens de uma vida apaixonada pela gravura em metal. ;É uma técnica inesgotável e desafiadora;, resume.
Lêda percorreu o mundo. No Rio de Janeiro e na França, ela desenvolveu o amor pela arte e se especializou em gravura. Ministrou cursos no Peru, Costa Rica, Nicarágua, Caracas e Panamá. Contudo, foi na capital de Juscelino Kubitschek que ela escolheu desenhar histórias de trabalho, ensino e formação de um cenário cultural. ;Era uma entusiasta da mudança da capital;, conta a artista de sangue carioca. Naquela cidade que surgiu da terra vermelha do cerrado, Lêda também descobriu o fascínio pela vegetação sofrida. ;A mutação e a alternância produzem uma vegetação peculiar. Eu não sabia o quanto ela foi importante para mim. Sempre foi o cerrado a minha inspiração, desde a primeira gravura;, afirma.
Este ano, a artista e um dos maiores nomes da gravura brasiliense celebra 50 anos dedicados à arte. No Espaço Cult, a exposição 50 anos de gravura revela uma pequena retrospectiva de seus trabalhos. Em outubro, Lêda abre uma mostra com obras desenvolvidas nos últimos anos e lança o segundo livro na Referência Galeria de Arte. ;Estou há quatro anos trabalhando nele. É uma complementação do primeiro (Sonhos, momentos, emoções. Técnicas e gravuras). Também é resultado de uma provocação do meu ex-marido. Ele me disse: ;você rompeu recordes na gravura e é muito modesta, não mostrou tudo no primeiro livro;. Ele fez uma apresentação e me estimulou a escrever o segundo;, relembra.
Ainda sem nome, a publicação revela técnicas de gravura em metal que não exigem o aço. ;Desenvolvi muitas técnicas e sigo criando e desenvolvendo novas;, complementa a artista. E, assim como no primeiro livro, Lêda indica o ;pulo do gato;. ;São pulos que facilitam o caminho. A gravura é muito difícil. Você permanecer gravador é muito difícil, só uma maluca como eu;, afirma aos risos. Até o fim do ano, a carioca também viaja a São Paulo para expor na galeria Almeida Prado. ;Optei pela gravura em metal porque ela tem uma dualidade. Na primeira parte, você explode na água forte, nas linhas e, depois, você tem que organizar. Meus trabalhos mostram quem eu sou;, declara.
Ensino
Com um currículo extenso e diante das oportunidades que explorou, Lêda conta que se sentiu na responsabilidade de passar isso adiante. Incentivada a dar continuidade ao ensino da gravura, após um curso de extensão ministrado na Universidade de Brasília (UnB), deu aulas na instituição e criou uma escola no próprio ateliê.
;A UnB agora é outra. Acredito que cada um tem que fazer o que quer da vida desde que não atrapalhe o equilíbrio das pessoas. Não temos direito, socialmente, de impor uma particularidade. Isso que me revolta atualmente na atitude humana;, desabafa. Na avaliação da artista, não se aprende mais técnicas como antes. ;Se aprende a bolar um sistema, uma exposição. Não estou querendo doutrinar, porque odeio que me doutrinem. É que isso não é arte. Arte que tem que ser explicada não é arte;, afirma. Munidos de uma facilidade do ;fazer arte;, as pessoas perdem o estímulo de seguir o caminho de um gravurista. ;Gravador em metal não pode brincar;, resume.
Para a artista, é preciso ensinar os primórdios, a pintar, a desenhar, a fazer xilogravura e litogravura. ;Ninguém pode empurrar o aluno para um caminho. Ou deixa a liberdade com os subsídios para ele crescer ou você não é professor. Escolhi o meu caminho, mas com conhecimento de causa;, avalia.
Má gestão
Além de se inspirar no cerrado e dividir o que aprendeu com outras gerações, Lêda também participou da formação artística e cultural da capital. Ela criou o Museu de Arte de Brasília (MAB), inaugurado em 1985 e fechado há 12 anos. Também foi, por anos, a coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal. Ver a instituição e outros equipamentos culturais abandonados é, mais do que uma tristeza, um desastre. ;Não precisa de dinheiro para fazer as coisas. A própria sociedade move o sistema. Eles fecham os estabelecimentos porque não dá ibope, não faz ninguém se eleger. Existe o gostar de arte e gostar de cultura. Não é falta de público, é desorganização, má gestão. Não é a cultura que é desinteressante, é a gestão que é péssima;, enfatiza.
Para a carioca enamorada por Brasília, a capital tem um enorme potencial artístico. Ao rever sua trajetória, Lêda reconhece o fruto das sementes plantadas. ;Mergulhei de cabeça nessa cidade e tentei me doar. Queria fazer com que a cidade crescesse e, apesar de tudo, cresceu;, pondera. Viver de arte não é fácil. Picasso foi uma exceção. ;Mas é uma paixão. Te faz um bem enorme. Temos que pensar mais no bem que as coisas fazem do que no dinheiro que você não leva para o outro lado;, declara. O segredo dos 50 anos? Perseverança e, sobretudo, zelo profissional. ;Sinto que cumpri minha missão. Tudo o que está havendo agora é lucro;, finaliza.
Fonte: Correio Brasiliense, "Lêda Watson revê sua trajetória e os caminhos percorridos pela capital", publicado por Roberta Pinheiro, em 25 de agosto de 2019. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson | Gabinete de Arte da Câmara dos Deputados
As gravuras que ora enobrecem o Gabinete de Arte da Presidência da Câmara dos Deputados foram concebidas pela artista Lêda Watson, uma das pioneiras e mais importantes gravadoras do Brasil, de alto prestígio nacional e internacional. A mostra aqui apresentada traz uma compilação significativa com 24 obras de três diferentes momentos da carreira da artista, selecionadas num recorte cronológico.
A primeira sala concentra trabalhos do início da trajetória, no Rio de Janeiro; a segunda reúne gravuras criadas em Paris, quando Lêda estudou com o mestre germânico Friedlaender por três anos e meio e cursou a Escola de Belas-Artes da Sorbonne; já a sala principal congrega trabalhos feitos a partir de seu retorno a Brasília, em 1973. Nesta última sala, há uma mescla de obras das séries “Momentos”, “Emoções” e “Sonhos” — produzidas na capital federal, cidade que tão bem acolheu a artista e que tão profunda e inexplicavelmente a tem inspirado, seja pelos deslumbrantes matizes do pôr-do-sol seja pelas oníricas formas da vegetação do cerrado.
Com mais de 50 anos dedicados à produção artística, Lêda Watson também deve ser celebrada por seu incansável trabalho como agente cultural e como arte-educadora. Já ministrou inúmeras palestras, oficinas e cursos na Universidade de Brasília e em outras escolas pelo mundo afora e ainda hoje mantém um ateliê, em Brasília, onde repassa aos discípulos, de forma didática e apaixonada, os segredos das técnicas de gravura em metal que ela domina com maestria.
Oriunda da família de artistas Campofiorito, Lêda Watson não traiu suas origens e se dedicou inteiramente à arte. Nascida em Niterói-RJ em 1933, graduou-se em Artes Plásticas pela Escola Nacional de Belas-Artes (Rio de Janeiro), École Nationale de Beaux Arts — Sorbonne (Paris) e pela Universidade de Brasília. Especializou-se em gravura em metal na Escolinha de Arte do Brasil Augusto Rodrigues com o mestre Orlando Dasilva (Rio de Janeiro) e no Atelier Friedlaender (Paris).
Quando morou em Paris, sua obra foi bem recebida pelos editores de arte franceses e pela crítica especializada, sendo a artista convidada pela Société des Femmes Bibliophiles para ilustrar um livro de Jules Laforgue (a edição anterior havia sido ilustrada por Salvador Dalí).
Voltou ao Brasil em 1973, tornou-se professora de gravura, tendo ministrado vários cursos, palestras e oficinas em universidades e museus do Brasil e Exterior por mais de 30 anos. Criou uma Escola de Gravura em seu próprio ateliê, onde formou novos gravadores de 1975 a 1987. A partir daí, deu origem ao 1o Núcleo de Gravadores de Brasília e ao Clube da Gravura. Mais de 420 alunos já aprenderam nas oficinas de Lêda Watson a arte de gravar em metal.
Como agente cultural, criou o 1o Museu de Arte de Brasília, foi a coordenadora de museus da Secretaria de Cultura do GDF, coordenou prêmios regionais e nacionais de artes plásticas e fez a curadoria brasileira na X Bienal Internacional de Gravura de Valparaíso, Chile.
Desde 1970, participa de exposições coletivas e individuais no Brasil, Europa, América Latina, EUA, Canadá e Oriente.
Fonte: Gabinete de Arte da Câmara dos Deputados. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson | por Chico Sant'Anna
As gravuras de Lêda Watson trazem, segundo os críticos, a influência da vegetação distorcida do cerrado com a abstração do céu do Planalto Central. Desta forma, poderíamos dizer que ela torna o concreto abstrato e o abstrato, concreto.
Enquanto as crianças da sua idade preferiam as brincadeiras de casinha e de bonecas, ainda menina, ela já brincava de fazer vernissage. Não é exagero algum afirmar que a arte está no seu sangue, ou como preferimos hoje, no seu DNA. Neta de arquiteto e pintor italiano radicado no Brasil, sobrinha de pianista e de professor de artes, Lêda Watson desde pequena se acostumou a freqüentar as exposições, galerias de artes, a tomar gosto pela arte. Hoje é uma referência internacional na arte da gravura.
Na França, Lêda Watson pode aprimorar sua técnica com o renomado gravurista Johnny Friedlaender.
Jovem, deu início a seus estudos na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. Mas a paixão pelas artes foi derrotada pelo amor a Sérgio da Veiga Eatson, que a fez abandonar a Escola de Belas Artes no terceiro ano do curso e se mudar para Suíça. O casamento com um diplomata brasileiro,contudo, abriu um mundo de oportunidades e contatos com culturas diferentes que ajudará a aperfeiçoar o dom que já carregava desde menina, quando se entretinha com cavaletes, pincéis e telas. Em 1966, teve os primeiros contatos com a gravura, na Escolinha de Belas Artes do Brasil, na antiga Guanabara, com o mestre Orlando Dasilva.
No exterior, estudou na École Nationale de Beaux Arts-Sorbonne, em Paris e se especializou-se em gravura em metal no atelier do renomado Johnny Friedlaender, pintor e gravurista francês da chamada Nova École de Paris e cujas as obras têm por característica a mescla do abstrato com elementos alusivos à realidade. Estilo que, arriscamos afirmar, influenciou o trabalho de Lêda Watson.
Lêda Watson é, assim, uma das gratas surpresas que a transferência, na década de 1970, dos servidores públicos do Rio de Janeiro para Brasília proporcionou a esta cidade, colocando Brasília no mapa internacional da gravura.
Como arte-educadora, ministrou cursos de gravura em metal e palestras mundo afora: em Lima, Peru: Manágua, Nicarágua, São José de Costa Rica, Caracas, Venezuela;e na Cidade do Panamá, dentre outros locais.
O interesse pelas artes desde cedo e sua trajetória artístico-profissional permitiram a convivência com grandes nomes da arte brasileira, tais como Marina Colassanti, que foi colega de escola, Athos Bulcão, Rubem Valentin e tanto outros. E o melhor de tudo isso, é que Lêda, como professora da Universidade de Brasília, ou em seu atelier, transmitiu a gerações e gerações de novos artistas a sua arte.
A contribuição de Lêda ao mundo cultural de Brasília vai além. Em 1985, criou o Museu de Arte de Brasília – MAB. Além disso, graças a sua expertise, duas plantas da cidade do Rio de Janeiro, datados de 1808, quando da chegada da família real ao Brasil foram recuperados. As chapas de cobre, com 3 mm de expessura e medindo 94 cm x 64 cm, entalhadas com o uso de buril destinavam-se a impressão dos mapas e estavam no Museu da Imprensa Nacional, criada por Dom João VI, quando aqui chegou. As chapas nunca haviam sido reproduzidas.
Para explicar o trabalho de Lêda Watson são necessárias duas etapas: uma para focar a técnica e outro o estilo. Ao contrário de outros artistas plásticos, que tem a tela e o pincel como base de trabalho, a gravura tem a chapa de metal e o buril (uma espécie de formão – se é que eu posso afirmar isso), com o qual se trabalha na marcação das chapas de metal e que servirão de matriz para reproduzir em papel as gravuras.
Na verdade, o gravurista trabalha uma matriz, um clichê, como se fosse um carimbo, que será o ponto de partida para a reprodução das gravuras.
Bem ninguém melhor do que ela mesmo para explicar o que é a gravura.
“Arte de formar por meio de incisões e talhos, ou fixar por meios químicos, em metal, em madeira, em pedra, imagens em baixo ou alto relevo, para registro de uma imagem (como no início da história humana) ou para reprodução e multiplicação através de entintamento e estampagem, manual ou mecanicamente, em papel ou outro material.”
Recorro aqui a outro especialista para descrever o trabalho de Lêda Watzon, Bené Fonteles, que ao visitar uma exposição dela não conteve suas emoções. Escreveu ele: “A sensação da visita traz a presença de seres imaginários numa fábula nunca a mim contada. Seres que nos invadem mais a alma que a mente, e me fazem possuir uma nova forma de ver e de pertencer ao mundo. Suas gravuras grávidas deste fabulário fantástico estão carregadas da organicidade, onde a simbiose da flora e da fauna do estranho humanizam a paisagem e trazem uma outra compreensão e recriação da natureza nunca dantes vislumbrada na gravura brasileira.”
Sérgio Rouanet acredita que este fabulário fantástico, a que se referiu Bené Fonteles, devem ser fruto das caminhadas e acampamentos noturnos que Lêda e seu Marido faziam nos cerrados de Brasília. “Não seria nesses passeios que ela aprendeu a amar o céu de Brasília e a conhecer de perto a natureza do Planalto Central? Não seria a lembrança dessas excursões em que ela estabeleceu contato imediato com a vegetação do cerrado, que teria entrado em sua arte, toda ela feitas de folhas, galhos entrelaçados, raízes? É uma arte orgânica, vegetal, através da qual perpassam, sobre um fundo policrômico” – escreveu o ex-ministro da Cultura, Sérgio Rouanet.
Essa também é a visão do gravador, ilustrador e desenhista, Lívio Abramo, que, em 1981, proporcionou a primeira exposição individual de Lêda Watson, no Paraguai.
Para ele, a trama das imagens produzidas pela gravurista é transformada em arabescos que afastam da figura humana sem se poder dizer que sua arte seja abstrata, do modo em que sentimos pulsar nela, difusa, mas perceptível, a vida do homem, da terra, das árvores, do infinito que tudo abrange.
“Muitas destas gravuras nos recordam – e cremos que são o resultado de uma interpretação subjetiva dessa natureza de parte da artista – as terras do Brasil Central, mais propriamente o “cerrado cuiabano”, cuja hirta e hostil flora tanto se afina com as linhas dramáticas e até dolorosas destas estampas” – comentou o artista plástico.
Fonte: Brasília por Chico Sant’Anna. "Você conhece os artistas de Brasília? Conheça aqui as gravuras de Lêda Watson", publicado em 1 de janeiro de 2014. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
---
Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira | Metrópoles
A gravurista Lêda Watson está completando 50 anos de carreira neste ano. Nascida nos Estados Unidos, passou a juventude no Rio de Janeiro e teve formação na Escola de Belas Artes de Paris (França), acolheu Brasília como cidade para fincar raízes em 1973. Apesar de fazer um panorama negativo sobre as artes da atualidade, segue ativa na produção de gravuras.
Com obras em espaços como o Museu Nacional de Brasília e a Biblioteca Nacional de Paris, Lêda foi uma das figuras mais importantes na construção de um cenário artístico na capital. Ela, inclusive, atuou vigorosamente na criação do Museu de Arte de Brasília (MAB), fechado em 2007 por danos estruturais e com reabertura marcada para o ano que vem.
Nova exposição
Em entrevista ao Metrópoles, a artista afirma que tomou três decisões para comemorar os 50 anos de carreira. A primeira foi dar o pontapé inicial de uma exposição individual no Museu de Brasília para o ano que vem.
“Tentei conseguir um apoio pelo FAC, mas meu projeto não foi aprovado. Acho que preferem os artistas novinhos”, desabafa. Ainda assim, ela busca uma parceria com o Wagner Barja, diretor do museu, para que a mostra aconteça.
"Não vou desistir de apresentar minhas obras. O povo brasiliense não pode se esquecer dos artistas pioneiros" – Lêda Watson
A segunda decisão diz respeito à produção de um catálogo com todas suas produções realizadas de 2008 até hoje. “Eu já publiquei um livro há cerca de dez anos e, mesmo assim, diversos amigos insistem que eu faça um novo. Vamos ver se fica legal”, conta.
Mudança de rumos
A terceira decisão será considerada infeliz por muitos artistas iniciantes da capital. Após 30 anos dando aulas em seu ateliê localizado no Lago Sul, ela não abrirá novas turmas. “Estou cansada. Vou focar em meus próprios projetos, que estão parados há alguns meses”, revela.
Ela soma 420 artistas treinados ao longo dessas décadas, que hoje se encontram atuantes na capital e em diversos países. “Acredito que sou a única gravurista do país que abre o próprio ateliê para alunos”, diz, com orgulho.
Apesar de olhar para sua trajetória com carinho, Lêda tem uma perspectiva negativa sobre a produção artística atual. “Tem muita gente fazendo coisa boa hoje, mas tem mais gente fazendo coisa ruim e mesmo assim sendo aplaudido. É difícil de entender”, avalia.
Fonte: Metrópoles, "Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira", publicado em 8 de outubro de 2017. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.
Crédito fotográfico: Metrópoles, "Lêda Watson completa 50 anos de arte e anuncia mudanças na carreira", publicado em 8 de outubro de 2017. Consultado pela última vez em 2 de junho de 2022.