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Oscar Pereira da Silva

Oscar Pereira da Silva (São Fidélis, RJ, 29 de agosto de 1867 — São Paulo, SP, 17 de janeiro de 1939) foi um pintor, desenhista, decorador e professor brasileiro da passagem do século XIX para o século XX.

Biografia - Itaú Cultural

Entre 1882 e 1887, estuda na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), e é aluno de Zeferino da Costa, Victor Meirelles, Chaves Pinheiro e José Maria de Medeiros. Em 1887, torna-se ajudante de Zeferino da Costa na decoração da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Conquista o último prêmio de viagem ao exterior concedido pelo imperador dom Pedro II, transferindo-se para Paris em 1889. Estuda com os pintores Léon Bonnat e Jean-Léon Gérôme. No período em que permanece na França, produz diversos estudos e telas. Retorna ao Brasil em 1896. No Rio de Janeiro, realiza uma exposição individual no salão da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde são apresentados 33 trabalhos feitos na Europa. No mesmo ano, transfere-se para São Paulo. Leciona no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp) e no Ginásio do Estado, e ministra também aulas particulares em seu ateliê. Em 1897, funda o Núcleo Artístico, que, mais tarde, se transforma na Escola de Belas Artes, onde dá aulas. Entre 1903 e 1911, trabalha na decoração do Theatro Municipal de São Paulo, elaborando três murais: O Teatro na Grécia Antiga, A Dança e A Música. Entre 1907 e 1917, realiza pinturas para Igreja de Santa Cecília. Como pensionista do Governo do Estado de São Paulo, viaja a Paris em 1925.

Análise

Autor de pintura histórica, retratos, temas religiosos, cenas de gênero, naturezas-mortas e paisagens, Oscar Pereira da Silva é também grande copista. Na cidade de São Paulo estão seus principais trabalhos, entre os quais se destacam Escrava Romana, ca.1882, Infância de Giotto, 1895, e Fundação da Cidade de São Paulo, 1909, pertencentes à Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp; Desembarque de Cabral em Porto Seguro, 1922, e O Príncipe Regente D. Pedro, Jorge Avilez ao lado da Fragata União, do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (MP/USP). A experiência na Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, como auxiliar de Zeferino da Costa, gera frutos em São Paulo, onde realiza a decoração da Igreja de Santa Cecília. Na cúpula, estão retratados os evangelistas; nas capelas, a Imaculada Conceição e os Esponsais de São José. Completando o conjunto, figuram em friso ao redor da nave diversos retratos de clérigos. No início do século XX, em São Paulo, diversas capelas coloniais são substituídas por edifícios neogóticos ou neocoloniais, abrindo-se uma frente de trabalho para artistas decoradores, como Oscar Pereira da Silva e Benedito Calixto. Além da Igreja de Santa Cecília, ambos atuam nas igrejas de Santa Ifigênia, da Consolação e do Rosário. Pereira da Silva realiza também trabalhos decorativos para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Em Paris, realiza seu aprimoramento artístico nos ateliês de pintores conservadores, não se interessando pelo realismo e muito menos pelo impressionismo. Em grande parte pela formação acadêmica que recebe, não se deixa influenciar pela pintura moderna, preferindo continuar numa linha tradicional, que trabalha com grande qualidade técnica.

Cultiva o assunto bíblico e histórico, temas que já não interessam à maioria dos pintores de sua época. São exemplos dessa tendência Salomé, 1913, Lídia, Escrava Romana, telas de figuras femininas que revelam o apego às tradições acadêmicas e que parecem anacrônicas para seu tempo. Suas obras revelam desenho minucioso e perfeito, à semelhança do mestre Zeferino da Costa. Alguns trabalhos, principalmente as cenas de gênero, de que são exemplos Criação da Vovó, 1890, Consertador de Porcelanas, 1894, Cozinha na Roça e Canto Íntimo parecem menos severamente pautados pela estética tradicional, revelando alguma ousadia mais na temática do que no tratamento pictórico.

Suas laboriosas composições são características da expansão da pintura que predomina no meio artístico brasileiro no início da República, o que explica tanto sua alta produtividade e aceitação no período quanto as críticas de que foi alvo posteriormente. Pereira da Silva insere-se com sucesso num contexto em que o ensino artístico e as encomendas oficiais são as principais fontes de atividades para os artistas. Exerce, então, a atividade de professor e é bastante solicitado a realizar obras para instituições ligadas ao governo.

Realiza também algumas paisagens, mas a principal tarefa por ele assumida consiste em recriar, em grandes composições, episódios da história nacional ou paulista. O melhor exemplo é certamente o Desembarque de Cabral em Porto Seguro. A tela ganha tal notoriedade, servindo de iconografia para livros escolares e outras publicações, que até hoje figura como a mais popular representação da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. É interessante considerar que a obra é realizada para as comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 1922, no mesmo ano que a Semana de Arte Moderna agita o ambiente cultural paulista. Outra importante tela histórica é Sessão das Cortes de Lisboa em 9 de maio de 1822, episódio em que diversos deputados brasileiros, liderados por Antonio Carlos de Andrade e Silva, defenderam na corte portuguesa que um único soberano deveria governar os reinos de Portugal e do Brasil. Assim como O Desembarque, a tela é encomendada pelo historiador e diretor do Museu Paulista, Afonso d'Escragnolle Taunay, para ocupar os espaços do recém-criado museu. A eleição de determinados momentos históricos faz parte do projeto de construção e elaboração da identidade e memória nacionais.

Pode-se criticar Oscar Pereira da Silva pela repetição das fórmulas e a impermeabilidade às novas tendências pictóricas em voga internacionalmente. No fim da vida, passa a produzir uma quantidade maior de marinhas, paisagens, naturezas-mortas e aquarelas. Autor de uma produção numerosa, porém desigual, quase sempre pautada na estética tradicional, considerado por alguns críticos como um pintor fraco e demasiadamente elogiado, pauta sua obra, como afirma o crítico Quirino Campofiorito, "na convicção de que era inadmissível a um artista deformar, para, deste modo, melhor expressar".

Críticas

"Como os artistas entregues à disciplina do ensino na École Nationale des Beaux-Arts, negou-se a admitir algum interesse pelos movimentos artísticos renovadores desde o realismo audacioso de Courbet, passando pela libertação técnica e inspirativa do romantismo de Delacroix e muito menos então o impressionismo, já vitorioso fora das fronteiras da arte oficial. E como tal havia nosso pintor de pautar sua obra, o que fez por toda sua longa existência, na convicção de que era inadmissível a um artista deformar, para, deste modo, melhor expressar. Era o postulado até mesmo respeitado pela crítica reacionária aos movimentos renovadores, de que um artista só pode conceber formas belas e assuntos nobres, e que lhe compete desenhar com exatidão e embelezar até mesmo o mais cruento realismo que a vida demonstre. (...) Com tais convicções artísticas prosseguiu (...) quando o movimento desencadeado pela Semana de Arte Moderna de 1922 já mudara o semblante de nossa arte mais representativa e esta se confirmava no apoio que lhe assegura a geração que se notabiliza nos anos trinta. (...) Sem ter revelado impulsos vigorosos que lhe evidenciassem poder emotivo, Oscar Pereira da Silva soube manter no transcorrer de bem cinquenta e sete anos de produção permanente e intensa, desde que retornou ao país, em 1896, todo o cuidado de um desenho severamente elaborado, sem num só instante voltar-se para o novo semblante que a pintura adquiria nessa transposição de tempo".

Quirino Campofiorito (História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.)

Acervos

  • Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP)

  • Igreja da Consolação - São Paulo SP

  • Museu Mariano Procópio - Juiz de Fora MG

  • Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ

  • Museu Paulista da Universidade de São Paulo - MP/USP - São Paulo SP

Exposições Individuais

1896 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba

1898 - São Paulo SP - Individual, no Banco União de São Paulo

1898 - São Paulo SP - Individual, no Banco Construtor

Exposições Coletivas

1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba

1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1894 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1896 - Rio de Janeiro RJ - 3ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1897 - Rio de Janeiro RJ - 4ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1898 - Rio de Janeiro RJ - 5ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1902 - São Paulo SP - Exposição de Belas Artes Industriais

1904 - Saint Louis (Estados Unidos) - Exposição de Saint-Louis

1904 - São Paulo SP - Exposição de Saint-Louis

1907 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes

1907 - Rio de Janeiro RJ - 14º Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1908 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Comemorativa da Abertura dos Portos

1912 - São Paulo SP - 2ª Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios

1914 - Rio de Janeiro RJ - 21ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1922 - São Paulo SP - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, no Palácio das Indústrias

1928 - São Paulo SP - Grupo Almeida Júnior, no Palácio das Arcadas

1934 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Belas Artes, na Rua 11 de Agosto

1935 - São Paulo SP - 2º Salão Paulista de Belas Artes

1935 - São Paulo SP - 3º Salão Paulista de Belas Artes

1936 - São Paulo SP - Individual, no Palácio das Arcadas

1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes

1939 - São Paulo SP - 6º Salão Paulista de Belas Artes

Exposições Póstumas

1940 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos

1944 - São Paulo SP - 10º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia

1946 - São Paulo SP - 12º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia

1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA

1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA

1954 - São Paulo SP - Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia

1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970, no MAB/Faap

1976 - São Paulo SP - O Retrato na Coleção da Pinacoteca, na Pinacoteca do Estado

1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes

1981 - São Paulo SP - Quatro Grandes Pintores em São Paulo, na Fundação Bienal

1982 - Rio de Janeiro RJ - 150 Anos de Pintura de Marinha na História da Arte Brasileira, no MNBA

1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal

1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp

1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado

1991 - São Paulo SP - O Desejo na Academia: 1847-1916, na Pinacoteca do Estado

1991 - São Paulo SP - Oscar Pereira da Silva: aquarelas, no Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte

1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado

1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Espaço Cultural da Marinha/Museu Naval

1998 - São Paulo SP - Iconografia Paulistana em Coleções Particulares, no Museu da Casa Brasileira

2000 - Caxias do Sul RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs

2000 - Passo Fundo RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs

2000 - Pelotas RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs

2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs

2000 - Rio de Janeiro RJ - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Carta de Pero Vaz de Caminha, no Museu Histórico Nacional

2000 - Santa Maria RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs

2000 - São Paulo SP - A Figura Humana na Coleção Itaú, no Itaú Cultural

2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, no Fundação Bienal

2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado

2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty

2003 - São Paulo SP - Pintores do Litoral Paulista, na Sociarte

2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural

Fonte: OSCAR Pereira da Silva. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 19 de Jan. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

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Biografia - Wikipédia

Desde menino revelou gosto pelo desenho e pela pintura. Assim, em 1882, matriculou-se na Academia Imperial de Belas Artes onde teve como contemporâneos Eliseu Visconti, Eduardo Sá e João Batista da Costa. Aluno de Zeferino da Costa, Victor Meirelles, Chaves Pinheiro e José Maria de Medeiros, em 1887, tornou-se ajudante de Zeferino da Costa na decoração da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Tal experiência gerou frutos em São Paulo, tendo a oportunidade de decorar a Igreja de Santa Cecília.

No início do século XX, em São Paulo, diversas capelas coloniais foram substituídas por edifícios neogóticos ou neocoloniais. Essa mudança deu oportunidade de trabalho para artistas decoradores como para Oscar Pereira da Silva e Benedito Calixto. Além da Igreja de Santa Cecília, ambos atuaram nas igrejas de Santa Ifigênia, da Consolação e do Rosário. Pereira da Silva realiza também trabalhos decorativos para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Em Paris, Oscar foi pensionista do ateliê de dois dos maiores conservadores, Léon Bonnat e Jean-Léon Gérôme, que atendia aos pedidos de oficiais do regime governamental da época. O artista vivia na disciplina do ensino da École des Beaux Arts e negava-se a admitir o interesse por movimentos artísticos renovadores, com o realismo de Delacroix e menos ainda ao impressionismo, já fora das artes direcionadas aos oficiais. Na convicção de que era inadmissível um artista deformar para melhor expressar-se, essa visão era uma premissa até mesmo respeitada pelos críticos reacionários aos novos movimentos. Ou seja, nessa perspectiva, um artista poderia somente criar obras belas e assuntos nobres com exatidão, até mesmo embelezar a cruel realidade da vida.

No período em que permaneceu na França, produziu diversos estudos e telas. Em 1896 retornou ao Brasil. Na cidade do Rio de Janeiro, realizou uma exposição individual no salão da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde foram apresentados 33 trabalhos feitos na Europa. No mesmo ano, transferiu-se para São Paulo e lecionou no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp) e no Ginásio do Estado. Além disso, ministrava aulas particulares em seu ateliê. Em 1897, fundou o Núcleo Artístico, que, mais tarde, se transformaria na Escola de Belas Artes, onde deu aulas. Entre 1903 e 1911, trabalhou na decoração do Theatro Municipal de São Paulo, elaborando três murais: O Teatro na Grécia Antiga, A Dança e A Música.

Na cidade de São Paulo estão os principais trabalhos do artista, entre os quais se destacam "Escrava Romana" (1894), "Infância de Giotto" (1895), "Fundação de São Paulo" (1909) e "Desembarque de Cabral em Porto Seguro" (1900), entre outros preservados pela Pinacoteca de São Paulo e pelo Museu Paulista da Universidade de São Paulo.

Sua pintura era fechada e detalhista, muito próximo ao real. Em sua carreira prosseguiu com tal posicionamento, até o final da década de trinta, ao passo que com os anos desencadeava o movimento da Semana de Arte Moderna, que em 1922 mudava o semblante da arte. Na autobiografia da filha do pintor, a também artista Helena Pereira da Silva Ohashi, após o pintor retornar de Paris em novembro de 1930, ela observa modificações na produção artística do pai. As telas de Oscar Pereira da Silva foram compostas por telas mais despreocupadas com o acabamento e utilizando paleta mais claras. Contudo, a importância do desenho como estrutura básica e fundamental de suas composições nunca o deixou de existir na execução de suas telas. Portanto, ainda na década de 30, Pereira da Silva chegou a inclinar suas obras á mudanças estilísticas, observada, sobretudo, na comparação entre as obras Mulher com Turbante (1903) e Menina vestida de japonesa (1904). No final desta década, em 1939 o pintor faleceu em seu ateliê enquanto trabalhava, o motivo foi um ataque cardíaco. Sem evidenciar impulsos vigorosos ao poder emotivo, Oscar Pereira da Silva soube transcorrer seus 57 anos de produção intensa e permanente desde que retornou ao país. Todo cuidado de um desenho severamente elaborado, rigoroso voltou-se para o novo que a pintura adquiria nesse deslocamento do tempo.

Contexto Histórico

Capitais, como as latino-americanas que alcançavam lugares de destaque econômico, político e cultural, necessitavam, bem como era fundamental, construírem-se como capitais simbólicas. São Paulo, por exemplo, continha elites ligadas a cafeicultura, as quais assumiam cada vez mais um papel de destaque no canário político, devido a instauração da República no país, o qual dominava o sistema político. Desse modo, firmou-se a identidade regional e a visão nacional. Assim, rivalizava as narrativas nacionais geradas na capital do país, sobretudo aquelas que frisava o papel da cidade do Rio de Janeiro e da antiga monarquia na constituição da nação.

Por meio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, os intelectuais, neste novo contexto, empenhavam-se na tarefa de criar uma historiografia que destacasse os feitos paulistas. A construção da imagem da história da cidade foi acompanhada e elaborada de imagens capazes de fixar no imaginário social as narrativas que os historiadores paulistas desejaram criar. O novo contexto político brasileiro, onde as elites dos estados disputavam a hegemonia , domínio político nacional e o crescente poder dos paulistas, gerou a produção de iconografias locais, destinadas à decoração, por exemplo, dos palácios governamentais dos estados brasileiros. Foi por esse motivo que, o governo paulista passou a encomendar e adquirir pinturas históricas, a fim de construir uma narrativa ilustrada da nação, que colocasse em destaque o estado que então liderava a República.

Oscar Pereira da Silva, ciente da importância desse gênero artístico para as elites políticas de São Paulo, na época buscou estabelecer-se como pintor de história, gênero mais importante do sistema acadêmico. Isso iria trazer-lhe maior prestígio e lhe garantia contratos públicos. Sua primeira tentativa neste sentido foi a produção do quadro Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, realizado em 1900, e vendido ao governo paulista em 1902.

Obras

Igreja Santa Cecília

Sabe-se que Oscar Pereira da Silva produziu algumas pinturas ao mesmo tempo em que Benedito Calixto executava as suas na igreja de Santa Cecília. Assim, a decoração é compreendida por um pequeno conjunto de pinturas, sendo duas para as abóbadas laterais do transepto e os quatro Evangelistas. Nas capelas, Oscar pintou a Imaculada Conceição e os Esponsais de São José e, para completar o conjunto, figuraram em friso ao redor da nave diversos retratos de clérigos.

Apesar da pequena quantidade de obras, o conjunto possui qualidades e está perfeitamente vinculado à produção calixtiana e aos anseios de Dom Duarte. Sua pintura religiosa apresenta uma leveza que distancia o sofrimento das cenas de martírio e do sofrimento de Cristo. Assim, Oscar se diferencia de Calixto, uma vez que este vincula sua produção religiosa à correção histórica, a fim de desenvolver um discurso de piedade visual. Pereira da Silva executa os dois painéis laterais da Igreja que, por terem o formato abobadado causam a impressão de acolhimento, de abençoar o fiel que ali está em busca de conforto espiritual. Embora, a produção de Oscar Pereira da Silva se diferencia do caráter histórico, científico e arqueológico de Calixto, nessa produção propõe-se uma quase alegoria em sua pintura edulcorada, que de maneira firme ainda consegue conservar sua suavidade.

Sansão e Dalila

Um de seus primeiros quadros a destacar é Sansão e Dalila. Sua composição é exemplar, autêntica e de composição extremamente expressiva e realista. Das séries realizada pelo pintor nos dez primeiros anos de atividade, já em São Paulo, o pintor começa a se dedicar a temas locais, tanto históricos como de gênero. Filia-se, portanto, a linha de Almeida Júnior, da qual a obra serviu de estímulo de muitos pintores que atuaram na cidade de São Paulo no início deste século. Semelhantemente, sucede Benedito Calixto, que soma a Almeida júnior e formam um trio marcante na temática paulista na pintura brasileira.

Escrava Romana

Seus quadros pintados em Paris, como Escrava Romana (1882), exprimem a linha acadêmica, que o afastava da temática paulista preferida por ele posteriormente. Ao escolher um tema clássico, a história de uma escrava encontrada em seu próprio país despertou-o para inspirações mais vivas. Era inegável sua disciplina escolar. A jovem usava acessórios de uma jovem, virgem, escrava e judia posta em leilão junto ao pedestal da estátua do imperador Justiniano, onde ficaria livre de seus antigos donos. O cartaz pendurado em seu pescoço, o manto, o brinco, as jarras estão a documentar a raça, enfim, tudo correspondia a meticulosa descrição das obras definindo o pintor. O detalhamento constituía a força da melhor pintura.

A obra possui um cenário com um acabamento elaborado dos elementos externos ao estudo da figura humana. A tela de Oscar Pereira da Silva pode ser classificada como academia historiada. A quantidade de elementos externos ao nu é mínima e o fundo do cenário não recebe uma elaboração detalhada, apesar da escrava possuir um acabamento elaborado em alguns detalhes do cenário; a impressão do elemento monocromático persiste. Os tons de marrom e bege prevalecem, exceto o tecido vinho que recai sobre uma cadeira no lado inferior direito do quadro. Quanto a preocupação da composição da anatomia, a figura feminina merece todo o destaque. Existe, por sua vez, uma grande intencionalidade em demonstrar total domínio do estudo do nu, uma vez que o quadro em questão foi realizado durante os anos de pensionato de Pereira da Silva em Paris, local que disponibiliza uma variada gama de modelos para o funcionamento dos ateliês públicos e privados, onde o estudo do nu é obrigatório.

Oscar Pereira da Silva chegou a reproduzir duas vezes a escrava, o que nos permite afirmar que o quadro possui grande estima e admiração do público consumidor de arte. Por esse motivo, o artista não dispensou meios de conseguir uma fonte de renda a partir de uma tela de grande excelência técnica. Ao invés de manter a peculiaridade elevando o valor agregado da tela, optou por obteve um lucro monetário a partir de seu sucesso.

Consertador de Porcelanas

Com motivo menos pretensioso e mais observado ao natural, a obra Consertador de Porcelanas é mais uma tela de Oscar construída em Paris. As muitas composições históricas de sua produção paulista, sempre rigorosa na documentação que lhe competia, são penosas reconstituições, porém, composições muito abertas em que o elemento essencial se dispersa na amplitude da paisagem e se misturam a detalhes complementares. Por vezes, o excesso de figuras obriga um caprichoso e elaborado detalhamento da altitudes variadas, prejudicando a expressão dos grupos condensados. Dentre esse tipo de composição destaca-se Fundação da Cidade de São Paulo, Índios a Bordo da Capitânia de Cabral , Desembarque de Cabral em Porto Seguro, A Renúncia de Ser Rei (todas pertencentes ao Museu Paulista).

Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500

A realização dessa obra, que representava o primeiro desembarque dos portugueses na América, onde é o atual estado da Bahia, assegurou-lhe maior visibilidade na imprensa. Entretanto, para conquistar o espaço de pintor oficial do estado de São Paulo, Oscar percebeu que seria importante dedicar-se a um tema que fosse de maior relevância aos próprios paulistas e à sua região. Foi então que, alguns anos mais tarde, o artista também realizou a tela Fundação de São Paulo de 1907 que visou representar a imagem do ato embrionário da cidade e, por extensão, do próprio país.

Fundação de São Paulo

Uma de suas obras mais conhecidas é a Fundação de São Paulo (1907) concebida como um instrumento de “ver o passado”. Hoje é peça fundamental para a construção do imaginário nacional e paulista a respeito do início dos espaços urbanos no Brasil.

O encontro entre índios, portugueses leigos e jesuítas simboliza um contato de relações e trocas entre etnias diferentes mediado pela fé ao longínquo século XVI. O mesmo desafio marcava a vida social da cidade e também do estado de São Paulo no início do século XX. As telas de Pereira da Silva propunham uma retórica que sugeria, ao mesmo tempo, o lugar predominante das antigas elites coloniais na “civilização” da América Portuguesa diante dos novos estrangeiros (imigrantes) que chegavam, assim como a submissão de antigos e novos indígenas. Figurava-se o contato entre esses povos a conquista e a nação que surgia pacificada e hierarquizada.

Outras Obras

Criação da Vovó, Tronco de Mulher, Durante a Pose, todas datadas em Paris e permanecentes a Pinacoteca, que possui um representativo acervo das obras de Oscar Pereira da Silva. Os três grandes murais que destinou à ordenação do Teatro Municipal de São Paulo tem uma boa desenvoltura decorativa: o Teatro na Grécia Antiga, A Dança e A Música.

Prêmios

O Prêmio de Viagem à Europa era extremamente valorizado pelo meio artístico nacional, considerado o coroação dos estudos dos melhores alunos brasileiros no século XIX. O Brasil, por sua vez, era visto como inadequado ao desenvolvimento dos talentos artísticos, e a estadia em Roma ou Paris era parte fundamental na formação de pintores e escultores da época. Ainda que, os brasileiros não buscavam distinguir-se da arte europeia, o discurso evolucionista era plenamente aceito e desejava-se que o Brasil viesse equiparar-se às nações ditas “civilizadas”.

Oscar foi o último detentor do prêmio, concedido pelo imperador dom Pedro II. Na avaliação houve uma relutância da comissão em conferir-lhe o prêmio, pois visavam um concorrente igualmente capaz, o arquiteto João Ludovico Maria Berna. A Princesa Izabel foi procurada para interferir em tal seleção em favor do pintor, mas como a situação política estava complicada, a decisão foi adiada. Um ano depois, o governo republicano concedeu a vitória aos dois artistas. Por esse motivo, acredita-se que com esse posicionamento das autoridades, Oscar ficou ressentido e decidiu voltar para Paris em 1889.

Assim que, Oscar Pereira da Silva conquistou o Prêmio de Viagem à Europa decidiu voltar a viver em Paris, onde estudou e acreditava que na lá, na Europa, poderia viver melhor que no Brasil. A postura tomada pelo pintor também demonstra como a insatisfação no meio artístico brasileiro eram generalizada, visto que Rodolpho Bernardelli também chegou aconselhar Eliseu Visconti a fazer o mesmo. Os artistas procuravam explicar a origem desse ambiente que consideravam hostil às belas artes, além de expressarem o descontentamento. Desde meados do século XIX, textos publicados na imprensa e até mesmo documentos oficiais, lamentavam o desamor do povo brasileiro às artes. Tal desinteresse seria a causa da vida difícil dos artistas no Brasil.

Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 19 de janeiro de 2021.

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Oscar Pereira da Silva e suas representações do feminino

A proposta deste trabalho é não apenas analisar a vida e a obra de um dos artistas mais ativos da arte brasileira no século XIX, mas também formar conhecimento perante as suas contribuições para com a arte, no que se refere, exclusivamente, à representação da mulher. Visamos assim, não somente discorrer sobre a obra e a vida de Oscar Pereira da Silva, mas também analisar algumas de suas obras mais conhecidas, como a Escrava Romana, a Odalisca e Dalila e Sansão, pensando-as dentro de um contexto artístico que não somente se aprazia à representação da mulher como objeto na pintura, mas que, indo além, criou, efetivamente, o tipo da femme fatale.

Começaremos assim, falando sobre a formação e a trajetória desse que consideramos um dos pintores mais completos da arte brasileira no contexto artístico do século XIX. Durante muito tempo, a sociedade de estudiosos, com forte tendência modernista, não deu a devida atenção aos pintores brasileiros ditos acadêmicos. Grandes expressões do século XIX, tais como Victor Meirelles, Eliseu Visconti, Belmiro de Almeida entre outros, foram simplesmente esquecidos, ou, quando não, eram lembrados apenas para servir de contra-exemplo a arte inovadora e de qualidade aparentemente inquestionável do Modernismo. O artista que escolhemos destacar nesse artigo foi um desses esquecidos. Como relata em seu livro o historiador de arte Jorge Coli, - defensor de um novo olhar, mais detalhado e pertinente sobre a a produção artística do século XIX -, quando era ainda um adolescente, olhava os quadros de Pereira da Silva e de outros artistas citados anteriormente, induzido por seus professores, para formar um conceito do que era uma pintura ruim, mesmo achando a produção artística dessa época de excelente qualidade.

Em seu livro Como estudar a arte brasileira do século XIX? o historiador nos fala que o foi varrido do mapa “tudo aquilo que não parecia estar dentro dos parâmetros que esses modernos estabeleciam”. Com isso, perdemos durante muito tempo o “sabor” de estudar artistas grandiosos como Oscar Pereira da Silva, que foi, sem duvida, um dos artistas brasileiros que mais se beneficiou com as premiações concedidas pela Academia (COLI, 1999).

Oscar Pereira da Silva nasceu em 27 de agosto de 1867, em São Fidélis, no estado do Rio de Janeiro. Entre 1882 e 1887, estudou na Academia Imperial das Belas Artes, no Rio de Janeiro, tendo como professores Zeferino da Costa, Chaves Pinheiro, Victor Meirelles e José Maria de Medeiros.

Como assistente de Zeferino da Costa, colaborou na execução dos painéis decorativos da nave principal da igreja da candelária, em 1887. Nosso grande crítico de arte Gonzaga Duque conheceu seu trabalho quando ele era ainda aluno da Academia Imperial das Belas Artes e previu que “um dia se tornaria um eminente artista, pois já considerava que seu trabalho na juventude valia muito mais do que o de alguns pintores afamados”. Em seus 73 anos de vida, dos quais a maior parte foi dedicada ao oficio da pintura, Oscar teve inúmeras premiações. Com 15 anos, em 1880, recebeu a pequena medalha de ouro em desenho figurado na Academia Imperial de Belas Artes, no ano seguinte recebeu uma menção em paisagem e medalhas de ouro em pintura histórica e modelo vivo. Em 1882, receberia outra medalha de ouro em pintura histórica. Em 1887 ganha o Prêmio de Viajem da academia, seguindo, devido a problemas na instituição, somente em 1890 para a França. Em 1895, outro quadro marcante, A Infância de Giotto. Em 1897, uma medalha de ouro vai para a Escrava Romana, que, mais a frente no presente artigo, será alvo de uma análise mais aprofundada, no que se refere a figura da mulher como objeto na pintura. Por ocasião da exposição nos EUA, recebeu a grande medalha de prata com a Criação da Vovó. Em 1908, a exposição comemorativa da abertura dos portos do Brasil conferiu-lhe o grande prêmio por Canto de Cozinha. Em São Paulo, recebeu, em 1936, o segundo prêmio da prefeitura. Em 1937, na Exposição Nacional de Belas Artes ,foi lhe conferido o prêmio máximo, o grande premio de honra.

Com todas essas premiações não fica difícil perceber a grandeza no espírito artístico desse importante pintor da arte brasileira do século XIX. Dentro desse mesmo contexto, podemos também concluir que o artista foi um grande conhecedor do oficio e fiel ao espírito de sua época e isto remete o pensamento à famosa frase de Daumier muito apreciada pelos artistas do século XIX, “il faut être de son temps” - algo que traduzido ficaria “deve-se pertencer à sua época”, o que facilmente encontramos em todas as obras, O que mais chama atenção na produção de Oscar Pereira da Silva é multiplicidade de temas que foram por ele abordados - o que, de resto, era usual aos artistas oitocentistas, embora muitos tenham entrado para a história da arte como atuantes apenas em um tipo de produção, como é o caso de Giovanni Castagneto, conhecido unicamente como paisagista. No começo da carreira de Oscar pereira da Silva, a pintura histórica e a temática religiosa predominaram em sua obra, fruto de encomendas da igreja e do Museu Paulista. E para instituições públicas e instituições de ensino, pintou alegorias e também retratos, para aqueles que desejavam ter perpetuada sua imagem em um quadro a óleo. Também representava nus, cenas mitológicas, o Oriente, naturezas-mortas, flores e animais. Para a burguesia executou lindas paisagens, registros de recantos que hoje não existem mais. Pintou pessoas da elite e pessoas comuns, além dos quadros de gênero, com cenas do cotidiano que são precisos documentos da vida daqueles tempos. Destacou-se como pintor de história, fixando em grandes telas, preferencialmente passagens tomadas da história do Estado de São Paulo, onde se radicou. As suas pinturas históricas, sempre eram representadas com teatralidade e realismo, onde podemos destacar Fundação da Cidade de São Paulo (1903), no Museu Paulista, visto tratar-se de uma obra com aspecto impactante, tanto pela dimensão quanto pelos detalhes magistralmente tratados (Tarasantchi, 2006).

A vida do pintor resumiu-se durante muito tempo, as suas idas e vindas a Paris, e, apesar de considerar-se herdeiro de Henrique Bernardelli e Pedro Américo, sua formação artística foi, basicamente, européia, embora não possamos desconsiderar os inúmeros anos que passou como aluno da Academia Imperial das Belas Artes. Pereira da Silva afirma, segundo o livro de Laudelino Freire, intitulado Galeria Histórica dos Pintores do Brasil, ter sido discípulo de Mr. Léon Gérôme e Mr. Bonnat quando estudou na França, reforçando assim a idéia de uma formação para além daquela obtida como os seus mestres brasileiros (FREIRE, 1914-1916). E sua ambição, como a de todos os seus contemporâneos, era pintar tão bem como um europeu, o que não significou, entretanto, que não tenha produzido obras que podemos considerar como brasileiras, seja pela tema, seja pelo tratamento. A versatilidade presente nas obras de Oscar Pereira portanto, vem não somente dos seus estudos na Academia Imperial das Belas Artes, mas também dos seus estudos em Paris na Academia Julian, que teve grande importância na formação dos artistas brasileiros do século XIX. São posteriores a sua passagem por aquele país, Dalila e Sansão (1893) e a Escrava Romana (1894) e Odalisca (c.1900) , dotados de grande força pictórica, obras que analisaremos mais a frente.

A brasilidade de Pereira da Silva se manifestou, sobretudo, nos motivos escolhidos pelo pintor tais como a série de velhos, algumas naturezas mortas e, sobretudo, nas pinturas históricas. E, naturalmente, o Brasil está em suas paisagens, quando focaliza nosso interior, com carros de boi, animais passando no campo, pequenos trechos interioreanos, lembrança dos lugares que mais encantam seu olhar artístico, e em seus quadros de gênero, que quase sempre tem como cenário os lares da burguesia, nos deixou lembranças dos modos vivenciados dos ricos fazendeiros paulistas ou da São Paulo enriquecida pelo café (Tarasantchi, 2006).

Sua formação e sua trajetória viriam a culminar, em 1897 na fundação do Núcleo Artístico, origem da Escola de Belas Artes em São Paulo, inaugurada juntamente com José Candido de Sousa e Sandoville, aonde viria a lecionar. Pereira da Silva também se tornou professor do Liceu de Artes e Ofícios, na mesma cidade. Entre outros prêmios, obteve em São Paulo, em 1933, a grande medalha de ouro no Salão Paulista de Belas Artes. Foi ainda decorador, trabalhando nas igrejas de Santa Cecília e de N. Sra. Consolação, bem como para o Teatro Municipal de São Paulo, para onde concebeu três murais, Uma Comédia Ambulante nas Ruas de Atenas, A Dança e A Música (c.1911).

Com tudo isso, apesar de Oscar Pereira da Silva abordar praticamente todos os gêneros e temáticas correntes na virada do século XIX para o XX, escolhemos aqui enfocar, privilegiadamente, as suas obras que retratam figuras femininas em duas situações específicas: a mulher como objeto e a mulher que faz dos homens seus objetos de prazer, ou seja, a femme fatale.

Análise de suas obras: Mulher objeto e mulher fatal

Começaremos então, com a questão da representação da mulher como objeto na pintura . A obra em que melhor podemos visualizar a questão da exposição do corpo feminino transformado em objeto é em um dos quadros mais famosos de Oscar P.da Silva, intitulado a Escrava Romana (1894 - óleo sobre tela, 146,5 x 72, 5 cm. Acervo da Pinacoteca de São Paulo).

A forma como a personagem toca seu corpo, nós passa a sensação de oferta. A sensualidade do modelo é visivel, a forma com que as roupas lhe caem, quase como uma encenação em seu ponto final. O nome da obra já traz em si a degradação da imagem retratada, a mulher ali representada é apenas uma “mera escrava” romana, isto significa que seu povo, como era de costume dos romanos, foi conquistado e o destino dos povos conquistado por esse grandioso império era somente vinculado à degradação moral e ética.

Os escravos, na realidade, sustentavam a economia do Império Romano, desempenhando as mais diversas funções, desde as domésticas até as agrícolas, trabalhando em minas e como escribas, mas, não deixavam de ser escravos e de viverem em condições subumanas. A mulher ali exposta representa essa degradação da moral, uma vez que não nós mostra vergonha de sua nudez, seu rosto se mostra inteiramente complacente com tal situação, é como se passasse por essa mesma cena repetidas vezes, e por isso o ato de exibir-se, acabou tornando-se algo banal, presente em seu cotidiano. Essa pose de resignação perante a situação, nos mostra, ainda, uma escrava ansiosa por um futuro próspero, um dono rico por exemplo; mas nada do que ela faça naquele exato momento vai transforma-la em outra coisa , a não ser um “objeto” a ser vendido.

É interessante também analisarmos um dos detalhes mais interessantes da pintura mais atentamente, a placa pendurada no pescoço da escrava, que possui a inscrição Virgo e logo abaixo XXI e a inscrição Nata, que nos remete a algo como nascimento ou nascida em. Podemos visualizar essa inscrição Virgo, como indicação de que aquela mulher ainda não teve relações sexuais, o que elevaria seu preço, segundo alguns historiadores da Antiga Roma. Já a numeração XXI é um possível indicador de sua idade, já que a obra foi feita entre os séculos XIX e o XX e por isso não poderia ser um caráter cronológico de referência à pintura. Somente suposições.

Depois de nos atentarmos um pouco mais sobre a figuração presente no quadro e seu contexto histórico, presente até mesmo no titulo da obra, podemos perceber o forte caráter de degradação da feminilidade, da ética presente nas relações humanas e da moral. Que tipo de relação existiria entre a figura escravizada e o império que escraviza se não, o forte sentimento de desestruturação dos princípios básicos das relações humanas.

Agora passaremos a analisar obras com a personificação da Femme Fatale, a mulher que manipula seus amantes aos sabores de seus desejos e, ardilosamente, os envolve em um jogo de sedução e perigo, onde as regras são ditadas unicamente por ela.

Começaremos pela obra Dalila e Sansão (1893 - óleo sobre tela, 59 x 78,1 cm. Acervo do Museu Nacional de Belas Artes), que retrata a cena da mulher como personagem principal de uma história do Antigo Testamento. A mulher retratada em questão se transforma no foco central da narrativa, e diferentemente da Escrava Romana, sua postura mostra a verdadeira face de seus instintos primitivos, quando, na eminência da ação, deixa aparecer “descuidadamente” os seios, para a contemplação dos homens ao seu redor. A forma como é representado o repouso da figura feminina nos coloca em um ambiente sensual, aonde Dalila deseja ser o objeto de cobiça dos espectadores que a rodeiam.

Para compreendermos melhor a associação feita nessa pintura entre a personagem Dalila e o tipo da femme fatale é necessário conhecer a história retratada no quadro em questão, a história de Sansão e Dalila. A região de Gaza, na Palestina, por volta de 1.200 a.C era dominada pelos filisteus. Ao conhecer Semadar, uma filistéia, Sansão se apaixona por ela, mas é Dalila, irmã mais nova de Semadar, quem realmente o deseja. Quando Dalila o procura, ele a despreza e se torna um guerrilheiro, cuja força é capaz de destruir exércitos, já que Javé o escolhera para libertar seu povo. Tempos depois, no entanto, Sansão apaixona-se por Dalila. Aproveitando-se disso, os chefes dos filisteus a procuram e lhe propõem uma recompensa se ela conseguir descobrir onde reside a força dele. Esta, por vingança, aceita a idéia e depois de várias tentativas frustradas, consegue finalmente saber que sua força está em seus longos cabelos. Ela então avisa ao chefe dos filisteus. Enquanto estes se deslocam para o local onde os dois se encontram, ela faz Sansão dormir em seu colo, chama um homem e este corta as sete tranças do cabelo de Sansão. Os filisteus chegam, o agarram, furam-lhe os olhos e o levam para Gaza. Na prisão, seus cabelos voltam a crescer e Sansão, por fim, consegue a sua 'liberdade'.

Depois de brevemente discorremos sobre a história retratada no quadro, podemos, em fim, traçar um paralelo a personagem Dalila, como representada na tela de Oscar Pereira da Silva e o tipo da femme fatale. É difícil definir o porquê da escolha deste tema por Oscar Pereira da Silva, homem conhecido pela defesa de valores morais, quando sabemos que “A femme fatale é na época que o artista pintou o quadro] a transposição artística da mulher que só deseja o prazer sexual, que conseqüentemente não valorizava os laços familiares, conduzindo o homem à ruína moral e levando, por fim, à morte, seja marido ou amante, através dos duelos de honra.” (DAZZI, 2008).

Porém analisando o fato histórico relacionado ao acontecimento em questão retratado, a história de Sansão e Dalila, na qual a mulher usa de sua beleza e artimanha para descobrir a fonte da força descomunal de seu amado, proviniente dos cabelos, cortar-lhe as madeixas e o entrega aos filisteus, fica mais fácil compreender o motivo da construção pictórica do caráter da personagem ser tão similar ao encontrado nas denominadas femme fatale. O olhar de satisfação presente em Dalila nos leva a entender o significado do seu jogo de sedução, da intenção de causar um furor de desejo nos homens os quais ela se propõe conquistar, de seu poder sexual perante eles.

Em outras duas obras de diferentes artistas, podemos visualizar esse mesmo deslocamento da figura feminina para um quadro exageradamente sensual e pertinente ao prazer sexual contido na definição da personificação da mulher como ponto de partida para maiores impulsos de prazeres eróticos. A função da mulher nestes quadros é permitir ao artista explorar as sensações eróticas presentes, seja no jogo de luzes que o artista emprega (como no caso de Franz Von Stuck e sua Salomé) ou, como Henrique Bernardelli faz quando deixa em branco lacunas sobre o ambiente em que está inserida a personagem principal em sua obra intitulada Messalina. Essa analise pode ser também presenciada em um fragmento extraído do texto “'Augusta Meretrix' - Decadentismo no Meio Artístico Brasileiro Finessecular”, quando Camila Dazzi nos diz que Henrique Bernardelli “omite” informações do ambiente em que se encontra a figura feminina retratada “O lugar sobre o qual se deita Messalina também tem um caráter incerto, não sabemos tratar-se de uma cama ou de um sarcófago”. (DAZZI, 2008). Dessa forma, Bernardelli inevitavelmente nos coloca em um jogos sobre a dualidade presente no lugar dos prazeres carnais (a cama) e o leito de morte (Sarcófago) desta mulher com caráter cruel e demasiado erótico. Com isso o pintor faz com que nossa mente, guiada talvez por instintos primitivos ligados à sensualidade contida no quadro, complete o significado real do momento que o pintor quis retratar.

Neste contexto, enquanto em alguns quadros observamos como destino a morte, no caso de Bernardelli, e a oferta do corpo relacionada a esse prazer eminente na personagem retratada, como na Salomé de Von Stuck, na Escrava Romana percebemos um caráter de degradação moral, quando notamos que a mulher está ali para ser vendida e não parece ser contrária ao seu destino.

Já a Odalisca (c. 1900. Coleção Particular) de Oscar Pereira parece refletir sobre o seu futuro,- como fará para conquistar os homens que almeja? -, em contraste com obras que retratam a mulher no momento exato de fruição de um prazer momentâneo, como é o caso da Salomé de Von Stuck. A dança erótica, que enaltece suas partes nuas, e faz seu criado (o observador ao fundo da imagem) sorrir, é completamente diferente do que encontramos na sensualidade do repouso e do pensamento da Odalisca de Oscar Pereira.

Se analisarmos esse quadro de Pereira da Silva, buscando nele unicamente encontrar a figuração da mulher como objeto, descobriremos estar ele descontextualizado, visto que sua odalisca não parece se oferecer, na verdade passa-nos a impressão de que nós observadores estamos “espiando” algum momento intimo seu.

Porém é necessário ressaltar que mesmo alheia ao observador ou ao desejo de conquista, essa figura não deixa de nos transmitir um efeito de sensualidade; que é encontrado em sua pose e obviamente na exposição quase que total de seu corpo. Fazendo essa analise das obras relacionadas acima, gostaríamos de atentar para o emprego desse tema em obras artísticas brasileiras pertinentes ao momento histórico estudado (século XIX e início do XX), e formar um foco de estudo para temas relacionados a esse emprego da mulher como figura erotizada e objeto de prazer.

Fonte: Dezenovevinte, publicado por Ana Carolina de Souza Pereira e Gabriella de Amorim Gen em 4 de outubro de 2008.

Crédito fotográfico: Auto-Retrato, 1936, Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

Oscar Pereira da Silva (São Fidélis, RJ, 29 de agosto de 1867 — São Paulo, SP, 17 de janeiro de 1939) foi um pintor, desenhista, decorador e professor brasileiro da passagem do século XIX para o século XX.

Oscar Pereira da Silva

Oscar Pereira da Silva (São Fidélis, RJ, 29 de agosto de 1867 — São Paulo, SP, 17 de janeiro de 1939) foi um pintor, desenhista, decorador e professor brasileiro da passagem do século XIX para o século XX.

Biografia - Itaú Cultural

Entre 1882 e 1887, estuda na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), e é aluno de Zeferino da Costa, Victor Meirelles, Chaves Pinheiro e José Maria de Medeiros. Em 1887, torna-se ajudante de Zeferino da Costa na decoração da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Conquista o último prêmio de viagem ao exterior concedido pelo imperador dom Pedro II, transferindo-se para Paris em 1889. Estuda com os pintores Léon Bonnat e Jean-Léon Gérôme. No período em que permanece na França, produz diversos estudos e telas. Retorna ao Brasil em 1896. No Rio de Janeiro, realiza uma exposição individual no salão da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde são apresentados 33 trabalhos feitos na Europa. No mesmo ano, transfere-se para São Paulo. Leciona no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp) e no Ginásio do Estado, e ministra também aulas particulares em seu ateliê. Em 1897, funda o Núcleo Artístico, que, mais tarde, se transforma na Escola de Belas Artes, onde dá aulas. Entre 1903 e 1911, trabalha na decoração do Theatro Municipal de São Paulo, elaborando três murais: O Teatro na Grécia Antiga, A Dança e A Música. Entre 1907 e 1917, realiza pinturas para Igreja de Santa Cecília. Como pensionista do Governo do Estado de São Paulo, viaja a Paris em 1925.

Análise

Autor de pintura histórica, retratos, temas religiosos, cenas de gênero, naturezas-mortas e paisagens, Oscar Pereira da Silva é também grande copista. Na cidade de São Paulo estão seus principais trabalhos, entre os quais se destacam Escrava Romana, ca.1882, Infância de Giotto, 1895, e Fundação da Cidade de São Paulo, 1909, pertencentes à Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp; Desembarque de Cabral em Porto Seguro, 1922, e O Príncipe Regente D. Pedro, Jorge Avilez ao lado da Fragata União, do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (MP/USP). A experiência na Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, como auxiliar de Zeferino da Costa, gera frutos em São Paulo, onde realiza a decoração da Igreja de Santa Cecília. Na cúpula, estão retratados os evangelistas; nas capelas, a Imaculada Conceição e os Esponsais de São José. Completando o conjunto, figuram em friso ao redor da nave diversos retratos de clérigos. No início do século XX, em São Paulo, diversas capelas coloniais são substituídas por edifícios neogóticos ou neocoloniais, abrindo-se uma frente de trabalho para artistas decoradores, como Oscar Pereira da Silva e Benedito Calixto. Além da Igreja de Santa Cecília, ambos atuam nas igrejas de Santa Ifigênia, da Consolação e do Rosário. Pereira da Silva realiza também trabalhos decorativos para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Em Paris, realiza seu aprimoramento artístico nos ateliês de pintores conservadores, não se interessando pelo realismo e muito menos pelo impressionismo. Em grande parte pela formação acadêmica que recebe, não se deixa influenciar pela pintura moderna, preferindo continuar numa linha tradicional, que trabalha com grande qualidade técnica.

Cultiva o assunto bíblico e histórico, temas que já não interessam à maioria dos pintores de sua época. São exemplos dessa tendência Salomé, 1913, Lídia, Escrava Romana, telas de figuras femininas que revelam o apego às tradições acadêmicas e que parecem anacrônicas para seu tempo. Suas obras revelam desenho minucioso e perfeito, à semelhança do mestre Zeferino da Costa. Alguns trabalhos, principalmente as cenas de gênero, de que são exemplos Criação da Vovó, 1890, Consertador de Porcelanas, 1894, Cozinha na Roça e Canto Íntimo parecem menos severamente pautados pela estética tradicional, revelando alguma ousadia mais na temática do que no tratamento pictórico.

Suas laboriosas composições são características da expansão da pintura que predomina no meio artístico brasileiro no início da República, o que explica tanto sua alta produtividade e aceitação no período quanto as críticas de que foi alvo posteriormente. Pereira da Silva insere-se com sucesso num contexto em que o ensino artístico e as encomendas oficiais são as principais fontes de atividades para os artistas. Exerce, então, a atividade de professor e é bastante solicitado a realizar obras para instituições ligadas ao governo.

Realiza também algumas paisagens, mas a principal tarefa por ele assumida consiste em recriar, em grandes composições, episódios da história nacional ou paulista. O melhor exemplo é certamente o Desembarque de Cabral em Porto Seguro. A tela ganha tal notoriedade, servindo de iconografia para livros escolares e outras publicações, que até hoje figura como a mais popular representação da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. É interessante considerar que a obra é realizada para as comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 1922, no mesmo ano que a Semana de Arte Moderna agita o ambiente cultural paulista. Outra importante tela histórica é Sessão das Cortes de Lisboa em 9 de maio de 1822, episódio em que diversos deputados brasileiros, liderados por Antonio Carlos de Andrade e Silva, defenderam na corte portuguesa que um único soberano deveria governar os reinos de Portugal e do Brasil. Assim como O Desembarque, a tela é encomendada pelo historiador e diretor do Museu Paulista, Afonso d'Escragnolle Taunay, para ocupar os espaços do recém-criado museu. A eleição de determinados momentos históricos faz parte do projeto de construção e elaboração da identidade e memória nacionais.

Pode-se criticar Oscar Pereira da Silva pela repetição das fórmulas e a impermeabilidade às novas tendências pictóricas em voga internacionalmente. No fim da vida, passa a produzir uma quantidade maior de marinhas, paisagens, naturezas-mortas e aquarelas. Autor de uma produção numerosa, porém desigual, quase sempre pautada na estética tradicional, considerado por alguns críticos como um pintor fraco e demasiadamente elogiado, pauta sua obra, como afirma o crítico Quirino Campofiorito, "na convicção de que era inadmissível a um artista deformar, para, deste modo, melhor expressar".

Críticas

"Como os artistas entregues à disciplina do ensino na École Nationale des Beaux-Arts, negou-se a admitir algum interesse pelos movimentos artísticos renovadores desde o realismo audacioso de Courbet, passando pela libertação técnica e inspirativa do romantismo de Delacroix e muito menos então o impressionismo, já vitorioso fora das fronteiras da arte oficial. E como tal havia nosso pintor de pautar sua obra, o que fez por toda sua longa existência, na convicção de que era inadmissível a um artista deformar, para, deste modo, melhor expressar. Era o postulado até mesmo respeitado pela crítica reacionária aos movimentos renovadores, de que um artista só pode conceber formas belas e assuntos nobres, e que lhe compete desenhar com exatidão e embelezar até mesmo o mais cruento realismo que a vida demonstre. (...) Com tais convicções artísticas prosseguiu (...) quando o movimento desencadeado pela Semana de Arte Moderna de 1922 já mudara o semblante de nossa arte mais representativa e esta se confirmava no apoio que lhe assegura a geração que se notabiliza nos anos trinta. (...) Sem ter revelado impulsos vigorosos que lhe evidenciassem poder emotivo, Oscar Pereira da Silva soube manter no transcorrer de bem cinquenta e sete anos de produção permanente e intensa, desde que retornou ao país, em 1896, todo o cuidado de um desenho severamente elaborado, sem num só instante voltar-se para o novo semblante que a pintura adquiria nessa transposição de tempo".

Quirino Campofiorito (História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.)

Acervos

  • Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP)

  • Igreja da Consolação - São Paulo SP

  • Museu Mariano Procópio - Juiz de Fora MG

  • Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ

  • Museu Paulista da Universidade de São Paulo - MP/USP - São Paulo SP

Exposições Individuais

1896 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba

1898 - São Paulo SP - Individual, no Banco União de São Paulo

1898 - São Paulo SP - Individual, no Banco Construtor

Exposições Coletivas

1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba

1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1894 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1896 - Rio de Janeiro RJ - 3ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1897 - Rio de Janeiro RJ - 4ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1898 - Rio de Janeiro RJ - 5ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1902 - São Paulo SP - Exposição de Belas Artes Industriais

1904 - Saint Louis (Estados Unidos) - Exposição de Saint-Louis

1904 - São Paulo SP - Exposição de Saint-Louis

1907 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes

1907 - Rio de Janeiro RJ - 14º Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1908 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Comemorativa da Abertura dos Portos

1912 - São Paulo SP - 2ª Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios

1914 - Rio de Janeiro RJ - 21ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba

1922 - São Paulo SP - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, no Palácio das Indústrias

1928 - São Paulo SP - Grupo Almeida Júnior, no Palácio das Arcadas

1934 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Belas Artes, na Rua 11 de Agosto

1935 - São Paulo SP - 2º Salão Paulista de Belas Artes

1935 - São Paulo SP - 3º Salão Paulista de Belas Artes

1936 - São Paulo SP - Individual, no Palácio das Arcadas

1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes

1939 - São Paulo SP - 6º Salão Paulista de Belas Artes

Exposições Póstumas

1940 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos

1944 - São Paulo SP - 10º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia

1946 - São Paulo SP - 12º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia

1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA

1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA

1954 - São Paulo SP - Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia

1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970, no MAB/Faap

1976 - São Paulo SP - O Retrato na Coleção da Pinacoteca, na Pinacoteca do Estado

1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes

1981 - São Paulo SP - Quatro Grandes Pintores em São Paulo, na Fundação Bienal

1982 - Rio de Janeiro RJ - 150 Anos de Pintura de Marinha na História da Arte Brasileira, no MNBA

1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal

1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp

1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado

1991 - São Paulo SP - O Desejo na Academia: 1847-1916, na Pinacoteca do Estado

1991 - São Paulo SP - Oscar Pereira da Silva: aquarelas, no Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte

1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado

1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Espaço Cultural da Marinha/Museu Naval

1998 - São Paulo SP - Iconografia Paulistana em Coleções Particulares, no Museu da Casa Brasileira

2000 - Caxias do Sul RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs

2000 - Passo Fundo RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs

2000 - Pelotas RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs

2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs

2000 - Rio de Janeiro RJ - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Carta de Pero Vaz de Caminha, no Museu Histórico Nacional

2000 - Santa Maria RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs

2000 - São Paulo SP - A Figura Humana na Coleção Itaú, no Itaú Cultural

2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, no Fundação Bienal

2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado

2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty

2003 - São Paulo SP - Pintores do Litoral Paulista, na Sociarte

2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural

Fonte: OSCAR Pereira da Silva. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 19 de Jan. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

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Biografia - Wikipédia

Desde menino revelou gosto pelo desenho e pela pintura. Assim, em 1882, matriculou-se na Academia Imperial de Belas Artes onde teve como contemporâneos Eliseu Visconti, Eduardo Sá e João Batista da Costa. Aluno de Zeferino da Costa, Victor Meirelles, Chaves Pinheiro e José Maria de Medeiros, em 1887, tornou-se ajudante de Zeferino da Costa na decoração da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Tal experiência gerou frutos em São Paulo, tendo a oportunidade de decorar a Igreja de Santa Cecília.

No início do século XX, em São Paulo, diversas capelas coloniais foram substituídas por edifícios neogóticos ou neocoloniais. Essa mudança deu oportunidade de trabalho para artistas decoradores como para Oscar Pereira da Silva e Benedito Calixto. Além da Igreja de Santa Cecília, ambos atuaram nas igrejas de Santa Ifigênia, da Consolação e do Rosário. Pereira da Silva realiza também trabalhos decorativos para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Em Paris, Oscar foi pensionista do ateliê de dois dos maiores conservadores, Léon Bonnat e Jean-Léon Gérôme, que atendia aos pedidos de oficiais do regime governamental da época. O artista vivia na disciplina do ensino da École des Beaux Arts e negava-se a admitir o interesse por movimentos artísticos renovadores, com o realismo de Delacroix e menos ainda ao impressionismo, já fora das artes direcionadas aos oficiais. Na convicção de que era inadmissível um artista deformar para melhor expressar-se, essa visão era uma premissa até mesmo respeitada pelos críticos reacionários aos novos movimentos. Ou seja, nessa perspectiva, um artista poderia somente criar obras belas e assuntos nobres com exatidão, até mesmo embelezar a cruel realidade da vida.

No período em que permaneceu na França, produziu diversos estudos e telas. Em 1896 retornou ao Brasil. Na cidade do Rio de Janeiro, realizou uma exposição individual no salão da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde foram apresentados 33 trabalhos feitos na Europa. No mesmo ano, transferiu-se para São Paulo e lecionou no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp) e no Ginásio do Estado. Além disso, ministrava aulas particulares em seu ateliê. Em 1897, fundou o Núcleo Artístico, que, mais tarde, se transformaria na Escola de Belas Artes, onde deu aulas. Entre 1903 e 1911, trabalhou na decoração do Theatro Municipal de São Paulo, elaborando três murais: O Teatro na Grécia Antiga, A Dança e A Música.

Na cidade de São Paulo estão os principais trabalhos do artista, entre os quais se destacam "Escrava Romana" (1894), "Infância de Giotto" (1895), "Fundação de São Paulo" (1909) e "Desembarque de Cabral em Porto Seguro" (1900), entre outros preservados pela Pinacoteca de São Paulo e pelo Museu Paulista da Universidade de São Paulo.

Sua pintura era fechada e detalhista, muito próximo ao real. Em sua carreira prosseguiu com tal posicionamento, até o final da década de trinta, ao passo que com os anos desencadeava o movimento da Semana de Arte Moderna, que em 1922 mudava o semblante da arte. Na autobiografia da filha do pintor, a também artista Helena Pereira da Silva Ohashi, após o pintor retornar de Paris em novembro de 1930, ela observa modificações na produção artística do pai. As telas de Oscar Pereira da Silva foram compostas por telas mais despreocupadas com o acabamento e utilizando paleta mais claras. Contudo, a importância do desenho como estrutura básica e fundamental de suas composições nunca o deixou de existir na execução de suas telas. Portanto, ainda na década de 30, Pereira da Silva chegou a inclinar suas obras á mudanças estilísticas, observada, sobretudo, na comparação entre as obras Mulher com Turbante (1903) e Menina vestida de japonesa (1904). No final desta década, em 1939 o pintor faleceu em seu ateliê enquanto trabalhava, o motivo foi um ataque cardíaco. Sem evidenciar impulsos vigorosos ao poder emotivo, Oscar Pereira da Silva soube transcorrer seus 57 anos de produção intensa e permanente desde que retornou ao país. Todo cuidado de um desenho severamente elaborado, rigoroso voltou-se para o novo que a pintura adquiria nesse deslocamento do tempo.

Contexto Histórico

Capitais, como as latino-americanas que alcançavam lugares de destaque econômico, político e cultural, necessitavam, bem como era fundamental, construírem-se como capitais simbólicas. São Paulo, por exemplo, continha elites ligadas a cafeicultura, as quais assumiam cada vez mais um papel de destaque no canário político, devido a instauração da República no país, o qual dominava o sistema político. Desse modo, firmou-se a identidade regional e a visão nacional. Assim, rivalizava as narrativas nacionais geradas na capital do país, sobretudo aquelas que frisava o papel da cidade do Rio de Janeiro e da antiga monarquia na constituição da nação.

Por meio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, os intelectuais, neste novo contexto, empenhavam-se na tarefa de criar uma historiografia que destacasse os feitos paulistas. A construção da imagem da história da cidade foi acompanhada e elaborada de imagens capazes de fixar no imaginário social as narrativas que os historiadores paulistas desejaram criar. O novo contexto político brasileiro, onde as elites dos estados disputavam a hegemonia , domínio político nacional e o crescente poder dos paulistas, gerou a produção de iconografias locais, destinadas à decoração, por exemplo, dos palácios governamentais dos estados brasileiros. Foi por esse motivo que, o governo paulista passou a encomendar e adquirir pinturas históricas, a fim de construir uma narrativa ilustrada da nação, que colocasse em destaque o estado que então liderava a República.

Oscar Pereira da Silva, ciente da importância desse gênero artístico para as elites políticas de São Paulo, na época buscou estabelecer-se como pintor de história, gênero mais importante do sistema acadêmico. Isso iria trazer-lhe maior prestígio e lhe garantia contratos públicos. Sua primeira tentativa neste sentido foi a produção do quadro Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, realizado em 1900, e vendido ao governo paulista em 1902.

Obras

Igreja Santa Cecília

Sabe-se que Oscar Pereira da Silva produziu algumas pinturas ao mesmo tempo em que Benedito Calixto executava as suas na igreja de Santa Cecília. Assim, a decoração é compreendida por um pequeno conjunto de pinturas, sendo duas para as abóbadas laterais do transepto e os quatro Evangelistas. Nas capelas, Oscar pintou a Imaculada Conceição e os Esponsais de São José e, para completar o conjunto, figuraram em friso ao redor da nave diversos retratos de clérigos.

Apesar da pequena quantidade de obras, o conjunto possui qualidades e está perfeitamente vinculado à produção calixtiana e aos anseios de Dom Duarte. Sua pintura religiosa apresenta uma leveza que distancia o sofrimento das cenas de martírio e do sofrimento de Cristo. Assim, Oscar se diferencia de Calixto, uma vez que este vincula sua produção religiosa à correção histórica, a fim de desenvolver um discurso de piedade visual. Pereira da Silva executa os dois painéis laterais da Igreja que, por terem o formato abobadado causam a impressão de acolhimento, de abençoar o fiel que ali está em busca de conforto espiritual. Embora, a produção de Oscar Pereira da Silva se diferencia do caráter histórico, científico e arqueológico de Calixto, nessa produção propõe-se uma quase alegoria em sua pintura edulcorada, que de maneira firme ainda consegue conservar sua suavidade.

Sansão e Dalila

Um de seus primeiros quadros a destacar é Sansão e Dalila. Sua composição é exemplar, autêntica e de composição extremamente expressiva e realista. Das séries realizada pelo pintor nos dez primeiros anos de atividade, já em São Paulo, o pintor começa a se dedicar a temas locais, tanto históricos como de gênero. Filia-se, portanto, a linha de Almeida Júnior, da qual a obra serviu de estímulo de muitos pintores que atuaram na cidade de São Paulo no início deste século. Semelhantemente, sucede Benedito Calixto, que soma a Almeida júnior e formam um trio marcante na temática paulista na pintura brasileira.

Escrava Romana

Seus quadros pintados em Paris, como Escrava Romana (1882), exprimem a linha acadêmica, que o afastava da temática paulista preferida por ele posteriormente. Ao escolher um tema clássico, a história de uma escrava encontrada em seu próprio país despertou-o para inspirações mais vivas. Era inegável sua disciplina escolar. A jovem usava acessórios de uma jovem, virgem, escrava e judia posta em leilão junto ao pedestal da estátua do imperador Justiniano, onde ficaria livre de seus antigos donos. O cartaz pendurado em seu pescoço, o manto, o brinco, as jarras estão a documentar a raça, enfim, tudo correspondia a meticulosa descrição das obras definindo o pintor. O detalhamento constituía a força da melhor pintura.

A obra possui um cenário com um acabamento elaborado dos elementos externos ao estudo da figura humana. A tela de Oscar Pereira da Silva pode ser classificada como academia historiada. A quantidade de elementos externos ao nu é mínima e o fundo do cenário não recebe uma elaboração detalhada, apesar da escrava possuir um acabamento elaborado em alguns detalhes do cenário; a impressão do elemento monocromático persiste. Os tons de marrom e bege prevalecem, exceto o tecido vinho que recai sobre uma cadeira no lado inferior direito do quadro. Quanto a preocupação da composição da anatomia, a figura feminina merece todo o destaque. Existe, por sua vez, uma grande intencionalidade em demonstrar total domínio do estudo do nu, uma vez que o quadro em questão foi realizado durante os anos de pensionato de Pereira da Silva em Paris, local que disponibiliza uma variada gama de modelos para o funcionamento dos ateliês públicos e privados, onde o estudo do nu é obrigatório.

Oscar Pereira da Silva chegou a reproduzir duas vezes a escrava, o que nos permite afirmar que o quadro possui grande estima e admiração do público consumidor de arte. Por esse motivo, o artista não dispensou meios de conseguir uma fonte de renda a partir de uma tela de grande excelência técnica. Ao invés de manter a peculiaridade elevando o valor agregado da tela, optou por obteve um lucro monetário a partir de seu sucesso.

Consertador de Porcelanas

Com motivo menos pretensioso e mais observado ao natural, a obra Consertador de Porcelanas é mais uma tela de Oscar construída em Paris. As muitas composições históricas de sua produção paulista, sempre rigorosa na documentação que lhe competia, são penosas reconstituições, porém, composições muito abertas em que o elemento essencial se dispersa na amplitude da paisagem e se misturam a detalhes complementares. Por vezes, o excesso de figuras obriga um caprichoso e elaborado detalhamento da altitudes variadas, prejudicando a expressão dos grupos condensados. Dentre esse tipo de composição destaca-se Fundação da Cidade de São Paulo, Índios a Bordo da Capitânia de Cabral , Desembarque de Cabral em Porto Seguro, A Renúncia de Ser Rei (todas pertencentes ao Museu Paulista).

Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500

A realização dessa obra, que representava o primeiro desembarque dos portugueses na América, onde é o atual estado da Bahia, assegurou-lhe maior visibilidade na imprensa. Entretanto, para conquistar o espaço de pintor oficial do estado de São Paulo, Oscar percebeu que seria importante dedicar-se a um tema que fosse de maior relevância aos próprios paulistas e à sua região. Foi então que, alguns anos mais tarde, o artista também realizou a tela Fundação de São Paulo de 1907 que visou representar a imagem do ato embrionário da cidade e, por extensão, do próprio país.

Fundação de São Paulo

Uma de suas obras mais conhecidas é a Fundação de São Paulo (1907) concebida como um instrumento de “ver o passado”. Hoje é peça fundamental para a construção do imaginário nacional e paulista a respeito do início dos espaços urbanos no Brasil.

O encontro entre índios, portugueses leigos e jesuítas simboliza um contato de relações e trocas entre etnias diferentes mediado pela fé ao longínquo século XVI. O mesmo desafio marcava a vida social da cidade e também do estado de São Paulo no início do século XX. As telas de Pereira da Silva propunham uma retórica que sugeria, ao mesmo tempo, o lugar predominante das antigas elites coloniais na “civilização” da América Portuguesa diante dos novos estrangeiros (imigrantes) que chegavam, assim como a submissão de antigos e novos indígenas. Figurava-se o contato entre esses povos a conquista e a nação que surgia pacificada e hierarquizada.

Outras Obras

Criação da Vovó, Tronco de Mulher, Durante a Pose, todas datadas em Paris e permanecentes a Pinacoteca, que possui um representativo acervo das obras de Oscar Pereira da Silva. Os três grandes murais que destinou à ordenação do Teatro Municipal de São Paulo tem uma boa desenvoltura decorativa: o Teatro na Grécia Antiga, A Dança e A Música.

Prêmios

O Prêmio de Viagem à Europa era extremamente valorizado pelo meio artístico nacional, considerado o coroação dos estudos dos melhores alunos brasileiros no século XIX. O Brasil, por sua vez, era visto como inadequado ao desenvolvimento dos talentos artísticos, e a estadia em Roma ou Paris era parte fundamental na formação de pintores e escultores da época. Ainda que, os brasileiros não buscavam distinguir-se da arte europeia, o discurso evolucionista era plenamente aceito e desejava-se que o Brasil viesse equiparar-se às nações ditas “civilizadas”.

Oscar foi o último detentor do prêmio, concedido pelo imperador dom Pedro II. Na avaliação houve uma relutância da comissão em conferir-lhe o prêmio, pois visavam um concorrente igualmente capaz, o arquiteto João Ludovico Maria Berna. A Princesa Izabel foi procurada para interferir em tal seleção em favor do pintor, mas como a situação política estava complicada, a decisão foi adiada. Um ano depois, o governo republicano concedeu a vitória aos dois artistas. Por esse motivo, acredita-se que com esse posicionamento das autoridades, Oscar ficou ressentido e decidiu voltar para Paris em 1889.

Assim que, Oscar Pereira da Silva conquistou o Prêmio de Viagem à Europa decidiu voltar a viver em Paris, onde estudou e acreditava que na lá, na Europa, poderia viver melhor que no Brasil. A postura tomada pelo pintor também demonstra como a insatisfação no meio artístico brasileiro eram generalizada, visto que Rodolpho Bernardelli também chegou aconselhar Eliseu Visconti a fazer o mesmo. Os artistas procuravam explicar a origem desse ambiente que consideravam hostil às belas artes, além de expressarem o descontentamento. Desde meados do século XIX, textos publicados na imprensa e até mesmo documentos oficiais, lamentavam o desamor do povo brasileiro às artes. Tal desinteresse seria a causa da vida difícil dos artistas no Brasil.

Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 19 de janeiro de 2021.

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Oscar Pereira da Silva e suas representações do feminino

A proposta deste trabalho é não apenas analisar a vida e a obra de um dos artistas mais ativos da arte brasileira no século XIX, mas também formar conhecimento perante as suas contribuições para com a arte, no que se refere, exclusivamente, à representação da mulher. Visamos assim, não somente discorrer sobre a obra e a vida de Oscar Pereira da Silva, mas também analisar algumas de suas obras mais conhecidas, como a Escrava Romana, a Odalisca e Dalila e Sansão, pensando-as dentro de um contexto artístico que não somente se aprazia à representação da mulher como objeto na pintura, mas que, indo além, criou, efetivamente, o tipo da femme fatale.

Começaremos assim, falando sobre a formação e a trajetória desse que consideramos um dos pintores mais completos da arte brasileira no contexto artístico do século XIX. Durante muito tempo, a sociedade de estudiosos, com forte tendência modernista, não deu a devida atenção aos pintores brasileiros ditos acadêmicos. Grandes expressões do século XIX, tais como Victor Meirelles, Eliseu Visconti, Belmiro de Almeida entre outros, foram simplesmente esquecidos, ou, quando não, eram lembrados apenas para servir de contra-exemplo a arte inovadora e de qualidade aparentemente inquestionável do Modernismo. O artista que escolhemos destacar nesse artigo foi um desses esquecidos. Como relata em seu livro o historiador de arte Jorge Coli, - defensor de um novo olhar, mais detalhado e pertinente sobre a a produção artística do século XIX -, quando era ainda um adolescente, olhava os quadros de Pereira da Silva e de outros artistas citados anteriormente, induzido por seus professores, para formar um conceito do que era uma pintura ruim, mesmo achando a produção artística dessa época de excelente qualidade.

Em seu livro Como estudar a arte brasileira do século XIX? o historiador nos fala que o foi varrido do mapa “tudo aquilo que não parecia estar dentro dos parâmetros que esses modernos estabeleciam”. Com isso, perdemos durante muito tempo o “sabor” de estudar artistas grandiosos como Oscar Pereira da Silva, que foi, sem duvida, um dos artistas brasileiros que mais se beneficiou com as premiações concedidas pela Academia (COLI, 1999).

Oscar Pereira da Silva nasceu em 27 de agosto de 1867, em São Fidélis, no estado do Rio de Janeiro. Entre 1882 e 1887, estudou na Academia Imperial das Belas Artes, no Rio de Janeiro, tendo como professores Zeferino da Costa, Chaves Pinheiro, Victor Meirelles e José Maria de Medeiros.

Como assistente de Zeferino da Costa, colaborou na execução dos painéis decorativos da nave principal da igreja da candelária, em 1887. Nosso grande crítico de arte Gonzaga Duque conheceu seu trabalho quando ele era ainda aluno da Academia Imperial das Belas Artes e previu que “um dia se tornaria um eminente artista, pois já considerava que seu trabalho na juventude valia muito mais do que o de alguns pintores afamados”. Em seus 73 anos de vida, dos quais a maior parte foi dedicada ao oficio da pintura, Oscar teve inúmeras premiações. Com 15 anos, em 1880, recebeu a pequena medalha de ouro em desenho figurado na Academia Imperial de Belas Artes, no ano seguinte recebeu uma menção em paisagem e medalhas de ouro em pintura histórica e modelo vivo. Em 1882, receberia outra medalha de ouro em pintura histórica. Em 1887 ganha o Prêmio de Viajem da academia, seguindo, devido a problemas na instituição, somente em 1890 para a França. Em 1895, outro quadro marcante, A Infância de Giotto. Em 1897, uma medalha de ouro vai para a Escrava Romana, que, mais a frente no presente artigo, será alvo de uma análise mais aprofundada, no que se refere a figura da mulher como objeto na pintura. Por ocasião da exposição nos EUA, recebeu a grande medalha de prata com a Criação da Vovó. Em 1908, a exposição comemorativa da abertura dos portos do Brasil conferiu-lhe o grande prêmio por Canto de Cozinha. Em São Paulo, recebeu, em 1936, o segundo prêmio da prefeitura. Em 1937, na Exposição Nacional de Belas Artes ,foi lhe conferido o prêmio máximo, o grande premio de honra.

Com todas essas premiações não fica difícil perceber a grandeza no espírito artístico desse importante pintor da arte brasileira do século XIX. Dentro desse mesmo contexto, podemos também concluir que o artista foi um grande conhecedor do oficio e fiel ao espírito de sua época e isto remete o pensamento à famosa frase de Daumier muito apreciada pelos artistas do século XIX, “il faut être de son temps” - algo que traduzido ficaria “deve-se pertencer à sua época”, o que facilmente encontramos em todas as obras, O que mais chama atenção na produção de Oscar Pereira da Silva é multiplicidade de temas que foram por ele abordados - o que, de resto, era usual aos artistas oitocentistas, embora muitos tenham entrado para a história da arte como atuantes apenas em um tipo de produção, como é o caso de Giovanni Castagneto, conhecido unicamente como paisagista. No começo da carreira de Oscar pereira da Silva, a pintura histórica e a temática religiosa predominaram em sua obra, fruto de encomendas da igreja e do Museu Paulista. E para instituições públicas e instituições de ensino, pintou alegorias e também retratos, para aqueles que desejavam ter perpetuada sua imagem em um quadro a óleo. Também representava nus, cenas mitológicas, o Oriente, naturezas-mortas, flores e animais. Para a burguesia executou lindas paisagens, registros de recantos que hoje não existem mais. Pintou pessoas da elite e pessoas comuns, além dos quadros de gênero, com cenas do cotidiano que são precisos documentos da vida daqueles tempos. Destacou-se como pintor de história, fixando em grandes telas, preferencialmente passagens tomadas da história do Estado de São Paulo, onde se radicou. As suas pinturas históricas, sempre eram representadas com teatralidade e realismo, onde podemos destacar Fundação da Cidade de São Paulo (1903), no Museu Paulista, visto tratar-se de uma obra com aspecto impactante, tanto pela dimensão quanto pelos detalhes magistralmente tratados (Tarasantchi, 2006).

A vida do pintor resumiu-se durante muito tempo, as suas idas e vindas a Paris, e, apesar de considerar-se herdeiro de Henrique Bernardelli e Pedro Américo, sua formação artística foi, basicamente, européia, embora não possamos desconsiderar os inúmeros anos que passou como aluno da Academia Imperial das Belas Artes. Pereira da Silva afirma, segundo o livro de Laudelino Freire, intitulado Galeria Histórica dos Pintores do Brasil, ter sido discípulo de Mr. Léon Gérôme e Mr. Bonnat quando estudou na França, reforçando assim a idéia de uma formação para além daquela obtida como os seus mestres brasileiros (FREIRE, 1914-1916). E sua ambição, como a de todos os seus contemporâneos, era pintar tão bem como um europeu, o que não significou, entretanto, que não tenha produzido obras que podemos considerar como brasileiras, seja pela tema, seja pelo tratamento. A versatilidade presente nas obras de Oscar Pereira portanto, vem não somente dos seus estudos na Academia Imperial das Belas Artes, mas também dos seus estudos em Paris na Academia Julian, que teve grande importância na formação dos artistas brasileiros do século XIX. São posteriores a sua passagem por aquele país, Dalila e Sansão (1893) e a Escrava Romana (1894) e Odalisca (c.1900) , dotados de grande força pictórica, obras que analisaremos mais a frente.

A brasilidade de Pereira da Silva se manifestou, sobretudo, nos motivos escolhidos pelo pintor tais como a série de velhos, algumas naturezas mortas e, sobretudo, nas pinturas históricas. E, naturalmente, o Brasil está em suas paisagens, quando focaliza nosso interior, com carros de boi, animais passando no campo, pequenos trechos interioreanos, lembrança dos lugares que mais encantam seu olhar artístico, e em seus quadros de gênero, que quase sempre tem como cenário os lares da burguesia, nos deixou lembranças dos modos vivenciados dos ricos fazendeiros paulistas ou da São Paulo enriquecida pelo café (Tarasantchi, 2006).

Sua formação e sua trajetória viriam a culminar, em 1897 na fundação do Núcleo Artístico, origem da Escola de Belas Artes em São Paulo, inaugurada juntamente com José Candido de Sousa e Sandoville, aonde viria a lecionar. Pereira da Silva também se tornou professor do Liceu de Artes e Ofícios, na mesma cidade. Entre outros prêmios, obteve em São Paulo, em 1933, a grande medalha de ouro no Salão Paulista de Belas Artes. Foi ainda decorador, trabalhando nas igrejas de Santa Cecília e de N. Sra. Consolação, bem como para o Teatro Municipal de São Paulo, para onde concebeu três murais, Uma Comédia Ambulante nas Ruas de Atenas, A Dança e A Música (c.1911).

Com tudo isso, apesar de Oscar Pereira da Silva abordar praticamente todos os gêneros e temáticas correntes na virada do século XIX para o XX, escolhemos aqui enfocar, privilegiadamente, as suas obras que retratam figuras femininas em duas situações específicas: a mulher como objeto e a mulher que faz dos homens seus objetos de prazer, ou seja, a femme fatale.

Análise de suas obras: Mulher objeto e mulher fatal

Começaremos então, com a questão da representação da mulher como objeto na pintura . A obra em que melhor podemos visualizar a questão da exposição do corpo feminino transformado em objeto é em um dos quadros mais famosos de Oscar P.da Silva, intitulado a Escrava Romana (1894 - óleo sobre tela, 146,5 x 72, 5 cm. Acervo da Pinacoteca de São Paulo).

A forma como a personagem toca seu corpo, nós passa a sensação de oferta. A sensualidade do modelo é visivel, a forma com que as roupas lhe caem, quase como uma encenação em seu ponto final. O nome da obra já traz em si a degradação da imagem retratada, a mulher ali representada é apenas uma “mera escrava” romana, isto significa que seu povo, como era de costume dos romanos, foi conquistado e o destino dos povos conquistado por esse grandioso império era somente vinculado à degradação moral e ética.

Os escravos, na realidade, sustentavam a economia do Império Romano, desempenhando as mais diversas funções, desde as domésticas até as agrícolas, trabalhando em minas e como escribas, mas, não deixavam de ser escravos e de viverem em condições subumanas. A mulher ali exposta representa essa degradação da moral, uma vez que não nós mostra vergonha de sua nudez, seu rosto se mostra inteiramente complacente com tal situação, é como se passasse por essa mesma cena repetidas vezes, e por isso o ato de exibir-se, acabou tornando-se algo banal, presente em seu cotidiano. Essa pose de resignação perante a situação, nos mostra, ainda, uma escrava ansiosa por um futuro próspero, um dono rico por exemplo; mas nada do que ela faça naquele exato momento vai transforma-la em outra coisa , a não ser um “objeto” a ser vendido.

É interessante também analisarmos um dos detalhes mais interessantes da pintura mais atentamente, a placa pendurada no pescoço da escrava, que possui a inscrição Virgo e logo abaixo XXI e a inscrição Nata, que nos remete a algo como nascimento ou nascida em. Podemos visualizar essa inscrição Virgo, como indicação de que aquela mulher ainda não teve relações sexuais, o que elevaria seu preço, segundo alguns historiadores da Antiga Roma. Já a numeração XXI é um possível indicador de sua idade, já que a obra foi feita entre os séculos XIX e o XX e por isso não poderia ser um caráter cronológico de referência à pintura. Somente suposições.

Depois de nos atentarmos um pouco mais sobre a figuração presente no quadro e seu contexto histórico, presente até mesmo no titulo da obra, podemos perceber o forte caráter de degradação da feminilidade, da ética presente nas relações humanas e da moral. Que tipo de relação existiria entre a figura escravizada e o império que escraviza se não, o forte sentimento de desestruturação dos princípios básicos das relações humanas.

Agora passaremos a analisar obras com a personificação da Femme Fatale, a mulher que manipula seus amantes aos sabores de seus desejos e, ardilosamente, os envolve em um jogo de sedução e perigo, onde as regras são ditadas unicamente por ela.

Começaremos pela obra Dalila e Sansão (1893 - óleo sobre tela, 59 x 78,1 cm. Acervo do Museu Nacional de Belas Artes), que retrata a cena da mulher como personagem principal de uma história do Antigo Testamento. A mulher retratada em questão se transforma no foco central da narrativa, e diferentemente da Escrava Romana, sua postura mostra a verdadeira face de seus instintos primitivos, quando, na eminência da ação, deixa aparecer “descuidadamente” os seios, para a contemplação dos homens ao seu redor. A forma como é representado o repouso da figura feminina nos coloca em um ambiente sensual, aonde Dalila deseja ser o objeto de cobiça dos espectadores que a rodeiam.

Para compreendermos melhor a associação feita nessa pintura entre a personagem Dalila e o tipo da femme fatale é necessário conhecer a história retratada no quadro em questão, a história de Sansão e Dalila. A região de Gaza, na Palestina, por volta de 1.200 a.C era dominada pelos filisteus. Ao conhecer Semadar, uma filistéia, Sansão se apaixona por ela, mas é Dalila, irmã mais nova de Semadar, quem realmente o deseja. Quando Dalila o procura, ele a despreza e se torna um guerrilheiro, cuja força é capaz de destruir exércitos, já que Javé o escolhera para libertar seu povo. Tempos depois, no entanto, Sansão apaixona-se por Dalila. Aproveitando-se disso, os chefes dos filisteus a procuram e lhe propõem uma recompensa se ela conseguir descobrir onde reside a força dele. Esta, por vingança, aceita a idéia e depois de várias tentativas frustradas, consegue finalmente saber que sua força está em seus longos cabelos. Ela então avisa ao chefe dos filisteus. Enquanto estes se deslocam para o local onde os dois se encontram, ela faz Sansão dormir em seu colo, chama um homem e este corta as sete tranças do cabelo de Sansão. Os filisteus chegam, o agarram, furam-lhe os olhos e o levam para Gaza. Na prisão, seus cabelos voltam a crescer e Sansão, por fim, consegue a sua 'liberdade'.

Depois de brevemente discorremos sobre a história retratada no quadro, podemos, em fim, traçar um paralelo a personagem Dalila, como representada na tela de Oscar Pereira da Silva e o tipo da femme fatale. É difícil definir o porquê da escolha deste tema por Oscar Pereira da Silva, homem conhecido pela defesa de valores morais, quando sabemos que “A femme fatale é na época que o artista pintou o quadro] a transposição artística da mulher que só deseja o prazer sexual, que conseqüentemente não valorizava os laços familiares, conduzindo o homem à ruína moral e levando, por fim, à morte, seja marido ou amante, através dos duelos de honra.” (DAZZI, 2008).

Porém analisando o fato histórico relacionado ao acontecimento em questão retratado, a história de Sansão e Dalila, na qual a mulher usa de sua beleza e artimanha para descobrir a fonte da força descomunal de seu amado, proviniente dos cabelos, cortar-lhe as madeixas e o entrega aos filisteus, fica mais fácil compreender o motivo da construção pictórica do caráter da personagem ser tão similar ao encontrado nas denominadas femme fatale. O olhar de satisfação presente em Dalila nos leva a entender o significado do seu jogo de sedução, da intenção de causar um furor de desejo nos homens os quais ela se propõe conquistar, de seu poder sexual perante eles.

Em outras duas obras de diferentes artistas, podemos visualizar esse mesmo deslocamento da figura feminina para um quadro exageradamente sensual e pertinente ao prazer sexual contido na definição da personificação da mulher como ponto de partida para maiores impulsos de prazeres eróticos. A função da mulher nestes quadros é permitir ao artista explorar as sensações eróticas presentes, seja no jogo de luzes que o artista emprega (como no caso de Franz Von Stuck e sua Salomé) ou, como Henrique Bernardelli faz quando deixa em branco lacunas sobre o ambiente em que está inserida a personagem principal em sua obra intitulada Messalina. Essa analise pode ser também presenciada em um fragmento extraído do texto “'Augusta Meretrix' - Decadentismo no Meio Artístico Brasileiro Finessecular”, quando Camila Dazzi nos diz que Henrique Bernardelli “omite” informações do ambiente em que se encontra a figura feminina retratada “O lugar sobre o qual se deita Messalina também tem um caráter incerto, não sabemos tratar-se de uma cama ou de um sarcófago”. (DAZZI, 2008). Dessa forma, Bernardelli inevitavelmente nos coloca em um jogos sobre a dualidade presente no lugar dos prazeres carnais (a cama) e o leito de morte (Sarcófago) desta mulher com caráter cruel e demasiado erótico. Com isso o pintor faz com que nossa mente, guiada talvez por instintos primitivos ligados à sensualidade contida no quadro, complete o significado real do momento que o pintor quis retratar.

Neste contexto, enquanto em alguns quadros observamos como destino a morte, no caso de Bernardelli, e a oferta do corpo relacionada a esse prazer eminente na personagem retratada, como na Salomé de Von Stuck, na Escrava Romana percebemos um caráter de degradação moral, quando notamos que a mulher está ali para ser vendida e não parece ser contrária ao seu destino.

Já a Odalisca (c. 1900. Coleção Particular) de Oscar Pereira parece refletir sobre o seu futuro,- como fará para conquistar os homens que almeja? -, em contraste com obras que retratam a mulher no momento exato de fruição de um prazer momentâneo, como é o caso da Salomé de Von Stuck. A dança erótica, que enaltece suas partes nuas, e faz seu criado (o observador ao fundo da imagem) sorrir, é completamente diferente do que encontramos na sensualidade do repouso e do pensamento da Odalisca de Oscar Pereira.

Se analisarmos esse quadro de Pereira da Silva, buscando nele unicamente encontrar a figuração da mulher como objeto, descobriremos estar ele descontextualizado, visto que sua odalisca não parece se oferecer, na verdade passa-nos a impressão de que nós observadores estamos “espiando” algum momento intimo seu.

Porém é necessário ressaltar que mesmo alheia ao observador ou ao desejo de conquista, essa figura não deixa de nos transmitir um efeito de sensualidade; que é encontrado em sua pose e obviamente na exposição quase que total de seu corpo. Fazendo essa analise das obras relacionadas acima, gostaríamos de atentar para o emprego desse tema em obras artísticas brasileiras pertinentes ao momento histórico estudado (século XIX e início do XX), e formar um foco de estudo para temas relacionados a esse emprego da mulher como figura erotizada e objeto de prazer.

Fonte: Dezenovevinte, publicado por Ana Carolina de Souza Pereira e Gabriella de Amorim Gen em 4 de outubro de 2008.

Crédito fotográfico: Auto-Retrato, 1936, Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

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