Pedro Paulo Bruno (14 de outubro de 1888, Rio de Janeiro, Brasil — 2 de fevereiro de 1949, Rio de Janeiro, Brasil), mais conhecido como Pedro Bruno, foi um pintor, músico e poeta brasileiro. Estudou com o pintor Giovanni Battista Castagneto e, mais tarde, frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, onde foi orientado por nomes como João Batista da Costa e José Mariano de Boschetto. Também estudou canto lírico na Itália, ampliando sua formação artística. Sua obra foi influenciada pelo academicismo brasileiro e por um espírito nacionalista lírico, com destaque para cenas do cotidiano, paisagens e retratos. Entre os artistas e influências em sua trajetória, destaca-se o contato com o ambiente cultural espírita e artístico da época, bem como sua convivência com intelectuais e artistas que frequentavam sua casa na Ilha de Paquetá. Sua pintura mais conhecida, “Pátria” (1919), venceu o Prêmio de Viagem ao Exterior e se tornou um símbolo visual da identidade nacional. Utilizava técnicas tradicionais com paleta de tons suaves, representando com precisão e poesia a vida brasileira. Ganhou importantes reconhecimentos como medalhas de bronze (1912) e ouro (1925) em salões oficiais. Suas obras podem ser vistas em instituições como o Museu da República, no Rio de Janeiro.
Pedro Bruno | Arremate Arte
Pedro Paulo Bruno, mais conhecido como Pedro Bruno foi um pintor, músico e poeta, nascido em 14 de outubro de 1888, na Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro. Vindo de uma família de imigrantes italianos profundamente envolvida com o espiritismo e a cultura artística, demonstrou, desde cedo, notável sensibilidade para as artes visuais: Aos sete anos já fazia desenhos e, aos nove, foi convidado a retratar um velório, sinalizando o início precoce de uma trajetória artística multifacetada. Autodidata nos primeiros anos, foi aluno do pintor italiano Giovanni Battista Castagneto e, mais tarde, aprimorou-se na Escola Nacional de Belas Artes, onde estudou com mestres como João Batista da Costa e José Mariano de Boschetto. Sua formação incluiu ainda estudos de canto lírico em Nápoles e Roma, consolidando uma carreira que uniu música, pintura e atuação pública.
Sua obra pictórica ganha destaque a partir de 1918, quando começa a participar das Exposições Gerais de Belas Artes, evento de grande importância institucional no Brasil do século XX. Em 1919, conquista o Prêmio de Viagem ao Exterior com o célebre quadro “Pátria”, uma representação icônica de mulheres confeccionando a bandeira nacional, que mais tarde seria usada em cédulas, cartões-postais e materiais de propaganda oficial do governo republicano. A partir dessa obra, Pedro Bruno passa a ser identificado como um artista que celebra, com sensibilidade e lirismo, a identidade brasileira e o cotidiano nacional, com destaque para as paisagens, cenas populares e representações idealizadas da vida rural e urbana.
Entre 1920 e 1922, vive em Roma, onde atua como bolsista e professor da Academia Brasileira de Belas Artes, participando ativamente dos círculos artísticos europeus. Após seu retorno ao Brasil, intensifica sua produção artística e contribui para a preservação cultural da Ilha de Paquetá, onde funda a Liga Artística de Paquetá e realiza diversas ações voltadas ao embelezamento paisagístico e à valorização da vida comunitária. Sua casa-ateliê tornou-se referência na região, sendo frequentada por artistas, intelectuais e autoridades.
Ao longo de sua carreira, Pedro Bruno recebeu medalha de bronze (1912), medalha de ouro (1925) e homenagens póstumas, como a Menção Honrosa em 1943. Participou de exposições importantes no Brasil e no exterior, sempre mantendo uma linguagem figurativa marcada por traços acadêmicos, paleta de tons terrosos e um sutil viés espiritualista. Seu trabalho é atravessado por valores como o patriotismo, a religiosidade e o respeito pela natureza.
Faleceu em 2 de fevereiro de 1949, em Paquetá, enquanto trabalhava em seu ateliê, deixando como legado, uma vasta produção artística e uma imagem pública de artista comprometido com sua comunidade.
Pedro Bruno | Itaú Cultural
Pedro Paulo Bruno (Ilha de Paquetá RJ 1888 - Rio de Janeiro RJ 1949). Pintor, escultor, desenhista, artista visual, concertista. Recebe as primeiras lições do pintor italiano Ettore Tito. Com a visita de Castagneto à Ilha de Paquetá, em 1897, torna-se seu discípulo. Viaja para a Itália, em 1905, estuda música em conservatórios de Roma e Nápoles, e obtém diploma de cantor lírico. Retorna ao Brasil em 1910 e tem aulas com o pintor italiano Schettino. Ingressa na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1918, é aluno de Baptista da Costa e Giuseppe Boschetto (1841 - 1918), e discípulo de Domenico Morelli (1823-1901). Bruno recebe o prêmio viagem ao exterior da 26ª Exposição Geral de Belas Artes, em 1919, com a tela Pátria, e no ano seguinte vai para a Itália para aperfeiçoar-se em pintura na Accademia Brittanica, em Roma. Entre 1921 e 1922 dirige a Classe Geral de Nu dessa academia. De volta ao Brasil, em 1922, funda, com Hermes Fontes (1888 - 1930), a Liga Artística de Paquetá, em 1923. No Salão Nacional conquista medalha de ouro, em 1925, e de honra, em 1943. Realiza exposições individuais no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre. É responsável por diversos projetos paisagísticos e ornamentais em sua cidade natal e defensor entusiasmado da natureza local.
Análise
Concertista na juventude, pintor consagrado no Salão Nacional, divulgador cultural e paisagista no fim da vida, a gama de atividades com as quais Pedro Bruno se envolve dá mostra de seu entusiasmo pelas mais diversas formas de expressão artística. Nessa trajetória multifacetada, destaca-se sua contribuição ao desenvolvimento de símbolos necessários à consolidação do projeto nacional republicano, implantado no fim do século XIX no Brasil. Nesse aspecto, a tela Pátria, 1919, hoje no Museu da República, no Rio de Janeiro, é seu trabalho mais significativo, que obtém imensa difusão ao ser reproduzido na antiga nota brasileira de 200 mil cruzeiros. A obra retrata, por meio da alegoria, o momento fundador da identidade nacional, representada pela primeira bandeira da república, feita, segundo a tradição, pela costureira Flora Simas Carvalho, por encomenda do marechal Deodoro da Fonseca.
Nesse novo "nascimento da nação", localizado em âmbito doméstico, não mais público, como faz Pedro Américo em Independência ou Morte, 1888, mostra-se a "república" recém-nascida, protegida pela bandeira da unidade federativa (representada pelas estrelas), no centro do quadro, numa longa diagonal que toma quase a totalidade da tela, sendo costurada pelas senhoras reunidas no aposento de uma casa simples, pintada com tons vivos, numa gama de vermelhos e amarelos intensificada pelas pinceladas de caráter pastoso, embora curtas. O símbolo é abraçado pela criança em primeiro plano, que representa a virtude patriótica a ser emulada. Ao fundo, encontra-se a figura do velho combatente, que, esquecido na penumbra, ainda porta as vestes militares e evoca os feitos em prol da unificação e da defesa nacional.
O quadro é testemunho de um esforço retórico e ideológico dos pintores da Primeira República, que, embora tenham pretendido afastar-se dos preceitos artísticos da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, se mantêm fiéis às regras de representação ensinadas nessa instituição, e pouco interessados na exploração de outras possibilidades pictóricas.
Críticas
"Sua pintura filiou-se ao realismo do início do século, originário do realismo francês liderado por Courb, deixou-se, no entanto, sugestionar pelo impressionismo, sobretudo nas cenas praieiras, pelas quais acentuou sua preferência" — Carlos Cavalcanti (CAVALCANTI, Carlos (org.); AYALA, Walmir, (org.). Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Brasília: MEC: INL, 1973. v. 1. pt. 2. (Dicionários especializados, 5)).
"Mais próximo da tradição derivada de seu mestre Batista da Costa quando pintava paisagens, Pedro Bruno revelou-se mais 'moderno' como pintor de formas femininas. Convencional, em temas como Maternidade (que tantas vezes pintou), discreto em suas paisagens, ganha em sensibilidade ao fixar corpos femininos, nus ou vestidos, ao representar pensadores em seus barcos à beira-mar. O nu, particularmente, sai-lhe espontâneo e nervoso, em largas pinceladas cheias de empaste". — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Exposições Individuais
1914 - Rio de Janeiro RJ - Individual
1920 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Jorge
1941 - Rio de Janeiro RJ - Individual
Exposições Coletivas
1909 - Rio de Janeiro RJ - 16ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1910 - Rio de Janeiro RJ - 17ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1911 - Rio de Janeiro RJ - 18ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1912 - Rio de Janeiro RJ - 19ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de bronze
1913 - Rio de Janeiro RJ - 20ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de prata
1914 - Rio de Janeiro RJ - 21ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1915 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1916 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1919 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Carioca de Gravura e Água-Forte
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - prêmio de viagem ao exterior
1920 - Rio de Janeiro RJ - 27ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - pequena medalha de ouro
1923 - Rio de Janeiro RJ - 30ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1925 - Rio de Janeiro RJ - 32ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - grande medalha de ouro
1926 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão de Outono
1926 - Rio de Janeiro RJ - 33ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1928 - Rio de Janeiro RJ - 35ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1928 - São Paulo SP - Grupo Almeida Júnior, no Palácio das Arcadas
1929 - Rio de Janeiro RJ - 36ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - Prêmio Cidade do Rio de Janeiro
1929 - Rosário (Argentina) - Exposição de Rosário de Santa Fé
1930 - Rio de Janeiro RJ - 37ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1932 - Rosário (Argentina) - Exposição de Rosário de Santa Fé - premiado
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1935 - Rio de Janeiro RJ - Salão da Feira de Amostras - prêmio de costumes
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1939 - São Paulo SP - 6º Salão Paulista de Belas Artes
1940 - São Paulo SP - 7º Salão Paulista de Belas Artes
1943 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes - prêmio de honra
1943 - São Paulo SP - 9º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1945 - São Paulo SP - 11º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1948 - São Paulo SP - 14º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
Exposições Póstumas
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1966 - Ilha de Paquetá RJ - Retrospectiva póstuma, em seu ateliê
1974 - São Paulo SP - Os Mestres de Ontem, Hoje e de Sempre, na A Ponte Galeria de Arte
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1982 - Rio de Janeiro RJ - 150 Anos de Pintura de Marinha na História da Arte Brasileira, no MNBA
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Museu Naval e Oceanográfico. Serviço de Documentação da Marinha
Fonte: PEDRO Bruno. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 23 de julho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Pedro Bruno | Wikipédia
Pedro Paulo Bruno (Paquetá, 14 de outubro de 1888 – Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1949) foi um pintor, cantor, poeta e paisagista brasileiro. Sua obra mais conhecida é o quadro Pátria, de 1918, que retrata a bandeira do Brasil sendo bordada no seio de uma família.
Infância
Pedro Paulo Bruno nasceu em 14 de outubro de 1888 na casa de sua família na Ilha de Paquetá. Seu pai, o comerciante italiano Felice Antonio Bruno havia emigrado para o Brasil com a jovem esposa, Magdalena Marmo Bruno, em 1878, juntamente com os três filhos do casal (Rosa, Antero e Miguel).[2] Provenientes de Casalbuono, na província italiana de Salerno, eles fixaram residência na Ilha de Paquetá, na casa de nº 105, na Praia da Guarda.
Aos sete anos de idade, Bruno ensaiava seus primeiros traços, e aos nove já era reconhecido em Paquetá como um desenhista promissor. Nesta época, por ocasião da morte de uma criança cujos pais desejavam ter uma imagem como recordação, o pequeno artista foi chamado às pressas e, ali mesmo no velório, ainda que um pouco assustado, executou o retrato. Segundo o próprio Pedro Bruno lembraria mais tarde, o desejo de pintar teria surgido nele no dia em que, expulso da sala de aula pela professora, sentou num muro para contemplar o mar azul de Paquetá. Em 1897, quando o pintor Giovanni Battista Castagneto, também de origem italiana, esteve em Paquetá, Pedro Bruno imediatamente estabeleceu amizade com o artista, oferecendo-se para transportar seu cavalete, sua paleta e seus pincéis para os diversos lugares da ilha que o artista retratava. O menino ficava horas a observar com atenção o trabalho do mestre, tornando-se um discípulo dedicado.
Pedro Bruno era dotado. Possuía admirável voz de barítono. Em 1905, aos quatorze anos, embarcou para a Itália com o objetivo de estudar no Conservatório de Nápoles e de Roma, de onde retornou diplomado em canto lírico. Trabalhou no Conservatório de Música do Rio de Janeiro, e, sob a direção do maestro De Lucio, percorreu Belo Horizonte, São Paulo e Santos em turnê artística, mas morou no Rio. Pedro Bruno, porém, logo se aborreceu com o canto e, retorna ao Brasil, começando a se dedicar mais à pintura, retratando as paisagens de Paquetá e tendo lições com o pintor italiano Schettino.
Carreira
Em 1910, ao retornar a Paquetá, envolto e seduzido pelas belezas da ilha, Pedro Bruno percebeu que era a pintura a atividade que o empolgava. Indiferente às dificuldades que sua corajosa decisão poderia acarretar, iniciou, de maneira autodidata, uma nova carreira. Sozinho pelas praias, com seu material de pintura, seguiu retratando incansavelmente os recantos da ilha. Em 1912, recebeu a Medalha de Bronze, do Salão de Belas Artes, pela paisagem marinha intitulada Manhã Azul. Suas telas impunham-se pelo empenho técnico, com o que Bruno obteve o respeito da crítica especializada. Foram exemplo desta receptividade os elogios que recebeu por seu quadro Sentinela da Pátria, exposto no salão de espera do cinema Orion, em Campos. Naquele ano de 1917, a obra provocou admiração em todos que por ali passavam.
Com o intuito de aprimorar sua técnica, Bruno ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1918. Seus professores foram os grandes mestres João Baptista da Costa e José Boschetto. Em agosto do ano seguinte, o Conselho Superior de Belas Artes conferiu-lhe o Prêmio de Viagem da 26ª Exposição Geral. O quadro vencedor intitulava-se Pátria, uma concepção cívica que simbolizava a construção da pátria brasileira ao retratar um grupo de mulheres simples que, de maneira dedicada, costuravam a bandeira nacional. Sobre a premiação, Coelho Netto escreveu o seguinte no jornal A Noite: "O júri naturalmente votou o prêmio ao pintor pela execução da obra, eu votaria pelo poeta que soube vestir uma ideia augusta com o pano sagrado em que se envolve a Pátria!".
Em 1920, antes de seguir para a Itália, Bruno teve suas obras expostas em São Paulo, no salão anexo ao cinema Central, na Avenida São João, com grande sucesso de público e de crítica. Ainda neste ano, a Galeria Jorge, no Rio de Janeiro, organizou uma exposição com 70 quadros do pintor. Os cariocas, igualmente, festejaram a mostra. Ao chegar em Roma, Bruno inscreveu-se para a prova de admissão ao curso de pintura da Academia Inglesa, famosa instituição de ensino artístico. Classificou-se em 3º lugar em meio a 65 candidatos italianos e estrangeiros. Decorridos apenas seis meses de sua matrícula, já era convidado pelos dirigentes da instituição para reger aulas de modelo vivo. Na Itália, o artista estudou, lecionou, recebeu elogios da imprensa e deixou vários quadros, dois no Museu de Salerno e os demais em galerias particulares.
De volta ao Brasil em 1922, foi recebido com grandes homenagens pela população e pelas autoridades de Paquetá. Mesmo levando em consideração o aperfeiçoamento obtido em sua arte e o êxito alcançado na Europa, Bruno dizia-se mais nacionalista do que nunca. O pintor instalou seu ateliê ao fundo do conjunto principal da casa onde residia, em Paquetá, e assumiu o papel de zelador das belezas da ilha, embora viesse a possuir no Centro do Rio, na rua do Teatro, outro pequeno ateliê. O Precursor, uma apoteose a Tiradentes, obra executada ainda na Itália, encontra-se hoje no Museu Histórico Nacional. No mesmo ano de seu regresso, conquistou a Medalha de Ouro do Salão de Belas Artes, com o quadro Mãe.
O trabalho de Bruno, exposto em São Paulo em 1924, foi acolhido com admiração pelos meios artístico e intelectual paulistanos, tendo se destacado os quadros Guanabarinas e Anunciação, que atraíram especial atenção dos visitantes. O pintor foi grande colaborador do Salão Paulista de Belas Artes até o ano anterior ao de sua morte. Em retribuição, dentre outras homenagens, a Prefeitura da Cidade de São Paulo batizou com seu nome uma rua do bairro de Butantã.
O último grande trabalho de Bruno foi a tela Gonçalves Dias, pintada no ano anterior ao de sua morte. Em 1948, Pedro recebeu a maior homenagem em vida: um busto seu foi erguido na praça que leva seu nome. A obra, idealizada por Paulo Mazucheli, tem como legenda: "O poeta da cor, das árvores e dos pássaros".
Outras atividades
Bruno ocupou o cargo de Oficial Administrativo da Prefeitura de Paquetá, comissionado como zelador do cemitério local. Nesta função, além de ter executado a reforma total da capela, toda em pedra, doou à instituição duas de suas obras – Cristo ao Luar e São Francisco falando aos pássaros – e implementou trabalhos de jardinagem que transformaram o campo-santo num parque florido, um local atrativo para visitação.
Mas seu amor a Paquetá levaram-no a atuar, efetivamente, como zelador de toda a ilha. Com o intuito de preservar o patrimônio paisagístico e realçar os encantos naturais de Paquetá, Pedro criou a Liga Artística, juntamente com um grupo de apaixonados pela ilha. Visando chamar atenção para a importância da preservação ambiental, eram realizadas festas comemorativas às árvores e aos pássaros. Inaugurou em diversas praias e praças, bustos, hermas, placas e marcos em homenagem a personalidades de destaque, lembrando-se sempre dos índios, os primeiros habitantes. Era visto com freqüência a caminhar pela ilha, com seu chapéu, conversando com os moradores, numa atitude de simplicidade e modéstia que contrastava com o que se esperaria de um nome consagrado da arte brasileira.
Morte
Pedro Bruno morreu devido às complicações de um edema pulmonar agudo em 2 de fevereiro de 1949, dois anos após a morte de sua esposa, enquanto trabalhava em seu ateliê, no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: Magda, Hélio, Lia e Fábio. Foi sepultado no cemitério da ilha que amou e imortalizou em suas telas, na presença da população consternada.
Homenagens
Em 1966, os filhos de Bruno organizaram, na residência do artista, uma exposição póstuma que apresentava cerca de 100 trabalhos, alguns inéditos, outros inacabados, como Amor Eterno. Outra expressiva homenagem póstuma foi a exposição inaugurada em 1º de novembro de 1949, no Salão Assírius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de 180 telas do artista. A mostra foi organizada por seus filhos e patrocinada pelo prefeito Ângelo Mendes de Morais, sob os auspícios da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Na ocasião, o vereador Álvaro Dias propôs apresentar à Câmara Municipal do Rio de Janeiro um projeto transformando em museu a casa de Bruno em Paquetá. Em 1950, através do Projeto de Lei nº 61, a câmara aprovou a criação do Museu Pedro Bruno. A falta de recursos, entretanto, impediu a concretização da proposta.
Um detalhe do quadro Pátria de Bruno foi incluído na nota de 200 cruzados novos, que homenageava o centenário da Proclamação da República.[3] A vigência do cruzado novo durou de 16 de janeiro de 1989 a 15 de março de 1990, tendo as cédulas saído de circulação em 15 de setembro de 1994.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de julho de 2025.
Pedro Bruno pintou Paquetá de todas as maneiras | Rolé Carioca
Meu avô foi um idealizador. Junto com um grupo de pessoas apaixonadas pela ilha, formaram a “Liga Artística” que teve como missão fazer de Paquetá um lugar charmoso, aprazível de se visitar. Naquela época, não havia lugares para sentar e apreciar a beleza ao redor. O conjunto de melhoramentos feitos para a ilha, como os bancos, os degraus que dão acesso ao cais, os bebedouros, as colunas que servem de suporte para bougainvilles e o caramanchão da Praia dos Tamoios, foi tombado pelo município em 1999.
É de sua autoria o projeto arquitetônico e paisagístico do Cemitério de Santo Antônio e do anexo conhecido como ‘Cemitério dos Pássaros’. Esse conjunto é especial para a memória de nossa família, onde Pedro Bruno, nascido na ilha em 1888, está enterrado. A capela, toda em pedra, é uma graça! Lá é possível ver duas reproduções de obras do pintor - "Cristo ao luar", em cima do altar da capela, e "São Francisco falando com os pássaros”. Os originais se perderam acidentalmente, com o uso de velas na capela.
Uma faceta menos conhecida de Pedro Bruno foi sua preocupação com a preservação da natureza. Era um ambientalista, coisa rara nas décadas de 1930/1940. Promovia na ilha a chamada ‘festa dos pássaros’. Todo mês de setembro, comprava aves que viviam em cativeiro, as soltava em Paquetá, e depois queimava as gaiolas. Havia também uma ‘festa das árvores’, para incentivar a conservação das espécies, bem antes do tombamento das árvores da ilha.
Pedro pintou Paquetá de todas as maneiras. A memória dos índios, as pedras da marinha e seus flamboyants – árvore que está no brasão do bairro. Destaco ainda a maternidade e o aleitamento como questões sagradas para meu avô em suas obras. Como prêmio de “Viagem a Europa” recebido com a tela “Pátria”, foi estudar na Academia Inglesa de Roma e, pouco tempo depois, foi convidado a lecionar na instituição. Desse período, trouxe peças que hoje enfeitam os jardins da casa em que residiu em Paquetá – entre elas, uma reprodução da “Vênus de Milo” que chama atenção de quem passa pela rua, mas não é obra dele e foi colocada no jardim após a morte do pintor, pois a original foi danificada.
Paquetá vive um momento cultural bacana. Há iniciativas como o “Plantar Paquetá”, que está repondo parte dos flamboyants caídos do bairro, e o cineclube do Quintal da Regina, sempre com uma programação interessante. Na Casa de Artes Paquetá, estreamos o projeto “Pedro Bruno visita a Casa de Artes”, para colocar em exposição uma tela do acervo da nossa família. A primeira é um ensaio feito para o quadro “Pátria”, que completa 100 anos em 2019. O original está exposto no salão ministerial do Museu da República, onde Getúlio despachava, e passou por um restauro recente.
Algumas peças e ambientes da Casa Pedro Bruno estão como eram antigamente: sua mesa de trabalho, as cadeiras, os móveis da sala de jantar, sua bengala, entre outros objetos. Também mantenho um catálogo dos quadros e as publicações da imprensa com referências a Pedro Bruno.
Fonte: Rolé Carioca, "Pedro Bruno pintou Paquetá de todas as maneiras", depoimento de Malu Vergani, publicado em 22 de maio de 2019. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Pedro Bruno | Site Oficial Pedro Bruno
No ano de 1878 o negociante Felice Antonio Bruno e sua jovem esposa, Magdalena Marmo Bruno, desembarcaram no Rio de Janeiro, juntamente com os filhos Rosa, Antero e Miguel. Provenientes de Casalbuono, província italiana de Salerno, fixaram residência na Ilha de Paquetá, na Praia da Guarda, nº 105. Naquela ampla casa, cercada por uma varanda e com frente ajardinada, nasceu Pedro Paulo Bruno, em 14 de outubro de 1888. Pedro Bruno, como veio a ser internacionalmente conhecido, cresceu em meio à plenitude de encantos da ilha, tornando-se um artista imaginoso, dotado de alta sensibilidade e, ao mesmo tempo, um patriota, homem de devotado espírito público, benfeitor de sua terra natal. Era-lhe fácil e natural sentir a arte em suas variadas expressões, exprimindo-a não apenas no canto, na escultura, no paisagismo e na poesia, mas também – e principalmente – na pintura. Esta sensibilidade também permeava suas iniciativas, quer como funcionário público, quer como cidadão.
Aos sete anos de idade Pedro Bruno ensaiava seus primeiros traços, e aos nove já era reconhecido em Paquetá como um desenhista promissor. Nesta época, por ocasião da morte de uma criança cujos pais desejavam ter uma imagem como recordação, o pequeno artista foi chamado às pressas e, ali mesmo no velório, ainda que um pouco assustado, executou o retrato. Em 1897, quando o pintor Giovanni Battista Castagneto esteve em Paquetá, Pedro Bruno imediatamente estabeleceu amizade com o artista, oferecendo-se para transportar seu cavalete, sua paleta e seus pincéis para os diversos lugares da ilha que o artista retratava. O menino ficava horas a observar com atenção o trabalho do mestre, tornando-se um discípulo dedicado ao aprendizado da pintura. Pedro Bruno foi dotado com outro grande talento, o de cantor. Possuía admirável voz de barítono. Em 1905, aos quatorze anos, embarcou para a Itália com o objetivo de estudar nos Conservatórios de Nápoles e de Roma, de onde retornou diplomado em canto lírico. Trabalhou no Conservatório de Música, no Rio de Janeiro, e, sob a direção do maestro De Lucio, percorreu Belo Horizonte, São Paulo e Santos em tournée artística.
Em 1910, de regresso a Paquetá – novamente envolto e seduzido pelas belezas naturais da ilha – Pedro Bruno percebeu que era a pintura a atividade que o empolgava. Indiferente às dificuldades que sua corajosa decisão poderia acarretar, iniciou, de maneira autodidata, uma nova carreira. Sozinho pelas praias, com seu material de pintura, seguiu retratando incansavelmente os lindos recantos da Ilha. Em 1912 recebeu a Medalha de Bronze, do Salão de Belas Artes, pela paisagem marinha intitulada “Manhã Azul”. Suas telas impunham-se pelo empenho técnico, com o que Pedro obteve o respeito da crítica especializada. Mas foi o elemento sensorial – a amálgama de sinceridade e capacidade de traduzir estados de alma – que aproximou Pedro Bruno do grande público. Foram exemplo desta receptividade os elogios que recebeu por seu quadro “Sentinela da Pátria”, exposto no salão de espera do cinema Orion, em Campos. Naquele ano de 1917, a obra provocou admiração em todos que por ali passavam, por traduzir a alma brasileira e por falar diretamente ao coração do povo.
Com o intuito de aprimorar sua técnica, Pedro Bruno ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1918. Seus professores foram os grandes mestres João Baptista da Costa e Jose Boschetto. Em agosto do ano seguinte, o Conselho Superior de Belas Artes conferiu-lhe o “Prêmio de Viagem” da 26ª Exposição Geral. A consagração foi considerada como absolutamente justa por seus próprios colegas e professores, pois nesta época o artista já havia alcançado todas as premiações que, por força do regulamento, deveriam precedê-la. O quadro vencedor intitulava-se “Pátria”, uma concepção cívica que simbolizava a construção da pátria brasileira ao retratar um grupo de mulheres simples que, de maneira dedicada, costuravam a Bandeira Nacional. Sobre esta premiação, Coelho Netto escreveu em artigo para o jornal “A Noite”, em novembro de 1919: “O júri naturalmente votou o prêmio ao pintor pela execução da obra, eu votaria pelo poeta que soube vestir uma idéia augusta com o pano sagrado em que se envolve a Pátria!”. Em 1920, antes de seguir para a Itália, Pedro Bruno teve suas obras expostas em São Paulo, no salão anexo ao cinema Central, na Avenida São João, com grande sucesso de público e de crítica. Ainda neste ano, a Galeria Jorge, no Rio de Janeiro, organizou uma exposição com 70 quadros do pintor. Os cariocas, igualmente, festejaram a mostra.
Ao chegar a Roma, Pedro Bruno inscreveu-se para a prova de admissão ao curso de pintura da Academia Inglesa, famosa instituição de ensino artístico. Classificou-se em 3º lugar em meio a 65 candidatos italianos e estrangeiros. Decorridos apenas seis meses de sua matrícula, já era convidado pelos dirigentes da instituição para reger aulas de modelo vivo. Na Itália, o artista estudou, lecionou, recebeu elogios da imprensa e deixou vários quadros – dois no Museu de Salerno e os demais em galerias particulares.
De volta ao Brasil em 1922, foi recepcionado com grandes homenagens pela população e pelas autoridades de Paquetá. Mesmo levando em consideração o aperfeiçoamento obtido em sua arte e o êxito alcançado na Europa, Pedro Bruno dizia-se mais nacionalista do que nunca. O pintor instalou seu ateliê ao fundo do conjunto principal da casa onde residia, em Paquetá, e assumiu o papel de zelador das belezas da ilha, embora viesse a possuir no Centro do Rio, à rua do Teatro, outro pequeno ateliê.
“O Precursor”, uma apoteose a Tiradentes, obra executada ainda na Itália, encontra-se hoje no Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro. No mesmo ano de seu regresso conquistou a Medalha de Ouro do Salão de Belas Artes, com o quadro “Mãe”.
O trabalho de Pedro Bruno, exposto em São Paulo em 1924, foi acolhido com admiração pelos meios artístico e intelectual paulistanos, tendo se destacado os quadros “Guanabarinas” e “Anunciação”, que atraíram especial atenção dos visitantes.
O pintor foi grande colaborador do Salão Paulista de Belas Artes até o ano anterior ao de sua morte. Em retribuição, dentre outras homenagens, a Prefeitura da Cidade de São Paulo batizou com seu nome uma rua do bairro de Butantã.
Ao longo de sua carreira artística, Pedro Bruno expôs seus quadros em várias cidades do Brasil, tais como Recife, Curitiba, Santos, Vitória, Campos, Teresópolis, Pelotas e Porto Alegre, e também em Rosário de Santa Fé, na Argentina. Angariou admiradores leigos e especializados por onde passou, e ainda diversos prêmios e medalhas. Em 1943 recebeu a Grande Medalha de Honra, considerada a maior premiação para um artista no Brasil, com seu quadro “Sonata ao Luar”, que encontra-se no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Há obras de Pedro Bruno nos seguintes locais: Museu da República (RJ), Museu Nacional de Belas Artes (RJ), Museu Histórico Nacional (RJ), municipalidades de São Paulo e de Curitiba, Pinacoteca da Sociedade Brasileira de Belas Artes e no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. O quadro “Contemplativa” encontra-se no Museu de Estocolmo.
Pedro Bruno ocupou o cargo de Oficial Administrativo da Prefeitura de Paquetá, comissionado como zelador do cemitério local. Nesta função, além de ter executado a reforma total da capela, toda em pedra, Pedro doou à instituição duas de suas obras – “Cristo ao Luar” e “São Francisco falando aos pássaros” – e implementou trabalhos de jardinagem que transformaram o campo-santo num parque florido, um local atrativo para visitação. Mas seu amor a Paquetá, seu senso estético e seu idealismo levaram-no a atuar, efetivamente, como zelador de toda a ilha. Com o intuito de preservar o patrimônio paisagístico e realçar os encantos naturais de Paquetá, Pedro criou a Liga Artística, juntamente com um grupo de apaixonados pela ilha que incluia Augusto Silva, Angelo Di Franco, Alambary Luz, Alfredo Brasil, Gen. Alípio Costallat, Dr. Antonio Ferreira, Áurea Modesto Leal, Gen. Agra de Lacerda, Diogo Leivas, Comte. José Henrique Bahia, Dr. José Thedin Barreto, Luiz Marques Poliano, Dr. Lívio Porto, Gen. Mena Barreto, o escritor Vivaldo Coaracy, o cronista e poeta Waldomiro Ferreira, dentre outros sócios. Visando chamar atenção para a importância da preservação da natureza, eram realizadas festas comemorativas das árvores e dos pássaros. Inaugurou em diversas praias e praças, bustos, hermas, placas e marcos em homenagem a personalidades de destaque, lembrando-se sempre dos índios, seus primeiros habitantes. Era visto com freqüência a caminhar pela ilha, com seu chapéu, conversando com os moradores, numa atitude de simplicidade e modéstia que contrastava com o que se esperaria de um nome consagrado da arte brasileira – “as seduções da glória humana não o fascinavam”
Um edema pulmonar agudo levou-o embora dois anos após a perda de sua esposa, no dia 2 de fevereiro de 1949, enquanto trabalhava em seu ateliê, no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: Magda, Hélio, Lia e Fábio. Foi sepultado no cemitério da ilha que amou e imortalizou em suas telas, na presença da população consternada
Em 1966 os filhos de Pedro Bruno organizaram, na residência do artista, uma exposição póstuma que apresentava cerca de 100 trabalhos, alguns inéditos, outros inacabados, como “Amor Eterno”. O evento objetivava proporcionar à população da ilha e a seus visitantes a proximidade com os inúmeros trabalhos do consagrado pintor. Outra expressiva homenagem póstuma foi a exposição inaugurada em 1º de novembro de 1949, no Salão Assírius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de 180 telas do artista. A mostra foi organizada por seus filhos e patrocinada pelo prefeito Mendes de Morais, sob os auspícios da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Na ocasião, o vereador Álvaro Dias propôs apresentar à Câmara Municipal do Rio de Janeiro um projeto para transformar em Museu a casa de Pedro Bruno, em Paquetá. No local havia telas, além de croquis, estudos, objetos de arte e material de trabalho. Em 1950, através do Projeto de Lei nº 61, a Câmara do Distrito Federal aprovou a criação do Museu Pedro Bruno. A falta de verba, no entanto, impediu a concretização da proposta.
O último grande trabalho de Pedro Bruno foi a tela “Gonçalves Dias”, pintada no ano anterior ao de sua morte. Pedro recebeu, em 1948, a derradeira homenagem em vida: um busto do artista e benfeitor foi erguido na praça que leva seu nome. A obra, cinzelada por Paulo Mazucheli, tem como legenda.
Fonte: Pintor Pedro Bruno. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Paisagista
Pedro Bruno fundou a Liga Artística de Paquetá em 1923. Durante um quarto de século, sob a sua presidência, a entidade trabalhou em prol da preservação e do embelezamento do patrimônio paisagístico de Paquetá.
Eram organizadas festas anuais em homenagem às árvores e aos pássaros, como forma de conscientizar e mobilizar o povo paquetaense, no sentido de preservar as belezas naturais da Ilha. O artista conhecia a vida de cada árvore de Paquetá, especialmente a dos flamboyants, da semente à floração. Impedia a derrubada de árvores, muitas delas plantadas por suas próprias mãos, e cuidava de suas enfermidades.
Urbanista por experiência, Pedro Bruno ajardinou não apenas o Cemitério do qual foi zelador, como também diversos logradouros da Ilha. Costumava adquirir passarinhos cativos, apenas para devolvê-los em seguida a liberdade.
Por iniciativa do artista, foram levantados – em diversas ruas, praças e praias de Paquetá – pequenos monumentos, bustos e placas em pedra ou bronze com data e legenda esculpidas. Eram erguidos para homenagear vultos de grande relevância para as Artes, para as Letras ou, em particular, para moradores destacados da Ilha. Dessa forma, foram perpetuados entre outros: Hermes Fontes, Carlos Gomes, Joaquim Manoel de Macedo, Padre Juvenal, Maestro Anacleto e Dr. Aristão. A inauguração de uma admirável máscara de Beethoven, esculpida em bronze, teve o formato característico das celebrações organizadas por Pedro Bruno.
Durante meia hora deste evento, as rádios locais, em colaboração com a Liga Artística, transmitiram obras do compositor – escutadas à luz do luar pela população presente.
A chegada do progresso trouxe a luz elétrica, o que motivou Pedro Bruno a lutar com heroísmo para evitar que esta forma de iluminação fosse adotada nas ruas de Paquetá. Não porque fizesse oposição aos confortos propiciados pelos avanços tecnológicos, mas porque tinha plena consciência da importância de se conservar ao máximo a feição primitiva da Ilha, como um legado para as gerações futuras. Acabou sendo vencido, mas em troca conseguiu que em noites de luar as luzes das ruas fossem desligadas. O seu olhar de artista percebia que inovações artificiais, se utilizadas indiscriminadamente, poderiam vir a acarretar danos ecológicos e estéticos ao ambiente natural. Com seu trabalho de idealista, já naquele início do século XX, procurou difundir consciência – válida até os dias atuais – de admiração e proteção à natureza.
Inauguração busto de Carlos Gomes – Praia dos Tamoios
“Plantar árvores e proteger os ninhos é um tributo do Homem à terra mater” — Pedro Bruno.
Cemitério dos Pássaros
“Longe da feição macabra, devemos ver apenas, no cemitério, uma alta expressão do passado, suavemente lembrada pela saudade” — Pedro Bruno.
Pedro Bruno aliava, a seus dons artísticos e a seu zelo pela natureza, um devotado espírito público. Assim, ao tornar-se Oficial Administrativo comissionado pela Prefeitura, no cargo de zelador do cemitério da Ilha (Cemitério de Santo Antônio), implementou reformas que – com o toque magistral da sua arte de Mestre – transformaram o campo-santo num verdadeiro jardim, um local aprazível e convidativo à visitação.
O terreno onde passou a localizar-se a necrópole, situado numa suave encosta, havia pertencido anteriormente à Sra. D. Maria da Conceição, que doou-o à Mitra. A Irmandade que o ocupou não conseguiu, por falta de recursos, mantê-lo limpo e conservado. Com aspecto de terreno baldio, invadido pelo matagal, o campo sagrado perdeu sua integridade. Por decreto municipal de 23 de maio de 1860, o local foi desapropriado e transformado em área de utilidade pública. Esta medida repercutiu de forma positiva no seio da população paquetaense, que confiou a Pedro Bruno a tarefa de recuperação do patrimônio.
Mais do que recuperá-lo, Pedro Bruno efetuou no terreno uma radical transformação, fazendo surgir ali um autêntico cemitério, um local digno, ornamentado com os requintes de um esteta. As alamedas foram ajardinadas com vegetação adequada. Foram plantados roseirais, ciprestes, chorões e esplêndidos tamarineiros – cobertos por barbas-de-velho franjadas – por entre os alvos túmulos. A reforma da Capela contou com a colaboração da Liga Artística, entidade fundada por Pedro Bruno em 1923 com a finalidade de proteger e conservar os patrimônios naturais e culturais da Ilha.
Acima de um conjunto de pedras de cerca de dois metros de altura, foram levantadas três arcadas em estilo gótico. A seleção das pedras, em tons de cinza, foi feita pelo próprio artista, uma a uma, de acordo com as variações de tamanho e de tonalidade. As paredes ostentam ornatos em forma de pombas e de lírios, que destacam-se visualmente por sua brancura. O velório localiza-se ao centro das arcadas, onde também estão dispostos nove bancos de cantaria para as funções fúnebres. Ao fundo, ainda na parte central, encontrava-se o quadro “Cristo ao Luar”, de autoria de Pedro Bruno. Na varanda lateral há um singelo altar, dedicado a São Francisco de Assis, o santo que amava a natureza e, em especial, os pássaros. Encimando este altar estava outra tela do pintor, “São Francisco falando aos Pássaros”. Foi criado também um jardim, ao lado da capela, com um lago destinado a matar a sede dos passarinhos que, assim como as árvores, eram seres muito caros ao artista.
Uma expressiva inovação, que demonstra a sensibilidade da alma deste artista-empreendedor, foi a criação da “Ara da Saudade”. Em pedra tosca e escavada eram mantidas, permanentemente acesas, brasas nas quais parentes e amigos podiam depositar uma colherinha de incenso em memória de seus entes queridos, no Dia de Finados.
A terra exercia sobre Pedro Bruno uma influência profundamente mística. E foi esta terra – o solo do Cemitério de Paquetá, fruto de seu trabalho e de seu carinho, sob o tamarineiro que ele mesmo plantou – que recebeu seu corpo, cercado pelos familiares e pela multidão de cidadãos saudosos, em seu derradeiro adeus.
Discursos
Abaixo, um trecho do escrito “A Maldição da Árvore – para os fazedores de desertos”. Nele Pedro Bruno deu voz a uma árvore, num vigoroso libelo contra a insensata devastação da natureza.
“Homem! Eu sou uma eterna ressureição, revivo nas sementes que espalho em torno de mim, fecundo a terra, alimento os pássaros, enquanto em redor de minha sombra se levantam selvas soberbas, tu homem, carne inútil, só, desolado, sem ter dado à terra senão a inutilidade de ti mesmo espalhas a morte para poder viver.
Enquanto minha carne é fogo e chama, é vida, a tua espanta, afugenta, repugna.
Homem! Eu vivo como tu, maior que tu, levanto-me mais alto desta minha sombra mais longe, mais fresca, minha fronde abrange mais espaço agasalhando muitos pássaros que se desfazem em cantos.
Enquanto me levanto para te cobrir do sol, tu homem egoísta, na pequenez de tua sombra abrigas-te ti mesmo.
Reflete homem! De alma rude, no exceder de tua fúria ignóbil, não destróis somente nossas vidas, tu mesquinhas tua raça, enfraqueces teu cérebro embruteces tua alma, manchas teu passado, avilta tua Pátria.
Cada vez que ultrajes e deturpes a natureza mãe, mais te tornas indigno de viver em século de luz.”
Sobre Carlos Gomes, durante inauguração do busto do compositor:
“Minhas Senhoras! Meus Senhores.
Fica-se assombrado falar de um nome que com seu talento encheu uma época de sua Pátria. Seus poemas cantados na voz dos cantores, nas cordas dos violeiros e nos turbilhões sonoros das orquestras são o acervo de glórias que o Brasil se orgulha e nós nos ufanamos.
Carlos Gomes é parte integrante das maiores glórias que nobilitam a terra dos Pindoramas.
Saiu de sua terra ignorado e só voltou ao pátrio lar irradiando o fulgor de seu gênio engalanado de louros.
Voltou trazendo uma braçada de messes glorificadoras, entrando nos umbrais da história, como um herói vencedor penetra pela imortalidade adentro. Carlos Gomes foi a expressão sonora de uma raça onde três elementos tentavam construir uma nacionalidade acentuadamente brasileira.”
Fonte: Artigos Pedro Bruno. Consultado pela última vez em 24 de julho de julho.
A Casa De Pedro Bruno? O Museu De Paquetá |
Na rua principal, “por ser aquela em cujo extremo existe a velha Ponte, sonhadora e triste”, como diz Halmalo na sua bonita poesia “As Árvores de Paquetá” (*), não passa desapercebido ao visitante que desembarca das lanchas e segue na direção da Praia da Guarda, um lindo e bem cuidado jardim, muito bem composto e em perfeita e discreta harmonia com a casa de número 198 da Rua Furquim Werneck ...
É a casa de Pedro Bruno, idealizada por êle mesmo e onde ainda são encontrados todos os detalhes artísticos cuidadosamente projetados e executados por êle mesmo, o que confere ao local um aspecto paisagístico e arquitetônico todo especial.
Ali, a velha arte clássica comunga harmoniosamente com uma luxuriante vegetação tropical ...Uma cópia da Venus de Milus, chamada por De Lemoine (**) de “A Venus Desconhecida”, surge num dos recantos do jardim com a sua pureza glacial levemente maculada pelos reflexos de um suave limo...
Noutro ponto destaca-se a magnificência de Fídias, um dos maiores escultores gregos, num dos seus mais belos baixo-relêvos dos frisos do Panthenon de Atenas ...
Em contraste, vê-se também num outro recanto, uma imponente máscara de um escravo, esculpida por Miguel Ângelo e, mais além, no meio de uma vegetação silenciosa e escura, Bethoven dorme tranquilo na sua trágica imobilidade, levando-nos a sonhar com as suas sinfonias...
Todas as obras de Pedro Bruno no embelezamento de Paquetá, como bem o disse Francisco Veríssimo, de modo muito especial, na sua tese de Mestrado Social na UNIRIO, em 1998, “foram marcadas pela saudade da paisagem original” e também não figiram à essa regra a sua casa e o seu jardim, onde a composição das árvores, das plantas, das esculturas, do prédio, do muro e até mesmo dos arcos da varanda, em estilo neo-colonial, harmonizam-se perfeitamente com o ambiente de Paquetá.
Fonte: Web Artigos, "A Casa De Pedro Bruno? O Museu De Paquetá". Publicado por Marcelo Cardoso, em 12 de dezembro de 2007. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Crédito fotográfico: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultado pela última vez em 23 de julho de 2025.
Pedro Paulo Bruno (14 de outubro de 1888, Rio de Janeiro, Brasil — 2 de fevereiro de 1949, Rio de Janeiro, Brasil), mais conhecido como Pedro Bruno, foi um pintor, músico e poeta brasileiro. Estudou com o pintor Giovanni Battista Castagneto e, mais tarde, frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, onde foi orientado por nomes como João Batista da Costa e José Mariano de Boschetto. Também estudou canto lírico na Itália, ampliando sua formação artística. Sua obra foi influenciada pelo academicismo brasileiro e por um espírito nacionalista lírico, com destaque para cenas do cotidiano, paisagens e retratos. Entre os artistas e influências em sua trajetória, destaca-se o contato com o ambiente cultural espírita e artístico da época, bem como sua convivência com intelectuais e artistas que frequentavam sua casa na Ilha de Paquetá. Sua pintura mais conhecida, “Pátria” (1919), venceu o Prêmio de Viagem ao Exterior e se tornou um símbolo visual da identidade nacional. Utilizava técnicas tradicionais com paleta de tons suaves, representando com precisão e poesia a vida brasileira. Ganhou importantes reconhecimentos como medalhas de bronze (1912) e ouro (1925) em salões oficiais. Suas obras podem ser vistas em instituições como o Museu da República, no Rio de Janeiro.
Pedro Bruno | Arremate Arte
Pedro Paulo Bruno, mais conhecido como Pedro Bruno foi um pintor, músico e poeta, nascido em 14 de outubro de 1888, na Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro. Vindo de uma família de imigrantes italianos profundamente envolvida com o espiritismo e a cultura artística, demonstrou, desde cedo, notável sensibilidade para as artes visuais: Aos sete anos já fazia desenhos e, aos nove, foi convidado a retratar um velório, sinalizando o início precoce de uma trajetória artística multifacetada. Autodidata nos primeiros anos, foi aluno do pintor italiano Giovanni Battista Castagneto e, mais tarde, aprimorou-se na Escola Nacional de Belas Artes, onde estudou com mestres como João Batista da Costa e José Mariano de Boschetto. Sua formação incluiu ainda estudos de canto lírico em Nápoles e Roma, consolidando uma carreira que uniu música, pintura e atuação pública.
Sua obra pictórica ganha destaque a partir de 1918, quando começa a participar das Exposições Gerais de Belas Artes, evento de grande importância institucional no Brasil do século XX. Em 1919, conquista o Prêmio de Viagem ao Exterior com o célebre quadro “Pátria”, uma representação icônica de mulheres confeccionando a bandeira nacional, que mais tarde seria usada em cédulas, cartões-postais e materiais de propaganda oficial do governo republicano. A partir dessa obra, Pedro Bruno passa a ser identificado como um artista que celebra, com sensibilidade e lirismo, a identidade brasileira e o cotidiano nacional, com destaque para as paisagens, cenas populares e representações idealizadas da vida rural e urbana.
Entre 1920 e 1922, vive em Roma, onde atua como bolsista e professor da Academia Brasileira de Belas Artes, participando ativamente dos círculos artísticos europeus. Após seu retorno ao Brasil, intensifica sua produção artística e contribui para a preservação cultural da Ilha de Paquetá, onde funda a Liga Artística de Paquetá e realiza diversas ações voltadas ao embelezamento paisagístico e à valorização da vida comunitária. Sua casa-ateliê tornou-se referência na região, sendo frequentada por artistas, intelectuais e autoridades.
Ao longo de sua carreira, Pedro Bruno recebeu medalha de bronze (1912), medalha de ouro (1925) e homenagens póstumas, como a Menção Honrosa em 1943. Participou de exposições importantes no Brasil e no exterior, sempre mantendo uma linguagem figurativa marcada por traços acadêmicos, paleta de tons terrosos e um sutil viés espiritualista. Seu trabalho é atravessado por valores como o patriotismo, a religiosidade e o respeito pela natureza.
Faleceu em 2 de fevereiro de 1949, em Paquetá, enquanto trabalhava em seu ateliê, deixando como legado, uma vasta produção artística e uma imagem pública de artista comprometido com sua comunidade.
Pedro Bruno | Itaú Cultural
Pedro Paulo Bruno (Ilha de Paquetá RJ 1888 - Rio de Janeiro RJ 1949). Pintor, escultor, desenhista, artista visual, concertista. Recebe as primeiras lições do pintor italiano Ettore Tito. Com a visita de Castagneto à Ilha de Paquetá, em 1897, torna-se seu discípulo. Viaja para a Itália, em 1905, estuda música em conservatórios de Roma e Nápoles, e obtém diploma de cantor lírico. Retorna ao Brasil em 1910 e tem aulas com o pintor italiano Schettino. Ingressa na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1918, é aluno de Baptista da Costa e Giuseppe Boschetto (1841 - 1918), e discípulo de Domenico Morelli (1823-1901). Bruno recebe o prêmio viagem ao exterior da 26ª Exposição Geral de Belas Artes, em 1919, com a tela Pátria, e no ano seguinte vai para a Itália para aperfeiçoar-se em pintura na Accademia Brittanica, em Roma. Entre 1921 e 1922 dirige a Classe Geral de Nu dessa academia. De volta ao Brasil, em 1922, funda, com Hermes Fontes (1888 - 1930), a Liga Artística de Paquetá, em 1923. No Salão Nacional conquista medalha de ouro, em 1925, e de honra, em 1943. Realiza exposições individuais no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre. É responsável por diversos projetos paisagísticos e ornamentais em sua cidade natal e defensor entusiasmado da natureza local.
Análise
Concertista na juventude, pintor consagrado no Salão Nacional, divulgador cultural e paisagista no fim da vida, a gama de atividades com as quais Pedro Bruno se envolve dá mostra de seu entusiasmo pelas mais diversas formas de expressão artística. Nessa trajetória multifacetada, destaca-se sua contribuição ao desenvolvimento de símbolos necessários à consolidação do projeto nacional republicano, implantado no fim do século XIX no Brasil. Nesse aspecto, a tela Pátria, 1919, hoje no Museu da República, no Rio de Janeiro, é seu trabalho mais significativo, que obtém imensa difusão ao ser reproduzido na antiga nota brasileira de 200 mil cruzeiros. A obra retrata, por meio da alegoria, o momento fundador da identidade nacional, representada pela primeira bandeira da república, feita, segundo a tradição, pela costureira Flora Simas Carvalho, por encomenda do marechal Deodoro da Fonseca.
Nesse novo "nascimento da nação", localizado em âmbito doméstico, não mais público, como faz Pedro Américo em Independência ou Morte, 1888, mostra-se a "república" recém-nascida, protegida pela bandeira da unidade federativa (representada pelas estrelas), no centro do quadro, numa longa diagonal que toma quase a totalidade da tela, sendo costurada pelas senhoras reunidas no aposento de uma casa simples, pintada com tons vivos, numa gama de vermelhos e amarelos intensificada pelas pinceladas de caráter pastoso, embora curtas. O símbolo é abraçado pela criança em primeiro plano, que representa a virtude patriótica a ser emulada. Ao fundo, encontra-se a figura do velho combatente, que, esquecido na penumbra, ainda porta as vestes militares e evoca os feitos em prol da unificação e da defesa nacional.
O quadro é testemunho de um esforço retórico e ideológico dos pintores da Primeira República, que, embora tenham pretendido afastar-se dos preceitos artísticos da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, se mantêm fiéis às regras de representação ensinadas nessa instituição, e pouco interessados na exploração de outras possibilidades pictóricas.
Críticas
"Sua pintura filiou-se ao realismo do início do século, originário do realismo francês liderado por Courb, deixou-se, no entanto, sugestionar pelo impressionismo, sobretudo nas cenas praieiras, pelas quais acentuou sua preferência" — Carlos Cavalcanti (CAVALCANTI, Carlos (org.); AYALA, Walmir, (org.). Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Brasília: MEC: INL, 1973. v. 1. pt. 2. (Dicionários especializados, 5)).
"Mais próximo da tradição derivada de seu mestre Batista da Costa quando pintava paisagens, Pedro Bruno revelou-se mais 'moderno' como pintor de formas femininas. Convencional, em temas como Maternidade (que tantas vezes pintou), discreto em suas paisagens, ganha em sensibilidade ao fixar corpos femininos, nus ou vestidos, ao representar pensadores em seus barcos à beira-mar. O nu, particularmente, sai-lhe espontâneo e nervoso, em largas pinceladas cheias de empaste". — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Exposições Individuais
1914 - Rio de Janeiro RJ - Individual
1920 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Jorge
1941 - Rio de Janeiro RJ - Individual
Exposições Coletivas
1909 - Rio de Janeiro RJ - 16ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1910 - Rio de Janeiro RJ - 17ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1911 - Rio de Janeiro RJ - 18ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1912 - Rio de Janeiro RJ - 19ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de bronze
1913 - Rio de Janeiro RJ - 20ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de prata
1914 - Rio de Janeiro RJ - 21ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1915 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1916 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1919 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Carioca de Gravura e Água-Forte
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - prêmio de viagem ao exterior
1920 - Rio de Janeiro RJ - 27ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - pequena medalha de ouro
1923 - Rio de Janeiro RJ - 30ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1925 - Rio de Janeiro RJ - 32ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - grande medalha de ouro
1926 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão de Outono
1926 - Rio de Janeiro RJ - 33ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1928 - Rio de Janeiro RJ - 35ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1928 - São Paulo SP - Grupo Almeida Júnior, no Palácio das Arcadas
1929 - Rio de Janeiro RJ - 36ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - Prêmio Cidade do Rio de Janeiro
1929 - Rosário (Argentina) - Exposição de Rosário de Santa Fé
1930 - Rio de Janeiro RJ - 37ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1932 - Rosário (Argentina) - Exposição de Rosário de Santa Fé - premiado
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1935 - Rio de Janeiro RJ - Salão da Feira de Amostras - prêmio de costumes
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1939 - São Paulo SP - 6º Salão Paulista de Belas Artes
1940 - São Paulo SP - 7º Salão Paulista de Belas Artes
1943 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes - prêmio de honra
1943 - São Paulo SP - 9º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1945 - São Paulo SP - 11º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1948 - São Paulo SP - 14º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
Exposições Póstumas
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1966 - Ilha de Paquetá RJ - Retrospectiva póstuma, em seu ateliê
1974 - São Paulo SP - Os Mestres de Ontem, Hoje e de Sempre, na A Ponte Galeria de Arte
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1982 - Rio de Janeiro RJ - 150 Anos de Pintura de Marinha na História da Arte Brasileira, no MNBA
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Museu Naval e Oceanográfico. Serviço de Documentação da Marinha
Fonte: PEDRO Bruno. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 23 de julho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Pedro Bruno | Wikipédia
Pedro Paulo Bruno (Paquetá, 14 de outubro de 1888 – Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1949) foi um pintor, cantor, poeta e paisagista brasileiro. Sua obra mais conhecida é o quadro Pátria, de 1918, que retrata a bandeira do Brasil sendo bordada no seio de uma família.
Infância
Pedro Paulo Bruno nasceu em 14 de outubro de 1888 na casa de sua família na Ilha de Paquetá. Seu pai, o comerciante italiano Felice Antonio Bruno havia emigrado para o Brasil com a jovem esposa, Magdalena Marmo Bruno, em 1878, juntamente com os três filhos do casal (Rosa, Antero e Miguel).[2] Provenientes de Casalbuono, na província italiana de Salerno, eles fixaram residência na Ilha de Paquetá, na casa de nº 105, na Praia da Guarda.
Aos sete anos de idade, Bruno ensaiava seus primeiros traços, e aos nove já era reconhecido em Paquetá como um desenhista promissor. Nesta época, por ocasião da morte de uma criança cujos pais desejavam ter uma imagem como recordação, o pequeno artista foi chamado às pressas e, ali mesmo no velório, ainda que um pouco assustado, executou o retrato. Segundo o próprio Pedro Bruno lembraria mais tarde, o desejo de pintar teria surgido nele no dia em que, expulso da sala de aula pela professora, sentou num muro para contemplar o mar azul de Paquetá. Em 1897, quando o pintor Giovanni Battista Castagneto, também de origem italiana, esteve em Paquetá, Pedro Bruno imediatamente estabeleceu amizade com o artista, oferecendo-se para transportar seu cavalete, sua paleta e seus pincéis para os diversos lugares da ilha que o artista retratava. O menino ficava horas a observar com atenção o trabalho do mestre, tornando-se um discípulo dedicado.
Pedro Bruno era dotado. Possuía admirável voz de barítono. Em 1905, aos quatorze anos, embarcou para a Itália com o objetivo de estudar no Conservatório de Nápoles e de Roma, de onde retornou diplomado em canto lírico. Trabalhou no Conservatório de Música do Rio de Janeiro, e, sob a direção do maestro De Lucio, percorreu Belo Horizonte, São Paulo e Santos em turnê artística, mas morou no Rio. Pedro Bruno, porém, logo se aborreceu com o canto e, retorna ao Brasil, começando a se dedicar mais à pintura, retratando as paisagens de Paquetá e tendo lições com o pintor italiano Schettino.
Carreira
Em 1910, ao retornar a Paquetá, envolto e seduzido pelas belezas da ilha, Pedro Bruno percebeu que era a pintura a atividade que o empolgava. Indiferente às dificuldades que sua corajosa decisão poderia acarretar, iniciou, de maneira autodidata, uma nova carreira. Sozinho pelas praias, com seu material de pintura, seguiu retratando incansavelmente os recantos da ilha. Em 1912, recebeu a Medalha de Bronze, do Salão de Belas Artes, pela paisagem marinha intitulada Manhã Azul. Suas telas impunham-se pelo empenho técnico, com o que Bruno obteve o respeito da crítica especializada. Foram exemplo desta receptividade os elogios que recebeu por seu quadro Sentinela da Pátria, exposto no salão de espera do cinema Orion, em Campos. Naquele ano de 1917, a obra provocou admiração em todos que por ali passavam.
Com o intuito de aprimorar sua técnica, Bruno ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1918. Seus professores foram os grandes mestres João Baptista da Costa e José Boschetto. Em agosto do ano seguinte, o Conselho Superior de Belas Artes conferiu-lhe o Prêmio de Viagem da 26ª Exposição Geral. O quadro vencedor intitulava-se Pátria, uma concepção cívica que simbolizava a construção da pátria brasileira ao retratar um grupo de mulheres simples que, de maneira dedicada, costuravam a bandeira nacional. Sobre a premiação, Coelho Netto escreveu o seguinte no jornal A Noite: "O júri naturalmente votou o prêmio ao pintor pela execução da obra, eu votaria pelo poeta que soube vestir uma ideia augusta com o pano sagrado em que se envolve a Pátria!".
Em 1920, antes de seguir para a Itália, Bruno teve suas obras expostas em São Paulo, no salão anexo ao cinema Central, na Avenida São João, com grande sucesso de público e de crítica. Ainda neste ano, a Galeria Jorge, no Rio de Janeiro, organizou uma exposição com 70 quadros do pintor. Os cariocas, igualmente, festejaram a mostra. Ao chegar em Roma, Bruno inscreveu-se para a prova de admissão ao curso de pintura da Academia Inglesa, famosa instituição de ensino artístico. Classificou-se em 3º lugar em meio a 65 candidatos italianos e estrangeiros. Decorridos apenas seis meses de sua matrícula, já era convidado pelos dirigentes da instituição para reger aulas de modelo vivo. Na Itália, o artista estudou, lecionou, recebeu elogios da imprensa e deixou vários quadros, dois no Museu de Salerno e os demais em galerias particulares.
De volta ao Brasil em 1922, foi recebido com grandes homenagens pela população e pelas autoridades de Paquetá. Mesmo levando em consideração o aperfeiçoamento obtido em sua arte e o êxito alcançado na Europa, Bruno dizia-se mais nacionalista do que nunca. O pintor instalou seu ateliê ao fundo do conjunto principal da casa onde residia, em Paquetá, e assumiu o papel de zelador das belezas da ilha, embora viesse a possuir no Centro do Rio, na rua do Teatro, outro pequeno ateliê. O Precursor, uma apoteose a Tiradentes, obra executada ainda na Itália, encontra-se hoje no Museu Histórico Nacional. No mesmo ano de seu regresso, conquistou a Medalha de Ouro do Salão de Belas Artes, com o quadro Mãe.
O trabalho de Bruno, exposto em São Paulo em 1924, foi acolhido com admiração pelos meios artístico e intelectual paulistanos, tendo se destacado os quadros Guanabarinas e Anunciação, que atraíram especial atenção dos visitantes. O pintor foi grande colaborador do Salão Paulista de Belas Artes até o ano anterior ao de sua morte. Em retribuição, dentre outras homenagens, a Prefeitura da Cidade de São Paulo batizou com seu nome uma rua do bairro de Butantã.
O último grande trabalho de Bruno foi a tela Gonçalves Dias, pintada no ano anterior ao de sua morte. Em 1948, Pedro recebeu a maior homenagem em vida: um busto seu foi erguido na praça que leva seu nome. A obra, idealizada por Paulo Mazucheli, tem como legenda: "O poeta da cor, das árvores e dos pássaros".
Outras atividades
Bruno ocupou o cargo de Oficial Administrativo da Prefeitura de Paquetá, comissionado como zelador do cemitério local. Nesta função, além de ter executado a reforma total da capela, toda em pedra, doou à instituição duas de suas obras – Cristo ao Luar e São Francisco falando aos pássaros – e implementou trabalhos de jardinagem que transformaram o campo-santo num parque florido, um local atrativo para visitação.
Mas seu amor a Paquetá levaram-no a atuar, efetivamente, como zelador de toda a ilha. Com o intuito de preservar o patrimônio paisagístico e realçar os encantos naturais de Paquetá, Pedro criou a Liga Artística, juntamente com um grupo de apaixonados pela ilha. Visando chamar atenção para a importância da preservação ambiental, eram realizadas festas comemorativas às árvores e aos pássaros. Inaugurou em diversas praias e praças, bustos, hermas, placas e marcos em homenagem a personalidades de destaque, lembrando-se sempre dos índios, os primeiros habitantes. Era visto com freqüência a caminhar pela ilha, com seu chapéu, conversando com os moradores, numa atitude de simplicidade e modéstia que contrastava com o que se esperaria de um nome consagrado da arte brasileira.
Morte
Pedro Bruno morreu devido às complicações de um edema pulmonar agudo em 2 de fevereiro de 1949, dois anos após a morte de sua esposa, enquanto trabalhava em seu ateliê, no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: Magda, Hélio, Lia e Fábio. Foi sepultado no cemitério da ilha que amou e imortalizou em suas telas, na presença da população consternada.
Homenagens
Em 1966, os filhos de Bruno organizaram, na residência do artista, uma exposição póstuma que apresentava cerca de 100 trabalhos, alguns inéditos, outros inacabados, como Amor Eterno. Outra expressiva homenagem póstuma foi a exposição inaugurada em 1º de novembro de 1949, no Salão Assírius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de 180 telas do artista. A mostra foi organizada por seus filhos e patrocinada pelo prefeito Ângelo Mendes de Morais, sob os auspícios da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Na ocasião, o vereador Álvaro Dias propôs apresentar à Câmara Municipal do Rio de Janeiro um projeto transformando em museu a casa de Bruno em Paquetá. Em 1950, através do Projeto de Lei nº 61, a câmara aprovou a criação do Museu Pedro Bruno. A falta de recursos, entretanto, impediu a concretização da proposta.
Um detalhe do quadro Pátria de Bruno foi incluído na nota de 200 cruzados novos, que homenageava o centenário da Proclamação da República.[3] A vigência do cruzado novo durou de 16 de janeiro de 1989 a 15 de março de 1990, tendo as cédulas saído de circulação em 15 de setembro de 1994.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de julho de 2025.
Pedro Bruno pintou Paquetá de todas as maneiras | Rolé Carioca
Meu avô foi um idealizador. Junto com um grupo de pessoas apaixonadas pela ilha, formaram a “Liga Artística” que teve como missão fazer de Paquetá um lugar charmoso, aprazível de se visitar. Naquela época, não havia lugares para sentar e apreciar a beleza ao redor. O conjunto de melhoramentos feitos para a ilha, como os bancos, os degraus que dão acesso ao cais, os bebedouros, as colunas que servem de suporte para bougainvilles e o caramanchão da Praia dos Tamoios, foi tombado pelo município em 1999.
É de sua autoria o projeto arquitetônico e paisagístico do Cemitério de Santo Antônio e do anexo conhecido como ‘Cemitério dos Pássaros’. Esse conjunto é especial para a memória de nossa família, onde Pedro Bruno, nascido na ilha em 1888, está enterrado. A capela, toda em pedra, é uma graça! Lá é possível ver duas reproduções de obras do pintor - "Cristo ao luar", em cima do altar da capela, e "São Francisco falando com os pássaros”. Os originais se perderam acidentalmente, com o uso de velas na capela.
Uma faceta menos conhecida de Pedro Bruno foi sua preocupação com a preservação da natureza. Era um ambientalista, coisa rara nas décadas de 1930/1940. Promovia na ilha a chamada ‘festa dos pássaros’. Todo mês de setembro, comprava aves que viviam em cativeiro, as soltava em Paquetá, e depois queimava as gaiolas. Havia também uma ‘festa das árvores’, para incentivar a conservação das espécies, bem antes do tombamento das árvores da ilha.
Pedro pintou Paquetá de todas as maneiras. A memória dos índios, as pedras da marinha e seus flamboyants – árvore que está no brasão do bairro. Destaco ainda a maternidade e o aleitamento como questões sagradas para meu avô em suas obras. Como prêmio de “Viagem a Europa” recebido com a tela “Pátria”, foi estudar na Academia Inglesa de Roma e, pouco tempo depois, foi convidado a lecionar na instituição. Desse período, trouxe peças que hoje enfeitam os jardins da casa em que residiu em Paquetá – entre elas, uma reprodução da “Vênus de Milo” que chama atenção de quem passa pela rua, mas não é obra dele e foi colocada no jardim após a morte do pintor, pois a original foi danificada.
Paquetá vive um momento cultural bacana. Há iniciativas como o “Plantar Paquetá”, que está repondo parte dos flamboyants caídos do bairro, e o cineclube do Quintal da Regina, sempre com uma programação interessante. Na Casa de Artes Paquetá, estreamos o projeto “Pedro Bruno visita a Casa de Artes”, para colocar em exposição uma tela do acervo da nossa família. A primeira é um ensaio feito para o quadro “Pátria”, que completa 100 anos em 2019. O original está exposto no salão ministerial do Museu da República, onde Getúlio despachava, e passou por um restauro recente.
Algumas peças e ambientes da Casa Pedro Bruno estão como eram antigamente: sua mesa de trabalho, as cadeiras, os móveis da sala de jantar, sua bengala, entre outros objetos. Também mantenho um catálogo dos quadros e as publicações da imprensa com referências a Pedro Bruno.
Fonte: Rolé Carioca, "Pedro Bruno pintou Paquetá de todas as maneiras", depoimento de Malu Vergani, publicado em 22 de maio de 2019. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Pedro Bruno | Site Oficial Pedro Bruno
No ano de 1878 o negociante Felice Antonio Bruno e sua jovem esposa, Magdalena Marmo Bruno, desembarcaram no Rio de Janeiro, juntamente com os filhos Rosa, Antero e Miguel. Provenientes de Casalbuono, província italiana de Salerno, fixaram residência na Ilha de Paquetá, na Praia da Guarda, nº 105. Naquela ampla casa, cercada por uma varanda e com frente ajardinada, nasceu Pedro Paulo Bruno, em 14 de outubro de 1888. Pedro Bruno, como veio a ser internacionalmente conhecido, cresceu em meio à plenitude de encantos da ilha, tornando-se um artista imaginoso, dotado de alta sensibilidade e, ao mesmo tempo, um patriota, homem de devotado espírito público, benfeitor de sua terra natal. Era-lhe fácil e natural sentir a arte em suas variadas expressões, exprimindo-a não apenas no canto, na escultura, no paisagismo e na poesia, mas também – e principalmente – na pintura. Esta sensibilidade também permeava suas iniciativas, quer como funcionário público, quer como cidadão.
Aos sete anos de idade Pedro Bruno ensaiava seus primeiros traços, e aos nove já era reconhecido em Paquetá como um desenhista promissor. Nesta época, por ocasião da morte de uma criança cujos pais desejavam ter uma imagem como recordação, o pequeno artista foi chamado às pressas e, ali mesmo no velório, ainda que um pouco assustado, executou o retrato. Em 1897, quando o pintor Giovanni Battista Castagneto esteve em Paquetá, Pedro Bruno imediatamente estabeleceu amizade com o artista, oferecendo-se para transportar seu cavalete, sua paleta e seus pincéis para os diversos lugares da ilha que o artista retratava. O menino ficava horas a observar com atenção o trabalho do mestre, tornando-se um discípulo dedicado ao aprendizado da pintura. Pedro Bruno foi dotado com outro grande talento, o de cantor. Possuía admirável voz de barítono. Em 1905, aos quatorze anos, embarcou para a Itália com o objetivo de estudar nos Conservatórios de Nápoles e de Roma, de onde retornou diplomado em canto lírico. Trabalhou no Conservatório de Música, no Rio de Janeiro, e, sob a direção do maestro De Lucio, percorreu Belo Horizonte, São Paulo e Santos em tournée artística.
Em 1910, de regresso a Paquetá – novamente envolto e seduzido pelas belezas naturais da ilha – Pedro Bruno percebeu que era a pintura a atividade que o empolgava. Indiferente às dificuldades que sua corajosa decisão poderia acarretar, iniciou, de maneira autodidata, uma nova carreira. Sozinho pelas praias, com seu material de pintura, seguiu retratando incansavelmente os lindos recantos da Ilha. Em 1912 recebeu a Medalha de Bronze, do Salão de Belas Artes, pela paisagem marinha intitulada “Manhã Azul”. Suas telas impunham-se pelo empenho técnico, com o que Pedro obteve o respeito da crítica especializada. Mas foi o elemento sensorial – a amálgama de sinceridade e capacidade de traduzir estados de alma – que aproximou Pedro Bruno do grande público. Foram exemplo desta receptividade os elogios que recebeu por seu quadro “Sentinela da Pátria”, exposto no salão de espera do cinema Orion, em Campos. Naquele ano de 1917, a obra provocou admiração em todos que por ali passavam, por traduzir a alma brasileira e por falar diretamente ao coração do povo.
Com o intuito de aprimorar sua técnica, Pedro Bruno ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1918. Seus professores foram os grandes mestres João Baptista da Costa e Jose Boschetto. Em agosto do ano seguinte, o Conselho Superior de Belas Artes conferiu-lhe o “Prêmio de Viagem” da 26ª Exposição Geral. A consagração foi considerada como absolutamente justa por seus próprios colegas e professores, pois nesta época o artista já havia alcançado todas as premiações que, por força do regulamento, deveriam precedê-la. O quadro vencedor intitulava-se “Pátria”, uma concepção cívica que simbolizava a construção da pátria brasileira ao retratar um grupo de mulheres simples que, de maneira dedicada, costuravam a Bandeira Nacional. Sobre esta premiação, Coelho Netto escreveu em artigo para o jornal “A Noite”, em novembro de 1919: “O júri naturalmente votou o prêmio ao pintor pela execução da obra, eu votaria pelo poeta que soube vestir uma idéia augusta com o pano sagrado em que se envolve a Pátria!”. Em 1920, antes de seguir para a Itália, Pedro Bruno teve suas obras expostas em São Paulo, no salão anexo ao cinema Central, na Avenida São João, com grande sucesso de público e de crítica. Ainda neste ano, a Galeria Jorge, no Rio de Janeiro, organizou uma exposição com 70 quadros do pintor. Os cariocas, igualmente, festejaram a mostra.
Ao chegar a Roma, Pedro Bruno inscreveu-se para a prova de admissão ao curso de pintura da Academia Inglesa, famosa instituição de ensino artístico. Classificou-se em 3º lugar em meio a 65 candidatos italianos e estrangeiros. Decorridos apenas seis meses de sua matrícula, já era convidado pelos dirigentes da instituição para reger aulas de modelo vivo. Na Itália, o artista estudou, lecionou, recebeu elogios da imprensa e deixou vários quadros – dois no Museu de Salerno e os demais em galerias particulares.
De volta ao Brasil em 1922, foi recepcionado com grandes homenagens pela população e pelas autoridades de Paquetá. Mesmo levando em consideração o aperfeiçoamento obtido em sua arte e o êxito alcançado na Europa, Pedro Bruno dizia-se mais nacionalista do que nunca. O pintor instalou seu ateliê ao fundo do conjunto principal da casa onde residia, em Paquetá, e assumiu o papel de zelador das belezas da ilha, embora viesse a possuir no Centro do Rio, à rua do Teatro, outro pequeno ateliê.
“O Precursor”, uma apoteose a Tiradentes, obra executada ainda na Itália, encontra-se hoje no Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro. No mesmo ano de seu regresso conquistou a Medalha de Ouro do Salão de Belas Artes, com o quadro “Mãe”.
O trabalho de Pedro Bruno, exposto em São Paulo em 1924, foi acolhido com admiração pelos meios artístico e intelectual paulistanos, tendo se destacado os quadros “Guanabarinas” e “Anunciação”, que atraíram especial atenção dos visitantes.
O pintor foi grande colaborador do Salão Paulista de Belas Artes até o ano anterior ao de sua morte. Em retribuição, dentre outras homenagens, a Prefeitura da Cidade de São Paulo batizou com seu nome uma rua do bairro de Butantã.
Ao longo de sua carreira artística, Pedro Bruno expôs seus quadros em várias cidades do Brasil, tais como Recife, Curitiba, Santos, Vitória, Campos, Teresópolis, Pelotas e Porto Alegre, e também em Rosário de Santa Fé, na Argentina. Angariou admiradores leigos e especializados por onde passou, e ainda diversos prêmios e medalhas. Em 1943 recebeu a Grande Medalha de Honra, considerada a maior premiação para um artista no Brasil, com seu quadro “Sonata ao Luar”, que encontra-se no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Há obras de Pedro Bruno nos seguintes locais: Museu da República (RJ), Museu Nacional de Belas Artes (RJ), Museu Histórico Nacional (RJ), municipalidades de São Paulo e de Curitiba, Pinacoteca da Sociedade Brasileira de Belas Artes e no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. O quadro “Contemplativa” encontra-se no Museu de Estocolmo.
Pedro Bruno ocupou o cargo de Oficial Administrativo da Prefeitura de Paquetá, comissionado como zelador do cemitério local. Nesta função, além de ter executado a reforma total da capela, toda em pedra, Pedro doou à instituição duas de suas obras – “Cristo ao Luar” e “São Francisco falando aos pássaros” – e implementou trabalhos de jardinagem que transformaram o campo-santo num parque florido, um local atrativo para visitação. Mas seu amor a Paquetá, seu senso estético e seu idealismo levaram-no a atuar, efetivamente, como zelador de toda a ilha. Com o intuito de preservar o patrimônio paisagístico e realçar os encantos naturais de Paquetá, Pedro criou a Liga Artística, juntamente com um grupo de apaixonados pela ilha que incluia Augusto Silva, Angelo Di Franco, Alambary Luz, Alfredo Brasil, Gen. Alípio Costallat, Dr. Antonio Ferreira, Áurea Modesto Leal, Gen. Agra de Lacerda, Diogo Leivas, Comte. José Henrique Bahia, Dr. José Thedin Barreto, Luiz Marques Poliano, Dr. Lívio Porto, Gen. Mena Barreto, o escritor Vivaldo Coaracy, o cronista e poeta Waldomiro Ferreira, dentre outros sócios. Visando chamar atenção para a importância da preservação da natureza, eram realizadas festas comemorativas das árvores e dos pássaros. Inaugurou em diversas praias e praças, bustos, hermas, placas e marcos em homenagem a personalidades de destaque, lembrando-se sempre dos índios, seus primeiros habitantes. Era visto com freqüência a caminhar pela ilha, com seu chapéu, conversando com os moradores, numa atitude de simplicidade e modéstia que contrastava com o que se esperaria de um nome consagrado da arte brasileira – “as seduções da glória humana não o fascinavam”
Um edema pulmonar agudo levou-o embora dois anos após a perda de sua esposa, no dia 2 de fevereiro de 1949, enquanto trabalhava em seu ateliê, no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: Magda, Hélio, Lia e Fábio. Foi sepultado no cemitério da ilha que amou e imortalizou em suas telas, na presença da população consternada
Em 1966 os filhos de Pedro Bruno organizaram, na residência do artista, uma exposição póstuma que apresentava cerca de 100 trabalhos, alguns inéditos, outros inacabados, como “Amor Eterno”. O evento objetivava proporcionar à população da ilha e a seus visitantes a proximidade com os inúmeros trabalhos do consagrado pintor. Outra expressiva homenagem póstuma foi a exposição inaugurada em 1º de novembro de 1949, no Salão Assírius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de 180 telas do artista. A mostra foi organizada por seus filhos e patrocinada pelo prefeito Mendes de Morais, sob os auspícios da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Na ocasião, o vereador Álvaro Dias propôs apresentar à Câmara Municipal do Rio de Janeiro um projeto para transformar em Museu a casa de Pedro Bruno, em Paquetá. No local havia telas, além de croquis, estudos, objetos de arte e material de trabalho. Em 1950, através do Projeto de Lei nº 61, a Câmara do Distrito Federal aprovou a criação do Museu Pedro Bruno. A falta de verba, no entanto, impediu a concretização da proposta.
O último grande trabalho de Pedro Bruno foi a tela “Gonçalves Dias”, pintada no ano anterior ao de sua morte. Pedro recebeu, em 1948, a derradeira homenagem em vida: um busto do artista e benfeitor foi erguido na praça que leva seu nome. A obra, cinzelada por Paulo Mazucheli, tem como legenda.
Fonte: Pintor Pedro Bruno. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Paisagista
Pedro Bruno fundou a Liga Artística de Paquetá em 1923. Durante um quarto de século, sob a sua presidência, a entidade trabalhou em prol da preservação e do embelezamento do patrimônio paisagístico de Paquetá.
Eram organizadas festas anuais em homenagem às árvores e aos pássaros, como forma de conscientizar e mobilizar o povo paquetaense, no sentido de preservar as belezas naturais da Ilha. O artista conhecia a vida de cada árvore de Paquetá, especialmente a dos flamboyants, da semente à floração. Impedia a derrubada de árvores, muitas delas plantadas por suas próprias mãos, e cuidava de suas enfermidades.
Urbanista por experiência, Pedro Bruno ajardinou não apenas o Cemitério do qual foi zelador, como também diversos logradouros da Ilha. Costumava adquirir passarinhos cativos, apenas para devolvê-los em seguida a liberdade.
Por iniciativa do artista, foram levantados – em diversas ruas, praças e praias de Paquetá – pequenos monumentos, bustos e placas em pedra ou bronze com data e legenda esculpidas. Eram erguidos para homenagear vultos de grande relevância para as Artes, para as Letras ou, em particular, para moradores destacados da Ilha. Dessa forma, foram perpetuados entre outros: Hermes Fontes, Carlos Gomes, Joaquim Manoel de Macedo, Padre Juvenal, Maestro Anacleto e Dr. Aristão. A inauguração de uma admirável máscara de Beethoven, esculpida em bronze, teve o formato característico das celebrações organizadas por Pedro Bruno.
Durante meia hora deste evento, as rádios locais, em colaboração com a Liga Artística, transmitiram obras do compositor – escutadas à luz do luar pela população presente.
A chegada do progresso trouxe a luz elétrica, o que motivou Pedro Bruno a lutar com heroísmo para evitar que esta forma de iluminação fosse adotada nas ruas de Paquetá. Não porque fizesse oposição aos confortos propiciados pelos avanços tecnológicos, mas porque tinha plena consciência da importância de se conservar ao máximo a feição primitiva da Ilha, como um legado para as gerações futuras. Acabou sendo vencido, mas em troca conseguiu que em noites de luar as luzes das ruas fossem desligadas. O seu olhar de artista percebia que inovações artificiais, se utilizadas indiscriminadamente, poderiam vir a acarretar danos ecológicos e estéticos ao ambiente natural. Com seu trabalho de idealista, já naquele início do século XX, procurou difundir consciência – válida até os dias atuais – de admiração e proteção à natureza.
Inauguração busto de Carlos Gomes – Praia dos Tamoios
“Plantar árvores e proteger os ninhos é um tributo do Homem à terra mater” — Pedro Bruno.
Cemitério dos Pássaros
“Longe da feição macabra, devemos ver apenas, no cemitério, uma alta expressão do passado, suavemente lembrada pela saudade” — Pedro Bruno.
Pedro Bruno aliava, a seus dons artísticos e a seu zelo pela natureza, um devotado espírito público. Assim, ao tornar-se Oficial Administrativo comissionado pela Prefeitura, no cargo de zelador do cemitério da Ilha (Cemitério de Santo Antônio), implementou reformas que – com o toque magistral da sua arte de Mestre – transformaram o campo-santo num verdadeiro jardim, um local aprazível e convidativo à visitação.
O terreno onde passou a localizar-se a necrópole, situado numa suave encosta, havia pertencido anteriormente à Sra. D. Maria da Conceição, que doou-o à Mitra. A Irmandade que o ocupou não conseguiu, por falta de recursos, mantê-lo limpo e conservado. Com aspecto de terreno baldio, invadido pelo matagal, o campo sagrado perdeu sua integridade. Por decreto municipal de 23 de maio de 1860, o local foi desapropriado e transformado em área de utilidade pública. Esta medida repercutiu de forma positiva no seio da população paquetaense, que confiou a Pedro Bruno a tarefa de recuperação do patrimônio.
Mais do que recuperá-lo, Pedro Bruno efetuou no terreno uma radical transformação, fazendo surgir ali um autêntico cemitério, um local digno, ornamentado com os requintes de um esteta. As alamedas foram ajardinadas com vegetação adequada. Foram plantados roseirais, ciprestes, chorões e esplêndidos tamarineiros – cobertos por barbas-de-velho franjadas – por entre os alvos túmulos. A reforma da Capela contou com a colaboração da Liga Artística, entidade fundada por Pedro Bruno em 1923 com a finalidade de proteger e conservar os patrimônios naturais e culturais da Ilha.
Acima de um conjunto de pedras de cerca de dois metros de altura, foram levantadas três arcadas em estilo gótico. A seleção das pedras, em tons de cinza, foi feita pelo próprio artista, uma a uma, de acordo com as variações de tamanho e de tonalidade. As paredes ostentam ornatos em forma de pombas e de lírios, que destacam-se visualmente por sua brancura. O velório localiza-se ao centro das arcadas, onde também estão dispostos nove bancos de cantaria para as funções fúnebres. Ao fundo, ainda na parte central, encontrava-se o quadro “Cristo ao Luar”, de autoria de Pedro Bruno. Na varanda lateral há um singelo altar, dedicado a São Francisco de Assis, o santo que amava a natureza e, em especial, os pássaros. Encimando este altar estava outra tela do pintor, “São Francisco falando aos Pássaros”. Foi criado também um jardim, ao lado da capela, com um lago destinado a matar a sede dos passarinhos que, assim como as árvores, eram seres muito caros ao artista.
Uma expressiva inovação, que demonstra a sensibilidade da alma deste artista-empreendedor, foi a criação da “Ara da Saudade”. Em pedra tosca e escavada eram mantidas, permanentemente acesas, brasas nas quais parentes e amigos podiam depositar uma colherinha de incenso em memória de seus entes queridos, no Dia de Finados.
A terra exercia sobre Pedro Bruno uma influência profundamente mística. E foi esta terra – o solo do Cemitério de Paquetá, fruto de seu trabalho e de seu carinho, sob o tamarineiro que ele mesmo plantou – que recebeu seu corpo, cercado pelos familiares e pela multidão de cidadãos saudosos, em seu derradeiro adeus.
Discursos
Abaixo, um trecho do escrito “A Maldição da Árvore – para os fazedores de desertos”. Nele Pedro Bruno deu voz a uma árvore, num vigoroso libelo contra a insensata devastação da natureza.
“Homem! Eu sou uma eterna ressureição, revivo nas sementes que espalho em torno de mim, fecundo a terra, alimento os pássaros, enquanto em redor de minha sombra se levantam selvas soberbas, tu homem, carne inútil, só, desolado, sem ter dado à terra senão a inutilidade de ti mesmo espalhas a morte para poder viver.
Enquanto minha carne é fogo e chama, é vida, a tua espanta, afugenta, repugna.
Homem! Eu vivo como tu, maior que tu, levanto-me mais alto desta minha sombra mais longe, mais fresca, minha fronde abrange mais espaço agasalhando muitos pássaros que se desfazem em cantos.
Enquanto me levanto para te cobrir do sol, tu homem egoísta, na pequenez de tua sombra abrigas-te ti mesmo.
Reflete homem! De alma rude, no exceder de tua fúria ignóbil, não destróis somente nossas vidas, tu mesquinhas tua raça, enfraqueces teu cérebro embruteces tua alma, manchas teu passado, avilta tua Pátria.
Cada vez que ultrajes e deturpes a natureza mãe, mais te tornas indigno de viver em século de luz.”
Sobre Carlos Gomes, durante inauguração do busto do compositor:
“Minhas Senhoras! Meus Senhores.
Fica-se assombrado falar de um nome que com seu talento encheu uma época de sua Pátria. Seus poemas cantados na voz dos cantores, nas cordas dos violeiros e nos turbilhões sonoros das orquestras são o acervo de glórias que o Brasil se orgulha e nós nos ufanamos.
Carlos Gomes é parte integrante das maiores glórias que nobilitam a terra dos Pindoramas.
Saiu de sua terra ignorado e só voltou ao pátrio lar irradiando o fulgor de seu gênio engalanado de louros.
Voltou trazendo uma braçada de messes glorificadoras, entrando nos umbrais da história, como um herói vencedor penetra pela imortalidade adentro. Carlos Gomes foi a expressão sonora de uma raça onde três elementos tentavam construir uma nacionalidade acentuadamente brasileira.”
Fonte: Artigos Pedro Bruno. Consultado pela última vez em 24 de julho de julho.
A Casa De Pedro Bruno? O Museu De Paquetá |
Na rua principal, “por ser aquela em cujo extremo existe a velha Ponte, sonhadora e triste”, como diz Halmalo na sua bonita poesia “As Árvores de Paquetá” (*), não passa desapercebido ao visitante que desembarca das lanchas e segue na direção da Praia da Guarda, um lindo e bem cuidado jardim, muito bem composto e em perfeita e discreta harmonia com a casa de número 198 da Rua Furquim Werneck ...
É a casa de Pedro Bruno, idealizada por êle mesmo e onde ainda são encontrados todos os detalhes artísticos cuidadosamente projetados e executados por êle mesmo, o que confere ao local um aspecto paisagístico e arquitetônico todo especial.
Ali, a velha arte clássica comunga harmoniosamente com uma luxuriante vegetação tropical ...Uma cópia da Venus de Milus, chamada por De Lemoine (**) de “A Venus Desconhecida”, surge num dos recantos do jardim com a sua pureza glacial levemente maculada pelos reflexos de um suave limo...
Noutro ponto destaca-se a magnificência de Fídias, um dos maiores escultores gregos, num dos seus mais belos baixo-relêvos dos frisos do Panthenon de Atenas ...
Em contraste, vê-se também num outro recanto, uma imponente máscara de um escravo, esculpida por Miguel Ângelo e, mais além, no meio de uma vegetação silenciosa e escura, Bethoven dorme tranquilo na sua trágica imobilidade, levando-nos a sonhar com as suas sinfonias...
Todas as obras de Pedro Bruno no embelezamento de Paquetá, como bem o disse Francisco Veríssimo, de modo muito especial, na sua tese de Mestrado Social na UNIRIO, em 1998, “foram marcadas pela saudade da paisagem original” e também não figiram à essa regra a sua casa e o seu jardim, onde a composição das árvores, das plantas, das esculturas, do prédio, do muro e até mesmo dos arcos da varanda, em estilo neo-colonial, harmonizam-se perfeitamente com o ambiente de Paquetá.
Fonte: Web Artigos, "A Casa De Pedro Bruno? O Museu De Paquetá". Publicado por Marcelo Cardoso, em 12 de dezembro de 2007. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Crédito fotográfico: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultado pela última vez em 23 de julho de 2025.
Pedro Paulo Bruno (14 de outubro de 1888, Rio de Janeiro, Brasil — 2 de fevereiro de 1949, Rio de Janeiro, Brasil), mais conhecido como Pedro Bruno, foi um pintor, músico e poeta brasileiro. Estudou com o pintor Giovanni Battista Castagneto e, mais tarde, frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, onde foi orientado por nomes como João Batista da Costa e José Mariano de Boschetto. Também estudou canto lírico na Itália, ampliando sua formação artística. Sua obra foi influenciada pelo academicismo brasileiro e por um espírito nacionalista lírico, com destaque para cenas do cotidiano, paisagens e retratos. Entre os artistas e influências em sua trajetória, destaca-se o contato com o ambiente cultural espírita e artístico da época, bem como sua convivência com intelectuais e artistas que frequentavam sua casa na Ilha de Paquetá. Sua pintura mais conhecida, “Pátria” (1919), venceu o Prêmio de Viagem ao Exterior e se tornou um símbolo visual da identidade nacional. Utilizava técnicas tradicionais com paleta de tons suaves, representando com precisão e poesia a vida brasileira. Ganhou importantes reconhecimentos como medalhas de bronze (1912) e ouro (1925) em salões oficiais. Suas obras podem ser vistas em instituições como o Museu da República, no Rio de Janeiro.
Pedro Bruno | Arremate Arte
Pedro Paulo Bruno, mais conhecido como Pedro Bruno foi um pintor, músico e poeta, nascido em 14 de outubro de 1888, na Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro. Vindo de uma família de imigrantes italianos profundamente envolvida com o espiritismo e a cultura artística, demonstrou, desde cedo, notável sensibilidade para as artes visuais: Aos sete anos já fazia desenhos e, aos nove, foi convidado a retratar um velório, sinalizando o início precoce de uma trajetória artística multifacetada. Autodidata nos primeiros anos, foi aluno do pintor italiano Giovanni Battista Castagneto e, mais tarde, aprimorou-se na Escola Nacional de Belas Artes, onde estudou com mestres como João Batista da Costa e José Mariano de Boschetto. Sua formação incluiu ainda estudos de canto lírico em Nápoles e Roma, consolidando uma carreira que uniu música, pintura e atuação pública.
Sua obra pictórica ganha destaque a partir de 1918, quando começa a participar das Exposições Gerais de Belas Artes, evento de grande importância institucional no Brasil do século XX. Em 1919, conquista o Prêmio de Viagem ao Exterior com o célebre quadro “Pátria”, uma representação icônica de mulheres confeccionando a bandeira nacional, que mais tarde seria usada em cédulas, cartões-postais e materiais de propaganda oficial do governo republicano. A partir dessa obra, Pedro Bruno passa a ser identificado como um artista que celebra, com sensibilidade e lirismo, a identidade brasileira e o cotidiano nacional, com destaque para as paisagens, cenas populares e representações idealizadas da vida rural e urbana.
Entre 1920 e 1922, vive em Roma, onde atua como bolsista e professor da Academia Brasileira de Belas Artes, participando ativamente dos círculos artísticos europeus. Após seu retorno ao Brasil, intensifica sua produção artística e contribui para a preservação cultural da Ilha de Paquetá, onde funda a Liga Artística de Paquetá e realiza diversas ações voltadas ao embelezamento paisagístico e à valorização da vida comunitária. Sua casa-ateliê tornou-se referência na região, sendo frequentada por artistas, intelectuais e autoridades.
Ao longo de sua carreira, Pedro Bruno recebeu medalha de bronze (1912), medalha de ouro (1925) e homenagens póstumas, como a Menção Honrosa em 1943. Participou de exposições importantes no Brasil e no exterior, sempre mantendo uma linguagem figurativa marcada por traços acadêmicos, paleta de tons terrosos e um sutil viés espiritualista. Seu trabalho é atravessado por valores como o patriotismo, a religiosidade e o respeito pela natureza.
Faleceu em 2 de fevereiro de 1949, em Paquetá, enquanto trabalhava em seu ateliê, deixando como legado, uma vasta produção artística e uma imagem pública de artista comprometido com sua comunidade.
Pedro Bruno | Itaú Cultural
Pedro Paulo Bruno (Ilha de Paquetá RJ 1888 - Rio de Janeiro RJ 1949). Pintor, escultor, desenhista, artista visual, concertista. Recebe as primeiras lições do pintor italiano Ettore Tito. Com a visita de Castagneto à Ilha de Paquetá, em 1897, torna-se seu discípulo. Viaja para a Itália, em 1905, estuda música em conservatórios de Roma e Nápoles, e obtém diploma de cantor lírico. Retorna ao Brasil em 1910 e tem aulas com o pintor italiano Schettino. Ingressa na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1918, é aluno de Baptista da Costa e Giuseppe Boschetto (1841 - 1918), e discípulo de Domenico Morelli (1823-1901). Bruno recebe o prêmio viagem ao exterior da 26ª Exposição Geral de Belas Artes, em 1919, com a tela Pátria, e no ano seguinte vai para a Itália para aperfeiçoar-se em pintura na Accademia Brittanica, em Roma. Entre 1921 e 1922 dirige a Classe Geral de Nu dessa academia. De volta ao Brasil, em 1922, funda, com Hermes Fontes (1888 - 1930), a Liga Artística de Paquetá, em 1923. No Salão Nacional conquista medalha de ouro, em 1925, e de honra, em 1943. Realiza exposições individuais no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre. É responsável por diversos projetos paisagísticos e ornamentais em sua cidade natal e defensor entusiasmado da natureza local.
Análise
Concertista na juventude, pintor consagrado no Salão Nacional, divulgador cultural e paisagista no fim da vida, a gama de atividades com as quais Pedro Bruno se envolve dá mostra de seu entusiasmo pelas mais diversas formas de expressão artística. Nessa trajetória multifacetada, destaca-se sua contribuição ao desenvolvimento de símbolos necessários à consolidação do projeto nacional republicano, implantado no fim do século XIX no Brasil. Nesse aspecto, a tela Pátria, 1919, hoje no Museu da República, no Rio de Janeiro, é seu trabalho mais significativo, que obtém imensa difusão ao ser reproduzido na antiga nota brasileira de 200 mil cruzeiros. A obra retrata, por meio da alegoria, o momento fundador da identidade nacional, representada pela primeira bandeira da república, feita, segundo a tradição, pela costureira Flora Simas Carvalho, por encomenda do marechal Deodoro da Fonseca.
Nesse novo "nascimento da nação", localizado em âmbito doméstico, não mais público, como faz Pedro Américo em Independência ou Morte, 1888, mostra-se a "república" recém-nascida, protegida pela bandeira da unidade federativa (representada pelas estrelas), no centro do quadro, numa longa diagonal que toma quase a totalidade da tela, sendo costurada pelas senhoras reunidas no aposento de uma casa simples, pintada com tons vivos, numa gama de vermelhos e amarelos intensificada pelas pinceladas de caráter pastoso, embora curtas. O símbolo é abraçado pela criança em primeiro plano, que representa a virtude patriótica a ser emulada. Ao fundo, encontra-se a figura do velho combatente, que, esquecido na penumbra, ainda porta as vestes militares e evoca os feitos em prol da unificação e da defesa nacional.
O quadro é testemunho de um esforço retórico e ideológico dos pintores da Primeira República, que, embora tenham pretendido afastar-se dos preceitos artísticos da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, se mantêm fiéis às regras de representação ensinadas nessa instituição, e pouco interessados na exploração de outras possibilidades pictóricas.
Críticas
"Sua pintura filiou-se ao realismo do início do século, originário do realismo francês liderado por Courb, deixou-se, no entanto, sugestionar pelo impressionismo, sobretudo nas cenas praieiras, pelas quais acentuou sua preferência" — Carlos Cavalcanti (CAVALCANTI, Carlos (org.); AYALA, Walmir, (org.). Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Brasília: MEC: INL, 1973. v. 1. pt. 2. (Dicionários especializados, 5)).
"Mais próximo da tradição derivada de seu mestre Batista da Costa quando pintava paisagens, Pedro Bruno revelou-se mais 'moderno' como pintor de formas femininas. Convencional, em temas como Maternidade (que tantas vezes pintou), discreto em suas paisagens, ganha em sensibilidade ao fixar corpos femininos, nus ou vestidos, ao representar pensadores em seus barcos à beira-mar. O nu, particularmente, sai-lhe espontâneo e nervoso, em largas pinceladas cheias de empaste". — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Exposições Individuais
1914 - Rio de Janeiro RJ - Individual
1920 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Jorge
1941 - Rio de Janeiro RJ - Individual
Exposições Coletivas
1909 - Rio de Janeiro RJ - 16ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1910 - Rio de Janeiro RJ - 17ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1911 - Rio de Janeiro RJ - 18ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1912 - Rio de Janeiro RJ - 19ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de bronze
1913 - Rio de Janeiro RJ - 20ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de prata
1914 - Rio de Janeiro RJ - 21ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1915 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1916 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1919 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Carioca de Gravura e Água-Forte
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - prêmio de viagem ao exterior
1920 - Rio de Janeiro RJ - 27ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - pequena medalha de ouro
1923 - Rio de Janeiro RJ - 30ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1925 - Rio de Janeiro RJ - 32ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - grande medalha de ouro
1926 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão de Outono
1926 - Rio de Janeiro RJ - 33ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1928 - Rio de Janeiro RJ - 35ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1928 - São Paulo SP - Grupo Almeida Júnior, no Palácio das Arcadas
1929 - Rio de Janeiro RJ - 36ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - Prêmio Cidade do Rio de Janeiro
1929 - Rosário (Argentina) - Exposição de Rosário de Santa Fé
1930 - Rio de Janeiro RJ - 37ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1932 - Rosário (Argentina) - Exposição de Rosário de Santa Fé - premiado
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1935 - Rio de Janeiro RJ - Salão da Feira de Amostras - prêmio de costumes
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1939 - São Paulo SP - 6º Salão Paulista de Belas Artes
1940 - São Paulo SP - 7º Salão Paulista de Belas Artes
1943 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes - prêmio de honra
1943 - São Paulo SP - 9º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1945 - São Paulo SP - 11º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1948 - São Paulo SP - 14º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
Exposições Póstumas
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1966 - Ilha de Paquetá RJ - Retrospectiva póstuma, em seu ateliê
1974 - São Paulo SP - Os Mestres de Ontem, Hoje e de Sempre, na A Ponte Galeria de Arte
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1982 - Rio de Janeiro RJ - 150 Anos de Pintura de Marinha na História da Arte Brasileira, no MNBA
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Museu Naval e Oceanográfico. Serviço de Documentação da Marinha
Fonte: PEDRO Bruno. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 23 de julho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Pedro Bruno | Wikipédia
Pedro Paulo Bruno (Paquetá, 14 de outubro de 1888 – Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1949) foi um pintor, cantor, poeta e paisagista brasileiro. Sua obra mais conhecida é o quadro Pátria, de 1918, que retrata a bandeira do Brasil sendo bordada no seio de uma família.
Infância
Pedro Paulo Bruno nasceu em 14 de outubro de 1888 na casa de sua família na Ilha de Paquetá. Seu pai, o comerciante italiano Felice Antonio Bruno havia emigrado para o Brasil com a jovem esposa, Magdalena Marmo Bruno, em 1878, juntamente com os três filhos do casal (Rosa, Antero e Miguel).[2] Provenientes de Casalbuono, na província italiana de Salerno, eles fixaram residência na Ilha de Paquetá, na casa de nº 105, na Praia da Guarda.
Aos sete anos de idade, Bruno ensaiava seus primeiros traços, e aos nove já era reconhecido em Paquetá como um desenhista promissor. Nesta época, por ocasião da morte de uma criança cujos pais desejavam ter uma imagem como recordação, o pequeno artista foi chamado às pressas e, ali mesmo no velório, ainda que um pouco assustado, executou o retrato. Segundo o próprio Pedro Bruno lembraria mais tarde, o desejo de pintar teria surgido nele no dia em que, expulso da sala de aula pela professora, sentou num muro para contemplar o mar azul de Paquetá. Em 1897, quando o pintor Giovanni Battista Castagneto, também de origem italiana, esteve em Paquetá, Pedro Bruno imediatamente estabeleceu amizade com o artista, oferecendo-se para transportar seu cavalete, sua paleta e seus pincéis para os diversos lugares da ilha que o artista retratava. O menino ficava horas a observar com atenção o trabalho do mestre, tornando-se um discípulo dedicado.
Pedro Bruno era dotado. Possuía admirável voz de barítono. Em 1905, aos quatorze anos, embarcou para a Itália com o objetivo de estudar no Conservatório de Nápoles e de Roma, de onde retornou diplomado em canto lírico. Trabalhou no Conservatório de Música do Rio de Janeiro, e, sob a direção do maestro De Lucio, percorreu Belo Horizonte, São Paulo e Santos em turnê artística, mas morou no Rio. Pedro Bruno, porém, logo se aborreceu com o canto e, retorna ao Brasil, começando a se dedicar mais à pintura, retratando as paisagens de Paquetá e tendo lições com o pintor italiano Schettino.
Carreira
Em 1910, ao retornar a Paquetá, envolto e seduzido pelas belezas da ilha, Pedro Bruno percebeu que era a pintura a atividade que o empolgava. Indiferente às dificuldades que sua corajosa decisão poderia acarretar, iniciou, de maneira autodidata, uma nova carreira. Sozinho pelas praias, com seu material de pintura, seguiu retratando incansavelmente os recantos da ilha. Em 1912, recebeu a Medalha de Bronze, do Salão de Belas Artes, pela paisagem marinha intitulada Manhã Azul. Suas telas impunham-se pelo empenho técnico, com o que Bruno obteve o respeito da crítica especializada. Foram exemplo desta receptividade os elogios que recebeu por seu quadro Sentinela da Pátria, exposto no salão de espera do cinema Orion, em Campos. Naquele ano de 1917, a obra provocou admiração em todos que por ali passavam.
Com o intuito de aprimorar sua técnica, Bruno ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1918. Seus professores foram os grandes mestres João Baptista da Costa e José Boschetto. Em agosto do ano seguinte, o Conselho Superior de Belas Artes conferiu-lhe o Prêmio de Viagem da 26ª Exposição Geral. O quadro vencedor intitulava-se Pátria, uma concepção cívica que simbolizava a construção da pátria brasileira ao retratar um grupo de mulheres simples que, de maneira dedicada, costuravam a bandeira nacional. Sobre a premiação, Coelho Netto escreveu o seguinte no jornal A Noite: "O júri naturalmente votou o prêmio ao pintor pela execução da obra, eu votaria pelo poeta que soube vestir uma ideia augusta com o pano sagrado em que se envolve a Pátria!".
Em 1920, antes de seguir para a Itália, Bruno teve suas obras expostas em São Paulo, no salão anexo ao cinema Central, na Avenida São João, com grande sucesso de público e de crítica. Ainda neste ano, a Galeria Jorge, no Rio de Janeiro, organizou uma exposição com 70 quadros do pintor. Os cariocas, igualmente, festejaram a mostra. Ao chegar em Roma, Bruno inscreveu-se para a prova de admissão ao curso de pintura da Academia Inglesa, famosa instituição de ensino artístico. Classificou-se em 3º lugar em meio a 65 candidatos italianos e estrangeiros. Decorridos apenas seis meses de sua matrícula, já era convidado pelos dirigentes da instituição para reger aulas de modelo vivo. Na Itália, o artista estudou, lecionou, recebeu elogios da imprensa e deixou vários quadros, dois no Museu de Salerno e os demais em galerias particulares.
De volta ao Brasil em 1922, foi recebido com grandes homenagens pela população e pelas autoridades de Paquetá. Mesmo levando em consideração o aperfeiçoamento obtido em sua arte e o êxito alcançado na Europa, Bruno dizia-se mais nacionalista do que nunca. O pintor instalou seu ateliê ao fundo do conjunto principal da casa onde residia, em Paquetá, e assumiu o papel de zelador das belezas da ilha, embora viesse a possuir no Centro do Rio, na rua do Teatro, outro pequeno ateliê. O Precursor, uma apoteose a Tiradentes, obra executada ainda na Itália, encontra-se hoje no Museu Histórico Nacional. No mesmo ano de seu regresso, conquistou a Medalha de Ouro do Salão de Belas Artes, com o quadro Mãe.
O trabalho de Bruno, exposto em São Paulo em 1924, foi acolhido com admiração pelos meios artístico e intelectual paulistanos, tendo se destacado os quadros Guanabarinas e Anunciação, que atraíram especial atenção dos visitantes. O pintor foi grande colaborador do Salão Paulista de Belas Artes até o ano anterior ao de sua morte. Em retribuição, dentre outras homenagens, a Prefeitura da Cidade de São Paulo batizou com seu nome uma rua do bairro de Butantã.
O último grande trabalho de Bruno foi a tela Gonçalves Dias, pintada no ano anterior ao de sua morte. Em 1948, Pedro recebeu a maior homenagem em vida: um busto seu foi erguido na praça que leva seu nome. A obra, idealizada por Paulo Mazucheli, tem como legenda: "O poeta da cor, das árvores e dos pássaros".
Outras atividades
Bruno ocupou o cargo de Oficial Administrativo da Prefeitura de Paquetá, comissionado como zelador do cemitério local. Nesta função, além de ter executado a reforma total da capela, toda em pedra, doou à instituição duas de suas obras – Cristo ao Luar e São Francisco falando aos pássaros – e implementou trabalhos de jardinagem que transformaram o campo-santo num parque florido, um local atrativo para visitação.
Mas seu amor a Paquetá levaram-no a atuar, efetivamente, como zelador de toda a ilha. Com o intuito de preservar o patrimônio paisagístico e realçar os encantos naturais de Paquetá, Pedro criou a Liga Artística, juntamente com um grupo de apaixonados pela ilha. Visando chamar atenção para a importância da preservação ambiental, eram realizadas festas comemorativas às árvores e aos pássaros. Inaugurou em diversas praias e praças, bustos, hermas, placas e marcos em homenagem a personalidades de destaque, lembrando-se sempre dos índios, os primeiros habitantes. Era visto com freqüência a caminhar pela ilha, com seu chapéu, conversando com os moradores, numa atitude de simplicidade e modéstia que contrastava com o que se esperaria de um nome consagrado da arte brasileira.
Morte
Pedro Bruno morreu devido às complicações de um edema pulmonar agudo em 2 de fevereiro de 1949, dois anos após a morte de sua esposa, enquanto trabalhava em seu ateliê, no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: Magda, Hélio, Lia e Fábio. Foi sepultado no cemitério da ilha que amou e imortalizou em suas telas, na presença da população consternada.
Homenagens
Em 1966, os filhos de Bruno organizaram, na residência do artista, uma exposição póstuma que apresentava cerca de 100 trabalhos, alguns inéditos, outros inacabados, como Amor Eterno. Outra expressiva homenagem póstuma foi a exposição inaugurada em 1º de novembro de 1949, no Salão Assírius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de 180 telas do artista. A mostra foi organizada por seus filhos e patrocinada pelo prefeito Ângelo Mendes de Morais, sob os auspícios da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Na ocasião, o vereador Álvaro Dias propôs apresentar à Câmara Municipal do Rio de Janeiro um projeto transformando em museu a casa de Bruno em Paquetá. Em 1950, através do Projeto de Lei nº 61, a câmara aprovou a criação do Museu Pedro Bruno. A falta de recursos, entretanto, impediu a concretização da proposta.
Um detalhe do quadro Pátria de Bruno foi incluído na nota de 200 cruzados novos, que homenageava o centenário da Proclamação da República.[3] A vigência do cruzado novo durou de 16 de janeiro de 1989 a 15 de março de 1990, tendo as cédulas saído de circulação em 15 de setembro de 1994.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de julho de 2025.
Pedro Bruno pintou Paquetá de todas as maneiras | Rolé Carioca
Meu avô foi um idealizador. Junto com um grupo de pessoas apaixonadas pela ilha, formaram a “Liga Artística” que teve como missão fazer de Paquetá um lugar charmoso, aprazível de se visitar. Naquela época, não havia lugares para sentar e apreciar a beleza ao redor. O conjunto de melhoramentos feitos para a ilha, como os bancos, os degraus que dão acesso ao cais, os bebedouros, as colunas que servem de suporte para bougainvilles e o caramanchão da Praia dos Tamoios, foi tombado pelo município em 1999.
É de sua autoria o projeto arquitetônico e paisagístico do Cemitério de Santo Antônio e do anexo conhecido como ‘Cemitério dos Pássaros’. Esse conjunto é especial para a memória de nossa família, onde Pedro Bruno, nascido na ilha em 1888, está enterrado. A capela, toda em pedra, é uma graça! Lá é possível ver duas reproduções de obras do pintor - "Cristo ao luar", em cima do altar da capela, e "São Francisco falando com os pássaros”. Os originais se perderam acidentalmente, com o uso de velas na capela.
Uma faceta menos conhecida de Pedro Bruno foi sua preocupação com a preservação da natureza. Era um ambientalista, coisa rara nas décadas de 1930/1940. Promovia na ilha a chamada ‘festa dos pássaros’. Todo mês de setembro, comprava aves que viviam em cativeiro, as soltava em Paquetá, e depois queimava as gaiolas. Havia também uma ‘festa das árvores’, para incentivar a conservação das espécies, bem antes do tombamento das árvores da ilha.
Pedro pintou Paquetá de todas as maneiras. A memória dos índios, as pedras da marinha e seus flamboyants – árvore que está no brasão do bairro. Destaco ainda a maternidade e o aleitamento como questões sagradas para meu avô em suas obras. Como prêmio de “Viagem a Europa” recebido com a tela “Pátria”, foi estudar na Academia Inglesa de Roma e, pouco tempo depois, foi convidado a lecionar na instituição. Desse período, trouxe peças que hoje enfeitam os jardins da casa em que residiu em Paquetá – entre elas, uma reprodução da “Vênus de Milo” que chama atenção de quem passa pela rua, mas não é obra dele e foi colocada no jardim após a morte do pintor, pois a original foi danificada.
Paquetá vive um momento cultural bacana. Há iniciativas como o “Plantar Paquetá”, que está repondo parte dos flamboyants caídos do bairro, e o cineclube do Quintal da Regina, sempre com uma programação interessante. Na Casa de Artes Paquetá, estreamos o projeto “Pedro Bruno visita a Casa de Artes”, para colocar em exposição uma tela do acervo da nossa família. A primeira é um ensaio feito para o quadro “Pátria”, que completa 100 anos em 2019. O original está exposto no salão ministerial do Museu da República, onde Getúlio despachava, e passou por um restauro recente.
Algumas peças e ambientes da Casa Pedro Bruno estão como eram antigamente: sua mesa de trabalho, as cadeiras, os móveis da sala de jantar, sua bengala, entre outros objetos. Também mantenho um catálogo dos quadros e as publicações da imprensa com referências a Pedro Bruno.
Fonte: Rolé Carioca, "Pedro Bruno pintou Paquetá de todas as maneiras", depoimento de Malu Vergani, publicado em 22 de maio de 2019. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Pedro Bruno | Site Oficial Pedro Bruno
No ano de 1878 o negociante Felice Antonio Bruno e sua jovem esposa, Magdalena Marmo Bruno, desembarcaram no Rio de Janeiro, juntamente com os filhos Rosa, Antero e Miguel. Provenientes de Casalbuono, província italiana de Salerno, fixaram residência na Ilha de Paquetá, na Praia da Guarda, nº 105. Naquela ampla casa, cercada por uma varanda e com frente ajardinada, nasceu Pedro Paulo Bruno, em 14 de outubro de 1888. Pedro Bruno, como veio a ser internacionalmente conhecido, cresceu em meio à plenitude de encantos da ilha, tornando-se um artista imaginoso, dotado de alta sensibilidade e, ao mesmo tempo, um patriota, homem de devotado espírito público, benfeitor de sua terra natal. Era-lhe fácil e natural sentir a arte em suas variadas expressões, exprimindo-a não apenas no canto, na escultura, no paisagismo e na poesia, mas também – e principalmente – na pintura. Esta sensibilidade também permeava suas iniciativas, quer como funcionário público, quer como cidadão.
Aos sete anos de idade Pedro Bruno ensaiava seus primeiros traços, e aos nove já era reconhecido em Paquetá como um desenhista promissor. Nesta época, por ocasião da morte de uma criança cujos pais desejavam ter uma imagem como recordação, o pequeno artista foi chamado às pressas e, ali mesmo no velório, ainda que um pouco assustado, executou o retrato. Em 1897, quando o pintor Giovanni Battista Castagneto esteve em Paquetá, Pedro Bruno imediatamente estabeleceu amizade com o artista, oferecendo-se para transportar seu cavalete, sua paleta e seus pincéis para os diversos lugares da ilha que o artista retratava. O menino ficava horas a observar com atenção o trabalho do mestre, tornando-se um discípulo dedicado ao aprendizado da pintura. Pedro Bruno foi dotado com outro grande talento, o de cantor. Possuía admirável voz de barítono. Em 1905, aos quatorze anos, embarcou para a Itália com o objetivo de estudar nos Conservatórios de Nápoles e de Roma, de onde retornou diplomado em canto lírico. Trabalhou no Conservatório de Música, no Rio de Janeiro, e, sob a direção do maestro De Lucio, percorreu Belo Horizonte, São Paulo e Santos em tournée artística.
Em 1910, de regresso a Paquetá – novamente envolto e seduzido pelas belezas naturais da ilha – Pedro Bruno percebeu que era a pintura a atividade que o empolgava. Indiferente às dificuldades que sua corajosa decisão poderia acarretar, iniciou, de maneira autodidata, uma nova carreira. Sozinho pelas praias, com seu material de pintura, seguiu retratando incansavelmente os lindos recantos da Ilha. Em 1912 recebeu a Medalha de Bronze, do Salão de Belas Artes, pela paisagem marinha intitulada “Manhã Azul”. Suas telas impunham-se pelo empenho técnico, com o que Pedro obteve o respeito da crítica especializada. Mas foi o elemento sensorial – a amálgama de sinceridade e capacidade de traduzir estados de alma – que aproximou Pedro Bruno do grande público. Foram exemplo desta receptividade os elogios que recebeu por seu quadro “Sentinela da Pátria”, exposto no salão de espera do cinema Orion, em Campos. Naquele ano de 1917, a obra provocou admiração em todos que por ali passavam, por traduzir a alma brasileira e por falar diretamente ao coração do povo.
Com o intuito de aprimorar sua técnica, Pedro Bruno ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1918. Seus professores foram os grandes mestres João Baptista da Costa e Jose Boschetto. Em agosto do ano seguinte, o Conselho Superior de Belas Artes conferiu-lhe o “Prêmio de Viagem” da 26ª Exposição Geral. A consagração foi considerada como absolutamente justa por seus próprios colegas e professores, pois nesta época o artista já havia alcançado todas as premiações que, por força do regulamento, deveriam precedê-la. O quadro vencedor intitulava-se “Pátria”, uma concepção cívica que simbolizava a construção da pátria brasileira ao retratar um grupo de mulheres simples que, de maneira dedicada, costuravam a Bandeira Nacional. Sobre esta premiação, Coelho Netto escreveu em artigo para o jornal “A Noite”, em novembro de 1919: “O júri naturalmente votou o prêmio ao pintor pela execução da obra, eu votaria pelo poeta que soube vestir uma idéia augusta com o pano sagrado em que se envolve a Pátria!”. Em 1920, antes de seguir para a Itália, Pedro Bruno teve suas obras expostas em São Paulo, no salão anexo ao cinema Central, na Avenida São João, com grande sucesso de público e de crítica. Ainda neste ano, a Galeria Jorge, no Rio de Janeiro, organizou uma exposição com 70 quadros do pintor. Os cariocas, igualmente, festejaram a mostra.
Ao chegar a Roma, Pedro Bruno inscreveu-se para a prova de admissão ao curso de pintura da Academia Inglesa, famosa instituição de ensino artístico. Classificou-se em 3º lugar em meio a 65 candidatos italianos e estrangeiros. Decorridos apenas seis meses de sua matrícula, já era convidado pelos dirigentes da instituição para reger aulas de modelo vivo. Na Itália, o artista estudou, lecionou, recebeu elogios da imprensa e deixou vários quadros – dois no Museu de Salerno e os demais em galerias particulares.
De volta ao Brasil em 1922, foi recepcionado com grandes homenagens pela população e pelas autoridades de Paquetá. Mesmo levando em consideração o aperfeiçoamento obtido em sua arte e o êxito alcançado na Europa, Pedro Bruno dizia-se mais nacionalista do que nunca. O pintor instalou seu ateliê ao fundo do conjunto principal da casa onde residia, em Paquetá, e assumiu o papel de zelador das belezas da ilha, embora viesse a possuir no Centro do Rio, à rua do Teatro, outro pequeno ateliê.
“O Precursor”, uma apoteose a Tiradentes, obra executada ainda na Itália, encontra-se hoje no Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro. No mesmo ano de seu regresso conquistou a Medalha de Ouro do Salão de Belas Artes, com o quadro “Mãe”.
O trabalho de Pedro Bruno, exposto em São Paulo em 1924, foi acolhido com admiração pelos meios artístico e intelectual paulistanos, tendo se destacado os quadros “Guanabarinas” e “Anunciação”, que atraíram especial atenção dos visitantes.
O pintor foi grande colaborador do Salão Paulista de Belas Artes até o ano anterior ao de sua morte. Em retribuição, dentre outras homenagens, a Prefeitura da Cidade de São Paulo batizou com seu nome uma rua do bairro de Butantã.
Ao longo de sua carreira artística, Pedro Bruno expôs seus quadros em várias cidades do Brasil, tais como Recife, Curitiba, Santos, Vitória, Campos, Teresópolis, Pelotas e Porto Alegre, e também em Rosário de Santa Fé, na Argentina. Angariou admiradores leigos e especializados por onde passou, e ainda diversos prêmios e medalhas. Em 1943 recebeu a Grande Medalha de Honra, considerada a maior premiação para um artista no Brasil, com seu quadro “Sonata ao Luar”, que encontra-se no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Há obras de Pedro Bruno nos seguintes locais: Museu da República (RJ), Museu Nacional de Belas Artes (RJ), Museu Histórico Nacional (RJ), municipalidades de São Paulo e de Curitiba, Pinacoteca da Sociedade Brasileira de Belas Artes e no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. O quadro “Contemplativa” encontra-se no Museu de Estocolmo.
Pedro Bruno ocupou o cargo de Oficial Administrativo da Prefeitura de Paquetá, comissionado como zelador do cemitério local. Nesta função, além de ter executado a reforma total da capela, toda em pedra, Pedro doou à instituição duas de suas obras – “Cristo ao Luar” e “São Francisco falando aos pássaros” – e implementou trabalhos de jardinagem que transformaram o campo-santo num parque florido, um local atrativo para visitação. Mas seu amor a Paquetá, seu senso estético e seu idealismo levaram-no a atuar, efetivamente, como zelador de toda a ilha. Com o intuito de preservar o patrimônio paisagístico e realçar os encantos naturais de Paquetá, Pedro criou a Liga Artística, juntamente com um grupo de apaixonados pela ilha que incluia Augusto Silva, Angelo Di Franco, Alambary Luz, Alfredo Brasil, Gen. Alípio Costallat, Dr. Antonio Ferreira, Áurea Modesto Leal, Gen. Agra de Lacerda, Diogo Leivas, Comte. José Henrique Bahia, Dr. José Thedin Barreto, Luiz Marques Poliano, Dr. Lívio Porto, Gen. Mena Barreto, o escritor Vivaldo Coaracy, o cronista e poeta Waldomiro Ferreira, dentre outros sócios. Visando chamar atenção para a importância da preservação da natureza, eram realizadas festas comemorativas das árvores e dos pássaros. Inaugurou em diversas praias e praças, bustos, hermas, placas e marcos em homenagem a personalidades de destaque, lembrando-se sempre dos índios, seus primeiros habitantes. Era visto com freqüência a caminhar pela ilha, com seu chapéu, conversando com os moradores, numa atitude de simplicidade e modéstia que contrastava com o que se esperaria de um nome consagrado da arte brasileira – “as seduções da glória humana não o fascinavam”
Um edema pulmonar agudo levou-o embora dois anos após a perda de sua esposa, no dia 2 de fevereiro de 1949, enquanto trabalhava em seu ateliê, no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: Magda, Hélio, Lia e Fábio. Foi sepultado no cemitério da ilha que amou e imortalizou em suas telas, na presença da população consternada
Em 1966 os filhos de Pedro Bruno organizaram, na residência do artista, uma exposição póstuma que apresentava cerca de 100 trabalhos, alguns inéditos, outros inacabados, como “Amor Eterno”. O evento objetivava proporcionar à população da ilha e a seus visitantes a proximidade com os inúmeros trabalhos do consagrado pintor. Outra expressiva homenagem póstuma foi a exposição inaugurada em 1º de novembro de 1949, no Salão Assírius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de 180 telas do artista. A mostra foi organizada por seus filhos e patrocinada pelo prefeito Mendes de Morais, sob os auspícios da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Na ocasião, o vereador Álvaro Dias propôs apresentar à Câmara Municipal do Rio de Janeiro um projeto para transformar em Museu a casa de Pedro Bruno, em Paquetá. No local havia telas, além de croquis, estudos, objetos de arte e material de trabalho. Em 1950, através do Projeto de Lei nº 61, a Câmara do Distrito Federal aprovou a criação do Museu Pedro Bruno. A falta de verba, no entanto, impediu a concretização da proposta.
O último grande trabalho de Pedro Bruno foi a tela “Gonçalves Dias”, pintada no ano anterior ao de sua morte. Pedro recebeu, em 1948, a derradeira homenagem em vida: um busto do artista e benfeitor foi erguido na praça que leva seu nome. A obra, cinzelada por Paulo Mazucheli, tem como legenda.
Fonte: Pintor Pedro Bruno. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Paisagista
Pedro Bruno fundou a Liga Artística de Paquetá em 1923. Durante um quarto de século, sob a sua presidência, a entidade trabalhou em prol da preservação e do embelezamento do patrimônio paisagístico de Paquetá.
Eram organizadas festas anuais em homenagem às árvores e aos pássaros, como forma de conscientizar e mobilizar o povo paquetaense, no sentido de preservar as belezas naturais da Ilha. O artista conhecia a vida de cada árvore de Paquetá, especialmente a dos flamboyants, da semente à floração. Impedia a derrubada de árvores, muitas delas plantadas por suas próprias mãos, e cuidava de suas enfermidades.
Urbanista por experiência, Pedro Bruno ajardinou não apenas o Cemitério do qual foi zelador, como também diversos logradouros da Ilha. Costumava adquirir passarinhos cativos, apenas para devolvê-los em seguida a liberdade.
Por iniciativa do artista, foram levantados – em diversas ruas, praças e praias de Paquetá – pequenos monumentos, bustos e placas em pedra ou bronze com data e legenda esculpidas. Eram erguidos para homenagear vultos de grande relevância para as Artes, para as Letras ou, em particular, para moradores destacados da Ilha. Dessa forma, foram perpetuados entre outros: Hermes Fontes, Carlos Gomes, Joaquim Manoel de Macedo, Padre Juvenal, Maestro Anacleto e Dr. Aristão. A inauguração de uma admirável máscara de Beethoven, esculpida em bronze, teve o formato característico das celebrações organizadas por Pedro Bruno.
Durante meia hora deste evento, as rádios locais, em colaboração com a Liga Artística, transmitiram obras do compositor – escutadas à luz do luar pela população presente.
A chegada do progresso trouxe a luz elétrica, o que motivou Pedro Bruno a lutar com heroísmo para evitar que esta forma de iluminação fosse adotada nas ruas de Paquetá. Não porque fizesse oposição aos confortos propiciados pelos avanços tecnológicos, mas porque tinha plena consciência da importância de se conservar ao máximo a feição primitiva da Ilha, como um legado para as gerações futuras. Acabou sendo vencido, mas em troca conseguiu que em noites de luar as luzes das ruas fossem desligadas. O seu olhar de artista percebia que inovações artificiais, se utilizadas indiscriminadamente, poderiam vir a acarretar danos ecológicos e estéticos ao ambiente natural. Com seu trabalho de idealista, já naquele início do século XX, procurou difundir consciência – válida até os dias atuais – de admiração e proteção à natureza.
Inauguração busto de Carlos Gomes – Praia dos Tamoios
“Plantar árvores e proteger os ninhos é um tributo do Homem à terra mater” — Pedro Bruno.
Cemitério dos Pássaros
“Longe da feição macabra, devemos ver apenas, no cemitério, uma alta expressão do passado, suavemente lembrada pela saudade” — Pedro Bruno.
Pedro Bruno aliava, a seus dons artísticos e a seu zelo pela natureza, um devotado espírito público. Assim, ao tornar-se Oficial Administrativo comissionado pela Prefeitura, no cargo de zelador do cemitério da Ilha (Cemitério de Santo Antônio), implementou reformas que – com o toque magistral da sua arte de Mestre – transformaram o campo-santo num verdadeiro jardim, um local aprazível e convidativo à visitação.
O terreno onde passou a localizar-se a necrópole, situado numa suave encosta, havia pertencido anteriormente à Sra. D. Maria da Conceição, que doou-o à Mitra. A Irmandade que o ocupou não conseguiu, por falta de recursos, mantê-lo limpo e conservado. Com aspecto de terreno baldio, invadido pelo matagal, o campo sagrado perdeu sua integridade. Por decreto municipal de 23 de maio de 1860, o local foi desapropriado e transformado em área de utilidade pública. Esta medida repercutiu de forma positiva no seio da população paquetaense, que confiou a Pedro Bruno a tarefa de recuperação do patrimônio.
Mais do que recuperá-lo, Pedro Bruno efetuou no terreno uma radical transformação, fazendo surgir ali um autêntico cemitério, um local digno, ornamentado com os requintes de um esteta. As alamedas foram ajardinadas com vegetação adequada. Foram plantados roseirais, ciprestes, chorões e esplêndidos tamarineiros – cobertos por barbas-de-velho franjadas – por entre os alvos túmulos. A reforma da Capela contou com a colaboração da Liga Artística, entidade fundada por Pedro Bruno em 1923 com a finalidade de proteger e conservar os patrimônios naturais e culturais da Ilha.
Acima de um conjunto de pedras de cerca de dois metros de altura, foram levantadas três arcadas em estilo gótico. A seleção das pedras, em tons de cinza, foi feita pelo próprio artista, uma a uma, de acordo com as variações de tamanho e de tonalidade. As paredes ostentam ornatos em forma de pombas e de lírios, que destacam-se visualmente por sua brancura. O velório localiza-se ao centro das arcadas, onde também estão dispostos nove bancos de cantaria para as funções fúnebres. Ao fundo, ainda na parte central, encontrava-se o quadro “Cristo ao Luar”, de autoria de Pedro Bruno. Na varanda lateral há um singelo altar, dedicado a São Francisco de Assis, o santo que amava a natureza e, em especial, os pássaros. Encimando este altar estava outra tela do pintor, “São Francisco falando aos Pássaros”. Foi criado também um jardim, ao lado da capela, com um lago destinado a matar a sede dos passarinhos que, assim como as árvores, eram seres muito caros ao artista.
Uma expressiva inovação, que demonstra a sensibilidade da alma deste artista-empreendedor, foi a criação da “Ara da Saudade”. Em pedra tosca e escavada eram mantidas, permanentemente acesas, brasas nas quais parentes e amigos podiam depositar uma colherinha de incenso em memória de seus entes queridos, no Dia de Finados.
A terra exercia sobre Pedro Bruno uma influência profundamente mística. E foi esta terra – o solo do Cemitério de Paquetá, fruto de seu trabalho e de seu carinho, sob o tamarineiro que ele mesmo plantou – que recebeu seu corpo, cercado pelos familiares e pela multidão de cidadãos saudosos, em seu derradeiro adeus.
Discursos
Abaixo, um trecho do escrito “A Maldição da Árvore – para os fazedores de desertos”. Nele Pedro Bruno deu voz a uma árvore, num vigoroso libelo contra a insensata devastação da natureza.
“Homem! Eu sou uma eterna ressureição, revivo nas sementes que espalho em torno de mim, fecundo a terra, alimento os pássaros, enquanto em redor de minha sombra se levantam selvas soberbas, tu homem, carne inútil, só, desolado, sem ter dado à terra senão a inutilidade de ti mesmo espalhas a morte para poder viver.
Enquanto minha carne é fogo e chama, é vida, a tua espanta, afugenta, repugna.
Homem! Eu vivo como tu, maior que tu, levanto-me mais alto desta minha sombra mais longe, mais fresca, minha fronde abrange mais espaço agasalhando muitos pássaros que se desfazem em cantos.
Enquanto me levanto para te cobrir do sol, tu homem egoísta, na pequenez de tua sombra abrigas-te ti mesmo.
Reflete homem! De alma rude, no exceder de tua fúria ignóbil, não destróis somente nossas vidas, tu mesquinhas tua raça, enfraqueces teu cérebro embruteces tua alma, manchas teu passado, avilta tua Pátria.
Cada vez que ultrajes e deturpes a natureza mãe, mais te tornas indigno de viver em século de luz.”
Sobre Carlos Gomes, durante inauguração do busto do compositor:
“Minhas Senhoras! Meus Senhores.
Fica-se assombrado falar de um nome que com seu talento encheu uma época de sua Pátria. Seus poemas cantados na voz dos cantores, nas cordas dos violeiros e nos turbilhões sonoros das orquestras são o acervo de glórias que o Brasil se orgulha e nós nos ufanamos.
Carlos Gomes é parte integrante das maiores glórias que nobilitam a terra dos Pindoramas.
Saiu de sua terra ignorado e só voltou ao pátrio lar irradiando o fulgor de seu gênio engalanado de louros.
Voltou trazendo uma braçada de messes glorificadoras, entrando nos umbrais da história, como um herói vencedor penetra pela imortalidade adentro. Carlos Gomes foi a expressão sonora de uma raça onde três elementos tentavam construir uma nacionalidade acentuadamente brasileira.”
Fonte: Artigos Pedro Bruno. Consultado pela última vez em 24 de julho de julho.
A Casa De Pedro Bruno? O Museu De Paquetá |
Na rua principal, “por ser aquela em cujo extremo existe a velha Ponte, sonhadora e triste”, como diz Halmalo na sua bonita poesia “As Árvores de Paquetá” (*), não passa desapercebido ao visitante que desembarca das lanchas e segue na direção da Praia da Guarda, um lindo e bem cuidado jardim, muito bem composto e em perfeita e discreta harmonia com a casa de número 198 da Rua Furquim Werneck ...
É a casa de Pedro Bruno, idealizada por êle mesmo e onde ainda são encontrados todos os detalhes artísticos cuidadosamente projetados e executados por êle mesmo, o que confere ao local um aspecto paisagístico e arquitetônico todo especial.
Ali, a velha arte clássica comunga harmoniosamente com uma luxuriante vegetação tropical ...Uma cópia da Venus de Milus, chamada por De Lemoine (**) de “A Venus Desconhecida”, surge num dos recantos do jardim com a sua pureza glacial levemente maculada pelos reflexos de um suave limo...
Noutro ponto destaca-se a magnificência de Fídias, um dos maiores escultores gregos, num dos seus mais belos baixo-relêvos dos frisos do Panthenon de Atenas ...
Em contraste, vê-se também num outro recanto, uma imponente máscara de um escravo, esculpida por Miguel Ângelo e, mais além, no meio de uma vegetação silenciosa e escura, Bethoven dorme tranquilo na sua trágica imobilidade, levando-nos a sonhar com as suas sinfonias...
Todas as obras de Pedro Bruno no embelezamento de Paquetá, como bem o disse Francisco Veríssimo, de modo muito especial, na sua tese de Mestrado Social na UNIRIO, em 1998, “foram marcadas pela saudade da paisagem original” e também não figiram à essa regra a sua casa e o seu jardim, onde a composição das árvores, das plantas, das esculturas, do prédio, do muro e até mesmo dos arcos da varanda, em estilo neo-colonial, harmonizam-se perfeitamente com o ambiente de Paquetá.
Fonte: Web Artigos, "A Casa De Pedro Bruno? O Museu De Paquetá". Publicado por Marcelo Cardoso, em 12 de dezembro de 2007. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Crédito fotográfico: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultado pela última vez em 23 de julho de 2025.
Pedro Paulo Bruno (14 de outubro de 1888, Rio de Janeiro, Brasil — 2 de fevereiro de 1949, Rio de Janeiro, Brasil), mais conhecido como Pedro Bruno, foi um pintor, músico e poeta brasileiro. Estudou com o pintor Giovanni Battista Castagneto e, mais tarde, frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, onde foi orientado por nomes como João Batista da Costa e José Mariano de Boschetto. Também estudou canto lírico na Itália, ampliando sua formação artística. Sua obra foi influenciada pelo academicismo brasileiro e por um espírito nacionalista lírico, com destaque para cenas do cotidiano, paisagens e retratos. Entre os artistas e influências em sua trajetória, destaca-se o contato com o ambiente cultural espírita e artístico da época, bem como sua convivência com intelectuais e artistas que frequentavam sua casa na Ilha de Paquetá. Sua pintura mais conhecida, “Pátria” (1919), venceu o Prêmio de Viagem ao Exterior e se tornou um símbolo visual da identidade nacional. Utilizava técnicas tradicionais com paleta de tons suaves, representando com precisão e poesia a vida brasileira. Ganhou importantes reconhecimentos como medalhas de bronze (1912) e ouro (1925) em salões oficiais. Suas obras podem ser vistas em instituições como o Museu da República, no Rio de Janeiro.
Pedro Bruno | Arremate Arte
Pedro Paulo Bruno, mais conhecido como Pedro Bruno foi um pintor, músico e poeta, nascido em 14 de outubro de 1888, na Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro. Vindo de uma família de imigrantes italianos profundamente envolvida com o espiritismo e a cultura artística, demonstrou, desde cedo, notável sensibilidade para as artes visuais: Aos sete anos já fazia desenhos e, aos nove, foi convidado a retratar um velório, sinalizando o início precoce de uma trajetória artística multifacetada. Autodidata nos primeiros anos, foi aluno do pintor italiano Giovanni Battista Castagneto e, mais tarde, aprimorou-se na Escola Nacional de Belas Artes, onde estudou com mestres como João Batista da Costa e José Mariano de Boschetto. Sua formação incluiu ainda estudos de canto lírico em Nápoles e Roma, consolidando uma carreira que uniu música, pintura e atuação pública.
Sua obra pictórica ganha destaque a partir de 1918, quando começa a participar das Exposições Gerais de Belas Artes, evento de grande importância institucional no Brasil do século XX. Em 1919, conquista o Prêmio de Viagem ao Exterior com o célebre quadro “Pátria”, uma representação icônica de mulheres confeccionando a bandeira nacional, que mais tarde seria usada em cédulas, cartões-postais e materiais de propaganda oficial do governo republicano. A partir dessa obra, Pedro Bruno passa a ser identificado como um artista que celebra, com sensibilidade e lirismo, a identidade brasileira e o cotidiano nacional, com destaque para as paisagens, cenas populares e representações idealizadas da vida rural e urbana.
Entre 1920 e 1922, vive em Roma, onde atua como bolsista e professor da Academia Brasileira de Belas Artes, participando ativamente dos círculos artísticos europeus. Após seu retorno ao Brasil, intensifica sua produção artística e contribui para a preservação cultural da Ilha de Paquetá, onde funda a Liga Artística de Paquetá e realiza diversas ações voltadas ao embelezamento paisagístico e à valorização da vida comunitária. Sua casa-ateliê tornou-se referência na região, sendo frequentada por artistas, intelectuais e autoridades.
Ao longo de sua carreira, Pedro Bruno recebeu medalha de bronze (1912), medalha de ouro (1925) e homenagens póstumas, como a Menção Honrosa em 1943. Participou de exposições importantes no Brasil e no exterior, sempre mantendo uma linguagem figurativa marcada por traços acadêmicos, paleta de tons terrosos e um sutil viés espiritualista. Seu trabalho é atravessado por valores como o patriotismo, a religiosidade e o respeito pela natureza.
Faleceu em 2 de fevereiro de 1949, em Paquetá, enquanto trabalhava em seu ateliê, deixando como legado, uma vasta produção artística e uma imagem pública de artista comprometido com sua comunidade.
Pedro Bruno | Itaú Cultural
Pedro Paulo Bruno (Ilha de Paquetá RJ 1888 - Rio de Janeiro RJ 1949). Pintor, escultor, desenhista, artista visual, concertista. Recebe as primeiras lições do pintor italiano Ettore Tito. Com a visita de Castagneto à Ilha de Paquetá, em 1897, torna-se seu discípulo. Viaja para a Itália, em 1905, estuda música em conservatórios de Roma e Nápoles, e obtém diploma de cantor lírico. Retorna ao Brasil em 1910 e tem aulas com o pintor italiano Schettino. Ingressa na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1918, é aluno de Baptista da Costa e Giuseppe Boschetto (1841 - 1918), e discípulo de Domenico Morelli (1823-1901). Bruno recebe o prêmio viagem ao exterior da 26ª Exposição Geral de Belas Artes, em 1919, com a tela Pátria, e no ano seguinte vai para a Itália para aperfeiçoar-se em pintura na Accademia Brittanica, em Roma. Entre 1921 e 1922 dirige a Classe Geral de Nu dessa academia. De volta ao Brasil, em 1922, funda, com Hermes Fontes (1888 - 1930), a Liga Artística de Paquetá, em 1923. No Salão Nacional conquista medalha de ouro, em 1925, e de honra, em 1943. Realiza exposições individuais no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre. É responsável por diversos projetos paisagísticos e ornamentais em sua cidade natal e defensor entusiasmado da natureza local.
Análise
Concertista na juventude, pintor consagrado no Salão Nacional, divulgador cultural e paisagista no fim da vida, a gama de atividades com as quais Pedro Bruno se envolve dá mostra de seu entusiasmo pelas mais diversas formas de expressão artística. Nessa trajetória multifacetada, destaca-se sua contribuição ao desenvolvimento de símbolos necessários à consolidação do projeto nacional republicano, implantado no fim do século XIX no Brasil. Nesse aspecto, a tela Pátria, 1919, hoje no Museu da República, no Rio de Janeiro, é seu trabalho mais significativo, que obtém imensa difusão ao ser reproduzido na antiga nota brasileira de 200 mil cruzeiros. A obra retrata, por meio da alegoria, o momento fundador da identidade nacional, representada pela primeira bandeira da república, feita, segundo a tradição, pela costureira Flora Simas Carvalho, por encomenda do marechal Deodoro da Fonseca.
Nesse novo "nascimento da nação", localizado em âmbito doméstico, não mais público, como faz Pedro Américo em Independência ou Morte, 1888, mostra-se a "república" recém-nascida, protegida pela bandeira da unidade federativa (representada pelas estrelas), no centro do quadro, numa longa diagonal que toma quase a totalidade da tela, sendo costurada pelas senhoras reunidas no aposento de uma casa simples, pintada com tons vivos, numa gama de vermelhos e amarelos intensificada pelas pinceladas de caráter pastoso, embora curtas. O símbolo é abraçado pela criança em primeiro plano, que representa a virtude patriótica a ser emulada. Ao fundo, encontra-se a figura do velho combatente, que, esquecido na penumbra, ainda porta as vestes militares e evoca os feitos em prol da unificação e da defesa nacional.
O quadro é testemunho de um esforço retórico e ideológico dos pintores da Primeira República, que, embora tenham pretendido afastar-se dos preceitos artísticos da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, se mantêm fiéis às regras de representação ensinadas nessa instituição, e pouco interessados na exploração de outras possibilidades pictóricas.
Críticas
"Sua pintura filiou-se ao realismo do início do século, originário do realismo francês liderado por Courb, deixou-se, no entanto, sugestionar pelo impressionismo, sobretudo nas cenas praieiras, pelas quais acentuou sua preferência" — Carlos Cavalcanti (CAVALCANTI, Carlos (org.); AYALA, Walmir, (org.). Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Brasília: MEC: INL, 1973. v. 1. pt. 2. (Dicionários especializados, 5)).
"Mais próximo da tradição derivada de seu mestre Batista da Costa quando pintava paisagens, Pedro Bruno revelou-se mais 'moderno' como pintor de formas femininas. Convencional, em temas como Maternidade (que tantas vezes pintou), discreto em suas paisagens, ganha em sensibilidade ao fixar corpos femininos, nus ou vestidos, ao representar pensadores em seus barcos à beira-mar. O nu, particularmente, sai-lhe espontâneo e nervoso, em largas pinceladas cheias de empaste". — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Exposições Individuais
1914 - Rio de Janeiro RJ - Individual
1920 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Jorge
1941 - Rio de Janeiro RJ - Individual
Exposições Coletivas
1909 - Rio de Janeiro RJ - 16ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1910 - Rio de Janeiro RJ - 17ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1911 - Rio de Janeiro RJ - 18ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1912 - Rio de Janeiro RJ - 19ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de bronze
1913 - Rio de Janeiro RJ - 20ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de prata
1914 - Rio de Janeiro RJ - 21ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1915 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1916 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1919 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Carioca de Gravura e Água-Forte
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - prêmio de viagem ao exterior
1920 - Rio de Janeiro RJ - 27ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - pequena medalha de ouro
1923 - Rio de Janeiro RJ - 30ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1925 - Rio de Janeiro RJ - 32ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - grande medalha de ouro
1926 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão de Outono
1926 - Rio de Janeiro RJ - 33ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1928 - Rio de Janeiro RJ - 35ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1928 - São Paulo SP - Grupo Almeida Júnior, no Palácio das Arcadas
1929 - Rio de Janeiro RJ - 36ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - Prêmio Cidade do Rio de Janeiro
1929 - Rosário (Argentina) - Exposição de Rosário de Santa Fé
1930 - Rio de Janeiro RJ - 37ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1932 - Rosário (Argentina) - Exposição de Rosário de Santa Fé - premiado
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1935 - Rio de Janeiro RJ - Salão da Feira de Amostras - prêmio de costumes
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1939 - São Paulo SP - 6º Salão Paulista de Belas Artes
1940 - São Paulo SP - 7º Salão Paulista de Belas Artes
1943 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes - prêmio de honra
1943 - São Paulo SP - 9º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1945 - São Paulo SP - 11º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1948 - São Paulo SP - 14º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
Exposições Póstumas
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1966 - Ilha de Paquetá RJ - Retrospectiva póstuma, em seu ateliê
1974 - São Paulo SP - Os Mestres de Ontem, Hoje e de Sempre, na A Ponte Galeria de Arte
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1982 - Rio de Janeiro RJ - 150 Anos de Pintura de Marinha na História da Arte Brasileira, no MNBA
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Museu Naval e Oceanográfico. Serviço de Documentação da Marinha
Fonte: PEDRO Bruno. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 23 de julho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Pedro Bruno | Wikipédia
Pedro Paulo Bruno (Paquetá, 14 de outubro de 1888 – Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1949) foi um pintor, cantor, poeta e paisagista brasileiro. Sua obra mais conhecida é o quadro Pátria, de 1918, que retrata a bandeira do Brasil sendo bordada no seio de uma família.
Infância
Pedro Paulo Bruno nasceu em 14 de outubro de 1888 na casa de sua família na Ilha de Paquetá. Seu pai, o comerciante italiano Felice Antonio Bruno havia emigrado para o Brasil com a jovem esposa, Magdalena Marmo Bruno, em 1878, juntamente com os três filhos do casal (Rosa, Antero e Miguel).[2] Provenientes de Casalbuono, na província italiana de Salerno, eles fixaram residência na Ilha de Paquetá, na casa de nº 105, na Praia da Guarda.
Aos sete anos de idade, Bruno ensaiava seus primeiros traços, e aos nove já era reconhecido em Paquetá como um desenhista promissor. Nesta época, por ocasião da morte de uma criança cujos pais desejavam ter uma imagem como recordação, o pequeno artista foi chamado às pressas e, ali mesmo no velório, ainda que um pouco assustado, executou o retrato. Segundo o próprio Pedro Bruno lembraria mais tarde, o desejo de pintar teria surgido nele no dia em que, expulso da sala de aula pela professora, sentou num muro para contemplar o mar azul de Paquetá. Em 1897, quando o pintor Giovanni Battista Castagneto, também de origem italiana, esteve em Paquetá, Pedro Bruno imediatamente estabeleceu amizade com o artista, oferecendo-se para transportar seu cavalete, sua paleta e seus pincéis para os diversos lugares da ilha que o artista retratava. O menino ficava horas a observar com atenção o trabalho do mestre, tornando-se um discípulo dedicado.
Pedro Bruno era dotado. Possuía admirável voz de barítono. Em 1905, aos quatorze anos, embarcou para a Itália com o objetivo de estudar no Conservatório de Nápoles e de Roma, de onde retornou diplomado em canto lírico. Trabalhou no Conservatório de Música do Rio de Janeiro, e, sob a direção do maestro De Lucio, percorreu Belo Horizonte, São Paulo e Santos em turnê artística, mas morou no Rio. Pedro Bruno, porém, logo se aborreceu com o canto e, retorna ao Brasil, começando a se dedicar mais à pintura, retratando as paisagens de Paquetá e tendo lições com o pintor italiano Schettino.
Carreira
Em 1910, ao retornar a Paquetá, envolto e seduzido pelas belezas da ilha, Pedro Bruno percebeu que era a pintura a atividade que o empolgava. Indiferente às dificuldades que sua corajosa decisão poderia acarretar, iniciou, de maneira autodidata, uma nova carreira. Sozinho pelas praias, com seu material de pintura, seguiu retratando incansavelmente os recantos da ilha. Em 1912, recebeu a Medalha de Bronze, do Salão de Belas Artes, pela paisagem marinha intitulada Manhã Azul. Suas telas impunham-se pelo empenho técnico, com o que Bruno obteve o respeito da crítica especializada. Foram exemplo desta receptividade os elogios que recebeu por seu quadro Sentinela da Pátria, exposto no salão de espera do cinema Orion, em Campos. Naquele ano de 1917, a obra provocou admiração em todos que por ali passavam.
Com o intuito de aprimorar sua técnica, Bruno ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1918. Seus professores foram os grandes mestres João Baptista da Costa e José Boschetto. Em agosto do ano seguinte, o Conselho Superior de Belas Artes conferiu-lhe o Prêmio de Viagem da 26ª Exposição Geral. O quadro vencedor intitulava-se Pátria, uma concepção cívica que simbolizava a construção da pátria brasileira ao retratar um grupo de mulheres simples que, de maneira dedicada, costuravam a bandeira nacional. Sobre a premiação, Coelho Netto escreveu o seguinte no jornal A Noite: "O júri naturalmente votou o prêmio ao pintor pela execução da obra, eu votaria pelo poeta que soube vestir uma ideia augusta com o pano sagrado em que se envolve a Pátria!".
Em 1920, antes de seguir para a Itália, Bruno teve suas obras expostas em São Paulo, no salão anexo ao cinema Central, na Avenida São João, com grande sucesso de público e de crítica. Ainda neste ano, a Galeria Jorge, no Rio de Janeiro, organizou uma exposição com 70 quadros do pintor. Os cariocas, igualmente, festejaram a mostra. Ao chegar em Roma, Bruno inscreveu-se para a prova de admissão ao curso de pintura da Academia Inglesa, famosa instituição de ensino artístico. Classificou-se em 3º lugar em meio a 65 candidatos italianos e estrangeiros. Decorridos apenas seis meses de sua matrícula, já era convidado pelos dirigentes da instituição para reger aulas de modelo vivo. Na Itália, o artista estudou, lecionou, recebeu elogios da imprensa e deixou vários quadros, dois no Museu de Salerno e os demais em galerias particulares.
De volta ao Brasil em 1922, foi recebido com grandes homenagens pela população e pelas autoridades de Paquetá. Mesmo levando em consideração o aperfeiçoamento obtido em sua arte e o êxito alcançado na Europa, Bruno dizia-se mais nacionalista do que nunca. O pintor instalou seu ateliê ao fundo do conjunto principal da casa onde residia, em Paquetá, e assumiu o papel de zelador das belezas da ilha, embora viesse a possuir no Centro do Rio, na rua do Teatro, outro pequeno ateliê. O Precursor, uma apoteose a Tiradentes, obra executada ainda na Itália, encontra-se hoje no Museu Histórico Nacional. No mesmo ano de seu regresso, conquistou a Medalha de Ouro do Salão de Belas Artes, com o quadro Mãe.
O trabalho de Bruno, exposto em São Paulo em 1924, foi acolhido com admiração pelos meios artístico e intelectual paulistanos, tendo se destacado os quadros Guanabarinas e Anunciação, que atraíram especial atenção dos visitantes. O pintor foi grande colaborador do Salão Paulista de Belas Artes até o ano anterior ao de sua morte. Em retribuição, dentre outras homenagens, a Prefeitura da Cidade de São Paulo batizou com seu nome uma rua do bairro de Butantã.
O último grande trabalho de Bruno foi a tela Gonçalves Dias, pintada no ano anterior ao de sua morte. Em 1948, Pedro recebeu a maior homenagem em vida: um busto seu foi erguido na praça que leva seu nome. A obra, idealizada por Paulo Mazucheli, tem como legenda: "O poeta da cor, das árvores e dos pássaros".
Outras atividades
Bruno ocupou o cargo de Oficial Administrativo da Prefeitura de Paquetá, comissionado como zelador do cemitério local. Nesta função, além de ter executado a reforma total da capela, toda em pedra, doou à instituição duas de suas obras – Cristo ao Luar e São Francisco falando aos pássaros – e implementou trabalhos de jardinagem que transformaram o campo-santo num parque florido, um local atrativo para visitação.
Mas seu amor a Paquetá levaram-no a atuar, efetivamente, como zelador de toda a ilha. Com o intuito de preservar o patrimônio paisagístico e realçar os encantos naturais de Paquetá, Pedro criou a Liga Artística, juntamente com um grupo de apaixonados pela ilha. Visando chamar atenção para a importância da preservação ambiental, eram realizadas festas comemorativas às árvores e aos pássaros. Inaugurou em diversas praias e praças, bustos, hermas, placas e marcos em homenagem a personalidades de destaque, lembrando-se sempre dos índios, os primeiros habitantes. Era visto com freqüência a caminhar pela ilha, com seu chapéu, conversando com os moradores, numa atitude de simplicidade e modéstia que contrastava com o que se esperaria de um nome consagrado da arte brasileira.
Morte
Pedro Bruno morreu devido às complicações de um edema pulmonar agudo em 2 de fevereiro de 1949, dois anos após a morte de sua esposa, enquanto trabalhava em seu ateliê, no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: Magda, Hélio, Lia e Fábio. Foi sepultado no cemitério da ilha que amou e imortalizou em suas telas, na presença da população consternada.
Homenagens
Em 1966, os filhos de Bruno organizaram, na residência do artista, uma exposição póstuma que apresentava cerca de 100 trabalhos, alguns inéditos, outros inacabados, como Amor Eterno. Outra expressiva homenagem póstuma foi a exposição inaugurada em 1º de novembro de 1949, no Salão Assírius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de 180 telas do artista. A mostra foi organizada por seus filhos e patrocinada pelo prefeito Ângelo Mendes de Morais, sob os auspícios da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Na ocasião, o vereador Álvaro Dias propôs apresentar à Câmara Municipal do Rio de Janeiro um projeto transformando em museu a casa de Bruno em Paquetá. Em 1950, através do Projeto de Lei nº 61, a câmara aprovou a criação do Museu Pedro Bruno. A falta de recursos, entretanto, impediu a concretização da proposta.
Um detalhe do quadro Pátria de Bruno foi incluído na nota de 200 cruzados novos, que homenageava o centenário da Proclamação da República.[3] A vigência do cruzado novo durou de 16 de janeiro de 1989 a 15 de março de 1990, tendo as cédulas saído de circulação em 15 de setembro de 1994.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de julho de 2025.
Pedro Bruno pintou Paquetá de todas as maneiras | Rolé Carioca
Meu avô foi um idealizador. Junto com um grupo de pessoas apaixonadas pela ilha, formaram a “Liga Artística” que teve como missão fazer de Paquetá um lugar charmoso, aprazível de se visitar. Naquela época, não havia lugares para sentar e apreciar a beleza ao redor. O conjunto de melhoramentos feitos para a ilha, como os bancos, os degraus que dão acesso ao cais, os bebedouros, as colunas que servem de suporte para bougainvilles e o caramanchão da Praia dos Tamoios, foi tombado pelo município em 1999.
É de sua autoria o projeto arquitetônico e paisagístico do Cemitério de Santo Antônio e do anexo conhecido como ‘Cemitério dos Pássaros’. Esse conjunto é especial para a memória de nossa família, onde Pedro Bruno, nascido na ilha em 1888, está enterrado. A capela, toda em pedra, é uma graça! Lá é possível ver duas reproduções de obras do pintor - "Cristo ao luar", em cima do altar da capela, e "São Francisco falando com os pássaros”. Os originais se perderam acidentalmente, com o uso de velas na capela.
Uma faceta menos conhecida de Pedro Bruno foi sua preocupação com a preservação da natureza. Era um ambientalista, coisa rara nas décadas de 1930/1940. Promovia na ilha a chamada ‘festa dos pássaros’. Todo mês de setembro, comprava aves que viviam em cativeiro, as soltava em Paquetá, e depois queimava as gaiolas. Havia também uma ‘festa das árvores’, para incentivar a conservação das espécies, bem antes do tombamento das árvores da ilha.
Pedro pintou Paquetá de todas as maneiras. A memória dos índios, as pedras da marinha e seus flamboyants – árvore que está no brasão do bairro. Destaco ainda a maternidade e o aleitamento como questões sagradas para meu avô em suas obras. Como prêmio de “Viagem a Europa” recebido com a tela “Pátria”, foi estudar na Academia Inglesa de Roma e, pouco tempo depois, foi convidado a lecionar na instituição. Desse período, trouxe peças que hoje enfeitam os jardins da casa em que residiu em Paquetá – entre elas, uma reprodução da “Vênus de Milo” que chama atenção de quem passa pela rua, mas não é obra dele e foi colocada no jardim após a morte do pintor, pois a original foi danificada.
Paquetá vive um momento cultural bacana. Há iniciativas como o “Plantar Paquetá”, que está repondo parte dos flamboyants caídos do bairro, e o cineclube do Quintal da Regina, sempre com uma programação interessante. Na Casa de Artes Paquetá, estreamos o projeto “Pedro Bruno visita a Casa de Artes”, para colocar em exposição uma tela do acervo da nossa família. A primeira é um ensaio feito para o quadro “Pátria”, que completa 100 anos em 2019. O original está exposto no salão ministerial do Museu da República, onde Getúlio despachava, e passou por um restauro recente.
Algumas peças e ambientes da Casa Pedro Bruno estão como eram antigamente: sua mesa de trabalho, as cadeiras, os móveis da sala de jantar, sua bengala, entre outros objetos. Também mantenho um catálogo dos quadros e as publicações da imprensa com referências a Pedro Bruno.
Fonte: Rolé Carioca, "Pedro Bruno pintou Paquetá de todas as maneiras", depoimento de Malu Vergani, publicado em 22 de maio de 2019. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Pedro Bruno | Site Oficial Pedro Bruno
No ano de 1878 o negociante Felice Antonio Bruno e sua jovem esposa, Magdalena Marmo Bruno, desembarcaram no Rio de Janeiro, juntamente com os filhos Rosa, Antero e Miguel. Provenientes de Casalbuono, província italiana de Salerno, fixaram residência na Ilha de Paquetá, na Praia da Guarda, nº 105. Naquela ampla casa, cercada por uma varanda e com frente ajardinada, nasceu Pedro Paulo Bruno, em 14 de outubro de 1888. Pedro Bruno, como veio a ser internacionalmente conhecido, cresceu em meio à plenitude de encantos da ilha, tornando-se um artista imaginoso, dotado de alta sensibilidade e, ao mesmo tempo, um patriota, homem de devotado espírito público, benfeitor de sua terra natal. Era-lhe fácil e natural sentir a arte em suas variadas expressões, exprimindo-a não apenas no canto, na escultura, no paisagismo e na poesia, mas também – e principalmente – na pintura. Esta sensibilidade também permeava suas iniciativas, quer como funcionário público, quer como cidadão.
Aos sete anos de idade Pedro Bruno ensaiava seus primeiros traços, e aos nove já era reconhecido em Paquetá como um desenhista promissor. Nesta época, por ocasião da morte de uma criança cujos pais desejavam ter uma imagem como recordação, o pequeno artista foi chamado às pressas e, ali mesmo no velório, ainda que um pouco assustado, executou o retrato. Em 1897, quando o pintor Giovanni Battista Castagneto esteve em Paquetá, Pedro Bruno imediatamente estabeleceu amizade com o artista, oferecendo-se para transportar seu cavalete, sua paleta e seus pincéis para os diversos lugares da ilha que o artista retratava. O menino ficava horas a observar com atenção o trabalho do mestre, tornando-se um discípulo dedicado ao aprendizado da pintura. Pedro Bruno foi dotado com outro grande talento, o de cantor. Possuía admirável voz de barítono. Em 1905, aos quatorze anos, embarcou para a Itália com o objetivo de estudar nos Conservatórios de Nápoles e de Roma, de onde retornou diplomado em canto lírico. Trabalhou no Conservatório de Música, no Rio de Janeiro, e, sob a direção do maestro De Lucio, percorreu Belo Horizonte, São Paulo e Santos em tournée artística.
Em 1910, de regresso a Paquetá – novamente envolto e seduzido pelas belezas naturais da ilha – Pedro Bruno percebeu que era a pintura a atividade que o empolgava. Indiferente às dificuldades que sua corajosa decisão poderia acarretar, iniciou, de maneira autodidata, uma nova carreira. Sozinho pelas praias, com seu material de pintura, seguiu retratando incansavelmente os lindos recantos da Ilha. Em 1912 recebeu a Medalha de Bronze, do Salão de Belas Artes, pela paisagem marinha intitulada “Manhã Azul”. Suas telas impunham-se pelo empenho técnico, com o que Pedro obteve o respeito da crítica especializada. Mas foi o elemento sensorial – a amálgama de sinceridade e capacidade de traduzir estados de alma – que aproximou Pedro Bruno do grande público. Foram exemplo desta receptividade os elogios que recebeu por seu quadro “Sentinela da Pátria”, exposto no salão de espera do cinema Orion, em Campos. Naquele ano de 1917, a obra provocou admiração em todos que por ali passavam, por traduzir a alma brasileira e por falar diretamente ao coração do povo.
Com o intuito de aprimorar sua técnica, Pedro Bruno ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1918. Seus professores foram os grandes mestres João Baptista da Costa e Jose Boschetto. Em agosto do ano seguinte, o Conselho Superior de Belas Artes conferiu-lhe o “Prêmio de Viagem” da 26ª Exposição Geral. A consagração foi considerada como absolutamente justa por seus próprios colegas e professores, pois nesta época o artista já havia alcançado todas as premiações que, por força do regulamento, deveriam precedê-la. O quadro vencedor intitulava-se “Pátria”, uma concepção cívica que simbolizava a construção da pátria brasileira ao retratar um grupo de mulheres simples que, de maneira dedicada, costuravam a Bandeira Nacional. Sobre esta premiação, Coelho Netto escreveu em artigo para o jornal “A Noite”, em novembro de 1919: “O júri naturalmente votou o prêmio ao pintor pela execução da obra, eu votaria pelo poeta que soube vestir uma idéia augusta com o pano sagrado em que se envolve a Pátria!”. Em 1920, antes de seguir para a Itália, Pedro Bruno teve suas obras expostas em São Paulo, no salão anexo ao cinema Central, na Avenida São João, com grande sucesso de público e de crítica. Ainda neste ano, a Galeria Jorge, no Rio de Janeiro, organizou uma exposição com 70 quadros do pintor. Os cariocas, igualmente, festejaram a mostra.
Ao chegar a Roma, Pedro Bruno inscreveu-se para a prova de admissão ao curso de pintura da Academia Inglesa, famosa instituição de ensino artístico. Classificou-se em 3º lugar em meio a 65 candidatos italianos e estrangeiros. Decorridos apenas seis meses de sua matrícula, já era convidado pelos dirigentes da instituição para reger aulas de modelo vivo. Na Itália, o artista estudou, lecionou, recebeu elogios da imprensa e deixou vários quadros – dois no Museu de Salerno e os demais em galerias particulares.
De volta ao Brasil em 1922, foi recepcionado com grandes homenagens pela população e pelas autoridades de Paquetá. Mesmo levando em consideração o aperfeiçoamento obtido em sua arte e o êxito alcançado na Europa, Pedro Bruno dizia-se mais nacionalista do que nunca. O pintor instalou seu ateliê ao fundo do conjunto principal da casa onde residia, em Paquetá, e assumiu o papel de zelador das belezas da ilha, embora viesse a possuir no Centro do Rio, à rua do Teatro, outro pequeno ateliê.
“O Precursor”, uma apoteose a Tiradentes, obra executada ainda na Itália, encontra-se hoje no Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro. No mesmo ano de seu regresso conquistou a Medalha de Ouro do Salão de Belas Artes, com o quadro “Mãe”.
O trabalho de Pedro Bruno, exposto em São Paulo em 1924, foi acolhido com admiração pelos meios artístico e intelectual paulistanos, tendo se destacado os quadros “Guanabarinas” e “Anunciação”, que atraíram especial atenção dos visitantes.
O pintor foi grande colaborador do Salão Paulista de Belas Artes até o ano anterior ao de sua morte. Em retribuição, dentre outras homenagens, a Prefeitura da Cidade de São Paulo batizou com seu nome uma rua do bairro de Butantã.
Ao longo de sua carreira artística, Pedro Bruno expôs seus quadros em várias cidades do Brasil, tais como Recife, Curitiba, Santos, Vitória, Campos, Teresópolis, Pelotas e Porto Alegre, e também em Rosário de Santa Fé, na Argentina. Angariou admiradores leigos e especializados por onde passou, e ainda diversos prêmios e medalhas. Em 1943 recebeu a Grande Medalha de Honra, considerada a maior premiação para um artista no Brasil, com seu quadro “Sonata ao Luar”, que encontra-se no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Há obras de Pedro Bruno nos seguintes locais: Museu da República (RJ), Museu Nacional de Belas Artes (RJ), Museu Histórico Nacional (RJ), municipalidades de São Paulo e de Curitiba, Pinacoteca da Sociedade Brasileira de Belas Artes e no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. O quadro “Contemplativa” encontra-se no Museu de Estocolmo.
Pedro Bruno ocupou o cargo de Oficial Administrativo da Prefeitura de Paquetá, comissionado como zelador do cemitério local. Nesta função, além de ter executado a reforma total da capela, toda em pedra, Pedro doou à instituição duas de suas obras – “Cristo ao Luar” e “São Francisco falando aos pássaros” – e implementou trabalhos de jardinagem que transformaram o campo-santo num parque florido, um local atrativo para visitação. Mas seu amor a Paquetá, seu senso estético e seu idealismo levaram-no a atuar, efetivamente, como zelador de toda a ilha. Com o intuito de preservar o patrimônio paisagístico e realçar os encantos naturais de Paquetá, Pedro criou a Liga Artística, juntamente com um grupo de apaixonados pela ilha que incluia Augusto Silva, Angelo Di Franco, Alambary Luz, Alfredo Brasil, Gen. Alípio Costallat, Dr. Antonio Ferreira, Áurea Modesto Leal, Gen. Agra de Lacerda, Diogo Leivas, Comte. José Henrique Bahia, Dr. José Thedin Barreto, Luiz Marques Poliano, Dr. Lívio Porto, Gen. Mena Barreto, o escritor Vivaldo Coaracy, o cronista e poeta Waldomiro Ferreira, dentre outros sócios. Visando chamar atenção para a importância da preservação da natureza, eram realizadas festas comemorativas das árvores e dos pássaros. Inaugurou em diversas praias e praças, bustos, hermas, placas e marcos em homenagem a personalidades de destaque, lembrando-se sempre dos índios, seus primeiros habitantes. Era visto com freqüência a caminhar pela ilha, com seu chapéu, conversando com os moradores, numa atitude de simplicidade e modéstia que contrastava com o que se esperaria de um nome consagrado da arte brasileira – “as seduções da glória humana não o fascinavam”
Um edema pulmonar agudo levou-o embora dois anos após a perda de sua esposa, no dia 2 de fevereiro de 1949, enquanto trabalhava em seu ateliê, no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: Magda, Hélio, Lia e Fábio. Foi sepultado no cemitério da ilha que amou e imortalizou em suas telas, na presença da população consternada
Em 1966 os filhos de Pedro Bruno organizaram, na residência do artista, uma exposição póstuma que apresentava cerca de 100 trabalhos, alguns inéditos, outros inacabados, como “Amor Eterno”. O evento objetivava proporcionar à população da ilha e a seus visitantes a proximidade com os inúmeros trabalhos do consagrado pintor. Outra expressiva homenagem póstuma foi a exposição inaugurada em 1º de novembro de 1949, no Salão Assírius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de 180 telas do artista. A mostra foi organizada por seus filhos e patrocinada pelo prefeito Mendes de Morais, sob os auspícios da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Na ocasião, o vereador Álvaro Dias propôs apresentar à Câmara Municipal do Rio de Janeiro um projeto para transformar em Museu a casa de Pedro Bruno, em Paquetá. No local havia telas, além de croquis, estudos, objetos de arte e material de trabalho. Em 1950, através do Projeto de Lei nº 61, a Câmara do Distrito Federal aprovou a criação do Museu Pedro Bruno. A falta de verba, no entanto, impediu a concretização da proposta.
O último grande trabalho de Pedro Bruno foi a tela “Gonçalves Dias”, pintada no ano anterior ao de sua morte. Pedro recebeu, em 1948, a derradeira homenagem em vida: um busto do artista e benfeitor foi erguido na praça que leva seu nome. A obra, cinzelada por Paulo Mazucheli, tem como legenda.
Fonte: Pintor Pedro Bruno. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Paisagista
Pedro Bruno fundou a Liga Artística de Paquetá em 1923. Durante um quarto de século, sob a sua presidência, a entidade trabalhou em prol da preservação e do embelezamento do patrimônio paisagístico de Paquetá.
Eram organizadas festas anuais em homenagem às árvores e aos pássaros, como forma de conscientizar e mobilizar o povo paquetaense, no sentido de preservar as belezas naturais da Ilha. O artista conhecia a vida de cada árvore de Paquetá, especialmente a dos flamboyants, da semente à floração. Impedia a derrubada de árvores, muitas delas plantadas por suas próprias mãos, e cuidava de suas enfermidades.
Urbanista por experiência, Pedro Bruno ajardinou não apenas o Cemitério do qual foi zelador, como também diversos logradouros da Ilha. Costumava adquirir passarinhos cativos, apenas para devolvê-los em seguida a liberdade.
Por iniciativa do artista, foram levantados – em diversas ruas, praças e praias de Paquetá – pequenos monumentos, bustos e placas em pedra ou bronze com data e legenda esculpidas. Eram erguidos para homenagear vultos de grande relevância para as Artes, para as Letras ou, em particular, para moradores destacados da Ilha. Dessa forma, foram perpetuados entre outros: Hermes Fontes, Carlos Gomes, Joaquim Manoel de Macedo, Padre Juvenal, Maestro Anacleto e Dr. Aristão. A inauguração de uma admirável máscara de Beethoven, esculpida em bronze, teve o formato característico das celebrações organizadas por Pedro Bruno.
Durante meia hora deste evento, as rádios locais, em colaboração com a Liga Artística, transmitiram obras do compositor – escutadas à luz do luar pela população presente.
A chegada do progresso trouxe a luz elétrica, o que motivou Pedro Bruno a lutar com heroísmo para evitar que esta forma de iluminação fosse adotada nas ruas de Paquetá. Não porque fizesse oposição aos confortos propiciados pelos avanços tecnológicos, mas porque tinha plena consciência da importância de se conservar ao máximo a feição primitiva da Ilha, como um legado para as gerações futuras. Acabou sendo vencido, mas em troca conseguiu que em noites de luar as luzes das ruas fossem desligadas. O seu olhar de artista percebia que inovações artificiais, se utilizadas indiscriminadamente, poderiam vir a acarretar danos ecológicos e estéticos ao ambiente natural. Com seu trabalho de idealista, já naquele início do século XX, procurou difundir consciência – válida até os dias atuais – de admiração e proteção à natureza.
Inauguração busto de Carlos Gomes – Praia dos Tamoios
“Plantar árvores e proteger os ninhos é um tributo do Homem à terra mater” — Pedro Bruno.
Cemitério dos Pássaros
“Longe da feição macabra, devemos ver apenas, no cemitério, uma alta expressão do passado, suavemente lembrada pela saudade” — Pedro Bruno.
Pedro Bruno aliava, a seus dons artísticos e a seu zelo pela natureza, um devotado espírito público. Assim, ao tornar-se Oficial Administrativo comissionado pela Prefeitura, no cargo de zelador do cemitério da Ilha (Cemitério de Santo Antônio), implementou reformas que – com o toque magistral da sua arte de Mestre – transformaram o campo-santo num verdadeiro jardim, um local aprazível e convidativo à visitação.
O terreno onde passou a localizar-se a necrópole, situado numa suave encosta, havia pertencido anteriormente à Sra. D. Maria da Conceição, que doou-o à Mitra. A Irmandade que o ocupou não conseguiu, por falta de recursos, mantê-lo limpo e conservado. Com aspecto de terreno baldio, invadido pelo matagal, o campo sagrado perdeu sua integridade. Por decreto municipal de 23 de maio de 1860, o local foi desapropriado e transformado em área de utilidade pública. Esta medida repercutiu de forma positiva no seio da população paquetaense, que confiou a Pedro Bruno a tarefa de recuperação do patrimônio.
Mais do que recuperá-lo, Pedro Bruno efetuou no terreno uma radical transformação, fazendo surgir ali um autêntico cemitério, um local digno, ornamentado com os requintes de um esteta. As alamedas foram ajardinadas com vegetação adequada. Foram plantados roseirais, ciprestes, chorões e esplêndidos tamarineiros – cobertos por barbas-de-velho franjadas – por entre os alvos túmulos. A reforma da Capela contou com a colaboração da Liga Artística, entidade fundada por Pedro Bruno em 1923 com a finalidade de proteger e conservar os patrimônios naturais e culturais da Ilha.
Acima de um conjunto de pedras de cerca de dois metros de altura, foram levantadas três arcadas em estilo gótico. A seleção das pedras, em tons de cinza, foi feita pelo próprio artista, uma a uma, de acordo com as variações de tamanho e de tonalidade. As paredes ostentam ornatos em forma de pombas e de lírios, que destacam-se visualmente por sua brancura. O velório localiza-se ao centro das arcadas, onde também estão dispostos nove bancos de cantaria para as funções fúnebres. Ao fundo, ainda na parte central, encontrava-se o quadro “Cristo ao Luar”, de autoria de Pedro Bruno. Na varanda lateral há um singelo altar, dedicado a São Francisco de Assis, o santo que amava a natureza e, em especial, os pássaros. Encimando este altar estava outra tela do pintor, “São Francisco falando aos Pássaros”. Foi criado também um jardim, ao lado da capela, com um lago destinado a matar a sede dos passarinhos que, assim como as árvores, eram seres muito caros ao artista.
Uma expressiva inovação, que demonstra a sensibilidade da alma deste artista-empreendedor, foi a criação da “Ara da Saudade”. Em pedra tosca e escavada eram mantidas, permanentemente acesas, brasas nas quais parentes e amigos podiam depositar uma colherinha de incenso em memória de seus entes queridos, no Dia de Finados.
A terra exercia sobre Pedro Bruno uma influência profundamente mística. E foi esta terra – o solo do Cemitério de Paquetá, fruto de seu trabalho e de seu carinho, sob o tamarineiro que ele mesmo plantou – que recebeu seu corpo, cercado pelos familiares e pela multidão de cidadãos saudosos, em seu derradeiro adeus.
Discursos
Abaixo, um trecho do escrito “A Maldição da Árvore – para os fazedores de desertos”. Nele Pedro Bruno deu voz a uma árvore, num vigoroso libelo contra a insensata devastação da natureza.
“Homem! Eu sou uma eterna ressureição, revivo nas sementes que espalho em torno de mim, fecundo a terra, alimento os pássaros, enquanto em redor de minha sombra se levantam selvas soberbas, tu homem, carne inútil, só, desolado, sem ter dado à terra senão a inutilidade de ti mesmo espalhas a morte para poder viver.
Enquanto minha carne é fogo e chama, é vida, a tua espanta, afugenta, repugna.
Homem! Eu vivo como tu, maior que tu, levanto-me mais alto desta minha sombra mais longe, mais fresca, minha fronde abrange mais espaço agasalhando muitos pássaros que se desfazem em cantos.
Enquanto me levanto para te cobrir do sol, tu homem egoísta, na pequenez de tua sombra abrigas-te ti mesmo.
Reflete homem! De alma rude, no exceder de tua fúria ignóbil, não destróis somente nossas vidas, tu mesquinhas tua raça, enfraqueces teu cérebro embruteces tua alma, manchas teu passado, avilta tua Pátria.
Cada vez que ultrajes e deturpes a natureza mãe, mais te tornas indigno de viver em século de luz.”
Sobre Carlos Gomes, durante inauguração do busto do compositor:
“Minhas Senhoras! Meus Senhores.
Fica-se assombrado falar de um nome que com seu talento encheu uma época de sua Pátria. Seus poemas cantados na voz dos cantores, nas cordas dos violeiros e nos turbilhões sonoros das orquestras são o acervo de glórias que o Brasil se orgulha e nós nos ufanamos.
Carlos Gomes é parte integrante das maiores glórias que nobilitam a terra dos Pindoramas.
Saiu de sua terra ignorado e só voltou ao pátrio lar irradiando o fulgor de seu gênio engalanado de louros.
Voltou trazendo uma braçada de messes glorificadoras, entrando nos umbrais da história, como um herói vencedor penetra pela imortalidade adentro. Carlos Gomes foi a expressão sonora de uma raça onde três elementos tentavam construir uma nacionalidade acentuadamente brasileira.”
Fonte: Artigos Pedro Bruno. Consultado pela última vez em 24 de julho de julho.
A Casa De Pedro Bruno? O Museu De Paquetá |
Na rua principal, “por ser aquela em cujo extremo existe a velha Ponte, sonhadora e triste”, como diz Halmalo na sua bonita poesia “As Árvores de Paquetá” (*), não passa desapercebido ao visitante que desembarca das lanchas e segue na direção da Praia da Guarda, um lindo e bem cuidado jardim, muito bem composto e em perfeita e discreta harmonia com a casa de número 198 da Rua Furquim Werneck ...
É a casa de Pedro Bruno, idealizada por êle mesmo e onde ainda são encontrados todos os detalhes artísticos cuidadosamente projetados e executados por êle mesmo, o que confere ao local um aspecto paisagístico e arquitetônico todo especial.
Ali, a velha arte clássica comunga harmoniosamente com uma luxuriante vegetação tropical ...Uma cópia da Venus de Milus, chamada por De Lemoine (**) de “A Venus Desconhecida”, surge num dos recantos do jardim com a sua pureza glacial levemente maculada pelos reflexos de um suave limo...
Noutro ponto destaca-se a magnificência de Fídias, um dos maiores escultores gregos, num dos seus mais belos baixo-relêvos dos frisos do Panthenon de Atenas ...
Em contraste, vê-se também num outro recanto, uma imponente máscara de um escravo, esculpida por Miguel Ângelo e, mais além, no meio de uma vegetação silenciosa e escura, Bethoven dorme tranquilo na sua trágica imobilidade, levando-nos a sonhar com as suas sinfonias...
Todas as obras de Pedro Bruno no embelezamento de Paquetá, como bem o disse Francisco Veríssimo, de modo muito especial, na sua tese de Mestrado Social na UNIRIO, em 1998, “foram marcadas pela saudade da paisagem original” e também não figiram à essa regra a sua casa e o seu jardim, onde a composição das árvores, das plantas, das esculturas, do prédio, do muro e até mesmo dos arcos da varanda, em estilo neo-colonial, harmonizam-se perfeitamente com o ambiente de Paquetá.
Fonte: Web Artigos, "A Casa De Pedro Bruno? O Museu De Paquetá". Publicado por Marcelo Cardoso, em 12 de dezembro de 2007. Consultado pela última vez em 24 de julho de 2025.
Crédito fotográfico: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultado pela última vez em 23 de julho de 2025.