Vista Alegre (Ílhavo, Portugal, 1824) é uma fábrica de porcelana portuguesa fundada por José Ferreira Pinto Basto, sendo a mais antiga da Península Ibérica. Em 2009 foi adquirida pelo Grupo Visabeira. Atualmente a empresa produz cerca de 30 milhões de peças por ano (2019).
História - Site oficial
Fundada em 1824, a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre foi a primeira unidade industrial dedicada à produção da porcelana em Portugal. Para a fundação e sucesso deste arriscado empreendimento industrial foi determinante o espírito de persistência do seu fundador, José Ferreira Pinto Basto. Figura de destaque na sociedade portuguesa do século XIX, proprietário agrícola, comerciante audaz, incorporou sabiamente o ideário liberal do século, tendo-se tornado "o primeiro exemplo de livre iniciativa" em Portugal.
Começou por adquirir, em 1812, a Quinta da Ermida, perto da vila de ílhavo e à beira da Ria de Aveiro. Em 1816 comprou, em hasta pública, a Capela da Vista Alegre e terrenos envolventes, tendo aí instalado a Fábrica da Vista Alegre.
Em 1824, José Ferreira Pinto Basto apresentou uma petição ao Rei D. João VI para "erigir para estabelecimento de todos os seus filhos, com igual interesse, uma grande fábrica de louça, porcelana, vidraria e processos chímicos na sua Quinta chamada da Vista-Alegre da Ermida".
Em Alvará Régio de 1 de Julho de 1824 D. João VI autorizou o estabelecimento da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre. Apenas cinco anos depois, a Vista Alegre recebeu o título de Real Fábrica, um reconhecimento pela sua arte e sucesso industrial.
Os primeiros períodos de laboração iniciaram-se com a produção do vidro e cerâmica "pó de pedra", face ao desconhecimento da composição da pasta de porcelana. A produção de vidro foi de grande qualidade, destacando-se as peças com relevos e ornatos lapidados e gravados, bem como os delicados trabalhos de incrustação de medalhões. Em 1880 a Vista Alegre cessou a produção de vidro, tendo-se dedicado exclusivamente ao fabrico de porcelana.
No sentido de ultrapassar as dificuldades no que diz respeito à produção da porcelana, Augusto Ferreira Pinto Basto, filho do fundador, realizou uma visita técnica à fábrica francesa de Sèvres. Aí estudou a composição da pasta e obteve esclarecimentos que se revelaram fundamentais para a descoberta em 1832 de abundantes jazigos de caulino a norte de ílhavo.
Com a produção regular de porcelana entre 1832 e 1840 verificaram-se importantes melhorias na qualidade das pastas e vidrados, tendo a produção beneficiado igualmente de significativos progressos tecnológicos. Também a aposta, durante as primeiras décadas de laboração, na contratação de mestres estrangeiros com experiência na produção cerâmica foi determinante para a formação de uma mão-de-obra local altamente especializada na produção de porcelana.
Em 1851, a Vista Alegre participou na Exposição Universal organizada no Crystal Palace, em Londres, e em 1867 recebeu reconhecimento internacional na exposição Universal de Paris.
Em 1852, D. Fernando II visitou a Fábrica da Vista Alegre, tendo sido produzida uma baixela completa para a casa real.
Nos anos que se seguiram verificou-se um período de maior desenvolvimento industrial. O estilo simplificou-se, adquirindo um tom romântico e lírico, e introduziram-se técnicas mecânicas de decoração. Contudo, as dificuldades sentidas na transição de século marcaram o início de um período de decadência na empresa. A crise social e política que atravessava o país, agravada por uma deficiente gestão comercial e desorientação artística, são alguns dos fatores que, no seu conjunto, ajudam a compreender as dificuldades sentidas, dificuldades essas que irão prolongar-se até inícios do século XX.
Em 1924, com a nomeação de João Theodoro Ferreira Pinto Basto como Administrador-Delegado, iniciou-se um período de ressurgimento. Para além do crescimento e renovação na área industrial, também a nível criativo se verificou uma forte revitalização. Estilos modernistas como a Art Deco ou o Funcionalismo revelaram a capacidade de adaptação da empresa às mudanças sociais e estéticas do início de século.
Este trajecto de sucesso irá consolidar-se nas décadas seguintes do século XX. Profundas reestruturações industriais permitiram à empresa rentabilizar a produção, tornando mais eficaz a sua capacidade de resposta face ao aumento do consumo e globalização dos mercados. Por outro lado, a manutenção de uma área de manufatura, altamente especializada, centrada no saber-fazer dos operários e nas tradições centenárias da empresa, permitiu à Fábrica ocupar um lugar de primazia entre as grandes manufaturas europeias.
Entre 1947 e 1968, o aumento das exportações, o reapetrechamento das instalações fabris, a atenção dada à formação de quadros técnicos especializados e cooperação com congéneres europeias, encorajaram um forte desenvolvimento técnico e industrial, possibilitando o alargamento da oferta a novos mercados.
Foi instaurada a tradição de peças únicas, como o serviço produzido para Sua Majestade Isabel II, Rainha de Inglaterra, e multiplicaram-se as colaborações com artistas contemporâneos.
Em 1964 foi inaugurado o Museu da Vista Alegre, expondo ao público peças representativas do longo e rico caminho percorrido.
Em 1985 foi inaugurado o Centro de Arte e Desenvolvimento da Empresa (CADE), com o objetivo de fomentar a criação de novos modelos e decorações, bem como promover formação nas áreas da pintura e escultura.
Em 1985 foi também criado o Clube do Colecionadores, na altura limitado a 2.500 sócios, que reflete a importância da Vista Alegre no mercado da arte.
Realizaram-se, nos finais da década de 80, importantes exposições internacionais em locais como o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque ou o Pallazo Reale em Milão, contribuições decisivas para a divulgação e internacionalização da marca Vista Alegre.
Em 1997 concretiza-se a fusão com o grupo cerâmico Cerexport, que originou quase a duplicação do volume de negócios da Vista Alegre, nomeadamente nos mercados internacionais.
Em Maio de 2001 dá-se a fusão do Grupo Vista Alegre com o grupo Atlantis, formando o maior grupo nacional de tableware e sexto maior do mundo nesse setor, o Grupo Vista Alegre Atlantis (GVAA), cruzando-se novamente o vidro, e agora também o cristal, com a história da empresa.
A holding resultante atua em áreas tão diversas como porcelana de mesa, decorativa e de hotel, faiança, louça de forno, cristal, vidro manual e redes de retalho e distribuição.
Em 2009, o GVAA passou a integrar o portefólio de marcas do Grupo Visabeira, após a oferta pública lançada com sucesso sobre as ações representativas do capital social da empresa.
Mais do que um espaço fabril, a Vista Alegre é hoje um conjunto arquitetónico de inegável interesse, repositório de memórias sociais e artísticas fundamentais para a construção de uma identidade nacional.
História Fábrica de Cristal
As primeiras peças de cristal Atlantis nasceram na vila de Alcobaça em 1972, na fábrica então denominada Crisal - Cristais de Alcobaça, que, prosseguindo a velha arte portuguesa do trabalho no vidro, já se distinguia na produção de um dos melhores cristais de chumbo de fabrico manual em todo o mundo.
A fábrica de Alcobaça, que desde 1944 se dedicava à produção de lustres e vidro doméstico, foi adaptada, no início da década de 70, para a produção de cristal de chumbo superior. Todas as etapas de produção continuaram, no entanto, a ser desenvolvidas manualmente, preservando o saber milenar dos artesãos e recorrendo ao molde e à cana de sopro.
A qualidade dos cristais Atlantis alterou profundamente a perceção dos consumidores, que começaram progressivamente a valorizar o cristal nacional. As peças produzidas em Alcobaça passaram a merecer a confiança e a preferência dos portugueses e do mercado internacional, representando a exportação, em 1974, entre 50% e 75% da faturação, com especial ênfase para o mercado norte-americano.
O êxito alcançado no mercado norte-americano abre as portas a outros mercados. Com 500 trabalhadores e uma incrementada capacidade produtiva, a Atlantis estende a partir daí a sua oferta a cerca de 20 países, atingindo uma notoriedade à escala global.
Em 1985, e de forma a acomodar uma cada vez maior exigência em quantidade e qualidade de produtos, a Atlantis constrói uma nova fábrica no Casal da Areia, Concelho de Alcobaça.
No século XXI, marcado pela fusão com o Grupo Vista Alegre em 2001, determinante para dinamizar o seu alcance empresarial, a Atlantis continua a estar presente nos principais mercados internacionais, reconhecida unanimemente como fabricante de um dos mais puros cristais do mundo, fundindo saberes ancestrais com o melhor design contemporâneo.
Marca líder incontestada no seu setor em Portugal, a Atlantis, parte integrante do Grupo Vista Alegre Atlantis, continua a apostar numa estratégia de expansão, quer a nível de mercados, quer a nível de públicos.
Tipo de produtos
A Vista Alegre Atlantis produz porcelana de mesa, decorativa, giftware e hotelware, vidro e cristal de alta qualidade, e ainda cutelaria em aço inoxidável 18/10.
Dotada das mais modernas tecnologias de produção, a fábrica de porcelana possui também 17 pintores manuais, responsáveis pela decoração das peças.
A combinação de estilos que a marca oferece, dos mais clássicos aos mais contemporâneos, adequa-se a um perfil de consumidores alargado.
As linhas da Vista Alegre Atlantis herdeiras de uma longa tradição cultural convivem com uma forte componente moderna, traduzida em inúmeras propostas assinadas por reputados criadores internacionais como Carsten Gollnick, Sam Baron, Karim Rashid, Joana Vasconcelos, Roberto Chichorro e Christian Lacroix, entre muitos outros.
A porcelana
A porcelana é um produto cerâmico obtido pela cozedura, a elevada temperatura, de uma mistura cuidadosamente estudada de caulino, quartzo e feldspato. A qualidade das suas matérias-primas verifica-se na brancura e resistência da porcelana, sendo o seu vidrado brilhante e homogêneo. Com uma história de quase 200 anos, a marca combina hoje a mestria artesanal com tecnologia e design modernos, resultado das frequentes parcerias com diversos artistas, bem como com chefs de reputação internacional.
Fonte: Site oficial Fábrica de Vista Alegre, consultado pela última vez em 21 de janeiro de 2020.
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História - Wikipédia
Fábrica de Porcelana da Vista Alegre (GOMAI) é uma fábrica de porcelana portuguesa fundada em 1824, sendo a mais antiga da Península Ibérica.
A empresa, pela sua história e tradição, mantém-se a mais emblemática das onze unidades industriais que compõem o grupo, produzindo cerca de 10 milhões de peças por ano, entre porcelana decorativa e doméstica.
A Ordem do Mérito Empresarial
GOMAI é uma ordem honorífica portuguesa que tem por finalidade distinguir empresários ou trabalhadores com serviços relevantes no fomento ou valorização da riqueza agrícola, pecuária ou florestal do País, ou que para tal tenham destacadamente contribuído, das indústrias, do comércio ou serviços, ou em obras de interesse público.
Século XIX
A Vista Alegre foi fundada por José Ferreira Pinto Basto, que daria início a uma família de empresários que se mantém relevante na atualidade. Até o fim do século XVIII, Portugal não possuía nenhuma indústria que fabricasse porcelana, sendo o maior importador dessa material da China.
Influenciado pelo sucesso da fábrica de vidro da Marinha Grande, Pinto Basto decidiu criar uma fábrica de porcelanas, vidro e processos químicos. Começou por adquirir, em 1815, a Quinta da Ermida, um belo sítio perto da vila de Ílhavo e à beira da ria de Aveiro, região rica em combustíveis, barro, areias brancas e finas e seixos cristalizados, elementos fundamentais para vidros e porcelanas. Pouco depois, comprou terrenos vizinhos, num total de quarenta hectares, e lançou-se no seu projeto.
O alvará que autorizou o funcionamento da Fábrica da Vista Alegre foi concedido em 1824, pelo rei D. João VI, passando esta a beneficiar de todas as graças, privilégios e isenções de que gozam, ou gozarem de futuro, as Fábricas Nacionais. Cinco anos depois, a Vista Alegre recebeu o título de Real Fábrica, um reconhecimento pela sua arte e sucesso industrial. A partir de 1832, a Fábrica intensificou seu trabalho e dedicou-se ao aperfeiçoamento da porcelana.
A contribuição de artistas estrangeiros, tais como Victor Rousseau, foi importante, sobretudo para a criação de uma escola de pintura, ainda hoje famosa. Neste período da história da Vista Alegre, assinalam-se factos como o desenvolvimento de uma obra social, a introdução de decorações a ouro e temas com paisagens e delicadas flores, a participação em certames (Paris e Palácio de Cristal no Porto) e, por último, a cessação da produção de vidro (1880).
Século XX
Até ao final da Grande Guerra, o período de brilho da fábrica foi ofuscado, pois as conturbações sociais encaminharam a empresa para grandes dificuldades. Contudo, o espírito introduzido pelo fundador e a manutenção da escola de desenho e pintura pelo pintor Duarte José de Magalhães estimularam a reorganização e modernização da empresa.
De 1922 a 1947, registou-se uma enorme renovação artística, destacando-se a colaboração de artistas de renome nacional, tais como Roque Gameiro, Raul Lino, Leitão de Barros, Piló, Delfim Maia, entre outros.
A 15 de Dezembro de 1932 foi feita Grande-Oficial da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial.
Entre 1947 e 1968, a Vista Alegre realizou contatos internacionais, a formação de quadros técnicos especializados e a aquisição da principal concorrente, a Electro-Cerâmica. Na década de 1970, a fábrica deu importantes passos na sua modernização tecnológica e prestou mais atenção à formação de jovens pintores.
Em 1983, criou o Gabinete de Orientação Artística (GOA) e, dois anos depois, o Centro de Arte e Desenvolvimento da Empresa (CADE), com a finalidade de fomentar a criatividade e contribuir para a formação nas áreas de desenho, pintura e escultura. Conseqüentemente, nasceram as séries limitadas de peças de porcelana, chamadas de séries especiais e peças comemorativas.
Século XXI
Em maio de 2001, deu-se a fusão da Vista Alegre com o grupo Atlantis, formando o maior grupo nacional de utensílios de mesa e sexto maior do mundo nesse sector: o Grupo Vista Alegre Atlantis, que atua em diversas áreas. Em 2002 foi concluído um processo de reengenharia industrial, que permitiu aumentar a capacidade e volume de produção.
A 19 de Janeiro de 2009, o Grupo Visabeira lança uma OPA à Vista Alegre e adquire o controle total da marca.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 20 de janeiro de 2020.
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Saindo do forno: conheça a fábrica das louças mais antigas de Portugal
Vilarejo na costa portuguesa reúne a história viva da porcelana mais antiga do país – e mais amada do mundo
Aveiro, norte da costa portuguesa. A luz do sol reflete nas construções o brilho dos canais que rasgam a cidade de 80 mil habitantes – quantidade de pessoas que caberia em um bairro de São Paulo. Berço dos irresistíveis ovos moles (doce conventual de gema cremosa envolta em uma capa fininha de hóstia e moldada em formatos marinhos), tem o charme dos pequenos centros da Europa. A oito quilômetros de lá, uma antiga chácara perto da diminuta Ílhavo virou uma praça rodeada por casas brancas com contornos azuis e amarelos, típicas do Brasil Colônia, que mais parece um vilarejo. Instalada nesse endereço desde 1824, a Vista Alegre, fábrica de porcelanas mais antiga do país, tomou conta do espaço e também concentra ali um museu, um teatro, uma capela, um hotel e lojinhas com as peças mais cobiçadas da louçaria nacional. E transformou o que poderia ser um ambiente fabril em um lugar cheio de memórias, que exala cultura e arte.
A produção é frenética. São cerca de 30 milhões de itens anualmente, entre pratos, travessas, esculturas e tais. Nem por isso se abre mão do modo artesanal de trabalho característicos da marca. Basta visitar o museu que conta a história e a evolução da Vista Alegre, do outro lado da praça. No andar de cima das salas de exposição, onde os fornos gigantes dos anos 1800 em que a porcelana era produzida ainda guardam resquícios de argila e tinta da época, artistas pintam à mão pratos com estampas exuberantes assinadas pelo estilista francês Christian Lacroix, bandejas da coleção desenvolvida em parceria com a ONG Ecoarts Amazônia, que homenageia a maior floresta tropical do planeta, um bar de porcelana com edição limitada a 100 peças – todos disponíveis na flagship paulistana a partir de agosto.
O cuidado na produção pode ser notado ainda nas enormes caixas abarrotadas de peças com defeitos discretos, muitos imperceptíveis a olho nu, que são quebradas diariamente e ficam distribuídas pela fábrica. “Nada que leve a nossa assinatura pode ser menos do que perfeito”, explica o diretor geral da empresa, Carlos Costa. O que não quer dizer que os objetos sejam idênticos. Tudo produzido ali tem acabamento manual, o que garante que nenhum deles seja exatamente igual ao outro.
A visita à cidade, localizada a 235 quilômetros de Lisboa, pede uma parada estratégica no caminho, em Caldas da Rainha. É ali que está o museu e o outlet da Bordallo Pinheiro, cerâmica que nasceu em Portugal em 1884 e mimetiza principalmente animais, verduras e frutas – quem não conhece a louça em formato de folhas de couve, uma das mais copiadas do mundo? Parte do império Vista Alegre (que, entre outros negócios, faz talheres e objetos utilitários de vidro e cristal) desde o ano passado, preserva na produção o mesmo cuidado artístico de sua irmã mais velha.
Isso explica o fato de cerca de 70% dos funcionários da fábrica da Bordallo serem mulheres. “Elas têm a delicadeza e a precisão que nossas peças pedem”, diz Tiago Mendes, gerente da marca. Exemplo disso é Isabel Pinto, na empresa há 35 anos. É ela quem dá acabamento aos vasos pré-moldados em formato de esquilos, trazendo maior realismo às caricatas e divertidas louças. Apesar da desenvoltura que parece vir de berço, ela garante que todo mundo pode adquirir habilidades manuais. “É só ter vontade e disposição”, afirma. É o caso de sua filha Patrícia, que trabalhava no comércio de alimentos e, há três anos, entrou para o time de artistas da marca. Herança materna? Isabel jura que não. “Ela nunca se interessou por isso nem levava jeito para a coisa”, diz. “Talento é coisa que se aprende.”
O passeio ao mundo maravilhoso da louçaria portuguesa é pontuado por quase toda refeição que se faça na terrinha. A Vista Alegre está na maioria dos restaurantes e hotéis de alto padrão do país e a Bordallo Pinheiro decora inúmeras lojas, empórios e casas residenciais. Difícil é, depois disso tudo, sentar para comer sem virar o prato e conferir a assinatura da marca no verso. Ora, pois!
Fonte: Revista Marie Claire, por Roberta Malta, publicado em 18 de outubro de 2019.
Vista Alegre (Ílhavo, Portugal, 1824) é uma fábrica de porcelana portuguesa fundada por José Ferreira Pinto Basto, sendo a mais antiga da Península Ibérica. Em 2009 foi adquirida pelo Grupo Visabeira. Atualmente a empresa produz cerca de 30 milhões de peças por ano (2019).
História - Site oficial
Fundada em 1824, a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre foi a primeira unidade industrial dedicada à produção da porcelana em Portugal. Para a fundação e sucesso deste arriscado empreendimento industrial foi determinante o espírito de persistência do seu fundador, José Ferreira Pinto Basto. Figura de destaque na sociedade portuguesa do século XIX, proprietário agrícola, comerciante audaz, incorporou sabiamente o ideário liberal do século, tendo-se tornado "o primeiro exemplo de livre iniciativa" em Portugal.
Começou por adquirir, em 1812, a Quinta da Ermida, perto da vila de ílhavo e à beira da Ria de Aveiro. Em 1816 comprou, em hasta pública, a Capela da Vista Alegre e terrenos envolventes, tendo aí instalado a Fábrica da Vista Alegre.
Em 1824, José Ferreira Pinto Basto apresentou uma petição ao Rei D. João VI para "erigir para estabelecimento de todos os seus filhos, com igual interesse, uma grande fábrica de louça, porcelana, vidraria e processos chímicos na sua Quinta chamada da Vista-Alegre da Ermida".
Em Alvará Régio de 1 de Julho de 1824 D. João VI autorizou o estabelecimento da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre. Apenas cinco anos depois, a Vista Alegre recebeu o título de Real Fábrica, um reconhecimento pela sua arte e sucesso industrial.
Os primeiros períodos de laboração iniciaram-se com a produção do vidro e cerâmica "pó de pedra", face ao desconhecimento da composição da pasta de porcelana. A produção de vidro foi de grande qualidade, destacando-se as peças com relevos e ornatos lapidados e gravados, bem como os delicados trabalhos de incrustação de medalhões. Em 1880 a Vista Alegre cessou a produção de vidro, tendo-se dedicado exclusivamente ao fabrico de porcelana.
No sentido de ultrapassar as dificuldades no que diz respeito à produção da porcelana, Augusto Ferreira Pinto Basto, filho do fundador, realizou uma visita técnica à fábrica francesa de Sèvres. Aí estudou a composição da pasta e obteve esclarecimentos que se revelaram fundamentais para a descoberta em 1832 de abundantes jazigos de caulino a norte de ílhavo.
Com a produção regular de porcelana entre 1832 e 1840 verificaram-se importantes melhorias na qualidade das pastas e vidrados, tendo a produção beneficiado igualmente de significativos progressos tecnológicos. Também a aposta, durante as primeiras décadas de laboração, na contratação de mestres estrangeiros com experiência na produção cerâmica foi determinante para a formação de uma mão-de-obra local altamente especializada na produção de porcelana.
Em 1851, a Vista Alegre participou na Exposição Universal organizada no Crystal Palace, em Londres, e em 1867 recebeu reconhecimento internacional na exposição Universal de Paris.
Em 1852, D. Fernando II visitou a Fábrica da Vista Alegre, tendo sido produzida uma baixela completa para a casa real.
Nos anos que se seguiram verificou-se um período de maior desenvolvimento industrial. O estilo simplificou-se, adquirindo um tom romântico e lírico, e introduziram-se técnicas mecânicas de decoração. Contudo, as dificuldades sentidas na transição de século marcaram o início de um período de decadência na empresa. A crise social e política que atravessava o país, agravada por uma deficiente gestão comercial e desorientação artística, são alguns dos fatores que, no seu conjunto, ajudam a compreender as dificuldades sentidas, dificuldades essas que irão prolongar-se até inícios do século XX.
Em 1924, com a nomeação de João Theodoro Ferreira Pinto Basto como Administrador-Delegado, iniciou-se um período de ressurgimento. Para além do crescimento e renovação na área industrial, também a nível criativo se verificou uma forte revitalização. Estilos modernistas como a Art Deco ou o Funcionalismo revelaram a capacidade de adaptação da empresa às mudanças sociais e estéticas do início de século.
Este trajecto de sucesso irá consolidar-se nas décadas seguintes do século XX. Profundas reestruturações industriais permitiram à empresa rentabilizar a produção, tornando mais eficaz a sua capacidade de resposta face ao aumento do consumo e globalização dos mercados. Por outro lado, a manutenção de uma área de manufatura, altamente especializada, centrada no saber-fazer dos operários e nas tradições centenárias da empresa, permitiu à Fábrica ocupar um lugar de primazia entre as grandes manufaturas europeias.
Entre 1947 e 1968, o aumento das exportações, o reapetrechamento das instalações fabris, a atenção dada à formação de quadros técnicos especializados e cooperação com congéneres europeias, encorajaram um forte desenvolvimento técnico e industrial, possibilitando o alargamento da oferta a novos mercados.
Foi instaurada a tradição de peças únicas, como o serviço produzido para Sua Majestade Isabel II, Rainha de Inglaterra, e multiplicaram-se as colaborações com artistas contemporâneos.
Em 1964 foi inaugurado o Museu da Vista Alegre, expondo ao público peças representativas do longo e rico caminho percorrido.
Em 1985 foi inaugurado o Centro de Arte e Desenvolvimento da Empresa (CADE), com o objetivo de fomentar a criação de novos modelos e decorações, bem como promover formação nas áreas da pintura e escultura.
Em 1985 foi também criado o Clube do Colecionadores, na altura limitado a 2.500 sócios, que reflete a importância da Vista Alegre no mercado da arte.
Realizaram-se, nos finais da década de 80, importantes exposições internacionais em locais como o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque ou o Pallazo Reale em Milão, contribuições decisivas para a divulgação e internacionalização da marca Vista Alegre.
Em 1997 concretiza-se a fusão com o grupo cerâmico Cerexport, que originou quase a duplicação do volume de negócios da Vista Alegre, nomeadamente nos mercados internacionais.
Em Maio de 2001 dá-se a fusão do Grupo Vista Alegre com o grupo Atlantis, formando o maior grupo nacional de tableware e sexto maior do mundo nesse setor, o Grupo Vista Alegre Atlantis (GVAA), cruzando-se novamente o vidro, e agora também o cristal, com a história da empresa.
A holding resultante atua em áreas tão diversas como porcelana de mesa, decorativa e de hotel, faiança, louça de forno, cristal, vidro manual e redes de retalho e distribuição.
Em 2009, o GVAA passou a integrar o portefólio de marcas do Grupo Visabeira, após a oferta pública lançada com sucesso sobre as ações representativas do capital social da empresa.
Mais do que um espaço fabril, a Vista Alegre é hoje um conjunto arquitetónico de inegável interesse, repositório de memórias sociais e artísticas fundamentais para a construção de uma identidade nacional.
História Fábrica de Cristal
As primeiras peças de cristal Atlantis nasceram na vila de Alcobaça em 1972, na fábrica então denominada Crisal - Cristais de Alcobaça, que, prosseguindo a velha arte portuguesa do trabalho no vidro, já se distinguia na produção de um dos melhores cristais de chumbo de fabrico manual em todo o mundo.
A fábrica de Alcobaça, que desde 1944 se dedicava à produção de lustres e vidro doméstico, foi adaptada, no início da década de 70, para a produção de cristal de chumbo superior. Todas as etapas de produção continuaram, no entanto, a ser desenvolvidas manualmente, preservando o saber milenar dos artesãos e recorrendo ao molde e à cana de sopro.
A qualidade dos cristais Atlantis alterou profundamente a perceção dos consumidores, que começaram progressivamente a valorizar o cristal nacional. As peças produzidas em Alcobaça passaram a merecer a confiança e a preferência dos portugueses e do mercado internacional, representando a exportação, em 1974, entre 50% e 75% da faturação, com especial ênfase para o mercado norte-americano.
O êxito alcançado no mercado norte-americano abre as portas a outros mercados. Com 500 trabalhadores e uma incrementada capacidade produtiva, a Atlantis estende a partir daí a sua oferta a cerca de 20 países, atingindo uma notoriedade à escala global.
Em 1985, e de forma a acomodar uma cada vez maior exigência em quantidade e qualidade de produtos, a Atlantis constrói uma nova fábrica no Casal da Areia, Concelho de Alcobaça.
No século XXI, marcado pela fusão com o Grupo Vista Alegre em 2001, determinante para dinamizar o seu alcance empresarial, a Atlantis continua a estar presente nos principais mercados internacionais, reconhecida unanimemente como fabricante de um dos mais puros cristais do mundo, fundindo saberes ancestrais com o melhor design contemporâneo.
Marca líder incontestada no seu setor em Portugal, a Atlantis, parte integrante do Grupo Vista Alegre Atlantis, continua a apostar numa estratégia de expansão, quer a nível de mercados, quer a nível de públicos.
Tipo de produtos
A Vista Alegre Atlantis produz porcelana de mesa, decorativa, giftware e hotelware, vidro e cristal de alta qualidade, e ainda cutelaria em aço inoxidável 18/10.
Dotada das mais modernas tecnologias de produção, a fábrica de porcelana possui também 17 pintores manuais, responsáveis pela decoração das peças.
A combinação de estilos que a marca oferece, dos mais clássicos aos mais contemporâneos, adequa-se a um perfil de consumidores alargado.
As linhas da Vista Alegre Atlantis herdeiras de uma longa tradição cultural convivem com uma forte componente moderna, traduzida em inúmeras propostas assinadas por reputados criadores internacionais como Carsten Gollnick, Sam Baron, Karim Rashid, Joana Vasconcelos, Roberto Chichorro e Christian Lacroix, entre muitos outros.
A porcelana
A porcelana é um produto cerâmico obtido pela cozedura, a elevada temperatura, de uma mistura cuidadosamente estudada de caulino, quartzo e feldspato. A qualidade das suas matérias-primas verifica-se na brancura e resistência da porcelana, sendo o seu vidrado brilhante e homogêneo. Com uma história de quase 200 anos, a marca combina hoje a mestria artesanal com tecnologia e design modernos, resultado das frequentes parcerias com diversos artistas, bem como com chefs de reputação internacional.
Fonte: Site oficial Fábrica de Vista Alegre, consultado pela última vez em 21 de janeiro de 2020.
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História - Wikipédia
Fábrica de Porcelana da Vista Alegre (GOMAI) é uma fábrica de porcelana portuguesa fundada em 1824, sendo a mais antiga da Península Ibérica.
A empresa, pela sua história e tradição, mantém-se a mais emblemática das onze unidades industriais que compõem o grupo, produzindo cerca de 10 milhões de peças por ano, entre porcelana decorativa e doméstica.
A Ordem do Mérito Empresarial
GOMAI é uma ordem honorífica portuguesa que tem por finalidade distinguir empresários ou trabalhadores com serviços relevantes no fomento ou valorização da riqueza agrícola, pecuária ou florestal do País, ou que para tal tenham destacadamente contribuído, das indústrias, do comércio ou serviços, ou em obras de interesse público.
Século XIX
A Vista Alegre foi fundada por José Ferreira Pinto Basto, que daria início a uma família de empresários que se mantém relevante na atualidade. Até o fim do século XVIII, Portugal não possuía nenhuma indústria que fabricasse porcelana, sendo o maior importador dessa material da China.
Influenciado pelo sucesso da fábrica de vidro da Marinha Grande, Pinto Basto decidiu criar uma fábrica de porcelanas, vidro e processos químicos. Começou por adquirir, em 1815, a Quinta da Ermida, um belo sítio perto da vila de Ílhavo e à beira da ria de Aveiro, região rica em combustíveis, barro, areias brancas e finas e seixos cristalizados, elementos fundamentais para vidros e porcelanas. Pouco depois, comprou terrenos vizinhos, num total de quarenta hectares, e lançou-se no seu projeto.
O alvará que autorizou o funcionamento da Fábrica da Vista Alegre foi concedido em 1824, pelo rei D. João VI, passando esta a beneficiar de todas as graças, privilégios e isenções de que gozam, ou gozarem de futuro, as Fábricas Nacionais. Cinco anos depois, a Vista Alegre recebeu o título de Real Fábrica, um reconhecimento pela sua arte e sucesso industrial. A partir de 1832, a Fábrica intensificou seu trabalho e dedicou-se ao aperfeiçoamento da porcelana.
A contribuição de artistas estrangeiros, tais como Victor Rousseau, foi importante, sobretudo para a criação de uma escola de pintura, ainda hoje famosa. Neste período da história da Vista Alegre, assinalam-se factos como o desenvolvimento de uma obra social, a introdução de decorações a ouro e temas com paisagens e delicadas flores, a participação em certames (Paris e Palácio de Cristal no Porto) e, por último, a cessação da produção de vidro (1880).
Século XX
Até ao final da Grande Guerra, o período de brilho da fábrica foi ofuscado, pois as conturbações sociais encaminharam a empresa para grandes dificuldades. Contudo, o espírito introduzido pelo fundador e a manutenção da escola de desenho e pintura pelo pintor Duarte José de Magalhães estimularam a reorganização e modernização da empresa.
De 1922 a 1947, registou-se uma enorme renovação artística, destacando-se a colaboração de artistas de renome nacional, tais como Roque Gameiro, Raul Lino, Leitão de Barros, Piló, Delfim Maia, entre outros.
A 15 de Dezembro de 1932 foi feita Grande-Oficial da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial.
Entre 1947 e 1968, a Vista Alegre realizou contatos internacionais, a formação de quadros técnicos especializados e a aquisição da principal concorrente, a Electro-Cerâmica. Na década de 1970, a fábrica deu importantes passos na sua modernização tecnológica e prestou mais atenção à formação de jovens pintores.
Em 1983, criou o Gabinete de Orientação Artística (GOA) e, dois anos depois, o Centro de Arte e Desenvolvimento da Empresa (CADE), com a finalidade de fomentar a criatividade e contribuir para a formação nas áreas de desenho, pintura e escultura. Conseqüentemente, nasceram as séries limitadas de peças de porcelana, chamadas de séries especiais e peças comemorativas.
Século XXI
Em maio de 2001, deu-se a fusão da Vista Alegre com o grupo Atlantis, formando o maior grupo nacional de utensílios de mesa e sexto maior do mundo nesse sector: o Grupo Vista Alegre Atlantis, que atua em diversas áreas. Em 2002 foi concluído um processo de reengenharia industrial, que permitiu aumentar a capacidade e volume de produção.
A 19 de Janeiro de 2009, o Grupo Visabeira lança uma OPA à Vista Alegre e adquire o controle total da marca.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 20 de janeiro de 2020.
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Saindo do forno: conheça a fábrica das louças mais antigas de Portugal
Vilarejo na costa portuguesa reúne a história viva da porcelana mais antiga do país – e mais amada do mundo
Aveiro, norte da costa portuguesa. A luz do sol reflete nas construções o brilho dos canais que rasgam a cidade de 80 mil habitantes – quantidade de pessoas que caberia em um bairro de São Paulo. Berço dos irresistíveis ovos moles (doce conventual de gema cremosa envolta em uma capa fininha de hóstia e moldada em formatos marinhos), tem o charme dos pequenos centros da Europa. A oito quilômetros de lá, uma antiga chácara perto da diminuta Ílhavo virou uma praça rodeada por casas brancas com contornos azuis e amarelos, típicas do Brasil Colônia, que mais parece um vilarejo. Instalada nesse endereço desde 1824, a Vista Alegre, fábrica de porcelanas mais antiga do país, tomou conta do espaço e também concentra ali um museu, um teatro, uma capela, um hotel e lojinhas com as peças mais cobiçadas da louçaria nacional. E transformou o que poderia ser um ambiente fabril em um lugar cheio de memórias, que exala cultura e arte.
A produção é frenética. São cerca de 30 milhões de itens anualmente, entre pratos, travessas, esculturas e tais. Nem por isso se abre mão do modo artesanal de trabalho característicos da marca. Basta visitar o museu que conta a história e a evolução da Vista Alegre, do outro lado da praça. No andar de cima das salas de exposição, onde os fornos gigantes dos anos 1800 em que a porcelana era produzida ainda guardam resquícios de argila e tinta da época, artistas pintam à mão pratos com estampas exuberantes assinadas pelo estilista francês Christian Lacroix, bandejas da coleção desenvolvida em parceria com a ONG Ecoarts Amazônia, que homenageia a maior floresta tropical do planeta, um bar de porcelana com edição limitada a 100 peças – todos disponíveis na flagship paulistana a partir de agosto.
O cuidado na produção pode ser notado ainda nas enormes caixas abarrotadas de peças com defeitos discretos, muitos imperceptíveis a olho nu, que são quebradas diariamente e ficam distribuídas pela fábrica. “Nada que leve a nossa assinatura pode ser menos do que perfeito”, explica o diretor geral da empresa, Carlos Costa. O que não quer dizer que os objetos sejam idênticos. Tudo produzido ali tem acabamento manual, o que garante que nenhum deles seja exatamente igual ao outro.
A visita à cidade, localizada a 235 quilômetros de Lisboa, pede uma parada estratégica no caminho, em Caldas da Rainha. É ali que está o museu e o outlet da Bordallo Pinheiro, cerâmica que nasceu em Portugal em 1884 e mimetiza principalmente animais, verduras e frutas – quem não conhece a louça em formato de folhas de couve, uma das mais copiadas do mundo? Parte do império Vista Alegre (que, entre outros negócios, faz talheres e objetos utilitários de vidro e cristal) desde o ano passado, preserva na produção o mesmo cuidado artístico de sua irmã mais velha.
Isso explica o fato de cerca de 70% dos funcionários da fábrica da Bordallo serem mulheres. “Elas têm a delicadeza e a precisão que nossas peças pedem”, diz Tiago Mendes, gerente da marca. Exemplo disso é Isabel Pinto, na empresa há 35 anos. É ela quem dá acabamento aos vasos pré-moldados em formato de esquilos, trazendo maior realismo às caricatas e divertidas louças. Apesar da desenvoltura que parece vir de berço, ela garante que todo mundo pode adquirir habilidades manuais. “É só ter vontade e disposição”, afirma. É o caso de sua filha Patrícia, que trabalhava no comércio de alimentos e, há três anos, entrou para o time de artistas da marca. Herança materna? Isabel jura que não. “Ela nunca se interessou por isso nem levava jeito para a coisa”, diz. “Talento é coisa que se aprende.”
O passeio ao mundo maravilhoso da louçaria portuguesa é pontuado por quase toda refeição que se faça na terrinha. A Vista Alegre está na maioria dos restaurantes e hotéis de alto padrão do país e a Bordallo Pinheiro decora inúmeras lojas, empórios e casas residenciais. Difícil é, depois disso tudo, sentar para comer sem virar o prato e conferir a assinatura da marca no verso. Ora, pois!
Fonte: Revista Marie Claire, por Roberta Malta, publicado em 18 de outubro de 2019.
Vista Alegre (Ílhavo, Portugal, 1824) é uma fábrica de porcelana portuguesa fundada por José Ferreira Pinto Basto, sendo a mais antiga da Península Ibérica. Em 2009 foi adquirida pelo Grupo Visabeira. Atualmente a empresa produz cerca de 30 milhões de peças por ano (2019).
História - Site oficial
Fundada em 1824, a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre foi a primeira unidade industrial dedicada à produção da porcelana em Portugal. Para a fundação e sucesso deste arriscado empreendimento industrial foi determinante o espírito de persistência do seu fundador, José Ferreira Pinto Basto. Figura de destaque na sociedade portuguesa do século XIX, proprietário agrícola, comerciante audaz, incorporou sabiamente o ideário liberal do século, tendo-se tornado "o primeiro exemplo de livre iniciativa" em Portugal.
Começou por adquirir, em 1812, a Quinta da Ermida, perto da vila de ílhavo e à beira da Ria de Aveiro. Em 1816 comprou, em hasta pública, a Capela da Vista Alegre e terrenos envolventes, tendo aí instalado a Fábrica da Vista Alegre.
Em 1824, José Ferreira Pinto Basto apresentou uma petição ao Rei D. João VI para "erigir para estabelecimento de todos os seus filhos, com igual interesse, uma grande fábrica de louça, porcelana, vidraria e processos chímicos na sua Quinta chamada da Vista-Alegre da Ermida".
Em Alvará Régio de 1 de Julho de 1824 D. João VI autorizou o estabelecimento da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre. Apenas cinco anos depois, a Vista Alegre recebeu o título de Real Fábrica, um reconhecimento pela sua arte e sucesso industrial.
Os primeiros períodos de laboração iniciaram-se com a produção do vidro e cerâmica "pó de pedra", face ao desconhecimento da composição da pasta de porcelana. A produção de vidro foi de grande qualidade, destacando-se as peças com relevos e ornatos lapidados e gravados, bem como os delicados trabalhos de incrustação de medalhões. Em 1880 a Vista Alegre cessou a produção de vidro, tendo-se dedicado exclusivamente ao fabrico de porcelana.
No sentido de ultrapassar as dificuldades no que diz respeito à produção da porcelana, Augusto Ferreira Pinto Basto, filho do fundador, realizou uma visita técnica à fábrica francesa de Sèvres. Aí estudou a composição da pasta e obteve esclarecimentos que se revelaram fundamentais para a descoberta em 1832 de abundantes jazigos de caulino a norte de ílhavo.
Com a produção regular de porcelana entre 1832 e 1840 verificaram-se importantes melhorias na qualidade das pastas e vidrados, tendo a produção beneficiado igualmente de significativos progressos tecnológicos. Também a aposta, durante as primeiras décadas de laboração, na contratação de mestres estrangeiros com experiência na produção cerâmica foi determinante para a formação de uma mão-de-obra local altamente especializada na produção de porcelana.
Em 1851, a Vista Alegre participou na Exposição Universal organizada no Crystal Palace, em Londres, e em 1867 recebeu reconhecimento internacional na exposição Universal de Paris.
Em 1852, D. Fernando II visitou a Fábrica da Vista Alegre, tendo sido produzida uma baixela completa para a casa real.
Nos anos que se seguiram verificou-se um período de maior desenvolvimento industrial. O estilo simplificou-se, adquirindo um tom romântico e lírico, e introduziram-se técnicas mecânicas de decoração. Contudo, as dificuldades sentidas na transição de século marcaram o início de um período de decadência na empresa. A crise social e política que atravessava o país, agravada por uma deficiente gestão comercial e desorientação artística, são alguns dos fatores que, no seu conjunto, ajudam a compreender as dificuldades sentidas, dificuldades essas que irão prolongar-se até inícios do século XX.
Em 1924, com a nomeação de João Theodoro Ferreira Pinto Basto como Administrador-Delegado, iniciou-se um período de ressurgimento. Para além do crescimento e renovação na área industrial, também a nível criativo se verificou uma forte revitalização. Estilos modernistas como a Art Deco ou o Funcionalismo revelaram a capacidade de adaptação da empresa às mudanças sociais e estéticas do início de século.
Este trajecto de sucesso irá consolidar-se nas décadas seguintes do século XX. Profundas reestruturações industriais permitiram à empresa rentabilizar a produção, tornando mais eficaz a sua capacidade de resposta face ao aumento do consumo e globalização dos mercados. Por outro lado, a manutenção de uma área de manufatura, altamente especializada, centrada no saber-fazer dos operários e nas tradições centenárias da empresa, permitiu à Fábrica ocupar um lugar de primazia entre as grandes manufaturas europeias.
Entre 1947 e 1968, o aumento das exportações, o reapetrechamento das instalações fabris, a atenção dada à formação de quadros técnicos especializados e cooperação com congéneres europeias, encorajaram um forte desenvolvimento técnico e industrial, possibilitando o alargamento da oferta a novos mercados.
Foi instaurada a tradição de peças únicas, como o serviço produzido para Sua Majestade Isabel II, Rainha de Inglaterra, e multiplicaram-se as colaborações com artistas contemporâneos.
Em 1964 foi inaugurado o Museu da Vista Alegre, expondo ao público peças representativas do longo e rico caminho percorrido.
Em 1985 foi inaugurado o Centro de Arte e Desenvolvimento da Empresa (CADE), com o objetivo de fomentar a criação de novos modelos e decorações, bem como promover formação nas áreas da pintura e escultura.
Em 1985 foi também criado o Clube do Colecionadores, na altura limitado a 2.500 sócios, que reflete a importância da Vista Alegre no mercado da arte.
Realizaram-se, nos finais da década de 80, importantes exposições internacionais em locais como o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque ou o Pallazo Reale em Milão, contribuições decisivas para a divulgação e internacionalização da marca Vista Alegre.
Em 1997 concretiza-se a fusão com o grupo cerâmico Cerexport, que originou quase a duplicação do volume de negócios da Vista Alegre, nomeadamente nos mercados internacionais.
Em Maio de 2001 dá-se a fusão do Grupo Vista Alegre com o grupo Atlantis, formando o maior grupo nacional de tableware e sexto maior do mundo nesse setor, o Grupo Vista Alegre Atlantis (GVAA), cruzando-se novamente o vidro, e agora também o cristal, com a história da empresa.
A holding resultante atua em áreas tão diversas como porcelana de mesa, decorativa e de hotel, faiança, louça de forno, cristal, vidro manual e redes de retalho e distribuição.
Em 2009, o GVAA passou a integrar o portefólio de marcas do Grupo Visabeira, após a oferta pública lançada com sucesso sobre as ações representativas do capital social da empresa.
Mais do que um espaço fabril, a Vista Alegre é hoje um conjunto arquitetónico de inegável interesse, repositório de memórias sociais e artísticas fundamentais para a construção de uma identidade nacional.
História Fábrica de Cristal
As primeiras peças de cristal Atlantis nasceram na vila de Alcobaça em 1972, na fábrica então denominada Crisal - Cristais de Alcobaça, que, prosseguindo a velha arte portuguesa do trabalho no vidro, já se distinguia na produção de um dos melhores cristais de chumbo de fabrico manual em todo o mundo.
A fábrica de Alcobaça, que desde 1944 se dedicava à produção de lustres e vidro doméstico, foi adaptada, no início da década de 70, para a produção de cristal de chumbo superior. Todas as etapas de produção continuaram, no entanto, a ser desenvolvidas manualmente, preservando o saber milenar dos artesãos e recorrendo ao molde e à cana de sopro.
A qualidade dos cristais Atlantis alterou profundamente a perceção dos consumidores, que começaram progressivamente a valorizar o cristal nacional. As peças produzidas em Alcobaça passaram a merecer a confiança e a preferência dos portugueses e do mercado internacional, representando a exportação, em 1974, entre 50% e 75% da faturação, com especial ênfase para o mercado norte-americano.
O êxito alcançado no mercado norte-americano abre as portas a outros mercados. Com 500 trabalhadores e uma incrementada capacidade produtiva, a Atlantis estende a partir daí a sua oferta a cerca de 20 países, atingindo uma notoriedade à escala global.
Em 1985, e de forma a acomodar uma cada vez maior exigência em quantidade e qualidade de produtos, a Atlantis constrói uma nova fábrica no Casal da Areia, Concelho de Alcobaça.
No século XXI, marcado pela fusão com o Grupo Vista Alegre em 2001, determinante para dinamizar o seu alcance empresarial, a Atlantis continua a estar presente nos principais mercados internacionais, reconhecida unanimemente como fabricante de um dos mais puros cristais do mundo, fundindo saberes ancestrais com o melhor design contemporâneo.
Marca líder incontestada no seu setor em Portugal, a Atlantis, parte integrante do Grupo Vista Alegre Atlantis, continua a apostar numa estratégia de expansão, quer a nível de mercados, quer a nível de públicos.
Tipo de produtos
A Vista Alegre Atlantis produz porcelana de mesa, decorativa, giftware e hotelware, vidro e cristal de alta qualidade, e ainda cutelaria em aço inoxidável 18/10.
Dotada das mais modernas tecnologias de produção, a fábrica de porcelana possui também 17 pintores manuais, responsáveis pela decoração das peças.
A combinação de estilos que a marca oferece, dos mais clássicos aos mais contemporâneos, adequa-se a um perfil de consumidores alargado.
As linhas da Vista Alegre Atlantis herdeiras de uma longa tradição cultural convivem com uma forte componente moderna, traduzida em inúmeras propostas assinadas por reputados criadores internacionais como Carsten Gollnick, Sam Baron, Karim Rashid, Joana Vasconcelos, Roberto Chichorro e Christian Lacroix, entre muitos outros.
A porcelana
A porcelana é um produto cerâmico obtido pela cozedura, a elevada temperatura, de uma mistura cuidadosamente estudada de caulino, quartzo e feldspato. A qualidade das suas matérias-primas verifica-se na brancura e resistência da porcelana, sendo o seu vidrado brilhante e homogêneo. Com uma história de quase 200 anos, a marca combina hoje a mestria artesanal com tecnologia e design modernos, resultado das frequentes parcerias com diversos artistas, bem como com chefs de reputação internacional.
Fonte: Site oficial Fábrica de Vista Alegre, consultado pela última vez em 21 de janeiro de 2020.
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História - Wikipédia
Fábrica de Porcelana da Vista Alegre (GOMAI) é uma fábrica de porcelana portuguesa fundada em 1824, sendo a mais antiga da Península Ibérica.
A empresa, pela sua história e tradição, mantém-se a mais emblemática das onze unidades industriais que compõem o grupo, produzindo cerca de 10 milhões de peças por ano, entre porcelana decorativa e doméstica.
A Ordem do Mérito Empresarial
GOMAI é uma ordem honorífica portuguesa que tem por finalidade distinguir empresários ou trabalhadores com serviços relevantes no fomento ou valorização da riqueza agrícola, pecuária ou florestal do País, ou que para tal tenham destacadamente contribuído, das indústrias, do comércio ou serviços, ou em obras de interesse público.
Século XIX
A Vista Alegre foi fundada por José Ferreira Pinto Basto, que daria início a uma família de empresários que se mantém relevante na atualidade. Até o fim do século XVIII, Portugal não possuía nenhuma indústria que fabricasse porcelana, sendo o maior importador dessa material da China.
Influenciado pelo sucesso da fábrica de vidro da Marinha Grande, Pinto Basto decidiu criar uma fábrica de porcelanas, vidro e processos químicos. Começou por adquirir, em 1815, a Quinta da Ermida, um belo sítio perto da vila de Ílhavo e à beira da ria de Aveiro, região rica em combustíveis, barro, areias brancas e finas e seixos cristalizados, elementos fundamentais para vidros e porcelanas. Pouco depois, comprou terrenos vizinhos, num total de quarenta hectares, e lançou-se no seu projeto.
O alvará que autorizou o funcionamento da Fábrica da Vista Alegre foi concedido em 1824, pelo rei D. João VI, passando esta a beneficiar de todas as graças, privilégios e isenções de que gozam, ou gozarem de futuro, as Fábricas Nacionais. Cinco anos depois, a Vista Alegre recebeu o título de Real Fábrica, um reconhecimento pela sua arte e sucesso industrial. A partir de 1832, a Fábrica intensificou seu trabalho e dedicou-se ao aperfeiçoamento da porcelana.
A contribuição de artistas estrangeiros, tais como Victor Rousseau, foi importante, sobretudo para a criação de uma escola de pintura, ainda hoje famosa. Neste período da história da Vista Alegre, assinalam-se factos como o desenvolvimento de uma obra social, a introdução de decorações a ouro e temas com paisagens e delicadas flores, a participação em certames (Paris e Palácio de Cristal no Porto) e, por último, a cessação da produção de vidro (1880).
Século XX
Até ao final da Grande Guerra, o período de brilho da fábrica foi ofuscado, pois as conturbações sociais encaminharam a empresa para grandes dificuldades. Contudo, o espírito introduzido pelo fundador e a manutenção da escola de desenho e pintura pelo pintor Duarte José de Magalhães estimularam a reorganização e modernização da empresa.
De 1922 a 1947, registou-se uma enorme renovação artística, destacando-se a colaboração de artistas de renome nacional, tais como Roque Gameiro, Raul Lino, Leitão de Barros, Piló, Delfim Maia, entre outros.
A 15 de Dezembro de 1932 foi feita Grande-Oficial da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial.
Entre 1947 e 1968, a Vista Alegre realizou contatos internacionais, a formação de quadros técnicos especializados e a aquisição da principal concorrente, a Electro-Cerâmica. Na década de 1970, a fábrica deu importantes passos na sua modernização tecnológica e prestou mais atenção à formação de jovens pintores.
Em 1983, criou o Gabinete de Orientação Artística (GOA) e, dois anos depois, o Centro de Arte e Desenvolvimento da Empresa (CADE), com a finalidade de fomentar a criatividade e contribuir para a formação nas áreas de desenho, pintura e escultura. Conseqüentemente, nasceram as séries limitadas de peças de porcelana, chamadas de séries especiais e peças comemorativas.
Século XXI
Em maio de 2001, deu-se a fusão da Vista Alegre com o grupo Atlantis, formando o maior grupo nacional de utensílios de mesa e sexto maior do mundo nesse sector: o Grupo Vista Alegre Atlantis, que atua em diversas áreas. Em 2002 foi concluído um processo de reengenharia industrial, que permitiu aumentar a capacidade e volume de produção.
A 19 de Janeiro de 2009, o Grupo Visabeira lança uma OPA à Vista Alegre e adquire o controle total da marca.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 20 de janeiro de 2020.
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Saindo do forno: conheça a fábrica das louças mais antigas de Portugal
Vilarejo na costa portuguesa reúne a história viva da porcelana mais antiga do país – e mais amada do mundo
Aveiro, norte da costa portuguesa. A luz do sol reflete nas construções o brilho dos canais que rasgam a cidade de 80 mil habitantes – quantidade de pessoas que caberia em um bairro de São Paulo. Berço dos irresistíveis ovos moles (doce conventual de gema cremosa envolta em uma capa fininha de hóstia e moldada em formatos marinhos), tem o charme dos pequenos centros da Europa. A oito quilômetros de lá, uma antiga chácara perto da diminuta Ílhavo virou uma praça rodeada por casas brancas com contornos azuis e amarelos, típicas do Brasil Colônia, que mais parece um vilarejo. Instalada nesse endereço desde 1824, a Vista Alegre, fábrica de porcelanas mais antiga do país, tomou conta do espaço e também concentra ali um museu, um teatro, uma capela, um hotel e lojinhas com as peças mais cobiçadas da louçaria nacional. E transformou o que poderia ser um ambiente fabril em um lugar cheio de memórias, que exala cultura e arte.
A produção é frenética. São cerca de 30 milhões de itens anualmente, entre pratos, travessas, esculturas e tais. Nem por isso se abre mão do modo artesanal de trabalho característicos da marca. Basta visitar o museu que conta a história e a evolução da Vista Alegre, do outro lado da praça. No andar de cima das salas de exposição, onde os fornos gigantes dos anos 1800 em que a porcelana era produzida ainda guardam resquícios de argila e tinta da época, artistas pintam à mão pratos com estampas exuberantes assinadas pelo estilista francês Christian Lacroix, bandejas da coleção desenvolvida em parceria com a ONG Ecoarts Amazônia, que homenageia a maior floresta tropical do planeta, um bar de porcelana com edição limitada a 100 peças – todos disponíveis na flagship paulistana a partir de agosto.
O cuidado na produção pode ser notado ainda nas enormes caixas abarrotadas de peças com defeitos discretos, muitos imperceptíveis a olho nu, que são quebradas diariamente e ficam distribuídas pela fábrica. “Nada que leve a nossa assinatura pode ser menos do que perfeito”, explica o diretor geral da empresa, Carlos Costa. O que não quer dizer que os objetos sejam idênticos. Tudo produzido ali tem acabamento manual, o que garante que nenhum deles seja exatamente igual ao outro.
A visita à cidade, localizada a 235 quilômetros de Lisboa, pede uma parada estratégica no caminho, em Caldas da Rainha. É ali que está o museu e o outlet da Bordallo Pinheiro, cerâmica que nasceu em Portugal em 1884 e mimetiza principalmente animais, verduras e frutas – quem não conhece a louça em formato de folhas de couve, uma das mais copiadas do mundo? Parte do império Vista Alegre (que, entre outros negócios, faz talheres e objetos utilitários de vidro e cristal) desde o ano passado, preserva na produção o mesmo cuidado artístico de sua irmã mais velha.
Isso explica o fato de cerca de 70% dos funcionários da fábrica da Bordallo serem mulheres. “Elas têm a delicadeza e a precisão que nossas peças pedem”, diz Tiago Mendes, gerente da marca. Exemplo disso é Isabel Pinto, na empresa há 35 anos. É ela quem dá acabamento aos vasos pré-moldados em formato de esquilos, trazendo maior realismo às caricatas e divertidas louças. Apesar da desenvoltura que parece vir de berço, ela garante que todo mundo pode adquirir habilidades manuais. “É só ter vontade e disposição”, afirma. É o caso de sua filha Patrícia, que trabalhava no comércio de alimentos e, há três anos, entrou para o time de artistas da marca. Herança materna? Isabel jura que não. “Ela nunca se interessou por isso nem levava jeito para a coisa”, diz. “Talento é coisa que se aprende.”
O passeio ao mundo maravilhoso da louçaria portuguesa é pontuado por quase toda refeição que se faça na terrinha. A Vista Alegre está na maioria dos restaurantes e hotéis de alto padrão do país e a Bordallo Pinheiro decora inúmeras lojas, empórios e casas residenciais. Difícil é, depois disso tudo, sentar para comer sem virar o prato e conferir a assinatura da marca no verso. Ora, pois!
Fonte: Revista Marie Claire, por Roberta Malta, publicado em 18 de outubro de 2019.
Vista Alegre (Ílhavo, Portugal, 1824) é uma fábrica de porcelana portuguesa fundada por José Ferreira Pinto Basto, sendo a mais antiga da Península Ibérica. Em 2009 foi adquirida pelo Grupo Visabeira. Atualmente a empresa produz cerca de 30 milhões de peças por ano (2019).
História - Site oficial
Fundada em 1824, a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre foi a primeira unidade industrial dedicada à produção da porcelana em Portugal. Para a fundação e sucesso deste arriscado empreendimento industrial foi determinante o espírito de persistência do seu fundador, José Ferreira Pinto Basto. Figura de destaque na sociedade portuguesa do século XIX, proprietário agrícola, comerciante audaz, incorporou sabiamente o ideário liberal do século, tendo-se tornado "o primeiro exemplo de livre iniciativa" em Portugal.
Começou por adquirir, em 1812, a Quinta da Ermida, perto da vila de ílhavo e à beira da Ria de Aveiro. Em 1816 comprou, em hasta pública, a Capela da Vista Alegre e terrenos envolventes, tendo aí instalado a Fábrica da Vista Alegre.
Em 1824, José Ferreira Pinto Basto apresentou uma petição ao Rei D. João VI para "erigir para estabelecimento de todos os seus filhos, com igual interesse, uma grande fábrica de louça, porcelana, vidraria e processos chímicos na sua Quinta chamada da Vista-Alegre da Ermida".
Em Alvará Régio de 1 de Julho de 1824 D. João VI autorizou o estabelecimento da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre. Apenas cinco anos depois, a Vista Alegre recebeu o título de Real Fábrica, um reconhecimento pela sua arte e sucesso industrial.
Os primeiros períodos de laboração iniciaram-se com a produção do vidro e cerâmica "pó de pedra", face ao desconhecimento da composição da pasta de porcelana. A produção de vidro foi de grande qualidade, destacando-se as peças com relevos e ornatos lapidados e gravados, bem como os delicados trabalhos de incrustação de medalhões. Em 1880 a Vista Alegre cessou a produção de vidro, tendo-se dedicado exclusivamente ao fabrico de porcelana.
No sentido de ultrapassar as dificuldades no que diz respeito à produção da porcelana, Augusto Ferreira Pinto Basto, filho do fundador, realizou uma visita técnica à fábrica francesa de Sèvres. Aí estudou a composição da pasta e obteve esclarecimentos que se revelaram fundamentais para a descoberta em 1832 de abundantes jazigos de caulino a norte de ílhavo.
Com a produção regular de porcelana entre 1832 e 1840 verificaram-se importantes melhorias na qualidade das pastas e vidrados, tendo a produção beneficiado igualmente de significativos progressos tecnológicos. Também a aposta, durante as primeiras décadas de laboração, na contratação de mestres estrangeiros com experiência na produção cerâmica foi determinante para a formação de uma mão-de-obra local altamente especializada na produção de porcelana.
Em 1851, a Vista Alegre participou na Exposição Universal organizada no Crystal Palace, em Londres, e em 1867 recebeu reconhecimento internacional na exposição Universal de Paris.
Em 1852, D. Fernando II visitou a Fábrica da Vista Alegre, tendo sido produzida uma baixela completa para a casa real.
Nos anos que se seguiram verificou-se um período de maior desenvolvimento industrial. O estilo simplificou-se, adquirindo um tom romântico e lírico, e introduziram-se técnicas mecânicas de decoração. Contudo, as dificuldades sentidas na transição de século marcaram o início de um período de decadência na empresa. A crise social e política que atravessava o país, agravada por uma deficiente gestão comercial e desorientação artística, são alguns dos fatores que, no seu conjunto, ajudam a compreender as dificuldades sentidas, dificuldades essas que irão prolongar-se até inícios do século XX.
Em 1924, com a nomeação de João Theodoro Ferreira Pinto Basto como Administrador-Delegado, iniciou-se um período de ressurgimento. Para além do crescimento e renovação na área industrial, também a nível criativo se verificou uma forte revitalização. Estilos modernistas como a Art Deco ou o Funcionalismo revelaram a capacidade de adaptação da empresa às mudanças sociais e estéticas do início de século.
Este trajecto de sucesso irá consolidar-se nas décadas seguintes do século XX. Profundas reestruturações industriais permitiram à empresa rentabilizar a produção, tornando mais eficaz a sua capacidade de resposta face ao aumento do consumo e globalização dos mercados. Por outro lado, a manutenção de uma área de manufatura, altamente especializada, centrada no saber-fazer dos operários e nas tradições centenárias da empresa, permitiu à Fábrica ocupar um lugar de primazia entre as grandes manufaturas europeias.
Entre 1947 e 1968, o aumento das exportações, o reapetrechamento das instalações fabris, a atenção dada à formação de quadros técnicos especializados e cooperação com congéneres europeias, encorajaram um forte desenvolvimento técnico e industrial, possibilitando o alargamento da oferta a novos mercados.
Foi instaurada a tradição de peças únicas, como o serviço produzido para Sua Majestade Isabel II, Rainha de Inglaterra, e multiplicaram-se as colaborações com artistas contemporâneos.
Em 1964 foi inaugurado o Museu da Vista Alegre, expondo ao público peças representativas do longo e rico caminho percorrido.
Em 1985 foi inaugurado o Centro de Arte e Desenvolvimento da Empresa (CADE), com o objetivo de fomentar a criação de novos modelos e decorações, bem como promover formação nas áreas da pintura e escultura.
Em 1985 foi também criado o Clube do Colecionadores, na altura limitado a 2.500 sócios, que reflete a importância da Vista Alegre no mercado da arte.
Realizaram-se, nos finais da década de 80, importantes exposições internacionais em locais como o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque ou o Pallazo Reale em Milão, contribuições decisivas para a divulgação e internacionalização da marca Vista Alegre.
Em 1997 concretiza-se a fusão com o grupo cerâmico Cerexport, que originou quase a duplicação do volume de negócios da Vista Alegre, nomeadamente nos mercados internacionais.
Em Maio de 2001 dá-se a fusão do Grupo Vista Alegre com o grupo Atlantis, formando o maior grupo nacional de tableware e sexto maior do mundo nesse setor, o Grupo Vista Alegre Atlantis (GVAA), cruzando-se novamente o vidro, e agora também o cristal, com a história da empresa.
A holding resultante atua em áreas tão diversas como porcelana de mesa, decorativa e de hotel, faiança, louça de forno, cristal, vidro manual e redes de retalho e distribuição.
Em 2009, o GVAA passou a integrar o portefólio de marcas do Grupo Visabeira, após a oferta pública lançada com sucesso sobre as ações representativas do capital social da empresa.
Mais do que um espaço fabril, a Vista Alegre é hoje um conjunto arquitetónico de inegável interesse, repositório de memórias sociais e artísticas fundamentais para a construção de uma identidade nacional.
História Fábrica de Cristal
As primeiras peças de cristal Atlantis nasceram na vila de Alcobaça em 1972, na fábrica então denominada Crisal - Cristais de Alcobaça, que, prosseguindo a velha arte portuguesa do trabalho no vidro, já se distinguia na produção de um dos melhores cristais de chumbo de fabrico manual em todo o mundo.
A fábrica de Alcobaça, que desde 1944 se dedicava à produção de lustres e vidro doméstico, foi adaptada, no início da década de 70, para a produção de cristal de chumbo superior. Todas as etapas de produção continuaram, no entanto, a ser desenvolvidas manualmente, preservando o saber milenar dos artesãos e recorrendo ao molde e à cana de sopro.
A qualidade dos cristais Atlantis alterou profundamente a perceção dos consumidores, que começaram progressivamente a valorizar o cristal nacional. As peças produzidas em Alcobaça passaram a merecer a confiança e a preferência dos portugueses e do mercado internacional, representando a exportação, em 1974, entre 50% e 75% da faturação, com especial ênfase para o mercado norte-americano.
O êxito alcançado no mercado norte-americano abre as portas a outros mercados. Com 500 trabalhadores e uma incrementada capacidade produtiva, a Atlantis estende a partir daí a sua oferta a cerca de 20 países, atingindo uma notoriedade à escala global.
Em 1985, e de forma a acomodar uma cada vez maior exigência em quantidade e qualidade de produtos, a Atlantis constrói uma nova fábrica no Casal da Areia, Concelho de Alcobaça.
No século XXI, marcado pela fusão com o Grupo Vista Alegre em 2001, determinante para dinamizar o seu alcance empresarial, a Atlantis continua a estar presente nos principais mercados internacionais, reconhecida unanimemente como fabricante de um dos mais puros cristais do mundo, fundindo saberes ancestrais com o melhor design contemporâneo.
Marca líder incontestada no seu setor em Portugal, a Atlantis, parte integrante do Grupo Vista Alegre Atlantis, continua a apostar numa estratégia de expansão, quer a nível de mercados, quer a nível de públicos.
Tipo de produtos
A Vista Alegre Atlantis produz porcelana de mesa, decorativa, giftware e hotelware, vidro e cristal de alta qualidade, e ainda cutelaria em aço inoxidável 18/10.
Dotada das mais modernas tecnologias de produção, a fábrica de porcelana possui também 17 pintores manuais, responsáveis pela decoração das peças.
A combinação de estilos que a marca oferece, dos mais clássicos aos mais contemporâneos, adequa-se a um perfil de consumidores alargado.
As linhas da Vista Alegre Atlantis herdeiras de uma longa tradição cultural convivem com uma forte componente moderna, traduzida em inúmeras propostas assinadas por reputados criadores internacionais como Carsten Gollnick, Sam Baron, Karim Rashid, Joana Vasconcelos, Roberto Chichorro e Christian Lacroix, entre muitos outros.
A porcelana
A porcelana é um produto cerâmico obtido pela cozedura, a elevada temperatura, de uma mistura cuidadosamente estudada de caulino, quartzo e feldspato. A qualidade das suas matérias-primas verifica-se na brancura e resistência da porcelana, sendo o seu vidrado brilhante e homogêneo. Com uma história de quase 200 anos, a marca combina hoje a mestria artesanal com tecnologia e design modernos, resultado das frequentes parcerias com diversos artistas, bem como com chefs de reputação internacional.
Fonte: Site oficial Fábrica de Vista Alegre, consultado pela última vez em 21 de janeiro de 2020.
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História - Wikipédia
Fábrica de Porcelana da Vista Alegre (GOMAI) é uma fábrica de porcelana portuguesa fundada em 1824, sendo a mais antiga da Península Ibérica.
A empresa, pela sua história e tradição, mantém-se a mais emblemática das onze unidades industriais que compõem o grupo, produzindo cerca de 10 milhões de peças por ano, entre porcelana decorativa e doméstica.
A Ordem do Mérito Empresarial
GOMAI é uma ordem honorífica portuguesa que tem por finalidade distinguir empresários ou trabalhadores com serviços relevantes no fomento ou valorização da riqueza agrícola, pecuária ou florestal do País, ou que para tal tenham destacadamente contribuído, das indústrias, do comércio ou serviços, ou em obras de interesse público.
Século XIX
A Vista Alegre foi fundada por José Ferreira Pinto Basto, que daria início a uma família de empresários que se mantém relevante na atualidade. Até o fim do século XVIII, Portugal não possuía nenhuma indústria que fabricasse porcelana, sendo o maior importador dessa material da China.
Influenciado pelo sucesso da fábrica de vidro da Marinha Grande, Pinto Basto decidiu criar uma fábrica de porcelanas, vidro e processos químicos. Começou por adquirir, em 1815, a Quinta da Ermida, um belo sítio perto da vila de Ílhavo e à beira da ria de Aveiro, região rica em combustíveis, barro, areias brancas e finas e seixos cristalizados, elementos fundamentais para vidros e porcelanas. Pouco depois, comprou terrenos vizinhos, num total de quarenta hectares, e lançou-se no seu projeto.
O alvará que autorizou o funcionamento da Fábrica da Vista Alegre foi concedido em 1824, pelo rei D. João VI, passando esta a beneficiar de todas as graças, privilégios e isenções de que gozam, ou gozarem de futuro, as Fábricas Nacionais. Cinco anos depois, a Vista Alegre recebeu o título de Real Fábrica, um reconhecimento pela sua arte e sucesso industrial. A partir de 1832, a Fábrica intensificou seu trabalho e dedicou-se ao aperfeiçoamento da porcelana.
A contribuição de artistas estrangeiros, tais como Victor Rousseau, foi importante, sobretudo para a criação de uma escola de pintura, ainda hoje famosa. Neste período da história da Vista Alegre, assinalam-se factos como o desenvolvimento de uma obra social, a introdução de decorações a ouro e temas com paisagens e delicadas flores, a participação em certames (Paris e Palácio de Cristal no Porto) e, por último, a cessação da produção de vidro (1880).
Século XX
Até ao final da Grande Guerra, o período de brilho da fábrica foi ofuscado, pois as conturbações sociais encaminharam a empresa para grandes dificuldades. Contudo, o espírito introduzido pelo fundador e a manutenção da escola de desenho e pintura pelo pintor Duarte José de Magalhães estimularam a reorganização e modernização da empresa.
De 1922 a 1947, registou-se uma enorme renovação artística, destacando-se a colaboração de artistas de renome nacional, tais como Roque Gameiro, Raul Lino, Leitão de Barros, Piló, Delfim Maia, entre outros.
A 15 de Dezembro de 1932 foi feita Grande-Oficial da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial.
Entre 1947 e 1968, a Vista Alegre realizou contatos internacionais, a formação de quadros técnicos especializados e a aquisição da principal concorrente, a Electro-Cerâmica. Na década de 1970, a fábrica deu importantes passos na sua modernização tecnológica e prestou mais atenção à formação de jovens pintores.
Em 1983, criou o Gabinete de Orientação Artística (GOA) e, dois anos depois, o Centro de Arte e Desenvolvimento da Empresa (CADE), com a finalidade de fomentar a criatividade e contribuir para a formação nas áreas de desenho, pintura e escultura. Conseqüentemente, nasceram as séries limitadas de peças de porcelana, chamadas de séries especiais e peças comemorativas.
Século XXI
Em maio de 2001, deu-se a fusão da Vista Alegre com o grupo Atlantis, formando o maior grupo nacional de utensílios de mesa e sexto maior do mundo nesse sector: o Grupo Vista Alegre Atlantis, que atua em diversas áreas. Em 2002 foi concluído um processo de reengenharia industrial, que permitiu aumentar a capacidade e volume de produção.
A 19 de Janeiro de 2009, o Grupo Visabeira lança uma OPA à Vista Alegre e adquire o controle total da marca.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 20 de janeiro de 2020.
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Saindo do forno: conheça a fábrica das louças mais antigas de Portugal
Vilarejo na costa portuguesa reúne a história viva da porcelana mais antiga do país – e mais amada do mundo
Aveiro, norte da costa portuguesa. A luz do sol reflete nas construções o brilho dos canais que rasgam a cidade de 80 mil habitantes – quantidade de pessoas que caberia em um bairro de São Paulo. Berço dos irresistíveis ovos moles (doce conventual de gema cremosa envolta em uma capa fininha de hóstia e moldada em formatos marinhos), tem o charme dos pequenos centros da Europa. A oito quilômetros de lá, uma antiga chácara perto da diminuta Ílhavo virou uma praça rodeada por casas brancas com contornos azuis e amarelos, típicas do Brasil Colônia, que mais parece um vilarejo. Instalada nesse endereço desde 1824, a Vista Alegre, fábrica de porcelanas mais antiga do país, tomou conta do espaço e também concentra ali um museu, um teatro, uma capela, um hotel e lojinhas com as peças mais cobiçadas da louçaria nacional. E transformou o que poderia ser um ambiente fabril em um lugar cheio de memórias, que exala cultura e arte.
A produção é frenética. São cerca de 30 milhões de itens anualmente, entre pratos, travessas, esculturas e tais. Nem por isso se abre mão do modo artesanal de trabalho característicos da marca. Basta visitar o museu que conta a história e a evolução da Vista Alegre, do outro lado da praça. No andar de cima das salas de exposição, onde os fornos gigantes dos anos 1800 em que a porcelana era produzida ainda guardam resquícios de argila e tinta da época, artistas pintam à mão pratos com estampas exuberantes assinadas pelo estilista francês Christian Lacroix, bandejas da coleção desenvolvida em parceria com a ONG Ecoarts Amazônia, que homenageia a maior floresta tropical do planeta, um bar de porcelana com edição limitada a 100 peças – todos disponíveis na flagship paulistana a partir de agosto.
O cuidado na produção pode ser notado ainda nas enormes caixas abarrotadas de peças com defeitos discretos, muitos imperceptíveis a olho nu, que são quebradas diariamente e ficam distribuídas pela fábrica. “Nada que leve a nossa assinatura pode ser menos do que perfeito”, explica o diretor geral da empresa, Carlos Costa. O que não quer dizer que os objetos sejam idênticos. Tudo produzido ali tem acabamento manual, o que garante que nenhum deles seja exatamente igual ao outro.
A visita à cidade, localizada a 235 quilômetros de Lisboa, pede uma parada estratégica no caminho, em Caldas da Rainha. É ali que está o museu e o outlet da Bordallo Pinheiro, cerâmica que nasceu em Portugal em 1884 e mimetiza principalmente animais, verduras e frutas – quem não conhece a louça em formato de folhas de couve, uma das mais copiadas do mundo? Parte do império Vista Alegre (que, entre outros negócios, faz talheres e objetos utilitários de vidro e cristal) desde o ano passado, preserva na produção o mesmo cuidado artístico de sua irmã mais velha.
Isso explica o fato de cerca de 70% dos funcionários da fábrica da Bordallo serem mulheres. “Elas têm a delicadeza e a precisão que nossas peças pedem”, diz Tiago Mendes, gerente da marca. Exemplo disso é Isabel Pinto, na empresa há 35 anos. É ela quem dá acabamento aos vasos pré-moldados em formato de esquilos, trazendo maior realismo às caricatas e divertidas louças. Apesar da desenvoltura que parece vir de berço, ela garante que todo mundo pode adquirir habilidades manuais. “É só ter vontade e disposição”, afirma. É o caso de sua filha Patrícia, que trabalhava no comércio de alimentos e, há três anos, entrou para o time de artistas da marca. Herança materna? Isabel jura que não. “Ela nunca se interessou por isso nem levava jeito para a coisa”, diz. “Talento é coisa que se aprende.”
O passeio ao mundo maravilhoso da louçaria portuguesa é pontuado por quase toda refeição que se faça na terrinha. A Vista Alegre está na maioria dos restaurantes e hotéis de alto padrão do país e a Bordallo Pinheiro decora inúmeras lojas, empórios e casas residenciais. Difícil é, depois disso tudo, sentar para comer sem virar o prato e conferir a assinatura da marca no verso. Ora, pois!
Fonte: Revista Marie Claire, por Roberta Malta, publicado em 18 de outubro de 2019.