Paulo Roberto Leal (Rio de Janeiro, RJ, 1946 — Rio de Janeiro, RJ, 26 de fevereiro de 1991), foi um artista gráfico, curador, escultor, pintor e professor de artes brasileiro. Iniciou sua carreira trabalhando no Banco Central desde 1967 e realizou os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro. Na década de 70, iniciou experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministrou um curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e recebeu prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integrou, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza. Leal também foi curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, RJ. Em sua arte, Leal mescla elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética, produzindo obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Nesse conceito, utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos. Em suas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento. Realizou diversas exposições no Brasil, também na Argentina, Itália, Portugal, Inglaterra, França, entre outros.
Biografia Paulo Roberto Leal — Itaú Cultural
Funcionário do Banco Central desde 1967, realiza os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, entra em contato com o neoconcretista Osmar Dillon. Na década de 1970, inicia experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministra curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e recebe prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integra, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza. Por ocasião da mostra O Gesto Criador, Olívio Tavares de Araújo realiza filme sobre sua obra em 1977. Trabalhou como curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. É projetado em 1995 o Centro de Referência Iconográfica e Textual PRL no MAM/RJ, com a documentação deixada pelo artista sob a guarda de Armando Mattos. Em 2000, ocorre a exposição Projeto Concreto/PRL, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro, e, em 2007, 102 obras de sua autoria são reunidas na mostra Da Matéria Nasce a Forma, no Museu de Arte Contemporânea - MAC-Niterói.
Análise
Desde o início da década de 1970, Paulo Roberto Leal produz obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos. Nessas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento. Na série Armagens, apresenta papéis articulados, enrolados sinuosamente no interior de caixas acrílicas transparentes. Em seus trabalhos, mantém diálogo com a obra de Osmar Dillon, artista que trabalha com poemas visuais criados em caixas de acrílico, estabelecendo jogos entre palavras, formas e cores. Em séries como Desarmagens e Des-mov-em, percebe-se seu questionamento dos limites da pintura.
Em 1974, passa a produzir as entretelas, recortes de tela unidos por costuras à máquina. Posteriormente, elas são pintadas e coladas sobre vários suportes, como na série Armaduras. Como nota o crítico Roberto Pontual, Leal busca no módulo e no múltiplo a base de seus trabalhos, mesclando elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética.
Segundo o crítico, desde 1978, o artista revela a vontade crescente de se aproximar da pintura, sem, no entanto, alterar seu processo de trabalho. Nas séries Armaduras e Quasar, 1980, destaca-se a importância da cor, que cria atmosferas, utilizada também de forma simbólica. Em produção posterior, Paulo Roberto Leal busca ainda uma integração com o ambiente e a arquitetura do local expositivo, como na obra Regata, 1985.
Críticas
"(...) Um espaço mais de fusões do que justaposições; orgânico, muito além de mecânico. Era esse o espaço expressivo - vale dizer, plurissensorial - que os neoconcretos propunham. Prossegue sendo ele, com as diversidades que o tempo traz, o campo de trabalho de muitos dos nossos construtivos de hoje. Entre eles, Paulo Roberto Leal será aquele cujo trabalho vem demonstrando desde o início, há 10 anos atrás, o mais imediato, continuado e irreversível retemperamento do espírito e da prática originais do neoconcretismo. Não mimeticamente ou por capricho. O elo resulta de uma mescla de predisposição individual e absorção do substrato coletivo, de um já ser por dentro e um estar atento ao que há de fora. Assim, como a Lygia Clark das superfícies moduladas e dos bichos na década da 1950, Leal, nos anos 70, e ainda agora, não tem deixado de articular parte com parte. Fundamentalmente construtor por geometria, não lhe interessa a unidade monolítica, indivisível e final, fechada em cada obra. Interessa-lhe a multiplicidade, o agrupamento, a articulação, o ponto de encontro mas também de partição. Entre o caos e a ordem, o que se dispersa e o que se compacta, é o equilíbrio de forças vitais se opondo ao que a ele importa. E o equilíbrio, pensando na vocação dinâmica do termo, existe mais na linha de confluência das partes do que em cada uma delas, isoladas. Ali passa a ser eixo, acordo, harmonia" — Roberto Pontual (MODERNIDADE: arte brasileira do século XX. Prefácio de Celso Furtado. Apresentação de Pierre Dossa. Organizado pelo Ministério da Cultura, Brasília e Câmara do Comércio. Texto de Aracy Amaral. São Paulo: MAM; Paris: Musée d´Art Moderne de la Ville de Paris, 1988).
Exposições Individuais
1970 - Curitiba PR - Individual, na Biblioteca Pública do Estado do Paraná
1971 - Rio de Janeiro RJ - Múltiplos, na Galeria de Arte Ipanema
1972 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Ipanema
1973 - Brasília DF - Individual, na Galeria de Arte Oscar Seraphico
1973 - Brasília DF - Individual, na Galeria Mainline
1974 - Campinas SP - Individual, na Galeria de Arte Girassol
1974 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Arte Global
1975 - Porto Alegre RS - Individual na Galeria de Arte do IAB/RS
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Graffiti
1976 - Brasília DF - Individual, na Galeria de Arte Oscar Seraphico
1983 - Niterói RJ - Habitantes, na Galeria de Arte UFF
1984 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte São Paulo
1989 - Rio de Janeiro RJ - Concerto Concreto, na Galeria 110 Arte Contemporânea
Exposições Coletivas
1970 - Belo Horizonte MG - 2º Salão Nacional de Arte Contemporânea
1970 - Belo Horizonte MG - 4º Salão Nacional da Cultura Francesa
1970 - Rio de Janeiro RJ - 19º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ - prêmio aquisição
1970 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão de Verão, no MAM/RJ
1970 - Rio de Janeiro RJ - Materiais Transfigurados, na Sala Goeldi
1970 - São Paulo SP - Pré-Bienal de São Paulo, na Fundação Bienal - premiado
1971 - Curitiba PR - 28º Salão Paranaense, na Biblioteca Pública do Paraná
1971 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Múltiplos, na Petite Galeria
1971 - São Paulo SP - 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal - Prêmio Bienal de São Paulo
1971 - São Paulo SP - 5º Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP
1972 - São Paulo SP - 4º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio
1972 - São Paulo SP - Mostra de Arte Sesquicentenário da Independência e Brasil Plástica - 72, na Fundação Bienal
1972 - São Paulo SP - Múltiplos Brasileiros, na Galeria Múltipla de Arte
1972 - Veneza (Itália) - 36ª Bienal de Veneza
1973 - Rio de Janeiro RJ - 22º Salão Nacional de Arte Moderna
1973 - Santo André SP - 6º Salão de Arte Contemporânea de Santo André, no Paço Municipal
1974 - Belo Horizonte MG - 5º Salão de Arte Universitária - prêmio aquisição
1974 - São Paulo SP - Bienal Nacional 74, na Fundação Bienal
1975 - São Paulo SP - Novos e Novíssimos Gravadores Brasileiros, no MAC/USP
1976 - Rio de Janeiro RJ - 1º Arte Agora, no MAM/RJ
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1977 - Belo Horizonte MG - 5º Salão Global de Inverno, na Fundação Palácio das Artes
1977 - Brasília DF - 5º Salão Global de Inverno
1977 - Rio de Janeiro RJ - 5º Salão Global de Inverno, no MNBA
1977 - São Paulo SP - 5º Salão Global de Inverno, no Masp
1978 - Rio de Janeiro RJ - 3º Arte Agora: América Latina, geometria sensível, no MAM/RJ
1979 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1979 - São Paulo SP - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Panorama da Nova Pintura Latino-Americana
1980 - Curitiba PR - 37º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra
1980 - Rio de Janeiro RJ - Outra Pintura, na Livraria Noa Noa
1980 - Veneza (Itália) - 40ª Bienal de Veneza
1981 - Belo Horizonte MG - 13º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, no Museu de Arte da Pampulha
1981 - Porto Alegre RS - Artistas Brasileiros dos Anos 60 e 70 na Coleção Rubem Knijnik, no Espaço NO Galeria Chaves
1982 - Belo Horizonte MG - 14º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, no Museu de Arte da Pampulha
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Barbican Art Gallery
1982 - Rio de Janeiro RJ - 5º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ - prêmio aquisição
1982 - São Paulo SP - In Comunicabile/Inter-comunicável, no MAC/USP
1983 - Rio de Janeiro RJ - À Flor da Pele: pintura e prazer, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1983 - São Paulo SP - Projeto Releitura, na Pinacoteca do Estado
1984 - Niterói RJ - Adriano, Leal, Ronaldo, Sued, na Galeria de Arte UFF
1984 - São Paulo SP - 2º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no MIS/SP - prêmio aquisição
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Ribeirão Preto SP - Desenhar, na Itaugaleria
1985 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construção: 21 artistas contemporâneos, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1985 - Rio de Janeiro RJ - Velha Mania: desenho brasileiro, na na EAV/Parque Lage
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - Desenhos, no Centro Cultural Bonfiglioli
1985 - São Paulo SP - Transcriar, no CCSP
1985 - São Paulo SP - Transcriar, no MAC/USP
1986 - Buenos Aires (Argentina) - Bienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel
1986 - Niterói RJ - Na Ponta do Lápis, na Galeria de Arte da UFF
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs
1986 - Rio de Janeiro RJ - Território Ocupado, na EAV/Parque Lage
1986 - São Paulo SP - 17º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1986 - Vitória ES - O Atelier 78, na Universidade Federal do Espírito Santo. Galeria de Arte e Pesquisa
1987 - Ivry-sur-Seine (França) - Ouverture Brésilienne, no Centre d'Art Contemporain. Galerie Fernand Léger
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Arte Contemporânea, na Pinacoteca do Estado
1988 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Nacional de Artes Plásticas, na Funarte - prêmio aquisição
1988 - Rio de Janeiro RJ - Abolição, na Galeria de Arte Ipanema
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Rio de Janeiro RJ - Rio Hoje, no MAM/RJ
Exposições Póstumas
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1992 - São Paulo SP - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateubriand/Museu de Arte Moderna-RJ, na Galeria de Arte do Sesi
1993 - Niterói RJ - 2ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no MAC-Niterói
1993 - Rio de Janeiro RJ - A Rarefação dos Sentidos: Coleção João Sattamini - anos 70, na EAV/Parque Lage
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1998 - São Paulo SP - Múltiplos, na Valu Oria Galeria de Arte
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
2000 - Rio de Janeiro RJ - Situações: arte brasileira anos 70, na Fundação Casa França-Brasil
2000 - Rio de Janeiro RJ - Projeto Concreto Paulo Roberto Leal, no Centro Cultural Light
2001 - Porto Alegre RS - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea, no Margs
2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC-Niterói
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Genealogia do Espaço, na Galeria do Parque das Ruínas
2002 - São Paulo SP - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Instituto Tomie Ohtake
2003 - Belo Horizonte MG - Geométricos, na Léo-Bahia Arte Contemporânea
2003 - Campos dos Goytacazes RJ - Poema Planar-Espacial, no Sesc
2003 - Nova Friburgo RJ - Poema Planar-Espacial, na Galeria Sesc Nova Friburgo
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, no Mercedes Viegas Escritório de Arte
2005 - Belo Horizonte MG - 40/80: uma mostra de arte brasileira, na Léo Bahia Arte Contemporânea
2005 - Campos dos Goytacazes RJ - Imagem Sitiada, no Sesc
2005 - Petrópolis RJ - Imagem Sitiada, na Galeria Sesc Petrópolis
2005 - Rio de Janeiro RJ - Imagem Sitiada, na Galeria Sesc Copacabana
2005 - Rio de Janeiro RJ - N_múltiplos, na Arte 21 Galeria
2005 - São Paulo SP - Homo Ludens: do faz-de-conta à vertigem, no Itaú Cultural
2005 - Rio de Janeiro RJ - Artecontemporânea, na Mercedes Viegas Arte Contemporânea
2007 - Niterói RJ - Da Matéria Nasce a Forma, no MAC-Niterói
Fonte: PAULO Roberto Leal. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Acesso em: 05 de junho de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Exposição de Paulo Roberto Leal – Bolsa de Arte
Artista carioca, com influência dos movimentos Concreto e Neoconcreto, é reconhecido por ter explorado as possibilidades plásticas do papel A produção artística de Paulo Roberto Leal (1946 -1991) é tema da exposição apresentada pela galeria Bergamin & Gomide entre os dias 08 de novembro de 2018 e 02 de fevereiro de 2019. As possibilidades e manipulações plásticas do papel kraft e outros papéis mais nobres foram amplamente exploradas pelo artista carioca, que iniciou sua carreira em 1969 como programador visual de catálogos.
Os anos 1970 e 1980 marcaram a carreira de Leal, influenciada pelos movimentos Concreto e Neoconcreto, típicos de sua geração, além do movimento Minimalista, a Arte Povera e Arte Conceitual. Apoiado nessas abordagens, o artista apresentou uma produção reflexiva, mesmo sem ter formação acadêmica. Sua técnica foi adquirida por meio do convívio com artistas e críticos, da leitura de obras contemporâneas e da visitação a museus e galerias. A arte de Leal tem caráter experimental, com o objetivo de desenvolver uma lógica de ideias através de uma expressão plástico-visual.
A mostra apresentada pela Bergamin & Gomide reúne cerca de 16 trabalhos, entre eles Armagens, que tem moldura acrílica com fragmentos de papel kraft dobrados no limite, antes de formarem vincos. A obra explora a tensão elástica do próprio papel.
Ondulando o plano da folha até o seu limite, Paulo Roberto Leal constrói curvaturas e ordena os fragmentos que por acumulação formam linhas nos encontros das diversas folhas. Armagens é um território delimitado pela moldura e um volume contido pela superfície de acrílico transparente e leitoso, que remetem à técnica renascentista do chiaroescuro (contraste entre luz e sombra).
Já na série Entretelas e Sobretelas, Leal transmite uma renovada delicadeza em tela crua e a linha de costura, sem papel kraft, articulando formas geométricas com uma tênue sugestão de cor por meio dessas linhas. Em 1978, o artista apresentou uma mudança fundamental em suas criações com Armaduras, ao destacar a simplicidade e a autonomia dos materiais. Embora possa ser vista, a linha é desmaterializada, formada a partir de recortes e colagens. A linha é uma espécie de desejo.
Após as mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas na primeira metade da década de 1980, a repressão e a ditadura começam a ceder, a expressão artística ganha mais cor e a pintura mais espaço. A arte de Leal também passa por transformações e transita para o campo pictórico, sem deixar de lado todo o legado e a tradição construtivista concreta. Nesse contexto, o artista mostra-se mais aberto à cidade, ao pluralismo, às expressões bem humoradas e à introdução da figuração.
Em 1984, Paulo Roberto Leal em parceria com Marcus Lontra e Sandra Magger, organizou a exposição “Como vai você Geração 80?”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Na ocasião, foram reunidos 123 artistas do eixo Rio – São Paulo. Leal e Lontra resumiram o espírito da exposição da seguinte forma: “está tudo aí, todas as cores, todas as formas, quadrados, transparências, matéria, massa pintada, massa humana, suor, aviãozinho, geração serrote, radicais e liberais, transvanguarda, punks, panquecas, pós-modernos, neoexpressionistas (…)” — Texto de Frederico Morais sobre Paulo Roberto Leal.
Uma Releitura
Afirmei mais de uma vez, em textos críticos veiculados em jornais e em catálogos de suas exposições, que Paulo Roberto Leal é um artista de tipo novo, pós-moderno. Sigo pensando assim. Na juventude, nunca imaginou ser artista, tanto que se formou em economia e durante muitos anos foi funcionário do Banco Central do Brasil. Jamais cursou qualquer escola de arte, tampouco teve professores particulares. Aprendeu o novo ofício no convívio com artistas e críticos de arte, como frequentador assíduo de exposições e ateliês. Pouco a pouco, formou uma pequena coleção, reunindo obras de Ivan Serpa, Franz Weissmann, Amilcar de Castro, Lygia Clark, Willys de Castro, Volpi, Ione Saldanha e Raymundo Colares, artistas vinculados com maior ou menor grau de intensidade à vertente construtiva da arte brasileira. Um indicativo claro de qual seria sua opção.
Data de 1969 o início de sua atuação como artista. Mas, para Leal, desde os primeiros trabalhos autorais, o importante nunca foi exorcizar demônios interiores, nem, tampouco, apesar da gravidade do momento vivido, insistir em uma retórica política. Em sua carreira artística, relativamente curta devido à morte prematura, seu propósito maior foi exercer o pleno controle dos significados de sua obra, tendo como base um pensamento plástico.
Artista construtivo, o seu alvo foi sempre a materialidade da obra, a afirmação de seus componentes físicos e não alguma coisa situada fora dela, mas referida ou recriada enquanto imagem atada à superfície da tela. Mesmo em sua fase inicial, que tinha como matéria-prima o papel deslizando intocado sobre o painel, ou dobrado e acumulado em caixas de papelão abertas (“Arme”), convidando à participação criativa do espectador. E também aprisionado em recipientes de acrílico transparente ou fosco (“Armagem”). Mas, diante dos seus trabalhos, espectadores ou colecionadores ainda irão se perguntar se estão efetivamente diante de quadros? A resposta, claro, será afirmativa. Na série de trabalhos denominada “Entretelas”, poderíamos dizer que a agulha da máquina de costura funciona como um pincel, e o fio de linha, como tinta. Assim, sem usar tintas e pincéis, ou recortando e colando fragmentos do tecido, Leal seguiu construindo quadros, tanto que foram destinados à parede, situando-se, pois, no âmbito de uma tradição que se inicia no Renascimento. A portabilidade da pintura.
Para Leal, portanto, o quadro nunca foi uma questão encerrada, mesmo depois de tantas vanguardas e de muitas “mortes” anunciadas da pintura. E se nas diferentes etapas de seu projeto elimina a imagem, trazendo ao primeiro plano o próprio suporte da obra, foi para voltar ao grau zero da pintura e começar tudo de novo. Uma vez mais viver a aventura do quadro. A começar pelo próprio tecido da tela, por vezes pintado no avesso e no direito, recortado e costurado – com ocasionais fios soltos a romper a rigidez da composição. Ou colado, mantidas suas cores e manchas anteriores à própria tinta, bem como as texturas e outros valores táteis.
O ciclo do papel durou cinco anos. Primeiro, deixado livre, solto, sofrendo a interferência do clima e do tempo. Ou propiciando a participação lúdica e tátil do público – papéis para armar –, “Armagens”. Em seguida, encerrado em estruturas de acrílico transparente em cujo interior o tempo vai lentamente ondulando o papel.
Ao trocar o papel pelo tecido como matéria-prima, Leal fez a seguinte indagação: “Meu trabalho seria o mesmo se, àquela época, vivêssemos outra situação, se houvesse qualquer outro tipo de impedimento à criação? Ou nenhum?” E responde ele mesmo: “A cultura funciona dentro de um encadeamento de situações. Se uma das partes está enclausurada, todas as demais sofrem. É certo que aprisionar papéis dentro de caixas de acrílico pode e deve ser considerado um problema meu nos planos ético e estético. Mas é também um problema de ordem mais geral. Hoje troquei o papel pelo tecido, o que para mim significa uma abertura em termos de vida: assumir com franqueza um determinado comportamento, uma visão mais racional das coisas, enquanto antes, no papel, de certa maneira, eu me escondia.”
O momento mais radicalmente construtivo da obra de Paulo Roberto Leal é a série “Entretela” (1974-1976). Ela reúne telas costuradas, pintadas a óleo, cujas linhas (costuradas e não riscadas) definem espaços modulares e simétricos, impecavelmente silenciosos e limpos. E que assim se mantêm mesmo quando os módulos internos disputam a primazia do primeiro plano ou quando a tela, sustentada em um de seus vértices, se deixa cortar por linhas transversais, sem que o equilíbrio seja afetado. Uma segunda série, “Armadura” (1978-1980), reunindo pinturas a óleo recortadas e coladas sobre tela, tem a mesma raiz construtiva. Mas os fragmentos da tela recortada são em seguida colados sobre outra tela, criando na sua junção linhas fictícias, fortes e bem visíveis, enquanto parecem se descolar, antevendo o colapso da superfície. O que, entretanto, não acontecerá.
Respondendo à pergunta contida no título de meu comentário sobre uma exposição de Leal realizada no Rio de Janeiro, em outubro de 1980, eu afirmo no texto: “Não é preciso muito esforço mental para perceber que mesmo quadros como os que Leal expõe na Galeria Saramenha podem ter implicações políticas. O próprio caráter construtivo de sua obra se opõe ao caos permanente de nossa sociedade, a uma realidade tropicalista, mas, também, por ser uma geometria brasileira e tropical, ela tem qualidades sensíveis que diferem de outras geometrias mais rígidas. Ou seja, ela não se opõe apenas ao caos reinante fora dos limites do quadro. Ela procura entender esse caos, recolher a espontaneidade e a alegria de sociedade cultural mais aberta. Porque o excesso de rigor pode levar igualmente ao autoritarismo da forma, tão prejudicial quanto a ausência de qualquer ordem.” — Frederico Morais.
Fonte: Bolsa de Arte, "Exposição de Paulo Roberto Leal". Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
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Paulo Roberto Leal – ArtRef
Artista plástico, artista gráfico, curador. Funcionário do Banco Central desde 1967, realiza os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro.
Nesse mesmo ano, entra em contato com o neoconcretista Osmar Dillon. Na década de 1970, inicia experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministra curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e recebe prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integra, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza.
Por ocasião da mostra O Gesto Criador, Olívio Tavares de Araújo realiza filme sobre sua obra em 1977. Trabalha como curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?.
Na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. É projetado em 1995 o Centro de Referência Iconográfica e Textual PRL no MAM/RJ, com a documentação deixada pelo artista sob a guarda de Armando Mattos. Em 2000, ocorre a exposição Projeto Concreto/PRL, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro, e, em 2007, 102 obras de sua autoria são reunidas na mostra Da Matéria Nasce a Forma, no Museu de Arte Contemporânea – MAC-Niterói.
Comentário Crítico
Desde o início da década de 1970, Paulo Roberto Leal produz obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos.
Nessas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento.
Na série Armagens, apresenta papéis articulados, enrolados sinuosamente no interior de caixas acrílicas transparentes. Em seus trabalhos, mantém diálogo com a obra de Osmar Dillon, artista que trabalha com poemas visuais criados em caixas de acrílico, estabelecendo jogos entre palavras, formas e cores.
O que foi a série Armagem?
Em séries como Desarmagens e Des-mov-em, percebe-se seu questionamento dos limites da pintura.
Em 1974, passa a produzir as entretelas, recortes de tela unidos por costuras à máquina. Posteriormente, elas são pintadas e coladas sobre vários suportes, como na série Armaduras. Como nota o crítico Roberto Pontual, Leal busca no módulo e no múltiplo a base de seus trabalhos, mesclando elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética.
Segundo o crítico, desde 1978, o artista revela a vontade crescente de se aproximar da pintura, sem, no entanto, alterar seu processo de trabalho.
Nas séries Armaduras e Quasar, 1980, destaca-se a importância da cor, que cria atmosferas, utilizada também de forma simbólica. Em produção posterior, Paulo Roberto Leal busca ainda uma integração com o ambiente e a arquitetura do local expositivo, como na obra Regata, 1985.
Fonte: Art Ref, "A armagem de Paulo Roberto Leal e o neoconcretismo", escrito por Paulo Varella, publicado em 27 de março de 2019. Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
Crédito fotográfico: Captura de imagem do vídeo "Paulo Roberto Leal, pintor e escultor, sobre seu trabalho", do canal Arte é Investimento, publicado em 11 de março de 2019. Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
Paulo Roberto Leal (Rio de Janeiro, RJ, 1946 — Rio de Janeiro, RJ, 26 de fevereiro de 1991), foi um artista gráfico, curador, escultor, pintor e professor de artes brasileiro. Iniciou sua carreira trabalhando no Banco Central desde 1967 e realizou os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro. Na década de 70, iniciou experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministrou um curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e recebeu prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integrou, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza. Leal também foi curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, RJ. Em sua arte, Leal mescla elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética, produzindo obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Nesse conceito, utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos. Em suas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento. Realizou diversas exposições no Brasil, também na Argentina, Itália, Portugal, Inglaterra, França, entre outros.
Biografia Paulo Roberto Leal — Itaú Cultural
Funcionário do Banco Central desde 1967, realiza os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, entra em contato com o neoconcretista Osmar Dillon. Na década de 1970, inicia experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministra curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e recebe prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integra, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza. Por ocasião da mostra O Gesto Criador, Olívio Tavares de Araújo realiza filme sobre sua obra em 1977. Trabalhou como curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. É projetado em 1995 o Centro de Referência Iconográfica e Textual PRL no MAM/RJ, com a documentação deixada pelo artista sob a guarda de Armando Mattos. Em 2000, ocorre a exposição Projeto Concreto/PRL, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro, e, em 2007, 102 obras de sua autoria são reunidas na mostra Da Matéria Nasce a Forma, no Museu de Arte Contemporânea - MAC-Niterói.
Análise
Desde o início da década de 1970, Paulo Roberto Leal produz obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos. Nessas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento. Na série Armagens, apresenta papéis articulados, enrolados sinuosamente no interior de caixas acrílicas transparentes. Em seus trabalhos, mantém diálogo com a obra de Osmar Dillon, artista que trabalha com poemas visuais criados em caixas de acrílico, estabelecendo jogos entre palavras, formas e cores. Em séries como Desarmagens e Des-mov-em, percebe-se seu questionamento dos limites da pintura.
Em 1974, passa a produzir as entretelas, recortes de tela unidos por costuras à máquina. Posteriormente, elas são pintadas e coladas sobre vários suportes, como na série Armaduras. Como nota o crítico Roberto Pontual, Leal busca no módulo e no múltiplo a base de seus trabalhos, mesclando elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética.
Segundo o crítico, desde 1978, o artista revela a vontade crescente de se aproximar da pintura, sem, no entanto, alterar seu processo de trabalho. Nas séries Armaduras e Quasar, 1980, destaca-se a importância da cor, que cria atmosferas, utilizada também de forma simbólica. Em produção posterior, Paulo Roberto Leal busca ainda uma integração com o ambiente e a arquitetura do local expositivo, como na obra Regata, 1985.
Críticas
"(...) Um espaço mais de fusões do que justaposições; orgânico, muito além de mecânico. Era esse o espaço expressivo - vale dizer, plurissensorial - que os neoconcretos propunham. Prossegue sendo ele, com as diversidades que o tempo traz, o campo de trabalho de muitos dos nossos construtivos de hoje. Entre eles, Paulo Roberto Leal será aquele cujo trabalho vem demonstrando desde o início, há 10 anos atrás, o mais imediato, continuado e irreversível retemperamento do espírito e da prática originais do neoconcretismo. Não mimeticamente ou por capricho. O elo resulta de uma mescla de predisposição individual e absorção do substrato coletivo, de um já ser por dentro e um estar atento ao que há de fora. Assim, como a Lygia Clark das superfícies moduladas e dos bichos na década da 1950, Leal, nos anos 70, e ainda agora, não tem deixado de articular parte com parte. Fundamentalmente construtor por geometria, não lhe interessa a unidade monolítica, indivisível e final, fechada em cada obra. Interessa-lhe a multiplicidade, o agrupamento, a articulação, o ponto de encontro mas também de partição. Entre o caos e a ordem, o que se dispersa e o que se compacta, é o equilíbrio de forças vitais se opondo ao que a ele importa. E o equilíbrio, pensando na vocação dinâmica do termo, existe mais na linha de confluência das partes do que em cada uma delas, isoladas. Ali passa a ser eixo, acordo, harmonia" — Roberto Pontual (MODERNIDADE: arte brasileira do século XX. Prefácio de Celso Furtado. Apresentação de Pierre Dossa. Organizado pelo Ministério da Cultura, Brasília e Câmara do Comércio. Texto de Aracy Amaral. São Paulo: MAM; Paris: Musée d´Art Moderne de la Ville de Paris, 1988).
Exposições Individuais
1970 - Curitiba PR - Individual, na Biblioteca Pública do Estado do Paraná
1971 - Rio de Janeiro RJ - Múltiplos, na Galeria de Arte Ipanema
1972 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Ipanema
1973 - Brasília DF - Individual, na Galeria de Arte Oscar Seraphico
1973 - Brasília DF - Individual, na Galeria Mainline
1974 - Campinas SP - Individual, na Galeria de Arte Girassol
1974 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Arte Global
1975 - Porto Alegre RS - Individual na Galeria de Arte do IAB/RS
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Graffiti
1976 - Brasília DF - Individual, na Galeria de Arte Oscar Seraphico
1983 - Niterói RJ - Habitantes, na Galeria de Arte UFF
1984 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte São Paulo
1989 - Rio de Janeiro RJ - Concerto Concreto, na Galeria 110 Arte Contemporânea
Exposições Coletivas
1970 - Belo Horizonte MG - 2º Salão Nacional de Arte Contemporânea
1970 - Belo Horizonte MG - 4º Salão Nacional da Cultura Francesa
1970 - Rio de Janeiro RJ - 19º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ - prêmio aquisição
1970 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão de Verão, no MAM/RJ
1970 - Rio de Janeiro RJ - Materiais Transfigurados, na Sala Goeldi
1970 - São Paulo SP - Pré-Bienal de São Paulo, na Fundação Bienal - premiado
1971 - Curitiba PR - 28º Salão Paranaense, na Biblioteca Pública do Paraná
1971 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Múltiplos, na Petite Galeria
1971 - São Paulo SP - 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal - Prêmio Bienal de São Paulo
1971 - São Paulo SP - 5º Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP
1972 - São Paulo SP - 4º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio
1972 - São Paulo SP - Mostra de Arte Sesquicentenário da Independência e Brasil Plástica - 72, na Fundação Bienal
1972 - São Paulo SP - Múltiplos Brasileiros, na Galeria Múltipla de Arte
1972 - Veneza (Itália) - 36ª Bienal de Veneza
1973 - Rio de Janeiro RJ - 22º Salão Nacional de Arte Moderna
1973 - Santo André SP - 6º Salão de Arte Contemporânea de Santo André, no Paço Municipal
1974 - Belo Horizonte MG - 5º Salão de Arte Universitária - prêmio aquisição
1974 - São Paulo SP - Bienal Nacional 74, na Fundação Bienal
1975 - São Paulo SP - Novos e Novíssimos Gravadores Brasileiros, no MAC/USP
1976 - Rio de Janeiro RJ - 1º Arte Agora, no MAM/RJ
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1977 - Belo Horizonte MG - 5º Salão Global de Inverno, na Fundação Palácio das Artes
1977 - Brasília DF - 5º Salão Global de Inverno
1977 - Rio de Janeiro RJ - 5º Salão Global de Inverno, no MNBA
1977 - São Paulo SP - 5º Salão Global de Inverno, no Masp
1978 - Rio de Janeiro RJ - 3º Arte Agora: América Latina, geometria sensível, no MAM/RJ
1979 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1979 - São Paulo SP - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Panorama da Nova Pintura Latino-Americana
1980 - Curitiba PR - 37º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra
1980 - Rio de Janeiro RJ - Outra Pintura, na Livraria Noa Noa
1980 - Veneza (Itália) - 40ª Bienal de Veneza
1981 - Belo Horizonte MG - 13º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, no Museu de Arte da Pampulha
1981 - Porto Alegre RS - Artistas Brasileiros dos Anos 60 e 70 na Coleção Rubem Knijnik, no Espaço NO Galeria Chaves
1982 - Belo Horizonte MG - 14º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, no Museu de Arte da Pampulha
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Barbican Art Gallery
1982 - Rio de Janeiro RJ - 5º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ - prêmio aquisição
1982 - São Paulo SP - In Comunicabile/Inter-comunicável, no MAC/USP
1983 - Rio de Janeiro RJ - À Flor da Pele: pintura e prazer, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1983 - São Paulo SP - Projeto Releitura, na Pinacoteca do Estado
1984 - Niterói RJ - Adriano, Leal, Ronaldo, Sued, na Galeria de Arte UFF
1984 - São Paulo SP - 2º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no MIS/SP - prêmio aquisição
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Ribeirão Preto SP - Desenhar, na Itaugaleria
1985 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construção: 21 artistas contemporâneos, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1985 - Rio de Janeiro RJ - Velha Mania: desenho brasileiro, na na EAV/Parque Lage
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - Desenhos, no Centro Cultural Bonfiglioli
1985 - São Paulo SP - Transcriar, no CCSP
1985 - São Paulo SP - Transcriar, no MAC/USP
1986 - Buenos Aires (Argentina) - Bienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel
1986 - Niterói RJ - Na Ponta do Lápis, na Galeria de Arte da UFF
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs
1986 - Rio de Janeiro RJ - Território Ocupado, na EAV/Parque Lage
1986 - São Paulo SP - 17º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1986 - Vitória ES - O Atelier 78, na Universidade Federal do Espírito Santo. Galeria de Arte e Pesquisa
1987 - Ivry-sur-Seine (França) - Ouverture Brésilienne, no Centre d'Art Contemporain. Galerie Fernand Léger
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Arte Contemporânea, na Pinacoteca do Estado
1988 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Nacional de Artes Plásticas, na Funarte - prêmio aquisição
1988 - Rio de Janeiro RJ - Abolição, na Galeria de Arte Ipanema
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Rio de Janeiro RJ - Rio Hoje, no MAM/RJ
Exposições Póstumas
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1992 - São Paulo SP - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateubriand/Museu de Arte Moderna-RJ, na Galeria de Arte do Sesi
1993 - Niterói RJ - 2ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no MAC-Niterói
1993 - Rio de Janeiro RJ - A Rarefação dos Sentidos: Coleção João Sattamini - anos 70, na EAV/Parque Lage
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1998 - São Paulo SP - Múltiplos, na Valu Oria Galeria de Arte
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
2000 - Rio de Janeiro RJ - Situações: arte brasileira anos 70, na Fundação Casa França-Brasil
2000 - Rio de Janeiro RJ - Projeto Concreto Paulo Roberto Leal, no Centro Cultural Light
2001 - Porto Alegre RS - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea, no Margs
2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC-Niterói
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Genealogia do Espaço, na Galeria do Parque das Ruínas
2002 - São Paulo SP - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Instituto Tomie Ohtake
2003 - Belo Horizonte MG - Geométricos, na Léo-Bahia Arte Contemporânea
2003 - Campos dos Goytacazes RJ - Poema Planar-Espacial, no Sesc
2003 - Nova Friburgo RJ - Poema Planar-Espacial, na Galeria Sesc Nova Friburgo
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, no Mercedes Viegas Escritório de Arte
2005 - Belo Horizonte MG - 40/80: uma mostra de arte brasileira, na Léo Bahia Arte Contemporânea
2005 - Campos dos Goytacazes RJ - Imagem Sitiada, no Sesc
2005 - Petrópolis RJ - Imagem Sitiada, na Galeria Sesc Petrópolis
2005 - Rio de Janeiro RJ - Imagem Sitiada, na Galeria Sesc Copacabana
2005 - Rio de Janeiro RJ - N_múltiplos, na Arte 21 Galeria
2005 - São Paulo SP - Homo Ludens: do faz-de-conta à vertigem, no Itaú Cultural
2005 - Rio de Janeiro RJ - Artecontemporânea, na Mercedes Viegas Arte Contemporânea
2007 - Niterói RJ - Da Matéria Nasce a Forma, no MAC-Niterói
Fonte: PAULO Roberto Leal. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Acesso em: 05 de junho de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Exposição de Paulo Roberto Leal – Bolsa de Arte
Artista carioca, com influência dos movimentos Concreto e Neoconcreto, é reconhecido por ter explorado as possibilidades plásticas do papel A produção artística de Paulo Roberto Leal (1946 -1991) é tema da exposição apresentada pela galeria Bergamin & Gomide entre os dias 08 de novembro de 2018 e 02 de fevereiro de 2019. As possibilidades e manipulações plásticas do papel kraft e outros papéis mais nobres foram amplamente exploradas pelo artista carioca, que iniciou sua carreira em 1969 como programador visual de catálogos.
Os anos 1970 e 1980 marcaram a carreira de Leal, influenciada pelos movimentos Concreto e Neoconcreto, típicos de sua geração, além do movimento Minimalista, a Arte Povera e Arte Conceitual. Apoiado nessas abordagens, o artista apresentou uma produção reflexiva, mesmo sem ter formação acadêmica. Sua técnica foi adquirida por meio do convívio com artistas e críticos, da leitura de obras contemporâneas e da visitação a museus e galerias. A arte de Leal tem caráter experimental, com o objetivo de desenvolver uma lógica de ideias através de uma expressão plástico-visual.
A mostra apresentada pela Bergamin & Gomide reúne cerca de 16 trabalhos, entre eles Armagens, que tem moldura acrílica com fragmentos de papel kraft dobrados no limite, antes de formarem vincos. A obra explora a tensão elástica do próprio papel.
Ondulando o plano da folha até o seu limite, Paulo Roberto Leal constrói curvaturas e ordena os fragmentos que por acumulação formam linhas nos encontros das diversas folhas. Armagens é um território delimitado pela moldura e um volume contido pela superfície de acrílico transparente e leitoso, que remetem à técnica renascentista do chiaroescuro (contraste entre luz e sombra).
Já na série Entretelas e Sobretelas, Leal transmite uma renovada delicadeza em tela crua e a linha de costura, sem papel kraft, articulando formas geométricas com uma tênue sugestão de cor por meio dessas linhas. Em 1978, o artista apresentou uma mudança fundamental em suas criações com Armaduras, ao destacar a simplicidade e a autonomia dos materiais. Embora possa ser vista, a linha é desmaterializada, formada a partir de recortes e colagens. A linha é uma espécie de desejo.
Após as mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas na primeira metade da década de 1980, a repressão e a ditadura começam a ceder, a expressão artística ganha mais cor e a pintura mais espaço. A arte de Leal também passa por transformações e transita para o campo pictórico, sem deixar de lado todo o legado e a tradição construtivista concreta. Nesse contexto, o artista mostra-se mais aberto à cidade, ao pluralismo, às expressões bem humoradas e à introdução da figuração.
Em 1984, Paulo Roberto Leal em parceria com Marcus Lontra e Sandra Magger, organizou a exposição “Como vai você Geração 80?”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Na ocasião, foram reunidos 123 artistas do eixo Rio – São Paulo. Leal e Lontra resumiram o espírito da exposição da seguinte forma: “está tudo aí, todas as cores, todas as formas, quadrados, transparências, matéria, massa pintada, massa humana, suor, aviãozinho, geração serrote, radicais e liberais, transvanguarda, punks, panquecas, pós-modernos, neoexpressionistas (…)” — Texto de Frederico Morais sobre Paulo Roberto Leal.
Uma Releitura
Afirmei mais de uma vez, em textos críticos veiculados em jornais e em catálogos de suas exposições, que Paulo Roberto Leal é um artista de tipo novo, pós-moderno. Sigo pensando assim. Na juventude, nunca imaginou ser artista, tanto que se formou em economia e durante muitos anos foi funcionário do Banco Central do Brasil. Jamais cursou qualquer escola de arte, tampouco teve professores particulares. Aprendeu o novo ofício no convívio com artistas e críticos de arte, como frequentador assíduo de exposições e ateliês. Pouco a pouco, formou uma pequena coleção, reunindo obras de Ivan Serpa, Franz Weissmann, Amilcar de Castro, Lygia Clark, Willys de Castro, Volpi, Ione Saldanha e Raymundo Colares, artistas vinculados com maior ou menor grau de intensidade à vertente construtiva da arte brasileira. Um indicativo claro de qual seria sua opção.
Data de 1969 o início de sua atuação como artista. Mas, para Leal, desde os primeiros trabalhos autorais, o importante nunca foi exorcizar demônios interiores, nem, tampouco, apesar da gravidade do momento vivido, insistir em uma retórica política. Em sua carreira artística, relativamente curta devido à morte prematura, seu propósito maior foi exercer o pleno controle dos significados de sua obra, tendo como base um pensamento plástico.
Artista construtivo, o seu alvo foi sempre a materialidade da obra, a afirmação de seus componentes físicos e não alguma coisa situada fora dela, mas referida ou recriada enquanto imagem atada à superfície da tela. Mesmo em sua fase inicial, que tinha como matéria-prima o papel deslizando intocado sobre o painel, ou dobrado e acumulado em caixas de papelão abertas (“Arme”), convidando à participação criativa do espectador. E também aprisionado em recipientes de acrílico transparente ou fosco (“Armagem”). Mas, diante dos seus trabalhos, espectadores ou colecionadores ainda irão se perguntar se estão efetivamente diante de quadros? A resposta, claro, será afirmativa. Na série de trabalhos denominada “Entretelas”, poderíamos dizer que a agulha da máquina de costura funciona como um pincel, e o fio de linha, como tinta. Assim, sem usar tintas e pincéis, ou recortando e colando fragmentos do tecido, Leal seguiu construindo quadros, tanto que foram destinados à parede, situando-se, pois, no âmbito de uma tradição que se inicia no Renascimento. A portabilidade da pintura.
Para Leal, portanto, o quadro nunca foi uma questão encerrada, mesmo depois de tantas vanguardas e de muitas “mortes” anunciadas da pintura. E se nas diferentes etapas de seu projeto elimina a imagem, trazendo ao primeiro plano o próprio suporte da obra, foi para voltar ao grau zero da pintura e começar tudo de novo. Uma vez mais viver a aventura do quadro. A começar pelo próprio tecido da tela, por vezes pintado no avesso e no direito, recortado e costurado – com ocasionais fios soltos a romper a rigidez da composição. Ou colado, mantidas suas cores e manchas anteriores à própria tinta, bem como as texturas e outros valores táteis.
O ciclo do papel durou cinco anos. Primeiro, deixado livre, solto, sofrendo a interferência do clima e do tempo. Ou propiciando a participação lúdica e tátil do público – papéis para armar –, “Armagens”. Em seguida, encerrado em estruturas de acrílico transparente em cujo interior o tempo vai lentamente ondulando o papel.
Ao trocar o papel pelo tecido como matéria-prima, Leal fez a seguinte indagação: “Meu trabalho seria o mesmo se, àquela época, vivêssemos outra situação, se houvesse qualquer outro tipo de impedimento à criação? Ou nenhum?” E responde ele mesmo: “A cultura funciona dentro de um encadeamento de situações. Se uma das partes está enclausurada, todas as demais sofrem. É certo que aprisionar papéis dentro de caixas de acrílico pode e deve ser considerado um problema meu nos planos ético e estético. Mas é também um problema de ordem mais geral. Hoje troquei o papel pelo tecido, o que para mim significa uma abertura em termos de vida: assumir com franqueza um determinado comportamento, uma visão mais racional das coisas, enquanto antes, no papel, de certa maneira, eu me escondia.”
O momento mais radicalmente construtivo da obra de Paulo Roberto Leal é a série “Entretela” (1974-1976). Ela reúne telas costuradas, pintadas a óleo, cujas linhas (costuradas e não riscadas) definem espaços modulares e simétricos, impecavelmente silenciosos e limpos. E que assim se mantêm mesmo quando os módulos internos disputam a primazia do primeiro plano ou quando a tela, sustentada em um de seus vértices, se deixa cortar por linhas transversais, sem que o equilíbrio seja afetado. Uma segunda série, “Armadura” (1978-1980), reunindo pinturas a óleo recortadas e coladas sobre tela, tem a mesma raiz construtiva. Mas os fragmentos da tela recortada são em seguida colados sobre outra tela, criando na sua junção linhas fictícias, fortes e bem visíveis, enquanto parecem se descolar, antevendo o colapso da superfície. O que, entretanto, não acontecerá.
Respondendo à pergunta contida no título de meu comentário sobre uma exposição de Leal realizada no Rio de Janeiro, em outubro de 1980, eu afirmo no texto: “Não é preciso muito esforço mental para perceber que mesmo quadros como os que Leal expõe na Galeria Saramenha podem ter implicações políticas. O próprio caráter construtivo de sua obra se opõe ao caos permanente de nossa sociedade, a uma realidade tropicalista, mas, também, por ser uma geometria brasileira e tropical, ela tem qualidades sensíveis que diferem de outras geometrias mais rígidas. Ou seja, ela não se opõe apenas ao caos reinante fora dos limites do quadro. Ela procura entender esse caos, recolher a espontaneidade e a alegria de sociedade cultural mais aberta. Porque o excesso de rigor pode levar igualmente ao autoritarismo da forma, tão prejudicial quanto a ausência de qualquer ordem.” — Frederico Morais.
Fonte: Bolsa de Arte, "Exposição de Paulo Roberto Leal". Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
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Paulo Roberto Leal – ArtRef
Artista plástico, artista gráfico, curador. Funcionário do Banco Central desde 1967, realiza os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro.
Nesse mesmo ano, entra em contato com o neoconcretista Osmar Dillon. Na década de 1970, inicia experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministra curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e recebe prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integra, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza.
Por ocasião da mostra O Gesto Criador, Olívio Tavares de Araújo realiza filme sobre sua obra em 1977. Trabalha como curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?.
Na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. É projetado em 1995 o Centro de Referência Iconográfica e Textual PRL no MAM/RJ, com a documentação deixada pelo artista sob a guarda de Armando Mattos. Em 2000, ocorre a exposição Projeto Concreto/PRL, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro, e, em 2007, 102 obras de sua autoria são reunidas na mostra Da Matéria Nasce a Forma, no Museu de Arte Contemporânea – MAC-Niterói.
Comentário Crítico
Desde o início da década de 1970, Paulo Roberto Leal produz obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos.
Nessas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento.
Na série Armagens, apresenta papéis articulados, enrolados sinuosamente no interior de caixas acrílicas transparentes. Em seus trabalhos, mantém diálogo com a obra de Osmar Dillon, artista que trabalha com poemas visuais criados em caixas de acrílico, estabelecendo jogos entre palavras, formas e cores.
O que foi a série Armagem?
Em séries como Desarmagens e Des-mov-em, percebe-se seu questionamento dos limites da pintura.
Em 1974, passa a produzir as entretelas, recortes de tela unidos por costuras à máquina. Posteriormente, elas são pintadas e coladas sobre vários suportes, como na série Armaduras. Como nota o crítico Roberto Pontual, Leal busca no módulo e no múltiplo a base de seus trabalhos, mesclando elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética.
Segundo o crítico, desde 1978, o artista revela a vontade crescente de se aproximar da pintura, sem, no entanto, alterar seu processo de trabalho.
Nas séries Armaduras e Quasar, 1980, destaca-se a importância da cor, que cria atmosferas, utilizada também de forma simbólica. Em produção posterior, Paulo Roberto Leal busca ainda uma integração com o ambiente e a arquitetura do local expositivo, como na obra Regata, 1985.
Fonte: Art Ref, "A armagem de Paulo Roberto Leal e o neoconcretismo", escrito por Paulo Varella, publicado em 27 de março de 2019. Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
Crédito fotográfico: Captura de imagem do vídeo "Paulo Roberto Leal, pintor e escultor, sobre seu trabalho", do canal Arte é Investimento, publicado em 11 de março de 2019. Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
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Paulo Roberto Leal (Rio de Janeiro, RJ, 1946 — Rio de Janeiro, RJ, 26 de fevereiro de 1991), foi um artista gráfico, curador, escultor, pintor e professor de artes brasileiro. Iniciou sua carreira trabalhando no Banco Central desde 1967 e realizou os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro. Na década de 70, iniciou experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministrou um curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e recebeu prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integrou, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza. Leal também foi curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, RJ. Em sua arte, Leal mescla elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética, produzindo obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Nesse conceito, utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos. Em suas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento. Realizou diversas exposições no Brasil, também na Argentina, Itália, Portugal, Inglaterra, França, entre outros.
Biografia Paulo Roberto Leal — Itaú Cultural
Funcionário do Banco Central desde 1967, realiza os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, entra em contato com o neoconcretista Osmar Dillon. Na década de 1970, inicia experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministra curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e recebe prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integra, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza. Por ocasião da mostra O Gesto Criador, Olívio Tavares de Araújo realiza filme sobre sua obra em 1977. Trabalhou como curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. É projetado em 1995 o Centro de Referência Iconográfica e Textual PRL no MAM/RJ, com a documentação deixada pelo artista sob a guarda de Armando Mattos. Em 2000, ocorre a exposição Projeto Concreto/PRL, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro, e, em 2007, 102 obras de sua autoria são reunidas na mostra Da Matéria Nasce a Forma, no Museu de Arte Contemporânea - MAC-Niterói.
Análise
Desde o início da década de 1970, Paulo Roberto Leal produz obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos. Nessas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento. Na série Armagens, apresenta papéis articulados, enrolados sinuosamente no interior de caixas acrílicas transparentes. Em seus trabalhos, mantém diálogo com a obra de Osmar Dillon, artista que trabalha com poemas visuais criados em caixas de acrílico, estabelecendo jogos entre palavras, formas e cores. Em séries como Desarmagens e Des-mov-em, percebe-se seu questionamento dos limites da pintura.
Em 1974, passa a produzir as entretelas, recortes de tela unidos por costuras à máquina. Posteriormente, elas são pintadas e coladas sobre vários suportes, como na série Armaduras. Como nota o crítico Roberto Pontual, Leal busca no módulo e no múltiplo a base de seus trabalhos, mesclando elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética.
Segundo o crítico, desde 1978, o artista revela a vontade crescente de se aproximar da pintura, sem, no entanto, alterar seu processo de trabalho. Nas séries Armaduras e Quasar, 1980, destaca-se a importância da cor, que cria atmosferas, utilizada também de forma simbólica. Em produção posterior, Paulo Roberto Leal busca ainda uma integração com o ambiente e a arquitetura do local expositivo, como na obra Regata, 1985.
Críticas
"(...) Um espaço mais de fusões do que justaposições; orgânico, muito além de mecânico. Era esse o espaço expressivo - vale dizer, plurissensorial - que os neoconcretos propunham. Prossegue sendo ele, com as diversidades que o tempo traz, o campo de trabalho de muitos dos nossos construtivos de hoje. Entre eles, Paulo Roberto Leal será aquele cujo trabalho vem demonstrando desde o início, há 10 anos atrás, o mais imediato, continuado e irreversível retemperamento do espírito e da prática originais do neoconcretismo. Não mimeticamente ou por capricho. O elo resulta de uma mescla de predisposição individual e absorção do substrato coletivo, de um já ser por dentro e um estar atento ao que há de fora. Assim, como a Lygia Clark das superfícies moduladas e dos bichos na década da 1950, Leal, nos anos 70, e ainda agora, não tem deixado de articular parte com parte. Fundamentalmente construtor por geometria, não lhe interessa a unidade monolítica, indivisível e final, fechada em cada obra. Interessa-lhe a multiplicidade, o agrupamento, a articulação, o ponto de encontro mas também de partição. Entre o caos e a ordem, o que se dispersa e o que se compacta, é o equilíbrio de forças vitais se opondo ao que a ele importa. E o equilíbrio, pensando na vocação dinâmica do termo, existe mais na linha de confluência das partes do que em cada uma delas, isoladas. Ali passa a ser eixo, acordo, harmonia" — Roberto Pontual (MODERNIDADE: arte brasileira do século XX. Prefácio de Celso Furtado. Apresentação de Pierre Dossa. Organizado pelo Ministério da Cultura, Brasília e Câmara do Comércio. Texto de Aracy Amaral. São Paulo: MAM; Paris: Musée d´Art Moderne de la Ville de Paris, 1988).
Exposições Individuais
1970 - Curitiba PR - Individual, na Biblioteca Pública do Estado do Paraná
1971 - Rio de Janeiro RJ - Múltiplos, na Galeria de Arte Ipanema
1972 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Ipanema
1973 - Brasília DF - Individual, na Galeria de Arte Oscar Seraphico
1973 - Brasília DF - Individual, na Galeria Mainline
1974 - Campinas SP - Individual, na Galeria de Arte Girassol
1974 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Arte Global
1975 - Porto Alegre RS - Individual na Galeria de Arte do IAB/RS
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Graffiti
1976 - Brasília DF - Individual, na Galeria de Arte Oscar Seraphico
1983 - Niterói RJ - Habitantes, na Galeria de Arte UFF
1984 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte São Paulo
1989 - Rio de Janeiro RJ - Concerto Concreto, na Galeria 110 Arte Contemporânea
Exposições Coletivas
1970 - Belo Horizonte MG - 2º Salão Nacional de Arte Contemporânea
1970 - Belo Horizonte MG - 4º Salão Nacional da Cultura Francesa
1970 - Rio de Janeiro RJ - 19º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ - prêmio aquisição
1970 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão de Verão, no MAM/RJ
1970 - Rio de Janeiro RJ - Materiais Transfigurados, na Sala Goeldi
1970 - São Paulo SP - Pré-Bienal de São Paulo, na Fundação Bienal - premiado
1971 - Curitiba PR - 28º Salão Paranaense, na Biblioteca Pública do Paraná
1971 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Múltiplos, na Petite Galeria
1971 - São Paulo SP - 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal - Prêmio Bienal de São Paulo
1971 - São Paulo SP - 5º Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP
1972 - São Paulo SP - 4º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio
1972 - São Paulo SP - Mostra de Arte Sesquicentenário da Independência e Brasil Plástica - 72, na Fundação Bienal
1972 - São Paulo SP - Múltiplos Brasileiros, na Galeria Múltipla de Arte
1972 - Veneza (Itália) - 36ª Bienal de Veneza
1973 - Rio de Janeiro RJ - 22º Salão Nacional de Arte Moderna
1973 - Santo André SP - 6º Salão de Arte Contemporânea de Santo André, no Paço Municipal
1974 - Belo Horizonte MG - 5º Salão de Arte Universitária - prêmio aquisição
1974 - São Paulo SP - Bienal Nacional 74, na Fundação Bienal
1975 - São Paulo SP - Novos e Novíssimos Gravadores Brasileiros, no MAC/USP
1976 - Rio de Janeiro RJ - 1º Arte Agora, no MAM/RJ
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1977 - Belo Horizonte MG - 5º Salão Global de Inverno, na Fundação Palácio das Artes
1977 - Brasília DF - 5º Salão Global de Inverno
1977 - Rio de Janeiro RJ - 5º Salão Global de Inverno, no MNBA
1977 - São Paulo SP - 5º Salão Global de Inverno, no Masp
1978 - Rio de Janeiro RJ - 3º Arte Agora: América Latina, geometria sensível, no MAM/RJ
1979 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1979 - São Paulo SP - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Panorama da Nova Pintura Latino-Americana
1980 - Curitiba PR - 37º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra
1980 - Rio de Janeiro RJ - Outra Pintura, na Livraria Noa Noa
1980 - Veneza (Itália) - 40ª Bienal de Veneza
1981 - Belo Horizonte MG - 13º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, no Museu de Arte da Pampulha
1981 - Porto Alegre RS - Artistas Brasileiros dos Anos 60 e 70 na Coleção Rubem Knijnik, no Espaço NO Galeria Chaves
1982 - Belo Horizonte MG - 14º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, no Museu de Arte da Pampulha
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Barbican Art Gallery
1982 - Rio de Janeiro RJ - 5º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ - prêmio aquisição
1982 - São Paulo SP - In Comunicabile/Inter-comunicável, no MAC/USP
1983 - Rio de Janeiro RJ - À Flor da Pele: pintura e prazer, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1983 - São Paulo SP - Projeto Releitura, na Pinacoteca do Estado
1984 - Niterói RJ - Adriano, Leal, Ronaldo, Sued, na Galeria de Arte UFF
1984 - São Paulo SP - 2º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no MIS/SP - prêmio aquisição
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Ribeirão Preto SP - Desenhar, na Itaugaleria
1985 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construção: 21 artistas contemporâneos, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1985 - Rio de Janeiro RJ - Velha Mania: desenho brasileiro, na na EAV/Parque Lage
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - Desenhos, no Centro Cultural Bonfiglioli
1985 - São Paulo SP - Transcriar, no CCSP
1985 - São Paulo SP - Transcriar, no MAC/USP
1986 - Buenos Aires (Argentina) - Bienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel
1986 - Niterói RJ - Na Ponta do Lápis, na Galeria de Arte da UFF
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs
1986 - Rio de Janeiro RJ - Território Ocupado, na EAV/Parque Lage
1986 - São Paulo SP - 17º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1986 - Vitória ES - O Atelier 78, na Universidade Federal do Espírito Santo. Galeria de Arte e Pesquisa
1987 - Ivry-sur-Seine (França) - Ouverture Brésilienne, no Centre d'Art Contemporain. Galerie Fernand Léger
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Arte Contemporânea, na Pinacoteca do Estado
1988 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Nacional de Artes Plásticas, na Funarte - prêmio aquisição
1988 - Rio de Janeiro RJ - Abolição, na Galeria de Arte Ipanema
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Rio de Janeiro RJ - Rio Hoje, no MAM/RJ
Exposições Póstumas
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1992 - São Paulo SP - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateubriand/Museu de Arte Moderna-RJ, na Galeria de Arte do Sesi
1993 - Niterói RJ - 2ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no MAC-Niterói
1993 - Rio de Janeiro RJ - A Rarefação dos Sentidos: Coleção João Sattamini - anos 70, na EAV/Parque Lage
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1998 - São Paulo SP - Múltiplos, na Valu Oria Galeria de Arte
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
2000 - Rio de Janeiro RJ - Situações: arte brasileira anos 70, na Fundação Casa França-Brasil
2000 - Rio de Janeiro RJ - Projeto Concreto Paulo Roberto Leal, no Centro Cultural Light
2001 - Porto Alegre RS - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea, no Margs
2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC-Niterói
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Genealogia do Espaço, na Galeria do Parque das Ruínas
2002 - São Paulo SP - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Instituto Tomie Ohtake
2003 - Belo Horizonte MG - Geométricos, na Léo-Bahia Arte Contemporânea
2003 - Campos dos Goytacazes RJ - Poema Planar-Espacial, no Sesc
2003 - Nova Friburgo RJ - Poema Planar-Espacial, na Galeria Sesc Nova Friburgo
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, no Mercedes Viegas Escritório de Arte
2005 - Belo Horizonte MG - 40/80: uma mostra de arte brasileira, na Léo Bahia Arte Contemporânea
2005 - Campos dos Goytacazes RJ - Imagem Sitiada, no Sesc
2005 - Petrópolis RJ - Imagem Sitiada, na Galeria Sesc Petrópolis
2005 - Rio de Janeiro RJ - Imagem Sitiada, na Galeria Sesc Copacabana
2005 - Rio de Janeiro RJ - N_múltiplos, na Arte 21 Galeria
2005 - São Paulo SP - Homo Ludens: do faz-de-conta à vertigem, no Itaú Cultural
2005 - Rio de Janeiro RJ - Artecontemporânea, na Mercedes Viegas Arte Contemporânea
2007 - Niterói RJ - Da Matéria Nasce a Forma, no MAC-Niterói
Fonte: PAULO Roberto Leal. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Acesso em: 05 de junho de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Exposição de Paulo Roberto Leal – Bolsa de Arte
Artista carioca, com influência dos movimentos Concreto e Neoconcreto, é reconhecido por ter explorado as possibilidades plásticas do papel A produção artística de Paulo Roberto Leal (1946 -1991) é tema da exposição apresentada pela galeria Bergamin & Gomide entre os dias 08 de novembro de 2018 e 02 de fevereiro de 2019. As possibilidades e manipulações plásticas do papel kraft e outros papéis mais nobres foram amplamente exploradas pelo artista carioca, que iniciou sua carreira em 1969 como programador visual de catálogos.
Os anos 1970 e 1980 marcaram a carreira de Leal, influenciada pelos movimentos Concreto e Neoconcreto, típicos de sua geração, além do movimento Minimalista, a Arte Povera e Arte Conceitual. Apoiado nessas abordagens, o artista apresentou uma produção reflexiva, mesmo sem ter formação acadêmica. Sua técnica foi adquirida por meio do convívio com artistas e críticos, da leitura de obras contemporâneas e da visitação a museus e galerias. A arte de Leal tem caráter experimental, com o objetivo de desenvolver uma lógica de ideias através de uma expressão plástico-visual.
A mostra apresentada pela Bergamin & Gomide reúne cerca de 16 trabalhos, entre eles Armagens, que tem moldura acrílica com fragmentos de papel kraft dobrados no limite, antes de formarem vincos. A obra explora a tensão elástica do próprio papel.
Ondulando o plano da folha até o seu limite, Paulo Roberto Leal constrói curvaturas e ordena os fragmentos que por acumulação formam linhas nos encontros das diversas folhas. Armagens é um território delimitado pela moldura e um volume contido pela superfície de acrílico transparente e leitoso, que remetem à técnica renascentista do chiaroescuro (contraste entre luz e sombra).
Já na série Entretelas e Sobretelas, Leal transmite uma renovada delicadeza em tela crua e a linha de costura, sem papel kraft, articulando formas geométricas com uma tênue sugestão de cor por meio dessas linhas. Em 1978, o artista apresentou uma mudança fundamental em suas criações com Armaduras, ao destacar a simplicidade e a autonomia dos materiais. Embora possa ser vista, a linha é desmaterializada, formada a partir de recortes e colagens. A linha é uma espécie de desejo.
Após as mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas na primeira metade da década de 1980, a repressão e a ditadura começam a ceder, a expressão artística ganha mais cor e a pintura mais espaço. A arte de Leal também passa por transformações e transita para o campo pictórico, sem deixar de lado todo o legado e a tradição construtivista concreta. Nesse contexto, o artista mostra-se mais aberto à cidade, ao pluralismo, às expressões bem humoradas e à introdução da figuração.
Em 1984, Paulo Roberto Leal em parceria com Marcus Lontra e Sandra Magger, organizou a exposição “Como vai você Geração 80?”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Na ocasião, foram reunidos 123 artistas do eixo Rio – São Paulo. Leal e Lontra resumiram o espírito da exposição da seguinte forma: “está tudo aí, todas as cores, todas as formas, quadrados, transparências, matéria, massa pintada, massa humana, suor, aviãozinho, geração serrote, radicais e liberais, transvanguarda, punks, panquecas, pós-modernos, neoexpressionistas (…)” — Texto de Frederico Morais sobre Paulo Roberto Leal.
Uma Releitura
Afirmei mais de uma vez, em textos críticos veiculados em jornais e em catálogos de suas exposições, que Paulo Roberto Leal é um artista de tipo novo, pós-moderno. Sigo pensando assim. Na juventude, nunca imaginou ser artista, tanto que se formou em economia e durante muitos anos foi funcionário do Banco Central do Brasil. Jamais cursou qualquer escola de arte, tampouco teve professores particulares. Aprendeu o novo ofício no convívio com artistas e críticos de arte, como frequentador assíduo de exposições e ateliês. Pouco a pouco, formou uma pequena coleção, reunindo obras de Ivan Serpa, Franz Weissmann, Amilcar de Castro, Lygia Clark, Willys de Castro, Volpi, Ione Saldanha e Raymundo Colares, artistas vinculados com maior ou menor grau de intensidade à vertente construtiva da arte brasileira. Um indicativo claro de qual seria sua opção.
Data de 1969 o início de sua atuação como artista. Mas, para Leal, desde os primeiros trabalhos autorais, o importante nunca foi exorcizar demônios interiores, nem, tampouco, apesar da gravidade do momento vivido, insistir em uma retórica política. Em sua carreira artística, relativamente curta devido à morte prematura, seu propósito maior foi exercer o pleno controle dos significados de sua obra, tendo como base um pensamento plástico.
Artista construtivo, o seu alvo foi sempre a materialidade da obra, a afirmação de seus componentes físicos e não alguma coisa situada fora dela, mas referida ou recriada enquanto imagem atada à superfície da tela. Mesmo em sua fase inicial, que tinha como matéria-prima o papel deslizando intocado sobre o painel, ou dobrado e acumulado em caixas de papelão abertas (“Arme”), convidando à participação criativa do espectador. E também aprisionado em recipientes de acrílico transparente ou fosco (“Armagem”). Mas, diante dos seus trabalhos, espectadores ou colecionadores ainda irão se perguntar se estão efetivamente diante de quadros? A resposta, claro, será afirmativa. Na série de trabalhos denominada “Entretelas”, poderíamos dizer que a agulha da máquina de costura funciona como um pincel, e o fio de linha, como tinta. Assim, sem usar tintas e pincéis, ou recortando e colando fragmentos do tecido, Leal seguiu construindo quadros, tanto que foram destinados à parede, situando-se, pois, no âmbito de uma tradição que se inicia no Renascimento. A portabilidade da pintura.
Para Leal, portanto, o quadro nunca foi uma questão encerrada, mesmo depois de tantas vanguardas e de muitas “mortes” anunciadas da pintura. E se nas diferentes etapas de seu projeto elimina a imagem, trazendo ao primeiro plano o próprio suporte da obra, foi para voltar ao grau zero da pintura e começar tudo de novo. Uma vez mais viver a aventura do quadro. A começar pelo próprio tecido da tela, por vezes pintado no avesso e no direito, recortado e costurado – com ocasionais fios soltos a romper a rigidez da composição. Ou colado, mantidas suas cores e manchas anteriores à própria tinta, bem como as texturas e outros valores táteis.
O ciclo do papel durou cinco anos. Primeiro, deixado livre, solto, sofrendo a interferência do clima e do tempo. Ou propiciando a participação lúdica e tátil do público – papéis para armar –, “Armagens”. Em seguida, encerrado em estruturas de acrílico transparente em cujo interior o tempo vai lentamente ondulando o papel.
Ao trocar o papel pelo tecido como matéria-prima, Leal fez a seguinte indagação: “Meu trabalho seria o mesmo se, àquela época, vivêssemos outra situação, se houvesse qualquer outro tipo de impedimento à criação? Ou nenhum?” E responde ele mesmo: “A cultura funciona dentro de um encadeamento de situações. Se uma das partes está enclausurada, todas as demais sofrem. É certo que aprisionar papéis dentro de caixas de acrílico pode e deve ser considerado um problema meu nos planos ético e estético. Mas é também um problema de ordem mais geral. Hoje troquei o papel pelo tecido, o que para mim significa uma abertura em termos de vida: assumir com franqueza um determinado comportamento, uma visão mais racional das coisas, enquanto antes, no papel, de certa maneira, eu me escondia.”
O momento mais radicalmente construtivo da obra de Paulo Roberto Leal é a série “Entretela” (1974-1976). Ela reúne telas costuradas, pintadas a óleo, cujas linhas (costuradas e não riscadas) definem espaços modulares e simétricos, impecavelmente silenciosos e limpos. E que assim se mantêm mesmo quando os módulos internos disputam a primazia do primeiro plano ou quando a tela, sustentada em um de seus vértices, se deixa cortar por linhas transversais, sem que o equilíbrio seja afetado. Uma segunda série, “Armadura” (1978-1980), reunindo pinturas a óleo recortadas e coladas sobre tela, tem a mesma raiz construtiva. Mas os fragmentos da tela recortada são em seguida colados sobre outra tela, criando na sua junção linhas fictícias, fortes e bem visíveis, enquanto parecem se descolar, antevendo o colapso da superfície. O que, entretanto, não acontecerá.
Respondendo à pergunta contida no título de meu comentário sobre uma exposição de Leal realizada no Rio de Janeiro, em outubro de 1980, eu afirmo no texto: “Não é preciso muito esforço mental para perceber que mesmo quadros como os que Leal expõe na Galeria Saramenha podem ter implicações políticas. O próprio caráter construtivo de sua obra se opõe ao caos permanente de nossa sociedade, a uma realidade tropicalista, mas, também, por ser uma geometria brasileira e tropical, ela tem qualidades sensíveis que diferem de outras geometrias mais rígidas. Ou seja, ela não se opõe apenas ao caos reinante fora dos limites do quadro. Ela procura entender esse caos, recolher a espontaneidade e a alegria de sociedade cultural mais aberta. Porque o excesso de rigor pode levar igualmente ao autoritarismo da forma, tão prejudicial quanto a ausência de qualquer ordem.” — Frederico Morais.
Fonte: Bolsa de Arte, "Exposição de Paulo Roberto Leal". Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
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Paulo Roberto Leal – ArtRef
Artista plástico, artista gráfico, curador. Funcionário do Banco Central desde 1967, realiza os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro.
Nesse mesmo ano, entra em contato com o neoconcretista Osmar Dillon. Na década de 1970, inicia experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministra curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e recebe prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integra, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza.
Por ocasião da mostra O Gesto Criador, Olívio Tavares de Araújo realiza filme sobre sua obra em 1977. Trabalha como curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?.
Na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. É projetado em 1995 o Centro de Referência Iconográfica e Textual PRL no MAM/RJ, com a documentação deixada pelo artista sob a guarda de Armando Mattos. Em 2000, ocorre a exposição Projeto Concreto/PRL, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro, e, em 2007, 102 obras de sua autoria são reunidas na mostra Da Matéria Nasce a Forma, no Museu de Arte Contemporânea – MAC-Niterói.
Comentário Crítico
Desde o início da década de 1970, Paulo Roberto Leal produz obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos.
Nessas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento.
Na série Armagens, apresenta papéis articulados, enrolados sinuosamente no interior de caixas acrílicas transparentes. Em seus trabalhos, mantém diálogo com a obra de Osmar Dillon, artista que trabalha com poemas visuais criados em caixas de acrílico, estabelecendo jogos entre palavras, formas e cores.
O que foi a série Armagem?
Em séries como Desarmagens e Des-mov-em, percebe-se seu questionamento dos limites da pintura.
Em 1974, passa a produzir as entretelas, recortes de tela unidos por costuras à máquina. Posteriormente, elas são pintadas e coladas sobre vários suportes, como na série Armaduras. Como nota o crítico Roberto Pontual, Leal busca no módulo e no múltiplo a base de seus trabalhos, mesclando elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética.
Segundo o crítico, desde 1978, o artista revela a vontade crescente de se aproximar da pintura, sem, no entanto, alterar seu processo de trabalho.
Nas séries Armaduras e Quasar, 1980, destaca-se a importância da cor, que cria atmosferas, utilizada também de forma simbólica. Em produção posterior, Paulo Roberto Leal busca ainda uma integração com o ambiente e a arquitetura do local expositivo, como na obra Regata, 1985.
Fonte: Art Ref, "A armagem de Paulo Roberto Leal e o neoconcretismo", escrito por Paulo Varella, publicado em 27 de março de 2019. Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
Crédito fotográfico: Captura de imagem do vídeo "Paulo Roberto Leal, pintor e escultor, sobre seu trabalho", do canal Arte é Investimento, publicado em 11 de março de 2019. Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
Paulo Roberto Leal (Rio de Janeiro, RJ, 1946 — Rio de Janeiro, RJ, 26 de fevereiro de 1991), foi um artista gráfico, curador, escultor, pintor e professor de artes brasileiro. Iniciou sua carreira trabalhando no Banco Central desde 1967 e realizou os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro. Na década de 70, iniciou experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministrou um curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e recebeu prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integrou, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza. Leal também foi curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, RJ. Em sua arte, Leal mescla elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética, produzindo obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Nesse conceito, utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos. Em suas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento. Realizou diversas exposições no Brasil, também na Argentina, Itália, Portugal, Inglaterra, França, entre outros.
Biografia Paulo Roberto Leal — Itaú Cultural
Funcionário do Banco Central desde 1967, realiza os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, entra em contato com o neoconcretista Osmar Dillon. Na década de 1970, inicia experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministra curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e recebe prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integra, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza. Por ocasião da mostra O Gesto Criador, Olívio Tavares de Araújo realiza filme sobre sua obra em 1977. Trabalhou como curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. É projetado em 1995 o Centro de Referência Iconográfica e Textual PRL no MAM/RJ, com a documentação deixada pelo artista sob a guarda de Armando Mattos. Em 2000, ocorre a exposição Projeto Concreto/PRL, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro, e, em 2007, 102 obras de sua autoria são reunidas na mostra Da Matéria Nasce a Forma, no Museu de Arte Contemporânea - MAC-Niterói.
Análise
Desde o início da década de 1970, Paulo Roberto Leal produz obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos. Nessas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento. Na série Armagens, apresenta papéis articulados, enrolados sinuosamente no interior de caixas acrílicas transparentes. Em seus trabalhos, mantém diálogo com a obra de Osmar Dillon, artista que trabalha com poemas visuais criados em caixas de acrílico, estabelecendo jogos entre palavras, formas e cores. Em séries como Desarmagens e Des-mov-em, percebe-se seu questionamento dos limites da pintura.
Em 1974, passa a produzir as entretelas, recortes de tela unidos por costuras à máquina. Posteriormente, elas são pintadas e coladas sobre vários suportes, como na série Armaduras. Como nota o crítico Roberto Pontual, Leal busca no módulo e no múltiplo a base de seus trabalhos, mesclando elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética.
Segundo o crítico, desde 1978, o artista revela a vontade crescente de se aproximar da pintura, sem, no entanto, alterar seu processo de trabalho. Nas séries Armaduras e Quasar, 1980, destaca-se a importância da cor, que cria atmosferas, utilizada também de forma simbólica. Em produção posterior, Paulo Roberto Leal busca ainda uma integração com o ambiente e a arquitetura do local expositivo, como na obra Regata, 1985.
Críticas
"(...) Um espaço mais de fusões do que justaposições; orgânico, muito além de mecânico. Era esse o espaço expressivo - vale dizer, plurissensorial - que os neoconcretos propunham. Prossegue sendo ele, com as diversidades que o tempo traz, o campo de trabalho de muitos dos nossos construtivos de hoje. Entre eles, Paulo Roberto Leal será aquele cujo trabalho vem demonstrando desde o início, há 10 anos atrás, o mais imediato, continuado e irreversível retemperamento do espírito e da prática originais do neoconcretismo. Não mimeticamente ou por capricho. O elo resulta de uma mescla de predisposição individual e absorção do substrato coletivo, de um já ser por dentro e um estar atento ao que há de fora. Assim, como a Lygia Clark das superfícies moduladas e dos bichos na década da 1950, Leal, nos anos 70, e ainda agora, não tem deixado de articular parte com parte. Fundamentalmente construtor por geometria, não lhe interessa a unidade monolítica, indivisível e final, fechada em cada obra. Interessa-lhe a multiplicidade, o agrupamento, a articulação, o ponto de encontro mas também de partição. Entre o caos e a ordem, o que se dispersa e o que se compacta, é o equilíbrio de forças vitais se opondo ao que a ele importa. E o equilíbrio, pensando na vocação dinâmica do termo, existe mais na linha de confluência das partes do que em cada uma delas, isoladas. Ali passa a ser eixo, acordo, harmonia" — Roberto Pontual (MODERNIDADE: arte brasileira do século XX. Prefácio de Celso Furtado. Apresentação de Pierre Dossa. Organizado pelo Ministério da Cultura, Brasília e Câmara do Comércio. Texto de Aracy Amaral. São Paulo: MAM; Paris: Musée d´Art Moderne de la Ville de Paris, 1988).
Exposições Individuais
1970 - Curitiba PR - Individual, na Biblioteca Pública do Estado do Paraná
1971 - Rio de Janeiro RJ - Múltiplos, na Galeria de Arte Ipanema
1972 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Ipanema
1973 - Brasília DF - Individual, na Galeria de Arte Oscar Seraphico
1973 - Brasília DF - Individual, na Galeria Mainline
1974 - Campinas SP - Individual, na Galeria de Arte Girassol
1974 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Arte Global
1975 - Porto Alegre RS - Individual na Galeria de Arte do IAB/RS
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Graffiti
1976 - Brasília DF - Individual, na Galeria de Arte Oscar Seraphico
1983 - Niterói RJ - Habitantes, na Galeria de Arte UFF
1984 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte São Paulo
1989 - Rio de Janeiro RJ - Concerto Concreto, na Galeria 110 Arte Contemporânea
Exposições Coletivas
1970 - Belo Horizonte MG - 2º Salão Nacional de Arte Contemporânea
1970 - Belo Horizonte MG - 4º Salão Nacional da Cultura Francesa
1970 - Rio de Janeiro RJ - 19º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ - prêmio aquisição
1970 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão de Verão, no MAM/RJ
1970 - Rio de Janeiro RJ - Materiais Transfigurados, na Sala Goeldi
1970 - São Paulo SP - Pré-Bienal de São Paulo, na Fundação Bienal - premiado
1971 - Curitiba PR - 28º Salão Paranaense, na Biblioteca Pública do Paraná
1971 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Múltiplos, na Petite Galeria
1971 - São Paulo SP - 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal - Prêmio Bienal de São Paulo
1971 - São Paulo SP - 5º Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP
1972 - São Paulo SP - 4º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio
1972 - São Paulo SP - Mostra de Arte Sesquicentenário da Independência e Brasil Plástica - 72, na Fundação Bienal
1972 - São Paulo SP - Múltiplos Brasileiros, na Galeria Múltipla de Arte
1972 - Veneza (Itália) - 36ª Bienal de Veneza
1973 - Rio de Janeiro RJ - 22º Salão Nacional de Arte Moderna
1973 - Santo André SP - 6º Salão de Arte Contemporânea de Santo André, no Paço Municipal
1974 - Belo Horizonte MG - 5º Salão de Arte Universitária - prêmio aquisição
1974 - São Paulo SP - Bienal Nacional 74, na Fundação Bienal
1975 - São Paulo SP - Novos e Novíssimos Gravadores Brasileiros, no MAC/USP
1976 - Rio de Janeiro RJ - 1º Arte Agora, no MAM/RJ
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1977 - Belo Horizonte MG - 5º Salão Global de Inverno, na Fundação Palácio das Artes
1977 - Brasília DF - 5º Salão Global de Inverno
1977 - Rio de Janeiro RJ - 5º Salão Global de Inverno, no MNBA
1977 - São Paulo SP - 5º Salão Global de Inverno, no Masp
1978 - Rio de Janeiro RJ - 3º Arte Agora: América Latina, geometria sensível, no MAM/RJ
1979 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1979 - São Paulo SP - 11º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Buenos Aires (Argentina) - Panorama da Nova Pintura Latino-Americana
1980 - Curitiba PR - 37º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra
1980 - Rio de Janeiro RJ - Outra Pintura, na Livraria Noa Noa
1980 - Veneza (Itália) - 40ª Bienal de Veneza
1981 - Belo Horizonte MG - 13º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, no Museu de Arte da Pampulha
1981 - Porto Alegre RS - Artistas Brasileiros dos Anos 60 e 70 na Coleção Rubem Knijnik, no Espaço NO Galeria Chaves
1982 - Belo Horizonte MG - 14º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, no Museu de Arte da Pampulha
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Barbican Art Gallery
1982 - Rio de Janeiro RJ - 5º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ - prêmio aquisição
1982 - São Paulo SP - In Comunicabile/Inter-comunicável, no MAC/USP
1983 - Rio de Janeiro RJ - À Flor da Pele: pintura e prazer, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1983 - São Paulo SP - Projeto Releitura, na Pinacoteca do Estado
1984 - Niterói RJ - Adriano, Leal, Ronaldo, Sued, na Galeria de Arte UFF
1984 - São Paulo SP - 2º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no MIS/SP - prêmio aquisição
1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Ribeirão Preto SP - Desenhar, na Itaugaleria
1985 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construção: 21 artistas contemporâneos, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1985 - Rio de Janeiro RJ - Velha Mania: desenho brasileiro, na na EAV/Parque Lage
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - Desenhos, no Centro Cultural Bonfiglioli
1985 - São Paulo SP - Transcriar, no CCSP
1985 - São Paulo SP - Transcriar, no MAC/USP
1986 - Buenos Aires (Argentina) - Bienal Latino-Americana de Arte Sobre Papel
1986 - Niterói RJ - Na Ponta do Lápis, na Galeria de Arte da UFF
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs
1986 - Rio de Janeiro RJ - Território Ocupado, na EAV/Parque Lage
1986 - São Paulo SP - 17º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1986 - Vitória ES - O Atelier 78, na Universidade Federal do Espírito Santo. Galeria de Arte e Pesquisa
1987 - Ivry-sur-Seine (França) - Ouverture Brésilienne, no Centre d'Art Contemporain. Galerie Fernand Léger
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Arte Contemporânea, na Pinacoteca do Estado
1988 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Nacional de Artes Plásticas, na Funarte - prêmio aquisição
1988 - Rio de Janeiro RJ - Abolição, na Galeria de Arte Ipanema
1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP
1989 - Rio de Janeiro RJ - Rio Hoje, no MAM/RJ
Exposições Póstumas
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1992 - São Paulo SP - Anos 60/70: Coleção Gilberto Chateubriand/Museu de Arte Moderna-RJ, na Galeria de Arte do Sesi
1993 - Niterói RJ - 2ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no MAC-Niterói
1993 - Rio de Janeiro RJ - A Rarefação dos Sentidos: Coleção João Sattamini - anos 70, na EAV/Parque Lage
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1998 - São Paulo SP - Múltiplos, na Valu Oria Galeria de Arte
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
2000 - Rio de Janeiro RJ - Situações: arte brasileira anos 70, na Fundação Casa França-Brasil
2000 - Rio de Janeiro RJ - Projeto Concreto Paulo Roberto Leal, no Centro Cultural Light
2001 - Porto Alegre RS - Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea, no Margs
2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC-Niterói
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Genealogia do Espaço, na Galeria do Parque das Ruínas
2002 - São Paulo SP - Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Instituto Tomie Ohtake
2003 - Belo Horizonte MG - Geométricos, na Léo-Bahia Arte Contemporânea
2003 - Campos dos Goytacazes RJ - Poema Planar-Espacial, no Sesc
2003 - Nova Friburgo RJ - Poema Planar-Espacial, na Galeria Sesc Nova Friburgo
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, no Mercedes Viegas Escritório de Arte
2005 - Belo Horizonte MG - 40/80: uma mostra de arte brasileira, na Léo Bahia Arte Contemporânea
2005 - Campos dos Goytacazes RJ - Imagem Sitiada, no Sesc
2005 - Petrópolis RJ - Imagem Sitiada, na Galeria Sesc Petrópolis
2005 - Rio de Janeiro RJ - Imagem Sitiada, na Galeria Sesc Copacabana
2005 - Rio de Janeiro RJ - N_múltiplos, na Arte 21 Galeria
2005 - São Paulo SP - Homo Ludens: do faz-de-conta à vertigem, no Itaú Cultural
2005 - Rio de Janeiro RJ - Artecontemporânea, na Mercedes Viegas Arte Contemporânea
2007 - Niterói RJ - Da Matéria Nasce a Forma, no MAC-Niterói
Fonte: PAULO Roberto Leal. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Acesso em: 05 de junho de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Exposição de Paulo Roberto Leal – Bolsa de Arte
Artista carioca, com influência dos movimentos Concreto e Neoconcreto, é reconhecido por ter explorado as possibilidades plásticas do papel A produção artística de Paulo Roberto Leal (1946 -1991) é tema da exposição apresentada pela galeria Bergamin & Gomide entre os dias 08 de novembro de 2018 e 02 de fevereiro de 2019. As possibilidades e manipulações plásticas do papel kraft e outros papéis mais nobres foram amplamente exploradas pelo artista carioca, que iniciou sua carreira em 1969 como programador visual de catálogos.
Os anos 1970 e 1980 marcaram a carreira de Leal, influenciada pelos movimentos Concreto e Neoconcreto, típicos de sua geração, além do movimento Minimalista, a Arte Povera e Arte Conceitual. Apoiado nessas abordagens, o artista apresentou uma produção reflexiva, mesmo sem ter formação acadêmica. Sua técnica foi adquirida por meio do convívio com artistas e críticos, da leitura de obras contemporâneas e da visitação a museus e galerias. A arte de Leal tem caráter experimental, com o objetivo de desenvolver uma lógica de ideias através de uma expressão plástico-visual.
A mostra apresentada pela Bergamin & Gomide reúne cerca de 16 trabalhos, entre eles Armagens, que tem moldura acrílica com fragmentos de papel kraft dobrados no limite, antes de formarem vincos. A obra explora a tensão elástica do próprio papel.
Ondulando o plano da folha até o seu limite, Paulo Roberto Leal constrói curvaturas e ordena os fragmentos que por acumulação formam linhas nos encontros das diversas folhas. Armagens é um território delimitado pela moldura e um volume contido pela superfície de acrílico transparente e leitoso, que remetem à técnica renascentista do chiaroescuro (contraste entre luz e sombra).
Já na série Entretelas e Sobretelas, Leal transmite uma renovada delicadeza em tela crua e a linha de costura, sem papel kraft, articulando formas geométricas com uma tênue sugestão de cor por meio dessas linhas. Em 1978, o artista apresentou uma mudança fundamental em suas criações com Armaduras, ao destacar a simplicidade e a autonomia dos materiais. Embora possa ser vista, a linha é desmaterializada, formada a partir de recortes e colagens. A linha é uma espécie de desejo.
Após as mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas na primeira metade da década de 1980, a repressão e a ditadura começam a ceder, a expressão artística ganha mais cor e a pintura mais espaço. A arte de Leal também passa por transformações e transita para o campo pictórico, sem deixar de lado todo o legado e a tradição construtivista concreta. Nesse contexto, o artista mostra-se mais aberto à cidade, ao pluralismo, às expressões bem humoradas e à introdução da figuração.
Em 1984, Paulo Roberto Leal em parceria com Marcus Lontra e Sandra Magger, organizou a exposição “Como vai você Geração 80?”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Na ocasião, foram reunidos 123 artistas do eixo Rio – São Paulo. Leal e Lontra resumiram o espírito da exposição da seguinte forma: “está tudo aí, todas as cores, todas as formas, quadrados, transparências, matéria, massa pintada, massa humana, suor, aviãozinho, geração serrote, radicais e liberais, transvanguarda, punks, panquecas, pós-modernos, neoexpressionistas (…)” — Texto de Frederico Morais sobre Paulo Roberto Leal.
Uma Releitura
Afirmei mais de uma vez, em textos críticos veiculados em jornais e em catálogos de suas exposições, que Paulo Roberto Leal é um artista de tipo novo, pós-moderno. Sigo pensando assim. Na juventude, nunca imaginou ser artista, tanto que se formou em economia e durante muitos anos foi funcionário do Banco Central do Brasil. Jamais cursou qualquer escola de arte, tampouco teve professores particulares. Aprendeu o novo ofício no convívio com artistas e críticos de arte, como frequentador assíduo de exposições e ateliês. Pouco a pouco, formou uma pequena coleção, reunindo obras de Ivan Serpa, Franz Weissmann, Amilcar de Castro, Lygia Clark, Willys de Castro, Volpi, Ione Saldanha e Raymundo Colares, artistas vinculados com maior ou menor grau de intensidade à vertente construtiva da arte brasileira. Um indicativo claro de qual seria sua opção.
Data de 1969 o início de sua atuação como artista. Mas, para Leal, desde os primeiros trabalhos autorais, o importante nunca foi exorcizar demônios interiores, nem, tampouco, apesar da gravidade do momento vivido, insistir em uma retórica política. Em sua carreira artística, relativamente curta devido à morte prematura, seu propósito maior foi exercer o pleno controle dos significados de sua obra, tendo como base um pensamento plástico.
Artista construtivo, o seu alvo foi sempre a materialidade da obra, a afirmação de seus componentes físicos e não alguma coisa situada fora dela, mas referida ou recriada enquanto imagem atada à superfície da tela. Mesmo em sua fase inicial, que tinha como matéria-prima o papel deslizando intocado sobre o painel, ou dobrado e acumulado em caixas de papelão abertas (“Arme”), convidando à participação criativa do espectador. E também aprisionado em recipientes de acrílico transparente ou fosco (“Armagem”). Mas, diante dos seus trabalhos, espectadores ou colecionadores ainda irão se perguntar se estão efetivamente diante de quadros? A resposta, claro, será afirmativa. Na série de trabalhos denominada “Entretelas”, poderíamos dizer que a agulha da máquina de costura funciona como um pincel, e o fio de linha, como tinta. Assim, sem usar tintas e pincéis, ou recortando e colando fragmentos do tecido, Leal seguiu construindo quadros, tanto que foram destinados à parede, situando-se, pois, no âmbito de uma tradição que se inicia no Renascimento. A portabilidade da pintura.
Para Leal, portanto, o quadro nunca foi uma questão encerrada, mesmo depois de tantas vanguardas e de muitas “mortes” anunciadas da pintura. E se nas diferentes etapas de seu projeto elimina a imagem, trazendo ao primeiro plano o próprio suporte da obra, foi para voltar ao grau zero da pintura e começar tudo de novo. Uma vez mais viver a aventura do quadro. A começar pelo próprio tecido da tela, por vezes pintado no avesso e no direito, recortado e costurado – com ocasionais fios soltos a romper a rigidez da composição. Ou colado, mantidas suas cores e manchas anteriores à própria tinta, bem como as texturas e outros valores táteis.
O ciclo do papel durou cinco anos. Primeiro, deixado livre, solto, sofrendo a interferência do clima e do tempo. Ou propiciando a participação lúdica e tátil do público – papéis para armar –, “Armagens”. Em seguida, encerrado em estruturas de acrílico transparente em cujo interior o tempo vai lentamente ondulando o papel.
Ao trocar o papel pelo tecido como matéria-prima, Leal fez a seguinte indagação: “Meu trabalho seria o mesmo se, àquela época, vivêssemos outra situação, se houvesse qualquer outro tipo de impedimento à criação? Ou nenhum?” E responde ele mesmo: “A cultura funciona dentro de um encadeamento de situações. Se uma das partes está enclausurada, todas as demais sofrem. É certo que aprisionar papéis dentro de caixas de acrílico pode e deve ser considerado um problema meu nos planos ético e estético. Mas é também um problema de ordem mais geral. Hoje troquei o papel pelo tecido, o que para mim significa uma abertura em termos de vida: assumir com franqueza um determinado comportamento, uma visão mais racional das coisas, enquanto antes, no papel, de certa maneira, eu me escondia.”
O momento mais radicalmente construtivo da obra de Paulo Roberto Leal é a série “Entretela” (1974-1976). Ela reúne telas costuradas, pintadas a óleo, cujas linhas (costuradas e não riscadas) definem espaços modulares e simétricos, impecavelmente silenciosos e limpos. E que assim se mantêm mesmo quando os módulos internos disputam a primazia do primeiro plano ou quando a tela, sustentada em um de seus vértices, se deixa cortar por linhas transversais, sem que o equilíbrio seja afetado. Uma segunda série, “Armadura” (1978-1980), reunindo pinturas a óleo recortadas e coladas sobre tela, tem a mesma raiz construtiva. Mas os fragmentos da tela recortada são em seguida colados sobre outra tela, criando na sua junção linhas fictícias, fortes e bem visíveis, enquanto parecem se descolar, antevendo o colapso da superfície. O que, entretanto, não acontecerá.
Respondendo à pergunta contida no título de meu comentário sobre uma exposição de Leal realizada no Rio de Janeiro, em outubro de 1980, eu afirmo no texto: “Não é preciso muito esforço mental para perceber que mesmo quadros como os que Leal expõe na Galeria Saramenha podem ter implicações políticas. O próprio caráter construtivo de sua obra se opõe ao caos permanente de nossa sociedade, a uma realidade tropicalista, mas, também, por ser uma geometria brasileira e tropical, ela tem qualidades sensíveis que diferem de outras geometrias mais rígidas. Ou seja, ela não se opõe apenas ao caos reinante fora dos limites do quadro. Ela procura entender esse caos, recolher a espontaneidade e a alegria de sociedade cultural mais aberta. Porque o excesso de rigor pode levar igualmente ao autoritarismo da forma, tão prejudicial quanto a ausência de qualquer ordem.” — Frederico Morais.
Fonte: Bolsa de Arte, "Exposição de Paulo Roberto Leal". Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
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Paulo Roberto Leal – ArtRef
Artista plástico, artista gráfico, curador. Funcionário do Banco Central desde 1967, realiza os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro.
Nesse mesmo ano, entra em contato com o neoconcretista Osmar Dillon. Na década de 1970, inicia experimentação com materiais ligados a seu trabalho no Banco Central, como bobinas de papel. Ministra curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e recebe prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integra, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza.
Por ocasião da mostra O Gesto Criador, Olívio Tavares de Araújo realiza filme sobre sua obra em 1977. Trabalha como curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra Como Vai Você, Geração 80?.
Na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. É projetado em 1995 o Centro de Referência Iconográfica e Textual PRL no MAM/RJ, com a documentação deixada pelo artista sob a guarda de Armando Mattos. Em 2000, ocorre a exposição Projeto Concreto/PRL, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro, e, em 2007, 102 obras de sua autoria são reunidas na mostra Da Matéria Nasce a Forma, no Museu de Arte Contemporânea – MAC-Niterói.
Comentário Crítico
Desde o início da década de 1970, Paulo Roberto Leal produz obras em que explora as possibilidades plásticas do papel. Utiliza papéis kraft de embrulho, ou outros mais nobres, para criar estruturas de repetição ou variedade de módulos.
Nessas obras, o artista destaca o caráter perecível e conceitual de sua proposta, que pode ser desfeita ou alterada a qualquer momento.
Na série Armagens, apresenta papéis articulados, enrolados sinuosamente no interior de caixas acrílicas transparentes. Em seus trabalhos, mantém diálogo com a obra de Osmar Dillon, artista que trabalha com poemas visuais criados em caixas de acrílico, estabelecendo jogos entre palavras, formas e cores.
O que foi a série Armagem?
Em séries como Desarmagens e Des-mov-em, percebe-se seu questionamento dos limites da pintura.
Em 1974, passa a produzir as entretelas, recortes de tela unidos por costuras à máquina. Posteriormente, elas são pintadas e coladas sobre vários suportes, como na série Armaduras. Como nota o crítico Roberto Pontual, Leal busca no módulo e no múltiplo a base de seus trabalhos, mesclando elementos relacionados à arte povera com o refinamento da arte cinética.
Segundo o crítico, desde 1978, o artista revela a vontade crescente de se aproximar da pintura, sem, no entanto, alterar seu processo de trabalho.
Nas séries Armaduras e Quasar, 1980, destaca-se a importância da cor, que cria atmosferas, utilizada também de forma simbólica. Em produção posterior, Paulo Roberto Leal busca ainda uma integração com o ambiente e a arquitetura do local expositivo, como na obra Regata, 1985.
Fonte: Art Ref, "A armagem de Paulo Roberto Leal e o neoconcretismo", escrito por Paulo Varella, publicado em 27 de março de 2019. Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.
Crédito fotográfico: Captura de imagem do vídeo "Paulo Roberto Leal, pintor e escultor, sobre seu trabalho", do canal Arte é Investimento, publicado em 11 de março de 2019. Consultado pela última vez em 5 de junho de 2023.