Cadastre-se e tenha a melhor experiência em leilões 🎉🥳

Georg Grimm

Johann Georg Grimm (Alemanha, Kempten, 1846 — Itália, Palermo, 24 de dezembro de 1887), mais conhecido como Georg Grimm ou George Grimm, foi um pintor, professor, desenhista e decorador alemão que se radicou no Brasil. Frequentou a Academia de Belas Artes de Munique entre 1868 e 1870, onde provavelmente estuda com Karl von Piloty (1826-1886) e Franz Adam (1815-1886). Após uma viagem pela Itália, Grécia, Turquia, Palestina e norte da África, dirige-se em 1878 para o Brasil. Realiza frequentes viagens para o interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e produz estudos de paisagens e fazendas de café. De 1882 a 1884, torna-se professor interino da cadeira de paisagem, flores e animais da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). Em meados de 1884, rompe com a Aiba devido às crescentes divergências com a diretoria e outros professores, provocadas pela sua descrença na metodologia de ensino da instituição. Reúne então um grupo de artistas, mais tarde conhecido como Grupo Grimm, integrado por Castagneto (1851-1900), Caron (1862-1892), Garcia y Vasquez (ca.1859-1912), Francisco Ribeiro (ca.1855-ca.1900), Antônio Parreiras (1860-1937), França Júnior (1838-1890) e Thomas Driendl (1849-1916), com quem exercita a prática da pintura ao ar livre.

Biografia – Itaú Cultural

Johann Georg Grimm frequenta a Academia de Belas Artes de Munique entre 1868 e 1870, onde provavelmente estudou com Karl von Piloty (1826 - 1886) e Franz Adam (1815 - 1886). Após uma viagem pela Itália, Grécia, Turquia, Palestina e norte da África, dirige-se em 1878 para o Brasil. Realiza frequentes viagens para o interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e produz estudos de paisagens e fazendas de café. De 1882 a 1884, tornou-se professor interino da cadeira de paisagem, flores e animais da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba. Em meados de 1884, rompe com a Aiba devido às crescentes divergências com a diretoria e outros professores, provocadas pela sua descrença na metodologia de ensino da instituição. Reúne então um grupo de artistas, mais tarde conhecido como Grupo Grimm, integrado por Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), Antônio Parreiras (1860 - 1937), França Júnior (1838 - 1890) e Thomas Driendl (1849 - 1916), com quem exercita a prática da pintura ao ar livre. Entre 1885 e 1886, viaja por cidades do Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde realiza obras por encomenda. Em 1887, retorna à Europa.

Análise

Johann Georg Grimm, filho de carpinteiro, na juventude trabalha como pastor de cabras e exerce profissões ligadas ao artesanato, entre elas pintura de paredes de residências. Frequenta a Akademie der Bildenden Künste [Academia de Artes Visuais], em Munique entre 1868 e 1870. Segundo o historiador Carlos Maciel Levy, é possível que tenha sido aluno dos importantes mestres de Munique Karl von Piloty (1826 - 1886) e Franz Adam (1815 - 1886). Em 1870, participou como militar da Guerra Franco-Prussiana, ocasião em que se tornou amigo do combatente e pintor Thomas Driendl (1849 - 1916), que em 1881 também se transferiu para o Rio de Janeiro. Após uma viagem pela Itália, Grécia, Turquia, Palestina e norte da África, em 1878, Grimm vem para o Brasil.

Ao chegar, trabalhou com o decorador alemão Friedrich Anton Steckel pintando paredes de residências. Em 1882, a Sociedade Propagadora das Belas Artes organiza pela primeira vez uma exposição pública fora da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, realizada no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Grimm participa com mais de 100 trabalhos, - a maioria pintada fora do Brasil -, que representam cerca de um quarto de todas as obras expostas. Entretanto, essas pinturas foram perdidas e pouquíssimas são hoje conhecidas. Segundo Gonzaga Duque (1863 - 1911), crítico contemporâneo ao pintor: "Em duas, três ou cinco horas fazia-se, em frente de suas telas, uma viagem ao redor do mundo. A natureza dos países em que Jorge Grimm esteve nos aparecia irradiante de luz e de cor, diante dos nossos olhos vadios, acostumados às tintas pálidas, anêmicas, miseravelmente doentias da maior parte de nossos paisagistas". Viaja frequentemente para o interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e produz estudos de paisagens e fazendas de café com intuitos documentais. Sua pintura apresenta forte preocupação com a luminosidade e a observação da natureza. Embora as telas de Grimm representem enorme quantidade de detalhes, a ênfase na descrição não torna sua pintura fria e sem vida.

Com sucesso na exposição, recebe convite para lecionar na Aiba, como professor interino da cadeira de paisagem, flores e animais, cargo que ocupou de 1882 a 1884. Ao declarar que suas aulas seriam ao ar livre e que os alunos deveriam pintar paisagens diante da natureza, Grimm rompe com o ensino acadêmico. Pelas crescentes divergências com a diretoria e outros professores, principalmente por causa de sua descrença na metodologia da instituição, sai da Aiba. Muda-se para Niterói e a partir de então reúne um grupo de artistas, conhecido como Grupo Grimm, com quem pinta ao ar livre. Do grupo participam alguns alunos da Aiba, entre eles Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), Antônio Parreiras (1860 - 1937), França Júnior (1838 - 1890), além do amigo e compatriota Thomas Driendl, que eventualmente o substitui.

O trabalho de Grimm como professor revoluciona o ensino da pintura de paisagem, mas suas telas, apesar de apresentarem uma profunda compreensão do tema, são relativamente convencionais - como vemos na maneira detalhada e fiel em Vista do Rio de Janeiro Tomada da Rua do Senador Cassiano em Santa Teresa (1883) - e não representam uma mudança tão profunda quanto a de suas aulas. Isso é perceptível mesmo evitando comparações com pintores europeus impressionistas do mesmo período que também realizam pintura ao ar livre.

Em 1882, com Thomas Driendl, faz a decoração do Liceu Literário Português, no Rio de Janeiro, destruído posteriormente por um incêndio. Em 1884, na Exposição Geral de Belas Artes, é premiado, com Driendl e Castagneto, com a 1ª medalha de ouro. Outros alunos de Grimm como Vasquez, Caron e França Júnior também recebem prêmios, o que representa uma grande vitória e consagração do Grupo Grimm. Três anos depois, já com problemas de saúde por causa da tuberculose, após visitar Parreiras, viaja para a Itália, passa por Tunis e Sicília e chega a Palermo, onde faleceu.

Críticas

"Na vetusta Academia Imperial a aula de Georg Grimm passou a ser o centro de compensação das frustrações geradas pelo imobilismo dos processos de ensino então adotados. O mestre alemão professava a mais ampla admiração pela natureza e, agora, sob o sol e a luminosidade tropicais, encontrava o melhor ambiente para entregar-se a seu espírito andarilho e aventureiro. Todas as localidades, próximas ou distantes, passam a ser objeto do interesse do professor e dos seus alunos. (...) o objetivo de Grimm e de seus alunos não foi o de estudar ou realizar estudos nos próprios locais a serem representados, mas na verdade percebê-los e senti-los em sua natural integridade (...). A despeito da poderosa e benéfica influência exercida, Grimm foi um artista condicionado por bem demarcadas limitações e suas pinturas atestam os resquícios de uma formação por demais rígida e pouco propensa às modificações de ordem estrutural (...). Antônio Parreiras encontrou na ausência de subjetividade das pinturas do mestre a motivação para afirmar que Grimm não era artista, pesa-me imenso dizê-lo. Era, no entanto, um grande pintor" — Carlos Roberto Maciel Levy (LEVY, Carlos Roberto Maciel. O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980).

"(...) Georg Grimm foi talvez o pintor de maior sucesso entre os pintores alemães e a sua influência na pintura brasileira é considerável. Era uma grande personalidade artística que tinha grande círculo de alunos talentosos. O artista bávaro iniciou o estudo rebelando-se contra as convenções e tradições antigas e transferiu as suas aulas da sala para o ar livre. Nas florestas e montanhas dos arredores do Rio ensinou os seus alunos a contemplarem a natureza para bem a saberem representar. (...) O seu mérito, na história da arte brasileira, foi o de ter criado uma escola da qual surgiram importantes e conhecidos artistas" — Karl Heinrich Oberacker (LEVY, Carlos Roberto Maciel. O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980).

"Grimm não trabalha o claro-escuro como Henri-Nicolas Vinet, que o coloca a serviço da modelagem de cada um dos componentes da representação. Sabe jogar grandes sombras em regiões do quadro, afinar o branco e criar um efeito sinfônico com os meios-tons e as variações de tendência da cor, sob uma mesma dominante. Nesses quadros pouco se divisa do céu. Um volume de rochas que escala a tela assim como os caminhos da terra que levam à cidade definem superfícies ascendentes, e o olho vê-se obrigado a galgar a paisagem de degrau em degrau, por faces das figuras sólidas orientadas para as múltiplas direções" — Ana Maria de Moraes Belluzzo (BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros, 1994. v. 3: A construção da paisagem, p. 148-149).

"As paisagens de Grimm parecem impassíveis: ele segue com a curiosidade de um geólogo e a obstinação de um cão de caça o movimento de uma falha de rocha, a reverberação do sol sobre cada pedra, a base nua de uma colina de granito e a cintilação verde de uma mancha de vegetação à beira de uma correnteza cristalina. Por vezes, pequenas figuras humanas observam perdidas o espetáculo da natureza.

O ofício do pintor está todo ali, nessa capacidade de atingir o efeito aparentemente sem emoção - concentrar-se no ver, resolver-se no detalhe. Certamente falta a Grimm um conhecimento seguro da forma. Parece sempre pronto a se perder, fascinado, atrás de fragmentos infinitos, mas, quando os quadros alcançam as dimensões que lhe permitem fazer ecoar livremente sua voz, a paisagem se forma em monumental evidência, despida de toda retórica.

Não é pouco, sobretudo num campo em que a pintura de paisagem fora antes de mais nada ilustração" — Luciano Migliaccio (MIGLIACCIO, Luciano. O século XIX. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 128).

Exposições Coletivas

1882 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, na Sociedade Propagadora das Belas Artes, no Liceu de Belas Artes e Ofícios

1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de ouro

1885 - Rio de Janeiro RJ - Loja Laurent de Wilde: mostra inaugural, na Loja Laurent de Wilde

Exposições Póstumas

1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA

1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados

1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA

1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte

1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes

1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal

1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado

1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor

1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis, no CCBB

1989 - São Paulo SP - Pintores Alemães no Brasil durante o Século XIX, no Museu da Casa Brasileira

1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB

1993 - Rio de Janeiro RJ - Paisagens Brasileiras pelos Artistas Estrangeiros, na Galeria de Arte Sesc Tijuca

1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado

1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp

1995 - Lisboa (Portugal) - O Brasil dos Viajantes, no Centro Cultural de Belém

1996 - Londres (Inglaterra) - Brazil Through European Eyes, na Christie's

2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs

2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal

2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real

2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural

2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos

2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

Fonte: GEORG Grimm. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Acesso em: 10 de janeiro de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

---

Biografia – Wikipédia

Nascido e criado na cidade de Immenstadt, Johann Georg Grimm é filho do carpinteiro Johann Bernhard Grimm e de Maria Anna. Sua mãe, no entanto, faleceu quando tinha cinco anos de idade. Desde jovem, seu pai o treinou para que seguisse os seus passos no comércio. Ele realizara diversos trabalhos de carpintaria de madeira, como mesas, painéis, barcos e também altares para igrejas na cidade onde moravam. No entanto, seu interesse logo mudou quando conheceu a biblioteca do castelo de Rahenzeli, onde realizaria um trabalho familiar e acabou vendo alguns livros com obras de arte. Esse foi o ponto de partida para a sua carreira nas artes plásticas.

Georg Grimm compartilhava o talento e os interesses gráficos de seu irmão caçula, Johann Franz, dois anos mais novo. Eles frequentaram a escola de artes local, com foco em desenho arquitetônico, caligrafia e desenho de ornamento. As médias de Georg eram acima do comum, com “excelente” na maioria das matérias. Sua pior nota era classificada como “muito boa”.

Estudos

O jovem alemão chegou à cidade de Munique em 1867, com o objetivo de estudar na Academia de Belas Artes. De origem humilde, o jovem enfrentou enormes dificuldades para economizar dinheiro suficiente e cursar na escola, onde se formou com sucesso dois anos depois. Um de seus alunos favoritos, do Grupo Grimm, relatou sobre as memórias de miséria que o artista vivia enquanto ainda estudava. Uma delas é de quando ele usou pão para apagar as suas imagens, devido à escassez de materiais.

Viagens

Em 1872 ele começou a sua vida de errante por diversos lugares do mundo, começando por Berlim, capital da Alemanha, onde participaria de uma Academia lá. No entanto, como não podia pagar por condução, foi a pé. Uma benfeitora anônima, que alguns dizem ser Therese Ravoth, artista e esposa de um professor de cirurgia em Berlim, o ajudou durante os seus estudos na cidade, contribuindo com ele financeiramente para a sua carreira com viagens de estudo para o Mediterrâneo e para a Itália.

Graças à ajuda de sua amiga, ao fim de 1972, mesmo ano em que chegou à capital, Grimm deixou a Alemanha para estudar as paisagens do Mediterrâneo por cinco anos, até 1877. Ele também explorou muito a Itália, país pelo qual se fascinou, visitando Roma, Nápoles e Capri. Esse foi só o começo de uma longa jornada onde passou por diferentes países da Europa e da África, ficando conhecido por suas incansáveis viagens, que muito agregaram na sua carreira profissional. Entre estes anos, além da Itália, também visitou a Grécia, Palestina, Turquia, Espanha e Portugal, além da Tunísia e da Argélia.

Primeira passagem pelo Brasil (1878 - 1880)

Em 1878, quando chegou ao Brasil, seu último destino e onde se fixou por uma década, já tinha uma grande bagagem de conhecimento e estudos adquiridos durante as suas aventuras. O artista desenvolveu um estilo comum entre os pintores errantes, fazendo o uso das cores e também da luminosidade. Além disso, ele realizou estudos em materiais como grafite e carvão, procurando evoluir e inovar cada vez mais sua técnica.

Obra

Em seu primeiro ano em terras sul-americanas, trabalhou com o também alemão Friedrich Anton Steckel, e aprendeu à pintura de barcos e casas, vendendo até materiais para pintores. Ele também participou de alguns projetos com seu outro conterrâneo Thomas Georg Drindl, onde fez ofícios de decoração de interiores.

Na época, o país vivia um período em que o escravismo e as fazendas de café no estado de Minas Gerais e do Rio de Janeiro estavam em alta. Desta maneira, o artista ficou conhecido por suas pinturas de paisagens das grandes plantações, tornando-se um dos representantes e pioneiros neste tipo de pintura no Brasil. Alguns de seus lugares favoritos eram as fazendas do Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro. Estima-se que, entre os anos de 1870 e 1880, ele tenha pintado diversas telas do local, que foram feitas sob a encomenda de senhores de escravos da época. Outro importante pintor que seguiu o mesmo estilo de pintura livre é o italiano Nicolau Fachinetti, que chegou à América do Sul antes de Grimm.

“O Retrato no Brasil do século XX teve a mesma função que em outros povos: tornar presente e reconhecido o grupo dirigente. Entre nós, grandes proprietários de terras, comerciantes enriquecidos ou industriais recém-surgidos. A pintura paisagista teve para, este grupo, o significado simbólico de reconhecimento de um solo que lhes pertencia."

Mas suas habilidades artísticas não passaram apenas pelo Vale do Paraíba. Denominado naturalista, o alemão também retratou paisagens importantes, como a Fazenda do Calçado e Águas Claras, em São José do Rio Preto; Boa Vista, no Bananal, e Oriente, em Valença. No entanto, pouco conhecido pelos historiadores e também pelos "leigos", muitas de suas pinturas não contam com data de criação e nem foram localizadas.

Fases distintas

As suas pinturas relacionadas à fazendas ainda passaram por diferentes estilos, indicando as duas etapas pelas quais passou: após a sua chegada ao Rio de Janeiro, entre 1878 a 1881, e no seu período final antes de partir, nos anos de 1885 e 1886.

Primeira fase

A primeira etapa é classificada como o seu período mais obscuro, quando retratava por encomenda as fazendas de café do estado do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Nessa época, em que vendia a sua obra para os donos da fazendo e senhores de engenho, o Grimm realizou algumas das suas mais célebres pinturas e começou a sua carreira como um dos mais famosos paisagistas do Brasil. Até então, ele só tinha feito obras no estilo de europeu.

No entanto, as suas obras em terras brasileiras mostram todo o aprendizado que absorveu em suas viagens ao redor do mundo e também na Academia de Belas Artes de Munique. Ele fazia uso da aquarela, de muita luminosidade e também exibia as suas técnicas de desenho e profundo conhecimento na história da arte. Isso ficou claro quando, em 1879, foi contratado para pintar dois painéis para a igreja de Nossa Senhora do Carmo, em São João del-Rei. A encomenda foi entregue em apenas 22 dias. Mesmo possuindo marcas de um trabalho visivelmente apressado, a pintura transmite o conhecimento do estudioso artista, já que poucos pintores conseguiriam fazer painéis como aquele em tão pouco tempo.

Em meados deste mesmo o ano, o pintor passou a trabalhar para os fazendeiros da região de São José do Rio Preto – foi lá que pintou duas de suas telas mais famosas, a Fazenda Calçado e a Fazenda Águas Claras. Esses são apenas alguns de seus quadros que contam com datas marcadas. Acostumado com as paisagens inertes das pitorescas ruínas greco-romanas e as paisagens inertes do Mediterrâneo, o artista precisou adaptar o seu estilo à intensa movimentação humana e animal que as paisagens brasileiras ofereciam. Mesmo assim, este foi um grande obstáculo para Grimm, que até então estava acostumado ao livre-arbítrio de pintar o que desejava e agora precisava fazer tudo sob encomenda, não sendo mais o que desejava.

De volta ao exterior (1880-1881)

No ano seguinte, em 1880, o pintor retornou à Europa em companhia de sua amiga de longa-data Therese Ravoth, a qual tinha contribuído financeiramente para sua carreira como pintor e agora estava viúva. Visitaram cidades italianas pelas quais ele ainda não tinha passado, como Amalfi, Batipaglia e Caserta, e em seguida foram para a Grécia, onde conheceram Micenas, Atenas, Corinto, Eleusus e Kolossus. Como sempre, o alemão era completamente fascinado pelas paisagens do Mediterrâneo.

Essas viagens foram registradas em um pequeno bloco de desenho que levava consigo. Na Turquia, desenhou o estuário do Chifre de Ouro e as mesquitas de Hagia Sophia. Ele também conheceu o litoral da Síria e também Damasco e o Monte Líbano. Existem controversas, mas algumas fontes apontam que o artista passou nove meses dessa viagem para voltar a sua terra natal, onde seu pai estava doente e mais tarde viria a falecer.

Antes de retornar ao Brasil, em 1881, Grimm viajou até a França e passou a sua estadia em Paris. Ele também visitou o Museu do Louvre, e neste período realizou uma incrível cópia do quadro O Alvo do Amor, feito por François Boucher, famoso pintor do Rococó pelo qual teve um súbito interesse. Como o seu estilo era pintura livre e paisagista, a sua obsessão com os painéis do artista francês é muito contestada. No entanto, alguns estudiosos especulam que este pode ter sido um desafio feito pelo próprio pintor, que tentava desenhar de uma forma mais suave e delicada. Ele ainda pintou dois retratos femininos apontados como um tributo à Fraulein Gertrud, filha de Therese Ravoth.

Segunda passagem pelo Brasil (1881 - 1888)

Após a sua extensa viagem pela Ásia e Europa, o pintor retornou ao Brasil com algumas despesas que precisavam ser pagas. Dessa maneira, voltou a pintar sob encomendas, assinando, assim, a Fazenda Retiro, em 1881. Com os contatos que já havia feito em sua primeira passagem, Grimm continuou a pintar obras para os fazendeiros, conseguindo manter uma vida confortável na América do Sul. Este foi o início do fim de sua primeira etapa artística.

A segunda fase começou quando o pintor foi convidado para expor, em 1882, em uma mostra coletiva na Sociedade Propagadora das Belas Artes, no Liceu Artes e Ofícios. A instituição havia sido criada e dirigida por Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, humanista e educador que procurava rivalizar com a Academia Imperial de Belas Artes. Naquela exposição, também estava artistas como Victor Meirelles, Souza Lobo, Leopoldo Jardim de Faria, Angelo Agostini, Augusto Rodrigues Duarte, entre outros. Alguns até apontam que o festival contou com a presença de Dom Pedro II. Este foi um ponto de partida para a fama e reconhecimento do pintor, que contava com um terço de suas obras dentre as 418 expostas. Após a mostra, seu nome havia tomado a boca dos críticos, que elogiavam as fortes cores características de suas obras, transmitindo muita personalidade. Desta maneira, iniciou a sua melhor fase no país, onde não precisava mais vender os seus talentos aos outros e teria a liberdade de pintar o que bem quisesse.

Professor na Academia Imperial de Belas Artes

O seu grande sucesso na exposição lhe rendeu uma vaga de professor na Academia Imperial de Belas Artes, na cadeira de Paisagens, Flores e Animais do instituto. Como era estrangeiro, assumiu interinamente o cargo. Segundo escritores, fora uma recomendação do próprio imperador Dom Pedro II que lhe deu a vaga. Na escola, lecionou para alunos que viriam a tornar-se uma grande geração de pintores que contribuíram veemente para a arte brasileira, como Antonio Parreiras, um de seus favoritos, Hipolito Boaventura Carón, Giovanni Battista Castagneto, Domingo Garcia y Vazquez, entre outros.

Ele também deixou o seu legado através do ensino de paisagismo e pintura livre, se dedicando à natureza e somente a ela. Historiadores e especialistas definem o seu tipo de pintura como "pessoal e poética". Ele ensinou os seus aprendizes a sentirem a natureza, o que ela os oferecia e também as suas representações visuais. Essa foi uma experiência positiva para o professor, que recordava suas peregrinações pela Itália e agora tinha a liberdade para criar, se emancipado dos limites antes impostos por seus compradores. Além disso, o relacionamento com seus alunos era ótimo, todos viviam em harmonia dividindo essa paixão em comum.

Em 1884, Grimm fez a sua segunda mostra, desta vez na XXVI Exposição Geral da Academia Imperial das Belas Artes, a mais importante até então, onde ganhou medalha de ouro. Esse foi o apogeu para a sua estadia no Brasil.

Grupo Grimm

Mesmo com os poucos registros sobre a sua história, Georg Grimm é considerado um dos pintores alemães mais influentes a passarem pelo Brasil no século XIX. O profissional não só deixou um legado considerável na pintura livre e de paisagens, como também lecionou e foi rodeado por um grande número de artistas talentosos.

Anos mais tarde, por conflitos internos e divergências de ensino, acabou deixando a Academia Imperial de Belas Artes e formou o seu próprio grupo de artistas, recrutando os alunos para quem lecionava na escola. Eles pintavam paisagens aplicando as técnicas de pintura livre, o que agregou muito para o futuro dessa categoria de arte no país. Esse foi o maior legado do artista para o Brasil, ficando conhecido como Grupo Grimm.

“George Grimm foi talvez o pintor de maior sucesso entre os pintores alemães e a sua influência na pintura brasileira é considerável. Era uma grande personalidade artística que tinha um Pintura Brasileira do século XIX Pintura Brasileira do século XIX 57 grande círculo de alunos talentosos. O artista bávaro iniciou o estudo rebelando-se contra as convenções e tradições antigas e transferiu as suas aulas da sala para o ar livre. Nas florestas e montanhas dos arredores do Rio ensinou os seus alunos a contemplarem a natureza para bem a saberem representar".

Em 1887 retornou à Europa falecendo logo depois na cidade de Palermo.

Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 10 de janeiro de 2023.

---

Paisagem: um conceito romântico na pintura brasileira - George Grimm | Isabel Sanson Portela

Johan Georg Grimm, jovem alemão, pintor, com um início de vida bastante modesto e alguns poucos estudos artísticos, chegou ao Brasil aos 32 anos de idade, em 1878, cheio de disposição para o trabalho.

Tudo é incerto para nós quanto aos primeiros anos de vida de Grimm. Segundo seus biógrafos, ele nasceu em Kempton, na Baviera, em 1846. Lutou com as maiores dificuldades, até poder transferir-se para Munique, onde frequentou a Academia de Belas Artes. Parreiras, em seu conto Pão Negro, conta um pouco da história de seu mestre:

Em uma pequena aldeia nas margens de ... na Baviera residia uma pobre família de operários.

Compunhas de um velho já de avançada idade e validado na guerra de 1870. Sua mulher e dois filhos, George e Thomas – George tinha 19 anos e Thomas 16. Ambos auxiliavam o velho na construção de carros para lavoura e de pequenos barris de pesca. Eles mesmo haviam construído a habitação que moravam – e um grande telheiro, que servia de escritório.

Abundava o trabalho – Eram em toda aquela redondeza que exerciam tal ofício. George – tinha um grande habilidade pelo desenho – era quem planejava não só os carros com os bares, e tão justo e claro era seus desenhos, que com facilidade se construiu os carros e os bareis.

Esta habilidade para desenhar se propagou pelo pequeno país e saiu mesmo fora dele, criando fama ao jovem operário, que era sempre procurado quando se queria ver um plano de adaptação ou oficina. Se um dia me for possível, dizia ele, sempre presumidamente irei a Munich estudar desenho – e serei um paisagista. Adoro a natureza. [...]

Em Munich George – martirizado pelo remorso de haver abandonado a família, passou alguns meses extremamente aplicado ao estudo na Escola de Belas Artes, onde devido ao seu contínuo trabalho em pouco tempo distinguiu-se entre os seus condiscípulos.

Parreiras e seus companheiros de grupo devem ter escutado essa história diversas vezes e avaliando o sofrimento e as dificuldades pelos quais Grimm passou antes de achar sua verdadeira vocação.

O que o teria feito deixar a Alemanha e após sete anos de viagens pelo Mediterrâneo e Oriente Próximo, aportar em terras brasileiras é motivo de especulação. O mais provável é que tenha saído de sua terra natal devido à forte perseguição religiosa iniciada por Bismarck contra os católicos. Essa medida provocou um verdadeiro êxodo de intelectuais e artistas, revoltados com o autoritarismo. Sabe-se que, em 1870, o pintor engajou-se na guerra Franco-Prussiana como combatente. Data desse período o início de sua amizade com Thomas Georg Driendl. Segundo Carlos Maciel Levy, podem ser três as hipóteses sobre o motivo de sua viagem pelo mundo.

[...] descendentes de Thomas Driendl, grande amigo do pintor, afirmam que teria ele viajado em busca de clima adequado para a convalescença de ferimentos e enfermidade decorrentes das campanhas da guerra de 1870; o crítico de arte brasileiro Luiz Gonzaga Duque Estrada afirma, em texto publicado no ano de 1909, que o artista obteve prêmio de viagem aos países mediterrâneos; mas, na inexistência de provas documentais a esse respeito, será mais adequado supor que o temperamento de Grimm tenha atendido à atração que a Itália e o Mediterrâneo exerciam sobre os artistas alemães, como já ocorrera, por exemplo, com Hans von Marées, Böcklin e outros. Além disso, a unidade da Alemanha após a guerra caracterizou-se pela violenta perseguição religiosa que Bismarck desencadeou através do Kulturkampf, e não terá sido por acaso que Grimm e Driendl professavam o catolicismo (e Driendl chegou ao Brasil como representante do Instituto de Pintura Religiosa de Munique de Rietzler), quando o objeto da perseguição foram os católicos e seu partido.

A Itália e o Mediterrâneo, sem dúvida, foram um forte atrativo para esse jovem cheio de vigor, interessado em buscar outros cenários para inspirar suas pinturas. Os invernos rigorosos da Alemanha, a escassa luz do sol, a Floresta Negra com cores sombrias – todos esses pontos reunidos – devem ter sido argumentos bem decisivos na hora de fazer as malas. A maior bagagem que levou de sua terra, essa Alemanha que ele nunca mais voltaria a ver, foi incontestavelmente o aprendizado rigoroso da arte da pintura. A disciplina e a exigência de muitos mestres deixaram marcas profundas em sua personalidade.

Em 1868, quando iniciou seus estudos em Munique, o ambiente artístico alemão era essencialmente romântico. Inebriado pela sensação de liberdade que facilitava infindáveis pesquisas de efeitos novos, os artistas produziam em larga escala, procurando diferentes motivos. A geração de Grimm foi a de pintores plein air, ao mesmo tempo românticos e realistas, da segunda metade e fim do século passado. Na Europa Central, foram os que sucederam aos Nazarenos; na França foram os precursores do Impressionismo, com várias tendências, de Corot aos pintores da Escola de Barbizon.

Foi justamente imbuído desse espírito de liberdade, de busca de novas sensações, que Grimm saiu à procura de outras terras, de outras cores e de paisagens desconhecidas. Sempre compreendeu assim a sua profissão de paisagista: viajando. O nomadismo, que lhe roía as entranhas, levou-o, depois, a percorrer a África do Norte, de onde atravessou o Atlântico rumo ao Brasil. Durante sete anos viajou e fixou, em telas e aquarelas, vistas e tipos característicos dos lugares por onde passou. Chegou ao Rio de Janeiro com essa impressionante coleção de telas, aquarelas, desenhos, esquemas e estudos, verdadeiro documentário, a que o crítico de arte e pintor Gonzaga Duque refere-se como uma viagem à volta do mundo.

Em 1878, o estudo das artes no Brasil, apenas iniciava-se, cercado de cuidados para que seus alunos não saíssem dos moldes Acadêmicos. Qualquer iniciativa, fora desses parâmetros era interceptada e nada deveria perturbar a ordem reinante na Academia Imperial de Belas Artes, que se mantinha fiel ao estilo francês tradicional. Os artistas brasileiros ao voltarem da Europa, poucas notícias traziam das inovações por lá ocorridas.

Em 1882, após quatro anos de residência e elaboração de trabalhos no Brasil, Grimm expôs suas telas no Liceu de Artes e Ofícios, obtendo enorme sucesso. O público habituado às cores sombrias e temas Neoclássicos deslumbrou-se com a exuberância que percebeu nos quadros. Grimm foi aclamado pela crítica e brotou daí a necessidade, quase imperiosa, de passar aos pintores brasileiros essas técnicas tão pouco divulgadas por aqui. Gonzaga Duque, em 1888, comenta essa exposição em seu livro Arte Brasileira:

Foi na exposição de 82 promovida pela Sociedade Propagadora das Belas Artes, que nos apareceu o paisagista alemão. Em uma das Salas do Liceu de Artes e Ofício, reuniu e suspendeu aos muros uma notável bagagem artística. Ali expôs ele tudo quanto possuía em trabalhos. Paisagens de Capri e vistas de Roma, marinhas de Gênova e Jardins de Florença, cantos da natureza da Alemanha e estudos da natureza da África, estradas de Túnis e vilas do Brasil, uma mesquita de Constantinopla e um portão de Alhambra, pirâmides do Egito e panoramas de Portugal. Em duas, três ou cinco horas fazia-se em frente de suas telas, uma viagem ao redor do mundo. A natureza dos países em que Jorge Grimm esteve nos aparecia irradiante de luz e de cor, diante dos nossos olhos vadios, acostumados às tintas pálidas, anêmicas, miseravelmente doentias da maior parte dos nossos paisagistas.

Por essa ocasião, as inovações dos românticos impunham-se à Academia, muito pouco flexível e nada propensa a adaptar-se a novos caminhos.

A arte Pompier, conceito pejorativo criado para designar um novo estilo artístico que surgiu da mescla da arte acadêmica com o colorido romântico, estava se desenvolvendo entre os pintores acadêmicos.

Com a entrada de Grimm para o corpo docente da Academia Imperial de Belas Artes, foi dado um grande passo para o desabrochar da pintura de paisagem no Brasil.

O mestre alemão passou a ocupar este cargo devido ao reconhecimento público do valor de suas obras. Teve como mérito principal apresentar a paisagem, antes simples pano de fundo, como um dos gêneros mais ricos e inspiradores, despertando interesses. Logo em seguida à sua entrada na Academia assume como mestre, a cadeira de Paisagem, Flores e Animais e leva seus alunos para fora das salas, afim de que sintam a natureza, emocionem-se e passem para a tela seus sentimentos e emoções. Isto é uma atitude romântica.

Começou assim, a procura de rumos novos, a fuga do que era imposto, frio e apenas copiado de estampas, para entrar numa dimensão nova.

No entanto, as obras desses primeiros paisagistas não abandonaram completamente os traços acadêmicos. A própria pintura de Grimm tem suas bases no desenho, na linha. A visão linear procura o sentido do objeto no seu contorno; distingue nitidamente uma forma da outra. A linha acentua as margens da forma, os limites firmes aos quais tudo se adapta, se subordina. É, pois uma concepção de forma fechada, onde a clareza absoluta e uma certa autonomia se fazem sentir. É racional na medida em que o traço, ao envolver a forma, faz uma representação objetiva, apreende e expressa os objetivos em suas contingências fixas e palpáveis.

Acreditava Grimm que a “perfeição” do desenho era a base para a boa pintura e esta se completava com a ajuda da observação da natureza. O contorno firme dos corpos transmite uma impressão de segurança, quando luz e sombras se adaptam às formas. Representação e objeto, idênticos na concepção linear, passam a sensação de tangibilidade, de beleza material, racional.

Em Paisagem, de 1883, tela pintada por Grimm numa de suas viagens a Minas Gerais, quando ainda estava ligado à Academia, o desenho, a linha e a cor aparecem claramente. Cada nuança do verde pode ser sentida, assim como a aspereza da pedra e o recorte das árvores.

Grimm observa os rochedos em detalhes, reproduzindo-os de maneira fiel para que cheguem ao espectador na sua forma permanente, mensurável e finita. Somente o estilo pictórico conhece a beleza do imaterial, do infinito.

A estrutura composicional dos trabalhos de Grimm é portanto a linha, a cor e a forma naturalista. Procurou a natureza incansavelmente, recusando modelos padronizados e artificiais. Era “romântico” por suas pesquisas, pela observação exaustiva quanto à forma e a cor da natureza. Não pretendia de modo algum pintar no ateliê e acreditava que a impressão do momento devia ser registrada na tela, só assim a obra expressaria a familiaridade com a natureza.

Corot, em 1856, aconselhou um aluno a confiar acima de tudo na sua primeira sensação:

Não a abandonemos jamais, aí procurando a verdade e a exatidão, não esquecendo nunca de lhe dar aquele aspecto que nos tocou, que nos impressionou. Não importa o lugar nem o objeto: sujeitemo-nos à primeira impressão. Se tivermos sido realmente tocados, a sinceridade de nossa emoção passará aos outros.

Como Corot, Grimm afasta o sentimento como impulso passional, enquanto choque emotivo. O que pretende é exprimir um acordo constante e profundo com a natureza. Corot afirmava que o sentimento da natureza é o fundamento da moral, e caminhava rumo à concepção da sensação como conhecimento. Também para Grimm, a arte era experiência vivida, e ele se defendia da tendência da época à efusão de sentimentos, com o estudo das formas bem modeladas, com a cor permeada de penumbras e luzes filtradas.

Argan quando se refere à pintura de paisagem de Corot, comenta:

"As paisagens são nítidas construções de volumes onde a luz parece cristalizar-se no corte firme dos planos; as distribuições de sombra também se classificam como valores tonais; a cor, mesmo vibrando na atmosfera límpida, define com clareza a estrutura do espaço pictórico".

Estas apreciações de Argan sobre a obra de Corot podem perfeitamente ser atribuídas à de Grimm. Em seus próprios trabalhos existe a calma e a insistência na exploração dos valores tonais. A autenticidade das tonalidades de seus quadros reflete sua própria natureza ingênua e simples, e além do mais é inseparável do igualmente autêntico sentido do desenho. A falta de emoção em sua pintura tem muito de simplicidade, e pode-se perceber que Grimm, não somente pintou a natureza, mas a amou muito. Numa atitude sem dúvida alguma “romântica”, recusa o ambiente artificial da cidade, embrenha-se no mato a procura de formas e cores autênticas. Entretanto não tem a mesma preocupação dos pintores de Barbizon com a “psicologia das árvores e das nuvens” com a “atitude psicológica do homem moderno frente à natureza”. Assume uma postura prática e sensível como a que se tem para com as coisas que se conhece profundamente.

Sua proposta é inovadora, justamente quando entra no campo da paisagem, onde é soberano. A personalidade carismática de Grimm o leva a reunir um grupo de pintores que, sob sua orientação, saem para o campo objetivando desenvolver olhos sensíveis que sabem olhar e sentir. Estabelece um vínculo profundo, “romântico” entre seus alunos, o aprendizado e a profissão. O que os une, é uma amizade profunda que tudo supera visando um objetivo comum: tornarem-se pintores, dedicando-se à pintura de paisagem, aprendendo e identificando-se com a natureza. Esse vínculo é dito “romântico” pois está diretamente ligado ao projeto de trabalho em que se empenharam. Interpretam a natureza depois de muita observação, a fim de compreendê-la. Pintam segundo os ensinamentos de Grimm, constituindo o primeiro grupo de paisagistas brasileiros com concepções artísticas inovadoras.

Essas inovações de Grimm, entretanto acabaram por perturbar a Academia de Belas Artes que se recusava a aceitar seus métodos. E lecionar em meio a tantos contratempos tornou-se impossível. A crise na Academia estabeleceu-se a partir dos seus projetos criativos, mas Grimm tinha plantado suas sementes em terrenos férteis. O pequeno grupo que com ele saiu da Academia continuou sua ação inovadora mantendo atividades independentes.

Estabelecido em Niterói, o Grupo Grimm teve uma grande variedade de pontos de vista e horizontes distantes a seu dispor. A diversidade de aspectos da costa, a luminosidade intensa, as incríveis variações de cores tanto do mar quanto do céu e das pedras os surpreendiam a cada instante. O horizonte longíquo, unindo céu e mar, é mais do que uma expressão de abrangência, pois evoca a emoção do ilimitado.

Procurando novas paisagens, o Grupo viajava, embrenhava-se pelo mato, adentrava florestas afastadas e deslumbrava-se com o litoral “pitorescamente” acidentado da costa fluminense.

Em Vista da Ponta de Icaraí (1884), aparecem céu e mar, em tonalidades claras, com muita luz, contrapondo-se às pedras e areia mais próximos e, no entanto, muito mais sombrios. As figuras humanas, e até os barcos próximos, são minimizados, enquanto que a rocha na extremidade esquerda do quadro nos conquista e impressiona. Grimm trabalha o branco, os meios tons e o volume sólido em contraponto.

Vê-se que sua obra brota indiscutivelmente da terra, das pedras e não do céu ou do mar. Para Grimm o desenho era primordial. Seu estilo linear busca as formas sólidas, permanentes. As linhas, em Grimm, comandam a luz e as sombras, permanecendo como limites, representando as coisas como elas são. A impressão baseia-se em valores tácteis. As formas são por ele modeladas após o estudo de cada detalhe, de cada reentrância ou saliência. Os olhos percorrem o objeto como uma mão percorre um corpo.

Só os rochedos, a terra, enquanto sólidos e permanentes, interessavam. O céu e o mar são movimento constante, e sua representação exigia olhos sensíveis que vão além do objeto material, penetrando nos domínios do imaterial. O mesmo se dá com a massa de folhagens. É difícil representá-las com base na concepção linear. A visão pictórica busca o movimento que ultrapassa o conjunto dos objetos. Nessa concepção as formas isoladas têm pouca importância; o decisivo é o conjunto onde a forma, a luz e a cor ganham efeito.

A Grimm só interessava a forma real, a representação objetiva, como num esforço de domínio da nostalgia do homem e da exuberância do natural.

Em Vista do Cavalão (1884), Grimm colocou toda a luz nas pedras do primeiro plano. A vegetação eleva-se em tons sombrios e um céu desbotado aparece como fundo. O tom amarelo, pálido nas nuvens, repete-se, intensificado na areia e nas rochas do chão. É a própria luz do sol que brinca com as diminutas figuras humanas em detalhes.

Em Cabeceira do Rio Paquequer, trabalho de 1885, a beleza das grandes pedras se impõe e é o motivo central, o interesse primeiro do pintor. Nem as árvores, nem a água, nem o céu pálido, nada mereceu tanta atenção quanto a pedra, trabalhada em tonalidades múltiplas e formas detalhadas. Ela é elemento descritivo, formado por linhas regulares, claras, delimitadoras. Grimm encontrou nas rochas objeto natural propício à perspectiva linear. Subordinou o mundo visível à linha, que pode ser percebida em toda parte, mas apenas como limite de superfícies plasticamente sentidas e modeladas pelo sentido do tato.

Em Rochedo da Boa Viagem (1887), último quadro pintado por Grimm no Brasil, a importância da pedra com todos os seus recortes e tonalidades com claros e escuros observados minuciosamente, sobressai e domina o céu, o mar e os pescadores. A figura humana é diminuta onde a exuberância da natureza se impõe. Nada é tão importante quanto o rochedo.

A pintura ao ar livre por si só não levaria a nada, não fossem as novas concepções e modelos de apreciação da paisagem que Grimm passava a seus discípulos. A observação exaustiva, como exercício de percepção visando a habilitar o pintor a afastar-se do padronizado, é a concepção romântica do “subjetivo”, da emoção individual que diferencia as obras desses pintores das produzidas pelos neoclássicos. A visão lúcida atinge o sentimento interno e transborda em traços e cores que recusam as cópias do padrão artificial. Na obra de Grimm vemos a excessiva preocupação com detalhes e a construção da paisagem fiel às observações da natureza. A isto lhe fizeram críticas severas, mencionando-se seguidamente a falta de emotividade e o rigor com que tratava os temas escolhidos.

Luiz Gonzaga Duque Estrada, em 1909 escreve na revista Kosmos, que Grimm sabia olhar e sabia fazer. Mas, entre o olhar e o saber sentir, vai grande diferença.

Antônio Parreiras, em seus relatos nos fala da obra do mestre como sendo impecável no desenho, justa na cor, embora metodicamente feita, sem entusiasmo e falha de sentimentos poéticos.

Críticos de sua obra percebem o notável traço, a cópia quase fiel da natureza, o colorido por vezes vibrante; mas nada, além disso, transparece a emoção não passa por suas telas. Tanto em Paisagem com Fazenda (1884), quanto em Fazenda do Belém (1886) impõe-se uma beleza racional e objetiva. A finalidade de Grimm, no entanto, parecia ser esta mesma. Pesquisou e observou a natureza para representá-la em seus quadros com a maior fidelidade possível, procurando as formas reais, mas sem se emocionar, o que considerava um exagero. Talvez a personalidade forte e excessivamente honesta de Grimm tenha sido em parte responsável pela “falta de emoção” em suas obras.

De caráter leal e sincero, justo porém severo, mal compreendido, Grimm nunca deixou de ser o homem simples, o pastor de cabras e aprendiz de carpinteiro da juventude na Baviera. Seus alunos e seguidores absorveram dele inúmeros ensinamentos e tiveram seus espíritos aguçados. No entanto, o que de mais marcante Grimm lhes passou, foi, na opinião de todos, a persistência nas tarefas, o rigor, o regime de trabalho sem repouso. Metódico e exigente, Grimm exortava-os a irem até o limite máximo de suas energias a fim de alcançarem seus objetivos. Ele mesmo, nos píncaros dos rochedos armava o cavalete e, horas e horas, lá se quedava sem sentir os raios causticantes do sol.

Muito mais importante do que sua forma de pintar, foram os conceitos transmitidos, impondo incansavelmente a seus alunos o contato direto com o objeto a ser criado - a natureza. Quem quer aprender [sic] pintar arruma cavalete, vai pra mato.

A permanência de Georg Grimm no Brasil não chegou a dez anos, porém sua atuação foi das mais marcantes. Como professor, impôs o trabalho incansável e uma atitude profissional rígida; como pintor e viajante errante, procurou a natureza como modelo, afastando-se dos padrões. Simples e autêntico, libertou a paisagem, definindo-a como pintura ao ar livre, por excelência.

Fonte: PORTELA, Isabel Sanson. Paisagem: um conceito romântico na pintura brasileira - George Grimm. 19&20, Rio de Janeiro, v. III, n. 3, jul. 2008. Consultado pela última vez em 10 de janeiro de 2023.

---

Georg Grimm | Arte Data

Nasceu na localidade de Bühl am Alpsee (à época, See bei Bühl), nos arredores da cidade de Immenstadt im Allgäu, Alemanha. Filho do mestre-marceneiro Johann Bernhard Grimm (1811-1881) e de Maria Anna Herz (1814-1851). Órfão de mãe desde muito cedo, frequentou a escola elementar de sua cidade natal com distinção e aproveitamento. Embora desde a infância demonstrava aptidão para o desenho, ainda assim exerceu, como seu único irmão Johann Franz (1849-1933), atividades típicas do meio rural em que vivia e da profissão paterna. Sem apoio da família, aos 19 anos de idade seguiu para Munique, pretendendo dedicar-se exclusivamente à arte. Em julho de 1867 obteve matrícula na Königliche Akademie der Bildenden Künste, que cursou com afinco e extrema carência de recursos materiais, até abril de 1870. Terminando a Antikenklasse (cópia de moldagens em gesso de esculturas e modelos da Antiguidade) passou à Zeichnungsklasse, dispondo de maior liberdade na cópia de estampas (temas do Renascimento ao século XVIII) até chegar aos estudos de modelo-vivo. Mais tarde frequentou também, por pouco tempo, a Königlichen Akademie der Bildenden Künste em Berlim. Com o auxílio de amigos abastados e generosos, no final do ano de 1872 deixou a Alemanha e até 1877 viajou por países da Europa e do norte da África. Atravessou a Itália de norte a sul, por diversas vezes permanecendo em Roma, Nápoles e Capri. Na capital italiana, produziu uma série de primorosos estudos de modelo-vivo e costumes, em aquarela.

Esteve por um breve período em Berlim antes de voltar à Itália em 1875, percorrendo então toda a Sicília e de Trapani seguindo para a Tunísia e daí à Argélia, visitando depois Granada e Toledo na Espanha. Por onde esteve fixou vistas, paisagens e costumes em cerca de duas centenas de desenhos, aquarelas e óleos. Nesta incessante movimentação antes de radicar-se no Brasil, não é difícil reconhecer que seu temperamento destemido e vigoroso tenha atendido à antiga fascinação que a Itália e o Mediterrâneo exerciam sobre os artistas de origem germânica, como também ocorrera, por exemplo, com Carl Rottmann (1797-1850), Hans von Marées (1837-1887), Arnold Böcklin (1827-1901) e inúmeros outros antes e depois destes — sem esquecer europeus de outras nacionalidades como os orientalistas franceses no Magreb e um pintor extraordinário como o norte-americano John Singer Sargent (1856-1925) na ilha de Capri. Contudo, seja o que for que tenha atraído o pintor para a América do Sul, e especificamente para uma grande metrópole de natureza tropical deslumbrante, é algo que permanece ainda desconhecido.

Em agosto de 1877, chegou ao Rio de Janeiro, trabalhando durante algum tempo na firma do alemão Friedrich Anton Steckel (1834-1921), especializada em pintura de casas e navios, douração, decoração de interiores e venda de material para pintura. Durante este período, Grimm viajou moderadamente por distritos e pequenas cidades da região do vale do Paraíba, tendo também estado em Petrópolis, Valença e na província de Minas Gerais. Pintou poucas paisagens, a maior parte delas obras de caráter documental, como iconografia de fazendas de café e outras propriedades rurais. Estes trabalhos, apesar de realizados por encomenda e com o intuito de registrar com o máximo de fidelidade os locais escolhidos, conseguem ser bastante significativos no que concerne ao tratamento dispensado à paisagem. Do início de 1880 a julho de 1881, o artista ausentou-se do Rio de Janeiro, viajando para a Itália e de lá seguiu em excursão pela Grécia, Turquia, Síria, Líbano, Palestina e Egito. Voltando à Europa, demorou-se na Córsega e percorreu a Riviera franco-italiana. Por fim, de Paris dirigiu-se para Bordéus de onde retornou ao Brasil. É curioso que não tenha restado qualquer vestígio documental preciso desta viagem, exceto um pequeno caderno de esboços, e na verdade até recentemente ela jamais havia sido conhecida com absoluta certeza.

Em março de 1882, a Sociedade Propagadora das Belas Artes realizou no Liceu de Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro, uma grande exposição pública. A mostra causou sensação: nada menos de 128 obras, dentre as 418 então apresentadas, eram de autoria de um só artista, o bávaro Johann Georg Grimm — a maioria delas óleos e aquarelas pintadas na Europa, sobretudo Itália, e no norte da África entre 1873 e 1876. A imprensa e a crítica foram unânimes nos elogios ao pintor alemão. Para o público até então acostumado com um estilo de pintura frio e convencional, produzido quase que em estrita obediência aos severos princípios do ensino acadêmico de origem neoclássica francesa, as cores fortes e a maneira ampla que caracterizava as obras de Grimm pareceram algo de excepcionalmente inovador. E o fato de só pintar a natureza en plein air, ao ar livre em direta e intensa oposição ao ambiente escuro dos ateliês, era sem dúvida algo provocador e extraordinário. O enorme sucesso na exposição de 1882 fez com que Grimm, por ordem do governo, fosse contratado como professor interino da aula de paisagem na Academia Imperial das Belas Artes, que estava vaga desde setembro de 1881. Lá encontrou estudantes que formariam uma das mais brilhantes gerações de pintores na arte brasileira de fins do século XIX e início do século XX. Alguns dentre eles, em uma atitude sem precedentes, abandonaram a Academia acompanhando o professor de paisagem, quando o mestre demitiu-se do cargo em meados de 1884 por ver recusada sua justa insistência para ser efetivado por meio de concurso.

Este episódio foi o ponto culminante da história do Grupo Grimm (também conhecido como Escola da Boa Viagem). Estes alunos foram o espanhol Domingo García y Vazquez (1859-1912), o brasileiro filho de franceses Hipólito Boaventura Caron (1862-1892), o português Francisco Joaquim Gomes Ribeiro (circa 1855-circa 1900), o italiano Giovanni Battista Castagneto (1851-1900), e os brasileiros Antônio Parreiras (1860-1937) e Joaquim José da França Júnior (1838-1890), este um renomado escritor e autor teatral. Em agosto de 1884 foi inaugurada a XXVI Exposição Geral de Belas Artes, a mais importante mostra realizada durante o período monárquico. Nela, Grimm e seus discípulos obtiveram amplo sucesso e foram quase todos distingüidos com medalhas de ouro e menções honrosas. Por seis meses ainda as atividades do grupo continuaram nas praias da cidade de Niterói, até que no início do ano de 1885 seguiram todos em excursão de estudo para as montanhas de Teresópolis, região serrana da província do Rio de Janeiro. Por inúmeras razões a formação do Grupo Grimm tornou-se um dos mais relevantes episódios no desenvolvimento da pintura brasileira durante o Segundo Reinado, e dentre seus integrantes pelo menos dois artistas alcançariam enorme prestígio e reconhecimento na história da arte brasileira: o paisagista Antônio Parreiras e o marinhista Giovanni Battista Castagneto. E embora muitos outros artistas alemães tenham estado no país ao longo do século XIX, inclusive o notável desenhista e pintor bávaro Johann Moritz Rugendas (1802-1858), nenhum outro europeu jamais conseguiu exercer ― como Johann Georg Grimm ― tamanha influência sobre a história da arte no Brasil.

Em Teresópolis, no início de 1885, pela última vez estiveram reunidos o mestre e seus discípulos. Logo dispersaram-se e Grimm partiu para a província de Minas Gerais. Ao longo de quase dois anos, até dezembro de 1886, o pintor alemão esteve ausente do Rio de Janeiro, viajando sem cessar (Sabará, Santa Bárbara, Nova Lima, etc.) e executando diversas encomendas, inclusive mais uma vez na região das fazendas de café que já havia percorrido entre 1877 e 1879 (Paraíba do Sul, Bemposta, São José do Vale do Rio Preto, Três Rios, etc.). Em meados de 1887, gravemente doente, deixou o Brasil e retornou à Europa. Por algum tempo esteve em sua cidade natal e vilarejos alpinos das redondezas, em repouso e sob tratamento médico, até seguir para a Sicília na tentativa de encontrar melhor clima para sua recuperação. Agravando-se ainda mais seu estado de saúde, foi internado em um hospital em Palermo, àquela época um centro de referência para o tratamento da tuberculose. Faleceu no dia 18 de dezembro de 1887 e foi sepultado no pequeno Cimitero degli Inglesi, diante do mar no sopé do monte Pellegrino. A notícia de sua morte só chegou ao Rio de Janeiro mais de um mês depois, através de anúncio publicado no Jornal do Commercio, e à sua cidade natal ainda mais tarde, no jornal Algäuer Anzeigeblatt de março de 1888.

Texto originalmente publicado em alemão, como verbete sobre o artista, no Allgemeines Künstlerlexikon [antigo Thieme-Becker-Künstlerlexikon] - Die Bildenden Künstler aller Zeiten und Völker, vol. 62 (Greyerz - Grondoli), K. G. Saur Verlag, München / Leipzig, Alemanha, 2009, p.273-27.

Fonte: Arte Data, Georg Grimm, publicado por Carlos Roberto Maciel Levy. Consultado pela última vez em 10 de janeiro de 2023.

Crédito fotográfico: Arte Data. Grimm em fotografia de autoria desconhecida, muito provavelmente tirada no Rio de Janeiro em 1877, que pertenceu ao pintor Antônio Parreiras e hoje faz parte do acervo documental do museu a ele dedicado, em Niterói, RJ. Consultado pela última vez em 10 de janeiro de 2023.

Johann Georg Grimm (Alemanha, Kempten, 1846 — Itália, Palermo, 24 de dezembro de 1887), mais conhecido como Georg Grimm ou George Grimm, foi um pintor, professor, desenhista e decorador alemão que se radicou no Brasil. Frequentou a Academia de Belas Artes de Munique entre 1868 e 1870, onde provavelmente estuda com Karl von Piloty (1826-1886) e Franz Adam (1815-1886). Após uma viagem pela Itália, Grécia, Turquia, Palestina e norte da África, dirige-se em 1878 para o Brasil. Realiza frequentes viagens para o interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e produz estudos de paisagens e fazendas de café. De 1882 a 1884, torna-se professor interino da cadeira de paisagem, flores e animais da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). Em meados de 1884, rompe com a Aiba devido às crescentes divergências com a diretoria e outros professores, provocadas pela sua descrença na metodologia de ensino da instituição. Reúne então um grupo de artistas, mais tarde conhecido como Grupo Grimm, integrado por Castagneto (1851-1900), Caron (1862-1892), Garcia y Vasquez (ca.1859-1912), Francisco Ribeiro (ca.1855-ca.1900), Antônio Parreiras (1860-1937), França Júnior (1838-1890) e Thomas Driendl (1849-1916), com quem exercita a prática da pintura ao ar livre.

Georg Grimm

Johann Georg Grimm (Alemanha, Kempten, 1846 — Itália, Palermo, 24 de dezembro de 1887), mais conhecido como Georg Grimm ou George Grimm, foi um pintor, professor, desenhista e decorador alemão que se radicou no Brasil. Frequentou a Academia de Belas Artes de Munique entre 1868 e 1870, onde provavelmente estuda com Karl von Piloty (1826-1886) e Franz Adam (1815-1886). Após uma viagem pela Itália, Grécia, Turquia, Palestina e norte da África, dirige-se em 1878 para o Brasil. Realiza frequentes viagens para o interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e produz estudos de paisagens e fazendas de café. De 1882 a 1884, torna-se professor interino da cadeira de paisagem, flores e animais da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). Em meados de 1884, rompe com a Aiba devido às crescentes divergências com a diretoria e outros professores, provocadas pela sua descrença na metodologia de ensino da instituição. Reúne então um grupo de artistas, mais tarde conhecido como Grupo Grimm, integrado por Castagneto (1851-1900), Caron (1862-1892), Garcia y Vasquez (ca.1859-1912), Francisco Ribeiro (ca.1855-ca.1900), Antônio Parreiras (1860-1937), França Júnior (1838-1890) e Thomas Driendl (1849-1916), com quem exercita a prática da pintura ao ar livre.

Videos

O impressionismo ao redor do mundo | 2022

Trecho de Paisagem, professor de Antonio Parreira | 2022

Biografia – Itaú Cultural

Johann Georg Grimm frequenta a Academia de Belas Artes de Munique entre 1868 e 1870, onde provavelmente estudou com Karl von Piloty (1826 - 1886) e Franz Adam (1815 - 1886). Após uma viagem pela Itália, Grécia, Turquia, Palestina e norte da África, dirige-se em 1878 para o Brasil. Realiza frequentes viagens para o interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e produz estudos de paisagens e fazendas de café. De 1882 a 1884, tornou-se professor interino da cadeira de paisagem, flores e animais da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba. Em meados de 1884, rompe com a Aiba devido às crescentes divergências com a diretoria e outros professores, provocadas pela sua descrença na metodologia de ensino da instituição. Reúne então um grupo de artistas, mais tarde conhecido como Grupo Grimm, integrado por Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), Antônio Parreiras (1860 - 1937), França Júnior (1838 - 1890) e Thomas Driendl (1849 - 1916), com quem exercita a prática da pintura ao ar livre. Entre 1885 e 1886, viaja por cidades do Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde realiza obras por encomenda. Em 1887, retorna à Europa.

Análise

Johann Georg Grimm, filho de carpinteiro, na juventude trabalha como pastor de cabras e exerce profissões ligadas ao artesanato, entre elas pintura de paredes de residências. Frequenta a Akademie der Bildenden Künste [Academia de Artes Visuais], em Munique entre 1868 e 1870. Segundo o historiador Carlos Maciel Levy, é possível que tenha sido aluno dos importantes mestres de Munique Karl von Piloty (1826 - 1886) e Franz Adam (1815 - 1886). Em 1870, participou como militar da Guerra Franco-Prussiana, ocasião em que se tornou amigo do combatente e pintor Thomas Driendl (1849 - 1916), que em 1881 também se transferiu para o Rio de Janeiro. Após uma viagem pela Itália, Grécia, Turquia, Palestina e norte da África, em 1878, Grimm vem para o Brasil.

Ao chegar, trabalhou com o decorador alemão Friedrich Anton Steckel pintando paredes de residências. Em 1882, a Sociedade Propagadora das Belas Artes organiza pela primeira vez uma exposição pública fora da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, realizada no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Grimm participa com mais de 100 trabalhos, - a maioria pintada fora do Brasil -, que representam cerca de um quarto de todas as obras expostas. Entretanto, essas pinturas foram perdidas e pouquíssimas são hoje conhecidas. Segundo Gonzaga Duque (1863 - 1911), crítico contemporâneo ao pintor: "Em duas, três ou cinco horas fazia-se, em frente de suas telas, uma viagem ao redor do mundo. A natureza dos países em que Jorge Grimm esteve nos aparecia irradiante de luz e de cor, diante dos nossos olhos vadios, acostumados às tintas pálidas, anêmicas, miseravelmente doentias da maior parte de nossos paisagistas". Viaja frequentemente para o interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e produz estudos de paisagens e fazendas de café com intuitos documentais. Sua pintura apresenta forte preocupação com a luminosidade e a observação da natureza. Embora as telas de Grimm representem enorme quantidade de detalhes, a ênfase na descrição não torna sua pintura fria e sem vida.

Com sucesso na exposição, recebe convite para lecionar na Aiba, como professor interino da cadeira de paisagem, flores e animais, cargo que ocupou de 1882 a 1884. Ao declarar que suas aulas seriam ao ar livre e que os alunos deveriam pintar paisagens diante da natureza, Grimm rompe com o ensino acadêmico. Pelas crescentes divergências com a diretoria e outros professores, principalmente por causa de sua descrença na metodologia da instituição, sai da Aiba. Muda-se para Niterói e a partir de então reúne um grupo de artistas, conhecido como Grupo Grimm, com quem pinta ao ar livre. Do grupo participam alguns alunos da Aiba, entre eles Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), Antônio Parreiras (1860 - 1937), França Júnior (1838 - 1890), além do amigo e compatriota Thomas Driendl, que eventualmente o substitui.

O trabalho de Grimm como professor revoluciona o ensino da pintura de paisagem, mas suas telas, apesar de apresentarem uma profunda compreensão do tema, são relativamente convencionais - como vemos na maneira detalhada e fiel em Vista do Rio de Janeiro Tomada da Rua do Senador Cassiano em Santa Teresa (1883) - e não representam uma mudança tão profunda quanto a de suas aulas. Isso é perceptível mesmo evitando comparações com pintores europeus impressionistas do mesmo período que também realizam pintura ao ar livre.

Em 1882, com Thomas Driendl, faz a decoração do Liceu Literário Português, no Rio de Janeiro, destruído posteriormente por um incêndio. Em 1884, na Exposição Geral de Belas Artes, é premiado, com Driendl e Castagneto, com a 1ª medalha de ouro. Outros alunos de Grimm como Vasquez, Caron e França Júnior também recebem prêmios, o que representa uma grande vitória e consagração do Grupo Grimm. Três anos depois, já com problemas de saúde por causa da tuberculose, após visitar Parreiras, viaja para a Itália, passa por Tunis e Sicília e chega a Palermo, onde faleceu.

Críticas

"Na vetusta Academia Imperial a aula de Georg Grimm passou a ser o centro de compensação das frustrações geradas pelo imobilismo dos processos de ensino então adotados. O mestre alemão professava a mais ampla admiração pela natureza e, agora, sob o sol e a luminosidade tropicais, encontrava o melhor ambiente para entregar-se a seu espírito andarilho e aventureiro. Todas as localidades, próximas ou distantes, passam a ser objeto do interesse do professor e dos seus alunos. (...) o objetivo de Grimm e de seus alunos não foi o de estudar ou realizar estudos nos próprios locais a serem representados, mas na verdade percebê-los e senti-los em sua natural integridade (...). A despeito da poderosa e benéfica influência exercida, Grimm foi um artista condicionado por bem demarcadas limitações e suas pinturas atestam os resquícios de uma formação por demais rígida e pouco propensa às modificações de ordem estrutural (...). Antônio Parreiras encontrou na ausência de subjetividade das pinturas do mestre a motivação para afirmar que Grimm não era artista, pesa-me imenso dizê-lo. Era, no entanto, um grande pintor" — Carlos Roberto Maciel Levy (LEVY, Carlos Roberto Maciel. O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980).

"(...) Georg Grimm foi talvez o pintor de maior sucesso entre os pintores alemães e a sua influência na pintura brasileira é considerável. Era uma grande personalidade artística que tinha grande círculo de alunos talentosos. O artista bávaro iniciou o estudo rebelando-se contra as convenções e tradições antigas e transferiu as suas aulas da sala para o ar livre. Nas florestas e montanhas dos arredores do Rio ensinou os seus alunos a contemplarem a natureza para bem a saberem representar. (...) O seu mérito, na história da arte brasileira, foi o de ter criado uma escola da qual surgiram importantes e conhecidos artistas" — Karl Heinrich Oberacker (LEVY, Carlos Roberto Maciel. O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980).

"Grimm não trabalha o claro-escuro como Henri-Nicolas Vinet, que o coloca a serviço da modelagem de cada um dos componentes da representação. Sabe jogar grandes sombras em regiões do quadro, afinar o branco e criar um efeito sinfônico com os meios-tons e as variações de tendência da cor, sob uma mesma dominante. Nesses quadros pouco se divisa do céu. Um volume de rochas que escala a tela assim como os caminhos da terra que levam à cidade definem superfícies ascendentes, e o olho vê-se obrigado a galgar a paisagem de degrau em degrau, por faces das figuras sólidas orientadas para as múltiplas direções" — Ana Maria de Moraes Belluzzo (BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros, 1994. v. 3: A construção da paisagem, p. 148-149).

"As paisagens de Grimm parecem impassíveis: ele segue com a curiosidade de um geólogo e a obstinação de um cão de caça o movimento de uma falha de rocha, a reverberação do sol sobre cada pedra, a base nua de uma colina de granito e a cintilação verde de uma mancha de vegetação à beira de uma correnteza cristalina. Por vezes, pequenas figuras humanas observam perdidas o espetáculo da natureza.

O ofício do pintor está todo ali, nessa capacidade de atingir o efeito aparentemente sem emoção - concentrar-se no ver, resolver-se no detalhe. Certamente falta a Grimm um conhecimento seguro da forma. Parece sempre pronto a se perder, fascinado, atrás de fragmentos infinitos, mas, quando os quadros alcançam as dimensões que lhe permitem fazer ecoar livremente sua voz, a paisagem se forma em monumental evidência, despida de toda retórica.

Não é pouco, sobretudo num campo em que a pintura de paisagem fora antes de mais nada ilustração" — Luciano Migliaccio (MIGLIACCIO, Luciano. O século XIX. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, São Paulo. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 128).

Exposições Coletivas

1882 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, na Sociedade Propagadora das Belas Artes, no Liceu de Belas Artes e Ofícios

1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de ouro

1885 - Rio de Janeiro RJ - Loja Laurent de Wilde: mostra inaugural, na Loja Laurent de Wilde

Exposições Póstumas

1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA

1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados

1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA

1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte

1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes

1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal

1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado

1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor

1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis, no CCBB

1989 - São Paulo SP - Pintores Alemães no Brasil durante o Século XIX, no Museu da Casa Brasileira

1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB

1993 - Rio de Janeiro RJ - Paisagens Brasileiras pelos Artistas Estrangeiros, na Galeria de Arte Sesc Tijuca

1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado

1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp

1995 - Lisboa (Portugal) - O Brasil dos Viajantes, no Centro Cultural de Belém

1996 - Londres (Inglaterra) - Brazil Through European Eyes, na Christie's

2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs

2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal

2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real

2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural

2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos

2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

Fonte: GEORG Grimm. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Acesso em: 10 de janeiro de 2023. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

---

Biografia – Wikipédia

Nascido e criado na cidade de Immenstadt, Johann Georg Grimm é filho do carpinteiro Johann Bernhard Grimm e de Maria Anna. Sua mãe, no entanto, faleceu quando tinha cinco anos de idade. Desde jovem, seu pai o treinou para que seguisse os seus passos no comércio. Ele realizara diversos trabalhos de carpintaria de madeira, como mesas, painéis, barcos e também altares para igrejas na cidade onde moravam. No entanto, seu interesse logo mudou quando conheceu a biblioteca do castelo de Rahenzeli, onde realizaria um trabalho familiar e acabou vendo alguns livros com obras de arte. Esse foi o ponto de partida para a sua carreira nas artes plásticas.

Georg Grimm compartilhava o talento e os interesses gráficos de seu irmão caçula, Johann Franz, dois anos mais novo. Eles frequentaram a escola de artes local, com foco em desenho arquitetônico, caligrafia e desenho de ornamento. As médias de Georg eram acima do comum, com “excelente” na maioria das matérias. Sua pior nota era classificada como “muito boa”.

Estudos

O jovem alemão chegou à cidade de Munique em 1867, com o objetivo de estudar na Academia de Belas Artes. De origem humilde, o jovem enfrentou enormes dificuldades para economizar dinheiro suficiente e cursar na escola, onde se formou com sucesso dois anos depois. Um de seus alunos favoritos, do Grupo Grimm, relatou sobre as memórias de miséria que o artista vivia enquanto ainda estudava. Uma delas é de quando ele usou pão para apagar as suas imagens, devido à escassez de materiais.

Viagens

Em 1872 ele começou a sua vida de errante por diversos lugares do mundo, começando por Berlim, capital da Alemanha, onde participaria de uma Academia lá. No entanto, como não podia pagar por condução, foi a pé. Uma benfeitora anônima, que alguns dizem ser Therese Ravoth, artista e esposa de um professor de cirurgia em Berlim, o ajudou durante os seus estudos na cidade, contribuindo com ele financeiramente para a sua carreira com viagens de estudo para o Mediterrâneo e para a Itália.

Graças à ajuda de sua amiga, ao fim de 1972, mesmo ano em que chegou à capital, Grimm deixou a Alemanha para estudar as paisagens do Mediterrâneo por cinco anos, até 1877. Ele também explorou muito a Itália, país pelo qual se fascinou, visitando Roma, Nápoles e Capri. Esse foi só o começo de uma longa jornada onde passou por diferentes países da Europa e da África, ficando conhecido por suas incansáveis viagens, que muito agregaram na sua carreira profissional. Entre estes anos, além da Itália, também visitou a Grécia, Palestina, Turquia, Espanha e Portugal, além da Tunísia e da Argélia.

Primeira passagem pelo Brasil (1878 - 1880)

Em 1878, quando chegou ao Brasil, seu último destino e onde se fixou por uma década, já tinha uma grande bagagem de conhecimento e estudos adquiridos durante as suas aventuras. O artista desenvolveu um estilo comum entre os pintores errantes, fazendo o uso das cores e também da luminosidade. Além disso, ele realizou estudos em materiais como grafite e carvão, procurando evoluir e inovar cada vez mais sua técnica.

Obra

Em seu primeiro ano em terras sul-americanas, trabalhou com o também alemão Friedrich Anton Steckel, e aprendeu à pintura de barcos e casas, vendendo até materiais para pintores. Ele também participou de alguns projetos com seu outro conterrâneo Thomas Georg Drindl, onde fez ofícios de decoração de interiores.

Na época, o país vivia um período em que o escravismo e as fazendas de café no estado de Minas Gerais e do Rio de Janeiro estavam em alta. Desta maneira, o artista ficou conhecido por suas pinturas de paisagens das grandes plantações, tornando-se um dos representantes e pioneiros neste tipo de pintura no Brasil. Alguns de seus lugares favoritos eram as fazendas do Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro. Estima-se que, entre os anos de 1870 e 1880, ele tenha pintado diversas telas do local, que foram feitas sob a encomenda de senhores de escravos da época. Outro importante pintor que seguiu o mesmo estilo de pintura livre é o italiano Nicolau Fachinetti, que chegou à América do Sul antes de Grimm.

“O Retrato no Brasil do século XX teve a mesma função que em outros povos: tornar presente e reconhecido o grupo dirigente. Entre nós, grandes proprietários de terras, comerciantes enriquecidos ou industriais recém-surgidos. A pintura paisagista teve para, este grupo, o significado simbólico de reconhecimento de um solo que lhes pertencia."

Mas suas habilidades artísticas não passaram apenas pelo Vale do Paraíba. Denominado naturalista, o alemão também retratou paisagens importantes, como a Fazenda do Calçado e Águas Claras, em São José do Rio Preto; Boa Vista, no Bananal, e Oriente, em Valença. No entanto, pouco conhecido pelos historiadores e também pelos "leigos", muitas de suas pinturas não contam com data de criação e nem foram localizadas.

Fases distintas

As suas pinturas relacionadas à fazendas ainda passaram por diferentes estilos, indicando as duas etapas pelas quais passou: após a sua chegada ao Rio de Janeiro, entre 1878 a 1881, e no seu período final antes de partir, nos anos de 1885 e 1886.

Primeira fase

A primeira etapa é classificada como o seu período mais obscuro, quando retratava por encomenda as fazendas de café do estado do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Nessa época, em que vendia a sua obra para os donos da fazendo e senhores de engenho, o Grimm realizou algumas das suas mais célebres pinturas e começou a sua carreira como um dos mais famosos paisagistas do Brasil. Até então, ele só tinha feito obras no estilo de europeu.

No entanto, as suas obras em terras brasileiras mostram todo o aprendizado que absorveu em suas viagens ao redor do mundo e também na Academia de Belas Artes de Munique. Ele fazia uso da aquarela, de muita luminosidade e também exibia as suas técnicas de desenho e profundo conhecimento na história da arte. Isso ficou claro quando, em 1879, foi contratado para pintar dois painéis para a igreja de Nossa Senhora do Carmo, em São João del-Rei. A encomenda foi entregue em apenas 22 dias. Mesmo possuindo marcas de um trabalho visivelmente apressado, a pintura transmite o conhecimento do estudioso artista, já que poucos pintores conseguiriam fazer painéis como aquele em tão pouco tempo.

Em meados deste mesmo o ano, o pintor passou a trabalhar para os fazendeiros da região de São José do Rio Preto – foi lá que pintou duas de suas telas mais famosas, a Fazenda Calçado e a Fazenda Águas Claras. Esses são apenas alguns de seus quadros que contam com datas marcadas. Acostumado com as paisagens inertes das pitorescas ruínas greco-romanas e as paisagens inertes do Mediterrâneo, o artista precisou adaptar o seu estilo à intensa movimentação humana e animal que as paisagens brasileiras ofereciam. Mesmo assim, este foi um grande obstáculo para Grimm, que até então estava acostumado ao livre-arbítrio de pintar o que desejava e agora precisava fazer tudo sob encomenda, não sendo mais o que desejava.

De volta ao exterior (1880-1881)

No ano seguinte, em 1880, o pintor retornou à Europa em companhia de sua amiga de longa-data Therese Ravoth, a qual tinha contribuído financeiramente para sua carreira como pintor e agora estava viúva. Visitaram cidades italianas pelas quais ele ainda não tinha passado, como Amalfi, Batipaglia e Caserta, e em seguida foram para a Grécia, onde conheceram Micenas, Atenas, Corinto, Eleusus e Kolossus. Como sempre, o alemão era completamente fascinado pelas paisagens do Mediterrâneo.

Essas viagens foram registradas em um pequeno bloco de desenho que levava consigo. Na Turquia, desenhou o estuário do Chifre de Ouro e as mesquitas de Hagia Sophia. Ele também conheceu o litoral da Síria e também Damasco e o Monte Líbano. Existem controversas, mas algumas fontes apontam que o artista passou nove meses dessa viagem para voltar a sua terra natal, onde seu pai estava doente e mais tarde viria a falecer.

Antes de retornar ao Brasil, em 1881, Grimm viajou até a França e passou a sua estadia em Paris. Ele também visitou o Museu do Louvre, e neste período realizou uma incrível cópia do quadro O Alvo do Amor, feito por François Boucher, famoso pintor do Rococó pelo qual teve um súbito interesse. Como o seu estilo era pintura livre e paisagista, a sua obsessão com os painéis do artista francês é muito contestada. No entanto, alguns estudiosos especulam que este pode ter sido um desafio feito pelo próprio pintor, que tentava desenhar de uma forma mais suave e delicada. Ele ainda pintou dois retratos femininos apontados como um tributo à Fraulein Gertrud, filha de Therese Ravoth.

Segunda passagem pelo Brasil (1881 - 1888)

Após a sua extensa viagem pela Ásia e Europa, o pintor retornou ao Brasil com algumas despesas que precisavam ser pagas. Dessa maneira, voltou a pintar sob encomendas, assinando, assim, a Fazenda Retiro, em 1881. Com os contatos que já havia feito em sua primeira passagem, Grimm continuou a pintar obras para os fazendeiros, conseguindo manter uma vida confortável na América do Sul. Este foi o início do fim de sua primeira etapa artística.

A segunda fase começou quando o pintor foi convidado para expor, em 1882, em uma mostra coletiva na Sociedade Propagadora das Belas Artes, no Liceu Artes e Ofícios. A instituição havia sido criada e dirigida por Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, humanista e educador que procurava rivalizar com a Academia Imperial de Belas Artes. Naquela exposição, também estava artistas como Victor Meirelles, Souza Lobo, Leopoldo Jardim de Faria, Angelo Agostini, Augusto Rodrigues Duarte, entre outros. Alguns até apontam que o festival contou com a presença de Dom Pedro II. Este foi um ponto de partida para a fama e reconhecimento do pintor, que contava com um terço de suas obras dentre as 418 expostas. Após a mostra, seu nome havia tomado a boca dos críticos, que elogiavam as fortes cores características de suas obras, transmitindo muita personalidade. Desta maneira, iniciou a sua melhor fase no país, onde não precisava mais vender os seus talentos aos outros e teria a liberdade de pintar o que bem quisesse.

Professor na Academia Imperial de Belas Artes

O seu grande sucesso na exposição lhe rendeu uma vaga de professor na Academia Imperial de Belas Artes, na cadeira de Paisagens, Flores e Animais do instituto. Como era estrangeiro, assumiu interinamente o cargo. Segundo escritores, fora uma recomendação do próprio imperador Dom Pedro II que lhe deu a vaga. Na escola, lecionou para alunos que viriam a tornar-se uma grande geração de pintores que contribuíram veemente para a arte brasileira, como Antonio Parreiras, um de seus favoritos, Hipolito Boaventura Carón, Giovanni Battista Castagneto, Domingo Garcia y Vazquez, entre outros.

Ele também deixou o seu legado através do ensino de paisagismo e pintura livre, se dedicando à natureza e somente a ela. Historiadores e especialistas definem o seu tipo de pintura como "pessoal e poética". Ele ensinou os seus aprendizes a sentirem a natureza, o que ela os oferecia e também as suas representações visuais. Essa foi uma experiência positiva para o professor, que recordava suas peregrinações pela Itália e agora tinha a liberdade para criar, se emancipado dos limites antes impostos por seus compradores. Além disso, o relacionamento com seus alunos era ótimo, todos viviam em harmonia dividindo essa paixão em comum.

Em 1884, Grimm fez a sua segunda mostra, desta vez na XXVI Exposição Geral da Academia Imperial das Belas Artes, a mais importante até então, onde ganhou medalha de ouro. Esse foi o apogeu para a sua estadia no Brasil.

Grupo Grimm

Mesmo com os poucos registros sobre a sua história, Georg Grimm é considerado um dos pintores alemães mais influentes a passarem pelo Brasil no século XIX. O profissional não só deixou um legado considerável na pintura livre e de paisagens, como também lecionou e foi rodeado por um grande número de artistas talentosos.

Anos mais tarde, por conflitos internos e divergências de ensino, acabou deixando a Academia Imperial de Belas Artes e formou o seu próprio grupo de artistas, recrutando os alunos para quem lecionava na escola. Eles pintavam paisagens aplicando as técnicas de pintura livre, o que agregou muito para o futuro dessa categoria de arte no país. Esse foi o maior legado do artista para o Brasil, ficando conhecido como Grupo Grimm.

“George Grimm foi talvez o pintor de maior sucesso entre os pintores alemães e a sua influência na pintura brasileira é considerável. Era uma grande personalidade artística que tinha um Pintura Brasileira do século XIX Pintura Brasileira do século XIX 57 grande círculo de alunos talentosos. O artista bávaro iniciou o estudo rebelando-se contra as convenções e tradições antigas e transferiu as suas aulas da sala para o ar livre. Nas florestas e montanhas dos arredores do Rio ensinou os seus alunos a contemplarem a natureza para bem a saberem representar".

Em 1887 retornou à Europa falecendo logo depois na cidade de Palermo.

Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 10 de janeiro de 2023.

---

Paisagem: um conceito romântico na pintura brasileira - George Grimm | Isabel Sanson Portela

Johan Georg Grimm, jovem alemão, pintor, com um início de vida bastante modesto e alguns poucos estudos artísticos, chegou ao Brasil aos 32 anos de idade, em 1878, cheio de disposição para o trabalho.

Tudo é incerto para nós quanto aos primeiros anos de vida de Grimm. Segundo seus biógrafos, ele nasceu em Kempton, na Baviera, em 1846. Lutou com as maiores dificuldades, até poder transferir-se para Munique, onde frequentou a Academia de Belas Artes. Parreiras, em seu conto Pão Negro, conta um pouco da história de seu mestre:

Em uma pequena aldeia nas margens de ... na Baviera residia uma pobre família de operários.

Compunhas de um velho já de avançada idade e validado na guerra de 1870. Sua mulher e dois filhos, George e Thomas – George tinha 19 anos e Thomas 16. Ambos auxiliavam o velho na construção de carros para lavoura e de pequenos barris de pesca. Eles mesmo haviam construído a habitação que moravam – e um grande telheiro, que servia de escritório.

Abundava o trabalho – Eram em toda aquela redondeza que exerciam tal ofício. George – tinha um grande habilidade pelo desenho – era quem planejava não só os carros com os bares, e tão justo e claro era seus desenhos, que com facilidade se construiu os carros e os bareis.

Esta habilidade para desenhar se propagou pelo pequeno país e saiu mesmo fora dele, criando fama ao jovem operário, que era sempre procurado quando se queria ver um plano de adaptação ou oficina. Se um dia me for possível, dizia ele, sempre presumidamente irei a Munich estudar desenho – e serei um paisagista. Adoro a natureza. [...]

Em Munich George – martirizado pelo remorso de haver abandonado a família, passou alguns meses extremamente aplicado ao estudo na Escola de Belas Artes, onde devido ao seu contínuo trabalho em pouco tempo distinguiu-se entre os seus condiscípulos.

Parreiras e seus companheiros de grupo devem ter escutado essa história diversas vezes e avaliando o sofrimento e as dificuldades pelos quais Grimm passou antes de achar sua verdadeira vocação.

O que o teria feito deixar a Alemanha e após sete anos de viagens pelo Mediterrâneo e Oriente Próximo, aportar em terras brasileiras é motivo de especulação. O mais provável é que tenha saído de sua terra natal devido à forte perseguição religiosa iniciada por Bismarck contra os católicos. Essa medida provocou um verdadeiro êxodo de intelectuais e artistas, revoltados com o autoritarismo. Sabe-se que, em 1870, o pintor engajou-se na guerra Franco-Prussiana como combatente. Data desse período o início de sua amizade com Thomas Georg Driendl. Segundo Carlos Maciel Levy, podem ser três as hipóteses sobre o motivo de sua viagem pelo mundo.

[...] descendentes de Thomas Driendl, grande amigo do pintor, afirmam que teria ele viajado em busca de clima adequado para a convalescença de ferimentos e enfermidade decorrentes das campanhas da guerra de 1870; o crítico de arte brasileiro Luiz Gonzaga Duque Estrada afirma, em texto publicado no ano de 1909, que o artista obteve prêmio de viagem aos países mediterrâneos; mas, na inexistência de provas documentais a esse respeito, será mais adequado supor que o temperamento de Grimm tenha atendido à atração que a Itália e o Mediterrâneo exerciam sobre os artistas alemães, como já ocorrera, por exemplo, com Hans von Marées, Böcklin e outros. Além disso, a unidade da Alemanha após a guerra caracterizou-se pela violenta perseguição religiosa que Bismarck desencadeou através do Kulturkampf, e não terá sido por acaso que Grimm e Driendl professavam o catolicismo (e Driendl chegou ao Brasil como representante do Instituto de Pintura Religiosa de Munique de Rietzler), quando o objeto da perseguição foram os católicos e seu partido.

A Itália e o Mediterrâneo, sem dúvida, foram um forte atrativo para esse jovem cheio de vigor, interessado em buscar outros cenários para inspirar suas pinturas. Os invernos rigorosos da Alemanha, a escassa luz do sol, a Floresta Negra com cores sombrias – todos esses pontos reunidos – devem ter sido argumentos bem decisivos na hora de fazer as malas. A maior bagagem que levou de sua terra, essa Alemanha que ele nunca mais voltaria a ver, foi incontestavelmente o aprendizado rigoroso da arte da pintura. A disciplina e a exigência de muitos mestres deixaram marcas profundas em sua personalidade.

Em 1868, quando iniciou seus estudos em Munique, o ambiente artístico alemão era essencialmente romântico. Inebriado pela sensação de liberdade que facilitava infindáveis pesquisas de efeitos novos, os artistas produziam em larga escala, procurando diferentes motivos. A geração de Grimm foi a de pintores plein air, ao mesmo tempo românticos e realistas, da segunda metade e fim do século passado. Na Europa Central, foram os que sucederam aos Nazarenos; na França foram os precursores do Impressionismo, com várias tendências, de Corot aos pintores da Escola de Barbizon.

Foi justamente imbuído desse espírito de liberdade, de busca de novas sensações, que Grimm saiu à procura de outras terras, de outras cores e de paisagens desconhecidas. Sempre compreendeu assim a sua profissão de paisagista: viajando. O nomadismo, que lhe roía as entranhas, levou-o, depois, a percorrer a África do Norte, de onde atravessou o Atlântico rumo ao Brasil. Durante sete anos viajou e fixou, em telas e aquarelas, vistas e tipos característicos dos lugares por onde passou. Chegou ao Rio de Janeiro com essa impressionante coleção de telas, aquarelas, desenhos, esquemas e estudos, verdadeiro documentário, a que o crítico de arte e pintor Gonzaga Duque refere-se como uma viagem à volta do mundo.

Em 1878, o estudo das artes no Brasil, apenas iniciava-se, cercado de cuidados para que seus alunos não saíssem dos moldes Acadêmicos. Qualquer iniciativa, fora desses parâmetros era interceptada e nada deveria perturbar a ordem reinante na Academia Imperial de Belas Artes, que se mantinha fiel ao estilo francês tradicional. Os artistas brasileiros ao voltarem da Europa, poucas notícias traziam das inovações por lá ocorridas.

Em 1882, após quatro anos de residência e elaboração de trabalhos no Brasil, Grimm expôs suas telas no Liceu de Artes e Ofícios, obtendo enorme sucesso. O público habituado às cores sombrias e temas Neoclássicos deslumbrou-se com a exuberância que percebeu nos quadros. Grimm foi aclamado pela crítica e brotou daí a necessidade, quase imperiosa, de passar aos pintores brasileiros essas técnicas tão pouco divulgadas por aqui. Gonzaga Duque, em 1888, comenta essa exposição em seu livro Arte Brasileira:

Foi na exposição de 82 promovida pela Sociedade Propagadora das Belas Artes, que nos apareceu o paisagista alemão. Em uma das Salas do Liceu de Artes e Ofício, reuniu e suspendeu aos muros uma notável bagagem artística. Ali expôs ele tudo quanto possuía em trabalhos. Paisagens de Capri e vistas de Roma, marinhas de Gênova e Jardins de Florença, cantos da natureza da Alemanha e estudos da natureza da África, estradas de Túnis e vilas do Brasil, uma mesquita de Constantinopla e um portão de Alhambra, pirâmides do Egito e panoramas de Portugal. Em duas, três ou cinco horas fazia-se em frente de suas telas, uma viagem ao redor do mundo. A natureza dos países em que Jorge Grimm esteve nos aparecia irradiante de luz e de cor, diante dos nossos olhos vadios, acostumados às tintas pálidas, anêmicas, miseravelmente doentias da maior parte dos nossos paisagistas.

Por essa ocasião, as inovações dos românticos impunham-se à Academia, muito pouco flexível e nada propensa a adaptar-se a novos caminhos.

A arte Pompier, conceito pejorativo criado para designar um novo estilo artístico que surgiu da mescla da arte acadêmica com o colorido romântico, estava se desenvolvendo entre os pintores acadêmicos.

Com a entrada de Grimm para o corpo docente da Academia Imperial de Belas Artes, foi dado um grande passo para o desabrochar da pintura de paisagem no Brasil.

O mestre alemão passou a ocupar este cargo devido ao reconhecimento público do valor de suas obras. Teve como mérito principal apresentar a paisagem, antes simples pano de fundo, como um dos gêneros mais ricos e inspiradores, despertando interesses. Logo em seguida à sua entrada na Academia assume como mestre, a cadeira de Paisagem, Flores e Animais e leva seus alunos para fora das salas, afim de que sintam a natureza, emocionem-se e passem para a tela seus sentimentos e emoções. Isto é uma atitude romântica.

Começou assim, a procura de rumos novos, a fuga do que era imposto, frio e apenas copiado de estampas, para entrar numa dimensão nova.

No entanto, as obras desses primeiros paisagistas não abandonaram completamente os traços acadêmicos. A própria pintura de Grimm tem suas bases no desenho, na linha. A visão linear procura o sentido do objeto no seu contorno; distingue nitidamente uma forma da outra. A linha acentua as margens da forma, os limites firmes aos quais tudo se adapta, se subordina. É, pois uma concepção de forma fechada, onde a clareza absoluta e uma certa autonomia se fazem sentir. É racional na medida em que o traço, ao envolver a forma, faz uma representação objetiva, apreende e expressa os objetivos em suas contingências fixas e palpáveis.

Acreditava Grimm que a “perfeição” do desenho era a base para a boa pintura e esta se completava com a ajuda da observação da natureza. O contorno firme dos corpos transmite uma impressão de segurança, quando luz e sombras se adaptam às formas. Representação e objeto, idênticos na concepção linear, passam a sensação de tangibilidade, de beleza material, racional.

Em Paisagem, de 1883, tela pintada por Grimm numa de suas viagens a Minas Gerais, quando ainda estava ligado à Academia, o desenho, a linha e a cor aparecem claramente. Cada nuança do verde pode ser sentida, assim como a aspereza da pedra e o recorte das árvores.

Grimm observa os rochedos em detalhes, reproduzindo-os de maneira fiel para que cheguem ao espectador na sua forma permanente, mensurável e finita. Somente o estilo pictórico conhece a beleza do imaterial, do infinito.

A estrutura composicional dos trabalhos de Grimm é portanto a linha, a cor e a forma naturalista. Procurou a natureza incansavelmente, recusando modelos padronizados e artificiais. Era “romântico” por suas pesquisas, pela observação exaustiva quanto à forma e a cor da natureza. Não pretendia de modo algum pintar no ateliê e acreditava que a impressão do momento devia ser registrada na tela, só assim a obra expressaria a familiaridade com a natureza.

Corot, em 1856, aconselhou um aluno a confiar acima de tudo na sua primeira sensação:

Não a abandonemos jamais, aí procurando a verdade e a exatidão, não esquecendo nunca de lhe dar aquele aspecto que nos tocou, que nos impressionou. Não importa o lugar nem o objeto: sujeitemo-nos à primeira impressão. Se tivermos sido realmente tocados, a sinceridade de nossa emoção passará aos outros.

Como Corot, Grimm afasta o sentimento como impulso passional, enquanto choque emotivo. O que pretende é exprimir um acordo constante e profundo com a natureza. Corot afirmava que o sentimento da natureza é o fundamento da moral, e caminhava rumo à concepção da sensação como conhecimento. Também para Grimm, a arte era experiência vivida, e ele se defendia da tendência da época à efusão de sentimentos, com o estudo das formas bem modeladas, com a cor permeada de penumbras e luzes filtradas.

Argan quando se refere à pintura de paisagem de Corot, comenta:

"As paisagens são nítidas construções de volumes onde a luz parece cristalizar-se no corte firme dos planos; as distribuições de sombra também se classificam como valores tonais; a cor, mesmo vibrando na atmosfera límpida, define com clareza a estrutura do espaço pictórico".

Estas apreciações de Argan sobre a obra de Corot podem perfeitamente ser atribuídas à de Grimm. Em seus próprios trabalhos existe a calma e a insistência na exploração dos valores tonais. A autenticidade das tonalidades de seus quadros reflete sua própria natureza ingênua e simples, e além do mais é inseparável do igualmente autêntico sentido do desenho. A falta de emoção em sua pintura tem muito de simplicidade, e pode-se perceber que Grimm, não somente pintou a natureza, mas a amou muito. Numa atitude sem dúvida alguma “romântica”, recusa o ambiente artificial da cidade, embrenha-se no mato a procura de formas e cores autênticas. Entretanto não tem a mesma preocupação dos pintores de Barbizon com a “psicologia das árvores e das nuvens” com a “atitude psicológica do homem moderno frente à natureza”. Assume uma postura prática e sensível como a que se tem para com as coisas que se conhece profundamente.

Sua proposta é inovadora, justamente quando entra no campo da paisagem, onde é soberano. A personalidade carismática de Grimm o leva a reunir um grupo de pintores que, sob sua orientação, saem para o campo objetivando desenvolver olhos sensíveis que sabem olhar e sentir. Estabelece um vínculo profundo, “romântico” entre seus alunos, o aprendizado e a profissão. O que os une, é uma amizade profunda que tudo supera visando um objetivo comum: tornarem-se pintores, dedicando-se à pintura de paisagem, aprendendo e identificando-se com a natureza. Esse vínculo é dito “romântico” pois está diretamente ligado ao projeto de trabalho em que se empenharam. Interpretam a natureza depois de muita observação, a fim de compreendê-la. Pintam segundo os ensinamentos de Grimm, constituindo o primeiro grupo de paisagistas brasileiros com concepções artísticas inovadoras.

Essas inovações de Grimm, entretanto acabaram por perturbar a Academia de Belas Artes que se recusava a aceitar seus métodos. E lecionar em meio a tantos contratempos tornou-se impossível. A crise na Academia estabeleceu-se a partir dos seus projetos criativos, mas Grimm tinha plantado suas sementes em terrenos férteis. O pequeno grupo que com ele saiu da Academia continuou sua ação inovadora mantendo atividades independentes.

Estabelecido em Niterói, o Grupo Grimm teve uma grande variedade de pontos de vista e horizontes distantes a seu dispor. A diversidade de aspectos da costa, a luminosidade intensa, as incríveis variações de cores tanto do mar quanto do céu e das pedras os surpreendiam a cada instante. O horizonte longíquo, unindo céu e mar, é mais do que uma expressão de abrangência, pois evoca a emoção do ilimitado.

Procurando novas paisagens, o Grupo viajava, embrenhava-se pelo mato, adentrava florestas afastadas e deslumbrava-se com o litoral “pitorescamente” acidentado da costa fluminense.

Em Vista da Ponta de Icaraí (1884), aparecem céu e mar, em tonalidades claras, com muita luz, contrapondo-se às pedras e areia mais próximos e, no entanto, muito mais sombrios. As figuras humanas, e até os barcos próximos, são minimizados, enquanto que a rocha na extremidade esquerda do quadro nos conquista e impressiona. Grimm trabalha o branco, os meios tons e o volume sólido em contraponto.

Vê-se que sua obra brota indiscutivelmente da terra, das pedras e não do céu ou do mar. Para Grimm o desenho era primordial. Seu estilo linear busca as formas sólidas, permanentes. As linhas, em Grimm, comandam a luz e as sombras, permanecendo como limites, representando as coisas como elas são. A impressão baseia-se em valores tácteis. As formas são por ele modeladas após o estudo de cada detalhe, de cada reentrância ou saliência. Os olhos percorrem o objeto como uma mão percorre um corpo.

Só os rochedos, a terra, enquanto sólidos e permanentes, interessavam. O céu e o mar são movimento constante, e sua representação exigia olhos sensíveis que vão além do objeto material, penetrando nos domínios do imaterial. O mesmo se dá com a massa de folhagens. É difícil representá-las com base na concepção linear. A visão pictórica busca o movimento que ultrapassa o conjunto dos objetos. Nessa concepção as formas isoladas têm pouca importância; o decisivo é o conjunto onde a forma, a luz e a cor ganham efeito.

A Grimm só interessava a forma real, a representação objetiva, como num esforço de domínio da nostalgia do homem e da exuberância do natural.

Em Vista do Cavalão (1884), Grimm colocou toda a luz nas pedras do primeiro plano. A vegetação eleva-se em tons sombrios e um céu desbotado aparece como fundo. O tom amarelo, pálido nas nuvens, repete-se, intensificado na areia e nas rochas do chão. É a própria luz do sol que brinca com as diminutas figuras humanas em detalhes.

Em Cabeceira do Rio Paquequer, trabalho de 1885, a beleza das grandes pedras se impõe e é o motivo central, o interesse primeiro do pintor. Nem as árvores, nem a água, nem o céu pálido, nada mereceu tanta atenção quanto a pedra, trabalhada em tonalidades múltiplas e formas detalhadas. Ela é elemento descritivo, formado por linhas regulares, claras, delimitadoras. Grimm encontrou nas rochas objeto natural propício à perspectiva linear. Subordinou o mundo visível à linha, que pode ser percebida em toda parte, mas apenas como limite de superfícies plasticamente sentidas e modeladas pelo sentido do tato.

Em Rochedo da Boa Viagem (1887), último quadro pintado por Grimm no Brasil, a importância da pedra com todos os seus recortes e tonalidades com claros e escuros observados minuciosamente, sobressai e domina o céu, o mar e os pescadores. A figura humana é diminuta onde a exuberância da natureza se impõe. Nada é tão importante quanto o rochedo.

A pintura ao ar livre por si só não levaria a nada, não fossem as novas concepções e modelos de apreciação da paisagem que Grimm passava a seus discípulos. A observação exaustiva, como exercício de percepção visando a habilitar o pintor a afastar-se do padronizado, é a concepção romântica do “subjetivo”, da emoção individual que diferencia as obras desses pintores das produzidas pelos neoclássicos. A visão lúcida atinge o sentimento interno e transborda em traços e cores que recusam as cópias do padrão artificial. Na obra de Grimm vemos a excessiva preocupação com detalhes e a construção da paisagem fiel às observações da natureza. A isto lhe fizeram críticas severas, mencionando-se seguidamente a falta de emotividade e o rigor com que tratava os temas escolhidos.

Luiz Gonzaga Duque Estrada, em 1909 escreve na revista Kosmos, que Grimm sabia olhar e sabia fazer. Mas, entre o olhar e o saber sentir, vai grande diferença.

Antônio Parreiras, em seus relatos nos fala da obra do mestre como sendo impecável no desenho, justa na cor, embora metodicamente feita, sem entusiasmo e falha de sentimentos poéticos.

Críticos de sua obra percebem o notável traço, a cópia quase fiel da natureza, o colorido por vezes vibrante; mas nada, além disso, transparece a emoção não passa por suas telas. Tanto em Paisagem com Fazenda (1884), quanto em Fazenda do Belém (1886) impõe-se uma beleza racional e objetiva. A finalidade de Grimm, no entanto, parecia ser esta mesma. Pesquisou e observou a natureza para representá-la em seus quadros com a maior fidelidade possível, procurando as formas reais, mas sem se emocionar, o que considerava um exagero. Talvez a personalidade forte e excessivamente honesta de Grimm tenha sido em parte responsável pela “falta de emoção” em suas obras.

De caráter leal e sincero, justo porém severo, mal compreendido, Grimm nunca deixou de ser o homem simples, o pastor de cabras e aprendiz de carpinteiro da juventude na Baviera. Seus alunos e seguidores absorveram dele inúmeros ensinamentos e tiveram seus espíritos aguçados. No entanto, o que de mais marcante Grimm lhes passou, foi, na opinião de todos, a persistência nas tarefas, o rigor, o regime de trabalho sem repouso. Metódico e exigente, Grimm exortava-os a irem até o limite máximo de suas energias a fim de alcançarem seus objetivos. Ele mesmo, nos píncaros dos rochedos armava o cavalete e, horas e horas, lá se quedava sem sentir os raios causticantes do sol.

Muito mais importante do que sua forma de pintar, foram os conceitos transmitidos, impondo incansavelmente a seus alunos o contato direto com o objeto a ser criado - a natureza. Quem quer aprender [sic] pintar arruma cavalete, vai pra mato.

A permanência de Georg Grimm no Brasil não chegou a dez anos, porém sua atuação foi das mais marcantes. Como professor, impôs o trabalho incansável e uma atitude profissional rígida; como pintor e viajante errante, procurou a natureza como modelo, afastando-se dos padrões. Simples e autêntico, libertou a paisagem, definindo-a como pintura ao ar livre, por excelência.

Fonte: PORTELA, Isabel Sanson. Paisagem: um conceito romântico na pintura brasileira - George Grimm. 19&20, Rio de Janeiro, v. III, n. 3, jul. 2008. Consultado pela última vez em 10 de janeiro de 2023.

---

Georg Grimm | Arte Data

Nasceu na localidade de Bühl am Alpsee (à época, See bei Bühl), nos arredores da cidade de Immenstadt im Allgäu, Alemanha. Filho do mestre-marceneiro Johann Bernhard Grimm (1811-1881) e de Maria Anna Herz (1814-1851). Órfão de mãe desde muito cedo, frequentou a escola elementar de sua cidade natal com distinção e aproveitamento. Embora desde a infância demonstrava aptidão para o desenho, ainda assim exerceu, como seu único irmão Johann Franz (1849-1933), atividades típicas do meio rural em que vivia e da profissão paterna. Sem apoio da família, aos 19 anos de idade seguiu para Munique, pretendendo dedicar-se exclusivamente à arte. Em julho de 1867 obteve matrícula na Königliche Akademie der Bildenden Künste, que cursou com afinco e extrema carência de recursos materiais, até abril de 1870. Terminando a Antikenklasse (cópia de moldagens em gesso de esculturas e modelos da Antiguidade) passou à Zeichnungsklasse, dispondo de maior liberdade na cópia de estampas (temas do Renascimento ao século XVIII) até chegar aos estudos de modelo-vivo. Mais tarde frequentou também, por pouco tempo, a Königlichen Akademie der Bildenden Künste em Berlim. Com o auxílio de amigos abastados e generosos, no final do ano de 1872 deixou a Alemanha e até 1877 viajou por países da Europa e do norte da África. Atravessou a Itália de norte a sul, por diversas vezes permanecendo em Roma, Nápoles e Capri. Na capital italiana, produziu uma série de primorosos estudos de modelo-vivo e costumes, em aquarela.

Esteve por um breve período em Berlim antes de voltar à Itália em 1875, percorrendo então toda a Sicília e de Trapani seguindo para a Tunísia e daí à Argélia, visitando depois Granada e Toledo na Espanha. Por onde esteve fixou vistas, paisagens e costumes em cerca de duas centenas de desenhos, aquarelas e óleos. Nesta incessante movimentação antes de radicar-se no Brasil, não é difícil reconhecer que seu temperamento destemido e vigoroso tenha atendido à antiga fascinação que a Itália e o Mediterrâneo exerciam sobre os artistas de origem germânica, como também ocorrera, por exemplo, com Carl Rottmann (1797-1850), Hans von Marées (1837-1887), Arnold Böcklin (1827-1901) e inúmeros outros antes e depois destes — sem esquecer europeus de outras nacionalidades como os orientalistas franceses no Magreb e um pintor extraordinário como o norte-americano John Singer Sargent (1856-1925) na ilha de Capri. Contudo, seja o que for que tenha atraído o pintor para a América do Sul, e especificamente para uma grande metrópole de natureza tropical deslumbrante, é algo que permanece ainda desconhecido.

Em agosto de 1877, chegou ao Rio de Janeiro, trabalhando durante algum tempo na firma do alemão Friedrich Anton Steckel (1834-1921), especializada em pintura de casas e navios, douração, decoração de interiores e venda de material para pintura. Durante este período, Grimm viajou moderadamente por distritos e pequenas cidades da região do vale do Paraíba, tendo também estado em Petrópolis, Valença e na província de Minas Gerais. Pintou poucas paisagens, a maior parte delas obras de caráter documental, como iconografia de fazendas de café e outras propriedades rurais. Estes trabalhos, apesar de realizados por encomenda e com o intuito de registrar com o máximo de fidelidade os locais escolhidos, conseguem ser bastante significativos no que concerne ao tratamento dispensado à paisagem. Do início de 1880 a julho de 1881, o artista ausentou-se do Rio de Janeiro, viajando para a Itália e de lá seguiu em excursão pela Grécia, Turquia, Síria, Líbano, Palestina e Egito. Voltando à Europa, demorou-se na Córsega e percorreu a Riviera franco-italiana. Por fim, de Paris dirigiu-se para Bordéus de onde retornou ao Brasil. É curioso que não tenha restado qualquer vestígio documental preciso desta viagem, exceto um pequeno caderno de esboços, e na verdade até recentemente ela jamais havia sido conhecida com absoluta certeza.

Em março de 1882, a Sociedade Propagadora das Belas Artes realizou no Liceu de Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro, uma grande exposição pública. A mostra causou sensação: nada menos de 128 obras, dentre as 418 então apresentadas, eram de autoria de um só artista, o bávaro Johann Georg Grimm — a maioria delas óleos e aquarelas pintadas na Europa, sobretudo Itália, e no norte da África entre 1873 e 1876. A imprensa e a crítica foram unânimes nos elogios ao pintor alemão. Para o público até então acostumado com um estilo de pintura frio e convencional, produzido quase que em estrita obediência aos severos princípios do ensino acadêmico de origem neoclássica francesa, as cores fortes e a maneira ampla que caracterizava as obras de Grimm pareceram algo de excepcionalmente inovador. E o fato de só pintar a natureza en plein air, ao ar livre em direta e intensa oposição ao ambiente escuro dos ateliês, era sem dúvida algo provocador e extraordinário. O enorme sucesso na exposição de 1882 fez com que Grimm, por ordem do governo, fosse contratado como professor interino da aula de paisagem na Academia Imperial das Belas Artes, que estava vaga desde setembro de 1881. Lá encontrou estudantes que formariam uma das mais brilhantes gerações de pintores na arte brasileira de fins do século XIX e início do século XX. Alguns dentre eles, em uma atitude sem precedentes, abandonaram a Academia acompanhando o professor de paisagem, quando o mestre demitiu-se do cargo em meados de 1884 por ver recusada sua justa insistência para ser efetivado por meio de concurso.

Este episódio foi o ponto culminante da história do Grupo Grimm (também conhecido como Escola da Boa Viagem). Estes alunos foram o espanhol Domingo García y Vazquez (1859-1912), o brasileiro filho de franceses Hipólito Boaventura Caron (1862-1892), o português Francisco Joaquim Gomes Ribeiro (circa 1855-circa 1900), o italiano Giovanni Battista Castagneto (1851-1900), e os brasileiros Antônio Parreiras (1860-1937) e Joaquim José da França Júnior (1838-1890), este um renomado escritor e autor teatral. Em agosto de 1884 foi inaugurada a XXVI Exposição Geral de Belas Artes, a mais importante mostra realizada durante o período monárquico. Nela, Grimm e seus discípulos obtiveram amplo sucesso e foram quase todos distingüidos com medalhas de ouro e menções honrosas. Por seis meses ainda as atividades do grupo continuaram nas praias da cidade de Niterói, até que no início do ano de 1885 seguiram todos em excursão de estudo para as montanhas de Teresópolis, região serrana da província do Rio de Janeiro. Por inúmeras razões a formação do Grupo Grimm tornou-se um dos mais relevantes episódios no desenvolvimento da pintura brasileira durante o Segundo Reinado, e dentre seus integrantes pelo menos dois artistas alcançariam enorme prestígio e reconhecimento na história da arte brasileira: o paisagista Antônio Parreiras e o marinhista Giovanni Battista Castagneto. E embora muitos outros artistas alemães tenham estado no país ao longo do século XIX, inclusive o notável desenhista e pintor bávaro Johann Moritz Rugendas (1802-1858), nenhum outro europeu jamais conseguiu exercer ― como Johann Georg Grimm ― tamanha influência sobre a história da arte no Brasil.

Em Teresópolis, no início de 1885, pela última vez estiveram reunidos o mestre e seus discípulos. Logo dispersaram-se e Grimm partiu para a província de Minas Gerais. Ao longo de quase dois anos, até dezembro de 1886, o pintor alemão esteve ausente do Rio de Janeiro, viajando sem cessar (Sabará, Santa Bárbara, Nova Lima, etc.) e executando diversas encomendas, inclusive mais uma vez na região das fazendas de café que já havia percorrido entre 1877 e 1879 (Paraíba do Sul, Bemposta, São José do Vale do Rio Preto, Três Rios, etc.). Em meados de 1887, gravemente doente, deixou o Brasil e retornou à Europa. Por algum tempo esteve em sua cidade natal e vilarejos alpinos das redondezas, em repouso e sob tratamento médico, até seguir para a Sicília na tentativa de encontrar melhor clima para sua recuperação. Agravando-se ainda mais seu estado de saúde, foi internado em um hospital em Palermo, àquela época um centro de referência para o tratamento da tuberculose. Faleceu no dia 18 de dezembro de 1887 e foi sepultado no pequeno Cimitero degli Inglesi, diante do mar no sopé do monte Pellegrino. A notícia de sua morte só chegou ao Rio de Janeiro mais de um mês depois, através de anúncio publicado no Jornal do Commercio, e à sua cidade natal ainda mais tarde, no jornal Algäuer Anzeigeblatt de março de 1888.

Texto originalmente publicado em alemão, como verbete sobre o artista, no Allgemeines Künstlerlexikon [antigo Thieme-Becker-Künstlerlexikon] - Die Bildenden Künstler aller Zeiten und Völker, vol. 62 (Greyerz - Grondoli), K. G. Saur Verlag, München / Leipzig, Alemanha, 2009, p.273-27.

Fonte: Arte Data, Georg Grimm, publicado por Carlos Roberto Maciel Levy. Consultado pela última vez em 10 de janeiro de 2023.

Crédito fotográfico: Arte Data. Grimm em fotografia de autoria desconhecida, muito provavelmente tirada no Rio de Janeiro em 1877, que pertenceu ao pintor Antônio Parreiras e hoje faz parte do acervo documental do museu a ele dedicado, em Niterói, RJ. Consultado pela última vez em 10 de janeiro de 2023.

Arremate Arte
Feito com no Rio de Janeiro

Olá, boa tarde!

Prepare-se para a melhor experiência em leilões, estamos chegando! 🎉 Por conta da pandemia que estamos enfrentando (Covid-19), optamos por adiar o lançamento oficial para 2023, mas, não resistimos e já liberamos uma prévia! Qualquer dúvida ou sugestão, fale conosco em ola@arrematearte.com.br, seu feedback é muito importante. Caso queira receber nossas novidades, registre-se abaixo. Obrigado e bons lances! ✌️