Antônio Diogo da Silva Parreiras (Rio de Janeiro, Niterói, 20 de janeiro de 1860 — Idem, 17 de outubro de 1937), mais conhecido como Antônio Parreiras, foi um pintor, desenhista, ilustrador, escritor e professor brasileiro. Estudou na Academia Imperial de Belas Artes, Parreiras buscou aprimorar-se de forma autodidata e posteriormente na Europa, absorvendo influências do naturalismo e impressionismo. Seu trabalho destacou-se pelo uso magistral da luz e cor, refletindo a beleza natural do Brasil, onde pintou florestas, campos e cenas costeiras. Reconhecido por suas paisagens deslumbrantes e composições históricas. Contribuiu significativamente para a educação artística no Brasil, fundando uma escola de arte em Niterói e influenciando novas gerações de artistas. Suas obras foram amplamente reconhecidas, e ele recebeu diversas encomendas para pinturas históricas, consolidando sua importância no cenário artístico nacional. O Museu Antônio Parreiras, em Niterói, preserva e celebra seu legado, abrigando uma vasta coleção de suas obras e mantendo viva sua contribuição à arte brasileira.
Biografia Antônio Parreiras | Arremate Arte
Antônio Parreiras, nascido em 20 de janeiro de 1860, em Niterói, Rio de Janeiro, e falecido na mesma cidade em 17 de outubro de 1937, foi um renomado pintor e desenhista brasileiro, destacado principalmente por suas paisagens e composições históricas.
Estudou na Academia Imperial de Belas Artes, optou por seguir um caminho autodidata e, posteriormente, aperfeiçoou-se na Itália e na França, onde absorveu influências do naturalismo e do impressionismo. Seu trabalho é conhecido pelo uso magistral da luz e cor, refletindo a beleza das paisagens brasileiras em florestas, campos e cenas litorâneas.
Além de suas contribuições como artista, Parreiras foi um importante educador, fundando uma escola de arte em Niterói e influenciando novas gerações de artistas brasileiros.
Suas obras receberam amplo reconhecimento, como e ele foi frequentemente comissionado para criar pinturas históricas, solidificando seu prestígio no cenário artístico nacional.
O legado de Antônio Parreiras é preservado no Museu Antônio Parreiras em Niterói, que abriga uma extensa coleção de suas obras e continua a celebrar sua influência na arte brasileira.
Parreiras é lembrado como um mestre que capturou a essência da paisagem brasileira e contribuiu significativamente para o desenvolvimento da pintura no Brasil.
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Biografia Antônio Parreiras | Wikipédia
Suas pinturas paisagistas podem ser consideradas como representação de paisagens e momentos, acontecimentos considerados sublimes. Parreiras abordava a natureza com olhos de artista, sentindo-a com a emoção que causa a quem pessoalmente presencia o que retrata. Tinha o desejo de interpretar a natureza quando esta ainda parecia ter sido intocada.
Acredita-se que, para além de cumprir contratos — Parreiras tem obras espalhadas por importantíssimas edificações públicas —, o pintor tenha imprimido em seus quadros sua visão sobre a história nacional. Hoje, suas obras históricas podem, em sua maioria, ser encontradas nos museus de arte e história do Brasil afora ou até mesmo na decoração de algumas das sedes de governo do país. Para São Paulo, foram duas as obras encomendadas: o Salão Nobre da Câmara Municipal e o Gabinete do Prefeito têm obras de Antônio Parreiras como objetos decorativos.
Biografia
Nascido em Niterói em um momento em que a produção intelectual no Brasil passava por fortes influências de debates europeus, em seus vários textos redigidos, deu força a um discurso heroico quando referia-se à classe média, de onde veio. No entanto, após a morte de seu pai, foi à falência. Foram várias as experiências sem sucesso até que, em 1883, matriculou-se na Academia Imperial. Ingressar no universo artístico aos 23 anos de idade era considerado tarde para a época. Mas o artista não titubeou em abandonar o posto de escriturário na Companhia Leopoldina, em Nova Friburgo, para fazer o que, desde a infância parecia ter sido direcionado pelo destino a fazer.
Em trechos de sua biografia, Antônio Parreiras seleciona muito bem as memórias que pretende contar a fim de construir uma lembrança ao leitor em que todas as suas vivências conspiram à elaboração de um futuro específico ao qual, por toda a vida, fora destinado. "Não parava em casa. Tinha horror aos livros e só me interessavam aqueles em que haviam gravuras" e "Eis aí que conheci o primeiro pintor e o primeiro poeta. Eis como em minha alma, pela primeira vez, penetrou um raio de luz... a primeira emoção de Arte. Foi vendo um pintar, ouvindo o outro ler poesias, que deparei com a estrada ainda não vislumbrada, porém que devia trilhar em toda a minha longa existência. Abençoados sejam!" são alguns exemplos.
Ruptura com a Academia
Insatisfeito, em 1884, deixou de fazer parte da Academia para pintar d'après nature na cidade de Niterói junto ao núcleo formado pela inspiração do pintor alemão Georg Grimm. Este, formado em Munique, chegou ao Brasil em 1874 e foi descrito por Parreiras em sua autobiografia como "extremamente bondoso para com os pequenos, altivo e arrogante, violento até para os grandes". Influenciado pelos ares alemães de Grimm, pintar paisagens ao livre, romper com as instituições da academia era uma opção de vida a Parreiras.
Quando não fazia mais parte da Academia, o pintor preferiu seguir por rumos alternativos e então passou a organizar exposições próprias, grande maioria delas acontecia dentro de sua própria casa, em Niterói. Acredita-se que a arte de vender suas próprias produções tenha sido mais uma das muitas influências da convivência com os ideais de Grimm. A venda de suas pinturas obedecia uma filosofia comunitarista, em que os ganhos de todos sustentavam a compra de mantimentos e materiais de trabalho para uso comum.
1886 foi um ano em que uma de suas exposições próprias recebeu uma importante visita que seria fundamental para o reconhecimento de Antônio Parreiras como artista e, principalmente, pintor. Dom Pedro II não só visitou a exposição do paisagista niteroiense, mas também adquiriu duas obras do pintor. Como lamenta em sua autobiografia, esta não era uma época em que o pintor tinha dinheiro, muito menos fama. Entretanto, permanecia com ambição de ir à Europa dar continuidade a seus estudos. Foi então que, com base em acordos, conseguiu a venda de algumas de suas obras à Academia, em troca de que, quando retornasse ao Brasil, lecionasse algumas aulas sem a necessidade de receber salário. Já na França, Parreiras conseguiu montar seu próprio ateliê para divulgação de seu trabalho e, quando voltou, cumpriu o acordo e tornou-se professor de paisagem na Academia.
Passou vários anos vividos entre Brasil e França, realizando exposições, executando encomendas oficiais para edifícios públicos e participando de salões de arte. Parreiras chegou a vender a tela "Sertanejas" para decorar o Palácio do Catete e, entre outros, também realizou painéis para ornar a sede do Supremo Tribunal Federal. Ganhando prêmios, Antônio Parreiras não só foi o segundo pintor brasileiro a expor no Salão de Paris e nomeado delegado da Sociedade Nacional de Belas-Artes, em 1911, mas também experimentou seus últimos anos de vida sendo reconhecido também no âmbito intelectual. Não só fez história e nome no mundo da pintura, mas também deixou sua marca no campo das letras. Pôde, então, experienciar diversos formatos de reconhecimento público.
Sucesso
O sucesso de Parreiras é, para muitos, motivo de estudo e análise profunda. Principalmente por sua inserção no embrionário mercado de artes que se formava entre os século XIX e XX no Brasil. O pintor, por boa parte de sua vida, obteve sustento proveniente da venda de suas obras, num momento em que o mercado de arte ainda era instável e incipiente.
Em 1927, Antônio Parreiras participou da inauguração de um busto em sua homenagem, esculpido em bronze pelo francês Marc Robert e exposto no Jardim Icaraí, atual praça Getúlio Vargas, em Icaraí, em Niterói.
Em sua carreira, pode-se dizer que Antônio Parreiras expressou o romantismo, ainda que de forma tardia, em "sua forma de procurar um lugar no mundo". Considerava-se ser um indivíduo autônomo, que manifestava um forte desejo de mudança social no âmbito hierárquico, o que o impedia de ascender e ter reconhecimento como sujeito, artista e criador.
Grande parte de sua vida adulta foi passada num período de nacionalismo exacerbado e grande exaltação patriótica, o que explica um discurso abrangente em tais elementos e uma repercussão dele projetada no âmbito artístico de Antônio Parreiras. Em um de seus vários discursos na Academia Fluminense de Letras, o pintor afirmava que o grande valor dado à arte europeia pela academia e pelos poucos críticos, dificultou o desenvolvimento de uma arte nacional. O paisagista afirma ainda que, no período que circunda a década de 1880, artistas eram socialmente mal vistos, pois no Brasil a profissão era vista como "fator de civilização", uma importante filosofia decorrida do iluminismo, que prega a ideia de que a arte poderia melhorar a humanidade, civilizando-a.
Segundo ele próprio, ao longo de aproximadamente 55 anos, realizou mais de 850 pinturas, das quais 720 foram criadas em solo brasileiro, tendo feito 39 exposições no Rio de Janeiro e em vários outros estados do Brasil.
Autobiografias
A primeira biografia de Antônio Parreiras foi publicada no ano de 1926 e financiada por ele próprio.
No exemplar disponível no museu do pintor, pode-se verificar que a obra conta com encadernação cuidadosa, possui capa em papel firme azulado de efeito mármore, sem identificação qualquer sobre do que trata. De acordo com a editora fluminense Tipografia Dias, Vasconcelos e C., pela qual a biografia fora publicada, são 131 páginas de texto escrito, 21 ilustrações, uma fotografia da fachada de sua casa e uma fotografia de seu ateliê.
Pode-se afirmar que a grande maioria das críticas referentes ao livro foram positivas. A primeira delas aparece no Jornal do Brasil, no dia 27 de novembro de 1926. Esta não só recomenda a leitura da autobiografia de Antônio Parreiras por seu conteúdo, mas também pela forma como foi estilosamente escrita, com fluidez. Em outro texto crítico sobre a obra, Mario Sette, para o Diário de Pernambuco, destacou, entre outros aspectos, a percepção do autor como artista que, embora tenha viajado com frequência, manteve-se consciente de seu lugar de origem. "Não se tornou pedante, nem um derrotista. Ao contrário, aprendeu ainda mais a amar a sua pátria, reconhecendo-lhes os méritos em confronto com os alheios". Outros críticos optaram por traçar uma analogia entre o ato de pintar e o de escrever, enaltecendo as habilidades do artista em ambas as funções, principalmente em seu viés paisagista.
A segunda edição de sua história contada por ele mesmo foi publicada em 1943, após o seu falecimento, e financiada pelo governador do estado do Rio de Janeiro, diferentemente do que propõe seu testamento, que os custos desta publicação fossem pagos pelo dinheiro arrecadado pela venda de suas medalhas de ouro e alguns quadros, caso houvesse necessidade.
Nela, o artista descreve algumas referências de exposições promovidas em sua homenagem, tal como a de comemoração pelos 50 anos de seu ingresso à Academia Imperial de Belas Artes, em Niterói. "Cerca de dez mil pessoas visitaram. Foi inaugurada por uma comissão eleita pela Sociedade Brasileira de Belas Artes que me fez a entrega de uma mensagem admiravelmente aquarelada pelo meu colega Armando Viana e assinada por diversos artistas". Parreiras conta também sobre a mudança do nome da rua Boa Viagem, onde chegou a morar com alguns colegas do grupo Grimm, para rua Antônio Parreiras, por sugestão dos membros do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga.
Obras pictóricas
Jornada dos Mártires
Partindo do princípio em que "toda imagem conta uma história", estudiosos veem, em "Jornada dos Mártires", de Antônio Parreiras, referência à história da Inconfidência Mineira. O episódio foi marcado por um levante contra a ordem colonial, ameaçando o poder e a autoridade da Coroa Portuguesa. Quando descobertos, os inconfidentes foram presos em Vila Rica, no ano de 1789, e de lá seguiram para a cidade do Rio de Janeiro, onde posteriormente seriam julgados. Durante este trajeto, os prisioneiros pernoitaram na fazenda Soledade, do coronel Manuel do Valle Amado. O momento retratado por Parreiras nesta obra é justamente o da partida dos inconfidentes desta fazenda, rumo à cidade do Rio de Janeiro.
Apesar de o quadro não fazer nenhuma menção direta à Inconfidência Mineira, o tema dificilmente seria identificado apenas sob a observação da tela, sem mais informações. O que pode ser visto na obra não são os inconfidentes como heróis ou homens valentes e vencedores, Parreiras representa apenas o fim de um movimento sem sucesso, cujos integrantes estão prestes a pagar o preço de sua revolta com sua liberdade. Ao mesmo tempo, faz questão de ressaltar a firmeza, a coragem e a convicção dos "revoltosos". Ainda que não os pinte como heróis, transmite, através deles, uma lição de patriotismo e civismo.
Observando a obra sobre um viés crítico-artístico, apenas, é importante recordar que Antônio Parreiras é, principalmente, reconhecido por suas obras de paisagem, tendo sido aluno de George Grimm, pintor alemão que fez escola no Brasil dentro do gênero. Portanto, não nos causa espanto observar que a paisagem da obra ocupa cerca de dois terços do espaço utilizado para retratar parte do percurso dos inconfidentes mineiros.
Sertanejas
Sob um desejo constante de interpretar a natureza de forma a sentir a emoção que ela causa, a obra "Sertanejas" resgata o sentido rousseauniano de que a natureza é mais bela do que a paisagem, por ser livre de qualquer intervenção do homem. A paisagem, segundo Shamma, "é a cultura antes de ser natureza; um construto da imaginação projetado sobre a mata, rocha, água". A obra retrata um túnel florestal primevo na Serra do Mar. Encerrado por um denso arvoredo, onde frestas de luz timidamente iluminam borboletas, que adejam sobre singelas flores tropicais que medram no chão úmido.
Fundação de Niterói
Na obra ''Fundação de Niterói'' de 1909, Parreiras tem como figura principal Arariboia e o trata com especial cuidado. O autor tem como característica marcante o cuidado na pesquisa daqueles que está pintando, quer dizer, evitando reproduzir estereótipos que, até então, eram tratados os indígenas, por exemplo como observadores inscientes e selvagens. Nesse contexto, a pintura figura em primeiro plano Arariboia e outras duas indígenas no espaço central, com seus corpos fortes e traços detalhados. Além disso, Arariboia está em pé e de braços cruzados com a cruz erguida em segundo plano, ou seja, em uma posição questionadora ao invés do estereótipo de simples observador.
Paisagem do Campo do Ipiranga
O quadro intitulado Paisagem do Campo do Ipiranga foi pintado em óleo sobre tela por Antônio Parreiras no ano de 1893. Com dimensões de um metro de altura por 1,48 metro de largura, retrata uma paisagem que contém o antigo Museu do Ipiranga ao fundo.
Contrastando com o céu azul claro repleto de nuvens brancas esfumaçadas na diagonal, o quadro mostra, num primeiro plano, um grande campo de terra marrom-avermelhada, em partes, desmatado. Há uma cerca que divide o território e segue em linha reta, dando noção de profundidade à imagem. Ao fundo, onde a cerca parece chegar ao fim, se aproxima das imediações de um grande casarão branco posicionado ao lado esquerdo do quadro. Próximo a ele, as vegetações são mais altas e têm coloração verde-escura. É deste mesmo espaço do casarão branco que, ao lado direito da tela, um pequeno morro dá uma terceira dimensão à imagem. Neste pequeno morro, está o monumento de cor bege-clara, um pouco amarelada, antigamente denominado de Museu do Ipiranga.
Paisagem do Campo do Ipiranga é uma obra que foi executada na ocasião da primeira visita artística do pintor à cidade de São Paulo. Com ele, Parreiras teve a pretensão de ingressar na recém-inaugurada galeria de arte do Museu Paulista.
Museu Antônio Parreiras
O Museu Antônio Parreiras é a antiga residência do pintor. Trata-se de um casarão projetado por Ramos de Azevedo. Inaugurado no dia 21 de janeiro de 1942, hoje pode ser considerada uma das mais importantes edificações históricas e culturais do estado do Rio de Janeiro.
Embora Antônio Parreiras nunca tenha deixado explícito o desejo de ter sua própria casa transformada em museu, estudiosos veem preocupação breve em constituir e consolidar algo que remeta à sua memória no seguinte trecho de seu testamento:
“ao meu querido amigo e afilhado Athayde Parreiras deixo o encargo de fazer publicar a segunda edição do meu livro Histórias de um pintor contada por ele mesmo. Para pagar as despesas desta publicação serão vendidas as minhas medalhas de ouro e alguns quadros se ainda for necessário. Esses livros serão distribuídos em primeiro lugar por todas as bibliotecas, arquivos e institutos públicos, o que restar vendidos e o produto desta venda será entregue à Sociedade de Cegos de Niterói, da qual sou sócio.”
Críticas a Aleijadinho
Em um de seus vários discursos na Academia Fluminense de Letras, Antônio Parreiras criticou a arte do escultor mineiro Aleijadinho. No início de seu discurso, publicado na revista da Academia, o pintor diz não aceitar o que é qualificado como "estilo colonial", por julgar impossível que, em um meio onde "predominavam a ignorância e as aspirações puramente materiais" dos tempos coloniais, "no meio de selvas", referindo-se à região de Minas Gerais, houvesse alguma preocupação de construção de um estilo arquitetônico.
Sob uma perspectiva determinista, o acadêmico Parreiras encarna profunda descrença na capacidade de transcendência da obra de Aleijadinho. Para ele, tal artista esteve preso demais às realidades de suas esculturas e, por tal motivo, não pôde transcendê-las, nem contextualizá-las no âmbito da divindade, quando se trata de criações de tema religiosos. Para o pintor, Aleijadinho fazia parte do grupo de artistas que não interpretava, mas simplesmente retratava tudo o que via na natureza. Antônio Parreiras nominou as obras do escultor mineiro de tentativas de reprodução da realidade como inúteis, pois lhe faltava técnica, estética e visão de arte; o que seria inato ao artista por viver em um meio que não favorecia o desenvolvimento de seu talento.
Prêmios recebidos
Medalha de Ouro (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Medalha de Honra (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Grande Medalha (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Medalha de Ouro (Exposição Universal de Barcelona, Espanha, 1929)
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Biografia Antônio Parreiras | Itaú Cultural
Antônio Diogo da Silva Parreiras (Niterói, Rio de Janeiro, 1860 - Niterói, Rio de Janeiro, 1937). Pintor, desenhista e ilustrador. Inicia estudos artísticos como aluno livre na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, no Rio de Janeiro, em 1883, onde permanece até meados de 1884. Neste período frequentou as aulas de paisagem, flores e animais, disciplina ministrada por Georg Grimm (1846 - 1887). Por discordar do ensino oferecido, desliga-se da Aiba e segue seu antigo professor, passando a integrar o Grupo Grimm ao lado de Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), entre outros, dedicando-se à pintura ao ar livre. Em 1888, viaja para a Itália e durante dois anos frequenta a Accademia di Belle Arti di Venezia [Academia de Belas Artes de Veneza], tornando-se discípulo de Filippo Carcano (1840 - 1910). De volta ao Brasil, em 1890, dá aulas de paisagem na Aiba, mas após dois meses de seu ingresso, desliga-se da instituição por discordar da reforma curricular promovida em novembro daquele ano. No ano seguinte, fundou a Escola do Ar Livre, em Niterói, Rio de Janeiro. De 1906 a 1919 viaja frequentemente a Paris, onde mantém ateliê. Recebe, em 1911, o título de delegado da Sociéte Nationale des Beaux Arts, raramente concedido a estrangeiros. Em 1926, lança seu livro autobiográfico História de um Pintor Contada por Ele Mesmo, com o qual ingressa na Academia Fluminense de Letras. Fundou o Salão Fluminense de Belas Artes, em Niterói, em 1929. Em 1941, sua casa-ateliê, na mesma cidade, é transformada no Museu Antônio Parreiras, com o objetivo de preservar e divulgar sua obra.
Análise
O pintor e desenhista Antônio Parreiras ingressou na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba em 1883, primeiro como aluno livre e depois como aluno regular. No período em que frequentou a escola, dedicou-se sobretudo às aulas de pintura de paisagem, flores e animais, com o pintor alemão Georg Grimm (1846 - 1887). O professor estimula os alunos a pintar fora dos ateliês da academia. Em 1884, Grimm se desliga da instituição, e seus alunos mais próximos, entre eles Parreiras, Caron (1862 - 1892), Castagneto (1851 - 1900), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912) e Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), o acompanham. Grimm dá aulas de pintura ao ar livre ao grupo - que seria conhecido como Grupo Grimm - na região de Boa Viagem, em Niterói, Rio de Janeiro. O coletivo representa uma renovação na pintura de paisagem brasileira. Trata o tema com autonomia, foge dos modelos acadêmicos e procura a especificidade do panorama natural brasileiro, com base na observação direta da natureza.
Em 1885, Parreiras realiza suas primeiras exposições, nas quais mostra as paisagens que fez durante as expedições do Grupo Grimm. Com a desarticulação do coletivo, o artista prossegue o aprendizado como autodidata. No ano seguinte, excursiona com o pintor Pinto Bandeira (1863 - 1896) pela serra de Petrópolis, Rio de Janeiro. Lá, realiza paisagens em que o céu é pintado de maneira encrespada, a atmosfera é carregada e a vegetação, selvagem. A partir daí, sua pincelada torna-se mais espessa e seus temas, mais dramáticos. Parreiras pinta cenas em que a natureza aparece com força incontrolável. Essas pinturas obtêm sucesso crescente. Em 1886 o imperador Dom Pedro II (1825 - 1891) adquire o quadro Foz do Rio Icarahy (1885), e no ano seguinte a Aiba compra as telas A Tarde e O Rio de Janeiro Depois da Tempestade.
Esse reconhecimento permite que o artista viaje à Europa em 1888. Desembarca no porto de Gênova e depois de estabelecer-se por um curto período em Roma, fixa residência na cidade de Veneza, matriculando-se como aluno livre da Accademia di Belle Arti di Venezia onde estuda por dois anos, tendo aulas com o professor Filippo Carrano (1840 - 1910). Por meio deste contato Parreiras se entusiasma com a possibilidade de pintar a natureza em mutação, figurando processos efêmeros, como as transformações produzidas pela neblina e pela mudança das condições atmosféricas na paisagem. Suas telas tornam-se mais cheias de figuras e com a pasta de tinta ainda mais espessa. O artista se aproxima de técnicas impressionistas da pintura italiana. É na temporada européia que ele começa a interessar-se pela figura humana e toma contato com a poesia clássica.
Em seu retorno ao Brasil, em 1890, Parreiras é nomeado professor interino da cadeira de paisagem da Aiba, permanecendo no cargo por apenas dois meses. Nesse mesmo ano, a reforma curricular proposta por Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Rodolfo Amoedo (1857 - 1941) extingue a disciplina de paisagem e altera o nome da instituição para Escola Nacional de Belas Artes - Enba. No ano seguinte, Parreiras passa a lecionar na Escola do Ar Livre, por ele fundada, em Niterói, com orientação contrária à do ensino oficial. Mantém contato direto com a paisagem e se dedica a capturar a especificidade da paisagem brasileira. Por volta de 1894, suas pinturas se tornam mais claras, demonstrando interesse pela luminosidade tipicamente nacional. Na pintura Sertanejas (1896), aproxima-se da natureza virgem e distante da presença do homem. Nesse trabalho o pintor pretende figurar o vigor de uma flora intocada e tipicamente brasileira, descoberta em seus estudos em expedição nas matas de Teresópolis, Rio de Janeiro.
Entre o fim do século XIX e o início do século XX, Parreiras torna-se um artista consagrado. Ele amplia o leque de temas e deixa de dedicar-se exclusivamente às paisagens. A partir de 1899, recebe encomendas de execução de painéis em alguns palácios e prédios públicos. Incentivado por Victor Meirelles (1832 - 1903), executa pinturas de cenas históricas para o poder público. Entre elas se destacam Proclamação da República, Morte de Estácio de Sá e Prisão de Tiradentes, trabalhos que aumentam sua notoriedade no Brasil. O sucesso lhe proporciona uma vida mais confortável. A partir de 1906, Parreiras vive entre Paris e Niterói. Mantém ateliê na França, onde trabalha e expõe com regularidade. Em 1909, mostra seu trabalho com nu feminino Fantasia, no Salon de la Societé National des Beaux Arts. A repercussão é muito positiva, e esse gênero de pintura se torna um dos principais filões de sua produção. Parreiras é eleito, pelos leitores da Revista Fon Fon, o maior pintor brasileiro vivo em 1925. O artista faleceu em 1937, em Niterói.
Críticas
"A mão corria-lhe febril, empastava a tela, acusava unicamente a forma fruste das coisas. Essa maneira, que o caracterizou, só nos últimos tempos foi atenuada e melhorada pela longa prática do trabalho. A princípio era um impulso. Todos os seus quadros, ainda os menores, se ressentiam desse vigor alucinado, dessa largueza à força de pulso, que facilitava os ardores de sua fecundidade. (...)
Mas o trabalho perseverante, a prática da paleta, a educação da vista, a reflexão da idade e a calma bem-sucedida ao exaltamento dos inovadores da pintura o modificaram. E cada exposição que fazia era uma vitória, porque era um adiantamento confirmado. A pouco e pouco, a sua mão fina e clara se fizera mais hábil, os dedos lisos e longos que pareciam copiar o contorno da espátula de sua caixeta de campo, manejaram mais adestramente os pincéis. Aclarara-se a compreensão das linhas típicas da nossa paisagem, vira mais nítida a cor que a define, o excesso detalhista a repelir e a sintetização dos motivos. (...)
O seu estilo largo, um tanto bravio, em lambadas de pincel, que como já fizemos notar, se modificou vantajosamente, subordinando-se às telas de grandes dimensões, vai-se adelgaçando numa estimável precisão interpretadora de minudências nos pequenos quadros (...)" — Gonzaga Duque (DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Benedicto de Souza, 1929. 255 p. p. 42-43, 49).
"A década de 20 é uma época na qual o artista sente bastante bem o quanto se modifica o meio ambiente em torno dele. Para manter o sucesso que caracterizava o decênio anterior; ainda que possuísse agora maior prestígio, torna-se necessário concentrar seus esforços sobre atividades de cunho grandioso, que revelassem sua permanente disposição e a imutabilidade de seu valor aos 60 anos de idade. Como consequência, o paisagismo em sua obra tem neste período expressão muito limitada. Além da escassa quantidade de paisagens pintadas nos anos 20, nota-se a incidência de um surpreendente declínio em sua evolução, com a presença de artifícios de execução e mesmo de um certo maneirismo nada compatível com a sólida originalidade do conjunto geral de sua produção. Não é, portanto, sem motivo que na imensa maioria das contrafações de suas paisagens pode ser constatada a preferência dos falsificadores por associar as telas ilegítimas a essa época (...)" — Carlos Roberto Maciel Levy (LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. 204 p., il. p&b, color).
"A obra de Antônio Parreiras pode, basicamente, ser dividida em dois períodos (...) formação e afirmação. O período de formação refere-se à época em que Parreiras foi aluno de Georg Grimm na Academia Imperial das Belas Artes e, mais tarde, com o afastamento do mestre bávaro da referida Academia, a fase de estudo de pintura ao ar livre, juntamente com Castagneto, Vazquez, Caros e Ribeiro, quando formaram a Escola da Boa Viagem (...) Evidentemente, as telas desta época possuem sempre um sentido de estudo, onde a elaboração e o processo técnico convergem para o mesmo objetivo: a compreensão da natureza (...) Os trabalhos desta fase de estudo ou formação tinham como base um processo de execução severo. Em sua maioria eram produzidas sobre suportes rígidos (madeira ou cartão), com o desenho realizado a partir de vários estudos anteriores, a crayon ou grafita(...) A pintura propriamente dita era conseguida (...) através de aguda observação da natureza. (...) A maior incidência de obras de pequeno formato é também característica deste período de formação(...). Período de Afirmação: Esta fase refere-se ao momento em que Parreiras inicia de fato sua independência visual, em que procura a consolidação de sua linguagem plástica. Não se trata de uma mudança brusca: mesmo anos depois do encerramento das atividades coletivas do Grupo Grimm ainda será possível detectar com segurança a marcante influência do professor alemão. (...) Em seu período de afirmação, Parreiras consegue reunir em seus trabalhos todos os recursos técnicos desenvolvidos ao longo do século XIX. A plena pasta, o pincel seco, a respiração do suporte, a falsa textura, o esfregaço, os glacis, a livre fatura (desenho do pincel), a ampliação da paleta (ou o uso mais colorido da mesma), os cortes mais ousados e até mesmo a teoria divisionista, que o artista aborda subjetivamente nas suas paisagens (...) e mais objetivamente em algumas pinturas murais decorativas" — Cláudio Valério Teixeira
(LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. p.125-126)
"(...) Parreiras tem uma existência de lutas e comoções (...) daí, pois, uma grande tristeza atuando no temperamento do indivíduo pelo contínuo desmoronar de esperanças apenas lobrigadas. Parte deste fato, segundo creio, a causa de Parreiras abusar muito do branco: M. Paul Bert, em suas observações apresentadas à Academia Francesa, em 1878, afirma que o mais das vezes o emprego de cores prediletas é motivado, não por uma alteração da vista, mas por motivos de ordem intelectual (...) O branco não é uma tinta triste, mas é uma tinta fria. Entrando, exageradamente na combinação de outras tintas, empalidece a tonalidade. De mais a mais - deve ser levada em conta a predileção que o artista tem pelas horas mais tristes do dia. O momento que ele escolhe é sempre (...) o de repouso, nas horas vespertinas, quando o último raio de sol deixou de dourar as nuvens. (...) Dando-lhes o tom predominantemente branco ou cinzento, conseguirá iluminá-las com um equilíbrio de cores prismáticas, de sorte que jamais fatigarão a vista de quem as contemplar por longo tempo". — Alfredo Palheta (PALHETA, Alfredo (pseud. Gonzaga Duque). Belas Artes: Terceira exposição de A. Parreiras. A Semana, ano III, nº 133, Rio de Janeiro, 16 de julho de 1887, citado por LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. p. 28).
"Parreiras, embora tenha realizado uma obra abordando praticamente todos os gêneros artísticos - paisagem, quadros históricos, nus femininos, animais -, revela-nos uma relação especial com a paisagem desde o início, dado que pode ser colhido tando da observação da própria obra que realizou ao longo de sua carreira de pintor como da leitura dos escritos que deixou e do livro que escreveu e publicou ainda em vida, em 1926, História de um Pintor Contada por Ele Mesmo. Por esse motivo, consideramos de fundamental importância olhar para o Parreiras, sobretudo, e procurar situá-lo como tal no âmbito da arte brasileira.
As paisagens dos primeiros anos de Parreiras são ainda fortemente dominadas pela linguagem da paisagem pitoresca, com seus planos, distâncias, texturas, caminhos e a presença de uma figura solitária, de costas ou de grupos pitorescos. Em pinturas de 1888, o pintor faz uso dos recursos composicionais próprios da estética do sublime em suas paisagens, compostas de elementos denotativos da fúria da natureza como céus encrespados e escuros, árvores curvadas pela força do vento, e a presença da figura feminina, emblemática da sensibilidade romântica, numa atitude pensativa, entregue a seu mundo de reflexões e apreensões em meio ao turbilhão que se passa na natureza, sentada sobre o solo pedregoso, cheio de irregularidades e pleno de textura. É a linguagem da paisagem romântica européia da primeira metade do século XIX nas suas versões mais corriqueiras, tornadas populares e acessíveis a um público mais amplo, dentro e fora da Europa, por meio da reprodução em água-tinta ou litografia.
É certo que, nesses trabalhos, Parreiras desenvolve um paisagismo moderno, no sentido da perspectiva de busca do empírico, atento e observador da natureza, certamente uma consequência das lições de Grimm e da venerada prática de pintar ao ar livre, mas ainda demonstra estar preso às consagradas fórmulas da arte da paisagem romântica, da qual os ingleses foram os maiores representantes tanto em termos práticos quanto teóricos" — Valéria Salgueiro (SALGUEIRO, Valéria. Antônio Parreiras: notas e críticas, discursos e contos: coletânea de textos de um pintor paisagista. Niterói: EdUFF, 2000. p.37-38).
"A influência da arte de Meirelles manifesta-se na pintura da maturidade de Antonio Parreiras. A grande paisagem Sertanejas exposta em 1899, parece amplificar em escala monumental os desenhos de florestas executados por Araújo Porto Alegre nos anos 50. (...) Com o passar dos anos, e para satisfazer as exigências celebrativas das novas capitais federais que o abarrotam de encomendas, Parreiras irá se especializar na paisagem histórica, afirmando-se como o maior herdeiro do mestre de Florianópolis. Apesar disso, não deixará de pagar seu tributo aos esquemas compositivos dos quadros monumentais de Pedro Américo (...), e num ciclo de grandes paisagens históricas dedicadas à conquista do Brasil, hoje na casa-museu que o arquiteto paulista Ramos de Azevedo construiu para o artista em Niterói. Essas obras, bem como a casa e ateliê do pintor, em contato com o jardim - pequenos monumentos em si próprios -, mostram como Parreiras não havia ficado imune às influências do pensamento de Ruskin, Morris e do art nouveau do grupo Les Vingts de Bruxelas". — Luciano Migliaccio (MIGLIACCIO, Luciano. O Século XIX. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO. Arte do Século XIX São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 151).
Depoimentos
"Por longos annos fui exclusivamente paysagista.
Annos passei dentro das florestas, ou a percorrer o litoral e constatei que, quando mais se observa essa extraordinaria - Natureza - brasileira =, grandiosa, phantástica, mais difícil se tornou a sua interpretação. Os annos de aturado e persistente estudo, de intima e prolongada convivencia com essa "Natureza", ainda não modificada pela mão preversa do homem algumas vezes permitiram-me synthetizal-a com o seu caracter selvagem, a sua apparente monotonia de verdes fortes e vibrantes; o mysterioso das suas sombras cheias de côr, côr sentida só pelos que estão habituados ao rapido contraste da luz immensamente forte, dura, com macio avelludado das sombras transparentes.
A constante e apaixonada observação dessa natureza acabou por tornar familiar com as suas linhas como me tornara familiar com a sua côr, com essas erectas e aprumadas columnas dos Jiquitibás ou com troncos tortuosos, emmaranhados em curvas de serpente que se vêem nas variadas ondulações dos retorcidos cajueiros.
Os annos vividos nas florestas habituaram-me a trabalhar à luz verde do seu ambiente". — Antônio Parreiras (PARREIRAS, Antônio Profissão de fé - DI 027. In: SALGUEIRO, Valéria. Antônio Parreiras: notas, críticas, discursos e contos: coletânea de textos de um pintor paisagista. Niterói: Eduff, 2000. p. 77).
Acervos
Acervo Banco Itaú S.A. - São Paulo SP
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil - São Paulo SP
Museu Antônio Parreiras - Niterói RJ
Museu da República - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museu de Arte do Belém - Belém PA
Museu do Estado de Pernambuco - Recife PE
Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro RJ
Museu Júlio de Castilhos - Porto Alegre RS
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Exposições Individuais
1885 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista, na Rua Santa Rosa
1885 - Niterói RJ - Individual, na sala principal da Loja A Photographia
1885 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa de Wilde
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Insley Pacheco
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégant
1887 - Niterói RJ - Individual, na nova residência do artista, na Rua Presidente Domiciano
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na sede do Grêmio de Letras e Artes do Rio de Janeiro
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Insley Pacheco
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Arthur Napoleão
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na sede do jornal A Cidade do Rio
1888 - Veneza (Itália) - Individual, na Sociedade Veneziana
1889 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Arthur Napoleão
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégant
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Atelier Moderno
1893 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1894 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1895 - Campinas SP - Individual
1895 - Niterói RJ - Individual, na nova residência do artista, na Rua Tiradentes
1896 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1901 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista
1901 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Salão Nobre da Confeitaria Pascoal
1902 - Santos SP - Individual
1904 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista
1905 - Belém PA - Individual, no Teatro da Paz
1905 - Manaus AM - Individual, no Palácio Rio Negro
1909 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Associação dos Empregados do Comércio
1911 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Associação dos Empregados do Comércio
1917 - Recife PE - Individual
1917 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1919 - Paris (França) - Individual, no Petit Palais
1921 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1927 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1928 - Salvador BA - Individual, no Palácio Rio Branco
1929 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Jorge
1931 - Recife PE - Individual, no Teatro Santa Isabel
1932 - Niterói RJ - Individual, no Salão Nobre da Companhia Cantareira
1932 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1933 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Stoppel
Exposições Coletivas
1887 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras, Castagento e Henrique Bernardelli, no Grêmio de Letras e Artes
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - pequena medalha de ouro e prêmio aquisição
1892 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, no Salão do jornal A Província
1893 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, no jornal A Cidade do Rio
1893 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1895 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, na Biblioteca Fluminense
1895 - São Paulo SP - Salão da Paulicéia
1896 - Niterói RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, na residência do artista localizada na Rua Tiradentes
1896 - Rio de Janeiro RJ - Antonio Parreiras, Alberto Silva, Cândido de Souza Campos e Álvaro Cantanheda, no Pavilhão da Lapa
1897 - Rio de Janeiro RJ - Exposião dos Alunos da Escola do Ar Livre, na Biblioteca Fluminense
1909 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1910 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1911 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1911 - São Paulo SP - Primeira Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios
1912 - São Paulo SP - Segunda Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios
1913 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1914 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1915 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras e Dakir Parreiras, na Enba
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de ouro
1919 - Niterói RJ - Exposição Comemeorativa do Centenário de Fundação da Vila Real de Praia Grande, no Salão da Companhia Cantareira
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1920 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1921 - Rio de Janeiro RJ - 28ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de honra
1922 - Rio de Janeiro RJ - Exposição do Centenário da Independência - grande medalha
1923 - Rio de Janeiro RJ - 30ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de honra
1927 - Rio de Janeiro RJ - 34ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1929 - Barcelona (Espanha) - Exposição Universal de Barcelona - medalha de ouro
1929 - Rio de Janeiro RJ - 36ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1929 - Sevilha (Espanha) - Exposição Ibero-Americana de Sevilha - medalha de ouro
1930 - Rio de Janeiro RJ - 37ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1934 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão do Núcleo Bernardelli, na Enba
1936 - Rio de Janeiro RJ - Sociedade Sul-Rio-Grandense
1937 - Rio de Janeiro RJ - 43º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
Exposições Póstumas
1940 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos, na Prefeitura Municipal de São Paulo
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1954 - São Paulo SP - 19ª Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA
1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1981 - Niterói RJ - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, no Museu Histórico do Estado do Rio de Janeiro
1981 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, no Acervo Galeria de Arte
1981 - São Paulo SP - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, na Pinacoteca do Estado
1983 - São Paulo SP - Projeto Releitura, na Pinacoteca do Estado
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado
1986 - São Paulo SP - Tempo de Madureza, na Ranulpho Galeria de Arte
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural Unifor
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis, no CCBB
1989 - São Paulo SP - Pintura Brasil Século XIX: obras do acervo Banco Itaú, na Itaugaleria
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, na CCBB
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Museu Naval e Oceanográfico
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - São Paulo: de vila a metrópole, na Galeria Masp Prestes Maia
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2004 - Curitiba PR - A Paisagem Paranaense e seus Pintores, na Casa Andrade Muricy
Fonte: ANTÔNIO Parreiras. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 23 de maio de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Antônio Parreiras | Arte em Foco
Antônio Parreiras iniciou sua carreira pintando paisagens. Adotou esse tema por ser um dos seguidores do alemão Johan Georg Grimm, que passou pelo Brasil no final do século XIX e implantou por aqui, por assim dizer, um gosto para a representação de nossas cenas. Para o Grupo dos Irmãos Grimm; como ficou conhecido esse movimento; a natureza fornecia uma fonte constante de estudos e precisava ser contemplada e explorada em toda sua integridade. E mesmo que a paisagem ainda fosse um tema secundário, relegado ao fundo das composições, principalmente históricas, foi com esse motivo que Parreiras montou sua primeira exposição, em 27 de maio de 1886.
A exposição teria sido um fracasso, não fosse um único detalhe, a visita ilustre de D. Pedro II, que fez do evento um dos grandes sucessos da época. Porém, Parreiras não se limitou a esse tema, mesmo que a exposição inicial lhe tivesse aberto um caminho favorável para comercializá-lo. Influenciado por Victor Meirelles, adotou também a pintura de cenas históricas. Sempre realizadas em grandes formatos, com a utilização de muitas figuras em suas composições e procurando sempre realçar fatos e heróis regionais.
Uma de suas mais bem sucedidas encomendas foi a tela A Conquista do Amazonas, feita pelo governador do Pará, Augusto Montenegro. Tendo 4 metros de altura por 8 metros de comprimento, ainda é a maior pintura do estado do Pará, localizada no Palácio Lauro Sodré. Belém era, naquela época, uma próspera cidade, por onde escoava toda a riqueza retirada dos seringais da Amazônia. Parreiras fez enorme sucesso por lá, vendendo diversos trabalhos aos novos ricos da região.
Diversas literaturas nos mostram um Parreiras impetuoso, de fácil irritabilidade e muito genioso. São narradas várias desavenças suas, com artistas de sua época. Um exemplo disso foi o abandono da Academia de Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, para frequentar um curso livre de pintura, ministrado por Georg Grimm. Não acompanhou seu mestre na viagem pelo interior do Brasil, seguindo seus estudos de forma autodidata até 1885. Só em 1888, quando viaja à Europa, é que aperfeiçoa sua técnica na Academia de Belas Artes de Veneza.
Voltando ao Brasil em 1890, tem a oportunidade de colocar em prática um grande sonho: ao se tornar professor de pinturas de paisagens na Escola Nacional de Belas Artes, leva seus alunos para pintarem ao ar livre, recordando os velhos ensinamentos de Grimm. Desavenças com aquela instituição, por causa dessa sua prática, levam-no a abandonar o cargo e lecionar por conta própria. Em Teresópolis, fez vários estudos de matas e montanhas.
Parreiras sempre foi muito batalhador e com uma capacidade de trabalho admirável. Tido como um dos mais bem sucedidos pintores brasileiros de sua época, viveu dignamente de seu trabalho, fazendo riqueza e vivendo em confortável situação financeira. Viajava sempre ao exterior e possuía, além do ateliê em Niterói, um outro ateliê em Paris. Lá, participou do Grande Salão por várias vezes.
Era comumente requisitado para pintura de palácios de governo, sendo de destaque o teto do Salão Nobre do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Também dedicou à pintura de nus femininos, que lhe rendeu bastante prestígio, pela sensualidade que evocava de suas cenas. Em 1926, publicou História de um pintor contada por ele mesmo, autobiografia que lhe marcou a entrada para a Academia Fluminense de Letras.
Após sua morte, sua casa foi transformada no Museu Antônio Parreiras.
Fonte: Arte em Foco, "Antônio Parreiras", escrito por José Rosário, publicado em 19 de fevereiro de 2012. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Museu Antônio Parreiras | Wikipédia
O Museu Antônio Parreiras (MAP) é um museu dedicado à preservação da memória e da obra de Antônio Parreiras (1860-1937), um dos maiores pintores brasileiros. Localiza-se na Rua Tiradentes, no bairro do Ingá, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. É um museu estadual, subordinado à Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro, órgão da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. Sua área total cobre 5 mil metros quadrados.
História
A antiga residência de Parreiras é um casarão projetado por Ramos de Azevedo e construído em 1894. É uma das mais importantes edificações na Região Metropolitana do Rio de Janeiro que foram projetadas pelo arquiteto eclético que se notabilizou em São Paulo.
O museu foi inaugurado em 21 de janeiro de 1942 e ocupa três prédios que pertenceram ao pintor e à sua família: sua antiga residência; seu ateliê e residência de seu filho Dakir (1894-1967); e a residência da sua filha Olga. Na sua antiga residência, foram instaladas as salas de exposição e a administração do museu. Em seu ateliê, erguido em 1912, estão outras salas de exposição. A casa de sua filha foi adaptada como reserva técnica.
O museu foi tombado em 1967 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O jardim de 4 mil metros quadrados, incluído no tombamento, foi desenhado e plantado pelo artista.
Acervo
O acervo do MAP permite observar dois aspectos importantes da contribuição de Parreiras à história da cultura do Brasil: sua interpretação impressionista do ambiente brasileiro e sua atitude moderna antes do modernismo.
Antônio Parreiras foi um paisagista exímio. Captou a luz do ar livre (o plein air dos franceses). Nisso, sua tarefa foi converter a luz do Brasil em cor. Pintor que viajava, suas andanças pelo Brasil acabaram por esboçar a vontade de produzir uma pintura que totalizasse a visão do país.
O acervo do museu é composto por mais de 2 000 itens e é dividido em acervo artístico e não artístico:
No acervo artístico:
Coleção Antônio Parreiras, com pinturas e desenhos realizados entre 1883 e 1937;
Coleção de Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX, com obras de pintores como Georg Grimm, Nicolau Antonio Facchinetti (1824-1900), Eliseu Visconti (1866-1944), Henrique Cavalleiro (1892-1975), Georgina de Albuquerque (1885-1962) e outros;
Coleção de Arte Estrangeira, com obras europeias que pertenceram ao artista e à coleção de Alberto Lamego, onde se destacam pinturas flamengas, francesas e italianas dos séculos XVI e XVII.
No acervo não artístico:
Objetos pessoais de Antônio Parreiras, com paletas, pincéis, cavaletes, caixa de tintas, mobiliário, documentos, manuscritos, fotografias, negativos em vidro e uma pequena biblioteca.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Grupo Grimm | Itaú Cultural
Entre os anos de 1884 e 1886 um grupo de sete jovens artistas encontra-se regularmente para pintar nas praias e arredores da cidade de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, sob orientação do artista alemão Georg Grimm (1846 - 1887). O grupo, posteriormente conhecido como "Grupo Grimm", é formado pelos pintores Antônio Parreiras (1860 - 1937), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), França Júnior (1838 - 1890), Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892) e o pintor alemão Thomas Driendl (1849 - 1916), que por vezes substitui o mestre. Sua atuação caracteriza-se pela pintura de paisagem ao ar livre e tem origem na própria Academia Imperial de Belas Artes - Aiba do Rio de Janeiro. Georg Grimm, pintor bávaro que chega ao Brasil no final dos anos 1870 do século XIX, após cursar a Academia de Munique, é um dos motivadores da valorização da pintura de paisagem como gênero autônomo e incentivador da pintura de observação direta da natureza na história da arte brasileira.
Em 1882, Grimm conhece um relativo sucesso no meio artístico carioca com uma exposição de 128 quadros de sua autoria. Suas vistas de cores fortes e luminosas de diversas partes do mundo logo causam impacto num ambiente acanhado, acostumado com as tintas pálidas da maior parte dos paisagistas da época. O artista é então convidado, por membros da família imperial e a contragosto da Aiba, a ocupar a cadeira de "paisagem, flores e animais", em substituição a Victor Meirelles (1832 - 1903) e Zeferino da Costa (1840 - 1915). A primeira providência do mestre é ministrar suas aulas fora dos recintos da instituição. Até então, a pintura de paisagem é realizada dentro do ateliê, assim como a pintura histórica. Grimm exige que seus alunos pintem a partir do estudo exaustivo do motivo in loco, pois apenas dessa forma é possível evitar ou minimizar a ação dos modelos estéticos consagrados pelo ensino oficial, liberando o olho do artista para a percepção e expressão naturalista da paisagem.
Passa a trabalhar com seus alunos nos recantos que escolhia, em plena natureza, o que não foi aceito pela Aiba. Em 1884, tanto Grimm como Caron, Castagneto, Driendl, França Júnior e Garcia y Vasquez são premiados na Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro. Contudo, a incompatibilidade entre seu método de ensino e o empregado pelo ensino oficial faz com que o artista não renove seu contrato. Muda-se para Niterói e ministra suas aulas ao ar livre. Os alunos o seguem, abandonando a vida escolar.
Apesar do viés naturalista da produção de Grimm, nota-se que suas pinturas atestam os resquícios de uma formação rígida, muitas vezes limitada pelos padrões que gostaria de abolir. Em seus quadros a carência de emotividade é compensada pela reprodução fiel e detalhista de todos os aspectos da paisagem. Neste sentido, talvez sua importância seja maior como professor do que como artista. Entre seus alunos, destacam-se Castagneto e Parreiras. Garcia y Vasquez é o melhor paisagista na opinião do mestre. Contudo sua produção é limitada por períodos de instabilidade emocional que levam ao suicídio do artista. Nota-se que no início todos, inclusive Castagneto, foram extremamente influenciados pela obra do mestre, a ponto do crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911) comentar que "foram sete discípulos que, pela maneira de sentir e interpretar a natureza, pela maneira de traçar e usar das tintas, deram sete Grimms".
Sobre as conseqüências da atuação de Grimm, considera-se que a mais importante é ter chamado a atenção para a pintura de paisagem. Sobre seus métodos de ensino, parece que a Aiba esperaria ainda vários anos para passar por um processo de renovação. Aliás, como observa o historiador Quirino Campofiorito (1902 - 1993), o ensino de paisagem foi extinto em 1890, posto que os professores se negavam a levar os alunos a trabalhar ao ar livre. O grupo de Niterói se dispersa por volta de 1886 quando o mestre se muda para Teresópolis. Caron, Castagneto e Garcia y Vasquez passam uma temporada na Europa que serve para deixar seus trabalhos mais comportados do que propriamente levá-los ao impressionismo. Ao que tudo indica, eles não tiveram contato com os impressionistas em suas estadas européias, preferindo o ateliê de pintores mais acadêmicos como o pintor francês Hector Hanoteau (1823 - 1890). Castagneto, o que parece ir mais longe na busca pela expressão livre da paisagem, sobretudo marinhas, parece não fazer discípulos na época. Parreiras, o mais bem-sucedido do grupo, dedica-se às pinturas históricas e de nus já como professor da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Retorna à paisagem e a potência dos primeiros trabalhos só no final dos anos 1930 do século XX.
Fonte: GRUPO Grimm. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 23 de maio de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
Antônio Diogo da Silva Parreiras (Rio de Janeiro, Niterói, 20 de janeiro de 1860 — Idem, 17 de outubro de 1937), mais conhecido como Antônio Parreiras, foi um pintor, desenhista, ilustrador, escritor e professor brasileiro. Estudou na Academia Imperial de Belas Artes, Parreiras buscou aprimorar-se de forma autodidata e posteriormente na Europa, absorvendo influências do naturalismo e impressionismo. Seu trabalho destacou-se pelo uso magistral da luz e cor, refletindo a beleza natural do Brasil, onde pintou florestas, campos e cenas costeiras. Reconhecido por suas paisagens deslumbrantes e composições históricas. Contribuiu significativamente para a educação artística no Brasil, fundando uma escola de arte em Niterói e influenciando novas gerações de artistas. Suas obras foram amplamente reconhecidas, e ele recebeu diversas encomendas para pinturas históricas, consolidando sua importância no cenário artístico nacional. O Museu Antônio Parreiras, em Niterói, preserva e celebra seu legado, abrigando uma vasta coleção de suas obras e mantendo viva sua contribuição à arte brasileira.
Biografia Antônio Parreiras | Arremate Arte
Antônio Parreiras, nascido em 20 de janeiro de 1860, em Niterói, Rio de Janeiro, e falecido na mesma cidade em 17 de outubro de 1937, foi um renomado pintor e desenhista brasileiro, destacado principalmente por suas paisagens e composições históricas.
Estudou na Academia Imperial de Belas Artes, optou por seguir um caminho autodidata e, posteriormente, aperfeiçoou-se na Itália e na França, onde absorveu influências do naturalismo e do impressionismo. Seu trabalho é conhecido pelo uso magistral da luz e cor, refletindo a beleza das paisagens brasileiras em florestas, campos e cenas litorâneas.
Além de suas contribuições como artista, Parreiras foi um importante educador, fundando uma escola de arte em Niterói e influenciando novas gerações de artistas brasileiros.
Suas obras receberam amplo reconhecimento, como e ele foi frequentemente comissionado para criar pinturas históricas, solidificando seu prestígio no cenário artístico nacional.
O legado de Antônio Parreiras é preservado no Museu Antônio Parreiras em Niterói, que abriga uma extensa coleção de suas obras e continua a celebrar sua influência na arte brasileira.
Parreiras é lembrado como um mestre que capturou a essência da paisagem brasileira e contribuiu significativamente para o desenvolvimento da pintura no Brasil.
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Biografia Antônio Parreiras | Wikipédia
Suas pinturas paisagistas podem ser consideradas como representação de paisagens e momentos, acontecimentos considerados sublimes. Parreiras abordava a natureza com olhos de artista, sentindo-a com a emoção que causa a quem pessoalmente presencia o que retrata. Tinha o desejo de interpretar a natureza quando esta ainda parecia ter sido intocada.
Acredita-se que, para além de cumprir contratos — Parreiras tem obras espalhadas por importantíssimas edificações públicas —, o pintor tenha imprimido em seus quadros sua visão sobre a história nacional. Hoje, suas obras históricas podem, em sua maioria, ser encontradas nos museus de arte e história do Brasil afora ou até mesmo na decoração de algumas das sedes de governo do país. Para São Paulo, foram duas as obras encomendadas: o Salão Nobre da Câmara Municipal e o Gabinete do Prefeito têm obras de Antônio Parreiras como objetos decorativos.
Biografia
Nascido em Niterói em um momento em que a produção intelectual no Brasil passava por fortes influências de debates europeus, em seus vários textos redigidos, deu força a um discurso heroico quando referia-se à classe média, de onde veio. No entanto, após a morte de seu pai, foi à falência. Foram várias as experiências sem sucesso até que, em 1883, matriculou-se na Academia Imperial. Ingressar no universo artístico aos 23 anos de idade era considerado tarde para a época. Mas o artista não titubeou em abandonar o posto de escriturário na Companhia Leopoldina, em Nova Friburgo, para fazer o que, desde a infância parecia ter sido direcionado pelo destino a fazer.
Em trechos de sua biografia, Antônio Parreiras seleciona muito bem as memórias que pretende contar a fim de construir uma lembrança ao leitor em que todas as suas vivências conspiram à elaboração de um futuro específico ao qual, por toda a vida, fora destinado. "Não parava em casa. Tinha horror aos livros e só me interessavam aqueles em que haviam gravuras" e "Eis aí que conheci o primeiro pintor e o primeiro poeta. Eis como em minha alma, pela primeira vez, penetrou um raio de luz... a primeira emoção de Arte. Foi vendo um pintar, ouvindo o outro ler poesias, que deparei com a estrada ainda não vislumbrada, porém que devia trilhar em toda a minha longa existência. Abençoados sejam!" são alguns exemplos.
Ruptura com a Academia
Insatisfeito, em 1884, deixou de fazer parte da Academia para pintar d'après nature na cidade de Niterói junto ao núcleo formado pela inspiração do pintor alemão Georg Grimm. Este, formado em Munique, chegou ao Brasil em 1874 e foi descrito por Parreiras em sua autobiografia como "extremamente bondoso para com os pequenos, altivo e arrogante, violento até para os grandes". Influenciado pelos ares alemães de Grimm, pintar paisagens ao livre, romper com as instituições da academia era uma opção de vida a Parreiras.
Quando não fazia mais parte da Academia, o pintor preferiu seguir por rumos alternativos e então passou a organizar exposições próprias, grande maioria delas acontecia dentro de sua própria casa, em Niterói. Acredita-se que a arte de vender suas próprias produções tenha sido mais uma das muitas influências da convivência com os ideais de Grimm. A venda de suas pinturas obedecia uma filosofia comunitarista, em que os ganhos de todos sustentavam a compra de mantimentos e materiais de trabalho para uso comum.
1886 foi um ano em que uma de suas exposições próprias recebeu uma importante visita que seria fundamental para o reconhecimento de Antônio Parreiras como artista e, principalmente, pintor. Dom Pedro II não só visitou a exposição do paisagista niteroiense, mas também adquiriu duas obras do pintor. Como lamenta em sua autobiografia, esta não era uma época em que o pintor tinha dinheiro, muito menos fama. Entretanto, permanecia com ambição de ir à Europa dar continuidade a seus estudos. Foi então que, com base em acordos, conseguiu a venda de algumas de suas obras à Academia, em troca de que, quando retornasse ao Brasil, lecionasse algumas aulas sem a necessidade de receber salário. Já na França, Parreiras conseguiu montar seu próprio ateliê para divulgação de seu trabalho e, quando voltou, cumpriu o acordo e tornou-se professor de paisagem na Academia.
Passou vários anos vividos entre Brasil e França, realizando exposições, executando encomendas oficiais para edifícios públicos e participando de salões de arte. Parreiras chegou a vender a tela "Sertanejas" para decorar o Palácio do Catete e, entre outros, também realizou painéis para ornar a sede do Supremo Tribunal Federal. Ganhando prêmios, Antônio Parreiras não só foi o segundo pintor brasileiro a expor no Salão de Paris e nomeado delegado da Sociedade Nacional de Belas-Artes, em 1911, mas também experimentou seus últimos anos de vida sendo reconhecido também no âmbito intelectual. Não só fez história e nome no mundo da pintura, mas também deixou sua marca no campo das letras. Pôde, então, experienciar diversos formatos de reconhecimento público.
Sucesso
O sucesso de Parreiras é, para muitos, motivo de estudo e análise profunda. Principalmente por sua inserção no embrionário mercado de artes que se formava entre os século XIX e XX no Brasil. O pintor, por boa parte de sua vida, obteve sustento proveniente da venda de suas obras, num momento em que o mercado de arte ainda era instável e incipiente.
Em 1927, Antônio Parreiras participou da inauguração de um busto em sua homenagem, esculpido em bronze pelo francês Marc Robert e exposto no Jardim Icaraí, atual praça Getúlio Vargas, em Icaraí, em Niterói.
Em sua carreira, pode-se dizer que Antônio Parreiras expressou o romantismo, ainda que de forma tardia, em "sua forma de procurar um lugar no mundo". Considerava-se ser um indivíduo autônomo, que manifestava um forte desejo de mudança social no âmbito hierárquico, o que o impedia de ascender e ter reconhecimento como sujeito, artista e criador.
Grande parte de sua vida adulta foi passada num período de nacionalismo exacerbado e grande exaltação patriótica, o que explica um discurso abrangente em tais elementos e uma repercussão dele projetada no âmbito artístico de Antônio Parreiras. Em um de seus vários discursos na Academia Fluminense de Letras, o pintor afirmava que o grande valor dado à arte europeia pela academia e pelos poucos críticos, dificultou o desenvolvimento de uma arte nacional. O paisagista afirma ainda que, no período que circunda a década de 1880, artistas eram socialmente mal vistos, pois no Brasil a profissão era vista como "fator de civilização", uma importante filosofia decorrida do iluminismo, que prega a ideia de que a arte poderia melhorar a humanidade, civilizando-a.
Segundo ele próprio, ao longo de aproximadamente 55 anos, realizou mais de 850 pinturas, das quais 720 foram criadas em solo brasileiro, tendo feito 39 exposições no Rio de Janeiro e em vários outros estados do Brasil.
Autobiografias
A primeira biografia de Antônio Parreiras foi publicada no ano de 1926 e financiada por ele próprio.
No exemplar disponível no museu do pintor, pode-se verificar que a obra conta com encadernação cuidadosa, possui capa em papel firme azulado de efeito mármore, sem identificação qualquer sobre do que trata. De acordo com a editora fluminense Tipografia Dias, Vasconcelos e C., pela qual a biografia fora publicada, são 131 páginas de texto escrito, 21 ilustrações, uma fotografia da fachada de sua casa e uma fotografia de seu ateliê.
Pode-se afirmar que a grande maioria das críticas referentes ao livro foram positivas. A primeira delas aparece no Jornal do Brasil, no dia 27 de novembro de 1926. Esta não só recomenda a leitura da autobiografia de Antônio Parreiras por seu conteúdo, mas também pela forma como foi estilosamente escrita, com fluidez. Em outro texto crítico sobre a obra, Mario Sette, para o Diário de Pernambuco, destacou, entre outros aspectos, a percepção do autor como artista que, embora tenha viajado com frequência, manteve-se consciente de seu lugar de origem. "Não se tornou pedante, nem um derrotista. Ao contrário, aprendeu ainda mais a amar a sua pátria, reconhecendo-lhes os méritos em confronto com os alheios". Outros críticos optaram por traçar uma analogia entre o ato de pintar e o de escrever, enaltecendo as habilidades do artista em ambas as funções, principalmente em seu viés paisagista.
A segunda edição de sua história contada por ele mesmo foi publicada em 1943, após o seu falecimento, e financiada pelo governador do estado do Rio de Janeiro, diferentemente do que propõe seu testamento, que os custos desta publicação fossem pagos pelo dinheiro arrecadado pela venda de suas medalhas de ouro e alguns quadros, caso houvesse necessidade.
Nela, o artista descreve algumas referências de exposições promovidas em sua homenagem, tal como a de comemoração pelos 50 anos de seu ingresso à Academia Imperial de Belas Artes, em Niterói. "Cerca de dez mil pessoas visitaram. Foi inaugurada por uma comissão eleita pela Sociedade Brasileira de Belas Artes que me fez a entrega de uma mensagem admiravelmente aquarelada pelo meu colega Armando Viana e assinada por diversos artistas". Parreiras conta também sobre a mudança do nome da rua Boa Viagem, onde chegou a morar com alguns colegas do grupo Grimm, para rua Antônio Parreiras, por sugestão dos membros do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga.
Obras pictóricas
Jornada dos Mártires
Partindo do princípio em que "toda imagem conta uma história", estudiosos veem, em "Jornada dos Mártires", de Antônio Parreiras, referência à história da Inconfidência Mineira. O episódio foi marcado por um levante contra a ordem colonial, ameaçando o poder e a autoridade da Coroa Portuguesa. Quando descobertos, os inconfidentes foram presos em Vila Rica, no ano de 1789, e de lá seguiram para a cidade do Rio de Janeiro, onde posteriormente seriam julgados. Durante este trajeto, os prisioneiros pernoitaram na fazenda Soledade, do coronel Manuel do Valle Amado. O momento retratado por Parreiras nesta obra é justamente o da partida dos inconfidentes desta fazenda, rumo à cidade do Rio de Janeiro.
Apesar de o quadro não fazer nenhuma menção direta à Inconfidência Mineira, o tema dificilmente seria identificado apenas sob a observação da tela, sem mais informações. O que pode ser visto na obra não são os inconfidentes como heróis ou homens valentes e vencedores, Parreiras representa apenas o fim de um movimento sem sucesso, cujos integrantes estão prestes a pagar o preço de sua revolta com sua liberdade. Ao mesmo tempo, faz questão de ressaltar a firmeza, a coragem e a convicção dos "revoltosos". Ainda que não os pinte como heróis, transmite, através deles, uma lição de patriotismo e civismo.
Observando a obra sobre um viés crítico-artístico, apenas, é importante recordar que Antônio Parreiras é, principalmente, reconhecido por suas obras de paisagem, tendo sido aluno de George Grimm, pintor alemão que fez escola no Brasil dentro do gênero. Portanto, não nos causa espanto observar que a paisagem da obra ocupa cerca de dois terços do espaço utilizado para retratar parte do percurso dos inconfidentes mineiros.
Sertanejas
Sob um desejo constante de interpretar a natureza de forma a sentir a emoção que ela causa, a obra "Sertanejas" resgata o sentido rousseauniano de que a natureza é mais bela do que a paisagem, por ser livre de qualquer intervenção do homem. A paisagem, segundo Shamma, "é a cultura antes de ser natureza; um construto da imaginação projetado sobre a mata, rocha, água". A obra retrata um túnel florestal primevo na Serra do Mar. Encerrado por um denso arvoredo, onde frestas de luz timidamente iluminam borboletas, que adejam sobre singelas flores tropicais que medram no chão úmido.
Fundação de Niterói
Na obra ''Fundação de Niterói'' de 1909, Parreiras tem como figura principal Arariboia e o trata com especial cuidado. O autor tem como característica marcante o cuidado na pesquisa daqueles que está pintando, quer dizer, evitando reproduzir estereótipos que, até então, eram tratados os indígenas, por exemplo como observadores inscientes e selvagens. Nesse contexto, a pintura figura em primeiro plano Arariboia e outras duas indígenas no espaço central, com seus corpos fortes e traços detalhados. Além disso, Arariboia está em pé e de braços cruzados com a cruz erguida em segundo plano, ou seja, em uma posição questionadora ao invés do estereótipo de simples observador.
Paisagem do Campo do Ipiranga
O quadro intitulado Paisagem do Campo do Ipiranga foi pintado em óleo sobre tela por Antônio Parreiras no ano de 1893. Com dimensões de um metro de altura por 1,48 metro de largura, retrata uma paisagem que contém o antigo Museu do Ipiranga ao fundo.
Contrastando com o céu azul claro repleto de nuvens brancas esfumaçadas na diagonal, o quadro mostra, num primeiro plano, um grande campo de terra marrom-avermelhada, em partes, desmatado. Há uma cerca que divide o território e segue em linha reta, dando noção de profundidade à imagem. Ao fundo, onde a cerca parece chegar ao fim, se aproxima das imediações de um grande casarão branco posicionado ao lado esquerdo do quadro. Próximo a ele, as vegetações são mais altas e têm coloração verde-escura. É deste mesmo espaço do casarão branco que, ao lado direito da tela, um pequeno morro dá uma terceira dimensão à imagem. Neste pequeno morro, está o monumento de cor bege-clara, um pouco amarelada, antigamente denominado de Museu do Ipiranga.
Paisagem do Campo do Ipiranga é uma obra que foi executada na ocasião da primeira visita artística do pintor à cidade de São Paulo. Com ele, Parreiras teve a pretensão de ingressar na recém-inaugurada galeria de arte do Museu Paulista.
Museu Antônio Parreiras
O Museu Antônio Parreiras é a antiga residência do pintor. Trata-se de um casarão projetado por Ramos de Azevedo. Inaugurado no dia 21 de janeiro de 1942, hoje pode ser considerada uma das mais importantes edificações históricas e culturais do estado do Rio de Janeiro.
Embora Antônio Parreiras nunca tenha deixado explícito o desejo de ter sua própria casa transformada em museu, estudiosos veem preocupação breve em constituir e consolidar algo que remeta à sua memória no seguinte trecho de seu testamento:
“ao meu querido amigo e afilhado Athayde Parreiras deixo o encargo de fazer publicar a segunda edição do meu livro Histórias de um pintor contada por ele mesmo. Para pagar as despesas desta publicação serão vendidas as minhas medalhas de ouro e alguns quadros se ainda for necessário. Esses livros serão distribuídos em primeiro lugar por todas as bibliotecas, arquivos e institutos públicos, o que restar vendidos e o produto desta venda será entregue à Sociedade de Cegos de Niterói, da qual sou sócio.”
Críticas a Aleijadinho
Em um de seus vários discursos na Academia Fluminense de Letras, Antônio Parreiras criticou a arte do escultor mineiro Aleijadinho. No início de seu discurso, publicado na revista da Academia, o pintor diz não aceitar o que é qualificado como "estilo colonial", por julgar impossível que, em um meio onde "predominavam a ignorância e as aspirações puramente materiais" dos tempos coloniais, "no meio de selvas", referindo-se à região de Minas Gerais, houvesse alguma preocupação de construção de um estilo arquitetônico.
Sob uma perspectiva determinista, o acadêmico Parreiras encarna profunda descrença na capacidade de transcendência da obra de Aleijadinho. Para ele, tal artista esteve preso demais às realidades de suas esculturas e, por tal motivo, não pôde transcendê-las, nem contextualizá-las no âmbito da divindade, quando se trata de criações de tema religiosos. Para o pintor, Aleijadinho fazia parte do grupo de artistas que não interpretava, mas simplesmente retratava tudo o que via na natureza. Antônio Parreiras nominou as obras do escultor mineiro de tentativas de reprodução da realidade como inúteis, pois lhe faltava técnica, estética e visão de arte; o que seria inato ao artista por viver em um meio que não favorecia o desenvolvimento de seu talento.
Prêmios recebidos
Medalha de Ouro (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Medalha de Honra (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Grande Medalha (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Medalha de Ouro (Exposição Universal de Barcelona, Espanha, 1929)
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Biografia Antônio Parreiras | Itaú Cultural
Antônio Diogo da Silva Parreiras (Niterói, Rio de Janeiro, 1860 - Niterói, Rio de Janeiro, 1937). Pintor, desenhista e ilustrador. Inicia estudos artísticos como aluno livre na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, no Rio de Janeiro, em 1883, onde permanece até meados de 1884. Neste período frequentou as aulas de paisagem, flores e animais, disciplina ministrada por Georg Grimm (1846 - 1887). Por discordar do ensino oferecido, desliga-se da Aiba e segue seu antigo professor, passando a integrar o Grupo Grimm ao lado de Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), entre outros, dedicando-se à pintura ao ar livre. Em 1888, viaja para a Itália e durante dois anos frequenta a Accademia di Belle Arti di Venezia [Academia de Belas Artes de Veneza], tornando-se discípulo de Filippo Carcano (1840 - 1910). De volta ao Brasil, em 1890, dá aulas de paisagem na Aiba, mas após dois meses de seu ingresso, desliga-se da instituição por discordar da reforma curricular promovida em novembro daquele ano. No ano seguinte, fundou a Escola do Ar Livre, em Niterói, Rio de Janeiro. De 1906 a 1919 viaja frequentemente a Paris, onde mantém ateliê. Recebe, em 1911, o título de delegado da Sociéte Nationale des Beaux Arts, raramente concedido a estrangeiros. Em 1926, lança seu livro autobiográfico História de um Pintor Contada por Ele Mesmo, com o qual ingressa na Academia Fluminense de Letras. Fundou o Salão Fluminense de Belas Artes, em Niterói, em 1929. Em 1941, sua casa-ateliê, na mesma cidade, é transformada no Museu Antônio Parreiras, com o objetivo de preservar e divulgar sua obra.
Análise
O pintor e desenhista Antônio Parreiras ingressou na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba em 1883, primeiro como aluno livre e depois como aluno regular. No período em que frequentou a escola, dedicou-se sobretudo às aulas de pintura de paisagem, flores e animais, com o pintor alemão Georg Grimm (1846 - 1887). O professor estimula os alunos a pintar fora dos ateliês da academia. Em 1884, Grimm se desliga da instituição, e seus alunos mais próximos, entre eles Parreiras, Caron (1862 - 1892), Castagneto (1851 - 1900), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912) e Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), o acompanham. Grimm dá aulas de pintura ao ar livre ao grupo - que seria conhecido como Grupo Grimm - na região de Boa Viagem, em Niterói, Rio de Janeiro. O coletivo representa uma renovação na pintura de paisagem brasileira. Trata o tema com autonomia, foge dos modelos acadêmicos e procura a especificidade do panorama natural brasileiro, com base na observação direta da natureza.
Em 1885, Parreiras realiza suas primeiras exposições, nas quais mostra as paisagens que fez durante as expedições do Grupo Grimm. Com a desarticulação do coletivo, o artista prossegue o aprendizado como autodidata. No ano seguinte, excursiona com o pintor Pinto Bandeira (1863 - 1896) pela serra de Petrópolis, Rio de Janeiro. Lá, realiza paisagens em que o céu é pintado de maneira encrespada, a atmosfera é carregada e a vegetação, selvagem. A partir daí, sua pincelada torna-se mais espessa e seus temas, mais dramáticos. Parreiras pinta cenas em que a natureza aparece com força incontrolável. Essas pinturas obtêm sucesso crescente. Em 1886 o imperador Dom Pedro II (1825 - 1891) adquire o quadro Foz do Rio Icarahy (1885), e no ano seguinte a Aiba compra as telas A Tarde e O Rio de Janeiro Depois da Tempestade.
Esse reconhecimento permite que o artista viaje à Europa em 1888. Desembarca no porto de Gênova e depois de estabelecer-se por um curto período em Roma, fixa residência na cidade de Veneza, matriculando-se como aluno livre da Accademia di Belle Arti di Venezia onde estuda por dois anos, tendo aulas com o professor Filippo Carrano (1840 - 1910). Por meio deste contato Parreiras se entusiasma com a possibilidade de pintar a natureza em mutação, figurando processos efêmeros, como as transformações produzidas pela neblina e pela mudança das condições atmosféricas na paisagem. Suas telas tornam-se mais cheias de figuras e com a pasta de tinta ainda mais espessa. O artista se aproxima de técnicas impressionistas da pintura italiana. É na temporada européia que ele começa a interessar-se pela figura humana e toma contato com a poesia clássica.
Em seu retorno ao Brasil, em 1890, Parreiras é nomeado professor interino da cadeira de paisagem da Aiba, permanecendo no cargo por apenas dois meses. Nesse mesmo ano, a reforma curricular proposta por Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Rodolfo Amoedo (1857 - 1941) extingue a disciplina de paisagem e altera o nome da instituição para Escola Nacional de Belas Artes - Enba. No ano seguinte, Parreiras passa a lecionar na Escola do Ar Livre, por ele fundada, em Niterói, com orientação contrária à do ensino oficial. Mantém contato direto com a paisagem e se dedica a capturar a especificidade da paisagem brasileira. Por volta de 1894, suas pinturas se tornam mais claras, demonstrando interesse pela luminosidade tipicamente nacional. Na pintura Sertanejas (1896), aproxima-se da natureza virgem e distante da presença do homem. Nesse trabalho o pintor pretende figurar o vigor de uma flora intocada e tipicamente brasileira, descoberta em seus estudos em expedição nas matas de Teresópolis, Rio de Janeiro.
Entre o fim do século XIX e o início do século XX, Parreiras torna-se um artista consagrado. Ele amplia o leque de temas e deixa de dedicar-se exclusivamente às paisagens. A partir de 1899, recebe encomendas de execução de painéis em alguns palácios e prédios públicos. Incentivado por Victor Meirelles (1832 - 1903), executa pinturas de cenas históricas para o poder público. Entre elas se destacam Proclamação da República, Morte de Estácio de Sá e Prisão de Tiradentes, trabalhos que aumentam sua notoriedade no Brasil. O sucesso lhe proporciona uma vida mais confortável. A partir de 1906, Parreiras vive entre Paris e Niterói. Mantém ateliê na França, onde trabalha e expõe com regularidade. Em 1909, mostra seu trabalho com nu feminino Fantasia, no Salon de la Societé National des Beaux Arts. A repercussão é muito positiva, e esse gênero de pintura se torna um dos principais filões de sua produção. Parreiras é eleito, pelos leitores da Revista Fon Fon, o maior pintor brasileiro vivo em 1925. O artista faleceu em 1937, em Niterói.
Críticas
"A mão corria-lhe febril, empastava a tela, acusava unicamente a forma fruste das coisas. Essa maneira, que o caracterizou, só nos últimos tempos foi atenuada e melhorada pela longa prática do trabalho. A princípio era um impulso. Todos os seus quadros, ainda os menores, se ressentiam desse vigor alucinado, dessa largueza à força de pulso, que facilitava os ardores de sua fecundidade. (...)
Mas o trabalho perseverante, a prática da paleta, a educação da vista, a reflexão da idade e a calma bem-sucedida ao exaltamento dos inovadores da pintura o modificaram. E cada exposição que fazia era uma vitória, porque era um adiantamento confirmado. A pouco e pouco, a sua mão fina e clara se fizera mais hábil, os dedos lisos e longos que pareciam copiar o contorno da espátula de sua caixeta de campo, manejaram mais adestramente os pincéis. Aclarara-se a compreensão das linhas típicas da nossa paisagem, vira mais nítida a cor que a define, o excesso detalhista a repelir e a sintetização dos motivos. (...)
O seu estilo largo, um tanto bravio, em lambadas de pincel, que como já fizemos notar, se modificou vantajosamente, subordinando-se às telas de grandes dimensões, vai-se adelgaçando numa estimável precisão interpretadora de minudências nos pequenos quadros (...)" — Gonzaga Duque (DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Benedicto de Souza, 1929. 255 p. p. 42-43, 49).
"A década de 20 é uma época na qual o artista sente bastante bem o quanto se modifica o meio ambiente em torno dele. Para manter o sucesso que caracterizava o decênio anterior; ainda que possuísse agora maior prestígio, torna-se necessário concentrar seus esforços sobre atividades de cunho grandioso, que revelassem sua permanente disposição e a imutabilidade de seu valor aos 60 anos de idade. Como consequência, o paisagismo em sua obra tem neste período expressão muito limitada. Além da escassa quantidade de paisagens pintadas nos anos 20, nota-se a incidência de um surpreendente declínio em sua evolução, com a presença de artifícios de execução e mesmo de um certo maneirismo nada compatível com a sólida originalidade do conjunto geral de sua produção. Não é, portanto, sem motivo que na imensa maioria das contrafações de suas paisagens pode ser constatada a preferência dos falsificadores por associar as telas ilegítimas a essa época (...)" — Carlos Roberto Maciel Levy (LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. 204 p., il. p&b, color).
"A obra de Antônio Parreiras pode, basicamente, ser dividida em dois períodos (...) formação e afirmação. O período de formação refere-se à época em que Parreiras foi aluno de Georg Grimm na Academia Imperial das Belas Artes e, mais tarde, com o afastamento do mestre bávaro da referida Academia, a fase de estudo de pintura ao ar livre, juntamente com Castagneto, Vazquez, Caros e Ribeiro, quando formaram a Escola da Boa Viagem (...) Evidentemente, as telas desta época possuem sempre um sentido de estudo, onde a elaboração e o processo técnico convergem para o mesmo objetivo: a compreensão da natureza (...) Os trabalhos desta fase de estudo ou formação tinham como base um processo de execução severo. Em sua maioria eram produzidas sobre suportes rígidos (madeira ou cartão), com o desenho realizado a partir de vários estudos anteriores, a crayon ou grafita(...) A pintura propriamente dita era conseguida (...) através de aguda observação da natureza. (...) A maior incidência de obras de pequeno formato é também característica deste período de formação(...). Período de Afirmação: Esta fase refere-se ao momento em que Parreiras inicia de fato sua independência visual, em que procura a consolidação de sua linguagem plástica. Não se trata de uma mudança brusca: mesmo anos depois do encerramento das atividades coletivas do Grupo Grimm ainda será possível detectar com segurança a marcante influência do professor alemão. (...) Em seu período de afirmação, Parreiras consegue reunir em seus trabalhos todos os recursos técnicos desenvolvidos ao longo do século XIX. A plena pasta, o pincel seco, a respiração do suporte, a falsa textura, o esfregaço, os glacis, a livre fatura (desenho do pincel), a ampliação da paleta (ou o uso mais colorido da mesma), os cortes mais ousados e até mesmo a teoria divisionista, que o artista aborda subjetivamente nas suas paisagens (...) e mais objetivamente em algumas pinturas murais decorativas" — Cláudio Valério Teixeira
(LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. p.125-126)
"(...) Parreiras tem uma existência de lutas e comoções (...) daí, pois, uma grande tristeza atuando no temperamento do indivíduo pelo contínuo desmoronar de esperanças apenas lobrigadas. Parte deste fato, segundo creio, a causa de Parreiras abusar muito do branco: M. Paul Bert, em suas observações apresentadas à Academia Francesa, em 1878, afirma que o mais das vezes o emprego de cores prediletas é motivado, não por uma alteração da vista, mas por motivos de ordem intelectual (...) O branco não é uma tinta triste, mas é uma tinta fria. Entrando, exageradamente na combinação de outras tintas, empalidece a tonalidade. De mais a mais - deve ser levada em conta a predileção que o artista tem pelas horas mais tristes do dia. O momento que ele escolhe é sempre (...) o de repouso, nas horas vespertinas, quando o último raio de sol deixou de dourar as nuvens. (...) Dando-lhes o tom predominantemente branco ou cinzento, conseguirá iluminá-las com um equilíbrio de cores prismáticas, de sorte que jamais fatigarão a vista de quem as contemplar por longo tempo". — Alfredo Palheta (PALHETA, Alfredo (pseud. Gonzaga Duque). Belas Artes: Terceira exposição de A. Parreiras. A Semana, ano III, nº 133, Rio de Janeiro, 16 de julho de 1887, citado por LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. p. 28).
"Parreiras, embora tenha realizado uma obra abordando praticamente todos os gêneros artísticos - paisagem, quadros históricos, nus femininos, animais -, revela-nos uma relação especial com a paisagem desde o início, dado que pode ser colhido tando da observação da própria obra que realizou ao longo de sua carreira de pintor como da leitura dos escritos que deixou e do livro que escreveu e publicou ainda em vida, em 1926, História de um Pintor Contada por Ele Mesmo. Por esse motivo, consideramos de fundamental importância olhar para o Parreiras, sobretudo, e procurar situá-lo como tal no âmbito da arte brasileira.
As paisagens dos primeiros anos de Parreiras são ainda fortemente dominadas pela linguagem da paisagem pitoresca, com seus planos, distâncias, texturas, caminhos e a presença de uma figura solitária, de costas ou de grupos pitorescos. Em pinturas de 1888, o pintor faz uso dos recursos composicionais próprios da estética do sublime em suas paisagens, compostas de elementos denotativos da fúria da natureza como céus encrespados e escuros, árvores curvadas pela força do vento, e a presença da figura feminina, emblemática da sensibilidade romântica, numa atitude pensativa, entregue a seu mundo de reflexões e apreensões em meio ao turbilhão que se passa na natureza, sentada sobre o solo pedregoso, cheio de irregularidades e pleno de textura. É a linguagem da paisagem romântica européia da primeira metade do século XIX nas suas versões mais corriqueiras, tornadas populares e acessíveis a um público mais amplo, dentro e fora da Europa, por meio da reprodução em água-tinta ou litografia.
É certo que, nesses trabalhos, Parreiras desenvolve um paisagismo moderno, no sentido da perspectiva de busca do empírico, atento e observador da natureza, certamente uma consequência das lições de Grimm e da venerada prática de pintar ao ar livre, mas ainda demonstra estar preso às consagradas fórmulas da arte da paisagem romântica, da qual os ingleses foram os maiores representantes tanto em termos práticos quanto teóricos" — Valéria Salgueiro (SALGUEIRO, Valéria. Antônio Parreiras: notas e críticas, discursos e contos: coletânea de textos de um pintor paisagista. Niterói: EdUFF, 2000. p.37-38).
"A influência da arte de Meirelles manifesta-se na pintura da maturidade de Antonio Parreiras. A grande paisagem Sertanejas exposta em 1899, parece amplificar em escala monumental os desenhos de florestas executados por Araújo Porto Alegre nos anos 50. (...) Com o passar dos anos, e para satisfazer as exigências celebrativas das novas capitais federais que o abarrotam de encomendas, Parreiras irá se especializar na paisagem histórica, afirmando-se como o maior herdeiro do mestre de Florianópolis. Apesar disso, não deixará de pagar seu tributo aos esquemas compositivos dos quadros monumentais de Pedro Américo (...), e num ciclo de grandes paisagens históricas dedicadas à conquista do Brasil, hoje na casa-museu que o arquiteto paulista Ramos de Azevedo construiu para o artista em Niterói. Essas obras, bem como a casa e ateliê do pintor, em contato com o jardim - pequenos monumentos em si próprios -, mostram como Parreiras não havia ficado imune às influências do pensamento de Ruskin, Morris e do art nouveau do grupo Les Vingts de Bruxelas". — Luciano Migliaccio (MIGLIACCIO, Luciano. O Século XIX. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO. Arte do Século XIX São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 151).
Depoimentos
"Por longos annos fui exclusivamente paysagista.
Annos passei dentro das florestas, ou a percorrer o litoral e constatei que, quando mais se observa essa extraordinaria - Natureza - brasileira =, grandiosa, phantástica, mais difícil se tornou a sua interpretação. Os annos de aturado e persistente estudo, de intima e prolongada convivencia com essa "Natureza", ainda não modificada pela mão preversa do homem algumas vezes permitiram-me synthetizal-a com o seu caracter selvagem, a sua apparente monotonia de verdes fortes e vibrantes; o mysterioso das suas sombras cheias de côr, côr sentida só pelos que estão habituados ao rapido contraste da luz immensamente forte, dura, com macio avelludado das sombras transparentes.
A constante e apaixonada observação dessa natureza acabou por tornar familiar com as suas linhas como me tornara familiar com a sua côr, com essas erectas e aprumadas columnas dos Jiquitibás ou com troncos tortuosos, emmaranhados em curvas de serpente que se vêem nas variadas ondulações dos retorcidos cajueiros.
Os annos vividos nas florestas habituaram-me a trabalhar à luz verde do seu ambiente". — Antônio Parreiras (PARREIRAS, Antônio Profissão de fé - DI 027. In: SALGUEIRO, Valéria. Antônio Parreiras: notas, críticas, discursos e contos: coletânea de textos de um pintor paisagista. Niterói: Eduff, 2000. p. 77).
Acervos
Acervo Banco Itaú S.A. - São Paulo SP
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil - São Paulo SP
Museu Antônio Parreiras - Niterói RJ
Museu da República - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museu de Arte do Belém - Belém PA
Museu do Estado de Pernambuco - Recife PE
Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro RJ
Museu Júlio de Castilhos - Porto Alegre RS
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Exposições Individuais
1885 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista, na Rua Santa Rosa
1885 - Niterói RJ - Individual, na sala principal da Loja A Photographia
1885 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa de Wilde
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Insley Pacheco
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégant
1887 - Niterói RJ - Individual, na nova residência do artista, na Rua Presidente Domiciano
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na sede do Grêmio de Letras e Artes do Rio de Janeiro
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Insley Pacheco
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Arthur Napoleão
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na sede do jornal A Cidade do Rio
1888 - Veneza (Itália) - Individual, na Sociedade Veneziana
1889 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Arthur Napoleão
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégant
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Atelier Moderno
1893 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1894 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1895 - Campinas SP - Individual
1895 - Niterói RJ - Individual, na nova residência do artista, na Rua Tiradentes
1896 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1901 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista
1901 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Salão Nobre da Confeitaria Pascoal
1902 - Santos SP - Individual
1904 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista
1905 - Belém PA - Individual, no Teatro da Paz
1905 - Manaus AM - Individual, no Palácio Rio Negro
1909 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Associação dos Empregados do Comércio
1911 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Associação dos Empregados do Comércio
1917 - Recife PE - Individual
1917 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1919 - Paris (França) - Individual, no Petit Palais
1921 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1927 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1928 - Salvador BA - Individual, no Palácio Rio Branco
1929 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Jorge
1931 - Recife PE - Individual, no Teatro Santa Isabel
1932 - Niterói RJ - Individual, no Salão Nobre da Companhia Cantareira
1932 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1933 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Stoppel
Exposições Coletivas
1887 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras, Castagento e Henrique Bernardelli, no Grêmio de Letras e Artes
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - pequena medalha de ouro e prêmio aquisição
1892 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, no Salão do jornal A Província
1893 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, no jornal A Cidade do Rio
1893 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1895 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, na Biblioteca Fluminense
1895 - São Paulo SP - Salão da Paulicéia
1896 - Niterói RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, na residência do artista localizada na Rua Tiradentes
1896 - Rio de Janeiro RJ - Antonio Parreiras, Alberto Silva, Cândido de Souza Campos e Álvaro Cantanheda, no Pavilhão da Lapa
1897 - Rio de Janeiro RJ - Exposião dos Alunos da Escola do Ar Livre, na Biblioteca Fluminense
1909 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1910 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1911 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1911 - São Paulo SP - Primeira Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios
1912 - São Paulo SP - Segunda Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios
1913 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1914 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1915 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras e Dakir Parreiras, na Enba
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de ouro
1919 - Niterói RJ - Exposição Comemeorativa do Centenário de Fundação da Vila Real de Praia Grande, no Salão da Companhia Cantareira
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1920 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1921 - Rio de Janeiro RJ - 28ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de honra
1922 - Rio de Janeiro RJ - Exposição do Centenário da Independência - grande medalha
1923 - Rio de Janeiro RJ - 30ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de honra
1927 - Rio de Janeiro RJ - 34ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1929 - Barcelona (Espanha) - Exposição Universal de Barcelona - medalha de ouro
1929 - Rio de Janeiro RJ - 36ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1929 - Sevilha (Espanha) - Exposição Ibero-Americana de Sevilha - medalha de ouro
1930 - Rio de Janeiro RJ - 37ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1934 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão do Núcleo Bernardelli, na Enba
1936 - Rio de Janeiro RJ - Sociedade Sul-Rio-Grandense
1937 - Rio de Janeiro RJ - 43º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
Exposições Póstumas
1940 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos, na Prefeitura Municipal de São Paulo
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1954 - São Paulo SP - 19ª Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA
1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1981 - Niterói RJ - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, no Museu Histórico do Estado do Rio de Janeiro
1981 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, no Acervo Galeria de Arte
1981 - São Paulo SP - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, na Pinacoteca do Estado
1983 - São Paulo SP - Projeto Releitura, na Pinacoteca do Estado
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado
1986 - São Paulo SP - Tempo de Madureza, na Ranulpho Galeria de Arte
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural Unifor
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis, no CCBB
1989 - São Paulo SP - Pintura Brasil Século XIX: obras do acervo Banco Itaú, na Itaugaleria
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, na CCBB
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Museu Naval e Oceanográfico
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - São Paulo: de vila a metrópole, na Galeria Masp Prestes Maia
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2004 - Curitiba PR - A Paisagem Paranaense e seus Pintores, na Casa Andrade Muricy
Fonte: ANTÔNIO Parreiras. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 23 de maio de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Antônio Parreiras | Arte em Foco
Antônio Parreiras iniciou sua carreira pintando paisagens. Adotou esse tema por ser um dos seguidores do alemão Johan Georg Grimm, que passou pelo Brasil no final do século XIX e implantou por aqui, por assim dizer, um gosto para a representação de nossas cenas. Para o Grupo dos Irmãos Grimm; como ficou conhecido esse movimento; a natureza fornecia uma fonte constante de estudos e precisava ser contemplada e explorada em toda sua integridade. E mesmo que a paisagem ainda fosse um tema secundário, relegado ao fundo das composições, principalmente históricas, foi com esse motivo que Parreiras montou sua primeira exposição, em 27 de maio de 1886.
A exposição teria sido um fracasso, não fosse um único detalhe, a visita ilustre de D. Pedro II, que fez do evento um dos grandes sucessos da época. Porém, Parreiras não se limitou a esse tema, mesmo que a exposição inicial lhe tivesse aberto um caminho favorável para comercializá-lo. Influenciado por Victor Meirelles, adotou também a pintura de cenas históricas. Sempre realizadas em grandes formatos, com a utilização de muitas figuras em suas composições e procurando sempre realçar fatos e heróis regionais.
Uma de suas mais bem sucedidas encomendas foi a tela A Conquista do Amazonas, feita pelo governador do Pará, Augusto Montenegro. Tendo 4 metros de altura por 8 metros de comprimento, ainda é a maior pintura do estado do Pará, localizada no Palácio Lauro Sodré. Belém era, naquela época, uma próspera cidade, por onde escoava toda a riqueza retirada dos seringais da Amazônia. Parreiras fez enorme sucesso por lá, vendendo diversos trabalhos aos novos ricos da região.
Diversas literaturas nos mostram um Parreiras impetuoso, de fácil irritabilidade e muito genioso. São narradas várias desavenças suas, com artistas de sua época. Um exemplo disso foi o abandono da Academia de Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, para frequentar um curso livre de pintura, ministrado por Georg Grimm. Não acompanhou seu mestre na viagem pelo interior do Brasil, seguindo seus estudos de forma autodidata até 1885. Só em 1888, quando viaja à Europa, é que aperfeiçoa sua técnica na Academia de Belas Artes de Veneza.
Voltando ao Brasil em 1890, tem a oportunidade de colocar em prática um grande sonho: ao se tornar professor de pinturas de paisagens na Escola Nacional de Belas Artes, leva seus alunos para pintarem ao ar livre, recordando os velhos ensinamentos de Grimm. Desavenças com aquela instituição, por causa dessa sua prática, levam-no a abandonar o cargo e lecionar por conta própria. Em Teresópolis, fez vários estudos de matas e montanhas.
Parreiras sempre foi muito batalhador e com uma capacidade de trabalho admirável. Tido como um dos mais bem sucedidos pintores brasileiros de sua época, viveu dignamente de seu trabalho, fazendo riqueza e vivendo em confortável situação financeira. Viajava sempre ao exterior e possuía, além do ateliê em Niterói, um outro ateliê em Paris. Lá, participou do Grande Salão por várias vezes.
Era comumente requisitado para pintura de palácios de governo, sendo de destaque o teto do Salão Nobre do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Também dedicou à pintura de nus femininos, que lhe rendeu bastante prestígio, pela sensualidade que evocava de suas cenas. Em 1926, publicou História de um pintor contada por ele mesmo, autobiografia que lhe marcou a entrada para a Academia Fluminense de Letras.
Após sua morte, sua casa foi transformada no Museu Antônio Parreiras.
Fonte: Arte em Foco, "Antônio Parreiras", escrito por José Rosário, publicado em 19 de fevereiro de 2012. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Museu Antônio Parreiras | Wikipédia
O Museu Antônio Parreiras (MAP) é um museu dedicado à preservação da memória e da obra de Antônio Parreiras (1860-1937), um dos maiores pintores brasileiros. Localiza-se na Rua Tiradentes, no bairro do Ingá, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. É um museu estadual, subordinado à Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro, órgão da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. Sua área total cobre 5 mil metros quadrados.
História
A antiga residência de Parreiras é um casarão projetado por Ramos de Azevedo e construído em 1894. É uma das mais importantes edificações na Região Metropolitana do Rio de Janeiro que foram projetadas pelo arquiteto eclético que se notabilizou em São Paulo.
O museu foi inaugurado em 21 de janeiro de 1942 e ocupa três prédios que pertenceram ao pintor e à sua família: sua antiga residência; seu ateliê e residência de seu filho Dakir (1894-1967); e a residência da sua filha Olga. Na sua antiga residência, foram instaladas as salas de exposição e a administração do museu. Em seu ateliê, erguido em 1912, estão outras salas de exposição. A casa de sua filha foi adaptada como reserva técnica.
O museu foi tombado em 1967 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O jardim de 4 mil metros quadrados, incluído no tombamento, foi desenhado e plantado pelo artista.
Acervo
O acervo do MAP permite observar dois aspectos importantes da contribuição de Parreiras à história da cultura do Brasil: sua interpretação impressionista do ambiente brasileiro e sua atitude moderna antes do modernismo.
Antônio Parreiras foi um paisagista exímio. Captou a luz do ar livre (o plein air dos franceses). Nisso, sua tarefa foi converter a luz do Brasil em cor. Pintor que viajava, suas andanças pelo Brasil acabaram por esboçar a vontade de produzir uma pintura que totalizasse a visão do país.
O acervo do museu é composto por mais de 2 000 itens e é dividido em acervo artístico e não artístico:
No acervo artístico:
Coleção Antônio Parreiras, com pinturas e desenhos realizados entre 1883 e 1937;
Coleção de Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX, com obras de pintores como Georg Grimm, Nicolau Antonio Facchinetti (1824-1900), Eliseu Visconti (1866-1944), Henrique Cavalleiro (1892-1975), Georgina de Albuquerque (1885-1962) e outros;
Coleção de Arte Estrangeira, com obras europeias que pertenceram ao artista e à coleção de Alberto Lamego, onde se destacam pinturas flamengas, francesas e italianas dos séculos XVI e XVII.
No acervo não artístico:
Objetos pessoais de Antônio Parreiras, com paletas, pincéis, cavaletes, caixa de tintas, mobiliário, documentos, manuscritos, fotografias, negativos em vidro e uma pequena biblioteca.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Grupo Grimm | Itaú Cultural
Entre os anos de 1884 e 1886 um grupo de sete jovens artistas encontra-se regularmente para pintar nas praias e arredores da cidade de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, sob orientação do artista alemão Georg Grimm (1846 - 1887). O grupo, posteriormente conhecido como "Grupo Grimm", é formado pelos pintores Antônio Parreiras (1860 - 1937), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), França Júnior (1838 - 1890), Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892) e o pintor alemão Thomas Driendl (1849 - 1916), que por vezes substitui o mestre. Sua atuação caracteriza-se pela pintura de paisagem ao ar livre e tem origem na própria Academia Imperial de Belas Artes - Aiba do Rio de Janeiro. Georg Grimm, pintor bávaro que chega ao Brasil no final dos anos 1870 do século XIX, após cursar a Academia de Munique, é um dos motivadores da valorização da pintura de paisagem como gênero autônomo e incentivador da pintura de observação direta da natureza na história da arte brasileira.
Em 1882, Grimm conhece um relativo sucesso no meio artístico carioca com uma exposição de 128 quadros de sua autoria. Suas vistas de cores fortes e luminosas de diversas partes do mundo logo causam impacto num ambiente acanhado, acostumado com as tintas pálidas da maior parte dos paisagistas da época. O artista é então convidado, por membros da família imperial e a contragosto da Aiba, a ocupar a cadeira de "paisagem, flores e animais", em substituição a Victor Meirelles (1832 - 1903) e Zeferino da Costa (1840 - 1915). A primeira providência do mestre é ministrar suas aulas fora dos recintos da instituição. Até então, a pintura de paisagem é realizada dentro do ateliê, assim como a pintura histórica. Grimm exige que seus alunos pintem a partir do estudo exaustivo do motivo in loco, pois apenas dessa forma é possível evitar ou minimizar a ação dos modelos estéticos consagrados pelo ensino oficial, liberando o olho do artista para a percepção e expressão naturalista da paisagem.
Passa a trabalhar com seus alunos nos recantos que escolhia, em plena natureza, o que não foi aceito pela Aiba. Em 1884, tanto Grimm como Caron, Castagneto, Driendl, França Júnior e Garcia y Vasquez são premiados na Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro. Contudo, a incompatibilidade entre seu método de ensino e o empregado pelo ensino oficial faz com que o artista não renove seu contrato. Muda-se para Niterói e ministra suas aulas ao ar livre. Os alunos o seguem, abandonando a vida escolar.
Apesar do viés naturalista da produção de Grimm, nota-se que suas pinturas atestam os resquícios de uma formação rígida, muitas vezes limitada pelos padrões que gostaria de abolir. Em seus quadros a carência de emotividade é compensada pela reprodução fiel e detalhista de todos os aspectos da paisagem. Neste sentido, talvez sua importância seja maior como professor do que como artista. Entre seus alunos, destacam-se Castagneto e Parreiras. Garcia y Vasquez é o melhor paisagista na opinião do mestre. Contudo sua produção é limitada por períodos de instabilidade emocional que levam ao suicídio do artista. Nota-se que no início todos, inclusive Castagneto, foram extremamente influenciados pela obra do mestre, a ponto do crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911) comentar que "foram sete discípulos que, pela maneira de sentir e interpretar a natureza, pela maneira de traçar e usar das tintas, deram sete Grimms".
Sobre as conseqüências da atuação de Grimm, considera-se que a mais importante é ter chamado a atenção para a pintura de paisagem. Sobre seus métodos de ensino, parece que a Aiba esperaria ainda vários anos para passar por um processo de renovação. Aliás, como observa o historiador Quirino Campofiorito (1902 - 1993), o ensino de paisagem foi extinto em 1890, posto que os professores se negavam a levar os alunos a trabalhar ao ar livre. O grupo de Niterói se dispersa por volta de 1886 quando o mestre se muda para Teresópolis. Caron, Castagneto e Garcia y Vasquez passam uma temporada na Europa que serve para deixar seus trabalhos mais comportados do que propriamente levá-los ao impressionismo. Ao que tudo indica, eles não tiveram contato com os impressionistas em suas estadas européias, preferindo o ateliê de pintores mais acadêmicos como o pintor francês Hector Hanoteau (1823 - 1890). Castagneto, o que parece ir mais longe na busca pela expressão livre da paisagem, sobretudo marinhas, parece não fazer discípulos na época. Parreiras, o mais bem-sucedido do grupo, dedica-se às pinturas históricas e de nus já como professor da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Retorna à paisagem e a potência dos primeiros trabalhos só no final dos anos 1930 do século XX.
Fonte: GRUPO Grimm. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 23 de maio de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
Antônio Diogo da Silva Parreiras (Rio de Janeiro, Niterói, 20 de janeiro de 1860 — Idem, 17 de outubro de 1937), mais conhecido como Antônio Parreiras, foi um pintor, desenhista, ilustrador, escritor e professor brasileiro. Estudou na Academia Imperial de Belas Artes, Parreiras buscou aprimorar-se de forma autodidata e posteriormente na Europa, absorvendo influências do naturalismo e impressionismo. Seu trabalho destacou-se pelo uso magistral da luz e cor, refletindo a beleza natural do Brasil, onde pintou florestas, campos e cenas costeiras. Reconhecido por suas paisagens deslumbrantes e composições históricas. Contribuiu significativamente para a educação artística no Brasil, fundando uma escola de arte em Niterói e influenciando novas gerações de artistas. Suas obras foram amplamente reconhecidas, e ele recebeu diversas encomendas para pinturas históricas, consolidando sua importância no cenário artístico nacional. O Museu Antônio Parreiras, em Niterói, preserva e celebra seu legado, abrigando uma vasta coleção de suas obras e mantendo viva sua contribuição à arte brasileira.
Biografia Antônio Parreiras | Arremate Arte
Antônio Parreiras, nascido em 20 de janeiro de 1860, em Niterói, Rio de Janeiro, e falecido na mesma cidade em 17 de outubro de 1937, foi um renomado pintor e desenhista brasileiro, destacado principalmente por suas paisagens e composições históricas.
Estudou na Academia Imperial de Belas Artes, optou por seguir um caminho autodidata e, posteriormente, aperfeiçoou-se na Itália e na França, onde absorveu influências do naturalismo e do impressionismo. Seu trabalho é conhecido pelo uso magistral da luz e cor, refletindo a beleza das paisagens brasileiras em florestas, campos e cenas litorâneas.
Além de suas contribuições como artista, Parreiras foi um importante educador, fundando uma escola de arte em Niterói e influenciando novas gerações de artistas brasileiros.
Suas obras receberam amplo reconhecimento, como e ele foi frequentemente comissionado para criar pinturas históricas, solidificando seu prestígio no cenário artístico nacional.
O legado de Antônio Parreiras é preservado no Museu Antônio Parreiras em Niterói, que abriga uma extensa coleção de suas obras e continua a celebrar sua influência na arte brasileira.
Parreiras é lembrado como um mestre que capturou a essência da paisagem brasileira e contribuiu significativamente para o desenvolvimento da pintura no Brasil.
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Biografia Antônio Parreiras | Wikipédia
Suas pinturas paisagistas podem ser consideradas como representação de paisagens e momentos, acontecimentos considerados sublimes. Parreiras abordava a natureza com olhos de artista, sentindo-a com a emoção que causa a quem pessoalmente presencia o que retrata. Tinha o desejo de interpretar a natureza quando esta ainda parecia ter sido intocada.
Acredita-se que, para além de cumprir contratos — Parreiras tem obras espalhadas por importantíssimas edificações públicas —, o pintor tenha imprimido em seus quadros sua visão sobre a história nacional. Hoje, suas obras históricas podem, em sua maioria, ser encontradas nos museus de arte e história do Brasil afora ou até mesmo na decoração de algumas das sedes de governo do país. Para São Paulo, foram duas as obras encomendadas: o Salão Nobre da Câmara Municipal e o Gabinete do Prefeito têm obras de Antônio Parreiras como objetos decorativos.
Biografia
Nascido em Niterói em um momento em que a produção intelectual no Brasil passava por fortes influências de debates europeus, em seus vários textos redigidos, deu força a um discurso heroico quando referia-se à classe média, de onde veio. No entanto, após a morte de seu pai, foi à falência. Foram várias as experiências sem sucesso até que, em 1883, matriculou-se na Academia Imperial. Ingressar no universo artístico aos 23 anos de idade era considerado tarde para a época. Mas o artista não titubeou em abandonar o posto de escriturário na Companhia Leopoldina, em Nova Friburgo, para fazer o que, desde a infância parecia ter sido direcionado pelo destino a fazer.
Em trechos de sua biografia, Antônio Parreiras seleciona muito bem as memórias que pretende contar a fim de construir uma lembrança ao leitor em que todas as suas vivências conspiram à elaboração de um futuro específico ao qual, por toda a vida, fora destinado. "Não parava em casa. Tinha horror aos livros e só me interessavam aqueles em que haviam gravuras" e "Eis aí que conheci o primeiro pintor e o primeiro poeta. Eis como em minha alma, pela primeira vez, penetrou um raio de luz... a primeira emoção de Arte. Foi vendo um pintar, ouvindo o outro ler poesias, que deparei com a estrada ainda não vislumbrada, porém que devia trilhar em toda a minha longa existência. Abençoados sejam!" são alguns exemplos.
Ruptura com a Academia
Insatisfeito, em 1884, deixou de fazer parte da Academia para pintar d'après nature na cidade de Niterói junto ao núcleo formado pela inspiração do pintor alemão Georg Grimm. Este, formado em Munique, chegou ao Brasil em 1874 e foi descrito por Parreiras em sua autobiografia como "extremamente bondoso para com os pequenos, altivo e arrogante, violento até para os grandes". Influenciado pelos ares alemães de Grimm, pintar paisagens ao livre, romper com as instituições da academia era uma opção de vida a Parreiras.
Quando não fazia mais parte da Academia, o pintor preferiu seguir por rumos alternativos e então passou a organizar exposições próprias, grande maioria delas acontecia dentro de sua própria casa, em Niterói. Acredita-se que a arte de vender suas próprias produções tenha sido mais uma das muitas influências da convivência com os ideais de Grimm. A venda de suas pinturas obedecia uma filosofia comunitarista, em que os ganhos de todos sustentavam a compra de mantimentos e materiais de trabalho para uso comum.
1886 foi um ano em que uma de suas exposições próprias recebeu uma importante visita que seria fundamental para o reconhecimento de Antônio Parreiras como artista e, principalmente, pintor. Dom Pedro II não só visitou a exposição do paisagista niteroiense, mas também adquiriu duas obras do pintor. Como lamenta em sua autobiografia, esta não era uma época em que o pintor tinha dinheiro, muito menos fama. Entretanto, permanecia com ambição de ir à Europa dar continuidade a seus estudos. Foi então que, com base em acordos, conseguiu a venda de algumas de suas obras à Academia, em troca de que, quando retornasse ao Brasil, lecionasse algumas aulas sem a necessidade de receber salário. Já na França, Parreiras conseguiu montar seu próprio ateliê para divulgação de seu trabalho e, quando voltou, cumpriu o acordo e tornou-se professor de paisagem na Academia.
Passou vários anos vividos entre Brasil e França, realizando exposições, executando encomendas oficiais para edifícios públicos e participando de salões de arte. Parreiras chegou a vender a tela "Sertanejas" para decorar o Palácio do Catete e, entre outros, também realizou painéis para ornar a sede do Supremo Tribunal Federal. Ganhando prêmios, Antônio Parreiras não só foi o segundo pintor brasileiro a expor no Salão de Paris e nomeado delegado da Sociedade Nacional de Belas-Artes, em 1911, mas também experimentou seus últimos anos de vida sendo reconhecido também no âmbito intelectual. Não só fez história e nome no mundo da pintura, mas também deixou sua marca no campo das letras. Pôde, então, experienciar diversos formatos de reconhecimento público.
Sucesso
O sucesso de Parreiras é, para muitos, motivo de estudo e análise profunda. Principalmente por sua inserção no embrionário mercado de artes que se formava entre os século XIX e XX no Brasil. O pintor, por boa parte de sua vida, obteve sustento proveniente da venda de suas obras, num momento em que o mercado de arte ainda era instável e incipiente.
Em 1927, Antônio Parreiras participou da inauguração de um busto em sua homenagem, esculpido em bronze pelo francês Marc Robert e exposto no Jardim Icaraí, atual praça Getúlio Vargas, em Icaraí, em Niterói.
Em sua carreira, pode-se dizer que Antônio Parreiras expressou o romantismo, ainda que de forma tardia, em "sua forma de procurar um lugar no mundo". Considerava-se ser um indivíduo autônomo, que manifestava um forte desejo de mudança social no âmbito hierárquico, o que o impedia de ascender e ter reconhecimento como sujeito, artista e criador.
Grande parte de sua vida adulta foi passada num período de nacionalismo exacerbado e grande exaltação patriótica, o que explica um discurso abrangente em tais elementos e uma repercussão dele projetada no âmbito artístico de Antônio Parreiras. Em um de seus vários discursos na Academia Fluminense de Letras, o pintor afirmava que o grande valor dado à arte europeia pela academia e pelos poucos críticos, dificultou o desenvolvimento de uma arte nacional. O paisagista afirma ainda que, no período que circunda a década de 1880, artistas eram socialmente mal vistos, pois no Brasil a profissão era vista como "fator de civilização", uma importante filosofia decorrida do iluminismo, que prega a ideia de que a arte poderia melhorar a humanidade, civilizando-a.
Segundo ele próprio, ao longo de aproximadamente 55 anos, realizou mais de 850 pinturas, das quais 720 foram criadas em solo brasileiro, tendo feito 39 exposições no Rio de Janeiro e em vários outros estados do Brasil.
Autobiografias
A primeira biografia de Antônio Parreiras foi publicada no ano de 1926 e financiada por ele próprio.
No exemplar disponível no museu do pintor, pode-se verificar que a obra conta com encadernação cuidadosa, possui capa em papel firme azulado de efeito mármore, sem identificação qualquer sobre do que trata. De acordo com a editora fluminense Tipografia Dias, Vasconcelos e C., pela qual a biografia fora publicada, são 131 páginas de texto escrito, 21 ilustrações, uma fotografia da fachada de sua casa e uma fotografia de seu ateliê.
Pode-se afirmar que a grande maioria das críticas referentes ao livro foram positivas. A primeira delas aparece no Jornal do Brasil, no dia 27 de novembro de 1926. Esta não só recomenda a leitura da autobiografia de Antônio Parreiras por seu conteúdo, mas também pela forma como foi estilosamente escrita, com fluidez. Em outro texto crítico sobre a obra, Mario Sette, para o Diário de Pernambuco, destacou, entre outros aspectos, a percepção do autor como artista que, embora tenha viajado com frequência, manteve-se consciente de seu lugar de origem. "Não se tornou pedante, nem um derrotista. Ao contrário, aprendeu ainda mais a amar a sua pátria, reconhecendo-lhes os méritos em confronto com os alheios". Outros críticos optaram por traçar uma analogia entre o ato de pintar e o de escrever, enaltecendo as habilidades do artista em ambas as funções, principalmente em seu viés paisagista.
A segunda edição de sua história contada por ele mesmo foi publicada em 1943, após o seu falecimento, e financiada pelo governador do estado do Rio de Janeiro, diferentemente do que propõe seu testamento, que os custos desta publicação fossem pagos pelo dinheiro arrecadado pela venda de suas medalhas de ouro e alguns quadros, caso houvesse necessidade.
Nela, o artista descreve algumas referências de exposições promovidas em sua homenagem, tal como a de comemoração pelos 50 anos de seu ingresso à Academia Imperial de Belas Artes, em Niterói. "Cerca de dez mil pessoas visitaram. Foi inaugurada por uma comissão eleita pela Sociedade Brasileira de Belas Artes que me fez a entrega de uma mensagem admiravelmente aquarelada pelo meu colega Armando Viana e assinada por diversos artistas". Parreiras conta também sobre a mudança do nome da rua Boa Viagem, onde chegou a morar com alguns colegas do grupo Grimm, para rua Antônio Parreiras, por sugestão dos membros do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga.
Obras pictóricas
Jornada dos Mártires
Partindo do princípio em que "toda imagem conta uma história", estudiosos veem, em "Jornada dos Mártires", de Antônio Parreiras, referência à história da Inconfidência Mineira. O episódio foi marcado por um levante contra a ordem colonial, ameaçando o poder e a autoridade da Coroa Portuguesa. Quando descobertos, os inconfidentes foram presos em Vila Rica, no ano de 1789, e de lá seguiram para a cidade do Rio de Janeiro, onde posteriormente seriam julgados. Durante este trajeto, os prisioneiros pernoitaram na fazenda Soledade, do coronel Manuel do Valle Amado. O momento retratado por Parreiras nesta obra é justamente o da partida dos inconfidentes desta fazenda, rumo à cidade do Rio de Janeiro.
Apesar de o quadro não fazer nenhuma menção direta à Inconfidência Mineira, o tema dificilmente seria identificado apenas sob a observação da tela, sem mais informações. O que pode ser visto na obra não são os inconfidentes como heróis ou homens valentes e vencedores, Parreiras representa apenas o fim de um movimento sem sucesso, cujos integrantes estão prestes a pagar o preço de sua revolta com sua liberdade. Ao mesmo tempo, faz questão de ressaltar a firmeza, a coragem e a convicção dos "revoltosos". Ainda que não os pinte como heróis, transmite, através deles, uma lição de patriotismo e civismo.
Observando a obra sobre um viés crítico-artístico, apenas, é importante recordar que Antônio Parreiras é, principalmente, reconhecido por suas obras de paisagem, tendo sido aluno de George Grimm, pintor alemão que fez escola no Brasil dentro do gênero. Portanto, não nos causa espanto observar que a paisagem da obra ocupa cerca de dois terços do espaço utilizado para retratar parte do percurso dos inconfidentes mineiros.
Sertanejas
Sob um desejo constante de interpretar a natureza de forma a sentir a emoção que ela causa, a obra "Sertanejas" resgata o sentido rousseauniano de que a natureza é mais bela do que a paisagem, por ser livre de qualquer intervenção do homem. A paisagem, segundo Shamma, "é a cultura antes de ser natureza; um construto da imaginação projetado sobre a mata, rocha, água". A obra retrata um túnel florestal primevo na Serra do Mar. Encerrado por um denso arvoredo, onde frestas de luz timidamente iluminam borboletas, que adejam sobre singelas flores tropicais que medram no chão úmido.
Fundação de Niterói
Na obra ''Fundação de Niterói'' de 1909, Parreiras tem como figura principal Arariboia e o trata com especial cuidado. O autor tem como característica marcante o cuidado na pesquisa daqueles que está pintando, quer dizer, evitando reproduzir estereótipos que, até então, eram tratados os indígenas, por exemplo como observadores inscientes e selvagens. Nesse contexto, a pintura figura em primeiro plano Arariboia e outras duas indígenas no espaço central, com seus corpos fortes e traços detalhados. Além disso, Arariboia está em pé e de braços cruzados com a cruz erguida em segundo plano, ou seja, em uma posição questionadora ao invés do estereótipo de simples observador.
Paisagem do Campo do Ipiranga
O quadro intitulado Paisagem do Campo do Ipiranga foi pintado em óleo sobre tela por Antônio Parreiras no ano de 1893. Com dimensões de um metro de altura por 1,48 metro de largura, retrata uma paisagem que contém o antigo Museu do Ipiranga ao fundo.
Contrastando com o céu azul claro repleto de nuvens brancas esfumaçadas na diagonal, o quadro mostra, num primeiro plano, um grande campo de terra marrom-avermelhada, em partes, desmatado. Há uma cerca que divide o território e segue em linha reta, dando noção de profundidade à imagem. Ao fundo, onde a cerca parece chegar ao fim, se aproxima das imediações de um grande casarão branco posicionado ao lado esquerdo do quadro. Próximo a ele, as vegetações são mais altas e têm coloração verde-escura. É deste mesmo espaço do casarão branco que, ao lado direito da tela, um pequeno morro dá uma terceira dimensão à imagem. Neste pequeno morro, está o monumento de cor bege-clara, um pouco amarelada, antigamente denominado de Museu do Ipiranga.
Paisagem do Campo do Ipiranga é uma obra que foi executada na ocasião da primeira visita artística do pintor à cidade de São Paulo. Com ele, Parreiras teve a pretensão de ingressar na recém-inaugurada galeria de arte do Museu Paulista.
Museu Antônio Parreiras
O Museu Antônio Parreiras é a antiga residência do pintor. Trata-se de um casarão projetado por Ramos de Azevedo. Inaugurado no dia 21 de janeiro de 1942, hoje pode ser considerada uma das mais importantes edificações históricas e culturais do estado do Rio de Janeiro.
Embora Antônio Parreiras nunca tenha deixado explícito o desejo de ter sua própria casa transformada em museu, estudiosos veem preocupação breve em constituir e consolidar algo que remeta à sua memória no seguinte trecho de seu testamento:
“ao meu querido amigo e afilhado Athayde Parreiras deixo o encargo de fazer publicar a segunda edição do meu livro Histórias de um pintor contada por ele mesmo. Para pagar as despesas desta publicação serão vendidas as minhas medalhas de ouro e alguns quadros se ainda for necessário. Esses livros serão distribuídos em primeiro lugar por todas as bibliotecas, arquivos e institutos públicos, o que restar vendidos e o produto desta venda será entregue à Sociedade de Cegos de Niterói, da qual sou sócio.”
Críticas a Aleijadinho
Em um de seus vários discursos na Academia Fluminense de Letras, Antônio Parreiras criticou a arte do escultor mineiro Aleijadinho. No início de seu discurso, publicado na revista da Academia, o pintor diz não aceitar o que é qualificado como "estilo colonial", por julgar impossível que, em um meio onde "predominavam a ignorância e as aspirações puramente materiais" dos tempos coloniais, "no meio de selvas", referindo-se à região de Minas Gerais, houvesse alguma preocupação de construção de um estilo arquitetônico.
Sob uma perspectiva determinista, o acadêmico Parreiras encarna profunda descrença na capacidade de transcendência da obra de Aleijadinho. Para ele, tal artista esteve preso demais às realidades de suas esculturas e, por tal motivo, não pôde transcendê-las, nem contextualizá-las no âmbito da divindade, quando se trata de criações de tema religiosos. Para o pintor, Aleijadinho fazia parte do grupo de artistas que não interpretava, mas simplesmente retratava tudo o que via na natureza. Antônio Parreiras nominou as obras do escultor mineiro de tentativas de reprodução da realidade como inúteis, pois lhe faltava técnica, estética e visão de arte; o que seria inato ao artista por viver em um meio que não favorecia o desenvolvimento de seu talento.
Prêmios recebidos
Medalha de Ouro (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Medalha de Honra (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Grande Medalha (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Medalha de Ouro (Exposição Universal de Barcelona, Espanha, 1929)
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Biografia Antônio Parreiras | Itaú Cultural
Antônio Diogo da Silva Parreiras (Niterói, Rio de Janeiro, 1860 - Niterói, Rio de Janeiro, 1937). Pintor, desenhista e ilustrador. Inicia estudos artísticos como aluno livre na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, no Rio de Janeiro, em 1883, onde permanece até meados de 1884. Neste período frequentou as aulas de paisagem, flores e animais, disciplina ministrada por Georg Grimm (1846 - 1887). Por discordar do ensino oferecido, desliga-se da Aiba e segue seu antigo professor, passando a integrar o Grupo Grimm ao lado de Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), entre outros, dedicando-se à pintura ao ar livre. Em 1888, viaja para a Itália e durante dois anos frequenta a Accademia di Belle Arti di Venezia [Academia de Belas Artes de Veneza], tornando-se discípulo de Filippo Carcano (1840 - 1910). De volta ao Brasil, em 1890, dá aulas de paisagem na Aiba, mas após dois meses de seu ingresso, desliga-se da instituição por discordar da reforma curricular promovida em novembro daquele ano. No ano seguinte, fundou a Escola do Ar Livre, em Niterói, Rio de Janeiro. De 1906 a 1919 viaja frequentemente a Paris, onde mantém ateliê. Recebe, em 1911, o título de delegado da Sociéte Nationale des Beaux Arts, raramente concedido a estrangeiros. Em 1926, lança seu livro autobiográfico História de um Pintor Contada por Ele Mesmo, com o qual ingressa na Academia Fluminense de Letras. Fundou o Salão Fluminense de Belas Artes, em Niterói, em 1929. Em 1941, sua casa-ateliê, na mesma cidade, é transformada no Museu Antônio Parreiras, com o objetivo de preservar e divulgar sua obra.
Análise
O pintor e desenhista Antônio Parreiras ingressou na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba em 1883, primeiro como aluno livre e depois como aluno regular. No período em que frequentou a escola, dedicou-se sobretudo às aulas de pintura de paisagem, flores e animais, com o pintor alemão Georg Grimm (1846 - 1887). O professor estimula os alunos a pintar fora dos ateliês da academia. Em 1884, Grimm se desliga da instituição, e seus alunos mais próximos, entre eles Parreiras, Caron (1862 - 1892), Castagneto (1851 - 1900), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912) e Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), o acompanham. Grimm dá aulas de pintura ao ar livre ao grupo - que seria conhecido como Grupo Grimm - na região de Boa Viagem, em Niterói, Rio de Janeiro. O coletivo representa uma renovação na pintura de paisagem brasileira. Trata o tema com autonomia, foge dos modelos acadêmicos e procura a especificidade do panorama natural brasileiro, com base na observação direta da natureza.
Em 1885, Parreiras realiza suas primeiras exposições, nas quais mostra as paisagens que fez durante as expedições do Grupo Grimm. Com a desarticulação do coletivo, o artista prossegue o aprendizado como autodidata. No ano seguinte, excursiona com o pintor Pinto Bandeira (1863 - 1896) pela serra de Petrópolis, Rio de Janeiro. Lá, realiza paisagens em que o céu é pintado de maneira encrespada, a atmosfera é carregada e a vegetação, selvagem. A partir daí, sua pincelada torna-se mais espessa e seus temas, mais dramáticos. Parreiras pinta cenas em que a natureza aparece com força incontrolável. Essas pinturas obtêm sucesso crescente. Em 1886 o imperador Dom Pedro II (1825 - 1891) adquire o quadro Foz do Rio Icarahy (1885), e no ano seguinte a Aiba compra as telas A Tarde e O Rio de Janeiro Depois da Tempestade.
Esse reconhecimento permite que o artista viaje à Europa em 1888. Desembarca no porto de Gênova e depois de estabelecer-se por um curto período em Roma, fixa residência na cidade de Veneza, matriculando-se como aluno livre da Accademia di Belle Arti di Venezia onde estuda por dois anos, tendo aulas com o professor Filippo Carrano (1840 - 1910). Por meio deste contato Parreiras se entusiasma com a possibilidade de pintar a natureza em mutação, figurando processos efêmeros, como as transformações produzidas pela neblina e pela mudança das condições atmosféricas na paisagem. Suas telas tornam-se mais cheias de figuras e com a pasta de tinta ainda mais espessa. O artista se aproxima de técnicas impressionistas da pintura italiana. É na temporada européia que ele começa a interessar-se pela figura humana e toma contato com a poesia clássica.
Em seu retorno ao Brasil, em 1890, Parreiras é nomeado professor interino da cadeira de paisagem da Aiba, permanecendo no cargo por apenas dois meses. Nesse mesmo ano, a reforma curricular proposta por Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Rodolfo Amoedo (1857 - 1941) extingue a disciplina de paisagem e altera o nome da instituição para Escola Nacional de Belas Artes - Enba. No ano seguinte, Parreiras passa a lecionar na Escola do Ar Livre, por ele fundada, em Niterói, com orientação contrária à do ensino oficial. Mantém contato direto com a paisagem e se dedica a capturar a especificidade da paisagem brasileira. Por volta de 1894, suas pinturas se tornam mais claras, demonstrando interesse pela luminosidade tipicamente nacional. Na pintura Sertanejas (1896), aproxima-se da natureza virgem e distante da presença do homem. Nesse trabalho o pintor pretende figurar o vigor de uma flora intocada e tipicamente brasileira, descoberta em seus estudos em expedição nas matas de Teresópolis, Rio de Janeiro.
Entre o fim do século XIX e o início do século XX, Parreiras torna-se um artista consagrado. Ele amplia o leque de temas e deixa de dedicar-se exclusivamente às paisagens. A partir de 1899, recebe encomendas de execução de painéis em alguns palácios e prédios públicos. Incentivado por Victor Meirelles (1832 - 1903), executa pinturas de cenas históricas para o poder público. Entre elas se destacam Proclamação da República, Morte de Estácio de Sá e Prisão de Tiradentes, trabalhos que aumentam sua notoriedade no Brasil. O sucesso lhe proporciona uma vida mais confortável. A partir de 1906, Parreiras vive entre Paris e Niterói. Mantém ateliê na França, onde trabalha e expõe com regularidade. Em 1909, mostra seu trabalho com nu feminino Fantasia, no Salon de la Societé National des Beaux Arts. A repercussão é muito positiva, e esse gênero de pintura se torna um dos principais filões de sua produção. Parreiras é eleito, pelos leitores da Revista Fon Fon, o maior pintor brasileiro vivo em 1925. O artista faleceu em 1937, em Niterói.
Críticas
"A mão corria-lhe febril, empastava a tela, acusava unicamente a forma fruste das coisas. Essa maneira, que o caracterizou, só nos últimos tempos foi atenuada e melhorada pela longa prática do trabalho. A princípio era um impulso. Todos os seus quadros, ainda os menores, se ressentiam desse vigor alucinado, dessa largueza à força de pulso, que facilitava os ardores de sua fecundidade. (...)
Mas o trabalho perseverante, a prática da paleta, a educação da vista, a reflexão da idade e a calma bem-sucedida ao exaltamento dos inovadores da pintura o modificaram. E cada exposição que fazia era uma vitória, porque era um adiantamento confirmado. A pouco e pouco, a sua mão fina e clara se fizera mais hábil, os dedos lisos e longos que pareciam copiar o contorno da espátula de sua caixeta de campo, manejaram mais adestramente os pincéis. Aclarara-se a compreensão das linhas típicas da nossa paisagem, vira mais nítida a cor que a define, o excesso detalhista a repelir e a sintetização dos motivos. (...)
O seu estilo largo, um tanto bravio, em lambadas de pincel, que como já fizemos notar, se modificou vantajosamente, subordinando-se às telas de grandes dimensões, vai-se adelgaçando numa estimável precisão interpretadora de minudências nos pequenos quadros (...)" — Gonzaga Duque (DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Benedicto de Souza, 1929. 255 p. p. 42-43, 49).
"A década de 20 é uma época na qual o artista sente bastante bem o quanto se modifica o meio ambiente em torno dele. Para manter o sucesso que caracterizava o decênio anterior; ainda que possuísse agora maior prestígio, torna-se necessário concentrar seus esforços sobre atividades de cunho grandioso, que revelassem sua permanente disposição e a imutabilidade de seu valor aos 60 anos de idade. Como consequência, o paisagismo em sua obra tem neste período expressão muito limitada. Além da escassa quantidade de paisagens pintadas nos anos 20, nota-se a incidência de um surpreendente declínio em sua evolução, com a presença de artifícios de execução e mesmo de um certo maneirismo nada compatível com a sólida originalidade do conjunto geral de sua produção. Não é, portanto, sem motivo que na imensa maioria das contrafações de suas paisagens pode ser constatada a preferência dos falsificadores por associar as telas ilegítimas a essa época (...)" — Carlos Roberto Maciel Levy (LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. 204 p., il. p&b, color).
"A obra de Antônio Parreiras pode, basicamente, ser dividida em dois períodos (...) formação e afirmação. O período de formação refere-se à época em que Parreiras foi aluno de Georg Grimm na Academia Imperial das Belas Artes e, mais tarde, com o afastamento do mestre bávaro da referida Academia, a fase de estudo de pintura ao ar livre, juntamente com Castagneto, Vazquez, Caros e Ribeiro, quando formaram a Escola da Boa Viagem (...) Evidentemente, as telas desta época possuem sempre um sentido de estudo, onde a elaboração e o processo técnico convergem para o mesmo objetivo: a compreensão da natureza (...) Os trabalhos desta fase de estudo ou formação tinham como base um processo de execução severo. Em sua maioria eram produzidas sobre suportes rígidos (madeira ou cartão), com o desenho realizado a partir de vários estudos anteriores, a crayon ou grafita(...) A pintura propriamente dita era conseguida (...) através de aguda observação da natureza. (...) A maior incidência de obras de pequeno formato é também característica deste período de formação(...). Período de Afirmação: Esta fase refere-se ao momento em que Parreiras inicia de fato sua independência visual, em que procura a consolidação de sua linguagem plástica. Não se trata de uma mudança brusca: mesmo anos depois do encerramento das atividades coletivas do Grupo Grimm ainda será possível detectar com segurança a marcante influência do professor alemão. (...) Em seu período de afirmação, Parreiras consegue reunir em seus trabalhos todos os recursos técnicos desenvolvidos ao longo do século XIX. A plena pasta, o pincel seco, a respiração do suporte, a falsa textura, o esfregaço, os glacis, a livre fatura (desenho do pincel), a ampliação da paleta (ou o uso mais colorido da mesma), os cortes mais ousados e até mesmo a teoria divisionista, que o artista aborda subjetivamente nas suas paisagens (...) e mais objetivamente em algumas pinturas murais decorativas" — Cláudio Valério Teixeira
(LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. p.125-126)
"(...) Parreiras tem uma existência de lutas e comoções (...) daí, pois, uma grande tristeza atuando no temperamento do indivíduo pelo contínuo desmoronar de esperanças apenas lobrigadas. Parte deste fato, segundo creio, a causa de Parreiras abusar muito do branco: M. Paul Bert, em suas observações apresentadas à Academia Francesa, em 1878, afirma que o mais das vezes o emprego de cores prediletas é motivado, não por uma alteração da vista, mas por motivos de ordem intelectual (...) O branco não é uma tinta triste, mas é uma tinta fria. Entrando, exageradamente na combinação de outras tintas, empalidece a tonalidade. De mais a mais - deve ser levada em conta a predileção que o artista tem pelas horas mais tristes do dia. O momento que ele escolhe é sempre (...) o de repouso, nas horas vespertinas, quando o último raio de sol deixou de dourar as nuvens. (...) Dando-lhes o tom predominantemente branco ou cinzento, conseguirá iluminá-las com um equilíbrio de cores prismáticas, de sorte que jamais fatigarão a vista de quem as contemplar por longo tempo". — Alfredo Palheta (PALHETA, Alfredo (pseud. Gonzaga Duque). Belas Artes: Terceira exposição de A. Parreiras. A Semana, ano III, nº 133, Rio de Janeiro, 16 de julho de 1887, citado por LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. p. 28).
"Parreiras, embora tenha realizado uma obra abordando praticamente todos os gêneros artísticos - paisagem, quadros históricos, nus femininos, animais -, revela-nos uma relação especial com a paisagem desde o início, dado que pode ser colhido tando da observação da própria obra que realizou ao longo de sua carreira de pintor como da leitura dos escritos que deixou e do livro que escreveu e publicou ainda em vida, em 1926, História de um Pintor Contada por Ele Mesmo. Por esse motivo, consideramos de fundamental importância olhar para o Parreiras, sobretudo, e procurar situá-lo como tal no âmbito da arte brasileira.
As paisagens dos primeiros anos de Parreiras são ainda fortemente dominadas pela linguagem da paisagem pitoresca, com seus planos, distâncias, texturas, caminhos e a presença de uma figura solitária, de costas ou de grupos pitorescos. Em pinturas de 1888, o pintor faz uso dos recursos composicionais próprios da estética do sublime em suas paisagens, compostas de elementos denotativos da fúria da natureza como céus encrespados e escuros, árvores curvadas pela força do vento, e a presença da figura feminina, emblemática da sensibilidade romântica, numa atitude pensativa, entregue a seu mundo de reflexões e apreensões em meio ao turbilhão que se passa na natureza, sentada sobre o solo pedregoso, cheio de irregularidades e pleno de textura. É a linguagem da paisagem romântica européia da primeira metade do século XIX nas suas versões mais corriqueiras, tornadas populares e acessíveis a um público mais amplo, dentro e fora da Europa, por meio da reprodução em água-tinta ou litografia.
É certo que, nesses trabalhos, Parreiras desenvolve um paisagismo moderno, no sentido da perspectiva de busca do empírico, atento e observador da natureza, certamente uma consequência das lições de Grimm e da venerada prática de pintar ao ar livre, mas ainda demonstra estar preso às consagradas fórmulas da arte da paisagem romântica, da qual os ingleses foram os maiores representantes tanto em termos práticos quanto teóricos" — Valéria Salgueiro (SALGUEIRO, Valéria. Antônio Parreiras: notas e críticas, discursos e contos: coletânea de textos de um pintor paisagista. Niterói: EdUFF, 2000. p.37-38).
"A influência da arte de Meirelles manifesta-se na pintura da maturidade de Antonio Parreiras. A grande paisagem Sertanejas exposta em 1899, parece amplificar em escala monumental os desenhos de florestas executados por Araújo Porto Alegre nos anos 50. (...) Com o passar dos anos, e para satisfazer as exigências celebrativas das novas capitais federais que o abarrotam de encomendas, Parreiras irá se especializar na paisagem histórica, afirmando-se como o maior herdeiro do mestre de Florianópolis. Apesar disso, não deixará de pagar seu tributo aos esquemas compositivos dos quadros monumentais de Pedro Américo (...), e num ciclo de grandes paisagens históricas dedicadas à conquista do Brasil, hoje na casa-museu que o arquiteto paulista Ramos de Azevedo construiu para o artista em Niterói. Essas obras, bem como a casa e ateliê do pintor, em contato com o jardim - pequenos monumentos em si próprios -, mostram como Parreiras não havia ficado imune às influências do pensamento de Ruskin, Morris e do art nouveau do grupo Les Vingts de Bruxelas". — Luciano Migliaccio (MIGLIACCIO, Luciano. O Século XIX. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO. Arte do Século XIX São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 151).
Depoimentos
"Por longos annos fui exclusivamente paysagista.
Annos passei dentro das florestas, ou a percorrer o litoral e constatei que, quando mais se observa essa extraordinaria - Natureza - brasileira =, grandiosa, phantástica, mais difícil se tornou a sua interpretação. Os annos de aturado e persistente estudo, de intima e prolongada convivencia com essa "Natureza", ainda não modificada pela mão preversa do homem algumas vezes permitiram-me synthetizal-a com o seu caracter selvagem, a sua apparente monotonia de verdes fortes e vibrantes; o mysterioso das suas sombras cheias de côr, côr sentida só pelos que estão habituados ao rapido contraste da luz immensamente forte, dura, com macio avelludado das sombras transparentes.
A constante e apaixonada observação dessa natureza acabou por tornar familiar com as suas linhas como me tornara familiar com a sua côr, com essas erectas e aprumadas columnas dos Jiquitibás ou com troncos tortuosos, emmaranhados em curvas de serpente que se vêem nas variadas ondulações dos retorcidos cajueiros.
Os annos vividos nas florestas habituaram-me a trabalhar à luz verde do seu ambiente". — Antônio Parreiras (PARREIRAS, Antônio Profissão de fé - DI 027. In: SALGUEIRO, Valéria. Antônio Parreiras: notas, críticas, discursos e contos: coletânea de textos de um pintor paisagista. Niterói: Eduff, 2000. p. 77).
Acervos
Acervo Banco Itaú S.A. - São Paulo SP
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil - São Paulo SP
Museu Antônio Parreiras - Niterói RJ
Museu da República - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museu de Arte do Belém - Belém PA
Museu do Estado de Pernambuco - Recife PE
Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro RJ
Museu Júlio de Castilhos - Porto Alegre RS
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Exposições Individuais
1885 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista, na Rua Santa Rosa
1885 - Niterói RJ - Individual, na sala principal da Loja A Photographia
1885 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa de Wilde
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Insley Pacheco
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégant
1887 - Niterói RJ - Individual, na nova residência do artista, na Rua Presidente Domiciano
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na sede do Grêmio de Letras e Artes do Rio de Janeiro
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Insley Pacheco
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Arthur Napoleão
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na sede do jornal A Cidade do Rio
1888 - Veneza (Itália) - Individual, na Sociedade Veneziana
1889 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Arthur Napoleão
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégant
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Atelier Moderno
1893 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1894 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1895 - Campinas SP - Individual
1895 - Niterói RJ - Individual, na nova residência do artista, na Rua Tiradentes
1896 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1901 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista
1901 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Salão Nobre da Confeitaria Pascoal
1902 - Santos SP - Individual
1904 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista
1905 - Belém PA - Individual, no Teatro da Paz
1905 - Manaus AM - Individual, no Palácio Rio Negro
1909 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Associação dos Empregados do Comércio
1911 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Associação dos Empregados do Comércio
1917 - Recife PE - Individual
1917 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1919 - Paris (França) - Individual, no Petit Palais
1921 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1927 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1928 - Salvador BA - Individual, no Palácio Rio Branco
1929 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Jorge
1931 - Recife PE - Individual, no Teatro Santa Isabel
1932 - Niterói RJ - Individual, no Salão Nobre da Companhia Cantareira
1932 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1933 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Stoppel
Exposições Coletivas
1887 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras, Castagento e Henrique Bernardelli, no Grêmio de Letras e Artes
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - pequena medalha de ouro e prêmio aquisição
1892 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, no Salão do jornal A Província
1893 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, no jornal A Cidade do Rio
1893 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1895 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, na Biblioteca Fluminense
1895 - São Paulo SP - Salão da Paulicéia
1896 - Niterói RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, na residência do artista localizada na Rua Tiradentes
1896 - Rio de Janeiro RJ - Antonio Parreiras, Alberto Silva, Cândido de Souza Campos e Álvaro Cantanheda, no Pavilhão da Lapa
1897 - Rio de Janeiro RJ - Exposião dos Alunos da Escola do Ar Livre, na Biblioteca Fluminense
1909 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1910 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1911 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1911 - São Paulo SP - Primeira Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios
1912 - São Paulo SP - Segunda Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios
1913 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1914 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1915 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras e Dakir Parreiras, na Enba
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de ouro
1919 - Niterói RJ - Exposição Comemeorativa do Centenário de Fundação da Vila Real de Praia Grande, no Salão da Companhia Cantareira
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1920 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1921 - Rio de Janeiro RJ - 28ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de honra
1922 - Rio de Janeiro RJ - Exposição do Centenário da Independência - grande medalha
1923 - Rio de Janeiro RJ - 30ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de honra
1927 - Rio de Janeiro RJ - 34ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1929 - Barcelona (Espanha) - Exposição Universal de Barcelona - medalha de ouro
1929 - Rio de Janeiro RJ - 36ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1929 - Sevilha (Espanha) - Exposição Ibero-Americana de Sevilha - medalha de ouro
1930 - Rio de Janeiro RJ - 37ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1934 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão do Núcleo Bernardelli, na Enba
1936 - Rio de Janeiro RJ - Sociedade Sul-Rio-Grandense
1937 - Rio de Janeiro RJ - 43º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
Exposições Póstumas
1940 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos, na Prefeitura Municipal de São Paulo
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1954 - São Paulo SP - 19ª Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA
1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1981 - Niterói RJ - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, no Museu Histórico do Estado do Rio de Janeiro
1981 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, no Acervo Galeria de Arte
1981 - São Paulo SP - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, na Pinacoteca do Estado
1983 - São Paulo SP - Projeto Releitura, na Pinacoteca do Estado
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado
1986 - São Paulo SP - Tempo de Madureza, na Ranulpho Galeria de Arte
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural Unifor
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis, no CCBB
1989 - São Paulo SP - Pintura Brasil Século XIX: obras do acervo Banco Itaú, na Itaugaleria
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, na CCBB
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Museu Naval e Oceanográfico
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - São Paulo: de vila a metrópole, na Galeria Masp Prestes Maia
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2004 - Curitiba PR - A Paisagem Paranaense e seus Pintores, na Casa Andrade Muricy
Fonte: ANTÔNIO Parreiras. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 23 de maio de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Antônio Parreiras | Arte em Foco
Antônio Parreiras iniciou sua carreira pintando paisagens. Adotou esse tema por ser um dos seguidores do alemão Johan Georg Grimm, que passou pelo Brasil no final do século XIX e implantou por aqui, por assim dizer, um gosto para a representação de nossas cenas. Para o Grupo dos Irmãos Grimm; como ficou conhecido esse movimento; a natureza fornecia uma fonte constante de estudos e precisava ser contemplada e explorada em toda sua integridade. E mesmo que a paisagem ainda fosse um tema secundário, relegado ao fundo das composições, principalmente históricas, foi com esse motivo que Parreiras montou sua primeira exposição, em 27 de maio de 1886.
A exposição teria sido um fracasso, não fosse um único detalhe, a visita ilustre de D. Pedro II, que fez do evento um dos grandes sucessos da época. Porém, Parreiras não se limitou a esse tema, mesmo que a exposição inicial lhe tivesse aberto um caminho favorável para comercializá-lo. Influenciado por Victor Meirelles, adotou também a pintura de cenas históricas. Sempre realizadas em grandes formatos, com a utilização de muitas figuras em suas composições e procurando sempre realçar fatos e heróis regionais.
Uma de suas mais bem sucedidas encomendas foi a tela A Conquista do Amazonas, feita pelo governador do Pará, Augusto Montenegro. Tendo 4 metros de altura por 8 metros de comprimento, ainda é a maior pintura do estado do Pará, localizada no Palácio Lauro Sodré. Belém era, naquela época, uma próspera cidade, por onde escoava toda a riqueza retirada dos seringais da Amazônia. Parreiras fez enorme sucesso por lá, vendendo diversos trabalhos aos novos ricos da região.
Diversas literaturas nos mostram um Parreiras impetuoso, de fácil irritabilidade e muito genioso. São narradas várias desavenças suas, com artistas de sua época. Um exemplo disso foi o abandono da Academia de Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, para frequentar um curso livre de pintura, ministrado por Georg Grimm. Não acompanhou seu mestre na viagem pelo interior do Brasil, seguindo seus estudos de forma autodidata até 1885. Só em 1888, quando viaja à Europa, é que aperfeiçoa sua técnica na Academia de Belas Artes de Veneza.
Voltando ao Brasil em 1890, tem a oportunidade de colocar em prática um grande sonho: ao se tornar professor de pinturas de paisagens na Escola Nacional de Belas Artes, leva seus alunos para pintarem ao ar livre, recordando os velhos ensinamentos de Grimm. Desavenças com aquela instituição, por causa dessa sua prática, levam-no a abandonar o cargo e lecionar por conta própria. Em Teresópolis, fez vários estudos de matas e montanhas.
Parreiras sempre foi muito batalhador e com uma capacidade de trabalho admirável. Tido como um dos mais bem sucedidos pintores brasileiros de sua época, viveu dignamente de seu trabalho, fazendo riqueza e vivendo em confortável situação financeira. Viajava sempre ao exterior e possuía, além do ateliê em Niterói, um outro ateliê em Paris. Lá, participou do Grande Salão por várias vezes.
Era comumente requisitado para pintura de palácios de governo, sendo de destaque o teto do Salão Nobre do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Também dedicou à pintura de nus femininos, que lhe rendeu bastante prestígio, pela sensualidade que evocava de suas cenas. Em 1926, publicou História de um pintor contada por ele mesmo, autobiografia que lhe marcou a entrada para a Academia Fluminense de Letras.
Após sua morte, sua casa foi transformada no Museu Antônio Parreiras.
Fonte: Arte em Foco, "Antônio Parreiras", escrito por José Rosário, publicado em 19 de fevereiro de 2012. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Museu Antônio Parreiras | Wikipédia
O Museu Antônio Parreiras (MAP) é um museu dedicado à preservação da memória e da obra de Antônio Parreiras (1860-1937), um dos maiores pintores brasileiros. Localiza-se na Rua Tiradentes, no bairro do Ingá, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. É um museu estadual, subordinado à Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro, órgão da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. Sua área total cobre 5 mil metros quadrados.
História
A antiga residência de Parreiras é um casarão projetado por Ramos de Azevedo e construído em 1894. É uma das mais importantes edificações na Região Metropolitana do Rio de Janeiro que foram projetadas pelo arquiteto eclético que se notabilizou em São Paulo.
O museu foi inaugurado em 21 de janeiro de 1942 e ocupa três prédios que pertenceram ao pintor e à sua família: sua antiga residência; seu ateliê e residência de seu filho Dakir (1894-1967); e a residência da sua filha Olga. Na sua antiga residência, foram instaladas as salas de exposição e a administração do museu. Em seu ateliê, erguido em 1912, estão outras salas de exposição. A casa de sua filha foi adaptada como reserva técnica.
O museu foi tombado em 1967 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O jardim de 4 mil metros quadrados, incluído no tombamento, foi desenhado e plantado pelo artista.
Acervo
O acervo do MAP permite observar dois aspectos importantes da contribuição de Parreiras à história da cultura do Brasil: sua interpretação impressionista do ambiente brasileiro e sua atitude moderna antes do modernismo.
Antônio Parreiras foi um paisagista exímio. Captou a luz do ar livre (o plein air dos franceses). Nisso, sua tarefa foi converter a luz do Brasil em cor. Pintor que viajava, suas andanças pelo Brasil acabaram por esboçar a vontade de produzir uma pintura que totalizasse a visão do país.
O acervo do museu é composto por mais de 2 000 itens e é dividido em acervo artístico e não artístico:
No acervo artístico:
Coleção Antônio Parreiras, com pinturas e desenhos realizados entre 1883 e 1937;
Coleção de Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX, com obras de pintores como Georg Grimm, Nicolau Antonio Facchinetti (1824-1900), Eliseu Visconti (1866-1944), Henrique Cavalleiro (1892-1975), Georgina de Albuquerque (1885-1962) e outros;
Coleção de Arte Estrangeira, com obras europeias que pertenceram ao artista e à coleção de Alberto Lamego, onde se destacam pinturas flamengas, francesas e italianas dos séculos XVI e XVII.
No acervo não artístico:
Objetos pessoais de Antônio Parreiras, com paletas, pincéis, cavaletes, caixa de tintas, mobiliário, documentos, manuscritos, fotografias, negativos em vidro e uma pequena biblioteca.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Grupo Grimm | Itaú Cultural
Entre os anos de 1884 e 1886 um grupo de sete jovens artistas encontra-se regularmente para pintar nas praias e arredores da cidade de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, sob orientação do artista alemão Georg Grimm (1846 - 1887). O grupo, posteriormente conhecido como "Grupo Grimm", é formado pelos pintores Antônio Parreiras (1860 - 1937), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), França Júnior (1838 - 1890), Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892) e o pintor alemão Thomas Driendl (1849 - 1916), que por vezes substitui o mestre. Sua atuação caracteriza-se pela pintura de paisagem ao ar livre e tem origem na própria Academia Imperial de Belas Artes - Aiba do Rio de Janeiro. Georg Grimm, pintor bávaro que chega ao Brasil no final dos anos 1870 do século XIX, após cursar a Academia de Munique, é um dos motivadores da valorização da pintura de paisagem como gênero autônomo e incentivador da pintura de observação direta da natureza na história da arte brasileira.
Em 1882, Grimm conhece um relativo sucesso no meio artístico carioca com uma exposição de 128 quadros de sua autoria. Suas vistas de cores fortes e luminosas de diversas partes do mundo logo causam impacto num ambiente acanhado, acostumado com as tintas pálidas da maior parte dos paisagistas da época. O artista é então convidado, por membros da família imperial e a contragosto da Aiba, a ocupar a cadeira de "paisagem, flores e animais", em substituição a Victor Meirelles (1832 - 1903) e Zeferino da Costa (1840 - 1915). A primeira providência do mestre é ministrar suas aulas fora dos recintos da instituição. Até então, a pintura de paisagem é realizada dentro do ateliê, assim como a pintura histórica. Grimm exige que seus alunos pintem a partir do estudo exaustivo do motivo in loco, pois apenas dessa forma é possível evitar ou minimizar a ação dos modelos estéticos consagrados pelo ensino oficial, liberando o olho do artista para a percepção e expressão naturalista da paisagem.
Passa a trabalhar com seus alunos nos recantos que escolhia, em plena natureza, o que não foi aceito pela Aiba. Em 1884, tanto Grimm como Caron, Castagneto, Driendl, França Júnior e Garcia y Vasquez são premiados na Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro. Contudo, a incompatibilidade entre seu método de ensino e o empregado pelo ensino oficial faz com que o artista não renove seu contrato. Muda-se para Niterói e ministra suas aulas ao ar livre. Os alunos o seguem, abandonando a vida escolar.
Apesar do viés naturalista da produção de Grimm, nota-se que suas pinturas atestam os resquícios de uma formação rígida, muitas vezes limitada pelos padrões que gostaria de abolir. Em seus quadros a carência de emotividade é compensada pela reprodução fiel e detalhista de todos os aspectos da paisagem. Neste sentido, talvez sua importância seja maior como professor do que como artista. Entre seus alunos, destacam-se Castagneto e Parreiras. Garcia y Vasquez é o melhor paisagista na opinião do mestre. Contudo sua produção é limitada por períodos de instabilidade emocional que levam ao suicídio do artista. Nota-se que no início todos, inclusive Castagneto, foram extremamente influenciados pela obra do mestre, a ponto do crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911) comentar que "foram sete discípulos que, pela maneira de sentir e interpretar a natureza, pela maneira de traçar e usar das tintas, deram sete Grimms".
Sobre as conseqüências da atuação de Grimm, considera-se que a mais importante é ter chamado a atenção para a pintura de paisagem. Sobre seus métodos de ensino, parece que a Aiba esperaria ainda vários anos para passar por um processo de renovação. Aliás, como observa o historiador Quirino Campofiorito (1902 - 1993), o ensino de paisagem foi extinto em 1890, posto que os professores se negavam a levar os alunos a trabalhar ao ar livre. O grupo de Niterói se dispersa por volta de 1886 quando o mestre se muda para Teresópolis. Caron, Castagneto e Garcia y Vasquez passam uma temporada na Europa que serve para deixar seus trabalhos mais comportados do que propriamente levá-los ao impressionismo. Ao que tudo indica, eles não tiveram contato com os impressionistas em suas estadas européias, preferindo o ateliê de pintores mais acadêmicos como o pintor francês Hector Hanoteau (1823 - 1890). Castagneto, o que parece ir mais longe na busca pela expressão livre da paisagem, sobretudo marinhas, parece não fazer discípulos na época. Parreiras, o mais bem-sucedido do grupo, dedica-se às pinturas históricas e de nus já como professor da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Retorna à paisagem e a potência dos primeiros trabalhos só no final dos anos 1930 do século XX.
Fonte: GRUPO Grimm. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 23 de maio de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
Antônio Diogo da Silva Parreiras (Rio de Janeiro, Niterói, 20 de janeiro de 1860 — Idem, 17 de outubro de 1937), mais conhecido como Antônio Parreiras, foi um pintor, desenhista, ilustrador, escritor e professor brasileiro. Estudou na Academia Imperial de Belas Artes, Parreiras buscou aprimorar-se de forma autodidata e posteriormente na Europa, absorvendo influências do naturalismo e impressionismo. Seu trabalho destacou-se pelo uso magistral da luz e cor, refletindo a beleza natural do Brasil, onde pintou florestas, campos e cenas costeiras. Reconhecido por suas paisagens deslumbrantes e composições históricas. Contribuiu significativamente para a educação artística no Brasil, fundando uma escola de arte em Niterói e influenciando novas gerações de artistas. Suas obras foram amplamente reconhecidas, e ele recebeu diversas encomendas para pinturas históricas, consolidando sua importância no cenário artístico nacional. O Museu Antônio Parreiras, em Niterói, preserva e celebra seu legado, abrigando uma vasta coleção de suas obras e mantendo viva sua contribuição à arte brasileira.
Biografia Antônio Parreiras | Arremate Arte
Antônio Parreiras, nascido em 20 de janeiro de 1860, em Niterói, Rio de Janeiro, e falecido na mesma cidade em 17 de outubro de 1937, foi um renomado pintor e desenhista brasileiro, destacado principalmente por suas paisagens e composições históricas.
Estudou na Academia Imperial de Belas Artes, optou por seguir um caminho autodidata e, posteriormente, aperfeiçoou-se na Itália e na França, onde absorveu influências do naturalismo e do impressionismo. Seu trabalho é conhecido pelo uso magistral da luz e cor, refletindo a beleza das paisagens brasileiras em florestas, campos e cenas litorâneas.
Além de suas contribuições como artista, Parreiras foi um importante educador, fundando uma escola de arte em Niterói e influenciando novas gerações de artistas brasileiros.
Suas obras receberam amplo reconhecimento, como e ele foi frequentemente comissionado para criar pinturas históricas, solidificando seu prestígio no cenário artístico nacional.
O legado de Antônio Parreiras é preservado no Museu Antônio Parreiras em Niterói, que abriga uma extensa coleção de suas obras e continua a celebrar sua influência na arte brasileira.
Parreiras é lembrado como um mestre que capturou a essência da paisagem brasileira e contribuiu significativamente para o desenvolvimento da pintura no Brasil.
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Biografia Antônio Parreiras | Wikipédia
Suas pinturas paisagistas podem ser consideradas como representação de paisagens e momentos, acontecimentos considerados sublimes. Parreiras abordava a natureza com olhos de artista, sentindo-a com a emoção que causa a quem pessoalmente presencia o que retrata. Tinha o desejo de interpretar a natureza quando esta ainda parecia ter sido intocada.
Acredita-se que, para além de cumprir contratos — Parreiras tem obras espalhadas por importantíssimas edificações públicas —, o pintor tenha imprimido em seus quadros sua visão sobre a história nacional. Hoje, suas obras históricas podem, em sua maioria, ser encontradas nos museus de arte e história do Brasil afora ou até mesmo na decoração de algumas das sedes de governo do país. Para São Paulo, foram duas as obras encomendadas: o Salão Nobre da Câmara Municipal e o Gabinete do Prefeito têm obras de Antônio Parreiras como objetos decorativos.
Biografia
Nascido em Niterói em um momento em que a produção intelectual no Brasil passava por fortes influências de debates europeus, em seus vários textos redigidos, deu força a um discurso heroico quando referia-se à classe média, de onde veio. No entanto, após a morte de seu pai, foi à falência. Foram várias as experiências sem sucesso até que, em 1883, matriculou-se na Academia Imperial. Ingressar no universo artístico aos 23 anos de idade era considerado tarde para a época. Mas o artista não titubeou em abandonar o posto de escriturário na Companhia Leopoldina, em Nova Friburgo, para fazer o que, desde a infância parecia ter sido direcionado pelo destino a fazer.
Em trechos de sua biografia, Antônio Parreiras seleciona muito bem as memórias que pretende contar a fim de construir uma lembrança ao leitor em que todas as suas vivências conspiram à elaboração de um futuro específico ao qual, por toda a vida, fora destinado. "Não parava em casa. Tinha horror aos livros e só me interessavam aqueles em que haviam gravuras" e "Eis aí que conheci o primeiro pintor e o primeiro poeta. Eis como em minha alma, pela primeira vez, penetrou um raio de luz... a primeira emoção de Arte. Foi vendo um pintar, ouvindo o outro ler poesias, que deparei com a estrada ainda não vislumbrada, porém que devia trilhar em toda a minha longa existência. Abençoados sejam!" são alguns exemplos.
Ruptura com a Academia
Insatisfeito, em 1884, deixou de fazer parte da Academia para pintar d'après nature na cidade de Niterói junto ao núcleo formado pela inspiração do pintor alemão Georg Grimm. Este, formado em Munique, chegou ao Brasil em 1874 e foi descrito por Parreiras em sua autobiografia como "extremamente bondoso para com os pequenos, altivo e arrogante, violento até para os grandes". Influenciado pelos ares alemães de Grimm, pintar paisagens ao livre, romper com as instituições da academia era uma opção de vida a Parreiras.
Quando não fazia mais parte da Academia, o pintor preferiu seguir por rumos alternativos e então passou a organizar exposições próprias, grande maioria delas acontecia dentro de sua própria casa, em Niterói. Acredita-se que a arte de vender suas próprias produções tenha sido mais uma das muitas influências da convivência com os ideais de Grimm. A venda de suas pinturas obedecia uma filosofia comunitarista, em que os ganhos de todos sustentavam a compra de mantimentos e materiais de trabalho para uso comum.
1886 foi um ano em que uma de suas exposições próprias recebeu uma importante visita que seria fundamental para o reconhecimento de Antônio Parreiras como artista e, principalmente, pintor. Dom Pedro II não só visitou a exposição do paisagista niteroiense, mas também adquiriu duas obras do pintor. Como lamenta em sua autobiografia, esta não era uma época em que o pintor tinha dinheiro, muito menos fama. Entretanto, permanecia com ambição de ir à Europa dar continuidade a seus estudos. Foi então que, com base em acordos, conseguiu a venda de algumas de suas obras à Academia, em troca de que, quando retornasse ao Brasil, lecionasse algumas aulas sem a necessidade de receber salário. Já na França, Parreiras conseguiu montar seu próprio ateliê para divulgação de seu trabalho e, quando voltou, cumpriu o acordo e tornou-se professor de paisagem na Academia.
Passou vários anos vividos entre Brasil e França, realizando exposições, executando encomendas oficiais para edifícios públicos e participando de salões de arte. Parreiras chegou a vender a tela "Sertanejas" para decorar o Palácio do Catete e, entre outros, também realizou painéis para ornar a sede do Supremo Tribunal Federal. Ganhando prêmios, Antônio Parreiras não só foi o segundo pintor brasileiro a expor no Salão de Paris e nomeado delegado da Sociedade Nacional de Belas-Artes, em 1911, mas também experimentou seus últimos anos de vida sendo reconhecido também no âmbito intelectual. Não só fez história e nome no mundo da pintura, mas também deixou sua marca no campo das letras. Pôde, então, experienciar diversos formatos de reconhecimento público.
Sucesso
O sucesso de Parreiras é, para muitos, motivo de estudo e análise profunda. Principalmente por sua inserção no embrionário mercado de artes que se formava entre os século XIX e XX no Brasil. O pintor, por boa parte de sua vida, obteve sustento proveniente da venda de suas obras, num momento em que o mercado de arte ainda era instável e incipiente.
Em 1927, Antônio Parreiras participou da inauguração de um busto em sua homenagem, esculpido em bronze pelo francês Marc Robert e exposto no Jardim Icaraí, atual praça Getúlio Vargas, em Icaraí, em Niterói.
Em sua carreira, pode-se dizer que Antônio Parreiras expressou o romantismo, ainda que de forma tardia, em "sua forma de procurar um lugar no mundo". Considerava-se ser um indivíduo autônomo, que manifestava um forte desejo de mudança social no âmbito hierárquico, o que o impedia de ascender e ter reconhecimento como sujeito, artista e criador.
Grande parte de sua vida adulta foi passada num período de nacionalismo exacerbado e grande exaltação patriótica, o que explica um discurso abrangente em tais elementos e uma repercussão dele projetada no âmbito artístico de Antônio Parreiras. Em um de seus vários discursos na Academia Fluminense de Letras, o pintor afirmava que o grande valor dado à arte europeia pela academia e pelos poucos críticos, dificultou o desenvolvimento de uma arte nacional. O paisagista afirma ainda que, no período que circunda a década de 1880, artistas eram socialmente mal vistos, pois no Brasil a profissão era vista como "fator de civilização", uma importante filosofia decorrida do iluminismo, que prega a ideia de que a arte poderia melhorar a humanidade, civilizando-a.
Segundo ele próprio, ao longo de aproximadamente 55 anos, realizou mais de 850 pinturas, das quais 720 foram criadas em solo brasileiro, tendo feito 39 exposições no Rio de Janeiro e em vários outros estados do Brasil.
Autobiografias
A primeira biografia de Antônio Parreiras foi publicada no ano de 1926 e financiada por ele próprio.
No exemplar disponível no museu do pintor, pode-se verificar que a obra conta com encadernação cuidadosa, possui capa em papel firme azulado de efeito mármore, sem identificação qualquer sobre do que trata. De acordo com a editora fluminense Tipografia Dias, Vasconcelos e C., pela qual a biografia fora publicada, são 131 páginas de texto escrito, 21 ilustrações, uma fotografia da fachada de sua casa e uma fotografia de seu ateliê.
Pode-se afirmar que a grande maioria das críticas referentes ao livro foram positivas. A primeira delas aparece no Jornal do Brasil, no dia 27 de novembro de 1926. Esta não só recomenda a leitura da autobiografia de Antônio Parreiras por seu conteúdo, mas também pela forma como foi estilosamente escrita, com fluidez. Em outro texto crítico sobre a obra, Mario Sette, para o Diário de Pernambuco, destacou, entre outros aspectos, a percepção do autor como artista que, embora tenha viajado com frequência, manteve-se consciente de seu lugar de origem. "Não se tornou pedante, nem um derrotista. Ao contrário, aprendeu ainda mais a amar a sua pátria, reconhecendo-lhes os méritos em confronto com os alheios". Outros críticos optaram por traçar uma analogia entre o ato de pintar e o de escrever, enaltecendo as habilidades do artista em ambas as funções, principalmente em seu viés paisagista.
A segunda edição de sua história contada por ele mesmo foi publicada em 1943, após o seu falecimento, e financiada pelo governador do estado do Rio de Janeiro, diferentemente do que propõe seu testamento, que os custos desta publicação fossem pagos pelo dinheiro arrecadado pela venda de suas medalhas de ouro e alguns quadros, caso houvesse necessidade.
Nela, o artista descreve algumas referências de exposições promovidas em sua homenagem, tal como a de comemoração pelos 50 anos de seu ingresso à Academia Imperial de Belas Artes, em Niterói. "Cerca de dez mil pessoas visitaram. Foi inaugurada por uma comissão eleita pela Sociedade Brasileira de Belas Artes que me fez a entrega de uma mensagem admiravelmente aquarelada pelo meu colega Armando Viana e assinada por diversos artistas". Parreiras conta também sobre a mudança do nome da rua Boa Viagem, onde chegou a morar com alguns colegas do grupo Grimm, para rua Antônio Parreiras, por sugestão dos membros do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga.
Obras pictóricas
Jornada dos Mártires
Partindo do princípio em que "toda imagem conta uma história", estudiosos veem, em "Jornada dos Mártires", de Antônio Parreiras, referência à história da Inconfidência Mineira. O episódio foi marcado por um levante contra a ordem colonial, ameaçando o poder e a autoridade da Coroa Portuguesa. Quando descobertos, os inconfidentes foram presos em Vila Rica, no ano de 1789, e de lá seguiram para a cidade do Rio de Janeiro, onde posteriormente seriam julgados. Durante este trajeto, os prisioneiros pernoitaram na fazenda Soledade, do coronel Manuel do Valle Amado. O momento retratado por Parreiras nesta obra é justamente o da partida dos inconfidentes desta fazenda, rumo à cidade do Rio de Janeiro.
Apesar de o quadro não fazer nenhuma menção direta à Inconfidência Mineira, o tema dificilmente seria identificado apenas sob a observação da tela, sem mais informações. O que pode ser visto na obra não são os inconfidentes como heróis ou homens valentes e vencedores, Parreiras representa apenas o fim de um movimento sem sucesso, cujos integrantes estão prestes a pagar o preço de sua revolta com sua liberdade. Ao mesmo tempo, faz questão de ressaltar a firmeza, a coragem e a convicção dos "revoltosos". Ainda que não os pinte como heróis, transmite, através deles, uma lição de patriotismo e civismo.
Observando a obra sobre um viés crítico-artístico, apenas, é importante recordar que Antônio Parreiras é, principalmente, reconhecido por suas obras de paisagem, tendo sido aluno de George Grimm, pintor alemão que fez escola no Brasil dentro do gênero. Portanto, não nos causa espanto observar que a paisagem da obra ocupa cerca de dois terços do espaço utilizado para retratar parte do percurso dos inconfidentes mineiros.
Sertanejas
Sob um desejo constante de interpretar a natureza de forma a sentir a emoção que ela causa, a obra "Sertanejas" resgata o sentido rousseauniano de que a natureza é mais bela do que a paisagem, por ser livre de qualquer intervenção do homem. A paisagem, segundo Shamma, "é a cultura antes de ser natureza; um construto da imaginação projetado sobre a mata, rocha, água". A obra retrata um túnel florestal primevo na Serra do Mar. Encerrado por um denso arvoredo, onde frestas de luz timidamente iluminam borboletas, que adejam sobre singelas flores tropicais que medram no chão úmido.
Fundação de Niterói
Na obra ''Fundação de Niterói'' de 1909, Parreiras tem como figura principal Arariboia e o trata com especial cuidado. O autor tem como característica marcante o cuidado na pesquisa daqueles que está pintando, quer dizer, evitando reproduzir estereótipos que, até então, eram tratados os indígenas, por exemplo como observadores inscientes e selvagens. Nesse contexto, a pintura figura em primeiro plano Arariboia e outras duas indígenas no espaço central, com seus corpos fortes e traços detalhados. Além disso, Arariboia está em pé e de braços cruzados com a cruz erguida em segundo plano, ou seja, em uma posição questionadora ao invés do estereótipo de simples observador.
Paisagem do Campo do Ipiranga
O quadro intitulado Paisagem do Campo do Ipiranga foi pintado em óleo sobre tela por Antônio Parreiras no ano de 1893. Com dimensões de um metro de altura por 1,48 metro de largura, retrata uma paisagem que contém o antigo Museu do Ipiranga ao fundo.
Contrastando com o céu azul claro repleto de nuvens brancas esfumaçadas na diagonal, o quadro mostra, num primeiro plano, um grande campo de terra marrom-avermelhada, em partes, desmatado. Há uma cerca que divide o território e segue em linha reta, dando noção de profundidade à imagem. Ao fundo, onde a cerca parece chegar ao fim, se aproxima das imediações de um grande casarão branco posicionado ao lado esquerdo do quadro. Próximo a ele, as vegetações são mais altas e têm coloração verde-escura. É deste mesmo espaço do casarão branco que, ao lado direito da tela, um pequeno morro dá uma terceira dimensão à imagem. Neste pequeno morro, está o monumento de cor bege-clara, um pouco amarelada, antigamente denominado de Museu do Ipiranga.
Paisagem do Campo do Ipiranga é uma obra que foi executada na ocasião da primeira visita artística do pintor à cidade de São Paulo. Com ele, Parreiras teve a pretensão de ingressar na recém-inaugurada galeria de arte do Museu Paulista.
Museu Antônio Parreiras
O Museu Antônio Parreiras é a antiga residência do pintor. Trata-se de um casarão projetado por Ramos de Azevedo. Inaugurado no dia 21 de janeiro de 1942, hoje pode ser considerada uma das mais importantes edificações históricas e culturais do estado do Rio de Janeiro.
Embora Antônio Parreiras nunca tenha deixado explícito o desejo de ter sua própria casa transformada em museu, estudiosos veem preocupação breve em constituir e consolidar algo que remeta à sua memória no seguinte trecho de seu testamento:
“ao meu querido amigo e afilhado Athayde Parreiras deixo o encargo de fazer publicar a segunda edição do meu livro Histórias de um pintor contada por ele mesmo. Para pagar as despesas desta publicação serão vendidas as minhas medalhas de ouro e alguns quadros se ainda for necessário. Esses livros serão distribuídos em primeiro lugar por todas as bibliotecas, arquivos e institutos públicos, o que restar vendidos e o produto desta venda será entregue à Sociedade de Cegos de Niterói, da qual sou sócio.”
Críticas a Aleijadinho
Em um de seus vários discursos na Academia Fluminense de Letras, Antônio Parreiras criticou a arte do escultor mineiro Aleijadinho. No início de seu discurso, publicado na revista da Academia, o pintor diz não aceitar o que é qualificado como "estilo colonial", por julgar impossível que, em um meio onde "predominavam a ignorância e as aspirações puramente materiais" dos tempos coloniais, "no meio de selvas", referindo-se à região de Minas Gerais, houvesse alguma preocupação de construção de um estilo arquitetônico.
Sob uma perspectiva determinista, o acadêmico Parreiras encarna profunda descrença na capacidade de transcendência da obra de Aleijadinho. Para ele, tal artista esteve preso demais às realidades de suas esculturas e, por tal motivo, não pôde transcendê-las, nem contextualizá-las no âmbito da divindade, quando se trata de criações de tema religiosos. Para o pintor, Aleijadinho fazia parte do grupo de artistas que não interpretava, mas simplesmente retratava tudo o que via na natureza. Antônio Parreiras nominou as obras do escultor mineiro de tentativas de reprodução da realidade como inúteis, pois lhe faltava técnica, estética e visão de arte; o que seria inato ao artista por viver em um meio que não favorecia o desenvolvimento de seu talento.
Prêmios recebidos
Medalha de Ouro (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Medalha de Honra (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Grande Medalha (Exposição do Centenário da Independência, 1922)
Medalha de Ouro (Exposição Universal de Barcelona, Espanha, 1929)
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Biografia Antônio Parreiras | Itaú Cultural
Antônio Diogo da Silva Parreiras (Niterói, Rio de Janeiro, 1860 - Niterói, Rio de Janeiro, 1937). Pintor, desenhista e ilustrador. Inicia estudos artísticos como aluno livre na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, no Rio de Janeiro, em 1883, onde permanece até meados de 1884. Neste período frequentou as aulas de paisagem, flores e animais, disciplina ministrada por Georg Grimm (1846 - 1887). Por discordar do ensino oferecido, desliga-se da Aiba e segue seu antigo professor, passando a integrar o Grupo Grimm ao lado de Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), entre outros, dedicando-se à pintura ao ar livre. Em 1888, viaja para a Itália e durante dois anos frequenta a Accademia di Belle Arti di Venezia [Academia de Belas Artes de Veneza], tornando-se discípulo de Filippo Carcano (1840 - 1910). De volta ao Brasil, em 1890, dá aulas de paisagem na Aiba, mas após dois meses de seu ingresso, desliga-se da instituição por discordar da reforma curricular promovida em novembro daquele ano. No ano seguinte, fundou a Escola do Ar Livre, em Niterói, Rio de Janeiro. De 1906 a 1919 viaja frequentemente a Paris, onde mantém ateliê. Recebe, em 1911, o título de delegado da Sociéte Nationale des Beaux Arts, raramente concedido a estrangeiros. Em 1926, lança seu livro autobiográfico História de um Pintor Contada por Ele Mesmo, com o qual ingressa na Academia Fluminense de Letras. Fundou o Salão Fluminense de Belas Artes, em Niterói, em 1929. Em 1941, sua casa-ateliê, na mesma cidade, é transformada no Museu Antônio Parreiras, com o objetivo de preservar e divulgar sua obra.
Análise
O pintor e desenhista Antônio Parreiras ingressou na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba em 1883, primeiro como aluno livre e depois como aluno regular. No período em que frequentou a escola, dedicou-se sobretudo às aulas de pintura de paisagem, flores e animais, com o pintor alemão Georg Grimm (1846 - 1887). O professor estimula os alunos a pintar fora dos ateliês da academia. Em 1884, Grimm se desliga da instituição, e seus alunos mais próximos, entre eles Parreiras, Caron (1862 - 1892), Castagneto (1851 - 1900), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912) e Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), o acompanham. Grimm dá aulas de pintura ao ar livre ao grupo - que seria conhecido como Grupo Grimm - na região de Boa Viagem, em Niterói, Rio de Janeiro. O coletivo representa uma renovação na pintura de paisagem brasileira. Trata o tema com autonomia, foge dos modelos acadêmicos e procura a especificidade do panorama natural brasileiro, com base na observação direta da natureza.
Em 1885, Parreiras realiza suas primeiras exposições, nas quais mostra as paisagens que fez durante as expedições do Grupo Grimm. Com a desarticulação do coletivo, o artista prossegue o aprendizado como autodidata. No ano seguinte, excursiona com o pintor Pinto Bandeira (1863 - 1896) pela serra de Petrópolis, Rio de Janeiro. Lá, realiza paisagens em que o céu é pintado de maneira encrespada, a atmosfera é carregada e a vegetação, selvagem. A partir daí, sua pincelada torna-se mais espessa e seus temas, mais dramáticos. Parreiras pinta cenas em que a natureza aparece com força incontrolável. Essas pinturas obtêm sucesso crescente. Em 1886 o imperador Dom Pedro II (1825 - 1891) adquire o quadro Foz do Rio Icarahy (1885), e no ano seguinte a Aiba compra as telas A Tarde e O Rio de Janeiro Depois da Tempestade.
Esse reconhecimento permite que o artista viaje à Europa em 1888. Desembarca no porto de Gênova e depois de estabelecer-se por um curto período em Roma, fixa residência na cidade de Veneza, matriculando-se como aluno livre da Accademia di Belle Arti di Venezia onde estuda por dois anos, tendo aulas com o professor Filippo Carrano (1840 - 1910). Por meio deste contato Parreiras se entusiasma com a possibilidade de pintar a natureza em mutação, figurando processos efêmeros, como as transformações produzidas pela neblina e pela mudança das condições atmosféricas na paisagem. Suas telas tornam-se mais cheias de figuras e com a pasta de tinta ainda mais espessa. O artista se aproxima de técnicas impressionistas da pintura italiana. É na temporada européia que ele começa a interessar-se pela figura humana e toma contato com a poesia clássica.
Em seu retorno ao Brasil, em 1890, Parreiras é nomeado professor interino da cadeira de paisagem da Aiba, permanecendo no cargo por apenas dois meses. Nesse mesmo ano, a reforma curricular proposta por Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Rodolfo Amoedo (1857 - 1941) extingue a disciplina de paisagem e altera o nome da instituição para Escola Nacional de Belas Artes - Enba. No ano seguinte, Parreiras passa a lecionar na Escola do Ar Livre, por ele fundada, em Niterói, com orientação contrária à do ensino oficial. Mantém contato direto com a paisagem e se dedica a capturar a especificidade da paisagem brasileira. Por volta de 1894, suas pinturas se tornam mais claras, demonstrando interesse pela luminosidade tipicamente nacional. Na pintura Sertanejas (1896), aproxima-se da natureza virgem e distante da presença do homem. Nesse trabalho o pintor pretende figurar o vigor de uma flora intocada e tipicamente brasileira, descoberta em seus estudos em expedição nas matas de Teresópolis, Rio de Janeiro.
Entre o fim do século XIX e o início do século XX, Parreiras torna-se um artista consagrado. Ele amplia o leque de temas e deixa de dedicar-se exclusivamente às paisagens. A partir de 1899, recebe encomendas de execução de painéis em alguns palácios e prédios públicos. Incentivado por Victor Meirelles (1832 - 1903), executa pinturas de cenas históricas para o poder público. Entre elas se destacam Proclamação da República, Morte de Estácio de Sá e Prisão de Tiradentes, trabalhos que aumentam sua notoriedade no Brasil. O sucesso lhe proporciona uma vida mais confortável. A partir de 1906, Parreiras vive entre Paris e Niterói. Mantém ateliê na França, onde trabalha e expõe com regularidade. Em 1909, mostra seu trabalho com nu feminino Fantasia, no Salon de la Societé National des Beaux Arts. A repercussão é muito positiva, e esse gênero de pintura se torna um dos principais filões de sua produção. Parreiras é eleito, pelos leitores da Revista Fon Fon, o maior pintor brasileiro vivo em 1925. O artista faleceu em 1937, em Niterói.
Críticas
"A mão corria-lhe febril, empastava a tela, acusava unicamente a forma fruste das coisas. Essa maneira, que o caracterizou, só nos últimos tempos foi atenuada e melhorada pela longa prática do trabalho. A princípio era um impulso. Todos os seus quadros, ainda os menores, se ressentiam desse vigor alucinado, dessa largueza à força de pulso, que facilitava os ardores de sua fecundidade. (...)
Mas o trabalho perseverante, a prática da paleta, a educação da vista, a reflexão da idade e a calma bem-sucedida ao exaltamento dos inovadores da pintura o modificaram. E cada exposição que fazia era uma vitória, porque era um adiantamento confirmado. A pouco e pouco, a sua mão fina e clara se fizera mais hábil, os dedos lisos e longos que pareciam copiar o contorno da espátula de sua caixeta de campo, manejaram mais adestramente os pincéis. Aclarara-se a compreensão das linhas típicas da nossa paisagem, vira mais nítida a cor que a define, o excesso detalhista a repelir e a sintetização dos motivos. (...)
O seu estilo largo, um tanto bravio, em lambadas de pincel, que como já fizemos notar, se modificou vantajosamente, subordinando-se às telas de grandes dimensões, vai-se adelgaçando numa estimável precisão interpretadora de minudências nos pequenos quadros (...)" — Gonzaga Duque (DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Benedicto de Souza, 1929. 255 p. p. 42-43, 49).
"A década de 20 é uma época na qual o artista sente bastante bem o quanto se modifica o meio ambiente em torno dele. Para manter o sucesso que caracterizava o decênio anterior; ainda que possuísse agora maior prestígio, torna-se necessário concentrar seus esforços sobre atividades de cunho grandioso, que revelassem sua permanente disposição e a imutabilidade de seu valor aos 60 anos de idade. Como consequência, o paisagismo em sua obra tem neste período expressão muito limitada. Além da escassa quantidade de paisagens pintadas nos anos 20, nota-se a incidência de um surpreendente declínio em sua evolução, com a presença de artifícios de execução e mesmo de um certo maneirismo nada compatível com a sólida originalidade do conjunto geral de sua produção. Não é, portanto, sem motivo que na imensa maioria das contrafações de suas paisagens pode ser constatada a preferência dos falsificadores por associar as telas ilegítimas a essa época (...)" — Carlos Roberto Maciel Levy (LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. 204 p., il. p&b, color).
"A obra de Antônio Parreiras pode, basicamente, ser dividida em dois períodos (...) formação e afirmação. O período de formação refere-se à época em que Parreiras foi aluno de Georg Grimm na Academia Imperial das Belas Artes e, mais tarde, com o afastamento do mestre bávaro da referida Academia, a fase de estudo de pintura ao ar livre, juntamente com Castagneto, Vazquez, Caros e Ribeiro, quando formaram a Escola da Boa Viagem (...) Evidentemente, as telas desta época possuem sempre um sentido de estudo, onde a elaboração e o processo técnico convergem para o mesmo objetivo: a compreensão da natureza (...) Os trabalhos desta fase de estudo ou formação tinham como base um processo de execução severo. Em sua maioria eram produzidas sobre suportes rígidos (madeira ou cartão), com o desenho realizado a partir de vários estudos anteriores, a crayon ou grafita(...) A pintura propriamente dita era conseguida (...) através de aguda observação da natureza. (...) A maior incidência de obras de pequeno formato é também característica deste período de formação(...). Período de Afirmação: Esta fase refere-se ao momento em que Parreiras inicia de fato sua independência visual, em que procura a consolidação de sua linguagem plástica. Não se trata de uma mudança brusca: mesmo anos depois do encerramento das atividades coletivas do Grupo Grimm ainda será possível detectar com segurança a marcante influência do professor alemão. (...) Em seu período de afirmação, Parreiras consegue reunir em seus trabalhos todos os recursos técnicos desenvolvidos ao longo do século XIX. A plena pasta, o pincel seco, a respiração do suporte, a falsa textura, o esfregaço, os glacis, a livre fatura (desenho do pincel), a ampliação da paleta (ou o uso mais colorido da mesma), os cortes mais ousados e até mesmo a teoria divisionista, que o artista aborda subjetivamente nas suas paisagens (...) e mais objetivamente em algumas pinturas murais decorativas" — Cláudio Valério Teixeira
(LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. p.125-126)
"(...) Parreiras tem uma existência de lutas e comoções (...) daí, pois, uma grande tristeza atuando no temperamento do indivíduo pelo contínuo desmoronar de esperanças apenas lobrigadas. Parte deste fato, segundo creio, a causa de Parreiras abusar muito do branco: M. Paul Bert, em suas observações apresentadas à Academia Francesa, em 1878, afirma que o mais das vezes o emprego de cores prediletas é motivado, não por uma alteração da vista, mas por motivos de ordem intelectual (...) O branco não é uma tinta triste, mas é uma tinta fria. Entrando, exageradamente na combinação de outras tintas, empalidece a tonalidade. De mais a mais - deve ser levada em conta a predileção que o artista tem pelas horas mais tristes do dia. O momento que ele escolhe é sempre (...) o de repouso, nas horas vespertinas, quando o último raio de sol deixou de dourar as nuvens. (...) Dando-lhes o tom predominantemente branco ou cinzento, conseguirá iluminá-las com um equilíbrio de cores prismáticas, de sorte que jamais fatigarão a vista de quem as contemplar por longo tempo". — Alfredo Palheta (PALHETA, Alfredo (pseud. Gonzaga Duque). Belas Artes: Terceira exposição de A. Parreiras. A Semana, ano III, nº 133, Rio de Janeiro, 16 de julho de 1887, citado por LEVY, Carlos Roberto Maciel. Antônio Parreiras: 1860-1937, pintor de paisagem, gênero e história. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1981. p. 28).
"Parreiras, embora tenha realizado uma obra abordando praticamente todos os gêneros artísticos - paisagem, quadros históricos, nus femininos, animais -, revela-nos uma relação especial com a paisagem desde o início, dado que pode ser colhido tando da observação da própria obra que realizou ao longo de sua carreira de pintor como da leitura dos escritos que deixou e do livro que escreveu e publicou ainda em vida, em 1926, História de um Pintor Contada por Ele Mesmo. Por esse motivo, consideramos de fundamental importância olhar para o Parreiras, sobretudo, e procurar situá-lo como tal no âmbito da arte brasileira.
As paisagens dos primeiros anos de Parreiras são ainda fortemente dominadas pela linguagem da paisagem pitoresca, com seus planos, distâncias, texturas, caminhos e a presença de uma figura solitária, de costas ou de grupos pitorescos. Em pinturas de 1888, o pintor faz uso dos recursos composicionais próprios da estética do sublime em suas paisagens, compostas de elementos denotativos da fúria da natureza como céus encrespados e escuros, árvores curvadas pela força do vento, e a presença da figura feminina, emblemática da sensibilidade romântica, numa atitude pensativa, entregue a seu mundo de reflexões e apreensões em meio ao turbilhão que se passa na natureza, sentada sobre o solo pedregoso, cheio de irregularidades e pleno de textura. É a linguagem da paisagem romântica européia da primeira metade do século XIX nas suas versões mais corriqueiras, tornadas populares e acessíveis a um público mais amplo, dentro e fora da Europa, por meio da reprodução em água-tinta ou litografia.
É certo que, nesses trabalhos, Parreiras desenvolve um paisagismo moderno, no sentido da perspectiva de busca do empírico, atento e observador da natureza, certamente uma consequência das lições de Grimm e da venerada prática de pintar ao ar livre, mas ainda demonstra estar preso às consagradas fórmulas da arte da paisagem romântica, da qual os ingleses foram os maiores representantes tanto em termos práticos quanto teóricos" — Valéria Salgueiro (SALGUEIRO, Valéria. Antônio Parreiras: notas e críticas, discursos e contos: coletânea de textos de um pintor paisagista. Niterói: EdUFF, 2000. p.37-38).
"A influência da arte de Meirelles manifesta-se na pintura da maturidade de Antonio Parreiras. A grande paisagem Sertanejas exposta em 1899, parece amplificar em escala monumental os desenhos de florestas executados por Araújo Porto Alegre nos anos 50. (...) Com o passar dos anos, e para satisfazer as exigências celebrativas das novas capitais federais que o abarrotam de encomendas, Parreiras irá se especializar na paisagem histórica, afirmando-se como o maior herdeiro do mestre de Florianópolis. Apesar disso, não deixará de pagar seu tributo aos esquemas compositivos dos quadros monumentais de Pedro Américo (...), e num ciclo de grandes paisagens históricas dedicadas à conquista do Brasil, hoje na casa-museu que o arquiteto paulista Ramos de Azevedo construiu para o artista em Niterói. Essas obras, bem como a casa e ateliê do pintor, em contato com o jardim - pequenos monumentos em si próprios -, mostram como Parreiras não havia ficado imune às influências do pensamento de Ruskin, Morris e do art nouveau do grupo Les Vingts de Bruxelas". — Luciano Migliaccio (MIGLIACCIO, Luciano. O Século XIX. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO. Arte do Século XIX São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 151).
Depoimentos
"Por longos annos fui exclusivamente paysagista.
Annos passei dentro das florestas, ou a percorrer o litoral e constatei que, quando mais se observa essa extraordinaria - Natureza - brasileira =, grandiosa, phantástica, mais difícil se tornou a sua interpretação. Os annos de aturado e persistente estudo, de intima e prolongada convivencia com essa "Natureza", ainda não modificada pela mão preversa do homem algumas vezes permitiram-me synthetizal-a com o seu caracter selvagem, a sua apparente monotonia de verdes fortes e vibrantes; o mysterioso das suas sombras cheias de côr, côr sentida só pelos que estão habituados ao rapido contraste da luz immensamente forte, dura, com macio avelludado das sombras transparentes.
A constante e apaixonada observação dessa natureza acabou por tornar familiar com as suas linhas como me tornara familiar com a sua côr, com essas erectas e aprumadas columnas dos Jiquitibás ou com troncos tortuosos, emmaranhados em curvas de serpente que se vêem nas variadas ondulações dos retorcidos cajueiros.
Os annos vividos nas florestas habituaram-me a trabalhar à luz verde do seu ambiente". — Antônio Parreiras (PARREIRAS, Antônio Profissão de fé - DI 027. In: SALGUEIRO, Valéria. Antônio Parreiras: notas, críticas, discursos e contos: coletânea de textos de um pintor paisagista. Niterói: Eduff, 2000. p. 77).
Acervos
Acervo Banco Itaú S.A. - São Paulo SP
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil - São Paulo SP
Museu Antônio Parreiras - Niterói RJ
Museu da República - Rio de Janeiro RJ
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museu de Arte do Belém - Belém PA
Museu do Estado de Pernambuco - Recife PE
Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro RJ
Museu Júlio de Castilhos - Porto Alegre RS
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Exposições Individuais
1885 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista, na Rua Santa Rosa
1885 - Niterói RJ - Individual, na sala principal da Loja A Photographia
1885 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa de Wilde
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Insley Pacheco
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégant
1887 - Niterói RJ - Individual, na nova residência do artista, na Rua Presidente Domiciano
1887 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na sede do Grêmio de Letras e Artes do Rio de Janeiro
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Insley Pacheco
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Arthur Napoleão
1888 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na sede do jornal A Cidade do Rio
1888 - Veneza (Itália) - Individual, na Sociedade Veneziana
1889 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Arthur Napoleão
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Glace Elégant
1890 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Atelier Moderno
1893 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1894 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1895 - Campinas SP - Individual
1895 - Niterói RJ - Individual, na nova residência do artista, na Rua Tiradentes
1896 - São Paulo SP - Individual, na Casa Steidel
1901 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista
1901 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Salão Nobre da Confeitaria Pascoal
1902 - Santos SP - Individual
1904 - Niterói RJ - Individual, na residência do artista
1905 - Belém PA - Individual, no Teatro da Paz
1905 - Manaus AM - Individual, no Palácio Rio Negro
1909 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Associação dos Empregados do Comércio
1911 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Associação dos Empregados do Comércio
1917 - Recife PE - Individual
1917 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1919 - Paris (França) - Individual, no Petit Palais
1921 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1927 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1928 - Salvador BA - Individual, no Palácio Rio Branco
1929 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Jorge
1931 - Recife PE - Individual, no Teatro Santa Isabel
1932 - Niterói RJ - Individual, no Salão Nobre da Companhia Cantareira
1932 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Enba
1933 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Stoppel
Exposições Coletivas
1887 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras, Castagento e Henrique Bernardelli, no Grêmio de Letras e Artes
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - pequena medalha de ouro e prêmio aquisição
1892 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, no Salão do jornal A Província
1893 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, no jornal A Cidade do Rio
1893 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1895 - Rio de Janeiro RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, na Biblioteca Fluminense
1895 - São Paulo SP - Salão da Paulicéia
1896 - Niterói RJ - Exposição dos Alunos da Escola do Ar Livre, na residência do artista localizada na Rua Tiradentes
1896 - Rio de Janeiro RJ - Antonio Parreiras, Alberto Silva, Cândido de Souza Campos e Álvaro Cantanheda, no Pavilhão da Lapa
1897 - Rio de Janeiro RJ - Exposião dos Alunos da Escola do Ar Livre, na Biblioteca Fluminense
1909 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1910 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1911 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1911 - São Paulo SP - Primeira Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios
1912 - São Paulo SP - Segunda Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios
1913 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1914 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1915 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras e Dakir Parreiras, na Enba
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de ouro
1919 - Niterói RJ - Exposição Comemeorativa do Centenário de Fundação da Vila Real de Praia Grande, no Salão da Companhia Cantareira
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1920 - Paris (França) - Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts
1921 - Rio de Janeiro RJ - 28ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de honra
1922 - Rio de Janeiro RJ - Exposição do Centenário da Independência - grande medalha
1923 - Rio de Janeiro RJ - 30ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de honra
1927 - Rio de Janeiro RJ - 34ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1929 - Barcelona (Espanha) - Exposição Universal de Barcelona - medalha de ouro
1929 - Rio de Janeiro RJ - 36ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1929 - Sevilha (Espanha) - Exposição Ibero-Americana de Sevilha - medalha de ouro
1930 - Rio de Janeiro RJ - 37ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1934 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão do Núcleo Bernardelli, na Enba
1936 - Rio de Janeiro RJ - Sociedade Sul-Rio-Grandense
1937 - Rio de Janeiro RJ - 43º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
Exposições Póstumas
1940 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos, na Prefeitura Municipal de São Paulo
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1954 - São Paulo SP - 19ª Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA
1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1981 - Niterói RJ - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, no Museu Histórico do Estado do Rio de Janeiro
1981 - Rio de Janeiro RJ - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, no Acervo Galeria de Arte
1981 - São Paulo SP - Antônio Parreiras 1860-1937: pintor de paisagem, gênero e história, na Pinacoteca do Estado
1983 - São Paulo SP - Projeto Releitura, na Pinacoteca do Estado
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado
1986 - São Paulo SP - Tempo de Madureza, na Ranulpho Galeria de Arte
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural Unifor
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis, no CCBB
1989 - São Paulo SP - Pintura Brasil Século XIX: obras do acervo Banco Itaú, na Itaugaleria
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, na CCBB
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1998 - Rio de Janeiro RJ - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Museu Naval e Oceanográfico
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - São Paulo: de vila a metrópole, na Galeria Masp Prestes Maia
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2004 - Curitiba PR - A Paisagem Paranaense e seus Pintores, na Casa Andrade Muricy
Fonte: ANTÔNIO Parreiras. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 23 de maio de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Antônio Parreiras | Arte em Foco
Antônio Parreiras iniciou sua carreira pintando paisagens. Adotou esse tema por ser um dos seguidores do alemão Johan Georg Grimm, que passou pelo Brasil no final do século XIX e implantou por aqui, por assim dizer, um gosto para a representação de nossas cenas. Para o Grupo dos Irmãos Grimm; como ficou conhecido esse movimento; a natureza fornecia uma fonte constante de estudos e precisava ser contemplada e explorada em toda sua integridade. E mesmo que a paisagem ainda fosse um tema secundário, relegado ao fundo das composições, principalmente históricas, foi com esse motivo que Parreiras montou sua primeira exposição, em 27 de maio de 1886.
A exposição teria sido um fracasso, não fosse um único detalhe, a visita ilustre de D. Pedro II, que fez do evento um dos grandes sucessos da época. Porém, Parreiras não se limitou a esse tema, mesmo que a exposição inicial lhe tivesse aberto um caminho favorável para comercializá-lo. Influenciado por Victor Meirelles, adotou também a pintura de cenas históricas. Sempre realizadas em grandes formatos, com a utilização de muitas figuras em suas composições e procurando sempre realçar fatos e heróis regionais.
Uma de suas mais bem sucedidas encomendas foi a tela A Conquista do Amazonas, feita pelo governador do Pará, Augusto Montenegro. Tendo 4 metros de altura por 8 metros de comprimento, ainda é a maior pintura do estado do Pará, localizada no Palácio Lauro Sodré. Belém era, naquela época, uma próspera cidade, por onde escoava toda a riqueza retirada dos seringais da Amazônia. Parreiras fez enorme sucesso por lá, vendendo diversos trabalhos aos novos ricos da região.
Diversas literaturas nos mostram um Parreiras impetuoso, de fácil irritabilidade e muito genioso. São narradas várias desavenças suas, com artistas de sua época. Um exemplo disso foi o abandono da Academia de Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, para frequentar um curso livre de pintura, ministrado por Georg Grimm. Não acompanhou seu mestre na viagem pelo interior do Brasil, seguindo seus estudos de forma autodidata até 1885. Só em 1888, quando viaja à Europa, é que aperfeiçoa sua técnica na Academia de Belas Artes de Veneza.
Voltando ao Brasil em 1890, tem a oportunidade de colocar em prática um grande sonho: ao se tornar professor de pinturas de paisagens na Escola Nacional de Belas Artes, leva seus alunos para pintarem ao ar livre, recordando os velhos ensinamentos de Grimm. Desavenças com aquela instituição, por causa dessa sua prática, levam-no a abandonar o cargo e lecionar por conta própria. Em Teresópolis, fez vários estudos de matas e montanhas.
Parreiras sempre foi muito batalhador e com uma capacidade de trabalho admirável. Tido como um dos mais bem sucedidos pintores brasileiros de sua época, viveu dignamente de seu trabalho, fazendo riqueza e vivendo em confortável situação financeira. Viajava sempre ao exterior e possuía, além do ateliê em Niterói, um outro ateliê em Paris. Lá, participou do Grande Salão por várias vezes.
Era comumente requisitado para pintura de palácios de governo, sendo de destaque o teto do Salão Nobre do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Também dedicou à pintura de nus femininos, que lhe rendeu bastante prestígio, pela sensualidade que evocava de suas cenas. Em 1926, publicou História de um pintor contada por ele mesmo, autobiografia que lhe marcou a entrada para a Academia Fluminense de Letras.
Após sua morte, sua casa foi transformada no Museu Antônio Parreiras.
Fonte: Arte em Foco, "Antônio Parreiras", escrito por José Rosário, publicado em 19 de fevereiro de 2012. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Museu Antônio Parreiras | Wikipédia
O Museu Antônio Parreiras (MAP) é um museu dedicado à preservação da memória e da obra de Antônio Parreiras (1860-1937), um dos maiores pintores brasileiros. Localiza-se na Rua Tiradentes, no bairro do Ingá, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. É um museu estadual, subordinado à Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro, órgão da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. Sua área total cobre 5 mil metros quadrados.
História
A antiga residência de Parreiras é um casarão projetado por Ramos de Azevedo e construído em 1894. É uma das mais importantes edificações na Região Metropolitana do Rio de Janeiro que foram projetadas pelo arquiteto eclético que se notabilizou em São Paulo.
O museu foi inaugurado em 21 de janeiro de 1942 e ocupa três prédios que pertenceram ao pintor e à sua família: sua antiga residência; seu ateliê e residência de seu filho Dakir (1894-1967); e a residência da sua filha Olga. Na sua antiga residência, foram instaladas as salas de exposição e a administração do museu. Em seu ateliê, erguido em 1912, estão outras salas de exposição. A casa de sua filha foi adaptada como reserva técnica.
O museu foi tombado em 1967 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O jardim de 4 mil metros quadrados, incluído no tombamento, foi desenhado e plantado pelo artista.
Acervo
O acervo do MAP permite observar dois aspectos importantes da contribuição de Parreiras à história da cultura do Brasil: sua interpretação impressionista do ambiente brasileiro e sua atitude moderna antes do modernismo.
Antônio Parreiras foi um paisagista exímio. Captou a luz do ar livre (o plein air dos franceses). Nisso, sua tarefa foi converter a luz do Brasil em cor. Pintor que viajava, suas andanças pelo Brasil acabaram por esboçar a vontade de produzir uma pintura que totalizasse a visão do país.
O acervo do museu é composto por mais de 2 000 itens e é dividido em acervo artístico e não artístico:
No acervo artístico:
Coleção Antônio Parreiras, com pinturas e desenhos realizados entre 1883 e 1937;
Coleção de Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX, com obras de pintores como Georg Grimm, Nicolau Antonio Facchinetti (1824-1900), Eliseu Visconti (1866-1944), Henrique Cavalleiro (1892-1975), Georgina de Albuquerque (1885-1962) e outros;
Coleção de Arte Estrangeira, com obras europeias que pertenceram ao artista e à coleção de Alberto Lamego, onde se destacam pinturas flamengas, francesas e italianas dos séculos XVI e XVII.
No acervo não artístico:
Objetos pessoais de Antônio Parreiras, com paletas, pincéis, cavaletes, caixa de tintas, mobiliário, documentos, manuscritos, fotografias, negativos em vidro e uma pequena biblioteca.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.
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Grupo Grimm | Itaú Cultural
Entre os anos de 1884 e 1886 um grupo de sete jovens artistas encontra-se regularmente para pintar nas praias e arredores da cidade de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, sob orientação do artista alemão Georg Grimm (1846 - 1887). O grupo, posteriormente conhecido como "Grupo Grimm", é formado pelos pintores Antônio Parreiras (1860 - 1937), Garcia y Vasquez (ca.1859 - 1912), França Júnior (1838 - 1890), Francisco Ribeiro (ca.1855 - ca.1900), Castagneto (1851 - 1900), Caron (1862 - 1892) e o pintor alemão Thomas Driendl (1849 - 1916), que por vezes substitui o mestre. Sua atuação caracteriza-se pela pintura de paisagem ao ar livre e tem origem na própria Academia Imperial de Belas Artes - Aiba do Rio de Janeiro. Georg Grimm, pintor bávaro que chega ao Brasil no final dos anos 1870 do século XIX, após cursar a Academia de Munique, é um dos motivadores da valorização da pintura de paisagem como gênero autônomo e incentivador da pintura de observação direta da natureza na história da arte brasileira.
Em 1882, Grimm conhece um relativo sucesso no meio artístico carioca com uma exposição de 128 quadros de sua autoria. Suas vistas de cores fortes e luminosas de diversas partes do mundo logo causam impacto num ambiente acanhado, acostumado com as tintas pálidas da maior parte dos paisagistas da época. O artista é então convidado, por membros da família imperial e a contragosto da Aiba, a ocupar a cadeira de "paisagem, flores e animais", em substituição a Victor Meirelles (1832 - 1903) e Zeferino da Costa (1840 - 1915). A primeira providência do mestre é ministrar suas aulas fora dos recintos da instituição. Até então, a pintura de paisagem é realizada dentro do ateliê, assim como a pintura histórica. Grimm exige que seus alunos pintem a partir do estudo exaustivo do motivo in loco, pois apenas dessa forma é possível evitar ou minimizar a ação dos modelos estéticos consagrados pelo ensino oficial, liberando o olho do artista para a percepção e expressão naturalista da paisagem.
Passa a trabalhar com seus alunos nos recantos que escolhia, em plena natureza, o que não foi aceito pela Aiba. Em 1884, tanto Grimm como Caron, Castagneto, Driendl, França Júnior e Garcia y Vasquez são premiados na Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro. Contudo, a incompatibilidade entre seu método de ensino e o empregado pelo ensino oficial faz com que o artista não renove seu contrato. Muda-se para Niterói e ministra suas aulas ao ar livre. Os alunos o seguem, abandonando a vida escolar.
Apesar do viés naturalista da produção de Grimm, nota-se que suas pinturas atestam os resquícios de uma formação rígida, muitas vezes limitada pelos padrões que gostaria de abolir. Em seus quadros a carência de emotividade é compensada pela reprodução fiel e detalhista de todos os aspectos da paisagem. Neste sentido, talvez sua importância seja maior como professor do que como artista. Entre seus alunos, destacam-se Castagneto e Parreiras. Garcia y Vasquez é o melhor paisagista na opinião do mestre. Contudo sua produção é limitada por períodos de instabilidade emocional que levam ao suicídio do artista. Nota-se que no início todos, inclusive Castagneto, foram extremamente influenciados pela obra do mestre, a ponto do crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911) comentar que "foram sete discípulos que, pela maneira de sentir e interpretar a natureza, pela maneira de traçar e usar das tintas, deram sete Grimms".
Sobre as conseqüências da atuação de Grimm, considera-se que a mais importante é ter chamado a atenção para a pintura de paisagem. Sobre seus métodos de ensino, parece que a Aiba esperaria ainda vários anos para passar por um processo de renovação. Aliás, como observa o historiador Quirino Campofiorito (1902 - 1993), o ensino de paisagem foi extinto em 1890, posto que os professores se negavam a levar os alunos a trabalhar ao ar livre. O grupo de Niterói se dispersa por volta de 1886 quando o mestre se muda para Teresópolis. Caron, Castagneto e Garcia y Vasquez passam uma temporada na Europa que serve para deixar seus trabalhos mais comportados do que propriamente levá-los ao impressionismo. Ao que tudo indica, eles não tiveram contato com os impressionistas em suas estadas européias, preferindo o ateliê de pintores mais acadêmicos como o pintor francês Hector Hanoteau (1823 - 1890). Castagneto, o que parece ir mais longe na busca pela expressão livre da paisagem, sobretudo marinhas, parece não fazer discípulos na época. Parreiras, o mais bem-sucedido do grupo, dedica-se às pinturas históricas e de nus já como professor da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Retorna à paisagem e a potência dos primeiros trabalhos só no final dos anos 1930 do século XX.
Fonte: GRUPO Grimm. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 23 de maio de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Wikipédia. Consultado pela última vez em 23 de maio de 2024.