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Mestre Cornélio

José Cornélio de Abreu (1956, Campo Maior, Piauí, Brasil), mais conhecido como Mestre Cornélio, é um escultor brasileiro. Ainda na infância acompanhou o trabalho do pai carpinteiro e marceneiro, iniciando sua trajetória artística na adolescência, quando esculpiu uma imagem de Cristo para a Igreja de São João Evangelista, em Teresina, orientado pelo mestre Carlos Barroso. Influenciado pela tradição santeira piauiense, marcada por nomes como Mestre Dezinho e Mestre Expedito, mas desenvolveu estilo próprio e inovador. Suas esculturas, produzidas sobretudo em madeira de cedro, são acabadas em cera e não recebem pintura, destacando a textura natural do material. Entre seus principais temas estão santos, anjos, presépios, ex-votos e os totens, criados em 1987, que se tornaram uma de suas marcas registradas. Recebeu diversos reconhecimentos, entre eles o prêmio de “melhor do mundo” no concurso internacional de Córdoba, Argentina, em 1995, competindo com artistas de 21 países. Expôs em salões nacionais e internacionais, consolidando seu nome como um dos grandes expoentes da arte popular brasileira. Suas obras integram acervos de coleções públicas e privadas, incluindo instituições culturais de destaque voltadas à preservação da arte popular.

Mestre Cornélio | Arremate Arte

José Cornélio de Abreu, mais conhecido como Mestre Cornélio, nasceu em 1956, na cidade de Campo Maior, no Piauí, e se tornou um dos maiores representantes da arte santeira brasileira. Filho de um carpinteiro e marceneiro, cresceu em um ambiente em que a madeira fazia parte do cotidiano e, desde cedo, aprendeu a lidar com ferramentas, ajudando o pai na confecção de móveis, portas e janelas. A experiência que adquiriu nessa época marcou profundamente sua trajetória, despertando nele a sensibilidade e a habilidade manual que passou a utilizar em suas obras.

Aos 12 anos, mudou-se para Teresina, onde realizou pequenos trabalhos em madeira. Por volta dos 15 anos, foi convidado a esculpir uma imagem de Cristo para a Igreja de São João Evangelista, com orientação do mestre Carlos Barroso. A princípio relutante, aceitou o desafio e descobriu no entalhe sacro um caminho de expressão artística. Incentivado pelo padre da paróquia, que profetizou que sua arte o levaria até a Itália, Cornélio decidiu seguir a carreira de santeiro, consolidando-se em um ofício que unia devoção, técnica e tradição.

A partir da década de 1970, Mestre Cornélio começou a expor suas esculturas em salões e feiras de arte no Brasil, conquistando reconhecimento pelo estilo singular. Suas obras, produzidas em cedro e outras madeiras da região, destacam-se pelo acabamento em cera, sem pintura, ressaltando a textura natural da matéria-prima. O artista construiu uma linguagem própria dentro da arte santeira, equilibrando religiosidade e elementos regionais, e inovou ao criar, em 1987, seus primeiros totens, peças que se tornaram marca registrada de sua produção.

Com temas que vão de santos e anjos a presépios e figuras populares, Cornélio sempre imprimiu em suas esculturas um caráter simbólico e narrativo, revelando tanto a fé quanto a memória cultural de seu povo. Seu trabalho manual, realizado sem esboços prévios, nasce diretamente do diálogo entre mãos e madeira, carregando uma espontaneidade que reforça a autenticidade de sua arte.

Em 1995, foi premiado em Córdoba, na Argentina, em um concurso internacional que reuniu artistas de 21 países, sendo reconhecido como o “melhor do mundo” naquele evento. Em 1999, representou o Brasil em Pádua, na Itália, concretizando a previsão feita décadas antes pelo padre que o incentivara no início da carreira. Esses marcos projetaram seu nome no cenário internacional e o consagraram como um mestre da arte popular.

Mesmo com a fama que alcançou, Mestre Cornélio manteve sua rotina simples em Teresina, trabalhando em seu ateliê modesto. A produção diária, que varia entre seis e doze horas de dedicação, é partilhada com o filho, Leonardo Leal de Abreu, seu aprendiz e colaborador. 

Mestre Cornélio consolidou-se como herdeiro e renovador da tradição santeira piauiense, sucedendo a nomes como Mestre Dezinho e Mestre Expedito. Sua obra está presente em coleções públicas e privadas, além de ter integrado importantes exposições no Brasil e no exterior.


Mestre Cornélio | Arte dos Mestres

História de vida

José Cornélio de Abreu (1956) nasceu em Campo Maior – PI. Tinha o sonho de ser jogador de futebol, esteve em São José dos Campos, em São Paulo, “quando tinha dente de leite” pleiteando ser jogador no Portuguesa. Como seu pai queria que ele estudasse, o levou de volta pra Piauí.

Quando tinha por volta dos 13 anos, sua família mudou-se para Teresina. Cornélio trabalhou desde cedo para ajudar a complementar a renda da família. Entre 12 e 15 anos, fazia cadeiras de ferro em serralheria, além de ajudar o pai que era carpinteiro e marceneiro, fazendo portas, janelas e tetos de madeira.

De família católica, frequentava a igreja do bairro, no Parque Piauí. Quando terminaram de construir a capela, o padre italiano pediu para que Cornélio fizesse a imagem de Cristo da igreja. Para ajudá-lo na empreitada, o padre reuniu um artista cearense que havia chegado à cidade. Era Carlos B., que estava doente e precisava de trabalho.

Acharam um galho de cajueiro deteriorado  e usaram essa madeira para fazer o Cristo, que ficou com um braço torto devido às características da própria madeira. O padre gostou mesmo assim, dizendo que ele ficou expressivo pois foi assim que Cristo desceu da cruz. Nessa época Cornélio tinha por volta dos 15 anos.

Após esse episódio, Carlos B. chamou Cornélio para trabalhar com ele, já que estava com a saúde muito debilitada. Era por volta de 1973 e Cornélio não se animou muito com a ideia, pois achava a profissão difícil no Piauí. Mesmo assim, ajudou Carlos B. a fazer uma Pietá na casa de um cliente, que ficou contente e reconheceu o talento de Cornélio.

Aos poucos foi pegando gosto pelo trabalho com a madeira, mas enfrentava a resistência do pai dizia que Cornélio precisava largar o trabalho e deveria estudar. Seu pai dizia que Piauí era muito pequeno e não tinha espaço para esse trabalho artístico. Em momento de revolta, ficou alguns dias sem trabalhar com Carlos B., que logo contou para o padre. Determinado a intervir na situação, o padre foi até a casa de Cornélio e pediu para ele continuar com o trabalho na madeira, porque um dia seu pai iria falecer e Cornélio precisaria ter seu próprio caminho e sustento. Para persuadi-lo, o padre disse que um dia Cornélio ficaria tão famoso que conheceria seu país, a Itália, através de sua arte.

Nessa época, Carlos B. tramou um plano para estimular Cornélio a não desistir. Pediu para o amigo Tarcísio Prado, que gostava de arte, para comprar as peças produzidas por Cornélio. Tarcísio foi comprando a produção e dizendo para Cornélio que ele seria “o maior artista deste país”, o que foi o convencendo a continuar, mesmo sem saber que tudo era armado.

Um dia, andando perto de casa, encontrou um galho curvo de flamboiã e levou pra casa. Entalhou uma cabeça de jumento que lembrava uma carranca e levou a peça para o centro de artesanato para expor. A obra caiu no gosto de uma cliente importante, que fez a peça chegar aos olhos da esposa do então governador. Cornélio foi então convidado a participar de eventos promovidos pela política local dedicada ao artesanato, vendia suas peças no centro de artesanato e participava de feiras. Foi convidado a palestrar na feira de Parnaíba, com o objetivo de estimular os jovens artesãos da região. Novamente, viveu outra armação criada para estimulá-lo a continuar seu trabalho: a diretora do centro de artesanato havia comprado, escondido, todas as peças de Cornélio na feira.

Em 1974, o centro de artesanato realizou um concurso de presépios. Cornélio teve como concorrentes grandes escultores, como mestre Dezinho e Expedito. Ficou em segundo lugar, para sua grande surpresa. Um dos jurados disse a Cornélio que sua obra se destacou pela criatividade. Um presépio um pouco esquisito, porque tinha entre os personagens uma cobra. O jurado indagou a Cornélio o motivo da presença do animal, que respondeu: “Pelo que eu sei, deus e jesus abranjou todas as pessoas e animais, porque não a cobra?”

Cornélio participou de vários salões, exposições, concursos, e ganhou vários prêmios. Foi convidado para representar o Brasil na mostra campeonária do mundo em Padova, na Itália. Nessa viagem, passou por Verona, a cidade do padre que interviu na sua trajetória artística. Para Cornélio, a fala do que ouviu do padre, quando tinha seus 15 anos, foi profética.

Com o falecimento de mestre Dezinho e mestre Expedito, Cornélio é o mais antigo artesão vivo da tradição de santeiros do Piauí.

Obra e processo criativo

Mestre Cornélio é reconhecido por seguir a escola de escultores santeiros iniciada por Mestre Dezinho, mas é marcada por uma identidade e estilo próprio. A temática é principalmente católica, com imagens de santos, anjos e presépios. As imagens geralmente possuem uma postura hierática, as vestes são retas, mas recebem adornos em alto relevo, como folhas, flores e até temas regionais, como as palmeiras de carnaúba e outros elementos da cultura da região. Além dos santos, esculpe totens altos, com riqueza de detalhes que remetem à outras culturas, como a andina e indígena da América do Norte. Também passou a produzir esculturas com temas profanos, diversificando sua produção.

Suas peças são produzidas em parceria com seu filho, Leonardo Leal de Abreu, em um ateliê onde trabalham juntos. A madeira, geralmente cedro, é comprada e trazida de outros estados. Esculpe suas peças sem fazer nenhum esboço, utilizando ferramentas manuais. As esculturas não recebem tintura, apenas um acabamento em cera para preservar a madeira. 

Arte santeira de Piauí

A arte santeira do Piauí remonta ao processo de colonização do estado, mas ganha especial proeminência nas décadas de 1950 a 1970, quando o estilo que é reconhecido hoje começa a tomar forma. As cidades de Teresina, José de Freitas, Campo Maior, Pedro II e Parnaíba são as localidades que concentram mais mestres e aprendizes do ofício da arte santeira do estado.

Fala-se que, na região, há gerações de santeiros: a primeira iniciada com Mestre Dezinho (José Alves de Oliveira), que nasceu em Valença em 1916 e mudou-se para Teresina com 45 anos. Dezinho trabalhou como marceneiro e carpinteiro fazendo móveis, além de confeccionar ex-votos para fiéis. Depois de trabalhar por muitos anos como segurança em uma praça, um padre o chamou para esculpir o cristo e a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira da Igreja. Até então, mestre Dezinho não havia feito esculturas de corpo inteiro, mas esse foi o pontapé para o começo de uma tradição na região.

Assim como Dezinho, outros artesãos santeiros também são oriundos de um contexto agrário. Mudaram-se para a capital do estado e outros municípios do seu entorno em busca de novas oportunidades de trabalho devido à decadência das atividades extrativistas, ligadas principalmente à carnaúba e outras palmeiras, e à agricultura. Quase sempre, esses santeiros, também tinham alguma habilidade em trabalhos manuais, atuando como carpinteiros, marceneiros ou sapateiros, o que os tornavam procurados pela população para a compra de ex-votos, uma prática do catolicismo popular bastante difundida e estimulada pela Igreja no Piauí. Essa relação de proximidade entre a produção de ex-votos com outras atividades artesanais contribuiu para a formação estética da arte santeira do Piauí. Mestre Dezinho inclusive chegou a afirmar que usava os mesmos adornos dos móveis, aqueles “apliques” esculpidos em alto relevo de folhas e flores, para decorar seus santos. Da mesma forma, a ausência de pintura e os traços estilizados, ainda que ricos em detalhes, remetem à economia das formas dos ex-votos.

Essa primeira geração foi formada a partir de um cruzamento de contextos e estímulos promovidos pela Igreja católica – como vemos na história de Dezinho e Cornélio, que começaram esculpindo imagens para uma igreja – e também pelo próprio estado, por meio de políticas de desenvolvimento voltadas ao artesanato. Hoje conta-se pelo menos 4 gerações de artesãos, que foram se formando a partir do interesse de pessoas próximas aos mestres e até de interessados que possuíam pouca ligação com esse modo de fazer. Atualmente, vários artistas já são reconhecidos, como mestre Kim, Dim, Paquinha, Costinha entre outros.

Em 2000, Mestre Dezinho fundou uma cooperativa, a CAMEDE – Cooperativa de Artesanato Mestre Dezinho, com o objetivo de criar melhores condições de comercialização para a arte santeira. Além disso, por meio da cooperativa foi possível criar oficinas para o repasse das técnicas para as novas gerações.

Em 2008, o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional incluiu a arte santeira do Piauí no Inventário Nacional de Referências Culturais como patrimônio imaterial do Piauí.

Fonte: Arte dos Mestres, “Mestre Cornélio”. Consultado pela última vez em 27 de agosto de 2025.


Mestre Cornélio | Rede ArteSol

Mestre Cornélio é um dos principais expoentes da arte popular do Estado do Piauí. Suas imagens geralmente reproduzem símbolos locais e figuras humanas. Apesar de seguir a importante tradição de arte santeira dos mestres escultores do estado, os totens se tornaram sua marca registrada.

Sobre as criações

Após uma ampla pesquisa que resultou em um Manual de Aplicação, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), reconheceu a Arte Santeira do Piauí como patrimônio nacional. O manual se constitui em ferramenta teórico-metodológica do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) para identificação, documentação e registro desse patrimônio na categoria ofício e modos de fazer. É considerado pelo IPHAN um instrumento indispensável no processo de identificação de bens culturais que possibilita a preservação e salvaguarda de bens culturais de natureza material e imaterial. No manual foram catalogados 45 santeiros denominados “Senhores de seu ofício: arte santeira do Piauí”. Entre eles, Mestre Cornélio, um dos principais expoentes da arte popular do Estado do Piauí. 

Reconhecido como mestre de ofício pelo Governo do Piauí, Cornélio passou a representar junto com Mestre Expedito, o artesão mais antigo na tradição santeira do Piauí, após o falecimento de Mestre Dezinho no ano de 2000. Suas mãos habilidosas são capazes de dar forma a esculturas em madeira com impressionante riqueza de detalhes feitas com batidas precisas em pedaços de cedro e pequi já beneficiados. Suas imagens geralmente reproduzem símbolos locais e figuras humanas e apesar de seguir a importante tradição de arte santeira dos mestres escultores do estado, os totens se tornaram sua marca registrada.

Sobre quem cria

Filho de carpinteiro e marceneiro a história de Cornélio com a madeira é longa, e começa cedo. De família muito humilde, começou a ganhar intimidade com a madeira por necessidade: “Era uma época de muita dificuldade”. Aos 12 anos mudaram-se para Teresina e por volta dos 15 passou a fazer parte de um grupo de jovens. Em 1973 o pai foi contratado para a construção do teto da igreja São João Evangelista, a “Igreja do Parque” como é conhecida e ele foi convidado a trabalhar junto, como ajudante. Começa aí sua iniciação artística. O padre, um italiano, o pediu que executasse a imagem do Cristo. Cornélio achava que não conseguiria mas o pároco insistiu: certo dia, bem cedo, foi até a pequena marcenaria onde o pai trabalhava nos fundos de sua casa levando um jornal. Bateu à porta e mostrou a figura do mestre escultor cearense Carlos Barroso (já falecido), que estava desabrigado na praça, precisando de trabalho. Anunciou que ele o ajudaria. E juntos, esculpiram o Cristo da igreja em galhos de cajueiro de tamanho natural. Assim iniciou sua vida de santeiro. 

Cornélio não pretendia seguir na arte, mas o padre insistia. O convenceu a esculpir uma Pietá na casa de um médico. Ao finalizar a obra ambos reforçavam que ele seguisse no ofício. Ele não queria, mas aos poucos foi tomando gosto. O renomado ator e dramaturgo piauiense Tarcisio Prado, comprava suas peças como forma de incentivo. Mas o pai passou a reclamar que ele andava ausente, ficava só pela rua trabalhando. Cornélio se zangou e parou de esculpir. Mas o pároco voltou a sua casa e o convenceu que voltasse, dizendo que o pai ficaria velho e que Cornélio teria que ter uma profissão. Ele enfim acabou se apaixonando pela arte e com o trabalho conseguiu vencer as dificuldades. Aos poucos foi ganhando reconhecimento. Foi premiado no Salão de Artesãos Piauienses (1974) e em 1978 foi mencionado no primeiro livro O Reinado da Lua, resultado da pesquisa de Sílvia Rodrigues Coimbra, Flávia Martins e Maria Letícia Duarte, que saíram a campo entre 1975 e 1980 pelo nordeste para documentar a realidade singular dos artistas populares. Mais tarde foi mencionado na publicação Arte Santeira Piauiense. Foi novamente premiado no II Salão Universitário de Arte Santeira e no VII Salão de Artes Plásticas do Piauí, em Teresinha PI (1981). Participou de mostras nacionais e internacionais no Rio de Janeiro (1976), Teresinha (1976), Salvador (1980 e 1981), Brasília (1987), São Paulo (1987 e 1988), Córdoba – Argentina (1995) onde foi reconhecido melhor do mundo entre artesãos de 21 países e mais recentemente em Curitiba – PR. O padre sempre dizia que um dia, sua arte o levaria a conhecer sua terra natal na Itália. Surpreendentemente Cornélio foi convidado em 1999 pela Câmara Comercio Exterior São Paulo – Itália para representar o Brasil em uma viagem para a cidade de Pádua, terra natal do padre italiano. Uma lembrança que sempre o impressiona. E a vida seguiu. Sua persistência e capacidade criativa o levou a ser reconhecido no Brasil e exterior. Com um estilo próprio, suas peças são praticamente um privilégio de colecionadores que ousam aguardar pela produção de uma encomenda. Diante do reconhecimento e valor que sua obra alcançou, chega a achar graça de algumas estratégias comerciais que já presenciou: “Me mataram muitas vezes. Me tornaram analfabeto. Para as peças valerem mais. Mas que história é essa?”

Aos 62 anos Cornélio reconhece as conquistas que a arte lhe trouxe: “Pra começar não fiz estudar, não completei o ensino médio completo, precisava trabalhar (…) a arte trouxe esse prazer de ter o talento, comecei a ser reconhecido pela tal criatividade, criei um estilo próprio e sempre digo: seja feio mas seja você mesmo”.

Sobre o território

José Cornélio de Abreu é nascido no município de Campo Maior em 1956. Trabalha em um espaço pequeno dentro de casa: “O atelier de artesão humilde é uma oficina como de qualquer outro. Atelier parece chique demais e o artista de verdade nunca fica rico porque ele não rouba, ele faz um trabalho”. Emociona-se ao rever quão distante a arte o levou e o valor desse legado: “Um dia minha filha estava em sala de aula e a professora falando desse assunto perguntou se alguém conhecia Mestre Cornélio. Ela levantou a mão e disse que era seu pai mas ninguém acreditou. Então a professora pediu que ela o convidasse à ir a escola para que falasse aos demais alunos. Isso tem um valor enorme!”

Fonte: Rede ArteSol, “Mestre Cornélio”. Consultado pela última vez em 29 de agosto de 2025.


Mestre Cornélio | Arte Popular do Brasil

José Cornélio de Abreu, o mestre Cornélio, é um dos principais expoentes da arte popular do Estado do Piauí. Ele nasceu no município piauiense de Campo Maior em 1956. Filho de carpinteiro e marceneiro começou a trabalhar na madeira muito cedo; transformou-se em escultor por necessidade, mas acabou se apaixonando pela arte. A família era muito pobre, mas foi com o trabalho que conseguiu vencer as dificuldades. Ele diz que na igreja em que frequentava sempre escutava o padre falar que tínhamos é que trabalhar.

O trabalho artístico do mestre Cornélio começou em 1973 em Teresina-PI. O pai foi chamado para a construção do teto de uma igreja e ele foi contratado como ajudante. Certo dia o pároco se dirigiu a ele e disse que ele faria o Cristo para a igreja. Você tem talento, disse o padre. Com a ajuda do escultor cearense Carlos Barroso que chegara à cidade, esculpiu o Cristo. Segundo ele, a escultura ficou com um braço torto, porque o galho do cajueiro que usou era torto. Mestre Cornélio conta que Carlos Barroso o ajudou muito na carreira de escultor.

A primeira peça comercializada do mestre Cornélio foi uma carranca com cara de jumento, esculpida num tronco de flamboiã. Ele a levou para ser vendida no Centro de Artesanato de Teresina, mas lá acharam a peça horrorosa. Dias depois foi vendida a um turista por 300 cruzeiros, um valor alto para a época. Depois disso nunca mais parou. As mãos habilidosas do mestre são capazes de esculpir esculturas detalhadas em madeira que chamam a atenção pelos detalhes entalhados com batidas precisas. As imagens reproduzidas são geralmente esculturas que reproduzem símbolos locais e figuras humanas. Apesar de seguir uma importante tradição dos mestres escultores do Estado do Piauí, a arte santeira, os totens se tornaram sua marca registrada.

Mestre Cornélio, com sua capacidade criativa, conquistou vários prêmios e tem inúmeras participações em exposições no Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, São Paulo e mostras internacionais na Argentina e na Itália.

Com a morte de Mestre Dezinho, Mestre Expedito e Mestre Cornélio são os mais velhos nessa tradição de santeiros e entalhadores do Piauí.

Fonte: Arte Popular do Brasil, “Mestre Cornélio”. Consultado pela última vez em 27 de agosto de 2025.

Crédito fotográfico: Rede ArteSol, fotografia de Théo Grahl. Consultado pela última vez em 27 de agosto de 2025.

José Cornélio de Abreu (1956, Campo Maior, Piauí, Brasil), mais conhecido como Mestre Cornélio, é um escultor brasileiro. Ainda na infância acompanhou o trabalho do pai carpinteiro e marceneiro, iniciando sua trajetória artística na adolescência, quando esculpiu uma imagem de Cristo para a Igreja de São João Evangelista, em Teresina, orientado pelo mestre Carlos Barroso. Influenciado pela tradição santeira piauiense, marcada por nomes como Mestre Dezinho e Mestre Expedito, mas desenvolveu estilo próprio e inovador. Suas esculturas, produzidas sobretudo em madeira de cedro, são acabadas em cera e não recebem pintura, destacando a textura natural do material. Entre seus principais temas estão santos, anjos, presépios, ex-votos e os totens, criados em 1987, que se tornaram uma de suas marcas registradas. Recebeu diversos reconhecimentos, entre eles o prêmio de “melhor do mundo” no concurso internacional de Córdoba, Argentina, em 1995, competindo com artistas de 21 países. Expôs em salões nacionais e internacionais, consolidando seu nome como um dos grandes expoentes da arte popular brasileira. Suas obras integram acervos de coleções públicas e privadas, incluindo instituições culturais de destaque voltadas à preservação da arte popular.

Mestre Cornélio

José Cornélio de Abreu (1956, Campo Maior, Piauí, Brasil), mais conhecido como Mestre Cornélio, é um escultor brasileiro. Ainda na infância acompanhou o trabalho do pai carpinteiro e marceneiro, iniciando sua trajetória artística na adolescência, quando esculpiu uma imagem de Cristo para a Igreja de São João Evangelista, em Teresina, orientado pelo mestre Carlos Barroso. Influenciado pela tradição santeira piauiense, marcada por nomes como Mestre Dezinho e Mestre Expedito, mas desenvolveu estilo próprio e inovador. Suas esculturas, produzidas sobretudo em madeira de cedro, são acabadas em cera e não recebem pintura, destacando a textura natural do material. Entre seus principais temas estão santos, anjos, presépios, ex-votos e os totens, criados em 1987, que se tornaram uma de suas marcas registradas. Recebeu diversos reconhecimentos, entre eles o prêmio de “melhor do mundo” no concurso internacional de Córdoba, Argentina, em 1995, competindo com artistas de 21 países. Expôs em salões nacionais e internacionais, consolidando seu nome como um dos grandes expoentes da arte popular brasileira. Suas obras integram acervos de coleções públicas e privadas, incluindo instituições culturais de destaque voltadas à preservação da arte popular.

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Mestre Cornélio, artista da fé | 2019

Documentário: Cornélio | 2024

Conheça um pouco sobre Mestre Cornélio | 2020

Brasilidade: Arte Santeira de Mestre Cornélio | 2023

Mestre Cornélio no Centro de Artesanato Mestre Dezinho | 2023

Mestre Cornélio | Arremate Arte

José Cornélio de Abreu, mais conhecido como Mestre Cornélio, nasceu em 1956, na cidade de Campo Maior, no Piauí, e se tornou um dos maiores representantes da arte santeira brasileira. Filho de um carpinteiro e marceneiro, cresceu em um ambiente em que a madeira fazia parte do cotidiano e, desde cedo, aprendeu a lidar com ferramentas, ajudando o pai na confecção de móveis, portas e janelas. A experiência que adquiriu nessa época marcou profundamente sua trajetória, despertando nele a sensibilidade e a habilidade manual que passou a utilizar em suas obras.

Aos 12 anos, mudou-se para Teresina, onde realizou pequenos trabalhos em madeira. Por volta dos 15 anos, foi convidado a esculpir uma imagem de Cristo para a Igreja de São João Evangelista, com orientação do mestre Carlos Barroso. A princípio relutante, aceitou o desafio e descobriu no entalhe sacro um caminho de expressão artística. Incentivado pelo padre da paróquia, que profetizou que sua arte o levaria até a Itália, Cornélio decidiu seguir a carreira de santeiro, consolidando-se em um ofício que unia devoção, técnica e tradição.

A partir da década de 1970, Mestre Cornélio começou a expor suas esculturas em salões e feiras de arte no Brasil, conquistando reconhecimento pelo estilo singular. Suas obras, produzidas em cedro e outras madeiras da região, destacam-se pelo acabamento em cera, sem pintura, ressaltando a textura natural da matéria-prima. O artista construiu uma linguagem própria dentro da arte santeira, equilibrando religiosidade e elementos regionais, e inovou ao criar, em 1987, seus primeiros totens, peças que se tornaram marca registrada de sua produção.

Com temas que vão de santos e anjos a presépios e figuras populares, Cornélio sempre imprimiu em suas esculturas um caráter simbólico e narrativo, revelando tanto a fé quanto a memória cultural de seu povo. Seu trabalho manual, realizado sem esboços prévios, nasce diretamente do diálogo entre mãos e madeira, carregando uma espontaneidade que reforça a autenticidade de sua arte.

Em 1995, foi premiado em Córdoba, na Argentina, em um concurso internacional que reuniu artistas de 21 países, sendo reconhecido como o “melhor do mundo” naquele evento. Em 1999, representou o Brasil em Pádua, na Itália, concretizando a previsão feita décadas antes pelo padre que o incentivara no início da carreira. Esses marcos projetaram seu nome no cenário internacional e o consagraram como um mestre da arte popular.

Mesmo com a fama que alcançou, Mestre Cornélio manteve sua rotina simples em Teresina, trabalhando em seu ateliê modesto. A produção diária, que varia entre seis e doze horas de dedicação, é partilhada com o filho, Leonardo Leal de Abreu, seu aprendiz e colaborador. 

Mestre Cornélio consolidou-se como herdeiro e renovador da tradição santeira piauiense, sucedendo a nomes como Mestre Dezinho e Mestre Expedito. Sua obra está presente em coleções públicas e privadas, além de ter integrado importantes exposições no Brasil e no exterior.


Mestre Cornélio | Arte dos Mestres

História de vida

José Cornélio de Abreu (1956) nasceu em Campo Maior – PI. Tinha o sonho de ser jogador de futebol, esteve em São José dos Campos, em São Paulo, “quando tinha dente de leite” pleiteando ser jogador no Portuguesa. Como seu pai queria que ele estudasse, o levou de volta pra Piauí.

Quando tinha por volta dos 13 anos, sua família mudou-se para Teresina. Cornélio trabalhou desde cedo para ajudar a complementar a renda da família. Entre 12 e 15 anos, fazia cadeiras de ferro em serralheria, além de ajudar o pai que era carpinteiro e marceneiro, fazendo portas, janelas e tetos de madeira.

De família católica, frequentava a igreja do bairro, no Parque Piauí. Quando terminaram de construir a capela, o padre italiano pediu para que Cornélio fizesse a imagem de Cristo da igreja. Para ajudá-lo na empreitada, o padre reuniu um artista cearense que havia chegado à cidade. Era Carlos B., que estava doente e precisava de trabalho.

Acharam um galho de cajueiro deteriorado  e usaram essa madeira para fazer o Cristo, que ficou com um braço torto devido às características da própria madeira. O padre gostou mesmo assim, dizendo que ele ficou expressivo pois foi assim que Cristo desceu da cruz. Nessa época Cornélio tinha por volta dos 15 anos.

Após esse episódio, Carlos B. chamou Cornélio para trabalhar com ele, já que estava com a saúde muito debilitada. Era por volta de 1973 e Cornélio não se animou muito com a ideia, pois achava a profissão difícil no Piauí. Mesmo assim, ajudou Carlos B. a fazer uma Pietá na casa de um cliente, que ficou contente e reconheceu o talento de Cornélio.

Aos poucos foi pegando gosto pelo trabalho com a madeira, mas enfrentava a resistência do pai dizia que Cornélio precisava largar o trabalho e deveria estudar. Seu pai dizia que Piauí era muito pequeno e não tinha espaço para esse trabalho artístico. Em momento de revolta, ficou alguns dias sem trabalhar com Carlos B., que logo contou para o padre. Determinado a intervir na situação, o padre foi até a casa de Cornélio e pediu para ele continuar com o trabalho na madeira, porque um dia seu pai iria falecer e Cornélio precisaria ter seu próprio caminho e sustento. Para persuadi-lo, o padre disse que um dia Cornélio ficaria tão famoso que conheceria seu país, a Itália, através de sua arte.

Nessa época, Carlos B. tramou um plano para estimular Cornélio a não desistir. Pediu para o amigo Tarcísio Prado, que gostava de arte, para comprar as peças produzidas por Cornélio. Tarcísio foi comprando a produção e dizendo para Cornélio que ele seria “o maior artista deste país”, o que foi o convencendo a continuar, mesmo sem saber que tudo era armado.

Um dia, andando perto de casa, encontrou um galho curvo de flamboiã e levou pra casa. Entalhou uma cabeça de jumento que lembrava uma carranca e levou a peça para o centro de artesanato para expor. A obra caiu no gosto de uma cliente importante, que fez a peça chegar aos olhos da esposa do então governador. Cornélio foi então convidado a participar de eventos promovidos pela política local dedicada ao artesanato, vendia suas peças no centro de artesanato e participava de feiras. Foi convidado a palestrar na feira de Parnaíba, com o objetivo de estimular os jovens artesãos da região. Novamente, viveu outra armação criada para estimulá-lo a continuar seu trabalho: a diretora do centro de artesanato havia comprado, escondido, todas as peças de Cornélio na feira.

Em 1974, o centro de artesanato realizou um concurso de presépios. Cornélio teve como concorrentes grandes escultores, como mestre Dezinho e Expedito. Ficou em segundo lugar, para sua grande surpresa. Um dos jurados disse a Cornélio que sua obra se destacou pela criatividade. Um presépio um pouco esquisito, porque tinha entre os personagens uma cobra. O jurado indagou a Cornélio o motivo da presença do animal, que respondeu: “Pelo que eu sei, deus e jesus abranjou todas as pessoas e animais, porque não a cobra?”

Cornélio participou de vários salões, exposições, concursos, e ganhou vários prêmios. Foi convidado para representar o Brasil na mostra campeonária do mundo em Padova, na Itália. Nessa viagem, passou por Verona, a cidade do padre que interviu na sua trajetória artística. Para Cornélio, a fala do que ouviu do padre, quando tinha seus 15 anos, foi profética.

Com o falecimento de mestre Dezinho e mestre Expedito, Cornélio é o mais antigo artesão vivo da tradição de santeiros do Piauí.

Obra e processo criativo

Mestre Cornélio é reconhecido por seguir a escola de escultores santeiros iniciada por Mestre Dezinho, mas é marcada por uma identidade e estilo próprio. A temática é principalmente católica, com imagens de santos, anjos e presépios. As imagens geralmente possuem uma postura hierática, as vestes são retas, mas recebem adornos em alto relevo, como folhas, flores e até temas regionais, como as palmeiras de carnaúba e outros elementos da cultura da região. Além dos santos, esculpe totens altos, com riqueza de detalhes que remetem à outras culturas, como a andina e indígena da América do Norte. Também passou a produzir esculturas com temas profanos, diversificando sua produção.

Suas peças são produzidas em parceria com seu filho, Leonardo Leal de Abreu, em um ateliê onde trabalham juntos. A madeira, geralmente cedro, é comprada e trazida de outros estados. Esculpe suas peças sem fazer nenhum esboço, utilizando ferramentas manuais. As esculturas não recebem tintura, apenas um acabamento em cera para preservar a madeira. 

Arte santeira de Piauí

A arte santeira do Piauí remonta ao processo de colonização do estado, mas ganha especial proeminência nas décadas de 1950 a 1970, quando o estilo que é reconhecido hoje começa a tomar forma. As cidades de Teresina, José de Freitas, Campo Maior, Pedro II e Parnaíba são as localidades que concentram mais mestres e aprendizes do ofício da arte santeira do estado.

Fala-se que, na região, há gerações de santeiros: a primeira iniciada com Mestre Dezinho (José Alves de Oliveira), que nasceu em Valença em 1916 e mudou-se para Teresina com 45 anos. Dezinho trabalhou como marceneiro e carpinteiro fazendo móveis, além de confeccionar ex-votos para fiéis. Depois de trabalhar por muitos anos como segurança em uma praça, um padre o chamou para esculpir o cristo e a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira da Igreja. Até então, mestre Dezinho não havia feito esculturas de corpo inteiro, mas esse foi o pontapé para o começo de uma tradição na região.

Assim como Dezinho, outros artesãos santeiros também são oriundos de um contexto agrário. Mudaram-se para a capital do estado e outros municípios do seu entorno em busca de novas oportunidades de trabalho devido à decadência das atividades extrativistas, ligadas principalmente à carnaúba e outras palmeiras, e à agricultura. Quase sempre, esses santeiros, também tinham alguma habilidade em trabalhos manuais, atuando como carpinteiros, marceneiros ou sapateiros, o que os tornavam procurados pela população para a compra de ex-votos, uma prática do catolicismo popular bastante difundida e estimulada pela Igreja no Piauí. Essa relação de proximidade entre a produção de ex-votos com outras atividades artesanais contribuiu para a formação estética da arte santeira do Piauí. Mestre Dezinho inclusive chegou a afirmar que usava os mesmos adornos dos móveis, aqueles “apliques” esculpidos em alto relevo de folhas e flores, para decorar seus santos. Da mesma forma, a ausência de pintura e os traços estilizados, ainda que ricos em detalhes, remetem à economia das formas dos ex-votos.

Essa primeira geração foi formada a partir de um cruzamento de contextos e estímulos promovidos pela Igreja católica – como vemos na história de Dezinho e Cornélio, que começaram esculpindo imagens para uma igreja – e também pelo próprio estado, por meio de políticas de desenvolvimento voltadas ao artesanato. Hoje conta-se pelo menos 4 gerações de artesãos, que foram se formando a partir do interesse de pessoas próximas aos mestres e até de interessados que possuíam pouca ligação com esse modo de fazer. Atualmente, vários artistas já são reconhecidos, como mestre Kim, Dim, Paquinha, Costinha entre outros.

Em 2000, Mestre Dezinho fundou uma cooperativa, a CAMEDE – Cooperativa de Artesanato Mestre Dezinho, com o objetivo de criar melhores condições de comercialização para a arte santeira. Além disso, por meio da cooperativa foi possível criar oficinas para o repasse das técnicas para as novas gerações.

Em 2008, o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional incluiu a arte santeira do Piauí no Inventário Nacional de Referências Culturais como patrimônio imaterial do Piauí.

Fonte: Arte dos Mestres, “Mestre Cornélio”. Consultado pela última vez em 27 de agosto de 2025.


Mestre Cornélio | Rede ArteSol

Mestre Cornélio é um dos principais expoentes da arte popular do Estado do Piauí. Suas imagens geralmente reproduzem símbolos locais e figuras humanas. Apesar de seguir a importante tradição de arte santeira dos mestres escultores do estado, os totens se tornaram sua marca registrada.

Sobre as criações

Após uma ampla pesquisa que resultou em um Manual de Aplicação, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), reconheceu a Arte Santeira do Piauí como patrimônio nacional. O manual se constitui em ferramenta teórico-metodológica do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) para identificação, documentação e registro desse patrimônio na categoria ofício e modos de fazer. É considerado pelo IPHAN um instrumento indispensável no processo de identificação de bens culturais que possibilita a preservação e salvaguarda de bens culturais de natureza material e imaterial. No manual foram catalogados 45 santeiros denominados “Senhores de seu ofício: arte santeira do Piauí”. Entre eles, Mestre Cornélio, um dos principais expoentes da arte popular do Estado do Piauí. 

Reconhecido como mestre de ofício pelo Governo do Piauí, Cornélio passou a representar junto com Mestre Expedito, o artesão mais antigo na tradição santeira do Piauí, após o falecimento de Mestre Dezinho no ano de 2000. Suas mãos habilidosas são capazes de dar forma a esculturas em madeira com impressionante riqueza de detalhes feitas com batidas precisas em pedaços de cedro e pequi já beneficiados. Suas imagens geralmente reproduzem símbolos locais e figuras humanas e apesar de seguir a importante tradição de arte santeira dos mestres escultores do estado, os totens se tornaram sua marca registrada.

Sobre quem cria

Filho de carpinteiro e marceneiro a história de Cornélio com a madeira é longa, e começa cedo. De família muito humilde, começou a ganhar intimidade com a madeira por necessidade: “Era uma época de muita dificuldade”. Aos 12 anos mudaram-se para Teresina e por volta dos 15 passou a fazer parte de um grupo de jovens. Em 1973 o pai foi contratado para a construção do teto da igreja São João Evangelista, a “Igreja do Parque” como é conhecida e ele foi convidado a trabalhar junto, como ajudante. Começa aí sua iniciação artística. O padre, um italiano, o pediu que executasse a imagem do Cristo. Cornélio achava que não conseguiria mas o pároco insistiu: certo dia, bem cedo, foi até a pequena marcenaria onde o pai trabalhava nos fundos de sua casa levando um jornal. Bateu à porta e mostrou a figura do mestre escultor cearense Carlos Barroso (já falecido), que estava desabrigado na praça, precisando de trabalho. Anunciou que ele o ajudaria. E juntos, esculpiram o Cristo da igreja em galhos de cajueiro de tamanho natural. Assim iniciou sua vida de santeiro. 

Cornélio não pretendia seguir na arte, mas o padre insistia. O convenceu a esculpir uma Pietá na casa de um médico. Ao finalizar a obra ambos reforçavam que ele seguisse no ofício. Ele não queria, mas aos poucos foi tomando gosto. O renomado ator e dramaturgo piauiense Tarcisio Prado, comprava suas peças como forma de incentivo. Mas o pai passou a reclamar que ele andava ausente, ficava só pela rua trabalhando. Cornélio se zangou e parou de esculpir. Mas o pároco voltou a sua casa e o convenceu que voltasse, dizendo que o pai ficaria velho e que Cornélio teria que ter uma profissão. Ele enfim acabou se apaixonando pela arte e com o trabalho conseguiu vencer as dificuldades. Aos poucos foi ganhando reconhecimento. Foi premiado no Salão de Artesãos Piauienses (1974) e em 1978 foi mencionado no primeiro livro O Reinado da Lua, resultado da pesquisa de Sílvia Rodrigues Coimbra, Flávia Martins e Maria Letícia Duarte, que saíram a campo entre 1975 e 1980 pelo nordeste para documentar a realidade singular dos artistas populares. Mais tarde foi mencionado na publicação Arte Santeira Piauiense. Foi novamente premiado no II Salão Universitário de Arte Santeira e no VII Salão de Artes Plásticas do Piauí, em Teresinha PI (1981). Participou de mostras nacionais e internacionais no Rio de Janeiro (1976), Teresinha (1976), Salvador (1980 e 1981), Brasília (1987), São Paulo (1987 e 1988), Córdoba – Argentina (1995) onde foi reconhecido melhor do mundo entre artesãos de 21 países e mais recentemente em Curitiba – PR. O padre sempre dizia que um dia, sua arte o levaria a conhecer sua terra natal na Itália. Surpreendentemente Cornélio foi convidado em 1999 pela Câmara Comercio Exterior São Paulo – Itália para representar o Brasil em uma viagem para a cidade de Pádua, terra natal do padre italiano. Uma lembrança que sempre o impressiona. E a vida seguiu. Sua persistência e capacidade criativa o levou a ser reconhecido no Brasil e exterior. Com um estilo próprio, suas peças são praticamente um privilégio de colecionadores que ousam aguardar pela produção de uma encomenda. Diante do reconhecimento e valor que sua obra alcançou, chega a achar graça de algumas estratégias comerciais que já presenciou: “Me mataram muitas vezes. Me tornaram analfabeto. Para as peças valerem mais. Mas que história é essa?”

Aos 62 anos Cornélio reconhece as conquistas que a arte lhe trouxe: “Pra começar não fiz estudar, não completei o ensino médio completo, precisava trabalhar (…) a arte trouxe esse prazer de ter o talento, comecei a ser reconhecido pela tal criatividade, criei um estilo próprio e sempre digo: seja feio mas seja você mesmo”.

Sobre o território

José Cornélio de Abreu é nascido no município de Campo Maior em 1956. Trabalha em um espaço pequeno dentro de casa: “O atelier de artesão humilde é uma oficina como de qualquer outro. Atelier parece chique demais e o artista de verdade nunca fica rico porque ele não rouba, ele faz um trabalho”. Emociona-se ao rever quão distante a arte o levou e o valor desse legado: “Um dia minha filha estava em sala de aula e a professora falando desse assunto perguntou se alguém conhecia Mestre Cornélio. Ela levantou a mão e disse que era seu pai mas ninguém acreditou. Então a professora pediu que ela o convidasse à ir a escola para que falasse aos demais alunos. Isso tem um valor enorme!”

Fonte: Rede ArteSol, “Mestre Cornélio”. Consultado pela última vez em 29 de agosto de 2025.


Mestre Cornélio | Arte Popular do Brasil

José Cornélio de Abreu, o mestre Cornélio, é um dos principais expoentes da arte popular do Estado do Piauí. Ele nasceu no município piauiense de Campo Maior em 1956. Filho de carpinteiro e marceneiro começou a trabalhar na madeira muito cedo; transformou-se em escultor por necessidade, mas acabou se apaixonando pela arte. A família era muito pobre, mas foi com o trabalho que conseguiu vencer as dificuldades. Ele diz que na igreja em que frequentava sempre escutava o padre falar que tínhamos é que trabalhar.

O trabalho artístico do mestre Cornélio começou em 1973 em Teresina-PI. O pai foi chamado para a construção do teto de uma igreja e ele foi contratado como ajudante. Certo dia o pároco se dirigiu a ele e disse que ele faria o Cristo para a igreja. Você tem talento, disse o padre. Com a ajuda do escultor cearense Carlos Barroso que chegara à cidade, esculpiu o Cristo. Segundo ele, a escultura ficou com um braço torto, porque o galho do cajueiro que usou era torto. Mestre Cornélio conta que Carlos Barroso o ajudou muito na carreira de escultor.

A primeira peça comercializada do mestre Cornélio foi uma carranca com cara de jumento, esculpida num tronco de flamboiã. Ele a levou para ser vendida no Centro de Artesanato de Teresina, mas lá acharam a peça horrorosa. Dias depois foi vendida a um turista por 300 cruzeiros, um valor alto para a época. Depois disso nunca mais parou. As mãos habilidosas do mestre são capazes de esculpir esculturas detalhadas em madeira que chamam a atenção pelos detalhes entalhados com batidas precisas. As imagens reproduzidas são geralmente esculturas que reproduzem símbolos locais e figuras humanas. Apesar de seguir uma importante tradição dos mestres escultores do Estado do Piauí, a arte santeira, os totens se tornaram sua marca registrada.

Mestre Cornélio, com sua capacidade criativa, conquistou vários prêmios e tem inúmeras participações em exposições no Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, São Paulo e mostras internacionais na Argentina e na Itália.

Com a morte de Mestre Dezinho, Mestre Expedito e Mestre Cornélio são os mais velhos nessa tradição de santeiros e entalhadores do Piauí.

Fonte: Arte Popular do Brasil, “Mestre Cornélio”. Consultado pela última vez em 27 de agosto de 2025.

Crédito fotográfico: Rede ArteSol, fotografia de Théo Grahl. Consultado pela última vez em 27 de agosto de 2025.

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