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Zoravia Bettiol

Zoravia Bettiol (Porto Alegre, RS, 1935) é uma artista plástica brasileira. Iniciou sua carreira artística em 1952 no Instituto de Belas Artes da UFRGS. Conhecida por sua versatilidade, sua produção abrange pintura, gravura, arte têxtil, design de joias e performances. Em 1956, começou a trabalhar com gravura no ateliê do escultor Vasco Prado, com quem se casou em 1959. Seu trabalho em xilogravura lhe garantiu reconhecimento nacional e internacional, refletindo sua habilidade e inovação em técnicas gráficas. A partir de 1960, Bettiol explorou a arte têxtil, criando uma linguagem que influenciou uma geração inteira. Em seguida, atuou como designer de joias e headdresses, mantendo uma coerência temática e narrativa em sua obra. Além de sua produção artística, Bettiol é conhecida por seu ativismo em causas ecológicas e sociais. Aos 80 anos, sua energia e entusiasmo permanecem vibrantes, como demonstrado na exposição "Zoravia Bettiol – o lírico e o onírico", que celebra sua prolífica e impactante carreira. Com obras em acervos de alguns dos mais importantes museus de arte do mundo, Zoravia já realizou 136 exposições individuais, tendo apresentado seu trabalho em pelo menos 21 países.

Zoravia Bettiol | Arremate Arte

Zoravia Bettiol é uma renomada artista plástica, conhecida por seu trabalho inovador e seu impacto no cenário artístico brasileiro. Formada em Belas Artes pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Bettiol desenvolveu uma carreira distinta, destacando-se na pintura, escultura e na instalação artística. Sua trajetória é marcada por uma busca constante por novas formas de expressão e uma abordagem que mescla elementos tradicionais com experimentação contemporânea.

Bettiol é amplamente reconhecida por sua contribuição para a arte contemporânea no Brasil, especialmente na criação de obras que exploram a relação entre o corpo e o espaço. Seus trabalhos muitas vezes incorporam materiais diversos e técnicas variadas, refletindo uma abordagem multidisciplinar e uma busca pela inovação. A artista também é conhecida por seu envolvimento com temas relacionados à identidade, ao feminino e ao ambiente, que são frequentemente explorados em suas obras.

Além de seu trabalho como artista, Zoravia Bettiol desempenhou um papel importante na educação e na promoção das artes. Ela foi professora de artes visuais na UFSM e contribuiu para a formação de novas gerações de artistas com sua experiência e conhecimento. Seu compromisso com a educação e o desenvolvimento das artes é uma parte significativa de seu legado.

Bettiol participou de diversas exposições individuais e coletivas, tanto no Brasil quanto no exterior. Suas obras foram exibidas em importantes instituições culturais e museus, consolidando sua reputação como uma artista inovadora e relevante. Entre suas exposições destacam-se participações em bienais e mostras de arte contemporânea, onde sua abordagem única e sua técnica refinada foram amplamente reconhecidas.

Zoravia Bettiol | Wikipédia

Zoravia Augusta Bettiol (Porto Alegre, 1935) é uma artista plástica e arte educadora brasileira. Com mais de 65 anos dedicados às artes, produz gravura, pintura, desenho, arte têxtil, arte mural e instalações.

Nascida em uma família de ascendência sueca e italiana, entre 1952 e 1955 fez estudos de pintura no Instituto de Belas Artes, em Porto Alegre. Entre 1956 e 1957, estudou desenho e xilogravura no atelier de Vasco Prado (com quem foi casada durante 28 anos) e, em 1968, tapeçaria no atelier de Maria Laskiewicz, em Varsóvia, na Polônia.

Artista premiada, participou de importantes exposições coletivas e individuais, no Brasil e no exterior, entre as quais em Montevidéu, Punta del Leste, Washington, D.C., Praga, Varsóvia, Genebra, Lisboa, Roma, Milão, Madri, Buenos Aires, Estocolmo e Paris.

Em 2007 foi lançado o livro em edição bilíngue (português e inglês) Zoravia Bettiol: a mais simples complexidade, com textos de seis especialistas - Maria Amélia Bulhões, pesquisadora (desenho e pintura); Paulo Gomes, curador (gravura); Albani de Carvalho, historiadora e crítica de arte (arte têxtil); Fernando Cocchiarale, crítico de arte e curador do MAM/RJ (instalação, mural e performance); Ulpiano Bezerra de Menezes, historiador e arqueólogo, professor titular da USP (objeto); Paula Ramos, jornalista e crítica de arte - que abordam a trajetória da artista.

Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 1 de agosto de 2024.

Zoravia Bettiol | Itaú Cultural

Gradua-se em pintura pelo Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. De 1956 a 1957 faz aulas de desenho e xilogravura no ateliê do escultor Vasco Prado (1914 - 1998), com quem foi casada durante 28 anos. Dedicando-se principalmente a tapeçaria e gravura, tece formas tridimensinais em tapeçaria e reúne formas populares (como é o caso do uso constante das figuras dos Orixás) ao artesanato erudito nas xilogravuras. Recebe o primeiro prêmio de desenho no 18º Salão Municipal de Belas-Artes de Belo Horizonte em 1962, o primeiro prêmio de gravura no 2º Salão de Arte Religiosa Brasileira de Londrina em 1966 e o prêmio nacional de gravura na 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas de Salvador em 1966, entre outros. Em 1968 muda-se para Varsóvia, na Polônia, para realização de estudos na área têxtil no Atelier Maria Laskiewicz. Durante o período em que reside na Polônia cursa a Escola de Belas Artes de Varsóvia. Nos Anos 70, já de volta ao Brasil, figura em diversas exposições internacionais. Em 1985 recebe o Prêmio Medalha Cidade de Porto Alegre, por bons serviços prestados à comunidade, e em 1987 é homenageada com o troféu destaque em artes plásticas 87. Durante anos 1980 e 1990 ministra diversos cursos e workshops em diversos países.

Críticas

"Como artista, Zorávia Bettiol nega-se a ficar diante de um espelho e mirar-se, repetir-se, copiar-se, Em matéria de desenho, cor e tema as suas gravuras (...) diferem umas das outras sem deixarem de conservar a marca de quem as imaginou e executou (...). Todo esse palavrório, porém, nada diz da habilidade artesanal dessa artista consumada que é Zorávia Bettiol, nem da sua rica imaginação e da sua profunda humanidade" — Érico Veríssimo (VERÍSSIMO, Érico. In: BETTIOL, Zoravia. Arte de Zoravia Bettiol: gravuras & tapeçarias. São Paulo: MAM, 1974).

"(...) estamos ante uma gravadora que é mestre em seu ofício: Zorávia Bettiol. Gravura onde a beleza nasce do ofício e da poesia, da mão e do coração, da inteligência e do amor. Se a técnica é primorosa ela não limita, no entanto o sentimento, não leva a um preciosismo de forma, a uma diluição das emoções". — Jorge Amado (AMADO, Jorge. In: BETTIOL, Zoravia. Arte de Zoravia Bettiol: gravuras & tapeçarias. São Paulo : MAM, 1974).

Exposições Individuais

1959 - Montevidéu (Uruguai) - Zoravia Bettiol: desenhos, linoleogravuras e xilogravuras, Galeria Arte Bella

1959 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na UFRGS. Faculdade de Arquitetura

1961 - São Paulo SP - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria Astréia

1962 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Gead

1964 - Buenos Aires (Argentina) - Individual, na Galeria Lascaux

1964 - Córdoba (Argentina) - Individual, na Galeria Cristal

1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia

1965 - Porto Alegre RS - Individual, na Espaço Galeria

1965 - Punta del Este (Uruguai) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, no Centro de Artes y Letras

1965 - Salvador BA - Individual, na Galeria Convivium

1965 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Solarium

1966 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Espaço Galeria

1968 - Praga (Tchecoslováquia - atual República Tcheca) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Metska Knihovna

1968 - Varsóvia (Polônia) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria Rzezby

1969 - Genebra (Suíça) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria Simon Patino

1969 - Lisboa (Portugal) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, no Ministério da Cultura de Portugal. Palácio Foz

1969 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: tapeçarias, no Estúdio Zoravia Bettiol

1970 - Rio de Janeiro RJ - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria Bonino

1971 - Porto Alegre RS - 15 Anos de Gravura de Zoravia Bettiol, na Prefeitura do Município de Porto Alegre

1973 - Bogotá (Colômbia) - Zoravia Bettiol: arte têxtil e xilogravuras, no Banco de La República. Biblioteca Luis Ángel Arango

1973 - La Paz (Bolívia) - Zoravia Bettiol: arte têxtil e xilogravuras, na Galería Municipal

1974 - Roma (Itália) - Individual, na Galeria Dora Pamphili

1974 - São Paulo SP - A Arte de Zoravia Bettiol: arte têxtil e xilogravuras, no MAM/SP

1974 - São Paulo SP- A Arte de Zoravia Bettiol: gravuras e tapeçarias, no MAM/SP

1976 - Madri (Espanha) - Zoravia Bettiol: formas tridimensionais tecidas e tapeçarias, na Galeria de Arte da Casa do Brasil

1976 - Milão (Itália) - Zoravia Bettiol: arte têxtil e xilogravuras, no Centro Cultural Ítalo-Brasileiro

1976 - Paris (França) - Individual, na Galerie Debret

1977 - Salvador BA - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria da Pousada do Carmo

1977 - Salvador BA - Zoravia Bettiol: xilogravuras, no MAM/BA

1978 - Buenos Aires (Argentina) - Zoravia Bettiol: arte têxtil e xilogravuras, na Galeria Praxis

1978 - Colônia (Alemanha) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galerie Boisserée

1978 - Porto Alegre RS - Kafka, no Atelier Vasco Prado e Zoravia Bettiol

1979 - Porto Alegre RS - Verde Que te Quiero Verde, no Margs

1979 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: tapeçarias, no Atelier Vasco Prado e Zoravia Bettiol

1980 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: desenhos, no Atelier Vaco Prado e Zoravia Bettiol

1980 - Washington D.C. (Estados Unidos) - The World of Franz Kafka, no Brazilian-American Cultural Institute

1981 - São Paulo SP - Kafka, no Spazio Pirandello

1982 - Estocolmo (Suécia) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria Latina

1982 - Oslo (Noruega) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Kunstforening

1983 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: tapeçarias, no Estúdio Zoravia Bettiol

1984 - Montevidéu (Uruguai) - Zoravia Bettiol: formas tridimensionais tecidas e tapeçarias, na Galeria Latina

1984 - Oslo (Noruega) - Zoravia Bettiol: formas tridimensionais tecidas e tapeçarias, no Kunstindustriemuseet

1985 - Brasília DF - Individual, na Itaú Galeria

1985 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: retrospectiva 1955 - 1985, no Margs

1986 - Huelva (Espanha) -Zoravia Bettiol: formas tridimensionais tecidas e tapeçarias, na Galería del Banco de Bilbao

1986 - São Paulo SP - Zoravia Bettiol: retrospectiva 1955 - 1985, no MAB-Faap

1987 - Madri (Espanha) - Individual, na Casa del Brasil

1988 - Assunção (Paraguai) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, no Centro de Estudios Brasileños

1990 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: arte têxtil e jóias, na Galeria Marisa Soilbelmann

1992 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: jóias e ornatos têxteis, no Margs

1992 - São Paulo SP - Zoravia Bettiol: arte têxtil, desenhos, jóias e xilogravuras, no Atelier Zoravia Bettiol

1993 - Menlo Park (Estados Unidos) - Zoravia Bettiol: pinturas, tapeçarias e xilogravuras, na Prefeitura de Menlo Park

1993 - San Francisco (Estados Unidos) - Zoravia Bettiol: pinturas, tapeçarias e xilogravuras, na John Francis Gallery

1994 - Amherst (Estados Unidos) - Zoravia Bettiol: xilogravuras e tapeçarias, na Augusta Savage Gallery

1998 - Porto Alegre RS - Persona-Personagem, Head -Dresses e Fantasias, no Margs

1999 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: serigrafias e monotipias, na Galeria Gravura

1999 - San Francisco (Estados Unidos) - Zoravia Bettiol: tapeçarias, pinturas, gravuras e jóias, no Studio Zoravia Bettiol

Exposições Coletivas

1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho

1962 - Belo Horizonte MG - 17º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, no Museu de Arte da Pampulha - 1º prêmio em desenho

1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1964 - Curitiba PR - 16º Salão de Belas Artes da Primavera, no Clube Concórdia - medalha de ouro

1964 - Ribeirão Preto SP - 1ª Exposição da Jovem Gravura Nacional 

1964 - São Paulo SP - 1ª Exposição da Jovem Gravura Nacional, no MAC/USP

1965 - Belo Horizonte MG - 1ª Exposição da Jovem Gravura Nacional, no Museu de Arte da Pampulha

1965 - Curitiba PR - 22º Salão Paranaense de Belas Artes, na Biblioteca Pública do Paraná

1965 - Curitiba PR - 1ª Exposição da Jovem Gravura Nacional, na Secretaria do Estado de Educação

1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1965 - Florianópolis SC - 1ª Exposição da Jovem Gravura Nacional, no Masc

1966 - Kanazawa (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul

1966 - Londrina PR - 3º Salão de Arte Religiosa de Londrina - 1º prêmio

1966 - Nikko (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul

1966 - Osaka (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul

1966 - Sakata (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul, Homma Museum of Art

1966 - Salvador BA - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas - 1º prêmio nacional de gravura

1966 - São Paulo SP - 13 Artistas Gaúchos, no MAC/USP

1966 - São Paulo SP - 2º Exposição da Jovem Gravura Nacional, no MAC/USP

1966 - Suzu (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul

1966 - Tóquio (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul, na Embaixada do Brasil no Japão

1967 - Brasília DF - 4º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, no Teatro Nacional Cláudio Santoro

1967 - Campinas SP - 3º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no Museu de Arte Contemporânea José Pancetti

1967 - Rio de Janeiro RJ - Salão das Caixas, na Petite Galerie

1967 - Santiago (Chile) - 3ª Bienal Americana de Gravura, no Museo de Arte Contemporáneo

1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1967 - Washington (Estados Unidos) - Two Brazilian Graphic Artists, no Brazilian-American Cultural Institute

1968 - Cracóvia (Polônia) - 2ª Bienal Internacional de Gravura

1969 - Lausanne (Suíça) - 4ª Bienal Internacional de Tapeçaria, no Musée Cantonal des Beaux-Arts

1970 - Cracóvia (Polônia) - 3ª Bienal Internacional de Gravura

1970 - San Juan (Porto Rico) - 1ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña

1970 - São Paulo SP - A Gravura Brasileira, no Paço das Artes

1970 - Trenton (Estados Unidos) - Color Prints of Americas, no New Jersey Museum

1971 - São Paulo SP - 3º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP

1972 - Bradford (Inglaterra) - Third International Print Biennial, no Bradford City Art Gallery

1972 - Carpi (Itália) - Carpi Print Triennial

1972 - Cracóvia (Polônia) - 4ª Bienal Internacional de Gravura

1972 - Ibiza (Espanha) - Ibizagraphic 72, no Museu de Arte Contemporânea

1972 - San Juan (Porto Rico) - 2ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña

1972 - São Paulo SP - 2ª Exposição Internacional de Gravura, no MAM/SP

1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio

1974 - Cracóvia (Polônia) - 5ª Bienal Internacional de Gravura

1974 - Ibiza (Espanha) - Ibizagraphic 74, no Museu de Arte Contemporânea

1974 - San Juan (Porto Rico) - 3ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña

1974 - São Paulo SP - 1ª Mostra Brasileira de Tapeçaria, no MAB-Faap - menção honrosa

1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira , no MAM/SP

1975 - Brasília DF - Arte Gaúcha/74

1975 - Lódz (Polônia) - 1ª Triennial of Fiber Arts, no The Central Museum of Textiles

1975 - Nova York (Estados Unidos) - Young Artist - Print 75, no Union Caribe Building

1975 - Porto Alegre RS - 1º Salão do Rio Grande do Sul, no Margs - menção honrosa

1976 - São Paulo SP -1ª Trienal de Tapeçaria, no MAM/SP

1977 - Madri (Espanha) - Arte Actual de Iberoamerica, no Instituto de Cultura Hispânica

1977 - São Paulo SP - 9º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP

1977 - Washington (Estados Unidos) - The Original and its Reproduction: a Melhoramentos project, no Brazilian-American Cultural Institute 

1978 - Curitiba PR - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, no Centro de Criatividade

1978 - Lódz (Polônia) - 2ª Triennial of Fiber Arts, no The Central Museum of Textiles

1979 - Buenos Aires (Argentina) - 1ª Trienal Latinoamericana del Grabado, nas Salas Nacionales de Exposición

1979 - Mendonza (Argentina) - 1ª Trienal Latinoamericana del Grabado, no Museo de Arte Moderno

1979 - San Juan (Porto Rico) - 4ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña

1979 - São Paulo SP - 2ª Trienal de Tapeçaria, no MAM/SP

1980 - Penápolis SP - 4º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis

1981 - Linz (Áustria) - Textikünst 81, na Stadtausstellung

1981 - San Juan (Porto Rico) - 5ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña

1981 - Seul (Coréia do Sul) - 3rd Seoul International Print Biennial

1981 - Viena (Áustria) - Textikünst 81, no Kunstlerhaus

1982 - Filadélfia (Estados Unidos) - Art from Brazil, na Embaixada do Brasil

1982 - Penápolis SP - 5º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis - artista convidado

1982 - São Paulo SP - 3ª Trienal de Tapeçaria, no MAM/SP

1982 - Washington D.C (Estados Unidos) - Art from Brazil, no Brazilian-American Cultural Institute

1983 - Porto Alegre RS - Arte Livro Gaúcho: 1950/1983, no Margs 

1984 - Curitiba PR -  6ª A Xilogravura na História da Arte Brasileira, na Casa Romário Martins

1984 - Havana (Cuba) - 1ª Bienal de Havana, no Museo Nacional de Bellas Artes

1984 - Heidelberg (Alemanha) - Tapisserien aus Bresilien, na Textilmuseum Max Berk

1984 - Rio de Janeiro RJ - A Xilogravura na História da Arte Brasileira, na Funarte. Galeria Sérgio Milliet

1984 - Rio de Janeiro RJ - Doações Recentes 82-84, no MNBA

1985 - Penápolis SP - 6º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis

1986 - Belo Horizonte MG - Evento Têxtil 85

1986 - Curitiba PR - Evento Têxtil 85

1986 - Porto Alegre RS - Evento Têxtil 85

1986 - São Paulo SP - Evento Têxtil 85

1987 - Liubliana (Eslovênia) - 17ª Bienal Internacional de Gravura, na Moderna Galerija Ljubljana 

1988 - Rio de Janeiro RJ - Arte Têxtil: técnicas contemporâneas, no Espaço Cultural Sérgio Porto

1988 - São Paulo SP - Xilogravura 88, no Paço das Artes

1989 - Campinas SP - Arte Têxtil, no Centro de Convivência Cultural de Campinas

1989 - Porto Alegre RS - Arte Sul 89, no Margs

1991 - Porto Alegre RS - Exposição Atelier Livre: 30 anos - alunos artistas, no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre

1991 - São Paulo SP - Cidadania: 200 anos da declaração dos direitos do homem, no Sesc Pompéia

1992 - Rio de Janeiro RJ e São Paulo SP- Proteja a Vida, na ECO 92 e no Metrô

1992 - São Paulo SP - América: caminhos de um tempo perdido, no Sesc Pompéia

1993 - Campinas SP - Gravura, na Pontifícia Universidade Católica. Instituto de Letras

1993 - Havana (Cuba) - Grabados del Brasil, no Palácio de las Convenciones

1993 - João Pessoa PB - Xilogravura: do cordel à galeria, na Fundação Espaço Cultural da Paraíba

1993 - Lisboa (Portugal) - Matrizes e Gravuras Brasileiras: Coleção Guita e José Mindlin, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão

1993 - San Francisco (Estados Unidos) - 7th Festival of the Poetry in the Arts, na Fort Mason Conference Center

1993 - San Francisco (Estados Unidos) - Montage: elements of life, no Fort Mason Conference Center

1994 - Campinas SP - Xilo e Print: Mostra Internacional de Gravura em Relevo, no MAC/Campinas

1994 - San Francisco (Estados Unidos) - Brazilian Arts and Craft Festival, no San Francisco County Fair

1994 - São Paulo SP - Xilogravura: do cordel à galeria, na Companhia do Metropolitano de São Paulo

1994 - São Paulo SP - Xilogravura: do cordel à galeria, no Masp

1995 - Pequim (China) - Global Focus Exhibition

1995 - San Francisco (Estados Unidos) - Proteja a Vida, no Palace Fine Arts

1995 - San Francisco (Estados Unidos) - We Are All Conected, na Bayfront Gallery

1995 - São Petersburgo (Rússia) - International Symposium on Textile-White Nights 

1996 - Passo Fundo RS - Museu de Artes Visuais Ruth Schneider: exposição inaugural, no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider

1997 - Oklahoma City (Estados Unidos) - Ars Textrina International Exhibit, na The University of Oklahoma (Oklahoma, Estados Unidos) - 2º prêmio

1997 - Porto Alegre RS - Me Dejas Loco América, no Mercado Público Municipal de Porto Alegre

1998 - Campinas SP - Xilo e Print: Mostra Internacional de Gravura em Relevo, no Museu de Arte Contemporânea José Pancetti

1998 - Porto Alegre RS - 1ª Bienal Latino-Americana de Pintura e Tapeçaria - menção honrosa

1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras, na Galeria de Arte do Sesi

1999 - Fort Wayne (Estados Unidos) - Artwear 99, no Fort Wayne Museum of Art

1999 - New Canaan (Estados Unidos) - USA Craft Today 99, no Silvermine Guild Art Center

1999 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Rio Gravura. Gravura Moderna Brasileira: acervo Museu Nacional de Belas Artes, no MNBA 

1999 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Rio Gravura. São Paulo: gravura hoje, no Palácio Gustavo Capanema

2000 - Porto Alegre RS - Brasil 500 Anos - Navegadores de Imagens, no Centro Cultural Usina do Gasômetro

2001 - Porto Alegre RS - Coletiva de Gravuras, na Galeria Gravura

2001 - Porto Alegre RS - Proteja a Vida, na PUC/RS

2001 - Rio de Janeiro RJ - Trilhando a Gravura, no Museu da Chácara do Céu

2002 - Porto Alegre RS - Desenhos, Gravuras, Esculturas e Aquarelas, na Garagem de Arte

Fonte: ZORAVIA Bettiol. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 01 de agosto de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Zoravia Bettiol: Inquieta, inteligente e divertida | Matinal Jornalismo

O nome nada tem de comum – “Zoravia”, numa busca pelo google, resulta em indicações apenas da própria Zoravia Bettiol. Sabe lá o que é ter um nome dessa raridade? Se é verdade que cada pessoa, qualquer pessoa, é sempre única e irrepetível, muito poucas terão essa marca distintiva já no nome.

E tem a obra. Zoravia Bettiol (que tem também um segundo nome, Augusta, mas não usa) tem uma trajetória notável, nas artes visuais e na vida cidadã. Em Porto Alegre e noutras partes, sua presença é certa ao lado das melhores causas, com uma gentileza que faz par com a serenidade de seu olhar.

Aqui, Zoravia responde a perguntas de 16 entrevistadores, arregimentados por Renato Rosa, marchand e artista plástico que empresta mais esse brilho à Parêntese.

1 – Luís Augusto Fischer, editor: Como é tua história familiar, pais e avós, etc.? Onde passaste tua infância? Como nasceu o interesse pelas artes? O ambiente familiar, escolar ou de amizades teve importância?

Querido Fischer, meus avôs maternos e paternos eram italianos. Já a avó materna era sueca e a avó paterna de origem austríaca. Nasci em Porto Alegre em 1935, na rua Santa Cecília, e tenho uma irmã, Dilmer, dois anos mais velha do que eu, e meu irmão, Arrenius, é dois anos mais moço. Meu pai, Sigefrido Bettiol, que tinha uma forte cultura humanista, era professor e advogado. Na época do Estado Novo, foi perseguido e exonerado dos colégios onde lecionava. Nos mudamos para Bento Gonçalves, depois Erechim e São Paulo. Minha mãe, Emma Bettiol, tinha um sentido muito objetivo e prático, e administrava a parte econômica da família. Voltamos para Porto Alegre quando eu tinha 11 anos e entrei para o primeiro ano ginasial no Instituto de Educação.

Não conheci meus avós, pois eles já tinham falecido quando nasci, mas eu e meus irmãos nunca sentimos falta deles porque meus pais e minha tia, Rina Chittolina, que era assistente social e sempre morou conosco, eram muito carinhosos e compreensivos. Eles nos transmitiram muita segurança afetiva. Além disso, proporcionaram um ambiente intelectual muito estimulante, princípios de justiça social e respeito ao ambiente natural. Desde criança, desenhar e pintar eram uma atividade profundamente prazerosa, tanto assim que nas férias de dia a minha casa era cheia de crianças, mas à noite eu encontrava tempo para desenhar e pintar. Portanto, quando decidi entrar para o Instituto de Belas Artes minha família aprovou minha decisão. Fui aluna de pintura do professor Ado Malagoli, que foi um bom professor. Também tive aulas com João Fahrion, ótimo artista, porém um professor que não tinha didática. Resolvi entrar no atelier do escultor Vasco Prado para aprender desenho e acabei aprendendo linoleogravura e xilogravura. Comecei, também, a fazer tapeçaria bordada, que não me satisfazia, pois ela imita o ponto linho do tear.

2 – Clara Pechansky, artista plástica: Zoravia querida, tu és conhecida por abraçar muitas técnicas. Qual delas melhor te identifica?

Querida Clara, gostei imensamente e fiquei conhecendo muitos aspectos da tua vida e obra na entrevista que deste para o programa “Prata da Casa”, da minha filha Nora Prado.

As técnicas a que mais de dediquei foram a gravura: linoleogravura, monotipia, xilogravura, litografia e, mais recentemente, a gravura digital, cuja mais recente série que fiz foi a “Divina Rima”. A arte têxtil também me envolveu durante muitos anos. Comecei com tapeçaria bidimensional e acabei fazendo muitas séries. Posteriormente, comecei a me dedicar a formas tecidas e obras tridimensionais. Estudei arte têxtil em Varsóvia em 1968. Sou, juntamente com Ieda Titze, percussora da nova tapeçaria no Rio Grande do Sul, sendo que Jacques Douchez e Norberto Nicola introduziram a nova tapeçaria em São Paulo e no Rio de Janeiro. Participei da 4ª Bienal Internacional de Tapeçaria de Lausanne, no Musée Cantonal de Beaux Arts, e no Mobilier National, em Paris, ambas em 1969. Fui a única brasileira desse ano, sendo que nos 34 anos que durou este importantíssimo evento têxtil, somente mais 3 brasileiros participaram: Sheila Paes Leme, Jacques Douchez e outro artista de que não me lembro o nome.

3 – Liana Timm, artista multimídia: Querida Zoravia! Feliz por ter te encontrado nos caminhos da arte. Lá se vão 43 anos. Convivemos intensamente lutando pela liberdade e pelo patrimônio cultural tanto de nossa cidade, quando do estado e do Brasil. Aprendi contigo essa consciência cidadã. Obrigada. Pensando em tua produção, gostaria de saber sobre algumas séries cuja temática gira em torno dos Orixás, e principalmente Oxalá e Iemanjá. Como situas a religião em tua arte?

Querida Liana, realmente nos envolvemos em muitas lutas e fiquei muito feliz em ter participado das comemorações recentes dos teus 35 anos dedicados a poesia. Gostaria de esclarecer que sou ateia, mas a beleza dos rituais religiosos e as histórias das religiões são envolventes e criativas. Esses aspectos me interessam como artista, por este motivo fiz séries de xilogravuras sobre os Deuses Olímpicos, Gênesis, os Orixás, representei a Iemanjá em xilogravura, desenho, tapeçaria e algumas vezes Oxalá, Xangô, Oxum e Oxôssi. O que sempre me chamou muita atenção é o fato de que as religiões monoteístas dizem que seu Deus é melhor do que os outros. É uma concorrência enorme para atrair seus fiéis (ou são clientes?).

4 – Ivette Brandalise, jornalista: Bibi Ferreira dizia que “a velhice é uma prova irrefutável da existência do inferno”. Tu te sentes no inferno, no paraíso ou não tens como responder porque ainda não chegaste na velhice?

Querida Ivette, amiga de longa data e de muitas entrevistas memoráveis, gostei das tuas provocativas considerações. Também me lembrei das reflexões da Bette Davis que dizia mais ou menos o seguinte: “Depois dos 40 anos a vida é um plano inclinado, só vai…”, vender a alma ao diabo e, se possível, não entregá-la, como tentou Dr. Fausto, do Goethe. Como a morte é inevitável, almejo ir para o inferno, onde se encontram almas mais inquietas, inteligentes e divertidas. Vou encontrar muitos amigos lá! Paraíso… sentar no colo da virgem Maria, à direita de Deus, e entoar cânticos monótonos e chatos com os anjos e arcanjos… longe de mim!

5 – Margarete Moraes, agente cultural: Querida Zoravia, gostaria que você comentasse como se deram, na longa convivência com o igualmente artista plástico Vasco Prado, as mútuas influências e aprendizados no campo artístico, humano e político.

Querida Margarete, responsável por muitas realizações importantes na área cultural do nosso estado, especialmente quando foi Secretária Municipal de Cultura, e uma das fundadoras do Instituto Zoravia Bettiol. Na minha relação com Vasco, aprendi muito as bases do desenho e da gravura, pois fui sua aluna. Durante nos nossos quase 25 anos de convivência, nossos três filhos, Fernando, Eleonora e Eduardo, tínhamos um atelier muito ativo. Vasco se envolvia com suas criações e encomendas. Quando as crianças eram pequenas, acompanhava suas lições. Eu, além do meu trabalho de artista, acumulava as funções de administradora do nosso atelier, da galeria e da casa. Era um trabalho pesado pois a casa com as três funções tinha 1.000m², implantada em um terreno com quase um hectare. Chegamos a ter 12 funcionários, todos com carteira assinada. Vasco e eu tínhamos uma diferença de 21 anos de idade. Ele tinha um temperamento mais introvertido, e eu sou muito extrovertida. Quanto à questão política, ele era uma pessoa de esquerda, eu também, ambos muito preocupados com a desigualdade social gritante de nosso país, com as injustiças sociais e os governos corruptos e ditatoriais. Cada um de nós tinha seus próprios atelieres, mas sempre comentávamos e criticávamos o trabalho um do outro, o que é muito valioso. Naquela época, os turistas vinham para nossa casa e depois na casa do Érico Veríssimo e da Mafalda, ou vice-versa. Porto Alegre era uma cidade tranquila, com poucas atrações. Por isso, nosso atelier e Galeria eram um ponto cultural, turístico e afetivo de nossa cidade.

6 – Paulo Dalacorte, colecionador: Prezada Zoravia, como analisas o sentido e a importância do colecionismo e das coleções privadas para os artistas?

Prezado Dalacorte, até hoje me lembro da magnifica e marcante pintura da querida e talentosa Maria Lídia Magliani, que tu compraste do meu acervo. Me encanta ver e apreciar coleções privadas e seria muito proveitoso se expusesses a tua em alguma instituição de Porto Alegre. Realmente, quando um colecionador ou colecionadora adquire obras de artes visuais de um determinado artista, elas estarão muito melhor cuidadas, poderão ser vistas e apreciadas e sua cotação no mercado poderá alcançar preços mais altos e, de mais a mais, os artistas profissionais precisam vender suas obras e poder continuar produzindo mais. O Nei Vargas da Rosa fez uma tese, intitulada “Colecionismo de arte contemporânea: entre a centralidade das bordas e o mainstream”, que será publicada, espera-se, proximamente. Será ótimo conhecermos colecionadores e colecionadoras de muitos estados brasileiros. Embora tenha obras, principalmente gravuras, em muitos museus do Brasil e do exterior, quem mais adquiriu minhas obras é minha amiga, pesquisadora, professora e curadora, Paula Ramos. São 25 xilogravuras e uma grande e linda forma tecida intitulada “O Standarte de Oxôssi”. Sendo que o Gilberto Chateaubriand adquiriu serigrafias, xilogravuras e 8 cadeiras da série “Cadeiras para que te quero” que estão in-comodato no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro.

7 – Jacob Klintowitz, crítico de arte: Existe um dado fundamental na tua longa jornada na arte e ele marca e diferencia o teu trabalho. Este dado é a clara intenção de permanecer inserida na grande vivência cultural da espécie humana. Muito jovem você interpretou os mitos épicos gaúchos. A dureza dos guerreiros. Posteriormente, num momento em que a tapeçaria brasileira era constituída de formas tecidas, você criou tapeçarias narrativas onde nos mostrou o outro lado do mito, evidenciou a ternura e o amor, incluindo até textos literários. Depois, numa coragem extrema, criou um álbum de gravuras a partir dos temas de Kafka, o último dos profetas. Enfrentou o Profeta da nossa época, o gênio de escrita opaca que nos revelou um futuro no qual todas as coisas são postergadas, onde não há fatos, mas somente a culpa. Em Kafka o Pecado Original nasce a cada dia. Que tema para um jovem artista! E, para simplificar, este ano que passou nos trouxe as suas ilustrações sobre Dante. Agora, Zoravia, enfrenta o mito fundador da nossa literatura. E não se atemorizou em refazer os passos de gigantes, como Boticelli. Pois bem, Zoravia, você desde sempre optou pela grandeza. E isso numa época em que um simples fragmento de linguagem parece suficiente para satisfazer uma humanidade atordoada…. Eu queria que você nos falasse dessa vertente que percorre a tua obra e da fascinação que a linguagem exerce em você.

Querido Jacob, nos conhecemos em Porto Alegre no início da década de 1960. Te mudaste para o Rio, depois foste para São Paulo e convivemos bastante nos 8 anos nos quais morei na capital. Muito importante, sensível e abrangente a apresentação para a série Kafka, com 16 xilogravuras, o teu texto sobre arte têxtil brasileira e tua participação no filme “Zoravia”, do cineasta Henrique de Freitas Lima. O que consigo te dizer é que sou uma pessoa mais intuitiva do que racional, e na minha vida pessoal e profissional esbocei algumas linhas gerais, mas, no mais, as circunstâncias de vida foram indicando caminhos e eu escolhendo e trilhando o que mais conveniente (pois a vida é uma eterna escolha). Comecei a fazer gravura em 1956 e me apaixonei. Resolvi ilustrar a obra “A Salamanca do Jarau”, de Simões Lopes Neto, que narra a saga de Blau Nunes com seus personagens reais e míticos. Quanto às tapeçarias da série “Homenagem a Poetas”, gravei partes da poesia dos poetas homenageados aos tecidos, realizados em tear. Já na série Kafka, interpretei O Castelo, O Processo, Amerika e os contos “Metamorfose”, “Médico Rural” e “Carta ao Pai”. Finalmente, no belo texto de Gilberto Schwartsmann, uma adaptação em tercetos da Divina Comédia, o livro Divina Rima: Um Diálogo com a Divina Comédia de Dante Alighieri, onde procurei captar o clima poético da narrativa do bardo Italiano. A vertente relacionada na grande vivencia cultural da espécie humana, como bem observas, foi se desenvolvendo naturalmente, sem nenhum planejamento, intuitivamente. Quanto à linguagem, a palavra escrita é uma das formas mais completas e vibrantes dentre as manifestações artísticas.

8 – Vera Chaves Barcellos, artista multimídia – Zoravia, tu foste uma atuante batalhadora pela cultura. Hoje, que aconselharias aos artistas jovens nesse sentido?

Querida Vera, nossa amizade remonta ao início da década de 1970, quando reativamos a Chico Lisboa, que ficou desativada durante aproximadamente 15 anos. Convivemos depois durante minha gestão como Presidente da Chico, entre 1980 e 1982. Será que conselho adianta? Eu aconselharia o jovem artista que seja curioso, corajoso e persistente. Que procure se informar do que está acontecendo nas artes, na cultura e em outras áreas do conhecimento, que trabalhe muito e viva intensamente. Só assim terá condições de encontrar um caminho pessoal.

9 – Tânia Carvalho, comunicadora – Querida Zoravia, sei que fazes isso a vida inteira. Fizeste protestos através da arte, de teus trabalhos, sempre engajadérrima. Poderias nos falar um pouco sobre tua atuação cidadã?

Querida Tânia, nosso contato começou quando trabalhavas na Galeria Esfera, do Sonilto Alves, e depois continuou nas inúmeras vezes que tive o prazer e a alegria de ser entrevistada por ti. Respondendo a tua pergunta, eu achava que havia um paralelismo entre minha atuação cidadã, política e profissional. Mas, há anos, constato que essas atuações são entrelaçadas e isto ocorre naturalmente, sem nenhum esforço ou programação prévia. Comecei a me envolver com a política cultural quando estava no Instituto de Belas Artes, participando de congressos de estudantes em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, na Bahia, quando terminei o bacharelado em pintura, em 1955. Em 1956, entrei para a Associação Chico Lisboa e foi uma “escola” trabalhar na diretoria, com Xico Stockinger, Vasco Prado, Joel Amaral, Francisco Riopardense de Macedo e Gastão Hofstätter. Observava a atuação deles e via, mas não comentava, quem tinha tido o melhor desempenho ou razão. Em 1959, entrei para o grupo de poesia “Quixote”, fiz ilustrações de poesia brasileira e as apresentei na III Jornada Pan-Americana de Poesia, em Piriápolis, no Uruguai. Na década de 1980, ingressei na AGAPAN, e permaneço até hoje nesta instituição, ligada ao ambientalismo, e na Associação Chico Lisboa. Participei da criação de associações artísticas e culturais em Porto Alegre, São Paulo e San Francisco, na Califórnia. E, claro, quando havia manifestações públicas, como contra a chacina de jovens adolescentes na Candelária, no Rio de Janeiro, participei da manifestação contra este ato brutal em frente ao consulado brasileiro, em San Francisco. Em 2016, com golpe e impeachment da presidente Dilma e até o início da pandemia do coronavírus de 2019, estive presente nos protestos públicos. Como consequência do golpe, criamos, também, o Comitê pela Democracia e o Estado Democrático de Direito. Atualmente, tenho dificuldade de me locomover, mas continuo me manifestando por meio de meu trabalho e nas redes sociais, combatendo a ignorância, a crueldade e os desmandos deste governo genocida.

10 – Vera Pellin, agente cultural – Zoravia, mulher que muito admiro, de tantas causas, com reconhecimento público internacional em todas as suas ações, me responda: de todos os trabalhos ou projetos que realizou, qual lhe deu mais prazer? Poderias destacar um como sendo o que melhor expressou o seu pensar e o seu fazer artístico?

Minha relação contigo, querida Vera, remonta ao tempo em que foste professora e uma diretora muito ativa e realizadora do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre. Destacaria, ao invés de um, dois trabalhos que me deram muita satisfação: as xilogravuras da série Iemanjá, meu orixá preferido, pela riqueza da lenda a seu respeito, e a série de formas tecidas “Metamorfose”, verdadeiras esculturas têxteis, com as quais se que pode fazer diferentes combinações, com seus dois ou três elementos, no solo.

11 – Irene Santos, fotógrafa: – Pergunta azeda de uma viúva da fotografia analógica: Zoravia, será que resistirão os artistas plásticos às novas realidades que já se mostram substituindo a prática manual por aplicativos e as pinceladas por filtros do Instagram?

Querida Irene, minha fotógrafa por muitos anos. As mais antigas práticas das artes visuais, como a pintura a óleo, a pintura acrílica e a pintura feita digitalmente, coexistem harmoniosamente. Quando surgiu a fotografia, em 1839, na França, com Joseph Nicéphore Niépce, artistas plásticos achavam que ela iria lhes roubar compradores. A realidade provou que as artes visuais acabaram influenciando a fotografia, assim como ela acabou influenciando as artes visuais. Com os avanços tecnológicos nas mais recentes décadas, o e-book é uma realidade. Mas, como dizia Umberto Eco, “Os eletrônicos duram 10 anos, os livros 5 séculos”. Bom que hoje há público, principalmente entre os leitores jovens, que adoram ler no notebook, e há um público vasto fiel ao livro impresso, no qual me incluo. Nos dias atuais, pode se reunir milhares de músicas no Spotify que foram produzidas pelos vinis bem como pelos CDs. Portanto, querida amiga, felizmente há fartura de luminosidade e sol para a pintura, a fotografia, o livro e a música.

12 – Eduardo Vieira da Cunha, artista plástico: – Minha pergunta é uma espécie de homenagem ao José Ottoni Outeiral, ele foi meu psicanalista e gostava muito de ti, Zoravia. Sintetizando, pergunto: a arte é uma forma socialmente aceita de extravasar a libido?

Eu também gostava muito do Outeiral, algumas vezes ele tentou ser meu aluno, mas o excesso de trabalho dele acabou não permitindo. A arte é indomável e a libido pode aparecer de forma implícita, explícita ou ser somente insinuada ou evocada, não apenas nas artes visuais, mas em todas as manifestações artísticas.

13 – Paula Ramos, curadora: – Zoravia, o teu trabalho tem um elemento muito forte de lirismo, fantasia e evocação do universo infantil. Como foi a tua infância e em que medida ela repercute na tua obra?

Querida Paula, a quem recorro quando tenho alguma dúvida sobre artes visuais. Tive uma infância muito feliz na companhia de meus irmãos, Dilmer e Arrenius, que se desenvolveu nas cidades de Porto Alegre, Bento Gonçalves, Erechim, São Paulo e novamente em Porto Alegre, como disse. Meus pais e a tia Rina, que sempre morou conosco, nos proporcionaram um ambiente amoroso e intenso que nos deu muita segurança emocional e um ambiente cultural rico e variado. Nossa casa sempre teve muitas crianças com as quais compartilhava muitas brincadeiras. Esse ambiente alegre e intenso, vinculado ao impacto positivo do nascimento de meus filhos, Fernando e Eleonora (Eduardo nasceu onze anos depois) estimulou a criação das séries “Primavera”, em 1964, e “Namorados”, em 1965, nas quais as brincadeiras têm presença marcante, assim como a amizade e o amor, com referências de sóis, luas, estrelas e flores, o que acaba criando um clima poético.

14 – Francisco Marshall, professor de História e ativista cultural: – O que significa o nome Zoravia, para ti e para o mundo?

Querido Marshall, com o qual convivi virtualmente por um curto período na Prosperartes e cuja crônica quinzenal no caderno DOC é esperada com muita curiosidade por todos, inclusive por mim, pela forma provocativa, erudita, poética e, muitas vezes, contundente com a qual aborda os mais variados assuntos. “VIA” vem do Latim e Iugoslavo, significa “caminho”, e “ZORA”, “amanhecer”. Portanto, o significado do meu nome é “caminho do amanhecer”. Meu segundo nome, Augusta, me foi dado em homenagem à minha avó sueca. São dois nomes fortes, mas eu penso que Zoravia Bettiol é suficiente para uma artista visual. Desde cedo, fui ensinada que o nome é uma marca, um passaporte na vida, pelo qual temos que zelar, para termos credibilidade como cidadãos e como profissionais.

Sabe-se que, depois da morte, seremos lembrados, em média, por até três gerações, quando muito. Só que a vaidade e a pretensão humana são tão descabidas que as pessoas acham que serão lembradas eternamente… Um Leonardo da Vinci, um Dante Alighieri, um Galileu, um Karl Marx e um Sigmund Freud são exceções. No ponto que está a humanidade, com a crise climática acentuadíssima, uma superpopulação e, brevemente, os 2 graus a mais na temperatura média global tornariam a vida humana impossível. Não haveria comida para todos e poderão ocorrer inundações das cidades, em consequência do derretimento dos polos glaciais. Portanto, é sombrio o futuro do nosso planeta azul se a humanidade não parar de destruí-lo.

15 – Núbia Silveira, jornalista – O Brasil vive um momento de polarização política, radicalidade, ódios, preconceitos e racismo. Momento triste da nossa História. Como a senhora – uma reconhecida artista plástica – retrataria o Brasil de hoje em uma obra? A senhora pode fazer um esboço para os leitores da Parêntese?

Cara Núbia, fiz uma série de monotipia intitulada Brasil 98, onde mostro crianças e jovens marginalizados, sem escola, sem moradia e expostos a doenças. Mostro também o desmatamento, manifestações reivindicando escola, casa e comida para todos, e contra os maus governantes. Na série Brasil 2016, abordando problemas relacionados à política, educação, à moradia, à demarcação de terras indígenas e dos quilombolas. Penso que em um retrato do Brasil 2022, as cores sombrias e desalentadoras se acentuariam por um lado, com as consequências de um governo que prima pela ignorância, pela crueldade e o genocídio. Por outro lado, as cores vibrantes e claras apontariam para um horizonte de igualdade, equilíbrio ambiental, solidariedade, democracia, caminho que poderá acontecer nas eleições em novembro. O que se observa é que o sofrimento e a desilusão em quem votou neste governo despertou sua consciência política. Espera-se que agora estas pessoas analisem com profundidade em quem votar.

16 – Antônio Hohlfeldt, jornalista, professor e agente cultural: – Zoravia, no período passado experimentaste a divulgação de teus trabalhos nos meios de comunicação e, mesmo em visitas às redações, com a sempre presença do jornalista. Agora, como te comportas lidando com os meios atuais onde a rigor sequer podes ver o rosto do entrevistador? Ou seja, aquele contato quente e humano desapareceu.

Querido Antônio, amigo de muitos anos que sempre esteve muito presente e atuante, quer seja na política, nas artes ou no jornalismo em nossa Porto Alegre. A comunicação há décadas se fazia por telefone, pelo correio e visitando as redações. Depois, o fax tornava mais rápida a comunicação. Como consequência da pandemia, as lives são uma realidade, o contato pessoal foi substituído pelo e-mail, o whatsapp e por mais que tenhas curiosidade de ver o rosto do jornalista, muitas vezes isto fica frustrado, pois as pessoas podem colocar imagens de um filho, neto, ou de algum animal de estimação…desculpe, um pet… Muito frequentemente, participamos de uma live com o jornalista e a matéria sai online, poucas vezes como matéria impressa e com fotografias. Sim, sinto falta do contato direto com o jornalista pois muitas vezes acabávamos ficando amigos deles, o que era muito enriquecedor para todos.

Fonte: Matinal Jornalismo. Consultado pela última vez em 1 de agosto de 2024.

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Uma mulher além de seu tempo | Brasil de Fato

Com um festivo longo, rosa, de composição abstrata, entrelaçando as cores verde, laranja rosa e preto em diversas camadas feito à mão pelas indígenas da etnia Kuna, presentes no Panamá, além de pequenos povoados na Colômbia, Zoravia Bettiol caminha a passos tranquilos, amparada pela jornalista Katia Marko. No trajeto até o local da entrevista, o Jardim Lutzenberger, na Casa de Cultura Mario Quintana, centro de Porto Alegre (RS), a artista plástica fala de feminismo, amor e contexto político social.

Sentada no jardim, que leva o nome do pioneiro ambientalista José Lutzenberger, Zoravia, fala de sua admiração pela arte indígena e negra. “A arte indígena e a arte negra são as artes que eu tenho mais respeito e admiração, a cultura deles é riquíssima.”

Para ela, fazer arte, principalmente nos tempos atuais, exige muita sensibilidade e um olhar muito atento do mundo, para se poder absorver as coisas boas e observar as coisas ruins. “Essa desigualdade social é criminosa, e nesses governos mais recentes, principalmente nesse em que estamos, a desigualdade está acentuadíssima e vai piorar porque esse senhor presidente odeia indígenas, quilombolas, LGBTs, mulheres. Imagina um presidente que odeia o ser humano, isso não deveria existir.”

Com olhar atento às causas sociais, culturais, ambientais, aos 85 anos, Zoravia continua ativa nas lutas. Nascida no dia 17 de dezembro, festejou algumas vezes a data com seu amigo Luis Fernando Verissimo. Com um instituto que leva seu nome, já professorou, através da ONG Cristal Florido, em comunidades carentes. Filha do meio, de três irmãos, e mãe de outros três, ao escolher as artes plásticas, depois de um breve susto, recebeu todo apoio e estímulo da família, em uma época que as belas artes serviam para arranjar um bom casamento.

Além de artista plástica, também é designer e arte-educadora, trabalha com artes gráficas, arte têxtil, pintura, murais, instalações e performances. Nasceu em Porto Alegre, em 1935. Teve sua vida e obra contada no documentário de longa-metragem Zoravia, o Filme, dirigido por Henrique de Freitas Lima.

Em entrevista para o Especial 8 de Março do Brasil de Fato RS, ela fala de sua vida, suas causas e sobre o movimento feminista. Confira:

Brasil de Fato RS: Tu já disseste que o artista não é algo desassociado, mas deve integrar todas as coisas. E tu colocas a tua arte em todas as coisas que faz. Qual o papel do artista frente a sua conjuntura sócio política?

Zoravia Bettiol: Todo ser humano é um ser político e um ser social mesmo quando a pessoa diz que não se envolve com a política. O velho Bertold Brecht dizia que a política se envolve com a gente sempre. Eu tive uma educação com muito estímulo à questão da justiça social, à cultura, à educação. Foram bases muito importantes e alicerces muito sólidos para que eu me desenvolvesse como ser humano, como cidadã e como artista. Esse lastro foi muito bom. Eu lembro claramente que com 12 anos a minha opinião, na minha casa era respeitada, e eu via que na casa dos meus amiguinhos, pais e mães passavam por cima das opiniões deles como trator.

Eu fui criada assim, pode-se fazer tudo, mas tudo tem o seu preço, isso implica em liberdade e responsabilidade então. Acho um bom binômio, que te dá equilíbrio. Essa é uma base importante. Eu e meus dois irmãos, com exceção da minha irmã que conheceu a vó sueca, quando ela tinha um ano e pouco, fomos criados sem os avós, e não fez nenhuma falta. Tínhamos meu pai, minha mãe e uma tia, irmã da minha mãe, independente economicamente, e que morava conosco. Então à noite eram três filhos e três colos, eu sentada no colo do meu pai, meu irmão no colo da mãe, e o outro irmão no da minha tia. Vimos que não fez falta vô e vó porque foi uma família muito afetiva e isso é muito raro.

Essa questão de eu trabalhar em arte, acho que é uma área maravilhosa, que exige muita sensibilidade e um olhar muito atento do mundo, para gente absorver as coisas boas e poder observar as coisas ruins, e poder também combater as coisas ruins e também enaltecer as coisas boas, e expressar isso na arte. E vemos muita coisa no mundo, e principalmente no nosso país, como essa desigualdade social criminosa. E nesses governos mais recentes, principalmente nesse em que estamos, a desigualdade está acentuadíssima e vai piorar porque esse senhor presidente odeia indígenas, quilombolas, LGBTs, mulheres, é uma coisa tremenda. Imagina um presidente que odeia o ser humano, isso não deveria existir.

A questão da desigualdade carcerária no Brasil também é muito séria. Não tem gente da classe média ou da classe alta presa. Só gente da classe mais subalterna, extrato social mais baixo, e mais negros. É uma injustiça tremenda, às vezes por um crime pequeno que poderia ser resolvido com um trabalho comunitário, é encarcerado com criminosos, e custa haver um processo. Então eles são abandonados. Tínhamos que estar mudando tudo isso.

Quando despertou esse senso de justiça em ti, foi antes ou depois da arte? Como se une essa questão da arte com uma visão social?

Zoravia: Desde pequena para mim era uma coisa dolorosa ver que havia pobres (emocionada - pausa longa). Devia ter uns cinco anos...

Uma das primeiras séries que fiz foi “Mendigos e tipos de rua”, em São Paulo. Eu terminei o Belas Artes aqui em Porto Alegre, e meu pai que nunca me pedia nada, disse: “Minha filha, acho que tu vais morrer de fome”. E eu estou aqui bem saudável, mas ele me disse para fazer um curso superior. Então fui para São Paulo. Estava fazendo o segundo ano científico, no Colégio Bandeirantes. Eu tinha 20 anos. E naquela época desenhava monumentos, algumas mansões. Mas em um dia da semana, quando eu voltava do colégio, ao meio dia e meia, pegava uma feira, ai era outra face de São Paulo, a mais realista, em que se via pessoas pegando alimentos que iriam para o lixo, e os feirantes também, em situação não muito melhor. Então fiz essa série, e depois a série de gravuras. Ao longo do meu trabalho essa realidade aparece diversas vezes.

Agora é engraçado que isso é forte no meu trabalho, mas as pessoas lembram mais a parte lírica, mais romântica. As pessoas me registram e associam mais com coisas boas.

Eu trabalhei por 11 anos com a ONG Cristal Florido, onde trabalhávamos no turno inverso das escolas. Começamos na COHAB Feitoria, em São Leopoldo (região metropolitana de Porto Alegre), em Viamão, e também na escola Neusa Goulart Brizola, na Cavalhada. Uma vez falando com o Fogaça, ficou espantado por termos 11 oficinas diferentes.

Às vezes, as pessoas não põem o coração, não lutam o suficiente para fazer as coisas. Nós fazíamos sem dinheiro. Dávamos lanches para as crianças por nossa conta. Nunca tivemos auxílio econômico, muitas crianças iam pelo lanche. As mães se aproximavam de nós. Não queríamos pegar só os alunos que estudavam, acolhíamos aqueles que não tinham as melhores notas, que não estudavam ou que ficavam na rua.

Porto Alegre está acabando com a escola inclusiva na educação pública. A escola estava sempre pautada na administração popular para acolher e levar em conta todos esses, respeitando as suas peculiaridades de aprendizado ou não.

Zoravia: Algumas pessoas dizem, eles não têm nada, um pouquinho chega. Não! Eu não trabalho para dar a essas pessoas migalha da migalha, quero dar mais do que dou aos meus filhos, porque meus filhos, classe média/classe alta se defendem. Eles (menos favorecidos) têm que saber o que é bom, o que é padrão de qualidade. Eu luto para dar o melhor. É sempre a migalha da migalha. Eu me revolto contra isso.

Outra coisa que vejo, é que não importa a tua oficina, se é de música, arte, o que for, temos que fazer o que se propôs. Mas, para inclusão social tu tens que trabalhar também com a auto-estima, é fundamental. Buscar com que a pessoa melhore o seu trabalho, incentivar, mostrar crescimento para que a pessoa se sinta melhor.

Uma coisa que me chocou muito, no primeiro trabalho na COHAB Feitoria, foi quando entrevistamos os pais das crianças. Em uma das perguntas questionamos qual seria o sonho importante para eles. Bom, chocou-me quando um pai disse que o sonho dele era vestir uma camiseta, ele e seu filho, de um time de futebol e vir ver um jogo em Porto Alegre. Tive vontade de cortar os pulsos, porque se perguntam meu sonho, digo que quero dar a volta ao mundo, com minhas amigas, por três meses. É chocante alguém dizer isso. Parece, muitas vezes, que essas pessoas humildes, estão pedindo licença para viver.

Queria voltar a Zoravia mulher, antes tu falavas do amor, viveu durante 28 anos com Vasco Prado, que também era um artista. Gostaríamos que tu nos contasse um pouco dessa história.

Zoravia: Fui aluna do Vasco, e nos casamos, tivemos o Fernando, a Eleonora e o Eduardo. Construímos muitas coisas juntos, um ateliê, que tinha galeria, onde empregamos muita gente. Chegamos a ter uma equipe de 12 pessoas, com funções diferentes. Eram outros tempos. Hoje em dia ter uma pessoa já é muito. Todas elas tinham carteira assinada, pessoas que ficaram conosco por 12, 10, 8 anos.

Um criticava o trabalho do outro, isso é importante, a opinião do Vasco no meu trabalho, como a minha no dele também. Tínhamos identidades artísticas distintas. Além de artista e mãe, eu era quem administrava o ateliê, algo que detesto, e o Vasco só fazia a parte de criação. As pessoas me julgavam como em segundo plano, e eu nunca me importei com isso, achava graça. Claro que tive esse lastro de amor e essa coisa de segundo plano não me abalou. Eu dizia, uma hora as pessoas vão se dar conta que o Vasco tem sua trajetória e eu tenho a minha.

Mas muitas vezes foi bem difícil. Administrar já é uma profissão, cuidar de uma casa enorme, era outra profissão... Pensei muitos momentos em desistir, mas não desisti, porque não queria aumentar o número das mulheres que dizem assim: “Pois é, eu abandonei a minha profissão para cuidar dos meus filhos e marido”. Porque os filhos crescem, e tu ficas uma coitada.

Minha família, dos dois lados, paterno e materno, tem mulheres muito fortes. Meu bisavô era marinheiro (pai da minha avó sueca), tinham três filhos, e ele ía para o mar e minha bisavó tomava conta de tudo.

O meu avô Adamo teve 10 filhos, e ele era mais permissivo. Se os filhos não quisessem estudar ou trabalhar não importava, mas minha avó levantava de manhã cedo e mandava todo mundo para a escola. O meu pai se formou em advocacia, e também era professor, outro tio meu em engenharia.

Nós fomos criadas pelos meus pais sabendo a importância de ter uma profissão. Isso era fundamental, depois se casa ou não casa, se tem ou não dinheiro, tudo isso eram acréscimos ou não precisava ter esses acréscimos.

Minha irmã Dilma Bettiol foi a primeira engenheira sanitarista gaúcha a trabalhar em São Paulo, na construção de barragens. Ela é a mais velha, eu a do meio e daí vem o meu irmão, que é engenheiro agrônomo, e eu artista.

Minha mãe era uma mulher muito inteligente, mas não fez curso superior. Meu pai era mais sonhador e minha mãe tinha mais o sentido prático, mas ambos me auxiliaram.

Como foi para a tua família quando tu escolheu fazer Belas Artes?

Zoravia: Estava em São Paulo fazendo o científico. Eu tinha 20 anos, e na época começou a cair meu cabelo, minha tia me levou no médico que disse que tinha algum problema comigo. “Ela deve estar fazendo algo com muita contrariedade e está somatizando”, falou. E eu disse claro, estou fazendo essa porcaria de científico. Eu não errei na minha função, quero ser artista. Eu trabalhava até altas horas fazendo os croquis e depois em casa, com aquarela. Então enviei uma carta dizendo que eu ia abandonar o científico. No início deu um pouquinho de choque, mas como minha família é muito colaborativa, logo só pensaram em ajudar. Terminei o ginásio e fui fazer Belas Artes, porque na época não precisa ter concluído o científico, por isso comecei cedo.

Uma época em que as meninas faziam Belas Artes para arrumar marido, não era?

Zoravia: Isso ai! Mas eu queria fazer carreira.

Com que idade tu te casaste?

Zoravia: Tinha 24 anos e o Vasco 45. Ele tinha 21 anos a mais do que eu.

Considerando o teu tempo, tu sempre fizeste coisas consideradas vanguardistas. E outra coisa, esse teu olhar social, que sempre te fez sofrer ao ponto de tu chorar, como agora, ao lembrar da questão da pobreza. Todos os dias isso está presente, e para quem tem essa sensibilidade é bem sofrido. Boa parte das pessoas não está sensibilizada a esse ponto, mas quem está consciente e sente, é uma energia enorme para botar no cotidiano...

Zoravia: Sim, e agora as coisas estão gravíssimas nesse país. Estou no Comitê em Defesa da Democracia e do Estado de Direito, na Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), desde a década de 1980, na Chico Lisboa - Associação dos Artistas, estava na Properarte e em outro grupo de gente bacana lá do Rio de Janeiro, o grupo da Jandira Feghali, sobre cultura, mas saí dos dois, porque um dia eu tinha 570 mensagens no meu watsapp e não aguentei.

Também atuo na luta contra a instalação da Mina Guaíba. O meu Instituto está envolvido no Comitê contra a Mineração, que tem atualmente mais de 100 instituições contra esse absurdo. Mas agora, o mais recente que estou envolvida é contra a contratualização no Atelier Livre, Capitólio e Pinacoteca Ruben Berta. Estamos confeccionando material para uma manifestação em frente ao Centro Municipal de Cultura e também para a audiência na Câmara Municipal de Porto Alegre. Nesse material terá a palavra livre que tem diversos significados, liberdade de expressão, do conhecimento.

Trabalho 14 horas por dia, é bem pesado para dar conta da agenda. Mas tenho um assistente que está há 8 anos comigo, o Christian Comunello, que me ajuda muito.

Trabalha 14 horas por dia, com 84 anos, e com uma memória fascinante...

Zoravia: Não tenho memória não (risos). Já li que quando o artista usa muito a criatividade tem menos memória porque tem que ter espaço para a criatividade.

Tu trouxeste uma lista de mulheres que para ti se destacam. Fale um pouco disso, da atuação das mulheres, do movimento feminista.

Zoravia: O período mais marcante do feminismo foi na década de 1960, tinha uma série de reivindicações, algumas coisas mudaram. Nessas últimas décadas o feminismo no mundo tem uma conotação mais ampla, assim como algumas mulheres marcantes, com muita liderança, determinação, que lutam contra a desigualdade social, a injustiça, a favor da educação, do clima. Mulheres jovens... Adolescentes como a Malala Yousafzai, ativista paquistanesa, que dividiu um Prêmio Nobel da Paz, e continua na primeira linha na luta pela educação. Outra jovem adolescente, Greta Thunberg, sueca, uma figura de proa no movimento ambientalista no mundo, participando em diversos fóruns e eventos importantes. Recentemente apareceu uma foto das duas juntas, elas não arrefecem. E quem fala mal delas são uns coitados, machistas, principalmente os homens, invejosos e fracassados, projetam-se e não conseguem ver a grandeza e a pureza dessas criaturas.

Tem movimentos internacionais importantíssimos, como o #Metoo, popularizado pela atriz americana Alyssa Milano. E outra coisa que está colaborando, são as redes sociais, assim como as manifestações de rua, muito marcantes hoje em dia.

Depois no Chile, com a manifestação das mulheres e o hino El estuprador es tu. Ou seja, manifestações de rua, potencializadas nas redes sociais. Na Índia, com uma marcha das mulheres. Elas caminharam de 600 quilômetros, equivalente à metade do caminho entre Porto Alegre e São Paulo. Essa marcha que pegou várias cidades e uniu cinco milhões de mulheres, que reivindicam que as mulheres em idade fértil, dos 10 aos 50 anos, possam entrar nos templos, porque os homens dizem que as mulheres que menstruam são impuras. Só que eles esquecem que são muito mais impuros porque eles nascem de mulheres impuras.

No Brasil, temos a Sônia Guajajara, uma líder indígena marcante. Também a Petra Costa, uma mulher com um olhar crítico da política no seu documentário Democracia em Vertigem. Esse que o coitado do presidente diz que o que ela fez foi ficção, qual é a realidade dele?

Também a Djamila Ribeiro, filósofa que tem um trabalho muito importante, ativista, negra, que escreve na Folha de São Paulo. Débora Diniz, antropóloga, que escreve para o El País, defensora da legalização/descriminalização do aborto. Não dá para misturar certas lutas com religião, o aborto é uma questão de saúde pública. A filósofa Márcia Tiburi, que agora se auto-exilou, assim como a Débora. E a nossa Marielle Franco... Não há vontade política nenhuma para “descobrir” os seus executores, e a família do presidente envolvida com milicianos.

Nos fale sobre o Instituto Zoravia Bettiol.

Zoravia: Ele tem pouco tempo. Em março do ano passado, mês internacional da luta das mulheres fizemos a exposição “Mulheres em Movimento”. Foram 18 mulheres com 36 obras, realizado na minha casa porque de momento o edifício do instituto é uma ruína. Depois fizemos a atividade “Acolhendo a Vizinhança”, para entrarmos em contato com as pessoas. E vai ser feito um documentário antropológico na Casa dos Leões, dirigido pelo Baby Larde, chamado “Da Casa dos Leões ao Instituto Zoravia Bettiol”. As entrevistas estão maravilhosas. Também estamos programando uma exposição, “Amazônia, universo de contrastes”, com trabalhos feitos por homens e mulheres, nas mais diversas técnicas. Antes dessa exposição será realizada uma mostra de cinema, com a curadoria de Gilberto Perin, de curtas e médias metragens de artistas visuais.

Como está a questão da reforma da casa?

Zoravia: Gilberto Schwartsmann que respondeu pela Bienal do Mercosul, nas últimas duas edições, e que aliás esse ano o tema será a Mulher, se ofereceu para fazer um reparo emergencial no telhado e ele pagou com seus recursos próprios. A Lídia Fabricio, Adalberto Xavier estão detalhando o projeto, o restauro do prédio, mobiliário adaptado para artes visuais. Os recursos deverão vir de patrocínios.

A mulher na arte e seu papel político, como artista se coloca à frente de seu tempo? Qual a responsabilidade do artista como um ser público, de como ele se coloca frente à realidade?

Zoravia: Eu tenho uma posição, mas sempre respeitando as demais, e às vezes dialogar e até polemizar. Devemos nos manifestar. Entrei no Facebook só para falar do meu trabalho, só que nos últimos tempos é o meu trabalho e falar, principalmente, sobre os indígenas que estão sendo dizimados vertiginosamente, e depois falar das questões sociais e ecológicas, com viés político. E ultimamente sempre com petições sendo enviadas para assinatura contra alguma coisa, uma nova forma de manifestação.

A questão do teu envolvimento com a ecologia vem desde sempre. E agora em um momento que se destrói, que está autorizado pela lógica do presidente em tocar fogo na Amazônia, que a natureza é inimiga do progresso...

Zoravia: Tem coisas absurdas em todos os níveis. Aqui no RS houve uma mortandade de abelhas fenomenais por causa da ganância, de colocar agrotóxicos em tudo... E vamos lembrar do velho Einstein, se no mundo se termina com as abelhas, se termina a vida humana, pois não havendo polinização, não há alimento, e termina com a fauna e a flora, e embora o homem seja ridiculamente pretensioso, também embarca junto.

Qual a atualidade e importância do 8 de Março?

Zoravia: Eu penso que os homens devem continuar seguindo a posição corajosa e sábia que as mulheres estão tendo no mundo, contra o machismo, e que haja mais harmonia entre a humanidade. E que os homens e as mulheres lutem na mesma direção para o bem estar social e cultural, e pela educação.

Fonte: Brasil de Fato. Consultado pela última vez em 1 de agosto de 2024.

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A sublimação do mundo pela arte | Extra Classe

Zoravia Bettiol considera a visão o seu sentido mais aguçado. “É ela que me conduz a observar o mundo de forma muito objetiva e, ao mesmo tempo, recriá-lo e sublimá-lo pela arte”. Assim, de forma simples e igualmente objetiva, a artista define sua escolha pelas artes visuais.

Aos 86 anos, Zoravia mantém uma rotina de intenso trabalho no atelier em sua casa, na zona sul da capital, e em inúmeros outros projetos. Em parceria com vários movimentos e coletivos artísticos, ela está empenhada também em restaurar a Casa dos Leões, na Rua dos Andradas, para sediar o Instituto Zoravia Bettiol e ofertar à cidade mais um espaço de promoção de arte e cultura.

Desde do dia 26 de março, a Galeria Ecarta homenageia Zoravia Bettiol durante as festividades de aniversário de Porto Alegre com a exposição A artista e sua cidade, uma dupla homenagem. A curadoria é de André Venzon. A abertura ocorre no dia 26 de março, das 10h às 15h, e segue até 8 de maio, com visitação de terças a domingos, das 10h às 18h (na Avenida João Pessoa, 943, em Porto Alegre).

“Quanto à exposição que apresentarei na Galeria Ecarta, a convite do André Venzon, ela pertence a um arco no tempo que vai de 1956 a 2021, com 48 obras, sendo que as séries Mendigos e Tipos de Rua e Paisagens de Porto Alegre estão entre os primeiros trabalhos. A série mais recente é Divina Rima, que são gravuras digitais baseadas nos desenhos feitos para o livro Divina Rima – um diálogo com a Divina Comédia de Dante Alighieri, com texto de Gilberto Schwarstmann”, explica Zorávia.

Homenagem e aniversário da capital

André Venzon, curador da exposição, lembra que o evento integra as atividades culturais do aniversário de 250 anos de Porto Alegre. “Em uma de suas milhares de casas, naquela da Fundação Ecarta, temos a honra de homenagear a cidade através de uma das suas mais ilustres cidadãs”, festeja.

Para ele, se a forma simbólica da cultura é a arte, a vida de Zoravia não é apenas a própria arte, “é um símbolo” da nossa cultura.

“Todos somos por natureza criativos, mas alguns de nós são capazes de fazer os anjos protestarem, colocar “cavalinhos no céu”, evocar dos deuses olímpicos aos orixás com a força e beleza das cores, ter intimidade com a história de Eva a Alice no país das maravilhas, defender a terra e os direitos humanos, estar ao lado do povo não apenas porque é onde todo o artista tem que estar, mas porque “só o povo pode fazer o tempo novo”, define.

60 anos de carreira

A trajetória plástica de Zoravia, ao longo destes mais de 60 anos de carreira, é cheia de diversidade técnica e estética. Forma um vasto conjunto de obras relacionadas à gravura (linoleogravura, xilogravura, monotipia, serigrafia, litografia e ponta seca) arte têxtil (tapeçaria e formas tecidas) pintura, desenho (à lápis, bico de pena, colagem e técnica mista), joias (de prata e têxteis) objetos (cadeiras), esculturas (metal), murais (pintura, pastilha, gravado em cimento, com metal, gravado em madeira), headdresses e figurinos, instalações e performances.

A partir da sua primeira exposição, em 1959, a artista literalmente rodou o mundo, tendo participado de mais de 156 mostras individuais e mais de 350 coletivas em centenas de cidades no exterior. Entre elas, Washington, Paris, Praga, Varsóvia, Genebra, Lisboa, Roma, Milão, Madri, Estocolmo, Buenos Aires, Montevidéu e Punta del Este.

Preocupação social

Zoravia conta que constatou, ainda criança, a pobreza no mundo. Essa experiência foi impactante para a menina de apenas cinco anos. O que inspirou fortemente suas primeiras obras. “Minha primeira série de gravuras retrata este universo da pobreza que, como constatei depois de adulta, é de uma grande injustiça social. Por estes motivos, eu, como cidadã e artista, me envolvo para denunciar e combater, pois a maior chaga no nosso país é a desigualdade social, cultural e econômica”, sintetiza.

Seleção, a escrita sobre a obra

A exposição de Zoravia Bettiol integra a quinta edição do projeto Seleção Ecarta, uma atividade especial da Galeria Ecarta que a cada ano destaca um artista. Além da mostra, são convidadas diversas personalidades para escrever sobre uma obra específica do artista. Os textos são publicados ao lado da obra durante a exposição, no site e nas redes sociais da Fundação Ecarta.

Entre os nomes convidados e já confirmados para a homenagem a Zoravia estão: Alice Urbin, Beatriz Araujo, Claudia Sperb, Fábio Baraldo Pimentel, Francisco Dalcol, Francisco Marshall, Gilberto Schwartsmann, Graça Craidy, Henrique de Freitas Lima, Irene Santos, Jane Tutikian, Jessica De Carli, Leonardo Melgarejo, Liana Timm, Luciano Alabarse, Marcio Carvalho, Margarete Moraes, Paulo Amaral, Paulo Herkenhof, Renato Rosa, Roger Lerina, Sandra Dani, Tulio Milman, Valeria Barcellos, Vera Pellin e Zeca Brito.

Exuberante em vitalidade e imaginação

Para o professor, promotor cultural e escritor Francisco Marshall, “a arte de Zoravia Bettiol é exuberante em vitalidade, inteligência, imaginação, ironia, humor, cor e belos efeitos. É a arte perfeita, que convida e premia a sensibilidade, e torna melhor a nossa vida. Isso porque a artista é também uma cidadã de mente arguta, sensível às questões decisivas e pronta para converter em imagens as mensagens que todos devem compreender, em nossa comunidade, na cidade, nesta nação e no mundo”.

Nada de alienação, mas também nada de sucumbir ao peso dos fatos: a estes, por graves que sejam, Zoravia reage imediatamente com o pensamento certo e a atitude alegre e criativa que nos infundem otimismo e esperança. O caminho desta arte tão direta requer um conhecimento profundo da história da cultura, das linguagens da arte e suas possibilidades, e opções que Zoravia adota sempre com grande generosidade, querendo ir com graça ao encontro de seu público. É fácil e gratificante tornar-se admirador de Zoravia e apaixonar-se por sua arte. Temos todos que rejubilar por vivermos no mundo de Zoravia Bettiol, um mundo de encanto, saber, atitude e vida plena”, conclui.

Vida, livros e filme

A artista visual nasceu na capital gaúcha em 1935, graduou-se em pintura pelo Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. Estudou desenho e xilogravura em meados dos anos 1950 no ateliê do escultor Vasco Prado (1914-1998), com quem foi casada durante 28 anos.

Em 2007 foi lançado o livro em edição bilíngue (português e inglês) Zoravia Bettiol: a mais simples complexidade, com textos de seis especialistas. Ela também teve sua vida e obra contadas no documentário de longa-metragem Zoravia, o Filme, dirigido por Henrique de Freitas Lima.

Um de seus trabalhos mais recentes foram as ilustrações do livro Divina Rima, lançado no final de 2021, a Divina Comédia para jovens, escrito por Gilberto Schwartsmann, contendo 39 ilustrações da artista produzidas em apenas cinco meses durante a pandemia.

Outra iniciativa atual que tem seu empenho é a mostra Amazônia – Universo de Contrastes, uma parceria entre a Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa e o Instituto Zoravia Bettiol, que reúne obras de artistas visuais, refletindo a cultura indígena e denunciando a situação crítica enfrentada pela maior floresta tropical do mundo.

Fonte: Extra Classe. Consultado pela última vez em 1 de agosto de 2024.

Crédito fotográfico: Brasil de Fato. Consultado pela última vez em 1 de agosto de 2024.

Zoravia Bettiol (Porto Alegre, RS, 1935) é uma artista plástica brasileira. Iniciou sua carreira artística em 1952 no Instituto de Belas Artes da UFRGS. Conhecida por sua versatilidade, sua produção abrange pintura, gravura, arte têxtil, design de joias e performances. Em 1956, começou a trabalhar com gravura no ateliê do escultor Vasco Prado, com quem se casou em 1959. Seu trabalho em xilogravura lhe garantiu reconhecimento nacional e internacional, refletindo sua habilidade e inovação em técnicas gráficas. A partir de 1960, Bettiol explorou a arte têxtil, criando uma linguagem que influenciou uma geração inteira. Em seguida, atuou como designer de joias e headdresses, mantendo uma coerência temática e narrativa em sua obra. Além de sua produção artística, Bettiol é conhecida por seu ativismo em causas ecológicas e sociais. Aos 80 anos, sua energia e entusiasmo permanecem vibrantes, como demonstrado na exposição "Zoravia Bettiol – o lírico e o onírico", que celebra sua prolífica e impactante carreira. Com obras em acervos de alguns dos mais importantes museus de arte do mundo, Zoravia já realizou 136 exposições individuais, tendo apresentado seu trabalho em pelo menos 21 países.

Zoravia Bettiol

Zoravia Bettiol (Porto Alegre, RS, 1935) é uma artista plástica brasileira. Iniciou sua carreira artística em 1952 no Instituto de Belas Artes da UFRGS. Conhecida por sua versatilidade, sua produção abrange pintura, gravura, arte têxtil, design de joias e performances. Em 1956, começou a trabalhar com gravura no ateliê do escultor Vasco Prado, com quem se casou em 1959. Seu trabalho em xilogravura lhe garantiu reconhecimento nacional e internacional, refletindo sua habilidade e inovação em técnicas gráficas. A partir de 1960, Bettiol explorou a arte têxtil, criando uma linguagem que influenciou uma geração inteira. Em seguida, atuou como designer de joias e headdresses, mantendo uma coerência temática e narrativa em sua obra. Além de sua produção artística, Bettiol é conhecida por seu ativismo em causas ecológicas e sociais. Aos 80 anos, sua energia e entusiasmo permanecem vibrantes, como demonstrado na exposição "Zoravia Bettiol – o lírico e o onírico", que celebra sua prolífica e impactante carreira. Com obras em acervos de alguns dos mais importantes museus de arte do mundo, Zoravia já realizou 136 exposições individuais, tendo apresentado seu trabalho em pelo menos 21 países.

Videos

Documentário: Zoravia | 2018

Arte e a Divina Comédia | 2022

Em Sintonia Com - Zoravia Bettiol | 2017

Espaço Amelie recebe Zoravia Bettiol | 2022

Depoimento Zoraia Bettiol | 2016

Documentário Zoravia Bettiol | 2018

Lendas da Amazônia com Zoravia Bettiol | 2023

Entrevista com Zoravia Bettiol | 2010

Zoravia na Semana de Arte de 1922 | 2022

Entrevista com Zoravia Bettiol | 2022

Instalação Águas do Guaíba - Projeto Zorávia Bettiol | 2023

Animação da xilogravura: A criação | 2017

Xilogravura animada: O Faraó recebe a família de José | 2017

Animação da xilogravura: José interpreta o sonho do Faraó | 2017

Animação da xilogravura: Esaú e Jacó | 2017

Animação da xilogravura: A torre de Babel | 2017

Animação da xilogravura: O dilúvio | 2017

Animação da xilogravura: Caim e Abel | 2017

Zoravia Bettiol | Arremate Arte

Zoravia Bettiol é uma renomada artista plástica, conhecida por seu trabalho inovador e seu impacto no cenário artístico brasileiro. Formada em Belas Artes pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Bettiol desenvolveu uma carreira distinta, destacando-se na pintura, escultura e na instalação artística. Sua trajetória é marcada por uma busca constante por novas formas de expressão e uma abordagem que mescla elementos tradicionais com experimentação contemporânea.

Bettiol é amplamente reconhecida por sua contribuição para a arte contemporânea no Brasil, especialmente na criação de obras que exploram a relação entre o corpo e o espaço. Seus trabalhos muitas vezes incorporam materiais diversos e técnicas variadas, refletindo uma abordagem multidisciplinar e uma busca pela inovação. A artista também é conhecida por seu envolvimento com temas relacionados à identidade, ao feminino e ao ambiente, que são frequentemente explorados em suas obras.

Além de seu trabalho como artista, Zoravia Bettiol desempenhou um papel importante na educação e na promoção das artes. Ela foi professora de artes visuais na UFSM e contribuiu para a formação de novas gerações de artistas com sua experiência e conhecimento. Seu compromisso com a educação e o desenvolvimento das artes é uma parte significativa de seu legado.

Bettiol participou de diversas exposições individuais e coletivas, tanto no Brasil quanto no exterior. Suas obras foram exibidas em importantes instituições culturais e museus, consolidando sua reputação como uma artista inovadora e relevante. Entre suas exposições destacam-se participações em bienais e mostras de arte contemporânea, onde sua abordagem única e sua técnica refinada foram amplamente reconhecidas.

Zoravia Bettiol | Wikipédia

Zoravia Augusta Bettiol (Porto Alegre, 1935) é uma artista plástica e arte educadora brasileira. Com mais de 65 anos dedicados às artes, produz gravura, pintura, desenho, arte têxtil, arte mural e instalações.

Nascida em uma família de ascendência sueca e italiana, entre 1952 e 1955 fez estudos de pintura no Instituto de Belas Artes, em Porto Alegre. Entre 1956 e 1957, estudou desenho e xilogravura no atelier de Vasco Prado (com quem foi casada durante 28 anos) e, em 1968, tapeçaria no atelier de Maria Laskiewicz, em Varsóvia, na Polônia.

Artista premiada, participou de importantes exposições coletivas e individuais, no Brasil e no exterior, entre as quais em Montevidéu, Punta del Leste, Washington, D.C., Praga, Varsóvia, Genebra, Lisboa, Roma, Milão, Madri, Buenos Aires, Estocolmo e Paris.

Em 2007 foi lançado o livro em edição bilíngue (português e inglês) Zoravia Bettiol: a mais simples complexidade, com textos de seis especialistas - Maria Amélia Bulhões, pesquisadora (desenho e pintura); Paulo Gomes, curador (gravura); Albani de Carvalho, historiadora e crítica de arte (arte têxtil); Fernando Cocchiarale, crítico de arte e curador do MAM/RJ (instalação, mural e performance); Ulpiano Bezerra de Menezes, historiador e arqueólogo, professor titular da USP (objeto); Paula Ramos, jornalista e crítica de arte - que abordam a trajetória da artista.

Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 1 de agosto de 2024.

Zoravia Bettiol | Itaú Cultural

Gradua-se em pintura pelo Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. De 1956 a 1957 faz aulas de desenho e xilogravura no ateliê do escultor Vasco Prado (1914 - 1998), com quem foi casada durante 28 anos. Dedicando-se principalmente a tapeçaria e gravura, tece formas tridimensinais em tapeçaria e reúne formas populares (como é o caso do uso constante das figuras dos Orixás) ao artesanato erudito nas xilogravuras. Recebe o primeiro prêmio de desenho no 18º Salão Municipal de Belas-Artes de Belo Horizonte em 1962, o primeiro prêmio de gravura no 2º Salão de Arte Religiosa Brasileira de Londrina em 1966 e o prêmio nacional de gravura na 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas de Salvador em 1966, entre outros. Em 1968 muda-se para Varsóvia, na Polônia, para realização de estudos na área têxtil no Atelier Maria Laskiewicz. Durante o período em que reside na Polônia cursa a Escola de Belas Artes de Varsóvia. Nos Anos 70, já de volta ao Brasil, figura em diversas exposições internacionais. Em 1985 recebe o Prêmio Medalha Cidade de Porto Alegre, por bons serviços prestados à comunidade, e em 1987 é homenageada com o troféu destaque em artes plásticas 87. Durante anos 1980 e 1990 ministra diversos cursos e workshops em diversos países.

Críticas

"Como artista, Zorávia Bettiol nega-se a ficar diante de um espelho e mirar-se, repetir-se, copiar-se, Em matéria de desenho, cor e tema as suas gravuras (...) diferem umas das outras sem deixarem de conservar a marca de quem as imaginou e executou (...). Todo esse palavrório, porém, nada diz da habilidade artesanal dessa artista consumada que é Zorávia Bettiol, nem da sua rica imaginação e da sua profunda humanidade" — Érico Veríssimo (VERÍSSIMO, Érico. In: BETTIOL, Zoravia. Arte de Zoravia Bettiol: gravuras & tapeçarias. São Paulo: MAM, 1974).

"(...) estamos ante uma gravadora que é mestre em seu ofício: Zorávia Bettiol. Gravura onde a beleza nasce do ofício e da poesia, da mão e do coração, da inteligência e do amor. Se a técnica é primorosa ela não limita, no entanto o sentimento, não leva a um preciosismo de forma, a uma diluição das emoções". — Jorge Amado (AMADO, Jorge. In: BETTIOL, Zoravia. Arte de Zoravia Bettiol: gravuras & tapeçarias. São Paulo : MAM, 1974).

Exposições Individuais

1959 - Montevidéu (Uruguai) - Zoravia Bettiol: desenhos, linoleogravuras e xilogravuras, Galeria Arte Bella

1959 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na UFRGS. Faculdade de Arquitetura

1961 - São Paulo SP - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria Astréia

1962 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Gead

1964 - Buenos Aires (Argentina) - Individual, na Galeria Lascaux

1964 - Córdoba (Argentina) - Individual, na Galeria Cristal

1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia

1965 - Porto Alegre RS - Individual, na Espaço Galeria

1965 - Punta del Este (Uruguai) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, no Centro de Artes y Letras

1965 - Salvador BA - Individual, na Galeria Convivium

1965 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Solarium

1966 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Espaço Galeria

1968 - Praga (Tchecoslováquia - atual República Tcheca) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Metska Knihovna

1968 - Varsóvia (Polônia) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria Rzezby

1969 - Genebra (Suíça) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria Simon Patino

1969 - Lisboa (Portugal) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, no Ministério da Cultura de Portugal. Palácio Foz

1969 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: tapeçarias, no Estúdio Zoravia Bettiol

1970 - Rio de Janeiro RJ - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria Bonino

1971 - Porto Alegre RS - 15 Anos de Gravura de Zoravia Bettiol, na Prefeitura do Município de Porto Alegre

1973 - Bogotá (Colômbia) - Zoravia Bettiol: arte têxtil e xilogravuras, no Banco de La República. Biblioteca Luis Ángel Arango

1973 - La Paz (Bolívia) - Zoravia Bettiol: arte têxtil e xilogravuras, na Galería Municipal

1974 - Roma (Itália) - Individual, na Galeria Dora Pamphili

1974 - São Paulo SP - A Arte de Zoravia Bettiol: arte têxtil e xilogravuras, no MAM/SP

1974 - São Paulo SP- A Arte de Zoravia Bettiol: gravuras e tapeçarias, no MAM/SP

1976 - Madri (Espanha) - Zoravia Bettiol: formas tridimensionais tecidas e tapeçarias, na Galeria de Arte da Casa do Brasil

1976 - Milão (Itália) - Zoravia Bettiol: arte têxtil e xilogravuras, no Centro Cultural Ítalo-Brasileiro

1976 - Paris (França) - Individual, na Galerie Debret

1977 - Salvador BA - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria da Pousada do Carmo

1977 - Salvador BA - Zoravia Bettiol: xilogravuras, no MAM/BA

1978 - Buenos Aires (Argentina) - Zoravia Bettiol: arte têxtil e xilogravuras, na Galeria Praxis

1978 - Colônia (Alemanha) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galerie Boisserée

1978 - Porto Alegre RS - Kafka, no Atelier Vasco Prado e Zoravia Bettiol

1979 - Porto Alegre RS - Verde Que te Quiero Verde, no Margs

1979 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: tapeçarias, no Atelier Vasco Prado e Zoravia Bettiol

1980 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: desenhos, no Atelier Vaco Prado e Zoravia Bettiol

1980 - Washington D.C. (Estados Unidos) - The World of Franz Kafka, no Brazilian-American Cultural Institute

1981 - São Paulo SP - Kafka, no Spazio Pirandello

1982 - Estocolmo (Suécia) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Galeria Latina

1982 - Oslo (Noruega) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, na Kunstforening

1983 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: tapeçarias, no Estúdio Zoravia Bettiol

1984 - Montevidéu (Uruguai) - Zoravia Bettiol: formas tridimensionais tecidas e tapeçarias, na Galeria Latina

1984 - Oslo (Noruega) - Zoravia Bettiol: formas tridimensionais tecidas e tapeçarias, no Kunstindustriemuseet

1985 - Brasília DF - Individual, na Itaú Galeria

1985 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: retrospectiva 1955 - 1985, no Margs

1986 - Huelva (Espanha) -Zoravia Bettiol: formas tridimensionais tecidas e tapeçarias, na Galería del Banco de Bilbao

1986 - São Paulo SP - Zoravia Bettiol: retrospectiva 1955 - 1985, no MAB-Faap

1987 - Madri (Espanha) - Individual, na Casa del Brasil

1988 - Assunção (Paraguai) - Zoravia Bettiol: xilogravuras, no Centro de Estudios Brasileños

1990 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: arte têxtil e jóias, na Galeria Marisa Soilbelmann

1992 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: jóias e ornatos têxteis, no Margs

1992 - São Paulo SP - Zoravia Bettiol: arte têxtil, desenhos, jóias e xilogravuras, no Atelier Zoravia Bettiol

1993 - Menlo Park (Estados Unidos) - Zoravia Bettiol: pinturas, tapeçarias e xilogravuras, na Prefeitura de Menlo Park

1993 - San Francisco (Estados Unidos) - Zoravia Bettiol: pinturas, tapeçarias e xilogravuras, na John Francis Gallery

1994 - Amherst (Estados Unidos) - Zoravia Bettiol: xilogravuras e tapeçarias, na Augusta Savage Gallery

1998 - Porto Alegre RS - Persona-Personagem, Head -Dresses e Fantasias, no Margs

1999 - Porto Alegre RS - Zoravia Bettiol: serigrafias e monotipias, na Galeria Gravura

1999 - San Francisco (Estados Unidos) - Zoravia Bettiol: tapeçarias, pinturas, gravuras e jóias, no Studio Zoravia Bettiol

Exposições Coletivas

1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho

1962 - Belo Horizonte MG - 17º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, no Museu de Arte da Pampulha - 1º prêmio em desenho

1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1964 - Curitiba PR - 16º Salão de Belas Artes da Primavera, no Clube Concórdia - medalha de ouro

1964 - Ribeirão Preto SP - 1ª Exposição da Jovem Gravura Nacional 

1964 - São Paulo SP - 1ª Exposição da Jovem Gravura Nacional, no MAC/USP

1965 - Belo Horizonte MG - 1ª Exposição da Jovem Gravura Nacional, no Museu de Arte da Pampulha

1965 - Curitiba PR - 22º Salão Paranaense de Belas Artes, na Biblioteca Pública do Paraná

1965 - Curitiba PR - 1ª Exposição da Jovem Gravura Nacional, na Secretaria do Estado de Educação

1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1965 - Florianópolis SC - 1ª Exposição da Jovem Gravura Nacional, no Masc

1966 - Kanazawa (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul

1966 - Londrina PR - 3º Salão de Arte Religiosa de Londrina - 1º prêmio

1966 - Nikko (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul

1966 - Osaka (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul

1966 - Sakata (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul, Homma Museum of Art

1966 - Salvador BA - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas - 1º prêmio nacional de gravura

1966 - São Paulo SP - 13 Artistas Gaúchos, no MAC/USP

1966 - São Paulo SP - 2º Exposição da Jovem Gravura Nacional, no MAC/USP

1966 - Suzu (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul

1966 - Tóquio (Japão) - Gravadores do Rio Grande do Sul, na Embaixada do Brasil no Japão

1967 - Brasília DF - 4º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, no Teatro Nacional Cláudio Santoro

1967 - Campinas SP - 3º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no Museu de Arte Contemporânea José Pancetti

1967 - Rio de Janeiro RJ - Salão das Caixas, na Petite Galerie

1967 - Santiago (Chile) - 3ª Bienal Americana de Gravura, no Museo de Arte Contemporáneo

1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1967 - Washington (Estados Unidos) - Two Brazilian Graphic Artists, no Brazilian-American Cultural Institute

1968 - Cracóvia (Polônia) - 2ª Bienal Internacional de Gravura

1969 - Lausanne (Suíça) - 4ª Bienal Internacional de Tapeçaria, no Musée Cantonal des Beaux-Arts

1970 - Cracóvia (Polônia) - 3ª Bienal Internacional de Gravura

1970 - San Juan (Porto Rico) - 1ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña

1970 - São Paulo SP - A Gravura Brasileira, no Paço das Artes

1970 - Trenton (Estados Unidos) - Color Prints of Americas, no New Jersey Museum

1971 - São Paulo SP - 3º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP

1972 - Bradford (Inglaterra) - Third International Print Biennial, no Bradford City Art Gallery

1972 - Carpi (Itália) - Carpi Print Triennial

1972 - Cracóvia (Polônia) - 4ª Bienal Internacional de Gravura

1972 - Ibiza (Espanha) - Ibizagraphic 72, no Museu de Arte Contemporânea

1972 - San Juan (Porto Rico) - 2ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña

1972 - São Paulo SP - 2ª Exposição Internacional de Gravura, no MAM/SP

1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio

1974 - Cracóvia (Polônia) - 5ª Bienal Internacional de Gravura

1974 - Ibiza (Espanha) - Ibizagraphic 74, no Museu de Arte Contemporânea

1974 - San Juan (Porto Rico) - 3ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña

1974 - São Paulo SP - 1ª Mostra Brasileira de Tapeçaria, no MAB-Faap - menção honrosa

1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira , no MAM/SP

1975 - Brasília DF - Arte Gaúcha/74

1975 - Lódz (Polônia) - 1ª Triennial of Fiber Arts, no The Central Museum of Textiles

1975 - Nova York (Estados Unidos) - Young Artist - Print 75, no Union Caribe Building

1975 - Porto Alegre RS - 1º Salão do Rio Grande do Sul, no Margs - menção honrosa

1976 - São Paulo SP -1ª Trienal de Tapeçaria, no MAM/SP

1977 - Madri (Espanha) - Arte Actual de Iberoamerica, no Instituto de Cultura Hispânica

1977 - São Paulo SP - 9º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP

1977 - Washington (Estados Unidos) - The Original and its Reproduction: a Melhoramentos project, no Brazilian-American Cultural Institute 

1978 - Curitiba PR - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, no Centro de Criatividade

1978 - Lódz (Polônia) - 2ª Triennial of Fiber Arts, no The Central Museum of Textiles

1979 - Buenos Aires (Argentina) - 1ª Trienal Latinoamericana del Grabado, nas Salas Nacionales de Exposición

1979 - Mendonza (Argentina) - 1ª Trienal Latinoamericana del Grabado, no Museo de Arte Moderno

1979 - San Juan (Porto Rico) - 4ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña

1979 - São Paulo SP - 2ª Trienal de Tapeçaria, no MAM/SP

1980 - Penápolis SP - 4º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis

1981 - Linz (Áustria) - Textikünst 81, na Stadtausstellung

1981 - San Juan (Porto Rico) - 5ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña

1981 - Seul (Coréia do Sul) - 3rd Seoul International Print Biennial

1981 - Viena (Áustria) - Textikünst 81, no Kunstlerhaus

1982 - Filadélfia (Estados Unidos) - Art from Brazil, na Embaixada do Brasil

1982 - Penápolis SP - 5º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis - artista convidado

1982 - São Paulo SP - 3ª Trienal de Tapeçaria, no MAM/SP

1982 - Washington D.C (Estados Unidos) - Art from Brazil, no Brazilian-American Cultural Institute

1983 - Porto Alegre RS - Arte Livro Gaúcho: 1950/1983, no Margs 

1984 - Curitiba PR -  6ª A Xilogravura na História da Arte Brasileira, na Casa Romário Martins

1984 - Havana (Cuba) - 1ª Bienal de Havana, no Museo Nacional de Bellas Artes

1984 - Heidelberg (Alemanha) - Tapisserien aus Bresilien, na Textilmuseum Max Berk

1984 - Rio de Janeiro RJ - A Xilogravura na História da Arte Brasileira, na Funarte. Galeria Sérgio Milliet

1984 - Rio de Janeiro RJ - Doações Recentes 82-84, no MNBA

1985 - Penápolis SP - 6º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis

1986 - Belo Horizonte MG - Evento Têxtil 85

1986 - Curitiba PR - Evento Têxtil 85

1986 - Porto Alegre RS - Evento Têxtil 85

1986 - São Paulo SP - Evento Têxtil 85

1987 - Liubliana (Eslovênia) - 17ª Bienal Internacional de Gravura, na Moderna Galerija Ljubljana 

1988 - Rio de Janeiro RJ - Arte Têxtil: técnicas contemporâneas, no Espaço Cultural Sérgio Porto

1988 - São Paulo SP - Xilogravura 88, no Paço das Artes

1989 - Campinas SP - Arte Têxtil, no Centro de Convivência Cultural de Campinas

1989 - Porto Alegre RS - Arte Sul 89, no Margs

1991 - Porto Alegre RS - Exposição Atelier Livre: 30 anos - alunos artistas, no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre

1991 - São Paulo SP - Cidadania: 200 anos da declaração dos direitos do homem, no Sesc Pompéia

1992 - Rio de Janeiro RJ e São Paulo SP- Proteja a Vida, na ECO 92 e no Metrô

1992 - São Paulo SP - América: caminhos de um tempo perdido, no Sesc Pompéia

1993 - Campinas SP - Gravura, na Pontifícia Universidade Católica. Instituto de Letras

1993 - Havana (Cuba) - Grabados del Brasil, no Palácio de las Convenciones

1993 - João Pessoa PB - Xilogravura: do cordel à galeria, na Fundação Espaço Cultural da Paraíba

1993 - Lisboa (Portugal) - Matrizes e Gravuras Brasileiras: Coleção Guita e José Mindlin, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão

1993 - San Francisco (Estados Unidos) - 7th Festival of the Poetry in the Arts, na Fort Mason Conference Center

1993 - San Francisco (Estados Unidos) - Montage: elements of life, no Fort Mason Conference Center

1994 - Campinas SP - Xilo e Print: Mostra Internacional de Gravura em Relevo, no MAC/Campinas

1994 - San Francisco (Estados Unidos) - Brazilian Arts and Craft Festival, no San Francisco County Fair

1994 - São Paulo SP - Xilogravura: do cordel à galeria, na Companhia do Metropolitano de São Paulo

1994 - São Paulo SP - Xilogravura: do cordel à galeria, no Masp

1995 - Pequim (China) - Global Focus Exhibition

1995 - San Francisco (Estados Unidos) - Proteja a Vida, no Palace Fine Arts

1995 - San Francisco (Estados Unidos) - We Are All Conected, na Bayfront Gallery

1995 - São Petersburgo (Rússia) - International Symposium on Textile-White Nights 

1996 - Passo Fundo RS - Museu de Artes Visuais Ruth Schneider: exposição inaugural, no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider

1997 - Oklahoma City (Estados Unidos) - Ars Textrina International Exhibit, na The University of Oklahoma (Oklahoma, Estados Unidos) - 2º prêmio

1997 - Porto Alegre RS - Me Dejas Loco América, no Mercado Público Municipal de Porto Alegre

1998 - Campinas SP - Xilo e Print: Mostra Internacional de Gravura em Relevo, no Museu de Arte Contemporânea José Pancetti

1998 - Porto Alegre RS - 1ª Bienal Latino-Americana de Pintura e Tapeçaria - menção honrosa

1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras, na Galeria de Arte do Sesi

1999 - Fort Wayne (Estados Unidos) - Artwear 99, no Fort Wayne Museum of Art

1999 - New Canaan (Estados Unidos) - USA Craft Today 99, no Silvermine Guild Art Center

1999 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Rio Gravura. Gravura Moderna Brasileira: acervo Museu Nacional de Belas Artes, no MNBA 

1999 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Rio Gravura. São Paulo: gravura hoje, no Palácio Gustavo Capanema

2000 - Porto Alegre RS - Brasil 500 Anos - Navegadores de Imagens, no Centro Cultural Usina do Gasômetro

2001 - Porto Alegre RS - Coletiva de Gravuras, na Galeria Gravura

2001 - Porto Alegre RS - Proteja a Vida, na PUC/RS

2001 - Rio de Janeiro RJ - Trilhando a Gravura, no Museu da Chácara do Céu

2002 - Porto Alegre RS - Desenhos, Gravuras, Esculturas e Aquarelas, na Garagem de Arte

Fonte: ZORAVIA Bettiol. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 01 de agosto de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Zoravia Bettiol: Inquieta, inteligente e divertida | Matinal Jornalismo

O nome nada tem de comum – “Zoravia”, numa busca pelo google, resulta em indicações apenas da própria Zoravia Bettiol. Sabe lá o que é ter um nome dessa raridade? Se é verdade que cada pessoa, qualquer pessoa, é sempre única e irrepetível, muito poucas terão essa marca distintiva já no nome.

E tem a obra. Zoravia Bettiol (que tem também um segundo nome, Augusta, mas não usa) tem uma trajetória notável, nas artes visuais e na vida cidadã. Em Porto Alegre e noutras partes, sua presença é certa ao lado das melhores causas, com uma gentileza que faz par com a serenidade de seu olhar.

Aqui, Zoravia responde a perguntas de 16 entrevistadores, arregimentados por Renato Rosa, marchand e artista plástico que empresta mais esse brilho à Parêntese.

1 – Luís Augusto Fischer, editor: Como é tua história familiar, pais e avós, etc.? Onde passaste tua infância? Como nasceu o interesse pelas artes? O ambiente familiar, escolar ou de amizades teve importância?

Querido Fischer, meus avôs maternos e paternos eram italianos. Já a avó materna era sueca e a avó paterna de origem austríaca. Nasci em Porto Alegre em 1935, na rua Santa Cecília, e tenho uma irmã, Dilmer, dois anos mais velha do que eu, e meu irmão, Arrenius, é dois anos mais moço. Meu pai, Sigefrido Bettiol, que tinha uma forte cultura humanista, era professor e advogado. Na época do Estado Novo, foi perseguido e exonerado dos colégios onde lecionava. Nos mudamos para Bento Gonçalves, depois Erechim e São Paulo. Minha mãe, Emma Bettiol, tinha um sentido muito objetivo e prático, e administrava a parte econômica da família. Voltamos para Porto Alegre quando eu tinha 11 anos e entrei para o primeiro ano ginasial no Instituto de Educação.

Não conheci meus avós, pois eles já tinham falecido quando nasci, mas eu e meus irmãos nunca sentimos falta deles porque meus pais e minha tia, Rina Chittolina, que era assistente social e sempre morou conosco, eram muito carinhosos e compreensivos. Eles nos transmitiram muita segurança afetiva. Além disso, proporcionaram um ambiente intelectual muito estimulante, princípios de justiça social e respeito ao ambiente natural. Desde criança, desenhar e pintar eram uma atividade profundamente prazerosa, tanto assim que nas férias de dia a minha casa era cheia de crianças, mas à noite eu encontrava tempo para desenhar e pintar. Portanto, quando decidi entrar para o Instituto de Belas Artes minha família aprovou minha decisão. Fui aluna de pintura do professor Ado Malagoli, que foi um bom professor. Também tive aulas com João Fahrion, ótimo artista, porém um professor que não tinha didática. Resolvi entrar no atelier do escultor Vasco Prado para aprender desenho e acabei aprendendo linoleogravura e xilogravura. Comecei, também, a fazer tapeçaria bordada, que não me satisfazia, pois ela imita o ponto linho do tear.

2 – Clara Pechansky, artista plástica: Zoravia querida, tu és conhecida por abraçar muitas técnicas. Qual delas melhor te identifica?

Querida Clara, gostei imensamente e fiquei conhecendo muitos aspectos da tua vida e obra na entrevista que deste para o programa “Prata da Casa”, da minha filha Nora Prado.

As técnicas a que mais de dediquei foram a gravura: linoleogravura, monotipia, xilogravura, litografia e, mais recentemente, a gravura digital, cuja mais recente série que fiz foi a “Divina Rima”. A arte têxtil também me envolveu durante muitos anos. Comecei com tapeçaria bidimensional e acabei fazendo muitas séries. Posteriormente, comecei a me dedicar a formas tecidas e obras tridimensionais. Estudei arte têxtil em Varsóvia em 1968. Sou, juntamente com Ieda Titze, percussora da nova tapeçaria no Rio Grande do Sul, sendo que Jacques Douchez e Norberto Nicola introduziram a nova tapeçaria em São Paulo e no Rio de Janeiro. Participei da 4ª Bienal Internacional de Tapeçaria de Lausanne, no Musée Cantonal de Beaux Arts, e no Mobilier National, em Paris, ambas em 1969. Fui a única brasileira desse ano, sendo que nos 34 anos que durou este importantíssimo evento têxtil, somente mais 3 brasileiros participaram: Sheila Paes Leme, Jacques Douchez e outro artista de que não me lembro o nome.

3 – Liana Timm, artista multimídia: Querida Zoravia! Feliz por ter te encontrado nos caminhos da arte. Lá se vão 43 anos. Convivemos intensamente lutando pela liberdade e pelo patrimônio cultural tanto de nossa cidade, quando do estado e do Brasil. Aprendi contigo essa consciência cidadã. Obrigada. Pensando em tua produção, gostaria de saber sobre algumas séries cuja temática gira em torno dos Orixás, e principalmente Oxalá e Iemanjá. Como situas a religião em tua arte?

Querida Liana, realmente nos envolvemos em muitas lutas e fiquei muito feliz em ter participado das comemorações recentes dos teus 35 anos dedicados a poesia. Gostaria de esclarecer que sou ateia, mas a beleza dos rituais religiosos e as histórias das religiões são envolventes e criativas. Esses aspectos me interessam como artista, por este motivo fiz séries de xilogravuras sobre os Deuses Olímpicos, Gênesis, os Orixás, representei a Iemanjá em xilogravura, desenho, tapeçaria e algumas vezes Oxalá, Xangô, Oxum e Oxôssi. O que sempre me chamou muita atenção é o fato de que as religiões monoteístas dizem que seu Deus é melhor do que os outros. É uma concorrência enorme para atrair seus fiéis (ou são clientes?).

4 – Ivette Brandalise, jornalista: Bibi Ferreira dizia que “a velhice é uma prova irrefutável da existência do inferno”. Tu te sentes no inferno, no paraíso ou não tens como responder porque ainda não chegaste na velhice?

Querida Ivette, amiga de longa data e de muitas entrevistas memoráveis, gostei das tuas provocativas considerações. Também me lembrei das reflexões da Bette Davis que dizia mais ou menos o seguinte: “Depois dos 40 anos a vida é um plano inclinado, só vai…”, vender a alma ao diabo e, se possível, não entregá-la, como tentou Dr. Fausto, do Goethe. Como a morte é inevitável, almejo ir para o inferno, onde se encontram almas mais inquietas, inteligentes e divertidas. Vou encontrar muitos amigos lá! Paraíso… sentar no colo da virgem Maria, à direita de Deus, e entoar cânticos monótonos e chatos com os anjos e arcanjos… longe de mim!

5 – Margarete Moraes, agente cultural: Querida Zoravia, gostaria que você comentasse como se deram, na longa convivência com o igualmente artista plástico Vasco Prado, as mútuas influências e aprendizados no campo artístico, humano e político.

Querida Margarete, responsável por muitas realizações importantes na área cultural do nosso estado, especialmente quando foi Secretária Municipal de Cultura, e uma das fundadoras do Instituto Zoravia Bettiol. Na minha relação com Vasco, aprendi muito as bases do desenho e da gravura, pois fui sua aluna. Durante nos nossos quase 25 anos de convivência, nossos três filhos, Fernando, Eleonora e Eduardo, tínhamos um atelier muito ativo. Vasco se envolvia com suas criações e encomendas. Quando as crianças eram pequenas, acompanhava suas lições. Eu, além do meu trabalho de artista, acumulava as funções de administradora do nosso atelier, da galeria e da casa. Era um trabalho pesado pois a casa com as três funções tinha 1.000m², implantada em um terreno com quase um hectare. Chegamos a ter 12 funcionários, todos com carteira assinada. Vasco e eu tínhamos uma diferença de 21 anos de idade. Ele tinha um temperamento mais introvertido, e eu sou muito extrovertida. Quanto à questão política, ele era uma pessoa de esquerda, eu também, ambos muito preocupados com a desigualdade social gritante de nosso país, com as injustiças sociais e os governos corruptos e ditatoriais. Cada um de nós tinha seus próprios atelieres, mas sempre comentávamos e criticávamos o trabalho um do outro, o que é muito valioso. Naquela época, os turistas vinham para nossa casa e depois na casa do Érico Veríssimo e da Mafalda, ou vice-versa. Porto Alegre era uma cidade tranquila, com poucas atrações. Por isso, nosso atelier e Galeria eram um ponto cultural, turístico e afetivo de nossa cidade.

6 – Paulo Dalacorte, colecionador: Prezada Zoravia, como analisas o sentido e a importância do colecionismo e das coleções privadas para os artistas?

Prezado Dalacorte, até hoje me lembro da magnifica e marcante pintura da querida e talentosa Maria Lídia Magliani, que tu compraste do meu acervo. Me encanta ver e apreciar coleções privadas e seria muito proveitoso se expusesses a tua em alguma instituição de Porto Alegre. Realmente, quando um colecionador ou colecionadora adquire obras de artes visuais de um determinado artista, elas estarão muito melhor cuidadas, poderão ser vistas e apreciadas e sua cotação no mercado poderá alcançar preços mais altos e, de mais a mais, os artistas profissionais precisam vender suas obras e poder continuar produzindo mais. O Nei Vargas da Rosa fez uma tese, intitulada “Colecionismo de arte contemporânea: entre a centralidade das bordas e o mainstream”, que será publicada, espera-se, proximamente. Será ótimo conhecermos colecionadores e colecionadoras de muitos estados brasileiros. Embora tenha obras, principalmente gravuras, em muitos museus do Brasil e do exterior, quem mais adquiriu minhas obras é minha amiga, pesquisadora, professora e curadora, Paula Ramos. São 25 xilogravuras e uma grande e linda forma tecida intitulada “O Standarte de Oxôssi”. Sendo que o Gilberto Chateaubriand adquiriu serigrafias, xilogravuras e 8 cadeiras da série “Cadeiras para que te quero” que estão in-comodato no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro.

7 – Jacob Klintowitz, crítico de arte: Existe um dado fundamental na tua longa jornada na arte e ele marca e diferencia o teu trabalho. Este dado é a clara intenção de permanecer inserida na grande vivência cultural da espécie humana. Muito jovem você interpretou os mitos épicos gaúchos. A dureza dos guerreiros. Posteriormente, num momento em que a tapeçaria brasileira era constituída de formas tecidas, você criou tapeçarias narrativas onde nos mostrou o outro lado do mito, evidenciou a ternura e o amor, incluindo até textos literários. Depois, numa coragem extrema, criou um álbum de gravuras a partir dos temas de Kafka, o último dos profetas. Enfrentou o Profeta da nossa época, o gênio de escrita opaca que nos revelou um futuro no qual todas as coisas são postergadas, onde não há fatos, mas somente a culpa. Em Kafka o Pecado Original nasce a cada dia. Que tema para um jovem artista! E, para simplificar, este ano que passou nos trouxe as suas ilustrações sobre Dante. Agora, Zoravia, enfrenta o mito fundador da nossa literatura. E não se atemorizou em refazer os passos de gigantes, como Boticelli. Pois bem, Zoravia, você desde sempre optou pela grandeza. E isso numa época em que um simples fragmento de linguagem parece suficiente para satisfazer uma humanidade atordoada…. Eu queria que você nos falasse dessa vertente que percorre a tua obra e da fascinação que a linguagem exerce em você.

Querido Jacob, nos conhecemos em Porto Alegre no início da década de 1960. Te mudaste para o Rio, depois foste para São Paulo e convivemos bastante nos 8 anos nos quais morei na capital. Muito importante, sensível e abrangente a apresentação para a série Kafka, com 16 xilogravuras, o teu texto sobre arte têxtil brasileira e tua participação no filme “Zoravia”, do cineasta Henrique de Freitas Lima. O que consigo te dizer é que sou uma pessoa mais intuitiva do que racional, e na minha vida pessoal e profissional esbocei algumas linhas gerais, mas, no mais, as circunstâncias de vida foram indicando caminhos e eu escolhendo e trilhando o que mais conveniente (pois a vida é uma eterna escolha). Comecei a fazer gravura em 1956 e me apaixonei. Resolvi ilustrar a obra “A Salamanca do Jarau”, de Simões Lopes Neto, que narra a saga de Blau Nunes com seus personagens reais e míticos. Quanto às tapeçarias da série “Homenagem a Poetas”, gravei partes da poesia dos poetas homenageados aos tecidos, realizados em tear. Já na série Kafka, interpretei O Castelo, O Processo, Amerika e os contos “Metamorfose”, “Médico Rural” e “Carta ao Pai”. Finalmente, no belo texto de Gilberto Schwartsmann, uma adaptação em tercetos da Divina Comédia, o livro Divina Rima: Um Diálogo com a Divina Comédia de Dante Alighieri, onde procurei captar o clima poético da narrativa do bardo Italiano. A vertente relacionada na grande vivencia cultural da espécie humana, como bem observas, foi se desenvolvendo naturalmente, sem nenhum planejamento, intuitivamente. Quanto à linguagem, a palavra escrita é uma das formas mais completas e vibrantes dentre as manifestações artísticas.

8 – Vera Chaves Barcellos, artista multimídia – Zoravia, tu foste uma atuante batalhadora pela cultura. Hoje, que aconselharias aos artistas jovens nesse sentido?

Querida Vera, nossa amizade remonta ao início da década de 1970, quando reativamos a Chico Lisboa, que ficou desativada durante aproximadamente 15 anos. Convivemos depois durante minha gestão como Presidente da Chico, entre 1980 e 1982. Será que conselho adianta? Eu aconselharia o jovem artista que seja curioso, corajoso e persistente. Que procure se informar do que está acontecendo nas artes, na cultura e em outras áreas do conhecimento, que trabalhe muito e viva intensamente. Só assim terá condições de encontrar um caminho pessoal.

9 – Tânia Carvalho, comunicadora – Querida Zoravia, sei que fazes isso a vida inteira. Fizeste protestos através da arte, de teus trabalhos, sempre engajadérrima. Poderias nos falar um pouco sobre tua atuação cidadã?

Querida Tânia, nosso contato começou quando trabalhavas na Galeria Esfera, do Sonilto Alves, e depois continuou nas inúmeras vezes que tive o prazer e a alegria de ser entrevistada por ti. Respondendo a tua pergunta, eu achava que havia um paralelismo entre minha atuação cidadã, política e profissional. Mas, há anos, constato que essas atuações são entrelaçadas e isto ocorre naturalmente, sem nenhum esforço ou programação prévia. Comecei a me envolver com a política cultural quando estava no Instituto de Belas Artes, participando de congressos de estudantes em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, na Bahia, quando terminei o bacharelado em pintura, em 1955. Em 1956, entrei para a Associação Chico Lisboa e foi uma “escola” trabalhar na diretoria, com Xico Stockinger, Vasco Prado, Joel Amaral, Francisco Riopardense de Macedo e Gastão Hofstätter. Observava a atuação deles e via, mas não comentava, quem tinha tido o melhor desempenho ou razão. Em 1959, entrei para o grupo de poesia “Quixote”, fiz ilustrações de poesia brasileira e as apresentei na III Jornada Pan-Americana de Poesia, em Piriápolis, no Uruguai. Na década de 1980, ingressei na AGAPAN, e permaneço até hoje nesta instituição, ligada ao ambientalismo, e na Associação Chico Lisboa. Participei da criação de associações artísticas e culturais em Porto Alegre, São Paulo e San Francisco, na Califórnia. E, claro, quando havia manifestações públicas, como contra a chacina de jovens adolescentes na Candelária, no Rio de Janeiro, participei da manifestação contra este ato brutal em frente ao consulado brasileiro, em San Francisco. Em 2016, com golpe e impeachment da presidente Dilma e até o início da pandemia do coronavírus de 2019, estive presente nos protestos públicos. Como consequência do golpe, criamos, também, o Comitê pela Democracia e o Estado Democrático de Direito. Atualmente, tenho dificuldade de me locomover, mas continuo me manifestando por meio de meu trabalho e nas redes sociais, combatendo a ignorância, a crueldade e os desmandos deste governo genocida.

10 – Vera Pellin, agente cultural – Zoravia, mulher que muito admiro, de tantas causas, com reconhecimento público internacional em todas as suas ações, me responda: de todos os trabalhos ou projetos que realizou, qual lhe deu mais prazer? Poderias destacar um como sendo o que melhor expressou o seu pensar e o seu fazer artístico?

Minha relação contigo, querida Vera, remonta ao tempo em que foste professora e uma diretora muito ativa e realizadora do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre. Destacaria, ao invés de um, dois trabalhos que me deram muita satisfação: as xilogravuras da série Iemanjá, meu orixá preferido, pela riqueza da lenda a seu respeito, e a série de formas tecidas “Metamorfose”, verdadeiras esculturas têxteis, com as quais se que pode fazer diferentes combinações, com seus dois ou três elementos, no solo.

11 – Irene Santos, fotógrafa: – Pergunta azeda de uma viúva da fotografia analógica: Zoravia, será que resistirão os artistas plásticos às novas realidades que já se mostram substituindo a prática manual por aplicativos e as pinceladas por filtros do Instagram?

Querida Irene, minha fotógrafa por muitos anos. As mais antigas práticas das artes visuais, como a pintura a óleo, a pintura acrílica e a pintura feita digitalmente, coexistem harmoniosamente. Quando surgiu a fotografia, em 1839, na França, com Joseph Nicéphore Niépce, artistas plásticos achavam que ela iria lhes roubar compradores. A realidade provou que as artes visuais acabaram influenciando a fotografia, assim como ela acabou influenciando as artes visuais. Com os avanços tecnológicos nas mais recentes décadas, o e-book é uma realidade. Mas, como dizia Umberto Eco, “Os eletrônicos duram 10 anos, os livros 5 séculos”. Bom que hoje há público, principalmente entre os leitores jovens, que adoram ler no notebook, e há um público vasto fiel ao livro impresso, no qual me incluo. Nos dias atuais, pode se reunir milhares de músicas no Spotify que foram produzidas pelos vinis bem como pelos CDs. Portanto, querida amiga, felizmente há fartura de luminosidade e sol para a pintura, a fotografia, o livro e a música.

12 – Eduardo Vieira da Cunha, artista plástico: – Minha pergunta é uma espécie de homenagem ao José Ottoni Outeiral, ele foi meu psicanalista e gostava muito de ti, Zoravia. Sintetizando, pergunto: a arte é uma forma socialmente aceita de extravasar a libido?

Eu também gostava muito do Outeiral, algumas vezes ele tentou ser meu aluno, mas o excesso de trabalho dele acabou não permitindo. A arte é indomável e a libido pode aparecer de forma implícita, explícita ou ser somente insinuada ou evocada, não apenas nas artes visuais, mas em todas as manifestações artísticas.

13 – Paula Ramos, curadora: – Zoravia, o teu trabalho tem um elemento muito forte de lirismo, fantasia e evocação do universo infantil. Como foi a tua infância e em que medida ela repercute na tua obra?

Querida Paula, a quem recorro quando tenho alguma dúvida sobre artes visuais. Tive uma infância muito feliz na companhia de meus irmãos, Dilmer e Arrenius, que se desenvolveu nas cidades de Porto Alegre, Bento Gonçalves, Erechim, São Paulo e novamente em Porto Alegre, como disse. Meus pais e a tia Rina, que sempre morou conosco, nos proporcionaram um ambiente amoroso e intenso que nos deu muita segurança emocional e um ambiente cultural rico e variado. Nossa casa sempre teve muitas crianças com as quais compartilhava muitas brincadeiras. Esse ambiente alegre e intenso, vinculado ao impacto positivo do nascimento de meus filhos, Fernando e Eleonora (Eduardo nasceu onze anos depois) estimulou a criação das séries “Primavera”, em 1964, e “Namorados”, em 1965, nas quais as brincadeiras têm presença marcante, assim como a amizade e o amor, com referências de sóis, luas, estrelas e flores, o que acaba criando um clima poético.

14 – Francisco Marshall, professor de História e ativista cultural: – O que significa o nome Zoravia, para ti e para o mundo?

Querido Marshall, com o qual convivi virtualmente por um curto período na Prosperartes e cuja crônica quinzenal no caderno DOC é esperada com muita curiosidade por todos, inclusive por mim, pela forma provocativa, erudita, poética e, muitas vezes, contundente com a qual aborda os mais variados assuntos. “VIA” vem do Latim e Iugoslavo, significa “caminho”, e “ZORA”, “amanhecer”. Portanto, o significado do meu nome é “caminho do amanhecer”. Meu segundo nome, Augusta, me foi dado em homenagem à minha avó sueca. São dois nomes fortes, mas eu penso que Zoravia Bettiol é suficiente para uma artista visual. Desde cedo, fui ensinada que o nome é uma marca, um passaporte na vida, pelo qual temos que zelar, para termos credibilidade como cidadãos e como profissionais.

Sabe-se que, depois da morte, seremos lembrados, em média, por até três gerações, quando muito. Só que a vaidade e a pretensão humana são tão descabidas que as pessoas acham que serão lembradas eternamente… Um Leonardo da Vinci, um Dante Alighieri, um Galileu, um Karl Marx e um Sigmund Freud são exceções. No ponto que está a humanidade, com a crise climática acentuadíssima, uma superpopulação e, brevemente, os 2 graus a mais na temperatura média global tornariam a vida humana impossível. Não haveria comida para todos e poderão ocorrer inundações das cidades, em consequência do derretimento dos polos glaciais. Portanto, é sombrio o futuro do nosso planeta azul se a humanidade não parar de destruí-lo.

15 – Núbia Silveira, jornalista – O Brasil vive um momento de polarização política, radicalidade, ódios, preconceitos e racismo. Momento triste da nossa História. Como a senhora – uma reconhecida artista plástica – retrataria o Brasil de hoje em uma obra? A senhora pode fazer um esboço para os leitores da Parêntese?

Cara Núbia, fiz uma série de monotipia intitulada Brasil 98, onde mostro crianças e jovens marginalizados, sem escola, sem moradia e expostos a doenças. Mostro também o desmatamento, manifestações reivindicando escola, casa e comida para todos, e contra os maus governantes. Na série Brasil 2016, abordando problemas relacionados à política, educação, à moradia, à demarcação de terras indígenas e dos quilombolas. Penso que em um retrato do Brasil 2022, as cores sombrias e desalentadoras se acentuariam por um lado, com as consequências de um governo que prima pela ignorância, pela crueldade e o genocídio. Por outro lado, as cores vibrantes e claras apontariam para um horizonte de igualdade, equilíbrio ambiental, solidariedade, democracia, caminho que poderá acontecer nas eleições em novembro. O que se observa é que o sofrimento e a desilusão em quem votou neste governo despertou sua consciência política. Espera-se que agora estas pessoas analisem com profundidade em quem votar.

16 – Antônio Hohlfeldt, jornalista, professor e agente cultural: – Zoravia, no período passado experimentaste a divulgação de teus trabalhos nos meios de comunicação e, mesmo em visitas às redações, com a sempre presença do jornalista. Agora, como te comportas lidando com os meios atuais onde a rigor sequer podes ver o rosto do entrevistador? Ou seja, aquele contato quente e humano desapareceu.

Querido Antônio, amigo de muitos anos que sempre esteve muito presente e atuante, quer seja na política, nas artes ou no jornalismo em nossa Porto Alegre. A comunicação há décadas se fazia por telefone, pelo correio e visitando as redações. Depois, o fax tornava mais rápida a comunicação. Como consequência da pandemia, as lives são uma realidade, o contato pessoal foi substituído pelo e-mail, o whatsapp e por mais que tenhas curiosidade de ver o rosto do jornalista, muitas vezes isto fica frustrado, pois as pessoas podem colocar imagens de um filho, neto, ou de algum animal de estimação…desculpe, um pet… Muito frequentemente, participamos de uma live com o jornalista e a matéria sai online, poucas vezes como matéria impressa e com fotografias. Sim, sinto falta do contato direto com o jornalista pois muitas vezes acabávamos ficando amigos deles, o que era muito enriquecedor para todos.

Fonte: Matinal Jornalismo. Consultado pela última vez em 1 de agosto de 2024.

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Uma mulher além de seu tempo | Brasil de Fato

Com um festivo longo, rosa, de composição abstrata, entrelaçando as cores verde, laranja rosa e preto em diversas camadas feito à mão pelas indígenas da etnia Kuna, presentes no Panamá, além de pequenos povoados na Colômbia, Zoravia Bettiol caminha a passos tranquilos, amparada pela jornalista Katia Marko. No trajeto até o local da entrevista, o Jardim Lutzenberger, na Casa de Cultura Mario Quintana, centro de Porto Alegre (RS), a artista plástica fala de feminismo, amor e contexto político social.

Sentada no jardim, que leva o nome do pioneiro ambientalista José Lutzenberger, Zoravia, fala de sua admiração pela arte indígena e negra. “A arte indígena e a arte negra são as artes que eu tenho mais respeito e admiração, a cultura deles é riquíssima.”

Para ela, fazer arte, principalmente nos tempos atuais, exige muita sensibilidade e um olhar muito atento do mundo, para se poder absorver as coisas boas e observar as coisas ruins. “Essa desigualdade social é criminosa, e nesses governos mais recentes, principalmente nesse em que estamos, a desigualdade está acentuadíssima e vai piorar porque esse senhor presidente odeia indígenas, quilombolas, LGBTs, mulheres. Imagina um presidente que odeia o ser humano, isso não deveria existir.”

Com olhar atento às causas sociais, culturais, ambientais, aos 85 anos, Zoravia continua ativa nas lutas. Nascida no dia 17 de dezembro, festejou algumas vezes a data com seu amigo Luis Fernando Verissimo. Com um instituto que leva seu nome, já professorou, através da ONG Cristal Florido, em comunidades carentes. Filha do meio, de três irmãos, e mãe de outros três, ao escolher as artes plásticas, depois de um breve susto, recebeu todo apoio e estímulo da família, em uma época que as belas artes serviam para arranjar um bom casamento.

Além de artista plástica, também é designer e arte-educadora, trabalha com artes gráficas, arte têxtil, pintura, murais, instalações e performances. Nasceu em Porto Alegre, em 1935. Teve sua vida e obra contada no documentário de longa-metragem Zoravia, o Filme, dirigido por Henrique de Freitas Lima.

Em entrevista para o Especial 8 de Março do Brasil de Fato RS, ela fala de sua vida, suas causas e sobre o movimento feminista. Confira:

Brasil de Fato RS: Tu já disseste que o artista não é algo desassociado, mas deve integrar todas as coisas. E tu colocas a tua arte em todas as coisas que faz. Qual o papel do artista frente a sua conjuntura sócio política?

Zoravia Bettiol: Todo ser humano é um ser político e um ser social mesmo quando a pessoa diz que não se envolve com a política. O velho Bertold Brecht dizia que a política se envolve com a gente sempre. Eu tive uma educação com muito estímulo à questão da justiça social, à cultura, à educação. Foram bases muito importantes e alicerces muito sólidos para que eu me desenvolvesse como ser humano, como cidadã e como artista. Esse lastro foi muito bom. Eu lembro claramente que com 12 anos a minha opinião, na minha casa era respeitada, e eu via que na casa dos meus amiguinhos, pais e mães passavam por cima das opiniões deles como trator.

Eu fui criada assim, pode-se fazer tudo, mas tudo tem o seu preço, isso implica em liberdade e responsabilidade então. Acho um bom binômio, que te dá equilíbrio. Essa é uma base importante. Eu e meus dois irmãos, com exceção da minha irmã que conheceu a vó sueca, quando ela tinha um ano e pouco, fomos criados sem os avós, e não fez nenhuma falta. Tínhamos meu pai, minha mãe e uma tia, irmã da minha mãe, independente economicamente, e que morava conosco. Então à noite eram três filhos e três colos, eu sentada no colo do meu pai, meu irmão no colo da mãe, e o outro irmão no da minha tia. Vimos que não fez falta vô e vó porque foi uma família muito afetiva e isso é muito raro.

Essa questão de eu trabalhar em arte, acho que é uma área maravilhosa, que exige muita sensibilidade e um olhar muito atento do mundo, para gente absorver as coisas boas e poder observar as coisas ruins, e poder também combater as coisas ruins e também enaltecer as coisas boas, e expressar isso na arte. E vemos muita coisa no mundo, e principalmente no nosso país, como essa desigualdade social criminosa. E nesses governos mais recentes, principalmente nesse em que estamos, a desigualdade está acentuadíssima e vai piorar porque esse senhor presidente odeia indígenas, quilombolas, LGBTs, mulheres, é uma coisa tremenda. Imagina um presidente que odeia o ser humano, isso não deveria existir.

A questão da desigualdade carcerária no Brasil também é muito séria. Não tem gente da classe média ou da classe alta presa. Só gente da classe mais subalterna, extrato social mais baixo, e mais negros. É uma injustiça tremenda, às vezes por um crime pequeno que poderia ser resolvido com um trabalho comunitário, é encarcerado com criminosos, e custa haver um processo. Então eles são abandonados. Tínhamos que estar mudando tudo isso.

Quando despertou esse senso de justiça em ti, foi antes ou depois da arte? Como se une essa questão da arte com uma visão social?

Zoravia: Desde pequena para mim era uma coisa dolorosa ver que havia pobres (emocionada - pausa longa). Devia ter uns cinco anos...

Uma das primeiras séries que fiz foi “Mendigos e tipos de rua”, em São Paulo. Eu terminei o Belas Artes aqui em Porto Alegre, e meu pai que nunca me pedia nada, disse: “Minha filha, acho que tu vais morrer de fome”. E eu estou aqui bem saudável, mas ele me disse para fazer um curso superior. Então fui para São Paulo. Estava fazendo o segundo ano científico, no Colégio Bandeirantes. Eu tinha 20 anos. E naquela época desenhava monumentos, algumas mansões. Mas em um dia da semana, quando eu voltava do colégio, ao meio dia e meia, pegava uma feira, ai era outra face de São Paulo, a mais realista, em que se via pessoas pegando alimentos que iriam para o lixo, e os feirantes também, em situação não muito melhor. Então fiz essa série, e depois a série de gravuras. Ao longo do meu trabalho essa realidade aparece diversas vezes.

Agora é engraçado que isso é forte no meu trabalho, mas as pessoas lembram mais a parte lírica, mais romântica. As pessoas me registram e associam mais com coisas boas.

Eu trabalhei por 11 anos com a ONG Cristal Florido, onde trabalhávamos no turno inverso das escolas. Começamos na COHAB Feitoria, em São Leopoldo (região metropolitana de Porto Alegre), em Viamão, e também na escola Neusa Goulart Brizola, na Cavalhada. Uma vez falando com o Fogaça, ficou espantado por termos 11 oficinas diferentes.

Às vezes, as pessoas não põem o coração, não lutam o suficiente para fazer as coisas. Nós fazíamos sem dinheiro. Dávamos lanches para as crianças por nossa conta. Nunca tivemos auxílio econômico, muitas crianças iam pelo lanche. As mães se aproximavam de nós. Não queríamos pegar só os alunos que estudavam, acolhíamos aqueles que não tinham as melhores notas, que não estudavam ou que ficavam na rua.

Porto Alegre está acabando com a escola inclusiva na educação pública. A escola estava sempre pautada na administração popular para acolher e levar em conta todos esses, respeitando as suas peculiaridades de aprendizado ou não.

Zoravia: Algumas pessoas dizem, eles não têm nada, um pouquinho chega. Não! Eu não trabalho para dar a essas pessoas migalha da migalha, quero dar mais do que dou aos meus filhos, porque meus filhos, classe média/classe alta se defendem. Eles (menos favorecidos) têm que saber o que é bom, o que é padrão de qualidade. Eu luto para dar o melhor. É sempre a migalha da migalha. Eu me revolto contra isso.

Outra coisa que vejo, é que não importa a tua oficina, se é de música, arte, o que for, temos que fazer o que se propôs. Mas, para inclusão social tu tens que trabalhar também com a auto-estima, é fundamental. Buscar com que a pessoa melhore o seu trabalho, incentivar, mostrar crescimento para que a pessoa se sinta melhor.

Uma coisa que me chocou muito, no primeiro trabalho na COHAB Feitoria, foi quando entrevistamos os pais das crianças. Em uma das perguntas questionamos qual seria o sonho importante para eles. Bom, chocou-me quando um pai disse que o sonho dele era vestir uma camiseta, ele e seu filho, de um time de futebol e vir ver um jogo em Porto Alegre. Tive vontade de cortar os pulsos, porque se perguntam meu sonho, digo que quero dar a volta ao mundo, com minhas amigas, por três meses. É chocante alguém dizer isso. Parece, muitas vezes, que essas pessoas humildes, estão pedindo licença para viver.

Queria voltar a Zoravia mulher, antes tu falavas do amor, viveu durante 28 anos com Vasco Prado, que também era um artista. Gostaríamos que tu nos contasse um pouco dessa história.

Zoravia: Fui aluna do Vasco, e nos casamos, tivemos o Fernando, a Eleonora e o Eduardo. Construímos muitas coisas juntos, um ateliê, que tinha galeria, onde empregamos muita gente. Chegamos a ter uma equipe de 12 pessoas, com funções diferentes. Eram outros tempos. Hoje em dia ter uma pessoa já é muito. Todas elas tinham carteira assinada, pessoas que ficaram conosco por 12, 10, 8 anos.

Um criticava o trabalho do outro, isso é importante, a opinião do Vasco no meu trabalho, como a minha no dele também. Tínhamos identidades artísticas distintas. Além de artista e mãe, eu era quem administrava o ateliê, algo que detesto, e o Vasco só fazia a parte de criação. As pessoas me julgavam como em segundo plano, e eu nunca me importei com isso, achava graça. Claro que tive esse lastro de amor e essa coisa de segundo plano não me abalou. Eu dizia, uma hora as pessoas vão se dar conta que o Vasco tem sua trajetória e eu tenho a minha.

Mas muitas vezes foi bem difícil. Administrar já é uma profissão, cuidar de uma casa enorme, era outra profissão... Pensei muitos momentos em desistir, mas não desisti, porque não queria aumentar o número das mulheres que dizem assim: “Pois é, eu abandonei a minha profissão para cuidar dos meus filhos e marido”. Porque os filhos crescem, e tu ficas uma coitada.

Minha família, dos dois lados, paterno e materno, tem mulheres muito fortes. Meu bisavô era marinheiro (pai da minha avó sueca), tinham três filhos, e ele ía para o mar e minha bisavó tomava conta de tudo.

O meu avô Adamo teve 10 filhos, e ele era mais permissivo. Se os filhos não quisessem estudar ou trabalhar não importava, mas minha avó levantava de manhã cedo e mandava todo mundo para a escola. O meu pai se formou em advocacia, e também era professor, outro tio meu em engenharia.

Nós fomos criadas pelos meus pais sabendo a importância de ter uma profissão. Isso era fundamental, depois se casa ou não casa, se tem ou não dinheiro, tudo isso eram acréscimos ou não precisava ter esses acréscimos.

Minha irmã Dilma Bettiol foi a primeira engenheira sanitarista gaúcha a trabalhar em São Paulo, na construção de barragens. Ela é a mais velha, eu a do meio e daí vem o meu irmão, que é engenheiro agrônomo, e eu artista.

Minha mãe era uma mulher muito inteligente, mas não fez curso superior. Meu pai era mais sonhador e minha mãe tinha mais o sentido prático, mas ambos me auxiliaram.

Como foi para a tua família quando tu escolheu fazer Belas Artes?

Zoravia: Estava em São Paulo fazendo o científico. Eu tinha 20 anos, e na época começou a cair meu cabelo, minha tia me levou no médico que disse que tinha algum problema comigo. “Ela deve estar fazendo algo com muita contrariedade e está somatizando”, falou. E eu disse claro, estou fazendo essa porcaria de científico. Eu não errei na minha função, quero ser artista. Eu trabalhava até altas horas fazendo os croquis e depois em casa, com aquarela. Então enviei uma carta dizendo que eu ia abandonar o científico. No início deu um pouquinho de choque, mas como minha família é muito colaborativa, logo só pensaram em ajudar. Terminei o ginásio e fui fazer Belas Artes, porque na época não precisa ter concluído o científico, por isso comecei cedo.

Uma época em que as meninas faziam Belas Artes para arrumar marido, não era?

Zoravia: Isso ai! Mas eu queria fazer carreira.

Com que idade tu te casaste?

Zoravia: Tinha 24 anos e o Vasco 45. Ele tinha 21 anos a mais do que eu.

Considerando o teu tempo, tu sempre fizeste coisas consideradas vanguardistas. E outra coisa, esse teu olhar social, que sempre te fez sofrer ao ponto de tu chorar, como agora, ao lembrar da questão da pobreza. Todos os dias isso está presente, e para quem tem essa sensibilidade é bem sofrido. Boa parte das pessoas não está sensibilizada a esse ponto, mas quem está consciente e sente, é uma energia enorme para botar no cotidiano...

Zoravia: Sim, e agora as coisas estão gravíssimas nesse país. Estou no Comitê em Defesa da Democracia e do Estado de Direito, na Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), desde a década de 1980, na Chico Lisboa - Associação dos Artistas, estava na Properarte e em outro grupo de gente bacana lá do Rio de Janeiro, o grupo da Jandira Feghali, sobre cultura, mas saí dos dois, porque um dia eu tinha 570 mensagens no meu watsapp e não aguentei.

Também atuo na luta contra a instalação da Mina Guaíba. O meu Instituto está envolvido no Comitê contra a Mineração, que tem atualmente mais de 100 instituições contra esse absurdo. Mas agora, o mais recente que estou envolvida é contra a contratualização no Atelier Livre, Capitólio e Pinacoteca Ruben Berta. Estamos confeccionando material para uma manifestação em frente ao Centro Municipal de Cultura e também para a audiência na Câmara Municipal de Porto Alegre. Nesse material terá a palavra livre que tem diversos significados, liberdade de expressão, do conhecimento.

Trabalho 14 horas por dia, é bem pesado para dar conta da agenda. Mas tenho um assistente que está há 8 anos comigo, o Christian Comunello, que me ajuda muito.

Trabalha 14 horas por dia, com 84 anos, e com uma memória fascinante...

Zoravia: Não tenho memória não (risos). Já li que quando o artista usa muito a criatividade tem menos memória porque tem que ter espaço para a criatividade.

Tu trouxeste uma lista de mulheres que para ti se destacam. Fale um pouco disso, da atuação das mulheres, do movimento feminista.

Zoravia: O período mais marcante do feminismo foi na década de 1960, tinha uma série de reivindicações, algumas coisas mudaram. Nessas últimas décadas o feminismo no mundo tem uma conotação mais ampla, assim como algumas mulheres marcantes, com muita liderança, determinação, que lutam contra a desigualdade social, a injustiça, a favor da educação, do clima. Mulheres jovens... Adolescentes como a Malala Yousafzai, ativista paquistanesa, que dividiu um Prêmio Nobel da Paz, e continua na primeira linha na luta pela educação. Outra jovem adolescente, Greta Thunberg, sueca, uma figura de proa no movimento ambientalista no mundo, participando em diversos fóruns e eventos importantes. Recentemente apareceu uma foto das duas juntas, elas não arrefecem. E quem fala mal delas são uns coitados, machistas, principalmente os homens, invejosos e fracassados, projetam-se e não conseguem ver a grandeza e a pureza dessas criaturas.

Tem movimentos internacionais importantíssimos, como o #Metoo, popularizado pela atriz americana Alyssa Milano. E outra coisa que está colaborando, são as redes sociais, assim como as manifestações de rua, muito marcantes hoje em dia.

Depois no Chile, com a manifestação das mulheres e o hino El estuprador es tu. Ou seja, manifestações de rua, potencializadas nas redes sociais. Na Índia, com uma marcha das mulheres. Elas caminharam de 600 quilômetros, equivalente à metade do caminho entre Porto Alegre e São Paulo. Essa marcha que pegou várias cidades e uniu cinco milhões de mulheres, que reivindicam que as mulheres em idade fértil, dos 10 aos 50 anos, possam entrar nos templos, porque os homens dizem que as mulheres que menstruam são impuras. Só que eles esquecem que são muito mais impuros porque eles nascem de mulheres impuras.

No Brasil, temos a Sônia Guajajara, uma líder indígena marcante. Também a Petra Costa, uma mulher com um olhar crítico da política no seu documentário Democracia em Vertigem. Esse que o coitado do presidente diz que o que ela fez foi ficção, qual é a realidade dele?

Também a Djamila Ribeiro, filósofa que tem um trabalho muito importante, ativista, negra, que escreve na Folha de São Paulo. Débora Diniz, antropóloga, que escreve para o El País, defensora da legalização/descriminalização do aborto. Não dá para misturar certas lutas com religião, o aborto é uma questão de saúde pública. A filósofa Márcia Tiburi, que agora se auto-exilou, assim como a Débora. E a nossa Marielle Franco... Não há vontade política nenhuma para “descobrir” os seus executores, e a família do presidente envolvida com milicianos.

Nos fale sobre o Instituto Zoravia Bettiol.

Zoravia: Ele tem pouco tempo. Em março do ano passado, mês internacional da luta das mulheres fizemos a exposição “Mulheres em Movimento”. Foram 18 mulheres com 36 obras, realizado na minha casa porque de momento o edifício do instituto é uma ruína. Depois fizemos a atividade “Acolhendo a Vizinhança”, para entrarmos em contato com as pessoas. E vai ser feito um documentário antropológico na Casa dos Leões, dirigido pelo Baby Larde, chamado “Da Casa dos Leões ao Instituto Zoravia Bettiol”. As entrevistas estão maravilhosas. Também estamos programando uma exposição, “Amazônia, universo de contrastes”, com trabalhos feitos por homens e mulheres, nas mais diversas técnicas. Antes dessa exposição será realizada uma mostra de cinema, com a curadoria de Gilberto Perin, de curtas e médias metragens de artistas visuais.

Como está a questão da reforma da casa?

Zoravia: Gilberto Schwartsmann que respondeu pela Bienal do Mercosul, nas últimas duas edições, e que aliás esse ano o tema será a Mulher, se ofereceu para fazer um reparo emergencial no telhado e ele pagou com seus recursos próprios. A Lídia Fabricio, Adalberto Xavier estão detalhando o projeto, o restauro do prédio, mobiliário adaptado para artes visuais. Os recursos deverão vir de patrocínios.

A mulher na arte e seu papel político, como artista se coloca à frente de seu tempo? Qual a responsabilidade do artista como um ser público, de como ele se coloca frente à realidade?

Zoravia: Eu tenho uma posição, mas sempre respeitando as demais, e às vezes dialogar e até polemizar. Devemos nos manifestar. Entrei no Facebook só para falar do meu trabalho, só que nos últimos tempos é o meu trabalho e falar, principalmente, sobre os indígenas que estão sendo dizimados vertiginosamente, e depois falar das questões sociais e ecológicas, com viés político. E ultimamente sempre com petições sendo enviadas para assinatura contra alguma coisa, uma nova forma de manifestação.

A questão do teu envolvimento com a ecologia vem desde sempre. E agora em um momento que se destrói, que está autorizado pela lógica do presidente em tocar fogo na Amazônia, que a natureza é inimiga do progresso...

Zoravia: Tem coisas absurdas em todos os níveis. Aqui no RS houve uma mortandade de abelhas fenomenais por causa da ganância, de colocar agrotóxicos em tudo... E vamos lembrar do velho Einstein, se no mundo se termina com as abelhas, se termina a vida humana, pois não havendo polinização, não há alimento, e termina com a fauna e a flora, e embora o homem seja ridiculamente pretensioso, também embarca junto.

Qual a atualidade e importância do 8 de Março?

Zoravia: Eu penso que os homens devem continuar seguindo a posição corajosa e sábia que as mulheres estão tendo no mundo, contra o machismo, e que haja mais harmonia entre a humanidade. E que os homens e as mulheres lutem na mesma direção para o bem estar social e cultural, e pela educação.

Fonte: Brasil de Fato. Consultado pela última vez em 1 de agosto de 2024.

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A sublimação do mundo pela arte | Extra Classe

Zoravia Bettiol considera a visão o seu sentido mais aguçado. “É ela que me conduz a observar o mundo de forma muito objetiva e, ao mesmo tempo, recriá-lo e sublimá-lo pela arte”. Assim, de forma simples e igualmente objetiva, a artista define sua escolha pelas artes visuais.

Aos 86 anos, Zoravia mantém uma rotina de intenso trabalho no atelier em sua casa, na zona sul da capital, e em inúmeros outros projetos. Em parceria com vários movimentos e coletivos artísticos, ela está empenhada também em restaurar a Casa dos Leões, na Rua dos Andradas, para sediar o Instituto Zoravia Bettiol e ofertar à cidade mais um espaço de promoção de arte e cultura.

Desde do dia 26 de março, a Galeria Ecarta homenageia Zoravia Bettiol durante as festividades de aniversário de Porto Alegre com a exposição A artista e sua cidade, uma dupla homenagem. A curadoria é de André Venzon. A abertura ocorre no dia 26 de março, das 10h às 15h, e segue até 8 de maio, com visitação de terças a domingos, das 10h às 18h (na Avenida João Pessoa, 943, em Porto Alegre).

“Quanto à exposição que apresentarei na Galeria Ecarta, a convite do André Venzon, ela pertence a um arco no tempo que vai de 1956 a 2021, com 48 obras, sendo que as séries Mendigos e Tipos de Rua e Paisagens de Porto Alegre estão entre os primeiros trabalhos. A série mais recente é Divina Rima, que são gravuras digitais baseadas nos desenhos feitos para o livro Divina Rima – um diálogo com a Divina Comédia de Dante Alighieri, com texto de Gilberto Schwarstmann”, explica Zorávia.

Homenagem e aniversário da capital

André Venzon, curador da exposição, lembra que o evento integra as atividades culturais do aniversário de 250 anos de Porto Alegre. “Em uma de suas milhares de casas, naquela da Fundação Ecarta, temos a honra de homenagear a cidade através de uma das suas mais ilustres cidadãs”, festeja.

Para ele, se a forma simbólica da cultura é a arte, a vida de Zoravia não é apenas a própria arte, “é um símbolo” da nossa cultura.

“Todos somos por natureza criativos, mas alguns de nós são capazes de fazer os anjos protestarem, colocar “cavalinhos no céu”, evocar dos deuses olímpicos aos orixás com a força e beleza das cores, ter intimidade com a história de Eva a Alice no país das maravilhas, defender a terra e os direitos humanos, estar ao lado do povo não apenas porque é onde todo o artista tem que estar, mas porque “só o povo pode fazer o tempo novo”, define.

60 anos de carreira

A trajetória plástica de Zoravia, ao longo destes mais de 60 anos de carreira, é cheia de diversidade técnica e estética. Forma um vasto conjunto de obras relacionadas à gravura (linoleogravura, xilogravura, monotipia, serigrafia, litografia e ponta seca) arte têxtil (tapeçaria e formas tecidas) pintura, desenho (à lápis, bico de pena, colagem e técnica mista), joias (de prata e têxteis) objetos (cadeiras), esculturas (metal), murais (pintura, pastilha, gravado em cimento, com metal, gravado em madeira), headdresses e figurinos, instalações e performances.

A partir da sua primeira exposição, em 1959, a artista literalmente rodou o mundo, tendo participado de mais de 156 mostras individuais e mais de 350 coletivas em centenas de cidades no exterior. Entre elas, Washington, Paris, Praga, Varsóvia, Genebra, Lisboa, Roma, Milão, Madri, Estocolmo, Buenos Aires, Montevidéu e Punta del Este.

Preocupação social

Zoravia conta que constatou, ainda criança, a pobreza no mundo. Essa experiência foi impactante para a menina de apenas cinco anos. O que inspirou fortemente suas primeiras obras. “Minha primeira série de gravuras retrata este universo da pobreza que, como constatei depois de adulta, é de uma grande injustiça social. Por estes motivos, eu, como cidadã e artista, me envolvo para denunciar e combater, pois a maior chaga no nosso país é a desigualdade social, cultural e econômica”, sintetiza.

Seleção, a escrita sobre a obra

A exposição de Zoravia Bettiol integra a quinta edição do projeto Seleção Ecarta, uma atividade especial da Galeria Ecarta que a cada ano destaca um artista. Além da mostra, são convidadas diversas personalidades para escrever sobre uma obra específica do artista. Os textos são publicados ao lado da obra durante a exposição, no site e nas redes sociais da Fundação Ecarta.

Entre os nomes convidados e já confirmados para a homenagem a Zoravia estão: Alice Urbin, Beatriz Araujo, Claudia Sperb, Fábio Baraldo Pimentel, Francisco Dalcol, Francisco Marshall, Gilberto Schwartsmann, Graça Craidy, Henrique de Freitas Lima, Irene Santos, Jane Tutikian, Jessica De Carli, Leonardo Melgarejo, Liana Timm, Luciano Alabarse, Marcio Carvalho, Margarete Moraes, Paulo Amaral, Paulo Herkenhof, Renato Rosa, Roger Lerina, Sandra Dani, Tulio Milman, Valeria Barcellos, Vera Pellin e Zeca Brito.

Exuberante em vitalidade e imaginação

Para o professor, promotor cultural e escritor Francisco Marshall, “a arte de Zoravia Bettiol é exuberante em vitalidade, inteligência, imaginação, ironia, humor, cor e belos efeitos. É a arte perfeita, que convida e premia a sensibilidade, e torna melhor a nossa vida. Isso porque a artista é também uma cidadã de mente arguta, sensível às questões decisivas e pronta para converter em imagens as mensagens que todos devem compreender, em nossa comunidade, na cidade, nesta nação e no mundo”.

Nada de alienação, mas também nada de sucumbir ao peso dos fatos: a estes, por graves que sejam, Zoravia reage imediatamente com o pensamento certo e a atitude alegre e criativa que nos infundem otimismo e esperança. O caminho desta arte tão direta requer um conhecimento profundo da história da cultura, das linguagens da arte e suas possibilidades, e opções que Zoravia adota sempre com grande generosidade, querendo ir com graça ao encontro de seu público. É fácil e gratificante tornar-se admirador de Zoravia e apaixonar-se por sua arte. Temos todos que rejubilar por vivermos no mundo de Zoravia Bettiol, um mundo de encanto, saber, atitude e vida plena”, conclui.

Vida, livros e filme

A artista visual nasceu na capital gaúcha em 1935, graduou-se em pintura pelo Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. Estudou desenho e xilogravura em meados dos anos 1950 no ateliê do escultor Vasco Prado (1914-1998), com quem foi casada durante 28 anos.

Em 2007 foi lançado o livro em edição bilíngue (português e inglês) Zoravia Bettiol: a mais simples complexidade, com textos de seis especialistas. Ela também teve sua vida e obra contadas no documentário de longa-metragem Zoravia, o Filme, dirigido por Henrique de Freitas Lima.

Um de seus trabalhos mais recentes foram as ilustrações do livro Divina Rima, lançado no final de 2021, a Divina Comédia para jovens, escrito por Gilberto Schwartsmann, contendo 39 ilustrações da artista produzidas em apenas cinco meses durante a pandemia.

Outra iniciativa atual que tem seu empenho é a mostra Amazônia – Universo de Contrastes, uma parceria entre a Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa e o Instituto Zoravia Bettiol, que reúne obras de artistas visuais, refletindo a cultura indígena e denunciando a situação crítica enfrentada pela maior floresta tropical do mundo.

Fonte: Extra Classe. Consultado pela última vez em 1 de agosto de 2024.

Crédito fotográfico: Brasil de Fato. Consultado pela última vez em 1 de agosto de 2024.

Arremate Arte
Feito com no Rio de Janeiro

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