Ado Malagoli (Araraquara, 28 de abril de 1906 — Porto Alegre, 4 de março de 1994) foi um pintor, professor, restaurador e museólogo brasileiro. Considerado um dos grandes pintores brasileiros, formou-se em Artes Decorativas na Escola Profissional Masculina e cursou o Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo, onde produziu, junto de Francisco Rebolo Gonzáles, diversos painéis decorativos. Neste período, teve contato com Alfredo Volpi e Mario Zanini. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Escola Nacional de Belas Artes e participou do Núcleo Bernardelli, que ajudou a consolidar o modernismo na cidade. Em 1942 recebeu prêmio viagem à Europa no Salão Nacional do Rio de Janeiro, mas em razão da II guerra foi para os Estados Unidos, onde cursou por dois anos o Fine Arts Institution of the University of Columbia e realizou estudos em história da arte e museologia. Veio para Porto Alegre a convite de Angelo Guido em 1953, quando passou a lecionar no Instituto de Artes da UFRGS, onde foi um dos principais responsáveis pela revitalização do ensino nesta instituição. Foi o idealizador e o primeiro diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que hoje leva seu nome. Malagoli tornou-se referência obrigatória no ensino da pintura no Rio Grande do Sul, influenciando toda uma geração de artistas.
Biografia – Itaú Cultural
Em 1922, cursa artes decorativas na Escola Profissional Masculina do Brás, em São Paulo, onde é aluno de Giuseppe Barchita. Entre 1922 e 1928, cursou o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo - Laosp, onde estudou com Enrico Vio (1874 - 1960). Nessa época, entra em contato com Alfredo Volpi (1896 - 1988) e Mario Zanini (1907 - 1971), com os quais costuma pintar paisagens dos arredores da cidade. Trabalhou com Francisco Rebolo (1902 - 1980) na pintura de painéis decorativos. Muda-se para o Rio de Janeiro, e ingressa na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1928. Participou, ainda, da fundação do Núcleo Bernardelli, em 1931. Sua produção é predominantemente figurativa. Em 1942, recebe, no 48º Salão Nacional de Belas Artes - SNBA, o prêmio de viagem ao exterior, e vai para os Estados Unidos, onde permanece por três anos. Cursa história da arte e museologia no Fine Arts Institute, da Universidade de Colúmbia, e organização de museus no Brooklin Museum. Ao retornar ao Brasil, fixou-se em Porto Alegre, após um período de permanência no Rio de Janeiro. Ingressou como professor de pintura no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, no qual atuou entre 1952 e 1976. Criou, em 1954, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, inaugurado em 1957. Em 1997, em homenagem ao fundador, esse museu passa a chamar-se Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli.
Análise
Ado Malagoli participou da fundação do Núcleo Bernardelli no Rio de Janeiro, em 1931. Com uma pintura figurativa, revela a preocupação com questões sociais. Pinta também cenas urbanas, naturezas-mortas, retratos e paisagens.
A produção de Malagoli e de outros artistas ligados ao Núcleo Bernardelli pode ser compreendida dentro dos propósitos do retorno à ordem. Sua obra revela um interesse pela pintura italiana "neo-renascentista", como pode ser notado nos quadros que fazem referência à tradição das Vênus na paisagem. Em suas pinturas, a linha predomina sobre a cor, e o artista representa o corpo humano de forma idealizada.
Malagoli viaja para Porto Alegre em 1952, quando atua também como professor, colaborando na renovação das artes no Rio Grande do Sul e participando da reestruturação do ensino de pintura na Escola de Belas Artes. Cria o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que posteriormente recebe seu nome, e promove importantes exposições, como as de Weingärtner (1853 - 1929) e Candido Portinari (1903 - 1962). Em sua obra madura destacam-se pinturas de casarios e ruínas, de tom expressionista, nas quais às vezes dialoga com a abstração.
Críticas
"Malagoli, como os modernistas, insurgiu-se contra o academicismo estreito que reinava ainda em 30, quando cursou a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Certa vez, foi até posto para fora de aula, sendo obrigado a pintar no corredor, por não concordar com as idéias conservadoras de um dos mestres. Sua atuação junto com os colegas do Núcleo Bernardelli foi, sem sombra de dúvida, revolucionária. Seu trabalho sempre foi inovador. Mas ele nunca rompeu radicalmente com o passado. Sempre procurou a passagem que liga o hoje às bases mais verdadeiras no ontem. Por isso a sua crítica ao modernismo de 22: 'O modernismo desenvolveu, em muitos casos, um nacionalismo de rótulo: umas mulatas, umas bananas, uns cocos. . . tudo isso com formas cubistas recém-importadas de Paris'. Ele nunca embarcou na voga de destrutividade pura e simples que a Semana da Arte Moderna desencadeou. Soube libertar-se do que era desnecessário e sem importância, mantendo os legados mais férteis da tradição que lhe permitira alcançar melhor expressão do presente. Seus quadros conservam o sabor da pintura de outras épocas ao mesmo tempo que o situam como um pintor claramente contemporâneo. Dessa maneira, o brasileiro Ado Malagoli conservou-se sempre um europeu; o moderno pintor de cenas e dramas nacionais coloca-se, como um clássico, a serviço da expressão de verdades universais; o menino Ado já trazia a idade de um velho italiano e o homem maduro de hoje ainda convive com os temas e as preocupações do menino de ontem. A muitos têm confundido essas aparentes contradições. Elas têm sua resolução, entretanto, numa lúcida visão histórica e num intenso sentimento da temporalidade que transformam as telas de Malagoli numa síntese tensa e problemática entre o que foi e o que vai ser" — José Luiz do Amaral Neto (AMARAL NETO, José Luiz. O artesão de sonhos. In: MALAGOLI, Ado; QUINTANA, Mario. Ado Malagoli visto por Mário Quintana. Rio de Janeiro: L. Christiano, 1985. p. 22-26).
Depoimentos
"A obra de arte surge da aptidão do artista na seleção dos seus principais elementos expressivos, isto é, da forma, cor, composição e matéria. Esses elementos são eternos e nivelam a arte dos dias de hoje às concepções dos grandes gênios da pintura de todos os tempos.
Eu vejo em todas as artes uma intensificação de vida. Graças à arte, não conto quanto falta para o meu enfarte. Se ele vier, vai me pegar no cavalete. Numa outra atividade qualquer, as pessoas envelhecem, se aposentam, ficam contando os dias que faltam para sua morte sentadas numa praça pública. Se elas tivessem enriquecido o espírito, não precisariam ficar procurando uma maneira de se distrair. O lazer do artista é a sua obra.
(...)
Enquanto estou trabalhando me sinto muito envolvido com a tela. Mas depois de terminada, me desligo quase que completamente. No meu modo de ver, arte é um todo, como um grande edifício composto de várias salas, por onde a gente circula. Um quadro é apenas uma antessala de outro quadro. A trajetória de um indivíduo deve ser vista como uma integridade. Há sempre uma obra em andamento a reclamar minha atenção" — Ado Malagoli (MALAGOLI, Ado. Ado Malagoli. In: MALAGOLI, Ado; QUINTANA, Mario. Ado Malagoli visto por Mário Quintana. Rio de Janeiro: L. Christiano, 1985. [Trecho extraído da orelha do livro]).
Exposições Individuais
1946 - Nova York (Estados Unidos) - Individual, na Careen Gems Gallery
1948 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Palace Hotel
1949 - Curitiba PR - Individual
1949 - Rio de Janeiro Individual, na Galeria Calvino
1950 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria de Arte Casa das Molduras
1955 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Xavier da Silveira
1963 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Domus
1965 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Oca
1965 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Oca
1966 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Leopoldina
1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Oca
1967 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Leopoldina
1970 - São Paulo SP - Individual, na Azulão Galeria
1971 - Porto Alegre RS - Individual, na Esphera Galeria de Arte
1974 - Belo Horizonte MG - Individual, na Ami Galeria de Arte
1975 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Oficina Galeria de Arte
1979 - Porto Alegre RS - Individual, na Associação Leopoldina Juvenil
1981 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte da Gávea
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Documentos, no Margs
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Retrospectiva, na Galeria Tina Zappoli
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Trabalho Atual, no Cambona Centro de Artes
1985 - São Paulo SP - Ado Malagoli: retrospectiva, no Masp
1986 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli: retrospectiva, no Margs
1989 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli: retrospectiva, no Espaço Cultural Banco Francês e Brasileiro
1990 - Rio de Janeiro RJ - Ado Malagoli: retrospectiva, na Vila Bernini Galeria
Exposições Coletivas
1934 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes, na Enba
1934 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Belas Artes, na Rua 11 de Agosto
1935 - Rio de Janeiro RJ - 41º Salão Nacional de Belas Artes, Enba - menção honrosa
1935 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão do Núcleo Bernardelli, na Enba
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1938 - Rio de Janeiro RJ - 44º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de bronze
1939 - Nova York (Estados Unidos) - Feira Mundial de Nova York
1939 - Rio de Janeiro RJ - 45º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de prata
1942 - Rio de Janeiro RJ - 48º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - prêmio viagem ao exterior
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1947 - Paris (França) - Salão de Outono, no Grand Palais
1948 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - Prêmio Euclides da Cunha
1948 - São Paulo SP - 14º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia - pequena medalha de prata
1949 - Curitiba PR - 6º Salão Paranaense de Belas Artes, no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto
1949 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Municipal de Belas Artes, no Ministério da Educação e Saúde - Prêmio Arnaldo Guinle
1949 - Rio de Janeiro RJ - 55º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - prêmio viagem ao país
1949 - São Paulo SP - 15º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1950 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - medalha de prata
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão Municipal de Belas Artes - prêmio alto mérito
1951 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão Municipal de Belas Artes - Prêmio Municipalidade
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon
1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ
1954 - Porto Alegre RS - 5º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
1955 - Porto Alegre RS - 6º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul - medalha de prata
1956 - Porto Alegre RS - 7º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
1956 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio Guggenheim, no MAM/RJ
1957 - Nova York (Estados Unidos) - Guggenheim International Award: 1956, no Solomon R. Guggenheim Museum
1957 - São Paulo SP - 21º Salão Paulista de Belas Artes - prêmio aquisição
1960 - Belo Horizonte MG - 15º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, no MAP - 1º prêmio
1961 - Porto Alegre RS - Arte Rio-Grandense: do passado ao presente, no Instituto de Belas Artes
1962 - Belo Horizonte MG - 17º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, no MAP - 1º prêmio
1962 - Rio de Janeiro RJ - 11º Salão Nacional de Arte Moderna
1963 - São Paulo SP - 12º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1970 - São Paulo SP - 2º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Brasília DF - Arte Gaúcha/74
1982 - Brasília DF - Arte Gaúcha Hoje, na Galeria Oswaldo Goeldi
1982 - Porto Alegre RS - Arte Gaúcha Hoje, no Margs
1982 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Porto Alegre RS - Do Passado ao Presente: as artes plásticas no Rio Grande do Sul, no Cambona Centro de Artes
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1986 - São Paulo SP - Tempo de Madureza, na Ranulpho Galeria de Arte
1989 - Porto Alegre RS - Arte Sul 89, no Margs
1989 - São Paulo SP - Trinta e Três Maneiras de Ver o Mundo, na Ranulpho Galeria de Arte
1990 - São Paulo SP - Frutas, Flores e Cores, na Ranulpho Galeria de Arte
1994 - Porto Alegre RS - De Libindo a Malagoli: as artes visuais na universidade, no Museu da UFRGS
Exposições Póstumas
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1998 - Porto Alegre RS - Acervo: Instituto de Artes 90 Anos, na UFRGS. Instituto de Artes
2000 - Caxias do Sul RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Passo Fundo RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Pelotas RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Santa Maria RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2002 - Porto Alegre RS - Artistas Professores, no Museu da UFRGS
2002 - Porto Alegre RS - Desenhos, Gravuras, Esculturas e Aquarelas, na Garagem de Arte
2003 - Porto Alegre RS - Humanidades, na Galeria Tina Zappoli
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
Fonte: ADO Malagoli. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 14 de julho de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia – Wikipédia
Malagoli formou-se em Artes decorativas na Escola Profissional Masculina do Brás, em 1922. De 1922 a 1928 estudou no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde foi aluno de um dos mais conceituados professores italianos de pintura em São Paulo, o siciliano Giuseppe Barchita. Trabalhou com Francisco Rebolo Gonzáles na execução de painéis decorativos. Nessa época, conheceu Alfredo Volpi e Mario Zanini.
Em 1928, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e, em 1933 passou a integrar o Núcleo Bernardelli, ao lado de João José Rescala, Edson Motta, Milton Dacosta e Joaquim Tenreiro, entre outros.
Em 1942, ganhou o "Prêmio Viagem", concedido pelo Salão Nacional de Belas Artes, e foi para os Estados Unidos, onde permaneceu de 1943 a 1946. Ali cursou História da arte e Museologia, no Fine Arts Institute da Universidade de Columbia, e Organização de Museus, no Brooklin Museum. Em 1946, aconteceu a sua primeira individual, na Careen Gems Gallery, em Nova York. No mesmo ano, retornou ao Brasil e iniciou atividade como professor, em Juiz de Fora. Logo retorna ao Rio de Janeiro e torna-se professor da Associação Brasileira de Desenho.
Em 1952, transferiu-se para Porto Alegre, passando a lecionar pintura no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul até 1976. Assumiu o cargo de superintendente do Ensino Artístico da Secretaria de Educação e Cultura do Estado, tornando-se responsável por toda a Divisão de Cultura da Secretaria. Em 1954, criou o Museu de Arte do Rio Grande do Sul - MARGS, inaugurado em 1957. Integrou a comissão de seleção da Mostra de Arte Gaúcha em 1982.
Em 1997, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul passou a se chamar Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, em homenagem ao seu fundador.
Prêmios
1935 - Menção Honrosa no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1938 – Medalha de Bronze no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1939 - Medalha de Prata no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1942 - Prêmio Viagem ao Exterior no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1948 - Prêmio Euclides da Cunha no Salão Fluminense de Belas Artes, Rio de Janeiro
1948 - Pequena Medalha de Prata no 14º Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo
1949 - Prêmio Arnaldo Guinle no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1949 - Prêmio Viagem no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1950 - Medalha de Prata no Salão Fluminense de Belas Artes, Rio de Janeiro
1950 - Prêmio Alto Mérito no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1951 - Prêmio Municipalidade no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1955 - Medalha de Prata no 6º Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
1956 - Prêmio Guggenheim, MAM/RJ, Rio de Janeiro
1957 - Prêmio Aquisição no 21º Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo
1960 - Primeiro prêmio no 15º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, MAP, Belo Horizonte
1962 - Primeiro prêmio no 17º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, MAP, Belo Horizonte
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 14 de julho de 2022.
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Biografia Ado Malagoli – HACER
“A dor é a única verdade que o homem arrancou da provação da vida. A alegria não faz ninguém feliz, é apenas um relâmpago. O homem só é feliz quando pratica a caridade, o amor ao próximo. É pela dor que a gente sente que está vivo.” – Ado Malagoli.
Ado Malagoli (Araraquara, 28 de abril de 1906 - Porto Alegre, 4 de março de 1994), sem sombra de dúvida, pode ser considerado um dos grandes pintores brasileiros, embora talvez tenha tido menos repercussão nacional que alguns de seus contemporâneos. Deve-se isso, provavelmente, à sua escolha em pintar e ensinar no Rio Grande do Sul. Mas nada diminui a sua arte, ao contrário, a pintura, os artistas e a sociedade gaúcha devem muito a ele. Durante toda a sua trajetória, realizou um trabalho de altíssima qualidade, imprimindo personalidade e um estilo próprio à sua pintura.
Malagoli era uma criança de cinco anos e morava em uma fazenda em Araraquara, no interior de São Paulo, quando perdeu o pai (assassinado durante uma desavença com uma antigo empregado). Na época, tinha oito irmãos, o mais velho com quinze anos, e sua mãe lutou bravamente para sustentar os filhos. A necessidade de sobrevivência fez com que a família se mudasse para a cidade de São Paulo, buscando melhores condições de vida, quando o pintor tinha oito anos de idade.
Em suas telas está presente o verde do campo e dos cafezais e na densidade dramática de suas composições, encontramos um sentimento de tristeza e angústia, que podem ter origem no trágico acontecimento ocorrido em sua infância.
Sobre isso, escreve Fernando Corona, em 1966:
"A expressão assusta enquanto a pintura em si empolga. A riqueza de tonalidades, que o mestre emprega em suas telas, aflora de dentro para fora em belíssimas e ricas harmonias de luz, Parece luz de mistério um tanto dramática, e talvez por isso coerente e apropriada ante ruínas de casarios e miséria humana. Luz de mistério e de poesia encerrando em seu conteúdo uma esperança" – Fernando Corona (CORONA, 1977, p. 135)
O menino que costumava rabiscar as paredes e as calçadas com giz, carvão e torrões de terra, foi matriculado por sua mãe no Curso de Artes Decorativas na Escola Profissional Masculina de São Paulo, onde estudou entre 1919 e 1922. Em seguida frequentou o Liceu de Artes e Ofícios, até 1928. Lá conheceu outros artistas e surgiu a oportunidade do primeiro trabalho como pintor com Francisco Rebolo (1902 - 1980), pintando painéis decorativos em residências, hotéis e restaurantes. Nos finais de semana, juntamente com Alfredo Volpi (1896 - 1988), saiam para os arredores de São Paulo e exercitavam a pintura de paisagens em telas.
Paralelamente, Malagoli sempre exerceu outros trabalhos para sobreviver, chegando inclusive a trabalhar como jornalista e retocando fotografias, na década de 1930, já fixado no Rio de Janeiro, onde havia ingressado na Escola Nacional de Belas Artes. Assim como os modernistas, insurgiu-se contra o academicismo vigente e participou do Núcleo Bernardelli [1], que ajudou a consolidar o modernismo na cidade. Porém, o pintor nunca rompeu com a arte do passado, sabendo utilizar os legados da tradição e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma pintura contemporânea à sua época. Malagoli chegou a tecer críticas ao movimento de 1922: “O Modernismo desenvolveu, em muitos casos, um nacionalismo de rótulo: umas mulatas, umas bananas, uns cocos... tudo isso com formas cubistas recém-importadas de Paris” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 22).
Malagoli expôs pela primeira vez no Salão Nacional de 1934, ao mesmo tempo em que participou das mostras do Núcleo Bernardelli. Em 1935, recebeu menção honrosa pelo quadro “Romântica”. Já formado pela escola Nacional de Belas Artes, conviveu com vários pintores e escritores e participou de todos os Salões Nacionais, tendo recebido medalha de bronze em 1938 com “Numa Casa de Caboclo”; em 1939, medalha de prata com “Nu” e em 1942 recebeu o Prêmio Viagem ao Estrangeiro com “Repouso”. Ao mesmo tempo participou de exposições coletivas em Nova Iorque e Buenos Aires.
Nota-se em duas das obras premiadas uma grande semelhança com as obras do pintor Almeida Júnior (1850 - 1899), principalmente "Caipira Picando Fumo", de 1893, o que indica que Malagoli conhecia e admirava os grandes mestres da pintura no Brasil.
Em 1943 foi para os Estados Unidos, onde cursou por dois anos o Fine Arts Institution of the University of Columbia e realizou estudos em história da arte e museologia. Lá aprimorou seus conhecimentos técnicos e sua concepção de pintura, com quadros figurativos (como arlequins, por exemplo, tema recorrente em suas composições) e paisagens. Sua primeira exposição individual aconteceu em 1946 na Galeria Careen Gems de Nova Iorque, onde todos os quadros foram vendidos. No mesmo ano, voltou ao Brasil e trabalhou como professor em Juiz de Fora (MG) e depois no Rio de Janeiro, na Associação Brasileira de Desenho. Neste período, participou de várias mostras no Brasil e no exterior e recebeu vários prêmios, incluindo o Prêmio de Viagem ao País no Salão Nacional do Rio de Janeiro com o quadro “Por quê?”. Em 1951 expôs na 1ª Bienal de São Paulo.
Em 1952, já casado com sua esposa Ruth, o pintor mudou-se para Porto Alegre (onde viveu até o fim de sua vida) a convite de Ângelo Guido (1893 - 1969), passando a lecionar no Instituto de Artes da UFRGS, onde assumiu a cadeira de Pintura. Foi um dos principais responsáveis pela revitalização do ensino nesta instituição. Quando começou a ensinar na Escola, sofreu críticas de colegas que obedeciam a princípios acadêmicos e fórmulas rígidas. Ele, no entanto, ministrava aulas calcadas na participação dos alunos e no bom relacionamento entre estes e o professor. Até 1976, ano em que se aposentou, formou toda uma geração de pintores que estão hoje entre os principais artistas gaúchos.
Ado Malagoli também é responsável por idealizar o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), criado em 1954 e inaugurado em 1957, do qual foi o primeiro diretor e responsável por trazer grandes exposições para Porto Alegre, como a de Candido Portinari (1903 - 1962), em 1958, a qual atraiu grande público e serviu para consolidar a presença do MARGS no circuito de arte local. Desde 1977, o Museu leva seu nome.
Fiel ao princípio de que o essencial para a arte é a própria arte, Ado Malagoli certa vez afirmou, em entrevista a Jacob Klintowitz, que “[...] A obra de arte surge da aptidão do artista na seleção dos seus principais elementos expressivos, isto é, da forma, cor, composição e matéria” (KLINTOWITZ et al, 1985). Como já apontamos, Malagoli procurava ser contemporâneo, porém sempre permaneceu fiel ao rigor técnico da “tradição acadêmica” da pintura; e embora, algumas vezes, os temas representados apontem um certo caráter regional, sua obra é universal.
Observador atento do mundo à sua volta, o pintor preferia, como revelou em entrevista a Paulo Cabral, em dezembro de 1942, destacar o humano: “A paisagem é bela. Mas a figura humana é tudo. Seus contornos, permitindo uma interpretação humana daquilo que se pinta, os traços psicológicos, característicos de cada um, nada é mais sublime” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 119).
Analisando o conjunto de seu trabalho, percebemos uma obsessão pelo passado, certo saudosismo. Para José Luiz do Amaral, nas telas de Malagoli encontramos uma “[...] síntese tensa e problemática entre o que foi e o que vai ser” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 26). Ado Malagoli foi um homem de seu tempo, sensível aos dramas humanos, colocando-os em destaque em suas obras, como um pensador, numa dimensão quase metafísica.
Assim como afirmou o poeta Mario Quintana (1906-1994), podemos dizer que: " Somos gratos a Malagoli por nos proporcionar tantos pontos de encontro no seu mundo, tornando-o assim - também - o nosso mundo" (KLINTOWITZ et al, 1985)
NOTAS
[1] Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - ENBA, o Núcleo Bernardelli possuía como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. Além de democratizar o ensino, o grupo almejava permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da ENBA, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montaram um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funcionou primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e mudou-se em seguida para os porões da ENBA, onde permaneceu até 1936. Nessa data, transferiu-se para a Rua São José e depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participaram do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979) e Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. (voltar ao texto na nota 1)
Fonte: ROSSI, Elvio Antônio. Fernando Corona. HACER - História da Arte e da Cultura: Estudos e reflexões, Porto Alegre, 2019. Acesso em 18 de março de 2022.
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Ado Malagoli e Ruth Medeiros Cardoso Malagoli – Família Malagoli
Ado Malagoli nasceu em Araraquara, estado de São Paulo no dia 28/04/1906. Filho de Quinto Malagoli e Luiza DallaDea ficou órfão de pai aos 7 anos. Migrou com a mãe e os irmãos para São Paulo, Capital, em 1913.
Aos 9 anos começou a trabalhar em uma serralheria. Nesta serralheria o pequeno Ado começou a esboçar as suas primeiras obras com giz em pedaços de chapa de ferro. O proprietário da serralheria então, chamou a mãe do garoto e lhe perguntou se ela tinha conhecimento do talento do filho e que ele achava por bem que ela deveria colocá-lo em uma escola para que ele pudesse desenvolver todo o seu potencial artístico.
A mãe, por sua vez, respondeu que havia ficado viúva e que não tinha condições financeiras, pois atravessava uma fase difícil, não tendo condições naquele momento de colocá-lo em uma escola.
O proprietário então, pediu-lhe que pensasse bem sobre o assunto pois com todo aquele talento o menino poderia ser a salvação da família. Aquelas palavras foram ditas como que uma profecia e viria futuramente a se cumprir.
Ado Malagoli estudou nos EUA cursando a Universidade de New York depois fez especialização em Belas Artes na Universidade de Columbia.
Casou-se com Ruth Medeiros, natural do Rio de Janeiro e criaram uma única filha.
Ado Malagoli foi considerado pela crítica Paulista e Carioca como o maior pintor Brasileiro vivo nas décadas de 1960 e 70. Foi professor da Universidade do Rio Grande do Sul. Um dos seus quadros mais famosos intitula-se "Porque"e está no Museu Nacional de Belas Artes. Teve também uma fase muito interessante denominada "Casarios e Ruínas ".
Ado Malagoli faleceu em 04/03/1994 sem nunca mais ter voltado à sua terra natal, Araraquara.
Fonte: Relato de Ruth Medeiros Malagoli em 15 de agosto de 2000, "Ado Malagoli e Ruth Medeiros Cardoso Malagoli". Consultado pela última vez em 18 de julho de 2022.
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de ideias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e autorretratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e autorretratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstração. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 18 de Jul. 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Autorretrato Ado Malagoli em 1941, obra do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil. Consultado pela última vez em 18 de julho de 2022.
Ado Malagoli (Araraquara, 28 de abril de 1906 — Porto Alegre, 4 de março de 1994) foi um pintor, professor, restaurador e museólogo brasileiro. Considerado um dos grandes pintores brasileiros, formou-se em Artes Decorativas na Escola Profissional Masculina e cursou o Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo, onde produziu, junto de Francisco Rebolo Gonzáles, diversos painéis decorativos. Neste período, teve contato com Alfredo Volpi e Mario Zanini. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Escola Nacional de Belas Artes e participou do Núcleo Bernardelli, que ajudou a consolidar o modernismo na cidade. Em 1942 recebeu prêmio viagem à Europa no Salão Nacional do Rio de Janeiro, mas em razão da II guerra foi para os Estados Unidos, onde cursou por dois anos o Fine Arts Institution of the University of Columbia e realizou estudos em história da arte e museologia. Veio para Porto Alegre a convite de Angelo Guido em 1953, quando passou a lecionar no Instituto de Artes da UFRGS, onde foi um dos principais responsáveis pela revitalização do ensino nesta instituição. Foi o idealizador e o primeiro diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que hoje leva seu nome. Malagoli tornou-se referência obrigatória no ensino da pintura no Rio Grande do Sul, influenciando toda uma geração de artistas.
Biografia – Itaú Cultural
Em 1922, cursa artes decorativas na Escola Profissional Masculina do Brás, em São Paulo, onde é aluno de Giuseppe Barchita. Entre 1922 e 1928, cursou o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo - Laosp, onde estudou com Enrico Vio (1874 - 1960). Nessa época, entra em contato com Alfredo Volpi (1896 - 1988) e Mario Zanini (1907 - 1971), com os quais costuma pintar paisagens dos arredores da cidade. Trabalhou com Francisco Rebolo (1902 - 1980) na pintura de painéis decorativos. Muda-se para o Rio de Janeiro, e ingressa na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1928. Participou, ainda, da fundação do Núcleo Bernardelli, em 1931. Sua produção é predominantemente figurativa. Em 1942, recebe, no 48º Salão Nacional de Belas Artes - SNBA, o prêmio de viagem ao exterior, e vai para os Estados Unidos, onde permanece por três anos. Cursa história da arte e museologia no Fine Arts Institute, da Universidade de Colúmbia, e organização de museus no Brooklin Museum. Ao retornar ao Brasil, fixou-se em Porto Alegre, após um período de permanência no Rio de Janeiro. Ingressou como professor de pintura no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, no qual atuou entre 1952 e 1976. Criou, em 1954, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, inaugurado em 1957. Em 1997, em homenagem ao fundador, esse museu passa a chamar-se Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli.
Análise
Ado Malagoli participou da fundação do Núcleo Bernardelli no Rio de Janeiro, em 1931. Com uma pintura figurativa, revela a preocupação com questões sociais. Pinta também cenas urbanas, naturezas-mortas, retratos e paisagens.
A produção de Malagoli e de outros artistas ligados ao Núcleo Bernardelli pode ser compreendida dentro dos propósitos do retorno à ordem. Sua obra revela um interesse pela pintura italiana "neo-renascentista", como pode ser notado nos quadros que fazem referência à tradição das Vênus na paisagem. Em suas pinturas, a linha predomina sobre a cor, e o artista representa o corpo humano de forma idealizada.
Malagoli viaja para Porto Alegre em 1952, quando atua também como professor, colaborando na renovação das artes no Rio Grande do Sul e participando da reestruturação do ensino de pintura na Escola de Belas Artes. Cria o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que posteriormente recebe seu nome, e promove importantes exposições, como as de Weingärtner (1853 - 1929) e Candido Portinari (1903 - 1962). Em sua obra madura destacam-se pinturas de casarios e ruínas, de tom expressionista, nas quais às vezes dialoga com a abstração.
Críticas
"Malagoli, como os modernistas, insurgiu-se contra o academicismo estreito que reinava ainda em 30, quando cursou a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Certa vez, foi até posto para fora de aula, sendo obrigado a pintar no corredor, por não concordar com as idéias conservadoras de um dos mestres. Sua atuação junto com os colegas do Núcleo Bernardelli foi, sem sombra de dúvida, revolucionária. Seu trabalho sempre foi inovador. Mas ele nunca rompeu radicalmente com o passado. Sempre procurou a passagem que liga o hoje às bases mais verdadeiras no ontem. Por isso a sua crítica ao modernismo de 22: 'O modernismo desenvolveu, em muitos casos, um nacionalismo de rótulo: umas mulatas, umas bananas, uns cocos. . . tudo isso com formas cubistas recém-importadas de Paris'. Ele nunca embarcou na voga de destrutividade pura e simples que a Semana da Arte Moderna desencadeou. Soube libertar-se do que era desnecessário e sem importância, mantendo os legados mais férteis da tradição que lhe permitira alcançar melhor expressão do presente. Seus quadros conservam o sabor da pintura de outras épocas ao mesmo tempo que o situam como um pintor claramente contemporâneo. Dessa maneira, o brasileiro Ado Malagoli conservou-se sempre um europeu; o moderno pintor de cenas e dramas nacionais coloca-se, como um clássico, a serviço da expressão de verdades universais; o menino Ado já trazia a idade de um velho italiano e o homem maduro de hoje ainda convive com os temas e as preocupações do menino de ontem. A muitos têm confundido essas aparentes contradições. Elas têm sua resolução, entretanto, numa lúcida visão histórica e num intenso sentimento da temporalidade que transformam as telas de Malagoli numa síntese tensa e problemática entre o que foi e o que vai ser" — José Luiz do Amaral Neto (AMARAL NETO, José Luiz. O artesão de sonhos. In: MALAGOLI, Ado; QUINTANA, Mario. Ado Malagoli visto por Mário Quintana. Rio de Janeiro: L. Christiano, 1985. p. 22-26).
Depoimentos
"A obra de arte surge da aptidão do artista na seleção dos seus principais elementos expressivos, isto é, da forma, cor, composição e matéria. Esses elementos são eternos e nivelam a arte dos dias de hoje às concepções dos grandes gênios da pintura de todos os tempos.
Eu vejo em todas as artes uma intensificação de vida. Graças à arte, não conto quanto falta para o meu enfarte. Se ele vier, vai me pegar no cavalete. Numa outra atividade qualquer, as pessoas envelhecem, se aposentam, ficam contando os dias que faltam para sua morte sentadas numa praça pública. Se elas tivessem enriquecido o espírito, não precisariam ficar procurando uma maneira de se distrair. O lazer do artista é a sua obra.
(...)
Enquanto estou trabalhando me sinto muito envolvido com a tela. Mas depois de terminada, me desligo quase que completamente. No meu modo de ver, arte é um todo, como um grande edifício composto de várias salas, por onde a gente circula. Um quadro é apenas uma antessala de outro quadro. A trajetória de um indivíduo deve ser vista como uma integridade. Há sempre uma obra em andamento a reclamar minha atenção" — Ado Malagoli (MALAGOLI, Ado. Ado Malagoli. In: MALAGOLI, Ado; QUINTANA, Mario. Ado Malagoli visto por Mário Quintana. Rio de Janeiro: L. Christiano, 1985. [Trecho extraído da orelha do livro]).
Exposições Individuais
1946 - Nova York (Estados Unidos) - Individual, na Careen Gems Gallery
1948 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Palace Hotel
1949 - Curitiba PR - Individual
1949 - Rio de Janeiro Individual, na Galeria Calvino
1950 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria de Arte Casa das Molduras
1955 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Xavier da Silveira
1963 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Domus
1965 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Oca
1965 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Oca
1966 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Leopoldina
1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Oca
1967 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Leopoldina
1970 - São Paulo SP - Individual, na Azulão Galeria
1971 - Porto Alegre RS - Individual, na Esphera Galeria de Arte
1974 - Belo Horizonte MG - Individual, na Ami Galeria de Arte
1975 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Oficina Galeria de Arte
1979 - Porto Alegre RS - Individual, na Associação Leopoldina Juvenil
1981 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte da Gávea
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Documentos, no Margs
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Retrospectiva, na Galeria Tina Zappoli
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Trabalho Atual, no Cambona Centro de Artes
1985 - São Paulo SP - Ado Malagoli: retrospectiva, no Masp
1986 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli: retrospectiva, no Margs
1989 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli: retrospectiva, no Espaço Cultural Banco Francês e Brasileiro
1990 - Rio de Janeiro RJ - Ado Malagoli: retrospectiva, na Vila Bernini Galeria
Exposições Coletivas
1934 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes, na Enba
1934 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Belas Artes, na Rua 11 de Agosto
1935 - Rio de Janeiro RJ - 41º Salão Nacional de Belas Artes, Enba - menção honrosa
1935 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão do Núcleo Bernardelli, na Enba
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1938 - Rio de Janeiro RJ - 44º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de bronze
1939 - Nova York (Estados Unidos) - Feira Mundial de Nova York
1939 - Rio de Janeiro RJ - 45º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de prata
1942 - Rio de Janeiro RJ - 48º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - prêmio viagem ao exterior
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1947 - Paris (França) - Salão de Outono, no Grand Palais
1948 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - Prêmio Euclides da Cunha
1948 - São Paulo SP - 14º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia - pequena medalha de prata
1949 - Curitiba PR - 6º Salão Paranaense de Belas Artes, no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto
1949 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Municipal de Belas Artes, no Ministério da Educação e Saúde - Prêmio Arnaldo Guinle
1949 - Rio de Janeiro RJ - 55º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - prêmio viagem ao país
1949 - São Paulo SP - 15º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1950 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - medalha de prata
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão Municipal de Belas Artes - prêmio alto mérito
1951 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão Municipal de Belas Artes - Prêmio Municipalidade
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon
1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ
1954 - Porto Alegre RS - 5º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
1955 - Porto Alegre RS - 6º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul - medalha de prata
1956 - Porto Alegre RS - 7º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
1956 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio Guggenheim, no MAM/RJ
1957 - Nova York (Estados Unidos) - Guggenheim International Award: 1956, no Solomon R. Guggenheim Museum
1957 - São Paulo SP - 21º Salão Paulista de Belas Artes - prêmio aquisição
1960 - Belo Horizonte MG - 15º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, no MAP - 1º prêmio
1961 - Porto Alegre RS - Arte Rio-Grandense: do passado ao presente, no Instituto de Belas Artes
1962 - Belo Horizonte MG - 17º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, no MAP - 1º prêmio
1962 - Rio de Janeiro RJ - 11º Salão Nacional de Arte Moderna
1963 - São Paulo SP - 12º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1970 - São Paulo SP - 2º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Brasília DF - Arte Gaúcha/74
1982 - Brasília DF - Arte Gaúcha Hoje, na Galeria Oswaldo Goeldi
1982 - Porto Alegre RS - Arte Gaúcha Hoje, no Margs
1982 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Porto Alegre RS - Do Passado ao Presente: as artes plásticas no Rio Grande do Sul, no Cambona Centro de Artes
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1986 - São Paulo SP - Tempo de Madureza, na Ranulpho Galeria de Arte
1989 - Porto Alegre RS - Arte Sul 89, no Margs
1989 - São Paulo SP - Trinta e Três Maneiras de Ver o Mundo, na Ranulpho Galeria de Arte
1990 - São Paulo SP - Frutas, Flores e Cores, na Ranulpho Galeria de Arte
1994 - Porto Alegre RS - De Libindo a Malagoli: as artes visuais na universidade, no Museu da UFRGS
Exposições Póstumas
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1998 - Porto Alegre RS - Acervo: Instituto de Artes 90 Anos, na UFRGS. Instituto de Artes
2000 - Caxias do Sul RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Passo Fundo RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Pelotas RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Santa Maria RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2002 - Porto Alegre RS - Artistas Professores, no Museu da UFRGS
2002 - Porto Alegre RS - Desenhos, Gravuras, Esculturas e Aquarelas, na Garagem de Arte
2003 - Porto Alegre RS - Humanidades, na Galeria Tina Zappoli
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
Fonte: ADO Malagoli. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 14 de julho de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia – Wikipédia
Malagoli formou-se em Artes decorativas na Escola Profissional Masculina do Brás, em 1922. De 1922 a 1928 estudou no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde foi aluno de um dos mais conceituados professores italianos de pintura em São Paulo, o siciliano Giuseppe Barchita. Trabalhou com Francisco Rebolo Gonzáles na execução de painéis decorativos. Nessa época, conheceu Alfredo Volpi e Mario Zanini.
Em 1928, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e, em 1933 passou a integrar o Núcleo Bernardelli, ao lado de João José Rescala, Edson Motta, Milton Dacosta e Joaquim Tenreiro, entre outros.
Em 1942, ganhou o "Prêmio Viagem", concedido pelo Salão Nacional de Belas Artes, e foi para os Estados Unidos, onde permaneceu de 1943 a 1946. Ali cursou História da arte e Museologia, no Fine Arts Institute da Universidade de Columbia, e Organização de Museus, no Brooklin Museum. Em 1946, aconteceu a sua primeira individual, na Careen Gems Gallery, em Nova York. No mesmo ano, retornou ao Brasil e iniciou atividade como professor, em Juiz de Fora. Logo retorna ao Rio de Janeiro e torna-se professor da Associação Brasileira de Desenho.
Em 1952, transferiu-se para Porto Alegre, passando a lecionar pintura no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul até 1976. Assumiu o cargo de superintendente do Ensino Artístico da Secretaria de Educação e Cultura do Estado, tornando-se responsável por toda a Divisão de Cultura da Secretaria. Em 1954, criou o Museu de Arte do Rio Grande do Sul - MARGS, inaugurado em 1957. Integrou a comissão de seleção da Mostra de Arte Gaúcha em 1982.
Em 1997, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul passou a se chamar Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, em homenagem ao seu fundador.
Prêmios
1935 - Menção Honrosa no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1938 – Medalha de Bronze no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1939 - Medalha de Prata no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1942 - Prêmio Viagem ao Exterior no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1948 - Prêmio Euclides da Cunha no Salão Fluminense de Belas Artes, Rio de Janeiro
1948 - Pequena Medalha de Prata no 14º Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo
1949 - Prêmio Arnaldo Guinle no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1949 - Prêmio Viagem no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1950 - Medalha de Prata no Salão Fluminense de Belas Artes, Rio de Janeiro
1950 - Prêmio Alto Mérito no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1951 - Prêmio Municipalidade no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1955 - Medalha de Prata no 6º Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
1956 - Prêmio Guggenheim, MAM/RJ, Rio de Janeiro
1957 - Prêmio Aquisição no 21º Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo
1960 - Primeiro prêmio no 15º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, MAP, Belo Horizonte
1962 - Primeiro prêmio no 17º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, MAP, Belo Horizonte
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 14 de julho de 2022.
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Biografia Ado Malagoli – HACER
“A dor é a única verdade que o homem arrancou da provação da vida. A alegria não faz ninguém feliz, é apenas um relâmpago. O homem só é feliz quando pratica a caridade, o amor ao próximo. É pela dor que a gente sente que está vivo.” – Ado Malagoli.
Ado Malagoli (Araraquara, 28 de abril de 1906 - Porto Alegre, 4 de março de 1994), sem sombra de dúvida, pode ser considerado um dos grandes pintores brasileiros, embora talvez tenha tido menos repercussão nacional que alguns de seus contemporâneos. Deve-se isso, provavelmente, à sua escolha em pintar e ensinar no Rio Grande do Sul. Mas nada diminui a sua arte, ao contrário, a pintura, os artistas e a sociedade gaúcha devem muito a ele. Durante toda a sua trajetória, realizou um trabalho de altíssima qualidade, imprimindo personalidade e um estilo próprio à sua pintura.
Malagoli era uma criança de cinco anos e morava em uma fazenda em Araraquara, no interior de São Paulo, quando perdeu o pai (assassinado durante uma desavença com uma antigo empregado). Na época, tinha oito irmãos, o mais velho com quinze anos, e sua mãe lutou bravamente para sustentar os filhos. A necessidade de sobrevivência fez com que a família se mudasse para a cidade de São Paulo, buscando melhores condições de vida, quando o pintor tinha oito anos de idade.
Em suas telas está presente o verde do campo e dos cafezais e na densidade dramática de suas composições, encontramos um sentimento de tristeza e angústia, que podem ter origem no trágico acontecimento ocorrido em sua infância.
Sobre isso, escreve Fernando Corona, em 1966:
"A expressão assusta enquanto a pintura em si empolga. A riqueza de tonalidades, que o mestre emprega em suas telas, aflora de dentro para fora em belíssimas e ricas harmonias de luz, Parece luz de mistério um tanto dramática, e talvez por isso coerente e apropriada ante ruínas de casarios e miséria humana. Luz de mistério e de poesia encerrando em seu conteúdo uma esperança" – Fernando Corona (CORONA, 1977, p. 135)
O menino que costumava rabiscar as paredes e as calçadas com giz, carvão e torrões de terra, foi matriculado por sua mãe no Curso de Artes Decorativas na Escola Profissional Masculina de São Paulo, onde estudou entre 1919 e 1922. Em seguida frequentou o Liceu de Artes e Ofícios, até 1928. Lá conheceu outros artistas e surgiu a oportunidade do primeiro trabalho como pintor com Francisco Rebolo (1902 - 1980), pintando painéis decorativos em residências, hotéis e restaurantes. Nos finais de semana, juntamente com Alfredo Volpi (1896 - 1988), saiam para os arredores de São Paulo e exercitavam a pintura de paisagens em telas.
Paralelamente, Malagoli sempre exerceu outros trabalhos para sobreviver, chegando inclusive a trabalhar como jornalista e retocando fotografias, na década de 1930, já fixado no Rio de Janeiro, onde havia ingressado na Escola Nacional de Belas Artes. Assim como os modernistas, insurgiu-se contra o academicismo vigente e participou do Núcleo Bernardelli [1], que ajudou a consolidar o modernismo na cidade. Porém, o pintor nunca rompeu com a arte do passado, sabendo utilizar os legados da tradição e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma pintura contemporânea à sua época. Malagoli chegou a tecer críticas ao movimento de 1922: “O Modernismo desenvolveu, em muitos casos, um nacionalismo de rótulo: umas mulatas, umas bananas, uns cocos... tudo isso com formas cubistas recém-importadas de Paris” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 22).
Malagoli expôs pela primeira vez no Salão Nacional de 1934, ao mesmo tempo em que participou das mostras do Núcleo Bernardelli. Em 1935, recebeu menção honrosa pelo quadro “Romântica”. Já formado pela escola Nacional de Belas Artes, conviveu com vários pintores e escritores e participou de todos os Salões Nacionais, tendo recebido medalha de bronze em 1938 com “Numa Casa de Caboclo”; em 1939, medalha de prata com “Nu” e em 1942 recebeu o Prêmio Viagem ao Estrangeiro com “Repouso”. Ao mesmo tempo participou de exposições coletivas em Nova Iorque e Buenos Aires.
Nota-se em duas das obras premiadas uma grande semelhança com as obras do pintor Almeida Júnior (1850 - 1899), principalmente "Caipira Picando Fumo", de 1893, o que indica que Malagoli conhecia e admirava os grandes mestres da pintura no Brasil.
Em 1943 foi para os Estados Unidos, onde cursou por dois anos o Fine Arts Institution of the University of Columbia e realizou estudos em história da arte e museologia. Lá aprimorou seus conhecimentos técnicos e sua concepção de pintura, com quadros figurativos (como arlequins, por exemplo, tema recorrente em suas composições) e paisagens. Sua primeira exposição individual aconteceu em 1946 na Galeria Careen Gems de Nova Iorque, onde todos os quadros foram vendidos. No mesmo ano, voltou ao Brasil e trabalhou como professor em Juiz de Fora (MG) e depois no Rio de Janeiro, na Associação Brasileira de Desenho. Neste período, participou de várias mostras no Brasil e no exterior e recebeu vários prêmios, incluindo o Prêmio de Viagem ao País no Salão Nacional do Rio de Janeiro com o quadro “Por quê?”. Em 1951 expôs na 1ª Bienal de São Paulo.
Em 1952, já casado com sua esposa Ruth, o pintor mudou-se para Porto Alegre (onde viveu até o fim de sua vida) a convite de Ângelo Guido (1893 - 1969), passando a lecionar no Instituto de Artes da UFRGS, onde assumiu a cadeira de Pintura. Foi um dos principais responsáveis pela revitalização do ensino nesta instituição. Quando começou a ensinar na Escola, sofreu críticas de colegas que obedeciam a princípios acadêmicos e fórmulas rígidas. Ele, no entanto, ministrava aulas calcadas na participação dos alunos e no bom relacionamento entre estes e o professor. Até 1976, ano em que se aposentou, formou toda uma geração de pintores que estão hoje entre os principais artistas gaúchos.
Ado Malagoli também é responsável por idealizar o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), criado em 1954 e inaugurado em 1957, do qual foi o primeiro diretor e responsável por trazer grandes exposições para Porto Alegre, como a de Candido Portinari (1903 - 1962), em 1958, a qual atraiu grande público e serviu para consolidar a presença do MARGS no circuito de arte local. Desde 1977, o Museu leva seu nome.
Fiel ao princípio de que o essencial para a arte é a própria arte, Ado Malagoli certa vez afirmou, em entrevista a Jacob Klintowitz, que “[...] A obra de arte surge da aptidão do artista na seleção dos seus principais elementos expressivos, isto é, da forma, cor, composição e matéria” (KLINTOWITZ et al, 1985). Como já apontamos, Malagoli procurava ser contemporâneo, porém sempre permaneceu fiel ao rigor técnico da “tradição acadêmica” da pintura; e embora, algumas vezes, os temas representados apontem um certo caráter regional, sua obra é universal.
Observador atento do mundo à sua volta, o pintor preferia, como revelou em entrevista a Paulo Cabral, em dezembro de 1942, destacar o humano: “A paisagem é bela. Mas a figura humana é tudo. Seus contornos, permitindo uma interpretação humana daquilo que se pinta, os traços psicológicos, característicos de cada um, nada é mais sublime” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 119).
Analisando o conjunto de seu trabalho, percebemos uma obsessão pelo passado, certo saudosismo. Para José Luiz do Amaral, nas telas de Malagoli encontramos uma “[...] síntese tensa e problemática entre o que foi e o que vai ser” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 26). Ado Malagoli foi um homem de seu tempo, sensível aos dramas humanos, colocando-os em destaque em suas obras, como um pensador, numa dimensão quase metafísica.
Assim como afirmou o poeta Mario Quintana (1906-1994), podemos dizer que: " Somos gratos a Malagoli por nos proporcionar tantos pontos de encontro no seu mundo, tornando-o assim - também - o nosso mundo" (KLINTOWITZ et al, 1985)
NOTAS
[1] Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - ENBA, o Núcleo Bernardelli possuía como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. Além de democratizar o ensino, o grupo almejava permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da ENBA, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montaram um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funcionou primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e mudou-se em seguida para os porões da ENBA, onde permaneceu até 1936. Nessa data, transferiu-se para a Rua São José e depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participaram do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979) e Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. (voltar ao texto na nota 1)
Fonte: ROSSI, Elvio Antônio. Fernando Corona. HACER - História da Arte e da Cultura: Estudos e reflexões, Porto Alegre, 2019. Acesso em 18 de março de 2022.
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Ado Malagoli e Ruth Medeiros Cardoso Malagoli – Família Malagoli
Ado Malagoli nasceu em Araraquara, estado de São Paulo no dia 28/04/1906. Filho de Quinto Malagoli e Luiza DallaDea ficou órfão de pai aos 7 anos. Migrou com a mãe e os irmãos para São Paulo, Capital, em 1913.
Aos 9 anos começou a trabalhar em uma serralheria. Nesta serralheria o pequeno Ado começou a esboçar as suas primeiras obras com giz em pedaços de chapa de ferro. O proprietário da serralheria então, chamou a mãe do garoto e lhe perguntou se ela tinha conhecimento do talento do filho e que ele achava por bem que ela deveria colocá-lo em uma escola para que ele pudesse desenvolver todo o seu potencial artístico.
A mãe, por sua vez, respondeu que havia ficado viúva e que não tinha condições financeiras, pois atravessava uma fase difícil, não tendo condições naquele momento de colocá-lo em uma escola.
O proprietário então, pediu-lhe que pensasse bem sobre o assunto pois com todo aquele talento o menino poderia ser a salvação da família. Aquelas palavras foram ditas como que uma profecia e viria futuramente a se cumprir.
Ado Malagoli estudou nos EUA cursando a Universidade de New York depois fez especialização em Belas Artes na Universidade de Columbia.
Casou-se com Ruth Medeiros, natural do Rio de Janeiro e criaram uma única filha.
Ado Malagoli foi considerado pela crítica Paulista e Carioca como o maior pintor Brasileiro vivo nas décadas de 1960 e 70. Foi professor da Universidade do Rio Grande do Sul. Um dos seus quadros mais famosos intitula-se "Porque"e está no Museu Nacional de Belas Artes. Teve também uma fase muito interessante denominada "Casarios e Ruínas ".
Ado Malagoli faleceu em 04/03/1994 sem nunca mais ter voltado à sua terra natal, Araraquara.
Fonte: Relato de Ruth Medeiros Malagoli em 15 de agosto de 2000, "Ado Malagoli e Ruth Medeiros Cardoso Malagoli". Consultado pela última vez em 18 de julho de 2022.
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de ideias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e autorretratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e autorretratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstração. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 18 de Jul. 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Autorretrato Ado Malagoli em 1941, obra do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil. Consultado pela última vez em 18 de julho de 2022.
Ado Malagoli (Araraquara, 28 de abril de 1906 — Porto Alegre, 4 de março de 1994) foi um pintor, professor, restaurador e museólogo brasileiro. Considerado um dos grandes pintores brasileiros, formou-se em Artes Decorativas na Escola Profissional Masculina e cursou o Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo, onde produziu, junto de Francisco Rebolo Gonzáles, diversos painéis decorativos. Neste período, teve contato com Alfredo Volpi e Mario Zanini. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Escola Nacional de Belas Artes e participou do Núcleo Bernardelli, que ajudou a consolidar o modernismo na cidade. Em 1942 recebeu prêmio viagem à Europa no Salão Nacional do Rio de Janeiro, mas em razão da II guerra foi para os Estados Unidos, onde cursou por dois anos o Fine Arts Institution of the University of Columbia e realizou estudos em história da arte e museologia. Veio para Porto Alegre a convite de Angelo Guido em 1953, quando passou a lecionar no Instituto de Artes da UFRGS, onde foi um dos principais responsáveis pela revitalização do ensino nesta instituição. Foi o idealizador e o primeiro diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que hoje leva seu nome. Malagoli tornou-se referência obrigatória no ensino da pintura no Rio Grande do Sul, influenciando toda uma geração de artistas.
Biografia – Itaú Cultural
Em 1922, cursa artes decorativas na Escola Profissional Masculina do Brás, em São Paulo, onde é aluno de Giuseppe Barchita. Entre 1922 e 1928, cursou o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo - Laosp, onde estudou com Enrico Vio (1874 - 1960). Nessa época, entra em contato com Alfredo Volpi (1896 - 1988) e Mario Zanini (1907 - 1971), com os quais costuma pintar paisagens dos arredores da cidade. Trabalhou com Francisco Rebolo (1902 - 1980) na pintura de painéis decorativos. Muda-se para o Rio de Janeiro, e ingressa na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1928. Participou, ainda, da fundação do Núcleo Bernardelli, em 1931. Sua produção é predominantemente figurativa. Em 1942, recebe, no 48º Salão Nacional de Belas Artes - SNBA, o prêmio de viagem ao exterior, e vai para os Estados Unidos, onde permanece por três anos. Cursa história da arte e museologia no Fine Arts Institute, da Universidade de Colúmbia, e organização de museus no Brooklin Museum. Ao retornar ao Brasil, fixou-se em Porto Alegre, após um período de permanência no Rio de Janeiro. Ingressou como professor de pintura no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, no qual atuou entre 1952 e 1976. Criou, em 1954, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, inaugurado em 1957. Em 1997, em homenagem ao fundador, esse museu passa a chamar-se Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli.
Análise
Ado Malagoli participou da fundação do Núcleo Bernardelli no Rio de Janeiro, em 1931. Com uma pintura figurativa, revela a preocupação com questões sociais. Pinta também cenas urbanas, naturezas-mortas, retratos e paisagens.
A produção de Malagoli e de outros artistas ligados ao Núcleo Bernardelli pode ser compreendida dentro dos propósitos do retorno à ordem. Sua obra revela um interesse pela pintura italiana "neo-renascentista", como pode ser notado nos quadros que fazem referência à tradição das Vênus na paisagem. Em suas pinturas, a linha predomina sobre a cor, e o artista representa o corpo humano de forma idealizada.
Malagoli viaja para Porto Alegre em 1952, quando atua também como professor, colaborando na renovação das artes no Rio Grande do Sul e participando da reestruturação do ensino de pintura na Escola de Belas Artes. Cria o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que posteriormente recebe seu nome, e promove importantes exposições, como as de Weingärtner (1853 - 1929) e Candido Portinari (1903 - 1962). Em sua obra madura destacam-se pinturas de casarios e ruínas, de tom expressionista, nas quais às vezes dialoga com a abstração.
Críticas
"Malagoli, como os modernistas, insurgiu-se contra o academicismo estreito que reinava ainda em 30, quando cursou a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Certa vez, foi até posto para fora de aula, sendo obrigado a pintar no corredor, por não concordar com as idéias conservadoras de um dos mestres. Sua atuação junto com os colegas do Núcleo Bernardelli foi, sem sombra de dúvida, revolucionária. Seu trabalho sempre foi inovador. Mas ele nunca rompeu radicalmente com o passado. Sempre procurou a passagem que liga o hoje às bases mais verdadeiras no ontem. Por isso a sua crítica ao modernismo de 22: 'O modernismo desenvolveu, em muitos casos, um nacionalismo de rótulo: umas mulatas, umas bananas, uns cocos. . . tudo isso com formas cubistas recém-importadas de Paris'. Ele nunca embarcou na voga de destrutividade pura e simples que a Semana da Arte Moderna desencadeou. Soube libertar-se do que era desnecessário e sem importância, mantendo os legados mais férteis da tradição que lhe permitira alcançar melhor expressão do presente. Seus quadros conservam o sabor da pintura de outras épocas ao mesmo tempo que o situam como um pintor claramente contemporâneo. Dessa maneira, o brasileiro Ado Malagoli conservou-se sempre um europeu; o moderno pintor de cenas e dramas nacionais coloca-se, como um clássico, a serviço da expressão de verdades universais; o menino Ado já trazia a idade de um velho italiano e o homem maduro de hoje ainda convive com os temas e as preocupações do menino de ontem. A muitos têm confundido essas aparentes contradições. Elas têm sua resolução, entretanto, numa lúcida visão histórica e num intenso sentimento da temporalidade que transformam as telas de Malagoli numa síntese tensa e problemática entre o que foi e o que vai ser" — José Luiz do Amaral Neto (AMARAL NETO, José Luiz. O artesão de sonhos. In: MALAGOLI, Ado; QUINTANA, Mario. Ado Malagoli visto por Mário Quintana. Rio de Janeiro: L. Christiano, 1985. p. 22-26).
Depoimentos
"A obra de arte surge da aptidão do artista na seleção dos seus principais elementos expressivos, isto é, da forma, cor, composição e matéria. Esses elementos são eternos e nivelam a arte dos dias de hoje às concepções dos grandes gênios da pintura de todos os tempos.
Eu vejo em todas as artes uma intensificação de vida. Graças à arte, não conto quanto falta para o meu enfarte. Se ele vier, vai me pegar no cavalete. Numa outra atividade qualquer, as pessoas envelhecem, se aposentam, ficam contando os dias que faltam para sua morte sentadas numa praça pública. Se elas tivessem enriquecido o espírito, não precisariam ficar procurando uma maneira de se distrair. O lazer do artista é a sua obra.
(...)
Enquanto estou trabalhando me sinto muito envolvido com a tela. Mas depois de terminada, me desligo quase que completamente. No meu modo de ver, arte é um todo, como um grande edifício composto de várias salas, por onde a gente circula. Um quadro é apenas uma antessala de outro quadro. A trajetória de um indivíduo deve ser vista como uma integridade. Há sempre uma obra em andamento a reclamar minha atenção" — Ado Malagoli (MALAGOLI, Ado. Ado Malagoli. In: MALAGOLI, Ado; QUINTANA, Mario. Ado Malagoli visto por Mário Quintana. Rio de Janeiro: L. Christiano, 1985. [Trecho extraído da orelha do livro]).
Exposições Individuais
1946 - Nova York (Estados Unidos) - Individual, na Careen Gems Gallery
1948 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Palace Hotel
1949 - Curitiba PR - Individual
1949 - Rio de Janeiro Individual, na Galeria Calvino
1950 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria de Arte Casa das Molduras
1955 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Xavier da Silveira
1963 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Domus
1965 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Oca
1965 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Oca
1966 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Leopoldina
1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Oca
1967 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Leopoldina
1970 - São Paulo SP - Individual, na Azulão Galeria
1971 - Porto Alegre RS - Individual, na Esphera Galeria de Arte
1974 - Belo Horizonte MG - Individual, na Ami Galeria de Arte
1975 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Oficina Galeria de Arte
1979 - Porto Alegre RS - Individual, na Associação Leopoldina Juvenil
1981 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte da Gávea
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Documentos, no Margs
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Retrospectiva, na Galeria Tina Zappoli
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Trabalho Atual, no Cambona Centro de Artes
1985 - São Paulo SP - Ado Malagoli: retrospectiva, no Masp
1986 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli: retrospectiva, no Margs
1989 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli: retrospectiva, no Espaço Cultural Banco Francês e Brasileiro
1990 - Rio de Janeiro RJ - Ado Malagoli: retrospectiva, na Vila Bernini Galeria
Exposições Coletivas
1934 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes, na Enba
1934 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Belas Artes, na Rua 11 de Agosto
1935 - Rio de Janeiro RJ - 41º Salão Nacional de Belas Artes, Enba - menção honrosa
1935 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão do Núcleo Bernardelli, na Enba
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1938 - Rio de Janeiro RJ - 44º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de bronze
1939 - Nova York (Estados Unidos) - Feira Mundial de Nova York
1939 - Rio de Janeiro RJ - 45º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de prata
1942 - Rio de Janeiro RJ - 48º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - prêmio viagem ao exterior
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1947 - Paris (França) - Salão de Outono, no Grand Palais
1948 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - Prêmio Euclides da Cunha
1948 - São Paulo SP - 14º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia - pequena medalha de prata
1949 - Curitiba PR - 6º Salão Paranaense de Belas Artes, no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto
1949 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Municipal de Belas Artes, no Ministério da Educação e Saúde - Prêmio Arnaldo Guinle
1949 - Rio de Janeiro RJ - 55º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - prêmio viagem ao país
1949 - São Paulo SP - 15º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1950 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - medalha de prata
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão Municipal de Belas Artes - prêmio alto mérito
1951 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão Municipal de Belas Artes - Prêmio Municipalidade
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon
1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ
1954 - Porto Alegre RS - 5º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
1955 - Porto Alegre RS - 6º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul - medalha de prata
1956 - Porto Alegre RS - 7º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
1956 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio Guggenheim, no MAM/RJ
1957 - Nova York (Estados Unidos) - Guggenheim International Award: 1956, no Solomon R. Guggenheim Museum
1957 - São Paulo SP - 21º Salão Paulista de Belas Artes - prêmio aquisição
1960 - Belo Horizonte MG - 15º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, no MAP - 1º prêmio
1961 - Porto Alegre RS - Arte Rio-Grandense: do passado ao presente, no Instituto de Belas Artes
1962 - Belo Horizonte MG - 17º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, no MAP - 1º prêmio
1962 - Rio de Janeiro RJ - 11º Salão Nacional de Arte Moderna
1963 - São Paulo SP - 12º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1970 - São Paulo SP - 2º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Brasília DF - Arte Gaúcha/74
1982 - Brasília DF - Arte Gaúcha Hoje, na Galeria Oswaldo Goeldi
1982 - Porto Alegre RS - Arte Gaúcha Hoje, no Margs
1982 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Porto Alegre RS - Do Passado ao Presente: as artes plásticas no Rio Grande do Sul, no Cambona Centro de Artes
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1986 - São Paulo SP - Tempo de Madureza, na Ranulpho Galeria de Arte
1989 - Porto Alegre RS - Arte Sul 89, no Margs
1989 - São Paulo SP - Trinta e Três Maneiras de Ver o Mundo, na Ranulpho Galeria de Arte
1990 - São Paulo SP - Frutas, Flores e Cores, na Ranulpho Galeria de Arte
1994 - Porto Alegre RS - De Libindo a Malagoli: as artes visuais na universidade, no Museu da UFRGS
Exposições Póstumas
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1998 - Porto Alegre RS - Acervo: Instituto de Artes 90 Anos, na UFRGS. Instituto de Artes
2000 - Caxias do Sul RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Passo Fundo RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Pelotas RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Santa Maria RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2002 - Porto Alegre RS - Artistas Professores, no Museu da UFRGS
2002 - Porto Alegre RS - Desenhos, Gravuras, Esculturas e Aquarelas, na Garagem de Arte
2003 - Porto Alegre RS - Humanidades, na Galeria Tina Zappoli
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
Fonte: ADO Malagoli. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 14 de julho de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia – Wikipédia
Malagoli formou-se em Artes decorativas na Escola Profissional Masculina do Brás, em 1922. De 1922 a 1928 estudou no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde foi aluno de um dos mais conceituados professores italianos de pintura em São Paulo, o siciliano Giuseppe Barchita. Trabalhou com Francisco Rebolo Gonzáles na execução de painéis decorativos. Nessa época, conheceu Alfredo Volpi e Mario Zanini.
Em 1928, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e, em 1933 passou a integrar o Núcleo Bernardelli, ao lado de João José Rescala, Edson Motta, Milton Dacosta e Joaquim Tenreiro, entre outros.
Em 1942, ganhou o "Prêmio Viagem", concedido pelo Salão Nacional de Belas Artes, e foi para os Estados Unidos, onde permaneceu de 1943 a 1946. Ali cursou História da arte e Museologia, no Fine Arts Institute da Universidade de Columbia, e Organização de Museus, no Brooklin Museum. Em 1946, aconteceu a sua primeira individual, na Careen Gems Gallery, em Nova York. No mesmo ano, retornou ao Brasil e iniciou atividade como professor, em Juiz de Fora. Logo retorna ao Rio de Janeiro e torna-se professor da Associação Brasileira de Desenho.
Em 1952, transferiu-se para Porto Alegre, passando a lecionar pintura no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul até 1976. Assumiu o cargo de superintendente do Ensino Artístico da Secretaria de Educação e Cultura do Estado, tornando-se responsável por toda a Divisão de Cultura da Secretaria. Em 1954, criou o Museu de Arte do Rio Grande do Sul - MARGS, inaugurado em 1957. Integrou a comissão de seleção da Mostra de Arte Gaúcha em 1982.
Em 1997, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul passou a se chamar Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, em homenagem ao seu fundador.
Prêmios
1935 - Menção Honrosa no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1938 – Medalha de Bronze no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1939 - Medalha de Prata no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1942 - Prêmio Viagem ao Exterior no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1948 - Prêmio Euclides da Cunha no Salão Fluminense de Belas Artes, Rio de Janeiro
1948 - Pequena Medalha de Prata no 14º Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo
1949 - Prêmio Arnaldo Guinle no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1949 - Prêmio Viagem no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1950 - Medalha de Prata no Salão Fluminense de Belas Artes, Rio de Janeiro
1950 - Prêmio Alto Mérito no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1951 - Prêmio Municipalidade no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1955 - Medalha de Prata no 6º Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
1956 - Prêmio Guggenheim, MAM/RJ, Rio de Janeiro
1957 - Prêmio Aquisição no 21º Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo
1960 - Primeiro prêmio no 15º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, MAP, Belo Horizonte
1962 - Primeiro prêmio no 17º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, MAP, Belo Horizonte
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 14 de julho de 2022.
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Biografia Ado Malagoli – HACER
“A dor é a única verdade que o homem arrancou da provação da vida. A alegria não faz ninguém feliz, é apenas um relâmpago. O homem só é feliz quando pratica a caridade, o amor ao próximo. É pela dor que a gente sente que está vivo.” – Ado Malagoli.
Ado Malagoli (Araraquara, 28 de abril de 1906 - Porto Alegre, 4 de março de 1994), sem sombra de dúvida, pode ser considerado um dos grandes pintores brasileiros, embora talvez tenha tido menos repercussão nacional que alguns de seus contemporâneos. Deve-se isso, provavelmente, à sua escolha em pintar e ensinar no Rio Grande do Sul. Mas nada diminui a sua arte, ao contrário, a pintura, os artistas e a sociedade gaúcha devem muito a ele. Durante toda a sua trajetória, realizou um trabalho de altíssima qualidade, imprimindo personalidade e um estilo próprio à sua pintura.
Malagoli era uma criança de cinco anos e morava em uma fazenda em Araraquara, no interior de São Paulo, quando perdeu o pai (assassinado durante uma desavença com uma antigo empregado). Na época, tinha oito irmãos, o mais velho com quinze anos, e sua mãe lutou bravamente para sustentar os filhos. A necessidade de sobrevivência fez com que a família se mudasse para a cidade de São Paulo, buscando melhores condições de vida, quando o pintor tinha oito anos de idade.
Em suas telas está presente o verde do campo e dos cafezais e na densidade dramática de suas composições, encontramos um sentimento de tristeza e angústia, que podem ter origem no trágico acontecimento ocorrido em sua infância.
Sobre isso, escreve Fernando Corona, em 1966:
"A expressão assusta enquanto a pintura em si empolga. A riqueza de tonalidades, que o mestre emprega em suas telas, aflora de dentro para fora em belíssimas e ricas harmonias de luz, Parece luz de mistério um tanto dramática, e talvez por isso coerente e apropriada ante ruínas de casarios e miséria humana. Luz de mistério e de poesia encerrando em seu conteúdo uma esperança" – Fernando Corona (CORONA, 1977, p. 135)
O menino que costumava rabiscar as paredes e as calçadas com giz, carvão e torrões de terra, foi matriculado por sua mãe no Curso de Artes Decorativas na Escola Profissional Masculina de São Paulo, onde estudou entre 1919 e 1922. Em seguida frequentou o Liceu de Artes e Ofícios, até 1928. Lá conheceu outros artistas e surgiu a oportunidade do primeiro trabalho como pintor com Francisco Rebolo (1902 - 1980), pintando painéis decorativos em residências, hotéis e restaurantes. Nos finais de semana, juntamente com Alfredo Volpi (1896 - 1988), saiam para os arredores de São Paulo e exercitavam a pintura de paisagens em telas.
Paralelamente, Malagoli sempre exerceu outros trabalhos para sobreviver, chegando inclusive a trabalhar como jornalista e retocando fotografias, na década de 1930, já fixado no Rio de Janeiro, onde havia ingressado na Escola Nacional de Belas Artes. Assim como os modernistas, insurgiu-se contra o academicismo vigente e participou do Núcleo Bernardelli [1], que ajudou a consolidar o modernismo na cidade. Porém, o pintor nunca rompeu com a arte do passado, sabendo utilizar os legados da tradição e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma pintura contemporânea à sua época. Malagoli chegou a tecer críticas ao movimento de 1922: “O Modernismo desenvolveu, em muitos casos, um nacionalismo de rótulo: umas mulatas, umas bananas, uns cocos... tudo isso com formas cubistas recém-importadas de Paris” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 22).
Malagoli expôs pela primeira vez no Salão Nacional de 1934, ao mesmo tempo em que participou das mostras do Núcleo Bernardelli. Em 1935, recebeu menção honrosa pelo quadro “Romântica”. Já formado pela escola Nacional de Belas Artes, conviveu com vários pintores e escritores e participou de todos os Salões Nacionais, tendo recebido medalha de bronze em 1938 com “Numa Casa de Caboclo”; em 1939, medalha de prata com “Nu” e em 1942 recebeu o Prêmio Viagem ao Estrangeiro com “Repouso”. Ao mesmo tempo participou de exposições coletivas em Nova Iorque e Buenos Aires.
Nota-se em duas das obras premiadas uma grande semelhança com as obras do pintor Almeida Júnior (1850 - 1899), principalmente "Caipira Picando Fumo", de 1893, o que indica que Malagoli conhecia e admirava os grandes mestres da pintura no Brasil.
Em 1943 foi para os Estados Unidos, onde cursou por dois anos o Fine Arts Institution of the University of Columbia e realizou estudos em história da arte e museologia. Lá aprimorou seus conhecimentos técnicos e sua concepção de pintura, com quadros figurativos (como arlequins, por exemplo, tema recorrente em suas composições) e paisagens. Sua primeira exposição individual aconteceu em 1946 na Galeria Careen Gems de Nova Iorque, onde todos os quadros foram vendidos. No mesmo ano, voltou ao Brasil e trabalhou como professor em Juiz de Fora (MG) e depois no Rio de Janeiro, na Associação Brasileira de Desenho. Neste período, participou de várias mostras no Brasil e no exterior e recebeu vários prêmios, incluindo o Prêmio de Viagem ao País no Salão Nacional do Rio de Janeiro com o quadro “Por quê?”. Em 1951 expôs na 1ª Bienal de São Paulo.
Em 1952, já casado com sua esposa Ruth, o pintor mudou-se para Porto Alegre (onde viveu até o fim de sua vida) a convite de Ângelo Guido (1893 - 1969), passando a lecionar no Instituto de Artes da UFRGS, onde assumiu a cadeira de Pintura. Foi um dos principais responsáveis pela revitalização do ensino nesta instituição. Quando começou a ensinar na Escola, sofreu críticas de colegas que obedeciam a princípios acadêmicos e fórmulas rígidas. Ele, no entanto, ministrava aulas calcadas na participação dos alunos e no bom relacionamento entre estes e o professor. Até 1976, ano em que se aposentou, formou toda uma geração de pintores que estão hoje entre os principais artistas gaúchos.
Ado Malagoli também é responsável por idealizar o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), criado em 1954 e inaugurado em 1957, do qual foi o primeiro diretor e responsável por trazer grandes exposições para Porto Alegre, como a de Candido Portinari (1903 - 1962), em 1958, a qual atraiu grande público e serviu para consolidar a presença do MARGS no circuito de arte local. Desde 1977, o Museu leva seu nome.
Fiel ao princípio de que o essencial para a arte é a própria arte, Ado Malagoli certa vez afirmou, em entrevista a Jacob Klintowitz, que “[...] A obra de arte surge da aptidão do artista na seleção dos seus principais elementos expressivos, isto é, da forma, cor, composição e matéria” (KLINTOWITZ et al, 1985). Como já apontamos, Malagoli procurava ser contemporâneo, porém sempre permaneceu fiel ao rigor técnico da “tradição acadêmica” da pintura; e embora, algumas vezes, os temas representados apontem um certo caráter regional, sua obra é universal.
Observador atento do mundo à sua volta, o pintor preferia, como revelou em entrevista a Paulo Cabral, em dezembro de 1942, destacar o humano: “A paisagem é bela. Mas a figura humana é tudo. Seus contornos, permitindo uma interpretação humana daquilo que se pinta, os traços psicológicos, característicos de cada um, nada é mais sublime” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 119).
Analisando o conjunto de seu trabalho, percebemos uma obsessão pelo passado, certo saudosismo. Para José Luiz do Amaral, nas telas de Malagoli encontramos uma “[...] síntese tensa e problemática entre o que foi e o que vai ser” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 26). Ado Malagoli foi um homem de seu tempo, sensível aos dramas humanos, colocando-os em destaque em suas obras, como um pensador, numa dimensão quase metafísica.
Assim como afirmou o poeta Mario Quintana (1906-1994), podemos dizer que: " Somos gratos a Malagoli por nos proporcionar tantos pontos de encontro no seu mundo, tornando-o assim - também - o nosso mundo" (KLINTOWITZ et al, 1985)
NOTAS
[1] Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - ENBA, o Núcleo Bernardelli possuía como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. Além de democratizar o ensino, o grupo almejava permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da ENBA, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montaram um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funcionou primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e mudou-se em seguida para os porões da ENBA, onde permaneceu até 1936. Nessa data, transferiu-se para a Rua São José e depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participaram do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979) e Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. (voltar ao texto na nota 1)
Fonte: ROSSI, Elvio Antônio. Fernando Corona. HACER - História da Arte e da Cultura: Estudos e reflexões, Porto Alegre, 2019. Acesso em 18 de março de 2022.
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Ado Malagoli e Ruth Medeiros Cardoso Malagoli – Família Malagoli
Ado Malagoli nasceu em Araraquara, estado de São Paulo no dia 28/04/1906. Filho de Quinto Malagoli e Luiza DallaDea ficou órfão de pai aos 7 anos. Migrou com a mãe e os irmãos para São Paulo, Capital, em 1913.
Aos 9 anos começou a trabalhar em uma serralheria. Nesta serralheria o pequeno Ado começou a esboçar as suas primeiras obras com giz em pedaços de chapa de ferro. O proprietário da serralheria então, chamou a mãe do garoto e lhe perguntou se ela tinha conhecimento do talento do filho e que ele achava por bem que ela deveria colocá-lo em uma escola para que ele pudesse desenvolver todo o seu potencial artístico.
A mãe, por sua vez, respondeu que havia ficado viúva e que não tinha condições financeiras, pois atravessava uma fase difícil, não tendo condições naquele momento de colocá-lo em uma escola.
O proprietário então, pediu-lhe que pensasse bem sobre o assunto pois com todo aquele talento o menino poderia ser a salvação da família. Aquelas palavras foram ditas como que uma profecia e viria futuramente a se cumprir.
Ado Malagoli estudou nos EUA cursando a Universidade de New York depois fez especialização em Belas Artes na Universidade de Columbia.
Casou-se com Ruth Medeiros, natural do Rio de Janeiro e criaram uma única filha.
Ado Malagoli foi considerado pela crítica Paulista e Carioca como o maior pintor Brasileiro vivo nas décadas de 1960 e 70. Foi professor da Universidade do Rio Grande do Sul. Um dos seus quadros mais famosos intitula-se "Porque"e está no Museu Nacional de Belas Artes. Teve também uma fase muito interessante denominada "Casarios e Ruínas ".
Ado Malagoli faleceu em 04/03/1994 sem nunca mais ter voltado à sua terra natal, Araraquara.
Fonte: Relato de Ruth Medeiros Malagoli em 15 de agosto de 2000, "Ado Malagoli e Ruth Medeiros Cardoso Malagoli". Consultado pela última vez em 18 de julho de 2022.
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de ideias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e autorretratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e autorretratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstração. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 18 de Jul. 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Autorretrato Ado Malagoli em 1941, obra do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil. Consultado pela última vez em 18 de julho de 2022.
Ado Malagoli (Araraquara, 28 de abril de 1906 — Porto Alegre, 4 de março de 1994) foi um pintor, professor, restaurador e museólogo brasileiro. Considerado um dos grandes pintores brasileiros, formou-se em Artes Decorativas na Escola Profissional Masculina e cursou o Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo, onde produziu, junto de Francisco Rebolo Gonzáles, diversos painéis decorativos. Neste período, teve contato com Alfredo Volpi e Mario Zanini. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Escola Nacional de Belas Artes e participou do Núcleo Bernardelli, que ajudou a consolidar o modernismo na cidade. Em 1942 recebeu prêmio viagem à Europa no Salão Nacional do Rio de Janeiro, mas em razão da II guerra foi para os Estados Unidos, onde cursou por dois anos o Fine Arts Institution of the University of Columbia e realizou estudos em história da arte e museologia. Veio para Porto Alegre a convite de Angelo Guido em 1953, quando passou a lecionar no Instituto de Artes da UFRGS, onde foi um dos principais responsáveis pela revitalização do ensino nesta instituição. Foi o idealizador e o primeiro diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que hoje leva seu nome. Malagoli tornou-se referência obrigatória no ensino da pintura no Rio Grande do Sul, influenciando toda uma geração de artistas.
Biografia – Itaú Cultural
Em 1922, cursa artes decorativas na Escola Profissional Masculina do Brás, em São Paulo, onde é aluno de Giuseppe Barchita. Entre 1922 e 1928, cursou o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo - Laosp, onde estudou com Enrico Vio (1874 - 1960). Nessa época, entra em contato com Alfredo Volpi (1896 - 1988) e Mario Zanini (1907 - 1971), com os quais costuma pintar paisagens dos arredores da cidade. Trabalhou com Francisco Rebolo (1902 - 1980) na pintura de painéis decorativos. Muda-se para o Rio de Janeiro, e ingressa na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1928. Participou, ainda, da fundação do Núcleo Bernardelli, em 1931. Sua produção é predominantemente figurativa. Em 1942, recebe, no 48º Salão Nacional de Belas Artes - SNBA, o prêmio de viagem ao exterior, e vai para os Estados Unidos, onde permanece por três anos. Cursa história da arte e museologia no Fine Arts Institute, da Universidade de Colúmbia, e organização de museus no Brooklin Museum. Ao retornar ao Brasil, fixou-se em Porto Alegre, após um período de permanência no Rio de Janeiro. Ingressou como professor de pintura no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, no qual atuou entre 1952 e 1976. Criou, em 1954, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, inaugurado em 1957. Em 1997, em homenagem ao fundador, esse museu passa a chamar-se Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli.
Análise
Ado Malagoli participou da fundação do Núcleo Bernardelli no Rio de Janeiro, em 1931. Com uma pintura figurativa, revela a preocupação com questões sociais. Pinta também cenas urbanas, naturezas-mortas, retratos e paisagens.
A produção de Malagoli e de outros artistas ligados ao Núcleo Bernardelli pode ser compreendida dentro dos propósitos do retorno à ordem. Sua obra revela um interesse pela pintura italiana "neo-renascentista", como pode ser notado nos quadros que fazem referência à tradição das Vênus na paisagem. Em suas pinturas, a linha predomina sobre a cor, e o artista representa o corpo humano de forma idealizada.
Malagoli viaja para Porto Alegre em 1952, quando atua também como professor, colaborando na renovação das artes no Rio Grande do Sul e participando da reestruturação do ensino de pintura na Escola de Belas Artes. Cria o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que posteriormente recebe seu nome, e promove importantes exposições, como as de Weingärtner (1853 - 1929) e Candido Portinari (1903 - 1962). Em sua obra madura destacam-se pinturas de casarios e ruínas, de tom expressionista, nas quais às vezes dialoga com a abstração.
Críticas
"Malagoli, como os modernistas, insurgiu-se contra o academicismo estreito que reinava ainda em 30, quando cursou a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Certa vez, foi até posto para fora de aula, sendo obrigado a pintar no corredor, por não concordar com as idéias conservadoras de um dos mestres. Sua atuação junto com os colegas do Núcleo Bernardelli foi, sem sombra de dúvida, revolucionária. Seu trabalho sempre foi inovador. Mas ele nunca rompeu radicalmente com o passado. Sempre procurou a passagem que liga o hoje às bases mais verdadeiras no ontem. Por isso a sua crítica ao modernismo de 22: 'O modernismo desenvolveu, em muitos casos, um nacionalismo de rótulo: umas mulatas, umas bananas, uns cocos. . . tudo isso com formas cubistas recém-importadas de Paris'. Ele nunca embarcou na voga de destrutividade pura e simples que a Semana da Arte Moderna desencadeou. Soube libertar-se do que era desnecessário e sem importância, mantendo os legados mais férteis da tradição que lhe permitira alcançar melhor expressão do presente. Seus quadros conservam o sabor da pintura de outras épocas ao mesmo tempo que o situam como um pintor claramente contemporâneo. Dessa maneira, o brasileiro Ado Malagoli conservou-se sempre um europeu; o moderno pintor de cenas e dramas nacionais coloca-se, como um clássico, a serviço da expressão de verdades universais; o menino Ado já trazia a idade de um velho italiano e o homem maduro de hoje ainda convive com os temas e as preocupações do menino de ontem. A muitos têm confundido essas aparentes contradições. Elas têm sua resolução, entretanto, numa lúcida visão histórica e num intenso sentimento da temporalidade que transformam as telas de Malagoli numa síntese tensa e problemática entre o que foi e o que vai ser" — José Luiz do Amaral Neto (AMARAL NETO, José Luiz. O artesão de sonhos. In: MALAGOLI, Ado; QUINTANA, Mario. Ado Malagoli visto por Mário Quintana. Rio de Janeiro: L. Christiano, 1985. p. 22-26).
Depoimentos
"A obra de arte surge da aptidão do artista na seleção dos seus principais elementos expressivos, isto é, da forma, cor, composição e matéria. Esses elementos são eternos e nivelam a arte dos dias de hoje às concepções dos grandes gênios da pintura de todos os tempos.
Eu vejo em todas as artes uma intensificação de vida. Graças à arte, não conto quanto falta para o meu enfarte. Se ele vier, vai me pegar no cavalete. Numa outra atividade qualquer, as pessoas envelhecem, se aposentam, ficam contando os dias que faltam para sua morte sentadas numa praça pública. Se elas tivessem enriquecido o espírito, não precisariam ficar procurando uma maneira de se distrair. O lazer do artista é a sua obra.
(...)
Enquanto estou trabalhando me sinto muito envolvido com a tela. Mas depois de terminada, me desligo quase que completamente. No meu modo de ver, arte é um todo, como um grande edifício composto de várias salas, por onde a gente circula. Um quadro é apenas uma antessala de outro quadro. A trajetória de um indivíduo deve ser vista como uma integridade. Há sempre uma obra em andamento a reclamar minha atenção" — Ado Malagoli (MALAGOLI, Ado. Ado Malagoli. In: MALAGOLI, Ado; QUINTANA, Mario. Ado Malagoli visto por Mário Quintana. Rio de Janeiro: L. Christiano, 1985. [Trecho extraído da orelha do livro]).
Exposições Individuais
1946 - Nova York (Estados Unidos) - Individual, na Careen Gems Gallery
1948 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Palace Hotel
1949 - Curitiba PR - Individual
1949 - Rio de Janeiro Individual, na Galeria Calvino
1950 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria de Arte Casa das Molduras
1955 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Xavier da Silveira
1963 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Domus
1965 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Oca
1965 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Oca
1966 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Leopoldina
1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Oca
1967 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Leopoldina
1970 - São Paulo SP - Individual, na Azulão Galeria
1971 - Porto Alegre RS - Individual, na Esphera Galeria de Arte
1974 - Belo Horizonte MG - Individual, na Ami Galeria de Arte
1975 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Guignard
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Oficina Galeria de Arte
1979 - Porto Alegre RS - Individual, na Associação Leopoldina Juvenil
1981 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte da Gávea
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Documentos, no Margs
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Retrospectiva, na Galeria Tina Zappoli
1982 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli 60 Anos de Pintura. Trabalho Atual, no Cambona Centro de Artes
1985 - São Paulo SP - Ado Malagoli: retrospectiva, no Masp
1986 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli: retrospectiva, no Margs
1989 - Porto Alegre RS - Ado Malagoli: retrospectiva, no Espaço Cultural Banco Francês e Brasileiro
1990 - Rio de Janeiro RJ - Ado Malagoli: retrospectiva, na Vila Bernini Galeria
Exposições Coletivas
1934 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes, na Enba
1934 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Belas Artes, na Rua 11 de Agosto
1935 - Rio de Janeiro RJ - 41º Salão Nacional de Belas Artes, Enba - menção honrosa
1935 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão do Núcleo Bernardelli, na Enba
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1938 - Rio de Janeiro RJ - 44º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de bronze
1939 - Nova York (Estados Unidos) - Feira Mundial de Nova York
1939 - Rio de Janeiro RJ - 45º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de prata
1942 - Rio de Janeiro RJ - 48º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - prêmio viagem ao exterior
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1947 - Paris (França) - Salão de Outono, no Grand Palais
1948 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - Prêmio Euclides da Cunha
1948 - São Paulo SP - 14º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia - pequena medalha de prata
1949 - Curitiba PR - 6º Salão Paranaense de Belas Artes, no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto
1949 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Municipal de Belas Artes, no Ministério da Educação e Saúde - Prêmio Arnaldo Guinle
1949 - Rio de Janeiro RJ - 55º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - prêmio viagem ao país
1949 - São Paulo SP - 15º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1950 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - medalha de prata
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão Municipal de Belas Artes - prêmio alto mérito
1951 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão Municipal de Belas Artes - Prêmio Municipalidade
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon
1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ
1954 - Porto Alegre RS - 5º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
1955 - Porto Alegre RS - 6º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul - medalha de prata
1956 - Porto Alegre RS - 7º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
1956 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio Guggenheim, no MAM/RJ
1957 - Nova York (Estados Unidos) - Guggenheim International Award: 1956, no Solomon R. Guggenheim Museum
1957 - São Paulo SP - 21º Salão Paulista de Belas Artes - prêmio aquisição
1960 - Belo Horizonte MG - 15º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, no MAP - 1º prêmio
1961 - Porto Alegre RS - Arte Rio-Grandense: do passado ao presente, no Instituto de Belas Artes
1962 - Belo Horizonte MG - 17º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, no MAP - 1º prêmio
1962 - Rio de Janeiro RJ - 11º Salão Nacional de Arte Moderna
1963 - São Paulo SP - 12º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1970 - São Paulo SP - 2º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Brasília DF - Arte Gaúcha/74
1982 - Brasília DF - Arte Gaúcha Hoje, na Galeria Oswaldo Goeldi
1982 - Porto Alegre RS - Arte Gaúcha Hoje, no Margs
1982 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Porto Alegre RS - Do Passado ao Presente: as artes plásticas no Rio Grande do Sul, no Cambona Centro de Artes
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1986 - São Paulo SP - Tempo de Madureza, na Ranulpho Galeria de Arte
1989 - Porto Alegre RS - Arte Sul 89, no Margs
1989 - São Paulo SP - Trinta e Três Maneiras de Ver o Mundo, na Ranulpho Galeria de Arte
1990 - São Paulo SP - Frutas, Flores e Cores, na Ranulpho Galeria de Arte
1994 - Porto Alegre RS - De Libindo a Malagoli: as artes visuais na universidade, no Museu da UFRGS
Exposições Póstumas
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1998 - Porto Alegre RS - Acervo: Instituto de Artes 90 Anos, na UFRGS. Instituto de Artes
2000 - Caxias do Sul RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Passo Fundo RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Pelotas RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Santa Maria RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2002 - Porto Alegre RS - Artistas Professores, no Museu da UFRGS
2002 - Porto Alegre RS - Desenhos, Gravuras, Esculturas e Aquarelas, na Garagem de Arte
2003 - Porto Alegre RS - Humanidades, na Galeria Tina Zappoli
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
Fonte: ADO Malagoli. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 14 de julho de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia – Wikipédia
Malagoli formou-se em Artes decorativas na Escola Profissional Masculina do Brás, em 1922. De 1922 a 1928 estudou no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde foi aluno de um dos mais conceituados professores italianos de pintura em São Paulo, o siciliano Giuseppe Barchita. Trabalhou com Francisco Rebolo Gonzáles na execução de painéis decorativos. Nessa época, conheceu Alfredo Volpi e Mario Zanini.
Em 1928, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e, em 1933 passou a integrar o Núcleo Bernardelli, ao lado de João José Rescala, Edson Motta, Milton Dacosta e Joaquim Tenreiro, entre outros.
Em 1942, ganhou o "Prêmio Viagem", concedido pelo Salão Nacional de Belas Artes, e foi para os Estados Unidos, onde permaneceu de 1943 a 1946. Ali cursou História da arte e Museologia, no Fine Arts Institute da Universidade de Columbia, e Organização de Museus, no Brooklin Museum. Em 1946, aconteceu a sua primeira individual, na Careen Gems Gallery, em Nova York. No mesmo ano, retornou ao Brasil e iniciou atividade como professor, em Juiz de Fora. Logo retorna ao Rio de Janeiro e torna-se professor da Associação Brasileira de Desenho.
Em 1952, transferiu-se para Porto Alegre, passando a lecionar pintura no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul até 1976. Assumiu o cargo de superintendente do Ensino Artístico da Secretaria de Educação e Cultura do Estado, tornando-se responsável por toda a Divisão de Cultura da Secretaria. Em 1954, criou o Museu de Arte do Rio Grande do Sul - MARGS, inaugurado em 1957. Integrou a comissão de seleção da Mostra de Arte Gaúcha em 1982.
Em 1997, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul passou a se chamar Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, em homenagem ao seu fundador.
Prêmios
1935 - Menção Honrosa no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1938 – Medalha de Bronze no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1939 - Medalha de Prata no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1942 - Prêmio Viagem ao Exterior no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1948 - Prêmio Euclides da Cunha no Salão Fluminense de Belas Artes, Rio de Janeiro
1948 - Pequena Medalha de Prata no 14º Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo
1949 - Prêmio Arnaldo Guinle no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1949 - Prêmio Viagem no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1950 - Medalha de Prata no Salão Fluminense de Belas Artes, Rio de Janeiro
1950 - Prêmio Alto Mérito no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1951 - Prêmio Municipalidade no Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro
1955 - Medalha de Prata no 6º Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
1956 - Prêmio Guggenheim, MAM/RJ, Rio de Janeiro
1957 - Prêmio Aquisição no 21º Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo
1960 - Primeiro prêmio no 15º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, MAP, Belo Horizonte
1962 - Primeiro prêmio no 17º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, MAP, Belo Horizonte
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 14 de julho de 2022.
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Biografia Ado Malagoli – HACER
“A dor é a única verdade que o homem arrancou da provação da vida. A alegria não faz ninguém feliz, é apenas um relâmpago. O homem só é feliz quando pratica a caridade, o amor ao próximo. É pela dor que a gente sente que está vivo.” – Ado Malagoli.
Ado Malagoli (Araraquara, 28 de abril de 1906 - Porto Alegre, 4 de março de 1994), sem sombra de dúvida, pode ser considerado um dos grandes pintores brasileiros, embora talvez tenha tido menos repercussão nacional que alguns de seus contemporâneos. Deve-se isso, provavelmente, à sua escolha em pintar e ensinar no Rio Grande do Sul. Mas nada diminui a sua arte, ao contrário, a pintura, os artistas e a sociedade gaúcha devem muito a ele. Durante toda a sua trajetória, realizou um trabalho de altíssima qualidade, imprimindo personalidade e um estilo próprio à sua pintura.
Malagoli era uma criança de cinco anos e morava em uma fazenda em Araraquara, no interior de São Paulo, quando perdeu o pai (assassinado durante uma desavença com uma antigo empregado). Na época, tinha oito irmãos, o mais velho com quinze anos, e sua mãe lutou bravamente para sustentar os filhos. A necessidade de sobrevivência fez com que a família se mudasse para a cidade de São Paulo, buscando melhores condições de vida, quando o pintor tinha oito anos de idade.
Em suas telas está presente o verde do campo e dos cafezais e na densidade dramática de suas composições, encontramos um sentimento de tristeza e angústia, que podem ter origem no trágico acontecimento ocorrido em sua infância.
Sobre isso, escreve Fernando Corona, em 1966:
"A expressão assusta enquanto a pintura em si empolga. A riqueza de tonalidades, que o mestre emprega em suas telas, aflora de dentro para fora em belíssimas e ricas harmonias de luz, Parece luz de mistério um tanto dramática, e talvez por isso coerente e apropriada ante ruínas de casarios e miséria humana. Luz de mistério e de poesia encerrando em seu conteúdo uma esperança" – Fernando Corona (CORONA, 1977, p. 135)
O menino que costumava rabiscar as paredes e as calçadas com giz, carvão e torrões de terra, foi matriculado por sua mãe no Curso de Artes Decorativas na Escola Profissional Masculina de São Paulo, onde estudou entre 1919 e 1922. Em seguida frequentou o Liceu de Artes e Ofícios, até 1928. Lá conheceu outros artistas e surgiu a oportunidade do primeiro trabalho como pintor com Francisco Rebolo (1902 - 1980), pintando painéis decorativos em residências, hotéis e restaurantes. Nos finais de semana, juntamente com Alfredo Volpi (1896 - 1988), saiam para os arredores de São Paulo e exercitavam a pintura de paisagens em telas.
Paralelamente, Malagoli sempre exerceu outros trabalhos para sobreviver, chegando inclusive a trabalhar como jornalista e retocando fotografias, na década de 1930, já fixado no Rio de Janeiro, onde havia ingressado na Escola Nacional de Belas Artes. Assim como os modernistas, insurgiu-se contra o academicismo vigente e participou do Núcleo Bernardelli [1], que ajudou a consolidar o modernismo na cidade. Porém, o pintor nunca rompeu com a arte do passado, sabendo utilizar os legados da tradição e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma pintura contemporânea à sua época. Malagoli chegou a tecer críticas ao movimento de 1922: “O Modernismo desenvolveu, em muitos casos, um nacionalismo de rótulo: umas mulatas, umas bananas, uns cocos... tudo isso com formas cubistas recém-importadas de Paris” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 22).
Malagoli expôs pela primeira vez no Salão Nacional de 1934, ao mesmo tempo em que participou das mostras do Núcleo Bernardelli. Em 1935, recebeu menção honrosa pelo quadro “Romântica”. Já formado pela escola Nacional de Belas Artes, conviveu com vários pintores e escritores e participou de todos os Salões Nacionais, tendo recebido medalha de bronze em 1938 com “Numa Casa de Caboclo”; em 1939, medalha de prata com “Nu” e em 1942 recebeu o Prêmio Viagem ao Estrangeiro com “Repouso”. Ao mesmo tempo participou de exposições coletivas em Nova Iorque e Buenos Aires.
Nota-se em duas das obras premiadas uma grande semelhança com as obras do pintor Almeida Júnior (1850 - 1899), principalmente "Caipira Picando Fumo", de 1893, o que indica que Malagoli conhecia e admirava os grandes mestres da pintura no Brasil.
Em 1943 foi para os Estados Unidos, onde cursou por dois anos o Fine Arts Institution of the University of Columbia e realizou estudos em história da arte e museologia. Lá aprimorou seus conhecimentos técnicos e sua concepção de pintura, com quadros figurativos (como arlequins, por exemplo, tema recorrente em suas composições) e paisagens. Sua primeira exposição individual aconteceu em 1946 na Galeria Careen Gems de Nova Iorque, onde todos os quadros foram vendidos. No mesmo ano, voltou ao Brasil e trabalhou como professor em Juiz de Fora (MG) e depois no Rio de Janeiro, na Associação Brasileira de Desenho. Neste período, participou de várias mostras no Brasil e no exterior e recebeu vários prêmios, incluindo o Prêmio de Viagem ao País no Salão Nacional do Rio de Janeiro com o quadro “Por quê?”. Em 1951 expôs na 1ª Bienal de São Paulo.
Em 1952, já casado com sua esposa Ruth, o pintor mudou-se para Porto Alegre (onde viveu até o fim de sua vida) a convite de Ângelo Guido (1893 - 1969), passando a lecionar no Instituto de Artes da UFRGS, onde assumiu a cadeira de Pintura. Foi um dos principais responsáveis pela revitalização do ensino nesta instituição. Quando começou a ensinar na Escola, sofreu críticas de colegas que obedeciam a princípios acadêmicos e fórmulas rígidas. Ele, no entanto, ministrava aulas calcadas na participação dos alunos e no bom relacionamento entre estes e o professor. Até 1976, ano em que se aposentou, formou toda uma geração de pintores que estão hoje entre os principais artistas gaúchos.
Ado Malagoli também é responsável por idealizar o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), criado em 1954 e inaugurado em 1957, do qual foi o primeiro diretor e responsável por trazer grandes exposições para Porto Alegre, como a de Candido Portinari (1903 - 1962), em 1958, a qual atraiu grande público e serviu para consolidar a presença do MARGS no circuito de arte local. Desde 1977, o Museu leva seu nome.
Fiel ao princípio de que o essencial para a arte é a própria arte, Ado Malagoli certa vez afirmou, em entrevista a Jacob Klintowitz, que “[...] A obra de arte surge da aptidão do artista na seleção dos seus principais elementos expressivos, isto é, da forma, cor, composição e matéria” (KLINTOWITZ et al, 1985). Como já apontamos, Malagoli procurava ser contemporâneo, porém sempre permaneceu fiel ao rigor técnico da “tradição acadêmica” da pintura; e embora, algumas vezes, os temas representados apontem um certo caráter regional, sua obra é universal.
Observador atento do mundo à sua volta, o pintor preferia, como revelou em entrevista a Paulo Cabral, em dezembro de 1942, destacar o humano: “A paisagem é bela. Mas a figura humana é tudo. Seus contornos, permitindo uma interpretação humana daquilo que se pinta, os traços psicológicos, característicos de cada um, nada é mais sublime” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 119).
Analisando o conjunto de seu trabalho, percebemos uma obsessão pelo passado, certo saudosismo. Para José Luiz do Amaral, nas telas de Malagoli encontramos uma “[...] síntese tensa e problemática entre o que foi e o que vai ser” (KLINTOWITZ et al, 1985, p. 26). Ado Malagoli foi um homem de seu tempo, sensível aos dramas humanos, colocando-os em destaque em suas obras, como um pensador, numa dimensão quase metafísica.
Assim como afirmou o poeta Mario Quintana (1906-1994), podemos dizer que: " Somos gratos a Malagoli por nos proporcionar tantos pontos de encontro no seu mundo, tornando-o assim - também - o nosso mundo" (KLINTOWITZ et al, 1985)
NOTAS
[1] Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - ENBA, o Núcleo Bernardelli possuía como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. Além de democratizar o ensino, o grupo almejava permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da ENBA, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montaram um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funcionou primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e mudou-se em seguida para os porões da ENBA, onde permaneceu até 1936. Nessa data, transferiu-se para a Rua São José e depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participaram do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979) e Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. (voltar ao texto na nota 1)
Fonte: ROSSI, Elvio Antônio. Fernando Corona. HACER - História da Arte e da Cultura: Estudos e reflexões, Porto Alegre, 2019. Acesso em 18 de março de 2022.
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Ado Malagoli e Ruth Medeiros Cardoso Malagoli – Família Malagoli
Ado Malagoli nasceu em Araraquara, estado de São Paulo no dia 28/04/1906. Filho de Quinto Malagoli e Luiza DallaDea ficou órfão de pai aos 7 anos. Migrou com a mãe e os irmãos para São Paulo, Capital, em 1913.
Aos 9 anos começou a trabalhar em uma serralheria. Nesta serralheria o pequeno Ado começou a esboçar as suas primeiras obras com giz em pedaços de chapa de ferro. O proprietário da serralheria então, chamou a mãe do garoto e lhe perguntou se ela tinha conhecimento do talento do filho e que ele achava por bem que ela deveria colocá-lo em uma escola para que ele pudesse desenvolver todo o seu potencial artístico.
A mãe, por sua vez, respondeu que havia ficado viúva e que não tinha condições financeiras, pois atravessava uma fase difícil, não tendo condições naquele momento de colocá-lo em uma escola.
O proprietário então, pediu-lhe que pensasse bem sobre o assunto pois com todo aquele talento o menino poderia ser a salvação da família. Aquelas palavras foram ditas como que uma profecia e viria futuramente a se cumprir.
Ado Malagoli estudou nos EUA cursando a Universidade de New York depois fez especialização em Belas Artes na Universidade de Columbia.
Casou-se com Ruth Medeiros, natural do Rio de Janeiro e criaram uma única filha.
Ado Malagoli foi considerado pela crítica Paulista e Carioca como o maior pintor Brasileiro vivo nas décadas de 1960 e 70. Foi professor da Universidade do Rio Grande do Sul. Um dos seus quadros mais famosos intitula-se "Porque"e está no Museu Nacional de Belas Artes. Teve também uma fase muito interessante denominada "Casarios e Ruínas ".
Ado Malagoli faleceu em 04/03/1994 sem nunca mais ter voltado à sua terra natal, Araraquara.
Fonte: Relato de Ruth Medeiros Malagoli em 15 de agosto de 2000, "Ado Malagoli e Ruth Medeiros Cardoso Malagoli". Consultado pela última vez em 18 de julho de 2022.
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de ideias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e autorretratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e autorretratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstração. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 18 de Jul. 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Autorretrato Ado Malagoli em 1941, obra do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil. Consultado pela última vez em 18 de julho de 2022.