Darel Valença Lins (Palmares, PE, 7 de dezembro de 1924 — 9 de dezembro de 2017, Rio de Janeiro, RJ), mais conhecido como Darel, foi um pintor, desenhista, gravador, ilustrador e professor de artes plásticas brasileiro. Formado na Escola de Belas Artes do Recife, iniciou a carreira artística atuando com desenhos, trabalhando com ilustração de periódicos. Lecionou gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo – MASP, litografia na Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, no Rio de Janeiro, na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado – Faap, em São Paulo. Sua obra é conhecida mundialmente, em especial na Itália, onde realizou doze murais para a cidade de Reggio Emilia. Ganhou o prêmio gravura no 1º Salão de Arte Moderna do Recife, prêmio viagem ao país e prêmio viagem ao exterior, no Salão Nacional de Arte Moderna, prêmio melhor desenhista nacional na 7ª Bienal Internacional de São Paulo e recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo, pelo melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy.
Biografia — Itaú Cultural
Estudou na Escola de Belas Artes do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, entre 1941 e 1942, e atua como desenhista técnico. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1946. Estudou gravura em metal com Henrique Oswald (1918 - 1965) no Liceu de Artes e Ofícios, em 1948.
Dois anos depois, entra em contato com Oswaldo Goeldi (1895 - 1961). Atua como ilustrador em diversos periódicos, como a revista Manchete e os jornais Última Hora e Diário de Notícias.
Entre 1953 e 1966, encarrega-se das publicações da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. Com o prêmio de viagem ao exterior, recebido no Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM do Rio de Janeiro, em 1957, viaja para a Itália, onde permanece até 1960.
Ilustra diversos livros, como Memórias de um Sargento de Milícias, 1957, de Manuel Antônio de Almeida (1831 - 1861); Poranduba Amazonense, 1961, de Barbosa Rodrigues (1842 - 1909); São Bernardo, 1992, de Graciliano Ramos (1892 - 1953); e A Polaquinha, 2002, de Dalton Trevisan (1925).
Leciona gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1951; litografia na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, entre 1955 e 1957; e na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, em São Paulo, de 1961 a 1964.
Entre 1968 e 1969, realizou painéis como os do Palácio dos Arcos, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
Comentário Crítico
Darel dedica-se a várias técnicas (desenhos, gravuras e pinturas), apresentando uma produção marcada por dois temas principais: as cidades imaginárias e os anjos e as máquinas. Como nota o crítico Frederico Morais, as cidades criadas por Darel são vistas do alto ou à distância. O artista não descreve locais específicos, apenas insinua casas, ruas ou edifícios. A figura humana também não é nítida, aparece como arabesco ou mancha. A partir da década de 1970, ocorre uma mudança em sua produção: o que estava distante se aproxima, e as figuras também se tornam mais concretas. Na opinião do crítico Roberto Pontual, tanto as paisagens do casario de favelas, quanto as vistas das cidades da Itália e os anjos em luta com as máquinas, revelam o interesse caracteristicamente expressionista do artista pela dinâmica do claro-escuro e do cheio-vazio. A produção de Darel aproxima-se, em algumas obras, do realismo fantástico.
Críticas
"O figurativismo, em Darel, não se reduz a ponto de chegada, como se desejasse fixar o real na sua evidência imediata; trata-se, pelo contrário, de instrumento para o comentário e a transcendência, submetendo-o às vezes à atenuação do dispositivo dramatizante por intermédio de indícios construtivos ou, mais comumente, adensando-o no rumo do realismo fantástico. Assim, tanto as paisagens do casario de favelas, suspensas no ar do papel, quanto as vistas que evocam velhas cidades da Espanha e da Itália, pesadas de tempo; tanto os anjos em diálogo e luta com a máquina, espírito tocando a matéria, quanto a demonologia liberada na pintura de agora, alquimicamente armada de cores e angústia, é a agilidade caligráfica de Darel, seu interesse caracteristicamente expressionista pelo claro-escuro e pelo cheio-vazio, o que mais se evidencia como propósito e método. Atrai-lhe sobretudo, segundo suas próprias palavras, organizar, 'dentro de um clima poético, pássaros e máquinas, máquinas e gente, gente e topografia e cidades. Numa outra esfera, transparece a influência do meio social em que vivo, tudo o que esteja relacionado com a realidade do homem. Evidentemente, não me ligo às formas estereotipadas da natureza, nem às fontes de inspiração e imagens tradicionais. Sou assediado por idéias que surgem com força irreprimível e que devem ser traduzidas por sinais inventados". – Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Arte/Brasil/hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973).
"Visceralmente comprometido com a figura humana, Darel só veio a desenhar as primeiras paisagens na Espanha quando lá estava cumprindo o prêmio de viagem que recebeu no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1957. ´A paisagem européia me falava ao lápis´, explica, e acrescenta: ´Ou talvez porque não houvesse canavial nem todo aquele drama social que vivi no interior pernambucano´. Na paisagem de Darel a cidade se organiza no longe, vista do alto, a distância. Ele não descreve situações específicas, apenas insinua edifícios, casas, ruas, becos e roldanas, rampas, fios. É que uma cidade funciona como máquina absurda, triturando o homem como no interior de uma engrenagem. A partir de 1978 ocorrem mudanças em seu trabalho. O que estava distante (cidade) se aproxima, o que flutuava (o anjo e/ou figura de mulher bifacial) baixa à Terra, se faz de carne e osso. O que estava apenas insinuado adquire nitidez, a cor penetra seu desenho. É como se Darel tivesse decidido percorrer as ruas de sua cidade imaginária, disposto a conhecer sua gente, homens e mulheres, cenários e prostíbulos. A cidade ficou real, existe, tem um nome: É Imbariê, na Baixada Fluminense". – Frederico Morais (MORAIS, Frederico. Dacoleção: os caminhos da arte brasileira. Introdução de Cesar Luis Pires de Mello. São Paulo: Júlio Bogoricin Imóveis, c1986).
"Não há dúvida que existe um mundo, uma visão cósmica original e pessoal inerente à linguagem visual de Darel no desenho e na gravura, na pintura a óleo e nas aquarelas, a cidade emerge com seus recantos escondidos e seus monumentos símbolos. A vida urbana atinge uma dramaticidade coral, onde a pluralidade dos elementos plásticos espelha a multiplicidade de sujeitos operantes na alma do autor, as vivências disparadas, as influências cruzadas da metrópole encontram e vivem numa forma de traços incisivos e rápidos, no desenho, nos numerosos e limitados campos de cor, na pintura". – Pedro Manuel Gismondi (GISMONDI, Pedro Manuel. [texto]. In: O Estado dos Afetos : desenho e gravura. Curitiba, 1991. Texto de apresentação da mostra individual, realizada na Galeria Seta, em 1965.)
"(...) beleza e pesadelo marcam a obra de Darel. Como se podem unir estas duas palavras - só Darel sabe porque ele vive os seus sonhos, não como homem irreal, mas como um homem. Quem habita as enormes cidades senão o próprio DareI que sonha e idealiza? Sonhar e idealizar são o ideal de um homem, de uma mulher. Em DareI, além da parte artística propriamente, há uma preocupação com a totalidade do ser humano na sua plenitude. O choque impotente do indivíduo diante da máquina. As cidades escuras onde uma ou outra janela de luz acesa atestam que elas são habitadas. Psicanalisado ou não, trata-se de um grande artista e tenho o que falar no resplandecente mistério de sua obra. Dela emana, tanto da gravura quanto do óleo e do desenho, o grande mistério de viver". – Clarice Lispector (LISPECTOR, Clarice. Gravuras de Darel [álbum], edição única realizada por Julio Pacello, 1968. In: TRÊS mestres da gravura em metal : Darel, Grassmann, Gruber. São Paulo, 1995).
Depoimentos
"Comecei, então, a aprender gravura. Conheci Poty, Goeldi, Augusto Rodrigues, Iberê Camargo e Henrique Oswald, que foi meu primeiro professor, eu o chamava de Lilico. Morreu moço. (...)
Aprendi gravura com Henrique Oswald no Liceu de Artes e Ofícios, onde não se pagava nada, havia material e uma prensa fabulosa. Eu me lembro de que quando entrei e vi um cara fazendo uma gravura, pensei logo: 'Isso é uma barbada'. E fiz uma gravurinha. Quando tirei a prova, me decepcionei. Aquilo era uma coisa dificílima. (...)
Não se fazia mais litografia nos anos 50, ela havia entrado num período de decadência total. Na década de 40, a litografia era o que estampava as revistas O Malho, A Semana. Era o off-set da época. Era usada não como trabalho artístico, mas na imprensa. (...)
Daí comprei uma prensa e a instalei na rua Taylor, na Lapa, buscando ressuscitar a lito no sentido artístico. Eu me lembrava de Munch, o pintor norueguês que fazia litografia nos anos 10 como expressão de arte.
Nessa oficina, eu só fazia litografia; era professor não vinculado às Belas Artes, era professor livre e fazia questão de sê-lo. Eu não queria ser professor da Enba. Queria mostrar também que a lito era uma forma de expressão de arte e não um mero processo de reprodução. (...)
Três grandes gravadores de madeira no Brasil, na minha opinião, são Goeldi, Lívio Abramo e Marcelo Grassmann. (...) Grassmann fazia a coisa aparentemente simples. O corte era em fio comprido, negócio muito simples, a expressão dele é uma coisa! O Lívio Abramo era o próprio requinte, tinha 300 pecinhas para cortar e fazia em topo. Fez muita coisa em cima de topo, todo cheio de impressionismo (...).
Quando comecei a fazer litografia, achava que o litógrafo era um sujeito que desenhava e estampava, e quebrei a cara. (...) Percebi (...) que existe uma divisão: há o litógrafo e há o estampador. Isso aconteceu quando tive uma luz e argumentei comigo mesmo: 'Pelo tamanho do Lautrec, pelo seu físico, se não fossem os estampadores ele jamais teria feito uma litografia'. Hoje em dia é indispensável o estampador. Há, inclusive, os que sabem lidar com a pedra.
O artista, o litógrafo, conhece toda a química da litografia. Lautrec dizia: 'Aprende-se a fazer litografia em duas horas e faz-se uma litografia em seis anos'. Ele conhecia bem a questão. Hoje existe a chamada PA, prova do artista. Ele fica junto ao estampador, realizando várias tentativas de botar os seus negros, de escolher os seus vermelhos, os seus azuis. Uma vez definida a cor, as tonalidades, se vai ser em grafite ou preto denso, isso ou aquilo, ele faz a PA. O artista não fica sobre a prensa para fazer 300 litografias". – Darel Valença Lins - [Sesc Tijuca, 21 de dezembro de 1986]. GRAVURA brasileira hoje II : depoimentos. Rio de Janeiro : Oficina de gravura SESC-Tijuca, 1995. v. 2
Exposições Individuais
1949 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Biblioteca Nacional
1951 - Recife PE - Darel: pintura e desenho, no Gabinete Português de Leitura
1952 - Milão (Itália) - Darel, na Galeria Stendhal
1953 - São Paulo SP - Darel: gravura em metal, no Masp
1958 - Roma (Itália) - Individual, na Galeria Il Siparietto
1960 - São Paulo SP - Darel: desenhos, na Galeria São Luís
1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Petite Galerie
1963 - Buenos Aires (Argentina) - Individual, na Galeria Lascaux
1963 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Petite Galerie
1964 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Petite Galerie
1965 - Roma (Itália) - Darel: aquarela, desenho e gravura, na Galeria de Arte da Casa do Brasil
1965 - Roma (Itália) - Darel: desenho e aquarela, no Pallazzo Doria Panphili
1965 - São Paulo SP - Darel: aquarela, na Seta Galeria de Arte
1966 - Olinda PE - Darel: pinturas, no MAC/PE
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1968 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas, no Gabinete Barcinski
1969 - Rio de Janeiro RJ - Estudos dos Painéis para o Palácio dos Arcos, no MAM/RJ
1969 - São Paulo SP - Darel: pintura e desenhos, na Galeria Cosme Velho
1970 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Grupo B
1972 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Cosme Velho
1972 - São Paulo SP - Individual, na Galeria No Sobrado
1973 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas, na Galeria Vernissage
1973 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Múltipla de Arte
1975 - Bruxelas (Bélgica) - Darel: desenhos e aquarelas, no Palais de Beaux-Arts
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Oficina de Arte
1977 - Copenhague (Dinamarca) - Darel: desenhos e aquarelas, na Cat Galeria
1978 - São Paulo SP - Darel: desenhos e aquarelas, na Cristina Faria de Paula Galeria de Arte
1979 - Rio de Janeiro RJ - Darel: desenhos e aquarelas, na Galeria Gravura Brasileira
1980 - Curitiba PR - Darel 1970-1980, na Biblioteca Pública do Paraná
1981 - Porto Alegre RS - Darel: aquarela, gravura e têmpera, na Galeria do Centro Comercial de Porto Alegre
1981 - Porto Alegre RS - Darel: pintura, desenho e litografia, na Galeria Guignard
1981 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Galeria César Aché
1981 - São Paulo SP - Darel: desenhos, na Galeria Ars Artis
1982 - Vitória ES - Darel: litos e desenhos recentes, na Galeria de Arte e Pesquisa da Ufes
1985 - Recife PE - Darel: 30 anos depois, na Galeria Futuro 25
1985 - Rio de Janeiro RJ - Darel: litografias, na Galeria Gravura Brasileira
1985 - São Paulo SP - Darel: pinturas e desenhos recentes, na Galeria Alberto Bonfiglioli
1986 - Rio de Janeiro RJ - Darel: litografias, na Galeria Paulo Cunha
1987 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas
1987 - São Paulo SP - Darel: gravuras em metal e litografias, na Galeria Intersul
1988 - Rio de Janeiro RJ - Darel: década de 70
1990 - Rio de Janeiro RJ - Individual
1991 - Curitiba PR - O Estado dos Afetos, na Sala Miguel Bakun IV
1991 - Curitiba PR - O Estado dos Afetos, no Solar do Rosário
1991 - Rio de Janeiro RJ - Darel: gravura em metal e lito, no MNBA
1991 - São Paulo SP - Darel: o espaço do artista quando jovem, no Paço das Artes
1996 - Rio de Janeiro RJ - Darel: desenho, gravura em metal e lito, no Instituto Cultural Villa Maurina
1999 - Rio de Janeiro RJ - Darel: gravura fotomontagem lito e plotagem
Exposições Coletivas
1948 - Rio de Janeiro RJ - 54º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de bronze em gravura
1952 - Feira de Santana BA - 1ª Exposição de Arte Moderna de Feira de Santana, no Banco Econômico
1952 - Recife PE - 1º Salão de Arte Moderna do Recife - prêmio gravura
1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna - prêmio viagem ao país
1952 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Artistas Brasileiros, no MAM/RJ
1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais
1954 - Rio de Janeiro RJ - Salão Preto e Branco, no Palácio da Cultura
1956 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Ferroviário , no MEC
1957 - Rio de Janeiro RJ - 6º Salão Nacional de Arte Moderna - prêmio viagem ao exterior
1958 - Rio de Janeiro RJ - Salão do Mar
1961- São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1962 - São Paulo SP - Marcelo Grassmann, Eduardo Sued, Oswaldo Goeldi e Darel, na Galeria Residência
1962 - São Paulo SP - Seleção de Obras de Arte Brasileira da Coleção Ernesto Wolf, no MAM/SP
1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal - prêmio melhor desenhista nacional
1963 - São Paulo SP - Marcelo Grassmann e Darel, na Seta Galeria de Arte
1964 - Rio de Janeiro RJ - 2º O Rosto e a Obra, no Galeria Ibeu Copacabana
1964 - Tóquio (Japão) - 4ª International Biennial Exhibition of Prints
1965 - Bonn (Alemanha) - Brazilian Art Today
1965 - Londres (Inglaterra) - Brazilian Art Today, no Royal Academy of Arts
1965 - Lugano (Suíça) - 9ª Exposizione Internazionale de Bianco e Nero
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1965 - Viena (Áustria) - Brazilian Art Today
1966 - Cornell (Estados Unidos) - Gravadores Brasileiros Contemporâneos, na Universidade de Cornell
1966 - Lugano (Suíça) - 10ª Exposizione Internazionale de Bianco e Nero
1966 - Rio de Janeiro RJ - O Artista e a Máquina, no MAM/RJ
1966 - São Paulo SP - O Artista e a Máquina, no Masp
1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1969 - Rio de Janeiro RJ - 7ª Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - Curitiba PR - 29º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra - artista convidado - prêmio aquisição/desenho
1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Curitiba PR - 1ª Mostra do Desenho Brasileiro, no Museu de Arte do Paraná
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Curitiba PR - 3ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, na Casa da Gravura Solar do Barão
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1981 - São Paulo SP - 6ª Arte no Centro Campestre, no Centro Campestre Sesc Brasílio Machado Neto
1982 - Penápolis SP - 5º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1983 - Olinda PE - 2ª Exposição da Coleção Abelardo Rodrigues de Artes Plásticas, no MAC/PE
1983 - Rio de Janeiro RJ - 6º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1984 - Ribeirão Preto SP - Gravadores Brasileiros Anos 50/60, na Galeria Campus USP-Banespa
1984 - São Paulo SP - 15º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Penápolis SP - 6º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 - Rio de Janeiro RJ - Encontros, na Petite Galerie
1985 - Rio de Janeiro RJ - Velha Mania: desenho brasileiro, na EAV/Parque Lage
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - Destaques da Arte Contemporânea Brasileira, no MAM/SP
1986 - Curitiba PR - 7º Acervo do Museu Nacional da Gravura - Casa da Gravura, no Museu Guido Viaro
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs
1988 - Lisboa (Portugal) - Pioneiros e Discípulos, na Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1989 - Olinda PE - Viva Olinda Viva, no Atelier Coletivo
1989 - Recife PE - Jogo de Memória
1989 - Rio de Janeiro RJ - Jogo de Memória, na Montesanti Galleria
1989 - Rio de Janeiro RJ - Gravura Brasileira: 4 temas, na EAV/Parque Lage
1989 - São Paulo SP - Jogo de Memória, na Galeria Montesanti Roesler
1990 - Curitiba PR - 9ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba, no Museu da Gravura - artista convidado/sala especial de litografia
1990 - Curitiba PR - 9º Artistas Convidados: litografias, na Casa Romário Martins
1991 - Curitiba PR - Museu Municipal de Arte: acervo, no Museu Municipal de Arte
1992 - Rio de Janeiro RJ - Gravura de Arte no Brasil: proposta para um mapeamento, no CCBB
1992 - Santo André SP- Litogravura: métodos e conceitos, no Paço Municipal
1993 - Lisboa (Portugal) - Matrizes e Gravuras Brasileiras: Coleção Guita e José Mindlin, na Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1994 - Pequim (China) - Contemporany Art in Brazil: works on paper, no Yan Huang Art Museum
1995 - São Paulo SP - Três Mestres da Gravura em Metal: Darel, Grassmann, Gruber, no Museu Banespa
1996 - São Paulo SP- Ex Libris/Home Page, no Paço das Artes
1997 - Barra Mansa RJ - Traços Contemporâneos: homenagem a gravura brasileira, no Centro Universitário de Barra Mansa
1997 - São Paulo SP - A Cidade dos Artistas, no MAC/USP
1998 - São Paulo SP - Impressões: a arte da gravura brasileira, no Espaço Cultural Banespa
1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras, na Galeria de Arte do Sesi
1999 - Niterói RJ - Mostra Rio Gravura: Acervo Banerj, no Museu Histórico do Ingá
1999 - São Paulo SP- Litografia: fidelidade e memória, no Espaço de Arte Unicid
2000 - Curitiba PR - Exposição Acervo Badep, na SEEC
2000 - São Paulo SP - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Mercado de Arte nº 9, na Ricardo Camargo Galeria
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2001 - Brasília DF - Coleções do Brasil, no CCBB
2001 - Brasília DF - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaugaleria
2001 - Penápolis SP - Investigações. A Gravura Brasileira, na Galeria Itaú Cultural
2001 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Antônio Carlos Jobim, no Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - Passo Fundo RS - Gravuras: Coleção Paulo Dalacorte, no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider
2002 - Porto Alegre RS - Desenhos, Gravuras, Esculturas e Aquarelas, na Garagem de Arte
2002 - Porto Alegre RS - Gravuras: Coleção Paulo Dalacorte, no Museu do Trabalho
2003 - São Paulo SP - Entre Aberto, na Gravura Brasileira
2004 - São Paulo SP - Novas Aquisições: 1995 - 2003, no MAB/Faap
Fonte: DAREL. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 06 de maio de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia — Wikipédia
Em 1937 aprendeu desenho técnico e começou a dedicar-se ao desenho à mão livre. Estudou na Escola de Belas Artes do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, entre 1941 e 1942, e atua como desenhista técnico. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1946.
Estuda gravura em metal com Henrique Oswald (1918 - 1965) no Liceu de Artes e Ofícios, em 1948. Dois anos depois, entra em contato com Oswaldo Goeldi (1895 - 1961). Atua como ilustrador em diversos periódicos, como para a revista Manchete, Senhor, Revista da Semana entre outras e os jornais Última Hora, O Jornal e Diário de Notícias. Entre 1953 e 1966, encarrega-se das publicações da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil.
Com o prêmio de viagem ao exterior, recebido no Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM do Rio de Janeiro, em 1957, viaja para a Itália, onde permanece até 1960. Época em que realizou doze murais para a cidade de Reggio Emilia.
De volta ao Rio de Janeiro, ilustrou diversas obras literárias, como Memórias de um Sargento de Milícias, 1957, de Manuel Antônio de Almeida (1831 - 1861); Poranduba Amazonense, 1961, de Barbosa Rodrigues (1842 - 1909); São Bernardo, 1992, de Graciliano Ramos (1892 - 1953); e A Polaquinha, 2002, de Dalton Trevisan (1925) e Humilhados e Ofendidos, de Dostoievski. Leciona gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1951; litografia na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, entre 1955 e 1957; e na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, em São Paulo, de 1961 a 1964.
Retomou as atividades no jornalismo e realizou uma série de colagens e fotomontagens para as crônicas de Antônio Maria, na Revista da Semana. Entre 1968 e 1969, realizou painéis como os do Palácio dos Arcos, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, para a Olivetti (1970) e para a IBM do Brasil (1979). Em 1982 recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo pelo melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy.
Formação
1937 - Catente PE - Inicia aprendizado de desenhista técnico de máquinas na Usina de Catente e dedica-se à prática do desenho à mão livre
1941/1942 - Recife PE - Estuda na Escola de Belas Artes
1947 - Rio de Janeiro RJ - Matricula-se no Liceu de Artes e Ofícios, onde estuda gravura em metal com Henrique Oswald
1958 - Roma (Itália) - Interessa-se pela obra de Pisarello
Cronologia
1937 - Vive na cidade de Catente, em Pernambuco
1941 - É desenhista no Departamento Nacional de Obras e Saneamento de Recife
1941 - Vive em Recife
1945 - Vive no Rio de Janeiro
1950 - Recebe o Prêmio Parkes pelo Ibeu
1951/1953 - Leciona gravura em metal no Masp
1953/1966 - Diretor-técnico da editora Os Cem Bibliófilos do Brasil
1954/1956 - Ilustra diversos jornais como Última Hora, Diário de Notícias, O Jornal, e as revistas Senhor, Manchete e Revista da Semana, entre outras
1954/1956 - Leciona litografia na Enba
1959/1960 - Realiza doze murais em Reggio Emilio, Na Itália
1960 - Finaliza a gravação das ilustrações de Poranduba Amazonenses, textos de Barbosa Rodrigues, editado pelo Clube dos Cem Bibliófilos do Brasil
ca.1961 - Ilustra obras literárias, entre as quais Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e Amos e Servos, de Dostoievski
1961/1962 - Retoma suas atividades no jornalismo e realiza uma série de colagem e fotomontagem para as crônicas de Antônio Maria (1921 - 1964), na Revista da Semana
1964 - Prêmio de desenho no 2ª Resumo de Arte do Jornal do Brasil, no MAM/RJ
1961/1965 - Leciona litografia na Faap, em São Paulo
1966 - Participa do 15º Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro como membro do júri de seleção e premiação
1968 - É editado álbum com doze gravuras em metal, organizado por Júlio Pacello, com texto de Clarice Lispector
1968/1969 - Executa painéis para o Palácio dos Arcos, em Brasília
1970 - Executa painel para a Olivetti
1979 - Executa painel para a IBM do Brasil
1982 - Recebe o Prêmio Abril de Jornalismo, melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 6 de maio de 2022.
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Darel Valença Lins (09/12/1924 – 7/12/2017) — VEJA
Comecei a trabalhar com 13 anos, fazendo desenhos técnicos, de máquinas e de topografia, na Usina Catende, no interior de Pernambuco. Ao me mudar para o Recife, na condição de funcionário público do DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento), frequentei a Escola de Belas Artes, onde estudei pintura e arquitetura. Quando fui transferido para o Rio de Janeiro em 1946, com 19 anos, minha função principal era fazer desenhos em perspectiva dos projetos em andamento no DNOS. Um dia sai para um lanche com colegas de trabalho, e resolvi abandonar o emprego, porque decidira que desejava mesmo era ser artista. Ato contínuo, fui estudar gravura em metal com Henrique Oswald. Desde então mais de sessenta anos se passaram…
Na década de 50, era hábito dos artistas e escritores – Lúcio Cardoso, Iberê Camargo, Portinari, Pancetti, Joaquim Tenreiro e um grande amigo esquecido que, na minha opinião, foi o maior cenógrafo do Brasil: Sansão Castelo Branco – fazer ponto no Vermelhinho, um bar que funcionava próximo à ABI, então local de encontro dos artistas e intelectuais. Certa noite, enquanto esperávamos o trânsito melhorar para pegarmos o lotação que nos levaria para casa, o Iberê Camargo veio me pedir para eu assinar uma petição endereçada a um certo ministro*, de quem não lembro o nome, solicitando autorização para trazer tintas e papéis da França.
Como naquela época eu me encontrava sem emprego e sem dinheiro, e sabendo que era hábito do Iberê fabricar essas petições das quais o maior beneficiário sempre era ele, e não a comunidade artística, me irritei e disse que não ia assinar nada, que ele era um egocêntrico, que só estava preocupado consigo mesmo e não com a continuidade do trabalho dos artistas com quem convivia.
Iberê ficou gauchamente irritado, e por pouco não saímos na porrada. Foi uma briga feia, ficamos um bom tempo estremecidos, mas aí aconteceu o seguinte: o irmão do Portinari, o Loyo – diretor técnico da Confraria dos Cem Bibliófilos do Brasil, que sabia da minha briga com o Iberê e de gravura em metal não entendia nada – me ofereceu um spaghetti, ocasião em que perguntou: “Darel, você quer ser diretor técnico da Confraria?”
Respondi que sim, e que o convite chegava em boa hora, pois estava sem emprego. Ele disse que confirmava minha indicação contanto que eu resolvesse uma questão: o Iberê estava fazendo um livro para a Confraria, mas vinha criando muitos problemas. “O emprego é seu se catimbozar o trabalho do Iberê, impedindo-o de fazer esse livro”, insistiu o Loyo.
Garanti que resolveria a questão, e ele então falou com o Raymundo Castro Maya, fundador da Confraria. Minha primeira providência na nova função foi telefonar para o Iberê, comunicar-lhe a minha nomeação e perguntar qual a dificuldade que vinha tendo para finalizar o trabalho para o qual fora convidado. Ele me contou que a demora se devia ao fato de estar usando a técnica de (verniz mole) para estampar as gravuras em metal que iriam ilustrar o livro , de Inglês de Sousa.
Afirmei-lhe que o nosso problema pessoal ficava à parte, e que tinha grande interesse em colaborar com ele nesse trabalho, já que se tratava de uma técnica complicada que nem mesmo eu, um gravador experiente, dominava por completo. Deixei claro, portanto, que nosso desentendimento era coisa do passado, e que agora o que interessava era lhe dar as condições necessárias para finalizar as ilustrações.
Iberê ficou verdadeiramente comovido com o meu gesto, animou-se e concluiu a tarefa. Depois desse episódio voltamos às boas, e ele se tornou meu amigo pelo resto da vida, de tal modo que, quando encontrava comigo na rua, me abraçava e às vezes até chorava. Todo sábado eu e um grupo de amigos, entre eles Maria Leontina e Inimá de Paula, íamos ao seu ateliê tomar chimarrão e colocar a conversa em dia.
Bem, voltando ao Vermelhinho… Talvez o mais interessante a contar é que, por volta de 1953, me tornei grande amigo do Lúcio Cardoso, que estava escrevendo, à mão, o romance Crônica da casa assassinada. Quando tomávamos o lotação, era hábito dele, durante a viagem, ler para mim os capítulos que havia finalizado, e, como éramos ambos admiradores de Dostoievski, Gogol e toda a literatura russa, muitas vezes nossa conversa descambava para as afinidades existentes entre os personagens de Dostoievski e os que ele vinha criando.
Lúcio era então considerado o melhor tradutor de francês do Brasil, apesar de só ter cursado até o terceiro ano primário. Embora fosse funcionário público, lotado em não sei qual repartição, e também irmão do deputado Adauto Lúcio Cardoso, o que realmente o sustentava era o dinheiro ganho como tradutor, pois seus livros vendiam pouco. Ele morava então na Lagoa, com a mãe e a irmã, Helena. Depois que a mãe morreu, e ele ficou doente por quase sete anos, quem cuidou dele foi a irmã, seu anjo da guarda.
Conversávamos muito sobre as nossas leituras, particularmente sobre Dostoievski. Acho que foi devido a isso que Lúcio teve a ideia de me aproximar de José Olympio, pois estava informado do seu projeto de editar o russo com ilustrações. Lúcio tinha um senso crítico muito aguçado. Lembro que, apesar de sua admiração por Guimarães Rosa, não aceitava o final de Grande sertão: veredas, quando se descobre que Diadorim é mulher. Para Lúcio, que não escondia a homossexualidade, o Rosa não tivera coragem de assumir a personagem Riobaldo como homossexual. Então dizia que no livro que escrevia, a Crônica , não se deixaria domar por preconceito nenhum; o fato é que também não teve coragem de tratar a fundo o problema.
Ele costumava me dizer: “Darel, o meu livro vai terminar com o filho tendo uma relação sexual com a mãe, velha e cancerosa”, mas acho que teve de amenizar essa situação. Bebia muito; quando sofreu o segundo derrame, ficou mudo, hemiplégico, sem capacidade para escrever, e então passou a desenhar com a mão esquerda, com resultados muito bons – tanto que chegou a fazer uma exposição de pinturas e desenhos. Mas nunca falamos a respeito dessa sua nova forma de expressão, à qual foi levado pelo desespero de não conseguir mais escrever como antes.
Seus últimos anos foram como artista plástico. Uma vez fui visitá-lo e, vendo que pintava em pastel, e que o desenho parecia bom, perguntei: “O que você está fazendo?” Ele ouvia bem mas não falava, e me respondeu por escrito: “Darel, eu bebi uma rua de magnólia”. O que significava essa resposta? O pai dele tinha sido rico, e deixara um bom dinheiro. Logo percebi que o Lúcio estava se referindo a essa herança paterna que ajudara a dilapidar. Ele remoía as lembranças da infância, pois vivera numa rua onde havia muitas flores. Ou seja, subtendi aí que as paisagens que desenhava eram as de Minas Gerais que guardara na memória.
Ao concluir a Crônica, Lúcio Cardoso me levou ao José Olympio e acertou para que eu desenhasse a capa do livro, publicado em 1959, quando me encontrava na Europa. Antes, em 1957, já fizera um trabalho para a editora – a capa e as ilustrações do livro de contos Terno de Reis, do Ricardo Ramos, filho do Graciliano – mas só vim a conhecer o dono pessoalmente quando Lúcio me levou até ele.
Fiquei envaidecido com a atenção que J. O. dispensou ao jovem artista que então eu era, e sempre que lembro desse nosso primeiro encontro me comovo. O fato é que de imediato surgiu entre nós uma mútua simpatia. Lembro bem da nossa primeira conversa, da sua figura risonha, roliça, sentado à vontade numa imensa poltrona. Ele já era então o maior editor da literatura brasileira, íntimo dos mais poderosos da República, mas mesmo assim tratou-me como um amigo próximo.
Feliz com o tratamento que recebi de J. O., passei a frequentar a editora, que então funcionava na Praça 15, e logo comecei a participar dos almoços e encontros que promovia. Tornei-me amigo dele naquela ocasião, e assim permaneci até sua morte, em maio de 1990. Era hábito de José Olympio receber, depois das 5 da tarde, escritores, artistas, jornalistas e pessoas ligadas à política para trocar ideias. Ele era expansivo, conversava sobre tudo, e irradiava – pelo menos para mim – um sentimento de generosidade. Sua atenção comigo foi algo para mim inesperado, porque eu era um artista iniciante, e ele já o grande editor do Brasil.
Eu lhe tinha respeito e admiração, e me parecia que ele retribuía esses sentimentos por eu ser, provavelmente, a pessoa mais jovem a participar das reuniões. Virei assíduo frequentador da “Casa”, como muitos se referiam à editora, e o nosso convívio só foi interrompido quando viajei, em 1958, para a Europa. Na volta retomamos o contato, e foi aí que recebi o convite para participar, como ilustrador, da edição que ele há muito preparava da obra de Dostoievski.
Ilustrei três obras do gênio russo: O vilarejo de Stiepantchikov e seus habitantes(27), “Polzonovski” (seis) e “Um coração fraco” (oito), todos traduzidos por Olívia Krähenbühl. Da primeira eu tinha conhecimento pelos comentários do Lúcio Cardoso, de quem ouvi várias vezes: “Essa novela está cobrando, há tempos, uma adaptação para teatro e cinema”. O conto “Polzonovski” me surpreendeu pelo fato de o personagem principal, em meio a bebedeiras intermitentes, dizer coisas profundas, que impressionam.
O Dostoievski com as minhas ilustrações saiu pela primeira vez em 1960, mais foi reeditado dois anos depois, agora na coleção encadernada, em dez volumes, empreendimento que acabou por se tornar um marco na história da arte gráfica no país, e hoje é uma raridade. Na novela "O vilarejo de Stepantchikov e seus habitantes", escrita ainda na Sibéria, admiro particularmente o cômico de alguns personagens. E quero deixar registrado que me diverti muito fazendo as ilustrações que agora se reeditam.
Há nesse livro pelo menos três tipos a mencionar: o inesquecível farsante Fomá Opinskin, que muitos críticos consideram um irmão dos grandes personagens de Molière, Dickens e Gogol; o coronel Rostânov, dono da propriedade rural e encarnação de um autêntico cristão; e a afortunada herdeira Tatiana Ivânovna. Mas seria redutor destacar apenas os aspectos farsescos, pois há nele também cenas de tristeza e que nos incomodam o coração. Precisamos ter sempre em mente a declaração de Dostoievski de que o escreveu “com sua carne e seu sangue”.
Posso testemunhar que José Olympio era generoso nos pagamentos, mas em sua editora não era hábito dar recibo: tudo ali funcionava na base da amizade e da confiança. Naquela época, porém, os ilustradores não respeitavam o próprio trabalho; se sentiam mais envaidecidos em fazer o livro do que em receber pagamento. Com José Olympio era diferente: ele estimulava seus colaboradores e se preocupava em ver todos contentes. Pagava bem, embora se reservasse o direito de ficar com os originais das ilustrações, ainda que elas não fossem assinadas, pois não era hábito assinar ilustração. Mas isso são detalhes técnicos…
O mais importante a assinalar são pequenos episódios que ocorreram na minha convivência com J. O. Por exemplo: ele me incumbiu de fazer uma capa para Guimarães Rosa; fui procurar o escritor no Itamaraty, e tivemos uma conversa nos corredores do edifício sobre o que eu estava pretendendo fazer. Então Rosa, no seu português impecável, passou a me dizer o que queria: “Darel, eu quero que você desenhe a varanda de uma fazenda de Minas Gerais, e nela coloque uma moça muito bonita, loura de olhos azuis, mirando perdidamente o pôr do sol”. Ouvi aquelas indicações tão precisas e minuciosas, me despedi, e voltei ao editor para explicar minha dificuldade em trabalhar para alguém que já sabia, de forma tão categórica, o que desejava ver na capa de seu livro. Ele riu, entendeu, e prometeu me chamar assim que tivesse uma nova tarefa a oferecer.
Quando trabalho como ilustrador literário, me ligo mais ao que está nas entrelinhas da obra, na alma do artista, e não numa “situação em ato”, de que vou dar um exemplo: “Fulano entrou, sentou-se na mesa e tomou um xícara de café. O ambiente era penumbroso, etc. etc.”. Eu busco sempre ler o que se encontra nas camadas mais profundas do texto. No meu entender, o ilustrador não deve procurar competir com o fotógrafo, mas se deixar contaminar pelo texto de tal modo que consiga alcançar aos níveis onde o leitor comum nem sempre consegue chegar.
Não sou do tipo que trabalha com “situação em ato”, fiel ao que o escritor deixou na superfície do texto; sou ilustrador, sempre fui, de jornais e revistas, e muitas vezes perdi o emprego por ser um artista que se liga no que há de subjetivo no livro; por exemplo: gosto muito do que fiz para São Bernardo, de Graciliano Ramos, porque todas as ilustrações ali procuram captar o conflito do protagonista, Paulo Honório, com sua mulher. Nos meus desenhos não aparece uma palmeira, um boi de canga, nada que identifique o Nordeste… Fiquei ligado mesmo no relacionamento do casal.
Fonte: Veja, escrito por Augusto Nunes, publicado em 9 de dezembro de 2017. Consultado pela última vez em 6 de maio de 2022.
Crédito fotográfico: Sabujo Filmes, publicado em 8 de maio de 2014. Consultado pela última vez em 9 de maio de 2022.
Darel Valença Lins (Palmares, PE, 7 de dezembro de 1924 — 9 de dezembro de 2017, Rio de Janeiro, RJ), mais conhecido como Darel, foi um pintor, desenhista, gravador, ilustrador e professor de artes plásticas brasileiro. Formado na Escola de Belas Artes do Recife, iniciou a carreira artística atuando com desenhos, trabalhando com ilustração de periódicos. Lecionou gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo – MASP, litografia na Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, no Rio de Janeiro, na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado – Faap, em São Paulo. Sua obra é conhecida mundialmente, em especial na Itália, onde realizou doze murais para a cidade de Reggio Emilia. Ganhou o prêmio gravura no 1º Salão de Arte Moderna do Recife, prêmio viagem ao país e prêmio viagem ao exterior, no Salão Nacional de Arte Moderna, prêmio melhor desenhista nacional na 7ª Bienal Internacional de São Paulo e recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo, pelo melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy.
Biografia — Itaú Cultural
Estudou na Escola de Belas Artes do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, entre 1941 e 1942, e atua como desenhista técnico. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1946. Estudou gravura em metal com Henrique Oswald (1918 - 1965) no Liceu de Artes e Ofícios, em 1948.
Dois anos depois, entra em contato com Oswaldo Goeldi (1895 - 1961). Atua como ilustrador em diversos periódicos, como a revista Manchete e os jornais Última Hora e Diário de Notícias.
Entre 1953 e 1966, encarrega-se das publicações da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. Com o prêmio de viagem ao exterior, recebido no Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM do Rio de Janeiro, em 1957, viaja para a Itália, onde permanece até 1960.
Ilustra diversos livros, como Memórias de um Sargento de Milícias, 1957, de Manuel Antônio de Almeida (1831 - 1861); Poranduba Amazonense, 1961, de Barbosa Rodrigues (1842 - 1909); São Bernardo, 1992, de Graciliano Ramos (1892 - 1953); e A Polaquinha, 2002, de Dalton Trevisan (1925).
Leciona gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1951; litografia na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, entre 1955 e 1957; e na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, em São Paulo, de 1961 a 1964.
Entre 1968 e 1969, realizou painéis como os do Palácio dos Arcos, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
Comentário Crítico
Darel dedica-se a várias técnicas (desenhos, gravuras e pinturas), apresentando uma produção marcada por dois temas principais: as cidades imaginárias e os anjos e as máquinas. Como nota o crítico Frederico Morais, as cidades criadas por Darel são vistas do alto ou à distância. O artista não descreve locais específicos, apenas insinua casas, ruas ou edifícios. A figura humana também não é nítida, aparece como arabesco ou mancha. A partir da década de 1970, ocorre uma mudança em sua produção: o que estava distante se aproxima, e as figuras também se tornam mais concretas. Na opinião do crítico Roberto Pontual, tanto as paisagens do casario de favelas, quanto as vistas das cidades da Itália e os anjos em luta com as máquinas, revelam o interesse caracteristicamente expressionista do artista pela dinâmica do claro-escuro e do cheio-vazio. A produção de Darel aproxima-se, em algumas obras, do realismo fantástico.
Críticas
"O figurativismo, em Darel, não se reduz a ponto de chegada, como se desejasse fixar o real na sua evidência imediata; trata-se, pelo contrário, de instrumento para o comentário e a transcendência, submetendo-o às vezes à atenuação do dispositivo dramatizante por intermédio de indícios construtivos ou, mais comumente, adensando-o no rumo do realismo fantástico. Assim, tanto as paisagens do casario de favelas, suspensas no ar do papel, quanto as vistas que evocam velhas cidades da Espanha e da Itália, pesadas de tempo; tanto os anjos em diálogo e luta com a máquina, espírito tocando a matéria, quanto a demonologia liberada na pintura de agora, alquimicamente armada de cores e angústia, é a agilidade caligráfica de Darel, seu interesse caracteristicamente expressionista pelo claro-escuro e pelo cheio-vazio, o que mais se evidencia como propósito e método. Atrai-lhe sobretudo, segundo suas próprias palavras, organizar, 'dentro de um clima poético, pássaros e máquinas, máquinas e gente, gente e topografia e cidades. Numa outra esfera, transparece a influência do meio social em que vivo, tudo o que esteja relacionado com a realidade do homem. Evidentemente, não me ligo às formas estereotipadas da natureza, nem às fontes de inspiração e imagens tradicionais. Sou assediado por idéias que surgem com força irreprimível e que devem ser traduzidas por sinais inventados". – Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Arte/Brasil/hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973).
"Visceralmente comprometido com a figura humana, Darel só veio a desenhar as primeiras paisagens na Espanha quando lá estava cumprindo o prêmio de viagem que recebeu no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1957. ´A paisagem européia me falava ao lápis´, explica, e acrescenta: ´Ou talvez porque não houvesse canavial nem todo aquele drama social que vivi no interior pernambucano´. Na paisagem de Darel a cidade se organiza no longe, vista do alto, a distância. Ele não descreve situações específicas, apenas insinua edifícios, casas, ruas, becos e roldanas, rampas, fios. É que uma cidade funciona como máquina absurda, triturando o homem como no interior de uma engrenagem. A partir de 1978 ocorrem mudanças em seu trabalho. O que estava distante (cidade) se aproxima, o que flutuava (o anjo e/ou figura de mulher bifacial) baixa à Terra, se faz de carne e osso. O que estava apenas insinuado adquire nitidez, a cor penetra seu desenho. É como se Darel tivesse decidido percorrer as ruas de sua cidade imaginária, disposto a conhecer sua gente, homens e mulheres, cenários e prostíbulos. A cidade ficou real, existe, tem um nome: É Imbariê, na Baixada Fluminense". – Frederico Morais (MORAIS, Frederico. Dacoleção: os caminhos da arte brasileira. Introdução de Cesar Luis Pires de Mello. São Paulo: Júlio Bogoricin Imóveis, c1986).
"Não há dúvida que existe um mundo, uma visão cósmica original e pessoal inerente à linguagem visual de Darel no desenho e na gravura, na pintura a óleo e nas aquarelas, a cidade emerge com seus recantos escondidos e seus monumentos símbolos. A vida urbana atinge uma dramaticidade coral, onde a pluralidade dos elementos plásticos espelha a multiplicidade de sujeitos operantes na alma do autor, as vivências disparadas, as influências cruzadas da metrópole encontram e vivem numa forma de traços incisivos e rápidos, no desenho, nos numerosos e limitados campos de cor, na pintura". – Pedro Manuel Gismondi (GISMONDI, Pedro Manuel. [texto]. In: O Estado dos Afetos : desenho e gravura. Curitiba, 1991. Texto de apresentação da mostra individual, realizada na Galeria Seta, em 1965.)
"(...) beleza e pesadelo marcam a obra de Darel. Como se podem unir estas duas palavras - só Darel sabe porque ele vive os seus sonhos, não como homem irreal, mas como um homem. Quem habita as enormes cidades senão o próprio DareI que sonha e idealiza? Sonhar e idealizar são o ideal de um homem, de uma mulher. Em DareI, além da parte artística propriamente, há uma preocupação com a totalidade do ser humano na sua plenitude. O choque impotente do indivíduo diante da máquina. As cidades escuras onde uma ou outra janela de luz acesa atestam que elas são habitadas. Psicanalisado ou não, trata-se de um grande artista e tenho o que falar no resplandecente mistério de sua obra. Dela emana, tanto da gravura quanto do óleo e do desenho, o grande mistério de viver". – Clarice Lispector (LISPECTOR, Clarice. Gravuras de Darel [álbum], edição única realizada por Julio Pacello, 1968. In: TRÊS mestres da gravura em metal : Darel, Grassmann, Gruber. São Paulo, 1995).
Depoimentos
"Comecei, então, a aprender gravura. Conheci Poty, Goeldi, Augusto Rodrigues, Iberê Camargo e Henrique Oswald, que foi meu primeiro professor, eu o chamava de Lilico. Morreu moço. (...)
Aprendi gravura com Henrique Oswald no Liceu de Artes e Ofícios, onde não se pagava nada, havia material e uma prensa fabulosa. Eu me lembro de que quando entrei e vi um cara fazendo uma gravura, pensei logo: 'Isso é uma barbada'. E fiz uma gravurinha. Quando tirei a prova, me decepcionei. Aquilo era uma coisa dificílima. (...)
Não se fazia mais litografia nos anos 50, ela havia entrado num período de decadência total. Na década de 40, a litografia era o que estampava as revistas O Malho, A Semana. Era o off-set da época. Era usada não como trabalho artístico, mas na imprensa. (...)
Daí comprei uma prensa e a instalei na rua Taylor, na Lapa, buscando ressuscitar a lito no sentido artístico. Eu me lembrava de Munch, o pintor norueguês que fazia litografia nos anos 10 como expressão de arte.
Nessa oficina, eu só fazia litografia; era professor não vinculado às Belas Artes, era professor livre e fazia questão de sê-lo. Eu não queria ser professor da Enba. Queria mostrar também que a lito era uma forma de expressão de arte e não um mero processo de reprodução. (...)
Três grandes gravadores de madeira no Brasil, na minha opinião, são Goeldi, Lívio Abramo e Marcelo Grassmann. (...) Grassmann fazia a coisa aparentemente simples. O corte era em fio comprido, negócio muito simples, a expressão dele é uma coisa! O Lívio Abramo era o próprio requinte, tinha 300 pecinhas para cortar e fazia em topo. Fez muita coisa em cima de topo, todo cheio de impressionismo (...).
Quando comecei a fazer litografia, achava que o litógrafo era um sujeito que desenhava e estampava, e quebrei a cara. (...) Percebi (...) que existe uma divisão: há o litógrafo e há o estampador. Isso aconteceu quando tive uma luz e argumentei comigo mesmo: 'Pelo tamanho do Lautrec, pelo seu físico, se não fossem os estampadores ele jamais teria feito uma litografia'. Hoje em dia é indispensável o estampador. Há, inclusive, os que sabem lidar com a pedra.
O artista, o litógrafo, conhece toda a química da litografia. Lautrec dizia: 'Aprende-se a fazer litografia em duas horas e faz-se uma litografia em seis anos'. Ele conhecia bem a questão. Hoje existe a chamada PA, prova do artista. Ele fica junto ao estampador, realizando várias tentativas de botar os seus negros, de escolher os seus vermelhos, os seus azuis. Uma vez definida a cor, as tonalidades, se vai ser em grafite ou preto denso, isso ou aquilo, ele faz a PA. O artista não fica sobre a prensa para fazer 300 litografias". – Darel Valença Lins - [Sesc Tijuca, 21 de dezembro de 1986]. GRAVURA brasileira hoje II : depoimentos. Rio de Janeiro : Oficina de gravura SESC-Tijuca, 1995. v. 2
Exposições Individuais
1949 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Biblioteca Nacional
1951 - Recife PE - Darel: pintura e desenho, no Gabinete Português de Leitura
1952 - Milão (Itália) - Darel, na Galeria Stendhal
1953 - São Paulo SP - Darel: gravura em metal, no Masp
1958 - Roma (Itália) - Individual, na Galeria Il Siparietto
1960 - São Paulo SP - Darel: desenhos, na Galeria São Luís
1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Petite Galerie
1963 - Buenos Aires (Argentina) - Individual, na Galeria Lascaux
1963 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Petite Galerie
1964 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Petite Galerie
1965 - Roma (Itália) - Darel: aquarela, desenho e gravura, na Galeria de Arte da Casa do Brasil
1965 - Roma (Itália) - Darel: desenho e aquarela, no Pallazzo Doria Panphili
1965 - São Paulo SP - Darel: aquarela, na Seta Galeria de Arte
1966 - Olinda PE - Darel: pinturas, no MAC/PE
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1968 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas, no Gabinete Barcinski
1969 - Rio de Janeiro RJ - Estudos dos Painéis para o Palácio dos Arcos, no MAM/RJ
1969 - São Paulo SP - Darel: pintura e desenhos, na Galeria Cosme Velho
1970 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Grupo B
1972 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Cosme Velho
1972 - São Paulo SP - Individual, na Galeria No Sobrado
1973 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas, na Galeria Vernissage
1973 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Múltipla de Arte
1975 - Bruxelas (Bélgica) - Darel: desenhos e aquarelas, no Palais de Beaux-Arts
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Oficina de Arte
1977 - Copenhague (Dinamarca) - Darel: desenhos e aquarelas, na Cat Galeria
1978 - São Paulo SP - Darel: desenhos e aquarelas, na Cristina Faria de Paula Galeria de Arte
1979 - Rio de Janeiro RJ - Darel: desenhos e aquarelas, na Galeria Gravura Brasileira
1980 - Curitiba PR - Darel 1970-1980, na Biblioteca Pública do Paraná
1981 - Porto Alegre RS - Darel: aquarela, gravura e têmpera, na Galeria do Centro Comercial de Porto Alegre
1981 - Porto Alegre RS - Darel: pintura, desenho e litografia, na Galeria Guignard
1981 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Galeria César Aché
1981 - São Paulo SP - Darel: desenhos, na Galeria Ars Artis
1982 - Vitória ES - Darel: litos e desenhos recentes, na Galeria de Arte e Pesquisa da Ufes
1985 - Recife PE - Darel: 30 anos depois, na Galeria Futuro 25
1985 - Rio de Janeiro RJ - Darel: litografias, na Galeria Gravura Brasileira
1985 - São Paulo SP - Darel: pinturas e desenhos recentes, na Galeria Alberto Bonfiglioli
1986 - Rio de Janeiro RJ - Darel: litografias, na Galeria Paulo Cunha
1987 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas
1987 - São Paulo SP - Darel: gravuras em metal e litografias, na Galeria Intersul
1988 - Rio de Janeiro RJ - Darel: década de 70
1990 - Rio de Janeiro RJ - Individual
1991 - Curitiba PR - O Estado dos Afetos, na Sala Miguel Bakun IV
1991 - Curitiba PR - O Estado dos Afetos, no Solar do Rosário
1991 - Rio de Janeiro RJ - Darel: gravura em metal e lito, no MNBA
1991 - São Paulo SP - Darel: o espaço do artista quando jovem, no Paço das Artes
1996 - Rio de Janeiro RJ - Darel: desenho, gravura em metal e lito, no Instituto Cultural Villa Maurina
1999 - Rio de Janeiro RJ - Darel: gravura fotomontagem lito e plotagem
Exposições Coletivas
1948 - Rio de Janeiro RJ - 54º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de bronze em gravura
1952 - Feira de Santana BA - 1ª Exposição de Arte Moderna de Feira de Santana, no Banco Econômico
1952 - Recife PE - 1º Salão de Arte Moderna do Recife - prêmio gravura
1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna - prêmio viagem ao país
1952 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Artistas Brasileiros, no MAM/RJ
1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais
1954 - Rio de Janeiro RJ - Salão Preto e Branco, no Palácio da Cultura
1956 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Ferroviário , no MEC
1957 - Rio de Janeiro RJ - 6º Salão Nacional de Arte Moderna - prêmio viagem ao exterior
1958 - Rio de Janeiro RJ - Salão do Mar
1961- São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1962 - São Paulo SP - Marcelo Grassmann, Eduardo Sued, Oswaldo Goeldi e Darel, na Galeria Residência
1962 - São Paulo SP - Seleção de Obras de Arte Brasileira da Coleção Ernesto Wolf, no MAM/SP
1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal - prêmio melhor desenhista nacional
1963 - São Paulo SP - Marcelo Grassmann e Darel, na Seta Galeria de Arte
1964 - Rio de Janeiro RJ - 2º O Rosto e a Obra, no Galeria Ibeu Copacabana
1964 - Tóquio (Japão) - 4ª International Biennial Exhibition of Prints
1965 - Bonn (Alemanha) - Brazilian Art Today
1965 - Londres (Inglaterra) - Brazilian Art Today, no Royal Academy of Arts
1965 - Lugano (Suíça) - 9ª Exposizione Internazionale de Bianco e Nero
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1965 - Viena (Áustria) - Brazilian Art Today
1966 - Cornell (Estados Unidos) - Gravadores Brasileiros Contemporâneos, na Universidade de Cornell
1966 - Lugano (Suíça) - 10ª Exposizione Internazionale de Bianco e Nero
1966 - Rio de Janeiro RJ - O Artista e a Máquina, no MAM/RJ
1966 - São Paulo SP - O Artista e a Máquina, no Masp
1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1969 - Rio de Janeiro RJ - 7ª Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - Curitiba PR - 29º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra - artista convidado - prêmio aquisição/desenho
1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Curitiba PR - 1ª Mostra do Desenho Brasileiro, no Museu de Arte do Paraná
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Curitiba PR - 3ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, na Casa da Gravura Solar do Barão
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1981 - São Paulo SP - 6ª Arte no Centro Campestre, no Centro Campestre Sesc Brasílio Machado Neto
1982 - Penápolis SP - 5º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1983 - Olinda PE - 2ª Exposição da Coleção Abelardo Rodrigues de Artes Plásticas, no MAC/PE
1983 - Rio de Janeiro RJ - 6º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1984 - Ribeirão Preto SP - Gravadores Brasileiros Anos 50/60, na Galeria Campus USP-Banespa
1984 - São Paulo SP - 15º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Penápolis SP - 6º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 - Rio de Janeiro RJ - Encontros, na Petite Galerie
1985 - Rio de Janeiro RJ - Velha Mania: desenho brasileiro, na EAV/Parque Lage
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - Destaques da Arte Contemporânea Brasileira, no MAM/SP
1986 - Curitiba PR - 7º Acervo do Museu Nacional da Gravura - Casa da Gravura, no Museu Guido Viaro
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs
1988 - Lisboa (Portugal) - Pioneiros e Discípulos, na Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1989 - Olinda PE - Viva Olinda Viva, no Atelier Coletivo
1989 - Recife PE - Jogo de Memória
1989 - Rio de Janeiro RJ - Jogo de Memória, na Montesanti Galleria
1989 - Rio de Janeiro RJ - Gravura Brasileira: 4 temas, na EAV/Parque Lage
1989 - São Paulo SP - Jogo de Memória, na Galeria Montesanti Roesler
1990 - Curitiba PR - 9ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba, no Museu da Gravura - artista convidado/sala especial de litografia
1990 - Curitiba PR - 9º Artistas Convidados: litografias, na Casa Romário Martins
1991 - Curitiba PR - Museu Municipal de Arte: acervo, no Museu Municipal de Arte
1992 - Rio de Janeiro RJ - Gravura de Arte no Brasil: proposta para um mapeamento, no CCBB
1992 - Santo André SP- Litogravura: métodos e conceitos, no Paço Municipal
1993 - Lisboa (Portugal) - Matrizes e Gravuras Brasileiras: Coleção Guita e José Mindlin, na Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1994 - Pequim (China) - Contemporany Art in Brazil: works on paper, no Yan Huang Art Museum
1995 - São Paulo SP - Três Mestres da Gravura em Metal: Darel, Grassmann, Gruber, no Museu Banespa
1996 - São Paulo SP- Ex Libris/Home Page, no Paço das Artes
1997 - Barra Mansa RJ - Traços Contemporâneos: homenagem a gravura brasileira, no Centro Universitário de Barra Mansa
1997 - São Paulo SP - A Cidade dos Artistas, no MAC/USP
1998 - São Paulo SP - Impressões: a arte da gravura brasileira, no Espaço Cultural Banespa
1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras, na Galeria de Arte do Sesi
1999 - Niterói RJ - Mostra Rio Gravura: Acervo Banerj, no Museu Histórico do Ingá
1999 - São Paulo SP- Litografia: fidelidade e memória, no Espaço de Arte Unicid
2000 - Curitiba PR - Exposição Acervo Badep, na SEEC
2000 - São Paulo SP - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Mercado de Arte nº 9, na Ricardo Camargo Galeria
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2001 - Brasília DF - Coleções do Brasil, no CCBB
2001 - Brasília DF - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaugaleria
2001 - Penápolis SP - Investigações. A Gravura Brasileira, na Galeria Itaú Cultural
2001 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Antônio Carlos Jobim, no Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - Passo Fundo RS - Gravuras: Coleção Paulo Dalacorte, no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider
2002 - Porto Alegre RS - Desenhos, Gravuras, Esculturas e Aquarelas, na Garagem de Arte
2002 - Porto Alegre RS - Gravuras: Coleção Paulo Dalacorte, no Museu do Trabalho
2003 - São Paulo SP - Entre Aberto, na Gravura Brasileira
2004 - São Paulo SP - Novas Aquisições: 1995 - 2003, no MAB/Faap
Fonte: DAREL. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 06 de maio de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia — Wikipédia
Em 1937 aprendeu desenho técnico e começou a dedicar-se ao desenho à mão livre. Estudou na Escola de Belas Artes do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, entre 1941 e 1942, e atua como desenhista técnico. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1946.
Estuda gravura em metal com Henrique Oswald (1918 - 1965) no Liceu de Artes e Ofícios, em 1948. Dois anos depois, entra em contato com Oswaldo Goeldi (1895 - 1961). Atua como ilustrador em diversos periódicos, como para a revista Manchete, Senhor, Revista da Semana entre outras e os jornais Última Hora, O Jornal e Diário de Notícias. Entre 1953 e 1966, encarrega-se das publicações da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil.
Com o prêmio de viagem ao exterior, recebido no Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM do Rio de Janeiro, em 1957, viaja para a Itália, onde permanece até 1960. Época em que realizou doze murais para a cidade de Reggio Emilia.
De volta ao Rio de Janeiro, ilustrou diversas obras literárias, como Memórias de um Sargento de Milícias, 1957, de Manuel Antônio de Almeida (1831 - 1861); Poranduba Amazonense, 1961, de Barbosa Rodrigues (1842 - 1909); São Bernardo, 1992, de Graciliano Ramos (1892 - 1953); e A Polaquinha, 2002, de Dalton Trevisan (1925) e Humilhados e Ofendidos, de Dostoievski. Leciona gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1951; litografia na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, entre 1955 e 1957; e na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, em São Paulo, de 1961 a 1964.
Retomou as atividades no jornalismo e realizou uma série de colagens e fotomontagens para as crônicas de Antônio Maria, na Revista da Semana. Entre 1968 e 1969, realizou painéis como os do Palácio dos Arcos, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, para a Olivetti (1970) e para a IBM do Brasil (1979). Em 1982 recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo pelo melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy.
Formação
1937 - Catente PE - Inicia aprendizado de desenhista técnico de máquinas na Usina de Catente e dedica-se à prática do desenho à mão livre
1941/1942 - Recife PE - Estuda na Escola de Belas Artes
1947 - Rio de Janeiro RJ - Matricula-se no Liceu de Artes e Ofícios, onde estuda gravura em metal com Henrique Oswald
1958 - Roma (Itália) - Interessa-se pela obra de Pisarello
Cronologia
1937 - Vive na cidade de Catente, em Pernambuco
1941 - É desenhista no Departamento Nacional de Obras e Saneamento de Recife
1941 - Vive em Recife
1945 - Vive no Rio de Janeiro
1950 - Recebe o Prêmio Parkes pelo Ibeu
1951/1953 - Leciona gravura em metal no Masp
1953/1966 - Diretor-técnico da editora Os Cem Bibliófilos do Brasil
1954/1956 - Ilustra diversos jornais como Última Hora, Diário de Notícias, O Jornal, e as revistas Senhor, Manchete e Revista da Semana, entre outras
1954/1956 - Leciona litografia na Enba
1959/1960 - Realiza doze murais em Reggio Emilio, Na Itália
1960 - Finaliza a gravação das ilustrações de Poranduba Amazonenses, textos de Barbosa Rodrigues, editado pelo Clube dos Cem Bibliófilos do Brasil
ca.1961 - Ilustra obras literárias, entre as quais Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e Amos e Servos, de Dostoievski
1961/1962 - Retoma suas atividades no jornalismo e realiza uma série de colagem e fotomontagem para as crônicas de Antônio Maria (1921 - 1964), na Revista da Semana
1964 - Prêmio de desenho no 2ª Resumo de Arte do Jornal do Brasil, no MAM/RJ
1961/1965 - Leciona litografia na Faap, em São Paulo
1966 - Participa do 15º Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro como membro do júri de seleção e premiação
1968 - É editado álbum com doze gravuras em metal, organizado por Júlio Pacello, com texto de Clarice Lispector
1968/1969 - Executa painéis para o Palácio dos Arcos, em Brasília
1970 - Executa painel para a Olivetti
1979 - Executa painel para a IBM do Brasil
1982 - Recebe o Prêmio Abril de Jornalismo, melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 6 de maio de 2022.
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Darel Valença Lins (09/12/1924 – 7/12/2017) — VEJA
Comecei a trabalhar com 13 anos, fazendo desenhos técnicos, de máquinas e de topografia, na Usina Catende, no interior de Pernambuco. Ao me mudar para o Recife, na condição de funcionário público do DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento), frequentei a Escola de Belas Artes, onde estudei pintura e arquitetura. Quando fui transferido para o Rio de Janeiro em 1946, com 19 anos, minha função principal era fazer desenhos em perspectiva dos projetos em andamento no DNOS. Um dia sai para um lanche com colegas de trabalho, e resolvi abandonar o emprego, porque decidira que desejava mesmo era ser artista. Ato contínuo, fui estudar gravura em metal com Henrique Oswald. Desde então mais de sessenta anos se passaram…
Na década de 50, era hábito dos artistas e escritores – Lúcio Cardoso, Iberê Camargo, Portinari, Pancetti, Joaquim Tenreiro e um grande amigo esquecido que, na minha opinião, foi o maior cenógrafo do Brasil: Sansão Castelo Branco – fazer ponto no Vermelhinho, um bar que funcionava próximo à ABI, então local de encontro dos artistas e intelectuais. Certa noite, enquanto esperávamos o trânsito melhorar para pegarmos o lotação que nos levaria para casa, o Iberê Camargo veio me pedir para eu assinar uma petição endereçada a um certo ministro*, de quem não lembro o nome, solicitando autorização para trazer tintas e papéis da França.
Como naquela época eu me encontrava sem emprego e sem dinheiro, e sabendo que era hábito do Iberê fabricar essas petições das quais o maior beneficiário sempre era ele, e não a comunidade artística, me irritei e disse que não ia assinar nada, que ele era um egocêntrico, que só estava preocupado consigo mesmo e não com a continuidade do trabalho dos artistas com quem convivia.
Iberê ficou gauchamente irritado, e por pouco não saímos na porrada. Foi uma briga feia, ficamos um bom tempo estremecidos, mas aí aconteceu o seguinte: o irmão do Portinari, o Loyo – diretor técnico da Confraria dos Cem Bibliófilos do Brasil, que sabia da minha briga com o Iberê e de gravura em metal não entendia nada – me ofereceu um spaghetti, ocasião em que perguntou: “Darel, você quer ser diretor técnico da Confraria?”
Respondi que sim, e que o convite chegava em boa hora, pois estava sem emprego. Ele disse que confirmava minha indicação contanto que eu resolvesse uma questão: o Iberê estava fazendo um livro para a Confraria, mas vinha criando muitos problemas. “O emprego é seu se catimbozar o trabalho do Iberê, impedindo-o de fazer esse livro”, insistiu o Loyo.
Garanti que resolveria a questão, e ele então falou com o Raymundo Castro Maya, fundador da Confraria. Minha primeira providência na nova função foi telefonar para o Iberê, comunicar-lhe a minha nomeação e perguntar qual a dificuldade que vinha tendo para finalizar o trabalho para o qual fora convidado. Ele me contou que a demora se devia ao fato de estar usando a técnica de (verniz mole) para estampar as gravuras em metal que iriam ilustrar o livro , de Inglês de Sousa.
Afirmei-lhe que o nosso problema pessoal ficava à parte, e que tinha grande interesse em colaborar com ele nesse trabalho, já que se tratava de uma técnica complicada que nem mesmo eu, um gravador experiente, dominava por completo. Deixei claro, portanto, que nosso desentendimento era coisa do passado, e que agora o que interessava era lhe dar as condições necessárias para finalizar as ilustrações.
Iberê ficou verdadeiramente comovido com o meu gesto, animou-se e concluiu a tarefa. Depois desse episódio voltamos às boas, e ele se tornou meu amigo pelo resto da vida, de tal modo que, quando encontrava comigo na rua, me abraçava e às vezes até chorava. Todo sábado eu e um grupo de amigos, entre eles Maria Leontina e Inimá de Paula, íamos ao seu ateliê tomar chimarrão e colocar a conversa em dia.
Bem, voltando ao Vermelhinho… Talvez o mais interessante a contar é que, por volta de 1953, me tornei grande amigo do Lúcio Cardoso, que estava escrevendo, à mão, o romance Crônica da casa assassinada. Quando tomávamos o lotação, era hábito dele, durante a viagem, ler para mim os capítulos que havia finalizado, e, como éramos ambos admiradores de Dostoievski, Gogol e toda a literatura russa, muitas vezes nossa conversa descambava para as afinidades existentes entre os personagens de Dostoievski e os que ele vinha criando.
Lúcio era então considerado o melhor tradutor de francês do Brasil, apesar de só ter cursado até o terceiro ano primário. Embora fosse funcionário público, lotado em não sei qual repartição, e também irmão do deputado Adauto Lúcio Cardoso, o que realmente o sustentava era o dinheiro ganho como tradutor, pois seus livros vendiam pouco. Ele morava então na Lagoa, com a mãe e a irmã, Helena. Depois que a mãe morreu, e ele ficou doente por quase sete anos, quem cuidou dele foi a irmã, seu anjo da guarda.
Conversávamos muito sobre as nossas leituras, particularmente sobre Dostoievski. Acho que foi devido a isso que Lúcio teve a ideia de me aproximar de José Olympio, pois estava informado do seu projeto de editar o russo com ilustrações. Lúcio tinha um senso crítico muito aguçado. Lembro que, apesar de sua admiração por Guimarães Rosa, não aceitava o final de Grande sertão: veredas, quando se descobre que Diadorim é mulher. Para Lúcio, que não escondia a homossexualidade, o Rosa não tivera coragem de assumir a personagem Riobaldo como homossexual. Então dizia que no livro que escrevia, a Crônica , não se deixaria domar por preconceito nenhum; o fato é que também não teve coragem de tratar a fundo o problema.
Ele costumava me dizer: “Darel, o meu livro vai terminar com o filho tendo uma relação sexual com a mãe, velha e cancerosa”, mas acho que teve de amenizar essa situação. Bebia muito; quando sofreu o segundo derrame, ficou mudo, hemiplégico, sem capacidade para escrever, e então passou a desenhar com a mão esquerda, com resultados muito bons – tanto que chegou a fazer uma exposição de pinturas e desenhos. Mas nunca falamos a respeito dessa sua nova forma de expressão, à qual foi levado pelo desespero de não conseguir mais escrever como antes.
Seus últimos anos foram como artista plástico. Uma vez fui visitá-lo e, vendo que pintava em pastel, e que o desenho parecia bom, perguntei: “O que você está fazendo?” Ele ouvia bem mas não falava, e me respondeu por escrito: “Darel, eu bebi uma rua de magnólia”. O que significava essa resposta? O pai dele tinha sido rico, e deixara um bom dinheiro. Logo percebi que o Lúcio estava se referindo a essa herança paterna que ajudara a dilapidar. Ele remoía as lembranças da infância, pois vivera numa rua onde havia muitas flores. Ou seja, subtendi aí que as paisagens que desenhava eram as de Minas Gerais que guardara na memória.
Ao concluir a Crônica, Lúcio Cardoso me levou ao José Olympio e acertou para que eu desenhasse a capa do livro, publicado em 1959, quando me encontrava na Europa. Antes, em 1957, já fizera um trabalho para a editora – a capa e as ilustrações do livro de contos Terno de Reis, do Ricardo Ramos, filho do Graciliano – mas só vim a conhecer o dono pessoalmente quando Lúcio me levou até ele.
Fiquei envaidecido com a atenção que J. O. dispensou ao jovem artista que então eu era, e sempre que lembro desse nosso primeiro encontro me comovo. O fato é que de imediato surgiu entre nós uma mútua simpatia. Lembro bem da nossa primeira conversa, da sua figura risonha, roliça, sentado à vontade numa imensa poltrona. Ele já era então o maior editor da literatura brasileira, íntimo dos mais poderosos da República, mas mesmo assim tratou-me como um amigo próximo.
Feliz com o tratamento que recebi de J. O., passei a frequentar a editora, que então funcionava na Praça 15, e logo comecei a participar dos almoços e encontros que promovia. Tornei-me amigo dele naquela ocasião, e assim permaneci até sua morte, em maio de 1990. Era hábito de José Olympio receber, depois das 5 da tarde, escritores, artistas, jornalistas e pessoas ligadas à política para trocar ideias. Ele era expansivo, conversava sobre tudo, e irradiava – pelo menos para mim – um sentimento de generosidade. Sua atenção comigo foi algo para mim inesperado, porque eu era um artista iniciante, e ele já o grande editor do Brasil.
Eu lhe tinha respeito e admiração, e me parecia que ele retribuía esses sentimentos por eu ser, provavelmente, a pessoa mais jovem a participar das reuniões. Virei assíduo frequentador da “Casa”, como muitos se referiam à editora, e o nosso convívio só foi interrompido quando viajei, em 1958, para a Europa. Na volta retomamos o contato, e foi aí que recebi o convite para participar, como ilustrador, da edição que ele há muito preparava da obra de Dostoievski.
Ilustrei três obras do gênio russo: O vilarejo de Stiepantchikov e seus habitantes(27), “Polzonovski” (seis) e “Um coração fraco” (oito), todos traduzidos por Olívia Krähenbühl. Da primeira eu tinha conhecimento pelos comentários do Lúcio Cardoso, de quem ouvi várias vezes: “Essa novela está cobrando, há tempos, uma adaptação para teatro e cinema”. O conto “Polzonovski” me surpreendeu pelo fato de o personagem principal, em meio a bebedeiras intermitentes, dizer coisas profundas, que impressionam.
O Dostoievski com as minhas ilustrações saiu pela primeira vez em 1960, mais foi reeditado dois anos depois, agora na coleção encadernada, em dez volumes, empreendimento que acabou por se tornar um marco na história da arte gráfica no país, e hoje é uma raridade. Na novela "O vilarejo de Stepantchikov e seus habitantes", escrita ainda na Sibéria, admiro particularmente o cômico de alguns personagens. E quero deixar registrado que me diverti muito fazendo as ilustrações que agora se reeditam.
Há nesse livro pelo menos três tipos a mencionar: o inesquecível farsante Fomá Opinskin, que muitos críticos consideram um irmão dos grandes personagens de Molière, Dickens e Gogol; o coronel Rostânov, dono da propriedade rural e encarnação de um autêntico cristão; e a afortunada herdeira Tatiana Ivânovna. Mas seria redutor destacar apenas os aspectos farsescos, pois há nele também cenas de tristeza e que nos incomodam o coração. Precisamos ter sempre em mente a declaração de Dostoievski de que o escreveu “com sua carne e seu sangue”.
Posso testemunhar que José Olympio era generoso nos pagamentos, mas em sua editora não era hábito dar recibo: tudo ali funcionava na base da amizade e da confiança. Naquela época, porém, os ilustradores não respeitavam o próprio trabalho; se sentiam mais envaidecidos em fazer o livro do que em receber pagamento. Com José Olympio era diferente: ele estimulava seus colaboradores e se preocupava em ver todos contentes. Pagava bem, embora se reservasse o direito de ficar com os originais das ilustrações, ainda que elas não fossem assinadas, pois não era hábito assinar ilustração. Mas isso são detalhes técnicos…
O mais importante a assinalar são pequenos episódios que ocorreram na minha convivência com J. O. Por exemplo: ele me incumbiu de fazer uma capa para Guimarães Rosa; fui procurar o escritor no Itamaraty, e tivemos uma conversa nos corredores do edifício sobre o que eu estava pretendendo fazer. Então Rosa, no seu português impecável, passou a me dizer o que queria: “Darel, eu quero que você desenhe a varanda de uma fazenda de Minas Gerais, e nela coloque uma moça muito bonita, loura de olhos azuis, mirando perdidamente o pôr do sol”. Ouvi aquelas indicações tão precisas e minuciosas, me despedi, e voltei ao editor para explicar minha dificuldade em trabalhar para alguém que já sabia, de forma tão categórica, o que desejava ver na capa de seu livro. Ele riu, entendeu, e prometeu me chamar assim que tivesse uma nova tarefa a oferecer.
Quando trabalho como ilustrador literário, me ligo mais ao que está nas entrelinhas da obra, na alma do artista, e não numa “situação em ato”, de que vou dar um exemplo: “Fulano entrou, sentou-se na mesa e tomou um xícara de café. O ambiente era penumbroso, etc. etc.”. Eu busco sempre ler o que se encontra nas camadas mais profundas do texto. No meu entender, o ilustrador não deve procurar competir com o fotógrafo, mas se deixar contaminar pelo texto de tal modo que consiga alcançar aos níveis onde o leitor comum nem sempre consegue chegar.
Não sou do tipo que trabalha com “situação em ato”, fiel ao que o escritor deixou na superfície do texto; sou ilustrador, sempre fui, de jornais e revistas, e muitas vezes perdi o emprego por ser um artista que se liga no que há de subjetivo no livro; por exemplo: gosto muito do que fiz para São Bernardo, de Graciliano Ramos, porque todas as ilustrações ali procuram captar o conflito do protagonista, Paulo Honório, com sua mulher. Nos meus desenhos não aparece uma palmeira, um boi de canga, nada que identifique o Nordeste… Fiquei ligado mesmo no relacionamento do casal.
Fonte: Veja, escrito por Augusto Nunes, publicado em 9 de dezembro de 2017. Consultado pela última vez em 6 de maio de 2022.
Crédito fotográfico: Sabujo Filmes, publicado em 8 de maio de 2014. Consultado pela última vez em 9 de maio de 2022.
Darel Valença Lins (Palmares, PE, 7 de dezembro de 1924 — 9 de dezembro de 2017, Rio de Janeiro, RJ), mais conhecido como Darel, foi um pintor, desenhista, gravador, ilustrador e professor de artes plásticas brasileiro. Formado na Escola de Belas Artes do Recife, iniciou a carreira artística atuando com desenhos, trabalhando com ilustração de periódicos. Lecionou gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo – MASP, litografia na Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, no Rio de Janeiro, na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado – Faap, em São Paulo. Sua obra é conhecida mundialmente, em especial na Itália, onde realizou doze murais para a cidade de Reggio Emilia. Ganhou o prêmio gravura no 1º Salão de Arte Moderna do Recife, prêmio viagem ao país e prêmio viagem ao exterior, no Salão Nacional de Arte Moderna, prêmio melhor desenhista nacional na 7ª Bienal Internacional de São Paulo e recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo, pelo melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy.
Biografia — Itaú Cultural
Estudou na Escola de Belas Artes do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, entre 1941 e 1942, e atua como desenhista técnico. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1946. Estudou gravura em metal com Henrique Oswald (1918 - 1965) no Liceu de Artes e Ofícios, em 1948.
Dois anos depois, entra em contato com Oswaldo Goeldi (1895 - 1961). Atua como ilustrador em diversos periódicos, como a revista Manchete e os jornais Última Hora e Diário de Notícias.
Entre 1953 e 1966, encarrega-se das publicações da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. Com o prêmio de viagem ao exterior, recebido no Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM do Rio de Janeiro, em 1957, viaja para a Itália, onde permanece até 1960.
Ilustra diversos livros, como Memórias de um Sargento de Milícias, 1957, de Manuel Antônio de Almeida (1831 - 1861); Poranduba Amazonense, 1961, de Barbosa Rodrigues (1842 - 1909); São Bernardo, 1992, de Graciliano Ramos (1892 - 1953); e A Polaquinha, 2002, de Dalton Trevisan (1925).
Leciona gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1951; litografia na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, entre 1955 e 1957; e na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, em São Paulo, de 1961 a 1964.
Entre 1968 e 1969, realizou painéis como os do Palácio dos Arcos, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
Comentário Crítico
Darel dedica-se a várias técnicas (desenhos, gravuras e pinturas), apresentando uma produção marcada por dois temas principais: as cidades imaginárias e os anjos e as máquinas. Como nota o crítico Frederico Morais, as cidades criadas por Darel são vistas do alto ou à distância. O artista não descreve locais específicos, apenas insinua casas, ruas ou edifícios. A figura humana também não é nítida, aparece como arabesco ou mancha. A partir da década de 1970, ocorre uma mudança em sua produção: o que estava distante se aproxima, e as figuras também se tornam mais concretas. Na opinião do crítico Roberto Pontual, tanto as paisagens do casario de favelas, quanto as vistas das cidades da Itália e os anjos em luta com as máquinas, revelam o interesse caracteristicamente expressionista do artista pela dinâmica do claro-escuro e do cheio-vazio. A produção de Darel aproxima-se, em algumas obras, do realismo fantástico.
Críticas
"O figurativismo, em Darel, não se reduz a ponto de chegada, como se desejasse fixar o real na sua evidência imediata; trata-se, pelo contrário, de instrumento para o comentário e a transcendência, submetendo-o às vezes à atenuação do dispositivo dramatizante por intermédio de indícios construtivos ou, mais comumente, adensando-o no rumo do realismo fantástico. Assim, tanto as paisagens do casario de favelas, suspensas no ar do papel, quanto as vistas que evocam velhas cidades da Espanha e da Itália, pesadas de tempo; tanto os anjos em diálogo e luta com a máquina, espírito tocando a matéria, quanto a demonologia liberada na pintura de agora, alquimicamente armada de cores e angústia, é a agilidade caligráfica de Darel, seu interesse caracteristicamente expressionista pelo claro-escuro e pelo cheio-vazio, o que mais se evidencia como propósito e método. Atrai-lhe sobretudo, segundo suas próprias palavras, organizar, 'dentro de um clima poético, pássaros e máquinas, máquinas e gente, gente e topografia e cidades. Numa outra esfera, transparece a influência do meio social em que vivo, tudo o que esteja relacionado com a realidade do homem. Evidentemente, não me ligo às formas estereotipadas da natureza, nem às fontes de inspiração e imagens tradicionais. Sou assediado por idéias que surgem com força irreprimível e que devem ser traduzidas por sinais inventados". – Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Arte/Brasil/hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973).
"Visceralmente comprometido com a figura humana, Darel só veio a desenhar as primeiras paisagens na Espanha quando lá estava cumprindo o prêmio de viagem que recebeu no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1957. ´A paisagem européia me falava ao lápis´, explica, e acrescenta: ´Ou talvez porque não houvesse canavial nem todo aquele drama social que vivi no interior pernambucano´. Na paisagem de Darel a cidade se organiza no longe, vista do alto, a distância. Ele não descreve situações específicas, apenas insinua edifícios, casas, ruas, becos e roldanas, rampas, fios. É que uma cidade funciona como máquina absurda, triturando o homem como no interior de uma engrenagem. A partir de 1978 ocorrem mudanças em seu trabalho. O que estava distante (cidade) se aproxima, o que flutuava (o anjo e/ou figura de mulher bifacial) baixa à Terra, se faz de carne e osso. O que estava apenas insinuado adquire nitidez, a cor penetra seu desenho. É como se Darel tivesse decidido percorrer as ruas de sua cidade imaginária, disposto a conhecer sua gente, homens e mulheres, cenários e prostíbulos. A cidade ficou real, existe, tem um nome: É Imbariê, na Baixada Fluminense". – Frederico Morais (MORAIS, Frederico. Dacoleção: os caminhos da arte brasileira. Introdução de Cesar Luis Pires de Mello. São Paulo: Júlio Bogoricin Imóveis, c1986).
"Não há dúvida que existe um mundo, uma visão cósmica original e pessoal inerente à linguagem visual de Darel no desenho e na gravura, na pintura a óleo e nas aquarelas, a cidade emerge com seus recantos escondidos e seus monumentos símbolos. A vida urbana atinge uma dramaticidade coral, onde a pluralidade dos elementos plásticos espelha a multiplicidade de sujeitos operantes na alma do autor, as vivências disparadas, as influências cruzadas da metrópole encontram e vivem numa forma de traços incisivos e rápidos, no desenho, nos numerosos e limitados campos de cor, na pintura". – Pedro Manuel Gismondi (GISMONDI, Pedro Manuel. [texto]. In: O Estado dos Afetos : desenho e gravura. Curitiba, 1991. Texto de apresentação da mostra individual, realizada na Galeria Seta, em 1965.)
"(...) beleza e pesadelo marcam a obra de Darel. Como se podem unir estas duas palavras - só Darel sabe porque ele vive os seus sonhos, não como homem irreal, mas como um homem. Quem habita as enormes cidades senão o próprio DareI que sonha e idealiza? Sonhar e idealizar são o ideal de um homem, de uma mulher. Em DareI, além da parte artística propriamente, há uma preocupação com a totalidade do ser humano na sua plenitude. O choque impotente do indivíduo diante da máquina. As cidades escuras onde uma ou outra janela de luz acesa atestam que elas são habitadas. Psicanalisado ou não, trata-se de um grande artista e tenho o que falar no resplandecente mistério de sua obra. Dela emana, tanto da gravura quanto do óleo e do desenho, o grande mistério de viver". – Clarice Lispector (LISPECTOR, Clarice. Gravuras de Darel [álbum], edição única realizada por Julio Pacello, 1968. In: TRÊS mestres da gravura em metal : Darel, Grassmann, Gruber. São Paulo, 1995).
Depoimentos
"Comecei, então, a aprender gravura. Conheci Poty, Goeldi, Augusto Rodrigues, Iberê Camargo e Henrique Oswald, que foi meu primeiro professor, eu o chamava de Lilico. Morreu moço. (...)
Aprendi gravura com Henrique Oswald no Liceu de Artes e Ofícios, onde não se pagava nada, havia material e uma prensa fabulosa. Eu me lembro de que quando entrei e vi um cara fazendo uma gravura, pensei logo: 'Isso é uma barbada'. E fiz uma gravurinha. Quando tirei a prova, me decepcionei. Aquilo era uma coisa dificílima. (...)
Não se fazia mais litografia nos anos 50, ela havia entrado num período de decadência total. Na década de 40, a litografia era o que estampava as revistas O Malho, A Semana. Era o off-set da época. Era usada não como trabalho artístico, mas na imprensa. (...)
Daí comprei uma prensa e a instalei na rua Taylor, na Lapa, buscando ressuscitar a lito no sentido artístico. Eu me lembrava de Munch, o pintor norueguês que fazia litografia nos anos 10 como expressão de arte.
Nessa oficina, eu só fazia litografia; era professor não vinculado às Belas Artes, era professor livre e fazia questão de sê-lo. Eu não queria ser professor da Enba. Queria mostrar também que a lito era uma forma de expressão de arte e não um mero processo de reprodução. (...)
Três grandes gravadores de madeira no Brasil, na minha opinião, são Goeldi, Lívio Abramo e Marcelo Grassmann. (...) Grassmann fazia a coisa aparentemente simples. O corte era em fio comprido, negócio muito simples, a expressão dele é uma coisa! O Lívio Abramo era o próprio requinte, tinha 300 pecinhas para cortar e fazia em topo. Fez muita coisa em cima de topo, todo cheio de impressionismo (...).
Quando comecei a fazer litografia, achava que o litógrafo era um sujeito que desenhava e estampava, e quebrei a cara. (...) Percebi (...) que existe uma divisão: há o litógrafo e há o estampador. Isso aconteceu quando tive uma luz e argumentei comigo mesmo: 'Pelo tamanho do Lautrec, pelo seu físico, se não fossem os estampadores ele jamais teria feito uma litografia'. Hoje em dia é indispensável o estampador. Há, inclusive, os que sabem lidar com a pedra.
O artista, o litógrafo, conhece toda a química da litografia. Lautrec dizia: 'Aprende-se a fazer litografia em duas horas e faz-se uma litografia em seis anos'. Ele conhecia bem a questão. Hoje existe a chamada PA, prova do artista. Ele fica junto ao estampador, realizando várias tentativas de botar os seus negros, de escolher os seus vermelhos, os seus azuis. Uma vez definida a cor, as tonalidades, se vai ser em grafite ou preto denso, isso ou aquilo, ele faz a PA. O artista não fica sobre a prensa para fazer 300 litografias". – Darel Valença Lins - [Sesc Tijuca, 21 de dezembro de 1986]. GRAVURA brasileira hoje II : depoimentos. Rio de Janeiro : Oficina de gravura SESC-Tijuca, 1995. v. 2
Exposições Individuais
1949 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Biblioteca Nacional
1951 - Recife PE - Darel: pintura e desenho, no Gabinete Português de Leitura
1952 - Milão (Itália) - Darel, na Galeria Stendhal
1953 - São Paulo SP - Darel: gravura em metal, no Masp
1958 - Roma (Itália) - Individual, na Galeria Il Siparietto
1960 - São Paulo SP - Darel: desenhos, na Galeria São Luís
1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Petite Galerie
1963 - Buenos Aires (Argentina) - Individual, na Galeria Lascaux
1963 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Petite Galerie
1964 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Petite Galerie
1965 - Roma (Itália) - Darel: aquarela, desenho e gravura, na Galeria de Arte da Casa do Brasil
1965 - Roma (Itália) - Darel: desenho e aquarela, no Pallazzo Doria Panphili
1965 - São Paulo SP - Darel: aquarela, na Seta Galeria de Arte
1966 - Olinda PE - Darel: pinturas, no MAC/PE
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1968 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas, no Gabinete Barcinski
1969 - Rio de Janeiro RJ - Estudos dos Painéis para o Palácio dos Arcos, no MAM/RJ
1969 - São Paulo SP - Darel: pintura e desenhos, na Galeria Cosme Velho
1970 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Grupo B
1972 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Cosme Velho
1972 - São Paulo SP - Individual, na Galeria No Sobrado
1973 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas, na Galeria Vernissage
1973 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Múltipla de Arte
1975 - Bruxelas (Bélgica) - Darel: desenhos e aquarelas, no Palais de Beaux-Arts
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Oficina de Arte
1977 - Copenhague (Dinamarca) - Darel: desenhos e aquarelas, na Cat Galeria
1978 - São Paulo SP - Darel: desenhos e aquarelas, na Cristina Faria de Paula Galeria de Arte
1979 - Rio de Janeiro RJ - Darel: desenhos e aquarelas, na Galeria Gravura Brasileira
1980 - Curitiba PR - Darel 1970-1980, na Biblioteca Pública do Paraná
1981 - Porto Alegre RS - Darel: aquarela, gravura e têmpera, na Galeria do Centro Comercial de Porto Alegre
1981 - Porto Alegre RS - Darel: pintura, desenho e litografia, na Galeria Guignard
1981 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Galeria César Aché
1981 - São Paulo SP - Darel: desenhos, na Galeria Ars Artis
1982 - Vitória ES - Darel: litos e desenhos recentes, na Galeria de Arte e Pesquisa da Ufes
1985 - Recife PE - Darel: 30 anos depois, na Galeria Futuro 25
1985 - Rio de Janeiro RJ - Darel: litografias, na Galeria Gravura Brasileira
1985 - São Paulo SP - Darel: pinturas e desenhos recentes, na Galeria Alberto Bonfiglioli
1986 - Rio de Janeiro RJ - Darel: litografias, na Galeria Paulo Cunha
1987 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas
1987 - São Paulo SP - Darel: gravuras em metal e litografias, na Galeria Intersul
1988 - Rio de Janeiro RJ - Darel: década de 70
1990 - Rio de Janeiro RJ - Individual
1991 - Curitiba PR - O Estado dos Afetos, na Sala Miguel Bakun IV
1991 - Curitiba PR - O Estado dos Afetos, no Solar do Rosário
1991 - Rio de Janeiro RJ - Darel: gravura em metal e lito, no MNBA
1991 - São Paulo SP - Darel: o espaço do artista quando jovem, no Paço das Artes
1996 - Rio de Janeiro RJ - Darel: desenho, gravura em metal e lito, no Instituto Cultural Villa Maurina
1999 - Rio de Janeiro RJ - Darel: gravura fotomontagem lito e plotagem
Exposições Coletivas
1948 - Rio de Janeiro RJ - 54º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de bronze em gravura
1952 - Feira de Santana BA - 1ª Exposição de Arte Moderna de Feira de Santana, no Banco Econômico
1952 - Recife PE - 1º Salão de Arte Moderna do Recife - prêmio gravura
1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna - prêmio viagem ao país
1952 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Artistas Brasileiros, no MAM/RJ
1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais
1954 - Rio de Janeiro RJ - Salão Preto e Branco, no Palácio da Cultura
1956 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Ferroviário , no MEC
1957 - Rio de Janeiro RJ - 6º Salão Nacional de Arte Moderna - prêmio viagem ao exterior
1958 - Rio de Janeiro RJ - Salão do Mar
1961- São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1962 - São Paulo SP - Marcelo Grassmann, Eduardo Sued, Oswaldo Goeldi e Darel, na Galeria Residência
1962 - São Paulo SP - Seleção de Obras de Arte Brasileira da Coleção Ernesto Wolf, no MAM/SP
1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal - prêmio melhor desenhista nacional
1963 - São Paulo SP - Marcelo Grassmann e Darel, na Seta Galeria de Arte
1964 - Rio de Janeiro RJ - 2º O Rosto e a Obra, no Galeria Ibeu Copacabana
1964 - Tóquio (Japão) - 4ª International Biennial Exhibition of Prints
1965 - Bonn (Alemanha) - Brazilian Art Today
1965 - Londres (Inglaterra) - Brazilian Art Today, no Royal Academy of Arts
1965 - Lugano (Suíça) - 9ª Exposizione Internazionale de Bianco e Nero
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1965 - Viena (Áustria) - Brazilian Art Today
1966 - Cornell (Estados Unidos) - Gravadores Brasileiros Contemporâneos, na Universidade de Cornell
1966 - Lugano (Suíça) - 10ª Exposizione Internazionale de Bianco e Nero
1966 - Rio de Janeiro RJ - O Artista e a Máquina, no MAM/RJ
1966 - São Paulo SP - O Artista e a Máquina, no Masp
1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1969 - Rio de Janeiro RJ - 7ª Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - Curitiba PR - 29º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra - artista convidado - prêmio aquisição/desenho
1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Curitiba PR - 1ª Mostra do Desenho Brasileiro, no Museu de Arte do Paraná
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Curitiba PR - 3ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, na Casa da Gravura Solar do Barão
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1981 - São Paulo SP - 6ª Arte no Centro Campestre, no Centro Campestre Sesc Brasílio Machado Neto
1982 - Penápolis SP - 5º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1983 - Olinda PE - 2ª Exposição da Coleção Abelardo Rodrigues de Artes Plásticas, no MAC/PE
1983 - Rio de Janeiro RJ - 6º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1984 - Ribeirão Preto SP - Gravadores Brasileiros Anos 50/60, na Galeria Campus USP-Banespa
1984 - São Paulo SP - 15º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Penápolis SP - 6º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 - Rio de Janeiro RJ - Encontros, na Petite Galerie
1985 - Rio de Janeiro RJ - Velha Mania: desenho brasileiro, na EAV/Parque Lage
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - Destaques da Arte Contemporânea Brasileira, no MAM/SP
1986 - Curitiba PR - 7º Acervo do Museu Nacional da Gravura - Casa da Gravura, no Museu Guido Viaro
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs
1988 - Lisboa (Portugal) - Pioneiros e Discípulos, na Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1989 - Olinda PE - Viva Olinda Viva, no Atelier Coletivo
1989 - Recife PE - Jogo de Memória
1989 - Rio de Janeiro RJ - Jogo de Memória, na Montesanti Galleria
1989 - Rio de Janeiro RJ - Gravura Brasileira: 4 temas, na EAV/Parque Lage
1989 - São Paulo SP - Jogo de Memória, na Galeria Montesanti Roesler
1990 - Curitiba PR - 9ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba, no Museu da Gravura - artista convidado/sala especial de litografia
1990 - Curitiba PR - 9º Artistas Convidados: litografias, na Casa Romário Martins
1991 - Curitiba PR - Museu Municipal de Arte: acervo, no Museu Municipal de Arte
1992 - Rio de Janeiro RJ - Gravura de Arte no Brasil: proposta para um mapeamento, no CCBB
1992 - Santo André SP- Litogravura: métodos e conceitos, no Paço Municipal
1993 - Lisboa (Portugal) - Matrizes e Gravuras Brasileiras: Coleção Guita e José Mindlin, na Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1994 - Pequim (China) - Contemporany Art in Brazil: works on paper, no Yan Huang Art Museum
1995 - São Paulo SP - Três Mestres da Gravura em Metal: Darel, Grassmann, Gruber, no Museu Banespa
1996 - São Paulo SP- Ex Libris/Home Page, no Paço das Artes
1997 - Barra Mansa RJ - Traços Contemporâneos: homenagem a gravura brasileira, no Centro Universitário de Barra Mansa
1997 - São Paulo SP - A Cidade dos Artistas, no MAC/USP
1998 - São Paulo SP - Impressões: a arte da gravura brasileira, no Espaço Cultural Banespa
1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras, na Galeria de Arte do Sesi
1999 - Niterói RJ - Mostra Rio Gravura: Acervo Banerj, no Museu Histórico do Ingá
1999 - São Paulo SP- Litografia: fidelidade e memória, no Espaço de Arte Unicid
2000 - Curitiba PR - Exposição Acervo Badep, na SEEC
2000 - São Paulo SP - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Mercado de Arte nº 9, na Ricardo Camargo Galeria
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2001 - Brasília DF - Coleções do Brasil, no CCBB
2001 - Brasília DF - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaugaleria
2001 - Penápolis SP - Investigações. A Gravura Brasileira, na Galeria Itaú Cultural
2001 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Antônio Carlos Jobim, no Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - Passo Fundo RS - Gravuras: Coleção Paulo Dalacorte, no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider
2002 - Porto Alegre RS - Desenhos, Gravuras, Esculturas e Aquarelas, na Garagem de Arte
2002 - Porto Alegre RS - Gravuras: Coleção Paulo Dalacorte, no Museu do Trabalho
2003 - São Paulo SP - Entre Aberto, na Gravura Brasileira
2004 - São Paulo SP - Novas Aquisições: 1995 - 2003, no MAB/Faap
Fonte: DAREL. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 06 de maio de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia — Wikipédia
Em 1937 aprendeu desenho técnico e começou a dedicar-se ao desenho à mão livre. Estudou na Escola de Belas Artes do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, entre 1941 e 1942, e atua como desenhista técnico. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1946.
Estuda gravura em metal com Henrique Oswald (1918 - 1965) no Liceu de Artes e Ofícios, em 1948. Dois anos depois, entra em contato com Oswaldo Goeldi (1895 - 1961). Atua como ilustrador em diversos periódicos, como para a revista Manchete, Senhor, Revista da Semana entre outras e os jornais Última Hora, O Jornal e Diário de Notícias. Entre 1953 e 1966, encarrega-se das publicações da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil.
Com o prêmio de viagem ao exterior, recebido no Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM do Rio de Janeiro, em 1957, viaja para a Itália, onde permanece até 1960. Época em que realizou doze murais para a cidade de Reggio Emilia.
De volta ao Rio de Janeiro, ilustrou diversas obras literárias, como Memórias de um Sargento de Milícias, 1957, de Manuel Antônio de Almeida (1831 - 1861); Poranduba Amazonense, 1961, de Barbosa Rodrigues (1842 - 1909); São Bernardo, 1992, de Graciliano Ramos (1892 - 1953); e A Polaquinha, 2002, de Dalton Trevisan (1925) e Humilhados e Ofendidos, de Dostoievski. Leciona gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1951; litografia na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, entre 1955 e 1957; e na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, em São Paulo, de 1961 a 1964.
Retomou as atividades no jornalismo e realizou uma série de colagens e fotomontagens para as crônicas de Antônio Maria, na Revista da Semana. Entre 1968 e 1969, realizou painéis como os do Palácio dos Arcos, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, para a Olivetti (1970) e para a IBM do Brasil (1979). Em 1982 recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo pelo melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy.
Formação
1937 - Catente PE - Inicia aprendizado de desenhista técnico de máquinas na Usina de Catente e dedica-se à prática do desenho à mão livre
1941/1942 - Recife PE - Estuda na Escola de Belas Artes
1947 - Rio de Janeiro RJ - Matricula-se no Liceu de Artes e Ofícios, onde estuda gravura em metal com Henrique Oswald
1958 - Roma (Itália) - Interessa-se pela obra de Pisarello
Cronologia
1937 - Vive na cidade de Catente, em Pernambuco
1941 - É desenhista no Departamento Nacional de Obras e Saneamento de Recife
1941 - Vive em Recife
1945 - Vive no Rio de Janeiro
1950 - Recebe o Prêmio Parkes pelo Ibeu
1951/1953 - Leciona gravura em metal no Masp
1953/1966 - Diretor-técnico da editora Os Cem Bibliófilos do Brasil
1954/1956 - Ilustra diversos jornais como Última Hora, Diário de Notícias, O Jornal, e as revistas Senhor, Manchete e Revista da Semana, entre outras
1954/1956 - Leciona litografia na Enba
1959/1960 - Realiza doze murais em Reggio Emilio, Na Itália
1960 - Finaliza a gravação das ilustrações de Poranduba Amazonenses, textos de Barbosa Rodrigues, editado pelo Clube dos Cem Bibliófilos do Brasil
ca.1961 - Ilustra obras literárias, entre as quais Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e Amos e Servos, de Dostoievski
1961/1962 - Retoma suas atividades no jornalismo e realiza uma série de colagem e fotomontagem para as crônicas de Antônio Maria (1921 - 1964), na Revista da Semana
1964 - Prêmio de desenho no 2ª Resumo de Arte do Jornal do Brasil, no MAM/RJ
1961/1965 - Leciona litografia na Faap, em São Paulo
1966 - Participa do 15º Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro como membro do júri de seleção e premiação
1968 - É editado álbum com doze gravuras em metal, organizado por Júlio Pacello, com texto de Clarice Lispector
1968/1969 - Executa painéis para o Palácio dos Arcos, em Brasília
1970 - Executa painel para a Olivetti
1979 - Executa painel para a IBM do Brasil
1982 - Recebe o Prêmio Abril de Jornalismo, melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 6 de maio de 2022.
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Darel Valença Lins (09/12/1924 – 7/12/2017) — VEJA
Comecei a trabalhar com 13 anos, fazendo desenhos técnicos, de máquinas e de topografia, na Usina Catende, no interior de Pernambuco. Ao me mudar para o Recife, na condição de funcionário público do DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento), frequentei a Escola de Belas Artes, onde estudei pintura e arquitetura. Quando fui transferido para o Rio de Janeiro em 1946, com 19 anos, minha função principal era fazer desenhos em perspectiva dos projetos em andamento no DNOS. Um dia sai para um lanche com colegas de trabalho, e resolvi abandonar o emprego, porque decidira que desejava mesmo era ser artista. Ato contínuo, fui estudar gravura em metal com Henrique Oswald. Desde então mais de sessenta anos se passaram…
Na década de 50, era hábito dos artistas e escritores – Lúcio Cardoso, Iberê Camargo, Portinari, Pancetti, Joaquim Tenreiro e um grande amigo esquecido que, na minha opinião, foi o maior cenógrafo do Brasil: Sansão Castelo Branco – fazer ponto no Vermelhinho, um bar que funcionava próximo à ABI, então local de encontro dos artistas e intelectuais. Certa noite, enquanto esperávamos o trânsito melhorar para pegarmos o lotação que nos levaria para casa, o Iberê Camargo veio me pedir para eu assinar uma petição endereçada a um certo ministro*, de quem não lembro o nome, solicitando autorização para trazer tintas e papéis da França.
Como naquela época eu me encontrava sem emprego e sem dinheiro, e sabendo que era hábito do Iberê fabricar essas petições das quais o maior beneficiário sempre era ele, e não a comunidade artística, me irritei e disse que não ia assinar nada, que ele era um egocêntrico, que só estava preocupado consigo mesmo e não com a continuidade do trabalho dos artistas com quem convivia.
Iberê ficou gauchamente irritado, e por pouco não saímos na porrada. Foi uma briga feia, ficamos um bom tempo estremecidos, mas aí aconteceu o seguinte: o irmão do Portinari, o Loyo – diretor técnico da Confraria dos Cem Bibliófilos do Brasil, que sabia da minha briga com o Iberê e de gravura em metal não entendia nada – me ofereceu um spaghetti, ocasião em que perguntou: “Darel, você quer ser diretor técnico da Confraria?”
Respondi que sim, e que o convite chegava em boa hora, pois estava sem emprego. Ele disse que confirmava minha indicação contanto que eu resolvesse uma questão: o Iberê estava fazendo um livro para a Confraria, mas vinha criando muitos problemas. “O emprego é seu se catimbozar o trabalho do Iberê, impedindo-o de fazer esse livro”, insistiu o Loyo.
Garanti que resolveria a questão, e ele então falou com o Raymundo Castro Maya, fundador da Confraria. Minha primeira providência na nova função foi telefonar para o Iberê, comunicar-lhe a minha nomeação e perguntar qual a dificuldade que vinha tendo para finalizar o trabalho para o qual fora convidado. Ele me contou que a demora se devia ao fato de estar usando a técnica de (verniz mole) para estampar as gravuras em metal que iriam ilustrar o livro , de Inglês de Sousa.
Afirmei-lhe que o nosso problema pessoal ficava à parte, e que tinha grande interesse em colaborar com ele nesse trabalho, já que se tratava de uma técnica complicada que nem mesmo eu, um gravador experiente, dominava por completo. Deixei claro, portanto, que nosso desentendimento era coisa do passado, e que agora o que interessava era lhe dar as condições necessárias para finalizar as ilustrações.
Iberê ficou verdadeiramente comovido com o meu gesto, animou-se e concluiu a tarefa. Depois desse episódio voltamos às boas, e ele se tornou meu amigo pelo resto da vida, de tal modo que, quando encontrava comigo na rua, me abraçava e às vezes até chorava. Todo sábado eu e um grupo de amigos, entre eles Maria Leontina e Inimá de Paula, íamos ao seu ateliê tomar chimarrão e colocar a conversa em dia.
Bem, voltando ao Vermelhinho… Talvez o mais interessante a contar é que, por volta de 1953, me tornei grande amigo do Lúcio Cardoso, que estava escrevendo, à mão, o romance Crônica da casa assassinada. Quando tomávamos o lotação, era hábito dele, durante a viagem, ler para mim os capítulos que havia finalizado, e, como éramos ambos admiradores de Dostoievski, Gogol e toda a literatura russa, muitas vezes nossa conversa descambava para as afinidades existentes entre os personagens de Dostoievski e os que ele vinha criando.
Lúcio era então considerado o melhor tradutor de francês do Brasil, apesar de só ter cursado até o terceiro ano primário. Embora fosse funcionário público, lotado em não sei qual repartição, e também irmão do deputado Adauto Lúcio Cardoso, o que realmente o sustentava era o dinheiro ganho como tradutor, pois seus livros vendiam pouco. Ele morava então na Lagoa, com a mãe e a irmã, Helena. Depois que a mãe morreu, e ele ficou doente por quase sete anos, quem cuidou dele foi a irmã, seu anjo da guarda.
Conversávamos muito sobre as nossas leituras, particularmente sobre Dostoievski. Acho que foi devido a isso que Lúcio teve a ideia de me aproximar de José Olympio, pois estava informado do seu projeto de editar o russo com ilustrações. Lúcio tinha um senso crítico muito aguçado. Lembro que, apesar de sua admiração por Guimarães Rosa, não aceitava o final de Grande sertão: veredas, quando se descobre que Diadorim é mulher. Para Lúcio, que não escondia a homossexualidade, o Rosa não tivera coragem de assumir a personagem Riobaldo como homossexual. Então dizia que no livro que escrevia, a Crônica , não se deixaria domar por preconceito nenhum; o fato é que também não teve coragem de tratar a fundo o problema.
Ele costumava me dizer: “Darel, o meu livro vai terminar com o filho tendo uma relação sexual com a mãe, velha e cancerosa”, mas acho que teve de amenizar essa situação. Bebia muito; quando sofreu o segundo derrame, ficou mudo, hemiplégico, sem capacidade para escrever, e então passou a desenhar com a mão esquerda, com resultados muito bons – tanto que chegou a fazer uma exposição de pinturas e desenhos. Mas nunca falamos a respeito dessa sua nova forma de expressão, à qual foi levado pelo desespero de não conseguir mais escrever como antes.
Seus últimos anos foram como artista plástico. Uma vez fui visitá-lo e, vendo que pintava em pastel, e que o desenho parecia bom, perguntei: “O que você está fazendo?” Ele ouvia bem mas não falava, e me respondeu por escrito: “Darel, eu bebi uma rua de magnólia”. O que significava essa resposta? O pai dele tinha sido rico, e deixara um bom dinheiro. Logo percebi que o Lúcio estava se referindo a essa herança paterna que ajudara a dilapidar. Ele remoía as lembranças da infância, pois vivera numa rua onde havia muitas flores. Ou seja, subtendi aí que as paisagens que desenhava eram as de Minas Gerais que guardara na memória.
Ao concluir a Crônica, Lúcio Cardoso me levou ao José Olympio e acertou para que eu desenhasse a capa do livro, publicado em 1959, quando me encontrava na Europa. Antes, em 1957, já fizera um trabalho para a editora – a capa e as ilustrações do livro de contos Terno de Reis, do Ricardo Ramos, filho do Graciliano – mas só vim a conhecer o dono pessoalmente quando Lúcio me levou até ele.
Fiquei envaidecido com a atenção que J. O. dispensou ao jovem artista que então eu era, e sempre que lembro desse nosso primeiro encontro me comovo. O fato é que de imediato surgiu entre nós uma mútua simpatia. Lembro bem da nossa primeira conversa, da sua figura risonha, roliça, sentado à vontade numa imensa poltrona. Ele já era então o maior editor da literatura brasileira, íntimo dos mais poderosos da República, mas mesmo assim tratou-me como um amigo próximo.
Feliz com o tratamento que recebi de J. O., passei a frequentar a editora, que então funcionava na Praça 15, e logo comecei a participar dos almoços e encontros que promovia. Tornei-me amigo dele naquela ocasião, e assim permaneci até sua morte, em maio de 1990. Era hábito de José Olympio receber, depois das 5 da tarde, escritores, artistas, jornalistas e pessoas ligadas à política para trocar ideias. Ele era expansivo, conversava sobre tudo, e irradiava – pelo menos para mim – um sentimento de generosidade. Sua atenção comigo foi algo para mim inesperado, porque eu era um artista iniciante, e ele já o grande editor do Brasil.
Eu lhe tinha respeito e admiração, e me parecia que ele retribuía esses sentimentos por eu ser, provavelmente, a pessoa mais jovem a participar das reuniões. Virei assíduo frequentador da “Casa”, como muitos se referiam à editora, e o nosso convívio só foi interrompido quando viajei, em 1958, para a Europa. Na volta retomamos o contato, e foi aí que recebi o convite para participar, como ilustrador, da edição que ele há muito preparava da obra de Dostoievski.
Ilustrei três obras do gênio russo: O vilarejo de Stiepantchikov e seus habitantes(27), “Polzonovski” (seis) e “Um coração fraco” (oito), todos traduzidos por Olívia Krähenbühl. Da primeira eu tinha conhecimento pelos comentários do Lúcio Cardoso, de quem ouvi várias vezes: “Essa novela está cobrando, há tempos, uma adaptação para teatro e cinema”. O conto “Polzonovski” me surpreendeu pelo fato de o personagem principal, em meio a bebedeiras intermitentes, dizer coisas profundas, que impressionam.
O Dostoievski com as minhas ilustrações saiu pela primeira vez em 1960, mais foi reeditado dois anos depois, agora na coleção encadernada, em dez volumes, empreendimento que acabou por se tornar um marco na história da arte gráfica no país, e hoje é uma raridade. Na novela "O vilarejo de Stepantchikov e seus habitantes", escrita ainda na Sibéria, admiro particularmente o cômico de alguns personagens. E quero deixar registrado que me diverti muito fazendo as ilustrações que agora se reeditam.
Há nesse livro pelo menos três tipos a mencionar: o inesquecível farsante Fomá Opinskin, que muitos críticos consideram um irmão dos grandes personagens de Molière, Dickens e Gogol; o coronel Rostânov, dono da propriedade rural e encarnação de um autêntico cristão; e a afortunada herdeira Tatiana Ivânovna. Mas seria redutor destacar apenas os aspectos farsescos, pois há nele também cenas de tristeza e que nos incomodam o coração. Precisamos ter sempre em mente a declaração de Dostoievski de que o escreveu “com sua carne e seu sangue”.
Posso testemunhar que José Olympio era generoso nos pagamentos, mas em sua editora não era hábito dar recibo: tudo ali funcionava na base da amizade e da confiança. Naquela época, porém, os ilustradores não respeitavam o próprio trabalho; se sentiam mais envaidecidos em fazer o livro do que em receber pagamento. Com José Olympio era diferente: ele estimulava seus colaboradores e se preocupava em ver todos contentes. Pagava bem, embora se reservasse o direito de ficar com os originais das ilustrações, ainda que elas não fossem assinadas, pois não era hábito assinar ilustração. Mas isso são detalhes técnicos…
O mais importante a assinalar são pequenos episódios que ocorreram na minha convivência com J. O. Por exemplo: ele me incumbiu de fazer uma capa para Guimarães Rosa; fui procurar o escritor no Itamaraty, e tivemos uma conversa nos corredores do edifício sobre o que eu estava pretendendo fazer. Então Rosa, no seu português impecável, passou a me dizer o que queria: “Darel, eu quero que você desenhe a varanda de uma fazenda de Minas Gerais, e nela coloque uma moça muito bonita, loura de olhos azuis, mirando perdidamente o pôr do sol”. Ouvi aquelas indicações tão precisas e minuciosas, me despedi, e voltei ao editor para explicar minha dificuldade em trabalhar para alguém que já sabia, de forma tão categórica, o que desejava ver na capa de seu livro. Ele riu, entendeu, e prometeu me chamar assim que tivesse uma nova tarefa a oferecer.
Quando trabalho como ilustrador literário, me ligo mais ao que está nas entrelinhas da obra, na alma do artista, e não numa “situação em ato”, de que vou dar um exemplo: “Fulano entrou, sentou-se na mesa e tomou um xícara de café. O ambiente era penumbroso, etc. etc.”. Eu busco sempre ler o que se encontra nas camadas mais profundas do texto. No meu entender, o ilustrador não deve procurar competir com o fotógrafo, mas se deixar contaminar pelo texto de tal modo que consiga alcançar aos níveis onde o leitor comum nem sempre consegue chegar.
Não sou do tipo que trabalha com “situação em ato”, fiel ao que o escritor deixou na superfície do texto; sou ilustrador, sempre fui, de jornais e revistas, e muitas vezes perdi o emprego por ser um artista que se liga no que há de subjetivo no livro; por exemplo: gosto muito do que fiz para São Bernardo, de Graciliano Ramos, porque todas as ilustrações ali procuram captar o conflito do protagonista, Paulo Honório, com sua mulher. Nos meus desenhos não aparece uma palmeira, um boi de canga, nada que identifique o Nordeste… Fiquei ligado mesmo no relacionamento do casal.
Fonte: Veja, escrito por Augusto Nunes, publicado em 9 de dezembro de 2017. Consultado pela última vez em 6 de maio de 2022.
Crédito fotográfico: Sabujo Filmes, publicado em 8 de maio de 2014. Consultado pela última vez em 9 de maio de 2022.
Darel Valença Lins (Palmares, PE, 7 de dezembro de 1924 — 9 de dezembro de 2017, Rio de Janeiro, RJ), mais conhecido como Darel, foi um pintor, desenhista, gravador, ilustrador e professor de artes plásticas brasileiro. Formado na Escola de Belas Artes do Recife, iniciou a carreira artística atuando com desenhos, trabalhando com ilustração de periódicos. Lecionou gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo – MASP, litografia na Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, no Rio de Janeiro, na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado – Faap, em São Paulo. Sua obra é conhecida mundialmente, em especial na Itália, onde realizou doze murais para a cidade de Reggio Emilia. Ganhou o prêmio gravura no 1º Salão de Arte Moderna do Recife, prêmio viagem ao país e prêmio viagem ao exterior, no Salão Nacional de Arte Moderna, prêmio melhor desenhista nacional na 7ª Bienal Internacional de São Paulo e recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo, pelo melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy.
Biografia — Itaú Cultural
Estudou na Escola de Belas Artes do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, entre 1941 e 1942, e atua como desenhista técnico. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1946. Estudou gravura em metal com Henrique Oswald (1918 - 1965) no Liceu de Artes e Ofícios, em 1948.
Dois anos depois, entra em contato com Oswaldo Goeldi (1895 - 1961). Atua como ilustrador em diversos periódicos, como a revista Manchete e os jornais Última Hora e Diário de Notícias.
Entre 1953 e 1966, encarrega-se das publicações da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. Com o prêmio de viagem ao exterior, recebido no Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM do Rio de Janeiro, em 1957, viaja para a Itália, onde permanece até 1960.
Ilustra diversos livros, como Memórias de um Sargento de Milícias, 1957, de Manuel Antônio de Almeida (1831 - 1861); Poranduba Amazonense, 1961, de Barbosa Rodrigues (1842 - 1909); São Bernardo, 1992, de Graciliano Ramos (1892 - 1953); e A Polaquinha, 2002, de Dalton Trevisan (1925).
Leciona gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1951; litografia na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, entre 1955 e 1957; e na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, em São Paulo, de 1961 a 1964.
Entre 1968 e 1969, realizou painéis como os do Palácio dos Arcos, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
Comentário Crítico
Darel dedica-se a várias técnicas (desenhos, gravuras e pinturas), apresentando uma produção marcada por dois temas principais: as cidades imaginárias e os anjos e as máquinas. Como nota o crítico Frederico Morais, as cidades criadas por Darel são vistas do alto ou à distância. O artista não descreve locais específicos, apenas insinua casas, ruas ou edifícios. A figura humana também não é nítida, aparece como arabesco ou mancha. A partir da década de 1970, ocorre uma mudança em sua produção: o que estava distante se aproxima, e as figuras também se tornam mais concretas. Na opinião do crítico Roberto Pontual, tanto as paisagens do casario de favelas, quanto as vistas das cidades da Itália e os anjos em luta com as máquinas, revelam o interesse caracteristicamente expressionista do artista pela dinâmica do claro-escuro e do cheio-vazio. A produção de Darel aproxima-se, em algumas obras, do realismo fantástico.
Críticas
"O figurativismo, em Darel, não se reduz a ponto de chegada, como se desejasse fixar o real na sua evidência imediata; trata-se, pelo contrário, de instrumento para o comentário e a transcendência, submetendo-o às vezes à atenuação do dispositivo dramatizante por intermédio de indícios construtivos ou, mais comumente, adensando-o no rumo do realismo fantástico. Assim, tanto as paisagens do casario de favelas, suspensas no ar do papel, quanto as vistas que evocam velhas cidades da Espanha e da Itália, pesadas de tempo; tanto os anjos em diálogo e luta com a máquina, espírito tocando a matéria, quanto a demonologia liberada na pintura de agora, alquimicamente armada de cores e angústia, é a agilidade caligráfica de Darel, seu interesse caracteristicamente expressionista pelo claro-escuro e pelo cheio-vazio, o que mais se evidencia como propósito e método. Atrai-lhe sobretudo, segundo suas próprias palavras, organizar, 'dentro de um clima poético, pássaros e máquinas, máquinas e gente, gente e topografia e cidades. Numa outra esfera, transparece a influência do meio social em que vivo, tudo o que esteja relacionado com a realidade do homem. Evidentemente, não me ligo às formas estereotipadas da natureza, nem às fontes de inspiração e imagens tradicionais. Sou assediado por idéias que surgem com força irreprimível e que devem ser traduzidas por sinais inventados". – Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Arte/Brasil/hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973).
"Visceralmente comprometido com a figura humana, Darel só veio a desenhar as primeiras paisagens na Espanha quando lá estava cumprindo o prêmio de viagem que recebeu no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1957. ´A paisagem européia me falava ao lápis´, explica, e acrescenta: ´Ou talvez porque não houvesse canavial nem todo aquele drama social que vivi no interior pernambucano´. Na paisagem de Darel a cidade se organiza no longe, vista do alto, a distância. Ele não descreve situações específicas, apenas insinua edifícios, casas, ruas, becos e roldanas, rampas, fios. É que uma cidade funciona como máquina absurda, triturando o homem como no interior de uma engrenagem. A partir de 1978 ocorrem mudanças em seu trabalho. O que estava distante (cidade) se aproxima, o que flutuava (o anjo e/ou figura de mulher bifacial) baixa à Terra, se faz de carne e osso. O que estava apenas insinuado adquire nitidez, a cor penetra seu desenho. É como se Darel tivesse decidido percorrer as ruas de sua cidade imaginária, disposto a conhecer sua gente, homens e mulheres, cenários e prostíbulos. A cidade ficou real, existe, tem um nome: É Imbariê, na Baixada Fluminense". – Frederico Morais (MORAIS, Frederico. Dacoleção: os caminhos da arte brasileira. Introdução de Cesar Luis Pires de Mello. São Paulo: Júlio Bogoricin Imóveis, c1986).
"Não há dúvida que existe um mundo, uma visão cósmica original e pessoal inerente à linguagem visual de Darel no desenho e na gravura, na pintura a óleo e nas aquarelas, a cidade emerge com seus recantos escondidos e seus monumentos símbolos. A vida urbana atinge uma dramaticidade coral, onde a pluralidade dos elementos plásticos espelha a multiplicidade de sujeitos operantes na alma do autor, as vivências disparadas, as influências cruzadas da metrópole encontram e vivem numa forma de traços incisivos e rápidos, no desenho, nos numerosos e limitados campos de cor, na pintura". – Pedro Manuel Gismondi (GISMONDI, Pedro Manuel. [texto]. In: O Estado dos Afetos : desenho e gravura. Curitiba, 1991. Texto de apresentação da mostra individual, realizada na Galeria Seta, em 1965.)
"(...) beleza e pesadelo marcam a obra de Darel. Como se podem unir estas duas palavras - só Darel sabe porque ele vive os seus sonhos, não como homem irreal, mas como um homem. Quem habita as enormes cidades senão o próprio DareI que sonha e idealiza? Sonhar e idealizar são o ideal de um homem, de uma mulher. Em DareI, além da parte artística propriamente, há uma preocupação com a totalidade do ser humano na sua plenitude. O choque impotente do indivíduo diante da máquina. As cidades escuras onde uma ou outra janela de luz acesa atestam que elas são habitadas. Psicanalisado ou não, trata-se de um grande artista e tenho o que falar no resplandecente mistério de sua obra. Dela emana, tanto da gravura quanto do óleo e do desenho, o grande mistério de viver". – Clarice Lispector (LISPECTOR, Clarice. Gravuras de Darel [álbum], edição única realizada por Julio Pacello, 1968. In: TRÊS mestres da gravura em metal : Darel, Grassmann, Gruber. São Paulo, 1995).
Depoimentos
"Comecei, então, a aprender gravura. Conheci Poty, Goeldi, Augusto Rodrigues, Iberê Camargo e Henrique Oswald, que foi meu primeiro professor, eu o chamava de Lilico. Morreu moço. (...)
Aprendi gravura com Henrique Oswald no Liceu de Artes e Ofícios, onde não se pagava nada, havia material e uma prensa fabulosa. Eu me lembro de que quando entrei e vi um cara fazendo uma gravura, pensei logo: 'Isso é uma barbada'. E fiz uma gravurinha. Quando tirei a prova, me decepcionei. Aquilo era uma coisa dificílima. (...)
Não se fazia mais litografia nos anos 50, ela havia entrado num período de decadência total. Na década de 40, a litografia era o que estampava as revistas O Malho, A Semana. Era o off-set da época. Era usada não como trabalho artístico, mas na imprensa. (...)
Daí comprei uma prensa e a instalei na rua Taylor, na Lapa, buscando ressuscitar a lito no sentido artístico. Eu me lembrava de Munch, o pintor norueguês que fazia litografia nos anos 10 como expressão de arte.
Nessa oficina, eu só fazia litografia; era professor não vinculado às Belas Artes, era professor livre e fazia questão de sê-lo. Eu não queria ser professor da Enba. Queria mostrar também que a lito era uma forma de expressão de arte e não um mero processo de reprodução. (...)
Três grandes gravadores de madeira no Brasil, na minha opinião, são Goeldi, Lívio Abramo e Marcelo Grassmann. (...) Grassmann fazia a coisa aparentemente simples. O corte era em fio comprido, negócio muito simples, a expressão dele é uma coisa! O Lívio Abramo era o próprio requinte, tinha 300 pecinhas para cortar e fazia em topo. Fez muita coisa em cima de topo, todo cheio de impressionismo (...).
Quando comecei a fazer litografia, achava que o litógrafo era um sujeito que desenhava e estampava, e quebrei a cara. (...) Percebi (...) que existe uma divisão: há o litógrafo e há o estampador. Isso aconteceu quando tive uma luz e argumentei comigo mesmo: 'Pelo tamanho do Lautrec, pelo seu físico, se não fossem os estampadores ele jamais teria feito uma litografia'. Hoje em dia é indispensável o estampador. Há, inclusive, os que sabem lidar com a pedra.
O artista, o litógrafo, conhece toda a química da litografia. Lautrec dizia: 'Aprende-se a fazer litografia em duas horas e faz-se uma litografia em seis anos'. Ele conhecia bem a questão. Hoje existe a chamada PA, prova do artista. Ele fica junto ao estampador, realizando várias tentativas de botar os seus negros, de escolher os seus vermelhos, os seus azuis. Uma vez definida a cor, as tonalidades, se vai ser em grafite ou preto denso, isso ou aquilo, ele faz a PA. O artista não fica sobre a prensa para fazer 300 litografias". – Darel Valença Lins - [Sesc Tijuca, 21 de dezembro de 1986]. GRAVURA brasileira hoje II : depoimentos. Rio de Janeiro : Oficina de gravura SESC-Tijuca, 1995. v. 2
Exposições Individuais
1949 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Biblioteca Nacional
1951 - Recife PE - Darel: pintura e desenho, no Gabinete Português de Leitura
1952 - Milão (Itália) - Darel, na Galeria Stendhal
1953 - São Paulo SP - Darel: gravura em metal, no Masp
1958 - Roma (Itália) - Individual, na Galeria Il Siparietto
1960 - São Paulo SP - Darel: desenhos, na Galeria São Luís
1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Petite Galerie
1963 - Buenos Aires (Argentina) - Individual, na Galeria Lascaux
1963 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Petite Galerie
1964 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Petite Galerie
1965 - Roma (Itália) - Darel: aquarela, desenho e gravura, na Galeria de Arte da Casa do Brasil
1965 - Roma (Itália) - Darel: desenho e aquarela, no Pallazzo Doria Panphili
1965 - São Paulo SP - Darel: aquarela, na Seta Galeria de Arte
1966 - Olinda PE - Darel: pinturas, no MAC/PE
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Mirante das Artes
1968 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas, no Gabinete Barcinski
1969 - Rio de Janeiro RJ - Estudos dos Painéis para o Palácio dos Arcos, no MAM/RJ
1969 - São Paulo SP - Darel: pintura e desenhos, na Galeria Cosme Velho
1970 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Grupo B
1972 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Cosme Velho
1972 - São Paulo SP - Individual, na Galeria No Sobrado
1973 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas, na Galeria Vernissage
1973 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Múltipla de Arte
1975 - Bruxelas (Bélgica) - Darel: desenhos e aquarelas, no Palais de Beaux-Arts
1976 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Oficina de Arte
1977 - Copenhague (Dinamarca) - Darel: desenhos e aquarelas, na Cat Galeria
1978 - São Paulo SP - Darel: desenhos e aquarelas, na Cristina Faria de Paula Galeria de Arte
1979 - Rio de Janeiro RJ - Darel: desenhos e aquarelas, na Galeria Gravura Brasileira
1980 - Curitiba PR - Darel 1970-1980, na Biblioteca Pública do Paraná
1981 - Porto Alegre RS - Darel: aquarela, gravura e têmpera, na Galeria do Centro Comercial de Porto Alegre
1981 - Porto Alegre RS - Darel: pintura, desenho e litografia, na Galeria Guignard
1981 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas e desenhos, na Galeria César Aché
1981 - São Paulo SP - Darel: desenhos, na Galeria Ars Artis
1982 - Vitória ES - Darel: litos e desenhos recentes, na Galeria de Arte e Pesquisa da Ufes
1985 - Recife PE - Darel: 30 anos depois, na Galeria Futuro 25
1985 - Rio de Janeiro RJ - Darel: litografias, na Galeria Gravura Brasileira
1985 - São Paulo SP - Darel: pinturas e desenhos recentes, na Galeria Alberto Bonfiglioli
1986 - Rio de Janeiro RJ - Darel: litografias, na Galeria Paulo Cunha
1987 - Rio de Janeiro RJ - Darel: pinturas
1987 - São Paulo SP - Darel: gravuras em metal e litografias, na Galeria Intersul
1988 - Rio de Janeiro RJ - Darel: década de 70
1990 - Rio de Janeiro RJ - Individual
1991 - Curitiba PR - O Estado dos Afetos, na Sala Miguel Bakun IV
1991 - Curitiba PR - O Estado dos Afetos, no Solar do Rosário
1991 - Rio de Janeiro RJ - Darel: gravura em metal e lito, no MNBA
1991 - São Paulo SP - Darel: o espaço do artista quando jovem, no Paço das Artes
1996 - Rio de Janeiro RJ - Darel: desenho, gravura em metal e lito, no Instituto Cultural Villa Maurina
1999 - Rio de Janeiro RJ - Darel: gravura fotomontagem lito e plotagem
Exposições Coletivas
1948 - Rio de Janeiro RJ - 54º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA - medalha de bronze em gravura
1952 - Feira de Santana BA - 1ª Exposição de Arte Moderna de Feira de Santana, no Banco Econômico
1952 - Recife PE - 1º Salão de Arte Moderna do Recife - prêmio gravura
1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna - prêmio viagem ao país
1952 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Artistas Brasileiros, no MAM/RJ
1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais
1954 - Rio de Janeiro RJ - Salão Preto e Branco, no Palácio da Cultura
1956 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Ferroviário , no MEC
1957 - Rio de Janeiro RJ - 6º Salão Nacional de Arte Moderna - prêmio viagem ao exterior
1958 - Rio de Janeiro RJ - Salão do Mar
1961- São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1962 - São Paulo SP - Marcelo Grassmann, Eduardo Sued, Oswaldo Goeldi e Darel, na Galeria Residência
1962 - São Paulo SP - Seleção de Obras de Arte Brasileira da Coleção Ernesto Wolf, no MAM/SP
1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal - prêmio melhor desenhista nacional
1963 - São Paulo SP - Marcelo Grassmann e Darel, na Seta Galeria de Arte
1964 - Rio de Janeiro RJ - 2º O Rosto e a Obra, no Galeria Ibeu Copacabana
1964 - Tóquio (Japão) - 4ª International Biennial Exhibition of Prints
1965 - Bonn (Alemanha) - Brazilian Art Today
1965 - Londres (Inglaterra) - Brazilian Art Today, no Royal Academy of Arts
1965 - Lugano (Suíça) - 9ª Exposizione Internazionale de Bianco e Nero
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1965 - Viena (Áustria) - Brazilian Art Today
1966 - Cornell (Estados Unidos) - Gravadores Brasileiros Contemporâneos, na Universidade de Cornell
1966 - Lugano (Suíça) - 10ª Exposizione Internazionale de Bianco e Nero
1966 - Rio de Janeiro RJ - O Artista e a Máquina, no MAM/RJ
1966 - São Paulo SP - O Artista e a Máquina, no Masp
1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1969 - Rio de Janeiro RJ - 7ª Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - Curitiba PR - 29º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra - artista convidado - prêmio aquisição/desenho
1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Curitiba PR - 1ª Mostra do Desenho Brasileiro, no Museu de Arte do Paraná
1979 - São Paulo SP - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1980 - Curitiba PR - 3ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, na Casa da Gravura Solar do Barão
1980 - São Paulo SP - 12º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1981 - São Paulo SP - 6ª Arte no Centro Campestre, no Centro Campestre Sesc Brasílio Machado Neto
1982 - Penápolis SP - 5º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1983 - Olinda PE - 2ª Exposição da Coleção Abelardo Rodrigues de Artes Plásticas, no MAC/PE
1983 - Rio de Janeiro RJ - 6º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1984 - Ribeirão Preto SP - Gravadores Brasileiros Anos 50/60, na Galeria Campus USP-Banespa
1984 - São Paulo SP - 15º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Penápolis SP - 6º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 - Rio de Janeiro RJ - Encontros, na Petite Galerie
1985 - Rio de Janeiro RJ - Velha Mania: desenho brasileiro, na EAV/Parque Lage
1985 - São Paulo SP - 100 Obras Itaú, no Masp
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - Destaques da Arte Contemporânea Brasileira, no MAM/SP
1986 - Curitiba PR - 7º Acervo do Museu Nacional da Gravura - Casa da Gravura, no Museu Guido Viaro
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs
1988 - Lisboa (Portugal) - Pioneiros e Discípulos, na Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1989 - Olinda PE - Viva Olinda Viva, no Atelier Coletivo
1989 - Recife PE - Jogo de Memória
1989 - Rio de Janeiro RJ - Jogo de Memória, na Montesanti Galleria
1989 - Rio de Janeiro RJ - Gravura Brasileira: 4 temas, na EAV/Parque Lage
1989 - São Paulo SP - Jogo de Memória, na Galeria Montesanti Roesler
1990 - Curitiba PR - 9ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba, no Museu da Gravura - artista convidado/sala especial de litografia
1990 - Curitiba PR - 9º Artistas Convidados: litografias, na Casa Romário Martins
1991 - Curitiba PR - Museu Municipal de Arte: acervo, no Museu Municipal de Arte
1992 - Rio de Janeiro RJ - Gravura de Arte no Brasil: proposta para um mapeamento, no CCBB
1992 - Santo André SP- Litogravura: métodos e conceitos, no Paço Municipal
1993 - Lisboa (Portugal) - Matrizes e Gravuras Brasileiras: Coleção Guita e José Mindlin, na Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1994 - Pequim (China) - Contemporany Art in Brazil: works on paper, no Yan Huang Art Museum
1995 - São Paulo SP - Três Mestres da Gravura em Metal: Darel, Grassmann, Gruber, no Museu Banespa
1996 - São Paulo SP- Ex Libris/Home Page, no Paço das Artes
1997 - Barra Mansa RJ - Traços Contemporâneos: homenagem a gravura brasileira, no Centro Universitário de Barra Mansa
1997 - São Paulo SP - A Cidade dos Artistas, no MAC/USP
1998 - São Paulo SP - Impressões: a arte da gravura brasileira, no Espaço Cultural Banespa
1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras, na Galeria de Arte do Sesi
1999 - Niterói RJ - Mostra Rio Gravura: Acervo Banerj, no Museu Histórico do Ingá
1999 - São Paulo SP- Litografia: fidelidade e memória, no Espaço de Arte Unicid
2000 - Curitiba PR - Exposição Acervo Badep, na SEEC
2000 - São Paulo SP - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2000 - São Paulo SP - Mercado de Arte nº 9, na Ricardo Camargo Galeria
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2001 - Brasília DF - Coleções do Brasil, no CCBB
2001 - Brasília DF - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaugaleria
2001 - Penápolis SP - Investigações. A Gravura Brasileira, na Galeria Itaú Cultural
2001 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Antônio Carlos Jobim, no Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - Passo Fundo RS - Gravuras: Coleção Paulo Dalacorte, no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider
2002 - Porto Alegre RS - Desenhos, Gravuras, Esculturas e Aquarelas, na Garagem de Arte
2002 - Porto Alegre RS - Gravuras: Coleção Paulo Dalacorte, no Museu do Trabalho
2003 - São Paulo SP - Entre Aberto, na Gravura Brasileira
2004 - São Paulo SP - Novas Aquisições: 1995 - 2003, no MAB/Faap
Fonte: DAREL. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 06 de maio de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia — Wikipédia
Em 1937 aprendeu desenho técnico e começou a dedicar-se ao desenho à mão livre. Estudou na Escola de Belas Artes do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, entre 1941 e 1942, e atua como desenhista técnico. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1946.
Estuda gravura em metal com Henrique Oswald (1918 - 1965) no Liceu de Artes e Ofícios, em 1948. Dois anos depois, entra em contato com Oswaldo Goeldi (1895 - 1961). Atua como ilustrador em diversos periódicos, como para a revista Manchete, Senhor, Revista da Semana entre outras e os jornais Última Hora, O Jornal e Diário de Notícias. Entre 1953 e 1966, encarrega-se das publicações da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil.
Com o prêmio de viagem ao exterior, recebido no Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM do Rio de Janeiro, em 1957, viaja para a Itália, onde permanece até 1960. Época em que realizou doze murais para a cidade de Reggio Emilia.
De volta ao Rio de Janeiro, ilustrou diversas obras literárias, como Memórias de um Sargento de Milícias, 1957, de Manuel Antônio de Almeida (1831 - 1861); Poranduba Amazonense, 1961, de Barbosa Rodrigues (1842 - 1909); São Bernardo, 1992, de Graciliano Ramos (1892 - 1953); e A Polaquinha, 2002, de Dalton Trevisan (1925) e Humilhados e Ofendidos, de Dostoievski. Leciona gravura em metal no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1951; litografia na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro, entre 1955 e 1957; e na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, em São Paulo, de 1961 a 1964.
Retomou as atividades no jornalismo e realizou uma série de colagens e fotomontagens para as crônicas de Antônio Maria, na Revista da Semana. Entre 1968 e 1969, realizou painéis como os do Palácio dos Arcos, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, para a Olivetti (1970) e para a IBM do Brasil (1979). Em 1982 recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo pelo melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy.
Formação
1937 - Catente PE - Inicia aprendizado de desenhista técnico de máquinas na Usina de Catente e dedica-se à prática do desenho à mão livre
1941/1942 - Recife PE - Estuda na Escola de Belas Artes
1947 - Rio de Janeiro RJ - Matricula-se no Liceu de Artes e Ofícios, onde estuda gravura em metal com Henrique Oswald
1958 - Roma (Itália) - Interessa-se pela obra de Pisarello
Cronologia
1937 - Vive na cidade de Catente, em Pernambuco
1941 - É desenhista no Departamento Nacional de Obras e Saneamento de Recife
1941 - Vive em Recife
1945 - Vive no Rio de Janeiro
1950 - Recebe o Prêmio Parkes pelo Ibeu
1951/1953 - Leciona gravura em metal no Masp
1953/1966 - Diretor-técnico da editora Os Cem Bibliófilos do Brasil
1954/1956 - Ilustra diversos jornais como Última Hora, Diário de Notícias, O Jornal, e as revistas Senhor, Manchete e Revista da Semana, entre outras
1954/1956 - Leciona litografia na Enba
1959/1960 - Realiza doze murais em Reggio Emilio, Na Itália
1960 - Finaliza a gravação das ilustrações de Poranduba Amazonenses, textos de Barbosa Rodrigues, editado pelo Clube dos Cem Bibliófilos do Brasil
ca.1961 - Ilustra obras literárias, entre as quais Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e Amos e Servos, de Dostoievski
1961/1962 - Retoma suas atividades no jornalismo e realiza uma série de colagem e fotomontagem para as crônicas de Antônio Maria (1921 - 1964), na Revista da Semana
1964 - Prêmio de desenho no 2ª Resumo de Arte do Jornal do Brasil, no MAM/RJ
1961/1965 - Leciona litografia na Faap, em São Paulo
1966 - Participa do 15º Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro como membro do júri de seleção e premiação
1968 - É editado álbum com doze gravuras em metal, organizado por Júlio Pacello, com texto de Clarice Lispector
1968/1969 - Executa painéis para o Palácio dos Arcos, em Brasília
1970 - Executa painel para a Olivetti
1979 - Executa painel para a IBM do Brasil
1982 - Recebe o Prêmio Abril de Jornalismo, melhor conjunto de ilustrações para a revista Playboy
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 6 de maio de 2022.
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Darel Valença Lins (09/12/1924 – 7/12/2017) — VEJA
Comecei a trabalhar com 13 anos, fazendo desenhos técnicos, de máquinas e de topografia, na Usina Catende, no interior de Pernambuco. Ao me mudar para o Recife, na condição de funcionário público do DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento), frequentei a Escola de Belas Artes, onde estudei pintura e arquitetura. Quando fui transferido para o Rio de Janeiro em 1946, com 19 anos, minha função principal era fazer desenhos em perspectiva dos projetos em andamento no DNOS. Um dia sai para um lanche com colegas de trabalho, e resolvi abandonar o emprego, porque decidira que desejava mesmo era ser artista. Ato contínuo, fui estudar gravura em metal com Henrique Oswald. Desde então mais de sessenta anos se passaram…
Na década de 50, era hábito dos artistas e escritores – Lúcio Cardoso, Iberê Camargo, Portinari, Pancetti, Joaquim Tenreiro e um grande amigo esquecido que, na minha opinião, foi o maior cenógrafo do Brasil: Sansão Castelo Branco – fazer ponto no Vermelhinho, um bar que funcionava próximo à ABI, então local de encontro dos artistas e intelectuais. Certa noite, enquanto esperávamos o trânsito melhorar para pegarmos o lotação que nos levaria para casa, o Iberê Camargo veio me pedir para eu assinar uma petição endereçada a um certo ministro*, de quem não lembro o nome, solicitando autorização para trazer tintas e papéis da França.
Como naquela época eu me encontrava sem emprego e sem dinheiro, e sabendo que era hábito do Iberê fabricar essas petições das quais o maior beneficiário sempre era ele, e não a comunidade artística, me irritei e disse que não ia assinar nada, que ele era um egocêntrico, que só estava preocupado consigo mesmo e não com a continuidade do trabalho dos artistas com quem convivia.
Iberê ficou gauchamente irritado, e por pouco não saímos na porrada. Foi uma briga feia, ficamos um bom tempo estremecidos, mas aí aconteceu o seguinte: o irmão do Portinari, o Loyo – diretor técnico da Confraria dos Cem Bibliófilos do Brasil, que sabia da minha briga com o Iberê e de gravura em metal não entendia nada – me ofereceu um spaghetti, ocasião em que perguntou: “Darel, você quer ser diretor técnico da Confraria?”
Respondi que sim, e que o convite chegava em boa hora, pois estava sem emprego. Ele disse que confirmava minha indicação contanto que eu resolvesse uma questão: o Iberê estava fazendo um livro para a Confraria, mas vinha criando muitos problemas. “O emprego é seu se catimbozar o trabalho do Iberê, impedindo-o de fazer esse livro”, insistiu o Loyo.
Garanti que resolveria a questão, e ele então falou com o Raymundo Castro Maya, fundador da Confraria. Minha primeira providência na nova função foi telefonar para o Iberê, comunicar-lhe a minha nomeação e perguntar qual a dificuldade que vinha tendo para finalizar o trabalho para o qual fora convidado. Ele me contou que a demora se devia ao fato de estar usando a técnica de (verniz mole) para estampar as gravuras em metal que iriam ilustrar o livro , de Inglês de Sousa.
Afirmei-lhe que o nosso problema pessoal ficava à parte, e que tinha grande interesse em colaborar com ele nesse trabalho, já que se tratava de uma técnica complicada que nem mesmo eu, um gravador experiente, dominava por completo. Deixei claro, portanto, que nosso desentendimento era coisa do passado, e que agora o que interessava era lhe dar as condições necessárias para finalizar as ilustrações.
Iberê ficou verdadeiramente comovido com o meu gesto, animou-se e concluiu a tarefa. Depois desse episódio voltamos às boas, e ele se tornou meu amigo pelo resto da vida, de tal modo que, quando encontrava comigo na rua, me abraçava e às vezes até chorava. Todo sábado eu e um grupo de amigos, entre eles Maria Leontina e Inimá de Paula, íamos ao seu ateliê tomar chimarrão e colocar a conversa em dia.
Bem, voltando ao Vermelhinho… Talvez o mais interessante a contar é que, por volta de 1953, me tornei grande amigo do Lúcio Cardoso, que estava escrevendo, à mão, o romance Crônica da casa assassinada. Quando tomávamos o lotação, era hábito dele, durante a viagem, ler para mim os capítulos que havia finalizado, e, como éramos ambos admiradores de Dostoievski, Gogol e toda a literatura russa, muitas vezes nossa conversa descambava para as afinidades existentes entre os personagens de Dostoievski e os que ele vinha criando.
Lúcio era então considerado o melhor tradutor de francês do Brasil, apesar de só ter cursado até o terceiro ano primário. Embora fosse funcionário público, lotado em não sei qual repartição, e também irmão do deputado Adauto Lúcio Cardoso, o que realmente o sustentava era o dinheiro ganho como tradutor, pois seus livros vendiam pouco. Ele morava então na Lagoa, com a mãe e a irmã, Helena. Depois que a mãe morreu, e ele ficou doente por quase sete anos, quem cuidou dele foi a irmã, seu anjo da guarda.
Conversávamos muito sobre as nossas leituras, particularmente sobre Dostoievski. Acho que foi devido a isso que Lúcio teve a ideia de me aproximar de José Olympio, pois estava informado do seu projeto de editar o russo com ilustrações. Lúcio tinha um senso crítico muito aguçado. Lembro que, apesar de sua admiração por Guimarães Rosa, não aceitava o final de Grande sertão: veredas, quando se descobre que Diadorim é mulher. Para Lúcio, que não escondia a homossexualidade, o Rosa não tivera coragem de assumir a personagem Riobaldo como homossexual. Então dizia que no livro que escrevia, a Crônica , não se deixaria domar por preconceito nenhum; o fato é que também não teve coragem de tratar a fundo o problema.
Ele costumava me dizer: “Darel, o meu livro vai terminar com o filho tendo uma relação sexual com a mãe, velha e cancerosa”, mas acho que teve de amenizar essa situação. Bebia muito; quando sofreu o segundo derrame, ficou mudo, hemiplégico, sem capacidade para escrever, e então passou a desenhar com a mão esquerda, com resultados muito bons – tanto que chegou a fazer uma exposição de pinturas e desenhos. Mas nunca falamos a respeito dessa sua nova forma de expressão, à qual foi levado pelo desespero de não conseguir mais escrever como antes.
Seus últimos anos foram como artista plástico. Uma vez fui visitá-lo e, vendo que pintava em pastel, e que o desenho parecia bom, perguntei: “O que você está fazendo?” Ele ouvia bem mas não falava, e me respondeu por escrito: “Darel, eu bebi uma rua de magnólia”. O que significava essa resposta? O pai dele tinha sido rico, e deixara um bom dinheiro. Logo percebi que o Lúcio estava se referindo a essa herança paterna que ajudara a dilapidar. Ele remoía as lembranças da infância, pois vivera numa rua onde havia muitas flores. Ou seja, subtendi aí que as paisagens que desenhava eram as de Minas Gerais que guardara na memória.
Ao concluir a Crônica, Lúcio Cardoso me levou ao José Olympio e acertou para que eu desenhasse a capa do livro, publicado em 1959, quando me encontrava na Europa. Antes, em 1957, já fizera um trabalho para a editora – a capa e as ilustrações do livro de contos Terno de Reis, do Ricardo Ramos, filho do Graciliano – mas só vim a conhecer o dono pessoalmente quando Lúcio me levou até ele.
Fiquei envaidecido com a atenção que J. O. dispensou ao jovem artista que então eu era, e sempre que lembro desse nosso primeiro encontro me comovo. O fato é que de imediato surgiu entre nós uma mútua simpatia. Lembro bem da nossa primeira conversa, da sua figura risonha, roliça, sentado à vontade numa imensa poltrona. Ele já era então o maior editor da literatura brasileira, íntimo dos mais poderosos da República, mas mesmo assim tratou-me como um amigo próximo.
Feliz com o tratamento que recebi de J. O., passei a frequentar a editora, que então funcionava na Praça 15, e logo comecei a participar dos almoços e encontros que promovia. Tornei-me amigo dele naquela ocasião, e assim permaneci até sua morte, em maio de 1990. Era hábito de José Olympio receber, depois das 5 da tarde, escritores, artistas, jornalistas e pessoas ligadas à política para trocar ideias. Ele era expansivo, conversava sobre tudo, e irradiava – pelo menos para mim – um sentimento de generosidade. Sua atenção comigo foi algo para mim inesperado, porque eu era um artista iniciante, e ele já o grande editor do Brasil.
Eu lhe tinha respeito e admiração, e me parecia que ele retribuía esses sentimentos por eu ser, provavelmente, a pessoa mais jovem a participar das reuniões. Virei assíduo frequentador da “Casa”, como muitos se referiam à editora, e o nosso convívio só foi interrompido quando viajei, em 1958, para a Europa. Na volta retomamos o contato, e foi aí que recebi o convite para participar, como ilustrador, da edição que ele há muito preparava da obra de Dostoievski.
Ilustrei três obras do gênio russo: O vilarejo de Stiepantchikov e seus habitantes(27), “Polzonovski” (seis) e “Um coração fraco” (oito), todos traduzidos por Olívia Krähenbühl. Da primeira eu tinha conhecimento pelos comentários do Lúcio Cardoso, de quem ouvi várias vezes: “Essa novela está cobrando, há tempos, uma adaptação para teatro e cinema”. O conto “Polzonovski” me surpreendeu pelo fato de o personagem principal, em meio a bebedeiras intermitentes, dizer coisas profundas, que impressionam.
O Dostoievski com as minhas ilustrações saiu pela primeira vez em 1960, mais foi reeditado dois anos depois, agora na coleção encadernada, em dez volumes, empreendimento que acabou por se tornar um marco na história da arte gráfica no país, e hoje é uma raridade. Na novela "O vilarejo de Stepantchikov e seus habitantes", escrita ainda na Sibéria, admiro particularmente o cômico de alguns personagens. E quero deixar registrado que me diverti muito fazendo as ilustrações que agora se reeditam.
Há nesse livro pelo menos três tipos a mencionar: o inesquecível farsante Fomá Opinskin, que muitos críticos consideram um irmão dos grandes personagens de Molière, Dickens e Gogol; o coronel Rostânov, dono da propriedade rural e encarnação de um autêntico cristão; e a afortunada herdeira Tatiana Ivânovna. Mas seria redutor destacar apenas os aspectos farsescos, pois há nele também cenas de tristeza e que nos incomodam o coração. Precisamos ter sempre em mente a declaração de Dostoievski de que o escreveu “com sua carne e seu sangue”.
Posso testemunhar que José Olympio era generoso nos pagamentos, mas em sua editora não era hábito dar recibo: tudo ali funcionava na base da amizade e da confiança. Naquela época, porém, os ilustradores não respeitavam o próprio trabalho; se sentiam mais envaidecidos em fazer o livro do que em receber pagamento. Com José Olympio era diferente: ele estimulava seus colaboradores e se preocupava em ver todos contentes. Pagava bem, embora se reservasse o direito de ficar com os originais das ilustrações, ainda que elas não fossem assinadas, pois não era hábito assinar ilustração. Mas isso são detalhes técnicos…
O mais importante a assinalar são pequenos episódios que ocorreram na minha convivência com J. O. Por exemplo: ele me incumbiu de fazer uma capa para Guimarães Rosa; fui procurar o escritor no Itamaraty, e tivemos uma conversa nos corredores do edifício sobre o que eu estava pretendendo fazer. Então Rosa, no seu português impecável, passou a me dizer o que queria: “Darel, eu quero que você desenhe a varanda de uma fazenda de Minas Gerais, e nela coloque uma moça muito bonita, loura de olhos azuis, mirando perdidamente o pôr do sol”. Ouvi aquelas indicações tão precisas e minuciosas, me despedi, e voltei ao editor para explicar minha dificuldade em trabalhar para alguém que já sabia, de forma tão categórica, o que desejava ver na capa de seu livro. Ele riu, entendeu, e prometeu me chamar assim que tivesse uma nova tarefa a oferecer.
Quando trabalho como ilustrador literário, me ligo mais ao que está nas entrelinhas da obra, na alma do artista, e não numa “situação em ato”, de que vou dar um exemplo: “Fulano entrou, sentou-se na mesa e tomou um xícara de café. O ambiente era penumbroso, etc. etc.”. Eu busco sempre ler o que se encontra nas camadas mais profundas do texto. No meu entender, o ilustrador não deve procurar competir com o fotógrafo, mas se deixar contaminar pelo texto de tal modo que consiga alcançar aos níveis onde o leitor comum nem sempre consegue chegar.
Não sou do tipo que trabalha com “situação em ato”, fiel ao que o escritor deixou na superfície do texto; sou ilustrador, sempre fui, de jornais e revistas, e muitas vezes perdi o emprego por ser um artista que se liga no que há de subjetivo no livro; por exemplo: gosto muito do que fiz para São Bernardo, de Graciliano Ramos, porque todas as ilustrações ali procuram captar o conflito do protagonista, Paulo Honório, com sua mulher. Nos meus desenhos não aparece uma palmeira, um boi de canga, nada que identifique o Nordeste… Fiquei ligado mesmo no relacionamento do casal.
Fonte: Veja, escrito por Augusto Nunes, publicado em 9 de dezembro de 2017. Consultado pela última vez em 6 de maio de 2022.
Crédito fotográfico: Sabujo Filmes, publicado em 8 de maio de 2014. Consultado pela última vez em 9 de maio de 2022.