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Forma

Forma S.A. Móveis e Objetos de Arte (São Paulo, SP, 1950), mais conhecida como Forma ou Loja Forma, é uma loja de design de mobiliário moderno brasileira. Originada da empresa Móveis Artesanal Ltda., a Forma foi criada pelos designers italianos Carlo e Ernesto Hauner, em parceria com o colecionador alemão Ernesto Wolf e o arquiteto austro-argentino Martin Eisler. A loja destacou-se por sua abordagem inovadora, unindo um escritório de projetos com linguagem moderna a um sistema de fabricação seriada e espaços comerciais inovadores. Além disso, a Forma foi pioneira ao trazer para o Brasil licenças exclusivas para a fabricação de móveis icônicos de designers internacionais, como Mies van der Rohe e Eero Saarinen. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, a Forma consolidou-se como a principal vitrine do mobiliário moderno no país, influenciando gerações de designers e se tornando um pilar na história do design brasileiro.

Forma | Arremate Arte

A Loja Forma, fundada em São Paulo na década de 1950, é um marco no design de mobiliário moderno no Brasil. Originada da empresa Móveis Artesanal Ltda., a Forma foi criada por designers italianos Carlo Hauner e Ernesto Hauner, junto com o colecionador alemão Ernesto Wolf e o arquiteto austro-argentino Martin Eisler. O projeto original das instalações fabris veio das mãos de nomes como Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, refletindo a influência de imigrantes europeus no design brasileiro.

Em seus primeiros anos, a Forma destacou-se pela inovação ao unir um escritório de projetos com linguagem moderna a um sistema de fabricação seriada, além de espaços comerciais inovadores. A loja tornou-se uma incubadora para designers brasileiros e estrangeiros, como Sergio Rodrigues e Paulo Mendes da Rocha, que projetou a última sede da loja na Avenida Cidade Jardim. A partir de 1959, a Forma adquiriu a licença exclusiva para fabricar no Brasil móveis icônicos de designers internacionais como Marcel Breuer, Mies van der Rohe e Eero Saarinen, consolidando-se como a principal vitrine de mobiliário moderno no país.

A loja continuou a influenciar o design brasileiro nas décadas seguintes, desenvolvendo móveis modulares e estabelecendo um departamento nacional liderado por Adriana Adam. A Forma permanece como um pilar na história do design, representando a fusão de influências internacionais e a promoção do modernismo no Brasil.

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Loja Forma | Itaú Cultural

A loja Forma é um estabelecimento comercial de venda de mobiliário moderno, constituído e mantido com a participação de designers imigrantes e brasileiros. Sua fundação, na cidade de São Paulo, data da década de 1950, e seu funcionamento prossegue ao longo da segunda metade do século XX.

A Forma nasce da empresa Móveis Artesanal Ltda., que funciona na capital paulista entre 1950 e 1955. Opera nas instalações fabris que pertenciam ao Studio de Arte Palma e à Fábrica de Móveis Pau Brasil, do curador italiano Pietro Maria Bardi (1900-1999), da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992) e do arquiteto italiano Giancarlo Palanti (1906-1977).

O trio repassa suas oficinas e seu quadro de funcionários especializados – na maioria, imigrantes vindos da Itália – para os designers italianos Carlo Hauner (1927-1996) e Ernesto Hauner (1931-2002). A pesquisadora Mina Warchavchik Hugerth descreve a empresa como a “pioneira no país em aliar com sucesso um escritório de projetos com linguagem moderna, um sistema de fabricação com seriação e espaços comerciais inovadores”.

Após a fundação da Móveis Artesanal, entram na sociedade o colecionador alemão Ernesto Wolf (1918-2003) e o arquiteto austro-argentino Martin Eisler (1913-1977) – ambos moram na Argentina desde o entreguerras. Wolf muda-se para São Paulo na década de 1940, envolve-se na organização da I Bienal de Arte em 1951 e convida o cunhado, Eisler, para fazer o projeto de interiores de seu apartamento em 1953. A execução do mobiliário desenhado por Martin Eisler é encomendada à Móveis Artesanal. Carlo Hauner gosta dos desenhos e convida-o para ser parceiro na empresa.

Ao longo dos anos, surgem diversos estabelecimentos vinculados a essa sociedade. Um deles é a Galeria Artesanal, loja de três andares para exposições de arte e venda de móveis, inaugurada no final de 1953, na Rua Barão de Itapetininga, centro de São Paulo.

Entre os proeminentes colaboradores da Móveis Artesanal está o designer carioca Sergio Rodrigues (1927-2014), que conhece Hauner em Curitiba no período em que foi um dos responsáveis pelo projeto do Centro Cívico. Fazem amizade e abrem uma filial na cidade em 1953, a Móveis Artesanal Paranaense, que tem longevidade de seis meses, com muitos visitantes e poucos compradores. Em 1954, Rodrigues muda-se para São Paulo e passa a chefiar o setor de criação de arquitetura de interiores da empresa. Sua permanência na capital paulista é de apenas um ano, no qual tem contato direto com a produção fabril.

Outra profissional que se agrega à equipe é a designer e cenógrafa croata Georgia Hauner (1931). Contratada como desenhista da Móveis Artesanal em 1954, torna-se responsável pelas vitrines e pela ambientação interna da loja.

Ainda em 1954, os quatro sócios abrem outra loja na rua Augusta para venda de peças de cerâmica e objetos de decoração: esse estabelecimento é batizado de Forma. Há matérias sobre a Galeria Artesanal e a Móveis Artesanal até abril de 1955, entretanto, Sergio Rodrigues e Georgia Hauner atestam que as lojas e a assinatura dos móveis passam a empregar o nome Forma ainda em 1954. Juridicamente, a empresa Forma S.A. Móveis e Objetos de Arte é registrada em 24 de janeiro de 1956.

Carlo Hauner permanece no Brasil por curto período após a renomeação da empresa: ele retorna à Itália, vende suas ações ao irmão e funda uma loja também chamada Forma na cidade de Brescia, com móveis projetados e fabricados por ele. Em 1957, Ernesto e Georgia Hauner saem da empresa, permanecem um ano na Itália e, de volta ao Brasil, fundam uma companhia de estantes modulares em madeira maciça intitulada Mobilinea.

Ernesto Wolf e Martin Eisler permanecem com a Forma. Nesse período, Eisler desenha a icônica poltrona Costela, com uma estrutura metálica de finos perfis tubulares pretos que sustentam oito peças curvas de madeira – em conjunto, tem formato semelhante a uma caixa torácica. Sobre a estrutura, amarra-se uma almofada que serve de assento e encosto.

Em 1959, a Forma passa a ter a licença da firma Knoll Internacional para fabricar, com exclusividade no Brasil, móveis icônicos, desenhados por importantes nomes do design estrangeiro. Entre eles, o arquiteto húngaro-americano Marcel Breuer (1902-1981), como a cadeira Wassily; arquiteto alemão Mies van der Rohe (1886-1969), como a cadeira Barcelona; o arquiteto finlandês Eero Saarinen (1910-1961), como a mesa Saarinen, e o designer ítalo-americano Harry Bertoia (1915-1978), como a cadeira Bertoia.

Nas décadas de 1960 e 1970, a Forma estabelece um departamento nacional para desenho de mobiliário modular, com ênfase em ambientes de trabalho, liderado pela designer húngara-brasileira Adriana Adam (1946) .Os projetos recebem várias premiações no Brasil, como ocorre com a linha de móveis infantis na Bienal Internacional de Desenho Industrial do Rio de Janeiro, em 1970.

A última sede da loja Forma é um projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928), localizado na avenida Cidade Jardim, zona sul de São Paulo. Há uma relação direta entre o projeto arquitetônico e o detalhamento do mobiliário internacional ali apresentado, como se percebe na descrição do professor Edson Mahfuz: “A precisão está presente em todos os recantos da loja Forma, tanto no modo em que os elementos são projetados, na coordenação entre eles, assim como nas suas junções e terminações”.

Desde seu período como Móveis Artesanal, a loja Forma é pioneira no mobiliário moderno no Brasil, sendo berço de proeminentes designers imigrantes e brasileiros. Desde 1959, é a principal vitrine de difusão do mobiliário internacional moderno no país.

Fonte: LOJA Forma. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 08 de agosto de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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A história da caixa vermelha | Highlights

Quem vem do Morumbi e pega a Avenida Cidade Jardim, logo vê, do outro lado da avenida, uma caixa vermelha, que parece suspensa, e nem sempre sabe o que é. Essa historinha vale a pena ser contada, é curiosa e inusitada

Ali ficava a loja Forma, a mais criativa loja de móveis, que comercializava o melhor do design moderno mundial, projetada por Paulo Mendes da Rocha, em 1987. Uma verdadeira obra de arte arquitetônica. 

“Pode um mesmo enredo incluir Lina Bo Bardi, Sérgio Rodrigues, Aurélio Martinez Flores, irmãos Campana e Paulo Mendes da Rocha? Mas não se engane com as entrelinhas: o âmago do enredo é a conservação do patrimônio arquitetônico moderno”, escreveu Fernando Serapião em seu delicioso texto sobre a reforma da icônica loja da Forma para abrigar o showroom da Uniflex. 

A frase, segundo o autor do texto, foi ouvida por ele e dita por Aldo Urbinati, que liderava o escritório de arquitetura do Estúdio Tupi, antes de revelar o que iria fazer. O trabalho no interior do templo sagrado da arquitetura moderna, foi executado com maestria. 

A grande ousadia? Pintar a fachada de vermelho. Um espetáculo. 

Fonte: Highlights. Consultado pela última vez em 8 de agosto de 2024.

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Seis personagens em busca de um autor | Archtrends

“Agora, ou eu deslancho ou me afundo de vez”

A frase foi dita por Aldo Urbinati, antes de dar uma gargalhada nervosa, ao me contar que estava projetando uma reforma na loja que Paulo Mendes da Rocha projetou para a Forma, em São Paulo. Apesar de exagerada, sua ironia tinha fundamento. O espaço estava desocupado há alguns anos e ele, aos 42 anos e liderando o escritório de arquitetura Estúdio Tupi, tinha consciência de que estava prestes a adentrar um templo sagrado do olimpo arquitetônico envolto num terreno pantanoso do qual era difícil sair sem ter os sapatos sujos de lama.

Décadas de 1950 e 1960: a Forma como ícone nacional do design

A Forma se consolidou como um ícone brasileiro do design. A  primeira razão de sua relevância diz respeito ao mobiliário que produziu. O DNA da marca tem origem na Pau Brasil, uma fábrica de móveis criada em São Paulo por dois italianos radicados na cidade durante o pós-guerra: Lina Bo Bardi, que dispensa apresentações, e Giancarlo Palanti, autor de edifícios memoráveis, como o Conde de Prates, implantado entre a praça do Patriarca e o vale do Anhangabaú, em São Paulo, e o Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza. A Pau Brasil foi comprada pelos irmãos Hauner – Carlo e Ernesto -, também italianos e que trabalhavam desenhando para Palanti e Lina. Os irmãos mudaram o nome da empresa, instalada no bairro do Itaim Bibi, para Móveis Artesanal.

Ao tentar vender mobiliário para o Centro Cívico de Curitiba, Carlo conheceu o jovem arquiteto Sergio Rodrigues, que era um dos responsáveis pelo projeto. A venda não deu certo, mas Rodrigues tornou-se sócio da Móveis Artesanais, ao abrir uma filial na capital paranaense. O negócio foi um fracasso, e a loja curitibana fechou em seis meses. Mas o episódio fez com que Rodrigues ingressasse no universo do design, fazendo história ao criar peças como a poltrona Mole e criando suas próprias lojas, a exemplo da Oca.

A Móveis Artesanais ganhou novos sócios – o empresário Ernesto Wolf e o designer austríaco Martin Eisler – e mudou de nome para Forma, adotando o nome de uma loja de objetos de decoração que os irmãos Hauner haviam criado na Rua Augusta em 1953.

Mas a Forma ganhou musculatura ao ser a primeira empresa brasileira a comercializar ícones do design internacional. Para dar um exemplo, entre as peças fabricadas estava a cadeira Barcelona, desenhada em 1929 por Mies van der Rohe.

A façanha foi alcançada a partir de um acordo comercial com a Knoll, empresa norte-americana detentora dos direitos autorais. No início dos anos de 1960, depois que a firma brasileira assinou o contrato para fabricar as peças, a Knoll enviou para o Brasil um arquiteto da matriz nova-iorquina para supervisionar a produção. Mexicano, o projetista tinha autoridade para adaptar as peças conforme a capacidade técnica  da indústria brasileira. Imagine a responsabilidade: se a Forma, por exemplo, não tivesse capacidade de produzir as hastes metálicas da cadeira Barcelona com a bitola que Mies van der Rohe imaginou, o mexicano poderia mudá-las para a realidade nacional.

O trabalho estava previsto para durar três meses mas se estendeu muito. O mexicano se adaptou bem ao Brasil, a Forma ofereceu-lhe um emprego e ele ficou. Seu nome era Aurelio Martinez Flores e durante toda a década de 1960 ele trabalhou para empresa, não só produzindo as peças segundo a realidade nacional mas também projetando interiores, sobretudo de escritórios, liderando uma equipe de arquitetos que produziam mais de 50 projetos por mês.

1972: reverberação da Forma cria nova forma

Após deixar a empresa em 1970 para abrir sua própria loja – a Interdesign – em 1972, Flores realizou seu primeiro projeto de arquitetura no Brasil. A encomenda foi feita por um vizinho do prédio onde ele morava e que se tornou um amigo fraterno: o publicitário José Zaragoza. Primeiro, ambos viviam no edifício Paulicéia, no meio de uma grande turma de jovens promissores, da qual faziam parte a poetisa Edla van Steen e a fotógrafa Claudia Andujar. Depois, ambos mudaram-se para o mesmo prédio, na avenida 9 de Julho, na alça da Fundação Getúlio Vargas.

O então jovem publicitário, o Z da DPZ, pediu ao amigo que desenhasse uma casa de praia no Guarujá. Entre centenas de doses de whisky, eles criaram a quatro mãos, numa espécie de brainstorm publicitário, um caderno de referências para o projeto. A origem hispânica de ambos contribuiu para a criação de uma colcha de retalhos com desenhos e colagens (ao ver o caderno, Pietro Maria Bardi pediu o exemplar para o acervo do Museu de Arte de São Paulo).

Mas o que interessa é o resultado, a casa do Guarujá. De alvenaria de paredes grossas pintadas de branco, a casa possui um percurso de acesso inesquecível. Diante de uma fachada com caixas de alturas diversas, florescem primaveras coloridas que brotam por trás de muros que nem percebemos. Na lateral direita, discreta, um vão é a única abertura perceptível. Para adentrar o abrigo de veraneio, segue-se por ele por não haver outra alternativa. Baixo, largo e escuro, o percurso é um corredor com 15 metros de comprimento, uma espécie de túnel com piso de paralelepípedo. O visitante é levado a caminhar na direção da luz, sem perceber a saída do túnel, que fica no final, à direita. Ali, há um pátio com uma escada à esquerda e uma porta na frente. Do lado direito, um vão na alvenaria permite avistar um campo de golfe. Com esse acesso, Flores inaugurou uma corrente arquitetônica que contrasta com as escolas hegemônicas do Brasil – a Escola Carioca e a Escola Paulista. Entre os principais discípulos de Flores, estão Isay Weinfeld e Marcio Kogan. Se não fosse a Forma, nada disso teria acontecido.

1987: a Forma como ícone arquitetônico

Após migrar do centro da cidade para uma loja na Avenida Faria Lima, a Forma decidiu construir uma loja própria, com qualidade arquitetônica. Na Faria Lima, quase esquina da Avenida Rebouças, ela ocupava um imóvel anódino, no térreo de um edifício vulgar, construído no boom imobiliário que edificou em menos de dois anos o paredão de espaços de negócios da avenida, com pouquíssimos exemplares com algum destaque arquitetônico.

O design brasileiro engatinhava e as peças comercializadas pela Forma seguiam o padrão internacional, desde os clássicos modernos da Bauhaus chegando até os coloridos Strips da milanesa Cini Boeri. A Forma era uma espécie de garantia de bom gosto e estudantes de arquitetura e design se apoderavam dos folders da loja como se fossem páginas da Bíblia.

O endereço escolhido para a nova loja foi um lote na Avenida Cidade Jardim, a menos de dois quilômetros do imóvel da Faria Lima. Uma funcionária graduada da loja, Maria Helena Estrada – que, um ano depois, lançou os irmãos Campana – sugeriu o nome de Paulo Mendes da Rocha para desenhar o novo espaço. Na altura, aos 59 anos, ele era um arquiteto marginal, não estava na moda e só figurava na lista dos mais importantes projetistas paulistas de sua geração na contabilidade de três ou quatro especialistas.

Enquanto todos imaginavam que ele estava hibernando, o mais notável nome da escola paulista estava à espreita, com um olhar astuto, esperando a oportunidade para colocar em prática seu ápice criativo. Naquele período, Mendes da Rocha criou, além da Forma, projetos como o Museu da Escultura, a Casa Gerassi e a capela de Campos do Jordão.

Entre eles, a loja da Forma é o mais modelar, a paixão dos discípulos. Regular, ela é quase um manifesto de ocupação de um terreno genérico: uma caixa suspensa. Com duas empenas duplas de cada lado, chamadas pelo próprio autor de “fortalezas”, a loja reinterpreta o arquétipo moderno do volume sobre pilotis sem, no entanto, manter a premissa de volume elevado por pilares. O vão entre as duas fortalezas é vencido por um engenhoso sistema de vigas metálicas que acompanham a fachada, deixando o interior livre de colunas. Na loja da Forma, Mendes da Rocha começou a exercitar o binômio estrutural do concreto armado com peças metálicas. Para fechar o volume suspenso, ele imaginou um painel leve, de alumínio branco, provando que o revestimento não tinha culpa dos fins vulgares para que era normalmente aplicado em fachadas de prédios modernosos, escolas de línguas ou até padaria. Na faixa de baixo, na frente e no fundo, fixou as duas únicas aberturas da loja, criando uma vitrine de três metros de altura, capaz de expor os produtos para serem capturados na velocidade dos carros que seguiam para o futuro – o Morumbi.

2009: a Forma perde a alma

Seus móveis mudaram de endereço junto com a marca para uma casa reformada na Rua Colômbia, quase na frente do ginásio Paulistano, desenhado em 1958 por Mendes da Rocha. A mudança foi parte da divisão da herança dos então donos da Forma, a família Schmidt, fundadores nos anos de 1950 da Giroflex, que foi o maior fabricante de cadeiras do Brasil. A Giroflex comprou a Forma em 1997 e manteve o imóvel da Cidade Jardim e o catálogo internacional. Sem o mesmo brilho do passado, várias peças passaram a ser encontradas na Teodoro Sampaio, a rua de móveis populares da cidade, pois o design de clássicos do moderno, como a cadeira Wassily, entrou em domínio público. Em 2009, o imóvel da Cidade Jardim ficou com Markus Schmidt, neto do fundador da Giroflex. A loja icônica de Mendes da Rocha, conhecida como “loja da Forma”, não podia mais abrigar a marca. Nesse momento, Markus abriu a Creative Original Design, mudando a fachada da loja. Não houve nenhum protesto no meio arquitetônico.

Contudo, mais significativo do que a mudança na fachada foi a mudança no entorno. Primeiro, com a construção do túnel Max Feffer, entre 2001 e 2004. Com projeto de Júlio Neves, encomendado na gestão de Maluf, o túnel estrangulou a escala da avenida, cortando as tipuanas do canteiro central e abrindo uma das entradas bem na frente da loja. Enquanto isso, para piorar o cenário da vizinhança, nos lotes vizinhos de fundo da loja foram construídos vários monstrengos neoclássicos, com apartamentos de luxo. Com a crise recente, a Creative Original Design fechou e a loja ficou vazia.

 2019: “A loja que já foi da Forma passa por mudanças radicais. Alguém está acompanhando?”

A pergunta foi escrita por Renato Anelli em seu perfil no Facebook e no Instagran. Professor de USP de São Carlos, o crítico de arquitetura ilustrou o comentário com uma foto da fachada sendo transformada com revestimento vermelho. O espaço, reformado por Aldo Urbinati, estava quase pronto. Foi inaugurado na semana seguinte, com três dias de eventos, enquanto dezenas de comentários eram postados no perfil de Anelli. Como qualquer faceta da sociedade, a crítica arquitetônica foi impactada pela mídia social, e o autor da reforma foi crucificado sem que ninguém tivesse visitado a obra. Raras foram as vozes lúcidas que ponderaram que não dava para analisar o resultado só com uma foto tirada do carro em velocidade. Uma delas, a crítica Ruth Verde Zein, lembrou que o próprio Mendes da Rocha havia dito que a fachada era um outdoor.

A repercussão no ambiente arquitetônico catapultou o assunto para as páginas da Ilustrada, o caderno cultural da Folha de S. Paulo, em matéria escrita por Francesca Angiolillo, jornalista que também tem diploma de arquitetura. Anelli afirmou que o autor “poderia ter feito uma intervenção mais respeitosa” mas releva a questão estética por preferir a loja aberta. Já a crítica Maria Isabel Villac não gostou, argumentando que o espaço interno perdeu a fluidez e o vermelho fez com que a fachada perdesse leveza e criasse raízes.  Outros críticos procurados não quiseram se posicionar e mesmo Mendes da Rocha não quis polemizar. Uma das controversas apresentadas na Folha foi o fato de Urbinati não ter consultado o autor do projeto, o que revelaria uma possível falta de ética profissional.

Prevendo a repercussão, Urbinati se antecipou e escreveu um livro de 180 páginas batizado de Mea Culpa – ou como fizemos para reformar a forma de Paulo Mendes da Rocha. Com sinceridade, ele encara o debate de maneira franca, descrevendo sua proximidade com Mendes da Rocha e a Forma, tecendo relações entre sua formação profissional, o mundo arquitetônico e o literário. Segundo relata no livro, ele aceitou o projeto “como quem aceita qualquer sacrifício para ser perdoado pelos deuses e superstições assimétricas que fazem alguém como eu ter medo de voar de avião”.

Verdade seja dita: a encomenda não era fácil, ou seja, o enunciado do problema complicou tudo: como juntar diversos fornecedores embaixo de um mesmo teto, criando uma espécie de bazar da decoração e de produtos de interiores, dentro de um ícone do design e da arquitetura de São Paulo? Mas, o que de fato importa: o espaço manter-se vivo, ganhar uma sobrevida? Ou era preferível que ele ficasse fechado, tornando-se ruína? Entre mortos e feridos, Urbinati não cometeu nenhum pecado mortal, algo que não possa ser revertido na hora do juízo final. O único ponto delicado é o caixilho de vidro que fecha o pilotis;  o arquiteto não conseguiu demover o cliente da ideia de expor um produto de um dos inquilinos e possibilitar o uso do térreo para eventos. Mas o importante é que o concreto foi restaurado e o projeto original respeitado.

A questão principal a que este enredo nos leva é: como manter, com dignidade, o patrimônio moderno que as gerações passadas levantaram? Como a sociedade civil, sem o auxílio do Estado, pode deixar vivo esse patrimônio? Essa controversa não é só da loja da Forma, que, é importante lembrar, não é protegida por nenhuma instância do patrimônio histórico. Ou seja, o Estado não reconhece o seu valor. Observem que até o tombamento, que sempre pareceu ser uma garantia eterna, está em aberto: recentemente, a vila criada por Flávio de Carvalho, na Rua Lorena, perdeu a proteção e pode ser derrubada hoje mesmo.

Este é um de vários exemplos de “destombamento”. E agora estão modificando o tombamento do entorno da praça Vilaboim, em Higienópolis, para possibilitar a construção de um novo prédio que pode afetar a leitura arquitetônica do edifício Louveira – ícone criado por Vilanova Artigas. O debate na mão da sociedade é a manutenção – ou não – de nossa história e identidade.

Fonte: ArchTrends. Consultado pela última vez em 8 de agosto de 2024.

Crédito fotográfico: Itaú Cultural. Consultado pela última vez em 8 de agosto de 2024.

Forma S.A. Móveis e Objetos de Arte (São Paulo, SP, 1950), mais conhecida como Forma ou Loja Forma, é uma loja de design de mobiliário moderno brasileira. Originada da empresa Móveis Artesanal Ltda., a Forma foi criada pelos designers italianos Carlo e Ernesto Hauner, em parceria com o colecionador alemão Ernesto Wolf e o arquiteto austro-argentino Martin Eisler. A loja destacou-se por sua abordagem inovadora, unindo um escritório de projetos com linguagem moderna a um sistema de fabricação seriada e espaços comerciais inovadores. Além disso, a Forma foi pioneira ao trazer para o Brasil licenças exclusivas para a fabricação de móveis icônicos de designers internacionais, como Mies van der Rohe e Eero Saarinen. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, a Forma consolidou-se como a principal vitrine do mobiliário moderno no país, influenciando gerações de designers e se tornando um pilar na história do design brasileiro.

Forma

Forma S.A. Móveis e Objetos de Arte (São Paulo, SP, 1950), mais conhecida como Forma ou Loja Forma, é uma loja de design de mobiliário moderno brasileira. Originada da empresa Móveis Artesanal Ltda., a Forma foi criada pelos designers italianos Carlo e Ernesto Hauner, em parceria com o colecionador alemão Ernesto Wolf e o arquiteto austro-argentino Martin Eisler. A loja destacou-se por sua abordagem inovadora, unindo um escritório de projetos com linguagem moderna a um sistema de fabricação seriada e espaços comerciais inovadores. Além disso, a Forma foi pioneira ao trazer para o Brasil licenças exclusivas para a fabricação de móveis icônicos de designers internacionais, como Mies van der Rohe e Eero Saarinen. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, a Forma consolidou-se como a principal vitrine do mobiliário moderno no país, influenciando gerações de designers e se tornando um pilar na história do design brasileiro.

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Loja Forma: Pequena obra, grande arquitetura | 2020

Forma | Arremate Arte

A Loja Forma, fundada em São Paulo na década de 1950, é um marco no design de mobiliário moderno no Brasil. Originada da empresa Móveis Artesanal Ltda., a Forma foi criada por designers italianos Carlo Hauner e Ernesto Hauner, junto com o colecionador alemão Ernesto Wolf e o arquiteto austro-argentino Martin Eisler. O projeto original das instalações fabris veio das mãos de nomes como Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, refletindo a influência de imigrantes europeus no design brasileiro.

Em seus primeiros anos, a Forma destacou-se pela inovação ao unir um escritório de projetos com linguagem moderna a um sistema de fabricação seriada, além de espaços comerciais inovadores. A loja tornou-se uma incubadora para designers brasileiros e estrangeiros, como Sergio Rodrigues e Paulo Mendes da Rocha, que projetou a última sede da loja na Avenida Cidade Jardim. A partir de 1959, a Forma adquiriu a licença exclusiva para fabricar no Brasil móveis icônicos de designers internacionais como Marcel Breuer, Mies van der Rohe e Eero Saarinen, consolidando-se como a principal vitrine de mobiliário moderno no país.

A loja continuou a influenciar o design brasileiro nas décadas seguintes, desenvolvendo móveis modulares e estabelecendo um departamento nacional liderado por Adriana Adam. A Forma permanece como um pilar na história do design, representando a fusão de influências internacionais e a promoção do modernismo no Brasil.

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Loja Forma | Itaú Cultural

A loja Forma é um estabelecimento comercial de venda de mobiliário moderno, constituído e mantido com a participação de designers imigrantes e brasileiros. Sua fundação, na cidade de São Paulo, data da década de 1950, e seu funcionamento prossegue ao longo da segunda metade do século XX.

A Forma nasce da empresa Móveis Artesanal Ltda., que funciona na capital paulista entre 1950 e 1955. Opera nas instalações fabris que pertenciam ao Studio de Arte Palma e à Fábrica de Móveis Pau Brasil, do curador italiano Pietro Maria Bardi (1900-1999), da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992) e do arquiteto italiano Giancarlo Palanti (1906-1977).

O trio repassa suas oficinas e seu quadro de funcionários especializados – na maioria, imigrantes vindos da Itália – para os designers italianos Carlo Hauner (1927-1996) e Ernesto Hauner (1931-2002). A pesquisadora Mina Warchavchik Hugerth descreve a empresa como a “pioneira no país em aliar com sucesso um escritório de projetos com linguagem moderna, um sistema de fabricação com seriação e espaços comerciais inovadores”.

Após a fundação da Móveis Artesanal, entram na sociedade o colecionador alemão Ernesto Wolf (1918-2003) e o arquiteto austro-argentino Martin Eisler (1913-1977) – ambos moram na Argentina desde o entreguerras. Wolf muda-se para São Paulo na década de 1940, envolve-se na organização da I Bienal de Arte em 1951 e convida o cunhado, Eisler, para fazer o projeto de interiores de seu apartamento em 1953. A execução do mobiliário desenhado por Martin Eisler é encomendada à Móveis Artesanal. Carlo Hauner gosta dos desenhos e convida-o para ser parceiro na empresa.

Ao longo dos anos, surgem diversos estabelecimentos vinculados a essa sociedade. Um deles é a Galeria Artesanal, loja de três andares para exposições de arte e venda de móveis, inaugurada no final de 1953, na Rua Barão de Itapetininga, centro de São Paulo.

Entre os proeminentes colaboradores da Móveis Artesanal está o designer carioca Sergio Rodrigues (1927-2014), que conhece Hauner em Curitiba no período em que foi um dos responsáveis pelo projeto do Centro Cívico. Fazem amizade e abrem uma filial na cidade em 1953, a Móveis Artesanal Paranaense, que tem longevidade de seis meses, com muitos visitantes e poucos compradores. Em 1954, Rodrigues muda-se para São Paulo e passa a chefiar o setor de criação de arquitetura de interiores da empresa. Sua permanência na capital paulista é de apenas um ano, no qual tem contato direto com a produção fabril.

Outra profissional que se agrega à equipe é a designer e cenógrafa croata Georgia Hauner (1931). Contratada como desenhista da Móveis Artesanal em 1954, torna-se responsável pelas vitrines e pela ambientação interna da loja.

Ainda em 1954, os quatro sócios abrem outra loja na rua Augusta para venda de peças de cerâmica e objetos de decoração: esse estabelecimento é batizado de Forma. Há matérias sobre a Galeria Artesanal e a Móveis Artesanal até abril de 1955, entretanto, Sergio Rodrigues e Georgia Hauner atestam que as lojas e a assinatura dos móveis passam a empregar o nome Forma ainda em 1954. Juridicamente, a empresa Forma S.A. Móveis e Objetos de Arte é registrada em 24 de janeiro de 1956.

Carlo Hauner permanece no Brasil por curto período após a renomeação da empresa: ele retorna à Itália, vende suas ações ao irmão e funda uma loja também chamada Forma na cidade de Brescia, com móveis projetados e fabricados por ele. Em 1957, Ernesto e Georgia Hauner saem da empresa, permanecem um ano na Itália e, de volta ao Brasil, fundam uma companhia de estantes modulares em madeira maciça intitulada Mobilinea.

Ernesto Wolf e Martin Eisler permanecem com a Forma. Nesse período, Eisler desenha a icônica poltrona Costela, com uma estrutura metálica de finos perfis tubulares pretos que sustentam oito peças curvas de madeira – em conjunto, tem formato semelhante a uma caixa torácica. Sobre a estrutura, amarra-se uma almofada que serve de assento e encosto.

Em 1959, a Forma passa a ter a licença da firma Knoll Internacional para fabricar, com exclusividade no Brasil, móveis icônicos, desenhados por importantes nomes do design estrangeiro. Entre eles, o arquiteto húngaro-americano Marcel Breuer (1902-1981), como a cadeira Wassily; arquiteto alemão Mies van der Rohe (1886-1969), como a cadeira Barcelona; o arquiteto finlandês Eero Saarinen (1910-1961), como a mesa Saarinen, e o designer ítalo-americano Harry Bertoia (1915-1978), como a cadeira Bertoia.

Nas décadas de 1960 e 1970, a Forma estabelece um departamento nacional para desenho de mobiliário modular, com ênfase em ambientes de trabalho, liderado pela designer húngara-brasileira Adriana Adam (1946) .Os projetos recebem várias premiações no Brasil, como ocorre com a linha de móveis infantis na Bienal Internacional de Desenho Industrial do Rio de Janeiro, em 1970.

A última sede da loja Forma é um projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928), localizado na avenida Cidade Jardim, zona sul de São Paulo. Há uma relação direta entre o projeto arquitetônico e o detalhamento do mobiliário internacional ali apresentado, como se percebe na descrição do professor Edson Mahfuz: “A precisão está presente em todos os recantos da loja Forma, tanto no modo em que os elementos são projetados, na coordenação entre eles, assim como nas suas junções e terminações”.

Desde seu período como Móveis Artesanal, a loja Forma é pioneira no mobiliário moderno no Brasil, sendo berço de proeminentes designers imigrantes e brasileiros. Desde 1959, é a principal vitrine de difusão do mobiliário internacional moderno no país.

Fonte: LOJA Forma. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Acesso em: 08 de agosto de 2024. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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A história da caixa vermelha | Highlights

Quem vem do Morumbi e pega a Avenida Cidade Jardim, logo vê, do outro lado da avenida, uma caixa vermelha, que parece suspensa, e nem sempre sabe o que é. Essa historinha vale a pena ser contada, é curiosa e inusitada

Ali ficava a loja Forma, a mais criativa loja de móveis, que comercializava o melhor do design moderno mundial, projetada por Paulo Mendes da Rocha, em 1987. Uma verdadeira obra de arte arquitetônica. 

“Pode um mesmo enredo incluir Lina Bo Bardi, Sérgio Rodrigues, Aurélio Martinez Flores, irmãos Campana e Paulo Mendes da Rocha? Mas não se engane com as entrelinhas: o âmago do enredo é a conservação do patrimônio arquitetônico moderno”, escreveu Fernando Serapião em seu delicioso texto sobre a reforma da icônica loja da Forma para abrigar o showroom da Uniflex. 

A frase, segundo o autor do texto, foi ouvida por ele e dita por Aldo Urbinati, que liderava o escritório de arquitetura do Estúdio Tupi, antes de revelar o que iria fazer. O trabalho no interior do templo sagrado da arquitetura moderna, foi executado com maestria. 

A grande ousadia? Pintar a fachada de vermelho. Um espetáculo. 

Fonte: Highlights. Consultado pela última vez em 8 de agosto de 2024.

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Seis personagens em busca de um autor | Archtrends

“Agora, ou eu deslancho ou me afundo de vez”

A frase foi dita por Aldo Urbinati, antes de dar uma gargalhada nervosa, ao me contar que estava projetando uma reforma na loja que Paulo Mendes da Rocha projetou para a Forma, em São Paulo. Apesar de exagerada, sua ironia tinha fundamento. O espaço estava desocupado há alguns anos e ele, aos 42 anos e liderando o escritório de arquitetura Estúdio Tupi, tinha consciência de que estava prestes a adentrar um templo sagrado do olimpo arquitetônico envolto num terreno pantanoso do qual era difícil sair sem ter os sapatos sujos de lama.

Décadas de 1950 e 1960: a Forma como ícone nacional do design

A Forma se consolidou como um ícone brasileiro do design. A  primeira razão de sua relevância diz respeito ao mobiliário que produziu. O DNA da marca tem origem na Pau Brasil, uma fábrica de móveis criada em São Paulo por dois italianos radicados na cidade durante o pós-guerra: Lina Bo Bardi, que dispensa apresentações, e Giancarlo Palanti, autor de edifícios memoráveis, como o Conde de Prates, implantado entre a praça do Patriarca e o vale do Anhangabaú, em São Paulo, e o Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza. A Pau Brasil foi comprada pelos irmãos Hauner – Carlo e Ernesto -, também italianos e que trabalhavam desenhando para Palanti e Lina. Os irmãos mudaram o nome da empresa, instalada no bairro do Itaim Bibi, para Móveis Artesanal.

Ao tentar vender mobiliário para o Centro Cívico de Curitiba, Carlo conheceu o jovem arquiteto Sergio Rodrigues, que era um dos responsáveis pelo projeto. A venda não deu certo, mas Rodrigues tornou-se sócio da Móveis Artesanais, ao abrir uma filial na capital paranaense. O negócio foi um fracasso, e a loja curitibana fechou em seis meses. Mas o episódio fez com que Rodrigues ingressasse no universo do design, fazendo história ao criar peças como a poltrona Mole e criando suas próprias lojas, a exemplo da Oca.

A Móveis Artesanais ganhou novos sócios – o empresário Ernesto Wolf e o designer austríaco Martin Eisler – e mudou de nome para Forma, adotando o nome de uma loja de objetos de decoração que os irmãos Hauner haviam criado na Rua Augusta em 1953.

Mas a Forma ganhou musculatura ao ser a primeira empresa brasileira a comercializar ícones do design internacional. Para dar um exemplo, entre as peças fabricadas estava a cadeira Barcelona, desenhada em 1929 por Mies van der Rohe.

A façanha foi alcançada a partir de um acordo comercial com a Knoll, empresa norte-americana detentora dos direitos autorais. No início dos anos de 1960, depois que a firma brasileira assinou o contrato para fabricar as peças, a Knoll enviou para o Brasil um arquiteto da matriz nova-iorquina para supervisionar a produção. Mexicano, o projetista tinha autoridade para adaptar as peças conforme a capacidade técnica  da indústria brasileira. Imagine a responsabilidade: se a Forma, por exemplo, não tivesse capacidade de produzir as hastes metálicas da cadeira Barcelona com a bitola que Mies van der Rohe imaginou, o mexicano poderia mudá-las para a realidade nacional.

O trabalho estava previsto para durar três meses mas se estendeu muito. O mexicano se adaptou bem ao Brasil, a Forma ofereceu-lhe um emprego e ele ficou. Seu nome era Aurelio Martinez Flores e durante toda a década de 1960 ele trabalhou para empresa, não só produzindo as peças segundo a realidade nacional mas também projetando interiores, sobretudo de escritórios, liderando uma equipe de arquitetos que produziam mais de 50 projetos por mês.

1972: reverberação da Forma cria nova forma

Após deixar a empresa em 1970 para abrir sua própria loja – a Interdesign – em 1972, Flores realizou seu primeiro projeto de arquitetura no Brasil. A encomenda foi feita por um vizinho do prédio onde ele morava e que se tornou um amigo fraterno: o publicitário José Zaragoza. Primeiro, ambos viviam no edifício Paulicéia, no meio de uma grande turma de jovens promissores, da qual faziam parte a poetisa Edla van Steen e a fotógrafa Claudia Andujar. Depois, ambos mudaram-se para o mesmo prédio, na avenida 9 de Julho, na alça da Fundação Getúlio Vargas.

O então jovem publicitário, o Z da DPZ, pediu ao amigo que desenhasse uma casa de praia no Guarujá. Entre centenas de doses de whisky, eles criaram a quatro mãos, numa espécie de brainstorm publicitário, um caderno de referências para o projeto. A origem hispânica de ambos contribuiu para a criação de uma colcha de retalhos com desenhos e colagens (ao ver o caderno, Pietro Maria Bardi pediu o exemplar para o acervo do Museu de Arte de São Paulo).

Mas o que interessa é o resultado, a casa do Guarujá. De alvenaria de paredes grossas pintadas de branco, a casa possui um percurso de acesso inesquecível. Diante de uma fachada com caixas de alturas diversas, florescem primaveras coloridas que brotam por trás de muros que nem percebemos. Na lateral direita, discreta, um vão é a única abertura perceptível. Para adentrar o abrigo de veraneio, segue-se por ele por não haver outra alternativa. Baixo, largo e escuro, o percurso é um corredor com 15 metros de comprimento, uma espécie de túnel com piso de paralelepípedo. O visitante é levado a caminhar na direção da luz, sem perceber a saída do túnel, que fica no final, à direita. Ali, há um pátio com uma escada à esquerda e uma porta na frente. Do lado direito, um vão na alvenaria permite avistar um campo de golfe. Com esse acesso, Flores inaugurou uma corrente arquitetônica que contrasta com as escolas hegemônicas do Brasil – a Escola Carioca e a Escola Paulista. Entre os principais discípulos de Flores, estão Isay Weinfeld e Marcio Kogan. Se não fosse a Forma, nada disso teria acontecido.

1987: a Forma como ícone arquitetônico

Após migrar do centro da cidade para uma loja na Avenida Faria Lima, a Forma decidiu construir uma loja própria, com qualidade arquitetônica. Na Faria Lima, quase esquina da Avenida Rebouças, ela ocupava um imóvel anódino, no térreo de um edifício vulgar, construído no boom imobiliário que edificou em menos de dois anos o paredão de espaços de negócios da avenida, com pouquíssimos exemplares com algum destaque arquitetônico.

O design brasileiro engatinhava e as peças comercializadas pela Forma seguiam o padrão internacional, desde os clássicos modernos da Bauhaus chegando até os coloridos Strips da milanesa Cini Boeri. A Forma era uma espécie de garantia de bom gosto e estudantes de arquitetura e design se apoderavam dos folders da loja como se fossem páginas da Bíblia.

O endereço escolhido para a nova loja foi um lote na Avenida Cidade Jardim, a menos de dois quilômetros do imóvel da Faria Lima. Uma funcionária graduada da loja, Maria Helena Estrada – que, um ano depois, lançou os irmãos Campana – sugeriu o nome de Paulo Mendes da Rocha para desenhar o novo espaço. Na altura, aos 59 anos, ele era um arquiteto marginal, não estava na moda e só figurava na lista dos mais importantes projetistas paulistas de sua geração na contabilidade de três ou quatro especialistas.

Enquanto todos imaginavam que ele estava hibernando, o mais notável nome da escola paulista estava à espreita, com um olhar astuto, esperando a oportunidade para colocar em prática seu ápice criativo. Naquele período, Mendes da Rocha criou, além da Forma, projetos como o Museu da Escultura, a Casa Gerassi e a capela de Campos do Jordão.

Entre eles, a loja da Forma é o mais modelar, a paixão dos discípulos. Regular, ela é quase um manifesto de ocupação de um terreno genérico: uma caixa suspensa. Com duas empenas duplas de cada lado, chamadas pelo próprio autor de “fortalezas”, a loja reinterpreta o arquétipo moderno do volume sobre pilotis sem, no entanto, manter a premissa de volume elevado por pilares. O vão entre as duas fortalezas é vencido por um engenhoso sistema de vigas metálicas que acompanham a fachada, deixando o interior livre de colunas. Na loja da Forma, Mendes da Rocha começou a exercitar o binômio estrutural do concreto armado com peças metálicas. Para fechar o volume suspenso, ele imaginou um painel leve, de alumínio branco, provando que o revestimento não tinha culpa dos fins vulgares para que era normalmente aplicado em fachadas de prédios modernosos, escolas de línguas ou até padaria. Na faixa de baixo, na frente e no fundo, fixou as duas únicas aberturas da loja, criando uma vitrine de três metros de altura, capaz de expor os produtos para serem capturados na velocidade dos carros que seguiam para o futuro – o Morumbi.

2009: a Forma perde a alma

Seus móveis mudaram de endereço junto com a marca para uma casa reformada na Rua Colômbia, quase na frente do ginásio Paulistano, desenhado em 1958 por Mendes da Rocha. A mudança foi parte da divisão da herança dos então donos da Forma, a família Schmidt, fundadores nos anos de 1950 da Giroflex, que foi o maior fabricante de cadeiras do Brasil. A Giroflex comprou a Forma em 1997 e manteve o imóvel da Cidade Jardim e o catálogo internacional. Sem o mesmo brilho do passado, várias peças passaram a ser encontradas na Teodoro Sampaio, a rua de móveis populares da cidade, pois o design de clássicos do moderno, como a cadeira Wassily, entrou em domínio público. Em 2009, o imóvel da Cidade Jardim ficou com Markus Schmidt, neto do fundador da Giroflex. A loja icônica de Mendes da Rocha, conhecida como “loja da Forma”, não podia mais abrigar a marca. Nesse momento, Markus abriu a Creative Original Design, mudando a fachada da loja. Não houve nenhum protesto no meio arquitetônico.

Contudo, mais significativo do que a mudança na fachada foi a mudança no entorno. Primeiro, com a construção do túnel Max Feffer, entre 2001 e 2004. Com projeto de Júlio Neves, encomendado na gestão de Maluf, o túnel estrangulou a escala da avenida, cortando as tipuanas do canteiro central e abrindo uma das entradas bem na frente da loja. Enquanto isso, para piorar o cenário da vizinhança, nos lotes vizinhos de fundo da loja foram construídos vários monstrengos neoclássicos, com apartamentos de luxo. Com a crise recente, a Creative Original Design fechou e a loja ficou vazia.

 2019: “A loja que já foi da Forma passa por mudanças radicais. Alguém está acompanhando?”

A pergunta foi escrita por Renato Anelli em seu perfil no Facebook e no Instagran. Professor de USP de São Carlos, o crítico de arquitetura ilustrou o comentário com uma foto da fachada sendo transformada com revestimento vermelho. O espaço, reformado por Aldo Urbinati, estava quase pronto. Foi inaugurado na semana seguinte, com três dias de eventos, enquanto dezenas de comentários eram postados no perfil de Anelli. Como qualquer faceta da sociedade, a crítica arquitetônica foi impactada pela mídia social, e o autor da reforma foi crucificado sem que ninguém tivesse visitado a obra. Raras foram as vozes lúcidas que ponderaram que não dava para analisar o resultado só com uma foto tirada do carro em velocidade. Uma delas, a crítica Ruth Verde Zein, lembrou que o próprio Mendes da Rocha havia dito que a fachada era um outdoor.

A repercussão no ambiente arquitetônico catapultou o assunto para as páginas da Ilustrada, o caderno cultural da Folha de S. Paulo, em matéria escrita por Francesca Angiolillo, jornalista que também tem diploma de arquitetura. Anelli afirmou que o autor “poderia ter feito uma intervenção mais respeitosa” mas releva a questão estética por preferir a loja aberta. Já a crítica Maria Isabel Villac não gostou, argumentando que o espaço interno perdeu a fluidez e o vermelho fez com que a fachada perdesse leveza e criasse raízes.  Outros críticos procurados não quiseram se posicionar e mesmo Mendes da Rocha não quis polemizar. Uma das controversas apresentadas na Folha foi o fato de Urbinati não ter consultado o autor do projeto, o que revelaria uma possível falta de ética profissional.

Prevendo a repercussão, Urbinati se antecipou e escreveu um livro de 180 páginas batizado de Mea Culpa – ou como fizemos para reformar a forma de Paulo Mendes da Rocha. Com sinceridade, ele encara o debate de maneira franca, descrevendo sua proximidade com Mendes da Rocha e a Forma, tecendo relações entre sua formação profissional, o mundo arquitetônico e o literário. Segundo relata no livro, ele aceitou o projeto “como quem aceita qualquer sacrifício para ser perdoado pelos deuses e superstições assimétricas que fazem alguém como eu ter medo de voar de avião”.

Verdade seja dita: a encomenda não era fácil, ou seja, o enunciado do problema complicou tudo: como juntar diversos fornecedores embaixo de um mesmo teto, criando uma espécie de bazar da decoração e de produtos de interiores, dentro de um ícone do design e da arquitetura de São Paulo? Mas, o que de fato importa: o espaço manter-se vivo, ganhar uma sobrevida? Ou era preferível que ele ficasse fechado, tornando-se ruína? Entre mortos e feridos, Urbinati não cometeu nenhum pecado mortal, algo que não possa ser revertido na hora do juízo final. O único ponto delicado é o caixilho de vidro que fecha o pilotis;  o arquiteto não conseguiu demover o cliente da ideia de expor um produto de um dos inquilinos e possibilitar o uso do térreo para eventos. Mas o importante é que o concreto foi restaurado e o projeto original respeitado.

A questão principal a que este enredo nos leva é: como manter, com dignidade, o patrimônio moderno que as gerações passadas levantaram? Como a sociedade civil, sem o auxílio do Estado, pode deixar vivo esse patrimônio? Essa controversa não é só da loja da Forma, que, é importante lembrar, não é protegida por nenhuma instância do patrimônio histórico. Ou seja, o Estado não reconhece o seu valor. Observem que até o tombamento, que sempre pareceu ser uma garantia eterna, está em aberto: recentemente, a vila criada por Flávio de Carvalho, na Rua Lorena, perdeu a proteção e pode ser derrubada hoje mesmo.

Este é um de vários exemplos de “destombamento”. E agora estão modificando o tombamento do entorno da praça Vilaboim, em Higienópolis, para possibilitar a construção de um novo prédio que pode afetar a leitura arquitetônica do edifício Louveira – ícone criado por Vilanova Artigas. O debate na mão da sociedade é a manutenção – ou não – de nossa história e identidade.

Fonte: ArchTrends. Consultado pela última vez em 8 de agosto de 2024.

Crédito fotográfico: Itaú Cultural. Consultado pela última vez em 8 de agosto de 2024.

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