Lucílio de Albuquerque (9 de maio de 1877, Barras, PI — 19 de abril de 1939, Rio de Janeiro, RJ) foi um pintor, desenhista e professor brasileiro. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no Rio de Janeiro, onde teve aulas com João Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, Lucílio recebeu em 1906 o Prêmio Viagem ao Exterior, que lhe permitiu estudar na École des Beaux-Arts de Paris e na Académie Julian, além de frequentar o ateliê de Eugène Grasset. Sua obra caracteriza-se pela temática histórica, retratos refinados e paisagens, sempre com rigor acadêmico e sensibilidade cromática, além de trabalhos em vitral. Foi casado com a pintora Georgina de Albuquerque, com quem realizou importantes exposições conjuntas. Lucílio lecionou Desenho Figurado na ENBA e se tornou diretor da instituição em 1937. Recebeu distinções como medalha de ouro no Salão dos Artistas Franceses, em 1910. Suas obras estão presentes em acervos como o Museu Nacional de Belas Artes e o Museu de Arte da Bahia. Após sua morte, sua casa foi transformada no Museu Lucílio de Albuquerque, preservando seu legado como um dos principais nomes da pintura acadêmica brasileira.
Lucílio de Albuquerque | Arremate Arte
Lucílio de Albuquerque (1877 - 1939) foi um pintor, desenhista, vitralista e professor brasileiro cuja obra e trajetória marcaram profundamente a pintura acadêmica nacional. Nascido em Barras, Piauí, filho de magistrado e de uma família de raízes pernambucanas, iniciou seus estudos em Direito em São Paulo, mas logo se encantou pela arte e ingressou na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no Rio de Janeiro, onde foi aluno dos mestres João Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli.
Em 1906, seu quadro Anchieta escrevendo o poema à Virgem rendeu-lhe o prestigioso Prêmio Viagem ao Exterior da ENBA, e ele se transferiu para Paris com sua parceira artística e vida, Georgina de Albuquerque. Lá, estudou na École des Beaux-Arts, na Académie Julian sob orientação de Marcel Baschet, Henri Royer e Jean-Paul Laurens, e trabalhou no ateliê do renomado artista Art Nouveau Eugène Grasset.
Após cinco anos na França, Lucílio retornou ao Brasil em 1911 e, ao lado de Georgina, realizou uma exposição conjunta no Salão da ENBA. Rapidamente ascendeu ao cargo de professor de Desenho Figurado em 1916, dedicando-se à formação de artistas e consolidando-se como um dos grandes nomes da instituição.
Sua obra transita entre retratos elegantes, paisagens e cenas com temática histórica; destacou-se ainda como vitralista — projetando os vitrais para o Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional de Turim em 1911 — e como decorador, com trabalhos para o Palácio Pedro Ernesto.
Entre suas peças mais emblemáticas estão Despertar de Ícaro (medalha de ouro no Salão dos Artistas Franceses, 1910) e Mãe Preta (1912), uma obra com forte carga simbólica, hoje no Museu de Arte da Bahia.
Em reconhecimento à sua trajetória, foi nomeado diretor da ENBA em 1937 — cargo que ocupou até 1938, quando renunciou por problemas de saúde.
Depois de sua morte, em 1939, Georgina transformou a residência do casal, em Laranjeiras, no Museu Lucílio de Albuquerque, contribuindo para a preservação de seu vasto legado artístico.
Lucílio de Albuquerque | Itaú Cultural
Lucílio de Albuquerque (Barras, Piauí, 1877 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1939). Pintor, desenhista, vitralista, professor. Em 1895, ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo, mas abandona-a para estudar pintura. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1896 e frequenta a Escola Nacional de Belas Artes (Enba) como aluno livre. De 1901 a 1906 matricula-se no curso regular da Enba, e tem aulas com Rodolfo Amoedo (1857-1941), Zeferino da Costa (1840-1915) e Henrique Bernardelli (1858-1936). Em 1906, ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão Nacional de Belas Artes (SNBA) com o quadro Anchieta Escrevendo o Poema à Virgem, e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque (1885-1962). Em Paris, estuda na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts (Ensba) [Escola Nacional Superior de Belas Artes] e na Académie Julian, sendo aluno de Henry Royer (1869-1938), Marcel Baschet (1862-1941) e Jean-Paul Laurens (1838-1921). Participa da Exposição Nacional de Bruxelas, e realiza vitrais para o pavilhão brasileiro na Exposição Internacional de Turim, Itália, em 1911. Nesse ano, volta ao Rio de Janeiro e torna-se professor de desenho figurado na Enba. É nomeado diretor em 1937, cargo que abandona no ano seguinte por motivos de saúde. Após sua morte, Georgina de Albuquerque cria, no início dos anos 1940, o Museu Lucílio de Albuquerque, cujo acervo atualmente pertence ao Estado do Rio de Janeiro.
Análise
O pintor Lucílio de Albuquerque frequenta a Enba em 1896, como aluno livre. Em 1901, torna-se aluno regular da instituição, estudando com Rodolfo Amoedo, Zeferino da Costa e Henrique Bernardelli. Em 1906, recebe o prêmio de viagem ao exterior e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque, onde estuda na Académie Julian. Em Paris, toma contato com o impressionismo e com o simbolismo, realizando obras que dialogam com essas tendências.
Apresenta diversos trabalhos no Salon des Artistes Françaises, como, por exemplo, La Campagne (1908), Agnes Dei (1909) e Raparigas do Milho (1910). Exibe no Salon Internationale de Bruxelles a tela Despertar de Ícaro (1910), executada em homenagem ao aviador Alberto Santos-Dumont (1873-1932). No ano seguinte, realiza projeto para vitral destinado ao Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Turim.
Para o historiador da arte Teixeira Leite, Lucílio de Albuquerque parte, em sua obra, das sombras para luz, ou seja, da utilização inicial de uma paleta de tons escuros, passando gradualmente aos tons claros, afastando-se também da concepção realista da forma, com o uso de sólido desenho, para alcançar posteriormente efeitos cromáticos quase expressionista. O artista destaca-se também por suas paisagens, nas quais realiza pintura en plein-air.
Críticas
"Lucílio de Albuquerque praticou todos os gêneros pictóricos com igual desenvoltura; preferia, porém, os temas que fizessem pensar, que contivessem uma idéia. Sua evolução estilística parte de uma concepção realista da forma para chegar a efeitos cromáticos e de luminosidades peculiares à pintura pura: sua arte tornou-se assim mais clara e alegre, à medida que amadurecia. Compôs seus quadros com ajuda da cor, mas nem por isso negligenciou o desenho. Conquistado pela pintura ao ar livre (...), tornou-se um dos introdutores do impressionismo no Brasil (...)". — José Roberto Teixeira Leite
ARTE no Brasil. Apresentação de Pietro Maria Bardi e Pedro Manuel. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
"Nesta derradeira fase (a partir de 1924), o artista chega mais decididamente ao comportamento impressionista, não se aplicando com radicalismo aos princípios científicos da luz e das cores, mas conservando uma espontaneidade individual, adotando o rompimento dos contornos e, assim, permitindo maior expansão aos efeitos atmosféricos. Situa-se, a partir de então, mais comprometido com as influências impressionistas, que o acometeram na juventude, mas sofreram o controle exercido por diferentes preocupações estéticas. Revela-se o pintor por excelência. E a pintura brasileira passou a ter mais um de seus intérpretes entusiastas (...)" — Quirino Campofiorito (CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983).
Exposições Individuais
1911 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1914 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1914 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1915 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1918 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1920 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1921 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1931 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1935 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1936 – Individual de Lucílio de Albuquerque
2006 – Individual de Lucílio Albuquerque
Exposições Coletivas
1901 – 8ª Exposição Geral de Belas Artes
1902 – 9ª Exposição Geral de Belas Artes
1903 – 10ª Exposição Geral de Belas Artes
1904 – 11ª Exposição Geral de Belas Artes
1905 – 12ª Exposição Geral de Belas Artes
1906 – 13ª Exposição Geral de Belas Artes
1907 – 14ª Exposição Geral de Belas Artes
1908 – Salão de Paris
1909 – Salon des Artistes Français
1910 – Exposição Internacional de Bruxelas
1910 – Salon des Artistes Français
1911 – Salon des Artistes Français
1911 – Exposição Internacional de Turim
1911 – Iª Exposição Brasileira de Belas-Artes
1912 – 2ª Exposição Brasileira de Bellas Artes
1912 – 19ª Exposição Geral de Belas Artes
1913 – 20ª Exposição Geral de Belas Artes
1914 – 21ª Exposição Geral de Belas Artes
1915 – 22ª Exposição Geral de Belas Artes
1916 – 23ª Exposição Geral de Belas Artes
1917 – 24ª Exposição Geral de Belas Artes
1919 – 26ª Exposição Geral de Belas Artes
1920 – 27ª Exposição Geral de Belas Artes
1921 – 28ª Exposição Geral de Belas Artes
1922 – 23ª Exposição Geral de Belas Artes
1923 – 30ª Exposição Geral de Belas Artes
1924 – 31ª Exposição Geral de Belas Artes
1925 – Exposição Georgina e Lucílio de Albuquerque
1925 – 32ª Exposição Geral de Belas Artes
1926 – Salão Internacional de Los Angeles
1926 – 33ª Exposição Geral de Belas Artes
1927 – Exposição Coletiva
1927 – 34ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 – 35ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 – Mostra de Grupo Almeida Júnior
1929 – 36ª Exposição Geral de Belas Artes
1929 – Mostra de Grupo Almeida Júnior
1930 – 37ª Exposição Geral de Belas Artes
1930 – The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists
1933 – 39ª Exposição Geral de Belas Artes
1934 – 1º Salão Paulista de Bellas Artes
1935 – The 1935 International Exhibition of Paintings
1936 – The 1935 International Exhibition of Paintings
1937 – 5º Salão Paulista de Belas Artes
Exposições Póstumas
1940 – Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos
1944 – 1ª Exposição de Auto-Retratos
1946 – 12º Salão Paulista de Belas Artes
1948 – Retrospectiva da Pintura no Brasil
1950 – Um Século de Pintura Brasileira: 1850-1950
1955 – Exposição de longa duração
1961 – O Rio na Pintura Brasileira
1970 – Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970
1977 – Exposição Lucílio e Georgina de Albuquerque
1978 – A Paisagem na Coleção da Pinacoteca: Do Século XIX aos Anos 40
1980 – A Paisagem Brasileira: 1650-1976
1984 – Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1985 – 100 Obras Itaú
1986 – Dezenovevinte: uma virada no século
1988 – Brasiliana: o homem e a terra
1989 – Pintura Brasil Século XIX: obras do acervo Banco Itaú
1991 – A Arte nos Estudos de Lucílio de Albuquerque
1992 – O Olhar de Sérgio sobre a Arte Brasileira: desenhos e pinturas
1994 – Bienal Brasil Século XX
1994 – Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX
1995 – Da Marinha à Natureza Morta
1997 – Ar: exposição de artes plásticas, brinquedos, objetos e maquetes
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 – De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo MNBA-RJ
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Negro de Corpo e Alma
2002 – Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX
2004 – O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone
2008 – Paisagem Moderna e o Diálogo Intercultural
2011 – Arte e Cultura no Vale do Paraíba
2012 – Modernismos: 90 anos de 1922
2017 – O Impressionismo e o Brasil
2018 – Trabalho de artista: imagem e autoimagem
2020 – Pinacoteca: Acervo
2022 – Histórias brasileiras
Fonte: LUCÍLIO de Albuquerque. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 11 de julho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Lucílio de Albuquerque | Wikipédia
Lucílio de Albuquerque (Barras, 9 de maio de 1877 — Rio de Janeiro, 19 de abril de 1939) foi um pintor, desenhista e professor brasileiro.
Biografia
Nasceu em Barras, no estado do Piauí, no dia 9 de maio de 1877. Depois de uma breve passagem pela Faculdade de Direito de São Paulo, ingressou em meados dos anos 1890 na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), onde foi aluno de Daniel Bérard, Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli.
Na Europa
Em 1906, recebeu o Prêmio de Viagem da ENBA, com a tela Anchieta escrevendo o poema à Virgem, pertencente hoje ao Museu Dom João VI, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Logo depois, casou-se com sua colega de Academia, Georgina de Albuquerque; ainda em 1906, ambos partiram para a França, onde permaneceram por cinco anos. Em Paris, Lucilio freqüentou a Academia Julian - onde estudou com Marcel Baschet, Henry Royer e Jean-Paul Laurens -, e também o ateliê de Eugène Grasset, mestre do art nouveau, como fizera alguns anos antes Eliseu Visconti; nessa estadia na cidade-luz, ainda expôs com sucesso no Salon des Artistes Français.
De volta ao Brasil
De volta ao Rio de Janeiro, em 1911, Lucilio fez juntamente com a esposa Georgina uma grande exposição na ENBA. No mesmo ano tornou-se professor de Desenho Figurado da instituição, assumindo definitivamente a cátedra em 1916. Nas Exposições Gerais recebeu sucessivamente: menção de 2º grau (1902, com Stella), menção de 1º Grau (1904, com um retrato), grande medalha de prata (1907, com Agnus Dei), pequena medalha de ouro (1912, com Despertar de Ícaro) e medalha de honra (1920, com Retrato de Georgina).
Obra e exposições
Pintor prolífico, destacou-se como retratista e paisagista, tendo sido entre os pintores de sua geração um dos mais dedicados cultores do gênero da pintura histórica. Projetou os vitrais para o Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional de Turim em 1911 e realizou diversas pinturas de caráter decorativo, como aquelas para as salas da Maioria e da Minoria, no atual Palácio Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. Lúcilio expôs em diversos estados brasileiros (São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco) e no exterior (Argentina, Estados Unidos da América).
Após sua morte, sua esposa organizou na residência do casal, em Laranjeiras, o Museu Lucilio de Albuquerque, cujo grande acervo se encontra dividido entre o Museu do Ingá e o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
Na Casa da Cultura de Teresina tem a Pinacoteca Lucílio de Albuquerque.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Lucílio de Albuquerque na arte brasileira | Dezenove Vinte
Piedade Epstein Grinberg
Nada mais aproxima os povos que a Arte. Poder-se-ia mesmo afirmar, sem exagero, que onde a Arte termina começa a desarmonia.
— Lucílio de Albuquerque, 1921.
Quando, em 1906, Lucílio de Albuquerque ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão Nacional de Belas Artes e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque (1885-1962), o crítico de arte e escritor Gonzaga Duque se refere ao jovem artista como “um desses moços que seguem direitos para a sua aspiração [...] reúne a essa proveitosa disposição excelentes qualidades de uma fina organização de artista. É um temperamento delicado, sensível, admiravelmente tramado por componentes privativos para a receptividade artística. Tem a imaginação fogosa, a alma emocional, o olhar observador [...] Está o moço artista entregue à sua arte: agora tudo depende de seu esforço, porque, para chegar a ser o que almeja, terá a lição dos grandes mestres, o excitamento dos célebres centros artísticos e os museus da Europa.”
Nascido em Barras (PI), em 1877, de tradicional família pernambucana, muda-se para São Paulo, onde inicia seus estudos de direito, que abandona no 1º ano para ingressar, em 1896, na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, como aluno livre.
Anos mais tarde, declara sobre sua primeira aula de desenho figurado:
A maior emoção de minha carreira recebi-a quando, pela primeira vez, me vi, na minha primeira aula de Desenho Figurado, de fusain em punho, diante de uma folha moldada em gesso, para copiar! Passei os olhos por tudo quanto me rodeava. Os veteranos, com uma semana de trabalho, já haviam marcado as suas tarefas, bustos, estátuas, torsos. Tive a impressão de que aquilo tudo era uma maravilha e senti-me incapaz de fazer o mesmo. Quando a aula terminou, corri como um louco para o meu quarto, o meu pobre quartinho de pensão! E completamente só, desanimado, eu que até aquela data tinha vivido dentro da casa ampla e feliz de meus pais, não pude conformar-me com a minha situação, que me parecia horrível, e chorei como uma criança inconsolável [...] Felizmente o dia seguinte trouxe-me o alento, enxugou-me as lágrimas e deu-me ânimo para continuar nessa luta, que nunca mais cessou, e para a qual também nunca mais me faltou a coragem precisa.
Discípulo de desenho de Zeferino da Costa e de pintura de Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, torna-se aluno matriculado em 1901. Como registro de suas atividades acadêmicas, o Museu D. João VI da Escola de Belas Artes da UFRJ conserva em seu acervo desenhos a carvão de 1899 como prova (1º lugar), obras de 1903 e 1906, a pintura Sansão e Dalila, resultado de concurso escolar de 1903, e os trabalhos enviados como pensionista em Paris.
A partir de 1901 inicia sua participação em diversos Salões de Belas Artes, e em 1902 recebe a menção honrosa de 2º grau com o quadro Stella; depois, em 1904, a menção honrosa de 1º grau com o quadro Retrato e a medalha de prata de aluno.
O Sr. Lucílio de Albuquerque, que há de ser outro artista de amanhã, expõe dois pastéis e dois quadros a óleo, sendo um desses um bonito retrato de senhora, tratado com largueza no busto e louvável minúcia na cabeça.
Em 1905, com o quadro Pigmalião e Galatéia recebe a medalha de ouro de aluno. Apresentou sempre ótimo desenho e uma “palheta quente como a dos flamengos e sua fatura já era marcadamente larga e pastosa”.
Em janeiro de 1906, tendo terminado o curso da Escola Nacional de Belas Artes, ganha, em concurso, o prêmio de viagem à Europa por cinco anos, com a composição Anchieta escrevendo o poema à Virgem, obra de inspiração religiosa e mística, assim descrita pelo crítico Gonzaga Duque:
Fez o apóstolo nos seus momentos de meditação, à beira-mar, quando, ao cair da tarde, ia compor seus versos que escrevia na areia. Com aturada leitura sobre o assunto, compulsando memórias, histórias e ficções referentes ao companheiro de Nóbrega, reconstruiu o tipo e o compôs nas suas minúcias, interpretou o seu estado de alma provável, estudou um canto dessa nossa linda paisagem fluminense, onde Anchieta sentiu crescer a sua fé, e deu-lhe a participação no assunto pelo tom agreste da sua primitividade. A obra foi unanimemente aprovada, e deve-se dizer que raros concursos têm sido tão justamente premiados como esse.
Durante o período acadêmico em Paris, que se estende até 1911, estuda na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts e na Académie Julian, sendo aluno de Jean Paul Laurens, Henry Royer, Gervais e Marcel Baschet, frequentando também a École Guérin com o mestre do art nouveau e da arte decorativa, Eugène Grasset.
Desse curso de Grasset existem cadernos de Lucílio com desenhos e apontamentos de classe, numerados a partir do estudo das plantas e de decoração, com visíveis orientações às tendências do art nouveau que incluía o simbolismo, os pré-rafaelitas e o art and crafts inglês.
Alguns exemplos teóricos sobre a questão da representação da natureza: “Na natureza todas as combinações são encontradas”; “Procurar os motivos perfeitos, evitar os defeitos da natureza”; “É preciso que não se faça uma aplicação de um estudo a partir da natureza, mas deve-se fazer uma composição que se queira; criar, fazer qualquer coisa de nós mesmos”; “No estudo do natural podemos fazer todas as modificações que quisermos, uma vez que respeitemos o caráter”; “Para ter-se um estilo é preciso transformar a natureza”.
Sobre o dualismo entre forma e conteúdo: “Devemos conservar a maior clareza no desenho”; “Devemos subordinar todas as formas à nossa vontade, não ao acaso”; “É preciso traçar a forma geométrica, mas não escravizar-se a ela. Uma vez feita, apagá-la”; “Ocultar o fundo o mais possível”; “Não é preciso ficar limitado ao espaço geométrico e convém mesmo sair um pouco, e que o ar penetre; nada de contornos rígidos”.
Não há dúvidas de que a aquisição desses conhecimentos serão aplicados em vitrais e murais como o que foi executado para o antigo Conselho Municipal, depois Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro em 1921.
O prêmio de viagem implica uma série de obrigações que o artista cumprirá rigorosamente e de forma satisfatória nas obras que executa, ao mesmo tempo em que observa os impressionistas e experimenta os seus processos.
Influenciado também pelos simbolistas, que acreditavam que a arte deveria ser uma síntese entre a percepção dos sentidos e a reflexão intelectual, além de enfatizar a pureza, a espiritualidade e a ingenuidade dos personagens, executa o quadro Agnus Dei e recebe a grande medalha de prata na 14ª Exposição Geral de Belas Artes, em 1907.
O Sr. Lucílio, cujo talento conquistou grande número de admiradores, entre os quais tenho orgulho de me incluir, não pôde enviar trabalhos que nos indicassem o seu aproveitamento, aliás, inesperado porque há pouco tempo que ele iniciou os seus estudos em Paris.
O seu inacabado quadro intitulado Dante (canto V do Inferno) tem largamente do quanto ele daqui levou, e que foi o bastante para conquistar, com brilho, o seu lugar de pensionista. A composição acusa o que ele ainda nos poderá dar, para satisfazer o alto conceito em que todos o temos. Assim é justo que esperemos, mesmo porque, o seu Agnus Dei, que acompanha o esboçado quadro já referido, não corresponde à expectativa dos seus admiradores.
Bem pintado, não há dúvida, bem desenhado também, mas medíocre de impressão por inadaptabilidade da figura ao assunto, que é de feitio decorativo e exigentemente místico.
Se não fosse o título, se não fosse a composição tendente a moldes de pura fantasia, eu me limitaria e elogiá-lo.
De 1908 a 1910, expõe no Salon des Artistes Français, La campagne, “composição cujos efeitos de luz, distribuição de tintas, correção de desenho, nada deixam a desejar e colocam o seu autor no nível dos mais hábeis e modernos pintores” e Rapariga do Minho, respectivamente.
O ano de 1911 foi um dos mais frutíferos para a carreira do artista: expõe no mesmo Salon o quadro Sono, belo desenho de nu, no qual é possível constatar a especial estrutura da matéria; participa do Salão Internacional de Bruxelas com o quadro Despertar de Ícaro, uma de suas pinturas mais conhecidas, de forte influência simbolista, remotamente sugerida pelo vôo pioneiro de Santos Dumont e executa vitrais para o Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Turim, na Itália, representando A República Brasileira guiada pela Ordem e Progresso, desenvolve seu comércio e sua indústria, alegoria do Cruzeiro do Sul simbolizado por figuras femininas.
Várias obras são executadas em Paris como, por exemplo, Paisagem de Lemesnil; Morte de Anchieta; Primavera em França; Prometeu; Visão da floresta; Freira e enfermo; Paraíso restituíd, entre muitas outras.
Ainda em 1911, retorna ao Brasil e realiza, na Escola Nacional de Belas Artes, sua primeira exposição no Rio de Janeiro (em conjunto com a pintora Georgina de Albuquerque), com cerca de 107 pinturas, além de desenhos diversos, desenhos de academia, croquis de nus, cartões para os vitrais do Pavilhão do Brasil em Turim e os estudos para esses cartões, todas obras realizadas na Europa [cf. Catálogo]; participa da primeira exposição brasileira de belas-artes no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, e é nomeado professor temporário de desenho figurado na Escola Nacional de Belas Artes, substituindo o artista e seu antigo professor Zeferino da Costa, cargo ao qual é reconduzido, como catedrático em 1916, e no qual se mantém até o seu falecimento.
Em 1912 recebe a pequena medalha de ouro na 19ª Exposição Geral de Belas Artes da ENBA com o quadro Despertar de Ícaro, “tela magistral pela concepção, pelo desenho, pelo colorido e pela execução”, que já havia suscitado críticas favoráveis na imprensa em 1911 como a de Oliveira Lima no O Estado de S. Paulo, de Aníbal Matos no O Mundo e de Oscar Lopes em A Semana, destacando que ”Lucílio tem acentuadas qualidades sugestivas. A sua tela Despertar de Ícaro é pela idéia uma trouvaille, o assunto que muitos outros artistas desejariam ter encontrado. É uma tela admiravelmente bem sentida, bem desenhada e bem pintada”.
A imprensa também aprecia a obra histórica Expedição à Laguna (1914), encomenda do governo do Rio Grande do Sul após exposição individual de Lucílio em Porto Alegre, chamando a atenção para o novo quadro e a dificílima tarefa confiada a um dos mais talentosos da nova geração de artistas brasileiros.
De 1913 a 1933 participa praticamente de todas as Exposições Gerais da Escola Nacional de Belas Artes, além de realizar individuais em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Recife.
Podemos destacar o Salão de 1920, quando recebe a grande medalha de honra com o quadro Retrato de Georgina que, numa intenção de renovação, aproxima o artista de um estilo decorativo ainda incipiente na pintura brasileira, porém praticado por vários desenhistas e ilustradores, influenciados pela acentuada simplificação e estilização do traço, materializando uma linguagem moderna.
Durante viagem a Salvador em 1924, Lucílio ficou impressionado e marcado pela luz tropical, o casario antigo, a população local, o mercado fervilhante, a indumentária feminina. Esses elementos “[...] deram ao pintor um entusiasmo que, a partir de então, vai disciplinar diferentemente sua sensibilidade pictural: os pincéis foram substituídos pelas espátulas, essas mais convenientes ao trato pastoso e espontâneo das tintas, mais adaptadas a corresponder à sofreguidão visual”.
A obra de Lucílio de Albuquerque, realizada sempre com dedicação, cuidado e apuro (o artista preparava as próprias telas e as espátulas) pode ser dividida em cinco fases: a acadêmica, quando estuda no Rio de Janeiro e em Paris, onde copia os grandes mestres europeus, aprimora as representações do corpo humano e aplica com esmero os exercícios de paisagem.
A fase das composições místicas e das “grandes idéias” que o pintor considerava as suas preferidas: “Todavia confesso-lhe que fico mais satisfeito toda vez que realizo um quadro de idéia, que faz pensar”. Segundo a pintora Georgina de Albuquerque, “a plena posse da matéria plástica permite, na segunda etapa da sua arte, expansão aos dons de artista e à sua capacidade de poeta e pensador. Nobres e arrojadas, as composições giram em torno de idéias”.
A terceira fase é a dos retratos; a seguir a das grandes composições históricas, e a última, a fase das paisagens quando o artista anula a estrutura acadêmica e suas pinceladas e manchas tornam-se mais consistentes e densas, comprovando os efeitos de luz sob um cromatismo variado, que evidencia um impressionismo tardio. A predominância dos tons verdes, amarelos, azuis e violetas, especialmente nas obras em que o pintor retrata uma paisagem-panorama, indica o rompimento com os contornos quando a sua palheta fica mais clara e arejada nas largas perspectivas.
Pintava suas paisagens en plein air sem violências inúteis, privilegiando os temas como pequenos recantos de rios, praias acrescidas de embarcações, de singela arquitetura ou de personagens locais. São trabalhos em pequeno formato com vistas pitorescas, o casario colonial inspirado nas cidades históricas mineiras e flamboyants floridos da paisagem niteroiense.
[...] e as suas paisagens são pedaços vivos, nítidos de nossa terra. Não são cantinhos de vegetação em banal sinfonia de verdes e amarelos. É a terra castigada pelas intempéries. É a terra que o sol queima e as enxurradas martirizam. É a terra forte, moça, cheia de seiva.
Lucílio de Albuquerque evolui sempre. Onde seu pincel encontra expressões magníficas é nos velhos motivos coloniais. Um canto de rua que se esgueira deliciosamente, ladeira abaixo ou ladeira acima, na típica encarnação de uma época que se vai distanciando, cada vez mais querida. Sente-se que ele foi aos tipos de rua, às lavadeiras e doceiras, estudar-lhes a expressão fisionômica com o mesmo carinho que já lhes percrustou a psicologia.
Lucílio de Albuquerque foi um grande divulgador da cultura artística brasileira, realizando conferências e outras atividades, sobretudo na missão desempenhada no Uruguai e Argentina por iniciativa do Ministério das Relações Exteriores em 1921, ocasião em que realiza uma exposição de seus trabalhos em Buenos Aires. A iniciativa do estabelecimento desse intercâmbio teve apoio da nova Sociedade Brasileira de Belas Artes (fundada em 1910 com o nome de Centro Artístico Juventas) constando, entre seus fundadores, Lucílio e Georgina de Albuquerque.
Participa também de outras exposições internacionais como o Salão Internacional de Los Angeles (1926); Coletiva no Roerich Museum de Nova York (1927); Salão Internacional de Rosário, Argentina, conquistando o prêmio de estímulo (1929); The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, no Roerich Museum de Nova York (1930) e The 1935 International Exhibition of Paintings no Carnegie Institute em Pittsburgh, onde apresenta a obra O grande circo.
Exerceu o cargo de diretor da Escola Nacional de Belas Artes de 1937 a 1938, vindo a falecer em abril de 1939. Após sua morte, sua esposa Georgina de Albuquerque comovida declara que “Lucílio viveu exclusivamente para a arte que amou e respeitou, nunca a mercantilizando. Laborioso, reservado, todos seus pensamentos e todos seus sentimentos, os vasava na sua arte”.
Em 1940, o Ministério da Educação e Saúde homenageia o artista com uma retrospectiva de sua obra, no Museu Nacional de Belas Artes. A exposição apresentou cerca de 400 trabalhos entre grandes composições históricas e místicas, paisagens do Rio de Janeiro, de Niterói, do interior do Estado, de Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, além de desenhos, estudos para composições, projetos de decoração de murais e croquis diversos. Acompanha a exposição importante e consistente catálogo ilustrado, com textos do diretor do Museu, Oswaldo Teixeira, do professor Celso Kelly, além de trechos de críticas nacionais e internacionais.
O Museu Lucílio de Albuquerque é criado em sua residência (Rua Ribeiro de Almeida, 22, no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro), em 1943, por sua esposa e pela Sociedade de Amigos Lucílio de Albuquerque. Armando Miguéis, em um artigo para a Revista Forma, intitulado “Patrimônio a preservar”, chama a atenção para o descaso das autoridades sobre a necessidade de preservação das obras do artista, ameaçadas de dispersão. Ressalta as coleções de pinturas e desenhos divididos em tipos populares, cidades coloniais brasileiras, desenhos de expressão, documentários e diversos, “um legado, como se vê, que honra o patrimônio artístico do Brasil”. O acervo do museu foi vendido integralmente a então Prefeitura do Distrito Federal e distribuído entre várias instituições e residências governamentais. A maior parte dessas obras compõe o acervo do Museu do Ingá / Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói.
Depois de sua morte suas obras integram diversas e importantes exposições coletivas em museus e galerias de arte: “Exposição retrospectiva – obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos”, São Paulo (1940); “Exposição de auto-retratos”, MNBA (1944); “Um século de pintura brasileira 1850-1950”, MNBA (1950); “Lucílio e Georgina de Albuquerque”, Galeria Le Chat, Niterói (1973); “Reflexos do impressionismo”, obras do acervo do MNBA (1974); Exposição retrospectiva Lucílio e Georgina de Albuquerque em comemoração aos 100 anos de nascimento do pintor, MNBA (1977); “A paisagem brasileira 1650-1976”, Paço das Artes, São Paulo (1980); “Tradição e ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras”, Fundação Bienal de São Paulo (1984); “Dezenovevinte: uma virada no século”, Pinacoteca do Estado de São Paulo (1986); “Bienal Brasil século XX”, Fundação Bienal de São Paulo (1994); “De Franz Post a Eliseu Visconti”, acervo do MNBA no Museu de Arte do Rio Grande do Sul; “Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento”, Fundação Bienal de São Paulo (ambas em 2000); “Arte brasileira sobre papel: séculos XIX e XX”, Solar do Jambeiro, Niterói (2002); “O preço da sedução: do espartilho ao silicone”, Itaú Cultural, São Paulo (2004), entre muitas outras.
Os críticos, em conceituados jornais, sempre acompanharam a trajetória do artista, tecendo comentários, observações, elogios, informações e uma orientação crítica elucidativa para os leitores e os apreciadores da arte que frequentavam ou não as exposições e os Salões. São textos de jornalistas e de importantes escritores e literatos como Ronald de Carvalho, Menotti del Picchia, Monteiro Lobato, Mário de Andrade e especialistas em arte como o professor Flexa Ribeiro, o professor e pintor José Maria dos Reis Júnior, Carlos Cavalcanti e o pintor Quirino Campofiorito.
Análises de suas obras, os temas e a fatura pictórica, dados biográficos, conceitos sobre sua conduta artística e didática são destacados nesses textos e em outros postumamente. A imprensa estrangeira também registrou a presença do artista nos Salões, nas exposições e nas atividades culturais internacionais desde suas primeiras exposições até o seu falecimento.
Destacamos alguns escritos.
Quem acompanha com interesse a evolução da pintura brasileira nestas últimas décadas, não poderá deixar de anotar a obra de Lucílio de Albuquerque como das mais significativas. É um artista sincero que se renova, na pesquisa, na retificação do que vê, dominando, cada dia, pela conquista de mais uma parcela de verdade. Em Lucílio não se operou, porém, uma evolução somente no sentido de subidas em degraus óticos e picturais. Houve mais: – houve verdadeira metamorfose, o paisagista sofreu como uma transmutação. Através desse magnífico esforço acossado violentamente pelos ímpetos de seus instintos, ele afinal se colocou, sozinho, sem a sombra apavorante dos mestres, liberto da servidão européia, em face da natureza brasileira. Desse conflito formidável em que a terra americana parecia esmagá-lo, ele saiu triunfante: compreendeu-a, sentiu-a com a grandeza de seu coração, viu-a na realidade empolgante de uma epopéia ruidosa de massas e luzes deslumbrantes.
Lucílio de Albuquerque é o paisagista brasileiro. Encontramos nas suas paisagens uma grandeza robusta, um cântico da vida que vem de um temperamento que se definiu, que encontrou através dos anseios de um insatisfeito a sua finalidade moral e estética.
Em Lucílio de Albuquerque são as suas qualidades de construção, especialmente de desenho, a sensibilidade de certas formas e cores bem dispostas, o que recoloca muitas das suas obras dentro de mais firmes campos plásticos. A sua Rapariga do Minho se não chega a ter aquela força plástica de certos rostos de mulher de Corot da primeira fase, é de uma excelente matéria, voluptuosa, franca, cheia de vigor. O Retrato de Georgina, outra obra valiosa, que dos mais avançados “modernos” tenho ouvido respeitar, é de uma segurança e de uma sensibilidade de desenho e de cor que lhe permite lugar garantido na evolução histórica da plástica nacional. Como homem de arte, Lucílio de Albuquerque soube envelhecer a tempo [...] se interessava pelas pesquisas plásticas novas e pelo moços que apareciam, pintando tão diferentemente do que ele fazia. Não tentou mudar de rumo, sentia que isso era tarde para sua personalidade já feita. Seria uma insinceridade fundamental, apenas uma máscara oportunista - e isso não condizia com a sua bela envergadura moral. Mas não reagiu contra ninguém, nem contra nenhum princípio por mais maluco que parecesse: antes se interessava pelo que os outros estavam fazendo, os novos o traíam, sabia acolhê-los com igualdade e sei mesmo de moços inovadores a quem defendia e apreciava [...] É ainda cedo para que se possa dizer da obra plástica deixada por Lucílio de Albuquerque, o que ficará definitivamente e em que posição ficará; mas sempre é certo que ele soube ser um homem generosamente compreensivo, que ao invés de muitos dos seus pares, cuja atuação tem sido totalmente prejudicial ao progresso da plástica brasileira, nunca cerceou a liberdade de ninguém, nunca prejudicou ninguém.
A obra de Lucílio de Albuquerque se insere em um período em que a arte acadêmica enfrentava os embates com os artistas modernos, não só pela primazia da forma, mas sobretudo pela necessidade de reforma do ensino na Escola Nacional de Belas Artes. Lucílio, como professor, sempre se posicionou de maneira aberta e conciliatória, mesmo que a sua obra - considerada avançada para a época no que se refere à sua pintura dita “impressionista” – não evidenciasse uma abertura para as questões do modernismo brasileiro pós Semana de Arte Moderna de 22.
Pode-se considerar que Lucílio de Albuquerque viveu e atuou consciente e livre, em um ambiente de transição entre o academicismo e o modernismo, ratificando suas tendências artísticas e contribuindo para a valorização da arte brasileira do início do século XX.
(*) Texto originalmente publicado em Lucílio de Albuquerque 1877-1839. Catálogo de Exposição, com curadoria de Piedade Epstein Grinberg. Caixa Cultural, Rio de Janeiro, 27 de setembro a 5 de novembro de 2006, p.7-21.
Fonte: Dezenove Vinte, “Lucílio de Albuquerque na arte brasileira”. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Crédito fotográfico: Wikipédia. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Lucílio de Albuquerque (9 de maio de 1877, Barras, PI — 19 de abril de 1939, Rio de Janeiro, RJ) foi um pintor, desenhista e professor brasileiro. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no Rio de Janeiro, onde teve aulas com João Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, Lucílio recebeu em 1906 o Prêmio Viagem ao Exterior, que lhe permitiu estudar na École des Beaux-Arts de Paris e na Académie Julian, além de frequentar o ateliê de Eugène Grasset. Sua obra caracteriza-se pela temática histórica, retratos refinados e paisagens, sempre com rigor acadêmico e sensibilidade cromática, além de trabalhos em vitral. Foi casado com a pintora Georgina de Albuquerque, com quem realizou importantes exposições conjuntas. Lucílio lecionou Desenho Figurado na ENBA e se tornou diretor da instituição em 1937. Recebeu distinções como medalha de ouro no Salão dos Artistas Franceses, em 1910. Suas obras estão presentes em acervos como o Museu Nacional de Belas Artes e o Museu de Arte da Bahia. Após sua morte, sua casa foi transformada no Museu Lucílio de Albuquerque, preservando seu legado como um dos principais nomes da pintura acadêmica brasileira.
Lucílio de Albuquerque | Arremate Arte
Lucílio de Albuquerque (1877 - 1939) foi um pintor, desenhista, vitralista e professor brasileiro cuja obra e trajetória marcaram profundamente a pintura acadêmica nacional. Nascido em Barras, Piauí, filho de magistrado e de uma família de raízes pernambucanas, iniciou seus estudos em Direito em São Paulo, mas logo se encantou pela arte e ingressou na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no Rio de Janeiro, onde foi aluno dos mestres João Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli.
Em 1906, seu quadro Anchieta escrevendo o poema à Virgem rendeu-lhe o prestigioso Prêmio Viagem ao Exterior da ENBA, e ele se transferiu para Paris com sua parceira artística e vida, Georgina de Albuquerque. Lá, estudou na École des Beaux-Arts, na Académie Julian sob orientação de Marcel Baschet, Henri Royer e Jean-Paul Laurens, e trabalhou no ateliê do renomado artista Art Nouveau Eugène Grasset.
Após cinco anos na França, Lucílio retornou ao Brasil em 1911 e, ao lado de Georgina, realizou uma exposição conjunta no Salão da ENBA. Rapidamente ascendeu ao cargo de professor de Desenho Figurado em 1916, dedicando-se à formação de artistas e consolidando-se como um dos grandes nomes da instituição.
Sua obra transita entre retratos elegantes, paisagens e cenas com temática histórica; destacou-se ainda como vitralista — projetando os vitrais para o Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional de Turim em 1911 — e como decorador, com trabalhos para o Palácio Pedro Ernesto.
Entre suas peças mais emblemáticas estão Despertar de Ícaro (medalha de ouro no Salão dos Artistas Franceses, 1910) e Mãe Preta (1912), uma obra com forte carga simbólica, hoje no Museu de Arte da Bahia.
Em reconhecimento à sua trajetória, foi nomeado diretor da ENBA em 1937 — cargo que ocupou até 1938, quando renunciou por problemas de saúde.
Depois de sua morte, em 1939, Georgina transformou a residência do casal, em Laranjeiras, no Museu Lucílio de Albuquerque, contribuindo para a preservação de seu vasto legado artístico.
Lucílio de Albuquerque | Itaú Cultural
Lucílio de Albuquerque (Barras, Piauí, 1877 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1939). Pintor, desenhista, vitralista, professor. Em 1895, ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo, mas abandona-a para estudar pintura. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1896 e frequenta a Escola Nacional de Belas Artes (Enba) como aluno livre. De 1901 a 1906 matricula-se no curso regular da Enba, e tem aulas com Rodolfo Amoedo (1857-1941), Zeferino da Costa (1840-1915) e Henrique Bernardelli (1858-1936). Em 1906, ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão Nacional de Belas Artes (SNBA) com o quadro Anchieta Escrevendo o Poema à Virgem, e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque (1885-1962). Em Paris, estuda na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts (Ensba) [Escola Nacional Superior de Belas Artes] e na Académie Julian, sendo aluno de Henry Royer (1869-1938), Marcel Baschet (1862-1941) e Jean-Paul Laurens (1838-1921). Participa da Exposição Nacional de Bruxelas, e realiza vitrais para o pavilhão brasileiro na Exposição Internacional de Turim, Itália, em 1911. Nesse ano, volta ao Rio de Janeiro e torna-se professor de desenho figurado na Enba. É nomeado diretor em 1937, cargo que abandona no ano seguinte por motivos de saúde. Após sua morte, Georgina de Albuquerque cria, no início dos anos 1940, o Museu Lucílio de Albuquerque, cujo acervo atualmente pertence ao Estado do Rio de Janeiro.
Análise
O pintor Lucílio de Albuquerque frequenta a Enba em 1896, como aluno livre. Em 1901, torna-se aluno regular da instituição, estudando com Rodolfo Amoedo, Zeferino da Costa e Henrique Bernardelli. Em 1906, recebe o prêmio de viagem ao exterior e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque, onde estuda na Académie Julian. Em Paris, toma contato com o impressionismo e com o simbolismo, realizando obras que dialogam com essas tendências.
Apresenta diversos trabalhos no Salon des Artistes Françaises, como, por exemplo, La Campagne (1908), Agnes Dei (1909) e Raparigas do Milho (1910). Exibe no Salon Internationale de Bruxelles a tela Despertar de Ícaro (1910), executada em homenagem ao aviador Alberto Santos-Dumont (1873-1932). No ano seguinte, realiza projeto para vitral destinado ao Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Turim.
Para o historiador da arte Teixeira Leite, Lucílio de Albuquerque parte, em sua obra, das sombras para luz, ou seja, da utilização inicial de uma paleta de tons escuros, passando gradualmente aos tons claros, afastando-se também da concepção realista da forma, com o uso de sólido desenho, para alcançar posteriormente efeitos cromáticos quase expressionista. O artista destaca-se também por suas paisagens, nas quais realiza pintura en plein-air.
Críticas
"Lucílio de Albuquerque praticou todos os gêneros pictóricos com igual desenvoltura; preferia, porém, os temas que fizessem pensar, que contivessem uma idéia. Sua evolução estilística parte de uma concepção realista da forma para chegar a efeitos cromáticos e de luminosidades peculiares à pintura pura: sua arte tornou-se assim mais clara e alegre, à medida que amadurecia. Compôs seus quadros com ajuda da cor, mas nem por isso negligenciou o desenho. Conquistado pela pintura ao ar livre (...), tornou-se um dos introdutores do impressionismo no Brasil (...)". — José Roberto Teixeira Leite
ARTE no Brasil. Apresentação de Pietro Maria Bardi e Pedro Manuel. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
"Nesta derradeira fase (a partir de 1924), o artista chega mais decididamente ao comportamento impressionista, não se aplicando com radicalismo aos princípios científicos da luz e das cores, mas conservando uma espontaneidade individual, adotando o rompimento dos contornos e, assim, permitindo maior expansão aos efeitos atmosféricos. Situa-se, a partir de então, mais comprometido com as influências impressionistas, que o acometeram na juventude, mas sofreram o controle exercido por diferentes preocupações estéticas. Revela-se o pintor por excelência. E a pintura brasileira passou a ter mais um de seus intérpretes entusiastas (...)" — Quirino Campofiorito (CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983).
Exposições Individuais
1911 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1914 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1914 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1915 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1918 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1920 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1921 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1931 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1935 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1936 – Individual de Lucílio de Albuquerque
2006 – Individual de Lucílio Albuquerque
Exposições Coletivas
1901 – 8ª Exposição Geral de Belas Artes
1902 – 9ª Exposição Geral de Belas Artes
1903 – 10ª Exposição Geral de Belas Artes
1904 – 11ª Exposição Geral de Belas Artes
1905 – 12ª Exposição Geral de Belas Artes
1906 – 13ª Exposição Geral de Belas Artes
1907 – 14ª Exposição Geral de Belas Artes
1908 – Salão de Paris
1909 – Salon des Artistes Français
1910 – Exposição Internacional de Bruxelas
1910 – Salon des Artistes Français
1911 – Salon des Artistes Français
1911 – Exposição Internacional de Turim
1911 – Iª Exposição Brasileira de Belas-Artes
1912 – 2ª Exposição Brasileira de Bellas Artes
1912 – 19ª Exposição Geral de Belas Artes
1913 – 20ª Exposição Geral de Belas Artes
1914 – 21ª Exposição Geral de Belas Artes
1915 – 22ª Exposição Geral de Belas Artes
1916 – 23ª Exposição Geral de Belas Artes
1917 – 24ª Exposição Geral de Belas Artes
1919 – 26ª Exposição Geral de Belas Artes
1920 – 27ª Exposição Geral de Belas Artes
1921 – 28ª Exposição Geral de Belas Artes
1922 – 23ª Exposição Geral de Belas Artes
1923 – 30ª Exposição Geral de Belas Artes
1924 – 31ª Exposição Geral de Belas Artes
1925 – Exposição Georgina e Lucílio de Albuquerque
1925 – 32ª Exposição Geral de Belas Artes
1926 – Salão Internacional de Los Angeles
1926 – 33ª Exposição Geral de Belas Artes
1927 – Exposição Coletiva
1927 – 34ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 – 35ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 – Mostra de Grupo Almeida Júnior
1929 – 36ª Exposição Geral de Belas Artes
1929 – Mostra de Grupo Almeida Júnior
1930 – 37ª Exposição Geral de Belas Artes
1930 – The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists
1933 – 39ª Exposição Geral de Belas Artes
1934 – 1º Salão Paulista de Bellas Artes
1935 – The 1935 International Exhibition of Paintings
1936 – The 1935 International Exhibition of Paintings
1937 – 5º Salão Paulista de Belas Artes
Exposições Póstumas
1940 – Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos
1944 – 1ª Exposição de Auto-Retratos
1946 – 12º Salão Paulista de Belas Artes
1948 – Retrospectiva da Pintura no Brasil
1950 – Um Século de Pintura Brasileira: 1850-1950
1955 – Exposição de longa duração
1961 – O Rio na Pintura Brasileira
1970 – Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970
1977 – Exposição Lucílio e Georgina de Albuquerque
1978 – A Paisagem na Coleção da Pinacoteca: Do Século XIX aos Anos 40
1980 – A Paisagem Brasileira: 1650-1976
1984 – Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1985 – 100 Obras Itaú
1986 – Dezenovevinte: uma virada no século
1988 – Brasiliana: o homem e a terra
1989 – Pintura Brasil Século XIX: obras do acervo Banco Itaú
1991 – A Arte nos Estudos de Lucílio de Albuquerque
1992 – O Olhar de Sérgio sobre a Arte Brasileira: desenhos e pinturas
1994 – Bienal Brasil Século XX
1994 – Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX
1995 – Da Marinha à Natureza Morta
1997 – Ar: exposição de artes plásticas, brinquedos, objetos e maquetes
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 – De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo MNBA-RJ
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Negro de Corpo e Alma
2002 – Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX
2004 – O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone
2008 – Paisagem Moderna e o Diálogo Intercultural
2011 – Arte e Cultura no Vale do Paraíba
2012 – Modernismos: 90 anos de 1922
2017 – O Impressionismo e o Brasil
2018 – Trabalho de artista: imagem e autoimagem
2020 – Pinacoteca: Acervo
2022 – Histórias brasileiras
Fonte: LUCÍLIO de Albuquerque. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 11 de julho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Lucílio de Albuquerque | Wikipédia
Lucílio de Albuquerque (Barras, 9 de maio de 1877 — Rio de Janeiro, 19 de abril de 1939) foi um pintor, desenhista e professor brasileiro.
Biografia
Nasceu em Barras, no estado do Piauí, no dia 9 de maio de 1877. Depois de uma breve passagem pela Faculdade de Direito de São Paulo, ingressou em meados dos anos 1890 na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), onde foi aluno de Daniel Bérard, Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli.
Na Europa
Em 1906, recebeu o Prêmio de Viagem da ENBA, com a tela Anchieta escrevendo o poema à Virgem, pertencente hoje ao Museu Dom João VI, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Logo depois, casou-se com sua colega de Academia, Georgina de Albuquerque; ainda em 1906, ambos partiram para a França, onde permaneceram por cinco anos. Em Paris, Lucilio freqüentou a Academia Julian - onde estudou com Marcel Baschet, Henry Royer e Jean-Paul Laurens -, e também o ateliê de Eugène Grasset, mestre do art nouveau, como fizera alguns anos antes Eliseu Visconti; nessa estadia na cidade-luz, ainda expôs com sucesso no Salon des Artistes Français.
De volta ao Brasil
De volta ao Rio de Janeiro, em 1911, Lucilio fez juntamente com a esposa Georgina uma grande exposição na ENBA. No mesmo ano tornou-se professor de Desenho Figurado da instituição, assumindo definitivamente a cátedra em 1916. Nas Exposições Gerais recebeu sucessivamente: menção de 2º grau (1902, com Stella), menção de 1º Grau (1904, com um retrato), grande medalha de prata (1907, com Agnus Dei), pequena medalha de ouro (1912, com Despertar de Ícaro) e medalha de honra (1920, com Retrato de Georgina).
Obra e exposições
Pintor prolífico, destacou-se como retratista e paisagista, tendo sido entre os pintores de sua geração um dos mais dedicados cultores do gênero da pintura histórica. Projetou os vitrais para o Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional de Turim em 1911 e realizou diversas pinturas de caráter decorativo, como aquelas para as salas da Maioria e da Minoria, no atual Palácio Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. Lúcilio expôs em diversos estados brasileiros (São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco) e no exterior (Argentina, Estados Unidos da América).
Após sua morte, sua esposa organizou na residência do casal, em Laranjeiras, o Museu Lucilio de Albuquerque, cujo grande acervo se encontra dividido entre o Museu do Ingá e o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
Na Casa da Cultura de Teresina tem a Pinacoteca Lucílio de Albuquerque.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Lucílio de Albuquerque na arte brasileira | Dezenove Vinte
Piedade Epstein Grinberg
Nada mais aproxima os povos que a Arte. Poder-se-ia mesmo afirmar, sem exagero, que onde a Arte termina começa a desarmonia.
— Lucílio de Albuquerque, 1921.
Quando, em 1906, Lucílio de Albuquerque ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão Nacional de Belas Artes e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque (1885-1962), o crítico de arte e escritor Gonzaga Duque se refere ao jovem artista como “um desses moços que seguem direitos para a sua aspiração [...] reúne a essa proveitosa disposição excelentes qualidades de uma fina organização de artista. É um temperamento delicado, sensível, admiravelmente tramado por componentes privativos para a receptividade artística. Tem a imaginação fogosa, a alma emocional, o olhar observador [...] Está o moço artista entregue à sua arte: agora tudo depende de seu esforço, porque, para chegar a ser o que almeja, terá a lição dos grandes mestres, o excitamento dos célebres centros artísticos e os museus da Europa.”
Nascido em Barras (PI), em 1877, de tradicional família pernambucana, muda-se para São Paulo, onde inicia seus estudos de direito, que abandona no 1º ano para ingressar, em 1896, na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, como aluno livre.
Anos mais tarde, declara sobre sua primeira aula de desenho figurado:
A maior emoção de minha carreira recebi-a quando, pela primeira vez, me vi, na minha primeira aula de Desenho Figurado, de fusain em punho, diante de uma folha moldada em gesso, para copiar! Passei os olhos por tudo quanto me rodeava. Os veteranos, com uma semana de trabalho, já haviam marcado as suas tarefas, bustos, estátuas, torsos. Tive a impressão de que aquilo tudo era uma maravilha e senti-me incapaz de fazer o mesmo. Quando a aula terminou, corri como um louco para o meu quarto, o meu pobre quartinho de pensão! E completamente só, desanimado, eu que até aquela data tinha vivido dentro da casa ampla e feliz de meus pais, não pude conformar-me com a minha situação, que me parecia horrível, e chorei como uma criança inconsolável [...] Felizmente o dia seguinte trouxe-me o alento, enxugou-me as lágrimas e deu-me ânimo para continuar nessa luta, que nunca mais cessou, e para a qual também nunca mais me faltou a coragem precisa.
Discípulo de desenho de Zeferino da Costa e de pintura de Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, torna-se aluno matriculado em 1901. Como registro de suas atividades acadêmicas, o Museu D. João VI da Escola de Belas Artes da UFRJ conserva em seu acervo desenhos a carvão de 1899 como prova (1º lugar), obras de 1903 e 1906, a pintura Sansão e Dalila, resultado de concurso escolar de 1903, e os trabalhos enviados como pensionista em Paris.
A partir de 1901 inicia sua participação em diversos Salões de Belas Artes, e em 1902 recebe a menção honrosa de 2º grau com o quadro Stella; depois, em 1904, a menção honrosa de 1º grau com o quadro Retrato e a medalha de prata de aluno.
O Sr. Lucílio de Albuquerque, que há de ser outro artista de amanhã, expõe dois pastéis e dois quadros a óleo, sendo um desses um bonito retrato de senhora, tratado com largueza no busto e louvável minúcia na cabeça.
Em 1905, com o quadro Pigmalião e Galatéia recebe a medalha de ouro de aluno. Apresentou sempre ótimo desenho e uma “palheta quente como a dos flamengos e sua fatura já era marcadamente larga e pastosa”.
Em janeiro de 1906, tendo terminado o curso da Escola Nacional de Belas Artes, ganha, em concurso, o prêmio de viagem à Europa por cinco anos, com a composição Anchieta escrevendo o poema à Virgem, obra de inspiração religiosa e mística, assim descrita pelo crítico Gonzaga Duque:
Fez o apóstolo nos seus momentos de meditação, à beira-mar, quando, ao cair da tarde, ia compor seus versos que escrevia na areia. Com aturada leitura sobre o assunto, compulsando memórias, histórias e ficções referentes ao companheiro de Nóbrega, reconstruiu o tipo e o compôs nas suas minúcias, interpretou o seu estado de alma provável, estudou um canto dessa nossa linda paisagem fluminense, onde Anchieta sentiu crescer a sua fé, e deu-lhe a participação no assunto pelo tom agreste da sua primitividade. A obra foi unanimemente aprovada, e deve-se dizer que raros concursos têm sido tão justamente premiados como esse.
Durante o período acadêmico em Paris, que se estende até 1911, estuda na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts e na Académie Julian, sendo aluno de Jean Paul Laurens, Henry Royer, Gervais e Marcel Baschet, frequentando também a École Guérin com o mestre do art nouveau e da arte decorativa, Eugène Grasset.
Desse curso de Grasset existem cadernos de Lucílio com desenhos e apontamentos de classe, numerados a partir do estudo das plantas e de decoração, com visíveis orientações às tendências do art nouveau que incluía o simbolismo, os pré-rafaelitas e o art and crafts inglês.
Alguns exemplos teóricos sobre a questão da representação da natureza: “Na natureza todas as combinações são encontradas”; “Procurar os motivos perfeitos, evitar os defeitos da natureza”; “É preciso que não se faça uma aplicação de um estudo a partir da natureza, mas deve-se fazer uma composição que se queira; criar, fazer qualquer coisa de nós mesmos”; “No estudo do natural podemos fazer todas as modificações que quisermos, uma vez que respeitemos o caráter”; “Para ter-se um estilo é preciso transformar a natureza”.
Sobre o dualismo entre forma e conteúdo: “Devemos conservar a maior clareza no desenho”; “Devemos subordinar todas as formas à nossa vontade, não ao acaso”; “É preciso traçar a forma geométrica, mas não escravizar-se a ela. Uma vez feita, apagá-la”; “Ocultar o fundo o mais possível”; “Não é preciso ficar limitado ao espaço geométrico e convém mesmo sair um pouco, e que o ar penetre; nada de contornos rígidos”.
Não há dúvidas de que a aquisição desses conhecimentos serão aplicados em vitrais e murais como o que foi executado para o antigo Conselho Municipal, depois Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro em 1921.
O prêmio de viagem implica uma série de obrigações que o artista cumprirá rigorosamente e de forma satisfatória nas obras que executa, ao mesmo tempo em que observa os impressionistas e experimenta os seus processos.
Influenciado também pelos simbolistas, que acreditavam que a arte deveria ser uma síntese entre a percepção dos sentidos e a reflexão intelectual, além de enfatizar a pureza, a espiritualidade e a ingenuidade dos personagens, executa o quadro Agnus Dei e recebe a grande medalha de prata na 14ª Exposição Geral de Belas Artes, em 1907.
O Sr. Lucílio, cujo talento conquistou grande número de admiradores, entre os quais tenho orgulho de me incluir, não pôde enviar trabalhos que nos indicassem o seu aproveitamento, aliás, inesperado porque há pouco tempo que ele iniciou os seus estudos em Paris.
O seu inacabado quadro intitulado Dante (canto V do Inferno) tem largamente do quanto ele daqui levou, e que foi o bastante para conquistar, com brilho, o seu lugar de pensionista. A composição acusa o que ele ainda nos poderá dar, para satisfazer o alto conceito em que todos o temos. Assim é justo que esperemos, mesmo porque, o seu Agnus Dei, que acompanha o esboçado quadro já referido, não corresponde à expectativa dos seus admiradores.
Bem pintado, não há dúvida, bem desenhado também, mas medíocre de impressão por inadaptabilidade da figura ao assunto, que é de feitio decorativo e exigentemente místico.
Se não fosse o título, se não fosse a composição tendente a moldes de pura fantasia, eu me limitaria e elogiá-lo.
De 1908 a 1910, expõe no Salon des Artistes Français, La campagne, “composição cujos efeitos de luz, distribuição de tintas, correção de desenho, nada deixam a desejar e colocam o seu autor no nível dos mais hábeis e modernos pintores” e Rapariga do Minho, respectivamente.
O ano de 1911 foi um dos mais frutíferos para a carreira do artista: expõe no mesmo Salon o quadro Sono, belo desenho de nu, no qual é possível constatar a especial estrutura da matéria; participa do Salão Internacional de Bruxelas com o quadro Despertar de Ícaro, uma de suas pinturas mais conhecidas, de forte influência simbolista, remotamente sugerida pelo vôo pioneiro de Santos Dumont e executa vitrais para o Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Turim, na Itália, representando A República Brasileira guiada pela Ordem e Progresso, desenvolve seu comércio e sua indústria, alegoria do Cruzeiro do Sul simbolizado por figuras femininas.
Várias obras são executadas em Paris como, por exemplo, Paisagem de Lemesnil; Morte de Anchieta; Primavera em França; Prometeu; Visão da floresta; Freira e enfermo; Paraíso restituíd, entre muitas outras.
Ainda em 1911, retorna ao Brasil e realiza, na Escola Nacional de Belas Artes, sua primeira exposição no Rio de Janeiro (em conjunto com a pintora Georgina de Albuquerque), com cerca de 107 pinturas, além de desenhos diversos, desenhos de academia, croquis de nus, cartões para os vitrais do Pavilhão do Brasil em Turim e os estudos para esses cartões, todas obras realizadas na Europa [cf. Catálogo]; participa da primeira exposição brasileira de belas-artes no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, e é nomeado professor temporário de desenho figurado na Escola Nacional de Belas Artes, substituindo o artista e seu antigo professor Zeferino da Costa, cargo ao qual é reconduzido, como catedrático em 1916, e no qual se mantém até o seu falecimento.
Em 1912 recebe a pequena medalha de ouro na 19ª Exposição Geral de Belas Artes da ENBA com o quadro Despertar de Ícaro, “tela magistral pela concepção, pelo desenho, pelo colorido e pela execução”, que já havia suscitado críticas favoráveis na imprensa em 1911 como a de Oliveira Lima no O Estado de S. Paulo, de Aníbal Matos no O Mundo e de Oscar Lopes em A Semana, destacando que ”Lucílio tem acentuadas qualidades sugestivas. A sua tela Despertar de Ícaro é pela idéia uma trouvaille, o assunto que muitos outros artistas desejariam ter encontrado. É uma tela admiravelmente bem sentida, bem desenhada e bem pintada”.
A imprensa também aprecia a obra histórica Expedição à Laguna (1914), encomenda do governo do Rio Grande do Sul após exposição individual de Lucílio em Porto Alegre, chamando a atenção para o novo quadro e a dificílima tarefa confiada a um dos mais talentosos da nova geração de artistas brasileiros.
De 1913 a 1933 participa praticamente de todas as Exposições Gerais da Escola Nacional de Belas Artes, além de realizar individuais em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Recife.
Podemos destacar o Salão de 1920, quando recebe a grande medalha de honra com o quadro Retrato de Georgina que, numa intenção de renovação, aproxima o artista de um estilo decorativo ainda incipiente na pintura brasileira, porém praticado por vários desenhistas e ilustradores, influenciados pela acentuada simplificação e estilização do traço, materializando uma linguagem moderna.
Durante viagem a Salvador em 1924, Lucílio ficou impressionado e marcado pela luz tropical, o casario antigo, a população local, o mercado fervilhante, a indumentária feminina. Esses elementos “[...] deram ao pintor um entusiasmo que, a partir de então, vai disciplinar diferentemente sua sensibilidade pictural: os pincéis foram substituídos pelas espátulas, essas mais convenientes ao trato pastoso e espontâneo das tintas, mais adaptadas a corresponder à sofreguidão visual”.
A obra de Lucílio de Albuquerque, realizada sempre com dedicação, cuidado e apuro (o artista preparava as próprias telas e as espátulas) pode ser dividida em cinco fases: a acadêmica, quando estuda no Rio de Janeiro e em Paris, onde copia os grandes mestres europeus, aprimora as representações do corpo humano e aplica com esmero os exercícios de paisagem.
A fase das composições místicas e das “grandes idéias” que o pintor considerava as suas preferidas: “Todavia confesso-lhe que fico mais satisfeito toda vez que realizo um quadro de idéia, que faz pensar”. Segundo a pintora Georgina de Albuquerque, “a plena posse da matéria plástica permite, na segunda etapa da sua arte, expansão aos dons de artista e à sua capacidade de poeta e pensador. Nobres e arrojadas, as composições giram em torno de idéias”.
A terceira fase é a dos retratos; a seguir a das grandes composições históricas, e a última, a fase das paisagens quando o artista anula a estrutura acadêmica e suas pinceladas e manchas tornam-se mais consistentes e densas, comprovando os efeitos de luz sob um cromatismo variado, que evidencia um impressionismo tardio. A predominância dos tons verdes, amarelos, azuis e violetas, especialmente nas obras em que o pintor retrata uma paisagem-panorama, indica o rompimento com os contornos quando a sua palheta fica mais clara e arejada nas largas perspectivas.
Pintava suas paisagens en plein air sem violências inúteis, privilegiando os temas como pequenos recantos de rios, praias acrescidas de embarcações, de singela arquitetura ou de personagens locais. São trabalhos em pequeno formato com vistas pitorescas, o casario colonial inspirado nas cidades históricas mineiras e flamboyants floridos da paisagem niteroiense.
[...] e as suas paisagens são pedaços vivos, nítidos de nossa terra. Não são cantinhos de vegetação em banal sinfonia de verdes e amarelos. É a terra castigada pelas intempéries. É a terra que o sol queima e as enxurradas martirizam. É a terra forte, moça, cheia de seiva.
Lucílio de Albuquerque evolui sempre. Onde seu pincel encontra expressões magníficas é nos velhos motivos coloniais. Um canto de rua que se esgueira deliciosamente, ladeira abaixo ou ladeira acima, na típica encarnação de uma época que se vai distanciando, cada vez mais querida. Sente-se que ele foi aos tipos de rua, às lavadeiras e doceiras, estudar-lhes a expressão fisionômica com o mesmo carinho que já lhes percrustou a psicologia.
Lucílio de Albuquerque foi um grande divulgador da cultura artística brasileira, realizando conferências e outras atividades, sobretudo na missão desempenhada no Uruguai e Argentina por iniciativa do Ministério das Relações Exteriores em 1921, ocasião em que realiza uma exposição de seus trabalhos em Buenos Aires. A iniciativa do estabelecimento desse intercâmbio teve apoio da nova Sociedade Brasileira de Belas Artes (fundada em 1910 com o nome de Centro Artístico Juventas) constando, entre seus fundadores, Lucílio e Georgina de Albuquerque.
Participa também de outras exposições internacionais como o Salão Internacional de Los Angeles (1926); Coletiva no Roerich Museum de Nova York (1927); Salão Internacional de Rosário, Argentina, conquistando o prêmio de estímulo (1929); The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, no Roerich Museum de Nova York (1930) e The 1935 International Exhibition of Paintings no Carnegie Institute em Pittsburgh, onde apresenta a obra O grande circo.
Exerceu o cargo de diretor da Escola Nacional de Belas Artes de 1937 a 1938, vindo a falecer em abril de 1939. Após sua morte, sua esposa Georgina de Albuquerque comovida declara que “Lucílio viveu exclusivamente para a arte que amou e respeitou, nunca a mercantilizando. Laborioso, reservado, todos seus pensamentos e todos seus sentimentos, os vasava na sua arte”.
Em 1940, o Ministério da Educação e Saúde homenageia o artista com uma retrospectiva de sua obra, no Museu Nacional de Belas Artes. A exposição apresentou cerca de 400 trabalhos entre grandes composições históricas e místicas, paisagens do Rio de Janeiro, de Niterói, do interior do Estado, de Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, além de desenhos, estudos para composições, projetos de decoração de murais e croquis diversos. Acompanha a exposição importante e consistente catálogo ilustrado, com textos do diretor do Museu, Oswaldo Teixeira, do professor Celso Kelly, além de trechos de críticas nacionais e internacionais.
O Museu Lucílio de Albuquerque é criado em sua residência (Rua Ribeiro de Almeida, 22, no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro), em 1943, por sua esposa e pela Sociedade de Amigos Lucílio de Albuquerque. Armando Miguéis, em um artigo para a Revista Forma, intitulado “Patrimônio a preservar”, chama a atenção para o descaso das autoridades sobre a necessidade de preservação das obras do artista, ameaçadas de dispersão. Ressalta as coleções de pinturas e desenhos divididos em tipos populares, cidades coloniais brasileiras, desenhos de expressão, documentários e diversos, “um legado, como se vê, que honra o patrimônio artístico do Brasil”. O acervo do museu foi vendido integralmente a então Prefeitura do Distrito Federal e distribuído entre várias instituições e residências governamentais. A maior parte dessas obras compõe o acervo do Museu do Ingá / Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói.
Depois de sua morte suas obras integram diversas e importantes exposições coletivas em museus e galerias de arte: “Exposição retrospectiva – obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos”, São Paulo (1940); “Exposição de auto-retratos”, MNBA (1944); “Um século de pintura brasileira 1850-1950”, MNBA (1950); “Lucílio e Georgina de Albuquerque”, Galeria Le Chat, Niterói (1973); “Reflexos do impressionismo”, obras do acervo do MNBA (1974); Exposição retrospectiva Lucílio e Georgina de Albuquerque em comemoração aos 100 anos de nascimento do pintor, MNBA (1977); “A paisagem brasileira 1650-1976”, Paço das Artes, São Paulo (1980); “Tradição e ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras”, Fundação Bienal de São Paulo (1984); “Dezenovevinte: uma virada no século”, Pinacoteca do Estado de São Paulo (1986); “Bienal Brasil século XX”, Fundação Bienal de São Paulo (1994); “De Franz Post a Eliseu Visconti”, acervo do MNBA no Museu de Arte do Rio Grande do Sul; “Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento”, Fundação Bienal de São Paulo (ambas em 2000); “Arte brasileira sobre papel: séculos XIX e XX”, Solar do Jambeiro, Niterói (2002); “O preço da sedução: do espartilho ao silicone”, Itaú Cultural, São Paulo (2004), entre muitas outras.
Os críticos, em conceituados jornais, sempre acompanharam a trajetória do artista, tecendo comentários, observações, elogios, informações e uma orientação crítica elucidativa para os leitores e os apreciadores da arte que frequentavam ou não as exposições e os Salões. São textos de jornalistas e de importantes escritores e literatos como Ronald de Carvalho, Menotti del Picchia, Monteiro Lobato, Mário de Andrade e especialistas em arte como o professor Flexa Ribeiro, o professor e pintor José Maria dos Reis Júnior, Carlos Cavalcanti e o pintor Quirino Campofiorito.
Análises de suas obras, os temas e a fatura pictórica, dados biográficos, conceitos sobre sua conduta artística e didática são destacados nesses textos e em outros postumamente. A imprensa estrangeira também registrou a presença do artista nos Salões, nas exposições e nas atividades culturais internacionais desde suas primeiras exposições até o seu falecimento.
Destacamos alguns escritos.
Quem acompanha com interesse a evolução da pintura brasileira nestas últimas décadas, não poderá deixar de anotar a obra de Lucílio de Albuquerque como das mais significativas. É um artista sincero que se renova, na pesquisa, na retificação do que vê, dominando, cada dia, pela conquista de mais uma parcela de verdade. Em Lucílio não se operou, porém, uma evolução somente no sentido de subidas em degraus óticos e picturais. Houve mais: – houve verdadeira metamorfose, o paisagista sofreu como uma transmutação. Através desse magnífico esforço acossado violentamente pelos ímpetos de seus instintos, ele afinal se colocou, sozinho, sem a sombra apavorante dos mestres, liberto da servidão européia, em face da natureza brasileira. Desse conflito formidável em que a terra americana parecia esmagá-lo, ele saiu triunfante: compreendeu-a, sentiu-a com a grandeza de seu coração, viu-a na realidade empolgante de uma epopéia ruidosa de massas e luzes deslumbrantes.
Lucílio de Albuquerque é o paisagista brasileiro. Encontramos nas suas paisagens uma grandeza robusta, um cântico da vida que vem de um temperamento que se definiu, que encontrou através dos anseios de um insatisfeito a sua finalidade moral e estética.
Em Lucílio de Albuquerque são as suas qualidades de construção, especialmente de desenho, a sensibilidade de certas formas e cores bem dispostas, o que recoloca muitas das suas obras dentro de mais firmes campos plásticos. A sua Rapariga do Minho se não chega a ter aquela força plástica de certos rostos de mulher de Corot da primeira fase, é de uma excelente matéria, voluptuosa, franca, cheia de vigor. O Retrato de Georgina, outra obra valiosa, que dos mais avançados “modernos” tenho ouvido respeitar, é de uma segurança e de uma sensibilidade de desenho e de cor que lhe permite lugar garantido na evolução histórica da plástica nacional. Como homem de arte, Lucílio de Albuquerque soube envelhecer a tempo [...] se interessava pelas pesquisas plásticas novas e pelo moços que apareciam, pintando tão diferentemente do que ele fazia. Não tentou mudar de rumo, sentia que isso era tarde para sua personalidade já feita. Seria uma insinceridade fundamental, apenas uma máscara oportunista - e isso não condizia com a sua bela envergadura moral. Mas não reagiu contra ninguém, nem contra nenhum princípio por mais maluco que parecesse: antes se interessava pelo que os outros estavam fazendo, os novos o traíam, sabia acolhê-los com igualdade e sei mesmo de moços inovadores a quem defendia e apreciava [...] É ainda cedo para que se possa dizer da obra plástica deixada por Lucílio de Albuquerque, o que ficará definitivamente e em que posição ficará; mas sempre é certo que ele soube ser um homem generosamente compreensivo, que ao invés de muitos dos seus pares, cuja atuação tem sido totalmente prejudicial ao progresso da plástica brasileira, nunca cerceou a liberdade de ninguém, nunca prejudicou ninguém.
A obra de Lucílio de Albuquerque se insere em um período em que a arte acadêmica enfrentava os embates com os artistas modernos, não só pela primazia da forma, mas sobretudo pela necessidade de reforma do ensino na Escola Nacional de Belas Artes. Lucílio, como professor, sempre se posicionou de maneira aberta e conciliatória, mesmo que a sua obra - considerada avançada para a época no que se refere à sua pintura dita “impressionista” – não evidenciasse uma abertura para as questões do modernismo brasileiro pós Semana de Arte Moderna de 22.
Pode-se considerar que Lucílio de Albuquerque viveu e atuou consciente e livre, em um ambiente de transição entre o academicismo e o modernismo, ratificando suas tendências artísticas e contribuindo para a valorização da arte brasileira do início do século XX.
(*) Texto originalmente publicado em Lucílio de Albuquerque 1877-1839. Catálogo de Exposição, com curadoria de Piedade Epstein Grinberg. Caixa Cultural, Rio de Janeiro, 27 de setembro a 5 de novembro de 2006, p.7-21.
Fonte: Dezenove Vinte, “Lucílio de Albuquerque na arte brasileira”. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Crédito fotográfico: Wikipédia. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Lucílio de Albuquerque (9 de maio de 1877, Barras, PI — 19 de abril de 1939, Rio de Janeiro, RJ) foi um pintor, desenhista e professor brasileiro. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no Rio de Janeiro, onde teve aulas com João Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, Lucílio recebeu em 1906 o Prêmio Viagem ao Exterior, que lhe permitiu estudar na École des Beaux-Arts de Paris e na Académie Julian, além de frequentar o ateliê de Eugène Grasset. Sua obra caracteriza-se pela temática histórica, retratos refinados e paisagens, sempre com rigor acadêmico e sensibilidade cromática, além de trabalhos em vitral. Foi casado com a pintora Georgina de Albuquerque, com quem realizou importantes exposições conjuntas. Lucílio lecionou Desenho Figurado na ENBA e se tornou diretor da instituição em 1937. Recebeu distinções como medalha de ouro no Salão dos Artistas Franceses, em 1910. Suas obras estão presentes em acervos como o Museu Nacional de Belas Artes e o Museu de Arte da Bahia. Após sua morte, sua casa foi transformada no Museu Lucílio de Albuquerque, preservando seu legado como um dos principais nomes da pintura acadêmica brasileira.
Lucílio de Albuquerque | Arremate Arte
Lucílio de Albuquerque (1877 - 1939) foi um pintor, desenhista, vitralista e professor brasileiro cuja obra e trajetória marcaram profundamente a pintura acadêmica nacional. Nascido em Barras, Piauí, filho de magistrado e de uma família de raízes pernambucanas, iniciou seus estudos em Direito em São Paulo, mas logo se encantou pela arte e ingressou na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no Rio de Janeiro, onde foi aluno dos mestres João Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli.
Em 1906, seu quadro Anchieta escrevendo o poema à Virgem rendeu-lhe o prestigioso Prêmio Viagem ao Exterior da ENBA, e ele se transferiu para Paris com sua parceira artística e vida, Georgina de Albuquerque. Lá, estudou na École des Beaux-Arts, na Académie Julian sob orientação de Marcel Baschet, Henri Royer e Jean-Paul Laurens, e trabalhou no ateliê do renomado artista Art Nouveau Eugène Grasset.
Após cinco anos na França, Lucílio retornou ao Brasil em 1911 e, ao lado de Georgina, realizou uma exposição conjunta no Salão da ENBA. Rapidamente ascendeu ao cargo de professor de Desenho Figurado em 1916, dedicando-se à formação de artistas e consolidando-se como um dos grandes nomes da instituição.
Sua obra transita entre retratos elegantes, paisagens e cenas com temática histórica; destacou-se ainda como vitralista — projetando os vitrais para o Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional de Turim em 1911 — e como decorador, com trabalhos para o Palácio Pedro Ernesto.
Entre suas peças mais emblemáticas estão Despertar de Ícaro (medalha de ouro no Salão dos Artistas Franceses, 1910) e Mãe Preta (1912), uma obra com forte carga simbólica, hoje no Museu de Arte da Bahia.
Em reconhecimento à sua trajetória, foi nomeado diretor da ENBA em 1937 — cargo que ocupou até 1938, quando renunciou por problemas de saúde.
Depois de sua morte, em 1939, Georgina transformou a residência do casal, em Laranjeiras, no Museu Lucílio de Albuquerque, contribuindo para a preservação de seu vasto legado artístico.
Lucílio de Albuquerque | Itaú Cultural
Lucílio de Albuquerque (Barras, Piauí, 1877 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1939). Pintor, desenhista, vitralista, professor. Em 1895, ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo, mas abandona-a para estudar pintura. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1896 e frequenta a Escola Nacional de Belas Artes (Enba) como aluno livre. De 1901 a 1906 matricula-se no curso regular da Enba, e tem aulas com Rodolfo Amoedo (1857-1941), Zeferino da Costa (1840-1915) e Henrique Bernardelli (1858-1936). Em 1906, ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão Nacional de Belas Artes (SNBA) com o quadro Anchieta Escrevendo o Poema à Virgem, e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque (1885-1962). Em Paris, estuda na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts (Ensba) [Escola Nacional Superior de Belas Artes] e na Académie Julian, sendo aluno de Henry Royer (1869-1938), Marcel Baschet (1862-1941) e Jean-Paul Laurens (1838-1921). Participa da Exposição Nacional de Bruxelas, e realiza vitrais para o pavilhão brasileiro na Exposição Internacional de Turim, Itália, em 1911. Nesse ano, volta ao Rio de Janeiro e torna-se professor de desenho figurado na Enba. É nomeado diretor em 1937, cargo que abandona no ano seguinte por motivos de saúde. Após sua morte, Georgina de Albuquerque cria, no início dos anos 1940, o Museu Lucílio de Albuquerque, cujo acervo atualmente pertence ao Estado do Rio de Janeiro.
Análise
O pintor Lucílio de Albuquerque frequenta a Enba em 1896, como aluno livre. Em 1901, torna-se aluno regular da instituição, estudando com Rodolfo Amoedo, Zeferino da Costa e Henrique Bernardelli. Em 1906, recebe o prêmio de viagem ao exterior e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque, onde estuda na Académie Julian. Em Paris, toma contato com o impressionismo e com o simbolismo, realizando obras que dialogam com essas tendências.
Apresenta diversos trabalhos no Salon des Artistes Françaises, como, por exemplo, La Campagne (1908), Agnes Dei (1909) e Raparigas do Milho (1910). Exibe no Salon Internationale de Bruxelles a tela Despertar de Ícaro (1910), executada em homenagem ao aviador Alberto Santos-Dumont (1873-1932). No ano seguinte, realiza projeto para vitral destinado ao Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Turim.
Para o historiador da arte Teixeira Leite, Lucílio de Albuquerque parte, em sua obra, das sombras para luz, ou seja, da utilização inicial de uma paleta de tons escuros, passando gradualmente aos tons claros, afastando-se também da concepção realista da forma, com o uso de sólido desenho, para alcançar posteriormente efeitos cromáticos quase expressionista. O artista destaca-se também por suas paisagens, nas quais realiza pintura en plein-air.
Críticas
"Lucílio de Albuquerque praticou todos os gêneros pictóricos com igual desenvoltura; preferia, porém, os temas que fizessem pensar, que contivessem uma idéia. Sua evolução estilística parte de uma concepção realista da forma para chegar a efeitos cromáticos e de luminosidades peculiares à pintura pura: sua arte tornou-se assim mais clara e alegre, à medida que amadurecia. Compôs seus quadros com ajuda da cor, mas nem por isso negligenciou o desenho. Conquistado pela pintura ao ar livre (...), tornou-se um dos introdutores do impressionismo no Brasil (...)". — José Roberto Teixeira Leite
ARTE no Brasil. Apresentação de Pietro Maria Bardi e Pedro Manuel. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
"Nesta derradeira fase (a partir de 1924), o artista chega mais decididamente ao comportamento impressionista, não se aplicando com radicalismo aos princípios científicos da luz e das cores, mas conservando uma espontaneidade individual, adotando o rompimento dos contornos e, assim, permitindo maior expansão aos efeitos atmosféricos. Situa-se, a partir de então, mais comprometido com as influências impressionistas, que o acometeram na juventude, mas sofreram o controle exercido por diferentes preocupações estéticas. Revela-se o pintor por excelência. E a pintura brasileira passou a ter mais um de seus intérpretes entusiastas (...)" — Quirino Campofiorito (CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983).
Exposições Individuais
1911 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1914 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1914 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1915 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1918 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1920 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1921 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1931 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1935 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1936 – Individual de Lucílio de Albuquerque
2006 – Individual de Lucílio Albuquerque
Exposições Coletivas
1901 – 8ª Exposição Geral de Belas Artes
1902 – 9ª Exposição Geral de Belas Artes
1903 – 10ª Exposição Geral de Belas Artes
1904 – 11ª Exposição Geral de Belas Artes
1905 – 12ª Exposição Geral de Belas Artes
1906 – 13ª Exposição Geral de Belas Artes
1907 – 14ª Exposição Geral de Belas Artes
1908 – Salão de Paris
1909 – Salon des Artistes Français
1910 – Exposição Internacional de Bruxelas
1910 – Salon des Artistes Français
1911 – Salon des Artistes Français
1911 – Exposição Internacional de Turim
1911 – Iª Exposição Brasileira de Belas-Artes
1912 – 2ª Exposição Brasileira de Bellas Artes
1912 – 19ª Exposição Geral de Belas Artes
1913 – 20ª Exposição Geral de Belas Artes
1914 – 21ª Exposição Geral de Belas Artes
1915 – 22ª Exposição Geral de Belas Artes
1916 – 23ª Exposição Geral de Belas Artes
1917 – 24ª Exposição Geral de Belas Artes
1919 – 26ª Exposição Geral de Belas Artes
1920 – 27ª Exposição Geral de Belas Artes
1921 – 28ª Exposição Geral de Belas Artes
1922 – 23ª Exposição Geral de Belas Artes
1923 – 30ª Exposição Geral de Belas Artes
1924 – 31ª Exposição Geral de Belas Artes
1925 – Exposição Georgina e Lucílio de Albuquerque
1925 – 32ª Exposição Geral de Belas Artes
1926 – Salão Internacional de Los Angeles
1926 – 33ª Exposição Geral de Belas Artes
1927 – Exposição Coletiva
1927 – 34ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 – 35ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 – Mostra de Grupo Almeida Júnior
1929 – 36ª Exposição Geral de Belas Artes
1929 – Mostra de Grupo Almeida Júnior
1930 – 37ª Exposição Geral de Belas Artes
1930 – The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists
1933 – 39ª Exposição Geral de Belas Artes
1934 – 1º Salão Paulista de Bellas Artes
1935 – The 1935 International Exhibition of Paintings
1936 – The 1935 International Exhibition of Paintings
1937 – 5º Salão Paulista de Belas Artes
Exposições Póstumas
1940 – Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos
1944 – 1ª Exposição de Auto-Retratos
1946 – 12º Salão Paulista de Belas Artes
1948 – Retrospectiva da Pintura no Brasil
1950 – Um Século de Pintura Brasileira: 1850-1950
1955 – Exposição de longa duração
1961 – O Rio na Pintura Brasileira
1970 – Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970
1977 – Exposição Lucílio e Georgina de Albuquerque
1978 – A Paisagem na Coleção da Pinacoteca: Do Século XIX aos Anos 40
1980 – A Paisagem Brasileira: 1650-1976
1984 – Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1985 – 100 Obras Itaú
1986 – Dezenovevinte: uma virada no século
1988 – Brasiliana: o homem e a terra
1989 – Pintura Brasil Século XIX: obras do acervo Banco Itaú
1991 – A Arte nos Estudos de Lucílio de Albuquerque
1992 – O Olhar de Sérgio sobre a Arte Brasileira: desenhos e pinturas
1994 – Bienal Brasil Século XX
1994 – Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX
1995 – Da Marinha à Natureza Morta
1997 – Ar: exposição de artes plásticas, brinquedos, objetos e maquetes
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 – De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo MNBA-RJ
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Negro de Corpo e Alma
2002 – Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX
2004 – O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone
2008 – Paisagem Moderna e o Diálogo Intercultural
2011 – Arte e Cultura no Vale do Paraíba
2012 – Modernismos: 90 anos de 1922
2017 – O Impressionismo e o Brasil
2018 – Trabalho de artista: imagem e autoimagem
2020 – Pinacoteca: Acervo
2022 – Histórias brasileiras
Fonte: LUCÍLIO de Albuquerque. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 11 de julho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Lucílio de Albuquerque | Wikipédia
Lucílio de Albuquerque (Barras, 9 de maio de 1877 — Rio de Janeiro, 19 de abril de 1939) foi um pintor, desenhista e professor brasileiro.
Biografia
Nasceu em Barras, no estado do Piauí, no dia 9 de maio de 1877. Depois de uma breve passagem pela Faculdade de Direito de São Paulo, ingressou em meados dos anos 1890 na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), onde foi aluno de Daniel Bérard, Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli.
Na Europa
Em 1906, recebeu o Prêmio de Viagem da ENBA, com a tela Anchieta escrevendo o poema à Virgem, pertencente hoje ao Museu Dom João VI, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Logo depois, casou-se com sua colega de Academia, Georgina de Albuquerque; ainda em 1906, ambos partiram para a França, onde permaneceram por cinco anos. Em Paris, Lucilio freqüentou a Academia Julian - onde estudou com Marcel Baschet, Henry Royer e Jean-Paul Laurens -, e também o ateliê de Eugène Grasset, mestre do art nouveau, como fizera alguns anos antes Eliseu Visconti; nessa estadia na cidade-luz, ainda expôs com sucesso no Salon des Artistes Français.
De volta ao Brasil
De volta ao Rio de Janeiro, em 1911, Lucilio fez juntamente com a esposa Georgina uma grande exposição na ENBA. No mesmo ano tornou-se professor de Desenho Figurado da instituição, assumindo definitivamente a cátedra em 1916. Nas Exposições Gerais recebeu sucessivamente: menção de 2º grau (1902, com Stella), menção de 1º Grau (1904, com um retrato), grande medalha de prata (1907, com Agnus Dei), pequena medalha de ouro (1912, com Despertar de Ícaro) e medalha de honra (1920, com Retrato de Georgina).
Obra e exposições
Pintor prolífico, destacou-se como retratista e paisagista, tendo sido entre os pintores de sua geração um dos mais dedicados cultores do gênero da pintura histórica. Projetou os vitrais para o Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional de Turim em 1911 e realizou diversas pinturas de caráter decorativo, como aquelas para as salas da Maioria e da Minoria, no atual Palácio Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. Lúcilio expôs em diversos estados brasileiros (São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco) e no exterior (Argentina, Estados Unidos da América).
Após sua morte, sua esposa organizou na residência do casal, em Laranjeiras, o Museu Lucilio de Albuquerque, cujo grande acervo se encontra dividido entre o Museu do Ingá e o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
Na Casa da Cultura de Teresina tem a Pinacoteca Lucílio de Albuquerque.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Lucílio de Albuquerque na arte brasileira | Dezenove Vinte
Piedade Epstein Grinberg
Nada mais aproxima os povos que a Arte. Poder-se-ia mesmo afirmar, sem exagero, que onde a Arte termina começa a desarmonia.
— Lucílio de Albuquerque, 1921.
Quando, em 1906, Lucílio de Albuquerque ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão Nacional de Belas Artes e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque (1885-1962), o crítico de arte e escritor Gonzaga Duque se refere ao jovem artista como “um desses moços que seguem direitos para a sua aspiração [...] reúne a essa proveitosa disposição excelentes qualidades de uma fina organização de artista. É um temperamento delicado, sensível, admiravelmente tramado por componentes privativos para a receptividade artística. Tem a imaginação fogosa, a alma emocional, o olhar observador [...] Está o moço artista entregue à sua arte: agora tudo depende de seu esforço, porque, para chegar a ser o que almeja, terá a lição dos grandes mestres, o excitamento dos célebres centros artísticos e os museus da Europa.”
Nascido em Barras (PI), em 1877, de tradicional família pernambucana, muda-se para São Paulo, onde inicia seus estudos de direito, que abandona no 1º ano para ingressar, em 1896, na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, como aluno livre.
Anos mais tarde, declara sobre sua primeira aula de desenho figurado:
A maior emoção de minha carreira recebi-a quando, pela primeira vez, me vi, na minha primeira aula de Desenho Figurado, de fusain em punho, diante de uma folha moldada em gesso, para copiar! Passei os olhos por tudo quanto me rodeava. Os veteranos, com uma semana de trabalho, já haviam marcado as suas tarefas, bustos, estátuas, torsos. Tive a impressão de que aquilo tudo era uma maravilha e senti-me incapaz de fazer o mesmo. Quando a aula terminou, corri como um louco para o meu quarto, o meu pobre quartinho de pensão! E completamente só, desanimado, eu que até aquela data tinha vivido dentro da casa ampla e feliz de meus pais, não pude conformar-me com a minha situação, que me parecia horrível, e chorei como uma criança inconsolável [...] Felizmente o dia seguinte trouxe-me o alento, enxugou-me as lágrimas e deu-me ânimo para continuar nessa luta, que nunca mais cessou, e para a qual também nunca mais me faltou a coragem precisa.
Discípulo de desenho de Zeferino da Costa e de pintura de Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, torna-se aluno matriculado em 1901. Como registro de suas atividades acadêmicas, o Museu D. João VI da Escola de Belas Artes da UFRJ conserva em seu acervo desenhos a carvão de 1899 como prova (1º lugar), obras de 1903 e 1906, a pintura Sansão e Dalila, resultado de concurso escolar de 1903, e os trabalhos enviados como pensionista em Paris.
A partir de 1901 inicia sua participação em diversos Salões de Belas Artes, e em 1902 recebe a menção honrosa de 2º grau com o quadro Stella; depois, em 1904, a menção honrosa de 1º grau com o quadro Retrato e a medalha de prata de aluno.
O Sr. Lucílio de Albuquerque, que há de ser outro artista de amanhã, expõe dois pastéis e dois quadros a óleo, sendo um desses um bonito retrato de senhora, tratado com largueza no busto e louvável minúcia na cabeça.
Em 1905, com o quadro Pigmalião e Galatéia recebe a medalha de ouro de aluno. Apresentou sempre ótimo desenho e uma “palheta quente como a dos flamengos e sua fatura já era marcadamente larga e pastosa”.
Em janeiro de 1906, tendo terminado o curso da Escola Nacional de Belas Artes, ganha, em concurso, o prêmio de viagem à Europa por cinco anos, com a composição Anchieta escrevendo o poema à Virgem, obra de inspiração religiosa e mística, assim descrita pelo crítico Gonzaga Duque:
Fez o apóstolo nos seus momentos de meditação, à beira-mar, quando, ao cair da tarde, ia compor seus versos que escrevia na areia. Com aturada leitura sobre o assunto, compulsando memórias, histórias e ficções referentes ao companheiro de Nóbrega, reconstruiu o tipo e o compôs nas suas minúcias, interpretou o seu estado de alma provável, estudou um canto dessa nossa linda paisagem fluminense, onde Anchieta sentiu crescer a sua fé, e deu-lhe a participação no assunto pelo tom agreste da sua primitividade. A obra foi unanimemente aprovada, e deve-se dizer que raros concursos têm sido tão justamente premiados como esse.
Durante o período acadêmico em Paris, que se estende até 1911, estuda na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts e na Académie Julian, sendo aluno de Jean Paul Laurens, Henry Royer, Gervais e Marcel Baschet, frequentando também a École Guérin com o mestre do art nouveau e da arte decorativa, Eugène Grasset.
Desse curso de Grasset existem cadernos de Lucílio com desenhos e apontamentos de classe, numerados a partir do estudo das plantas e de decoração, com visíveis orientações às tendências do art nouveau que incluía o simbolismo, os pré-rafaelitas e o art and crafts inglês.
Alguns exemplos teóricos sobre a questão da representação da natureza: “Na natureza todas as combinações são encontradas”; “Procurar os motivos perfeitos, evitar os defeitos da natureza”; “É preciso que não se faça uma aplicação de um estudo a partir da natureza, mas deve-se fazer uma composição que se queira; criar, fazer qualquer coisa de nós mesmos”; “No estudo do natural podemos fazer todas as modificações que quisermos, uma vez que respeitemos o caráter”; “Para ter-se um estilo é preciso transformar a natureza”.
Sobre o dualismo entre forma e conteúdo: “Devemos conservar a maior clareza no desenho”; “Devemos subordinar todas as formas à nossa vontade, não ao acaso”; “É preciso traçar a forma geométrica, mas não escravizar-se a ela. Uma vez feita, apagá-la”; “Ocultar o fundo o mais possível”; “Não é preciso ficar limitado ao espaço geométrico e convém mesmo sair um pouco, e que o ar penetre; nada de contornos rígidos”.
Não há dúvidas de que a aquisição desses conhecimentos serão aplicados em vitrais e murais como o que foi executado para o antigo Conselho Municipal, depois Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro em 1921.
O prêmio de viagem implica uma série de obrigações que o artista cumprirá rigorosamente e de forma satisfatória nas obras que executa, ao mesmo tempo em que observa os impressionistas e experimenta os seus processos.
Influenciado também pelos simbolistas, que acreditavam que a arte deveria ser uma síntese entre a percepção dos sentidos e a reflexão intelectual, além de enfatizar a pureza, a espiritualidade e a ingenuidade dos personagens, executa o quadro Agnus Dei e recebe a grande medalha de prata na 14ª Exposição Geral de Belas Artes, em 1907.
O Sr. Lucílio, cujo talento conquistou grande número de admiradores, entre os quais tenho orgulho de me incluir, não pôde enviar trabalhos que nos indicassem o seu aproveitamento, aliás, inesperado porque há pouco tempo que ele iniciou os seus estudos em Paris.
O seu inacabado quadro intitulado Dante (canto V do Inferno) tem largamente do quanto ele daqui levou, e que foi o bastante para conquistar, com brilho, o seu lugar de pensionista. A composição acusa o que ele ainda nos poderá dar, para satisfazer o alto conceito em que todos o temos. Assim é justo que esperemos, mesmo porque, o seu Agnus Dei, que acompanha o esboçado quadro já referido, não corresponde à expectativa dos seus admiradores.
Bem pintado, não há dúvida, bem desenhado também, mas medíocre de impressão por inadaptabilidade da figura ao assunto, que é de feitio decorativo e exigentemente místico.
Se não fosse o título, se não fosse a composição tendente a moldes de pura fantasia, eu me limitaria e elogiá-lo.
De 1908 a 1910, expõe no Salon des Artistes Français, La campagne, “composição cujos efeitos de luz, distribuição de tintas, correção de desenho, nada deixam a desejar e colocam o seu autor no nível dos mais hábeis e modernos pintores” e Rapariga do Minho, respectivamente.
O ano de 1911 foi um dos mais frutíferos para a carreira do artista: expõe no mesmo Salon o quadro Sono, belo desenho de nu, no qual é possível constatar a especial estrutura da matéria; participa do Salão Internacional de Bruxelas com o quadro Despertar de Ícaro, uma de suas pinturas mais conhecidas, de forte influência simbolista, remotamente sugerida pelo vôo pioneiro de Santos Dumont e executa vitrais para o Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Turim, na Itália, representando A República Brasileira guiada pela Ordem e Progresso, desenvolve seu comércio e sua indústria, alegoria do Cruzeiro do Sul simbolizado por figuras femininas.
Várias obras são executadas em Paris como, por exemplo, Paisagem de Lemesnil; Morte de Anchieta; Primavera em França; Prometeu; Visão da floresta; Freira e enfermo; Paraíso restituíd, entre muitas outras.
Ainda em 1911, retorna ao Brasil e realiza, na Escola Nacional de Belas Artes, sua primeira exposição no Rio de Janeiro (em conjunto com a pintora Georgina de Albuquerque), com cerca de 107 pinturas, além de desenhos diversos, desenhos de academia, croquis de nus, cartões para os vitrais do Pavilhão do Brasil em Turim e os estudos para esses cartões, todas obras realizadas na Europa [cf. Catálogo]; participa da primeira exposição brasileira de belas-artes no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, e é nomeado professor temporário de desenho figurado na Escola Nacional de Belas Artes, substituindo o artista e seu antigo professor Zeferino da Costa, cargo ao qual é reconduzido, como catedrático em 1916, e no qual se mantém até o seu falecimento.
Em 1912 recebe a pequena medalha de ouro na 19ª Exposição Geral de Belas Artes da ENBA com o quadro Despertar de Ícaro, “tela magistral pela concepção, pelo desenho, pelo colorido e pela execução”, que já havia suscitado críticas favoráveis na imprensa em 1911 como a de Oliveira Lima no O Estado de S. Paulo, de Aníbal Matos no O Mundo e de Oscar Lopes em A Semana, destacando que ”Lucílio tem acentuadas qualidades sugestivas. A sua tela Despertar de Ícaro é pela idéia uma trouvaille, o assunto que muitos outros artistas desejariam ter encontrado. É uma tela admiravelmente bem sentida, bem desenhada e bem pintada”.
A imprensa também aprecia a obra histórica Expedição à Laguna (1914), encomenda do governo do Rio Grande do Sul após exposição individual de Lucílio em Porto Alegre, chamando a atenção para o novo quadro e a dificílima tarefa confiada a um dos mais talentosos da nova geração de artistas brasileiros.
De 1913 a 1933 participa praticamente de todas as Exposições Gerais da Escola Nacional de Belas Artes, além de realizar individuais em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Recife.
Podemos destacar o Salão de 1920, quando recebe a grande medalha de honra com o quadro Retrato de Georgina que, numa intenção de renovação, aproxima o artista de um estilo decorativo ainda incipiente na pintura brasileira, porém praticado por vários desenhistas e ilustradores, influenciados pela acentuada simplificação e estilização do traço, materializando uma linguagem moderna.
Durante viagem a Salvador em 1924, Lucílio ficou impressionado e marcado pela luz tropical, o casario antigo, a população local, o mercado fervilhante, a indumentária feminina. Esses elementos “[...] deram ao pintor um entusiasmo que, a partir de então, vai disciplinar diferentemente sua sensibilidade pictural: os pincéis foram substituídos pelas espátulas, essas mais convenientes ao trato pastoso e espontâneo das tintas, mais adaptadas a corresponder à sofreguidão visual”.
A obra de Lucílio de Albuquerque, realizada sempre com dedicação, cuidado e apuro (o artista preparava as próprias telas e as espátulas) pode ser dividida em cinco fases: a acadêmica, quando estuda no Rio de Janeiro e em Paris, onde copia os grandes mestres europeus, aprimora as representações do corpo humano e aplica com esmero os exercícios de paisagem.
A fase das composições místicas e das “grandes idéias” que o pintor considerava as suas preferidas: “Todavia confesso-lhe que fico mais satisfeito toda vez que realizo um quadro de idéia, que faz pensar”. Segundo a pintora Georgina de Albuquerque, “a plena posse da matéria plástica permite, na segunda etapa da sua arte, expansão aos dons de artista e à sua capacidade de poeta e pensador. Nobres e arrojadas, as composições giram em torno de idéias”.
A terceira fase é a dos retratos; a seguir a das grandes composições históricas, e a última, a fase das paisagens quando o artista anula a estrutura acadêmica e suas pinceladas e manchas tornam-se mais consistentes e densas, comprovando os efeitos de luz sob um cromatismo variado, que evidencia um impressionismo tardio. A predominância dos tons verdes, amarelos, azuis e violetas, especialmente nas obras em que o pintor retrata uma paisagem-panorama, indica o rompimento com os contornos quando a sua palheta fica mais clara e arejada nas largas perspectivas.
Pintava suas paisagens en plein air sem violências inúteis, privilegiando os temas como pequenos recantos de rios, praias acrescidas de embarcações, de singela arquitetura ou de personagens locais. São trabalhos em pequeno formato com vistas pitorescas, o casario colonial inspirado nas cidades históricas mineiras e flamboyants floridos da paisagem niteroiense.
[...] e as suas paisagens são pedaços vivos, nítidos de nossa terra. Não são cantinhos de vegetação em banal sinfonia de verdes e amarelos. É a terra castigada pelas intempéries. É a terra que o sol queima e as enxurradas martirizam. É a terra forte, moça, cheia de seiva.
Lucílio de Albuquerque evolui sempre. Onde seu pincel encontra expressões magníficas é nos velhos motivos coloniais. Um canto de rua que se esgueira deliciosamente, ladeira abaixo ou ladeira acima, na típica encarnação de uma época que se vai distanciando, cada vez mais querida. Sente-se que ele foi aos tipos de rua, às lavadeiras e doceiras, estudar-lhes a expressão fisionômica com o mesmo carinho que já lhes percrustou a psicologia.
Lucílio de Albuquerque foi um grande divulgador da cultura artística brasileira, realizando conferências e outras atividades, sobretudo na missão desempenhada no Uruguai e Argentina por iniciativa do Ministério das Relações Exteriores em 1921, ocasião em que realiza uma exposição de seus trabalhos em Buenos Aires. A iniciativa do estabelecimento desse intercâmbio teve apoio da nova Sociedade Brasileira de Belas Artes (fundada em 1910 com o nome de Centro Artístico Juventas) constando, entre seus fundadores, Lucílio e Georgina de Albuquerque.
Participa também de outras exposições internacionais como o Salão Internacional de Los Angeles (1926); Coletiva no Roerich Museum de Nova York (1927); Salão Internacional de Rosário, Argentina, conquistando o prêmio de estímulo (1929); The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, no Roerich Museum de Nova York (1930) e The 1935 International Exhibition of Paintings no Carnegie Institute em Pittsburgh, onde apresenta a obra O grande circo.
Exerceu o cargo de diretor da Escola Nacional de Belas Artes de 1937 a 1938, vindo a falecer em abril de 1939. Após sua morte, sua esposa Georgina de Albuquerque comovida declara que “Lucílio viveu exclusivamente para a arte que amou e respeitou, nunca a mercantilizando. Laborioso, reservado, todos seus pensamentos e todos seus sentimentos, os vasava na sua arte”.
Em 1940, o Ministério da Educação e Saúde homenageia o artista com uma retrospectiva de sua obra, no Museu Nacional de Belas Artes. A exposição apresentou cerca de 400 trabalhos entre grandes composições históricas e místicas, paisagens do Rio de Janeiro, de Niterói, do interior do Estado, de Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, além de desenhos, estudos para composições, projetos de decoração de murais e croquis diversos. Acompanha a exposição importante e consistente catálogo ilustrado, com textos do diretor do Museu, Oswaldo Teixeira, do professor Celso Kelly, além de trechos de críticas nacionais e internacionais.
O Museu Lucílio de Albuquerque é criado em sua residência (Rua Ribeiro de Almeida, 22, no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro), em 1943, por sua esposa e pela Sociedade de Amigos Lucílio de Albuquerque. Armando Miguéis, em um artigo para a Revista Forma, intitulado “Patrimônio a preservar”, chama a atenção para o descaso das autoridades sobre a necessidade de preservação das obras do artista, ameaçadas de dispersão. Ressalta as coleções de pinturas e desenhos divididos em tipos populares, cidades coloniais brasileiras, desenhos de expressão, documentários e diversos, “um legado, como se vê, que honra o patrimônio artístico do Brasil”. O acervo do museu foi vendido integralmente a então Prefeitura do Distrito Federal e distribuído entre várias instituições e residências governamentais. A maior parte dessas obras compõe o acervo do Museu do Ingá / Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói.
Depois de sua morte suas obras integram diversas e importantes exposições coletivas em museus e galerias de arte: “Exposição retrospectiva – obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos”, São Paulo (1940); “Exposição de auto-retratos”, MNBA (1944); “Um século de pintura brasileira 1850-1950”, MNBA (1950); “Lucílio e Georgina de Albuquerque”, Galeria Le Chat, Niterói (1973); “Reflexos do impressionismo”, obras do acervo do MNBA (1974); Exposição retrospectiva Lucílio e Georgina de Albuquerque em comemoração aos 100 anos de nascimento do pintor, MNBA (1977); “A paisagem brasileira 1650-1976”, Paço das Artes, São Paulo (1980); “Tradição e ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras”, Fundação Bienal de São Paulo (1984); “Dezenovevinte: uma virada no século”, Pinacoteca do Estado de São Paulo (1986); “Bienal Brasil século XX”, Fundação Bienal de São Paulo (1994); “De Franz Post a Eliseu Visconti”, acervo do MNBA no Museu de Arte do Rio Grande do Sul; “Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento”, Fundação Bienal de São Paulo (ambas em 2000); “Arte brasileira sobre papel: séculos XIX e XX”, Solar do Jambeiro, Niterói (2002); “O preço da sedução: do espartilho ao silicone”, Itaú Cultural, São Paulo (2004), entre muitas outras.
Os críticos, em conceituados jornais, sempre acompanharam a trajetória do artista, tecendo comentários, observações, elogios, informações e uma orientação crítica elucidativa para os leitores e os apreciadores da arte que frequentavam ou não as exposições e os Salões. São textos de jornalistas e de importantes escritores e literatos como Ronald de Carvalho, Menotti del Picchia, Monteiro Lobato, Mário de Andrade e especialistas em arte como o professor Flexa Ribeiro, o professor e pintor José Maria dos Reis Júnior, Carlos Cavalcanti e o pintor Quirino Campofiorito.
Análises de suas obras, os temas e a fatura pictórica, dados biográficos, conceitos sobre sua conduta artística e didática são destacados nesses textos e em outros postumamente. A imprensa estrangeira também registrou a presença do artista nos Salões, nas exposições e nas atividades culturais internacionais desde suas primeiras exposições até o seu falecimento.
Destacamos alguns escritos.
Quem acompanha com interesse a evolução da pintura brasileira nestas últimas décadas, não poderá deixar de anotar a obra de Lucílio de Albuquerque como das mais significativas. É um artista sincero que se renova, na pesquisa, na retificação do que vê, dominando, cada dia, pela conquista de mais uma parcela de verdade. Em Lucílio não se operou, porém, uma evolução somente no sentido de subidas em degraus óticos e picturais. Houve mais: – houve verdadeira metamorfose, o paisagista sofreu como uma transmutação. Através desse magnífico esforço acossado violentamente pelos ímpetos de seus instintos, ele afinal se colocou, sozinho, sem a sombra apavorante dos mestres, liberto da servidão européia, em face da natureza brasileira. Desse conflito formidável em que a terra americana parecia esmagá-lo, ele saiu triunfante: compreendeu-a, sentiu-a com a grandeza de seu coração, viu-a na realidade empolgante de uma epopéia ruidosa de massas e luzes deslumbrantes.
Lucílio de Albuquerque é o paisagista brasileiro. Encontramos nas suas paisagens uma grandeza robusta, um cântico da vida que vem de um temperamento que se definiu, que encontrou através dos anseios de um insatisfeito a sua finalidade moral e estética.
Em Lucílio de Albuquerque são as suas qualidades de construção, especialmente de desenho, a sensibilidade de certas formas e cores bem dispostas, o que recoloca muitas das suas obras dentro de mais firmes campos plásticos. A sua Rapariga do Minho se não chega a ter aquela força plástica de certos rostos de mulher de Corot da primeira fase, é de uma excelente matéria, voluptuosa, franca, cheia de vigor. O Retrato de Georgina, outra obra valiosa, que dos mais avançados “modernos” tenho ouvido respeitar, é de uma segurança e de uma sensibilidade de desenho e de cor que lhe permite lugar garantido na evolução histórica da plástica nacional. Como homem de arte, Lucílio de Albuquerque soube envelhecer a tempo [...] se interessava pelas pesquisas plásticas novas e pelo moços que apareciam, pintando tão diferentemente do que ele fazia. Não tentou mudar de rumo, sentia que isso era tarde para sua personalidade já feita. Seria uma insinceridade fundamental, apenas uma máscara oportunista - e isso não condizia com a sua bela envergadura moral. Mas não reagiu contra ninguém, nem contra nenhum princípio por mais maluco que parecesse: antes se interessava pelo que os outros estavam fazendo, os novos o traíam, sabia acolhê-los com igualdade e sei mesmo de moços inovadores a quem defendia e apreciava [...] É ainda cedo para que se possa dizer da obra plástica deixada por Lucílio de Albuquerque, o que ficará definitivamente e em que posição ficará; mas sempre é certo que ele soube ser um homem generosamente compreensivo, que ao invés de muitos dos seus pares, cuja atuação tem sido totalmente prejudicial ao progresso da plástica brasileira, nunca cerceou a liberdade de ninguém, nunca prejudicou ninguém.
A obra de Lucílio de Albuquerque se insere em um período em que a arte acadêmica enfrentava os embates com os artistas modernos, não só pela primazia da forma, mas sobretudo pela necessidade de reforma do ensino na Escola Nacional de Belas Artes. Lucílio, como professor, sempre se posicionou de maneira aberta e conciliatória, mesmo que a sua obra - considerada avançada para a época no que se refere à sua pintura dita “impressionista” – não evidenciasse uma abertura para as questões do modernismo brasileiro pós Semana de Arte Moderna de 22.
Pode-se considerar que Lucílio de Albuquerque viveu e atuou consciente e livre, em um ambiente de transição entre o academicismo e o modernismo, ratificando suas tendências artísticas e contribuindo para a valorização da arte brasileira do início do século XX.
(*) Texto originalmente publicado em Lucílio de Albuquerque 1877-1839. Catálogo de Exposição, com curadoria de Piedade Epstein Grinberg. Caixa Cultural, Rio de Janeiro, 27 de setembro a 5 de novembro de 2006, p.7-21.
Fonte: Dezenove Vinte, “Lucílio de Albuquerque na arte brasileira”. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Crédito fotográfico: Wikipédia. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Lucílio de Albuquerque (9 de maio de 1877, Barras, PI — 19 de abril de 1939, Rio de Janeiro, RJ) foi um pintor, desenhista e professor brasileiro. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no Rio de Janeiro, onde teve aulas com João Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, Lucílio recebeu em 1906 o Prêmio Viagem ao Exterior, que lhe permitiu estudar na École des Beaux-Arts de Paris e na Académie Julian, além de frequentar o ateliê de Eugène Grasset. Sua obra caracteriza-se pela temática histórica, retratos refinados e paisagens, sempre com rigor acadêmico e sensibilidade cromática, além de trabalhos em vitral. Foi casado com a pintora Georgina de Albuquerque, com quem realizou importantes exposições conjuntas. Lucílio lecionou Desenho Figurado na ENBA e se tornou diretor da instituição em 1937. Recebeu distinções como medalha de ouro no Salão dos Artistas Franceses, em 1910. Suas obras estão presentes em acervos como o Museu Nacional de Belas Artes e o Museu de Arte da Bahia. Após sua morte, sua casa foi transformada no Museu Lucílio de Albuquerque, preservando seu legado como um dos principais nomes da pintura acadêmica brasileira.
Lucílio de Albuquerque | Arremate Arte
Lucílio de Albuquerque (1877 - 1939) foi um pintor, desenhista, vitralista e professor brasileiro cuja obra e trajetória marcaram profundamente a pintura acadêmica nacional. Nascido em Barras, Piauí, filho de magistrado e de uma família de raízes pernambucanas, iniciou seus estudos em Direito em São Paulo, mas logo se encantou pela arte e ingressou na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no Rio de Janeiro, onde foi aluno dos mestres João Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli.
Em 1906, seu quadro Anchieta escrevendo o poema à Virgem rendeu-lhe o prestigioso Prêmio Viagem ao Exterior da ENBA, e ele se transferiu para Paris com sua parceira artística e vida, Georgina de Albuquerque. Lá, estudou na École des Beaux-Arts, na Académie Julian sob orientação de Marcel Baschet, Henri Royer e Jean-Paul Laurens, e trabalhou no ateliê do renomado artista Art Nouveau Eugène Grasset.
Após cinco anos na França, Lucílio retornou ao Brasil em 1911 e, ao lado de Georgina, realizou uma exposição conjunta no Salão da ENBA. Rapidamente ascendeu ao cargo de professor de Desenho Figurado em 1916, dedicando-se à formação de artistas e consolidando-se como um dos grandes nomes da instituição.
Sua obra transita entre retratos elegantes, paisagens e cenas com temática histórica; destacou-se ainda como vitralista — projetando os vitrais para o Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional de Turim em 1911 — e como decorador, com trabalhos para o Palácio Pedro Ernesto.
Entre suas peças mais emblemáticas estão Despertar de Ícaro (medalha de ouro no Salão dos Artistas Franceses, 1910) e Mãe Preta (1912), uma obra com forte carga simbólica, hoje no Museu de Arte da Bahia.
Em reconhecimento à sua trajetória, foi nomeado diretor da ENBA em 1937 — cargo que ocupou até 1938, quando renunciou por problemas de saúde.
Depois de sua morte, em 1939, Georgina transformou a residência do casal, em Laranjeiras, no Museu Lucílio de Albuquerque, contribuindo para a preservação de seu vasto legado artístico.
Lucílio de Albuquerque | Itaú Cultural
Lucílio de Albuquerque (Barras, Piauí, 1877 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1939). Pintor, desenhista, vitralista, professor. Em 1895, ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo, mas abandona-a para estudar pintura. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1896 e frequenta a Escola Nacional de Belas Artes (Enba) como aluno livre. De 1901 a 1906 matricula-se no curso regular da Enba, e tem aulas com Rodolfo Amoedo (1857-1941), Zeferino da Costa (1840-1915) e Henrique Bernardelli (1858-1936). Em 1906, ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão Nacional de Belas Artes (SNBA) com o quadro Anchieta Escrevendo o Poema à Virgem, e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque (1885-1962). Em Paris, estuda na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts (Ensba) [Escola Nacional Superior de Belas Artes] e na Académie Julian, sendo aluno de Henry Royer (1869-1938), Marcel Baschet (1862-1941) e Jean-Paul Laurens (1838-1921). Participa da Exposição Nacional de Bruxelas, e realiza vitrais para o pavilhão brasileiro na Exposição Internacional de Turim, Itália, em 1911. Nesse ano, volta ao Rio de Janeiro e torna-se professor de desenho figurado na Enba. É nomeado diretor em 1937, cargo que abandona no ano seguinte por motivos de saúde. Após sua morte, Georgina de Albuquerque cria, no início dos anos 1940, o Museu Lucílio de Albuquerque, cujo acervo atualmente pertence ao Estado do Rio de Janeiro.
Análise
O pintor Lucílio de Albuquerque frequenta a Enba em 1896, como aluno livre. Em 1901, torna-se aluno regular da instituição, estudando com Rodolfo Amoedo, Zeferino da Costa e Henrique Bernardelli. Em 1906, recebe o prêmio de viagem ao exterior e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque, onde estuda na Académie Julian. Em Paris, toma contato com o impressionismo e com o simbolismo, realizando obras que dialogam com essas tendências.
Apresenta diversos trabalhos no Salon des Artistes Françaises, como, por exemplo, La Campagne (1908), Agnes Dei (1909) e Raparigas do Milho (1910). Exibe no Salon Internationale de Bruxelles a tela Despertar de Ícaro (1910), executada em homenagem ao aviador Alberto Santos-Dumont (1873-1932). No ano seguinte, realiza projeto para vitral destinado ao Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Turim.
Para o historiador da arte Teixeira Leite, Lucílio de Albuquerque parte, em sua obra, das sombras para luz, ou seja, da utilização inicial de uma paleta de tons escuros, passando gradualmente aos tons claros, afastando-se também da concepção realista da forma, com o uso de sólido desenho, para alcançar posteriormente efeitos cromáticos quase expressionista. O artista destaca-se também por suas paisagens, nas quais realiza pintura en plein-air.
Críticas
"Lucílio de Albuquerque praticou todos os gêneros pictóricos com igual desenvoltura; preferia, porém, os temas que fizessem pensar, que contivessem uma idéia. Sua evolução estilística parte de uma concepção realista da forma para chegar a efeitos cromáticos e de luminosidades peculiares à pintura pura: sua arte tornou-se assim mais clara e alegre, à medida que amadurecia. Compôs seus quadros com ajuda da cor, mas nem por isso negligenciou o desenho. Conquistado pela pintura ao ar livre (...), tornou-se um dos introdutores do impressionismo no Brasil (...)". — José Roberto Teixeira Leite
ARTE no Brasil. Apresentação de Pietro Maria Bardi e Pedro Manuel. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
"Nesta derradeira fase (a partir de 1924), o artista chega mais decididamente ao comportamento impressionista, não se aplicando com radicalismo aos princípios científicos da luz e das cores, mas conservando uma espontaneidade individual, adotando o rompimento dos contornos e, assim, permitindo maior expansão aos efeitos atmosféricos. Situa-se, a partir de então, mais comprometido com as influências impressionistas, que o acometeram na juventude, mas sofreram o controle exercido por diferentes preocupações estéticas. Revela-se o pintor por excelência. E a pintura brasileira passou a ter mais um de seus intérpretes entusiastas (...)" — Quirino Campofiorito (CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983).
Exposições Individuais
1911 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1914 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1914 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1915 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1918 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1920 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1921 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1931 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1935 – Individual de Lucílio de Albuquerque
1936 – Individual de Lucílio de Albuquerque
2006 – Individual de Lucílio Albuquerque
Exposições Coletivas
1901 – 8ª Exposição Geral de Belas Artes
1902 – 9ª Exposição Geral de Belas Artes
1903 – 10ª Exposição Geral de Belas Artes
1904 – 11ª Exposição Geral de Belas Artes
1905 – 12ª Exposição Geral de Belas Artes
1906 – 13ª Exposição Geral de Belas Artes
1907 – 14ª Exposição Geral de Belas Artes
1908 – Salão de Paris
1909 – Salon des Artistes Français
1910 – Exposição Internacional de Bruxelas
1910 – Salon des Artistes Français
1911 – Salon des Artistes Français
1911 – Exposição Internacional de Turim
1911 – Iª Exposição Brasileira de Belas-Artes
1912 – 2ª Exposição Brasileira de Bellas Artes
1912 – 19ª Exposição Geral de Belas Artes
1913 – 20ª Exposição Geral de Belas Artes
1914 – 21ª Exposição Geral de Belas Artes
1915 – 22ª Exposição Geral de Belas Artes
1916 – 23ª Exposição Geral de Belas Artes
1917 – 24ª Exposição Geral de Belas Artes
1919 – 26ª Exposição Geral de Belas Artes
1920 – 27ª Exposição Geral de Belas Artes
1921 – 28ª Exposição Geral de Belas Artes
1922 – 23ª Exposição Geral de Belas Artes
1923 – 30ª Exposição Geral de Belas Artes
1924 – 31ª Exposição Geral de Belas Artes
1925 – Exposição Georgina e Lucílio de Albuquerque
1925 – 32ª Exposição Geral de Belas Artes
1926 – Salão Internacional de Los Angeles
1926 – 33ª Exposição Geral de Belas Artes
1927 – Exposição Coletiva
1927 – 34ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 – 35ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 – Mostra de Grupo Almeida Júnior
1929 – 36ª Exposição Geral de Belas Artes
1929 – Mostra de Grupo Almeida Júnior
1930 – 37ª Exposição Geral de Belas Artes
1930 – The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists
1933 – 39ª Exposição Geral de Belas Artes
1934 – 1º Salão Paulista de Bellas Artes
1935 – The 1935 International Exhibition of Paintings
1936 – The 1935 International Exhibition of Paintings
1937 – 5º Salão Paulista de Belas Artes
Exposições Póstumas
1940 – Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos
1944 – 1ª Exposição de Auto-Retratos
1946 – 12º Salão Paulista de Belas Artes
1948 – Retrospectiva da Pintura no Brasil
1950 – Um Século de Pintura Brasileira: 1850-1950
1955 – Exposição de longa duração
1961 – O Rio na Pintura Brasileira
1970 – Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970
1977 – Exposição Lucílio e Georgina de Albuquerque
1978 – A Paisagem na Coleção da Pinacoteca: Do Século XIX aos Anos 40
1980 – A Paisagem Brasileira: 1650-1976
1984 – Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1985 – 100 Obras Itaú
1986 – Dezenovevinte: uma virada no século
1988 – Brasiliana: o homem e a terra
1989 – Pintura Brasil Século XIX: obras do acervo Banco Itaú
1991 – A Arte nos Estudos de Lucílio de Albuquerque
1992 – O Olhar de Sérgio sobre a Arte Brasileira: desenhos e pinturas
1994 – Bienal Brasil Século XX
1994 – Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX
1995 – Da Marinha à Natureza Morta
1997 – Ar: exposição de artes plásticas, brinquedos, objetos e maquetes
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 – De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo MNBA-RJ
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Negro de Corpo e Alma
2002 – Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX
2004 – O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone
2008 – Paisagem Moderna e o Diálogo Intercultural
2011 – Arte e Cultura no Vale do Paraíba
2012 – Modernismos: 90 anos de 1922
2017 – O Impressionismo e o Brasil
2018 – Trabalho de artista: imagem e autoimagem
2020 – Pinacoteca: Acervo
2022 – Histórias brasileiras
Fonte: LUCÍLIO de Albuquerque. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 11 de julho de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Lucílio de Albuquerque | Wikipédia
Lucílio de Albuquerque (Barras, 9 de maio de 1877 — Rio de Janeiro, 19 de abril de 1939) foi um pintor, desenhista e professor brasileiro.
Biografia
Nasceu em Barras, no estado do Piauí, no dia 9 de maio de 1877. Depois de uma breve passagem pela Faculdade de Direito de São Paulo, ingressou em meados dos anos 1890 na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), onde foi aluno de Daniel Bérard, Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli.
Na Europa
Em 1906, recebeu o Prêmio de Viagem da ENBA, com a tela Anchieta escrevendo o poema à Virgem, pertencente hoje ao Museu Dom João VI, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Logo depois, casou-se com sua colega de Academia, Georgina de Albuquerque; ainda em 1906, ambos partiram para a França, onde permaneceram por cinco anos. Em Paris, Lucilio freqüentou a Academia Julian - onde estudou com Marcel Baschet, Henry Royer e Jean-Paul Laurens -, e também o ateliê de Eugène Grasset, mestre do art nouveau, como fizera alguns anos antes Eliseu Visconti; nessa estadia na cidade-luz, ainda expôs com sucesso no Salon des Artistes Français.
De volta ao Brasil
De volta ao Rio de Janeiro, em 1911, Lucilio fez juntamente com a esposa Georgina uma grande exposição na ENBA. No mesmo ano tornou-se professor de Desenho Figurado da instituição, assumindo definitivamente a cátedra em 1916. Nas Exposições Gerais recebeu sucessivamente: menção de 2º grau (1902, com Stella), menção de 1º Grau (1904, com um retrato), grande medalha de prata (1907, com Agnus Dei), pequena medalha de ouro (1912, com Despertar de Ícaro) e medalha de honra (1920, com Retrato de Georgina).
Obra e exposições
Pintor prolífico, destacou-se como retratista e paisagista, tendo sido entre os pintores de sua geração um dos mais dedicados cultores do gênero da pintura histórica. Projetou os vitrais para o Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional de Turim em 1911 e realizou diversas pinturas de caráter decorativo, como aquelas para as salas da Maioria e da Minoria, no atual Palácio Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. Lúcilio expôs em diversos estados brasileiros (São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco) e no exterior (Argentina, Estados Unidos da América).
Após sua morte, sua esposa organizou na residência do casal, em Laranjeiras, o Museu Lucilio de Albuquerque, cujo grande acervo se encontra dividido entre o Museu do Ingá e o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
Na Casa da Cultura de Teresina tem a Pinacoteca Lucílio de Albuquerque.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Lucílio de Albuquerque na arte brasileira | Dezenove Vinte
Piedade Epstein Grinberg
Nada mais aproxima os povos que a Arte. Poder-se-ia mesmo afirmar, sem exagero, que onde a Arte termina começa a desarmonia.
— Lucílio de Albuquerque, 1921.
Quando, em 1906, Lucílio de Albuquerque ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão Nacional de Belas Artes e parte para a Europa com sua esposa, a pintora Georgina de Albuquerque (1885-1962), o crítico de arte e escritor Gonzaga Duque se refere ao jovem artista como “um desses moços que seguem direitos para a sua aspiração [...] reúne a essa proveitosa disposição excelentes qualidades de uma fina organização de artista. É um temperamento delicado, sensível, admiravelmente tramado por componentes privativos para a receptividade artística. Tem a imaginação fogosa, a alma emocional, o olhar observador [...] Está o moço artista entregue à sua arte: agora tudo depende de seu esforço, porque, para chegar a ser o que almeja, terá a lição dos grandes mestres, o excitamento dos célebres centros artísticos e os museus da Europa.”
Nascido em Barras (PI), em 1877, de tradicional família pernambucana, muda-se para São Paulo, onde inicia seus estudos de direito, que abandona no 1º ano para ingressar, em 1896, na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, como aluno livre.
Anos mais tarde, declara sobre sua primeira aula de desenho figurado:
A maior emoção de minha carreira recebi-a quando, pela primeira vez, me vi, na minha primeira aula de Desenho Figurado, de fusain em punho, diante de uma folha moldada em gesso, para copiar! Passei os olhos por tudo quanto me rodeava. Os veteranos, com uma semana de trabalho, já haviam marcado as suas tarefas, bustos, estátuas, torsos. Tive a impressão de que aquilo tudo era uma maravilha e senti-me incapaz de fazer o mesmo. Quando a aula terminou, corri como um louco para o meu quarto, o meu pobre quartinho de pensão! E completamente só, desanimado, eu que até aquela data tinha vivido dentro da casa ampla e feliz de meus pais, não pude conformar-me com a minha situação, que me parecia horrível, e chorei como uma criança inconsolável [...] Felizmente o dia seguinte trouxe-me o alento, enxugou-me as lágrimas e deu-me ânimo para continuar nessa luta, que nunca mais cessou, e para a qual também nunca mais me faltou a coragem precisa.
Discípulo de desenho de Zeferino da Costa e de pintura de Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, torna-se aluno matriculado em 1901. Como registro de suas atividades acadêmicas, o Museu D. João VI da Escola de Belas Artes da UFRJ conserva em seu acervo desenhos a carvão de 1899 como prova (1º lugar), obras de 1903 e 1906, a pintura Sansão e Dalila, resultado de concurso escolar de 1903, e os trabalhos enviados como pensionista em Paris.
A partir de 1901 inicia sua participação em diversos Salões de Belas Artes, e em 1902 recebe a menção honrosa de 2º grau com o quadro Stella; depois, em 1904, a menção honrosa de 1º grau com o quadro Retrato e a medalha de prata de aluno.
O Sr. Lucílio de Albuquerque, que há de ser outro artista de amanhã, expõe dois pastéis e dois quadros a óleo, sendo um desses um bonito retrato de senhora, tratado com largueza no busto e louvável minúcia na cabeça.
Em 1905, com o quadro Pigmalião e Galatéia recebe a medalha de ouro de aluno. Apresentou sempre ótimo desenho e uma “palheta quente como a dos flamengos e sua fatura já era marcadamente larga e pastosa”.
Em janeiro de 1906, tendo terminado o curso da Escola Nacional de Belas Artes, ganha, em concurso, o prêmio de viagem à Europa por cinco anos, com a composição Anchieta escrevendo o poema à Virgem, obra de inspiração religiosa e mística, assim descrita pelo crítico Gonzaga Duque:
Fez o apóstolo nos seus momentos de meditação, à beira-mar, quando, ao cair da tarde, ia compor seus versos que escrevia na areia. Com aturada leitura sobre o assunto, compulsando memórias, histórias e ficções referentes ao companheiro de Nóbrega, reconstruiu o tipo e o compôs nas suas minúcias, interpretou o seu estado de alma provável, estudou um canto dessa nossa linda paisagem fluminense, onde Anchieta sentiu crescer a sua fé, e deu-lhe a participação no assunto pelo tom agreste da sua primitividade. A obra foi unanimemente aprovada, e deve-se dizer que raros concursos têm sido tão justamente premiados como esse.
Durante o período acadêmico em Paris, que se estende até 1911, estuda na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts e na Académie Julian, sendo aluno de Jean Paul Laurens, Henry Royer, Gervais e Marcel Baschet, frequentando também a École Guérin com o mestre do art nouveau e da arte decorativa, Eugène Grasset.
Desse curso de Grasset existem cadernos de Lucílio com desenhos e apontamentos de classe, numerados a partir do estudo das plantas e de decoração, com visíveis orientações às tendências do art nouveau que incluía o simbolismo, os pré-rafaelitas e o art and crafts inglês.
Alguns exemplos teóricos sobre a questão da representação da natureza: “Na natureza todas as combinações são encontradas”; “Procurar os motivos perfeitos, evitar os defeitos da natureza”; “É preciso que não se faça uma aplicação de um estudo a partir da natureza, mas deve-se fazer uma composição que se queira; criar, fazer qualquer coisa de nós mesmos”; “No estudo do natural podemos fazer todas as modificações que quisermos, uma vez que respeitemos o caráter”; “Para ter-se um estilo é preciso transformar a natureza”.
Sobre o dualismo entre forma e conteúdo: “Devemos conservar a maior clareza no desenho”; “Devemos subordinar todas as formas à nossa vontade, não ao acaso”; “É preciso traçar a forma geométrica, mas não escravizar-se a ela. Uma vez feita, apagá-la”; “Ocultar o fundo o mais possível”; “Não é preciso ficar limitado ao espaço geométrico e convém mesmo sair um pouco, e que o ar penetre; nada de contornos rígidos”.
Não há dúvidas de que a aquisição desses conhecimentos serão aplicados em vitrais e murais como o que foi executado para o antigo Conselho Municipal, depois Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro em 1921.
O prêmio de viagem implica uma série de obrigações que o artista cumprirá rigorosamente e de forma satisfatória nas obras que executa, ao mesmo tempo em que observa os impressionistas e experimenta os seus processos.
Influenciado também pelos simbolistas, que acreditavam que a arte deveria ser uma síntese entre a percepção dos sentidos e a reflexão intelectual, além de enfatizar a pureza, a espiritualidade e a ingenuidade dos personagens, executa o quadro Agnus Dei e recebe a grande medalha de prata na 14ª Exposição Geral de Belas Artes, em 1907.
O Sr. Lucílio, cujo talento conquistou grande número de admiradores, entre os quais tenho orgulho de me incluir, não pôde enviar trabalhos que nos indicassem o seu aproveitamento, aliás, inesperado porque há pouco tempo que ele iniciou os seus estudos em Paris.
O seu inacabado quadro intitulado Dante (canto V do Inferno) tem largamente do quanto ele daqui levou, e que foi o bastante para conquistar, com brilho, o seu lugar de pensionista. A composição acusa o que ele ainda nos poderá dar, para satisfazer o alto conceito em que todos o temos. Assim é justo que esperemos, mesmo porque, o seu Agnus Dei, que acompanha o esboçado quadro já referido, não corresponde à expectativa dos seus admiradores.
Bem pintado, não há dúvida, bem desenhado também, mas medíocre de impressão por inadaptabilidade da figura ao assunto, que é de feitio decorativo e exigentemente místico.
Se não fosse o título, se não fosse a composição tendente a moldes de pura fantasia, eu me limitaria e elogiá-lo.
De 1908 a 1910, expõe no Salon des Artistes Français, La campagne, “composição cujos efeitos de luz, distribuição de tintas, correção de desenho, nada deixam a desejar e colocam o seu autor no nível dos mais hábeis e modernos pintores” e Rapariga do Minho, respectivamente.
O ano de 1911 foi um dos mais frutíferos para a carreira do artista: expõe no mesmo Salon o quadro Sono, belo desenho de nu, no qual é possível constatar a especial estrutura da matéria; participa do Salão Internacional de Bruxelas com o quadro Despertar de Ícaro, uma de suas pinturas mais conhecidas, de forte influência simbolista, remotamente sugerida pelo vôo pioneiro de Santos Dumont e executa vitrais para o Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Turim, na Itália, representando A República Brasileira guiada pela Ordem e Progresso, desenvolve seu comércio e sua indústria, alegoria do Cruzeiro do Sul simbolizado por figuras femininas.
Várias obras são executadas em Paris como, por exemplo, Paisagem de Lemesnil; Morte de Anchieta; Primavera em França; Prometeu; Visão da floresta; Freira e enfermo; Paraíso restituíd, entre muitas outras.
Ainda em 1911, retorna ao Brasil e realiza, na Escola Nacional de Belas Artes, sua primeira exposição no Rio de Janeiro (em conjunto com a pintora Georgina de Albuquerque), com cerca de 107 pinturas, além de desenhos diversos, desenhos de academia, croquis de nus, cartões para os vitrais do Pavilhão do Brasil em Turim e os estudos para esses cartões, todas obras realizadas na Europa [cf. Catálogo]; participa da primeira exposição brasileira de belas-artes no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, e é nomeado professor temporário de desenho figurado na Escola Nacional de Belas Artes, substituindo o artista e seu antigo professor Zeferino da Costa, cargo ao qual é reconduzido, como catedrático em 1916, e no qual se mantém até o seu falecimento.
Em 1912 recebe a pequena medalha de ouro na 19ª Exposição Geral de Belas Artes da ENBA com o quadro Despertar de Ícaro, “tela magistral pela concepção, pelo desenho, pelo colorido e pela execução”, que já havia suscitado críticas favoráveis na imprensa em 1911 como a de Oliveira Lima no O Estado de S. Paulo, de Aníbal Matos no O Mundo e de Oscar Lopes em A Semana, destacando que ”Lucílio tem acentuadas qualidades sugestivas. A sua tela Despertar de Ícaro é pela idéia uma trouvaille, o assunto que muitos outros artistas desejariam ter encontrado. É uma tela admiravelmente bem sentida, bem desenhada e bem pintada”.
A imprensa também aprecia a obra histórica Expedição à Laguna (1914), encomenda do governo do Rio Grande do Sul após exposição individual de Lucílio em Porto Alegre, chamando a atenção para o novo quadro e a dificílima tarefa confiada a um dos mais talentosos da nova geração de artistas brasileiros.
De 1913 a 1933 participa praticamente de todas as Exposições Gerais da Escola Nacional de Belas Artes, além de realizar individuais em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Recife.
Podemos destacar o Salão de 1920, quando recebe a grande medalha de honra com o quadro Retrato de Georgina que, numa intenção de renovação, aproxima o artista de um estilo decorativo ainda incipiente na pintura brasileira, porém praticado por vários desenhistas e ilustradores, influenciados pela acentuada simplificação e estilização do traço, materializando uma linguagem moderna.
Durante viagem a Salvador em 1924, Lucílio ficou impressionado e marcado pela luz tropical, o casario antigo, a população local, o mercado fervilhante, a indumentária feminina. Esses elementos “[...] deram ao pintor um entusiasmo que, a partir de então, vai disciplinar diferentemente sua sensibilidade pictural: os pincéis foram substituídos pelas espátulas, essas mais convenientes ao trato pastoso e espontâneo das tintas, mais adaptadas a corresponder à sofreguidão visual”.
A obra de Lucílio de Albuquerque, realizada sempre com dedicação, cuidado e apuro (o artista preparava as próprias telas e as espátulas) pode ser dividida em cinco fases: a acadêmica, quando estuda no Rio de Janeiro e em Paris, onde copia os grandes mestres europeus, aprimora as representações do corpo humano e aplica com esmero os exercícios de paisagem.
A fase das composições místicas e das “grandes idéias” que o pintor considerava as suas preferidas: “Todavia confesso-lhe que fico mais satisfeito toda vez que realizo um quadro de idéia, que faz pensar”. Segundo a pintora Georgina de Albuquerque, “a plena posse da matéria plástica permite, na segunda etapa da sua arte, expansão aos dons de artista e à sua capacidade de poeta e pensador. Nobres e arrojadas, as composições giram em torno de idéias”.
A terceira fase é a dos retratos; a seguir a das grandes composições históricas, e a última, a fase das paisagens quando o artista anula a estrutura acadêmica e suas pinceladas e manchas tornam-se mais consistentes e densas, comprovando os efeitos de luz sob um cromatismo variado, que evidencia um impressionismo tardio. A predominância dos tons verdes, amarelos, azuis e violetas, especialmente nas obras em que o pintor retrata uma paisagem-panorama, indica o rompimento com os contornos quando a sua palheta fica mais clara e arejada nas largas perspectivas.
Pintava suas paisagens en plein air sem violências inúteis, privilegiando os temas como pequenos recantos de rios, praias acrescidas de embarcações, de singela arquitetura ou de personagens locais. São trabalhos em pequeno formato com vistas pitorescas, o casario colonial inspirado nas cidades históricas mineiras e flamboyants floridos da paisagem niteroiense.
[...] e as suas paisagens são pedaços vivos, nítidos de nossa terra. Não são cantinhos de vegetação em banal sinfonia de verdes e amarelos. É a terra castigada pelas intempéries. É a terra que o sol queima e as enxurradas martirizam. É a terra forte, moça, cheia de seiva.
Lucílio de Albuquerque evolui sempre. Onde seu pincel encontra expressões magníficas é nos velhos motivos coloniais. Um canto de rua que se esgueira deliciosamente, ladeira abaixo ou ladeira acima, na típica encarnação de uma época que se vai distanciando, cada vez mais querida. Sente-se que ele foi aos tipos de rua, às lavadeiras e doceiras, estudar-lhes a expressão fisionômica com o mesmo carinho que já lhes percrustou a psicologia.
Lucílio de Albuquerque foi um grande divulgador da cultura artística brasileira, realizando conferências e outras atividades, sobretudo na missão desempenhada no Uruguai e Argentina por iniciativa do Ministério das Relações Exteriores em 1921, ocasião em que realiza uma exposição de seus trabalhos em Buenos Aires. A iniciativa do estabelecimento desse intercâmbio teve apoio da nova Sociedade Brasileira de Belas Artes (fundada em 1910 com o nome de Centro Artístico Juventas) constando, entre seus fundadores, Lucílio e Georgina de Albuquerque.
Participa também de outras exposições internacionais como o Salão Internacional de Los Angeles (1926); Coletiva no Roerich Museum de Nova York (1927); Salão Internacional de Rosário, Argentina, conquistando o prêmio de estímulo (1929); The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, no Roerich Museum de Nova York (1930) e The 1935 International Exhibition of Paintings no Carnegie Institute em Pittsburgh, onde apresenta a obra O grande circo.
Exerceu o cargo de diretor da Escola Nacional de Belas Artes de 1937 a 1938, vindo a falecer em abril de 1939. Após sua morte, sua esposa Georgina de Albuquerque comovida declara que “Lucílio viveu exclusivamente para a arte que amou e respeitou, nunca a mercantilizando. Laborioso, reservado, todos seus pensamentos e todos seus sentimentos, os vasava na sua arte”.
Em 1940, o Ministério da Educação e Saúde homenageia o artista com uma retrospectiva de sua obra, no Museu Nacional de Belas Artes. A exposição apresentou cerca de 400 trabalhos entre grandes composições históricas e místicas, paisagens do Rio de Janeiro, de Niterói, do interior do Estado, de Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, além de desenhos, estudos para composições, projetos de decoração de murais e croquis diversos. Acompanha a exposição importante e consistente catálogo ilustrado, com textos do diretor do Museu, Oswaldo Teixeira, do professor Celso Kelly, além de trechos de críticas nacionais e internacionais.
O Museu Lucílio de Albuquerque é criado em sua residência (Rua Ribeiro de Almeida, 22, no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro), em 1943, por sua esposa e pela Sociedade de Amigos Lucílio de Albuquerque. Armando Miguéis, em um artigo para a Revista Forma, intitulado “Patrimônio a preservar”, chama a atenção para o descaso das autoridades sobre a necessidade de preservação das obras do artista, ameaçadas de dispersão. Ressalta as coleções de pinturas e desenhos divididos em tipos populares, cidades coloniais brasileiras, desenhos de expressão, documentários e diversos, “um legado, como se vê, que honra o patrimônio artístico do Brasil”. O acervo do museu foi vendido integralmente a então Prefeitura do Distrito Federal e distribuído entre várias instituições e residências governamentais. A maior parte dessas obras compõe o acervo do Museu do Ingá / Museu de História e Arte do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói.
Depois de sua morte suas obras integram diversas e importantes exposições coletivas em museus e galerias de arte: “Exposição retrospectiva – obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos”, São Paulo (1940); “Exposição de auto-retratos”, MNBA (1944); “Um século de pintura brasileira 1850-1950”, MNBA (1950); “Lucílio e Georgina de Albuquerque”, Galeria Le Chat, Niterói (1973); “Reflexos do impressionismo”, obras do acervo do MNBA (1974); Exposição retrospectiva Lucílio e Georgina de Albuquerque em comemoração aos 100 anos de nascimento do pintor, MNBA (1977); “A paisagem brasileira 1650-1976”, Paço das Artes, São Paulo (1980); “Tradição e ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras”, Fundação Bienal de São Paulo (1984); “Dezenovevinte: uma virada no século”, Pinacoteca do Estado de São Paulo (1986); “Bienal Brasil século XX”, Fundação Bienal de São Paulo (1994); “De Franz Post a Eliseu Visconti”, acervo do MNBA no Museu de Arte do Rio Grande do Sul; “Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento”, Fundação Bienal de São Paulo (ambas em 2000); “Arte brasileira sobre papel: séculos XIX e XX”, Solar do Jambeiro, Niterói (2002); “O preço da sedução: do espartilho ao silicone”, Itaú Cultural, São Paulo (2004), entre muitas outras.
Os críticos, em conceituados jornais, sempre acompanharam a trajetória do artista, tecendo comentários, observações, elogios, informações e uma orientação crítica elucidativa para os leitores e os apreciadores da arte que frequentavam ou não as exposições e os Salões. São textos de jornalistas e de importantes escritores e literatos como Ronald de Carvalho, Menotti del Picchia, Monteiro Lobato, Mário de Andrade e especialistas em arte como o professor Flexa Ribeiro, o professor e pintor José Maria dos Reis Júnior, Carlos Cavalcanti e o pintor Quirino Campofiorito.
Análises de suas obras, os temas e a fatura pictórica, dados biográficos, conceitos sobre sua conduta artística e didática são destacados nesses textos e em outros postumamente. A imprensa estrangeira também registrou a presença do artista nos Salões, nas exposições e nas atividades culturais internacionais desde suas primeiras exposições até o seu falecimento.
Destacamos alguns escritos.
Quem acompanha com interesse a evolução da pintura brasileira nestas últimas décadas, não poderá deixar de anotar a obra de Lucílio de Albuquerque como das mais significativas. É um artista sincero que se renova, na pesquisa, na retificação do que vê, dominando, cada dia, pela conquista de mais uma parcela de verdade. Em Lucílio não se operou, porém, uma evolução somente no sentido de subidas em degraus óticos e picturais. Houve mais: – houve verdadeira metamorfose, o paisagista sofreu como uma transmutação. Através desse magnífico esforço acossado violentamente pelos ímpetos de seus instintos, ele afinal se colocou, sozinho, sem a sombra apavorante dos mestres, liberto da servidão européia, em face da natureza brasileira. Desse conflito formidável em que a terra americana parecia esmagá-lo, ele saiu triunfante: compreendeu-a, sentiu-a com a grandeza de seu coração, viu-a na realidade empolgante de uma epopéia ruidosa de massas e luzes deslumbrantes.
Lucílio de Albuquerque é o paisagista brasileiro. Encontramos nas suas paisagens uma grandeza robusta, um cântico da vida que vem de um temperamento que se definiu, que encontrou através dos anseios de um insatisfeito a sua finalidade moral e estética.
Em Lucílio de Albuquerque são as suas qualidades de construção, especialmente de desenho, a sensibilidade de certas formas e cores bem dispostas, o que recoloca muitas das suas obras dentro de mais firmes campos plásticos. A sua Rapariga do Minho se não chega a ter aquela força plástica de certos rostos de mulher de Corot da primeira fase, é de uma excelente matéria, voluptuosa, franca, cheia de vigor. O Retrato de Georgina, outra obra valiosa, que dos mais avançados “modernos” tenho ouvido respeitar, é de uma segurança e de uma sensibilidade de desenho e de cor que lhe permite lugar garantido na evolução histórica da plástica nacional. Como homem de arte, Lucílio de Albuquerque soube envelhecer a tempo [...] se interessava pelas pesquisas plásticas novas e pelo moços que apareciam, pintando tão diferentemente do que ele fazia. Não tentou mudar de rumo, sentia que isso era tarde para sua personalidade já feita. Seria uma insinceridade fundamental, apenas uma máscara oportunista - e isso não condizia com a sua bela envergadura moral. Mas não reagiu contra ninguém, nem contra nenhum princípio por mais maluco que parecesse: antes se interessava pelo que os outros estavam fazendo, os novos o traíam, sabia acolhê-los com igualdade e sei mesmo de moços inovadores a quem defendia e apreciava [...] É ainda cedo para que se possa dizer da obra plástica deixada por Lucílio de Albuquerque, o que ficará definitivamente e em que posição ficará; mas sempre é certo que ele soube ser um homem generosamente compreensivo, que ao invés de muitos dos seus pares, cuja atuação tem sido totalmente prejudicial ao progresso da plástica brasileira, nunca cerceou a liberdade de ninguém, nunca prejudicou ninguém.
A obra de Lucílio de Albuquerque se insere em um período em que a arte acadêmica enfrentava os embates com os artistas modernos, não só pela primazia da forma, mas sobretudo pela necessidade de reforma do ensino na Escola Nacional de Belas Artes. Lucílio, como professor, sempre se posicionou de maneira aberta e conciliatória, mesmo que a sua obra - considerada avançada para a época no que se refere à sua pintura dita “impressionista” – não evidenciasse uma abertura para as questões do modernismo brasileiro pós Semana de Arte Moderna de 22.
Pode-se considerar que Lucílio de Albuquerque viveu e atuou consciente e livre, em um ambiente de transição entre o academicismo e o modernismo, ratificando suas tendências artísticas e contribuindo para a valorização da arte brasileira do início do século XX.
(*) Texto originalmente publicado em Lucílio de Albuquerque 1877-1839. Catálogo de Exposição, com curadoria de Piedade Epstein Grinberg. Caixa Cultural, Rio de Janeiro, 27 de setembro a 5 de novembro de 2006, p.7-21.
Fonte: Dezenove Vinte, “Lucílio de Albuquerque na arte brasileira”. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.
Crédito fotográfico: Wikipédia. Consultado pela última vez em 11 de julho de 2025.