Quirino Campofiorito (7 de setembro de 1902, Belém, Brasil — 16 de setembro de 1993, Niterói, Brasil) foi um pintor, desenhista e historiador da arte brasileiro. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes (RJ), onde foi aluno de Modesto Brocos e Rodolfo Chambelland, e posteriormente atuou como professor e vice-diretor da instituição. Viajou à Europa como prêmio, aprimorando sua pintura em Paris e Roma. Fundou a Escola de Belas Artes de Araraquara (SP) e integrou o Núcleo Bernardelli, movimento de renovação do ensino artístico no Brasil. Sua obra mescla retratos, cenas urbanas e naturezas-mortas, com influências da pintura metafísica. Publicou o livro História da Pintura Brasileira no Século XIX, vencedor do Prêmio Jabuti em 1983. Suas obras fazem parte dos acervos do Museu Nacional de Belas Artes e de outras importantes instituições brasileiras.
Quirino Campofiorito | Arremate Arte
Quirino Campofiorito nascido em Belém, no dia 7 de setembro de 1902, foi um artista brasileiro multifacetado: pintor, desenhista, gravador, caricaturista, ilustrador, crítico de arte, historiador e professor. Filho do arquiteto e pintor italiano Pietro Campofiorito, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1912, onde iniciou sua trajetória nas artes como ilustrador em revistas como O Tico-Tico e O Malho.
Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1920, tendo como mestres nomes como Modesto Brocos e Rodolfo Chambelland. Nos anos 1920, destacou-se nos Salões Nacionais, recebendo medalhas e, em 1929, o prêmio de viagem ao exterior. Estudou em Paris e Roma, aprimorando sua técnica e ampliando seu repertório artístico.
De volta ao Brasil, fundou a Escola de Belas Artes de Araraquara (SP) e foi um dos mentores do Núcleo Bernardelli, grupo que renovou o ensino artístico brasileiro. Lecionou na Escola Nacional de Belas Artes, onde se tornou vice-diretor e catedrático.
Sua produção mescla cenas urbanas, retratos e naturezas-mortas, com forte influência da pintura metafísica. Como historiador da arte, publicou o livro História da Pintura Brasileira no Século XIX, premiado com o Jabuti em 1983. Participou de exposições no Brasil e no exterior e teve obras incorporadas a acervos como o do Museu Nacional de Belas Artes.
Faleceu em 16 de setembro de 1993, na cidade de Niteroi, Rio de Janeiro.
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Quirino Campofiorito | Itaú Cultural
Quirino Campofiorito (Belém, Pará, 1902 - Niterói, Rio de Janeiro, 1993). Pintor, crítico de arte, professor, caricaturista, gravador. Filho do pintor e arquiteto italiano Pedro Campofiorito (1875-1945). Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro em 1912. Trabalha como ilustrador nas revistas Tico-Tico, Revista Infantil e publica charges nos periódicos A Maçã, O Malho, D. Quixote, entre outros trabalhos que o aproximam das artes gráficas, frequentando as oficinas de impressão. Em 1920, inicia os estudos na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), com os professores Modesto Brocos (1852-1936), Rodolfo Chambelland (1879-1967), João Baptista da Costa (1865-1926) e Augusto Bracet (1881-1960). Escreve para a coluna de Arte do jornal A Reação em 1926. Recebe da Enba o Prêmio de Viagem à Europa em 1929. Frequenta aulas na Académie Julian, na Académie de la Grande Chaumière e participa do Salon de Paris em 1931. Em Roma, estuda na Academia de Belas Artes e frequenta os cursos do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma. Em 1933, volta a residir em Paris e participa do Salon d’Automne. Retorna ao Brasil em 1934 e trabalha na organização da Escola de Belas Artes de Araraquara, interior de São Paulo, instituição que dirige entre 1935 e 1937, criando também o Salão de Belas Artes da mesma cidade. Em 1935, funda o periódico mensal Belas Artes, o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente à arte, e extinto em 1940 pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1938. Integra o Núcleo Bernardelli e torna-se seu presidente em 1942.
O grupo, formado por artistas como José Pancetti (1902-1958) e Milton Dacosta (1915-1988), se reunia à noite nos porões da Enba para discutir pintura, em busca de profissionalização e aprimoramento técnico. Participa ainda do grupo de artistas criadores da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes. É nomeado professor interino da Enba em 1938, ocupando a cadeira de desenho artístico até 1949, quando presta concurso para a cadeira de artes decorativas. Desde então, trabalha na atualização dos métodos de ensino da Escola de Belas Artes. Tal reformulação é acentuada com a entrada de Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Mário Barata (1921) para o corpo docente em 1954. Viaja à Europa em 1957 a serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para observar programas de ensino, visando à reforma do regulamento da Enba. Torna-se vice-diretor da Enba em 1961 e recebe o título de Professor Emérito da UFRJ em 1981. Publica críticas de arte em jornais do grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand (1892-1968), entre eles O Jornal, O Cruzeiro, Diário da Noite e Jornal do Comércio, atividade que exerce por cerca de 40 anos. Em 1983 publica História da Pintura Brasileira no Século XIX, obra referencial para o estudo da arte oitocentista, pela qual recebe o Prêmio Jabuti.
Análise da Trajetória
A produção artística e intelectual de Quirino Campofiorito transita por diferentes áreas em torno das artes plásticas. Trabalha em sua difusão como crítico de arte. Como professor, compromete-se com a consolidação e reforma de um sistema de ensino artístico. Como artista, dedica-se às artes gráficas, sobretudo à pintura.
A formação de Campofiorito dá-se entre os rigores acadêmicos, sendo o desenho seu principal instrumento de aprendizagem, com especial atenção ao estudo do nu e ao modelado. A temporada na Europa apresenta novos caminhos para sua pintura, apontados pela arte simbolista, pela pintura metafísica italiana e pelas experiências das vanguardas interpretadas pelo movimento de retorno à ordem. Estas influências podem ser sentidas desde sua produção dos anos 1930, nas vistas de Roma, e em estudos que almejam a formas mais espontâneas e sintéticas. A partir desse período, a produção Campofiorito dedica-se a questões centrais para pintura modernista no Brasil, como a forma simplificada e a tensão do espaço figurativo ao manipular as leis da perspectiva. Defensor da arte figurativa, entre seus temas encontram-se a observação de tipos populares e seus vínculos com o universo do trabalho. O quadro O Operário (1932) apresenta-se como um retrato de classe, marcado pela expressividade fisionômica e pelas formas protuberantes das mãos acostumadas à labuta. Em pinturas como Operários - Estudo n. 1 (1939) ou Café-Colheita (1940), que representam cenas de trabalho coletivo, nota-se a proximidade com a pintura de Candido Portinari (1903-1962) e com uma plasticidade que remete à pintura muralista.
As citações em suas pinturas propõem um passeio e um comentário sobre a história da arte. Na natureza-morta A Geléia Francesa (1932) explora soluções espaciais e cromáticas observadas nas pinturas de Cézanne (1939-1906). Ricordo di Roma (1941) remete ao passado classicista com fragmentos de uma estátua e monumentos justapostos como em uma colagem. Em Homenagem a Giorgio De Chirico (1973), dialoga com a pintura metafísica em composições de objetos em situação de estranhamento.
Apesar de sua resistência à abstração, realiza uma série de pinturas que a discutem, como Homenagem a Kasimir Malevitch (1979), na qual faz uma analogia entre formas concretas e elementos figurativos. A referência ao universo das artes plásticas também está presente em sua produção de charges, nas quais é recorrente a crítica do sistema cultural ou os comentários sobre as obras mais destacadas dos salões.
Como professor, busca uma prática de ensino atenta às diversas demandas da sociedade contemporânea, como a relação entre o desenho e a produção industrial nas artes gráficas, tecelagem etc.
Dedica muitos estudos às artes do século XIX, entre os quais o volume História da Pintura no Brasil no Século XIX, obra que configura uma visão ampla sobre a pintura oitocentista. No livro, Campofiorito apresenta o contexto geral e destaca os principais artistas de cada período. Parte de um breve traço biográfico e desenvolve considerações estéticas, atentando sobre as rupturas nos processos de amadurecimento dos artistas.
Ao longo de seus escritos, ressalta a necessidade de profissionalização da atividade do crítico de arte e identifica uma colaboração mútua entre a história da arte e a crítica. Participa do debate sobre o abstracionismo nos anos 1950, travado por críticos como Mário Pedrosa (1900-1981). Assim como outros artistas e intelectuais modernistas, Campofiorito resiste à chegada da arte abstrata ao Brasil. Argumenta que ela foge à proposta de modernização cultural baseada no reconhecimento das raízes populares. Compreende a arte abstrata como um projeto de tendência elitista, enquanto a arte figurativa é acessível a todos. Como crítico tem papel importante na afirmação da arte moderna no Brasil.
Críticas
"Na verdade, e desde o início, a carreira do pintor Quirino Campofiorito é contraditória e curiosamente ´pós-moderna´. Em plena década dos vinte, o seu aprendizado figurativo nasce de duas fontes, naquele tempo, antagônicas. Do academismo disciplinado e apático da Escola de Belas Artes, e, ao mesmo tempo, da revigorante atividade de ilustrador cartunista e desenhista publicitário da Metro Goldwin Meyer. Explica-se a facilidade com que compreendeu, em seguida, o modernismo de Paris dos anos trinta e, três décadas mais tarde, a apropriação ´pop´ dos EEUU. Durante os quarenta anos que se seguiram à volta da Europa, um temperamento naturalmente modesto levou a uma constante agressividade crítica, sempre dedicada à renovação do meio artístico, a compensar uma pintura retraída (...). Data do fim dos anos sessenta, o que chamamos de retomada ostensiva da pintura. E, como se fosse para lembrar o início de sua vida profissional, Quirino Campofiorito apresentou em 1971 - sua primeira exposição desde 1935 - um dos dois aspectos de sua pintura atual. ´Poster-painting´, cartazes deliberadamente alegóricos, mas pintados a óleo e concebidos como homenagens a Miguel Angelo, De Chirico, Brecht, Charlie-Chaplin e Malevitch (...)" — Ítalo Campofiorito (CAMPOFIORITO. Apresentação de Italo Campofiorito. Rio de Janeiro: Bolsa de Arte, 1977).
"Se bem que o magistério e a atividade crítica tenham sem dúvida roubado ao artista tempo precioso, Campofiorito é autor de considerável bagagem, destacando-se como autor de vistas urbanas, estudos de nu e figuras, naturezas-mortas e alegorias, nas quais repercute muito intensa a influência de De Chirico e do Metafisicismo. Talvez a parte mais perdurável de sua obra pictórica sejam as naturezas-mortas, em algumas das quais alcançou o pintor efeitos admiráveis de lirismo, uma nota pessoal e uma composição despojada, inconfundível" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
Depoimentos
"Minha vida de pintor é diferente da vida comum dos pintores. Estes fazem-se sempre comprometidos com as estritas atividades do ateliê. Assiduidade exclusiva à oficina de trabalho, para que seja alcançada a totalidade do que possa dar à sua obra. Eu sou daqueles raros exemplos que sempre atropelaram a assiduidade do ateliê de pintor com uma dedicação, igualmente assídua, a outras atividades que me movimentavam em espaços bem exigentes. Contudo, não neguei um só instante uma grande e responsável aplicação à arte realmente indicada por minha autêntica vocação: a pintura. As demais atividades resultam decorrências que se foram apresentando, desdobramentos de minhas convicções de pintor, que abriam caminhos que terminam por se fazer tão comprometedores de minha sensibilidade pelos problemas inerentes às artes plásticas conforme, particularmente, se demostrava em nosso país. Foi impossível para meu temperamento ser só pintor. (...) A pintura, as artes gráficas (na totalidade de suas variações), o jornalismo e o ensino, traçam o eixo de minha vida artística. Em torno, desse comportamento em retilíneo desenvolvimento, tendo sido o pintor que sou, o artista gráfico sempre empolgado com uma sedutora variedade de afazeres, o jornalista sempre voltado para a divulgação e o comentário artístico (da singela informação ao responsável ensaio crítico) e o ensino que não escapa aos objetivos que regem os entendimentos e a formação profissional do artista, o rigor da obra de arte (sua tecnicidade)".
Quirino Campofiorito
CAMPOFIORITO, Quirino. Retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista. Rio de Janeiro : MNBA, 1992. p. 13.
Acervos
Museo de La Plata - La Plata (Argentina)
Museu de Belas Artes - Belém PA
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Exposições
1927 - 34ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 - 35ª Exposição Geral de Belas Artes
1929 - 36ª Exposição Geral de Belas Artes
1932 - Salon des Artistes Français
1933 - Salon d'Automne
1935 - Individual de Quirino Campofiorito
1935 - 41º Salão Nacional de Belas Artes
1936 - Individual de Quirino Campofiorito
1937 - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1938 - Exposição Internacional da Califórnia
1938 - 2º Salão de Maio
1943 - Exposição Anti-Eixo
1943 - Exposição Anti-Eixo
1944 - Exposição de Arte Moderna
1944 - 50º Salão Nacional de Belas Artes
1944 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1944 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1946 - Exposição dos Artistas Brasileiros ao Povo de Londres
1946 - Os Pintores vão à Escola do Povo
1951 - 1ª Bienal Internacional de São Paulo
1952 - 1º Salão Nacional de Arte Moderna
1953 - 4º Salão de Naturezas Mortas
1953 - 2º Salão Nacional de Arte Moderna
1954 - Exposição comemorativa do I Congresso Nacional de Intelectuais
1954 - Salão Preto e Branco
1955 - 1ª Exposição de Arte Brasileira Contemporânea
1966 - 50 Anos de Paisagem Brasileira
1956 - 5º Salão Nacional de Arte Moderna
1956 - 1º Salão Ferroviário
1958 - O Trabalho na Arte
1958 - Salão de Arte A Mãe e a Criança
1959 - 8º Salão Nacional de Arte Moderna
1961 - 6ª Bienal Internacional de São Paulo
1965 - 1º Salão Esso de Artistas Jovens
1966 - 15º Salão Nacional de Arte Moderna
1967 - 16º Salão Nacional de Arte Moderna
1967 - 9ª Bienal Internacional de São Paulo
1969 - 18º Salão Nacional de Arte Moderna
1970 - 19º Salão Nacional de Arte Moderna
1973 - Individual de Quirino Campofiorito
1973 - Sumário Retrospectivo: 1920-1973
1973 - Individual de Quirino Campofiorito
1973 - 22º Salão Nacional de Arte Moderna
1974 - 23º Salão Nacional de Arte Moderna
1974 - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira
1976 - 25º Salão Nacional de Arte Moderna
1977 - 50 Anos de Pintura
1978 - Desenhos dos Anos 30
1979 - Individual de Quirino Campofiorito
1979 - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas
1982 - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40
1982 - Universo do Futebol
1982 - Homenagem Quirino Campofiorito: 80 anos
1983 - Auto-Retratos Brasileiros
1984 - Individual de Quirino Campofiorito
1984 - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1984 - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1985 - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas
1987 - Aquarelas Brasileiras
1988 - Visões do Trabalho (1988 : Rio de Janeiro, RJ)
1992 - Quirino Campofiorito: retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista
1993 - 80 Anos de Paixão Gráfica: Quirino Campofiorito
1994 - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand
1994 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Bienal Brasil Século XX
1998 - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ
2000 - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 - Arte Pará 2000
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Negro de Corpo e Alma
2000 - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960
2002 - Arte e Política
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2004 - O Olhar Modernista de JK
2005 - Cidade Maravilhosa: uma iconografia carioca - 1920/1980
2006 - O Olhar Modernista de JK
2009 - Nus
2009 - Olhar da Crítica: Arte Premiada da ABCA e o Acervo Artístico dos Palácios
2011 - Exposição do Acervo da Pinacoteca Municipal Mário Ybarra de Almeida
2011 - Franz Weissman 1911-2005
2012 - Anna Maria Niemeyer: um caminho
2013 - Retratos sem Paredes (2013 : São Paulo, SP)
2016 - A Cor do Brasil
2020 - Pinacoteca: Acervo
2021 - A memória é uma invenção
Fonte: QUIRINO Campofiorito. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 29 de maio de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Quirino Campofiorito | Wikipédia
Quirino Campofiorito (Belém do Pará, 7 de setembro de 1902 — Niteroi, 16 de setembro de 1993) foi um pintor, desenhista, gravador e ilustrador, escritor, crítico de arte, caricaturista e professor brasileiro.
Era filho do também pintor e arquiteto italiano Pietro Campofiorito, era casado com a também pintora Hilda Campofiorito e foi pai do arquiteto Ítalo Campofiorito.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Quirino Campofiorito, pintor que procurou inserir sua experiência entre a linguagem abstrata e a figurativa | O Escavador
Quirino Campofiorito (Belém do Pará, 7 de setembro de 1902 – Niterói, Rio de Janeiro, 13 de setembro de 1994), pintor que procurou inserir sua experiência figurativa, pela presença do elemento figurativo. Campofiorito captou o ponto de coincidência entre a linguagem abstrata e a figurativa, e, de certo modo, reverteu o processo que conduzia à desintegração da pintura. Nesse esforço por juntar elementos antagônicos, Campofiorito realizou alguns trabalhos de real interesse.
Aluno de Belas Artes, colaborava como cartunista em publicações como “O Malho”, “O Tico-Tico”, “Diário da Noite” e “Jornal do Commércio”, entre outras. Em 1929, aos vinte e sete anos, ganhou uma bolsa de estudos na Europa pelo seu desempenho nas salas de aula.
Antes de viajar, casou-se com a primeira mulher a ingressar no curso de pintura da Escola de Belas Artes, sua aluna Hilda Eisenlohr (1901-1997). A estada do casal na Europa foi de estudos e viagens. Voltaram ao Brasil em 1934 quando Quirino realizou sua primeira exposição individual. Ainda naquele ano, o casal transferiu-se ara Araraquara, interior de São Paulo, atendendo a convite para que Quirino fundasse e dirigisse a Escola de Belas Artes local.
Em 1935 Quirino fundou o jornal “Belas Artes”, o primeiro periódico a tratar exclusivamente de arte. Durante cinco anos, Quirino divulgou amplamente o trabalho de novos pintores, ao mesmo tempo em que passou a atuar como crítico de arte.
Três anos mais tarde, assumiu a cátedra de desenho na Escola Nacional de Belas Artes. À partir de 1949, ocupou a cadeira de Arte Decorativa. No início dos anos cinqüenta , teve importante participação nos salões de arte moderna do país.
Quirino Campofiorito publicou livros de arte, como “História da pintura brasileira no século XIX” e “Vida e obra de Bustamante Sá”. Foi, também, membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (Aica), sediada em Roma, além de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Enquanto isso, Hilda ia se firmando como uma das mais excepcionais coloristas da pintura brasileira do século XX, e foi a última remanescente dos três extraordinários casais da arte pictória do Brasil: Georgina e Lucílio de Albuquerque, Haydée e Manoel Santiago e Hilda e Quirino Campofiorito.
Quirino Campofiorito morreu no dia 13 de setembro de 1994, em Niterói, Rio de Janeiro.
Fonte: O Escavador, “Quirino Campofiorito, pintor que procurou inserir sua experiência entre a linguagem abstrata e a figurativa”, publicado em 23 de setembro de 2014. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Quirino Compofiorito | Cultura Niteroi
Pintor, crítico de arte, professor, caricaturista e gravador, Quirino Compofiorito nasceu num dia 7 de setembro, ao som do Hino Nacional. Isso, em Belém, do Pará, no ano de 1902, quando sua família residia em frente a um quartel. Filho do pintor e arquiteto italiano Pedro Campofiorito, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1912, e logo em seguida para Niterói, quando seu pai foi convidado a projetar o Centro Cívico, no Centro da cidade, conjunto de prédios públicos no entorno da atual Praça da República.
Enquanto artista, Quirino nunca se limitou aos estreitos limites de seu ateliê de pintor. Ele mesmo reconhece que sua vida de pintor foi diferente da vida comum dos pintores. "Eu sou daqueles raros exemplos que sempre atropelaram a assiduidade do ateliê de pintor com uma dedicação, igualmente assídua, a outras atividades que me movimentavam em espaços bem existentes", reconheceu o artista.
Aluno de Modesto Brocos, Rodolfo Chambelland, João Baptista da Costa e Augusto Bracet na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde se matriculou, à revelia do pai, em 1920, começou sua vida de pintor recebendo prêmios e conquistando o máximo para a época - a Viagem ao Estrangeiro, em 1929. "Meu pai queria que eu fosse advogado. Chegou a me dar dinheiro para me matricular em Direito. Saí para a matrícula, mas no caminho entrei na Enba e fiz minha inscrição. Ele acabou me dando força."
Temporada na Europa
Pensionista da Enba, viveu com a esposa, e também artista, Hilda Eisenlohr (1902-1997), na Europa durante cinco anos, frequentando os centros de artistas mais em voga e visitando os grandes museus de Paris e de Roma. Na capital francesa, principalmente, o jovem artista brasileiro fixou seus estudos e foi um frequentador assíduo da Académie de la Grande Chaumière. Expôs no "Salon de la Société des Beaux Arts" em 1931 e no "Salon d'Automne" em 1933. Em Roma, estudou na Ecole di Belle Arti e frequentou os cursos do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma.
Em 1935 teve que literalmente fugir da Itália fascista, para evitar que a polícia política do "Duce" chauvinisticamente impingisse a ele e ao filho que crescia no ventre de Hilda a cidadania italiana.
Sua formação inicial deu-se entre os rigores acadêmicos, sendo o desenho seu principal instrumento de aprendizagem, com especial atenção ao estudo do nu e ao modelado. A temporada na Europa significou novos rumos para sua pintura, apontados pela arte simbolista e pela pintura metafísica italiana. Estas influências podem ser sentidas desde sua produção dos anos 1930.
A partir desse período, Quirino dedicou-se às questões centrais para pintura modernista no Brasil, como a forma simplificada e a tensão do espaço figurativo ao manipular as leis da perspectiva. Defensor da arte figurativa, entre seus temas encontram-se a observação de tipos populares e seus vínculos com o universo do trabalho. Uma de suas mais reconhecidas obras, o quadro "O Operário (1932)" apresenta-se como um retrato de classe, marcado pela expressividade fisionômica e pelas formas protuberantes das mãos acostumadas à labuta.
De volta ao Brasil, em 1934, trabalhou na organização da Escola de Belas Artes de Araraquara, interior de São Paulo, instituição que dirigiu entre 1935 e 1937, criando também o Salão de Belas Artes da mesma cidade. Inspirado em sua temporada na Itália, em 1938 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e passou a ter o dissabor de enfrentar a repressão política do Estado Novo.
Participou ainda do grupo de artistas criadores da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes e foi nomeado professor interino da Enba em 1938, ocupando a cadeira de desenho artístico até 1949, quando prestou concurso para a cadeira de artes decorativas. Integrou o Núcleo Bernardelli, tornando-se seu presidente em 1942. O núcleo foi um grupo criado por pintores modernistas, em 1931, com o objetivo de oferecer alternativa para o ensino oficial da Escola Nacional de Belas Artes, enfatizando a liberdade de expressão artística.
Esteve também em outra mostra de significação histórica: a de Arte Moderna de Belo Horizonte, em 1943, e lutou pela criação do Salão Nacional de Arte Moderna.
Viajou à Europa em 1957 a serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para observar programas de ensino, visando à reforma do regulamento da Enba. Tornou-se vice-diretor da Escola em 1961 e recebe o título de Professor Emérito da UFRJ em 1981.
O artista foi homenageado em 1971 pelo Museu da Imagem e do Som com o prêmio "Estácio de Sá". A premiação, destinada a personalidade que haja estimulado e animado setores da vida artística no País foi dada, pela primeira vez em sua história, a um crítico de arte, que sendo pintor e professor nesta multiplicidade de atividades, sempre foi, pela palavra escrita, um crítico, aliás o decano desta atividade cultural no Rio, havendo começado a escrever sobre artes plásticas em 1926, no diário "A Reação".
Em 1979, na Galeria Anna Maria Niemeyer (Gávea-Rio de Janeiro), onde realizava uma exposição, recebeu o prêmio de Artista de Destaque do Ano, pela Associação Brasileira de Críticos de Arte. Quirino foi agraciado com uma escultura de Mauricio Salgueiro (promoção do INAP Funarte).
Suas obras
Quirino Campofiorito possui quadros em várias galerias entre os quais poderemos citar: Museu Nacional de Belas Artes, Museu Mariano Procópio (Minas Gerais), Galeria Núcleo de Belas Artes de Araraquara, Galeria da Escola de Belas Artes de Pernambuco, e Coleções Particulares no Brasil e no exterior.
Teve seus trabalhos expostos nos Salões de Maio da Associação dos Artistas Brasileiros, no Salão Paulista de Belas Artes, Salões do Núcleo Bernardelli, Salão Fluminense de Belas Artes, Salão de Belas Artes de Araraquara e muitas outras exposições coletivas no Rio e nos Estados, merecendo destaque especial a Exposição Internacional da Califórnia, Estados Unidos da América, em 1938, no Museu da Imagem e do Som, em 1973 ("Sumário Retrospectivo"), e a homenagem pelos seus 80 anos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em 1982. As comemorações dos 90 anos do artista, em 1992, foram na Sala Bernardelli do Museu Nacional de Belas Artes. Na década de 2000, o Solar do Jambeiro, em Niterói, criou uma exposição permanente de suas obras e de sua esposa.
O Escritor
As dificuldades dos anos de 30 para fazer uma exposição, divulgar seus trabalhos, obrigou Quirino a viver de ilustrações, ensino e jornalismo. O tempo para pesquisa sobre a pintura praticamente deixou de existir. Além de pintor, Quirino teve uma notável cultura artística, sendo autor de uma infinidade de trabalhos sobre artes plásticas, que lhe deram uma grande projeção. Colaborou ainda em vários jornais e revistas no Brasil e no exterior.
Em 1917, já colaborava com a Revista Tico-Tico, com desenhos e contos. No ano seguinte, já dirigia o quinzenário "O Escolar". Em 1926, estreou como colunista de arte no jornal "A Reação. Em 1935, fundou e dirigiu o periódico mensal "Belas Artes", o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente à arte, e que circulou até 1940. Trabalhou como ilustrador nas revistas Tico-Tico, Revista Infantil e publica charges nos periódicos "A Maçã", "O Malho", "D. Quixote", "Rio Social" entre outros trabalhos que o aproximam das artes gráficas, frequentando as oficinas de impressão.
Entre os seus mais relevantes escritos acadêmicos, podemos citar: "Orientação do Ensino de Artes Decorativas"; "A Compreensão da Forma para a realização de uma obra de arte" e "O impressionismo e a confusão na pintura moderna". Em sua produção literária, sempre ressaltou a necessidade de profissionalização da atividade do crítico de arte e identificou uma colaboração mútua entre a história da arte e a crítica.
Em 1965, ilustrou o livro "Itinerário da Paisagem Carioca", de Nestor de Holanda. Em 1964, escreveu para a Revista 'O Cruzeiro' o artigo "No Mundo Maravilhoso de Djanira" uma longa e rica apresentação da obra da artista paulista. Em 1983 publicou "História da Pintura Brasileira no Século XIX" (Editora Pinakotheke), obra referencial para o estudo da arte oitocentista, pela qual recebe o Prêmio Jabuti.
No livro, apresentou o contexto geral e destacou os principais artistas de cada período. Partiu de um breve traço biográfico para desenvolver considerações estéticas, atentando sobre as rupturas nos processos de amadurecimento dos artistas. Em 1986 publicou o livro "A Pintura de Bustamante Sá" (Cabicieri Editorial).
Fez parte de um grande número de associações culturais entre as quais a Associação dos Artistas Brasileiros (Diretor de Artes Plásticos); o já citado Núcleo Bernardelli; o Instituto Brasileiro da História da Arte; a Associação Artística Plástica Pedro Américo; a Academia Fluminense de Letras (Divisão de Artes Plásticas) e a Liga da Defesa Nacional ("Comissão de Arte").
O Legado
Inúmeros foram os serviços prestados por Quirino aos artistas plásticos da corrente modernista. Como professor e como animador, teve um papel de destaque no desenvolvimento das artes brasileiras. Como membro da Comissão de Arte da Liga da Defesa Nacional, realizou a Feira de Arte Moderna (Associação Brasileira de Imprensa - 1943), e trabalhou na realização da Feira de Arte Moderna no Estado do Rio e em São Paulo.
Como crítico de arte, participou intensamente do debate sobre o abstracionismo nos anos 1950, travado por críticos como Mário Pedrosa. Assim como outros artistas e intelectuais modernistas, resistiu à chegada da arte abstrata ao Brasil, argumentando que ela fugia à proposta de modernização cultural baseada no reconhecimento das raízes populares. Quirino compreendia a arte abstrata como um projeto de tendência elitista, enquanto a arte figurativa é acessível a todos.
Como educador, ajudou a reformar o sistema de ensino artístico no brasil, buscando uma prática atenta às diversas demandas da sociedade contemporânea, como a relação entre o desenho e a produção industrial nas artes gráficas, tecelagem etc.
Quirino Campofiorito sempre se comportou como um artista, como um lutador pela divulgação das artes ou pela formação de novos artistas. Foi um grande animador que via sempre qualidades no estreante, que estimulava sempre um idealista e que, mesmo fora da sala de aula, se mantinha como um mestre que zelava essencialmente pela liberdade de seus discípulos. Politicamente também nunca se omitiu. Aposentado em fins da década de 1960 pelo AI5, guarda esse episódio com um sentimento de orgulho. "Se eu não tivesse sido cassado, acho que teria morrido, não estaria hoje comemorando meus 80 anos", disse em uma entrevista em 1992. "Pra mim, isso é como um reconhecimento de que não fui conivente com tudo isso que o Brasil passou desde 1964", completou.
Aposentado em fim da década de 60 pelo Al-5, quando lecionava na Enba, guarda desse episódio um sentimento de orgulho: "Se eu não tivesse sido cassado pelo Ato 5, acho que teria morrido, não estaria hoje comemorando meus 80 anos. Pois, para mim, isso é como um reconhecimento de que não fui conivente com tudo isso que o Brasil passou desde 64", afirma.
A cineasta Tizuka Yamasaki escreveu em 1973 que "hoje, em mais de 50 anos dedicados inteiramente no fazer e analisar a arte brasileira, Quirino conseguiu pelo menos duas coisas notáveis: não ficar milionário e não se prender a qualquer corrente, seja ela estética, de geração, ideológica. Sua constante atualização e sua formação clássica lhe permite entender a pintura como um processo, nunca preso às correntes, que segundo o próprio Quirino, tanto conduzem a algum caminho determinado, como seguram a criatividade do artista, numa visão semântica e crítica da palavra que fazem a originalidade do pintor como jornalista." (leia em Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura, por Tizuka Yamasaki)
O artista morreu em 1993 e desde então empresta sem nome a uma galeria de arte no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, no bairro de Icaraí, em Niterói.
Durante as comemorações do IV Centenário de Niterói, em 1973, escreveu num opúsculo relativo à exposição comemorativa que fez, na antiga Galeria do Campo, na rua Lopes Trovão, em Icaraí: "Acompanhei o meu tempo. Não com a velocidade que este impunha para segui-lo lado a lado. Procurei, porém, não ficar muito atrás, o que pode ser constatado na totalidade da obra que realizei (...)".
Discordamos Mestre. Não ficou.
Crítica
O quadro "Praia" mostra bem o valor pictórico do seu autor. A par de uma cor bem amena para a visão do espectador, há como que um sentimento muito marcado nas figuras, nos peixes e em todo o ambiente. Aquilo que Quirino exprime em sua pintura é bem a representação do valor humano do artista. As figurinhas do fundo simbolizam a espécie humana em seu desdobramento e ao mesmo tempo a própria vida do pintor na sua etapa atual. Os peixes estão no primeiro plano e são de tal forma vivos e harmoniosamente plasmados, que emprestam a todo o quadro um grande ambiente de ternura. Em conjunto, pode-se dizer com segurança que a característica mais saliente nesse quadro é a ingenuidade sempre tão presente na obra do artista e uma das qualidades mais apreciadas hoje em dia na pintura. (Por Sylvia de Leon Chalreo, Revista Rio Social, 1943)
Fonte: Cultura Niteroi, “Quirino Campofiorito”, publicado em 3 de maio de 2021. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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"Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura" | Cultura Niteroi
Ele tem a idade da pintura brasileira. Quando a Semana de Arte de 22 estourou no país, trazendo uma visão brasileira da arte, Quirino Campofiorito tinha 20 anos. A idade que se começa a fazer alguma coisa por exemplo, a pintura. Hoje, em mais de 50 anos dedicados inteiramente no fazer e analisar a arte brasileira, Quirino conseguiu pelo menos duas coisas notáveis: não ficar milionário e não se prender a qualquer corrente, seja ela estética, de geração, ideológica.
No ano passado, as páginas deste "O JORNAL", onde trabalhou desde 1944, estiveram carregadas de críticas fortes ao atual esquema que domina as artes plásticas - da valorização comercial, da falta de critério artístico, da falta de visão não só da parte dos artistas como dos marchands, das galerias, grupos alheios à arte, que dominam com força cada vez maior o mercado artístico brasileiro. Estas críticas partiam de um homem de 70 anos, que conserva no escrever a ironia e a objetividade que faltam à maioria dos jovens que atualmente fazem o que se chama de crítica de arte.
Corrente segura criatividade
Mais importante que a posição diante da análise crítica, irônica e doce do pintor Quirino Campofiorito, talvez seja sua permanente atualidade. Afastado do ensino da Escola Nacional de Belas Artes deste 1969 - aposentado compulsoriamente pelo AI-5 -, no mínimo por ter ideias muito liberais, ele continuou a exercer a crítica em jornais, com o mesmo vigor de sempre. Sua constante atualização e sua formação clássica lhe permite entender a pintura como um processo , nunca preso às correntes, que segundo o próprio Quirino, tanto conduzem a algum caminho determinado, como seguram a criatividade do artista, numa visão semântica e crítica da palavra que fazem a originalidade do pintor como jornalista.
Ainda neste ano, a propósito dos "Objets Introuvables", conhecido também como "Minimal Art", ele põe em questão se pode considerar a arte somente pelo seu efeito. Esta discussão exigiria do leitor uma erudição incomum no nível teórico. Quirino conseguiu colocá-la em termos jornalísticos. E quem conhece o assunto, ficou pelo menos perturbado e preocupado diante do que se chama 'vanguarda'. Isto leva a uma análise, a uma posição mais profunda de seu conceito em relação à arte. "O ceticismo remove montanhas", na frase de Brecht, que se encaixa melhor ainda nas artes plásticas que no teatro, porque nunca tantos acreditaram tanto em tão poucas razões realmente artísticas como ocorre hoje.
Forçosamente um clássico
Uma pequena explicação: Quirino Campofiorito é um pintor que faz crítica. E nunca o crítico que faz pintura. Isto já elimina de vez qualquer especulação a respeito da inevitável comparação de sua visão crítica a respeito do seu trabalho. Ele próprio, se deixa definir na apresentação da exposição como um clássico. Forçosamente o seria. Estudou na Europa de onde veio no ventre de sua mãe espanhola para nascer em Belém do Pará, a 7 de setembro de 1902, onde frequentou ateliers de Pougheon, Charles Blanc, Bataglia e Coromaldi. Nestes anos entre 1929 a 1934, conquistados pelo prêmio de Viagem à Europa, o jovem Quirino viveu e absorveu a cultura europeia, ao lado da pintora Hilda Eisenlohr, com quem se casou. Educou-se nesta cultura, hoje em crise, mas na época, Paris e Roma tinham a força e dinamismo da qual nenhum intelectual tupiniquim poderia escapar.
Foram os anos que reforçaram seu aprendizado acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes, adquiridos na década de 20, quando iniciou-se na pintura. Ao retornar ao Brasil, em 1934, já era amigo de Cândido Portinari e companheiro de geração de Teruz, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Anita Malfati, enfim, dos que se tornaram mestres da pintura brasileira, aqueles brasileiros que primeiro tentaram uma visão nacional da pintura, antes proibidas pelo academicismo.
Estimular arte brasileira
Ainda no ano passado, quando uma campanha de intenções obscurantistas quis tirar de Portinari o mérito de introduzir o folclore na pintura brasileira, Quirino defendeu o artista. Explicou com objetividade que não foi nem Portinari nem Teruz que lançaram o folclore em nossa pintura. Foi a própria época, os anos que procederam a Semana de Arte Moderna. E esta capacidade de discernimento, de não tomar um outro partido senão o da própria arte, é marcante no pintor.
Nestes anos de 20, este grupo de primeira arte brasileira teve fundamental influência de um pintor estrangeiro, que conviveu com ele durante 5 anos. O personagem chamava-se Fujita, japonês de formação europeia. Desconhecido no Brasil, porém, conceituado na Europa, Fujita dominava uma técnica de pintura a óleo bastante particular. Utilizando-se de verniz, o japonês conseguia através da superfície rala de suas tintas, um brilho todo especial que refletia o espírito oriental através de uma técnica europeia.
Pelo fato de Fujita neste tempo ser hóspede convidado de Portinari, era evidente que este pintor tenha assimilado a técnica do companheiro. Se Portinari, com sua evolução conseguiu superar Teruz, durante quase toda a sua vida artística, empregou a técnica adquirida por Fujita. O interesse despertado nesse oriental, por nossos temas brasileiros, dado o desconhecimento de nossa terra do estrangeiro, foi um dos motivos pela qual os jovens artistas de arte moderna da época se motivaram para descobrir a arte brasileira.
Quirino viveu estes primeiros anos. Mas foi barrado por uma bolsa de estudos na Europa, se afastando por cinco anos. Voltou, encontrou novamente seus amigos. As dificuldades dos anos de 30 para fazer uma exposição, divulgar seus trabalhos, obrigou Quirino a viver de ilustrações, ensino, e jornalismo. O tempo para pesquisa sobre a pintura praticamente deixou de existir. E o tempo para teorizar e se contemporarizar sobre ela, aumentou. E sempre se conservou jovem apesar de seus atuais 70 anos, sem a demagogia muitas vezes comuns nos de sua geração. Sem se promover comercialmente em nenhum momento de sua vida.
Para Quirino, "primeiro o jornalismo, animado pelo propósito de estimular a evolução artística entre nós, e fazer conhecidos os artistas brasileiros, muito particularmente os jovens". Quando Roberto Pontual, totalmente desconhecido, quis fazer o seu Dicionário de Artes Plásticas, Quirino lhe emprestou seu arquivo particular, o mais completo do Brasil, de onde ele tirou pelo menos a metade das informações da obra. E o fez sem qualquer pretensão de aparecer. Somente um ou dois dos amigos mais íntimos sabem disto hoje.
No ano passado, numa reunião de críticos promovida pela "Collectio", Quirino, apesar de o mesmo Pontual estar agora chefiando o departamento de compras desta grande galeria, não deixou de criticar a reunião, a falta de espaço reservada à crítica de artes plásticas na Imprensa Brasileira, a falta de orientação artística das galerias, o mercenarismo de muitos grupos que tentam transformar tendências de opinião (gosto do consumidor) em arte.
Não é retrospectiva
"Esta exposição está longe de ser uma retrospectiva. Um longo panorama, pouco mais de 50 anos de dedicação ao fazer artístico. Mas foi sempre um trabalho em beneficio da arte - que muito nos estimulou o espírito e agora nos deixa com a consciência tranquila. Parece que ainda há algum tempo para finalizar um destino que jamais podemos nem quisemos contrariar. Agora, pensamos, a arte poderá finalmente ser a tarefa predominante. Sempre será tempo para tentar fazer parte do muito que circunstâncias irremovíveis impediram de realizar na medida desejada". Sem jornal e sem sua banca didática na ENBA, Quirino Campoforito, depois de 50 anos de trabalho dedicado em estimular a arte brasileira, desde ontem às 17 horas, teve sua exposição "Sumário Retrospectivo" inaugurada no Museu da Imagem e Som - praça Marechal Arcoverde.
Um Quirino bem temperado. Um Quirino que considera a velhice a pior doença (um comentário seu a respeito de Picasso, que estaria internado em Paris: "não importa que doença se tem a velhice e basta). A simplicidade marcante de sua personalidade, a timidez de não usar as pessoas, de confiar a divulgação de de sua obra a um contato pessoal com os jornais: no seu mesmo terno claro, voz mansa e pausada, sem a preocupação em conceder entrevistas (não deu nenhuma entrevista sobre a retrospectiva), Quirino hoje voltou à dedicação completa à arte pela qual sempre lutou. Livre, sem jornalismo, ilustração ou ensino, mas esperançoso. Quirino, silenciosamente está lá em Niterói. No seu atelier, pintando.
Fonte: Cultura Niteroi, “Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura”, publicado por Tizuka Yamasaki, em 21 de março de 1973. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Núcleo Bernardelli | Itaú Cultural
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 29 de maio de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Cultura Niteroi. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
Quirino Campofiorito (7 de setembro de 1902, Belém, Brasil — 16 de setembro de 1993, Niterói, Brasil) foi um pintor, desenhista e historiador da arte brasileiro. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes (RJ), onde foi aluno de Modesto Brocos e Rodolfo Chambelland, e posteriormente atuou como professor e vice-diretor da instituição. Viajou à Europa como prêmio, aprimorando sua pintura em Paris e Roma. Fundou a Escola de Belas Artes de Araraquara (SP) e integrou o Núcleo Bernardelli, movimento de renovação do ensino artístico no Brasil. Sua obra mescla retratos, cenas urbanas e naturezas-mortas, com influências da pintura metafísica. Publicou o livro História da Pintura Brasileira no Século XIX, vencedor do Prêmio Jabuti em 1983. Suas obras fazem parte dos acervos do Museu Nacional de Belas Artes e de outras importantes instituições brasileiras.
Quirino Campofiorito | Arremate Arte
Quirino Campofiorito nascido em Belém, no dia 7 de setembro de 1902, foi um artista brasileiro multifacetado: pintor, desenhista, gravador, caricaturista, ilustrador, crítico de arte, historiador e professor. Filho do arquiteto e pintor italiano Pietro Campofiorito, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1912, onde iniciou sua trajetória nas artes como ilustrador em revistas como O Tico-Tico e O Malho.
Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1920, tendo como mestres nomes como Modesto Brocos e Rodolfo Chambelland. Nos anos 1920, destacou-se nos Salões Nacionais, recebendo medalhas e, em 1929, o prêmio de viagem ao exterior. Estudou em Paris e Roma, aprimorando sua técnica e ampliando seu repertório artístico.
De volta ao Brasil, fundou a Escola de Belas Artes de Araraquara (SP) e foi um dos mentores do Núcleo Bernardelli, grupo que renovou o ensino artístico brasileiro. Lecionou na Escola Nacional de Belas Artes, onde se tornou vice-diretor e catedrático.
Sua produção mescla cenas urbanas, retratos e naturezas-mortas, com forte influência da pintura metafísica. Como historiador da arte, publicou o livro História da Pintura Brasileira no Século XIX, premiado com o Jabuti em 1983. Participou de exposições no Brasil e no exterior e teve obras incorporadas a acervos como o do Museu Nacional de Belas Artes.
Faleceu em 16 de setembro de 1993, na cidade de Niteroi, Rio de Janeiro.
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Quirino Campofiorito | Itaú Cultural
Quirino Campofiorito (Belém, Pará, 1902 - Niterói, Rio de Janeiro, 1993). Pintor, crítico de arte, professor, caricaturista, gravador. Filho do pintor e arquiteto italiano Pedro Campofiorito (1875-1945). Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro em 1912. Trabalha como ilustrador nas revistas Tico-Tico, Revista Infantil e publica charges nos periódicos A Maçã, O Malho, D. Quixote, entre outros trabalhos que o aproximam das artes gráficas, frequentando as oficinas de impressão. Em 1920, inicia os estudos na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), com os professores Modesto Brocos (1852-1936), Rodolfo Chambelland (1879-1967), João Baptista da Costa (1865-1926) e Augusto Bracet (1881-1960). Escreve para a coluna de Arte do jornal A Reação em 1926. Recebe da Enba o Prêmio de Viagem à Europa em 1929. Frequenta aulas na Académie Julian, na Académie de la Grande Chaumière e participa do Salon de Paris em 1931. Em Roma, estuda na Academia de Belas Artes e frequenta os cursos do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma. Em 1933, volta a residir em Paris e participa do Salon d’Automne. Retorna ao Brasil em 1934 e trabalha na organização da Escola de Belas Artes de Araraquara, interior de São Paulo, instituição que dirige entre 1935 e 1937, criando também o Salão de Belas Artes da mesma cidade. Em 1935, funda o periódico mensal Belas Artes, o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente à arte, e extinto em 1940 pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1938. Integra o Núcleo Bernardelli e torna-se seu presidente em 1942.
O grupo, formado por artistas como José Pancetti (1902-1958) e Milton Dacosta (1915-1988), se reunia à noite nos porões da Enba para discutir pintura, em busca de profissionalização e aprimoramento técnico. Participa ainda do grupo de artistas criadores da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes. É nomeado professor interino da Enba em 1938, ocupando a cadeira de desenho artístico até 1949, quando presta concurso para a cadeira de artes decorativas. Desde então, trabalha na atualização dos métodos de ensino da Escola de Belas Artes. Tal reformulação é acentuada com a entrada de Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Mário Barata (1921) para o corpo docente em 1954. Viaja à Europa em 1957 a serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para observar programas de ensino, visando à reforma do regulamento da Enba. Torna-se vice-diretor da Enba em 1961 e recebe o título de Professor Emérito da UFRJ em 1981. Publica críticas de arte em jornais do grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand (1892-1968), entre eles O Jornal, O Cruzeiro, Diário da Noite e Jornal do Comércio, atividade que exerce por cerca de 40 anos. Em 1983 publica História da Pintura Brasileira no Século XIX, obra referencial para o estudo da arte oitocentista, pela qual recebe o Prêmio Jabuti.
Análise da Trajetória
A produção artística e intelectual de Quirino Campofiorito transita por diferentes áreas em torno das artes plásticas. Trabalha em sua difusão como crítico de arte. Como professor, compromete-se com a consolidação e reforma de um sistema de ensino artístico. Como artista, dedica-se às artes gráficas, sobretudo à pintura.
A formação de Campofiorito dá-se entre os rigores acadêmicos, sendo o desenho seu principal instrumento de aprendizagem, com especial atenção ao estudo do nu e ao modelado. A temporada na Europa apresenta novos caminhos para sua pintura, apontados pela arte simbolista, pela pintura metafísica italiana e pelas experiências das vanguardas interpretadas pelo movimento de retorno à ordem. Estas influências podem ser sentidas desde sua produção dos anos 1930, nas vistas de Roma, e em estudos que almejam a formas mais espontâneas e sintéticas. A partir desse período, a produção Campofiorito dedica-se a questões centrais para pintura modernista no Brasil, como a forma simplificada e a tensão do espaço figurativo ao manipular as leis da perspectiva. Defensor da arte figurativa, entre seus temas encontram-se a observação de tipos populares e seus vínculos com o universo do trabalho. O quadro O Operário (1932) apresenta-se como um retrato de classe, marcado pela expressividade fisionômica e pelas formas protuberantes das mãos acostumadas à labuta. Em pinturas como Operários - Estudo n. 1 (1939) ou Café-Colheita (1940), que representam cenas de trabalho coletivo, nota-se a proximidade com a pintura de Candido Portinari (1903-1962) e com uma plasticidade que remete à pintura muralista.
As citações em suas pinturas propõem um passeio e um comentário sobre a história da arte. Na natureza-morta A Geléia Francesa (1932) explora soluções espaciais e cromáticas observadas nas pinturas de Cézanne (1939-1906). Ricordo di Roma (1941) remete ao passado classicista com fragmentos de uma estátua e monumentos justapostos como em uma colagem. Em Homenagem a Giorgio De Chirico (1973), dialoga com a pintura metafísica em composições de objetos em situação de estranhamento.
Apesar de sua resistência à abstração, realiza uma série de pinturas que a discutem, como Homenagem a Kasimir Malevitch (1979), na qual faz uma analogia entre formas concretas e elementos figurativos. A referência ao universo das artes plásticas também está presente em sua produção de charges, nas quais é recorrente a crítica do sistema cultural ou os comentários sobre as obras mais destacadas dos salões.
Como professor, busca uma prática de ensino atenta às diversas demandas da sociedade contemporânea, como a relação entre o desenho e a produção industrial nas artes gráficas, tecelagem etc.
Dedica muitos estudos às artes do século XIX, entre os quais o volume História da Pintura no Brasil no Século XIX, obra que configura uma visão ampla sobre a pintura oitocentista. No livro, Campofiorito apresenta o contexto geral e destaca os principais artistas de cada período. Parte de um breve traço biográfico e desenvolve considerações estéticas, atentando sobre as rupturas nos processos de amadurecimento dos artistas.
Ao longo de seus escritos, ressalta a necessidade de profissionalização da atividade do crítico de arte e identifica uma colaboração mútua entre a história da arte e a crítica. Participa do debate sobre o abstracionismo nos anos 1950, travado por críticos como Mário Pedrosa (1900-1981). Assim como outros artistas e intelectuais modernistas, Campofiorito resiste à chegada da arte abstrata ao Brasil. Argumenta que ela foge à proposta de modernização cultural baseada no reconhecimento das raízes populares. Compreende a arte abstrata como um projeto de tendência elitista, enquanto a arte figurativa é acessível a todos. Como crítico tem papel importante na afirmação da arte moderna no Brasil.
Críticas
"Na verdade, e desde o início, a carreira do pintor Quirino Campofiorito é contraditória e curiosamente ´pós-moderna´. Em plena década dos vinte, o seu aprendizado figurativo nasce de duas fontes, naquele tempo, antagônicas. Do academismo disciplinado e apático da Escola de Belas Artes, e, ao mesmo tempo, da revigorante atividade de ilustrador cartunista e desenhista publicitário da Metro Goldwin Meyer. Explica-se a facilidade com que compreendeu, em seguida, o modernismo de Paris dos anos trinta e, três décadas mais tarde, a apropriação ´pop´ dos EEUU. Durante os quarenta anos que se seguiram à volta da Europa, um temperamento naturalmente modesto levou a uma constante agressividade crítica, sempre dedicada à renovação do meio artístico, a compensar uma pintura retraída (...). Data do fim dos anos sessenta, o que chamamos de retomada ostensiva da pintura. E, como se fosse para lembrar o início de sua vida profissional, Quirino Campofiorito apresentou em 1971 - sua primeira exposição desde 1935 - um dos dois aspectos de sua pintura atual. ´Poster-painting´, cartazes deliberadamente alegóricos, mas pintados a óleo e concebidos como homenagens a Miguel Angelo, De Chirico, Brecht, Charlie-Chaplin e Malevitch (...)" — Ítalo Campofiorito (CAMPOFIORITO. Apresentação de Italo Campofiorito. Rio de Janeiro: Bolsa de Arte, 1977).
"Se bem que o magistério e a atividade crítica tenham sem dúvida roubado ao artista tempo precioso, Campofiorito é autor de considerável bagagem, destacando-se como autor de vistas urbanas, estudos de nu e figuras, naturezas-mortas e alegorias, nas quais repercute muito intensa a influência de De Chirico e do Metafisicismo. Talvez a parte mais perdurável de sua obra pictórica sejam as naturezas-mortas, em algumas das quais alcançou o pintor efeitos admiráveis de lirismo, uma nota pessoal e uma composição despojada, inconfundível" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
Depoimentos
"Minha vida de pintor é diferente da vida comum dos pintores. Estes fazem-se sempre comprometidos com as estritas atividades do ateliê. Assiduidade exclusiva à oficina de trabalho, para que seja alcançada a totalidade do que possa dar à sua obra. Eu sou daqueles raros exemplos que sempre atropelaram a assiduidade do ateliê de pintor com uma dedicação, igualmente assídua, a outras atividades que me movimentavam em espaços bem exigentes. Contudo, não neguei um só instante uma grande e responsável aplicação à arte realmente indicada por minha autêntica vocação: a pintura. As demais atividades resultam decorrências que se foram apresentando, desdobramentos de minhas convicções de pintor, que abriam caminhos que terminam por se fazer tão comprometedores de minha sensibilidade pelos problemas inerentes às artes plásticas conforme, particularmente, se demostrava em nosso país. Foi impossível para meu temperamento ser só pintor. (...) A pintura, as artes gráficas (na totalidade de suas variações), o jornalismo e o ensino, traçam o eixo de minha vida artística. Em torno, desse comportamento em retilíneo desenvolvimento, tendo sido o pintor que sou, o artista gráfico sempre empolgado com uma sedutora variedade de afazeres, o jornalista sempre voltado para a divulgação e o comentário artístico (da singela informação ao responsável ensaio crítico) e o ensino que não escapa aos objetivos que regem os entendimentos e a formação profissional do artista, o rigor da obra de arte (sua tecnicidade)".
Quirino Campofiorito
CAMPOFIORITO, Quirino. Retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista. Rio de Janeiro : MNBA, 1992. p. 13.
Acervos
Museo de La Plata - La Plata (Argentina)
Museu de Belas Artes - Belém PA
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Exposições
1927 - 34ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 - 35ª Exposição Geral de Belas Artes
1929 - 36ª Exposição Geral de Belas Artes
1932 - Salon des Artistes Français
1933 - Salon d'Automne
1935 - Individual de Quirino Campofiorito
1935 - 41º Salão Nacional de Belas Artes
1936 - Individual de Quirino Campofiorito
1937 - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1938 - Exposição Internacional da Califórnia
1938 - 2º Salão de Maio
1943 - Exposição Anti-Eixo
1943 - Exposição Anti-Eixo
1944 - Exposição de Arte Moderna
1944 - 50º Salão Nacional de Belas Artes
1944 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1944 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1946 - Exposição dos Artistas Brasileiros ao Povo de Londres
1946 - Os Pintores vão à Escola do Povo
1951 - 1ª Bienal Internacional de São Paulo
1952 - 1º Salão Nacional de Arte Moderna
1953 - 4º Salão de Naturezas Mortas
1953 - 2º Salão Nacional de Arte Moderna
1954 - Exposição comemorativa do I Congresso Nacional de Intelectuais
1954 - Salão Preto e Branco
1955 - 1ª Exposição de Arte Brasileira Contemporânea
1966 - 50 Anos de Paisagem Brasileira
1956 - 5º Salão Nacional de Arte Moderna
1956 - 1º Salão Ferroviário
1958 - O Trabalho na Arte
1958 - Salão de Arte A Mãe e a Criança
1959 - 8º Salão Nacional de Arte Moderna
1961 - 6ª Bienal Internacional de São Paulo
1965 - 1º Salão Esso de Artistas Jovens
1966 - 15º Salão Nacional de Arte Moderna
1967 - 16º Salão Nacional de Arte Moderna
1967 - 9ª Bienal Internacional de São Paulo
1969 - 18º Salão Nacional de Arte Moderna
1970 - 19º Salão Nacional de Arte Moderna
1973 - Individual de Quirino Campofiorito
1973 - Sumário Retrospectivo: 1920-1973
1973 - Individual de Quirino Campofiorito
1973 - 22º Salão Nacional de Arte Moderna
1974 - 23º Salão Nacional de Arte Moderna
1974 - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira
1976 - 25º Salão Nacional de Arte Moderna
1977 - 50 Anos de Pintura
1978 - Desenhos dos Anos 30
1979 - Individual de Quirino Campofiorito
1979 - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas
1982 - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40
1982 - Universo do Futebol
1982 - Homenagem Quirino Campofiorito: 80 anos
1983 - Auto-Retratos Brasileiros
1984 - Individual de Quirino Campofiorito
1984 - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1984 - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1985 - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas
1987 - Aquarelas Brasileiras
1988 - Visões do Trabalho (1988 : Rio de Janeiro, RJ)
1992 - Quirino Campofiorito: retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista
1993 - 80 Anos de Paixão Gráfica: Quirino Campofiorito
1994 - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand
1994 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Bienal Brasil Século XX
1998 - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ
2000 - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 - Arte Pará 2000
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Negro de Corpo e Alma
2000 - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960
2002 - Arte e Política
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2004 - O Olhar Modernista de JK
2005 - Cidade Maravilhosa: uma iconografia carioca - 1920/1980
2006 - O Olhar Modernista de JK
2009 - Nus
2009 - Olhar da Crítica: Arte Premiada da ABCA e o Acervo Artístico dos Palácios
2011 - Exposição do Acervo da Pinacoteca Municipal Mário Ybarra de Almeida
2011 - Franz Weissman 1911-2005
2012 - Anna Maria Niemeyer: um caminho
2013 - Retratos sem Paredes (2013 : São Paulo, SP)
2016 - A Cor do Brasil
2020 - Pinacoteca: Acervo
2021 - A memória é uma invenção
Fonte: QUIRINO Campofiorito. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 29 de maio de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Quirino Campofiorito | Wikipédia
Quirino Campofiorito (Belém do Pará, 7 de setembro de 1902 — Niteroi, 16 de setembro de 1993) foi um pintor, desenhista, gravador e ilustrador, escritor, crítico de arte, caricaturista e professor brasileiro.
Era filho do também pintor e arquiteto italiano Pietro Campofiorito, era casado com a também pintora Hilda Campofiorito e foi pai do arquiteto Ítalo Campofiorito.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Quirino Campofiorito, pintor que procurou inserir sua experiência entre a linguagem abstrata e a figurativa | O Escavador
Quirino Campofiorito (Belém do Pará, 7 de setembro de 1902 – Niterói, Rio de Janeiro, 13 de setembro de 1994), pintor que procurou inserir sua experiência figurativa, pela presença do elemento figurativo. Campofiorito captou o ponto de coincidência entre a linguagem abstrata e a figurativa, e, de certo modo, reverteu o processo que conduzia à desintegração da pintura. Nesse esforço por juntar elementos antagônicos, Campofiorito realizou alguns trabalhos de real interesse.
Aluno de Belas Artes, colaborava como cartunista em publicações como “O Malho”, “O Tico-Tico”, “Diário da Noite” e “Jornal do Commércio”, entre outras. Em 1929, aos vinte e sete anos, ganhou uma bolsa de estudos na Europa pelo seu desempenho nas salas de aula.
Antes de viajar, casou-se com a primeira mulher a ingressar no curso de pintura da Escola de Belas Artes, sua aluna Hilda Eisenlohr (1901-1997). A estada do casal na Europa foi de estudos e viagens. Voltaram ao Brasil em 1934 quando Quirino realizou sua primeira exposição individual. Ainda naquele ano, o casal transferiu-se ara Araraquara, interior de São Paulo, atendendo a convite para que Quirino fundasse e dirigisse a Escola de Belas Artes local.
Em 1935 Quirino fundou o jornal “Belas Artes”, o primeiro periódico a tratar exclusivamente de arte. Durante cinco anos, Quirino divulgou amplamente o trabalho de novos pintores, ao mesmo tempo em que passou a atuar como crítico de arte.
Três anos mais tarde, assumiu a cátedra de desenho na Escola Nacional de Belas Artes. À partir de 1949, ocupou a cadeira de Arte Decorativa. No início dos anos cinqüenta , teve importante participação nos salões de arte moderna do país.
Quirino Campofiorito publicou livros de arte, como “História da pintura brasileira no século XIX” e “Vida e obra de Bustamante Sá”. Foi, também, membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (Aica), sediada em Roma, além de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Enquanto isso, Hilda ia se firmando como uma das mais excepcionais coloristas da pintura brasileira do século XX, e foi a última remanescente dos três extraordinários casais da arte pictória do Brasil: Georgina e Lucílio de Albuquerque, Haydée e Manoel Santiago e Hilda e Quirino Campofiorito.
Quirino Campofiorito morreu no dia 13 de setembro de 1994, em Niterói, Rio de Janeiro.
Fonte: O Escavador, “Quirino Campofiorito, pintor que procurou inserir sua experiência entre a linguagem abstrata e a figurativa”, publicado em 23 de setembro de 2014. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Quirino Compofiorito | Cultura Niteroi
Pintor, crítico de arte, professor, caricaturista e gravador, Quirino Compofiorito nasceu num dia 7 de setembro, ao som do Hino Nacional. Isso, em Belém, do Pará, no ano de 1902, quando sua família residia em frente a um quartel. Filho do pintor e arquiteto italiano Pedro Campofiorito, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1912, e logo em seguida para Niterói, quando seu pai foi convidado a projetar o Centro Cívico, no Centro da cidade, conjunto de prédios públicos no entorno da atual Praça da República.
Enquanto artista, Quirino nunca se limitou aos estreitos limites de seu ateliê de pintor. Ele mesmo reconhece que sua vida de pintor foi diferente da vida comum dos pintores. "Eu sou daqueles raros exemplos que sempre atropelaram a assiduidade do ateliê de pintor com uma dedicação, igualmente assídua, a outras atividades que me movimentavam em espaços bem existentes", reconheceu o artista.
Aluno de Modesto Brocos, Rodolfo Chambelland, João Baptista da Costa e Augusto Bracet na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde se matriculou, à revelia do pai, em 1920, começou sua vida de pintor recebendo prêmios e conquistando o máximo para a época - a Viagem ao Estrangeiro, em 1929. "Meu pai queria que eu fosse advogado. Chegou a me dar dinheiro para me matricular em Direito. Saí para a matrícula, mas no caminho entrei na Enba e fiz minha inscrição. Ele acabou me dando força."
Temporada na Europa
Pensionista da Enba, viveu com a esposa, e também artista, Hilda Eisenlohr (1902-1997), na Europa durante cinco anos, frequentando os centros de artistas mais em voga e visitando os grandes museus de Paris e de Roma. Na capital francesa, principalmente, o jovem artista brasileiro fixou seus estudos e foi um frequentador assíduo da Académie de la Grande Chaumière. Expôs no "Salon de la Société des Beaux Arts" em 1931 e no "Salon d'Automne" em 1933. Em Roma, estudou na Ecole di Belle Arti e frequentou os cursos do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma.
Em 1935 teve que literalmente fugir da Itália fascista, para evitar que a polícia política do "Duce" chauvinisticamente impingisse a ele e ao filho que crescia no ventre de Hilda a cidadania italiana.
Sua formação inicial deu-se entre os rigores acadêmicos, sendo o desenho seu principal instrumento de aprendizagem, com especial atenção ao estudo do nu e ao modelado. A temporada na Europa significou novos rumos para sua pintura, apontados pela arte simbolista e pela pintura metafísica italiana. Estas influências podem ser sentidas desde sua produção dos anos 1930.
A partir desse período, Quirino dedicou-se às questões centrais para pintura modernista no Brasil, como a forma simplificada e a tensão do espaço figurativo ao manipular as leis da perspectiva. Defensor da arte figurativa, entre seus temas encontram-se a observação de tipos populares e seus vínculos com o universo do trabalho. Uma de suas mais reconhecidas obras, o quadro "O Operário (1932)" apresenta-se como um retrato de classe, marcado pela expressividade fisionômica e pelas formas protuberantes das mãos acostumadas à labuta.
De volta ao Brasil, em 1934, trabalhou na organização da Escola de Belas Artes de Araraquara, interior de São Paulo, instituição que dirigiu entre 1935 e 1937, criando também o Salão de Belas Artes da mesma cidade. Inspirado em sua temporada na Itália, em 1938 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e passou a ter o dissabor de enfrentar a repressão política do Estado Novo.
Participou ainda do grupo de artistas criadores da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes e foi nomeado professor interino da Enba em 1938, ocupando a cadeira de desenho artístico até 1949, quando prestou concurso para a cadeira de artes decorativas. Integrou o Núcleo Bernardelli, tornando-se seu presidente em 1942. O núcleo foi um grupo criado por pintores modernistas, em 1931, com o objetivo de oferecer alternativa para o ensino oficial da Escola Nacional de Belas Artes, enfatizando a liberdade de expressão artística.
Esteve também em outra mostra de significação histórica: a de Arte Moderna de Belo Horizonte, em 1943, e lutou pela criação do Salão Nacional de Arte Moderna.
Viajou à Europa em 1957 a serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para observar programas de ensino, visando à reforma do regulamento da Enba. Tornou-se vice-diretor da Escola em 1961 e recebe o título de Professor Emérito da UFRJ em 1981.
O artista foi homenageado em 1971 pelo Museu da Imagem e do Som com o prêmio "Estácio de Sá". A premiação, destinada a personalidade que haja estimulado e animado setores da vida artística no País foi dada, pela primeira vez em sua história, a um crítico de arte, que sendo pintor e professor nesta multiplicidade de atividades, sempre foi, pela palavra escrita, um crítico, aliás o decano desta atividade cultural no Rio, havendo começado a escrever sobre artes plásticas em 1926, no diário "A Reação".
Em 1979, na Galeria Anna Maria Niemeyer (Gávea-Rio de Janeiro), onde realizava uma exposição, recebeu o prêmio de Artista de Destaque do Ano, pela Associação Brasileira de Críticos de Arte. Quirino foi agraciado com uma escultura de Mauricio Salgueiro (promoção do INAP Funarte).
Suas obras
Quirino Campofiorito possui quadros em várias galerias entre os quais poderemos citar: Museu Nacional de Belas Artes, Museu Mariano Procópio (Minas Gerais), Galeria Núcleo de Belas Artes de Araraquara, Galeria da Escola de Belas Artes de Pernambuco, e Coleções Particulares no Brasil e no exterior.
Teve seus trabalhos expostos nos Salões de Maio da Associação dos Artistas Brasileiros, no Salão Paulista de Belas Artes, Salões do Núcleo Bernardelli, Salão Fluminense de Belas Artes, Salão de Belas Artes de Araraquara e muitas outras exposições coletivas no Rio e nos Estados, merecendo destaque especial a Exposição Internacional da Califórnia, Estados Unidos da América, em 1938, no Museu da Imagem e do Som, em 1973 ("Sumário Retrospectivo"), e a homenagem pelos seus 80 anos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em 1982. As comemorações dos 90 anos do artista, em 1992, foram na Sala Bernardelli do Museu Nacional de Belas Artes. Na década de 2000, o Solar do Jambeiro, em Niterói, criou uma exposição permanente de suas obras e de sua esposa.
O Escritor
As dificuldades dos anos de 30 para fazer uma exposição, divulgar seus trabalhos, obrigou Quirino a viver de ilustrações, ensino e jornalismo. O tempo para pesquisa sobre a pintura praticamente deixou de existir. Além de pintor, Quirino teve uma notável cultura artística, sendo autor de uma infinidade de trabalhos sobre artes plásticas, que lhe deram uma grande projeção. Colaborou ainda em vários jornais e revistas no Brasil e no exterior.
Em 1917, já colaborava com a Revista Tico-Tico, com desenhos e contos. No ano seguinte, já dirigia o quinzenário "O Escolar". Em 1926, estreou como colunista de arte no jornal "A Reação. Em 1935, fundou e dirigiu o periódico mensal "Belas Artes", o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente à arte, e que circulou até 1940. Trabalhou como ilustrador nas revistas Tico-Tico, Revista Infantil e publica charges nos periódicos "A Maçã", "O Malho", "D. Quixote", "Rio Social" entre outros trabalhos que o aproximam das artes gráficas, frequentando as oficinas de impressão.
Entre os seus mais relevantes escritos acadêmicos, podemos citar: "Orientação do Ensino de Artes Decorativas"; "A Compreensão da Forma para a realização de uma obra de arte" e "O impressionismo e a confusão na pintura moderna". Em sua produção literária, sempre ressaltou a necessidade de profissionalização da atividade do crítico de arte e identificou uma colaboração mútua entre a história da arte e a crítica.
Em 1965, ilustrou o livro "Itinerário da Paisagem Carioca", de Nestor de Holanda. Em 1964, escreveu para a Revista 'O Cruzeiro' o artigo "No Mundo Maravilhoso de Djanira" uma longa e rica apresentação da obra da artista paulista. Em 1983 publicou "História da Pintura Brasileira no Século XIX" (Editora Pinakotheke), obra referencial para o estudo da arte oitocentista, pela qual recebe o Prêmio Jabuti.
No livro, apresentou o contexto geral e destacou os principais artistas de cada período. Partiu de um breve traço biográfico para desenvolver considerações estéticas, atentando sobre as rupturas nos processos de amadurecimento dos artistas. Em 1986 publicou o livro "A Pintura de Bustamante Sá" (Cabicieri Editorial).
Fez parte de um grande número de associações culturais entre as quais a Associação dos Artistas Brasileiros (Diretor de Artes Plásticos); o já citado Núcleo Bernardelli; o Instituto Brasileiro da História da Arte; a Associação Artística Plástica Pedro Américo; a Academia Fluminense de Letras (Divisão de Artes Plásticas) e a Liga da Defesa Nacional ("Comissão de Arte").
O Legado
Inúmeros foram os serviços prestados por Quirino aos artistas plásticos da corrente modernista. Como professor e como animador, teve um papel de destaque no desenvolvimento das artes brasileiras. Como membro da Comissão de Arte da Liga da Defesa Nacional, realizou a Feira de Arte Moderna (Associação Brasileira de Imprensa - 1943), e trabalhou na realização da Feira de Arte Moderna no Estado do Rio e em São Paulo.
Como crítico de arte, participou intensamente do debate sobre o abstracionismo nos anos 1950, travado por críticos como Mário Pedrosa. Assim como outros artistas e intelectuais modernistas, resistiu à chegada da arte abstrata ao Brasil, argumentando que ela fugia à proposta de modernização cultural baseada no reconhecimento das raízes populares. Quirino compreendia a arte abstrata como um projeto de tendência elitista, enquanto a arte figurativa é acessível a todos.
Como educador, ajudou a reformar o sistema de ensino artístico no brasil, buscando uma prática atenta às diversas demandas da sociedade contemporânea, como a relação entre o desenho e a produção industrial nas artes gráficas, tecelagem etc.
Quirino Campofiorito sempre se comportou como um artista, como um lutador pela divulgação das artes ou pela formação de novos artistas. Foi um grande animador que via sempre qualidades no estreante, que estimulava sempre um idealista e que, mesmo fora da sala de aula, se mantinha como um mestre que zelava essencialmente pela liberdade de seus discípulos. Politicamente também nunca se omitiu. Aposentado em fins da década de 1960 pelo AI5, guarda esse episódio com um sentimento de orgulho. "Se eu não tivesse sido cassado, acho que teria morrido, não estaria hoje comemorando meus 80 anos", disse em uma entrevista em 1992. "Pra mim, isso é como um reconhecimento de que não fui conivente com tudo isso que o Brasil passou desde 1964", completou.
Aposentado em fim da década de 60 pelo Al-5, quando lecionava na Enba, guarda desse episódio um sentimento de orgulho: "Se eu não tivesse sido cassado pelo Ato 5, acho que teria morrido, não estaria hoje comemorando meus 80 anos. Pois, para mim, isso é como um reconhecimento de que não fui conivente com tudo isso que o Brasil passou desde 64", afirma.
A cineasta Tizuka Yamasaki escreveu em 1973 que "hoje, em mais de 50 anos dedicados inteiramente no fazer e analisar a arte brasileira, Quirino conseguiu pelo menos duas coisas notáveis: não ficar milionário e não se prender a qualquer corrente, seja ela estética, de geração, ideológica. Sua constante atualização e sua formação clássica lhe permite entender a pintura como um processo, nunca preso às correntes, que segundo o próprio Quirino, tanto conduzem a algum caminho determinado, como seguram a criatividade do artista, numa visão semântica e crítica da palavra que fazem a originalidade do pintor como jornalista." (leia em Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura, por Tizuka Yamasaki)
O artista morreu em 1993 e desde então empresta sem nome a uma galeria de arte no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, no bairro de Icaraí, em Niterói.
Durante as comemorações do IV Centenário de Niterói, em 1973, escreveu num opúsculo relativo à exposição comemorativa que fez, na antiga Galeria do Campo, na rua Lopes Trovão, em Icaraí: "Acompanhei o meu tempo. Não com a velocidade que este impunha para segui-lo lado a lado. Procurei, porém, não ficar muito atrás, o que pode ser constatado na totalidade da obra que realizei (...)".
Discordamos Mestre. Não ficou.
Crítica
O quadro "Praia" mostra bem o valor pictórico do seu autor. A par de uma cor bem amena para a visão do espectador, há como que um sentimento muito marcado nas figuras, nos peixes e em todo o ambiente. Aquilo que Quirino exprime em sua pintura é bem a representação do valor humano do artista. As figurinhas do fundo simbolizam a espécie humana em seu desdobramento e ao mesmo tempo a própria vida do pintor na sua etapa atual. Os peixes estão no primeiro plano e são de tal forma vivos e harmoniosamente plasmados, que emprestam a todo o quadro um grande ambiente de ternura. Em conjunto, pode-se dizer com segurança que a característica mais saliente nesse quadro é a ingenuidade sempre tão presente na obra do artista e uma das qualidades mais apreciadas hoje em dia na pintura. (Por Sylvia de Leon Chalreo, Revista Rio Social, 1943)
Fonte: Cultura Niteroi, “Quirino Campofiorito”, publicado em 3 de maio de 2021. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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"Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura" | Cultura Niteroi
Ele tem a idade da pintura brasileira. Quando a Semana de Arte de 22 estourou no país, trazendo uma visão brasileira da arte, Quirino Campofiorito tinha 20 anos. A idade que se começa a fazer alguma coisa por exemplo, a pintura. Hoje, em mais de 50 anos dedicados inteiramente no fazer e analisar a arte brasileira, Quirino conseguiu pelo menos duas coisas notáveis: não ficar milionário e não se prender a qualquer corrente, seja ela estética, de geração, ideológica.
No ano passado, as páginas deste "O JORNAL", onde trabalhou desde 1944, estiveram carregadas de críticas fortes ao atual esquema que domina as artes plásticas - da valorização comercial, da falta de critério artístico, da falta de visão não só da parte dos artistas como dos marchands, das galerias, grupos alheios à arte, que dominam com força cada vez maior o mercado artístico brasileiro. Estas críticas partiam de um homem de 70 anos, que conserva no escrever a ironia e a objetividade que faltam à maioria dos jovens que atualmente fazem o que se chama de crítica de arte.
Corrente segura criatividade
Mais importante que a posição diante da análise crítica, irônica e doce do pintor Quirino Campofiorito, talvez seja sua permanente atualidade. Afastado do ensino da Escola Nacional de Belas Artes deste 1969 - aposentado compulsoriamente pelo AI-5 -, no mínimo por ter ideias muito liberais, ele continuou a exercer a crítica em jornais, com o mesmo vigor de sempre. Sua constante atualização e sua formação clássica lhe permite entender a pintura como um processo , nunca preso às correntes, que segundo o próprio Quirino, tanto conduzem a algum caminho determinado, como seguram a criatividade do artista, numa visão semântica e crítica da palavra que fazem a originalidade do pintor como jornalista.
Ainda neste ano, a propósito dos "Objets Introuvables", conhecido também como "Minimal Art", ele põe em questão se pode considerar a arte somente pelo seu efeito. Esta discussão exigiria do leitor uma erudição incomum no nível teórico. Quirino conseguiu colocá-la em termos jornalísticos. E quem conhece o assunto, ficou pelo menos perturbado e preocupado diante do que se chama 'vanguarda'. Isto leva a uma análise, a uma posição mais profunda de seu conceito em relação à arte. "O ceticismo remove montanhas", na frase de Brecht, que se encaixa melhor ainda nas artes plásticas que no teatro, porque nunca tantos acreditaram tanto em tão poucas razões realmente artísticas como ocorre hoje.
Forçosamente um clássico
Uma pequena explicação: Quirino Campofiorito é um pintor que faz crítica. E nunca o crítico que faz pintura. Isto já elimina de vez qualquer especulação a respeito da inevitável comparação de sua visão crítica a respeito do seu trabalho. Ele próprio, se deixa definir na apresentação da exposição como um clássico. Forçosamente o seria. Estudou na Europa de onde veio no ventre de sua mãe espanhola para nascer em Belém do Pará, a 7 de setembro de 1902, onde frequentou ateliers de Pougheon, Charles Blanc, Bataglia e Coromaldi. Nestes anos entre 1929 a 1934, conquistados pelo prêmio de Viagem à Europa, o jovem Quirino viveu e absorveu a cultura europeia, ao lado da pintora Hilda Eisenlohr, com quem se casou. Educou-se nesta cultura, hoje em crise, mas na época, Paris e Roma tinham a força e dinamismo da qual nenhum intelectual tupiniquim poderia escapar.
Foram os anos que reforçaram seu aprendizado acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes, adquiridos na década de 20, quando iniciou-se na pintura. Ao retornar ao Brasil, em 1934, já era amigo de Cândido Portinari e companheiro de geração de Teruz, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Anita Malfati, enfim, dos que se tornaram mestres da pintura brasileira, aqueles brasileiros que primeiro tentaram uma visão nacional da pintura, antes proibidas pelo academicismo.
Estimular arte brasileira
Ainda no ano passado, quando uma campanha de intenções obscurantistas quis tirar de Portinari o mérito de introduzir o folclore na pintura brasileira, Quirino defendeu o artista. Explicou com objetividade que não foi nem Portinari nem Teruz que lançaram o folclore em nossa pintura. Foi a própria época, os anos que procederam a Semana de Arte Moderna. E esta capacidade de discernimento, de não tomar um outro partido senão o da própria arte, é marcante no pintor.
Nestes anos de 20, este grupo de primeira arte brasileira teve fundamental influência de um pintor estrangeiro, que conviveu com ele durante 5 anos. O personagem chamava-se Fujita, japonês de formação europeia. Desconhecido no Brasil, porém, conceituado na Europa, Fujita dominava uma técnica de pintura a óleo bastante particular. Utilizando-se de verniz, o japonês conseguia através da superfície rala de suas tintas, um brilho todo especial que refletia o espírito oriental através de uma técnica europeia.
Pelo fato de Fujita neste tempo ser hóspede convidado de Portinari, era evidente que este pintor tenha assimilado a técnica do companheiro. Se Portinari, com sua evolução conseguiu superar Teruz, durante quase toda a sua vida artística, empregou a técnica adquirida por Fujita. O interesse despertado nesse oriental, por nossos temas brasileiros, dado o desconhecimento de nossa terra do estrangeiro, foi um dos motivos pela qual os jovens artistas de arte moderna da época se motivaram para descobrir a arte brasileira.
Quirino viveu estes primeiros anos. Mas foi barrado por uma bolsa de estudos na Europa, se afastando por cinco anos. Voltou, encontrou novamente seus amigos. As dificuldades dos anos de 30 para fazer uma exposição, divulgar seus trabalhos, obrigou Quirino a viver de ilustrações, ensino, e jornalismo. O tempo para pesquisa sobre a pintura praticamente deixou de existir. E o tempo para teorizar e se contemporarizar sobre ela, aumentou. E sempre se conservou jovem apesar de seus atuais 70 anos, sem a demagogia muitas vezes comuns nos de sua geração. Sem se promover comercialmente em nenhum momento de sua vida.
Para Quirino, "primeiro o jornalismo, animado pelo propósito de estimular a evolução artística entre nós, e fazer conhecidos os artistas brasileiros, muito particularmente os jovens". Quando Roberto Pontual, totalmente desconhecido, quis fazer o seu Dicionário de Artes Plásticas, Quirino lhe emprestou seu arquivo particular, o mais completo do Brasil, de onde ele tirou pelo menos a metade das informações da obra. E o fez sem qualquer pretensão de aparecer. Somente um ou dois dos amigos mais íntimos sabem disto hoje.
No ano passado, numa reunião de críticos promovida pela "Collectio", Quirino, apesar de o mesmo Pontual estar agora chefiando o departamento de compras desta grande galeria, não deixou de criticar a reunião, a falta de espaço reservada à crítica de artes plásticas na Imprensa Brasileira, a falta de orientação artística das galerias, o mercenarismo de muitos grupos que tentam transformar tendências de opinião (gosto do consumidor) em arte.
Não é retrospectiva
"Esta exposição está longe de ser uma retrospectiva. Um longo panorama, pouco mais de 50 anos de dedicação ao fazer artístico. Mas foi sempre um trabalho em beneficio da arte - que muito nos estimulou o espírito e agora nos deixa com a consciência tranquila. Parece que ainda há algum tempo para finalizar um destino que jamais podemos nem quisemos contrariar. Agora, pensamos, a arte poderá finalmente ser a tarefa predominante. Sempre será tempo para tentar fazer parte do muito que circunstâncias irremovíveis impediram de realizar na medida desejada". Sem jornal e sem sua banca didática na ENBA, Quirino Campoforito, depois de 50 anos de trabalho dedicado em estimular a arte brasileira, desde ontem às 17 horas, teve sua exposição "Sumário Retrospectivo" inaugurada no Museu da Imagem e Som - praça Marechal Arcoverde.
Um Quirino bem temperado. Um Quirino que considera a velhice a pior doença (um comentário seu a respeito de Picasso, que estaria internado em Paris: "não importa que doença se tem a velhice e basta). A simplicidade marcante de sua personalidade, a timidez de não usar as pessoas, de confiar a divulgação de de sua obra a um contato pessoal com os jornais: no seu mesmo terno claro, voz mansa e pausada, sem a preocupação em conceder entrevistas (não deu nenhuma entrevista sobre a retrospectiva), Quirino hoje voltou à dedicação completa à arte pela qual sempre lutou. Livre, sem jornalismo, ilustração ou ensino, mas esperançoso. Quirino, silenciosamente está lá em Niterói. No seu atelier, pintando.
Fonte: Cultura Niteroi, “Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura”, publicado por Tizuka Yamasaki, em 21 de março de 1973. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Núcleo Bernardelli | Itaú Cultural
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 29 de maio de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Cultura Niteroi. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
Quirino Campofiorito (7 de setembro de 1902, Belém, Brasil — 16 de setembro de 1993, Niterói, Brasil) foi um pintor, desenhista e historiador da arte brasileiro. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes (RJ), onde foi aluno de Modesto Brocos e Rodolfo Chambelland, e posteriormente atuou como professor e vice-diretor da instituição. Viajou à Europa como prêmio, aprimorando sua pintura em Paris e Roma. Fundou a Escola de Belas Artes de Araraquara (SP) e integrou o Núcleo Bernardelli, movimento de renovação do ensino artístico no Brasil. Sua obra mescla retratos, cenas urbanas e naturezas-mortas, com influências da pintura metafísica. Publicou o livro História da Pintura Brasileira no Século XIX, vencedor do Prêmio Jabuti em 1983. Suas obras fazem parte dos acervos do Museu Nacional de Belas Artes e de outras importantes instituições brasileiras.
Quirino Campofiorito | Arremate Arte
Quirino Campofiorito nascido em Belém, no dia 7 de setembro de 1902, foi um artista brasileiro multifacetado: pintor, desenhista, gravador, caricaturista, ilustrador, crítico de arte, historiador e professor. Filho do arquiteto e pintor italiano Pietro Campofiorito, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1912, onde iniciou sua trajetória nas artes como ilustrador em revistas como O Tico-Tico e O Malho.
Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1920, tendo como mestres nomes como Modesto Brocos e Rodolfo Chambelland. Nos anos 1920, destacou-se nos Salões Nacionais, recebendo medalhas e, em 1929, o prêmio de viagem ao exterior. Estudou em Paris e Roma, aprimorando sua técnica e ampliando seu repertório artístico.
De volta ao Brasil, fundou a Escola de Belas Artes de Araraquara (SP) e foi um dos mentores do Núcleo Bernardelli, grupo que renovou o ensino artístico brasileiro. Lecionou na Escola Nacional de Belas Artes, onde se tornou vice-diretor e catedrático.
Sua produção mescla cenas urbanas, retratos e naturezas-mortas, com forte influência da pintura metafísica. Como historiador da arte, publicou o livro História da Pintura Brasileira no Século XIX, premiado com o Jabuti em 1983. Participou de exposições no Brasil e no exterior e teve obras incorporadas a acervos como o do Museu Nacional de Belas Artes.
Faleceu em 16 de setembro de 1993, na cidade de Niteroi, Rio de Janeiro.
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Quirino Campofiorito | Itaú Cultural
Quirino Campofiorito (Belém, Pará, 1902 - Niterói, Rio de Janeiro, 1993). Pintor, crítico de arte, professor, caricaturista, gravador. Filho do pintor e arquiteto italiano Pedro Campofiorito (1875-1945). Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro em 1912. Trabalha como ilustrador nas revistas Tico-Tico, Revista Infantil e publica charges nos periódicos A Maçã, O Malho, D. Quixote, entre outros trabalhos que o aproximam das artes gráficas, frequentando as oficinas de impressão. Em 1920, inicia os estudos na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), com os professores Modesto Brocos (1852-1936), Rodolfo Chambelland (1879-1967), João Baptista da Costa (1865-1926) e Augusto Bracet (1881-1960). Escreve para a coluna de Arte do jornal A Reação em 1926. Recebe da Enba o Prêmio de Viagem à Europa em 1929. Frequenta aulas na Académie Julian, na Académie de la Grande Chaumière e participa do Salon de Paris em 1931. Em Roma, estuda na Academia de Belas Artes e frequenta os cursos do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma. Em 1933, volta a residir em Paris e participa do Salon d’Automne. Retorna ao Brasil em 1934 e trabalha na organização da Escola de Belas Artes de Araraquara, interior de São Paulo, instituição que dirige entre 1935 e 1937, criando também o Salão de Belas Artes da mesma cidade. Em 1935, funda o periódico mensal Belas Artes, o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente à arte, e extinto em 1940 pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1938. Integra o Núcleo Bernardelli e torna-se seu presidente em 1942.
O grupo, formado por artistas como José Pancetti (1902-1958) e Milton Dacosta (1915-1988), se reunia à noite nos porões da Enba para discutir pintura, em busca de profissionalização e aprimoramento técnico. Participa ainda do grupo de artistas criadores da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes. É nomeado professor interino da Enba em 1938, ocupando a cadeira de desenho artístico até 1949, quando presta concurso para a cadeira de artes decorativas. Desde então, trabalha na atualização dos métodos de ensino da Escola de Belas Artes. Tal reformulação é acentuada com a entrada de Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Mário Barata (1921) para o corpo docente em 1954. Viaja à Europa em 1957 a serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para observar programas de ensino, visando à reforma do regulamento da Enba. Torna-se vice-diretor da Enba em 1961 e recebe o título de Professor Emérito da UFRJ em 1981. Publica críticas de arte em jornais do grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand (1892-1968), entre eles O Jornal, O Cruzeiro, Diário da Noite e Jornal do Comércio, atividade que exerce por cerca de 40 anos. Em 1983 publica História da Pintura Brasileira no Século XIX, obra referencial para o estudo da arte oitocentista, pela qual recebe o Prêmio Jabuti.
Análise da Trajetória
A produção artística e intelectual de Quirino Campofiorito transita por diferentes áreas em torno das artes plásticas. Trabalha em sua difusão como crítico de arte. Como professor, compromete-se com a consolidação e reforma de um sistema de ensino artístico. Como artista, dedica-se às artes gráficas, sobretudo à pintura.
A formação de Campofiorito dá-se entre os rigores acadêmicos, sendo o desenho seu principal instrumento de aprendizagem, com especial atenção ao estudo do nu e ao modelado. A temporada na Europa apresenta novos caminhos para sua pintura, apontados pela arte simbolista, pela pintura metafísica italiana e pelas experiências das vanguardas interpretadas pelo movimento de retorno à ordem. Estas influências podem ser sentidas desde sua produção dos anos 1930, nas vistas de Roma, e em estudos que almejam a formas mais espontâneas e sintéticas. A partir desse período, a produção Campofiorito dedica-se a questões centrais para pintura modernista no Brasil, como a forma simplificada e a tensão do espaço figurativo ao manipular as leis da perspectiva. Defensor da arte figurativa, entre seus temas encontram-se a observação de tipos populares e seus vínculos com o universo do trabalho. O quadro O Operário (1932) apresenta-se como um retrato de classe, marcado pela expressividade fisionômica e pelas formas protuberantes das mãos acostumadas à labuta. Em pinturas como Operários - Estudo n. 1 (1939) ou Café-Colheita (1940), que representam cenas de trabalho coletivo, nota-se a proximidade com a pintura de Candido Portinari (1903-1962) e com uma plasticidade que remete à pintura muralista.
As citações em suas pinturas propõem um passeio e um comentário sobre a história da arte. Na natureza-morta A Geléia Francesa (1932) explora soluções espaciais e cromáticas observadas nas pinturas de Cézanne (1939-1906). Ricordo di Roma (1941) remete ao passado classicista com fragmentos de uma estátua e monumentos justapostos como em uma colagem. Em Homenagem a Giorgio De Chirico (1973), dialoga com a pintura metafísica em composições de objetos em situação de estranhamento.
Apesar de sua resistência à abstração, realiza uma série de pinturas que a discutem, como Homenagem a Kasimir Malevitch (1979), na qual faz uma analogia entre formas concretas e elementos figurativos. A referência ao universo das artes plásticas também está presente em sua produção de charges, nas quais é recorrente a crítica do sistema cultural ou os comentários sobre as obras mais destacadas dos salões.
Como professor, busca uma prática de ensino atenta às diversas demandas da sociedade contemporânea, como a relação entre o desenho e a produção industrial nas artes gráficas, tecelagem etc.
Dedica muitos estudos às artes do século XIX, entre os quais o volume História da Pintura no Brasil no Século XIX, obra que configura uma visão ampla sobre a pintura oitocentista. No livro, Campofiorito apresenta o contexto geral e destaca os principais artistas de cada período. Parte de um breve traço biográfico e desenvolve considerações estéticas, atentando sobre as rupturas nos processos de amadurecimento dos artistas.
Ao longo de seus escritos, ressalta a necessidade de profissionalização da atividade do crítico de arte e identifica uma colaboração mútua entre a história da arte e a crítica. Participa do debate sobre o abstracionismo nos anos 1950, travado por críticos como Mário Pedrosa (1900-1981). Assim como outros artistas e intelectuais modernistas, Campofiorito resiste à chegada da arte abstrata ao Brasil. Argumenta que ela foge à proposta de modernização cultural baseada no reconhecimento das raízes populares. Compreende a arte abstrata como um projeto de tendência elitista, enquanto a arte figurativa é acessível a todos. Como crítico tem papel importante na afirmação da arte moderna no Brasil.
Críticas
"Na verdade, e desde o início, a carreira do pintor Quirino Campofiorito é contraditória e curiosamente ´pós-moderna´. Em plena década dos vinte, o seu aprendizado figurativo nasce de duas fontes, naquele tempo, antagônicas. Do academismo disciplinado e apático da Escola de Belas Artes, e, ao mesmo tempo, da revigorante atividade de ilustrador cartunista e desenhista publicitário da Metro Goldwin Meyer. Explica-se a facilidade com que compreendeu, em seguida, o modernismo de Paris dos anos trinta e, três décadas mais tarde, a apropriação ´pop´ dos EEUU. Durante os quarenta anos que se seguiram à volta da Europa, um temperamento naturalmente modesto levou a uma constante agressividade crítica, sempre dedicada à renovação do meio artístico, a compensar uma pintura retraída (...). Data do fim dos anos sessenta, o que chamamos de retomada ostensiva da pintura. E, como se fosse para lembrar o início de sua vida profissional, Quirino Campofiorito apresentou em 1971 - sua primeira exposição desde 1935 - um dos dois aspectos de sua pintura atual. ´Poster-painting´, cartazes deliberadamente alegóricos, mas pintados a óleo e concebidos como homenagens a Miguel Angelo, De Chirico, Brecht, Charlie-Chaplin e Malevitch (...)" — Ítalo Campofiorito (CAMPOFIORITO. Apresentação de Italo Campofiorito. Rio de Janeiro: Bolsa de Arte, 1977).
"Se bem que o magistério e a atividade crítica tenham sem dúvida roubado ao artista tempo precioso, Campofiorito é autor de considerável bagagem, destacando-se como autor de vistas urbanas, estudos de nu e figuras, naturezas-mortas e alegorias, nas quais repercute muito intensa a influência de De Chirico e do Metafisicismo. Talvez a parte mais perdurável de sua obra pictórica sejam as naturezas-mortas, em algumas das quais alcançou o pintor efeitos admiráveis de lirismo, uma nota pessoal e uma composição despojada, inconfundível" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
Depoimentos
"Minha vida de pintor é diferente da vida comum dos pintores. Estes fazem-se sempre comprometidos com as estritas atividades do ateliê. Assiduidade exclusiva à oficina de trabalho, para que seja alcançada a totalidade do que possa dar à sua obra. Eu sou daqueles raros exemplos que sempre atropelaram a assiduidade do ateliê de pintor com uma dedicação, igualmente assídua, a outras atividades que me movimentavam em espaços bem exigentes. Contudo, não neguei um só instante uma grande e responsável aplicação à arte realmente indicada por minha autêntica vocação: a pintura. As demais atividades resultam decorrências que se foram apresentando, desdobramentos de minhas convicções de pintor, que abriam caminhos que terminam por se fazer tão comprometedores de minha sensibilidade pelos problemas inerentes às artes plásticas conforme, particularmente, se demostrava em nosso país. Foi impossível para meu temperamento ser só pintor. (...) A pintura, as artes gráficas (na totalidade de suas variações), o jornalismo e o ensino, traçam o eixo de minha vida artística. Em torno, desse comportamento em retilíneo desenvolvimento, tendo sido o pintor que sou, o artista gráfico sempre empolgado com uma sedutora variedade de afazeres, o jornalista sempre voltado para a divulgação e o comentário artístico (da singela informação ao responsável ensaio crítico) e o ensino que não escapa aos objetivos que regem os entendimentos e a formação profissional do artista, o rigor da obra de arte (sua tecnicidade)".
Quirino Campofiorito
CAMPOFIORITO, Quirino. Retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista. Rio de Janeiro : MNBA, 1992. p. 13.
Acervos
Museo de La Plata - La Plata (Argentina)
Museu de Belas Artes - Belém PA
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Exposições
1927 - 34ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 - 35ª Exposição Geral de Belas Artes
1929 - 36ª Exposição Geral de Belas Artes
1932 - Salon des Artistes Français
1933 - Salon d'Automne
1935 - Individual de Quirino Campofiorito
1935 - 41º Salão Nacional de Belas Artes
1936 - Individual de Quirino Campofiorito
1937 - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1938 - Exposição Internacional da Califórnia
1938 - 2º Salão de Maio
1943 - Exposição Anti-Eixo
1943 - Exposição Anti-Eixo
1944 - Exposição de Arte Moderna
1944 - 50º Salão Nacional de Belas Artes
1944 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1944 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1946 - Exposição dos Artistas Brasileiros ao Povo de Londres
1946 - Os Pintores vão à Escola do Povo
1951 - 1ª Bienal Internacional de São Paulo
1952 - 1º Salão Nacional de Arte Moderna
1953 - 4º Salão de Naturezas Mortas
1953 - 2º Salão Nacional de Arte Moderna
1954 - Exposição comemorativa do I Congresso Nacional de Intelectuais
1954 - Salão Preto e Branco
1955 - 1ª Exposição de Arte Brasileira Contemporânea
1966 - 50 Anos de Paisagem Brasileira
1956 - 5º Salão Nacional de Arte Moderna
1956 - 1º Salão Ferroviário
1958 - O Trabalho na Arte
1958 - Salão de Arte A Mãe e a Criança
1959 - 8º Salão Nacional de Arte Moderna
1961 - 6ª Bienal Internacional de São Paulo
1965 - 1º Salão Esso de Artistas Jovens
1966 - 15º Salão Nacional de Arte Moderna
1967 - 16º Salão Nacional de Arte Moderna
1967 - 9ª Bienal Internacional de São Paulo
1969 - 18º Salão Nacional de Arte Moderna
1970 - 19º Salão Nacional de Arte Moderna
1973 - Individual de Quirino Campofiorito
1973 - Sumário Retrospectivo: 1920-1973
1973 - Individual de Quirino Campofiorito
1973 - 22º Salão Nacional de Arte Moderna
1974 - 23º Salão Nacional de Arte Moderna
1974 - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira
1976 - 25º Salão Nacional de Arte Moderna
1977 - 50 Anos de Pintura
1978 - Desenhos dos Anos 30
1979 - Individual de Quirino Campofiorito
1979 - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas
1982 - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40
1982 - Universo do Futebol
1982 - Homenagem Quirino Campofiorito: 80 anos
1983 - Auto-Retratos Brasileiros
1984 - Individual de Quirino Campofiorito
1984 - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1984 - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1985 - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas
1987 - Aquarelas Brasileiras
1988 - Visões do Trabalho (1988 : Rio de Janeiro, RJ)
1992 - Quirino Campofiorito: retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista
1993 - 80 Anos de Paixão Gráfica: Quirino Campofiorito
1994 - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand
1994 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Bienal Brasil Século XX
1998 - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ
2000 - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 - Arte Pará 2000
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Negro de Corpo e Alma
2000 - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960
2002 - Arte e Política
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2004 - O Olhar Modernista de JK
2005 - Cidade Maravilhosa: uma iconografia carioca - 1920/1980
2006 - O Olhar Modernista de JK
2009 - Nus
2009 - Olhar da Crítica: Arte Premiada da ABCA e o Acervo Artístico dos Palácios
2011 - Exposição do Acervo da Pinacoteca Municipal Mário Ybarra de Almeida
2011 - Franz Weissman 1911-2005
2012 - Anna Maria Niemeyer: um caminho
2013 - Retratos sem Paredes (2013 : São Paulo, SP)
2016 - A Cor do Brasil
2020 - Pinacoteca: Acervo
2021 - A memória é uma invenção
Fonte: QUIRINO Campofiorito. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 29 de maio de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Quirino Campofiorito | Wikipédia
Quirino Campofiorito (Belém do Pará, 7 de setembro de 1902 — Niteroi, 16 de setembro de 1993) foi um pintor, desenhista, gravador e ilustrador, escritor, crítico de arte, caricaturista e professor brasileiro.
Era filho do também pintor e arquiteto italiano Pietro Campofiorito, era casado com a também pintora Hilda Campofiorito e foi pai do arquiteto Ítalo Campofiorito.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Quirino Campofiorito, pintor que procurou inserir sua experiência entre a linguagem abstrata e a figurativa | O Escavador
Quirino Campofiorito (Belém do Pará, 7 de setembro de 1902 – Niterói, Rio de Janeiro, 13 de setembro de 1994), pintor que procurou inserir sua experiência figurativa, pela presença do elemento figurativo. Campofiorito captou o ponto de coincidência entre a linguagem abstrata e a figurativa, e, de certo modo, reverteu o processo que conduzia à desintegração da pintura. Nesse esforço por juntar elementos antagônicos, Campofiorito realizou alguns trabalhos de real interesse.
Aluno de Belas Artes, colaborava como cartunista em publicações como “O Malho”, “O Tico-Tico”, “Diário da Noite” e “Jornal do Commércio”, entre outras. Em 1929, aos vinte e sete anos, ganhou uma bolsa de estudos na Europa pelo seu desempenho nas salas de aula.
Antes de viajar, casou-se com a primeira mulher a ingressar no curso de pintura da Escola de Belas Artes, sua aluna Hilda Eisenlohr (1901-1997). A estada do casal na Europa foi de estudos e viagens. Voltaram ao Brasil em 1934 quando Quirino realizou sua primeira exposição individual. Ainda naquele ano, o casal transferiu-se ara Araraquara, interior de São Paulo, atendendo a convite para que Quirino fundasse e dirigisse a Escola de Belas Artes local.
Em 1935 Quirino fundou o jornal “Belas Artes”, o primeiro periódico a tratar exclusivamente de arte. Durante cinco anos, Quirino divulgou amplamente o trabalho de novos pintores, ao mesmo tempo em que passou a atuar como crítico de arte.
Três anos mais tarde, assumiu a cátedra de desenho na Escola Nacional de Belas Artes. À partir de 1949, ocupou a cadeira de Arte Decorativa. No início dos anos cinqüenta , teve importante participação nos salões de arte moderna do país.
Quirino Campofiorito publicou livros de arte, como “História da pintura brasileira no século XIX” e “Vida e obra de Bustamante Sá”. Foi, também, membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (Aica), sediada em Roma, além de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Enquanto isso, Hilda ia se firmando como uma das mais excepcionais coloristas da pintura brasileira do século XX, e foi a última remanescente dos três extraordinários casais da arte pictória do Brasil: Georgina e Lucílio de Albuquerque, Haydée e Manoel Santiago e Hilda e Quirino Campofiorito.
Quirino Campofiorito morreu no dia 13 de setembro de 1994, em Niterói, Rio de Janeiro.
Fonte: O Escavador, “Quirino Campofiorito, pintor que procurou inserir sua experiência entre a linguagem abstrata e a figurativa”, publicado em 23 de setembro de 2014. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Quirino Compofiorito | Cultura Niteroi
Pintor, crítico de arte, professor, caricaturista e gravador, Quirino Compofiorito nasceu num dia 7 de setembro, ao som do Hino Nacional. Isso, em Belém, do Pará, no ano de 1902, quando sua família residia em frente a um quartel. Filho do pintor e arquiteto italiano Pedro Campofiorito, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1912, e logo em seguida para Niterói, quando seu pai foi convidado a projetar o Centro Cívico, no Centro da cidade, conjunto de prédios públicos no entorno da atual Praça da República.
Enquanto artista, Quirino nunca se limitou aos estreitos limites de seu ateliê de pintor. Ele mesmo reconhece que sua vida de pintor foi diferente da vida comum dos pintores. "Eu sou daqueles raros exemplos que sempre atropelaram a assiduidade do ateliê de pintor com uma dedicação, igualmente assídua, a outras atividades que me movimentavam em espaços bem existentes", reconheceu o artista.
Aluno de Modesto Brocos, Rodolfo Chambelland, João Baptista da Costa e Augusto Bracet na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde se matriculou, à revelia do pai, em 1920, começou sua vida de pintor recebendo prêmios e conquistando o máximo para a época - a Viagem ao Estrangeiro, em 1929. "Meu pai queria que eu fosse advogado. Chegou a me dar dinheiro para me matricular em Direito. Saí para a matrícula, mas no caminho entrei na Enba e fiz minha inscrição. Ele acabou me dando força."
Temporada na Europa
Pensionista da Enba, viveu com a esposa, e também artista, Hilda Eisenlohr (1902-1997), na Europa durante cinco anos, frequentando os centros de artistas mais em voga e visitando os grandes museus de Paris e de Roma. Na capital francesa, principalmente, o jovem artista brasileiro fixou seus estudos e foi um frequentador assíduo da Académie de la Grande Chaumière. Expôs no "Salon de la Société des Beaux Arts" em 1931 e no "Salon d'Automne" em 1933. Em Roma, estudou na Ecole di Belle Arti e frequentou os cursos do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma.
Em 1935 teve que literalmente fugir da Itália fascista, para evitar que a polícia política do "Duce" chauvinisticamente impingisse a ele e ao filho que crescia no ventre de Hilda a cidadania italiana.
Sua formação inicial deu-se entre os rigores acadêmicos, sendo o desenho seu principal instrumento de aprendizagem, com especial atenção ao estudo do nu e ao modelado. A temporada na Europa significou novos rumos para sua pintura, apontados pela arte simbolista e pela pintura metafísica italiana. Estas influências podem ser sentidas desde sua produção dos anos 1930.
A partir desse período, Quirino dedicou-se às questões centrais para pintura modernista no Brasil, como a forma simplificada e a tensão do espaço figurativo ao manipular as leis da perspectiva. Defensor da arte figurativa, entre seus temas encontram-se a observação de tipos populares e seus vínculos com o universo do trabalho. Uma de suas mais reconhecidas obras, o quadro "O Operário (1932)" apresenta-se como um retrato de classe, marcado pela expressividade fisionômica e pelas formas protuberantes das mãos acostumadas à labuta.
De volta ao Brasil, em 1934, trabalhou na organização da Escola de Belas Artes de Araraquara, interior de São Paulo, instituição que dirigiu entre 1935 e 1937, criando também o Salão de Belas Artes da mesma cidade. Inspirado em sua temporada na Itália, em 1938 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e passou a ter o dissabor de enfrentar a repressão política do Estado Novo.
Participou ainda do grupo de artistas criadores da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes e foi nomeado professor interino da Enba em 1938, ocupando a cadeira de desenho artístico até 1949, quando prestou concurso para a cadeira de artes decorativas. Integrou o Núcleo Bernardelli, tornando-se seu presidente em 1942. O núcleo foi um grupo criado por pintores modernistas, em 1931, com o objetivo de oferecer alternativa para o ensino oficial da Escola Nacional de Belas Artes, enfatizando a liberdade de expressão artística.
Esteve também em outra mostra de significação histórica: a de Arte Moderna de Belo Horizonte, em 1943, e lutou pela criação do Salão Nacional de Arte Moderna.
Viajou à Europa em 1957 a serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para observar programas de ensino, visando à reforma do regulamento da Enba. Tornou-se vice-diretor da Escola em 1961 e recebe o título de Professor Emérito da UFRJ em 1981.
O artista foi homenageado em 1971 pelo Museu da Imagem e do Som com o prêmio "Estácio de Sá". A premiação, destinada a personalidade que haja estimulado e animado setores da vida artística no País foi dada, pela primeira vez em sua história, a um crítico de arte, que sendo pintor e professor nesta multiplicidade de atividades, sempre foi, pela palavra escrita, um crítico, aliás o decano desta atividade cultural no Rio, havendo começado a escrever sobre artes plásticas em 1926, no diário "A Reação".
Em 1979, na Galeria Anna Maria Niemeyer (Gávea-Rio de Janeiro), onde realizava uma exposição, recebeu o prêmio de Artista de Destaque do Ano, pela Associação Brasileira de Críticos de Arte. Quirino foi agraciado com uma escultura de Mauricio Salgueiro (promoção do INAP Funarte).
Suas obras
Quirino Campofiorito possui quadros em várias galerias entre os quais poderemos citar: Museu Nacional de Belas Artes, Museu Mariano Procópio (Minas Gerais), Galeria Núcleo de Belas Artes de Araraquara, Galeria da Escola de Belas Artes de Pernambuco, e Coleções Particulares no Brasil e no exterior.
Teve seus trabalhos expostos nos Salões de Maio da Associação dos Artistas Brasileiros, no Salão Paulista de Belas Artes, Salões do Núcleo Bernardelli, Salão Fluminense de Belas Artes, Salão de Belas Artes de Araraquara e muitas outras exposições coletivas no Rio e nos Estados, merecendo destaque especial a Exposição Internacional da Califórnia, Estados Unidos da América, em 1938, no Museu da Imagem e do Som, em 1973 ("Sumário Retrospectivo"), e a homenagem pelos seus 80 anos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em 1982. As comemorações dos 90 anos do artista, em 1992, foram na Sala Bernardelli do Museu Nacional de Belas Artes. Na década de 2000, o Solar do Jambeiro, em Niterói, criou uma exposição permanente de suas obras e de sua esposa.
O Escritor
As dificuldades dos anos de 30 para fazer uma exposição, divulgar seus trabalhos, obrigou Quirino a viver de ilustrações, ensino e jornalismo. O tempo para pesquisa sobre a pintura praticamente deixou de existir. Além de pintor, Quirino teve uma notável cultura artística, sendo autor de uma infinidade de trabalhos sobre artes plásticas, que lhe deram uma grande projeção. Colaborou ainda em vários jornais e revistas no Brasil e no exterior.
Em 1917, já colaborava com a Revista Tico-Tico, com desenhos e contos. No ano seguinte, já dirigia o quinzenário "O Escolar". Em 1926, estreou como colunista de arte no jornal "A Reação. Em 1935, fundou e dirigiu o periódico mensal "Belas Artes", o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente à arte, e que circulou até 1940. Trabalhou como ilustrador nas revistas Tico-Tico, Revista Infantil e publica charges nos periódicos "A Maçã", "O Malho", "D. Quixote", "Rio Social" entre outros trabalhos que o aproximam das artes gráficas, frequentando as oficinas de impressão.
Entre os seus mais relevantes escritos acadêmicos, podemos citar: "Orientação do Ensino de Artes Decorativas"; "A Compreensão da Forma para a realização de uma obra de arte" e "O impressionismo e a confusão na pintura moderna". Em sua produção literária, sempre ressaltou a necessidade de profissionalização da atividade do crítico de arte e identificou uma colaboração mútua entre a história da arte e a crítica.
Em 1965, ilustrou o livro "Itinerário da Paisagem Carioca", de Nestor de Holanda. Em 1964, escreveu para a Revista 'O Cruzeiro' o artigo "No Mundo Maravilhoso de Djanira" uma longa e rica apresentação da obra da artista paulista. Em 1983 publicou "História da Pintura Brasileira no Século XIX" (Editora Pinakotheke), obra referencial para o estudo da arte oitocentista, pela qual recebe o Prêmio Jabuti.
No livro, apresentou o contexto geral e destacou os principais artistas de cada período. Partiu de um breve traço biográfico para desenvolver considerações estéticas, atentando sobre as rupturas nos processos de amadurecimento dos artistas. Em 1986 publicou o livro "A Pintura de Bustamante Sá" (Cabicieri Editorial).
Fez parte de um grande número de associações culturais entre as quais a Associação dos Artistas Brasileiros (Diretor de Artes Plásticos); o já citado Núcleo Bernardelli; o Instituto Brasileiro da História da Arte; a Associação Artística Plástica Pedro Américo; a Academia Fluminense de Letras (Divisão de Artes Plásticas) e a Liga da Defesa Nacional ("Comissão de Arte").
O Legado
Inúmeros foram os serviços prestados por Quirino aos artistas plásticos da corrente modernista. Como professor e como animador, teve um papel de destaque no desenvolvimento das artes brasileiras. Como membro da Comissão de Arte da Liga da Defesa Nacional, realizou a Feira de Arte Moderna (Associação Brasileira de Imprensa - 1943), e trabalhou na realização da Feira de Arte Moderna no Estado do Rio e em São Paulo.
Como crítico de arte, participou intensamente do debate sobre o abstracionismo nos anos 1950, travado por críticos como Mário Pedrosa. Assim como outros artistas e intelectuais modernistas, resistiu à chegada da arte abstrata ao Brasil, argumentando que ela fugia à proposta de modernização cultural baseada no reconhecimento das raízes populares. Quirino compreendia a arte abstrata como um projeto de tendência elitista, enquanto a arte figurativa é acessível a todos.
Como educador, ajudou a reformar o sistema de ensino artístico no brasil, buscando uma prática atenta às diversas demandas da sociedade contemporânea, como a relação entre o desenho e a produção industrial nas artes gráficas, tecelagem etc.
Quirino Campofiorito sempre se comportou como um artista, como um lutador pela divulgação das artes ou pela formação de novos artistas. Foi um grande animador que via sempre qualidades no estreante, que estimulava sempre um idealista e que, mesmo fora da sala de aula, se mantinha como um mestre que zelava essencialmente pela liberdade de seus discípulos. Politicamente também nunca se omitiu. Aposentado em fins da década de 1960 pelo AI5, guarda esse episódio com um sentimento de orgulho. "Se eu não tivesse sido cassado, acho que teria morrido, não estaria hoje comemorando meus 80 anos", disse em uma entrevista em 1992. "Pra mim, isso é como um reconhecimento de que não fui conivente com tudo isso que o Brasil passou desde 1964", completou.
Aposentado em fim da década de 60 pelo Al-5, quando lecionava na Enba, guarda desse episódio um sentimento de orgulho: "Se eu não tivesse sido cassado pelo Ato 5, acho que teria morrido, não estaria hoje comemorando meus 80 anos. Pois, para mim, isso é como um reconhecimento de que não fui conivente com tudo isso que o Brasil passou desde 64", afirma.
A cineasta Tizuka Yamasaki escreveu em 1973 que "hoje, em mais de 50 anos dedicados inteiramente no fazer e analisar a arte brasileira, Quirino conseguiu pelo menos duas coisas notáveis: não ficar milionário e não se prender a qualquer corrente, seja ela estética, de geração, ideológica. Sua constante atualização e sua formação clássica lhe permite entender a pintura como um processo, nunca preso às correntes, que segundo o próprio Quirino, tanto conduzem a algum caminho determinado, como seguram a criatividade do artista, numa visão semântica e crítica da palavra que fazem a originalidade do pintor como jornalista." (leia em Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura, por Tizuka Yamasaki)
O artista morreu em 1993 e desde então empresta sem nome a uma galeria de arte no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, no bairro de Icaraí, em Niterói.
Durante as comemorações do IV Centenário de Niterói, em 1973, escreveu num opúsculo relativo à exposição comemorativa que fez, na antiga Galeria do Campo, na rua Lopes Trovão, em Icaraí: "Acompanhei o meu tempo. Não com a velocidade que este impunha para segui-lo lado a lado. Procurei, porém, não ficar muito atrás, o que pode ser constatado na totalidade da obra que realizei (...)".
Discordamos Mestre. Não ficou.
Crítica
O quadro "Praia" mostra bem o valor pictórico do seu autor. A par de uma cor bem amena para a visão do espectador, há como que um sentimento muito marcado nas figuras, nos peixes e em todo o ambiente. Aquilo que Quirino exprime em sua pintura é bem a representação do valor humano do artista. As figurinhas do fundo simbolizam a espécie humana em seu desdobramento e ao mesmo tempo a própria vida do pintor na sua etapa atual. Os peixes estão no primeiro plano e são de tal forma vivos e harmoniosamente plasmados, que emprestam a todo o quadro um grande ambiente de ternura. Em conjunto, pode-se dizer com segurança que a característica mais saliente nesse quadro é a ingenuidade sempre tão presente na obra do artista e uma das qualidades mais apreciadas hoje em dia na pintura. (Por Sylvia de Leon Chalreo, Revista Rio Social, 1943)
Fonte: Cultura Niteroi, “Quirino Campofiorito”, publicado em 3 de maio de 2021. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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"Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura" | Cultura Niteroi
Ele tem a idade da pintura brasileira. Quando a Semana de Arte de 22 estourou no país, trazendo uma visão brasileira da arte, Quirino Campofiorito tinha 20 anos. A idade que se começa a fazer alguma coisa por exemplo, a pintura. Hoje, em mais de 50 anos dedicados inteiramente no fazer e analisar a arte brasileira, Quirino conseguiu pelo menos duas coisas notáveis: não ficar milionário e não se prender a qualquer corrente, seja ela estética, de geração, ideológica.
No ano passado, as páginas deste "O JORNAL", onde trabalhou desde 1944, estiveram carregadas de críticas fortes ao atual esquema que domina as artes plásticas - da valorização comercial, da falta de critério artístico, da falta de visão não só da parte dos artistas como dos marchands, das galerias, grupos alheios à arte, que dominam com força cada vez maior o mercado artístico brasileiro. Estas críticas partiam de um homem de 70 anos, que conserva no escrever a ironia e a objetividade que faltam à maioria dos jovens que atualmente fazem o que se chama de crítica de arte.
Corrente segura criatividade
Mais importante que a posição diante da análise crítica, irônica e doce do pintor Quirino Campofiorito, talvez seja sua permanente atualidade. Afastado do ensino da Escola Nacional de Belas Artes deste 1969 - aposentado compulsoriamente pelo AI-5 -, no mínimo por ter ideias muito liberais, ele continuou a exercer a crítica em jornais, com o mesmo vigor de sempre. Sua constante atualização e sua formação clássica lhe permite entender a pintura como um processo , nunca preso às correntes, que segundo o próprio Quirino, tanto conduzem a algum caminho determinado, como seguram a criatividade do artista, numa visão semântica e crítica da palavra que fazem a originalidade do pintor como jornalista.
Ainda neste ano, a propósito dos "Objets Introuvables", conhecido também como "Minimal Art", ele põe em questão se pode considerar a arte somente pelo seu efeito. Esta discussão exigiria do leitor uma erudição incomum no nível teórico. Quirino conseguiu colocá-la em termos jornalísticos. E quem conhece o assunto, ficou pelo menos perturbado e preocupado diante do que se chama 'vanguarda'. Isto leva a uma análise, a uma posição mais profunda de seu conceito em relação à arte. "O ceticismo remove montanhas", na frase de Brecht, que se encaixa melhor ainda nas artes plásticas que no teatro, porque nunca tantos acreditaram tanto em tão poucas razões realmente artísticas como ocorre hoje.
Forçosamente um clássico
Uma pequena explicação: Quirino Campofiorito é um pintor que faz crítica. E nunca o crítico que faz pintura. Isto já elimina de vez qualquer especulação a respeito da inevitável comparação de sua visão crítica a respeito do seu trabalho. Ele próprio, se deixa definir na apresentação da exposição como um clássico. Forçosamente o seria. Estudou na Europa de onde veio no ventre de sua mãe espanhola para nascer em Belém do Pará, a 7 de setembro de 1902, onde frequentou ateliers de Pougheon, Charles Blanc, Bataglia e Coromaldi. Nestes anos entre 1929 a 1934, conquistados pelo prêmio de Viagem à Europa, o jovem Quirino viveu e absorveu a cultura europeia, ao lado da pintora Hilda Eisenlohr, com quem se casou. Educou-se nesta cultura, hoje em crise, mas na época, Paris e Roma tinham a força e dinamismo da qual nenhum intelectual tupiniquim poderia escapar.
Foram os anos que reforçaram seu aprendizado acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes, adquiridos na década de 20, quando iniciou-se na pintura. Ao retornar ao Brasil, em 1934, já era amigo de Cândido Portinari e companheiro de geração de Teruz, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Anita Malfati, enfim, dos que se tornaram mestres da pintura brasileira, aqueles brasileiros que primeiro tentaram uma visão nacional da pintura, antes proibidas pelo academicismo.
Estimular arte brasileira
Ainda no ano passado, quando uma campanha de intenções obscurantistas quis tirar de Portinari o mérito de introduzir o folclore na pintura brasileira, Quirino defendeu o artista. Explicou com objetividade que não foi nem Portinari nem Teruz que lançaram o folclore em nossa pintura. Foi a própria época, os anos que procederam a Semana de Arte Moderna. E esta capacidade de discernimento, de não tomar um outro partido senão o da própria arte, é marcante no pintor.
Nestes anos de 20, este grupo de primeira arte brasileira teve fundamental influência de um pintor estrangeiro, que conviveu com ele durante 5 anos. O personagem chamava-se Fujita, japonês de formação europeia. Desconhecido no Brasil, porém, conceituado na Europa, Fujita dominava uma técnica de pintura a óleo bastante particular. Utilizando-se de verniz, o japonês conseguia através da superfície rala de suas tintas, um brilho todo especial que refletia o espírito oriental através de uma técnica europeia.
Pelo fato de Fujita neste tempo ser hóspede convidado de Portinari, era evidente que este pintor tenha assimilado a técnica do companheiro. Se Portinari, com sua evolução conseguiu superar Teruz, durante quase toda a sua vida artística, empregou a técnica adquirida por Fujita. O interesse despertado nesse oriental, por nossos temas brasileiros, dado o desconhecimento de nossa terra do estrangeiro, foi um dos motivos pela qual os jovens artistas de arte moderna da época se motivaram para descobrir a arte brasileira.
Quirino viveu estes primeiros anos. Mas foi barrado por uma bolsa de estudos na Europa, se afastando por cinco anos. Voltou, encontrou novamente seus amigos. As dificuldades dos anos de 30 para fazer uma exposição, divulgar seus trabalhos, obrigou Quirino a viver de ilustrações, ensino, e jornalismo. O tempo para pesquisa sobre a pintura praticamente deixou de existir. E o tempo para teorizar e se contemporarizar sobre ela, aumentou. E sempre se conservou jovem apesar de seus atuais 70 anos, sem a demagogia muitas vezes comuns nos de sua geração. Sem se promover comercialmente em nenhum momento de sua vida.
Para Quirino, "primeiro o jornalismo, animado pelo propósito de estimular a evolução artística entre nós, e fazer conhecidos os artistas brasileiros, muito particularmente os jovens". Quando Roberto Pontual, totalmente desconhecido, quis fazer o seu Dicionário de Artes Plásticas, Quirino lhe emprestou seu arquivo particular, o mais completo do Brasil, de onde ele tirou pelo menos a metade das informações da obra. E o fez sem qualquer pretensão de aparecer. Somente um ou dois dos amigos mais íntimos sabem disto hoje.
No ano passado, numa reunião de críticos promovida pela "Collectio", Quirino, apesar de o mesmo Pontual estar agora chefiando o departamento de compras desta grande galeria, não deixou de criticar a reunião, a falta de espaço reservada à crítica de artes plásticas na Imprensa Brasileira, a falta de orientação artística das galerias, o mercenarismo de muitos grupos que tentam transformar tendências de opinião (gosto do consumidor) em arte.
Não é retrospectiva
"Esta exposição está longe de ser uma retrospectiva. Um longo panorama, pouco mais de 50 anos de dedicação ao fazer artístico. Mas foi sempre um trabalho em beneficio da arte - que muito nos estimulou o espírito e agora nos deixa com a consciência tranquila. Parece que ainda há algum tempo para finalizar um destino que jamais podemos nem quisemos contrariar. Agora, pensamos, a arte poderá finalmente ser a tarefa predominante. Sempre será tempo para tentar fazer parte do muito que circunstâncias irremovíveis impediram de realizar na medida desejada". Sem jornal e sem sua banca didática na ENBA, Quirino Campoforito, depois de 50 anos de trabalho dedicado em estimular a arte brasileira, desde ontem às 17 horas, teve sua exposição "Sumário Retrospectivo" inaugurada no Museu da Imagem e Som - praça Marechal Arcoverde.
Um Quirino bem temperado. Um Quirino que considera a velhice a pior doença (um comentário seu a respeito de Picasso, que estaria internado em Paris: "não importa que doença se tem a velhice e basta). A simplicidade marcante de sua personalidade, a timidez de não usar as pessoas, de confiar a divulgação de de sua obra a um contato pessoal com os jornais: no seu mesmo terno claro, voz mansa e pausada, sem a preocupação em conceder entrevistas (não deu nenhuma entrevista sobre a retrospectiva), Quirino hoje voltou à dedicação completa à arte pela qual sempre lutou. Livre, sem jornalismo, ilustração ou ensino, mas esperançoso. Quirino, silenciosamente está lá em Niterói. No seu atelier, pintando.
Fonte: Cultura Niteroi, “Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura”, publicado por Tizuka Yamasaki, em 21 de março de 1973. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Núcleo Bernardelli | Itaú Cultural
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 29 de maio de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Cultura Niteroi. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
Quirino Campofiorito (7 de setembro de 1902, Belém, Brasil — 16 de setembro de 1993, Niterói, Brasil) foi um pintor, desenhista e historiador da arte brasileiro. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes (RJ), onde foi aluno de Modesto Brocos e Rodolfo Chambelland, e posteriormente atuou como professor e vice-diretor da instituição. Viajou à Europa como prêmio, aprimorando sua pintura em Paris e Roma. Fundou a Escola de Belas Artes de Araraquara (SP) e integrou o Núcleo Bernardelli, movimento de renovação do ensino artístico no Brasil. Sua obra mescla retratos, cenas urbanas e naturezas-mortas, com influências da pintura metafísica. Publicou o livro História da Pintura Brasileira no Século XIX, vencedor do Prêmio Jabuti em 1983. Suas obras fazem parte dos acervos do Museu Nacional de Belas Artes e de outras importantes instituições brasileiras.
Quirino Campofiorito | Arremate Arte
Quirino Campofiorito nascido em Belém, no dia 7 de setembro de 1902, foi um artista brasileiro multifacetado: pintor, desenhista, gravador, caricaturista, ilustrador, crítico de arte, historiador e professor. Filho do arquiteto e pintor italiano Pietro Campofiorito, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1912, onde iniciou sua trajetória nas artes como ilustrador em revistas como O Tico-Tico e O Malho.
Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1920, tendo como mestres nomes como Modesto Brocos e Rodolfo Chambelland. Nos anos 1920, destacou-se nos Salões Nacionais, recebendo medalhas e, em 1929, o prêmio de viagem ao exterior. Estudou em Paris e Roma, aprimorando sua técnica e ampliando seu repertório artístico.
De volta ao Brasil, fundou a Escola de Belas Artes de Araraquara (SP) e foi um dos mentores do Núcleo Bernardelli, grupo que renovou o ensino artístico brasileiro. Lecionou na Escola Nacional de Belas Artes, onde se tornou vice-diretor e catedrático.
Sua produção mescla cenas urbanas, retratos e naturezas-mortas, com forte influência da pintura metafísica. Como historiador da arte, publicou o livro História da Pintura Brasileira no Século XIX, premiado com o Jabuti em 1983. Participou de exposições no Brasil e no exterior e teve obras incorporadas a acervos como o do Museu Nacional de Belas Artes.
Faleceu em 16 de setembro de 1993, na cidade de Niteroi, Rio de Janeiro.
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Quirino Campofiorito | Itaú Cultural
Quirino Campofiorito (Belém, Pará, 1902 - Niterói, Rio de Janeiro, 1993). Pintor, crítico de arte, professor, caricaturista, gravador. Filho do pintor e arquiteto italiano Pedro Campofiorito (1875-1945). Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro em 1912. Trabalha como ilustrador nas revistas Tico-Tico, Revista Infantil e publica charges nos periódicos A Maçã, O Malho, D. Quixote, entre outros trabalhos que o aproximam das artes gráficas, frequentando as oficinas de impressão. Em 1920, inicia os estudos na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), com os professores Modesto Brocos (1852-1936), Rodolfo Chambelland (1879-1967), João Baptista da Costa (1865-1926) e Augusto Bracet (1881-1960). Escreve para a coluna de Arte do jornal A Reação em 1926. Recebe da Enba o Prêmio de Viagem à Europa em 1929. Frequenta aulas na Académie Julian, na Académie de la Grande Chaumière e participa do Salon de Paris em 1931. Em Roma, estuda na Academia de Belas Artes e frequenta os cursos do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma. Em 1933, volta a residir em Paris e participa do Salon d’Automne. Retorna ao Brasil em 1934 e trabalha na organização da Escola de Belas Artes de Araraquara, interior de São Paulo, instituição que dirige entre 1935 e 1937, criando também o Salão de Belas Artes da mesma cidade. Em 1935, funda o periódico mensal Belas Artes, o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente à arte, e extinto em 1940 pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1938. Integra o Núcleo Bernardelli e torna-se seu presidente em 1942.
O grupo, formado por artistas como José Pancetti (1902-1958) e Milton Dacosta (1915-1988), se reunia à noite nos porões da Enba para discutir pintura, em busca de profissionalização e aprimoramento técnico. Participa ainda do grupo de artistas criadores da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes. É nomeado professor interino da Enba em 1938, ocupando a cadeira de desenho artístico até 1949, quando presta concurso para a cadeira de artes decorativas. Desde então, trabalha na atualização dos métodos de ensino da Escola de Belas Artes. Tal reformulação é acentuada com a entrada de Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Mário Barata (1921) para o corpo docente em 1954. Viaja à Europa em 1957 a serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para observar programas de ensino, visando à reforma do regulamento da Enba. Torna-se vice-diretor da Enba em 1961 e recebe o título de Professor Emérito da UFRJ em 1981. Publica críticas de arte em jornais do grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand (1892-1968), entre eles O Jornal, O Cruzeiro, Diário da Noite e Jornal do Comércio, atividade que exerce por cerca de 40 anos. Em 1983 publica História da Pintura Brasileira no Século XIX, obra referencial para o estudo da arte oitocentista, pela qual recebe o Prêmio Jabuti.
Análise da Trajetória
A produção artística e intelectual de Quirino Campofiorito transita por diferentes áreas em torno das artes plásticas. Trabalha em sua difusão como crítico de arte. Como professor, compromete-se com a consolidação e reforma de um sistema de ensino artístico. Como artista, dedica-se às artes gráficas, sobretudo à pintura.
A formação de Campofiorito dá-se entre os rigores acadêmicos, sendo o desenho seu principal instrumento de aprendizagem, com especial atenção ao estudo do nu e ao modelado. A temporada na Europa apresenta novos caminhos para sua pintura, apontados pela arte simbolista, pela pintura metafísica italiana e pelas experiências das vanguardas interpretadas pelo movimento de retorno à ordem. Estas influências podem ser sentidas desde sua produção dos anos 1930, nas vistas de Roma, e em estudos que almejam a formas mais espontâneas e sintéticas. A partir desse período, a produção Campofiorito dedica-se a questões centrais para pintura modernista no Brasil, como a forma simplificada e a tensão do espaço figurativo ao manipular as leis da perspectiva. Defensor da arte figurativa, entre seus temas encontram-se a observação de tipos populares e seus vínculos com o universo do trabalho. O quadro O Operário (1932) apresenta-se como um retrato de classe, marcado pela expressividade fisionômica e pelas formas protuberantes das mãos acostumadas à labuta. Em pinturas como Operários - Estudo n. 1 (1939) ou Café-Colheita (1940), que representam cenas de trabalho coletivo, nota-se a proximidade com a pintura de Candido Portinari (1903-1962) e com uma plasticidade que remete à pintura muralista.
As citações em suas pinturas propõem um passeio e um comentário sobre a história da arte. Na natureza-morta A Geléia Francesa (1932) explora soluções espaciais e cromáticas observadas nas pinturas de Cézanne (1939-1906). Ricordo di Roma (1941) remete ao passado classicista com fragmentos de uma estátua e monumentos justapostos como em uma colagem. Em Homenagem a Giorgio De Chirico (1973), dialoga com a pintura metafísica em composições de objetos em situação de estranhamento.
Apesar de sua resistência à abstração, realiza uma série de pinturas que a discutem, como Homenagem a Kasimir Malevitch (1979), na qual faz uma analogia entre formas concretas e elementos figurativos. A referência ao universo das artes plásticas também está presente em sua produção de charges, nas quais é recorrente a crítica do sistema cultural ou os comentários sobre as obras mais destacadas dos salões.
Como professor, busca uma prática de ensino atenta às diversas demandas da sociedade contemporânea, como a relação entre o desenho e a produção industrial nas artes gráficas, tecelagem etc.
Dedica muitos estudos às artes do século XIX, entre os quais o volume História da Pintura no Brasil no Século XIX, obra que configura uma visão ampla sobre a pintura oitocentista. No livro, Campofiorito apresenta o contexto geral e destaca os principais artistas de cada período. Parte de um breve traço biográfico e desenvolve considerações estéticas, atentando sobre as rupturas nos processos de amadurecimento dos artistas.
Ao longo de seus escritos, ressalta a necessidade de profissionalização da atividade do crítico de arte e identifica uma colaboração mútua entre a história da arte e a crítica. Participa do debate sobre o abstracionismo nos anos 1950, travado por críticos como Mário Pedrosa (1900-1981). Assim como outros artistas e intelectuais modernistas, Campofiorito resiste à chegada da arte abstrata ao Brasil. Argumenta que ela foge à proposta de modernização cultural baseada no reconhecimento das raízes populares. Compreende a arte abstrata como um projeto de tendência elitista, enquanto a arte figurativa é acessível a todos. Como crítico tem papel importante na afirmação da arte moderna no Brasil.
Críticas
"Na verdade, e desde o início, a carreira do pintor Quirino Campofiorito é contraditória e curiosamente ´pós-moderna´. Em plena década dos vinte, o seu aprendizado figurativo nasce de duas fontes, naquele tempo, antagônicas. Do academismo disciplinado e apático da Escola de Belas Artes, e, ao mesmo tempo, da revigorante atividade de ilustrador cartunista e desenhista publicitário da Metro Goldwin Meyer. Explica-se a facilidade com que compreendeu, em seguida, o modernismo de Paris dos anos trinta e, três décadas mais tarde, a apropriação ´pop´ dos EEUU. Durante os quarenta anos que se seguiram à volta da Europa, um temperamento naturalmente modesto levou a uma constante agressividade crítica, sempre dedicada à renovação do meio artístico, a compensar uma pintura retraída (...). Data do fim dos anos sessenta, o que chamamos de retomada ostensiva da pintura. E, como se fosse para lembrar o início de sua vida profissional, Quirino Campofiorito apresentou em 1971 - sua primeira exposição desde 1935 - um dos dois aspectos de sua pintura atual. ´Poster-painting´, cartazes deliberadamente alegóricos, mas pintados a óleo e concebidos como homenagens a Miguel Angelo, De Chirico, Brecht, Charlie-Chaplin e Malevitch (...)" — Ítalo Campofiorito (CAMPOFIORITO. Apresentação de Italo Campofiorito. Rio de Janeiro: Bolsa de Arte, 1977).
"Se bem que o magistério e a atividade crítica tenham sem dúvida roubado ao artista tempo precioso, Campofiorito é autor de considerável bagagem, destacando-se como autor de vistas urbanas, estudos de nu e figuras, naturezas-mortas e alegorias, nas quais repercute muito intensa a influência de De Chirico e do Metafisicismo. Talvez a parte mais perdurável de sua obra pictórica sejam as naturezas-mortas, em algumas das quais alcançou o pintor efeitos admiráveis de lirismo, uma nota pessoal e uma composição despojada, inconfundível" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
Depoimentos
"Minha vida de pintor é diferente da vida comum dos pintores. Estes fazem-se sempre comprometidos com as estritas atividades do ateliê. Assiduidade exclusiva à oficina de trabalho, para que seja alcançada a totalidade do que possa dar à sua obra. Eu sou daqueles raros exemplos que sempre atropelaram a assiduidade do ateliê de pintor com uma dedicação, igualmente assídua, a outras atividades que me movimentavam em espaços bem exigentes. Contudo, não neguei um só instante uma grande e responsável aplicação à arte realmente indicada por minha autêntica vocação: a pintura. As demais atividades resultam decorrências que se foram apresentando, desdobramentos de minhas convicções de pintor, que abriam caminhos que terminam por se fazer tão comprometedores de minha sensibilidade pelos problemas inerentes às artes plásticas conforme, particularmente, se demostrava em nosso país. Foi impossível para meu temperamento ser só pintor. (...) A pintura, as artes gráficas (na totalidade de suas variações), o jornalismo e o ensino, traçam o eixo de minha vida artística. Em torno, desse comportamento em retilíneo desenvolvimento, tendo sido o pintor que sou, o artista gráfico sempre empolgado com uma sedutora variedade de afazeres, o jornalista sempre voltado para a divulgação e o comentário artístico (da singela informação ao responsável ensaio crítico) e o ensino que não escapa aos objetivos que regem os entendimentos e a formação profissional do artista, o rigor da obra de arte (sua tecnicidade)".
Quirino Campofiorito
CAMPOFIORITO, Quirino. Retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista. Rio de Janeiro : MNBA, 1992. p. 13.
Acervos
Museo de La Plata - La Plata (Argentina)
Museu de Belas Artes - Belém PA
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Exposições
1927 - 34ª Exposição Geral de Belas Artes
1928 - 35ª Exposição Geral de Belas Artes
1929 - 36ª Exposição Geral de Belas Artes
1932 - Salon des Artistes Français
1933 - Salon d'Automne
1935 - Individual de Quirino Campofiorito
1935 - 41º Salão Nacional de Belas Artes
1936 - Individual de Quirino Campofiorito
1937 - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1938 - Exposição Internacional da Califórnia
1938 - 2º Salão de Maio
1943 - Exposição Anti-Eixo
1943 - Exposição Anti-Eixo
1944 - Exposição de Arte Moderna
1944 - 50º Salão Nacional de Belas Artes
1944 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1944 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1945 - Exhibition of Modern Brazilian Paintings
1945 - 20 Artistas Brasileños
1946 - Exposição dos Artistas Brasileiros ao Povo de Londres
1946 - Os Pintores vão à Escola do Povo
1951 - 1ª Bienal Internacional de São Paulo
1952 - 1º Salão Nacional de Arte Moderna
1953 - 4º Salão de Naturezas Mortas
1953 - 2º Salão Nacional de Arte Moderna
1954 - Exposição comemorativa do I Congresso Nacional de Intelectuais
1954 - Salão Preto e Branco
1955 - 1ª Exposição de Arte Brasileira Contemporânea
1966 - 50 Anos de Paisagem Brasileira
1956 - 5º Salão Nacional de Arte Moderna
1956 - 1º Salão Ferroviário
1958 - O Trabalho na Arte
1958 - Salão de Arte A Mãe e a Criança
1959 - 8º Salão Nacional de Arte Moderna
1961 - 6ª Bienal Internacional de São Paulo
1965 - 1º Salão Esso de Artistas Jovens
1966 - 15º Salão Nacional de Arte Moderna
1967 - 16º Salão Nacional de Arte Moderna
1967 - 9ª Bienal Internacional de São Paulo
1969 - 18º Salão Nacional de Arte Moderna
1970 - 19º Salão Nacional de Arte Moderna
1973 - Individual de Quirino Campofiorito
1973 - Sumário Retrospectivo: 1920-1973
1973 - Individual de Quirino Campofiorito
1973 - 22º Salão Nacional de Arte Moderna
1974 - 23º Salão Nacional de Arte Moderna
1974 - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira
1976 - 25º Salão Nacional de Arte Moderna
1977 - 50 Anos de Pintura
1978 - Desenhos dos Anos 30
1979 - Individual de Quirino Campofiorito
1979 - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas
1982 - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40
1982 - Universo do Futebol
1982 - Homenagem Quirino Campofiorito: 80 anos
1983 - Auto-Retratos Brasileiros
1984 - Individual de Quirino Campofiorito
1984 - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1984 - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras
1985 - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas
1987 - Aquarelas Brasileiras
1988 - Visões do Trabalho (1988 : Rio de Janeiro, RJ)
1992 - Quirino Campofiorito: retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista
1993 - 80 Anos de Paixão Gráfica: Quirino Campofiorito
1994 - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand
1994 - Bienal Brasil Século XX
1994 - Bienal Brasil Século XX
1998 - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ
2000 - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento
2000 - Arte Pará 2000
2000 - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Negro de Corpo e Alma
2000 - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960
2002 - Arte e Política
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2003 - Arte e Sociedade: uma relação polêmica
2004 - O Olhar Modernista de JK
2005 - Cidade Maravilhosa: uma iconografia carioca - 1920/1980
2006 - O Olhar Modernista de JK
2009 - Nus
2009 - Olhar da Crítica: Arte Premiada da ABCA e o Acervo Artístico dos Palácios
2011 - Exposição do Acervo da Pinacoteca Municipal Mário Ybarra de Almeida
2011 - Franz Weissman 1911-2005
2012 - Anna Maria Niemeyer: um caminho
2013 - Retratos sem Paredes (2013 : São Paulo, SP)
2016 - A Cor do Brasil
2020 - Pinacoteca: Acervo
2021 - A memória é uma invenção
Fonte: QUIRINO Campofiorito. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 29 de maio de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Quirino Campofiorito | Wikipédia
Quirino Campofiorito (Belém do Pará, 7 de setembro de 1902 — Niteroi, 16 de setembro de 1993) foi um pintor, desenhista, gravador e ilustrador, escritor, crítico de arte, caricaturista e professor brasileiro.
Era filho do também pintor e arquiteto italiano Pietro Campofiorito, era casado com a também pintora Hilda Campofiorito e foi pai do arquiteto Ítalo Campofiorito.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Quirino Campofiorito, pintor que procurou inserir sua experiência entre a linguagem abstrata e a figurativa | O Escavador
Quirino Campofiorito (Belém do Pará, 7 de setembro de 1902 – Niterói, Rio de Janeiro, 13 de setembro de 1994), pintor que procurou inserir sua experiência figurativa, pela presença do elemento figurativo. Campofiorito captou o ponto de coincidência entre a linguagem abstrata e a figurativa, e, de certo modo, reverteu o processo que conduzia à desintegração da pintura. Nesse esforço por juntar elementos antagônicos, Campofiorito realizou alguns trabalhos de real interesse.
Aluno de Belas Artes, colaborava como cartunista em publicações como “O Malho”, “O Tico-Tico”, “Diário da Noite” e “Jornal do Commércio”, entre outras. Em 1929, aos vinte e sete anos, ganhou uma bolsa de estudos na Europa pelo seu desempenho nas salas de aula.
Antes de viajar, casou-se com a primeira mulher a ingressar no curso de pintura da Escola de Belas Artes, sua aluna Hilda Eisenlohr (1901-1997). A estada do casal na Europa foi de estudos e viagens. Voltaram ao Brasil em 1934 quando Quirino realizou sua primeira exposição individual. Ainda naquele ano, o casal transferiu-se ara Araraquara, interior de São Paulo, atendendo a convite para que Quirino fundasse e dirigisse a Escola de Belas Artes local.
Em 1935 Quirino fundou o jornal “Belas Artes”, o primeiro periódico a tratar exclusivamente de arte. Durante cinco anos, Quirino divulgou amplamente o trabalho de novos pintores, ao mesmo tempo em que passou a atuar como crítico de arte.
Três anos mais tarde, assumiu a cátedra de desenho na Escola Nacional de Belas Artes. À partir de 1949, ocupou a cadeira de Arte Decorativa. No início dos anos cinqüenta , teve importante participação nos salões de arte moderna do país.
Quirino Campofiorito publicou livros de arte, como “História da pintura brasileira no século XIX” e “Vida e obra de Bustamante Sá”. Foi, também, membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (Aica), sediada em Roma, além de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Enquanto isso, Hilda ia se firmando como uma das mais excepcionais coloristas da pintura brasileira do século XX, e foi a última remanescente dos três extraordinários casais da arte pictória do Brasil: Georgina e Lucílio de Albuquerque, Haydée e Manoel Santiago e Hilda e Quirino Campofiorito.
Quirino Campofiorito morreu no dia 13 de setembro de 1994, em Niterói, Rio de Janeiro.
Fonte: O Escavador, “Quirino Campofiorito, pintor que procurou inserir sua experiência entre a linguagem abstrata e a figurativa”, publicado em 23 de setembro de 2014. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Quirino Compofiorito | Cultura Niteroi
Pintor, crítico de arte, professor, caricaturista e gravador, Quirino Compofiorito nasceu num dia 7 de setembro, ao som do Hino Nacional. Isso, em Belém, do Pará, no ano de 1902, quando sua família residia em frente a um quartel. Filho do pintor e arquiteto italiano Pedro Campofiorito, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1912, e logo em seguida para Niterói, quando seu pai foi convidado a projetar o Centro Cívico, no Centro da cidade, conjunto de prédios públicos no entorno da atual Praça da República.
Enquanto artista, Quirino nunca se limitou aos estreitos limites de seu ateliê de pintor. Ele mesmo reconhece que sua vida de pintor foi diferente da vida comum dos pintores. "Eu sou daqueles raros exemplos que sempre atropelaram a assiduidade do ateliê de pintor com uma dedicação, igualmente assídua, a outras atividades que me movimentavam em espaços bem existentes", reconheceu o artista.
Aluno de Modesto Brocos, Rodolfo Chambelland, João Baptista da Costa e Augusto Bracet na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde se matriculou, à revelia do pai, em 1920, começou sua vida de pintor recebendo prêmios e conquistando o máximo para a época - a Viagem ao Estrangeiro, em 1929. "Meu pai queria que eu fosse advogado. Chegou a me dar dinheiro para me matricular em Direito. Saí para a matrícula, mas no caminho entrei na Enba e fiz minha inscrição. Ele acabou me dando força."
Temporada na Europa
Pensionista da Enba, viveu com a esposa, e também artista, Hilda Eisenlohr (1902-1997), na Europa durante cinco anos, frequentando os centros de artistas mais em voga e visitando os grandes museus de Paris e de Roma. Na capital francesa, principalmente, o jovem artista brasileiro fixou seus estudos e foi um frequentador assíduo da Académie de la Grande Chaumière. Expôs no "Salon de la Société des Beaux Arts" em 1931 e no "Salon d'Automne" em 1933. Em Roma, estudou na Ecole di Belle Arti e frequentou os cursos do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma.
Em 1935 teve que literalmente fugir da Itália fascista, para evitar que a polícia política do "Duce" chauvinisticamente impingisse a ele e ao filho que crescia no ventre de Hilda a cidadania italiana.
Sua formação inicial deu-se entre os rigores acadêmicos, sendo o desenho seu principal instrumento de aprendizagem, com especial atenção ao estudo do nu e ao modelado. A temporada na Europa significou novos rumos para sua pintura, apontados pela arte simbolista e pela pintura metafísica italiana. Estas influências podem ser sentidas desde sua produção dos anos 1930.
A partir desse período, Quirino dedicou-se às questões centrais para pintura modernista no Brasil, como a forma simplificada e a tensão do espaço figurativo ao manipular as leis da perspectiva. Defensor da arte figurativa, entre seus temas encontram-se a observação de tipos populares e seus vínculos com o universo do trabalho. Uma de suas mais reconhecidas obras, o quadro "O Operário (1932)" apresenta-se como um retrato de classe, marcado pela expressividade fisionômica e pelas formas protuberantes das mãos acostumadas à labuta.
De volta ao Brasil, em 1934, trabalhou na organização da Escola de Belas Artes de Araraquara, interior de São Paulo, instituição que dirigiu entre 1935 e 1937, criando também o Salão de Belas Artes da mesma cidade. Inspirado em sua temporada na Itália, em 1938 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e passou a ter o dissabor de enfrentar a repressão política do Estado Novo.
Participou ainda do grupo de artistas criadores da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes e foi nomeado professor interino da Enba em 1938, ocupando a cadeira de desenho artístico até 1949, quando prestou concurso para a cadeira de artes decorativas. Integrou o Núcleo Bernardelli, tornando-se seu presidente em 1942. O núcleo foi um grupo criado por pintores modernistas, em 1931, com o objetivo de oferecer alternativa para o ensino oficial da Escola Nacional de Belas Artes, enfatizando a liberdade de expressão artística.
Esteve também em outra mostra de significação histórica: a de Arte Moderna de Belo Horizonte, em 1943, e lutou pela criação do Salão Nacional de Arte Moderna.
Viajou à Europa em 1957 a serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para observar programas de ensino, visando à reforma do regulamento da Enba. Tornou-se vice-diretor da Escola em 1961 e recebe o título de Professor Emérito da UFRJ em 1981.
O artista foi homenageado em 1971 pelo Museu da Imagem e do Som com o prêmio "Estácio de Sá". A premiação, destinada a personalidade que haja estimulado e animado setores da vida artística no País foi dada, pela primeira vez em sua história, a um crítico de arte, que sendo pintor e professor nesta multiplicidade de atividades, sempre foi, pela palavra escrita, um crítico, aliás o decano desta atividade cultural no Rio, havendo começado a escrever sobre artes plásticas em 1926, no diário "A Reação".
Em 1979, na Galeria Anna Maria Niemeyer (Gávea-Rio de Janeiro), onde realizava uma exposição, recebeu o prêmio de Artista de Destaque do Ano, pela Associação Brasileira de Críticos de Arte. Quirino foi agraciado com uma escultura de Mauricio Salgueiro (promoção do INAP Funarte).
Suas obras
Quirino Campofiorito possui quadros em várias galerias entre os quais poderemos citar: Museu Nacional de Belas Artes, Museu Mariano Procópio (Minas Gerais), Galeria Núcleo de Belas Artes de Araraquara, Galeria da Escola de Belas Artes de Pernambuco, e Coleções Particulares no Brasil e no exterior.
Teve seus trabalhos expostos nos Salões de Maio da Associação dos Artistas Brasileiros, no Salão Paulista de Belas Artes, Salões do Núcleo Bernardelli, Salão Fluminense de Belas Artes, Salão de Belas Artes de Araraquara e muitas outras exposições coletivas no Rio e nos Estados, merecendo destaque especial a Exposição Internacional da Califórnia, Estados Unidos da América, em 1938, no Museu da Imagem e do Som, em 1973 ("Sumário Retrospectivo"), e a homenagem pelos seus 80 anos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em 1982. As comemorações dos 90 anos do artista, em 1992, foram na Sala Bernardelli do Museu Nacional de Belas Artes. Na década de 2000, o Solar do Jambeiro, em Niterói, criou uma exposição permanente de suas obras e de sua esposa.
O Escritor
As dificuldades dos anos de 30 para fazer uma exposição, divulgar seus trabalhos, obrigou Quirino a viver de ilustrações, ensino e jornalismo. O tempo para pesquisa sobre a pintura praticamente deixou de existir. Além de pintor, Quirino teve uma notável cultura artística, sendo autor de uma infinidade de trabalhos sobre artes plásticas, que lhe deram uma grande projeção. Colaborou ainda em vários jornais e revistas no Brasil e no exterior.
Em 1917, já colaborava com a Revista Tico-Tico, com desenhos e contos. No ano seguinte, já dirigia o quinzenário "O Escolar". Em 1926, estreou como colunista de arte no jornal "A Reação. Em 1935, fundou e dirigiu o periódico mensal "Belas Artes", o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente à arte, e que circulou até 1940. Trabalhou como ilustrador nas revistas Tico-Tico, Revista Infantil e publica charges nos periódicos "A Maçã", "O Malho", "D. Quixote", "Rio Social" entre outros trabalhos que o aproximam das artes gráficas, frequentando as oficinas de impressão.
Entre os seus mais relevantes escritos acadêmicos, podemos citar: "Orientação do Ensino de Artes Decorativas"; "A Compreensão da Forma para a realização de uma obra de arte" e "O impressionismo e a confusão na pintura moderna". Em sua produção literária, sempre ressaltou a necessidade de profissionalização da atividade do crítico de arte e identificou uma colaboração mútua entre a história da arte e a crítica.
Em 1965, ilustrou o livro "Itinerário da Paisagem Carioca", de Nestor de Holanda. Em 1964, escreveu para a Revista 'O Cruzeiro' o artigo "No Mundo Maravilhoso de Djanira" uma longa e rica apresentação da obra da artista paulista. Em 1983 publicou "História da Pintura Brasileira no Século XIX" (Editora Pinakotheke), obra referencial para o estudo da arte oitocentista, pela qual recebe o Prêmio Jabuti.
No livro, apresentou o contexto geral e destacou os principais artistas de cada período. Partiu de um breve traço biográfico para desenvolver considerações estéticas, atentando sobre as rupturas nos processos de amadurecimento dos artistas. Em 1986 publicou o livro "A Pintura de Bustamante Sá" (Cabicieri Editorial).
Fez parte de um grande número de associações culturais entre as quais a Associação dos Artistas Brasileiros (Diretor de Artes Plásticos); o já citado Núcleo Bernardelli; o Instituto Brasileiro da História da Arte; a Associação Artística Plástica Pedro Américo; a Academia Fluminense de Letras (Divisão de Artes Plásticas) e a Liga da Defesa Nacional ("Comissão de Arte").
O Legado
Inúmeros foram os serviços prestados por Quirino aos artistas plásticos da corrente modernista. Como professor e como animador, teve um papel de destaque no desenvolvimento das artes brasileiras. Como membro da Comissão de Arte da Liga da Defesa Nacional, realizou a Feira de Arte Moderna (Associação Brasileira de Imprensa - 1943), e trabalhou na realização da Feira de Arte Moderna no Estado do Rio e em São Paulo.
Como crítico de arte, participou intensamente do debate sobre o abstracionismo nos anos 1950, travado por críticos como Mário Pedrosa. Assim como outros artistas e intelectuais modernistas, resistiu à chegada da arte abstrata ao Brasil, argumentando que ela fugia à proposta de modernização cultural baseada no reconhecimento das raízes populares. Quirino compreendia a arte abstrata como um projeto de tendência elitista, enquanto a arte figurativa é acessível a todos.
Como educador, ajudou a reformar o sistema de ensino artístico no brasil, buscando uma prática atenta às diversas demandas da sociedade contemporânea, como a relação entre o desenho e a produção industrial nas artes gráficas, tecelagem etc.
Quirino Campofiorito sempre se comportou como um artista, como um lutador pela divulgação das artes ou pela formação de novos artistas. Foi um grande animador que via sempre qualidades no estreante, que estimulava sempre um idealista e que, mesmo fora da sala de aula, se mantinha como um mestre que zelava essencialmente pela liberdade de seus discípulos. Politicamente também nunca se omitiu. Aposentado em fins da década de 1960 pelo AI5, guarda esse episódio com um sentimento de orgulho. "Se eu não tivesse sido cassado, acho que teria morrido, não estaria hoje comemorando meus 80 anos", disse em uma entrevista em 1992. "Pra mim, isso é como um reconhecimento de que não fui conivente com tudo isso que o Brasil passou desde 1964", completou.
Aposentado em fim da década de 60 pelo Al-5, quando lecionava na Enba, guarda desse episódio um sentimento de orgulho: "Se eu não tivesse sido cassado pelo Ato 5, acho que teria morrido, não estaria hoje comemorando meus 80 anos. Pois, para mim, isso é como um reconhecimento de que não fui conivente com tudo isso que o Brasil passou desde 64", afirma.
A cineasta Tizuka Yamasaki escreveu em 1973 que "hoje, em mais de 50 anos dedicados inteiramente no fazer e analisar a arte brasileira, Quirino conseguiu pelo menos duas coisas notáveis: não ficar milionário e não se prender a qualquer corrente, seja ela estética, de geração, ideológica. Sua constante atualização e sua formação clássica lhe permite entender a pintura como um processo, nunca preso às correntes, que segundo o próprio Quirino, tanto conduzem a algum caminho determinado, como seguram a criatividade do artista, numa visão semântica e crítica da palavra que fazem a originalidade do pintor como jornalista." (leia em Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura, por Tizuka Yamasaki)
O artista morreu em 1993 e desde então empresta sem nome a uma galeria de arte no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, no bairro de Icaraí, em Niterói.
Durante as comemorações do IV Centenário de Niterói, em 1973, escreveu num opúsculo relativo à exposição comemorativa que fez, na antiga Galeria do Campo, na rua Lopes Trovão, em Icaraí: "Acompanhei o meu tempo. Não com a velocidade que este impunha para segui-lo lado a lado. Procurei, porém, não ficar muito atrás, o que pode ser constatado na totalidade da obra que realizei (...)".
Discordamos Mestre. Não ficou.
Crítica
O quadro "Praia" mostra bem o valor pictórico do seu autor. A par de uma cor bem amena para a visão do espectador, há como que um sentimento muito marcado nas figuras, nos peixes e em todo o ambiente. Aquilo que Quirino exprime em sua pintura é bem a representação do valor humano do artista. As figurinhas do fundo simbolizam a espécie humana em seu desdobramento e ao mesmo tempo a própria vida do pintor na sua etapa atual. Os peixes estão no primeiro plano e são de tal forma vivos e harmoniosamente plasmados, que emprestam a todo o quadro um grande ambiente de ternura. Em conjunto, pode-se dizer com segurança que a característica mais saliente nesse quadro é a ingenuidade sempre tão presente na obra do artista e uma das qualidades mais apreciadas hoje em dia na pintura. (Por Sylvia de Leon Chalreo, Revista Rio Social, 1943)
Fonte: Cultura Niteroi, “Quirino Campofiorito”, publicado em 3 de maio de 2021. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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"Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura" | Cultura Niteroi
Ele tem a idade da pintura brasileira. Quando a Semana de Arte de 22 estourou no país, trazendo uma visão brasileira da arte, Quirino Campofiorito tinha 20 anos. A idade que se começa a fazer alguma coisa por exemplo, a pintura. Hoje, em mais de 50 anos dedicados inteiramente no fazer e analisar a arte brasileira, Quirino conseguiu pelo menos duas coisas notáveis: não ficar milionário e não se prender a qualquer corrente, seja ela estética, de geração, ideológica.
No ano passado, as páginas deste "O JORNAL", onde trabalhou desde 1944, estiveram carregadas de críticas fortes ao atual esquema que domina as artes plásticas - da valorização comercial, da falta de critério artístico, da falta de visão não só da parte dos artistas como dos marchands, das galerias, grupos alheios à arte, que dominam com força cada vez maior o mercado artístico brasileiro. Estas críticas partiam de um homem de 70 anos, que conserva no escrever a ironia e a objetividade que faltam à maioria dos jovens que atualmente fazem o que se chama de crítica de arte.
Corrente segura criatividade
Mais importante que a posição diante da análise crítica, irônica e doce do pintor Quirino Campofiorito, talvez seja sua permanente atualidade. Afastado do ensino da Escola Nacional de Belas Artes deste 1969 - aposentado compulsoriamente pelo AI-5 -, no mínimo por ter ideias muito liberais, ele continuou a exercer a crítica em jornais, com o mesmo vigor de sempre. Sua constante atualização e sua formação clássica lhe permite entender a pintura como um processo , nunca preso às correntes, que segundo o próprio Quirino, tanto conduzem a algum caminho determinado, como seguram a criatividade do artista, numa visão semântica e crítica da palavra que fazem a originalidade do pintor como jornalista.
Ainda neste ano, a propósito dos "Objets Introuvables", conhecido também como "Minimal Art", ele põe em questão se pode considerar a arte somente pelo seu efeito. Esta discussão exigiria do leitor uma erudição incomum no nível teórico. Quirino conseguiu colocá-la em termos jornalísticos. E quem conhece o assunto, ficou pelo menos perturbado e preocupado diante do que se chama 'vanguarda'. Isto leva a uma análise, a uma posição mais profunda de seu conceito em relação à arte. "O ceticismo remove montanhas", na frase de Brecht, que se encaixa melhor ainda nas artes plásticas que no teatro, porque nunca tantos acreditaram tanto em tão poucas razões realmente artísticas como ocorre hoje.
Forçosamente um clássico
Uma pequena explicação: Quirino Campofiorito é um pintor que faz crítica. E nunca o crítico que faz pintura. Isto já elimina de vez qualquer especulação a respeito da inevitável comparação de sua visão crítica a respeito do seu trabalho. Ele próprio, se deixa definir na apresentação da exposição como um clássico. Forçosamente o seria. Estudou na Europa de onde veio no ventre de sua mãe espanhola para nascer em Belém do Pará, a 7 de setembro de 1902, onde frequentou ateliers de Pougheon, Charles Blanc, Bataglia e Coromaldi. Nestes anos entre 1929 a 1934, conquistados pelo prêmio de Viagem à Europa, o jovem Quirino viveu e absorveu a cultura europeia, ao lado da pintora Hilda Eisenlohr, com quem se casou. Educou-se nesta cultura, hoje em crise, mas na época, Paris e Roma tinham a força e dinamismo da qual nenhum intelectual tupiniquim poderia escapar.
Foram os anos que reforçaram seu aprendizado acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes, adquiridos na década de 20, quando iniciou-se na pintura. Ao retornar ao Brasil, em 1934, já era amigo de Cândido Portinari e companheiro de geração de Teruz, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Anita Malfati, enfim, dos que se tornaram mestres da pintura brasileira, aqueles brasileiros que primeiro tentaram uma visão nacional da pintura, antes proibidas pelo academicismo.
Estimular arte brasileira
Ainda no ano passado, quando uma campanha de intenções obscurantistas quis tirar de Portinari o mérito de introduzir o folclore na pintura brasileira, Quirino defendeu o artista. Explicou com objetividade que não foi nem Portinari nem Teruz que lançaram o folclore em nossa pintura. Foi a própria época, os anos que procederam a Semana de Arte Moderna. E esta capacidade de discernimento, de não tomar um outro partido senão o da própria arte, é marcante no pintor.
Nestes anos de 20, este grupo de primeira arte brasileira teve fundamental influência de um pintor estrangeiro, que conviveu com ele durante 5 anos. O personagem chamava-se Fujita, japonês de formação europeia. Desconhecido no Brasil, porém, conceituado na Europa, Fujita dominava uma técnica de pintura a óleo bastante particular. Utilizando-se de verniz, o japonês conseguia através da superfície rala de suas tintas, um brilho todo especial que refletia o espírito oriental através de uma técnica europeia.
Pelo fato de Fujita neste tempo ser hóspede convidado de Portinari, era evidente que este pintor tenha assimilado a técnica do companheiro. Se Portinari, com sua evolução conseguiu superar Teruz, durante quase toda a sua vida artística, empregou a técnica adquirida por Fujita. O interesse despertado nesse oriental, por nossos temas brasileiros, dado o desconhecimento de nossa terra do estrangeiro, foi um dos motivos pela qual os jovens artistas de arte moderna da época se motivaram para descobrir a arte brasileira.
Quirino viveu estes primeiros anos. Mas foi barrado por uma bolsa de estudos na Europa, se afastando por cinco anos. Voltou, encontrou novamente seus amigos. As dificuldades dos anos de 30 para fazer uma exposição, divulgar seus trabalhos, obrigou Quirino a viver de ilustrações, ensino, e jornalismo. O tempo para pesquisa sobre a pintura praticamente deixou de existir. E o tempo para teorizar e se contemporarizar sobre ela, aumentou. E sempre se conservou jovem apesar de seus atuais 70 anos, sem a demagogia muitas vezes comuns nos de sua geração. Sem se promover comercialmente em nenhum momento de sua vida.
Para Quirino, "primeiro o jornalismo, animado pelo propósito de estimular a evolução artística entre nós, e fazer conhecidos os artistas brasileiros, muito particularmente os jovens". Quando Roberto Pontual, totalmente desconhecido, quis fazer o seu Dicionário de Artes Plásticas, Quirino lhe emprestou seu arquivo particular, o mais completo do Brasil, de onde ele tirou pelo menos a metade das informações da obra. E o fez sem qualquer pretensão de aparecer. Somente um ou dois dos amigos mais íntimos sabem disto hoje.
No ano passado, numa reunião de críticos promovida pela "Collectio", Quirino, apesar de o mesmo Pontual estar agora chefiando o departamento de compras desta grande galeria, não deixou de criticar a reunião, a falta de espaço reservada à crítica de artes plásticas na Imprensa Brasileira, a falta de orientação artística das galerias, o mercenarismo de muitos grupos que tentam transformar tendências de opinião (gosto do consumidor) em arte.
Não é retrospectiva
"Esta exposição está longe de ser uma retrospectiva. Um longo panorama, pouco mais de 50 anos de dedicação ao fazer artístico. Mas foi sempre um trabalho em beneficio da arte - que muito nos estimulou o espírito e agora nos deixa com a consciência tranquila. Parece que ainda há algum tempo para finalizar um destino que jamais podemos nem quisemos contrariar. Agora, pensamos, a arte poderá finalmente ser a tarefa predominante. Sempre será tempo para tentar fazer parte do muito que circunstâncias irremovíveis impediram de realizar na medida desejada". Sem jornal e sem sua banca didática na ENBA, Quirino Campoforito, depois de 50 anos de trabalho dedicado em estimular a arte brasileira, desde ontem às 17 horas, teve sua exposição "Sumário Retrospectivo" inaugurada no Museu da Imagem e Som - praça Marechal Arcoverde.
Um Quirino bem temperado. Um Quirino que considera a velhice a pior doença (um comentário seu a respeito de Picasso, que estaria internado em Paris: "não importa que doença se tem a velhice e basta). A simplicidade marcante de sua personalidade, a timidez de não usar as pessoas, de confiar a divulgação de de sua obra a um contato pessoal com os jornais: no seu mesmo terno claro, voz mansa e pausada, sem a preocupação em conceder entrevistas (não deu nenhuma entrevista sobre a retrospectiva), Quirino hoje voltou à dedicação completa à arte pela qual sempre lutou. Livre, sem jornalismo, ilustração ou ensino, mas esperançoso. Quirino, silenciosamente está lá em Niterói. No seu atelier, pintando.
Fonte: Cultura Niteroi, “Quirino Campofiorito - 50 anos de pintura”, publicado por Tizuka Yamasaki, em 21 de março de 1973. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.
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Núcleo Bernardelli | Itaú Cultural
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 29 de maio de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Crédito fotográfico: Cultura Niteroi. Consultado pela última vez em 29 de maio de 2025.