Joaquim Albuquerque Tenreiro (Melo Guarda, Beira Alta, Portugal, 18 de abril de 1906 - Itapira, SP, 21 de junho de 1992) foi um marceneiro, projetista de mobiliário (designer de móveis), pintor, gravador, desenhista e escultor português, radicado no Brasil. Foi integrante do famoso Núcleo Bernardelli e criador da linha moderna do móvel brasileiro.
Biografia - Itaú Cultural
Filho e neto de marceneiros, aos dois anos de idade muda-se para o Brasil com a família, fixando residência em Niterói, Rio de Janeiro. Retorna a Portugal em 1914, onde ajuda o pai a realizar trabalhos em madeira e inicia aulas de pintura. Volta a viver no Brasil entre 1925 e 1927. Em 1928, transfere-se definitivamente para o Rio de Janeiro, passando a freqüentar o curso de desenho do Liceu Literário Português e faz cursos no Liceu de Artes e Ofícios. Em 1931, integra o Núcleo Bernardelli, grupo criado em oposição ao ensino acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Na década de 1940, dedica-se à pintura de retrato, de paisagem e de natureza-morta. Entre 1933 e 1943, trabalha como designer de móveis nas empresas Laubissh & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes. Em 1942, realiza para a residência de Francisco Inácio Peixoto seu primeiro móvel moderno. Em 1943, monta sua primeira oficina, a Langenbach & Tenreiro e, alguns anos depois, inaugura duas lojas de móveis; primeiro no Rio de Janeiro e, posteriromente, em São Paulo. No final da década de 1960, Joaquim Tenreiro encerra as atividades na área da concepção e fabricação de móveis para dedicar-se, por mais 20 anos, exclusivamente às artes plásticas, principalmente à escultura. Em 1969, executa um painel para a Sinagoga Templo Sidon e, em 1974, dois painéis para o auditório do Senai, ambos na Tijuca.
Comentário Crítico
Joaquim Tenreiro nasce em Melo, pequena aldeia de Portugal, e fixa-se no Rio de Janeiro em 1928. Filho e neto de marceneiros, aprende a trabalhar com a madeira ainda criança. Em 1929, cursa desenho no Liceu Literário Português, paralelamente estuda no Liceu de Artes de Ofícios. Participa, em 1931, do Núcleo Bernardelli, tendo como colegas, entre outros, os pintores José Pancetti (1902 - 1958) e Milton Dacosta (1915 - 1988). Trabalha, entre 1933 e 1943, como projetista nas firmas Laubish & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes, especializadas em móveis de estilos francês, italiano e português - "luízes de todos os números e renascimentos tardos de 400 anos", como relata Tenreiro, ironicamente. Funda, em 1943, a empresa Langenbach & Tenreiro, colocando em prática sua concepção de móvel moderno.
Torna-se conhecido como designer em 1942, quando recebe a primeira encomenda de móveis, para a residência de Francisco Inácio Peixoto, em Cataguases, interior de Minas Gerais, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907 - 2012). Esses são os primeiros exemplares concebidos, projetados e realizados por ele, que se distinguem pela sobriedade e beleza das formas e pela sábia utilização de madeiras brasileiras. Dialoga também com a pureza das formas arquitetônicas de Niemeyer.
A Poltrona Leve (ca.1942) - realizada nas versões clara, em madeira marfim, e escura, em imbuia, com tecido estampado por Fayga Ostrower (1920 - 2001) - é uma de suas produções mais conhecidas, concebida de acordo com a idéia de que a mobília brasileira deve ser formalmente mais leve. Nas palavras de Tenreiro, leveza que nada tem a ver com o peso em si, mas com a graça e funcionalidade. Atestando a modernidade dos móveis feitos no Brasil, o design de Tenreiro tem por princípios a adequação à função e o despojamento.
Na Cadeira de Três Pés (ca.1947), inova ao associar a geometria a um uso muito particular das cores das madeiras nacionais. Composta de combinações de madeiras de diferentes tonalidades (imbuia, roxinho, jacarandá, marfim e cabreúva), essa cadeira apresenta um refinado jogo cromático. O uso da cor, anteriormente restrito ao acabamento dos móveis, torna-se um conceito central em sua criação. Na Cadeira de Balanço (ca.1948) utiliza a palhinha - uma tradição do móvel colonial brasileiro, retomada pelo artista - e o jacarandá. Como outros móveis de Tenreiro desse período, ela tem uma aparência leve e luminosa, contrastando com a mobília sólida e sóbria, criada anteriormente para a firma Laubisch & Hirth.
Em algumas cadeiras e poltronas, o artista explora os efeitos plásticos da trama em palhinha e outros materiais que evocam o trançado e a cestaria indígenas. O uso de madeira e fibras naturais associa-se à necessidade de adequar os móveis ao clima tropical. Juntamente com estas composições orgânicas, outras peças de Tenreiro como, por exemplo, a Cadeira Estrutural, apresentam linhas retas e elementos geométricos, regulares, empregando estruturas tanto de madeira (1957) quanto de metal (1961). O conhecimento profundo da madeira permite a Tenreiro obter a qualidade poética de suas obras.
No fim da década de 1960, por questões pessoais e também de mercado, encerra as atividades de designer e dedica-se principalmente à escultura. Produz relevos, treliças e colunas em madeira policromada, nas quais se destacam a combinação da produção artística e o amplo conhecimento do trabalho. Algumas soluções, contidas na funcionalidade dos móveis criados por ele, são utilizadas de maneira mais livre na escultura. As técnicas de composição cromática empregadas, por exemplo, na Cadeira de Três Pés, são retomadas posteriormente em alguns relevos, em que o artista explora as diferenças de cor, texturas e os veios da madeira, como em Círculos (1979). A produção de Tenreiro alia, portanto, as características modernas do despojamento e simplicidade ao uso de materiais brasileiros. Assegura às peças produzidas uma qualidade artisticamente elaborada, renovando, assim, o desenho do móvel brasileiro.
Críticas
"Ao usar tachas, pregos, lâminas, compensados ou madeira compensada, Tenreiro abre um glossário capaz de percorrer boa área do Construtivismo tridimensional, sem forçar a limitação de uma composição pictórica. A terceira dimensão em suas ´construções plásticas´ é a ponte de acesso à dimensão ´tempo-espaço´ (própria da escultura como tese), e é neste atributo maior de uma proposição visual que a obra atual de Joaquim Tenreiro adiquire espontaneidade e plenitude e se realiza.
Por não exigir do observador conotação biográfica nem tradução cabalística para ser entendida, a comunicabilidade resulta mais bem amparada na imediata percepção do ritmo e da harmonia emergentes dos recortes, dos vazamentos e dos relevos. Pelo sentido da pesquisa, Tenreiro se identifica aos construtivistas contemporâneos, entretanto pelo caráter do lavor ele se encontra entre aqueles que vêm vindo através dos tempos, de vez em quando precisando de alguém que lhes ajude a decifrar a data que trazem na alma".
Clarival do Prado Valladares (VALLADARES, Clarival do Prado. Tenreiro. Jornal do Commércio, Rio de Janeiro, 13 jun. 1971.)
"Tenreiro, português de nascimento, criador da linha moderna do móvel brasileiro, fundiu os instrumentos de sua profissão de artesão do mobiliário ao conhecimento técnico de um artista que já produziu a mais autêntica e sensível pintura, geralmente sobre a paisagem carioca. A composição de seus relevos obedece aos princípios básicos da ordem, do claro-escuro, do fascínio ótico que permite a ilusão e faz magia com as perspectivas. Utilizando a madeira e o cartão, exercitou variações de estruturas geométricas, criando ondulações orgânicas, células que sugerem o tecido ininterrupto da matéria-prima sobre a qual as figuras da natureza se definem. O labirinto, a sombra, os planos vazados, o movimento virtual são dados físicos dessa arte racional e organicista, que se enraíza na tradição e encontra nisso força e justificativa. Porque nada se sustenta sem o sopro do passado, por mais futuro que possa ser".
Walmir Ayala (AYALA, Walmir. Esculturas de parede. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 jul. 1972.)
"(...) amo o seu amor da materies-matéria-madeira: amo o seu amor da textura, da fibra, da tactilidade, da termicidade, da ponderabilidade, da flexibilidade, da organicidade, da bondade dessa nobilíssima vida vivente mesmo quando abatida, mas transfigurada na sua íntima vocação neguentrópica. Amo, no amor de Tenreiro por essa matéria, o senso organizador, despojador, buscador da vocação dessa própria matéria-prima, primeva, primeira, com dar-lhe, na sua forma final artesanalíssima, essa serena essência de lenho, ligno, lenhame, ligname.
E amo, no seu amor da madeira, suas propostas implícitas de magnificações, minificações, extensões, continuações, como frisos, como arabescos, como gregas, como motes - esboçados na sua radicalidade, ´terminados´ suspensivamente em opere aperte cuja continuidade permite aos nossos devaneios divagar em múltiplos, oriundos dos seus morfemas esculpictóricos ou que outro belo nome tenham".
Antônio Houaiss (HOUAISS, Antônio, citado por L. M. Gonzalez. In: GONZALEZ, L. M. Tenreiro na Bonino e Paoli na Studio. Jornal do Commércio, Rio de Janeiro, 23 maio 1975.)
"Tenreiro só iria se dedicar mais amplamente à pintura nos anos 40. Sua pintura dessa época - retratos, auto-retratos, paisagens, naturezas-mortas - é caracterizada pelo comedimento da cor e pelo despojamento formal. Nos retratos sente-se uma possível influência de Guignard, artista que Tenreiro sempre admirou. Como seus colegas, pintou os bairros que adentravam a paisagem carioca, Glória, Santa Teresa, Laranjeiras e Morro do Querosene. Prevalecem os verdes quase escuros nas paisagens que se abrem para espaços amplos nos quais o casario se perde na vegetação, ou os ocres e cinzas, os meios-tons, nas ladeiras e terraços. Quase sem exceção, a crítica dos anos 40 - Flávio de Aquino, Antônio Bento, Mário Barata, Silvia Chalreo, entre outros - elogiou estas paisagens e outras realizadas em cidades históricas mineiras, como as de São João Del Rei. Nas paisagens mineiras, a crítica assinalou ´o harmonioso colorido e justeza de tons´, nas do Rio,´sua capacidade de enfrentá-las com desenvoltura, apontando bem a calma tristeza de alguns morros e arrabaldes´. Rubem Navarra fala de suas paisagens ´tão bem compostas, com seus verdes tão bem descritos, tão poéticos, tão introvertidos´, e da ´ascese forçada de seus meios´. Não é outra coisa o que diz Quirino Campofiorito, ao observar que em sua pintura ´não existem gritos que se possam ouvir de longe´. Aliás, este comedimento, serenidade e equilíbrio emocional parece ser a marca principal do artista. De fato, nada nele grita, por isso mesmo sua obra não afasta nem choca o espectador".
Frederico Morais (MORAIS, Frederico. Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
Exposições Individuais
1946 - Rio de Janeiro RJ - Primeira individual, no IAB/RJ
1949 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Domus
1967 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Copacabana
1970 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino
1971 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Documenta
1973 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino
1978 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP
1983 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Paulo Klabin
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Centro Empresarial do Rio de Janeiro
1988 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Tríade Galeria
1989 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan
Exposições Coletivas
1941 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes/Divisão Moderna - medalha de bronze
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1945 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes/Divisão Moderna - medalha de prata
1946 - Rio de Janeiro RJ - Os Pintores vão à Escola do Povo, na Enba
1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais
1960 - Rio de Janeiro RJ - 9º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ - menção do júri em desenho
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1967 - Rio de Janeiro RJ - 3ª O Rosto e a Obra, na Galeria Ibeu Copacabana
1971 - Rio de Janeiro RJ - 9ª Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1972 - São Paulo SP - 4º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Arte Multiplicada Brasileira, na Multipla de Arte
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana
1975 - São Paulo SP - 7º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1977 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no MAM/RJ
1978 - São Paulo SP - 10º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Rio de Janeiro RJ - Escultores Brasileiros, na Galeria Aktuell
1981 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no IAB/RJ
1982 - São Paulo SP - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Rio de Janeiro RJ - 4 Escultores Pintores, 4 Pintores Escultores, na Galeria Aktuell
1983 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj
1984 - Rio de Janeiro RJ - Madeira, Matéria de Arte, no MAM/RJ
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1991 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no Rio Design Center
Exposições Póstumas
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1996 - Niterói RJ - Arte Contemporânea Brasileira na Coleção João Sattamini, no MAC/Niterói
1997 - Niterói RJ - Entre Esculturas e Objetos, no MAC/Niterói
1997 - São Paulo SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Belo Horizonte MG - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Brasília DF - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niterói
1998 - Niterói RJ - Individual, no MAC/Niterói
1998 - Penápolis SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - São Paulo SP - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/SP
1998 - São Paulo SP - Múltiplos, na Valu Oria Galeria de Arte
1999 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/RJ
1999 - São Paulo SP - Década de 50 e seus Envolvimentos, na Jo Slaviero Galeria de Arte
2000 - Niterói RJ - Coleção Sattamini: dos materiais às diferenças internas, no MAC/Niterói
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz, na Pinacoteca do Estado
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2003 - São Paulo SP - A Arte Atrás da Arte: onde ficam e como viajam as obras de arte, no MAM/SP
2003 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte Jô Slaviero
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, na Mercedes Viegas Escritório de Arte
Fonte: JOAQUIM Tenreiro. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 05 de Mar. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Nascido em Portugal, mudou-se para o Brasil, onde exerceu a profissão de marceneiro, herdada da família, e depois a de projetista de móveis, em diversas empresas no Rio de Janeiro, como Laubisch & Hirth. No ano de 1942 projetou seu primeiro móvel moderno, para uma residência de Francisco Inácio Peixoto, abandonando as práticas de então de copiar móveis em estilo clássico europeu e dando uma nova visão moderna ao mobiliário.
A partir de 1943 montou sua própria empresa, com fábricas e lojas no Rio de Janeiro e São Paulo, com grande sucesso profissional e de crítica.
No final da década de 1960 resolveu encerrar a empresa e dedicar-se às artes, principalmente a escultura em madeira, que já vinha exercendo em paralelo com sua atividade principal, desde que fizera um curso de desenho, em 1928 no Liceu Literário Português e no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Em 1931, já integrara o Núcleo Bernardelli, grupo criado em oposição ao ensino acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes, onde desenvolveu seus pendores para a pintura, tendo demonstrado excelente familiaridade com os pincéis. Nessa época, até a década de 1940, dedicou-se à pintura de retratos, de paisagens e de naturezas-mortas.
Nas décadas de 1950 e 1960, desenhou mobiliário e painéis em madeira, acompanhando o progresso da arquitetura moderna, para diversas instituições, como o Itamaraty e o SENAI.
Diversas exposições, livros e retrospectivas foram realizadas sobre sua obra e Joaquim Tenreiro foi escolhido Melhor Escultor do ano de 1978 pela APCA.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 05 de março de 2018.
Crédito fotográfico: Casa Cláudia, publicado em 30 de setembro de 2013. Consultado pela última vez em 05 de março de 2018.
Joaquim Albuquerque Tenreiro (Melo Guarda, Beira Alta, Portugal, 18 de abril de 1906 - Itapira, SP, 21 de junho de 1992) foi um marceneiro, projetista de mobiliário (designer de móveis), pintor, gravador, desenhista e escultor português, radicado no Brasil. Foi integrante do famoso Núcleo Bernardelli e criador da linha moderna do móvel brasileiro.
Biografia - Itaú Cultural
Filho e neto de marceneiros, aos dois anos de idade muda-se para o Brasil com a família, fixando residência em Niterói, Rio de Janeiro. Retorna a Portugal em 1914, onde ajuda o pai a realizar trabalhos em madeira e inicia aulas de pintura. Volta a viver no Brasil entre 1925 e 1927. Em 1928, transfere-se definitivamente para o Rio de Janeiro, passando a freqüentar o curso de desenho do Liceu Literário Português e faz cursos no Liceu de Artes e Ofícios. Em 1931, integra o Núcleo Bernardelli, grupo criado em oposição ao ensino acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Na década de 1940, dedica-se à pintura de retrato, de paisagem e de natureza-morta. Entre 1933 e 1943, trabalha como designer de móveis nas empresas Laubissh & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes. Em 1942, realiza para a residência de Francisco Inácio Peixoto seu primeiro móvel moderno. Em 1943, monta sua primeira oficina, a Langenbach & Tenreiro e, alguns anos depois, inaugura duas lojas de móveis; primeiro no Rio de Janeiro e, posteriromente, em São Paulo. No final da década de 1960, Joaquim Tenreiro encerra as atividades na área da concepção e fabricação de móveis para dedicar-se, por mais 20 anos, exclusivamente às artes plásticas, principalmente à escultura. Em 1969, executa um painel para a Sinagoga Templo Sidon e, em 1974, dois painéis para o auditório do Senai, ambos na Tijuca.
Comentário Crítico
Joaquim Tenreiro nasce em Melo, pequena aldeia de Portugal, e fixa-se no Rio de Janeiro em 1928. Filho e neto de marceneiros, aprende a trabalhar com a madeira ainda criança. Em 1929, cursa desenho no Liceu Literário Português, paralelamente estuda no Liceu de Artes de Ofícios. Participa, em 1931, do Núcleo Bernardelli, tendo como colegas, entre outros, os pintores José Pancetti (1902 - 1958) e Milton Dacosta (1915 - 1988). Trabalha, entre 1933 e 1943, como projetista nas firmas Laubish & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes, especializadas em móveis de estilos francês, italiano e português - "luízes de todos os números e renascimentos tardos de 400 anos", como relata Tenreiro, ironicamente. Funda, em 1943, a empresa Langenbach & Tenreiro, colocando em prática sua concepção de móvel moderno.
Torna-se conhecido como designer em 1942, quando recebe a primeira encomenda de móveis, para a residência de Francisco Inácio Peixoto, em Cataguases, interior de Minas Gerais, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907 - 2012). Esses são os primeiros exemplares concebidos, projetados e realizados por ele, que se distinguem pela sobriedade e beleza das formas e pela sábia utilização de madeiras brasileiras. Dialoga também com a pureza das formas arquitetônicas de Niemeyer.
A Poltrona Leve (ca.1942) - realizada nas versões clara, em madeira marfim, e escura, em imbuia, com tecido estampado por Fayga Ostrower (1920 - 2001) - é uma de suas produções mais conhecidas, concebida de acordo com a idéia de que a mobília brasileira deve ser formalmente mais leve. Nas palavras de Tenreiro, leveza que nada tem a ver com o peso em si, mas com a graça e funcionalidade. Atestando a modernidade dos móveis feitos no Brasil, o design de Tenreiro tem por princípios a adequação à função e o despojamento.
Na Cadeira de Três Pés (ca.1947), inova ao associar a geometria a um uso muito particular das cores das madeiras nacionais. Composta de combinações de madeiras de diferentes tonalidades (imbuia, roxinho, jacarandá, marfim e cabreúva), essa cadeira apresenta um refinado jogo cromático. O uso da cor, anteriormente restrito ao acabamento dos móveis, torna-se um conceito central em sua criação. Na Cadeira de Balanço (ca.1948) utiliza a palhinha - uma tradição do móvel colonial brasileiro, retomada pelo artista - e o jacarandá. Como outros móveis de Tenreiro desse período, ela tem uma aparência leve e luminosa, contrastando com a mobília sólida e sóbria, criada anteriormente para a firma Laubisch & Hirth.
Em algumas cadeiras e poltronas, o artista explora os efeitos plásticos da trama em palhinha e outros materiais que evocam o trançado e a cestaria indígenas. O uso de madeira e fibras naturais associa-se à necessidade de adequar os móveis ao clima tropical. Juntamente com estas composições orgânicas, outras peças de Tenreiro como, por exemplo, a Cadeira Estrutural, apresentam linhas retas e elementos geométricos, regulares, empregando estruturas tanto de madeira (1957) quanto de metal (1961). O conhecimento profundo da madeira permite a Tenreiro obter a qualidade poética de suas obras.
No fim da década de 1960, por questões pessoais e também de mercado, encerra as atividades de designer e dedica-se principalmente à escultura. Produz relevos, treliças e colunas em madeira policromada, nas quais se destacam a combinação da produção artística e o amplo conhecimento do trabalho. Algumas soluções, contidas na funcionalidade dos móveis criados por ele, são utilizadas de maneira mais livre na escultura. As técnicas de composição cromática empregadas, por exemplo, na Cadeira de Três Pés, são retomadas posteriormente em alguns relevos, em que o artista explora as diferenças de cor, texturas e os veios da madeira, como em Círculos (1979). A produção de Tenreiro alia, portanto, as características modernas do despojamento e simplicidade ao uso de materiais brasileiros. Assegura às peças produzidas uma qualidade artisticamente elaborada, renovando, assim, o desenho do móvel brasileiro.
Críticas
"Ao usar tachas, pregos, lâminas, compensados ou madeira compensada, Tenreiro abre um glossário capaz de percorrer boa área do Construtivismo tridimensional, sem forçar a limitação de uma composição pictórica. A terceira dimensão em suas ´construções plásticas´ é a ponte de acesso à dimensão ´tempo-espaço´ (própria da escultura como tese), e é neste atributo maior de uma proposição visual que a obra atual de Joaquim Tenreiro adiquire espontaneidade e plenitude e se realiza.
Por não exigir do observador conotação biográfica nem tradução cabalística para ser entendida, a comunicabilidade resulta mais bem amparada na imediata percepção do ritmo e da harmonia emergentes dos recortes, dos vazamentos e dos relevos. Pelo sentido da pesquisa, Tenreiro se identifica aos construtivistas contemporâneos, entretanto pelo caráter do lavor ele se encontra entre aqueles que vêm vindo através dos tempos, de vez em quando precisando de alguém que lhes ajude a decifrar a data que trazem na alma".
Clarival do Prado Valladares (VALLADARES, Clarival do Prado. Tenreiro. Jornal do Commércio, Rio de Janeiro, 13 jun. 1971.)
"Tenreiro, português de nascimento, criador da linha moderna do móvel brasileiro, fundiu os instrumentos de sua profissão de artesão do mobiliário ao conhecimento técnico de um artista que já produziu a mais autêntica e sensível pintura, geralmente sobre a paisagem carioca. A composição de seus relevos obedece aos princípios básicos da ordem, do claro-escuro, do fascínio ótico que permite a ilusão e faz magia com as perspectivas. Utilizando a madeira e o cartão, exercitou variações de estruturas geométricas, criando ondulações orgânicas, células que sugerem o tecido ininterrupto da matéria-prima sobre a qual as figuras da natureza se definem. O labirinto, a sombra, os planos vazados, o movimento virtual são dados físicos dessa arte racional e organicista, que se enraíza na tradição e encontra nisso força e justificativa. Porque nada se sustenta sem o sopro do passado, por mais futuro que possa ser".
Walmir Ayala (AYALA, Walmir. Esculturas de parede. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 jul. 1972.)
"(...) amo o seu amor da materies-matéria-madeira: amo o seu amor da textura, da fibra, da tactilidade, da termicidade, da ponderabilidade, da flexibilidade, da organicidade, da bondade dessa nobilíssima vida vivente mesmo quando abatida, mas transfigurada na sua íntima vocação neguentrópica. Amo, no amor de Tenreiro por essa matéria, o senso organizador, despojador, buscador da vocação dessa própria matéria-prima, primeva, primeira, com dar-lhe, na sua forma final artesanalíssima, essa serena essência de lenho, ligno, lenhame, ligname.
E amo, no seu amor da madeira, suas propostas implícitas de magnificações, minificações, extensões, continuações, como frisos, como arabescos, como gregas, como motes - esboçados na sua radicalidade, ´terminados´ suspensivamente em opere aperte cuja continuidade permite aos nossos devaneios divagar em múltiplos, oriundos dos seus morfemas esculpictóricos ou que outro belo nome tenham".
Antônio Houaiss (HOUAISS, Antônio, citado por L. M. Gonzalez. In: GONZALEZ, L. M. Tenreiro na Bonino e Paoli na Studio. Jornal do Commércio, Rio de Janeiro, 23 maio 1975.)
"Tenreiro só iria se dedicar mais amplamente à pintura nos anos 40. Sua pintura dessa época - retratos, auto-retratos, paisagens, naturezas-mortas - é caracterizada pelo comedimento da cor e pelo despojamento formal. Nos retratos sente-se uma possível influência de Guignard, artista que Tenreiro sempre admirou. Como seus colegas, pintou os bairros que adentravam a paisagem carioca, Glória, Santa Teresa, Laranjeiras e Morro do Querosene. Prevalecem os verdes quase escuros nas paisagens que se abrem para espaços amplos nos quais o casario se perde na vegetação, ou os ocres e cinzas, os meios-tons, nas ladeiras e terraços. Quase sem exceção, a crítica dos anos 40 - Flávio de Aquino, Antônio Bento, Mário Barata, Silvia Chalreo, entre outros - elogiou estas paisagens e outras realizadas em cidades históricas mineiras, como as de São João Del Rei. Nas paisagens mineiras, a crítica assinalou ´o harmonioso colorido e justeza de tons´, nas do Rio,´sua capacidade de enfrentá-las com desenvoltura, apontando bem a calma tristeza de alguns morros e arrabaldes´. Rubem Navarra fala de suas paisagens ´tão bem compostas, com seus verdes tão bem descritos, tão poéticos, tão introvertidos´, e da ´ascese forçada de seus meios´. Não é outra coisa o que diz Quirino Campofiorito, ao observar que em sua pintura ´não existem gritos que se possam ouvir de longe´. Aliás, este comedimento, serenidade e equilíbrio emocional parece ser a marca principal do artista. De fato, nada nele grita, por isso mesmo sua obra não afasta nem choca o espectador".
Frederico Morais (MORAIS, Frederico. Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
Exposições Individuais
1946 - Rio de Janeiro RJ - Primeira individual, no IAB/RJ
1949 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Domus
1967 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Copacabana
1970 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino
1971 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Documenta
1973 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino
1978 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP
1983 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Paulo Klabin
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Centro Empresarial do Rio de Janeiro
1988 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Tríade Galeria
1989 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan
Exposições Coletivas
1941 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes/Divisão Moderna - medalha de bronze
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1945 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes/Divisão Moderna - medalha de prata
1946 - Rio de Janeiro RJ - Os Pintores vão à Escola do Povo, na Enba
1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais
1960 - Rio de Janeiro RJ - 9º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ - menção do júri em desenho
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1967 - Rio de Janeiro RJ - 3ª O Rosto e a Obra, na Galeria Ibeu Copacabana
1971 - Rio de Janeiro RJ - 9ª Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1972 - São Paulo SP - 4º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Arte Multiplicada Brasileira, na Multipla de Arte
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana
1975 - São Paulo SP - 7º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1977 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no MAM/RJ
1978 - São Paulo SP - 10º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Rio de Janeiro RJ - Escultores Brasileiros, na Galeria Aktuell
1981 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no IAB/RJ
1982 - São Paulo SP - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Rio de Janeiro RJ - 4 Escultores Pintores, 4 Pintores Escultores, na Galeria Aktuell
1983 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj
1984 - Rio de Janeiro RJ - Madeira, Matéria de Arte, no MAM/RJ
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1991 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no Rio Design Center
Exposições Póstumas
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1996 - Niterói RJ - Arte Contemporânea Brasileira na Coleção João Sattamini, no MAC/Niterói
1997 - Niterói RJ - Entre Esculturas e Objetos, no MAC/Niterói
1997 - São Paulo SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Belo Horizonte MG - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Brasília DF - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niterói
1998 - Niterói RJ - Individual, no MAC/Niterói
1998 - Penápolis SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - São Paulo SP - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/SP
1998 - São Paulo SP - Múltiplos, na Valu Oria Galeria de Arte
1999 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/RJ
1999 - São Paulo SP - Década de 50 e seus Envolvimentos, na Jo Slaviero Galeria de Arte
2000 - Niterói RJ - Coleção Sattamini: dos materiais às diferenças internas, no MAC/Niterói
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz, na Pinacoteca do Estado
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2003 - São Paulo SP - A Arte Atrás da Arte: onde ficam e como viajam as obras de arte, no MAM/SP
2003 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte Jô Slaviero
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, na Mercedes Viegas Escritório de Arte
Fonte: JOAQUIM Tenreiro. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 05 de Mar. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Nascido em Portugal, mudou-se para o Brasil, onde exerceu a profissão de marceneiro, herdada da família, e depois a de projetista de móveis, em diversas empresas no Rio de Janeiro, como Laubisch & Hirth. No ano de 1942 projetou seu primeiro móvel moderno, para uma residência de Francisco Inácio Peixoto, abandonando as práticas de então de copiar móveis em estilo clássico europeu e dando uma nova visão moderna ao mobiliário.
A partir de 1943 montou sua própria empresa, com fábricas e lojas no Rio de Janeiro e São Paulo, com grande sucesso profissional e de crítica.
No final da década de 1960 resolveu encerrar a empresa e dedicar-se às artes, principalmente a escultura em madeira, que já vinha exercendo em paralelo com sua atividade principal, desde que fizera um curso de desenho, em 1928 no Liceu Literário Português e no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Em 1931, já integrara o Núcleo Bernardelli, grupo criado em oposição ao ensino acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes, onde desenvolveu seus pendores para a pintura, tendo demonstrado excelente familiaridade com os pincéis. Nessa época, até a década de 1940, dedicou-se à pintura de retratos, de paisagens e de naturezas-mortas.
Nas décadas de 1950 e 1960, desenhou mobiliário e painéis em madeira, acompanhando o progresso da arquitetura moderna, para diversas instituições, como o Itamaraty e o SENAI.
Diversas exposições, livros e retrospectivas foram realizadas sobre sua obra e Joaquim Tenreiro foi escolhido Melhor Escultor do ano de 1978 pela APCA.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 05 de março de 2018.
Crédito fotográfico: Casa Cláudia, publicado em 30 de setembro de 2013. Consultado pela última vez em 05 de março de 2018.
Joaquim Albuquerque Tenreiro (Melo Guarda, Beira Alta, Portugal, 18 de abril de 1906 - Itapira, SP, 21 de junho de 1992) foi um marceneiro, projetista de mobiliário (designer de móveis), pintor, gravador, desenhista e escultor português, radicado no Brasil. Foi integrante do famoso Núcleo Bernardelli e criador da linha moderna do móvel brasileiro.
Biografia - Itaú Cultural
Filho e neto de marceneiros, aos dois anos de idade muda-se para o Brasil com a família, fixando residência em Niterói, Rio de Janeiro. Retorna a Portugal em 1914, onde ajuda o pai a realizar trabalhos em madeira e inicia aulas de pintura. Volta a viver no Brasil entre 1925 e 1927. Em 1928, transfere-se definitivamente para o Rio de Janeiro, passando a freqüentar o curso de desenho do Liceu Literário Português e faz cursos no Liceu de Artes e Ofícios. Em 1931, integra o Núcleo Bernardelli, grupo criado em oposição ao ensino acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Na década de 1940, dedica-se à pintura de retrato, de paisagem e de natureza-morta. Entre 1933 e 1943, trabalha como designer de móveis nas empresas Laubissh & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes. Em 1942, realiza para a residência de Francisco Inácio Peixoto seu primeiro móvel moderno. Em 1943, monta sua primeira oficina, a Langenbach & Tenreiro e, alguns anos depois, inaugura duas lojas de móveis; primeiro no Rio de Janeiro e, posteriromente, em São Paulo. No final da década de 1960, Joaquim Tenreiro encerra as atividades na área da concepção e fabricação de móveis para dedicar-se, por mais 20 anos, exclusivamente às artes plásticas, principalmente à escultura. Em 1969, executa um painel para a Sinagoga Templo Sidon e, em 1974, dois painéis para o auditório do Senai, ambos na Tijuca.
Comentário Crítico
Joaquim Tenreiro nasce em Melo, pequena aldeia de Portugal, e fixa-se no Rio de Janeiro em 1928. Filho e neto de marceneiros, aprende a trabalhar com a madeira ainda criança. Em 1929, cursa desenho no Liceu Literário Português, paralelamente estuda no Liceu de Artes de Ofícios. Participa, em 1931, do Núcleo Bernardelli, tendo como colegas, entre outros, os pintores José Pancetti (1902 - 1958) e Milton Dacosta (1915 - 1988). Trabalha, entre 1933 e 1943, como projetista nas firmas Laubish & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes, especializadas em móveis de estilos francês, italiano e português - "luízes de todos os números e renascimentos tardos de 400 anos", como relata Tenreiro, ironicamente. Funda, em 1943, a empresa Langenbach & Tenreiro, colocando em prática sua concepção de móvel moderno.
Torna-se conhecido como designer em 1942, quando recebe a primeira encomenda de móveis, para a residência de Francisco Inácio Peixoto, em Cataguases, interior de Minas Gerais, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907 - 2012). Esses são os primeiros exemplares concebidos, projetados e realizados por ele, que se distinguem pela sobriedade e beleza das formas e pela sábia utilização de madeiras brasileiras. Dialoga também com a pureza das formas arquitetônicas de Niemeyer.
A Poltrona Leve (ca.1942) - realizada nas versões clara, em madeira marfim, e escura, em imbuia, com tecido estampado por Fayga Ostrower (1920 - 2001) - é uma de suas produções mais conhecidas, concebida de acordo com a idéia de que a mobília brasileira deve ser formalmente mais leve. Nas palavras de Tenreiro, leveza que nada tem a ver com o peso em si, mas com a graça e funcionalidade. Atestando a modernidade dos móveis feitos no Brasil, o design de Tenreiro tem por princípios a adequação à função e o despojamento.
Na Cadeira de Três Pés (ca.1947), inova ao associar a geometria a um uso muito particular das cores das madeiras nacionais. Composta de combinações de madeiras de diferentes tonalidades (imbuia, roxinho, jacarandá, marfim e cabreúva), essa cadeira apresenta um refinado jogo cromático. O uso da cor, anteriormente restrito ao acabamento dos móveis, torna-se um conceito central em sua criação. Na Cadeira de Balanço (ca.1948) utiliza a palhinha - uma tradição do móvel colonial brasileiro, retomada pelo artista - e o jacarandá. Como outros móveis de Tenreiro desse período, ela tem uma aparência leve e luminosa, contrastando com a mobília sólida e sóbria, criada anteriormente para a firma Laubisch & Hirth.
Em algumas cadeiras e poltronas, o artista explora os efeitos plásticos da trama em palhinha e outros materiais que evocam o trançado e a cestaria indígenas. O uso de madeira e fibras naturais associa-se à necessidade de adequar os móveis ao clima tropical. Juntamente com estas composições orgânicas, outras peças de Tenreiro como, por exemplo, a Cadeira Estrutural, apresentam linhas retas e elementos geométricos, regulares, empregando estruturas tanto de madeira (1957) quanto de metal (1961). O conhecimento profundo da madeira permite a Tenreiro obter a qualidade poética de suas obras.
No fim da década de 1960, por questões pessoais e também de mercado, encerra as atividades de designer e dedica-se principalmente à escultura. Produz relevos, treliças e colunas em madeira policromada, nas quais se destacam a combinação da produção artística e o amplo conhecimento do trabalho. Algumas soluções, contidas na funcionalidade dos móveis criados por ele, são utilizadas de maneira mais livre na escultura. As técnicas de composição cromática empregadas, por exemplo, na Cadeira de Três Pés, são retomadas posteriormente em alguns relevos, em que o artista explora as diferenças de cor, texturas e os veios da madeira, como em Círculos (1979). A produção de Tenreiro alia, portanto, as características modernas do despojamento e simplicidade ao uso de materiais brasileiros. Assegura às peças produzidas uma qualidade artisticamente elaborada, renovando, assim, o desenho do móvel brasileiro.
Críticas
"Ao usar tachas, pregos, lâminas, compensados ou madeira compensada, Tenreiro abre um glossário capaz de percorrer boa área do Construtivismo tridimensional, sem forçar a limitação de uma composição pictórica. A terceira dimensão em suas ´construções plásticas´ é a ponte de acesso à dimensão ´tempo-espaço´ (própria da escultura como tese), e é neste atributo maior de uma proposição visual que a obra atual de Joaquim Tenreiro adiquire espontaneidade e plenitude e se realiza.
Por não exigir do observador conotação biográfica nem tradução cabalística para ser entendida, a comunicabilidade resulta mais bem amparada na imediata percepção do ritmo e da harmonia emergentes dos recortes, dos vazamentos e dos relevos. Pelo sentido da pesquisa, Tenreiro se identifica aos construtivistas contemporâneos, entretanto pelo caráter do lavor ele se encontra entre aqueles que vêm vindo através dos tempos, de vez em quando precisando de alguém que lhes ajude a decifrar a data que trazem na alma".
Clarival do Prado Valladares (VALLADARES, Clarival do Prado. Tenreiro. Jornal do Commércio, Rio de Janeiro, 13 jun. 1971.)
"Tenreiro, português de nascimento, criador da linha moderna do móvel brasileiro, fundiu os instrumentos de sua profissão de artesão do mobiliário ao conhecimento técnico de um artista que já produziu a mais autêntica e sensível pintura, geralmente sobre a paisagem carioca. A composição de seus relevos obedece aos princípios básicos da ordem, do claro-escuro, do fascínio ótico que permite a ilusão e faz magia com as perspectivas. Utilizando a madeira e o cartão, exercitou variações de estruturas geométricas, criando ondulações orgânicas, células que sugerem o tecido ininterrupto da matéria-prima sobre a qual as figuras da natureza se definem. O labirinto, a sombra, os planos vazados, o movimento virtual são dados físicos dessa arte racional e organicista, que se enraíza na tradição e encontra nisso força e justificativa. Porque nada se sustenta sem o sopro do passado, por mais futuro que possa ser".
Walmir Ayala (AYALA, Walmir. Esculturas de parede. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 jul. 1972.)
"(...) amo o seu amor da materies-matéria-madeira: amo o seu amor da textura, da fibra, da tactilidade, da termicidade, da ponderabilidade, da flexibilidade, da organicidade, da bondade dessa nobilíssima vida vivente mesmo quando abatida, mas transfigurada na sua íntima vocação neguentrópica. Amo, no amor de Tenreiro por essa matéria, o senso organizador, despojador, buscador da vocação dessa própria matéria-prima, primeva, primeira, com dar-lhe, na sua forma final artesanalíssima, essa serena essência de lenho, ligno, lenhame, ligname.
E amo, no seu amor da madeira, suas propostas implícitas de magnificações, minificações, extensões, continuações, como frisos, como arabescos, como gregas, como motes - esboçados na sua radicalidade, ´terminados´ suspensivamente em opere aperte cuja continuidade permite aos nossos devaneios divagar em múltiplos, oriundos dos seus morfemas esculpictóricos ou que outro belo nome tenham".
Antônio Houaiss (HOUAISS, Antônio, citado por L. M. Gonzalez. In: GONZALEZ, L. M. Tenreiro na Bonino e Paoli na Studio. Jornal do Commércio, Rio de Janeiro, 23 maio 1975.)
"Tenreiro só iria se dedicar mais amplamente à pintura nos anos 40. Sua pintura dessa época - retratos, auto-retratos, paisagens, naturezas-mortas - é caracterizada pelo comedimento da cor e pelo despojamento formal. Nos retratos sente-se uma possível influência de Guignard, artista que Tenreiro sempre admirou. Como seus colegas, pintou os bairros que adentravam a paisagem carioca, Glória, Santa Teresa, Laranjeiras e Morro do Querosene. Prevalecem os verdes quase escuros nas paisagens que se abrem para espaços amplos nos quais o casario se perde na vegetação, ou os ocres e cinzas, os meios-tons, nas ladeiras e terraços. Quase sem exceção, a crítica dos anos 40 - Flávio de Aquino, Antônio Bento, Mário Barata, Silvia Chalreo, entre outros - elogiou estas paisagens e outras realizadas em cidades históricas mineiras, como as de São João Del Rei. Nas paisagens mineiras, a crítica assinalou ´o harmonioso colorido e justeza de tons´, nas do Rio,´sua capacidade de enfrentá-las com desenvoltura, apontando bem a calma tristeza de alguns morros e arrabaldes´. Rubem Navarra fala de suas paisagens ´tão bem compostas, com seus verdes tão bem descritos, tão poéticos, tão introvertidos´, e da ´ascese forçada de seus meios´. Não é outra coisa o que diz Quirino Campofiorito, ao observar que em sua pintura ´não existem gritos que se possam ouvir de longe´. Aliás, este comedimento, serenidade e equilíbrio emocional parece ser a marca principal do artista. De fato, nada nele grita, por isso mesmo sua obra não afasta nem choca o espectador".
Frederico Morais (MORAIS, Frederico. Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
Exposições Individuais
1946 - Rio de Janeiro RJ - Primeira individual, no IAB/RJ
1949 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Domus
1967 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Copacabana
1970 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino
1971 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Documenta
1973 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino
1978 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP
1983 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Paulo Klabin
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Centro Empresarial do Rio de Janeiro
1988 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Tríade Galeria
1989 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan
Exposições Coletivas
1941 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes/Divisão Moderna - medalha de bronze
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1945 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes/Divisão Moderna - medalha de prata
1946 - Rio de Janeiro RJ - Os Pintores vão à Escola do Povo, na Enba
1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais
1960 - Rio de Janeiro RJ - 9º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ - menção do júri em desenho
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1967 - Rio de Janeiro RJ - 3ª O Rosto e a Obra, na Galeria Ibeu Copacabana
1971 - Rio de Janeiro RJ - 9ª Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1972 - São Paulo SP - 4º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Arte Multiplicada Brasileira, na Multipla de Arte
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana
1975 - São Paulo SP - 7º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1977 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no MAM/RJ
1978 - São Paulo SP - 10º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Rio de Janeiro RJ - Escultores Brasileiros, na Galeria Aktuell
1981 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no IAB/RJ
1982 - São Paulo SP - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Rio de Janeiro RJ - 4 Escultores Pintores, 4 Pintores Escultores, na Galeria Aktuell
1983 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj
1984 - Rio de Janeiro RJ - Madeira, Matéria de Arte, no MAM/RJ
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1991 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no Rio Design Center
Exposições Póstumas
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1996 - Niterói RJ - Arte Contemporânea Brasileira na Coleção João Sattamini, no MAC/Niterói
1997 - Niterói RJ - Entre Esculturas e Objetos, no MAC/Niterói
1997 - São Paulo SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Belo Horizonte MG - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Brasília DF - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niterói
1998 - Niterói RJ - Individual, no MAC/Niterói
1998 - Penápolis SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - São Paulo SP - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/SP
1998 - São Paulo SP - Múltiplos, na Valu Oria Galeria de Arte
1999 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/RJ
1999 - São Paulo SP - Década de 50 e seus Envolvimentos, na Jo Slaviero Galeria de Arte
2000 - Niterói RJ - Coleção Sattamini: dos materiais às diferenças internas, no MAC/Niterói
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz, na Pinacoteca do Estado
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2003 - São Paulo SP - A Arte Atrás da Arte: onde ficam e como viajam as obras de arte, no MAM/SP
2003 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte Jô Slaviero
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, na Mercedes Viegas Escritório de Arte
Fonte: JOAQUIM Tenreiro. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 05 de Mar. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Nascido em Portugal, mudou-se para o Brasil, onde exerceu a profissão de marceneiro, herdada da família, e depois a de projetista de móveis, em diversas empresas no Rio de Janeiro, como Laubisch & Hirth. No ano de 1942 projetou seu primeiro móvel moderno, para uma residência de Francisco Inácio Peixoto, abandonando as práticas de então de copiar móveis em estilo clássico europeu e dando uma nova visão moderna ao mobiliário.
A partir de 1943 montou sua própria empresa, com fábricas e lojas no Rio de Janeiro e São Paulo, com grande sucesso profissional e de crítica.
No final da década de 1960 resolveu encerrar a empresa e dedicar-se às artes, principalmente a escultura em madeira, que já vinha exercendo em paralelo com sua atividade principal, desde que fizera um curso de desenho, em 1928 no Liceu Literário Português e no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Em 1931, já integrara o Núcleo Bernardelli, grupo criado em oposição ao ensino acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes, onde desenvolveu seus pendores para a pintura, tendo demonstrado excelente familiaridade com os pincéis. Nessa época, até a década de 1940, dedicou-se à pintura de retratos, de paisagens e de naturezas-mortas.
Nas décadas de 1950 e 1960, desenhou mobiliário e painéis em madeira, acompanhando o progresso da arquitetura moderna, para diversas instituições, como o Itamaraty e o SENAI.
Diversas exposições, livros e retrospectivas foram realizadas sobre sua obra e Joaquim Tenreiro foi escolhido Melhor Escultor do ano de 1978 pela APCA.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 05 de março de 2018.
Crédito fotográfico: Casa Cláudia, publicado em 30 de setembro de 2013. Consultado pela última vez em 05 de março de 2018.
Joaquim Albuquerque Tenreiro (Melo Guarda, Beira Alta, Portugal, 18 de abril de 1906 - Itapira, SP, 21 de junho de 1992) foi um marceneiro, projetista de mobiliário (designer de móveis), pintor, gravador, desenhista e escultor português, radicado no Brasil. Foi integrante do famoso Núcleo Bernardelli e criador da linha moderna do móvel brasileiro.
Biografia - Itaú Cultural
Filho e neto de marceneiros, aos dois anos de idade muda-se para o Brasil com a família, fixando residência em Niterói, Rio de Janeiro. Retorna a Portugal em 1914, onde ajuda o pai a realizar trabalhos em madeira e inicia aulas de pintura. Volta a viver no Brasil entre 1925 e 1927. Em 1928, transfere-se definitivamente para o Rio de Janeiro, passando a freqüentar o curso de desenho do Liceu Literário Português e faz cursos no Liceu de Artes e Ofícios. Em 1931, integra o Núcleo Bernardelli, grupo criado em oposição ao ensino acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Na década de 1940, dedica-se à pintura de retrato, de paisagem e de natureza-morta. Entre 1933 e 1943, trabalha como designer de móveis nas empresas Laubissh & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes. Em 1942, realiza para a residência de Francisco Inácio Peixoto seu primeiro móvel moderno. Em 1943, monta sua primeira oficina, a Langenbach & Tenreiro e, alguns anos depois, inaugura duas lojas de móveis; primeiro no Rio de Janeiro e, posteriromente, em São Paulo. No final da década de 1960, Joaquim Tenreiro encerra as atividades na área da concepção e fabricação de móveis para dedicar-se, por mais 20 anos, exclusivamente às artes plásticas, principalmente à escultura. Em 1969, executa um painel para a Sinagoga Templo Sidon e, em 1974, dois painéis para o auditório do Senai, ambos na Tijuca.
Comentário Crítico
Joaquim Tenreiro nasce em Melo, pequena aldeia de Portugal, e fixa-se no Rio de Janeiro em 1928. Filho e neto de marceneiros, aprende a trabalhar com a madeira ainda criança. Em 1929, cursa desenho no Liceu Literário Português, paralelamente estuda no Liceu de Artes de Ofícios. Participa, em 1931, do Núcleo Bernardelli, tendo como colegas, entre outros, os pintores José Pancetti (1902 - 1958) e Milton Dacosta (1915 - 1988). Trabalha, entre 1933 e 1943, como projetista nas firmas Laubish & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes, especializadas em móveis de estilos francês, italiano e português - "luízes de todos os números e renascimentos tardos de 400 anos", como relata Tenreiro, ironicamente. Funda, em 1943, a empresa Langenbach & Tenreiro, colocando em prática sua concepção de móvel moderno.
Torna-se conhecido como designer em 1942, quando recebe a primeira encomenda de móveis, para a residência de Francisco Inácio Peixoto, em Cataguases, interior de Minas Gerais, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907 - 2012). Esses são os primeiros exemplares concebidos, projetados e realizados por ele, que se distinguem pela sobriedade e beleza das formas e pela sábia utilização de madeiras brasileiras. Dialoga também com a pureza das formas arquitetônicas de Niemeyer.
A Poltrona Leve (ca.1942) - realizada nas versões clara, em madeira marfim, e escura, em imbuia, com tecido estampado por Fayga Ostrower (1920 - 2001) - é uma de suas produções mais conhecidas, concebida de acordo com a idéia de que a mobília brasileira deve ser formalmente mais leve. Nas palavras de Tenreiro, leveza que nada tem a ver com o peso em si, mas com a graça e funcionalidade. Atestando a modernidade dos móveis feitos no Brasil, o design de Tenreiro tem por princípios a adequação à função e o despojamento.
Na Cadeira de Três Pés (ca.1947), inova ao associar a geometria a um uso muito particular das cores das madeiras nacionais. Composta de combinações de madeiras de diferentes tonalidades (imbuia, roxinho, jacarandá, marfim e cabreúva), essa cadeira apresenta um refinado jogo cromático. O uso da cor, anteriormente restrito ao acabamento dos móveis, torna-se um conceito central em sua criação. Na Cadeira de Balanço (ca.1948) utiliza a palhinha - uma tradição do móvel colonial brasileiro, retomada pelo artista - e o jacarandá. Como outros móveis de Tenreiro desse período, ela tem uma aparência leve e luminosa, contrastando com a mobília sólida e sóbria, criada anteriormente para a firma Laubisch & Hirth.
Em algumas cadeiras e poltronas, o artista explora os efeitos plásticos da trama em palhinha e outros materiais que evocam o trançado e a cestaria indígenas. O uso de madeira e fibras naturais associa-se à necessidade de adequar os móveis ao clima tropical. Juntamente com estas composições orgânicas, outras peças de Tenreiro como, por exemplo, a Cadeira Estrutural, apresentam linhas retas e elementos geométricos, regulares, empregando estruturas tanto de madeira (1957) quanto de metal (1961). O conhecimento profundo da madeira permite a Tenreiro obter a qualidade poética de suas obras.
No fim da década de 1960, por questões pessoais e também de mercado, encerra as atividades de designer e dedica-se principalmente à escultura. Produz relevos, treliças e colunas em madeira policromada, nas quais se destacam a combinação da produção artística e o amplo conhecimento do trabalho. Algumas soluções, contidas na funcionalidade dos móveis criados por ele, são utilizadas de maneira mais livre na escultura. As técnicas de composição cromática empregadas, por exemplo, na Cadeira de Três Pés, são retomadas posteriormente em alguns relevos, em que o artista explora as diferenças de cor, texturas e os veios da madeira, como em Círculos (1979). A produção de Tenreiro alia, portanto, as características modernas do despojamento e simplicidade ao uso de materiais brasileiros. Assegura às peças produzidas uma qualidade artisticamente elaborada, renovando, assim, o desenho do móvel brasileiro.
Críticas
"Ao usar tachas, pregos, lâminas, compensados ou madeira compensada, Tenreiro abre um glossário capaz de percorrer boa área do Construtivismo tridimensional, sem forçar a limitação de uma composição pictórica. A terceira dimensão em suas ´construções plásticas´ é a ponte de acesso à dimensão ´tempo-espaço´ (própria da escultura como tese), e é neste atributo maior de uma proposição visual que a obra atual de Joaquim Tenreiro adiquire espontaneidade e plenitude e se realiza.
Por não exigir do observador conotação biográfica nem tradução cabalística para ser entendida, a comunicabilidade resulta mais bem amparada na imediata percepção do ritmo e da harmonia emergentes dos recortes, dos vazamentos e dos relevos. Pelo sentido da pesquisa, Tenreiro se identifica aos construtivistas contemporâneos, entretanto pelo caráter do lavor ele se encontra entre aqueles que vêm vindo através dos tempos, de vez em quando precisando de alguém que lhes ajude a decifrar a data que trazem na alma".
Clarival do Prado Valladares (VALLADARES, Clarival do Prado. Tenreiro. Jornal do Commércio, Rio de Janeiro, 13 jun. 1971.)
"Tenreiro, português de nascimento, criador da linha moderna do móvel brasileiro, fundiu os instrumentos de sua profissão de artesão do mobiliário ao conhecimento técnico de um artista que já produziu a mais autêntica e sensível pintura, geralmente sobre a paisagem carioca. A composição de seus relevos obedece aos princípios básicos da ordem, do claro-escuro, do fascínio ótico que permite a ilusão e faz magia com as perspectivas. Utilizando a madeira e o cartão, exercitou variações de estruturas geométricas, criando ondulações orgânicas, células que sugerem o tecido ininterrupto da matéria-prima sobre a qual as figuras da natureza se definem. O labirinto, a sombra, os planos vazados, o movimento virtual são dados físicos dessa arte racional e organicista, que se enraíza na tradição e encontra nisso força e justificativa. Porque nada se sustenta sem o sopro do passado, por mais futuro que possa ser".
Walmir Ayala (AYALA, Walmir. Esculturas de parede. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 jul. 1972.)
"(...) amo o seu amor da materies-matéria-madeira: amo o seu amor da textura, da fibra, da tactilidade, da termicidade, da ponderabilidade, da flexibilidade, da organicidade, da bondade dessa nobilíssima vida vivente mesmo quando abatida, mas transfigurada na sua íntima vocação neguentrópica. Amo, no amor de Tenreiro por essa matéria, o senso organizador, despojador, buscador da vocação dessa própria matéria-prima, primeva, primeira, com dar-lhe, na sua forma final artesanalíssima, essa serena essência de lenho, ligno, lenhame, ligname.
E amo, no seu amor da madeira, suas propostas implícitas de magnificações, minificações, extensões, continuações, como frisos, como arabescos, como gregas, como motes - esboçados na sua radicalidade, ´terminados´ suspensivamente em opere aperte cuja continuidade permite aos nossos devaneios divagar em múltiplos, oriundos dos seus morfemas esculpictóricos ou que outro belo nome tenham".
Antônio Houaiss (HOUAISS, Antônio, citado por L. M. Gonzalez. In: GONZALEZ, L. M. Tenreiro na Bonino e Paoli na Studio. Jornal do Commércio, Rio de Janeiro, 23 maio 1975.)
"Tenreiro só iria se dedicar mais amplamente à pintura nos anos 40. Sua pintura dessa época - retratos, auto-retratos, paisagens, naturezas-mortas - é caracterizada pelo comedimento da cor e pelo despojamento formal. Nos retratos sente-se uma possível influência de Guignard, artista que Tenreiro sempre admirou. Como seus colegas, pintou os bairros que adentravam a paisagem carioca, Glória, Santa Teresa, Laranjeiras e Morro do Querosene. Prevalecem os verdes quase escuros nas paisagens que se abrem para espaços amplos nos quais o casario se perde na vegetação, ou os ocres e cinzas, os meios-tons, nas ladeiras e terraços. Quase sem exceção, a crítica dos anos 40 - Flávio de Aquino, Antônio Bento, Mário Barata, Silvia Chalreo, entre outros - elogiou estas paisagens e outras realizadas em cidades históricas mineiras, como as de São João Del Rei. Nas paisagens mineiras, a crítica assinalou ´o harmonioso colorido e justeza de tons´, nas do Rio,´sua capacidade de enfrentá-las com desenvoltura, apontando bem a calma tristeza de alguns morros e arrabaldes´. Rubem Navarra fala de suas paisagens ´tão bem compostas, com seus verdes tão bem descritos, tão poéticos, tão introvertidos´, e da ´ascese forçada de seus meios´. Não é outra coisa o que diz Quirino Campofiorito, ao observar que em sua pintura ´não existem gritos que se possam ouvir de longe´. Aliás, este comedimento, serenidade e equilíbrio emocional parece ser a marca principal do artista. De fato, nada nele grita, por isso mesmo sua obra não afasta nem choca o espectador".
Frederico Morais (MORAIS, Frederico. Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.)
Exposições Individuais
1946 - Rio de Janeiro RJ - Primeira individual, no IAB/RJ
1949 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Domus
1967 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Copacabana
1970 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino
1971 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Documenta
1973 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP
1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino
1978 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP
1983 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Paulo Klabin
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Centro Empresarial do Rio de Janeiro
1988 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Tríade Galeria
1989 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Millan
Exposições Coletivas
1941 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes/Divisão Moderna - medalha de bronze
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1945 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes/Divisão Moderna - medalha de prata
1946 - Rio de Janeiro RJ - Os Pintores vão à Escola do Povo, na Enba
1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais
1960 - Rio de Janeiro RJ - 9º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ - menção do júri em desenho
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1967 - Rio de Janeiro RJ - 3ª O Rosto e a Obra, na Galeria Ibeu Copacabana
1971 - Rio de Janeiro RJ - 9ª Resumo de Arte JB, no MAM/RJ
1972 - São Paulo SP - 4º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Arte Multiplicada Brasileira, na Multipla de Arte
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1974 - Rio de Janeiro RJ - O Mar, na Galeria Ibeu Copacabana
1975 - São Paulo SP - 7º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1977 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no MAM/RJ
1978 - São Paulo SP - 10º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1979 - Rio de Janeiro RJ - Escultores Brasileiros, na Galeria Aktuell
1981 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no IAB/RJ
1982 - São Paulo SP - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40, na Acervo Galeria de Arte
1983 - Rio de Janeiro RJ - 4 Escultores Pintores, 4 Pintores Escultores, na Galeria Aktuell
1983 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj
1984 - Rio de Janeiro RJ - Madeira, Matéria de Arte, no MAM/RJ
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1988 - São Paulo SP - 19º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1991 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no Rio Design Center
Exposições Póstumas
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1996 - Niterói RJ - Arte Contemporânea Brasileira na Coleção João Sattamini, no MAC/Niterói
1997 - Niterói RJ - Entre Esculturas e Objetos, no MAC/Niterói
1997 - São Paulo SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Belo Horizonte MG - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Brasília DF - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niterói
1998 - Niterói RJ - Individual, no MAC/Niterói
1998 - Penápolis SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - São Paulo SP - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/SP
1998 - São Paulo SP - Múltiplos, na Valu Oria Galeria de Arte
1999 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/RJ
1999 - São Paulo SP - Década de 50 e seus Envolvimentos, na Jo Slaviero Galeria de Arte
2000 - Niterói RJ - Coleção Sattamini: dos materiais às diferenças internas, no MAC/Niterói
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz, na Pinacoteca do Estado
2002 - Brasília DF - JK - Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
2003 - São Paulo SP - A Arte Atrás da Arte: onde ficam e como viajam as obras de arte, no MAM/SP
2003 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte Jô Slaviero
2004 - Rio de Janeiro RJ - 30 Artistas, na Mercedes Viegas Escritório de Arte
Fonte: JOAQUIM Tenreiro. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 05 de Mar. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Biografia Wikipédia
Nascido em Portugal, mudou-se para o Brasil, onde exerceu a profissão de marceneiro, herdada da família, e depois a de projetista de móveis, em diversas empresas no Rio de Janeiro, como Laubisch & Hirth. No ano de 1942 projetou seu primeiro móvel moderno, para uma residência de Francisco Inácio Peixoto, abandonando as práticas de então de copiar móveis em estilo clássico europeu e dando uma nova visão moderna ao mobiliário.
A partir de 1943 montou sua própria empresa, com fábricas e lojas no Rio de Janeiro e São Paulo, com grande sucesso profissional e de crítica.
No final da década de 1960 resolveu encerrar a empresa e dedicar-se às artes, principalmente a escultura em madeira, que já vinha exercendo em paralelo com sua atividade principal, desde que fizera um curso de desenho, em 1928 no Liceu Literário Português e no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Em 1931, já integrara o Núcleo Bernardelli, grupo criado em oposição ao ensino acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes, onde desenvolveu seus pendores para a pintura, tendo demonstrado excelente familiaridade com os pincéis. Nessa época, até a década de 1940, dedicou-se à pintura de retratos, de paisagens e de naturezas-mortas.
Nas décadas de 1950 e 1960, desenhou mobiliário e painéis em madeira, acompanhando o progresso da arquitetura moderna, para diversas instituições, como o Itamaraty e o SENAI.
Diversas exposições, livros e retrospectivas foram realizadas sobre sua obra e Joaquim Tenreiro foi escolhido Melhor Escultor do ano de 1978 pela APCA.
Fonte: Wikipédia, consultado pela última vez em 05 de março de 2018.
Crédito fotográfico: Casa Cláudia, publicado em 30 de setembro de 2013. Consultado pela última vez em 05 de março de 2018.