Biografia
Artista de pinceladas expressivas. Um mestre da aquarela que a misturava a outras técnicas, indo de têmperas a óleo, criando texturas e usando verniz como complemento. Em muitos de seus trabalhos, há dificuldade ao estabelecer limites entre o uso de diferentes técnicas.
Vindo de família tradicional, teve uma educação artística formal e acadêmica. Ao se estabelecer no Brasil, no entanto, parece ter deixado o rigor e as regras, uma vez que, nos trópicos, não raro apelamos para impulsos e improvisação.
Era, sobretudo, um visionário. Apostou com seus colegas poloneses que era possível se libertar de um processo engessado pelas instituições. Viajou pelo mundo para provar que sim, permanecendo no Brasil por 15 anos. Construiu, para tanto, uma espécie de tenda que armava em jardins e praças: sua morada durante a viagem, e também espaço de exposições.
Dedicou-se com afinco a registrar as paisagens do Rio e das ilhas do litoral fluminense, chegando a se estabelecer em Paquetá. Na inauguração da Casa & Jardim - Artes e Ofícios, de Theodor Heuberger, que era algo entre loja e galeria de arte, Lechowski exibiu as paisagens naturais de Paquetá em contraste com cenas urbanas de uma cidade em crescimento.
Mais tarde, em 1940, Bruno Lechowski voltou aos seus ideais de contato com a terra, o que se manifestava já em sua postura política socialista. Foi, com a família e refugiados da guerra, para um sítio em Campo Grande, onde passou a cultivar árvores frutíferas e hortaliças, além de criar animais. Passou aí os últimos dias de sua vida.
----
Biografia - Itaú Cultural
Estuda na Academia de Belas Artes de Kiev, Ucrânia, e completa seus estudos em São Petersburgo, Rússia, em 1913. No ano seguinte, torna-se professor da Academia Nacional de Belas Artes, em Varsóvia. Entre 1922 e 1924, desenvolve o projeto da Casa Internacional do Artista, instituição que deve ter sede no maior número possível de países, permitindo aos artistas de todas as áreas produzir e viver de sua arte. Nesses locais, qualquer artista pode residir, trabalhar e receber uma parte da receita proveniente da venda dos ingressos para exposições coletivas e permanentes. Dessa forma, o artista não precisa adaptar-se ao mercado para vender suas obras. Em 1924, Lechowski aceita uma aposta para provar a viabilidade do projeto: em troca de uma soma em dinheiro que destina para a construção da primeira sede em Varsóvia, ele deve viajar por todos os continentes, falando somente polonês e vivendo apenas da venda de ingressos para suas exposições portáteis. Constrói uma tenda de lona com estruturas e armações desmontáveis e grandes caixas para o transporte do material, que utiliza para fazer a primeira mostra quando chega ao Rio de Janeiro, em 1925. Viaja em direção ao sul do Brasil, demorando-se em Curitiba, onde participa da vida cultural e realiza mais uma exposição portátil. Continua a viagem, passa um tempo em São Paulo e, em 1931, volta ao Rio de Janeiro. Nessa época, desenvolve um equipamento de exposição para lugares fechados. Participa da criação do Núcleo Bernardelli e é mentor de vários jovens pintores, como José Pancetti. Em 1940, transfere-se para um sítio em Campo Grande, Rio de Janeiro, e ali morre no ano seguinte. São realizadas três retrospectivas póstumas sobre o artista: Retrospectiva, no Museu Nacional de Belas Artes - MNBA, Rio de Janeiro, em 1942; a mostra itinerante Bruno Lechowski - A Arte como Missão, no Museu de Arte do Paraná - MAP, Curitiba, no MNBA e no Museu Lasar Segall, São Paulo, em 1991; e Bruno Lechowski, no Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, que herda o acervo do artista, em 2006.
Comentário crítico
As paisagens de Lechowski surpreendem primeiro pela sutileza. Nelas, parece não haver traço ou cor que possa ser adicionado ou retirado sem perda para o conjunto. O desenho e a composição são elegantes e simples. O fato de muitas pinturas serem aquarelas é determinante para as cores, suaves e envolventes.
Lechowski pinta principalmente marinhas, em que a terra e as pedras fazem recortes quase geométricos no mar e no céu. Esse tipo de composição é herdado, segundo o crítico Walter Zanini, por seu aluno José Pancetti, cuja composição é organizada por planos geométricos rigorosos, ao mesmo tempo solidários e distintos.1 No Rio de Janeiro, Lechowski começa representando apenas a natureza, mas aos poucos figura os prédios que despontam. A predominância da paisagem e da aquarela pode ser vista como um efeito de sua vivência no Brasil: quando chega da Europa, também pinta alegorias e retratos e usa técnicas variadas. Diz o pintor Oswaldo Teixeira: "Ele que aqui havia chegado simbolista, pintando numa metafísica bizarra de idéias muito avançadas, terminou o mais suave dos bucólicos, o mais calmo e idílico paisagista, pastoreando cores e formas líricas."
O amor pela natureza e o domínio técnico são características dessa figura excêntrica e idealista, são os principais ensinamentos que lega aos jovens pintores do Núcleo Bernardelli. Yoshiya Takaoka e Tamaki contam da sua admiração pelo primitivismo de Paul Gauguin. José Pancetti deve a ele seu aprofundamento técnico e o conselho de não deixar seu emprego na Marinha, para não ter de comercializar sua obra. Lechowski enfatiza o lado artesanal da pintura e excursiona com os pintores pelos arredores do Rio de Janeiro para pintar. Ele próprio mora em Copacabana, então longe do centro da cidade.
Sua participação nesse grupo sem hierarquias, livre e cooperativo, talvez seja o que mais o aproxima efetivamente do seu grande projeto, a Casa Internacional do Artista. Para ele, a arte é um bem da humanidade, uma linguagem universal. Artistas são portadores privilegiados de valores éticos e espirituais e devem poder viver livremente da arte, sem pressões do mercado. Para tanto, não podem vender suas obras, mas podem sim cobrar entradas para exposições que realizam na residência coletiva.
Quando Lechowski expõe num terreno baldio de Curitiba, em 1926, não vende, mas sorteia seus quadros e eventualmente presenteia pessoas que apreciam muito seu trabalho. Entretanto, finda a exposição, Lechowski tem de vender as dezenas de obras restantes para Antonio Rydygier, de forma a complementar sua renda. Em 1931, em São Paulo, mostra suas pinturas em uma casa na alameda Lorena, número 25, utilizando o novo sistema de exposição em interiores. As telas ficam presas em fitas de metal perfuradas que têm como fundo um pano branco colocado ao redor da parede. Durante a exposição, que considera ser um concerto visual, executa composições musicais próprias em harmônico. Para completar vasos, plantas e tapetes. Metade da renda da exposição é doada à Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra.
Consegue inaugurar, em 1932, no Edifício Odeon do Rio de Janeiro, a sede provisória da Casa Internacional do Artista. Tem o apoio de Oswaldo Teixeira, do ministro da Polônia e do jornalista Celso Kelly, entre outros. Continua aperfeiçoando seus equipamentos de exposição. Inventa um mecanismo em que os quadros ficam presos por um dos lados em um eixo giratório comum. Entretanto, a Casa Internacional do Artista não vai adiante. Nesse período, Lechowski acaba vendendo obras. Ao transferir-se para o sítio em Campo Grande, Rio de Janeiro, Lechowski intenciona levar a sede do projeto para lá. Mas morre sem conseguir realizar o objetivo.
Além dos ensinamentos técnicos que deixa para os alunos do Núcleo Bernardelli, Lechowski é para eles um verdadeiro mentor, ensina-os a ser companheiros e a respeitar o ofício de pintor. Para os meios artísticos carioca, curitibano e, em menor medida, paulista, representa um exemplo de encarnação dos ideais da vanguarda, de acordo com os quais vive e pensa as exposições que faz
Fonte: BRUNO Lechowski. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 02 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Biografia
Artista de pinceladas expressivas. Um mestre da aquarela que a misturava a outras técnicas, indo de têmperas a óleo, criando texturas e usando verniz como complemento. Em muitos de seus trabalhos, há dificuldade ao estabelecer limites entre o uso de diferentes técnicas.
Vindo de família tradicional, teve uma educação artística formal e acadêmica. Ao se estabelecer no Brasil, no entanto, parece ter deixado o rigor e as regras, uma vez que, nos trópicos, não raro apelamos para impulsos e improvisação.
Era, sobretudo, um visionário. Apostou com seus colegas poloneses que era possível se libertar de um processo engessado pelas instituições. Viajou pelo mundo para provar que sim, permanecendo no Brasil por 15 anos. Construiu, para tanto, uma espécie de tenda que armava em jardins e praças: sua morada durante a viagem, e também espaço de exposições.
Dedicou-se com afinco a registrar as paisagens do Rio e das ilhas do litoral fluminense, chegando a se estabelecer em Paquetá. Na inauguração da Casa & Jardim - Artes e Ofícios, de Theodor Heuberger, que era algo entre loja e galeria de arte, Lechowski exibiu as paisagens naturais de Paquetá em contraste com cenas urbanas de uma cidade em crescimento.
Mais tarde, em 1940, Bruno Lechowski voltou aos seus ideais de contato com a terra, o que se manifestava já em sua postura política socialista. Foi, com a família e refugiados da guerra, para um sítio em Campo Grande, onde passou a cultivar árvores frutíferas e hortaliças, além de criar animais. Passou aí os últimos dias de sua vida.
----
Biografia - Itaú Cultural
Estuda na Academia de Belas Artes de Kiev, Ucrânia, e completa seus estudos em São Petersburgo, Rússia, em 1913. No ano seguinte, torna-se professor da Academia Nacional de Belas Artes, em Varsóvia. Entre 1922 e 1924, desenvolve o projeto da Casa Internacional do Artista, instituição que deve ter sede no maior número possível de países, permitindo aos artistas de todas as áreas produzir e viver de sua arte. Nesses locais, qualquer artista pode residir, trabalhar e receber uma parte da receita proveniente da venda dos ingressos para exposições coletivas e permanentes. Dessa forma, o artista não precisa adaptar-se ao mercado para vender suas obras. Em 1924, Lechowski aceita uma aposta para provar a viabilidade do projeto: em troca de uma soma em dinheiro que destina para a construção da primeira sede em Varsóvia, ele deve viajar por todos os continentes, falando somente polonês e vivendo apenas da venda de ingressos para suas exposições portáteis. Constrói uma tenda de lona com estruturas e armações desmontáveis e grandes caixas para o transporte do material, que utiliza para fazer a primeira mostra quando chega ao Rio de Janeiro, em 1925. Viaja em direção ao sul do Brasil, demorando-se em Curitiba, onde participa da vida cultural e realiza mais uma exposição portátil. Continua a viagem, passa um tempo em São Paulo e, em 1931, volta ao Rio de Janeiro. Nessa época, desenvolve um equipamento de exposição para lugares fechados. Participa da criação do Núcleo Bernardelli e é mentor de vários jovens pintores, como José Pancetti. Em 1940, transfere-se para um sítio em Campo Grande, Rio de Janeiro, e ali morre no ano seguinte. São realizadas três retrospectivas póstumas sobre o artista: Retrospectiva, no Museu Nacional de Belas Artes - MNBA, Rio de Janeiro, em 1942; a mostra itinerante Bruno Lechowski - A Arte como Missão, no Museu de Arte do Paraná - MAP, Curitiba, no MNBA e no Museu Lasar Segall, São Paulo, em 1991; e Bruno Lechowski, no Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, que herda o acervo do artista, em 2006.
Comentário crítico
As paisagens de Lechowski surpreendem primeiro pela sutileza. Nelas, parece não haver traço ou cor que possa ser adicionado ou retirado sem perda para o conjunto. O desenho e a composição são elegantes e simples. O fato de muitas pinturas serem aquarelas é determinante para as cores, suaves e envolventes.
Lechowski pinta principalmente marinhas, em que a terra e as pedras fazem recortes quase geométricos no mar e no céu. Esse tipo de composição é herdado, segundo o crítico Walter Zanini, por seu aluno José Pancetti, cuja composição é organizada por planos geométricos rigorosos, ao mesmo tempo solidários e distintos.1 No Rio de Janeiro, Lechowski começa representando apenas a natureza, mas aos poucos figura os prédios que despontam. A predominância da paisagem e da aquarela pode ser vista como um efeito de sua vivência no Brasil: quando chega da Europa, também pinta alegorias e retratos e usa técnicas variadas. Diz o pintor Oswaldo Teixeira: "Ele que aqui havia chegado simbolista, pintando numa metafísica bizarra de idéias muito avançadas, terminou o mais suave dos bucólicos, o mais calmo e idílico paisagista, pastoreando cores e formas líricas."
O amor pela natureza e o domínio técnico são características dessa figura excêntrica e idealista, são os principais ensinamentos que lega aos jovens pintores do Núcleo Bernardelli. Yoshiya Takaoka e Tamaki contam da sua admiração pelo primitivismo de Paul Gauguin. José Pancetti deve a ele seu aprofundamento técnico e o conselho de não deixar seu emprego na Marinha, para não ter de comercializar sua obra. Lechowski enfatiza o lado artesanal da pintura e excursiona com os pintores pelos arredores do Rio de Janeiro para pintar. Ele próprio mora em Copacabana, então longe do centro da cidade.
Sua participação nesse grupo sem hierarquias, livre e cooperativo, talvez seja o que mais o aproxima efetivamente do seu grande projeto, a Casa Internacional do Artista. Para ele, a arte é um bem da humanidade, uma linguagem universal. Artistas são portadores privilegiados de valores éticos e espirituais e devem poder viver livremente da arte, sem pressões do mercado. Para tanto, não podem vender suas obras, mas podem sim cobrar entradas para exposições que realizam na residência coletiva.
Quando Lechowski expõe num terreno baldio de Curitiba, em 1926, não vende, mas sorteia seus quadros e eventualmente presenteia pessoas que apreciam muito seu trabalho. Entretanto, finda a exposição, Lechowski tem de vender as dezenas de obras restantes para Antonio Rydygier, de forma a complementar sua renda. Em 1931, em São Paulo, mostra suas pinturas em uma casa na alameda Lorena, número 25, utilizando o novo sistema de exposição em interiores. As telas ficam presas em fitas de metal perfuradas que têm como fundo um pano branco colocado ao redor da parede. Durante a exposição, que considera ser um concerto visual, executa composições musicais próprias em harmônico. Para completar vasos, plantas e tapetes. Metade da renda da exposição é doada à Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra.
Consegue inaugurar, em 1932, no Edifício Odeon do Rio de Janeiro, a sede provisória da Casa Internacional do Artista. Tem o apoio de Oswaldo Teixeira, do ministro da Polônia e do jornalista Celso Kelly, entre outros. Continua aperfeiçoando seus equipamentos de exposição. Inventa um mecanismo em que os quadros ficam presos por um dos lados em um eixo giratório comum. Entretanto, a Casa Internacional do Artista não vai adiante. Nesse período, Lechowski acaba vendendo obras. Ao transferir-se para o sítio em Campo Grande, Rio de Janeiro, Lechowski intenciona levar a sede do projeto para lá. Mas morre sem conseguir realizar o objetivo.
Além dos ensinamentos técnicos que deixa para os alunos do Núcleo Bernardelli, Lechowski é para eles um verdadeiro mentor, ensina-os a ser companheiros e a respeitar o ofício de pintor. Para os meios artísticos carioca, curitibano e, em menor medida, paulista, representa um exemplo de encarnação dos ideais da vanguarda, de acordo com os quais vive e pensa as exposições que faz
Fonte: BRUNO Lechowski. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 02 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Biografia
Artista de pinceladas expressivas. Um mestre da aquarela que a misturava a outras técnicas, indo de têmperas a óleo, criando texturas e usando verniz como complemento. Em muitos de seus trabalhos, há dificuldade ao estabelecer limites entre o uso de diferentes técnicas.
Vindo de família tradicional, teve uma educação artística formal e acadêmica. Ao se estabelecer no Brasil, no entanto, parece ter deixado o rigor e as regras, uma vez que, nos trópicos, não raro apelamos para impulsos e improvisação.
Era, sobretudo, um visionário. Apostou com seus colegas poloneses que era possível se libertar de um processo engessado pelas instituições. Viajou pelo mundo para provar que sim, permanecendo no Brasil por 15 anos. Construiu, para tanto, uma espécie de tenda que armava em jardins e praças: sua morada durante a viagem, e também espaço de exposições.
Dedicou-se com afinco a registrar as paisagens do Rio e das ilhas do litoral fluminense, chegando a se estabelecer em Paquetá. Na inauguração da Casa & Jardim - Artes e Ofícios, de Theodor Heuberger, que era algo entre loja e galeria de arte, Lechowski exibiu as paisagens naturais de Paquetá em contraste com cenas urbanas de uma cidade em crescimento.
Mais tarde, em 1940, Bruno Lechowski voltou aos seus ideais de contato com a terra, o que se manifestava já em sua postura política socialista. Foi, com a família e refugiados da guerra, para um sítio em Campo Grande, onde passou a cultivar árvores frutíferas e hortaliças, além de criar animais. Passou aí os últimos dias de sua vida.
----
Biografia - Itaú Cultural
Estuda na Academia de Belas Artes de Kiev, Ucrânia, e completa seus estudos em São Petersburgo, Rússia, em 1913. No ano seguinte, torna-se professor da Academia Nacional de Belas Artes, em Varsóvia. Entre 1922 e 1924, desenvolve o projeto da Casa Internacional do Artista, instituição que deve ter sede no maior número possível de países, permitindo aos artistas de todas as áreas produzir e viver de sua arte. Nesses locais, qualquer artista pode residir, trabalhar e receber uma parte da receita proveniente da venda dos ingressos para exposições coletivas e permanentes. Dessa forma, o artista não precisa adaptar-se ao mercado para vender suas obras. Em 1924, Lechowski aceita uma aposta para provar a viabilidade do projeto: em troca de uma soma em dinheiro que destina para a construção da primeira sede em Varsóvia, ele deve viajar por todos os continentes, falando somente polonês e vivendo apenas da venda de ingressos para suas exposições portáteis. Constrói uma tenda de lona com estruturas e armações desmontáveis e grandes caixas para o transporte do material, que utiliza para fazer a primeira mostra quando chega ao Rio de Janeiro, em 1925. Viaja em direção ao sul do Brasil, demorando-se em Curitiba, onde participa da vida cultural e realiza mais uma exposição portátil. Continua a viagem, passa um tempo em São Paulo e, em 1931, volta ao Rio de Janeiro. Nessa época, desenvolve um equipamento de exposição para lugares fechados. Participa da criação do Núcleo Bernardelli e é mentor de vários jovens pintores, como José Pancetti. Em 1940, transfere-se para um sítio em Campo Grande, Rio de Janeiro, e ali morre no ano seguinte. São realizadas três retrospectivas póstumas sobre o artista: Retrospectiva, no Museu Nacional de Belas Artes - MNBA, Rio de Janeiro, em 1942; a mostra itinerante Bruno Lechowski - A Arte como Missão, no Museu de Arte do Paraná - MAP, Curitiba, no MNBA e no Museu Lasar Segall, São Paulo, em 1991; e Bruno Lechowski, no Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, que herda o acervo do artista, em 2006.
Comentário crítico
As paisagens de Lechowski surpreendem primeiro pela sutileza. Nelas, parece não haver traço ou cor que possa ser adicionado ou retirado sem perda para o conjunto. O desenho e a composição são elegantes e simples. O fato de muitas pinturas serem aquarelas é determinante para as cores, suaves e envolventes.
Lechowski pinta principalmente marinhas, em que a terra e as pedras fazem recortes quase geométricos no mar e no céu. Esse tipo de composição é herdado, segundo o crítico Walter Zanini, por seu aluno José Pancetti, cuja composição é organizada por planos geométricos rigorosos, ao mesmo tempo solidários e distintos.1 No Rio de Janeiro, Lechowski começa representando apenas a natureza, mas aos poucos figura os prédios que despontam. A predominância da paisagem e da aquarela pode ser vista como um efeito de sua vivência no Brasil: quando chega da Europa, também pinta alegorias e retratos e usa técnicas variadas. Diz o pintor Oswaldo Teixeira: "Ele que aqui havia chegado simbolista, pintando numa metafísica bizarra de idéias muito avançadas, terminou o mais suave dos bucólicos, o mais calmo e idílico paisagista, pastoreando cores e formas líricas."
O amor pela natureza e o domínio técnico são características dessa figura excêntrica e idealista, são os principais ensinamentos que lega aos jovens pintores do Núcleo Bernardelli. Yoshiya Takaoka e Tamaki contam da sua admiração pelo primitivismo de Paul Gauguin. José Pancetti deve a ele seu aprofundamento técnico e o conselho de não deixar seu emprego na Marinha, para não ter de comercializar sua obra. Lechowski enfatiza o lado artesanal da pintura e excursiona com os pintores pelos arredores do Rio de Janeiro para pintar. Ele próprio mora em Copacabana, então longe do centro da cidade.
Sua participação nesse grupo sem hierarquias, livre e cooperativo, talvez seja o que mais o aproxima efetivamente do seu grande projeto, a Casa Internacional do Artista. Para ele, a arte é um bem da humanidade, uma linguagem universal. Artistas são portadores privilegiados de valores éticos e espirituais e devem poder viver livremente da arte, sem pressões do mercado. Para tanto, não podem vender suas obras, mas podem sim cobrar entradas para exposições que realizam na residência coletiva.
Quando Lechowski expõe num terreno baldio de Curitiba, em 1926, não vende, mas sorteia seus quadros e eventualmente presenteia pessoas que apreciam muito seu trabalho. Entretanto, finda a exposição, Lechowski tem de vender as dezenas de obras restantes para Antonio Rydygier, de forma a complementar sua renda. Em 1931, em São Paulo, mostra suas pinturas em uma casa na alameda Lorena, número 25, utilizando o novo sistema de exposição em interiores. As telas ficam presas em fitas de metal perfuradas que têm como fundo um pano branco colocado ao redor da parede. Durante a exposição, que considera ser um concerto visual, executa composições musicais próprias em harmônico. Para completar vasos, plantas e tapetes. Metade da renda da exposição é doada à Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra.
Consegue inaugurar, em 1932, no Edifício Odeon do Rio de Janeiro, a sede provisória da Casa Internacional do Artista. Tem o apoio de Oswaldo Teixeira, do ministro da Polônia e do jornalista Celso Kelly, entre outros. Continua aperfeiçoando seus equipamentos de exposição. Inventa um mecanismo em que os quadros ficam presos por um dos lados em um eixo giratório comum. Entretanto, a Casa Internacional do Artista não vai adiante. Nesse período, Lechowski acaba vendendo obras. Ao transferir-se para o sítio em Campo Grande, Rio de Janeiro, Lechowski intenciona levar a sede do projeto para lá. Mas morre sem conseguir realizar o objetivo.
Além dos ensinamentos técnicos que deixa para os alunos do Núcleo Bernardelli, Lechowski é para eles um verdadeiro mentor, ensina-os a ser companheiros e a respeitar o ofício de pintor. Para os meios artísticos carioca, curitibano e, em menor medida, paulista, representa um exemplo de encarnação dos ideais da vanguarda, de acordo com os quais vive e pensa as exposições que faz
Fonte: BRUNO Lechowski. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 02 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Biografia
Artista de pinceladas expressivas. Um mestre da aquarela que a misturava a outras técnicas, indo de têmperas a óleo, criando texturas e usando verniz como complemento. Em muitos de seus trabalhos, há dificuldade ao estabelecer limites entre o uso de diferentes técnicas.
Vindo de família tradicional, teve uma educação artística formal e acadêmica. Ao se estabelecer no Brasil, no entanto, parece ter deixado o rigor e as regras, uma vez que, nos trópicos, não raro apelamos para impulsos e improvisação.
Era, sobretudo, um visionário. Apostou com seus colegas poloneses que era possível se libertar de um processo engessado pelas instituições. Viajou pelo mundo para provar que sim, permanecendo no Brasil por 15 anos. Construiu, para tanto, uma espécie de tenda que armava em jardins e praças: sua morada durante a viagem, e também espaço de exposições.
Dedicou-se com afinco a registrar as paisagens do Rio e das ilhas do litoral fluminense, chegando a se estabelecer em Paquetá. Na inauguração da Casa & Jardim - Artes e Ofícios, de Theodor Heuberger, que era algo entre loja e galeria de arte, Lechowski exibiu as paisagens naturais de Paquetá em contraste com cenas urbanas de uma cidade em crescimento.
Mais tarde, em 1940, Bruno Lechowski voltou aos seus ideais de contato com a terra, o que se manifestava já em sua postura política socialista. Foi, com a família e refugiados da guerra, para um sítio em Campo Grande, onde passou a cultivar árvores frutíferas e hortaliças, além de criar animais. Passou aí os últimos dias de sua vida.
----
Biografia - Itaú Cultural
Estuda na Academia de Belas Artes de Kiev, Ucrânia, e completa seus estudos em São Petersburgo, Rússia, em 1913. No ano seguinte, torna-se professor da Academia Nacional de Belas Artes, em Varsóvia. Entre 1922 e 1924, desenvolve o projeto da Casa Internacional do Artista, instituição que deve ter sede no maior número possível de países, permitindo aos artistas de todas as áreas produzir e viver de sua arte. Nesses locais, qualquer artista pode residir, trabalhar e receber uma parte da receita proveniente da venda dos ingressos para exposições coletivas e permanentes. Dessa forma, o artista não precisa adaptar-se ao mercado para vender suas obras. Em 1924, Lechowski aceita uma aposta para provar a viabilidade do projeto: em troca de uma soma em dinheiro que destina para a construção da primeira sede em Varsóvia, ele deve viajar por todos os continentes, falando somente polonês e vivendo apenas da venda de ingressos para suas exposições portáteis. Constrói uma tenda de lona com estruturas e armações desmontáveis e grandes caixas para o transporte do material, que utiliza para fazer a primeira mostra quando chega ao Rio de Janeiro, em 1925. Viaja em direção ao sul do Brasil, demorando-se em Curitiba, onde participa da vida cultural e realiza mais uma exposição portátil. Continua a viagem, passa um tempo em São Paulo e, em 1931, volta ao Rio de Janeiro. Nessa época, desenvolve um equipamento de exposição para lugares fechados. Participa da criação do Núcleo Bernardelli e é mentor de vários jovens pintores, como José Pancetti. Em 1940, transfere-se para um sítio em Campo Grande, Rio de Janeiro, e ali morre no ano seguinte. São realizadas três retrospectivas póstumas sobre o artista: Retrospectiva, no Museu Nacional de Belas Artes - MNBA, Rio de Janeiro, em 1942; a mostra itinerante Bruno Lechowski - A Arte como Missão, no Museu de Arte do Paraná - MAP, Curitiba, no MNBA e no Museu Lasar Segall, São Paulo, em 1991; e Bruno Lechowski, no Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, que herda o acervo do artista, em 2006.
Comentário crítico
As paisagens de Lechowski surpreendem primeiro pela sutileza. Nelas, parece não haver traço ou cor que possa ser adicionado ou retirado sem perda para o conjunto. O desenho e a composição são elegantes e simples. O fato de muitas pinturas serem aquarelas é determinante para as cores, suaves e envolventes.
Lechowski pinta principalmente marinhas, em que a terra e as pedras fazem recortes quase geométricos no mar e no céu. Esse tipo de composição é herdado, segundo o crítico Walter Zanini, por seu aluno José Pancetti, cuja composição é organizada por planos geométricos rigorosos, ao mesmo tempo solidários e distintos.1 No Rio de Janeiro, Lechowski começa representando apenas a natureza, mas aos poucos figura os prédios que despontam. A predominância da paisagem e da aquarela pode ser vista como um efeito de sua vivência no Brasil: quando chega da Europa, também pinta alegorias e retratos e usa técnicas variadas. Diz o pintor Oswaldo Teixeira: "Ele que aqui havia chegado simbolista, pintando numa metafísica bizarra de idéias muito avançadas, terminou o mais suave dos bucólicos, o mais calmo e idílico paisagista, pastoreando cores e formas líricas."
O amor pela natureza e o domínio técnico são características dessa figura excêntrica e idealista, são os principais ensinamentos que lega aos jovens pintores do Núcleo Bernardelli. Yoshiya Takaoka e Tamaki contam da sua admiração pelo primitivismo de Paul Gauguin. José Pancetti deve a ele seu aprofundamento técnico e o conselho de não deixar seu emprego na Marinha, para não ter de comercializar sua obra. Lechowski enfatiza o lado artesanal da pintura e excursiona com os pintores pelos arredores do Rio de Janeiro para pintar. Ele próprio mora em Copacabana, então longe do centro da cidade.
Sua participação nesse grupo sem hierarquias, livre e cooperativo, talvez seja o que mais o aproxima efetivamente do seu grande projeto, a Casa Internacional do Artista. Para ele, a arte é um bem da humanidade, uma linguagem universal. Artistas são portadores privilegiados de valores éticos e espirituais e devem poder viver livremente da arte, sem pressões do mercado. Para tanto, não podem vender suas obras, mas podem sim cobrar entradas para exposições que realizam na residência coletiva.
Quando Lechowski expõe num terreno baldio de Curitiba, em 1926, não vende, mas sorteia seus quadros e eventualmente presenteia pessoas que apreciam muito seu trabalho. Entretanto, finda a exposição, Lechowski tem de vender as dezenas de obras restantes para Antonio Rydygier, de forma a complementar sua renda. Em 1931, em São Paulo, mostra suas pinturas em uma casa na alameda Lorena, número 25, utilizando o novo sistema de exposição em interiores. As telas ficam presas em fitas de metal perfuradas que têm como fundo um pano branco colocado ao redor da parede. Durante a exposição, que considera ser um concerto visual, executa composições musicais próprias em harmônico. Para completar vasos, plantas e tapetes. Metade da renda da exposição é doada à Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra.
Consegue inaugurar, em 1932, no Edifício Odeon do Rio de Janeiro, a sede provisória da Casa Internacional do Artista. Tem o apoio de Oswaldo Teixeira, do ministro da Polônia e do jornalista Celso Kelly, entre outros. Continua aperfeiçoando seus equipamentos de exposição. Inventa um mecanismo em que os quadros ficam presos por um dos lados em um eixo giratório comum. Entretanto, a Casa Internacional do Artista não vai adiante. Nesse período, Lechowski acaba vendendo obras. Ao transferir-se para o sítio em Campo Grande, Rio de Janeiro, Lechowski intenciona levar a sede do projeto para lá. Mas morre sem conseguir realizar o objetivo.
Além dos ensinamentos técnicos que deixa para os alunos do Núcleo Bernardelli, Lechowski é para eles um verdadeiro mentor, ensina-os a ser companheiros e a respeitar o ofício de pintor. Para os meios artísticos carioca, curitibano e, em menor medida, paulista, representa um exemplo de encarnação dos ideais da vanguarda, de acordo com os quais vive e pensa as exposições que faz
Fonte: BRUNO Lechowski. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 02 de Mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Núcleo Bernardelli
Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910 - 1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931) e Henrique Bernardelli (1858 - 1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906 - 1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907 - 1988), Bruno Lechowski (1887 - 1941), Sigaud (1899 - 1979), Camargo Freire (1908 - 1988), Joaquim Tenreiro (1906 - 1992), Quirino Campofiorito (1902 - 1993), Rescála (1910 - 1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902 - 1958), Milton Dacosta (1915 - 1988), Manoel Santiago (1897 - 1987), Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Tamaki (1916 - 1979).
A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.
Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.
Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.
Fonte: NÚCLEO Bernardelli (Rio de Janeiro, RJ). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 11 de Nov. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7