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Samson Flexor

Samson Flexor Modestovich (Soroca, Moldávia, 9 de setembro de 1907 — São Paulo, 31 de julho de 1971), mais conhecido como Samson Flexor ou apenas Flexor, foi um pintor, desenhista, gravador, químico, muralista e professor de artes plásticas moldávio, radicado no Brasil. Estudou na Académie Royale des Beaux-Arts em Bruxelas; na Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts e no curso de História da Arte na Sorbonne, em Paris, orientado por Lucien Simon. Samson foi um dos precursores do abstracionismo no Brasil e teve papel de destaque na divulgação das tendências abstratas entre os brasileiros. Suas obras sofreram mudanças conforme as fases do artista, tornando a sua obra diversificada e original, onde contém desde elementos cubistas, até a figuração, através de formas orgânicas e antropomórficas. O abstracionismo de Samson Flexor explora a harmonia e assimetria combinando formas planos e linhas verticais, diagonais e horizontais e pontos rítmicos que criam dinamismo e movimento. Utilizava contrastes obtidos por tonalidades quentes colocadas ao lado de tons suaves enfatizando ainda mais esses detalhes. Samson realizou inúmeras exposições no Brasil e em diversos países como Alemanha, Estados Unidos, Portugal, França e Bélgica, Uruguai, Cuba, Chile, Venezuela, entre outros. Destacou-se na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) em 1949, "Do Figurativismo ao Abstracionismo", onde foi apresentado ao público como um dos mais importantes artistas contemporâneos do país, apontado como pioneiro do abstracionismo no Brasil. Suas obras integram importantes coleções particulares e integram acervos como do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) e da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Biografia – Itaú Cultural

Viajou para a Bélgica em 1922, onde estudou química e cursou pintura na Académie Royale des Beaux-Arts [Academia Real de Belas Artes]. Muda-se para Paris em 1924 e faz o curso livre da Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes], orientado por Lucien Simon (1861-1945). Paralelamente, cursou história da arte na Sorbonne. Em 1926, frequenta as academias La Grande Chaumière e Ranson, onde recebe aulas de Roger Bissière (1886-1964). No ano seguinte, realizou a primeira exposição individual, na Galeria Campagne Première, em Paris. Em 1929, participa da fundação do Salon des Surindépendants, atuando como diretor até 1938. Quando se converte ao catolicismo em 1933, passa a executar pinturas murais de cunho religioso. Membro da Resistência Francesa, durante a II Guerra Mundial (1939-1945), é forçado a fugir de Paris. Nesse período, suas pinturas tornam-se sombrias e inicia estudos expressionista e cubistas sobre a Paixão de Cristo. Em 1946, realiza viagem ao Brasil e expõe na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, e em 1948, fixa-se na cidade. Motivado pelo crítico Léon Dégand (1907-1958), então diretor do Museu de Arte Moderna (MAM/SP), aproxima-se do abstracionismo geométrico e cria, em 1951, o Atelier-Abstração, tendo como alunos Jacques Douches (1921), Norberto Nicola (1930-2007), Leopoldo Raimo (1912), Alberto Teixeira (1925) e Wega Nery (1912-2007), entre outros. Em meados da década de 1960 aproxima-se da abstração lírica e da figuração.

Análise

Ao fixar-se no Brasil, em 1948, Flexor já é um artista maduro e de rica experiência artística. Sua formação inclui a passagem de dois anos pela Académie Royale des Beaux-Arts em Bruxelas (1922-1924), estudos na Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes] e no curso de história da arte na Sorbonne, ambas em Paris (a partir de 1924). Com uma produção próxima à Escola de Paris, o artista conquista reconhecimento da crítica em sua primeira exposição individual (1927). Em 1929 participa da criação do Salon des Surindépendants, do qual é diretor até 1938. Faz parte da resistência à ocupação nazista e é obrigado a deixar a capital francesa em 1940. Passou por enormes dificuldades durante a guerra, voltando a Paris somente em 1945. Os problemas do pós-guerra, aliados ao sucesso da viagem a São Paulo acompanhando uma exposição do Grupo dos Pintores Independentes e sua mostra individual na Galeria Prestes Maia (1946), fazem com que decida migrar com a família para o Brasil, em 1948.

Considerado um dos introdutores do abstracionismo no Brasil, Flexor é um artista de produção variada e independente. Da figura cubista à abstração geométrica, e desta à abstração lírica, volta no final da vida a uma espécie de figuração orgânica e antropomórfica, sem deixar de lado a pintura de temática religiosa e os retratos. É preciso notar que da mesma forma que exerce papel importante na aceitação das correntes abstratas pelos brasileiros, o contato com o ambiente do país do fim dos anos 1940 é fundamental para o desenvolvimento pleno de tendências abstratas esboçadas em sua pintura desde o fim da II Guerra Mundial (1939-1945). Encontra um meio artístico no qual fervilha a querela entre os partidários da abstração e os defensores da pintura figurativa de cunho nacionalista. Participa da histórica exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), Do Figurativismo ao Abstracionismo, em 1949, a convite do crítico belga e diretor do recém-fundado museu Leon Dégand (1907-1958) e é incentivado por ele a aventurar-se pelos caminhos da abstração geométrica pura.

Por sua vez, o sentimento de crise do humanismo típico do período do pós-guerra (Flexor declara em 1948: "As guerras obrigam o homem a descobrir de novo o universo que julgava conhecer"), em conjunto com a experiência contagiante do surto desenvolvimentista pelo qual passa São Paulo na época, onde, como declara o artista a Sérgio Milliet (1898-1966), "tudo tende para o futuro e clama seu desprezo pelo passado colonial", são elementos decisivos para os futuros caminhos tomados por Flexor no Brasil.

Dessa forma, sua pintura semi-abstrata de origem neocubista do fim dos anos 1940, na qual, como observou Mário Pedrosa (1900-1981), "a sobreposição de planos ainda tem função figurativa" - observam-se, por exemplo, Xícaras (1945), Violão (1948) e Cristo na Cruz (1949) -, transforma-se pouco a pouco em composições geométricas puramente abstratas em que os planos se tornam autônomos, integrando-se por "partido ortogônico ou diagonal". As telas abstratas de Flexor buscam um dinamismo pela combinação de planos e linhas verticais, diagonais e horizontais e de pontos rítmicos pela colocação de tonalidades quentes ao lado de tons rebaixados, na intenção de atingir uma harmonia dentro da assimetria. Esta abstração, mais musical do que matemática, é construída mediante o estudo e aplicação de métodos renascentistas de proporção e harmonia, como observa Alice Brill (1920). Esses estudos rigorosos serão ensinados por Flexor a partir de 1951 no Atelier-Abstração (primeira fase 1951-1959), do qual participam Alberto Teixeira (1925), Emílio Mallet, Izar do Amaral Berlinck, Jacques Douchez (1921), Leyla Perrone, Leopoldo Raimo (1912), Renée Malleville e Wega Nery (1912).

No final dos anos 1950, uma série de fatores, entre eles a viagem para os Estados Unidos (1957) e o fechamento do Atelier, influíram para a mudança de Flexor em direção a uma abstração lírica de formas orgânicas. "Ao mesmo tempo em que mergulha em uma busca interior, Flexor pesquisa a matéria, o ritmo das formas e da luz", como assinala Denise Mattar. Em 1967 o artista surpreende ao realizar grandes pinturas "figurativo-abstratas" para a 9ª Bienal Internacional de São Paulo intituladas Bípedes. Sobre a convivência da abstração e figuração na obra de Flexor, Tadeu Chiarelli mostra que mesmo em algumas obras ditas "abstratas puras" há a presença de esquemas ilusionistas num inquestionável compromisso com a pintura tradicional. Nesse sentido, sua obra apresenta-se como "objeto privilegiado de estudo sobre os aspectos problemáticos envolvidos na absorção das poéticas não-figurativas no campo da arte brasileira".

Nota

1 Em 1812, com a assinatura do Tratado de Paz entre os impérios Russo e Turco, a parte oriental da Moldávia, situada entre os rios Prut e Nistru, chamada Bessarábia, e onde se localiza a cidade de Soroca, é anexada ao Império Russo, tornando-se uma província da Rússia até 1918. Nesse ano, os bessárabes decidem se unir à Romênia. Esta união dura até 1940, ano em que o país é anexado pela União Soviética, como consequência do Pacto Ribbentrop-Molotov, de 1939. A Moldávia funciona como uma entidade territorial dentro da ex-União Soviética até 1991, quando declara sua independência.

Críticas

"(...) Como todo pintor em que a inteligência criativa não se afasta ou sucumbe à força instintiva, o desenho sempre foi nele de importância decisiva. Pode-se dizer que Flexor foi, desde o seu começo de pintor, um descendente direto do cubismo sintético. Suas grandes composições figurais ou de temas sacros devem as estruturas complexas à experiência cubista da segunda vaga parisiense, na predominância dos planos sobre tudo o mais. Quando entrou ele na fase geométrica, esses planos se tornaram autônomos de qualquer idéia representativa, passando a entrosar-se ou por um partido ortogônico ou por um partido diagonal. A complexidade estrutural da composição absorvia o artista de tal modo que a cor era, apenas, em geral, uma suplementação em rosa ou em verde ou em qualquer outro semitom ao branco" — Mário Pedrosa (PEDROSA, Mário. Flexor, artista e pintor. In: FLEXOR. São Paulo: MAM, 1961).

"Em 1963 Jacques Lassaigne referiu-se à sua arte como uma 'síntese equilibrada entre a construção e o lirismo', e René Deroudille, em 1965, assim comentou sua evolução: '(...) suas primeiras obras brasileiras, dedicadas às abstrações tropicais, traduzem um lirismo formal e colorido, seguido por um momento de serenidade no qual, guiado pelas opções religiosas, Samson Flexor atinge uma síntese expressiva (...) Vem em seguida um período de abstração fria e criativa, próxima do construtivismo e das preocupações óticas e ambíguas da op art. Finalmente, é o levantamento do vôo para as pesquisas muito atuais, onde o olho 'escuta' as pulsações dos elementos e faz eclodir, na extensão da tela, estranhas crateras, flores venenosas, ondas indomadas, signos de uma tonalidade plástica e poética à qual aspira Samson Flexor'. Referindo-se a seus últimos trabalhos, disse Clarival Valadares, em 1968: 'No exemplo de Flexor, após atingir um nível insuperável de virtuosismo na técnica de superposição e de diafanização tonal, sob rígida ordenação das unidades formais (...) vêmo-lo transpor-se para a configuração de algo da condição humana (...)" – Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Flexor. In:______. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. p. 218).

"Afirma Flexor que sua orientação decisiva no sentido da abstração decorre não somente de um processo intelectual mas também da contemplação cotidiana do espetáculo que oferece o desenvolvimento frenético de São Paulo, 'onde tudo tende para o futuro e clama seu desprezo pelo passado colonial'. Haveria assim, em seu sentir, uma ligação íntima entre as forças progressistas da civilização e as realizações dos pintores. Estes, libertados da imitação da natureza, emancipados das convenções e das tradições, seriam a expressão natural da civilização atômica. (...)

No caso de Flexor, derive ou não a sua pintura da sua fixação em São Paulo, não a julgaremos por esse prisma, mesmo porque jamais teve ele a intenção de interpretar o que quer que seja. Temos de encará-la como pintura simplesmente, verificando o que nos traz de novo, que soluções apresenta, até que ponto foge das chapas, das convenções dos truques. Tem ela como ponto de partida e com solução mais imediata a composição geométrica, jogo de retângulos ou de círculos, de linhas diagonais, verticais e horizontais em equilíbrio harmônico e no entanto movimentado. E concomitantemente a expressão colorística pelo matiz, em acordes mais requintados do que exigiam os neoplasticistas.

Mas Flexor não quer perder em sua disciplina as soluções mais líricas do hedonismo abstracionista, porque não deseja empobrecer a pintura, enrijecendo-a, e ei-lo a dar à matéria especial cuidado.

Nem concretista nem hedonista, mas pessoal e lírico, embora disciplinado em seu abstracionismo, mostra Flexor quanto pode ser livre e complexa uma tendência que tantos já acusam de acadêmica, mal principiou a produzir alguns frutos saborosos. Uma qualidade tem em todo caso - e indiscutível - a autenticidade, pois o que caracteriza a autenticidade na arte, pintura, música ou arquitetura, é estar a obra intimamente ligada à sua época"Sérgio Milliet (MILLIET, Sérgio. Diário crítico: 1955/1956. 2. ed. São Paulo: Martins: Edusp, 1982. v. 10, p. 53; 55-56).

"Samson Flexor foi um desses artistas autônomos, que buscava um caminho sem compromissos. Considerado o mais importante introdutor do abstracionismo no Brasil, aqui atua como professor, conferencista e artista plástico. Para Flexor, vida e arte caminham sempre juntas; em suas próprias palavras: 'Vou tentar traduzir, assim como eu o sinto, o relacionamento que existe neste triângulo: artista, vida, obra, triângulo cuja base é dada pelos pontos artista e vida, sendo obra o ponto culminante... ' É significativo que expresse suas idéias em termos geométricos. Flexor elabora, em seguida, uma síntese de toda a história da arte, que lembra os manifestos das vanguardas, hoje já históricas, e suas posições básicas. Na pintura e na arte em geral 'o que mais comove é e permanece... essa tendência Prometheana de vagar beirando os abismos, ultrapassando os limites do possível'. As obras de arte são 'cristalização do pensamento e das aspirações da humanidade em via de realização... testemunho da nossa dignidade e do desejo imperecível do homem de reter a vida universal, que lhe escapa a todo instante, na tentativa de defini-la para sempre'. Finalmente, a história da arte chega em nossos dias 'a esta autonomia... que chamamos ARTE ABSTRATA - abstrata a tudo que não seja ela mesma... ' Flexor cita Kandinsky, Delaunay, Mondrian, Paul Valery e muitos outros artistas e intelectuais que romperam com toda tradição, em busca de uma inovação capaz de dar expressão legítima a novas situações. Significativamente, Flexor, que começa a lecionar desde sua chegada definitiva a São Paulo, em 1948, vai inaugurar o seu Atelier Abstração oficialmente no ano da instauração das Bienais Paulistas, em 1951. Sem dúvida cabe a ele o papel pioneiro entre os abstracionistas brasileiros que divulgam esta tendência, considerando-se que as idéias abstratas na arte só começam a ser aqui introduzidas a partir da 1ª e 2ª Bienal Internacional de São Paulo" — Alice Brill (BRILL, Alice. Reflexão sobre Arte Abstrata. In: ______. Samson Flexor: do figurativismo ao abstracionismo. São Paulo, Insdustrias Freios Knorr/MWM Motores Diesel/EDUSP, 1990, p. 79).

"Deve-se assinalar, porem, que a arte de Flexor nunca atingiu, como expressão pictórica, o radicalismo que se manifesta em suas idéias. Se é verdade que foi o pioneiro da tendência abstrata no Brasil, trabalhou como pintor dentro de determinados limites, que os concretos e particularmente os neoconcretos ultrapassaram amplamente. Isso se explica, dentre outros fatores, pelo caminho anterior percorrido pela pintura de Flexor, diverso das tendências geométricas que geraram a arte concreta: o abstracionismo de Flexor tem origem no neocubismo e na Escola de Paris, enquanto o concretismo brasileiro bebeu em Max Bill e nas teses da Escola de Ulm. A diferença está visível nas etapas que Flexor percorreu para chegar à abstração, que vão da estilização das figuras à gradativa eliminação das alusões figurativas, enquanto a pintura concreta já parte de formas geométricas puras, livres de qualquer referência ao mundo exterior" — Ferreira Gullar (GULLAR, Ferreira. A Pintura de Flexor: cosa mentale. In: FLEXOR. Modulações. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2003. p. 32).

"Talvez um dos pontos mais altos da obra de Flexor tenha sido, justamente, aquela série de trabalhos produzidos no final doa anos 40. Ali o artista, sem dúvida impactado com as formulações propostas pela abstração lírica - então se alastrando ferozmente pela Europa e Estados Unidos -, experimenta igualmente certas soluções conseguidas pelo Picasso surrealista e por certas 'liberdades' advindas da prática do automatismo psíquico. Suas cabeças, suas créoles, suas paisagens e naturezas-mortas demonstram como o artista trafega livre entre a estrutura geométrica do plano pictórico e a sensualidade do gesto, às vezes afirmativo e másculo, às vezes ornamental, repleto de um sincero erotismo. O exímio pintor - detentor de um domínio da técnica pictórica até então poucas vezes encontrada no Brasil -, então, trafega solto por uma poética abstratizante, cujo caráter conciliatório entre a figuração e abstração absolutamente não representa uma fraqueza, mas sim um modo de resolver, pela estratégia da fusão gestual, aquilo que, para muitos, seria impossível" — Tadeu Chiarelli (CHIARELLI, Tadeu. A Conciliação dos Opostos. In: FLEXOR. Modulações. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2003. p. 29).

Depoimento

Pode parecer artificial explicar a posteriori as fases sucessivas de um artista ligando-as por um fio condutor que lhes assegure uma continuidade satisfatória para o espírito. Como é que Flexor, o pintor das amplas composições geométricas, matematicamente construídas, dentro do cromatismo refinado dos anos de 1950, pôde conceber os Bípedes dos anos de 1960, reflexos igualmente pesados e evanescentes de não sei que subumanidade entrevista no limiar do pesadelo? Ou melhor, como é que o Flexor sereno desses anos de 1950 pôde criar ao mesmo tempo essa admirável e trágica série de Paixão de Cristo que nos mergulha num universo de dor e crueldade? Reunidos na mesma sala de um museo imaginário, esses diferentes aspectos

do gênio do artista desorientam com certeza aquele que, sob realizações plásticas tão diversas, pretende se descobrir o fio secreto que os une, a personalidade profunda do homem Flexor.

Esse problema não existiria para seus amigos, seus familiares, aos quais ele expunha com uma admirável lucidez a motivação de suas obras. Para Flexor, nada dessas contradições, comuns a certos artista que,

incapazes de assegurar a unidade do seu ser, passam febrilmente de um estilo a outro, renegando hoje o credo estético do qual eram ontem os campeões. O mesmo Flexor estava sempre ali, coerente, lúcido, verdadeiro. No entanto, sua personalidade, sua cultura, eram tão ricas que ele podia, como músico que era, dosar suas sonoridades ao sabor de suas preocupações intelectuais, do seu estado d'alma e, na última fase de sua vida, de seu estado de saúde.

O pintor Flexor que, após os sofrimentos da guerra, vinha, em 1948, tentar uma nova vida no Brasil, fora fortemente marcado por sua formação francesa, intelectual e artística. Exatamente como seu grande amigo brasileiro Sérgio Milliet, assíduo leitor de Montaigne, ele era antes de mais nada um humanista, um ser ávido de conhecer tudo que se refere ao homem. Nada escapava à sua sede de saber: as matemáticas, a filosofia, a música e, naturalmente, as artes plásticas. Como os grandes mestres da Renascença, ele achava que num quadro o Belo só poderia ser atingido submetendo a composição a relações matemáticas privilegiadas, como a seção áurea, por exemplo.

Seu temperamento ardente, intelectualmente inquieto, o conduzia a levar suas experiências pictóricas às últimas consequências. Não se tratava do "quadrado branco em fundo branco" de Malevitch, mas de algo semelhante, mais rigoroso talvez. Excelente pianista, maravilha-se com a organização racional de uma sonata de Bach, e queria que seus quadros fossem similarmente compostos. Falava, no fundo, uma linguagem próxima da de Piero della Francesca: porém, nele, somente as estruturas "abstraídas" da realizade permaneciam. Esse rigorismo intelectual dominava os arroubos de uma sensibilidade, por vezes revelada pelo lirismo de certos esboços preparatórios, a lápis. Um tema religioso podia no entanto liberá-lo do hedonismo apolíneo adquirido em Paris. Teremos então a notável série da Paixão de Cristo, pungente grito em que se misturam a dor do cristão diante da morte do Filho do Homem, a do judeu, que conheceu a opressão totalitária, e a do homem esmagado por sua condição. É, no entanto, bem Flexor. A composição expressionista, barroca mesmo (Jesus entre os dois ladrões), é sábia, e o cromatismo obedece às regras da liturgia e ao simbolismo psicológico tradicional.

Mas nada do que é humano lhe é indiferente. Uma grande ruptura cultural prepara-se nesses anos de pós-guerra. Paris e suas exigências de equilíbrio racional esvanecem-se diante da nova geração americana ébria de incontrolados ardores. É 1957, Flexor conhece Nova York, os exageros da action painting e os meandros da caligrafia orietal. Que imagem do Homem e arte lhe irá dar? Flexor é excessivamente comedido para entregar-se à liberdade do traço e da pincelada. Domina muito bem sua técnica para esquecê-la um momento sequer. É em seus esboços ou nas suas aquarelas que ele pode mais sinceramente caminhar rumo à espontaneidade, à expressão gestual. Nas grandes composições a óleo, mais logamente elaboradas, a emoção do grafismo ou a mancha cede um pouco diante da dureza e da perfeição do cristal. Aproxima-se o fim. O artista tem apenas 64 anos, mas o ardente apóstolo da abstração geométrica, o líder, está cansado. Cansado daquilo que ele julgava ser a incompreensão dos meios artísticos, cansado pela doença de que iria morrer. Pela primeira vez, Flexor se entrega - sabê-lo-ia? - a seus demônios interiores. Sua pintura quer reencontrar as composições amplas da grande época mas não são as formas vigorosas, geométricas, com a cores luminosas de outrora são vastas zonas lívidas, orladas de cordões de massa, trabalhadas com a espátula. A coerência matemática deu lugar a uma outra lógica: as grandes manchas organizam-se em obessões figurativas, gigantes esmagados, seres pesados e invertebrados, que surgem do pincel fatigado, um pincel que se recusa a renunciar. O mestre de outrora, que passava, cheio de entusiasmo, do piano ao cavalete, é agora o homem enfraquecido, que às vezes, lágrimas nos olhos, volta à sua tela em que nascem esses Bípedes, imagens ao mesmo tempo poderosas e miseráveis de uma vida que o abandona. Aqui e acolá, ainda uma nota vibrante: um pequeno retângulo bem geométrico, vigorosamente colorido, negro às vezes [...] — Livro Flexor, Jacques Douchez - Janeiro 1990.

Exposições Individuais

1927 - Paris (França) - Primeira individual, na Galerie Campagne Première

1928 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeune Peinture

1929 - Bruxelas (Bélgica) - Individual, na Galerie Le Cadre

1929 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeune Peinture

1930 - Paris (França) - Individual, na Galeria George Dupuis

1933 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeune Peinture

1935 - Paris (França) - Individual, na Galerie A. Barreiro

1937 - Paris (França) - Individual, na Galeria La Fenêtre Ouverte

1939 - Paris (França) - Individual, na Galerie Carmine

1946 - Paris (França) - Individual, na Galerie Carmine

1946 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Prestes Maia - Salão Almeida Júnior

1948 - Paris (França) - Flexor: peintures et dessins, na Galerie Roux-Hentschel

1948 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Domus

1950 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Domus

1950 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP

1952 - Salvador BA - Individual, na Galeria Oxumaré

1952 - São Paulo SP - Individual, na Livraria Francesa - Sociedade Inter-Franco-Brasil

1952 - São Paulo SP - Um Vitral de Flexor, no MAM/SP

1953 - Santos SP - Individual, na Associação Franco-Brasileira

1954 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP

1955 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ

1956 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Montmartre-Jorge

1957 - Nova York (Estados Unidos) - Individual, na Roland de Aenlle Gallery

1958 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte das Folhas

1960 - Belo Horizonte MG - Individual, no MAP

1960 - São Paulo SP - Individual, na Galeria São Luís

1961 - Campinas SP - Individual, na Galeria Aremar

1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ

1961 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP

1961 - São Paulo SP - Individual, na Casa do Artista Plástico

1961 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP

1962 - Montevidéu (Uruguai) - Individual, no Ministério de Instrucción Publica y Prevision Social

1962 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia

1963 - Düsseldorf (Alemanha) - Individual, na Galeria Gunar

1963 - Kassel (Alemanha) - Individual, na Kasseler Kunstverein

1963 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Embaixada do Brasil

1963 - Paris (França) - Samson Flexor: peinture et aquarelles récentes, na Galerie George Bongers

1963 - Stuttgart (Alemanha) - Individual, na Galerie Hans Maercklin

1964 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Câmara do Comércio do Brasil em Portugal

1964 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino

1964 - São Paulo SP - Obras Recentes de Flexor, na Galeria São Luís

1965 - Genebra (Suíça) - Individual, no Museu Rath

1966 - Santos SP - Individual, no Clube de Arte

1966 - São Paulo SP - Individual, na Chelsea Art Gallery

1966 - São Paulo SP - Individual, na Galeria 4 Planetas

1967 - São Paulo SP - Flexor 1947-1967, no Banco de Minas Gerais

1968 - Rio de Janeiro RJ - Flexor: 30 anos de pintura, no MAM/RJ

1969 - São Paulo SP - Individual, na Documenta Galeria de Arte

1970 - Campinas SP - Individual, na Galeria Girassol

1970 - São Paulo SP - Individual, na Chelsea Art Gallery

Exposições Coletivas

1927 - Paris (França) - 20º Salão de Outono, no Grand Palais

1929 - Paris (França) - 40º Salon des Indépendants, na Société des Artistes Indépendants

1929 - Paris (França) - Salão de Outono, no Grand Palais

1929 - Paris (França) - Salon des Tuilleries

1930 - Paris (França) - Exposição, no Les Surindépendants

1930 - Paris (França) - Salão de Outono, no Grand Palais

1932 - Paris (França) - Salon des Échanges

1933 - Bruxelas (Bélgica) - Dispensaire des Artistes

1934 - Paris (França) - Salon des Échanges, no Parc des Exposition, Porte de Versailles

1935 - Nevers (França) - Exposição, na Galerie d'Art Jack

1935 - Paris (França) - Salon des Échanges, no Parc des Expositions, Porte de Versailles

1936 - Paris (França) - Salon des Tuilleries

1937 - Paris (França) - Prêmio Paul Guillaume, na Galeria Berheim Jeune

1937 - Paris (França) - Exposição Universal de Paris, no Pavillon d'Art Français

1937 - Paris (França) - Salon des Échanges, no Parc des Expositions, Porte de Versailles

1938 - Nevers (França) - 26ª Exposition du Groupe d'Emulation Artistique du Nivernais

1938 - Paris (França) - 8ª Salon des Échanges, no Parc des Exposition, Porte de Versailles

1938 - Paris (França) - Exposição, na Maison de La Culture

1938 - Paris (França) - Salon des Tuilleries

1939 - Paris (França) - Prêmio Paul Guillaume, na Galeria Berheim Jeune

1940 - Normandia (França) - Salon des Artistes Bas-Normands

1946 - Paris (França) - Artistes de la Résistence, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris

1949 - São Paulo SP - 13º Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos

1949 - São Paulo SP - Do Figurativismo ao Abstracionismo, no MAM/SP

1950 - São Paulo SP - Composição sobre os Temas da Paixão, no MAM/SP

1951 - Salvador BA - 3º Salão Baiano de Artes Plásticas

1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon

1951 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia

1951 - São Paulo SP - Exposição, na Livraria Francesa

1952 - Havana (Cuba) - 2ª Bienal Hispano Americana

1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ

1952 - Santiago (Chile) - Exposição Francesa, na Universidad de Santiago do Chile

1953 - Caracas (Venezuela) - Salão Pan-americano

1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados

1953 - São Paulo SP - Atelier Abstração, no IAB/SP

1954 - São Paulo SP - Atelier Abstração, no MAM/SP

1954 - Veneza (Itália) - 27ª Bienal de Veneza

1955 - Montevidéu (Uruguai) - Exposição de Arte Brasileira

1955 - Paris (França) - Mostra de Arte Brasileira, na Maison de L'Amerique Latine

1955 - São Paulo SP - 3ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão das Nações

1955 - São Paulo SP - Atelier Abstração, no Instituto Mackenzie

1956 - São Paulo SP - 50 Anos de Paisagem Brasileira, no MAM/SP

1956 - São Paulo SP - Atelier Abstração, no MAM/SP

1957 - Buenos Aires (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Moderno

1957 - Lima (Peru) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte

1957 - Paris (França) - 50 Ans de Peinture Abstraite, na Galerie Creuze

1957 - Rosário (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo Municipal de Bellas Artes Juan B. Castagnino

1957 - Santiago (Chile) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Contemporáneo

1957 - São Paulo SP - 12 Artistas de São Paulo, na Galeria de Arte das Folhas

1957 - São Paulo SP - 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho

1958 - Nova York (Estados Unidos) - Atelier Abstração of São Paulo, na Roland de Aenlle Gallery

1959 - Leverkusen (Alemanha) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1959 - Munique (Alemanha) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa, na Kunsthaus

1959 - Viena (Áustria) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1960 - Concórdia SC - Salão de Belas Artes do Clube Concórdia

1960 - Hamburgo (Alemanha) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1960 - Kassel (Alemanha) - Arte Brasileira da Atualidade

1960 - Lisboa (Portugal) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1960 - Madri (Espanha) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1960 - Paris (França) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1960 - São Paulo SP - Coleção Leirner, na Galeria de Arte das Folhas

1960 - Teresópolis RJ - Exposição de Arte Contemporânea, na Prefeitura Municipal de Teresópolis

1960 - Utrecht (Holanda) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1961 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Nacional de Arte Moderna

1961 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, no MAM/RJ

1961 - São Paulo SP - 10º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - medalha de ouro

1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho

1962 - Curitiba PR - Salão do Paraná, na Biblioteca Pública do Paraná

1962 - Kassel (Alemanha) - Brasilianische Kunstler der Gegenwart, na Kasseler Kunstverein

1962 - São Paulo SP - 11º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia

1962 - São Paulo SP - Seleção de Obras de Arte Brasileira da Coleção Ernesto Wolf, no MAM/SP

1963 - Berlim (Alemanha) - Sudamerikanische Malerei der Gegenwart, na Akademie der Kunste

1963 - Campinas SP - Pintura e Escultura Contemporâneas, no Museu Carlos Gomes

1964 - Paris (França) - Salon Comparaisons, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris

1965 - Osaka e Sakata (Japão) - Coletiva, na Galeria Nunu e no Honma Art Museum

1966 - Osaka (Japão) - International Society of Plastic and Audiovisual Arts

1966 - Paris (França) - Artistes Brésiliens de Paris, na Galeria Debret

1966 - São Paulo SP - Coletiva, no MAC/USP

1966 - São Paulo SP - Manchas, na Galeria 4 Planetas

1966 - São Paulo SP - Três Premissas, no MAB/Faap

1967 - Montevidéu (Uruguai) - Exposição de Arte Brasileira

1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1968 - Rijeka (Iugoslávia, atual Croácia) - Exposition Internationale des Dessins Originaux, no Museum of Modern and Contemporary Art

1968 - São Paulo SP - 17º Salão Paulista de Arte Moderna

1969 - Rio de Janeiro RJ - 7º Resumo de Arte JB, no MAM/RJ

1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP

1969 - São Paulo SP - Os 5 Grandes, no Banco Nacional, organizado pela Chelsea Art Gallery

1970 - Montevidéu (Uruguai) - 1ª Bienal do Uruguai - grande prêmio pan-americano de pintura

1970 - Sakata (Japão) - International Society of Plastic and Audiovisual Arts

1970 - São Paulo SP - 2º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP

1970 - São Paulo SP - Coletiva, na Galeria Azulão

1971 - São Paulo SP - 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1971 - São Paulo SP - Obras de Artistas Brasileiros Doadas ao Museu de Arte Contemporânea de Skopje, no Paço das Artes

Exposições Póstumas

1972 - Campinas SP - Individual, na Galeria Girassol

1972 - São Paulo SP - Individual, na Chelsea Galeria de Arte

1972 - Tailândia - International Society of Plastic and Audiovisual Arts

1973 - Santos SP - 2ª Bienal de Artes Plásticas

1973 - São Paulo SP - Individual, na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Salão Nobre

1974 - Campinas SP - Samson Flexor, Lothar Charoux, Raul Porto, Paulo Roberto Leal, no Banco Lar Brasileiro

1975 - Campinas SP - Individual, no Banco Lar Brasileiro

1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Montmartre-Jorge

1975 - São Paulo SP - 13ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1975 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP

1975 - São Paulo SP - Individual, no Masp

1976 - São Paulo SP - Imigrantes nas Artes Plásticas de São Paulo, no Masp

1977 - São Bernardo do Campo SP - Individual, no Paço Municipal

1977 - São Paulo SP - Destaque do Mês, na Pinacoteca do Estado

1978 - Recife PE - Gouaches e Aquarelas de Samson Flexor, na Casa de Cultura de Pernambuco

1978 - Salvador BA - Gouaches e Aquarelas de Samson Flexor, no MAM/BA

1978 - São Paulo SP - Gouaches e Aquarelas de Samson Flexor, na Galeria Arte Global

1978 - São Paulo SP - A Arte e Seus Processos: o papel como suporte, na Pinacoteca do Estado

1978 - São Paulo SP - As Bienais e a Abstração: a década de 50, no Museu Lasar Segall

1980 - Londrina PR - Individual, na UEL

1980 - Marília SP - Individual, na Galeria Flexor

1980 - São Paulo SP - Projeto Pinacoteca, na Galeria Sesc Paulista

1981 - São Paulo SP - Individual, no Jockey Club de São Paulo

1982 - São Paulo SP - Samson Flexor: abstração lírica e geométrica, na Galeria de Arte São Paulo

1983 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte São Paulo

1983 - São Paulo SP - Uma Seleção do Acervo na Cidade Universitária, no MAC/USP

1983 - São Paulo SP - Uma Seleção do Acervo: do cubismo ao abstracionismo, no MAC/USP

1984 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Saramenha

1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP

1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese da arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal

1985 - São Paulo SP - 18ª Exposição de Arte Contemporânea, no Chapel Art Show

1987 - Paris (França) - Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d'Art de la Ville de Paris

1987 - Rio de Janeiro RJ - Abstracionismo Geométrico e Informal: aspectos da vanguarda brasileira dos anos 50, na Funarte

1987 - São Paulo SP - O Ofício da Arte: pintura, no Sesc

1988 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Abstração Geométrica, na Funarte. Centro de Artes

1988 - São Paulo SP - MAC 25 anos: destaques da coleção inicial, no MAC/USP

1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP

1988 - São Paulo SP - Samson Flexor: obras 1921-1971, no Espaço Cultural José Duarte Aguiar e Ricardo Camargo

1989 - São Paulo SP - 20ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1990 - São Paulo SP - Flexor e o Abstracionismo no Brasil, no MAC/USP

1991 - São Paulo SP - Abstracionismo Geométrico e Informal: aspectos da vanguarda brasileira dos anos 50, na Pinacoteca do Estado

1992 - Rio de Janeiro RJ - 1º A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial

1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA

1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal

1996 - Niterói RJ - Arte Contemporânea Brasileira na Coleção João Sattamini, no MAC/Niterói

1996 - São Paulo SP - Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo MAC/USP: 1920-1970, no MAC/USP

1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niterói

1998 - São Paulo SP - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/SP

1998 - São Paulo SP - Coleção MAM Bahia: pinturas, no MAM/SP

1998 - São Paulo SP - O Colecionador, no MAM/SP

1998 - São Paulo SP - Traços e Formas, na Jo Slaviero Galeria de Arte

1999 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/RJ

1999 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap

1999 - São Paulo SP - Década de 50 e seus Envolvimentos, na Jo Slaviero Galeria de Arte

2000 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap

2000 - São Paulo SP - A Figura Humana na Coleção Itaú, no Itaú Cultural

2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal

2000 - São Paulo SP - O Papel da Arte, na Galeria de Arte do Sesi

2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap

2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC-Niterói

2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial

2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

2002 - São Paulo SP - Mapa do Agora: 50 anos da arte brasileira Coleção Sattamini, no Instituto Tomie Ohtake

2002 - São Paulo SP - Modernismo: da Semana de 22 à seção de arte de Sérgio Milliet, no CCSP

2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

2003 - Rio de Janeiro RJ - Ordem x Liberdade, no MAM/RJ

2003 - Rio de Janeiro RJ - Samson Flexor : modulações, no Instituto Moreira Salles

2003 - São Paulo SP - Samson Flexor: modulações, na Galeria de Arte do Sesi

2004 - Niterói RJ - Modernidade Transitiva, no MAC/Niterói

2004 - São Paulo SP - Gabinete de Papel, no CCSP

2004 - São Paulo SP - Gesto e Expressão: o abstracionismo informal nas coleções JP Morgan Chase e MAM, no MAM/SP

2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural

2004 - São Paulo SP - Sala do Acervo, na Ricardo Camargo Galeria

2004 - São Paulo SP - Tudo é Desenho, no CCSP

Fonte: FLEXOR. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 01 de novembro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Biografia Samson Flexor – Wikipédia

Estudou Química e Pintura na Bélgica, para onde foi em 1922. Em 1924 mudou-se para Paris e entrou no curso livre da École Nationale des Beaux-Arts, sendo aluno de Lucien Simon, ao mesmo tempo que estudava História na Sorbonne, passando em 1926 a estudar nas academias La Grande Chaumière e Ranson, sob orientação de Roger Bissière. No ano seguinte já fazia sua primeira exposição individual na galeria Campagne Première.

Em 1929 fundou, junto com outros, o Salon des Surindépendants, que dirigiu até 1938. Sua temática mudou para os temas religiosos quando se converteu ao Catolicismo em 1933. Durante a II Guerra Mundial fez parte da resistência francesa, sendo obrigado a fugir para o Brasil. Nesta época sua obra adquiriu tons sombrios expressionistas, além de ser influenciado pelo cubismo. Fixou residência em São Paulo em 1948.

Estimulado pelo diretor do MASP, Léon Degand, fez experiências de abstração geométrica, fundando em 1951 o Atelier-Abstração, onde passa a lecionar. Ao decorrer desta década, Flexor integra a efervescente cena cultural paulistana pós-concretista, marcada pelas Bienais internacionais que estreiam na mesma década. Flexor polemiza com Waldemar Cordeiro, fundador do movimento Concreto, ao defender a arte abstrata. Para o moldavo-brasileiro, o concretismo era sobretudo desdobramento de uma tendência maior é ela sim decisiva na história da arte: a abstração. Criticando o excessivo intelectualismo e, em suas palavras, "hermetismo" do movimento concreto, conforme se pode ouvir em depoimento de Flexor ao MIS-RJ em 1968, o pintor polemiza com nomes como Waldemar Cordeiro. No fim da década 50, dois eventos marcantes na sua vida artística: a pintura dos afrescos da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro dos Jardins (São Paulo - SP) e uma viagem à Nova York, onde faz profícuo contato com o trabalho de pintores como Jackson Pollock.

No mês de março de 1961 o Museu de Arte Moderna realizou uma exposição com as obras de Tikashi Fukushima e Flexor, onde é ressaltada a grande diferença de estilo dos dois pintores, sobre as obras foi comentado: "Vinte grandes telas se oferecem ao exame do visitante, e nelas percorre toda a gama do espectro a variada escala dos motivos, que afinal não são motivos, que nos releve o desmentido, o pintor... Para este, cada um dos quadros tem um nome e um destino, mas na verdade eles são apenas pintura, e, como pintura, matéria. Nada mais. Daí a serenidade espantosa". Na comparação com a pintura de Fukushima com a de Flexor, comenta-se que os resultados são opostos, pois, enquanto a pintura de Flexor mostra inquietação a de Fukushima revela "uma grande serenidade".

Tal exposição registra a mudança do registro flexneriano, que se torna cada vez mais informal. Em meados da década de 1960, é diagnosticado com câncer, experiência que mobiliza sua força criativa na direção de monstros e, dentre estes, os da série "Bípedes". Cinco bípedes gigantes são apresentados por Flexor ao público da Bienal de 1967, chocando espectadores e críticos. No ano seguinte, a série aumentada, acrescida de bichos médios e pequenos, é mostrada na grande Retrospectiva Flexor no MAM-Rio, que cobre mais de 30 anos de atividade do pintor. O filósofo Vilém Flusser, que então morava no Brasil, engaja-se na produção do artista, dedicando-lhe quatro artigos para o Suplemento Literário do Jornal Estado de São Paulo, entre 1967 e 1971. Os bípedes, segundo diversas interpretações, são respostas do pintor a um drama interior e também cósmico, social, na medida em que a aproximação de sua morte coincide com o recrudescimento do regime militar no Brasil, instaurado em 1964 e radicalizado no biênio 1967-68.

Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 31 de outubro de 2022.

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Samson Flexor: Além do Moderno – Museu de Arte Moderna

O Museu de Arte Moderna de São Paulo recebe a exposição Samson Flexor: além do moderno, a partir do dia 22 de janeiro de 2022. Conhecido como um dos pioneiros da abstração no Brasil, Flexor participou ativamente deste importante movimento de renovação das artes visuais no país na década de 1950. Sua contribuição para a abstração geométrica, tanto em sua atuação como artista quanto como mestre de uma nova geração em seu Ateliê Abstração nos anos 1950, é amplamente reconhecida pela crítica. No entanto, seus desenvolvimentos posteriores, caracterizados pela abstração lírica ou informal e pelo retorno à figuração nos seus últimos cinco anos de vida, permanecem pouco conhecidos pelo público.

Segundo a curadora Kiki Mazzucchelli, “é a primeira exposição que tem como foco o desenvolvimento da obra de Flexor a partir de 1957, quando passa a rejeitar as formas estáticas em pinturas onde gradualmente predominam o gesto, a opacidade e a transparência.” A exposição tem como objetivo trazer à luz a obra tardia de Samson Flexor, que marca sua transição do moderno para o contemporâneo ao confrontar questões éticas e estéticas de seu tempo.

É composta por quase uma centena de obras datadas entre os anos 1922 e 1970. São incluídas pinturas conhecidas na trajetória do artista como Abstração Barroca n.2 (1949), que combina a geometrização da figura e a temática brasileira; Aos pés da cruz (1948), pintura originalmente exposta no MAM São Paulo, em 1950, e que se aproxima de uma abstração total; e Vai e vem diagonal em três quadrados (1954), pintura da fase da abstração pura na qual explora as diagonais cruzadas e cria um movimento acentuado pelos contrastes cromáticos. Curadoria: Kiki Mazzucchelli

Fonte: MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo, "Samson Flexor: Além do Moderno". Consultado pela última vez em 1 de novembro de 2022.

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Exposição de Samson Flexor no MAM ressoa momento político do Brasil –

Em 1948, Samson Flexor chegou ao Brasil na expectativa de ter encontrado sua terra prometida. O clima solar, a música, a cultura e a abundância eram muito diferentes da Paris do pós-guerra onde havia vivido com a família nos últimos anos — judeu, foi membro da resistência francesa.

Rapidamente incorporado aos circuitos artísticos, o pintor, cuja formação havia sido o modernismo europeu, consolidou-se como precursor da abstração brasileira e, em seu Ateliê abstração, fundado em 1951, foi mestre de nomes como Norberto Nicola (1931-2007) e Anatol Wladyslaw (1913-2004).

Menos de 20 anos depois, em 1964, no entanto, o Brasil era bem diferente daquele que Flexor conheceu quando chegou por aqui. No âmbito público, foi instaurado o golpe militar; no particular, foi diagnosticado com uma doença terminal.

Em 1967, ele apresentou na IX Bienal de São Paulo seus Bípedes, figuras amorfas e monstruosas que, como espécie de protesto, evocavam a truculência do Estado à época. No período anterior, que precedeu os Bípedes e culminou na série, ele já vinha lidando com questões existenciais e dualidades como vida e morte e continuou aprofundando esses temas em seus últimos anos de vida.

Os tempos são outros, mas continuam propícios para repensar essas e outras obras do período tardio do pintor, feitas a partir de 1957, segundo a curadora da exposição Samson Flexor: além do moderno, que o MAM abre no próximo sábado, dia 22, Kiki Mazzucchelli. “A obra inicial dele no Brasil é muito sensual, bonita, colorida e de boa qualidade. Ele é um dos primeiros pintores abstratos do Brasil, isso não é pouca coisa. Mas sua obra tardia foi muito desprezada, por diversos motivos”, explica. “E ela tem tudo a ver com o que estamos vivendo politicamente no Brasil e em diversas outras democracias, com a ascensão da extrema direita. Ao mesmo tempo, a ideia da fragilidade da vida ressoa muito com esses dois últimos anos de pandemia, em que todos nós éramos confrontados o tempo inteiro com a doença e com a morte.”

Do moderno ao contemporâneo

Na primeira sala da exposição estão obras de sua fase mais celebrada e conhecida. Organizada em ordem cronológica, a mostra é didática ao apresentar as fases do pintor e como os temas e as questões formais se desenrolam em sua obra.

Além do moderno contempla apenas dois quadros realizados antes do pintor desembarcar no país: um autorretrato feito aos 15 anos (a assinatura ainda em cirílico) e uma paisagem que fez aos 17 de sua cidade natal. Em seguida, nos deparamos com as primeiras obras de Flexor ao chegar ao Brasil sob o impacto da efervescência social, econômica e cultural de seu novo ambiente, como o violão cubista de 1948, expostas ao lado de quadros da série Paixão de Cristo (o artista converteu-se ao catolicismo após a morte da primeira esposa e do filho) e de outros trabalhos completamente abstratos, nos quais já não é mais possível reconhecer figuras e destacam-se o movimento, o ritmo e a cor, caso de Vai e vem diagonal em três quadrados (1954).

É a partir da segunda sala que a exposição começa a apresentar o seu foco de interesse. Em 1956, o primeiro contato de Flexor com o expressionismo abstrato em Nova York irá refletir em seus trabalhos posteriores. Passa, primeiro, a explorar a transparência e a luminosidade e, depois, o gesto e a materialidade da tela, culminando nas séries Élans e Meteoritos, em que explora o movimento vetorial da tela.

A série Pedras vem em seguida. Nestes quadros, posteriormente, passa a inserir Aberturas (espaços pintados em cores mais claras). Para ele, ligado à filosofia, essas fendas tornaram-se reflexos da busca existencial do homem: temos dificuldades e encontramos uma saída e, na sequência, talvez, outros obstáculos.

São essas aberturas que, vistas como olhos de Ciclope por um crítico estrangeiro, transformam-se nos Bípedes, que ele considerava como a expressão máxima de sua obra. Na última sala, estão os trabalhos de sua “fase branca”, onde os Bípedes surgem em tons claros — alguns com manchas vermelhas, outros ligados a figuras geométricas.

Por fim, Flexor, que durante toda a sua vida recebeu encomendas de arte sacra e retratos, voltou a desenhar figuras inteiras, completas. Uma delas, a que encerra a exposição, retrata uma mulher grávida nua, deitada. E então, a vida, depois de tudo e enfim, faz-se novamente.

Fonte: Arte que Acontece, "Exposição de Samson Flexor no MAM ressoa momento político do Brasil". Consultado pela última vez em 1 de novembro de 2022.

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Samson Flexor está de volta a São Paulo | Jornal USP

Samson Flexor está na cidade com a emoção de suas cores expressas sob o rigor da razão. Sua arte, essencial para o abstracionismo brasileiro, pode ser apreciada na mostra Samson Flexor: Além do Moderno, no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. Com a curadoria da crítica de arte Kiki Mazzucchelli, a exposição reúne cerca de uma centena de obras produzidas entre os anos de 1922 a 1970. “O foco da mostra é o desenvolvimento da arte de Flexor a partir de 1957, quando passa a rejeitar as formas estáticas com pinturas onde gradualmente predominam o gesto, a opacidade e a transparência”, diz Kiki Mazzucchelli.

A curadora apresenta Samson Flexor (1907-1971) ao público em uma narrativa que reúne as imagens mais marcantes de suas diferentes fases. “Flexor nasceu no interior da atual Moldávia, então Império Russo. Iniciou sua carreira em Paris, para onde se transferiu em 1924”, explica. “Ele participou ativamente do contexto cultural parisiense, realizando inúmeras exposições e frequentando o ateliê de mestres como André Lhote, Fernand Léger e Henri Matisse. Até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, seguiu trabalhando assiduamente em encomendas de painéis de temática sacra e em inúmeros retratos que conciliam o notável domínio técnico e a intuição psicológica. Após a invasão de Paris pelos alemães, em 1940, foi duplamente perseguido, pela sua origem judaica e pela militância na Resistência.”

A história de Flexor recomeça em São Paulo. Outras paisagens, outras pessoas em cores e formas. “Realizou sua primeira exposição em São Paulo, em 1946, e nesse mesmo ano teve os primeiros contatos com críticos brasileiros como Sérgio Milliet, Luiz Martins e Lourival Gomes Machado”, conta Kiki. Transferiu-se definitivamente para São Paulo, em 1948, momento de dinamismo inédito no contexto artístico brasileiro, que contrastava drasticamente com a França devastada do pós-guerra.

“Flexor contribuiu para a formação de vários artistas. A mostra Samson Flexor: Além do Moderno traz uma produção que teve grande visibilidade entre os anos de 1950 e 1970, mas que provavelmente as novas gerações conhecem pouco.”

“Samson Flexor é um artista fundamental para o desenvolvimento da arte abstrata no Brasil, principalmente quando abriu em sua casa, em São Paulo, o Atelier Abstração, na década de 1950”, comenta Cauê Alves, curador-chefe do MAM, mestre e doutor pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Flexor contribuiu para a formação de vários artistas. A mostra Samson Flexor: Além do Moderno traz uma produção que teve grande visibilidade entre os anos de 1950 e 1970, mas que provavelmente as novas gerações conhecem pouco.”

Cauê destaca que a trajetória de Samson Flexor está entrelaçada com a história do Museu de Arte Moderna de São Paulo. “Além de ter participado da mostra inaugural do museu, em 1949, Do Figurativismo ao Abstracionismo, marcou presença em várias outras. No início do Ateliê Abstração, em 1951, estimulado pelo então diretor artístico do MAM, Léon Degand, o artista integrou a 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Participou também, entre os artistas brasileiros, da 2ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1953, uma das mais importantes de todos os tempos. Também marcou presença na terceira edição, em 1955, na quarta, em 1957, e na sexta, em 1961, todas realizadas pelo MAM de São Paulo.”

Cauê Alves lembra que o MAM, entre 1954 e 1956, realizou duas importantes exposições coletivas, articuladas por Flexor, com obras dos artistas do Ateliê Abstração. “Foi uma ação fundamental para a consolidação da arte abstrata e geométrica no Brasil. Em 1961, Flexor apresentou uma exposição individual no MAM que contou com texto crítico de Mário Pedrosa. Participou também da primeira e da segunda edição da exposição Panorama da Arte Atual Brasileira, em 1969 e 1970, mostras emblemáticas para a relação do museu com a arte contemporânea.”

“Sua obra é completamente parte de sua vida, do mundo que viveu e de seu momento histórico, mas também pode ser compreendida a partir da vida de cada um de nós e do momento atual.”

O movimento da cidade de São Paulo que o pintor tanto apreciava está em Samson Flexor: Além do Moderno. Sua pintura, nos anos 1950, reflete, através da linguagem do Concretismo, o período de modernização, industrialização e crescimento urbano. Na época, o crítico de arte Sérgio Milliet analisou: “Para Flexor, a orientação decisiva a favor da abstração não decorre apenas de um processo intelectual, mas também da contemplação cotidiana do espetáculo que oferece o desenvolvimento frenético de São Paulo, onde tudo tende para o futuro e clama seu desprezo pelo passado colonial”.

Samson Flexor: Além do Moderno resgata o brio de sua trajetória. “A seleção de trabalhos feita por Kiki Mazzucchelli permite aos visitantes uma experiência com um artista que nunca seguiu uma única linha e sempre soube se reinventar. Sua obra é completamente parte de sua vida, do mundo que viveu e de seu momento histórico, mas também pode ser compreendida a partir da vida de cada um de nós e do momento atual”, observa Cauê Alves.

Atualmente 12 obras de Samson Flexor pertencem à coleção do museu. “Além de um conjunto de oito desenhos dos anos 1940, doado por Erik Svedelius, o MAM possui trabalhos abstratos de 1957 e 1959, cedidos pela sua esposa, Margot Flexor, e a obra Parto, de 1969, doada pelo próprio artista”, ressalta Alves. “No acervo do MAM há ainda um retrato geometrizado de Carlo Tamagni, de 1951, que foi entregue pelo próprio Tamagni para a retomada das atividades do museu, em 1967.”

Depois da morte do artista, em 1971, o MAM também realizou uma exposição individual póstuma de Flexor, em 1975, na sede do Parque Ibirapuera.

“Eu sempre preferi procurar a encontrar”, com essa frase, Samson Flexor definiu o seu desassossego nos caminhos da arte. O reencontro com Samson Flexor é instigado pela exposição Samson Flexor: Além do Moderno, que o Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo apresenta. “É um artista pouco estudado na atualidade”, observa a professora Ana Gonçalves Magalhães, diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Mas, se os jovens artistas, estudantes e pesquisadores quiserem travar o desafio de tentar compreender o pensamento do artista, vão enveredar por um caminho em que irão se deparar com o trabalho de dedicados estudiosos. “O MAC possui 64 obras do artista, quase todas doadas pela viúva do artista, entre 1977 e 1979”, observa a diretora. “Além das obras, o museu é depositário do fundo pessoal arquivístico do artista, que está em nosso arquivo histórico”.

”Em 2015, o MAC organizou a exposição Samson Flexor: Traçados e Abstrações, com curadoria da professora Carmen Aranha. “A mostra foi uma oportunidade de pensar a produção do artista, com grande parte de sua obra calcada na abstração geométrica”, explica Carmem. “Os desenhos indicam relações evidenciadas na própria trajetória de Flexor e, como decorrência, o título da mostra nasceu da observação desse segmento que, por meio de muitas aparências do seu pensamento, multiplicaram formas, planos e espaços em diagramas que se projetaram em muitos outros. Os traçados e as decorrentes abstrações constituem a própria essência da estética abstrato-construtiva-expressiva do trabalho de Flexor, principalmente entre os anos 50 e 60, quando conduziu o Ateliê Abstração.”

A exposição versou sobre o processo do artista, no qual a maior parte das obras são estudos: desenhos a lápis grafite e tinta nanquim, um recorte do trabalho de ateliê que, normalmente, fica à sombra do público. “Ao observá-lo, somos levados a perceber que a arte é resultado de trabalho meticuloso, da dedicação ao exercício do fazer, uma busca constante por uma linguagem que se dá ao longo do tempo.”

O desassossego de sua pintura – que o visitante vai perceber nas pinceladas que vibram entre movimentos e técnicas que surpreendem em paisagens ora abstratas, ora concretas, ora geométricas, ora figurativas – é justificado na entrevista que o artista concedeu em 1965 ao jornalista Jean-Luc Daval, do Journal de Genève: “Eu sempre preferi procurar a encontrar”.

“Apesar de indicar o trágico, sobrevém uma suspensão, uma leveza, por meio da fatura, da impermanência do indivíduo no mundo que o artista aqui está querendo sublinhar.”

”Em 2015, o MAC organizou a exposição Samson Flexor: Traçados e Abstrações, com curadoria da professora Carmen Aranha. “A mostra foi uma oportunidade de pensar a produção do artista, com grande parte de sua obra calcada na abstração geométrica”, explica Carmem. “Os desenhos indicam relações evidenciadas na própria trajetória de Flexor e, como decorrência, o título da mostra nasceu da observação desse segmento que, por meio de muitas aparências do seu pensamento, multiplicaram formas, planos e espaços em diagramas que se projetaram em muitos outros. Os traçados e as decorrentes abstrações constituem a própria essência da estética abstrato-construtiva-expressiva do trabalho de Flexor, principalmente entre os anos 50 e 60, quando conduziu o Ateliê Abstração.”

A exposição versou sobre o processo do artista, no qual a maior parte das obras são estudos: desenhos a lápis grafite e tinta nanquim, um recorte do trabalho de ateliê que, normalmente, fica à sombra do público. “Ao observá-lo, somos levados a perceber que a arte é resultado de trabalho meticuloso, da dedicação ao exercício do fazer, uma busca constante por uma linguagem que se dá ao longo do tempo.”

O desassossego de sua pintura – que o visitante vai perceber nas pinceladas que vibram entre movimentos e técnicas que surpreendem em paisagens ora abstratas, ora concretas, ora geométricas, ora figurativas – é justificado na entrevista que o artista concedeu em 1965 ao jornalista Jean-Luc Daval, do Journal de Genève: “Eu sempre preferi procurar a encontrar”.

“Apesar de indicar o trágico, sobrevém uma suspensão, uma leveza, por meio da fatura, da impermanência do indivíduo no mundo que o artista aqui está querendo sublinhar.”

Carmen explica que Flexor faz parte do grupo de artistas estrangeiros radicados no Brasil durante a década de 1950 que, por sua atuação e participação nos meios artísticos do País, criou uma geração de pintores voltados para as questões dos movimentos abstracionistas, formal e informal. Ela procurou se ater, naquela mostra, a uma análise de obras da fase brasileira do artista, entre 1948 e 1970, ano anterior à sua morte.

Carmen Aranha descreve: “Os óleos sobre tela Cristo na Cruz, de 1949, e A Coroa de Espinhos, de 1950, fazem parte dos estudos que Flexor realiza na busca da construção da abstração que constituirá sua linguagem futura. Nesse momento, o artista realiza esquemas geometrizantes sobre uma figuração. Modulação é a pintura de um espaço-síntese com os poucos elementos que o ordenam: espelhamentos e iridescências. Geométrico Grande, de 1954, realiza a abstração, a geometria, o diagrama da matemática que calcula espaços e, pela forma, soma pentagramas, hexágonos, quadrados, círculos e losangos. E Pintura, de 1960, é uma grande tela com pinceladas e gestos vigorosos, de aparente liberdade expressionista abstrata do artista. Na verdade, é uma construção com o ‘empasto’, técnica que deixa a tela com materialidade e peso, mas, no caso dessa fatura, a diluição da tinta e os gestos produzem outros efeitos diáfanos. Os grandes movimentoscirculares, em tons negro e azul, situam a profundidade, em contraposição aos artistas abstratos que exaltavam a planaridade da pintura naquele momento da história da arte”.

Carmen Aranha cita também a pintura Carrasco, de 1968, que o MAC recebeu em 2015 para compor seu acervo, como doação da família Flexor. “Essa obra revela uma arqueologia da forma humana nas transparências, limites diáfanos e grandes frestas”, analisa. “Os estudos que nos permitiram compreender a estrutura de pensamento do artista Samson Flexor mostram a aproximação de certas simbologias construídas a partir de séries sobre pássaros e pedras, cujos grafismos dão, aos poucos, lugar a formas abertas que irão se transformar na figuração que Flexor realiza nessa obra. Apesar de indicar o trágico, sobrevém uma suspensão, uma leveza, por meio da fatura, da impermanência do indivíduo no mundo que o artista aqui está querendo sublinhar.”

“Desde a primeira Bienal de São Paulo, organizada justamente pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, Flexor é figura presente não apenas como integrante, expondo sua produção, mas também nos bastidores.”

Em busca da compreensão da arte de Flexor, a doutoranda Marina Barzon Silva, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, investigou a vida e a obra do artista numa disciplina de pós-graduação. “O artista escolheu São Paulo como morada em 1948, ano de fundação do antigo Museu de Arte Moderna de São Paulo, por iniciativa de Francisco Matarazzo Sobrinho, e um ano depois da inauguração do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Naquela época, a arte moderna iniciava sua institucionalização na cidade e os dois novos museus dividiam um andar no prédio dos Diários Associados, na Rua 7 de Abril, no centro da cidade”, lembra Marina, que é orientanda de Ana Magalhães. “Desde a primeira Bienal de São Paulo, organizada justamente pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, Flexor é figura presente não apenas como integrante, expondo sua produção, mas também nos bastidores, participando da montagem, que contava com ajuda importante de jovens artistas brasileiros naquele momento.”

Marina destaca a fundação do Ateliê Abstração, que atraiu jovens artistas que se sobressaíram na década de 1950. “Nomes como Leopoldo Raimo, Jacques Douchez, Maria Antonia Berlinck, Leyla Perrone-Moisés e Norberto Nicola passaram pelo ateliê, expondo juntos em São Paulo, inclusive nas Bienais, no Rio, e em Nova York. Além do impacto de sua produção em particular, Flexor contribuiu como professor para o ambiente artístico brasileiro. Sua trajetória é muito rica, suas obras podem ser entendidas como um espelho dos diferentes momentos de produção artística no País, e mesmo internacionalmente, e estudos a respeito de sua vida e obra estão longe de estarem esgotados.”

Alice Brill conta as paisagens da história do artista no livro Flexor

Na exposição Samson Flexor – Além do Moderno, em exposição no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, está à venda o livro Flexor, da artista, fotógrafa e pesquisadora Alice Brill (1920-2013). Nele, a autora conduz o leitor aos caminhos da história do artista. Lançado pela Editora da USP (Edusp) em 2005, o livro é uma referência e importante fonte de pesquisa. A autora surpreende ao contar os detalhes da trajetória e analisar as pinturas e desenhos do artista.

Nascida na Alemanha, Alice Brill, com mestrado e doutorado na USP, também se destacou como pintora, gravurista e jornalista. Frequentou o Grupo Santa Helena. E escreveu Flexor com o seu rigor de pesquisadora e o olhar sensível de uma das fotógrafas mais respeitadas do País. Não usa a câmera, mas foca, em sua análise, a nitidez dos detalhes de suas paisagens.

“Neste ensaio, Alice Brill mostra ao leitor a densa instigação que Samson Flexor cultiva ao elaborar sua produção abstrata, acompanhando a tentativa de conciliação da efusão emocional com o rigor da razão, tanto na práxis como no pensamento”, escreve a professora Lisbeth Rebollo, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, na apresentação do livro.

Em um dos capítulos, O Abstracionismo Lírico, a autora traz o artista na execução, em 1958, dos afrescos para a Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que atraem turistas de várias partes do mundo. Uma execução que levou seis anos de trabalho até completar os 300 metros quadrados. “A ideia mestra dos afrescos é a convergência de toda a humanidade em Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, explica Alice Brill. “Percorrendo as cenas notamos o próprio artista como representante de sua profissão no ato de pintar a mãe de Deus. Continuando sua marcha na nave principal, desenvolve o movimento dos personagens a caminho da salvação e do auxílio, mostrando a velhice, a miséria, a enfermidade e a guerra – esta última cena evoca os sofrimentos do artista durante a guerra, numa composição expressionista, glorificando a fé.”

Fonte: Jornal USP - Universidade São Paulo, "Samson Flexor está de volta a São Paulo", publicado em 05 de abril de 2022, escrito por Leila Kiyomura. Consultado pela última vez em 1 de novembro de 2022.

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Grupo Ruptura - Itaú Cultural

No dia 9 de dezembro de 1952, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), é inaugurada a exposição que marca o início oficial da arte concreta no Brasil. Intitulada Ruptura, a mostra é concebida e organizada por um grupo de sete artistas, a maioria de origem estrangeira residentes em São Paulo: os poloneses Anatol Wladyslaw (1913 - 2004) e Leopoldo Haar (1910 - 1954), o austríaco Lothar Charoux (1912 - 1987), o húngaro Féjer (1923 - 1989), Geraldo de Barros (1923 - 1998), Luiz Sacilotto (1924 - 2003), e o catalisador e porta-voz oficial do grupo, Waldemar Cordeiro (1925 - 1973). Cordeiro conhece Barros, Charoux e Sacilotto em 1947, na mostra 19 Pintores, quando todos ainda estavam influenciados pela corrente expressionista. É somente em 1948, quando Cordeiro volta definitivamente ao Brasil, que ocorre a mudança dos trabalhos desses artistas em direção à abstração. Por essa época, reúnem-se para discutir arte abstrata e filosofia, principalmente a teoria da pura visibilidade do filósofo alemão Konrad Fiedler (1841 - 1895) e o conceito de forma cunhado pela psicologia da Gestalt. Féjer e Leopoldo Haar, ambos com formação artística em seus países de origem, já produzem pinturas abstratas pelo menos desde 1946 e aderem ao grupo. O último a integrá-lo em 1950 é Wladyslaw, ex-aluno de Flexor (1907 - 1971).

Como afirma Cordeiro em 1953, em resposta a artigo do crítico de arte Sérgio Milliet (1898 - 1966), o Grupo Ruptura "está longe de representar todo o movimento paulista de arte abstrata e concreta, cujas fileiras contam hoje inúmeros integrantes".1 Sendo assim, o que os diferencia dos outros artistas? Sabe-se que desde o final dos anos 1940, o meio artístico brasileiro vê crescer o interesse pela arte abstrata, não sem grande resistência dos artistas figurativos ligados à estética nacionalista dos anos 1930, como Di Cavalcanti (1897 - 1976), por exemplo. Apesar da reação negativa, a consagração das tendências abstratas, sobretudo de vertente geométrica, na 1ª Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (posteriormente Bienal Internacional de São Paulo) em 1951, indica que a discussão figuração versus abstração tende a ser superada, abrindo-se, a partir de então, a necessidade de mudar o foco do debate público.

Nesse panorama, a exposição do Grupo Ruptura em 1952 e o manifesto do grupo publicado no mesmo ano, representam a abertura para um novo caminho de debate, instaurando-o no interior das próprias vertentes abstratas. O manifesto, redigido por Cordeiro e diagramado por Haar, e que parece ter causado maiores reações do que os próprios trabalhos apresentados estabelece uma posição firme contra as principais correntes da arte no país. Pretende-se romper com o "velho", a saber: "todas as variedades e hibridações do naturalismo; a mera negação do naturalismo, isto é, o naturalismo 'errado' das crianças, dos loucos, dos 'primitivos', dos expressionistas, dos surrealistas, etc.; o não-figurativismo hedonista, produto do gosto gratuito, que busca a mera excitação do prazer ou do desprazer".2 Se por um lado, a oposição contra qualquer forma de figuração não é nova, por outro, a não aceitação da abstração informal é inédita e ajuda a compreender a posição do grupo.

No ambiente do pós-guerra marcado por um certo otimismo e pelo desejo de esquecer a barbárie dos anos anteriores, a arte concreta (1930), de cunho extremamente racionalista, conhece um novo florescimento. Dentro desse movimento, o artista suíço Max Bill (1908 - 1994) torna-se o principal teórico da arte concreta do período, tentando repensar seu legado juntamente com a reflexão sobre o construtivismo, o neoplasticismo e a experiência alemã da Bauhaus, adaptando-o à nova realidade. E é exatamente como seguidores do artista suíço que os integrantes do Grupo Ruptura se colocam no meio artístico brasileiro dos anos 1950.

Em termos gerais, o grupo defende a autonomia de pesquisa com base em princípios claros e universais, capazes de garantir a inserção positiva da arte na sociedade industrial. Para um artista concreto, o objeto artístico é simplesmente a concreção de uma idéia perfeitamente inteligível, cabendo à expressão individual lugar nulo no processo artístico. Para eles, toda obra de arte possui uma base racional, em geral matemática, o que a transforma em "meio de conhecimento dedutível de conceitos". No âmbito da pintura, esses princípios correspondem à crítica do ilusionismo pictórico, à recusa do tonalismo cromático e à utilização dos recursos ópticos para a criação do movimento virtual. Lançam mão também do uso de materiais como esmalte, tinta industrial, acrílico e aglomerado de madeira, destacando a atenção do grupo ao desenvolvimento de materiais industriais.

Observa-se que a adoção de postulados extremamente racionalistas para a arte revelam a ânsia de superar o atraso tecnológico, a condição espiritual de país colonizado e de economia subdesenvolvida, característicos da realidade brasileira. As questões e a prática introduzidas pelo Ruptura mobilizam a maior parte dos debates nos anos 1950, e são fundamentais para a fermentação da dissidência neoconcreta no Rio de Janeiro. O grupo não promove outras exposições de seus participantes, entretanto, já contando com outros adeptos como Hermelindo Fiaminghi (1920 - 2004), Judith Lauand (1922), Maurício Nogueira Lima (1930 - 1999) e o apoio dos poetas concretos paulistas, organizam a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta (1956/1957). Por volta de 1959 o Grupo Ruptura começa a se dispersar.

Fonte: GRUPO Ruptura. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 23 de Jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

Crédito fotográfico: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 1 de novembro de 2022.

Samson Flexor Modestovich (Soroca, Moldávia, 9 de setembro de 1907 — São Paulo, 31 de julho de 1971), mais conhecido como Samson Flexor ou apenas Flexor, foi um pintor, desenhista, gravador, químico, muralista e professor de artes plásticas moldávio, radicado no Brasil. Estudou na Académie Royale des Beaux-Arts em Bruxelas; na Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts e no curso de História da Arte na Sorbonne, em Paris, orientado por Lucien Simon. Samson foi um dos precursores do abstracionismo no Brasil e teve papel de destaque na divulgação das tendências abstratas entre os brasileiros. Suas obras sofreram mudanças conforme as fases do artista, tornando a sua obra diversificada e original, onde contém desde elementos cubistas, até a figuração, através de formas orgânicas e antropomórficas. O abstracionismo de Samson Flexor explora a harmonia e assimetria combinando formas planos e linhas verticais, diagonais e horizontais e pontos rítmicos que criam dinamismo e movimento. Utilizava contrastes obtidos por tonalidades quentes colocadas ao lado de tons suaves enfatizando ainda mais esses detalhes. Samson realizou inúmeras exposições no Brasil e em diversos países como Alemanha, Estados Unidos, Portugal, França e Bélgica, Uruguai, Cuba, Chile, Venezuela, entre outros. Destacou-se na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) em 1949, "Do Figurativismo ao Abstracionismo", onde foi apresentado ao público como um dos mais importantes artistas contemporâneos do país, apontado como pioneiro do abstracionismo no Brasil. Suas obras integram importantes coleções particulares e integram acervos como do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) e da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Samson Flexor

Samson Flexor Modestovich (Soroca, Moldávia, 9 de setembro de 1907 — São Paulo, 31 de julho de 1971), mais conhecido como Samson Flexor ou apenas Flexor, foi um pintor, desenhista, gravador, químico, muralista e professor de artes plásticas moldávio, radicado no Brasil. Estudou na Académie Royale des Beaux-Arts em Bruxelas; na Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts e no curso de História da Arte na Sorbonne, em Paris, orientado por Lucien Simon. Samson foi um dos precursores do abstracionismo no Brasil e teve papel de destaque na divulgação das tendências abstratas entre os brasileiros. Suas obras sofreram mudanças conforme as fases do artista, tornando a sua obra diversificada e original, onde contém desde elementos cubistas, até a figuração, através de formas orgânicas e antropomórficas. O abstracionismo de Samson Flexor explora a harmonia e assimetria combinando formas planos e linhas verticais, diagonais e horizontais e pontos rítmicos que criam dinamismo e movimento. Utilizava contrastes obtidos por tonalidades quentes colocadas ao lado de tons suaves enfatizando ainda mais esses detalhes. Samson realizou inúmeras exposições no Brasil e em diversos países como Alemanha, Estados Unidos, Portugal, França e Bélgica, Uruguai, Cuba, Chile, Venezuela, entre outros. Destacou-se na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) em 1949, "Do Figurativismo ao Abstracionismo", onde foi apresentado ao público como um dos mais importantes artistas contemporâneos do país, apontado como pioneiro do abstracionismo no Brasil. Suas obras integram importantes coleções particulares e integram acervos como do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) e da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Videos

Minidocumentário: Além do Moderno | 2022

Além do Moderno: Abstração Geométrica | 2022

Além do Moderno: Bípedes | 2022

Introdução Além do Moderno | 2022

Além do Moderno: Abstração Lírica | 2022

Diálogos Instigantes | 2020

Biografia – Itaú Cultural

Viajou para a Bélgica em 1922, onde estudou química e cursou pintura na Académie Royale des Beaux-Arts [Academia Real de Belas Artes]. Muda-se para Paris em 1924 e faz o curso livre da Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes], orientado por Lucien Simon (1861-1945). Paralelamente, cursou história da arte na Sorbonne. Em 1926, frequenta as academias La Grande Chaumière e Ranson, onde recebe aulas de Roger Bissière (1886-1964). No ano seguinte, realizou a primeira exposição individual, na Galeria Campagne Première, em Paris. Em 1929, participa da fundação do Salon des Surindépendants, atuando como diretor até 1938. Quando se converte ao catolicismo em 1933, passa a executar pinturas murais de cunho religioso. Membro da Resistência Francesa, durante a II Guerra Mundial (1939-1945), é forçado a fugir de Paris. Nesse período, suas pinturas tornam-se sombrias e inicia estudos expressionista e cubistas sobre a Paixão de Cristo. Em 1946, realiza viagem ao Brasil e expõe na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, e em 1948, fixa-se na cidade. Motivado pelo crítico Léon Dégand (1907-1958), então diretor do Museu de Arte Moderna (MAM/SP), aproxima-se do abstracionismo geométrico e cria, em 1951, o Atelier-Abstração, tendo como alunos Jacques Douches (1921), Norberto Nicola (1930-2007), Leopoldo Raimo (1912), Alberto Teixeira (1925) e Wega Nery (1912-2007), entre outros. Em meados da década de 1960 aproxima-se da abstração lírica e da figuração.

Análise

Ao fixar-se no Brasil, em 1948, Flexor já é um artista maduro e de rica experiência artística. Sua formação inclui a passagem de dois anos pela Académie Royale des Beaux-Arts em Bruxelas (1922-1924), estudos na Ecole Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes] e no curso de história da arte na Sorbonne, ambas em Paris (a partir de 1924). Com uma produção próxima à Escola de Paris, o artista conquista reconhecimento da crítica em sua primeira exposição individual (1927). Em 1929 participa da criação do Salon des Surindépendants, do qual é diretor até 1938. Faz parte da resistência à ocupação nazista e é obrigado a deixar a capital francesa em 1940. Passou por enormes dificuldades durante a guerra, voltando a Paris somente em 1945. Os problemas do pós-guerra, aliados ao sucesso da viagem a São Paulo acompanhando uma exposição do Grupo dos Pintores Independentes e sua mostra individual na Galeria Prestes Maia (1946), fazem com que decida migrar com a família para o Brasil, em 1948.

Considerado um dos introdutores do abstracionismo no Brasil, Flexor é um artista de produção variada e independente. Da figura cubista à abstração geométrica, e desta à abstração lírica, volta no final da vida a uma espécie de figuração orgânica e antropomórfica, sem deixar de lado a pintura de temática religiosa e os retratos. É preciso notar que da mesma forma que exerce papel importante na aceitação das correntes abstratas pelos brasileiros, o contato com o ambiente do país do fim dos anos 1940 é fundamental para o desenvolvimento pleno de tendências abstratas esboçadas em sua pintura desde o fim da II Guerra Mundial (1939-1945). Encontra um meio artístico no qual fervilha a querela entre os partidários da abstração e os defensores da pintura figurativa de cunho nacionalista. Participa da histórica exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), Do Figurativismo ao Abstracionismo, em 1949, a convite do crítico belga e diretor do recém-fundado museu Leon Dégand (1907-1958) e é incentivado por ele a aventurar-se pelos caminhos da abstração geométrica pura.

Por sua vez, o sentimento de crise do humanismo típico do período do pós-guerra (Flexor declara em 1948: "As guerras obrigam o homem a descobrir de novo o universo que julgava conhecer"), em conjunto com a experiência contagiante do surto desenvolvimentista pelo qual passa São Paulo na época, onde, como declara o artista a Sérgio Milliet (1898-1966), "tudo tende para o futuro e clama seu desprezo pelo passado colonial", são elementos decisivos para os futuros caminhos tomados por Flexor no Brasil.

Dessa forma, sua pintura semi-abstrata de origem neocubista do fim dos anos 1940, na qual, como observou Mário Pedrosa (1900-1981), "a sobreposição de planos ainda tem função figurativa" - observam-se, por exemplo, Xícaras (1945), Violão (1948) e Cristo na Cruz (1949) -, transforma-se pouco a pouco em composições geométricas puramente abstratas em que os planos se tornam autônomos, integrando-se por "partido ortogônico ou diagonal". As telas abstratas de Flexor buscam um dinamismo pela combinação de planos e linhas verticais, diagonais e horizontais e de pontos rítmicos pela colocação de tonalidades quentes ao lado de tons rebaixados, na intenção de atingir uma harmonia dentro da assimetria. Esta abstração, mais musical do que matemática, é construída mediante o estudo e aplicação de métodos renascentistas de proporção e harmonia, como observa Alice Brill (1920). Esses estudos rigorosos serão ensinados por Flexor a partir de 1951 no Atelier-Abstração (primeira fase 1951-1959), do qual participam Alberto Teixeira (1925), Emílio Mallet, Izar do Amaral Berlinck, Jacques Douchez (1921), Leyla Perrone, Leopoldo Raimo (1912), Renée Malleville e Wega Nery (1912).

No final dos anos 1950, uma série de fatores, entre eles a viagem para os Estados Unidos (1957) e o fechamento do Atelier, influíram para a mudança de Flexor em direção a uma abstração lírica de formas orgânicas. "Ao mesmo tempo em que mergulha em uma busca interior, Flexor pesquisa a matéria, o ritmo das formas e da luz", como assinala Denise Mattar. Em 1967 o artista surpreende ao realizar grandes pinturas "figurativo-abstratas" para a 9ª Bienal Internacional de São Paulo intituladas Bípedes. Sobre a convivência da abstração e figuração na obra de Flexor, Tadeu Chiarelli mostra que mesmo em algumas obras ditas "abstratas puras" há a presença de esquemas ilusionistas num inquestionável compromisso com a pintura tradicional. Nesse sentido, sua obra apresenta-se como "objeto privilegiado de estudo sobre os aspectos problemáticos envolvidos na absorção das poéticas não-figurativas no campo da arte brasileira".

Nota

1 Em 1812, com a assinatura do Tratado de Paz entre os impérios Russo e Turco, a parte oriental da Moldávia, situada entre os rios Prut e Nistru, chamada Bessarábia, e onde se localiza a cidade de Soroca, é anexada ao Império Russo, tornando-se uma província da Rússia até 1918. Nesse ano, os bessárabes decidem se unir à Romênia. Esta união dura até 1940, ano em que o país é anexado pela União Soviética, como consequência do Pacto Ribbentrop-Molotov, de 1939. A Moldávia funciona como uma entidade territorial dentro da ex-União Soviética até 1991, quando declara sua independência.

Críticas

"(...) Como todo pintor em que a inteligência criativa não se afasta ou sucumbe à força instintiva, o desenho sempre foi nele de importância decisiva. Pode-se dizer que Flexor foi, desde o seu começo de pintor, um descendente direto do cubismo sintético. Suas grandes composições figurais ou de temas sacros devem as estruturas complexas à experiência cubista da segunda vaga parisiense, na predominância dos planos sobre tudo o mais. Quando entrou ele na fase geométrica, esses planos se tornaram autônomos de qualquer idéia representativa, passando a entrosar-se ou por um partido ortogônico ou por um partido diagonal. A complexidade estrutural da composição absorvia o artista de tal modo que a cor era, apenas, em geral, uma suplementação em rosa ou em verde ou em qualquer outro semitom ao branco" — Mário Pedrosa (PEDROSA, Mário. Flexor, artista e pintor. In: FLEXOR. São Paulo: MAM, 1961).

"Em 1963 Jacques Lassaigne referiu-se à sua arte como uma 'síntese equilibrada entre a construção e o lirismo', e René Deroudille, em 1965, assim comentou sua evolução: '(...) suas primeiras obras brasileiras, dedicadas às abstrações tropicais, traduzem um lirismo formal e colorido, seguido por um momento de serenidade no qual, guiado pelas opções religiosas, Samson Flexor atinge uma síntese expressiva (...) Vem em seguida um período de abstração fria e criativa, próxima do construtivismo e das preocupações óticas e ambíguas da op art. Finalmente, é o levantamento do vôo para as pesquisas muito atuais, onde o olho 'escuta' as pulsações dos elementos e faz eclodir, na extensão da tela, estranhas crateras, flores venenosas, ondas indomadas, signos de uma tonalidade plástica e poética à qual aspira Samson Flexor'. Referindo-se a seus últimos trabalhos, disse Clarival Valadares, em 1968: 'No exemplo de Flexor, após atingir um nível insuperável de virtuosismo na técnica de superposição e de diafanização tonal, sob rígida ordenação das unidades formais (...) vêmo-lo transpor-se para a configuração de algo da condição humana (...)" – Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Flexor. In:______. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. p. 218).

"Afirma Flexor que sua orientação decisiva no sentido da abstração decorre não somente de um processo intelectual mas também da contemplação cotidiana do espetáculo que oferece o desenvolvimento frenético de São Paulo, 'onde tudo tende para o futuro e clama seu desprezo pelo passado colonial'. Haveria assim, em seu sentir, uma ligação íntima entre as forças progressistas da civilização e as realizações dos pintores. Estes, libertados da imitação da natureza, emancipados das convenções e das tradições, seriam a expressão natural da civilização atômica. (...)

No caso de Flexor, derive ou não a sua pintura da sua fixação em São Paulo, não a julgaremos por esse prisma, mesmo porque jamais teve ele a intenção de interpretar o que quer que seja. Temos de encará-la como pintura simplesmente, verificando o que nos traz de novo, que soluções apresenta, até que ponto foge das chapas, das convenções dos truques. Tem ela como ponto de partida e com solução mais imediata a composição geométrica, jogo de retângulos ou de círculos, de linhas diagonais, verticais e horizontais em equilíbrio harmônico e no entanto movimentado. E concomitantemente a expressão colorística pelo matiz, em acordes mais requintados do que exigiam os neoplasticistas.

Mas Flexor não quer perder em sua disciplina as soluções mais líricas do hedonismo abstracionista, porque não deseja empobrecer a pintura, enrijecendo-a, e ei-lo a dar à matéria especial cuidado.

Nem concretista nem hedonista, mas pessoal e lírico, embora disciplinado em seu abstracionismo, mostra Flexor quanto pode ser livre e complexa uma tendência que tantos já acusam de acadêmica, mal principiou a produzir alguns frutos saborosos. Uma qualidade tem em todo caso - e indiscutível - a autenticidade, pois o que caracteriza a autenticidade na arte, pintura, música ou arquitetura, é estar a obra intimamente ligada à sua época"Sérgio Milliet (MILLIET, Sérgio. Diário crítico: 1955/1956. 2. ed. São Paulo: Martins: Edusp, 1982. v. 10, p. 53; 55-56).

"Samson Flexor foi um desses artistas autônomos, que buscava um caminho sem compromissos. Considerado o mais importante introdutor do abstracionismo no Brasil, aqui atua como professor, conferencista e artista plástico. Para Flexor, vida e arte caminham sempre juntas; em suas próprias palavras: 'Vou tentar traduzir, assim como eu o sinto, o relacionamento que existe neste triângulo: artista, vida, obra, triângulo cuja base é dada pelos pontos artista e vida, sendo obra o ponto culminante... ' É significativo que expresse suas idéias em termos geométricos. Flexor elabora, em seguida, uma síntese de toda a história da arte, que lembra os manifestos das vanguardas, hoje já históricas, e suas posições básicas. Na pintura e na arte em geral 'o que mais comove é e permanece... essa tendência Prometheana de vagar beirando os abismos, ultrapassando os limites do possível'. As obras de arte são 'cristalização do pensamento e das aspirações da humanidade em via de realização... testemunho da nossa dignidade e do desejo imperecível do homem de reter a vida universal, que lhe escapa a todo instante, na tentativa de defini-la para sempre'. Finalmente, a história da arte chega em nossos dias 'a esta autonomia... que chamamos ARTE ABSTRATA - abstrata a tudo que não seja ela mesma... ' Flexor cita Kandinsky, Delaunay, Mondrian, Paul Valery e muitos outros artistas e intelectuais que romperam com toda tradição, em busca de uma inovação capaz de dar expressão legítima a novas situações. Significativamente, Flexor, que começa a lecionar desde sua chegada definitiva a São Paulo, em 1948, vai inaugurar o seu Atelier Abstração oficialmente no ano da instauração das Bienais Paulistas, em 1951. Sem dúvida cabe a ele o papel pioneiro entre os abstracionistas brasileiros que divulgam esta tendência, considerando-se que as idéias abstratas na arte só começam a ser aqui introduzidas a partir da 1ª e 2ª Bienal Internacional de São Paulo" — Alice Brill (BRILL, Alice. Reflexão sobre Arte Abstrata. In: ______. Samson Flexor: do figurativismo ao abstracionismo. São Paulo, Insdustrias Freios Knorr/MWM Motores Diesel/EDUSP, 1990, p. 79).

"Deve-se assinalar, porem, que a arte de Flexor nunca atingiu, como expressão pictórica, o radicalismo que se manifesta em suas idéias. Se é verdade que foi o pioneiro da tendência abstrata no Brasil, trabalhou como pintor dentro de determinados limites, que os concretos e particularmente os neoconcretos ultrapassaram amplamente. Isso se explica, dentre outros fatores, pelo caminho anterior percorrido pela pintura de Flexor, diverso das tendências geométricas que geraram a arte concreta: o abstracionismo de Flexor tem origem no neocubismo e na Escola de Paris, enquanto o concretismo brasileiro bebeu em Max Bill e nas teses da Escola de Ulm. A diferença está visível nas etapas que Flexor percorreu para chegar à abstração, que vão da estilização das figuras à gradativa eliminação das alusões figurativas, enquanto a pintura concreta já parte de formas geométricas puras, livres de qualquer referência ao mundo exterior" — Ferreira Gullar (GULLAR, Ferreira. A Pintura de Flexor: cosa mentale. In: FLEXOR. Modulações. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2003. p. 32).

"Talvez um dos pontos mais altos da obra de Flexor tenha sido, justamente, aquela série de trabalhos produzidos no final doa anos 40. Ali o artista, sem dúvida impactado com as formulações propostas pela abstração lírica - então se alastrando ferozmente pela Europa e Estados Unidos -, experimenta igualmente certas soluções conseguidas pelo Picasso surrealista e por certas 'liberdades' advindas da prática do automatismo psíquico. Suas cabeças, suas créoles, suas paisagens e naturezas-mortas demonstram como o artista trafega livre entre a estrutura geométrica do plano pictórico e a sensualidade do gesto, às vezes afirmativo e másculo, às vezes ornamental, repleto de um sincero erotismo. O exímio pintor - detentor de um domínio da técnica pictórica até então poucas vezes encontrada no Brasil -, então, trafega solto por uma poética abstratizante, cujo caráter conciliatório entre a figuração e abstração absolutamente não representa uma fraqueza, mas sim um modo de resolver, pela estratégia da fusão gestual, aquilo que, para muitos, seria impossível" — Tadeu Chiarelli (CHIARELLI, Tadeu. A Conciliação dos Opostos. In: FLEXOR. Modulações. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2003. p. 29).

Depoimento

Pode parecer artificial explicar a posteriori as fases sucessivas de um artista ligando-as por um fio condutor que lhes assegure uma continuidade satisfatória para o espírito. Como é que Flexor, o pintor das amplas composições geométricas, matematicamente construídas, dentro do cromatismo refinado dos anos de 1950, pôde conceber os Bípedes dos anos de 1960, reflexos igualmente pesados e evanescentes de não sei que subumanidade entrevista no limiar do pesadelo? Ou melhor, como é que o Flexor sereno desses anos de 1950 pôde criar ao mesmo tempo essa admirável e trágica série de Paixão de Cristo que nos mergulha num universo de dor e crueldade? Reunidos na mesma sala de um museo imaginário, esses diferentes aspectos

do gênio do artista desorientam com certeza aquele que, sob realizações plásticas tão diversas, pretende se descobrir o fio secreto que os une, a personalidade profunda do homem Flexor.

Esse problema não existiria para seus amigos, seus familiares, aos quais ele expunha com uma admirável lucidez a motivação de suas obras. Para Flexor, nada dessas contradições, comuns a certos artista que,

incapazes de assegurar a unidade do seu ser, passam febrilmente de um estilo a outro, renegando hoje o credo estético do qual eram ontem os campeões. O mesmo Flexor estava sempre ali, coerente, lúcido, verdadeiro. No entanto, sua personalidade, sua cultura, eram tão ricas que ele podia, como músico que era, dosar suas sonoridades ao sabor de suas preocupações intelectuais, do seu estado d'alma e, na última fase de sua vida, de seu estado de saúde.

O pintor Flexor que, após os sofrimentos da guerra, vinha, em 1948, tentar uma nova vida no Brasil, fora fortemente marcado por sua formação francesa, intelectual e artística. Exatamente como seu grande amigo brasileiro Sérgio Milliet, assíduo leitor de Montaigne, ele era antes de mais nada um humanista, um ser ávido de conhecer tudo que se refere ao homem. Nada escapava à sua sede de saber: as matemáticas, a filosofia, a música e, naturalmente, as artes plásticas. Como os grandes mestres da Renascença, ele achava que num quadro o Belo só poderia ser atingido submetendo a composição a relações matemáticas privilegiadas, como a seção áurea, por exemplo.

Seu temperamento ardente, intelectualmente inquieto, o conduzia a levar suas experiências pictóricas às últimas consequências. Não se tratava do "quadrado branco em fundo branco" de Malevitch, mas de algo semelhante, mais rigoroso talvez. Excelente pianista, maravilha-se com a organização racional de uma sonata de Bach, e queria que seus quadros fossem similarmente compostos. Falava, no fundo, uma linguagem próxima da de Piero della Francesca: porém, nele, somente as estruturas "abstraídas" da realizade permaneciam. Esse rigorismo intelectual dominava os arroubos de uma sensibilidade, por vezes revelada pelo lirismo de certos esboços preparatórios, a lápis. Um tema religioso podia no entanto liberá-lo do hedonismo apolíneo adquirido em Paris. Teremos então a notável série da Paixão de Cristo, pungente grito em que se misturam a dor do cristão diante da morte do Filho do Homem, a do judeu, que conheceu a opressão totalitária, e a do homem esmagado por sua condição. É, no entanto, bem Flexor. A composição expressionista, barroca mesmo (Jesus entre os dois ladrões), é sábia, e o cromatismo obedece às regras da liturgia e ao simbolismo psicológico tradicional.

Mas nada do que é humano lhe é indiferente. Uma grande ruptura cultural prepara-se nesses anos de pós-guerra. Paris e suas exigências de equilíbrio racional esvanecem-se diante da nova geração americana ébria de incontrolados ardores. É 1957, Flexor conhece Nova York, os exageros da action painting e os meandros da caligrafia orietal. Que imagem do Homem e arte lhe irá dar? Flexor é excessivamente comedido para entregar-se à liberdade do traço e da pincelada. Domina muito bem sua técnica para esquecê-la um momento sequer. É em seus esboços ou nas suas aquarelas que ele pode mais sinceramente caminhar rumo à espontaneidade, à expressão gestual. Nas grandes composições a óleo, mais logamente elaboradas, a emoção do grafismo ou a mancha cede um pouco diante da dureza e da perfeição do cristal. Aproxima-se o fim. O artista tem apenas 64 anos, mas o ardente apóstolo da abstração geométrica, o líder, está cansado. Cansado daquilo que ele julgava ser a incompreensão dos meios artísticos, cansado pela doença de que iria morrer. Pela primeira vez, Flexor se entrega - sabê-lo-ia? - a seus demônios interiores. Sua pintura quer reencontrar as composições amplas da grande época mas não são as formas vigorosas, geométricas, com a cores luminosas de outrora são vastas zonas lívidas, orladas de cordões de massa, trabalhadas com a espátula. A coerência matemática deu lugar a uma outra lógica: as grandes manchas organizam-se em obessões figurativas, gigantes esmagados, seres pesados e invertebrados, que surgem do pincel fatigado, um pincel que se recusa a renunciar. O mestre de outrora, que passava, cheio de entusiasmo, do piano ao cavalete, é agora o homem enfraquecido, que às vezes, lágrimas nos olhos, volta à sua tela em que nascem esses Bípedes, imagens ao mesmo tempo poderosas e miseráveis de uma vida que o abandona. Aqui e acolá, ainda uma nota vibrante: um pequeno retângulo bem geométrico, vigorosamente colorido, negro às vezes [...] — Livro Flexor, Jacques Douchez - Janeiro 1990.

Exposições Individuais

1927 - Paris (França) - Primeira individual, na Galerie Campagne Première

1928 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeune Peinture

1929 - Bruxelas (Bélgica) - Individual, na Galerie Le Cadre

1929 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeune Peinture

1930 - Paris (França) - Individual, na Galeria George Dupuis

1933 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeune Peinture

1935 - Paris (França) - Individual, na Galerie A. Barreiro

1937 - Paris (França) - Individual, na Galeria La Fenêtre Ouverte

1939 - Paris (França) - Individual, na Galerie Carmine

1946 - Paris (França) - Individual, na Galerie Carmine

1946 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Prestes Maia - Salão Almeida Júnior

1948 - Paris (França) - Flexor: peintures et dessins, na Galerie Roux-Hentschel

1948 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Domus

1950 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Domus

1950 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP

1952 - Salvador BA - Individual, na Galeria Oxumaré

1952 - São Paulo SP - Individual, na Livraria Francesa - Sociedade Inter-Franco-Brasil

1952 - São Paulo SP - Um Vitral de Flexor, no MAM/SP

1953 - Santos SP - Individual, na Associação Franco-Brasileira

1954 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP

1955 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ

1956 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Montmartre-Jorge

1957 - Nova York (Estados Unidos) - Individual, na Roland de Aenlle Gallery

1958 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte das Folhas

1960 - Belo Horizonte MG - Individual, no MAP

1960 - São Paulo SP - Individual, na Galeria São Luís

1961 - Campinas SP - Individual, na Galeria Aremar

1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ

1961 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP

1961 - São Paulo SP - Individual, na Casa do Artista Plástico

1961 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP

1962 - Montevidéu (Uruguai) - Individual, no Ministério de Instrucción Publica y Prevision Social

1962 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia

1963 - Düsseldorf (Alemanha) - Individual, na Galeria Gunar

1963 - Kassel (Alemanha) - Individual, na Kasseler Kunstverein

1963 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Embaixada do Brasil

1963 - Paris (França) - Samson Flexor: peinture et aquarelles récentes, na Galerie George Bongers

1963 - Stuttgart (Alemanha) - Individual, na Galerie Hans Maercklin

1964 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Câmara do Comércio do Brasil em Portugal

1964 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Bonino

1964 - São Paulo SP - Obras Recentes de Flexor, na Galeria São Luís

1965 - Genebra (Suíça) - Individual, no Museu Rath

1966 - Santos SP - Individual, no Clube de Arte

1966 - São Paulo SP - Individual, na Chelsea Art Gallery

1966 - São Paulo SP - Individual, na Galeria 4 Planetas

1967 - São Paulo SP - Flexor 1947-1967, no Banco de Minas Gerais

1968 - Rio de Janeiro RJ - Flexor: 30 anos de pintura, no MAM/RJ

1969 - São Paulo SP - Individual, na Documenta Galeria de Arte

1970 - Campinas SP - Individual, na Galeria Girassol

1970 - São Paulo SP - Individual, na Chelsea Art Gallery

Exposições Coletivas

1927 - Paris (França) - 20º Salão de Outono, no Grand Palais

1929 - Paris (França) - 40º Salon des Indépendants, na Société des Artistes Indépendants

1929 - Paris (França) - Salão de Outono, no Grand Palais

1929 - Paris (França) - Salon des Tuilleries

1930 - Paris (França) - Exposição, no Les Surindépendants

1930 - Paris (França) - Salão de Outono, no Grand Palais

1932 - Paris (França) - Salon des Échanges

1933 - Bruxelas (Bélgica) - Dispensaire des Artistes

1934 - Paris (França) - Salon des Échanges, no Parc des Exposition, Porte de Versailles

1935 - Nevers (França) - Exposição, na Galerie d'Art Jack

1935 - Paris (França) - Salon des Échanges, no Parc des Expositions, Porte de Versailles

1936 - Paris (França) - Salon des Tuilleries

1937 - Paris (França) - Prêmio Paul Guillaume, na Galeria Berheim Jeune

1937 - Paris (França) - Exposição Universal de Paris, no Pavillon d'Art Français

1937 - Paris (França) - Salon des Échanges, no Parc des Expositions, Porte de Versailles

1938 - Nevers (França) - 26ª Exposition du Groupe d'Emulation Artistique du Nivernais

1938 - Paris (França) - 8ª Salon des Échanges, no Parc des Exposition, Porte de Versailles

1938 - Paris (França) - Exposição, na Maison de La Culture

1938 - Paris (França) - Salon des Tuilleries

1939 - Paris (França) - Prêmio Paul Guillaume, na Galeria Berheim Jeune

1940 - Normandia (França) - Salon des Artistes Bas-Normands

1946 - Paris (França) - Artistes de la Résistence, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris

1949 - São Paulo SP - 13º Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos

1949 - São Paulo SP - Do Figurativismo ao Abstracionismo, no MAM/SP

1950 - São Paulo SP - Composição sobre os Temas da Paixão, no MAM/SP

1951 - Salvador BA - 3º Salão Baiano de Artes Plásticas

1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon

1951 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia

1951 - São Paulo SP - Exposição, na Livraria Francesa

1952 - Havana (Cuba) - 2ª Bienal Hispano Americana

1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ

1952 - Santiago (Chile) - Exposição Francesa, na Universidad de Santiago do Chile

1953 - Caracas (Venezuela) - Salão Pan-americano

1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados

1953 - São Paulo SP - Atelier Abstração, no IAB/SP

1954 - São Paulo SP - Atelier Abstração, no MAM/SP

1954 - Veneza (Itália) - 27ª Bienal de Veneza

1955 - Montevidéu (Uruguai) - Exposição de Arte Brasileira

1955 - Paris (França) - Mostra de Arte Brasileira, na Maison de L'Amerique Latine

1955 - São Paulo SP - 3ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão das Nações

1955 - São Paulo SP - Atelier Abstração, no Instituto Mackenzie

1956 - São Paulo SP - 50 Anos de Paisagem Brasileira, no MAM/SP

1956 - São Paulo SP - Atelier Abstração, no MAM/SP

1957 - Buenos Aires (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Moderno

1957 - Lima (Peru) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte

1957 - Paris (França) - 50 Ans de Peinture Abstraite, na Galerie Creuze

1957 - Rosário (Argentina) - Arte Moderna no Brasil, no Museo Municipal de Bellas Artes Juan B. Castagnino

1957 - Santiago (Chile) - Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Contemporáneo

1957 - São Paulo SP - 12 Artistas de São Paulo, na Galeria de Arte das Folhas

1957 - São Paulo SP - 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho

1958 - Nova York (Estados Unidos) - Atelier Abstração of São Paulo, na Roland de Aenlle Gallery

1959 - Leverkusen (Alemanha) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1959 - Munique (Alemanha) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa, na Kunsthaus

1959 - Viena (Áustria) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1960 - Concórdia SC - Salão de Belas Artes do Clube Concórdia

1960 - Hamburgo (Alemanha) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1960 - Kassel (Alemanha) - Arte Brasileira da Atualidade

1960 - Lisboa (Portugal) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1960 - Madri (Espanha) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1960 - Paris (França) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1960 - São Paulo SP - Coleção Leirner, na Galeria de Arte das Folhas

1960 - Teresópolis RJ - Exposição de Arte Contemporânea, na Prefeitura Municipal de Teresópolis

1960 - Utrecht (Holanda) - Primeira Exposição Coletiva de Artistas Brasileiros na Europa

1961 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Nacional de Arte Moderna

1961 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, no MAM/RJ

1961 - São Paulo SP - 10º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - medalha de ouro

1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho

1962 - Curitiba PR - Salão do Paraná, na Biblioteca Pública do Paraná

1962 - Kassel (Alemanha) - Brasilianische Kunstler der Gegenwart, na Kasseler Kunstverein

1962 - São Paulo SP - 11º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia

1962 - São Paulo SP - Seleção de Obras de Arte Brasileira da Coleção Ernesto Wolf, no MAM/SP

1963 - Berlim (Alemanha) - Sudamerikanische Malerei der Gegenwart, na Akademie der Kunste

1963 - Campinas SP - Pintura e Escultura Contemporâneas, no Museu Carlos Gomes

1964 - Paris (França) - Salon Comparaisons, no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris

1965 - Osaka e Sakata (Japão) - Coletiva, na Galeria Nunu e no Honma Art Museum

1966 - Osaka (Japão) - International Society of Plastic and Audiovisual Arts

1966 - Paris (França) - Artistes Brésiliens de Paris, na Galeria Debret

1966 - São Paulo SP - Coletiva, no MAC/USP

1966 - São Paulo SP - Manchas, na Galeria 4 Planetas

1966 - São Paulo SP - Três Premissas, no MAB/Faap

1967 - Montevidéu (Uruguai) - Exposição de Arte Brasileira

1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1968 - Rijeka (Iugoslávia, atual Croácia) - Exposition Internationale des Dessins Originaux, no Museum of Modern and Contemporary Art

1968 - São Paulo SP - 17º Salão Paulista de Arte Moderna

1969 - Rio de Janeiro RJ - 7º Resumo de Arte JB, no MAM/RJ

1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP

1969 - São Paulo SP - Os 5 Grandes, no Banco Nacional, organizado pela Chelsea Art Gallery

1970 - Montevidéu (Uruguai) - 1ª Bienal do Uruguai - grande prêmio pan-americano de pintura

1970 - Sakata (Japão) - International Society of Plastic and Audiovisual Arts

1970 - São Paulo SP - 2º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP

1970 - São Paulo SP - Coletiva, na Galeria Azulão

1971 - São Paulo SP - 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1971 - São Paulo SP - Obras de Artistas Brasileiros Doadas ao Museu de Arte Contemporânea de Skopje, no Paço das Artes

Exposições Póstumas

1972 - Campinas SP - Individual, na Galeria Girassol

1972 - São Paulo SP - Individual, na Chelsea Galeria de Arte

1972 - Tailândia - International Society of Plastic and Audiovisual Arts

1973 - Santos SP - 2ª Bienal de Artes Plásticas

1973 - São Paulo SP - Individual, na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Salão Nobre

1974 - Campinas SP - Samson Flexor, Lothar Charoux, Raul Porto, Paulo Roberto Leal, no Banco Lar Brasileiro

1975 - Campinas SP - Individual, no Banco Lar Brasileiro

1975 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Montmartre-Jorge

1975 - São Paulo SP - 13ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1975 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP

1975 - São Paulo SP - Individual, no Masp

1976 - São Paulo SP - Imigrantes nas Artes Plásticas de São Paulo, no Masp

1977 - São Bernardo do Campo SP - Individual, no Paço Municipal

1977 - São Paulo SP - Destaque do Mês, na Pinacoteca do Estado

1978 - Recife PE - Gouaches e Aquarelas de Samson Flexor, na Casa de Cultura de Pernambuco

1978 - Salvador BA - Gouaches e Aquarelas de Samson Flexor, no MAM/BA

1978 - São Paulo SP - Gouaches e Aquarelas de Samson Flexor, na Galeria Arte Global

1978 - São Paulo SP - A Arte e Seus Processos: o papel como suporte, na Pinacoteca do Estado

1978 - São Paulo SP - As Bienais e a Abstração: a década de 50, no Museu Lasar Segall

1980 - Londrina PR - Individual, na UEL

1980 - Marília SP - Individual, na Galeria Flexor

1980 - São Paulo SP - Projeto Pinacoteca, na Galeria Sesc Paulista

1981 - São Paulo SP - Individual, no Jockey Club de São Paulo

1982 - São Paulo SP - Samson Flexor: abstração lírica e geométrica, na Galeria de Arte São Paulo

1983 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte São Paulo

1983 - São Paulo SP - Uma Seleção do Acervo na Cidade Universitária, no MAC/USP

1983 - São Paulo SP - Uma Seleção do Acervo: do cubismo ao abstracionismo, no MAC/USP

1984 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Saramenha

1984 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP

1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese da arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal

1985 - São Paulo SP - 18ª Exposição de Arte Contemporânea, no Chapel Art Show

1987 - Paris (França) - Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d'Art de la Ville de Paris

1987 - Rio de Janeiro RJ - Abstracionismo Geométrico e Informal: aspectos da vanguarda brasileira dos anos 50, na Funarte

1987 - São Paulo SP - O Ofício da Arte: pintura, no Sesc

1988 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Abstração Geométrica, na Funarte. Centro de Artes

1988 - São Paulo SP - MAC 25 anos: destaques da coleção inicial, no MAC/USP

1988 - São Paulo SP - Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP

1988 - São Paulo SP - Samson Flexor: obras 1921-1971, no Espaço Cultural José Duarte Aguiar e Ricardo Camargo

1989 - São Paulo SP - 20ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

1990 - São Paulo SP - Flexor e o Abstracionismo no Brasil, no MAC/USP

1991 - São Paulo SP - Abstracionismo Geométrico e Informal: aspectos da vanguarda brasileira dos anos 50, na Pinacoteca do Estado

1992 - Rio de Janeiro RJ - 1º A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial

1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA

1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal

1996 - Niterói RJ - Arte Contemporânea Brasileira na Coleção João Sattamini, no MAC/Niterói

1996 - São Paulo SP - Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo MAC/USP: 1920-1970, no MAC/USP

1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niterói

1998 - São Paulo SP - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/SP

1998 - São Paulo SP - Coleção MAM Bahia: pinturas, no MAM/SP

1998 - São Paulo SP - O Colecionador, no MAM/SP

1998 - São Paulo SP - Traços e Formas, na Jo Slaviero Galeria de Arte

1999 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/RJ

1999 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap

1999 - São Paulo SP - Década de 50 e seus Envolvimentos, na Jo Slaviero Galeria de Arte

2000 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap

2000 - São Paulo SP - A Figura Humana na Coleção Itaú, no Itaú Cultural

2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal

2000 - São Paulo SP - O Papel da Arte, na Galeria de Arte do Sesi

2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, no MAB/Faap

2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC-Niterói

2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial

2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

2002 - São Paulo SP - Mapa do Agora: 50 anos da arte brasileira Coleção Sattamini, no Instituto Tomie Ohtake

2002 - São Paulo SP - Modernismo: da Semana de 22 à seção de arte de Sérgio Milliet, no CCSP

2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB

2003 - Rio de Janeiro RJ - Ordem x Liberdade, no MAM/RJ

2003 - Rio de Janeiro RJ - Samson Flexor : modulações, no Instituto Moreira Salles

2003 - São Paulo SP - Samson Flexor: modulações, na Galeria de Arte do Sesi

2004 - Niterói RJ - Modernidade Transitiva, no MAC/Niterói

2004 - São Paulo SP - Gabinete de Papel, no CCSP

2004 - São Paulo SP - Gesto e Expressão: o abstracionismo informal nas coleções JP Morgan Chase e MAM, no MAM/SP

2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural

2004 - São Paulo SP - Sala do Acervo, na Ricardo Camargo Galeria

2004 - São Paulo SP - Tudo é Desenho, no CCSP

Fonte: FLEXOR. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 01 de novembro de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Biografia Samson Flexor – Wikipédia

Estudou Química e Pintura na Bélgica, para onde foi em 1922. Em 1924 mudou-se para Paris e entrou no curso livre da École Nationale des Beaux-Arts, sendo aluno de Lucien Simon, ao mesmo tempo que estudava História na Sorbonne, passando em 1926 a estudar nas academias La Grande Chaumière e Ranson, sob orientação de Roger Bissière. No ano seguinte já fazia sua primeira exposição individual na galeria Campagne Première.

Em 1929 fundou, junto com outros, o Salon des Surindépendants, que dirigiu até 1938. Sua temática mudou para os temas religiosos quando se converteu ao Catolicismo em 1933. Durante a II Guerra Mundial fez parte da resistência francesa, sendo obrigado a fugir para o Brasil. Nesta época sua obra adquiriu tons sombrios expressionistas, além de ser influenciado pelo cubismo. Fixou residência em São Paulo em 1948.

Estimulado pelo diretor do MASP, Léon Degand, fez experiências de abstração geométrica, fundando em 1951 o Atelier-Abstração, onde passa a lecionar. Ao decorrer desta década, Flexor integra a efervescente cena cultural paulistana pós-concretista, marcada pelas Bienais internacionais que estreiam na mesma década. Flexor polemiza com Waldemar Cordeiro, fundador do movimento Concreto, ao defender a arte abstrata. Para o moldavo-brasileiro, o concretismo era sobretudo desdobramento de uma tendência maior é ela sim decisiva na história da arte: a abstração. Criticando o excessivo intelectualismo e, em suas palavras, "hermetismo" do movimento concreto, conforme se pode ouvir em depoimento de Flexor ao MIS-RJ em 1968, o pintor polemiza com nomes como Waldemar Cordeiro. No fim da década 50, dois eventos marcantes na sua vida artística: a pintura dos afrescos da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro dos Jardins (São Paulo - SP) e uma viagem à Nova York, onde faz profícuo contato com o trabalho de pintores como Jackson Pollock.

No mês de março de 1961 o Museu de Arte Moderna realizou uma exposição com as obras de Tikashi Fukushima e Flexor, onde é ressaltada a grande diferença de estilo dos dois pintores, sobre as obras foi comentado: "Vinte grandes telas se oferecem ao exame do visitante, e nelas percorre toda a gama do espectro a variada escala dos motivos, que afinal não são motivos, que nos releve o desmentido, o pintor... Para este, cada um dos quadros tem um nome e um destino, mas na verdade eles são apenas pintura, e, como pintura, matéria. Nada mais. Daí a serenidade espantosa". Na comparação com a pintura de Fukushima com a de Flexor, comenta-se que os resultados são opostos, pois, enquanto a pintura de Flexor mostra inquietação a de Fukushima revela "uma grande serenidade".

Tal exposição registra a mudança do registro flexneriano, que se torna cada vez mais informal. Em meados da década de 1960, é diagnosticado com câncer, experiência que mobiliza sua força criativa na direção de monstros e, dentre estes, os da série "Bípedes". Cinco bípedes gigantes são apresentados por Flexor ao público da Bienal de 1967, chocando espectadores e críticos. No ano seguinte, a série aumentada, acrescida de bichos médios e pequenos, é mostrada na grande Retrospectiva Flexor no MAM-Rio, que cobre mais de 30 anos de atividade do pintor. O filósofo Vilém Flusser, que então morava no Brasil, engaja-se na produção do artista, dedicando-lhe quatro artigos para o Suplemento Literário do Jornal Estado de São Paulo, entre 1967 e 1971. Os bípedes, segundo diversas interpretações, são respostas do pintor a um drama interior e também cósmico, social, na medida em que a aproximação de sua morte coincide com o recrudescimento do regime militar no Brasil, instaurado em 1964 e radicalizado no biênio 1967-68.

Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 31 de outubro de 2022.

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Samson Flexor: Além do Moderno – Museu de Arte Moderna

O Museu de Arte Moderna de São Paulo recebe a exposição Samson Flexor: além do moderno, a partir do dia 22 de janeiro de 2022. Conhecido como um dos pioneiros da abstração no Brasil, Flexor participou ativamente deste importante movimento de renovação das artes visuais no país na década de 1950. Sua contribuição para a abstração geométrica, tanto em sua atuação como artista quanto como mestre de uma nova geração em seu Ateliê Abstração nos anos 1950, é amplamente reconhecida pela crítica. No entanto, seus desenvolvimentos posteriores, caracterizados pela abstração lírica ou informal e pelo retorno à figuração nos seus últimos cinco anos de vida, permanecem pouco conhecidos pelo público.

Segundo a curadora Kiki Mazzucchelli, “é a primeira exposição que tem como foco o desenvolvimento da obra de Flexor a partir de 1957, quando passa a rejeitar as formas estáticas em pinturas onde gradualmente predominam o gesto, a opacidade e a transparência.” A exposição tem como objetivo trazer à luz a obra tardia de Samson Flexor, que marca sua transição do moderno para o contemporâneo ao confrontar questões éticas e estéticas de seu tempo.

É composta por quase uma centena de obras datadas entre os anos 1922 e 1970. São incluídas pinturas conhecidas na trajetória do artista como Abstração Barroca n.2 (1949), que combina a geometrização da figura e a temática brasileira; Aos pés da cruz (1948), pintura originalmente exposta no MAM São Paulo, em 1950, e que se aproxima de uma abstração total; e Vai e vem diagonal em três quadrados (1954), pintura da fase da abstração pura na qual explora as diagonais cruzadas e cria um movimento acentuado pelos contrastes cromáticos. Curadoria: Kiki Mazzucchelli

Fonte: MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo, "Samson Flexor: Além do Moderno". Consultado pela última vez em 1 de novembro de 2022.

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Exposição de Samson Flexor no MAM ressoa momento político do Brasil –

Em 1948, Samson Flexor chegou ao Brasil na expectativa de ter encontrado sua terra prometida. O clima solar, a música, a cultura e a abundância eram muito diferentes da Paris do pós-guerra onde havia vivido com a família nos últimos anos — judeu, foi membro da resistência francesa.

Rapidamente incorporado aos circuitos artísticos, o pintor, cuja formação havia sido o modernismo europeu, consolidou-se como precursor da abstração brasileira e, em seu Ateliê abstração, fundado em 1951, foi mestre de nomes como Norberto Nicola (1931-2007) e Anatol Wladyslaw (1913-2004).

Menos de 20 anos depois, em 1964, no entanto, o Brasil era bem diferente daquele que Flexor conheceu quando chegou por aqui. No âmbito público, foi instaurado o golpe militar; no particular, foi diagnosticado com uma doença terminal.

Em 1967, ele apresentou na IX Bienal de São Paulo seus Bípedes, figuras amorfas e monstruosas que, como espécie de protesto, evocavam a truculência do Estado à época. No período anterior, que precedeu os Bípedes e culminou na série, ele já vinha lidando com questões existenciais e dualidades como vida e morte e continuou aprofundando esses temas em seus últimos anos de vida.

Os tempos são outros, mas continuam propícios para repensar essas e outras obras do período tardio do pintor, feitas a partir de 1957, segundo a curadora da exposição Samson Flexor: além do moderno, que o MAM abre no próximo sábado, dia 22, Kiki Mazzucchelli. “A obra inicial dele no Brasil é muito sensual, bonita, colorida e de boa qualidade. Ele é um dos primeiros pintores abstratos do Brasil, isso não é pouca coisa. Mas sua obra tardia foi muito desprezada, por diversos motivos”, explica. “E ela tem tudo a ver com o que estamos vivendo politicamente no Brasil e em diversas outras democracias, com a ascensão da extrema direita. Ao mesmo tempo, a ideia da fragilidade da vida ressoa muito com esses dois últimos anos de pandemia, em que todos nós éramos confrontados o tempo inteiro com a doença e com a morte.”

Do moderno ao contemporâneo

Na primeira sala da exposição estão obras de sua fase mais celebrada e conhecida. Organizada em ordem cronológica, a mostra é didática ao apresentar as fases do pintor e como os temas e as questões formais se desenrolam em sua obra.

Além do moderno contempla apenas dois quadros realizados antes do pintor desembarcar no país: um autorretrato feito aos 15 anos (a assinatura ainda em cirílico) e uma paisagem que fez aos 17 de sua cidade natal. Em seguida, nos deparamos com as primeiras obras de Flexor ao chegar ao Brasil sob o impacto da efervescência social, econômica e cultural de seu novo ambiente, como o violão cubista de 1948, expostas ao lado de quadros da série Paixão de Cristo (o artista converteu-se ao catolicismo após a morte da primeira esposa e do filho) e de outros trabalhos completamente abstratos, nos quais já não é mais possível reconhecer figuras e destacam-se o movimento, o ritmo e a cor, caso de Vai e vem diagonal em três quadrados (1954).

É a partir da segunda sala que a exposição começa a apresentar o seu foco de interesse. Em 1956, o primeiro contato de Flexor com o expressionismo abstrato em Nova York irá refletir em seus trabalhos posteriores. Passa, primeiro, a explorar a transparência e a luminosidade e, depois, o gesto e a materialidade da tela, culminando nas séries Élans e Meteoritos, em que explora o movimento vetorial da tela.

A série Pedras vem em seguida. Nestes quadros, posteriormente, passa a inserir Aberturas (espaços pintados em cores mais claras). Para ele, ligado à filosofia, essas fendas tornaram-se reflexos da busca existencial do homem: temos dificuldades e encontramos uma saída e, na sequência, talvez, outros obstáculos.

São essas aberturas que, vistas como olhos de Ciclope por um crítico estrangeiro, transformam-se nos Bípedes, que ele considerava como a expressão máxima de sua obra. Na última sala, estão os trabalhos de sua “fase branca”, onde os Bípedes surgem em tons claros — alguns com manchas vermelhas, outros ligados a figuras geométricas.

Por fim, Flexor, que durante toda a sua vida recebeu encomendas de arte sacra e retratos, voltou a desenhar figuras inteiras, completas. Uma delas, a que encerra a exposição, retrata uma mulher grávida nua, deitada. E então, a vida, depois de tudo e enfim, faz-se novamente.

Fonte: Arte que Acontece, "Exposição de Samson Flexor no MAM ressoa momento político do Brasil". Consultado pela última vez em 1 de novembro de 2022.

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Samson Flexor está de volta a São Paulo | Jornal USP

Samson Flexor está na cidade com a emoção de suas cores expressas sob o rigor da razão. Sua arte, essencial para o abstracionismo brasileiro, pode ser apreciada na mostra Samson Flexor: Além do Moderno, no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. Com a curadoria da crítica de arte Kiki Mazzucchelli, a exposição reúne cerca de uma centena de obras produzidas entre os anos de 1922 a 1970. “O foco da mostra é o desenvolvimento da arte de Flexor a partir de 1957, quando passa a rejeitar as formas estáticas com pinturas onde gradualmente predominam o gesto, a opacidade e a transparência”, diz Kiki Mazzucchelli.

A curadora apresenta Samson Flexor (1907-1971) ao público em uma narrativa que reúne as imagens mais marcantes de suas diferentes fases. “Flexor nasceu no interior da atual Moldávia, então Império Russo. Iniciou sua carreira em Paris, para onde se transferiu em 1924”, explica. “Ele participou ativamente do contexto cultural parisiense, realizando inúmeras exposições e frequentando o ateliê de mestres como André Lhote, Fernand Léger e Henri Matisse. Até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, seguiu trabalhando assiduamente em encomendas de painéis de temática sacra e em inúmeros retratos que conciliam o notável domínio técnico e a intuição psicológica. Após a invasão de Paris pelos alemães, em 1940, foi duplamente perseguido, pela sua origem judaica e pela militância na Resistência.”

A história de Flexor recomeça em São Paulo. Outras paisagens, outras pessoas em cores e formas. “Realizou sua primeira exposição em São Paulo, em 1946, e nesse mesmo ano teve os primeiros contatos com críticos brasileiros como Sérgio Milliet, Luiz Martins e Lourival Gomes Machado”, conta Kiki. Transferiu-se definitivamente para São Paulo, em 1948, momento de dinamismo inédito no contexto artístico brasileiro, que contrastava drasticamente com a França devastada do pós-guerra.

“Flexor contribuiu para a formação de vários artistas. A mostra Samson Flexor: Além do Moderno traz uma produção que teve grande visibilidade entre os anos de 1950 e 1970, mas que provavelmente as novas gerações conhecem pouco.”

“Samson Flexor é um artista fundamental para o desenvolvimento da arte abstrata no Brasil, principalmente quando abriu em sua casa, em São Paulo, o Atelier Abstração, na década de 1950”, comenta Cauê Alves, curador-chefe do MAM, mestre e doutor pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Flexor contribuiu para a formação de vários artistas. A mostra Samson Flexor: Além do Moderno traz uma produção que teve grande visibilidade entre os anos de 1950 e 1970, mas que provavelmente as novas gerações conhecem pouco.”

Cauê destaca que a trajetória de Samson Flexor está entrelaçada com a história do Museu de Arte Moderna de São Paulo. “Além de ter participado da mostra inaugural do museu, em 1949, Do Figurativismo ao Abstracionismo, marcou presença em várias outras. No início do Ateliê Abstração, em 1951, estimulado pelo então diretor artístico do MAM, Léon Degand, o artista integrou a 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Participou também, entre os artistas brasileiros, da 2ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1953, uma das mais importantes de todos os tempos. Também marcou presença na terceira edição, em 1955, na quarta, em 1957, e na sexta, em 1961, todas realizadas pelo MAM de São Paulo.”

Cauê Alves lembra que o MAM, entre 1954 e 1956, realizou duas importantes exposições coletivas, articuladas por Flexor, com obras dos artistas do Ateliê Abstração. “Foi uma ação fundamental para a consolidação da arte abstrata e geométrica no Brasil. Em 1961, Flexor apresentou uma exposição individual no MAM que contou com texto crítico de Mário Pedrosa. Participou também da primeira e da segunda edição da exposição Panorama da Arte Atual Brasileira, em 1969 e 1970, mostras emblemáticas para a relação do museu com a arte contemporânea.”

“Sua obra é completamente parte de sua vida, do mundo que viveu e de seu momento histórico, mas também pode ser compreendida a partir da vida de cada um de nós e do momento atual.”

O movimento da cidade de São Paulo que o pintor tanto apreciava está em Samson Flexor: Além do Moderno. Sua pintura, nos anos 1950, reflete, através da linguagem do Concretismo, o período de modernização, industrialização e crescimento urbano. Na época, o crítico de arte Sérgio Milliet analisou: “Para Flexor, a orientação decisiva a favor da abstração não decorre apenas de um processo intelectual, mas também da contemplação cotidiana do espetáculo que oferece o desenvolvimento frenético de São Paulo, onde tudo tende para o futuro e clama seu desprezo pelo passado colonial”.

Samson Flexor: Além do Moderno resgata o brio de sua trajetória. “A seleção de trabalhos feita por Kiki Mazzucchelli permite aos visitantes uma experiência com um artista que nunca seguiu uma única linha e sempre soube se reinventar. Sua obra é completamente parte de sua vida, do mundo que viveu e de seu momento histórico, mas também pode ser compreendida a partir da vida de cada um de nós e do momento atual”, observa Cauê Alves.

Atualmente 12 obras de Samson Flexor pertencem à coleção do museu. “Além de um conjunto de oito desenhos dos anos 1940, doado por Erik Svedelius, o MAM possui trabalhos abstratos de 1957 e 1959, cedidos pela sua esposa, Margot Flexor, e a obra Parto, de 1969, doada pelo próprio artista”, ressalta Alves. “No acervo do MAM há ainda um retrato geometrizado de Carlo Tamagni, de 1951, que foi entregue pelo próprio Tamagni para a retomada das atividades do museu, em 1967.”

Depois da morte do artista, em 1971, o MAM também realizou uma exposição individual póstuma de Flexor, em 1975, na sede do Parque Ibirapuera.

“Eu sempre preferi procurar a encontrar”, com essa frase, Samson Flexor definiu o seu desassossego nos caminhos da arte. O reencontro com Samson Flexor é instigado pela exposição Samson Flexor: Além do Moderno, que o Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo apresenta. “É um artista pouco estudado na atualidade”, observa a professora Ana Gonçalves Magalhães, diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Mas, se os jovens artistas, estudantes e pesquisadores quiserem travar o desafio de tentar compreender o pensamento do artista, vão enveredar por um caminho em que irão se deparar com o trabalho de dedicados estudiosos. “O MAC possui 64 obras do artista, quase todas doadas pela viúva do artista, entre 1977 e 1979”, observa a diretora. “Além das obras, o museu é depositário do fundo pessoal arquivístico do artista, que está em nosso arquivo histórico”.

”Em 2015, o MAC organizou a exposição Samson Flexor: Traçados e Abstrações, com curadoria da professora Carmen Aranha. “A mostra foi uma oportunidade de pensar a produção do artista, com grande parte de sua obra calcada na abstração geométrica”, explica Carmem. “Os desenhos indicam relações evidenciadas na própria trajetória de Flexor e, como decorrência, o título da mostra nasceu da observação desse segmento que, por meio de muitas aparências do seu pensamento, multiplicaram formas, planos e espaços em diagramas que se projetaram em muitos outros. Os traçados e as decorrentes abstrações constituem a própria essência da estética abstrato-construtiva-expressiva do trabalho de Flexor, principalmente entre os anos 50 e 60, quando conduziu o Ateliê Abstração.”

A exposição versou sobre o processo do artista, no qual a maior parte das obras são estudos: desenhos a lápis grafite e tinta nanquim, um recorte do trabalho de ateliê que, normalmente, fica à sombra do público. “Ao observá-lo, somos levados a perceber que a arte é resultado de trabalho meticuloso, da dedicação ao exercício do fazer, uma busca constante por uma linguagem que se dá ao longo do tempo.”

O desassossego de sua pintura – que o visitante vai perceber nas pinceladas que vibram entre movimentos e técnicas que surpreendem em paisagens ora abstratas, ora concretas, ora geométricas, ora figurativas – é justificado na entrevista que o artista concedeu em 1965 ao jornalista Jean-Luc Daval, do Journal de Genève: “Eu sempre preferi procurar a encontrar”.

“Apesar de indicar o trágico, sobrevém uma suspensão, uma leveza, por meio da fatura, da impermanência do indivíduo no mundo que o artista aqui está querendo sublinhar.”

”Em 2015, o MAC organizou a exposição Samson Flexor: Traçados e Abstrações, com curadoria da professora Carmen Aranha. “A mostra foi uma oportunidade de pensar a produção do artista, com grande parte de sua obra calcada na abstração geométrica”, explica Carmem. “Os desenhos indicam relações evidenciadas na própria trajetória de Flexor e, como decorrência, o título da mostra nasceu da observação desse segmento que, por meio de muitas aparências do seu pensamento, multiplicaram formas, planos e espaços em diagramas que se projetaram em muitos outros. Os traçados e as decorrentes abstrações constituem a própria essência da estética abstrato-construtiva-expressiva do trabalho de Flexor, principalmente entre os anos 50 e 60, quando conduziu o Ateliê Abstração.”

A exposição versou sobre o processo do artista, no qual a maior parte das obras são estudos: desenhos a lápis grafite e tinta nanquim, um recorte do trabalho de ateliê que, normalmente, fica à sombra do público. “Ao observá-lo, somos levados a perceber que a arte é resultado de trabalho meticuloso, da dedicação ao exercício do fazer, uma busca constante por uma linguagem que se dá ao longo do tempo.”

O desassossego de sua pintura – que o visitante vai perceber nas pinceladas que vibram entre movimentos e técnicas que surpreendem em paisagens ora abstratas, ora concretas, ora geométricas, ora figurativas – é justificado na entrevista que o artista concedeu em 1965 ao jornalista Jean-Luc Daval, do Journal de Genève: “Eu sempre preferi procurar a encontrar”.

“Apesar de indicar o trágico, sobrevém uma suspensão, uma leveza, por meio da fatura, da impermanência do indivíduo no mundo que o artista aqui está querendo sublinhar.”

Carmen explica que Flexor faz parte do grupo de artistas estrangeiros radicados no Brasil durante a década de 1950 que, por sua atuação e participação nos meios artísticos do País, criou uma geração de pintores voltados para as questões dos movimentos abstracionistas, formal e informal. Ela procurou se ater, naquela mostra, a uma análise de obras da fase brasileira do artista, entre 1948 e 1970, ano anterior à sua morte.

Carmen Aranha descreve: “Os óleos sobre tela Cristo na Cruz, de 1949, e A Coroa de Espinhos, de 1950, fazem parte dos estudos que Flexor realiza na busca da construção da abstração que constituirá sua linguagem futura. Nesse momento, o artista realiza esquemas geometrizantes sobre uma figuração. Modulação é a pintura de um espaço-síntese com os poucos elementos que o ordenam: espelhamentos e iridescências. Geométrico Grande, de 1954, realiza a abstração, a geometria, o diagrama da matemática que calcula espaços e, pela forma, soma pentagramas, hexágonos, quadrados, círculos e losangos. E Pintura, de 1960, é uma grande tela com pinceladas e gestos vigorosos, de aparente liberdade expressionista abstrata do artista. Na verdade, é uma construção com o ‘empasto’, técnica que deixa a tela com materialidade e peso, mas, no caso dessa fatura, a diluição da tinta e os gestos produzem outros efeitos diáfanos. Os grandes movimentoscirculares, em tons negro e azul, situam a profundidade, em contraposição aos artistas abstratos que exaltavam a planaridade da pintura naquele momento da história da arte”.

Carmen Aranha cita também a pintura Carrasco, de 1968, que o MAC recebeu em 2015 para compor seu acervo, como doação da família Flexor. “Essa obra revela uma arqueologia da forma humana nas transparências, limites diáfanos e grandes frestas”, analisa. “Os estudos que nos permitiram compreender a estrutura de pensamento do artista Samson Flexor mostram a aproximação de certas simbologias construídas a partir de séries sobre pássaros e pedras, cujos grafismos dão, aos poucos, lugar a formas abertas que irão se transformar na figuração que Flexor realiza nessa obra. Apesar de indicar o trágico, sobrevém uma suspensão, uma leveza, por meio da fatura, da impermanência do indivíduo no mundo que o artista aqui está querendo sublinhar.”

“Desde a primeira Bienal de São Paulo, organizada justamente pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, Flexor é figura presente não apenas como integrante, expondo sua produção, mas também nos bastidores.”

Em busca da compreensão da arte de Flexor, a doutoranda Marina Barzon Silva, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, investigou a vida e a obra do artista numa disciplina de pós-graduação. “O artista escolheu São Paulo como morada em 1948, ano de fundação do antigo Museu de Arte Moderna de São Paulo, por iniciativa de Francisco Matarazzo Sobrinho, e um ano depois da inauguração do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Naquela época, a arte moderna iniciava sua institucionalização na cidade e os dois novos museus dividiam um andar no prédio dos Diários Associados, na Rua 7 de Abril, no centro da cidade”, lembra Marina, que é orientanda de Ana Magalhães. “Desde a primeira Bienal de São Paulo, organizada justamente pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, Flexor é figura presente não apenas como integrante, expondo sua produção, mas também nos bastidores, participando da montagem, que contava com ajuda importante de jovens artistas brasileiros naquele momento.”

Marina destaca a fundação do Ateliê Abstração, que atraiu jovens artistas que se sobressaíram na década de 1950. “Nomes como Leopoldo Raimo, Jacques Douchez, Maria Antonia Berlinck, Leyla Perrone-Moisés e Norberto Nicola passaram pelo ateliê, expondo juntos em São Paulo, inclusive nas Bienais, no Rio, e em Nova York. Além do impacto de sua produção em particular, Flexor contribuiu como professor para o ambiente artístico brasileiro. Sua trajetória é muito rica, suas obras podem ser entendidas como um espelho dos diferentes momentos de produção artística no País, e mesmo internacionalmente, e estudos a respeito de sua vida e obra estão longe de estarem esgotados.”

Alice Brill conta as paisagens da história do artista no livro Flexor

Na exposição Samson Flexor – Além do Moderno, em exposição no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, está à venda o livro Flexor, da artista, fotógrafa e pesquisadora Alice Brill (1920-2013). Nele, a autora conduz o leitor aos caminhos da história do artista. Lançado pela Editora da USP (Edusp) em 2005, o livro é uma referência e importante fonte de pesquisa. A autora surpreende ao contar os detalhes da trajetória e analisar as pinturas e desenhos do artista.

Nascida na Alemanha, Alice Brill, com mestrado e doutorado na USP, também se destacou como pintora, gravurista e jornalista. Frequentou o Grupo Santa Helena. E escreveu Flexor com o seu rigor de pesquisadora e o olhar sensível de uma das fotógrafas mais respeitadas do País. Não usa a câmera, mas foca, em sua análise, a nitidez dos detalhes de suas paisagens.

“Neste ensaio, Alice Brill mostra ao leitor a densa instigação que Samson Flexor cultiva ao elaborar sua produção abstrata, acompanhando a tentativa de conciliação da efusão emocional com o rigor da razão, tanto na práxis como no pensamento”, escreve a professora Lisbeth Rebollo, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, na apresentação do livro.

Em um dos capítulos, O Abstracionismo Lírico, a autora traz o artista na execução, em 1958, dos afrescos para a Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que atraem turistas de várias partes do mundo. Uma execução que levou seis anos de trabalho até completar os 300 metros quadrados. “A ideia mestra dos afrescos é a convergência de toda a humanidade em Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, explica Alice Brill. “Percorrendo as cenas notamos o próprio artista como representante de sua profissão no ato de pintar a mãe de Deus. Continuando sua marcha na nave principal, desenvolve o movimento dos personagens a caminho da salvação e do auxílio, mostrando a velhice, a miséria, a enfermidade e a guerra – esta última cena evoca os sofrimentos do artista durante a guerra, numa composição expressionista, glorificando a fé.”

Fonte: Jornal USP - Universidade São Paulo, "Samson Flexor está de volta a São Paulo", publicado em 05 de abril de 2022, escrito por Leila Kiyomura. Consultado pela última vez em 1 de novembro de 2022.

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Grupo Ruptura - Itaú Cultural

No dia 9 de dezembro de 1952, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), é inaugurada a exposição que marca o início oficial da arte concreta no Brasil. Intitulada Ruptura, a mostra é concebida e organizada por um grupo de sete artistas, a maioria de origem estrangeira residentes em São Paulo: os poloneses Anatol Wladyslaw (1913 - 2004) e Leopoldo Haar (1910 - 1954), o austríaco Lothar Charoux (1912 - 1987), o húngaro Féjer (1923 - 1989), Geraldo de Barros (1923 - 1998), Luiz Sacilotto (1924 - 2003), e o catalisador e porta-voz oficial do grupo, Waldemar Cordeiro (1925 - 1973). Cordeiro conhece Barros, Charoux e Sacilotto em 1947, na mostra 19 Pintores, quando todos ainda estavam influenciados pela corrente expressionista. É somente em 1948, quando Cordeiro volta definitivamente ao Brasil, que ocorre a mudança dos trabalhos desses artistas em direção à abstração. Por essa época, reúnem-se para discutir arte abstrata e filosofia, principalmente a teoria da pura visibilidade do filósofo alemão Konrad Fiedler (1841 - 1895) e o conceito de forma cunhado pela psicologia da Gestalt. Féjer e Leopoldo Haar, ambos com formação artística em seus países de origem, já produzem pinturas abstratas pelo menos desde 1946 e aderem ao grupo. O último a integrá-lo em 1950 é Wladyslaw, ex-aluno de Flexor (1907 - 1971).

Como afirma Cordeiro em 1953, em resposta a artigo do crítico de arte Sérgio Milliet (1898 - 1966), o Grupo Ruptura "está longe de representar todo o movimento paulista de arte abstrata e concreta, cujas fileiras contam hoje inúmeros integrantes".1 Sendo assim, o que os diferencia dos outros artistas? Sabe-se que desde o final dos anos 1940, o meio artístico brasileiro vê crescer o interesse pela arte abstrata, não sem grande resistência dos artistas figurativos ligados à estética nacionalista dos anos 1930, como Di Cavalcanti (1897 - 1976), por exemplo. Apesar da reação negativa, a consagração das tendências abstratas, sobretudo de vertente geométrica, na 1ª Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (posteriormente Bienal Internacional de São Paulo) em 1951, indica que a discussão figuração versus abstração tende a ser superada, abrindo-se, a partir de então, a necessidade de mudar o foco do debate público.

Nesse panorama, a exposição do Grupo Ruptura em 1952 e o manifesto do grupo publicado no mesmo ano, representam a abertura para um novo caminho de debate, instaurando-o no interior das próprias vertentes abstratas. O manifesto, redigido por Cordeiro e diagramado por Haar, e que parece ter causado maiores reações do que os próprios trabalhos apresentados estabelece uma posição firme contra as principais correntes da arte no país. Pretende-se romper com o "velho", a saber: "todas as variedades e hibridações do naturalismo; a mera negação do naturalismo, isto é, o naturalismo 'errado' das crianças, dos loucos, dos 'primitivos', dos expressionistas, dos surrealistas, etc.; o não-figurativismo hedonista, produto do gosto gratuito, que busca a mera excitação do prazer ou do desprazer".2 Se por um lado, a oposição contra qualquer forma de figuração não é nova, por outro, a não aceitação da abstração informal é inédita e ajuda a compreender a posição do grupo.

No ambiente do pós-guerra marcado por um certo otimismo e pelo desejo de esquecer a barbárie dos anos anteriores, a arte concreta (1930), de cunho extremamente racionalista, conhece um novo florescimento. Dentro desse movimento, o artista suíço Max Bill (1908 - 1994) torna-se o principal teórico da arte concreta do período, tentando repensar seu legado juntamente com a reflexão sobre o construtivismo, o neoplasticismo e a experiência alemã da Bauhaus, adaptando-o à nova realidade. E é exatamente como seguidores do artista suíço que os integrantes do Grupo Ruptura se colocam no meio artístico brasileiro dos anos 1950.

Em termos gerais, o grupo defende a autonomia de pesquisa com base em princípios claros e universais, capazes de garantir a inserção positiva da arte na sociedade industrial. Para um artista concreto, o objeto artístico é simplesmente a concreção de uma idéia perfeitamente inteligível, cabendo à expressão individual lugar nulo no processo artístico. Para eles, toda obra de arte possui uma base racional, em geral matemática, o que a transforma em "meio de conhecimento dedutível de conceitos". No âmbito da pintura, esses princípios correspondem à crítica do ilusionismo pictórico, à recusa do tonalismo cromático e à utilização dos recursos ópticos para a criação do movimento virtual. Lançam mão também do uso de materiais como esmalte, tinta industrial, acrílico e aglomerado de madeira, destacando a atenção do grupo ao desenvolvimento de materiais industriais.

Observa-se que a adoção de postulados extremamente racionalistas para a arte revelam a ânsia de superar o atraso tecnológico, a condição espiritual de país colonizado e de economia subdesenvolvida, característicos da realidade brasileira. As questões e a prática introduzidas pelo Ruptura mobilizam a maior parte dos debates nos anos 1950, e são fundamentais para a fermentação da dissidência neoconcreta no Rio de Janeiro. O grupo não promove outras exposições de seus participantes, entretanto, já contando com outros adeptos como Hermelindo Fiaminghi (1920 - 2004), Judith Lauand (1922), Maurício Nogueira Lima (1930 - 1999) e o apoio dos poetas concretos paulistas, organizam a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta (1956/1957). Por volta de 1959 o Grupo Ruptura começa a se dispersar.

Fonte: GRUPO Ruptura. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: Itaú Cultural. Acesso em: 23 de Jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

Crédito fotográfico: Folha de São Paulo. Consultado pela última vez em 1 de novembro de 2022.

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