José Cláudio da Silva (19 de março de 1932, Ipojuca, PE — 12 de dezembro de 2023, Recife, PE), mais conhecido como José Cláudio, foi um pintor, desenhista e gravador brasileiro. Abandonou o curso de Direito para se dedicar às artes visuais, iniciando sua formação artística em 1952 no Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), onde teve contato com nomes marcantes da arte pernambucana como Abelardo da Hora, Gilvan Samico e Wellington Virgolino. Sua obra foi influenciada pelo expressionismo e por mestres da arte moderna brasileira, desenvolvendo um estilo próprio, marcado pelo uso de cores intensas, traços livres e temas voltados para o cotidiano, as paisagens do Nordeste e a figura humana. Além de artista visual, destacou-se também como escritor e memorialista, com publicações como Ipojuca de Santo Cristo (1965), Os Dias de Uidá (1995) e 100 Telas, 60 Dias e Um Diário de Viagem (2009), que combinavam narrativa literária e experiência estética. Recebeu o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea em 1961 e participou de diversas exposições individuais e coletivas, com obras incluídas em importantes acervos como o do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC/USP) e o Palácio dos Bandeirantes.
José Cláudio | Itaú Cultural
José Cláudio (Ipojuca, Pernambuco, 1932 - Recife, Pernambuco, 2023). Pintor, desenhista, gravador, escultor, crítico de arte e escritor. Em 1952, José Cláudio, ao lado de Abelardo da Hora (1924-2014), Gilvan Samico (1928-2013) e Wellington Virgolino (1929-1988), entre outros, funda o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR). Posteriormente, em Salvador, José Cláudio é orientado por Mario Cravo Júnior (1923), Carybé (1911-1997) e Jenner Augusto (1924-2003). Viaja para São Paulo em 1955, onde inicialmente trabalha com Di Cavalcanti (1897-1976), estudando também gravura com Livio Abramo (1903-1992) na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Recebe bolsa de estudos da Fundação Rotelini, em 1957, permanecendo por um ano em Roma, na Academia de Belas Artes. De volta ao Brasil, passa a residir em Olinda e escreve artigos sobre artes plásticas para o Diário da Noite, do Recife. Realiza pinturas de caráter figurativo, retratando cenas regionais e paisagens do Nordeste, evitando, porém, o caráter pitoresco. O artista escreve, ao longo de sua carreira, vários textos de apresentação para exposições de pintores nordestinos, como a mostra Oficina Pernambucana (1967). Publica, entre outros, o livro Memória do Ateliê Coletivo (1978), no qual reúne depoimentos dos vários artistas que integram o grupo.
Análise
José Cláudio realiza pinturas de caráter figurativo, retratando cenas regionais e paisagens do Nordeste, evitando, porém, o caráter pitoresco, como em Pátio do Mercado (1972) ou Rua Leão Coroado (1973). Em Casa Vermelha de Olinda (1973), destaca-se o diálogo com a abstração, a simplificação formal, o uso livre da pincelada e o colorido intenso. Em suas obras podemos perceber a admiração por artistas da Escola de Paris e também pelos expressionistas, como na série de nus femininos, do fim da década de 1970. O carnaval é o tema dos quadros Homem da Meia Noite ou Cheguei Agora (ambos de 1974), com cores vivas e contrastantes. Em 1975, o artista participa de expedição à Amazônia, promovida pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ/USP), registrando em vários desenhos a óleo diversos aspectos regionais.
Em 1980, José Cláudio cria uma série de telas nas quais reinterpreta o quadro O Repouso do Modelo, do pintor ituano Almeida Júnior (1850-1899). Nessas obras revela a tendência a abolir a profundidade do plano pictórico, simplificando os elementos formais, que tendem a uma geometrização. Em 1985, pinta paisagens ao ar livre, como Ipojuca e Serrambi, empregando pinceladas largas e enérgicas.
Críticas
"José Cláudio é figurativista desde sempre, e pratica uma arte em que a emoção primeira sequer permite ou admite emendas e correções. Disso resulta certa impressão de desleixo e de mal-acabamento que por vezes inspira sua obra. No entanto, trata-se de efeitos deliberadamente obtidos, fruto de seu acentuado amor à matéria. Expressionista, fazendo uso de um desenho rigoroso, de uma pincelada larga e espontânea de um colorido profundo, do ponto de vista da temática José Cláudio debruçou-se sobre cenas e tipos regionais, sobre os costumes regionais e sobre a paisagem, as aves e as frutas do seu Nordeste, despojando-as, porém, de qualquer conteúdo pitoresco, para apenas se concentrar em sua expressão pictórica. Um sensual e um dionisíaco, hedonista que, segundo suas próprias palavras, diante de uma bela manga não sabe se deva pintá-la ou chupá-la, José Cláudio voltou-se também para a problemática da criação artística - como pintor, na série de grandes óleos que dedicou em começos da década de 1980 ao REPOUSO DO MODELO, de Almeida Júnior - desmembrado, rearticulado, reinterpretado em cada um de seus múltiplos aspectos formais e psicológicos -, e como escritor, historiador da arte pernambucana, num estilo tão pouco alambicado quanto sua pintura, (...)" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Acervos
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo - São Paulo SP
Acervo Banco Itaú S.A. - São Paulo SP
Exposições Individuais
1956 - São Paulo SP - Primeira individual, no Clube dos Artistas e Amigos das Artes (Clubinho)
1963 - São Paulo SP - Individual, na Galeria São Luís
1966 - Recife PE - Individual, na Galeria Casa Hollanda
1970 - Recife PE - Individual, na Galeria Detalhe
1975 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1977 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1977 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1977 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Nara Roesler
1977 - Recife PE - Individual, na Gatsby Arte
1980 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1980 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Kraft
1981 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1982 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1983 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1986 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Ipanema
Exposições Coletivas
1954 - Recife PE - 1ª Exposição do Ateliê Coletivo
1954 - Recife PE - Salão de Pintura do Museu do Estado de Pernambuco - menção honrosa
1955 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão Nacional de Arte Moderna
1956 - São Paulo SP - Salão Paulista de Arte Moderna
1957 - São Paulo SP - 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1959 - São Paulo SP - 5ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1961 - São Paulo SP - Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Arte das Folhas - 1º prêmio em desenho
1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1971 - São Paulo SP - 3º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Bruxelas (Bélgica) - Image du Brésil, no Manhattan Center - organizada pelo Masp
1976 - São Paulo SP - O Desenho em Pernambuco, na Galeria Nara Roesler
1982 - Rio de Janeiro RJ - Entre a Mancha e a Figura, no MAM/RJ
1983 - Rio de Janeiro RJ - 3 x 4 Grandes Formatos, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1983 - São Paulo SP - 14º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - Rio de Janeiro RJ - Intervenções no Espaço Urbano, na Funarte. Galeria Sérgio Milliet
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1986 - Brasília DF - Pernambucanos em Brasília, no ECT Galeria de Arte
1986 - Fortaleza CE - Imagine: o planeta saúda o cometa, na Arte Galeria
1986 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Mostra Christian Dior de Arte Contemporânea: pintura, no Paço Imperial - premiado
1987 - Recife PE - José Cláudio e Gil Vicente, no Museu do Estado de Pernambuco
1987 - São Paulo SP - As Bienais no Acervo do MAC: 1951 a 1985, no MAC/USP
1988 - Rio de Janeiro RJ - Le Déjeuner sur l'Art: Manet no Brasil, na EAV/Parque Lage
1988 - Rio de Janeiro RJ - Abolição, na Galeria de Arte Ipanema
1988 - São Paulo SP - A Mão Afro-Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Sesc Pompéia
1989 - Copenhague (Dinamarca) - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Museu Charlottenborg
1989 - Recife PE - Natureza da Pintura, no Centro Cultural Adalgisa Falcão
1989 - Olinda PE - Viva Olinda Viva, no Atelier Coletivo
1990 - Olinda PE - Permanência da Pintura, no Atelier Coletivo
1991 - São Paulo SP - A Mata, no MAC/USP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Coca-Cola 50 Anos com Arte, MAM/SP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Ateliê Coletivo, no Centro Cultural Candido Mendes
1993 - Hamburgo (Alemanha) - Atelier Coletivo, no Km Wolff
1993 - São Paulo SP - 23º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1993 - São Paulo SP - Obras para Ilustração do Suplemento Literário: 1956 - 1967 - MAM/SP
1994 - São Paulo SP - Marinhas, na Galeria Nara Roesler
2000 - São Paulo SP - Almeida Júnior: um artista revisitado, na Pinacoteca do Estado
2000 - Recife PE - Ateliê Pernambuco: homenagem a Bajado e acervo do Mamam, no Mamam
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
Fonte: JOSÉ Cláudio. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 01 de abril de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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José Claudio: a vida do artista aos 90 anos | Forbes
Convido vocês para a exposição, “José Claudio, uma trajetória”, com curadoria de Aracy Amaral, em nossa galeria. Por que estou tão feliz? José Claudio da Silva, ou Zé Claudio, como os amigos o chamam, é o artista com quem iniciei minha vida profissional e muito me ensinou, por exemplo, a prestar atenção ao brilho das folhas do coqueiral. Hoje, a sociedade se mobiliza diante das dificuldades enfrentadas pelos menos favorecidos, José Claudio desde os anos 70 retrata com maestria cenas do cotidiano popular, mas sempre com um certo otimismo. Sua obra não traz crítica, nem amargura, não há reivindicação social, retrata “a vida como ela é”, como já dizia Nelson Rodrigues. Suas pinceladas rápidas captam o folclore pernambucano e o orgulho das pessoas de diversas profissões. As lavadeiras, as cozinheiras, a vendedora de siri, sentada com a cesta de siris azuis. O barbeiro com a cadeira instalada na rua da cidadezinha do interior a cortar o cabelo de quem aparece. A festa na frente do mercado de São José de Recife com personagens pintados em camadas, tendo atrás um casario colonial, um prostíbulo, com “as meninas” à janela. A sensualidade do nu feminino é um tema recorrente em sua produção, assim como o carnaval, as paisagens, as praias, a Amazônia, sempre com um virtuosismo de dar inveja. Dessa experiência provém alguns trabalhos expostos, reunidos em seu livro “100 telas, 60 dias e um diário de Viagem, Amazonas 1975” (2009).
Foi em Recife, mina terra natal, através de tias minhas, que o conheci em 1977. O marchand Renato Magalhães Gouveia – como então chamávamos a profissão de galerista – representava sua obra em São Paulo e buscava alguém para representar o artista. Eu, nem galeria tinha, abracei o desafio. Aos 22 anos, com meus filhos Alexandre e Daniel ainda pequenos – hoje parceiros de trabalho na galeria -, meu espaço expositivo funcionava na minha própria casa. Ali recebia os amigos do meu pai e mostrava as telas de José Claudio, entre elas o retrato que fez de mim (que tenho até hoje e está exposto na mostra). Meu amor por sua obra foi contagiando, em pouco tempo, não havia casa em Recife sem uma parede com suas pinceladas com quê picassiano. Certa vez, levei-o ao aeroporto, havia uma retrospectiva de Picasso no MoMA que ele desejava muito ver. Daquele jeito desleixado, embarcou para Nova York de havaianas.
Apesar da aparência largada é das pessoas mais cultas que conheço, um verdadeiro erudito, intelectual adorável. Recentemente reeditamos seu livro, “Meu pai não viu minha glória”. São contos dedicados ao pai que sonhava ter filho doutor de Direito, com anel e tudo. Mas de pequeno o menino passava horas a desenhar no papel pardo do armazém do pai, em Ipojuca, sua cidade natal. Segundo a crítica de arte Vera D’Horta já se prenunciava “um Rafael”.
Sempre amei a arte. Meu avô foi diretor da Escola de Belas Artes da Universidade de Pernambuco, eu o acompanhava aos ateliês dos artistas, mas eram todos mais acadêmicos. José Claudio, ao contrário, era pura energia! Os fins de semana na casa de meus pais era open house de sexta a domingo, ali conviviam a direita e a esquerda de Recife, poetas, escritores, profissionais liberais. Eu, quietinha, sorvia aquela grande experiência cultural.
Em 1987, ao me mudar para São Paulo, constatei que seu nome era pouco conhecido no sul. Aqui predominava o gosto pelo concretismo. Ele havia iniciado a carreira como desenhista em São Paulo, tinha sido assistente de Di Cavalcanti, aprendido gravura com Lívio Abramo, participado de cinco bienais (1957, 1959, 1961, 1963 e 1985), ganhado bolsa da Fundação Boccherini de Lucca, na Itália, e trabalhado na Sudene, onde desenvolveu a série Carimbos na década de 1960. Considero o grande José Claudio, o pintor, com base em sua habilidade natural para o desenho. Mas há também o escultor em pedra, o poeta, o escritor, o gravurista. Em Pernambuco ele fazia ilustração para vários jornais. Faz pouco recebi de Paulo Bruscky, outro grande nome da arte de Pernambuco, um calhamaço de diagramações originais do José Claudio que Bruscky recolhia na redação e guardou esse tempo todo.
José Claudio foi um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), uma experiência comunitária de vanguarda criada por artistas autodidatas. Nos anos 50, não havia internet, tevê, revista, nada, quem não queria fazer arte acadêmica tinha que aprender na marra. O grupo reunia nomes como Abelardo da Hora, Virgulino, Samico, e cada qual transmitia sua experiência. A parte técnica era descoberta no peito e na raça, passada um para o outro entre eles. Com muito orgulho, realizei em Recife na minha primeira galeria, a Artespaço, uma mostra do Atelier Coletivo.
Há muito luto com José Claudio para organizamos uma grande mostra. Ele rebate: “Retrospectiva é para quem já morreu. Está desejando minha morte?”. Agora atingiu o marco dos 90 anos, mas fui obrigada a levar a Aracy Amaral a Recife para convencê-lo, são da mesma geração, entenderam-se bem. Grande parte dos trabalhos expostos provém do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo de São Paulo, do MAC USP e de coleções particulares. É uma mostra com caráter didático com obras dos anos 1950 a trabalhos recentes. Na vitrine da galeria penduramos uma tela linda, grande, com vários pássaros. Ele sempre gostou de retratar a natureza, como se vê na série Amazônia, para onde foi convidado pelo zoólogo e compositor Paulo Vanzolini a participar em uma expedição que durou dois meses. Pintou cobra, boto, peixe assim, peixe assado. Nas feiras observava o farfalhar das asas dos passarinhos nas gaiolas, e registrou aquele balé multicolorido, musical.
Vive tão mergulhado em seu mundo que nem sabia que o MoMA de Nova York possui um desenho seu, Apocalipse III, obra em nanquim sobre papel de 1956. Da mesma série estamos expondo Apocalipse IV, da coleção do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. O que ele gosta mesmo é de pintar, de apreciar suas telas nas casas dos amigos colecionadores bebericando uma cachacinha.
José Claudio é um grande artista. Como se diz no Nordeste, é um forte.
José Cláudio: uma trajetória
Curadoria de Aracy Amaral
Galeria Nara Roesler, São Paulo
Fonte: Forbes. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Morre aos 91 anos o artista plástico pernambucano José Cláudio | G1
Morreu, aos 91 anos, o artista plástico pernambucano José Cláudio. Pintor, escultor, desenhista e escritor, José Cláudio foi um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), ao lado de Abelardo da Hora, Gilvan Samico e Wellington Virgolino.
Nascido em Ipojuca, no Grande Recife, em 1932, José Cláudio deixa dois filhos, três netas e dois bisnetos.
Desde a infância mostrou interesse pela arte, época em que rabiscava desenhos em papéis de embrulho no armazém do pai. A vocação o levou para a escola de artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), período no qual trabalhou com os artistas Di Cavalcanti e Lívio Abramo.
Dois anos depois, o artista pernambucano ganhou uma bolsa de estudos da Fundação Rotellini, em Roma, na Itália, onde permaneceu por um ano. Quando retornou ao estado, passou a morar em Olinda, onde escreveu artigos sobre artes plásticas para o Jornal Diário da Noite, do Recife.
No Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife, que funcionou de 1952 a 1957, dedicou-se a expressões artísticas voltadas para o povo. O espaço foi um centro de estudo de desenho e gravura que trabalhava o caráter social da arte.
A última exposição de José Cláudio foi a mostra “Primeiro a Fome, Depois a Lua”, em agosto de 2022, quando ele completou 90 anos. O nome escolhido faz referência a um quadro do artista, pintado em 1968, que faz parte do acervo original do Museu de Arte do Rio.
Repercussão
A governadora de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB) prestou solidariedade à família e amigos do artista em suas redes sociais.
"A arte pernambucana fica mais triste, hoje, com o falecimento de Zé Cláudio. Ele retratou tão bem as pessoas e os costumes de Pernambuco e do Nordeste em suas pinturas, com suas cores vívidas e suas paisagens figurativas que nos transportavam para cada lugar. Meus sentimentos e todo meu carinho à família, neste momento de despedida. Obrigada, Zé. Siga em paz", publicou a governadora.
A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura do Recife lamentaram a morte de José Cláudio, "artista plástico de primeira grandeza, que devotou todas as cores de sua sensibilidade para retratar o Nordeste em toda a sua beleza e abundância".
Fonte: G1. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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José Cláudio | Rodrigues Galeria
Autodidata, desenhava nos papeis de embrulho da loja do seu pai, um armarinho de miudezas. Riscava debruçado no balcão e muitos fregueses levavam com prazer os seus desenhos. Quanto à pintura, aprendeu observando as pinceladas dominicais do seu padrinho, o promotor público Othon Fialho de Oliveira, é o que afirma o artista.
Em 1952, interrompe o curso da Faculdade de Direito do Recife, dedica-se inteiramente à arte ingressando no Atelier Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife-SAMR , dirigida pelo escultor Abelardo da Hora. Continuando seus estudos, recebe orientação de Carybé, Mário Cravo e Jenner Augusto em Salvador/BA, aprendendo a preparar paredes e a pintar em larga escala. No ano seguinte, retorna ao seu Estado natal onde continua seu trabalho como artista plástico colaborando ainda nos jornais locais. Em 1955, mantém contato com Arnaldo Pedroso d’Horta passando a dedicar-se mais ao desenho. Transfere-se para São Paulo, nesse mesmo ano e trabalha inicialmente com Di Cavalcanti, além de freqüentar a Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna, Seção Gravura, sob orientação de Lívio Abramo. A partir daí, a sua trajetória como pintor é rápida e ascendente, fruto do seu talento e dos contatos com grandes mestres, no Brasil e no exterior. Como pintor é um dos mais expressivos do Grupo do Atelier Coletivo do Recife. A sua pintura revela a genialidade daqueles que chegam antes do seu tempo, mas expressa de um modo bem verdadeiro e quase visceral, os seus modos de pensar e de saber – a sua arte. José Cláudio é um erudito, o artista diz ter necessidade de “extrair a pintura diretamente das coisas, arranca-la à paisagem, ou uma figura que passa, ou posa, e não dos mestres do passado ou presente” (…).
Participa do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1956 realiza no Clube dos Artistas e Amigos da Arte (Clubinho) a sua primeira mostra individual com desenhos, comentada através de artigos de Sérgio Milliet, Quirino da Silva e José Geraldo Vieira. Obtém com desenho o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea. Em 1957 participa da IV Bienal Internacional de São Paulo, que lhe confere Prêmio de Aquisição. Recebe uma bolsa de estudo da Fundação Rotelini, da Itália, indo para a Europa onde permanece por um ano, freqüentando o curso de Modelo Vivo e História da Arte na Academia de Belas Artes de Roma. Em 1959 retorna ao Brasil, participando da V Bienal Internacional de São Paulo e, em seguida volta a Pernambuco, passando a viver no atelier de Montez Magno, Adão Pinheiro e Anchises Azevedo, em Olinda. Realiza a sua segunda individual de desenhos, no Recife. Em 1961, ele colabora com artigos sobre Artes Plásticas para o jornal Diário da Noite, Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco, no Recife. No ano seguinte, obtém o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea para desenho. Em 1963 realiza mostra individual na Galeria São Luiz e participa da VII Bienal Internacional de São Paulo, em São Paulo. Em 1965 lança seus livros “Viagem de um Jovem Pintor à Bahia” e “Ipojuca de Santo Cristo”, recebendo críticas, entre outros, de Sérgio Milliet, Paulo Mendes de Almeida e Matheus de Lima. Em 1966 lança álbum com 25 xilogravuras e textos: “Os Bichos da Roda”. Apresenta exposição de desenhos na Galeria Casa Holanda, no Recife, com catálogo prefaciado por Gastão de Hollanda. Em 1967 retorna à pintura e começa a esculpir em madeira e, dois anos depois, inicia a série de esculturas em granito de grande porte, em Nova Jerusalém/PE. Apresenta o catálogo da coletiva “Oficina Pernambucana”, organizada por Walter Zanini, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. No ano seguinte, lança o seu terceiro livro de viagem, “Bem Dentro”. Em 1971 lança o álbum de xilogravuras “Catende-Xilos”. Em 1972 dedica-se assiduamente a produzir pinturas e esculturas de grandes proporções, em granito, não comercializando as referidas obras em função de um acordo estabelecido com Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte. Em 1973, a sua escultura O Pássaro participa da exposição “Image du Brésil”, no Manhattan Center de Bruxelas, organizada pelo Museu de Arte de São Paulo. Em 1974, realiza exposição individual com 38 pinturas a óleo com Renato Magalhães Gouvêa, em São Paulo. Adapta para história em quadrinhos o “Livro dos Mortos”, capítulo do volume “Agá” de Hermilo Borba Filho. Em 1975, realiza exposição individual no Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte, em São Paulo, com 100 pinturas a óleo documentando aspectos da Amazônia. As referidas obras foram adquiridas pelo Governo do Estado de São Paulo e colocadas no salão de recepções do Palácio dos Bandeirantes. A partir deste ano, lastreado pelo prestígio de Renato Magalhães Gouvêa, realiza inúmeras exposições. Em 1978, organiza a exposição “Atelier Coletivo”, na Galeria Artespaço, Recife, ocasião em que lança o livro da sua autoria “Memória do Atelier Coletivo”. Em 1979, a sua escultura em granito “Asas do Imigrante”, de 90 toneladas, é colocada pelo DERSA na Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo. Em 1982, realiza mostra individual no Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte, São Paulo, onde apresenta a série sobre o “Descanso do Modelo” de Almeida Júnior, merecendo memorável artigo de Carlos Von Schmidt, além de comentários de outros destacados críticos, como Flávio de Aquino. Participa, a convite de Frederico Morais, da mostra “Entre a mancha e a figura”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. É editado pelo Governo do Estado de Pernambuco o seu livro “Artistas de Pernambuco”, pela Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes sendo secretário Francisco A. Bandeira de Mello. Em 1983, participa da exposição “3×4 / grandes formatos”, no Centro Empresarial Rio, organizada por Rubens Gerchman, além da mostra “Panorama da Arte Atual Brasileira”, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (motivo de destaque no artigo de Casimiro Xavier de Mendonça; “Atestado de Vigor”, Veja, 2/novembro/1983) e ainda, da exposição inaugural da Grande Galeria do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, organizada por Maria do Carmo Secco. No ano seguinte, edita o seu livro “Tratos da Arte de Pernambuco”. Em 1997 ilustra a capa do livro Sociedade Pernambucana, de João Alberto.
Críticos de Arte e jornalistas de destaque nacional e local o têm acompanhado com grande interesse, entre os quais podemos citar Celso Marconi, Valdi Coutinho, Paulo Chaves, Jomard Muniz de Britto, Paulo Fernando Craveiro (Recife), Vera d’Horta Beccari (São Paulo) e Jacob Klintowitz (Rio de Janeiro).
1999 – Exposição na Galeria Futuro 25.
2000 – Participa da exposição Almeida Júnior: um artista revisitado, Pinacoteca do Estado de São Paulo, com curadoria de Emanoel Araújo.
2002 – Retoma a escultura em pedra granítica.
2003 – Participa da mostra Arte e Sociedade – Uma relação polêmica, do Itaú Cultural, tendo como curadora Aracy Amaral.
2005- Participa da exposição Territoires transitoires – un parcours dans I’art du Brésil no Palais de La Porte Dorée, Paris.
2007- Participa da coletiva Arte como questão, no Instituto Tomie Ohtake, com curadoria de Glória Ferreira.
2009 – Exposição Retrospectiva, no Museu do Estado de Pernambuco. Lançamento do livro José Cláudio – Vida e Obra. Exibição do documentário José Cláudio.
A última exposição de José Cláudio foi a mostra “Primeiro a Fome, Depois a Lua”, em agosto de 2022 no Recife, quando ele completou 90 anos. O nome escolhido faz referência a um quadro do artista, pintado em 1968, que faz parte do acervo original do Museu de Arte do Rio.
Fonte: Galeria Rodrigues. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Adeus, José Cláudio da Silva! | Acervo São Paulo
Faleceu nesta terça-feira, dia 12 de dezembro de 2023, o pintor José Claúdio da Silva, aos 91 anos. Nascido em Ipojuca, Pernambuco, consagrou-se por suas obras figurativas que retratavam o cotidiano do Brasil e sua natureza exuberante.
Além de pintor, José Claúdio foi gravador, escultor, crítico de arte e escritor. Participou ativamente do cenário artístico brasileiro, sendo um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR).
Em 1975, o artista participou de uma expedição à região amazônica, promovida pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, a convite do zoólogo e compositor brasileiro Paulo Vanzolini.
Nesta viagem, José Cláudio produziu 100 pinturas a óleo que hoje integram o Acervo dos Palácios. Essas obras retratam os locais visitados pelo artista durante a expedição que percorreu o rio Amazonas, o rio Madeira e afluentes.
O testemunho de José Claudio, através de suas pinturas, não só mapeia os locais por onde passou, como registra, com traços livres, as muitas espécies da biodiversidade da Amazônia e todo um universo de culturas locais valiosas.
Em 2021, esta coleção esteve em exposição no Palácio dos Bandeirantes, potencializando reflexões sobre as transformações da Amazônia nesses quase 50 anos. Enquanto alguns locais se modificaram com o crescimento populacional e as intervenções humanas, outros cenários se mantiveram preservados enquanto redutos da floresta.
Ao interpretar essas pinturas do ponto de vista da contemporaneidade, o a exposição propiciou novas reflexões e contribuiu para a conscientização das responsabilidades ambientais da sociedade.
Fonte: Acervo São Paulo. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Biografia do artista pernambucano José Cláudio destaca simplicidade e erudição | Diário de Pernambuco
Os passarinhos, o cotidiano da população rural, as festas populares eas frutas dos engenhos da Zona da Mata de Pernambuco que recortam a infância do artista plástico José Cláudio se tornaram marcas de suas pinturas. Entender a obra é voltar à casa dele em Ipojuca, conhecer a loja do pai, onde aproveitava os embrulhos das mercadorias para desenvolver os primeiros desenhos. A mudança para o Recife, onde estudou e atuou como no Atelier Coletivo, virou o ápice de sua produção artística.
Em Aventuras à mão livre, biografia do artista, o jornalista Júlio Cavani resgata as memórias e constrói a narrativa de vida de um dos maiores nomes da arte de Pernambuco, que experimentou diferentes fases estéticas e múltiplas temáticas, passando pelo desenho, pintura, gravura, escultura, história em quadrinho, murais e literatura. Lançada no último semestre, a obra terá evento com sessão de autógrafo nesta quinta (23), às 19h, na Garrido Galeria (Rua Samuel de Farias, 245, Casa Forte). O livro, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), integra a coleção Perfis, sobre 15 homens e mulheres que construíram importantes carreiras no estado. O exemplar custa R$ 40.
“Eu já admirava José Cláudio como artista, conhecia parte da obra dele, mas não o conhecia pessoalmente. No primeiro contato, a conversa fluiu bem. Tive sorte de biografar um personagem que estava disposto a falar. Ele conta bem as histórias e reúne bem as memórias de todas as fases de vida. Foi legal fazê-lo revisitar suas histórias. E ele achou interessante alguém disposto a reunir os seus relatos”, conta Júlio Cavani.
“Eu me propus a começar do zero. Encontrei José pela primeira vez sem ter feito muitas pesquisas. Cheguei lá para ouvir a vida dele, usando o próprio como fonte principal. E a partir daí fui seguindo uma ordem cronológica, da infância, adolescência, trabalho, amadurecimento. Após o primeiro contato, passei a ler, entre uma entrevista e outra, um artigo ou livro autobiográfico dele. Esse material servia tanto para me sugerir perguntas quanto me guiar para investigar alguns detalhes”, explica.
Conhecido pelos trabalhos coloridos e figurativos, José Cláudio teve a juventude mergulhada em aprendizados com Abelardo da Hora, Carybé, Mário Cravo, Arnaldo Pedroso d’Horta e Di Cavalcanti, e se consagrou como artista no circuito da arte contemporânea, nas décadas de 1950 a 1970, quando desenvolvia desenhos e gravuras considerados mais experimentais. Durante o período, o Atelier Coletivo foi o grande espaço de experimentação do artista. A fase é abordada em várias passagens no livro, como no capítulo Dos carimbinhos aos quadrinhos, onde o autor descreve a formação e experiência do artista com xilogravuras e a estreia nas tirinhas de HQ.
“Entre as décadas de 1950 e 1970, José Cláudio recebeu prêmios como melhor desenhista do Brasil. Eu queria ter mais contato com as obras produzidas por ele nesse período. Muitas foram vendidas e estão espalhadas pelo país, mas seria importante um estudo com todos os trabalhos que ele produziu nesse período. É de uma riqueza artística muito grande”, salienta Cavani. As narrativas de vida de José Cláudio foram colhidas por Cavani em15 conversas presenciais na casa do artista, com duração média de duas horas, sempre no início da noite. O horário, escolhido por Cláudio, tinha por objetivo livrar a claridade do dia e da tarde, que o artista usa para pintar telas em seu ateliê, que funciona no térreo da casa onde mora, no bairro do Monte, em Olinda.
“Eu procurei transmitir a espontaneidade de José, a forma como ele trabalha e idealiza tudo com naturalidade e calma. Quem conversa com José Cláudio percebe que ele é simples, mas por dentro é profundo e erudito. Ele anda com naturalidade por feiras públicas, da mesma forma que circula em eventos intelectuais. Ele nunca perdeu a simplicidade, apesar de toda riqueza imaterial”, destaca. Para pesquisas estéticas, José Cláudio viajou pelos EUA, Europa, África e diversos estados brasileiros, como Amazonas, Bahia, Rio e São Paulo.
O autor do livro destaca ainda a grande paixão do artista: o carnaval do Recife, a festa que guiou a temática de obras por mais de duas décadas. “Sofri muitas mudanças na minha vida, mas uma coisa não mudou: a idolatria pelo carnaval do Recife. Não tenho mais pernas para acompanhá-lo, mas me sinto inteiro e novo quando ouço um frevo de Zumba, de Capiba e por ai vai...”, escreveu José Cláudio, em crônica publicada na Revista Continente, em novembro de 2017. Em 2012, o pintor foi escolhido como homenageado da folia recifense. Nada mais justo.
Fonte: Diário de Pernambuco. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Um tributo a José Claudio | Arte Brasileiros
Olhando pelo retrovisor, o repertório artístico de José Claudio da Silva impõe-se pelas conquistas obtidas ao longo de mais de sete décadas. Aos 90 anos, o artista expõe cerca de 150 obras entre pinturas, desenhos, carimbos, que ocupam toda a Galeria Nara Roesler, em São Paulo. A extensa mostra, realizada com releituras tenazes e encontros disciplinados, consegue o feito de reunir três amigos de longa data, e tudo começa quando a crítica e historiadora de arte Aracy Amaral passa o réveillon no Recife e vai à casa do artista, como faz sempre que está na cidade. “Gosto de estar com José Claudio, ouvir suas histórias de vida”, diz. Ao voltar a São Paulo, ela recebe o convite de Nara Roesler para assumir a curadoria.
Um prodígio de energia e método, Aracy, com idade próxima à de José Claudio, arregaça as mangas e sai a campo. Garimpa obras em museus, coleções particulares, galerias, dentro do um arco temporal entre os anos de 1950 e 1990. Curar uma exposição faz do crítico intermediário transformado em autor, pelo processo de seleção das obras e analogia entre elas. A lógica de Aracy é a lógica do saber acumulado. Sem tropeços, encontra achados como a expressiva série Aventura da Linha (1955), trabalhada com nanquim sobre papel, pertencente ao acervo do MAM SP; Simetria (1982), dança erótica/sensual desenvolvida no solo, com toques matisseanos, e a releitura de obras de Almeida Júnior, entre tantas outras.
O percurso de José Claudio é feito pela paixão por seu território, a mesma paixão do “homem situado” nomeado por Gilberto Freyre, isso exemplifica sua participação no Ateliê Coletivo, dirigido por Abelardo da Hora, e que levava em conta a luta do povo oprimido, destacando as atividades rurais e urbanas a partir do cotidiano do trabalhador. Ele sabia que estava pisando em campo minado por conhecer a famosa frase do modernismo Pernambuco: “regional como opção, regional como prisão”.
A obra do muralista mexicano Rivera também era inspiração para o grupo que já começa a fazer arte pública. Para Aracy, José Claudio nasce para a pintura no Ateliê Coletivo, quando era um jovem e entusiasta da atmosfera artística do local. Como o artista já repetiu em várias entrevistas, ele considera o Ateliê como divisor de águas na história da pintura pernambucana.
Motivado por um impulso renovador, José Claudio estava ansioso pela vida de artista e, ao fixar-se em Salvador, de 1953 a 1954, e conhecer Mario Cravo Júnior, Jenner Augusto, Carybé e suas obras, ele muda sua vida. Espírito inquieto, o artista segue depois para São Paulo onde trabalha como assistente de Di Cavalcanti e frequenta a Escola de Artesanato do MAM SP, sob orientação de Lívio Abramo.
A relação de José Cláudio com a capital paulista vem de longe. Aracy destaca o período em que ele colabora com o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, sob a orientação de Arnaldo Pedroso D’Horta. A obra do jovem José Claudio, naquele momento, encontra-se ao mesmo tempo na fronteira de alguns movimentos de arte que ele não ignora e na técnica desenvolvida por ele com gestos originais.
Nessa época desponta o desenhista delicado, atento à linha do nanquim que, segundo Aracy, surpreende na disciplina assumida em sua múltipla observação de exposições e bienais. Nos trabalhos transparece certa influência da obra de Lívio Abramo, Grassmann, ou da abstração linear, quase abstrata, de Pedroso d’Horta.
Por insistência de amigos, o artista inscreve-se e é aceito na 4ª Bienal de São Paulo, em 1957, recebe o Prêmio de Aquisição, além da bolsa da Fundação Rotellini, na Itália, onde vive por um ano e viaja a vários países. Essa foi a primeira de uma sequência de participações dele no evento paulista, em que esteve na 5ª, 6ª, 7ª e 18ª edições.
Nos anos 1960, entre várias experimentações poéticas, nasce a série de carimbos em nanquim sobre papel. “Essas composições abstratas com diversidade rica de pura poesia gráfica perduram de 1968 a 1969”, comenta Aracy. No livro Carimbos – José Cláudio está citada a correspondência entre o artista e Walter Zanini sobre os conceitos dessa experiência e o elogio do crítico paulista ao seu trabalho.
Na virada dos anos 1970, José Claudio faz a série Histórias de um Carimbo e desenvolve um “livro de artista” instigante, no qual mistura seu processo de trabalho, carimbos, desenhos, recortes de revistas, pinturas, colagens e textos. Uma obra que incomoda por criar um pacto com o leitor, suprimindo interlocutores.
Prosseguindo no feito de chegar a uma obra múltipla e singular, em 1975 José Claudio aceita o convite do amigo cientista e compositor musical Paulo Vanzolini, diretor do Museu de Zoologia da USP, para fazer uma viagem de Manaus a Porto Velho, a bordo do Garbe, um barco-laboratório. Para essa empreitada, mais uma vez tem o apoio de Renato Magalhães Gouveia, galerista e amigo de sempre, que lhe dá um rolo com dezenas de metros de tela.
Essa expedição resultou numa coleta de 170 mil espécies para a coleção do museu paulista e, para as artes, cerca de 100 telas inspiradas na vegetação, fauna, nos personagens ribeirinhas e tudo o mais que ele conseguiu captar em cada dia de viagem, inclusive os pratos com peixes que experimentaram. José Claudio foi incumbido por Vanzolini de escrever um diário que resultou em relatório detalhado, transformado no livro José Claudio da Silva – 100 Telas, 60 Dias & um Diário de Viagem: Amazonas (1975).
Quando retorna ao Recife, seu trabalho se inunda de cores e luz do sol que banha a cidade, com algumas telas exibindo flagrantes do carnaval. Nesse momento de liberdade tonal surge a obra Zé Pereira, alusão ao bloco que arrasta os foliões pelas ruas da cidade, com seu enorme boneco que completa 100 anos.
Nu é um gênero de pintura que nasce na academia. José Claudio faz uma série com mulheres desnudas que conheceu em bordeis da cidade. Aracy diz que o objetivo dessas visitas era pintar as personagens que ali trabalhavam, e cada um desses quadros leva o nome da moça retratada. Ainda desse período, ele homenageia a esposa com a pintura Retrato de Leonice (1971), e oito anos depois eterniza sua amiga galerista na tela Nara (1979).
Nos anos 1980, José Claudio mergulha no universo de Almeida Júnior, faz releitura dos quadros O importuno (1898), Descanso da modelo (1882) e Saudade (1899), em que retrata uma moça vestida de preto lendo uma carta. Na versão de Zé Claudio, a mulher está nua igualmente lendo a carta. Nessas obras, o artista pernambucano praticamente elimina a profundidade do plano pictórico e simplifica as formas com tendência geométrica.
Tantas curiosidades permeiam essa exposição motivada pelo respeito que Nara Roesler tem pelo artista. “Devo meu trabalho como galerista a José Cláudio. Sua obra me tocou profundamente e despertou em mim o desejo de ser como uma tradutora do artista”, afirma Nara.
Com ele, a galerista diz ter aprendido a olhar as coisas simples do cotidiano popular. Ver a beleza das roupas coloridas que as lavadeiras colocavam para secar nas margens dos riachos, os raios de sol entre as folhas e a dança dos coqueirais. O sabor da manga madura e o cheiro do caju, os céus do entardecer em Olinda e toda a beleza contida na vida. “Assim, essa exposição é uma homenagem aos 90 anos de meu mestre, esse talentoso artista que tanto me ensinou”, finaliza Nara.
Fonte: Arte Brasileiros. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Artista plástico José Cláudio mostra sua trajetória em São Paulo | Folha de Pernambuco
O artista José Cláudio, que completou 90 anos em agosto, abre nova exposição, desta vez em São Paulo. Quem leva sua arte para o bairro Jardim Europa é uma das principais galerias brasileiras de arte contemporânea, Nara Roesler que, ao abrir sua primeira unidade no Recife, em meados dos anos 1970, teve José Cláudio como um dos primeiros artistas a serem exibidos.
Carimbos
Agora, passados mais de 40 anos, a galeria volta a apresentar o trabalho do artista com uma seleção de obras que compreende momentos fundamentais da prática artística de José Cláudio, incluindo trabalhos que integram os acervos do MAC USP e do Palácio do Governo, além de diversas coleções particulares. A exposição também inclui trabalhos da série 'Carimbos', desenvolvida na década de 1960, na qual o artista faz uso do carimbo para criar composições que podem ser compreendidas como narrativas visuais. Criando seus próprios carimbos, o artista exercitou livremente a criação, desenvolvendo, inclusive, diversos livros de artista que hoje são vistos como verdadeiros monumentos do movimento Poema/processo. Além do grupo de retratos apresentados e dos nus femininos, tema recorrente em sua produção, também estão presentes na exposição paisagens e cenas de festividades populares.
Contador de histórias
A exposição conta ainda com publicações e documentos históricos que permitem ao público entrever a ampla produção artística e intelectual de José Cláudio. “José Cláudio é um criador. Pintor, escultor, escritor, pesquisador. Um erudito além do mais. Historiador das artes em Pernambuco. Repositório saboroso dos casos ou de personagens que conheceu ou de eventos de que participou, que narra como envolvente contador de histórias, fatos reais que absorvemos de seus livros, ou ouvindo e indagando detalhes.”, afirma a curadora Aracy Amaral. 'José Cláudio: uma trajetória' abre ao público neste sábado (08) e segue em exibição até 5 de novembro.
No Recife
Já a mostra ‘Primeiro a fome, depois a lua’, que também celebra os 90 anos do pintor, José Cláudio, termina amanhã (08), na Galeria Marco Zero em Boa Viagem, aqui no Recife. Com cuadoria de Clarissa Diniz, a exposição tomou como título e ponto de partida o quadro ‘Primeiro a fome, depois a lua’ (1968), obra pertencente ao acervo original do Museu de Arte do Rio (MAR), que celebra não apenas a pujança da pintura ou experimentalismo da obra de José Cláudio, mas principalmente o caráter ético de sua trajetória.
Últimos dias
O recorte dessa expo foca em como José Cláudio - um dos mais expressivos artistas do País por sua arte erudita e visceral - enfocou o tema do trabalhador e, ao mesmo tempo, compreendeu e politizou sua própria posição de artista como uma condição de trabalho. A curadoria priorizou, de maneira inédita, apresentar trabalhos menos acessados, especialmente obras que mostram o seu engajamento social e político.
Gratuito
"Revelamos um artista atento às urgências sociais que não são diferentes da sua prática artística, onde José Cláudio se dispunha a pintar oito horas por dia, todos os dias. Dessa forma ele entendia e queria mostrar que o artista é também um trabalhador”, explica Clarissa. Com acesso gratuito, a Galeria Marco Zero fica localizada na Av. Domingos Ferreira, nº 3393, em Boa Viagem, no Recife.
Fonte: Folha de Pernambuco. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
Crédito fotográfico: Revista O Grito. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
José Cláudio da Silva (19 de março de 1932, Ipojuca, PE — 12 de dezembro de 2023, Recife, PE), mais conhecido como José Cláudio, foi um pintor, desenhista e gravador brasileiro. Abandonou o curso de Direito para se dedicar às artes visuais, iniciando sua formação artística em 1952 no Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), onde teve contato com nomes marcantes da arte pernambucana como Abelardo da Hora, Gilvan Samico e Wellington Virgolino. Sua obra foi influenciada pelo expressionismo e por mestres da arte moderna brasileira, desenvolvendo um estilo próprio, marcado pelo uso de cores intensas, traços livres e temas voltados para o cotidiano, as paisagens do Nordeste e a figura humana. Além de artista visual, destacou-se também como escritor e memorialista, com publicações como Ipojuca de Santo Cristo (1965), Os Dias de Uidá (1995) e 100 Telas, 60 Dias e Um Diário de Viagem (2009), que combinavam narrativa literária e experiência estética. Recebeu o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea em 1961 e participou de diversas exposições individuais e coletivas, com obras incluídas em importantes acervos como o do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC/USP) e o Palácio dos Bandeirantes.
José Cláudio | Itaú Cultural
José Cláudio (Ipojuca, Pernambuco, 1932 - Recife, Pernambuco, 2023). Pintor, desenhista, gravador, escultor, crítico de arte e escritor. Em 1952, José Cláudio, ao lado de Abelardo da Hora (1924-2014), Gilvan Samico (1928-2013) e Wellington Virgolino (1929-1988), entre outros, funda o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR). Posteriormente, em Salvador, José Cláudio é orientado por Mario Cravo Júnior (1923), Carybé (1911-1997) e Jenner Augusto (1924-2003). Viaja para São Paulo em 1955, onde inicialmente trabalha com Di Cavalcanti (1897-1976), estudando também gravura com Livio Abramo (1903-1992) na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Recebe bolsa de estudos da Fundação Rotelini, em 1957, permanecendo por um ano em Roma, na Academia de Belas Artes. De volta ao Brasil, passa a residir em Olinda e escreve artigos sobre artes plásticas para o Diário da Noite, do Recife. Realiza pinturas de caráter figurativo, retratando cenas regionais e paisagens do Nordeste, evitando, porém, o caráter pitoresco. O artista escreve, ao longo de sua carreira, vários textos de apresentação para exposições de pintores nordestinos, como a mostra Oficina Pernambucana (1967). Publica, entre outros, o livro Memória do Ateliê Coletivo (1978), no qual reúne depoimentos dos vários artistas que integram o grupo.
Análise
José Cláudio realiza pinturas de caráter figurativo, retratando cenas regionais e paisagens do Nordeste, evitando, porém, o caráter pitoresco, como em Pátio do Mercado (1972) ou Rua Leão Coroado (1973). Em Casa Vermelha de Olinda (1973), destaca-se o diálogo com a abstração, a simplificação formal, o uso livre da pincelada e o colorido intenso. Em suas obras podemos perceber a admiração por artistas da Escola de Paris e também pelos expressionistas, como na série de nus femininos, do fim da década de 1970. O carnaval é o tema dos quadros Homem da Meia Noite ou Cheguei Agora (ambos de 1974), com cores vivas e contrastantes. Em 1975, o artista participa de expedição à Amazônia, promovida pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ/USP), registrando em vários desenhos a óleo diversos aspectos regionais.
Em 1980, José Cláudio cria uma série de telas nas quais reinterpreta o quadro O Repouso do Modelo, do pintor ituano Almeida Júnior (1850-1899). Nessas obras revela a tendência a abolir a profundidade do plano pictórico, simplificando os elementos formais, que tendem a uma geometrização. Em 1985, pinta paisagens ao ar livre, como Ipojuca e Serrambi, empregando pinceladas largas e enérgicas.
Críticas
"José Cláudio é figurativista desde sempre, e pratica uma arte em que a emoção primeira sequer permite ou admite emendas e correções. Disso resulta certa impressão de desleixo e de mal-acabamento que por vezes inspira sua obra. No entanto, trata-se de efeitos deliberadamente obtidos, fruto de seu acentuado amor à matéria. Expressionista, fazendo uso de um desenho rigoroso, de uma pincelada larga e espontânea de um colorido profundo, do ponto de vista da temática José Cláudio debruçou-se sobre cenas e tipos regionais, sobre os costumes regionais e sobre a paisagem, as aves e as frutas do seu Nordeste, despojando-as, porém, de qualquer conteúdo pitoresco, para apenas se concentrar em sua expressão pictórica. Um sensual e um dionisíaco, hedonista que, segundo suas próprias palavras, diante de uma bela manga não sabe se deva pintá-la ou chupá-la, José Cláudio voltou-se também para a problemática da criação artística - como pintor, na série de grandes óleos que dedicou em começos da década de 1980 ao REPOUSO DO MODELO, de Almeida Júnior - desmembrado, rearticulado, reinterpretado em cada um de seus múltiplos aspectos formais e psicológicos -, e como escritor, historiador da arte pernambucana, num estilo tão pouco alambicado quanto sua pintura, (...)" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Acervos
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo - São Paulo SP
Acervo Banco Itaú S.A. - São Paulo SP
Exposições Individuais
1956 - São Paulo SP - Primeira individual, no Clube dos Artistas e Amigos das Artes (Clubinho)
1963 - São Paulo SP - Individual, na Galeria São Luís
1966 - Recife PE - Individual, na Galeria Casa Hollanda
1970 - Recife PE - Individual, na Galeria Detalhe
1975 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1977 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1977 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1977 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Nara Roesler
1977 - Recife PE - Individual, na Gatsby Arte
1980 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1980 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Kraft
1981 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1982 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1983 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1986 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Ipanema
Exposições Coletivas
1954 - Recife PE - 1ª Exposição do Ateliê Coletivo
1954 - Recife PE - Salão de Pintura do Museu do Estado de Pernambuco - menção honrosa
1955 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão Nacional de Arte Moderna
1956 - São Paulo SP - Salão Paulista de Arte Moderna
1957 - São Paulo SP - 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1959 - São Paulo SP - 5ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1961 - São Paulo SP - Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Arte das Folhas - 1º prêmio em desenho
1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1971 - São Paulo SP - 3º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Bruxelas (Bélgica) - Image du Brésil, no Manhattan Center - organizada pelo Masp
1976 - São Paulo SP - O Desenho em Pernambuco, na Galeria Nara Roesler
1982 - Rio de Janeiro RJ - Entre a Mancha e a Figura, no MAM/RJ
1983 - Rio de Janeiro RJ - 3 x 4 Grandes Formatos, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1983 - São Paulo SP - 14º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - Rio de Janeiro RJ - Intervenções no Espaço Urbano, na Funarte. Galeria Sérgio Milliet
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1986 - Brasília DF - Pernambucanos em Brasília, no ECT Galeria de Arte
1986 - Fortaleza CE - Imagine: o planeta saúda o cometa, na Arte Galeria
1986 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Mostra Christian Dior de Arte Contemporânea: pintura, no Paço Imperial - premiado
1987 - Recife PE - José Cláudio e Gil Vicente, no Museu do Estado de Pernambuco
1987 - São Paulo SP - As Bienais no Acervo do MAC: 1951 a 1985, no MAC/USP
1988 - Rio de Janeiro RJ - Le Déjeuner sur l'Art: Manet no Brasil, na EAV/Parque Lage
1988 - Rio de Janeiro RJ - Abolição, na Galeria de Arte Ipanema
1988 - São Paulo SP - A Mão Afro-Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Sesc Pompéia
1989 - Copenhague (Dinamarca) - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Museu Charlottenborg
1989 - Recife PE - Natureza da Pintura, no Centro Cultural Adalgisa Falcão
1989 - Olinda PE - Viva Olinda Viva, no Atelier Coletivo
1990 - Olinda PE - Permanência da Pintura, no Atelier Coletivo
1991 - São Paulo SP - A Mata, no MAC/USP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Coca-Cola 50 Anos com Arte, MAM/SP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Ateliê Coletivo, no Centro Cultural Candido Mendes
1993 - Hamburgo (Alemanha) - Atelier Coletivo, no Km Wolff
1993 - São Paulo SP - 23º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1993 - São Paulo SP - Obras para Ilustração do Suplemento Literário: 1956 - 1967 - MAM/SP
1994 - São Paulo SP - Marinhas, na Galeria Nara Roesler
2000 - São Paulo SP - Almeida Júnior: um artista revisitado, na Pinacoteca do Estado
2000 - Recife PE - Ateliê Pernambuco: homenagem a Bajado e acervo do Mamam, no Mamam
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
Fonte: JOSÉ Cláudio. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 01 de abril de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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José Claudio: a vida do artista aos 90 anos | Forbes
Convido vocês para a exposição, “José Claudio, uma trajetória”, com curadoria de Aracy Amaral, em nossa galeria. Por que estou tão feliz? José Claudio da Silva, ou Zé Claudio, como os amigos o chamam, é o artista com quem iniciei minha vida profissional e muito me ensinou, por exemplo, a prestar atenção ao brilho das folhas do coqueiral. Hoje, a sociedade se mobiliza diante das dificuldades enfrentadas pelos menos favorecidos, José Claudio desde os anos 70 retrata com maestria cenas do cotidiano popular, mas sempre com um certo otimismo. Sua obra não traz crítica, nem amargura, não há reivindicação social, retrata “a vida como ela é”, como já dizia Nelson Rodrigues. Suas pinceladas rápidas captam o folclore pernambucano e o orgulho das pessoas de diversas profissões. As lavadeiras, as cozinheiras, a vendedora de siri, sentada com a cesta de siris azuis. O barbeiro com a cadeira instalada na rua da cidadezinha do interior a cortar o cabelo de quem aparece. A festa na frente do mercado de São José de Recife com personagens pintados em camadas, tendo atrás um casario colonial, um prostíbulo, com “as meninas” à janela. A sensualidade do nu feminino é um tema recorrente em sua produção, assim como o carnaval, as paisagens, as praias, a Amazônia, sempre com um virtuosismo de dar inveja. Dessa experiência provém alguns trabalhos expostos, reunidos em seu livro “100 telas, 60 dias e um diário de Viagem, Amazonas 1975” (2009).
Foi em Recife, mina terra natal, através de tias minhas, que o conheci em 1977. O marchand Renato Magalhães Gouveia – como então chamávamos a profissão de galerista – representava sua obra em São Paulo e buscava alguém para representar o artista. Eu, nem galeria tinha, abracei o desafio. Aos 22 anos, com meus filhos Alexandre e Daniel ainda pequenos – hoje parceiros de trabalho na galeria -, meu espaço expositivo funcionava na minha própria casa. Ali recebia os amigos do meu pai e mostrava as telas de José Claudio, entre elas o retrato que fez de mim (que tenho até hoje e está exposto na mostra). Meu amor por sua obra foi contagiando, em pouco tempo, não havia casa em Recife sem uma parede com suas pinceladas com quê picassiano. Certa vez, levei-o ao aeroporto, havia uma retrospectiva de Picasso no MoMA que ele desejava muito ver. Daquele jeito desleixado, embarcou para Nova York de havaianas.
Apesar da aparência largada é das pessoas mais cultas que conheço, um verdadeiro erudito, intelectual adorável. Recentemente reeditamos seu livro, “Meu pai não viu minha glória”. São contos dedicados ao pai que sonhava ter filho doutor de Direito, com anel e tudo. Mas de pequeno o menino passava horas a desenhar no papel pardo do armazém do pai, em Ipojuca, sua cidade natal. Segundo a crítica de arte Vera D’Horta já se prenunciava “um Rafael”.
Sempre amei a arte. Meu avô foi diretor da Escola de Belas Artes da Universidade de Pernambuco, eu o acompanhava aos ateliês dos artistas, mas eram todos mais acadêmicos. José Claudio, ao contrário, era pura energia! Os fins de semana na casa de meus pais era open house de sexta a domingo, ali conviviam a direita e a esquerda de Recife, poetas, escritores, profissionais liberais. Eu, quietinha, sorvia aquela grande experiência cultural.
Em 1987, ao me mudar para São Paulo, constatei que seu nome era pouco conhecido no sul. Aqui predominava o gosto pelo concretismo. Ele havia iniciado a carreira como desenhista em São Paulo, tinha sido assistente de Di Cavalcanti, aprendido gravura com Lívio Abramo, participado de cinco bienais (1957, 1959, 1961, 1963 e 1985), ganhado bolsa da Fundação Boccherini de Lucca, na Itália, e trabalhado na Sudene, onde desenvolveu a série Carimbos na década de 1960. Considero o grande José Claudio, o pintor, com base em sua habilidade natural para o desenho. Mas há também o escultor em pedra, o poeta, o escritor, o gravurista. Em Pernambuco ele fazia ilustração para vários jornais. Faz pouco recebi de Paulo Bruscky, outro grande nome da arte de Pernambuco, um calhamaço de diagramações originais do José Claudio que Bruscky recolhia na redação e guardou esse tempo todo.
José Claudio foi um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), uma experiência comunitária de vanguarda criada por artistas autodidatas. Nos anos 50, não havia internet, tevê, revista, nada, quem não queria fazer arte acadêmica tinha que aprender na marra. O grupo reunia nomes como Abelardo da Hora, Virgulino, Samico, e cada qual transmitia sua experiência. A parte técnica era descoberta no peito e na raça, passada um para o outro entre eles. Com muito orgulho, realizei em Recife na minha primeira galeria, a Artespaço, uma mostra do Atelier Coletivo.
Há muito luto com José Claudio para organizamos uma grande mostra. Ele rebate: “Retrospectiva é para quem já morreu. Está desejando minha morte?”. Agora atingiu o marco dos 90 anos, mas fui obrigada a levar a Aracy Amaral a Recife para convencê-lo, são da mesma geração, entenderam-se bem. Grande parte dos trabalhos expostos provém do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo de São Paulo, do MAC USP e de coleções particulares. É uma mostra com caráter didático com obras dos anos 1950 a trabalhos recentes. Na vitrine da galeria penduramos uma tela linda, grande, com vários pássaros. Ele sempre gostou de retratar a natureza, como se vê na série Amazônia, para onde foi convidado pelo zoólogo e compositor Paulo Vanzolini a participar em uma expedição que durou dois meses. Pintou cobra, boto, peixe assim, peixe assado. Nas feiras observava o farfalhar das asas dos passarinhos nas gaiolas, e registrou aquele balé multicolorido, musical.
Vive tão mergulhado em seu mundo que nem sabia que o MoMA de Nova York possui um desenho seu, Apocalipse III, obra em nanquim sobre papel de 1956. Da mesma série estamos expondo Apocalipse IV, da coleção do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. O que ele gosta mesmo é de pintar, de apreciar suas telas nas casas dos amigos colecionadores bebericando uma cachacinha.
José Claudio é um grande artista. Como se diz no Nordeste, é um forte.
José Cláudio: uma trajetória
Curadoria de Aracy Amaral
Galeria Nara Roesler, São Paulo
Fonte: Forbes. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Morre aos 91 anos o artista plástico pernambucano José Cláudio | G1
Morreu, aos 91 anos, o artista plástico pernambucano José Cláudio. Pintor, escultor, desenhista e escritor, José Cláudio foi um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), ao lado de Abelardo da Hora, Gilvan Samico e Wellington Virgolino.
Nascido em Ipojuca, no Grande Recife, em 1932, José Cláudio deixa dois filhos, três netas e dois bisnetos.
Desde a infância mostrou interesse pela arte, época em que rabiscava desenhos em papéis de embrulho no armazém do pai. A vocação o levou para a escola de artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), período no qual trabalhou com os artistas Di Cavalcanti e Lívio Abramo.
Dois anos depois, o artista pernambucano ganhou uma bolsa de estudos da Fundação Rotellini, em Roma, na Itália, onde permaneceu por um ano. Quando retornou ao estado, passou a morar em Olinda, onde escreveu artigos sobre artes plásticas para o Jornal Diário da Noite, do Recife.
No Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife, que funcionou de 1952 a 1957, dedicou-se a expressões artísticas voltadas para o povo. O espaço foi um centro de estudo de desenho e gravura que trabalhava o caráter social da arte.
A última exposição de José Cláudio foi a mostra “Primeiro a Fome, Depois a Lua”, em agosto de 2022, quando ele completou 90 anos. O nome escolhido faz referência a um quadro do artista, pintado em 1968, que faz parte do acervo original do Museu de Arte do Rio.
Repercussão
A governadora de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB) prestou solidariedade à família e amigos do artista em suas redes sociais.
"A arte pernambucana fica mais triste, hoje, com o falecimento de Zé Cláudio. Ele retratou tão bem as pessoas e os costumes de Pernambuco e do Nordeste em suas pinturas, com suas cores vívidas e suas paisagens figurativas que nos transportavam para cada lugar. Meus sentimentos e todo meu carinho à família, neste momento de despedida. Obrigada, Zé. Siga em paz", publicou a governadora.
A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura do Recife lamentaram a morte de José Cláudio, "artista plástico de primeira grandeza, que devotou todas as cores de sua sensibilidade para retratar o Nordeste em toda a sua beleza e abundância".
Fonte: G1. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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José Cláudio | Rodrigues Galeria
Autodidata, desenhava nos papeis de embrulho da loja do seu pai, um armarinho de miudezas. Riscava debruçado no balcão e muitos fregueses levavam com prazer os seus desenhos. Quanto à pintura, aprendeu observando as pinceladas dominicais do seu padrinho, o promotor público Othon Fialho de Oliveira, é o que afirma o artista.
Em 1952, interrompe o curso da Faculdade de Direito do Recife, dedica-se inteiramente à arte ingressando no Atelier Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife-SAMR , dirigida pelo escultor Abelardo da Hora. Continuando seus estudos, recebe orientação de Carybé, Mário Cravo e Jenner Augusto em Salvador/BA, aprendendo a preparar paredes e a pintar em larga escala. No ano seguinte, retorna ao seu Estado natal onde continua seu trabalho como artista plástico colaborando ainda nos jornais locais. Em 1955, mantém contato com Arnaldo Pedroso d’Horta passando a dedicar-se mais ao desenho. Transfere-se para São Paulo, nesse mesmo ano e trabalha inicialmente com Di Cavalcanti, além de freqüentar a Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna, Seção Gravura, sob orientação de Lívio Abramo. A partir daí, a sua trajetória como pintor é rápida e ascendente, fruto do seu talento e dos contatos com grandes mestres, no Brasil e no exterior. Como pintor é um dos mais expressivos do Grupo do Atelier Coletivo do Recife. A sua pintura revela a genialidade daqueles que chegam antes do seu tempo, mas expressa de um modo bem verdadeiro e quase visceral, os seus modos de pensar e de saber – a sua arte. José Cláudio é um erudito, o artista diz ter necessidade de “extrair a pintura diretamente das coisas, arranca-la à paisagem, ou uma figura que passa, ou posa, e não dos mestres do passado ou presente” (…).
Participa do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1956 realiza no Clube dos Artistas e Amigos da Arte (Clubinho) a sua primeira mostra individual com desenhos, comentada através de artigos de Sérgio Milliet, Quirino da Silva e José Geraldo Vieira. Obtém com desenho o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea. Em 1957 participa da IV Bienal Internacional de São Paulo, que lhe confere Prêmio de Aquisição. Recebe uma bolsa de estudo da Fundação Rotelini, da Itália, indo para a Europa onde permanece por um ano, freqüentando o curso de Modelo Vivo e História da Arte na Academia de Belas Artes de Roma. Em 1959 retorna ao Brasil, participando da V Bienal Internacional de São Paulo e, em seguida volta a Pernambuco, passando a viver no atelier de Montez Magno, Adão Pinheiro e Anchises Azevedo, em Olinda. Realiza a sua segunda individual de desenhos, no Recife. Em 1961, ele colabora com artigos sobre Artes Plásticas para o jornal Diário da Noite, Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco, no Recife. No ano seguinte, obtém o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea para desenho. Em 1963 realiza mostra individual na Galeria São Luiz e participa da VII Bienal Internacional de São Paulo, em São Paulo. Em 1965 lança seus livros “Viagem de um Jovem Pintor à Bahia” e “Ipojuca de Santo Cristo”, recebendo críticas, entre outros, de Sérgio Milliet, Paulo Mendes de Almeida e Matheus de Lima. Em 1966 lança álbum com 25 xilogravuras e textos: “Os Bichos da Roda”. Apresenta exposição de desenhos na Galeria Casa Holanda, no Recife, com catálogo prefaciado por Gastão de Hollanda. Em 1967 retorna à pintura e começa a esculpir em madeira e, dois anos depois, inicia a série de esculturas em granito de grande porte, em Nova Jerusalém/PE. Apresenta o catálogo da coletiva “Oficina Pernambucana”, organizada por Walter Zanini, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. No ano seguinte, lança o seu terceiro livro de viagem, “Bem Dentro”. Em 1971 lança o álbum de xilogravuras “Catende-Xilos”. Em 1972 dedica-se assiduamente a produzir pinturas e esculturas de grandes proporções, em granito, não comercializando as referidas obras em função de um acordo estabelecido com Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte. Em 1973, a sua escultura O Pássaro participa da exposição “Image du Brésil”, no Manhattan Center de Bruxelas, organizada pelo Museu de Arte de São Paulo. Em 1974, realiza exposição individual com 38 pinturas a óleo com Renato Magalhães Gouvêa, em São Paulo. Adapta para história em quadrinhos o “Livro dos Mortos”, capítulo do volume “Agá” de Hermilo Borba Filho. Em 1975, realiza exposição individual no Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte, em São Paulo, com 100 pinturas a óleo documentando aspectos da Amazônia. As referidas obras foram adquiridas pelo Governo do Estado de São Paulo e colocadas no salão de recepções do Palácio dos Bandeirantes. A partir deste ano, lastreado pelo prestígio de Renato Magalhães Gouvêa, realiza inúmeras exposições. Em 1978, organiza a exposição “Atelier Coletivo”, na Galeria Artespaço, Recife, ocasião em que lança o livro da sua autoria “Memória do Atelier Coletivo”. Em 1979, a sua escultura em granito “Asas do Imigrante”, de 90 toneladas, é colocada pelo DERSA na Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo. Em 1982, realiza mostra individual no Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte, São Paulo, onde apresenta a série sobre o “Descanso do Modelo” de Almeida Júnior, merecendo memorável artigo de Carlos Von Schmidt, além de comentários de outros destacados críticos, como Flávio de Aquino. Participa, a convite de Frederico Morais, da mostra “Entre a mancha e a figura”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. É editado pelo Governo do Estado de Pernambuco o seu livro “Artistas de Pernambuco”, pela Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes sendo secretário Francisco A. Bandeira de Mello. Em 1983, participa da exposição “3×4 / grandes formatos”, no Centro Empresarial Rio, organizada por Rubens Gerchman, além da mostra “Panorama da Arte Atual Brasileira”, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (motivo de destaque no artigo de Casimiro Xavier de Mendonça; “Atestado de Vigor”, Veja, 2/novembro/1983) e ainda, da exposição inaugural da Grande Galeria do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, organizada por Maria do Carmo Secco. No ano seguinte, edita o seu livro “Tratos da Arte de Pernambuco”. Em 1997 ilustra a capa do livro Sociedade Pernambucana, de João Alberto.
Críticos de Arte e jornalistas de destaque nacional e local o têm acompanhado com grande interesse, entre os quais podemos citar Celso Marconi, Valdi Coutinho, Paulo Chaves, Jomard Muniz de Britto, Paulo Fernando Craveiro (Recife), Vera d’Horta Beccari (São Paulo) e Jacob Klintowitz (Rio de Janeiro).
1999 – Exposição na Galeria Futuro 25.
2000 – Participa da exposição Almeida Júnior: um artista revisitado, Pinacoteca do Estado de São Paulo, com curadoria de Emanoel Araújo.
2002 – Retoma a escultura em pedra granítica.
2003 – Participa da mostra Arte e Sociedade – Uma relação polêmica, do Itaú Cultural, tendo como curadora Aracy Amaral.
2005- Participa da exposição Territoires transitoires – un parcours dans I’art du Brésil no Palais de La Porte Dorée, Paris.
2007- Participa da coletiva Arte como questão, no Instituto Tomie Ohtake, com curadoria de Glória Ferreira.
2009 – Exposição Retrospectiva, no Museu do Estado de Pernambuco. Lançamento do livro José Cláudio – Vida e Obra. Exibição do documentário José Cláudio.
A última exposição de José Cláudio foi a mostra “Primeiro a Fome, Depois a Lua”, em agosto de 2022 no Recife, quando ele completou 90 anos. O nome escolhido faz referência a um quadro do artista, pintado em 1968, que faz parte do acervo original do Museu de Arte do Rio.
Fonte: Galeria Rodrigues. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Adeus, José Cláudio da Silva! | Acervo São Paulo
Faleceu nesta terça-feira, dia 12 de dezembro de 2023, o pintor José Claúdio da Silva, aos 91 anos. Nascido em Ipojuca, Pernambuco, consagrou-se por suas obras figurativas que retratavam o cotidiano do Brasil e sua natureza exuberante.
Além de pintor, José Claúdio foi gravador, escultor, crítico de arte e escritor. Participou ativamente do cenário artístico brasileiro, sendo um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR).
Em 1975, o artista participou de uma expedição à região amazônica, promovida pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, a convite do zoólogo e compositor brasileiro Paulo Vanzolini.
Nesta viagem, José Cláudio produziu 100 pinturas a óleo que hoje integram o Acervo dos Palácios. Essas obras retratam os locais visitados pelo artista durante a expedição que percorreu o rio Amazonas, o rio Madeira e afluentes.
O testemunho de José Claudio, através de suas pinturas, não só mapeia os locais por onde passou, como registra, com traços livres, as muitas espécies da biodiversidade da Amazônia e todo um universo de culturas locais valiosas.
Em 2021, esta coleção esteve em exposição no Palácio dos Bandeirantes, potencializando reflexões sobre as transformações da Amazônia nesses quase 50 anos. Enquanto alguns locais se modificaram com o crescimento populacional e as intervenções humanas, outros cenários se mantiveram preservados enquanto redutos da floresta.
Ao interpretar essas pinturas do ponto de vista da contemporaneidade, o a exposição propiciou novas reflexões e contribuiu para a conscientização das responsabilidades ambientais da sociedade.
Fonte: Acervo São Paulo. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Biografia do artista pernambucano José Cláudio destaca simplicidade e erudição | Diário de Pernambuco
Os passarinhos, o cotidiano da população rural, as festas populares eas frutas dos engenhos da Zona da Mata de Pernambuco que recortam a infância do artista plástico José Cláudio se tornaram marcas de suas pinturas. Entender a obra é voltar à casa dele em Ipojuca, conhecer a loja do pai, onde aproveitava os embrulhos das mercadorias para desenvolver os primeiros desenhos. A mudança para o Recife, onde estudou e atuou como no Atelier Coletivo, virou o ápice de sua produção artística.
Em Aventuras à mão livre, biografia do artista, o jornalista Júlio Cavani resgata as memórias e constrói a narrativa de vida de um dos maiores nomes da arte de Pernambuco, que experimentou diferentes fases estéticas e múltiplas temáticas, passando pelo desenho, pintura, gravura, escultura, história em quadrinho, murais e literatura. Lançada no último semestre, a obra terá evento com sessão de autógrafo nesta quinta (23), às 19h, na Garrido Galeria (Rua Samuel de Farias, 245, Casa Forte). O livro, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), integra a coleção Perfis, sobre 15 homens e mulheres que construíram importantes carreiras no estado. O exemplar custa R$ 40.
“Eu já admirava José Cláudio como artista, conhecia parte da obra dele, mas não o conhecia pessoalmente. No primeiro contato, a conversa fluiu bem. Tive sorte de biografar um personagem que estava disposto a falar. Ele conta bem as histórias e reúne bem as memórias de todas as fases de vida. Foi legal fazê-lo revisitar suas histórias. E ele achou interessante alguém disposto a reunir os seus relatos”, conta Júlio Cavani.
“Eu me propus a começar do zero. Encontrei José pela primeira vez sem ter feito muitas pesquisas. Cheguei lá para ouvir a vida dele, usando o próprio como fonte principal. E a partir daí fui seguindo uma ordem cronológica, da infância, adolescência, trabalho, amadurecimento. Após o primeiro contato, passei a ler, entre uma entrevista e outra, um artigo ou livro autobiográfico dele. Esse material servia tanto para me sugerir perguntas quanto me guiar para investigar alguns detalhes”, explica.
Conhecido pelos trabalhos coloridos e figurativos, José Cláudio teve a juventude mergulhada em aprendizados com Abelardo da Hora, Carybé, Mário Cravo, Arnaldo Pedroso d’Horta e Di Cavalcanti, e se consagrou como artista no circuito da arte contemporânea, nas décadas de 1950 a 1970, quando desenvolvia desenhos e gravuras considerados mais experimentais. Durante o período, o Atelier Coletivo foi o grande espaço de experimentação do artista. A fase é abordada em várias passagens no livro, como no capítulo Dos carimbinhos aos quadrinhos, onde o autor descreve a formação e experiência do artista com xilogravuras e a estreia nas tirinhas de HQ.
“Entre as décadas de 1950 e 1970, José Cláudio recebeu prêmios como melhor desenhista do Brasil. Eu queria ter mais contato com as obras produzidas por ele nesse período. Muitas foram vendidas e estão espalhadas pelo país, mas seria importante um estudo com todos os trabalhos que ele produziu nesse período. É de uma riqueza artística muito grande”, salienta Cavani. As narrativas de vida de José Cláudio foram colhidas por Cavani em15 conversas presenciais na casa do artista, com duração média de duas horas, sempre no início da noite. O horário, escolhido por Cláudio, tinha por objetivo livrar a claridade do dia e da tarde, que o artista usa para pintar telas em seu ateliê, que funciona no térreo da casa onde mora, no bairro do Monte, em Olinda.
“Eu procurei transmitir a espontaneidade de José, a forma como ele trabalha e idealiza tudo com naturalidade e calma. Quem conversa com José Cláudio percebe que ele é simples, mas por dentro é profundo e erudito. Ele anda com naturalidade por feiras públicas, da mesma forma que circula em eventos intelectuais. Ele nunca perdeu a simplicidade, apesar de toda riqueza imaterial”, destaca. Para pesquisas estéticas, José Cláudio viajou pelos EUA, Europa, África e diversos estados brasileiros, como Amazonas, Bahia, Rio e São Paulo.
O autor do livro destaca ainda a grande paixão do artista: o carnaval do Recife, a festa que guiou a temática de obras por mais de duas décadas. “Sofri muitas mudanças na minha vida, mas uma coisa não mudou: a idolatria pelo carnaval do Recife. Não tenho mais pernas para acompanhá-lo, mas me sinto inteiro e novo quando ouço um frevo de Zumba, de Capiba e por ai vai...”, escreveu José Cláudio, em crônica publicada na Revista Continente, em novembro de 2017. Em 2012, o pintor foi escolhido como homenageado da folia recifense. Nada mais justo.
Fonte: Diário de Pernambuco. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Um tributo a José Claudio | Arte Brasileiros
Olhando pelo retrovisor, o repertório artístico de José Claudio da Silva impõe-se pelas conquistas obtidas ao longo de mais de sete décadas. Aos 90 anos, o artista expõe cerca de 150 obras entre pinturas, desenhos, carimbos, que ocupam toda a Galeria Nara Roesler, em São Paulo. A extensa mostra, realizada com releituras tenazes e encontros disciplinados, consegue o feito de reunir três amigos de longa data, e tudo começa quando a crítica e historiadora de arte Aracy Amaral passa o réveillon no Recife e vai à casa do artista, como faz sempre que está na cidade. “Gosto de estar com José Claudio, ouvir suas histórias de vida”, diz. Ao voltar a São Paulo, ela recebe o convite de Nara Roesler para assumir a curadoria.
Um prodígio de energia e método, Aracy, com idade próxima à de José Claudio, arregaça as mangas e sai a campo. Garimpa obras em museus, coleções particulares, galerias, dentro do um arco temporal entre os anos de 1950 e 1990. Curar uma exposição faz do crítico intermediário transformado em autor, pelo processo de seleção das obras e analogia entre elas. A lógica de Aracy é a lógica do saber acumulado. Sem tropeços, encontra achados como a expressiva série Aventura da Linha (1955), trabalhada com nanquim sobre papel, pertencente ao acervo do MAM SP; Simetria (1982), dança erótica/sensual desenvolvida no solo, com toques matisseanos, e a releitura de obras de Almeida Júnior, entre tantas outras.
O percurso de José Claudio é feito pela paixão por seu território, a mesma paixão do “homem situado” nomeado por Gilberto Freyre, isso exemplifica sua participação no Ateliê Coletivo, dirigido por Abelardo da Hora, e que levava em conta a luta do povo oprimido, destacando as atividades rurais e urbanas a partir do cotidiano do trabalhador. Ele sabia que estava pisando em campo minado por conhecer a famosa frase do modernismo Pernambuco: “regional como opção, regional como prisão”.
A obra do muralista mexicano Rivera também era inspiração para o grupo que já começa a fazer arte pública. Para Aracy, José Claudio nasce para a pintura no Ateliê Coletivo, quando era um jovem e entusiasta da atmosfera artística do local. Como o artista já repetiu em várias entrevistas, ele considera o Ateliê como divisor de águas na história da pintura pernambucana.
Motivado por um impulso renovador, José Claudio estava ansioso pela vida de artista e, ao fixar-se em Salvador, de 1953 a 1954, e conhecer Mario Cravo Júnior, Jenner Augusto, Carybé e suas obras, ele muda sua vida. Espírito inquieto, o artista segue depois para São Paulo onde trabalha como assistente de Di Cavalcanti e frequenta a Escola de Artesanato do MAM SP, sob orientação de Lívio Abramo.
A relação de José Cláudio com a capital paulista vem de longe. Aracy destaca o período em que ele colabora com o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, sob a orientação de Arnaldo Pedroso D’Horta. A obra do jovem José Claudio, naquele momento, encontra-se ao mesmo tempo na fronteira de alguns movimentos de arte que ele não ignora e na técnica desenvolvida por ele com gestos originais.
Nessa época desponta o desenhista delicado, atento à linha do nanquim que, segundo Aracy, surpreende na disciplina assumida em sua múltipla observação de exposições e bienais. Nos trabalhos transparece certa influência da obra de Lívio Abramo, Grassmann, ou da abstração linear, quase abstrata, de Pedroso d’Horta.
Por insistência de amigos, o artista inscreve-se e é aceito na 4ª Bienal de São Paulo, em 1957, recebe o Prêmio de Aquisição, além da bolsa da Fundação Rotellini, na Itália, onde vive por um ano e viaja a vários países. Essa foi a primeira de uma sequência de participações dele no evento paulista, em que esteve na 5ª, 6ª, 7ª e 18ª edições.
Nos anos 1960, entre várias experimentações poéticas, nasce a série de carimbos em nanquim sobre papel. “Essas composições abstratas com diversidade rica de pura poesia gráfica perduram de 1968 a 1969”, comenta Aracy. No livro Carimbos – José Cláudio está citada a correspondência entre o artista e Walter Zanini sobre os conceitos dessa experiência e o elogio do crítico paulista ao seu trabalho.
Na virada dos anos 1970, José Claudio faz a série Histórias de um Carimbo e desenvolve um “livro de artista” instigante, no qual mistura seu processo de trabalho, carimbos, desenhos, recortes de revistas, pinturas, colagens e textos. Uma obra que incomoda por criar um pacto com o leitor, suprimindo interlocutores.
Prosseguindo no feito de chegar a uma obra múltipla e singular, em 1975 José Claudio aceita o convite do amigo cientista e compositor musical Paulo Vanzolini, diretor do Museu de Zoologia da USP, para fazer uma viagem de Manaus a Porto Velho, a bordo do Garbe, um barco-laboratório. Para essa empreitada, mais uma vez tem o apoio de Renato Magalhães Gouveia, galerista e amigo de sempre, que lhe dá um rolo com dezenas de metros de tela.
Essa expedição resultou numa coleta de 170 mil espécies para a coleção do museu paulista e, para as artes, cerca de 100 telas inspiradas na vegetação, fauna, nos personagens ribeirinhas e tudo o mais que ele conseguiu captar em cada dia de viagem, inclusive os pratos com peixes que experimentaram. José Claudio foi incumbido por Vanzolini de escrever um diário que resultou em relatório detalhado, transformado no livro José Claudio da Silva – 100 Telas, 60 Dias & um Diário de Viagem: Amazonas (1975).
Quando retorna ao Recife, seu trabalho se inunda de cores e luz do sol que banha a cidade, com algumas telas exibindo flagrantes do carnaval. Nesse momento de liberdade tonal surge a obra Zé Pereira, alusão ao bloco que arrasta os foliões pelas ruas da cidade, com seu enorme boneco que completa 100 anos.
Nu é um gênero de pintura que nasce na academia. José Claudio faz uma série com mulheres desnudas que conheceu em bordeis da cidade. Aracy diz que o objetivo dessas visitas era pintar as personagens que ali trabalhavam, e cada um desses quadros leva o nome da moça retratada. Ainda desse período, ele homenageia a esposa com a pintura Retrato de Leonice (1971), e oito anos depois eterniza sua amiga galerista na tela Nara (1979).
Nos anos 1980, José Claudio mergulha no universo de Almeida Júnior, faz releitura dos quadros O importuno (1898), Descanso da modelo (1882) e Saudade (1899), em que retrata uma moça vestida de preto lendo uma carta. Na versão de Zé Claudio, a mulher está nua igualmente lendo a carta. Nessas obras, o artista pernambucano praticamente elimina a profundidade do plano pictórico e simplifica as formas com tendência geométrica.
Tantas curiosidades permeiam essa exposição motivada pelo respeito que Nara Roesler tem pelo artista. “Devo meu trabalho como galerista a José Cláudio. Sua obra me tocou profundamente e despertou em mim o desejo de ser como uma tradutora do artista”, afirma Nara.
Com ele, a galerista diz ter aprendido a olhar as coisas simples do cotidiano popular. Ver a beleza das roupas coloridas que as lavadeiras colocavam para secar nas margens dos riachos, os raios de sol entre as folhas e a dança dos coqueirais. O sabor da manga madura e o cheiro do caju, os céus do entardecer em Olinda e toda a beleza contida na vida. “Assim, essa exposição é uma homenagem aos 90 anos de meu mestre, esse talentoso artista que tanto me ensinou”, finaliza Nara.
Fonte: Arte Brasileiros. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Artista plástico José Cláudio mostra sua trajetória em São Paulo | Folha de Pernambuco
O artista José Cláudio, que completou 90 anos em agosto, abre nova exposição, desta vez em São Paulo. Quem leva sua arte para o bairro Jardim Europa é uma das principais galerias brasileiras de arte contemporânea, Nara Roesler que, ao abrir sua primeira unidade no Recife, em meados dos anos 1970, teve José Cláudio como um dos primeiros artistas a serem exibidos.
Carimbos
Agora, passados mais de 40 anos, a galeria volta a apresentar o trabalho do artista com uma seleção de obras que compreende momentos fundamentais da prática artística de José Cláudio, incluindo trabalhos que integram os acervos do MAC USP e do Palácio do Governo, além de diversas coleções particulares. A exposição também inclui trabalhos da série 'Carimbos', desenvolvida na década de 1960, na qual o artista faz uso do carimbo para criar composições que podem ser compreendidas como narrativas visuais. Criando seus próprios carimbos, o artista exercitou livremente a criação, desenvolvendo, inclusive, diversos livros de artista que hoje são vistos como verdadeiros monumentos do movimento Poema/processo. Além do grupo de retratos apresentados e dos nus femininos, tema recorrente em sua produção, também estão presentes na exposição paisagens e cenas de festividades populares.
Contador de histórias
A exposição conta ainda com publicações e documentos históricos que permitem ao público entrever a ampla produção artística e intelectual de José Cláudio. “José Cláudio é um criador. Pintor, escultor, escritor, pesquisador. Um erudito além do mais. Historiador das artes em Pernambuco. Repositório saboroso dos casos ou de personagens que conheceu ou de eventos de que participou, que narra como envolvente contador de histórias, fatos reais que absorvemos de seus livros, ou ouvindo e indagando detalhes.”, afirma a curadora Aracy Amaral. 'José Cláudio: uma trajetória' abre ao público neste sábado (08) e segue em exibição até 5 de novembro.
No Recife
Já a mostra ‘Primeiro a fome, depois a lua’, que também celebra os 90 anos do pintor, José Cláudio, termina amanhã (08), na Galeria Marco Zero em Boa Viagem, aqui no Recife. Com cuadoria de Clarissa Diniz, a exposição tomou como título e ponto de partida o quadro ‘Primeiro a fome, depois a lua’ (1968), obra pertencente ao acervo original do Museu de Arte do Rio (MAR), que celebra não apenas a pujança da pintura ou experimentalismo da obra de José Cláudio, mas principalmente o caráter ético de sua trajetória.
Últimos dias
O recorte dessa expo foca em como José Cláudio - um dos mais expressivos artistas do País por sua arte erudita e visceral - enfocou o tema do trabalhador e, ao mesmo tempo, compreendeu e politizou sua própria posição de artista como uma condição de trabalho. A curadoria priorizou, de maneira inédita, apresentar trabalhos menos acessados, especialmente obras que mostram o seu engajamento social e político.
Gratuito
"Revelamos um artista atento às urgências sociais que não são diferentes da sua prática artística, onde José Cláudio se dispunha a pintar oito horas por dia, todos os dias. Dessa forma ele entendia e queria mostrar que o artista é também um trabalhador”, explica Clarissa. Com acesso gratuito, a Galeria Marco Zero fica localizada na Av. Domingos Ferreira, nº 3393, em Boa Viagem, no Recife.
Fonte: Folha de Pernambuco. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
Crédito fotográfico: Revista O Grito. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
1 artista relacionado
José Cláudio da Silva (19 de março de 1932, Ipojuca, PE — 12 de dezembro de 2023, Recife, PE), mais conhecido como José Cláudio, foi um pintor, desenhista e gravador brasileiro. Abandonou o curso de Direito para se dedicar às artes visuais, iniciando sua formação artística em 1952 no Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), onde teve contato com nomes marcantes da arte pernambucana como Abelardo da Hora, Gilvan Samico e Wellington Virgolino. Sua obra foi influenciada pelo expressionismo e por mestres da arte moderna brasileira, desenvolvendo um estilo próprio, marcado pelo uso de cores intensas, traços livres e temas voltados para o cotidiano, as paisagens do Nordeste e a figura humana. Além de artista visual, destacou-se também como escritor e memorialista, com publicações como Ipojuca de Santo Cristo (1965), Os Dias de Uidá (1995) e 100 Telas, 60 Dias e Um Diário de Viagem (2009), que combinavam narrativa literária e experiência estética. Recebeu o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea em 1961 e participou de diversas exposições individuais e coletivas, com obras incluídas em importantes acervos como o do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC/USP) e o Palácio dos Bandeirantes.
José Cláudio | Itaú Cultural
José Cláudio (Ipojuca, Pernambuco, 1932 - Recife, Pernambuco, 2023). Pintor, desenhista, gravador, escultor, crítico de arte e escritor. Em 1952, José Cláudio, ao lado de Abelardo da Hora (1924-2014), Gilvan Samico (1928-2013) e Wellington Virgolino (1929-1988), entre outros, funda o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR). Posteriormente, em Salvador, José Cláudio é orientado por Mario Cravo Júnior (1923), Carybé (1911-1997) e Jenner Augusto (1924-2003). Viaja para São Paulo em 1955, onde inicialmente trabalha com Di Cavalcanti (1897-1976), estudando também gravura com Livio Abramo (1903-1992) na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Recebe bolsa de estudos da Fundação Rotelini, em 1957, permanecendo por um ano em Roma, na Academia de Belas Artes. De volta ao Brasil, passa a residir em Olinda e escreve artigos sobre artes plásticas para o Diário da Noite, do Recife. Realiza pinturas de caráter figurativo, retratando cenas regionais e paisagens do Nordeste, evitando, porém, o caráter pitoresco. O artista escreve, ao longo de sua carreira, vários textos de apresentação para exposições de pintores nordestinos, como a mostra Oficina Pernambucana (1967). Publica, entre outros, o livro Memória do Ateliê Coletivo (1978), no qual reúne depoimentos dos vários artistas que integram o grupo.
Análise
José Cláudio realiza pinturas de caráter figurativo, retratando cenas regionais e paisagens do Nordeste, evitando, porém, o caráter pitoresco, como em Pátio do Mercado (1972) ou Rua Leão Coroado (1973). Em Casa Vermelha de Olinda (1973), destaca-se o diálogo com a abstração, a simplificação formal, o uso livre da pincelada e o colorido intenso. Em suas obras podemos perceber a admiração por artistas da Escola de Paris e também pelos expressionistas, como na série de nus femininos, do fim da década de 1970. O carnaval é o tema dos quadros Homem da Meia Noite ou Cheguei Agora (ambos de 1974), com cores vivas e contrastantes. Em 1975, o artista participa de expedição à Amazônia, promovida pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ/USP), registrando em vários desenhos a óleo diversos aspectos regionais.
Em 1980, José Cláudio cria uma série de telas nas quais reinterpreta o quadro O Repouso do Modelo, do pintor ituano Almeida Júnior (1850-1899). Nessas obras revela a tendência a abolir a profundidade do plano pictórico, simplificando os elementos formais, que tendem a uma geometrização. Em 1985, pinta paisagens ao ar livre, como Ipojuca e Serrambi, empregando pinceladas largas e enérgicas.
Críticas
"José Cláudio é figurativista desde sempre, e pratica uma arte em que a emoção primeira sequer permite ou admite emendas e correções. Disso resulta certa impressão de desleixo e de mal-acabamento que por vezes inspira sua obra. No entanto, trata-se de efeitos deliberadamente obtidos, fruto de seu acentuado amor à matéria. Expressionista, fazendo uso de um desenho rigoroso, de uma pincelada larga e espontânea de um colorido profundo, do ponto de vista da temática José Cláudio debruçou-se sobre cenas e tipos regionais, sobre os costumes regionais e sobre a paisagem, as aves e as frutas do seu Nordeste, despojando-as, porém, de qualquer conteúdo pitoresco, para apenas se concentrar em sua expressão pictórica. Um sensual e um dionisíaco, hedonista que, segundo suas próprias palavras, diante de uma bela manga não sabe se deva pintá-la ou chupá-la, José Cláudio voltou-se também para a problemática da criação artística - como pintor, na série de grandes óleos que dedicou em começos da década de 1980 ao REPOUSO DO MODELO, de Almeida Júnior - desmembrado, rearticulado, reinterpretado em cada um de seus múltiplos aspectos formais e psicológicos -, e como escritor, historiador da arte pernambucana, num estilo tão pouco alambicado quanto sua pintura, (...)" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Acervos
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo - São Paulo SP
Acervo Banco Itaú S.A. - São Paulo SP
Exposições Individuais
1956 - São Paulo SP - Primeira individual, no Clube dos Artistas e Amigos das Artes (Clubinho)
1963 - São Paulo SP - Individual, na Galeria São Luís
1966 - Recife PE - Individual, na Galeria Casa Hollanda
1970 - Recife PE - Individual, na Galeria Detalhe
1975 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1977 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1977 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1977 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Nara Roesler
1977 - Recife PE - Individual, na Gatsby Arte
1980 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1980 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Kraft
1981 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1982 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1983 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1986 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Ipanema
Exposições Coletivas
1954 - Recife PE - 1ª Exposição do Ateliê Coletivo
1954 - Recife PE - Salão de Pintura do Museu do Estado de Pernambuco - menção honrosa
1955 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão Nacional de Arte Moderna
1956 - São Paulo SP - Salão Paulista de Arte Moderna
1957 - São Paulo SP - 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1959 - São Paulo SP - 5ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1961 - São Paulo SP - Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Arte das Folhas - 1º prêmio em desenho
1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1971 - São Paulo SP - 3º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Bruxelas (Bélgica) - Image du Brésil, no Manhattan Center - organizada pelo Masp
1976 - São Paulo SP - O Desenho em Pernambuco, na Galeria Nara Roesler
1982 - Rio de Janeiro RJ - Entre a Mancha e a Figura, no MAM/RJ
1983 - Rio de Janeiro RJ - 3 x 4 Grandes Formatos, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1983 - São Paulo SP - 14º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - Rio de Janeiro RJ - Intervenções no Espaço Urbano, na Funarte. Galeria Sérgio Milliet
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1986 - Brasília DF - Pernambucanos em Brasília, no ECT Galeria de Arte
1986 - Fortaleza CE - Imagine: o planeta saúda o cometa, na Arte Galeria
1986 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Mostra Christian Dior de Arte Contemporânea: pintura, no Paço Imperial - premiado
1987 - Recife PE - José Cláudio e Gil Vicente, no Museu do Estado de Pernambuco
1987 - São Paulo SP - As Bienais no Acervo do MAC: 1951 a 1985, no MAC/USP
1988 - Rio de Janeiro RJ - Le Déjeuner sur l'Art: Manet no Brasil, na EAV/Parque Lage
1988 - Rio de Janeiro RJ - Abolição, na Galeria de Arte Ipanema
1988 - São Paulo SP - A Mão Afro-Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Sesc Pompéia
1989 - Copenhague (Dinamarca) - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Museu Charlottenborg
1989 - Recife PE - Natureza da Pintura, no Centro Cultural Adalgisa Falcão
1989 - Olinda PE - Viva Olinda Viva, no Atelier Coletivo
1990 - Olinda PE - Permanência da Pintura, no Atelier Coletivo
1991 - São Paulo SP - A Mata, no MAC/USP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Coca-Cola 50 Anos com Arte, MAM/SP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Ateliê Coletivo, no Centro Cultural Candido Mendes
1993 - Hamburgo (Alemanha) - Atelier Coletivo, no Km Wolff
1993 - São Paulo SP - 23º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1993 - São Paulo SP - Obras para Ilustração do Suplemento Literário: 1956 - 1967 - MAM/SP
1994 - São Paulo SP - Marinhas, na Galeria Nara Roesler
2000 - São Paulo SP - Almeida Júnior: um artista revisitado, na Pinacoteca do Estado
2000 - Recife PE - Ateliê Pernambuco: homenagem a Bajado e acervo do Mamam, no Mamam
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
Fonte: JOSÉ Cláudio. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 01 de abril de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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José Claudio: a vida do artista aos 90 anos | Forbes
Convido vocês para a exposição, “José Claudio, uma trajetória”, com curadoria de Aracy Amaral, em nossa galeria. Por que estou tão feliz? José Claudio da Silva, ou Zé Claudio, como os amigos o chamam, é o artista com quem iniciei minha vida profissional e muito me ensinou, por exemplo, a prestar atenção ao brilho das folhas do coqueiral. Hoje, a sociedade se mobiliza diante das dificuldades enfrentadas pelos menos favorecidos, José Claudio desde os anos 70 retrata com maestria cenas do cotidiano popular, mas sempre com um certo otimismo. Sua obra não traz crítica, nem amargura, não há reivindicação social, retrata “a vida como ela é”, como já dizia Nelson Rodrigues. Suas pinceladas rápidas captam o folclore pernambucano e o orgulho das pessoas de diversas profissões. As lavadeiras, as cozinheiras, a vendedora de siri, sentada com a cesta de siris azuis. O barbeiro com a cadeira instalada na rua da cidadezinha do interior a cortar o cabelo de quem aparece. A festa na frente do mercado de São José de Recife com personagens pintados em camadas, tendo atrás um casario colonial, um prostíbulo, com “as meninas” à janela. A sensualidade do nu feminino é um tema recorrente em sua produção, assim como o carnaval, as paisagens, as praias, a Amazônia, sempre com um virtuosismo de dar inveja. Dessa experiência provém alguns trabalhos expostos, reunidos em seu livro “100 telas, 60 dias e um diário de Viagem, Amazonas 1975” (2009).
Foi em Recife, mina terra natal, através de tias minhas, que o conheci em 1977. O marchand Renato Magalhães Gouveia – como então chamávamos a profissão de galerista – representava sua obra em São Paulo e buscava alguém para representar o artista. Eu, nem galeria tinha, abracei o desafio. Aos 22 anos, com meus filhos Alexandre e Daniel ainda pequenos – hoje parceiros de trabalho na galeria -, meu espaço expositivo funcionava na minha própria casa. Ali recebia os amigos do meu pai e mostrava as telas de José Claudio, entre elas o retrato que fez de mim (que tenho até hoje e está exposto na mostra). Meu amor por sua obra foi contagiando, em pouco tempo, não havia casa em Recife sem uma parede com suas pinceladas com quê picassiano. Certa vez, levei-o ao aeroporto, havia uma retrospectiva de Picasso no MoMA que ele desejava muito ver. Daquele jeito desleixado, embarcou para Nova York de havaianas.
Apesar da aparência largada é das pessoas mais cultas que conheço, um verdadeiro erudito, intelectual adorável. Recentemente reeditamos seu livro, “Meu pai não viu minha glória”. São contos dedicados ao pai que sonhava ter filho doutor de Direito, com anel e tudo. Mas de pequeno o menino passava horas a desenhar no papel pardo do armazém do pai, em Ipojuca, sua cidade natal. Segundo a crítica de arte Vera D’Horta já se prenunciava “um Rafael”.
Sempre amei a arte. Meu avô foi diretor da Escola de Belas Artes da Universidade de Pernambuco, eu o acompanhava aos ateliês dos artistas, mas eram todos mais acadêmicos. José Claudio, ao contrário, era pura energia! Os fins de semana na casa de meus pais era open house de sexta a domingo, ali conviviam a direita e a esquerda de Recife, poetas, escritores, profissionais liberais. Eu, quietinha, sorvia aquela grande experiência cultural.
Em 1987, ao me mudar para São Paulo, constatei que seu nome era pouco conhecido no sul. Aqui predominava o gosto pelo concretismo. Ele havia iniciado a carreira como desenhista em São Paulo, tinha sido assistente de Di Cavalcanti, aprendido gravura com Lívio Abramo, participado de cinco bienais (1957, 1959, 1961, 1963 e 1985), ganhado bolsa da Fundação Boccherini de Lucca, na Itália, e trabalhado na Sudene, onde desenvolveu a série Carimbos na década de 1960. Considero o grande José Claudio, o pintor, com base em sua habilidade natural para o desenho. Mas há também o escultor em pedra, o poeta, o escritor, o gravurista. Em Pernambuco ele fazia ilustração para vários jornais. Faz pouco recebi de Paulo Bruscky, outro grande nome da arte de Pernambuco, um calhamaço de diagramações originais do José Claudio que Bruscky recolhia na redação e guardou esse tempo todo.
José Claudio foi um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), uma experiência comunitária de vanguarda criada por artistas autodidatas. Nos anos 50, não havia internet, tevê, revista, nada, quem não queria fazer arte acadêmica tinha que aprender na marra. O grupo reunia nomes como Abelardo da Hora, Virgulino, Samico, e cada qual transmitia sua experiência. A parte técnica era descoberta no peito e na raça, passada um para o outro entre eles. Com muito orgulho, realizei em Recife na minha primeira galeria, a Artespaço, uma mostra do Atelier Coletivo.
Há muito luto com José Claudio para organizamos uma grande mostra. Ele rebate: “Retrospectiva é para quem já morreu. Está desejando minha morte?”. Agora atingiu o marco dos 90 anos, mas fui obrigada a levar a Aracy Amaral a Recife para convencê-lo, são da mesma geração, entenderam-se bem. Grande parte dos trabalhos expostos provém do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo de São Paulo, do MAC USP e de coleções particulares. É uma mostra com caráter didático com obras dos anos 1950 a trabalhos recentes. Na vitrine da galeria penduramos uma tela linda, grande, com vários pássaros. Ele sempre gostou de retratar a natureza, como se vê na série Amazônia, para onde foi convidado pelo zoólogo e compositor Paulo Vanzolini a participar em uma expedição que durou dois meses. Pintou cobra, boto, peixe assim, peixe assado. Nas feiras observava o farfalhar das asas dos passarinhos nas gaiolas, e registrou aquele balé multicolorido, musical.
Vive tão mergulhado em seu mundo que nem sabia que o MoMA de Nova York possui um desenho seu, Apocalipse III, obra em nanquim sobre papel de 1956. Da mesma série estamos expondo Apocalipse IV, da coleção do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. O que ele gosta mesmo é de pintar, de apreciar suas telas nas casas dos amigos colecionadores bebericando uma cachacinha.
José Claudio é um grande artista. Como se diz no Nordeste, é um forte.
José Cláudio: uma trajetória
Curadoria de Aracy Amaral
Galeria Nara Roesler, São Paulo
Fonte: Forbes. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Morre aos 91 anos o artista plástico pernambucano José Cláudio | G1
Morreu, aos 91 anos, o artista plástico pernambucano José Cláudio. Pintor, escultor, desenhista e escritor, José Cláudio foi um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), ao lado de Abelardo da Hora, Gilvan Samico e Wellington Virgolino.
Nascido em Ipojuca, no Grande Recife, em 1932, José Cláudio deixa dois filhos, três netas e dois bisnetos.
Desde a infância mostrou interesse pela arte, época em que rabiscava desenhos em papéis de embrulho no armazém do pai. A vocação o levou para a escola de artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), período no qual trabalhou com os artistas Di Cavalcanti e Lívio Abramo.
Dois anos depois, o artista pernambucano ganhou uma bolsa de estudos da Fundação Rotellini, em Roma, na Itália, onde permaneceu por um ano. Quando retornou ao estado, passou a morar em Olinda, onde escreveu artigos sobre artes plásticas para o Jornal Diário da Noite, do Recife.
No Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife, que funcionou de 1952 a 1957, dedicou-se a expressões artísticas voltadas para o povo. O espaço foi um centro de estudo de desenho e gravura que trabalhava o caráter social da arte.
A última exposição de José Cláudio foi a mostra “Primeiro a Fome, Depois a Lua”, em agosto de 2022, quando ele completou 90 anos. O nome escolhido faz referência a um quadro do artista, pintado em 1968, que faz parte do acervo original do Museu de Arte do Rio.
Repercussão
A governadora de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB) prestou solidariedade à família e amigos do artista em suas redes sociais.
"A arte pernambucana fica mais triste, hoje, com o falecimento de Zé Cláudio. Ele retratou tão bem as pessoas e os costumes de Pernambuco e do Nordeste em suas pinturas, com suas cores vívidas e suas paisagens figurativas que nos transportavam para cada lugar. Meus sentimentos e todo meu carinho à família, neste momento de despedida. Obrigada, Zé. Siga em paz", publicou a governadora.
A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura do Recife lamentaram a morte de José Cláudio, "artista plástico de primeira grandeza, que devotou todas as cores de sua sensibilidade para retratar o Nordeste em toda a sua beleza e abundância".
Fonte: G1. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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José Cláudio | Rodrigues Galeria
Autodidata, desenhava nos papeis de embrulho da loja do seu pai, um armarinho de miudezas. Riscava debruçado no balcão e muitos fregueses levavam com prazer os seus desenhos. Quanto à pintura, aprendeu observando as pinceladas dominicais do seu padrinho, o promotor público Othon Fialho de Oliveira, é o que afirma o artista.
Em 1952, interrompe o curso da Faculdade de Direito do Recife, dedica-se inteiramente à arte ingressando no Atelier Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife-SAMR , dirigida pelo escultor Abelardo da Hora. Continuando seus estudos, recebe orientação de Carybé, Mário Cravo e Jenner Augusto em Salvador/BA, aprendendo a preparar paredes e a pintar em larga escala. No ano seguinte, retorna ao seu Estado natal onde continua seu trabalho como artista plástico colaborando ainda nos jornais locais. Em 1955, mantém contato com Arnaldo Pedroso d’Horta passando a dedicar-se mais ao desenho. Transfere-se para São Paulo, nesse mesmo ano e trabalha inicialmente com Di Cavalcanti, além de freqüentar a Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna, Seção Gravura, sob orientação de Lívio Abramo. A partir daí, a sua trajetória como pintor é rápida e ascendente, fruto do seu talento e dos contatos com grandes mestres, no Brasil e no exterior. Como pintor é um dos mais expressivos do Grupo do Atelier Coletivo do Recife. A sua pintura revela a genialidade daqueles que chegam antes do seu tempo, mas expressa de um modo bem verdadeiro e quase visceral, os seus modos de pensar e de saber – a sua arte. José Cláudio é um erudito, o artista diz ter necessidade de “extrair a pintura diretamente das coisas, arranca-la à paisagem, ou uma figura que passa, ou posa, e não dos mestres do passado ou presente” (…).
Participa do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1956 realiza no Clube dos Artistas e Amigos da Arte (Clubinho) a sua primeira mostra individual com desenhos, comentada através de artigos de Sérgio Milliet, Quirino da Silva e José Geraldo Vieira. Obtém com desenho o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea. Em 1957 participa da IV Bienal Internacional de São Paulo, que lhe confere Prêmio de Aquisição. Recebe uma bolsa de estudo da Fundação Rotelini, da Itália, indo para a Europa onde permanece por um ano, freqüentando o curso de Modelo Vivo e História da Arte na Academia de Belas Artes de Roma. Em 1959 retorna ao Brasil, participando da V Bienal Internacional de São Paulo e, em seguida volta a Pernambuco, passando a viver no atelier de Montez Magno, Adão Pinheiro e Anchises Azevedo, em Olinda. Realiza a sua segunda individual de desenhos, no Recife. Em 1961, ele colabora com artigos sobre Artes Plásticas para o jornal Diário da Noite, Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco, no Recife. No ano seguinte, obtém o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea para desenho. Em 1963 realiza mostra individual na Galeria São Luiz e participa da VII Bienal Internacional de São Paulo, em São Paulo. Em 1965 lança seus livros “Viagem de um Jovem Pintor à Bahia” e “Ipojuca de Santo Cristo”, recebendo críticas, entre outros, de Sérgio Milliet, Paulo Mendes de Almeida e Matheus de Lima. Em 1966 lança álbum com 25 xilogravuras e textos: “Os Bichos da Roda”. Apresenta exposição de desenhos na Galeria Casa Holanda, no Recife, com catálogo prefaciado por Gastão de Hollanda. Em 1967 retorna à pintura e começa a esculpir em madeira e, dois anos depois, inicia a série de esculturas em granito de grande porte, em Nova Jerusalém/PE. Apresenta o catálogo da coletiva “Oficina Pernambucana”, organizada por Walter Zanini, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. No ano seguinte, lança o seu terceiro livro de viagem, “Bem Dentro”. Em 1971 lança o álbum de xilogravuras “Catende-Xilos”. Em 1972 dedica-se assiduamente a produzir pinturas e esculturas de grandes proporções, em granito, não comercializando as referidas obras em função de um acordo estabelecido com Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte. Em 1973, a sua escultura O Pássaro participa da exposição “Image du Brésil”, no Manhattan Center de Bruxelas, organizada pelo Museu de Arte de São Paulo. Em 1974, realiza exposição individual com 38 pinturas a óleo com Renato Magalhães Gouvêa, em São Paulo. Adapta para história em quadrinhos o “Livro dos Mortos”, capítulo do volume “Agá” de Hermilo Borba Filho. Em 1975, realiza exposição individual no Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte, em São Paulo, com 100 pinturas a óleo documentando aspectos da Amazônia. As referidas obras foram adquiridas pelo Governo do Estado de São Paulo e colocadas no salão de recepções do Palácio dos Bandeirantes. A partir deste ano, lastreado pelo prestígio de Renato Magalhães Gouvêa, realiza inúmeras exposições. Em 1978, organiza a exposição “Atelier Coletivo”, na Galeria Artespaço, Recife, ocasião em que lança o livro da sua autoria “Memória do Atelier Coletivo”. Em 1979, a sua escultura em granito “Asas do Imigrante”, de 90 toneladas, é colocada pelo DERSA na Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo. Em 1982, realiza mostra individual no Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte, São Paulo, onde apresenta a série sobre o “Descanso do Modelo” de Almeida Júnior, merecendo memorável artigo de Carlos Von Schmidt, além de comentários de outros destacados críticos, como Flávio de Aquino. Participa, a convite de Frederico Morais, da mostra “Entre a mancha e a figura”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. É editado pelo Governo do Estado de Pernambuco o seu livro “Artistas de Pernambuco”, pela Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes sendo secretário Francisco A. Bandeira de Mello. Em 1983, participa da exposição “3×4 / grandes formatos”, no Centro Empresarial Rio, organizada por Rubens Gerchman, além da mostra “Panorama da Arte Atual Brasileira”, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (motivo de destaque no artigo de Casimiro Xavier de Mendonça; “Atestado de Vigor”, Veja, 2/novembro/1983) e ainda, da exposição inaugural da Grande Galeria do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, organizada por Maria do Carmo Secco. No ano seguinte, edita o seu livro “Tratos da Arte de Pernambuco”. Em 1997 ilustra a capa do livro Sociedade Pernambucana, de João Alberto.
Críticos de Arte e jornalistas de destaque nacional e local o têm acompanhado com grande interesse, entre os quais podemos citar Celso Marconi, Valdi Coutinho, Paulo Chaves, Jomard Muniz de Britto, Paulo Fernando Craveiro (Recife), Vera d’Horta Beccari (São Paulo) e Jacob Klintowitz (Rio de Janeiro).
1999 – Exposição na Galeria Futuro 25.
2000 – Participa da exposição Almeida Júnior: um artista revisitado, Pinacoteca do Estado de São Paulo, com curadoria de Emanoel Araújo.
2002 – Retoma a escultura em pedra granítica.
2003 – Participa da mostra Arte e Sociedade – Uma relação polêmica, do Itaú Cultural, tendo como curadora Aracy Amaral.
2005- Participa da exposição Territoires transitoires – un parcours dans I’art du Brésil no Palais de La Porte Dorée, Paris.
2007- Participa da coletiva Arte como questão, no Instituto Tomie Ohtake, com curadoria de Glória Ferreira.
2009 – Exposição Retrospectiva, no Museu do Estado de Pernambuco. Lançamento do livro José Cláudio – Vida e Obra. Exibição do documentário José Cláudio.
A última exposição de José Cláudio foi a mostra “Primeiro a Fome, Depois a Lua”, em agosto de 2022 no Recife, quando ele completou 90 anos. O nome escolhido faz referência a um quadro do artista, pintado em 1968, que faz parte do acervo original do Museu de Arte do Rio.
Fonte: Galeria Rodrigues. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Adeus, José Cláudio da Silva! | Acervo São Paulo
Faleceu nesta terça-feira, dia 12 de dezembro de 2023, o pintor José Claúdio da Silva, aos 91 anos. Nascido em Ipojuca, Pernambuco, consagrou-se por suas obras figurativas que retratavam o cotidiano do Brasil e sua natureza exuberante.
Além de pintor, José Claúdio foi gravador, escultor, crítico de arte e escritor. Participou ativamente do cenário artístico brasileiro, sendo um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR).
Em 1975, o artista participou de uma expedição à região amazônica, promovida pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, a convite do zoólogo e compositor brasileiro Paulo Vanzolini.
Nesta viagem, José Cláudio produziu 100 pinturas a óleo que hoje integram o Acervo dos Palácios. Essas obras retratam os locais visitados pelo artista durante a expedição que percorreu o rio Amazonas, o rio Madeira e afluentes.
O testemunho de José Claudio, através de suas pinturas, não só mapeia os locais por onde passou, como registra, com traços livres, as muitas espécies da biodiversidade da Amazônia e todo um universo de culturas locais valiosas.
Em 2021, esta coleção esteve em exposição no Palácio dos Bandeirantes, potencializando reflexões sobre as transformações da Amazônia nesses quase 50 anos. Enquanto alguns locais se modificaram com o crescimento populacional e as intervenções humanas, outros cenários se mantiveram preservados enquanto redutos da floresta.
Ao interpretar essas pinturas do ponto de vista da contemporaneidade, o a exposição propiciou novas reflexões e contribuiu para a conscientização das responsabilidades ambientais da sociedade.
Fonte: Acervo São Paulo. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Biografia do artista pernambucano José Cláudio destaca simplicidade e erudição | Diário de Pernambuco
Os passarinhos, o cotidiano da população rural, as festas populares eas frutas dos engenhos da Zona da Mata de Pernambuco que recortam a infância do artista plástico José Cláudio se tornaram marcas de suas pinturas. Entender a obra é voltar à casa dele em Ipojuca, conhecer a loja do pai, onde aproveitava os embrulhos das mercadorias para desenvolver os primeiros desenhos. A mudança para o Recife, onde estudou e atuou como no Atelier Coletivo, virou o ápice de sua produção artística.
Em Aventuras à mão livre, biografia do artista, o jornalista Júlio Cavani resgata as memórias e constrói a narrativa de vida de um dos maiores nomes da arte de Pernambuco, que experimentou diferentes fases estéticas e múltiplas temáticas, passando pelo desenho, pintura, gravura, escultura, história em quadrinho, murais e literatura. Lançada no último semestre, a obra terá evento com sessão de autógrafo nesta quinta (23), às 19h, na Garrido Galeria (Rua Samuel de Farias, 245, Casa Forte). O livro, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), integra a coleção Perfis, sobre 15 homens e mulheres que construíram importantes carreiras no estado. O exemplar custa R$ 40.
“Eu já admirava José Cláudio como artista, conhecia parte da obra dele, mas não o conhecia pessoalmente. No primeiro contato, a conversa fluiu bem. Tive sorte de biografar um personagem que estava disposto a falar. Ele conta bem as histórias e reúne bem as memórias de todas as fases de vida. Foi legal fazê-lo revisitar suas histórias. E ele achou interessante alguém disposto a reunir os seus relatos”, conta Júlio Cavani.
“Eu me propus a começar do zero. Encontrei José pela primeira vez sem ter feito muitas pesquisas. Cheguei lá para ouvir a vida dele, usando o próprio como fonte principal. E a partir daí fui seguindo uma ordem cronológica, da infância, adolescência, trabalho, amadurecimento. Após o primeiro contato, passei a ler, entre uma entrevista e outra, um artigo ou livro autobiográfico dele. Esse material servia tanto para me sugerir perguntas quanto me guiar para investigar alguns detalhes”, explica.
Conhecido pelos trabalhos coloridos e figurativos, José Cláudio teve a juventude mergulhada em aprendizados com Abelardo da Hora, Carybé, Mário Cravo, Arnaldo Pedroso d’Horta e Di Cavalcanti, e se consagrou como artista no circuito da arte contemporânea, nas décadas de 1950 a 1970, quando desenvolvia desenhos e gravuras considerados mais experimentais. Durante o período, o Atelier Coletivo foi o grande espaço de experimentação do artista. A fase é abordada em várias passagens no livro, como no capítulo Dos carimbinhos aos quadrinhos, onde o autor descreve a formação e experiência do artista com xilogravuras e a estreia nas tirinhas de HQ.
“Entre as décadas de 1950 e 1970, José Cláudio recebeu prêmios como melhor desenhista do Brasil. Eu queria ter mais contato com as obras produzidas por ele nesse período. Muitas foram vendidas e estão espalhadas pelo país, mas seria importante um estudo com todos os trabalhos que ele produziu nesse período. É de uma riqueza artística muito grande”, salienta Cavani. As narrativas de vida de José Cláudio foram colhidas por Cavani em15 conversas presenciais na casa do artista, com duração média de duas horas, sempre no início da noite. O horário, escolhido por Cláudio, tinha por objetivo livrar a claridade do dia e da tarde, que o artista usa para pintar telas em seu ateliê, que funciona no térreo da casa onde mora, no bairro do Monte, em Olinda.
“Eu procurei transmitir a espontaneidade de José, a forma como ele trabalha e idealiza tudo com naturalidade e calma. Quem conversa com José Cláudio percebe que ele é simples, mas por dentro é profundo e erudito. Ele anda com naturalidade por feiras públicas, da mesma forma que circula em eventos intelectuais. Ele nunca perdeu a simplicidade, apesar de toda riqueza imaterial”, destaca. Para pesquisas estéticas, José Cláudio viajou pelos EUA, Europa, África e diversos estados brasileiros, como Amazonas, Bahia, Rio e São Paulo.
O autor do livro destaca ainda a grande paixão do artista: o carnaval do Recife, a festa que guiou a temática de obras por mais de duas décadas. “Sofri muitas mudanças na minha vida, mas uma coisa não mudou: a idolatria pelo carnaval do Recife. Não tenho mais pernas para acompanhá-lo, mas me sinto inteiro e novo quando ouço um frevo de Zumba, de Capiba e por ai vai...”, escreveu José Cláudio, em crônica publicada na Revista Continente, em novembro de 2017. Em 2012, o pintor foi escolhido como homenageado da folia recifense. Nada mais justo.
Fonte: Diário de Pernambuco. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Um tributo a José Claudio | Arte Brasileiros
Olhando pelo retrovisor, o repertório artístico de José Claudio da Silva impõe-se pelas conquistas obtidas ao longo de mais de sete décadas. Aos 90 anos, o artista expõe cerca de 150 obras entre pinturas, desenhos, carimbos, que ocupam toda a Galeria Nara Roesler, em São Paulo. A extensa mostra, realizada com releituras tenazes e encontros disciplinados, consegue o feito de reunir três amigos de longa data, e tudo começa quando a crítica e historiadora de arte Aracy Amaral passa o réveillon no Recife e vai à casa do artista, como faz sempre que está na cidade. “Gosto de estar com José Claudio, ouvir suas histórias de vida”, diz. Ao voltar a São Paulo, ela recebe o convite de Nara Roesler para assumir a curadoria.
Um prodígio de energia e método, Aracy, com idade próxima à de José Claudio, arregaça as mangas e sai a campo. Garimpa obras em museus, coleções particulares, galerias, dentro do um arco temporal entre os anos de 1950 e 1990. Curar uma exposição faz do crítico intermediário transformado em autor, pelo processo de seleção das obras e analogia entre elas. A lógica de Aracy é a lógica do saber acumulado. Sem tropeços, encontra achados como a expressiva série Aventura da Linha (1955), trabalhada com nanquim sobre papel, pertencente ao acervo do MAM SP; Simetria (1982), dança erótica/sensual desenvolvida no solo, com toques matisseanos, e a releitura de obras de Almeida Júnior, entre tantas outras.
O percurso de José Claudio é feito pela paixão por seu território, a mesma paixão do “homem situado” nomeado por Gilberto Freyre, isso exemplifica sua participação no Ateliê Coletivo, dirigido por Abelardo da Hora, e que levava em conta a luta do povo oprimido, destacando as atividades rurais e urbanas a partir do cotidiano do trabalhador. Ele sabia que estava pisando em campo minado por conhecer a famosa frase do modernismo Pernambuco: “regional como opção, regional como prisão”.
A obra do muralista mexicano Rivera também era inspiração para o grupo que já começa a fazer arte pública. Para Aracy, José Claudio nasce para a pintura no Ateliê Coletivo, quando era um jovem e entusiasta da atmosfera artística do local. Como o artista já repetiu em várias entrevistas, ele considera o Ateliê como divisor de águas na história da pintura pernambucana.
Motivado por um impulso renovador, José Claudio estava ansioso pela vida de artista e, ao fixar-se em Salvador, de 1953 a 1954, e conhecer Mario Cravo Júnior, Jenner Augusto, Carybé e suas obras, ele muda sua vida. Espírito inquieto, o artista segue depois para São Paulo onde trabalha como assistente de Di Cavalcanti e frequenta a Escola de Artesanato do MAM SP, sob orientação de Lívio Abramo.
A relação de José Cláudio com a capital paulista vem de longe. Aracy destaca o período em que ele colabora com o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, sob a orientação de Arnaldo Pedroso D’Horta. A obra do jovem José Claudio, naquele momento, encontra-se ao mesmo tempo na fronteira de alguns movimentos de arte que ele não ignora e na técnica desenvolvida por ele com gestos originais.
Nessa época desponta o desenhista delicado, atento à linha do nanquim que, segundo Aracy, surpreende na disciplina assumida em sua múltipla observação de exposições e bienais. Nos trabalhos transparece certa influência da obra de Lívio Abramo, Grassmann, ou da abstração linear, quase abstrata, de Pedroso d’Horta.
Por insistência de amigos, o artista inscreve-se e é aceito na 4ª Bienal de São Paulo, em 1957, recebe o Prêmio de Aquisição, além da bolsa da Fundação Rotellini, na Itália, onde vive por um ano e viaja a vários países. Essa foi a primeira de uma sequência de participações dele no evento paulista, em que esteve na 5ª, 6ª, 7ª e 18ª edições.
Nos anos 1960, entre várias experimentações poéticas, nasce a série de carimbos em nanquim sobre papel. “Essas composições abstratas com diversidade rica de pura poesia gráfica perduram de 1968 a 1969”, comenta Aracy. No livro Carimbos – José Cláudio está citada a correspondência entre o artista e Walter Zanini sobre os conceitos dessa experiência e o elogio do crítico paulista ao seu trabalho.
Na virada dos anos 1970, José Claudio faz a série Histórias de um Carimbo e desenvolve um “livro de artista” instigante, no qual mistura seu processo de trabalho, carimbos, desenhos, recortes de revistas, pinturas, colagens e textos. Uma obra que incomoda por criar um pacto com o leitor, suprimindo interlocutores.
Prosseguindo no feito de chegar a uma obra múltipla e singular, em 1975 José Claudio aceita o convite do amigo cientista e compositor musical Paulo Vanzolini, diretor do Museu de Zoologia da USP, para fazer uma viagem de Manaus a Porto Velho, a bordo do Garbe, um barco-laboratório. Para essa empreitada, mais uma vez tem o apoio de Renato Magalhães Gouveia, galerista e amigo de sempre, que lhe dá um rolo com dezenas de metros de tela.
Essa expedição resultou numa coleta de 170 mil espécies para a coleção do museu paulista e, para as artes, cerca de 100 telas inspiradas na vegetação, fauna, nos personagens ribeirinhas e tudo o mais que ele conseguiu captar em cada dia de viagem, inclusive os pratos com peixes que experimentaram. José Claudio foi incumbido por Vanzolini de escrever um diário que resultou em relatório detalhado, transformado no livro José Claudio da Silva – 100 Telas, 60 Dias & um Diário de Viagem: Amazonas (1975).
Quando retorna ao Recife, seu trabalho se inunda de cores e luz do sol que banha a cidade, com algumas telas exibindo flagrantes do carnaval. Nesse momento de liberdade tonal surge a obra Zé Pereira, alusão ao bloco que arrasta os foliões pelas ruas da cidade, com seu enorme boneco que completa 100 anos.
Nu é um gênero de pintura que nasce na academia. José Claudio faz uma série com mulheres desnudas que conheceu em bordeis da cidade. Aracy diz que o objetivo dessas visitas era pintar as personagens que ali trabalhavam, e cada um desses quadros leva o nome da moça retratada. Ainda desse período, ele homenageia a esposa com a pintura Retrato de Leonice (1971), e oito anos depois eterniza sua amiga galerista na tela Nara (1979).
Nos anos 1980, José Claudio mergulha no universo de Almeida Júnior, faz releitura dos quadros O importuno (1898), Descanso da modelo (1882) e Saudade (1899), em que retrata uma moça vestida de preto lendo uma carta. Na versão de Zé Claudio, a mulher está nua igualmente lendo a carta. Nessas obras, o artista pernambucano praticamente elimina a profundidade do plano pictórico e simplifica as formas com tendência geométrica.
Tantas curiosidades permeiam essa exposição motivada pelo respeito que Nara Roesler tem pelo artista. “Devo meu trabalho como galerista a José Cláudio. Sua obra me tocou profundamente e despertou em mim o desejo de ser como uma tradutora do artista”, afirma Nara.
Com ele, a galerista diz ter aprendido a olhar as coisas simples do cotidiano popular. Ver a beleza das roupas coloridas que as lavadeiras colocavam para secar nas margens dos riachos, os raios de sol entre as folhas e a dança dos coqueirais. O sabor da manga madura e o cheiro do caju, os céus do entardecer em Olinda e toda a beleza contida na vida. “Assim, essa exposição é uma homenagem aos 90 anos de meu mestre, esse talentoso artista que tanto me ensinou”, finaliza Nara.
Fonte: Arte Brasileiros. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Artista plástico José Cláudio mostra sua trajetória em São Paulo | Folha de Pernambuco
O artista José Cláudio, que completou 90 anos em agosto, abre nova exposição, desta vez em São Paulo. Quem leva sua arte para o bairro Jardim Europa é uma das principais galerias brasileiras de arte contemporânea, Nara Roesler que, ao abrir sua primeira unidade no Recife, em meados dos anos 1970, teve José Cláudio como um dos primeiros artistas a serem exibidos.
Carimbos
Agora, passados mais de 40 anos, a galeria volta a apresentar o trabalho do artista com uma seleção de obras que compreende momentos fundamentais da prática artística de José Cláudio, incluindo trabalhos que integram os acervos do MAC USP e do Palácio do Governo, além de diversas coleções particulares. A exposição também inclui trabalhos da série 'Carimbos', desenvolvida na década de 1960, na qual o artista faz uso do carimbo para criar composições que podem ser compreendidas como narrativas visuais. Criando seus próprios carimbos, o artista exercitou livremente a criação, desenvolvendo, inclusive, diversos livros de artista que hoje são vistos como verdadeiros monumentos do movimento Poema/processo. Além do grupo de retratos apresentados e dos nus femininos, tema recorrente em sua produção, também estão presentes na exposição paisagens e cenas de festividades populares.
Contador de histórias
A exposição conta ainda com publicações e documentos históricos que permitem ao público entrever a ampla produção artística e intelectual de José Cláudio. “José Cláudio é um criador. Pintor, escultor, escritor, pesquisador. Um erudito além do mais. Historiador das artes em Pernambuco. Repositório saboroso dos casos ou de personagens que conheceu ou de eventos de que participou, que narra como envolvente contador de histórias, fatos reais que absorvemos de seus livros, ou ouvindo e indagando detalhes.”, afirma a curadora Aracy Amaral. 'José Cláudio: uma trajetória' abre ao público neste sábado (08) e segue em exibição até 5 de novembro.
No Recife
Já a mostra ‘Primeiro a fome, depois a lua’, que também celebra os 90 anos do pintor, José Cláudio, termina amanhã (08), na Galeria Marco Zero em Boa Viagem, aqui no Recife. Com cuadoria de Clarissa Diniz, a exposição tomou como título e ponto de partida o quadro ‘Primeiro a fome, depois a lua’ (1968), obra pertencente ao acervo original do Museu de Arte do Rio (MAR), que celebra não apenas a pujança da pintura ou experimentalismo da obra de José Cláudio, mas principalmente o caráter ético de sua trajetória.
Últimos dias
O recorte dessa expo foca em como José Cláudio - um dos mais expressivos artistas do País por sua arte erudita e visceral - enfocou o tema do trabalhador e, ao mesmo tempo, compreendeu e politizou sua própria posição de artista como uma condição de trabalho. A curadoria priorizou, de maneira inédita, apresentar trabalhos menos acessados, especialmente obras que mostram o seu engajamento social e político.
Gratuito
"Revelamos um artista atento às urgências sociais que não são diferentes da sua prática artística, onde José Cláudio se dispunha a pintar oito horas por dia, todos os dias. Dessa forma ele entendia e queria mostrar que o artista é também um trabalhador”, explica Clarissa. Com acesso gratuito, a Galeria Marco Zero fica localizada na Av. Domingos Ferreira, nº 3393, em Boa Viagem, no Recife.
Fonte: Folha de Pernambuco. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
Crédito fotográfico: Revista O Grito. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
José Cláudio da Silva (19 de março de 1932, Ipojuca, PE — 12 de dezembro de 2023, Recife, PE), mais conhecido como José Cláudio, foi um pintor, desenhista e gravador brasileiro. Abandonou o curso de Direito para se dedicar às artes visuais, iniciando sua formação artística em 1952 no Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), onde teve contato com nomes marcantes da arte pernambucana como Abelardo da Hora, Gilvan Samico e Wellington Virgolino. Sua obra foi influenciada pelo expressionismo e por mestres da arte moderna brasileira, desenvolvendo um estilo próprio, marcado pelo uso de cores intensas, traços livres e temas voltados para o cotidiano, as paisagens do Nordeste e a figura humana. Além de artista visual, destacou-se também como escritor e memorialista, com publicações como Ipojuca de Santo Cristo (1965), Os Dias de Uidá (1995) e 100 Telas, 60 Dias e Um Diário de Viagem (2009), que combinavam narrativa literária e experiência estética. Recebeu o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea em 1961 e participou de diversas exposições individuais e coletivas, com obras incluídas em importantes acervos como o do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC/USP) e o Palácio dos Bandeirantes.
José Cláudio | Itaú Cultural
José Cláudio (Ipojuca, Pernambuco, 1932 - Recife, Pernambuco, 2023). Pintor, desenhista, gravador, escultor, crítico de arte e escritor. Em 1952, José Cláudio, ao lado de Abelardo da Hora (1924-2014), Gilvan Samico (1928-2013) e Wellington Virgolino (1929-1988), entre outros, funda o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR). Posteriormente, em Salvador, José Cláudio é orientado por Mario Cravo Júnior (1923), Carybé (1911-1997) e Jenner Augusto (1924-2003). Viaja para São Paulo em 1955, onde inicialmente trabalha com Di Cavalcanti (1897-1976), estudando também gravura com Livio Abramo (1903-1992) na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Recebe bolsa de estudos da Fundação Rotelini, em 1957, permanecendo por um ano em Roma, na Academia de Belas Artes. De volta ao Brasil, passa a residir em Olinda e escreve artigos sobre artes plásticas para o Diário da Noite, do Recife. Realiza pinturas de caráter figurativo, retratando cenas regionais e paisagens do Nordeste, evitando, porém, o caráter pitoresco. O artista escreve, ao longo de sua carreira, vários textos de apresentação para exposições de pintores nordestinos, como a mostra Oficina Pernambucana (1967). Publica, entre outros, o livro Memória do Ateliê Coletivo (1978), no qual reúne depoimentos dos vários artistas que integram o grupo.
Análise
José Cláudio realiza pinturas de caráter figurativo, retratando cenas regionais e paisagens do Nordeste, evitando, porém, o caráter pitoresco, como em Pátio do Mercado (1972) ou Rua Leão Coroado (1973). Em Casa Vermelha de Olinda (1973), destaca-se o diálogo com a abstração, a simplificação formal, o uso livre da pincelada e o colorido intenso. Em suas obras podemos perceber a admiração por artistas da Escola de Paris e também pelos expressionistas, como na série de nus femininos, do fim da década de 1970. O carnaval é o tema dos quadros Homem da Meia Noite ou Cheguei Agora (ambos de 1974), com cores vivas e contrastantes. Em 1975, o artista participa de expedição à Amazônia, promovida pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ/USP), registrando em vários desenhos a óleo diversos aspectos regionais.
Em 1980, José Cláudio cria uma série de telas nas quais reinterpreta o quadro O Repouso do Modelo, do pintor ituano Almeida Júnior (1850-1899). Nessas obras revela a tendência a abolir a profundidade do plano pictórico, simplificando os elementos formais, que tendem a uma geometrização. Em 1985, pinta paisagens ao ar livre, como Ipojuca e Serrambi, empregando pinceladas largas e enérgicas.
Críticas
"José Cláudio é figurativista desde sempre, e pratica uma arte em que a emoção primeira sequer permite ou admite emendas e correções. Disso resulta certa impressão de desleixo e de mal-acabamento que por vezes inspira sua obra. No entanto, trata-se de efeitos deliberadamente obtidos, fruto de seu acentuado amor à matéria. Expressionista, fazendo uso de um desenho rigoroso, de uma pincelada larga e espontânea de um colorido profundo, do ponto de vista da temática José Cláudio debruçou-se sobre cenas e tipos regionais, sobre os costumes regionais e sobre a paisagem, as aves e as frutas do seu Nordeste, despojando-as, porém, de qualquer conteúdo pitoresco, para apenas se concentrar em sua expressão pictórica. Um sensual e um dionisíaco, hedonista que, segundo suas próprias palavras, diante de uma bela manga não sabe se deva pintá-la ou chupá-la, José Cláudio voltou-se também para a problemática da criação artística - como pintor, na série de grandes óleos que dedicou em começos da década de 1980 ao REPOUSO DO MODELO, de Almeida Júnior - desmembrado, rearticulado, reinterpretado em cada um de seus múltiplos aspectos formais e psicológicos -, e como escritor, historiador da arte pernambucana, num estilo tão pouco alambicado quanto sua pintura, (...)" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Acervos
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo - São Paulo SP
Acervo Banco Itaú S.A. - São Paulo SP
Exposições Individuais
1956 - São Paulo SP - Primeira individual, no Clube dos Artistas e Amigos das Artes (Clubinho)
1963 - São Paulo SP - Individual, na Galeria São Luís
1966 - Recife PE - Individual, na Galeria Casa Hollanda
1970 - Recife PE - Individual, na Galeria Detalhe
1975 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1977 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1977 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1977 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Nara Roesler
1977 - Recife PE - Individual, na Gatsby Arte
1980 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1980 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Kraft
1981 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1982 - São Paulo SP - Individual, na Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte
1983 - Recife PE - Individual, na Galeria Artespaço
1986 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Ipanema
Exposições Coletivas
1954 - Recife PE - 1ª Exposição do Ateliê Coletivo
1954 - Recife PE - Salão de Pintura do Museu do Estado de Pernambuco - menção honrosa
1955 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão Nacional de Arte Moderna
1956 - São Paulo SP - Salão Paulista de Arte Moderna
1957 - São Paulo SP - 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1959 - São Paulo SP - 5ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1961 - São Paulo SP - Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Arte das Folhas - 1º prêmio em desenho
1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1969 - São Paulo SP - 1º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1971 - São Paulo SP - 3º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Bruxelas (Bélgica) - Image du Brésil, no Manhattan Center - organizada pelo Masp
1976 - São Paulo SP - O Desenho em Pernambuco, na Galeria Nara Roesler
1982 - Rio de Janeiro RJ - Entre a Mancha e a Figura, no MAM/RJ
1983 - Rio de Janeiro RJ - 3 x 4 Grandes Formatos, na Galeria do Centro Empresarial Rio
1983 - São Paulo SP - 14º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1984 - Rio de Janeiro RJ - Intervenções no Espaço Urbano, na Funarte. Galeria Sérgio Milliet
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1986 - Brasília DF - Pernambucanos em Brasília, no ECT Galeria de Arte
1986 - Fortaleza CE - Imagine: o planeta saúda o cometa, na Arte Galeria
1986 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Mostra Christian Dior de Arte Contemporânea: pintura, no Paço Imperial - premiado
1987 - Recife PE - José Cláudio e Gil Vicente, no Museu do Estado de Pernambuco
1987 - São Paulo SP - As Bienais no Acervo do MAC: 1951 a 1985, no MAC/USP
1988 - Rio de Janeiro RJ - Le Déjeuner sur l'Art: Manet no Brasil, na EAV/Parque Lage
1988 - Rio de Janeiro RJ - Abolição, na Galeria de Arte Ipanema
1988 - São Paulo SP - A Mão Afro-Brasileira, no MAM/SP
1988 - São Paulo SP - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Sesc Pompéia
1989 - Copenhague (Dinamarca) - Os Ritmos e as Formas: arte brasileira contemporânea, no Museu Charlottenborg
1989 - Recife PE - Natureza da Pintura, no Centro Cultural Adalgisa Falcão
1989 - Olinda PE - Viva Olinda Viva, no Atelier Coletivo
1990 - Olinda PE - Permanência da Pintura, no Atelier Coletivo
1991 - São Paulo SP - A Mata, no MAC/USP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Coca-Cola 50 Anos com Arte, no MAM/RJ
1992 - São Paulo SP - Coca-Cola 50 Anos com Arte, MAM/SP
1992 - Rio de Janeiro RJ - Ateliê Coletivo, no Centro Cultural Candido Mendes
1993 - Hamburgo (Alemanha) - Atelier Coletivo, no Km Wolff
1993 - São Paulo SP - 23º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1993 - São Paulo SP - Obras para Ilustração do Suplemento Literário: 1956 - 1967 - MAM/SP
1994 - São Paulo SP - Marinhas, na Galeria Nara Roesler
2000 - São Paulo SP - Almeida Júnior: um artista revisitado, na Pinacoteca do Estado
2000 - Recife PE - Ateliê Pernambuco: homenagem a Bajado e acervo do Mamam, no Mamam
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
Fonte: JOSÉ Cláudio. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 01 de abril de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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José Claudio: a vida do artista aos 90 anos | Forbes
Convido vocês para a exposição, “José Claudio, uma trajetória”, com curadoria de Aracy Amaral, em nossa galeria. Por que estou tão feliz? José Claudio da Silva, ou Zé Claudio, como os amigos o chamam, é o artista com quem iniciei minha vida profissional e muito me ensinou, por exemplo, a prestar atenção ao brilho das folhas do coqueiral. Hoje, a sociedade se mobiliza diante das dificuldades enfrentadas pelos menos favorecidos, José Claudio desde os anos 70 retrata com maestria cenas do cotidiano popular, mas sempre com um certo otimismo. Sua obra não traz crítica, nem amargura, não há reivindicação social, retrata “a vida como ela é”, como já dizia Nelson Rodrigues. Suas pinceladas rápidas captam o folclore pernambucano e o orgulho das pessoas de diversas profissões. As lavadeiras, as cozinheiras, a vendedora de siri, sentada com a cesta de siris azuis. O barbeiro com a cadeira instalada na rua da cidadezinha do interior a cortar o cabelo de quem aparece. A festa na frente do mercado de São José de Recife com personagens pintados em camadas, tendo atrás um casario colonial, um prostíbulo, com “as meninas” à janela. A sensualidade do nu feminino é um tema recorrente em sua produção, assim como o carnaval, as paisagens, as praias, a Amazônia, sempre com um virtuosismo de dar inveja. Dessa experiência provém alguns trabalhos expostos, reunidos em seu livro “100 telas, 60 dias e um diário de Viagem, Amazonas 1975” (2009).
Foi em Recife, mina terra natal, através de tias minhas, que o conheci em 1977. O marchand Renato Magalhães Gouveia – como então chamávamos a profissão de galerista – representava sua obra em São Paulo e buscava alguém para representar o artista. Eu, nem galeria tinha, abracei o desafio. Aos 22 anos, com meus filhos Alexandre e Daniel ainda pequenos – hoje parceiros de trabalho na galeria -, meu espaço expositivo funcionava na minha própria casa. Ali recebia os amigos do meu pai e mostrava as telas de José Claudio, entre elas o retrato que fez de mim (que tenho até hoje e está exposto na mostra). Meu amor por sua obra foi contagiando, em pouco tempo, não havia casa em Recife sem uma parede com suas pinceladas com quê picassiano. Certa vez, levei-o ao aeroporto, havia uma retrospectiva de Picasso no MoMA que ele desejava muito ver. Daquele jeito desleixado, embarcou para Nova York de havaianas.
Apesar da aparência largada é das pessoas mais cultas que conheço, um verdadeiro erudito, intelectual adorável. Recentemente reeditamos seu livro, “Meu pai não viu minha glória”. São contos dedicados ao pai que sonhava ter filho doutor de Direito, com anel e tudo. Mas de pequeno o menino passava horas a desenhar no papel pardo do armazém do pai, em Ipojuca, sua cidade natal. Segundo a crítica de arte Vera D’Horta já se prenunciava “um Rafael”.
Sempre amei a arte. Meu avô foi diretor da Escola de Belas Artes da Universidade de Pernambuco, eu o acompanhava aos ateliês dos artistas, mas eram todos mais acadêmicos. José Claudio, ao contrário, era pura energia! Os fins de semana na casa de meus pais era open house de sexta a domingo, ali conviviam a direita e a esquerda de Recife, poetas, escritores, profissionais liberais. Eu, quietinha, sorvia aquela grande experiência cultural.
Em 1987, ao me mudar para São Paulo, constatei que seu nome era pouco conhecido no sul. Aqui predominava o gosto pelo concretismo. Ele havia iniciado a carreira como desenhista em São Paulo, tinha sido assistente de Di Cavalcanti, aprendido gravura com Lívio Abramo, participado de cinco bienais (1957, 1959, 1961, 1963 e 1985), ganhado bolsa da Fundação Boccherini de Lucca, na Itália, e trabalhado na Sudene, onde desenvolveu a série Carimbos na década de 1960. Considero o grande José Claudio, o pintor, com base em sua habilidade natural para o desenho. Mas há também o escultor em pedra, o poeta, o escritor, o gravurista. Em Pernambuco ele fazia ilustração para vários jornais. Faz pouco recebi de Paulo Bruscky, outro grande nome da arte de Pernambuco, um calhamaço de diagramações originais do José Claudio que Bruscky recolhia na redação e guardou esse tempo todo.
José Claudio foi um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), uma experiência comunitária de vanguarda criada por artistas autodidatas. Nos anos 50, não havia internet, tevê, revista, nada, quem não queria fazer arte acadêmica tinha que aprender na marra. O grupo reunia nomes como Abelardo da Hora, Virgulino, Samico, e cada qual transmitia sua experiência. A parte técnica era descoberta no peito e na raça, passada um para o outro entre eles. Com muito orgulho, realizei em Recife na minha primeira galeria, a Artespaço, uma mostra do Atelier Coletivo.
Há muito luto com José Claudio para organizamos uma grande mostra. Ele rebate: “Retrospectiva é para quem já morreu. Está desejando minha morte?”. Agora atingiu o marco dos 90 anos, mas fui obrigada a levar a Aracy Amaral a Recife para convencê-lo, são da mesma geração, entenderam-se bem. Grande parte dos trabalhos expostos provém do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo de São Paulo, do MAC USP e de coleções particulares. É uma mostra com caráter didático com obras dos anos 1950 a trabalhos recentes. Na vitrine da galeria penduramos uma tela linda, grande, com vários pássaros. Ele sempre gostou de retratar a natureza, como se vê na série Amazônia, para onde foi convidado pelo zoólogo e compositor Paulo Vanzolini a participar em uma expedição que durou dois meses. Pintou cobra, boto, peixe assim, peixe assado. Nas feiras observava o farfalhar das asas dos passarinhos nas gaiolas, e registrou aquele balé multicolorido, musical.
Vive tão mergulhado em seu mundo que nem sabia que o MoMA de Nova York possui um desenho seu, Apocalipse III, obra em nanquim sobre papel de 1956. Da mesma série estamos expondo Apocalipse IV, da coleção do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. O que ele gosta mesmo é de pintar, de apreciar suas telas nas casas dos amigos colecionadores bebericando uma cachacinha.
José Claudio é um grande artista. Como se diz no Nordeste, é um forte.
José Cláudio: uma trajetória
Curadoria de Aracy Amaral
Galeria Nara Roesler, São Paulo
Fonte: Forbes. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Morre aos 91 anos o artista plástico pernambucano José Cláudio | G1
Morreu, aos 91 anos, o artista plástico pernambucano José Cláudio. Pintor, escultor, desenhista e escritor, José Cláudio foi um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), ao lado de Abelardo da Hora, Gilvan Samico e Wellington Virgolino.
Nascido em Ipojuca, no Grande Recife, em 1932, José Cláudio deixa dois filhos, três netas e dois bisnetos.
Desde a infância mostrou interesse pela arte, época em que rabiscava desenhos em papéis de embrulho no armazém do pai. A vocação o levou para a escola de artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), período no qual trabalhou com os artistas Di Cavalcanti e Lívio Abramo.
Dois anos depois, o artista pernambucano ganhou uma bolsa de estudos da Fundação Rotellini, em Roma, na Itália, onde permaneceu por um ano. Quando retornou ao estado, passou a morar em Olinda, onde escreveu artigos sobre artes plásticas para o Jornal Diário da Noite, do Recife.
No Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife, que funcionou de 1952 a 1957, dedicou-se a expressões artísticas voltadas para o povo. O espaço foi um centro de estudo de desenho e gravura que trabalhava o caráter social da arte.
A última exposição de José Cláudio foi a mostra “Primeiro a Fome, Depois a Lua”, em agosto de 2022, quando ele completou 90 anos. O nome escolhido faz referência a um quadro do artista, pintado em 1968, que faz parte do acervo original do Museu de Arte do Rio.
Repercussão
A governadora de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB) prestou solidariedade à família e amigos do artista em suas redes sociais.
"A arte pernambucana fica mais triste, hoje, com o falecimento de Zé Cláudio. Ele retratou tão bem as pessoas e os costumes de Pernambuco e do Nordeste em suas pinturas, com suas cores vívidas e suas paisagens figurativas que nos transportavam para cada lugar. Meus sentimentos e todo meu carinho à família, neste momento de despedida. Obrigada, Zé. Siga em paz", publicou a governadora.
A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura do Recife lamentaram a morte de José Cláudio, "artista plástico de primeira grandeza, que devotou todas as cores de sua sensibilidade para retratar o Nordeste em toda a sua beleza e abundância".
Fonte: G1. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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José Cláudio | Rodrigues Galeria
Autodidata, desenhava nos papeis de embrulho da loja do seu pai, um armarinho de miudezas. Riscava debruçado no balcão e muitos fregueses levavam com prazer os seus desenhos. Quanto à pintura, aprendeu observando as pinceladas dominicais do seu padrinho, o promotor público Othon Fialho de Oliveira, é o que afirma o artista.
Em 1952, interrompe o curso da Faculdade de Direito do Recife, dedica-se inteiramente à arte ingressando no Atelier Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife-SAMR , dirigida pelo escultor Abelardo da Hora. Continuando seus estudos, recebe orientação de Carybé, Mário Cravo e Jenner Augusto em Salvador/BA, aprendendo a preparar paredes e a pintar em larga escala. No ano seguinte, retorna ao seu Estado natal onde continua seu trabalho como artista plástico colaborando ainda nos jornais locais. Em 1955, mantém contato com Arnaldo Pedroso d’Horta passando a dedicar-se mais ao desenho. Transfere-se para São Paulo, nesse mesmo ano e trabalha inicialmente com Di Cavalcanti, além de freqüentar a Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna, Seção Gravura, sob orientação de Lívio Abramo. A partir daí, a sua trajetória como pintor é rápida e ascendente, fruto do seu talento e dos contatos com grandes mestres, no Brasil e no exterior. Como pintor é um dos mais expressivos do Grupo do Atelier Coletivo do Recife. A sua pintura revela a genialidade daqueles que chegam antes do seu tempo, mas expressa de um modo bem verdadeiro e quase visceral, os seus modos de pensar e de saber – a sua arte. José Cláudio é um erudito, o artista diz ter necessidade de “extrair a pintura diretamente das coisas, arranca-la à paisagem, ou uma figura que passa, ou posa, e não dos mestres do passado ou presente” (…).
Participa do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1956 realiza no Clube dos Artistas e Amigos da Arte (Clubinho) a sua primeira mostra individual com desenhos, comentada através de artigos de Sérgio Milliet, Quirino da Silva e José Geraldo Vieira. Obtém com desenho o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea. Em 1957 participa da IV Bienal Internacional de São Paulo, que lhe confere Prêmio de Aquisição. Recebe uma bolsa de estudo da Fundação Rotelini, da Itália, indo para a Europa onde permanece por um ano, freqüentando o curso de Modelo Vivo e História da Arte na Academia de Belas Artes de Roma. Em 1959 retorna ao Brasil, participando da V Bienal Internacional de São Paulo e, em seguida volta a Pernambuco, passando a viver no atelier de Montez Magno, Adão Pinheiro e Anchises Azevedo, em Olinda. Realiza a sua segunda individual de desenhos, no Recife. Em 1961, ele colabora com artigos sobre Artes Plásticas para o jornal Diário da Noite, Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco, no Recife. No ano seguinte, obtém o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea para desenho. Em 1963 realiza mostra individual na Galeria São Luiz e participa da VII Bienal Internacional de São Paulo, em São Paulo. Em 1965 lança seus livros “Viagem de um Jovem Pintor à Bahia” e “Ipojuca de Santo Cristo”, recebendo críticas, entre outros, de Sérgio Milliet, Paulo Mendes de Almeida e Matheus de Lima. Em 1966 lança álbum com 25 xilogravuras e textos: “Os Bichos da Roda”. Apresenta exposição de desenhos na Galeria Casa Holanda, no Recife, com catálogo prefaciado por Gastão de Hollanda. Em 1967 retorna à pintura e começa a esculpir em madeira e, dois anos depois, inicia a série de esculturas em granito de grande porte, em Nova Jerusalém/PE. Apresenta o catálogo da coletiva “Oficina Pernambucana”, organizada por Walter Zanini, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. No ano seguinte, lança o seu terceiro livro de viagem, “Bem Dentro”. Em 1971 lança o álbum de xilogravuras “Catende-Xilos”. Em 1972 dedica-se assiduamente a produzir pinturas e esculturas de grandes proporções, em granito, não comercializando as referidas obras em função de um acordo estabelecido com Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte. Em 1973, a sua escultura O Pássaro participa da exposição “Image du Brésil”, no Manhattan Center de Bruxelas, organizada pelo Museu de Arte de São Paulo. Em 1974, realiza exposição individual com 38 pinturas a óleo com Renato Magalhães Gouvêa, em São Paulo. Adapta para história em quadrinhos o “Livro dos Mortos”, capítulo do volume “Agá” de Hermilo Borba Filho. Em 1975, realiza exposição individual no Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte, em São Paulo, com 100 pinturas a óleo documentando aspectos da Amazônia. As referidas obras foram adquiridas pelo Governo do Estado de São Paulo e colocadas no salão de recepções do Palácio dos Bandeirantes. A partir deste ano, lastreado pelo prestígio de Renato Magalhães Gouvêa, realiza inúmeras exposições. Em 1978, organiza a exposição “Atelier Coletivo”, na Galeria Artespaço, Recife, ocasião em que lança o livro da sua autoria “Memória do Atelier Coletivo”. Em 1979, a sua escultura em granito “Asas do Imigrante”, de 90 toneladas, é colocada pelo DERSA na Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo. Em 1982, realiza mostra individual no Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte, São Paulo, onde apresenta a série sobre o “Descanso do Modelo” de Almeida Júnior, merecendo memorável artigo de Carlos Von Schmidt, além de comentários de outros destacados críticos, como Flávio de Aquino. Participa, a convite de Frederico Morais, da mostra “Entre a mancha e a figura”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. É editado pelo Governo do Estado de Pernambuco o seu livro “Artistas de Pernambuco”, pela Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes sendo secretário Francisco A. Bandeira de Mello. Em 1983, participa da exposição “3×4 / grandes formatos”, no Centro Empresarial Rio, organizada por Rubens Gerchman, além da mostra “Panorama da Arte Atual Brasileira”, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (motivo de destaque no artigo de Casimiro Xavier de Mendonça; “Atestado de Vigor”, Veja, 2/novembro/1983) e ainda, da exposição inaugural da Grande Galeria do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, organizada por Maria do Carmo Secco. No ano seguinte, edita o seu livro “Tratos da Arte de Pernambuco”. Em 1997 ilustra a capa do livro Sociedade Pernambucana, de João Alberto.
Críticos de Arte e jornalistas de destaque nacional e local o têm acompanhado com grande interesse, entre os quais podemos citar Celso Marconi, Valdi Coutinho, Paulo Chaves, Jomard Muniz de Britto, Paulo Fernando Craveiro (Recife), Vera d’Horta Beccari (São Paulo) e Jacob Klintowitz (Rio de Janeiro).
1999 – Exposição na Galeria Futuro 25.
2000 – Participa da exposição Almeida Júnior: um artista revisitado, Pinacoteca do Estado de São Paulo, com curadoria de Emanoel Araújo.
2002 – Retoma a escultura em pedra granítica.
2003 – Participa da mostra Arte e Sociedade – Uma relação polêmica, do Itaú Cultural, tendo como curadora Aracy Amaral.
2005- Participa da exposição Territoires transitoires – un parcours dans I’art du Brésil no Palais de La Porte Dorée, Paris.
2007- Participa da coletiva Arte como questão, no Instituto Tomie Ohtake, com curadoria de Glória Ferreira.
2009 – Exposição Retrospectiva, no Museu do Estado de Pernambuco. Lançamento do livro José Cláudio – Vida e Obra. Exibição do documentário José Cláudio.
A última exposição de José Cláudio foi a mostra “Primeiro a Fome, Depois a Lua”, em agosto de 2022 no Recife, quando ele completou 90 anos. O nome escolhido faz referência a um quadro do artista, pintado em 1968, que faz parte do acervo original do Museu de Arte do Rio.
Fonte: Galeria Rodrigues. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Adeus, José Cláudio da Silva! | Acervo São Paulo
Faleceu nesta terça-feira, dia 12 de dezembro de 2023, o pintor José Claúdio da Silva, aos 91 anos. Nascido em Ipojuca, Pernambuco, consagrou-se por suas obras figurativas que retratavam o cotidiano do Brasil e sua natureza exuberante.
Além de pintor, José Claúdio foi gravador, escultor, crítico de arte e escritor. Participou ativamente do cenário artístico brasileiro, sendo um dos fundadores do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR).
Em 1975, o artista participou de uma expedição à região amazônica, promovida pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, a convite do zoólogo e compositor brasileiro Paulo Vanzolini.
Nesta viagem, José Cláudio produziu 100 pinturas a óleo que hoje integram o Acervo dos Palácios. Essas obras retratam os locais visitados pelo artista durante a expedição que percorreu o rio Amazonas, o rio Madeira e afluentes.
O testemunho de José Claudio, através de suas pinturas, não só mapeia os locais por onde passou, como registra, com traços livres, as muitas espécies da biodiversidade da Amazônia e todo um universo de culturas locais valiosas.
Em 2021, esta coleção esteve em exposição no Palácio dos Bandeirantes, potencializando reflexões sobre as transformações da Amazônia nesses quase 50 anos. Enquanto alguns locais se modificaram com o crescimento populacional e as intervenções humanas, outros cenários se mantiveram preservados enquanto redutos da floresta.
Ao interpretar essas pinturas do ponto de vista da contemporaneidade, o a exposição propiciou novas reflexões e contribuiu para a conscientização das responsabilidades ambientais da sociedade.
Fonte: Acervo São Paulo. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Biografia do artista pernambucano José Cláudio destaca simplicidade e erudição | Diário de Pernambuco
Os passarinhos, o cotidiano da população rural, as festas populares eas frutas dos engenhos da Zona da Mata de Pernambuco que recortam a infância do artista plástico José Cláudio se tornaram marcas de suas pinturas. Entender a obra é voltar à casa dele em Ipojuca, conhecer a loja do pai, onde aproveitava os embrulhos das mercadorias para desenvolver os primeiros desenhos. A mudança para o Recife, onde estudou e atuou como no Atelier Coletivo, virou o ápice de sua produção artística.
Em Aventuras à mão livre, biografia do artista, o jornalista Júlio Cavani resgata as memórias e constrói a narrativa de vida de um dos maiores nomes da arte de Pernambuco, que experimentou diferentes fases estéticas e múltiplas temáticas, passando pelo desenho, pintura, gravura, escultura, história em quadrinho, murais e literatura. Lançada no último semestre, a obra terá evento com sessão de autógrafo nesta quinta (23), às 19h, na Garrido Galeria (Rua Samuel de Farias, 245, Casa Forte). O livro, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), integra a coleção Perfis, sobre 15 homens e mulheres que construíram importantes carreiras no estado. O exemplar custa R$ 40.
“Eu já admirava José Cláudio como artista, conhecia parte da obra dele, mas não o conhecia pessoalmente. No primeiro contato, a conversa fluiu bem. Tive sorte de biografar um personagem que estava disposto a falar. Ele conta bem as histórias e reúne bem as memórias de todas as fases de vida. Foi legal fazê-lo revisitar suas histórias. E ele achou interessante alguém disposto a reunir os seus relatos”, conta Júlio Cavani.
“Eu me propus a começar do zero. Encontrei José pela primeira vez sem ter feito muitas pesquisas. Cheguei lá para ouvir a vida dele, usando o próprio como fonte principal. E a partir daí fui seguindo uma ordem cronológica, da infância, adolescência, trabalho, amadurecimento. Após o primeiro contato, passei a ler, entre uma entrevista e outra, um artigo ou livro autobiográfico dele. Esse material servia tanto para me sugerir perguntas quanto me guiar para investigar alguns detalhes”, explica.
Conhecido pelos trabalhos coloridos e figurativos, José Cláudio teve a juventude mergulhada em aprendizados com Abelardo da Hora, Carybé, Mário Cravo, Arnaldo Pedroso d’Horta e Di Cavalcanti, e se consagrou como artista no circuito da arte contemporânea, nas décadas de 1950 a 1970, quando desenvolvia desenhos e gravuras considerados mais experimentais. Durante o período, o Atelier Coletivo foi o grande espaço de experimentação do artista. A fase é abordada em várias passagens no livro, como no capítulo Dos carimbinhos aos quadrinhos, onde o autor descreve a formação e experiência do artista com xilogravuras e a estreia nas tirinhas de HQ.
“Entre as décadas de 1950 e 1970, José Cláudio recebeu prêmios como melhor desenhista do Brasil. Eu queria ter mais contato com as obras produzidas por ele nesse período. Muitas foram vendidas e estão espalhadas pelo país, mas seria importante um estudo com todos os trabalhos que ele produziu nesse período. É de uma riqueza artística muito grande”, salienta Cavani. As narrativas de vida de José Cláudio foram colhidas por Cavani em15 conversas presenciais na casa do artista, com duração média de duas horas, sempre no início da noite. O horário, escolhido por Cláudio, tinha por objetivo livrar a claridade do dia e da tarde, que o artista usa para pintar telas em seu ateliê, que funciona no térreo da casa onde mora, no bairro do Monte, em Olinda.
“Eu procurei transmitir a espontaneidade de José, a forma como ele trabalha e idealiza tudo com naturalidade e calma. Quem conversa com José Cláudio percebe que ele é simples, mas por dentro é profundo e erudito. Ele anda com naturalidade por feiras públicas, da mesma forma que circula em eventos intelectuais. Ele nunca perdeu a simplicidade, apesar de toda riqueza imaterial”, destaca. Para pesquisas estéticas, José Cláudio viajou pelos EUA, Europa, África e diversos estados brasileiros, como Amazonas, Bahia, Rio e São Paulo.
O autor do livro destaca ainda a grande paixão do artista: o carnaval do Recife, a festa que guiou a temática de obras por mais de duas décadas. “Sofri muitas mudanças na minha vida, mas uma coisa não mudou: a idolatria pelo carnaval do Recife. Não tenho mais pernas para acompanhá-lo, mas me sinto inteiro e novo quando ouço um frevo de Zumba, de Capiba e por ai vai...”, escreveu José Cláudio, em crônica publicada na Revista Continente, em novembro de 2017. Em 2012, o pintor foi escolhido como homenageado da folia recifense. Nada mais justo.
Fonte: Diário de Pernambuco. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Um tributo a José Claudio | Arte Brasileiros
Olhando pelo retrovisor, o repertório artístico de José Claudio da Silva impõe-se pelas conquistas obtidas ao longo de mais de sete décadas. Aos 90 anos, o artista expõe cerca de 150 obras entre pinturas, desenhos, carimbos, que ocupam toda a Galeria Nara Roesler, em São Paulo. A extensa mostra, realizada com releituras tenazes e encontros disciplinados, consegue o feito de reunir três amigos de longa data, e tudo começa quando a crítica e historiadora de arte Aracy Amaral passa o réveillon no Recife e vai à casa do artista, como faz sempre que está na cidade. “Gosto de estar com José Claudio, ouvir suas histórias de vida”, diz. Ao voltar a São Paulo, ela recebe o convite de Nara Roesler para assumir a curadoria.
Um prodígio de energia e método, Aracy, com idade próxima à de José Claudio, arregaça as mangas e sai a campo. Garimpa obras em museus, coleções particulares, galerias, dentro do um arco temporal entre os anos de 1950 e 1990. Curar uma exposição faz do crítico intermediário transformado em autor, pelo processo de seleção das obras e analogia entre elas. A lógica de Aracy é a lógica do saber acumulado. Sem tropeços, encontra achados como a expressiva série Aventura da Linha (1955), trabalhada com nanquim sobre papel, pertencente ao acervo do MAM SP; Simetria (1982), dança erótica/sensual desenvolvida no solo, com toques matisseanos, e a releitura de obras de Almeida Júnior, entre tantas outras.
O percurso de José Claudio é feito pela paixão por seu território, a mesma paixão do “homem situado” nomeado por Gilberto Freyre, isso exemplifica sua participação no Ateliê Coletivo, dirigido por Abelardo da Hora, e que levava em conta a luta do povo oprimido, destacando as atividades rurais e urbanas a partir do cotidiano do trabalhador. Ele sabia que estava pisando em campo minado por conhecer a famosa frase do modernismo Pernambuco: “regional como opção, regional como prisão”.
A obra do muralista mexicano Rivera também era inspiração para o grupo que já começa a fazer arte pública. Para Aracy, José Claudio nasce para a pintura no Ateliê Coletivo, quando era um jovem e entusiasta da atmosfera artística do local. Como o artista já repetiu em várias entrevistas, ele considera o Ateliê como divisor de águas na história da pintura pernambucana.
Motivado por um impulso renovador, José Claudio estava ansioso pela vida de artista e, ao fixar-se em Salvador, de 1953 a 1954, e conhecer Mario Cravo Júnior, Jenner Augusto, Carybé e suas obras, ele muda sua vida. Espírito inquieto, o artista segue depois para São Paulo onde trabalha como assistente de Di Cavalcanti e frequenta a Escola de Artesanato do MAM SP, sob orientação de Lívio Abramo.
A relação de José Cláudio com a capital paulista vem de longe. Aracy destaca o período em que ele colabora com o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, sob a orientação de Arnaldo Pedroso D’Horta. A obra do jovem José Claudio, naquele momento, encontra-se ao mesmo tempo na fronteira de alguns movimentos de arte que ele não ignora e na técnica desenvolvida por ele com gestos originais.
Nessa época desponta o desenhista delicado, atento à linha do nanquim que, segundo Aracy, surpreende na disciplina assumida em sua múltipla observação de exposições e bienais. Nos trabalhos transparece certa influência da obra de Lívio Abramo, Grassmann, ou da abstração linear, quase abstrata, de Pedroso d’Horta.
Por insistência de amigos, o artista inscreve-se e é aceito na 4ª Bienal de São Paulo, em 1957, recebe o Prêmio de Aquisição, além da bolsa da Fundação Rotellini, na Itália, onde vive por um ano e viaja a vários países. Essa foi a primeira de uma sequência de participações dele no evento paulista, em que esteve na 5ª, 6ª, 7ª e 18ª edições.
Nos anos 1960, entre várias experimentações poéticas, nasce a série de carimbos em nanquim sobre papel. “Essas composições abstratas com diversidade rica de pura poesia gráfica perduram de 1968 a 1969”, comenta Aracy. No livro Carimbos – José Cláudio está citada a correspondência entre o artista e Walter Zanini sobre os conceitos dessa experiência e o elogio do crítico paulista ao seu trabalho.
Na virada dos anos 1970, José Claudio faz a série Histórias de um Carimbo e desenvolve um “livro de artista” instigante, no qual mistura seu processo de trabalho, carimbos, desenhos, recortes de revistas, pinturas, colagens e textos. Uma obra que incomoda por criar um pacto com o leitor, suprimindo interlocutores.
Prosseguindo no feito de chegar a uma obra múltipla e singular, em 1975 José Claudio aceita o convite do amigo cientista e compositor musical Paulo Vanzolini, diretor do Museu de Zoologia da USP, para fazer uma viagem de Manaus a Porto Velho, a bordo do Garbe, um barco-laboratório. Para essa empreitada, mais uma vez tem o apoio de Renato Magalhães Gouveia, galerista e amigo de sempre, que lhe dá um rolo com dezenas de metros de tela.
Essa expedição resultou numa coleta de 170 mil espécies para a coleção do museu paulista e, para as artes, cerca de 100 telas inspiradas na vegetação, fauna, nos personagens ribeirinhas e tudo o mais que ele conseguiu captar em cada dia de viagem, inclusive os pratos com peixes que experimentaram. José Claudio foi incumbido por Vanzolini de escrever um diário que resultou em relatório detalhado, transformado no livro José Claudio da Silva – 100 Telas, 60 Dias & um Diário de Viagem: Amazonas (1975).
Quando retorna ao Recife, seu trabalho se inunda de cores e luz do sol que banha a cidade, com algumas telas exibindo flagrantes do carnaval. Nesse momento de liberdade tonal surge a obra Zé Pereira, alusão ao bloco que arrasta os foliões pelas ruas da cidade, com seu enorme boneco que completa 100 anos.
Nu é um gênero de pintura que nasce na academia. José Claudio faz uma série com mulheres desnudas que conheceu em bordeis da cidade. Aracy diz que o objetivo dessas visitas era pintar as personagens que ali trabalhavam, e cada um desses quadros leva o nome da moça retratada. Ainda desse período, ele homenageia a esposa com a pintura Retrato de Leonice (1971), e oito anos depois eterniza sua amiga galerista na tela Nara (1979).
Nos anos 1980, José Claudio mergulha no universo de Almeida Júnior, faz releitura dos quadros O importuno (1898), Descanso da modelo (1882) e Saudade (1899), em que retrata uma moça vestida de preto lendo uma carta. Na versão de Zé Claudio, a mulher está nua igualmente lendo a carta. Nessas obras, o artista pernambucano praticamente elimina a profundidade do plano pictórico e simplifica as formas com tendência geométrica.
Tantas curiosidades permeiam essa exposição motivada pelo respeito que Nara Roesler tem pelo artista. “Devo meu trabalho como galerista a José Cláudio. Sua obra me tocou profundamente e despertou em mim o desejo de ser como uma tradutora do artista”, afirma Nara.
Com ele, a galerista diz ter aprendido a olhar as coisas simples do cotidiano popular. Ver a beleza das roupas coloridas que as lavadeiras colocavam para secar nas margens dos riachos, os raios de sol entre as folhas e a dança dos coqueirais. O sabor da manga madura e o cheiro do caju, os céus do entardecer em Olinda e toda a beleza contida na vida. “Assim, essa exposição é uma homenagem aos 90 anos de meu mestre, esse talentoso artista que tanto me ensinou”, finaliza Nara.
Fonte: Arte Brasileiros. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
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Artista plástico José Cláudio mostra sua trajetória em São Paulo | Folha de Pernambuco
O artista José Cláudio, que completou 90 anos em agosto, abre nova exposição, desta vez em São Paulo. Quem leva sua arte para o bairro Jardim Europa é uma das principais galerias brasileiras de arte contemporânea, Nara Roesler que, ao abrir sua primeira unidade no Recife, em meados dos anos 1970, teve José Cláudio como um dos primeiros artistas a serem exibidos.
Carimbos
Agora, passados mais de 40 anos, a galeria volta a apresentar o trabalho do artista com uma seleção de obras que compreende momentos fundamentais da prática artística de José Cláudio, incluindo trabalhos que integram os acervos do MAC USP e do Palácio do Governo, além de diversas coleções particulares. A exposição também inclui trabalhos da série 'Carimbos', desenvolvida na década de 1960, na qual o artista faz uso do carimbo para criar composições que podem ser compreendidas como narrativas visuais. Criando seus próprios carimbos, o artista exercitou livremente a criação, desenvolvendo, inclusive, diversos livros de artista que hoje são vistos como verdadeiros monumentos do movimento Poema/processo. Além do grupo de retratos apresentados e dos nus femininos, tema recorrente em sua produção, também estão presentes na exposição paisagens e cenas de festividades populares.
Contador de histórias
A exposição conta ainda com publicações e documentos históricos que permitem ao público entrever a ampla produção artística e intelectual de José Cláudio. “José Cláudio é um criador. Pintor, escultor, escritor, pesquisador. Um erudito além do mais. Historiador das artes em Pernambuco. Repositório saboroso dos casos ou de personagens que conheceu ou de eventos de que participou, que narra como envolvente contador de histórias, fatos reais que absorvemos de seus livros, ou ouvindo e indagando detalhes.”, afirma a curadora Aracy Amaral. 'José Cláudio: uma trajetória' abre ao público neste sábado (08) e segue em exibição até 5 de novembro.
No Recife
Já a mostra ‘Primeiro a fome, depois a lua’, que também celebra os 90 anos do pintor, José Cláudio, termina amanhã (08), na Galeria Marco Zero em Boa Viagem, aqui no Recife. Com cuadoria de Clarissa Diniz, a exposição tomou como título e ponto de partida o quadro ‘Primeiro a fome, depois a lua’ (1968), obra pertencente ao acervo original do Museu de Arte do Rio (MAR), que celebra não apenas a pujança da pintura ou experimentalismo da obra de José Cláudio, mas principalmente o caráter ético de sua trajetória.
Últimos dias
O recorte dessa expo foca em como José Cláudio - um dos mais expressivos artistas do País por sua arte erudita e visceral - enfocou o tema do trabalhador e, ao mesmo tempo, compreendeu e politizou sua própria posição de artista como uma condição de trabalho. A curadoria priorizou, de maneira inédita, apresentar trabalhos menos acessados, especialmente obras que mostram o seu engajamento social e político.
Gratuito
"Revelamos um artista atento às urgências sociais que não são diferentes da sua prática artística, onde José Cláudio se dispunha a pintar oito horas por dia, todos os dias. Dessa forma ele entendia e queria mostrar que o artista é também um trabalhador”, explica Clarissa. Com acesso gratuito, a Galeria Marco Zero fica localizada na Av. Domingos Ferreira, nº 3393, em Boa Viagem, no Recife.
Fonte: Folha de Pernambuco. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.
Crédito fotográfico: Revista O Grito. Consultado pela última vez em 1 de abril de 2025.