Szenes Árpád (Budapeste, Hungria, 6 de maio de 1897 — Paris, França, 16 de janeiro de 1985), mais conhecido como Árpád Szenes, foi um pintor, gravurista, ilustrador, desenhista e professor húngaro, naturalizado francês em 1956. Suas obras apresentam associação ao surrealismo, retratando figuras muito coloridas, muitas vezes assumindo carácter agressivo e irônico. Em suas obras mais famosas, reverenciou um abstracionismo informal, utilizando cromatismos serenos e luminosos, constituídos por ocres e outras cores suaves e quentes. Expôs em muitos países, inclusive no Brasil. Foi reconhecido artisticamente através de medalhas e prêmios e hoje suas obras podem ser apreciadas na Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva em Lisboa.
Biografia — Wikipédia
Sua trajetória artística ficou profundamente ligada ao mundo latino, devido — em grande parte — ao seu casamento em 1930 com a portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, com quem realizou inúmeras viagens à América Latina para participar de exposições, como em 1946 no Instituto de Arquitetos do Brasil.
Devido ao facto de ser judeu e de sua esposa ter perdido a nacionalidade portuguesa, eram oficialmente apátridas. O casal decidiu então residir por um longo tempo no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e no período pós-guerra. No Brasil, entram em contato com importantes artistas locais, como Carlos Scliar e Djanira.
A ligação com Portugal reflete-se na existência da Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva, sediada em Lisboa.
A 7 de Setembro de 1978 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a 16 de Julho de 1988 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva
A Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva MHIH é uma instituição sediada em Lisboa; tem por vocação primordial a divulgação e o estudo da obra dos artistas plásticos Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva. Com este objetivo, foram criados um museu e um centro de documentação e investigação, abertos ao público.
O museu foi inaugurado a 3 de Novembro de 1994 com o contributo da Câmara Municipal de Lisboa, que cedeu o edifício, a Fundação Calouste Gulbenkian, que custeou as obras de remodelação, enquanto a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento apoiou na área da investigação.
A coleção do museu cobre um vasto período da produção de pintura e desenho dos dois artistas: de 1911 a 1985, para Árpád Szenes, e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva.
Existe ainda um núcleo de gravura de Vieira da Silva que inclui também obras de 1990 e 1991, um ano antes da morte da artista.
Está instalado na antiga Real Fábrica dos Tecidos de Seda de Lisboa, um edifício datado do século XVIII.
Contíguo ao jardim das Amoreiras, face ao Aqueduto das Águas Livres, frente à capela de Nossa Senhora de Monserrate e à Mãe d'Água das Amoreiras, faz uma mostra anual apresentando uma temática que permite acompanhar tendências e a evolução da arte moderna.
Um dos diretores e administradores da Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva foi o arquiteto Sommer Ribeiro, falecido em 2006.
Em 14 de Maio de 2015 foi nomeado Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
---
Biografia – Itaú Cultural
Arpad Szenes (Budapeste, Hungria 1897 - Paris, França 1985). Pintor, gravador, ilustrador, desenhista e professor. Pertencente a uma família de intelectuais e artistas, o desenho faz parte de sua vida desde criança. Em Budapeste, estudou com József Rippl-Rónai (1861 - 1927) na Academia Livre.
Muda-se, em 1925, para Paris, onde realiza caricaturas e retratos em bares e cafés, estuda com André Lhote (1885 - 1962), Fernand Léger (1881 - 1995) e Roger Bissiere (1886 - 1964), frequenta a Académie de la Grande Chaumière e estuda com Stanley William Hayter (1901 - 1988), com quem aprende gravura.
Em 1930, casa-se com a pintora portuguesa Vieira da Silva (1908 - 1992), seu modelo mais frequente.
Em 1940, após morar por um período em Lisboa, o casal, fugindo do nazismo, transfere-se para o Rio de Janeiro. Reside primeiro num casarão na Rua Marques de Abrantes, onde também morava o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), e, depois, nos chalés pertencentes ao antigo Hotel Internacional, em Santa Teresa, pensão e reduto de artistas emigrados no período. No prédio principal do hotel, Arpad monta um ateliê em que recebe seus alunos. Entre eles, Frank Schaeffer, Almir Mavignier e Polly McDonnell. Passou a dar aulas também na Colméia de Pintores do Brasil, criada por Levino Fanzeres.
Entre 1940 e 1947 manteve contato com Murilo Mendes, Cecília Meireles, Carlos Scliar e Ruben Navarra.
Em 1943, realiza 15 retratos de cientistas, distribuídos pelas salas de aulas da Escola Nacional de Agronomia, e colabora no painel realizado por Vieira da Silva, a convite de Heitor Grilo, para a mesma universidade. Arpad Szenes realiza a ilustração da tradução brasileira de Weise von Liebe und Tod des Cornets Christoph Rilke [A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke], de Rainer Maria Rilke (1875 - 1926), feita por Cecília Meireles.
Em 1947, com as mudanças vindas com o fim da guerra, retornam à França e dão continuidade às suas vidas artísticas. Em Paris, Lygia Clark (1920 - 1988) e Teresa Nicolao (1928) têm aulas com Arpad Szenes.
Comentário Crítico
Arpad Szenes, a partir de 1919, tem contato com correntes artísticas de vanguarda, como o dadaísmo, cubismo, futurismo e construtivismo. Em 1925, reside em Paris e conhece na Académie de la Grande Chaumière a pintora portuguesa Vieira da Silva (1908 - 1992), com quem se casa em 1930. Conviveu com intelectuais e artistas como Oskar Kokoschka (1886 - 1980), Alberto Giacometti (1901 - 1966), Alexander Calder (1898 - 1976) e Jacques Lipchitz (1891 - 1973). Em 1931, trabalha no Atelier 17 de Stanley William Hayter (1901 - 1988), com quem estuda gravura, e encontra surrealistas como Joan Miró (1893 - 1983) e Max Ernst (1891 - 1976). Em 1936, pinta grandes telas abstratas, como L'Obstacle, Le Carrousel, Le Fléau e L'Enfant au Cerf-Volant.
Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o casal muda-se para Portugal e em seguida para o Brasil. Szenes e sua esposa residem no Hotel Internacional, no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro, que reúne um círculo de artistas e intelectuais emigrados.
Retoma a figuração e dedica-se sobretudo à retratística: pinta o grupo de amigos que freqüentam o Hotel Internacional e, com a ajuda de Cecília Meireles (1901 - 1964), recebe encomenda para pintar personalidades para a Escola Nacional de Agronomia (chamada Quilômetro 44), da Universidade Rural Fluminense. Realiza ilustrações para obras de Murilo Mendes (1901 - 1975), Mário de Andrade (1893 - 1945) e para a tradução brasileira de Weise von Liebe und Tod des Cornets Christoph Rilke [A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke], de Rainer Maria Rilke (1875 - 1926), cujos estudos dão origem à série Banquets.
No quadro O Casal, 1933, dialoga com o cubismo, especialmente com Les Demoiselles d'Avignon, 1907, de Pablo Picasso (1881 - 1973). Nessa obra, Szenes trata os rostos dos protagonistas como máscaras, e a frontalidade e lateralidade se confundem. Em outro trabalho com mesmo título, de 1942, o casal abraçado está cercado de objetos domésticos: o jarro com plantas, a mesa com cartas de baralho e o cavalete com a tela, criando uma cena íntima e amorosa.
Regressa a Paris em 1947. No ano seguinte, Szenes organiza um ateliê onde ensina jovens pintores. Pinta as séries abstratas dos Banquets, Parques e Conversations, nas quais as linhas de força, tensão e movimento são suas principais preocupações pictóricas. Trabalha também, desde 1950, com guache e têmpera. Em 1956, com a esposa, obteve nacionalidade francesa. Recebe, por sua obra, várias condecorações do Estado francês. Realiza ilustrações para diversos livros.
Arpad Szenes foi um dos principais representantes da Escola de Paris nos anos 1940. No Brasil, sua presença e a de Vieira da Silva marcam profundamente a obra de vários artistas com quem convivem, como Burle Marx (1909 - 1994), Carlos Scliar (1920 - 2001) e Athos Bulcão (1918).
Críticas
"A pintura de Szenes, de caráter final abstrato (caráter que hoje, segundo o pintor, parece ser definitivo e sem mais recorrências - e os seus primeiros estudos abstratos datam de José Augusto França 1918), tem cumprido ciclos sucessivos de evolução começando sempre por uma aproximação da natureza, à qual volta depois. A influência de Cézanne é visível nessa pintura, tal como, mais atualmente, a partir de 1957, a de Monet, então descoberto, e assim se verificando uma sensibilidade impressionista subjacente em toda a criação do pintor". Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969).
"Pelo círculo de artistas e de intelectuais que Arpad Szenes e Vieira da Silva souberam naturalmente atrair à sua volta, pelo trabalho criador que realizaram e mostraram ao público enquanto pintores e pela extensão da troca até o ensino doméstico da arte (no caso de Arpad), os dois, melhor do que os demais emigrados na época, inclusive o eficiente Leskoschek, terminaram plantando uma semente nova e promissora no ambiente. A fertilização que nos trouxeram, com a obra produzida ou a reflexão provocada, fez deles a cabeça-de-ponte para a passagem e a irradiação do abstracionismo que os anos 50 erigiram em hegemonia. Se Samson Flexor logo teria um papel relevante no mesmo sentido, com o seu Atelier Abstração, em São Paulo, não se pode recusar a Maria Helena Vieira da Silva e a Arpad Szenes o pioneirismo de catalisadores. A novidade abstrata, que veio ainda em germinação na sua bagagem de exilados , aqui ganhou alento, floresceu e deixou frutos, tanto na pintura de ambos quanto na dos muitos que, então e em seguida, influenciaram". — Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1987).
"A pintura de Szenes começa por ser, antes de tudo, uma lição moral. Ponha-se o implacável laboratório da sua palheta de ateliê ao lado desses aventureiros de fora que vêm fazer chantagem com o " pitoresco tropical". Ele trancou-se anos até aceitar o conselho de uma exposição. Rodeou-se de uma solidão invulnerável. Artista maduro, senhor de sua imaginação, até hoje não apanhou qualquer doença tropical. Sua pintura tem tido a força de esquivar a sofisticação de encomenda, a indulgência com o gosto dos snobs, a vertigem comercial a que poucos europeus resistem no Novo Mundo, seja o do Norte, seja o do Sul. No entanto a sua vida tem sido igual a de tantos refugiados de guerra. Se atravessou o fogo dessa dura experiência, foi graças à sua vocação para a arte e todos os sacrifícios que ela exige". — Ruben Navarra (Navarra, Ruben. [texto]. In: LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. [Texto originalmente publicado no Jornal da Tarde. Campina Grande, 1966, p.179-186]).
"(...) Quanto à Arpad Szenes, ensina pintura, desenho, arte. É um estranho métier o que ensina, é tão estranho que os estranhos que com ele aprenderam, por exemplo, Lygia Clark ou Almir Mavignier, não esqueceram nunca, mesmo quando o que passaram a fazer contraria tudo o que Arpad transmitiu. Grande pintor que vive na sombra, que ama a sombra, a pintura de Arpad, se é cosa mentale, é principalmente um pensamento que não é traduzível senão em pintura. Não foi por acaso que quem o descobriu no Rio, quem os acolheu, quem os alojou numa singular pensão de russos num velho casarão do Flamengo, foi um poeta, e que poeta, Murilo M, Mendes, e como se vê, grande crítico também. Mas não é só: foi ele quem descobriu vinte anos antes o gênio de Ismael Nery". — Mário Pedrosa (PEDROSA, MÁRIO. A Bienal de Cá para lá. In: PEDROSA, Mário, ARANTES, Otília Beatriz Fiori (org.). Política das artes: textos escolhidos I. São Paulo: Edusp, 1995. p. 233-234. [Texto originalmente escrito em 1970]).
Depoimentos
"Para um pintor desenhei muito. Há Pintores de quem se conhecem poucos desenhos, pois os desenhos estão nas telas. Efetivamente a pintura é também desenho, mas o desenho é direto. Pelo menos assim o penso. O desenho não engana porque não mente. A pintura a óleo implica uma longa preparação, exige paciência. É preciso um cavalete, uma paleta. O desenho é impaciente, temo-lo nas mãos ou temos de agarrá-lo. Pode desenhar-se com quase nada. A pintura a óleo é um trabalho de fundo. O desenho é rápido, pertence ao instante. Quando senti que a guerra se aproximava, deixei de poder pintar, pois não conseguia abstrair-me, mas pude prosseguir com o desenho. Quando se quer trabalhar, é uma autêntica volúpia!
Mais do que uma carícia, o desenho é uma agressão. Para ir em busca do segredo escondido na carne, debaixo do osso, uma certa crueldade é indispensável. Olhar e desenhar - quem desenha não pode dar-se ao luxo de não ver. Talvez o traço seja um escalpelo: a precisão é necessária. Os primitivos comiam aqueles a quem amavam, eu devorei com os olhos o objeto de meu amor. Tinha o privilégio de um modelo permanente. Desenhava-o de mil maneiras diferentes e, de cada vez a minha interpretação variava. É por isso que, embora nos meus desenhos Vieira esteja sempre a trabalhar: sentada ou em pé, atenta, obstinada -, eles têm aparências muito diversas". — Arpad Szenes (SZENES, Arpad. RETRATOS de Vieira por Arpad Szenes. Lisboa: Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985).
Exposições Individuais
1933 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Galeria UP, dirigida por Antonio Pedro
1939 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeanne Bucher
1985 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeanne Bucher
1946 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no IAB/RJ, com apresentação de Murilo Mendes
1957 - Basiléia (Suíça) - Individual, na Galerie Betty Thomen
1958 - Paris (França) - Individual, na Galerie Pierre
1960 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1965 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1969 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1961 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Grand
1965 - Oslo (Noruega) - Individual, na Galeria 27
1965 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Alice Pauli
1968 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Alice Pauli
1969 - França - Individual, no Chateau de Ratilly
1970 e 1973 - França - Retrospectiva, nos Museus de Rouen, Rennes, Lille, Nantes, Besançon, Dijon, Orleans e Reims
1972 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1974 - Paris (França) - Retrospectiva, no Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris
1975 - Montpellier (França) - Individual, no Museu Fabre
1977 - Budapeste e Peces (Hungria) - Individual, no Museu Nacional de Belas Artes, Magyar Nemzeti Galeria e Vàrisi Tanàcs Kialliototerme
1983 - Dijon (França) - Individual, no Museu de Belas Artes
1983 - Paris (França) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
Exposições Coletivas
1922 - Budapeste (Hungria) - Primeira coletiva do artista, no Museu Ernst
1932 - Paris (França) - Salon des Surindépendants
1938 - Paris (França) - Salon des Surindépendants
1944 - Londres (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Royal Academy of Arts
1944 - Norwich (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Norwich Castle and Museum
1945 - Edimburgo (Escócia) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na National Gallery
1945 - Glasgow (Escócia) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Kelingrove Art Gallery
1945 - Baht (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Victory Art Gallery
1945 - Bristol (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Bristol City Museum & Art Gallery
1945 - Manchester (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Manchester Art Gallery
1946 - Belo Horizonte MG - Expõe, ao lado de Vieira da Silva, na Biblioteca Municipal, a convite de Juscelino Kubitschek
1976 - Paris (França) - Mostra, no Museu Nacional de Arte Moderna
1984 - Lisboa (Portugal) - Mostra, com Vieira da Silva, de obras do decênio 1930-40, na Galeria Emi-Valentim de Carvalho
Exposições Póstumas
1985 - Lisboa (Portugal) - Individual, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian
1986 - Paris (França) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1986 - Vézelay (França) - Individual, no Museu Lapidário
1986 - Rio de Janeiro RJ - Tempos de Guerra: Hotel Internacional, na Galeria de Arte Banerj
1986 - Rio de Janeiro RJ - Tempos de Guerra: Pensão Mauá, na Galeria de Arte Banerj
1987 - Aix-en-Provence (França) - Individual, no Museu Granet
1987 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1988 - Portugal - O presidente da República, Mário Soares, confere-lhe a Grã-Cruz da Ordem de Sant´Iago da Espada
1989 - Porto (Portugal) - Individual, no Museu d´Arte Moderna, Casa de Serralves
1990 - Peróuges (França) - Individual, na Maison des Princes
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
2000 - Valência (Espanha) - De la Antropofagia a Brasilía: Brasil 1920-1950, no IVAM. Centre Julio Gonzáles
2000 - São Paulo SP - Arpad Szenes e Vieira da Silva: período brasileiro, na Pinacoteca do Estado
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950, no Museu de Arte Brasileira
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
Fonte: ARPAD Szenes. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 09 de março de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Biografia – Arpad Szenes Infopédia
Pintor de origem húngara, Arpad Szenes nasceu em 1897, em Budapeste, capital da Hungria. A partir de 1918 estudou na Academia de Budapeste, onde apresentou um especial interesse pela prática do desenho e da pintura. Procurou então conhecer e estudar as correntes artísticas de vanguarda no contexto europeu, abordando um largo espectro, desde as artes plásticas à música.
Mais tarde viajou por vários países europeus, instalando-se em Paris em 1925. Dedicou-se à pintura e ao desenho, produzindo um conjunto de trabalhos figurativos de influência surrealista, dos quais se destaca o seu "Autoportrait à la pupille rouge", realizado entre 1924 e 1925. Estas pinturas, as menos conhecidas no contexto da sua obra, apresentam signos associados a figuras muito coloridas e assumem frequentemente um carácter agressivo e irônico.
Em 1929 Arpad conheceu a pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (na época radicada em Paris onde estudou pintura na Académie de La Grande-Chaumière) com quem se casou no ano seguinte. Após o curso o artista trabalhou com Hayter, mestre de gravura e, sem abandonar a pintura (como o testemunha a série de telas "L'enfant au cerf-volant", realizada em meados da década de trinta), executou várias gravuras de carácter surrealista.
Desde o seu casamento, o pintor deslocou-se frequentemente a Portugal, onde participou em várias exposições coletivas. Nessa altura conhece vários artistas portugueses, como Carlos Botelho, com os quais desenvolve prolongadas relações de amizade.
Com o eclodir da Segunda Guerra Mundial, em 1939, o casal voltou para Lisboa e tentou, sem sucesso, obter para Arpad Szenes (que se tornaria apátrida desde que os nazis lhe tinham retirado a sua anterior nacionalidade devido à sua ascendência judaica) a nacionalidade portuguesa. No ano seguinte os dois artistas refugiaram-se no Rio de Janeiro, no Brasil, onde permaneceram até 1947.
A partir dos inícios dos anos 50, Arpad realizou as suas obras mais conhecidas, em formato alongado, enveredando por um abstracionismo de raiz informalista, assente na utilização de cromatismos serenos mas luminosos, constituídos por ocres e outras cores suaves e quentes.
Em 1956 foi-lhe atribuída a nacionalidade francesa, assim como a Vieira da Silva.
Arpad Szenes e Vieira da Silva conviveram e apoiaram toda uma geração de artistas portugueses que, bolseiros da Fundação Calouste Gulbenkian, se instalaram em Paris a partir da década de cinquenta. Foi o caso de Manuel Cargaleiro, Costa Pinheiro, Eduardo Luís e dos artistas (Gonçalo Duarte, José Escada, Lourdes Castro, René Bértholo e João Vieira) que, nos finais da década constituíram o Grupo KWY, ativo em Paris até aos inícios da década seguinte. Foi nesta altura que Arpad Szenes realizou a sua primeira exposição individual. Após da revolução de 1975 que depôs a ditadura em Portugal, tornou-se mais intensa a relação dos artistas com o país natal de Vieira da Silva.
Autor de uma obra serena e discreta, Arpad Szenes viu-se geralmente subjugado pelo apoio incondicional que prestou ao trabalho e à carreira da sua mulher, que obteria reconhecimento e projeção internacional a partir de 1950.
O artista morreu em Paris em 1985 e, nove anos mais tarde, uma parte significativa da sua obra foi reunida pela Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, criada em Lisboa em 1994.
Fonte: Porto Editora – Arpad Szenes na Infopédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Crédito fotográfico: Jeanne Bucher Jaeger. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Szenes Árpád (Budapeste, Hungria, 6 de maio de 1897 — Paris, França, 16 de janeiro de 1985), mais conhecido como Árpád Szenes, foi um pintor, gravurista, ilustrador, desenhista e professor húngaro, naturalizado francês em 1956. Suas obras apresentam associação ao surrealismo, retratando figuras muito coloridas, muitas vezes assumindo carácter agressivo e irônico. Em suas obras mais famosas, reverenciou um abstracionismo informal, utilizando cromatismos serenos e luminosos, constituídos por ocres e outras cores suaves e quentes. Expôs em muitos países, inclusive no Brasil. Foi reconhecido artisticamente através de medalhas e prêmios e hoje suas obras podem ser apreciadas na Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva em Lisboa.
Biografia — Wikipédia
Sua trajetória artística ficou profundamente ligada ao mundo latino, devido — em grande parte — ao seu casamento em 1930 com a portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, com quem realizou inúmeras viagens à América Latina para participar de exposições, como em 1946 no Instituto de Arquitetos do Brasil.
Devido ao facto de ser judeu e de sua esposa ter perdido a nacionalidade portuguesa, eram oficialmente apátridas. O casal decidiu então residir por um longo tempo no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e no período pós-guerra. No Brasil, entram em contato com importantes artistas locais, como Carlos Scliar e Djanira.
A ligação com Portugal reflete-se na existência da Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva, sediada em Lisboa.
A 7 de Setembro de 1978 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a 16 de Julho de 1988 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva
A Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva MHIH é uma instituição sediada em Lisboa; tem por vocação primordial a divulgação e o estudo da obra dos artistas plásticos Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva. Com este objetivo, foram criados um museu e um centro de documentação e investigação, abertos ao público.
O museu foi inaugurado a 3 de Novembro de 1994 com o contributo da Câmara Municipal de Lisboa, que cedeu o edifício, a Fundação Calouste Gulbenkian, que custeou as obras de remodelação, enquanto a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento apoiou na área da investigação.
A coleção do museu cobre um vasto período da produção de pintura e desenho dos dois artistas: de 1911 a 1985, para Árpád Szenes, e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva.
Existe ainda um núcleo de gravura de Vieira da Silva que inclui também obras de 1990 e 1991, um ano antes da morte da artista.
Está instalado na antiga Real Fábrica dos Tecidos de Seda de Lisboa, um edifício datado do século XVIII.
Contíguo ao jardim das Amoreiras, face ao Aqueduto das Águas Livres, frente à capela de Nossa Senhora de Monserrate e à Mãe d'Água das Amoreiras, faz uma mostra anual apresentando uma temática que permite acompanhar tendências e a evolução da arte moderna.
Um dos diretores e administradores da Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva foi o arquiteto Sommer Ribeiro, falecido em 2006.
Em 14 de Maio de 2015 foi nomeado Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
---
Biografia – Itaú Cultural
Arpad Szenes (Budapeste, Hungria 1897 - Paris, França 1985). Pintor, gravador, ilustrador, desenhista e professor. Pertencente a uma família de intelectuais e artistas, o desenho faz parte de sua vida desde criança. Em Budapeste, estudou com József Rippl-Rónai (1861 - 1927) na Academia Livre.
Muda-se, em 1925, para Paris, onde realiza caricaturas e retratos em bares e cafés, estuda com André Lhote (1885 - 1962), Fernand Léger (1881 - 1995) e Roger Bissiere (1886 - 1964), frequenta a Académie de la Grande Chaumière e estuda com Stanley William Hayter (1901 - 1988), com quem aprende gravura.
Em 1930, casa-se com a pintora portuguesa Vieira da Silva (1908 - 1992), seu modelo mais frequente.
Em 1940, após morar por um período em Lisboa, o casal, fugindo do nazismo, transfere-se para o Rio de Janeiro. Reside primeiro num casarão na Rua Marques de Abrantes, onde também morava o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), e, depois, nos chalés pertencentes ao antigo Hotel Internacional, em Santa Teresa, pensão e reduto de artistas emigrados no período. No prédio principal do hotel, Arpad monta um ateliê em que recebe seus alunos. Entre eles, Frank Schaeffer, Almir Mavignier e Polly McDonnell. Passou a dar aulas também na Colméia de Pintores do Brasil, criada por Levino Fanzeres.
Entre 1940 e 1947 manteve contato com Murilo Mendes, Cecília Meireles, Carlos Scliar e Ruben Navarra.
Em 1943, realiza 15 retratos de cientistas, distribuídos pelas salas de aulas da Escola Nacional de Agronomia, e colabora no painel realizado por Vieira da Silva, a convite de Heitor Grilo, para a mesma universidade. Arpad Szenes realiza a ilustração da tradução brasileira de Weise von Liebe und Tod des Cornets Christoph Rilke [A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke], de Rainer Maria Rilke (1875 - 1926), feita por Cecília Meireles.
Em 1947, com as mudanças vindas com o fim da guerra, retornam à França e dão continuidade às suas vidas artísticas. Em Paris, Lygia Clark (1920 - 1988) e Teresa Nicolao (1928) têm aulas com Arpad Szenes.
Comentário Crítico
Arpad Szenes, a partir de 1919, tem contato com correntes artísticas de vanguarda, como o dadaísmo, cubismo, futurismo e construtivismo. Em 1925, reside em Paris e conhece na Académie de la Grande Chaumière a pintora portuguesa Vieira da Silva (1908 - 1992), com quem se casa em 1930. Conviveu com intelectuais e artistas como Oskar Kokoschka (1886 - 1980), Alberto Giacometti (1901 - 1966), Alexander Calder (1898 - 1976) e Jacques Lipchitz (1891 - 1973). Em 1931, trabalha no Atelier 17 de Stanley William Hayter (1901 - 1988), com quem estuda gravura, e encontra surrealistas como Joan Miró (1893 - 1983) e Max Ernst (1891 - 1976). Em 1936, pinta grandes telas abstratas, como L'Obstacle, Le Carrousel, Le Fléau e L'Enfant au Cerf-Volant.
Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o casal muda-se para Portugal e em seguida para o Brasil. Szenes e sua esposa residem no Hotel Internacional, no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro, que reúne um círculo de artistas e intelectuais emigrados.
Retoma a figuração e dedica-se sobretudo à retratística: pinta o grupo de amigos que freqüentam o Hotel Internacional e, com a ajuda de Cecília Meireles (1901 - 1964), recebe encomenda para pintar personalidades para a Escola Nacional de Agronomia (chamada Quilômetro 44), da Universidade Rural Fluminense. Realiza ilustrações para obras de Murilo Mendes (1901 - 1975), Mário de Andrade (1893 - 1945) e para a tradução brasileira de Weise von Liebe und Tod des Cornets Christoph Rilke [A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke], de Rainer Maria Rilke (1875 - 1926), cujos estudos dão origem à série Banquets.
No quadro O Casal, 1933, dialoga com o cubismo, especialmente com Les Demoiselles d'Avignon, 1907, de Pablo Picasso (1881 - 1973). Nessa obra, Szenes trata os rostos dos protagonistas como máscaras, e a frontalidade e lateralidade se confundem. Em outro trabalho com mesmo título, de 1942, o casal abraçado está cercado de objetos domésticos: o jarro com plantas, a mesa com cartas de baralho e o cavalete com a tela, criando uma cena íntima e amorosa.
Regressa a Paris em 1947. No ano seguinte, Szenes organiza um ateliê onde ensina jovens pintores. Pinta as séries abstratas dos Banquets, Parques e Conversations, nas quais as linhas de força, tensão e movimento são suas principais preocupações pictóricas. Trabalha também, desde 1950, com guache e têmpera. Em 1956, com a esposa, obteve nacionalidade francesa. Recebe, por sua obra, várias condecorações do Estado francês. Realiza ilustrações para diversos livros.
Arpad Szenes foi um dos principais representantes da Escola de Paris nos anos 1940. No Brasil, sua presença e a de Vieira da Silva marcam profundamente a obra de vários artistas com quem convivem, como Burle Marx (1909 - 1994), Carlos Scliar (1920 - 2001) e Athos Bulcão (1918).
Críticas
"A pintura de Szenes, de caráter final abstrato (caráter que hoje, segundo o pintor, parece ser definitivo e sem mais recorrências - e os seus primeiros estudos abstratos datam de José Augusto França 1918), tem cumprido ciclos sucessivos de evolução começando sempre por uma aproximação da natureza, à qual volta depois. A influência de Cézanne é visível nessa pintura, tal como, mais atualmente, a partir de 1957, a de Monet, então descoberto, e assim se verificando uma sensibilidade impressionista subjacente em toda a criação do pintor". Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969).
"Pelo círculo de artistas e de intelectuais que Arpad Szenes e Vieira da Silva souberam naturalmente atrair à sua volta, pelo trabalho criador que realizaram e mostraram ao público enquanto pintores e pela extensão da troca até o ensino doméstico da arte (no caso de Arpad), os dois, melhor do que os demais emigrados na época, inclusive o eficiente Leskoschek, terminaram plantando uma semente nova e promissora no ambiente. A fertilização que nos trouxeram, com a obra produzida ou a reflexão provocada, fez deles a cabeça-de-ponte para a passagem e a irradiação do abstracionismo que os anos 50 erigiram em hegemonia. Se Samson Flexor logo teria um papel relevante no mesmo sentido, com o seu Atelier Abstração, em São Paulo, não se pode recusar a Maria Helena Vieira da Silva e a Arpad Szenes o pioneirismo de catalisadores. A novidade abstrata, que veio ainda em germinação na sua bagagem de exilados , aqui ganhou alento, floresceu e deixou frutos, tanto na pintura de ambos quanto na dos muitos que, então e em seguida, influenciaram". — Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1987).
"A pintura de Szenes começa por ser, antes de tudo, uma lição moral. Ponha-se o implacável laboratório da sua palheta de ateliê ao lado desses aventureiros de fora que vêm fazer chantagem com o " pitoresco tropical". Ele trancou-se anos até aceitar o conselho de uma exposição. Rodeou-se de uma solidão invulnerável. Artista maduro, senhor de sua imaginação, até hoje não apanhou qualquer doença tropical. Sua pintura tem tido a força de esquivar a sofisticação de encomenda, a indulgência com o gosto dos snobs, a vertigem comercial a que poucos europeus resistem no Novo Mundo, seja o do Norte, seja o do Sul. No entanto a sua vida tem sido igual a de tantos refugiados de guerra. Se atravessou o fogo dessa dura experiência, foi graças à sua vocação para a arte e todos os sacrifícios que ela exige". — Ruben Navarra (Navarra, Ruben. [texto]. In: LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. [Texto originalmente publicado no Jornal da Tarde. Campina Grande, 1966, p.179-186]).
"(...) Quanto à Arpad Szenes, ensina pintura, desenho, arte. É um estranho métier o que ensina, é tão estranho que os estranhos que com ele aprenderam, por exemplo, Lygia Clark ou Almir Mavignier, não esqueceram nunca, mesmo quando o que passaram a fazer contraria tudo o que Arpad transmitiu. Grande pintor que vive na sombra, que ama a sombra, a pintura de Arpad, se é cosa mentale, é principalmente um pensamento que não é traduzível senão em pintura. Não foi por acaso que quem o descobriu no Rio, quem os acolheu, quem os alojou numa singular pensão de russos num velho casarão do Flamengo, foi um poeta, e que poeta, Murilo M, Mendes, e como se vê, grande crítico também. Mas não é só: foi ele quem descobriu vinte anos antes o gênio de Ismael Nery". — Mário Pedrosa (PEDROSA, MÁRIO. A Bienal de Cá para lá. In: PEDROSA, Mário, ARANTES, Otília Beatriz Fiori (org.). Política das artes: textos escolhidos I. São Paulo: Edusp, 1995. p. 233-234. [Texto originalmente escrito em 1970]).
Depoimentos
"Para um pintor desenhei muito. Há Pintores de quem se conhecem poucos desenhos, pois os desenhos estão nas telas. Efetivamente a pintura é também desenho, mas o desenho é direto. Pelo menos assim o penso. O desenho não engana porque não mente. A pintura a óleo implica uma longa preparação, exige paciência. É preciso um cavalete, uma paleta. O desenho é impaciente, temo-lo nas mãos ou temos de agarrá-lo. Pode desenhar-se com quase nada. A pintura a óleo é um trabalho de fundo. O desenho é rápido, pertence ao instante. Quando senti que a guerra se aproximava, deixei de poder pintar, pois não conseguia abstrair-me, mas pude prosseguir com o desenho. Quando se quer trabalhar, é uma autêntica volúpia!
Mais do que uma carícia, o desenho é uma agressão. Para ir em busca do segredo escondido na carne, debaixo do osso, uma certa crueldade é indispensável. Olhar e desenhar - quem desenha não pode dar-se ao luxo de não ver. Talvez o traço seja um escalpelo: a precisão é necessária. Os primitivos comiam aqueles a quem amavam, eu devorei com os olhos o objeto de meu amor. Tinha o privilégio de um modelo permanente. Desenhava-o de mil maneiras diferentes e, de cada vez a minha interpretação variava. É por isso que, embora nos meus desenhos Vieira esteja sempre a trabalhar: sentada ou em pé, atenta, obstinada -, eles têm aparências muito diversas". — Arpad Szenes (SZENES, Arpad. RETRATOS de Vieira por Arpad Szenes. Lisboa: Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985).
Exposições Individuais
1933 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Galeria UP, dirigida por Antonio Pedro
1939 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeanne Bucher
1985 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeanne Bucher
1946 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no IAB/RJ, com apresentação de Murilo Mendes
1957 - Basiléia (Suíça) - Individual, na Galerie Betty Thomen
1958 - Paris (França) - Individual, na Galerie Pierre
1960 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1965 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1969 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1961 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Grand
1965 - Oslo (Noruega) - Individual, na Galeria 27
1965 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Alice Pauli
1968 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Alice Pauli
1969 - França - Individual, no Chateau de Ratilly
1970 e 1973 - França - Retrospectiva, nos Museus de Rouen, Rennes, Lille, Nantes, Besançon, Dijon, Orleans e Reims
1972 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1974 - Paris (França) - Retrospectiva, no Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris
1975 - Montpellier (França) - Individual, no Museu Fabre
1977 - Budapeste e Peces (Hungria) - Individual, no Museu Nacional de Belas Artes, Magyar Nemzeti Galeria e Vàrisi Tanàcs Kialliototerme
1983 - Dijon (França) - Individual, no Museu de Belas Artes
1983 - Paris (França) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
Exposições Coletivas
1922 - Budapeste (Hungria) - Primeira coletiva do artista, no Museu Ernst
1932 - Paris (França) - Salon des Surindépendants
1938 - Paris (França) - Salon des Surindépendants
1944 - Londres (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Royal Academy of Arts
1944 - Norwich (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Norwich Castle and Museum
1945 - Edimburgo (Escócia) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na National Gallery
1945 - Glasgow (Escócia) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Kelingrove Art Gallery
1945 - Baht (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Victory Art Gallery
1945 - Bristol (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Bristol City Museum & Art Gallery
1945 - Manchester (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Manchester Art Gallery
1946 - Belo Horizonte MG - Expõe, ao lado de Vieira da Silva, na Biblioteca Municipal, a convite de Juscelino Kubitschek
1976 - Paris (França) - Mostra, no Museu Nacional de Arte Moderna
1984 - Lisboa (Portugal) - Mostra, com Vieira da Silva, de obras do decênio 1930-40, na Galeria Emi-Valentim de Carvalho
Exposições Póstumas
1985 - Lisboa (Portugal) - Individual, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian
1986 - Paris (França) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1986 - Vézelay (França) - Individual, no Museu Lapidário
1986 - Rio de Janeiro RJ - Tempos de Guerra: Hotel Internacional, na Galeria de Arte Banerj
1986 - Rio de Janeiro RJ - Tempos de Guerra: Pensão Mauá, na Galeria de Arte Banerj
1987 - Aix-en-Provence (França) - Individual, no Museu Granet
1987 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1988 - Portugal - O presidente da República, Mário Soares, confere-lhe a Grã-Cruz da Ordem de Sant´Iago da Espada
1989 - Porto (Portugal) - Individual, no Museu d´Arte Moderna, Casa de Serralves
1990 - Peróuges (França) - Individual, na Maison des Princes
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
2000 - Valência (Espanha) - De la Antropofagia a Brasilía: Brasil 1920-1950, no IVAM. Centre Julio Gonzáles
2000 - São Paulo SP - Arpad Szenes e Vieira da Silva: período brasileiro, na Pinacoteca do Estado
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950, no Museu de Arte Brasileira
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
Fonte: ARPAD Szenes. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 09 de março de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Biografia – Arpad Szenes Infopédia
Pintor de origem húngara, Arpad Szenes nasceu em 1897, em Budapeste, capital da Hungria. A partir de 1918 estudou na Academia de Budapeste, onde apresentou um especial interesse pela prática do desenho e da pintura. Procurou então conhecer e estudar as correntes artísticas de vanguarda no contexto europeu, abordando um largo espectro, desde as artes plásticas à música.
Mais tarde viajou por vários países europeus, instalando-se em Paris em 1925. Dedicou-se à pintura e ao desenho, produzindo um conjunto de trabalhos figurativos de influência surrealista, dos quais se destaca o seu "Autoportrait à la pupille rouge", realizado entre 1924 e 1925. Estas pinturas, as menos conhecidas no contexto da sua obra, apresentam signos associados a figuras muito coloridas e assumem frequentemente um carácter agressivo e irônico.
Em 1929 Arpad conheceu a pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (na época radicada em Paris onde estudou pintura na Académie de La Grande-Chaumière) com quem se casou no ano seguinte. Após o curso o artista trabalhou com Hayter, mestre de gravura e, sem abandonar a pintura (como o testemunha a série de telas "L'enfant au cerf-volant", realizada em meados da década de trinta), executou várias gravuras de carácter surrealista.
Desde o seu casamento, o pintor deslocou-se frequentemente a Portugal, onde participou em várias exposições coletivas. Nessa altura conhece vários artistas portugueses, como Carlos Botelho, com os quais desenvolve prolongadas relações de amizade.
Com o eclodir da Segunda Guerra Mundial, em 1939, o casal voltou para Lisboa e tentou, sem sucesso, obter para Arpad Szenes (que se tornaria apátrida desde que os nazis lhe tinham retirado a sua anterior nacionalidade devido à sua ascendência judaica) a nacionalidade portuguesa. No ano seguinte os dois artistas refugiaram-se no Rio de Janeiro, no Brasil, onde permaneceram até 1947.
A partir dos inícios dos anos 50, Arpad realizou as suas obras mais conhecidas, em formato alongado, enveredando por um abstracionismo de raiz informalista, assente na utilização de cromatismos serenos mas luminosos, constituídos por ocres e outras cores suaves e quentes.
Em 1956 foi-lhe atribuída a nacionalidade francesa, assim como a Vieira da Silva.
Arpad Szenes e Vieira da Silva conviveram e apoiaram toda uma geração de artistas portugueses que, bolseiros da Fundação Calouste Gulbenkian, se instalaram em Paris a partir da década de cinquenta. Foi o caso de Manuel Cargaleiro, Costa Pinheiro, Eduardo Luís e dos artistas (Gonçalo Duarte, José Escada, Lourdes Castro, René Bértholo e João Vieira) que, nos finais da década constituíram o Grupo KWY, ativo em Paris até aos inícios da década seguinte. Foi nesta altura que Arpad Szenes realizou a sua primeira exposição individual. Após da revolução de 1975 que depôs a ditadura em Portugal, tornou-se mais intensa a relação dos artistas com o país natal de Vieira da Silva.
Autor de uma obra serena e discreta, Arpad Szenes viu-se geralmente subjugado pelo apoio incondicional que prestou ao trabalho e à carreira da sua mulher, que obteria reconhecimento e projeção internacional a partir de 1950.
O artista morreu em Paris em 1985 e, nove anos mais tarde, uma parte significativa da sua obra foi reunida pela Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, criada em Lisboa em 1994.
Fonte: Porto Editora – Arpad Szenes na Infopédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Crédito fotográfico: Jeanne Bucher Jaeger. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
2 artistas relacionados
Szenes Árpád (Budapeste, Hungria, 6 de maio de 1897 — Paris, França, 16 de janeiro de 1985), mais conhecido como Árpád Szenes, foi um pintor, gravurista, ilustrador, desenhista e professor húngaro, naturalizado francês em 1956. Suas obras apresentam associação ao surrealismo, retratando figuras muito coloridas, muitas vezes assumindo carácter agressivo e irônico. Em suas obras mais famosas, reverenciou um abstracionismo informal, utilizando cromatismos serenos e luminosos, constituídos por ocres e outras cores suaves e quentes. Expôs em muitos países, inclusive no Brasil. Foi reconhecido artisticamente através de medalhas e prêmios e hoje suas obras podem ser apreciadas na Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva em Lisboa.
Biografia — Wikipédia
Sua trajetória artística ficou profundamente ligada ao mundo latino, devido — em grande parte — ao seu casamento em 1930 com a portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, com quem realizou inúmeras viagens à América Latina para participar de exposições, como em 1946 no Instituto de Arquitetos do Brasil.
Devido ao facto de ser judeu e de sua esposa ter perdido a nacionalidade portuguesa, eram oficialmente apátridas. O casal decidiu então residir por um longo tempo no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e no período pós-guerra. No Brasil, entram em contato com importantes artistas locais, como Carlos Scliar e Djanira.
A ligação com Portugal reflete-se na existência da Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva, sediada em Lisboa.
A 7 de Setembro de 1978 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a 16 de Julho de 1988 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva
A Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva MHIH é uma instituição sediada em Lisboa; tem por vocação primordial a divulgação e o estudo da obra dos artistas plásticos Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva. Com este objetivo, foram criados um museu e um centro de documentação e investigação, abertos ao público.
O museu foi inaugurado a 3 de Novembro de 1994 com o contributo da Câmara Municipal de Lisboa, que cedeu o edifício, a Fundação Calouste Gulbenkian, que custeou as obras de remodelação, enquanto a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento apoiou na área da investigação.
A coleção do museu cobre um vasto período da produção de pintura e desenho dos dois artistas: de 1911 a 1985, para Árpád Szenes, e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva.
Existe ainda um núcleo de gravura de Vieira da Silva que inclui também obras de 1990 e 1991, um ano antes da morte da artista.
Está instalado na antiga Real Fábrica dos Tecidos de Seda de Lisboa, um edifício datado do século XVIII.
Contíguo ao jardim das Amoreiras, face ao Aqueduto das Águas Livres, frente à capela de Nossa Senhora de Monserrate e à Mãe d'Água das Amoreiras, faz uma mostra anual apresentando uma temática que permite acompanhar tendências e a evolução da arte moderna.
Um dos diretores e administradores da Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva foi o arquiteto Sommer Ribeiro, falecido em 2006.
Em 14 de Maio de 2015 foi nomeado Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
---
Biografia – Itaú Cultural
Arpad Szenes (Budapeste, Hungria 1897 - Paris, França 1985). Pintor, gravador, ilustrador, desenhista e professor. Pertencente a uma família de intelectuais e artistas, o desenho faz parte de sua vida desde criança. Em Budapeste, estudou com József Rippl-Rónai (1861 - 1927) na Academia Livre.
Muda-se, em 1925, para Paris, onde realiza caricaturas e retratos em bares e cafés, estuda com André Lhote (1885 - 1962), Fernand Léger (1881 - 1995) e Roger Bissiere (1886 - 1964), frequenta a Académie de la Grande Chaumière e estuda com Stanley William Hayter (1901 - 1988), com quem aprende gravura.
Em 1930, casa-se com a pintora portuguesa Vieira da Silva (1908 - 1992), seu modelo mais frequente.
Em 1940, após morar por um período em Lisboa, o casal, fugindo do nazismo, transfere-se para o Rio de Janeiro. Reside primeiro num casarão na Rua Marques de Abrantes, onde também morava o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), e, depois, nos chalés pertencentes ao antigo Hotel Internacional, em Santa Teresa, pensão e reduto de artistas emigrados no período. No prédio principal do hotel, Arpad monta um ateliê em que recebe seus alunos. Entre eles, Frank Schaeffer, Almir Mavignier e Polly McDonnell. Passou a dar aulas também na Colméia de Pintores do Brasil, criada por Levino Fanzeres.
Entre 1940 e 1947 manteve contato com Murilo Mendes, Cecília Meireles, Carlos Scliar e Ruben Navarra.
Em 1943, realiza 15 retratos de cientistas, distribuídos pelas salas de aulas da Escola Nacional de Agronomia, e colabora no painel realizado por Vieira da Silva, a convite de Heitor Grilo, para a mesma universidade. Arpad Szenes realiza a ilustração da tradução brasileira de Weise von Liebe und Tod des Cornets Christoph Rilke [A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke], de Rainer Maria Rilke (1875 - 1926), feita por Cecília Meireles.
Em 1947, com as mudanças vindas com o fim da guerra, retornam à França e dão continuidade às suas vidas artísticas. Em Paris, Lygia Clark (1920 - 1988) e Teresa Nicolao (1928) têm aulas com Arpad Szenes.
Comentário Crítico
Arpad Szenes, a partir de 1919, tem contato com correntes artísticas de vanguarda, como o dadaísmo, cubismo, futurismo e construtivismo. Em 1925, reside em Paris e conhece na Académie de la Grande Chaumière a pintora portuguesa Vieira da Silva (1908 - 1992), com quem se casa em 1930. Conviveu com intelectuais e artistas como Oskar Kokoschka (1886 - 1980), Alberto Giacometti (1901 - 1966), Alexander Calder (1898 - 1976) e Jacques Lipchitz (1891 - 1973). Em 1931, trabalha no Atelier 17 de Stanley William Hayter (1901 - 1988), com quem estuda gravura, e encontra surrealistas como Joan Miró (1893 - 1983) e Max Ernst (1891 - 1976). Em 1936, pinta grandes telas abstratas, como L'Obstacle, Le Carrousel, Le Fléau e L'Enfant au Cerf-Volant.
Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o casal muda-se para Portugal e em seguida para o Brasil. Szenes e sua esposa residem no Hotel Internacional, no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro, que reúne um círculo de artistas e intelectuais emigrados.
Retoma a figuração e dedica-se sobretudo à retratística: pinta o grupo de amigos que freqüentam o Hotel Internacional e, com a ajuda de Cecília Meireles (1901 - 1964), recebe encomenda para pintar personalidades para a Escola Nacional de Agronomia (chamada Quilômetro 44), da Universidade Rural Fluminense. Realiza ilustrações para obras de Murilo Mendes (1901 - 1975), Mário de Andrade (1893 - 1945) e para a tradução brasileira de Weise von Liebe und Tod des Cornets Christoph Rilke [A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke], de Rainer Maria Rilke (1875 - 1926), cujos estudos dão origem à série Banquets.
No quadro O Casal, 1933, dialoga com o cubismo, especialmente com Les Demoiselles d'Avignon, 1907, de Pablo Picasso (1881 - 1973). Nessa obra, Szenes trata os rostos dos protagonistas como máscaras, e a frontalidade e lateralidade se confundem. Em outro trabalho com mesmo título, de 1942, o casal abraçado está cercado de objetos domésticos: o jarro com plantas, a mesa com cartas de baralho e o cavalete com a tela, criando uma cena íntima e amorosa.
Regressa a Paris em 1947. No ano seguinte, Szenes organiza um ateliê onde ensina jovens pintores. Pinta as séries abstratas dos Banquets, Parques e Conversations, nas quais as linhas de força, tensão e movimento são suas principais preocupações pictóricas. Trabalha também, desde 1950, com guache e têmpera. Em 1956, com a esposa, obteve nacionalidade francesa. Recebe, por sua obra, várias condecorações do Estado francês. Realiza ilustrações para diversos livros.
Arpad Szenes foi um dos principais representantes da Escola de Paris nos anos 1940. No Brasil, sua presença e a de Vieira da Silva marcam profundamente a obra de vários artistas com quem convivem, como Burle Marx (1909 - 1994), Carlos Scliar (1920 - 2001) e Athos Bulcão (1918).
Críticas
"A pintura de Szenes, de caráter final abstrato (caráter que hoje, segundo o pintor, parece ser definitivo e sem mais recorrências - e os seus primeiros estudos abstratos datam de José Augusto França 1918), tem cumprido ciclos sucessivos de evolução começando sempre por uma aproximação da natureza, à qual volta depois. A influência de Cézanne é visível nessa pintura, tal como, mais atualmente, a partir de 1957, a de Monet, então descoberto, e assim se verificando uma sensibilidade impressionista subjacente em toda a criação do pintor". Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969).
"Pelo círculo de artistas e de intelectuais que Arpad Szenes e Vieira da Silva souberam naturalmente atrair à sua volta, pelo trabalho criador que realizaram e mostraram ao público enquanto pintores e pela extensão da troca até o ensino doméstico da arte (no caso de Arpad), os dois, melhor do que os demais emigrados na época, inclusive o eficiente Leskoschek, terminaram plantando uma semente nova e promissora no ambiente. A fertilização que nos trouxeram, com a obra produzida ou a reflexão provocada, fez deles a cabeça-de-ponte para a passagem e a irradiação do abstracionismo que os anos 50 erigiram em hegemonia. Se Samson Flexor logo teria um papel relevante no mesmo sentido, com o seu Atelier Abstração, em São Paulo, não se pode recusar a Maria Helena Vieira da Silva e a Arpad Szenes o pioneirismo de catalisadores. A novidade abstrata, que veio ainda em germinação na sua bagagem de exilados , aqui ganhou alento, floresceu e deixou frutos, tanto na pintura de ambos quanto na dos muitos que, então e em seguida, influenciaram". — Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1987).
"A pintura de Szenes começa por ser, antes de tudo, uma lição moral. Ponha-se o implacável laboratório da sua palheta de ateliê ao lado desses aventureiros de fora que vêm fazer chantagem com o " pitoresco tropical". Ele trancou-se anos até aceitar o conselho de uma exposição. Rodeou-se de uma solidão invulnerável. Artista maduro, senhor de sua imaginação, até hoje não apanhou qualquer doença tropical. Sua pintura tem tido a força de esquivar a sofisticação de encomenda, a indulgência com o gosto dos snobs, a vertigem comercial a que poucos europeus resistem no Novo Mundo, seja o do Norte, seja o do Sul. No entanto a sua vida tem sido igual a de tantos refugiados de guerra. Se atravessou o fogo dessa dura experiência, foi graças à sua vocação para a arte e todos os sacrifícios que ela exige". — Ruben Navarra (Navarra, Ruben. [texto]. In: LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. [Texto originalmente publicado no Jornal da Tarde. Campina Grande, 1966, p.179-186]).
"(...) Quanto à Arpad Szenes, ensina pintura, desenho, arte. É um estranho métier o que ensina, é tão estranho que os estranhos que com ele aprenderam, por exemplo, Lygia Clark ou Almir Mavignier, não esqueceram nunca, mesmo quando o que passaram a fazer contraria tudo o que Arpad transmitiu. Grande pintor que vive na sombra, que ama a sombra, a pintura de Arpad, se é cosa mentale, é principalmente um pensamento que não é traduzível senão em pintura. Não foi por acaso que quem o descobriu no Rio, quem os acolheu, quem os alojou numa singular pensão de russos num velho casarão do Flamengo, foi um poeta, e que poeta, Murilo M, Mendes, e como se vê, grande crítico também. Mas não é só: foi ele quem descobriu vinte anos antes o gênio de Ismael Nery". — Mário Pedrosa (PEDROSA, MÁRIO. A Bienal de Cá para lá. In: PEDROSA, Mário, ARANTES, Otília Beatriz Fiori (org.). Política das artes: textos escolhidos I. São Paulo: Edusp, 1995. p. 233-234. [Texto originalmente escrito em 1970]).
Depoimentos
"Para um pintor desenhei muito. Há Pintores de quem se conhecem poucos desenhos, pois os desenhos estão nas telas. Efetivamente a pintura é também desenho, mas o desenho é direto. Pelo menos assim o penso. O desenho não engana porque não mente. A pintura a óleo implica uma longa preparação, exige paciência. É preciso um cavalete, uma paleta. O desenho é impaciente, temo-lo nas mãos ou temos de agarrá-lo. Pode desenhar-se com quase nada. A pintura a óleo é um trabalho de fundo. O desenho é rápido, pertence ao instante. Quando senti que a guerra se aproximava, deixei de poder pintar, pois não conseguia abstrair-me, mas pude prosseguir com o desenho. Quando se quer trabalhar, é uma autêntica volúpia!
Mais do que uma carícia, o desenho é uma agressão. Para ir em busca do segredo escondido na carne, debaixo do osso, uma certa crueldade é indispensável. Olhar e desenhar - quem desenha não pode dar-se ao luxo de não ver. Talvez o traço seja um escalpelo: a precisão é necessária. Os primitivos comiam aqueles a quem amavam, eu devorei com os olhos o objeto de meu amor. Tinha o privilégio de um modelo permanente. Desenhava-o de mil maneiras diferentes e, de cada vez a minha interpretação variava. É por isso que, embora nos meus desenhos Vieira esteja sempre a trabalhar: sentada ou em pé, atenta, obstinada -, eles têm aparências muito diversas". — Arpad Szenes (SZENES, Arpad. RETRATOS de Vieira por Arpad Szenes. Lisboa: Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985).
Exposições Individuais
1933 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Galeria UP, dirigida por Antonio Pedro
1939 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeanne Bucher
1985 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeanne Bucher
1946 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no IAB/RJ, com apresentação de Murilo Mendes
1957 - Basiléia (Suíça) - Individual, na Galerie Betty Thomen
1958 - Paris (França) - Individual, na Galerie Pierre
1960 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1965 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1969 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1961 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Grand
1965 - Oslo (Noruega) - Individual, na Galeria 27
1965 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Alice Pauli
1968 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Alice Pauli
1969 - França - Individual, no Chateau de Ratilly
1970 e 1973 - França - Retrospectiva, nos Museus de Rouen, Rennes, Lille, Nantes, Besançon, Dijon, Orleans e Reims
1972 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1974 - Paris (França) - Retrospectiva, no Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris
1975 - Montpellier (França) - Individual, no Museu Fabre
1977 - Budapeste e Peces (Hungria) - Individual, no Museu Nacional de Belas Artes, Magyar Nemzeti Galeria e Vàrisi Tanàcs Kialliototerme
1983 - Dijon (França) - Individual, no Museu de Belas Artes
1983 - Paris (França) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
Exposições Coletivas
1922 - Budapeste (Hungria) - Primeira coletiva do artista, no Museu Ernst
1932 - Paris (França) - Salon des Surindépendants
1938 - Paris (França) - Salon des Surindépendants
1944 - Londres (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Royal Academy of Arts
1944 - Norwich (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Norwich Castle and Museum
1945 - Edimburgo (Escócia) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na National Gallery
1945 - Glasgow (Escócia) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Kelingrove Art Gallery
1945 - Baht (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Victory Art Gallery
1945 - Bristol (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Bristol City Museum & Art Gallery
1945 - Manchester (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Manchester Art Gallery
1946 - Belo Horizonte MG - Expõe, ao lado de Vieira da Silva, na Biblioteca Municipal, a convite de Juscelino Kubitschek
1976 - Paris (França) - Mostra, no Museu Nacional de Arte Moderna
1984 - Lisboa (Portugal) - Mostra, com Vieira da Silva, de obras do decênio 1930-40, na Galeria Emi-Valentim de Carvalho
Exposições Póstumas
1985 - Lisboa (Portugal) - Individual, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian
1986 - Paris (França) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1986 - Vézelay (França) - Individual, no Museu Lapidário
1986 - Rio de Janeiro RJ - Tempos de Guerra: Hotel Internacional, na Galeria de Arte Banerj
1986 - Rio de Janeiro RJ - Tempos de Guerra: Pensão Mauá, na Galeria de Arte Banerj
1987 - Aix-en-Provence (França) - Individual, no Museu Granet
1987 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1988 - Portugal - O presidente da República, Mário Soares, confere-lhe a Grã-Cruz da Ordem de Sant´Iago da Espada
1989 - Porto (Portugal) - Individual, no Museu d´Arte Moderna, Casa de Serralves
1990 - Peróuges (França) - Individual, na Maison des Princes
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
2000 - Valência (Espanha) - De la Antropofagia a Brasilía: Brasil 1920-1950, no IVAM. Centre Julio Gonzáles
2000 - São Paulo SP - Arpad Szenes e Vieira da Silva: período brasileiro, na Pinacoteca do Estado
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950, no Museu de Arte Brasileira
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
Fonte: ARPAD Szenes. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 09 de março de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Biografia – Arpad Szenes Infopédia
Pintor de origem húngara, Arpad Szenes nasceu em 1897, em Budapeste, capital da Hungria. A partir de 1918 estudou na Academia de Budapeste, onde apresentou um especial interesse pela prática do desenho e da pintura. Procurou então conhecer e estudar as correntes artísticas de vanguarda no contexto europeu, abordando um largo espectro, desde as artes plásticas à música.
Mais tarde viajou por vários países europeus, instalando-se em Paris em 1925. Dedicou-se à pintura e ao desenho, produzindo um conjunto de trabalhos figurativos de influência surrealista, dos quais se destaca o seu "Autoportrait à la pupille rouge", realizado entre 1924 e 1925. Estas pinturas, as menos conhecidas no contexto da sua obra, apresentam signos associados a figuras muito coloridas e assumem frequentemente um carácter agressivo e irônico.
Em 1929 Arpad conheceu a pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (na época radicada em Paris onde estudou pintura na Académie de La Grande-Chaumière) com quem se casou no ano seguinte. Após o curso o artista trabalhou com Hayter, mestre de gravura e, sem abandonar a pintura (como o testemunha a série de telas "L'enfant au cerf-volant", realizada em meados da década de trinta), executou várias gravuras de carácter surrealista.
Desde o seu casamento, o pintor deslocou-se frequentemente a Portugal, onde participou em várias exposições coletivas. Nessa altura conhece vários artistas portugueses, como Carlos Botelho, com os quais desenvolve prolongadas relações de amizade.
Com o eclodir da Segunda Guerra Mundial, em 1939, o casal voltou para Lisboa e tentou, sem sucesso, obter para Arpad Szenes (que se tornaria apátrida desde que os nazis lhe tinham retirado a sua anterior nacionalidade devido à sua ascendência judaica) a nacionalidade portuguesa. No ano seguinte os dois artistas refugiaram-se no Rio de Janeiro, no Brasil, onde permaneceram até 1947.
A partir dos inícios dos anos 50, Arpad realizou as suas obras mais conhecidas, em formato alongado, enveredando por um abstracionismo de raiz informalista, assente na utilização de cromatismos serenos mas luminosos, constituídos por ocres e outras cores suaves e quentes.
Em 1956 foi-lhe atribuída a nacionalidade francesa, assim como a Vieira da Silva.
Arpad Szenes e Vieira da Silva conviveram e apoiaram toda uma geração de artistas portugueses que, bolseiros da Fundação Calouste Gulbenkian, se instalaram em Paris a partir da década de cinquenta. Foi o caso de Manuel Cargaleiro, Costa Pinheiro, Eduardo Luís e dos artistas (Gonçalo Duarte, José Escada, Lourdes Castro, René Bértholo e João Vieira) que, nos finais da década constituíram o Grupo KWY, ativo em Paris até aos inícios da década seguinte. Foi nesta altura que Arpad Szenes realizou a sua primeira exposição individual. Após da revolução de 1975 que depôs a ditadura em Portugal, tornou-se mais intensa a relação dos artistas com o país natal de Vieira da Silva.
Autor de uma obra serena e discreta, Arpad Szenes viu-se geralmente subjugado pelo apoio incondicional que prestou ao trabalho e à carreira da sua mulher, que obteria reconhecimento e projeção internacional a partir de 1950.
O artista morreu em Paris em 1985 e, nove anos mais tarde, uma parte significativa da sua obra foi reunida pela Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, criada em Lisboa em 1994.
Fonte: Porto Editora – Arpad Szenes na Infopédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Crédito fotográfico: Jeanne Bucher Jaeger. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Szenes Árpád (Budapeste, Hungria, 6 de maio de 1897 — Paris, França, 16 de janeiro de 1985), mais conhecido como Árpád Szenes, foi um pintor, gravurista, ilustrador, desenhista e professor húngaro, naturalizado francês em 1956. Suas obras apresentam associação ao surrealismo, retratando figuras muito coloridas, muitas vezes assumindo carácter agressivo e irônico. Em suas obras mais famosas, reverenciou um abstracionismo informal, utilizando cromatismos serenos e luminosos, constituídos por ocres e outras cores suaves e quentes. Expôs em muitos países, inclusive no Brasil. Foi reconhecido artisticamente através de medalhas e prêmios e hoje suas obras podem ser apreciadas na Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva em Lisboa.
Biografia — Wikipédia
Sua trajetória artística ficou profundamente ligada ao mundo latino, devido — em grande parte — ao seu casamento em 1930 com a portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, com quem realizou inúmeras viagens à América Latina para participar de exposições, como em 1946 no Instituto de Arquitetos do Brasil.
Devido ao facto de ser judeu e de sua esposa ter perdido a nacionalidade portuguesa, eram oficialmente apátridas. O casal decidiu então residir por um longo tempo no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e no período pós-guerra. No Brasil, entram em contato com importantes artistas locais, como Carlos Scliar e Djanira.
A ligação com Portugal reflete-se na existência da Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva, sediada em Lisboa.
A 7 de Setembro de 1978 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a 16 de Julho de 1988 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva
A Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva MHIH é uma instituição sediada em Lisboa; tem por vocação primordial a divulgação e o estudo da obra dos artistas plásticos Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva. Com este objetivo, foram criados um museu e um centro de documentação e investigação, abertos ao público.
O museu foi inaugurado a 3 de Novembro de 1994 com o contributo da Câmara Municipal de Lisboa, que cedeu o edifício, a Fundação Calouste Gulbenkian, que custeou as obras de remodelação, enquanto a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento apoiou na área da investigação.
A coleção do museu cobre um vasto período da produção de pintura e desenho dos dois artistas: de 1911 a 1985, para Árpád Szenes, e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva.
Existe ainda um núcleo de gravura de Vieira da Silva que inclui também obras de 1990 e 1991, um ano antes da morte da artista.
Está instalado na antiga Real Fábrica dos Tecidos de Seda de Lisboa, um edifício datado do século XVIII.
Contíguo ao jardim das Amoreiras, face ao Aqueduto das Águas Livres, frente à capela de Nossa Senhora de Monserrate e à Mãe d'Água das Amoreiras, faz uma mostra anual apresentando uma temática que permite acompanhar tendências e a evolução da arte moderna.
Um dos diretores e administradores da Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva foi o arquiteto Sommer Ribeiro, falecido em 2006.
Em 14 de Maio de 2015 foi nomeado Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique.
Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
---
Biografia – Itaú Cultural
Arpad Szenes (Budapeste, Hungria 1897 - Paris, França 1985). Pintor, gravador, ilustrador, desenhista e professor. Pertencente a uma família de intelectuais e artistas, o desenho faz parte de sua vida desde criança. Em Budapeste, estudou com József Rippl-Rónai (1861 - 1927) na Academia Livre.
Muda-se, em 1925, para Paris, onde realiza caricaturas e retratos em bares e cafés, estuda com André Lhote (1885 - 1962), Fernand Léger (1881 - 1995) e Roger Bissiere (1886 - 1964), frequenta a Académie de la Grande Chaumière e estuda com Stanley William Hayter (1901 - 1988), com quem aprende gravura.
Em 1930, casa-se com a pintora portuguesa Vieira da Silva (1908 - 1992), seu modelo mais frequente.
Em 1940, após morar por um período em Lisboa, o casal, fugindo do nazismo, transfere-se para o Rio de Janeiro. Reside primeiro num casarão na Rua Marques de Abrantes, onde também morava o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), e, depois, nos chalés pertencentes ao antigo Hotel Internacional, em Santa Teresa, pensão e reduto de artistas emigrados no período. No prédio principal do hotel, Arpad monta um ateliê em que recebe seus alunos. Entre eles, Frank Schaeffer, Almir Mavignier e Polly McDonnell. Passou a dar aulas também na Colméia de Pintores do Brasil, criada por Levino Fanzeres.
Entre 1940 e 1947 manteve contato com Murilo Mendes, Cecília Meireles, Carlos Scliar e Ruben Navarra.
Em 1943, realiza 15 retratos de cientistas, distribuídos pelas salas de aulas da Escola Nacional de Agronomia, e colabora no painel realizado por Vieira da Silva, a convite de Heitor Grilo, para a mesma universidade. Arpad Szenes realiza a ilustração da tradução brasileira de Weise von Liebe und Tod des Cornets Christoph Rilke [A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke], de Rainer Maria Rilke (1875 - 1926), feita por Cecília Meireles.
Em 1947, com as mudanças vindas com o fim da guerra, retornam à França e dão continuidade às suas vidas artísticas. Em Paris, Lygia Clark (1920 - 1988) e Teresa Nicolao (1928) têm aulas com Arpad Szenes.
Comentário Crítico
Arpad Szenes, a partir de 1919, tem contato com correntes artísticas de vanguarda, como o dadaísmo, cubismo, futurismo e construtivismo. Em 1925, reside em Paris e conhece na Académie de la Grande Chaumière a pintora portuguesa Vieira da Silva (1908 - 1992), com quem se casa em 1930. Conviveu com intelectuais e artistas como Oskar Kokoschka (1886 - 1980), Alberto Giacometti (1901 - 1966), Alexander Calder (1898 - 1976) e Jacques Lipchitz (1891 - 1973). Em 1931, trabalha no Atelier 17 de Stanley William Hayter (1901 - 1988), com quem estuda gravura, e encontra surrealistas como Joan Miró (1893 - 1983) e Max Ernst (1891 - 1976). Em 1936, pinta grandes telas abstratas, como L'Obstacle, Le Carrousel, Le Fléau e L'Enfant au Cerf-Volant.
Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o casal muda-se para Portugal e em seguida para o Brasil. Szenes e sua esposa residem no Hotel Internacional, no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro, que reúne um círculo de artistas e intelectuais emigrados.
Retoma a figuração e dedica-se sobretudo à retratística: pinta o grupo de amigos que freqüentam o Hotel Internacional e, com a ajuda de Cecília Meireles (1901 - 1964), recebe encomenda para pintar personalidades para a Escola Nacional de Agronomia (chamada Quilômetro 44), da Universidade Rural Fluminense. Realiza ilustrações para obras de Murilo Mendes (1901 - 1975), Mário de Andrade (1893 - 1945) e para a tradução brasileira de Weise von Liebe und Tod des Cornets Christoph Rilke [A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke], de Rainer Maria Rilke (1875 - 1926), cujos estudos dão origem à série Banquets.
No quadro O Casal, 1933, dialoga com o cubismo, especialmente com Les Demoiselles d'Avignon, 1907, de Pablo Picasso (1881 - 1973). Nessa obra, Szenes trata os rostos dos protagonistas como máscaras, e a frontalidade e lateralidade se confundem. Em outro trabalho com mesmo título, de 1942, o casal abraçado está cercado de objetos domésticos: o jarro com plantas, a mesa com cartas de baralho e o cavalete com a tela, criando uma cena íntima e amorosa.
Regressa a Paris em 1947. No ano seguinte, Szenes organiza um ateliê onde ensina jovens pintores. Pinta as séries abstratas dos Banquets, Parques e Conversations, nas quais as linhas de força, tensão e movimento são suas principais preocupações pictóricas. Trabalha também, desde 1950, com guache e têmpera. Em 1956, com a esposa, obteve nacionalidade francesa. Recebe, por sua obra, várias condecorações do Estado francês. Realiza ilustrações para diversos livros.
Arpad Szenes foi um dos principais representantes da Escola de Paris nos anos 1940. No Brasil, sua presença e a de Vieira da Silva marcam profundamente a obra de vários artistas com quem convivem, como Burle Marx (1909 - 1994), Carlos Scliar (1920 - 2001) e Athos Bulcão (1918).
Críticas
"A pintura de Szenes, de caráter final abstrato (caráter que hoje, segundo o pintor, parece ser definitivo e sem mais recorrências - e os seus primeiros estudos abstratos datam de José Augusto França 1918), tem cumprido ciclos sucessivos de evolução começando sempre por uma aproximação da natureza, à qual volta depois. A influência de Cézanne é visível nessa pintura, tal como, mais atualmente, a partir de 1957, a de Monet, então descoberto, e assim se verificando uma sensibilidade impressionista subjacente em toda a criação do pintor". Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969).
"Pelo círculo de artistas e de intelectuais que Arpad Szenes e Vieira da Silva souberam naturalmente atrair à sua volta, pelo trabalho criador que realizaram e mostraram ao público enquanto pintores e pela extensão da troca até o ensino doméstico da arte (no caso de Arpad), os dois, melhor do que os demais emigrados na época, inclusive o eficiente Leskoschek, terminaram plantando uma semente nova e promissora no ambiente. A fertilização que nos trouxeram, com a obra produzida ou a reflexão provocada, fez deles a cabeça-de-ponte para a passagem e a irradiação do abstracionismo que os anos 50 erigiram em hegemonia. Se Samson Flexor logo teria um papel relevante no mesmo sentido, com o seu Atelier Abstração, em São Paulo, não se pode recusar a Maria Helena Vieira da Silva e a Arpad Szenes o pioneirismo de catalisadores. A novidade abstrata, que veio ainda em germinação na sua bagagem de exilados , aqui ganhou alento, floresceu e deixou frutos, tanto na pintura de ambos quanto na dos muitos que, então e em seguida, influenciaram". — Roberto Pontual (PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1987).
"A pintura de Szenes começa por ser, antes de tudo, uma lição moral. Ponha-se o implacável laboratório da sua palheta de ateliê ao lado desses aventureiros de fora que vêm fazer chantagem com o " pitoresco tropical". Ele trancou-se anos até aceitar o conselho de uma exposição. Rodeou-se de uma solidão invulnerável. Artista maduro, senhor de sua imaginação, até hoje não apanhou qualquer doença tropical. Sua pintura tem tido a força de esquivar a sofisticação de encomenda, a indulgência com o gosto dos snobs, a vertigem comercial a que poucos europeus resistem no Novo Mundo, seja o do Norte, seja o do Sul. No entanto a sua vida tem sido igual a de tantos refugiados de guerra. Se atravessou o fogo dessa dura experiência, foi graças à sua vocação para a arte e todos os sacrifícios que ela exige". — Ruben Navarra (Navarra, Ruben. [texto]. In: LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. [Texto originalmente publicado no Jornal da Tarde. Campina Grande, 1966, p.179-186]).
"(...) Quanto à Arpad Szenes, ensina pintura, desenho, arte. É um estranho métier o que ensina, é tão estranho que os estranhos que com ele aprenderam, por exemplo, Lygia Clark ou Almir Mavignier, não esqueceram nunca, mesmo quando o que passaram a fazer contraria tudo o que Arpad transmitiu. Grande pintor que vive na sombra, que ama a sombra, a pintura de Arpad, se é cosa mentale, é principalmente um pensamento que não é traduzível senão em pintura. Não foi por acaso que quem o descobriu no Rio, quem os acolheu, quem os alojou numa singular pensão de russos num velho casarão do Flamengo, foi um poeta, e que poeta, Murilo M, Mendes, e como se vê, grande crítico também. Mas não é só: foi ele quem descobriu vinte anos antes o gênio de Ismael Nery". — Mário Pedrosa (PEDROSA, MÁRIO. A Bienal de Cá para lá. In: PEDROSA, Mário, ARANTES, Otília Beatriz Fiori (org.). Política das artes: textos escolhidos I. São Paulo: Edusp, 1995. p. 233-234. [Texto originalmente escrito em 1970]).
Depoimentos
"Para um pintor desenhei muito. Há Pintores de quem se conhecem poucos desenhos, pois os desenhos estão nas telas. Efetivamente a pintura é também desenho, mas o desenho é direto. Pelo menos assim o penso. O desenho não engana porque não mente. A pintura a óleo implica uma longa preparação, exige paciência. É preciso um cavalete, uma paleta. O desenho é impaciente, temo-lo nas mãos ou temos de agarrá-lo. Pode desenhar-se com quase nada. A pintura a óleo é um trabalho de fundo. O desenho é rápido, pertence ao instante. Quando senti que a guerra se aproximava, deixei de poder pintar, pois não conseguia abstrair-me, mas pude prosseguir com o desenho. Quando se quer trabalhar, é uma autêntica volúpia!
Mais do que uma carícia, o desenho é uma agressão. Para ir em busca do segredo escondido na carne, debaixo do osso, uma certa crueldade é indispensável. Olhar e desenhar - quem desenha não pode dar-se ao luxo de não ver. Talvez o traço seja um escalpelo: a precisão é necessária. Os primitivos comiam aqueles a quem amavam, eu devorei com os olhos o objeto de meu amor. Tinha o privilégio de um modelo permanente. Desenhava-o de mil maneiras diferentes e, de cada vez a minha interpretação variava. É por isso que, embora nos meus desenhos Vieira esteja sempre a trabalhar: sentada ou em pé, atenta, obstinada -, eles têm aparências muito diversas". — Arpad Szenes (SZENES, Arpad. RETRATOS de Vieira por Arpad Szenes. Lisboa: Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985).
Exposições Individuais
1933 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Galeria UP, dirigida por Antonio Pedro
1939 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeanne Bucher
1985 - Paris (França) - Individual, na Galerie Jeanne Bucher
1946 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no IAB/RJ, com apresentação de Murilo Mendes
1957 - Basiléia (Suíça) - Individual, na Galerie Betty Thomen
1958 - Paris (França) - Individual, na Galerie Pierre
1960 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1965 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1969 - Paris (França) - Individual, no Cahiers d´Art
1961 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Grand
1965 - Oslo (Noruega) - Individual, na Galeria 27
1965 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Alice Pauli
1968 - Lausanne (Suíça) - Individual, na Galerie Alice Pauli
1969 - França - Individual, no Chateau de Ratilly
1970 e 1973 - França - Retrospectiva, nos Museus de Rouen, Rennes, Lille, Nantes, Besançon, Dijon, Orleans e Reims
1972 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1974 - Paris (França) - Retrospectiva, no Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris
1975 - Montpellier (França) - Individual, no Museu Fabre
1977 - Budapeste e Peces (Hungria) - Individual, no Museu Nacional de Belas Artes, Magyar Nemzeti Galeria e Vàrisi Tanàcs Kialliototerme
1983 - Dijon (França) - Individual, no Museu de Belas Artes
1983 - Paris (França) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
Exposições Coletivas
1922 - Budapeste (Hungria) - Primeira coletiva do artista, no Museu Ernst
1932 - Paris (França) - Salon des Surindépendants
1938 - Paris (França) - Salon des Surindépendants
1944 - Londres (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Royal Academy of Arts
1944 - Norwich (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Norwich Castle and Museum
1945 - Edimburgo (Escócia) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na National Gallery
1945 - Glasgow (Escócia) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Kelingrove Art Gallery
1945 - Baht (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Victory Art Gallery
1945 - Bristol (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Bristol City Museum & Art Gallery
1945 - Manchester (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Manchester Art Gallery
1946 - Belo Horizonte MG - Expõe, ao lado de Vieira da Silva, na Biblioteca Municipal, a convite de Juscelino Kubitschek
1976 - Paris (França) - Mostra, no Museu Nacional de Arte Moderna
1984 - Lisboa (Portugal) - Mostra, com Vieira da Silva, de obras do decênio 1930-40, na Galeria Emi-Valentim de Carvalho
Exposições Póstumas
1985 - Lisboa (Portugal) - Individual, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian
1986 - Paris (França) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1986 - Vézelay (França) - Individual, no Museu Lapidário
1986 - Rio de Janeiro RJ - Tempos de Guerra: Hotel Internacional, na Galeria de Arte Banerj
1986 - Rio de Janeiro RJ - Tempos de Guerra: Pensão Mauá, na Galeria de Arte Banerj
1987 - Aix-en-Provence (França) - Individual, no Museu Granet
1987 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Fundação Calouste Gulbenkian
1988 - Portugal - O presidente da República, Mário Soares, confere-lhe a Grã-Cruz da Ordem de Sant´Iago da Espada
1989 - Porto (Portugal) - Individual, no Museu d´Arte Moderna, Casa de Serralves
1990 - Peróuges (França) - Individual, na Maison des Princes
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: 100 Anos de Arte Moderna, no MNBA
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
2000 - Valência (Espanha) - De la Antropofagia a Brasilía: Brasil 1920-1950, no IVAM. Centre Julio Gonzáles
2000 - São Paulo SP - Arpad Szenes e Vieira da Silva: período brasileiro, na Pinacoteca do Estado
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950, no Museu de Arte Brasileira
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
Fonte: ARPAD Szenes. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Acesso em: 09 de março de 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
---
Biografia – Arpad Szenes Infopédia
Pintor de origem húngara, Arpad Szenes nasceu em 1897, em Budapeste, capital da Hungria. A partir de 1918 estudou na Academia de Budapeste, onde apresentou um especial interesse pela prática do desenho e da pintura. Procurou então conhecer e estudar as correntes artísticas de vanguarda no contexto europeu, abordando um largo espectro, desde as artes plásticas à música.
Mais tarde viajou por vários países europeus, instalando-se em Paris em 1925. Dedicou-se à pintura e ao desenho, produzindo um conjunto de trabalhos figurativos de influência surrealista, dos quais se destaca o seu "Autoportrait à la pupille rouge", realizado entre 1924 e 1925. Estas pinturas, as menos conhecidas no contexto da sua obra, apresentam signos associados a figuras muito coloridas e assumem frequentemente um carácter agressivo e irônico.
Em 1929 Arpad conheceu a pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (na época radicada em Paris onde estudou pintura na Académie de La Grande-Chaumière) com quem se casou no ano seguinte. Após o curso o artista trabalhou com Hayter, mestre de gravura e, sem abandonar a pintura (como o testemunha a série de telas "L'enfant au cerf-volant", realizada em meados da década de trinta), executou várias gravuras de carácter surrealista.
Desde o seu casamento, o pintor deslocou-se frequentemente a Portugal, onde participou em várias exposições coletivas. Nessa altura conhece vários artistas portugueses, como Carlos Botelho, com os quais desenvolve prolongadas relações de amizade.
Com o eclodir da Segunda Guerra Mundial, em 1939, o casal voltou para Lisboa e tentou, sem sucesso, obter para Arpad Szenes (que se tornaria apátrida desde que os nazis lhe tinham retirado a sua anterior nacionalidade devido à sua ascendência judaica) a nacionalidade portuguesa. No ano seguinte os dois artistas refugiaram-se no Rio de Janeiro, no Brasil, onde permaneceram até 1947.
A partir dos inícios dos anos 50, Arpad realizou as suas obras mais conhecidas, em formato alongado, enveredando por um abstracionismo de raiz informalista, assente na utilização de cromatismos serenos mas luminosos, constituídos por ocres e outras cores suaves e quentes.
Em 1956 foi-lhe atribuída a nacionalidade francesa, assim como a Vieira da Silva.
Arpad Szenes e Vieira da Silva conviveram e apoiaram toda uma geração de artistas portugueses que, bolseiros da Fundação Calouste Gulbenkian, se instalaram em Paris a partir da década de cinquenta. Foi o caso de Manuel Cargaleiro, Costa Pinheiro, Eduardo Luís e dos artistas (Gonçalo Duarte, José Escada, Lourdes Castro, René Bértholo e João Vieira) que, nos finais da década constituíram o Grupo KWY, ativo em Paris até aos inícios da década seguinte. Foi nesta altura que Arpad Szenes realizou a sua primeira exposição individual. Após da revolução de 1975 que depôs a ditadura em Portugal, tornou-se mais intensa a relação dos artistas com o país natal de Vieira da Silva.
Autor de uma obra serena e discreta, Arpad Szenes viu-se geralmente subjugado pelo apoio incondicional que prestou ao trabalho e à carreira da sua mulher, que obteria reconhecimento e projeção internacional a partir de 1950.
O artista morreu em Paris em 1985 e, nove anos mais tarde, uma parte significativa da sua obra foi reunida pela Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, criada em Lisboa em 1994.
Fonte: Porto Editora – Arpad Szenes na Infopédia. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.
Crédito fotográfico: Jeanne Bucher Jaeger. Consultado pela última vez em 9 de março de 2022.