Noemia Mourão Moacyr (15 de fevereiro de 1912, Bragança Paulista, SP — 21 de agosto de 1992, São Paulo, SP), mais conhecida como Noemia Mourão, foi uma pintora, desenhista, cenógrafa e ilustradora brasileira. Formou-se artisticamente em São Paulo e, a partir de 1935, viveu em Paris, estudando nas Academias Ranson e La Grande Chaumière, além de cursar Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Foi aluna de Emiliano Di Cavalcanti e escultora sob orientação de Victor Brecheret. Em Paris, integrou a Société des Femmes Artistes Modernes e expôs ao lado de nomes como Suzanne Valadon e Marie Laurencin. Sua obra, marcada pela figura humana e pelo retrato feminino, combina rigor no desenho e sensibilidade cromática, refletindo influências modernistas e cosmopolitas. Participou de diversas edições da Bienal de São Paulo e de mostras no Brasil e no exterior, com obras preservadas em acervos como o do MASP.
Noemia Mourão | Arremate Arte
Noemia Mourão Moacyr (Bragança Paulista, São Paulo, 1912 — São Paulo, 1992) foi uma pintora, desenhista, cenógrafa e ilustradora brasileira cuja trajetória artística transitou entre o Brasil e a Europa, marcada por forte formação acadêmica e um olhar sensível sobre a figura humana. Seu primeiro contato com a arte ocorreu nos anos 1930, quando estudou com Emiliano Di Cavalcanti, de quem foi aluna e esposa por alguns anos. Em 1935, mudou-se para Paris, onde viveu até 1940 e frequentou as Academias Ranson e La Grande Chaumière, aprofundando seus estudos em Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Nesse período, colaborou como ilustradora para os jornais Le Monde e Paris Soir, além de participar de um programa na Radio Diffusion Française.
Em Paris, integrou a Société des Femmes Artistes Modernes, onde conviveu com artistas como Suzanne Valadon e Marie Laurencin. Sua obra deste período, como a pintura Moças do Boulevard Raspail (1939), hoje no acervo do MASP, revela cenas urbanas e figuras femininas de traço volumoso, paleta vibrante e expressões melancólicas, refletindo influências tanto da pintura francesa quanto do modernismo brasileiro.
De volta ao Brasil, estudou escultura com Victor Brecheret e desenvolveu paralelamente uma carreira no teatro como cenógrafa. Participou de importantes mostras nacionais e internacionais, incluindo edições da Bienal de São Paulo, como a de 1957, e exposições em Paris. Em 1990, foi homenageada com uma retrospectiva no Museu de Arte Brasileira da FAAP, que revisitou sua trajetória e reafirmou a relevância de sua produção.
Ao longo de sua carreira, Noemia explorou a figura humana, sobretudo feminina, como núcleo de sua investigação plástica, equilibrando força expressiva e refinamento formal. Sua pintura alia um domínio rigoroso do desenho a uma sensibilidade cromática que dialoga com a modernidade, preservando, no entanto, um caráter intimista. Faleceu em São Paulo, em 1992, deixando um legado que se insere na história da arte brasileira como um elo entre o modernismo e as experiências cosmopolitas vividas na Europa.
Noemia Mourão | Itaú Cultural
Noemia Mourão Moacyr (Bragança Paulista, São Paulo, 1912 - São Paulo, São Paulo, 1992). Pintora, cenógrafa, e desenhista. Em 1932, estuda com Di Cavalcanti (1897-1976), com quem casa-se no ano seguinte. Entre 1935 e 1940, vive em Paris (França) e frequenta as academias Ranson e de La Grande Chaumière e estuda Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Colabora como ilustradora, para os jornais Le Monde e Paris Soir e é contratada pela Radio Difusion Française, para participar de um programa sobre literatura e artes plásticas, juntamente com Cicero Dias (1907-2013), Tavares Bastos e Marcelino de Carvalho. De volta ao Brasil, estuda escultura com Victor Brecheret (1894-1955).
Críticas
"Noêmia Mourão vem perseguindo, desde há muito, uma forma, uma comunicação que é somente dela, e é através dela que um ramo da pintura brasileira se traduz por um processo de reencontro, de poesia, de beleza que a artista sabe transmitir, sem modismos (...), sem aquilo que é voga hoje. (...) Noêmia fica indiferente aos apelos do dia e continua a ser ela mesma numa pesquisa, num encontro de soluções plásticas, numa poesia, num vir-a-ser de si própria em que todos os modismos se afastam, se alienam, para deixar uma Noêmia sozinha, sem compromissos com qualquer escola, sempre fiel a si mesma" — Delmiro Gonçalves (CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir, org. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria Alice Barroso. Brasília: MEC/INL, 1973-1980. (Dicionários especializados, 5)).
"Pintora figurativista, teve na aquarela o meio expressivo por excelência, aquele que mais se adequava à sua temática de suaves figuras femininas, evocativas, nos melhores momentos, das de uma Marie Laurencin. Em anos mais recentes, após uma ausência de mais de 20 anos, realizou em São Paulo exposições de seus óleos (...), já sem o frescor e a sensibilidade de outras eras" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Exposições Individuais
1934 - Rio de Janeiro RJ - Primeira individual
1938 - Paris (França) - Individual
1943 - São Paulo SP - Individual
1947 - Nova York (Estados Unidos) - Individual
1974 - São Paulo SP - Individual
1990 - São Paulo SP - Retrospectiva, no MAB/Faap
Exposições Coletivas
1933 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão da Pró-Arte
1935 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Social, no Clube de Cultura Moderna
1937 - Paris (França) - Salão de Pintoras da Europa (Salon des Femmes Peintres d'Europe)
1938 - Paris (França) - Exposição de Arte Decorativa
1938 - São Paulo SP - 2º Salão de Maio
1941 - São Paulo SP - 1º Salão de Arte da Feira Nacional das Indústrias
1944 - Belo Horizonte MG - Exposição de Arte Moderna, no Edifício Mariana
1947 - São Paulo SP - Bonadei, Di Cavalcanti, Noêmia Mourão, Lothar Charoux, Oswald de Andrade Filho, Lúcia Suané, Cesar Lacanna, Mario Zanini e Raphael Galvez, na Galeria Itapetininga
1949 - Rio de Janeiro RJ - Exposição da Pintura Paulista
1957 - São Paulo SP - 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Penápolis SP - 1º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1976 - Penápolis SP - 2º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1976 - São Paulo SP - Os Salões: da Família Artística Paulista, de Maio e do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, no Museu Lasar Segall
1977 - São Paulo SP - Mostra de Arte, no Grupo Financeiro BBI
1991 - São Paulo SP - 21ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
Exposições Póstumas
1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP
1998 - São Paulo SP - Fantasia Brasileira: O Balé do IV Centenário, no Sesc Belenzinho
1999 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap
2000 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Figuras e Faces, na A Galeria
2004 - Brasília DF - O Olhar Modernista de JK, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2004 - São Paulo SP - Mulheres Pintoras, na Pinacoteca do Estado
2004 - São Paulo SP - Novas Aquisições: 1995 - 2003, no MAB/Faap
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
Fonte: NOEMIA Mourão. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 11 de agosto de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Noêmia Mourão | MASP
Nascida em uma fazenda próxima a Bragança Paulista, Noêmia Mourão (1912-1992) pertencia a uma família ligada à aristocracia cafeeira. Aos 20 anos, iniciou seus estudos de pintura no Clube do Artista Moderno com professores como Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976), com quem se casaria em 1933. Em sua trajetória como pintora, Mourão retratou sobretudo figuras femininas no primeiro plano das telas, geralmente fora do espaço doméstico ao qual eram então normalmente associadas. Personagem central em uma fase de consolidação e efervescência do modernismo brasileiro, a artista também foi influenciada, como a maior parte dos seus contemporâneos, pelas pesquisas sobre a brasilidade, integrando tradições regionais, populares e indígenas, assim como das culturas urbanas cosmopolitas. Viveu entre 1935 e 1940 em Paris, quando pintou Moças do Boulevard Raspail, da coleção do MASP, na qual a capital francesa é cenário. Aqui vê-se uma cena típica de café parisiense; há quatro mulheres, uma a frente sem olhar diretamente para a observadora, e outras três sentadas em uma mesa em uma avenida na Rive Gauche, região conhecida na época pela boemia e como ponto de encontro da intelectualidade. A tela revela a forma com a qual Mourão costumava representar as figuras, com olhar melancólico, pintadas com membros volumosos, arredondados, em formas pouco detalhadas e cores vibrantes. Nesse período, a artista participou junto a artistas como Suzanne Valadon (1865-1938) e Marie Laurencin (1883-1956), com quem Mourão também realizou exposições, da Société des femmes artistes modernes cuja bandeira central era o reconhecimento da profissionalização das mulheres artistas. Mourão e o marido, Di, sairiam as pressas da Europa em 1940, fugindo da 2ª Guerra Mundial, deixando para trás em um depósito a obra realizada nesses anos, com a qual a artista iria se reencontrar apenas 26 anos depois.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, 2020
Fonte: MASP, “Noêmia Mourão”. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Exposição no MAB apresenta obras de grandes artistas mulheres do país | Agência Brasil
A participação feminina na arte brasileira teve um grande impulso com o Modernismo. Foi principalmente a partir desse movimento que a arte produzida por mulheres no Brasil, e as próprias artistas, passaram a ser mais reconhecidas e a ocupar os espaços artísticos, culturais e sociais antes dominados pelos artistas homens. Para mostrar essa ascensão feminina na história da arte do país, o Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB-FAAP), em São Paulo, está promovendo a exposição Elas: Mulheres Artistas no Acervo do MAB. A mostra apresenta 82 obras do acervo do museu, entre esculturas, pinturas, gravuras, desenhos, vídeos e fotografias de 64 artistas que tiveram uma grande representação no país. Entre as obras estão duas telas de Anita Malfatti e duas pinturas de Tarsila do Amaral, além de obras de Lygia Clark, Tomie Ohtake, Noemia Mourão, Djanira e Maria Bonomi, entre outras.
“A exposição é um recorte das obras do acervo, mas em específico com obras produzidas por artistas brasileiras ou estrangeiras radicadas no Brasil”, disse um dos curadores da exposição, José Luis Hernández Alfonso, em entrevista à Agência Brasil. “A ideia é demonstrar um percurso de obras feitas por artistas do século 20 até os nossos dias, começando por Tarsila e Anita, que foram as duas artistas da vanguarda da arte brasileira. A partir delas, a visibilidade da mulher artista aparece na sociedade brasileira porque, até então, era desconhecida”, acrescentou.
A exposição foi dividida em três núcleos. “O primeiro núcleo demonstra todo o seu percurso desde Anita e Tarsila até os nossos dias. Aí temos pinturas, esculturas e desenhos e passa por todos os movimentos e todas as concepções estilísticas como Modernismo, Estruturalismo, Abstracionismo, entre outros. Depois temos um segundo bloco dedicado à gravura, que é muito importante na arte brasileira. E um terceiro núcleo dedicado à fotografia e a vídeo instalação”, disse o curador.
Fonte: Agência Brasil, “Exposição no MAB apresenta obras de grandes artistas mulheres do país”. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Além de Tarsila e Anita: conheça as mulheres da Semana de Arte Moderna de 1922 | Marie Claire
Quando Tarsila do Amaral e Anita Malfatti revolucionaram o cenário das artes nos anos 1920, as brasileiras não podiam votar (o sufrágio feminino foi garantido em 1932), nem trabalhar sem a autorização do marido, nem tinham direito a herança ou à guarda dos filhos (conquistas de 1962), tampouco estavam aptas a pedir o divórcio (lei aprovada em 1977).
Nada disso impediu que as duas artistas se tornassem as responsáveis pelo fato de o modernismo ser hoje tema de tantos eventos sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo de 13 a 17 de fevereiro de 1922.
Considerada pelo crítico e escritor Mário de Andrade a “iniciadora do movimento artístico moderno no Brasil”, Anita Malfatti (1889-1964) foi quem primeiro chacoalhou a cena, em 1917, ao exibir obras sob a influência de vanguardas europeias como o expressionismo, numa exposição que escandalizou intelectuais como Monteiro Lobato.
Ícone pop do movimento, Tarsila do Amaral (1886-1973) não participou da Semana de 22, juntando-se ao grupo meses depois para, segundo Mário de Andrade, ser a “primeira que conseguiu realizar uma obra de realidade nacional”, graças a uma “brasileirice imanente”, com destaque para o “caipirismo de formas e de cor”.
Tarsila é não só a artista mais cara do Brasil – em 2020, seu quadro A Caipirinha foi leiloado por R$ 57,5 milhões –, como também referência para produções que vão da moda ao cinema (a exemplo da animação Tarsilinha, que estreia em 10/2).
Mas elas não eram as únicas. A mineira Tereza Aita (1900-1967), conhecida como Zina, e a paulista Regina Gomide Graz (1897-1973) também participaram do evento no Teatro Municipal, mas quem hoje ouviu falar delas?
“Zina é uma ilustre desconhecida, muito porque, em 1924, ela foi morar em Nápoles [Itália], onde montou uma fábrica de cerâmica”, revela Regina Teixeira de Barros, uma das curadoras da mostra sobre modernismo que ocupou o Museu de Arte Moderna de São Paulo em 2021.
“Sabemos pouco de sua produção, mas eram criações supermodernas, porque Zina estudou belas-artes em Florença numa época em que seus professores estavam renovando o modernismo. Sua obra tem características do futurismo tanto no tema quanto na técnica.”
Se Zina Aita “desapareceu” da história da arte brasileira por ter deixado o país, Regina Gomide Graz foi ofuscada pela parceria com o marido, o suíço John Graz, que ela conheceu quando estudava arte na Suíça.
“Não temos certeza se Regina expôs ou não porque o nome dela não está no catálogo da Semana de 22, mas há indícios de que esse material não inclui todos que participaram, como é o caso de [Oswaldo] Goeldi”, diz Regina.
“Suspeitamos que ela tenha exposto porque, nos anos 1960, a [curadora] Aracy Amaral entrevistou um dos artistas, Yan de Almeida Prado, que desenhou a posição das obras no saguão do Municipal, mostrando que havia um quadro do casal Regina e John Graz.”
Irmã do também artista Antonio Gomide, Regina Gomide Graz trabalhava com o marido, que desenhava vitrais, luminárias, maçanetas, varões e outros itens que modernizaram as casas da burguesia. A Regina cabia a parte “feminina”: transformar os protótipos de John em tapeçarias, almofadas etc. “Mas isso é o que diz a história da arte, que ela executava projetos do marido, como se não tivesse poder criativo próprio”, fala a curadora.
Mais ou menos (re)conhecidas, essas pioneiras não fizeram escola. Pelo menos não naquele momento. Entre os motivos para isso está o fato de pertencerem à elite: à exceção de Anita, de uma família de classe média e que estudou na Alemanha graças ao patrocínio de um tio, as outras frequentaram escolas europeias, realizaram mostras internacionais e tiveram aulas com criadores como o francês Fernand Léger, caso de Tarsila do Amaral.
"Nos anos 1920, estamos num país muito mais patriarcal, onde as mulheres eram tratadas como propriedade. Elas são exceções: Tarsila ficou conhecida por seu trabalho e não por ser ‘a mulher do Oswald [de Andrade]’. Aliás, ela se casou mais de uma vez. E Anita era solteira. Estavam fora dos padrões." — Heloisa Espada, curadora do Instituto Moreira Salles.
"Nos anos 1920, estamos num país muito mais patriarcal, onde as mulheres eram tratadas como propriedade. Elas são exceções: Tarsila ficou conhecida por seu trabalho e não por ser ‘a mulher do Oswald [de Andrade]’. Aliás, ela se casou mais de uma vez. E Anita era solteira. Estavam fora dos padrões." — Heloisa Espada, curadora do Instituto Moreira Salles.
Das criadoras influenciadas pelo modernismo, há a carioca Beatriz Milhazes, cuja obra é marcada pela exuberância tropical que remete à obra de Tarsila, não por acaso uma de suas influências.
“Tenho um triângulo de referências principais para o desenvolvimento da minha pintura: Matisse e o modernismo europeu; Tarsila do Amaral, que estudou na Europa e, ao retornar ao Brasil, se uniu ao pensamento antropofágico, alimentando-se de outras culturas; e Mondrian, na ideia de construção e criação de uma nova ordem de sistemas no plano da pintura”, revela Beatriz.
Contraponto
Se alguns dos processos iniciados pelas modernistas reverberam até hoje, o movimento inspira também reavaliações e contrapontos, como no trabalho da maranhense Gê Viana, cujas obras em cartaz no CCBB fazem referência à sua ancestralidade.
Em depoimento em vídeo à instituição, ela protesta: “A partir deste centenário, é importante começar a remodelar essa história: cadê os artistas indígenas, os negros da Semana de 22?”.
Além da falta de representatividade, o fato de ter sido um movimento com integrantes da elite, como Tarsila e Oswald, coloca em dúvida representações realizadas por eles. “Para mim, não existe modernismo no Brasil”, diz a paulista Val Souza, artista multidisciplinar e bolsista do IMS.
“A ideia modernista brasileira é uma atualização das viagens das missões artísticas franco-germânicas, que trouxeram em sua maioria homens brancos europeus, como Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas”, diz ela.
"As imagens dos modernistas atualizam as feitas por franco-germânicos, seja no gesto, seja nas poses. Além disso, eles vinham de uma elite cafeeira que explorava corpos negros e cujas referências europeias eram cheias de exotismo. É importante entendermos essas múltiplas camadas raciais, sociais e culturais." — Val Souza, artista multidisciplinar.
Val chegou a essas conclusões porque pesquisa como se constroem as imagens de mulheres negras desde o século 17. Um dos resultados desse estudo é uma série de autorretratos de Val, em diálogo com obras de Di Cavalcanti e Tarsila.
“Quando comparamos o autorretrato de Tarsila com a pintura A Negra, vemos uma distinção evidente sobre a relação do humano. No autorretrato, as feições são humanas. Em A Negra, isso fica borrado, distorcido”, afirma Val. Isso não quer dizer que ela não reconheça a importância dos modernistas.
“É uma produção que atualiza esse período de descobrimento do mundo novo, de paraíso tropical, e ainda vai dizer muito sobre esse momento brasileiro. Há ideias importantes colocadas ali para entender o país.”
“Caipirinha paulista vestida de Poiret…”
É assim que Oswald de Andrade se refere à companheira Tarsila do Amaral em um verso escrito em 1925. O francês Paul Poiret (1879-1944), um dos estilistas mais desejados do início do século 20, era o criador preferido do então casal mais badalado das artes, que via nas roupas uma maneira de se expressar, como mostra o livro O Guarda-roupa Modernista – O Casal Tarsila e Oswald e a Moda (Cia. das Letras, 288 págs., R$ 109,90), com farta pesquisa de Carolina Casarin, doutora em artes visuais, figurinista e professora. Tarsila mal podia imaginar que, tantos anos após sua morte, ela própria se tornaria referência de grifes como Osklen, Água de Coco e Melissa.
Fonte: Marie Claire, “Além de Tarsila e Anita: conheça as mulheres da Semana de Arte Moderna de 1922”, publicado por Adriana Ferreira Silva, em 15 de fevereiro de 2022. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Crédito fotográfico: Marie Claire, "Noemia Mourão". Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Noemia Mourão Moacyr (15 de fevereiro de 1912, Bragança Paulista, SP — 21 de agosto de 1992, São Paulo, SP), mais conhecida como Noemia Mourão, foi uma pintora, desenhista, cenógrafa e ilustradora brasileira. Formou-se artisticamente em São Paulo e, a partir de 1935, viveu em Paris, estudando nas Academias Ranson e La Grande Chaumière, além de cursar Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Foi aluna de Emiliano Di Cavalcanti e escultora sob orientação de Victor Brecheret. Em Paris, integrou a Société des Femmes Artistes Modernes e expôs ao lado de nomes como Suzanne Valadon e Marie Laurencin. Sua obra, marcada pela figura humana e pelo retrato feminino, combina rigor no desenho e sensibilidade cromática, refletindo influências modernistas e cosmopolitas. Participou de diversas edições da Bienal de São Paulo e de mostras no Brasil e no exterior, com obras preservadas em acervos como o do MASP.
Noemia Mourão | Arremate Arte
Noemia Mourão Moacyr (Bragança Paulista, São Paulo, 1912 — São Paulo, 1992) foi uma pintora, desenhista, cenógrafa e ilustradora brasileira cuja trajetória artística transitou entre o Brasil e a Europa, marcada por forte formação acadêmica e um olhar sensível sobre a figura humana. Seu primeiro contato com a arte ocorreu nos anos 1930, quando estudou com Emiliano Di Cavalcanti, de quem foi aluna e esposa por alguns anos. Em 1935, mudou-se para Paris, onde viveu até 1940 e frequentou as Academias Ranson e La Grande Chaumière, aprofundando seus estudos em Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Nesse período, colaborou como ilustradora para os jornais Le Monde e Paris Soir, além de participar de um programa na Radio Diffusion Française.
Em Paris, integrou a Société des Femmes Artistes Modernes, onde conviveu com artistas como Suzanne Valadon e Marie Laurencin. Sua obra deste período, como a pintura Moças do Boulevard Raspail (1939), hoje no acervo do MASP, revela cenas urbanas e figuras femininas de traço volumoso, paleta vibrante e expressões melancólicas, refletindo influências tanto da pintura francesa quanto do modernismo brasileiro.
De volta ao Brasil, estudou escultura com Victor Brecheret e desenvolveu paralelamente uma carreira no teatro como cenógrafa. Participou de importantes mostras nacionais e internacionais, incluindo edições da Bienal de São Paulo, como a de 1957, e exposições em Paris. Em 1990, foi homenageada com uma retrospectiva no Museu de Arte Brasileira da FAAP, que revisitou sua trajetória e reafirmou a relevância de sua produção.
Ao longo de sua carreira, Noemia explorou a figura humana, sobretudo feminina, como núcleo de sua investigação plástica, equilibrando força expressiva e refinamento formal. Sua pintura alia um domínio rigoroso do desenho a uma sensibilidade cromática que dialoga com a modernidade, preservando, no entanto, um caráter intimista. Faleceu em São Paulo, em 1992, deixando um legado que se insere na história da arte brasileira como um elo entre o modernismo e as experiências cosmopolitas vividas na Europa.
Noemia Mourão | Itaú Cultural
Noemia Mourão Moacyr (Bragança Paulista, São Paulo, 1912 - São Paulo, São Paulo, 1992). Pintora, cenógrafa, e desenhista. Em 1932, estuda com Di Cavalcanti (1897-1976), com quem casa-se no ano seguinte. Entre 1935 e 1940, vive em Paris (França) e frequenta as academias Ranson e de La Grande Chaumière e estuda Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Colabora como ilustradora, para os jornais Le Monde e Paris Soir e é contratada pela Radio Difusion Française, para participar de um programa sobre literatura e artes plásticas, juntamente com Cicero Dias (1907-2013), Tavares Bastos e Marcelino de Carvalho. De volta ao Brasil, estuda escultura com Victor Brecheret (1894-1955).
Críticas
"Noêmia Mourão vem perseguindo, desde há muito, uma forma, uma comunicação que é somente dela, e é através dela que um ramo da pintura brasileira se traduz por um processo de reencontro, de poesia, de beleza que a artista sabe transmitir, sem modismos (...), sem aquilo que é voga hoje. (...) Noêmia fica indiferente aos apelos do dia e continua a ser ela mesma numa pesquisa, num encontro de soluções plásticas, numa poesia, num vir-a-ser de si própria em que todos os modismos se afastam, se alienam, para deixar uma Noêmia sozinha, sem compromissos com qualquer escola, sempre fiel a si mesma" — Delmiro Gonçalves (CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir, org. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria Alice Barroso. Brasília: MEC/INL, 1973-1980. (Dicionários especializados, 5)).
"Pintora figurativista, teve na aquarela o meio expressivo por excelência, aquele que mais se adequava à sua temática de suaves figuras femininas, evocativas, nos melhores momentos, das de uma Marie Laurencin. Em anos mais recentes, após uma ausência de mais de 20 anos, realizou em São Paulo exposições de seus óleos (...), já sem o frescor e a sensibilidade de outras eras" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Exposições Individuais
1934 - Rio de Janeiro RJ - Primeira individual
1938 - Paris (França) - Individual
1943 - São Paulo SP - Individual
1947 - Nova York (Estados Unidos) - Individual
1974 - São Paulo SP - Individual
1990 - São Paulo SP - Retrospectiva, no MAB/Faap
Exposições Coletivas
1933 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão da Pró-Arte
1935 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Social, no Clube de Cultura Moderna
1937 - Paris (França) - Salão de Pintoras da Europa (Salon des Femmes Peintres d'Europe)
1938 - Paris (França) - Exposição de Arte Decorativa
1938 - São Paulo SP - 2º Salão de Maio
1941 - São Paulo SP - 1º Salão de Arte da Feira Nacional das Indústrias
1944 - Belo Horizonte MG - Exposição de Arte Moderna, no Edifício Mariana
1947 - São Paulo SP - Bonadei, Di Cavalcanti, Noêmia Mourão, Lothar Charoux, Oswald de Andrade Filho, Lúcia Suané, Cesar Lacanna, Mario Zanini e Raphael Galvez, na Galeria Itapetininga
1949 - Rio de Janeiro RJ - Exposição da Pintura Paulista
1957 - São Paulo SP - 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Penápolis SP - 1º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1976 - Penápolis SP - 2º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1976 - São Paulo SP - Os Salões: da Família Artística Paulista, de Maio e do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, no Museu Lasar Segall
1977 - São Paulo SP - Mostra de Arte, no Grupo Financeiro BBI
1991 - São Paulo SP - 21ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
Exposições Póstumas
1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP
1998 - São Paulo SP - Fantasia Brasileira: O Balé do IV Centenário, no Sesc Belenzinho
1999 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap
2000 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Figuras e Faces, na A Galeria
2004 - Brasília DF - O Olhar Modernista de JK, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2004 - São Paulo SP - Mulheres Pintoras, na Pinacoteca do Estado
2004 - São Paulo SP - Novas Aquisições: 1995 - 2003, no MAB/Faap
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
Fonte: NOEMIA Mourão. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 11 de agosto de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Noêmia Mourão | MASP
Nascida em uma fazenda próxima a Bragança Paulista, Noêmia Mourão (1912-1992) pertencia a uma família ligada à aristocracia cafeeira. Aos 20 anos, iniciou seus estudos de pintura no Clube do Artista Moderno com professores como Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976), com quem se casaria em 1933. Em sua trajetória como pintora, Mourão retratou sobretudo figuras femininas no primeiro plano das telas, geralmente fora do espaço doméstico ao qual eram então normalmente associadas. Personagem central em uma fase de consolidação e efervescência do modernismo brasileiro, a artista também foi influenciada, como a maior parte dos seus contemporâneos, pelas pesquisas sobre a brasilidade, integrando tradições regionais, populares e indígenas, assim como das culturas urbanas cosmopolitas. Viveu entre 1935 e 1940 em Paris, quando pintou Moças do Boulevard Raspail, da coleção do MASP, na qual a capital francesa é cenário. Aqui vê-se uma cena típica de café parisiense; há quatro mulheres, uma a frente sem olhar diretamente para a observadora, e outras três sentadas em uma mesa em uma avenida na Rive Gauche, região conhecida na época pela boemia e como ponto de encontro da intelectualidade. A tela revela a forma com a qual Mourão costumava representar as figuras, com olhar melancólico, pintadas com membros volumosos, arredondados, em formas pouco detalhadas e cores vibrantes. Nesse período, a artista participou junto a artistas como Suzanne Valadon (1865-1938) e Marie Laurencin (1883-1956), com quem Mourão também realizou exposições, da Société des femmes artistes modernes cuja bandeira central era o reconhecimento da profissionalização das mulheres artistas. Mourão e o marido, Di, sairiam as pressas da Europa em 1940, fugindo da 2ª Guerra Mundial, deixando para trás em um depósito a obra realizada nesses anos, com a qual a artista iria se reencontrar apenas 26 anos depois.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, 2020
Fonte: MASP, “Noêmia Mourão”. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Exposição no MAB apresenta obras de grandes artistas mulheres do país | Agência Brasil
A participação feminina na arte brasileira teve um grande impulso com o Modernismo. Foi principalmente a partir desse movimento que a arte produzida por mulheres no Brasil, e as próprias artistas, passaram a ser mais reconhecidas e a ocupar os espaços artísticos, culturais e sociais antes dominados pelos artistas homens. Para mostrar essa ascensão feminina na história da arte do país, o Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB-FAAP), em São Paulo, está promovendo a exposição Elas: Mulheres Artistas no Acervo do MAB. A mostra apresenta 82 obras do acervo do museu, entre esculturas, pinturas, gravuras, desenhos, vídeos e fotografias de 64 artistas que tiveram uma grande representação no país. Entre as obras estão duas telas de Anita Malfatti e duas pinturas de Tarsila do Amaral, além de obras de Lygia Clark, Tomie Ohtake, Noemia Mourão, Djanira e Maria Bonomi, entre outras.
“A exposição é um recorte das obras do acervo, mas em específico com obras produzidas por artistas brasileiras ou estrangeiras radicadas no Brasil”, disse um dos curadores da exposição, José Luis Hernández Alfonso, em entrevista à Agência Brasil. “A ideia é demonstrar um percurso de obras feitas por artistas do século 20 até os nossos dias, começando por Tarsila e Anita, que foram as duas artistas da vanguarda da arte brasileira. A partir delas, a visibilidade da mulher artista aparece na sociedade brasileira porque, até então, era desconhecida”, acrescentou.
A exposição foi dividida em três núcleos. “O primeiro núcleo demonstra todo o seu percurso desde Anita e Tarsila até os nossos dias. Aí temos pinturas, esculturas e desenhos e passa por todos os movimentos e todas as concepções estilísticas como Modernismo, Estruturalismo, Abstracionismo, entre outros. Depois temos um segundo bloco dedicado à gravura, que é muito importante na arte brasileira. E um terceiro núcleo dedicado à fotografia e a vídeo instalação”, disse o curador.
Fonte: Agência Brasil, “Exposição no MAB apresenta obras de grandes artistas mulheres do país”. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Além de Tarsila e Anita: conheça as mulheres da Semana de Arte Moderna de 1922 | Marie Claire
Quando Tarsila do Amaral e Anita Malfatti revolucionaram o cenário das artes nos anos 1920, as brasileiras não podiam votar (o sufrágio feminino foi garantido em 1932), nem trabalhar sem a autorização do marido, nem tinham direito a herança ou à guarda dos filhos (conquistas de 1962), tampouco estavam aptas a pedir o divórcio (lei aprovada em 1977).
Nada disso impediu que as duas artistas se tornassem as responsáveis pelo fato de o modernismo ser hoje tema de tantos eventos sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo de 13 a 17 de fevereiro de 1922.
Considerada pelo crítico e escritor Mário de Andrade a “iniciadora do movimento artístico moderno no Brasil”, Anita Malfatti (1889-1964) foi quem primeiro chacoalhou a cena, em 1917, ao exibir obras sob a influência de vanguardas europeias como o expressionismo, numa exposição que escandalizou intelectuais como Monteiro Lobato.
Ícone pop do movimento, Tarsila do Amaral (1886-1973) não participou da Semana de 22, juntando-se ao grupo meses depois para, segundo Mário de Andrade, ser a “primeira que conseguiu realizar uma obra de realidade nacional”, graças a uma “brasileirice imanente”, com destaque para o “caipirismo de formas e de cor”.
Tarsila é não só a artista mais cara do Brasil – em 2020, seu quadro A Caipirinha foi leiloado por R$ 57,5 milhões –, como também referência para produções que vão da moda ao cinema (a exemplo da animação Tarsilinha, que estreia em 10/2).
Mas elas não eram as únicas. A mineira Tereza Aita (1900-1967), conhecida como Zina, e a paulista Regina Gomide Graz (1897-1973) também participaram do evento no Teatro Municipal, mas quem hoje ouviu falar delas?
“Zina é uma ilustre desconhecida, muito porque, em 1924, ela foi morar em Nápoles [Itália], onde montou uma fábrica de cerâmica”, revela Regina Teixeira de Barros, uma das curadoras da mostra sobre modernismo que ocupou o Museu de Arte Moderna de São Paulo em 2021.
“Sabemos pouco de sua produção, mas eram criações supermodernas, porque Zina estudou belas-artes em Florença numa época em que seus professores estavam renovando o modernismo. Sua obra tem características do futurismo tanto no tema quanto na técnica.”
Se Zina Aita “desapareceu” da história da arte brasileira por ter deixado o país, Regina Gomide Graz foi ofuscada pela parceria com o marido, o suíço John Graz, que ela conheceu quando estudava arte na Suíça.
“Não temos certeza se Regina expôs ou não porque o nome dela não está no catálogo da Semana de 22, mas há indícios de que esse material não inclui todos que participaram, como é o caso de [Oswaldo] Goeldi”, diz Regina.
“Suspeitamos que ela tenha exposto porque, nos anos 1960, a [curadora] Aracy Amaral entrevistou um dos artistas, Yan de Almeida Prado, que desenhou a posição das obras no saguão do Municipal, mostrando que havia um quadro do casal Regina e John Graz.”
Irmã do também artista Antonio Gomide, Regina Gomide Graz trabalhava com o marido, que desenhava vitrais, luminárias, maçanetas, varões e outros itens que modernizaram as casas da burguesia. A Regina cabia a parte “feminina”: transformar os protótipos de John em tapeçarias, almofadas etc. “Mas isso é o que diz a história da arte, que ela executava projetos do marido, como se não tivesse poder criativo próprio”, fala a curadora.
Mais ou menos (re)conhecidas, essas pioneiras não fizeram escola. Pelo menos não naquele momento. Entre os motivos para isso está o fato de pertencerem à elite: à exceção de Anita, de uma família de classe média e que estudou na Alemanha graças ao patrocínio de um tio, as outras frequentaram escolas europeias, realizaram mostras internacionais e tiveram aulas com criadores como o francês Fernand Léger, caso de Tarsila do Amaral.
"Nos anos 1920, estamos num país muito mais patriarcal, onde as mulheres eram tratadas como propriedade. Elas são exceções: Tarsila ficou conhecida por seu trabalho e não por ser ‘a mulher do Oswald [de Andrade]’. Aliás, ela se casou mais de uma vez. E Anita era solteira. Estavam fora dos padrões." — Heloisa Espada, curadora do Instituto Moreira Salles.
"Nos anos 1920, estamos num país muito mais patriarcal, onde as mulheres eram tratadas como propriedade. Elas são exceções: Tarsila ficou conhecida por seu trabalho e não por ser ‘a mulher do Oswald [de Andrade]’. Aliás, ela se casou mais de uma vez. E Anita era solteira. Estavam fora dos padrões." — Heloisa Espada, curadora do Instituto Moreira Salles.
Das criadoras influenciadas pelo modernismo, há a carioca Beatriz Milhazes, cuja obra é marcada pela exuberância tropical que remete à obra de Tarsila, não por acaso uma de suas influências.
“Tenho um triângulo de referências principais para o desenvolvimento da minha pintura: Matisse e o modernismo europeu; Tarsila do Amaral, que estudou na Europa e, ao retornar ao Brasil, se uniu ao pensamento antropofágico, alimentando-se de outras culturas; e Mondrian, na ideia de construção e criação de uma nova ordem de sistemas no plano da pintura”, revela Beatriz.
Contraponto
Se alguns dos processos iniciados pelas modernistas reverberam até hoje, o movimento inspira também reavaliações e contrapontos, como no trabalho da maranhense Gê Viana, cujas obras em cartaz no CCBB fazem referência à sua ancestralidade.
Em depoimento em vídeo à instituição, ela protesta: “A partir deste centenário, é importante começar a remodelar essa história: cadê os artistas indígenas, os negros da Semana de 22?”.
Além da falta de representatividade, o fato de ter sido um movimento com integrantes da elite, como Tarsila e Oswald, coloca em dúvida representações realizadas por eles. “Para mim, não existe modernismo no Brasil”, diz a paulista Val Souza, artista multidisciplinar e bolsista do IMS.
“A ideia modernista brasileira é uma atualização das viagens das missões artísticas franco-germânicas, que trouxeram em sua maioria homens brancos europeus, como Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas”, diz ela.
"As imagens dos modernistas atualizam as feitas por franco-germânicos, seja no gesto, seja nas poses. Além disso, eles vinham de uma elite cafeeira que explorava corpos negros e cujas referências europeias eram cheias de exotismo. É importante entendermos essas múltiplas camadas raciais, sociais e culturais." — Val Souza, artista multidisciplinar.
Val chegou a essas conclusões porque pesquisa como se constroem as imagens de mulheres negras desde o século 17. Um dos resultados desse estudo é uma série de autorretratos de Val, em diálogo com obras de Di Cavalcanti e Tarsila.
“Quando comparamos o autorretrato de Tarsila com a pintura A Negra, vemos uma distinção evidente sobre a relação do humano. No autorretrato, as feições são humanas. Em A Negra, isso fica borrado, distorcido”, afirma Val. Isso não quer dizer que ela não reconheça a importância dos modernistas.
“É uma produção que atualiza esse período de descobrimento do mundo novo, de paraíso tropical, e ainda vai dizer muito sobre esse momento brasileiro. Há ideias importantes colocadas ali para entender o país.”
“Caipirinha paulista vestida de Poiret…”
É assim que Oswald de Andrade se refere à companheira Tarsila do Amaral em um verso escrito em 1925. O francês Paul Poiret (1879-1944), um dos estilistas mais desejados do início do século 20, era o criador preferido do então casal mais badalado das artes, que via nas roupas uma maneira de se expressar, como mostra o livro O Guarda-roupa Modernista – O Casal Tarsila e Oswald e a Moda (Cia. das Letras, 288 págs., R$ 109,90), com farta pesquisa de Carolina Casarin, doutora em artes visuais, figurinista e professora. Tarsila mal podia imaginar que, tantos anos após sua morte, ela própria se tornaria referência de grifes como Osklen, Água de Coco e Melissa.
Fonte: Marie Claire, “Além de Tarsila e Anita: conheça as mulheres da Semana de Arte Moderna de 1922”, publicado por Adriana Ferreira Silva, em 15 de fevereiro de 2022. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Crédito fotográfico: Marie Claire, "Noemia Mourão". Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Noemia Mourão Moacyr (15 de fevereiro de 1912, Bragança Paulista, SP — 21 de agosto de 1992, São Paulo, SP), mais conhecida como Noemia Mourão, foi uma pintora, desenhista, cenógrafa e ilustradora brasileira. Formou-se artisticamente em São Paulo e, a partir de 1935, viveu em Paris, estudando nas Academias Ranson e La Grande Chaumière, além de cursar Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Foi aluna de Emiliano Di Cavalcanti e escultora sob orientação de Victor Brecheret. Em Paris, integrou a Société des Femmes Artistes Modernes e expôs ao lado de nomes como Suzanne Valadon e Marie Laurencin. Sua obra, marcada pela figura humana e pelo retrato feminino, combina rigor no desenho e sensibilidade cromática, refletindo influências modernistas e cosmopolitas. Participou de diversas edições da Bienal de São Paulo e de mostras no Brasil e no exterior, com obras preservadas em acervos como o do MASP.
Noemia Mourão | Arremate Arte
Noemia Mourão Moacyr (Bragança Paulista, São Paulo, 1912 — São Paulo, 1992) foi uma pintora, desenhista, cenógrafa e ilustradora brasileira cuja trajetória artística transitou entre o Brasil e a Europa, marcada por forte formação acadêmica e um olhar sensível sobre a figura humana. Seu primeiro contato com a arte ocorreu nos anos 1930, quando estudou com Emiliano Di Cavalcanti, de quem foi aluna e esposa por alguns anos. Em 1935, mudou-se para Paris, onde viveu até 1940 e frequentou as Academias Ranson e La Grande Chaumière, aprofundando seus estudos em Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Nesse período, colaborou como ilustradora para os jornais Le Monde e Paris Soir, além de participar de um programa na Radio Diffusion Française.
Em Paris, integrou a Société des Femmes Artistes Modernes, onde conviveu com artistas como Suzanne Valadon e Marie Laurencin. Sua obra deste período, como a pintura Moças do Boulevard Raspail (1939), hoje no acervo do MASP, revela cenas urbanas e figuras femininas de traço volumoso, paleta vibrante e expressões melancólicas, refletindo influências tanto da pintura francesa quanto do modernismo brasileiro.
De volta ao Brasil, estudou escultura com Victor Brecheret e desenvolveu paralelamente uma carreira no teatro como cenógrafa. Participou de importantes mostras nacionais e internacionais, incluindo edições da Bienal de São Paulo, como a de 1957, e exposições em Paris. Em 1990, foi homenageada com uma retrospectiva no Museu de Arte Brasileira da FAAP, que revisitou sua trajetória e reafirmou a relevância de sua produção.
Ao longo de sua carreira, Noemia explorou a figura humana, sobretudo feminina, como núcleo de sua investigação plástica, equilibrando força expressiva e refinamento formal. Sua pintura alia um domínio rigoroso do desenho a uma sensibilidade cromática que dialoga com a modernidade, preservando, no entanto, um caráter intimista. Faleceu em São Paulo, em 1992, deixando um legado que se insere na história da arte brasileira como um elo entre o modernismo e as experiências cosmopolitas vividas na Europa.
Noemia Mourão | Itaú Cultural
Noemia Mourão Moacyr (Bragança Paulista, São Paulo, 1912 - São Paulo, São Paulo, 1992). Pintora, cenógrafa, e desenhista. Em 1932, estuda com Di Cavalcanti (1897-1976), com quem casa-se no ano seguinte. Entre 1935 e 1940, vive em Paris (França) e frequenta as academias Ranson e de La Grande Chaumière e estuda Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Colabora como ilustradora, para os jornais Le Monde e Paris Soir e é contratada pela Radio Difusion Française, para participar de um programa sobre literatura e artes plásticas, juntamente com Cicero Dias (1907-2013), Tavares Bastos e Marcelino de Carvalho. De volta ao Brasil, estuda escultura com Victor Brecheret (1894-1955).
Críticas
"Noêmia Mourão vem perseguindo, desde há muito, uma forma, uma comunicação que é somente dela, e é através dela que um ramo da pintura brasileira se traduz por um processo de reencontro, de poesia, de beleza que a artista sabe transmitir, sem modismos (...), sem aquilo que é voga hoje. (...) Noêmia fica indiferente aos apelos do dia e continua a ser ela mesma numa pesquisa, num encontro de soluções plásticas, numa poesia, num vir-a-ser de si própria em que todos os modismos se afastam, se alienam, para deixar uma Noêmia sozinha, sem compromissos com qualquer escola, sempre fiel a si mesma" — Delmiro Gonçalves (CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir, org. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria Alice Barroso. Brasília: MEC/INL, 1973-1980. (Dicionários especializados, 5)).
"Pintora figurativista, teve na aquarela o meio expressivo por excelência, aquele que mais se adequava à sua temática de suaves figuras femininas, evocativas, nos melhores momentos, das de uma Marie Laurencin. Em anos mais recentes, após uma ausência de mais de 20 anos, realizou em São Paulo exposições de seus óleos (...), já sem o frescor e a sensibilidade de outras eras" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Exposições Individuais
1934 - Rio de Janeiro RJ - Primeira individual
1938 - Paris (França) - Individual
1943 - São Paulo SP - Individual
1947 - Nova York (Estados Unidos) - Individual
1974 - São Paulo SP - Individual
1990 - São Paulo SP - Retrospectiva, no MAB/Faap
Exposições Coletivas
1933 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão da Pró-Arte
1935 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Social, no Clube de Cultura Moderna
1937 - Paris (França) - Salão de Pintoras da Europa (Salon des Femmes Peintres d'Europe)
1938 - Paris (França) - Exposição de Arte Decorativa
1938 - São Paulo SP - 2º Salão de Maio
1941 - São Paulo SP - 1º Salão de Arte da Feira Nacional das Indústrias
1944 - Belo Horizonte MG - Exposição de Arte Moderna, no Edifício Mariana
1947 - São Paulo SP - Bonadei, Di Cavalcanti, Noêmia Mourão, Lothar Charoux, Oswald de Andrade Filho, Lúcia Suané, Cesar Lacanna, Mario Zanini e Raphael Galvez, na Galeria Itapetininga
1949 - Rio de Janeiro RJ - Exposição da Pintura Paulista
1957 - São Paulo SP - 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Penápolis SP - 1º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1976 - Penápolis SP - 2º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1976 - São Paulo SP - Os Salões: da Família Artística Paulista, de Maio e do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, no Museu Lasar Segall
1977 - São Paulo SP - Mostra de Arte, no Grupo Financeiro BBI
1991 - São Paulo SP - 21ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
Exposições Póstumas
1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP
1998 - São Paulo SP - Fantasia Brasileira: O Balé do IV Centenário, no Sesc Belenzinho
1999 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap
2000 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Figuras e Faces, na A Galeria
2004 - Brasília DF - O Olhar Modernista de JK, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2004 - São Paulo SP - Mulheres Pintoras, na Pinacoteca do Estado
2004 - São Paulo SP - Novas Aquisições: 1995 - 2003, no MAB/Faap
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
Fonte: NOEMIA Mourão. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 11 de agosto de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Noêmia Mourão | MASP
Nascida em uma fazenda próxima a Bragança Paulista, Noêmia Mourão (1912-1992) pertencia a uma família ligada à aristocracia cafeeira. Aos 20 anos, iniciou seus estudos de pintura no Clube do Artista Moderno com professores como Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976), com quem se casaria em 1933. Em sua trajetória como pintora, Mourão retratou sobretudo figuras femininas no primeiro plano das telas, geralmente fora do espaço doméstico ao qual eram então normalmente associadas. Personagem central em uma fase de consolidação e efervescência do modernismo brasileiro, a artista também foi influenciada, como a maior parte dos seus contemporâneos, pelas pesquisas sobre a brasilidade, integrando tradições regionais, populares e indígenas, assim como das culturas urbanas cosmopolitas. Viveu entre 1935 e 1940 em Paris, quando pintou Moças do Boulevard Raspail, da coleção do MASP, na qual a capital francesa é cenário. Aqui vê-se uma cena típica de café parisiense; há quatro mulheres, uma a frente sem olhar diretamente para a observadora, e outras três sentadas em uma mesa em uma avenida na Rive Gauche, região conhecida na época pela boemia e como ponto de encontro da intelectualidade. A tela revela a forma com a qual Mourão costumava representar as figuras, com olhar melancólico, pintadas com membros volumosos, arredondados, em formas pouco detalhadas e cores vibrantes. Nesse período, a artista participou junto a artistas como Suzanne Valadon (1865-1938) e Marie Laurencin (1883-1956), com quem Mourão também realizou exposições, da Société des femmes artistes modernes cuja bandeira central era o reconhecimento da profissionalização das mulheres artistas. Mourão e o marido, Di, sairiam as pressas da Europa em 1940, fugindo da 2ª Guerra Mundial, deixando para trás em um depósito a obra realizada nesses anos, com a qual a artista iria se reencontrar apenas 26 anos depois.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, 2020
Fonte: MASP, “Noêmia Mourão”. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Exposição no MAB apresenta obras de grandes artistas mulheres do país | Agência Brasil
A participação feminina na arte brasileira teve um grande impulso com o Modernismo. Foi principalmente a partir desse movimento que a arte produzida por mulheres no Brasil, e as próprias artistas, passaram a ser mais reconhecidas e a ocupar os espaços artísticos, culturais e sociais antes dominados pelos artistas homens. Para mostrar essa ascensão feminina na história da arte do país, o Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB-FAAP), em São Paulo, está promovendo a exposição Elas: Mulheres Artistas no Acervo do MAB. A mostra apresenta 82 obras do acervo do museu, entre esculturas, pinturas, gravuras, desenhos, vídeos e fotografias de 64 artistas que tiveram uma grande representação no país. Entre as obras estão duas telas de Anita Malfatti e duas pinturas de Tarsila do Amaral, além de obras de Lygia Clark, Tomie Ohtake, Noemia Mourão, Djanira e Maria Bonomi, entre outras.
“A exposição é um recorte das obras do acervo, mas em específico com obras produzidas por artistas brasileiras ou estrangeiras radicadas no Brasil”, disse um dos curadores da exposição, José Luis Hernández Alfonso, em entrevista à Agência Brasil. “A ideia é demonstrar um percurso de obras feitas por artistas do século 20 até os nossos dias, começando por Tarsila e Anita, que foram as duas artistas da vanguarda da arte brasileira. A partir delas, a visibilidade da mulher artista aparece na sociedade brasileira porque, até então, era desconhecida”, acrescentou.
A exposição foi dividida em três núcleos. “O primeiro núcleo demonstra todo o seu percurso desde Anita e Tarsila até os nossos dias. Aí temos pinturas, esculturas e desenhos e passa por todos os movimentos e todas as concepções estilísticas como Modernismo, Estruturalismo, Abstracionismo, entre outros. Depois temos um segundo bloco dedicado à gravura, que é muito importante na arte brasileira. E um terceiro núcleo dedicado à fotografia e a vídeo instalação”, disse o curador.
Fonte: Agência Brasil, “Exposição no MAB apresenta obras de grandes artistas mulheres do país”. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Além de Tarsila e Anita: conheça as mulheres da Semana de Arte Moderna de 1922 | Marie Claire
Quando Tarsila do Amaral e Anita Malfatti revolucionaram o cenário das artes nos anos 1920, as brasileiras não podiam votar (o sufrágio feminino foi garantido em 1932), nem trabalhar sem a autorização do marido, nem tinham direito a herança ou à guarda dos filhos (conquistas de 1962), tampouco estavam aptas a pedir o divórcio (lei aprovada em 1977).
Nada disso impediu que as duas artistas se tornassem as responsáveis pelo fato de o modernismo ser hoje tema de tantos eventos sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo de 13 a 17 de fevereiro de 1922.
Considerada pelo crítico e escritor Mário de Andrade a “iniciadora do movimento artístico moderno no Brasil”, Anita Malfatti (1889-1964) foi quem primeiro chacoalhou a cena, em 1917, ao exibir obras sob a influência de vanguardas europeias como o expressionismo, numa exposição que escandalizou intelectuais como Monteiro Lobato.
Ícone pop do movimento, Tarsila do Amaral (1886-1973) não participou da Semana de 22, juntando-se ao grupo meses depois para, segundo Mário de Andrade, ser a “primeira que conseguiu realizar uma obra de realidade nacional”, graças a uma “brasileirice imanente”, com destaque para o “caipirismo de formas e de cor”.
Tarsila é não só a artista mais cara do Brasil – em 2020, seu quadro A Caipirinha foi leiloado por R$ 57,5 milhões –, como também referência para produções que vão da moda ao cinema (a exemplo da animação Tarsilinha, que estreia em 10/2).
Mas elas não eram as únicas. A mineira Tereza Aita (1900-1967), conhecida como Zina, e a paulista Regina Gomide Graz (1897-1973) também participaram do evento no Teatro Municipal, mas quem hoje ouviu falar delas?
“Zina é uma ilustre desconhecida, muito porque, em 1924, ela foi morar em Nápoles [Itália], onde montou uma fábrica de cerâmica”, revela Regina Teixeira de Barros, uma das curadoras da mostra sobre modernismo que ocupou o Museu de Arte Moderna de São Paulo em 2021.
“Sabemos pouco de sua produção, mas eram criações supermodernas, porque Zina estudou belas-artes em Florença numa época em que seus professores estavam renovando o modernismo. Sua obra tem características do futurismo tanto no tema quanto na técnica.”
Se Zina Aita “desapareceu” da história da arte brasileira por ter deixado o país, Regina Gomide Graz foi ofuscada pela parceria com o marido, o suíço John Graz, que ela conheceu quando estudava arte na Suíça.
“Não temos certeza se Regina expôs ou não porque o nome dela não está no catálogo da Semana de 22, mas há indícios de que esse material não inclui todos que participaram, como é o caso de [Oswaldo] Goeldi”, diz Regina.
“Suspeitamos que ela tenha exposto porque, nos anos 1960, a [curadora] Aracy Amaral entrevistou um dos artistas, Yan de Almeida Prado, que desenhou a posição das obras no saguão do Municipal, mostrando que havia um quadro do casal Regina e John Graz.”
Irmã do também artista Antonio Gomide, Regina Gomide Graz trabalhava com o marido, que desenhava vitrais, luminárias, maçanetas, varões e outros itens que modernizaram as casas da burguesia. A Regina cabia a parte “feminina”: transformar os protótipos de John em tapeçarias, almofadas etc. “Mas isso é o que diz a história da arte, que ela executava projetos do marido, como se não tivesse poder criativo próprio”, fala a curadora.
Mais ou menos (re)conhecidas, essas pioneiras não fizeram escola. Pelo menos não naquele momento. Entre os motivos para isso está o fato de pertencerem à elite: à exceção de Anita, de uma família de classe média e que estudou na Alemanha graças ao patrocínio de um tio, as outras frequentaram escolas europeias, realizaram mostras internacionais e tiveram aulas com criadores como o francês Fernand Léger, caso de Tarsila do Amaral.
"Nos anos 1920, estamos num país muito mais patriarcal, onde as mulheres eram tratadas como propriedade. Elas são exceções: Tarsila ficou conhecida por seu trabalho e não por ser ‘a mulher do Oswald [de Andrade]’. Aliás, ela se casou mais de uma vez. E Anita era solteira. Estavam fora dos padrões." — Heloisa Espada, curadora do Instituto Moreira Salles.
"Nos anos 1920, estamos num país muito mais patriarcal, onde as mulheres eram tratadas como propriedade. Elas são exceções: Tarsila ficou conhecida por seu trabalho e não por ser ‘a mulher do Oswald [de Andrade]’. Aliás, ela se casou mais de uma vez. E Anita era solteira. Estavam fora dos padrões." — Heloisa Espada, curadora do Instituto Moreira Salles.
Das criadoras influenciadas pelo modernismo, há a carioca Beatriz Milhazes, cuja obra é marcada pela exuberância tropical que remete à obra de Tarsila, não por acaso uma de suas influências.
“Tenho um triângulo de referências principais para o desenvolvimento da minha pintura: Matisse e o modernismo europeu; Tarsila do Amaral, que estudou na Europa e, ao retornar ao Brasil, se uniu ao pensamento antropofágico, alimentando-se de outras culturas; e Mondrian, na ideia de construção e criação de uma nova ordem de sistemas no plano da pintura”, revela Beatriz.
Contraponto
Se alguns dos processos iniciados pelas modernistas reverberam até hoje, o movimento inspira também reavaliações e contrapontos, como no trabalho da maranhense Gê Viana, cujas obras em cartaz no CCBB fazem referência à sua ancestralidade.
Em depoimento em vídeo à instituição, ela protesta: “A partir deste centenário, é importante começar a remodelar essa história: cadê os artistas indígenas, os negros da Semana de 22?”.
Além da falta de representatividade, o fato de ter sido um movimento com integrantes da elite, como Tarsila e Oswald, coloca em dúvida representações realizadas por eles. “Para mim, não existe modernismo no Brasil”, diz a paulista Val Souza, artista multidisciplinar e bolsista do IMS.
“A ideia modernista brasileira é uma atualização das viagens das missões artísticas franco-germânicas, que trouxeram em sua maioria homens brancos europeus, como Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas”, diz ela.
"As imagens dos modernistas atualizam as feitas por franco-germânicos, seja no gesto, seja nas poses. Além disso, eles vinham de uma elite cafeeira que explorava corpos negros e cujas referências europeias eram cheias de exotismo. É importante entendermos essas múltiplas camadas raciais, sociais e culturais." — Val Souza, artista multidisciplinar.
Val chegou a essas conclusões porque pesquisa como se constroem as imagens de mulheres negras desde o século 17. Um dos resultados desse estudo é uma série de autorretratos de Val, em diálogo com obras de Di Cavalcanti e Tarsila.
“Quando comparamos o autorretrato de Tarsila com a pintura A Negra, vemos uma distinção evidente sobre a relação do humano. No autorretrato, as feições são humanas. Em A Negra, isso fica borrado, distorcido”, afirma Val. Isso não quer dizer que ela não reconheça a importância dos modernistas.
“É uma produção que atualiza esse período de descobrimento do mundo novo, de paraíso tropical, e ainda vai dizer muito sobre esse momento brasileiro. Há ideias importantes colocadas ali para entender o país.”
“Caipirinha paulista vestida de Poiret…”
É assim que Oswald de Andrade se refere à companheira Tarsila do Amaral em um verso escrito em 1925. O francês Paul Poiret (1879-1944), um dos estilistas mais desejados do início do século 20, era o criador preferido do então casal mais badalado das artes, que via nas roupas uma maneira de se expressar, como mostra o livro O Guarda-roupa Modernista – O Casal Tarsila e Oswald e a Moda (Cia. das Letras, 288 págs., R$ 109,90), com farta pesquisa de Carolina Casarin, doutora em artes visuais, figurinista e professora. Tarsila mal podia imaginar que, tantos anos após sua morte, ela própria se tornaria referência de grifes como Osklen, Água de Coco e Melissa.
Fonte: Marie Claire, “Além de Tarsila e Anita: conheça as mulheres da Semana de Arte Moderna de 1922”, publicado por Adriana Ferreira Silva, em 15 de fevereiro de 2022. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Crédito fotográfico: Marie Claire, "Noemia Mourão". Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Noemia Mourão Moacyr (15 de fevereiro de 1912, Bragança Paulista, SP — 21 de agosto de 1992, São Paulo, SP), mais conhecida como Noemia Mourão, foi uma pintora, desenhista, cenógrafa e ilustradora brasileira. Formou-se artisticamente em São Paulo e, a partir de 1935, viveu em Paris, estudando nas Academias Ranson e La Grande Chaumière, além de cursar Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Foi aluna de Emiliano Di Cavalcanti e escultora sob orientação de Victor Brecheret. Em Paris, integrou a Société des Femmes Artistes Modernes e expôs ao lado de nomes como Suzanne Valadon e Marie Laurencin. Sua obra, marcada pela figura humana e pelo retrato feminino, combina rigor no desenho e sensibilidade cromática, refletindo influências modernistas e cosmopolitas. Participou de diversas edições da Bienal de São Paulo e de mostras no Brasil e no exterior, com obras preservadas em acervos como o do MASP.
Noemia Mourão | Arremate Arte
Noemia Mourão Moacyr (Bragança Paulista, São Paulo, 1912 — São Paulo, 1992) foi uma pintora, desenhista, cenógrafa e ilustradora brasileira cuja trajetória artística transitou entre o Brasil e a Europa, marcada por forte formação acadêmica e um olhar sensível sobre a figura humana. Seu primeiro contato com a arte ocorreu nos anos 1930, quando estudou com Emiliano Di Cavalcanti, de quem foi aluna e esposa por alguns anos. Em 1935, mudou-se para Paris, onde viveu até 1940 e frequentou as Academias Ranson e La Grande Chaumière, aprofundando seus estudos em Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Nesse período, colaborou como ilustradora para os jornais Le Monde e Paris Soir, além de participar de um programa na Radio Diffusion Française.
Em Paris, integrou a Société des Femmes Artistes Modernes, onde conviveu com artistas como Suzanne Valadon e Marie Laurencin. Sua obra deste período, como a pintura Moças do Boulevard Raspail (1939), hoje no acervo do MASP, revela cenas urbanas e figuras femininas de traço volumoso, paleta vibrante e expressões melancólicas, refletindo influências tanto da pintura francesa quanto do modernismo brasileiro.
De volta ao Brasil, estudou escultura com Victor Brecheret e desenvolveu paralelamente uma carreira no teatro como cenógrafa. Participou de importantes mostras nacionais e internacionais, incluindo edições da Bienal de São Paulo, como a de 1957, e exposições em Paris. Em 1990, foi homenageada com uma retrospectiva no Museu de Arte Brasileira da FAAP, que revisitou sua trajetória e reafirmou a relevância de sua produção.
Ao longo de sua carreira, Noemia explorou a figura humana, sobretudo feminina, como núcleo de sua investigação plástica, equilibrando força expressiva e refinamento formal. Sua pintura alia um domínio rigoroso do desenho a uma sensibilidade cromática que dialoga com a modernidade, preservando, no entanto, um caráter intimista. Faleceu em São Paulo, em 1992, deixando um legado que se insere na história da arte brasileira como um elo entre o modernismo e as experiências cosmopolitas vividas na Europa.
Noemia Mourão | Itaú Cultural
Noemia Mourão Moacyr (Bragança Paulista, São Paulo, 1912 - São Paulo, São Paulo, 1992). Pintora, cenógrafa, e desenhista. Em 1932, estuda com Di Cavalcanti (1897-1976), com quem casa-se no ano seguinte. Entre 1935 e 1940, vive em Paris (França) e frequenta as academias Ranson e de La Grande Chaumière e estuda Filosofia e História da Arte na Sorbonne. Colabora como ilustradora, para os jornais Le Monde e Paris Soir e é contratada pela Radio Difusion Française, para participar de um programa sobre literatura e artes plásticas, juntamente com Cicero Dias (1907-2013), Tavares Bastos e Marcelino de Carvalho. De volta ao Brasil, estuda escultura com Victor Brecheret (1894-1955).
Críticas
"Noêmia Mourão vem perseguindo, desde há muito, uma forma, uma comunicação que é somente dela, e é através dela que um ramo da pintura brasileira se traduz por um processo de reencontro, de poesia, de beleza que a artista sabe transmitir, sem modismos (...), sem aquilo que é voga hoje. (...) Noêmia fica indiferente aos apelos do dia e continua a ser ela mesma numa pesquisa, num encontro de soluções plásticas, numa poesia, num vir-a-ser de si própria em que todos os modismos se afastam, se alienam, para deixar uma Noêmia sozinha, sem compromissos com qualquer escola, sempre fiel a si mesma" — Delmiro Gonçalves (CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir, org. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria Alice Barroso. Brasília: MEC/INL, 1973-1980. (Dicionários especializados, 5)).
"Pintora figurativista, teve na aquarela o meio expressivo por excelência, aquele que mais se adequava à sua temática de suaves figuras femininas, evocativas, nos melhores momentos, das de uma Marie Laurencin. Em anos mais recentes, após uma ausência de mais de 20 anos, realizou em São Paulo exposições de seus óleos (...), já sem o frescor e a sensibilidade de outras eras" — José Roberto Teixeira Leite (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988).
Exposições Individuais
1934 - Rio de Janeiro RJ - Primeira individual
1938 - Paris (França) - Individual
1943 - São Paulo SP - Individual
1947 - Nova York (Estados Unidos) - Individual
1974 - São Paulo SP - Individual
1990 - São Paulo SP - Retrospectiva, no MAB/Faap
Exposições Coletivas
1933 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão da Pró-Arte
1935 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Social, no Clube de Cultura Moderna
1937 - Paris (França) - Salão de Pintoras da Europa (Salon des Femmes Peintres d'Europe)
1938 - Paris (França) - Exposição de Arte Decorativa
1938 - São Paulo SP - 2º Salão de Maio
1941 - São Paulo SP - 1º Salão de Arte da Feira Nacional das Indústrias
1944 - Belo Horizonte MG - Exposição de Arte Moderna, no Edifício Mariana
1947 - São Paulo SP - Bonadei, Di Cavalcanti, Noêmia Mourão, Lothar Charoux, Oswald de Andrade Filho, Lúcia Suané, Cesar Lacanna, Mario Zanini e Raphael Galvez, na Galeria Itapetininga
1949 - Rio de Janeiro RJ - Exposição da Pintura Paulista
1957 - São Paulo SP - 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1973 - São Paulo SP - 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 - Penápolis SP - 1º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1976 - Penápolis SP - 2º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1976 - São Paulo SP - Os Salões: da Família Artística Paulista, de Maio e do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, no Museu Lasar Segall
1977 - São Paulo SP - Mostra de Arte, no Grupo Financeiro BBI
1991 - São Paulo SP - 21ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
Exposições Póstumas
1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP
1998 - São Paulo SP - Fantasia Brasileira: O Balé do IV Centenário, no Sesc Belenzinho
1999 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap
2000 - São Paulo SP - A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap
2001 - São Paulo SP - Figuras e Faces, na A Galeria
2004 - Brasília DF - O Olhar Modernista de JK, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2004 - São Paulo SP - Mulheres Pintoras, na Pinacoteca do Estado
2004 - São Paulo SP - Novas Aquisições: 1995 - 2003, no MAB/Faap
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
Fonte: NOEMIA Mourão. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 11 de agosto de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Noêmia Mourão | MASP
Nascida em uma fazenda próxima a Bragança Paulista, Noêmia Mourão (1912-1992) pertencia a uma família ligada à aristocracia cafeeira. Aos 20 anos, iniciou seus estudos de pintura no Clube do Artista Moderno com professores como Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976), com quem se casaria em 1933. Em sua trajetória como pintora, Mourão retratou sobretudo figuras femininas no primeiro plano das telas, geralmente fora do espaço doméstico ao qual eram então normalmente associadas. Personagem central em uma fase de consolidação e efervescência do modernismo brasileiro, a artista também foi influenciada, como a maior parte dos seus contemporâneos, pelas pesquisas sobre a brasilidade, integrando tradições regionais, populares e indígenas, assim como das culturas urbanas cosmopolitas. Viveu entre 1935 e 1940 em Paris, quando pintou Moças do Boulevard Raspail, da coleção do MASP, na qual a capital francesa é cenário. Aqui vê-se uma cena típica de café parisiense; há quatro mulheres, uma a frente sem olhar diretamente para a observadora, e outras três sentadas em uma mesa em uma avenida na Rive Gauche, região conhecida na época pela boemia e como ponto de encontro da intelectualidade. A tela revela a forma com a qual Mourão costumava representar as figuras, com olhar melancólico, pintadas com membros volumosos, arredondados, em formas pouco detalhadas e cores vibrantes. Nesse período, a artista participou junto a artistas como Suzanne Valadon (1865-1938) e Marie Laurencin (1883-1956), com quem Mourão também realizou exposições, da Société des femmes artistes modernes cuja bandeira central era o reconhecimento da profissionalização das mulheres artistas. Mourão e o marido, Di, sairiam as pressas da Europa em 1940, fugindo da 2ª Guerra Mundial, deixando para trás em um depósito a obra realizada nesses anos, com a qual a artista iria se reencontrar apenas 26 anos depois.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, 2020
Fonte: MASP, “Noêmia Mourão”. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Exposição no MAB apresenta obras de grandes artistas mulheres do país | Agência Brasil
A participação feminina na arte brasileira teve um grande impulso com o Modernismo. Foi principalmente a partir desse movimento que a arte produzida por mulheres no Brasil, e as próprias artistas, passaram a ser mais reconhecidas e a ocupar os espaços artísticos, culturais e sociais antes dominados pelos artistas homens. Para mostrar essa ascensão feminina na história da arte do país, o Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB-FAAP), em São Paulo, está promovendo a exposição Elas: Mulheres Artistas no Acervo do MAB. A mostra apresenta 82 obras do acervo do museu, entre esculturas, pinturas, gravuras, desenhos, vídeos e fotografias de 64 artistas que tiveram uma grande representação no país. Entre as obras estão duas telas de Anita Malfatti e duas pinturas de Tarsila do Amaral, além de obras de Lygia Clark, Tomie Ohtake, Noemia Mourão, Djanira e Maria Bonomi, entre outras.
“A exposição é um recorte das obras do acervo, mas em específico com obras produzidas por artistas brasileiras ou estrangeiras radicadas no Brasil”, disse um dos curadores da exposição, José Luis Hernández Alfonso, em entrevista à Agência Brasil. “A ideia é demonstrar um percurso de obras feitas por artistas do século 20 até os nossos dias, começando por Tarsila e Anita, que foram as duas artistas da vanguarda da arte brasileira. A partir delas, a visibilidade da mulher artista aparece na sociedade brasileira porque, até então, era desconhecida”, acrescentou.
A exposição foi dividida em três núcleos. “O primeiro núcleo demonstra todo o seu percurso desde Anita e Tarsila até os nossos dias. Aí temos pinturas, esculturas e desenhos e passa por todos os movimentos e todas as concepções estilísticas como Modernismo, Estruturalismo, Abstracionismo, entre outros. Depois temos um segundo bloco dedicado à gravura, que é muito importante na arte brasileira. E um terceiro núcleo dedicado à fotografia e a vídeo instalação”, disse o curador.
Fonte: Agência Brasil, “Exposição no MAB apresenta obras de grandes artistas mulheres do país”. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Além de Tarsila e Anita: conheça as mulheres da Semana de Arte Moderna de 1922 | Marie Claire
Quando Tarsila do Amaral e Anita Malfatti revolucionaram o cenário das artes nos anos 1920, as brasileiras não podiam votar (o sufrágio feminino foi garantido em 1932), nem trabalhar sem a autorização do marido, nem tinham direito a herança ou à guarda dos filhos (conquistas de 1962), tampouco estavam aptas a pedir o divórcio (lei aprovada em 1977).
Nada disso impediu que as duas artistas se tornassem as responsáveis pelo fato de o modernismo ser hoje tema de tantos eventos sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo de 13 a 17 de fevereiro de 1922.
Considerada pelo crítico e escritor Mário de Andrade a “iniciadora do movimento artístico moderno no Brasil”, Anita Malfatti (1889-1964) foi quem primeiro chacoalhou a cena, em 1917, ao exibir obras sob a influência de vanguardas europeias como o expressionismo, numa exposição que escandalizou intelectuais como Monteiro Lobato.
Ícone pop do movimento, Tarsila do Amaral (1886-1973) não participou da Semana de 22, juntando-se ao grupo meses depois para, segundo Mário de Andrade, ser a “primeira que conseguiu realizar uma obra de realidade nacional”, graças a uma “brasileirice imanente”, com destaque para o “caipirismo de formas e de cor”.
Tarsila é não só a artista mais cara do Brasil – em 2020, seu quadro A Caipirinha foi leiloado por R$ 57,5 milhões –, como também referência para produções que vão da moda ao cinema (a exemplo da animação Tarsilinha, que estreia em 10/2).
Mas elas não eram as únicas. A mineira Tereza Aita (1900-1967), conhecida como Zina, e a paulista Regina Gomide Graz (1897-1973) também participaram do evento no Teatro Municipal, mas quem hoje ouviu falar delas?
“Zina é uma ilustre desconhecida, muito porque, em 1924, ela foi morar em Nápoles [Itália], onde montou uma fábrica de cerâmica”, revela Regina Teixeira de Barros, uma das curadoras da mostra sobre modernismo que ocupou o Museu de Arte Moderna de São Paulo em 2021.
“Sabemos pouco de sua produção, mas eram criações supermodernas, porque Zina estudou belas-artes em Florença numa época em que seus professores estavam renovando o modernismo. Sua obra tem características do futurismo tanto no tema quanto na técnica.”
Se Zina Aita “desapareceu” da história da arte brasileira por ter deixado o país, Regina Gomide Graz foi ofuscada pela parceria com o marido, o suíço John Graz, que ela conheceu quando estudava arte na Suíça.
“Não temos certeza se Regina expôs ou não porque o nome dela não está no catálogo da Semana de 22, mas há indícios de que esse material não inclui todos que participaram, como é o caso de [Oswaldo] Goeldi”, diz Regina.
“Suspeitamos que ela tenha exposto porque, nos anos 1960, a [curadora] Aracy Amaral entrevistou um dos artistas, Yan de Almeida Prado, que desenhou a posição das obras no saguão do Municipal, mostrando que havia um quadro do casal Regina e John Graz.”
Irmã do também artista Antonio Gomide, Regina Gomide Graz trabalhava com o marido, que desenhava vitrais, luminárias, maçanetas, varões e outros itens que modernizaram as casas da burguesia. A Regina cabia a parte “feminina”: transformar os protótipos de John em tapeçarias, almofadas etc. “Mas isso é o que diz a história da arte, que ela executava projetos do marido, como se não tivesse poder criativo próprio”, fala a curadora.
Mais ou menos (re)conhecidas, essas pioneiras não fizeram escola. Pelo menos não naquele momento. Entre os motivos para isso está o fato de pertencerem à elite: à exceção de Anita, de uma família de classe média e que estudou na Alemanha graças ao patrocínio de um tio, as outras frequentaram escolas europeias, realizaram mostras internacionais e tiveram aulas com criadores como o francês Fernand Léger, caso de Tarsila do Amaral.
"Nos anos 1920, estamos num país muito mais patriarcal, onde as mulheres eram tratadas como propriedade. Elas são exceções: Tarsila ficou conhecida por seu trabalho e não por ser ‘a mulher do Oswald [de Andrade]’. Aliás, ela se casou mais de uma vez. E Anita era solteira. Estavam fora dos padrões." — Heloisa Espada, curadora do Instituto Moreira Salles.
"Nos anos 1920, estamos num país muito mais patriarcal, onde as mulheres eram tratadas como propriedade. Elas são exceções: Tarsila ficou conhecida por seu trabalho e não por ser ‘a mulher do Oswald [de Andrade]’. Aliás, ela se casou mais de uma vez. E Anita era solteira. Estavam fora dos padrões." — Heloisa Espada, curadora do Instituto Moreira Salles.
Das criadoras influenciadas pelo modernismo, há a carioca Beatriz Milhazes, cuja obra é marcada pela exuberância tropical que remete à obra de Tarsila, não por acaso uma de suas influências.
“Tenho um triângulo de referências principais para o desenvolvimento da minha pintura: Matisse e o modernismo europeu; Tarsila do Amaral, que estudou na Europa e, ao retornar ao Brasil, se uniu ao pensamento antropofágico, alimentando-se de outras culturas; e Mondrian, na ideia de construção e criação de uma nova ordem de sistemas no plano da pintura”, revela Beatriz.
Contraponto
Se alguns dos processos iniciados pelas modernistas reverberam até hoje, o movimento inspira também reavaliações e contrapontos, como no trabalho da maranhense Gê Viana, cujas obras em cartaz no CCBB fazem referência à sua ancestralidade.
Em depoimento em vídeo à instituição, ela protesta: “A partir deste centenário, é importante começar a remodelar essa história: cadê os artistas indígenas, os negros da Semana de 22?”.
Além da falta de representatividade, o fato de ter sido um movimento com integrantes da elite, como Tarsila e Oswald, coloca em dúvida representações realizadas por eles. “Para mim, não existe modernismo no Brasil”, diz a paulista Val Souza, artista multidisciplinar e bolsista do IMS.
“A ideia modernista brasileira é uma atualização das viagens das missões artísticas franco-germânicas, que trouxeram em sua maioria homens brancos europeus, como Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas”, diz ela.
"As imagens dos modernistas atualizam as feitas por franco-germânicos, seja no gesto, seja nas poses. Além disso, eles vinham de uma elite cafeeira que explorava corpos negros e cujas referências europeias eram cheias de exotismo. É importante entendermos essas múltiplas camadas raciais, sociais e culturais." — Val Souza, artista multidisciplinar.
Val chegou a essas conclusões porque pesquisa como se constroem as imagens de mulheres negras desde o século 17. Um dos resultados desse estudo é uma série de autorretratos de Val, em diálogo com obras de Di Cavalcanti e Tarsila.
“Quando comparamos o autorretrato de Tarsila com a pintura A Negra, vemos uma distinção evidente sobre a relação do humano. No autorretrato, as feições são humanas. Em A Negra, isso fica borrado, distorcido”, afirma Val. Isso não quer dizer que ela não reconheça a importância dos modernistas.
“É uma produção que atualiza esse período de descobrimento do mundo novo, de paraíso tropical, e ainda vai dizer muito sobre esse momento brasileiro. Há ideias importantes colocadas ali para entender o país.”
“Caipirinha paulista vestida de Poiret…”
É assim que Oswald de Andrade se refere à companheira Tarsila do Amaral em um verso escrito em 1925. O francês Paul Poiret (1879-1944), um dos estilistas mais desejados do início do século 20, era o criador preferido do então casal mais badalado das artes, que via nas roupas uma maneira de se expressar, como mostra o livro O Guarda-roupa Modernista – O Casal Tarsila e Oswald e a Moda (Cia. das Letras, 288 págs., R$ 109,90), com farta pesquisa de Carolina Casarin, doutora em artes visuais, figurinista e professora. Tarsila mal podia imaginar que, tantos anos após sua morte, ela própria se tornaria referência de grifes como Osklen, Água de Coco e Melissa.
Fonte: Marie Claire, “Além de Tarsila e Anita: conheça as mulheres da Semana de Arte Moderna de 1922”, publicado por Adriana Ferreira Silva, em 15 de fevereiro de 2022. Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.
Crédito fotográfico: Marie Claire, "Noemia Mourão". Consultado pela última vez em 11 de agosto de 2025.