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Sylvia de Leon Chalreo

Sylvia de Leon Chalreo (11 de abril de 1905, Rio de Janeiro, Brasil – 24 de junho de 1991, Rio de Janeiro, Brasil) foi uma artista plástica, jornalista, crítica de arte, escritora, tradutora e ilustradora brasileira. Reconhecida por sua versatilidade, atuou intensamente na cena cultural e política brasileira ao longo do século XX. Estudou na Escola Normal do Rio de Janeiro e iniciou sua carreira como jornalista e militante feminista. Na década de 1930, fundou e dirigiu a revista Esfera, voltada às artes, literatura e ciências. Como crítica e colunista, escreveu para periódicos como Brasil Feminino, Tribuna Popular e Revista Fon-Fon, além de atuar na televisão comentando peças teatrais. A partir dos anos 1940, dedicou-se à pintura, tornando-se um dos nomes relevantes da arte naïf brasileira. Participou de importantes salões e exposições nacionais e internacionais, sendo premiada no Salão Nacional de Belas Artes. Suas obras, marcadas por cores vibrantes e cenas do cotidiano, fazem parte de acervos como o Museu Nacional de Belas Artes, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná e o Musée International d’Art Naïf Anatole Jakovsky, na França.

Sylvia de Leon Chalreo | Arremate Arte

Sylvia de Leon Chalreo (11 de abril de 1905, Rio de Janeiro – 24 de junho de 1991, Rio de Janeiro) foi uma artista plástica, jornalista, escritora, ilustradora, gravadora, tradutora e crítica de arte brasileira. Com uma trajetória multifacetada, destacou-se pela versatilidade em suas expressões artísticas e pelo olhar sensível voltado às cenas do cotidiano e à figura humana.

Desde cedo, Sylvia demonstrou interesse pela arte e pelas letras, explorando diferentes técnicas e formas de expressão. Sua produção visual transitou entre a pintura, a gravura e a ilustração, sempre marcada por uma abordagem única e uma estética que buscava capturar a essência das pessoas e dos ambientes urbanos. Como jornalista e crítica de arte, acompanhou e documentou importantes momentos da cultura brasileira, contribuindo para a difusão e valorização da produção artística nacional.

Ao longo de sua carreira, participou de diversas exposições e teve sua obra reconhecida tanto no Brasil quanto no exterior. Em 2019, sua arte foi revisitada na mostra "Some May Work as Symbols", na galeria Raven Row, em Londres, reafirmando sua relevância para a história da arte brasileira do século XX.

Sylvia de Leon Chalreo faleceu em 1991, no Rio de Janeiro. Sua obra continua a ser estudada e admirada, representando um importante testemunho da cultura e da sociedade brasileira de sua época.

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Sylvia de Leon Chalreo | Wikipédia

Sylvia de Leon Chalreo (Rio de Janeiro, 11 de abril de 1905 — Rio de Janeiro, 24 de junho de 1991) foi uma jornalista, crítica de artes e teatro, escritora, tradutora, pintora, gravadora e ilustradora brasileira.

Biografia

Era filha única do secretário e professor da Escola Nacional de Belas Artes, Diogo Chalreo e de Hortênsia de Leon, neta materna de Pietro Tabacchi, pioneiro na imigração de colonos de língua italiana no Espírito Santo.

Nasceu no Morro do Barro Vermelho, Rio de Janeiro, em 1905 e conviveu desde a mais tenra idade com artistas, professores e exposições de Belas Artes. Estudou na Escola Normal do Rio de Janeiro, onde se formou professora em 1924. No mesmo ano, ingressou por concurso na prefeitura do Rio de Janeiro, onde trabalhou até se aposentar.

Concomitantemente ao trabalho na Prefeitura, começou a escrever artigos para a imprensa de Niterói, cidade onde residia na época. Em 1931, participou da organização de um clube feminista em Niterói, o Athenée, que tinha por objetivo "conforme publicado no Diário da Noite, em 15 de agosto de 1931, “oferecer à intelectualidade feminina um ambiente propício ao desenvolvimento e disseminação da cultura: seja física, para o aperfeiçoamento da saúde; literária ou científica, para maior elevação espiritual, congregando idealismo e realismo como única e verdadeira concepção de vida”. Sua diretoria era composta apenas por mulheres e presidida por Sylvia". No mesmo ano, junto a importantes personalidades do feminismo da época, como Alzira Reis Nogueira, Anna Amélia Carneiro de Mendonça, Ermelinda Lopes de Vasconcelos e Maria Jacintha Trovão da Costa Campos, participou da criação Escritório de Ligação Feminina Geral e Estudos Sociais de Niterói que em 1931 e 1932 promoveu cursos para mulheres, estudos e debates acerca de questões sociais e feministas. No ano seguinte foi contratada pela recém criada Revista Brasil Feminino, onde assinou por cerca de dois anos a Coluna Proletária. A partir de então colaborou com críticas de artes e teatro para, entre outros periódicos, a Revista Rio, Revista Rio Social,Tribuna Popular nas décadas de 1930 e 1940 e, a partir dos ans 1950, o jornal Imprensa Popular, revistas Fon-Fon e Mês. Durante cinco anos foi a responsável pela coluna Telecrítica, no programa Revista da Televisão da TV Continental, onde jornalistas comentavam peças encenadas pelas emissoras. Nela debatia com Zora Seljan (O Globo), Almir Azevedo (O Semanário), Alamir Carvalho (Revista TV), Paulo Salgado (Revista Aconteceu), Walmir Ayala (Revista Leitura) e convidados. Em 1938 criou com Maria Jacintha e Áureo Otoni a Revista Esfera, de Letras, Artes e Ciências, que dirigiu até 1950.

Atuou também como tradutora. Segundo consta em seu currículo de jornalista, traduziu do francês para português Maria Clara (Marie Claire), de Marguerite Audoux, Inferno (L'infer) e Claridade (Clarté), de Henry Barbusse e fez a primeira tradução para o português deTacão de Ferro, de Jack London. Este último foi publicado no Brasil em 1947, pela editora Estrela Vermelha.

A partir de 1940, passou a exercer profissionalmente a atividade de artista plástica, produzindo inicialmente pinturas a óleo e a partir dos anos 1960, serigrafias. De 1945 a 1982, realizou 33 exposições individuais em diversos estados do Brasil e no exterior e de 1941 a 2012 suas obras fizeram parte de importantes exposições coletivas no Brasil, Europa e Estados Unidos. Nos anos 40 participou de todos os Salões Nacionais e Salões Fluminenses de Belas Artes no Rio de Janeiro. "Foi premiada na Divisão Moderna do Salão Nacional com menção honrosa (1941), medalha de bronze (1947) e medalha de prata (1948). Em 1950, não podendo mais concorrer, pois pelas regras do Salão quem obtivesse medalha de ouro ou prata em alguma edição anterior era considerado “hors-concours”, foi escolhida como jurada da mesma Divisão Moderna. No ano seguinte, uma década depois da inauguração desta divisão, foi criado o Salão Nacional de Arte Moderna, onde Silvia apresentou suas obras anualmente até 1972" . Suas obras fazem parte das seguintes coleções: Coleção de Arte da Cidade/ Centro Cultural São Paulo / SMC/ PMSP, Musée d’Art Naïf de L’Île de France Paris, França Musée International d’Art Naïf Anatole Jakovsky (Nice, França), Museu Antônio Parreiras em Niterói, Museu da Cidade de Caruaru (Pernambuco)E, Museu de Arte Contemporânea do Paraná Curitiba/PR, Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro/.

Seu nome consta em dicionários e enciclopédias de artes visuais editados nas décadas de 1960 e 1970.

Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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Exposições Sylvia de Leon Chalreo | Itaú Cultural

1941 - 47º Salão Nacional de Belas Artes

1945 - Silvia de Leon Chalreo (1945 : São Paulo, SP)

1945 - Artistas Plásticos do Partido Comunista

1946 - Homenagem ao Povo Espanhol

1949 - 1º Salão Municipal de Belas Artes

1950 - 2º Salão Municipal de Belas Artes

1950 - 56º Salão Nacional de Belas Artes

1953 - 2º Salão Nacional de Arte Moderna

1954 - Exposição comemorativa do I Congresso Nacional de Intelectuais

1954 - 6º Salão Municipal de Belas Artes

1958 - 1ª Bienal Interamericana de Pintura y Grabado

1965 - 14º Salão Nacional de Arte Moderna

1988 - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs

1991 - Grande Exposição Coletiva de Arte Ingênua

1994 - Grande Exposição de Arte Naif Brasileira

2002 - Bienal Naifs do Brasil 2002

2006 - Raridades

2014 - Arte Naif

2019 - ARTE NAÏF (Nenhum museu a menos)

2021 - A memória é uma invenção

Fonte: SYLVIA de Leon Chalreo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 06 de fevereiro de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Sylvia de Leon Chalreo | Bel Galeria de Arte

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ, Brasil) e era filha única do secretário e professor da Escola Nacional de Belas Artes, Diogo Chalreo e de Hortênsia de Leon, neta materna de Pietro Tabacchi, pioneiro na imigração de colonos de língua italiana no Espírito Santo.

Nasceu no Morro do Barro Vermelho, Rio de Janeiro, em 1905 e conviveu desde a mais tenra idade com artistas, professores e exposições de Belas Artes. Estudou na Escola Normal do Rio de Janeiro, onde se formou professora em 1924. No mesmo ano, ingressou por concurso na prefeitura do Rio de Janeiro, onde trabalhou até se aposentar.

Concomitantemente ao trabalho na Prefeitura, começou a escrever artigos para a imprensa de Niterói, cidade onde residia na época. Em 1931, participou da organização de um clube feminista em Niterói, o Athenée, que tinha por objetivo "conforme publicado no Diário da Noite, em 15 de agosto de 1931, “oferecer à intelectualidade feminina um ambiente propício ao desenvolvimento e disseminação da cultura: seja física, para o aperfeiçoamento da saúde; literária ou científica, para maior elevação espiritual, congregando idealismo e realismo como única e verdadeira concepção de vida”. Sua diretoria era composta apenas por mulheres e presidida por Sylvia". 

No mesmo ano, junto a importantes personalidades do feminismo da época, como Alzira Reis Nogueira, Anna Amélia Carneiro de Mendonça, Ermelinda Lopes de Vasconcelos e Maria Jacintha Trovão da Costa Campos, participou da criação Escritório de Ligação Feminina Geral e Estudos Sociais de Niterói que em 1931 e 1932 promoveu cursos para mulheres, estudos e debates acerca de questões sociais e feministas. No ano seguinte foi contratada pela recém criada Revista Brasil Feminino, onde assinou por cerca de dois anos a Coluna Proletária.

A partir de então colaborou com críticas de artes e teatro para, entre outros periódicos, a Revista Rio, Revista Rio Social,Tribuna Popular nas décadas de 1930 e 1940 e, a partir dos ans 1950, o jornal Imprensa Popular, revistas Fon-Fon e Mês. Durante cinco anos foi a responsável pela coluna Telecrítica, no programa Revista da Televisão da TV Continental, onde jornalistas comentavam peças encenadas pelas emissoras. Nela debatia com Zora Seljan (O Globo), Almir Azevedo (O Semanário), Alamir Carvalho (Revista TV), Paulo Salgado (Revista Aconteceu), Walmir Ayala (Revista Leitura) e convidados. Em 1938 criou com Maria Jacintha e Áureo Otoni a Revista Esfera, de Letras, Artes e Ciências, que dirigiu até 1950.

Atuou também como tradutora. Segundo consta em seu currículo de jornalista, traduziu do francês para português Maria Clara (Marie Claire), de Marguerite Audoux, Inferno (L'infer) e Claridade (Clarté), de Henry Barbusse e fez a primeira tradução para o português de Tacão de Ferro, de Jack London. Este último foi publicado no Brasil em 1947, pela editora Estrela Vermelha. 

A partir de 1940, passou a exercer profissionalmente a atividade de artista plástica, produzindo inicialmente pinturas a óleo e a partir dos anos 1960, serigrafias. De 1945 a 1982, realizou 33 exposições individuais em diversos estados do Brasil e no exterior e de 1941 a 2012 suas obras fizeram parte de importantes exposições coletivas no Brasil, Europa e Estados Unidos. Nos anos 40 participou de todos os Salões Nacionais e Salões Fluminenses de Belas Artes no Rio de Janeiro.

Foi premiada na Divisão Moderna do Salão Nacional com menção honrosa (1941), medalha de bronze (1947) e medalha de prata (1948). Em 1950, não podendo mais concorrer, pois pelas regras do Salão quem obtivesse medalha de ouro ou prata em alguma edição anterior era considerado “hors-concours”, foi escolhida como jurada da mesma Divisão Moderna. No ano seguinte, uma década depois da inauguração desta divisão, foi criado o Salão Nacional de Arte Moderna, onde Silvia apresentou suas obras anualmente até 1972" . Suas obras fazem parte das seguintes coleções: Coleção de Arte da Cidade/ Centro Cultural São Paulo / SMC/ PMSP, Musée d’Art Naïf de L’Île de France Paris, França Musée International d’Art Naïf Anatole Jakovsky (Nice, França), Museu Antônio Parreiras em Niterói, Museu da Cidade de Caruaru (Pernambuco)E, Museu de Arte Contemporânea do Paraná Curitiba/PR, Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro/.

Fonte: Bel Galeria de Arte. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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Quem foi Silvia de Leon Chalreo, a Revolucionária da Arte Naif | Galeria Jacques Ardies

Silvia de Leon Chalreo emergiu no cenário cultural brasileiro como uma figura revolucionária. Formada em direito, tradutora e jornalista, Silvia não só desafiou o status quo com suas tendências políticas, mas também fundou o primeiro jornal feminista do Rio de Janeiro. Em um país marcado por raízes machistas, sua voz pioneira ecoou mudanças sociais, preparando o terreno para uma nova expressão artística que encontraria seu ápice nas paredes das galerias de arte.

O Reconhecimento no Salão Nacional de Belas Artes

Nos anos 1940, Silvia voltou sua atenção para a pintura, abordando temas populares que refletiam a identidade e as vivências brasileiras. Seu talento foi prontamente reconhecido: em 1943, suas obras foram aceitas pelo júri do prestigiado Salão Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. A artista colecionou láureas, incluindo menção honrosa, medalha de bronze em 1947 e medalha de prata em 1948. Estes prêmios marcaram o início de sua influente carreira na Arte Naif.

Primeira Exposição e Ascensão nas Galerias de Arte

Silvia inaugurou sua primeira exposição individual na Livraria Brasilience em São Paulo, em 1945. Daí em diante, sua carreira tomou um impulso notável. Sua assinatura artística seria vista em exposições solo e coletivas, não só em território nacional, mas também nos Estados Unidos e pela Europa, solidificando sua presença nas galerias de arte do eixo Rio-São Paulo.

A Essência da Pintura Naif de Silvia

Adotando o nome artístico de Silvia na década de 1940, ela descreveu seu despertar artístico como um súbito insight, uma convicção inabalável em seu talento para a pintura. As obras de Silvia são um tributo à simplicidade e sensibilidade. Sua paleta de cores restrita e economia de recursos transmitem uma mensagem poderosa, capturando a essência da vida brasileira em cenas do cotidiano — das praias aos subúrbios, das festas populares às favelas. Cada tela é um convite para vislumbrar o Brasil através de uma perspectiva autêntica e humana, um apelo que ressoa com a alma das multidões anônimas.

A Influência Perene de Silvia no Museu de Lodève

A arte de Silvia de Leon Chalreo, agora imortalizada no Museu de Lodève, é uma celebração da cultura brasileira e um marco na Arte Naif. Suas pinturas não são apenas obras para serem admiradas, mas também são registros históricos da evolução social e cultural do Brasil. Através de suas telas, Silvia oferece um portal para um Brasil autêntico, vivo nas memórias e no espírito de seu povo

Fonte: Jacques Ardies. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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Sylvia de Leon Chalreo: a editora da Esfera | Universidade São Paulo (USP)

Durante o início década de 1930, Sylvia de Leon Chalreo (Rio de Janeiro, 1905 - 1991) foi feminista atuante, militante do Partido Comunista Brasileiro e jornalista. Em 1938, foi uma das fundadoras da revista Esfera, de Letras, Artes e Ciências (1938 - 1950), editada e distribuída com o apoio do PCB. A partir de 1940, concomitantemente ao trabalho jornalístico, abraçou a carreira de artista plástica, alcançando considerável prestígio. Seu arquivo pessoal, composto por documentos textuais, imagéticos e da cultura material ficou conservado no antigo apartamento onde faleceu, no Rio de Janeiro. Com o desenvolvimento da história cultural, das pesquisas qualitativas e da micro história o conhecimento da experiência do indivíduo em seu tempo e lugar se tornou fundamental para a interpretação dos processos sociais, o que fez com que os arquivos de pessoas passassem a ser valorizados como fonte de pesquisa pelos historiadores. Baseada em uma reflexão teórico metodológica sobre arquivos pessoais e biografia e se apoiando na metodologia desenvolvida por Howard Becker em Mundos da Arte, que compreende a obra de arte como resultado de uma ação coletiva, esta dissertação utiliza o arquivo pessoal de Sylvia de Leon Chalreo como fonte de pesquisa para a narração de fragmentos de sua trajetória de vida durante os anos 1930, .trazendo à tona a atuação de intelectuais feministas, artistas e escritores de diferentes regiões do país e do mundo, que expressavam a modernidade em suas obras e estavam unidos pela posição política antifascista.

Fonte: USP – Universidade São Paulo. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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Sylvia de Leon Chalreo | Museu de Arte Contemporânea do Paraná

Sylvia de Leon Chalreo, ou apenas Silvia – como se nomeou ao se fazer pintora, depois de dedicar-se à poesia, ao jornalismo e à militância feminista e política. Silvia naïf, primitiva, simples – não importa o adjetivo, como ela mesma escreveu.

“Uma personalidade muito à frente da época em que viveu, deu vida a cenas cotidianas de um Brasil colorido”, escreveram Ana Lúcia Queiróz e Márcia Zoet em 2013.

Para Silvia, ser artista é sempre uma combinação de pensamento e sentimento. "Quando pinto é porque estou convencida de que sei pintar pensando e sentindo. Não penso em outras coisas – fico na minha concentração ausente do mundo que me absorveu – o meu mundo então se transfere para o mundo dos meus semelhantes. É muito complicado para explicar, mas muito possível para viver. Sinto-me sempre aquém daquilo que desejo – deve ser um bem porque estimula a um aprofundamento. Nem sei bem se digo certo ou errado. Faço o que me é possível. O importante para mim é pintar como sei e como desejo me exprimir. Sou uma pintora que pinto só e só aquilo que sinto e amo: o Brasil. Não me incomodo com denominações. Podem me chamar como quiserem: primitiva, ingênua, não faz mal. Eu sou Silvia”, afirmou a pintora em texto publicado na revista Chuvisco, em 1962.

Fonte: Museu de Arte Contemporânea do Paraná. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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Sylvia de Leon Chalreo | Maracangalha: Vida e obra de Sylvia de Leon Chalreo

Há mais de 30 anos, a Genzyme é pioneira em pesquisar, descobrir e proporcionar terapias transformadoras a pacientes com necessidades médicas especiais e não atendidas, com foco em doenças raras, neurológicas, incluindo a esclerose múltipla, doenças cardiovasculares, endócrinas e autoimunes.

Motivada por seu “jeito único de cuidar do que é raro”, a empresa iniciou suas atividades no Brasil em 1997, no Rio de Janeiro, cidade que inspirou a obra de Sylvia de Leon Charleo, e onde a artista viveu por 86 anos.

Com seus pincéis, Silvia retratou com exímia simplicidade o seu cotidiano e despertou na Genzyme o interesse em apoiar e preservar esses registros - raros e únicos.

A obra singela de Silvia vem de encontro aos objetivos de responsabilidade social da empresa que, desde 2003, promove e patrocina projetos socioculturais relacionados às artes e memória, inclusão social e preservação ambiental.

A Genzyme foi incorporada ao Grupo Sanofi em 2011, tem filiais em cerca de 40 países e presença significativa no Brasil e América Latina.

“Aquilo que o artista sente e consegue dizer; aquilo que pode transpor em arte; aquilo que tem validade como comunicação emocional; aquilo que resulta do que precisa ser dito (linguagem plástica) e corresponde como comunicação. Tudo isto deve fazer surgir uma técnica adequada, uma manifestação em forma de cor, sensibilidade, conteúdo ou vibração: sempre informal como oposição ao formalismo. Sempre com uma expressão que pode ou não ser figurativa, abstrata ou concreta. Tudo acontece em arte – a teoria não pode preocupar o artista. Criar ou inventar, não importa. Na linha do gênio ou do talento o artista pode ter seu lugar. Penso e sinto como num caso de consciência – jamais poderei realizar alguma coisa abastardando o pensamento e o sentimento. Quando pinto é porque estou convencida de que sei pintar pensando e sentindo.

Não penso em outras coisas – fico na minha concentração ausente do mundo que me absorveu – o meu mundo então se transfere para o mundo dos meus semelhantes. É muito complicado para explicar, mas muito possível para viver. Sinto-me sempre aquém daquilo que desejo – deve ser um bem porque estimula a um aprofundamento.

Nem sei bem se digo certo ou errado. Faço o que me é possível. O importante para mim é pintar como sei e como desejo me exprimir.

Sou uma pintora que pinto só e só aquilo que sinto e amo: o Brasil. Não me incomodo com denominações. Podem me chamar como quiserem: primitiva, ingênua, não faz mal. Eu sou Silvia” — Sylvia de Leon Chalreo (Texto publicado na revista Chuvisco, em junho de 1962).


Um dos encantos da memória é a possibilidade de iluminar o presente com experiências significativas do passado. E quando se resgata das lembranças a trajetória artística de uma mulher excepcional, o que resulta é uma rica história de vida. Neste caso, a vida de Silvia. Assim: sem o sobrenome Leon Chalreo com que foi batizada, em 1905, no Rio de Janeiro. Apenas Silvia – como se nomeou ao se fazer pintora, depois de dedicar-se à poesia, ao jornalismo e à militância feminista e política. Silvia naïf, primitiva, simples – não importa o adjetivo, como ela mesma escreveu.

Importam aqui a arte e a vida de Silvia. Simples assim. Nem tão simples é empreender os esforços necessários para trazer do século XX as vivências de uma personagem tão singular. Para recuperar os marcos das oito décadas que compreendem o percurso da artista,

“Maracangalha” articula a pesquisa realizada por Ana Lúcia Queiroz, que assina também o texto, com o levantamento iconográfico feito por Márcia Zoet – sobrinha de Pedro Xavier, com quem Silvia morou por mais de 30 anos.

O objetivo não é a biografia definitiva nem tampouco a análise estética (esta, uma tarefa para especialistas). A proposta é traçar o perfil de uma mulher inovadora, desvelando ao menos algumas de suas múltiplas faces: a da anfitriã calorosa, que faz de sua casa ponto de encontro de artistas, um lugar irresistível para se ir – a Maracangalha a que se refere o título; a da feminista ousada, que vive um inusitado arranjo familiar; a da jornalista cultural e a da militante política nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro.

A síntese de todas elas ecoa na produção da artista plástica, que “nasce” em agosto de 1940: “Um dia acordei pintora”.

E Silvia pôs-se a pintar, simplesmente: sem desenhos rebuscados, com cores fortes, retratando principalmente cenas do povo nas ruas, nas praças, em festa, entre casarios. Tornou-se um dos maiores expoentes brasileiros da arte naïf (ingênuos) ou primitiva moderna. Mas não era isso que lhe importava. Em seus escritos, registra que, diferentemente do texto, a pintura deu-lhe a alegria da perfeita expressão. Perfeita porque verdadeira:

“Fui honesta para com a realidade que vejo”. Alegre porque Silvia: “Sou eu, assim tinha que ser” — Josiane Lopes, jornalista formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Trabalhou em importantes veículos de comunicação do País. Atua principalmente nas áreas de cultura e educação.

Vanguarda

“Já pintei todos os morros cariocas”, conta a artista plástica Silvia em entrevista à Revista do Rádio, em 1965. E fez questão de afirmar que nasceu num deles: o Morro do Barro Vermelho, no bairro de São Cristóvão, região central do Rio de Janeiro. Foi no início do século XX, dia 11 de abril de 1905. Os morros ainda não eram sinônimo de favelas, embora o fenômeno estivesse em gestação. Três anos antes, o engenheiro Pereira Passos havia assumido a prefeitura com o desafio de realizar uma profunda reforma urbanística que transformaria a paisagem da cidade e atrairia capital estrangeiro para o País. Após a conclusão das obras, a má fama de porto sujo estaria esquecida. Com o centro embelezado e saneado, ficaria para sempre conhecida como Cidade Maravilhosa.

Desde as últimas duas décadas do século XIX o Rio de Janeiro enfrentava uma grave crise habitacional em função de um desordenado aumento populacional. Após a abolição da escravatura, imigrantes e ex-escravos superlotaram a cidade, atraídos pela possibilidade de trabalho. Com a remodelação urbanística posta em curso por Pereira Passos esta situação se agravou. Muitos cortiços e residências foram demolidos para dar lugar às novas ruas e avenidas, expulsando a população de baixa renda que se concentrava no centro da cidade. A família de Silvia também foi atingida pela escassez de moradias. Até 1909, mudaram-se de casa quatro vezes. Moraram em Andaraí e Riachuelo, bairros do subúrbio; voltaram para o Morro do Barro Vermelho e, por fim, acabaram mantendo uma casa em Niterói, onde viviam seus avós maternos, e outra no Rio de Janeiro. A situação dos mais pobres, como  sempre, era ainda mais difícil.

O alto preço dos aluguéis os obrigava a morar em cortiços ou a construir precárias habitações nas encostas dos morros. Conviver com estas dificuldades na infância distinguiu a trajetória de vida de Silvia, que expressou sua preocupação com as questões sociais através de militância política e arte. Retratar a vida e os costumes dos habitantes dos morros da cidade foi uma dessas manifestações.

Batizada com o nome de Sylvia de Leon Chalreo, a única filha de Diogo Chalreo e Hortência de Leon Chalreo teve uma educação privilegiada. Embora não tivesse fortuna, seu pai era um homem de prestígio na Capital da República. Ainda jovem, se formou em Direito e se tornou secretário da Escola Nacional de Belas Artes. O cargo, um dos mais importantes da instituição, lhe exigia transitar nos meios políticos e intelectuais do País.

Sua mãe era conhecida como Madame Chalreo e saía na coluna social Binóculo do jornal Gazeta de Notícias passeando na Rua do Ouvidor, no cinema do Palace-Theatre ou nos camarotes do Theatro São Pedro de Alcântara. Doutor Diogo aparecia nos jornais em eventos com a presença de importantes personalidades, como o Barão do Rio Branco, o presidente da República Nilo Peçanha e o senador Ruy Barbosa. Também estava sempre presente nas exposições promovidas pela Escola de Belas Artes. “Muitos expositores da atual Exposição Geral de Belas Artes foram ontem em excursão ao Corcovado e, para seguir as tradições artísticas de muitos centros europeus, pararam no Hotel das Paineiras e ao redor de uma mesa artisticamente enfeitada e soberbamente servida, almoçaram, expandindo aquela riqueza de espírito e de entusiasmo que é o caráter principal daqueles que se dedicam ao belo”. Gazeta de Notícias, 1901.

Neste ambiente, junto com as primeiras letras Sylvia aprendeu francês, língua que falava fluentemente, e teve o primeiro contato com as artes plásticas. Mas quando estava com 14 anos, em 1919, seus pais romperam o casamento. Não se sabe exatamente o motivo, mas esta conduta não era tão rara como se imagina. Tanto que neste mesmo ano o desquite havia sido legalizado, dando a mulher o direito de receber pensão alimentícia e ajuda para a criação dos filhos. A separação de Diogo e Hortência aconteceu amparada por esta lei, num acordo amigável que deixou Sylvia na companhia da mãe e em situação financeira confortável. Mas até alcançar a maioridade ficou sob a tutela de um advogado, amigo da família. A mulher casada, mesmo após o desquite, era considerada relativamente incapaz. Sem o consentimento do marido não podia aceitar tutela, arrumar emprego, receber herança ou lutar por direitos trabalhistas, além de outros atos liberados para as solteiras adultas. Esta situação só mudou mais de 40 anos depois, com a alteração do código civil de 1962. Socialmente, a mulher desquitada ficava “malfalada” e era marginalizada. Não podia ser recebida na maioria das casas nem vista na companhia das mulheres casadas, e estava sujeita ao assédio desrespeitoso dos homens. Sua vida privada era constantemente controlada: ficava proibida de manter qualquer tipo de relação amorosa, sob pena de perder a guarda dos filhos.

O estigma de “fruto de um lar desfeito” que marcou a adolescência de Sylvia, e a convivência com a discriminação que Hortência sofreu depois da separação, a colocaram muito jovem diante da realidade da condição feminina. Quando seus pais se desquitaram, ela já estava cursando a Escola Normal do Distrito Federal, onde começou a se dedicar ao estudo da Estética e da Arte. Nesta instituição foi aluna do poeta Alberto de Oliveira, que teve grande influência em sua formação. “Aulas fabulosas! Eu prestava uma atenção doida a tudo que ele dizia. Isto me facilitou a vida. Tudo o que vim a conhecer depois, através dos livros, eu já sabia. Alberto de Oliveira sabia transmitir o conhecimento e era informadíssimo.

Seus conceitos continuam atuais, ainda hoje”, ela relata para o repórter do jornal Tribuna do Norte, em 7 de dezembro de 1980. Nos anos 20, os ares da modernidade já haviam se instalado no Rio de Janeiro e em Niterói, com seus bondes, luz elétrica, reformas urbanas e novos comportamentos. Nas maiores cidades brasileiras algumas mulheres já tinham ouvido falar nas lutas feministas iniciadas por Nísia Floresta e Bertha Lutz, que cresciam cada vez mais. Acompanhando a propaganda das revistas europeias e norte-americanas, intelectuais e artistas mudavam seu comportamento e sua forma de vestir. Passaram a usar saias e cabelos curtos, a pintar os cílios e sobrancelhas, usar ruge, batom e maiô, a fumar em público e falar gírias. Sylvia acompanhou esta revolução. Começou pelo nome, simplificando sua grafia até tornar-se simplesmente Silvia, sem ípsilon e sem sobrenome, marca de seus textos e futuramente de suas pinturas. Era campeã de braço de ferro, e desafiava homens e mulheres nesta brincadeira. Foi nadadora, chegando a atravessar a baía da Guanabara. Além de ser professora, profissão natural para as mulheres de sua geração, em 1924 fez concurso para amanuense, dando início a uma carreira na prefeitura. Ainda jovem, aos 19 anos, buscava uma independência financeira que a maioria das mulheres nem sonhava conquistar. Alguns anos depois, ligou-se ao movimento feminista, começou a dar os primeiros passos no jornalismo e foi fazer faculdade de Direito. Entre intelectuais e artistas, encontrou um espaço onde a condição de sua família não era impedimento para ser respeitada.

Na década de 20 as organizações feministas se alastraram no meio artístico e cultural, um movimento que culminou com a conquista do voto feminino, em 1932. No ano anterior, Sylvia criou junto a outras representantes da intelectualidade fluminense o Athenée Clube. A associação, laica e apartidária, tinha por objetivo, conforme publicado no Diário da Noite, em 15 de agosto de 1931,“oferecer à intelectualidade feminina um ambiente propício ao desenvolvimento e disseminação da cultura: seja física, para o aperfeiçoamento da saúde; literária ou científica, para maior elevação espiritual, congregando idealismo e realismo como única e verdadeira concepção de vida”. Sua diretoria era composta apenas por mulheres e presidida por Sylvia.

O Athenée nasceu no seio de uma elite e foi inaugurado com festa de gala e uma sessão de arte no Automóvel Clube do Brasil de Niterói. Com apresentações de canto e poesias, abriu suas portas para uma solene plateia, composta inclusive por personalidades vindas da Capital da República.

Foi uma instituição ativa nas lutas pela emancipação feminina, promovendo eventos artísticos, discutindo problemas sociais e participando da vida política. Durante a Revolução de 32 organizaram “A cruzada humanitária do Athenée Clube” e colaboraram com a “Semana da Cruz Vermelha”. No mesmo ano criaram o “Escritório de Ligação Feminina Geral e Estudos Sociais de Niterói”, especialmente para estudos e debates acerca de questões sociais.

Neste período Sylvia começou a escrever para publicações feministas que difundiam novas ideias e comportamentos. Na Revista Brasil Feminino participou da organização do evento promovido em 1933, em homenagem à Gilka Machado, ativista feminista e poetisa conhecida pelo erotismo de seus versos.

Foi uma festa que reuniu mulheres da alta sociedade e artistas. Atuantes em seu meio, elas representavam o nascimento de uma nova mentalidade feminina no Brasil.

As ideias de Sylvia sobre sexualidade se identificavam com estas novidades. Como as que foram publicadas em 1937 no periódico português A Ideia Livre: “É preciso que o congresso sexual não seja uma servidão. Sem a poesia, que é seiva, o mecanismo do amor é repugnante – mata os sentidos. Para o entrelaçamento sexual é indispensável uma afinidade especial, variável segundo o temperamento de cada ser”.

O autor desta matéria, Afonso Castro Senda, intelectual português amigo dela, completa na mesma reportagem: “A antiga redatora do Brasil Feminino é pessoa que ultrapassou aquela amorfa e oca sentimentalidade do ambiente médio, para com a solidez que dão a harmonização de uma cultura bem apreendida e uma mentalidade invulgar, perder este coquetismo balofo de ‘menina de boa família’. Não significa, contudo, esta superioridade sobre o meio, um afastamento aristocrático do mesmo. Porque o pode observar por fora é que mais o sente e penetra, é, precisamente, quanto mais nele se integra”.

Na sua juventude foi noiva de Murilo, que conviveu com ela e sua família até meados dos anos 30. História registrada por uma coleção de fotografias, algumas com dedicatórias, e uma série de poesias. Pelas fotos, vê-se que se tratava de um relacionamento liberal para a época, pois retratam o casal viajando junto, nadando, abraçado e em trajes de praia. As poesias e dedicatórias mostram que foi um relacionamento apaixonado e interrompido bruscamente. Mas apenas esta parte da história ficou documentada. Ela não deixou nenhuma pista ou testemunha da identidade de Murilo, nem dos motivos da separação.

Sylvia teve outros relacionamentos amorosos ao longo da vida. Uma grande paixão, ainda na juventude, foi o português Afonso Castro Senda, para quem dedicou alguns de seus poemas. Mas não casou, nem teve filhos. Mudou várias vezes de casa e de cidade: viveu entre o Rio e Niterói. Na maturidade foi morar com a mãe e uma tia e, mais tarde, formou uma família nada convencional: viveu o resto da vida com dois amigos, o ator João Ângelo Labanca e o militar Pedro Weiss Xavier. Durante este período “teve um séquito de admiradores”, como relatou Amabeny Zoet, irmã de Pedro.

Desde os anos 20 ela transgrediu padrões de comportamento e foi ativa nos movimentos feministas. Nos anos 50, quando ainda predominava o ideal da mulher esposa e mãe, criou e manteve uma família totalmente fora destes padrões.A condição feminina se transformou ao longo do tempo. Fatores econômicos, sociais e políticos podem explicar estas transformações. Mudanças no campo das mentalidades também. Mas foram mulheres corajosas, ousadas e com vontade de renovar iguais a ela, que transportando estas ideias para atos e atitudes, deram uma contribuição concreta à causa da emancipação feminina em nosso País.

Jornalista

O Partido Comunista, fundado em Niterói em 1922, desde o início reuniu representantes da intelectualidade e da cultura brasileira, pois adotava uma política cultural ampla e aberta, apoiando a literatura e as artes modernas no Brasil. Este foi o período de maior influência dos comunistas entre

os intelectuais brasileiros. Silvia ingressou no PCB nos anos 30, e participou ativamente da sua ala intelectual. Em 1936, logo após a tentativa do levante contra Getúlio e num momento de intensa perseguição aos comunistas, foi detida por ser “suspeita de atividades extremistas”, como consta em seu prontuário no Desps. Mas não ficou presa, foi posta em liberdade logo depois de ouvida.

Em 1933 Hitler assumiu o poder na Alemanha, enquanto Getúlio Vargas ampliava os poderes da polícia política, com a criação da Delegacia Especial de Segurança Política e Social.

O pensamento fascista se expandia no Brasil, principalmente com o crescimento da Ação Integralista Brasileira. No ano seguinte, já contando com Luís Carlos Prestes em suas fileiras, o PCB articulou uma frente nacional antifascista, a Aliança Nacional Libertadora (ANL). Sua proposta era um projeto de desenvolvimento social democrático, anti-imperialista e antilatinfundiário; o Partido Comunista era o seu núcleo e sua ala intelectual se engajou nesta luta.

Silvia iniciou a carreira de jornalista envolvida com o movimento feminista e o PCB. Escrevia crônicas, críticas de arte e artigos relacionados à condição da mulher para publicações de esquerda que se multiplicavam com o apoio do Partido. Participou da redação dos jornais Terra Livre e Paratodos e da Revista Brasil Feminino, ainda nos anos 1930.

Em 1938 iniciou o projeto que iria reforçar suas relações com o meio intelectual e artístico, que se unia ao protesto contra a ditadura do Estado Novo, a censura e a perseguição aos comunistas. Com as jornalistas Maria Jacintha e Maura de Sena Pereira, e a representação de Afonso Castro Senda em Portugal, criou a revista Esfera, de Letras, Artes e Ciência, que dirigiu por 12 anos.

A Esfera trazia críticas literárias, de discos, filmes e artes plásticas, trechos de romances, contos e programação de rádio. Artigos de história, ciências sociais e filosofia, baseados no pensamento marxista, também eram veiculados. Nomes consagrados estão entre os profissionais que escreveram para suas páginas. Entre eles, Érico Veríssimo, Jorge de Lima, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Lygia Fagundes, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Rubem Braga. Desenhistas e gravuristas, como Abel Salazar, Carlos Scliar, Goeldi, Paulo Werneck, Quirino Campofiorito e Santa Rosa, colaboravam com ilustrações. Além destes, outros conhecidos jornalistas, escritores, desenhistas, poetas e cientistas sociais ligados a movimentos feministas e antifascistas do Brasil e do exterior participaram das edições. Algumas das contribuições eram escritas especialmente para

a Esfera. O poema de Drummond “Campo, Chinês e Sono”, dedicado a João Cabral de Melo Neto, foi publicado pela primeira vez na edição número 9. Em todos os 24 números, Silvia colaborou com textos próprios sobre artistas e artes plásticas, críticas literárias e crônicas.

Na seção “Comentando livros” as resenhas eram para recém-lançadas obras de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, José Lins do Rego ou Rachel de Queiroz. Na seção de artes eram publicadas crônicas e críticas abordando temas relativos à arte moderna e contemporânea, abstracionismo e realismo. Lasar Segall, Picasso, Carlos Scliar, Portinari e Djanira foram personagens de reportagens.

Esfera começou suas atividades com força total, editando um exemplar por mês, num trabalho árduo que exigiu de Silvia dedicação quase exclusiva. Ela se empolgava e fazia planos imensos para a revista. Pretendia que fosse um periódico cosmopolita, que contribuísse para fomentar o intercâmbio cultural entre o Brasil e países da América e Europa. Principalmente com Portugal, para cujos representantes criou uma secção especial: Documentário Cultural Português. Afonso Castro Senda era o responsável pelo recrutamento dos autores lusos, que colaboraram ativamente nos sete números publicados ao longo de 1938. Ele e Abel Salazar se sobressaiam, mas a contribuição dos outros articulistas portugueses foi significativa – mais de cinquenta artigos, poemas e desenhos originais de vinte e seis autores, entre eles profissionais de grande prestígio como João de Barros, José Régio e Adolfo Casais Monteiro. “Esfera sabe que vai suprimir o Atlântico. Sabe que vai pôr Portugal no Brasil e o Brasil em Portugal. Portugal e Brasil já se queriam bem, mas vão-se querer muito mais”, escreveu Afonso entusiasmado, em agosto de 1938, na Esfera no 4.

Com a eclosão da Guerra em 1939 e com a repressão imposta por Getúlio, precisou parar de publicá-la por um tempo: até 1944 saiu apenas um número, em novembro de 1939. Esta foi a última edição que veiculou artigos de autores portugueses.

Reapareceu depois de cinco anos, em março de 1944, mais voltada para política, com foco no combate ao nazifascismo. Na página de abertura, uma foto de Getúlio acima do título da primeira matéria: “Unidade para a Vitória”. As críticas, poesias e obras literárias ali publicadas eram em sua maioria relacionadas à divulgação das ideias do Partido Comunista, da Aliança Nacional Libertadora, da Liga de Defesa Nacional e de outras associações e organizações antifascistas.

Pouco mais de um ano depois surge o número seguinte. A capa é um retrato de Luís Carlos Prestes feito a bico de pena por Campofiorito, com a inscrição: “O grande líder nacional”. Este exemplar é praticamente todo dedicado a Prestes, trazendo inclusive, na íntegra, o discurso que proferiu em comemoração à anistia política no comício de 1945, realizado no Estádio de São Januário, no Rio de Janeiro.

Seis meses depois sai o décimo primeiro exemplar. Desta vez na primeira matéria, ilustrada com o desenho “Comício Popular” de Paulo Werneck, a Esfera saúda a democracia: “O povo decidiu o caminho democrático que o Brasil está trilhando. Declarou guerra ao Eixo, realizou a gloriosa Força Expedicionária Brasileira, venceu nos campos de batalha da Europa, conquistou a anistia para os presos políticos, a legalidade do Partido Comunista do Brasil, a liberdade de imprensa, a Constituinte, a dissolução do Tribunal de Segurança Nacional, a derrubada do famoso 177, opressor do funcionalismo (artigo da Constituição de 1937 que dava ao Governo o poder de aposentar o funcionário público sem aviso prévio) e elegeu seus candidatos em eleições livres e honestas para a presidência da República e Assembleia Constituinte. Esfera, revista de cultura e profundamente antifascista, se congratula com o proletariado e o povo, organizados em seus partidos e sindicatos, na luta pela democracia no Brasil”.

De 1946 a 1950 foram publicados mais 12 números, a maioria em 1946, quando o PCB vivia uma fase de legalidade. Seu conteúdo manteve até o fim a proposta inicial: uma revista de cultura e antifascista.

O apoio do Partido foi fundamental para sua manutenção, mas a revista recebia outras contribuições. Profissionais liberais e artistas publicavam seus contatos na seção “Indicadores”. Veiculava propagandas de livros e editoras, na maioria marxistas, da Rádio Vera Cruz S/A, da Rádio Odeon e da SulAmérica Seguros. Confeitaria Colombo, Cassino Atlântico, Livraria Rex, Cigarro Continental e Sal de Frutas Eno também anunciavam. Nos primeiros anos, os anúncios eram mais numerosos, diminuindo muito nos últimos exemplares.

O cancelamento do registro do Partido Comunista em 1947 (depois de mais de três anos de plena atividade política), a cassação dos mandatos parlamentares no ano seguinte e o acirramento da guerra fria contribuíram para uma mudança nos rumos da política cultural do PCB. Assim como vinha acontecendo na União Soviética, passou a adotar uma política estreita e sectária, pela qual as manifestações culturais deveriam ser controladas e servir exclusivamente de instrumento político. Esta intolerância desagradou setores da intelectualidade brasileira fazendo com que muitos deles se afastassem do campo de influência comunista e, consequentemente, esvaziando a ala intelectual do Partido.

Tudo isto colaborou para o fim da publicação. Mas quando deixou de editá-la, em 1950, Silvia já estava totalmente envolvida com o mundo das artes plásticas e para lá direcionava seu entusiasmo.

Paralelamente às atividades na Esfera, continuou a colaborar como crítica de arte e repórter em jornais e revistas. Escreveu para a Revista Rio, Revista Rio Social e os jornais Tribuna Popular e O Momento Feminino, que circulavam no Rio de Janeiro. O jornal Tribuna Popular era a mais difundida publicação de esquerda brasileira, tendo chegado, no seu auge, a se igualar com os mais vendidos no período.

Dirigido e organizado por mulheres, O Momento Feminino alcançou tal projeção que em seu primeiro aniversário, em 6 de agosto de 1948, recebeu mensagens de órgãos da imprensa e de organizações femininas de diferentes pontos do País, da Argentina e do Uruguai. Neste dia, em seu editorial, o jornal se definiu: “O Momento Feminino com um ano de existência já se impôs como um órgão educacional e orientador da mulher brasileira. Sua redação tem a inteligência de não desperdiçar as colunas com frivolidades. Antes, aproveita-a avaramente para o levantamento e trato de toda sorte de assunto aos quais as mulheres estejam direta ou indiretamente ligadas. E todo o jornal é um desenvolvimento dos nossos problemas, das mulheres de todas as condições sociais. A vida da gente pobre e sofredora dos morros e das favelas em reportagens que comovem, revoltam e mostram quanto ainda temos que lutar por uma perfeita justiça social”.

A atuação de Silvia tanto no Partido quanto no jornalismo se tornou tão grande que em 1951 representou o Brasil no III Congresso Internacional de Críticos de Arte, na Holanda, integrando uma delegação composta pelos jornalistas Antônio Bento, Mário Pedrosa, Santa Rosa e Mário Barata, todos ligados ao PCB.

Em fins dos anos 50, quando foi morar com o ator Labanca, se voltou também para a crítica teatral. Nesta área colaborou para o jornal Imprensa Popular e mais tarde para as revistas Fon-Fon e Mês. Durante cinco anos foi a responsável pela coluna Telecrítica, no programa Revista da Televisão da TV Continental, onde jornalistas comentavam peças encenadas pelas emissoras. Nela debatia com Zora Seljan (O Globo), Almir Azevedo (O Semanário), Alamir Carvalho (Revista TV), Paulo Salgado (Revista Aconteceu), Walmir Ayala (Revista Leitura) e convidados.

Foi na Telecrítica que teve a ideia de criar um evento envolvendo artes plásticas e teatro.Todos os anos a coluna premiava os melhores profissionais do teleteatro e, em 1962, Silvia propôs que os prêmios fossem quadros de pintores modernos. Sua tela “Gente e Casas”, exposta na Bienal do México em 1958, foi oferecida à Fernanda Montenegro, eleita a melhor atriz do ano.Também foram premiados, entre outros, Zilka Salaberry, atriz coadjuvante, Sergio Britto, diretor, e Ítalo Rossi, ator.

A integração destas duas artes, uma caracterizada por uma distribuição elitista em galerias e bienais e a outra por sua forte interação com o público, foi mais uma contribuição de Silvia, já entrando nos anos 60, para a ampliação do alcance social do artista e das artes plásticas.

Militante

O conhecido intelectual Aníbal Machado, em palestra proferida em outubro de 1935 no encerramento da primeira Exposição Coletiva de Arte Social no Brasil, disse: “No estado atual de agitação da humanidade é preciso evitar toda arte que evita a realidade social. Na pintura como na poesia, arte pela arte é um convite ao isolamento, ao prazer secreto, ao suicídio. É uma forma de evasão num simbolismo que só tem sentido para o próprio artista e mais ninguém”. Mário de Andrade, por sua vez, na conferência “O Movimento Modernista” proferida no Rio de Janeiro em 1942,coloca:“(...) a arte é muito mais larga e complexa que isso, e tem uma funcionalidade imediata social, é uma profissão e uma força interessada da vida”. Como eles, estudiosos, artistas e críticos de arte seguiram durante os anos 40 na defesa da arte social, que se alastrou pelo País agitando o ambiente artístico nacional.

Este debate estava presente nas telas de Silvia e em sua atuação política. Nos anos 40, ela e os amigos Quirino Campofiorito e Paulo Werneck podiam ser vistos com frequência na Cinelândia, no bar Vermelhinho, preferido por militantes da esquerda. Campofiorito era formado na Escola Nacional de Belas Artes, crítico de arte, membro ativo das vanguardas modernistas e professor na Enba. Paulo foi desenhista, pintor, ilustrador de colunas políticas em diversos jornais do País e é um dos mais importantes muralistas do Brasil. Lá se reuniam com outros artistas, como Durval Serra e Santa Rosa, e juntos colaboravam para a organização de inúmeras manifestações artísticas de perfil político.

Em 1946, ano que Copacabana foi imortalizada como “princesinha do mar” pelo samba-canção gravado por Dick Farney, artistas plásticos, entre eles Silvia, promoveram o evento “Excursão em Copacabana”. O objetivo era contribuir para a campanha em prol da manutenção do jornal de esquerda Imprensa Popular, que teve alcance nacional e grande apoio da população. Segundo publicado nos jornais, pela primeira vez no Rio de Janeiro pintores e desenhistas montaram seus cavaletes ao ar livre para trabalhar. Com o auxílio de um alto-falante para chamar a atenção dos transeuntes, um grupo de moças vendia as obras ali mesmo, na orla.

Silvia participou de vários outros eventos do gênero. Fez parte da comissão organizadora de um leilão que reuniu obras de centenas de artistas do Rio e São Paulo – a renda contribuiu para a aquisição de um avião para a Força Aérea Brasileira na 2a Guerra Mundial. Participou da exposição Artistas Plásticos ao Partido Comunista, com Burle Marx, Portinari, Carlos Scliar e outros artistas.Também ajudou na organização da Exposição Anti- integralista, que visava mostrar a ligação do movimento integralista brasileiro com o fascismo internacional através de fotografias, documentos e armas.

Com o patrocínio da Liga da Defesa Nacional, participou da Feira de Arte Moderna, promovida pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em 1943, no Rio de Janeiro. Foram expostas cerca de 200 telas de estrangeiros e brasileiros – Goeldi, Guignard, Portinari, Campofiorito e Silvia estavam entre eles. A exposição durou 30 dias e foi acompanhada por uma série de conferências, abertas com uma fala de Manuel Bandeira sobre a função da arte na guerra. Na divulgação deste evento, em 11 de fevereiro de 1943, o editorial do Jornal Diretrizes mostrava os rumos que a arte tomava naquele momento, se opondo radicalmente ao elitista encontro de Diogo Chalreo com artistas no Corcovado, no começo do século:“Já está mais que provado que o artista não pode ser uma exceção dentro do mundo.Acabou-se o tempo em que era possível alguém fugir das cousas terrenas, grimpar suas torres e ficar lá em cima tocando harpa e bebendo hidromel. O mundo ficou muito pequeno, os problemas cresceram muito. Problemas que envolvem a todos, que dizem respeito a todos.

Esta guerra, por exemplo. Uma guerra do povo. Mas o artista é também o povo. A arte moderna é uma arte feita em função do povo, com raízes no povo. Pintores, músicos, arquitetos, ilustradores, todos são intérpretes populares. Fazendo parte do mesmo bloco os artistas modernos do mundo inteiro, do mundo livre, estão empenhados numa luta sem tréguas contra o fascismo, o grande inimigo do povo”. Com a Feira de Arte Moderna, artistas e imprensa buscavam contribuir para a mobilização da inteligência brasileira e colocá-la a serviço da guerra contra o nazifascismo. Era esta camada da população, pequena numericamente, mas formadora de opinião, que frequentava os meios artísticos e tinha condições financeiras para adquirir uma obra de arte.

Quando o governo impôs altas taxas de importação para as tintas, Silvia liderou um protesto que movimentou o meio artístico: a Greve das Cores ou Movimento Preto e Branco. A ideia surgiu no Congresso de Intelectuais de Goiânia, onde ela propôs que para a exposição de 1954 os quadros fossem pintados em preto e branco. A sugestão foi aceita por todos os artistas do III Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o que fez a ação ser amplamente divulgada. Com isto a afluência de pessoas ao Salão aumentou, provocando um recorde de visitação.

Mais de 25 anos depois, ajudou na organização da Primeira Feira de Arte, que reuniu duas centenas de artistas entre jovens e consagrados na área externa do Museu de Arte Moderna do Rio. Durante três dias, animados pela Banda de Ipanema, milhares de visitantes expuseram, apreciaram, compraram e venderam obras de arte. O evento fazia parte de um projeto da Associação de Artistas Plásticos para popularizar o setor. Em um artigo na revista Mironga, Silvia relata: “Realmente valeu a experiência que está prosseguindo no Rio, com sucesso como foi na Feira da Praça Sáenz Peña, e vai continuar no Méier, na Praça General Osório e em muitos outros bairros. Das feiras de arte devemos partir para exposições circulantes nas escolas, centros e nos clubes”.

Além de eventos relacionados às artes plásticas, apoiou ações do Partido Comunista e da ANL. Participou ativamente das comemorações dos 50 anos de Prestes: foi membro da comissão julgadora dos desenhos para a criação de um selo comemorativo e colaborou na organização de um coquetel em homenagem à data. No final da década de 40, figurou no abaixo-assinado dirigido ao Ministro da Justiça pedindo a imediata liberdade dos 23 funcionários do jornal de esquerda Tribuna Popular, e adquiriu ações deste mesmo periódico.Também colaborou na ornamentação do Estádio Caio Martins, em Niterói, para o comício de Prestes de 1945 em comemoração à anistia política.

Fez parte de várias associações. Contribuiu na criação da Sociedade dos Amigos da Democracia Portuguesa, em apoio aos que pediam o fim da ditadura salazarista; e com a Liga da Defesa Nacional, para pressionar o governo a alinhar o Brasil aos países aliados na 2a Guerra. Foi sócia do Movimento Unificador dos Servidores Públicos e da Sociedade Brasileira dos Amigos do Povo Espanhol, ambos de caráter comunista, e foi membro do comitê Pró-Anistia dos presos políticos. Em 1960 compunha o conselho diretor do Instituto de Intercâmbio Cultural Brasil-URSS.

Como jornalista, integrou desde os anos 40 a Associação Brasileira de Imprensa – em 1978 ainda participava de seu conselho administrativo –, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro e as associações brasileiras dos críticos teatrais e dos críticos de arte. Foi também uma das fundadoras da Associação Profissional dos Artistas Plásticos do Rio de Janeiro, entidade ligada à Associação Internacional de Artistas Plásticos.

Na vanguarda em sua juventude, atuou entusiasticamente no movimento feminista e a partir daí teceu o leque de relações que embasou sua atuação profissional pelo resto da vida. Da interação entre os campos pessoal, político, literário e jornalístico, criou um novo espaço, sintetizado numa expressão artística própria, que não se encaixa perfeitamente em nenhuma classificação.

Artista

Em sua infância Silvia conviveu com exposições e pinturas, num período em que as artes plásticas no Brasil eram dependentes das ultrapassadas correntes artísticas europeias.

A Escola Normal introduziu o estudo da Estética em sua vida, e como autodidata aprofundou seus conhecimentos na área. Trabalhou como jornalista, professora e servidora pública. Aos 36 anos de idade começou a se dedicar à prática da arte que na teoria conhecia muito bem. Como isto aconteceu? Na entrevista concedida ao jornal Mundo Uruguayo em 1941, ela relata:

“E agora surgiu o inesperado em minha vida. Um dia acordei pintora. Foi em agosto do ano passado. Com alguns fracassos consumados ultimamente percebi a falta de um caminho que conjugasse meu sentimento e minha maneira pessoal de ser. A literatura nunca me proporcionou solução satisfatória (íntima). Escrevia com toda sensibilidade e tudo permanecia meu. Realizada a exteriorização predominava a não comunicação. Rasgar originais foi um grande trabalho. A arte já existia desde o princípio na minha vida. Me acostumei às exposições e por elas sofri bastante. Minha ânsia de crítica é enorme. Sempre voltada para o significado. Tinha e tenho meus pintores. Mais do que todos cultivo Van Gogh. Conhecedora de sua vida e obra, me faltava apenas o contato com os originais.

Foi o que me deu a exposição francesa do ano passado. Fiquei maravilhada. Depois de tanto frequentar os franceses do século XIX, abandonei todos com exceção de Vlaminck. Abandonei, naturalmente, nossos salões do Museu Nacional de Belas Artes durante a exposição. Havia bancos nas salas de exposição, e por acaso um ficava diante de três obras de Van Gogh e outro em frente a uma extraordinária paisagem de Vlaminck. Pois bem, passei horas inteiras convivendo com estas superiores expressões de arte. No meio daquela pletora de beleza, os quadros de Van Gogh exerciam uma tremenda fascinação sobre minha sensibilidade. Eu entrava na mostra, ia direto para a sala onde estavam seus quadros, sentava-me e ficava horas seguidas contemplando aquele traço vigoroso, aquela abundância de amarelos lindíssimos. Quando saia dali ia ao atelier do Canabrava, que ficava então na Praça Tiradentes. Lá reunia-se uma gente simpática, lutadora, e foi ali que eu recebi impulso para minha pintura. Terminada a exposição, que durou mais de um mês, senti de uma maneira tremenda as consequências do vazio que deixou em mim. Perdi o equilíbrio e cheguei ao auge da desorientação, agravada por inumeráveis golpes adversos. Como medida extrema, resolvi pintar. Pintar com febre, não podia ser de outra forma. E sem entender nada, sem averiguar nada, fui à Casa Cavalier e comprei quatro cores (óleo), um pincel e uns pedaços de papelão. E quando veio a noite, sem receio de ser surpreendida, comecei a pintar. Em duas horas terminei cinco pequenos quadros, sem preparação, sem conhecimentos técnicos. Com febre, com paixão. E a maior surpresa foi que me sentia transbordando. Estava sentindo-me perdida, mas o que pintei não correspondia aos meus sentimentos do momento, tinha, isto sim, uma doçura por natureza, uma ingenuidade bem infantil, nada de gestos dramáticos, nada de transportes castigados pelas possibilidades mentais. Fiquei tão alegre. Alegre porque não me senti rancorosa, alegre porque não pretendi castigar, não deformei nada nem tive rasgos de construção surrealista (sentimento de fuga contra a consciência). Fiquei serena, fui honesta para com a realidade que vejo. Não precisei sobrepor meus problemas pessoais. Mudei espontaneamente a intenção de originalidade por um sentimento que pertence a todos.

Até hoje continuo sentindo-me pintora com uma felicidade imensa. Imponho o que realizo. Não aspiro a técnicas justas ou convencionais e repudio as receitas da cor. Os pintores devem rir ante minha pintura. Não são nada absolutamente. Sou eu, assim tinha que ser”.

Silvia passou a produzir em grande quantidade. Resolveu então mostrar seu trabalho e para isto levou algumas obras para emoldurar na Casa Cavalier, a mesma onde tinha comprado as primeiras tintas. O estabelecimento era conhecido por reunir artistas modernos. Lá encontrou o pintor húngaro Arpad Szenes que, como outros artistas europeus, estava no Brasil nos anos da Guerra. Ao ver os quadros de Silvia, ele sugeriu que participasse da concorrida seleção para o Salão Nacional de Belas Artes, que naquele ano estava inaugurando sua Divisão Moderna. Ela se animou, os submeteu ao exigente júri, e as obras acabaram sendo selecionadas.

As Exposições Gerais promovidas desde o século XIX pela Escola Nacional de Belas Artes (Enba) deram origem ao Salão Nacional de Belas Artes, em 1934. A Escola até os anos 40 representava o que havia de mais ultrapassado em termos de artes plásticas e resistiu fortemente às vanguardas modernistas. Mas a participação em suas exposições seduzia muitos artistas, principalmente porque o prêmio oferecido ao melhor trabalho era uma estadia de cinco anos para estudos na Europa. Portinari durante anos desejou este prêmio. Apresentava suas obras, se destacava, sem vencer. Em 1928, fez propositalmente uma tela com elementos acadêmicos tradicionais e só assim ganhou o cobiçado Prêmio Viagem ao Estrangeiro.

Os conflitos entre modernos e acadêmicos permaneceram durante toda a década de 30. No Rio de Janeiro o Núcleo Bernardelli, criado dentro da própria Enba por Quirino Campofiorito, Milton Dacosta, Joaquim Tenreiro e José Pancetti, desde 1932 atuou na luta pela liberdade de expressão artística. Mas só em 1941 conseguiram que fosse criada uma divisão moderna no Salão Nacional. Foi esta exposição que introduziu o trabalho de Silvia no mundo das artes plásticas. Logo depois ela se aposentou da prefeitura e aí, definitivamente, a pintura se tornou a principal atividade em sua vida.

Paixão que não se arrefeceu com o tempo. Muito pelo contrário, trabalhou incessantemente e pintou até os 84 anos de idade. Sempre que possível estava com lápis, pincel ou tinta e papel nas mãos. Em suas viagens e passeios ficava atenta às cenas que poderiam se tornar tema de um trabalho. Fazia de grandes telas a pequenos cartões-postais. No transcorrer de quase 50 anos utilizou diversas técnicas, materiais e suportes. De sua obra fazem parte pinturas a óleo, acrílico, guache e aquarela, desenhos, xilogravuras e serigrafias.

Nos anos 40 participou de todos os Salões Nacionais e Salões Fluminenses de Belas Artes no Rio de Janeiro. Foi premiada na Divisão Moderna do Salão Nacional com menção honrosa, medalha de bronze e medalha de prata. Em 1950, não podendo mais concorrer, pois pelas regras do Salão quem obtivesse medalha de ouro ou prata em alguma edição anterior era considerado “hors-concours”, foi escolhida como jurada da mesma Divisão Moderna. No ano seguinte, uma década depois da inauguração desta divisão, foi criado o Salão Nacional de Arte Moderna, onde Silvia apresentou suas obras anualmente até 1972.

A primeira individual foi em São Paulo, na Livraria Brasiliense, em 1945. Só no ano seguinte mostrou seus trabalhos no Rio de Janeiro, no Instituto dos Arquitetos do Brasil. Estes espaços eram na época importantes promotores de exposições e atividades culturais, antes do boom de galerias de arte que ocorreria na década seguinte.

Apresentou seu trabalho na Exposição de Arte Moderna organizada pela Companhia de Seguros Sul América e patrocinada pelo Ministério da Educação e Saúde, em 1949. Amplamente divulgada pela imprensa, reuniu obras de museus nacionais e estrangeiros, desde os clássicos até os abstracionistas, visando oferecer aos brasileiros um panorama geral da história das artes.A mostra inaugurou a nova sede da Sul América, na Rua do Ouvidor, 61.

Em fins dos anos 50, com um atraso de quase 30 anos em relação aos Estados Unidos e Europa, nascia no Brasil um mercado para as artes plásticas.A criação do Masp e da Bienal de São Paulo e a abertura de linhas de crédito para financiar a compra de obras de arte fomentaram o setor. Com o apoio do sistema bancário, médicos, advogados, engenheiros, jornalistas, arquitetos, publicitários e políticos passaram a compor o público comprador de artes plásticas. No Rio, a Petite Galerie, inaugurada em 1953 e ponto de encontro de intelectuais e artistas nos anos 60, foi precursora na venda de obras de arte a prazo. Depois de vencido o preconceito de se equiparar arte a produto de consumo surgiram outras, como a Bonino, a Gead, a Santa Rosa e a Montmartre. O negócio não ficou apenas no eixo Rio - São Paulo. Foram criadas galerias em algumas capitais do País – em Belo Horizonte, a Galeria Guignard, em Recife, a Lemac e em Salvador, a Oxumarê.

Silvia expôs em muitas delas. Levou suas obras para as capitais da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná. Em 1952, expôs individualmente na Galeria Velazquez, em Buenos Aires; e participou da Bienal do México de 1958.

Nas décadas de 1960 e 70 suas exposições se multiplicaram pelo Brasil e pelo mundo. Durante a ditadura militar teve o apoio do Itamaraty para a realização de mostras no exterior. Suas obras retratavam um Brasil simples e colorido, uma imagem que se encaixava perfeitamente nos interesses nacionalistas do governo. Com este patrocínio participou de exposições coletivas na Espanha, Portugal, Dinamarca, Iugoslávia, Itália, Inglaterra, Estados Unidos e França, e de individuais em Nova York – a convite da famosa Galeria Sudamericana, lançadora de artistas da América do Sul – e em Londres.

Suas obras chegaram a alcançar valores relativamente altos. Segundo o marchand Jorge Montmartre, em reportagem da revista O Cruzeiro de fevereiro de 1962, nesta época seus quadros estavam cotados entre 100 mil e 200 mil cruzeiros. Em 1979, quando Silvia realizou doações para diversos museus, os avaliou entre 20 e 40 mil cruzeiros.Ambas as quantias hoje em dia equivalem aproximadamente a valores entre quatro e nove mil dólares. Nos anos 60 um quadro de Di Cavalcanti ou Djanira podia ser comprado por 300 mil cruzeiros e a maioria das telas de cavalete de Portinari, um dos mais valorizados, senão o mais valorizado pintor brasileiro do período, era adquirida por, no mínimo, um milhão de cruzeiros.

A crescente participação em exposições individuais e coletivas era consequência natural da boa aceitação de seus trabalhos, mas o empenho da artista, que agia como sua própria marchand, contribuía para a divulgação e valorização de sua arte. Ia pessoalmente a todos os vernissages e era uma anfitriã que não deixava ninguém de lado.

Nestas ocasiões fazia novos contatos, conhecia críticos e artistas locais e assim fortalecia seu nome no mercado.

Também planejava e organizava suas exposições. Folders, críticas, panfletos e convites eram muitas vezes confeccionados por ela. Ser artista incluía divulgar seu trabalho e fazer com que ele fosse visto e consumido. No arquivo de Silvia foram encontrados originais de panfletos e convites de exposições, críticas em cópias datilografadas e em recortes de jornal, “bonecos” para ilustrações de livros e inúmeras pastas com o título “Sobre Silvia”, contendo material de divulgação. Há também relações das obras vendidas, com o nome dos compradores e valores recebidos.

Estava sempre presente nos acontecimentos relacionados à arte naïf. Nos anos 70 contribuiu com contatos, trabalho e obras para a criação das galerias de arte naïf Jean Jacques e Jacques Ardieus, no Rio de Janeiro e São Paulo respectivamente.

Também mantinha relações com museus nacionais e internacionais e doou obras para muitos deles. Contribuiu com Anatole Jakovsky para a criação do Museu de Arte Naïf em Nice, uma das mais importantes instituições deste gênero do mundo. Os dois se conheceram ainda nos anos 50 quando ele, especialista nesta tendência artística, começou uma pesquisa que durou 20 anos e teve como produto final o “Dictionnaire des Peintres Naïfs du Monde Entier”, publicado em 1976.

Os trabalhos de Silvia são divulgados nesta e em outras dezenas de publicações. Seu nome consta em enciclopédias de arte e de conhecimentos gerais, como a Delta Larousse, que circulou em grande escala entre estudantes nos anos 70 e 80, e o Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, editado pelo MEC, em 1973.

Ilustrou livros, capas de discos e criou vinhetas para centenas de matérias jornalísticas.Também teve participação no mundo da moda. Em 1962 criou uma estampa para a Coleção “Brazilian Nature”, organizada por Dener, quando o estilista já gozava de prestígio. O trabalho fez parte de um projeto pioneiro da Rhodia, alvo de forte campanha publicitária, reunindo artistas, estilistas e indústria têxtil. O objetivo era divulgar os recém- lançados tecidos de nylon. Com o apoio da Varig e da Revista

O Cruzeiro, a marca promoveu desfiles pelas principais cidades norte-americanas, levando com eles uma estampa criada por Silvia.

Trabalhou bastante na produção e divulgação de seus quadros. Era a artista, mas também vendia os trabalhos. Construiu uma obra só dela, sem se guiar por modismos ou escolas.

Transitava entre os naïfs e modernos, e neste mundo obteve fama.

Seu universo artístico foi construído na convivência com os artistas modernos e com os críticos que com eles se confundiam. Desta corrente traz formas, cores e temas. O envolvimento em movimentos feministas e no Partido Comunista impregna a sua arte e é impregnado por ela. A pintura de Silvia, muitas vezes chamada de primitiva, surgiu num momento que as mudanças no meio artístico geraram uma aceitação da arte primitiva e dos autodidatas. Carrega, portanto, a possibilidade de ser simples por opção, não por desconhecimento ou incapacidade técnica. O que a caracteriza é a simplicidade.Toda a sua erudição é para saber fazer, mas a simplicidade é que vale, é o que fala.

Críticas

Com o passar dos anos os quadros de Silvia foram vistos por um público cada vez maior e julgados por reconhecidos críticos de arte. Intelectuais e artistas formados no interior das profundas transformações que ocorreram nas artes plásticas a partir dos anos 30 se dedicavam a esta atividade. Poucos, mas influentes, contribuíram para a formulação e afirmação dos novos valores artísticos.

Em São Paulo, Quirino da Silva, Sérgio Milliet, Ciro Mendes e Luis Martins e no Rio de Janeiro Quirino Campofiorito, Walmir Ayala e Santa Rosa, junto a outros profissionais, deixaram a trajetória artística de Silvia registrada:

1942

“Talvez haja uma incompreensão do fenômeno modernista e uma incapacidade de realização normal acertada, para que ela figure com caráter infantil, imagens que ou um primitivo faria com a intenção de atingir o máximo de realidade, ou um moderno-expressionista deformando em função da mais intensa expressão. Um primitivo quer sempre fazer certo, real, até o menor detalhe.A visão culta é que analisa e simplifica.”

Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Santa Rosa. Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Diário Carioca.

1944

“‘O Morro’, de Silvia, é um exemplo bom de pintura primitivista no Salão do Cinquentenário. Formas e cores aí se casam numa originalidade que não foge da verdade sentimental do assunto e estabelece uma ‘trouvaille’ de pintura muito pessoal. ‘Fábrica de Vidro’ nos diz com muita sinceridade como o instinto e a sensibilidade alcançam um motivo e o traduzem em pintura, sem disfarçar uma compreensão de matéria que seria certamente deformada por uma observação simplesmente ótica a serviço de uma habilidade aprendida.”— Quirino Campofiorito, Quinquagésimo Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Diário da Noite.

1945

“Não sabemos por que Sylvia de Leon Chalreo, ou melhor, Silvia ‘tout court’ preferiu fazer sua primeira exposição em São Paulo. Talvez um capricho, como outro qualquer, simplesmente.A primeira exposição de Silvia está pois instalada na Livraria Brasiliense, e ficará até dia 5 do próximo mês de julho. A crítica paulista lhe tem sido francamente favorável e isto constitui bem uma ‘lança em África’. Sérgio Milliet, Quirino da Silva, Ciro Mendes e Luís Martins, os generais da crítica bandeirante de artes plásticas, não lhe negaram o estímulo de suas palavras e souberam tecer considerações que muito bem dizem da personalidade artística de Silvia.”Quirino Campofiorito, individual na Livraria Brasiliense, São Paulo. Diário da Noite, RJ, 13/05/1945.

1945

“Falei da sensibilidade à cata de uma técnica.Talvez não seja bem o caso de se apontar uma carência de técnica. Esta técnica existe, por certo, mas tão simplista se revela que é possível deixá-la de lado. Assim temos também de abandonar, em relação à Silvia, toda e qualquer ideia de análise puramente pictórica para entrar com decisão no conteúdo sensível de sua pintura. Silvia sente-se sobretudo atraída pela poesia da ingenuidade. Dir-se-ia que ela procura despojar-se de toda sabença escolar para chegar a uma expressão sintética limpa de literatura.”Sérgio Milliet, individual na Livraria Brasiliense, São Paulo.Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Diário da Noite.

1946

“Sylvia de Leon Chalreo está expondo no Instituto dos Arquitetos. Observando seus quadros de forte expressão emocional, porque todos nos remetem uma

atitude de bondade permanente com os humildes, nós nos perguntamos: será Silvia somente uma autodidata ou comportará sua personalidade essa condição de simplicidade orgânica que lhe garante a condição tão apreciada de uma pintora caracteristicamente primitivista?”Quirino Campofiorito, individual no Instituto dos Arquitetos, Rio de Janeiro. Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Diário da Noite.

1947

“Silvia é uma pintora primitivista. Estão as condições de sinceridade emotiva estampadas em qualquer de suas telas. Silvia tem o que dizer. Sua obra não é uma muda especulação técnica. Realmente não é a sapiência técnica que a anima a pintar, mas sim a sua curiosidade profunda da vida que a impele a buscar na própria vida a única razão para os seus quadros. Diante dos quadros de Silvia ganhamos a certeza que a arte é um pretexto para fixar uma posição mental.”Quirino Campofiorito. Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Revista Rio.

1955

“É de uma importância fundamental para esta artista a compreensão de si mesma e a fidelidade aos seus próprios antecedentes artísticos, ou seja, aos seus princípios de puro instinto criador. É necessário que ela permaneça fiel a suas origens, as suas profundas raízes primitivas, sem preocupações de construtividade e sempre distante dos cânones do neoplasticismo e da asfixiante ortodoxia abstracionista, pois Silvia é um dos casos mais originais de nossa pintura e uma das mais eloquentes afirmações de caráter e afinidade com o legítimo espírito artístico brasileiro” — Wilson Rocha, individual na Galeria Oxumarê, Salvador. O Estado da Bahia, 10/12/1955.

1958

“Vinte e cinco óleos de Silvia, quadros cheios de poesia e de ternura, humanos como a própria Silvia. Pintura de colorido exuberante, cheio de simpleza que transborda do espírito ingênuo da artista. Os quadros de Silvia são simples e belos como a vida, como o Sol, como as criaturas-crianças, o que a própria Silvia é um pouco.” — Rosa Pessoa, Salão Nacional de Arte Moderna.Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Diário de Pernambuco.

1960

“É pintura de sintetismos, de conjuntos harmônicos, como balanceio de formas humanas. É toda uma mostra composta de modo pessoal, com poesia, com um sentido de massas, multidões qual um formigueiro ou um mosqueiro humano, trescalando afetividade.” — Aldo Obino, exposição na Galeria Municipal de Arte, em Porto Alegre.

1963

“Nunca escrevi sobre pintores. Mas Silvia não é somente um pintor. É acima de tudo um poeta que encontrou sua linguagem através das sete cores. Há os que gostam de classificações e a colocam entre os pintores ingênuos, primitivos.Talvez estejam certos. Certíssimos. Para mim, se é preciso classificá-la então a coloquemos entre os que realizam autêntica arte popular brasileira. O Brasil está inteiro em todos os seus aspectos e formas, como povo, crenças, costumes, nos seus quadros.” — Paschoal Carlos Magno, exposição no Museu de Artes do Paraná, Curitiba. Arquivo de Silvia; convite.

1963

“Que pinta esta mulher simples que se chama Silvia e é hoje um nome consagrado em nossas artes plásticas? Perguntará o leitor que ainda não conhece seus quadros. Silvia pinta casas e gente da Bahia, morros cariocas, ladeiras, marinhas, festas populares, a pobreza e o povo brasileiro. Seus assuntos são nacionalíssimos. Não tem sido toda a sua vida de escritora, jornalista e pintora dedicada ao Brasil? Não é ela destas pessoas que esperam por um amanhã melhor para este País? Seus quadros, todos lindos e possuidores do colorido e pitoresco das nossas cidades e da nossa gente, são um deleite para os olhos e encantamento para uma parede, seja ela de uma morada rica ou pobre. Dela não sei quem já disse muito acertadamente:‘É uma socialista que faz quadros de gente pobre para gente rica.’ Paulo Cavalcanti.Arquivo de Silvia; recorte de jornal.

1964

“Morros, favelas, pauperismo, ambientes sui generis, testemunhos cariocas, lirismo tropical, tudo é tratado com tais lances de ocre, terra, azuis, texturas, contrastes, ritmos e registros, que esta realidade se torna mágica, deixa de ser polêmica e pessimista para irradiar efusões, como outrora na casuística bem congênere de Portinari e Santa Rosa.” José Geraldo Vieira, exposição na Casa do Artista Plástico, São Paulo.Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Folha de S. Paulo.

1967

“A pintura de Silvia é carinho derramado em luzes e traços. Há muito Brasil nestas fachadas e nestas criaturas, a claridade das manhãs, o sopro do vento, o cheiro do mar. Silvia apanha o esplendor do Brasil e nele engasta uma população sem recursos, mas cheia de esperança.Todos estão vestidos em roupas domingueiras, roupas alegres e sabem que a fronteira do progresso não está longe. Então o mundo de Silvia se revela na graça de um documentário. Apenas o essencial, o típico deste momento de transição entre um Brasil pitoresco e um Brasil mecanizado.” Zora Seljan, individual no Leme Palace Hotel.Arquivo de Silvia; convite.

1972

“É claro que a pintura de Silvia não precisa mais ser apresentada por ninguém. Ela é demais conhecida em Belo Horizonte, no Brasil todo e no estrangeiro também. Silvia é uma interessada no homem simples, não atingido pela sofisticação do progresso, e nas coisas que ele faz. Mas isto faz parte do conteúdo, do anedótico de sua pintura e é claro que seu valor não reside só aí. Importa, além disso, apreciar a forma pictórica adequada que Silvia utiliza na expressão de seus temas. Seu quadro é sabiamente construído, tanto pelo desenho e organização do espaço como pela cor.Apenas esta construção não permite que o dado intelectual se sobreponha ao sensitivo, afetivo.Todos os elementos técnicos de linguagem e realização de sua pintura vêm impregnados de sensibilidade e amor, numa harmonia entre raciocínio e afeição.” Abelardo Zaluar, individual na Galeria Artelivro, em Belo Horizonte. Revista Importante, no. 148.

1974

“Silvia, que já conviveu com o povo do Recife, embora ligeiramente, com certeza condensará este convívio agora comendo siris e guaiamus, passarinha e sururu, carne de sol, buchadas e mãos-de-vaca, chambaril e sarapatel: comidas do povo; verá os maracatus, os mamulengos e os pastoris, espetáculos do povo; provará das frutas, dos sucos, das pimentas e verá que o povo do Recife, na sua essência lúdica ou trágica, é o mesmo de sua região Sudeste, e que sendo brasileiro, carrega as mesmas marcas de servidão e rebeldia, a mesma carga poética que se pode ver nos quadros dessa excelente pintora que é Silvia.” Hermilo Borba Filho, individual na Galeria Nega Fulô, Recife. Arquivo de Silvia; convite.

1979

“Silvia, pode-se dizer, criou uma escola. O casario, o povo da rua, as marinhas, a vida do povo transmitida com real e sincera inocência são forças de sua pintura despretensiosa e intencionalmente pueril. Vejamos nisso qualidades, verdades de linguagem. Silvia não é uma primitiva. É uma mulher culta, jornalista, feminista sem bandeira nem tambor, pelo exemplo, pelo instinto. Sempre preocupou-se com os valores e a causa do povo, dispôs-se com amor a documentar este interesse.” Walmir Ayala. Arquivo de Silvia; convite.

1991

“Morreu há dias uma grande pintora brasileira. Grande na sua trilha, que é dos ingênuos, dos instintivos, das crianças, dos puros de coração. Pode-se dizer dela que exercitou o coração na vida e na pintura, através de uma visão alta- mente pessoal. Não sei o que destacar nesta mulher que se doou inteira como intelectual à causa social, desde a militância política mais cerrada, à abrangência natural e pródiga de uma generosidade que lhe era peculiar”.Wal- mir Ayalla.Arquivo de Silvia; recorte de jornal.

Prêmios

1943 – Menção honrosa - Salão Nacional de Belas Artes - Divisão Moderna, Rio de Janeiro/RJ

1947 – Medalha de bronze - Salão Nacional de Belas Artes - Divisão Moderna, Rio de Janeiro/RJ

1948 – Medalha de prata - Salão Nacional de Belas Artes - Divisão Moderna, Rio de Janeiro/RJ

1948 – Menção honrosa - Salão dos Artistas Nacionais

1949 – Menção com louvor - 1o Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro/RJ

1950 – Diploma de alto mérito 2o Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro/RJ

1950 – Medalha de prata – Salão de Caruaru/PE

Obras em museus e coleções

Coleção de Arte da Cidade/ Centro Cultural São Paulo / SMC/ PMSP

Musée d’Art Naïf de L’ilê de France Paris/França

Musée International d’Art Naïf Anatole Jakovsky - Nice/França

Museu Antônio Parreiras - Niterói/RJ Museu da Cidade de Caruaru - Caruaru/PE

Museu de Arte Contemporânea do Paraná Curitiba/PR

Museu de Arte Contemporânea de Skopje/ Iugoslávia

Museu de Arte Hispano-Americana Madri/Espanha

Museu de Arte Moderna da Bahia Salvador/BA

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/RJ

Museu de Arte Naïf de Trebnje - Iugoslávia

Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro/RJ

Pinacoteca Municipal Pimentel Junior Rio Claro/SP

Pinacoteca da Universidade do Alasca/EUA

Exposições Individuais

1945 - Livraria Brasiliense, São Paulo/SP

1946 - Instituto dos Arquitetos do Brasil - Rio de Janeiro/RJ

1952 - Galeria Velazquez - Buenos Aires/Argentina

1955 - Galeria Oxumarê - Salvador/BA

1956 - Escola Dramática Martins Pena - Distrito Federal/RJ

1958 - Galeria Lemac - Recife/PE

1960 - Galeria Macunaíma - Rio de Janeiro/RJ

1960 - Galeria Municipal de Arte - Porto Alegre/RS

1961 - Galeria Montmartre Jorge - Rio de Janeiro/RJ

1963 - Galeria Casa do Artista Plástico - São Paulo/SP

1963 - Museu de Arte do Paraná - Curitiba/PR

1964 - Montmartre Jorge - Rio de Janeiro/RJ

1964 - Galeria Guignard - Belo Horizonte/MG

1964 - Galeria Municipal de Arte - Viçosa/MG

1964 - Galeria de Arte do Recife - Recife/PE

1964 - Galeria de Arte da Casa do Artista Plástico - São Paulo/SP

1965 - Centro de Arte de Nova Friburgo - Nova Friburgo/RJ

1965 - Sudamericana First New York Exibition - Nova York/EUA

1966 - Brazilian Center - NovaYork/EUA

1967 - Columbia University - NovaYork/EUA

1967 - Leme Palace Hotel - Rio de Janeiro/RJ

1968 - Atrium Galeria - São Paulo/SP

1969 - Galeria Biombo - Rio de Janeiro/RJ

1972 - Galeria Artelivro - Belo Horizonte/MG

1973 - Elvalston Gallery - Londres/Inglaterra

1973 - Grupo B - Rio de Janeiro/RJ

1974 - Museu Histórico da Cidade - Rio de Janeiro/RJ

1975 - Galeria Nega Fulô - Recife/PE

1978 - Galeria Funarte Sérgio Milliet - Rio de Janeiro/RJ

1978 - Fundação Cultural de Curitiba - Curitiba/PR

1979 - Fundação Cultural do Distrito Federal - Brasília/DF

1979 - Ministério das Comunicações - Brasília/DF

1982 - Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

Exposições Coletivas

1941 - Salão Nacional de Belas Artes

1950 - Divisão Moderna (exceto 1942)

1941 - Salão de Maio - Rio de Janeiro/RJ

1942 - Salão de Maio - Rio de Janeiro/RJ

1941 - Salão Fluminense de Belas Artes - Niterói/RJ

1953 - Salão Fluminense de Belas Artes - Niterói/RJ

1943 - Feira de Arte Moderna - Rio de Janeiro/RJ

1946 - Exposición del Brasil en Chile -Valparaíso/Chile

1946 - Exposición de Pintura Contemporanea Brasileña - Santiago/Chile

1948 - Salão de Belas Artes da Sociedade de Artistas Nacionais (SAN) - Rio de Janeiro/RJ

1949 - Salão Municipal de Belas Artes Rio de Janeiro/RJ

1950 - Salão Municipal de Belas Artes Rio de Janeiro/RJ

1954 - Salão Municipal de Belas Artes Rio de Janeiro/RJ

1955 - Salão Municipal de Belas Artes Rio de Janeiro/RJ

1950 - Salão da Escola do Povo - Enba - Rio de Janeiro/RJ
1950 - Salão do Art Club do Rio de Janeiro - Enba - Rio de Janeiro/RJ 

1952 - Salão Nacional de Arte Moderna - Rio de Janeiro 

1972 - Salão Nacional de Arte Moderna - Rio de Janeiro

1953 - Salão da Associação Brasileira de Desenho, ABD – Rio de Janeiro/RJ

1953 - Galeria Dezon - Rio de Janeiro/RJ

1954 - Exposição de 10 Pintoras - Galeria Dezon - Rio de Janeiro/RJ

1955 - Salão Miniatura - ABI - Rio de Janeiro/RJ

1955 - Novo Salão Carioca - Dep. Municipal de Turismo - Rio de Janeiro/RJ

1956 - Salão da Revista Forma - Galeria Dezon - Rio de Janeiro/RJ

1956 - Salão de Belas Artes de Juiz de Fora - Juiz de Fora/MG

1957 - Pequeno Salão da Embaixada Francesa Maison de France - Rio de Janeiro/RJ

1957 - Salão de Belas Artes de Juiz de Fora - Juiz de Fora/MG

1958 - Bienal do México - México

1959 - Coletiva de Primitivos - Petite Galerie - Rio de Janeiro/RJ

1960 - Festival do Rio - Cinelândia - Rio de Janeiro

1962 - Semana de Arte - Pinacoteca de Juiz de Fora - Juiz de Fora/MG

1964 -  Galeria de Arte Brasileira - São Paulo/SP

1965 - 19º Congresso Internacional de Postagens Aquarela do Brasil - São Paulo/SP

1965 - Casas Geli - Rio de Janeiro/RJ

1965 - Pintores primitivos - Galeria Vernon - Rio de Janeiro/RJ

1966 - 116º Aniversário de Juiz de Fora/MG

1966 - Primitivos Actuales da América

1967 - Instituto de Cultura Hispânica - Madri/Espanha

1967 - The Brazilian Primitive Painters and Wood Engravers Copacabana Palace - Rio de Janeiro/RJ

1967 - Pintores Brasileiros - Brazilian Center - Nova York/EUA

1967 - Semaine Latino-Americaine - Maison de la Amerique Latine - Paris/França

1968 - Leilão de Arte - Teatro Municipal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

1968 - Exposição Coletiva de Pintura - Museu Imperial de Petrópolis - Petrópolis/RJ

1968 - Exposição Coletiva de Pintura - Centro de Arte de Nova Friburgo - Nova Friburgo/RJ

1968 - Exposição Coletiva de Pintura - Atrio DCT - Campos/RJ

1968 - Três Aspectos da Pintura Contemporânea

1968 - Dep. Cultural do Itamaraty - Caracas/Bogotá/Costa Rica

1968 - The Brazilian Center of NewYork and its Directors Pintores Brasileiros Contemporâneos - Connecticut - USA

1968 - Lirismo Brasileiro - MIS - Rio de Janeiro/RJ

1968 - Lirismo Brasileiro - Salão da Secretaria de Estado de Informação e Turismo - Lisboa/Portugal

1969 - Paisagem Hoje - Instituto Brasil EUA - Rio de Janeiro/RJ

1969 - Lirismo Brasileiro - Galeria Quixote - Madri/Espanha

1969 - Brazilian Primitive Painters - Consulado Geral do Brasil - NovaYork/EUA

1969 - Lirismo Brasileiro - Galeria  Debret - Paris/França

1970 - Pintores Brasileiros - Artistas Ingênuos - Casino do Estoril Lisboa - Portugal

1970 - Nove Pintores - Club Campestre da Guanabara - Rio de Janeiro/RJ

1970 - Artistas Primitivos -  Azulão Galeria - São Paulo/SP

1970 - Carnaval Carioca - Instituto Brasil EUA - Rio de Janeiro/RJ

1971 - Artistas do Brasil para o Museu de Arte Contemporânea de Skoppe - Paço das Artes - São Paulo/SP

1971 - Cinco Artistas Cariocas - Departamento de Culturado Paraná - Curitiba/PR 

1972 - I Salão de Arte Hebraica - Sociedade de Arte Hebraica - Rio de Janeiro/RJ

1972 - Exposição sobre a Infância - IAB – Rio de Janeiro/RJ

1972 - Exposição de Artistas Brasileiros - Museu da Faculdade Nacional de Arquitetura - Rio de Janeiro/RJ

1972 - Exposição Fulgura Seis - Galeria G4 - Rio de Janeiro/RJ

1972 - Exposição de Primitivos Contemporâneos do Brasil e do Estrangeiro - Museu de Arte Brasileira - Faap - São Paulo/SP

1972 - Exposição de Artistas Ingênuos - Galeria San Marco Rio de Janeiro/RJ

1972 - Primeira Coletiva - Tora Ipanema - Rio de Janeiro/RJ

1973 - Inauguração da Pinacoteca da Universidade Federal de Viçosa - MG

1974 - Coletiva no Início da Temporada - Galeria Artelivro Belo Horizonte/MG

1974 - Leilão Cena Aberta - Hotel Glória - Rio de Janeiro/RJ

1974 - Mostra de Instinto e Criatividade Popular, Museu Nacional de Belas Artes - Rio de Janeiro/RJ

1975 - Exposição de Mulheres - Hotel Intercontinental Rio de Janeiro/RJ

1975 - Coletiva de Artistas do Rio de Janeiro Galeria de Arte de Vanguarda - São Paulo/SP

1976 - Pintores Naïf do Rio - Aliança Francesa - Santos/SP

1976 - Mulher - Arte do Neoimpressionismo até Agora Palácio Pedro Ernesto - Rio de Janeiro/RJ

1976 - International Naïve Painters - The Gallery White Rock Over Haddon - Londres/Inglaterra

1977 - Biblioteca Câmara Cascudo - Natal/RN

1977 - Expositores da Associação Internacional de Artes Plásticas - Santos/SP

1977 - Primeiro Encontro Carioca de Pintura Ingênua Metrô Cinelândia - Rio de Janeiro/RJ

1978 - Primeira Mostra de Pintores Primitivos e Ingênuos Museu Universitário Augusto Motta - Rio de Janeiro/RJ

1978 - Segundo Encontro Carioca de Pintura Ingênua - Rio de Janeiro/RJ

1979 - Colour Fiesta - Brazilian Primitive Painters Art Gallery - Londres/Inglaterra

1979 - Galeria Opus - Brasília/DF

1979 - Galeria Cravo e Canela - São Paulo/SP

1979 - Mostra, Hamiltons Fine Art Gallery - Londres/Inglaterra

1980 - VI Bienal Internacional Naïf - Milão/Itália

1980 - Galeria Jean Jacques - Rio de Janeiro/RJ

1980 - Grande Coletiva de Arte Naïf Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

1981 - 10 Artistas Naïfs Brasileiros, Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

1981 - Seis Artistas Naïfs Brasileiros, Galeria Jean Jacques - Rio de Janeiro/RJ

1981 - Grande Coletiva de Arte Naïf Brasileira Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

1982 - Le Genie des Naïfs - Grand Palais - Paris/França

1982 - Arte Naïf do Brasil - Banco Sogeral - Porto Alegre/RS

1986 - Brésil Naïfs - Espace Art 4 - La Défense - Paris/França

1987 - Brésil Naïfs - Galerie Bad Rouah - Rabat/Marrocos

1988 - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs Paço Imperial - Rio de Janeiro/RJ

1990 - Presença e Povo na Arte Brasileira Museu da Casa Brasileira - São Paulo/SP

1990 - Teatro Nacional de Brasília, Museu de Arte do, Rio Grande do Sul, Galeria Ucbeu - Rio de Janeiro/RJ

1991 - Pintura, Presença e Povo na Arte Brasileira – Brazilian Art Collection - FMI Visitor Center - Washington/EUA

1999 - Hommage aux Maîtres Naïfs Brésiliens Musée d’Art Naïf - Figueiras/Espanha

2002 - VI Bienal Naïf do Brasil - Sesc - Piracicaba/SP

2006 - Arte Naïf no Brasil - Espaço Cultural Citigroup - São Paulo/SP

2006 - Raridades - Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

2009 - Raridades - Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

2012 - O Colecionador - Arte Naïf, Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

Fonte: Livro Maracangalha: Vida e obra de Sylvia de Leon Chalreo. Consultado pela última vez em 10 de fevereiro de 2025.

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Núcleo Bernadelli | Itaú Cultural

Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910-1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852-1931) e Henrique Bernardelli (1858-1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906-1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907-1988), Bruno Lechowski (1887-1941), Sigaud (1899-1979), Camargo Freire (1908-1988), Joaquim Tenreiro (1906-1992), Quirino Campofiorito (1902-1993), Rescála (1910-1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902-1958), Milton Dacosta (1915-1988), Manoel Santiago (1897-1987), Yoshiya Takaoka (1909-1978) e Tamaki (1916-1979).

A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.

Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.

Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.

Fonte: NÚCLEO Bernardelli. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 6 de fevereiro de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

Crédito fotográfico: Wikipédia. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

Sylvia de Leon Chalreo (11 de abril de 1905, Rio de Janeiro, Brasil – 24 de junho de 1991, Rio de Janeiro, Brasil) foi uma artista plástica, jornalista, crítica de arte, escritora, tradutora e ilustradora brasileira. Reconhecida por sua versatilidade, atuou intensamente na cena cultural e política brasileira ao longo do século XX. Estudou na Escola Normal do Rio de Janeiro e iniciou sua carreira como jornalista e militante feminista. Na década de 1930, fundou e dirigiu a revista Esfera, voltada às artes, literatura e ciências. Como crítica e colunista, escreveu para periódicos como Brasil Feminino, Tribuna Popular e Revista Fon-Fon, além de atuar na televisão comentando peças teatrais. A partir dos anos 1940, dedicou-se à pintura, tornando-se um dos nomes relevantes da arte naïf brasileira. Participou de importantes salões e exposições nacionais e internacionais, sendo premiada no Salão Nacional de Belas Artes. Suas obras, marcadas por cores vibrantes e cenas do cotidiano, fazem parte de acervos como o Museu Nacional de Belas Artes, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná e o Musée International d’Art Naïf Anatole Jakovsky, na França.

Sylvia de Leon Chalreo

Sylvia de Leon Chalreo (11 de abril de 1905, Rio de Janeiro, Brasil – 24 de junho de 1991, Rio de Janeiro, Brasil) foi uma artista plástica, jornalista, crítica de arte, escritora, tradutora e ilustradora brasileira. Reconhecida por sua versatilidade, atuou intensamente na cena cultural e política brasileira ao longo do século XX. Estudou na Escola Normal do Rio de Janeiro e iniciou sua carreira como jornalista e militante feminista. Na década de 1930, fundou e dirigiu a revista Esfera, voltada às artes, literatura e ciências. Como crítica e colunista, escreveu para periódicos como Brasil Feminino, Tribuna Popular e Revista Fon-Fon, além de atuar na televisão comentando peças teatrais. A partir dos anos 1940, dedicou-se à pintura, tornando-se um dos nomes relevantes da arte naïf brasileira. Participou de importantes salões e exposições nacionais e internacionais, sendo premiada no Salão Nacional de Belas Artes. Suas obras, marcadas por cores vibrantes e cenas do cotidiano, fazem parte de acervos como o Museu Nacional de Belas Artes, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná e o Musée International d’Art Naïf Anatole Jakovsky, na França.

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Sylvia de Leon Chalreo, 1979 | 2020

Arquivo pessoal de Sylvia Chalreo | 2021

Vida e Obra de Sylvia Chalreo | 2013

Sylvia de Leon Chalreo | Arremate Arte

Sylvia de Leon Chalreo (11 de abril de 1905, Rio de Janeiro – 24 de junho de 1991, Rio de Janeiro) foi uma artista plástica, jornalista, escritora, ilustradora, gravadora, tradutora e crítica de arte brasileira. Com uma trajetória multifacetada, destacou-se pela versatilidade em suas expressões artísticas e pelo olhar sensível voltado às cenas do cotidiano e à figura humana.

Desde cedo, Sylvia demonstrou interesse pela arte e pelas letras, explorando diferentes técnicas e formas de expressão. Sua produção visual transitou entre a pintura, a gravura e a ilustração, sempre marcada por uma abordagem única e uma estética que buscava capturar a essência das pessoas e dos ambientes urbanos. Como jornalista e crítica de arte, acompanhou e documentou importantes momentos da cultura brasileira, contribuindo para a difusão e valorização da produção artística nacional.

Ao longo de sua carreira, participou de diversas exposições e teve sua obra reconhecida tanto no Brasil quanto no exterior. Em 2019, sua arte foi revisitada na mostra "Some May Work as Symbols", na galeria Raven Row, em Londres, reafirmando sua relevância para a história da arte brasileira do século XX.

Sylvia de Leon Chalreo faleceu em 1991, no Rio de Janeiro. Sua obra continua a ser estudada e admirada, representando um importante testemunho da cultura e da sociedade brasileira de sua época.

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Sylvia de Leon Chalreo | Wikipédia

Sylvia de Leon Chalreo (Rio de Janeiro, 11 de abril de 1905 — Rio de Janeiro, 24 de junho de 1991) foi uma jornalista, crítica de artes e teatro, escritora, tradutora, pintora, gravadora e ilustradora brasileira.

Biografia

Era filha única do secretário e professor da Escola Nacional de Belas Artes, Diogo Chalreo e de Hortênsia de Leon, neta materna de Pietro Tabacchi, pioneiro na imigração de colonos de língua italiana no Espírito Santo.

Nasceu no Morro do Barro Vermelho, Rio de Janeiro, em 1905 e conviveu desde a mais tenra idade com artistas, professores e exposições de Belas Artes. Estudou na Escola Normal do Rio de Janeiro, onde se formou professora em 1924. No mesmo ano, ingressou por concurso na prefeitura do Rio de Janeiro, onde trabalhou até se aposentar.

Concomitantemente ao trabalho na Prefeitura, começou a escrever artigos para a imprensa de Niterói, cidade onde residia na época. Em 1931, participou da organização de um clube feminista em Niterói, o Athenée, que tinha por objetivo "conforme publicado no Diário da Noite, em 15 de agosto de 1931, “oferecer à intelectualidade feminina um ambiente propício ao desenvolvimento e disseminação da cultura: seja física, para o aperfeiçoamento da saúde; literária ou científica, para maior elevação espiritual, congregando idealismo e realismo como única e verdadeira concepção de vida”. Sua diretoria era composta apenas por mulheres e presidida por Sylvia". No mesmo ano, junto a importantes personalidades do feminismo da época, como Alzira Reis Nogueira, Anna Amélia Carneiro de Mendonça, Ermelinda Lopes de Vasconcelos e Maria Jacintha Trovão da Costa Campos, participou da criação Escritório de Ligação Feminina Geral e Estudos Sociais de Niterói que em 1931 e 1932 promoveu cursos para mulheres, estudos e debates acerca de questões sociais e feministas. No ano seguinte foi contratada pela recém criada Revista Brasil Feminino, onde assinou por cerca de dois anos a Coluna Proletária. A partir de então colaborou com críticas de artes e teatro para, entre outros periódicos, a Revista Rio, Revista Rio Social,Tribuna Popular nas décadas de 1930 e 1940 e, a partir dos ans 1950, o jornal Imprensa Popular, revistas Fon-Fon e Mês. Durante cinco anos foi a responsável pela coluna Telecrítica, no programa Revista da Televisão da TV Continental, onde jornalistas comentavam peças encenadas pelas emissoras. Nela debatia com Zora Seljan (O Globo), Almir Azevedo (O Semanário), Alamir Carvalho (Revista TV), Paulo Salgado (Revista Aconteceu), Walmir Ayala (Revista Leitura) e convidados. Em 1938 criou com Maria Jacintha e Áureo Otoni a Revista Esfera, de Letras, Artes e Ciências, que dirigiu até 1950.

Atuou também como tradutora. Segundo consta em seu currículo de jornalista, traduziu do francês para português Maria Clara (Marie Claire), de Marguerite Audoux, Inferno (L'infer) e Claridade (Clarté), de Henry Barbusse e fez a primeira tradução para o português deTacão de Ferro, de Jack London. Este último foi publicado no Brasil em 1947, pela editora Estrela Vermelha.

A partir de 1940, passou a exercer profissionalmente a atividade de artista plástica, produzindo inicialmente pinturas a óleo e a partir dos anos 1960, serigrafias. De 1945 a 1982, realizou 33 exposições individuais em diversos estados do Brasil e no exterior e de 1941 a 2012 suas obras fizeram parte de importantes exposições coletivas no Brasil, Europa e Estados Unidos. Nos anos 40 participou de todos os Salões Nacionais e Salões Fluminenses de Belas Artes no Rio de Janeiro. "Foi premiada na Divisão Moderna do Salão Nacional com menção honrosa (1941), medalha de bronze (1947) e medalha de prata (1948). Em 1950, não podendo mais concorrer, pois pelas regras do Salão quem obtivesse medalha de ouro ou prata em alguma edição anterior era considerado “hors-concours”, foi escolhida como jurada da mesma Divisão Moderna. No ano seguinte, uma década depois da inauguração desta divisão, foi criado o Salão Nacional de Arte Moderna, onde Silvia apresentou suas obras anualmente até 1972" . Suas obras fazem parte das seguintes coleções: Coleção de Arte da Cidade/ Centro Cultural São Paulo / SMC/ PMSP, Musée d’Art Naïf de L’Île de France Paris, França Musée International d’Art Naïf Anatole Jakovsky (Nice, França), Museu Antônio Parreiras em Niterói, Museu da Cidade de Caruaru (Pernambuco)E, Museu de Arte Contemporânea do Paraná Curitiba/PR, Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro/.

Seu nome consta em dicionários e enciclopédias de artes visuais editados nas décadas de 1960 e 1970.

Fonte: Wikipédia. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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Exposições Sylvia de Leon Chalreo | Itaú Cultural

1941 - 47º Salão Nacional de Belas Artes

1945 - Silvia de Leon Chalreo (1945 : São Paulo, SP)

1945 - Artistas Plásticos do Partido Comunista

1946 - Homenagem ao Povo Espanhol

1949 - 1º Salão Municipal de Belas Artes

1950 - 2º Salão Municipal de Belas Artes

1950 - 56º Salão Nacional de Belas Artes

1953 - 2º Salão Nacional de Arte Moderna

1954 - Exposição comemorativa do I Congresso Nacional de Intelectuais

1954 - 6º Salão Municipal de Belas Artes

1958 - 1ª Bienal Interamericana de Pintura y Grabado

1965 - 14º Salão Nacional de Arte Moderna

1988 - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs

1991 - Grande Exposição Coletiva de Arte Ingênua

1994 - Grande Exposição de Arte Naif Brasileira

2002 - Bienal Naifs do Brasil 2002

2006 - Raridades

2014 - Arte Naif

2019 - ARTE NAÏF (Nenhum museu a menos)

2021 - A memória é uma invenção

Fonte: SYLVIA de Leon Chalreo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 06 de fevereiro de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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Sylvia de Leon Chalreo | Bel Galeria de Arte

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ, Brasil) e era filha única do secretário e professor da Escola Nacional de Belas Artes, Diogo Chalreo e de Hortênsia de Leon, neta materna de Pietro Tabacchi, pioneiro na imigração de colonos de língua italiana no Espírito Santo.

Nasceu no Morro do Barro Vermelho, Rio de Janeiro, em 1905 e conviveu desde a mais tenra idade com artistas, professores e exposições de Belas Artes. Estudou na Escola Normal do Rio de Janeiro, onde se formou professora em 1924. No mesmo ano, ingressou por concurso na prefeitura do Rio de Janeiro, onde trabalhou até se aposentar.

Concomitantemente ao trabalho na Prefeitura, começou a escrever artigos para a imprensa de Niterói, cidade onde residia na época. Em 1931, participou da organização de um clube feminista em Niterói, o Athenée, que tinha por objetivo "conforme publicado no Diário da Noite, em 15 de agosto de 1931, “oferecer à intelectualidade feminina um ambiente propício ao desenvolvimento e disseminação da cultura: seja física, para o aperfeiçoamento da saúde; literária ou científica, para maior elevação espiritual, congregando idealismo e realismo como única e verdadeira concepção de vida”. Sua diretoria era composta apenas por mulheres e presidida por Sylvia". 

No mesmo ano, junto a importantes personalidades do feminismo da época, como Alzira Reis Nogueira, Anna Amélia Carneiro de Mendonça, Ermelinda Lopes de Vasconcelos e Maria Jacintha Trovão da Costa Campos, participou da criação Escritório de Ligação Feminina Geral e Estudos Sociais de Niterói que em 1931 e 1932 promoveu cursos para mulheres, estudos e debates acerca de questões sociais e feministas. No ano seguinte foi contratada pela recém criada Revista Brasil Feminino, onde assinou por cerca de dois anos a Coluna Proletária.

A partir de então colaborou com críticas de artes e teatro para, entre outros periódicos, a Revista Rio, Revista Rio Social,Tribuna Popular nas décadas de 1930 e 1940 e, a partir dos ans 1950, o jornal Imprensa Popular, revistas Fon-Fon e Mês. Durante cinco anos foi a responsável pela coluna Telecrítica, no programa Revista da Televisão da TV Continental, onde jornalistas comentavam peças encenadas pelas emissoras. Nela debatia com Zora Seljan (O Globo), Almir Azevedo (O Semanário), Alamir Carvalho (Revista TV), Paulo Salgado (Revista Aconteceu), Walmir Ayala (Revista Leitura) e convidados. Em 1938 criou com Maria Jacintha e Áureo Otoni a Revista Esfera, de Letras, Artes e Ciências, que dirigiu até 1950.

Atuou também como tradutora. Segundo consta em seu currículo de jornalista, traduziu do francês para português Maria Clara (Marie Claire), de Marguerite Audoux, Inferno (L'infer) e Claridade (Clarté), de Henry Barbusse e fez a primeira tradução para o português de Tacão de Ferro, de Jack London. Este último foi publicado no Brasil em 1947, pela editora Estrela Vermelha. 

A partir de 1940, passou a exercer profissionalmente a atividade de artista plástica, produzindo inicialmente pinturas a óleo e a partir dos anos 1960, serigrafias. De 1945 a 1982, realizou 33 exposições individuais em diversos estados do Brasil e no exterior e de 1941 a 2012 suas obras fizeram parte de importantes exposições coletivas no Brasil, Europa e Estados Unidos. Nos anos 40 participou de todos os Salões Nacionais e Salões Fluminenses de Belas Artes no Rio de Janeiro.

Foi premiada na Divisão Moderna do Salão Nacional com menção honrosa (1941), medalha de bronze (1947) e medalha de prata (1948). Em 1950, não podendo mais concorrer, pois pelas regras do Salão quem obtivesse medalha de ouro ou prata em alguma edição anterior era considerado “hors-concours”, foi escolhida como jurada da mesma Divisão Moderna. No ano seguinte, uma década depois da inauguração desta divisão, foi criado o Salão Nacional de Arte Moderna, onde Silvia apresentou suas obras anualmente até 1972" . Suas obras fazem parte das seguintes coleções: Coleção de Arte da Cidade/ Centro Cultural São Paulo / SMC/ PMSP, Musée d’Art Naïf de L’Île de France Paris, França Musée International d’Art Naïf Anatole Jakovsky (Nice, França), Museu Antônio Parreiras em Niterói, Museu da Cidade de Caruaru (Pernambuco)E, Museu de Arte Contemporânea do Paraná Curitiba/PR, Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro/.

Fonte: Bel Galeria de Arte. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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Quem foi Silvia de Leon Chalreo, a Revolucionária da Arte Naif | Galeria Jacques Ardies

Silvia de Leon Chalreo emergiu no cenário cultural brasileiro como uma figura revolucionária. Formada em direito, tradutora e jornalista, Silvia não só desafiou o status quo com suas tendências políticas, mas também fundou o primeiro jornal feminista do Rio de Janeiro. Em um país marcado por raízes machistas, sua voz pioneira ecoou mudanças sociais, preparando o terreno para uma nova expressão artística que encontraria seu ápice nas paredes das galerias de arte.

O Reconhecimento no Salão Nacional de Belas Artes

Nos anos 1940, Silvia voltou sua atenção para a pintura, abordando temas populares que refletiam a identidade e as vivências brasileiras. Seu talento foi prontamente reconhecido: em 1943, suas obras foram aceitas pelo júri do prestigiado Salão Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. A artista colecionou láureas, incluindo menção honrosa, medalha de bronze em 1947 e medalha de prata em 1948. Estes prêmios marcaram o início de sua influente carreira na Arte Naif.

Primeira Exposição e Ascensão nas Galerias de Arte

Silvia inaugurou sua primeira exposição individual na Livraria Brasilience em São Paulo, em 1945. Daí em diante, sua carreira tomou um impulso notável. Sua assinatura artística seria vista em exposições solo e coletivas, não só em território nacional, mas também nos Estados Unidos e pela Europa, solidificando sua presença nas galerias de arte do eixo Rio-São Paulo.

A Essência da Pintura Naif de Silvia

Adotando o nome artístico de Silvia na década de 1940, ela descreveu seu despertar artístico como um súbito insight, uma convicção inabalável em seu talento para a pintura. As obras de Silvia são um tributo à simplicidade e sensibilidade. Sua paleta de cores restrita e economia de recursos transmitem uma mensagem poderosa, capturando a essência da vida brasileira em cenas do cotidiano — das praias aos subúrbios, das festas populares às favelas. Cada tela é um convite para vislumbrar o Brasil através de uma perspectiva autêntica e humana, um apelo que ressoa com a alma das multidões anônimas.

A Influência Perene de Silvia no Museu de Lodève

A arte de Silvia de Leon Chalreo, agora imortalizada no Museu de Lodève, é uma celebração da cultura brasileira e um marco na Arte Naif. Suas pinturas não são apenas obras para serem admiradas, mas também são registros históricos da evolução social e cultural do Brasil. Através de suas telas, Silvia oferece um portal para um Brasil autêntico, vivo nas memórias e no espírito de seu povo

Fonte: Jacques Ardies. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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Sylvia de Leon Chalreo: a editora da Esfera | Universidade São Paulo (USP)

Durante o início década de 1930, Sylvia de Leon Chalreo (Rio de Janeiro, 1905 - 1991) foi feminista atuante, militante do Partido Comunista Brasileiro e jornalista. Em 1938, foi uma das fundadoras da revista Esfera, de Letras, Artes e Ciências (1938 - 1950), editada e distribuída com o apoio do PCB. A partir de 1940, concomitantemente ao trabalho jornalístico, abraçou a carreira de artista plástica, alcançando considerável prestígio. Seu arquivo pessoal, composto por documentos textuais, imagéticos e da cultura material ficou conservado no antigo apartamento onde faleceu, no Rio de Janeiro. Com o desenvolvimento da história cultural, das pesquisas qualitativas e da micro história o conhecimento da experiência do indivíduo em seu tempo e lugar se tornou fundamental para a interpretação dos processos sociais, o que fez com que os arquivos de pessoas passassem a ser valorizados como fonte de pesquisa pelos historiadores. Baseada em uma reflexão teórico metodológica sobre arquivos pessoais e biografia e se apoiando na metodologia desenvolvida por Howard Becker em Mundos da Arte, que compreende a obra de arte como resultado de uma ação coletiva, esta dissertação utiliza o arquivo pessoal de Sylvia de Leon Chalreo como fonte de pesquisa para a narração de fragmentos de sua trajetória de vida durante os anos 1930, .trazendo à tona a atuação de intelectuais feministas, artistas e escritores de diferentes regiões do país e do mundo, que expressavam a modernidade em suas obras e estavam unidos pela posição política antifascista.

Fonte: USP – Universidade São Paulo. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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Sylvia de Leon Chalreo | Museu de Arte Contemporânea do Paraná

Sylvia de Leon Chalreo, ou apenas Silvia – como se nomeou ao se fazer pintora, depois de dedicar-se à poesia, ao jornalismo e à militância feminista e política. Silvia naïf, primitiva, simples – não importa o adjetivo, como ela mesma escreveu.

“Uma personalidade muito à frente da época em que viveu, deu vida a cenas cotidianas de um Brasil colorido”, escreveram Ana Lúcia Queiróz e Márcia Zoet em 2013.

Para Silvia, ser artista é sempre uma combinação de pensamento e sentimento. "Quando pinto é porque estou convencida de que sei pintar pensando e sentindo. Não penso em outras coisas – fico na minha concentração ausente do mundo que me absorveu – o meu mundo então se transfere para o mundo dos meus semelhantes. É muito complicado para explicar, mas muito possível para viver. Sinto-me sempre aquém daquilo que desejo – deve ser um bem porque estimula a um aprofundamento. Nem sei bem se digo certo ou errado. Faço o que me é possível. O importante para mim é pintar como sei e como desejo me exprimir. Sou uma pintora que pinto só e só aquilo que sinto e amo: o Brasil. Não me incomodo com denominações. Podem me chamar como quiserem: primitiva, ingênua, não faz mal. Eu sou Silvia”, afirmou a pintora em texto publicado na revista Chuvisco, em 1962.

Fonte: Museu de Arte Contemporânea do Paraná. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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Sylvia de Leon Chalreo | Maracangalha: Vida e obra de Sylvia de Leon Chalreo

Há mais de 30 anos, a Genzyme é pioneira em pesquisar, descobrir e proporcionar terapias transformadoras a pacientes com necessidades médicas especiais e não atendidas, com foco em doenças raras, neurológicas, incluindo a esclerose múltipla, doenças cardiovasculares, endócrinas e autoimunes.

Motivada por seu “jeito único de cuidar do que é raro”, a empresa iniciou suas atividades no Brasil em 1997, no Rio de Janeiro, cidade que inspirou a obra de Sylvia de Leon Charleo, e onde a artista viveu por 86 anos.

Com seus pincéis, Silvia retratou com exímia simplicidade o seu cotidiano e despertou na Genzyme o interesse em apoiar e preservar esses registros - raros e únicos.

A obra singela de Silvia vem de encontro aos objetivos de responsabilidade social da empresa que, desde 2003, promove e patrocina projetos socioculturais relacionados às artes e memória, inclusão social e preservação ambiental.

A Genzyme foi incorporada ao Grupo Sanofi em 2011, tem filiais em cerca de 40 países e presença significativa no Brasil e América Latina.

“Aquilo que o artista sente e consegue dizer; aquilo que pode transpor em arte; aquilo que tem validade como comunicação emocional; aquilo que resulta do que precisa ser dito (linguagem plástica) e corresponde como comunicação. Tudo isto deve fazer surgir uma técnica adequada, uma manifestação em forma de cor, sensibilidade, conteúdo ou vibração: sempre informal como oposição ao formalismo. Sempre com uma expressão que pode ou não ser figurativa, abstrata ou concreta. Tudo acontece em arte – a teoria não pode preocupar o artista. Criar ou inventar, não importa. Na linha do gênio ou do talento o artista pode ter seu lugar. Penso e sinto como num caso de consciência – jamais poderei realizar alguma coisa abastardando o pensamento e o sentimento. Quando pinto é porque estou convencida de que sei pintar pensando e sentindo.

Não penso em outras coisas – fico na minha concentração ausente do mundo que me absorveu – o meu mundo então se transfere para o mundo dos meus semelhantes. É muito complicado para explicar, mas muito possível para viver. Sinto-me sempre aquém daquilo que desejo – deve ser um bem porque estimula a um aprofundamento.

Nem sei bem se digo certo ou errado. Faço o que me é possível. O importante para mim é pintar como sei e como desejo me exprimir.

Sou uma pintora que pinto só e só aquilo que sinto e amo: o Brasil. Não me incomodo com denominações. Podem me chamar como quiserem: primitiva, ingênua, não faz mal. Eu sou Silvia” — Sylvia de Leon Chalreo (Texto publicado na revista Chuvisco, em junho de 1962).


Um dos encantos da memória é a possibilidade de iluminar o presente com experiências significativas do passado. E quando se resgata das lembranças a trajetória artística de uma mulher excepcional, o que resulta é uma rica história de vida. Neste caso, a vida de Silvia. Assim: sem o sobrenome Leon Chalreo com que foi batizada, em 1905, no Rio de Janeiro. Apenas Silvia – como se nomeou ao se fazer pintora, depois de dedicar-se à poesia, ao jornalismo e à militância feminista e política. Silvia naïf, primitiva, simples – não importa o adjetivo, como ela mesma escreveu.

Importam aqui a arte e a vida de Silvia. Simples assim. Nem tão simples é empreender os esforços necessários para trazer do século XX as vivências de uma personagem tão singular. Para recuperar os marcos das oito décadas que compreendem o percurso da artista,

“Maracangalha” articula a pesquisa realizada por Ana Lúcia Queiroz, que assina também o texto, com o levantamento iconográfico feito por Márcia Zoet – sobrinha de Pedro Xavier, com quem Silvia morou por mais de 30 anos.

O objetivo não é a biografia definitiva nem tampouco a análise estética (esta, uma tarefa para especialistas). A proposta é traçar o perfil de uma mulher inovadora, desvelando ao menos algumas de suas múltiplas faces: a da anfitriã calorosa, que faz de sua casa ponto de encontro de artistas, um lugar irresistível para se ir – a Maracangalha a que se refere o título; a da feminista ousada, que vive um inusitado arranjo familiar; a da jornalista cultural e a da militante política nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro.

A síntese de todas elas ecoa na produção da artista plástica, que “nasce” em agosto de 1940: “Um dia acordei pintora”.

E Silvia pôs-se a pintar, simplesmente: sem desenhos rebuscados, com cores fortes, retratando principalmente cenas do povo nas ruas, nas praças, em festa, entre casarios. Tornou-se um dos maiores expoentes brasileiros da arte naïf (ingênuos) ou primitiva moderna. Mas não era isso que lhe importava. Em seus escritos, registra que, diferentemente do texto, a pintura deu-lhe a alegria da perfeita expressão. Perfeita porque verdadeira:

“Fui honesta para com a realidade que vejo”. Alegre porque Silvia: “Sou eu, assim tinha que ser” — Josiane Lopes, jornalista formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Trabalhou em importantes veículos de comunicação do País. Atua principalmente nas áreas de cultura e educação.

Vanguarda

“Já pintei todos os morros cariocas”, conta a artista plástica Silvia em entrevista à Revista do Rádio, em 1965. E fez questão de afirmar que nasceu num deles: o Morro do Barro Vermelho, no bairro de São Cristóvão, região central do Rio de Janeiro. Foi no início do século XX, dia 11 de abril de 1905. Os morros ainda não eram sinônimo de favelas, embora o fenômeno estivesse em gestação. Três anos antes, o engenheiro Pereira Passos havia assumido a prefeitura com o desafio de realizar uma profunda reforma urbanística que transformaria a paisagem da cidade e atrairia capital estrangeiro para o País. Após a conclusão das obras, a má fama de porto sujo estaria esquecida. Com o centro embelezado e saneado, ficaria para sempre conhecida como Cidade Maravilhosa.

Desde as últimas duas décadas do século XIX o Rio de Janeiro enfrentava uma grave crise habitacional em função de um desordenado aumento populacional. Após a abolição da escravatura, imigrantes e ex-escravos superlotaram a cidade, atraídos pela possibilidade de trabalho. Com a remodelação urbanística posta em curso por Pereira Passos esta situação se agravou. Muitos cortiços e residências foram demolidos para dar lugar às novas ruas e avenidas, expulsando a população de baixa renda que se concentrava no centro da cidade. A família de Silvia também foi atingida pela escassez de moradias. Até 1909, mudaram-se de casa quatro vezes. Moraram em Andaraí e Riachuelo, bairros do subúrbio; voltaram para o Morro do Barro Vermelho e, por fim, acabaram mantendo uma casa em Niterói, onde viviam seus avós maternos, e outra no Rio de Janeiro. A situação dos mais pobres, como  sempre, era ainda mais difícil.

O alto preço dos aluguéis os obrigava a morar em cortiços ou a construir precárias habitações nas encostas dos morros. Conviver com estas dificuldades na infância distinguiu a trajetória de vida de Silvia, que expressou sua preocupação com as questões sociais através de militância política e arte. Retratar a vida e os costumes dos habitantes dos morros da cidade foi uma dessas manifestações.

Batizada com o nome de Sylvia de Leon Chalreo, a única filha de Diogo Chalreo e Hortência de Leon Chalreo teve uma educação privilegiada. Embora não tivesse fortuna, seu pai era um homem de prestígio na Capital da República. Ainda jovem, se formou em Direito e se tornou secretário da Escola Nacional de Belas Artes. O cargo, um dos mais importantes da instituição, lhe exigia transitar nos meios políticos e intelectuais do País.

Sua mãe era conhecida como Madame Chalreo e saía na coluna social Binóculo do jornal Gazeta de Notícias passeando na Rua do Ouvidor, no cinema do Palace-Theatre ou nos camarotes do Theatro São Pedro de Alcântara. Doutor Diogo aparecia nos jornais em eventos com a presença de importantes personalidades, como o Barão do Rio Branco, o presidente da República Nilo Peçanha e o senador Ruy Barbosa. Também estava sempre presente nas exposições promovidas pela Escola de Belas Artes. “Muitos expositores da atual Exposição Geral de Belas Artes foram ontem em excursão ao Corcovado e, para seguir as tradições artísticas de muitos centros europeus, pararam no Hotel das Paineiras e ao redor de uma mesa artisticamente enfeitada e soberbamente servida, almoçaram, expandindo aquela riqueza de espírito e de entusiasmo que é o caráter principal daqueles que se dedicam ao belo”. Gazeta de Notícias, 1901.

Neste ambiente, junto com as primeiras letras Sylvia aprendeu francês, língua que falava fluentemente, e teve o primeiro contato com as artes plásticas. Mas quando estava com 14 anos, em 1919, seus pais romperam o casamento. Não se sabe exatamente o motivo, mas esta conduta não era tão rara como se imagina. Tanto que neste mesmo ano o desquite havia sido legalizado, dando a mulher o direito de receber pensão alimentícia e ajuda para a criação dos filhos. A separação de Diogo e Hortência aconteceu amparada por esta lei, num acordo amigável que deixou Sylvia na companhia da mãe e em situação financeira confortável. Mas até alcançar a maioridade ficou sob a tutela de um advogado, amigo da família. A mulher casada, mesmo após o desquite, era considerada relativamente incapaz. Sem o consentimento do marido não podia aceitar tutela, arrumar emprego, receber herança ou lutar por direitos trabalhistas, além de outros atos liberados para as solteiras adultas. Esta situação só mudou mais de 40 anos depois, com a alteração do código civil de 1962. Socialmente, a mulher desquitada ficava “malfalada” e era marginalizada. Não podia ser recebida na maioria das casas nem vista na companhia das mulheres casadas, e estava sujeita ao assédio desrespeitoso dos homens. Sua vida privada era constantemente controlada: ficava proibida de manter qualquer tipo de relação amorosa, sob pena de perder a guarda dos filhos.

O estigma de “fruto de um lar desfeito” que marcou a adolescência de Sylvia, e a convivência com a discriminação que Hortência sofreu depois da separação, a colocaram muito jovem diante da realidade da condição feminina. Quando seus pais se desquitaram, ela já estava cursando a Escola Normal do Distrito Federal, onde começou a se dedicar ao estudo da Estética e da Arte. Nesta instituição foi aluna do poeta Alberto de Oliveira, que teve grande influência em sua formação. “Aulas fabulosas! Eu prestava uma atenção doida a tudo que ele dizia. Isto me facilitou a vida. Tudo o que vim a conhecer depois, através dos livros, eu já sabia. Alberto de Oliveira sabia transmitir o conhecimento e era informadíssimo.

Seus conceitos continuam atuais, ainda hoje”, ela relata para o repórter do jornal Tribuna do Norte, em 7 de dezembro de 1980. Nos anos 20, os ares da modernidade já haviam se instalado no Rio de Janeiro e em Niterói, com seus bondes, luz elétrica, reformas urbanas e novos comportamentos. Nas maiores cidades brasileiras algumas mulheres já tinham ouvido falar nas lutas feministas iniciadas por Nísia Floresta e Bertha Lutz, que cresciam cada vez mais. Acompanhando a propaganda das revistas europeias e norte-americanas, intelectuais e artistas mudavam seu comportamento e sua forma de vestir. Passaram a usar saias e cabelos curtos, a pintar os cílios e sobrancelhas, usar ruge, batom e maiô, a fumar em público e falar gírias. Sylvia acompanhou esta revolução. Começou pelo nome, simplificando sua grafia até tornar-se simplesmente Silvia, sem ípsilon e sem sobrenome, marca de seus textos e futuramente de suas pinturas. Era campeã de braço de ferro, e desafiava homens e mulheres nesta brincadeira. Foi nadadora, chegando a atravessar a baía da Guanabara. Além de ser professora, profissão natural para as mulheres de sua geração, em 1924 fez concurso para amanuense, dando início a uma carreira na prefeitura. Ainda jovem, aos 19 anos, buscava uma independência financeira que a maioria das mulheres nem sonhava conquistar. Alguns anos depois, ligou-se ao movimento feminista, começou a dar os primeiros passos no jornalismo e foi fazer faculdade de Direito. Entre intelectuais e artistas, encontrou um espaço onde a condição de sua família não era impedimento para ser respeitada.

Na década de 20 as organizações feministas se alastraram no meio artístico e cultural, um movimento que culminou com a conquista do voto feminino, em 1932. No ano anterior, Sylvia criou junto a outras representantes da intelectualidade fluminense o Athenée Clube. A associação, laica e apartidária, tinha por objetivo, conforme publicado no Diário da Noite, em 15 de agosto de 1931,“oferecer à intelectualidade feminina um ambiente propício ao desenvolvimento e disseminação da cultura: seja física, para o aperfeiçoamento da saúde; literária ou científica, para maior elevação espiritual, congregando idealismo e realismo como única e verdadeira concepção de vida”. Sua diretoria era composta apenas por mulheres e presidida por Sylvia.

O Athenée nasceu no seio de uma elite e foi inaugurado com festa de gala e uma sessão de arte no Automóvel Clube do Brasil de Niterói. Com apresentações de canto e poesias, abriu suas portas para uma solene plateia, composta inclusive por personalidades vindas da Capital da República.

Foi uma instituição ativa nas lutas pela emancipação feminina, promovendo eventos artísticos, discutindo problemas sociais e participando da vida política. Durante a Revolução de 32 organizaram “A cruzada humanitária do Athenée Clube” e colaboraram com a “Semana da Cruz Vermelha”. No mesmo ano criaram o “Escritório de Ligação Feminina Geral e Estudos Sociais de Niterói”, especialmente para estudos e debates acerca de questões sociais.

Neste período Sylvia começou a escrever para publicações feministas que difundiam novas ideias e comportamentos. Na Revista Brasil Feminino participou da organização do evento promovido em 1933, em homenagem à Gilka Machado, ativista feminista e poetisa conhecida pelo erotismo de seus versos.

Foi uma festa que reuniu mulheres da alta sociedade e artistas. Atuantes em seu meio, elas representavam o nascimento de uma nova mentalidade feminina no Brasil.

As ideias de Sylvia sobre sexualidade se identificavam com estas novidades. Como as que foram publicadas em 1937 no periódico português A Ideia Livre: “É preciso que o congresso sexual não seja uma servidão. Sem a poesia, que é seiva, o mecanismo do amor é repugnante – mata os sentidos. Para o entrelaçamento sexual é indispensável uma afinidade especial, variável segundo o temperamento de cada ser”.

O autor desta matéria, Afonso Castro Senda, intelectual português amigo dela, completa na mesma reportagem: “A antiga redatora do Brasil Feminino é pessoa que ultrapassou aquela amorfa e oca sentimentalidade do ambiente médio, para com a solidez que dão a harmonização de uma cultura bem apreendida e uma mentalidade invulgar, perder este coquetismo balofo de ‘menina de boa família’. Não significa, contudo, esta superioridade sobre o meio, um afastamento aristocrático do mesmo. Porque o pode observar por fora é que mais o sente e penetra, é, precisamente, quanto mais nele se integra”.

Na sua juventude foi noiva de Murilo, que conviveu com ela e sua família até meados dos anos 30. História registrada por uma coleção de fotografias, algumas com dedicatórias, e uma série de poesias. Pelas fotos, vê-se que se tratava de um relacionamento liberal para a época, pois retratam o casal viajando junto, nadando, abraçado e em trajes de praia. As poesias e dedicatórias mostram que foi um relacionamento apaixonado e interrompido bruscamente. Mas apenas esta parte da história ficou documentada. Ela não deixou nenhuma pista ou testemunha da identidade de Murilo, nem dos motivos da separação.

Sylvia teve outros relacionamentos amorosos ao longo da vida. Uma grande paixão, ainda na juventude, foi o português Afonso Castro Senda, para quem dedicou alguns de seus poemas. Mas não casou, nem teve filhos. Mudou várias vezes de casa e de cidade: viveu entre o Rio e Niterói. Na maturidade foi morar com a mãe e uma tia e, mais tarde, formou uma família nada convencional: viveu o resto da vida com dois amigos, o ator João Ângelo Labanca e o militar Pedro Weiss Xavier. Durante este período “teve um séquito de admiradores”, como relatou Amabeny Zoet, irmã de Pedro.

Desde os anos 20 ela transgrediu padrões de comportamento e foi ativa nos movimentos feministas. Nos anos 50, quando ainda predominava o ideal da mulher esposa e mãe, criou e manteve uma família totalmente fora destes padrões.A condição feminina se transformou ao longo do tempo. Fatores econômicos, sociais e políticos podem explicar estas transformações. Mudanças no campo das mentalidades também. Mas foram mulheres corajosas, ousadas e com vontade de renovar iguais a ela, que transportando estas ideias para atos e atitudes, deram uma contribuição concreta à causa da emancipação feminina em nosso País.

Jornalista

O Partido Comunista, fundado em Niterói em 1922, desde o início reuniu representantes da intelectualidade e da cultura brasileira, pois adotava uma política cultural ampla e aberta, apoiando a literatura e as artes modernas no Brasil. Este foi o período de maior influência dos comunistas entre

os intelectuais brasileiros. Silvia ingressou no PCB nos anos 30, e participou ativamente da sua ala intelectual. Em 1936, logo após a tentativa do levante contra Getúlio e num momento de intensa perseguição aos comunistas, foi detida por ser “suspeita de atividades extremistas”, como consta em seu prontuário no Desps. Mas não ficou presa, foi posta em liberdade logo depois de ouvida.

Em 1933 Hitler assumiu o poder na Alemanha, enquanto Getúlio Vargas ampliava os poderes da polícia política, com a criação da Delegacia Especial de Segurança Política e Social.

O pensamento fascista se expandia no Brasil, principalmente com o crescimento da Ação Integralista Brasileira. No ano seguinte, já contando com Luís Carlos Prestes em suas fileiras, o PCB articulou uma frente nacional antifascista, a Aliança Nacional Libertadora (ANL). Sua proposta era um projeto de desenvolvimento social democrático, anti-imperialista e antilatinfundiário; o Partido Comunista era o seu núcleo e sua ala intelectual se engajou nesta luta.

Silvia iniciou a carreira de jornalista envolvida com o movimento feminista e o PCB. Escrevia crônicas, críticas de arte e artigos relacionados à condição da mulher para publicações de esquerda que se multiplicavam com o apoio do Partido. Participou da redação dos jornais Terra Livre e Paratodos e da Revista Brasil Feminino, ainda nos anos 1930.

Em 1938 iniciou o projeto que iria reforçar suas relações com o meio intelectual e artístico, que se unia ao protesto contra a ditadura do Estado Novo, a censura e a perseguição aos comunistas. Com as jornalistas Maria Jacintha e Maura de Sena Pereira, e a representação de Afonso Castro Senda em Portugal, criou a revista Esfera, de Letras, Artes e Ciência, que dirigiu por 12 anos.

A Esfera trazia críticas literárias, de discos, filmes e artes plásticas, trechos de romances, contos e programação de rádio. Artigos de história, ciências sociais e filosofia, baseados no pensamento marxista, também eram veiculados. Nomes consagrados estão entre os profissionais que escreveram para suas páginas. Entre eles, Érico Veríssimo, Jorge de Lima, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Lygia Fagundes, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Rubem Braga. Desenhistas e gravuristas, como Abel Salazar, Carlos Scliar, Goeldi, Paulo Werneck, Quirino Campofiorito e Santa Rosa, colaboravam com ilustrações. Além destes, outros conhecidos jornalistas, escritores, desenhistas, poetas e cientistas sociais ligados a movimentos feministas e antifascistas do Brasil e do exterior participaram das edições. Algumas das contribuições eram escritas especialmente para

a Esfera. O poema de Drummond “Campo, Chinês e Sono”, dedicado a João Cabral de Melo Neto, foi publicado pela primeira vez na edição número 9. Em todos os 24 números, Silvia colaborou com textos próprios sobre artistas e artes plásticas, críticas literárias e crônicas.

Na seção “Comentando livros” as resenhas eram para recém-lançadas obras de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, José Lins do Rego ou Rachel de Queiroz. Na seção de artes eram publicadas crônicas e críticas abordando temas relativos à arte moderna e contemporânea, abstracionismo e realismo. Lasar Segall, Picasso, Carlos Scliar, Portinari e Djanira foram personagens de reportagens.

Esfera começou suas atividades com força total, editando um exemplar por mês, num trabalho árduo que exigiu de Silvia dedicação quase exclusiva. Ela se empolgava e fazia planos imensos para a revista. Pretendia que fosse um periódico cosmopolita, que contribuísse para fomentar o intercâmbio cultural entre o Brasil e países da América e Europa. Principalmente com Portugal, para cujos representantes criou uma secção especial: Documentário Cultural Português. Afonso Castro Senda era o responsável pelo recrutamento dos autores lusos, que colaboraram ativamente nos sete números publicados ao longo de 1938. Ele e Abel Salazar se sobressaiam, mas a contribuição dos outros articulistas portugueses foi significativa – mais de cinquenta artigos, poemas e desenhos originais de vinte e seis autores, entre eles profissionais de grande prestígio como João de Barros, José Régio e Adolfo Casais Monteiro. “Esfera sabe que vai suprimir o Atlântico. Sabe que vai pôr Portugal no Brasil e o Brasil em Portugal. Portugal e Brasil já se queriam bem, mas vão-se querer muito mais”, escreveu Afonso entusiasmado, em agosto de 1938, na Esfera no 4.

Com a eclosão da Guerra em 1939 e com a repressão imposta por Getúlio, precisou parar de publicá-la por um tempo: até 1944 saiu apenas um número, em novembro de 1939. Esta foi a última edição que veiculou artigos de autores portugueses.

Reapareceu depois de cinco anos, em março de 1944, mais voltada para política, com foco no combate ao nazifascismo. Na página de abertura, uma foto de Getúlio acima do título da primeira matéria: “Unidade para a Vitória”. As críticas, poesias e obras literárias ali publicadas eram em sua maioria relacionadas à divulgação das ideias do Partido Comunista, da Aliança Nacional Libertadora, da Liga de Defesa Nacional e de outras associações e organizações antifascistas.

Pouco mais de um ano depois surge o número seguinte. A capa é um retrato de Luís Carlos Prestes feito a bico de pena por Campofiorito, com a inscrição: “O grande líder nacional”. Este exemplar é praticamente todo dedicado a Prestes, trazendo inclusive, na íntegra, o discurso que proferiu em comemoração à anistia política no comício de 1945, realizado no Estádio de São Januário, no Rio de Janeiro.

Seis meses depois sai o décimo primeiro exemplar. Desta vez na primeira matéria, ilustrada com o desenho “Comício Popular” de Paulo Werneck, a Esfera saúda a democracia: “O povo decidiu o caminho democrático que o Brasil está trilhando. Declarou guerra ao Eixo, realizou a gloriosa Força Expedicionária Brasileira, venceu nos campos de batalha da Europa, conquistou a anistia para os presos políticos, a legalidade do Partido Comunista do Brasil, a liberdade de imprensa, a Constituinte, a dissolução do Tribunal de Segurança Nacional, a derrubada do famoso 177, opressor do funcionalismo (artigo da Constituição de 1937 que dava ao Governo o poder de aposentar o funcionário público sem aviso prévio) e elegeu seus candidatos em eleições livres e honestas para a presidência da República e Assembleia Constituinte. Esfera, revista de cultura e profundamente antifascista, se congratula com o proletariado e o povo, organizados em seus partidos e sindicatos, na luta pela democracia no Brasil”.

De 1946 a 1950 foram publicados mais 12 números, a maioria em 1946, quando o PCB vivia uma fase de legalidade. Seu conteúdo manteve até o fim a proposta inicial: uma revista de cultura e antifascista.

O apoio do Partido foi fundamental para sua manutenção, mas a revista recebia outras contribuições. Profissionais liberais e artistas publicavam seus contatos na seção “Indicadores”. Veiculava propagandas de livros e editoras, na maioria marxistas, da Rádio Vera Cruz S/A, da Rádio Odeon e da SulAmérica Seguros. Confeitaria Colombo, Cassino Atlântico, Livraria Rex, Cigarro Continental e Sal de Frutas Eno também anunciavam. Nos primeiros anos, os anúncios eram mais numerosos, diminuindo muito nos últimos exemplares.

O cancelamento do registro do Partido Comunista em 1947 (depois de mais de três anos de plena atividade política), a cassação dos mandatos parlamentares no ano seguinte e o acirramento da guerra fria contribuíram para uma mudança nos rumos da política cultural do PCB. Assim como vinha acontecendo na União Soviética, passou a adotar uma política estreita e sectária, pela qual as manifestações culturais deveriam ser controladas e servir exclusivamente de instrumento político. Esta intolerância desagradou setores da intelectualidade brasileira fazendo com que muitos deles se afastassem do campo de influência comunista e, consequentemente, esvaziando a ala intelectual do Partido.

Tudo isto colaborou para o fim da publicação. Mas quando deixou de editá-la, em 1950, Silvia já estava totalmente envolvida com o mundo das artes plásticas e para lá direcionava seu entusiasmo.

Paralelamente às atividades na Esfera, continuou a colaborar como crítica de arte e repórter em jornais e revistas. Escreveu para a Revista Rio, Revista Rio Social e os jornais Tribuna Popular e O Momento Feminino, que circulavam no Rio de Janeiro. O jornal Tribuna Popular era a mais difundida publicação de esquerda brasileira, tendo chegado, no seu auge, a se igualar com os mais vendidos no período.

Dirigido e organizado por mulheres, O Momento Feminino alcançou tal projeção que em seu primeiro aniversário, em 6 de agosto de 1948, recebeu mensagens de órgãos da imprensa e de organizações femininas de diferentes pontos do País, da Argentina e do Uruguai. Neste dia, em seu editorial, o jornal se definiu: “O Momento Feminino com um ano de existência já se impôs como um órgão educacional e orientador da mulher brasileira. Sua redação tem a inteligência de não desperdiçar as colunas com frivolidades. Antes, aproveita-a avaramente para o levantamento e trato de toda sorte de assunto aos quais as mulheres estejam direta ou indiretamente ligadas. E todo o jornal é um desenvolvimento dos nossos problemas, das mulheres de todas as condições sociais. A vida da gente pobre e sofredora dos morros e das favelas em reportagens que comovem, revoltam e mostram quanto ainda temos que lutar por uma perfeita justiça social”.

A atuação de Silvia tanto no Partido quanto no jornalismo se tornou tão grande que em 1951 representou o Brasil no III Congresso Internacional de Críticos de Arte, na Holanda, integrando uma delegação composta pelos jornalistas Antônio Bento, Mário Pedrosa, Santa Rosa e Mário Barata, todos ligados ao PCB.

Em fins dos anos 50, quando foi morar com o ator Labanca, se voltou também para a crítica teatral. Nesta área colaborou para o jornal Imprensa Popular e mais tarde para as revistas Fon-Fon e Mês. Durante cinco anos foi a responsável pela coluna Telecrítica, no programa Revista da Televisão da TV Continental, onde jornalistas comentavam peças encenadas pelas emissoras. Nela debatia com Zora Seljan (O Globo), Almir Azevedo (O Semanário), Alamir Carvalho (Revista TV), Paulo Salgado (Revista Aconteceu), Walmir Ayala (Revista Leitura) e convidados.

Foi na Telecrítica que teve a ideia de criar um evento envolvendo artes plásticas e teatro.Todos os anos a coluna premiava os melhores profissionais do teleteatro e, em 1962, Silvia propôs que os prêmios fossem quadros de pintores modernos. Sua tela “Gente e Casas”, exposta na Bienal do México em 1958, foi oferecida à Fernanda Montenegro, eleita a melhor atriz do ano.Também foram premiados, entre outros, Zilka Salaberry, atriz coadjuvante, Sergio Britto, diretor, e Ítalo Rossi, ator.

A integração destas duas artes, uma caracterizada por uma distribuição elitista em galerias e bienais e a outra por sua forte interação com o público, foi mais uma contribuição de Silvia, já entrando nos anos 60, para a ampliação do alcance social do artista e das artes plásticas.

Militante

O conhecido intelectual Aníbal Machado, em palestra proferida em outubro de 1935 no encerramento da primeira Exposição Coletiva de Arte Social no Brasil, disse: “No estado atual de agitação da humanidade é preciso evitar toda arte que evita a realidade social. Na pintura como na poesia, arte pela arte é um convite ao isolamento, ao prazer secreto, ao suicídio. É uma forma de evasão num simbolismo que só tem sentido para o próprio artista e mais ninguém”. Mário de Andrade, por sua vez, na conferência “O Movimento Modernista” proferida no Rio de Janeiro em 1942,coloca:“(...) a arte é muito mais larga e complexa que isso, e tem uma funcionalidade imediata social, é uma profissão e uma força interessada da vida”. Como eles, estudiosos, artistas e críticos de arte seguiram durante os anos 40 na defesa da arte social, que se alastrou pelo País agitando o ambiente artístico nacional.

Este debate estava presente nas telas de Silvia e em sua atuação política. Nos anos 40, ela e os amigos Quirino Campofiorito e Paulo Werneck podiam ser vistos com frequência na Cinelândia, no bar Vermelhinho, preferido por militantes da esquerda. Campofiorito era formado na Escola Nacional de Belas Artes, crítico de arte, membro ativo das vanguardas modernistas e professor na Enba. Paulo foi desenhista, pintor, ilustrador de colunas políticas em diversos jornais do País e é um dos mais importantes muralistas do Brasil. Lá se reuniam com outros artistas, como Durval Serra e Santa Rosa, e juntos colaboravam para a organização de inúmeras manifestações artísticas de perfil político.

Em 1946, ano que Copacabana foi imortalizada como “princesinha do mar” pelo samba-canção gravado por Dick Farney, artistas plásticos, entre eles Silvia, promoveram o evento “Excursão em Copacabana”. O objetivo era contribuir para a campanha em prol da manutenção do jornal de esquerda Imprensa Popular, que teve alcance nacional e grande apoio da população. Segundo publicado nos jornais, pela primeira vez no Rio de Janeiro pintores e desenhistas montaram seus cavaletes ao ar livre para trabalhar. Com o auxílio de um alto-falante para chamar a atenção dos transeuntes, um grupo de moças vendia as obras ali mesmo, na orla.

Silvia participou de vários outros eventos do gênero. Fez parte da comissão organizadora de um leilão que reuniu obras de centenas de artistas do Rio e São Paulo – a renda contribuiu para a aquisição de um avião para a Força Aérea Brasileira na 2a Guerra Mundial. Participou da exposição Artistas Plásticos ao Partido Comunista, com Burle Marx, Portinari, Carlos Scliar e outros artistas.Também ajudou na organização da Exposição Anti- integralista, que visava mostrar a ligação do movimento integralista brasileiro com o fascismo internacional através de fotografias, documentos e armas.

Com o patrocínio da Liga da Defesa Nacional, participou da Feira de Arte Moderna, promovida pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em 1943, no Rio de Janeiro. Foram expostas cerca de 200 telas de estrangeiros e brasileiros – Goeldi, Guignard, Portinari, Campofiorito e Silvia estavam entre eles. A exposição durou 30 dias e foi acompanhada por uma série de conferências, abertas com uma fala de Manuel Bandeira sobre a função da arte na guerra. Na divulgação deste evento, em 11 de fevereiro de 1943, o editorial do Jornal Diretrizes mostrava os rumos que a arte tomava naquele momento, se opondo radicalmente ao elitista encontro de Diogo Chalreo com artistas no Corcovado, no começo do século:“Já está mais que provado que o artista não pode ser uma exceção dentro do mundo.Acabou-se o tempo em que era possível alguém fugir das cousas terrenas, grimpar suas torres e ficar lá em cima tocando harpa e bebendo hidromel. O mundo ficou muito pequeno, os problemas cresceram muito. Problemas que envolvem a todos, que dizem respeito a todos.

Esta guerra, por exemplo. Uma guerra do povo. Mas o artista é também o povo. A arte moderna é uma arte feita em função do povo, com raízes no povo. Pintores, músicos, arquitetos, ilustradores, todos são intérpretes populares. Fazendo parte do mesmo bloco os artistas modernos do mundo inteiro, do mundo livre, estão empenhados numa luta sem tréguas contra o fascismo, o grande inimigo do povo”. Com a Feira de Arte Moderna, artistas e imprensa buscavam contribuir para a mobilização da inteligência brasileira e colocá-la a serviço da guerra contra o nazifascismo. Era esta camada da população, pequena numericamente, mas formadora de opinião, que frequentava os meios artísticos e tinha condições financeiras para adquirir uma obra de arte.

Quando o governo impôs altas taxas de importação para as tintas, Silvia liderou um protesto que movimentou o meio artístico: a Greve das Cores ou Movimento Preto e Branco. A ideia surgiu no Congresso de Intelectuais de Goiânia, onde ela propôs que para a exposição de 1954 os quadros fossem pintados em preto e branco. A sugestão foi aceita por todos os artistas do III Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o que fez a ação ser amplamente divulgada. Com isto a afluência de pessoas ao Salão aumentou, provocando um recorde de visitação.

Mais de 25 anos depois, ajudou na organização da Primeira Feira de Arte, que reuniu duas centenas de artistas entre jovens e consagrados na área externa do Museu de Arte Moderna do Rio. Durante três dias, animados pela Banda de Ipanema, milhares de visitantes expuseram, apreciaram, compraram e venderam obras de arte. O evento fazia parte de um projeto da Associação de Artistas Plásticos para popularizar o setor. Em um artigo na revista Mironga, Silvia relata: “Realmente valeu a experiência que está prosseguindo no Rio, com sucesso como foi na Feira da Praça Sáenz Peña, e vai continuar no Méier, na Praça General Osório e em muitos outros bairros. Das feiras de arte devemos partir para exposições circulantes nas escolas, centros e nos clubes”.

Além de eventos relacionados às artes plásticas, apoiou ações do Partido Comunista e da ANL. Participou ativamente das comemorações dos 50 anos de Prestes: foi membro da comissão julgadora dos desenhos para a criação de um selo comemorativo e colaborou na organização de um coquetel em homenagem à data. No final da década de 40, figurou no abaixo-assinado dirigido ao Ministro da Justiça pedindo a imediata liberdade dos 23 funcionários do jornal de esquerda Tribuna Popular, e adquiriu ações deste mesmo periódico.Também colaborou na ornamentação do Estádio Caio Martins, em Niterói, para o comício de Prestes de 1945 em comemoração à anistia política.

Fez parte de várias associações. Contribuiu na criação da Sociedade dos Amigos da Democracia Portuguesa, em apoio aos que pediam o fim da ditadura salazarista; e com a Liga da Defesa Nacional, para pressionar o governo a alinhar o Brasil aos países aliados na 2a Guerra. Foi sócia do Movimento Unificador dos Servidores Públicos e da Sociedade Brasileira dos Amigos do Povo Espanhol, ambos de caráter comunista, e foi membro do comitê Pró-Anistia dos presos políticos. Em 1960 compunha o conselho diretor do Instituto de Intercâmbio Cultural Brasil-URSS.

Como jornalista, integrou desde os anos 40 a Associação Brasileira de Imprensa – em 1978 ainda participava de seu conselho administrativo –, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro e as associações brasileiras dos críticos teatrais e dos críticos de arte. Foi também uma das fundadoras da Associação Profissional dos Artistas Plásticos do Rio de Janeiro, entidade ligada à Associação Internacional de Artistas Plásticos.

Na vanguarda em sua juventude, atuou entusiasticamente no movimento feminista e a partir daí teceu o leque de relações que embasou sua atuação profissional pelo resto da vida. Da interação entre os campos pessoal, político, literário e jornalístico, criou um novo espaço, sintetizado numa expressão artística própria, que não se encaixa perfeitamente em nenhuma classificação.

Artista

Em sua infância Silvia conviveu com exposições e pinturas, num período em que as artes plásticas no Brasil eram dependentes das ultrapassadas correntes artísticas europeias.

A Escola Normal introduziu o estudo da Estética em sua vida, e como autodidata aprofundou seus conhecimentos na área. Trabalhou como jornalista, professora e servidora pública. Aos 36 anos de idade começou a se dedicar à prática da arte que na teoria conhecia muito bem. Como isto aconteceu? Na entrevista concedida ao jornal Mundo Uruguayo em 1941, ela relata:

“E agora surgiu o inesperado em minha vida. Um dia acordei pintora. Foi em agosto do ano passado. Com alguns fracassos consumados ultimamente percebi a falta de um caminho que conjugasse meu sentimento e minha maneira pessoal de ser. A literatura nunca me proporcionou solução satisfatória (íntima). Escrevia com toda sensibilidade e tudo permanecia meu. Realizada a exteriorização predominava a não comunicação. Rasgar originais foi um grande trabalho. A arte já existia desde o princípio na minha vida. Me acostumei às exposições e por elas sofri bastante. Minha ânsia de crítica é enorme. Sempre voltada para o significado. Tinha e tenho meus pintores. Mais do que todos cultivo Van Gogh. Conhecedora de sua vida e obra, me faltava apenas o contato com os originais.

Foi o que me deu a exposição francesa do ano passado. Fiquei maravilhada. Depois de tanto frequentar os franceses do século XIX, abandonei todos com exceção de Vlaminck. Abandonei, naturalmente, nossos salões do Museu Nacional de Belas Artes durante a exposição. Havia bancos nas salas de exposição, e por acaso um ficava diante de três obras de Van Gogh e outro em frente a uma extraordinária paisagem de Vlaminck. Pois bem, passei horas inteiras convivendo com estas superiores expressões de arte. No meio daquela pletora de beleza, os quadros de Van Gogh exerciam uma tremenda fascinação sobre minha sensibilidade. Eu entrava na mostra, ia direto para a sala onde estavam seus quadros, sentava-me e ficava horas seguidas contemplando aquele traço vigoroso, aquela abundância de amarelos lindíssimos. Quando saia dali ia ao atelier do Canabrava, que ficava então na Praça Tiradentes. Lá reunia-se uma gente simpática, lutadora, e foi ali que eu recebi impulso para minha pintura. Terminada a exposição, que durou mais de um mês, senti de uma maneira tremenda as consequências do vazio que deixou em mim. Perdi o equilíbrio e cheguei ao auge da desorientação, agravada por inumeráveis golpes adversos. Como medida extrema, resolvi pintar. Pintar com febre, não podia ser de outra forma. E sem entender nada, sem averiguar nada, fui à Casa Cavalier e comprei quatro cores (óleo), um pincel e uns pedaços de papelão. E quando veio a noite, sem receio de ser surpreendida, comecei a pintar. Em duas horas terminei cinco pequenos quadros, sem preparação, sem conhecimentos técnicos. Com febre, com paixão. E a maior surpresa foi que me sentia transbordando. Estava sentindo-me perdida, mas o que pintei não correspondia aos meus sentimentos do momento, tinha, isto sim, uma doçura por natureza, uma ingenuidade bem infantil, nada de gestos dramáticos, nada de transportes castigados pelas possibilidades mentais. Fiquei tão alegre. Alegre porque não me senti rancorosa, alegre porque não pretendi castigar, não deformei nada nem tive rasgos de construção surrealista (sentimento de fuga contra a consciência). Fiquei serena, fui honesta para com a realidade que vejo. Não precisei sobrepor meus problemas pessoais. Mudei espontaneamente a intenção de originalidade por um sentimento que pertence a todos.

Até hoje continuo sentindo-me pintora com uma felicidade imensa. Imponho o que realizo. Não aspiro a técnicas justas ou convencionais e repudio as receitas da cor. Os pintores devem rir ante minha pintura. Não são nada absolutamente. Sou eu, assim tinha que ser”.

Silvia passou a produzir em grande quantidade. Resolveu então mostrar seu trabalho e para isto levou algumas obras para emoldurar na Casa Cavalier, a mesma onde tinha comprado as primeiras tintas. O estabelecimento era conhecido por reunir artistas modernos. Lá encontrou o pintor húngaro Arpad Szenes que, como outros artistas europeus, estava no Brasil nos anos da Guerra. Ao ver os quadros de Silvia, ele sugeriu que participasse da concorrida seleção para o Salão Nacional de Belas Artes, que naquele ano estava inaugurando sua Divisão Moderna. Ela se animou, os submeteu ao exigente júri, e as obras acabaram sendo selecionadas.

As Exposições Gerais promovidas desde o século XIX pela Escola Nacional de Belas Artes (Enba) deram origem ao Salão Nacional de Belas Artes, em 1934. A Escola até os anos 40 representava o que havia de mais ultrapassado em termos de artes plásticas e resistiu fortemente às vanguardas modernistas. Mas a participação em suas exposições seduzia muitos artistas, principalmente porque o prêmio oferecido ao melhor trabalho era uma estadia de cinco anos para estudos na Europa. Portinari durante anos desejou este prêmio. Apresentava suas obras, se destacava, sem vencer. Em 1928, fez propositalmente uma tela com elementos acadêmicos tradicionais e só assim ganhou o cobiçado Prêmio Viagem ao Estrangeiro.

Os conflitos entre modernos e acadêmicos permaneceram durante toda a década de 30. No Rio de Janeiro o Núcleo Bernardelli, criado dentro da própria Enba por Quirino Campofiorito, Milton Dacosta, Joaquim Tenreiro e José Pancetti, desde 1932 atuou na luta pela liberdade de expressão artística. Mas só em 1941 conseguiram que fosse criada uma divisão moderna no Salão Nacional. Foi esta exposição que introduziu o trabalho de Silvia no mundo das artes plásticas. Logo depois ela se aposentou da prefeitura e aí, definitivamente, a pintura se tornou a principal atividade em sua vida.

Paixão que não se arrefeceu com o tempo. Muito pelo contrário, trabalhou incessantemente e pintou até os 84 anos de idade. Sempre que possível estava com lápis, pincel ou tinta e papel nas mãos. Em suas viagens e passeios ficava atenta às cenas que poderiam se tornar tema de um trabalho. Fazia de grandes telas a pequenos cartões-postais. No transcorrer de quase 50 anos utilizou diversas técnicas, materiais e suportes. De sua obra fazem parte pinturas a óleo, acrílico, guache e aquarela, desenhos, xilogravuras e serigrafias.

Nos anos 40 participou de todos os Salões Nacionais e Salões Fluminenses de Belas Artes no Rio de Janeiro. Foi premiada na Divisão Moderna do Salão Nacional com menção honrosa, medalha de bronze e medalha de prata. Em 1950, não podendo mais concorrer, pois pelas regras do Salão quem obtivesse medalha de ouro ou prata em alguma edição anterior era considerado “hors-concours”, foi escolhida como jurada da mesma Divisão Moderna. No ano seguinte, uma década depois da inauguração desta divisão, foi criado o Salão Nacional de Arte Moderna, onde Silvia apresentou suas obras anualmente até 1972.

A primeira individual foi em São Paulo, na Livraria Brasiliense, em 1945. Só no ano seguinte mostrou seus trabalhos no Rio de Janeiro, no Instituto dos Arquitetos do Brasil. Estes espaços eram na época importantes promotores de exposições e atividades culturais, antes do boom de galerias de arte que ocorreria na década seguinte.

Apresentou seu trabalho na Exposição de Arte Moderna organizada pela Companhia de Seguros Sul América e patrocinada pelo Ministério da Educação e Saúde, em 1949. Amplamente divulgada pela imprensa, reuniu obras de museus nacionais e estrangeiros, desde os clássicos até os abstracionistas, visando oferecer aos brasileiros um panorama geral da história das artes.A mostra inaugurou a nova sede da Sul América, na Rua do Ouvidor, 61.

Em fins dos anos 50, com um atraso de quase 30 anos em relação aos Estados Unidos e Europa, nascia no Brasil um mercado para as artes plásticas.A criação do Masp e da Bienal de São Paulo e a abertura de linhas de crédito para financiar a compra de obras de arte fomentaram o setor. Com o apoio do sistema bancário, médicos, advogados, engenheiros, jornalistas, arquitetos, publicitários e políticos passaram a compor o público comprador de artes plásticas. No Rio, a Petite Galerie, inaugurada em 1953 e ponto de encontro de intelectuais e artistas nos anos 60, foi precursora na venda de obras de arte a prazo. Depois de vencido o preconceito de se equiparar arte a produto de consumo surgiram outras, como a Bonino, a Gead, a Santa Rosa e a Montmartre. O negócio não ficou apenas no eixo Rio - São Paulo. Foram criadas galerias em algumas capitais do País – em Belo Horizonte, a Galeria Guignard, em Recife, a Lemac e em Salvador, a Oxumarê.

Silvia expôs em muitas delas. Levou suas obras para as capitais da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná. Em 1952, expôs individualmente na Galeria Velazquez, em Buenos Aires; e participou da Bienal do México de 1958.

Nas décadas de 1960 e 70 suas exposições se multiplicaram pelo Brasil e pelo mundo. Durante a ditadura militar teve o apoio do Itamaraty para a realização de mostras no exterior. Suas obras retratavam um Brasil simples e colorido, uma imagem que se encaixava perfeitamente nos interesses nacionalistas do governo. Com este patrocínio participou de exposições coletivas na Espanha, Portugal, Dinamarca, Iugoslávia, Itália, Inglaterra, Estados Unidos e França, e de individuais em Nova York – a convite da famosa Galeria Sudamericana, lançadora de artistas da América do Sul – e em Londres.

Suas obras chegaram a alcançar valores relativamente altos. Segundo o marchand Jorge Montmartre, em reportagem da revista O Cruzeiro de fevereiro de 1962, nesta época seus quadros estavam cotados entre 100 mil e 200 mil cruzeiros. Em 1979, quando Silvia realizou doações para diversos museus, os avaliou entre 20 e 40 mil cruzeiros.Ambas as quantias hoje em dia equivalem aproximadamente a valores entre quatro e nove mil dólares. Nos anos 60 um quadro de Di Cavalcanti ou Djanira podia ser comprado por 300 mil cruzeiros e a maioria das telas de cavalete de Portinari, um dos mais valorizados, senão o mais valorizado pintor brasileiro do período, era adquirida por, no mínimo, um milhão de cruzeiros.

A crescente participação em exposições individuais e coletivas era consequência natural da boa aceitação de seus trabalhos, mas o empenho da artista, que agia como sua própria marchand, contribuía para a divulgação e valorização de sua arte. Ia pessoalmente a todos os vernissages e era uma anfitriã que não deixava ninguém de lado.

Nestas ocasiões fazia novos contatos, conhecia críticos e artistas locais e assim fortalecia seu nome no mercado.

Também planejava e organizava suas exposições. Folders, críticas, panfletos e convites eram muitas vezes confeccionados por ela. Ser artista incluía divulgar seu trabalho e fazer com que ele fosse visto e consumido. No arquivo de Silvia foram encontrados originais de panfletos e convites de exposições, críticas em cópias datilografadas e em recortes de jornal, “bonecos” para ilustrações de livros e inúmeras pastas com o título “Sobre Silvia”, contendo material de divulgação. Há também relações das obras vendidas, com o nome dos compradores e valores recebidos.

Estava sempre presente nos acontecimentos relacionados à arte naïf. Nos anos 70 contribuiu com contatos, trabalho e obras para a criação das galerias de arte naïf Jean Jacques e Jacques Ardieus, no Rio de Janeiro e São Paulo respectivamente.

Também mantinha relações com museus nacionais e internacionais e doou obras para muitos deles. Contribuiu com Anatole Jakovsky para a criação do Museu de Arte Naïf em Nice, uma das mais importantes instituições deste gênero do mundo. Os dois se conheceram ainda nos anos 50 quando ele, especialista nesta tendência artística, começou uma pesquisa que durou 20 anos e teve como produto final o “Dictionnaire des Peintres Naïfs du Monde Entier”, publicado em 1976.

Os trabalhos de Silvia são divulgados nesta e em outras dezenas de publicações. Seu nome consta em enciclopédias de arte e de conhecimentos gerais, como a Delta Larousse, que circulou em grande escala entre estudantes nos anos 70 e 80, e o Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, editado pelo MEC, em 1973.

Ilustrou livros, capas de discos e criou vinhetas para centenas de matérias jornalísticas.Também teve participação no mundo da moda. Em 1962 criou uma estampa para a Coleção “Brazilian Nature”, organizada por Dener, quando o estilista já gozava de prestígio. O trabalho fez parte de um projeto pioneiro da Rhodia, alvo de forte campanha publicitária, reunindo artistas, estilistas e indústria têxtil. O objetivo era divulgar os recém- lançados tecidos de nylon. Com o apoio da Varig e da Revista

O Cruzeiro, a marca promoveu desfiles pelas principais cidades norte-americanas, levando com eles uma estampa criada por Silvia.

Trabalhou bastante na produção e divulgação de seus quadros. Era a artista, mas também vendia os trabalhos. Construiu uma obra só dela, sem se guiar por modismos ou escolas.

Transitava entre os naïfs e modernos, e neste mundo obteve fama.

Seu universo artístico foi construído na convivência com os artistas modernos e com os críticos que com eles se confundiam. Desta corrente traz formas, cores e temas. O envolvimento em movimentos feministas e no Partido Comunista impregna a sua arte e é impregnado por ela. A pintura de Silvia, muitas vezes chamada de primitiva, surgiu num momento que as mudanças no meio artístico geraram uma aceitação da arte primitiva e dos autodidatas. Carrega, portanto, a possibilidade de ser simples por opção, não por desconhecimento ou incapacidade técnica. O que a caracteriza é a simplicidade.Toda a sua erudição é para saber fazer, mas a simplicidade é que vale, é o que fala.

Críticas

Com o passar dos anos os quadros de Silvia foram vistos por um público cada vez maior e julgados por reconhecidos críticos de arte. Intelectuais e artistas formados no interior das profundas transformações que ocorreram nas artes plásticas a partir dos anos 30 se dedicavam a esta atividade. Poucos, mas influentes, contribuíram para a formulação e afirmação dos novos valores artísticos.

Em São Paulo, Quirino da Silva, Sérgio Milliet, Ciro Mendes e Luis Martins e no Rio de Janeiro Quirino Campofiorito, Walmir Ayala e Santa Rosa, junto a outros profissionais, deixaram a trajetória artística de Silvia registrada:

1942

“Talvez haja uma incompreensão do fenômeno modernista e uma incapacidade de realização normal acertada, para que ela figure com caráter infantil, imagens que ou um primitivo faria com a intenção de atingir o máximo de realidade, ou um moderno-expressionista deformando em função da mais intensa expressão. Um primitivo quer sempre fazer certo, real, até o menor detalhe.A visão culta é que analisa e simplifica.”

Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Santa Rosa. Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Diário Carioca.

1944

“‘O Morro’, de Silvia, é um exemplo bom de pintura primitivista no Salão do Cinquentenário. Formas e cores aí se casam numa originalidade que não foge da verdade sentimental do assunto e estabelece uma ‘trouvaille’ de pintura muito pessoal. ‘Fábrica de Vidro’ nos diz com muita sinceridade como o instinto e a sensibilidade alcançam um motivo e o traduzem em pintura, sem disfarçar uma compreensão de matéria que seria certamente deformada por uma observação simplesmente ótica a serviço de uma habilidade aprendida.”— Quirino Campofiorito, Quinquagésimo Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Diário da Noite.

1945

“Não sabemos por que Sylvia de Leon Chalreo, ou melhor, Silvia ‘tout court’ preferiu fazer sua primeira exposição em São Paulo. Talvez um capricho, como outro qualquer, simplesmente.A primeira exposição de Silvia está pois instalada na Livraria Brasiliense, e ficará até dia 5 do próximo mês de julho. A crítica paulista lhe tem sido francamente favorável e isto constitui bem uma ‘lança em África’. Sérgio Milliet, Quirino da Silva, Ciro Mendes e Luís Martins, os generais da crítica bandeirante de artes plásticas, não lhe negaram o estímulo de suas palavras e souberam tecer considerações que muito bem dizem da personalidade artística de Silvia.”Quirino Campofiorito, individual na Livraria Brasiliense, São Paulo. Diário da Noite, RJ, 13/05/1945.

1945

“Falei da sensibilidade à cata de uma técnica.Talvez não seja bem o caso de se apontar uma carência de técnica. Esta técnica existe, por certo, mas tão simplista se revela que é possível deixá-la de lado. Assim temos também de abandonar, em relação à Silvia, toda e qualquer ideia de análise puramente pictórica para entrar com decisão no conteúdo sensível de sua pintura. Silvia sente-se sobretudo atraída pela poesia da ingenuidade. Dir-se-ia que ela procura despojar-se de toda sabença escolar para chegar a uma expressão sintética limpa de literatura.”Sérgio Milliet, individual na Livraria Brasiliense, São Paulo.Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Diário da Noite.

1946

“Sylvia de Leon Chalreo está expondo no Instituto dos Arquitetos. Observando seus quadros de forte expressão emocional, porque todos nos remetem uma

atitude de bondade permanente com os humildes, nós nos perguntamos: será Silvia somente uma autodidata ou comportará sua personalidade essa condição de simplicidade orgânica que lhe garante a condição tão apreciada de uma pintora caracteristicamente primitivista?”Quirino Campofiorito, individual no Instituto dos Arquitetos, Rio de Janeiro. Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Diário da Noite.

1947

“Silvia é uma pintora primitivista. Estão as condições de sinceridade emotiva estampadas em qualquer de suas telas. Silvia tem o que dizer. Sua obra não é uma muda especulação técnica. Realmente não é a sapiência técnica que a anima a pintar, mas sim a sua curiosidade profunda da vida que a impele a buscar na própria vida a única razão para os seus quadros. Diante dos quadros de Silvia ganhamos a certeza que a arte é um pretexto para fixar uma posição mental.”Quirino Campofiorito. Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Revista Rio.

1955

“É de uma importância fundamental para esta artista a compreensão de si mesma e a fidelidade aos seus próprios antecedentes artísticos, ou seja, aos seus princípios de puro instinto criador. É necessário que ela permaneça fiel a suas origens, as suas profundas raízes primitivas, sem preocupações de construtividade e sempre distante dos cânones do neoplasticismo e da asfixiante ortodoxia abstracionista, pois Silvia é um dos casos mais originais de nossa pintura e uma das mais eloquentes afirmações de caráter e afinidade com o legítimo espírito artístico brasileiro” — Wilson Rocha, individual na Galeria Oxumarê, Salvador. O Estado da Bahia, 10/12/1955.

1958

“Vinte e cinco óleos de Silvia, quadros cheios de poesia e de ternura, humanos como a própria Silvia. Pintura de colorido exuberante, cheio de simpleza que transborda do espírito ingênuo da artista. Os quadros de Silvia são simples e belos como a vida, como o Sol, como as criaturas-crianças, o que a própria Silvia é um pouco.” — Rosa Pessoa, Salão Nacional de Arte Moderna.Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Diário de Pernambuco.

1960

“É pintura de sintetismos, de conjuntos harmônicos, como balanceio de formas humanas. É toda uma mostra composta de modo pessoal, com poesia, com um sentido de massas, multidões qual um formigueiro ou um mosqueiro humano, trescalando afetividade.” — Aldo Obino, exposição na Galeria Municipal de Arte, em Porto Alegre.

1963

“Nunca escrevi sobre pintores. Mas Silvia não é somente um pintor. É acima de tudo um poeta que encontrou sua linguagem através das sete cores. Há os que gostam de classificações e a colocam entre os pintores ingênuos, primitivos.Talvez estejam certos. Certíssimos. Para mim, se é preciso classificá-la então a coloquemos entre os que realizam autêntica arte popular brasileira. O Brasil está inteiro em todos os seus aspectos e formas, como povo, crenças, costumes, nos seus quadros.” — Paschoal Carlos Magno, exposição no Museu de Artes do Paraná, Curitiba. Arquivo de Silvia; convite.

1963

“Que pinta esta mulher simples que se chama Silvia e é hoje um nome consagrado em nossas artes plásticas? Perguntará o leitor que ainda não conhece seus quadros. Silvia pinta casas e gente da Bahia, morros cariocas, ladeiras, marinhas, festas populares, a pobreza e o povo brasileiro. Seus assuntos são nacionalíssimos. Não tem sido toda a sua vida de escritora, jornalista e pintora dedicada ao Brasil? Não é ela destas pessoas que esperam por um amanhã melhor para este País? Seus quadros, todos lindos e possuidores do colorido e pitoresco das nossas cidades e da nossa gente, são um deleite para os olhos e encantamento para uma parede, seja ela de uma morada rica ou pobre. Dela não sei quem já disse muito acertadamente:‘É uma socialista que faz quadros de gente pobre para gente rica.’ Paulo Cavalcanti.Arquivo de Silvia; recorte de jornal.

1964

“Morros, favelas, pauperismo, ambientes sui generis, testemunhos cariocas, lirismo tropical, tudo é tratado com tais lances de ocre, terra, azuis, texturas, contrastes, ritmos e registros, que esta realidade se torna mágica, deixa de ser polêmica e pessimista para irradiar efusões, como outrora na casuística bem congênere de Portinari e Santa Rosa.” José Geraldo Vieira, exposição na Casa do Artista Plástico, São Paulo.Arquivo de Silvia; recorte de jornal, Folha de S. Paulo.

1967

“A pintura de Silvia é carinho derramado em luzes e traços. Há muito Brasil nestas fachadas e nestas criaturas, a claridade das manhãs, o sopro do vento, o cheiro do mar. Silvia apanha o esplendor do Brasil e nele engasta uma população sem recursos, mas cheia de esperança.Todos estão vestidos em roupas domingueiras, roupas alegres e sabem que a fronteira do progresso não está longe. Então o mundo de Silvia se revela na graça de um documentário. Apenas o essencial, o típico deste momento de transição entre um Brasil pitoresco e um Brasil mecanizado.” Zora Seljan, individual no Leme Palace Hotel.Arquivo de Silvia; convite.

1972

“É claro que a pintura de Silvia não precisa mais ser apresentada por ninguém. Ela é demais conhecida em Belo Horizonte, no Brasil todo e no estrangeiro também. Silvia é uma interessada no homem simples, não atingido pela sofisticação do progresso, e nas coisas que ele faz. Mas isto faz parte do conteúdo, do anedótico de sua pintura e é claro que seu valor não reside só aí. Importa, além disso, apreciar a forma pictórica adequada que Silvia utiliza na expressão de seus temas. Seu quadro é sabiamente construído, tanto pelo desenho e organização do espaço como pela cor.Apenas esta construção não permite que o dado intelectual se sobreponha ao sensitivo, afetivo.Todos os elementos técnicos de linguagem e realização de sua pintura vêm impregnados de sensibilidade e amor, numa harmonia entre raciocínio e afeição.” Abelardo Zaluar, individual na Galeria Artelivro, em Belo Horizonte. Revista Importante, no. 148.

1974

“Silvia, que já conviveu com o povo do Recife, embora ligeiramente, com certeza condensará este convívio agora comendo siris e guaiamus, passarinha e sururu, carne de sol, buchadas e mãos-de-vaca, chambaril e sarapatel: comidas do povo; verá os maracatus, os mamulengos e os pastoris, espetáculos do povo; provará das frutas, dos sucos, das pimentas e verá que o povo do Recife, na sua essência lúdica ou trágica, é o mesmo de sua região Sudeste, e que sendo brasileiro, carrega as mesmas marcas de servidão e rebeldia, a mesma carga poética que se pode ver nos quadros dessa excelente pintora que é Silvia.” Hermilo Borba Filho, individual na Galeria Nega Fulô, Recife. Arquivo de Silvia; convite.

1979

“Silvia, pode-se dizer, criou uma escola. O casario, o povo da rua, as marinhas, a vida do povo transmitida com real e sincera inocência são forças de sua pintura despretensiosa e intencionalmente pueril. Vejamos nisso qualidades, verdades de linguagem. Silvia não é uma primitiva. É uma mulher culta, jornalista, feminista sem bandeira nem tambor, pelo exemplo, pelo instinto. Sempre preocupou-se com os valores e a causa do povo, dispôs-se com amor a documentar este interesse.” Walmir Ayala. Arquivo de Silvia; convite.

1991

“Morreu há dias uma grande pintora brasileira. Grande na sua trilha, que é dos ingênuos, dos instintivos, das crianças, dos puros de coração. Pode-se dizer dela que exercitou o coração na vida e na pintura, através de uma visão alta- mente pessoal. Não sei o que destacar nesta mulher que se doou inteira como intelectual à causa social, desde a militância política mais cerrada, à abrangência natural e pródiga de uma generosidade que lhe era peculiar”.Wal- mir Ayalla.Arquivo de Silvia; recorte de jornal.

Prêmios

1943 – Menção honrosa - Salão Nacional de Belas Artes - Divisão Moderna, Rio de Janeiro/RJ

1947 – Medalha de bronze - Salão Nacional de Belas Artes - Divisão Moderna, Rio de Janeiro/RJ

1948 – Medalha de prata - Salão Nacional de Belas Artes - Divisão Moderna, Rio de Janeiro/RJ

1948 – Menção honrosa - Salão dos Artistas Nacionais

1949 – Menção com louvor - 1o Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro/RJ

1950 – Diploma de alto mérito 2o Salão Municipal de Belas Artes, Rio de Janeiro/RJ

1950 – Medalha de prata – Salão de Caruaru/PE

Obras em museus e coleções

Coleção de Arte da Cidade/ Centro Cultural São Paulo / SMC/ PMSP

Musée d’Art Naïf de L’ilê de France Paris/França

Musée International d’Art Naïf Anatole Jakovsky - Nice/França

Museu Antônio Parreiras - Niterói/RJ Museu da Cidade de Caruaru - Caruaru/PE

Museu de Arte Contemporânea do Paraná Curitiba/PR

Museu de Arte Contemporânea de Skopje/ Iugoslávia

Museu de Arte Hispano-Americana Madri/Espanha

Museu de Arte Moderna da Bahia Salvador/BA

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/RJ

Museu de Arte Naïf de Trebnje - Iugoslávia

Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro/RJ

Pinacoteca Municipal Pimentel Junior Rio Claro/SP

Pinacoteca da Universidade do Alasca/EUA

Exposições Individuais

1945 - Livraria Brasiliense, São Paulo/SP

1946 - Instituto dos Arquitetos do Brasil - Rio de Janeiro/RJ

1952 - Galeria Velazquez - Buenos Aires/Argentina

1955 - Galeria Oxumarê - Salvador/BA

1956 - Escola Dramática Martins Pena - Distrito Federal/RJ

1958 - Galeria Lemac - Recife/PE

1960 - Galeria Macunaíma - Rio de Janeiro/RJ

1960 - Galeria Municipal de Arte - Porto Alegre/RS

1961 - Galeria Montmartre Jorge - Rio de Janeiro/RJ

1963 - Galeria Casa do Artista Plástico - São Paulo/SP

1963 - Museu de Arte do Paraná - Curitiba/PR

1964 - Montmartre Jorge - Rio de Janeiro/RJ

1964 - Galeria Guignard - Belo Horizonte/MG

1964 - Galeria Municipal de Arte - Viçosa/MG

1964 - Galeria de Arte do Recife - Recife/PE

1964 - Galeria de Arte da Casa do Artista Plástico - São Paulo/SP

1965 - Centro de Arte de Nova Friburgo - Nova Friburgo/RJ

1965 - Sudamericana First New York Exibition - Nova York/EUA

1966 - Brazilian Center - NovaYork/EUA

1967 - Columbia University - NovaYork/EUA

1967 - Leme Palace Hotel - Rio de Janeiro/RJ

1968 - Atrium Galeria - São Paulo/SP

1969 - Galeria Biombo - Rio de Janeiro/RJ

1972 - Galeria Artelivro - Belo Horizonte/MG

1973 - Elvalston Gallery - Londres/Inglaterra

1973 - Grupo B - Rio de Janeiro/RJ

1974 - Museu Histórico da Cidade - Rio de Janeiro/RJ

1975 - Galeria Nega Fulô - Recife/PE

1978 - Galeria Funarte Sérgio Milliet - Rio de Janeiro/RJ

1978 - Fundação Cultural de Curitiba - Curitiba/PR

1979 - Fundação Cultural do Distrito Federal - Brasília/DF

1979 - Ministério das Comunicações - Brasília/DF

1982 - Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

Exposições Coletivas

1941 - Salão Nacional de Belas Artes

1950 - Divisão Moderna (exceto 1942)

1941 - Salão de Maio - Rio de Janeiro/RJ

1942 - Salão de Maio - Rio de Janeiro/RJ

1941 - Salão Fluminense de Belas Artes - Niterói/RJ

1953 - Salão Fluminense de Belas Artes - Niterói/RJ

1943 - Feira de Arte Moderna - Rio de Janeiro/RJ

1946 - Exposición del Brasil en Chile -Valparaíso/Chile

1946 - Exposición de Pintura Contemporanea Brasileña - Santiago/Chile

1948 - Salão de Belas Artes da Sociedade de Artistas Nacionais (SAN) - Rio de Janeiro/RJ

1949 - Salão Municipal de Belas Artes Rio de Janeiro/RJ

1950 - Salão Municipal de Belas Artes Rio de Janeiro/RJ

1954 - Salão Municipal de Belas Artes Rio de Janeiro/RJ

1955 - Salão Municipal de Belas Artes Rio de Janeiro/RJ

1950 - Salão da Escola do Povo - Enba - Rio de Janeiro/RJ
1950 - Salão do Art Club do Rio de Janeiro - Enba - Rio de Janeiro/RJ 

1952 - Salão Nacional de Arte Moderna - Rio de Janeiro 

1972 - Salão Nacional de Arte Moderna - Rio de Janeiro

1953 - Salão da Associação Brasileira de Desenho, ABD – Rio de Janeiro/RJ

1953 - Galeria Dezon - Rio de Janeiro/RJ

1954 - Exposição de 10 Pintoras - Galeria Dezon - Rio de Janeiro/RJ

1955 - Salão Miniatura - ABI - Rio de Janeiro/RJ

1955 - Novo Salão Carioca - Dep. Municipal de Turismo - Rio de Janeiro/RJ

1956 - Salão da Revista Forma - Galeria Dezon - Rio de Janeiro/RJ

1956 - Salão de Belas Artes de Juiz de Fora - Juiz de Fora/MG

1957 - Pequeno Salão da Embaixada Francesa Maison de France - Rio de Janeiro/RJ

1957 - Salão de Belas Artes de Juiz de Fora - Juiz de Fora/MG

1958 - Bienal do México - México

1959 - Coletiva de Primitivos - Petite Galerie - Rio de Janeiro/RJ

1960 - Festival do Rio - Cinelândia - Rio de Janeiro

1962 - Semana de Arte - Pinacoteca de Juiz de Fora - Juiz de Fora/MG

1964 -  Galeria de Arte Brasileira - São Paulo/SP

1965 - 19º Congresso Internacional de Postagens Aquarela do Brasil - São Paulo/SP

1965 - Casas Geli - Rio de Janeiro/RJ

1965 - Pintores primitivos - Galeria Vernon - Rio de Janeiro/RJ

1966 - 116º Aniversário de Juiz de Fora/MG

1966 - Primitivos Actuales da América

1967 - Instituto de Cultura Hispânica - Madri/Espanha

1967 - The Brazilian Primitive Painters and Wood Engravers Copacabana Palace - Rio de Janeiro/RJ

1967 - Pintores Brasileiros - Brazilian Center - Nova York/EUA

1967 - Semaine Latino-Americaine - Maison de la Amerique Latine - Paris/França

1968 - Leilão de Arte - Teatro Municipal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

1968 - Exposição Coletiva de Pintura - Museu Imperial de Petrópolis - Petrópolis/RJ

1968 - Exposição Coletiva de Pintura - Centro de Arte de Nova Friburgo - Nova Friburgo/RJ

1968 - Exposição Coletiva de Pintura - Atrio DCT - Campos/RJ

1968 - Três Aspectos da Pintura Contemporânea

1968 - Dep. Cultural do Itamaraty - Caracas/Bogotá/Costa Rica

1968 - The Brazilian Center of NewYork and its Directors Pintores Brasileiros Contemporâneos - Connecticut - USA

1968 - Lirismo Brasileiro - MIS - Rio de Janeiro/RJ

1968 - Lirismo Brasileiro - Salão da Secretaria de Estado de Informação e Turismo - Lisboa/Portugal

1969 - Paisagem Hoje - Instituto Brasil EUA - Rio de Janeiro/RJ

1969 - Lirismo Brasileiro - Galeria Quixote - Madri/Espanha

1969 - Brazilian Primitive Painters - Consulado Geral do Brasil - NovaYork/EUA

1969 - Lirismo Brasileiro - Galeria  Debret - Paris/França

1970 - Pintores Brasileiros - Artistas Ingênuos - Casino do Estoril Lisboa - Portugal

1970 - Nove Pintores - Club Campestre da Guanabara - Rio de Janeiro/RJ

1970 - Artistas Primitivos -  Azulão Galeria - São Paulo/SP

1970 - Carnaval Carioca - Instituto Brasil EUA - Rio de Janeiro/RJ

1971 - Artistas do Brasil para o Museu de Arte Contemporânea de Skoppe - Paço das Artes - São Paulo/SP

1971 - Cinco Artistas Cariocas - Departamento de Culturado Paraná - Curitiba/PR 

1972 - I Salão de Arte Hebraica - Sociedade de Arte Hebraica - Rio de Janeiro/RJ

1972 - Exposição sobre a Infância - IAB – Rio de Janeiro/RJ

1972 - Exposição de Artistas Brasileiros - Museu da Faculdade Nacional de Arquitetura - Rio de Janeiro/RJ

1972 - Exposição Fulgura Seis - Galeria G4 - Rio de Janeiro/RJ

1972 - Exposição de Primitivos Contemporâneos do Brasil e do Estrangeiro - Museu de Arte Brasileira - Faap - São Paulo/SP

1972 - Exposição de Artistas Ingênuos - Galeria San Marco Rio de Janeiro/RJ

1972 - Primeira Coletiva - Tora Ipanema - Rio de Janeiro/RJ

1973 - Inauguração da Pinacoteca da Universidade Federal de Viçosa - MG

1974 - Coletiva no Início da Temporada - Galeria Artelivro Belo Horizonte/MG

1974 - Leilão Cena Aberta - Hotel Glória - Rio de Janeiro/RJ

1974 - Mostra de Instinto e Criatividade Popular, Museu Nacional de Belas Artes - Rio de Janeiro/RJ

1975 - Exposição de Mulheres - Hotel Intercontinental Rio de Janeiro/RJ

1975 - Coletiva de Artistas do Rio de Janeiro Galeria de Arte de Vanguarda - São Paulo/SP

1976 - Pintores Naïf do Rio - Aliança Francesa - Santos/SP

1976 - Mulher - Arte do Neoimpressionismo até Agora Palácio Pedro Ernesto - Rio de Janeiro/RJ

1976 - International Naïve Painters - The Gallery White Rock Over Haddon - Londres/Inglaterra

1977 - Biblioteca Câmara Cascudo - Natal/RN

1977 - Expositores da Associação Internacional de Artes Plásticas - Santos/SP

1977 - Primeiro Encontro Carioca de Pintura Ingênua Metrô Cinelândia - Rio de Janeiro/RJ

1978 - Primeira Mostra de Pintores Primitivos e Ingênuos Museu Universitário Augusto Motta - Rio de Janeiro/RJ

1978 - Segundo Encontro Carioca de Pintura Ingênua - Rio de Janeiro/RJ

1979 - Colour Fiesta - Brazilian Primitive Painters Art Gallery - Londres/Inglaterra

1979 - Galeria Opus - Brasília/DF

1979 - Galeria Cravo e Canela - São Paulo/SP

1979 - Mostra, Hamiltons Fine Art Gallery - Londres/Inglaterra

1980 - VI Bienal Internacional Naïf - Milão/Itália

1980 - Galeria Jean Jacques - Rio de Janeiro/RJ

1980 - Grande Coletiva de Arte Naïf Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

1981 - 10 Artistas Naïfs Brasileiros, Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

1981 - Seis Artistas Naïfs Brasileiros, Galeria Jean Jacques - Rio de Janeiro/RJ

1981 - Grande Coletiva de Arte Naïf Brasileira Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

1982 - Le Genie des Naïfs - Grand Palais - Paris/França

1982 - Arte Naïf do Brasil - Banco Sogeral - Porto Alegre/RS

1986 - Brésil Naïfs - Espace Art 4 - La Défense - Paris/França

1987 - Brésil Naïfs - Galerie Bad Rouah - Rabat/Marrocos

1988 - O Mundo Fascinante dos Pintores Naïfs Paço Imperial - Rio de Janeiro/RJ

1990 - Presença e Povo na Arte Brasileira Museu da Casa Brasileira - São Paulo/SP

1990 - Teatro Nacional de Brasília, Museu de Arte do, Rio Grande do Sul, Galeria Ucbeu - Rio de Janeiro/RJ

1991 - Pintura, Presença e Povo na Arte Brasileira – Brazilian Art Collection - FMI Visitor Center - Washington/EUA

1999 - Hommage aux Maîtres Naïfs Brésiliens Musée d’Art Naïf - Figueiras/Espanha

2002 - VI Bienal Naïf do Brasil - Sesc - Piracicaba/SP

2006 - Arte Naïf no Brasil - Espaço Cultural Citigroup - São Paulo/SP

2006 - Raridades - Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

2009 - Raridades - Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

2012 - O Colecionador - Arte Naïf, Galeria Jacques Ardies - São Paulo/SP

Fonte: Livro Maracangalha: Vida e obra de Sylvia de Leon Chalreo. Consultado pela última vez em 10 de fevereiro de 2025.

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Núcleo Bernadelli | Itaú Cultural

Fundado em 12 de junho de 1931 por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, o Núcleo Bernadelli possui como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização artísticos. "Queríamos liberdade de pesquisa e uma reformulação do ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes, reduto de professores reacionários, infensos às conquistas trazidas pelos modernos", afirma Edson Motta (1910-1981), um dos líderes do grupo. Além de democratizar o ensino, o grupo almeja permitir o acesso dos artistas modernos ao Salão Nacional de Belas Artes e aos prêmios de viagens ao exterior, dominados pelos pintores acadêmicos. O nome do grupo é uma homenagem clara a dois professores da Enba, Rodolfo Bernardelli (1852-1931) e Henrique Bernardelli (1858-1936), que no final do século XIX, insatisfeitos com o ensino da escola, mas também movidos por interesses políticos-administrativos, montam um curso paralelo na Rua do Ouvidor, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Núcleo Bernardelli funciona primeiramente no Studio Nicolas, do fotógrafo Nicolas Alagemovits, e muda-se em seguida para os porões da Enba, onde funciona até 1936. Nessa data, transfere-se para a Rua São José, depois para a Praça Tiradentes, n. 85, até a sua extinção em 1941. Participam do também denominado "ateliê livre", os pintores: Ado Malagoli (1906-1994), Bráulio Poiava (1911), Bustamante Sá (1907-1988), Bruno Lechowski (1887-1941), Sigaud (1899-1979), Camargo Freire (1908-1988), Joaquim Tenreiro (1906-1992), Quirino Campofiorito (1902-1993), Rescála (1910-1986), José Gomez Correia, José Pancetti (1902-1958), Milton Dacosta (1915-1988), Manoel Santiago (1897-1987), Yoshiya Takaoka (1909-1978) e Tamaki (1916-1979).

A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos espaços da arte e dos artistas modernos, por meio da criação de grupos e associações. A Pró-Arte Sociedade de Artes, Letras e Ciências (1931) e o Club de Cultura Moderna (1935), no Rio de Janeiro, ao lado de agremiações paulistanas como Clube dos Artistas Modernos - CAM, a Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM, ambos de 1932, o Grupo Santa Helena (1934) e a Família Artística Paulista - FAP (1937) são expressões do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país na época. Cada qual à sua maneira, esses grupos problematizam o legado do modernismo. Um outro esforço de modernização do ensino artístico pode ser localizado na tentativa de reforma da Enba, empreendida por Lúcio Costa (1902 - 1998) ao assumir a direção da escola, em 12 de dezembro de 1930.

Se o Núcleo Bernadelli é concebido em consonância com os projetos modernos em gestação e desenvolvimento, seu funcionamento parece mais voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para convivência, troca de idéias e aprendizado. Desenho com modelos vivos, pintura ao ar livre, nus, naturezas-mortas, retratos e auto-retratos são realizados no ateliê, que promove também exposições das obras. Entre 1932 e 1941 são realizados cinco salões dos integrantes do Núcleo Bernadelli. Além disso, em 1933, o conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934, em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Além das paisagens, amplamente realizadas, os artistas do grupo pintam cenas urbanas e figuras humanas. Alguns críticos sublinham a inspiração impressionista desse paisagismo, além da influência construtiva de Paul Cézanne (1839-1906), sobretudo nas naturezas-mortas de Milton Dacosta. Mas é possível localizar em parte da produção do grupo - em Malagoli, por exemplo - afinidades com o ideário do retorno à ordem. Alguns trabalhos de Malagoli, Sigaud e Campofiorito, por sua vez, anunciam questões sociais, em pauta nas manifestações artísticas da década de 1930.

Os nomes de José Pancetti e Milton Dacosta, egressos do grupo, destacam-se posteriormente em função das marcas inovadoras e pessoais dos seus trabalhos. Pancetti se notabiliza pelas marinhas que realiza, além dos diversos retratos e auto-retratos. Os anos de 1950, considerados o ápice de sua produção, conhecem as célebres Lavadeiras na Lagoa do Abaeté, as paisagens de Saquarema e cenas de Mangaratiba. Atento, desde o início de sua obra, aos desafios da composição e ao uso da cor, seus trabalhos dos anos de 1950 enfatizam a organização dos planos geométricos, fazendo com que beirem a abstracão. Milton Dacosta, responsável por uma obra convencionalmente dividida em fases em função das influências que recebe - Paul Cézanne, De Chirico (1888 - 1978), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Giorgio Morandi (1890 - 1964) -, esteve sempre preocupado com a esquematização das formas, e recusa mesmo em suas obras figurativas dos anos 1930, qualquer inclinação naturalista mais direta. As lições construtivas, as deformações picassianas e cubistas, o equilíbrio entre planos colorísticos são todas preocupações precoces de seu trabalho (vide Paisagem de Santa Teresa, 1937), indica Mário Pedrosa (1900 - 1981). Por essa razão, o crítico defende que o abstrato é "o ponto de partida do pintor", e não apenas a marca de sua obra após a década de 1950.

Fonte: NÚCLEO Bernardelli. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Acesso em: 6 de fevereiro de 2025. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

Crédito fotográfico: Wikipédia. Consultado pela última vez em 6 de fevereiro de 2025.

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